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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ MARCELO DE SOUZA ESTUDO DE CASO EM UMA CRIANÇA COM SINDROME DE WAARDENBURG, USUÁRIA DE IMPLANTE COCLEAR CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MARCELO DE SOUZA

ESTUDO DE CASO EM UMA CRIANÇA COM SINDROME DE

WAARDENBURG, USUÁRIA DE IMPLANTE COCLEAR

CURITIBA

2014

2

MARCELO DE SOUZA

ESTUDO DE CASO EM UMA CRIANÇA COM SINDROME DE

WAARDENBURG, USUÁRIA DE IMPLANTE COCLEAR

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Graduação em Fonoaudiologia da UTP, como pré-requisito para obtenção de grau de fonoaudiólogo.

Orientadora Dra. Angela Ribas.

CURITIBA

2014

3

Agradecimentos

À Dra. Ângela Ribas que orientou este trabalho com cuidado e zelo acadêmico.

4

SUMÁRIO

1. RESUMO............................................................................................... 5

2. INTRODUÇÃO .................................................................................... 6

3. SÍNDROME DE WAARDENBURG ...................................................... 7

4. IMPLANTE COCLEAR ....................................................................... 11

4.1 CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO DO IC ................................................... 14

4.2 CIRURGIA .......................................................................................... 18

4.3 BENEFÍCIOS DO IC .......................................................................... 19

5. RELATO DE CASO ............................................................................ 21

6. DISCUSSÃO ....................................................................................... 25

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 27

8. BIBLIOGRÁFIA .................................................................................. 28

9. ANEXOS.............................................................................................. 30

5

1. RESUMO

A síndrome de Waardenburg foi inicialmente descrita por Petrus Johannes

Waardenburg, como uma condição autossômica dominante que apresenta

penetrância e expressividade variáveis de seus caracteres. Os sinais clínicos

mais frequentes são: deslocamento lateral dos cantos internos dos olhos,

hiperplasia da porção medial dos supercílios, base nasal proeminente e

alargada, alterações pigmentares da íris e da pele, surdez congênita, mecha

branca frontal no cabelo ou encanecimento precoce. A síndrome de

Waardenburg não tem cura ou tratamentos. Foco está principalmente no

tratamento de sintomas relacionados com a doença. (MARTINS, YOSHIMOTO

E FREITAS 2003).

A perda auditiva é o sintoma mais preocupante da síndrome de

Waardenburg. Este estudo de caso foi realizado com uma criança de 1 ano

portadora da Síndrome que apresenta como sintoma principal perda auditiva

bilateral profunda, para a qual foi indicado pela equipe médica do Hospital

Pequeno Príncipe (HPP) o Implante Colclear (IC).

O IC é uma prótese eletrônica introduzida cirurgicamente na orelha

interna. Ao contrário da prótese auditiva convencional, o IC capta a onda

sonora e transforma em impulso elétrico estimulando diretamente o nervo

coclear. (RIBAS, 2013).

O IC é composto por duas unidades, uma externa, usada pelo paciente

conforme sua vontade, contendo um microfone, um processador de fala e uma

antena transmissora; e uma unidade interna, cirurgicamente implantável, que

contém um receptor/estimulador e um fino cabo de eletrodos. Esse processo

de funcionamento do IC é muito rápido e permite que o indivíduo escute os

sons no momento de ocorrência desses, ou seja, a informação sonora é

processada em microssegundos, permitindo que seu usuário possa detectar e

perceber essa informação auditiva instantaneamente. (SLEIFER e

FERNANDES, 2009).

6

2. INTRODUÇÃO

A Síndrome de Waardenburg é uma doença genética com padrão de

herança autossômica dominante, com penetrância e expressividade variadas,

que se manifesta associada a outras anormalidades, podendo representar

cerca de 3% dos casos de deficiência auditiva em crianças (BARZOTTO e

FOLADOR, 2004).

Segundo Martins, Yoshimoto e Freitas (2003), os sinais clínicos da

síndrome de Waardenburg são representados por Surdez Congênita profunda

bilateral; heterocromia total ou parcial da íris; mecha branca frontal de cabelo;

deslocamento lateral do canto medial e do ponto lacrimal inferior (dystopia

cantborum); raiz nasal proeminente e alargada; hiperplasia da porção medial

dos supercílios.

A maioria dos pacientes com perda auditiva, incluindo casos de perdas

severas, é beneficiada com o uso de prótese convencional. Porém, por ser um

amplificador sonoro, a prótese auditiva necessita de uma reserva coclear

suficiente para que possa haver boa percepção do som e discriminação da fala.

Nos pacientes com pouca reserva coclear que não conseguem boa

discriminação mesmo com amplificação sonora, o implante coclear (IC) é uma

alternativa para reabilitação da deficiência auditiva. (MARTINS, YOSHIMOTO E

FREITAS 2003).

O uso do IC em pacientes com Síndrome de Waardenburg tem se

mostrado uma boa alternativa, e resultados desta intervenção serão

apresentados a seguir. (MARTINS, YOSHIMOTO E FREITAS 2003).

Segundo (KOZLOWSKI, 1994) os resultados audiológicos dos pacientes

com IC são muito variáveis. Alguns pacientes implantados conseguem se

comunicar sem o apoio da leitura labial, podendo falar ao telefone; enquanto

outros conseguem apenas escutar sons ambientais e melhorar suas

habilidades de leitura labial.

Tendo em vista as considerações descritas o objetivo deste trabalho de

conclusão de curso foi descrever o caso de uma criança que possui a

Síndrome de Waardenburg, consequentemente, perda auditiva profunda

bilateral, onde o uso do implante coclear teve sucesso.

7

2. SINDROME DE WAARDENBURG

Aproximadamente 50% das deficiências auditivas profundas possuem

etiologia genética. Entre as desordens genéticas, algumas determinam

deficiência auditiva isolada e outras associam a deficiência auditiva a

anormalidades de outros órgãos que podem ocorrer em algumas síndromes,

como exemplo a síndrome de Waardenburg que será descrita nesse estudo

(BARZOTTO, FOLADOR 2004).

Inicialmente descrita em 1951 pelo oftalmologista e geneticista holandês

P.J. Waardenburg (MARTINS, YOSHIMOTO e FREITAS, 2003), é uma doença

genética com padrão de herança autossômica dominante, com penetrância e

expressividade variadas, que se manifesta associada a outras anormalidades,

podendo representar cerca de 3% dos casos de deficiência auditiva em

crianças (BARZOTTO e FOLADOR, 2004).

A Síndrome caracteriza-se por diversos sinais, conforme figura 1.

FIGURA 1 – Síndrome de Waadenburg

Fonte: ESCHOLARSHIP, 2014.

8

Segundo Martins, Yoshimoto e Freitas (2003), os sinais clínicos são

representados por:

Surdez Congênita;

Heterocromia total ou parcial da íris;

Mecha branca frontal de cabelo;

Deslocamento lateral do canto medial e do ponto lacrimal inferior

(dystopia cantborum);

Raiz nasal proeminente e alargada;

Hiperplasia da porção medial dos supercílios.

Outras características têm sido observadas e acrescidas ao quadro

clínico, como hipopigmentação cutânea, encanecimento precoce, aspecto facial

peculiar, hipoisocromia da íris e alterações pigmentares retinianas, além de

associações com fendas palatinas e labiais.

A patogênese desta síndrome ainda é especulativa. Fish (apud

MARTINS, YOSHIMOTO e FREITAS, 2003) sugeriu tratar-se de um defeito de

migração das células da crista neural durante o terceiro mês de gestação. A

crista neural dá origem aos melanócitos, aos gânglios simpáticos e

componentes sensoriais dos nervos crânianos e espinhais, aos ossos

menbranosos da face e palato, a dentina e aos gânglios viscerais, o que parece

explicar todos os sinais clínicos descritos na literatura.

Nem todas as características precisam necessariamente estar presentes

em cada paciente, porém o indivíduo com síndrome parcial pode transmitir o

quadro completo para seus filhos.

A incidência dessa síndrome varia entre 1:30.000 e 1:42.000.

Segundo Barzotto e Folador (2004), a intensidade do quadro clínico entre

seus portadores é variável, apresentando-se ao nascimento ou tardiamente,

sob quatro formas clínicas:

Tipo I - os pacientes apresentam epicanto, ou seja, prega cutânea que se

estende da base do nariz ate o término da região medial da sobrancelha

(distopia canthorum); aumento da distância dos cantos mediais internos dos

olhos; isocromia de íris com coloração azul brilhante ou heterocromia de íris;

diferença de cores entre as duas íris (heterocromia total) ou em diferentes

áreas de uma mesma íris (heterocromia parcial); poliose (mecha branca no

cabelo), que pode aparecer em qualquer idade; sobrancelhas confluentes

9

(sinophrys); e alteração da pigmentação da pele. A mutação responsável pela

síndrome localiza-se no braço longo do cromossomo 2 e determina a perda de

função do gene 1,23-28.

Tipo II - assemelha-se ao Tipo I, excetuando-se pela ausência de distopia

canthorum. A mutação localiza-se no gene que condiciona a microftalmia no

braço curto do cromossomo 3. Em casos de mutações novas, há associação

com a idade paterna avançada.

Tipo III - também chamado de síndrome de Klein-Waardenburg, é uma

forma mais rara que apresenta além das manifestações oculoauditivas e de

pigmentação do Tipo I, malformações de membros superiores, microcefalia e

deficiência mental. O gene mutante tem a mesma localização do Tipo I.

Tipo IV - denominado de Síndrome de Waardenburg-Shah, assemelha-se

ao Tipo II. A doença de Hirschsprung, que é de herança autossômica

recessiva, podendo ser denominada como megacólon congênito. A condição

aparece logo ao nascimento, é mais comum em homens e causa extrema

constipação, distensão abdominal, às vezes vômito e, quando severo, retardo

no crescimento.

Apesar do diagnóstico no recém-nato ser difícil, merece atenção por ter

uma incidência de 1,4% nos casos de surdez congênita (BASSETO, BROCK e

WAJNSZTEJN, 1998).

A patologia auditiva específica da síndrome de Waardenburg nem sempre

está bem definida. Alguns estudos relatam uma hipoplasia de cóclea, aplasia

ou hipoplasia do canal semicircular posterior, vestíbulo anormal e ausência de

janela oval. A deficiência auditiva é o sintoma mais preocupante da Síndrome

de Waardenburg. Originalmente Waardenburg estima que a penetrância na

surdez nesta síndrome é de 20% (MARTINS, YOSHIMOTO e FREITAS 2003).

É importante ressaltar que a surdez profunda é uma deficiência que afeta

a personalidade e o convívio social do paciente. Crianças com surdez profunda

muitas vezes são estigmatizadas como tendo distúrbios psiquiátricos como

autismo, tamanho o isolamento social que essa deficiência traz. Incapacita os

indivíduos de escutarem sons ambientais que muitas vezes constituem sinais

de alarme em situações da vida diária, além de não permitir a modulação vocal,

tornando a voz esteticamente ruim.

10

A deficiência auditiva não é uma doença de notificação compulsória,

portanto a estimativa de sua incidência é difícil em nosso país. Acredita-se que

existam 120 milhões de deficientes auditivos, ou seja, 2,2% da população

mundial (World Health Assembly, 1995).

Segundo o IBGE (2010) estimava-se que no Brasil existiam cerca de

31.000 pacientes com surdez profunda que necessitavam de IC, sendo 14.000

indivíduos de 0 a 18 anos. Se considerarmos que 3% desta população pode ter

a síndrome, é possível inferir que aproximadamente 420 pessoas no Brasil,

teriam este diagnóstico.

Dados do IBGE (2010) revelam que no Brasil existam 15 milhões de

pessoas com perda auditiva sendo que cerca de 350 mil com perda severa ou

profunda, ou seja, incapacitante.

A maioria dos pacientes com perda auditiva, incluindo casos de perdas

severas, é beneficiada com o uso de prótese convencional. Porém, por ser um

amplificador sonoro, a prótese auditiva necessita de uma reserva coclear

suficiente para que possa haver boa percepção do som e discriminação da fala.

Nos pacientes com pouca reserva coclear que não conseguem boa

discriminação mesmo com amplificação sonora, o implante coclear (IC) é

uma alternativa para reabilitação da deficiência auditiva.

O uso do IC em pacientes com Síndrome de Waardenburg tem se

mostrado uma boa alternativa, e resultados desta intervenção serão

apresentados a seguir.

11

3. IMPLANTE COCLEAR

Segundo Kozlowski (1994), a estimulação elétrica pela aplicação direta

de um eletrodo sobre o nervo auditivo foi proposta pela primeira vez por

Djourno e Eyries em 1957.

House e Urban implantaram em um paciente, em 1961, um Sistema de

bobinas de indução, com cinco eletrodos intracocleares. Porém, eles não

conseguiram obter sucesso. (KOSLOWSKI 1994).

Em 1962, Doyle realiza a primeira cirurgia que obteve sucesso. O

paciente teve audição útil por mais de um ano. Este autor é responsável

também pela primeira tentativa de um IC com multieletrodos. (KOSLOWSKI

1994).

A ideia do IC começou na década de 1930/40, porém somente em 1957

Djourno e Eyries descreveram pela primeira vez os efeitos da estimulação do

nervo auditivo em um indivíduo surdo, com a colocação de fio metálico no

nervo auditivo de um paciente submetido à cirurgia do nervo facial. Segundo o

paciente, o ruído gerado era parecido com o som produzido por uma “roleta de

cassino”. (SLEIFER e FERNANDES, 2009).

Desde então a tecnologia envolvendo IC desenvolveu-se rapidamente. Em

1977 foi implantado o primeiro paciente brasileiro pelo Professor Pedro Luiz

Mangabeira Albernaz utilizando o implante monocanal desenvolvido pelo Ear

Research Institute de Los Angeles. Desde a década de 70 até os dias atuais,

estima-se que 60 a 65 mil pacientes já foram implantados, sendo 24 mil nos

EUA. No sul do Brasil, o IC é realizado desde o final da década de 1980

(SLEIFER e FERNANDES, 2009).

No Paraná (RIBAS, 2013), o IC começou a ser realizado pelo SUS em

2010, sendo que dois centros realizam o procedimento, o Hospital Infantil

Pequeno Príncipe e o Hospital de Clínicas. Antes disso, serviços privados

realizavam o procedimento desde 2006.

O IC é uma prótese eletrônica introduzida cirurgicamente na orelha

interna. Ao contrário da prótese auditiva convencional, o IC capta a onda

sonora e transforma em impulso elétrico estimulando diretamente o nervo

coclear. (RIBAS, 2013).

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O IC é composto por duas unidades, uma externa, usada pelo paciente

conforme sua vontade, contendo um microfone, um processador de fala e uma

antena transmissora; e uma unidade interna, cirurgicamente implantável, que

contém um receptor/estimulador e um fino cabo de eletrodos. Esse processo

de funcionamento do IC é muito rápido e permite que o indivíduo escute os

sons no momento de ocorrência desses, ou seja, a informação sonora é

processada em microssegundos, permitindo que seu usuário possa detectar e

perceber essa informação auditiva instantaneamente. (SLEIFER e

FERNANDES, 2009).

Os componentes essenciais que compõe o sistema de IC (figura 2) são:

1. Microfone direcional: situado no compartimento retroauricular, capta

a informação acústica e converte-a a sinais elétricos.

2. Processador de fala externo: filtra, analisa e digitaliza o som em sinais

codificados de acordo com uma estratégia pré-definida.

3. Antena de transmissão: envia os sinais codificados como sinais de

rádio FM para o receptor.

4. Receptor/estimulador (uma das partes internas do implante, fica

debaixo da pele): libera energia elétrica adequada para o feixe de eletrodos

inseridos na cóclea.

5. Feixe de eletrodos: estimulam as fibras nervosas remanescentes na

cóclea.

FIGURA 2 – ESQUEMA DO IC

Fonte: USP, 2014

13

Na historia do IC podemos encontrar dois tipos de tecnologias:

monocanais ou multicanais.

Os implantes monocanais foram amplamente utilizados durante as

décadas de 70 e 80. Este tipo de implante estimula o nervo auditivo através de

um campo elétrico formado por dois eletrodos, um ativo na cóclea ou em sua

superfície e outro referência, localizado fora da cóclea. Este tipo de

estimulação, denominada monopolar, permite que a corrente elétrica se

espalhe por uma área relativamente grande possibilitando o estímulo de um

grande número de elementos neurais a uma intensidade baixa de corrente

elétrica (KOZLOWSKI, 1997; BENTO ET AL, 2014).

Os implantes monocanais capacitaram os pacientes ao reconhecimento

de sons ambientais, facilitaram a leitura labial e proporcionaram uma melhora

psicológica, porém falharam em permitir a discriminação e o reconhecimento

de palavras e frases sem o auxílio da leitura labial (KOZLOWSKI, 1997;

BENTO ET AL, 2014).

Com o incremento da tecnologia digital e da informática, houve um

progresso muito grande da bioengenharia, possibilitando o advento de

sistemas mais complexos de estimulação sensorial e principalmente, o

desenvolvimento de processadores de fala que permite estratégias de

estimulação mais sofisticadas (KOZLOWSKI 1997; BENTO ET AL, 2014).

Os sistemas multicanais foram desenvolvidos com o objetivo de utilizar,

além da estimulação monopolar, uma estimulação que proporciona um campo

elétrico mais específico, usando propriedade tonotópica da cóclea. O sistema

multicanal Nucleus 22 foi o primeiro implante multicanal aprovado pelo Food

and Drug Administration (FDA) para uso clínico em 1994. Desde então os

sistemas multicanais suplantaram os aparelhos monocanais na discriminação

de freqüências sonoras e percepção da fala, praticamente substituindo-os por

completo (KOZLOWSKI 1997; BENTO ET AL, 2014).

Vários implantes multicanais receberam a autorização do FDA para uso

em crianças e adultos. Os principais são: Nucleus 22 e Nucleus 24 (Cochlear

Corporation), Clarion Multi-Strategy (Advanced Bionics Corporation) e Med-El

Combi (Medical Eletronics Corporation) (KOZLOWSKI 1997; BENTO ET AL,

2014).

14

A função do processador de fala é converter a informação transmitida

pelo microfone em estímulos elétricos que representem aspectos da fala que

podem ser percebidos pelos pacientes. As estratégias de processamento da

fala utilizadas para alcançar esse objetivo variam conforme as características

do implante utilizado e podem ser classificados por suas propriedades, que

incluem o tipo de estímulo aos eletrodos (simultâneo ou não simultâneo) e o

tipo de apresentação da onda elétrica (analógica ou pulsátil) .A maioria dos

implantes atuais é multicanal. O som que chega ao processador de fala é

filtrado em várias bandas de frequências, cada uma associada a um par de

eletrodos. Cada banda de frequência e seus eletrodos correspondentes são

chamados de “canal”. As estratégias de processamento de fala mais utilizadas

nos dias atuais diferem no número de canais e na velocidade de tempo que

cada canal é estimulado. (KOZLOWSKI 1997; BENTO ET AL, 2014).

3.1 CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO DO IC

Alguns pré-requisitos indispensáveis para se prever se um paciente é

candidato ao uso do IC foram propostos pelo Report of the Ad Hoc Comitte

on Cochlear Implants em 1986. Os critérios de decisão de realização de um

IC surgem da fase de seleção dos candidatos. Através de toda experiência

com surdos implantados, observamos que a fase de seleção e de preparação

dos pacientes antes do implante é primordial (KOZLOWSKI, 1994; TSUJI,

2014).

Os pacientes candidatos a IC passam por uma avaliação multidisciplinar

composta por médicos, fonoaudiológas, psicólogos e assistentes sociais para

definirem quais os pacientes que serão implantados (YAMADA, 2014).

Todo candidato ao IC deve submeter-se à avaliação de uma equipe

interdisciplinar que irá definir, de acordo com os achados, se o indivíduo está

apto ou não a realizar a cirurgia (SLEIFER e FERNANDES 2009).

Os critérios para indicação de um IC estão em constante mudança, em

virtude da evolução tecnológica e econômica mundial (RIBAS, 2013).

Atualmente, são considerados essenciais:

Critérios Audiológicos - Os pacientes, para as quais os implantes são

destinados, devem ter como características uma deficiência auditiva bilateral

15

severa ou profunda, e não devem se beneficiar significativamente de um

aparelho de amplificação sonora convencional (OITICICA, LEZIROVITZ E

BATSSOCO, 2014).

Critérios Eletrofisiológicos - O paciente deve dispor de um número de

fibras auditivas restantes que possam fornecer sensações auditivas a partir de

estimulações elétricas (GRAZEL ET AL, 2014).

Critérios Clínicos – condições clínicas do paciente devem ser favoráveis à

realização do procedimento cirúrgico (ATAIDE, 2014). A avaliação do médico

otorrinolaringologista inclui anamnese e exame físico. Avaliação radiológica da

cóclea é mandatória para determinar se a cóclea está presente, se apresenta

más formações congênitas e para aferir sua patência. Tomografia

computadorizada com cortes de 1 mm é o exame de escolha. Labirintite

ossificante pode ser demonstrada na tomografia, porém obliteração por

tecidos moles não pode ser demonstrada na tomagrafia craniana. Nestes

casos, deve-se realizar ressonância magnética que fornece informações

adicionais a tomografia. Ossificação intracoclear não é contra indicação

absoluta para colocação de implantes cocleares, mas pode limitar o número

de eletrodos introduzidos na cóclea.

Critérios Psicológicos – a avaliação psicológica deve ser realizada com o

objetivo de identificar fatores que podem excluir os pacientes na seleção de

candidatos. Disfunção neurológica orgânica, retardo mental, psicose ou

expectativas irreais contra-indicam a colocação de IC. Informações sobre

apoio familiar, condições de acompanhamento pós-opratório e outro aspectos

que podem afetar o sucesso da cirurgia são aferidos na seleção dos

candidatos (YAMADA, 2014).

Critérios fonoaudiológicos – a avaliação de linguagem deve demonstrar

que o candidato ao IC possui condições de ser oralizado; faz leitura orofacial;

tem uso limitado de LIBRAS. Em caso de surdez pós-lingual o candidato

deve ter linguagem estruturada (MARTINEZ E BALEN, 2014).

Segundo Ribas (2013) os pacientes devem ser também analisados em

função de idade, duração da privação sensorial, etiologia da surdez, pré ou

16

pós-aquisição de linguagem, nível sócio-cultural, capacidade de

aprendizagem.

No Brasil, quando o IC for realizado pelo SUS, quem determina as

condições para realização do procedimento é o Ministério da Saúde, por meio

da portaria nº 1.278, de 20 de outubro de 1999 (BRASIL, 1999).

Este documento preconiza, em caso de crianças, o seguinte critério:

surdez pré e pós-lingual; experiência prévia com o uso de aparelho auditivo

por, pelo menos, três meses; presença de incapacidade de reconhecimento

de palavras, em conjunto fechado; a família da criança deve estar motivada;

realização da reabilitação auditiva na cidade de origem. É importante

ressaltar que crianças com faixa etária acima de seis anos de idade e

adolescentes devem ter realizado terapia fonoaudiológica desde o

diagnóstico de perda auditiva, além de uso de aparelho auditivo. O código

linguístico estabelecido e motivação também se fazem necessários no caso

de adolescentes.

O IC está contra indicado nos casos onde se observa: condições

médicas ou psicológicas desfavoráveis, agenesia de cóclea, lesões centrais,

infecção ativa da orelha média ou expectativa familiar além dos reais

benefícios proporcionados pelo IC.

Pacientes que ficaram surdos após os cinco anos de vida são usualmente

classificados como surdos pós-linguais. Apesar de estes pacientes

desenvolverem vários aspectos da fala, eles frequentemente demonstram

rápida deterioração da sua fala após perda do input auditivo. A colocação de IC

precocemente pode melhorar e diminuir a deterioração da produção da fala e

da percepção do som (KOZLOWSKI, 1994; BENTO ET AL, 2014).

Até recentemente, a idade mínima era dois anos. Em 1998, o limite de

idade diminuiu para 18 meses na perda auditiva severa e atualmente é de 6

meses em casos de meningite e/ou surdez profunda de etiologia genética

comprovada e, nestes casos, não é obrigatória a experiência com AASI. O

mais novo paciente implantado na Universidade de New York tinha seis meses

de idade, entretanto, pelo maior risco cirúrgico, anestésico e de lesão do nervo

facial, recomenda-se ainda a idade mínima de um ano. Como o

desenvolvimento da percepção da fala, a produção da fala e o desenvolvimento

17

da linguagem iniciam-se precocemente, acredita-se que quanto mais precoce a

colocação do IC, maior benefício a criança surda apresentará. A colocação de

IC o mais precoce possível é particularmente importante nos casos de surdez

pós-meningite, devido à ossificação intracoclear que ocorre impedindo a

colocação dos eletrodos no lúmen da cóclea. (KOZLOWSKI, 1994, JUNIOR,

2014).

Segundo (Oliveira, 2005) deve-se lembrar que a plasticidade auditiva

ocorre em maior grau com 1 ano de vida, daí a indicação de cirurgia em

crianças implantadas abaixo de 12 meses, atualmente Crianças implantadas

em uma idade mais jovem têm performance melhor. As crianças implantadas

abaixo de 2 anos atingem melhor performance no teste open-set de

reconhecimento de fala. Crianças com audição residual, muitas vezes, têm

melhor performance com implantes. Aquelas com habilidade mensurável de

reconhecimento de fala em open set, antes da implantação, realizam melhor

performance. Nestes casos, avaliação dos pais através de questionário é

usada para aferir o benefício da prótese. Considerações devem ser feitas em

relação às pequenas dimensões do osso temporal e a uma possível

interferência no crescimento do mesmo no pós-operatório. Além disso, a

incidência de otite média nesses pacientes é alta podendo comprometer o

funcionamento do implante. Entretanto, a extensão do limite de idade para

implantação para 6-12 meses é plausível do ponto de vista anatômico. A cóclea

ao nascimento tem o tamanho da cóclea do adulto e com um ano de vida o

recesso do facial e o antro estão adequadamente desenvolvidos. Embora não

se tenha determinado o período crítico para implantação de crianças com

surdez congênitas (alguns grupos consideram três anos, enquanto outros

acham que o período crítico vai até sete anos), evidências na literatura

sugerem que os melhores resultados ocorrem em crianças implantadas antes

dos cinco anos. A colocação precoce do IC é importante uma vez que há uma

janela de desenvolvimento do sistema auditivo antes dos cinco anos que

permite integração da informação auditiva produzida pela estimulação coclear e

os centros corticais da linguagem. Após este período crítico, a plasticidade

neuronal diminui e a habilidade do cérebro no desenvolvimento da fala e da

linguagem fica comprometida permanentemente.

18

3.2 CIRURGIA

A cirurgia do IC é relativamente simples, porém, deve ser realizada por médico

otologista experiente (ATAÍDE, 2014; BRITO ET AL, 2014; LIMA, 2014). Os

passos cirúrgicos são:

1. Incisão retroauricular em S invertido (figura 3);

2. Retalho do músculo temporal;

3. Mastoidectomia simples, com identificação do canal semicircular

lateral, processo curto da bigorna;

4. Abertura do recesso do facial (timpanotomia posterior);

5. Visualização do nicho da janela redonda através do recesso do facial

aproximadamente 2 mm inferior ao estapédio;

6. Realização do nicho do receptor/estimulador;

7. Cocleostomia: a escala timpânica é melhor encontrada se a

cocleostomia for realizada anterior e inferior ao anulus da janela

redonda. A cocleostomia é realizada com broca diamantada criando

uma pequena abertura suficiente para passagem dos eletrodos, com

cerca de 0,5 mm;

8. Colocação dos eletrodos na escala timpânica;

9. Fechamento da cocleostomia com pequenos pedaços de fáscia, sangue

ou pó de osso;

10. Fechamento por planos.

19

FIGURA 3

Fonte: USP, 2014

São poucas as complicações decorrentes da cirurgia de IC e podem ser

minimizadas com planejamento cirúrgico e técnica adequada. As principais

são: necrose do flap muscular (complicação mais freqüente); paralisia ou

paresia facial (0,71% casos, geralmente tardia); saída de liquor (gusher)

principalmente em pacientes com displasia de Mondini e aqueduto vestibular

alargado; mastoidite; extrusão do implante; infecção da ferida cirúrgica;

meningite; quebra do feixe de eletrodos (BENTO ET AL, 2014).

3.3 BENEFICIOS DO IC

Segundo Kozlowski (1994). Os resultados audiológicos dos pacientes

com IC são muito variáveis. Alguns pacientes implantados conseguem se

comunicar sem o apoio da leitura labial, podendo falar ao telefone; enquanto

outros conseguem apenas escutar sons ambientais e melhorar suas

habilidades de leitura labial.

Acredita-se que a perda de células nervosas e atrofia dos centros

corticais da audição estejam relacionadas com um pior resultado.

Os primeiros implantes cocleares da Nucleus usavam estratégias de

processamento que proporcionavam um reconhecimento parcial de vogais e

consoantes, mas não permitiam um bom reconhecimento de palavras.

20

A nova geração dos processadores de fala permitiu um ganho

substancial no reconhecimento de palavras e sentenças. Média de 36 e 74%

de reconhecimento de palavras e reconhecimento de fala respectivamente

são reportados com o uso de implantes Nucleus com a estratégia SPEAK em

adultos.

Os implantes cocleares multicanais fornecem um bom reconhecimento

de fala para a maioria dos pacientes adultos. Alguns adultos são incapazes

de entender palavras sem o auxílio da leitura labial enquanto outros

conseguem falar ao telefone. Acredita-se que o tempo de surdez, idade da

colocação do implante, inteligência (habilidades cognitivas), leitura labial e

audição residual são fatores que contribuem no sucesso do implante

(PENTEADO, 2014).

Crianças e adultos pós-linguais utilizam a informação transmitida pelo

implante para comparar com as representações da linguagem que tinham

antes da perda auditiva. Entretanto, a maioria das crianças implantadas

apresenta surdez pré-lingual ou perda congênita e não apresentam memória

da linguagem falada. Essas crianças utilizam o som produzido pelo IC para

desenvolver sua produção e percepção de fala e habilidades auditivas.

Assim como nos casos de adultos, as primeiras estratégias de

processamento de fala do Nucleus não permitiram um significativo

desenvolvimento na identificação de palavras em sentenças fechadas

(habilidade de identificar palavras num grupo de palavras dadas), porém

falhava no reconhecimento de palavras em sentenças abertas. Com os

novos processadores de fala, houve melhora significativa da percepção da

fala em crianças. Estudos mostram uma média de 30-44% de palavras

corretas (PENTEADO, 2014).

21

4.RELATO DE CASO

Esta pesquisa configura-se em um estudo de caso aprovado pelo comitê

de ética em pesquisa CEP-UTP 047/2009 (anexo 1).

Este estudo de caso se refere a HSD, paciente do gênero masculino

nascido em 06 de maio de 2013, portador da síndrome de Waadenburg com

surdez desde o nascimento. A mãe, responsável pela criança, autorizou a

utilização dos dados de avaliação audiológica e de percepção auditiva.

A família procurou o hospital Pequeno Príncipe em Curitiba para

avaliação auditiva e provável indicação de IC em 26 de março de 2014.

Nesta data a criança passou por avaliação com equipe interdisciplinar,

ou seja, médico otorrinolaringologista e fonoaudiólogo.

Durante a anamnese realizada com a mãe e o pai do menor, registrou-

se os seguintes dados:

O casal vivia maritalmente e planejaram a gestação. A gravidez

transcorreu tranquilamente. A mãe foi internada uma vez, pois apresentou forte

gripe o que, contudo, não interferiu no desenvolvimento do bebê.

HSD nasceu de parto normal e a termo. No período neonatal imediato,

mãe e bebê passaram bem.

Houve tentativa de realizar o teste da orelhinha na maternidade, mas

segundo os pais, a criança não permitiu. O teste foi feito quando ele estava

com dois meses de vida e o resultado apresentou-se alterado. Tal teste foi

realizado novamente por mais de uma vez e o resultado foi sempre alterado.

Os testes do pezinho e do olhinho foram normais.

Como o resultado do teste da orelhinha não foi bom, a fonoaudióloga

que os atendeu encaminhou o bebê para o otorrinolaringologista que confirmou

a deficiência auditiva.

HSD foi diagnosticado com Sindrome de Waardenburg aos 10 meses,

apresentando sintomas como: deficiência auditiva, alterações pigmentárias no

cabelo e nos olhos e hiperplasia da porção medial dos supercílios.

Há casos de surdez de primos de segundo grau na família do pai, mas

não decorrentes da síndrome.

A mãe apresenta alguns sinais da síndrome, como mancha branca no

cabelo, hiperplasia da porção medial dos supercílios e deslocamento lateral do

22

canto medial e do ponto lacrimal inferior, mas nunca imaginou que fossem

sinais sindrômicos, apenas acreditava serem características familiares.

Em função da perda auditiva profunda bilateral, HSD teve indicação de

prótese auditiva, porém, segundo os pais, ele apresentou dificuldades de

adaptação. Com insistência a criança tem conseguido ficar mais tempo com os

aparelhos.

A criança está em tratamento fonoterápico duas vezes por semana, com

terapia aurioral. Os resultados com prótese auditiva não são suficientes,

portanto, foi indicado o IC.

A equipe de IC do HPP, com vistas à realização do implante, realizou

exames audiométricos que estão listados no Quadro 1.

QUADRO 1 – Resultados audiológicos

TESTE AUDITIVO RESULTADO

Emissão otoacústica Ausente bilateralmente

PEATE Ausência de limiares em 90dBHL

Imitanciometria Curvas tipo A

Observação comportamental sem AASI Compatível com perda profunda

Observação comportamental com AASI Ganho funcional de 20dB nas duas

orelhas

Fonte: HPP, 2014

Além destes testes foram realizados:

a) Tomografia: exames compatíveis com orelhas internas normais.

b) Avaliação psicológica: psicólogo indicou o IC.

c) Avaliação de serviço social: assistente social indicou o IC.

Em junho de 2014 a criança foi submetida à cirurgia de IC. O lado eleito

para implantação foi o esquerdo. O modelo de IC escolhido foi Freedom da

marca Cochlear.

A ativação ocorreu no mês de julho de 2014, junto com o 1º

mapeamento.

23

O 2º mapeamento ocorreu em setembro de 2014.

Testes de percepção auditiva foram realizados para acompanhamento

do caso, e os resultados estão demonstrados nos quadros 2, 3, 4 e 5.

QUADRO 2 – Percepção auditiva sem amplificação

TESTE AUDITIVO RESULTADO

Sons de LING Não reagiu

Chamar pelo nome Não reagiu

Guizo – 50dB Não reagiu

Agogô – 70 dB Não reagiu

Tambor – 90dB Atenção

Fonte: HPP, 2014

QUADRO 3 – Percepção auditiva com AASI

TESTE AUDITIVO RESULTADO

Sons de LING Não reagiu

Chamar pelo nome Não reagiu

Guizo – 50dB Não reagiu

Agogô – 70 dB Não reagiu

Tambor – 90dB Atenção

Fonte: HPP, 2014

QUADRO 4 – Percepção auditiva com IC na ativação e 1º mapeamento

TESTE AUDITIVO RESULTADO

Sons de LING Não reagiu

Chamar pelo nome Atenção

Guizo – 50dB Atenção

Agogô – 70 dB Atenção

Tambor – 90dB Atenção

Fonte: HPP, 2014

24

QUADRO 5 – Percepção auditiva com IC no 2º mapeamento

TESTE AUDITIVO RESULTADO

Sons de LING 100%

Chamar pelo nome Atenção e procura da fonte

Guizo – 50dB Atenção e procura da fonte

Agogô – 70 dB Atenção e procura da fonte

Tambor – 90dB Sobressalto e procura da fonte

Fonte: HPP, 2014

25

5. DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo descrever um caso clínico de

indicação de Implante Coclear para uma criança portadora da Síndrome de

Waardenburg, que apresentava surdez bilateral profunda desde o nascimento,

avaliada pela equipe de IC do Hospital Pequeno Principe.

As características físicas do paciente sugerem síndrome do Tipo I,

conforme descrito por Barzotto e Folador (2004)

A deficiência auditiva é o sintoma mais preocupante da síndrome de

Waardenburg (MARTINS, YOSHIMOTO e FREITAS 2003). Originalmente,

Waardenburg estima que a penetrância da surdez nesta síndrome é de 20%,

entretanto. Provavelmente relacionada à grande variação na expressividade

desta síndrome principalmente quando características isoladas são

comparadas. Neste estudo de caso, a perda auditiva diagnosticada é de grau

profundo.

A etiologia na maioria dos casos da síndrome de Waardenburg parece ser

uma anomalia genética de transmissão autossômica e dominante, cuja

penetrância e expressividade variam consideravelmente, ocorrendo igualmente

em ambos os sexos (BARZOTTO, FOLADOR 2004). No presente estudo não

foi realizado exame genético, porém, segundo anamnese, a mãe relata que

vários membros da sua família possuem as mesmas características faciais e a

mecha no cabelo, porém, sem perda auditiva.

Estima-se que 25% dos casos representem uma mutação nova, como

ocorre nos casos isolados. Waardenburg demonstrou que nem todas as

características precisam necessariamente estar presentes em cada paciente,

mas que o indivíduo com a síndrome parcial pode transmitir o quadro completo

a seus filhos. Isso mostra a importância do aconselhamento genético, reforçado

pelo problema da surdez que gera graves transtornos (MARTINS,

YOSHIMOTO e FREITAS 2003).

O paciente, depois de analisados os dados, enquadrou-se nos critérios

de IC.

Os pacientes candidatos ao IC devem ter como característica uma

deficiência auditiva bilateral severa ou profunda, e não deve se beneficiar

significativamente de um aparelho de amplificação sonora convencional

26

(OITICICA, LEZIROVITZ E BATISSOCO, 2014). Os testes com prótese

auditiva realizados no paciente aqui estudados revelam um ganho funcional de

20dB, ou seja, pouco benefício com prótese auditiva.

Ele passou por avaliação de uma equipe multidisciplinar composta por

médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais para a definição da

possibilidade da realização do implante, conforme determina a literatura

(YAMADA, 2014).

Após avaliação do caso foi observada a real necessidade e possibilidade

de realização do IC. A cirurgia foi realizada de acordo com os critérios clínicos

recomendados (LIMA, 2014).

Um mês após a cirurgia a criança foi ativada e mapeada, e 60 dias

depois realizou o segundo mapeamento. Estas estratégias servem para acionar

o mecanismo interno do IC e permitir que o ouvido implantado passe a receber

e processar informações sonoras do meio.

Já no primeiro mapeamento observou-se respostas de atenção para

sons fracos, e no segundo, respostas voluntárias de localização de fonte

sonora para o lado implantado.

Segundo a literatura consultada, o IC tem por finalidade permitir que o

surdo tenha acesso a mundo sonoro, e limiares auditivos próximos da

normalidade (PENTEADO, 2014), o que permite inferir que no caso estudado o

resultado esta sendo favorável.

27

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O implante coclear é indicado no tratamento de crianças deficientes

auditivas com privação sensorial auditiva que não se beneficiam do uso da

prótese auditiva convencional.

A pesquisa revelou o aumento da detectabilidade e percepção dos sons

da criança implantada.

É importante ressaltar que o implante por si só não gera o resultado que

os pais e familiares da criança esperam sem o auxilio contínuo e ininterrupto de

terapias fonoaudiológicas.

O implante coclear é uma alternativa para os pacientes com surdez

profunda. Eles permitiram uma grande mudança da qualidade de vida de

indivíduos surdos aumentando a independência desses pacientes, maior

motivação, diminuição no sentimento de solidão e insegurança e melhora no

relacionamento social desses pacientes.

28

BIBLIOGRÁFIA

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ANEXO 1