vii | ensaio alto de pinheiros

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ENSAIO ALTO DE PINHEIROS

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Ensaio teórico desenvolvido sobre o bairro de Alto de Pinheiros, baseado na estratégia proposta em "De cidades para pessoas a cidades educadoras"

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Ensaio

alto dE PinhEiros

1

alto dE PinhEiros

1. IntroduçãoMoro há quase vinte anos na mesma re-

sidência no bairro de Alto de Pinheiros,

bairro tranquilo que se orgulha e se gaba

de suas áreas verdes. Aqui também es-

tudei quase a vida inteira. Lembro-me

de minha escola, que ficava a menos de

um quarteirão de minha casa, abrir seus

portões para a praça em frente, onde eu

e meus amigos, com aproximadamente

doze anos de idade, podíamos sair no

intervalo, ir à banca, à padaria, tomar

um açaí ou comer um cachorro quente

nos comércios que abriam nas ruas do

entorno. Monitores cuidavam das ruas

que delimitavam o perímetro até onde

podíamos ir, afinal, estávamos ainda sob

cuidados da escola, que não podia correr

o risco frente a nossos pais de que esti-

véssemos em algum perigo.

Abrir a escola no intervalo sempre foi

uma escolha realizada por ela, que em

realidade podia optar por manter seus

portões fechados, fazendo-nos interagir

em seus pátios e quadras. Mas tanto ela,

quanto a comunidade escolar como um

todo, entendiam a importância e signifi-

cado de que utilizássemos o espaço pú-

blico. Era uma atitude pedagógica que

eu, em meus doze anos de idade, não

percebia ser tão ou mais educativa do

que as aulas proferidas dentro das salas

fechadas.

Aprendi a romper as barreiras que deli-

mitavam meu olhar ao mundo fora do

meu campo de visão. Rompi as barreiras

do Alto de Pinheiros e as barreiras de São

Paulo, conheci espaços e comunidades

diferentes, com suas propostas parecidas

ou não àquela de abrir a escola à praça.

Então, volto meu olhar ao Alto de Pinhei-

2

durante o dia, cachorros brincando nos

gramados e crianças nos brinquedos

nos finais de semana. Vejo uma ciclovia

sendo instalada numa grande avenida e

cada vez mais pessoas a utilizando. Vejo

moradores tomando conta de algumas

praças, buscando manter o que a prefei-

tura tem alguma dificuldade de realizar.

Vejo minha escola permanecer abrindo

seus portões para as crianças utilizarem

a praça em frente.

Mas continuo sem ver meus vizinhos.

Evidentemente, como morador, poderia

tocar suas campainhas, me apresentar e

perguntar quem são. Mas será que isso

é suficiente? Será que sou o único a me

sentir isolado? Será que todos aqui se

conhecem, que existe uma comunidade,

da qual muitos efetivamente se sentem

parte? Será que as pessoas que moram,

trabalham, estudam ou que apenas uti-

lizam o bairro se sentem vivendo o que

gostariam de viver nestes espaços? Será

que a desigualdade social, tão constan-

temente explorada sobre a situação de

Alto de Pinheiros frente ao resto da ci-

dade, reflete-se em ser um bairro onde

ocorrem experiências de vida? Será que

sua característica exclusivamente resi-

dencial significa uma qualidade a mais,

como querem entender parte dos mora-

Mas é um perigo se deixar levar pela res-

posta simples e míope do isolamento,

como boa parte dos moradores faz. Da

instalação de câmeras, contratação de

segurança particular, agigantamento dos

muros e das cercas elétricas. Não gostaria

de ver meu bairro não fazer jus às pos-

sibilidades de experiências de vida que

pode oferecer tanto a seus moradores,

quanto a todos aqueles que possam vir

a aproveitar estes espaços. Não é a cida-

de inteira que tem estas possibilidades,

na realidade é uma parte muito pequena

dela. Minha intenção não é de reforçar

a desigualdade desta situação urbana.

Quero que o Alto de Pinheiros seja parte

da cidade, seja digno da qualidade que

o identifica e que possa acolher a todos,

sem muros, grades ou câmeras. Meu so-

nho é literalmente ver os muros baixa-

rem. Barreiras físicas sendo demolidas,

residências se voltando às ruas e vizinhos

se conhecendo.

Ao mesmo tempo, não posso negar aqui-

lo que ocorre nos espaços públicos. Pra-

ticamente todos os dias a Praça do Pôr

do Sol está tomada por pessoas de todos

os lugares, seja assistindo ao sol baixar,

seja assistindo a lua, tocando violão ou

fazendo o que for. Todo dia passo por ou-

tra praça, onde há pessoas caminhando

ros. De fato, é um bairro tranquilo e com

muitas áreas verdes; infraestrutura urba-

na adequada; bem localizado e com to-

das as qualidades que o fazem ser o que

é. Mas minha história aqui foi totalmente

distinta daquela de amigos brincando

nas ruas, jogando futebol no campinho

precário, mas público, onde outros ti-

mes se formavam para gerar esponta-

neamente um campeonato, as pipas

empinadas, as festas nas áreas públicas,

os vizinhos nas calçadas conversando o

dia todo, as casas pequenas, mas abertas

umas às outras, experiências que podia

ver em outras regiões da cidade, inclusi-

ve na casa de meus avós, em Osasco.

Nunca conheci de fato meus vizinhos

apenas por serem meus vizinhos. Nunca

soube quem eram as pessoas que mora-

vam a algumas casas da minha, se eram

jovens, velhos, se tinham filhos, se gos-

tavam de futebol, de empinar pipa ou

tocar violão. Meus espaços de interação,

mesmo que muitos e variados, estiveram

mais confinados em muros e grades do

que hoje percebo que gostaria. Pois eles

não foram suficientes. Aqueles que mo-

ram no bairro não se sentem seguros e

cada vez se ouve mais histórias surgindo

de violência, assaltos a casas e roubos de

todo tipo de coisa.

3

Outra consideração sobre o perímetro

de aproximação é que de início incluí a

área que compreende o bairro City Boa-

çava, deixando o limite na divisa com a

Vila Leopoldina. Contudo, derivando no

bairro, mesmo sendo também um bairro

jardim, percebe-se claramente que pos-

sui uma personalidade própria. Carros de

segurança privada são presenças perma-

nentes; câmeras da mesma companhia,

instaladas em pequenos postes nas cal-

çadas de boa parte das ruas, vigiam os

espaços públicos permanentemente; e

placas da associação de moradores são

vistas nas áreas verdes, principalmente

na praça principal do bairro, a Barão de

Pinto Lima. Por estes motivos, mudei o

perímetro para o Movimento de Contato,

deixando a Avenida Pereira de Andrade

como limite oeste.

O Alto de Pinheiros faz jus a sua tradi-

ção urbanística, sendo majoritariamente

uma zona exclusivamente residencial.

Passamos por uma série de quadras

encontrando apenas residências e, na

maior parte das vezes, ruas vazias. Per-

sonagem invariavelmente presente é o

vigia, figura dos mais diversos perfis e

personalidades, dos mais comunicativos,

aos mais tímidos, dos mais curiosos, aos

mais relutantes, dos mais cultos, aos mais

2. Aproximação

Sensibilização

O bairro de Alto de Pinheiros realmente

é muito arborizado. Não apenas por suas

praças, mas também por suas calçadas,

que comportam grandes e maduras

árvores, e pelos jardins das casas, cuja

maior parte hoje é escondida por muros

altos. Mesmo morando há já bastante

tempo aqui, nunca havia percorrido di-

versas ruas que conheci durante a deriva.

Ruas ainda mais tranquilas do que aque-

las que já conhecia e outras tantas com

personalidades muito distintas entre si.

O perímetro de aproximação que tracei

dizia respeito a contiguidades que sabia

existir entre espaços e principalmente a

algumas grandes avenidas que dividem

o bairro dos vizinhos: a sul a marginal do

Rio Pinheiros; a oeste o Parque Villa Lo-

bos; a norte a Avenida Cerro Corá; e a les-

te a Rua Natingui. A definição leste não

configura exatamente uma barreira ur-

bana, apenas um eixo mais marcado en-

tre dois bairros, mas percorrendo as ruas

percebe-se que Alto de Pinheiros, Vila

Beatriz e Vila Madalena se misturam, não

sendo tão simples definir seus limites.

dores, ou, na verdade, uma qualidade a

menos?

Estes questionamentos me movem a ini-

ciar o trabalho com o bairro, procurando

antes de tudo responder a estas pergun-

tas e a buscar uma comunidade que não

apenas lute unida pela manutenção de

suas potencialidades, mas que de fato

transforme tais potenciais em experiên-

cias e que se sinta parte integrante de

uma grande comunidade urbana na qual

pode ajudar outros bairros a lutarem por

seus direitos e por suas experiências. Não

sei se o Alto de Pinheiros tem esta voca-

ção de apoio, mas pretendo descobrir.

Desenvolvo o presente ensaio de inter-

venção de forma parcialmente teórica,

mostrando como os movimentos da

estratégia poderiam ter transcorrido. A

indefinição dos cronogramas e a neces-

sidade de concluir tal apresentação em

data definida me impediram de realizar

uma intervenção completa a ser narrada.

Contudo, espero descortinar algumas

possibilidades do VII e demonstrar sua

aplicação.

4

ba se deslocando a bairros como a Vila

Madalena. Contudo, em algumas praças

principais podemos ver usos diversos e,

de forma geral, tranquilos, atividades for-

mal ou informalmente organizadas. Um

dos pontos onde mais se desenvolve tais

atividades é a Praça do Pôr do Sol, des-

tino clássico de moradores de toda São

Paulo, que curiosamente está voltada

mais para o sul do que para o oeste, fa-

zendo com que pouco se veja do Sol ao

se pôr durante o inverno.

Nesta praça, como em algumas outras,

encontramos atividades pontuais muito

interessantes sendo desenvolvidas. Ao

se deixar levar pelo Alto de Pinheiros é

inevitável encontrar suas praças, que na

maior parte das vezes são cuidadas e

com algum tipo de equipamento, geral-

mente brinquedos para crianças. Contu-

do, não parece haver muita atenção aos

idosos. Os espaços não são acessíveis –

nisto, a Pôr do Sol tem um grande agravo

por sua topografia – e não parece haver

atividades voltadas à terceira idade além

de equipamentos para exercício, insta-

lados pela prefeitura e aparentemente

pouco utilizados.

vezes nos vemos obrigados a andar pelo

asfalto, o que por vezes não é um risco,

pois há pouco movimento de veículos.

Em outras vias, entretanto, o movimento

é intenso, mas nelas as calçadas costu-

mam ser mais largas.

É uma pena que um bairro jardim como

este tenha se tornado um bairro de mu-

ros. Cada residência parece mostrar uma

personalidade distinta, o que a prin-

cípio colabora para a deriva ser muito

agradável. A vegetação cobre as ruas e

a iluminação é alta, deixando-as muitas

vezes excessivamente escuras à noite.

Mas as árvores ajudam a manter um cli-

ma ameno e vemos pessoas passeando

no final da tarde em grupos e com seus

cachorros. É difícil andar um pouco sem

encontrar um espaço verde no caminho,

seja uma praça ou canteiros viários. Estes

muitas vezes não possuem qualquer per-

sonalidade, são apenas canteiros, mas de

forma geral são bem mantidos.

A tranquilidade do bairro, por vezes mui-

to bem vinda, pode se tornar apática.

Os espaços estão disponíveis, mas não

necessariamente são utilizados e não há

muitas propostas de atividades neles. Há

poucos restaurantes, bares ou comércios

que atraiam a população local, que aca-

simples, dos mais atuantes, aos mais

inexpressivos. Vigias jogando cartas,

concertando carros ou bicicletas, assis-

tindo televisão, dormindo, cuidando do

cachorro, ou mesmo simplesmente assis-

tindo ao movimento, sentados em seus

bancos e com os pés apoiados em caixas

de madeira formam quase uma comuni-

dade própria.

Muitas vezes, conversando com eles, não

fica claro se sabem exatamente o porquê

de estarem ali ou tem ideia de quem es-

tão vigiando. Apenas as ruas onde a se-

gurança particular é realizada por uma

empresa maior, como é feito no Boaçava,

é que os seguranças tem mais clareza de

seus deveres. No mais, o máximo é vê-los

abrindo os protões para alguns mora-

dores ou conversando com pessoas que

se aproximam da rua. No fundo, são os

“olhos” que os muros escondem da rua.

As calçadas do bairro são muito variadas,

seguindo o padrão do município e sendo

diferentes de lote a lote, de responsabili-

dade do morador da casa em frente. En-

quanto a circulação perpendicular à rua

é desimpedida, facilitando a saída dos

veículos de suas garagens, na longitu-

dinal encontramos as mais diversas bar-

reiras, de degraus a guaritas. Por várias

5

1 Praça Waldir Azevedo. Casinha a direita

foto: acervo pessoal

2 Vista da Praça Waldir Azevedo

foto: acervo pessoal

3 Praça Waldir Azevedo

foto: acervo pessoal

Visão Seriada (Mapa 2)

6

4 Banca na Cerro Corá

foto: acervo pessoal

5 Equipamentos para exercício na Praça Waldir Azevedo

foto: acervo pessoal

6 Praça Provincia de Saitama

foto: acervo pessoal

7

7 Praça Província de Saitama

foto: acervo pessoal

Praça Província de Saitama

foto: acervo pessoal

8 Praça Provincia de Saitama

foto: acervo pessoal

8

9 Rua Cerro Corá

foto: acervo pessoal

10 Chegada à Praça Amadeu Decome

foto: acervo pessoal

11 Praça Carlos Monteiro Brisola

foto: acervo pessoal

9

12 Banca na Praça Waldir Azevedo.

foto: acervo pessoal

13 Rua Nazaré Paulista

foto: acervo pessoal

14 Praça Emília Barbosa Lima

foto: acervo pessoal

10

15 Praça Com. Manuel de Melo Pimenta.

foto: acervo pessoal

Reunião de moradores na Praça Melo Pimenta

foto: página da Vila Jataí no Facebook

16 Praça Vicentina de Carvalho

foto: acervo pessoal

11

17 Praça Vicentina de Carvalho

foto: acervo pessoal

11 Horta das Corujas

foto: http://hortadascorujas.wordpress.com/

11 Horta das Corujas

foto: http://hortadascorujas.wordpress.com/

12

18 Praça do Pôr do Sol.

foto: acervo pessoal

19 Praça Ernani Braga

foto: acervo pessoal

13 Praça do Pôr do Sol

foto: Renato Spinola Flikr

13

20 Cruzamento da Av. Pedroso de Moraes “Feito pelo povo”

foto: acervo pessoal

22 Vista da Av. Pedroso de Moraes

foto: acervo pessoal

21 Praça Vicentina de Carvalho

foto: acervo pessoal

14

16 Praça Panamericana

foto: acervo pessoal

16 Praça Panamericana

foto: acervo pessoal

16 Praça Panamericana

foto: acervo pessoal

15

23 Cruzamento da Av. Pedroso de Moraes foto: acervo pessoal

24 Rua dos Semaneiros

foto: acervo pessoal

25 Guarita na calçada

foto: acervo pessoal

16

26 Canteiros na Rua Prof. Moniz foto: acervo pessoal

27 Praça Silveira Santos

foto: acervo pessoal

28 Praça Conde de Barcelos

foto: acervo pessoal

17

29 Praça Conde de Barcelos foto: acervo pessoal

30 Rua Capepuxis

foto: acervo pessoal

31 Cruzamento na frente do Parque Vila Lobos

foto: acervo pessoal

18

Calçada típica da área central do bairro foto: acervo pessoal

Calçada típica da porção noroeste do perímetro de aproximação

foto: acervo pessoal

Rua típica Vila Beatriz

foto: Google

19

Pirâmide etária

A distribuição etária do bairro nos mos-

tra um conjunto social mais velho do que

a média da população de São Paulo, com

predominância variando na faixa dos 40

aos 50 de idade, quando Alto de Pinhei-

ros passa a ter proporcionalmente mais

pessoas que a média da cidade.

Leitura técnica1

O Alto de Pinheiros é um bairro loteado

pela Cia City na margem norte do Rio Pi-

nheiros e ocupado a partir da década de

30. Assim como os bairros Jardim Europa

e Jardim América, foi concebido como

bairro jardim, com lotes grandes, ruas

arborizadas e uso exclusivamente resi-

dencial, a exceção de alguns poucos e

selecionados pontos, como a Praça Pana-

mericana. Hoje, os moradores do bairro

são predominantemente de classes altas

e lutam para mantê-lo com suas caracte-

rísticas originais.

Número de moradores

43.117

Número de domicílios

15.408

Área de aproximação

5.9 km²

Densidade demográfica

6395,48 hab/km2

1. Dados do Censo IBGE 2010

Sinopse por setores e por área de ponderação

Alto de pinheiros

São Paulo

Uma consideração interessante diz res-

peito à deficiências. O bairro tem todos

os índices de deficiência abaixo da média

da cidade, exceto o de dificuldade de lo-

comoção. 2,3% das pessoas tem grande

dificuldade para se locomover, contra

1,8% da cidade. A relação com o grande

número de pessoas de mais idade é clara.

20

0 500

Hidrografia

Ferrovia

Atividades estabelecidas no LIVRO VIII - Artigo 24Zona de Centralidade Linear de Proteção Ambiental (ZCLp)

Trechos de Logradouros Públicos Enquadrados em ZER-3

Zona de Centralidade Linear - b (ZCL-b)

Zona de Centralidade Linear II em ZER (ZCLz-II)

Zona de Centralidade Linear I em ZER (ZCLz-I)

TRECHOS DE LOGRADOUROS PÚBLICOS ENQUADRADOS EM ZONAS DECENTRALIDADES LINEARES

Zona Exclusivamente Residencial Média Densidade

MACROZONA DE ESTRUTURAÇÃO E QUALIFICAÇÃO URBANA

SISTEMA DE ÁREAS VERDES DO MUNICÍPIO

Zona Mista de Alta Densidade - b

Zona Mista de Alta Densidade - a

Zona Mista de Média Densidade

Zona Mista de Baixa Densidade

Zona Exclusivamente Residencial Baixa Densidade

Zona de Ocupação Especial

Cemitério

Limites das Subprefeituras

Parques e áreas municipais

EI-06

PI

ZER-2

ZM-3b

ZM-3a

ZM-2

ZM-1

ZER-1

ZOE

LEGENDA

Sistema Viário Estrutural

Zona Especial de Interesse Social - 1

Estação CPTM

Estação Metrô

N0 1km

LegendaZoneamento

Importante notarmos o zoneamento do

perímetro de aproximação. A área com-

preendida pelo loteamento original da

Cia City permanece como exclusivamen-

te residencial, característica que os mora-

dores tentam preservar a todo custo.

Contudo, outras áreas próximas pos-

suem outros parâmetros de uso e ocupa-

ção do solo. A variedade deste entorno

pode nos possibilitar experiências diver-

sificadas.

Outra questão importante de notarmos

é a grande presença de zonas de centrali-

dade linear em ZER. Estas flexibilizam um

pouco o zoneamento para alguns tipos

de uso, mas não chegam a colocar a ex-

clusividade residencial em risco.

21

22

Domicílios

Alguns números que podemos compa-

rar entre o bairro e a cidade de São Paulo,

no que diz respeito a características dos

domicílios ressaltam algumas desigual-

dades sociais marcantes.

A enorme maioria dos domicílios parti-

culares possuem mais de 8 cômodos, ca-

racterística coerente com sua origem de

bairro jardim loteado pela Cia City para

classes altas e médias altas.

De forma semelhante, dois números ao

menos nos chamam a atenção quanto

aos bens duráveis: em primeiro lugar, a

enorme maioria das residências conta

com microcomputadores com internet,

o que nos possibilita pensarmos em es-

tratégias que envolvam comunicação

virtual.

Em segundo lugar, quase a totalidade

dos domicílios possui automóvel para

uso particular. Em um bairro bem loca-

lizado, com infraestrutura de transporte,

próximo a estações de metrô e trens in-

termunicipais, este dado nos dá indícios

de como o morador do bairro tende a se

deslocar pela cidade.

1 2 3 4 5 6 7 8 ou mais

São Paulo 3 573 509 12 050 186 865 505 427 636 622 831 919 488 157 305 865 606 604

Média por áreas 11 527 64 607 1 630 2 054 2 684 1 575 987 1 957

0,6% 5,3% 14,1% 17,8% 23,3% 13,7% 8,6% 17,0%

Alto de Pinheiros 15 408 - 158 242 656 1 222 1 544 2 056 9 529

0,0% 1,0% 1,6% 4,3% 7,9% 10,0% 13,3% 61,8%

Domicílios particulares permanentes

Total Número de cômodos

0,6%5,3%

14,1%17,8%

23,3%

13,7%8,6%

17,0%

0,0% 1,0% 1,6%4,3%

7,9% 10,0%13,3%

61,8%

1 2 3 4 5 6 7 8 ou mais

São Paulo Alto de Pinheiros

TotalCom acesso à Internet

São Paulo 3 573 509 3 134 237 3 522 317 2 865 461 3 525 877 2 158 185 1 920 312 314 715 1 907 367

Médias por áreas 11 527 10 110 11 362 9 243 11 374 6 962 6 195 1 015 6 153

87,7% 98,6% 80,2% 98,7% 60,4% 89,0% 8,8% 53,4%

Área 167 - Alto de Pinheiros 15 408 14 369 15 380 14 957 15 369 13 692 13 238 1 299 13 159

93,3% 99,8% 97,1% 99,7% 88,9% 96,7% 8,4% 85,4%

Microcomputador Motocicleta para uso

particular

Automóvel para uso

particular

Domicílios particulares permanentes

Total

Com bens duráveis

Rádio TelevisãoMáquina de lavar roupa

Geladeira

23

Até 1 1 a 2 sm 2 a 3 sm 3 a 5 sm 5 a 10 sm 10 a 20 sm Mais de 20Sem

rendimento

São Paulo 9 783 868 1 238 070 2 311 909 942 491 859 752 753 744 344 225 207 246 3 126 431

Média por área 31 561 3 994 7 458 3 040 2 773 2 431 1 136 748 10 085

12,7% 23,6% 9,6% 8,8% 7,7% 3,6% 2,4% 32,0%

Alto de Pinheiros 39 507 1 522 4 430 2 935 3 704 6 235 5 535 5 306 9 840

3,9% 11,2% 7,4% 9,4% 15,8% 14,0% 13,4% 24,9%

Pessoas de 10 anos ou mais de idade

Total

Classes de rendimento nominal mensal (salário mínimo) (1)

12,7%

23,6%

9,6% 8,8% 7,7%

3,6% 2,4%

32,0%

3,9%

11,2%

7,4%9,4%

15,8%14,0% 13,4%

24,9%

Até 1 1 a 2 sm 2 a 3 sm 3 a 5 sm 5 a 10 sm 10 a 20 sm Mais de 20 Sem rendimento

São Paulo Alto de Pinheiros

Até 1/4Mais de 1/4 a 1/2

Mais de 1/2 a 1

Mais de 1 a 2

Mais de 2 a 3

Mais de 3 a 5

Mais de 5Sem

rendimento (2)

São Paulo 3 573 509 77 258 284 726 732 148 912 229 399 211 365 846 555 659 246 434

Médias por área 11 527 253 918 2 362 2 943 1 288 1 180 1 798 795

2,2% 8,0% 20,5% 25,5% 11,2% 10,2% 15,6% 6,9%

Alto de Pinheiros 15 408 20 200 636 1 369 1 211 2 080 9 048 845

0,1% 1,3% 4,1% 8,9% 7,9% 13,5% 58,7% 5,5%

Domicílios particulares permanentes

Total

Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (salário mínimo) (1)

2,2%8,0%

20,5%25,5%

11,2% 10,2%15,6%

6,9%0,1% 1,3%

4,1%8,9% 7,9%

13,5%

58,7%

5,5%

Até 1/4 Mais de1/4 a 1/2

Mais de1/2 a 1

Mais de1 a 2

Mais de2 a 3

Mais de3 a 5

Mais de 5 Sem rendimento(2)

São Paulo Alto de Pinheiros

Renda

A questão do perfil socioeconômico dos

moradores do bairro fica mais clara quan-

do analisamos sua renda e ainda mais

explícita se cruzamos a renda por pessoa

com a renda domiciliar per capita.

A distribuição da população do bairro

por classes de rendimento já nos mos-

tra grande contraste com a cidade, com

grandes concentrações nas classes que

vão de rendimentos de 5 a 20 salários mí-

nimos por mês. Contudo, observando o

número domiciliar, vemos que per capi-

ta a concentração de renda é ainda mais

gritante.

O IBGE não recolhe dados por classes de

rendimento domiciliar acima de 5 salá-

rios mínimos, o que nos impede de veri-

ficar mais precisamente as distribuições

com maior rendimento. Contudo, com os

dados disponibilizados, podemos perce-

ber que há poucas pessoas com rendi-

mentos muito elevados.

24

Ocupação

O dado anterior pode ser refletido nas

principais ocupações dos moradores em

condição econômica ativa. Quase 60%

desta população no bairro é de gestores

ou profissionais das ciências e intelectu-

ais.

Esta informação pode nos ser útil para

traçar o perfil da cultura do bairro. Por

mais que não possamos realizar uma

análise preliminar precisa, podemos es-

pecular sobre algumas características a

serem confirmadas no contato mais pró-

ximo com a comunidade.

Interessante observar, também, o local

de trabalho desta população. 39% traba-

lham no próprio domicílio, o equivalente

a mais de 20% da totalidade dos mora-

dores. Este número com certeza nos será

muito importante, pois com ele pode-

mos ver que boa parte das pessoas que

moram no bairro não pendulam durante

o dia, o que pode ser muito importante

para as experiências que vamos desen-

volver.

Este número nos diz aproximadamen-

te o “público” que pode se envolver em

atividades propostas para determinados

horários do dia.

Diretores e gerentes

Profissionais das ciências e

intelectuais

São Paulo 9 783 868 5 998 740 5 549 787 336 825 888 304 448 953 3 785 129

Média por áreas 31 561 19 351 17 903 1 087 2 865 1 448 12 210

61,3% 92,5% 6,1% 16,0% 7,5% 38,7%

Alto de Pinheiros 39 507 24 357 23 415 4338 9376 942 15 150

61,7% 96,1% 18,5% 40,0% 3,9% 38,3%

Total

Ocupações principais

Desocupadas

Não economicamente

ativas

Condição de atividade na semana de referência

Pessoas de 10 anos ou mais de idade

Economicamente ativas

Condição de ocupação na semana de referência

Ocupadas - Total

Total

TotalDomicílio de

residênciaFora do domicílio

de residência

São Paulo 5 549 787 5 345 394 1 609 856 3 735 537 182 352 1 322 20 720

Média por áreas 17 903 17 243 5 193 12 050 590 27 77

96,3% 30,1% 69,9% 3,3% 0,2% 0,4%

Alto de Pinheiros 23 415 22 246 8 685 13 560 857 - 312

95,0% 39,0% 61,0% 3,7% 0,0% 1,3%

Pessoas ocupadas na semana de referência

Total

Local de exercício do trabalho principal

Município de residênciaOutro município

País estrangeiro

Mais de um município ou

país

25

Tempo e deslocamento

Vemos que a maior parte da comunida-

de trabalha mais de 40 horas semanais.

Comparando com os números anterio-

res, mesmo que boa parte das pessoas

trabalhe em casa, está constantemente

ocupada.

Contudo, interessante verificar que a

comunidade gasta muito menos tempo

que a média da cidade no que diz res-

peito ao deslocamento para o trabalho.

A grande maioria das pessoas ocupadas-

fora de casa demora menos de meia hora

para chegar ao trabalho, o que talvez nos

diga um pouco tanto da formas como se

locomovem quanto onde estão localiza-

dos seus empregos.

Estas informações, que poderemos le-

vantar posteriormente, podem ser inte-

ressantes para o V Movimento, quando

formos buscar envolvimento com bairros

próximos e vizinhos.

Até 14 horas 15 a 39 horas 40 a 44 horas 45 a 48 horas49 horas ou

mais

São Paulo 5 549 787 610 164 701 984 2 717 596 703 136 816 907

Média por áreas 17 903 1 968 2 264 8 766 2 268 2 635

11,0% 12,6% 49,0% 12,7% 14,7%

Alto de Pinheiros 23 415 1 424 3 827 12 074 1 684 4 4066,1% 16,3% 51,6% 7,2% 18,8%

Total Grupos de horas habitualmente trabalhadas por semana no trabalho principal

Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência

11,0% 12,6%

49,0%

12,7% 14,7%

6,1%

16,3%

51,6%

7,2%

18,8%

Até 14 horas 15 a 39 horas 40 a 44 horas 45 a 48 horas 49 horas ou mais

São Paulo Alto de Pinheiros

Até 5 minutosDe 6 minutos até

meia horaMais de meia hora

até uma horaMais de uma hora

até duas horasMais de duas

horas

São Paulo 3 806 276 196 239 1 082 545 1 346 375 957 585 223 533

Média por áreas 12 278 633 3 492 4 343 3 089 723

5,2% 28,4% 35,4% 25,2% 5,9%

Alto de Pinheiros 13 909 672 7 058 5 117 936 126

4,8% 50,7% 36,8% 6,7% 0,9%

Pessoas ocupadas na semana de referência, que trabalhavam fora do domicílio e retornavam para seu domicílio diariamente

Total Tempo habitual de deslocamento para o trabalho

5,2%

28,4%

35,4%

25,2%

5,9%4,8%

50,7%

36,8%

6,7%0,9%

Até 5 minutos De 6 minutos até meiahora

Mais de meia hora atéuma hora

Mais de uma hora atéduas horas

Mais de duas horas

São Paulo Alto de Pinheiros

26

Educação

Quanto a parte da comunidade que es-

tuda, um primeiro dado é notório e sem-

pre discutido sobre o perfil do bairro: a

enorme maioria das crianças estuda em

colégios particulares da região.

Outro dado importante é a enorme

maioria de pessoas com ensino superior

completo. Mais da metade da população

do Alto de Pinheiros concluiu ao menos

a faculdade, número muito discrepante

com o resto da cidade de São Paulo.

Podemos observar também que mais de

40% da população do bairro estuda, com

aproximadamente 20% cursando curso

superior e 25% no ensino fundamental.

Procuraremos ter muita relação com as

escolas do bairro. Vemos aqui grande

possibilidade de boa parte da comunida-

de, quase um quarto dela, estudar nestas

escolas, o que nos abre grandes oportu-

nidades de experiências articulando mo-

radores e educadores.

Pública Particular

São Paulo 11 253 503 3 672 968 2 577 922 1 095 047 6 847 010 733 525

Média por áreas 36 302 11 848 8 316 3 532 22 087 2 366

32,6% 70,2% 29,8% 60,8% 6,5%

Alto de Pinheiros 43 117 11 120 2 507 8 613 30 991 1 005

25,8% 22,5% 77,5% 71,9% 2,3%

Total

Frequência a escola ou crecheFrequentavam Não

frequentavam, mas já

frequentaram

Nunca frequentaramTotal

Rede de ensino que frequentavam

22,5%

77,5%71,9%

2,3%

70,2%

29,8%

60,8%

6,5%

Pública Particular Não frequentavam, mas jáfrequentaram

Nunca frequentaram

Alto de Pinheiros São Paulo

Sem instrução e fundamental incompleto

Fundamental completo e

médio incompleto

Médio completo e superior

incompleto

Superior completo

Não determinado

São Paulo 9 783 868 3 683 120 1 798 580 2 610 334 1 572 070 119 765

Média por áreas 31 561 11 881 5 802 8 420 5 071 386

37,6% 18,4% 26,7% 16,1% 1,2%

Alto de Pinheiros 39 507 6 402 4 271 8 579 20 064 191

16,2% 10,8% 21,7% 50,8% 0,5%

Pessoas de 10 anos ou mais de idade

Total

Nível de instrução

16,2%10,8%

21,7%

50,8%

0,5%

37,6%

18,4%

26,7%

16,1%

1,2%

Sem instrução efundamental incompleto

Fundamental completo emédio incompleto

Médio completo e superiorincompleto

Superior completo Não determinado

Alto de Pinheiros São Paulo

27

3. Contato (mapa 3)Muitos moradores do Alto de Pinheiros

são atuantes. Vemos uma série de praças

com vizinhos se mobilizando para man-

tê-las conservadas, alguns movimentos

por usos diversificados e uma associação

de moradores ativa. Esta, a SAAP (Socie-

dade dos Amigos do Alto de Pinheiros),

é uma associação de mais de trinta anos

de idade. Nela, encontrei tanto morado-

res mais tradicionais do bairro, lutando

principalmente por manter seu padrão

urbanístico e pela segurança, quanto

mais jovens e com outras tantas frentes

de ação.

Interessante observar a relação que a

SAAP teve com a comunidade em al-

guns períodos de sua história. Na década

de 90, foi realizada uma mobilização do

bairro para lutar contra o tráfego intenso

de veículos que começava a ocupar as

vias locais. A associação tomou a frente

na organização deste movimento, divi-

dindo seu perímetro em bolsões, mobi-

lizando os moradores e procurando defi-

nir um projeto que por vezes se fazia de

muito isolamento. O resultado final foi de

algumas intervenções pontuais de traffic

calming e transformação de algumas

ruas em sem saída para veículos.

A SAAP diz que este foi o período de

maior articulação de moradores, quan-

do havia uma causa clara em pauta. Nos

últimos três anos, contudo, outra articu-

lação com a comunidade pôde ser vista.

Um grupo de moradores, desconfortável

com a insegurança crescente no bairro,

com cada vez mais assaltos a residências

e roubo de carros, começou a ser orga-

nizar pela Internet para discutir sobre o

tema. O grupo no Facebook juntou mais

de mil pessoas. As pautas foram se am-

pliando e uma série de ações foram fei-

tas. Um grupo começou a tomar frente

em debates e gradualmente se aproxi-

mou da SAAP. Vimos algumas interven-

ções interessantes sendo desenvolvidas

por este grupo, como a exibição de um

filme em uma praça do bairro, juntando

quase duzentas pessoas.

Este conjunto autônomo de morado-

res agregados no Facebook, não neces-

sariamente vinculado à associação de

moradores, é formado por uma série de

grupos e pessoas que atuam em áreas di-

ferentes. Alguns, inclusive, são represen-

tantes em conselhos como o CONSEG, de

segurança. Posso dizer, então, que estas

foram minhas duas fontes principais de

contato com pilares e com as ações que

desenvolvem: a SAAP e a página na inter-

net. A partir disso, pude ter algum conta-

to com eles.

Interessante observar alguns padrões

de posicionamento. Alguns pilares são

mobilizados para pautas específicas, mas

com relação ao bairro todo, como é o

caso de boa parte da diretoria da SAAP

frente à questão urbanística e de segu-

rança; outros têm foco espacial, como é

o caso de grupos de moradores que se

organizam para cuidar de suas praças e

ruas; outros ainda têm ação difusa, atu-

ando em projetos diversos de ocupação

dos espaços públicos; e outros se organi-

zam a partir de vínculos com escolas do

bairro.

Os interesses e intenções de cada pilar

são diversos, mas há sinergia entre boa

parte deles. Não há, de forma geral, con-

flitos profundos entre vontades, por mais

que possamos ver confrontos ferrenhos

entre pontos de vista sobre como alcan-

çar os mesmos objetivos. Por exemplo,

enquanto alguns defendem a segurança

privada, outros defendem a pública; ou

enquanto uns defendem a qualidade e

tranquilidade dos espaços a partir de seu

isolamento parcial, outros defendem seu

uso com suporte melhor, como é o caso

da instalação de banheiros químicos em

28

comunitária? São sempre as mesmas

pessoas que aparecem?

Como atuam e quem participa efetiva-

mente dos grupos de manutenção de

praças e afins? São apenas poucos mo-

radores que atuam mais como pilares ou

há grande e ativa mobilização?

Os moradores se envolvem em causas

pelo bairro, articulando-se com outros

moradores, mesmo que seja para proje-

tos não em frente a suas residências?

Quantas e quais experiências diferentes

são propostas por moradores diferentes,

ou são sempre os mesmos pilares e expe-

riências muito semelhantes?

• Cultura

Causas e pautas que identificam o bairro

fazem os moradores participarem de dis-

cussões mais do que em outras ativida-

des? Podemos ver isso em experiências

teste e na presença de moradores em

eventos como o debate sobre seguran-

ça com a polícia militar ou sobre o plano

diretor, onde se debate os termos da ma-

nutenção da exclusividade residencial.

Vemos muitas propostas de experiência

e debate surgindo com pautas tradicio-

nais do bairro? Quais são essas pautas?

em as pessoas? Caso vejam uma ativi-

dade acontecendo numa praça ou algo

errado na rua, por exemplo, elas vão ver

do que se trata ou não param para olhar?

Podemos observar estes tipos de com-

portamento em experiências que já exis-

tem; em experiências teste; em conver-

sas com pessoas que estão sempre nas

ruas, como os vigias; e eventualmente na

subprefeitura e com os próprios pilares.

Quantas pessoas comparecem em ativi-

dades que não dependem de participa-

ção ativa, mas que são voltadas a comu-

nidade como um todo, como o filme que

foi exibido na praça? Podemos realizar

contagens e cruzar com o número de

pessoas a quem sabemos que a infor-

mação do evento atingiu. Podemos tam-

bém fazer entrevistas rápidas durante

experiências.

• Ação

As pessoas tomam atitude se veem algo

errado no bairro, como um assalto, uma

calçada quebrada ou uma árvore caída?

Podemos tentar verificar isso com a polí-

cia local e com a subprefeitura.

Quantas e como as pessoas participam

de experiências que dependem de sua

participação, como os picnics e a horta

eventos na Praça do Pôr do Sol.

Avaliação

Não chegamos ainda a de fato definir in-

dicadores de verificação da situação do

bairro. Mas já podemos levantar alguns

que seriam interessantes dadas as suas

características. Todos dizem respeito a

avaliações que podemos realizar agora,

mas ao mesmo tempo devem ser acom-

panhadas constantemente para verifi-

carmos transformações.

1. Envolvimento.

Tomamos as quatro características da

experiência – o Meio, a Ação, a Cultura

e a Visão – e buscamos verificar como a

comunidade se envolve em cada uma

delas.

• Meio

Quanto, quando e quantas pessoas

usam os espaços do bairro? Elas andam

a pé, usam as praças, andam de bicicle-

ta e passeiam com seus cachorros? Para

verificar, podemos fazer contagens em

pontos estratégicos, fazer entrevistas rá-

pidas e questionários simples no grupo

na internet.

As coisas que acontecem no bairro atra-

29

• Quantas pessoas são associadas

à SAAP?

• Quantos votos os conselheiros

locais tiveram? Seja do CONSEG, do

Conselho Participativo Municipal, ou

de outros.

• Quantas associações e movimen-

tos específicos há no bairro, além da

SAAP? Quantas pessoas são vincula-

das a elas?

• Qual a opinião e qual a abrangên-

cia de organizações como estas? A

comunidade sabe de sua existência?

Podemos fazer entrevistas ou aplicar

questionários em redes diferentes.

Por exemplo, perguntar nas escolas

se conhecem a associação e pergun-

tar aos associados se conhecem ou-

tras ações.

4. Coesão da comunidade.

• Os vizinhos se conhecem?

• Há algum tipo de atividade que já

ocorra que coloque a comunidade

em contato? As diversas redes e os

diversos grupos que formam a co-

munidade interagem entre si, ou há

isolamento entre eles?

5. Vínculo e transformação.

• A comunidade é antiga ou há

toda comunidade e para que saiba-

mos quem está informado das expe-

riências que estão sendo desenvolvi-

das, precisamos destas informações.

Sem tomarem conhecimento míni-

mo da existência das experiências,

não há como as pessoas entrem em

contato com elas, a não ser por aca-

so.

• Quantos e-mails há o mailing da

SAAP? Quantas pessoas efetivamen-

te abrem os e-mails enviados?

• Quantas pessoas há no grupo de

moradores do Facebook? Quantas

pessoas participam das discussões?

Quantas pessoas ao menos leem os

posts e veem os eventos? Quantos

posts e eventos são realizados? Com

que frequência?

• Quantos grupos específicos há

sobre pontos do bairro e quantas

pessoas há neles?

• Há jornais locais? Qual a tiragem?

3. Representatividade

• Há instituições ou vozes que se

colocam como representativas dos

interesses da comunidade, como lí-

deres comunitários, conselhos, asso-

ciações de moradores, fundações ou

entidades sem fins lucrativos?

Como elas são discutidas? Como e quais

são os padrões de recorrência destas dis-

cussões? Quão frequentes são?

• Visão

Os debates sobre a exclusividade resi-

dencial e sobre a segurança caminham

em qual direção? Conseguem dar enca-

minhamento a propostas? As propostas

de solução são frequentemente as mes-

mas ou variam, mostrando abertura da

comunidade a opções diferentes?

Debates sobre outros temas, distintos

dos que identificam o bairro, encontram

muitos obstáculos na própria comunida-

de? Conseguem dar encaminhamento?

Quão variadas e frequentes são as pro-

postas? Elas chegam a ser executadas e

se transformam em intervenções? Po-

demos fazer um levantamento com os

pilares das propostas que foram realiza-

das e avaliar quantas foram realizadas e

quantas não foram, procurando mapear

os obstáculos encontrados no caminho.

2. Canais de comunicação.

• Quais canais já existem, qual a

abrangência e rotatividade deles?

Atingem quantas pessoas, trans-

mitem quais informações, quem os

opera, etc. Para que cheguemos a

30

res se reuniram para intervir no espaço

e manter sua limpeza. Mobilização se-

melhante a da Praça Conde de Barcelos,

onde a associação de moradores perma-

nece com ação direta. Sempre se vê fa-

mílias nesta praça, utilizando-a das mais

diversas formas. Interessante notar que

durante a visão seriada, encontrei um

pai com um filho aprendendo a andar de

bicicleta, contudo, estavam na rua e não

na própria praça. Ao ser questionado do

motivo, nos disse que não havia um local

não gramado nela e que na grama seu

filho estava tendo de fazer muita força

para pedalar.

Outras duas praças interessantes de se-

rem ressaltadas são as da porção leste,

onde é realizado já há algum tempo um

picnic comunitário organizado pelo Mo-

vimento Boa Praça e em outra a Horta

Comunitária da Praça das Corujas. O Boa

Praça realiza também outras atividades

na Praça Amadeu Decome, na divisa com

a subprefeitura Lapa, a norte.

Encontramos dois pontos do Bike Sampa

no bairro, ao longo da Avenida Pedroso

de Moraes, um ao lado da biblioteca mu-

nicipal, outro perto da Praça Panamerica-

na.

Experiências existentes

Já podemos verificar que há uma série

de experiências sendo desenvolvidas no

bairro, com maior ou menor intenção de

envolvimento da comunidade. Uma das

que está em pauta e que gera polêmica

é a passagem da responsabilidade sobre

a Praça do Pôr do Sol da subprefeitura à

secretaria do verde e do meio ambiente

do município, que a tornaria um parque.

Com esta transformação, a tendência é

de que a praça seja cercada e fechada à

noite, como é feito com os outros par-

ques da cidade. Este isolamento tende a

reduzir as possibilidades de experiências

futuras utilizando o espaço à noite, como

a meditação da lua cheia, realizada todo

mês naquele local.

Contudo, outras tantas possibilidades

podem ser desenvolvidas, como a ins-

talação de quiosques e finalmente a

construção dos banheiros públicos que a

comunidade tanto exige. Para além des-

ta discussão, a Pôr do Sol recebe muitas

pessoas para os mais diversos usos, de

exibição de filmes, realização de festas à

simples picnics.

Outra experiência notável é a da Praça

Província de Saitama, onde os morado-

grande rotatividade, com moradores

se mudando frequentemente e tra-

balhadores permanecendo pouco

tempo em seus empregos?

• As pessoas que moram, traba-

lham e usam o bairro ou realizam

suas atividades em outros bairros?

Quais são estes outros bairros? São

próximos ou distantes?

6. Qualidade dos espaços públicos.

• Sensação de proteção: contra

tráfego e acidentes; contra crimes e

violência; contra sensações senso-

riais desagradáveis.

• Sensação de conforto: oportuni-

dades para andar; oportunidades

para permanecer; oportunidades

para sentar; oportunidades para ver;

oportunidades para falar e ouvir;

oportunidades de se exercitar.

• Sensação de prazer: se constru-

ções e espaços estão de acordo com

a escala humana; oportunidades de

apreciar as características do clima;

experiências sensoriais positivas.

31

Descritivos

1. SAAP: Associação dos Amigos de Alto

dos Pinheiros. Associação de Morado-

res existente desde 1977. É uma das

mais atuantes associações da Zona

Oeste, bem articulada com outras as-

sociações de bairros jardim.

2. Movimento “Ocupa Casa da Praça Wal-

dir Azevedo”. Vem promovendo ativi-

dades e intervenções na casa, procu-

rando um uso e uma nova identidade

para ela. Se organiza no Facebook.

3. Moradores do entorno da Praça Pro-

víncia de Saitama se organizaram

para realizar uma intervenção na pra-

ça, que era mal iluminada e não tinha

uso dos vizinhos diretos. Reformaram

o parquinho, a quadra e cuidam da

manutenção.

4. Moradores da Vila Jataí e o Colégio

Rainha da Paz realizam atividades na

praça, como festas juninas. Foram ins-

talados pela prefeitura equipamentos

de exercício para a terceira idade. Há

um centro privado para terceira idade

vizinho à praça.

5. Associação de Moradores da Vila Jataí.

Foi formado no final de 2013. Realiza

uma série de intervenções e eventos

no bairro. Vem se organizando com

comerciantes da área e se articulando

para realizar seu plano de bairro, com

acessoria da Urbanista Raquel Rolnik.

6. Escola Vera Cruz, vizinha à praça, re-

alizou com a comunidade e com os

alunos o projeto de reforma da praça.

É utilizada para festas e já foi utilizada

para exibição de filmes. A escola tam-

bém abre seus portões todos os dias

no intervalo das aulas para os alunos

utilizarem a praça.

7. Movimento Boa Praça não é uma en-

tidade formal, mas realiza uma série

de atividades próximas à Praça Ama-

deu Decome. Nesta, realiza todo mês

um picnic comunitário, já fez eventos

articulando atores locais, como uma

farmácia para fazer vacinação gratúita

contra a gripe.

8. O Boa Praça também realiza na Fran-

çois Belanger os picnics e outros even-

tos diveros, como a venda direta de

produtos por pequenos produtores

agricolas.

9. Os moradores vizinhos da praça se

mobilizaram para reformar o parqui-

nho, modificar o espaço central da

praça e se articulou com a prefeitura

para intervir nas calçadas lindeiras.

Hoje, todos os dias muitas pessoas ca-

minham nestas calçadas e se vê pes-

soas com seus cachorros e com seus

filhos.

10. A Praça das Corujas teve uma grande

intervenção realizada pela prefeitura,

com tratamento de seu córrego, que

é o único aberto do bairro, bem como

outras intervenções nos gramados. A

comunidade utiliza muito a praça e

uma atividade que vem sendo reali-

zada é a construção de uma horta co-

munitária, que já se transformou em

referência na cidade. Utilizam práticas

de permacultura e captam sua própria

água.

11. A Praça do Pôr do Sol é palco de mui-

tas e diversas atividades espontâneas

do bairro. Sua posição e topografia

privilegiada para o pôr do sol faz com

que seja sempre tomada por muitas

pessoas. Já foram realizadas festas,

exibições de filmes, espetáculos musi-

cais, grupos de meditação, entre mui-

tas outras experiências. Os moradores

vizinhos se organizaram em uma as-

sociação para lidar com a falta de es-

trutura para tais acontecimentos.

32

12. Pontos do Bike Sampa, sistema im-

plantado pela prefeitura em parceria

com a iniciativa privada de bicicletas

compartilhadas.

13. Ciclovia implantada pela prefeitura,

contudo sem a estrutura adequada

até o momento. Desta forma, ainda é

tratada como “passeio”. A comunida-

de, na estrutura da SAAP, se mobilizou

para que seja realizada a finalização

do projeto, que conta com as inter-

venções necessárias para a utilização

como ciclovia. Da mesma forma, a

mobilização gerou pressão para que o

projeto completo, que é mais extenso,

seja executado, indo da Hélio Pelegri-

no até a Gastão Vidigal.

14. A Praça Conde de Barcelos é já há

muito tempo um cartão de visita da

SAAP. Os moradores se organizaram

com a associação para que a praça

fosse melhor mantida.

15. A praça Beethoven é palco da venda

de animais de estimação todos os fi-

nais de semana.

16. A Associação de Moradores do City

Boaçava (SAB) é uma associação com

muita força. Realizou grandes inter-

venções na Praça Barão Lima e im-

plantou no bairro um sistema de vi-

gilância privada, com seguranças em

carros e motocicletas, câmeras espa-

lhadas pelas calçadas e um posto de

segurança na praça central do bairro.

17. A avenida, por onde segue a linha de

alta tensão, é muito central no bairro.

Foi realizado um projeto viário de tra-

ffic calming, reduzindo a velocidade

dos veículos que por ali passam. Hoje,

vê-se muitos jovens andando de skate

na rua.

4. Difusão e Integração(Mapa 4)

Os movimentos do segundo ato não

chegaram a ser desenvolvidos na prática.

Uma vez que sua natureza é especifica-

mente participativa, o que vamos expor

aqui são possibilidades, tanto para a Di-

fusão quanto para a Integração. Contudo,

uma vez que dependemos plenamente

da autonomia e atuação da comunidade,

não podemos especular o que ocorreria

no Desenvolvimento.

O distrito de Alto de Pinheiros tem 43.117

moradores. Nosso perímetro de difusão

conta com quase a totalidade deste nú-

mero, excetuando-se apenas a popula-

ção da área do City Boaçava. Deste total,

os meios de comunicação que conhe-

cemos atingem parte muito pequena.

As páginas online chegam a menos de

10% da população, considerando-se as

páginas que, somadas, atingem aproxi-

madamente quatro mil pessoas. A SAAP

possui um mailing e uma lista de ende-

reços postais de razoável tamanho, mas

sua comunicação também não é muito

eficiente, lembrando que seu perímetro

não comporta toda a área onde estamos

atuando.

33

Os pilares nos abrem os contatos das as-

sociações e movimentos de moradores,

com os quais já temos algum vínculo.

Boa parte deles já pode nos apresentar

às escolas do bairro, que são muitas e

principalmente privadas. Já as empre-

sas estão localizadas principalmente nas

bordas do perímetro de intervenção, de

forma segregada de boa parte central

do bairro. Podemos estabelecer contato

com elas, buscando avaliar o quanto se

sentem parte de uma mesma comunida-

de, ou se há outro tipo de identidade.

(possíveis) Experiências

A Praça Panamericana é uma das maiores

praças do bairro e não possui qualquer

uso, configurando-se apenas como uma

rotatória viária. Seus bancos raramente

são utilizados e não há qualquer ativida-

de que seja realizada em seus extensos

gramados. É interessante que, dada a

definição de uso realizada no momento

do loteamento do bairro pela Cia City, a

Panamericana não possui moradores vi-

zinhos diretos, apenas comércios e servi-

ços. Disto decorre um potencial incrível

para atividades que normalmente inco-

modam os vizinhos da Pôr do Sol, por

exemplo.

As ações e os debates ainda são muito

focados em nichos específicos, como

associações de praças ou ruas, de forma

que a comunicação se faz muitas vezes

pouco articulada. É preciso reforçar esta

articulação, como alguns grupos já fa-

zem, buscando fazerem-se visíveis a ou-

tros grupos. Um movimento novo, que

vem sendo muito atuante e buscando

difundir sua atuação, é o grupo de mora-

dores da Vila Jataí. Bairro pequeno den-

tro do distrito do Alto de Pinheiros, reali-

zou uma série de encontros no primeiro

semestre de 2014 e vem divulgando em

várias páginas online suas ações, inclusi-

ve as reuniões para discussão e execução

de sua festa junina comunitária na praça

Manuel de Melo Pimenta.

Contudo, considerando a distribuição

etária da comunidade, podemos especu-

lar que boa parte dela não é usuária cor-

riqueira da internet, o que nos faz pensar

em outras formas complementares de

comunicação. Aqui, talvez seja interes-

sante entrar em contato com as rótulas

sociais do bairro, como o Clube Alto de

Pinheiros, o Clube Anhembi e as escolas

presentes no perímetro e procurar di-

vulgar ações através de contatos nestas

instituições.

A página do bairro na internet, que hoje

possui mais de mil e quinhentas pessoas

inscritas, teve crescimento significativo

no período em que as questões estavam

mais em pauta e as ações sendo tomadas

com maior ênfase. Talvez seja interes-

sante voltarmos a divulgar não apenas

as ações que ocorrem no bairro, mas

procurarmos fazer as pessoas se unirem

em meios de comunicação abrangente

como esse.

De acordo com o CENSO 2010, quase

90% dos domicílios no Alto de Pinheiros

possui computador com internet, o equi-

valente a mais de treze mil domicílios.

Podemos usar este recurso para reforçar

nossa coesão nos congregando em es-

paços virtuais para debate e procurando

atuar com ferramentas de mapeamento

de ideias e demandas. Algumas destas

outras plataformas:

•www.cidadedemocrática.com

•colab.com.br/

•www.sampacriativa.com

•www.mapadaparticipacao.org.br/

•www.ondefuiroubado.com.br/

•maps.mootiro.org/

•myfuncity.uol.com.br/

•cuidando.org.br/

34

Outros pontos do bairro que podem

contribuir como centros de aprendiza-

gem , evidentemente caso haja interes-

se mútuo com as escolas, é a Embratel,

que pode falar sobre tecnologia comu-

nicação; a clínica de diagnóstico Fleury,

que pode falar sobre saúde; a agência de

publicidade Ogilvy, que pode falar sobre

criatividade; e o Instituto Tomie Othake,

que mesmo não ficando dentro de nosso

perímetro de contato, pode falar sobre

cultura.

Mas as escolas não precisam ir muito lon-

ge de seus portões. A exemplo da Escola

Vera Cruz, que realizou intervenção, fes-

tas e utiliza corriqueiramente a praça em

frente a uma de suas unidades, o Colégio

Rainha da Paz pode se articular com mais

proximidade à comunidade dos morado-

res da Vila Jataí, que vem atuando com

bastante energia, para realizarem juntos

as atividades na praça em frente a escola.

Outra ideia que pode ser desenvolvida

com escolas é realizarem, junto com os

moradores da do entorno, picnics e cam-

peonatos de futebol na Praça Província

de Saitama. Há de se discutir bem possi-

bilidades como estas, para se verificar se

os vizinhos aceitam logo de inicio ativi-

dades de muito movimento. Talvez seja

Pedroso de Moraes. Não há qualquer tipo

de ponto de apoio aos ciclistas na exten-

são da ciclovia – que em realidade ainda

não é oficialmente uma ciclovia, mas um

“passeio”. Um ponto de parada na praça

central do Alto de Pinheiros pode ser

uma situação interessante.

Uma experiência necessária de ser re-

alizada e que está em vias de se tornar

realidade é a execução da sinalização

adequada para esta ciclovia. Moradores

já se mobilizam para que o projeto saia

do papel. Enquanto isso, outros realizam

intervenções por conta própria, pintan-

do faixas no asfalto.

Com as escolas, podemos desenvolver

projetos educativos diversos, como o

mapeamento do bairro, voltas ciclísticas

e estudo da vegetação das praças. O Alto

de Pinheiros tem muitos espaços que

podem acolher aulas fora da escola. Uma

ideia que pode ser muito interessante é

desenvolver uma atividade que agregue

alunos e a horta comunitária da Praça

das Corujas. Lá, podem investigar muitas

coisas, desde as características do córre-

go – único veio d’agua aberto e natural

do bairro – até as técnicas que os vizi-

nhos têm utilizado na horta.

A comunidade pode utilizar a praça para

realizar grandes eventos comunitários,

como exibição de filmes, saraus e festas.

É interessante observar que a estratégica

posição da Panamericana faz com que

a visibilidade da atividade seja muito

favorável a sua maior apropriação. Uma

ressalva pode ser feita quanto ao movi-

mento de veículos, mas este não é per-

manente e intenso durante todo o dia,

principalmente não à noite. Pode-se

utilizar este potencial noturno e, even-

tualmente, até se pensar em fechar a

Avenida Pedroso de Moraes no trecho

que corta as duas metades da praça, am-

pliando sua área útil e criando-se novas

oportunidades de experiências.

As possibilidades deste espaço são mais

amplas do que a realização de atividades

ao ar livre. Podemos também pensar em

algum tipo de uso permanente, ou inter-

venção mais duradoura. Muitas pessoas

atravessam a praça durante o dia para

chegar aos pontos de ônibus que ficam

na rua central. Pode-se pensar em criar

algum comércio que valorize a perma-

nência das pessoas no espaço.

Outra intervenção que é contígua à Pa-

namericana e que poderia se apoiar mu-

tuamente a ela é a ciclovia da Avenida

35

mento pode se tornar uma experiência

integrada entre praças, realizando como

que um festival cultural com eventos em

vários espaços simultaneamente, e ainda

como diretriz para o Projeto Político-Pe-

dagógico, procurando estabelecer inter-

venções maiores para manter a persona-

lidade cultural das praças.

Uma experiência fundamental para o

bairro é a intervenção de suas calçadas.

As dificuldades de passeio fazem com

que muitas pessoas andem pelo asfalto.

Talvez seja interessante se pensar em

uma padronização dos passeios em seu

eixo longitudinal, bem como na valo-

rização de ruas e cruzamentos para pe-

destres e ciclistas. A ciclovia presente na

avenida central do bairro possui poucas

saídas para as ruas laterais, fazendo difícil

e até perigosa sua travessia.

Neste sentido, outra experiência que

poderia ser desenvolvida com a comu-

nidade é a implantação de totens infor-

mativos nas calçadas ou, pelo menos, em

pontos estratégicos como a Praça do Pôr

do Sol. Estes mecanismos de comunica-

ção podem nos ser muito importantes

tanto para difundir as intervenções que

são feitas e as experiências que são pro-

postas, como uma eventual rede de pra-

estruturas – outros pontos da cidade são

mais carentes do que aqui. Muitas praças

podem ser usadas como polos culturais,

realizando-se pequenas alterações ou ar-

ticulando-se com vizinhos. Algumas são

muito extensas e muito pouco utilizadas,

como é o caso da Praça Silveira Santos,

vizinha à Marginal Pinheiros. Muito pou-

co ocorre na nela e um dos poucos pon-

tos culturais do bairro lhe é adjacente, o

Ateliê Ely Bueno.

As praças podem ser usadas como cen-

tros culturais com personalidades es-

pecíficas, de acordo com sua inserção,

contatos diretos e potenciais. Uma pode

ser voltada às artes plásticas, outra ao ci-

nema, outra às artes performáticas, outra

às artes gráficas, etc. Assim como as pra-

ças, as escolas também podem abrir seus

espaços para receber outras tantas expe-

riências culturais. Sendo assim, uma das

possibilidades que se configura é criar

uma rede cultural que articule diversos

espaços, podendo-se pensar inclusive

nos percursos entre eles, como trilhas

educativas.

O que em um primeiro momento podem

ser experiências pontuais em cada praça,

como exibição de um filme em uma, um

show em outra, etc, em um segundo mo-

de interesse sugerir experiências mais

tranquilas em um primeiro momento.

Seguindo as discussões que já vêm ocor-

rendo na Praça Waldir de Azevedo, os

moradores de seu entorno podem se en-

volver mais na busca por uma nova iden-

tidade à casinha ali presente. Cada vez

mais se vê pessoas deixando suas men-

sagens e discutindo sobre aquele espaço

cheio de possibilidades. Ideias podem

caminhar no sentido de que seja criado

um ponto de cultura. O Alto de Pinheiros

é carente de equipamentos culturais, por

incrível que possa parecer. Há apenas o

teatro do Colégio Santa Cruz e uma bi-

blioteca municipal.

O Alto de Pinheiros é um bairro que va-

loriza a cultura, mas possui muito poucas

experiências culturais. A personalidade

calma do bairro, diferente de sua vizinha

Vila Madalena, não significa que deva

permanecer sem estimar sua potenciali-

dade. Há de se pensar em como aprovei-

tar este potencial tanto para a comunida-

de, quanto para a população da cidade

como um todo.

Podemos pensar em muitas interven-

ções neste sentido, sem ser necessário

investir dinheiro público em novas infra-

36

de novas sugestões de experiências que

poderíamos realizar. Já quanto ao V Mo-

vimento, também não parece inviável

imaginar o relacionamento de redes di-

ferentes, principalmente os moradores

com as escolas, observando que mais de

70% das crianças do bairro estudam nas

escolas particulares do entorno.

De qualquer forma, este ensaio procu-

rou principalmente levantar as possi-

bilidades que o VII pode trazer, e não

exatamente demonstrar sua atuação. A

estratégia integral, na prática, apenas se

poderá observar em períodos maiores de

intervenção, com experiências e projetos

extensos sendo realizados pelos media-

dores com as comunidades. Esperamos,

contudo, que este ensaio tenha contribu-

ído para os movimentos que ainda estão

por vir tanto no próprio Alto de Pinheiros

quanto em novos bairros que venham a

desenvolver suas estratégias.

5. Resenha críticaEste ensaio, diferentemente do que o VII

indica, foi realizado na passagem do pri-

meiro ao segundo ato e não ao final do VI

Movimento. Talvez seu maior trunfo seja

mostrar o quanto os últimos movimen-

tos são essencialmente participativos,

não sendo possível especularmos muito

sobre quais possibilidades de experiên-

cia a comunidade estaria de fato interes-

sada em realizar.

Contudo, já levantando aquelas que co-

nhecemos durante o Contato, podemos

ver que a calma e tranquilidade do bairro

não o impede de se envolver nas mais

diversas experiências. O filme exibido

na Praça Emília Barbosa Lima, mesmo

em um dia muito frio, reuniu aproxima-

damente 25% das pessoas a quem sabe-

mos que a comunicação do evento atin-

giu, sendo um grande sucesso.

Intervenções pontuais, como a da Pro-

víncia de Saitama e da Praça das Corujas

também nos chamam a atenção para

uma grande coerência e continuidade a

novas atividades. Assim, discutindo so-

bre experiências pontuais em um even-

tual IV Movimento, não seria surpresa

alguma para o bairro assistir uma série

ças culturais, quanto para simplesmente

informar a localização da pessoa e o que

há no entorno.

Quanto à porção noroeste de nosso perí-

metro de contato, poderíamos inclusive

identificar um bairro distinto do Alto de

Pinheiros, por seu padrão de uso e traça-

do urbano diferente, daquele realizado

na área compreendida pelo loteamento

da Cia City. Se este fosse o caso, a se ve-

rificar em um contato mais próximo com

aquela comunidade, seria um bairro me-

nor e isolado dos vizinhos por grandes

barreiras como a Rua Cerro Corá e a Av.

Pereira de Andrade. A única contiguida-

de espacial que há é com o interior do

distrito do Alto de Pinheiros. Sua perso-

nalidade e seu isolamento parcial aca-

bam fazendo com que o tráfego no inte-

rior desta área seja muito local e as ruas

sejam, de forma geral, tranquilas. Contu-

do, não há espaços verdes ou ocupação

como no resto do Alto de Pinheiros.

Ensaio desenvolvido como exemplo das

possibilidades de aplicação da estratégia

do VII Movimento

Luis Fernando Meyer