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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS COPPEAD – INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: UMA REVISÃO DO ESTADO DA QUESTÃO. ALINA ALBUERNE VALLE DE OLIVEIRA Dissertação apresenta ao COPPEAD como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ORIENTADOR: Prof. AGRÍCOLA DE SOUZA BETHLEM Rio de Janeiro, RJ – Brasil Fevereiro 2001

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROCENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

COPPEAD – INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISAEM ADMINISTRAÇÃO

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA:UMA REVISÃO DO ESTADO DA QUESTÃO.

ALINA ALBUERNE VALLE DE OLIVEIRA

Dissertação apresenta ao COPPEAD como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ORIENTADOR: Prof. AGRÍCOLA DE SOUZA BETHLEM

Rio de Janeiro, RJ – BrasilFevereiro 2001

RESUMO DA TESE APRESENTADA À COPPEAD/UFRJ, COMOPARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DOGRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS (M.Sc)

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA:UMA REVISÃO DOESTADO DA QUESTÃO

Alina Albuerne Valle de OliveiraFevereiro 2001

Orientador: Prof.: Agrícola de Souza BethlemPrograma: Administração

Este estudo teve por objetivos: investigar o estado do

conhecimento, em suas várias vertentes, buscando integrá-los em um modelo

conceitual; avaliar o exercício da responsabilidade social corporativa no Brasil

e identificar tendências tanto conceituais como empíricas da responsabilidade

social corporativa

A bibliografia analisada compreendeu um material bastante

diversificado (artigos, livros) publicados entre 1932 e 2001, alcançando um

total de 163 títulos.

Esta análise deu origem as seguintes conclusões:

1. Na maioria dos autores que aceitam a doutrina da

responsabilidade social corporativa, verificou-se certo consenso em torno dos

seguintes aspectos: a ampliação do alcance da responsabilidade da empresa,

que não se limita ao círculo dos acionistas; mudança na natureza das

responsabilidades, que ultrapassam o âmbito da prescrição legal, envolvendo

também obrigações morais ditadas pela ética; a adequação às demandas

sociais, num dado contexto sócio-econômico.

2. O conceito de responsabilidade social corporativa está

associado ao reconhecimento de que as decisões e os resultados das atividades

das companhias alcançam um universo de agentes sociais muito mais amplo

do que o composto por seus sócios e acionistas. A responsabilidade social

corporativa enfatiza o impacto das atividades das empresas para os agentes

com os quais interagem: empregados, fornecedores, clientes, consumidores,

colaboradores, investidores, governos e comunidades. Este conceito expressa

a adoção de responsabilidades que vão além daquelas já compulsórios para as

empresas, expressa a adoção e difusão de valores, condutas e procedimentos

que induzam e estimulem o contínuo aperfeiçoamento dos processos

empresariais, para que também resultem em preservação e melhoria da

qualidade de vida das sociedades, do ponto de vista ético, social e ambiental.

3. As ações de marketing com alguma forma de dimensão

social, vêm sendo denominadas na literatura de marketing relacionado às

causas, marketing social, marketing missionário, filantropia corporativa,

marketing da responsabilidade social. A partir dos conceitos anteriores e desde

uma perspectiva de sistema social, o marketing é visto como uma parte

integral e inerente à sociedade, um processo societal que facilita a efetiva e

eficiente resolução das necessidades da sociedade, a través da troca de valores.

4. O consumerismo, sugeriu uma nova visão da

responsabilidade social corporativa, exigindo um grau mais elevado de

responsabilidade e compreensão no servir o consumidor, não apenas no

momento da venda, mais também através de todo o ciclo de vida sócio-

econômico do produto.

5. A tendência dos argumentos a favor da doutrina da

responsabilidade social corporativa é enquadrar- se em duas linhas básicas: a

ética e a instrumental. Os argumentos éticos derivam dos princípios religiosos

e das normas sociais prevalecentes, considerando que as empresas pessoas

que nelas trabalham deveriam ser conduzidas a se comportar de maneira

socialmente responsável. Os argumentos da linha instrumental consideram que

há uma relação positiva entre o comportamento socialmente responsável e a

performance econômica da empresa, sendo esta uma ação pró-ativa que busca

oportunidades geradas por uma consciência maior sobre as questões culturais,

ambientais e uma diferenciação de seus produtos diante de seus competidores

menos responsáveis socialmente.

THE FEDERAL UNIVERSITY OF RIO DE JANEIROCENTER OF JUDICIAL AND ECONOMICAL SCIENCE

COPPEAD –INSTITUTE OF POST-GRADUATION AND RESEARCHIN ADMINISTRATION

CORPORATE SOCIAL RESPONSABILITY:A REVIEW OF THE STATE OF THE ART.

ALINA ALBUERNE VALLE DE OLIVEIRA

MASTER OF SCIENCE IN BUSINESS ADMINISTRATION

ADVISOR: Prof. AGRÍCOLA DE SOUZA BETHLEM

Rio de Janeiro, RJ – BrazilFebruary 2001

ABSTRACT OF THESIS PRESENTED TO COPPEAD/UFRJ, AS APARTIAL FULFILLMENT OF THE REQUIREMENTS FOR THEDEGREE OF MASTER OF SCIENCE (M. Sc.)

CORPORATE SOCIAL RESPONSABILITY: A REVIEW OF THESTATE OF THE ART

Alina Albuerne Valle de OliveiraFebruary 2001

Advisor: Prof.: Agrícola de Souza BethlemDepartment: Administration

This study aimed to investigate the state of knowledge in

corporate social responsibility and to identify conceptual and empirical trends

in the field.

The literature studied consisted of considerably diversified

material published between 1932 and 2001, reaching a total of 163 titles.

The analysis of the literature permitted to arrive to the

following conclusions:

- Among the majority of the authors, who accept the doctrine of corporate

social responsibility, there is a certain consensus regarding the following

aspects: the amplification of the responsibility range of the firm, which is

not limited to shareholders; a change in the type of responsibilities, which

surpass the field of legal prescription, involving also moral obligations

dictated by ethics; and the adequation to social demands in a given social-

economical context.

- The concept of social corporate responsibility is associated with the

recognition of the fact that decisions and the results of the companies’

activities reach a much broader universe of social agents than the one

consisting of their associates and shareholders. The corporate social

responsibility stresses the impact of companies’ activities on the agents

who they interact with: employees, suppliers, customers, consumers,

collaborators, investors, governments and communities. This concept

expresses the adoption of responsibilities that go beyond those already

mandatory for the companies; it expresses the adoption and spread of

values, behaviors and proceedures, which induce and stimulate the

continuous improvement of corporate processes, so that they also result in

preservation and improvement of the quality of life of societies, from an

ethical, social and environmental point of view.

- Marketing actions, which have a social dimension, are being entitled in

marketing literature related to the causes, as social marketing, corporate

philanthropy, marketing of social responsibility. From the former concepts

and from a social system perspective, marketing is seen as an integral part

of society, a social process which facilitates an effective and efficient

satisfaction of societal needs.

- Consumerism suggested a new point of view of corporate social

responsibility, demanding a higher degree of responsibility and

understanding in serving the consumers, not only at the moment of

purchase, but also through the entire social and economic life cycle of the

product.

- Arguments in favor of the corporate social responsibility doctrine can be

classified in two basic lines: ethical and instrumental. Ethical arguments

derive from religious principles and prevailing social norms, considering

that the people that work in companies should be conducted to behave in a

social responsible manner. Instrumental arguments consider that there is a

positive relationship between social responsible behavior and the

economical performance of the firm, in such a way that a proactive action,

seeking opportunities, generate greater awareness of culture and

environmental matters and a differentiation of their products in comparison

with less social responsible competitors.

AGRADECIMENTOS:

À minha mãe Luisa, pela herança ética e sensibilidade, à meus

irmãos Ania e Enrique, pela força e carinho dedicados;

Ao meu esposo, Lêni, pelo seu amor, apoio e incentivo a

terminar este projeto;

À professora Angela da Rocha pela sabedoria, conhecimento e

revisão especializada;

Ao professor Renato Cotta de Mello pela paciência e

compreensão, pela sua confiança na minha capacidade;

Ao professor Agrícola Bethlem, pela disposição ao orientar

este trabalho;

Ao professor Eduardo Saliby, grande anfitrião, que soube me

receber neste país com carinho e respeito;

À meus colegas da Turma 97, pela acolhida, calor humano e

incondicional ajuda;

À todos os professores e funcionários da COPPEAD, que

sempre estiveram dispostos a colaborar com o desenvolvimento acadêmico,

especialmente Cida e Carlos, da secretaria; Vera, Bárbara, da biblioteca;

Sandra, secretária da área de marketing e Elza da AMEA.

ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO

1.1 Origem do Estudo1.2. Objetivos do Estudo1.3. Importância do Estudo.

II. RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.1. Origem2.2. Conceituação2.3. Evolução atual do conceito.

III. EXERCÍCIO DA RESPONSABILIDADE SOCIALCORPORATIVA

3.1. Fases do projeto de Responsabilidade Social Corporativa3.2. A proposta do Arbeitskreis3.3. A proposta do Batelle Institute3.4. Abordagens de avaliação de desempenho3.5. O Balanço Social no Brasil

3.6. Estágios de institucionalização do Balanço Social 3.7. Legislações no Brasil relacionadas com a responsabilidade Social

das Empresas e o Balanço Social3.8. Auditoria e certificação Social3.9. Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social Empresarial3.10. A Responsabilidade Social Corporativa e DesenvolvimentoSustentável.

3.11. A Cidadania Empresarial 3.12. Passos básicos para uma estratégia de boa cidadania corporativa 3.13. A Responsabilidade Social Corporativa como fator competitivo

IV. O MOVIMENTO CONSUMERISTA E O CONCEITOSOCIETAL DO MARKETING

4.1. O Consumerismo

4.2. A proteção do consumidor4.3. A falácia otimista do conceito de marketing4.4. Um conceito de Marketing revisto4.5. A nova visão de Marketing sugere uma nova visão daResponsabilidade Social da empresa4.6. Uma abordagem moderna sobre o consumerismo4.7 . Ampliação do conceito de Marketing

4.7.1. O Marketing como um processo de troca4.8 . O conceito societal de Marketing

4.8.1. Definindo os limites do marketing

V. MARKETING SOCIAL

5.1. Origem5.2. Conceito5.3. Distinguindo o conceito de Marketing Social5.4. Idéias, causas e questões sociais.5.5. Mudanças sociais5.6. Condições exigidas para o Marketing Social eficaz5.7. Os adotantes escolhidos como alvo e o mix de Marketing5.8. Críticas ao Marketing Social

VI. MARKETING RELACIONADO ÀS CAUSAS SOCIAIS (CauseRelated Marketing)

6.1. Conceito6.2. Aspectos estratégicos do Marketing relacionado às causassociais6.3. Aspectos importantes para o êxito de um programa relacionadoa causas sociais.6.4. Porque algumas campanhas fracassam.

VII. MARKETING PARA ORGANIZAÇÕES SEM FINSLUCRATIVOS

7.1. Conceito7.2. Abordagem de Shapiro para o Marketing de organizações quenão visam lucro.7.3. O composto de Marketing para Organizações sem finslucrativos

7.3.1. Análise do mercado selecionado7.3.2. Planejamento do produto7.3.3. Determinação do preço7.3.4. Promoção7.3.5. Distribuição.

7.4. Estratégias formuladas por Kotler para introduzir o Marketingem organizações sem fins lucrativos.

VIII. CONCLUÇÕES

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

LISTA DE ILUSTRAÇÕES.

Quadros:

- Quadro 1: Parceiros da empresa- Quadro 2: Responsabilidade interna e externa- Quadro 3: Fatores que contribuíram para o surgimento do

consumerismo nos anos sessenta- Quadro 4: Evolução do conceito de Marketing- Quadro 5: Comparação entre o Marketing Social e o Marketing

Tradicional- Quadro 6: Passos para a implementação estratégica do Marketing

relacionado às causas sociais em organizações lucrativas- Quadro 7: Passos para a implementação estratégica do Marketing

relacionado às causas sociais em organizações não-lucrativas

Figuras.

- Figura 1: Os três pilares do desenvolvimento sustentável- Figura 2: Escala de entidade de mercado

1

I. INTRODUÇÃO

1 .1. Origem do estudo

Vista no seu conjunto, a humanidade contemporânea constitui uma

intrincada rede de inter-relações que une as pessoas em grupos, e estes em unidades

progressivamente maiores, cobrindo todo o planeta. Esse complexo sistema põe em

contato pessoas e grupos, formando a base de um intenso processo de comunicação

entre seus múltiplos componentes, células e órgãos do imenso corpo social.

A realidade em que vivemos constitui, em última análise, uma imensa

sociedade de organizações. A organização é uma invenção humana e um fato social.

O homem habita em duas ambiências: uma natural e outra social, adaptando-se ao

meio natural por meio de mecanismos fisiológicos e recursos técnicos, e ao social, por

processos chamados sociais, que se desenvolvem à base de interação (Souza, 1983,

p.26 ).

Uma organização é definida (Orstman, 1984) como um sistema técnico-

social dotado de características diferenciadoras próprias e que, socialmente

legitimada, realiza funções relevantes para a sociedade. Já Morgan, em conceituação

mais moderna, reflete sobre a organização em uma perspectiva mais ampla e mais

aberta, utilizando a palavra imaginização para fornecer uma visão mais abrangante

do fenômeno básico. Assim, Morgan explica: a palavra organização origina-se do

grego organon que significa ferramenta ou instrumento, logo não é surpreendente que

o conceito de organização esteja sempre carregado de significado mecânico e

instrumental. Morgan, ao cunhar a palavra imaginização, tenta ficar livre do

significado mecânico, simbolizando a estreita ligação entre imagem e ação. A

2

organização é sempre determinada por imagens e idéias subjacentes; a tarefa de

organizar é realizada conforme se imaginiza e é sempre possível imaginizar-se de

muitas formas diferentes.

Morgan (1996, p. 388) conclui: “O conceito de imaginização procura

desenvolver uma atitude pró-ativa em relação ao modo pelo qual as organizações são

e como elas poderiam ser. Acredito que as pessoas podem mudar as organizações e a

sociedade, mesmo que a percepção e a verdade, ou as relações de poder verificadas

através da história, possam tornar, às vezes, a mudança difícil. De modo prescritivo,

gostaria que todos percebessem que a realidade é feita e não dada; reconhecer que ver

e compreender o mundo é sempre um ver como, em vez de um ver como sendo; e

levar em conta uma ética e uma responsabilidade social em relação às conseqüências

pessoais e coletivas do modo pelo qual vemos e agimos na vida quotidiana, difícil

como isto possa ser”.

Quando se reflete sobre as organizações deste modo, pode-se concluir

que há um processo criativo envolvido, segundo o qual novas imagens e idéias

podem criar novas ações. O ser humano é ativo ao construir os mundos em que vive;

pode beneficiar-se da maior consciência dos processos através dos quais isto ocorre; e

pode tornar-se mais reflexivo e atuante nas formas pelas quais a realidade social se

manifesta.

Este tipo de reflexão sobre o conhecimento por meio de idéias já foi

apresentado na Antigüidade por Platão. No livro VII da República, Platão propõe o

mito ou alegoria da caverna. Seu objetivo é fazer compreender a diferença entre o

conhecimento grosseiro, que vem de nossos sentidos e de nossas opiniões, e o

conhecimento verdadeiro, aquele que sabe apreender, no íntimo das coisas, a idéia das

coisas (Japiassú; Marcondes, 1990).

3

Pressupostos falsos, crenças estabelecidas, regras operacionais sem

questionamentos e numerosas outras premissas e práticas podem combinar-se para

formar pontos de vista do mundo muito estreitos que fornecem uma base e uma

limitação para ações organizadas. Enquanto criam um modo de enxergar e sugerem

uma forma de agir, tendem também a gerar maneiras de não ver e de eliminar a

possibilidade de ações associadas a visões alternativas da realidade.

Existe notável paralelismo entre a alegoria de Sócrates e muitas formas

pelas quais trabalhamos a realidade de nosso mundo. Numerosas empresas

desenvolvem culturas organizacionais que as impedem de lidar com seu meio

ambiente de modo eficaz.

Dentre os muitos tipos de organização, a empresa - especializada na

reunião e aplicação de recursos materiais e humanos no atendimento de necessidades

individuais ou coletivas - é uma das organizações em maior evidência na sociedade

contemporânea.

A empresa é um dispositivo, uma criação, um mecanismo criado pela

sociedade como meio eficiente de fornecer soluções para as suas necessidades. A

empresa não está fora da sociedade, nem é independente dela. Não tem direitos ou

privilégios que não estejam de acordo com a vontade da sociedade, e está

condicionada a servi-la.

Não bastam à sua existência a constituição jurídica ou física do conceito;

é necessária também uma estrutura organizacional que dê condições aos seus titulares

quando estes explicarem seus projetos e objetivos a todos os escalões da organização

(Requião, 1995).

4

Embora tenha criado e desenvolvido seus padrões estruturais e de

funcionamento num contexto marcadamente capitalista, ela não é instituição exclusiva

do capitalismo. E como unidade básica de produção e de troca de bens e serviços

econômicos, está presente em sociedades mais complexas.

A empresa vem comprovando que é um meio eficaz na racionalização do

atendimento de necessidades humanas, individuais e sociais, e na combinação de

recursos relativamente escassos. Mas, imperfeita como as outras obras do homem,

nem sempre desempenhou a contento sua função social. Além das acusações

tradicionais de exploração do trabalhador, de imperialismo e de depredação dos

recursos naturais, começam a ser responsabilizadas por muitos outros males que

afligem a sociedade, tais como a poluição, a deterioração do ambiente, a degradação

dos centros urbanos, o desemprego e a pobreza de imensos contingentes

populacionais.

1.2. Objetivos do Estudo

Este estudo tem por objetivo uma análise da literatura existente sobre a

responsabilidade social corporativa e temas correlatos, com vistas a:

- investigar o estado de conhecimento, em suas várias vertentes,

buscando integrá-las em um modelo conceitual;

- avaliar o exercício da responsabilidade social corporativa no Brasil;

- identificar tendências tanto conceituais como empíricas da

responsabilidade social corporativa.

5

Considerando que a responsabilidade social corporativa constitui um

tema de recente aplicação e de fundamentos não solidificados, surge a oportunidade

de serem realizados estudos que permitam reunir e avaliar o conhecimento existente,

com o intuito de direcionar pesquisas até áreas em que novos conceitos e estudos

possam ser desenvolvidos.

1.3. Importância do Estudo

Dias e Duarte (1986) analisam algumas razões para que a empresa seja

uma das instituições mais questionadas pela sociedade. Entre elas destacam-se:

- nenhuma instituição tem maior penetração social que a empresa; a

maioria das pessoas tem suas vidas ligadas, direta ou indiretamente, a alguma

empresa;

- a empresa está muito relacionada com o sistema econômico-político e

com problemas decorrentes de seu mau funcionamento;

- muitos dos males que afligem a sociedade contemporânea têm vínculos

facilmente perceptíveis com as empresas: poluição, aumentos excessivos de preços,

más condições de trabalho e outros que lhe são atribuídos;

- a empresa é vista como fonte de riqueza e criadora de tecnologia,

elementos indispensáveis à solução dos problemas sociais; e

- graças ao aperfeiçoamento e à difusão dos meios de formação e

informação, hoje é mais fácil entender o funcionamento da economia e as relações

entre vários parceiros do mundo econômico. Tal conhecimento reforça as

6

reivindicações dos trabalhadores e da sociedade, no sentido de obterem maior

participação nos benefícios resultantes da atividade econômica.

Exige-se da empresa que redimensione seu papel social, considerando-se

não apenas o interesse dos acionistas, mas também os de outros parceiros e os da

coletividade. A empresa terá que demonstrar sua utilidade social e a contribuição que

traz para o bem comum. A ela incumbe, cada vez mais, o ônus da prova. Ela terá que

definir suas finalidades de maneira mais explícita e ultrapassar a concepção segundo a

qual o lucro é o único indicador de sua utilidade pública (De Woot, 1976).

Nestas idéias está baseada a doutrina segundo a qual a empresa, cuja

existência é justificada pelos benefícios que presta à comunidade, tem

responsabilidade social. O texto a seguir versa sobre a responsabilidade social da

empresa. São idéias apresentadas por um empresário, publicadas no Jornal Gazeta

Mercantil no dia 18 setembro de 1997:

“A empresa consome recursos naturais, renováveis ou não,

direta ou indiretamente, que são enorme patrimônio gratuito da

humanidade; utiliza capitais financeiros e tecnológicos que no fim da

cadeia pertencem a pessoas físicas e, consequentemente, à sociedade;

também utiliza a capacidade de trabalho da sociedade; finalmente,

subsiste em função da organização do Estado que a sociedade lhe

viabiliza como parte das condições de sobrevivência. Assim, a empresa

gira em função da sociedade e do que a ela pertence, devendo, em troca,

no mínimo prestar-lhe contas da eficiência com que usa todos esses

recursos” (Melo Neto e Froes, 1999, p. 81).

7

II . RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.1. Origem

A responsabilidade social corporativa era aceita como doutrina nos EUA

e Europa até o século XIX, quando o direito de conduzir negócios de forma

corporativa era uma prerrogativa do Estado ou da Monarquia, e não um interesse

econômico privado (Hood, 1998). Os monarcas autorizavam os alvarás para as

corporações de capital aberto que prometessem benefícios públicos, tais como a

exploração e a colonização do Novo Mundo. As primeiras corporações nas colônias

americanas foram fundadas para prestar serviços de construção, transporte e infra-

estrutura, sendo reguladas quanto ao seu tamanho, ao tipo de negócios e à estrutura de

capital (Ashley et al., 2000).

Com a independência dos EUA, os estados integrantes começaram a

aprovar legislação que permitisse a auto-incorporação como alternativa à

incorporação por ato legislativo específico, inicialmente para serviços de interesse

público, como a construção de canais, e, posteriormente, para negócios privados.

Desta forma, até o início do século XX, a premissa fundamental da legislação sobre

corporações era a realização de lucros para seus acionistas (Hood, 1998).

Em 1919, a questão da responsabilidade e discricionariedade dos

dirigentes de empresas abertas veio à tona publicamente pelo julgamento na Justiça

Americana do caso Dodge versus Ford. Tratava-se da amplitude da autoridade de

Henry Ford, presidente e acionista majoritário, em tomar decisões que contrariavam

8

interesses de um grupo de acionistas da Ford, John e Horace Dodge. Em 1916, Henry

Ford, argumentando a realização de objetivos sociais, decidiu não distribuir parte dos

dividendos esperados, revertendo-os em investimentos na capacidade de produção,

em aumento de salários e em fundo de reserva para a redução esperada de receitas

devido ao corte no preço dos carros. A Suprema Corte de Michigan se posicionou a

favor dos Dodges, justificando que a corporação existe para o benefício de seus

acionistas e que diretores corporativos têm livre-arbítrio apenas quanto aos meios de

se alcançar tal fim, não podendo usar os lucros para outras finalidades. A filantropia

corporativa e o investimento na imagem da corporação para atrair consumidores

poderiam ser realizados, na medida em que favorecessem os lucros dos acionistas

(Campbell et al., 1999).

Após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda Guerra

Mundial, em um contexto econômico de expansão do tamanho das corporações e de

seu poder sobre a sociedade, diversas decisões nas Cortes Americanas foram

favoráveis às ações filantrópicas das corporações. Contudo, foi somente a partir dos

anos 60, nos EUA, e no início da década de 70, na Europa - particularmente na França

Alemanha e Inglaterra - que a sociedade iniciou uma cobrança por maior

responsabilidade social das empresas e consolidou a própria necessidade de

divulgação dos chamados balanços e relatórios sociais. Em todo o mundo, nesta

época, multiplicavam-se as reivindicações sociais sobre as empresas. Neste momento

os empresários entravam em alerta: era o início do seu processo de conscientização

quanto à necessidade de uma maior atuação empresarial na busca de soluções para os

problemas sociais (Berle e Means, 1932, apud Frederick 1994).

Em 1942 a idéia sobre a responsabilidade social da empresa aparece num

manifesto subscrito por 120 industriais ingleses, em que se afirma que a

9

responsabilidade dos que dirigem a indústria é manter um equilíbrio justo entre os

vários interesses do público como consumidores, dos funcionários e operários como

empregados e dos acionistas como investidores. Além disso, dar a maior contribuição

possível ao bem-estar da nação como um todo (Robison, 1964, p.72).

Entretanto, foi somente em 1953 que surgiu nos EUA o primeiro livro

que analisava o tema: Social Reponsibilities of the Businessman, de Howard Bowen,

que tornou-se um clássico , sendo traduzido para vários idiomas (Bowen, 1957).

A década de 60, nos EUA, foi caracterizada por grandes transformações

sociais e pelo surgimento dos movimentos feministas, de defesa das minorias étnicas,

de grupos ecologistas e de campanhas em favor da melhoria da qualidade de vida,

constituindo, assim, um cenário propício para a aceitação e o amadurecimento do

tema. Detecta-se, nos anos 70, uma demanda de literatura especializada, tornando-se

o assunto comum nos currículos universitários de administração. Surgem associações

de profissionais interessados em desenvolver o novo campo de estudos sobre

responsabilidade social, destacando-se a American Accouting Association e o

American Institute of Certified Public Accountants. Criam-se publicações periódicas

específicas, ao mesmo tempo que o assunto ganha espaço nas revistas especializadas e

nos grandes magazines, como Fortune e Business Week (Duarte, 1985).

Na França, o ano fiscal de 1971-72, testemunhou a primeira tentativa de

elaboração de um balanço social como instrumento de avaliação do desempenho na

área social. A idéia cresceu a ponto de transformar-se numa questão relevante para o

poder público. Assim, criou-se uma comissão especial de estudo na França, cujo

trabalho culmina com a aprovação da Lei 77-769, de 12 de julho de 1977 (Duarte e

Dias, 1986, p. 46). De acordo com o disposto na Lei, “o balanço social recapitula num

documento único os principais dados quantitativos, permitindo apreciar a situação da

10

empresa no domínio social, comportando informações sobre o emprego, as

remunerações e encargos, as condições de trabalho, as relações profissionais e suas

famílias, na medida em que estas condições dependem da empresa” (Melo Neto e

Froes, 1999, p.123). Assim, desde 1977 na França, as empresas com mais de 750

funcionários são obrigadas a publicar o Balanço Social; a partir de 1982, a lei foi

estendida a todas as empresas com mais de 300 funcionários, sendo hoje um

procedimento de rotina.

No Brasil, a idéia de Balanço Social surgiu no início da década de 80 e

teve no sociólogo Herbert de Souza (Betinho) o seu grande defensor. Através do

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), entidade a qual

presidia, Betinho iniciou uma verdadeira cruzada em prol do Balanço Social. Desde

meados de 1997, o IBASE vem chamando à atenção dos empresários e de toda a

sociedade para a importância e a necessidade da realização do Balanço Social das

empresas em um modelo único e simples (Melo Neto e Froes, 1999).

2. 2. Conceituação

O termo responsabilidade, de uso tão comum, encerra sempre a idéia de

prestação de contas: alguém deve justificar a própria atuação perante outrem. A seguir

são identificados os elementos que compõem a realidade da empresa e que mantêm

com ela alguma forma de intercâmbio. Duarte (1985, apud Duarte e Dias, 1986, p.52)

os denomina parceiros da empresa. É em torno deles que a empresa exercerá a sua

responsabilidade social (Quadro 1).

11

Quadro 1. Parceiros da empresa

PARCEIROS CONTRIBUIÇÕES DEMANDAS BÁSICASAcionistas • Capital • Lucros e dividendos

• Preservação do Patrimônio

Empregados• Mão-de-obra• Criatividade• Idéias

• Salários justos• Segurança no emprego• Realização pessoal• Condições de trabalho

Fornecedores • Mercadorias• Respeito aos contratos

• Negociação leal

Clientes • Dinheiro• Segurança e boa qualidade dos produtos• Preço acessível• Propaganda honesta

Concorrentes• Competição; referencial de mercado • Lealdade na concorrência

Governo• Suporte institucional, jurídico epolítico

• Obediência às leis• Pagamento de tributos

Grupos e Movimentos • Aportes socioculturais diversos• Proteção ambiental• Respeito aos direitos de minorias• Respeito aos acordos salariais.

Comunidade • Infra-estrutura• Respeito ao interesse comunitário• Contribuição à melhoria da qualidade de vidana comunidade• Conservação dos recursos naturais.

Fonte: Duarte e Dias (1986, p. 53)

Desde que se firmou a idéia de ampliação das responsabilidades da

empresa, uma das principais dificuldades que os estudiosos do tema enfrentam diz

respeito à terminologia. Em 1973, Votaw, referiu-se à essa indefinição conceitual:

“O termo (responsabilidade social) é um termo brilhante. Ele

significa algo, mas nem sempre a mesma coisa, para todos. Para alguns,

ele representa a idéia de responsabilidade ou obrigação legal; para outros,

significa um comportamento responsável no sentido ético; para outros,

ainda, o significado transmitido é o de responsável por, num modo

causal. Muitos simplesmente equiparam-no a uma contribuição caridosa;

12

outros tomam-no pelo sentido de socialmente consciente; muitos

daqueles que o defendem mais fervorosamente vêem-no como simples

sinônimo de legitimidade (...); uns poucos vêem-no como uma espécie de

dever fiduciário, impondo aos administradores de empresa padrões mais

altos de comportamento que aqueles impostos aos cidadãos em geral. Até

mesmo seus antônimos, socialmente irresponsável ou não responsável,

estão sujeitos a múltiplas interpretações. (Duarte e Dias, 1986, p.55)”

Para a American Accouting Association, “existe responsabilidade social

quando a empresa reconhece que é responsável não apenas perante seus acionistas,

mas perante toda a sociedade” (Duarte e Dias, 1986, p.56)

Segundo Joseph McGuire (1963) a idéia de responsabilidade social

supõe que a corporação tenha, não apenas obrigações legais e econômicas, mas

também certas responsabilidades para com a sociedade, as quais se estendem além das

obrigações.

Archie Carrol (1981) afirma que a responsabilidade da empresa abrange

expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias postas às organizações pela

sociedade num dado momento de tempo.

Duarte e Dias (1986, p.56) resumirão, a partir das conceituações

anteriores, três aspectos que são essenciais na doutrina da responsabilidade social:

- a ampliação do alcance da responsabilidade da empresa, que não se

limita ao círculo dos acionistas;

- a mudança na natureza das responsabilidades, que ultrapassam o âmbito

da prescrição legal, envolvendo também obrigações morais ditadas pela ética;

13

- a adequação às demandas sociais, num dado contexto sócio-

econômico.

Assim, para Duarte e Dias (1986), não obstante as divergências nos

conceitos, pode-se perceber, na maioria dos autores que aceitam a doutrina, certo

consenso em torno desses três pontos. Também para estes autores, as empresas, além

de suas responsabilidades jurídicas, já definidas em lei, têm responsabilidades

prescritas pela moral. São precisamente estas últimas que constituem o domínio da

responsabilidade social da empresa, que, segundo Eells e Walton (1974, apud Duarte

e Dias, 1984, p. 59), começa exatamente “onde a empresa passa de obrigações

impostas para responsabilidades assumidas”.

Oliveira (1984, p.205) elaborou um conceito para distinguir a

responsabilidade social da obrigação social: “ a responsabilidade é a capacidade da

empresa colaborar com a sociedade, considerando seus valores, normas e expectativas

para o alcance de seus objetivos. No entanto, o simples cumprimento das obrigações

legais, previamente determinadas pela sociedade, não será considerado como

comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia, aqui

também denominada obrigação social.”

Muitos autores manifestam um posicionamento contrário ao tema,

alegando que a missão das empresas é servir à sociedade através da oferta de seus

produtos e serviços, e que qualquer esforço além disso seria uma espécie de

intromissão em questões de alçada governamental. Friedman (1970, apud Ashley

2000), baseado nos direitos da propriedade, é o mais famoso defensor desta idéia,

argumentando que a direção corporativa como agente dos acionistas não tem o direito

14

de fazer nada que não atenda ao objetivo de maximização dos lucros, mantidos os

limites da lei. Agir diferente é uma violação das obrigações morais, legais e

institucionais da direção da corporação. Por sua vez, Leavitt (1958, apud Ashley

2000), tomando como base a função institucional, manifesta que outras instituições,

tais como governo, igrejas, sindicatos e organizações sem fins lucrativos, existem para

atuar sobre as funções necessárias ao cumprimento da responsabilidade social

corporativa. Gerentes de grandes corporações não têm a competência técnica, o tempo

ou o mandato para tais atividades, as que constituem uma taxa sobre o lucro dos

acionistas, nem foram eleitos democraticamente para tal, como o são os políticos.

Bowie (1991) participa de uma corrente de pensamento denominada

neoclássica, segundo a qual as empresas devem ter como principal responsabilidade e

objetivo gerar lucros, ao mesmo tempo em que evitam causar danos e prejuízos à

sociedade. Este autor afirma ainda que, em alguns casos, a competição internacional

traz à tona a necessidade de que certos problemas sociais sejam resolvidos ou

amenizados, e que muitas vezes o governo não tem condições para tal. Assim, nesses

casos, as empresas devem se envolver com a questão, a fim de que sua

competitividade e lucratividade, a longo prazo, não sejam comprometidas.

Por sua vez, Gross e Verma (1977, p.75) posicionam-se a favor do

envolvimento das empresas em questões sociais que “ se constituem, na verdade, em

oportunidades de mercado geradas por necessidades não totalmente atendidas, e que

este envolvimento em nada difere do próprio conceito de marketing: depende dos

negócios reconhecer as prioridades definidas pela sociedade e prover bens e serviços

para satisfazer a essas necessidades. O novo papel dos negócios? Não, o velho

conceito de marketing.”

15

3. 3. Evolução atual do conceito

Jones (1996 apud Ashley 2000) considera que os argumentos a favor se

enquadram em duas linhas básicas, classificadas por ela em ética e instrumental. Os

argumentos éticos derivam dos princípios religiosos e das normas sociais

prevalecentes, considerando que as empresas e as pessoas que nelas trabalham

deveriam ser levadas a se comportarem de maneira socialmente responsável, por ser a

ação moralmente correta, mesmo que envolva despesas improdutivas para a empresa.

Os argumentos a favor, na linha instrumental, consideram que há uma relação positiva

entre o comportamento socialmente responsável e o desempenho econômico da

empresa. Justifica-se esta relação por uma ação pró-ativa da empresa, que busca

oportunidades geradas por uma consciência maior sobre as questões culturais,

ambientais e de gênero, pela antecipação e pelo impedimento de regulações restritivas

à ação empresarial por parte do governo e pela diferenciação de seus produtos diante

de seus competidores menos responsáveis socialmente.

A literatura sobre responsabilidade social corporativa na década de 90

incorporou o aspecto normativo, com maior participação de autores da área de ética

nos negócios. Por sua vez, o conceito de responsabilidade social corporativa vem

amadurecendo quanto à capacidade de sua operacionalização e mensuração,

subdividindo-se em vertentes de conhecimento. Entre essas vertentes estão:

responsabilidade social corporativa, responsividade social corporativa, retitude social

corporativa, desempenho social corporativo, desempenho social dos stakeholders,

auditoria social e inovação social (Ashley, 2000). No debate sobre o termo

responsividade social corporativa, as perguntas passaram a ser sobre como e em que

medida a corporação pode responder às suas obrigações sociais, estas já constituindo

um dever da corporação (Frederick, 1994). A retitude social corporativa inclui a

16

necessidade de uma ética normativa para a responsabilidade social corporativa poder

vigorar na prática.

Kotler, em seu livro “Marketing para o século XXI: como criar,

conquistar e dominar mercados” (1999, p.107), comentou as dez tendências de estilos

de vida para o próximo milênio, analisadas pela futurista Faith Popcorn (1996).

Dentre elas, vale ressaltar duas:

- S.O.S ( Salve o Social): S.O.S é o motivo por detrás de um movimento

crescente de pessoas para tornar as comunidades mais responsáveis pelo aspecto

social nos três pontos críticos: meio ambiente, educação e ética. Esses indivíduos

formam grupos para promover maior responsabilidade social por parte das empresas e

dos cidadãos. Os profissionais de marketing tentam fazer com que suas empresas

pratiquem um marketing mais responsável do ponto de vista social.

- o consumidor vigilante: é aquele que não tolera mais produtos de

segunda e serviços pela metade. Deseja empresas mais humanas. É assinante de

publicações como o National Boycott News e o Consumer Reports, membro de

movimentos que visam ao bem-estar social e verifica as listas de boas e más

empresas.

Estes argumentos dão uma medida de como a preocupação social está

ocupando lugar de destaque no estilo de vida da sociedade moderna, manifestando-se

nas atividades, nos interesses e nas opiniões das pessoas e resultando em informações

imprescindíveis para que os profissionais de marketing possam avaliar as mudanças e

realizar um planejamento eficaz de marketing.

A equipe da Gerência de Estudos Setoriais (GESET), pertencente à Área

de Desenvolvimento Social do BNDES, manifesta que “o conceito de

17

responsabilidade social corporativa está associado ao reconhecimento de que as

decisões e os resultados das atividades das companhias alcançam um universo de

agentes sociais muito mais amplo do que o composto por seus sócios e acionistas

(shareholders). Desta forma, a responsabilidade social corporativa enfatiza o impacto

das atividades das empresas para os agentes com os quais interagem (stakeholders):

empregados, fornecedores, clientes, consumidores, colaboradores, investidores,

competidores, governos e comunidades. Este conceito expressa compromissos que

vão além daqueles já compulsórios para as empresas, tais como o cumprimento das

obrigações trabalhistas, tributárias e sociais, da legislação ambiental, de uso do solo e

outros. Expressa, assim, a adoção e a difusão de valores, condutas e procedimentos

que induzam e estimulem o contínuo aperfeiçoamento dos processos empresariais,

para que também resultem em preservação e melhoria da qualidade de vida das

sociedades, do ponto de vista ético, social e ambiental (Costa et al. 2000, p. 4.)

O conceito de responsabilidade social corporativa não deve ser

sintetizado sob uma dimensão social da empresa, mas sim analisado sob uma visão

integrada de dimensões econômicas, ambientais e sociais.

Existe uma tendência na literatura e na mídia a exaltar a aplicação da

responsabilidade social corporativa como forma de melhorar a reputação da empresa,

identificar novos mercados e adquirir vantagens competitivas no mercado

globalizado. Kang (1995), porém, propõe o conceito de responsabilidade social

corporativa pré-lucro, em que as corporações são obrigadas a cumprir suas

responsabilidades sociais e morais antes de tentarem maximizar seus lucros, como

meio eficiente e efetivo de controle social nas relações humanas e organizacionais.

18

III. EXERCÍCIO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

3.1. Fases do projeto de Responsabilidade Social Corporativa

O exercício da responsabilidade social corporativa pressupõe uma

atuação eficaz da empresa em duas dimensões: a gestão da responsabilidade social

interna e a gestão da responsabilidade social externa. (Melo Neto e Froes, 1999.)

- Responsabilidade social interna: As ações de gestão interna

compreendem os programas de contratação, seleção, treinamento e manutenção de

pessoal realizados pelas empresas em benefício de seus empregados, bem como os

demais programas de benefício voltados para a participação nos resultados e o

atendimento aos dependentes. O objetivo principal é obter maior retorno de

produtividade e para os acionistas. Algumas empresas estendem a sua rede de ações

internas de responsabilidade social aos funcionários de empresas contratadas,

terceirizadas, fornecedores e parcerias. São as seguintes as principais ações de

responsabilidade social interna desenvolvidas pelas empresas:

1) investimentos no bem-estar dos empregados e seus dependentes

(programas de remuneração e participação nos resultados, assistência médica, social,

odontológica, alimentar e de transporte);

2) investimentos na qualificação dos empregados (programas internos de

treinamento e capacitação e programas de financiamento de cursos externos, regulares

ou não, realizados por seus funcionários com vistas a sua maior qualificação

profissional e obtenção de escolaridade mínima).

19

- Responsabilidade social externa: Corresponde ao desenvolvimento de

ações sociais empresariais que beneficiem a comunidade, que podem ser realizadas

através de doações de produtos, equipamentos e materiais em geral, transferência de

know-how e recursos, em regime de parceria, para órgãos públicos e ONGs, prestação

de serviços voluntários para a comunidade pelos funcionários da empresa, aplicações

de recursos em atividades de preservação do meio ambiente, geração de empregos,

patrocínio de projetos sociais do governo e investimentos diretos em projetos sociais

criados pela própria empresa. O exercício da responsabilidade social externa visa

um maior retorno social, de imagem, publicitário e para os acionistas (Quadro 2).

Quadro 2. Responsabilidade Social Interna e Externa.

RESPONSABILIDADE SOCIALINTERNA

RESPONSABILIDADE SOCIALEXTERNA

FOCOPÚBLICO INTERNO(EMPREGADOS E SEUSDEPENDENTES)

COMUNIDADE

ÁREAS DE ATUAÇÃOEDUCAÇÃOSALÁRIOS E BENEFÍCIOSASSISTÊNCIA MÉDICA, SOCIALE ODONDOTÓGICA

- EDUCAÇÃO- SAÚDE- ASSISTÊNCIA SOCIAL- ECOLOGIA

INSTRUMENTOS

PROGRAMAS DE RH

PLANOS DE PREVIDÊNCIA

COMPLEMENTAR

- DOAÇÕES- PROGRAMAS DE VOLUNTARIADO- PARCERIAS- PROGRAMAS E PROJETOSSOCIAIS

TIPO DE RETORNORETORNO DE PRODUTIVIDADE

RETORNO PARA OS ACIONISTAS

RETORNO SOCIALPROPRIAMENTE DITORETORNO DE IMAGEM RETORNOPUBLICITÁRIO RETORNO PARA OSACIONISTAS

Fonte: Melo Neto e Froes (1999, p. 87)

20

Na abordagem de Duarte e Dias (1986, p.77), o projeto de

responsabilidade social é composto de sete fases: análise do ambiente, definição de

prioridades, planejamento, organização, implementação, controle e avaliação de

resultados.

1. Análise do ambiente: Consiste na identificação da origem dos

problemas dentro do universo das seguintes áreas: área de trabalho, área de proteção

ecológica, área de consumo, área de atuação comunitária, área institucional,

procurando esclarecer a sua eventual interferência na atuação empresarial. Esta

análise, denominada por Duarte e Dias como “critério da pertinência dos problemas”,

é importante, devido à escassez de recursos disponíveis para serem utilizados em

áreas que têm um relacionamento considerável com as atividades da empresa.

Partindo da origem dos problemas e analisando sua eventual

interferência na atuação empresarial, estes podem ser agrupados nas seguintes

categorias: problemas criados pela empresa; problemas agravados pela empresa;

problemas citados por terceiros, e que afetam diretamente a empresa; problemas

criados por terceiros e que afetam indiretamente a empresa e problemas criados por

terceiros, que não afetam a empresa. A responsabilidade da empresa em relação às

duas primeiras categorias é imediata e direta, visto que os problemas são decorrentes

de sua atuação, ou foram agravados por ela. Para as outras categorias, a

responsabilidade é idêntica à dos cidadãos em geral.

2. Definição de prioridades: Devem ser considerados os seguintes

aspectos: a magnitude de um dado problema para a comunidade, donde se deduz sua

relevância; a responsabilidade da empresa na existência de problemas relevantes para

a sociedade; a proximidade do problema; a possibilidade de resultados mais

satisfatórios, pela aplicação de know-how e recursos disponíveis. Duarte e Dias (1986)

21

recomendam, ademais, que a empresa ouça a comunidade, a fim de sentir quais são

suas prioridades, a imagem que ela faz da empresa e a responsabilidade que lhe

atribui nos problemas comunitários, de modo a ter maior segurança em suas decisões.

3. Planejamento: Nesta fase a empresa define como assumir as

responsabilidades, aplicando seu know-how habitual. Duarte e Dias sugerem aspectos

que merecem atenção especial:

a) a participação das chefias intermediárias e dos executores nas tarefas

de planejamento;

b) a necessidade de cautela, quando são problemas que fogem à

competência da empresa ou com os quais ela não está suficientemente familiarizada;

c) o estabelecimento de metas e objetivos realistas, levando em conta a

necessidade imprescindível de avaliação posterior dos resultados;

d) a escolha cuidadosa das estratégias e táticas de ação;

e) a alocação criteriosa dos recursos materiais e humanos disponíveis,

recomendando-se, para cada atividade ou programa, certa margem de segurança,

sobretudo nos primeiros anos de desenvolvimento das novas atividades.

4. Implementação e controle: Segundo Duarte e Dias (1986), nesta

etapa os pontos que exigem maior cuidado são:

a) o engajamento da alta direção, condição indispensável para o êxito de

qualquer programa desta natureza, deve manifestar-se abertamente e de modo a

contagiar as pessoas diretamente envolvidas na execução;

22

b) o tempo de aprendizagem, principalmente quando as atividades

escolhidas não são familiares à empresa;

c) o interesse dos executores pela tarefa, sendo importante selecionar os

elementos, acompanhá-los, incentivá-los e substituir rapidamente os que não

assumirem o programa, antes que comprometam os resultados.

d) o controle e a informação. São necessárias algumas modificações no

sistema de informações da empresa, de modo a incorporar as novas atividades e

permitir seu acompanhamento e controle.

Quanto ao processo de engajamento das empresas em atividades de

caráter social, os pesquisadores Ackerman e Bauer (1976), da Harvard Business

School, defendem três fases:

• Fase política – caraterizada pelo despertar, na alta direção da empresa,

de uma preocupação com a responsabilidade social. Eventuais contribuições são feitas

à causa, mas não se define ainda um envolvimento oficial e sistemático, há apenas um

engajamento ocasional.

• Fase técnica – significa uma tomada de posição oficial da empresa, que

manifesta de modo mais claro seu interesse em determinada(s) área(s) ou problema(s).

São designados elementos específicos para cuidar da questão. Busca-se, através de um

processo de aprendizagem, incluir o novo elemento nos esquemas técnicos habituais

de funcionamento da empresa. O engajamento, porém, é fraco; às vezes, intermitente.

• Fase de institucionalização – representa um envolvimento mais

profundo. À estrutura da empresa são acrescentados órgãos de linha, voltados para a

atuação social, o que significa alocação sistemática de recursos materiais e humanos.

23

De outra perspectiva, o Professor Prakash Sethi (1975), da Universidade

da Califórnia, elaborou um modelo definindo o engajamento de empresas em

atividades sociais, também em três estágios. No primeiro, denominado “obrigação

social”, a empresa assume uma postura prescrita e atua segundo a legislação em

vigor. O segundo, chamado de “responsabilidade social”, tem caráter normativo. Nele

a empresa aceita critérios mais amplos (extralegais e extra-mercados) para avaliar o

desempenho e o papel social empresarial e define normas levando em conta a

comunidade. O terceiro estágio é o da “responsividade social”, com marcada atitude

antecipatória e preventiva por parte da empresa.

5. Avaliação de desempenho: À medida que cresce entre as empresas a

preocupação com a responsabilidade social, aumenta também a demanda de

ferramentas para a avaliação de desempenho na área. Duarte e Dias (1986, p.89)

esclarecem que várias instituições acadêmicas, grupos de consultoria e variada gama

de pesquisadores no mundo dedicam-se ao desenvolvimento de técnicas e modelos de

avaliação de desempenho da empresa na área social. Os autores destacam duas

propostas que exemplificam o estudo:

3. 2. A proposta do Arbeitskreis

O Arbeitskreis Sozialbillanz Praxis é um círculo de estudos constituído

na Alemanha Ocidental, em 1976, pelas empresas BASF AG., Bertelsmann AG.,

Deutsche Shell AG., Pieroth GmgH, Saarberwerke AG. e Rank Xerox GmbH.

(Duarte e Dias, 1986)

Para o Arbeitskreis, a conceituação de balanço social como instrumento

de avaliação do desempenho social da empresa está formada por três elementos:

24

- o Informe Social, entendido como exposição verbal enriquecida com

material estatístico sobre os objetivos, as obras e, na medida do possível, os resultados

obtidos na área social;

- a Conta de Valor Agregado, que procura mostrar a magnitude do valor

criado pela empresa e a estrutura de seu destino, ou seja, a distribuição entre os vários

beneficiários. Recomenda-se que esta conta seja classificada nas seguintes rubricas:

colaboradores, fazenda pública, prestamistas, aportadores de capital e empresa

(criação de reservas);

- a Contabilidade Social, que procura traduzir em termos numéricos

tanto os gastos sociais quanto os resultados sociais. Recomenda-se abrir as seguintes

contas: estrutura geral, salários e remunerações, benefícios diretos aos trabalhadores

ativos, benefícios diretos a aposentados, benefícios indiretos a trabalhadores ativos,

empresa e colaboradores, empresa e aportadores de capital, empresa e estado, empresa

e opinião pública, empresa e ambiente natural.

3. 3. A proposta do Batelle Institute

O Instituto Batelle, entidade internacional com ramificações nos EUA e

em vários países da Europa, desde o início da década de 70, vem desenvolvendo

pesquisas na área de responsabilidade social. Para o Instituto Batelle, o Balanço

Social constitui um sistema de informação social que utiliza basicamente três

instrumentos:

25

- a relação de elementos do engajamento social, que determina quais

são as atividades que podem influir no bem-estar dos indivíduos e grupos com os

quais se relaciona a empresa;

- os quadros de gestão social, que apresentam os principais aspectos da

responsabilidade social da empresa e os resultados alcançados por ela, em termos

globais, por terceiros, ou por áreas de atuação.

- os indicadores sociais, que traduzem de maneira sintética o

desempenho social da empresa, possibilitando a comparação com os objetivos

propostos, o confronto entre diferentes períodos e outros tipos de análise.

Quanto à utilização dos indicadores sociais, Duarte e Dias (1986, p. 94),

esclarecem que eles se apresentam ligados à contabilidade social, a nível

macroeconômico, enquanto o Balanço Social da empresa permanece no plano micro-

econômico. Os indicadores sociais podem ser muito úteis como parâmetros exteriores

à empresa, servindo de referência para a avaliação e o acompanhamento do

desempenho na área social; este é o sentido com que aparecem na proposta do

Instituto Batelle.

3.4. Abordagens de avaliação de desempenho

Duarte (1985) distingue as seguintes abordagens de avaliação de

desempenho da responsabilidade social das empresas:

• o Inventário Social, que consiste apenas em uma lista do que a

empresa tem feito nos diversos domínios da responsabilidade social;

26

• o Relatório Social, que consiste de uma exposição essencialmente

verbal, focalizando os objetivos da empresa, as ações empreendidas e os resultados

obtidos em cada setor de seu desenvolvimento social. Geralmente é enriquecido com

dados estatísticos e eventuais informações sobre o montante dos dispêndios;

• a Contabilidade dos Recursos Humanos, que é uma tentativa de se

atribuir valores monetários ao talento e às capacidades humanas da empresa. Neste

valor estão incluídos todos os dispêndios com recursos humanos: seleção,

treinamento, aperfeiçoamento, melhoria de condições de trabalho e de condições de

vida;

• o Relatório de Custos, que se limita a relacionar os dispêndios da

empresa com atividades destinadas a atender às exigências de responsabilidade social.

• a Abordagem do Valor Agregado, que procura mostrar como o valor

agregado que se gerou na empresa foi distribuído entre seus vários parceiros.

• o Balanço de Lucros e Perdas Sociais, que é a abordagem mais

sofisticada, pretendendo avaliar e comparar os benefícios aportados à sociedade com

os custos sociais decorrentes das atividades da empresa, traduzindo ambos, custos e

benefícios, em termos monetários.

3.5. O Balanço Social no Brasil

Duarte e Dias (1986) analisam que o termo balanço, tomado da

contabilidade tradicional, evoca os balanços contábeis, tão familiares à administração;

no entanto, é pertinente não se deixar condicionar pelo termo, forçando a utilização de

medidas que nem sempre são adequadas à avaliação dos fenômenos sociais em foco.

27

Assim, num mesmo balanço ou relatório podem ser utilizados dados monetários,

quando o objetivo é informar sobre as contribuições filantrópicas da empresa, os

custos de uma campanha, de um investimento de interesse social. Noutra seção, dados

quantitativos, absolutos ou percentuais, são mais adequados para informar sobre, por

exemplo, a redução de emissões poluentes. Noutro setor, dados qualitativos podem ser

os únicos viáveis para a avaliação de fenômenos dificilmente susceptíveis de serem

traduzidos em termos quantitativos, como a melhoria do ambiente da empresa ou do

grau de satisfação no trabalho.

Balanço Social é o nome dado à publicação de um conjunto de

informações e de indicadores dos investimentos e das ações realizadas pela empresa

no cumprimento de sua função social junto aos seus funcionários, ao governo e às

comunidades com que interage, direta e indiretamente. Desta forma, o Balanço Social

é um instrumento de demonstração das atividades da empresa, que tem por finalidade

conferir maior transparência e visibilidade às informações que interessam aos sócios

e acionistas das companhias (shareholders), e também a um número maior de atores:

empregados, fornecedores, investidores, parceiros, consumidores e comunidade

(stakeholders). ( Costa et al. 2000).

Mencionado anteriormente na introdução deste trabalho, o sociólogo

Herbert de Souza foi o precursor do Balanço Social no Brasil. Presidindo o Instituto

Brasileiro de Análise Social e Econômica (IBASE), lançou em 1997 uma campanha

visando sensibilizar e estimular a noção de co-responsabilidades das empresas na

busca de soluções para os profundos desequilíbrios da estrutura social do país. A fim

de propiciar maior visibilidade desta participação para o conjunto da sociedade, o

IBASE elaborou um modelo de Balanço Social. Com o apoio de lideranças

empresariais, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia do Ministério da

28

Fazenda que fiscaliza as bolsas de valores, da Gazeta Mercantil, o mais importante

jornal especializado em economia e negócios do Brasil, de muitas empresas (Xerox,

Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Glaxo Wellcome, Usiminas, entre outras) e de

suas instituições representativas (Firjan, Abrasca, Abamec, Associação Comercial do

Rio de Janeiro), a campanha decolou e vem suscitando uma série de debates através

da mídia e em seminários, encontros e simpósios.

Em novembro de 1997, novamente em parceria com a Gazeta Mercantil,

o IBASE lançou o Selo do Balanço Social, para estimular a participação das

companhias. O selo, num primeiro momento, seria outorgado a todas as empresas que

divulgassem o Balanço Social no modelo proposto pelo IBASE.

No período de 1997/98, um levantamento inicial realizado pelo IBASE

reuniu 45 diferentes empresas que apresentaram seus balanços. Destas, cerca de 80%

o fizeram de acordo com modelos próprios e 20% com o modelo do IBASE.

Os chamados modelos próprios oscilam entre informações muito

sucintas - às vezes apenas um parágrafo, no meio dos relatórios para a administração

ou dentro do balanço patrimonial - até publicações bastante sofisticadas em termos de

apresentação.

Entretanto, nem sempre com a mesma qualidade de dados e de

indicadores. Evidentemente, neste espectro de variação destacam-se os balanços que

efetivamente cumprem as tarefas de prestação de contas e de divulgação das ações

empreendidas, e não apenas aquela de promoção e de marketing.

É importante destacar que a predominância de dados que possam ser

expressos em valores financeiros ou quantitativamente é fundamental para que o

balanço social não se torne apenas uma peça de marketing. É claro que nem sempre

29

correlacionar fatores financeiros com fatores sociais permite uma avaliação correta,

porém a construção de índices ajudará nas análises comparativas, seja da própria

empresa ao longo de um período, seja entre empresas de um mesmo setor.

3.6. Estágios de institucionalização do Balanço Social

De acordo com Stephen Kanitz, diretor da Kanitz & Associados, citado

por Melo Neto e Froes (1999, p. 125), existem diferentes estágios de conscientização

da necessidade de se publicar o Balanço Social por parte de empresários, de políticos

e da sociedade civil ( Figura 1).

Figura 1. Estágios de institucionalização do Balanço Social.

Nível deConscientização.

Estágio 1: a publicação do Balanço SocialBaixo como uma adesão voluntária.

Estágio 2: a obrigatoriedade da publicação do do Balanço Social.

Estágio 3: a institucionalização do Balanço Social como prática de cidadania empresarial e estratégia social.

Alto

Fonte: Melo Neto e Froes (1999, p.125)

30

No primeiro estágio, encontram-se todas as empresas que já publicam

seus balanços, como por exemplo a Belgo-Mineira, a CEMIG, o Banco do Brasil e a

Odebrecht. O nível de conscientização é baixo porque a iniciativa é restrita a poucas

empresas.

O segundo estágio corresponde à obrigatoriedade de publicação do

Balanço Social, por força de lei, aprovada pelo Congresso Nacional. Atualmente estão

caminhando para esta etapa empresários, políticos e sociedade civil, quando juntos

vão debater o tema e definir novos rumos para a responsabilidade social das empresas.

A legislação faz com que aumente o nível de conscientização existente, que ainda é

reduzido.

O terceiro estágio significa a institucionalização do Balanço Social como

prática da cidadania empresarial e conseqüente exercício da responsabilidade social

da empresa. Neste estágio, independente das exigências da lei, espera-se que todas as

empresas brasileiras utilizem as ações de investimento social como parte de sua ética

empresarial, missão e visão de suas estratégias de agregação de valor.

3.7. Legislações no Brasil relacionadas com a Responsabilidade Social das

Empresas e o Balanço Social

A responsabilidade social das empresas e o balanço social como

instrumento de demonstração deste envolvimento têm sido objeto de vários projetos

de lei nas diferentes esferas governamentais. Assim sendo, podem ser destacados as

seguintes:

31

Na esfera Federal:

O Projeto de Lei no. 3.116/97 estabelece a obrigatoriedade da publicação

do Balanço Social para as empresas privadas com mais de 1000 funcionários e para

todas as empresas públicas, concessionárias e permissionárias de serviços públicos.

Atualmente, o projeto tramita no Congresso Nacional, após arquivamento temporário

por conta do final das legislaturas passadas, tendo sido reapresentado através do

Projeto de Lei nº 0032/99 e aprovado na Comissão do Trabalho; seguirá agora

tramitando na Comissão de Finanças. Posteriormente, se aprovado, seguirá para a

Comissão de Constituição e Justiça.

Na esfera Estadual:

O Projeto de Lei sobre Responsabilidade Social, cujo texto contou com a

contribuição do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, foi

transformado na Lei nº 11.440, de 18/01/2000, instituindo o Balanço Social para

empresas estabelecidas no RS, o qual será assinado por Contador ou Técnico em

Contabilidade devidamente habilitado perante o CRC-RS ao exercício profissional.

Na esfera Municipal:

Duas iniciativas municipais relativas ao tema se destacam: as de São

Paulo e a de Porto Alegre. Em São Paulo foi aprovada a Resolução nº 05/98, que

institui o Dia da Empresa Cidadã e o Selo Empresa Cidadã com o objetivo de

estimular e reconhecer as empresas que apresentarem qualidade em seu Balanço

Social. Em Porto Alegre, a Lei no.8118/98 estabelece a obrigatoriedade da publicação

do Balanço Social das empresas estabelecidas no âmbito do Município de Porto

Alegre com mais de 20 funcionários.

32

3. 8. Auditoria e Certificação Social

Nos fóruns nacionais e internacionais dedicados ao tema

responsabilidade social de empresa, a criação e a instituição de mecanismos de

monitoramento e de prestação de contas que visam a divulgar e a dar transparência às

ações desenvolvidas ganharam destaque. A velocidade de circulação de informações e

a pressão da sociedade civil organizada em nível global, por exemplo, são influências

que vêm sendo sentidas especialmente pelas grandes corporações e grupos

multinacionais, suscitando a vigilância das empresas quanto aos fatores capazes de

afetá-las e que merecem, assim, acompanhamento específico.

No âmbito internacional, destacam-se as auditorias e certificações, que

são normas contábeis (geralmente elaboradas e difundidas por organizações não-

governamentais, organismos multilaterais de comércio e instâncias similares) que

procuram estabelecer um conjunto de padrões e indicadores auferíveis, relativos às

condutas trabalhistas, sociais e ambientais adotadas. Assim, como as normas

ISO 9.000 e ISO 14.000 certificam empresas por sua capacidade gerencial (qualidade

do processo de produção) e pelo respeito ao meio ambiente; as normas BS 8.800 e

SA 8.000, criada pelos ingleses, são a ISO para a área social. A certificação é

atribuída a todas as empresas e seus fornecedores que respeitam a legislação

trabalhista em vigor e garantem aos seus empregados todos os direitos previstos na

legislação. A norma BS 8800 refere-se à garantia das condições adequadas de

segurança e saúde para os empregados. A norma SA 8.000 é mais específica, pois

versa sobre a exploração do trabalho infantil e da mão-de-obra fabril no âmbito das

unidades operacionais da empresa e de seus fornecedores. (Melo Neto e Froes, 1999,

p. 25).

33

No Brasil, a Petrobrás foi pioneira quanto a obter a certificação

BS 8.800 e a Avon Cosméticos foi na certificação SA 8.000 (Schraf 1998, apud Melo

Neto e Froes 1999). O Balanço Social tem sido um importante instrumento, como o

demonstrativo das ações das companhias quanto à sua responsabilidade social, neste

sentido o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) criou o “Selo

Balanço Social”, a ser fornecido às empresas que publicam seu balanço social

anualmente. A atuação da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança pela

erradicação do trabalho infantil e a adoção do “Selo Amiga da Criança” por número

expressivo de empresas são exemplos do poder da iniciativa privada.

Surgiram prêmios, como o Prêmio Eco, da Câmara Americana de

Comércio de São Paulo, que desde 1982 é concedido anualmente a empresas

brasileiras. O nome ECO representa a união das iniciais de “empresa e comunidade”

e são aceitas inscrições de projetos de empresas privadas ou fundações e institutos de

empresas privadas.

Duas associações empresariais, criadas a partir de 1996, se destacam

como protagonistas desta nova postura diante das questões sociais no país,

desempenhando o papel de catalisadoras destes preceitos. São elas o Grupo de

Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e o Instituto Ethos. O primeiro, contando em

seu quadro com 48 fundações e institutos associados, ligados às maiores empresas do

país, tem por atuação prioritária orientar a realização de projetos e programas sociais.

Já o segundo, com 216 empresas filiadas, de vários portes e setores de atuação, assiste

as empresas na formulação e implementação de medidas socialmente responsáveis.

O desenvolvimento do conceito de responsabilidade social corporativa e

dos debates a eles vinculados está inserido no contexto internacional da globalização

dos mercados, que simultaneamente amplia as possibilidades de trocas internacionais

34

e impõe barreiras e desafios nos campos éticos, cultural, político e comercial, tais

como (Costa et al, 2000, p. 6)

- o posicionamento mais consciente e exigente dos consumidores e das

organizações da sociedade civil, atentos ao padrão competitivo em todo o mundo,

sobretudo quanto à exploração de inadequadas condições sociais e trabalhistas;

- a questão do dumping social, ou seja, a obtenção de custos competitivos

no mercado internacional através de práticas e procedimentos que atentam, contra as

normas internacionais de direitos humanos e trabalhistas - , envolvendo valores éticos

e argumentações de caráter protecionistas não formais;

- evitar choques culturais, no ambiente interno e externo às companhias,

conquistar aceitação e credibilidade junto aos governos e as dificuldades decorrentes

dos processos de fusão e aquisições também são assuntos que envolvem a

globalização e a responsabilidade social corporativa.

Portanto, o conceito de responsabilidade social corporativa está mais

próximo das estratégias de sustentabilidade de longo prazo das empresas. Estas em

sua lógica de desempenho e lucros, passaram a incluir a necessária preocupação com

os efeitos das atividades desenvolvidas e o objetivo de proporcionar bem-estar para a

sociedade. Todavia, a adoção de uma postura pró-responsabilidade social parece

indicar que há ganhos tangíveis para a empresa, sob a forma de fatores que agregam

valor, reduzem custos e aumentam sua competitividade, entre elas a melhoria da

imagem institucional, a criação de um ambiente interno e externo favorável, os

estímulos adicionais à melhoria e às inovações nos processos de produção, o

incremento na demanda por produtos, serviços e marcas, os ganhos de participação de

35

mercados e a diminuição das instabilidades institucional e política locais, dentre

outros.

3. 9. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial

Em junho de 2000, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade

Social, organização sem fins lucrativos fundada em 1998, tendo como associadas

algumas centenas de empresas em operação no Brasil, de diferentes portes e setores

de atividade, concebeu os Indicadores Ethos como instrumento de diagnóstico da

situação específica da empresa, indicando o grau de efetivação da responsabilidade

social em suas atividades e de avaliação e planejamento para empresas que buscam

excelência e sustentabilidade em seus negócios.

Indicadores Ethos de Responsabilidade Social

1) Valores e Transparência

2) Público Interno

3) Meio Ambiente

4) Fornecedores

5) Consumidores

6) Comunidade

7) Governo e Sociedade

Valores e Transparência: Valores e princípios éticos formam a base da

cultura de uma empresa, orientam sua conduta e fundamentam sua missão social. A

36

adoção de uma postura clara e transparente, no que diz respeito aos objetivos e

compromissos éticos da empresa, fortalece a legitimidade social de suas atividades,

refletindo-se positivamente no conjunto de suas relações:

- Auto-regulação da conduta:

a) compromissos éticos;

b) enraizamento na cultura organizacional.

- Relações transparentes com a sociedade:

a) diálogo com partes interessadas (stakeholders);

b) relações com a concorrência;

c) balanço social.

Público Interno: A empresa socialmente responsável não se limita a

respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos

padrões da OIT - Organização Internacional do Trabalho - ela deve ir além e investir

no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem como na

melhoria das condições de trabalho e no relacionamento ético com às culturas locais:

- Diálogo e Participação:

a) relações com os sindicatos;

b) gestão participativa;

c) participação nos lucros ou resultados.

37

- Respeito ao Indivíduo:

a) compromisso com o futuro das crianças;

b) valorização da diversidade (evitar qualquer tipo de discriminação).

- Respeito ao Trabalhador:

a) comportamento frente a demissões;

b) compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade;

c) cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho (ex:

certificações BS 8.800 e SA 8.000);

d) preparação para aposentadoria.

Meio Ambiente: A empresa deve agir para a manutenção e a melhoria

das condições ambientais, minimizando ações próprias potencialmente agressivas ao

meio ambiente:

- Gerenciamento do Impacto Ambiental:

a) conhecimento sobre o impacto no meio ambiente (ex: ISO 14.000);

b) minimização de entradas e saídas do processo produtivo;

c) responsabilidade sobre o ciclo de vida dos produtos e serviços.

38

- Responsabilidade Frente às Gerações Futuras:

a) a compensação da natureza pelo uso de recursos e impactos

ambientais;

c) educação ambiental.

Fornecedores: A empresa que tem compromisso com a responsabilidade

social envolve-se com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos

estabelecidos , transmitindo os valores de seu código de conduta e valorizando a livre

concorrência.

- Seleção e Parceria com Fornecedores:

a) critérios de seleção de fornecedores;

b) relações com trabalhadores terceirizados;

c) apoio ao desenvolvimento de fornecedores.

Consumidores: A responsabilidade social em relação aos clientes e

consumidores exige da empresa o investimento permanente no desenvolvimento de

produtos e serviços confiáveis, para minimizar os riscos de danos à saúde da pessoas,

Informações detalhadas devem estar incluídas nas embalagens e deve ser assegurado

suporte para o cliente antes, durante e após o consumo.

- Dimensão Social do Consumo:

a) política de marketing e comunicação;

39

b) excelência do atendimento;

c) conhecimento dos danos potenciais dos produtos e serviços.

Comunidade: A comunidade em que a empresa está inserida fornece-lhe

infra-estrutura e o capital social representado por seus empregados e parceiros, por

isso o investimento pela empresa em ações que tragam benefícios para a comunidade

é uma contrapartida justa.

- Relações com a Comunidade Local:

a) gerenciamento do impacto da atividade produtiva na comunidade;

b) relações com organizações atuantes na comunidade;

- Filantropia / Investimentos Sociais

a) mecanismos de apoio a projetos sociais;

b) estratégias de atuação na área social;

c) mobilização de recursos para o investimento social.

- Trabalho Voluntário:

a) reconhecimento e apoio ao trabalho voluntário dos empregados.

Governo e Sociedade: A empresa deve relacionar-se de forma ética e

responsável com os poderes públicos, cumprindo as leis e mantendo uma interação

40

dinâmica com seus representantes, visando a constante melhoria das condições

sociais e políticas do país.

- Transparência Política:

a) contribuições para campanhas políticas;

b) práticas anticorrupção e propina.

- Liderança Social:

a) liderança e influência social;

b) participação em projetos sociais governamentais.

Recentemente, a Revista Exame de novembro 2000 publicou uma

pesquisa baseada nos indicadores formulados pelo Instituto Ethos, anteriormente

expostos, que resultou na escolha dos dez melhores casos de cidadania corporativa no

Brasil. São eles:

1. Subsidiária brasileira da americana 3M (tecnologia);

2. Algar (telecomunicações);

3. Calçados Azaléia (Calçados);

4. Banco do Brasil (Financeiro);

5. Bank Boston (Financeiro);

6. Belgo Mineira (Siderurgia e Metalurgia);

7. McDonalds (Serviços);

41

8. Natura (Higiene e Limpeza);

9. Perdigão (Alimentos);

10. Serasa (Serviços).

3. 10. A responsabilidade social corporativa e o desenvolvimento sustentável

Em 1998, representantes de diversos países reuniram-se em 1998 na

Holanda, sob os auspícios do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento

Sustentável -World Business Council for Sustainable Develoment - , para analisar a

atuação das empresas no campo social. Durante os debates surgiu um novo conceito

de responsabilidade social das empresas (Almeida apus Melo Neto e Froes, 1999,

p.88) :

“ Responsabilidade social corporativa é o comprometimento permanente

dos empresários em adotar um comportamento ético e contribuir para o

desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de

seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um

todo.”

Como parte integrante do conceito de desenvolvimento sustentável, a

responsabilidade social está inserida na dimensão social, que, conjuntamente com as,

dimensões econômica e ambiental, constituem os três pilares da definição global.

42

Figura nº 1: Os três pilares do desenvolvimento sustentável.

Dimensão Econômica Dimensão Ambiental

Responsabilidade Social Dimensão Social

Fonte: Melo Neto e Froes (1999, p.88)

Dentre as dimensões do desenvolvimento sustentável, a responsabilidade

social, segundo os representantes do Conselho, é a mais delicada de todas, porque

compreende os seguintes aspectos (Melo Neto e Froes, 1999, p.88):

- os direitos humanos;

- os direitos dos empregados;

- os direitos dos consumidores;

- o envolvimento comunitário;

- a relação com os fornecedores;

- o monitoramento e a avaliação de desempenho; e

- os direitos dos grupos de interesse.

O entendimento mundial e a implementação sistemática desse conceito é

um processo longo, ainda entremeado de dúvidas. Mas há certezas, como a de que

DesenvolvimentoSustentável

43

uma empresa que se pretenda competitiva em um mundo globalizado deve satisfação

não apenas aos acionistas, mas também à sociedade representada pelos diferentes

grupos de interesse, envolvendo uma cadeia, da qual fazem parte as associações de

moradores, as ONGs, os grupos religiosos, os legisladores, os governos, os

empregados,os fornecedores e consumidores, entre outros.

Já na reunião semestral do Conselho Mundial para o Desenvolvimento

Sustentável realizada no Rio de Janeiro em setembro de 1999, percebeu-se uma

grande participação do empresariado mundial. Cerca de 130 altos executivos das

maiores empresas do mundo - que juntas respondem por um faturamento de U$ 3

trilhões - marcaram presença no evento. De acordo com o presidente do Conselho

Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, Sr. Félix Bulhões, os

investimentos nesta área no Brasil variam entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão por ano.

A esse respeito, ele observou que “o Brasil ainda está longe de ter uma indústria

desenvolvida nesse ramo, mas é importante destacar que o país já avançou muito,

principalmente as grandes empresas” (Jornal O Globo em 2 de setembro 1999).

3. 11. A Cidadania Empresarial

A cidadania empresarial é um novo conceito, que surgiu em decorrência

do movimento de consciência social que vem sendo internalizado por diversas

empresas. Seu objetivo é conferir uma nova imagem empresarial àquelas empresas

que se convertem em tradicionais investidoras em projetos sociais (Melo Neto e

Froes, 1999).

Uma empresa cidadã tem no seu compromisso com a promoção da

cidadania e o desenvolvimento da comunidade os seus diferenciais competitivos.

44

Desta forma, diferencia-se dos seus concorrentes, assumindo uma nova postura

empresarial – uma empresa que investe recursos financeiros, tecnológicos e de mão-

de-obra em projetos comunitários de interesse público. Assim, ganha a confiança, o

respeito e a admiração dos consumidores.

Portanto, a cidadania empresarial corresponde ao exercício pleno da

responsabilidade social pela empresa. Esta torna-se cidadã quando contribui para o

desenvolvimento da sociedade através de ações direcionadas a suprimir ou atenuar as

suas principais carências em termos de serviços e infra-estrutura de caráter social.

Martinelli (1997) propõe uma perspectiva de evolução da empresa,

classificável em três estágios:

1) a empresa unicamente com um negócio, instrumento de interesses para

o investidor, que em geral não é um empresário, e sim um “homem de negócios”, com

uma visão mais imediatista e financeira dos retornos de seu capital;

2) a empresa como organização social que aglutina os interesses de

vários grupos de stakeholders - clientes, funcionários, fornecedores, sociedade,

(comunidade) e os próprios acionistas - e mantém com eles relações de

interdependência. Estas relações podem estar refletidas em ações reativas (resolução

de conflitos) ou pró-ativas, tendo para cada grupo de stakeholders uma política clara

de atuação.

3) a empresa-cidadã, que opera sob uma concepção estratégica e um

compromisso ético, resultando na satisfação das expectativas e no respeito dos

parceiros.

45

Martinelli (1997) argumenta que, no estágio empresa-cidadã, a empresa

passa a agir na transformação do ambiente social, sem se ater apenas aos resultados

financeiros do balanço econômico, buscando avaliar a sua contribuição à sociedade e

se posicionando de forma pró-ativa em suas contribuições para resolver os problemas

sociais. A empresa classificável como empresa-cidadã possuiria objetivos sociais e

instrumentos sociais, que não deveriam ser confundidos com práticas comerciais com

objetivos econômicos. Desta forma, sua atuação agregaria uma nova faceta ao seu

papel de agente econômico: a de agente social. Ela passaria a disponibilizar, com as

devidas adaptações, os mesmos recursos aplicados em seu negócio, em prol da

transformação da sociedade e do desenvolvimento do bem comum.

Segundo Martinelli (1997), a prática da cidadania empresarial poderia

trazer à empresa promotora ganhos substanciais, tais como:

- valor agregado à sua imagem;

- desenvolvimento de lideranças mais conscientes e socialmente responsáveis;

- melhoria do clima organizacional e da satisfação e motivação decorrentes do

aumento de auto-estima;

- reconhecimento e orgulho pela participação em projetos sociais.

3.12. Passos básicos para uma estratégia de boa cidadania corporativa

Embora não existam regras, nem fórmula geral de responsabilidade

social preestabelecidas para o mundo dos negócios, uma publicação da Business for

Social Responsability, citada pela Revista Exame no seu Guia de Boa Cidadania

46

Corporativa (2000), oferece uma série de passos básicos que podem ajudar muito na

implementação de uma estratégia de boa cidadania corporativa. São eles:

1. Desenvolver uma missão, uma visão e um conjunto de valores a ser seguidos.

2. Para que a responsabilidade social seja uma parte integrante de cada processo

decisório, é preciso que ela faça parte do DNA da companhia - seu quadro de

missões, visões e valores. Isso leva a um comprometimento explícito das lideranças

e dos funcionários com questões como a ética nos negócios e respeito a acionistas,

clientes, fornecedores, comunidades e meio ambiente.

3. Colocar seus valores em prática. De nada adiantaria ter um quadro de valores na

parede do escritório se eles não são exercitados e praticados a cada decisão tomada.

4. Promover a gestão executiva responsável . Esse é um exercício diário e

permanente. É preciso fazer que cada executivo leve em consideração os interesses

dos stakeholders, antes de tomar qualquer decisão estratégica.

5. Comunicar, educar e treinar. As pessoas só poderão colocar valores de

cidadania corporativa em prática se os conhecerem e souberem como aplicá-los no

dia a dia. Seminários, treinamentos e a divulgação de boas práticas ajudam a

disseminar os conceitos por toda a organização.

6. Publicar balanços sociais e ambientais. Elaborados por especialistas e auditores

externos, eles garantem uma visão crítica de como acionistas, funcionários,

organizações comunitárias e ambientalistas exercem a atuação social.

7. Usar sua influência de forma positiva. O mundo corporativo é formado por uma

grande rede de relacionamentos. Os valores cidadãos devem ser usados para

influenciar a atuação de fornecedores, clientes e companhias do mesmo setor.

47

3. 13. A Responsabilidade Social Corporativa com fator competitivo

Melo Neto e Froes (1999, p.92) comentam sobre os riscos da falta ou da

perda da responsabilidade social: “o primeiro indicador é a perda de credibilidade -

sua imagem é prejudicada e sua reputação, ameaçada”.

Se o problema é a responsabilidade social interna, os primeiros efeitos

são a deterioração do clima organizacional, a desmotivação generalizada, o

surgimento de conflitos, ameaça de greves e paralisações, a fuga de talentos, a baixa

produtividade e o aumento de acidentes de trabalho, além de altos índices de faltas e

atrasos.

Tratando-se da responsabilidade social externa, os efeitos ainda são mais

danosos: acusações de injustiça social, boicote de consumidores, perda de clientes,

reclamações dos fornecedores e revendedores, queda nas vendas, gastos extras com

passivo ambiental, ações na justiça, e até risco de falência.

Sem embargo, continuam os autores, a responsabilidade social, assumida

de forma consistente e inteligente pela empresa, pode contribuir de forma decisiva

para a sustentabilidade e o desempenho empresarial. Eles apresentam uma lista dos

principais benefícios decorrentes das ações sociais das empresas:

- ganhos de imagem corporativa;

- popularidade dos seus dirigentes, que se sobressaem como verdadeiros líderes

empresariais com elevado senso de responsabilidade social;

- maior apoio, motivação, lealdade, confiança, e melhor desempenho dos seus

funcionários e parceiros;

48

- melhor relacionamento com o governo;

- maior disposição dos fornecedores, distribuidores, representantes em realizar

parcerias com a empresa;

- maiores vantagens competitivas (marca mais forte e mais conhecida, produtos ou

serviços mais conhecidos);

- maior fidelidade dos clientes atuais e possibilidades de conquista de novos clientes.

Uma ação social bem conduzida garante a qualquer empresa posição de

destaque na sociedade onde atua e frente ao governo, cidadãos, consumidores,

fornecedores e concorrentes. Tal posição de destaque é fator decisivo na

autopreservação empresarial. Com uma imagem empresarial fortalecida, sujeita a

poucos riscos, pois existe o consenso sobre necessidade de satisfazer e de dar

prioridade às carências sociais, a empresa canaliza a sua busca da competitividade

para fatores como preço, qualidade, marca, serviços e tecnologia.

Quanto à vantagem competitiva que proporciona a responsabilidade

social no universo dos negócios, o americano Robert Dunn, Presidente da Business for

Social Responsability, declarou que hoje nos Estados Unidos, as organizações

entendem que ser socialmente responsável é um dos pilares de sustentação dos

negócios. É tão importante e determinante quanto a tecnologia e a capacidade de

inovação. A responsabilidade social tem o poder de atrair os consumidores, gerar

vendas, que se traduzem em lucros para os acionistas. É, hoje, também um sinal de

reputação corporativa de marca. Atualmente, nos Estados Unidos, são investidos 1,3

trilhão de dólares em ações de companhias reconhecidas como socialmente

responsáveis. Mais de 2/3 dos consumidores têm preferência por produtos

49

desenvolvidos por empresas dessa categoria. Hoje, alunos recém-saídos das melhores

escolas de negócios do país também preferem ter esse tipo de empregador.

50

IV. O MOVIMENTO CONSUMERISTA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

DAS EMPRESAS

Neste capítulo, procura-se traçar uma visão de como evoluiu o

movimento consumerista e de que modo este movimento contribuiu para desenvolver

a resposabilidade social das empresas.

4.1. O consumerismo.

Em 1972, Kotler já tinha definido o consumerismo como “um

movimento social que procura aumentar os direitos e poderes do comprador em

relação aos vendedores”. Kotler acreditava que o consumerismo era uma poderosa

força social que modificaria o conceito de marketing e que faria com que as

preocupações sociais passassem a ser incorporadas à estratégia das empresas.

O autor sugere que inúmeras forças se uniram para criar a consumerismo,

resumidas no Quadro 3.

Greyser e Diamond (1974, p.1) definem o consumerismo como “a

procura pelo incremento dos direitos e do poder dos consumidores em relação aos

vendedores (mercado)”. Numa postura mais severa, Greyser (1973) indicou que o

consumerismo representava a insatisfação com os mecanismos do mercado.

Em pesquisa realizada pela Harvard Business Review com seus

assinantes, contastou-se amplo reconhecimento e aceitação do consumerismo, por

parte dos gerentes, como elemento permanente do mundo dos negócios. Uma grande

maioria considerava o consumerismo uma força positiva no mercado (Greyser e

Diamond, 1974).

51

Quadro 3. Fatores que Contribuíram para o Surgimento do Consumerismo nos Anos Sessenta

1 2 3 4 5Tendência Estrutural Pressão Estrutural Crescimento de uma crença

generalizadaFatores que precipitaram Mobilização para a ação

Renda e instrução emavançoAvanço da comple-xidade da tecnologia domarketingAvanço da exploraçãodo ambiente

Descontentamento e-conômico (inflação)Descontentamento social(guerra e pro-blemasraciais)Descontentamento e-cológico (poluição)Descontentamento com osistema de marketing(produtos mal acabados,logro, desonestidade)Descontentamentopolítico (políticos einstituições não com-preensivas)

Escritos de críticos sociaisLegisladores orientados paraos consumidoresMensagens presidenciaisOrganizações de con-sumidores

Agitação profissionalAgitação espontânea(donas de casa e assim pordiante)

Cobertura da mídia dmassaPolíticos à busca de votosNovos grupos e organizações de interesse doconsumidor

Fonte: Kotler,Philip.(1972, p.48)

As contatações da pesquisa da Harvard Business Review foram:

52

1. Um esmagador consenso dos executivos (84%) quanto a que o

consumerismo havia chegado para ficar . Segundo eles, a combinação

entre a preocupação dos consumidores com o incremento dos preços e

o desempenho e qualidade dos produtos constituía a razão principal

para o crescimento do consumerismo.

2. Embora alguns respondentes considerassem que os profissionais de

marketing algumas vezes manipulavam os consumidores, provocando

compras não desejadas, os executivos tinham a forte convicção de que

os consumidores sempre tinham a última palavra no que se refere à

decisão de compra.

3. Os homens de negócios achavam importante o uso de propaganda

mais real e informativa; eles viam o consumerismo liderando grandes

modificações no conteúdo da propaganda com o intuito de fazê-la

mais real, verdadeira, factual.

4. Os negócios foram considerados como a principal causa dos

problemas dos consumidores e, ao mesmo tempo, a forma de

resolução desses problemas. A auto-regulação dos negócios era,

ainda, a rota mais favorecida;

5. O melhoramento da qualidade e do desempenho dos produtos era

visto como o programa de orientação dos consumidores mais

construtivo com o qual as empresas podiam comprometer-se.

6. O consumerismo poderia ser uma ferramenta positiva e

competitiva, uma oportunidade de negócio. Os executivos, de forma

53

geral, consideravam o consumerismo bom para os negócios e para os consumidores.

4.2. A proteção do consumidor.

Do ponto de vista sociológico, o conceito de consumidor adquiriu

sentido, na sociedade ocidental desde o momento em que, através da divisão social do

trabalho, regularizaram-se as trocas dos produtos desse trabalho. No entanto, por

muito tempo, o consumidor existiu apenas como agente econômico, antes de emergir

como ator político. A presença do consumidor como categoria social, visível no

espaço público, é um fenômeno relativamente recente.

Tudo indica que a proteção do consumidor nasceu e alcançou seu

desenvolvimento máximo nos EUA e que foi a partir de lá que atingiu outros países.

Taschner (2000) analisou a evolução da trajetória da proteção do consumidor nos

EUA, buscando entender como certas idéias e práticas “viajam” de uma cultura

nacional a outra.

São as seguintes as etapas da periodização da proteção do consumidor

delimitadas pelo estudo de Taschner (2000):

1a Etapa - De fins do século XIX a 1929: a proteção avant la lettre.

- a proteção do consumidor aparece como um processo de regulação do mercado, de

modo a evitar a concorrência desleal;

54

- a proteção do consumidor aparece de modo vago como defesa do interesse

público e da cidadania, como nas primeiras leis relativas a alimentos e remédios

(Nadel, 1971), ou como busca de melhores condições de trabalho nas indústrias

(Angenine, 1979).

2a. Etapa - 1930 - 1960: emerge o consumidor como categoria social e

ator político.

- o consumidor emerge como categoria social e começa a ganhar relevância;

- o governo ainda age de modo descontínuo, tópico, em face de problemas

específicos;

- criam-se orgãos de proteção ao consumidor em diversos países.

3a. Etapa - Meados dos anos sessenta e anos setenta: o auge do

consumerismo.

- a proteção do consumidor assume autonomia em relação a outros problemas,

passando a integrar a agenda do governo federal dos EUA;

- a maior parte da legislação americana aprovada para a proteção do consumidor está

concentrada nesse período;

- na Europa, ocorre uma concentração similar de legislações em vários países.

55

4a. Etapa - Anos oitenta e noventa: declínio do consumerismo como questão política

nacional, busca de harmonização de leis diferentes no processo de

globalização de mercados e uso da força econômica em defesa de outras

causas.

- consumidores bem protegidos pela legislação no Primeiro Mundo e por agências

que garantem a sua aplicação;

- buscam-se alternativas de proteção (educação do consumidor, agilização de

processos) que não dependam da feitura de novas leis;

- com o avanço da globalização, surge a necessidade de harmonizar diferentes

legislações nacionais no interior de cada bloco econômico formado;

- o consumidor passa a usar sua força no mercado, como arma de luta política em

defesa de outras causas (Nava, 1992), boicotando ou privilegiando produtos,

marcas e até países em função de questões ecológicas e de discriminação, entre

outras.

No chamado Primeiro Mundo, quando a preocupação com o consumidor

começou a se fazer sentir, países como EUA, França e Inglaterra já tinham resolvido

ou, pelo menos, equacionado minimamente uma série de outras questões sociais:

pobreza absoluta, saúde pública, educação básica. São sociedades com amplo espectro

de direitos civis, políticos e sociais garantidos, e a maioria da população com suas

necessidades básicas de subsistência asseguradas. Cabe destacar, também, que a

proteção ao consumidor, o Estado (de Bem-Estar) e a regulação estatal da sociedade,

de um modo geral, apresentaram movimentos sincronizados de ascensão e declínio

(Bryner, 1990).

56

A ascensão da causa do consumidor parece estar ligada a uma

transformação na estrutura da crítica social, em seu sentido mais amplo. Até os anos

sessenta, a crítica ao capitalismo era uma crítica em bloco, holística, do sistema como

um todo (Taschner, 2000). A partir de um determinado momento, ao final dos anos

sessenta, a contestação da sociedade fragmentou-se em críticas a aspectos específicos

da vida social. Cresceu a preocupação com o excesso de tecnologia, com as agressões

ao planeta, buscou-se um retorno à natureza, valorizando-se os conhecimentos

alternativos, de estilos de vida personalizados e qualidade de vida (Naisbitt e

Aburdene, 1990). Foi no ínicio desse processo mais amplo que a questão da defesa do

consumidor ganhou peso, manifestando-se no Primeiro Mundo naqueles países em

que existia uma sólida tradição de cidadania e participação social.

A questão da proteção do consumidor atingiu o Brasil a partir dos EUA

no ínicio dos anos setenta. Sua trajetória é analisada por Taschner (2000),

apresentando os seguintes pontos principais:

- a questão da proteção do consumidor chega dos EUA pela mídia de massa,

envolvendo casos domésticos e comparando com a situação brasileira;

- surge o PROCON em São Paulo em 1976, como braço executivo do Sistema de

Defesa do Consumidor;

- em 1985, a questão entrou na agenda do governo federal, criando-se o Conselho

Nacional de Defesa do Consumidor para assessorar o presidente da República na

elaboração de uma política nacional de defesa do consumidor;

- em 1991, o Código de Proteção do Consumidor entrou em vigor.

57

As características do contexto em que se deu o desenvolvimento da

proteção do consumidor no Brasil - industrialização tardia que não tornou a sociedade

afluente em seu conjunto, nem resolveu um grande número de questões sociais,

seguida de um processo de modernização acelerado, e do desenvolvimento de uma

cultura do consumo sem democratização do acesso efetivo a este, a ausência de uma

estrutura forte de cidadania e de tradição de participação civil, as formas de

articulação entre Estado e sociedade civil, e entre a ascensão da questão do

consumidor e o processo de regulação - deram a essa evolução uma natureza distinta

em relação ao processo ocorrido nos países do Primeiro Mundo.

Recentemente, o terceiro setor no país tem aberto caminhos para o

desenvolvimento de ONGs, como o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC).

Algumas empresas já criaram serviços de atendimento ao cliente - não

necessariamente restritos a questões de pós-vendas -, utilizando recursos renováveis,

processos não agressivos ao meio ambiente (papel reciclado, tratamento de efluentes

industrais) e vêm realizando ações que visam contribuir para resolver ou mitigar

problemas sociais (Strehlau, 1999). É o começo do desenvolvimento do conceito de

marketing social e de empresa cidadã.

4. 3 . A falácia otimista do conceito de marketing.

Webster (1974) referiu-se à “falácia otimista” do próprio conceito do

marketing, isto é, que o interesse de lucro de uma empresa, a satisfação a curto prazo

do consumidor individual e o interesse a longo prazo do público consumidor sejam

todos compatíveis entre si. O conceito de marketing enfocava os desejos a curto prazo

58

do consumidor individual, e não seus interesses e bem-estar a longo prazo como

consumidor e cidadão.

O consumerismo foi visto, então, como a procura de valores de vida

novos, mais significativos e mais humanos, de uma qualidade de vida que

transcendesse o materialismo e a estratificação econômica, de um sentido de valor e

dignidade individuais na vida quotidiana.

A falácia otimista do conceito de marketing foi reflexo da falta de

conscientização do consumidor sobre o conflito entre a satisfação da necessidade

individual e o interesse público a longo prazo. A nova conscientização social do

consumidor deveria ser refletida na introdução de critérios sociais na tomada de

decisões de marketing.

4.3. Um conceito de marketing revisto

O consumerismo exige um grau mais elevado de responsabilidade e

compreensão no servir o consumidor, não apenas no momento da venda, mas também

através de todo o ciclo de vida sócio-ecológico do produto. Webster (1972) aponta

dois modos para a análise das conseqüências sócio-ecológicas do consumo: através da

imposição governamental de restrições legais quanto à tomada de decisões

administrativas e através da disposição da administração das empresas em assumir a

responsabilidade individual pelas escolhas oferecidas aos consumidores.

Webster manifesta-se sobre a evolução do conceito de marketing, vendo-

o como um sistema de intercâmbio econômico que progrediu de um enfoque sobre o

mercado, no sentido econômico, até o enfoque sobre os mercados no sentido público.

59

Quadro 4: Evolução do conceito de marketing

Fases doDesenvolvimento

do mercadoEnfoque

Funções administrativaschaves Objetivo

Incertezaadministrativa

chave

I. MERCADODeterminação de preçodistribuição

Lucro através da eficiência dadistribuição

Nível da demandaagregada

II. VENDEDOR Vendas e PropagandaLucro através do volume devendas

Necessidade e grau deser persuadido docomprador

III. COMPRADORPesquisa de mercado einovação do produto

Lucro através da eficiência desegmentação e satisfação docliente

Demografia e motivosdo comprador

IV. PÚBLICOCriação de valores doproduto e fornecimento deinformações aos clientes

Lucro através da criação devalor real e responsabilidadepública

Valores públicos edefinição do interessepúblico

Fonte: Webster, Frederick Elmer ( 1978. p.148).

Podemos concluir que, sob o conceito revisto de marketing, o fim

desejado é o aprimoramento líquido da qualidade de vida para todos os consumidores

e o bem-estar público. O lucro ainda é o resultado desejado, e o cliente satisfeito é a

condição sine qua non de ação do marketing.

4.5. A nova visão de marketing sugere uma nova visão da

responsabilidade social da empresa.

O novo critério de eficácia de marketing pressupõe plena prestação de

contas ao cidadão individual, tanto pelas conseqüências sociais como pelas

econômicas, e uma nova definição do lucro, não como vantagem ou benefício, mas

como o incremento social e econômico que restou após uma plena prestação de

contas de todos os recursos sociais e econômicos utilizados na produção de bens e

serviços.

60

Sendo assim, a nova visão do marketing também sugere uma nova visão

da responsabilidade social da empresa, não como a redistribuição dos lucros

auferidos no mercado, o excedente deixado após os proprietários estarem satisfeitos,

mas como a responsabilidade pela criação de verdadeiro valor social no mercado.

Isto é, em última análise, o que significa o consumerismo: o fortalecimento do papel

da empresa numa sociedade de livre empreendimento, a fim de criar o verdadeiro

valor social no mercado.

Os valores do consumidor estão mudando e as pressões por novos graus

de responsabilidade social no marketing não podem ser negados. Um consumidor

mais socialmente responsável exigirá, cada vez mais, um especialista de marketing

socialmente responsável. Será um desafio para os profissionais de marketing, deixar o

marketing tentar definir um mix de bens e produtos que passe pelo teste de mercado, e

deixar o público determinar, por fim, o que é de seu interesse. Nesse caso, o papel do

governo será reservado àquelas ocasiões em que o mecanismo do mercado se ajuste

de modo inadequado aos interesses públicos e privados.

A maioria dos gerentes preferiria aceitar o maior desafio da

implementação de um conceito revisto de marketing, um que coloque o bem-estar

público adiante do bem-estar do consumidor individual, como critério último para a

tomada de decisões de marketing socialmente responsáveis.

4.6. Uma abordagem moderna sobre o consumerismo

Há uma tendência de uma parcela dos consumidores em mudar de marca

quando houver outra que contribua para causas sociais (Smith e Alcorn, 1991, p. 26),

ou em escolher um produto que beneficie uma causa social, entre outros de sua

61

categoria, desde que este seja competitivo em qualidade e preço (Roper e Cone,

1994, apud Arnott, 1994,p .65).

Segundo Carvalho (1991, p.104), uma pesquisa realizada em 1991 pela

empresa Innovation, com 250 consumidores de classes A, B, C e D, da cidade de São

Paulo, apontou que 27% dos entrevistados estariam dispostos a abrir mão de certas

comodidades e mudar hábitos para não prejudicar o meio ambiente, concordando até

em pagar preços um pouco mais elevados para comprar produtos ambientalmente

corretos.

Existem indivíduos, grupos e organizações que se propõem a divulgar

uma perspectiva de consumo ético e, no limite, o de anticonsumerismo, entre elas a

The Ethical Consumer Research Association, o grupo Enough in the UK, Omslag na

Holanda e Media Foundation no Canadá.

Ashley (2000) cita que, em um folheto explicativo do grupo Enough in

the UK, há uma mobilização para a educação do consumidor quanto às conseqüências

e antecedentes para o seu ato de consumo, esclarecendo a diferença entre

consumerismo “verde”, consumerismo ético e anticonsumerismo:

• o consumerismo “verde” é uma tentativa de fazer os consumidores

comprarem bens ou serviços não danosos ao ambiente.

• o consumerismo ético é um desenvolvimento do consumerismo

“verde”, considerando questões mais amplas do que apenas não ser danoso ao

ambiente, tais como se os produtores ou acionistas investem no comércio de armas, se

apoiam regimes políticos opressores, se exploram as relações de trabalho, se possuem

registros de corrupção, entre outros. Através de um monitoramento do

62

comportamento dos negócios das empresas, o consumerismo ético objetiva o

comércio ético dentro do atual sistema econômico.

• o anticonsumerismo desafia o conjunto de premissas sobre o que é

necessário para a sociedade, partindo da visão de que as nações ricas do mundo estão

fundamentalmente destruindo o planeta e a elas mesmas, em sua busca de aquisição

material. O anticonsumerismo levanta a questão de “Por que comprar?”, propondo,

ao invés de apenas comprar produtos “verdes” ou eticamente produzidos, formas

diferentes de se viver, comercializar e trabalhar, a fim de o ser humano ser menos

dependente em comprar coisas para sentir-se bem.

Numa abordagem recente sobre consumerismo, Asher (1998) opina que

o futuro do movimento consumerista internacional é trabalhar com mais esperteza e

cooperação no novo paradigma de proteção do consumidor: um novo regíme

regulatório que daria suporte ao mercado e seria baseado numa eficaz proteção ao

consumidor. O objetivo final do movimento consumerista seria então: alcançar e

maximizar o bem-estar do consumidor.

4.7. Ampliação do conceito de marketing

À medida que o movimento consumerista expressava suas frustações

quanto ao comportamento das empresas, surgia, entre os teóricos de marketing, a

necessidade de rediscutir esse conceito e ampliar suas fronteiras.

Segundo Kotler e Levy (1969), em seu artigo sobre a ampliação do

conceito de marketing, este termo, para muitos, está associado a uma função peculiar

a empresas de negócios. Assim, a transposição dos conceitos tradicionais de

63

marketing para o marketing de pessoas, idéias e instituições sem fins lucrativos ainda

era, em 1969, uma grande inovação, ou mesmo, uma distorção do conceito básico. No

entanto, estes autores enfatizaram que atividades similares às do marketing ocorrem

em organizações sem fins lucrativos, argumentando que instituições como as igrejas,

as escolas e os museus buscavam cultivar uma relação de longo prazo com grupos

bem definidos, de forma muito similar às empresas de negócios que buscavam o

desenvolvimento de clientes fiéis.

Os autores analisam que áreas do marketing eram tipicamente ignoradas

pelo estudioso de marketing ou tratadas como relações públicas ou atividades de

publicidade. Eles apontaram que nenhuma tentativa era feita para incorporar estes

fenômenos no corpo dos pensamentos e teorias próprias do marketing, nem para

redefinir o significado de desenvolvimento de produto, definição de preço, de

distribuição e de comunicação nesses novos contextos. Viram uma grande

oportunidade para os profissionais e estudiosos do marketing expandirem suas

reflexões e aplicar suas habilidades em um interessante leque de atividades sociais. O

desafio dependeria da atenção dada à questão: ou o marketing teria um significado

social mais amplo, ou permaneceria como uma atividade de negócio estritamente

definida.

Esta ampliação do conceito de marketing foi contestada por Luck (1969).

Para ele, o marketing focalizava tradicionalmente os processos ou as atividades cujo

resultado principal era uma transação de mercado. Assim sendo, o marketing estava

preocupado com mercados, e mercados deviam ser caraterizados pela compra-e-

venda.

Na sua réplica aos comentários trazidos por Luck, Kotler e Levy (1969)

enfatizaram que o ponto essencial do marketing reside na idéia geral de troca, mais do

64

que na idéia mais restrita de transações de mercado. A troca, conforme eles

sustentaram, envolve duas ou mais partes que voluntariamente concordam em entrar

em uma relação de “negócio” e cada parte participa nesta troca (“negócio”), pois

busca algo diferente daquilo que tem a oferecer. Assim, cada uma das partes tende a

enfatizar o valor daquilo que está oferecendo com o objetivo de realizar uma troca que

seja mutuamente satisfatória e que talvez crie as bases para um relacionamento

mútuo.

Dessa forma, a introdução da noção de troca é sustentada por Kotler e

Levy (1969), como igualmente o fazem com o conceito de valor. Basicamente,

afirmam que o marketing descreve os esforços para se obter o apoio de outras pessoas

por meio da oferta de valor. Retomando a expressão utilizada por Theodore Levitt no

seu famoso artigo de 1960, Kotler e Levy (1969) alertaram que tratar o marketing

como uma função própria de empresas de negócios negava que os administradores de

organizações sem fins lucrativos tivessem responsabilidades de marketing, uma visão

que, para os autores, além de não ser realista, caraterizava uma nova forma de

“miopia de marketing”.

4.7.1 O marketing como um processo de troca

A introdução do marketing na área não lucrativa trouxe novo debate para

os teóricos da disciplina, sendo o tema principal os tipos de trocas abarcados pelo

marketing.

Bagozzi (1975) afirma que o marketing é uma função geral de

aplicabilidade universal. O marketing é a disciplina sobre o comportamento de troca.

O autor aborda inicialmente três tipos existentes de troca: a troca restrita, a

65

generalizada e a complexa. Com esta subdivisão, mostra que as trocas consideradas

pelos profissionais de marketing, ou seja, as trocas restritas, são somente um aspecto

da teoria de troca na qual estão sendo consideradas as trocas de bens tangíveis entre

duas partes. As trocas de marketing podem ser indiretas e podem envolver aspectos

intangíveis e simbólicos, e mais do que duas partes podem participar das mesmas.

Ao tratar do significado da troca, Bagozzi chama atenção para o fato de

que esta é mais do que uma mera transferência de produtos ou serviços por dinheiro e

ressalta os aspectos sociais e psicológicos que envolvem as partes que participam da

troca. Assim, quanto ao significado, as trocas de marketing podem ser de três tipos:

troca utilitária (troca econômica), troca simbólica (troca de entidades psicológicas,

sociais ou outras entidades intangíveis) ou troca mista (troca de aspectos utilitários e

simbólicos).

Bagozzi afirma que o marketing social seria a resposta à pergunta sobre

como e porque as trocas são criadas e resolvidas em relacionamentos sociais. O autor

considera, que existe troca nos relacionamentos do marketing social, e estes

relacionamentos constituem-se em trocas generalizadas ou complexas. Tais

relacionamentos envolvem uma transferência simbólica de entidades tangíveis e

intangíveis e evocam várias mídias ou veículos com os quais as pessoas comunicam e

influenciam outros na satisfação de suas necessidades. São esses veículos: dinheiro,

persuasão, punição, poder, incentivos ou ativação de compromissos normativos ou

éticos.

O autor conclui que o marketing social é realmente uma subdivisão do

conceito genérico de marketing, no sentido de que ele lida com a criação e a resolução

de trocas em relacionamentos sociais.

66

Whyte (1988), por sua vez, sugeriu que o paradigma de troca se tornaria

válido para todo o domínio do marketing, uma vez que a idéia de produtos intangíveis

e preços não monetários fosse aceita. O autor, após apresentar uma separação do

marketing não comercial em marketing sem fins lucrativos e marketing social, analisa

as expansões do domínio do marketing, de forma a incluir o marketing de

organizações, de pessoas e de idéias. Assim, essa proposta tem como resultado a

adição de produtos com intangibilidade crescente à escala de entidades de mercado,

conforme a figura 5.

Figura no. 2. Escala de entidade de mercado

Produtos Serviços Organizações IdéiasFísicos e pessoas

TANGIBILIDADE INTANGIBILIDADEDOMINANTE DOMINANTEFonte: Whyte, J. op.cit., p.44

Sobre o valor do produto, Whyte explica que este só pode ser atribuído

pelo usuário porque o valor reside nos benefícios que ele quer ou percebe. É uma

tarefa dos profissionais de marketing entender seus mercados de forma a que possam

ser eficientes na criação de valor, sendo esta uma difícil tarefa que se torna cada vez

mais complicada conforme os produtos se tornam mais intangíveis.

Assim, o marketing é um processo social que busca estabelecer e manter

relacionamentos entre indivíduos e/ou organizações por meio de trocas mutuamente

satisfatórias (Whyte, 1988).

67

4.8 . O conceito societal de marketing

Uma das contribuições do movimento consumerista, na década de 70, foi

propiciar o surgimento de um novo conceito de marketing: o marketing societal.

O conceito original do marketing enfatizava “dar ao cliente o que ele

deseja”, sem fazer quaisquer julgamentos sociais de seus desejos. As empresas

preocupavam-se com a satisfação dos consumidores a curto prazo, mas não com seu

bem estar a longo prazo. Alguns consumidores começaram a suspeitar disso no final

dos anos 60 e levantaram questões sobre se as empresas estavam servindo realmente

a seus interesses a longo prazo. Alguns argumentavam que as organizações tinham a

obrigação de publicar os efeitos nocivos e os perigos dos produtos, da mesma forma

que os aspectos atraentes, deixando aos consumidores a decisão final. Além disso, a

crescente escassez dos recursos nacionais exigia que as empresas repensassem sobre

suas atitudes no tocante à economia. Isso levou alguns especialistas de marketing a

reformular o conceito de marketing, chegando-se ao conceito de marketing societal.

Kotler e Armstrong (1993, p.7) expressaram o conceito de marketing

societal nos seguintes termos:

“O marketing societal consiste da definição de uma política

comercial que determine as necessidades, desejos e interesses dos

mercados-alvos as quais devem ser preenchidas de maneira mais

eficiente que os concorrentes da empresa, sem descuidar de manter ou

melhorar o bem-estar do consumidor e da sociedade”.

Anteriormente, Kotler (1975) tinha feito referência às premissas

implícitas no conceito societal de marketing, que seriam as seguintes:

68

- O propósito principal de uma organização é criar clientes satisfeitos e saudáveis e

contribuir para a qualidade da vida.

- A organização deve procurar produtos que combinem um elevado atrativo e um

alto benefício para os consumidores. Devem fornecer informações sobre o uso

adequado do produto a fim de maximizar os benefícios que o consumidor recebe.

- Os consumidores patrocinarão aquelas organizações que são consideradas

genuinamente preocupadas com a satisfação imediata e o bem-estar a longo prazo.

Isso é assim porque os consumidores preferem organizações que os tratem com

humanidade e que mostrem responsabilidade social, além de estarem cada vez

mais representados por advogados e agências que chamam a atenção das

organizações que falham na realização de um bom trabalho.

4.8.1. Definindo os limites do marketing

Webster (1978) aponta que uma atividade não pode ser chamada de

marketing simplesmente porque decidiu-se vê-la por esse prisma. Desta forma,

Webster critica a proposta de Kotler sobre um “conceito genérico de marketing”, que

define o marketing como “qualquer unidade social que procura trocar valores com

outras unidades sociais”, e especifica quatro axiomas:

1. O marketing envolve duas ou mais unidades sociais.

2. Pelo menos uma das unidades está procurando uma reação específica

de uma ou mais unidades, referentes a algum objetivo social.

3. A probabilidade da reação do mercado não é fixada.

69

4. O marketing é a tentativa de se produzir a reação desejada, através da

criação e da oferta de valores ao mercado.

Embora esses axiomas se apliquem a todo o marketing e sejam úteis para

a elucidação da natureza básica da atividade de marketing, nem toda atividade

definida por aquelas quatro características é marketing. São condições necessárias,

mas não suficientes, para definirem o que é marketing.

Webster, em sua crítica aos axiomas propostos por Kotler, explica que,

em geral, o verdadeiro marketing parece exigir a existência dos seguintes aspectos:

- Uma organização. O marketing não é empreendimento de uma pessoa, embora

possa ser realizado a favor de um indivíduo, como uma celebridade ou um

candidato político. O marketing é competência da administração e administração,

por definição, pressupõe uma organização.

- Recursos econômicos. O marketing preocupa-se essencialmente com a alocação de

escassos recursos organizacionais, da maneira mais eficiente e eficaz para a

consecução dos objetivos organizacionais. No marketing social, a restrição

orçamentária normalmente substitui o motivo de lucro do marketing de negócios,

mas os efeitos para a tomada de decisão tendem a ser semelhantes.

- Uma abordagem profissional. As decisões sobre marketing pressupõem a

utilização de certo tipo de conhecimento profissional, e esse conhecimento vem se

tornando cada vez mais rigoroso, mais capacitado e mais científico. A exigência

mínima para chamar uma atividade de marketing parece, então, ser aquela em que

o profissional estivesse cônscio de que tal corpo de conhecimentos existe, e que

fizesse uso dele em suas decisões.

70

- Um mercado. O marketing exige um mercado, definido como múltiplos clientes

em potencial, e não somente um único indivíduo. Se os objetivos da organização

envolvem apenas uma pessoa, ela não estará engajada em marketing, mas

meramente em persuasão.

71

V. MARKETING SOCIAL

O conceito de marketing social é outro desdobramento resultante daampliação do conceito de marketing.

5. 1. Origem do marketing social

Segundo Fox e Kotler (1980), a origem do marketing social encontra-se

no instrumento informacional de mudança do comportamento do público, mais

precisamente na forma da “propaganda social”. Muitos grupos que lutam por uma

determinada causa começaram a considerar o potencial da propaganda para mudar

atitudes e comportamentos públicos. Isto porque, quando a propaganda é criada de

forma apropriada, pode influenciar atitudes e comportamentos. Entretanto, é

importante estar alerta, pois muitas vezes estas campanhas são o único passo tomado

para motivar novos comportamentos e; sozinhas, são usualmente inadequadas.

Conforme foram sendo reconhecidas as limitações da propaganda,

os formuladores das políticas sociais começaram a fornecer informações não apenas

por meio da propaganda social, mas também pela presença de instrutores junto ao

público -venda pessoal- e pelo suporte de manuais explicativos. Assim, a propaganda

social evoluiu para “comunicação social”.

Em seguida foram agregados aos projetos de comunicação social

elementos de pesquisa de marketing (objeto de aprendizagem sobre o mercado),

desenvolvimento de produto (oferecendo ao público alternativas de comportamento,

caso ele venha a abandonar o atual) e o uso de incentivos e facilitadores (abrangendo

as medidas tomadas com a finalidade de reduzir o tempo e o esforço despendidos pelo

público em sua mudança de comportamento).

72

Em 1969, Lazer analisou que as fronteiras do marketing na sociedade

moderna estendiam-se além do objetivo do lucro, pois os valores, responsabilidades,

ética e relações marketing - governo tinham evoluído. Assim, explicou que “o

conceito de marketing tem importantes dimensões sociais e pode ser visto como um

instrumento social na altamente industrializada sociedade” ( Lazer, 1969, p.9).

Kotler e Roberto (1992) apontam que o termo “marketing social”

apareceu pela primeira vez em 1971, para descrever o uso de princípios e técnicas de

marketing para a promoção de uma causa, idéia ou comportamento social. Desde

então, o termo passou a significar uma tecnologia de administração da mudança

social, associada ao projeto, à implantação e ao controle de programas voltados para o

aumento da disposição de aceitação de uma idéia ou prática social em um ou mais

grupos de adotantes escolhidos como alvo.

Por sua vez, Lazer e Kelly (1973) explicam que até meados da década de

sessenta a responsabilidade do marketing era colocar para os consumidores produtos e

serviços que os satisfizessem eficientemente enquanto atingiam objetivos

organizacionais de lucro, vendas, imagem e participação de mercado. A partir de

então, começou a ser de responsabilidade do marketing a atuação em áreas como

desenvolvimento urbano, educação, saúde, qualidade de vida e redução da poluição,

sendo que a principal razão para tal comportamento encontra-se nas conseqüências

diretas e econômicas de longo prazo que as ações de marketing tradicionais podem

ter. Para os autores, a incursão do marketing nestas outras áreas resultou na

emergência da disciplina “marketing social”.

73

5.2. Conceito de marketing social

Kotler e Zaltman (1971) esclarecem que a propaganda é apenas um dos

componentes do marketing social, embora haja uma tendência a atribuir à

propaganda o papel principal na consecução dos objetivos sociais. Isso ignora um

axioma do marketing de que um dado objetivo de marketing requer a coordenação do

mix promocional com o mix de produtos e bens e de distribuição. Assim, é reforçada a

idéia de que o marketing social é um conceito muito mais amplo do que os de

propaganda e comunicação social.

Esta idéia ampliada de comunicação social foi denominada por Kotler e

Zaltman (1971, p.5) de marketing social , definido a seguir:

“Marketing social é o projeto, a implementação e o controle de

programas calculados para influenciar a aceitação de idéias sociais,

envolvendo considerações de planejamento de produto, apreçamento,

comunicação, distribuição e pesquisa de marketing.”

Kotler (1994) aponta três diferenças principais entre o marketing social e

o marketing de negócios:

- Os especialistas de marketing de negócios procuram preencher as necessidades e

os desejos identificados dos mercados-alvos; os especialistas de marketing social

tentam modificar as atitudes ou o comportamento dos mercados-alvos.

- Os especialistas de marketing de negócios sentem que seu alvo principal é obter

lucro, servindo aos interesses do mercado-alvo ou da sociedade; os especialistas de

marketing social procuram servir aos interesses do mercado-alvo ou da sociedade,

sem lucro pessoal.

74

- Os especialistas de marketing de negócios levam ao mercado os produtos e

serviços, por intermédio de veículos de idéias; os especialistas de marketing social

levam as idéias ao mercado, em lugar dos produtos ou serviços.

Por sua vez, Lazer e Kelly (1973, p.47) apresentaram a seguinte

definição sobre marketing social:

“ O marketing social é um ramo do marketing que diz respeito

tanto ao uso dos conhecimentos, conceitos e técnicas do marketing para

realçar os fins sociais quanto às conseqüências sociais das políticas,

decisões e ações de marketing.”

5.3. Distinguindo o conceito de marketing social

Minciotti (1983) faz referência à necessidade de distinguir o conceito de

marketing social - entendido como marketing de idéias, causas e questões sociais- do

conceito de marketing societal e do conceito de marketing para organizações sem fins

lucrativos. Para o autor, a essência do marketing social reside na compreensão efetiva

do que são os seus objetivos de estudo: uma causa, uma idéia ou uma questão social.

Assim sendo o entendimento destes termos, basta para diferenciar o marketing social.

Finalmente o autor coloca que “o marketing social está longe de ser um outro tipo de

marketing, como alguns propõem, mas é, sem dúvida, uma consagrada aplicação do

marketing em uma área com características específicas e peculiares relevantes – as

causas e programas sociais.”

No quadro a seguir, o autor delimita as diferenças relevantes entre o

marketing social e o marketing tradicional:

75

Quadro 5. Comparação entre o Marketing Social e o Marketing Tradicional

MARKETING TRADICIONAL MARKETING SOCIALTem por objetivo satisfazer necessidadesconscientes, visando propiciar lucro e/ou prazerindividual.

Objetiva desenvolver programas para satisfaçãode necessidades nem sempre percebidas pelacomunidade (causas ou idéias sociais). Essasidéias são quase sempre desarranjos sociais,gerados pela satisfação exclusiva dasnecessidades individuais.

Não leva em conta a comunidade, mas apenas oindivíduo integrante de seu segmento.

Tenta adequar os indivíduos a uma conduta,hábito ou padrão comportamental que melhorsatisfaça as necessidades identificadas comocausas ou idéias sociais.

Comercializa produtos ou serviços geralmentemuito agradáveis ao consumidor.

Promove idéias ou programas que combatem,muitas vezes, atitudes ou comportamentosconsiderados agradáveis pelo público-alvo,embora inconvenientes, se analisados maisamplamente: programa de combate ao fumo.

A identificação de motivação de um consumidorem relação a um produto é facilmente obtida.

Os assuntos objeto das pesquisas sãofreqüentemente complexos e de abordagemsubjetiva. É muito difícil, por exemplo, saber quefatores e em que grau de intensidade motivariamum fumante a deixar de fumar.

O mercado pode ser dividido em tantossegmentos quantos convenham à empresa. E paracada segmento será desenvolvido um compostode marketing específico.

Convencionou-se que as causas ou idéias sociaisdevem ser acessíveis igualmente a todos oscidadãos. Isso dificulta a utilização do processode segmentação.

As bases para segmentação estão bemidentificadas e existe metodologia conhecida eeficiente para a obtenção dos dados necessários àsegmentação.

Dada a complexidade dos objetivos dosprogramas de marketing social e também pelasua enorme carga de subjetividade einconsciência dos indivíduos em relação aosmesmos, é muito difícil obter dados quepermitam segmentar eficientemente.

O processo de segmentação consiste emidentificar grupo(s) de indivíduos que,efetivamente ou potencialmente, querem oproduto/serviço.

Segmentar consiste em identificar grupo(s) deindivíduos que precisam do “produto” (idéias,novo hábito, comportamento etc.) seja porquenão o querem, seja porque não o conhece, nãosabem utilizá-lo ou simplesmente por rejeitarema idéia de seu uso.

O produto apresenta geralmente uma concepçãosimples, fácil e claramente identificável por seusconsumidores.

A concepção do “produto” é complexa e dedifícil percepção por parte dos indivíduos-alvo.

Os produtos são escolhidos entre várias opçõesde estratégia de produtos.

Existem poucas opções para formar a estratégiade produto.

O objetivo da estratégia de preço é maximizar alucratividade da organização.

O objetivo da estratégia de preço é minimizar oscustos e eliminar barreiras, facilitando, assim, a

76

adesão de indivíduos à idéia ou causa social.Existe controle sobre quase todos os custosparciais que incidem no custo total de umproduto em reação ao Qual se esteja estabelecidoo preço.

Não há controle sobre os custos parciais que umindivíduo deva assumir até o atingimento doobjetivo final proposto.

Existem abundantes maios para colocação doproduto no mercado (canais de distribuição) emrelação aos quais também há condiçõesfavoráveis de controle e acesso.

Dada a característica abstrata dos “produtos” écomplexa a adoção dos canais de distribuição, enormalmente não há boas condições de acesso emuito menos de controle.

No desenvolvimento da estratégia decomunicação há poucas restrições quanto aosapelos utilizados.

Existem muitas restrições quanto ao tipo demensagem a utilizar no processo decomunicação.

O custo de comunicação envolvido em umprojeto é todo absorvido no custo do produto.

O alto custo de veiculação nas mídias horizontaise verticais torna freqüentemente proibitivo seuuso pelo não profissional de marketing social.

A comunicação persuasiva de um produtomesmo que atinja segmentos de nãoconsumidores, não acarreta problemassignificativos, além do desperdício financeiro.

Quando determinada idéia ou proposta de ação épercebida por pessoas contrárias à sua concepçãoou prática, desencadeia-se uma campanhacontrária, o que dificulta sobremaneira aeficiência da comunicação. Ex: aborto,feminismo, controle de natalidade etc.

A comunicação persuasiva é feita através demensagens curtas e eficientes. Ex: Beba Coca-cola; Seguro como a não do papai etc.

Porque normalmente o objetivo implica umaalteração de hábito ou comportamento, asmensagens são muito longas e explicativas, o queas torna incompatíveis com os veículos decomunicação de massa. Para adaptar-se, quasesempre ficam pouco persuasivas.

As organizações lucrativas são bem estruturadase levam em conta o marketing na elaboração deseu desenho organizacional.

As entidades que promovem causas sociaisraramente são organizadas e em sua frágilestrutura quase nunca o marketing é considerado.

Nas organizações lucrativas o marketing éplanejado e executado.

Nas entidades não lucrativas o marketing é umacaso.

As organizações lucrativas possuem profissionaiscom formação favorável à prática de marketing.

Nas entidades que tentam implantar programassociais, seus dirigentes freqüentemente não têmformação favorável ao entendimento do que sejaadministração gerencial e muito menos demarketing.

Os projetos são acompanhados e seus resultadosavaliados. Isso passa a integrar o know-how daorganização.

Os recursos destinados a marketing são tãopequenos que já é difícil implementar umprograma de marketing, quanto mais controlar eavaliar seus resultados; tarefa essa que sairia tãoonerosa quanto a implantação do programa em si.

Fonte: Minciotti, 1983, p. 56.

77

Sweeney (1972), em sua abordagem do marketing como tecnologia de

gerenciamento do processo social, explica que o marketing é um assunto relevante

para toda a organização em suas relações com seus públicos, e não só com os

consumidores. Visto como tecnologia de gerenciamento, o marketing ignora a relação

entre a organização e o sistema social geral com o qual opera, sendo abordado como

um fenômeno unidirecional de ação e não de interação. Por outro lado, de uma

perspectiva de sistema social, o marketing é visto como integral e inerente parte da

sociedade, um processo societal que facilita a eficaz e eficiente resolução das

necessidades da sociedade através da troca de valores.

5.4. Idéias, causas e questões sociais

Identificando o marketing social como o marketing de idéias, causas ou

questões sociais, é necessário definir estes conceitos. Guebel e outros (1987)

sintetizam que a principal característica de uma idéia é ser única e exclusivamente

individual, concebida pelo indivíduo, de interesse pessoal, sendo a motivação para a

sua adoção o desejo de servir a si próprio e o fato de ser geradora de conclusões.

Os autores continuam explicando que, quando uma idéia é de interesse

para muitos indivíduos de uma sociedade, transforma-se em uma causa ou questão

social. Em outras palavras, as causas ou questões sociais são caracterizadas pelas

idéias que foram difundidas por um grupo de pessoas, tornando-se de interesse

público, sendo sua adoção motivada pelo desejo de auxiliar a outros, freqüentemente

gerando mudanças sociais.

Fine (1981) aponta que a diferença entre causas e questões sociais

repousa na homogeneidade ou heterogeneidade social sobre a solução de determinado

78

problema. As questões são controvertidas e as causas geralmente não são. Exemplos

de causas sociais são as campanhas para prevenção de violência contra crianças,

prevenção de acidentes e campanhas de vacinação. Por sua vez, exemplos de questões

sociais são as campanhas para controle de natalidade e para a legalização do aborto.

A existência de uma questão social leva à possibilidade de um

contramarketing pelos não adeptos da idéia, no caso de se conhecer e poder utilizar os

instrumentos de marketing. Na causa social, sem embargo, todos adotam a idéia ou,

quando muito, não são contra a mesma.

5.5. Mudanças sociais

Toda idéia ou causa social tem um objetivo a ser atingido. Este objetivo

envolve mudanças no comportamento das pessoas. Kotler (1992) define quatro tipos

de mudanças sociais, por ordem ascendente de dificuldade em sua execução: são as

mudanças cognitivas, de ação, de comportamento e de valores.

- Mudança Cognitiva: Há muitas campanhas de mudança social que apresentam um

objetivo específico de criar uma mudança cognitiva na audiência-alvo. São

exemplos de campanhas de informação ou educação do público, como as que

explicam como avaliar o valor nutritivo de diferentes alimentos e as que chamam a

atenção para problemas sociais como a pobreza ou a poluição. São as campanhas

de mais fácil elaboração, porque procuram mudar atitudes ou comportamentos

profundamente arraigados.

- Mudança de Ação: Este tipo de campanha procura induzir o máximo de pessoas a

realizar uma ação específica durante um período de tempo determinado. As

79

campanhas para atrair doadores de sangue e para convencer as mulheres a realizar

exames de prevenção de câncer são exemplos. As causas sociais que objetivam

este tipo de mudança requerem, além da informação ao público-alvo, a disposição

de tal público de se movimentar para a realização de algo concreto, como por

exemplo vacinar-se. Portanto, estas campanhas podem ter um custo. Mesmo sendo

a favor delas, o público-alvo pode não praticar a ação objetivada por falta de

tempo ou de transporte. Assim, para se atingir este tipo de mudança é necessário

incentivar a participação do público-alvo com recompensas ou incentivos que

compensem os seus custos.

- Mudança no Comportamento: Este tipo de mudança visa a induzir ou a ajudar as

pessoas a modificar algum aspecto de seu comportamento para seu próprio

bem-estar. São exemplos as campanhas para desencorajar o vício do fumo ou o

consumo excessivo de álcool. Conseguir uma mudança de comportamento é mais

difícil do que obter uma mudança cognitiva ou de ação, porque as pessoas têm que

abandonar velhos hábitos, aprender novos e manter o novo padrão de

comportamento.

- Mudança de Valor: O objeto desta mudança é a transformação de crenças ou valores

profundamente arraigados. São exemplos os programas para alterar a idéia que as

pessoas têm sobre o divórcio ou sobre a segregação racial. As mudanças de valor são

as mais difíceis de serem realizadas, pois o sentido de bem-estar de uma pessoa

reside em seus valores básicos. Perturbá-los é trazer tensão ao indivíduo; e este

geralmente, resiste a tais incursões. Portanto, os agentes de mudança social que

envolvem valores preferem usar a lei para promover novos comportamentos. Uma

vez mudado o comportamento, podem surgir uma nova concepção das coisas e uma

nova forma de enfrentar o mundo.

80

Pode acontecer de uma causa social objetivar mais de um tipo de

mudança. Há o caso em que a causa social apela para um comportamento mais sadio,

como por exemplo nas campanhas contra o fumo e o consumo excessivo do álcool,

ocorrendo um contramarketing em relação às empresas produtoras desses produtos.

5.6. Condições exigidas para o marketing social eficaz.

Wiebe, citado por Kotler (1978), explica, em estudo realizado em 1972,

que a eficácia de uma campanha social depende da presença de cinco fatores:

- força, ou seja, aforça de vontade de uma pessoa com respeito ao objetivo como

sendo uma combinação de sua predisposição anterior à mensagem e ao estímulo

dela;

- direção, ou seja, o conhecimento de como e para onde a pessoa irá para consumar

sua motivação;

- mecanismo, ou seja a existência de uma agência que proporciona à pessoa a

tradução de sua motivação em ação;

- adequação e compatibilidade, ou seja, a habilidade e a eficácia da agência em

realizar seu propósito;

- distância, ou seja, a estimativa do adotante quanto à energia e ao custo exigidos

para consumar a motivação em relação à recompensa.

Lazarsfeld e Merton (1949), apud Kotler e Zaltman (1971), referem-se às

condições necessárias para um marketing social eficaz:

81

1. monopolização real ou psicológica da mídia, ou seja, o fato de que o

público acredite na causa;

2. canalização, isto é, a presença de atitude para sensibilizar-se com a

causa social;

4. suplementação, isto é, o esforço para apresentar as campanhas de

comunicação com programas de contatos face-a-face, ou seja, num

ambiente familiar com o intuito de aumentar a memorização e a

penetração da mensagem, desencadeando uma ação - resposta.

Fox e Kotler (1980), por sua vez, explicam que os profissionais de

marketing social trabalham num contexto multicultural, tanto nos EUA como em

outros países, desenvolvendo projetos que precisam de uma sensibilidade particular

com as diferenças culturais, um conhecimento dos aspectos relevantes das culturas

nas quais trabalham e uma facilidade de linguagem e de trato com as pessoas. Cursos

de linguagem, história e antropologia podem contribuir para essa preparação. “Os

especialistas de marketing social devem combinar as habilidades de marketing

tradicional com o conhecimento adicional de ciências sociais”(p.32) .

5.7. Os adotantes escolhidos como alvo e o mix de marketing

Kotler e Roberto (1992) expressaram que o marketing social visa

escolher como alvo um ou mais grupos de adotantes, aqueles que possuem seu próprio

conjunto de crenças, atitudes e valores. Os autores mencionam determinadas

informações sobre os adotantes que são necessárias para a formulação do programa

adequado de marketing. São elas:

82

- características sócio-demográficas (atributos externos de classe social, renda,

educação, idade, tamanho da família, entre outras);

- perfil psicológico (atributos internos, como atitudes, valores, motivação,

personalidade);

- características comportamentais (padrões de comportamento, hábitos de compras

e características de decisão).

O mix de marketing é apresentado por Kotler e Zaltman (1971) da

seguinte forma:

• produto: O responsável pelo marketing social deve definir a mudança

pretendida, que poder ser de valores, de crenças, de comportamento ou uma mistura

de todas. De qualquer maneira, ele deve segmentar o mercado-alvo e “empacotar” a

idéia social de modo que os seus públicos-alvos a achem-na desejável e estejam

dispostos a “comprá-la”.

• promoção: Definida pelos autores como a estratégia de persuasão e de

comunicação, inclui as seguintes atividades:

- propaganda: qualquer forma paga de apresentação e promoção não-pessoal de

produtos, serviços ou idéias por um patrocinador identificado;

- venda pessoal: qualquer forma paga de apresentação e promoção pessoal de

produtos, serviços ou idéias por um patrocinador identificado;

- publicidade: qualquer forma não paga de apresentação e promoção não-pessoal de

produtos, serviços ou idéias em que o patrocinador não é identificado;

83

- promoção de vendas: várias formas pagas destinadas a estimular o interesse da

audiência e a aceitação do produto (incentivos, materiais e eventos).

• distribuição: Significa por à disposição canais acessíveis que permitam

a tradução de motivações em ações. Refere-se à seleção e ao desenvolvimento de

canais apropriados na decisão sobre o seu número, o tamanho médio e a localização, e

em dar-lhes uma motivação adequada para desempenhar a sua parte do trabalho.

No caso de o produto social ser intangível, como uma idéia ou prática

que deve ser promovida, o canal de distribuição é a própria mídia de massa.

• preço: O preço inclui o custo monetário (taxas) e os custos

não-monetários. Estes últimos estão divididos em custos em termos de tempo (tempo

de viagem e tempo de espera) e riscos percebidos (riscos psicológicos, riscos sociais e

riscos físicos). (Kotler e Roberto,1992).

Os especialistas em marketing social precisam prestar muita atenção aos

custos para o consumidor - monetários e não monetários - da adoção do produto

social. Podem cobrar um preço pelo produto social que afete o acesso a ele e o seu

posicionamento, além de conseguir alguns recursos para cobrir os custos de sua

comercialização. A determinação do preço deve levar em conta os custos do agente

de mudança, o preço dos produtos concorrentes e a sensibilidade dos adotantes

escolhidos como alvo. Os especialistas também devem procurar diminuir o tempo, a

energia e os custos psíquicos dos prováveis adotantes.

84

5.8. Críticas ao marketing social

Desde o seu surgimento, o marketing social vem recebendo várias

críticas. Fox e Kotler ( 1980) levantaram quatro delas:

- “o marketing social não é o verdadeiro marketing.” Alguns profissionais de

marketing classificam-no como uma disciplina unicamente da área de negócios,

tornando-se válida somente quando ocorrem transações financeiras.

- “o marketing social é manipulativo.” Esta crítica considera que o marketing social

manipula seu público-alvo, pois tenta mudar atitudes, hábitos e comportamentos

em questões contestáveis, porém particulares, como o aborto e as drogas.

- “o marketing social serve a seus próprios objetivos.” Acusam o marketing social

de beneficiar interesses comerciais enquanto promovem as mudanças de

comportamentos sociais. Por exemplo, o caso da campanha pela melhoria dos

hábitos alimentares, tão defendida pelos seguros de saúde.

- “o marketing social irá danificar a reputação do marketing”. Alguns profissionais

da área temem que as aplicações do marketing social possam criar um sentimento

negativo do público com relação ao marketing. O marketing social é atacado

porque promove causas não-populares, assim como por influenciar pessoas para

que aceitem um novo comportamento que pode vir a ser contrário a seu melhor

interesse.

85

VI. MARKETING RELACIONADO ÀS CAUSAS SOCIAIS (CAUSE

RELATED MARKETING)

O marketing relacionado às causas sociais difere tanto do marketing

societal quanto do marketing social, embora possa ser visto como um desdobramento

desse último conceito.

6.1. Conceito

O marketing relacionado às causas sociais tem seu início na década de

oitenta, quando Jerry Wells, vice-presidente da American Express, ideou a campanha

de levantamento de fundos para a reforma da Estátua da Liberdade. Na campanha, de

cada compra realizada com o cartão, a American Express doava um centavo de dólar

para a recuperação da estátua (Massó, 1998); a doação foi de U$ 1,7 milhão, sendo

que a empresa teve 28% de incremento no uso do cartão (Kotler e Armstrong, 1993).

A resposta do público foi muito positiva e a American Express

conseguiu, ao mesmo tempo, grande notoriedade de marca. Uma estratégia que

inicialmente pretendia ser uma promoção abriu as portas a um novo estilo de fazer

comunicação. Batizada então pelo próprio Jerry Wells como marketing com causa,

tem dado origem a uma forma de relação entre as empresas e os consumidores que vai

além da mera transação.

No ambiente empresarial podemos perceber que cada novo produto ou

serviço é rapidamente copiado, fazendo com que rapidamente desapareça o principal

fator de diferenciação: um produto ou serviço com vantagem competitiva. A

dificuldade das marcas em atrair os consumidores tem vindo acompanhada,

simultaneamente, por uma mudança nas inquietudes sociais: solidariedade, liberdade,

igualdade e voluntariado passaram a ser valores em alta.

86

São as marcas as que devem aspirar aos valores de seus consumidores, e

não os consumidores que devem aspirar aos valores das marcas. Trata-se, em

definitivo, de que as empresas retornem à sociedade os benefícios que recebem dela.

Não são ações de simples filantropia; é procurar o benefício mútuo entre a empresa e

a sociedade, a simbiose perfeita. (Massó, 1998)

Uma pesquisa realizada pela Business in the Community Research

(www.crm.org.uk) apoiada pela Research International (UK) mostrou a crescente

aceitação por parte do consumidor das empresas com compromissos sociais na

comunidade. As evidências a seguir são bastante indicativas:

- mais de 70% dos executivos-chefes, diretores de marketing e diretores de assuntos

comunitários acreditam que o marketing relacionado às causas sociais é

estrategicamente importante para atingir os objetivos organizacionais nos

próximos dois a três anos;

- 75% também percebem que o marketing relacionado às causas sociais pode

valorizar a imagem da empresa e a reputação da marca;

- 58% dos diretores de marketing concordam que a estratégia do marketing

relacionado às causas sociais proporciona à empresa a oportunidade de enfocar

questões sociais e empresariais ao mesmo tempo;

- 81% dos consumidores concordam que, quando o preço e a qualidade são

relativamente iguais, preferem comprar o produto associado a uma causa social;

- 86% dos consumidores concordam que teriam uma imagem das empresas melhor

se elas fizessem alguma coisa com o objetivo de tornar o mundo um lugar melhor;

87

- quando planejado, implementado e comunicado apropriadamente, o marketing

relacionado às causas sociais tem apoio dos consumidores.

Varandarajan e Menon (1998, p.60) definem o marketing relacionado às

causas sociais como:

“ Marketing relacionado às causas sociais é o processo de

formulação e implementação de atividades de marketing que são

caracterizadas pela oferta que a empresa faz de uma quantidade

específica de recursos a uma determinada causa social, a cada vez que os

consumidores de seus produtos realizam uma troca econômica com ela,

gerando, com isso, a satisfação dos objetivos organizacionais e

individuais.”

Na visão dos autores, o marketing relacionado às causas sociais é o

programa que procura alcançar dois objetivos - melhorar o desempenho

organizacional e ajudar as causas sociais - condicionando a doação da organização às

causas sociais à venda de seus bens ou serviços.

Em seu artigo, Varandarajan e Menon (1998) diferenciam este conceito

da promoção de vendas e da filantropia, utilizando exemplos. Assim, apontam que o

marketing relacionado às causas sociais não é promoção de vendas, pois os

consumidores não recebem nenhum incentivo financeiro, como cupons e brindes, para

adquirirem os produtos ou serviços da organização. Por outro lado, na prática da

filantropia, os recursos doados às instituições não-lucrativas, provêm de um

orçamento à parte, não estando condicionados à venda de determinado produto ou

serviço.

88

Referindo-se a este último aspecto, Arnott (1994) argumenta que o

marketing relacionado às causas sociais não é filantropia, porque o que motiva o

desenvolvimento de programas de marketing relacionado às causas sociais é o mesmo

desejo de vender produtos ou serviços que orienta as outras atividades de marketing.

Já Larson (1995) entende que o marketing relacionado às causas sociais não é

filantropia tradicional, aquela em que as doações são despesas que geram no máximo

um ganho fiscal, permitindo a formação de receita e a melhoria de imagem. Larson

denomina o marketing relacionado às causas sociais como “nova filantropia”, ou seja

o marketing relacionado às causas sociais é a filantropia trabalhada sob a abordagem

do investimento, com seus respectivos retornos.

Smith e Alcorn (1991) destacam como principais benefícios da estratégia

de marketing relacionado às causas sociais, para as empresas, o aumento das vendas, a

possibilidade de dispor de variáveis quantitativas para avaliar os objetivos, o aumento

da moral e a motivação dos empregados e a valorização da empresa e de sua imagem.

Por outro lado, Garrison (1990) aponta outros benefícios que ele denominou de

benefícios escondidos, como por exemplo o maior envolvimento e o

comprometimento dos funcionários para com a demanda social trabalhada pela

empresa ou por eles próprios, independentemente do envolvimento da empresa.

Garrison (1990) propõe que o programa de marketing que agregue para

as organizações lucrativas, além dos benefícios propostos por Smith e Alcorn, os

benefícios escondidos, a formação de grupos de voluntários, a oferta de emprego a

deficientes e a formação de parceria de longo prazo com instituições não-lucrativas

seja denominado de “ marketing da responsabilidade social ”, pois ele adiciona ao

composto promocional do marketing relacionado às causas sociais uma série de

89

atividades com dimensões bem mais humanas do que as tradicionais doações

financeiras.

6.2. Aspectos estratégicos do marketing associado às causas sociais

Considerando as respostas de organizações lucrativas às demandas

sociais como uma manifestação da responsabilidade social da empresa tratada na

forma de investimento, gerador de vantagem competitiva, Stroup e Neubert (1987)

alertaram que como todo investimento, ele requer planejamento. Os autores analisam

ainda que não é possível investir em ações de responsabilidade social de maneira

reativa. Pelo contrário, é necessário antecipá-las para que sejam percebidas como

socialmente responsáveis, planejando os recursos e as ações no presente, garantindo

desta forma a valorização da organização no futuro.

Varandarajan e Menon (1988) apontam decisões importantes que devem

ser consideradas pelos profissionais encarregados da administração do marketing

relacionado às causas sociais. São elas:

• Definir objetivos perseguidos pela organização:

- valorização da organização ou da imagem da marca;

- aumento das vendas ou aumento do lucro.

• Forma de contribuição com os objetivos sociais:

- gerar fundos para a demanda social, através da estimulação de trocas econômicas

entre a organização e os consumidores;

- promover a contribuição direta do público para a demanda social.

90

• Nível de relacionamento entre a empresa e a instituição que

representa a demanda social. A empresa procura trabalhar em conjunto com a

instituição ou procura manter-se distante de suas atividades?

• Tempo de duração do programa:

- longo prazo;

- médio prazo;

- curto prazo (os autores advertem que, pelas características do instrumental de

marketing a utilizar, um programa de curto prazo pode resultar danoso para a

empresa)

• Número de demandas sociais a serem atendidas e número de marcas a

elas associadas:

- uma marca e uma demanda social;

- uma marca e múltiplas demandas sociais;

- múltiplas marcas de uma única empresa e uma demanda social;

- múltiplas marcas de várias empresas e uma demanda social;

- múltiplas marcas de várias empresas e múltiplas demandas sociais.

• Nível de associação entre a empresa e demanda social:

- nível organizacional;

- nível linha/divisão do produto;

- nível de marca.

91

• Características da demanda social atendida:

- consistente com a imagem do produto promovido;

- consistente com as características do produto promovido;

- consistentes com as características demográficas do público-alvo atendido pela

empresa.

• Escopo geográfico do programa e escopo geográfico da demanda:

- programa nacional, regional ou local;

- demanda social de nível nacional, regional ou local.

• Natureza do programa de marketing relacionado às causas sociais:

- instrumento estratégico: existe envolvimento da alta direção da empresa e um

investimento substancial de recursos; o comprometimento com o programa é de

longo prazo;

- instrumento quase estratégico: caracterizado pela utilização coordenada e

integrada da propaganda, da venda pessoal, da promoção de vendas e da

publicidade de uma marca ou família de marcas relacionadas às demandas sociais;

- instrumento tático: significa correlacionar demandas sociais aos esforços de

promoção de vendas.

• Avaliação do programa.

a) Pré-implementação:

- avaliação da congruência entre a empresa e a demanda social;

92

- avaliação do programa proposto.

b) Pós-implementação:

- eficácia do programa para a empresa;

- eficácia para a resposta à demanda.

A avaliação será mais quantitativa quanto maior for o objetivo de venda e

de participação no mercado, e será mais qualitativa quando o objetivo é ganho de

imagem e de reconhecimento.

A globalização tem criado um ambiente propício para que o marketing

relacionado às causas sociais surja como um instrumento de vantagem competitiva no

longo prazo, manifestando-se através de alianças estratégicas realizadas entre

empresas com fins lucrativos e parceiros não-lucrativos, sendo doados a estes últimos

não só recursos financeiros, mas também tecnológicos, know-how de administração,

produtos e funcionários voluntários. Por outro lado, as organizações não-lucrativas

igualmente influenciadas pela globalização, formam parcerias entre si. Tudo isto

acontece num cenário mundial em que existe uma procura incessante por mercados

internacionais. Quando a empresa consegue estabelecer-se num país em

desenvolvimento, onde as necessidades básicas do homem ainda constituem

problemas sociais a resolver, é possível obter um ganho de imagem junto à sociedade,

desenvolvendo projetos de respostas a essas demandas sociais.

Simon (1995) propôs uma série de passos para a implementação

estratégica do marketing relacionado às causas sociais em organizações lucrativas que

pretendem formar parcerias com instituições não-lucrativas em nível global.

93

Quadro 6. Passos para a implementação estratégica do marketing relacionado

às causas sociais em organizações lucrativas:

Formulação daEstratégia

Passo 1: (Re) Definição da Missão

• Identificar a demanda social a ser atendida, de acordo com a cultura da empresa, sua estrutura, operações e valores.

• Definir a missão estratégica da aliança projetada. Garantir o ajuste dessa missão com a missão global de toda a corporação.

• Avaliar a viabilidade e a sustentabilidade global da aliança.

Passo 2: Seleção do(s) parceiro(s) não-lucrativo(s)

• Examinar o(s) parceiro(s) potenciais segundo os quatro critérios:

- Ampla reputação mundial e trajetória construída com ética (informação adquirida em classificações independentes e empesquisas junto ao consumidor).

- Efetividade em sua esfera de atuação, principalmente financeira.

- Escopo de atuação mundial e consistência com um único parceiro versus flexibilidade com múltiplos parceiros.

- Parceria com outras organizações: conflituosas ou com sinergia.

Passo 3: Correspondência entre ações internas da organização e as suas atividades de marketing relacionadas às causassociais.

• Realizar auditoria interna objetivando verificar se as operações são condizentes com o tipo de aliança desejada

• Criar ou atualizar os códigos de ética pelos quais a organização é regida. Observar quais são os valores e códigos de éticaque regem o país onde a organização implementará o programa. Ajustar a atuação interna segundo os princípios do país a sertrabalhado.

• Desenvolver um plano de ação com objetivos quantificáveis.

• Desenhar a estrutura da aliança. Selecionar os parceiros internos, alocar responsabilidades, estabelecer quais os tipos dedoações.

Implementação daEstratégia

Passo 4: Desenvolvimento do programa

• Estabelecer objetivos e estruturar a campanha para cada mercado.

• Selecionar o(s) segmento(s) alvo(s) baseado em pesquisa.

• Estabelecer se o composto de produto e mídia será padronizado ou customizado de acordo com o país;

• Alocar recursos.

Avaliação daEstratégia

Passo 5: Monitoração do desempenho

• Avaliação quantitativa de acordo com as variáveis: aumento dos fundos destinados a demanda e cobertura média.

• Avaliação qualitativa, de acordo com as variáveis: trajetória da conscientização e atitude em relação a demanda.

Fonte: Simon, 1995, p. 26.

94

Da mesma forma, Simon (1995) explicou os passos para instituições

não-lucrativas implementarem alianças com organizações lucrativas em nível global .

Quadro 7. Passos para implementação estratégica do marketing relacionado às

causas sociais em organizações não-lucrativas:

Formulação daEstratégia

Passo 1: Definição da Missão

• Definir a missão estratégica da aliança projetada. Garantir o ajuste dessa missão com a missão global da instituição.

• Avaliar a aplicabilidade global da missão.

Passo 2: Seleção do(s) parceiro(s) lucrativo(s)

• Examinar o(s) parceiro(s) potenciais de acordo os critérios:

- Ampla reputação mundial e trajetória construída com ética.

- Ajuste entre os valores da instituição não-lucrativa e os valores do futuro parceiro.

- Parceiro com estabilidade financeira e liderança no mercado.

- Apropria atividade do setor do parceiro com a instituição não-lucrativa (são setores que geram imagem negativa, como:tabaco, álcool, farmacêutico)

- Verificar se o futuro parceiro já tem parceria com outras instituições.

- Tipos e quantidade/ tamanho dos benefícios que o parceiro pode oferecer.

Passo 3: Definição do posicionamento da instituição não lucrativa

• Determinar seu posicionamento, diferenciando-se em relação às outras instituições não-lucrativas com base na avaliação dasua vantagem competitiva em relação aos concorrentes, as necessidade de mercado do seu segmento e, dos seus recursos (financeiros, nome, tempo de atuação, a capacidade de agregar voluntários.)

Implementação daEstratégia

Passo 4: Desenvolvimento e implementação do programa.

• Estabelecer objetivos e estruturar a campanha para cada mercado.

• Selecionar o(s) segmento(s) alvo(s) baseado em pesquisa

• Estabelecer se o composto de produto e mídia será padronizado ou customizado de acordo com o país.

• Alocar recursos.

Avaliação daEstratégia

Passo 5: Monitoração do desempenho

• Avaliação quantitativa , de acordo com as variáveis: aumento dos fundos arrecadado e cobertura média.

• Avaliação qualitativa, de acordo com as variáveis: trajetória da conscientização e atitude em relação a demanda.

Fonte: Simon, 1995, p. 31

95

6.3. Aspectos importantes para o êxito de um programa de marketing

relacionado a causas sociais

Wagner e Thompson (1994) apontam que para as organizações

lucrativas terem êxito com o programa, é necessário que:

- a empresa crie relacionamentos de beneficio mútuo com a instituição não-

lucrativa;

- a comunicação entre os parceiros seja clara e aberta;

- a empresa tenha flexibilidade na formulação do composto promocional;

- o programa seja único, independente e com amplo apelo, situação em que terá

maior sucesso.

Segundo Wagner e Thompson (1994), para que as organizações sem

fins lucrativos obtenham êxito com o programa é preciso que:

- exista um comprometimento de todos os membros da instituição, assim como um

entendimento claro sobre o programa;

- não se economize tempo na busca da empresa parceira;

- todos os acordos estejam escritos em contrato;

- se dê atenção aos programas de sucesso.

Considerando o programa como estratégico, o maior comprometimento

deve partir da alta direção (Arnott, 1994). E entendido como investimento, é um

processo educacional de longo prazo que envolve todos os membros da organização

especificamente os acionistas (Anderson, 1987).

96

A organização deve escolher demandas sociais coerentes com o negócio

e com os respectivos consumidores (Arnott, 1994). O comprometimento de longo

prazo deve ser com a demanda social, e não com a instituição que a representa

(Arnott, 1994). Tendo em consideração que a reputação das instituições pode variar

ao longo do tempo, é recomendável ter mais de um parceiro.

As alternativas das doações de uma campanha de marketing relacionado

às causas sociais podem abranger recursos além dos financeiros, como produtos,

tecnologias, know-how, grupos de voluntários (Smith, 1994).

No caso de um programa de marketing de longo período, este pode ser

enriquecido associando-se mais de uma marca ou produto à demanda social, ou

trabalhando a demanda social a partir de uma perspectiva diferente (Arnott, 1994).

Com a influência da globalização, o programa de marketing relacionado

às causas sociais deve ser adaptado a cada país em que se fizer presente (Simon,

1995).

6.4. Porque algumas campanhas fracassam.

Segundo Drumwright (1996), o processo de criação e avaliação de

campanhas de marketing que envolvam uma questão social é mais complexo do que o

usual, porque pode encontrar resistência maior do que campanhas comuns,

provocando reações antipáticas e até mesmo antagônicas à campanha.

Rangan e outros (1996) analisam que apesar de as campanhas

envolvendo causas sociais serem lembradas freqüentemente pelo público, por vezes

97

esforço para a mudança de comportamento fracassa. Isto acontece, porque nem

sempre uma causa social apresenta um benefício evidente para o público-alvo da

campanha e porque muitas vezes os custos para a adoção da mudança são mais

elevados do que os benefícios decorrentes. Por outro lado, a postura extremamente

voltada para a ação e os resultados adotada pelas organizações pode levar à

eliminação de etapas importantes como a pesquisa de mercado, que é aspecto decisivo

para a melhor compreensão dos desejos, percepções e necessidades dos beneficiários

(Bruce, 1995).

Wagner e Thompson (1994) enumeram problemas relacionados ao

marketing relacionado a causas sociais encontrados tanto em organizações lucrativas

como não-lucrativas: existe dificuldade em estabelecer um bom relacionamento entre

os dois tipos de organizações, o que produz uma descontinuidade no ritmo das

doações, causando danos à estratégia do programa de marketing relacionado à

mudança social. Além disso, as empresas demostram insensibilidade na utilização do

nome e da logomarca das instituições não-lucrativas. Por último, outro grande

problema é que o programa requer métodos complicados de contabilidade.

98

VII. MARKETING PARA ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS

7. 1. Conceito

Como já analisamos anteriormente, as organizações sem fins lucrativos

estão agrupadas em um setor chamado de “terceiro setor” da economia; estas

organizações se constituíram em um uma alternativa para a consecução de objetivos

sociais, prestando serviços que não são adequadamente proporcionados nem pelo

setor comercial, nem pelo governo. As organizações deste setor dependem do apoio

dos cidadãos e de subsídios dos outros dois setores para sobreviver.

Os administradores das organizações sem fins lucrativos estão cada vez

mais conscientes da relevância potencial da disciplina de marketing para resolver seus

problemas. Entretanto, abordam o marketing com algum ceticismo, porque têm a

imagem de que ele é apenas um instrumento de uso nos negócios comerciais e de que

se identifica altamente com as vendas e a propaganda.

Kotler (1994) afirma que toda organização é uma aglutinação proposital

de pessoas, materiais e instalações, procurando alcançar algum propósito no mundo

exterior. Para sobreviver e ser bem-sucedida, a organização deve: atrair recursos

suficientes, converter esses recursos em produtos, serviços e idéias e distribuir esses

produtos, serviços e idéias a vários públicos consumidores. Estas tarefas dependem

das relações de troca de valores entre as diferentes partes, sendo precisamente a troca

o conceito central de marketing.

Portanto, tendo em consideração que as organizações que não visam

lucro incorrem em atividades de troca, pode-se concluir que é perfeitamente natural

99

que a administração de marketing constitua parte integrante do marco de suas

atividades. A razão básica é que os princípios de marketing permitirão que a

organização se torne mais eficaz na obtenção de seus objetivos e das relações

desejadas de troca com outros grupos.

Kotler e Levy (1969) observam que o uso do marketing deveria estender-

se às organizações do terceiro setor, tal qual ocorreu com as atividades de

contabilidade, do departamento de recursos humanos, de compras e com outras

funções essencialmente de setores lucrativos.

Kotler (1978,) sugere que o marketing é todo um processo de análise,

planejamento, implementação e controle, cuidadosamente formulado, para atingir a

realização de trocas voluntárias entre as unidades sociais. As unidades sociais são

indivíduos, minorias, organizações ou, até mesmo, nações. As trocas entre as unidades

sociais consistem na obtenção de recursos através da doação de algo entre as mesmas.

Ao conduzir este processo, a unidade social (organização) procurará elaborar sua

oferta (produto ou serviço) de acordo com as necessidades e os desejos de sua

contrapartida (público-alvo). Para tanto, são tomadas decisões de produto, preço,

comunicação e de distribuição. Este conjunto de atividades constitui o programa de

administração de marketing.

Deste outro ponto de vista, Kotler (1994, p.21) afirma: “ o marketing

também pode ser visualizado como um processo social em que as necessidades

materiais de uma sociedade são identificadas, expandidas e servidas por um conjunto

de instituições ”.

Como podemos perceber, Kotler refere-se ao antigo conceito de

marketing, com a única diferença de que o processo de troca efetua-se entre várias

100

unidades sociais – indivíduos, pequenos grupos, organizações, nações. As trocas

entre essas unidades consistem na obtenção de recursos através da doação de algo

entre as mesmas; cada uma deve ter algo que poderá ter valor para a outra parte. Ao

efetuar este processo, a unidade social procurará elaborar sua oferta - produto, serviço

ou idéia - de acordo com as necessidades e os desejos de seu público-alvo, tomando

decisões de produto, preço, comunicação e distribuição.

Thomas (1987, p.37), apoiando a abordagem de Kotler, explica que o

marketing para organizações não lucrativas, está preocupado com a aplicação do

conceito de marketing em organizações - do setor público ou da iniciativa privada -

nas quais as metas são definidas por medidas de desempenho do lucro diferentes.

7.2. Abordagem de Shapiro para o marketing de organizações sem fins lucrativos

Shapiro (1973) destaca que a organização sem fins lucrativos típica,

diferentemente das empresas de negócios, tem dois públicos relevantes: os clientes

para quem ela provê bens ou serviços e os doadores de quem recebe recursos.

Portanto, a organização sem fins lucrativos deve abordar a tarefa de oferecer bens e

serviços separadamente da obtenção de receita. Segundo o autor, embora este

processo traga flexibilidade, ou seja, possam ser feitas abordagens diferentes para

cada público, a tarefa do marketing é mais complexa, pois a organização, para ter

sucesso, deve satisfazer as duas partes.

São três as principais tarefas do marketing identificadas por Shapiro para

as organizações sem fins lucrativos: a atração de recursos, a alocação de recursos e a

persuasão:

101

- Atração de recursos. É a função de marketing mais sofisticada neste tipo de

organização, incluindo todos os elementos básicos do marketing voltado para

negócios. Primeiramente, a organização não lucrativa deverá agrupar os seus doadores

em segmentos homogêneos e determinar que apelo será mais eficaz para atrair

recursos de cada um destes segmentos, ou seja, dar aos doadores uma boa razão para

que eles façam a doação.

Segundo Shapiro, as formas de atração de recursos são a propaganda e a

venda pessoal. A primeira delas é utilizada quando se pretende conseguir pequenas

contribuições de um grande número de doadores. A segunda, é aplicada a poucos

doadores, porém com potencial de oferecer grandes quantias de recursos. O autor

esclarece que os recursos a serem recebidos são financeiros, humanos, serviços e

bens.

- Alocação de recursos. A organização sem fins lucrativos deve determinar sua função

básica ou missão, deve definir quem são os seus clientes e estabelecer que produtos

ou serviços serão proporcionados a eles.

- Persuasão. Algumas organizações sem fins lucrativos utilizam esta função de

marketing para persuadir pessoas a fazerem algo que a organização deseja mas sem

que isso traga alguma contribuição direta para a própria organização. Para outras

organizações, a persuasão constitui a tarefa central, assim o indivíduo contribuirá para

a consecução do objetivo da organização ao mudar sua atitude ou comportamento, e

não ao proporcionar fundos ou ao aceitar bens ou serviços como um cliente. São

exemplos de persuasão as campanhas contra a poluição e de prevenção de doenças.

102

7. 3. O composto de marketing para organizações não lucrativas

O procedimento básico para o planejamento e desenvolvimento de um

programa de marketing é o mesmo em qualquer organização lucrativa ou não

lucrativa. Primeiramente são identificados e analisados os mercados-alvos, logo

desenvolve-se um programa estratégico de marketing que proporcionará a satisfação

das necessidades desses mercados. Durante todo o processo, utiliza-se a pesquisa de

marketing para ajudar na tomada de decisões.

7.3.1 Análise do mercado selecionado

Segundo Stanton e outros (1992), as organizações sem fins lucrativos

necessitam de dois programas de marketing importantes: um para o mercado de

contribuintes ou doadores e outro para o mercado de clientes. Isto significa utilizar a

segmentação de mercado.

Para identificar as características daqueles que fazem donativos à

instituição é necessário uma análise da segmentação, podendo ser segmentados, por

exemplo, por histórico e tamanho da doação, lugar de residência geográfica, tipo e

porte da organização doadora ou, no caso de pessoa física, por grupos de idades. Já a

segmentação dos clientes depende dos produtos, serviços ou idéias a oferecer, de

acordo com as necessidades básicas identificadas no mercado-alvo.

7.3.2 Planejamento do produto

Este aspecto é relacionado à atividade de alocação de recursos, ou seja,

refere-se à elaboração da oferta da instituição ao seu público-alvo. Na maioria das

organizações que não visam lucro, a “oferta do produto” é um serviço, uma idéia ou

uma causa. No caso das fundações, com freqüência a oferta pode ser um donativo em

103

efetivo, uma forma do produto tangível. Outras organizações podem oferecer

produtos tangíveis, tais como alimentos e roupas, materiais impressos ou dispositivos

para o controle da natalidade; no entanto, nestes casos, os produtos tangíveis são

integrantes dos principais serviços que a organização proporciona.

O planejamento da oferta do “produto” ao mercado formado por

contribuintes é mais difícil. Uma organização pede às pessoas que doem seu dinheiro

ou seu tempo a uma causa. O dinheiro ou o tempo é o preço que pagam pelo

“produto” da organização. Mas o quê obtêm da organização estes contribuintes? Esta

poderia oferecer os seguintes benefícios: fazer com que se sintam bem, proporcionar-

lhes uma dedução fiscal ou contribuir para a sua posição social em seus grupos de

referência.

7.3.3 Determinação do preço

A fixação de preços nas organizações não-lucrativas torna-se menos

importante, porquanto a obtenção de lucros não constitui a meta organizacional.

Algumas organizações não querem cobrar nada de seus clientes, pois consideram que

a sua função básica é ajudar aqueles que não podem pagar.

Continuando com a abordagem de Stanton (1992), podem-se definir duas

situações no mercado: a fixação de preços para contribuintes/doadores e outra para os

clientes-consumidores.

Ao tratar com os contribuintes, as organizações sem fins lucrativos, na

realidade, não fixam preço. O preço (valor a doar) é determinado pelos contribuintes

quando decidem quanto estão dispostos a doar. Porém, a organização pode sugerir

104

valores: por exemplo, doar o salário correspondente a um dia ou dedicar uma

determinada quantidade de tempo.

A fixação de preços não lucrativos para o mercado de clientes é difícil de

definir, porque os métodos de fixação de preços, utilizados por empresas de negócios,

simplesmente não são apropriados. Algumas organizações não-lucrativas podem

querer cobrar uma taxa de seu público-alvo, de maneira que elas trabalhem no ponto

de lucro zero ou break-even point, ou um pouco abaixo dele. Um grande problema,

neste caso, é que a maioria das organizações sem fins lucrativos não consegue definir

com exatidão o custo dos serviços ou produtos que oferecem em seu mercado de

clientes. Muitas organizações sabem que não podem cobrir seus custos com os preços

que cobram dos clientes, logo a diferença entre os ingressos e os gastos previstos tem

que ser compensada com contribuições. Outras organizações cobram de acordo com a

capacidade de pagar do cliente, adotando uma estratégia de preço variável. Algumas,

porém, não querem cobrar nada dos seus clientes porque esta cobrança está em

desacordo com seus valores.

Shapiro aponta a existência de três razões pelas quais organizações sem

fins lucrativos decidem trabalhar no ponto de equilíbrio, cobrando uma taxa do

público-alvo:

a) simplificação das funções de marketing, pois o doador e o cliente são

a mesma pessoa;

b) a fonte de recursos financeiros da instituição dependerá da habilidade

que a mesma possui de satisfazer a clientela, e não do processo de atração de

doadores;

105

c) o sistema resulta mais justo quando quem recebe deve pagar pelo que

recebeu.

Outras organizações sem fins lucrativos não podem cobrar contribuições

suficientemente altas por seus serviços ou não podem dispor de um sistema apoiado

pelo cliente, tendo então que operar com dois públicos: doadores e clientes.

Apresentam-se, neste caso, duas considerações a analisar sobre o preço. A primeira

diz respeito ao aspecto monetário e a segunda corresponde ao aspecto não monetário

do preço, que assume as formas de tempo, esforço, amor, amizade, compromisso,

prestígio, orgulho.

7.3.4 Promoção

Esta é a parte do composto de marketing com que as organizações sem

fins lucrativos estão mais familiarizadas. A promoção é definida como o

desenvolvimento de comunicações persuasivas. Assim, utiliza regularmente a

propaganda, a venda pessoal e a publicidade.

- Propaganda: muitas organizações utilizam a mídia de massa (revistas, jornais,

televisão, rádio) para a atração de recursos. Outras apelam para o uso de mala direta

a fim de atingir a antigos doadores ou doadores em potencial. A propaganda é um

instrumento caro e sofisticado, exigindo habilidade para o estabelecimento de

objetivos e orçamentos, para o desenvolvimento de mensagens eficazes, de mídia,

de planejamento de programação e de avaliação dos seus resultados.

- Venda pessoal: o contato pessoal é uma maneira importante de atingir e de se

comunicar com os mercados-alvo. Freqüentemente, é utilizado tanto nos esforços

para obter fundos dos mercados de contribuinte como para atingir seu público-

consumidor. O desenvolvimento de um programa de venda pessoal deverá estar

106

adequadamente projetado, em termos de tamanho exigido, especialização funcional

e cobertura geográfica. Por outro lado, o pessoal de campo deverá ser

eficientemente recrutado, capacitado, remunerado, supervisionado e, finalmente,

avaliado.

- Publicidade: definida como a realização de cobertura noticiosa na imprensa, em

contraste com a propaganda, não é paga pela organização nem aparece patrocinada

pelas organizações, como acontece com um anúncio. Possui as vantagens atraentes

de alta veracidade, qualidade espontânea e dramatização. É um instrumento muito

utilizado pelas organizações que não visam lucro em seus esforços para atingir a

cobertura noticiosa com um mínimo de custo.

Na visão de Shapiro (1973), a promoção ou comunicação inclui a

propaganda e a venda pessoal, utilizadas principalmente pelas tarefas de atração de

recursos e persuasão. A atração de recursos depende fortemente da propaganda,

buscando doações pequenas de inúmeros doadores, utilizando a mídia de massa,

a mala direta e a propaganda em revistas especializadas, a fim de segmentar o

mercado de doadores doadores. A venda pessoal é mais eficiente na atração de

recursos quando os doadores são poucos mas com capacidade para oferecer grandes

quantias; neste caso, a mensagem para abordá-los é mais complexa.

7.3.5 Distribuição

Geralmente os canais de distribuição que se utilizam no marketing

não-lucrativo são bastante simples e curtos, mas importantes para a atração de

recursos.

Kotler (1975) define os principais problemas de decisão que surgem no

projeto e operação de um sistema eficaz de distribuição:

107

- o nível e a qualidade do serviço ao cliente: usualmente, as organizações sem fins

lucrativos não terão condições de maximizar a conveniência do consumidor pela

entrega direta, sendo necessário, então, valer-se de solução menos dispendiosa,

criando uma ou mais filiais varejistas;

- o número e a localização de filiais: isto dependerá dos padrões de localização dos

consumidores finais;

- a utilização e a motivação dos intermediários: a utilização de intermediários deve-

se à sua maior eficácia no desempenho das tarefas e funções básicas de marketing.

Porém, é necessário que as organizações sem fins lucrativos forneçam uma

motivação continuada a seus intermediários, sendo isto possível por meio de

contatos freqüentes e treinamento de vendas;

- o uso de intermediários auxiliares de marketing: este tipo de intermediários difere

dos outros anteriormente citados, pois não está envolvido em venda direta ou em

negociações. Ele fornece serviços complementares, tais como armazenamento,

pesquisa de marketing, propaganda, financiamento e transporte.

7.4. Estratégias formuladas por Kotler para introduzir o marketing em

organizações sem fins lucrativos.

Segundo Kotler (1979), o marketing oferece um grande potencial para as

empresas do terceiro setor sobreviverem, crescerem e fortalecerem suas contribuições

para o bem-estar geral. O autor recomenda seis ações para que o exercício do

marketing nessas instituições seja efetivo:

108

- criar um comitê de marketing capaz de identificar os problemas de marketing e as

oportunidades encaradas pela instituição, assim como as necessidades das várias

unidades administrativas pelos serviços de marketing e a possibilidade de contratar

um profissional da área por tempo integral;

- organizar uma força-tarefa para conduzir uma auditoria institucional e chegar a um

consenso sobre quais são os objetivos institucionais, o posicionamento e as

estratégias;

- utilizar os serviços de firmas especializadas (agências de propaganda, consultorias

de pesquisa de mercado, terceirização de serviços de telemarketing, entre outras);

- contratar um consultor externo de marketing que possa analisar a auditoria

institucional e avaliar as operações da instituição, as oportunidades e as necessidades

de área de marketing, assim como valorizar a criação de um departamento de

marketing;

- a quinta e sexta ações, específicas para organizações de grande porte, dizem respeito

à contratação de um diretor e de um vice-presidente de marketing, o que

proporcionaria maior autoridade e autonomia do marketing dentro da organização.

109

VIII. CONCLUSÕES

O estudo consistiu de uma revisão bibliográfica do tema responsabilidade

social corporativa, analisando as diferentes correntes teóricas e compilando

conhecimentos existentes sobre o assunto.

Foram identificadas na literatura convergências quanto a conceitos e

taxonomias. Na maior parte dos autores que aceitam a doutrina da responsabilidade

social corporativa, verificou-se certo consenso em torno dos seguintes aspectos:

a) a ampliação do alcance da responsabilidade da empresa, que não se

limita ao círculo dos acionistas;

b) a mudança na natureza das responsabilidades, ultrapassando o âmbito

da prescricão legal e envolvendio também obrigacões morais ditadas

pela ética;

c) a adequação às demandas sociais, num dado contexto sócio-

econômico.

O conceito de responsabilidade social corporativa está associado ao

reconhecimento de que as decisões e os resultados das atividades das companhias

alcançam um universo de agentes sociais muito mais amplo do que o composto por

seus sócios e acionistas. A responsabilidade social corporativa enfatiza o impacto das

atividades das empresas para os agentes com os quais interagem: empregados,

fornecedores, clientes, consumidores, colaboradores, investidores, governos e

comunidades. Este conceito expressa a adoção de responsabilidades que vão além

daqueles já compulsórias para as empresas; expressa a adoção e difusão de valores,

110

condutas e procedimentos que induzem e estimulam o contínuo aperfeicoamento dos

processos empresariais, para que estes também resultem em preservação e melhoria

da qualidade de vida das sociedades, do ponto de vista ético, social e ambiental.

Por outro lado, o consumerismo sugeriu uma nova visão da

responsabilidade social corporativa, exigindo um grau mais elevado de

responsabilidade e compreensão no servir o consumidor, não apenas no momento da

venda, mas também durante todo o ciclo de vida socio-econômico do produto.

A maior contribuição deste movimento da responsabilidade social corporativa está

precisamente em seu novo paradigma: um novo regime regulatório que daria suporte

ao mercado, baseado numa proteção eficaz ao consumidor.

As ações de marketing com alguma forma de dimensão social vêm sendo

denomindas na literatura de marketing relacionado às causas sociais, marketing

social, marketing missionário, filantropia corporativa, marketing da

responsabilidade social, marketing societal.

Alguns tópicos foram tratados separadamente no estudo, por ser

necessário diferenciar sua abordagem teórica daquela da doutrina da

responsabilidade social corporativa. Assim, o marketing societal está relacionado

com todo tipo de conseqüência social que a aplicação das técnicas de marketing

pode gerar para a sociedade; seria um ramo da ética nos negócios, uma vez que

objetiva averiguar quais são as responsabilidades sociais do marketing qualquer que

seja a área em que suas técnicas sejam utilizadas. O marketing social, seria a criação,

a implementação e o controle de programas calculados para influenciar a aceitação

de idéias sociais, envolvendo a aplicação de técnicas de marketing. Finalmente, o

marketing de organizações não-lucrativas corresponde à aplicação do conceito de

marketing para organizações cujos objetivos não estão definidos pelo lucro, e sim

por outra medida de desempenho.

111

A partir dos conceitos anteriores e em uma perspectiva de sistema social,

o marketing é visto como parte integrante e inerente à sociedade, um processo

societal que facilita a efetiva e eficiente resolução das necessidades da sociedade,

através da troca de valores.

A tendência dos argumentos a favor da doutrina da responsabilidade

social corporativa é se enquadrarem em duas linhas básicas: a ética e a instrumental.

Os argumentos éticos derivam dos princípios religiosos e das normas

sociais prevalecentes, considerando que as empresas e as pessoas que nelas

trabalham deveriam ser levadas a se comportarem de maneira socialmente

responsável. Os argumentos da linha instrumental consideram que há uma relação

positiva entre o comportamento socialmente responsável e o desempenho econômico

da empresa, sendo esta uma ação pró-ativa que busca oportunidades geradas por uma

consciência maior sobre as questões culturais e ambientais, além de diferenciar seus

produtos diante de seus competidores menos responsáveis socialmente.

A partir da década de 90, a literatura vem incorporando aspectos

normativos, com maior participação de autores que tratam da ética dos negócios.

A partir deste estudo, surgem várias linhas para novas pesquisas:

- avaliação do modelo de balanço social como instrumento eficaz de mensuracão da

responsabilidade social corporativa;

- realizar uma pesquisa sobre o consumo responsável, visando a especificar as

mudanças e características do consumidor em uma sociedade preocupada com o

desenvolvimento sustentável.

112

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121

ANEXO 1

EXEMPLO DE CAMPANHA DE MARKETING SOCIAL ( KOTLER e

ROBERTO, 1992 , P. 373)

• O PROJETO DE TELEVISÃO “ Vila Sésamo”

Este caso é um dos exemplos apresentados por Kotler e Roberto (1992, p.373) objetivando ilustrar

o tema.

O Meio Ambiente do Marketing Social

Em 1067, na década da guerra contra o Pobreza travada nos Estados Unidos, Joan

Ganz Cooney envolveu-se com o problema da pobreza nacional, devido ao seu trabalho na televisão.

Ela atuava como produtora para assuntos públicos em uma estação de televisão da cidade de Nova

Iorque. Ela acreditava que a chave para o surgimento do “ciclo vicioso da pobreza” era a falta de

uma educação decente entre a população pobre. O mundo é complexo e sofre rápidas

transformações. Para sua sobrevivência, os jovens devem possuir capacidades intelectuais para a

solução de problemas, mas estas devem acompanhar as mudanças.

Conney conclui que um esforço contra a pobreza deve procurar elevar as capacidades

intelectuais e realização educacional da população carente. As crianças, determinou, deveriam

constituir o principal alvo da reforma. Mas surgiu a pergunta: Que crianças carentes enfocar?

Na época, dois livros importantes forma publicados: Inteligência e Experiência, de J.

McV. Hunt, e Estabilidade e Mudanças nas Características Humanas, de Benjamin Bloom. Esses

livros concluíram que a capacidade intelectual desenvolve-se mais e com mais rapidez nos primeiros

anos da infância e que o desenvolvimento intelectual pode ser influenciado por fatores do meio

ambiente.

Como resultado desses estudos, Cooney estreitou o problema para a elaboração de um

ensino pré-escolar efetivo e sólido. Na sua proposta para conseguir subsídios, ela observou que a

122

criação de novas formas de ensino pré-escolar que permitissem ou estimulassem crianças nessa

faixa etária a passar o dia meramente em atividades de lazer sem instrução formal equivale a uma

“devastação educacional”. Cooney exigia um novo experimento no ensino pré0ecolar utilizando a

televisão. Assim nasceu o projeto “ Vila Sésamo”.

Objetivos e Adotantes escolhidos como Alvo

Cooney definiu os objetivos da seguinte forma: “ A meta é promover o

desenvolvimento cultural e intelectual de crianças em idade pré-escolar, particularmente crianças

carentes”. Num estágio posterior, os adotantes escolhidos como alvo forma estendidos a todas as

crianças em idade pré-escolar, mas com ênfase nas carentes e de baixa renda. Além do

desenvolvimento intelectual, um segundo objetivo básico era fomentar a conscientização e

diferenças culturais e étnicas.

Complexo de Marketing Social

Planejado e implantado, o projeto “Vila Sésamo” buscava um complexo de marketing

social que consistisse em: a) testagem prévia do produto educacional pré-escolar, b) seleção da

distribuição efetiva e c) comunicação pessoal direta.

O produto social. Em março de 1968, Cooney criou uma organização sem fins

lucrativos, a Oficina de televisão Infantil (OTI), para produzir a série de televisão “Vila Sésamo”.

Cada programa com uma hora de duração apresenta cenas rápidas com carga na ação. Os atores e as

atrizes, tanto pessoas como bonecos, interagem de uma forma habilidosa de modo a dar instruções

sobre o alfabeto, aritmética, partes do corpo humano e solução de problemas. Cada programa é

fechado, assim, a criança não precisa assistir a todos os programas numa seqüência particular.

A série retrata cenas entre pessoas de baixa renda em um gueto no centro de uma

cidade. Grande parte dos atores adultos e muitas das crianças dos programas eram negros norte-

americanos. Outros atores eram criteriosamente escolhidos para que representassem diferentes

grupos sociais e culturais dos Estados Unidos. A intenção de seus papéis e das interações cordiais é

fomentar a “consciência cultural”.

123

No desenvolvimento do projeto do produto social, os planejadores da OTI dedicaram

18 meses à testagem prévia de cada programa de televisão antes de sus ida ao ar. Os respondentes do

teste foram os adotantes escolhidos como alvo – crianças economicamente carentes – e o material do

teste prévio era uma parte do programa. O projeto de produto testado forma as qualidades do

programa que prendiam a tenção e os efeitos de aprendizado alcançados. Apenas os programas que

passavam nesses dois indicadores da eficácia eram incorporados à série de televisão; aqueles que

não passavam eram modificados.

Distribuição do produto. A Corporation for Public Broadcasting (CPB, a rede de

televisão estatal norte-americana) fazia a distribuição da série “Vila-Sésamo”. No entanto, nem

todas as famílias que possuíam aparelhos de televisão tinham acesso á série porque, na época, a

televisão estatal atingia áreas onde residiam apenas 75% dos norte-americanos. A série era levada ao

ar de segunda a sexta-feira pela CPB, tinha uma hora de duração era apresentada em horários em

que as crianças poderiam assisti-la em casa ou na creche. No planejamento de distribuição, a OTI

previu que crianças perderiam alguns dos programas da série; portanto, cada programa seria

transmitido várias vezes durante uma temporada.

Após o primeiro ano de operação com sucesso, a OTI e a CPB decidiram reapresentar

os programas semanais aos sábados para garantir às crianças um outro dia para assisti-los. No

segundo ano, a CPB levava a série ao ar uma vez pela manhã e uma vez à tarde, de segunda a sexta-

feira. Nos anos subseqüentes, as transmissões passaram a ser ainda mais freqüentes. Em 1972, por

exemplo, as crianças de Chicago poderiam assistir aos programas quatro vezes por dia, de segunda a

sábado, e duas vezes aos domingos. Nessa época, a Vila Sésamo havia conquistado sua fama como u

meio para a distribuição de ensino pré-escolar.

Comunicação pessoal. O serviço de Testes Educacionais (STE), os avaliadores da

“Vila Sésamo”, referiam-se ao componente da comunicação pessoal do projeto como um “estímulo

para assistir ao tratamento”. A comunicação pessoal consistiu de visitas às residências de famílias

aleatoriamente selecionadas antes das temporadas de transmissão do programa de 1970 e 1971.

Essas visitas incluíam material promocional como botões, bolas, revistas e outras lembranças para as

124

crianças. Durante uma visita, o comunicador do projeto incutia nos pais e nas crianças a

importância de assistirem aos programas “Vila Sésamo”. Na temporada de 1971, esses esforços

consistiram em visitas mensais e telefonemas para as famílias. As comunicações pessoais eram

realizadas por vizinhos das famílias visitadas ou contatadas pelo telefone. A comunicação pessoal

atingiu dois terços das famílias pesquisadas durante o primeiro estudo de avaliação, em 1970.

Grupos de Influência

Um aspecto notável do marketing social do “Vila Sésamo”, foi seu sucesso em

conseguir o apoio de uma grande variedade de grupos de influência. Um indicador desse apoio é o

suporte financeiro recebido, conforme mostra a Tabela A. Diversos órgãos do governo norte-

americano, corporações empresariais e fundações constituíam importantes patrocinadores. O apoio

do setor público também tomou a forma de endossos da parte de altos funcionários do governo

norte-americano. Por exemplo, em depoimento dado em 1970 perante o Congresso, Sidney Marland,

o então secretário da educação, afirmou:

“ Eu gostaria de contar com uma criatividade do tipo da “Vila Sésamo” no combate

ás drogas, ou com uma criatividade deste tipo na orientação profissional, para talvez 20 ou 30 dos

ofícios e tecnologias atraírem jovens de 14, 16 e 18 anos, da mesma forma que eles atraem as

crianças de 3,4 e 5 anos para a “Vila Sésamo”. Nós precisamos de pessoas com o mesmo tipo de

talento extraordinário e liderança criativa de Joan Ganz Cooney, que é a força criativa por atrás da

“Vila Sésamo”.

125

Tabela A. Financiamento recebido pela Oficina de Televisão Infantil para a “Vila

Sésamo” (anos fiscais 1968-1971)

Fontes Valor (US$)Federais

Secretaria de Educação 6.225.000Secretaria de Oportunidade Econômica 350.000Secretaria de Desenvolvimento da Criança 300.000Instituto nacional de Desenvolvimento Humano e Saúde Infantil 15.000

Fundação Nacional de Artes e Humanidades 10.000Suporte federal total US$ 6.900.000

ParticularesCarnegie Corporation 2.100.000Fundação Ford 2.025.000Corporation or Public Broadcasting 1.650.000Public Broadcasting Service 600.000Fundação Markle 237.800Learn Resource Institute 150.0003M Company 37.200Suporte particular total US$ 6.800.000Total US$ 13.700.000

Os especialistas em marketing social da “Vila Sésamo” atraíram uma atenção enorme

da mídia de massa. A revista Times publicou um artigo importante sobre a “Vila Sésamo” em

novembro de 1970, afirmando: “Vila Sésamo conquistou “As” seguido”; ela também apresentou o

programa em edições subseqüentes. O endosso favorável da imprensa criou uma atitude altamente

positiva da parte do público com relação à série de televisão que nenhum funcionário do governo

envolvido com educação ou líderes empresariais podiam permitir-se ignorar. O sucesso contínuo da

“Vila Sésamo” demonstra que a televisão pode ser utilizada como uma tecnologia instrutiva de

massa para melhorar a qualidade do ensino.

126

ANEXO 2

EXEMPLO DE CAUSE RELATED MARKETNG

“The Avon Crusade Against Breast Cancer” ( A Cruzada da Avon contra

o câncer de mama)*

Avon é uma empresa que atinge um milhão de consumidoras através de três milhões

de representantes de vendas em 136 países. Ela têm o compromisso de “ser a empresa que melhor

entende a satisfaz as necessidades das mulheres com seus produtos e serviços”. A Cruzada Contra o

Câncer de Mama é uma brilhante demonstração de seu compromisso. Esta proporciona à Avon

cumprir com seus objetivos de marketing e comunicação ao mesmo tempo que apoia a causa de

verdadeira preocupação com seu mercado alvo.

Câncer de mama é hoje o maior motivo de preocupação por partes das mulheres do

Reino Unido, uma vez que de 11 mulheres uma terá este tipo de câncer em algum momento de sua

vida. Desde 1992, A Cruzada da Avon tem arrecadado mais de 6.5 milhões de Libras para caridade

relacionada ao câncer de mama. Esta quantia tem auxiliado a custear a pesquisa em laboratório

dedicado as causa no Reino Unido, o tratamento do câncer, e o treinamento de 15 enfermeiras

especializadas.

Através de uma parceria estratégica com a Breakthrough Breast Cancer e a

Macmillan Cancer Relief, a estratégia da Avon de cause related marketing , tem sido implementada

utilizando-se de diferentes elementos do marketing mix. Na Cruzada da Avon , uma porcentagem

da venda dos produtos foi doada para caridade, este programa incluiu, ademais bazares de caridade,

o patrocínio da campanha Fashion Targets Breast Cancer e lobbying político através das petições

dos consumidores.

A Avon tem se beneficiado muito nesta empreitada, melhorando sua imagem

corporativa, se envolvendo com novos clientes, ganhando enorme publicidade, proporcionando

sentimentos de afiliação entre sua equipe, representantes e consumidores.

• Fonte: Business in the Community Research ( www.crm.org.uk)

127

ANEXO 3

Relação de fundações e institutos voltados para a atuação social,

mantidos por empresas. (Revista Exame, ed.728, nov. 2000, p.118)

EMPRESA FUNDAÇÃOABN AMRO Instituto Escola do BrasilACESITA Fundação AcesitaAÇOMINAS Fundação Ouro BrancoALCOA Instituto Cultural e Filantrópico AlcoaARACRUZ Instituto AracruzBANKBOSTON Fundação BankBostonBRADESCO Fundação BradescoBANCO DO BRASIL Fundação Banco do BrasilBANCO ITAU Instituto Itaú CulturalBELGOMINEIRA Fundação BelgoMineiraC&A Instituto C&ACARGILL Fundação CargillCATAGUESES Instituto Francisca de Souza peixotoCCV Fundação Pedro SelemeCREDICARD Instituto CredicardCSN Fundação CSNCDP/DPASCHOAL Fundação EducarEBERLE Fundação Abramo EberleEDITORA ABRIL Fundação Vitor CivitaELETRONUCLEAR Fundação Eletronuclear de Assistência MédicaGE Elfun do Brasil S.C. Beneficente FilantrópicaGRUPO NOVAMERICA Fundação Rezende BarbosaGENERAL MOTORS Instituto General MotorsINCEPA Fundação Dr. Rainer WeibelINEPAR Fundação IneparIOCHPE MAXION Fundação IochpeMcDONALDS Instituto Ronald MacDonaldNANSEN Fundação José Pedro de AraújoNESTLÉ Fundação Nestlé de CulturaO BOTICARIO Fundação O BoticárioODEBRECHT Fundação OdebrechtORSA Fundação OrsaPARKS Fundação ParksRBS Fundação Maurício Sirotsky SobrinhoSADIA Fundação Attilio FontanaSOUZA CRUZ Fundação Albino Souza CruzSUZANO Instituto EcofuturoTELEFÔNICA Fundação TelefônicaTODESCCHINI Fundação TodeschiniUNIBANCO Instituto Moreira SallesVALE DO RIO DOCE Fundação Vale do Rio DoceXEROX Instituto Xerox

128

ANEXO 4

Projeto de Balanço Social Anual – 2000 (IBASE)

Balanço Social Anual – 20001) Base de Cálculo 2000

Valor (Mil Reais)1999

Valor (Mil Reais)Receita Líquida (RL)Resultado Operacional (RO)Folha de Pagamento Bruta (FPB)2) Indicadores Sociais Internos Valor

(R$)%Sobre

FPB%Sobre

RLValor(R$)

%SobreFPB

%SobreRL

AlimentaçãoEncargos sociais compulsóriosPrevidência privadaSaúdeSegurança e medicina no trabalhoEducaçãoCulturaCapacitação e desenvolvimento profissionalCreches ou auxílio-crecheParticipação nos lucros ou resultadosOutrosTotal - Indicadores Laborais3) Indicadores Sociais Externos Valor

(R$)%Sobre

RO%Sobre

RLValor (R$)

%SobreRO

%SobreRL

EducaçãoCulturaSaúde e saneamentoHabitaçãoEsporteLazer e diversãoCrechesAlimentaçãoOutrosTotal das Contribuições para a SociedadeTributos (excluídos encargos sociais)Total – Indicadores Sociais Externos4) Indicadores AmbientaisRelacionados com a operação da empresaEm Programas e/ou projetos externosTotal dos Investimentos em Meio Ambiente5) Indicadores do Corpo FuncionalNº de empregados ao final do períodoNº de admissões durante o períodoNº de empregados terceirizadosNº de empregados acima de 45 anosNº de mulheres que trabalha na empresa% de cargos de chefia ocupados por mulheresNº de negros que trabalha na empresa% de cargos de chefia ocupados por negrosNº de empregados portadores de deficiência6) Informações Relevantes quanto ao Exercício da Cidadania Empresarial

129

Os projetos sociais e ambientais desenvolvidos pela empresaforam definidos:

( ) peladireção

( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

( ) peladireção

( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

Os padrões de segurança e salubridade no ambiente de trabalhoforam definidos:

( ) peladireção

( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

( ) peladireção

( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

A previdência privada contempla: ( ) direção ( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

( ) direção ( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

A participação nos lucros ou resultados contempla: ( ) direção ( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

( ) direção ( ) direçãoe gerências

( ) todos osempregados

Na seleção dos fornecedores, os mesmos padrões éticos e deresponsabilidade social e ambiental adotados pela empresa: ( ) não são

considerados( ) sãosugeridos

( ) sãoexigidos

( ) não sãoconsiderados

( ) sãosugeridos

( ) sãoexigidos

Quanto à participação dos empregados em programas detrabalho voluntário, a empresa: ( ) não se

envolve( ) apoia ( ) organiza

e incentiva( ) não seenvolve

( ) apoia ( ) organizae incentiva

7) Outras Informações

Instruções para o preenchimentoRealização Este Balanço Social (BS) deve apresentar os projetos e as ações sociais e

ambientais efetivamente realizados pela empresa.Sugestão: este BS deve ser o resultado de amplo processo participativo queenvolva a comunidade interna e externa.

Publicação Este BS deve ser apresentado como complemento em outros tipos dedemonstrações financeiras e socio-ambientais; publicado isoladamente em jornaise revistas; amplamente divulgado entre funcionários, clientes, fornecedores e asociedade. Pode ser acompanhado de outros itens e de informações qualitativas(textos e fotos) que a empresa julgue necessários.

Selo "Balanço Social Ibase/Betinho" A empresa que realizar e publicar o seu balanço social, utilizando este modelomínimo sugerido pelo Ibase, recebe o direito de utilizar o Selo Balanço SocialIbase/Betinho nos seus documentos, relatórios, papelaria, produtos, embalagens,site e etc. Mais informações: www.balancosocial.org.br

Restrições: o Selo Ibase/Betinho NÃO será fornecido às empresas decigarro/fumo, armas de fogo/munições, bebidas alcoólicas ou que estejamcomprovadamente envolvidas com a exploração do trabalho infantil.

1) Base de Cálculo Itens IncluídosReceita Líquida • Receita bruta excluída dos impostos, contribuições, devoluções, abatimentos e

descontos comerciaisResultado Operacional • Lucro ou prejuízo apresentado pela empresa no períodoFolha de Pagamento Bruta • Valor total da folha de pagamento2) Indicadores LaboraisAlimentação • Gastos com restaurante, vale-refeição, lanches, cestas básicas e outros

relacionados à alimentação dos empregadosPrevidência privada • Planos especiais de aposentadoria, fundações previdenciárias, complementações de

benefícios aos aposentados e seus dependentesSaúde • Plano de saúde, assistência médica, programas de medicina preventiva, programas

de qualidade de vida e outros gastos com saúde, inclusive dos aposentadosEducação • Gastos com ensino regular em todos os níveis, reembolso de educação, bolsas,

assinaturas de revistas, gastos com biblioteca (excluído pessoal) e outros gastoscom educação

Cultura • Gastos com eventos e manifestações artísticas e culturais (música, teatro, cinema,literatura e outras artes)

Capacitação e desenvolvimento profissional • Recursos investidos em treinamentos, cursos, estágios (excluído os salários) egastos voltados especificamente para capacitação relacionada com a atividadedesenvolvida pelos empregados

Creches ou auxílio-creche • Creche no local ou auxílio-creche aos empregadosParticipação nos lucros ou resultados • Participações que não caracterizem complemento de salários

130

Outros benefícios • Seguros (parcela paga pela empresa), empréstimo (só o custo), gastos comatividades recreativas, transportes, moradia e outros benefícios oferecidos osempregados podem ser aqui enumerados

3) Indicadores Sociais Total das contribuições para a sociedade • Somatório dos investimentos na comunidade que aparecem discriminados. Não

incluir os gastos declarados nos Indicadores Laborais. Os itens na tabela aparecemcomo indicação de setores importantes onde a empresa deve investir, porémpodem aparecer aqui somente os investimentos e contribuições que a empresarealiza regularmente (ação focalizada em educação, por exemplo)

Tributos (excluídos encargos sociais) • Impostos, contribuições e taxas federais, estaduais e municipais4) Indicadores AmbientaisRelacionados com a operação da empresa • Investimentos, monitoramento da qualidade dos resíduos/efluentes, despoluição,

gastos com a introdução de métodos não-poluentes, auditorias ambientais,programas de educação ambiental para os funcionários e outros gastos com oobjetivo de incrementar a qualidade ambiental na operação da empresa

Em programas/projetos externos • Despoluição, conservação de recursos ambientais, campanhas ambientais,educação ambiental para a comunidade externa e para sociedade

5) Indicadores do Corpo FuncionalNº de negros que trabalha na empresa • Considerar como trabalhadores negros o somatório de indivíduos classificados

como pretos e pardos (conforme a RAIS)6) Informações RelevantesRelação entre a maior e a menor remuneração • Resultado da divisão da maior remuneração pela menor

7) Outras Informações• Este espaço está disponível para que a empresa agregue outras informações

importantes quanto ao exercício da responsabilidade social e da cidadaniaempresarial

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ANEXO 5

Empresas que estão sublinhadas realizam ou já realizaram seus balanços sociaisno modelo sugerido pelo Ibase. (www.balancosocial.org.br)

• ABRIL S/A• ACESITA - Companhia Aços Especiais Itabira• Alpargatas S/A• Alternex S/A • Aracruz Celulose S. A.• ASBACE/ATP S.A • Azaléia S/A • Banco do Brasil • Banco do Nordeste do Brasil S/A• Banco Itaú S/A• Banco Santos• Banespa S/A• BioBrás - MG• Brasil Telecom Holding (Tele Centro Sul)• CAIUÁ - Serviços de Eletricidade• CBMM - Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração• CEB - Companhia Energética de Brasília • Cecrisa/SC • CEF - Caixa Econômica Federal• CELG - Centrais Elétricas de Goiás S/A• CELPA - Centrais Elétricas do Pará S/A• CELTINS - Cia. de Energia Elétrica do Estado do Tocantins• CEMAT - Centrais Elétricas Matogrossenses S/A• CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais S/A• CESP - Companhia Energética de São Paulo• Companhia Carris Porto-Alegrense• Companhia Força e Luz do Oeste• Companhia Nacional de Energia Elétrica• CONFAB• COPEL • COPENE• COSIPA - Companhia Siderúrgica Paulista• CPTM - Cia Paulistana de Trens Metropolitanos• CVRD - Companhia Vale do Rio Doce • DATAPREV• Deten Química/SP• DPaschoal• Escelsa - Espírito Santo Centrais Elétricas S/A• Eletrobrás • Eletronorte - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A • Eletronuclear - Eletrobrás Termonuclear S/A• Eletropaulo• Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária • Empresa de Eletricidade Vale Paranapanema S/A

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• Empresa Elétrica Bragantina S/A• Empresas Belgo-Mineira• FEBRABAN - Balanço Social dos Bancos• FRONAPE (Petrobras)• Furnas Centrais Elétricas S/A• GELRE• GlaxoWellcome• Grupo Aché• Grupo Brasmotor• Grupo GERDAU• Grupo J. Macêdo• Grupo Pão de Açúcar • Grupo RANDON• Indústrias e Comércio Chapecó• Indústrias Klabin de Papel e Celulose S/A• INEPAR S/A • INFRAERO• LIGHT - Serviços de Eletricidade S/A • Marisol S/A • MILLS do Brasil Estruturas e Serviços LTDA• Nitrofértil• Odebrecht S/A• Paranapanema S/A• Parks Comunicação Digital• Perdigão S/A• PETROBRAS S/A• Petros • PREVI • Rede Globo de Televisão• RBS• RGE - Rio Grande Energia S/A• Rio Tinto Brasil• Sabesp - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo• SAGANOR S.A• SAMITRI - S. A. Mineração da Trindade• SAR - Sul Americana Refrigeração Ltda • SERASA - Centralização de Serviços dos Bancos S/A• SERPRO• Springer/Carrier• Sistema FIRJAN• Telemar• Thyssen Fundições S.A• TUPY S/A• USIMINAS - Usinas Siderúrgicas de MG S/A • Votorantim Celulose e Papel • WEG S/A