villar, fernando. roberto mallet e a auto-escola de arte dramática gregório

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    RRRRR obe r to Ma l l e tobe r to Ma l l e tobe r to Ma l l e tobe r to Ma l l e tobe r to Ma l l e te ae ae ae ae a Auto -Es co la de A r t e D ramt i ca G r Auto -Es co la de A r t e D ramt i ca G r Auto -Es co la de A r t e D ramt i ca G r Auto -Es co la de A r t e D ramt i ca G r Auto -Es co la de A r t e D ramt i ca G r e g o r i o e g o r i o e g o r i o e g o r i o e g o r i o

    FFFFF ernando Pinheiro Vil lar

    Fernando Pinheiro Villar professor do Programa de Ps-Gaduao em Artes da UnB.

    inha me desquitou-se de meu pai comseis filhos por volta de 1968, eu tinhaoito anos. Foi impressionante ver a forade sertaneja paraibana na criao dos seisrebentos na jovem capital federal. Aqui

    em Braslia, ela voltou a estudar, trabalhando dedia e estudando de noite. Obteve uma nova gra-duao em Direito e por anos defendeu fracos eoprimidos que trocavam seu nome estranho,Elzuita, por Dtora Jesuta. Assim sendo,educao em nossa famlia sempre foi vista

    como o caminho para a falta de herana, a sa-da de emergncia para a situao delicada da-quela me com seis filhos e penses atrasadas.A educao seria a estratgia para crescer navida. E todos os seis filhos se graduaram, meta-de se ps-graduou e vivem bem, todos relacio-nados diretamente ou indiretamente educa-o e arte. E vale lembrar a continuidade denossa fortuna, por ainda sermos capitaneadospor nossamezinha, grande em seus 1.49m quegeraram meus 1.95m e as medidas de minhastrs irms e dois irmos.

    Nas voltas da minha metragem pelomundo, sempre conectado arte e educao,

    fui Auto-Escolade Arte Dramtica Gregorio,performada por Roberto Mallet. Depois da gra-duao na UnB, da ps-graduao no Drama

    Studio London, depois do Ph.D na Universityof London, voltei escola. Aprovei, mas sou re-petente, quatro vezes, mas soy un repetente feliz.Intento dejarlo pero no lo consigo. Pienso que dejarde ser repetente seria dejar de ver Gregorio nova-mente, ento soy un repetente feliz. E tenho v-rios colegas repetentes que reconheo nas pla-tias, quando nossas aulas coincidiram, emBlumenau, em Campinas, em So Paulo, ou emBraslia. Tod@s artistas ligados educao, quetambm os fez crescer na vida e brilhar na arte e

    educao. A lista de chamada poderia incluir osatores e diretores Ricardo Kosovski (Unirio),Pita Belli (FURB) e Walter Lima Torres(UFPR). Ou os diretores Marco Antonio Rodri-gues (Faculdade Clia Helena/Folias) ou seuscolegas e artistas professores da Unicamp, AliceK, Marcelo Lazaratto (Elevador Panormico),Renato Ferracini (LUME) e Mrio Santana, quetambm dirige o colega Roberto Mallet naAuto-Escolae em Lio de Abismo (2001). E de-zenas de graduandos e ps-graduandos repe-tentes ou artistas sem vnculos com a educao.Todos repetentes felizes.

    A situao educacional brasilei ra pode

    lembrar jogos sado-masoquistas, mas no aquesto aqui. Ou ser que ? Talvez o interes-sante para se colocar aqui que na triste e irres-

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    ponsvel situao da educao brasileira noencontramos repetentes felizes, como naAuto-Escola de Arte Dramtica Gregorio. Ontem, 8 dedezembro de 2010, quando volto ao artigoguardado em maturao, escuto um dos rasostelejornais brasileiros perguntar a um colegaacadmico, quando o Brasil viraria uma Coriado Sul? A jangada de Saramago me parece maisvivel e mais atraente, sem ofensas aos queridoscoreanos que no conheo, s porque seria cul-turalmente menos chocante. Entretanto, a per-gunta do jornalista da GNT em seu Jornal dasDez queria questionar o descaso irresponsveldo governo em ignorar o exemplo de naes asi-ticas como Japo e Coria, que h dcadas in-vestiram na educao e cultura. Os dois pasescatapultaram-se do arco e flecha para a infor-mtica e para ndices de desenvolvimento hu-mano que no fariam mal algum ao nosso pas,assolado que por chernobylsculturais e pelo rei-nado desavergonhado da corrupo e da faltade tica. E nas ltimas eleies, entre os showsde hipocrisia e de retardo scio-poltico-cultu-ral, os candidatos utilizavam educao comomoeda de troca e de promessas que, passadas

    as computaes de votos, continuaro promes-sas irrealizadas.

    Continuam os salrios injustos e despre-zveis para pessoas que querem tentar facilitar ocaminho de outras na vida. Os baixos rendi-mentos dos professores e professoras correspon-dem aos baixos rendimentos de muitos deles e por conseqncia de seus alunos. Abusos sala-riais e circunstncias variadas emolduram dife-renas gritantes no trabalho ou rendimento dosprofessores e por conseqncia de seus alu-nos. As universidades vm sendo submetidas aum sucateamento sistemtico. E as instituiespblicas sofrem um bombardeamento cons-tante por parte dos rgos governamentais so testes constantes ou demandas em cima dahora sobre questes srias, que pediriam tempopara discusso, reflexo e tomada de decises.

    Aderindo loucura capitalista selvagem que cla-ramente prioriza quantidade, consumo e nme-ros sobrepujando a qualidade, pesquisa, matu-rao e contundncia, h ataques constantes queparecem perguntar, Vamos ver se eles seguramessa agora. Os interesses no mercado de ensi-no superior so comprovados pela praga (queos brasileiros chamariam de boom) de privadas,ou instituies com caractersticas bastante du-vidveis e perversas. Claro, bvio. Mas a piorrazo desta trgica situao nacional a falta devontade poltica e a ausncia de aes contun-dentes para reverter um quadro que cada vez seagrava mais em funo da dupla ausncia. Saba-mos e sabemos do interesse de um sistema ne-fasto em manter seus mantenedores eleitoresalienados da educao para mant-los longe daconscincia do poder do voto. A educao li-berta. E a histria da arte diretamente atrelada histria da liberdade, como diz o artista plsti-co e professor da UnB, Elder Rocha Lima Filho.

    Em sua tentativa de unir arte e educao,aAuto-Escolacomea com uma palestra do ator,diretor e professor da Unicamp Roberto Mallet.Gacho de Porto Alegre, Mallet comeou a es-

    tudar teatro aos vinte anos em 1977, depois deincurses em pequenos cursos e montagensamadoras. Com a ex-aluna de Jacques Lecoq, adiretora e professora gacha Maria Helena Lo-pes e seu grupo Tear, Mallet conheceu estudos eprtica do clown e chegou a So Paulo em 1986.Mudando-se para a capital paulista, em 1987 co-meou a dividir seu tempo profissional artsticode ator com a carreira de professor. Em 1992,funda o Grupo Tempo, com uma proposta deao e reflexo constante sobre o teatro, arte efilosofia. Como apresentado no portal do gru-po, a questo central uma potica da ao [...]que tem por matria a ao do ator, em que asmetforas e os smbolos no surgem de maneiradireta, plasticamente, ilustrativamente, masencarnam-se no prprio interior da cena, na suadimenso mais profunda: na ao dramtica.1

    1 Veja o portal www.grupotempo.com.br. Acessado em 23 de janeiro de 2009.

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    Desde a montagem deJudite(1992), o GrupoTempo realizou temporadas deAbismo de Rosas(1994), Teresinha (1998), Cantos de Outono(1999) e Drakul(2001). Com diferentes cola-boradores ou associados temporrios comoSantana, Flvio Stein, Monica Montenegro ouCarlos Zanon, o grupo mantido por Bel Ri-beiro, Dora Cohen, Fernando Weffort e Mallet.

    Mallet criou Gregorio em 1990, e desde1991 mantm apresentaes espordicas daAuto-Escolae Lies de Abismo, com mais de 100performances cada. Trabalhos seus dirigindoalunos e grupos da Unicamp, tais como Deca-meron (2005), O Processo (2006), Homens dePapel(2007) ou Nmerose Pginas de Pecado ede Morte(2008) tm viajado por diversos festi-vais e mostras universitrias, assim como NoFumars!Ensaio para fumantes(2009), um novosolo dirigido por Santana, inspirado em OsMalefcios do Tabaco, de Anton Tchekhov. Di-ferentes estradas de diversos cantos do pas jreceberam direo, aconselhamentos, aulas, ofi-cinas e dramaturgia do artista Mallet.

    NaAuto-Escola, o palestrante Mallet levasuas consideraes iniciais sobre a arte do ator.

    Ao chegar em questes relacionadas mscara eao citar e mostrar a menor mscara o narizvermelho do palhao Gregorio entra em cena.Como a espinha nas costas da personagem deRichard E. Grant em Como fazer sucesso em pu-blicidade(1989), Gregorio invade a vida de seucriador Mallet e a de todos mantenedores, ns,a platia dos alunos inocentemente inscritos naAuto-Escola. Em portunhol fluente e afiado,Gregorio faz rpida perspectiva histrica da in-terpretao, abordando, a sua maneira, Stanis-lavskiskiskiyss, Grotowskiskiskiss, Meyerhold,Brecht, teatro invisvel, quarta parede, distan-ciamento e outras questes fundamentais dacarreira. E, fama e sucesso, manuais de inter-pretao, trabalho corporal e vocal. SegundoGregorio, naAuto-Escola de Arte DramticoGregoriousted aprende en una hora o que RobertoMallet leva un semestre para ensinar. Y no lo con-segue![sic.].

    Gregorio no se esquiva de questesmetafsicas sobre onde ele est. Onde estGregorio? As primeiras respostas remetem aonariz. Gregorio tira o nariz e acena negativa-mente. Mallet somente o cavalo temporrio,se ele morrer Gregorio continuar vivo em nos-sas memrias. Se todos ns morrermos, Grego-rio estar nos anais do teatro brasileiro, comoele gosta de demandar. Mantendo seu supostosegredo metafsico-artstico, ele comanda o p-blico fazendo exerccios glteos e anais, mostraseus dotes musicais ou ertico-poticos e co-manda o coro dos espectadores e espectadorasbradando Fora Mallet! Viva Gregorio!, queintitula uma atual comunidade orkut, criada porex-alunos, outros repetentes felizes.

    O anti-clown Gregorio cruza o demnioTaz com anarquismo e sua didtica vai se en-tortando mais para o deleite ou susto da platiade alunos entregues. Seu grau de exposio che-ga a graus inditos de, bueno, de abertura inte-rior digamos assim para manter uma das gran-des surpresas do tero final do espetculo.Quando Gregorio inicia sua campanha da cria-o da Associao Brasileira de Personagens

    Professores, Roberto Mallet o corta, suave maspreciso, abrindo a concluso de sua palestra.O diabinho dos narizes vermelhos ainda tentaretornar e despachado pelo professor. O pa-lhao no tem a ltima palavra como a espinhaque dominaria o personagem de Grant no fil-me. Entretanto, uma lgrima brilha parada nosolhos do ator Mallet ao tirar o nariz pela ltimavez nos deixa na dvida sobre quem quase cho-ra naquele momento de despedida e de final deviagem. Gregorio ou Mallet? Os dois? Ou nstrs, quatro, vrios na platia?

    A comdia rasgada com pitadas dadastas aberta no jogo e improvisa com a platia. Issotambm pode abrir espao para a lgrima doriso solto ou para o riso nervoso. Mas se eu mesurpreendi com lgrimas aparecendo na minharecepo e entre as gargalhadas, constatei depoisque era uma reao que outros repetentes tam-bm sentiram. E calouros como Samir Yazbek,

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    Ulysses Cohn, Carmem Moretzsohn e/ou Fl-vio Stein tambm passaram por emoo seme-lhante. A lgrima do ator no final do espetcu-lo abre questes, assim como a lgrima doespectador entre as gargalhadas ou risadas.

    Estariam os artistas, professores e arte-educadores rindo de Gregorio e chorando pelasituao da arte e educao no pas? Talvez.Tempo. Com pouco mais de meio sculo devida, Roberto Mallet nos remete a mais de me-tade deste tempo de vida dedicado ao teatro e educao. admirvel ver o colega vencendo odesafio da vida no Brasil, para um ator e pro-fessor. E conseguindo manter uma resistnciantegra em um controle de qualidade de inter-pretao e de textos escolhidos, acima de par-metros impostos claramente e subliminarmentepela mdia ou padres globais. E mantendo afora quixotesca, na busca, na pesquisa cons-tante, no estudo com seus alunos, em seus solosou nos ensaios com seu Grupo Tempo e outrascompanhias.

    No palco ou na sala de aula podem igual-mente emocionar sua entrega. A criatura Gre-gorio no palco vazio manipula o criador Mallet.

    O personagem fora o ator situaes extremasou o coloca no risco freqentemente, durante ahora que dura aAuto-Escola. Tambm pode nosemocionar a abertura do ator em se expor tan-to, mediado pela criao e sendo guiado por ela.E nisso, uma declarao de amor ao pblico estimplcita e tambm pode nos emocionar.

    O fato do nosso estimado colega ser paide cinco filhos ainda pode aumentar nossa ad-mirao pelo ator e por seu Gregorio, anti-pa-

    lhao anarquista da meta- ou pata-didtica.O motivo da admirao nos emociona e abrecanais para outras emoes que possam nos sur-preender pelo trabalho de Mallet e Gregorio,como professores ou mediadores no trfico deemoes que pode caracterizar o teatro no mo-mento da apresentao acontecendo ante nos-sos sentidos. Como manipuladores dopunctumcriativo, Mallet e Gregorio nos emocionam pelaentrega as suas questes, muitas das quais sonossas, especialmente artistas da cena e/ou pro-fessores de teatro.

    Uma das minhas mais especiais professo-ras que tive o prazer e a sorte de ter, LciaV. Sander v a crtica como recriao, como cri-ao sobre criao. As prprias pesquisas deSander sobre Shakespeare, novas dramaturgiasou artistas como Susan Glaspell, Clarice Lis-pector ou Elizabeth Bishop so recriaes crti-cas veiculadas publicamente em peas teatrais,dvds, tcnicas mistas, palestras performance, li-vros e cds, onde a linguagem artstica divideigual espao com humor, sagacidade, forma,contedo, pessoalidade e contundncia.2 Semcomplexos de inferioridade em querer ser cien-

    tficos em pesquisa artstica e sem perder origor acadmico, a fuga ao lugar comum e oabandono de frmulas, dogmas e certezas abso-lutistas. Este texto que comea autoral vem in-fluenciado por ela e Mallet, dois amigos espe-ciais em me ensinar, provocar e instigar. E ainsistir. Cito sempre outro amigo ator, AlosioBatata, performador Glauber-Kinski que deixouo cerrado na dcada de 1980, e que dizia quenossa filosofia de artistas brasilienses era o insis-

    2 Tive o prazer de ser seu aluno na Graduao na UnB, seu iluminador na coletnea da nova dramaturgiainglesa que ela encenou e dirigiu em Kick a Broken Head(1982, Braslia, Rio, So Paulo, Florianpolis

    e Curitiba) e seu diretor em Medeaes (1992, Braslia e Blumenau), que tecemos juntos com AnaVicentini e Silvia Davini para a primeira produo do Teatro Universitrio Candango (TUCAN/UnB).

    A dirigi novamente em sua criao e performance, Susan, entre ns entrelinhas (2001-2002; Braslia,Florianpolis, Macei e So Lus), quando dramatizava sua pesquisa fundamental sobre a vida e obrade Susan Glaspell. Para iniciar-se na pesquisa artstica de Lucia V. Sander, veja Susan e eu (Braslia:Editora da UnB, 2006) ou Oflia explica ou O renascimento segundo Oflia & Cia. (Braslia: MinhaGrfica e Editora Ltda., 2009).

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    tencialismo. Tal corrente fortalecida por ar-tistas e professores brasileiros no dia a dia nasescolas, universidades, palcos e espaos teatraisalternativos para a aula ou performance.

    Gargalhando Gregrio celebra sua perpe-tuao na histria da academia teatral nacionalneste artigo publicado em uma das melhorespublicaes de estudos teatrais do planeta, aSala Preta, da Universidade de So Paulo. Edi-tada por Luiz Fernando Ramos e Slvia Fernan-des, Sala Pretatraz nesta edio diferentes cola-boradores que foram convidados a discorrersobre peas brasileiras importantes na dcadapassada. Passam pela cabea as trilogias doUdigrudi (O Cano, O Ovo e Devoluo Indus-trial) e de Grace Passo e o Spanca! (Pour Elise;Amores surdos e Congresso Internacional doMedo), ou variados trabalhos como HysteriaeVida do Grupo XIX, Caf com Queijo doLUME, Verisimilitude de Andre Semenza eFernanda Lippi (Zikzira Physical Theatre), asobras de Renato Cohen mesclando atores e noatores, BR-3 do Vertigem, o Dom Quixote doTeatro que Roda e Andr Carreira, ou peas es-trangeiras em montagens nacionais inesquec-

    veis, como Ensaio.Hamlet ou In on It, da Cia.dos Atores, dirigidos por Enrique Dias.

    Tambm vm mente diversas produesde artistas professores nas universidades federaisbrasileiras nesta dcada, trabalhos que transgre-diram os limites do campus e firmam a acade-mia tambm como espao de criao jovem deponta. So jovens artistas que ramificam pro-dues prprias, que poderiam ser exempli-ficadas por processos colaborativos como Adu-bo ou a sutil arte de escoar pelo ralo (TeatroUniversitrio Candango, TUCAN), criao deAndr Arajo, Juliano Cazarr, Pedro Martinse Rosana Viegas desenvolvido para o Projeto deDiplomao em Interpretao Teatral na Uni-versidade de Braslia e orientado por colegascomo Hugo Rodas, Mrcia Duarte, RobertaMatsumoto e Snia Paiva. Outros exemplos for-tes so 5 PSA, com estudantes da USP orienta-dos por Antnio Arajo, que tambm orientoucom Vernica Fabrini, Alm de cada solido

    (USP/Unicamp). Ou Lrios, dirigido porFernando Antonio Mencarelli para formandosda UFMG em 2004, ou mesmo Corao Parti-do, primeira montagem nacional de Blue Heart(1997), da inigualvel Caryl Churchill, tradu-zida e dirigida por mim na UnB em 2008, como CHIA, LIIAA!, outro dos muitos grupos nas-cidos dentro dos campi brasileiros. Imagens esons dos carnavais interculturais rigorosos deAlice K, dos trabalhos de Bya Braga, RitaGusmo e Sara Rojo na UFMG, dos trabalhosperformticos de Alex Beigui e Marcos Bulhesna UFRN ou das criaes de Andr Carreira naUDESC com o instigante teatro produzido pornosso vizinho portenho. Ou os resultados dasaulas de Antnio Arajo, Cristiane Paoli-Qui-to, Cibele Forjaz, Marcelo Dennys e MarcoAntonio Pmio na USP, Marcelo Lazzaratto,Mallet, Renato Ferracini, Matteo Bonfitto,Holy Cavrell e Fabrini na Unicamp e tantosoutros colegas das artes cnicas na FAP, UFBA,UFG, UFOP, UFPA, UFPB, UFRGS, UFU,Unirio, UEL e UFSC. Ou tantos reunidos noincrvel trabalho pedaggico de Pita Belli (Furb)na coordenao e produo do Festival agora

    Internacional de Teatro Universitrio de Blu-menau. L, em 2002, vi Open House(2001)deDaniel Veronese. Concebida e dirigida por elepara um grupo de formandos do Instituto Uni-versitrio Nacional del Arte (IUNA), OpenHouse foi uma das obras cnicas que mais memarcou na ltima dcada, remontada no Brasilpela Companhia Silenciosa em Curitiba, 2004,e por Antonio Guedes no Rio em 2004. Mes-mo sem pretender exaurir tamanha produo,listas so perigosas pela excluso e esta encerra-se aqui, consciente do erro incorrido e sabendode tantos outros trabalhos que poderiam sermencionados aqui.

    No meio desta intensa produo teatralnacional da primeira dcada do novo milnio,aAuto-Escola de Arte Dramticame salta endia-brada como objeto escolhido por sua dana en-tre invisibilidade, criatividade, transformao,resistncia, insistencialismo, crtica, esttica, tea-tro performance, arte e educao, dentro e fora

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    do campus. Macabro, Gregrio no deixaria debailar sarcasticamente a irresponsabilidade s-cio-poltica com a educao no Brasil, o nicopas do BRIC que no tem uma universidadeincluda entre as cem melhores do planeta.Acredito que Sala Pretaest entre as melhorespublicaes de teatro no mundo. E saltitanteGregorio exultaria sua perpetuao alm Malletou narizes vermelhos, perpetuao profetizadapor ele em suas aulas e impressa agora em uma

    revista que completa uma dcada vitoriosa e re-flete sobre ela, em mais uma ao poltico-est-tica contra o pacto da mediocridade, a des-sensibilizao, o individualismo e consumismoexacerbados como valores maiores e a banali-zao quantitativa do ensino que, juntos, deto-nam a tica, a cultura brasileira, o bem comume a dignidade humana. Mas o jogo persiste, en-quanto insistem em resistir vrios artistas, pro-fessores, Mallet e Gregorio.

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