várzea, a terra do jaú

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Várzea, a terra do Jaú. Melissa Franco e Rafael Oliveira A história e as histórias do esporte da periferia

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A história e as histórias do esporte da periferia Por Melissa Franco e Rafael Oliveira

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Várzea, a terra do Jaú.

Melissa Franco e Rafael Oliveira

A história e as histórias do esporte da periferia

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Várzea, a terra do Jaú.

Melissa Franco e Rafael Oliveira

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Várzea, a terra do Jaú.

Melissa Franco e Rafael Oliveira

A história e as histórias do esporte da periferia

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Copyright © 2008 by Melissa Franco e Rafael Oliveira

Foto da capa © 2008 by Rafael OliveiraFotos internas © 2008 by Rafael Oliveira

2008Impresso no BrasilPrinted in Brazil

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Sumário

07 O futebol e a várzea

15 Galeria 01

21 O solo da várzea

31 O território do Jaú

39 Galeria 02

45 A história e seus personagens

“O juiz olha para os dois lados do campo, confirma com os goleiros se está tudo bem, temos os 22 jogadores a postos para mais uma partida de futebol de várzea e.....apita o árbitro, a bola está rolando no campo do Jaú.....”

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Neide disse:

- Eu vinha direto no Jaú antes. O meu marido vinha jogar bola, e eu ficava no bar esperando terminar o jogo para depois participar do churrasco que tinha. Era muito gostoso. Quase todo final de semana eu tava no Jaú. Dona Vilma:

- Ah, aí embaixo antes era muito bom. Quando eu era pequena ia lá no campo pra brincar... era muito gostoso morar aqui, não tinha violência, o bairro era tranqüilo. Seu Lazinho:

- Quando o Jaú fez 60 anos, ninguém queria fazer nada... cheguei para o presidente e falei pra fazermos uma festa, em comemoração. Daí arrecadei um dinheiro, pra comprar carne e cerveja e fizemos uma festança. Até os baloeiros, que era meio assim com a gente, porque é proibido, e eles usavam o campo pra soltar... mas no dia da festa, eles até soltaram um balão em ho-menagem ao Jaú.Thomaz:

- Eu sou jauzense de coração. Nasci e fui criado no bairro. Pago o clube porque gosto do Jaú. Levo meus filhos pra jogar, já fiz muitos times... tinha um time nosso que era de pais e filhos... levei um monte de gente pra jogar tudo em família.

Esses são trechos de entrevistas de pessoas que já freqüentaram, frequentam e outras que gostariam de voltar a freqüentar o Jaú da Penha. Um clube que já foi muito mais que futebol, foi alegria nos finais de semana, foi descontra-ção para homens que trabalham a semana inteira, já foi até um lugar em que poderíamos deixar nossos filhos brincando em paz. Um lugar que nasceu graças ao esporte mais adorado do país, o futebol.

Introdução

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7Várzea, a terra do Jaú.

Trazido para o Brasil pelos ingleses, o esporte passou por diversas mudan-ças desde as suas primeiras partidas. Vestimenta, assessórios, público e até mesmo seus próprios jogadores. Muita gente levou muito a sério e hoje é a modalidade esportiva que mais dá dinheiro a clubes e levam jogadores a ficarem milionários.

A prática que começou em uma várzea – espaço plano de terra batida – na cidade de São Paulo, servia como uma prática de atividade física e fazia com que os homens, trabalhadores operários da época descontraíssem após sua jornada de trabalho. Daí surge o futebol de várzea com regras iguais ao de um campeonato importante e medidas de um campo profissional.

Este esporte amador atrai gente de toda classe social, mas ficou explícita na periferia. Os recursos para manter campos com boa qualidade da grama e materiais esportivos são altos. Os clubes que conseguem manter suas estru-turas, para atender bem aos seus sócios cobram altas mensalidades. Situação diferente para um clube de várzea, pois pedir mais dinheiro aos seus associa-dos, é quase impossível pela classe social da comunidade.

Isso é uma realidade na zona leste de São Paulo, mais precisamente no bairro na Penha, onde através dessa leitura, todos poderão conhecer a his-tória, o espaço, o futebol de um clube que teve anos e anos de glória, e hoje não possui recursos suficientes para reerguerem o nome do Jaú Atlético Clube da Penha, como era antigamente.

A atual administração do clube está regularizando diversas situações para que o Jaú continue sempre se destacando nos campos e oferecendo uma área de lazer para toda comunidade.

Encontrarão nesse livro, histórias de pessoas que viveram, praticamente, anos de suas vidas dedicados ao Jaú; tudo sobre o famoso campo do Jaú, que já recebeu milhares de jogadores da várzea paulista; a sede do clube com suas instalações...e muito mais.

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O futebol e a várzeaJogador cobra um escanteio em jogo amistoso no campo do Jaú

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Eis que surge o futebol

A história do futebol é tão complexa que ninguém se atreve a dar certeza de onde realmente ele começou. Historiadores encontraram vestígios de jogos com bola em culturas antigas. As brincadeiras, não poderiam ser chamada de futebol, por não ter regras definidas como há hoje em dia.

Na China Antiga, por volta de 3000 a.C., o futebol era como um treino militar, onde as cabeças dos soldados inimigos eram as bolas. No Japão era um esporte mais parecido com o atual futebol por ser jogado com uma bola de fibras de bambu e ter regras. Existem até mesmo relatos de ter existido um jogo entre chineses e japoneses na antiguidade.

Porém, foi na Idade Média (entre os séculos V e XV), que se tem conhecimento de algo que documente a história do futebol. Foi na Inglaterra, em 1175 que William Fitzstephen escreveu um livro que comenta sobre um disputado jogo em uma espécie de terça feira gorda, a Shrovetide. Ele diz que os habitantes de diversas cida-des inglesas saíram às ruas chutando uma bola de couro para come-morar a expulsão dos dinamarqueses. Parecia até que queriam imitar o jogo chinês.

Com o passar do tempo, a popularidade do futebol aumentava, e em 1314 o rei inglês Eduardo II proibiu os jogos, pois acreditava que desviaria a atenção dos jovens ao arco e flecha, um esporte mais útil em caso de guerra. A contrariedade ao futebol se estendeu a outros reis e rainhas. Nessa mesma época, até mesmo Elizabeth I era contra o jogo.

A Itália também tem sua história com o princípio do futebol. Foi em 1529 que surgiu o “gioco del calcio” (a tradução mais próxima é isso mesmo: jogo de futebol) por causa de uma briga de duas facções políticas aristocráticas. Eles decidiram resolver sua adversidade em um jogo de bola.

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Mesmo não sabendo qual é a origem verdadeira, o futebol italiano da época era o que mais se parecia com o atual. Cada equipe tinha 27 jogadores e deveria levar a bola até uma barraca que ficava no lado adversário. Para que fossem cumpridas as regras, dez juízes eram escalados. Eram permitidos o uso das mãos e dos pés, o que tornava o esporte um tanto violento.

Idéia de inglês e de operários

O significado de várzea pelo Dicionário Aurélio é de “planície fértil e cultivada, em um vale”. Já o site do Wikipedia define que várzea é “a campina grande às margens de um rio que, em época de enchente, é inundada com as águas do mesmo”.

Por São Paulo ser um descampado plano, centenas de campos de futebol surgiram na cidade e com eles nasceram os times. A maior concentração, aconteceu ao longo do rio Tietê, e foi lá que despon-tou o 2º time de maior torcida do Brasil, de acordo com a FIFA - Federação Internacional de Futebol Association - o Sport Clube Corinthians Paulista.

O primeiro campo de várzea nasceu com a primeira partida ofi-cial de futebol, realizada no Brasil, em São Paulo no ano de 1895, graças a Charles Miller. Esse brasileiro nascido no bairro do Brás, filho de um escocês e uma brasileira havia retornado de seus estudos na Inglaterra no ano anterior, e como já era um bom jogador de fute-bol por lá, trouxe junto dele duas bolas, uma chuteira e um montante de regras do esporte.

Para tentar difundir o futebol entre os brasileiros, ele montou o primeiro jogo próximo ao rio Tamanduateí (a antiga várzea do Car-mo e atual Parque Dom Pedro II). A partida era entre dois times formados por operários da Companhia de Gás contra os funcioná-rios da Companhia Ferroviária São Paulo Railway - todos britânicos radicados no Brasil.

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O primeiro espetáculo terminou com o placar de 4 a 2 para o São Paulo Railway, time de Charles. Além de ter jogado, ele foi o juiz da partida e a partir daí, se tornou o pai do maior e mais apaixonante esporte brasileiro.

Desde então, surgiu o termo futebol de várzea, que é uma denominação típica do estado de São Paulo.

Quando o futebol foi profissionalizado no País da várzea é que diversos craques brasileiros se revelaram para o mundo. Hoje em dia é mais difícil encontrar excelentes jogadores de várzea, pois os grandes times investem muito em suas categorias de base, não mais havendo a necessidade de buscar talentos no futebol amador.

Entre muros e portões

Uma tarde fria de agosto na cidade de São Paulo. A temperatura por volta das 17 horas é de 12ºC com sensação térmica de 5ºC devido ao vento gelado. Na região do bairro da Penha cai uma garoa fina, o que ajuda a “congelar as mãos”. Um bom dia para ver de perto como é o futebol de várzea e conferir se até num dia como esses, a “homarada” não deixaria de lado o tão praticado esporte brasileiro.

Passando pela Avenida Carvalho Pinto, altura do número 2.200, sentido Marginal Tietê, nota-se ao lado direito um extenso muro com 130 metros de comprimento por três metros de altura, feito de tijolo de concreto e pintado de cinza. Na parte esquerda do muro existem uns três buracos, que mais parecem erro de construção do que feitos por alguém.

Há cerca de 15 anos, torcedores freqüentavam o lugar, mas devido as péssimas condições do lugar, como a ferrugem que fez com que uma das dobradiças fosse amarrada com arame para não se desprender, não é mais utilizado.

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Andando por ali de carro, pouco se vê o que têm atrás do muro por entre as grades do portão, por causa do fluxo da avenida. Se passar devagar ou parar, é capaz de baterem na traseira do veículo.

É difícil perceber que ali existe um clube de futebol amador, a não ser se reparar bem pelas frestas do portão o que tem atrás do muro. Mas ali a bola rola. Se reparar melhor, até se vê um brasão do Jaú Atlético Clube da Penha, que de tão apagado passa desperce-bido. O símbolo está estampado em um outro portão maior de ferro, que fica num muro lateral curvado de 107 metros, de frente para a praça Jaú.

Um portão de ferro que também é mantido fechado seria uma das entradas da praça de esportes após a reforma total do campo. Porém, do projeto inicial uma das poucas obras concluídas, foi o portão, que hoje é aberto apenas para o caminhão que traz areia para os campos.

A localização do Jaú

O acesso ao Jaú pela Avenida Governador Carvalho Pinto, mais co-nhecida como Avenida Tiquatira (por causa do córrego que passa ali) se dá entrando na Rua Amorim Diniz, passando pela praça Jaú e ao cruzar a rua Coronel Newton Braga. Outro caminho é através da Avenida Cangaíba, entrado à direita na rua Coronel Newton Braga e, em seguida, à esquerda na Rua Amorim Diniz. O número 42 que fica o campo, o único número par desse quarteirão de uma rua que é sem saída.

A Praça Jaú fica na esquina da Rua Amorim Diniz com a Tiquati-ra. Como se estivesse sido esquecida pela prefeitura, não existe placa identificando-a. Em guia de ruas e sites de busca consta com o nome de Rotary Penha.

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É conhecida como Praça Jaú em homenagem, é claro, ao Jaú Atlético Clube da Penha. Em 1997, o local já existia, só que estava muito abandonado, e a diretoria do clube queria tomar conta, murando e cuidando para que fosse de utilização da comunidade. Foi então que o vereador da época, Vicente Viscome, e o Administrador Re-gional, Dr. Oswaldo Morgado, conseguiram autorização para que o Jaú cuida-se da praça. A diretoria então, murou, colocou alambrado e até um parquinho para que as crianças da comunidade também se divertissem na praça.

Entre a praça e o campo do Jaú há uma rua que a diretoria do Jaú e a Prefeitura fecharam, pois não existia muito movimento nela. Como fariam uma praça com parque para as crianças, fechar a rua seria muito melhor para a segurança delas.

João Thomaz da Silva Neto, de 50 anos, conhecido no Jaú por Gué, conta sobre a utilização dessa praça, que hoje voltou a ficar abandonada:

- Agora quem vem aí são uns bolivianos – imigrantes que estão a procura de melhores condições de vida aqui no Brasil - depois que a prefeitura arrumou onde eles jogavam ali na Tiquatira... eles ficam aí na deles, não conversam com ninguém não.

A praça tem formato triangular, com uma área aproximada de 2 mil metros quadrados. O abandono é evidente ali: mato alto, lixo espalhado, parquinho quebrado e até animais mortos dividem o espaço com crianças brincando.

Outra particularidade que diz respeito ao campo do Jaú é de quando canalizaram o rio Tiquatira para a construção da avenida Governador Carvalho Pinto. Para não pegar um pedaço do campo como avenida, tiveram que fazer um projeto para desviar as pistas do campo. Quem fala dessa história com graça é Gué:

- Lá de cima do viaduto, da avenida Cangaíba, dá pra ver direiti-nho as curvas que fizeram pra desviar as pistas do campo.

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O espaço que o Jaú ocupa

Do lado direito da Rua Amorim Diniz se localiza o campo e ao fundo da mesma está a Gráfica Sky, uma empresa que fica no final da Rua entre as casas e o campo. Está ali há pelo menos 20 anos e, atualmente, amplia as dimensões territoriais.

Parte do terreno onde está a gráfica pertencia ao Jaú. Segundo Gué, ninguém sabe direito se foi “grilado” (loteamento com escritura irregular) ou comprado. Nem a subprefeitura da Penha tem a certeza. O departamento de marketing da gráfica não se manifestou quanto ao assunto.

Por ser larga, o lado esquerdo da rua, a partir do cruzamento com a Coronel Newton Braga, transforma-se em um estacionamento para os frequentadores do clube que param em frente à sede, pois logo após existem 10 casas de alguns dos moradores da comunidade.

O outro lado da rua fica somente o campo. O muro que vai até o final da Rua Amorim Diniz está pintado de cor vinho, que é a mesma cor da gráfica. Conforme moradores, a empresa pintou porque quis. Afinal não há nenhum acordo entre a Sky e o clube.

A rua é toda asfaltada, porém há mais 25 anos, era de terra. De acordo com o morador José Domingues da Silva, um senhor simpá-tico e falante de 64 anos, antes dele chegar ali, quando chovia o cór-rego Tiquatira transbordava e alagava toda a região. Ele ainda conta que, ao chegar, conheceu a casa vizinha que tinha uma marca de água na parede com cerca de 1,5 metro de altura. Só melhorou assim que canalizaram o córrego.

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Goleiro do Santa Cruz, solitário em sua pequena área

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Galeria 01A esquerda, “Nego Veio” descontrai com amigos no bar do Jaú

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Praça do Jaú – Onde nasceu o campo do Jaú

Vista do campo do Jaú de cima da sede principal

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Admiradores do futebol de várzea acompanham o jogo

Estacionamento ao lado do campo e espaço para recreação das crianças

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Time do Jaú de 1992

Quadro de fotos dos momentos marcantes para o Jaú

A esquerda, Sr. Oséas de Mora-es, primeiro presidente do J.A.C.P

Casa do Sr. José Domingues, mo-rador da rua Amorim Diniz, vizinho do clube há mais de 25 anos

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Quadro de fotos dos momentos marcantes para o Jaú

Time do Jaú de 1991

Time do Jaú que disputou a Copa Kaiser de 1997

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O solo da várzeaPartida rolando no campo do Jaú em pleno domingão, ao meio dia, de baixo de muito sol

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O CAMPO DE VÁRZEA

Ao ler histórias sobre o futebol de várzea, normalmente um dos per-sonagens principais é o campo. Em alguns relatos em sites como São Paulo Minha Cidade, existem dezenas de informações e arquivos sobre o futebol varzeano, que contam como eram e o que se passava em inúmeros de campos pela cidade de São Paulo.

Uma delas é sobre um campo em Itaquera – do Falcão do Morro Futebol Clube - que como muitos outros não existia nenhuma mar-cação de suas linhas. Criado há mais de 50 anos, o clube possuía de-marcações imaginárias, sendo indicadas as delimitações pelos donos da casa. Quando necessário, a marcação de uma falta, eram contadas as jardas do local da falta até o centro da trave e se desse menos que quinze jardas, era pênalti.

Hoje talvez não existam mais estádios e terrenos assim. O campo do Jaú, por exemplo, é famoso pela sua dimensão, como conta o frequentador Carlos Henrique Caramujo, 27 anos, que joga no Jaú desde moleque:

- Eu gosto de jogar no Jaú porque o campo é largo, de terreno fofo e quando chove não alaga por inteiro. Tem uns campos que você joga, que é só terrão batido, daí a bola quica muito, quando chove é um barro só... pra ficar mais fofo? É só misturar terra com areia, fica bem melhor que muitos por aí.

Ele não só elogia, mas também faz sua crítica ao clube:- O que é ruim no Jaú é que o campo não é tão plano... existem

outros campos mais planos.O campo do Jaú foi modificado de lugar diversas vezes. Como era

um terreno plano grande, só que mais pra frente, como se fosse na praça Jaú. Já chegou a ser mais para trás e para o lado. Até que em 1975 se firmou onde está agora, montando a definitiva praça de es-portes, passando apenas por algumas reformas posteriormente, como o projeto de 1993.

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Esta reforma visava uma praça de esportes que beneficiaria toda a comunidade. Da planta original, as obras concluídas foram às arquibancadas, os vestiários, o parque infantil (o qual virou praça Jaú), os portões de entrada já citados e a rua entre o campo e praça que foi fechada. Para completar faltou apenas a quadra de bocha e a quadra poliesportiva.

Reconhecendo o palco futebolístico

Para ter acesso ao campo, o caminho é o mesmo que o dos adversá-rios, aqueles que utilizam a quadra de areia, quem assiste as partidas de areia e com o entra e sai dos vestiários. A entrada para todos esses lugares é por um único portão, e o espaço parece um rol na entrada do campo.

Logo na porta deste rol, à esquerda, um prédio de três andares é ocupado pelo vestiário dos juízes e bandeirinhas e dois banheiros (um feminino e outro masculino) no térreo. Há dois lances de esca-da, onde o primeiro dá em uma sala de troféus e materiais esportivos, que até a gestão anterior era a sala administrativa. No último andar, uma lage coberta garante o autêntico churrasco após o jogo, com uma churrasqueira feita de tijolinho.

À direita do rol existem dois vestiários para jogadores, e à frente fica a quadra de areia, com o acesso por mais outro pequeno portão. Visto tudo isso, é hora de chegar finalmente ao campo. Contornando o vestiário do juiz, está lá o palco das apresentações “futebolísticas”.

O campo do Jaú mede 108 metros de comprimento por 68 me-tros de largura. Conforme a IFAB - International Football Associa-tion Board -, órgão que regulamenta as regras do futebol junto com a FIFA, um campo oficial de futebol profissional é de 100 a 120 me-tros de comprimento, por 64 a 90 metros de largura. Já para partidas internacionais a medida é de 100 a 110 metros de comprimento por 64 a 75 de largura. Portanto, oficialmente, o campo do Jaú poderia

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até mesmo receber a seleção brasileira numa partida contra, por exemplo, a Argentina. Seria um tanto emocionante.

As traves de ferro medem 7 metros de extensão por 2,10 de altura. E o espaço que os jogadores têm para cobrar lateral, entre a linha e o muro com alambrado, é de 3 metros.

O terreno é de terra vermelha batida misturada com areia, como explicou Carlos Henrique. Apesar das redes estarem furadas, a grama só aparecer em cerca de 2 metros (onde são os quatro escanteios). O campo possui iluminação artificial. As seis torres de iluminação, com oito holofotes cada uma, iluminam bem o campo. Infelizmente, das 48 lâmpadas, 15 estão queimadas e o clube não tem dinheiro para trocar, pois cada unidade custa em média R$ 30,00 (trinta reais). Sem essa quantidade de lâmpadas, a luminosidade fica prejudicada, assim os jogos à noite estão suspensos.

Carlos Henrique lembra quando colocaram a luz no campo, com a realização de campeonatos noturnos:

- Sempre que eu passava por ali, voltando da faculdade, presencia-va jogo. Acredito que acabava depois das 23 horas.

A terra como descrita por Carlos é fofa. A demarcação das linhas do campo é feita com cal todo sábado de manhã. Quem faz esse tra-balho é um simpático homem de pele negra, que não gosta de revelar a idade, com nome de José Teodoro Neves, conhecido na comuni-dade por Nego Véio. Ele é o mais antigo funcionário do clube - está ali há mais de 30 anos – e recolhe as bolas, manda os uniformes para lavanderia. Como disseram por lá, trata-se de uma espécie de “alma” do Jaú, onde sem ele, talvez o Jaú não sobreviva.

Do portão de entrada é possível observar, quase na metade do campo, os bancos de reserva na lateral esquerda. Com telhas de amianto sustentadas por duas colunas de madeira, pintadas de uma cor azul escura e fixadas no chão com concreto pelo lado de fora do muro. À primeira vista são bem parecidos com um ponto de ônibus,

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daqueles mais antigos. Para acomodar pelo menos seis jogadores sen-tados, dois palmos de tábuas de madeira são erguidas por 45 centí-metros de barras de ferro redondas chumbadas ao muro.

O que chama atenção são duas casinhas que ficam uma de cada lado dos bancos de reserva. Em cima são feitas de madeirite e são fi-xadas por uma grossa coluna de concreto com 1,5 metro de largura e 2,5 metros de altura. O espaço serve para posicionar alguma câmera de televisão, para que o ângulo das imagens não fique prejudicado, caso tenham algum tipo de transmissão para fazer.

Em torno do espetáculo

Em um dia normal, sem jogos importantes, o público que vai assistir futebol é pequeno. A não ser nos dias de sol, que aparece gente de todo lado, porém nem sempre para assistir alguma partida, apenas para tomar uma cerveja no bar e encontrar os amigos. Nos dias de frio, só mesmo os jogadores circulam por ali.

As arquibancadas com capacidade para 700 pessoas ficam do lado direito do portão dos vestiários, atrás do muro cercado. Seu comprimento é de 65 metros, dividida em duas partes e com quatro degraus cada.

Nela se acomoda mais o pessoal da comunidade, mas com freqü-ência é vista a presença de estranhos. O ambiente não é muito limpo e garrafas de refrigerante e embalagens de comida são exemplos de lixos encontrados ali.

Em dias de jogos com times tradicionais da várzea, os lugares são rapidamente preenchidos.

Muitos homens que jogam de final de semana levam seus filhos, que brincam em uma área ao lado do campo. É o espaço onde seria a quadra de bocha e a quadra poliesportiva. Esse local se transfor-mou em estacionamento, misturado com recreação infantil. Com

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1.500 metros quadrados, o chão possui uma área verde maior que a do campo.

O Jaú é freqüentado na maioria por homens. A cada 30 homens, duas ou três mulheres dão as caras por ali. Vão para acompanhar os maridos, tomarem conta das crianças, ou somente mesmo para levar ou buscar os respectivos familiares ou namorados. A não ser nos dias em que tem churrasco de alguma equipe após o jogo, nesse caso apa-recem algumas amigas dos jogadores. Mas que o espaço é totalmente masculino, isso é.

O campeonato mais importante

Para o local ser bastante ocupado, somente com a realização de um grande campeonato de várzea. A Copa Kaiser é um desses, e o Jaú sempre participa. Este evento é um dos mais importantes da atuali-dade, em que a equipe vencedora aparece na mídia e ainda participa da Copa do Mundo da Várzea, um campeonato onde só faz parte a elite do futebol amador da cidade de São Paulo.

Em 1995, a empresa Evidência Promoções e a FEMSA - Fomento Mexicano S/A - , uma empresa mexicana que detém o controle acio-nário da cerveja Kaiser, tiveram a idéia de fazer um campeonato em São Paulo, que tivesse começo, meio e fim, o que não acontecia na região naquela época. Hoje está na 11ª edição, deixando de acontecer durante três anos por política da Kaiser.

O Jaú faz parte das 208 equipes que se inscrevem anualmente para a disputa. Os clubes ganham o fardamento (uniformes) e em troca os bares dos campos onde ocorrerão às disputas, venderão so-mente cerveja Kaiser. Os quatro primeiros colocados recebem troféus e medalhas. Em 2007 a empresa inovou: levou os campeões para jogarem uma partida de futebol com a equipe profissional do Vélez Sarsfield em Buenos Aires, na Argentina.

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Quanto à violência que pode ocorrer no Jaú nesses jogos com gran-de público, a empresa que comanda o torneio é bem rígida. Toda e qualquer tipo de manifestação violenta por parte das torcidas, quem prestará contas será a respectiva equipe que tiver os torcedores bri-guentos. Em caso de briga entre as torcidas, os dois clubes serão punidos. Em qualquer incidente, os relatórios dos árbitros e dos representantes são encaminhados ao Tribunal de Justiça Desportiva específico da organização do evento.

No campeonato de 2008, o Jaú da Penha não se deu muito bem. Passou pela fase A, ganhando na primeira rodada por 1x0 do Associa-ção Esportiva Novo Horizonte de Itaquera. A Segunda rodada mar-cou dois gols no Pontal Futebol Clube de Itaim paulista, terminando o jogo em 2x0. Na última rodada da fase A, o Jaú empatou sem gols com o Tricolor do Parque Futebol Clube, do Parque Guarani.

Já na fase B, o time não venceu. Foram dois empates: com o Atlé-tico Esportivo Sedex, da Cidade Tiradentes (2x2) e com os Meninos União Laranjeiras, do Jardim Iguatemi (0x0). E na última rodada da fase, perdeu para o Associação Atlética Estrela Azul, do Parque Boa Esperança por 4x1. É a última participação do clube Jaú da Penha na Copa Kaiser de 2008, inclusive do campo. Mas ninguém por lá desanima não. Afinal no próximo ano tem mais.

O society também faz parte do Jaú

A quadra society de areia tem um espaço de 44 metros de compri-mento por 23 metros de largura. Ali vai o pessoal sem muito ritmo de jogo, com o objetivo de apenas “bater uma bolinha”, e vale ser até sem camisa.

A maioria dos jogadores não usa chuteiras, afinal trata-se apenas de uma brincadeira. Os que utilizam a quadra são aqueles que es-tão com o “sangue mais quente”. Não porque estão bravos não. É que por ser menor, na quadra eles se movimentam mais. E como

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tudo é brincadeira, os times são feitos na hora, virando uma partida mais descontraída.

A quadra é um cubo de telas. Ela é rodeada por uma tela de alam-brado, para evitar que a bola vá parar no campo, atrapalhando a partida que estiver acontecendo, ou até mesmo que joguem a bola para a rua. A parte de cima é fechada por uma imensa tela que cobre toda a quadra.

Por causa dos furos que há nas redes, não é sempre que a bola “descansa” por lá. Sempre tem um sortudo que consegue acertar um buraco. E quando isso acontece, ela fica em cima da rede, e para tirá-la de lá, alguém grita:

- Chama o Nego Veio.E com um bambu grande nas mãos, lá vai o Nego Véio cutucar e

empurrar a bola, até que ela caia no buraco novamente e volte para a quadra. Ele já tem uma ótima mira pelo costume.

A quadra também é um pequeno centro de atenções do público. Claro que não tão grande quanto o campo, mas sempre tem alguém olhando pelo alambrado. Até mulher pára ali para buscar o marido, e dá uma olhadinha.

Regularizando o que é da comunidade

A cidade de São Paulo está cheia de campos de futebol de várzea. Só os registrados na prefeitura como CDC (Clube da Comunidade) são 116, sem contar os que se tornam campos por ser um pedaço de terra plano.

Todos os clubes amadores que comportam uma estrutura míni-ma, como vestiário, banheiros, equipamento esportivo, área para ati-vidades socioculturais, área de recreação infantil e estar devidamen-te cercado, são ou serão um CDC. Isso faz parte da Lei Municipal nº 13.718 – de 8 de janeiro de 2004. A Lei tem por objetivo o Pro-grama Municipal de Desenvolvimento do Esporte Comunitário,

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onde a prefeitura, em parceria com entidades comunitárias, promova atividades no campo esportivo, recreativo e de lazer.

A lei também diz que todos os campos dos CDM – Centro Des-portivos Municipal - se transformem em CDC, e ainda dá algumas vantagens para a associação que irá gerenciá-lo. Vantagens como for-necer materiais esportivos, pois muitos clubes da periferia vivem das mensalidades dos associados, onde tem sempre um ou outro que não paga em dia.

Outro benefício é que toda a direção e dirigentes do clube parti-ciparão de fóruns esportivos e cursos de preparação administrativa, realizados pela própria Secretaria de Esportes, para que todos estejam capacitados a integrar as modalidades esportivas e gerenciar um equi-pamento público (órgão público).

Porém, a burocracia ainda é uma barreira. Para um clube de vár-zea fazer de seu campo um CDC, é necessário atender a uma série de requisitos impostos pela lei, como por exemplo, ter pelo menos duas associações devidamente registradas juridicamente, para que dividam a diretoria gestora e o conselho fiscal do Clube da Comunidade.

José Ribamar dos Anjos, com apelido de Índio, está na presidên-cia do Jaú há quatro anos, e disse que há dois, tentam arrumar essa documentação para o clube ser um CDC:

- O primeiro problema foi conseguir a documentação. Quando conseguimos, mandamos para a Prefeitura, e eles devolveram por-que faltava uma assinatura de um dos responsáveis pela documen-tação. Mandamos para o contador resolver e enviamos novamente à Prefeitura. Mais uma vez retornou porque faltou uma informação. O contador resolveu e levamos pela terceira vez na Prefeitura. Agora veremos o que está errado ou faltando.

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31Várzea, a terra do Jaú.

E ainda completa, insatisfeito:- É muita responsabilidade. Já imaginou na minha gestão a Pre-

feitura toma o campo porque nós não conseguimos fazer virar um CDC? Não sairei vivo daqui.

Índio diz isso, pois o terreno onde está o campo do Jaú é da pre-feitura. Nos anos 80, o prefeito da época Jânio Quadros desapropriou o lugar que era uma doação não registrada, feita pela família De Luca – proprietários do território no início do século passado -. E hoje para não sair do controle do Jaú, é necessário fazer dele um CDC.

Lance de jogo no Jaú em um sábado de calor, mas nuvens escuras sobre o campo

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O território do JaúPrédio da sede oficial do Jaú

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O bar é o ponto de encontro

A sede social do Jaú Atlético Clube da Penha está dividida em dois prédios de dois andares cada um, separados pela rua Amorim Diniz. O prédio principal fica bem frente ao portão de entrada do campo, na esquina da Rua Amorim Diniz com a Rua Coronel Newton Bra-ga. O edifício é próprio do Jaú, pois conforme o clube, todos os im-postos estão pagos e está em dia com todas as obrigações tributárias sobre o terreno.

O lugar mais frequentado nos clubes de várzea, depois do campo, é o bar. É nele que os jogadores comemoram as vitórias, bebem as derrotas e se divertem eventualmente acompanhado de um churras-co. Claro que o bar não é só frequentado por jogadores. Lá também vão os admiradores do futebol de várzea, os amigos, e os amigos dos amigos de quem joga, que comentam os jogos, debatem as partidas e até “tiram um sarro” da cara dos outros. Afinal, a junção de bar e futebol é para o homem um ritual coletivo para afirmar a sua mascu-linidade, conforme o sociólogo Ronaldo Helal.

O bar do Jaú fica na parte térrea do prédio principal da sede. A calçada larga da esquina abriga mesas e cadeiras de plástico verme-lhas, com uma propaganda da cerveja Kaiser. Elas dividem espaço com três orelhões da Telefônica em um só poste. Logo pela manhã os funcionários do bar colocam pelo menos três conjuntos de uma mesa com quatro cadeiras cada, enfileiradas para os primeiros clientes. E durante a manhã, nota-se alguns tomando uma cerveja, ou uma be-bida mais quente, como pinga pura.

O balcão fica voltado para a rua e para o lado de dentro, se consegue ver bastante homenagem ao futebol, não só de várzea. O Sport Clube Corinthians Paulista também tem dois recortes de jornais estampados na parede. Em cima de uma geladeira há um quadro do time que o dono do bar administra há alguns anos, o Veda Água Futebol Clube - Cinquentão. Outros quadros, inclusive de homenagem ao Jaú (que

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não poderia faltar) também existem, porém não estavam expostos, pois o funcionário do bar estava arrumando.

Ao lado do balcão pelo lado de dentro do bar, um amontoado de garrafas cheias de todos os tipos de bebida: vodka, pinga de vários tipos, cinar, martini, conhaque, entre outras bebidas que chamam atenção dos que gostam. E do lado de fora do bar, a parede serve de mural, para que haja comunicação entre todos que passam por ali, onde encontramos diversas tabelas dos jogos da semana, do mês, além de cartazes como aulas de dança e festas no Jaú.

O clube já deteve a renda do bar durante muitos anos, porém a diretoria optou por arrendá-lo, pois acredita que o dinheiro mensal fixo do aluguel é melhor e garantido para o clube. Quem detém a renda do bar hoje é Claudinei Luis Pereira, mais conhecido como Fio. Além de administrar o lugar, Fio é o diretor de esportes e o res-ponsável pelo site do Jaú (www.jauac.com.br).

Segundo Índio, o presidente:- Quem veio com essa idéia de site foi o Fio. Ele conversou comi-

go e pediu minha autorização para mostrar o Jaú pela Internet. O site não tem muitas novidades. Em seu conteúdo, há história

do nome, os campeonatos que o Jaú está participa, calendário de jogos e galeria de fotos das dependências do clube. Janelas se abrem com promoções do tipo: “Participe do sorteio da rodada e ganhe uma camisa de um grande time da várzea, uma pizza e um refrigerante”, para atraírem os visitantes do site. Na página principal, há links com acesso às páginas oficiais dos principais times profissionais do Brasil.

Salão Manoel Ferreira Filho

Uma porta de ferro, daquelas que abrem em duas partes, leva ao salão de jogos Manoel Ferreira Filho, inaugurado em 29/04/2000 e batizado com o nome de um ex-presidente do Jaú. A decoração fica por conta de uma mesa de sinuca coberta com uma capa empoeirada,

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uma de ping pong sem a rede do meio e uma de pebolim, as duas cheias de poeira. Estão encostadas em duas paredes, pois não há uti-lização por falta de interesse dos frequentadores do clube. Somente a de ping pong está no meio do salão, porém sem utilização.

No salão de jogos estão também as grandes memórias do Jaú: as fotos. As imagens valem mais do que qualquer prêmio que o clube tenha ganhado. Em quatro paredes estão mais de 300 fotos que con-tam a história do Jaú, todos os presidentes, alguns personagens que marcaram época dentro e fora do campo, políticos que ajudaram em alguns feitos pelo clube e times que mereceram destaque nos campos de várzea da cidade de São Paulo. Imagens dos anos 30, 40 e 50 do campo do Jaú e de festas como a eleição da Miss Jaú, estão preserva-das em quadros protegidos com vidro. Mas algumas já bem antigas não suportam o tempo, e a umidade do local deteriora as fotos que deveriam entrar para a eternidade do futebol de várzea.

Do lado oposto de onde estão as mesas e à esquerda da porta de entrada do salão, a quatro ou cinco pequenos passos andando por um corredor, encontra-se a parte administrativa do clube. Na pe-quena sala com no máximo quatro metros quadrados, existem duas mesas de escritório, com calendários, porta canetas e alguns papéis sobre elas.

Possuem uma máquina de escrever coberta com uma capa de plás-tico cinza escuro, que fica ao lado da mesa da esquerda e, segundo o presidente Índio, o clube também possui fax e um computador, que não está no escritório, mas é de grande orgulho conforme o site do clube: “uma infra-estrutura de fazer inveja a muito clube de várzea”.

Esta sala é o local de trabalho do senhor Odair Arruda (um dos poucos a não ter apelido), a pessoa que está à frente do administra-tivo do clube há mais de 12 anos. Sempre muito dedicado, não só realiza o trabalho de escritório, como ajuda a fazer pequenos reparos no clube, como, por exemplo, arrumar a caixa d’água.

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Naquela sala também é o local em que Índio e seus conselheiros, relaxam após uma partida de futebol. Uma televisão de 20 polegadas e um sofá de dois lugares ajudam na distração. Neste corredor da sala administrativa, tem dois banheiros: um masculino e um feminino.

E por aqui tem festa!

À esquerda do corredor, há uma escada de 16 degraus que leva ao sa-lão de festas “Anselmo Farabulini Junior”, em homenagem ao depu-tado estadual. Existe outra entrada, pela rua Coronel Newton Braga, por uma porta ao lado do bar.

Com capacidade para 200 convidados, o salão possui iluminação artificial e um pequeno palco com 30 centímetros de altura. Do lado oposto ao palco, um balcão serve de bar durante as festas, equipado com dois freezers. Tudo em uma área aproximada de 180 metros quadrados. O clube cobra R$ 350,00 pelo aluguel do salão por um dia, mas ultimamente poucas festas têm ocorrido lá, e quando acon-tece, são nos finais de semana.

Aos domingos, às vezes aos sábados, alguns sócios antigos fre-quentam o salão, porém não é uma festa. É que todo final de sema-na eles estão ali para disputas de jogos de baralho. Eles adoram um carteado e não perdem tempo em frequentar o clube e reunir alguns amigos para se descontraírem com partidas de buraco e caxeta.

Após subir mais um lance de escada de 14 degraus, chega-se à cobertura. Este espaço foi inaugurado em 29/04/1995 e colocaram o nome de Cantinho da Amizade, um lugar para reunir amigos em confraternizações do clube. Com uma churrasqueira e dois banheiros, o local é amplo para um churrasco com os amigos e sócios do clube.

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À frente dos prédios, na própria rua Amorim Diniz, várias festas de são feitas para comemorar partidas, aniversários, momentos marcan-tes do Jaú. Até a bateria da escola de samba Nenê de Vila Matilde já passou por lá.

Essas celebrações incomodam a vizinhança do Jaú, pois o barulho dos rojões e gritarias que invadem a madrugada, não deixam os mo-radores descansarem.

Conforme o senhor José, o clube hoje não agrega em nada na comunidade. Para ele o Jaú apenas atrapalha.

- Tem dia que tem jogo aí e o pessoal fica fazendo batucada até de noite, soltando rojão...a gente não consegue assistir uma televisão, não consegue nem conversar.

Morador na mesma residência há 25 anos, viu o lugar se modifi-car várias vezes:

- Antes o campo ficava no começo da rua e não atrapalhava tanto. Mas o rio subia muito, e enchiam as casas com água. A prefeitura arrumou, não me lembro agora quem era o prefeito da época, e cana-lizaram o córrego. Foi ai que começou a obra das pistas na avenida. Depois dessa reforma, o campo mudou para cá.

E para finalizar, reclama mais um pouquinho:- E os dias que tem festa aí então? Fica uma sujeira em toda a rua.

É copo de plástico entrado nas casas, sujeira no chão da rua...Minha mulher que lava a calçada no dia seguinte, porque eles não estão nem aí para a sujeira.

Mais um prédio para o Jaú

Edifício construído para aumentar as dependências do clube, o outro prédio fica ao lado direito de quem chega pela rua Amorim Diniz. No espaço que chamamos anteriormente de hall de entrada do cam-po, está uma sede com uma área menor do que a principal e que fica atrás de um dos gols.

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No térreo desse prédio localiza-se o vestiário do árbitro e dois ba-nheiros, um feminino e outro masculino.

Subindo um lance de escada, chega-se na empoeirada sala de tro-féus e materiais esportivos do clube. É lá que Nego Véio guarda os oito fardamentos do time. Destaque para uma das conquistas mais importantes do Jaú, o 3º lugar da Copa Sul Americana de Futebol Amador em 1991. O que era para ser o maior orgulho de um time de futebol está escondido, pois esse espaço somente é aberto quando o Nego Véio vai lá buscar algum objeto. Existem ainda algumas me-dalhas penduradas nas paredes e nos próprios troféus, além de dois grandes armários para guardar coletes e materiais.

Esta sala, nos anos 90, era a administração do clube, onde o ex-presidente Lázaro Cândido Souza, mais conhecido como seu Lazi-nho, comandava o Jaú da Penha. Ele transferiu os troféus para o salão de jogos, para que pudessem ser admirados por todos, acabou voltando a este local, onde estão todos empoeirados e esquecidos.

Subindo uma escada tipo “espiral”, no 2º andar do edifício, temos a cobertura, com uma churrasqueira e um pequeno espaço com uma ótima visão do campo do Jaú. Esse espaço tem o nome de um ex-jo-gador do clube: Carlos Alberto de Moraes. Com uma certa precisão, nota-se um ninho de João de barro na primeira torre de iluminação à esquerda.

É em frente este prédio que acontece um certo movimento es-tranho à noite. Muitos carros que vêm da Tiquatira, entram na rua Amorim Diniz, param por alguns instantes e depois vão embora. Conforme alguns relatos, o que acontece de movimentação ali em frente ao muro da sede menor, é o tráfico de drogas.

Quando a noite chega, tudo fica um tanto tenso e mais perigoso. As pessoas têm que tomar cuidado ao andar pelas redondezas. Por mais que sejam esporadicamente, tiros e até mortes assustam a comu-nidade, que está ali há quase 80 anos.

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Atual Presidente “Índio”

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Galeria 02Espaço onde fica o Bar do Jaú

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Sede principal do Jaú

Time do Jaú de 1992

“Nego Veio” trocando a rede Sala da Administração do clube

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À esquerda, a foto que mar-cou o início da história do Jaú. A chegada de João Ribeiro de Barros em seu hidroavião “Jauh”, após cruzar o atlântico

Placa do Cantinho da amizade – churrasqueira – sede principal Salão de Festas “Anselmo Farabulini Jr.”

Cobertura da sede – Continho da Amizade

Placa do Salão de Jogos

O Presidente “Índio” mar-cando uma partida amistosa entre seus amigos Quadra de Society de areia

Vestiário dos visitantes

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Espaço “Carlos Alberto de Moraes”. Cobertura da segunda sede do Jaú com churrasqueira que fica sob a sala de troféus

Câmara Municipal de São Paulo, conce-de ao Jaú um diploma de bons serviços prestados ao esporte em 2000

Alguns troféus do J.A.C.P

Alguns troféus do J.A.C.P

Sr. Odair Arruda, funcioná-rio do Jaú há 12 anos

Auxiliar da arbitragem atento ao lance do jogo

Prédio da segunda sede do Jaú

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Ex-presidente e ex-diretor do Jaú Sr. Lázaro Sousa. Mais de 30 anos dedica-dos ao clube da Penha

Alguns troféus do J.A.C.P

Informações que estão atrás de uma das fotos do time do Jaú de 1992

Vestiário dos Jaú

Troféus na sala da administração

Espaço “Carlos Alberto de Moraes”. Cobertura da segunda sede do Jaú com churrasqueira que fica sobre a sala de troféus

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A história e seus personagens

Quadro de fotos – Jaú

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Todo clube tem sua história

O aviador João Ribeiro de Barros realizou uma fantástica viagem com seu hidroavião denominado Jahu (em homenagem à sua cidade natal, localizada no interior do estado de São Paulo), que cruzou o oceano Atlântico em uma grande aventura. Junto com o seu navega-dor Newton Braga, o co-piloto João Negrão e o mecânico Vasco Cin-quini, saíram de Gênova em outubro de 1926. Depois de algumas paradas em Alicante, na Espanha e em Gibraltar, território britânico à sudoeste da Espanha, por causa de problemas no motor, seguiram rumo ao Brasil.

Solucionado o problema, eles seguem viagem. Mais problemas técnicos, fizeram com que o Jahú realizasse outro pouso, agora em Porto Praia, na ilha de Cabo Verde. Ali, o aviador passa por certos apuros, pois teve de desmontar o motor sem nenhum recurso. De-pois de meses no local, morando debaixo de uma cabana de lona, já quase desistindo de sua proeza, ele recebe um telégrafo de sua mãe o animando a continuar sua saga.

Foi daí que Ribeiro de Barros tirou forças para arrumar seu hi-droavião, um trabalho penoso para ele e para o mecânico. Em abril de 1927, finalmente saíram de Cabo Verde rumo ao Brasil, e não poderiam mais parar, afinal não existiam mais ilhas no trajeto.

Doze horas depois da saída de Cabo Verde e viajando a uma velocidade de 190 Km/h o reide – longa excursão - do Jahú chega ao fim. Eis que ele finalmente aponta ao norte da ilha de Fernando de Noronha.

Depois de ser aclamado pela população brasileira, homenageado com mais de cem medalhas de ouro e de platina e cartões dourados, o aviador João Ribeiro de Barros foi mais uma vez homenageado pelos paulistanos. O seu hidroavião foi eternizado, por um humilde bairro da cidade de São Paulo. É quando nasce em 1928 às margens do córrego Tiquatira, na região da Penha, o Jardim Jaú.

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O bairro surge após o loteamento da chácara da família De Luca. Com isso a família decide doar um terreno para virar um campo de futebol. É então que no ano seguinte, em 1929, nasce o então Jaú Futebol Clube, e atual Jaú Atlético Clube da Penha.

A política do Jaú

Poucas as pessoas que são “Jauense” de coração. Alguns ainda torcem de verdade pelo time e pelo clube. O quadro de associados hoje está com um número perto de 70 pessoas, que pagam uma mensalidade de R$ 15,00 cada. Dessas, talvez nem 30% pertencem à comunidade, ou torcem para que o clube volte aos tempos áureos de futebol e de lazer. O restante paga as mensalidades, apenas para usufruir o campo ou utilizarem o salão para um carteado com os amigos.

O time que já foi um grande nome no futebol de várzea, hoje depende de aluguéis do campo, ao valor de R$ 70,00 por uma hora, e do salão de festas por R$ 350,00. Nos campeonatos, o clube não paga nem mesmo a inscrição dos jogadores, conforme um recado deixado na sala de jogos.

Talvez a época em que o clube conseguiu alguma renda extra, foi com o aluguel para propaganda no muro voltado para a Av. Ti-quatira, e com outdoors acima deste. Thomaz foi tesoureiro entre 2000 e 2002 e afirmou ao sair da diretoria, deixou em caixa cerca de R$ 15 mil.

Ele tentou por duas vezes se eleger presidente, porém não conse-guiu. Uma das vezes, disse que foi até um certo de boicote que teria tomado, pois a chapa em que ele concorria, cadastrou diversos no-mes de associados, para que votassem na chapa que seria futuramente a vencedora.

As primeiras diretorias do Jaú tiveram suas gestões bem longas, graças ao antigo estatuto. O primeiro presidente foi o senhor Oséas de Moraes, em 1929. Homem que vivia para o clube, com ações

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benéficas para o Jaú. Ele detinha a adoração popular, e ficou no co-mando do Jaú até 1970.

Em seguida, foi a vez de Manoel Ferreira Filho, que ficou por 20 anos sendo deposto pela comissão de conselheiros do clube, devido a uma irregularidade encontrada, mas que não foi revelada.

Foi nessa época que novas ações surgiram, como a inauguração da sede social em abril de 1977. Uma grande comemoração, se não descobrissem que ela detinha o nome do presidente Manuel Ferreira Filho, o “Mané da Guarda” como era conhecido. Ele alegava que tinha colocado bastante dinheiro para construir a sede. Só depois de 20 anos da inauguração, que uma série de conselheiros juntaram dinheiro para comprar a sede e colocá-la no nome do Jaú.

Quem conseguiu regularizar a sede foi Lázaro Souza, mais conhe-cido como Seu Lazinho, com a ajuda do deputado Anselmo Farabuli-ni Junior. Este último homenageado no salão de festas do clube, que leva o seu nome. Seu Lazinho foi presidente do Jaú algumas vezes e participou de uma série de gestões, nos mais diversos cargos. Criado na Vila Maria mudou-se para o Jardim Jaú em 1958. Jauense desde 1959 entrou para o clube já como secretário e realizou diversas me-lhorias. Ligado à políticos, conseguiu algumas regalias, para o Jaú.

Foi ele quem conseguiu fazer boa parte do projeto “Praça de es-portes” – uma obra que iria melhorar as condições da praça e colocar equipamentos para a prática de esportes -. O mais importante foi conseguir na prefeitura a obra da Praça Jaú. Além disso, trouxe um número elevado de sócios para um clube de várzea, com um total de 120 pessoas que utilizavam as dependências do local. Com a pre-ocupação de divulgar o clube, escrevia cartas para as redações dos jornais locais, como a Tribuna do Cangaíba, relatando alguns feitos no clube.

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Mesmo sempre fazendo algo pelo clube, quando Seu Lazinho foi participar das eleições de 1990, aqueles que eram contra a sua ad-ministração, foram a São José dos Campos, SP fazer o senhor Oséas de Moraes voltar para São Paulo, para que ganhasse a eleição do Seu Lazinho. E foi o que aconteceu. O senhor Oséas até o chamou para participar da sua diretoria, mas ele preferiu ficar de fora. Queria mes-mo era ser o presidente.

No meio da gestão, Oséas renunciou e voltou para São José dos Campos, cidade onde estava morando quando foram buscá-lo. Foi então na eleição seguinte, em 1992, que o Seu Lazinho saiu vitorioso e ficou até 1998 na presidência do Jaú.

Histórias para apagar da memória...

O fato mais triste da existência do Jaú foi a morte de Carlos Al-berto de Moraes, filho do ex-presidente Oséas de Moraes. Todos os veteranos relembram o acontecido com lágrimas nos olhos. Quem conta com detalhes é Thomaz, que presenciava a partida de futebol do grupo de Dente de Leite (uma categoria do futebol formada por crianças de até 13 anos).

Ele e Carlinhos, como era conhecido, faziam parte do dente de leite do Jaú e iam jogar uma partida no campo. Porém, a categoria “A” também faria um jogo no mesmo horário, e a saída foi transferir a criançada para o campo do Botafogo da Penha, situado no outro lado do córrego Tiquatira.

Ao se deslocarem para o campo, começou a formar um temporal de chuva, mas jogariam mesmo assim.água, conforme Thomaz.

Quando chegaram no campo, para o tradicional “cara ou coroa”, assim que o árbitro lançou a moeda atraiu um raio que atingiu fa-talmente Carlos Alberto. Oséas que estava no campo para assistir a partida do filho saiu correndo e o pegou pelos braços para tentar socorrê-lo, mas era tarde demais. O menino já estava morto.

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...ou lembrar com muitas risadas

Seu Lazinho conta que, no final da década de 60, uma briga um tanto engraçada, definida por ele, aconteceu envolvendo o Jaú e um time do bairro da Vila Maria. Descia a rua, indo em direção ao clube, quando viu uma confusão e gritaria no campo. Apertou o passo para ver o que se passava.

Assim que entrou no campo, era tarde demais. Os jogadores do Jaú não queriam deixar os visitantes subir no caminhão para irem embora. O time visitante levou a pior, com um jogador de perna quebrada. Os ânimos foram acalmados assim que Seu Lazinho pediu para que parassem com a briga.

Dois meses depois, ele foi até o campo da Vila Maria e saiu de lá como herói, pois os “briguentos” daquela peleja agradeceram Seu La-zinho pela ajuda, dizendo que se não fosse sua intervenção, a situação teria sido bem mais grave.

Outra história de briga, essa um pouco mais recente (entre 1993 1994), aconteceu com Thomaz. Ele jogava uma partida no atu-al campo do Jaú, e um espectador “pegava no pé” do irmão dele que também estava na partida, insultando-o. A paciência acabou, e Thomaz pulou o alambrado e deu uma “surra” no sujeito, como ele mesmo disse.

Entrada do vestiário oficial do Jaú

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Conclusão“Nego Veio” trocando a rede dos gols

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O Jaú é isso. Um clube que nasceu, tornou-se referência na várzea de São Paulo, se desenvolveu e, agora, passa por uma situação bem diferente dos melhores tempos. Sem recursos financeiros, com um número de sócios que não aumenta e com administrações que não se comprometem completamente, o Jaú vai ficando para trás, se dei-xando levar pela violência do local e pela falta de interesse de seus moradores mais próximos.

Sabemos que o clube tem idéias boas para o futuro, mas não con-seguem colocá-las em prática pela falta de dinheiro. Sempre estão dependendo de auxílios de fora ou da Prefeitura para concluir algu-ma benfeitoria. Quadras de bocha, poliesportiva e piscina estão nos projetos, mas a realidade é outra.

Primeiro o Jaú tem que vencer um problema social que está gerando essa violência. Um desafio que não depende somente do clube, mas sim de todos os poderes governamentais, para vencer o medo que ronda o Jaú nos últimos 10 anos. Os sócios estão se afastando, os vizinhos já não andam a noite pelas ruas próximas ao clube, as festas geram brigas desnecessárias.

Precisamos fazer algo por esse clube. Unir todos os que, realmente, querem o bem do Jaú para uma conversa e definir metas e objetivos claros e próximos da realidade. Convocar todos para que o campo do Jaú volte a sediar grandes partidas de campe-onatos, volte a receber times de todos os lados da cidade; para que a sede social do clube tenha mais festas e comemorações de todos os tipos, sem violência e sujeira; para que a história do Jaú conti-nue brilhando nos campos da cidade, igual as estrelas que, um dia “brigaram” pelo Jaú, e que hoje estão na memória e no céu.

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Título | Várzea, a terra do Jaú.Autores | Melissa Franco e Rafael OliveiraRevisão do texto | Leandro PortesProjeto gráfico | www.tipovivo.comFormato | A5Tipografia | Adobe Garamond Pro 10/15 e Bank GothicNúmero de páginas | 52Data e edição | novembro de 2008 - 1. edição

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O juiz olha para os dois lados do campo, confirma com os goleiros se está tudo bem,

temos os 22 jogadores a postos para mais uma partida de futebol de várzea e.....apita o árbitro, a bola está

rolando no campo do Jaú.....

“”