versus magazine #37 outubro/dezembro 15

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A VERSUS MAGAZINE está de volta e a nova edição está já disponível com entrevistas a Joel Hoekstra, Barock Project, Metal Allegiance e Thy Catafalque. De destacar, ainda, as reportagens dos concertos ao vivo: Ghost, Nightwish, Fear Factory, etc. Garage Power, VERSUS - Playlist, Criticas Versus e muito mais! Download: http://bit.ly/1RRIw5i

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Quando, hoje de manhã, assim que liguei o computador para consultar os mails do dia, me deparei com a notícia da morte de Lemmy Kilmister e fui para o facebook ver se lá encontrava algo sobre as causas do falecimento, en-contrei o comentário que serve de título a este texto.De facto, figuras como o líder do Motörhead parecem imortais… mas não são! Pelo menos, a doença poupou-o ao “fadário” de quem tem de se tratar de um cancro.Não sou exactamente uma fã da banda de Mr. Kilmister, mas, tal como todos os que foram adolescentes – ou quase – nos anos 70, não pude passar ao lado, nem da banda, nem do homem.Lemmy e os Motörhead simbolizam uma época em que as pessoas talvez não fossem muito diferentes do que são agora, mas tinham uma atitude diferente perante a vida. Viviam depressa e de forma intensa, provavelmente por não terem a esperança de vida actual, que faz com que a Europa seja um “continente de velhos”! E mostravam o que faziam, se calhar porque o “politicamente correto” – que faz a sociedade do séc. XXI viver numa hipocrisia frequentemente perigosa – não existia. Ainda há dois anos, Lemmy pensava, incrédulo, que, em 2015, teria 70 anos e exprimia a sua surpresa por tal lhe poder acontecer. Do seu ponto de vista, já “devia uns anos à cova”, como costuma dizer o povo. Atingiu esse marco, apenas por quatro dias. Mas uma coisa é certa: velhos, “intermédios” e novos, todos sabem quem são Lemmy e os Motörhead – embora possam ignorar o facto de que são britânicos (como os Iron Maiden ou os Judas Priest). Basta ver a quantidade de pessoas que envergam t-shirts da consagrada banda nos eventos ligados à música extrema. E, mesmo em vida, já estava no “panteão do rock”, se tal coisa existe!

CSA

LEMMY MORREU MESMO?!!!

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E D I TO R I A L

E D I TO R I A L

A SÉRIO?!

O editor ia l estava escr i to mas face ao tr iste acontecimento de dia 28 foi reformulado, assim como a capa. O f inal deste ano não podia ser mais t r is te: Lemmy Ki lmister fa leceu ví t ima de um cancro fu lminante. Desde a detecção da doença até ao falecimento mediaram apenas dois dias e Lemmy encontra-se agora a br indar, onde quer que estejam, com Ronnie James Dio. Sobre este assunto uma pequena referência porque a edição estava prat icamente fechada (Obrigado à Cr ist ina Sá) mas na próxima edição uma repor tagem mais elaborada sobre Lemmy.A VERSUS como sabem é uma publ icação gratui ta. Dedicamo-nos de corpo e alma a escrever sobre música e umas das funções que também nos enche de orgulho é poder promover novos ar t istas – Lembra-me aqui há uns anos a descober ta dos Ne Obl iv iscar is. Este orgulho é tanto maior, quantas mais bandas forem nacionais. Muitas vezes somos nós que procuramos e oferecemos o nosso espaço para essa promoção e divulgação. No entanto, o mais car icato é quando oferecemos a CAPA a troco de um passatempo ou de um CD autografado. Sim, a CAPA e os ar t istas não respondem a uma simples entrevista. Outros há que, s implesmente, recusam uma entrevista, que pode promover a banda e/ou o negócio. A sér io?! Enf im, só neste país, onde é di f íc i l v iver da música, se recusa promoção e divulgação à bor la. Mas como nem tudo é assim tão mau, Tales and Melodies é um projecto saído do talento de José Santos e que integra o Garage Power esta edição.De destacar, a inda as repor tagens aos concer tos de GHOST e AMORPHIS/ARCH ENEMY/NIGHTWISH em Leipzig e as entrevistas a METAL ALLEGIANCE, JOEL HOEKSTRA e THY CATAFALQUE.Queremos dar as boas vindas a dois novos colaboradores: Eduardo Rocha e Freder ico Figueiredo – sejam bem-vindos!

Por úl t imo um agradecimento muito especial à PRIME ARTISTS por nos ceder a opor tunidade de repor tar os concer tos de GHOST, FEAR FACTORY, RIVERSIDE, LEPROUS E SOEN. \m/

Eduardo Ramalhadeiro

VERSUS MAGAZ INERua José Rodrigues Migueis 11 R/C3800 Ovar, PortugalEmail: [email protected]

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PUBL ICAÇÃO B IMESTRALDownload Gratuito

DIRECÇÃOAdriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

GRAF ISMOEduardo Ramalhadeiro

COLABORADORESAdriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Hugo Melo, Ivo Broncas, Jorge Ribeiro de Castro, Paulo Guedes, Pedro Remiz, Victor Hugo, Miguel Ribeiro (Hintf) e Nuno Kanina (Hintf)

FOTOGRAF IACréditos nas Páginas

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I N D I C ENº37 OUTUBRO / DEZEMBRO 2015

THY CATAFALQUE32 UM HOMEM TRANQUILO

CONTEÚDO

06 NOT ÍC IAS VERSUS07 TR IAL BY F IRE08 DEAD SOUL11 METAL ALLEG IANCE15 BENJAMIN BORUCK I18 GRELOS DE HORTELÃ19 HUMANISTAS ERROR EST23 FLASH REV IEWS25 RAST ILHOS RECORDS: 1996-2015

26 “ADÃO E EVA - ANTÓNIO PARADA

27 MOSH28 BAROCK PROJECT36 JOEL HOEKSTRA40 ALBÚM DO MÊS # THY CATAFALQUE - «Sgùrr»

41 CR IT ICA VERSUS48 PLAYL IST VERSUS50 BAKTHER IA53 ELUVE IT I E 55 K ING DEMOGORGON59 PH IL “PH ILTHY AN IMAL” TAYLOR

64 L IVE VERSUS # Ghost # Fear Factory # Apocalyptica

# Tó Pica # Riverside # Nightwish # Orphaned Land # Barock Project # Leprous # Salamandra em Chamas # Nadja # Aidan Baker # Soen

84 CONSEQUENCE86 GARAGE POWER # Tales and Melodies

89 MIA # Pantera

94 CONSEQUENCE86 MORD’A’ST IGMATA89 SERRABULHO

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N O T I C I A S

RIP“PHILTHY ANIMAL” TAYLOR

O ex-baterista do MOTÖRHEAD Phil “Philthy Animal” Taylor morreu na quarta-feira, 11 de novembro.A notícia foi dada através na página pessoal no Facebook de “Fast” Eddie Clarke. Ambos tocaram juntos no Motörhead entre 1976 e 1982. Segundo Eddie, Phil estava doente há bastante, não se sabendo ainda a causa da morte. O baterista fez parte do Motörhead de 1975 a 1984 e entre 1987 e 1992. Ele gravou, ao todo, 10 álbuns, incluindo clássicos como “Ace of Spades” (1980), no qual aparece na capa, no meio do deserto, ao lado de Lemmy Kilmister e de “Fast” Eddie Clarke, “Overkill” (1979) e “Bomber” (1979). Phil “Philthy Animal” Taylor tinha apenas 61 anos.

“The Haunted” é o título do novo single dos Omega Sins que foi lançado no dia 7 de outubro. Este é um tema poderoso caracterizado pela composição densa e enfática que nos chega através de uma voz saturada e vigorosa.“The Haunted” abre as portas ao novo EP da banda - “Mirror’s Edge”, que será lançado em breve com o selo da Music in my Soul. (Vejam como ganhar o single nas últimas páginas da revista)

OMEGA SINS“THE HAUNTED”

GUNS N ‘ROSES VER PARA CRER

Os lendários Guns N ‘Roses estão a poucos dias de anunciar a tão esperada (ou não?) reunião em forma de uma digressão mundial que ocorrerá em 2016.O guitarrista Slash confirmou que ele e vocalista Axl Rose se reconciliaram depois de quase uma década de argumentos. Amigos chegados afirmam que estão a evidenciar esforços para tocarem juntos em 2016.Espera-se que sejam cabeças de cartaz vários festivais por toda a Europa e Estados Unidos antes de saírem na digressão mundial que coincidirá com a comemoração do seu 30º aniversárioRelatos recentes vieram a lume dizer que tem concertos previstos para Austrália, Suécia e Portugal. Vamos lá a ver se é mesmo a sério ou se vamos assistir a mais uma birra de Axl Rose.

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MONOLITHE Epsilon Aurigae (Debemur Morti Productions)

MÉDIA: 3,5

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

E D U A R D O R .

AB IGA IL WILL IAMS The Accuser (Candlelight) MÉDIA: 3,5

METAL ALLEG IANCE Metal Al legiance (Nuclear Blast) MÉDIA: 3,4

AEVANGEL IST Enthrall To The Void Of Bliss

(20 Buck Spin) MÉDIA: 3,0

CH ILDREN OF BODOM I Worship Chaos (Nuclear Blast) MÉDIA: 2,0

MOLLLUST In Deep Waters

(Independente) MÉDIA: 3,8

CHR IST IAN DEATH The Root Of All Evilution (Season of Mist) MÉDIA: 1,5

MALEVOLENT CREAT ION Dead Man s Path (Century Media) MÉDIA: 3

N I LE What Should not Be Unearthed

(Nuclear Blast) MÉDIA: 3,5

MAGNUS KARLSSON’S FREE FALL Kingdom of Rock (Frontiers) MÉDIA: 4,5

AMORPHIS Under The Red Cloud (Nuclear Blast) MÉDIA: 3,5

T R I A L B Y F I R E

Obra - Prima

Excelente

Esforçado

Esperado

Básico

E D U A R D O R .

H U G O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F. C A R L O S F. C A R L O S F.

C A R L O S F. C A R L O S F.

C A R L O S F.C A R L O S F.

E D U A R D O R .

E D U A R D O R .

E D U A R D O R . E D U A R D O R . E D U A R D O R .

E D U A R D O R . E D U A R D O R .

H U G O M .

H U G O M .

H U G O M . H U G O M . H U G O M .

H U G O M . H U G O M .

H U G O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

C A R L O S F. C A R L O S F.

E D U A R D O R . E D U A R D O R .

H U G O M . H U G O M .

A D R I A N O G . A D R I A N O G .

E R N E S T O M . E R N E S T O M .

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E N T R E V I S T A

“…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HA-VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS”

DEAD SOULALMAS GÉMEAS

A MAIOR PARTE DOS PROJECTOS MUSICA IS RESULTAM DE ALGUM T IPO DE COLABORAÇÃO CUJOS GÉNEROS E GOSTOS MÚSICA IS CONVERGEM. NO ENTANTO, OS SUECOS DEAD SOUL , COMPOSTOS PELO VOCAL ISTA/GU ITAR ISTA ANDERS LANDEL IUS RESPE ITADO MÚSICO DE BLUES E O MULT I - INSTRUMENTAL ISTA/PRODUCTOR N IELS N IELSEN, L IGADO À MÚSICA ELECTRÓNICA JUNTAM-SE PARA FAZER ALGO D IFERENTE . A S IMBIOSE ENTRE ESTAS INFLUÊNC IAS MUSIC IAS TÃO D ISPARES É FE ITA DE UMA FORMA BR ILHANTE . O MELHOR D ISTO A INDA ESTÁ PARA V IR , PO IS OS DEAD SOUL TÊM ACTUAÇÃO

MARCADA PARA O NOSSO PA ÍS EM NOVEMBRO, COMO BANDA SUPORTE DOS GHOST.

Por: Eduardo RamalhadeiroTradução: Adriano Godinho

ANTES DE MAIS , PARABÉNS PELO VOSSO SEGUNDO ÁLBUM, F IQUE I DEVERAS IMPRESS IONADO!

ANDERS: Muito obrigado Eduardo! Ficamos contentes em saber que gostaste, estamos muito entusiasmados por já estar disponível.

NÃO VOS CONHEC IA ANTES DESTE

«THE SHELTER ING SKY» E SENDO TU UMA PESSOA MAIS L IGADA AO ROCK/BLUES E O N IELS UMA PESSOA DA MÚSICA ELECTRÓNICA F ICO MUITO CUR IOSO EM SABER COMO É QUE A VOSSA COLABORAÇÃO NASCEU. COMO ACONTECEU?

ANDERS: Tenho andado presente na cena internacional do blues desde os anos 90 e após alguns àlbuns

mais tradicionais fiquei tentado em tentar algo de diferente. Ouvi falar do Niels pelas suas qualidades como produtor mas também do seu gosto pela música electrónica e da sua forma não convencional de gravar música, fiquei curioso com o que poderia acontecer se o Niels fosse o meu produtor. Dito e feito, trabalhamos no meu primeiro álbum a solo «One man riot» e não só o resultado

“GOSTO DE PENSAR QUE É A “ALMA“. DESDE QUE HAJA HONESTIDADE E ALMA NA MÚSICA, NÃO INTERESSA MUITO O QUE FAZES.“

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foi muito bom como gostamos imenso de trabalhar juntos e até ficamos imediatamente amigos. Quando decidmos trabalhar numa continuação ao «One man riot», Niels teve uma maior participação e então percebemos que estava a acontecer algo de diferente e entusiasmante; talvez seja algo demasiado fora para tocar regularmente em bares de blues. Então decidimos parar para pensar sobre para onde queríamos levar este projecto e termos prazer em compor a nossa música. Esse foi o primeiro passo em direcção ao que mais tarde se tornou Dead Soul.

PARA SER TOTALMENTE HONESTO, TENHO ANDADO A OUV IR O VOSSO ÁLBUM VEZES SEM CONTA E A INDA ESTOU A TENTAR ENCONTRAR PALAVRAS QUE CONSIGAM DEF IN IR A VOSSA MÚSICA . PODES NOS AJUDAR A TENTAR ENQUADRAR A VOSSA MÚSICA?

ANDERS: Não és o único! É difícil dar uma definição, até nós tivemos dificuldade em descrever o que fazemos. Ouvimos o termo “industrial doom blues“ assim como “electronic blues“ e até alguém disse que soava à banda sonora do fim do mundo; a verdade é que talvez seja algo entre isso tudo. Penso que tanto eu como o Niels nos vemos como pessoas apaixonadas pela música, especialmente compôr e gravar. São essas as duas coisas que mais gostamos e não gostamos de sentir limites quando estamos a compôr. Se soar bem e tiver conteúdo e alma, então estamos felizes. Trabalhamos sempre no intuito de enriquecer as músicas e penso que por isso nunca sentimos a necessidade de impressionar com solos de guitarra só para ter um solo assim como se uma caixa de ritmos soar melhor do que uma baterista acústica, a escolha é rapidamente feita.

A ÚN ICA CO ISA QUE CONSIGO DEF IN IR FAC ILMENTE É A TUA VOZ . NÃO SE I PORQUÊ MAS SOA-ME A UMA MISTURA DE JOHNNY CASH COM N ICK CAVE ; CONCORDAS?

ANDERS: Bem, primeiro, muito obrigado! Ser comparado a duas lendas como essas é uma honra. Claro não posso negar que sou

um grande fã dos dois mas nunca tentei copiar nenhum. Penso que o facto de ter uma voz tão grave torna a comparação mais fácil.

OUVI O VOSSO TRABALHO « IN THE DARKNESS» ASS IM COMO «THE SHELTER ING SKY» E PERCEBE -SE QUE O VOSSO PR IME IRO TRABALHO É MAIS ELECTRÓNICO E OBSCURO. NESTE NOVO S INTO ALGUMA “LUZ AO FUNDO DO TÚNEL“ , MESMO ASS IM, A MEU VER , S INTO ALGUMA D IFERENÇA ENTRE AMBOS NO QUE TOCA AO AMBIENTE QUE SE PODE SENT IR .

ANDERS: É uma boa análise, Eduardo. Gostaríamos de ver este novo trabalho como um segundo capítulo da “histórica“ começada em «In Darkness». Vejo «In the Darkness» como um álbum que retrata a guerra que uma pessoa leva consigo próprio e os outros que o rodeiam. São sentimentos muito fortes, muito ódio e frustração. «The Sheltering Sky» é a evolução natural do estado de espírito, onde a guerra acabou e agora trata-se de juntar as peças e tentar encontrar uma forma de seguir em frente, apesar das cicatrizes e dores interiores. Essa evolução também pode ser ouvida na música.

O QUE ACHO TORNA O PROJECTO DEAD SOUL TÃO ESPEC IAL É A D ICOTOMIA ENTRE VÓS DO IS E AS VOSSAS INFLUÊNC IAS . QUÃO D IF ÍC I L É PARA VÓS TRABALHAR JUNTOS E CHEGAR A UM RESULTADO F INAL?

ANDERS: Não é nada difícil. Temos um enorme respeito pelas qualidades um do outro e conseguimos dar-nos o espaço nos momentos certos, durante o processo criativo. Trabalhamos já há algum tempo juntos e sabemos como obter o melhor resultado; mas também sabemos que a nossa diferença é o que mantém as coisas interessantes quando compomos música.

QUAL É A L INHA (TÉNUE) QUE SEPARA A MÚSICA ELECTRÓNICA DO ROCK/BLUES?

ANDERS: Gosto de pensar que é a “alma“. Desde que haja honestidade e alma na música, não interessa muito o que fazes. Alma

é algo que não se pode fingir e é o que procuro sempre na música, não importa se é metal, rock, blues ou electónica.

TU PASSATE POR MOMENTOS MUITO COMPL ICADOS NA TUA V IDA , AS LETRAS DESTE TRABALHO SÃO INFLUENC IADAS POR ESSE PASSADO?

ANDERS: Muitos, sim. O privilégio do artista é poder usar a sua arte como forma de comunicar os seus sentimentos assim como compreendê-los. A música, para mim, sempre foi algo que tive de fazer para manter a sanidade. Durante a composição e gravação do «In the Darkness» a minha vida estava do avesso mas compôr, gravar e mais tarde tocar ao vivo deve-me imensa força e reconforto. O novo álbum também é muito pessoal mas numa perspectiva mais pós-eventos, em direcção a algo melhor e mais positivo na vida (ou apenas com mais perdão).

COMO COMEÇOU A VOSSA COLABORAÇÃO COM A RAZZ IA RECORDS DO ANDERS FR IDEN?

ANDERS: Niels foi manager da digressão dos Ghost durante o primeiro álbum deles e uma das maiores digressões na Europa foi com os In Flames como banda de suporte. Niels ficou amigo do Anders e quando tivemos algumas músicas prontas enviou-as ao Anders para ver o que ele achava e se estaria interessado em publicar-nos na sua editora. Respondeu-nos alguns minutos depois, com uma proposta pronta para nós.

O SUCESSO FO I TAL QUE O SEGUNDO ÁLBUM LEVOU-VOS À CENTURY MED IA PARA ED ITAREM «THE SHELTER ING SKY» FORA DA ESCANDINÁV IA . COMO ESTÁ A CORRER?

ANDERS: Está a ser o máximo! Foram incríveis conosco, promovendo-nos e ao nosso trabalho. Estamos muito satisfeitos!

ESTÃO EM D IGRESSÃO COM OS GHOST (E A VOSSA COLABORAÇÃO NÃO F ICA POR AQU I ) E NÃO É A PR IME IRA VEZ . COMO ESTÁ A D IGRESSÃO A CORRER?

ANDERS: Fizemos a nossa primeira

“É DIFÍCIL DAR UMA DEFINIÇÃO, ATÉ NÓS TIVEMOS DIFICULDADE EM DESCREVER O QUE FAZEMOS. OUVIMOS O TERMO “INDUSTRIAL DOOM BLUES“ ASSIM COMO “ELECTRONIC BLUES“

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digressão como banda de suporte para os Ghost em 2012 quando Papa Emiritus II foi apresentado ao mundo. Desde então temos feito várias digreessões na escandinâvia com eles. Eles são da mesma zona da Suécia que nós e conhecemos-los bem (antes de Ghost). Por isso é muito como estar em família quando estamos na estrada. Continuamos em casa mas vamos começar uma volta de seis meses pela Europa em mesnos de uma semana. Estamos em pulgas para começar.

EM NOVEMBRO VÃO TOCAR EM PORTUGAL COM OS GHOST; PARA OS QUE NÃO CONHECEM DEAD SOUL AO V IVO O QUE PODEMOS ESPERAR DE VÓS?

ANDERS: Sofremos grandes alterações na formação desde o ano passado e estamos a tocar com uma equipa mais electrónica do que antes, o que nos deixa muito entusiasmados. Podemos ser apenas três pessoas no palco mas continamos a ser muito presentes e é ainda uma experiência intensa. Quem nos conhece e tem acompanhado o nosso percurso sabe que começamos como uma banda mais electrónica ao vivo sem bateria e agora voltamos a essa formação, o que achamos muito bom.

SE NÃO ESTOU EM ERRO, «L IVE IN STUD IO UNDERJORD» SA IU EM 2014 COM UMA ATMOSFERA MAIS ÍNT IMA. EX ISTE ALGUMA VERSÃO F ÍS ICA DESSA GRAVAÇÃO? APENAS CONHEÇO A VERSÃO D IG ITAL . . .

ANDERS: Não existe, estava planeado lançar uma versão em vinil mas nunca aconteceu. Nesta altura não está planeado lançar a gravação em CD ou vinyl.

PORQUE USARAM DUAS BATER IAS?

ANDERS: É uma história engraçada. Quando começamos a utilizar uma bateria nos concertos encontramos um grande baterista para tocar conosco mas devido a um enorme quantidade de pedidos para ele tocar noutros projectos encontramos outro baterista, igualmente muito bom. Ambos gostavam muito de tocar conosco,

então decidimos que iriam tocar ao mesmo tempo conosco, quando possível. Foi uma grande experiência; muito engraçado e soava mesmo muito bem mas do ponto de vista da logística e dos custos associados – para um projecto a começar e sem grandes fundos – não foi possível continuar.

NÃO POSSO TERMINAR ESTA ENTREV ISTA SEM FALAR NA MINHA MÚSICA PREFER IDA : “D IRT ROAD”. QUEM ESTÁ “DESTROÇADO E PERD IDO“ (“BROKEN AND LOST“)? E DE QUEM É O “RESP IRAR QUE TE AL IMENTA“ (“BREATH IS YOUR FUEL“)?

ANDERS: Por uma vez decidi escrever uma música que focava nos sentimentos em vez de se preocupar com o sentido das palavras. Quis capturar o sentimento de se sentir completamente só e perdido. Algo com que muita gente consegue identificar-se. Eu sei que conseguem. A esse nível apenas

“TENHO ANDADO PRESENTE NA CENA INTERNACIONAL DO BLUES DESDE OS ANOS 90 (.. .) FIQUEI TENTADO EM TENTAR ALGO DE DIFERENTE. OUVI FALAR DO NIELS PELAS SUAS QUALIDADES COMO PRODUTOR MAS (.. .) E DA SUA FORMA NÃO CONVENCIONAL DE GRAVAR MÚSICA“

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nos podemos agarrar às coisas que nos dão vontade de viver. No meu caso o meu filho é, e será sempre, a minha principal razão de acordar todas as manhãs e lutar para ser a melhor pessoa que possa.

OBRIGADO PELA ENTREV ISTA!ANDERS: Muito obrigado pelo teu interesse na nossa música. Estamos realmente ansiosos para tocar em Portugal (eu nunca estive aí, mas a minha esposa esteve no final dos anos 80 e apaixonou-se pelo vosso seu país, então, mal posso esperar para ir).

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“…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HA-VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS”

METAL ALLEGIANCEA ALIANÇA QUE UNIFICOU O METAL

EMBORA ELES PRÓPR IOS NÃO APREC IEM O TERMO, É INEV ITÁVEL REFER IMO-NOS A UMA BANDA QUE TENHA ALEX SKOLN ICK (TESTAMENT) , MIKE PORTNOY (THE WINERY DOGS, EX DREAM THEATER) E DAVE ELLEFSON (MEGADETH) NA SUA FORMAÇÃO, COMO UM “SUPERGRUPO”. SEGUNDO OS MESMOS, SÃO APENAS UM GRUPO DE AMIGOS QUE TÊM VONTADE DE FAZER MÚSICA JUNTOS. T IVEMOS A OPORTUNIDADE DE ESTAR À CONVERSA COM MARK MENGHI . ESTE I LUSTRE DESCONHEC IDO NÃO SÓ FAZ PARTE DA FORMAÇÃO, COMO É “SÓ” O MENTOR DO PROJETO E RESPONSÁVEL POR REUN IR ESTES MONSTROS DA MÚSICA . COMO SE ISTO NÃO FOSSE NÃO SUF IC I ENTE PARA VOS CHAMAR A ATENÇÃO, RESTA D IZER QUE O SEU ÁLBUM TEVE A PART IC IPAÇÃO DE , ENTRE OUTROS, PH IL ANSELMO, RANDALL BLYTHE , GARY HOLT, ANDREAS K ISSER , E T IM “R IPPER” OWENS.

Por: Ivo Broncas

ANTES DE MAIS , QUER IA AGRADECER O TEMPO QUE DESPENDESTE , E DAR-TE OS PARABÉNS PELO ÁLBUM!

MARK MENGHI : Obrigado! Este tem sido um ano de loucos!

METAL ALLEG IANCE É DE FACTO UM EXCELENTE PROJETO. CONTUDO, ALGUMAS PESSOAS DESCONHECEM

A H ISTÓR IA DA VOSSA FORMAÇÃO. SERÁ QUE PODES EXPL ICAR RESUMIDAMENTE COMO TUDO COMEÇOU?

MARK: A ideia surgiu-me em 2011 e consistia inicialmente, no que podemos chamar de uma “banda all-star”, que se iria juntar apenas para um, evento e tocar “covers” de músicas bem conhecidas. Isto

porque eu era apenas um fã que queria ver e ouvir algo diferente. Durante esse mesmo concerto as reações do público foi tão intensas, e as suas expressões denotavam uma tal satisfação, que percebi de imediato que tínhamos ali algo especial. Sabendo isso, e tentando dar continuidade ao que fizemos, comecei a recrutar mais elementos. Apenas em Setembro de 2014, já com a formação atual, é que

“A ÚNICA COISA QUE PRETENDÍAMOS ERA JUNTARMO-NOS, FAZER MÚSICA, E VER O QUE DAÍ RESULTAVA. NA PRIMEI-RA SESSÃO ESCREVEMOS CINCO CANÇÕES. NA SEGUNDA, MAIS QUATRO. A QUÍMICA ERA ESPANTOSA!”

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começámos a considerar escrever um álbum de originais. Estávamos no Motorhead Motorboat Cruise (um cruzeiro organizado pelos Motorhead) a dar concertos, já sob o nosso novo nome de Metal Allegiance, e discutimos de uma forma muito descontraída a possibilidade de levar o projeto mais além. De lembrar que isto aconteceu apenas há cerca de um ano atrás! Resultado: 45 dias depois, Alex (Skolnick, guitarrista dosTestament), Mike (Portnoy, baterista dos The Winery Dogs e ex Dream Theater), Dave (Ellefson, baixista dos Megadeth), e eu, juntámo-nos da casa do Mike Portnoy para começar a gravar o álbum. Em menos de um ano foi escrito, gravado, misturado, masterizado, e lançado pelos nossos bons amigos da Nuclear Blast. E não nos podemos esquecer que tivemos vinte e um (21) convidados a participar neste trabalho. Aconteceu tudo de uma forma muito natural, nada foi forçado ou apressado, e daí a razão para o disco ser coeso e soar tão bem.

A IMPRENSA RETRATA-VOS CONSTANTEMENTE COMO UM “SUPERGRUPO”. JÁ D ISSERAM QUE NÃO APREC IAM O TERMO E NÃO SE REVÊM NO CONCE ITO . SEGUNDO AS VOSSAS PALAVRAS, CONS IDERAM-SE APENAS UM GRUPO DE AMIGOS QUE QUEREM FAZER MÚSICA JUNTOS. ACRED ITAM (COMO EU) QUE ESTA FO I ESTA A PR INC IPAL CHAVE DO VOSSO

SUCESSO?

MARK: Absolutamente. Quando nos juntámos pela primeira vez éramos apenas quatro amigos numa sala. Não estávamos ligados a nenhuma editora, não tínhamos fundos externos que nos possibilitassem financiar um disco, nada! A única coisa que pretendíamos era juntarmo-nos, fazer música, e ver o que daí resultava. Na primeira sessão escrevemos cinco canções. Na segunda, mais quatro. A química era espantosa! Não fazíamos ideia no que este álbum se podia tornar. Todos os custos foram suportados por nós, e, só quando todas as canções estavam gravadas, é que a editora Nuclear Blast entrou na equação. Não só perceberam que se tratava de uma banda de irmãos, como perceberam exatamente o que pretendíamos e o que tínhamos em mente para este trabalho. Foi esta a razão que nos levou a assinar contrato com eles, porque, caso contrário, tínhamos toda a intenção de lançar o álbum por nossa conta! Este disco pauta sonoramente pela sua coesão, e é isso o que acontece quando tens quatro pessoas que partilham a mesma visão.

PRESUMO QUE TODAS AS BANDAS TÊM MÉTODOS DE TRABALHO E ROT INAS MUITO PART ICULARES. TENDO ISSO EM CONSIDERAÇÃO, DURANTE O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO, T IVERAM, DE UMA FORMA OU DE OUTRA, DE SE ADAPTAR ÀS

D IFERENTES ROT INAS DE TRABALHO DE CADA UM, OU FO I ALGO QUE ACONTECEU NATURALMENTE?

MARK: Ah, claro que tivemos de nos adaptar. Mas essa adaptação ocorreu facilmente, sem nos sentirmos pressionados ou stressados. O Mike (Portnoy) gosta de trabalhar de uma forma muito intensa. Ele costumava gritar comigo e com o Alex (Skolnick) quando nos abstraíamos e ficávamos descontraídos, apenas a improvisar um com o outro. (Risos) Mas nós os quatro combinámos muito bem. Não tivemos uma única disputa, zanga ou discussão. Bem, talvez numa única música, numa fase muito inicial do processo de composição, nós discordámos. E foi essa pequena discussão que me levou a escrever nas costas da minha guitarra “Music Not For Pussies”! (risos) Mas fora isso estivemos sempre em sintonia. Por coincidência, nessa mesma guitarra, logo a seguir a esse episódio, compus o riff para a música “Gift of Pain”. (mais risos) (Música que conta com a colaboração de Randy Blythe, vocalista dos Lamb of God e Gary Holt, guitarrista dos Exodus).

ESTE É UM ÁLBUM BASTANTE CR IAT IVO . E APESAR DE TER UM F IO CONDUTOR, AS MÚSICAS VAR IAM BASTANTE ENTRE S I , DANDO OR IGEM A UM TRABALHO BASTANTE D IVERS IF ICADO EM TERMOS DE EST ILO . COMO MÚSICO

“NADA DISTO FOI FEITO COM O INTUITO DE OBTER RECONHECIMENTO OU TER DESTAQUE NA IMPRENSA. O OBJETIVO ERA UNIFICAR AS DIFERENTES CULTURAS QUE EXISTEM DENTRO DO METAL.”

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MARK: Bem, para mim houve duas grandes surpresas. Uma foi a contribuição do Phil Anselmo. Honestamente não fazíamos ideia do que iriamos obter. Sabíamos que iria ser algo incrível, porém desconhecíamos se ele iria optar por um desempenho vocal mais melódico, mais intenso, ou um que englobasse ambas as formas de cantar. Foi o único vocalista ao qual forneci a música na qual ele ia trabalhar sem uma letra já definida. Dissemos-lhe: “Esta é toda tua!”. E ele entregou uma obra-prima! Tanto em termos vocais, como em termos líricos. A outra surpresa foi o Troy (Sanders. Baixista e vocalista dos Mastodon). Quando escrevi a letra para a canção em que participou, sempre supus que a fosse cantar num estilo completamente diferente daquele que escolheu. A sua performance vocal foi muito emotiva e sombria, e eu fiquei completamente chocado! Foi exatamente o oposto daquilo que eu imaginei que ele ia fazer.

CONSEGUIRAM A PROEZA DE REUNIR NO MESMO D ISCO ALGUNS DOS GRANDES NOMES DA INDÚSTR IA . NÃO SÓ ISSO, COMO, CONSEGU IRAM ABRANGER NO MESMO PROJETO VÁR IAS GERAÇÕES DE MÚSICOS, PROVEN IENTES DOS MAIS D IFERENTES EST ILOS DENTRO

ISSO É L IBERTADOR? NÃO TER DE EXCLU IR ALGUMAS CANÇÕES PORQUE NÃO SE ENCA IXAM NO EST ILO CARACTER ÍST ICO DA BANDA?

MARK: Tanto em termos de letras, como em termos de músicas, nós escrevemos aquilo que sentimos. Como já expliquei anteriormente, não havia ninguém a ditar-nos regras. Contudo, todos tínhamos algo a provar. Para o Mike (Portnoy), o objetivo era provar a terceiros que não só é capaz de tocar metal, mas que consegue também dominar o estilo e ter uma performance extraordinária num disco tão intenso como este. Tanto o Alex (Skolnick) como o Dave (Ellefson) pretendiam com esta liberdade mostrar a sua criatividade e versatilidade musical. Nas suas bandas principais não têm a oportunidade de compôr muitas canções, por isso, isto foi para eles um importante escape criativo. Para mim, o desconhecido, era importante demonstrar que um “zé ninguém” consegue tocar com alguns dos melhores músicos da industria, e poder particpar no processo de composição. No meu caso, tive uma voz muito activa no que à escrita das letras diz respeito. Como o Randy Blythe (Lamb of God) disse uma vez: “Música é a melhor forma de liberdade de expressão que alguém pode ter”, e escrevê-la para este disco foi muito terapêutico para mim.

A QUANT IDADE DE MÚSICOS QUE PART IC IPAM NO ÁLBUM É ENORME! NÃO SÓ EM TERMOS DE QUANT IDADE MAS TAMBÉM EM TERMOS DE QUAL IDADE . ACRED ITO QUE TODA A LOG ÍST ICA NECESSÁR IA OS CONSEGU IR LEVAR ATÉ AO ESTÚD IO TENHA S IDO UM VERDADE IRO DESAF IO . FO I ESTA A PR INC IPAL D IF ICULDADE QUE T IVERAM AQUANDO DA GRAVAÇÃO DO ÁLBUM? SABEMOS QUE ALGUNS DOS CONVIDADOS INFEL I ZMENTE NÃO PUDERAM ESTAR F IS ICAMENTE PRESENTES . NESSES CASOS, COMO ULTRAPASSARAM ESSE OBSTÁCULO?

MARK: Uma grande parte dos nossos convidados conseguiram deslocar-se até estúdio de Nova Iorque (Long Island) onde fizemos as gravações do álbum. Como é

óbvio, não conseguimos que todos estivessem fisicamente presentes. Mas os que não estiveram gravaram as suas faixas nos seus estúdios, particulares ou locais, e estavam tão motivados e focados como nós. Falávamos constantemente por Skype ou por FaceTime enquanto estavam a editar as suas faixas. Mas mais uma vez decorreu tudo de forma muito natural e intuitiva. O objetivo para este projeto era fazer uma gravação “ao vivo” num velho equipamento analógico Algo que conseguimos para a maioria das canções.

HOUVE ALGUMA COLABORAÇÃO QUE VOS TENHA SURPREEND IDO? NÃO PELA QUAL IDADE , PORQUE ISSO TODOS TÊM EM ABUNDÂNCIA . ESTOU A FALAR DE UM CONVIDADO QUE , MUSICALMENTE FALANDO, TENHA APRESENTADO UMA CONTR IBU IÇÃO NUM EST ILO COMPLETAMENTE D IFERENTE DAQUELE QUE LHE COSTUMA SER CARACTER ÍST ICO . EU SE I QUE O CHARL IE BENANTE TOCOU GU ITARRA NUMA MÚSICA , E EMBORA ISSO POSSA SER UMA SURPRESA PARA CERTAS PESSOAS, O FACTO É QUE ELE É TAMBÉM UM EXCELENTE GU ITARR ISTA E JÁ GRAVOU INCLUS IVE PARTE DAS GU ITARRAS NUM ÁLBUM DOS ANTHRAX.

PARA O MIKE (PORTNOY), O OBJETIVO ERA PROVAR A TERCEIROS QUE NÃO SÓ É CAPAZ DE TOCAR METAL, MAS QUE CONSEGUE TAMBÉM DOMINAR O ESTILO E TER UMA PERFORMANCE EXTRAORDINÁRIA NUM DISCO TÃO INTENSO COMO ESTE.

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DO METAL . OLHANDO PARA TRÁS AGORA… CONSEGUEM TER NOÇÃO QUÃO IMPRESS IONANTE FO I ESSE FE ITO? E ACHAS QUE ESSE FACTO É , IMPL IC ITAMENTE , UMA MENSAGEM CLARA QUE O METAL ESTÁ UN IDO E QUE É UMA FORÇA MUITO MAIOR DO QUE MUITAS PESSOAS POSSAM PENSAR?

MARK: Honestamente não tinha, e continuo sem ter, a mínima ideia do que fiz ou do que estou a fazer… (risos) Foi como te disse: eu era, e continuo a ser, apenas um fã que queria ver e ouvir algo diferente. Já me disseram que me é atribuído o mérito de ter conseguido com que Phil Anselmo voltasse a cantar músicas dos Pantera em público. Eu não fazia ideia que alguém pudesse pensar assim! Desde a separação dos Pantera banda em 2001 que ele não fazia tal coisa, e foi apenas num concerto nosso em 2011, numa fase em que ainda nem tínhamos adotado o nome “Metal Allegiance”, que o voltou a fazer. É de doidos quando penso nisso… Nada disto foi feito com o intuito de obter reconhecimento ou ter destaque na imprensa. O objetivo era unificar as diferentes culturas que existem dentro do metal.

HOUVE ALGUM MOMENTO, DURANTE A COMPOSIÇÃO OU GRAVAÇÃO DO D ISCO, EM QUE OLHASTE AO TEU REDOR, V ISTE A SALA CHE IA DE LENDAS DA MÚSICA E PENSASTE : “ ISTO NÃO PODE SER REAL . ESTOU A SONHAR DE CERTEZA!”?

MARK: A única vez em que me lembro de pensar assim foi quando nos juntámos pela primeira vez na casa do Mike (Portnoy) para começarmos a compor. Estávamos todos no estúdio, bem instalados em sofás, descontraídos, o Alex (Skolnick) e o Dave (Ellefson) estavam a tocar guitarra, eu estava no baixo, o Mike foi-se colocar na bateria… e do nada surgiu a música “Dying Song.” A dada altura lembro-me de dizer para mim próprio: “Isto é de doidos. Mas o que raio estou eu aqui a fazer com estas lendas?!”

EU PRESUMO QUE ISTO TENHA S IDO UMA EXPER IÊNC IA MUITO GRAT IF ICANTE . T IVESTE A H IPÓTESE

“(PHIL ANSELMO) FOI O ÚNICO VOCALISTA AO QUAL FORNECI A MÚSICA NA QUAL ELE IA TRABALHAR SEM UMA LETRA JÁ DEFINIDA. DISSEMOS-LHE: “ESTA É TODA TUA!”. E ELE ENTREGOU UMA OBRA-PRIMA!”

DE TRABALHAR COM MUITOS MÚSICOS TALENTOSOS, E COM CERTEZA , FO I -TE DADO A CONHECER OUTRAS FORMAS DE COMPOR E GRAVAR MÚSICA . DURANTE TODO ESTE PROCESSO, APRENDESTE ALGO DE NOVO QUE PENSAS ADOTAR NO FUTURO?

MARK: Ah sim. Claro. Eu sou, e serei sempre um estudante de música. Quando tens Mike Portnoy, Alex Skolnick e David Ellefson na tua banda e a escreverem música contigo, como podes não aprender nada de novo? Sinto-me honrado por ter sido aceite no seu círculo restrito e me terem deixado contribuir no seu processo criativo. Estar-lhes-ei sempre grato por isso.

L I NUMA ENTREV ISTA VOSSA QUE JÁ ESTÃO A ESCREVER CANÇÕES PARA O PRÓX IMO ÁLBUM. VA I TER UM FORMATO SEMELHANTE A ESTE , COM MUITOS CONVIDADOS, OU ESTÃO A PENSAR EM ALGO D IFERENTE?

MARK: Não sabemos exatamente como será o próximo álbum. Contudo, já temos algumas canções feitas, e já pensámos inclusivamente nalguns convidados especiais para participar nelas. Uma coisa é certa: da minha parte, nunca irá haver escassez de letras! (risos)

MUITAS VEZES SE FALA DA “PRESSÃO DO SEGUNDO ÁLBUM”. JÁ SENTEM ISSO? OU , PORQUE O CONCE ITO SE BASE IA EM JUNTAR AMIGOS PARA FAZER AQU ILO QUE GOSTAM, A PALAVRA “PRESSÃO” NEM EX ISTE NO VOSSO D IC IONÁR IO? MARK: Honestamente eu não sinto qualquer tipo de pressão externa, e provavelmente nunca a sentirei. Contudo, sou muito exigente e crítico em relação ao meu trabalho. Por isso, a pressão que sinto é colocada por mim próprio. Mas tenho a certeza que quando nós os quatro nos voltarmos a reunir na casa do Mike (Portnoy) a música vai fluir.

E EM RELAÇÃO AO FUTURO? TENS A VONTADE DE ABRAÇAR NOVOS PROJETOS, TOCAR OUTROS EST ILOS DE MÚSICA , OU VA IS -TE FOCAR NESTE EM PART ICULAR?

MARK: Bem…Metal Allegiance é a minha paixão, e vou continuar a trabalhar neste projeto até morrer! (risos) Só espero que o Mike, Dave e o Alex não se cansem e deixem a banda!!! Eles são como irmãos para mim, e temos uma dinâmica muito boa. Em relação a tocar outros estilos, quem sabe? De momento estou a escrever letras e músicas para o próximo álbum dos Metal Allegiance. Estou exclusivamente focado nessa tarefa.

SE PUDESSES FORMAR UMA BANDA COM MÚSICOS QUE JÁ NÃO SE ENCONTRAM ENTRE NÓS, QUEM ESCOLHER IAS PARA TOCAR CONT IGO? (CRÉD ITOS DA PERGUNTA AO MEU AMIGO CARLOS CAMPOS)

MARK: Ronnie James Dio que partilharia as vozes com Bon Scott, Dimebag e Jimi Hendrix nas guitarras, John Bonham na bateria, e eu entregava o meu baixo ao Cliff Burton. Não só porque é o meu ídolo no que ao instrumento em questão diz respeito, mas também porque ele faria um trabalho cem vezes melhor que o meu!

E AGORA POR CUR IOS IDADE : NÃO ACHAS QUE DEPO IS DO MIKE PORTNOY TER CONSEGU IDO TOCAR “RA IN ING BLOOD” DOS SLAYER NUMA BATER IA DA HELLO K ITTY…TUDO O RESTO QUE LHE PEÇAM PARA TOCAR DE AGORA EM D IANTE É “CANJA” PARA ELE? (PARA VEREM, OU REVEREM, ESTA PERFORMANCE S IGAM O L INK : HTTP: / /WWW.YOUTUBE .COM/WATCH?V=-AL2 I - -TCHM)

MARK: (Risos) Esse dia foi muito divertido… Com ele nunca se sabe!

BEM, “THAT ´S ALL FOLKS!” OBR IGADO PELO TEU TEMPO. ESTAMOS ANS IOSOS POR VER OS METAL ALLEG IANCE EM PORTUGAL , POR ISSO, POR FAVOR PENSEM N ISSO.BOA SORTE PARA VOCÊS.MARK: Obrigado pelo vosso apoio, Foi um Prazer.

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E N T R E V I S T A

“…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HA-VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS”

BENJAMIN BORUCKIUMA CURIOSA MESCLA DE BOM HUMOR

E IDEIAS NEGRASFAZ ARTWORK TENEBROSO PARA BANDAS DE METAL , MAS, AO MESMO TEMPO, PRODUZ T-SH IRTS CÓMICAS QUE FAC ILMENTE

SUSC ITAM O R ISO : E IS A CONTRAD ITÓR IA ESSÊNC IA DA ARTE DE BENJAMIN BORUCK I !

Por: CSA

OLÁ, BENJAMIN. TENHO ESTADO A ANAL ISAR O TEU PORTEFÓL IO E A CONCLU IR QUE JÁ CONHEÇO ALGUNS DOS TEUS TRABALHOS HÁ MUITO TEMPO: POR EXEMPLO, AS CAPAS QUE F I ZESTE PARA AMON AMARTH E ENS IFERUM. MAS ESTE É APENAS UM DOS AVATARES DA TUA ARTE : CORES ESCURAS COM P INCELADAS DE VERMELHO, GERALMENTE A LEMBRAR CHAMAS.QUE TÉCN ICAS USAS NESTE T IPO DE TRABALHOS?

BENJAMIN: Olá, Cristina. Geralmente,

os meus desenhos são feitos a partir de fotos. Algumas partes são “pintadas” com o Illustrator e, depois, uso o Photoshop para tratar pormenores. No que diz respeito aos filmes, normalmente uso fotos de fogos, mas também crio efeitos no Photoshop e, para produzir algumas texturas, recorro a um programa chamado Filterforge, que recomendo vivamente a todos os que se dedicam ao design.

E ONDE ENCONTRAS OS MOT IVOS PARA ESSES TRABALHOS? FAZES ALGUMA PESQU ISA? ESCOLHES MOT IVOS

QUE AS PESSOAS NORMALMENTE ASSOC IAM AOS V IK INGS?

BENJAMIN: Frequentemente, começo por ler as letras do álbum/da banda para o/a qual vou trabalhar. Normalmente, esse material permite-me idealizar algo visual adequado ao trabalho em questão, que irá inspirar o meu design. Também faço pesquisa na internet para encontrar elementos que possa incluir num motivo. É claro que os temas Vikings estão sempre adequados às duas bandas que referiste.

“(.. .) GERALMENTE, OS MEUS DESENHOS SÃO FEITOS A PARTIR DE FOTOS. ALGUMAS PARTES SÃO “PINTADAS” COM O ILLUSTRATOR E, DEPOIS, USO O PHOTOSHOP PARA TRATAR PORMENORES.”

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TAMBÉM GOSTE I MUITO DOS TRABALHOS QUE F I ZESTE PARA BANDAS COMO CH ILDREN OF BODOM OU CH ILD OF CAESAR: IMAGENS MUITO NEGRAS COM MANCHAS BRANCAS E VÁR IOS TONS DE C INZENTO. SÃO P INTURAS, FOTOS, UMA COMBINAÇÃO DAS DUAS, PROVÊM DE OUTRAS TÉCN ICAS?

BENJAMIN: Fico feliz por esses trabalhos te terem agradado. Tal como já referi, também a maior parte desses trabalhos tem por base fotos que vou tirando. Mas, muitas vezes, tento dar ao meu design um ar de pintura, recorrendo a texturas e ou pintando alguns pormenores, entre outras possibilidades. Também me parece interessante experimentar vários estilos, o que me ajuda a tornar-me num artista mais completo.

ESSES TRABALHOS FAZEM-ME PENSAR NA ESTÉT ICA DOS F I LMES MUDOS ALEMÃES BASEADOS EM H ISTÓR IAS DE TERROR, QUE EU ADORO. HÁ ALGUMA RELAÇÃO ENTRE AS DUAS CO ISAS?

BENJAMIN: Eu também adoro a estética desses filmes antigos, mas, de facto, não há nenhuma relação entre eles e a minha arte. Pelo menos, nunca pensei nisso, quando faço esses trabalhos. Mas acho que me deste uma excelente ideia: inspirar-me nessa estética para esse tipo de trabalhos. Obrigado pela dica! Hehe!

GOSTE I IMENSO DA T-SH IRT QUE F I ZESTE PARA ICHOR. FAZ -ME LEMBRAR UMA ESPÉC IE DE GRAVURA. USASTE MESMO ESSA TÉCN ICA? SE NÃO, COMO CR IASTE ESSE EFE ITO?

BENJAMIN: Não, não tem nada a ver com uma gravura. Fui inspirado pelo simbolismo oculto. Há muita imagética desse género no universo do Metal, como deves saber. Também não atribuo nenhum significado especial a essa minha criação. Muito simplesmente, pareceu-me que esse efeito dava uma boa base para o design. Usei a função Bevel and Emboss” do Photoshop.

A CAPA QUE F I ZESTE PARA NORGE

LEMBRA-ME A DE «LED ZEPPEL IN IV» . PODES COMENTAR ESTA IDE IA?BENJAMIN: Trata-se de uma coincidência. Francamente, não conheço a capa do álbum que referes (estou envergonhado). O meu trabalho inspirou-se nos de Theodor Kittelsen intitulados “Svartedauen”. Esta série de ilustrações representa a peste negra a chegar ao campo sob a forma de uma mulher velha. Fiz esse trabalho para o split de Lunar Aurora e Nordlys. Eles pediram-me para fazer algo old school e, como muitas bandas dos primórdios da segunda vaga do Black Metal usaram obras de Kittelsen no artwork dos seus álbuns, eu queria criar um efeito semelhante nesta capa. Mais uma vez, usei o Filterforge para dar à imagem um estilo “tracejado”.

UM DOS TEUS TRABALHOS QUE MAIS ME AGRADAM É A CAPA E O ARTWORK DE «FUT ILE» DOS EUDA IMONY, QUE ENTREV ISTE I PARA A VERSUS MAGAZ INE NO ANO PASSADO. PARECEM MESMO P INTURAS.

BENJAMIN: Obrigada mesmo. Também é um dos meus trabalhos favoritos – de todos os que fiz até agora. Portanto, parece que temos gostos parecidos. Hehe! Todas as imagens que aparecem no artwork desse álbum foram criadas a partir de fotos. Na realidade, fiz uma sessão fotográfica com a minha sobrinha como modelo. Portanto, ela é a menina que aparece aí e deu-me uma grande ajuda. Depois tentei fazer com que tudo parecesse pintado, usando várias texturas e colorações criadas com o Photoshop. Este artwork deu-me imenso trabalho, mas também muito prazer. A propósito, há uma pintura no fundo da imagem em que a menina – já a envelhecer – está a olhar para o observador, que é um trabalho antigo de um dos meus irmãos. A princípio, pensei em eliminar esse elemento, mas depois desisti, porque combinava bem demais com a atmosfera bizarra da arte desse álbum.

F IQUE I POS IT IVAMENTE EMOCIONADA PELA CAPA, ONDE SE PODE VER UMA JOVEM ADORMECIDA (OU TALVEZ MORTA) . COMO RELAC IONAS UMA TAL IMAGEM COM A FUT IL IDADE?

“(.. .) TAMBÉM ME PARECE INTERESSANTE EXPERIMENTAR VÁRIOS ESTILOS, O QUE ME AJUDA A TORNAR-ME NUM ARTISTA MAIS COMPLETO.”

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BENJAMIN: Nem sei como te agradecer. Essa ideia e outras subjacentes às imagens que criei vieram da cabeça do vocalista dos Eudaimony: Matthias Jell. Discutimos a sua visão do álbum, que sentimentos se pretendia exprimir e ele apresentou-me uma enorme quantidade de ideias excelentes – como, por exemplo, essa da rapariga adormecida/morta – a que eu tentei dar corpo no meu artwork para o álbum. Para mim, essa imagem não podia estar mais ajustada ao título do álbum: representa uma tenra vida, que não teve a possibilidade de se desenvolver, de concretizar o seu potencial. É triste e perturbadora, como a música e as letras desse álbum.

TAMBÉM F IQUE I MUITO IMPRESS IONADA PELOS TEUS DESENHOS CÓMICOS: POR EXEMPLO, «OH CRAB» OU «PAYBACK T IME» OU A INDA OS PEQUENOS AN IMAIS ASSASS INOS. “SABEM” A CARTOONS OU STR IPS DE BANDA DESENHADA. TÊM ALGUMA CO ISA A VER COM A “NONA ARTE”?

BENJAMIN: É verdade, faço muitos desses desenhos no estilo cartoon ou banda desenhada. Uso sempre o Adobe Illustrator. Correspondem à segunda vertente das atividades a que me dedico para ganhar a vida: fazer t-shirts engraçadas. Contrastam muito com os trabalhos tenebrosos que faço para as bandas de Metal. Mas divertem-me muito e introduzem alguma variação na minha rotina diária.

É MICHAEL JACKSON QUE PODEMOS VER NO DESENHO INT ITULADO «WHO’S DEAD» , COMO ELE ERA NOS ANOS 80?

BENJAMIN: Sim, mais precisamente como ele aparece no vídeo de “Thriller”. Essa fi-la só para me divertir. Foi uma das minhas primeiras produções como ilustrador e não está muito bem feita. Mas tens de começar por algum lado, não é assim? Hehe.

QUE ART ISTAS TE INFLUENC IARAM MAIS?

BENJAMIN: No que toca ao estilo,

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penso que Travis Smith teve obviamente um grande impacto no que faço. Sou um grande fã dos seus trabalhos e da forma como usa as texturas e a cor. Nos últimos anos, tenho tentado incluir vários elementos novos no meu estilo. Acho que Joachim Luebke e H.R. Giger fizeram coisas extraordinárias. A fotografia e os arranjos de Joel-Peter Witkins são demais! E tenho investigado imenso sobre a pintura de Caspar David Friedrich, Theodor Kittelsen e Edvard Munch, entre outros. Mas esses pintores não têm nada a ver com a minha arte, exceto no que toca à minha pequena tentativa de dar um estilo à moda de Kittelsen no trabalho que já referi. São todos diferentes uns dos outros. E o meu trabalho é outra história. Hehe! Mas estou satisfeito com o que tenho conseguido criar com as minhas técnicas até ao momento e vou continuar a tentar ser cada vez melhor, a cada trabalho que fizer.

ONDE APRENDESTE A TUA ARTE?

BENJAMIN: Não tenho nenhuma formação específica neste domínio. Tenho-me arranjado com o que aprendi na escolaridade obrigatória. Como sempre gostei muito de trabalhar com o Photoshop, fui explorando tutoriais e fazendo outros e, por tentativa e erro, desenvolvi as competências que ponho em ação nos meus trabalhos.

QUAL FO I O TEU PR IME IRO TRABALHO?

BENJAMIN: O artwork para “The Decline P, um EP da minha banda chamada Sonic Reign.

QUAIS SÃO OS TEUS ÚLT IMOS TRABALHOS?

BENJAMIN: Desenhos para t-shirts de bandas como Ensiferum e DHG/Dodheimsgard, para festivais como Wacken Open Air e o Loud Park Festival, etc. Neste momento, estou a dar os últimos retoques ao split de Lunar Aurora/Nordlys. É um trabalho fantástico, porque, com os LPs, tens muito mais hipóteses de afinar os pequenos detalhes. Prefiro-os de longe aos CDs.

JÁ SE I QUE TAMBÉM ÉS UM MÚSICO . ESSA VERTENTE É TÃO IMPORTANTE

COMO A ARTE GRÁF ICA , OU É UMA ESPÉC IE DE HOBBY?BENJAMIN: Bem, há anos que Sonic Reign não ensaia, o que é lamentável. Espero que possamos mudar isso em breve, porque nos divertíamos muito juntos. Atualmente, ando a escrever canções em diversos estilos para mim próprio e a compor pequenas bandas sonoras para a TV, o cinema, jogos de vídeo, etc. No que diz respeito à importância da música na minha vida, penso que é equiparável à da arte gráfica. É outra forma maravilhosa de me exprimir e seria muito aborrecido para mim ser privado de uma delas.

JÁ F I ZESTE ALGUMA EXPOS IÇÃO OU TOMASTE PARTE NALGUMA?

BENJAMIN: Não. Seria fantástico, mas até agora ainda não me deram essa oportunidade. Também não sei se as pessoas gostariam de ver os meus trabalhos assim. É claro que eu gosto do que faço, mas nunca tenho a certeza de ter agradado aos outros.

SE PUDESSES ESCOLHER UM ART ISTA GRÁF ICO OU UM MÚSICO

“[OS DESENHOS CÓMICOS] CONTRASTAM MUITO COM OS TRABALHOS TENEBROSOS QUE FAÇO PARA AS BANDAS DE METAL. MAS DIVERTEM-ME MUITO [.. .]”

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PARA TRABALHAR CONT IGO , QUEM ESCOLHER IAS?

BENJAMIN: Bem, não trabalharia com outro artista gráfico, porque isto é o meu trabalho e gosto de o fazer sozinho. Hehe! Mas gostava muito de poder observar Travis Smith a fazer uma dos seus artworks e fazer perguntas sobre as técnicas que usa. No que diz respeito aos músicos, já tive a possibilidade de trabalhar com bandas muito especiais, que exprimem emoções intensas na sua música. Tem sido muito inspirador e gratificante trabalhar com artistas dessa craveira. Mas é claro que ficaria muito feliz, se pudesse fazer artworks para as minhas bandas favoritas: por exemplo, Emperor, Deep Purple, Enslaved, Windir, Opeth or Lonely Kamel. Mas, como podes compreender, isso não vai acontecer por várias razões.

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De resto, tudo o que é dado de forma gratuita, tolerante e motivadora, abraço com um humilde sorriso de gratidão.

Sou adepto de um começo da nova Era, sem Deuses e lideres por nós formalizados... “Haverá maior humilhação para um homem ter que eleger seus chefes?”...

Passa por mim na hora da incerteza! Ou não merecemos ser todos elementos honrosos na parte superior da vida?

Passa por mim na hora da incerteza para que sejamos dois ou mais perante a dúvida. Cada vez mais leio o meu próprio comportamento e cada vez mais identifico-me contigo.... Há muito que reparo que o que aniquila as pessoas, é a solidão que elas criam à sua volta. O medo de tentar com o medo de cair e ter que começar tudo de novo. Elas reduzem a nada a sua vontade de explodir. Que lágrima será aquela que nos escorre no rosto um instante antes de partir? Não serei eu a contar-vos! A vida é um mistério constante onde os mais belos acontecimentos acontecem quando dobras a esquina.

As minhas fraldas foram trapos velhos de um lençol que passou por mim de uma forma muito ligeira. Das minhas águas vertidas, fiz a neve de uma rabina e por lá escorreguei, sujando as calças que a minha mãe dobrava com todo o brio.

Nas pontas dos dedos, tinha pedaços de terra que acompanhavam o meu lanche.

A fruta, estava para lá de um muro e no cimo de uma árvore… Tudo isto debaixo de sol ou chuva acontecia!

Agora sou prisioneiro de um conjunto de regras e de um julgamento colectivo, para fazer parte de uma prisão que vamos construindo ao longo da nossa vida que auto limita-nos.

Perante a terra que te suporta, a água que te sustenta, o vento que te embala e o fogo que te aquece. Fazemos da terra e da água a nossa guerra e do vento e do fogo a nossa arma. Sou tão cobarde perante a mudança como teimoso para com o insucesso.

Kane disse: “Rosebud”

GRELOS DE HORTELA~

Exibem os seus tecidos negros numa caminhada por um trilho direito ao buraco do esquecimento.

Arrastam hipócritas e novos amigos E que o seu caixão seja levado pelos impostores.

Aos mortos pregam partidas, Disfarçando tudo o que eles eram antes

Pela imagem da rica santificação.

Jamais nego ou me privo da minha vida, por enquanto!

ELES PREFEREM OS SINOSPor: Victror Alves

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E N T R E V I S T A

“…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HA-VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS”

HUMANITAS ERROR ESTO ÓDIO PELA HUMANIDADE

LE IPZ IG , NA ALEMANHA DE LESTE , É UMA C IDADE NA QUAL DECORRE ANUALMENTE O MAIOR FEST IVAL GÓT ICO DA EUROPA, O WAVE GOT IK TREFFEN. NESTE FEST IVAL , DE TOADAS MAIS GÓT ICAS, TOCAM TAMBÉM BANDAS DE OUTROS EST ILOS ENTRE OS QUA IS O DEATH, FOLK , BLACK METAL E HÁ MESMO ATÉ CONCERTOS MED IEVA IS . PARA ALÉM DE TODA A CENA GÓT ICA , LE IPZ IG É TAMBÉM CONHEC IDA POR SER A C IDADE ESCOLH IDA PELOS MAYHEM PARA LANÇAREM O SEU ETERNO ÁLBUM “L IVE IN LE IPZ IG” . AD IV INHA-SE PORTANTO, UMA C IDADE PROF ÍCUA NA CENA BLACK METAL E DE FACTO, NESTA MESMA INFAME C IDADE RES IDEM BANDAS COMO OS NARGAROTH. RECENTEMENTE , AHEPHA ÏM (EX -ENTHRONED) JUNTOU-SE À BELA S CAEDES PARA CR IAREM UMA BLASFEMA E PECUL IAR BANDA DE BLACK METAL APÓS SE MUDAREM PARA LE IPZ IG . COM DO IS VOCAL ISTAS E UMA MISTURA SAUDÁVEL DE OUTROS EST ILOS DE METAL , OS HUMANITAS ERROR EST TÊM ESPALHADO A SUA MENSAGEM DE ÓD IO PELA HUMANIDADE E ESTÃO A CONSTRU IR UMA SÓL IDA REPUTAÇÃO. APROVE ITANDO O FACTO DE UM DOS NOSSOS COLABORADORES RES ID IR NA REFER IDA C IDADE E CONHECER PESSOALMENTE ESTE BLASFEMO CONJUNTO DE MÚSICOS, A VERSUS MAGAZ INE ENCONTROU-SE COM AHEPHA ÏM (BATER ISTA) E S CAEDES

E GHOUL , AMBOS VOCAL ISTAS.

Por: Eduardo Rocha

OBRIGADO PELO VOSSO TEMPO. POD IAS-ME CONTAR UM BOCADO A H ISTÓR IA DOS HUMANITAS ERROR EST?

AHEPHA ÏM: A S Caedes eu estávamos à procura de músicos desde que estávamos a viver na

Bélgica que quisessem tocar black metal mas não havia muita gente na cena de BM. Acabámos por desistir porque eu também estava a tocar com outras bandas. Depois mudámo-nos para a Alemanha, por motivos pessoais e profissionais, e procuramos músicos aqui também.

No início, encontramos o GHOUL como vocalista e acabamos por nos encontrar para ensaiar. Já éramos três elementos, pois a S CAEDES também é vocalista e eu sou baterista e depois foi procurar guitarristas o que não foi fácil. Passado alguns meses

““MAS EU ESTAVA A PENSAR E QUANDO OLHAS PARA O MUNDO .. . EU PENSEI QUE DEVERÍAMOS USAR ESTA EX-PRESSÃO DE OUTRA MANEIRA. O ERRO É O SER HUMANO, OU A HUMANIDADE.””

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encontramos o TSAR, guitarrista, e o nosso baixista ROGAN. Após várias tentativas para um segundo guitarrista, encontrarmos o nosso segundo guitarrista VOID114 que demorou bastantes meses.

QUAIS SÃO AS VOSSAS INFLUENC IAS QUANDO COMPÕEM E COMO FUNC IONA O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO?

GHOUL : É muito variado. S CAEDES : Eu ouço mais Depressive Black MetalGHOUL : Eu gosto mais do estilo old-school Norueguês BM e temos influências desde o Death Metal mas também bandas como Dark Funeral, Taake, Satyricon…AHEPHA ÏM: A maior parte das vezes o nosso guitarrista traz um riff e trabalhamos juntos e depois construímos uma estrutura. Ele trabalha muito em casa, sozinho e muitas vezes traz temas prontos de casa. Muitas vezes também experimentamos coisas novas na sala de ensaio.

NO VOSSO L INE -UP TÊM DO IS VOCAL ISTAS, O QUE NÃO É MUITO COMUM NA CENA BLACK METAL . TENDO ISTO EM CONTA, E OLHANDO PARA VOCÊS, COMO SE D I FERENC IAR IAM DAS RESTANTES BANDAS? O QUE TÊM PARA DAR A ALGUÉM QUE VOS OUÇA QUE AS OUTRAS BANDAS NÃO TÊM?

AHEPHA ÏM: O conceito base da banda é explorar o ódio pela Humanidade porque odiámos a sociedade. Queríamos de facto fazer uma banda nesta direção e musicalmente, queríamos fazer algo mais original em termos de vocalizações, com dois vocalistas (um masculino e outro feminino). Queríamos fazer algo variado e acho que este é um grande aspecto diferenciador da nossa banda.GHOUL : É mais dinâmico no palco com mais poder e temos mais mensagens a transmitir.

COMO EXPLORAM ESTES DO IS T IPOS DE VOZES? PORQUE ISTO NÃO É MUITO COMUM. É VOS D IF ÍC I L ENCONTRAR OS LUGARES APROPR IADOS PARA CADA VOZ?

S CAEDES : Não, uma vez que temos vozes bastantes diferentes. Para

mim, eu expresso-me com a minha raiva, o meu ódio. Tal como disse, eu sou mais influenciada pelo Depressive Black Metal, por isso a minha voz é também mais neste estilo. O GHOUL tem uma voz mais funda do que eu e seguimos o nosso instinto. Cantamos tal como nos sentimos e como nos sentimos no momento em que estamos a compor. GHOUL : O meu estilo é mais Rock n Roll e punk.

. . .ASS IM CONSEGUEM MISTURAR MAIS EST ILOS DENTRO DA VOSSA MÚSICA , CERTO?

S CAEDES : Também depende das músicas que compomos. Temos temas que são mais directos, mais agressivos, mais in-the-face.AHEPHA ÏM: Acho que uma coisa bastante positiva na nossa banda é que cada músico tem o seu ponto de vista e cada um ouve o seu próprio estilo de música. Temos de facto um toque brutal mas também conseguimos misturar com bastantes influências e passagens mais próprias de outros estilos o que nos torna um pouco mais interessantes.

ESTÃO A GRAVAR O VOSSO PR IME IRO ÁLBUM. PODEM-ME D IZER ALGO ACERCA D ISTO?

AHEPHA ÏM: As gravações já terminaram há vários meses e estamos nos últimos passos do processo. S CAEDES : Estamos a terminar o artwork e os últimos pormenores de modo a podermos dizer que o álbum está cá fora.AHEPHA ÏM: Gravámos nos Nautilus Studios em Gera, na Alemanha, e recebemos depois contactos para a masterização na Bulgária. O Déhà da HH Productions que escolhemos também trabalhou com bastantes bandas internacionais e queríamos trabalhar com ele uma vez que ele tem a mesma visão que nós. E decidimos avançar com o processo e estamos bastantes satisfeitos com o resultado. Estávamos em tour na Bélgica e no último concerto estava um músico dos Zardens que ficou bastante impressionado com a nossa música e ele deu-nos os contactos da editora deles. Eu depois

“UM CABRÃO É UM CABRÃO EM QUALQUER RELIGIÃO, PAÍS…NÃO FAZ DIFERENÇA…”

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contactei a editora e eles disseram diretamente que entusiasmados em trabalhar connosco e depois de esclarecermos todos os detalhes decidimos assinar com eles. A editora chama-se Satanath Records e são da Rússia e trabalham em colaboração com a Black Plague Records, dos Estados Unidos, e com a Godeater Records da Alemanha. Desta maneira, temos uma cobertura em diferentes territórios.S CAEDES : Para nós é bastante importante ter uma editora que nos apoia e acredita na nossa música.

E O CONCE ITO?

AHEPHA ÏM: O conceito principal do álbum é o ser Humano tornar-se uma doença e todas as músicas falam disto de uma maneira diferente. São dois vocalistas, duas maneiras de escrever e de pensar e também torna a banda interessante. S CAEDES : As nossas letras estão abertas a interpretações diferentes. Há algumas letras em que escrevemos de uma maneira direta mas outras podem ser interpretadas de maneira diferente. Ambos os vocalistas partilham a mesma opinião nas letras mas eu e o Ghoul temos maneiras diferentes de escrever. Eu sou sádica e gosto mais de escrever sobre tortura, morte e sangue.GHOUL : Eu escrevo mais através de mensagens escondidas…mais subtil

JÁ AGORA, QUANDO PODEMOS VER O RESULTADO F INAL?

AHEPHA ÏM: Está planeado para sair em Dezembro.

PORTANTO, TÊM O ÁLBUM NAS MÃOS E SABEM QUE VA I SA IR EM BREVE . O QUE ANDAM A FAZER ENTRETANTO?

AHEPHA ÏM: Estamos só a ultimar os pormenores do lançamento. E claro, estamos a tocar ao vivo e temos mais quatro concertos para este ano.S CAEDES : E já temos um concerto marcado para 2016 e estamos em contactos para marcar mais.AHEPHA ÏM: E claro, estamos a planear a promoção do álbum.

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PARA UMA BANDA COMO OS HUMANITAS ERROR EST, SENTEM UMA GRANDE D IFERENÇA ENTRE TOCAR EM CLUBES OU EM FEST IVA IS? E PODEM CONTAR-NOS UM POUCO MAIS ACERCA DA CENA AQU I NA ALEMANHA?

AHEPHA ÏM: Eu tenho que dizer que para nós, não foi muito complicado arranjar concertos o que nos surpreendeu porque só tínhamos um tema pronto. Recebemos muitos contactos e muito feedback positivo e toda a promoção que temos feito até agora tem sido graças a este tema, o que não é muito normal. Mas como temos 6 elementos muito motivados e entusiasmados, é normal que as coisas aconteçam naturalmente. E de facto queremos fazer tours e tocar ao vivo e todos na nossa banda partilham esta vontade. É muito trabalho, claro, e recebemos muitas ofertas de clubes.S CAEDES : Também exige muito esforço por parte da banda em termos de contactar os clubes porque se não te mexeres, ninguém se mexerá por ti

ESTA PERGUNTA PODE PARECER ESTRANHA, MAS ESTAMOS EM LE IPZ IG , A C IDADE DO WAVE GOT IK TREFFEN E TAMBÉM A C IDADE ONDE OS MAYHEM GRAVARAM O ETERNO “L IVE IN LE IPZ IG” . COMO SE SENTEM NESTE CONTEXTO? IMAGINO QUE EM PA ÍSES DA EUROPA CENTRAL HAJA MAIS OPORTUNIDADES DO QUE EM PA ÍSES COMO PORTUGAL .

AHEPHA ÏM: Para mim, sinto uma diferença grande entre a cena na Bélgica e aqui porque aqui há mais suporte para bandas e as pessoas levam-te a sério, quando mostras trabalho a sério. Na Bélgica, não havia muitas estruturas que te ajudassem e tens sempre que lutar muito, mais do que em qualquer lugar. Aqui é mais do género, “Ok, queres tocar mas tens que provar que és bom o suficiente”. Relativamente à cena gótica, é um pouco irrelevante porque eu quero tocar a minha música aonde quer que esteja. Até podia ser no meio da floresta que eu tocaria a mesma música.

QUEREM CONTAR-ME UM POUCO

DO VOSSO PASSADO? UMA VEZ QUE O AHEPHA ÏM JÁ TOCOU NOS ENTHRONED, ATÉ QUE PONTO É VANTAJOSO TER UM MÚSICO COM MAIS EXPER IÊNC IA?

S CAEDES : Gostaria de salientar o facto de que tudo o que atingimos até agora não advém do facto de o AHEPHAÏM já ser um músico conhecido. Eu estou 100% na banda e sei o nosso valor. Claro que exploramos alguns contactos dele mas o mais importante é ter pessoas na banda que gostem daquilo que fazem e que se mexam, ou seja, disponíveis para tocar e para sair do seu canto. Porque há muitas bandas que apenas tocam na sua zona.AHEPHA ÏM: Acho que ajuda quando a banda é desconhecida dizer que o baterista já tocou com os Enthroned. Uma vez que os Enthroned já são uma referência na cena pode ser que as pessoas tenham curiosidade em explorar o que o antigo baterista anda a fazer. Mas no início, a maior parte dos contactos até vieram do GHOUL que tem amigos aqui na zona.

E COMO VÊM A CENA NOS D IAS DE HOJE?

GHOUL : Eu acho que há demasiada gente e toda a gente a tentar fazer algo o que faz com o que mercado esteja demasiado cheio.

E É VOS D IF ÍC I L CHAMAR A ATENÇÃO DAS PESSOAS? SE EU EST IVER NUMA LOJA COM MAIS 20 CDS DE BM OU NUM FEST IVAL AONDE TOQUEM MAIS 10 BANDAS DE BM, COMO ACHAM QUE ME CONSEGUEM CHAMAR A ATENÇÃO?

S CAEDES : Tens que nos ver (risos).GHOUL : Somos uma criação nova…AHEPHA ÏM: Para mim, que estou na cena desde muito novo, antigamente acho que era tudo mais tipo uma família. Agora é mais quando outras bandas vêm uma banda a safar-se, as restantes começam a falar mal da banda que se safa. Também é um pouco como o GHOUL disse, um pouco mais de marketing. Tens que lutar para vender a tua merda… Antigamente, se uma banda fosse boa, serias reconhecido. Eu acho que nós

“O CONCEITO PRINCIPAL DO ÁLBUM É O SER HUMANO TORNAR-SE UMA DOENÇA E TODAS AS MÚSICAS FALAM DISTO DE UMA MANEIRA DIFERENTE”

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conseguimos chamar a atenção porque a música é boa e também temos uma composição especial na banda com dois vocalistas.S CAEDES : E temos uma atitude a sério. GHOUL : E temos uma mensagem forte…

E COMO SE VÊM NESSE ASPECTO? SERÃO OS HUMANITAS MAIS ACERCA DA MENSAGEM? O AHEPHA ÏM FALA MUITO ACERCA DA MÚSICA E DOS VÁR IOS ASPECTOS QUE A RODE IAM. ACHAM QUE CONSEGUEM COMBINAR ESTES ASPECTOS E CR IAR UMA BANDA COM UMA MENSAGEM FORTE E MUSICALMENTE COESA?

AHEPHA ÏM: Quando criamos a banda, todos tínhamos a mesma visão acerca da vida. Que odiamos os Humanos. O nome da banda vem mesmo daí. É uma expressão em latim “Errare Humanum Est” o que significa que errar é humano. Mas eu estava a pensar e quando olhas para o mundo, para o que se está a passar e como as pessoas agem nas ruas, eu pensei que deveríamos usar esta expressão de outra maneira. O erro é o ser humano, ou a Humanidade. Todas as pessoas na banda têm a mesma opinião.GHOUL : O ser Humano é o parasita. Pessoas de cor negra, branca, isso não interessa. Somos todos um e um parasita para o nosso Planeta.S CAEDES : Para mim, que tomo parte na proteção de animais e da Natureza, a Humanidade está a destruir o seu próprio ambiente. Este é o ponto para o qual, na minha opinião, nós cometemos o maior error. A Humanidade destrói-se a si própria.

A HUMANIDADE É A ESPÉC IE COM MAIS INTELECTO MAS É A QUE MAIS DESTRÓ I .

AHEPHA ÏM - É poderio intelectual e não está em todos os seres humanos.

E ACERCA DA REL IG IÃO? COMO VÊM TODOS ESTES CONFL ITOS ACTUA IS? OUTRA VEZ , PARECE -VOS MAIS UM FALHANÇO DA HUMANIDADE?

AHEPHA ÏM - É como o GHOUL referiu,

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estamo-nos a cagar para a cor das pessoas ou para a religião. Um cabrão é um cabrão em qualquer religião, País…não faz diferença…Não dizemos que odiamos mais Árabes ou Europeus ou outra raça…odiamos todos…GHOUL - O mal é sempre relativo para cada pessoa… Para ti algo pode estar bem enquanto que para outros pode ser algo de mau.AHEPHA ÏM - Há pessoas que não são más mas a massa de pessoas é que torna a Humanidade em algo de mau.

PORTANTO, ACHAM QUE HÁ UMA NATUREZA MALÉVOLA NO SER HUMANO?

S CAEDES - Absolutamente. Eu acredito em Satanás mas não como uma pessoa ou como um deus, é o mal dentro de cada pessoa. E depende de cada um fazer o que acha melhor. Normalmente, eu sou bastante simpática (risos) mas também tenho o meu outro lado que exploro em diferentes maneiras na minha vida. Eu não vejo a necessidade de ser simpática com todos. No fim, é uma decisão que cada um tem que tomar. É uma

decisão minha… E cada humano é uma expressão do mal…

E O QUE CONHECEM DE PORTUGAL? ALGUM VENUE , BANDA?AHEPHA ÏM - Eu gostaria muito de voltar a tocar em Portugal porque quando estive aí com os Enthroned achei o público fantástico e a organização era muito amigável. Não posso dizer que tenha visto isto muitas vezes porque ofereciam-nos todas as refeições nos restaurantes, bons hotéis e também nos deixaram visitar a cidade de Lisboa. Acho que a hospitalidade em Portugal é muito boa e adorava tocar no festival de Barroselas (N.R.- Stell Warriors Rebellion) que está cada vez mais a ficar conhecido na cena internacional. Mas também gostaríamos de tocar noutras cidades. Nós queremos tocar em todas as cidades.

QUESTÃO F INAL , O QUE ACHAM DO SPOT IFY? ACHAM QUE UMA BANDA COMO A VOSSA, PODE USAR ISTO EM SEU BENEF ÍC IO?

GHOUL - A cena está tão envolvente que tens que usar estas

“EU GOSTARIA MUITO DE VOLTAR A TOCAR EM PORTUGAL PORQUE QUANDO ESTIVE AÍ COM OS ENTHRONED ACHEI O PÚBLICO FANTÁSTICO (.. .)”

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plataformas. É uma oportunidade para atingir outras pessoas e qualquer maneira que nos permita chegar a mais pessoas é algo de bom. É grátis por isso porque não usar? Aquele que não se desenvolver, a sua existência está em perigo. AHEPHAÏM: Nós temos que evoluir com a cena e se temos uma banda e queremos tocar em todos os sítios, tens que seguir estes passos. Tens que trabalhar todos os detalhes… apesar de ás vezes ser um pouco frustrante porque às vezes parece que é tudo acerca de dinheiro mas faz parte do jogo…nós tentamos fazer isto sem mudar a nossa mensagem.

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F L A S H R E V I E W S

BUTCHER BAB IES«Take it Like a Man» (Century Media)No universo restrito das bandas de metal com vozes femininas (bem, não é assim tão restrito) os Butcher Babies trazem um toque de originalidade (musical, não visual) com as suas duas vocalistas. As primeiras audições deste novo trabalho não nos mete a uma grande distância do anterior. A verdade é que há bons momentos - a parte instrumental tem o mérito de ser dinâmico e conseguir conjungar bem com as duas vozes. Não sei porquê este projecto pode não ser levado muito a sério numa fase inicial - tem um certo toque de comédia, diria eu - mas na verdade não há qualquer razão para isso; as músicas cativam e ouvem-se facilmente.[ 6,0 / 10 ] AG

L I FESTREAM«Post Ecstatic Experience»(Les Acteurs de l’Ombre (LADLO) Productions)Oriundos de frança, encontramos nestes «Lifestream» uma atmosfera negra e melódica. Com uma boa produção, apresentam-nos um som cru, com algumas influências do black metal nórdico. As músicas cheias de tecnicismo, blast beats, e mudanças de tempo, complementadas com letras de base metafísica, debitadas em alternâncias de vozes sussurradas, guturais e algumas simplesmente faladas tornam este «Post Ecstatic Experience», uma boa proposta, e, especialmente para os seguidores de um som mais purista, um álbum a não perder.[ 7,0 / 10 ] HUGO MELO

MORD’A’ST IGMATA«Our Hearts Slow Down»(Pagan Records)Este novo trabalho do colectivo polaco não foge muito ao estilo de Black/Doom psicadélico que tanto impressionou no álbum «Ansia», em 2013. Nos três temas que integram este MCD (dois dos quais rondam os doze minutos de duração) são de destacar os longos fraseados de guitarras etéreas e os rendilhados jazzísticos de bateria que emergem da toada obscura de composições expansivas e multifacetadas. Fãs de Black Metal de abordagem mais experimentalista e progressiva não devem deixar passar este ao lado.[ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

SO H IDEOUS«Laurestine»(Prosthetic Records)O rótulo de post-black metal que tem surgido apenso a este disco não lhe faz justiça. O registo vocal é sem dúvida o característico do género, mas a música é altamente cinemática, orquestral e muito pouco guitar-driven. Gravado com uma orquestra e coro de trinta elementos, este segundo registo do colectivo que outrora se chamou So Hideous, My Love, é uma peça ambiciosa que se afirma pela beleza galvanizante dos seus longos segmentos instrumentais de grandes dinâmicas e de grande intensidade emocional. Merece ser ouvido pela originalidade da abordagem.[ 9,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

SORCERER«Sorcerer»(Hammerheart Records)A génese destes suecos remonta a 1989 aquando da edição da demo tape homónima. Em 1992, lançam nova demo denominada «The Inquisition», sendo que em 95 sai o CD com o nome «Sorcerer» que engloba ambas as demos. Inativa durante cerca de 10 anos, este «Sorcerer» é essencialmente a reedição do primeiro álbum, que sai após a edição, já este ano, do «In The Shadows Of The Inverted Cross». Com uma sonoridade a lembrar uns «Candlemass» ou uns «Cathedral», estes suecos são uma escolha bastante interessante para os fans do género.[ 8,0 / 10 ] HUGO MELO

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F L A S H R E V I E W SSUNSET IN THE 12TH HOUSE«Mozaic»(Prophecy Productions)Este é mais um produto das mentes criativas de Hupogrammos e Sol Faur, a dupla dissidente dos Negura Bunget actualmente activa nos Dordeduh: um trabalho quase só instrumental, de tendências post-rock, com metal pesado pelo meio, e algumas influências orientais. A sonoridade luminosa, a variedade das texturas e a beleza enigmática de muitas passagens são um deleite para o ouvido e para a alma. O único ponto negativo é “Rejuvenation”, tema esteticamente deslocado do restante material, que não só fere a consistência do álbum como termina o disco numa nota menos positiva.[ 9,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

VI«De Praestigiis Angelorum»(Agonia Records)O som produzido pelos VI é tão profundo quanto obscuro; o trabalho alterna entre raiva e reflexão, passa por momentos mais perplexos que definem uma atmosfera quase hipnotizante. É uma das qualidades do metal extremo, o de conseguir construir uma solução química muito turva e nada simples de definir. Cada banda tem a sua forma de o fazer. Os VI têm claro uma forte componente de culto pela putrefacção, pelo negro, pela morte; mas não há monotonia, nem repetição nem copianço: conseguem encontrarem-se e mostrarem-se como banda e como som próprio. O espectáculo criado neste «De Praestigiis Angelorum» deixa um sabor de novo e velho ao mesmo tempo na boca[ 8,5 / 10 ] AG

WEH«Ingenmannsland»(Soulseller Records)O novo álbum dos WEH “Ingenmannsland” será lançado no dia 4 de dezembro de 2015 via Soulseller Records. O que mais dizer até agora destes perfeitos desconhecidos? Que foram uma surpresa pela positiva e que neste novo trabalho nos levam para ambientes que nos fazem querer voar até uma outra galáxia? Ao escutar este álbum é-nos transmitida uma paz, harmonia e sensação de autêntica liberdade. Tudo isto junto surpreende, cativa, excita e faz-nos partir em busca de mais e mais sobre este projecto vindo de um país frio mas que nos transmite nas músicas sensações bem quentes e penetrantes. Na minha mais humilde opinião não se vão mesmo arrenper em os conhecer melhor tal como aconteceu comigo.[ 8,0 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

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O título pode enganar os mais incautos: não é o fim, quanto muito é o fim de um ciclo!São quase 20 anos de actividade enquanto Rastilho: duas décadas de vida a serem comemoradas em 2016.2015 foi especial para nós: atingimos a histórica marca de 100.000 discos (vendas consolidadas, fisico + digital). E não há palavras para agradecer a todas as bandas que confiaram em nós as suas obras ao longo destes - quase - 20 anos. E a todos vocês que compram os nossos discos. Numa altura em que é declarado diariamente o óbito aos principais suportes físicos de música, é curioso verificar que a nossa aposta vai precisamente em sentido contrário.Como foi 2015 em termos editoriais? A imagem mais abaixo ilustra-o.

2016 está ao virar da página e estamos a preparar novas edições, um novo/renovado site, uma nova editora para a edição de livros, novos concertos, novos contractos de distribuição.

100.000 obrigados!

Como agradecer não chega, estamos a oferecer 10% de desconto para todos os produtos do nosso site http://www.rastilhorecords.com/pt/ até ao dia 10 de Janeiro. Basta usarem o voucher RRXMAS2015.

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RASTILHO RECORDS: 1996-2015

É uma das primeiras edição do ano. Depois da primeira edição ter esgotado em pouco mais de 2 semanas, “Futuro Eu” será agora lançado num bonito vinil verde e uma nova capa.

Relembramos que “Futuro Eu” é o primeiro álbum de David Fonseca inteiramente cantado em português.Nas lojas a 22 de Janeiro´2016, pre-reservas aqui http://www.rastilhorecords.com/pt/loja/musica/-/futuro-eu-152/

David Fonseca “Futuro Eu”

Legendary Tigerman “Masquerade - 10th EditionFoi um dos discos mais importantes da nossa história. Editado originalmente em 2006 e alvo de uma reedição em 2010, “Masquerade” é agora reeditado novamente pela Rastilho.

Remasterizado por Rui Dias e em Vinil vermelho, esta é a edição comemorativa do 10º aniversário de “Masquerade”.

Nas lojas a 22 de Janeiro´2016, pre-reservas aqui http://www.rastilhorecords.com/pt/loja/musica/-/masquerade-10th-anniversary-edition-20/

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A Versus Magazine recebeu com bastante agrado, por parte da editora Mosaico de Palavras, o mais recente romance de António Parada, um escritor que se revelou com o seu primeiro romance «A Guardiã», lançado pela Chiado Editora em 2014. Não li o seu primeiro romance, e por isso vou deixar de lado qualquer tipo de comparação e apenas focar-me na sua mais recente proposta.Em «Adão e Eva» somos levados até ao Gerês dos anos 80. Um Gerês com lendas e histórias paranormais, as quais alguns dos personagens deste livro experienciaram com a sua vida.Num estilo literário onde se lê não só terror, mas também suspense com boas pitadas de policial, o autor conta a sua história e encadeia os factos bastante bem. As personagens estão razoavelmente bem caracterizadas e personalizadas, mas parece haver espaço para algo mais e até melhorar. O ambiente também está bem descrito. As bandas e os álbuns de Metal que o autor faz questão de referenciar, fazem com que um ou outro personagem seja mais próximo por leitores que apreciem esse estilo musical, e por verem nesses personagens aspectos familiares. Este ponto é relevante, porque apesar do autor referenciar elementos do Metal, não significa que o livro seja exclusivo para público que ouve Heavy Metal. Há mais neste livro que o autor quis mostrar. Ele espelha na sua narrativa uma ou outra crítica social que cabe a todos pensa-la, e não só apenas os metaleiros.Contudo, e a título meramente pessoal, há neste livro tópicos e situações altamente passadas e datadas. Consequentemente, por vezes a narrativa torna-se aborrecida por mastigar sempre o mesmo.A história não está má, e também não está mal contada. António Parada tem um estilo muito próprio de escrever, com bastante descrição psicológica dos personagens e das situações, que favorece a envolvência do leitor na narrativa.Apesar de a mim o livro não me ter agradado por várias razões, acredito que outros leitores o possam ter como um must read – leitores que apreciem terror, suspense e policial, leiam este «Adão e Eva» e tirem as vossas próprias conclusões.

Victor Hugo

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A R T I G O

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Não é nada fácil, em alguns momentos, determinar um tema ou um assunto para escrever. Creio mesmo que este é um dos textos com um título mais inapropriado que alguma vez escrevi, como tal, aceitarei, de bom grado, sugestões. Porém, nestas ultimas semanas tem sido um corropio e um sem número de situações que, de alguma forma, me tem tirado sono, no bom sentido.

É obvio que estou a falar dos concertos com que os portugueses ou, neste caso, os lisbotetas tem recebido, de Enforcer a Tó Pica, do Salamandra em Chamas a Apocalyptica, muitos tem sido os, muitos, momentos passsados nas salas, com os musicos, com a vilanagem que se digna a comparecer e a manter o espirito vivo... belos tempos!

É claro, e óbvio, que sabemos que a popularidade do Metal já não é a mesma, nem vale a pena voltar a «bater no ceguinho», mas existe algo que se mantém, existe ainda a sensação de tribo, existe ainda uma estranha aliança que nos une e uma camaradagem que não se quebra, quantos de nós não encontramos aquele amigo, apenas nos concertos?

Uma outra situação que, dei comigo a observar, sim, porque também observo, é o sorriso, seja de publico ou dos musicos. É impossivel ficar indiferente quando se olha para um palco e se consegue ver os sorrisos nos musicos, quando se percebe a diversão, a alegria e a felicidade de partilhar uma arte ou um sentimento que vem de dentro de nós. Há quem diga que somos o melhor publico do mundo, não sei se será verdade ou mentira, mas sei que sabemos receber, sabemos sorrir e, acima de tudo, sabemos sentir a musica que nos une. É como estar num concerto e entoar aquela musica nossa com centenas, milhares ou, apenas com a pessoa que estiver ao nosso lado. Por vezes basta um sorriso, basta um olhar. É isso que nos difere. Mesmo que, para outros seja dificil de entender. O metal sempre foi incompreendido, até parece aquele adolescente com acne, incompreendido.

É uma estranha forma de vida a quem vê de fora, para nós é apenas uma vida e, enquanto sentir-mos, enquanto os musicos sentirem essa nossa alegria, essa energia, existirá sempre o sorriso, existirá sempre a sensação de dever cumprido ou, mais, de um sonho tornado realidade. Não podemos deixar isso morrer, essa é a nossa génese.

É uma estranha forma de vida para quem partilha a vida connosco e exige muita compreensão e muito amor para entender a forma de vida e, para eles, fica um agradecimento. Sempre que existe um sorriso, existe algo que o esconde, nestes ultimos dias tem siido o cansaço, que se vai acumulando. São muitos os concertos, os discos, as entrevistas, mas existe um poder, um bem maior, que são vocês, que é a musica que veneramos, são esses pormaiores que nos fazem seguir, continuar, batalhar e, claro está, sorrir.

É uma estranha forma de vida a nossa... mas, somos tão felizes não somos?

Nuno Lopes

MOSH ESTRANHA FORMA DE VIDA...

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BAROCK PROJECTO CÉU É O LIMITE

D E S T A Q U E

FALÁMOS COM LUCA ZAB INN I , O FUNDADOR E MENTOR DOS BAROCK PROJECT, UMA BANDA ITAL IANA DE ROCK PROGRESS IVO QUE , COM O LANÇAMENTO DO SEU RECENTE ÁLBUM SKYL INE , TEM FE ITO FUROR NO SEMPRE EX IGENTE ME IO PROG. O ÁLBUM «SKYL INE» TEVE HONRAS DE TER A SUA CAPA P INTADA POR PAUL WITEHEAD (CR IADOR DAS CAPAS SURREAL ISTAS DOS GÉNES IS E VAN DER GRAAF GENERATOR) , E A PART IC IPAÇÃO DE UM DOS MAIORES NOMES DO PROGRESS IVO ITAL IANO, V ITTOR IO DE SCALZ I . COM UM SOM MODERNO, O V IRTUOS ISMO DE UMA BANDA CHE IA DE TALENTO, E O RECONHEC IDO GÉN IO DO COMPOSITOR ZABB IN I , «SKYL INE»

SERÁ POR CERTO UM DOS PONTOS ALTOS DO ANO DE 2015. . .

Por: Ivo Quintas

PODES-NOS EXPL ICAR O S IGN IF ICADO DO NOME DA BANDA?

LUCA ZAB INN I : A decisão sobre o nome Barock Project foi feita em 2003, quando queríamos principalmente misturar rock com música clássica barroca. Eu

CONSIDERO-O (SKYLINE) UMA VIAGEM INTERIOR, ONDE SUPEREI MUITOS PEQUENOS SOFRIMENTOS PESSOAIS, RAIVAS E FRUSTRAÇÕES. MAS TAMBÉM HÁ SINAIS DE MOMENTOS FELIZES E SERENOS.

sempre fui um apaixonado por Johann Sebastian Bach e, em geral, com aquele período musical tão cheio de significado. Esta paixão foi gerada, quando comecei a ouvir Keith Emerson. Fiquei totalmente fascinado, como ele conseguia lidar com aquela música e traduzi-

la em “rock”. Nos anos seguintes, fizemos um percurso um pouco diferente, embora o nosso “farol” permanecesse com o caráter sinfónico que muito nos agrada.

DESDE O IN ÍC IO , PODEMOS CONSIDERAR-TE COMO O “L ÍDER DA

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“O PAUL FICOU IMPRESSIONADO COM A MÚSICA E, CLARO, DA NOSSA PARTE, HOUVE MUITO ENTUSIASMO E HONRA EM TÊ-LO COMO ARTISTA VISUAL NO NOSSO ÁLBUM.” vErSUS

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próximas. Há escassez na cena progressiva, excetuando algumas pequenas bandas de tributo, aqui e ali, mas sempre a nível amador. Há cada vez menos clubes com música ao vivo e nos poucos remanescentes, tens que tocar o que te pedem para tocar. No entanto, respeitamos aqueles que fazem parte da “resistência”, aqueles que vão contra a maré, e até conseguiram organizar um festival para nostálgicos do prog ou aqueles que ocasionalmente, dão espaço para tocar no seu clube. O problema é a falta de fãs para o género. Se falarmos da nossa zona, que foi em determinada altura uma terra muito próspera de música e músicos, agora é uma zona morta.

ATÉ HOJE LANÇARAM QUATRO ÁLBUNS, INCLU INDO O MAIS RECENTE , UM EP E 2 DVD ’S . CORRETO?

LUCA: Com o «Skyline»», lançámos oficialmente três álbuns. O mini EP de seis faixas de que estás a falar é na verdade um grande erro. Não é nada mais do que uma breve demonstração do “MisterioseVoci” (o nosso primeiro registro) enviada a uma revista de prog há muitos anos. Então eles tomaram a iniciativa de considerá-lo como um dos nossos primeiros álbuns oficiais. Mas isso não é rigoroso! Quanto aos dois DVDs, o primeiro foi filmado pouco antes do “MisterioseVoci”, em 2005. Naquele tempo, tínhamos poucas canções originais e enchemos a programação com longos solos e temas dos ELP, Genesis, etc... O segundo DVD, “Rock Theater” em 2007, foi filmado num teatro e para a ocasião configurei um quarteto de cordas, e escrevi todos os arranjos. Até ao momento, ainda não decidimos publicá-los oficialmente, apesar de ao longo dos anos termos recebido vários pedidos. Embora fossem ambos auto-produzidos, eles têm uma boa qualidade de áudio e de vídeo.

VOCÊS TRABALHARAM ANTER IORMENTE COM DUAS ED ITORAS: MUSEA EM FRANÇA E MELLOW NA ITÁL IA . POR QUE MUDARAM DE ED ITORA? COMO AVAL IAM A EXPER IÊNC IA?

LUCA: Musea é uma das

BANDA”?

LUCA: Eu adoro compor música, em vários estilos. Tenho um desafio comigo mesmo, do tipo : “quais os novos territórios que poderei explorar agora?” Talvez hoje, eu me sinta bem a escrever música de estilo oriental, amanhã sinfónica com inspiração em Beethoven, e no dia seguinte uma faixa “rock” com guitarras muito distorcidas e sem teclados. Eu particularmente, não gosto de monotonia num registo de música, eu prefiro surpreender e ser surpreendido. Estamos a construir a nossa própria marca “Barock Project”, e acredito que nos últimos tempos chegámos a um estilo que é bastante reconhecido como “o nosso próprio”. Ao mesmo tempo, não quero um álbum que soe tudo ao mesmo tipo de música. Se pensares no “A night at the opera” dos Queen, como é que tantos estilos de música diferentes estão numa única obra-prima? Há uma faixa de “estilo anos 30”, há Rock, também há ópera. Fazer música também significa desafiar-se a si mesmo com estilos diferentes. Se souberes como fazê-lo bem, melhor ainda! Até agora compus quase todas as nossas músicas, porque tenho uma quantidade incrível de coisas para dizer, mas nunca impus uma música a qualquer um dos outros membros. Quando eu lhes apresento material novo, se algum deles não concordar com alguma ideia, partimos para a próxima. Antes deste último álbum, foi um pouco frustrante que alguns dos membros, que já não estão connosco, não aceitaram introduzir, após uma faixa de “rock” um tema á base de Tango. Eu achava muito difícil e limitava-me ao escrever. Não era a maneira que eu queria trabalhar com esta banda. Agora, chegámos a um ponto muito democrático de partilha de idéias e sinto-me muito mais confortável ao propor novas ideias de música, que recebem a avaliação e a contribuição de cada membro da banda. O Eric (bateria) e o Marco (guitarra) têm um monte de idéias dinâmicas que eles trazem para organizar novas canções, e mesmo o Luca Pancaldi atingiu um elevado ponto de maturidade em performances vocais durante as sessões de gravação.

QUANDO DEC ID ISTE TOCAR BA IXO NO «SKYL INE»?

LUCA: Quando o Giambattista Giorgi, o nosso anterior baixista, tomou a decisão de deixar a banda, o «Skyline»» já tinha sido gravado e concluído. Então rapidamente tive de regravar todas as linhas de baixo. Eu acredito que a formação atual é perfeita, no sentido de trabalho em equipa, e acho que vamos ficar assim. Quanto ao baixista, trabalharemos com um músico de sessão para os nossos concertos ao vivo. Mas os membros oficiais da banda continuarão a ser quatro, simplesmente porque desta forma trabalhamos de forma serena e relaxada. Nós temos o nosso equilíbrio e isso melhora o trabalho de equipa.

COMO É QUE A IMPRENSA REAG IU AOS BAROCK PROJECT? QUER EM ITÁL IA , COMO NO RESTO DA EUROPA E AMÉR ICA DO NORTE?

LUCA: Há um abismo entre a recepção que temos no exterior e aqui em Itália. Estou a falar em geral, como músico. Aqui os músicos já não são considerados como o foram no passado.No estrangeiro, pedem-nos autógrafos e conhecemos muitos fãs, mas aqui em Itália (e se correr bem), começas a tocar “covers” pop ou a tocar em bandas de tributo. Pessoalmente acho que é frustrante não ser capaz de reproduzir e propor a música mais original, mas eu acho que é um problema de cultura geracional e preguiça do cérebro em lidar com algo que nunca foi ouvido antes. A reação à nossa música no estrangeiro é emocionante e devo dizer que, cada vez mais, somos positivamente surpreendidos por essa reação. Claro que ficamos felizes por tocar para um público que aprecia a nossa música.

TODOS VOCÊS MORAM PERTO DE BOLONHA. EX ISTE A Í ALGUMA “CENA” DE ROCK PROGRESS IVO? SE S IM, ESTÁ A FLORESCER?

LUCA: Vivemos entre Bolonha e Modena, na zona rural de Emilia Romagna. Os nossos pontos de encontro podem ser numa das duas cidades, que são ambas

principais distribuidoras de rock progressivo, com sede em França. “MisterioseVoci”, o primeiro álbum, foi lançado através da Musea porque tinha sido preparado há mais de um ano e outras editoras não estavam interessadas. Mas o fato é, que este tipo de companhias não estão muito interessadas em fazer promoção. Quando editámos o segundo álbum, “Rebus”, precisávamos de ter um contato mais próximo com uma empresa, talvez italiana. Então virámos agulhas para a Mellow porque tinhamos pensado que, além de manter as vendas monitoradas e estarmos constantemente em contacto, eles poderiam trabalhar um pouco mais sobre a promoção. De boa fé, cometemos um grande erro. Com o terceiro álbum, “Cofee in Neukölln”, decidimos então voltar à Musea, pelo simples fato de que então, eram os únicos a considerar o nosso trabalho, enquanto muitas outras editoras novamente nos fecharam as portas. Quando tens de gerir, compor, gravar, produzir e tudo mais ao mesmo tempo, tudo se torna difícil. Para ser honesto, as diferenças entre o primeiro e o segundo álbum, são principalmente devido ao fato de que estávamos a crescer. Nós estávamos a filtrar novas experiências. Nada a ver com o fato de terem sido editados por duas empresas diferentes.

COMO É QUE VOCÊS DEC IDEM O DES IGN DA CAPA DOS VOSSOS ÁLBUNS?

LUCA: Quando lançámos o “Coffe in Neukölln”, estávamos cansados de ser pressionados a mudar para a categoria “capas prog” com a habitual fantasia estilística, dragões, elfos... Eu sempre considerei isso algo antiquado. Pensámos: “ Vamos fazer uma capa que não tem nada a ver com a nossa música! “. Na verdade, a foto de nós os três a caminhar dá a idéia de um disco pop. Mas estávamos em Berlim e, uma vez que a Alemanha dividida foi o tema principal do álbum, fez algum sentido. Eu sou um devoto do “Coffe in Neukölln”, tanto musical como visualmente. Pessoalmente, gosto da capa porque, eu acho que tem bom humor. Nós somos muito cuidadosos com os detalhes da imagem dos álbuns. Particularmente no «Skyline»»,

porque tivemos um grande artista como o Paul Whitehead a pintá-la. A embalagem de um disco é muito importante, é o que as pessoas vêm primeiro. Então quando ouves a música, adicionas valor ao seu conteúdo. Neste caso, acho que conseguimos na íntegra. Paul conseguiu captar o humor e as intenções da nossa música, de forma perfeita.

PODES CONTAR-NOS COMO A MÚSICA ENTROU NA TUA V IDA? É TAMBÉM CONHEC IDO QUE DESDE CEDO TE ERA RECONHEC IDO UM “GÉN IO” MUSICAL…

LUCA: Fui cercado de música desde muito cedo. E quando tens 3 ou 4 anos tu encaras como um jogo, especialmente quando ninguém te obriga a fazê-lo. Para mim foi natural, já que tinha um pai que estava constantemente a tocar em casa com o primeiro sequenciador nos inícios dos anos oitenta, uma avó pianista e um tio baterista. Tocar para mim significava estar com a família. Quando eu tinha quatro anos, durante um episódio em particular, eles perceberam que eu tinha ouvido absoluto. Desde essa altura comecei a estudar piano (aulas particulares), mas sendo uma criança, Bach e Mozart não eram para mim. Enquanto os E.L.P. isso sim! Então eu comecei a escrever em papel, por ouvido, temas como Tarkus e Pictures At An Exhibition. Entretanto, apenas com treze anos comecei a estudar a sério na academia e pude aí começar a apreciar os grandes compositores.

O INTÉRPRETE E O COMPOSITOR QUE MAIS RESPE ITAS?

LUCA: O compositor que mais respeito é Johann Sebastian Bach. Ele foi o maior cientista da música. Mas ao mesmo tempo, ele também tinha um enorme coração, sentimento, para criar obras-primas no papel, com aquele som perfeito para o ouvido humano. Obviamente que eu tenho uma grande estima pelo meu primeiro amor, Keith Emerson. Tenho grande respeito e admiração por outros artistas como Glenn Gould, pela sua abordagem maníaca e execução divina. Basicamente, eu tenho um grande respeito por todos

“OUVI-LO (VITTORIO DE SCALZI) DIZER QUE REPRESENTAMOS UM IDEAL, A CONTINUAÇÃO DA SUA TEORIA DA MÚSICA DO “CONCERTO GROSSO” ATÉ NOS DEU ARREPIOS!”

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aqueles que respeitam a música.A minha regra orientadora, é o dos três Bs: Bach, Beethoven e, perdoem-me caros puristas, os Beatles.

PODES FALAR-NOS SOBRE O CONCE ITO OU H ISTÓR IA DO ÁLBUM «SKYL INE»?

LUCA: O «Skyline»» não tem uma história, no sentido de álbum conceptual, ao contrário do disco anterior. É um álbum gravado com experiências de vida, é o diário de todo o tempo enquanto eu o ía escrevendo. Dias com humores muito irregulares e mesmo com pouco tempo para dedicar-me inteiramente à composição. Considero-o uma viagem interior, onde superei muitos pequenos sofrimentos pessoais, raivas e frustrações. Mas também há sinais de momentos felizes e serenos. Mas é por isso que eu o amo muito, considero-o uma verdadeira parte da minha vida mais do que qualque outro álbum anterior.

NO NOVO ÁLBUM, V ITTOR IO DE SCALZ I DOS NEW TROLLS É O CONVIDADO ESPEC IAL . COMO FO I A SESSÃO DE GRAVAÇÃO NO ESTÚD IO? QUE T IPO DE HOMEM ERA ELE?

LUCA: Vittorio é uma grande pessoa, todos se deram muito bem com ele e foi muito prestativo. Com ele, fiz entrevistas durante a promoção e ele sempre foi maravilhoso. Foi um precioso contributo para o nosso registro e estamos todos orgulhosos. Ouvi-lo dizer que representamos um ideal, a continuação da sua teoria da música do “Concerto Grosso” até nos deu arrepios! Como podes imaginar, quando o nosso “manager” Claudio e o Vittorio me enviaram a faixa vocal, para o tema «Skyline»», ouvi um dos meus heróis de infância a cantar música escrita por mim. Os Jovens que tocam música adoram-no pelo seu entusiasmo.

E SOBRE OS OUTROS CONVIDADOS NO ÁLBUM (FLAUTA E V IOLONCELO)?

LUCA: Quando eu escrevi as secções das cordas, pensei imediatamente num grande amigo meu que conheço desde os tempos do Conservatório, Giuseppe

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Franchellucci. No DVD “Rock Theater”, ele toca o violoncelo. No «Skyline»», escrevi as peças para violoncelo e viola, e em dois dias gravou-as todas. Depois saímos para beber uma cerveja e conversar. Considero-o uma pessoa muito especial. Eu também consegui envolver a minha primeira fonte de inspiração de infância: o meu pai. Onelio Zabbini, que também é o nosso fã número um! Enquanto jovem, o seu ídolo era o Ian Anderson e sempre tocou flauta com a mesma paixão e entusiasmo. Tanto no «Skyline»», como nos dois álbuns anteriores, ele tem um espaço no final do “Roadkill”, onde ele toca uma flauta muito “rock”, e também toca em “The sounds of dreams”. Fico sempre feliz por ele participar. É bom ter o meu pai como parte do meu registro e ele também tem uma grande estima pela banda.

O PAUL WHITEHEAD, É UM ART ISTA V ISUAL LENDÁR IO DO ROCK PROGRESS IVO . COMO É QUE VOCÊS SE CONHECERAM E QUAL A SUA EXPER IÊNC IA GLOBAL COM ELE?

LUCA: Com o Paul, encontrámo-nos várias vezes para discutir o que se viria a tornar a capa do álbum. A primeira reunião foi em Milão, numa exposição das suas obras de arte, incluindo as pinturas originais das capas dos Genesis. A reunião com o Paul foi organizada pelo nosso “manager” Claudio, que também agencia o Vittorio e o Paul. Discutimos longamente sobre os assuntos do «Skyline»» e claro, ouvimos a música, particularmente a faixa-título, que fala sobre um naufrágio. O Paul ficou impressionado com a música e, claro, da nossa parte, houve muito entusiasmo e honra em tê-lo como artista visual no nosso álbum.

… UM NOVO ESCR ITOR L ÍR ICO , ANTONIO DE SARNO.

LUCA: O Antonio tem um enorme talento como compositor e ele também é um fã dos BP. É o mentor da banda progressiva Moongarden. Trabalhar com ele foi muito divertido. Enviei-lhe as canções já cantadas com palavras inventadas em inglês, para lhe dar a idéia da linha melódica e da métrica. Em seguida, o Antonio trabalhou e

enviou-me de volta o texto. Cada vez que o fazia, era uma surpresa para mim descobrir que palavras a minha música lhe havia inspirado. Dei-lhe completa liberdade para ir em frente, sem lhe dar uma pista ou guia sobre um tema que eu queria para a música. Eu disse-lhe apenas que se inspirasse na música. O único tema, em que eu queria falar especificamente da minha história, foi no “Sound of dreams”, que é a única faixa do disco cantada por mim e é uma história pessoal.

DEPO IS DE ASS INAREM COM A ARTAL IA PARA A PRODUÇÃO E GRAVAÇÃO, E COM A STARS OF ITALY COMO A VOSSA NOVA EMPRESA DE “MANAGEMENT”, AS CO ISAS MUDARAM REALMENTE , PARA UMA BANDA QUE ANTER IORMENTE NÃO ERA GERENC IADA?

LUCA: Até ao ano passado, sempre trabalhámos de forma independente. É muito difícil autogerir uma banda que só deveria pensar em compor e tocar. Na altura, o que chamou a atenção do nosso empresário Claudio Cutrone foi um vídeo na internet onde tocámos um cover do “Concerto Grosso n º 2” dos New Trolls. O Claudio, já estava a trabalhar para os New Trolls e os The Gnu Quartet para o mundo inteiro, e ficou muito intrigado com a nossa execução e contactou-nos. Foi então, numa sessão de gravação muito precoce do «Skyline»», que um encontro com o Claudio, rendeu muitas idéias positivas e encarámo-lo como o nosso “líder espiritual”, bem como nosso agente. Ficámos muito contentes! O Cláudio tem experiência e uma

“A REAÇÃO À NOSSA MÚSICA NO ESTRANGEIRO É EMOCIONANTE E DEVO DIZER QUE, CADA VEZ MAIS, SOMOS POSITIVAMENTE SURPREENDIDOS POR ESSA REAÇÃO.”

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capacidade de comunicação muito grande. Permitiu-nos expandir e melhorar a forma como podemos alcançar uma audiência mais global.Ele e a sua Stars of Italy estão a trabalhar connosco em todas as frentes. Precisávamos de uma força assim na nossa banda. Tería sido um prazer conhecê-lo há cinco anos, mas nunca é demasiado tarde. Ele levou a nossa música muito a sério, não apenas como um agente que pensa só no seu trabalho, mas também como um grande amante da música. A Artalia foi uma ajuda importante na busca de fundos para a gravação e o Claudio desempenhou um papel fundamental em trazer-nos para o mundo, a embarcar numa campanha de “crowdfunding” bem sucedida no Kickstarter, que também nos revelou imensos apoios do Japão! Por isso, estamos felizes em tê-los na nossa equipa. Como o Claudio nos costuma lembrar o tempo todo: “... O céu é o limite!”

OBRIGADO PELA ENTREV ISTA, E EM NOME DA VERSUS, MUITO BOA SORTE PARA OS BAROCK PROJECT E PARA O «SKYL INE»

LUCA: Obrigado nós à Versus, e um abraço para todos os fãs Portugueses. Esperamos poder encontrar-vos por aí em breve! Abraço!mais claro.

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THY CATAFALQUEUM HOMEM TRANQUILO

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PARECE QUE ESTA EXPRESSÃO CARACTER IZA BEM TAMÁS KÁTA I – A ALMA DE THY CATAFALQUE – QUE , NA CALMA DO SEU QUARTO, COMPÕE MÚSICA QUE EVOCA AS BELAS PA ISAGENS MONTANHOSAS DA SUA PÁTR IA E DO SEU PA ÍS DE ADOÇÃO.

Por: CSA Photo: Dylan Kitchener

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OLÁ, TAMÁS! JÁ É A SEGUNDA VEZ QUE TE ENTREV ISTO PARA A VERSUS MAGAZ INE . A OUTRA ENTREV ISTA TEVE LUGAR EM 2011, QUANDO LANÇASTE «RENGETEG» COM A SEASON OF MIST E VA I SERV IR DE REFERÊNC IA PARA ESTA.

TAMÁS KÁTA I : Olá, Cristina. Folgo em “ver-te” novamente. O T ÍTULO DO OUTRO ÁLBUM S IGN IF ICAVA FLORESTA. DE QUE TRATA «SGÙRR»?

TAMÁS: A elegante e enigmática capa do álbum faz-me pensar em água.Sgùrr significa cume da montanha em Gaélico escocês e o álbum trata mais ou menos da ligação entre a água e as montanhas: a água molda as montanhas e estas dividem as águas. Na capa, podes ver uma representação da água e três triângulos, que simbolizam as montanhas.

CALCULO QUE «RENGETEG» TENHA S IDO UM SUCESSO, UMA VEZ QUE A TUA ED ITORA É A SOM. O QUE PODES D IZER-NOS SOBRE A CARRE IRA DO TEU ÁLBUM ANTER IOR?

TAMÁS: Não sei dizer-te como se traduziu o sucesso do álbum em proventos para a editora. Mas a crítica recebeu-o muito bem e, nesse aspeto, penso que foi um grande sucesso. TC não é uma máquina de fabricar dinheiro e estou certo de que a SoM quer a minha banda no seu catálogo muito simplesmente porque gosta do que eu faço. Estou muito honrado por merecer essa confiança. Sinto-me um felizardo!

É CLARO QUE «SGÙRR» É D I FERENTE DE «RENGETEG» , EMBORA DÊ PARA VER QUE SÃO ÁLBUNS DA MESMA BANDA. PODES D IZER-NOS ALGUMAS PALAVRAS SOBRE ESTE TÓP ICO?

TAMÁS: É claro que são diferentes e uma das principais diferenças tem a ver com o facto de «Sgùrr» não apresentar vocais limpos. Attila decidiu focar-se nos seus próprios projetos e, portanto, já não canta para Thy Catafalque. Portanto, tive que pensar bem no que ia fazer a partir do momento em que

a nossa “sociedade” acabou. De qualquer modo, sabia que queria afastar-me daquelas canções cativantes características do Folk Metal, porque já tinha atingido os meus objetivos no que toca a esse aspeto. Não queria ser ainda mais Folk, portanto tornei-me mais experimental. A falta de vocais limpos e, de um modo geral, a escassez de vocais implicam que «Sgùrr» é menos acessível que «Rengeteg». Este álbum é muito mais ousado, mas dá para ver que se trata de uma produção de Thy Catafalque. Parece-me fantástico ter um som característico, foi algo que eu sempre quis alcançar.

E , A PROPÓS ITO DA COMPOSIÇÃO DO NOVO ÁLBUM, USASTE A MESMA GU ITARRA VELHA E O S INTET IZADOR KORG A QUE RECORRESTE PARA «RENGETEG»?

TAMÁS: Sim, foi a mesma guitarra Ibañez de sete cordas e também um baixo Yamaha, o que é uma novidade. No que diz respeito ao sintetizador, recorri sobretudo a VSTis, mas, em alguns momentos, ainda usei o meu velho Korg N5. Neste momento, alguns dos botões estão a funcionar muito mal.

SEGUNDO A ED ITORA, A MÚSICA DE TC ESTÁ CADA VEZ MENOS ASSOC IADA AO BLACK METAL . FARTASTE -TE DESSE GÉNERO OU ACHAS QUE ESTÁ DESATUAL IZADO?

TAMÁS: De modo nenhum. De facto, até acho que há muito mais elementos de Black Metal neste álbum do que em qualquer outro desde «Tuno Ido Tárlat». Por exemplo, “Jura” é uma típica canção de Black Metal: nem mais, nem menos. Adoro esse género. TC começou por ser uma banda de Black Metal e ele está-me no sangue. No entanto, a minha mente tem muitas facetas e nem todas elas podem ser expressas através do Black Metal ou até do Metal. Vejo o mundo a cores, não apenas em negro, se percebes o que quero dizer.

COMO PRODUZ ISTE O SOM QUE OUV IMOS EM «SGÙRR»?

TAMÁS: Da forma mais barata que consegui encontrar. Mais barato

“SGÙRR SIGNIFICA CUME DA MONTANHA EM GAÉLICO ESCOCÊS E O ÁLBUM TRATA […] DA LIGAÇÃO ENTRE A ÁGUA E AS MONTANHAS”

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não podia ser: trabalho no meu quarto com o meu velho PC. Tenho a certeza de que muitos leitores têm computadores bem mais sofisticados que o meu. Mas assim tenho a oportunidade de fazer todas as experiências que me vierem à cabeça e de criar canções que são verdadeiramente minhas. Preciso de tempo para criar e não tenho os recursos económicos necessários para o fazer em estúdio. Mas sinto-me confortável com esta situação, porque posso dar largas à minha criatividade e produzir um som verdadeiramente único, mesmo que possa parecer de qualidade inferior e menos profissional que os de bandas de Metal mais abastadas, que podem apostar numa produção mais complexa (por vezes até excessiva).

ALGUÉM TE AJUDOU A COMPOR O ÁLBUM? POR EXEMPLO, ALGUM DOS MÚSICOS CONVIDADOS?

TAMÁS: Não. TC depende apenas da minha visão e eu sou totalmente responsável pelas suas decisões criativas. No entanto, não acho que seja uma atitude egoísta da minha parte.

QUEM CONVIDASTE DESTA VEZ E O QUE É QUE ESSES ART ISTAS TROUXERAM À MÚSICA DE TC?

TAMÁS: Zoltán Kónya e Balázs Hermann da minha outra banda [Gire, que terminou em 2007]. Zoltán agora é vocalista, mas tocou guitarra em uma ou duas canções de «Róka Hasa Rádió». Balázs toca contrabaixo, mas, em «Róka…», tocou baixo. Viktória Varga também participou nesse álbum de TC, fazendo narração, tal como em «Sgùrr». Dimitris Papageorgiou toca violino e Ágnes Sipos trouxe a sua voz de soprano. É a primeira vez que colaboram com TC. Muitos deles conhecem-me há muito tempo – entre 10 a 20 anos – e são muito meus amigos. Digamos que são os meus melhores amigos.

FOSTE TU QUE ESCOLHESTE O ART ISTA GRÁF ICO QUE FEZ A CAPA PARA O TEU SEXTO ÁLBUM? É O MESMO QUE TRABALHOU PARA «RENGETEG»? F IQUE I COM A IMPRESSÃO DE QUE ASS IM FO I , JÁ QUE AMBOS OS ÁLBUNS APRESENTAM CAPAS DE

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INSP IRAÇÃO GEOMÉTR ICA , MAS MUITO BELAS, QUE DE IXAM MUITO ESPAÇO PARA A IMAGINAÇÃO DO FÃ TRABALHAR.

TAMÁS: A capa para «Rengteg» foi inspirada por um artista português muito talentoso chamado Rui Luz. A deste álbum foi feita por mim. De facto, a imagem original – que apenas tinha as ondas azuis – foi pintada em aguarela por uma senhora. Quando a contactei, ela deu-me logo autorização para a usar como eu quisesse. Nem sequer quis dar-me o seu nome, para figurar nos créditos do álbum. A partir desse motivo, eu criei toda a arte, acrescentando os triângulos e os logos. Todas as fotos e o design do livro que acompanha o álbum são da minha autoria. Adoro criar o grafismo para a minha música.

ONDE APRENDESTE ARTE GRÁF ICA?

TAMÁS: Sou um autodidata, tanto para a arte gráfica como para a música. Infelizmente, nunca tive oportunidade de fazer estudos artísticos.

SÓ FAZES TRABALHO GRÁF ICO PARA THY CATAFALQUE?

TAMÁS: Nestes últimos tempos, tenho sido o único responsável pela parte gráfica dos álbuns de Thy Catafalque e também de Gire, a minha outra banda, e do meu projeto a solo. Algumas das minhas fotos foram usadas por outras bandas (Ygfan, Pagan Megalith, Nagaarum, Salvus) ou ainda em capas de livros ou panfletos.

ENTÃO FAZES OUTROS TRABALHOS GRÁF ICOS PARA ALÉM DE ARTWORK PARA ÁLBUNS DE METAL?

TAMÁS: Como já referi, faço tudo para os meus álbuns: música, letras, produção, artwork, promoção. Não costumo trabalhar para outras bandas: os exemplos acima referidos são exceções. Mas penso que poderia trabalhar bastante para outras bandas, pelo menos no que toca à parte gráfica.

AS TUAS TÉCN ICAS GRÁF ICAS INCLUEM FOTOGRAF IA (POR EXEMPLO, NA CAPA PARA

«SUBLUNARY TRAGED IES») , ALGO QUE SE PARECE COM FOTOGRAF IAS D IG ITALMENTE SOBREPOSTAS E MODIF ICADAS (POR EXEMPLO, NA CAPA DE «MICROCOSMOS») E DESENHOS (POR EXEMPLO, MAS CAPAS DOS DO IS ÚLT IMOS ÁLBUNS DE THY CATAFALQUE SOBRE OS QUA IS TE ENTREV ISTE I ) . PODES COMENTAR ESTA MINHA ANÁL ISE DO TEU TRABALHO GRÁF ICO?

TAMÁS: A foto da capa da versão original de «Sublunary Tragedies» não foi feita por mi, mas sim e, nessa altura, eu não percebia quase nada de fotografia ou arte. Foi há 16 anos. A capa de «Microcosmos» parece-me muito fraca. Assim, para a futura reedição desses álbuns, como um CD triplo e uma box com um vinil, vou substituir o respetivo artwork por novas versões, com um conceito completamente diferente.

A FOTO DA CAPA DE «TUNO IDO TÁRLAT» É MUITO EN IGMÁT ICA . FAZ -ME PENSAR NUMA ESPÉC IE DE CR ISTO FEMIN INO. PODES EXPL ICAR O SEU S IGN IF ICADO E A RELAÇÃO QUE MANTÉM COM O CONCE ITO DE BASE

Photo: Denes Poszmik

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DO ÁLBUM? E , POR FAVOR, TRADUZ O T ÍTULO .

TAMÁS: Obrigada. «Tuno Ido Tárlat» significa «An Exhibition of the Vanishing Time». A foto foi feita pelo famoso artista húngaro Tamás Féner, no início dos anos 70, e representa uma cena de uma peça de teatro, numa interpretação do Budapest Ballet. Encontrei-a num livro, na biblioteca da minha cidade natal (Makó) e foi amor à primeira vista. Requisitei o livro e digitalizei essa imagem e outras. Mais tarde, contactei Féner para lhe pedir autorização para usar essa imagem e ele ficou muito contente com a ideia. Até me disse que gostava da música por ser tenebrosa. Esse elogio encheu-me de orgulho, por se tratar de uma artista já idoso. Para mim, essa imagem simboliza o humano, isto é, a face da Humanidade. Vejo nela a beleza, a tristeza, a inocência, a paixão. Corresponde, de forma muito precisa, à música que podes encontrar em «Tuno Ido Tárlat». De qualquer modo, na segunda edição do álbum (2010), usámos um artwork totalmente diferente desse, mas, na reedição em vinil

(2013), voltei a essa foto, com alguns pequenos retoques na cor e uma tipografia diferente.

A FOTO DA «RÓKA HASA RÁD IÓ» (UM OUTRO T ÍTULO QUE PREC ISO QUE TRADUZAS) LEMBRA-ME IMAGENS DE UM ANT IGO F I LME PORTUGUÊS, DA AUTOR IA DE UM REAL IZADOR QUE MORREU ESTE ANO COM 106 ANOS DE IDADE ! ! ! O F I LME CHAMA-SE “AN IK I BOBO” E TRATA DA V IDA DE CR IANÇAS POBRES NO PORTO, A SEGUNDA C IDADE DO PA ÍS . PODE D IZER-NOS ONDE FOSTE ENCONTRAR ESTA FOTO E POR QUE A ESCOLHESTE PARA ESTE ÁLBUM?

TAMÁS: «Róka Hasa Rádió» é um título muito estranho. Significa algo como «Fox Belly Radio». Na foto, podes ver o meu avô, a minha irmã e eu, com uma galinha nas mãos. Provavelmente, foi tirada pelo meu pai, no início dos anos 80, na casa dos meus avós, a alguns metros apenas da sala onde fazia os ensaios com Gire 25 anos depois. Essa imagem representa a minha infância: a minha família e o cenário em que se passou a minha meninice. Tem um grande valor

afetivo para mim e penso que não poderia encontrar uma melhor para ilustrar a capa de um álbum que fala das maravilhas da infância.

É SEMPRE ASS IM QUE ENCONTRAS OS MOT IVOS PARA AS TUAS CAPAS? OU FAZES PESQU ISA ÀS VEZES?

TAMÁS: Nestes casos, encontrei-os de forma acidental. Não andava à procura de imagens para capas, mas senti uma espécie de clique mal as vi. No entanto, às vezes também faço pesquisa. Mas tenho de reconhecer que as melhores escolhas pareceram sempre ter vindo do nada.

TEM ALGUMAS INFLUÊNC IAS PR INC IPA IS A MENCIONAR? HÁ ART ISTAS QUE GOSTAR IAS DE EMULAR?

TAMÁS: Sou influenciado por demasiados artistas para querer limitar-me a mencionar só alguns. Prefiro não dizer nomes. Pode-se dizer que sou influenciado pela arte.

JÁ PART IC IPASTE EM ALGUMA EXPOS IÇÃO?

TAMÁS: Sim, em várias exposições de fotografia, quando vivia na Hungria: aí umas três ou quatro. E, neste verão, houve uma exposição no Louvre, em Paris, que incluía uma foto da minha autoria, no seguimento da The 2015 Exposure Award.

TENHO UMA ÚLT IMA PERGUNTA PARA T I . COMO NÃO FAZES CONCERTOS, COMO PLANE IAS PROMOVER O TEU ÁLBUM?

TAMÁS: Respondendo a entrevistas como esta. Obrigado por esta oportunidade, Cristina. Tudo de bom para ti.

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“ESTE ÁLBUM É MUITO MAIS OUSADO, MAS DÁ PARA VER QUE SE TRATA DE UMA PRODUÇÃO DE THY CATAFALQUE. PARECE-ME FANTÁSTICO TER UM SOM CARACTERÍSTICO.”

Photo: Denes Poszmik

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D E S T A Q U E

ANTES DE COMEÇAR A ENTREV ISTA, PARABÉNS POR ESTE ÁLBUM! ESTÁ EXCELENTE ! DE I UMA OLHADA PELA TUA IMPRESS IONANTE D ISCOGRAF IA E TENS DO IS ÁLBUNS COM O NÚMERO “13” – ESTE E «13 ACOUST IC SONGS» . O NÚMERO “13” DO AZAR É O TEU NÚMERO DA SORTE?

JOEL : (Risos) Yeah, é seguramente o meu número da sorte. No caso do «13 Acoustic Songs» o número está no nome do álbum. Neste caso – eu considero o álbum a solo tanto como um projecto paralelo – o “13” está no nome do projecto. Então, Joel Hoekstra’s 13 é o nome do projecto e «Dying to Live» o nome do álbum. Mas sim, tem sido o meu

número da sorte. (risos)

ESTE É O TEU PR IME IRO ÁLBUM A SOLO COM VOCAL ISTAS E LOGO JEFF SCOTT SOTO E RUSSEL ALLEN – TODOS OS OUTROS FORAM INSTRUMENTA IS . PORQUE F I ZESTE ESTA NOVA ABORDAGEM EM «DY ING TO L IVE»?

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O QUE TEM A VER O NÚMERO DO AZAR COM JOEL HOEKSTRA? BEM, SEGUNDO O PRÓPR IO É O SEU NÚMERO DA SORTE . JOEL HOEKSTRA’S 13 É O NOME DO PROJECTO DO D IST INTO (AGORA) GU ITARR ISTA DOS LENDÁR IOS WHITESNAKE . E NÃO SÓ! C INCO D IGRESSÕES COM OS TRANS-S IBER IAN ORCHESTRA CONSTAM NO SEU CURR ICULUM. NO ENTANTO, «DY ING TO L IVE» É FRUTO DE UM TREMENDO BOM GOSTO E NASCE DAS MAIS PURAS E PROFUNDAS RA ÍZES ROCKE IRAS. S IMPLES , D IRECTO E MELÓD ICO , COMO O BOM HARD ROCK DEVE SER .

Por: Eduardo Ramalhadeiro

JOEL HOEKSTRA13 - O NÚMERO DA SORTE

JOEL : Após o lançamento dos álbuns anteriores eu tornei-me reconhecido neste género de música em que se insere «Dying to Live.» - Hard Rock; as pessoas reconhecem-me por ter tocado com Night Ranger, Trans-Siberian Orchestra e agora, claro, com Whitesnake. Então, eu tinha muitos pedidos para fazer um álbum como este. As pessoas ouviam os anteriores e diziam: “Eu gostava que fizesses um só com músicas Rock”. Então, aqui está! Finalmente consegui-o fazer no pouco tempo que tive durantes os últimos dois anos.

TU REUN ISTE UM GRUPO DE EXCELENTES MÚSICOS (JEFF SCOTT SOTO, RUSSELL ALLEN OU DEREK SHER IN IAN) , TU COMEÇASTE POR FAZER O ÁLBUM JÁ A PENSAR NELES OU SÓ OS CONVIDASTE DEPO IS DE TUDO TER F ICADO PRONTO?

JOEL : Bem, a primeira metade do álbum foi escrita sabendo que Vinny Appice ia estar na bateria e o Tony (Franklin) no baixo. Esta primeira metade foi escrita sem pensar no vocalista… bem… talvez um pouco mas encontrei o Russel quando já estava a tratar da música, igualmente para a segunda metade, sabendo que o Jeff iria cantar alguns temas e que estes se adaptavam muito bem ao seu estilo. Derek Sherinian juntou-

JOEL : Eu não sei! A musica é sempre um desafio… de certo modo. Quer dizer, o conceito foi compor seguindo linhas orientadoras. Eu não queria tornar a música muito progressiva ou basear a composição demasiadamente na guitarra. Queria mantê-lo num simples Hard Rock Melódico, que como fã eu gostaria de ouvir. Eu tenho-o descrito como Dio no seu estilo mais pesado e Foreigner na mais leve. Queria-o manter dentro destas fronteiras. Obviamente, posso escrever música progressiva ou outros estilos diferentes mas queria manter assim para que os fãs realmente pudessem desfrutar.

COMO JÁ D ISSESTE PODEMOS OUV IR INFLUÊNC IAS DE D IO E FORE IGNER; QUE OUTRAS BANDAS OU ART ISTAS TE FAZEM ESCREVER MUSICA?

JOEL : Eu comecei por ouvir AC/DC, Black Sabbath, Iron Maiden, Scorpions… bandas desse género e depois passei para o género mais melódico e ligeiramente mais soft… Journey, Foreigner Boston e ainda mais progressivas, como Rush ou Yes. Todas tiveram uma grande influência. Como é óbvio gosto das bandas mais clássicas como Zeppelin, Pink Floyd ou The Doors. Apesar de não se notarem influências neste álbum, também são influências na minha música Malmsteen, Vai e Satriani. Eu cresci a ouvir estes artistas…

HAVERÁ UMA D IGRESSÃO DE APO IO A «DY ING TO L IVE»?

JOEL : Bem, eu irei fazer o que estiver ao meu alcance no que diz respeito à promoção e suporte a este álbum. O primeiro passo foi dado – coloca-lo cá fora – as críticas têm sido espectaculares, muito para além daquilo que estava à espera. Muito do que se fizer sairá da reacção dos fãs e do “passa-palavra”. Penso que se houver um cenário que faça sentido, levando a banda para a estrada, porreiro. Eu de certeza que vou tentar fazê-lo. Vou explorar todas as hipóteses.

TU TAMBÉM TRATASTE DAS LETRAS COM FOCO EM QUESTÕES

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“AS PESSOAS OUVIAM OS ANTERIORES E DIZIAM: “EU GOSTAVA QUE FIZESSES UM SÓ COM MÚSICAS ROCK”. ENTÃO, AQUI ESTÁ! FINALMENTE CONSEGUI-O FAZER NO POUCO TEMPO QUE TIVE DURANTES OS ÚLTIMOS DOIS ANOS.”

se mais tarde e não escrevi algo em particular para ele mas fez um excelente trabalho, tocando com bom gosto sobre o material que já estava escrito permitindo, assim, terminar todos os temas.

COMO FO I O PROCESSO DE GRAVAÇÃO? VOCÊS JUNTARAM-SE TODOS OU ESTAVAM EM D IFERENTES LUGARES?

JOEL : Todos fizeram a partir suas casas com excepção do Russel e eu que trabalhámos em casa dele, já que vivemos perto um do outro. Na realidade, até prefiro assim porque penso que toda a gente tem mais consciência do que está a fazer. A inibição desaparece quando estão a gravar por eles e não têm medo de fazer um milhão de tentativas até ficar certo. Se todos estiverem no mesmo espaço a tendência será para demonstrar que conseguem fazer tudo mais rápido: “Oh… fiz num só take!!” (risos). Isto não importa desde que saia tudo bem. Mas… para dizer a verdade, eu prefiro ter toda a gente “por conta própria”, já que assim resultou muito bem.

TU L IDASTE COM O PROCESSO CR IAT IVO QUASE TODO. ALGUNS DOS CONVIDADOS CONTR IBU IU PARA O ÁLBUM?

JOEL : Como já tinha dito, o Russel e eu trabalhámos juntos no início mas ainda cheguei a pensar: “… vou convidar alguém para escrever…” mas demorei muito tempo a arranjar e entretanto acabei por fazer sozinho toda a composição. Nesses tempos iniciais Russell fez algumas mudanças na “Changes” – a ideia da melodia para os versos foi dele e alterou o coro um pouco, de forma a incorporar os “wooos”. Então, este foi o único tema em que eu tive um parceiro. Tudo o resto foi feito e concluído por mim: melodias vocais, letras, etc. Acabou por ser uma bênção porque me sinto muito ligado ao álbum e sinto que foi muito importante para mim.

AGORA QUE EXPER IMENTASTE AMBOS OS LADOS DA TUA CARRE IRA – ÁLBUNS INSTRUMENTA IS E COM VOCAL ISTA – QUAL É PARA T I O MAIS DESAF IANTE?

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E OBSTÁCULOS E A FORMA DE OS SUPERAR ATÉ CHEGAR ONDE ESTAMOS DEST INADOS. V IVESTE DE PERTO OU PASSASTE POR ESTAS D IF ICULDADES? AS LETRAS REFLECTEM ALGUNS PROBLEMAS PESSOA IS?

JOEL : Algumas são pessoais outras baseadas em fantasia. Eu gosto de deixar este assunto no meio-termo, pois prefiro que toda a gente se relacione com elas à sua maneira. Mas no geral, sim, o álbum é basicamente sobre a luta para te tornares quem tu queres.

TU ESTÁS ONDE DEVER IAS ESTAR?

JOEL : (risos) É sempre um trabalho em progresso. Felizmente, sinto que estou melhor do que há uns anos atrás. Está tudo a seguir o caminho certo

NO ÁLBUM PODEMOS OUV IR A VOZ DE CHLOE LOWERY QUE TAMBÉM FAZ PARTE DOS TRANS-S IBER IAN ORCHESTRA E INTERPRETA A CANÇÃO MAIS MELANCÓL ICA “WHAT WE BEL I EVE” . PORQUE É QUE NÃO TEMOS MAIS PART IC IPAÇÕES FEMIN INAS OU PORQUE NÃO CANTA ELA MAIS TEMAS?

JOEL : Bem, eu não queria a participação de muitos músicos porque aí o álbum começaria a soar muito disperso. Penso que dois vocalistas principais é o ideal mas eu escrevi esse tema com a ideia de fazer um dueto e não poderia pensar em alguém melhor do que a Chloe. Ela é uma das melhores vocalistas da actualidade e fiquei muito honrado de a ter no álbum.

POR FALAR EM TSO – UMA DAS MINHAS BANDAS FAVOR ITAS, EU ADORO A MÚSICA QUE FAZEM E NÃO VEJO A HORA DE OS VER AO V IVO MAS OS CONCERTOS NA EUROPA SÃO MUITO RAROS… F ICO TR ISTE ! TU TOCASTE EM «DREAMS OF F IREFL I ES» EM 2012 E BREVEMENTE VÃO LANÇAR “LETTER FROM THE LABYR INTH” . PART IC IPAS NESTE ÁLBUM?

JOEL : Eu fiz algumas partes pontuais mas o Al Pitrelli é o responsável pela maior parte das guitarras nos álbuns, é ele o principal guitarritas

dos TSO. Ele é excelente, gosto muito dele, fantástico guitarrista.

COMO ESTÁ A SER ESSA EXPER IÊNC IA?

JOEL : Espectacular! Eu adoro fazer parte dos TSO! Infelizmente, este ano não vou poder fazer parte da digressão de inverno porque vou estar na estrada com os Whitesnake na Europa e Japão. Obviamente, estou animadíssimo com a digressão e às vezes as datas podem ser tramadas. Irei sentir falta da digressão mas espero um dia voltar. Seguramente que esta oportunidade de tocar com os Whitesnake e partilhar “cabeça de cartaz” com os Def Leppard na Irlanda e UK é extremamente apelativo

OS CONCERTOS DELES SÃO FENOMENAIS , PART IC IPASTE EM QUANTAS D IGRESSÕES?

JOEL : Até este ano participei nas cinco últimas digressões de inverno, estou com a banda já faz cinco anos.

( ESPERO NÃO ESTAR ENGANADO NEM TER FE ITO CONFUSÃO…) EU L I ALGURES MAS NÃO ENCONTRO O WEBS ITE QUE QUANDO ESTAVAS A PREPARAR O «DY ING TO L IVE» RECEBESTE O CONVITE PARA INTEGRARES OS WHITESNAKE , NO ENTANTO, DAV ID COVERDALE APO IOU-TE N ISSO A 100%. COMO É QUE TE SENTES A RECEBER TAMANHOS ELOG IOS?

JOEL : É óptimo! O David é uma pessoa espectacular, é muito bom trabalhar para ele, é muito talentoso e uma lenda. Não são muitas pessoas que te conseguem alegrar com o seu humor e que tenham trabalhado com Jimmy Page e Richie Blackmore. Neste momento sinto-me um sortudo por tê-lo como patrão, eu sinto que realmente me apoia e eu aprecio muito essas atitudes.

COMO É FAZER PARTE DE UMA DAS BANDAS MAIS ICÓN ICAS E IMPORTANTES DA H ISTÓR IA DO ROCK? COMO É QUE ESTA OPORTUNIDADE SURG IU?

JOEL : Para mim cada minuto que estou nos Whitesnake é uma honra. Quer dizer, obviamente que falamos de David Coverdale ser uma autêntica estrela mas temos também Tommy Aldridge na bateria. Este gajo é lenda viva e ainda partilhar as guitarras com Reb Reach é fantástico porque o Reb é um excelente guitarrista solo e rítmico. Gosto muito dele e de fazer equipa com ele. Está tudo a correr muito bem com os Whitesnake.

ACHAS QUE ESTÁS NO TOPO DA TUA CARRE IRA?

JOEL : Para ser honesto contigo, já fico feliz por fazer vida da música. Por isso, sempre que tenho oportunidade de continuar, melhorar a nível musical, ser capaz de tocar ao vivo, para mim é excelente. Sinto-me um afortunado por ter participado em todas as digressões e concertos, foram grandes experiências. Penso que existem grandes músicos que não têm oportunidades como esta e fazer uma grande carreira. Portanto, sou um sortudo e abençoado mas não tenho isto como garantido.

UMA ÚLT IMA QUESTÃO QUE D IZ RESPE ITO À TUA CARRE IRA A SOLO : O QUE PODEREMOS ESPERAR DE T I NO FUTURO?

JOEL : Para já estou virado para a promoção, as pessoas vão procurar-me para tocar nos seus projectos e espero fazer mais trabalho com os Whitesnake. Não penso que seja este o último álbum. Esperamos ser capazes de falar mais a fundo sobre isso mas o David poderá falar um pouco mais sobre isso com vocês. Ele está muito entusiasmado com Whitesnake e podem esperar um par de anos muito activos da banda.

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“QUERIA MANTÊ-LO NUM SIMPLES HARD ROCK MELÓDICO, QUE COMO FÃ EU GOSTARIA DE OUVIR. EU TENHO-O DESCRITO COMO DIO NO SEU ESTILO MAIS PESADO E FOREIGNER NA MAIS LEVE.”

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THY CATAFALQUE«SGÙRR»(Season of Mist)

A L B U M D O M E S

Parafraseando Nietzsche “É preciso muito caos interior para parir uma estrela que dança.” É precisamente neste território que nos encontramos, espaço onde coabitam influências tão díspares como Astra, Drudkh, Master’s Hammer, Moonspell (por altura do “Wolfheart”), Russian Circles e incontáveis outras. “Sgùrr” é uma experiência xamânica, um cosmos em explosão, uma viagem introversiva. Tamás Kátai faz incursões pela música folk, black metal, rock psicadélico, música eletrónica, música ambiente, post-rock... Todas estas influências são metamorfoseadas numa única voz, como reverberações que emanam do mesmo caleidoscópio e a ele retornam. Um espírito primevo predomina neste album. Não é apenas música, mas um chamamento tribal como atestam os gritos que esporadicamente se desprendem de música sobretudo instrumental. Seguimos uma narrativa sonora que vai alternando entre o pathos e a libertação, numa pletora de movimentos musicais, perfeitamente encadeados, que nos hipnotizam... e fixam. O albúm é aquoso tal como as visões que inspira, todos os elementos e espíritos que evoca confluem num turbilhão que nos faz reféns e quando nos liberta, queremos repetir a viagem. O albúm conta com a participação de uma série de músicos convidados, dos quais se destaca Viktória Varga com esparsos momentos de narrativa que nos fazem arrepiar a pele. Épico, sublime, único.

Frederico Figueiredo [ 10 / 10 ]

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Photo: Dylan Kitchener

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Eis o album de Abbath, membro fundador da emblemática banda de black metal norueguês, Immortal. Trata-se, no fundo, de uma nova, velha face de Immortal, que reune o baixista King dos seminais Gorgoroth, bem como o enigmático Creature, de serviço na bateria. Apesar de nos encontrarmos perante um competentíssimo lineup, que se faz notar claramente ao longo do álbum, na verdade, a nível das composições não existe grande valor acrescentado ao que os Immortal nos têm vindo a habituar. Trata-se de um black ‘n’ roll ritmado, orelhudo e limpo, bastante afastado das fundações sujas e minimalistas do black metal, um pouco à semelhança do caminho que tem vindo a ser trilhado por bandas como Darkthrone, Satyricon ou Carpathian Forest. Subsiste a referência aos Bathory nos ritmos mais triunfantes de faixas como “Root of the Mountain”, com riffs que não ficariam desenquadrados num “Under the Sign of the Black Mark” ou “Blood, Fire, Death”. Em “Eternal” revisitamos os Slayer pela altura do “Divine Intervention”, com blastbeats e fúria suficientes para satisfazer os fãs de “Pure Holocaust” e “Battles in the North”. Trata-se de um álbum com mais variações de tempos, riffs e solos interessantes à mistura. Não é um album excecional, mas poderiam ser excetuados pequenos apontamentos como a participação do Popeye (em versão de ressaca) no final de “Winter Bane” ou a tímida participação de um sintetizador em “Ashes of the Damned”, que tempera a faixa como ketchup num cozido à portuguesa. Tirando estas pequenas “gralhas” (sem trocadilhos ao estilo vocal de Abbath), trata-se de um álbum sólido que não surpreende nem desaponta.

[ 6,5 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

Os Amberian Dawn são uma banda de power metal finlandesa com quase uma década, sempre à espreita de popularidade mais mainstream, mas nunca atingindo o estatuto de bandas como Nightwish ou Epica. Para bandas de power metal lideradas por mulheres, transições entre vocalistas podem ser um enorme risco. Raramente são bem recebidos pelos fãs de uma banda. Capri possui uma voz muito agradável, um tom de cantar morno. Com influências em Magic Forest - uma mistura pesada de influências neoclássicas e típicas do power metal finlandês, em Innuendo os Amberian Dawn têm uma abordagem mais orientada para a voz. Assim, a sua música, muitas vezes, parece como que um pop metalizado e que fica entre metal sinfónico e o power. Neste caso, não é mau de todo. Canções como “Fame & Gloria” e especialmente “The Court of Mirror Hall” fazem com que se pense se estamos realmente a ouvir uma banda de power metal de uma dimensão paralela onde o neon azul e dourado são as cores do metalhead. Na verdade, as duas músicas acima mencionadas são facilmente destaques, com coros cativantes, riffs poderosos. “Ladyhawk”,“Chamber of Dreadful Dreams” e “Symphony Nr 1, Part 1” são como que bordados com orquestrais luxuosos,com certas influências de Ayreon em (“Knock Knock Who’s There”) e de Blackmore’s Night em (“Angelique,” uma bela balada e poderosa) Por outro lado, certas faixas estão mais sintonizadas para uma ideia mais tradicional do power metal, por exemplo “Innuendo”, “Rise of Evil”, ou o fecho com,”Your Time - My Time”. Em suma é curto, é doce, aconselhamos aos fãs do género e também a fãs de outros géneros dispostos a conhecerem melhor os Amberian Dawn.

[ 6 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

Este projecto germânico lança agora o seu segundo longo-curso através da Noizgate; trata-se de um death metal melódico com uma componente electrónica levemente presente, mas com muitos mais momentos melódicos no formato tradicional do death melódico do que arranjos complexos com sons modernos e/ou ecléticos. Este tom “tradicional” (ou talvez a palavra “convencional” se aplique melhor) é algo mantido ao longo do trabalho mas com lutas (internas) para dar uma lufada de ar novo em momentos mais maneáveis das composições, através de sons de sintetizadores. Os refrões, riffs e vozes são no entanto bastante hypo-metal, com breakdowns e contra-tempos, tão em voga nos segmentos mais hype deste nosso playground metalúrgico. A verdade é que este trabalho não surpreende mas mostra ter momentos de criatividade que merecem algum destaque; ouçam-se os versos em “Exceed and Refine” ou até a variação em “Toward Deliverance”; mas a verdade é que as músicas são rapidamente alcançadas por refrões que batem sempre no mesmo ponto; as melodias chorosas/embelezadas/melosas deste sub-género não trazem mais-valias, originalidade ou simplesmente interesse: já não ouvimos estes refrões algures? No fim de contas sente-se algum esforço na construção do trabalho, mas ainda está muito associado ao que já foi feito; se conseguirem, para um próximo trabalho, trazer diferença, originalidade mantendo a energia, estarão muito mais preparados para o real world.

[ 6,0 / 10 ] ADRIANO GODINHO

C R I T I C A V E R S U S

4 1 / VERSUS MAGAZINE

ABBATHAbbath

(Season of Mist)

ALL WILL KNOWDeeper Into Time

(Noizgate Records)

AMBER IAN DAWNInnuendo

(Napalm Records)

Confesso que desde o já longínquo «Thormology» de 2006 que os Cradle Of Filth -, ou no seu anacronismo CoF - para mim estão num completo estado de indiferença. E a culpa é deles! Da direção artística mais mainstream, da falta de frescura apresentada álbum após álbum, da falta de inovação e ousadia que os caracterizou no início, e provavelmente também das inúmeras mudanças de lineup. A áurea dos CoF há muito (praticamente 20 anos) que se esvaiu, ficando uma veia artística no limiar dessa glória, a sugar e a viver desses tempos. E aqui chegamos a 2015 e a «Hammer of the Witches», o qual sai hoje mas bem podia ter saído há 10 anos atrás. A música e a abordagem são sempre a mesma, não trazendo nada de novo, e nem mesmo os bons momentos de black metal à lá CoF presentes aqui, como a parte central de “Deflowering The maidenHead...” ou “Blackest Magick in Practice”, salvam a coisa. É tudo muito déjá-vu. O problema deste novo trabalho (como o dos anteriores) é a falta de grande músicas que se destaquem, é tudo muito flat, muito plástico e nada genuíno, e nos tempos de hoje onde tudo é disfrutado a correr na euforia do consumismo (ou download), este tipo de álbum passa à história em 3 tempos. Resumindo, «Hammer of the Witches» é mais um álbum que aposta na continuidade, não trazendo nada de novo a não ser um grande punhado de novas músicas que rapidamente cairão no esquecimento e farão chorar o lado mais nostálgico dos verdadeiros fãs de outrora. Os que têm gostado dos CoF dos últimos 10 anos para cá, ignorem a minha classificação e dizeres, corram adquirir este trabalho, já que está à altura do que têm feito ultimamente, talvez até dos melhores, e eu classificá-lo-ia com pelo menos mais três pontos e meio.

[ 5,0 / 10 ] CARLOS FILIPE

O nome da banda denuncia que não se trata de metal recém-fundido, visto que poucas bandas de black metal teriam a audácia de resgatar o seu nome ao universo de Tolkien depois do que o senhor Peter Jackson fez ao “Senhor dos Anéis”. Houve uma altura em que os mitos de Tolkien se entranhavam na cena de black metal, tendo gerado bandas que verteram a sua influência numa discografia em torno desse imaginário, como é o caso dos Summoning, outros em que a referência ao escritor marcava presença assídua em entrevistas (Burzum), bem como aqueles que apenas foram caçar nomes intrigantes à obra literária: Gorgoroth, Isengard... e Cirith Gorgor. “Visions of Exalted Lucifer” é black metal ao melhor estilo sueco dos anos 90 (por uma banda holandesa), sem espinhas. O album é bastante mais que um piscar de olho aos trabalhos iniciais de Dark Funeral, Marduk ou Dissection, é mesmo um piropo bem ordinário. Black metal melódico, brutal, triunfante, fortemente conduzido pelo tremolo das guitarras. Porém, apesar de toda a sua consistência, este album acaba por redundar num momento de nostalgia ao estilo e época referidos, muito à semelhança do trabalho desenvolvido pelos Watain (consideravelmente superiores). A banda não apresenta nada de novo, o que não é necessariamente mau. Quase se poderia dizer que se trata de revivalismo, não remontassem estes cavalheiros a 1996. Uma ovação ao Senhor dos Anéis... quero dizer, das Trevas.

[ 6,0 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

Com Under the Red Cloud os amorphis apresentam-nos o seu 12º álbum de estúdio do destes monstros Finlandeses, sexto LP da banda com Joutsen como vocalista e seu 10ª ano na banda. Este álbum é um retorno à melhor forma dos Amorphis, e o álbum mais coeso que a banda lançou desde 2009 comm Skyforger.O álbum não é uma história. Em vez disso, as letras (escritas, como sempre, por Pekka Kainulainen) têm um conceito;o qual gira em redor de viver sob uma nuvem vermelha em tempos conturbados. A música corresponde a essa sensação, diria mesmo que será mais pesado do que os registros anteriores, que pode ter sido influenciado pelo 20º aniversário de Tales from the Thousand Lakes,o material pesado da banda nos ultimos anos. Under the Red Cloud é um álbum muito bom e um retorno à forma antiga. O registo simplesmente soa como Amorphis; a banda desenvolveu um som que preenche a lacuna entre o seu material antigo e os novos, com muitos momentos aqui que me fazem lembrar os tempos de Elegy e Tuonela.“The Skull” and “Enemy at the Gate” têm riffs que só se ouvem em Amorphis e Estéril; e após 12 registos eles ainda os conseguem sacar.A consistência é uma virtude para grandes bandas,eu vou estar sentado aqui a curtir e muito as músicas the under the red cloud sob as nuvens vermelhas. Para finalizar aconselho vivamente a todos os fãs de Amorphis ou de outros géneros de música um grande álbum repleto de excelentes músicas.

[ 10 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

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4 2 / VERSUS MAGAZINE

AMORPHISUnder the Red Cloud

(Nuclear Blast)

CIR ITH GORGORVisions of Exalted Lucifer

(Hammerheart Records)

CRADLE OF F I LTHHammer of the Witches

(Nuclear Blast)

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Confesso que tinha muita curiosidade em ouvir este álbum. Fui grande fã de Fear Factory e ainda hoje algumas das suas músicas me fazem vibrar. Porém, o panorama musical vai mudando, e nós com ele. Resta às bandas acompanhá-lo ou habilitarem-se ao esquecimento. Pois bem; com os Fear Factory não aconteceu nem uma coisa nem outra. A banda tem um som muito característico, facilmente identificado, que se tem mantido quase inalterado ao longo dos anos. Assim sendo, a primeira sensação que tive é a de que estava a ouvir um antigo trabalho do conjunto de Dino Cazares. O seu som industrializado com um ritmo incansável e guitarras graves continua lá, bem como a capacidade que têm em alternar as secções pesadas com outras mais melódicas, sem nunca baixarem a intensidade canções. É bom ver que Burton C. Bell ainda tem a potência vocal necessária para cantar nos Fear Factory, e mérito para o novo baterista, Mike Heller, que faz um trabalho estupendo neste “Genexus”. Porém, o facto de soar a um álbum antigo pode ter tanto de positivo como de prejudicial. Se por um lado a essência dos Fear Factory se mantém imutável, também não deixa de ser verdade que não se nota, no geral, muita evolução em termos sonoros. Exceção feita à última faixa, que será talvez uma das mais bem conseguidas, e que por ironia é a menos intensa. Não deixa de ser por isso um bom trabalho com alguns apontamentos muito interessantes. Para aqueles que são ainda hoje fervorosos admiradores este álbum não vos vai defraudar. É Fear Factory em todo o seu esplendor, sem sinais de querem abrandar. Aqueles que como eu gostavam de os ver arriscar, libertarem-se um pouco mais do seu (excelente) passado, podem não ficar tão convencidos. Ficou demonstrado em vários momentos ao longo deste disco que têm toda a criatividade para levar o seu som a um próximo nível. Aguardo impacientemente.

[ 7,0 / 10 ] IVO BRONCAS

Se estão cansados (como eu) de música previsível e andam sempre à cata do próximo disco capaz de vos dar a volta ao miolo, então não vão mais longe porque este poderá ser o álbum que procuram: um disco de thrash bastante elaborado e técnico, mas que tem, ao contrário de muitos, a virtude de nunca ultrapassar aquele limiar de complexidade para além do qual a música se torna ininteligível. Sem surpresa, a composição adoptada pelo colectivo norte-americano (que inclui membros dos Wild Hunt) é muito pouco ortodoxa, vertiginosa, bizarra por vezes, e completamente arredada de todas as convenções. Como influências principais posso apontar Atheist e Gorguts, mas mais haverá. Os duelos de guitarra entre os irmãos Nolan e Drew Cook são uma constante e um dos principais elementos que nos mantêm de ouvido aguçado. A música é quase sempre focada na componente instrumental e mesmo em alguns temas não instrumentais os vocais thrashy old-school de Greg Brace só entram a 3 ou 4 mins do início, depois duma desbunda desenfreada de riffs rombudos e mudanças de tempo alucinadas. Todas as oito faixas presentes têm as suas qualidades mas “Xenolith” é talvez a mais singular: um instrumental de 9 mins feito de atmosferas psicadélicas, sons industriais, leads etéreos e descargas proverbiais de death/thrash. No geral, a audição de «Psychogenic Atrophy» não é fácil, mas o reverso da medalha são muitas horas de prazer a tentar desenvencilhar esta autêntica teia abstracta de riffs. Com a morte inesperada do guitarrista Drew Cook, no início do ano, o futuro dos Dimesland ficou incerto, mas a banda já fez saber que vai continuar activa. Esperemos que sim.

[ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

Quem são os Dead Soul? Eis uma pergunta que fiz a mim mesmo e que rapidamente obtive resposta através de «The Sheltering Sky». Isto torna-se ainda mais interessante quando incorporam na música muito do que procuramos quando esperamos ouvir algo de novo e diferente. Nesta catadupa de artistas que nos chegam aos ouvidos sabe mesmo bem ouvir algo tão “fresco”, diferente e acima de tudo, sentimental. Por isso senti uma urgente necessidade de conversar com a dupla responsável por este projecto. Nessa entrevista estão as respostas à pergunta inicial… e não só. «The Sheltering Sky» é o resultado da simbiose entre o mundo electrónico de Niels Nielsen e o blues de Anders Landelius. As influências dos dois artistas fazem-se sentir mas de uma forma dissimulada, não há mais “electrónica” ou mais blues. Há ali qualquer coisa a que alguns chamam… música! O ambiente intimista é também povoado pelas letras pessoais derivadas de um período difícil na vida de Anders. Tudo isto e toda a arte sonora que emana dos temas é intrínseco e imprevisível, tal como as diferentes interpretações que podemos aferir da música. De facto, este aspecto não é consensual; o que para uns poderá parecer The Doors, para outros será Nine Inch Nails. E isto é o que me dá prazer ouvir; algo que tenho dificuldades em catalogar ou definir; algo que me faça pensar no que estou a ouvir e procurar nas profundezas da memória se já terei ouvido algo assim. Para mim é consensual que é música! A descobrir estão também o álbum anterior «In the Darkness» e o magnífico “Live In Studio Underjord” que só encontram a versão digital - YouTube por exemplo - mas vale a pena.

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

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DEAD SOULThe Sheltering Sky

(Century Media)

DIMESLANDPsychogenic Atrophy

(Crucial Blast)

FEAR FACTORYGenexus

(Nuclear Blast)

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4 4 / VERSUS MAGAZINE

Sempre que a banda germânica se prepara para lançar um álbum, grande parte do mundo (metálico) entra em alvoroço. Desde o abandono de Kiske que as opiniões não têm sido consensuais, para com a banda e, principalmente, Andi Deris. Se dividirmos a Era pós-Kiske encontramos duas partes distintas: entre o «Master of the Rings» e «The Dark Ride» e daí para a frente. Este primeiro período coincidiu com a permanência Roland Grapow e Uli Kusch. Depois… bem… mais um período conturbado com a formação incerta e um dos álbuns mais consensuais mas pela negativa: «Rabbit Don’t Come Easy». A formação estabilizou e a música também, no entanto, Deris ainda vive sob a sombra de Kiske, ou melhor, os fãs mais inflexíveis é que o colocam nessa posição. São duas vozes diferentes (ponto). Por isso é sempre com grande ansiedade que espero pela “abóbora” e por esse “D. Sebastião” que teima em não aparecer… ou não. Sairá «My God-Given Right» do nevoeiro, qual unificador de todos os fãs? A minha resposta é NIM. Como tem sido habitual nestes últimos lançamentos a produção, digamos que é suficiente mas a bateria continua a mesma mediocridade: demasiado comprimida, sem dinâmica e pouco orgânica. Penso que já estaria n’altura de introduzir “sangue” novo e ideias novas na produção. Este é o pior aspecto, o melhor, Andi Deris! Excelente trabalho, sem dúvida e a provar que as críticas são muitas vezes injustas e infundadas. «My God-Given Right» custou a “entrar” no ouvido mas após o estranho passar, entranhou-se por completo. É viciante, divertido e acabou por despertar a abóbora adormecida há uns anos. É o “salvador”?! Quase, quase… não fosse o raio da produção.

“Once a band that sang ‘bout bullshit Everyone could see them fall They were sure it was their last hit So they quit with their faggotry and kicked ass again.” Rise and Fall[ 8,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

Graveyard não são uma surpresa: são uma garantia de um bluesy rock com a qualidade de músicos capazes de trazer originalidade - ou apenas qualidade - a um estilo que à partida não seria de esperar grande revolução; e mais uma vez: esta não seja talvez o intuito deste projecto que dura há já alguns anos - com um primeiro trabalho em 2007. A banda atingiu um sucesso considerável em 2011 com o álbum “Hisingen Blues” onde faixas como “Ain’t fit to live here” passou nas rádios. Este «Innocence & Decandence» vem perpetuar a atitude conseguida nos trabalhos anteriores; Neste trabalho podemos descobrir que o antigo guitarrista Truls Mörck regressa ao colectivo mas agora para tocar baixo, onde substitui Rikard Edlund que abandonou o projecto em 2014. Mörck também participa nas back vocals e voz principal em “From A Hole In The Wall”. Como destaques podemos falar da faixa introdutória “Magnetic Shunk” que possui a energia, a faixa “Too Much Is Not Enough” que possui a melodia no formato slow ou “Never Theirs To Sell” que nos dá o som “Graveyard”. O que se ouve neste trabalho é um som limpo e sujo, moderno e clássico; usando as palavras da Nuclear Blast: “It’s classic rock with a modern roll!”. Não teria dito melhor.

[ 7,5 / 10 ] AG

Quinteto alemão que já dispensa qualquer tipo de apresentação, os Grave Digger que se encontram no ativo há já fantásticos 35 anos, (desde 1980), são um dos ícones do género heavy / power / speed metal. Com uma extensa e variada discografia a reforçar a sua criatividade e árduo trabalho, e após o lançamento do último álbum de originais ‘Return of the Reaper’ chega agora a vez dolançamento de uma coletânea dos seus maiores e melhores êxitos dos primeiros 25 anos da sua carreira, ‘Exhumation – the Early Years’, a ser editado pela Napalm Records a 23 de Outubro do corrente. Conta-se inicialmente muma primeira e comum edição, com um alinhamento de apenas 13 temas, 47 minutos de bom heavy-metal, em que não faltam hits como ‘Heavy Metal Breakdown’ ou ‘We Wanna Rock You’. Sendo a maior parte dos temas regravados a partir dos originais, temos então um registo mais limpo tecnicamente, equilibrado nas escolhas para esta celebração de 35 anos de carreira, mas deixando no entanto alguns temas de fora, apesar das edições limitadas virem a conter faixas bónus. Para quem não conhece num todo a carreira destes alemães é a oportunidade de se familiarizar com a sua sonoridade num ápice e certamente seguir a partir daqui o continuado percurso no metal dos Grave Digger.

[ 7,0 / 10 ] PAULA ANTUNES (HINTF)

GRAVE D IGGERExhumation – The Early Years

(Napalm Records)

GRAVEYARDInnocence & Decandence

(Nuclear Blast)

HELLOWEENMy God-Given Right

(Nuclear Blast)

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É impossível não criar uma grande expetativa quando temos nas nossas mãos um trabalho de originais de um projeto que tem na sua formação Alex Skolnick, Mike Portnoy e Dave Ellefson. Contudo, o objetivo deste trabalho de estreia dos Metal Allegiance não foi apresentar um som inovador. Foi sim, juntamente com inúmeros convidados de renome, oriundos dos mais diversos estilos dentro do Metal, presentear os fãs com um disco variado que unificasse o género. Nesse sentido é um álbum muito bem conseguido, principalmente se tivermos em conta a dificuldade que deve ter sido manter um fio condutor quando se tem uma enorme quantidade de músicos a participar no mesmo. Este que podia ser um obstáculo foi bem ultrapassado através de várias estratégias: Logo à partida, o facto de a maioria das músicas terem sido compostas pela “formação fixa” da banda, contribuiu em muito para a coerência sonora da qual os próprios falam. Para além disso, algumas canções foram claramente adaptadas aos convidados que nelas participaram, muito devido ao estilo muito característico que alguns músicos possuem. A outros, mais versáteis por natureza, foi-lhes pedido que saíssem ligeiramente da sua zona de conforto, e com isso obteve-se resultados muito interessantes. Original foram também alguns arranjos musicais, nomeadamente encaixarem 2 baixos numa canção, e incluírem sons de flamenco noutra mais soturna. Destacaria a afirmação de Mike Portnoy como um excelente baterista de Metal, e as participações de Randall Blyth, Troy Sanders, Chuck Billy, Matthew Heafy, e de Phil Anselmo (“Dying song”). Se quisermos ser minuciosos, podemos questionar, nesta última a utilização de um riff básico numa secção intermédia que quase belisca a sua qualidade final. É um álbum intenso e sem dúvida merecedor de ser ouvido por todos os fãs de um Metal mais mainstream.

[ 8,0 / 10 ] IVO BRONCAS

Os fãs dos Killing Joke têm vindo a esperar um certo nível e grau de qualidade quando se tratam de lançamentos da banda e da sua música rock eletrónica e experimental, e Pylon é um exemplo brilhante de muita qualidade mesmo. “Autonomous zone” começa o disco com o electro-punk da banda, chega a fazer lembrar os Fear Factory. A abordagem limpa neste álbum é verdadeiramente notável, com o vocalista Jaz Coleman a mostrar estar na sua melhor forma, quase robótico em algumas músicas. Também soa como um violino que está flutuando ao fundo. “Dawn Of The Hive” eco efeitos a ajudar a abordagem vocal de Coleman para a transportar uma grande distância, enquanto melodias limpas e um apoio de metal pesado óbvio, fazem deste um definitivo electro-headbang. Não é algo que estejam à espera, mas os Killing Joke mostram a sua grandeza. Em “New Cold War” mudam um pouco com influências New Wave. Coleman traz o frio e, por vezes, o fogo com uma abordagem mais dura. É definitivamente um roqueiro. “Euphoria” também é um pouco diferente, como que uma balada melódica, mas tem uma harmonia coral incrível. Definitivamente carrega aquela vibe New Wave, provando que os Killing Joke não foram longe demais em relação às suas raízes e soam melhor do que nunca neste registo. É a música mais curta. É apaixonante e a melhor faixa no álbum. “New Jerusalém” soa como uma peça do funk eletrónico. Liricamente, Pylon parece ser uma observação de muitas das coisas que não correram bem na sociedade. É um álbum extremamente bem trabalhado e definitivamente um melhores dos Killing Joke. Recomendo a compra de pylon, basta lembrar que Killing Joke sempre fizeram suas próprias coisas. O registo definitivamente soa como uma mistura entre o seu material antigo e seu trabalho mais recente, fundindo estas propriedades mágicas juntas e muito bem. Pylon é definitivamente uma banda sonora para esta era confusa e delicada em que vivemos, onde o homem oscila à beira do desastre.

[ 8,5 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

Yeah! Rock on! É o que dirão quando ouvirem «Dying to Live», um álbum muito puro e genuíno. Hard Rock melódico feito por uma grande personalidade da música rockeira actual. Joel é tao só o actual guitarrista dos Whitesnake, participou ainda em 5 digressões de inverno com os Trans-Siberian Orchestra e também Night Ranger. O curriculum não faz a música mas… Joel lança o seu quaro álbum a solo mas o primeiro com uma dupla de vocalistas, Russel Allen e Jeff Scott Soto – os outros três foram instrumentais. Hoje em dia fazer um excelente álbum de Hard Rock Melódico pode parecer fácil. A identidade deste género está muito ligada aos anos 80-90, com o seu visual muito particular e estilo musical muito particular. Transportar essas identidades para uma época mais moderna tem que se lhe diga. Neste tipo de álbuns onde o compositor e mentor do projecto é o guitarrista, a tendência é quase sempre para demonstrar técnicas, habilidades, solos, etc, (orientado para a guitarra, portanto...) mas Joel foi inteligente e no meio de tanto bom gosto ninguém se destaca. Daqui resulta que «Dying to Live» é bastante coerente e ouvi-lo parece “faca quente em manteiga”: não se estranha, agrada logo na primeira audição. Puro Hard Rock melódico... BEM FEITO! Os temas foram escolhidos tendo em conta as características particulares de Russel e Jeff mas o último tema conta com a participação de Chloe Lowre, sendo este o mais melancólico, ou se preferirem a balada do álbum. Joel “Regressa ao Futuro” e «Dying to Live» é tudo o que podem esperar do Hard Rock Melódico contemporâneo.

[ 9 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

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JOEL HOEKSTRAJoel Hoekstra’s 13

(Frontiers)

KILL ING JOKEPylon

(Spinefarm Records)

METAL ALLEG IANCEMetal Allegiance

(Nuclear Blast)

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C R I T I C A V E R S U S

4 6 / VERSUS MAGAZINE

Os últimos anos dos Slayer têm sido fáceis, seja por mais uma celeuma com Dave Lombardo, que fez com que Paul Bostaph regressasse e ao desaparecimento de Hanneman que, para muitos seria o fim dos Californianos, porém, a verdade é outra e, ao décimo segundo disco, os Slayer continuam a ser os Slayer e «Repentless» é uma especie de «comeback» vitorioso. Não vamos estar a perder tempo a escrever sobre a qualidade dos musicos, pois já tudo foi dito e escrito ao longo dos trinta anos de carreira, porém, deve-se salientar o trabalho de Gary Holt, pois era sobre ele que recaim todas as expectactivas e, principalmente, o legado de Hanneman, e dos próprios Slayer, estavam nos seus dedos e, o experiente músico não deixou os seus créditos em casa e podemos dizer que agarrou o lugar com estacas de ferro e unhas de leão. Sobre tudo o resto que compoe «Repentless» é Slayer mordaz e, como sempre, critico com a sociedade em que nos encontramos, por aqui passam malhas como a faixa-título (soberba) e a, também ela, genial «Vices». «Repentless» não é um disco imediato, mais não seja devido a todas as condicionantes mas, o que no início se estranha, rapidamente se entranha. Numa banda que sempre, ou quase sempre, esteve envolta em polémica a banda virou o disco e, de forma directa e através do artwork, envia um recado a uma sociedade desmembrada e, totalmente, alienada. Quem pode esquecer a polémica da imagem, aqui «retocada» via Slayer. Se duvidas existissem, ficam totalmente dissipadas, pois enquanto o mundo estiver neste estado, existirão sempre os Slayer e, se mudanças existiram, passam despercebidas... só talvez se note a farta cabeleira e barda de Araya... tudo o resto é Slayer... e do bom.

[ 9,0 / 10 ] NUNO LOPES

Surgidos há exactamente um quarto de século, na esteira do death metal técnico de bandas como Atheist e Pestilence, os italianos Sadist, do guitarrista Tommy Talamanca, cedo adquiriram uma identidade muito própria com a introdução na sua música de uma dose generosa de teclados e de motivos tribais. Com maior ou menor intensidade estes elementos sempre marcaram presença nos sete álbuns que a banda gravou até hoje, mas o novo «Hyena» contém, desta vez, composições ainda mais orientadas para os teclados do que o registo anterior «Season in Silence» (2010), mantendo-se os característicos traços experimentais e texturas jazzy, bem como uma profusão de influências étnicas que também não são novidade na música do quarteto de Génova. A competência dos músicos sobressai a cada instante, quer nas linhas do baixo fretless de Andi Marchini (especialmente galvanizantes no instrumental “Gadawan Kura” e em “African devourers”), nos riffs técnicos e nas linhas virtuosas de guitarra de Talamanca e no fantástico trabalho percussivo de Alessio Spallarossa que alicerça cada um dos temas. O estilo vocal de Trevor Nadir – talvez demasiado monocórdico e pouco expressivo – é o aspecto menos positivo a apontar em «Hyena», razão única porque não se atribui mais um ponto na apreciação deste trabalho conceptual curiosamente baseado, na integra, no odioso necrófago africano – a hiena – à qual muitos folclores associam atributos malévolos.

[ 8 / 10 ] ERNESTO MARTINS

Apresentaram-se ao mundo em 2004 com um black/death metal de contornos tradicionais, mas rapidamente mudaram para outras sonoridades. E ainda bem que o fizeram, pois caso contrário não estaríamos agora, muito provavelmente, perante um trabalho tão criativo. «Fixation, At Rest» é um disco de intensidades muito variadas, com uma faceta negra proeminente, e em que a música funciona muito como ilustração de uma narrativa conceptual que revolve em torno da necessidade de mudanças. O trabalho da formação de Reykjavik, Islândia, inclui traços alternativos e até laivos de progressivo, embora seja genericamente menos rebuscado do que este rótulo costuma sugerir. A música é quase sempre fluente e acessível, o que não deve ser confundido com convencional ou genérica, até porque o grupo recorre a padrões rítmicos (a performance do baterista sobressai) e a estruturas bastante criativas, embora subtis, que são suficientes para prender a nossa atenção a cada passo. “As the skies break” inclui algumas mudanças repentinas de ritmo muito catchy, bem como riffs groovy reminiscentes dos Prong (semelhança também notória em “Red silence”). “Holding back” destaca-se pelo segmento final atmosférico centrado num refrão especialmente pegajoso, e “Prosthetic sea” tem também uma parte vocal harmoniosa muito interessante. Os restantes temas incluem também algo diferente do que é habitual nestas sonoridades, e no computo geral esta é sem dúvida uma reedição muito bem-vinda (com novo artwork) do álbum de estreia lançado em 2010, que vale a pena (re)descobrir.

[ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

MOMENTUMFixation, At Rest

(Dark Essence Records)

SADISTHyena

(Scarlet Records)

SLAYERRepentless

(Nuclear Blast)

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Quer gostemos quer ou não, este é um daqueles discos que não deixa ninguém indiferente. Pela positiva ou pela negativa. Uma primeira audição dá logo conta de uma abordagem muito própria, centrada num thrash negro old-school com elementos de doom e de muitos outros sub-géneros de Metal. Até aqui tudo bem. O problema reside nos momentos em que a música soa demasiado genérica, ou em partes estranhas que parecem deslocadas do contexto. Um dos momentos mais apelativos do disco surge no épico de doze minutos “The view from my ivory tower”, que passa claramente como um tributo aos Celtic Frost. Até os tiques vocais de Tom Warrior estão lá imitados. “Jewel” segue na mesma toada arrastada, mas é ainda mais diabólica... até ao segmento final em que, de repente, muda de forma inusitada para um estilo prog inteiramente desarticulado com o resto do tema. Outra transição igualmente estranha ocorre em “And the gold of rebirth”, o último de um trio de faixas em thrash mais corrido, que lá mais para o fim descamba em algo parecido com uma improvisação primária. Impressão idêntica decorre de muitas partes lentas que parecem feitas de acordes avulso. Três dos quatro instrumentais presentes soam também estranhos, no mínimo. O esquizofrénico “Dwaalspoor” chega a ser irritante, e “Only I have the light of lights” é uma sequência de acordes etéreos sem grande sentido. O press-release diz que «II: Dim» é eclético. Sem dúvida que é, mas de uma forma demasiado idiossincrática. A fusão pretendida pela banda holandesa tem os seus momentos, mas precisa, talvez, de mais algum apuro.

[ 6,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

Este é o regresso dos TAO após algum tempo de pausa - o anterior “In The Wake Of Collisions” foi lançado em 2008 - que agora nos apresentam este «Cult of None» através da Massacre Records; e tudo soa a um novo começo para estes dinamarqueses que já nos deram provas de ter uma qualidade como banda e não apenas como projecto do guitarrista Flemming C. Lund (Invocator, ex-Autumn Leaves). A história do projecto é até simples - após o desmembramento dos Autumn Leaves, Flemming procurou não músicos profissionais já atarefados com outras bandas mas sim músicos acessíveis e locais (o baterista foi um puto de 20 anos escolhido em audições) que partilhavam a mesma visão musical. Este novo trabalho soa a confiança e maturidade; um som apurado com os trabalhos passados. As músicas estão repletas de momentos e passagens interessantes, ouçam o refrão em “Reviver”, a energia em “Exo Reign” ou o envolvimento em “Hesperian”. Este última tem até uma aura especial, onde já passou a energia do começo do álbum e as músicas conseguem mais margem de manobra para mostrar algo a mais. Este «Cult of None» não respeita o seu título, pois não tem nada que nos mostre prestar um culto ao “vazio”, pelo contrário, a qualidade do trabalho dá-nos vontade de ouvir e voltar a ouvir.

[ 7,0 / 10 ] AG

Satã chegou e com ele, uma lufada de ar gélido. Estamos perante o testemunho de almas em colapso. “Passion Sodomy Terror” é o tipo de album que nos remete para a franja cultural onde o black metal tem a sua génese, o produto de uma cultura apocalítica, a expressão da agonia distópica onde o ethos se encontra em fase terminal. Necropiss profere o evangelho do fim, do topo do púlpito da condenação. Geme, sufoca e vocifera, de garrote na garganta, à beira da asfixia, entre o êxtase e o estertor. A dor neste albúm é presente, crua e inexorável. O negativismo é mais do que uma insinuação, é palpável e patológico. A dissonância vertiginosa das guitarras de Saint Vincent (membro fundador dos Blacklodge e compositor do projeto em crítica) (des)harmoniza-se com a frieza sincopada da bateria de Rafal, compondo a desolação sonora que inspira esta cruel criação. O ambiente nihilista conjurado torna a audição deste material tão exasperante que divide o ouvinte entre a aversão e o enlevo, não sendo de estranhar que a receção crítica se enquadre nos extremos opostos do espectro, consoante a particular apetência do respetivo ajuizador. O albúm conta igualmente com a valiosa produção dos estúdios Necromorbus. Black metal para verdadeiros apreciadores, na veia de Anaal Nathrakh e de bandas como Mutiilation, Vlad Tepes e restantes Légions Noires.

[ 8 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

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T.A .O .S . (THE ARR IVAL OF SATAN)

Passion Sodomy Terror

(Osmose Productions)

THE ARCANE ORDERCult of None

(Massacre Records)

VILLA INYII: Dim

(Listenable Records)

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EDUARDO RAMALHADE IROP I N K F L O Y D « W i s h Yo u W e r e H e r e »

J O E L H O E K S T R A ’ 1 3 «D y i n g t o L i v e »

Q U E E N S R Y C H E «O p e r a t i o n : M i n d c r i m e

H E L L O W E E N « M y G o d - G i v e R i g h t »

G H O S T « M e l i o r a

D E A D S O U L « T h e S h e l t e r i n g S k y »

A M O R P H I S « U n d e r T h e R e d C l o u d »

CARLOS F I L IPEM O L L U S T «I n D e e p W a t e r s »

D R A C O N I A N - S v o r a n

A M O R P H I S - U n d e r T h e R e d C l o u d

N I L E - W h a t S h o u l d n o t B e U n -

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S L AY E R - R e p e n t l e s s

J U D A S P R I E S T - D e f e n d e r s o f F a i t h

3 0 t h A n n i v e r s a r y

HUGO MELOR O T T I N G C H R I S T - «L u c i f e r O v e r A t h e n s »

S L AY E R - «R e p e n t l e s s »

R A G E - «T h e S o u n d c h a s e r A r q u i v e s »

P E C C AT U M - «S t r a n g l i n g f r o m W i t h i n »

A N T I M AT T E R - «T h e J u d a s Ta b l e »

ADRIANO GOD INHOE L D E R - « L o r e »

B A S K - « A m e r i c a n H o l l o w »

G R A V E - « O u t o f R e s p e c t f o r t h e D e a d »

V I – « D e P r e s t i g i i s A n g e l o r u m »

CRIST INA SÁA U T O K R AT O R – A u t o k r a t o r

H E G E M O N – T h e H i e r a r c h

M O R D ’ A ’ S T I G M ATA – O u r H e a r t s S l o w D o w n

T H Y C ATA F A L Q U E – S g ù r r

V I – D e P r e s t i g i i s A n g e l o r u m

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MAGAZINE

E N T R E V I S T A

OS BAKTHER IA CA ÍRAM QUE NEM UMA BOMBA NO UNDERGROUND NAC IONAL E MOSTRARAM LOGO AO QUE V INHAM, SEM FAL INHAS MANSAS. “L IXEM-SE TODOS” É A MENSAGEM QUE EMANA DE “SYSTEM S ICKNESS”, O VOSSO ÁLBUM DE ESTRE IA . PODEMOS ENTÃO D IZER QUE A CONST ITU IÇÃO DA BANDA FO I UMA MANE IRA DE REAG IR AO CONTEXTO POL ÍT ICO , SOC IAL E ECONÓMICO QUE NOS RODE IA?

RUI V I E IRA : Tem a ver, sobretudo, com a condição humana, com o homem e o mal que este inflige de forma sistemática ao seu semelhante. E fá-lo com prazer! Baktheria é isso -

o homem no centro da destruição do universo, seja através de conflitos bélicos, racismo, corrupção ou da aniquilação da natureza. Falamos de um semi fim de atrocidades que só o ser humano é capaz de executar cirurgicamente. Somos um vírus sem cura, uma bactéria peçonhenta que apodrece os valores morais em troca de 30 dinheiros.

COMPUSERAM O ÁLBUM AO LONGO DE UM ANO, EMBORA OS PETARDOS NELE INCLU ÍDOS SOEM TOTALMENTE CRUS E ESPONTÂNEOS. QU ISERAM DE IXAR OS TEMAS AMADURECER OU

FO I S IMPLESMENTE ESSE O T IMING QUE SE VOS IMPÔS?

RUI V I E IRA : Quando iniciei baktheria, disse logo ao alex (baterista) que o objetivo era gravar um disco dali a um ano. Partimos logo dessa premissa e, em dois meses, compusemos qualquer coisa como 10 temas, quase todos presentes no álbum. Depois rodámos as músicas ao vivo, mexemos aqui e acolá e ficaram prontas a gravar. Acho que foi o timing certo. Tudo decorreu sem sobressaltos, desenvolvemos parcerias para editar o álbum e estamos a ivulga-lo o melhor que podemos.

5 0 / VERSUS MAGAZINE

NÃO SÃO PUG IL ISTAS MAS DÃO SOCOS NO ESTÔMAGO COMO N INGUÉM. O SOM QUE PRAT ICAM – D IRETO , PUNGENTE , DEMOL IDOR - REFLETE O MOMENTO QUE O PA ÍS E O MUNDIO ATRAVESSAM. RESPONDEM PELO NOME DE BAKTHER IA , SÃO UM TR IO E D IGN IF ICAM O LEGADO DE BANDAS COMO EXTREME NO ISE TERROR OU RATOS DE PORÃO, SEM NUNCA PERDER A SUA IND IV IDUAL IDADE . O VOCAL ISTA E GU ITARR ISTA RU I V I E IRA FALOU-NOS DO ÁLBUM “SYSTEM S ICKNESS”, DE CONCERTOS E DO SEU PERCURSO NO UNDERGROUND.

Por: dico

BAKTHERIADISSEMINANDO A DOENÇA

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“BAKTHERIA É ISSO - O HOMEM NO CENTRO DA DESTRUIÇÃO DO UNIVERSO, SEJA ATRAVÉS DE CONFLITOS BÉLICOS, RACISMO, CORRUPÇÃO OU DA ANIQUILAÇÃO DA NATUREZA. ”

A MATER IAL I ZAÇÃO DE “SYSTEM S ICKNESS” RESULTA PREC ISAMENTE DE UMA PARCER IA ENTRE VOCÊS E A NBQR, POR UM LADO; E ENTRE A NBQR, A NON NOB IS E A YOUR PO ISON RECORDS, POR OUTRO. DE QUE FORMA SE CONJUGARAM OS ESFORÇOS NO SENT IDO DE PÔR O ÁLBUM A C IRCULAR?

RUI V I E IRA : O fernando Roberto, fundador da metal soldiers records, criou esta sublabel, a nbqrecords. O nosso álbum é o lançamento #001. Nos últimos anos, o fernando tem sido uma peça fundamental em diversos projetos nos quais estou envolvido. Seja nos machinergy ou agora com os baktheria, o nosso envolvimento tem sido produtivo, as coisas têm saído certinhas, sem problemas. Após acordarmos o lançamento do disco, ele estabeleceu as restantes parcerias, neste caso com a non nobis distribution e a your poison records. Ele é, sem dúvida, uma máquina!

AS REAÇÕES AO D ISCO, AOS CONCERTOS E AO MERCHANDISE TÊM S IDO BASTANTE ENTUS IÁST ICAS. INCLUS IVE , TANTO QUANTO SE I , AS VENDAS DE T-SH IRTS TÊM SUPERADO AS VOSSAS MELHORES ESPECTAT IVAS. QUE EXPL ICAÇÃO ENCONTRAS PARA ESTA AMPLA ACE ITAÇÃO DA BANDA NUM TÃO CURTO ESPAÇO DE TEMPO?

RU I V I E IRA : A nossa música. O nosso som não está com “rodriguinhos”, é direto, diz o que tem a dizer, sem subterfúgios, é rápido, cortante. Levas uma pancada na cabeça e nem sabes bem o que te aconteceu. Por isso, tens de ouvir o disco outra vez para tentar percebê-lo, mas levas novamente uma traulitada! [risos] e assim sucessivamente. Decompondo a música em várias vertentes, direi que o álbum ficou muito bom. O artwork do andré coelho ajudou muito, pois consegue traduzir em imagens a nossa mensagem, complementando aquilo que baktheria é. Por outro lado, as nossas atuações também exercem um papel fundamental na aceitação que a banda tem. É no

brasil, também deve enviar para todo o lado, julgo. Todos possuem imensos contactos, resultantes de toda uma vida passada nestas lides. Quanto a espetáculos lá fora, poderá surgir uma oportunidade no futuro, uma parceria com alguma banda ou até um convite, mas logisticamente é muito complicado. Como tal, para já, queremos tocar bastante em portugal, queremos levar o nosso som tóxico a todos!

EMBORA O ÁLBUM TENHA S IDO ED ITADO APENAS EM MAIO JÁ EX ISTEM IDE IAS PARA NOVOS TEMAS. O QUE É QUE ESPERA OS NOSSOS HUMILDES OUV IDOS?

RUI V I E IRA : Aposta na continuidade. Baktheria vai ser isto daqui para a frente. Rápido, violento, penetrador, um valente “fuck off and die” para todos! Se quiser incorporar novos elementos, fundo outro projeto e aí despejo essas ideias. Com baktheria vai ser isto, as pessoas poderão contar, daqui para a frente, com esta dose brutal de barulho, berraria, temas curtos e grossos, sem merdas, sem truques, puros e prematuros orgasmos sónicos.

SENDO TU E O RU I MARUJO VERDADE IROS WORKAHOL ICS , E DESDOBRANDO-SE POR INÚMEROS PROJETOS NAS MAIS D IVERSAS VERTENTES DO UNDERGROUND, COMO ENCONTRAM TEMPO PARA FAZER TANTA CO ISA?

RUI V I E IRA : É tudo uma questão de tempo e organização mas não só. Eu tenho tempo e sou um gajo organizado, mas também com muita vontade e capacidade de sacrifício. Acima de tudo, sacrifício. Podes ter tempo mas, sem suor, sem sofrimento, também não consegues nada. Tens de batalhar, tens de abdicar de muita coisa e fazer opções, por vezes complicadas, e nunca, nunca podes estar satisfeito. Só assim poderás alcançar a excelência enquanto artista e ser um digno membro desta coisa incrível que se chama música, a arte primeira!

JÁ GRAVASTE ÁLBUNS COM MISS

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“AO NOSSO SOM NÃO ESTÁ COM “RODRIGUINHOS”, É DIRETO, DIZ O QUE TEM A DIZER, SEM SUBTERFÚGIOS, É RÁPIDO, CORTANTE.”

palco que mostramos realmente quem somos: uns bastardos que berram e fazem uma enorme barulheira.

O ÁLBUM FO I GRAVADO, PRODUZ IDO E MISTURADO NOS MÍT ICOS CROSSOVER STUD IOS , COM O NÃO MENOS LENDÁR IO JOSÉ PEDRO “SARRUFO” . QUER O ESTÚD IO QUER O PRODUTOR SÃO CONHEC IDOS POR “FABR ICAR” ALGUNS DOS ÁLBUNS MAIS EXTREMOS DO NOSSO UNDERGROUND. SENT IRAM QUE ESTA ERA A ESCOLHA IDEAL PARA OBTER O SOM QUE IMAGINAVAM?

RUI V I E IRA : Eu sempre quis gravar no crossover, há anos que andava para o fazer. De lá saíram alguns dos álbuns de que mais gosto e que oiço continuamente. “bounded in adversity”, dos simbiose (o meu álbum de favorito de crossover/thrash português), “fellatrix discordia pantokrator”, dos filii nigrantium infernalium, entre muitos outros. Portanto, foi com um enorme respeito que ali entrei. Foi uma experiência fantástica. O “sarrufo” é um verdadeiro produtor, puxa pelos músicos, fá-los pensar e dá sempre opiniões válidas. O ricardo bravo igualmente. O estúdio é confortável, inspira, e todos aqueles quadros que estão no hall de entrada, com alguns discos míticos já lá gravados, deixa-nos em sentido e com um certo dever de dar o máximo. Espero que os baktheria se juntem a esse rol de álbuns míticos do estúdio crossover e que inspire próximos músicos que lá se desloquem.

PORTUGAL RAP IDAMENTE SE SUBMETEU AO TERROR SÓNICO DOS BAKTHER IA . E QUANTO AO ESTRANGE IRO? EX ISTEM PLANOS A N ÍVEL DE CONCERTOS E D ISTR IBU IÇÃO/ L ICENC IAMENTOS EM OUTROS TERR ITÓR IOS?

RUI V I E IRA : Quanto ao estrangeiro, a distribuição está assegurada através das parcerias que firmámos para este lançamento. O fernando (nbqrecords) e o carlos faria (nnp) distribuem o cd por todo o mundo e o joão pedro (your poison records), que está atualmente no

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“COM BAKTHERIA VAI SER ISTO, AS PESSOAS PODERÃO CONTAR, DAQUI PARA A FRENTE, COM ESTA DOSE BRUTAL DE BARULHO, BERRARIA, TEMAS CURTOS E GROSSOS, SEM MERDAS, SEM TRUQUES, PUROS E PREMATUROS ORGASMOS SÓNICOS.# CADAVER, MACHINERGY, BAKTHER IA E ESTARÁS A PREPARAR-TE PARA FAZER O MESMO COM C ISNE NEGRO, SEM ESQUECER AS DEMOS REG ISTADAS COM B ICÉFALO OU IMUNITY. ÉS UM P ILAR ESSENC IAL DO FÓRUM IRMANDADE METÁL ICA , BEM COMO DA Z INE E DO FEST IVAL A ELE ASSOC IADOS. EST IVESTE NA GÉNESE DA CENA METÁL ICA EM ARRUDA DOS V INHOS, TUA TERRA NATAL . ALÉM D ISSO, ASSUMES-TE COMO UM D IVULGADOR NATO DO UNDERGROUND E COLABORAS FREQUENTEMENTE EM ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOC IAL INDEPENDENTES. ANAL ISANDO EM RETROSPET IVA ESTE R IQU ÍSS IMO E D IVERS IF ICADO PERCURSO QUE DEL INEASTE AO LONGO DOS ÚLT IMOS 25 ANOS, O QUE É QUE TE APRAZ D IZER?

RUI V I E IRA : Tenho tentado dar o meu contributo mas sem ser pensado globalmente. Tudo é um trabalho de equipa, com várias pessoas, nomeadamente no fórum da irmandade metálica. Mas tudo é feito com um prazer imenso, por respeito ao metal, à música, à arte. Na verdade, nunca estive parado, tentei sempre fazer algo, principalmente a nível musical. Costumo dizer “temos de matar o tempo antes que ele nos mate a nós” e esse mote regula-me todos os dias. A minha cabeça está 24/7 a pensar em nova música, em novos projetos, estou em constante estado de ebulição criativa. É bom para prevenir o alzheimer [risos].

O QUE É QUE A INDA GOSTAR IAS DE ALCANÇAR ART IST ICAMENTE E ENQUANTO D IVULGADOR?

RUI V I E IRA : Como qualquer artista que se preze, gostava, no meu caso, de criar, ou de estar envolvido num álbum que se tornasse um milestone, um landmark na cena mundial. Qualquer um deseja isso, pelo menos quem batalha continuamente, quem está em constante guerra artística. Mas não há uma fórmula para isso, tens de fazer as coisas acontecer, de outra forma não consegues. Mais do que a fama (apesar de as coisas estarem, de certo modo, interligadas), esse seria o melhor reconhecimento, o prémio supremo. Deixar um legado musical no mundo, marcar a vida das pessoas, é algo lindo. Enquanto divulgador (unção que, de certa forma, é secundária para mim), pretendo sem dúvida deixar uma marca com a irmandade metálica (que, no entanto, julgo já existir) e, eventualmente, com outros projetos futuros que irão surgir, com certeza.

QUE FUTURO PRÓX IMO VAT IC INAS PARA O UNDERGROUND NAC IONAL?

RUI V I E IRA : Não vaticino, sinceramente. Acho que será o normal. É como o país. Continuaremos, de certo modo, a marcar passo, apesar de existir sempre uma inevitável evolução,

a nível criativo e tecnológico. Este país tem uma falha gravíssima: o desprezo pela cultura, que é a maior riqueza de um povo. O underground acaba, obviamente, por ser afetado. É inevitável. Consumimos notícias, vivemos a realidade dos números e tudo isso influencia as vontades. Economicamente, os custos também podem ser inibidores, por exemplo que respeita a comprar um instrumento, pagar estúdios, etc. Mas, por outro lado, underground também é luta, existe contra tudo isso, portanto é uma questão dúbia. Enfim, é continuar a lutar, a fazer acontecer!

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VIVA ANNA. ACABARAM DE DAR UM CONCERTO FANTÁST ICO AQU I NO WGT. COMO VÊS ESTE T IPO DE FEST IVA IS EM COMPARAÇÃO COM OS OUTROS EM QUE A BANDA JÁ TOCOU EM TODO O MUNDO?

ANNA: Viva! Foi muito bom. O público foi brutal e o palco era enorme. O público é diferente daquele que normalmente temos porque não temos muita gente que

se veste como os fãs no WGT mas tudo isto fez com este concerto fosse mais especial e uma nova experiência para nós.

COMO COMPARAS O ESTE ÁLBUM COM OS ANTER IORES? QUA IS SÃO AS PR INC IPA IS D I FERENÇAS E ELEMENTOS COMUNS?

ANNA: O «Origins» é um pouco mais elaborado do que o álbum anterior.

Há mais orquestração, mais coros e as estruturas das músicas são mais complexas com mais coisas a acontecerem.

VOCÊS SOFRERAM RECENTEMENTE BASTANTES MUDANÇAS DE L INE -UP COM A ENTRADA DA L IND ÍSS IMA N ICOLE ANSPERGER (N .R . – ENTRETANTO A N ICOLE JÁ SA IU DA BANDA TENDO S IDO SUBST ITU ÍDA PELA NÃO MENOS BELA SH IR -RAN

OS ELUVE IT I E SÃO UMA BANDA QUE GOSTA POUCO DE PARAR E QUE , SEMPRE QUE PODE , EXPER IMENTA NOVAS AVENTURAS POR FEST IVA IS POR VEZES UM POUCO FORA DO SEU ALVO. DESTA VEZ , A INCURSÃO OCORREU NO MAIOR FEST IVAL GÓT ICO DO MUNDO, O WAVE GOTT IK TREFFEN, E A VERSUS MAGAZ INE TEVE O PRAZER DE FALAR COM A BELA ANNA MURPHY ACERCA DO ESTADO ACTUAL DA BANDA E DOS SEUS DESAF IOS E PROJECTOS PARALELOS EM QUE SE ENVOLVE .

Por: EDUARDO ROCHA

ELUVEITIEINCURSÕES GÓTICAS

E N T R E V I S T A

«ORIGINS» É UM POUCO MAIS ELABORADO DO QUE O ÁLBUM ANTERIOR. HÁ MAIS ORQUESTRAÇÃO, MAIS COROS E AS ESTRUTURAS DAS MÚSICAS SÃO MAIS COMPLEXAS COM MAIS COISAS A ACONTECEREM.”

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“EU DIRIA QUE O NOSSO MAIOR FEITO FOI DESISTIR DOS NOSSOS TRABALHOS E FAZER DE ELUVEITIE O NOSSO TRABALHO A TEMPO INTEIRO.”

Y INON RES IDENTE EM LE IPZ IG) E COM A ENTRADA DO TALENTOSO E L IND ÍSS IMO RAFAEL SALZMANN (N .R . – ESTES ELOG IOS FORAM AD IC IONADOS PELA PRÓPR IA ANNA R ISOS) . COMO INFLUENC IARAM A ESCR ITA DO NOVO MATER IAL?

ANNA: Não influenciaram muito uma vez que o Chrigel e o Ivo são os principais compositores. Eles influenciaram bastante com a sua maneira de tocar.

ESTE ÁLBUM PARECE O MAIS COMPLEXO E DESAF IANTE DE TODA A VOSSA D ISCOGRAF IA . FO I D I F ÍC I L CONSEGU IREM FAZER UM ÁLBUM TÃO BOM?

ANNA: Eu não acho que seja complicado. Requer bastante tempo e trabalho. Mas há uma razão para sermos músicos…é isto que fazemos, é este o nosso talento (risos).

OS ELUVE IT I E ESTÃO NA CENA HÁ JÁ ALGUNS ANOS. COMO VÊS A CENA ACTUAL COM TANTAS BANDAS NOVAS A SURG IR COM FREQUÊNC IA?

ANNA: Não presto muita atenção à cena e não estou actualizada com novos lançamentos. Se ouço alguma coisa de que gosto é mais por coincidência. E não acho que há falta de originalidade, só acho que é mais difícil aparecer com algo novo uma vez que tantas facetas já foram combinadas e usadas. Mas também acho que não é necessário fazer algo completamente diferente de tudo o resto. Se uma banda é boa, eles podem ser bons a fazer algo que já tenha sido feito algumas vezes antes. Nós mantemo-nos relevantes porque fizemos de Eluveitie a nossa vida e não apenas a nossa banda. Estamos em tour o máximo de tempo possível, mantemo-nos em contacto com a nossa base de fãs e tentamos sempre aparecer com novas ideias.

AO LONGO DOS ANOS, QUAL D IR IAS QUE FO I O MAIOR FE ITO DOS ELUVE IT I E COMO BANDA? HÁ ALGUM EP ISÓD IO QUE QUE IRAS PART ILHAR

DE MODO QUE OS FÃS SE TORNEM MAIS CONSCIENTES DOS DESAF IOS DE UMA BANDA?

ANNA: Eu diria que o nosso maior feito foi desistir dos nossos trabalhos e fazer de Eluveitie o nosso trabalho a tempo inteiro. Alguns de nós ainda têm algumas actividades paralelas, como é óbvio, mas também houve o tempo em que realmente tínhamos que lutar para colocar as nossas tours em concordância com os nossos empregos.Eu só posso falar por mim no que toca às lutas que uma banda que toca tanto como nós tem que enfrentar. Acho que somos extremamente afortunados por termos o trabalho que temos. O que acho difícil é tocar em concertos em condições bastante adversas, tais como estar doente... Quando estás em tour durante meses e tocas quase todos os dias, é normal que fiques doente com um vírus ou que o teu corpo se foda de uma maneira ou de outra (risos).

NESTES TEMPOS EM QUE AS PESSOAS CONSEGUEM ACEDER A QUALQUER MÚSICA ATRAVÉS DA INTERNET, O QUE LEVANTA BASTANTES PROBLEMAS ÀS BANDAS PO IS TORNA PRAT ICAMENTE IMPOSSÍVEL SOBREV IVER AS VENDAS DE CDS E NUMA ALTURA EM QUE O SPOT IFY TORNA QUALQUER ÁLBUM D ISPONÍVEL E NUMA ALTURA EM QUE AS BANDAS SE QUE IXAM DESTE MODELO DE NEGÓC IOS , QUE DESAF IOS VÊS PARA UMA BANDA NA VOSSA CENA? COMO PODEM SOBREV IVER NESTE CENÁR IO?ESTA QUESTÃO VA I SER RESPONDIDA PELO MERL IN QUE É O EXPERT NESTES ASSUNTOS.

MERL IN : Colocaste a questão de uma maneira bastante precisa e adequada. A questão não é se os serviços de streaming são bons ou não; ou se pagam o suficiente ou não. Estes serviços representam o futuro (ou o presente, por enquanto) e os modelos de compensação já pagam a maior parte dos lucros deles. Eu, por mim, não irei comprar mais nenhum CD pois, como disseste, o dinheiro perde-se em “middlemen” muitos dos quais já nem são necessários e que assinam

bandas em acordos que não são justos para elas. Recentemente li um comentário de um rapper suíço bastante famoso que denunciou a Apple Music enquanto também admitia que não recebia nenhuma compensação dos streams do Spotify pois estes são promocionais. Outros recebem compensações de 15% a 20% que representa o mesmo que receberiam pelas vendas físicas. Estas comissões deveriam ser de cerca 50% e isso apenas se a editora investisse em produção e/ou promoção (eu gostaria de mencionar que o acordo que os Eluveitie assinaram com a Nuclear Blast é bastante justo no que toca a compensação digital). Contractos unilaterais também não são nada de novo na indústria musical e ainda não há uma solução para isto. Artistas desconhecidos não fazem ideia do que são negociações para um contracto mas terão a oportunidade de se educarem rapidamente e resolverem problemas quando chegar a altura de renegociarem o acordo. Eles devem tentar e limitar os contractos a um mínimo e as editoras irão oferecer um mínimo de justiça se quiserem manter os artistas durante a sua carreira. Há uma coisa que todos podemos fazer entretanto, tanto músicos como fãs: abraçar a nova tecnologia, começar a pagar pela música outra vez, ao valor que considerarem justo, e, finalmente, trazer para casa uma nova maneira de pensar e de consumir música que tem estado anos a ser preparada.

OBRIGADO ANNA!ANNA: Cheers & rock on!

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EMIGRASTE PARA OS ESTADOS UN IDOS EM 2011, TENDO DE IXADO PARA TRÁS, EM PORTUGAL , UMA CARRE IRA COM OS INFERNAL K INGDOM (QUE CHEGARAM AO F IM NESSE ANO) , UMA DEMO EM NOME PRÓPR IO E UMA OUTRA COM OS PSYCOTHRONE . JÁ NO TEXAS, TOCASTE BA IXO E BATER IA NOS NOCTURNAL WOLF ENTRE 2012 E 2013 E FOSTE BATER ISTA DOS JUDAS GOAT (2013/2014) . PORTANTO, NÃO

PERDESTE TEMPO. FALA-ME DESSAS TUAS PR IME IRAS EXPER IÊNC IAS MUSICA IS NUM PA ÍS D I FERENTE , SEM GRANDE TRAD IÇÃO EM TERMOS DE BLACK METAL . DE QUE FORMA FO I A TUA INTEGRAÇÃO MUSICAL NO TEXAS E EM PART ICULAR NA CENA DE DALLAS, ONDE RES IDES?

KING DEMOGORGON: Na verdade, quando decidi vir para os Estados Unidos, em fevereiro de 2011, tinha

dito a mim próprio que ia deixar esta vida negra. [risos], mas não aguentei muito tempo. Conheci um salvadorenho que estava a fundar aqui em Dallas uma banda de Heavy Metal, os Era de Guerra, com quem toquei baixo. Depois mudámos o nome para Age of Fire e fui conhecendo mais pessoal da cena, todos hispânicos. No entanto, a banda não trabalhava como eu gosto, portanto saí antes mesmo de darmos concertos.

KING DEMOGORGON É UMA F IGURA BEM CONHEC IDA ENTRE AS HOSTES DO BLACK METAL . H ISTÓR ICO FUNDADOR DOS INFERNAL K INGDOM, APÓS O F IM DA BANDA RUMOU AO TEXAS, NOS ESTADOS UN IDOS, ONDE TEM DADO O SEU CONTRIBUTO AO UNDERGROUND EM NUMEROSOS GRUPOS, DOS QUAIS SE DESTACAM OS SARDONIC WITHCERY, E TAMBÉM NA ORGANIZAÇÃO DE CONCERTOS. FALÁMOS COM O MULT IFACETADO MÚSICO SOBRE A SUA INTEGRAÇÃO NA CENA TEXANA E PERSPET IVÁMOS O QUE O FUTURO LHE RESERVA, MUSICALMENTE FALANDO. ERGAM OS DEDOS IND ICADOR E MIND INHO E SAÚDEM O SENHOR DAS TREVAS!

Por: dico

KING DEMOGORGONREI DO SUBMUNDO INFERNAL

E N T R E V I S T A

“…A EXPERIÊNCIA QUE TRAZIA DOS INFERNAL KINGDOM PERMITIU-ME NÃO REPETIR OS ERROS DO PASSADO”

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“QUANDO CHEGUEI A DALLAS HAVIA TRÊS OU QUATRO BANDAS PRATICANTES DE BLACK METAL”

Então, conheci o pessoal dos Lobo Nocturno. Tinham uma demo ranhosa e faziam um barulho infernal, portanto gostei da onda e decidi ajudá-los [risos]. Três meses depois já tínhamos um novo nome – Nocturnal Wolf – e dávamos concertos, mas após gravar a demo saí para me dedicar totalmente aos Sardonic Witchery. Estávamos em janeiro de 2012. Nessa altura já gravara a primeira demo dos Sardonic Witchery, em que eu próprio fiz as vozes. Recrutei músicos de sessão para os concertos e estreámo-nos ao vivo em outubro de 2013. Eu próprio organizei o concerto, já que em Dallas a cena Black Metal era quase inexistente.

E A FORMAÇÃO DOS JUDAS GOAT? CONSTA QUE FO I ALGO INESPERADA.

K ING DEMOGORGON: A história da formação dos Judas Goat é engraçada. Tudo aconteceu durante o planeamento do primeiro festival que organizei aqui, e onde os Sardonic Witchery se estrearam ao vivo. Uma das bandas

convidadas cancelou o espetáculo duas semanas antes do evento. Então, dado que não havia grupos interessados em abrir o festival (ninguém quer tocar às 20h00) eu e o Manic Blades [guitarrista de sessão nos Sardonic Witchery] decidimos formar os Judas Goat para ocupar a vaga em aberto. Em duas semanas compusemos quatro originais e completámos o set com duas covers. Eu toquei bateria e fiz as segundas vozes, ele cantou e tocou guitarra. Depois de mais alguns concertos parámos para incorporar novos elementos e um ano mais tarde gravámos a demo de estreia, “Speed n’ Raw”. No entanto, apesar de fazer praticamente tudo na banda, decidi sair. Não vou entrar em pormenores, mas sou demasiado severo com aquilo que faço e já não tenho a paciência que tinha há 10 anos.

VOLTANDO UM POUCO ATRÁS, EM 2012 FORMASTE OS SARDONIC WITCHERY, A TUA PR IOR IDADE A N ÍVEL MUSICAL . DESDE ENTÃO, JÁ GRAVASTE COM A BANDA UMA DEMO, TRÊS SPL ITS E UM LONGA-DURAÇÃO.

COMO VÊS A RECET IV IDADE A ESTES REG ISTOS?

KING DEMOGORGON: Foi tudo bastante rápido, não esperava uma recetividade tão boa, mas a experiência que trazia dos Infernal Kingdom permitiu-me não repetir os erros do passado. Após o primeiro concerto tive diversas ofertas para tocar ao vivo como headliner e outras para abrir espetáculos de grandes bandas como Absu, Imprecation, etc. Começou a chegar-me bastante apoio dos fãs que, um pouco por todo o mundo, seguiam o meu trabalho nos Infernal Kingdom. Senti uma enorme força para com os Sardonic Witchery. Graças a esses guerreiros infernais, a banda já se encontra a um nível alto no Underground mundial, e isto em apenas três anos.

APESAR DE , SEGUNDO D IZES , PRAT ICAMENTE NÃO EX IST IR UMA CENA BLACK METAL QUANDO CHEGASTE A DALLAS, FO I S IMPLES ENCONTRAR QUEM QU ISESSE TOCAR ESTE GÉNERO DE MÚSICA?

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“…O TEXAS ESTÁ A MIL ANOS-LUZ DE PORTUGAL NO QUE RESPEITA AO UNDERGROUND. A CENA PORTUGUESA É UMA DAS MELHORES DO MUNDO.”

KING DEMOGORGON: É fácil encontrar por aqui guitarristas e baixistas de grande qualidade. Não digo que sejam verdadeiros fãs de Black Metal, mas não era isso que me interessava. Basta acreditarem naquilo que faço. No que respeita aos bateristas aqui o Hardcore domina, e na verdade a maior parte deles são maus. Fiz audições a muitos bateristas – inclusive, alguns deles tocam em bandas bem reputadas aqui no Texas -, mas foi muito difícil encontrar alguém decente. Acabei por fazer vários concertos a acumular a bateria e a voz, até que finalmente encontrei alguém para tocar Metal old school.

ESTES MÚSICOS INTERVÊM ESTR ITAMENTE NOS ENSA IOS E NOS CONCERTOS OU DÁS-LHES A OPORTUNIDADE DE CONTR IBU IR A N ÍVEL DE COMPOSIÇÃO, ESCR ITA DE LETRAS E GRAVAÇÃO DOS D ISCOS?

KING DEMOGORGON: Estes músicos estão apenas designados para tocar ao vivo. Componho todas as músicas e escrevo todas as letras da banda, além de fazer as captações, mas tenho sempre convidados para gravar os solos de guitarra. Esse não é o meu forte.

JÁ NOS ESTADOS UN IDOS CR IASTE A UNDERGROUND LONGHORNS RECORDS, COM O OBJET IVO PR IMORDIAL DE LANÇAR OS TEUS REG ISTOS D ISCOGRÁF ICOS. DE QUE FORMA TEM S IDO A IMPLANTAÇÃO DA ED ITORA NO CENÁR IO LOCAL , TENDO EM CONTA TAMBÉM O FACTO DE , NOS PR IME IROS TEMPOS, TERES CHEGADO A ED ITAR REG ISTOS DE OUTRAS BANDAS?

KING DEMOGORGON: A Underground Longhorns Records foi especificamente criada para editar os meus próprios trabalhos. Com efeito já lancei registos de outras bandas, mas a ideia principal é pôr a circular o meu material. Além de poder distribuir as minhas gravações, posso fazer o mesmo por outras bandas.

EM DALLAS, NO GERAL , COMO TÊM S IDO OS TEUS PROCESSOS DE

GRAVAÇÃO? A CAPTAÇÃO, A MISTURA, A PRODUÇÃO E A MASTER IZAÇÃO SÃO FE ITAS NUM ESTÚD IO LOCAL OU TRABALHAS ESSENC IALMENTE EM CASA?

KING DEMOGORGON: Já não pago a um produtor há muitos anos [risos]. Atualmente as bandas podem gravar na própria sala de ensaio, mas obviamente que se um dia alguma editora me propuser gravar num estúdio profissional não vou hesitar [risos].

COMO JÁ REFER ISTE , TENS ORGANIZADO CONCERTOS NA ZONA ONDE V IVES . É FÁC IL ORGANIZAR CONCERTOS UNDERGROUND EM DALLAS E NO TEXAS EM GERAL , ESPEC IALMENTE NO QUE RESPE ITA A UMA SONORIDADE TÃO ESPEC ÍF ICA COMO O BLACK METAL?

K ING DEMOGORGON: Bom, organizar é sempre fácil, a questão que se coloca é se haverá recetividade. E a resposta é “não”, como em todo o lado. Quando cheguei a Dallas havia três ou quatro bandas praticantes de Black Metal. A cidade tem milhares de músicos de Metal, portanto podes imaginar. Os proprietários e gerentes dos bares hispânicos eram recetivos a acolher espetáculos de Black Metal, mas quando ia aos bares americanos propor-lhes a realização de concertos do género os donos riam-se na minha cara, tipo: “meu, sabes onde estás?” Não estavam interessados em receber concertos de Black Metal porque a afluência de público é baixa. Consegui concretizar o meu objetivo em Deep Ellum, um lugar com cerca de 30 bares onde todas as noites tocam dezenas de bandas. Nessa época, quando aqui cheguei, esses espaços ainda não recebiam grupos de Black Metal, mas uma noite consegui juntar uma banda hispânica e outra americana, que trouxeram público de ambas as etnias. Nessa altura não era comum acontecer algo do género, mas agora funciona.

EX ISTEM A Í BOAS SALAS PARA ATUAR AO V IVO?

KING DEMOGORGON: Existem excelentes condições, excelentes bares... Normalmente, as gerências pedem $250.00 [NR: pouco mais de 226 euros] para teres a noite para ti, incluindo um técnico de som. Em termos de adesão, num concerto de Black Metal a média ronda as 50/60 pessoas. Com Sardonic Witchery já tive 100 pessoas num concerto algo inédito por aqui, pois só mesmo os Absu conseguem ter um pouco mais [risos].

COMO DEF INES A CENA UNDERGROUND LOCAL , SEJA A N ÍVEL DE BANDAS, CONCERTOS, COMUNICAÇÃO SOC IAL , ETC .?

K ING DEMOGORGON: Quase inexistente, o Texas está a mil anos-luz de Portugal no que respeita ao Underground. A cena portuguesa é uma das melhores do mundo. Há que ter orgulho naquilo que temos. Aqui há o Destroying Texas Festival, em Houston, e existem algumas pequenas elites, mas nada preocupante [risos]. Para um estado tão grande, a cena Underground é realmente pequena. Poderia rapidamente nomear 50 bandas underground portuguesas, mas teria que pensar bastante para referenciar 30 grupos do Texas. Como disse, aqui o Hardcore domina. Existem algumas bandas interessantes de Death Metal, Grindcore e Thrash, mas ainda assim numericamente pouco relevantes se tivermos em conta a dimensão do Texas.

O TEU ÚLT IMO REG ISTO DE ESTÚD IO COM OS SARDONIC WITCHERY É O SPL IT “ IRRAD ICAT ION OF THE HUMAN PLAGUE” , ED ITADO JÁ ESTE ANO COM OS SATERDUM, BLACK COMMAND E SONNE ILLON BM. PARA QUANDO UM NOVO LONGA-DURAÇÃO OU DEMO DOS SARDONIC WITCHERY?

KING DEMOGORGON: Já estou a trabalhar no segundo álbum, que deverá estar cá fora no próximo verão. Para 2016 os fãs podem ainda esperar um split com os Flagellum Dei e um outro com as bandas texanas Plutonian Shore, Misanthropical e Throne of Blood. Em dezembro deste ano vou dar

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“COM SARDONIC WITCHERY JÁ TIVE 100 PESSOAS NUM CONCERTO ALGO INÉDITO POR AQUI (…) SÓ MESMO OS ABSU CONSEGUEM TER UM POUCO MAIS”

os meus últimos concertos por algum tempo e dedicar-me ao que realmente mais interessa, que é a música. Podem esperar um ano cheio de nova música por parte dos Sardonic Witchery.

A TUA ÚN ICA DEMO A SOLO JÁ DATA DE 2010. PERSPET IVAS A POSS IB IL IDADE DE V IR A ED ITAR UM OUTRO REG ISTO EM NOME PRÓPR IO OU ESSA FO I UMA AVENTURA ÚN ICA?

KING DEMOGORGON: Estou a preparar novo material a ser editado em 2016. Musicalmente será na mesma linha, mas com um novo registo vocal da minha parte. Julgo que agora sim, encontrei o caminho certo para este projeto único que é King Demogorgon.

EM DEZEMBRO VA IS ATUAR AO V IVO COM O PROJETO ESPANHOL CRYMEFAL , COM QUEM JÁ T INHAS TOCADO EM 2010. É UMA PARCER IA PARA MANTER?

KING DEMOGORGON: Na verdade não sei o que o futuro trará, mas adoro Crymefal e é uma honra poder ajudar o meu amigo Ebola a concretizar um dos seus objetivos, que é atuar ao vivo. Já o fiz em 2010 em Portugal e agora, cinco anos depois, voltarei a fazê-lo, desta feita nos Estados Unidos. É uma grande responsabilidade e um bom desafio. Gosto disso. Ele envia-me as tablaturas e eu organizo uma banda para tocar ao vivo. Em 2010 toquei baixo, agora vou tocar bateria.

AO LONGO DE TODOS ESTES ANOS DE CARRE IRA JÁ GRAVASTE E TOCASTE AO V IVO GU ITARRA, BA IXO , BATER IA E CANTASTE . ESTA OPÇÃO FO I SEMPRE FRUTO DAS C IRCUNSTÂNCIAS OU HOUVE OUTRAS RAZÕES POR TRÁS DELA?

KING DEMOGORGON: Sim, na verdade foi fruto das circunstâncias. Com os Infernal Kingdom comecei a tocar guitarra ao vivo, mas acabei por fazer a tour Europeia na bateria. Tudo dependia dos músicos que encontrava para tocar ao vivo – se não tínhamos baterista tocava eu, se havia baterista mas

não guitarrista ocupava-me da guitarra. E assim foi acontecendo. Nesse tempo, o mais importante era não cancelar os compromissos, mas com os Sardonic Witchery não voltarão a ver-me senão como vocalista ao vivo.

DE TODOS ESTES INSTRUMENTOS QUAL É AF INAL AQUELE QUE MAIS TE REAL IZA ENQUANTO EXECUTANTE? K ING DEMOGORGON: A bateria.

DE MOMENTO TENS OUTROS PROJETOS EM CARTE IRA?

K ING DEMOGORGON: Não, apesar de ter feito algumas músicas ambientais e acústicas de que gostei bastante, mas ainda não pensei o que vou fazer com esse material. De resto, como disse, em dezembro vou atuar com os Crymefal e dar os meus dois últimos concertos com os Sardonic Witchery (em Maryland e em Dallas) durante algum tempo, para me concentrar nos registos de estúdio.

EM DALLAS OS FÃS DE METAL TÊM ALGUM CONHEC IMENTO, A INDA QUE REMOTO, DO METAL PORTUGUÊS?

KING DEMOGORGON: Na realidade só conhecem os Moonspell. Eles tocam todos os anos aqui, portanto muitos nem sabem que são Portugueses. Quando digo que sou português julgam que vim do Brasil [risos].

QUERES DE IXAR ALGUMAS PALAVRAS AOS NOSSOS LE ITORES?

KING DEMOGORGON: Hail ao nosso underground, um grande abraço a todos aqueles que me têm apoiado durante os últimos 15 anos e também àqueles que quiseram derrubar-me, pois fizeram de mim um guerreiro mais forte. Mesmo do outro lado do Atlântico, estarei sempre atento ao nosso Underground e a apoiá-lo.

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Se há banda que em meados dos anos 70 se apresentava em contracorrente face ao contexto musical da época são os Motörhead. Apesar disso, o trio influenciaria movimentos musicais (sendo o Punk Rock e a New Wave of British Heavy Metal os mais óbvios) e, posteriormente, uma miríade de subgéneros de Metal. Na verdade, seria o line-up clássico do grupo, constituído por Lemmy Kilmister (voz/baixo), “Fast” Eddie Clarke (guitarra) e Phil “Philthy Animal” Taylor (bateria), a inspirar a génese do Metal extremo nas suas múltiplas ramificações e subgéneros. As batidas rápidas e pujantes de Phil Taylor (segundo baterista dos Motörhead, substituto de Lucas Fox), a par da sua técnica de duplo bombo, pouco utilizada na época, influenciaram uma miríade de bateristas que viriam, eles próprios, a tornar-se influentes. A intensa presença em palco do músico afirmar-se-ia, também, como uma das suas imagens de marca.

Phil Taylor nasceu a 21 de setembro de 1954 em Chesterfield (Inglaterra). Integrou os Motörhead em dois períodos – 1975/1984 e 1987/1992 -, tendo gravado com a banda os álbuns On Parole (que, embora captado em 1975, viria a ser editado apenas em 1979), Motörhead (1977), Overkill (1979), Bomber (1979), Ace of Spades (1980), No Sleep ‘till Hammersmith (registo ao vivo de 1981), Iron Fist (1982), Another Perfect Day (1983), Rock ‘n’Roll (1987), No Sleep At All (longa-duração ao vivo editado em 1988), 1916 (1991) e March or Die (1992).No início dos anos 80 o baterista sofreria lesões graves, das quais viria a recuperar mas com algumas mazelas. Após a gravação de Ace of Spades Taylor partiu o pescoço quando um amigo o levantou no ar e o deixou cair. Já antes, partira uma mão ao esmurrar um homem. Apesar disso, não cancelou espetáculos, encontrando antes uma original solução – colava a baqueta à mão, que envolvia com fita adesiva, para poder tocar.A má relação que Taylor desenvolvera com Lemmy motivaria a sua primeira saída da banda, em 1984. Entre esse ano e 1987 o baterista manteve-se ocupado - tocou com os Waysted, integrou a banda ao vivo do rocker Frankie

Por: dico

PHIL “PHILTHY ANIMAL” TAYLOR A BESTA MORREU, VIVA A BESTA

A R T I G O vErSUSMAGAZINE

Miller e, com Brian Robertson (ex-guitarrista dos Thin Lizzy), formou os Operator. Regressaria em 1987 ao grupo que lhe deu fama, embora efemeramente. A par da sofrível prestação em March or Die, as antigas quezílias que Taylor mantinha com Lemmy ditaria o afastamento definitivo do baterista em 1992. Desde então, o percurso do músico seria errante. Taylor manteve-se afastado por mais de uma década, regressando ao ativo de forma consistente apenas em meados da primeira década do milénio (antes, em 2002, gravara o tema “A Long Dry Season” para o álbum Dr. Crow, dos The Deviants). Com efeito, entre 2005 e 2008 o baterista integrou os The Web of Spider, banda que incluía o guitarrista Whitey Kirst (Iggy Pop). Ainda em 2007 funda os Capricon (título de um tema clássico dos Motörhead) com Todd Youth (ex-guitarrista dos Danzig), Phil Caivano (ex- g u i t a r r i s t a dos Monster Magnet) e o baixista C o r e y Parks (ex- N a s h v i l l e Pussy). Apesar dos nomes envolvidos, dos Capricon não reza a história. Na verdade, Taylor não mais encontraria o seu caminho. Participou em Nothing to Lose (2012), o primeiro álbum a solo do ex-guitarrista dos W.A.S.P. Chris Holmes, também ele caído em desgraça, após o que gravou meramente temas pontuais nos álbuns Sheep in Wolves’ Clothing (2008) e Portobello Shuffle (2009), dos The Deviants. O mítico baterista morre a 11 de novembro de 2015, alegadamente na sequência de problemas renais resultantes de enfermidade não identificada.

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GHOSTCONCERTO INFERNAL!

L I V E V E R S U S

A noite musical começou cedo com entrevista aos Dead Soul uma banda recentemente descoberta e que mistura de uma forma muito interessante o blues, industrial e doom (?) tendo ganho já o epíteto de “industrial doom blues” ou “electronic blues”. Como se pode pode ver (e ouvir) são géneros díspares que não querem dizer absolutamente nada. A música consegue sobreviver muito bem a esta dicotomia que reina nas influências do duo Anders Landelius (respeitado músico de blues) e o multi instrumentalista/productor Niels Nielsen ligado mais à música electrónica. E acredito que cada um possa ter descrevê-la de formas tão diferentes como os estilos mencionados anteriormente mas também acredito que este estilo não possa ser bem assimilado.

Após uma conversa extremamente simpática e salutar com Anders e Niels a minha curiosidade adensou-se ao saber que no palco só estariam três músicos! Ficámos a saber que «The Sheltering Sky» é gravado com bateria programada, no entanto, soa incrivelmente orgânica. (A entrevista será reproduzida na integra na página do facebook da VERSUS).

O Dead Soul subiram, então, ao palco para apresentarem o seu mais recente álbum e não desiludiram. O tempo foi escasso mas o duo Sueco (mais Joakim Ekstrand) aqueceram as almas e a esmagadora maioria do público ficou convencida (e porque não) rendida ao som híbrido criado por estas almas vivas.

No entanto, a malta estava lá para

ver e ouvir os Ghost. A banda Sueca estreou-se em Portugal sendo que os bilhetes esgotaram para as duas datas. Às 17h já algum público aguardava à entrada, fazendo antever que a noite prometia. Quando o cheiro a incenso começou a pairar no ar, o público começou a agitar-se e o ambiente a aquecer exponencialmente. Quanto a isto, uma palavra para a organização do espectáculo e ao Hard Club: numa sala cheia, a temperatura da sala tornou-se quase insuportável, levando a que as portas laterais fossem abertas – em muitos concertos naquela sala nunca vi tal acontecer.

Mas aquela noite só podia ser “fantasmagórica” e depois da introdução os Ghost arrancaram logo com os dois primeiros temas de «Meliora» - “Spirit” e “From the Pinnacle to the Pit”, tocando

GHOST + DEAD SOULHARD CLUB – PORTO27.11.2015

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L I V E V E R S U S

Setlist:Miserere mei, Deus

(Gregorio Allegri song)Masked Ball

(Jocelyn Pook song)Spirit

From the Pinnacle to the PitRitual

Con Clavi Con DioPer Aspera ad Inferi

MajestyBody and Blood

Devil ChurchCirice

Year ZeroSpöksonat

He IsAbsolution

Mummy DustGhuleh/Zombie Queen

If You Have Ghosts(Roky Erickson cover)

Encore:Monstrance Clock

ainda mais cinco do mesmo álbum – pois claro, há que promover o mais recente e excelente trabalho. O público, esse, acompanhou sempre a energia espiritual que emanava do palco, não se preocupando minimamente com o calor infernal que se fazia sentir na sala. “He is”, “Body and Blood”, e o tema que encerrou o espectáculo, por exemplo, foram acompanhados por quase todos na sala. Papa Emeritus III sempre manteve o diálogo com o público e com muita boa disposição à mistura, mesmo na presença das 3 freiras tugas que entraram e adornaram “Body and Blood”, levando o público ao rubro! O apogeu final aconteceu com “If You Have Ghosts” de Roky Erickson e “Monstrance Clock”. A banda agradeceu e o público foi notável!

O som da homilia estava quase imaculado e estivemos perante um dos maiores concertos a que o Hard Club já assistiu. Só podemos esperar que tenhamos mais missas como esta! Ámen!

Fotos: Eduardo Ramalhadeiro Reportagem: Eduardo

Ramalhadeiro e Bruno Manarte

(Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

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L I V E V E R S U S vErSUSMAGAZINE

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FEAR FACTORY20 ANOS

L I V E V E R S U S

A digressão europeia que serve para comemorar os 20 anos de «Demanufacture» arrancou em Lisboa eque melhor inicio poderia ter sido senão com uma sala cheia e ávida de ouvir os temas clássicos de uma banda clássica. Foram uns Fear Factory em forma aqueles que se apresentaram na sala lisboeta, da mesma forma que foi bom ver que, aparentemente, os problemas entre Burton C. Bell e Dino Cazares estão lá atrás, perdidos no tempo. Sobre o concerto podemos dizer que foi um concerto dividido em duas partes, uma em que os Fear Factory destilaram todas as faixas de «Demanufacture», sim, eles tocaram todas e seguindo o alinhamento original, e onde ficou a sensação, generalizada, de que talvez o disco tivesse saído naquele dia e que, de facto,

aquelas malhas são intemporais. O publico entendeu isso e respondeu com a adrelina que malhas como «Dog Day Sunrise», «Replica» ou, claro, «New Breed», exceptuando algumas falhas, naturais, na voz de Burton tudo estava, quase, perfeito. Nesta fase do concerto foram uns Fear Factory mais contidos, menos comunicativos, mas eficazes no seu propósito. «A Therapy for Pain» foi o final da primeira parte do espectaculo e os Fear Factory saíram da boca de cena. Para a segunda parte do concerto, que podemos muito bem chamar de encore, se bem que mais longo que o normal, os norte-americanos voltaram com a disposição de partir a casa toda e, como se o mini break tivesse feito magia, a banda voltou com mais palavras, muitas delas calorosas e de redençao

para com o público que enchia o Garage. Foi aqui que a banda apresentou os «clássicos» «Edgecrusher» e «Shock», ambos de «Obsolete» e que, uma vez mais, fez a sala explodir e o publico moshar «à grande», houve, ainda, tempo para apresentar as novidades do novo «Genexus» sendo que a escolha recaiu sobre «Soul Hacker», «Dielectric» e «Regenerate» e foi a confirmação que os californianos estão de volta e, cada vez melhores. Para despedida a banda fez uma passagem pelo clássico «Martyr», do disco de estreia «Soul of a New Machine», foi um final apoteotico e decerto que ninguém saiu insatisfeito.O inicio da noite ficou a cargo do trio irlandês que dá pelo nome de Dead Label e que pratica um som que tanto bebe no MetalCore como

FEAR FACTORY + ONCE HUMAN + DEAD LABELPARADISE GARAGE – LISBOA15.11.2015

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Setlist:DemanufactureSelf Bias ResistorZero SignalReplicaNew BreedDog Day Sunrise(Head of David cover)Body HammerFlashpointH-K (Hunter-Killer)PisschristA Therapy for Pain

Encore:ShockEdgecrusherSoul HackerDielectricRegenerateMartyr

no Death e que foi uma agradavel surpresa para quem, como eu, desconhecia a banda. Destacamos o trabalho da baterista, Claire Percival, que bate que é uma coisa doida. Uma agradavel surpresa. Quanto aos Once Human pouco há a dizer, também aqui o factor feminino existe, embora aqui na voz de Lauren Hart, porém o maior destaque vai para a presença de Logan Mader (ex-Soulfly, ex-Machine Head) na guitarra. Pouco existe a dizer sobre a banda, com uma prestaçao irrepreensivel mas com um som que não traz nada de novo, aliás, o nome de Angela Gossow pairou sempre no ar. Se um destaque existe na prestação dos Once Human ele vai, obrigatoriamente, para o clássico «Davidian» (Machine Head) e que levou ao rubro e ás primeiras movimentações nas filas da frente. Numa noite de peso e de celebração nem tudo pode ser positivo e, neste caso, o ponto menos bom vai para o nivel de som, nas três bandas, demasiado alto e, em alguns momentos, demasiado saturado. Não retira nada ás bandas em questão nem à qualidade dos concertos, mas uns niveis mais abaixo e o som estaria perfeito.

Fotos: Joana M. CarriçoReportagem: Nuno Lopes

(Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

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TÓ PICA / FORGOTTEN SUNSRCA CLUB – LISBOA23.10.2015

A noite era de celebração na sala lisboeta, Tó Pica, um dos nossos herois da guitarra apresentava o seu disco de estreia (Is this the Best You Can do?») e, com ele trazia os lisboetas Forgotten Suns. Mas, já lá iremos, para já deixemos já uma nota, a única negativa, para o tempo de espera desde a abertura de portas até ao inicio do concerto. Tudo bem que sendo um dia de festa as coisas se deixem alastrar, porém, esperar duas horas para ver uma banda em cima do palco é um exagero e revela algum amadorismo e, quiçá, alguma falta de respeito para os convidados que, aos poucos, compunham a sala da capital.

Foi já no dia 24 que Tó Pica apareceu no palco. A imagem, essa é de uma fragilidade estranha, pois, quando o musico ataca as cordas, parece que o mundo se abate nos acordes de uma guitarra. Com a mesma formação que gravou «Is this the best you can do?» onde, apenas Sales (baixo) não marcou presença. Deve-se salientar, além dessa falta, todo o brilhantismo e profissionalismo dos músicos, aí, destaca-se Arlindo Cardoso (bateria) que, mesmo com o dedo partido revelou, uma vez mais, ser um dos mais talentosos bateristas nacionais. Já se sabe que Tó Pica não é um musico apenas de Metal, o musico tem muitas musicas dentro de si, e é isso que sai em todas as malhas que passam pelo palco, seja acompanhado com Marco Resende (REZ, A Morfina) ou por David Pais (Low Torque, ex-No Tribe) que, a cada concerto, se revela um dos enormes novos talentos nacionais. Falando, ainda, de David Pais, o musico tinha aqui, de certo, umas das suas actuações mais dificeis de sempre, afinal, o pai tinha falecido há 48horas e que mereceu honras de «momento da noite» quando Resende subiu ao palco e dedidou «Taste My Blame» a David Pais. Num concerto onde «Espelho», «All Acess Denied» ou a versão, brilhante, de «The Tempest» dos australianos Pendullum.

Para Tó Pica e companhia foi um serão de festa, uma noite de emoções, uma mão cheia de recordações que, decerto, irão perdurar na longa carreira do músico que, diga-se, se rendeu ao publico e saiu do palco com lágrimas no rosto, rendido a um publico que se rende, se soube render a um dos musicos mais talentosos de Rock/Metal nacional. Foi uma noite que o musico merecia há muito tempo e que, de certa forma, lhe traz, um sabor de justiça e conquista... ao fim de 23 anos de carreira e muitos Kms de estrada.A abrir as hostes, os Forgotten Suns não deixaram de fazer a festa e o seu Metal que tanto bebe no progressivo como no Power, foi um bom aquecimento e foi um bom inicio de festa. Com uma carreira que vale o que vale e que lhe granjeou sucesso, não só por cá mas além fronteiras. Foram acordando publico e foram o que já se esperava. O publico agradeceu e lá foi reagindo, umas vezes mais, outras menos, mas esteve sempre com a banda, e os Forgotten Suns cumpriram o seu papel sem mácula. A espera valeu a pena... mas, não deixaram de ser duas horas de espera...

Fotos e Reportagem: Nuno Lopes

Os f in landeses Apocal iptyca regressaram, f inalmente, a uma terra que sempre os abraçou e acar inhou desde o in ic io de carreira. A espera, que já ia longa, terminou esta terça-feira, quando a banda mais clásica do Metal subiu ao palco da sala l isboeta para apresentar Shadowmaker, o novissimo registo da banda e que serve de apresentação a Franky Perez como vocal ista.

Foi um Col iseu bem composto que recebeu os f in landeses e a banda l iderada, como sempre, por Eicca Toppinen, não se fez rogada e deu um concer to poderoso, onde os novos temas se inter l igam, de forma per fei ta, com o mater ia l mais ant igo da banda. Foram duas horas de concer to onde a banda passeou a sua mestr ia. Reign of Fear e Grace marcaram o in ic io do espectaculo deixando, desde logo, o publ ico à sua mercê. À terceira malha surge Franky Perez para uma I ’m not Jesus, cantada em unissono por todos, e que mostrou o porque da escolha, Perez revela-se um vocal ista ef icaz, entusiasta e, acima de tudo, com muita competência e at i tude, que espelhou, igualmente, na novidade House of Chains. Claro que falar de Apocalypt ica é fa lar de versões e, de uma assentada a banda at i ra-nos Master of Puppets e Inquis i t ion Symphony, que o publ ico recebeu de viva voz e a plenos pulmões. Após a tempestade foi tempo de acalmar e aí veio Perez dar a sua voz a Bi t tersweet. Vol tando a Shadowmaker, a banda tocou a fa ixa-t i tu lo e Riot L ights, antes de se at i rar a sua versão de Refuse/Resist , que foi intercalada por um dos momentos mágicos da noi te, a v isão dos Apocalypt ica de Wonderlander, do composi tor Wagner, e que mostrou a v ida depois do Metal dos f in landeses e mostrou, também, um incansável Paavo Löt jönen, não só no inci tamento ao publ ico como na forma com que se at i ra ao violoncelo. Per t tu Kiv i laakso é mais calmo e introspect ivo, mas aprecia e sente cada acorde como sente os aplausos do publ ico e a musica que lhe corre nas veias, a inda mais quando Seek and Destroy começa,para mais um momento de peso.

Para o f inal estava guardada uma supresa.. . e que surpresa, Hal l of the Mountain King in ic ia com o nosso hino tocado por Paavo e com um Col iseu a cantar, novamente de viva voz, num momento que, decer to, não deixou os musicos indi ferentes. Para o encore t rouxeram a beleza de One e, c laro, que o concer to não poderia terminar com a presença de Perez para entoar I Don’t Care. Após duas horas de espectaculo a banda sai de cena, o publ ico sai da sala e existe uma cer teza, os Apocalypt ica sentem-se em casa e nós gostamos de os receber, e les sabem e vão regressar.Os tempos mudaram e a banda cresceu, mas é aí que está o encanto da banda, não joga pelo seguro e segue o seu caminho e este concer to serviu para provar que os Apocalypt ica estao vivos, respiram saúde e, pr incipalmente, fezem musica com alma. A acompanhar os Apocalypt ica estão os austral ianos Tracer que, com o seu Rock que, pelo meio, encontra o Stoner e o Grunge, souberam animar as hostes para os f in landeses. Com uma recepção calorosa a banda lá fo i dest i lando a sua música e usufruindo da opor tunidade dada para provarem ao mundo o seu talento.

Em Por tugal parecem ter encontrado um publ ico capaz de os abraçar. Eles sabiam que não eram as estrelas, mas foram as estrelas naquela hora. Se o esforço compensa, bem lá fora, eram muitos os que se juntavam à banda e a banda lá estava de braços aber tos.

Fotos e Reportagem: Nuno Lopes

APOCALYPTICA / TRACER COLISEU – LISBOA03.11.2015

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RIVERSIDEÀ SEGUNDA FOI DE VEZ...

Após 4 anos, foi em Outubro de 2011 que se apresentaram em Portugal no Santiago Alquimista que os recebeu de sala cheia, os Riverside, banda de rock progressivo oriunda da Polónia, apresentam-se novamente em Portugal para a apresentação do seu mais recente trabalho, «Love Fear and the Time Machine», desta vez no Paradise Garage.De salientar a vinda frustrada, faz este ano 2 anos, que os mesmos cancelaram devido a avaria no autocarro que os transportava, em terras de Madrid já a caminho de Lisboa. De qualquer forma, eles não se esqueceram e entre pedidos de desculpa, lá nos brindaram com a sua espectacular música. Entre os novos temas do mais recente álbum e os velhinhos clássicos, onde se salientou “Conceiving you” com uma inédita introdução com o tão conhecido êxito “I Turn You Down”.

O público foi fantástico e a banda ganhou um “segundo vocalista”, ao ponto de Mariuz Duda se afastar do microfone, sorrindo para a plateia e rendido ao que via (e ouvia): “Vocês são fantásticos!!”

No final, sem direito a encore, agradeceram, aplaudiram e saíram, deixando uma sensação de quem assistiu ao espectáculo que, eles, Riverside, também gostaram do outro espectáculo, do público e do ambiente criado. Não é de estranhar porque nós, portugueses, sabemos acolher quem gostamos.

No entanto, uma nota negativa para a organização: Não se entende porque nós, fans, somos expulsos da sala pelos seguranças que de simpáticos não têm absolutamente

.PT

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RIVERSIDEPARADISE GARAGE – LISBOA30.10.2015

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nada, quando apenas tentamos comprar algum merchandising e esperar os nossos ídolos. Relembro que há 4 anos no Santiago Alquimista, brindaram-nos com a sua presença, tirando fotos e dando autógrafos a quem pacientemente esperou.Mas, nós, verdadeiros fans, não desistimos. Na rua, ao pé do autocarro, esperámos à chuva até que, finalmente, apareceu o guitarrista que surpreendido por nos ver, pergunta: “O que estão aqui a fazer?!” A resposta foi óbvia: “Fomos expulsos da sala!”E aqui se vê o respeito e a humildade dos Riverside (todos eles) para com os fãs que são na realidade quem os suporta, vindo aos concertos e comprando o mais diverso material. O Guitarrista volta à sala e chama todos os restantes elementos e foi o delírio. Para quem esperou, pôde finalmente tirar as fotos e obter os tão desejados e merecidos autógrafos.

Riverside, voltem, estão perdoados!

Fotos e Reportagem: Fernando Mateus(Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

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Setlist:Return

Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)

Feel Like FallingHyperactive

Conceiving You(“I Turned You Down” intro)

02 Panic RoomThe Depth of Self-Delusion

Saturate MeWe Got Used to Us

Discard Your FearEscalator Shrine

Encore:The Same River

Found (The Unexpected Flaw of Searching)

Machines

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NIGHTWISHIMPRESSIONANTE

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14 de Dezembro foi a data da passagem de mais uma importante tour na cidade de Leipzig. Depois da visita dos Slayer, foi agora a vez de os Nightwish nos visitarem com os seus companheiros de tour: os Amorphis e os Arch Enemy. E foram precisamente os primeiros a abrir as hostilidades dessa noite. Com um som impressionante e com um setlist irrepreensível, os Amorphis deram um concerto perfeito mas pequeno. De facto, durante 40 minutos, esta banda Finlandesa brindou-nos com clássicos da era Tomi bem como com temas do seu novo álbum, “Under a Red Cloud”. Começando com “Death of a King” e “Sacrifice”, os Amorphis mostraram que acreditam no seu novo álbum. E têm razões para isso. De notar que os temas já eram bem conhecidos de entre o público que assistia ao seu

concerto. De seguida, visitam o seu álbum anterior com “Hopeless Days” sendo que a viagem a temas mais antigos deu-se ao som de clássicos tais como “The Smoke” e “Silver Bride”. O regresso ao seu mais recente lançamento deu-se com os temas “Bad Blood” e “The Four Wise Ones”. A fechar, a excelente “House of Sleep”. Um excelente, mas curto, concerto que deixa antever uma excelente digressão que os Amorphis farão no próximo ano.

De seguida, foi a vez dos Arch Enemy. Esta banda, que sofreu profundas alterações de line-up com a entrada de Alissa White-Gluz e de Jeff Loomis, deu um devastador concerto. De facto, a voz poderosíssima de Alissa ecoou pela Arena de Leipzig e mostrou que esta se adequa perfeitamente

ao reportório da banda. Jeff Loomis, um mestre da guitarra, também mostrou que a sua guitarra assenta que nem uma luva a esta brutalidade. Começando com um tema da era Angela Gossow, “Yesterday is Dead and Gone”, os Arch Enemy entraram a matar. De seguida, a visita ao novo álbum com “War Eternal”, “You Will Know Me By My Name”, “Stolen Life” e “As the Pages Burn” sendo que estes temas eram bem conhecidos pelo público que muitas vezes cantou o refrão dos mesmos. De resto, desfilaram clássicos tais como “Ravenous”, “Nemesis” e “Under Black Flags We MArch ”. É de notar como esta banda cresceu ao vivo com a adição dos novos membros acima mencionados e a coesão que mostraram ao longo do concerto. De facto, esta banda conta apenas com músicos de elite

NIGHTWISH + ARCH ENEMY + AMORPHISARENA LEIPZIG – LEIPZIG14.12.2015

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que este é o maior espectáculo no planeta!

Fotos: Reportagem: Eduardo Rocha

numa referência do Death Metal melódico. Um excelente concerto, com um excelente som, que levou a audiência da Arena de Leipzig muitas vezes à loucura. Tal como seria de esperar...

Por fim, as estrelas da noite e por quem todas as almas presentes na Leipzig Arena aguardavam...Nighwish!!! É de notar que esta banda, tal como os Arch Enemy, sofreu alterações profundas de line-up com a entrada de Floor Jansen, Jukka Nevalainen e de Troy Donockley. E a verdade é que estas alterações fizeram a banda crescer e melhorar, tal como se pode comprovar com o seu excelente novo álbum “Endless Forms Most Beautiful”. Ao vivo, este crescimento nota-se ainda mais com a banda a revelar uma tremenda coesão em palco e a mostrar uma união que não é muito comum numa banda que sofreu tantas alterações recentemente. Mas os eles não são de virar as costas aos desafios e provaram isso mesmo num excelente concerto, digno da dimensão que esta banda tem actualmente. A começar com dois temas do seu mais recente álbum, “Shoulder Before the Beautiful” e “Yours is An Empty Hope” e com muita pirotecnia à mistura mostraram que só melhoraram e cresceram como banda. É de facto impressionante assistir a um concerto destes actualmente. Com um ecrã gigante a projectar imagens alusivas aos temas que vão sendo tocados e com muita pirotecnia, os Nightwish tornaram-se numa das maiores bandas de Heavy Metal da actualidade. De resto, a banda visitou o seu longo passado com temas como “Ever Dream”, “Wishmaster” e “While Your Lips Are Still Red”. Floor Jansen é verdadeiramente carismática e foi a melhor escolha que poderiam ter feito para vocalista. É impressionante ver o à vontade com que canta temas antigos, tais como “I Want My Tears Back” e “Nemo”, bem como temas do mais recente lançamento dos Finlandeses. De resto, foi o que se esperava... um excelente concerto cheio de clássicos com uma audiência em êxtase ao som de temas como “Elan” e “Ghost Love Score”. Em vários momentos, Troy Donockley

ficou sozinho em palco com a sua guitarra ou gaita-de-foles a contar histórias e a hipnotizar a audiência. Impressionante a coesão deste line-up e o seu à vontade em palco. A fechar, “Last Ride of The Day” e “The Greatest Show on Earth”...E, de facto, é com esta impressão que saímos da Leipzig Arena... De

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ORPHANED LANDA MAGIA DO ACÚSTICO

Este concerto dos Orphaned Land (OL) tinha vários pontos de interesse. Primeiro, faz parte de uma tournée dos OL em versão acústica, a qual, devido à natureza da sua música desperta de imediato uma curiosidade acrescida, segundo, porque com a saída do Yossi Sassi, ficava o interesse pela performance ao vivo da banda, agora sem um dos seus principais mentores. Terceiro, por ser num espaço muito restrito, tornando este concerto ainda mais especial e intimista, muito distante de um Vagos Open Air e em particular de espaços mais restritos como o Santiago Alquimista em Lisboa - Onde os vi em 2013. Por isto, a espectativa era grande e, por esta altura, confesso que os convidados de abertura eram somente uma simples palavra escrita no bilhete: “guests”, bilhetes estes não mais do que uns meros 300 que esgotaram num ápice.

Para os que não sabem, o São Jorge antes de ser essencialmente uma sala de espetáculos e eventos era um cinema com 3 salas, uma enorme (mesmo enorme) e duas mais pequenas. O concerto foi numa destas salas pequenas (São Jorge 1 actual). A primeira surpresa ao entrar no espaço, foi o facto de terem retirado as cadeiras e de ficarem três patamares relativamente amplos para a dimensão da sala. Claramente, no espaço físico cabiam muito mais do que os 300 afortunados que conseguiram bilhete mas por razões de segurança ficaram-se por esse número, alias, a lotação da sala em pé é de 250 lugares. O som estava excelente para todas as bandas e o único ponto negativo foi a falta de ventilação ou de ter um ar condicionado a funcionar, pois no auge do concerto estava muito abafado.

Confesso que não fazia a mínima ideia das bandas de suporte que antecediam aos OL, pelo que era uma situação de indiferença ou de algum interesse que geralmente depois do concerto desaparece. Isto deve-se ao facto de estarmos a ouvir a sua música (das bandas de suporte) pela primeira vez, ao invés da banda principal que se necessário até fazemos coro. Mas neste capítulo, a noite tinha umas agradáveis surpresas na manga...

A primeira banda a entrar em palco foram os espanhóis de Barcelona Leaves. Os Leaves têm na sua vocalista Patrícia Tapia a sua principal figura, já que vocalmente faz-nos lembrar a Anneke Van Giesbergen

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ORPHANED LAND ACÚSTICO / MOLLLUST / LEAVESCINEMA SÃO JORGE – LISBOA01.10.2015

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(do tempo dos The Gathering). Alias, não é por acaso que trago estes nomes à baila, já que os Leaves são isso mesmo, uma espécie de The Gathering espanhóis. Bem, é que a Patrícia soa tal sósia vocal da Anneke. Só mesmo ouvindo! Neste campo, acho que não pecam pela originalidade, mas a sua música é agradável e bem conseguida. Deram um concerto interessante e conseguiram captar a atenção do público presente, ou que para uma jovem banda por vezes é o suficiente. No geral, foi bom e interessante apesar da colagem evidente aos holandeses. Já com a sala mais composta, os próprios elementos da banda de nome Molllust, começaram a compor o palco para o seu concerto. Pela coisa, parecia algo de interessante e ainda por cima tinham escrito nos banners por baixo do logotipo da banda “Metal Opera”, o que no meu caso, só fazia aumentar a espectativa e interesse. Os Molllust são uma banda alemã, de Leipzig, e estavam a promover o seu segundo álbum de originais de produção independente. Depois de preparado o palco, um violoncelo à esquerda, guitarras acústicas à direita e um piano ao meio, entraram em palco 4 jovens senhoras e um jovem rapaz que foi ocupar o seu lugar nas guitarras acústicas. Logo ficamos a saber que os Molllust estavam ali numa versão acústica de eles mesmo, tendo deixado em casa o baixista, o baterista e as guitarras elétricas. Duas das jovens vinham com dois violinos, outra pegou no violoncelo e a que se destacava mais pelo vestido de gala foi ocupar o seu lugar em frente ao teclado que dominava o palco, e pelo microfone tipo headset, era não só a teclista como a vocalista. E assim, os Molllust começaram a brindar-nos com a sua música. Uhau! Ninguém estava á espera de apanhar uma pérola destas. A música e o espetáculo dos Molllust arrebatou todos os presentes, não deixando ninguém indiferente. O seu Metal Opera é único, muito erudito (aqui em versão acústica, ainda mais acentuado do que a versão metal), a postura da banda em palco muito profissional, muito comunicadora e ainda nos presentearam com um bocado de teatro musical, especialmente na música “König der Welt”. A cada música, o público batia mais palmas, acabando estes o concerto praticamente em apoteose. Não me lembro de uma coisa

Setlist:Stimmgewalt Choir onlyEngel - (Rammstein cover)The Irish Ballad - (Tom Lehrer cover)ReptilLast Night of the Kings - (Van Canto cover)Beer, Beer, Beer - (An Ode to Charlie Mopps - The Man Who Invented Beer)

Main SetThe Simple ManAll Is OneThe Evil UrgeAsalkLet The Truce Be KnownOlat Ha’tamidBrotherBereft in the AbyssHeyr himna smiður - (Stimmgewalt Choir only)Building the ArkNew JerusalemA Neverending WayEl Meod Na’AlaSapariIn Thy Never Ending Way

EncoreHallelujah - (Leonard Cohen cover) (Stimmgewalt Choir with Kobi Farhi)The Beloved’s CryNorra El Norra (Entering The Ark)Ornaments of Gold - (Ending)

destas - Igual, talvez só quando os Pantera abriram para Judas Priest em 1990. Foi simplesmente excelente e deixou um desejo imenso de descobrir esta banda na sua vertente metal, o qual já o fiz e posso dizer que faz jus à versão acústica que presenciei no São Jorge. Os Molllust acabaram com uma cover de Johann Sebastian Bach , “Ave”.

E quando já esperava os Orphaned Land, não é que me entram em palco uns 8 indivíduos que começam a cantar à capela tal Van Canto, com uma cover dos Rammstein (“Engel”). A performance ainda durou mais 4 músicas, sendo esta última um hino à cerveja ou melhor a Charlie Mopps, o seu inventor. O grupo corista tem nome, são os Stimmgewalt de Berlin, e fazem parte do backing vocals dos OL para esta tournée acústica. Ao som de “The Simple Man”, finalmente, os Orphaned Land subiram ao palco, com Chen Balbus a ocupar o lugar que em outrora era ocupado pelo Yossi - Uma espécie de promoção dentro da banda - e o novo membro Idan Amsalem no seu anterior lugar. Como já referi, a espectativa resistia unicamente no som que soaria da música dos Orphaned Land acusticamente. Ora bem, neste campo, eu diria que se encaixa perfeitamente, parece que foi talhada para tal, proporcionando aos OL a oportunidade de darem um excelente concerto. A sonoridade estava lá, a presença igualmente, a emoção não faltou e como é habitual o público correspondeu afirmativamente. De resto foi business as usual, na postura e atitude do Kobi, no line up das músicas, onde tocaram coisas bem antigas como “El Meod Na’Ala” e “The Evil Urge” do álbum El Nora Alila ou mesmo “Building the Ark”. A set list dividiu-se por todos os álbuns da banda, não faltando os clássico como “Sapari”, “All is One”, “Brother”, “In Thy Never Ending Way” ou o clássico dos clássicos “Norra El Norra (Entering The Ark) “. No início do encore tivemos uma cover de Leonard Cohen com os Stimmgewalt Choir e o Kobi. Resumindo, tirando a componente acústica foi um concerto à la Orphaned Land sem por nem tirar, tal como eles nos têm habituado há anos. O actual lineup convence e agora só me resta esperar pelo próximo trabalho, que pelas palavras do Kobi poderá ser já em 2016. Parece que só têm mesmo é de se juntar e começar a escrevê-lo. A minha perceção final foi que este concerto foi uma verdadeira pechincha, dado a qualidade e performance de todas as bandas envolvidas e o elevado eruditismo clássico do evento. Os Orphaned Land deviam ter pedido mais do que os 17 euros do bilhete...

Fotos e Reportagem: Carlos Filipe

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BAROCK PROJECT ESTREIA AUSPICIOSA

Assistimos no passado dia 7 de Novembro em Milão, ao primeiro concerto dos Barock Project, após o lançamento do álbum Skyline. Isto porque a digressão da banda, agendada para o início de Setembro em Inglaterra, teve de ser cancelada, já que Luca Zabbini, compositor, teclista e mentor do Barock Project, foi internado com problemas de saúde. A expectativa era grande, e em resumo, foi uma grande noite que por certo perdurá na memória dos que puderam ver e ouvir ao vivo, o magistral desempenho de uma banda com imenso talento. O concerto começou por volta das 21h45 locais, e extendeu-se até bem próximo das 0h30. Cerca de 2 horas e meia de concerto, que teve obviamente especial enfoque no álbum Skyline, mas que viajou por todo o restante trabalho da banda, e ainda (no “encore”), incluiu alguns trechos de temas dos Genesis.Os problemas de saúde de Zabbini parecem totalmente ultrapassados, já que demonstrou enorme energia em palco, e uma “performance” tremenda, mesmo para um reconhecido virtuoso dos

teclados. O poder e timbre da voz de Pancaldi, o rigor “metronómico” de Eric, a competência de Marco, e o talento do baixista Francesco Caliendo, fizeram o resto. Uma palavra especial para este último, que tendo sido convidado enquanto músico de sessão para o concerto, e tendo apenas um ensaio com a banda (já que se encontra em Amesterdão a estudar baixo eléctrico no Conservatório), teve um desempenho absolutamente extraordinário, e impressionando mesmo, por esse facto de ter tido apenas um ensaio geral …Nota final para o som maravilhoso registado na sala. Ficámos surpresos pela qualidade geral do som, para uma sala que sendo uma referência em Itália no género Progressivo, é no entanto, bastante pequena. Após o concerto, lá nos informaram que o técnico de som, era um profissional qualificadíssimo, que foi em tempos (agora encontra-se reformado), técnico de som de uma das melhores e mais importantes bandas de Itália, os Area (estava justificado o muito bom som na sala).Resta-nos aguardar pela

possibilidade dos Barock Project, nos poderem presentear brevemente em Portugal, com um concerto desta qualidade!

Fotos e Reportagem: Ivo Quintas

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BAROCK PROJECT“SKYLIVE”, MILANO, LA CASA DI ALEX07.11.2015

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LEPROUSINTENSO

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Dia 8 de Outubro tive o prazer de poder ir ver 3 bandas com actuações imponentes - quase que irrepreensíveis. A noite foi exclusivamente nórdica com todos espetáculos a serem protagonizados por artistas da Noruega. Rendezvous Point a abrir as hostes, Sphere e Leprous por último, debitaram todas elas um som que ia desde o rock ao metal progressivo mais pesado que contagiou verdadeiramente em grande parte dos momentos o vasto público que se agregou no RCA e se mostrou muito bem receptivo perante todas as bandas presentes.

A começar por Rendezvous Point a surpresa para mim foi sem dúvida o facto de não conhecer uma banda com tamanha qualidade que transpirava uma precisão

ritmica muito consistente por todos os lados. Estes RP contavam com uma mescla de sons que trazia remiscências de bandas na onda de Tesseract, Tool ou mesmo os seus conterrâneos Leprous. Infelizmente, quando cheguei ao RCA já soava o concerto quase a meio mas fui imediatamente agarrado pela música carregada de grooves poderosos que iam sendo acompanhados por uma voz super afinadissima e agradável de um Geirmund Hansen inspirado - vocalista este que esteve muitissimo bem na sua prestação. Do primeiro ao último momento que tive a oportunidade de assistir, a minha cabeça tendia para não se manter no mesmo lugar à medida que tentava encontrar-me naqueles compassos poliritmicos bem trabalhados e delineados. O ambiente soturno por sua

vez, acentuou na música dos Rendezvous Point outro ponte forte de uma banda que se completa na sua essência quando as melodias bonitas que caracterizam a sua música encaixam que nem uma luva numa atmosfera deslumbrante. Para concluir nota óptima para o som da sala nesta banda que ajudou imenso a esta minha impressão mais empolgada relativa ao seu concerto.

Seguiram-se uns Sphere também muito bem oleados e quase a roçar uma mestria instrumental. É verdade que Sphere comporta óptimos executantes mas com uma sonoridade menos agradável para o meu gosto pessoal. O som também não esteve tão definido como em RP e talvez isso tenha prejudicado um pouco a prestação dessa banda que ao fim ao cabo e

LEPROUS + SPHERE + RENDEZVOUS POINT RCA – LISBOA08.10.2015

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ainda assim pareceu até bastante coesa. Desta feita tínhamos uma sonoridade mais chegada para os lados de uns Meshuggah que se converteram à ideia melodiosa e aos refrões de vozes limpas que muitas vezes se ouvem em grande parte das bandas de metal core saídas dos States. Imagine-se uns Meshuggah meet As Lay Dying com temáticas relativas ao espaço. Nota de destaque para Isak Haugan que se manteve incansável a puxar pelo público com a sua voz poderosissima ainda que as pessoas se mantivessem serenas abanando a cabeça ao ritmo de um tal de baterista Bjørn Dugstad Rønnow super competente que acabou por roubar alguns “este gajo dá-lhe bué” ao público que me acompanhava. Um apontamento

menos bom para a voz de Marius Strand que por motivos talvez alheios à banda acabou por não encantar sempre que projectava a sua voz e fazia em que alguns momentos as melodias soassem um pouco destoadas daquilo que estava a ser tocado. No final saldo positivo para um concerto de uma banda que resolvendo esses pequenos aspectos pode muito bem acabar por desenvolver uma distinção ao vivo bem mais interessante do que aquela apresentada nesse concerto do RCA.

Por último tive a honra de presenciar a intensidade de um dos melhores concertos que já vi na minha vida. Os indiscútiveis reis da noite foram naturalmente

os Leprous. Quando fui a este concerto sentia que ia ser bom, mas não esperava que fosse mesmo assim tão bom. Uns LCD’s eram montados no palco e a lona em que figurava o seu logotipo mostrava a majestosidade de uma das bandas mais originais da actualidade - senti-me entusiasmado à espera que caisse o pano. Quando a intro soou não se podia fazer antever a magia que este concerto faria girar à volta das pessoas envolvidas. Na entrada dos elementos de Leprous em palco, ouviaram-se gritos, assobios e palmas que eram provenientes de pessoas que vibram e sentem os Leprous em toda a sua magnitude e esplêndor. Pudemos antecipar então que o impacto que esta banda tem e a mistica em torno do seu espetáculo

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L I V E V E R S U Sque conseguiram construir ao longo destes 14 anos de existência fariam toda a diferença relativamente às restantes bandas da noite. Trouxeram “The Congregation” (o seu mais recente álbum gravado nos Fascination Street Studios com Jens Brogen) na bagagem e ao desfilarem temas como The Flood ou The Price ia ficando cada vez mais convencido e seduzido aos encantos de uma banda que trouxe com Einar Solberg o espirito da voz inconfundível de Freddy Mercury e juntou-o à magia de um rock progressivo norueguês cheio de influências eletrónicas que conferem ao som de Leprous um cariz industrial e altamente inovador. Tecnicamente irrepreensíveis, os poliritmos são uma oferta constante que obriga o ouvinte a tentar desvendar o ser-se criptico dos Noruegueses “esquisitos” que muitas vezes nos enfiam num puzzle sem aparente resposta. As partes em que se ouve um silêncio mais acentuado ao ser conjugado com aquela voz sofrida sempre dentro do tom resultam muito bem e criam momentos de tensão no ouvinte que espera para sair de um quarto frio e escuro - que anseia por ver o que há lá fora no mundo. É quando a bateria, o baixo e as guitarras explodem que a sala de concertos se enche de vida - é aí que nos dão o sabor de uma conquista.

Fotos e reportagem: Pedro Remiz (Arcadia Studios)

(Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

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SALAMANDRA EM CHAMASDEIXA ARDER!

A Salamandra Dourada é uma daquelas salas/ associação que tem feito algumas coisas, no minimo, interessantes e que tem mostrado, a espaços, alguns dos talentos underground, sendo este Salamandra em Chamas um desses exemplos e que começa já a marcar o seu território no underground nacional, sendo que nesta quarta edição contou com alguns nomes que se começam a afirmar na nossa cena. Deve-se saudar e aplaudir o esforço da associação e, acima de tudo, aplaudir uma forma diferente de fazer acontecer, como exemplo podemos divulgar o preço da entrada (1.5 euros com oferta de bebida) o que, de alguma forma, faz com que curiosos e apreciadores marquem presença.

Como qualquer evento que se preze, o Salamandra em Chamas 4 começou de forma leve e sublime com os Monolith Moon, que aproveitaram para apresentar o EP Leylines, lançado este ano. Com uma actuação que enfrentou alguns problemas de som, nomeadamente na voz de Sara, mas que, aos

poucos entrou nos eixos. Com uma sonoridade que tanto os aproxima do Rock Progressivo como do Metal mais, digamos, clássico, a banda mostrou-se eficaz nos seus propósitos e conseguiu despertar a atençao dos que já se encontravam na sala. É uma banda que merece que estejamos atentos à sua evolução e, pelo meio, já desvendaram alguns temas novos. E a bonanza terminou aqui, pois os Wall of Death, a jogar, praticamente, em casa, depressa começaram a partir a casa toda com o seu Death Metal. Se palavras podem existir para descrever a actuação da banda elas seriam: intenso, poderoso. Leonardo, o vocalista, pode muito bem seguir as pegadas de Chris Barnes ou de George Fisher, tal a forma como vocifera as letras e como ataca o microfone. Salientamos, igualmente, os solos da banda, rápidos, eficientes e que nos fazem querer sentir os timpanos a rebentar, os Wall of Death quebraram o gelo e tudo o resto que estava a volta.

Depois de uma merecida, ou talvez não, para comes e bebes e para

um descontraido Quiz do Metal, foi a vez dos Burn Damage subirem ao palco e fazerem valer o seu Death Thrash furioso onde, uma vez mais, Inês Freitas foi figura de destaque, mostrando ser, a nivel nacional, uma das melhores growlers e com uma presença de louvar... obrigando até os mais distraidos a moshar, saindo

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26.09.2015 - CASA DA ÁRVORESALAMANDRA DOURADA

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NADJAMINIMALISTA

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NADJA (CA/DE) + LANÇAMENTO DA MESINHA DE CABECEIRA #27 17.12.2015 - LOUNGE - LISBOA

O multifacetado canadiano Aidan Baker e sua esposa Leah Buckareff trazem-nos Nadja, um projeto de texturas minimalistas onde se casam os géneros musicais shoegaze com drone, no que pode ser descrito como o “World Coming Down” dos Type O Negative reinterpretado pelos My Bloody Valentine sob o efeito de copiosas doses de codeína. O evento foi gratuíto e como bónus tivémos o lançamento do novo tomo da zine de BD “Mesinha de Cabeceira”, intitulado “Nadja - Ninfeta Virgem do Inferno” da autoria de Nunsky. Pois é, o Natal chegou mais cedo, como de resto pôde atestar a núbil rapariga figurada na capa da revista em destaque, onde se encarregava, com o auxílio de uma imponente adaga, de fazer o Pai Natal partilhar o destino de muitos perús nesta época festiva. O concerto tomou lugar num beco do cais-do-sodré em lisboa, num bar perdido nos meandros da década de 60. Entre azulejos vermelhos, papel de parede da era de aquário, bolas de cristal enfeitadas com flores, barbooths refundidos, um espelho de 2 metros que refletia

grande parte da pista de dança e a apropriada música psicadélica de fundo, subitamente ganhamos a sensação de ter entrado numa espécie de cápsula do tempo (sendo que o bar não seria muito maior que a mesma). Neste espaço, próximo da vitrine, uma reduzida mesa circular sobrecarregada de pedais de delay, chorus, overdrive e afins demarcava o território da banda. Não muito fora da hora prevista surge, entre os expectantes, Aidan Baker, qual Rasputin saído de um filme de Wes Anderson e sua respetiva parceira, serpenteando até ao que, à falta de termo melhor, se pode chamar palco. Após a disposição do merchandising, cds e discos de vinil num dos booths, a banda assume o seu espaço de atuação, partilhando a pista de dança com o resto do público, o qual subitamente preencheu a reduzida capacidade do recinto. A existência da enorme vitrine permitiu direta comunicação entre a banda e o exterior, servindo como um ecrã televisivo para os tardios que se foram congregando. A setlist consistiu numa versão abreviada do “Thaumogenesis” e da

faixa “Absorbed in you” do albúm “The Bungled and the Botched”. Letargia foi a palavra de ordem. O duo, completamente absorto na sua performance, frente a frente, de perfil para o público interior e exterior ao recinto, fez uso da mesinha de pedais de efeitos, de permeio, como se de um tabuleiro de xadrez se tratasse. Aidan Baker, alternando entre o uso convencional da guitarra e o hábil recurso às potencialidades de um arco de violino na mesma, foi dando asas à sua inventividade, perante uma audiência mesmerizada com cada acorde suspenso na atmosfera como uma titânica massa cinzenta em desintegração. O final do concerto sucede com Aidan a recolher a sua guitarra no canto do merchandising, manipulando o resto da reverberação emanente desta mantra sónica nas pequenas caixas eletrónicas de efeitos. A expectativa de um encore foi frustrada, no que de resto se revelou uma experiência intensa, autêntica, mas algo abreviada.

Fotos e reportagem: Frederico Figueiredo

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NADJA (CA/DE) + LANÇAMENTO DA MESINHA DE CABECEIRA #27 17.12.2015 - LOUNGE - LISBOA

O multifacetado canadiano Aidan Baker e sua esposa Leah Buckareff trazem-nos Nadja, um projeto de texturas minimalistas onde se casam os géneros musicais shoegaze com drone, no que pode ser descrito como o “World Coming Down” dos Type O Negative reinterpretado pelos My Bloody Valentine sob o efeito de copiosas doses de codeína. O evento foi gratuíto e como bónus tivémos o lançamento do novo tomo da zine de BD “Mesinha de Cabeceira”, intitulado “Nadja - Ninfeta Virgem do Inferno” da autoria de Nunsky. Pois é, o Natal chegou mais cedo, como de resto pôde atestar a núbil rapariga figurada na capa da revista em destaque, onde se encarregava, com o auxílio de uma imponente adaga, de fazer o Pai Natal partilhar o destino de muitos perús nesta época festiva. O concerto tomou lugar num beco do cais-do-sodré em lisboa, num bar perdido nos meandros da década de 60. Entre azulejos vermelhos, papel de parede da era de aquário, bolas de cristal enfeitadas com flores, barbooths refundidos, um espelho de 2 metros que refletia

grande parte da pista de dança e a apropriada música psicadélica de fundo, subitamente ganhamos a sensação de ter entrado numa espécie de cápsula do tempo (sendo que o bar não seria muito maior que a mesma). Neste espaço, próximo da vitrine, uma reduzida mesa circular sobrecarregada de pedais de delay, chorus, overdrive e afins demarcava o território da banda. Não muito fora da hora prevista surge, entre os expectantes, Aidan Baker, qual Rasputin saído de um filme de Wes Anderson e sua respetiva parceira, serpenteando até ao que, à falta de termo melhor, se pode chamar palco. Após a disposição do merchandising, cds e discos de vinil num dos booths, a banda assume o seu espaço de atuação, partilhando a pista de dança com o resto do público, o qual subitamente preencheu a reduzida capacidade do recinto. A existência da enorme vitrine permitiu direta comunicação entre a banda e o exterior, servindo como um ecrã televisivo para os tardios que se foram congregando. A setlist consistiu numa versão abreviada do “Thaumogenesis” e da

faixa “Absorbed in you” do albúm “The Bungled and the Botched”. Letargia foi a palavra de ordem. O duo, completamente absorto na sua performance, frente a frente, de perfil para o público interior e exterior ao recinto, fez uso da mesinha de pedais de efeitos, de permeio, como se de um tabuleiro de xadrez se tratasse. Aidan Baker, alternando entre o uso convencional da guitarra e o hábil recurso às potencialidades de um arco de violino na mesma, foi dando asas à sua inventividade, perante uma audiência mesmerizada com cada acorde suspenso na atmosfera como uma titânica massa cinzenta em desintegração. O final do concerto sucede com Aidan a recolher a sua guitarra no canto do merchandising, manipulando o resto da reverberação emanente desta mantra sónica nas pequenas caixas eletrónicas de efeitos. A expectativa de um encore foi frustada, no que de resto se revelou uma experiência intensa, autêntica, mas algo abreviada.

Fotos e reportagem: Frederico Figueiredo

AIDAN BAKER SINGULAR

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AIDAN BAKER + SÖLL (PT)18.12.2015 - ZARATAN - LISBOA

Com os sentidos ainda inebriados pela atuação dos Nadja na prévia noite, foi altura de ressacar na companhia de Aidan Baker na sua segunda incursão por território lisboeta e coincidente fecho de digressão de 2015. Desta vez, trocámos o cenário burlesco do Lounge pela igualmente elegante decadência de uma galeria de arte/sala de espetáculos situada na rua de São Bento. Nesta rua tipicamente pontuada por um conjunto de interessantes antiquários e galerias, situa-se o Zaratan, um espaço que, pela sua disposição e organização, tem tanto de sugestivo como a Arte que promove. À entrada, fomos de imediato saudados por uma exposição de ilustrações softcore de opulentas lolitas de estilo japonês. Percorremos de seguida um estreito e curto corredor que desembocava num pequeno pátio onde já se encontrava o performer desta noite bem como meia dúzia de espectadores. Do lado oposto do pátio, apresentava-se a sala de espetáculos que, para dizer o mínimo, era singular. A ideia que imediatamente se associa ao espaço

é a de uma lúgubre caverna, com a particularidade de ter um palco de estrutura rudimentar e tenuemente iluminado. Esta pequena sala, com capacidade para cerca de 30 pessoas (incluindo os músicos... com muito boa vontade), de paredes irregulares, marcadas por uma eloquente ruína de tijolo e pedra, muito se assemelha à referida caverna pelos seus contornos uterinos. Por sorte ou engenho, o espaço adequou-se perfeitamente ao tipo de sonoridade que agraciou a reduzida audiência. Aidan Baker entrou na “sala” e acreditámos que, tal como o resto dos presentes, irá assistir à abertura de Söll, mas só por acaso... vai atuar. Sim, trocaram-nos as voltas e o ato principal tocou primeiro. Tudo bem, vamos direto ao que interessa (sem desmérito para o ato de... abertura). A fórmula em prática não diverge muito do que vimos na noite anterior (Nadja): retiramos um elemento, extraímos uma quantidade considerável de distorção e temos Aidan Baker a solo. A capacidade comunicativa desta atuação, propiciada pela envolvência deste peculiar recinto,

revestiu-se de contornos quase ritualísticos. Não existia uma audiência, mas um conciliábulo. Não existia um músico, mas um sacerdote. Em contraponto com o som que emanava do palco, a audiência encontrava-se imersa em silêncio meditativo, encontrando-se inclusivamente parte dos presentes de olhos fechados em atitude de absorção e regozijo. A atuação que foi o perfeito desfecho e complemento à atuação dos Nadja, revestiu-se de um efeito quase catártico na sua sublimidade. Os sapatos a serem calçados por Söll eram consideravelmente grandes, porém o músico aveirense Jorge Pandeirada, provou estar à altura do desafio. Apesar de apresentar uma tendência musical eletrónica, a sonoridade em palco revelou-se surpreendentemente orgânica, tendo conseguido simular a ideia de que as paredes que revestiam o evento oscilavam e respiravam como um tórax de um imenso mamífero.

Fotos e reportagem: Frederico Figueiredo

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SOENINSPIRAÇÃO

Chegámos ao RCA por volta das 21. A primeira banda já tinha acabado. Sem muitas demoras entraram os Lizzard em palco para debitar o seu rock/metal composto de grooves que me deixaram tremendamente entusiasmado por ter saído naquela noite para assistir a estes concertos. Confesso que ver Lizzard era uma viagem totalmente nova para mim - inesperada - e aos primeiros acordes deixei-me surpreender com o seu embalo cativante. Posso dizer desde logo que fiquei muito bem impressionado com a bela Katy Elwell que tinha uma naturalidade tremendamente eficaz no que toca aos seus fills bateristicos. As camadas de guitarras em loop que Mathieu Ricou ia adicionando aos temas também foram um ponto interessante do espetáculo para mim, visto o que podia resultar um som daquele género só com 1 guitarra. Mathieu ia acrescentando riffs à parede sonora da banda e isso permitia-lhe dedicar-se à construção de estruturas e ambientes completamente absorventes enquanto com uma voz super versátil que variava entre um registo mais limpo e outros mais a

rasgar trazia uma mensagem forte à sua música. Tecnicamente muito bem ensaiados, é sempre agradável ver tal profissionalismo.

Posso assegurar que ninguém ficou indiferente a toda aquela sonoridade energética e o público acabou por aderir muito bem aos apelos de Mathieu quando este gritava por nós nos intervalos das músicas.

Os Soen eram claramente a banda da noite e a expectativa para ver músicos como Martin Lopez era muita. Soen respira inspiração por todos os lados e essa mesma ressonância reflecte-se nas pessoas que ouvem a sua música quando vibram com o espetáculo da forma que se pôde ver dia 15. O som não estava no seu auge - muito longe disso -, mas não penso que tenho prejudicado a banda que acabou por transcender essa dificuldade técnica com a sua habilidade para entreter quem os ouvia. A tocar para uma casa muito bem composta, seria excusado dizer que a entrada de Soen em palco foi muito ansiada por todas as pessoas ali presentes que acabaram presenteadas com

um belissimo concerto de uma das bandas progressivas da actualidade que está a deixar um rasto vivo que se incendia com uma forte chama por onde passa. A competência dos músicos é obviamente inegável e um marco a destacar quando se fala de Soen e é sempre curioso quando damos por nós a reparar na variedade de papeis que Lars Åhlund desempenha neste colectivo - desde guitarras a teclados ou mesmo instrumentos de percursão alternativos. Essencialmente somos obrigados a frisar que a voz de Joel Ekelöf carrega uma mais valia estrondosa para a banda e quando percebemos que ao vivo as suas vocalizações são ainda mais harmoniosas que aquelas gravadas no trabalho de álbum, ficamos muito espantados e agradados.

Com uma recepção muito entusiastica por parte do público Português, os Soen deixaram antever que a sua vinda futuramente é um acontecimento bastante prevísivel que, e noutras circunstâncias sonoras, gostava de ver repetir-se.

Fotos e reportagem: Pedro Remiz (Arcadia Studios)

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SOEN + LIZZARD RCA – LISBOA15.10.2015

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A BANDA FORMOU-SE EM 2012, ESTANDO ATUALMENTE NA FORMAÇÃO TU , O RU I P INTO, (GU ITARRA) , O GUSTAVO GONÇALVES (BA IXO) E O T IAGO MACHADO (BATER IA) . FALA-NOS DO PERCURSO MUSICAL DE CADA INTEGRANTE DA BANDA ATÉ AO MOMENTO PRESENTE , POR UM LADO; E , POR OUTRO, DO TRAJETO DO PRÓPR IO GRUPO.

RAFAEL P INTO: Todos temos experiência em outras bandas - eu e o gustavo já tivemos um grupo juntos há alguns anos e fizemos parte dos venial sin, de vila real. O tiago já foi baterista dos maninfeast e o rui foi membro fundador dos dyur. Em 2012 o tiago e o gustavo queriam formar uma banda de death metal progressivo e pediram-me para fazer parte desse projeto, que viria a transformar-se nos consequence. Pouco depois o rui

juntou-se à banda, completando a formação atual.

ESTE É O AL INHAMENTO OR IG INAL OU JÁ PASSARAM OUTROS MÚSICOS PELOS CONSEQUENCE?

RAFAEL P INTO: consideramos que esta é a formação original, somos todos membros fundadores. Houve um outro guitarrista que passou pela banda, mas muito brevemente

QUARTETO FORMADO HÁ TRÊS ANOS, OS CONSEQUENCE APRESENTAM NAS SUAS F I LE IRAS MÚSICOS COM ALGUMA EXPER IÊNC IA ADQU IR IDA EM OUTRAS BANDAS. COM “MANTIS” , O ÁLBUM DE ESTRE IA DEBA IXO DO BRAÇO, O GRUPO DE V I LA REAL PRETENDE AGORA MOSTRÁ-LO AO V IVO , EXPLORANDO AO MÁXIMO A SONORIDADE ARROJADA QUE O CARACTER IZA , UM MISTO DE DEATH METAL PROGRESS IVO COM ROCK ALTERNAT IVO . PARA MELHOR CONHECER A BANDA, O ÁLBUM E OS PROJETOS A CURTO PRAZO FALÁMOS COM VOCAL ISTA/GU ITARR ISTA, RAFAEL P INTO.

Por: dico

CONSEQUENCECOM A EVOLUÇÃO NO HORIZONTE

E N T R E V I S T A

“TODOS QUERÍAMOS UMA PLATAFORMA EM QUE PUDÉSSEMOS EXPERIMENTAR COM OS GÉNEROS MUSICAIS QUE MAIS NOS ATRAEM ENQUANTO OUVINTES.”

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“...USAMOS A BASE DO DEATH METAL PROGRESSIVO, MAS NUNCA SERÁ ESSE O RÓTULO QUE NOS DEFINE”

apenas.

O VOSSO ÁLBUM APRESENTA UMA SÉR IE DE AMBIENTES E TEXTURAS, QUE ABRANGEM D IFERENTES ABORDAGENS MUSICA IS , DESDE O DEATH METAL PROGRESS IVO AO ROCK/METAL PROGRESS IVO , PASSANDO PELO ROCK ALTERNAT IVO . ALÉM D ISSO, APRESENTAM ALGUMA TENDÊNC IA EXPER IMENTAL ISTA. ESTA ABRANGÊNC IA DE GÉNEROS SURG IU NATURALMENTE NA VOSSA MÚSICA OU F I ZERAM UM ESFORÇO CONSCIENTE PARA QUE ESTAS CANÇÕES SOASSEM DESTA FORMA?

RAFAEL P INTO: essa heterogeneidade vem da intenção com que a banda foi formada. Todos queríamos uma plataforma em que pudéssemos experimentar com os géneros musicais que mais nos atraem enquanto ouvintes. Claro que o objetivo dessa experiência é a busca de um som próprio, que reflita as nossas identidades musicais. Por isso, pode dizer-se que essa variedade advém de um esforço consciente, ao mesmo tempo que, ao nível da composição, as ideias surgem de forma natural. Não gostamos de nos sentir limitados quando criamos algo novo. Usamos a base do death metal progressivo, mas nunca será esse o rótulo que nos define.

AINDA RELAT IVAMENTE AOS TEMAS, ALÉM DAS ABORDAGENS EST IL ÍST ICAS QUE JÁ D ISSECÁMOS, UMA DAS CARACTER ÍST ICAS QUE SALTA À V ISTA É UMA AMBIVALÊNC IA ENTRE PESO E MELOD IA , COM VÁR IAS PASSAGENS ACÚST ICAS, QUASE AMBIENTA IS , ALTERNADAS COM DESCARGAS DE RA IVA . PRETENDERAM TRANSMIT IR AO OUV INTE UMA CERTA DUAL IDADE OU OS TEMAS ASS IM O PED IAM?

RAFAEL P INTO: um pouco dos dois. Na realidade apreciamos esse contraste, que acaba por intensificar cada uma dessas partes. Fazer suceder uma secção quase acústica de algo bem mais pesado cria um choque que mantém os sentidos despertos, além de refletir a forma como as próprias emoções se sucedem na nossa vida quotidiana. Porém, não

achamos que essa dualidade seja necessária, caso não acrescente nada de positivo ao tema. Em primeiro está sempre o que a música pede, sem dúvida.

EM ALGUMAS PASSAGENS NOTA-SE A PRESENÇA DE BANDAS COMO OPETH OU SYSTEM OF A DOWN. QU ISERAM DE IXAR PATENTES ESSAS INFLUÊNC IAS OU SENTEM QUE , SENDO UMA BANDA RECENTE , SE ENCONTRAM A INDA EM BUSCA DA VOSSA IDENT IDADE ART ÍST ICA E , NESSA MED IDA , AS INFLUÊNC IAS SURGEM NATURALMENTE , COMO UM CERTO APO IO , ATÉ?

RAFAEL P INTO: todos os artistas ou aspirantes a tal apresenta influências, que serão sempre mais ou menos evidentes. Porém, admitimos que sim, ainda estamos à procura da nossa identidade musical e a refinar o nosso processo criativo. Daí que isso se reflita no álbum, que é o nosso primeiro de originais e, portanto, o “sítio” ideal para este tipo de exploração musical. Por outro lado, o género em que nos movemos é definido, tal como todos os outros, pelas grandes bandas que nele se inserem, logo, é natural que tais semelhanças se notem.

GRAVARAM O D ISCO NOS BL IND & LOST, COM A CAPTAÇÃO, PRODUÇÃO, MISTURA E MASTER IZAÇÃO A CARGO DO GU ILHERMINO MART INS. AO OPTAR POR ESTA POSS IB IL IDADE , QUE OBJET IVOS T INHAM EM MENTE?

RAFAEL P INTO: o guilhermino já é nosso conhecido há alguns anos, assim como o é a qualidade dos projetos gravados por ele. O nosso objetivo de escolher os blind & lost studios era assegurarmo-nos de que a produção se encontrava em boas mãos, nas mãos de alguém em que confiássemos plenamente.

NO CÔMPUTO GERAL , ESTÃO SAT ISFE ITOS COM O D ISCO OU SENTEM QUE PODER IAM TER FE ITO ALGO D IFERENTE?

RAFAEL P INTO: somos os nossos piores críticos, existe sempre esse sentimento de que algo poderia estar melhor, mais refinado. No

entanto, temos de deixar que sejam as outras pessoas a julgar a nossa música, e dito isto estamos satisfeitos com as reações que o álbum tem recebido. Estamos atentos às críticas construtivas que surgirem para podermos crescer nesta área.

ENCONTRAM-SE DE MOMENTO A D IVULGAR O ÁLBUM. JÁ TÊM PLANOS DEF IN IDOS PARA O RODAR AO V IVO?

RAFAEL P INTO: o nosso plano pouco muda - consiste em tocar o máximo possível, pois além de compor, é de tocar ao vivo que mais gostamos. Também estamos embrenhados em detalhes (um pouco mais aborrecidos) associados à divulgação, mas ansiamos sempre pela próxima oportunidade para subir a mais um palco!

F INDA A FASE PROMOCIONAL DO ÁLBUM QUAL É O PRÓX IMO PASSO NA CARRE IRA DOS CONSEQUENCE?

RAFAEL P INTO: sem dúvida, voltar a compor! Queremos lançar algo maior e melhor, continuar o caminho que temos trilhado como banda e descobrir o que nos aguarda o futuro a nível musical!

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HTTP: / /CONSEQUENCEBAND.BANDCAMP.COM/ALBUM/THE -MANT IS

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OLÁ ZÉ ! ANTES DE MAIS , PARABÉNS PELO TEU TRABALHO - “THERE ’S ALWAYS SOMETH ING RELATED TO IT” É MUITO BOM E ALGO SU I GENER IS .A MINHA PR IME IRA PERGUNTA É : QUEM ÉS TU? : - )

ZÉ : Viva, antes de mais gostaria de te agradecer esta oportunidade de falar sobre mim e sobre o meu trabalho. Em relação à tua primeira questão, bem... Quem sou eu? Perguntas tu... Acho que sou mais um daqueles moços que nasceram na decada de 80 e cresceu numa freguesia do interior do país que, ironicamente, se chama Aldeias. Desde que me lembro, sempre fui apaixonado por música, pelo

que ela me fazia sentir. A música moldou parte do que sou, com toda a certeza foi um caminho para o gosto e desejo pela arquitetura. Acompanhou todo o meu percurso até aos dias de hoje. Por esse motivo, hoje sou, entre outras coisas, um moço que se esforça para comunicar a sua mensagem através das várias coisas que cria.

COMO É QUE TE SURG IU A IDE IA DE , SOZ INHO, CR IARES E MANTERES OS TALES AND MELOD IES?

ZÉ : Tales and Melodies surgiu cerca de um ano depois de ter deixado ManInFeast. Após esse período parado senti que tinha que fazer algo. Acabei por pegar em algumas

ideias que tinha na gaveta, outras que tinham surgido entretanto e comecei a compor os primeiros temas para Tales and Melodies. O projeto tornou-se sério quando houve a proposta de tocar no TRC CLUB, um evento organizado pela ZigurArtists. Nessa altura ainda andava a testar algumas coisas, acabei por convidar o João Pina, companheiro de longa data, para tocar bateria. Desde então a coisa foi andando, as oportunidades foram aparecendo e cada vez mais Tales and Melodies ganha forma e projeção.

COMO JÁ D ISSE O QUE CR IAS É D I FERENTE , GOSTO DE TODO O AMBIENTE MUITO ALTERNAT IVO

É MAIS UM VALOR EMERGENTE DA MÚSICA NAC IONAL , ALGUÉM QUE PROCURA O MEREC IDO LUGAR AO SOL . TALES AND MELOD IES É UM PROJECTO NASC IDO E ARQU ITECTADO POR JOSÉ SANTOS. GENU ÍNO, AC IMA DE TUDO, MOSTRA MUITO LABOR E TALENTO AO SERV IÇO DAS MELOD IAS E DOS CONTOS. VAMOS LÁ DESCOBR IR A MÚSICA POR DETRÁS DO HOMEM.

Por: Eduardo Ramalhadeiro

TALES AND MELODIESCONTOS MUSICAIS

G A R A G E P O W E R

“(…) O QUE PROCURO COM A MÚSICA QUE CR IO É POTENC IAR O PENSAMENTO E A REFLEXÃO. NELA ESTÃO SEMPRE IMPL IC ITAS AS QUESTÕES EX ISTENC IA IS .”

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“É VERDADE , NÃO TENHO UMA BANDA. GOSTO DE , SEMPRE QUE POSS ÍVEL , TOCAR COM OS MEUS AMIGOS, QUE ACOMPANHARAM O PROJETO DESDE SEMPRE , E BAS ICAMENTE A CO ISA CORRE BEM SEM ENSA IO .”

E ALGO CRU QUE IMPINGES NA MÚSICA . NA TUA PÁG INA WWW.TALESANDMELOD IES .COM QUE TODOS OS LE ITORES DA VERSUS DEVEM V IS ITAR – TENS ESCR ITO QUE “(…) FORMAL IZAS IDE IAS PENSAMENTOS, CR IANDO MELOD IAS QUE SERVEM DE BASE A H ISTÓR IAS SOBRE O SER E O NÃO SER!” É ASS IM QUE DEF INES OS TALES AND MELOD IES E A MÚSICA POR T I CR IADA?

ZÉ : Sim, o que procuro com a música que crio é potenciar o pensamento e a reflexão. Nela estão sempre implicitas as questões existenciais. A música representa, em última instância, uma porta para as questões do espiríto. Gosto de pensar que Ser é bastante mais do que o que de nós é tangível. Por isso digo que as histórias são sobre o Ser e o não Ser.

ALÉM DESTE EP DE ESTUD IO TENS UM EP GRAVADO AO V IVO COM TRÊS TEMAS. ONDE É QUE ISTO ACONTECEU?

ZÉ : Aconteceu no primeiro concerto, naquele do TRC CLUB. O nome não podia ser mais objetivo, “Fresh New Start” – Novo Começo, porque

era isso que o projeto representava para mim naquela altura. Foi um passo importante para o que Tales and Melodies é atualmente.

QUAIS SÃO AS TUAS PR INC IPA IS INFLUÊNC IAS MUSICA IS?

ZÉ : As minhas principais influências são bastante variadas, mas há alguns nomes que posso referir por terem sido bandas/projetos que, a certo ponto, me marcaram de uma forma mais vincada. Nirvana, Marilyn Manson, Smashing Pumpkins, Deftones, Pj Harvey, Björk, The White Strips, The Kills, Yeah Yeah Yeahs, Deap Vally e mais alguns nomes que posso estar a esquecer-me entretanto.

TU ÉS O PR INC IPAL RESPONSÁVEL E MENTOR CR IAT IVO DESTE PROJECTO, PENSO QUE NÃO TENS UMA BANDA, QUÃO D IF ÍC I L É PARA T I MANTER ESTE PROJECTO?

ZÉ : É verdade, não tenho uma banda. Gosto de, sempre que possível, tocar com os meus amigos, que acompanharam o projeto desde sempre, e basicamente a coisa corre bem sem ensaio. Tenho a agradecer-lhes todo o apoio que

têm dado e os bons momentos de palco que vão proporcionando. Falo do Afonso Lima, do João Pina, do Manel Guimarães, Guilhermino Martins e da Erica Ferrreira, a única mulher da casa, que trouxe o brilho da Weather and Pleasure. Em relação à sustentabilidade do projeto, estar sozinho tem vantagens e desvantagens, mas penso que a dificuldade prende-se mais com a falta de tempo para fazer tudo o que é necessário. Outra coisa que também não ajuda é a inexistência de pressão por parte de outros elementos e por isso, no que respeita a prazos, estes tornam-se geralmente muito incertos.

ESTA É UMA DAS PERGUNTAS QUE COSTUMO FAZER A QUASE TODAS A BANDAS PORTUGUESAS: NÃO V IVEMOS PROPR IAMENTE NUM PA ÍS DE OPORTUNIDADES NO QUE D IZ RESPE ITO À MÚSICA . A CULTURA É SUBVALOR IZADA E É MUITO D IF ÍC I L V IVER DA MÚSICA . TU TENS 2 EPS MAS NÃO TENS ED ITORA, QUÃO D IF ÍC I L FO I PARA T I CHEGAR ATÉ AO TEU ÁLBUM DE ESTRE IA? O QUE SENT ISTE QUANDO F INALMENTE V ISTE O TEU TRABALHO F INAL IZADO?

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“S INCERAMENTE PENSO QUE PORTUGAL ESTÁ A PASSAR UMA FASE DE OURO NO QUE RESPE ITA À MÚSICA . CADA VEZ MAIS SURGEM NOVOS PROJETOS, COM SONORIDADES BEM V INCADAS E MUITOS DELES MARCADOS PELO CAR IZ EXPER IMENTAL , ABUSANDO DA EXPLORAÇÃO DAS TÉCN ICAS E DAS TECNOLOG IAS .”

ZÉ : Na verdade os meus trabalhos foram editados através da ZigurArtists, uma netlabel sediada em Lamego. É uma editora com um cariz ligeiramente distinto do convencional porque acredita na livre partilha da cultura, podem aceder e descarregar os EPS de Tales and Melodies e de outros trabalhos interessantes através do BandCamp. É uma ideologia que tem ganho alguma adesão e que, a meu ver, faz muito sentido no estado atual do panorama musical.

É TUA IDE IA TENTAR OBTER CONTRATO COM UMA ED ITORA OU PREFERES SER INDEPENDENTE?

ZÉ : Preteno continuar a trabalhar com a ZigurArtists tanto quanto me for possível. É uma família à qual pertenço desde o início e dela faz parte a malta que já referi a cima e muita outra malta que se esforça para que os trabalhos dos artistas da casa encontrem o seu público.

QUEM TE AJUDOU OU PART IC IPOU NA GRAVAÇÃO DE “THERE ’S ALWAYS SOMETH ING RELATED TO IT”?

ZÉ : O EP contou com a participação do Guilhermino Martins na produção, mistura e voz na “Ode To The Moon”, o Manuel Guimarães ajudou na composição dos beats, a Erica Ferreira na voz da “Weather and Pleasure” e todo o conceito foi idealizado com a ajuda do Afonso Lima e do João Pedro Fonseca. Este último desenhou também todo o artwork. Para a gravação do Clip da Weather and Pleasure contei com o Ricardo Cabral e o João Rebelo na realização, com o André Marinho e o Zé Miguel como assistentes de Câmera e com a Cláudia Marques Matos e a Luísa Cabral na caracterização. Uma equipa cinco estrelas, à qual estou bastante grato.

É INCR ÍVEL QUE DADA A QUANT IDADE DE MED IOCR IDADE NO PANORAMA MUSICAL NAC IONAL , NÃO SEJAM DADAS MAIS OPORTUNIDADE A PROJECTOS SÉR IOS E COM QUAL IDADE . COMO É QUE VÊS A QUAL IDADE E O PANORAMA DA MÚSICA EM PORTUGAL?

ZÉ : Sinceramente penso que

Portugal está a passar uma fase de ouro no que respeita à música. Cada vez mais surgem novos projetos, com sonoridades bem vincadas e muitos deles marcados pelo cariz experimental, abusando da exploração das técnicas e das tecnologias.Entendo que, quando falas de mediocridade, te refiras às sonoridades com maior aceitação no nosso país. Acho que as oportunidades vão aparecendo, no entanto, como em tudo, as sonoridades com maior público têm, logo à partida, melhores oportunidades e isso vai-se tornando num ciclo vicioso. A malta que se singe às rádios e afins acaba por conhecer apenas o que lhe mostram e, depois disso, o que é estranho não soa tão bem. É o tal ciclo.

O TEU SUCESSO E RECONHEC IMENTO TAMBÉM PASSA PELA PROMOÇÃO E D IVULGAÇÃO. CADA VEZ MAIS AS BANDAS TÊM DE TRABALHAR NESSE ASPECTO. É D I F ÍC I L PARA T I GER IRES ISTO?

ZÉ : Basicamente tenho contado com a ZigurArtists para fazer a divulgação dos meus trabalhos. Após cada lançamento procuro marcar o maior número de concertos possível para que consiga chegar com esse trabalho ao maior

número de pessoas possível. Conto também com a ajuda do Vilametal e da Cadeira Amarela - amigos que fui conhecendo por estar no mundo da música, amigos que, como eu, lutam por este movimento emergente de novas bandas.

MUITO DO CONHEC IMENTO QUE EM PORTUGAL É POSS ÍVEL TER VEM DOS CONCERTOS EM BARES E SALAS PEQUENAS. COMO ESTAR A SER A TUA V IDA NESTE ASPECTO? MUITOS CONCERTOS? QUE DATAS TENS AGENDADAS PARA PODERMOS D IVULGAR, PORQUE A TUA QUAL IDADE MUSICAL MERECE SER CONHEC IDA E RECONHEC IDA .

ZÉ : Agora para o final do ano a coisa está calminha mas durante este ano, dei cerca de 20 concertos e já pisei o palco de algumas salas emblemáticas, às quais conto voltar em breve. Entre elas estão algumas Fnac’s, o Plano B, o Maus Hábitos, o Bartô e o Estudantino. Também alinhei no ZigurFest, Um ao Molhe, Meda+, Vinho Folar e Rock ‘n’ Roll e Vila Metal.

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Não deixa de ser irónico que a história de uma das mais icónicas formações de Metal esteja intimamente ligada, numa fase embrionária, a um estilo de música completamente diferente. Os irmãos Darell Lance Abbott (mais tarde conhecido por “Diamond” e posteriormente por “Dimebag”) e Vinnie Paul Abbott, tocaram pela primeira juntos com o seu baixista de sempre, Rex Robert Brown, numa banda de…Jazz. Embora não tenha a informação certa de quando isto aconteceu, certo que é que em 1981 convidaram o

SE HÁ NOMES QUE D ISPENSAM APRESENTAÇÕES ESTE É , SEM SOMBRA DE DÚV IDA , UM DELES . FORAM UMA DAS MAIORES , E , ATREVO-ME A D IZER , UMA DAS MAIS CONSENSUAIS BANDAS DE METAL DA DÉCADA DE 90 . O SEU TÉRMINO OF IC IAL DEU-SE EM 2003, MAS HOJE EM D IA A INDA CONTAM COM UMA ENORME E F I EL LEG IÃO DE FÃS . O ASSASS ÍN IO DE “D IMEBAG” DARREL CONT INUA MUITO PRESENTE NAS NOSSAS MEMÓRIAS , MAS, QUE MELHOR MANE IRA DE LHE PRESTAR A DEV IDA HOMENAGEM DO QUE RECORDAR A GRANDE OBRA QUE ELE AJUDOU A CR IAR? ESTA É UMA BREVE H ISTÓR IA SOBRE UNS MONSTROS SAGRADOS DA MÚSICA QUE , JUNTOS, SE DAVAM A CONHECER PELO NOME DE PANTERA.

Por: Ivo Broncas

PANTERA

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vocalista Terry Blaze, e formaram em Arlington no Texas os Pantego. Não, não foi uma gralha. Este foi o nome original da banda. Uma direta alusão a uma pequena cidade que dista cerca de três quilómetros da sua cidade natal. Porém, após perceberem que este era um nome extremamente infeliz, alteram-no, e aí sim. Nasceram os Pantera. Nesta fase inicial da carreira o grupo adotou um look “Glam metal” com um som a condizer. Mas palavras para quê? Basta ver a foto e mais explicações serão absolutamente desnecessárias!

Foram estes “Pantera” que lançaram os álbuns “Metal Magic” de 1983, “Projects in the Jungle” de 1984 e I Am the Night de 1985. Escusado será dizer que tiveram, felizmente, dirão todos os fãs da banda, muito pouco sucesso com estes trabalhos. Aliás, não deixa de ser interessante que, numa banda que teve graves problemas internos e um historial de abuso de bebida e drogas, a existência destes álbuns seja, embora não oficialmente, considerada quase que uma página negra na sua história. Para corroborar esta ideia temos o simples facto destes trabalhos não constarem na discografia dos Pantera no seu site oficial. Mas isso será discutido mais adiante.

Corria o ano de 1986 quando se

deu o início de uma “revolução musical” no que à música pesada diz respeito. No espaço de dois anos foram lançados álbuns épicos que ainda hoje em dia são reverenciados, nomeadamente “Master of Puppets” (Metallica), “Reign in Blood” (Slayer), “Among the Living” (Anthrax) e “Peace Sells... but Who’s Buying?” (Megadeth). Este novo e impressionante som que tanto furor estava a causar, influenciou, e de que maneira, os irmãos Abbott. Esta envolvente histórico-musical, aliada ao insucesso que estavam a ter com a sua música, terão sido, provavelmente, os fatores que levaram à decisão de dar um novo rumo aos Pantera. Desde logo concordaram que o estilo e abordagem vocal de Terry Blaze já não se encaixava no som que banda pretendia alcançar, o que resultou, inevitavelmente, no seu afastamento. Ao que consta, a busca por um novo vocalista não foi fácil. Sabe-se que David Peacock ainda assumiu o cargo durante um ano, mas não participou em nenhuma gravação oficial. Finalmente, em 1987, a demanda teve um fim. O já então carismático jovem de 19 anos natural de Nova Orleães, Philip Hansen Anselmo, conhecido na altura como “the original circus freak” aceitou um convite que, mal sabia ele, iria marcar não só a sua vida, como também a história da música “Metal”: o de ser vocalista

dos Pantera. Um ano após a integração do novo vocalista é gravado “Power Metal”, aquele que pode ser encarado como um trabalho de transição. Muito mais pesado, e mais bem-sucedido que os anteriores, embora apresentasse ainda vestígios de influências do “Glam Metal” que caracterizou a formação nos seus primórdios.

O ano de 1989 foi, ao que tudo indica, um ano determinante não só para o sucesso dos Pantera, mas também para a sua continuidade enquanto banda. Que Dave Mustaine está constantemente a alterar, por uma razão ou por outra, a formação dos seus Megadeth, já não é novidade para ninguém. O que poderá ser novidade para os fãs menos atentos é que Dimebag fez audições, e foi convidado por Dave Mustaine a fazer parte do seu projeto. Contudo, a lealdade para com o seu irmão levou-o a declinar o convite. Dave Mustaine explica numa entrevista, com o seu jeito muito peculiar, o que aconteceu: “Desde a saída do Jeff (Young) e a entrada do Marty (Friedman) só houve duas pessoas que convidei para entrarem na banda. Uma foi Jeff Watters dos Annihilator, mas ele vivia muito longe (…) outra foi Darrel Abbott. E ele provavelmente teria feito parte da banda se não tivesse já contratado Nick Menza. Darryl e eu falámos um bocado,

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e nisto ele pergunta-me: “Posso levar o meu irmão?” E eu perguntei quem era. E ele diz-me “é o meu baterista.” E respondi: Oh me#@! Acabei de contratar o Nick Menza! E a partir desse dia foi cada um para seu lado”. E continua dizendo: “Eu adorava ter tocado com o Darrel e com o Vinnie. Sem ofensa para o Nick Menza, mas acho que tomei a decisão errada.” Se me permitem aqui uma nota pessoal, sou da opinião que recusar um

trabalho nos Megadeth e continuar, no que era na altura uma banda sem sucesso e sem perspetivas de futuro, para não “abandonar” o seu irmão, diz muito sobre a personalidade de uma pessoa. Porém, e acho que posso falar por milhões de pessoas quando digo: Dave…tomaste a decisão certa! Porque com essa decisão contribuíste, mais ou menos diretamente, para a ascensão dos Pantera.Embora o conjunto Texano estivesse ativamente à procura da mudança de estilo que tanto desejavam, na realidade, o caminho certo para o fazer ainda não tinha sido encontrado. Uma grande parte foi conseguida quando Phil Anselmo assumiu as vozes, mas pura e simplesmente não era suficiente. O rumo começou a ser delineado após o lançamento de “Power Metal”. Para começar, uma mudança nas indumentárias que usavam em palco. Vinnie Paul, cansado das mesmas, numa reunião da banda terá abordado a questão da seguinte forma: “Estas roupas não tocam músicas. Nós é que tocamos. Vamos para o palco confortáveis, com jeans, t-shirts…e

ver como corre!” Outro progresso enorme teve a ver com estilo musical que pretendiam adotar dali em diante. Segundo Rex Brown na sua biografia oficial: “A música pesada em 1989 estava a passar por um processo de mudança. Dava a sensação que algures no horizonte estava a surgir um estilo de som diferente, e que em breve seria rotulado como alternativo. Jane´s Addiction, Voivod, Faith No More, Soundgarden… todos eles

lançaram discos poderosíssimos. Então, absorvemos essas influências, juntámo-las com aquilo que os Metallica tinham feito e criámos o nosso próprio som.” E assim, com um caminho bem definido, gravaram e lançaram em 1990 “Cowboys from Hell”. Podemos literalmente dizer que existiram uns Pantera antes e outros completamente diferentes depois deste trabalho. As influências do “Glam Metal” desapareceram dando lugar a um estilo mais extremo. Claramente influenciados pelo Trash Metal que surgiu em 1986, o ritmo era mais elevado, as guitarras mais complexas e pesadas, e embora Phil Anselmo ainda fizesse uso de falsetes, a sua abordagem era mais agressiva. Com este estilo que viria mais tarde a ser apelidado de “Power Groove”, ou “Groove Metal”, renasceram. Este álbum, cujo título deu origem à “alcunha”, ou se preferirem, o nome não oficial da banda, foi um marco tão importante que negligenciaram todos os trabalhos de originais anteriormente lançados. Daí a razão de não constarem na discografia no site oficial da banda. Ter um exemplar de um desses discos tem-

se revelado uma autêntica caça ao tesouro. Passados dois anos, no dia 25 de Fevereiro de 1992, a história da música pesada muda com o lançamento do segundo álbum dos “verdadeiros Pantera”: “Vulgar Display of Power”. Torna-se quase ingrato tentar descrever este que é tido como muitos como uma obra obrigatória dentro do género. Desde logo, a capa! Numa altura em que o acesso à música não era tão fácil como aquele que temos hoje em dia, e em que as capas ajudavam (e muito) a vender discos, esta cumpria perfeitamente a sua função. Como bem sabem consiste, apenas e tão só, numa fotografia a preto e branco, tirada no exato momento em alguém é atingido por um valente soco. Não só era diferente de tudo o que se via, como também provocava algum choque e suscitava curiosidade. (Deixo aqui o meu apreço pelo fã que se voluntariou para ser atingido com violência cerca de 80 vezes até terem conseguido tirar esta foto.) Para além do mais, dava ainda uma boa ideia sobre como soaria o disco: uma descarga de energia como há muito não se via. Um golpe que nos atingia sem aviso e nos abalava, mas no bom sentido claro está. Phil Anselmo substituiu os falsetes por uma forma de cantar semelhante à do Hardcore, muito mais pesada, verificando-se também uma maior entrega da sua parte. Dimebag, como guitarrista virtuoso e expressivo que era, conseguiu pegar na técnica característica de um dos seus ídolos, Eddie Van Halen, e transportá-la para o “universo Pantera”. A sua guitarra e a bateria do seu irmão Vinnie Paul eram tocadas ora quase em uníssono quando o objetivo era criar um ambiente pesado, ora complementando-se com harmonia nas seções mais melódicas. A acompanhar, e bem, todas as músicas, estava o baixo de Rex Brown. Sendo gravado numa abordagem semelhante àquela que se tem quando se grava um disco “ao vivo” (o que explica em muito as sensações transmitidas aquando da audição do mesmo), nalgumas canções apenas se ouvia uma guitarra. Nesses casos, o baixo teve um desempenho brilhante ao em manter a dinâmica das mesmas, quando os solos arrasadores de

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Dimebag entravam em cena. Os adjetivos “cru” e “agressivo” são habitualmente designados para descrever, a que será para mim, a obra-prima dos Pantera. Embora sejam adjetivos mais que adequados, a sua utilização poderá dar uma primeira impressão de que foi um álbum menos trabalhado. Contudo tenho uma opinião contrária. Acredito que o som que apresentaram foi pensado, trabalhado, e amadurecido ao longo dos anos. Este planeamento aliado ao facto de ter sido interpretado por excelentes executantes tornou este álbum imortal. E foi com este longo trabalho, cujo nome foi inspirado numa cena do filme “O Exorcista”, que os Pantera se tornaram numa das bandas mais populares e influentes do género. Músicas como “Walk”, “Fucking Hostile”, “Mouth for war”, entre outras, ficarão para sempre nos anais da história.

Impulsionado pelo sucesso do álbum anterior, os Pantera conseguiram vendas record quando “Far Beyond Driven” chegou às lojas em 1994. Numa fase em que o Metal mainstream estava a efetuar uma longa e entediante travessia no deserto, este disco foi um autêntico oásis para os fãs do estilo. A banda presenteou o público com canções que, embora tivessem um ritmo menos frenético daquelas incluídas em “Vulgar Display of Power”, eram mais pesadas, em parte devido à escolha de Dimebag em mudar a afinação da sua guitarra. O single “5 minutes alone” tornou-se num êxito e teve “honras” de passar frequentemente na MTV. Para além desta canção, destacaria talvez, e por motivos bem diferentes, “Planet Caravan”, uma cover dos Black Sabbath, e “Good friends and a bottle of pills” pela letra polémica. Pareciam assim estar reunidas todas as condições para os Pantera continuarem a sua ascensão meteórica. Contudo, em 1995, quando voltaram a entrar em tournée, os problemas começaram a surgir.

Segundo os irmãos Abbott, Phil Anselmo começou a comportar-se de forma estranha e distanciar-se do resto da banda, aquando do regresso da mesma à estrada para

a promoção do seu último trabalho. Este comportamento deveu-se, direta e indiretamente, a uma lesão contraída pelo mesmo. O seu incrível desempenho em palco teve um preço. O intenso “headbanging” que executava levou à destruição da cartilagem existente entre duas vértebras cervicais. Osso raspava com osso. Vértebra com vértebra. E quantos mais concertos davam, mais se agravava a lesão. Relativamente ao que sentia nessa fase, Phil Anselmo disse mais tarde numa entrevista: “Estar em tournée era para mim um misto de emoções. A dor era muito intensa, mas a motivação estava lá. Os momentos em que estava em palco apreciava-os bastante. Mas nesta fase bebia todas as noites uma garrafa inteira

de Whiskey para adormecer a dor. Estava a começar lentamente a enlouquecer, e isso deveu-se ou ao abuso de comprimidos, ou de álcool, ou do desgaste mental que é viver com dor crónica, ou de todos estes factores conjugados.” Segundo o mesmo, ainda foi considerada uma operação, mas, devido à sua complexidade e tempo de recuperação que exigia, excluiu-a quase imediatamente. Daí à decisão de usar heroína como analgésico foi um pequeno passo.

O acumular de tensões na banda era agora inevitável. Vinnie Paul abordou anos mais tarde a questão: “O Phil começou-se a isolar. Tinha o seu próprio autocarro e chegou a um ponto em que só nos víamos vinte a trinta minutos antes dos concertos. Nunca sabíamos se iria estar de bom ou mau humor. Só esperávamos que ele estivesse sóbrio o suficiente para conseguir aguentar o concerto até ao fim.” Este distanciamento nunca foi ultrapassado, e os conflitos internos apenas se foram intensificando. Como tal, decidiram levar a cabo as sessões de gravação do álbum “The Great Southern Tendkill” em locais diferentes. Phil Anselmo refugiou-se na sua terra natal de Nova Orleães, utilizando o estúdio de Trent Raznor

(Nine inch nails), enquanto o resto da banda trabalhou em Dallas. O que é considerado por muitos como o álbum menos marcante da nova fase dos Pantera, teve, como não podia deixar de ser, uma sonoridade mais sombria com muita referência ao abuso de substâncias ilícitas, como se pode observar nas faixas “Suicide Note Pt. I”, “Suicide Note Pt. II” e “Living Through Me (Hell’s Wrath)”. Foi lançado a 7 de Maio de 1996. A 13 de Julho desse mesmo ano, Phil Anselmo sofreu

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uma overdose de heroína.

“Eu, Philip H. Anselmo, imediatamente após um concerto muito bem conseguido em Dallas, injetei no meu braço uma dose letal de heroína, e estive morto durante quatro ou cinco minutos. Não ouvi música, não vi luzes bonitas, nada. (….) Apenas me lembro de acordar na ambulância. A partir daquele momento percebi que a única coisa que pretendia era voltar ao autocarro e continuar a tournée. (…) Sabem, eu não sou um viciado em heroína, mas sou um viciado em drogas endovenosas. E a lição que aprendi foi que todas as coisas horríveis que ouviram acerca deste vício são absolutamente verdade. (…) Desde então recuperei completamente e pretendo continuar assim. O meu especial agradecimento aos meus amigos e família que me apoiaram, e aos fãs que me deram ânimo. (…) Eu não morrerei tão facilmente! Ainda vou chatear a indústria musical durante muito mais tempo. Sinceramente: Philip H. Anselmo” Foi desta a declaração feita pelo mesmo algum tempo após este incidente.

Este quase trágico acontecimento parece ter atenuado alguns dos problemas que tinham vindo a corroer as relações entre Phil Anselmo e os irmãos Dimebag e Vinnie. Para corroborar esta análise está o facto de terem voltados todos ao estúdio em 1999, para juntos gravarem o que viria a ser o seu último álbum de originais “Reinventing the Steel”, cujo lançamento se deu em Março de 2000.

Após os eventos de 11 de Setembro de 2001, Phil Anselmo manifestou aos restantes elementos a necessidade de tirar um ano sabático. Porém, os sucessivos lançamentos de álbuns e tournées consecutivas com os seus projetos alternativos Down e Superjoint Ritual pareciam contradizer as suas intenções. Esta aparente dualidade de critérios frustrou Dimebag Darrel e Vinnie Paul. O que seguiu foi uma série de mal entendidos, troca de acusações, declarações e desmentidos que levaram ao término dos Pantera. O carismático vocalista afirma que a separação foi de mútuo acordo.

Os irmãos por sua vez, nunca o interpretaram assim, e afirmaram que tentaram retomar o contacto com Phil Anselmo por diversas ocasiões. Este diz que tal facto não é verídico, e por aí em diante. No meio deste turbilhão estava Rex Brown que mais tarde confessou: “(…) foi tudo uma discussão sem sentido na qual eu não queria estar envolvido.” Finalmente, o inevitável aconteceu. Em 2003, os mesmos elementos que estiveram na origem da formação da banda, quando perceberam que o seu vocalista não teria intenções de se voltar a reunir com eles, anunciaram formalmente a sua dissolução. Todas estas emoções ainda bem à flor da pele deram origem a uma autêntica guerra de palavras via imprensa musical, tão intensa quanto a música que criaram.

Naturalmente, nesta fase, as hipóteses de reconciliação eram mínimas. Assim sendo, pouco restava aos agora ex-membros do conjunto texano senão encarar uma carreira além Pantera, e assim aconteceu. Phil Anselmo dedicou-se exclusivamente aos que eram até 2001 os seus projetos alternativos, contando com Rex Brown como baixista principal dos Down. Quanto aos irmãos Abbott, formaram a sua própria banda, os Damage plan, que no seu álbum puderam contar com as participações de peso como as de Corey Taylor, Jerry Cantrell e inigualável Zakk Wylde. Contudo, a quezília entre Phil Anselmo e os seus antigos companheiros de banda (à exceção Rex Brown) não esmoreceu, muito pelo contrário. O expoente máximo destas hostilidades teve lugar quando o agora ex-vocalista dos Pantera proferiu uma declaração que se veio a revelar histórica, mas pelos piores motivos: “Dimebag merece ser espancado violentamente.” Mais uma vez uma chuva de afirmações e contradições sobre este caso em concreto inundaram as notícias, e agarram os fãs às notícias, sites e revistas da especialidade.

Mas tudo isto passou para segundo ou mesmo terceiro plano após o dia 8 de Dezembro de 2004.Nessa fatídica data, um individuo perturbado, cujo nome a meu ver não merece ser mencionado,

atingiu fatalmente em Columbus, no estado de Ohio, Dimebag Darrel quando este estava em palco. Ao expressivo e talentoso guitarrista, que durante tantos anos nos tinha encantado com as suas criações e desempenhos ao vivo, foi-lhe arrancada a vida de uma forma cruel e sem razão aparente. Faleceu no local onde sempre brilhou: no palco. Escusado será dizer que este ato vil e cobarde chocou todos os apaixonados por música. Fãs e profissionais entraram em luto, houve uma onda de consternação, tristeza e solidariedade, que se propagou desde o Rock mais comercial ao mais extremo. O eterno líder dos Kiss, Gene Simmons, tornou realidade um desejo antigo de Dimebag: ser enterrado num dos famosos caixões dos Kiss. Tratava-se de um item raro, mas a mega estrela doou o único exemplar que possuía à família Abbott. Eddie Van Halen doou também um precioso objeto seu: a sua tão querida guitarra “Bumblebee”, a original de 1979. Foi com esta guitarra, símbolo da sua paixão pela música e da admiração para com um ídolo seu, que foi sepultado Darell Lance Abbott.Os fãs perderam um ídolo, a família perdeu um membro amado, muitos perderam um amigo… a história da música ganhou uma lenda. Mas quão injusto é ter-se ganho uma lenda desta forma? Numa altura em que se fala de uma vontade de elementos da banda em se reunirem, e, juntamente com Zakk Wylde, prestarem homenagem a Dimebag, surgem também declarações de Vinnie Paul que isso nunca vai acontecer.Mas no fim de contas, quem é que vai estar agora a analisar declarações e alimentar mais polémicas? Os verdadeiros seguidores dos Pantera não serão certamente. Dimebag já não está entre nós, mas a sua obra perdura, é brilhante, e irá ser perpetuada pelos fãs. Porém, o seu maior feito foi conseguir que, onde quer que se oiça um riff criado por si, os apreciadores do género irão sempre esboçar um sorriso, como que rendidos à sua genialidade.

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É A SEGUNDA VEZ QUE VOS ENTREV ISTO. A PR IME IRA FO I FE ITA AQUANDO DO LANÇAMENTO DE «ANS IA» , EM 2013. E TAMBÉM É A SEGUNDA VEZ QUE F ICO MUITO BEM IMPRESS IONADA COM A VOSSA MÚSICA .

STAT IC : Fico muito contente por podermos “falar” novamente sobre a nossa música. Obrigado pelos elogios feitos a Mord’A’Stigmata. É sempre um prazer descobrir que as pessoas se interessam pelo nosso som.

COMO FO I RECEB IDO O ÁLBUM ANTER IOR? F I ZERAM MUITOS CONCERTOS PARA O PROMOVER?

STAT IC : A reação a «Ansia» foi ótima, muito acima das nossas expetativas. Durante o processo de composição, apercebemo-nos de que tínhamos criado algo especial, mas a nossa experiência relacionada com os dois álbuns anteriores fez-nos compreender que provavelmente teríamos apenas um pequeno grupo de fãs. Para nossa grande surpresa, «Ansia» acabou por ser o nosso lançamento mais popular e elevou a banda a um nível bem superior ao previsto inicialmente. E, de facto, fizemos muitos concertos em 2014 para promover o nosso terceiro álbum.

E ONDE FORAM ESSES CONCERTOS?

STAT IC : Fizemos duas digressões na Polónia e, da segunda vez, no outono de 2014, tocámos com Beemoth. Foi realmente um evento grandioso. Também fizemos concertos isolados e participámos em festivais no Reino Unido, na Irlanda, na Lituânia e na Eslováquia.

O VOSSO METAL É MUITO POL IDO (DE UMA FORMA S IMULTANEAMENTE BELA E EXPRESS IVA) , SEM PERDER O SEU PESO. SERÁ QUE ESSAS CARACTER ÍST ICAS NÃO L IMITAM UM TANTO OS LOCA IS ONDE PODEM TOCAR? PARECE -VOS QUE A VOSSA MÚSICA É ADEQUADA PARA FEST IVA IS

E IS DUAS IDE IAS QUE , APESAR DE ANTAGÓNICAS (PELO MENOS À PR IME IRA V ISTA) COSTUMAM ANDAR DE MÃOS DADAS. QUE O DIGA STATIC, O MENTOR DOS POLACOS MORD’A’STIGMATA, QUE ACEITOU – PELA SEGUNDA VEZ – SER ENTREVISTADO PARA A VERSUS MAGAZINE – AGORA A PROPÓSITO DE «OUR HEARTS SLOW DOWN».

Por: CSAPhotos: Rafal Kotylak

MORD’A’STIGMATAMORTE E ETERNIDADE

E N T R E V I S T A

“O QUE NOS INTERESSA MAIS NA MÚSICA É PODER EXPR IMIR SENT IMENTOS. NÃO NOS PREOCUPÁMOS COM GÉNEROS, FRONTE IRAS OU AS EXPETAT IVAS DO PÚBL ICO .”

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“[SOMOS] AN IMADOS PELA F IRMA CRENÇA NA IDE IA DE QUE AS PESSOAS DE MENTE ABERTA VÃO SER CAPAZES DE NOS ACOMPANHAR NA NOSSA JORNADA MUSICAL .”

COM MUITA GENTE?

STAT IC : O que nos interessa mais na música é poder exprimir sentimentos. Não nos preocupámos com géneros, fronteiras ou as expetativas do público. Durante o processo de composição, focamo-nos no som e nos sentimentos que exprime animados pela firma crença na ideia de que as pessoas de mente aberta vão ser capazes de nos acompanhar na nossa jornada musical. Sem grandes planos prévios, sem previsões. Os sons “vêm ter connosco”, limitamo-nos a esperar pelo momento adequado para os gravarmos. É claro que começámos por ser uma banda de Black Metal e isso estará sempre presente na nossa música, mas, nos nossos álbuns, sentem-se as influências que nos chegam, quando fechámos os nossos olhos e abrimos os nossos corações. É uma espécie de ritual, em que a nossa essência se dissolve. Em cada concerto que fazemos, tentamos atingir esse estado. Se isso acontecer, o lugar onde estamos e as pessoas que lá se encontram não fazem diferença para nós. Portanto, achamos que a nossa música também é adequada para grandes festivais: desde que o público queira imergir connosco nesse ritual, ambas as partes ficarão satisfeitas.

ESTE NOVO ÁLBUM PARECE -ME MENOS BLACK METAL , MAIS PROGRESS IVO DO QUE O ANTER IOR . PODES COMENTAR ESTA IDE IA?

STAT IC : Na minha opinião, é mais regressivo, isto é, contém em si mais sentimentos primitivos. Contudo, repito: os géneros não nos preocupam há muito tempo, logo uma discussão desta natureza no que toca à música de Mord’A’Stigamata não faz sentido.

APESAR DESSAS CARACTER ÍST ICAS, ESTE ÁLBUM INSP IRA A INDA MAIS ANS IEDADE DO QUE «ANS IA» . MAS É UM SENT IMENTO AGRADÁVEL . ASSEMELHA-SE A UMA ESPÉC IE DE TR ISTEZA POÉT ICA , DE MELANCOL IA . PARECE -VOS QUE ESTA DESCR IÇÃO ASSENTA BEM À VOSSA MÚSICA?

STAT IC : Sim. De facto, de um

modo geral, a nossa música é melancólica, desde «Ansia». Mas não foi planeado, aconteceu. Se tivesse de escolher três palavras para descrever a nossa música da forma mais simples possível, usaria: escuridão, melancolia e perdição.

AOS MEUS OUV IDOS, A MÚSICA DESTE ÁLBUM APRESENTA UMA ESPÉC IE DE D IÁLOGOS ENTRE A BATER IA E OS OUTROS INSTRUMENTOS (POR EXEMPLO, NA PR IME IRA FA IXA) . CONCORDAS?

STAT IC : O nosso estilo de composição baseia-se no diálogo e pressupõe a interação entre todos os músicos da banda. Não há barreiras entre a bateria e nenhum dos outros instrumentos. Dispomo-nos num círculo fechado e inspiramo-nos uns aos outros. Os momentos em que um dos instrumentos toma a dianteira expressam as nossas personalidades, a nossa forma individual de abordar a criação.

QUE EFE ITO PRETEND IAM OBTER?

STAT IC : Nada que tenha sido previamente planeado. Fizemos o nosso melhor, entrámos na sala de ensaios e deixámos os nossos espíritos fluir.

AS GU ITARRAS ESTÃO MUITO PRESENTES NESTE ÁLBUM, MAS SEMPRE MUITO BEM ENTRETEC IDAS COM OS OUTROS INSTRUMENTOS, INCLU INDO A VOZ (POR EXEMPLO, NA SEGUNDA FA IXA) . O QUE EX IGE ISTO DOS MEMBROS DA BANDA?

STAT IC : É a nossa forma natural de nos exprimirmos. Conhecemo-nos todos muito bem, portanto a nossa música flui naturalmente. Como já referi, é uma espécie de diálogo.

NÃO SERÁ QUE A BANDA SE ESTÁ A TORNAR CADA VEZ MAIS INSTRUMENTAL?

STAT IC : Acho que sim. Desde «Ansia» que começámos a exprimir-nos mais com recurso ao som do que às palavras. Isso não determina o nosso futuro, mas, de momento, a música de Mord’A’Stigmata é mais instrumental do que lírica.

PART ILHAM AS TAREFAS OU HÁ

ALGUÉM NA BANDA ESPEC IALMENTE RESPONSÁVEL PELA COMPOSIÇÃO DA MÚSICA E /OU PELA ESCR ITA DAS LETRAS?

STAT IC : Eu sou o responsável pelas letras, à exceção das de «Ansia», que foram escritas pelo nosso antigo vocalista: Voxmord. No que diz respeito à música, trabalhamos em conjunto. Frequentemente, eu trago esboços para a sala de ensaios, mas fazemos os arranjos em conjunto. Além disso, improvisamos em muitas partes, logo o efeito final resulta mesmo da nossa colaboração.

NA OUTRA ENTREV ISTA, D ISSESTE QUE «ANS IA» SE T INHA INSP IRADO MUITO EM EXPER IÊNC IA QUE T INHAS V IV IDO . ONDE ENCONTRARAM O CONCE ITO SUBJACENTE A «OUR HEARTS SLOW DOWN»? E O QUE S IGN IF ICA A IMPRESS IONANTE CAPA DO ÁLBUM? POR QUE É QUE AQUELA MULHER PARECE DEF INHAR A CADA FOTO? E QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE ESSAS FOTOS E O TEMA DO ÁLBUM?

STAT IC : Em «Our Heart Slow Down», também me inspirei na minha vida. Mas este álbum é menos pessoal que «Ansia». No álbum anterior, senti-me como se estivesse a mostrar as minhas entranhas ao mundo. Quando começámos a trabalhar em «Our Hearts Slow Down», precisei de me envolver menos, logo o álbum é menos íntimo, menos pessoal que o anterior. De qualquer modo, para o criar, foi preciso muito trabalho e dedicação. O título deste mini álbum chama a atenção para o facto de que o nosso corpo é mortal. Desde 2013, fomos afetados pela morte de algumas pessoas próximas. Essas experiências fizeram-nos reconhecer que, mais tarde ou mais cedo, seremos separados de todos os que amamos. E mesmo que essa separação não seja permanente (algo em que eu acredito piamente), é muito difícil enfrentar essa tomada de consciência. Na capa do álbum, podes ver uma mulher que sofre de anorexia. As sucessivas fotos documentam a sua lenta degradação. E, à medida que esta se ia concretizando, o seu coração também ia batendo de forma cada vez mais lenta.

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“NA MINHA OP IN IÃO , [ ESTE ÁLBUM] É MAIS REGRESS IVO , ISTO É , CONTÉM EM S I MAIS SENT IMENTOS PR IMIT IVOS.”

CONVIDARAM NOVAMENTE MARCIN GADOMSKI PARA FAZER A CAPA DESTE ÁLBUM?

STAT IC : Sim. Ele fez tudo neste álbum, tal como em «Ansia». Consideramos que o seu estilo se adapta perfeitamente ao nosso projeto musical.

PODES D IZER ALGUMAS PALAVRAS QUE FAÇAM COM QUE ALGUM ORGANIZADOR DE CONCERTOS EM PORTUGAL S INTA UMA VONTADE INABALÁVEL DE VOS CONVIDAR PARA V IREM V IS ITAR O NOSSO BELO PA ÍS?

STAT IC : Seria uma grande honra para nós sermos convidados para tocar no vosso país. Se quiserem saber mais alguma coisa sobre a banda, estejam à vontade para nos enviar as vossas perguntas através

do endereço [email protected] ou da nossa página no Facebook. Deixo-vos a minha bênção.

HTTP: / / FACEBOOK.COM/MORDAST IGMATA

HTTPS: / /YOUTU.BE /LJFP3EE2H5S

HTTPS: / /YOUTU.BE /OYWHMU-TTGS

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NO MOMENTO EM QUE FAZEMOS ESTA ENTREV ISTA PASSOU UMA SEMANA SOBRE O CONCERTO DOS SERRABULHO EM V IGO , NO SACHAZO GR INDFEST I I . PUSERAM NUESTROS HERMANOS A CHORAR POR MAIS OU F I ZERAM-NOS IR PARA CASA A CHORAR MAS COM DORES NOS OUV IDOS? PAULO: Viva dico, eu acho que até os pusemos com dores de barriga! Também, depois de terem comido o arroz de “favas espanhol” não

era difícil, [risos] mas sem dúvida que ficaram a chorar por mais, tanto que, nessa mesma noite, tivemos outro convite para tocar em espanha, numa zona onde nunca atuámos. Desde o início da banda que somos muito bem recebidos pelos espanhóis.GUILHERMINO: a cena extrema na galiza é muito forte e, felizmente, já temos um following considerável por lá. Depois de três concertos em vigo e dois em ourense é natural que serrabulho seja já um

nome consolidado. Os nossos amigos galegos sabem com o que contar. Diria que, além de nos brindarem – também eles – com fardas e disfarces nos concertos, acabam por aderir à festa com a mesma intensidade que o público português – afinal não há assim tantas diferenças entre ambos.

GUILHERMINO, APÓS ESTA ENTRADA DESCONTRA ÍDA NA ENTREV ISTA TENHO DE DAR-TE OS MAIS S INCEROS PARABÉNS PELA MAGNÍF ICA

BR INCALHÕES, SAUDAVELMENTE LOUCOS, EXCELENTES MÚSICOS E COMPOSITORES IRREVERENTES . FALAMOS DO QUARTETO DE V I LA REAL SERRABULHO, UMA ESPÉC IE DE ALL -STAR BAND QUE INTEGRA NAS SUAS F I LE IRAS EX-MÚSICOS DE FORMAÇÕES COMO THANATOSCHIXO , STUPRUM DE I OU HOLOCAUSTO CANIBAL . APÓS UM ACLAMADO ÁLBUM DE ESTRE IA , “ASS TROUBLES” , A BANDA NÃO PERDEU TEMPO E , ENTRE UMA ATAREFADA AGENDA DE CONCERTOS, DE ITOU MÃOS Á OBRA PARA DAR FORMA AO NOVO ÁLBUM, “STAR WHORES” . NUMA AN IMADA E ALGO LOUCA ENTREV ISTA O GU ITARR ISTA PAULO VENTURA E O BA IX ISTA GU ILHERMINO MART INS ELUC IDARAM-NOS SOBRE O D ISCO, OS FÃS ESPANHÓIS , O METAL PORTUGUÊS E OUTRAS CO ISAS MAIS .

Por: dico

SERRABULHOA BRINCAR SE FAZEM COISAS SÉRIAS

E N T R E V I S T A

“A CENA EXTREMA NA GAL IZA É MUITO FORTE E , FEL I ZMENTE , JÁ TEMOS UM FOLLOWING CONSIDERÁVEL POR LÁ .”

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“ACHO QUE FALO POR TODOS, MAS O “STAR WHORES” É O D ISCO QUE AMBIC IONÁVAMOS CR IAR! “

PRODUÇÃO DE “STAR WHORES” . É O P INÁCULO DE TANTOS ANOS DE TRABALHO DE ELEVADA QUAL IDADE QUE TENS DESENVOLV IDO NOS BL IND & LOST. F ICASTE SAT ISFE ITO COM O RESULTADO OBT IDO?

GUILHERMINO: Muito obrigado, dico! Fiquei eu, enquanto produtor, e ficámos nós, enquanto banda. Foi o trabalho coletivo – várias horas de pré-produção, que se iniciou bem cedo (estava o “ass troubles” nos escaparates há poucas semanas), os numerosos ensaios e a concentração total da banda que possibilitaram este som tão

sólido. Enquanto produtor, o meu lema é que cada disco deve soar melhor do que o anterior. Ouvindo os dois cds de serrabulho constato precisamente isso e não posso estar mais satisfeito.

EM TERMOS DE COMPOSIÇÃO, E JÁ COM ALGUM D ISTANCIAMENTO, NA MED IDA EM QUE O ÁLBUM SE ENCONTRA D ISPONÍVEL DESDE JULHO, É JUSTO D IZER QUE F I ZERAM O D ISCO QUE PRETEND IAM OU MUDARIAM ALGUMA CO ISA?

PAULO: Acho que falo por todos, mas o “star whores” é o disco que

ambicionávamos criar! O álbum expressa na totalidade os objetivos e as ideias com que partimos para a sua composição. Este facto torna-se ainda mais relevante se tivermos em atenção que todos trabalhámos nesse sentido. Essa química entre nós é bem audível no cd.

NA VOSSA MÚSICA , A INCORPORAÇÃO DE INSTRUMENTOS E OUTROS ELEMENTOS SONOROS ESTRANHOS AO METAL CONFERE AOS TEMAS UMA AMBIÊNC IA MUITO PRÓPR IA . AL IÁS , É ALGO QUE FAZ PARTE DO ADN DOS SERRABULHO. JÁ VOS ACONTECEU COMPOR UM TEMA A PART IR DA IDE IA PARA UM SAMPLE? OU PROCURAM OS SONS ADEQUADOS PARA CADA S ITUAÇÃO APENAS NO ESTÚD IO?

PAULO: Eu diria que já demos início à composição de temas por causa de um simples peido [gargalhada geral]. Noutro caso, foi a partir da estúpida situação de um pé pisado. Eu diria que o adn dos serrabulho é hibrido - temos o lado divertido, irónico e um pouco infantil em algumas passagens, mas ao mesmo oferecemos ao público o contraste de seriedade e profissionalismo com que encaramos a música! A ligação entre os riffs, os pormenores no baixo, a bateria, as vozes e os coros, tudo isto foi pensado ao longo dos treze temas! Isto não se resume a músicas e que tenham de soar a barulho, sujidade e rapidez. Há a preocupação de criar harmonia entre os vários aspetos em apreço, para agarrar quem ouve, independentemente de ser em casa ou num concerto. Depois, para unirmos toda esta galáxia, incorporamos elementos que não são, de todo, esperados num álbum deste género. Muitos deles não foram pensados inicialmente, mas à medida que o álbum ia sendo composto surgiam mais ideias. Tal também se deve à identidade dos serrabulho, daí a inclusão de um bandolim, tocado pelo nosso amigo sérgio pascoa (shoryuken, xxxapada na tromba), dos coros de duas crianças ou do acordeão, no “ass troubles”. De futuro, outros elementos menos óbvios serão usados, preparem-se! [risos]

A QUESTÃO ANTER IOR REMETE D IRETAMENTE PARA A FORMA COMO

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“JÁ PENSE I FAZER UM TEMA SÓ COM ESP IRROS E ARROTOS, AO MESMO TEMPO, COM O BR ITAR DE NOZES E UM PE IDO MONUMENTAL EM FUNDO! MAS O CARLOS A INDA NÃO CONSEGUE COMER MAIS DO QUE 1KG DE FE IJÃO.”

DECORRE O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO. BASE IAM-SE NUM MÉTODO ESTABELEC IDO , EM QUE SURGE PR IME IRO A LETRA E SÓ DEPO IS A MÚSICA OU V ICE -VERSA; OU , PELO CONTRÁR IO , DE IXAM-SE LEVAR PELA INSP IRAÇÃO?

PAULO: Quando crio os riffs de guitarra já tenho algumas ideias acerca das vozes ou dos sons a usar numa determinada passagem e transmito isso ao resto da malta. O carlos [guerra, vocalista] também apresenta as suas ideias, nomeadamente através de letras para as quais, muitas vezes, imaginamos uma melodia! Em conjunto, o gui [guilhermino martins] e o ivan [saraiva, bateria] tratam da percussão, com o groove da bateria e a ambiência folclórica do baixo. A partir daí, todos enriquecemos o conceito inicial. Mas já houve momentos em que um tema foi “desmontado”, para incluir novas partes ou até trocar a ordem dos riffs. Tudo isto para que a composição final represente a união de (praticamente) todas as ideias.

JÁ PENSARAM FAZER UM TEMA SÓ COM ARROTOS, COMO OS CHRONICAL D IARRHOEA F I ZERAM EM «ATTACK OF THE BLURR DEMONS»( H T T P S : / / W W W . Y O U T U B E . C O M /WATCH?V=LFXUMFLTEG8)? OU TALVEZ FAZÊ -LO COM PE IDOS?

GUILHERMINO: O igorrr ou até os ninja kore seriam os projectos

ideais para concretizar essas ideias, a partir, por exemplo, do tema «peidinho ron ron», do “star whores”, que tem, lá está, diversos samples dessa, digamos…natureza [risos]. Não conhecia esse tema dos chronical diarrhoea! Não há limites para a imaginação, de facto.PAULO: Já pensei fazer um tema só com espirros e arrotos, ao mesmo tempo, com o britar de nozes e um peido monumental em fundo! [risos] mas o carlos ainda não consegue comer mais do que 1kg de feijão. Vamos ter de aguardar! [risos]

ESTE ÁLBUM APRESENTA A CHANCELA DA ALEMÃ ROTTEN ROLL REX (RRR) . QUAL DAS PARTES FO I SUF IC I ENTEMENTE LOUCA PARA TOMAR A IN IC IAT IVA DE ENTRAR EM CONTACTO COM A OUTRA?

GU ILHERMINO: A rrr já fizera a distribuição do “ass troubles”. Ao manifestar interesse pelo que estávamos a fazer e, consequentemente, dar o seu apoio, a editora abriu a porta a futuras colaborações. O marco [kunz], dono da rrr, gabava persistentemente a nossa audácia, pelo que se tornou óbvio com que editora deveríamos trabalhar.

PAULO: Eu acho que as duas! Mas nós, sem dúvida, fomos a parte mais tresloucada! Logo no início da banda (comigo e o carlos) falámos com o marco sobre serrabulho, num festival alemão! Quem é que faz isso? Falar com alguém de uma editora bem cotada, tanto a nível

de lançamentos como dos nomes constantes do roster, quando ainda só tínhamos meia-dúzia de ensaios? Só mesmo dois malucos dos serrabulho [risos]. Ficou logo ali - julgo eu - a porta aberta para uma futura colaboração. E esse dia chegou depressa!

FALEM-ME DA ESTRATÉG IA ESTABELEC IDA COM A ED ITORA RELAT IVAMENTE À D ISTR IBU IÇÃO DO ÁLBUM E A EVENTUA IS L ICENC IAMENTOS. ESTA PARCER IA TEM SUBJACENTE UMA TENTAT IVA DE A BANDA CONQUISTAR UMA MAIOR FAT IA DE MERCADO NO TERR ITÓR IO EUROPEU E , QUEM SABE , PARA LÁ DELE?

GUILHERMINO: Os tentáculos da editora são gigantescos e têm conseguido fazer chegar o álbum aos quatro cantos do mundo. Constatamos cada vez mais o interesse e o apoio continuado dos fãs em locais tão distantes como as filipinas ou o chile. Era esse o principal objetivo que tínhamos em vista com este disco. Não que o trabalho anterior da vomit your shirt fosse mau – bem pelo contrário, só temos coisas boas a dizer do micael olímpio! – mas, inevitavelmente, a rotten roll rex tem mais peso no mercado, ao ponto de nos conseguir, por exemplo, imensas análises ao disco na imprensa especializada internacional.

O ÁLBUM TEM S IDO TOCADO AO V IVO COM FREQUÊNC IA E NOVOS CONCERTOS SE AV IZ INHAM. QUEREM FALAR MAIS EM DETALHE ACERCA DA VOSSA AGENDA AO V IVO A CURTO PRAZO?

GUILHERMINO: Já levamos cerca de 30 espetáculos de promoção do disco e temos à volta de 20 datas prestes a ser reveladas para 2016. Há imensas surpresas a esse respeito, mas por ora não podemos abrir o jogo. É uma ótima sensação perceber que o following da banda continua, permanentemente, a crescer e que as solicitações dos promotores – dentro e fora do país – não cessam.

NO QUE RESPE ITA AO ESPETÁCULO V ISUAL PODEMOS ESPERAR CONCERTOS T ÍP ICOS DA BANDA OU

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“OS TENTÁCULOS DA ED ITORA SÃO G IGANTESCOS E TÊM CONSEGU IDO FAZER CHEGAR O ÁLBUM AOS QUATRO CANTOS DO MUNDO.”

AQU ILO QUE NOS ESPERA É A INDA MAIS SURPREENDENTE?

PAULO: Eu diria que é um pouco dos dois, dico. Nós estamos sempre a tentar surpreender! O próprio público aguarda isso de nós! Isso permite-nos aumentar (ainda mais) o nível de insanidade, para conseguirmos criar esses elementos que, visualmente, animam um espetáculo. Dou-te o exemplo de uma pinhata, ou de uma máquina de fazer bolas de sabão, sem esquecer a vez em que fizemos pipocas em cima do palco [risos]

HISTOR ICAMENTE , OS FÃS E MÚSICOS DE METAL LEVAM-SE DEMASIADO A SÉR IO . APESAR DE PORTUGAL TER ALGUMA TRAD IÇÃO EM JOKE BANDS, NO MELHOR SENT IDO DA PALAVRA (COMME RESTUS, QU INTETO EXPLOS IVO OU KALASHNIKOW) , OS SERRABULHO V IERAM AG ITAR A INDA MAIS AS ÁGUAS. VOCÊS V IERAM TAMBÉM REFORÇAR A IDE IA DE QUE SE PODE FAZER MÚSICA EXTREMA COM PENDOR HUMORÍST ICO MAS S IMULTANEAMENTE DE FORMA PROF ISS IONAL . NA TUA OP IN IÃO É NECESSÁR IO DESDRAMATIZAR UM POUCO E PROPORCIONAR AOS FÃS BOAS GARGALHADAS COMO ANT ÍDOTO PARA A DURA REAL IDADE QUE NOS ENVOLVE?

GU ILHERMINO: Quando entrei na banda já o comboio ia em andamento – estava a gravação do “ass troubles” a decorrer –, mas cedo percebi que, para os restantes três elementos, era tão importante a diversão como o valor musical dos temas. Com isso em mente, é natural que haja, de facto, uma atenção extra no que à qualidade de som diz respeito. Ao início, nos primeiros concertos, cheguei a ouvir comentários em alguns testes de som, do género “é grind, não é necessária uma grande preocupação com isso!”. Mas, hoje em dia, já me parece que a mensagem passou.Em relação à desdramatização do non-sense ou humor na música, é claro que vão haver sempre pessoas a achar que “com o rock não se brinca”, mas na nossa ideia – que é, simultaneamente, a da cada vez maior base de apoio

desta banda – há espaço para a diversidade. Poder-te-ia dar uma série de nomes que sempre fizeram parte da minha dieta musical e que, mantendo a qualidade, sempre souberam aliar com mestria comédia e música extrema.

EM 2014, NO S IDE B , A BANDA FO I V ÍT IMA DE ATOS DE VANDAL ISMO POR UM ELEMENTO DO PÚBL ICO QUE VOS PROVOCOU PREJU ÍZOS NA ORDEM DOS 200 EUROS. APESAR DE HOJE EM D IA O COMPORTAMENTO DO PÚBL ICO SER INCOMPARAVELMENTE MAIS C IV I L I ZADO DO QUE NOS ANOS 80 E 90 ACHAS QUE A INDA EX ISTE ALGO POR FAZER EM TERMOS DE SENS IB IL I ZAÇÃO DAS PESSOAS NO QUE RESPE ITA À FORMA DE ESTAR NOS CONCERTOS OU FO I UMA S ITUAÇÃO PONTUAL?

PAULO: Infelizmente, isso aconteceu e acabou por ser uma surpresa, pela negativa. Já tivemos muitas pessoas a subir ao palco – num estado normal ou “bem-disposto” [risos] e nunca tinha ocorrido uma situação do género. Esse acontecimento foi o colmatar do desespero de uma pessoa com a perda de um bem e a frustração de não estar a ser compreendido, no momento em que decidiu falar para o público, apelando à devolução dos seus óculos [risos]. Mas foi algo pontual. Não quero, nem queremos pensar que se vai repetir! E a prova disso é que, depois dessa noite no side b, já demos mais 30 e tal concertos, sempre sem problemas.

QUE PONTO DA S ITUAÇÃO FAZES DO CENÁR IO METÁL ICO ATUAL NA TUA REG IÃO , POR UM LADO; E A N ÍVEL DO PA ÍS , POR OUTRO?

GUILHERMINO: Acho que, a nível nacional, têm aparecido excelentes grupos. Destaco, por exemplo, os analepsy, que deveriam ser um case-study para qualquer banda aspirante a deixar a sua marca na cena. O facto de existirem cada vez mais salas com condições decentes para concertos também permite que o nível qualitativo cresça em termos gerais. Mas obviamente que, num país ideal, esse número de clubes tivesse de ser exponencialmente maior.Em trás-os-montes há igualmente

muita coisa a acontecer. Bandas como consequence, venial sin, hug a fly ou padariagang também têm dado cartas. Há algumas salas para os grupos se apresentarem e sinto que, por esta altura, os músicos já perceberam que o caminho para singrar passa apenas por arregaçarem as mangas e fazerem-se à estrada. E se, por um lado, estamos a três horas de distância de lisboa, por outro estamos a 45 minutos de espanha. Noto também uma proatividade cada vez maior dos agentes locais e até uma abertura das mentalidades para a música extrema – há um ano e meio, por exemplo, os serrabulho atuaram no teatro de vila real perante uma plateia lotada. Apraz-me registar isso, por contraponto ao marasmo de cultura underground de que esta região padecia até há alguns anos.

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