vinicius cainelli - moscatel espumante doce

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL – CAMPUS BENTO GONÇALVES VINÍCIUS DA CUNHA CAINELLI MOSCATEL ESPUMANTE DOCE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Tecnologia em Viticultura e Enologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves como parte dos requisitos para a conclusão do curso. Professor Orientador: JULIANO GARAVAGLIA Bento Gonçalves 2009

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Page 1: Vinicius Cainelli - Moscatel Espumante Doce

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DO RIO GRANDE DO SUL – CAMPUS BENTO GONÇALVES

VINÍCIUS DA CUNHA CAINELLI

MOSCATEL ESPUMANTE DOCE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de Tecnologia em Viticultura e Enologia

do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus

Bento Gonçalves como parte dos requisitos para

a conclusão do curso.

Professor Orientador: JULIANO GARAVAGLIA

Bento Gonçalves

2009

Page 2: Vinicius Cainelli - Moscatel Espumante Doce

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SUMÁRIO

1 Introdução................................................................................................................................3

2 Revisão Bibligráfica ................................................................................................................4

2.1 Moscato d’Asti: o surgimento da bebida.............................................................................4

2.2 Obtenção do mosto ...............................................................................................................4

2.3 Estabilidade ..........................................................................................................................6

3.1 Técnicas de Estabilização.................................................................................................8

2.4 Clarificação e Limpeza do Mosto.........................................................................................9

4.1 Decantação......................................................................................................................10

4.1.1. Precipitação Estática...............................................................................................10

4.1.2. Centrifugação..........................................................................................................12

2.5 Fermentação........................................................................................................................12

5.1. Nutrição .........................................................................................................................13

5.2. Inoculação da levedura ..................................................................................................13

5.3. Álcool ............................................................................................................................14

5.4. Tomada de Espuma .......................................................................................................15

5.5. Açúcar............................................................................................................................15

2.6 Uvas Utilizadas...................................................................................................................16

6.1. Moscato Branco.............................................................................................................16

6.2. Moscato Giallo ..............................................................................................................16

6.3. Malvasia de Cândia aromática.......................................................................................16

6.4. Malvasia de Lipari .........................................................................................................16

6.5. Malvasia Bianca ............................................................................................................17

6.6. BRS Lorena ...................................................................................................................17

6.7. Moscato Itália ................................................................................................................17

3 Conclusão ..............................................................................................................................18

4 Referências.............................................................................................................................19

5 Anexos...................................................................................................................................20

Page 3: Vinicius Cainelli - Moscatel Espumante Doce

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1. INTRODUÇÃO

O Espumante Moscatel tem sua origem na Itália, onde é produzido o produto original

na província de Asti no Piemonte, com o nome de Asti Espumante.

No Brasil, sua produção iniciou no ano de 1978, onde na Serra gaúcha a bebida foi

elaborada pela primeira vez. A empresa responsável pela bebida, a Martini e Rossi, tinha sede

na Itália e contou com todo conhecimento e apoio técnico de profissionais da cidade matriz.

Segundo a legislação brasileira, o vinho Moscatel Espumante ou Espumante Moscatel

deve ter 3 atm mínimos de pressão a 20ºC, com anidrido carbônico proveniente de uma única

fermentação e graduação alcoólica entre 7 a 10% v/v.

Esta vinificação tem por objetivo conservar as características aromáticas tão singulares

das variedades moscatéis, bem como parte do açúcar natural da uva. Essas práticas conferem

à bebida leveza e jovialidade, tornando-a distintamente frutada e adocicada.

O processo fermentativo é a etapa mais crítica da elaboração, visto que sua interrupção

deve acontecer sem retardo. A não paralisação da fermentação no momento certo pode levar a

um aumento excessivo da graduação alcoólica, comprometendo o produto mediante a

legislação vigente.

Na questão do consumidor, o Moscatel Espumante vem ganhando espaço no mercado

nacional, conforme anexo nº. 4. O favorecimento do clima para o consumo da bebida e a

predileção do público brasileiro, tem gerado um aumento na produção, bem como um

incremento nas técnicas de produção. Cada vez mais empresas brasileiras vêm adotando essa

bebida como titular em seu catálogo de produtos.

Todos esses fatores associados às excelentes uvas brancas produzidas no Brasil,

principalmente na Serra gaúcha, e a um marketing positivo e otimista em relação a qualidade

dos espumantes brasileiros, faz com que novas tecnologias sejam adotadas, produzindo cada

vez mais e melhores produtos.

Essa fortificação e respaldo do produto nacional enaltecem e ampliam a consolidação

do espumante brasileiro, tornando-o uma bebida confiável e de elevado padrão diante da

comunidade internacional.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Moscato d’Asti: o surgimento da bebida

O espumante Asti surgiu na Itália, na região que leva esse nome, no Piemonte, e hoje é

elaborado em outras regiões fora do país. No Brasil, está sendo chamado de moscatel

espumante. Esse produto, ao contrário de outros espumantes elaborados com duas

fermentações, é submetido a uma fermentação parcial. Para sua elaboração, parte-se do mosto

da uva e não do vinho base.

A descoberta do Asti foi feita por Giovan Batista Croce na cidade de Torino, nos

meados de 1500. Giovan era joalheiro e trabalhava para o Duque de Savoia, Emanuele I.

Giovan, proprietário de uma pequena parcela de terra, iniciou o cultivo de uvas e a produção

de vinho branco doce, aromático e de baixa graduação alcóolica, logo famoso e conhecido

como Moscato d’Asti.

Ao longo dos anos, Giovan pesquisou técnicas e desenvolveu equipamentos para

esmagamento e prensagem das uvas. Desenvolveu as fermentações parciais sem entendê-las

totalmente e finalmente aperfeiçoou a aplicação do frio durante o processo de elaboração.

Giovan foi o precursor das técnicas piemontesas de elaboração de vinhos brancos aromáticos

e doces. Em 1865, Carlo Gancia, incorporou da França, as técnicas de espumantização dando

nascimento ao Moscato Spumante doce e aromático. Gancia solucionou o problema da

estabilidade biológica do produto através da técnica da inoculação sucessiva de leveduras.

No Brasil, no ano de 1978 o mercado conheceu o primeiro Moscatel Espumante

elaborado na Serra gaúcha. A iniciativa foi da Martini e Rossi, empresa italiana que iniciara

suas atividades vitivinícolas na cidade de Garibaldi em 1973. Com a contribuição de técnicos

italianos e a aprovação da Matriz na cidade de Torino – Itália, a equipe local começou a

desenvolver o projeto do ASTI BRASILEIRO no ano de 1976 (LONA, 2004).

A denominação Asti é uma denominação de origem controlada. O vinho elaborado

com essas características, em outros países, recebe a denominação de Espumante Moscatel, ou

Espumante Moscatel elaborado pelo Processo asti.

2.2. Obtenção do mosto

As uvas moscatéis em sua totalidade, são caracterizadas pela forte intensidade

aromática e a delicadeza de suas estruturas, principalmente películas. Não podemos distanciar

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em momento algum essas peculiaridades com as características do produto que desejamos

obter.

O Moscatel Espumante é uma bebida “frágil”, de cor esverdeada clara e

aromaticamente frutada, características de uma bebida de trato cuidadoso e muito exigente nas

operações que seguem para seu modelamento e elaboração.

Assim como nos mostos, as uvas também mantêm melhor suas características,

inclusive aromáticas, a baixas temperaturas, sendo essa a melhor forma de processá-las após a

colheita. Dessa forma preservam de maneira eficaz seu potencial nativo tão apreciado e

abundante. As variedades moscatéis são as que mais apresentam compostos terpênicos, dentre

eles monoterpenos, alcoóis terpênicos e terpenos glicosilados. A uva mantida a baixa

temperatura facilita inclusive o trabalho de clarificação, caso este seja necessário.

O trajeto que a uva irá percorrer deve estar prontamente inertizado (livre de oxigênio),

desde mangueiras, prensa, tanques coletores e tanques finais. Isso nos garantirá obter um

mosto de cor clara e livre de oxidações, que tanto prejudicam as características organolépticas

dos vinhos, principalmente brancos.

A utilização de prensas pneumáticas na enologia, por se tratar de um equipamento de

alta tecnologia, possibilitou a elaboração de produtos bastante superiores aos produzidos com

equipamentos mais antigos, portanto recebem destaque especial na produção do moscatel

espumante.

Os equipamentos devem estar rigorosamente limpos antes de sua utilização. Devemos

manipular cuidadosamente a vindima e, preferencialmente, proceder a prensagem das uvas

inteiras. Todo o trabalho de desengace, esmagamento e transporte da uva com bomba, auxilia

na dilaceração de películas e engaços aumentando a produção de borras (gerando aromas

desagradáveis e reduzidos) além de aportar caracteres vegetais e amargor ao mosto, portanto

devem ser evitados ou reduzidos ao estritamente necessário. Nada mais conveniente que a

condução da uva através de esteiras ou outra forma mesmo que manual para dentro da prensa

pneumática.

Ainda na prensa devem iniciar-se os trabalhos enzimáticos, tanto para podermos

aumentar nosso rendimento em mosto como obtermos liberação de aromas glicosilados

através de enzimas específicas (betaglucosidase).

O SO2 deve respeitar a ação das enzimas, sendo adicionado na saída do mosto da

prensa com bomba dosadora ou outra forma que garanta a uniformidade de sua adição.

Outra técnica que promove melhoras ao mosto de prensagem é a inoculação de ácido

ascórbico. Pode ser usado na ordem de 50-100 mg.L-1 após a obtenção do líquido na saída da

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prensa. Suas propriedades antioxidantes são muito benéficas para um produto fino e de

qualidade; juntamente com o SO2, reforça sua atividade preservando a cor e os aromas

varietais natos da uva.

A prensagem propriamente dita deve desenvolver-se com uma delicadeza

providencial. As pressões exercidas sobre a vindima devem ser progressivas e bem

monitoradas. Pressões superiores a 0,8 bar identificam o início de extração de compostos

fenólicos e alguns danos na parte sólida da fruta, auxiliando na produção de borras e

arrancando compostos indesejáveis para vinificação (quinonas, enzimas oxidativas e

mucilagens entre tantas). Portanto, devemos conhecer o equipamento com o qual trabalhamos

e acima de tudo monitorar a matéria-prima, ela irá direcionar o trabalho de prensagem e

condução da vinificação.

2.3. Estabilidade

Consensuamos a importância e a necessidade de um bom trabalho de estabilização dos

vinhos que produzimos. Além da certeza de um trabalho concluído, contribuímos com a

educação dos clientes formados e a satisfação dos já existentes.

A instabilidade do meio gera formações cristalinas que crescem e precipitam, tanto no

tanque quanto na garrafa. Variações de pH, álcool, temperatura, presença de colóides

protetores e radiação ultravioleta geram modificações na estrutura tartárica do meio

(FLANZY, 2000).

As principais formações cristalinas incluem os sais de K e Ca, dentre elas o sal de

Hidrogenotartarato de potássio (THK) constitui o mais importante e abundante do vinho.

Essas formações ocorrem devido a diferenças de condutividade do meio e dos produtos de

concentração e solubilidade do vinho (RIBÉREAU GAYON, 1998).

A condutividade do meio é bastante influenciada pela temperatura. Quanto mais baixa

a temperatura menor é a resistência elétrica, assim quase não há oposição no deslocamento

dos elétrons livres do vinho. Nessa hora ocorre a formação dos sais de Ácido Tartárico

(RIBÉREAU GAYON, 1998).

O álcool também é fator de importância a estabilidade de um vinho.

Conforme a Tabela 1, observamos a formação do Bitartarato de K em relação a

temperatura.

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Solubilidade do bitartarato de potássio:

Solução a 10% de álcool

Tabela 1:

Temperatura Bitartarato de K Solúvel g.L-1

30ºC 4,60

25ºC 3,72

20ºC 3,05

15ºC 2,53

10ºC 2,12

5ºC 1,75

0ºC 1,41

- 4ºC 1,21

Fonte: PEYNAUD, 1981

As formações cristalinas são produto da evolução do vinho e ocorrem devido a uma

série de variantes não sendo a temperatura o único e decisivo fator nas precipitações de sais

de tártaro. Além da condutividade do meio e os pontos que a tornam mais ou menos ativa, ata-

se os produtos de concentração e solubilidade do vinho.

Os principais precipitados são o Hidrogenotartarato de Potássio e o Tartarato Neutro

de Cálcio. O primeiro é o de maior importância por ser o que mais ocorre em nossos vinhos e

também o mais abundante. O Tartarato Neutro de Cálcio não respeita as mesmas regras do

THK, sua solubilidade é pouco influenciada pelo álcool e pelo frio, porém o pH continua nos

dois casos a ser fator determinante.

A precipitação de THK ou tartarato ácido de K é mais rápida e maior quando há

proximidade do pH máximo do Ácido Tartárico: 3,53 (FLANZY, 2000).

Referente às concentrações dos sais no vinho, presenciamos a ocorrência de

precipitado quando a concentração do sal é maior que a solubilidade do meio, de maneira

óbvia esses excessos precipitam.

Segundo Berg et al. 1958, a utilização do produto de solubilidade (PS) para definir a

estabilidade das precipitações de tartarato ácido de potássio pode ser compreendida através da

equação (PS) THK= [K+] . [TH-]. Sobretudo a equação de forma isolada não é de todo

representativa pois sua aplicação depende dos conteúdos de álcool, o pH e as concentrações

dos sais.

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O produto de concentração (PC) do THK diminui a um nível inferior do produto de

solubilidade (PS) em temperaturas elevadas ou quando essas se elevam.

3.1 Técnicas de Estabilização

Atualmente contamos com várias técnicas para retirada dos cristais de tártaro do

vinho, algumas delas inclusive que o mantém solúvel no meio: estável.

Os métodos químicos constituem uma série de operações que implicam na adição de

algum produto (geralmente colóides protetores) que evita a cristalização dos sais de K ou Ca,

mantendo o meio estável. Dentre os mais utilizados estão o Ácido Metatartárico, CMC

(carboximetilcelulose) e manoproteínas de paredes de leveduras. Apesar de algumas destas

técnicas demonstrarem interesse a enologia elas não mantém uma eficácia comprovada, já que

seu efeito é tanto maior em curto prazo (FLANZY, 2000).

Os processos que compreendem os tratamentos físicos são os mais utilizados,

principalmente a técnica de refrigeração. Essas práticas exercem menor influência na

qualidade do vinho e se aproximam melhor ao natural fenômeno de precipitação.

Os métodos físicos de estabilização tartárica, salvo o tratamento a frio, compreendem

tecnologia pouco encontrada no país. Os intercambiadores de íons trabalham, por exemplo,

com os cátions sódio e magnésio substituindo o potássio e o cálcio. Produzem assim sais mais

estáveis que o THK e o TCa, portanto menos precipitáveis (FLANZY, 2000).

As membranas de eletrodiálise funcionam também com troca de íons no processo,

porém a técnica é puramente mecânica não havendo a adição de resinas ou aditivos

enológicos.

O tratamento por frio representa a técnica mais antiga e também mais utilizada no

mundo. Compreende um conjunto de práticas que podem gerar uma cristalização rápida, com

a utilização de coadjuvantes ou mesmo uma formação lenta semelhante ao que acontece com

os vinhos no período de inverno.

Uma técnica de refrigeração suave, porém, nos proporciona vinhos de maior qualidade

e mais autênticos. O frio provocado de maneira estática e progressiva, simplesmente pelas

cintas de refrigeração do tanque, evita oxidações e produz um resultado indiscutivelmente

satisfatório.

O vinho submetido a uma temperatura máxima de 0ºC (podendo também chegar

próximo ao ponto de congelamento) onde permanece por duas semanas ou mais, sem

intervenção de aditivos, agitadores, bombas ou trocadores de calor seguido de uma filtração

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ou centrifugação, constitui uma ótima forma de estabilidade, além de obtermos um excelente

resultado.

2.4. Clarificação e Limpeza do Mosto

Os mostos das uvas brancas obtidos tanto por prensagem direta como por

esmagamento, é turvo e possui, além da grande viscosidade, resíduos sólidos que precisam ser

removidos para iniciarmos a fermentação. Dentre essas suspensões temos engaços, películas,

polpa, leveduras, enzimas, proteínas e polissacarídeos entre outros (ÁVILA, 2004).

As borras presentes no mosto são maiores em função das condições mecânicas a qual a

uva é submetida, quanto mais suave e delicado é o trabalho de obtenção do mosto, menor será

a quantidade de borra e sólidos. A prensagem direta torna-se então a melhor opção para

obtenção de um mosto de qualidade.

Os precipitados originados da clarificação são constituídos de uma série de enzimas

(inclusive oxidativas), leveduras, matéria nitrogenada, polifenóis além das partículas sólidas

acima mencionadas. Todos esses componentes nativos das cepas utilizadas para vinificação,

apresentam particularidades úteis a fermentação, porém não de um todo benéficas.

Mostos clarificados necessitam de correções nutricionais e enzimáticas para suprirem

os déficitis da operação e poderem desenvolver fermentações ininterruptas. Grande parte da

composição nitrogenada do mosto é eliminada nesta etapa, sendo que a levedura necessita de

aproximadamente 200 ppm de NPA (nitrogênio prontamente assimilável) para uma

fermentação completa, partindo-se do mosto. A totalidade de proteínas e enzimas também são

bastante diminuídas em função da afinidade com os clarificantes minerais hidrofóbicos.

De maneira geral, é necessário o aporte tanto de nutrientes como de compostos

enzimáticos nos mostos suprimidos de suas formulações naturais por aditivos clarificantes

principalmente.

Os benefícios anotados pelo processo de clarificação são muito interessantes.

Atualmente é uma técnica bastante utilizada para mostos com grande turbidez e também

quando se necessita de rapidez na limpeza do mosto.

É notada a maciez e superioridade dos vinhos provenientes de mostos rigorosamente

debourbados. Os produtos então ganham uma particularidade aromática, com um paladar fino

e delicado. As possibilidades de formações sulfídricas são severamente diminuídas e os

sabores herbáceos e amargor também drasticamente reprimidos. Os vinhos provenientes

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apresentam cor mais clara e brilhante. No aspecto global, a limpeza do mosto antes da

fermentação é um procedimento insubstituível.

4.1 Decantação

A decantação é o processo de sedimentação dos componentes insolúveis de um

líquido. Ocorre em função do peso das partículas não permitirem que elas se mantenham em

suspensão. Podemos interferir no meio para acelerar esse processo com ações mecânicas

(estáticas ou dinâmicas) ou por meio de coadjuvantes específicos para essa função. Esses

últimos de diferentes atividades e atuando sobre partículas de ordens diversas.

4.1.1 Precipitação Estática

Consiste em depor os sólidos e dispersões coloidais de maneira a fazer distinção da

parte que turva o mosto, deixando-a ao fundo do tanque. Esse processo desenvolve-se através

do uso de coadjuvantes enológicos, frio artificial, enzimas, o próprio processo natural ou a

combinação de mais de um desses artifícios, sem porém submeter o mosto a agitação ou

induzi-lo a alguma tecnologia mecânica de deslocamento do líquido.

4.1.1.1. Coadjuvantes Enológicos

O uso de aditivos clarificantes é uma prática direta ao mosto que resulta na floculação

e decantação das partículas grosseiras e impurezas suspensas que turvam o mosto como

proteínas, mucilagens e as não perceptíveis como leveduras e polifenóis.

Sua utilização é amplamente difundida na elaboração de vinhos e espumantes, por se

tratar de uma forma eficaz e não requerer equipamentos sofisticados para sua execução.

Os coadjuvantes clarificantes são de duas ordens e usados em consórcio muitas vezes

para evitar sobrecolagem. Os hidrofóbicos são clarificantes eletronegativos minerais, reagem

com proteínas, enzimas, aminoácidos, polifenóis e leveduras. Os hidrofílicos são clarificantes

eletropositivos naturais. São proteínas isoladas de animais ou alimentos, absorvem água e

reagem com moléculas de carga negativa, como os próprios clarificantes hidrofóbicos,

minerais e compostos fenólicos.

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a. Sílica Coloidal

Clarificante hidrofóbico eletronegativo utilizado em solução aquosa a 30%.

Adicionado ao mosto reage com moléculas de carga positiva. As doses de uso variam de 30 –

100 mL.hL-1. A formação do coágulo é favorecida e auxiliada com a adição da gelatina.

b. Bentonite

Obtida das cinzas vulcânicas, constitui a lista dos coadjuvantes mais usados em

enologia. Sua carga negativa e a grande superfície de contato provocada pela hidratação

permitem a retirada de proteínas, aminoácidos e também enzimas que possam estar

prejudicando o desenvolvimento dos trabalhos.

Tratando-se de vinhos tranqüilos, é bastante usual sua adição ao final da fermentação;

nos mostos sua maior eficácia é atingida no líquido frio e posterior a adição de caseína, ou de

acordo com o teste realizado em laboratório.

As doses de uso podem chegar a 100 g.hL-1, porém de maneira geral ela fica entre 30-

50 g.hL-1.

c. Gelatina

Resultado da extração colaginosa de animais (ossos e pele), é um clarificante

hidrofílico, uma proteína. Pelo seu caráter eletropositivo, é uma boa opção para a extração de

polifenóis de mostos brancos e complementar uma clarificação com solução de sílica. A

adição de dois clarificantes de cargas diferentes visa evitar que um deles permaneça no

líquido em parte provocando turvação, ou sobrecolagem. As doses são de 5 – 20 g.hL-1 ou

aproximados 10% do uso de sílica, no caso desta ser adicionada.

d. Caseína

Trata-se da proteína isolada do leite. Clarificante hidrofílico é diluído em água. A água

porém deve ter seu pH elevado a um potencial superior a 10,0 para que a caseína possa ser

homogeneizada. Essa mudança pode ser induzida com a adição de Carbonato de cálcio ou

potássio (10% do peso de caseína), num volume de água 10 vezes maior que o volume da

proteína. Caso ela seja utilizada com bentonite, sua adição deve ter um mínimo de 5 horas de

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antecedência em relação à bentonite. A dose de uso pode chegar até a 30 g.hL-1 e sempre em

relação inferior a dose de bentonite.

4.1.2. Centrifugação

A aplicação das centrífugas na indústria vinícola visa uma decantação rápida das

partículas suspensas no vinho, mosto ou espumante.

A força centrífuga multiplica em milhares de vezes a força da gravidade, permitindo a

separação de substâncias de distintas densidades em um sistema heterogêneo, promovendo

essa decantação de maneira instantânea.

Esse processo todo ocorre dentro do corpo do equipamento; que através do programa

de centrifugação escolhido, descarrega as borras acumuladas em tempo pré-determinado.

De uma maneira geral ao aplicar em um líquido a centrifugação, ocorre em alguns

instantes a sedimentação de elementos inertes ou microbianos que o turvam. A diferença de

densidade entre as borras e o líquido, acelera a velocidade de queda das precipitações.

Desta forma, em alguns segundos realizamos uma separação que em condições

estáticas levaria dias ou mesmo semanas (SPLENDOR, 1988).

2.5. Fermentação

O processo de fermentação do Moscatel Espumante difere significativamente dos

métodos tradicionais de vinificação, bem como dos próprios vinhos espumantes. A tomada e

limpeza do mosto são fatores determinantes e revelam grandes vinhos quando forem aplicadas

com o conhecimento que exigem.

As características aromáticas típicas da bebida requerem manejos delicados e bem

efetuados pra que uma operação não tenha que ser repetida, acarretando dessa forma prejuízo

ao vinho. A temperatura respeita a de uma vinificação em branco tradicional, não atingindo

aos 15°C. Essa temperatura de fermentação além de servir de estímulo as leveduras na

produção de compostos aromáticos, evita que os já presentes sejam perdidos por volatilização.

A temperatura da vinificação deve ser severamente controlada, respeitando o arranque

da fermentação e a etapa de multiplicação das células, ela deve se manter o mais estável

possível para que assim a fermentação também ocorra.

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O desenvolvimento e multiplicação das leveduras são muito dependentes da

disponibilidade nutricional (nitrogênio prontamente assimilável), oxigênio do meio, açúcar e

o próprio álcool formado no processo.

A atividade das células diminui com o andamento da fermentação e aumento do

etanol, sua multiplicação é reduzida e há uma mudança das fontes de nitrogênio. O etanol é

um fator bastante limitante para as células de leveduras. A multiplicação de células, no início

do processo, deve ser rigidamente monitorada para o desenvolvimento de uma fermentação

completa e sem interrupções imprevistas.

5.1. Nutrição

Os processos de limpeza do mosto limitam bastante a fermentação. A diminuição dos

compostos nitrogenados (NH4, aminoácidos e proteínas) são dificultadores do crescimento das

leveduras e mesmo sua perfeita formação, principalmente da membrana plasmática.

As dificuldades de multiplicação de leveduras são ampliadas pela sulfitação do mosto

e no caso da utilização do ácido ascórbico, um antioxidante muito potente.

Portanto, se faz necessária a manutenção dos nutrientes do mosto. Uma fermentação

completa chega a consumir 300 mg.L-1 de nitrogênio prontamente assimilável até o término

dos açúcares. O Moscatel Espumante porém, tem uma fermentação curta que não requer então

o montante nutricional de um vinho com álcool potencial de 14%, já que chega a um grau

máximo de 9%.

Um acréscimo de 150-200 mg.L-1 de NPA no mosto, viabiliza a fermentação e torna

possível o bom desenvolvimento do processo.

5.2. Inoculação da levedura

O que ocorre na elaboração de espumantes tanto pelo método tradicional quanto pelo

charmat é uma multiplicação e aclimatação lenta das células de levedura. Como encontrarão

um meio adverso, pobre em nutrientes, açúcar e já alcoólico, as leveduras precisam ser

multiplicadas e aclimatadas em um tanque separado durante vários dias para que não pereçam

ao simples contato com o meio receptor.

O moscatel espumante diferencia-se dos demais espumantes por tratar-se de uma única

fermentação, com a tomada de espuma concomitante a fase fermentativa inicial.

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Essa característica do processo não descarta a possibilidade de uma inoculação direta

(hidratação e inoculação) das leveduras ao mosto, o que otimiza tempo recursos físicos e

custos. A adição de pé-de-cuba, porém, acelera o processo e facilita a aclimatação das

leveduras que já estão em atividade. A utilização de um processo ou outro não depende só do

profissional, mas da demanda de produto, quantidade de produção, espaço físico e tecnologia

disponível.

Pelo fato do processo acontecer a baixa temperatura e num ambiente com elevação da

pressão, devemos escolher uma levedura seca ativa que se adapte a esse meio, já que as

leveduras nativas se apresentariam com capacidade bastante limitada para esse fim. As cepas

mais utilizadas pela indústria são a Saccharomyces cereviseae ellipsoideus e a Saccharomyces

cereviseae bayanus.

5.3. Álcool

Segundo a legislação brasileira, o Moscatel Espumante deve ter um grau alcoólico

máximo de 10º GL, conforme anexo nº. 3. A pesar disso, esse número dificilmente é

alcançado ou mesmo utilizado. Os produtos nacionais atingem um grau máximo de 8,5 – 9 º

GL dando ainda mais leveza aos espumantes aqui produzidos.

Esse grau máximo é atingido no momento em que a fermentação é interrompida.

Trata-se de uma análise vital para conhecimento do andamento da fermentação e o momento

exato em que devemos lacrar o tanque para a tomada de espuma.

Sabemos que se desejando uma pressão de 4 atm, por exemplo, o espumante irá

adquiri-la juntamente com a elevação de 1º GL, já que 16g de açúcar são necessários para

obtenção dessa pressão. Como se trata de um mosto em plena fermentação, qualquer descaso

no monitoramento do processo pode comprometer todo o trabalho desenvolvido

anteriormente.

A isso se refere o fato da elevação excessiva do grau alcoólico, ou mesmo uma pressão

superior ao permitido por lei. Os cuidados e o monitoramento tão importantes na elaboração

de vinhos e espumantes se fazem ainda maior na condução e moldagem do Moscatel

Espumante, já que fermentação e pressurização são dois processos simultâneos dentro da uma

única etapa.

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5.4. Tomada de Espuma

A tomada de espuma é a fase onde o produto se encaminha ao desfecho do processo.

Devemos ter consciência que nessa fase ainda necessitamos de uma pequena quantidade de

açúcar. Nesta etapa serão utilizados até 20g.L-1 de açúcar. Esse número gera 5 atm, uma

pressão que garante 4 atm na garrafa, devido a perdas por correções e processos de limpeza e

envase do líquido.

Esse volume de açúcar indicado anteriormente, pode comprometer o término da

epumantização pelo fato de o limite mínimo necessário para permanência da pressão desejada.

O ideal então, é que a fermentação chegue nessa fase com uma quantidade superior de açúcar

mesmo porque o espumante tem por característica a doçura.

O álcool indicará o momento exato de fechamento da autoclave, devendo este estar

entre 6-7º GL, em função do aumento alcoólico que a tomada de espuma irá causar.

Juntamente com esse dado devemos estar certificados que o açúcar presente é suficiente para

conclusão do processo, sempre tendo o cuidado para que a fermentação não seja interrompida

antes do previsto por falta de açúcar, ou mesmo nutriente.

De uma maneira geral, uma redução brusca na temperatura é suficiente para inibir a

atividade das leveduras. Não sendo suficiente porém, o espumante deve ser submetido a

processos dinâmicos que o obriguem a paralisar a atividade, como centrifugação ou filtração.

O importante nessa etapa é que a parada da fermentação ocorra de maneira eficaz.

5.5. Açúcar

Segundo a legislação brasileira, o Moscatel Espumante deve conter 20 g.L-1 de açúcar,

mínimo remanescente da fermentação.

A média dos espumantes brasileiros dessa categoria, conforme dados da EMBRAPA

Uva e Vinho é de 74,8 g.L-1 de açúcar, conforme anexo nº. 2.

É prática comum em vinícolas a adição de açúcar para corrigir esses níveis, que

dificilmente são atingidos. A não obtenção do açúcar residual que identifica o produto se dá

por uma maturação incompleta em função do clima e também pelo fato das uvas moscatéis

não produzirem níveis altos de açúcar.

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2.6. Uvas Utilizadas

6.1 Moscato Branco

Originário da Grécia, amplamente cultivado na Itália, principalmente na região

detentora da denominação “Asti”. No Brasil é uma das viníferas mais plantadas. Possui

cachos de tamanho médio e compactos. Produção de 20-23 T.ha-1 e grau de açúcar entre 12-

14ºB.

6.2. Moscato Giallo

Uva com película mais resistente e maturação mais completa que o Moscato Branco.

Possui cachos de tamanho médio a grande com polpa um pouco carnosa. Grau médio de 14-

16ºB e produção relativamente baixa, podendo chegar a 15 T.ha-1.

6.3. Malvasia de Cândia aromática

Possui cachos de tamanho médio, porém longos e soltos. Exige poda longa, já que as

gemas frutíferas encontram-se entre o 3º e 4º entrenó. Produção média de 13-15 T.ha-1 e grau

de açúcar de 12-14ºB.

6.4. Malvasia de Lipari

Com aspecto semelhante a Malvasia de Cândia, seu cacho porém é mais solto e de

coloração verde. Também chamada de Malvasia Verde, pelo fato de suas bagas

permanecerem dessa cor mesmo depois de bem madura. Produção média de 13-16 T.ha-1,

porém com safras irregulares.

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6.5. Malvasia Bianca

É a mais cultivada entre as malvasias na serra gaúcha. Sua produção é regular, entre

13-18 T.ha-1 e açúcar de 14-16ºB. Cachos de médio a grandes e compactos. Uva excelente

para vinhos, cortes e espumantização, principalmente no que se refere ao Moscatel

Espumante.

6.6. BRS Lorena

Produto da hibridação das uvas Malvasia Bianca e Seyve Villard (Seyval). Variedade

de alta produtividade, podendo chegar a 30 T.ha-1. Uva bastante resistente a doenças fúngicas

e podridões. Boa acidez e açúcar elevado, entre 18-20ºB.

6.7. Moscato Itália

Originária da Itália, apresenta uva branca de polpa crocante, com cachos e bagas

grandes e alta produção por hectare ( podendo chegar a 40 T.ha-1). O teor de açúcar fica entre

14-16º B.

Surgiu como alternativa há alguns anos no Vale do Rio São Francisco no nordeste

brasileiro onde seu cultivo é bem acentuado.

Trata-se de uma uva de mesa que encontrou destino mediante as exigências do

mercado de uvas “in natura”. Excesso de produção, cachos pequenos, falta de mercado são

alguns dos fatores que a direcionaram para a elaboração de vinhos.

Suas características e seu sabor moscatel a imprimiram neste meio de produção, sendo

hoje reconhecida e apreciada pelos vinhos e espumantes que origina.

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3. CONCLUSÃO

A característica fundamental que distingue a tecnologia de elaboração do Asti, dos

outros vinhos espumantes é que ele não é derivado de uma segunda fermentação alcoólica de

um vinho seco, adicionado de sacarose, mas é obtido da fermentação alcoólica incompleta,

interrompida quando a pressão do dióxido de carbono e a quantidade de açúcar residual do

vinho estiverem no limite desejado.

As uvas utilizadas devem ser de boa qualidade e processadas imediatamente após a

colheita, a fim de executar o trabalho com a uva ainda fresca.

Uma particularidade de cada empresa encontra-se na forma de clarificação do mosto.

As opções são variadas e cada qual atinge o objetivo com resultados diferentes. O importante

é que o mosto seja exposto o mínimo possível ao oxigênio e que seja manipulado a baixa

temperatura para evitar oxidações e também um início de fermentação indesejado. Também as

perdas de aromas, que são catastróficas para o produto que pretendemos.

Com os dados obtidos e o aprofundamento das práticas envolvidas no processo, a

interrupção da fermentação deve ser mencionada como inadiável e intransferível. Em alguns

casos a dificuldade que encontramos nesta etapa nos acomete a repetição de algumas práticas

para a conquista do objetivo original.

A utilização da refrigeração nem sempre é suficiente para estancar a atividade

fermentativa, o enólogo então deve ter perspicácia para escolher a melhor forma de frear essa

etapa, ciente dos recursos disponíveis.

Em relação a pesquisa estatística, os números indicativos da comercialização do vinho

Moscatel Espumante são absolutamente promissores. Segundo dados da UVIBRA, a

comercialização de 2003-2008 teve um aumento superior a 200% no mercado interno,

enquanto o mercado externo manteve oscilações.

Houve um aumento real de 1,3 milhões de litros vendidos no território nacional. Todo

o marketing positivo e as apostas no espumante brasileiro direcionam nosso foco e nos acorda

a buscar mais conhecimento e aprimoramento das técnicas já utilizadas.

Em um país de dimensões faraônicas, com matéria prima de boa qualidade e mão de

obra especializada, galgamos uma identidade que deixa de ser utópica e passa a conotar a

realidade.

A propaganda do Moscatel Espumante e dos Espumantes brasileiros em geral, é fato

que deve ser encarado como desafio a produzir mais e produtos que fujam da esfera nacional

e ganhem o mundo com toda a comenda e renome que os fazem tão apreciados.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÁVILA, L. D. de Enologia I Bento Gonçalves: CEFET-BG, 2004. BRASIL. Ministério da Agricultura. Portaria nº 29 de 25 de out. 1988. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 out. 1988. Seção 1, p. 20948. GIOVANNINI, E. Produção de Uvas para vinho, suco e mesa. 3ª ed. Renascença: Porto Alegre, 2008. LONA, A.A. XII Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia - Anais 75 disponível em < http://www.enologia.org.br > Acesso em 03 de março de 2009. PEYNAUD, E. Conhecer e trabalhar o vinho. Lisboa: LTC – Editora Portuguesa de Livros Técnicos e Científicos, 1982. SOUSA, J. S. I. Uvas para o Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1969.

SPLENDOR, F. Conteúdos de Enologia. Bento Gonçalves: EAFPJK-RS, 1988. RIZZON, L. A.; MENEGUZZO, J.; GASPARIN, A. M. Sistema de produção de vinho moscatel espumante. 2008. Disponível em < http://www.cnpvu.embrapa.br > Acesso em 12 de fevereiro de 2009.

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5. ANEXOS

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Anexo1: Aspectos gerais da produção de Asti Espumante na Itália

Nas províncias de Asti, Cuneo e Alexandria, no norte da Itália, há muito tempo é

cultivada a uva Moscato di Canelli com a qual é elaborado um vinho especial para sobremesa,

doce e com aroma típico moscato. Devido as suas características organolépticas próprias, é

marcante a diferença com qualquer outro vinho.

A característica fundamental que distingue a tecnologia de elaboração do Asti dos

outros vinhos espumante é que ele não é derivado de uma segunda fermentação alcoólica de

um vinho seco, adicionado de sacarose, mas é obtido da fermentação alcoólica incompleta,

interrompida quando a pressão do dióxido de carbono e a quantidade de açúcar residual do

vinho estiver no limite desejado.

Trata-se de um vinho espumante, com espuma persistente, perlage fino, cor variável

do amarelo palha ao amarelo dourado tênue, às vezes adquire reflexos esverdeados, com

aroma característico de Moscato e de sabor doce.

O Asti espumante é um produto importante e representativo da enologia italiana

devido as suas características organolépticas próprias e à complexa tecnologia necessária para

a elaboração.

Na Itália, a uva Moscato di Canelli é colhida com cuidado, separada a ráquis e

esmagada em uma máquina equipada com rolos de borracha, regulados para não triturar a

película, reduzindo ao máximo a maceração.

A uva esmagada é conduzida para uma prensa pneumática, que funciona como

esgotador contínuo, enquanto o volume for completado. Na operação de prensagem, o mosto

que escorre livremente e aquele extraído com pouca pressão são separados e utilizadas para

elaboração do Asti espumante.

A seguir o mosto é clarificado através da utilização de produtos enológicos: 5 a 12

ghL-1 de gelatina; 80-110 ghL-1 de sol. de sílica a 30%; 4-5 ghL-1 de dióxido de enxofre e 1-2

ghL-1 de enzima pectolítica. O mosto assim tratado é colocado em recipientes de aço

inoxidável para a realização da clarificação de 8-12 horas. Depois, é efetuada a sifonagem da

parte líquida do mosto. O mosto límpido é filtrado com terra e resfriado à temperatura

próxima de 0º C onde permanece de cinco a a sete dias. A ação do frio determina a formação

de pequenos centros de cristalização que, permanecendo em suspensão por alguns dias,

provocam uma turvação no mosto. Depois desse período, os cristais aumentam de volume e

precipitam, o mosto adquire limpidez então. Nesse momento, o mosto é filtrado novamente

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utilizando terra filtrante mais fina. O mosto filtrado pode iniciar a fermentação, ou pode ser

submetido novamente à refrigeração, próxima a 0º C, onde permanece até o momento da

elaboração do Asti espumante.

No período de refrigeração, também é adicionado ao mosto entre 50-60 ghL-1 de

caseinato de potássio para proteger da oxidação.

Embora o Asti espumante seja obtido de uma única fermentação alcoólica, o

processo de elaboração se baseia no empobrecimento do mosto em substâncias nitrogenadas,

assimiláveis pelas leveduras na fermentação alcoólica o que permite a estabilização biológica

do produto final. Nesse sentido, através de interrupções sistemáticas da fermentação alcoólica

por meio da refrigeração e com o auxílio da centrifugação e filtração, é reduzido

acentuadamente o número de células de leveduras e consequentemente o teor de nitrogênio

disponível. Pois é justamente na fase de multiplicação celular onde há maior consumo de

substâncias nitrogenadas pelas células de leveduras. Nesse sentido, geralmente são

provocadas interrupções no processo fermentativo quando o mosto apresentar

aproximadamente1%, 2%, 4% e 6% v/v de álcool. O mosto/vinho com 6% v/v de álcool

normalmente é conservado até a etapa final de elaboração do Asti.

A fase final de tomada de espuma do Asti espumante leva em consideração a

necessidade de formar cinco atmosferas de pressão no processo fermentativo, além do teor

limite de açúcar e do álcool estabelecido pela legislação.

Na prática, o mosto/vinho colocado na autoclave para a tomada de espuma além do

6% v/v de álcool deve apresentar ainda, entre 100-110gL-1 de açúcar residual. Caso houver

necessidade, pode ser feita a correção de açúcar com sacarose que, no caso da Itália, a

legislação limita em até 2% v/v de álcool, aproximadamente 35 gL-1de açúcar .a legislação

italiana determina também que o período de tomada de espuma deve ser de no mínimo um

mês, e a graduação alcoólica mínima de 6% v/v.

Considerando que para a formação das cinco atmosferas de pressão é necessária a

utilização na fermentação alcoólica de 20 gL-1 de açúcar o que, consequentemente, aumenta o

grau alcoólico em 1,3% v/v, o produto final fica enquadrado nos limites estabelecidos.

Concluída a fase de tomada de espuma, a temperatura do Asti é reduzida a -3 ºC,

para interromper a fermentação alcoólica e estabilização dos sais do ácido tartárico, momento

em que é feita uma análise para certificar-se da concentração dos principais componentes do

Asti espumante. Após um período de, aproximadamente, 10 dias nestas condições é efetuada

uma dupla filtração em condições isobáricas, passando o Asti para outra autoclave. A primeira

filtração é realizada com filtro à terra para atribuir-lhe aspecto brilhante. Para efetuar a

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operação de filtração é necessário que a autoclave de tomada de espuma esteja com 5atm de

pressão, e a segunda autoclave com 4 atm com o cuidado de manter sempre a mesma

diferença de pressão. O Asti deve ser mantido sempre, durante a operação de filtração, numa

temperatura inferior a 0º C. para garantir a estabilização biológica do Asti espumante é

recomendável efetuar o engarrafamento estéril, através de uma segunda filtração com

membrana ou cartucho com diâmetro de poros de 0,5µm.

Na produção do Asti espumante ocorre a participação, na fermentação alcoólica, da

levedura Saccharomyces uvarum, espécie criófilica que domina facilmente o meio produzindo

quantidade elevada de aldeído acético. Essa levedura se caracteriza, também, pela resistência

ao dióxido de enxofre, por isso tende a dominar o meio onde o antisséptico é utilizado em

maior quantidade. Nesse sentido, a utilização de doses reduzidas de dióxido de enxofre e

temperaturas de fermentação não muito baixas favorecem a dominância de Saccharomyces

cereviseae e, consequentemente, menor quantidade de acetaldeído e, logo, menor capacidade

de combinar o dióxido de enxofre. Na temperatura próxima a 0º C onde é conservado o mosto

para elaboração do Asti espumante e, principalmente na temperatura de 13-15º C, utilizada

para a fermentação alcoólica, a levedura Saccharomyces uvarum se desenvolve largamente.

Neste sentido, é recomendável conduzir a fermentação alcoólica numa temperatura próxima a

18º C até atingir os 6% v/v de álcool e , depois, conservar o mosto vinho a -3º C.1

Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007.

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Anexo 2: Características analíticas do vinho Moscatel espumante brasileiro

Variável Intervalo de confiança*

Média C.V. (%)

Densidade a 20/20°C 1,0233 - 1,0298 1,0266 0,6

Álcool (% v/v) 7,13 - 7,55 7,34 5,1

Acidez total (meq/L) 84,1 - 95,6 89,9

Acidez volátil (meq/L) 4,7 - 6,4 5,5 27,8

PH 3,21 - 3,40 3,30 5,4

Extrato seco (g/L) 86,0 - 104,3 95,1 17,4

Açúcares redutores totais (g/L) 66,6 - 83,0 74,8 19,7

Extrato seco reduzido (g/L) 19,2 - 23,4 21,3 17,7

Relação álcool em peso/extrato seco reduzido 2,56 - 3,12 2,84 18,1

Cinzas 1,97 - 2,67 2,32 27,3

Alcalinidade das cinzas 20,0 - 30,0 25,0 36,0

DO (420 nm) 0,047 - 0,074 0,061 40,1

Prolina (mg/L) 96,2 - 136,9 116,5 31,6

Dióxido de enxofre livre (mg/L) 17,0 - 26,1 21,5 37,9

Dióxido de enxofre total (mg/L) 138,5 - 205, 4 172,0 35,2

Potássio (mg/L) 870 - 1251 1060 32,6

Sódio (mg/L) 31,1 - 56,2 43,7 52,0

Sorbato de potássio em ácido sórbico (mg/L)** 183,7 - 351,0 267,5 33,7

*Nível de probabilidade 95%. **Valores de sorbato de potássio de sete amostras, onde sua presença foi detectada. Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007.

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Anexo 3:. Padrões de identidade e qualidade do vinho Moscatel espumante brasileiro

Padrões Mínimo Máximo Teor alcoólico (% v/v) 7,0 10,0

Acidez volátil (meq/L) - 20,0

Acidez total (meq/L) 55,0 130,0

Extrato seco reduzido (g/L) 14,0 -

Relação álcool em peso/extrato seco reduzido - 6,7

Cinzas (g/L) 1,0 -

Dióxido de carbono (atm a 20°C) 3,0 -

Dióxido de enxofre total (mg/L) - 350,0

Sulfatos totais (g/L em sulfato de K) - 1,0

Cloretos totais (g/L em cloreto de Na) - 0,2

Álcool metílico (mg/L) - 350,0

Ácido sórbico (mg/L) - 200,0

Fonte: Ministério da Agricultura (1974).

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Anexo 4: Dados da comercialização de vinhos e derivados elaborados no RS de 2003 a 2008.2

Fonte: UVIBRA, 2009.

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Anexo 5: Cronograma de Elaboração do Moscatel Espumante ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� Clarificação Filtração à vácuo Centrifugação Flotação ���� ���� ���� ���� Refrigeração Centrifugação Filtração ���� ���� SO2 Açúcar ���� Centrifugação � � Filtração

Recebimento da uva

Desengace Prensagem

Adição SO2 Adição SO2

Prensagem Enzimas Pectolíticas

Refrigeração

Limpeza do mosto

Autoclave

Fermentação alcoólica 6 – 7 % álcool

Tomada de espuma

Interrupção da fermentação 4,5 – 5 atm

Estabilização a frio

Correção

Limpeza do espumante

Microbiologia Engarrafamento

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Anexo 6: Variedades Utilizadas

Moscato Branco

Moscato Giallo

Malvasia de Cândia aromática

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Malvasia de Lipari

BRS Lorena

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Malvasia Bianca

Moscato Itália