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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CULTURAS ESCOLARES EM RECIFE: ESCOLAS PARTICULARES E MÉTODOS DE ENSINO (1880-1888) RECIFE, 2013.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CULTURAS ESCOLARES EM RECIFE: ESCOLAS PARTICULARES E MÉTODOS

DE ENSINO (1880-1888)

RECIFE, 2013.

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JACILENE DOS SANTOS CLEMENTE

CULTURAS ESCOLARES EM RECIFE (1880-1888)

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação, no curso de Pós-graduação em Educação do Departamento de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.

Orientadora: Prof. Dra. Adriana Maria Paulo da Silva

RECIFE, 2013

.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CULTURAS ESCOLARES EM RECIFE (1880-1888)

COMISSÃO EXAMINADORA

Profª. Drª. Adriana Maria Paulo da Silva

1ª Examinadora/Presidente

Prof. Dr. Marcus Joaquim Maciel de Carvalho

2º Examinador

Prof. Dr. André Gustavo Ferreira da Silva

3º Examinador

RECIFE, 21 de junho de 2013

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RESUMO

Nos últimos vinte anos o conceito de cultura escolar emergiu dentro do cenário das

pesquisas em educação no Brasil. Compreendido como uma das facetas do

processo de escolarização, ele engloba toda a vida escolar, ideias, corpos, mentes,

objetos, condutas, formas de ser e fazer. Nesse trabalho investigamos, através dos

anúncios de escolas publicados por professores particulares no Diário de

Pernambuco, algumas das características das culturas escolares anunciadas e

potencialmente vividas na cidade do Recife entre 1880 e 1888. Nos anúncios, os

docentes apresentaram os endereços de suas escolas, algumas características dos

prédios e espaços nos quais suas escolas funcionaram, os graus de instrução

potencialmente ensinados (primário e secundário), as disciplinas oferecidas, os

valores morais orientadores do ensino, métodos de ensino, os objetivos a serem

alcançados pelos alunos e etc. Dessas informações nos detivemos nos endereços,

através dos quais mapeamos as escolas, localizando-as na geografia da cidade.

Além disso, analisamos as descrições dos espaços escolares e dos métodos

anunciados. Para investigar as características dos métodos de ensino anunciados

somamos, aos anúncios das escolas, a análise das cartilhas de alfabetização dos

métodos de Castilho, João de Deus e Intuitivo ou Lição das Coisas. Por fim,

analisamos como e se as culturas escolares do Recife, nos últimos anos da

escravidão, se relacionaram, ou não com os debates acerca da Abolição,

característicos do período. Por fim, concluímos que nas culturas das escolas

particulares do Recife localizaram-se nos bairros centrais, estiveram abertas aos

debates pedagógicos característicos do período, mas se mantiveram

majoritariamente distanciadas dos debates e propostas, tanto abolicionistas, quanto

escravistas.

PALAVRAS-CHAVES: História da Educação em Pernambuco - Culturas Escolares -

Métodos de Ensino do século XIX - Abolição.

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RESUMEN

En los últimos veinte años el concepto de cultura escolar emergió dentro del

escenario de las investigaciones en educación en Brasil. Comprendido como una de

las facetas del proceso de escolarización, el concepto engloba toda la vida escolar,

ideas, cuerpos, mientes, objetos, conductas, formas de ser y hacer. En este trabajo

investigamos, a través de los anuncios de escuelas publicados por profesores

particulares en el Diario de Pernambuco, algunas de las características de las

culturas escolares anunciadas y potencialmente vividas en la ciudad de Recife entre

1880 y 1888. En los anuncios, los docentes presentaban las direcciones de sus

escuelas, algunas características de los edificios y espacios en los cuales sus

escuelas funcionaron, los grados de instrucción potencialmente enseñados (primario

y secundario), las asignaturas ofrecidas, los valores morales orientadores del

enseño, métodos de enseño, los objetivos que serian alcanzados por los alumnos y

etc. De esas informaciones nos detuvimos en las direcciones, a través de las cuales

mapeamos las escuelas, localizándolas en la geografía de la ciudad. Además,

analizamos las descripciones de los espacios escolares y de los métodos

anunciados. Para investigar las características de los métodos de enseño

informados sumamos, a los anuncios de las escuelas, el análisis de las cartillas de

alfabetización de los métodos de Castilho, João de Deus e Intuitivo o Lição de

Coisas. Por fin, analizamos como y si las culturas escolares del Recife, en los último

años de la esclavitud, se relacionaron, o no con los debates acerca de la Abolición,

característicos del período. Por fin, concluimos que en las culturas de las escuelas

particulares de Recife se localizaron en los barrios centrales, estuvieron abiertas a

los debates pedagógicos característicos del período, pero se mantuvieron

mayoritariamente distanciadas de los debates y propuestas, tanto abolicionista como

esclavista.

PALABRAS CLAVES: Historia de la Educación en Pernambuco - Culturas

Escolares - Métodos de Enseño del siglo XIX - Abolición.

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Dedico esse trabalho a Cristo, sempre e eternamente tudo a

Ele, autor e consumador da minha fé; a Dona Gercina

Francisca dos Santos Clemente, minha mãe; ao Senhor José

Rafael Clemente, meu pai; e a Professora Adriana Maria Paulo

da Silva. Sem eles esse trabalho não seria possível.

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AGRADECIMENTOS

“Ninguém faz nada sozinha.” Essa é uma das frases clássicas da minha mãe

e também uma verdade universal. Sem ajuda não existe realizações, reconheço isso

e agradeço a todos os que me ajudaram a concluir esse que foi o mais audacioso

projeto profissional dos meus vinte anos.

Agradeço a Jesus Cristo. A Ele agradeço por tudo, mesmo sabendo o quanto

não mereço, o quanto estou aquém, Ele continua sendo o meu Deus e isso é

reconfortante como o abraço de mãe e segurança de um pai. Um Algo que não se

explica com a razão, apenas com fé.

Expresso também minha gratidão à CAPES, pelo incentivo através da bolsa,

sem a qual seria impossível realizar esse objetivo profissional.

Ao Colegiado do PPGE, tão receptivo às inquietações de jovens

pesquisadores como eu; aos professores do Centro, Clarissa Martins, Janete

Azevedo, Edilson Fernandes, Flávio Brayner; e às funcionárias da Secretaria, Shirley

e Morgana, sempre tão atenciosas para conosco.

Aos funcionários da Fundação Joaquim Nabuco, os quais, desde o porteiro

até os responsáveis pelos microfilmes, sempre me receberam e trataram com toda a

polidez do mundo. Assim como aos funcionários da biblioteca do Arquivo Publico

Jordão Emerenciano na, Rua do Imperador.

À minha orientadora Adriana Maria Paulo da Silva. Mesmo sendo tão prolixa,

é difícil explicar o tipo exato ou inexato de gratidão e admiração que sinto por ela. Ao

me aceitar como orientanda Adriana fez uma aposta na minha capacidade. Espero,

que colocando essa experiência em perspectiva, ela não se arrependa da aposta.

Ao querido professor André Ferreira, querido, generoso e atencioso na leitura

desse trabalho, desde o momento no qual ele era apenas um pré-projeto, passando

pela qualificação até esse momento, no qual o trabalho está sendo entregue a

avaliação da banca.

Ao professor Ramon Oliveira pela presença em minha banca de qualificação,

por ter compartilhado suas impressões e colaborado com esse trabalho.

Ao professor Marcus Carvalho por ter aceitado, generosamente, o convite de

estar conosco na conclusão deste percurso.

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Ao professor Gian Carlo de Melo Silva, um dos principais incentivadores do

meu projeto pessoal e profissional de realizar uma pesquisa e escrever uma

dissertação. Não tenho outra palavra para você, Gian, que não seja: Obrigada! Que

Deus continue te abençoando!

Aos meus companheiros de núcleo de Teoria e História da Educação, Lucas,

Maristela, Érica, Adélia pelo carinho, atenção e companheirismo em alguns dos

momentos mais angustiantes.

Também agradeço a Dayana, ao Yan, a Aline, a Manuela, pessoas queridas

cujo encontro foi uma das melhores coisas que a pós-graduação me trouxe.

Ainda no campo da vida profissional, agradeço a minhas companheiras e

companheiro Auxiliares do Desenvolvimento Infantil (ADI) na Creche Municipal

Mardônio Coelho: Suzana, Cleber, Vanessa, Jô. E a melhor gestora que uma ADI

poderia ter Marilia Gabriela.

Agradeço também aos pequenos filhotes de gente cuja profissão de ADI me

deu a honra de ensinar a cuidar, amar e ajudar a educar.

Alexandre Melo, uma das pessoas que herdei dos meus tempos de UFRPE,

obrigada pelo apoio moral.

Às melhores amigas que uma pessoa poderia desejar ter, as quais devo, além

do afeto, da tolerância e da compreensão, as sobrinhas e sobrinhos mais bonitos e

bonitas do mundo inteiro. Adriana, Cintia, obrigada mesmo! Os seu filhos são uma

benção de Deus para vocês, mas eu também tiro uma casquinha.

À Claudinéia, companheira na profissão e de fé, “amiga da amiga”. Precisa

dizer que te amo?

À Maria Goretti, amiga tolerante com minhas ausências, exemplo de

educadora, mãe do Eick, a quem eu amo desde que era um feto.

À Amanda, cunhada querida, que se tornou também amiga!

Ao Renato, que há muito deixou de ser amigo do meu irmão para se tornar

um irmão.

À Josélia. Nêga, obrigada pelas orações!

Ubiratan, sem sua ajuda esse trabalho não seria possível. Obrigada por ter

me socorrido naquela hora.

Às “Meninas dos Livros”: Aleska, a menina das Ideias; Michele Lima (Mi,

porque eu sou íntima), pessoa que amo e gosto de amar; Ana Seerig que até na

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Alemanha e, com ou sem internet, consegue dar um jeito de ser presente. Obrigada

“Meninas” longa vida a nossa amizade!

Ao Luiz Carlos (Sahge), a Tita e a Vaneza, obrigada por todo o apoio que

vocês tem me ofertado. Se eu tivesse irmãos mais velhos gostaria que eles fossem

como vocês!

Agradeço enfim a minha grande, barulhenta, arengueira, invasiva, divertida,

preciosa e muito amada família.

Pai, Mãe, Seu Elias e Dona Gilda, obrigada por tudo!

Voinha e Voinho, Dona Rita e Seu Pedro, obrigada por tudo, nós ainda vamos

nos encontrar na eternidade.

Meus tios, irmãos da minha mãe, “os Francisco”: Gilvan, José Edson, Gerson,

Eldes, Wellington, Neide, Helena, Patrícia, meus heróis e heroínas de infância. Eu

quero ser como vocês!

Meus tios, irmãos do meu pai, “os Rafael”: Maria, Tereza, Neuza, João,

Severino, Elias. Tenho profunda admiração por vocês!

Henrique, primo querido, obrigada!

Mainha, Dona Gercina, meu coração e minha força. Melhor amiga,

companheira de todas as horas. Pessoa que sonhou e realizou o projeto de ter filhas

e filho honestos, trabalhadores e devidamente formados em uma universidade. Meu

exemplo. Muito obrigada Mainha!

Ao meu Painho Hulk, José Rafael, capaz de oscilar entre grandes iras e

ternuras inigualáveis! Provedor, honesto, trabalhador, meu maior exemplo de

profissional. Se um dia eu chegar a ser um terço do profissional que o senhor é,

serei uma professora excelente!

Aliás, também agradeço a meu pai o auxílio na localização das ruas do

Recife. O GPS dele, construído através de anos de atuação como motorista

profissional, funciona tão bem em um mapa da cidade do Recife de 1875, quanto no

de 2013. Obrigada painho!

Ao meu irmão, sangue do meu sangue, meu primeiro companheiro de

caminhada, dono da minha primeira lembrança, pessoa que não precisa dizer que

me ama, junto a qual espero sempre poder caminhar.

À Aline, sinônimo de constância, apoio, tolerância e companheirismo.

Obrigada por tudo Aline e em especial pelo Vinícius, um presente Deus para você do

qual tiro muitas casquinhas.

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E você, Rafaela dos Santos Clemente, minha irmã caçulinha Pokémon,

“minha flor, meu bebê”, “amor da minha vida daqui até a eternidade”. Desculpa por

perturbar teu sono, bagunçar tudo, ocupar três dos quatro cantos do nosso quarto,

solicitar tanto tua ajuda e te retribuir tão pouco. Sem você eu não conseguiria,

obrigada!

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LISTAS DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

APEJE Arquivo Público Jordão Emerenciano

FUNDAJ Fundação Joaquim Nabuco

BNL Biblioteca Nacional de Lisboa

LAPEH Laboratório de Pesquisa e Ensino de História do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco

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LISTA DE TABELAS, QUADRO, MAPAS E IMAGENS

Tabela 1 Tipos de instituições anunciadas entre 1880-1888.

p. 39

Tabela 2 Distribuição dos anúncios publicados nas terças feiras ao longo das semanas corridas entre janeiro de 1880 e dezembro de 1888.

p. 41 Tabela 3 Anúncios em relação aos anos pesquisados p. 43

Quadro 1 Escolas nas quais o piano foi utilizado como suporte pedagógico

p. 112

Quadro 2 Associações abolicionistas citadas por Coriolano de Medeiros, em funcionamento em 1884

. 126

Mapa 1 Ruas das escolas nos bairros Centrais do Recife (Boa Vista, Santo Antônio, São José e Recife).

p. 48 Mapa 2 Ruas das escolas anunciadas no Diário de

Pernambuco, no Bairro da Boa Vista.

p. 51 Mapa 3 Ruas das escolas anunciadas no Diário de

Pernambuco, no Bairro de Santo Antônio.

p. 55 Mapa 4 Ruas das escolas anunciadas no Diário de

Pernambuco, no Bairro de São José.

p. 57 Mapa 5 Rua Marques de Olinda, no Bairro do Recife. p. 58 Mapa 6 Rede de Jardins-Escola João de Deus em

Portugal – Janeiro de 2013.

p. 84

Imagem 1 Rua da Imperatriz, antigo Aterro da Boa Vista.

p. 49

Imagem 2 Rua do Imperador no Bairro de Santo Antônio, litogravura de Franz Heinrich Carls.

p. 53

Imagem 3 Arrabalde do Recife, Ponte d’Uchoa. p. 60 Imagem 4 Interior de sobrado patriarcal urbano do

meado do século XIX. Desenho de Lula Cardoso Ayres, baseado em notas de Gilberto Freyre, nesses prédios urbanos funcionaram além de armazéns e casas familiares algumas escolas.

p. 66 Imagem 5 Internato Pernambucano em Ponte do

Uchoa, n. 21, fundado em 1879, pelo professor Manoel Alves Viana.

p. 68

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15

Imagem 6 Taquigrafia do Professor Sebastião Mestrinho.

p. 78

Imagem 7 Contra capa da “Cartilha Maternal ou Arte da Leitura” por João de Deus de 1878.

p. 83

Imagem 8 Modelo para o ensino da letra V p. 86 Imagem 9 Diálogo a partir do qual João de Deus sugeria

o estudo dos diversos “acidentes de posição” da letra r

p. 87 Imagem 10 Proposta de Organização de Sala de Aula do

Método Castilho.

p. 93 Imagem 11 Imagem do interior de uma sala de aula,

contida na “Cartilha Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever”.

p. 94 Imagem 12 Letra A da cartilha de Feliciano de Castilho. p. 96 Imagem 13 Parte do anúncio dos resultados dos exames

prestados pelos alunos do Colégio 7 de Setembro.

p. 104 Imagem 14 Contador Mecânico, suporte didático

sugerido desde 1850 para o ensino da matemática

p. 117 Imagem 15 Internato Pernambucano, em Ponte de

Uchoa.

p. 119 Imagem 16 Internato Pernambucano, em Ponte do

Uchoa, nº 21, fundado em 1879 pelo professor Manoel Alves Viana.

p. 120 Imagem 17 Possíveis exercícios de educação física

orientados pelos professores.

p. 121

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SUMÁRIO

Capítulo 1 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO DO

BRASIL, EM PERNAMBUCO E AS CULTURAS

ESCOLARES..........................................................

p. 18

1.1 Cultura e culturas...................................................... p. 21

1.2 Culturas escolares .................................................... p. 24

1.3 Fontes para o estudo das culturas escolares e as

fontes desta pesquisa............................................

p. 35

1.4 O material obtido...................................................... p. 38

Capítulo 2 AS ESCOLAS NAS RUAS DA CIDADE DO RECIFE p. 48

2.1 Os prédios escolares.............................................. p. 61

Capítulo 3 DIFERENTES ESCOLAS, DIFERENTES MÉTODOS

DE ENSINO............................................................

p. 73

3.1 O Método de João de Deus................................... p. 81

3.2 O Método Castilho................................................. p. 92

3.3 Método Americano ou o Ensino Intuitivo pelas Lições

das Coisas.................................................................

p. 100

Capítulo 4 A ABOLIÇÃO NOS ANÚNCIOS DOS

JORNAIS......................................................................

p. 125

4.1 A historiografia da Abolição em Pernambuco............ p. 125

4.2 Os anúncios publicados no Diário e as questões

referentes a Abolição............................................

p. 136

5 COMENTÁRIOS FINAIS......................................... p. 148

6 FONTES CITADAS NO TEXTO.............................. p. 150

7 CRÉDITOS DAS IMAGENS.................................... p. 153

8 BIBLIOGRAFIA...................................................... p. 155

9 APÊNDICES.......................................................... p. 164

9.1 Escolas particulares anunciadas nas “Publicações a

Pedido” do Diário de Pernambuco entre 1880-1888....

p. 164

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9.2 Escolas anunciadas nos Almanaques

Pernambucanos entre 1881 e 1886 e seus endereços

p. 171

9.3 Nome das ruas dos principais bairros da cidade do

Recife, no Almanaque Pernambucano de 1886.........

p. 173

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1. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO DO BRASIL, EM PERNAMBUCO E

AS CULTURAS ESCOLARES.

As pesquisas em história da educação ao longo do último século não

privilegiaram os anos de Império. Alessandra Schueler1 destacou sobre a

historiografia da educação no Império do Brasil a possibilidade de dividi-la em três

tendências. A primeira, construída ainda nos anos do Império constituiu-se

basicamente de organização e coleta de documentos, leis e decretos por parte de

homens públicos ligados diretamente ao império. As formas de analise eram

orientadas pelo pensamento positivista, ainda segundo Schueler, o melhor exemplo

desse trabalho foi a obra de Primitivo Moacyr em sua “A instrução publica no

Império” e “A Instrução e as Províncias” abrangendo o período referente a 1835-

1889.

A segunda tendência seria a construída através dos intelectuais ligados ao

movimento “escolanovista” a partir das décadas de 1920-1930, remetendo

automaticamente aos nomes de Anísio Teixeira e de Fernando Azevedo, sendo o

último autor do celebrado “A Cultura Brasileira”, cuja terceira parte “A transmissão da

cultura” se tornou referencia no campo educacional e foi, segundo Marta Carvalho2,

responsável por cristalizar várias representações sobre a história da educação no

Brasil. Ainda segundo Carvalho a obra de Azevedo em relação a educação se

desenvolveu em dois eixos, a história das ideias e projetos pedagógicos e a história

da organização dos sistemas de ensino. E, em relação aos caminhos da instrução

durante o século XIX, tendeu construiu uma espécie de não-história, destacando

aquilo que não houve, deveria ter sido, produzindo uma leitura anacrônica e nefasta

em relação à história das instituições de ensino, de assistência e de instrução

pública3.

No entanto, entre as décadas de 1980 1990, uma terceira vertente em relação

à história da educação começou a ser construída, preocupada em “aprofundar as

1 SCHUELER, Alessandra Frota Martinez de. Educar e Instruir: a instrução popular na corte

Imperial. 1997. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2 CARVALHO, Marta. M. Chagas de. História da Educação: notas em torno de uma questão de

fronteiras. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 26, dez, 1997. 3 Idem, p. 8.

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análises das ideias e projetos pedagógicos em suas relações essenciais com a

totalidade social, inserindo-os nas dinâmicas dos processos e nas contradições dos

contextos históricos nos quais foram criados e debatidos” 4. Esta corrente

preocupou-se em perceber questões relacionadas a educação como parte de um

projeto político amplo, o da construção do Estado.

Tendo como interlocutora frequente a história cultural, a história da educação

vem alargando suas fronteiras, construindo novos problemas, deslocando seu olhar

dos modelos pedagógicos e legislações para perceber as formas como modelos e

leis são vivenciadas e praticadas na internalidade da vida escolar, pondo em cena

sujeitos como professores, diretores de escolas e alunos, em um cenário no qual se

costumava destacar apenas os “grandes nomes”.

Livros, manuais escolares, imprensa pedagógica, bibliotecas escolares,

coleções dirigidas a professores têm se tornado fontes e objetos de investigação

histórica nessa nova tradição historiográfica em construção. Uma historiografia

preocupada em desnaturalizar a escola, percebendo o modelo escolar como

resultado da junção de um conjunto de dispositivos científicos, religiosos, políticos e

pedagógicos 5.

A história da educação em Pernambuco nos tempos de Império se configura

como um campo de pesquisa relativamente pouco explorado por pesquisas

acadêmicas. Em trabalho recente construído em parceria com Mauricéia Ananias,

Adriana M. P. Silva6 contou da escassez de trabalhos historiográficos voltados para

a história da educação na província de Pernambuco. Segundo ela, a maior parte dos

trabalhos privilegia períodos posteriores à segunda metade do século XIX, focando

instituições educativas como o Seminário de Olinda e a Faculdade de Direito do

Recife, utilizando fontes governamentais ou institucionais.

Entre os trabalhos existentes constam as dissertações, a de Vera Lúcia Braga

“Pequenos aprendizes: assistência à infância em Pernambuco no século XIX”, de

Adlene Silva Arantes “O papel da Colônia orfanológica Isabel na educação e na

definição dos destinos de meninos negros, brancos e índios na Província de

4 SCHUELER, Alessandra Frota Martinez de. Op. Cit,1997, p. 6. 5 CARVALHO, Marta M. Chagas, Op. Cit, 1997, p. 11. 6 SILVA, A. M. P & ANANIAS, M. Educação e Instrução nas províncias da Paraíba e Pernambuco. In:

GONDRA, J.G. & SCHNEIDER, Omar (org.) Educação e instrução nas províncias e na corte imperial (Brasil, 1822-1889). Vitória: EDUFES, 2011.

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Pernambuco (1874 -1889)” falando sobre a inserção da infância pobre no mundo do

trabalho durante os anos finais da escravidão; e duas dissertações tratando da

trajetória da Escola Normal Oficial (1864-1893) o “Da instrução Primária ao ensino

normal: o inicio do magistério feminino em Pernambuco” de Verônica Araujo e “A

escola Normal Oficial de Pernambuco: a inserção das mulheres” de Flávia Maria

Peixoto7.

Além destes poucos trabalhos, existe também a tese transformada em livro de

Adriana M. P. Silva, na qual um vasto período da história da educação na província

de Pernambuco e foi abordado através da documentação acessada nos arquivos do

Rio de Janeiro e do Recife. Conforme a pesquisa de Silva8 (2007), desde meados do

século XVIII, a partir das Reformas Pombalinas, uma malha de escolas públicas foi

sendo construída na Província de Pernambuco cujos fios foram tecidos em meio às

disputas políticas locais – das quais os professores eram integrantes– e a partir das

determinações dos governos provinciais. O trabalho da autora torna possível pensar

as interdições e impossibilidades à expansão das letras na capitania de Pernambuco

e na América Portuguesa não como atraso derivado de uma dominação cultural

metropolitana, mas sim como resultado direto de opções políticas tomadas pelas

elites de ambos os lados do Atlântico.

Desde os anos de capitania as formas de funcionamento do magistério

público foram construídas em função dos poderes locais, das redes de clientela nas

quais os políticos, professores e famílias estavam inclusos. As práticas de

escolarização, currículo das escolas, horários, formas de conduta, em síntese, os

elementos das culturas escolares, foram sendo construídos vinculados às

necessidades ou conveniências das políticas locais em relação às demandas das

populações. Foram construídas envoltas no “turbilhão da política” 9.

Segundo a autora, o magistério público se configurou como ofício propício a

diversos tipos de disputas além das educacionais. Exercido majoritariamente por

homens pobres, a docência proporcionava além do salário, uma posição social

vantajosa. Naqueles tempos nos quais a atividade docente ainda não era

7 SILVA, A. M. P & ANANIAS, M., Op. Cit, 2011, p. 141. 8 SILVA, A. M. P.. Processos de construção das práticas de escolarização em Pernambuco, em

fins do século XVIII e primeira metade do século XIX. Recife: Editora UFPE, 2007. 9 Idem, p. 168.

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socialmente exercida por indivíduos especialmente preparados para tal fim e as

aulas não funcionavam em espaços especificamente projetados para viabilizar os

processos de ensino e aprendizagem, o magistério era aberto a muitas

possibilidades.

Quanto ao magistério particular, apesar de representarem a maioria dos

docentes em atividade durante todo o período, as fontes oficiais referentes a eles

são ainda mais raras se comparadas às referentes aos professores públicos.

Durante o século XIX os professores particulares, em especial os mais humildes,

costumavam fugir das ações de fiscalização governamentais na, criadas para

controlar e taxar essa atividade laboral. Os registros das tentativas deste controle

constituem a maior parte das fontes referentes a esta categoria de professores10.

No entanto, em um trabalho mais recente “Práticas docentes em Recife-

Olinda, 1851-1890” 11 a historiadora destacou os anúncios publicados no jornal

Diário de Pernambuco durante o século XIX como possibilidade de acessar algumas

informações a respeito de quem eram os sujeitos envolvidos na docência particular.

Será com base neste tipo de registro que procuraremos discutir alguns aspectos das

culturas escolares vivenciadas no Recife, na década da abolição.

1.1. Cultura e culturas

Nas pesquisas em História da Educação há apenas duas décadas o conceito

de cultura foi associado ao de escola, no entanto, o interesse das ciências humanas

em relação à cultura não é recente. Embora a segunda metade do século XX tenha

sido uma época na qual, com o impulso da mídia, ocorreu uma “revolução cultural”

no sentido substantivo, empírico e material como o disse Stuart Hall 12, há mais de

dois séculos a intelectualidade ocidental se ocupa em teorizar a respeito do conceito

de cultura.

10 Idem, p. 187. 11SILVA, A. M. P.. Práticas docentes em Recife-Olinda, 1851-1890. In: Congresso Brasileiro de História da Educação, 6, 2011. Anais... Vitória: UFES, 2011. p. 111-150. 12

HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo.

Disponível em: http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=117:a-centralidade-da-cultura-notas-sobre-as-revolucoes-culturais-do-nosso-tempo&catid=8:multiculturalismo&Itemid=19. Ultimo Acesso em 10 de Dezembro de 2011.

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22

Desde o século XVIII os iluministas franceses se apropriaram do termo

cultura, até então relacionado à criação de determinados animais ou produtos

agrícolas e o articularam à ideia de civilização, compreendida como o estado

derivado da ação do homem educado. Os Iluministas pensavam na cultura como

coisa única e universal, ela seria o resultado da reunião do melhor já produzido pelo

homem civilizado leia-se europeu e branco dos países centrais– em toda sua

existência na terra, a música, filosofia, ciência, literatura, as artes estariam dentro

dos domínios da cultura13.

Esta noção universal da cultura associada à ideia de civilização contida no

discurso iluminista foi contestada, ainda no século XVIII, pelos intelectuais do

romantismo alemão, que relacionavam “cultura” ou ‘Kultur’ a valores subjetivos, a

certas maneiras de produzir e apreciar as artes, a literatura, sistemas religiosos e

filosóficos14.

Este esforço de criação de uma “Cultura”, no singular, grafada com letra

maiúscula e ligada a um determinado jeito de ser e estar no mundo fez parte do

processo de legitimação dos Estados Nacionais emergidos no século XIX, para os

quais era fundamental a existência de elos ideológicos potencialmente capazes de

promover a superação das inúmeras diferenças e particularidades existentes entre

os povos europeus.

Ao longo do século XIX, a ideia de “cultura” passou a ser ligada às artes,

filosofia, religião, instituições, práticas e valores. Já em meados da década de 1920,

essa forma de perceber a cultura passou a ser contestada pelo conjunto das

ciências humanas (antropologia, linguística, filosofia, sociologia) responsáveis por

colocar em questão essa epistemologia, atualmente considerada monocultural. Após

a II Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e a

crise da Modernidade, a ideia da existência de uma cultura cedeu (ou perdeu) lugar

à de “culturas”.

13 VEIGA-NETO, Alfredo. Cultura, culturas e educação. Revista Brasileira de Educação. Maio/Jun/Jul/Ago, n. 23, 2003; LIMA, Raquel Sousa. O conceito de cultura em Raymond Williams e Edward P. Thompson: breve apresentação das ideias de materialismo cultural e experiência. Disponível em HTTP://historia.uff.br/cantareira/novacantareira/artigos/edicao8/artigo02.pdf. Ultimo acesso: 16 de julho de 2009. 14 VEIGA-NETO, Alfredo. Op. Cit, 2003, p. 7.

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23

A propósito da passagem do conceito de cultura do singular para o plural,

encontramos as proposições de Michel de Certeau em “A cultura no plural” 15. Trata-

se uma compilação de vários textos escritos pelo autor entre 1968 e 1973, através

dos quais De Certeau, ao discutir as mudanças sociais vivenciadas na sociedade

francesa e pela Europa a fora, analisa as mudanças na forma como a sociedade

ocidental passou a lidar com a cultura.

Segundo De Certeau, não se poderia mais pensar em cultura como um

artefato ligado a um grupo social como o quiseram os intelectuais do romantismo

alemão, como uma “propriedade particular de certas especialidades profissionais;

ela não é mais estável e definida por um código aceito por todos” 16. Para De

Certeau não havia uma “Cultura”, mas “culturas” circulando dentro das sociedades

por meio de diversos conjuntos de práticas consensuais, para as quais as pessoas

atribuem significados.

Não seria possível a um único setor ou grupo social fornecer a todos os

outros significados únicos e uniformes para as suas práticas. Os seres humanos, em

sociedade, têm suas vidas orientadas por diversas instâncias produtoras de sentido

e, portanto, não produzem uma única cultura, e sim, culturas, várias formas de

organizar o seu ser e estar no mundo.

A cultura no singular não passaria, na sua perspectiva, de “mistificação

política”, pois nos muitos espaços sociais de convivência– escolas, instituições

públicas, instituições religiosas, universidades, espaços de lazer– multiplicam-se

paralelos e heterogêneos focos de construção e disseminação de sistemas de

práticas e sentidos, ou seja, diversas culturas. No espaço público existe “uma

pluralidade de culturas, de sistemas de referência e de significados heterogêneos

entre si” e a cultura no singular expressa apenas a singularidade de um grupo 17.

A partir desses pressupostos podemos pensar na existência de diversos tipos

de culturas circulando e interagindo de diversas formas: culturas políticas, culturas

religiosas, culturas acadêmicas e até mesmo, como tencionamos investigar, culturas

escolares.

15

DE CERTEAU, Michel. A cultura no plural. São Paulo: Papirus, 1995. 16 Idem, p. 104. 17 Ibidem, 141-142.

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24

1.2. Culturas escolares

Nos últimos 20 anos a expressão “cultura escolar” tem figurado em diversas

áreas do campo educativo a História da Educação, Psicologia da Educação,

Sociologia da Educação, Políticas Públicas, Administração Escolar, Metodologias,

Currículo. Apenas nos quatro primeiros Congressos Brasileiros de História da

Educação (CBHE), realizados em 2000, 2002, 2004, 2006 cerca de trezentos e vinte

três trabalhos foram apresentados nos eixos temáticos responsáveis por acolher a

temática 18.

O crescente uso dessa conceituação também se reflete na realização de

fóruns voltados para discussão específica, tais como o I e o II Seminário sobre

Cultura Escolar realizados em Araraquara (2003) e Curitiba (2005), ambos

responsáveis por trazer a luz dois livros nos quais o tema é abordado.

O I Seminário sobre Cultura Escolar, realizado em 2003, resultado de uma

pareceria entre o Grupo de Estudos e Pesquisas Cultura e Educação, do Programa

de Pós-Graduação em Educação Escolar, e o Departamento de Ciências da

Educação, ambos da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, resultou no

livro “Cultura Escolar em Debate: questões conceituais, metodológicas e desafios

para a pesquisa” 19. Nesse livro foram destacados estudos sobre os materiais e ritos

escolares, métodos de ensino, história e programas de disciplinas escolares,

legislação, valores preponderantes, estratégias de articulação de ideias, elementos

vistos como componentes de cultura produzida e disseminada na escola.

O II Seminário de Pesquisa sobre Cultura Escolar, realizado em 2005 na

Universidade Federal do Paraná, dando continuidade ao ocorrido em 2003, manteve

a intenção de debater a epistemologia desse conceito, divulgar ideias a respeito,

criar possibilidade de circulação para as pesquisas em andamento e concluídas, e

18

VIDAL, Diana Gonçalves; SCHWARTZ, Cleonara Maria. Sobre cultura escolar e história da educação: questões para debate. In: VIDAL, Diana Gonçalves; SCHWARTZ, Cleonara Maria. História das Culturas Escolares no Brasil. Vitória: EDUFES, 2010, pg. 15. 19

SOUZA, Rosa Fátima de; VALDEMARIN, Vera Tereza (Org.). A cultura escolar em debate:

questões conceituais, metodológicas, e desafios para a pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

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25

origem a uma publicação: “Culturas Escolares, saberes e práticas educativas:

itinerários históricos” 20.

Neste trabalho se evidenciam as formas plurais adotadas, ao longo da

primeira década do século XXI, nas pesquisas em História da Educação, assim

como a formação de alguns eixos de abordagem do conceito, tais como a “leitura e a

escrita escolar; a arquitetura e o espaço da escola; a cultura material escolar; os

sujeitos da educação; a organização curricular e as ideias pedagógicas” 21.

Ainda sobre culturas escolares foram organizados dois dossiês em periódicos

de circulação nacional. O primeiro, no Cadernos Cedes, foi anunciada a proposta de

“investigar e interpretar as práticas e os saberes escolares brasileiros do final do

século XIX e início do XX” 22. E no segundo, o Pro-posições 23, os estudos voltados

para as legislações, reformas do ensino e história das filosofias da educação dão

lugar ao estudo das práticas educativas 24.

Em 2010, “História da Educação: memória, arquivos e cultura escolar” foi

tema do II Encontro Norte-Nordeste de História da Educação e o X Colóquio de

História da Educação na Bahia. Por fim, a “História das Culturas Escolares” 25 foi

tema de uma das dez publicações integrantes da coleção HORIZONTES DA

PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, fruto da parceria entre a Universidade

Federal do Espírito Santo e a Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE),

como celebração pelo seu décimo aniversário reunindo resultados de pesquisas

sobre o tema.

Tamanha visibilidade deste conceito nas pesquisas em Educação e em

especial nas de História da Educação costuma sugerir três possibilidades de

justificativas: o fato de ter sido o conceito proferido em 1993 no prestigiado fórum

International Standing Conference for History of Educition (ISCHE) realizado em

20

BENCOSTA, Marcus Levy (org.). Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007. 21 Idem, p. 10. 22

VALDEMARIN, Vera Tereza; SOUZA, Rosa Fátima de (Org.). Cultura escolar: história, práticas e representações. Dossiê. Cadernos Cedes, n. 52, 2000, p. 9. 23

MENEZES, Maria Cristina (Org.). Dossiê cultura escolar, cultura material: entre arquivos e museus. Pró-posições, v. 16, n. 1, jan/abr. 2005. 24 Idem, p. 7. 25

VIDAL, Diana Gonçalves; SCHWARTZ, Cleonara Maria. Sobre cultura escolar e história da educação: questões para debate. In: VIDAL, Diana Gonçalves; SCHWARTZ, Cleonara Maria. História das Culturas Escolares no Brasil. Vitória: EDUFES, 2010.

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26

Lisboa; ter sido ele difundido nos programas de Pós-Graduação da Faculdade de

Educação da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade

Católica (PUC-SP); e o fato de ter Dominique Julia no artigo proferido no ISCHE “A

cultura escolar como objeto histórico” situado a cultura escolar como um objeto de

investigação da história. Este último foi publicado pela Revista Brasileira de História

da Educação como artigo de abertura de seu primeiro número, em 2001, e é citado

exaustivamente nos trabalhos historiográficos interessados em abordar o tema 26.

Nele, já nos primeiros parágrafos, Julia define como pensa a cultura escolar:

“(...) poder-se-ia descrever a cultura escolar como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização). Normas e práticas não podem ser analisadas sem se levar em conta o corpo profissional dos agentes que são chamados a obedecer a essas ordens e, portanto, a utilizar dispositivos pedagógicos encarregados de facilitar sua aplicação, a saber, os professores primários e os demais professores” 27.

Dando seguimento a sua reflexão, criticou as perspectivas de Bourdieu e

Passeron por considerá-los exagerados quando associam o ambiente escolar à

reprodução social de um conjunto de situações. Uma perspectiva, em sua análise,

demasiada idílica, pois deixava de lado as resistências, tensões e apoios

encontrados pelos diferentes projetos de escola historicamente vivenciados pelas

sociedades escolarizadas 28.

Sem desprezar a colaboração de tais autores para a história da educação,

Julia convidou os pesquisadores a irem além da história das ideias pedagógicas,

rumo a uma história das disciplinas escolares, percebidas como “núcleo duro” de

uma história renovada da educação, capaz de abrir a “caixa preta” da escola, em

26

FARIA FILHO, Luciano Mendes de; GONÇALVES, Irlen Antônio; VIDAL, Diana Gonçalves; PAULILO, André Luiz. A cultura escolar como categoria de análise e como campo de investigação na história da educação brasileira. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 30, n. 1, p. 139-159, jan/abr. 2004. 27

JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da

Educação, nº. 1, jan./jun. 2001, p. 10. 28 Idem, p. 12

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27

torno da construção das disciplinas escolares, lócus de articulação do “espaço

escolar”, dos “cursos graduados”, do “corpo profissional” da escola, cerne da cultura

escolar 29.

Convocando os historiadores a lançarem outro olhar para a escola, também

os convidou diversificarem suas fontes documentais utilizadas para escrever as

histórias da escola. Seu argumento central sustentou haver, dentro do ambiente

escolar, certa cultura própria dele e por ele forjada, cuja compreensão depende da

criação de instrumentos específicos para apreensão das práticas escolares e dos

seus agentes, sugerindo o estudo das normas e finalidades da escola; o papel

desempenhado pela profissionalização do trabalho do educador; e a análise dos

conteúdos ensinados e das práticas escolares como vias para conhecer a história da

escola. Com essa discussão, o artigo de Dominique Julia se tornou seminal para as

pesquisas interessadas na investigação das Culturas Escolares.

Em 1988 o linguista André Chervel, discutindo a construção das disciplinas

escolares e suas reverberações nas sociedades escolarizadas, advogou para a

ambiência escolar a capacidade de produzir uma cultura específica, singular e

original.

Segundo Chervel, o sistema escolar é detentor de “poder criativo” derivado da

convivência dinâmica entre os vários sujeitos escolares (alunos, professores, pais,

autoridades responsáveis pela construção das regras escolares), através do qual

“(...) ele forma não somente indivíduos, mas também uma cultura capaz de penetrar,

moldar e modificar a cultura da sociedade global” 30. E a história das disciplinas

escolares, construída a partir da literatura específica de cada época, a respeito das

questões escolares – como relatórios de inspeção, projetos de reforma, artigos ou

manuais didáticos, prefácios de manuais, polêmicas diversas, relatórios de

parlamentares –, tem o potencial de expor como os sujeitos escolares em são

capazes de desenvolver normas, saberes e praticas construindo dentro dos muros

das escolas culturas originais.

29 Ibidem, p 12 30

CHERVEL, Andre. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa.

Revista Histoire de l’éducation, nº 38, maio de 1988, p. 17.

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28

Chervel defendeu a especificidade da cultura produzida na escola, criticando

a percepção dos saberes escolares como inferiores ou meros derivativos de outros,

produzidos nas esferas políticas ou econômicas das sociedades.

Os estudos de Julia e Chervel são convergentes quando destacam a

capacidade criativa da escola em relação às estruturas sociais, a importância de se

investigar o seu interior, as práticas vivenciadas intra-muros e como essas práticas

atravessam esses muros. Ambos rejeitam a ideia da instituição escolar ser mera

reprodutora de padrões culturais socialmente impostos, tendo enfatizado, porém

objetos diferentes: o foco da reflexão de Julia foram as práticas escolares e de

Chervel, as disciplinas escolares.

Jean Claude Forquin 31 também discutiu a relação existente entre a cultura e

a escola, tendo se interessado nas maneiras pelas quais as disciplinas escolares

foram construídas e montaram um currículo. Para ele a escola não funcionava como

um meio de pura transmissão da cultura dos mais velhos, ou da sociedade geral,

para os mais novos. Em suas reflexões emerge a ideia de uma cultura da escola,

assemelhada a um tipo de “bricolagem" dos mais diversos elementos da cultura

global da sociedade Na sua concepção a escola:

“(...) transmite, no máximo, algo da cultura, elementos de cultura, entre os quais não há forçosamente homogeneidade, que podem provir de fontes diversas, ser de épocas diferentes, obedecer a princípios de produção e lógicas de desenvolvimento heterogêneas e não recorrer aos mesmos procedimentos de legitimação” 32.

Nas reflexões de Forquin, a escola emerge como o lugar da transmissão das

normas sociais, valores culturais, significados e rituais próprios da cultura em geral.

A cultura da escola seria composta pelo conjunto dos conteúdos cognitivos e

simbólicos selecionados, organizados, normalizados e tornados rotineiros por

motivos didáticos.

Ampliando a definição deste conceito, António Viñao Frago é um dos autores

mais citados nos atuais estudos sobre a temática. Em suas reflexões, a

31 FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura. As bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. 32 Idem, p. 15.

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compreensão da cultura escolar vai da sociologia das organizações escolares até a

antropologia das práticas cotidiana, nas palavras dele: “(...) la cultura escolar es toda

la vida escolar: hechos e ideas, mentes y cuerpos, objetos ou conductas, modos de

pensar, decir ou hacer” 33.

Em sua análise o conceito de culturas escolares se amplia para abarcar as

diversas práticas nascidas no interior das escolas, a partir da convivência de alunos

e professores, as normas e teorias pedagógicas organizadoras do tempo, espaço e

linguagem escolar, até a forma como essas teorias e normas são ou não

incorporadas à rotina do espaço escolar. Considera também as disciplinas, tempos e

os espaços escolares, assim como as práticas que emergem como o resultado dos

embates políticos entre professores, comunidades e grupos acadêmicos, através

dos quais os saberes escolares são construídos.

Seguindo esta linha de pensamento, os saberes e práticas escolares são

compreendidos como produções realizadas no interior da dialética sociedade-escola,

levando em consideração tanto os aspectos relacionados à materialidade da

experiência escolar, quanto os relacionados aos significados simbólicos que

constroem e consolidam os detalhes objetivos e subjetivos direcionadores da vida

escolar.

Dentro dessa concepção, o conceito de cultura escolar abarcaria desde a

elaboração das filosofias e teorias pedagógicas, até utilização destas filosofias e

pedagogias dentro das salas de aula, sob a forma de práticas de ensino e

estratégias de aprendizagem, capazes de organizar os sujeitos escolares dentro das

salas de aulas, corredores e outros espaços.

Sobre essa base epistemológica construída através de diálogos entre a

Sociologia, Filosofia, Antropologia e História, estão sendo conduzidas pesquisas a

respeito da escola, percebendo-a tanto como produto cultural quanto como

produtora de cultura, levando pesquisadores a abandonarem a atitude de juízes em

relação à escola, para empreenderem uma busca pela compreensão do

funcionamento interno dessa instituição, a construção das práticas escolares e os

diálogos entre sociedade e escola.

33

FRAGO, Antônio Viñao. História de La educacion y historia cultural: posibilidades, problemas, cuestiones. Revista Brasileira de Educação. n. 0, pág. 63-82, Set./Dez. 1995, pg. 69.

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30

Englobando um número cada vez maior de sujeitos na atualidade, o espaço

escolar, embora nunca tenha sido um ambiente homogêneo, jamais foi tão

heterogêneo. Ele torna-se um espaço permeado por inúmeros e frequentes conflitos

e diálogos entre diferentes sujeitos; palco para o encontro entre a diversidade de

culturas e para a sua homogeneização também. Nesse contexto o recurso à cultura

escolar possibilita ampliar nossas possibilidades de visualização da ambiência

escola. Permitem ligar o currículo escolar, os objetos materiais existentes na escola,

os corpos de alunos e professores, a geografia da escola, os suportes utilizados nos

processos de ensino e aprendizagem como componentes de uma única teia, a teias

da cultura escolar.

No Brasil, em 1991, o termo cultura escolar fez parte da proposta do

programa de pesquisa para USP feito por José Azanha 34 no qual, mesmo sem

referir-se aos expoentes internacionais desse debate, percebeu a escola como

instituição criadora de uma cultura especifica e autônoma, sugerindo aos

pesquisadores a necessidade de concentrar esforços no mapeamento da sua cultura

por meio da investigação dos seguintes itens: (1) a função cultural da escola em face

à diversidade cultural da clientela; (2) relação entre saber teórico e saber escolar; (3)

vida escolar, políticas e reformas educacionais 35.

Em 1992, no GT de História da Educação da ANPED, e em artigo publicado

em 1994 na Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Cynthia P. de Souza e

Denise Catani propuseram a inclusão da imprensa pedagógica como fonte para a

história da cultura escolar brasileira, iniciativa reafirmada dez anos depois no livro

“Tópicas de história da educação”. Chamando atenção para o fato das revistas

pedagógicas abarcarem de maneira farta temas pouco explorados pela história da

educação, elas foram tratadas como possíveis fontes para o estudo da vida na

escola e da cultura escolar. Nesse trabalho, durante o exercício de levantamento

sistemático de fontes, a cultura escolar aparecia como pano de fundo das

interpretações históricas sobre a escola 36.

34

AZANHA, José Mario Pires. Cultura Escolar Brasileira: um programa de pesquisa. Revista da UPS, n. 8, p. 65-69, dez./jan./fev. 1990-1991. 35 AZANHA, José Mario Pires, Op. Cit., 1991, p. 69. 36

HILSDORF, Maria Lucia S. O diário de São Paulo como fonte. In: VIDAL, Diana Gonçalves; SOUZA, Maria Cecília Cortez de. A memória e a sombra: a escola brasileira entre o Império e a República. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

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31

Nesse quadro, Marta Carvalho apareceu como uma das matrizes do debate

nacional. Além de debater a retórica azevediana, participou da coordenação do GT

de História da Educação na ANPED durante o período no qual o debate se deslocou

do campo da filosofia da educação para o da história, atuando na difusão dos

referenciais de analise da história cultural, sendo responsável por entrelaçar a

história cultural aos interesses de investigação acerca dos saberes pedagógicos 37.

Também situado entre as principais referências nesse campo de debate está

Luciano Mendes de Faria Filho. Em “Dos pardieiros aos palácios” 38, este autor

dialogou com Viñao Frago, Chervel, Dominique Julia e Guy Vicente, interligando os

conceitos de cultura escolar, escolarização e práticas escolares, discutindo as

relações pedagógicas, espaços e tempos escolares ao falar sobre os grupos

escolares em Belo Horizonte. Faria Filho faz emergir o conceito de escolarização

“em par” com o de cultura escolar, colocando em destaque não apenas os saberes

escolares, mas também as práticas e as relações da escola com a sociedade.

Para além da tese de doutoramento, Faria Filho, junto a Diana Vidal e outros,

ao longo dos últimos dez anos têm se preocupado em abordar as diferentes

definições de cultura escolar em circulação no meio acadêmico, chamando atenção

para a história do conceito e forma como os acadêmicos vêm se apropriando dele,

apontando ainda os alguns dos desafios a serem levados em conta em relação ao

prosseguimento das investigações e ao aprofundamento teórico-metodológico das

pesquisas.

Em 2004, Faria Filho junto a Diana Vidal, Irlem Antônio Gonçalves e André

Luiz Paulilo compartilharam, através do artigo “A cultura escolar como categoria de

análise e como campo de investigação na história da educação” 39, uma síntese das

investigações feitas por eles sobre a forma como o conceito vinha sendo utilizado

enquanto categoria de analise e campo de investigação no cenário das pesquisas

em História da Educação no Brasil.

37 VIDAL, Diana Gonçalves. Op. Cit. 2008, p. 49. 38 FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Dos pardieiros aos palácios. Passo Fundo: EdUPE, 2000. 39 FARIA FILHO, Luciano Mendes de; GONÇALVES. Irlen Antônio; VIDAL, Diana Gonçalves; PAULILO, André Luiz. A cultura escolar como categoria de análise e como campo de investigação na história da educação brasileira. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 139 – 159, jan./abr. 2004

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32

Faria Filho ainda esteve presente nas duas publicações originadas a partir do

I e o II Seminários sobre Cultura Escolar. Na publicação originada do I Seminário, o

livro “Cultura Escolar em Debate: questões conceituais, metodológicas e desafios

para a pesquisa” 40, junto a Irlem Gonçalves, debateram a história das culturas e

práticas escolares, dando destaque às perspectivas e desafios teórico-

metodológicos a serem enfrentados pelos pesquisadores. Naquele momento

levavam em conta as novas possibilidades investigativas inauguradas por esse

instrumento teórico chamavam atenção para a impossibilidade de acessar as

práticas escolares vivenciadas na escola em tempos passados e alertavam para o

fato de podermos alcançar, por meio da pesquisa, apenas culturas escolares

prescritas.

Na publicação no II Seminário sobre Cultura Escolar, se ocuparam de debater

a relação entre escolarização e cultura escolar, levantando a possibilidade de

compreender o conceito a partir de três sentidos: (1) a consolidação de processos e

políticas ligadas à organização de uma rede, ou redes, de instituições responsáveis

pelo ensino elementar da leitura, da escrita, do cálculo e, no mais das vezes, da

moral e da religião; (2) a produção de representações sociais cuja escola é o local

de articulação e divulgação de seus sentidos e significados; (3) o ato ou efeito de

tornar escolar, de submeter pessoas, conhecimentos, sensibilidades, tempos e

valores aos imperativos escolares 41.

A cultura escolar seria uma das muitas facetas do processo de escolarização,

uma categoria cujo uso permite ao pesquisador articular, descrever e analisar os

componentes do fenômeno educativo, uma forma de articular os conhecimentos, as

sensibilidades e valores a serem transmitidos pela escola e seus métodos. Faria

Filho apontou o início do século XIX como momento de gestação das características

das culturas escolares e a segunda metade– a partir dos espaços dos grupos

escolares e dos tempos dos cursos seriados– como o período no qual foi construído

todo um aparato de instituições em torno da escola e um mercado de trabalho

40 GONÇALVES, Irlen Antônio, FARIA FILHO, Luciano Mendes de. História das Culturas e das práticas escolares: perspectivas e desafios teórico-metodológicos. In: SOUZA, Rosa Fatima & VALDEMARIM, Vera Teresa (orgs.). A cultura escolar em debate: questões conceituais, metodologias e desafios para a pesquisa. Campinas/SP: Autores Associados, 2005. 41

FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Escolarização e cultura escolar no Brasil: reflexões em torno de alguns pressupostos e desafios. In: BENCOSTTA, Marcus Levy (org). Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007, p. 195.

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33

ocupado por sujeitos de diversas origens étnico-sociais, responsáveis por fazer as

engrenagens das instituições escolares funcionarem 42.

Dentro desse campo de produção também se destaca a historiadora Diana

Gonçalves Vidal, cujas reflexões, construídas individualmente e ao lado de outros

pesquisadores, parecem culminar ou serem parte do esforço empreendido pela

autora durante a construção do texto de sua tese de pós-doutorado, publicada em

2005, sob o título “Culturas Escolares: estudo sobre as práticas de leitura e escrita

na escola pública primária (Brasil e na França, final do século XIX)”. Neste trabalho

construiu um panorama a respeito do conceito, sua história, usos, matizes teóricas

do debate nacional e internacional e reafirmou a relevância do uso do conceito para

a construção de uma história das práticas escolares no Brasil. Partindo das reflexões

de Dominique Julia sobre cultura escolar, ampliadas pela proposta de Viñao Frago–

versando sobre a corporeidade dos sujeitos, tempos e espaços escolares–, assim

como das reflexões propostas por Anne-Marie Chartier, Michel de Certeau e

Chartier, Vidal tomou a escola pública primária como objeto de investigação

buscando analisar as práticas escolares enquanto práticas culturais.

Compreendendo a história comparada como recurso válido para a

compreensão das culturas e práticas escolares nas épocas modernas e

contemporâneas, sua fonte principal num estudo sobre a leitura e escrita na escola

pública brasileira e francesa em fins do século XIX, foi um livro infantil adotado pelas

escolas públicas de São Paulo em fins do século XIX, o livro “Contos Infantis”,

escrito por Julia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira, cujo conteúdo sofreu

influência de outro livro adotado pela escola pública francesa, o “La comédie

enfantine”, de Louis Ratisbonne43.

A autora descreveu os conteúdos de ambos os livros levando em conta a

lição de Chartier, atentando para os aspectos de produção da obra, sua circulação

em sociedade e os diferentes modos de apropriação de seu conteúdo. Propôs uma

abordagem entendendo tal livro como objeto cultural, passível de iluminar aspectos

da cultura escolar primária no Brasil. Para tanto, adotou como estratégia a análise

da estrutura da obra e de alguns dos seus contos e poesias, a partir dos quais

42 Idem, p. 200. 43

VIDAL, Diana Gonçalves. Op. Cite, 2005, p. 66, 69, 167.

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analisou algumas das características da cultura escolar no Brasil e da França em

fins do século XIX.

Tanto para a escola brasileira como para a francesa, o fim do século XIX foi

marcado pelo de uma série de novos suportes pedagógicos para auxiliar os

professores primários em sua função de ensinar a escrever, ler e contar. A mesa de

areia, ardósia, lápis de pedra, pena metálica, lápis grafite, papel e o caderno, são

algumas das tecnologias apropriadas no espaço escolar para o ensino da leitura e

da escrita da língua nacional.

Para Vidal, a principal característica da cultura escolar gestada em fins do

século XIX foi colocar o ensino do falar e escrever a língua nacional como

prioridades e principal tarefa da escolarização. Ainda segundo a autora, no Brasil

podemos identificar três efeitos dessa cultura escolar, a saber: 1) a aceitação da

norma culta partilhada pela elite como padrão linguístico; 2) a valorização da fala

aprendida na escola como correta em detrimento da aprendida oralmente, tida como

incorreta; 3) a propagação dos métodos fonéticos de alfabetização em detrimento

dos analíticos, e posterior junção dos dois no método analítico-sintético44.

Dentro do espaço deste debate desenvolvemos nossa pesquisa, entendendo

as culturas escolares resultantes do processo de escolarização. A partir da leitura

dos trabalhos de Diana Vidal, tentaremos articular a proposição de Dominique Julia

– considerando a “cultura escolar” como o conjunto de normas, saberes e práticas

vivenciadas na escola– à proposição de Viñao Frago– percebendo a existência de

culturas escolares (no plural), incluindo os corpos, sujeitos, saberes, temporalidades,

espaços geográficos, maneiras de ser e estar na escola.

Além das “Publicações a pedido” feitas no Diário de Pernambuco a respeito

dos Institutos e Colégios particulares por parte de sues diretores e diretoras, não

raro era possível encontrar, a coluna “Instrução Pública” 45, na qual eram publicados

artigos abordando os livros didáticos a serem adotados nas escolas públicas,

métodos de ensino, discursos proferidos por professores em diversas situações.

44 Ibidem, p. 119-163. 45 Não sabemos quando a coluna “Instrução Publica” foi criada ou quem eram os seus editores, no entanto, durante todo o período pesquisado, ela esteve presente, ainda que de forma inconstante, no Diário de Pernambuco.

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Acredito na possibilidade de conhecer certas características das culturas

escolares vivenciadas pelos professores e professoras particulares, em fins do

século XIX, a partir da leitura das publicações feitas no Diário de Pernambuco pelos

professores e professoras particulares existentes na cidade naquele momento.

1.3. Fontes para o estudo das culturas escolares e as fontes desta pesquisa

Segundo Dominique Julia as fontes mais adequadas a serem elencadas para

a construção de uma história das práticas vivenciadas na “internalidade da escola”

seriam os exercícios escolares feitos pelos alunos. No entanto, estes não costumam

ser guardados nem por alunos e professores e nem nas escolas, por diversas

razões. Para acessar as práticas escolares vivenciadas no passado o historiador se

vê, portanto, obrigado a lançar mão de criatividade e executar a tarefa de “fazer

flechas com qualquer madeira” 46.

As pesquisas direcionadas à investigação das culturas escolares, na intenção

de perceber como se constroem as práticas escolares, o currículo, o conhecimento

escolar, o funcionamento do dia-a-dia da escola, têm levado os historiadores a

perceberem os materiais escolares como possíveis fontes documentais.

Livros e textos didáticos, cartilhas de alfabetização, a arquitetura escolar, o

quadro-negro, os cadernos, trabalhos escolares, cartazes, objetos de escrita, a

caneta, o giz, lápis de cera, canetas coloridas, cadeiras e mesas, a disposição

desses objetos pela sala, se tornam fontes quando passam a ser vistos como

objetos capazes, em sua materialidade, de permitir a construção do conhecimento a

respeito das vivências escolares no tempo.

O espaço escolar, como espaço qualificado para aprendizagem, também

desponta como possível fonte para a compreensão das práticas construídas no

interior da escola, pois assim como “o templo designa um território litúrgico que

provoca um comportamento especificado, a escola delimita um espaço que requer

46 JULIA, Dominique. Op. Cit, 2001, p. 17.

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igualmente determinados comportamentos e atitudes geradoras de sentido”,

capazes de influenciar como os sujeitos escolares se comportarão fora dela47.

Além da arquitetura material do espaço escolar, figura como possibilidade de

fonte a arquitetura pedagógica construída a partir de objetivos utilizados para

viabilizar o ensino. Os programas e avaliações de aprendizagem também são

elementos possíveis de serem usados para obter conhecimento acerca dos

caminhos pelos quais a escola foi sendo construída pelos sujeitos escolares.

Os livros e textos didáticos podem ser elencados como fontes privilegiadas,

pois, além dos conteúdos ligados ao conhecimento disciplinar, testemunham os

valores morais, éticos, sociais, cívicos, patrióticos das sociedades responsáveis por

sua produção. A cartilha da alfabetização, por exemplo, tal como nos disse

Mortatti48, remete a um “pacto secular” entre sociedade e escola, desde a última

década do século XIX. Ela é tanto produto como produtora de experiências

escolares e foi consolidada pelos sujeitos escolares como um instrumento de

concretização de determinados métodos de ensino e concepções de alfabetização,

leitura, escrita e texto pedagógico adequado a quem se pretende alfabetizar.

Em síntese, todos os objetos individuais e coletivos ocupantes dos espaços

escolares, necessários ao funcionamento da escola, construídos para servir de

suporte aos processos de ensino e aprendizagem, carregam marcas dos objetivos

para os quais foram criados. Todos, ao serem analisados, podem contar uma

história sobre sua fabricação e possibilidades de uso no espaço pedagógico sendo,

portanto, possíveis fontes para o estudo das culturas escolares, assim como

fotografias, autobiografias, depoimentos colhidos através de entrevistas podem

figurar entre as fontes utilizadas nas pesquisas feitas nos últimos 20 anos.

No entanto, apesar desta multiplicidade de fontes potencialmente utilizáveis

nas pesquisas a respeito da história das culturas escolares no Brasil, o trabalho do

historiador em relação aos processos e práticas de escolarização vivenciadas

47

FERNANDES, Rogério. Cultura escolar: entre as coisas e as memórias. In: MENEZES, Maria Cristina (Org.). Dossiê cultura escolar, cultura material: entre arquivos e museus. Pró-posições, v. 16, n. 1, p. 46, jan/abr. 2005, p. 20. 48

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Cartilha de alfabetização e cultura escolar: um pacto secular. In: SOUZA, Rosa Fátima de; VALDEMARIN, Vera Tereza (Org.). A cultura escolar em debate: questões conceituais, metodológicas, e desafios para a pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

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durante o século XIX, na então Província de Pernambuco, se configura como uma

tarefa difícil 49.

De acordo com Silva, quase não há nos acervos acessíveis atualmente, em

Pernambuco, “registros de aulas, de cadernos, livros com marcas, bilhetes, cartas,

diários, fotografias e outros tipos de fontes pertencentes ou produzidas por

professores, alunos ou familiares de alunos da província” 50. E mesmo os registros

governamentais foram pouco preservados nessa parte do Império. Sobraram, os

Anais da Câmara, a Coleção das Leis Provinciais, os Códices da Instrução Pública e

das Câmaras Municipais, registros voltados para assuntos gerais, guardados em

razão dos interesses do Estado ou dos funcionários encarregados de arquivá-los (e

não dos agentes escolares), dentro dos quais se incluem grande quantidade de

registros sobre situações denunciadas, regulamentadas ou punidas por agentes do

governo provincial e relacionados, em sua maioria, às práticas de escolarização

públicas.

Também Adriana Silva vem destacando em seus trabalhos 51 os anúncios

publicados pelos professores nos periódicos comerciais, em circulação na cidade do

Recife durante o século XIX, como possíveis fontes para acessar algum

conhecimento a respeito do trabalho exercido pelos professores particulares na

cidade do Recife. Usados prioritariamente para a oferta dos mais diversos tipos de

serviços domésticos, de empregados do comércio e por professores, os anúncios

são registros derivados da intenção dos sujeitos aos quais se referem, veiculando

por isso, no mínimo, a melhor imagem possível dos anunciantes, segundo a opinião

dos próprios.

As páginas do jornal foram palco para as mais diversas discussões, entre as

quais estiveram os assuntos referentes à educação pública e particular. Professores

e professoras lançaram mão dos jornais para fazer circular entre a sociedade suas

demandas– no caso dos públicos– ou divulgar seus serviços– no caso dos

49 SILVA, Adriana M. P. Op. Cit, 2007, p. 186. 50 ANANIAS, Mauricéia; SILVA, Adriana M. P. Educação e instrução nas províncias da Paraíba e Pernambuco. In: GONDRA, José Gonçalves; SCHNEIDER, Omar (Org.). Educação e Instrução nas Províncias e na Corte Imperial (Brasil, 1822-1889). Vitória: EDUFES, 2011, p. 129. 51

SILVA, A. M. P.. Práticas docentes em Recife-Olinda, 1851-1890. In: Congresso Brasileiro de História da Educação, 6, 2011. Anais... Vitória: UFES, 2011. p.111-150; SILVA, Adriana M. P. O uso historiográfico dos anúncios de docentes no jornal “Diário de Pernambuco”, Recife – Século XIX.

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particulares. Também para os docentes os jornais foram um meio privilegiado para o

exercício da retórica, da contraposição de ideias, dos enfrentamentos e da

imposição e concepções de modelos de ensino 52.

Além das “publicações a pedido” feitas no Diário de Pernambuco a respeito

dos Institutos e Colégios particulares por parte de sues diretores e diretoras, não

raro era possível encontrar, a coluna “Instrução Pública” 53, na qual eram publicados

artigos abordando os livros didáticos a serem adotados nas escolas públicas,

métodos de ensino, discursos proferidos por professores em diversas situações.

Acredito na possibilidade de conhecer certas características das culturas

escolares vivenciadas pelos professores e professoras particulares, em fins do

século XIX, a partir da leitura das publicações feitas no Diário de Pernambuco pelos

professores e professoras particulares existentes na cidade naquele momento.

1.4. O material obtido

Ao longo da pesquisa, foram registrados por meio da transcrição simples,

completa e direta (Aróstegui, 2006), setecentos e sessenta e quatro (764) anúncios

publicados nas terças-feiras das semanas corridas, entre janeiro de 1880 e

dezembro de 1888, na coluna “Publicações a Pedido” do Diário de Pernambuco,

disponíveis no setor de microfilmagens da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ).

Tais anúncios referem-se a noventa e nove (99) diferentes instituições

(colégios, institutos, escolas, aulas públicas e particulares) de ensino, sendo estas

divididas entre trinta e nove (39) escolas masculinas; trinta e seis (36) escolas

femininas, seis (6) escolas mistas; quatro (4) aulas de Primeiras Letras femininas,

cinco (5) aulas de primeiras letras masculinas, duas (2) aulas de primeiras letras

mistas, duas (2) aulas noturnas e quatro (4) aulas públicas de primeiras letras.

A amostra do número de escola ao qual tivemos acesso através da consulta

dos anúncios publicados no Diário de Pernambuco durante o período pesquisado foi

52 VALDEMARIN, Vera Tereza & PINTO, Adriana Aparecida. Das formas de ensinar e conhecer o mundo: lições das coisas e método de ensino intuitivo na imprensa periódica educacional do século XIX. Revisa Educação em Questão. Vol. 39, n. 25, set./dez. 2010. 53 Não sabemos quando a coluna Instrução Publica foi criado ou quem eram os seus editores, no entanto durante todo o período por nós pesquisados ela esteve presente, ainda que de forma inconstante, no Diário de Pernambuco.

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maior do que o número de escolas anunciados, por exemplo, nas publicações do

Almanaque Pernambucano entre 1881 e 1886 54. Ao todo estiveram presentes nas

páginas do almanaque cinquenta e seis (56) escolas divididas entre vinte nove

escolas (29) masculinas e vinte sete (27) escolas femininas.

Tabela 1: Tipos de instituições anunciadas entre 1880-1888

Tipos de Instituições Quantitativo

Aulas de Primeiras Letras – Femininas 4

Aulas de Primeiras Letras – Masculinas 5

Aulas de Primeiras Letras – Mistas 2

Aulas Noturnas 2

Colégios Femininos 36

Colégios Masculinos 39

Colégios Mistos 6

Curso Comercial 1

Escolas Públicas 4

Total 99

No entanto, o quantitativo de escolas particulares anunciadas é inferior ao

total destas escolas em funcionamento na cidade durante o período. Em novembro

de 1886, o Inspetor Geral da Instrução Pública fez publicar no Diário de Pernambuco

um Edital a respeito do “Ensino Particular” 55 convocando os professores particulares

e diretores de colégios de ensino primário e secundário a remeter ao delegado

literário uma relação com o nome de seus alunos e alunas, naturalidade, idade,

filiação e aproveitamento destes. Junto à solicitação foi publicada uma lista com os

nomes dos homens e mulheres cujo exercício do magistério era de conhecimento

das autoridades provinciais.

De acordo com o Edital, na província de Pernambuco havia cento e setenta e

seis (176) professores particulares em exercício, cento e vinte sete (127) professores

e quarenta e nove (49) professoras. Entre os professores (as) anunciantes do Diário

54

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1881-1886. Recife: Typ. Mercantil, 1881-1886. Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE. 55

Ensino Particular, Edital, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 263, terça-feira, 16 de Novembro de

1886, p. 3-4, Caixa 155, FUNDAJ, Recife – PE.

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de Pernambuco, quarenta (42), ou seja, 44% dos anunciantes do período constam

na lista dos convocados para comparecer diante dos conselheiros literários.

Dos professores cujas escolas foram anunciadas no Diário de Pernambuco

até 1886 trinta e oito (38) não foram convocados pela Secretária de Instrução

Pública, desses apenas três (3) tornaram a publicar anúncios após 1886. Dos

professores anunciantes convocados pela inspetoria habituados a anunciar suas

escolas no jornal até então, apenas quatorze (14) voltaram a fazer uso desse meio

de divulgação nos anos de 1887 e 1888, ou seja, 66% dos professores habituados a

anunciar se esquivaram de fazer uso do jornal após a promulgação desse edital.

Tais reações nos fazem supor que nas décadas finais do século XIX muitos

sujeitos envolvidos em atividades docentes, tal como ocorria na primeira metade,

também procuravam escapar da fiscalização das autoridades governamentais 56.

Quanto à frequência dos anúncios ao longo dos anos, percebeu-se uma

grande incidência de publicações durante o mês de janeiro, seguida de uma

oscilação nos meses seguintes e uma nova intensificação no mês de dezembro.

Neste mês algumas escolas publicavam, além das informações habituais, a relação

dos alunos aprovados nos exames dos ensinos primário e secundário, prestados

nas próprias instituições e nas faculdades e academias do Império, em especial a

Faculdade de Direito do Recife.

Tal intensificação no número de anúncios no mês de janeiro dialoga com o

calendário das escolas públicas, estabelecido entre1874 e 1885, por através da Lei

n. 1143 57, que determinou o dia 1ª de dezembro como último dia de aula e sete de

janeiro como data oficial para o início das mesmas. A partir de 1885, o Regulamento

Orgânico da Administração do Ensino Público 58 fixou o dia oito de dezembro como

último dia de aula do ano e o dia quinze de Janeiro como data para o início das

aulas. Embora nenhum artigo dos regulamentos publicados antes e durante a

década de 1880 estabelecesse uma data fixa para o início das aulas nas instituições

56 SILVA, Adriana M. P. Op. Cit, 2007, p. 211. 57

Artigo 25, Disposições Diversas, Lei 1143: Resoluções a respeito da reorganização da instrução pública. In: PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 02. Número 29. Ano (1865-1877). Ano de 1874. p. 64, APEJE, Recife – PE. 58

Artigo 59, Seção III, Do ensino e regime das escolas. Regulamento orgânico da administração do ensino público. In: PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29; Prateleira 03; Número 51. Ano (1884-1885). Ano de 1885. P. 14, APEJE, Recife – PE.

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particulares, os professores costumavam anunciar o início das suas aulas nos

primeiros dias do mês de janeiro e celebravam o encerramento das aulas no mês de

dezembro.

Tabela 2: Distribuição dos anúncios publicados nas terças feiras ao longo das

semanas corridas entre janeiro de 1880 e dezembro de 1888.

Ja Fe Ma Ab Ma Jn Jl Ag Se Ou No De Tot

1880 21 0 2 5 7 3 2 0 4 5 5 8 62

1881 30 16 5 8 14 3 1 4 5 8 4 12 110

1882 42 15 5 10 4 0 1 6 2 0 1 13 99

1883 33 8 5 8 8 6 4 6 5 2 3 7 95

1884 58 13 18 8 5 0 0 1 0 0 2 24 129

1885 30 22 9 4 1 0 3 2 5 2 1 8 87

1886 22 0 5 7 7 1 2 3 0 1 0 10 58

1887 32 4 7 3 0 6 6 1 1 1 1 2 64

1888 42 4 3 8 3 0 0 0 0 0 0 0 60

Tot. 310 82 59 61 49 19 19 23 22 19 17 84 764

Quando, durante a pesquisa, observamos uma diminuição no quantitativo de

anúncios nas terças, no período correspondente aos meses de março a novembro,

fomos investigar os outros dias da semana com o intuito de perceber se os anúncios

estariam sendo publicados com maior frequência em outro dia da semana. Feito

isso, percebemos que tal coisa não ocorreu e optamos por continuar transcrevendo

os anúncios publicados nas terças-feiras.

Nos meses de fevereiro e agosto de 1880; junho e outubro de 1882; junho,

julho, setembro e outubro de 1884; junho de 1885; fevereiro, setembro e novembro

de 1886; e junho, julho, setembro, outubro, novembro e dezembro de 1888, não

foram encontrados anúncios publicados nas terças-feiras. Portanto, nesses anos,

recorremos à investigação dos outros dias da semana e percebemos que nos meses

de fevereiro de 1880; junho, julho e setembro de 1884, fevereiro, setembro e

novembro de 1886; maio de 1887; junho, julho, agosto, setembro, outubro e

dezembro de 1888 não houve anúncios publicados nos outros dias da semana.

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Salta aos olhos a ausência de anúncios publicados após maio de 1888. Um

silêncio cuja motivação nos escapa diante da ausência de pesquisas nas quais os

efeitos da Abolição na cidade do Recife tenham sido abordados. No entanto,

conforme o disse Wlamyra R. de Albuquerque, o fim da questão servil foi um fato

impactante na sociedade imperial, recebido nas províncias do diversas formas, entre

as quais estiveram festas, conflitos e perturbação da ordem social vigente. Durante o

segundo semestre de 1888, o cenário público tornou-se palco para a “(...) euforia

dos libertos, a insatisfação dos fazendeiros, as contendas entre ex-escravos e ex-

senhores, as disputas entre liberais e conservadores” 59.

Na manhã do dia 13 de maio de 1888 a legalidade da ordem social escravista

havia encontrado seu ponto final. Uma mudança significativa na ordem social havia

ocorrido e o sentimento de que outras mais poderiam estar para acontecer estava no

ar. Cientes da complexidade do cenário e dos sujeitos envolvidos, os professores,

talvez, tenham preferido nada falar no Diário de Pernambuco.

Observou-se uma diminuição no número de anúncios publicados nos anos de

1886, 1887 e 1888 em relação aos primeiros anos da década de 1880. Tal

diminuição, talvez, tenha se dado devido ao fato de, em novembro de 1886, a

Inspetoria de Instrução Pública ter feito publicar um edital através do qual os

professores particulares eram convocados a remeter à secretária, ainda naquele

mês, através do delegado literário, “uma relação dos alunos que estudavam em suas

escolas e colégios e para os quais lecionavam em casas particulares, com

declaração da naturalidade, idade, filiação e aproveitamento dele...” 60. Os

professores que não apresentassem tais dados poderiam ser receber uma multa

cujo valor poderia ir de 10$ a 50$000 (dez a cinquenta mil reis).

Conforme afirmou Silva 61, desde a primeira metade do século XIX, os

professores particulares, em especial os mais modestos, costumavam elaborar

estratégias para fugir das tentativas de controle, regulamentação e taxação de suas

atividades feitas pelas autoridades governamentais. Não utilizar o Diário de

Pernambuco para anunciar suas aulas no mês de novembro do ano de 1886, não

59 ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.95. 60

Ensino Particular, EDITAIS, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 263, terça-feira, 16 de Novembro de

1886, p. 3-4, Caixa 155, FUNDAJ, Recife – PE. 61 SILVAL, Adriana M. P. Op. Cit.. 2007, p. 211.

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publicar anúncios ou reduzir o número de publicações nos anos subsequentes

podem ter sido estratégias utilizadas pelos docentes para escapar de uma possível

visita de fiscalização em suas escolas.

Tabela 3: Anúncios em relação aos anos pesquisados62

Anos Nº de Anúncios

Anúncios Repetidos

Nº de Anunciantes

1880 62 45 18 1881 110 74 24

1882 99 68 34

1883 95 62 20

1884 129 81 40

1885 87 47 35

1886 58 28 29

1887 64 31 26

1888 60 39 18

Total 764 475

Nos anúncios os docentes escreveram, entre outras coisas, os endereços de

suas escolas, algumas características dos prédios nos quais essas escolas

funcionavam, os graus de instrução potencialmente ensinados nas escolas (primário

e secundário), as disciplinas oferecidas, os valores morais orientadores do ensino,

métodos de ensino, os objetivos a serem alcançados pelos alunos e etc.

Dessas informações nos detivemos nos endereços, através dos quais

mapeamos as escolas localizando-as na geografia da cidade. Detivemos-nos

também na análise das descrições dos espaços escolares, dos métodos, através

das quais identificamos algumas das características das culturas escolares

potencialmente vivenciadas nas escolas do Recife. Por fim, procuramos verificar se

as culturas escolares do Recife, nos últimos anos da escravidão se relacionaram, ou

não, com os debates acerca da Abolição característicos do período.

Entre os noventa e cinco (95) professores cujos anúncios tivemos acesso,

sete (7) fizeram menção ao método de ensino utilizado em suas escolas. O

62Em Apêndice consta às listas dos colégios e aulas anunciados em cada ano respectivamente.

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professor Manoel de Portugal Castro propagador do método João de Deus na

província de Pernambuco 63, Prescilla S. Mendes Albuquerque, professora do

Colégio pelo Método Castilho na Rua do Imperador 64, o Colégio Americano para

Moças 65, o Colégio Americano e o Colégio de Inglês do Instituto Inglês

Pernambucano 66, o Curso Minerva 67 e o Colégio Isabel 68, anunciaram o Método

Americano como direcionador das atividades em suas escolas. Tais métodos foram

sistematizados ao longo do século XIX em cartilhas e manuais, nos quais eram

estabelecidos padrões de atuação profissional, normatização racional do trabalho

docente, além de cristalizarem em possibilidade de práticas uma série de teorias a

respeito de como o conhecimento deve ser ensinado pelo professor para ser

corretamente aprendido pelos alunos.

Levando em conta a lição de Vera Teresa Valdemarin 69, compreendemos as

cartilhas como instrumentos privilegiados para execução das práticas propostas

pelos métodos de ensino e, por isso, foram incluídas no nosso conjunto documental,

para discutirmos os métodos de ensino possivelmente utilizados nas escolas

particulares anunciadas no Diário de Pernambuco. São elas a “Cartilha Maternal ou

Arte da Leitura” 70– na qual o bacharel, poeta e político João de Deus sistematizou

seu método de ensino–; a cartilha “Método Castilho para o ensino rápido e aprazível

63

Ao Público, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 90, terça-feira, 20 de Abril de

1880, p. 2, Caixa 128, FUNDAJ, Recife - PE. 64 Método Castilho, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 19, terça-feira, 25 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE. 65 Publicações a Pedido, Colégio Americano, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 9, 13 de janeiro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE. 66 Colégio Americano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 68, n. 136, sexta-feira, 16 de junho de 1882, p. 4, Caixa/Rolo 136, FUNDAJ, Recife – PE; Colégio Inglês, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 179, terça-feira, 9 de Agosto de 1881, p.3, Rolo 133, FUNDAJ, Recife – PE. 67

Curso Minerva, Internato e Externato, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 300, terça-feira, 30 de dezembro de 1884, p. 4, Caixa/Rolo 146, FUNDAJ, Recife – PE. 68 Colégio Isabel, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 280, Sábado, 04 de dezembro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 130, FUNDAJ, Recife – PE. 69

VALDEMARIN, Vera Teresa. Interfaces de pesquisa sobre manuais didáticos. In: BENCOSTTA, Marcus Levy (org.). Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007, p. 308. 70

DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu

amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

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do ler impresso, manuscrito e numeração e do escrever” 71– na qual o método

Castilho está sistematizado, desde 1850, pelo também poeta e bacharel, Antonio

Feliciano de Castilho–; e a cartilha “Primeiras Lições de Coisas: manual de Ensino

Elementar” 72, de N. A. Calkins, traduzida por Rui Barbosa, em 1884.

Tanto a “Cartilha Maternal”, quanto a cartilha “Método Castilho” encontram-se

disponíveis na coleção digitalizada do site da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP)

73. Já a cartilha “Primeiras Lições das coisas”, de N. A. Calkins, foi acessada no site

da Fundação Casa Rui Barbosa 74, no qual se encontra a coleção completa das

obras do jurista, político e jornalista Rui Barbosa, disponíveis para acesso.

O ensino dos conteúdos fundamentais da escola primária, assim como a

forma mais eficiente deles serem ensinados ocupou, durante o século XIX, um lugar

central na mente de educadores na Europa, no norte da América e também do

Brasil. Houve grande preocupação em encontrar métodos adequados para a

sistematização do ensino e o aprendizado da leitura, da escrita, do cálculo e outros

conteúdos. Alguns desses métodos foram compilados em cartilhas, manuais nos

quais professores, proeminentes ou não, sintetizavam um conjunto de regras a

serem memorizadas e utilizadas diariamente pelos professores em suas rotinas

pedagógicas.

As cartilhas estabeleciam em seu texto padrões para a atuação docente.

Através delas os autores procuravam transformar princípios teóricos a respeito do

conhecimento em princípios práticos, possíveis de serem utilizados nas salas de

aula. Nelas, teorias eram transformadas em prescrições de práticas destinadas aos

professores, como um potencial guia das atividades a serem realizadas no dia-a-dia.

Embora as prescrições contidas nas cartilhas não sejam sinônimas de

práticas vividas nas salas de aula– porque, mesmo os professores que anunciaram

71

CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. 2ª ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. Lisboa: Impr. Nacional, 1853. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012. 72CALKINS, N. A. Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar para uso dos paes e professores. Tradução de Rui Barbosa. Obras Completas, v. XIII, tomo I, Rio de Janeiro, 1950. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20das%20Coisas. Ultimo acesso em: 30 de Agosto de 2012. 73

http://purl.pt/index/geral/PT/index.html 74

http://www.casaruibarbosa.gov.br/rbonline/obrasCompletas.htm

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utilizar seus métodos, poderiam ou não utilizar as prescrições nelas contidas– os

modelos de docência, conteúdos, formas de fazer nelas contidos prestam

colaboração significativa para a investigação das culturas escolares vivenciadas

naquele momento.

Aos anúncios e cartilhas, potencialmente utilizadas nas salas de aula da

cidade do Recife, somamos as informações sobre a “Instrução Pública” contidas nos

Relatórios dos Presidentes da Província Pernambuco, produzidos entre 1880 e

1880, disponíveis no site da Universidade de Chicago 75; a Lei nº 1124 através da

qual foi autorizado “(...) o presidente da província a expedir os regulamentos

necessários para a reorganização do ensino primário e secundário” 76; a Lei nº 1143

de 1877, na qual estão as “Resoluções a respeito da reorganização da instrução

pública” 77, o Regimento Geral das Escolas Públicas de Pernambuco 78 que vigorou

entre 1885 e 1887 e o Regulamento da Instrução Pública de Pernambuco de 1888

79, consultados no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano.

Além da legislação específica, consultamos os dados sobre os colégios

particulares do Recife, contidos nos Almanaques “Administrativo, Mercantil, Industrial

e Agrícola da Província da Pernambuco”, dos anos de 1881 a 1885, disponíveis na

Biblioteca do Arquivo Público Jordão Emerenciano 80 e alguns editoriais e artigos

publicados no Diário de Pernambuco em outras seções, além das “Publicações a

Pedido”, sobre a instrução pública ou métodos de ensino.

75

Provincial Presidential Reports (1830-1930): Pernambuco. Disponível em:

http://www.crl.edu/brazil/provincial/pernambuco. Ultimo Acesso: 01 de janeiro de 2013. 76 Lei n. 1124, PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 02. Número 29. Ano (1865-1877). Ano de 1873. Pp. 68-75, FUNDAJ, Recife – PE. 77

Lei n. 1143, Resoluções a respeito da reorganização da instrução pública. PERNAMBUCO.

Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 02. Número 29. Ano (1865-1877). Ano de 1874. Pp. 59-66, APEJE, Recife – PE. 78

Regimento Geral das Escolas Públicas de Pernambuco. In: PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 03. Número 54. Ano (1885/1887). Ano de 1886, pp. 13-97. 79 Regulamento Orgânico da Administração do Ensino Público. In: PERNAMBUCO, Legislação Provincial de. Estante 29, ano de 1887. APEJE, Recife – PE. 80

ALMANACK Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o

anno de 1881. Recife, Tipographia Mercantil, 1881-1885, APEJE, Biblioteca, Recife – PE.

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CAPÍTULO 2: AS ESCOLAS NAS RUAS DA CIDADE DO RECIFE

Segundo Raimundo Arraes 81, ao longo da segunda metade do século XIX,

Recife se constituía como centro urbano expressivo ocupando o lugar de terceira

cidade mais populosa do Império do Brasil. No bairro do Recife funcionava o

comércio atacadista ligado a exportações e importações. No de Santo Antônio, o

mais populoso, o comércio de luxo da cidade. A Boa Vista era um bairro residencial

com um pequeno núcleo comercial; e São José, residencial e comercial, era o reduto

da população empobrecida da cidade.

Além desse núcleo urbano central composto por esses quatro bairros, a

cidade viveu um período de expansão. Em fins do século XIX uma parte da

população do Recife passou a se deslocar do burburinho dos bairros centrais

tornando mais populosos e/ou fazendo surgir os arrabaldes da cidade compostos

pelos bairros da Capunga, Madalena, Torre, Poço da Panela, Casa Forte, Apipucos,

Dois Irmãos e Várzea 82.

Os saberes, as práticas e formas de organizar o ser e o estar no mundo,

construídas dentro do ambiente escolar, ou seja, as culturas escolares, não são

fabricações das escolas, isoladamente. Rotinas, saberes e práticas externas aos

muros das escolas adentram o ambiente escolar e imprimem suas marcas na rotina

intramuros. Acreditamos, tal como Faria Filho 83, não ser possível pensar no

processo de escolarização de saberes ou de conhecimentos sem levar em conta a

inserção das escolas na geografia dos espaços nos quais elas se situam.

As culturas escolares foram construídas em diálogo com as culturas urbanas

nas quais estiveram inseridas e, provavelmente influenciaram-se mutuamente.

Durante o final do século XIX, o Recife já dispunha de uma malha de escolas

espalhadas por seus bairros centrais e arrabaldes, e essas escolas eram parte do

cenário no qual as pessoas da cidade circulavam e viviam suas vidas.

81 ARRAIS, Raimundo. O pântano e o riacho: a formação do espaço público no Recife do século XIX. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2004. p. 113. 82 MILFONT, Magna. Caminhos e pontos de paradas: o transporte fluvial e a ocupação dos arrabaldes do Recife, século XIX. Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, v. 8, n. 2, 2012. 83 FARIA FILHO, Luciano Mendes de. O espaço escolar como objeto da história da educação: algumas reflexões. Revista da Faculdade de Educação. Vol. 24, n. 1, São Paulo: Jan/Jun, 1998.

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No caso do Recife de fins do século XIX, não encontramos notícias, dentre as

escolas anunciadas no Diário de Pernambuco, de prédios construídos

exclusivamente para fins escolares. Naqueles tempos as escolas funcionavam em

quase todos os tipos de edificações urbanas, residenciais ou comerciais. Sobrados,

casas térreas, chácaras, ou quaisquer edificações construídas para abrigar uma

família ou um ponto comercial podiam ser transformados em colégios privados ou

mesmo públicos.

As escolas anunciadas no Diário de Pernambuco se distribuíam pelos bairros

centrais da cidade, Bairro do Recife, Boa Vista, Santo Antônio e São José e no

arrabalde da Madalena, os quais concentravam a maioria da população da cidade, e

funcionavam em palacetes, chácaras, sobrados e casas térreas. A maior parte das

escolas anunciadas funcionava no Bairro da Boa Vista, em segundo lugar no de

Santo Antônio. Depois destes, localizavam-se em São José, no arrabalde da

Madalena e por último, no bairro do Recife.

Mapa 1: Distribuição da escolas nos bairros Centrais do Recife (Boa Vista, Santo

Antônio, São José e Recife)

Fonte: Pernambuco, Repartição de obras públicas. Planta da cidade do Recife e seus arrabaldes, 1875. Fundação Biblioteca Nacional, catálogo de mapas.

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Legenda do Mapa 1: Distribuição das escolas entre os bairros

Bairro Nº de escolas

Cor

Boa Vista 76 S. Antônio 34 São José 06

Recife 01

O bairro da Boa Vista, além de abrigar a maior quantidade de escolas, foi

também bastante citado na bibliografia consultada. Vejamos, a gravura abaixo:

Imagem 1: Rua da Imperatriz, antigo aterro da Boa Vista.

Fonte: SETTE, Mario. Arruar: história pitoresca do Recife Antigo. Recife: 1978, pp. 274-

275.

Esta gravura utilizada por Mario Sette, sozinha, não nos conta do movimento

das ruas, das mulheres e homens indo e vindo em suas labutas diárias, como seria

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pressuposto a um bairro comercial. Assim, deslocada do texto, a imagem parece

remeter a uma cidade fantasma. No entanto, a imagem foi estrategicamente

colocada por Mario Sette, no final de um capítulo no qual, através de anúncios

publicados no jornal “Diário de Pernambuco” por donos de boticas, dentistas,

cabeleireiros modistas (costureiras), lojas de miudezas, livrarias, o autor montou um

panorama do comércio em Recife, no Oitocentos. Como disse Raimundo Arrais84, a

cidade do Recife emergiu do texto Arruar como um organismo sempre em

movimento.

O ir e vir das pessoas, os bondes passando pelos trilhos, o movimento

causado pelos alunos da Faculdade de Direito, situada nesse bairro, o possível

frenesi das atividades humanas no espaço urbano, não foram registrados pelo autor

da gravura. A retidão higienizada da Rua da Imperatriz, a “Praça do Conde d’Eu”,

gradeada e arborizada– ideal para o passeio do casal– e seus arredores podem

ganhar vida quando a imaginação do leitor soma as informações do texto à gravura

que o ilustra. Façamos nós um exercício de imaginação e pensemos em escolas

funcionando nesses prédios, ao longo da década de 1880.

Tanto na Rua da Imperatriz como nas outras situadas no entorno Igreja Matriz

da Boa Vista, Rua Velha, Rua do Hospício, Rua da Glória, Rua do Leão Coroado,

Rua de São Borja, Rua da Aurora, Gevársio Pires, Princesa Isabel, Corredor do

Bispo, Rua da Soledade, Rua dos Coelhos, Rua da União, Travessa do Veras, Rua

do Aragão, funcionaram escolas, conforme mostram o mapa e a legenda a seguir.

84

ARRAIS, Raimundo. Op. Cit, p. 63.

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Mapa 2: Localização das escolas anunciadas na Boa Vista, no Recife.

Fonte: Pernambuco, Repartição de obras públicas. Planta da cidade do Recife e seus

arrabaldes, 1875. Fundação Biblioteca Nacional, catálogo de mapas.

Legenda do Mapa 2: Ruas da Boa Vista, nas quais funcionaram aulas ou colégios.

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O segundo bairro com mais escolas anunciadas foi Santo Antônio, reduto do

comércio de luxo. Em seus sobrados funcionavam os ateliês das melhores modistas

e ourives da capital, as lojas de porcelanas, joalherias, oficinas de fotografia,

tipografias. Livrarias funcionavam nesse bairro e também nele se encontrava a sede

do governo provincial, as repartições públicas e as redações de alguns jornais em

circulação na cidade 85.

Neste bairro, a Rua do Imperador foi a que concentrou o maior número de

escolas: das vinte e três (23) escolas localizadas, oito (8) ocuparam, em algum

momento da década de 1880, um dos prédios da rua. Foi também o reduto preferido

por professores e professoras estrangeiros para fundarem suas escolas.

Imagem 2: Rua do Imperador, no Bairro de Santo Antônio, litogravura de Franz Heinrich

Carls

Fonte: FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e

desenvolvimento do urbano. 15ª Ed. São Paulo: 2004, pp. 320-321.

85 SOUZA, Felipe Azevedo. Op. Cit, 2012. p. 99-100.

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Ao chegar à província de Pernambuco, em meados de 1880, o propagador do

método João de Deus para o ensino de leitura, professor Manoel de Portugal Castro

86, escolheu fixar o Ateneu Luzo Brasileiro na Rua do Imperador, especificamente no

prédio nº 3, situado ao lado do Gabinete Português de Leitura. No entanto, ele não

foi o único professor a utilizar um método de alfabetização de origem portuguesa e a

escolher a Rua do Imperador como local de trabalho. Em janeiro de 1881, a

professora Prescilla S. Mendes Albuquerque anunciou no número 29 da mesma rua

a “sua aula já muito conhecida” 87.

Além das aulas organizadas a partir dos métodos portugueses de ensino, na

mesma rua foi anunciado o funcionamento de um “Colégio de Inglês”, gerido pelo

“Instituto Inglês de Pernambuco”, cuja sede se localizava em uma chácara na

Estrada de João de Barros 88. Neste curso pretendia-se ensinar a ler, escrever e

falar inglês através do método do suíço Pestalozzi 89.

O “Colégio Americano para Meninas” 90 e o “Curso Minerva Internato e

Externato” 91 anunciavam, como seu sistema de ensino, o método americano e

também funcionavam nesta rua.

Na Rua Marquez do Herval funcionou o Colégio Suíço para Educação de

Meninas, no qual “a língua prática” anunciada era a francesa 92. E em 13 de janeiro

de 1885, a abertura das aulas no “City College” foi anunciada no Diário 93. Escolas

também funcionaram nas ruas do Sol, Duque de Caxias, Rua Larga, Rua Estreita do

Rosário, Rua de São Francisco, Rua da Palma e Rua do Cabugá.

86 “Publicações a Pedido”, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 90, terça-feira, 20 de Abril de 1880, p. 2, Caixa/Rolo 128, FUNDAJ, Recife – PE. 87 Método Castilho, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 19, terça-feira, 25 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE. 88 Instituto Inglês de Pernambuco, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 13, terça-feira, 18 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE. 89 Colégio Inglês, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 179, terça-feira, 9 de Agosto de 1881, p. 3, Rolo/Caixa 133. FUNDAJ, Recife – PE. 90 Colégio Americano para Meninas, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 9, terça-feira, 13 de Janeiro de 1880, p. 3, Caixa 127, FUNDAJ, Recife – PE. 91

Curso Minerva, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 300, terça-feira, 30 de

dezembro de 1884, p. 4, Caixa/Rolo 146, FUNDAJ, Recife – PE. 92 Colégio Suíço para Educação de Meninas, Publicações a Pedido. Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 9, terça-feira, 13 de Janeiro de 1880, pg. 3, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE. 93 City College, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 9, terça-feira, 13 de janeiro de 1885, p. 3, Caixa/Rolo 18, FUNDAJ, Recife – PE.

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Mapa 3: Localização das escolas anunciadas em Santo Antônio

Fonte: Pernambuco, Repartição de obras públicas. Planta da cidade do Recife e seus

arrabaldes, 1875. Fundação Biblioteca Nacional, catálogo de mapas.

Legenda Mapa 3: Ruas de Santo Antônio, nas quais funcionaram aulas ou colégios.

O terceiro bairro em quantitativo de escolas anunciadas foi São José. Vizinho

a Santo Antônio, este bairro era tanto mais extenso, quanto mais denso

demograficamente, ocupado por uma população composta, em sua maioria, por

trabalhadores pobres 94. E provavelmente por isso, não tenha considerado um

94 SOUZA, Felipe Azevedo. Op. Cit, 2012, pg. 108.

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espaço promissor para a construção de uma rede de escolas particulares

semelhantes às da Boa Vista ou de Santo Antônio.

Seis escolas funcionaram no bairro de São José durante o período

pesquisado e dessas, apenas duas anunciaram conter o ensino secundário. Uma

delas foi o Instituto 1º de Julho, situado na Rua de Pedro Afonso (Rua da Praia), cujo

diretor teve o cuidado de informar “que se leciona além dos preparatórios exigidos

para as Faculdades do Império, as matérias do Curso Normal e a escrituração

mercantil” 95. E a outra foi o Externato situado na Rua da Penha, nº 23, cujo diretor

dizia ser “o único que existe em tais imediações, lecionam-se as matérias

constitutivas daqueles dois cursos, abrangendo uma aula de inglês...” 96.

As outras cinco (5) instituições localizadas em São José que fizeram publicar

anúncios foram escolas de ensino primário: a Escola Particular da professora Maria

do Carmo Rodrigues 97; o Colégio Duas Irmãs 98; a Escola para Instrução Primária

do professor Valentim Ferreira Bastos 99; o Colégio Zima 100 e o Colégio da

Imaculada Conceição 101, cujo endereço mudou quatro vezes ao longo do período

estudado.

Em Janeiro de 1882 o Colégio da Imaculada Conceição localizava-se no

Bairro da Boa Vista, na Rua Cais do Capibaribe 102, endereço no qual funcionou até

dezembro de 1884. Em janeiro de 1885, sua professora, Maria Coelho, já reabriu as

suas aulas na Rua do Hospício 103. No mês seguinte, a escola foi para a Rua do

95 Instituto 1º de Julho, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 156, terça-feira, 12 de julho de 1887, p. 4, Caixa/Rolo 158, FUNDAJ, Recife – PE. 96 Publicações a Pedido, Externato, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 19, 25 de Janeiro de 1887, p. 2, Caixa/Rolo 156, FUNDAJ, Recife – PE. 97 Escola Particular Rua Vidal de Negreiro n. 196, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 300, terça-feira, 30 de dezembro de 1884, p. 3, Caixa 146, FUNDAJ, Recife – PE. 98

Colégio Duas Irmãs, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, n. 93, terça-feira, 25 de Abril de 1882, p. 4, Caixa/Rolo 136, FUNDAJ, Recife – PE. 99

Aos Srs. pais de família, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 64, n. 13, terça-feira,

17 de Janeiro de 188, p. 4, Caixa 160. 100 Colégio Zima para o sexo feminino, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 25, terça-feira, 1º de fevereiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE. 101 Colégio da Imaculada Conceição para educação de Meninas, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 15, terça-feira, 20 de Janeiro de 1880, p. 127, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE. 102 Colégio da Imaculada Conceição, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 25, terça-feira, 31 de Janeiro de 1882, p. 3, Caixa 135, FUNDAJ, Recife – PE. 103 Colégio da Imaculada Conceição, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 9, terça-feira, 13 de janeiro de 1885, p. 3, Caixa 148, FUNDAJ, Recife – PE.

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Pires 104, endereço no qual também não ficou por muito tempo, pois, em dezembro

do mesmo ano, o endereço da escola foi anunciado na Rua da Aurora 105. Muitas

podem ter sido as razões de tamanha itinerância, entretanto, as mais prováveis

delas, talvez, tenham sido o esforço da professora em conciliar os (altos) preços

pagos pelos aluguéis, com os (pequenos) espaços disponíveis nos imóveis urbanos,

tendo em vista as necessidades de uma atividade aglutinadora de muitas pessoas,

de diferentes idades, durante muitas horas diárias.

Mapa 4: Localização das escolas anunciadas em São José.

Fonte: Pernambuco, Repartição de Obras Públicas. Planta da cidade do Recife e seus

arrabaldes, 1875. Fundação Biblioteca Nacional, catálogo de mapas.

Legenda do Mapa 4: Ruas de Santo Antônio, nas quais funcionaram aulas ou colégios.

O bairro com menor número de escolas anunciadas foi o bairro portuário do

Recife ou de “São Frei Pedro Gonçalves do Recife”, seu nome completo. Entre as

oitenta (80) escolas anunciadas apenas uma, a do professor Pedro Estellita, fixou

104 Colégio da Imaculada Conceição, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 61, n. 32, terça-feira, 10 de fevereiro de 1885, p. 3, Caixa/Rolo 147, FUNDAJ, Recife – PE. 105 Colégio da Imaculada Conceição, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 281, terça-feira, 15 de dezembro de 1885, p. 3, Caixa 151, FUNDAJ, Recife – PE.

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residência no Bairro do Recife 106. Neste bairro se localizava o terceiro porto mais

movimentado do Império do Brasil, as casas de comércio atacadista (nacionais e

estrangeiras), a filial do Banco do Brasil, a Associação do Comércio Agrícola,

Associação Comercial Beneficente, os escritórios das companhias de seguro, Caixa

Econômica e os armazéns de açúcar e algodão 107. Excelente lugar para o mundo

dos negócios “em grosso”, não foi um espaço privilegiado para a fixação de escolas.

Mapa 5: Localização da Rua do Marquês de Olinda, única rua no Bairro do Recife na qual

foi anunciada o funcionamento de uma escola particular

Fonte: Pernambuco, Repartição de Obras Públicas. Planta da cidade do Recife e seus

arrabaldes, 1875. Fundação Biblioteca Nacional, catálogo de mapas.

Legenda do Mapa 5: Rua do Bairro do Recife na qual foi anunciado o funcionamento de

uma escola

Mesmo aos professores públicos de primeiras letras, sobre as quais nada nos

informaram os anúncios, interessava manter aulas nos bairros do centro do Recife,

conforme informou em, tom de crítica o conselheiro José Fernandes da Costa

Ferreira Júnior, então presidente da província, em março de 1886:

106

Externato do Recife, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 13, terça-feira, 18

de Janeiro de 1887, p. 2, Caixa 156, FUNDAJ, Recife – PE. 107 SOUZA, Felipe Azevedo. Op. Cit, 2012. p. 97.

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“(...) na cidade do Recife e seus arrabaldes, onde existe em larga escala a concorrência do ensino privado, estão agrupadas não menos de 110 cadeiras [de primeiras letras], havendo paróquias centrais com 15 e 20, quando outros municípios do sertão, absolutamente desprovidos daquela concorrência, não têm sequer o número correspondente aos seus mais importantes povoados”108.

Além das escolas situadas nos bairros centrais da cidade, também houve

escolas funcionando nos arrabaldes de Recife. Segundo Raimundo Arrais, embora a

segunda metade do século XIX tenha sido uma época de intensa militância de

médicos em prol da higienização da cidade, do melhoramento dos seus ares, em

buscar de expurgar os seus miasmas, esses mesmos homens “cedo ou tarde

afogavam suas esperanças reformadoras no amargor do desencanto” 109 e evadiam-

se para as regiões ao redor dos bairros centrais da cidade, as quais ainda não se

encontravam plenamente urbanizadas, conhecidas como arrabaldes.

Parte da população da cidade, que desejava e podia fugir dos “ares

insalubres” e da agitação política na qual mergulhava a cidade, transbordava para os

seus arrabaldes. Os trechos de terra nos quais se fundaram os engenhos nos

primeiros tempos da colonização foram, ao longo do século XIX, ocupados por

pessoas ciosas de fugir da agitação do Centro, mas sem a intenção de se separar

definitivamente dele.

Mario Sette descreveu da seguinte forma os arrabaldes de Recife:

“Tais regiões suburbanas possuíam então uma habitação regular, embora ainda escassa devido a dificuldade de transportes, e, sobretudo no verão, mereciam a predileção dos moradores do centro urbano, para o passamento da Festa, quando não fosse por uma exigência de melhor clima para a saúde. Ali abundavam as árvores, as frutas, a frescura da noite, o banho de rio, uma porção de requisitos aprazíveis, úteis e atraentes para quem vivia num sobrado ou numa casa imprensada”110.

108

PERNAMBUCO. Falla que o presidente da província conselheiro José Fernandes da Costa

Ferreira Junior dirigiu á Assembléia Legislativa de Pernambuco no dia de sua instalação a 6 de março de 1886. Recife Typ. – Manuel Figueiroa de Faria e Filhos, 1886. Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/704/index.html, último acesso em 20 de fevereiro de 2012. Pg. 23. 109 ARRAIS, Raimundo. Op. Cit, 2004, p. 438. 110 SETTE, Mario, Op. Cit., 1978, p. 104.

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Imagem 3: Arrabalde do Recife, Ponte d’Uchoa.

Fonte: SETTE, Mario. Arruar: história pitoresca do Recife Antigo. 3ª Ed., Recife: Governo do

Estado de Pernambuco, Secretária de Educação, 1978, pp. 108-109.

Na Ponte do Uchoa funcionaram o Internato Pernambucano 111, dirigido pelo

professor Manoel Alves Viana, desde sua fundação em 1879 até 1882, quando foi

transferido para a Rua do Hospício; e o Colégio de Nossa Senhora da Graça,

dedicado à educação feminina, sob a direção de Mademoiselle Anna Carroll 112. Na

Passagem da Madalena, Dona Porcia Constança de Mello recebia, em sua casa,

“meninos de ambos os sexos para educar ensinando todas as matérias próprias dos

colégios” 113; assim como funcionava, na Rua do Paysandu, o Colégio do SS.

Coração de Jesus 114, o Colégio Seis de Abril 115, o Colégio Onze de Agosto 116, o

111 Internato Pernambucano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 2, terça-feira, 4 de Janeiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE. 112 Colégio de Nossa Senhora da Graça, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 9, 13 de Janeiro de 1880, p 2, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE. 113 Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 61, n. 169, terça-feira, 28 de julho de 1885, p. 4, Caixa/Rolo 149, FUNDAJ, Recife – PE. 114 Colégio do SS. Coração de Jesus, Publicações a Pedido. Diário de Pernambuco, ano 61, n. 169, terça-feira, 28 de julho de 1885, p. 4, Caixa/Rolo 149, FUNDAJ, Recife – PE. 115

Colégio Seis de Abril, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 83, terça-feira, 14

de Abril de 1885, p. 3, Caixa 149, FUNDAJ, Recife – PE. 116 Colégio Onze de Agosto, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 241, terça-feira, 19 de outubro de 1880, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE.

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Colégio 1º de Março 117 e o Colégio Americano, do Instituto Inglês Pernambucano,

cuja escola funcionou na Estrada de João de Barros até 1883, quando passou a

funcionar Rua Visconde de Albuquerque 118.

A localização das escolas pelos bairros da cidade, privilegiando aqueles nos

quais residia a chamada “boa sociedade”, é também um testemunho do quanto às

práticas de escolarização locais estiveram a serviço da manutenção e do reforço das

hierarquias existentes entre os súditos livres do Imperador e constituíram-se como

mais uma das marcas das desigualdades existentes e constantemente reiteradas na

sociedade do Recife Imperial 119.

2.1. Os prédios escolares

Quanto aos prédios nos quais as aulas, escolas, institutos e colégios

particulares funcionaram, entre os anúncios publicados no Diário de Pernambuco,

não encontrei, conforme afirmei anteriormente, indicativos de que os mesmos, ou

outros, tivessem sido construídos especificamente para aqueles fins. No entanto,

apesar disso, alguns pré-requisitos tinham que ser “preenchidos” pelos espaços

escolares da província.

No relatório do conselheiro Francisco Maria Sodré Pereira à Assembléia

Legislativa da Província de Pernambuco, ele descreveu como deveria ser uma “casa

própria da escola”: esta deveria ser “bem localizada, situada em condições de ar e

luz, salubridade e higiênicas” 120 e no “Regimento Geral das Escolas Públicas de

Pernambuco” de 1885 também havia um parâmetro socialmente aceito a respeito de

como deveria ser um edifício destinado ao funcionamento de uma escola:

117 Colégio Primeiro de Março, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 60, n. 12, terça-feira, 15 de janeiro de 1884, p. 3, Caixa/Rolo 143, FUNDAJ, Recife – PE. 118 Colégio Americano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 35, terça-feira, 13 de fevereiro de 1883, p. 3, Caixa/Rolo 139, FUNDAJ, Recife – PE. 119 Cf. SILVA, Adriana M. P. Notas para o estudo da instituição da obrigatoriedade da educação primária na província de Pernambuco. In: VIDAL, Diana Gonçalves, SÁ, Elizabeth Figueiredo de, SILVA, Vera Lucia Gaspar da. (Orgs.) Obrigatoriedade escolar no Brasil. Cuiabá, EdUFMT, 2013. p. 210-227. 120

Fala com que o Exm. Sr. conselheiro Francisco Maria Sodré Pereira abriu no 1.o dia de março de

1883 a Assembléia Legislativa Provincial de Pernambuco. Pernambuco, Typ. de Manoel Figueiroa de Faria & Filhos, 1883. Pg. 33.

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“Art. 123º: Em geral, com relação aos edifícios destinados à escola devem reunir-se, quanto seja possível as seguintes condições: soalho de madeira e paredes secas; aberturas suficientes para que a luz penetre bem as salas; ventilação fácil e completa”121.

Os prédios adequados ao funcionamento das escolas, mesmo não sendo

construídos especificamente para esse fim, deveriam atender a alguns pressupostos

bastante genéricos (e relativamente subjetivos, convenhamos) como estes: serem

higienizados, iluminados, bem ventilados (arejados). Os anunciantes, ao

descreverem as dependências daqueles prédios (chácaras, palacetes, sobrados,

casas térreas), não deixaram de associar a eles estas características exigidas em

lei.

Segundo Cambi, o século XIX foi um período no qual a educação passou a

ocupar lugar significativo entre os assuntos capazes de inquietar as sociedades

ocidentais. Para o autor, o século XIX foi “o século da pedagogia”, um momento no

qual a educação passou a ser vista como “a chave” para resolver problemas sociais,

repacificar classes, homologar valores e comportamentos, promover a integração

produtiva, entre outras coisas.

A centralidade atribuída à educação foi um dos fatores responsáveis por ser

neste século o período no qual a pedagogia se consolidou como saber ligado ao

estatuto de cientificidade e prolífico na construção de diversas teorias e métodos de

ensino 122. Aquele foi um período de intensa circulação de ideias e modelos

pedagógicos entre os países ditos “civilizados”, através de Exposições Universais,

por exemplo, realizadas em diversas nações 123 (porque aquele também foi o século

121

Regimento Geral das Escolas Públicas de Pernambuco. PERNAMBUCO. Legislação Provincial

de. Estante 29. Prateleira 03. Número 54. Ano (1885/1887). Ano de 1886. Pp. 52-53. 122

CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999, p. 411 – 414; VALDEMARIN, Vera Teresa. Interfaces de pesquisa sobre manuais didáticos. In: BENCOSTTA, Marcus Levy (org.). Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 1007, pp. 265-300. 123

As exposições eram ocasiões nas quais os mais novos adventos e recursos pedagógicos eram expostos, ocorreram em Londres (1862); Paris (1867); Viena (1873); Filadélfia (1876); o Brasil realizou sua primeira Exposição Pedagógica Universal em 1922 na cidade do Rio de Janeiro, e comemoração ao centenário da Independência do Brasil. In VALDEMARIN, Vera Teresa. O método intuitivo: os sentidos como janelas e porta que se abrem para um mundo interpretado. In: DERMEVAL, Saviani; ALMEIDA, Jane Soares de; SOUZA, Rosa Fátima de; VALDEMARIN, Vera Teresa. O Legado Educacional do Século XIX. Campinas, SP: Autores Associados, 2006, p. 91.

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das “nações” 124); congressos de instrução; relatórios oficiais, livros, artigos em

jornais e revistas de maneira que no fim dos oitocentos na cidade do Recife

circularam vários métodos de ensino diferentes.

Em nosso acervo de anúncios encontramos menção a três métodos de

ensino, conforme anunciamos no capítulo inicial: o método João de Deus, o método

Castilho e o método Intuitivo ou Lição das Coisas. Contudo, acreditamos que muitos

outros poderiam estar em circulação na cidade. Dentre as prescrições destes

métodos, também havia a forma como ambiente escolar deveria ser organizado.

Apesar de divergirem em alguns pontos, entravam em consenso a respeito das

características adequadas a um ambiente escolar.

O método de ensino denominado “Intuitivo” ou “Lição das coisas” foi o mais

referendado pelos anunciantes. O Curso Primário e Preparatório da Rua da

Imperatriz, sob a direção de Manuel C. da Silva Braga 125, o curso Minerva –

Internato e Externato 126, o Instituo 19 de Abril 127 e o Atheneu Brasileiro 128

incluíram, entre os conteúdos a serem ensinados em suas escolas, a “Lição das

Coisas”.

Tal método, em fins dos oitocentos se tornou símbolo de modernidade

pedagógica, difundido Estados Unidos e Europa como forma de solucionar os

problemas da instrução pública, se tornando uma das mais divulgadas formas de

aprender e ensinar do período. Segundo Vera Teresa Valdermarin, o método

intuitivo ou lição das coisas pode ser:

“(...) sintetizado com dois termos – “observar” e “trabalhar” –, segundo os autores, já aceitos por todos. Observar significa progredir da percepção para ideia, do concreto para o abstrato, dos sentidos para a inteligência, dos dados para o julgamento. Trabalhar (...) consiste em fazer do ensino e da educação na

124 Cf. HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990; e HOBSBAWM, Eric J; RANGER, T. (Orgs.) A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 125

Curso Primário e Preparatório, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 36, terça-feira, 14 de Fevereiro de 1882, Caixa 135, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE. 126 Curso Minerva – Internato e Externato, Publicações a Pedido. Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 300, terça-feira, 30 de dezembro de 1884, p. 4, Caixa/Rolo 146, FUNDAJ, Recife – PE. 127 Instituto 19 de Abril, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 281, terça-feira, 7 de Dezembro de 1886, p. 3, Caixa 155, FUNDAJ, Recife – PE. 128

Atheneu Brasileiro, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 95, terça-feira, 28 de

Abril de 1885, p. 3, Caixa 149, FUNDAJ, Recife – PE.

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infância uma oportunidade para a realização de atividades concretas, similar àquelas da vida adulta.”129.

De acordo com os pressupostos do método intuitivo, a ambiência escolar

deveria ser “clara e arejada”, com salas de aula equipadas com caixas de cores e de

formas geométricas, gravuras, coleções de variados objetos de madeira, aros, linha,

papeis, através dos quais, com exercícios práticos, os alunos pudessem desenvolver

a compreensão do mundo 130.

O diretor do “Instituto de Nossa Senhora do Carmo”, dedicado a instrução

primária e secundária de meninos, no qual se aceitava alunos internos, externos e

meio-pensionistas localizava-se, entre 1873 e 1888, no palacete de nº 72 da Rua do

Imperador. Apesar de não anunciar nenhum método de ensino em especial, em

janeiro de 1880, informou: “O prédio oferece todas as acomodações aos alunos. Os

salões das aulas e de estudo são muito arejados, assim como os dormitórios e

refeitórios” 131.

O Instituto de Nossa Senhora do Carmo foi o único colégio a se anunciar

funcionando em um palacete. A edificação mais comum entre as escolas anunciadas

foi o tipo “sobrado”, uma construção que, segundo Gilberto Freyre, se impôs na

paisagem urbana de Recife, como locus de moradia das novas classes abastadas e

não mais daquelas das “Casas Grandes”. Segundo ele, “(...) o sobrado alto, quase

sem quintal (...), fechado dentro de si mesmo, às vezes com a frente, outras com o

‘traseiro’– como se diz em documento do século XVII– voltado para o rio” 132, foi o

tipo de habitação utilizada pelos recifenses mais ricos, os comissários do açúcar e

os comerciantes.

Durante o século XIX esse tipo de construção floresceu tendo de três, quatro

ou até seis andares, dentre os quais poderiam se distribuir armazém e senzala

(térreo), escritório comercial do proprietário (segundo andar), quartos de dormir,

129

VALDEMARIN, Vera Teresa. O método intuitivo: os sentidos como janelas e portas que se abrem para um mundo interpretado. In: DERMEVAL, Saviani; ALMEIDA, Jane Soares de; SOUZA, Rosa Fátima de; VALDEMARIN, Vera Teresa. O Legado Educacional do Século XIX. Campinas, SP: Autores Associados, 2006, p. 92. 130 Idem, p. 98. 131 Instituto de Nossa Senhora do Carmo, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 15, terça-feira, 20 de Janeiro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 127. 132 FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. 15ª Ed. São Paulo: Global, 2004, pp. 272.

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salas de visita e de jantar (terceiro e quarto andar) e a cozinha (no ultimo andar). De

acordo com os anúncios feitos pelos professores/diretores as escolas poderiam

ocupar todo um prédio, ou apenas um ou dois dos andares deles.

Os sobrados construídos um ao lado do outro, sem recuo lateral, retos,

alinhados com as ruas, aos fundos dos quais, nos quintais, poderiam ser construídos

jardins ou pomares, tornaram-se construções comuns nos bairros centrais do Recife

(Bairro do Recife, Santo Antônio, Boa Vista, São José) e em suas dependências

funcionou parte das escolas anunciadas no Diário de Pernambuco.

A escola particular da professora Maria Hermita Pedrosa 133 funcionava, em

janeiro de 1885, no segundo andar do sobrado de nº 27, da Rua Direita. A escola da

professora Maria da Conceição de Drummond 134, no segundo andar do sobrado nº.

44 da Boa Vista. E o Colégio de Nossa Senhora da Penha 135, da professora

Augusta Carneiro, até dezembro de 1885, dividiu suas atividades entre os segundos

andares dos prédios de números 7 e 9 da Rua do Cabugá. Em dezembro de 1885,

dando fim a uma suspeitável agonia (a de dividir-se entre dois andares, de dois

prédios diferentes e não apenas entre dois andares de um mesmo prédio), ela

transferiu sua escola para o prédio nº 26 da Rua do Barão de São Borja e, segundo

ela, aquele novo endereço oferecia “ótimas condições para estabelecimentos desta

ordem” 136.

133 Escola Particular Mista, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 9, terça-feira, 13 de janeiro de 1885, p. 3, Caixa 148, FUNDAJ, Recife – PE. 134 Escola Particular, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 61, n. 44, terça-feira, 24 de fevereiro de 1885, p. 3, Caixa 147, FUNDAJ, Recife – PE. 135 Colégio de Nossa Senhora da Penha, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 57, n. 295, terça-feira, 27 de dezembro de 1881, p. 4, Caixa/Rolo 134, FUNDAJ, Recife – PE. 136 Colégio de Nossa Senhora da Penha, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 297, terça-feira, 29 de dezembro de 1885, p. 3, Caixa/Rolo 151, FUNDAJ, Recife – PE.

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Imagem 4: Interior de sobrado patriarcal urbano do meado do século XIX. Desenho de Lula

Cardoso Ayres, baseado em notas de Gilberto Freyre, nesses prédios urbanos funcionaram além de armazéns e casas familiares e algumas escolas.

Fonte: FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e

desenvolvimento do urbano. 15ª Ed. São Paulo: Global, 2004 p. 320-321.

E a despeito de Gilberto Freyre ter descrito o interior dos sobrados como

ambientes impregnados “de um cheiro composto de sexo, de urina, de pé, de

sovaco, de barata, de mofo” 137, ao falarem sobre as dependências de suas escolas,

os (as) anunciantes as caracterizaram como “cômodas”, “arejadas” e “higiênicas”.

Demerval Saviani, em “História das ideias pedagógicas no Brasil”, frisou o

higienismo como um dos elementos centrais do ideário pedagógico brasileiro

gestado nos dias do Segundo Império, um ideário retificado pelo avanço da medicina

como campo disciplinar autônomo 138.

No anúncio do colégio masculino Sete de Setembro, fundado pelo bacharel

Manuel Barbosa de Araújo, em abril de 1880 139, ao comunicar a mudança do

137 FREYRE, Gilberto. Op. Cit, 2004, p. 324. 138

SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores

Associados, 2008, Pp. 136-137. 139 Colégio Sete de Setembro, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 78, terça-feira, 6 de abril de 1880, p. 4, Caixa/Rolo 128, FUNDAJ, Recife – PE.

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colégio da Rua Velha para a de São Borja, este bacharel e diretor de escola, a

descreveu da seguinte forma: “o edifício oferece todas as acomodações e condições

higiênicas que se requerem para uma casa de educação” 140.

O colégio masculino “Onze de Agosto”, dirigido pelo Bacharel Manoel

Sebastião de Araujo Pedrosa, anunciou em Janeiro de 1886, a respeito do prédio no

qual funcionava, o qual contava com “(...) vastas acomodações” e após [futuros]

“melhoramentos” adquirirá “boa disciplina e condições higiênicas de

estabelecimento, com uma boa casa de banho, dormitórios grandes e bem arejados,

uma excelente rouparia etc.” 141. Podemos imaginar que, embora fosse anunciante,

até aquela altura ainda apresentava um projeto de estabelecimento, ou seja, suas

acomodações poderiam não ser lá grandes coisas.

Além dos sobrados, as chácaras– descritas por Freyre como edifícios de

quatro águas, como as casas de engenho, protegidos por terraços acachapados,

cercados por árvores frutíferas como goiabeiras, araçazeiros, cajueiros, laranjeiras,

coqueiros ou mesmo mangueiras, jaqueiras, etc.142– também foram espaços

considerados adequados ao funcionamento de escolas.

José Ferreira da Cruz, diretor do Colégio Instituto Acadêmico, descreveu da

seguinte forma as dependências da instituição de ensino primário e secundário da

qual era diretor:

“Este colégio, estabelecido em um dos mais vastos edifícios desta cidade, acha-se convenientemente preparado para receber alunos internos, semi-internos e externos. A situação do edifício em um dos lugares mais higiênicos, a disposição dos salões de estudo e dormitório de acordo com a boa disciplina, a excelente chácara, para recreios...” (grifos meus) 143.

O professor Manoel Alves Viana, em vez da discrição por escrito, optou por

uma curiosa estratégia propagandística para seu colégio, o “Internato

140 Colégio Sete de Setembro, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 298, terá-feira, 28 de Dezembro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 130, FUNDAJ, Recife – PE. 141 Colégio Onze de Agosto, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 8, terça-feira, 12 de Janeiro de 1886, p. 5, Caixa/Rolo 152, FUNDAJ, Recife – PE. 142 FREYRE, Gilberto, Op. Cit, 2004, p. 308. 143 Colégio Instituto Acadêmico, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 9, terça-feira, 13 de janeiro de 1885, p. 3, Caixa 148, FUNDAJ, Recife – PE.

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Pernambucano”, no ano de 1881, quando este ainda funcionava em uma chácara na

ponte do Uchôa 144. Junto ao anúncio ele fez publicar a imagem a seguir.

Imagem 5: Internato Pernambucano, em Ponte do Uchoa, nº 21, fundado em 1879 pelo

professor Manoel Alves Viana.

Fonte: Internato Pernambucano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 57, n.

36, terça-feira, 15 de fevereiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

No palacete em evidência– com várias árvores, a horta, as crianças

supervisionadas pelos professores em um momento de recreio– nem mesmo “o

carneirinho mocho com um laço de fita amarrado ao pescoço” 145– bem tratado e

limpo para os meninos passearem no meio da tarde, citado por Gilberto Freyre na

descrição que fez das chácaras do século XIX. Talvez, a intenção do professor Alves

Viana, ao construiu a propaganda da sua escola, tenha sido demonstrar o quanto

seu Instituto correspondia aos pressupostos pedagógicos modernos os quais

percebiam a infância como faze criativa, caracterizada pela “vontade de mergulhar

no mundo da natureza, de conhecê-lo, participando da sua atividade” 146.

144 Em janeiro de 1882, o Internato Pernambucano foi transferido para a Rua do Hospício, In: Transferência de Colégio, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 58, n. 2, terça-feira, 3 de janeiro de 1882, p. 2, Caixa/Rolo 135, FUNDAJ, Recife – PE. 145 FREYRE, Gilberto. Op. Cit, 2004, pg. 345. 146 CAMBI, Franco, Op. Cit, 1999, p. 226;

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Segundo Franco Cambi 147 o século XIX foi “o século da pedagogia”, um

momento rico em construção de teorias capazes de ditar normas de como deveriam

ser, entre outras coisas, os espaços escolares. Durante o século XIX, no bojo do

pensamento de pensadores como o pedagogo Fröbel, emergia a deias de que o

ambiente escolar deveria ser um espaço próprio para o aprendizado através de

atividades lúdicas, jogos, artes, trabalhos através dos quais a “intuição das coisas”

fosse colocada em prática.

Além do Internato Pernambucano, em Ponte do Uchoa ainda funcionou o

Colégio de Nossa Senhora da Graça, para meninas, dirigido por Miss Anna Carroll,

também localizado, segundo a diretora, em uma “confortável chácara” 148. Na

Estrada do João de Barros, em outra chácara, funcionou o Colégio Americano do

Instituto Inglês de Pernambuco, cujas dependências foram descritas da seguinte

forma:

“A casa do instituto reúne as condições higiênicas necessárias; está em perfeito estado de asseio, é bastante arejada, sobretudo na parte destinada para os dormitórios e dispõe de um vasto sítio com espaço suficiente para exercícios e recreio dos educandos...” 149.

Nem sempre e nem todos os professores e diretores de escola, ao

anunciarem suas aulas, descreviam algum aspecto dos prédios nos quais elas

funcionavam, mas quando o faziam adjetivavam as dependências de suas escolas

como locais asseados, higienizados, arejados, iluminados em sintonia com os

pressupostos da então modernidade pedagógica.

Como já apontamos, além do método intuitivo figurou entre os anúncios a

escola a aula da professora Prescilla S. Mendes de Albuquerque cujas diretrizes

eram regidas pelos pressupostos do “Método Castilho”, segundo consta no anúncio

por ela publicado em 25 de janeiro de 1881:

147 CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999, p. 414. 148 Colégio de Nossa Senhora das Graças, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 14, terça-feira, 19 de Janeiro de 1886, p. 4, Caixa/Rolo 152, FUNDAJ, Recife – PE. 149 Instituto Inglês Pernambucano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 13, terça-feira, 18 de janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

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“Método Castilho A abaixo assinada faz ciente ao respeitável público e particularmente, aos pais de suas alunas, que no dia 3 de fevereiro, funcionará sua aula já muito conhecida a Rua do Imperador, nº 29, onde continua a receber pensionistas, meio-pensionistas e externas” (grifo meu) 150.

Não sabemos a partir de quando a professora Prescilla começou a lecionar

segundo esse método ou por quanto tempo, exatamente, ela e qualquer outro

professor ou professora lecionou na cidade devido a falta de registros oficiais.

Sabemos somente que seu nome não tornou a aparecer na seção “Publicações a

pedidos” feitas nas terças-feiras subsequentes a 25 de janeiro de 1881. Apesar de

não anunciar nas terças-feiras no Diário, seu nome pode ser encontrado associado

ao “Colégio pelo Método Castilho” entre os “Colégios de Educação de Meninas”

contidos na seção “Profissões, indústrias, artes e ofícios” em todos os “Almanak

Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco”

publicados entre os anos de 1881 e 1885 151. Seu nome também consta entre os

nomes das professoras convocadas pela Inspetoria de Instrução Publica através de

Edital em 1886. Logo, podemos supor que sua aula continuou a funcionar sob esse

método, no mínimo, até 1885.

O método Castilho, anunciado pela professora Prescilla, foi desenvolvido por

Antônio Feliciano de Castilho, poeta português, bacharel em Direito da Universidade

de Coimbra, na cartilha do “Método Castilho para o ensino do ler e escrever”, pela

primeira vez publicada em 1850. Segundo Josefina Boto 152, Castilho foi um dos

responsáveis por colocar em evidência discussões a respeito dos métodos e

técnicas adequados ao ensino da leitura, a escrita e do cálculo em Portugal, o que

não o livrou de ver seu método ser taxado de “pueril, dispendioso, trabalhoso e não

factível” 153.

150 Método Castilho, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 19, terça-feira, 25 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE. 151 ALMANACK Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o anno de 1881; 1882; 1883; 1884; 1884; 1885. Recife, Tipographia Mercantil, 1881; 1882, 1883; 1884; 1884; 1885, APEJE, Biblioteca. 152 BOTO, Carlota Josefina Malta Cardoso dos Reis. Ler, escrever, contar e se comportar: a escola primária como rito do século XIX português (1820-1910), volume 1. (Tese), Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, 1997, pp. 82-95. 153 Idem, p. 97.

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Já em 1854, no livro Felicidade pela Instrução, Castilho descreveu o ambiente

escolar ideal para aplicação de seu método de forma muito semelhante ao que se

esperava no método intuitivo ou “lição das coisas”:

“Cada escola deveria ser, quando possível, espaçosa, clara, arejada, mobilhada e abastecida de todo o necessário... e um terreiro ou pátio com suas sombras verdes para espairecimento dos alunos, e, nos dias formosos, até para ali se darem lições” 154.

Tornava-se consenso que o ambiente ideal para as atividades pedagógicas

deveriam ser amplos, asseados, arejados, iluminados tendo em vista assegurar o

aprendizado e o bom desenvolvimento físico das crianças. No entanto, na prática,

talvez, a depender da clientela para a qual a escola era dirigida, o espaço não

constituísse uma prerrogativa fundamental para o funcionamento da escola.

Funcionando em prédios reciclados para uso escolar, coexistiram [e

continuam coexistindo] diversos tipos de escolas, com diversos tipos de instalações.

Houve escolas como o Internato Pernambucano, em Ponte de Uchôa, cuja clientela

era, conforme a fala do diretor, “os senhores fazendeiros” 155, e todos os custos da

educação dos meninos em um ano poderiam equivaler ou superar o preço de um

escravo padrão.

O Instituto de Nossa Senhora do Carmo, em funcionamento em um palacete,

em Santo Antônio, em 1887, fez publicar a sua tabela de preços de mensalidades

156. Segundo a tabela, um ano de estudo de um aluno pensionista custava exatos

480$000 (quatrocentos e oitenta mil reis). Se, ao currículo básico da escola, os pais

ou responsáveis somassem as aulas de dança, música e desenho– as quais

custavam 5$000 (cinco mil reis) cada–, o preço de um ano de instrução primária ou

secundária não custaria menos que 660$000 (seiscentos e sessenta mil reis).

154

CASTILHO, António Feliciano de. Felicidade pela instrução. Lisboa: Typ. da Academia R. das Ciências, 1854. Apud: BOTO, Carlota Josefina Malta Cardoso dos Reis. Ler, escrever, contar e se comportar: a escola primária como rito do século XIX português (1820-1910), volume 1. (Tese), Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, 1997, Pp. 97. 155 Transferência de Colégio, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 36, terça-feira, 14 de Fevereiro de 1882, Caixa 135, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE. 156

Instituto de Nossa Senhora do Carmo, Instrução Primária, Secundária e Recreativa, Publicações a

Pedido, Diário de Pernambuco, ano 63, n. 2, terça-feira, 4 de Janeiro de 1887, p. 3, Caixa/Rolo 156, FUNDAJ, Recife – PE.

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Em 1887, o preço de um escravo padrão entre 15 e 40 custava em média

303$000 (trezentos e três mil reis) 157. Portanto, podemos supor que a instrução

oferecida no Instituto de Nossa Senhora do Carmo destinava-se a um público

bastante seleto, de pessoas capazes de desembolsar a vultosa soma referente ao

preço de dois escravos.

Muito diferente desse público era aquele atendido pelo Colégio de Santa

Luzia para o sexo feminino, na Rua do Marquez do Herval, cuja anunciante anônima

recebia alunas pensionistas e externas, “por preços e convenções módicos” 158.

Segundo Silva 159, na primeira metade do século XIX, na Corte do Império,

segundo o Diretor as Escolas de Primeiras Letras da Corte, Joaquim José da

Silveira, as escolas se dividiam em três classes. As de primeira classe, bem

frequentadas, bem localizadas, bem asseadas; as de segunda, com número menor

de alunos e com menos comodidade física dos prédios nos quais funcionavam; e as

de terceira classe, que pouco ou, em sua perspectiva, nada tinham a oferecer as

crianças. Acredito que situação semelhante possa ter sido experimentada em Recife

em fins dos Oitocentos.

Escolas de grande, médio e pequeno porte funcionaram na cidade, em

diferentes tipos de prédios, de casas térreas, passando por sobrados

constantemente submetidos a reformas para melhor se adaptarem ao público, até

palacetes destinados a quem pudesse bem pagar.

157 VERSIANI, Flávio Rabelo; VERGOLINO, José Raimundo Oliveira. Preços de escravos em Pernambuco no século XIX. Brasilia: Universidade de Brasília, Departamento de Economia, 2002, p. 13 158

Colégio de Santa Luzia para o sexo feminino, Rua do Marquez do Herval N. 33, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 24, terça-feira, 30 de Janeiro de 1883, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE. 159 SILVA, A.M.P. Op. Cit, 2007, p 216.

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CAPITULO 3: DIFERENTES ESCOLAS, DIFERENTES MÉTODOS DE ENSINO

Desde a primeira metade do século XIX 160 já estava consensuado entre os

intelectuais do Império do Brasil que o conteúdo mínimo esperado da instrução

primária deveria ser o tripé “ler-escrever-contar”. No entanto, a forma como os

docentes deveriam ensinar aos seus educandos esses conteúdos básicos, até a

década de 1880, não foi um consenso e parece ainda não ser até os dias de hoje.

Em janeiro de 1880, a professora Maria Cândida Bandeira de Magalhães fez

anunciar nas “Publicações a Pedidos” do Diário de Pernambuco, o “Colégio

Americano para Educação de Meninas”. Entre as informações referentes ao

endereço da instituição, as disciplinas ensinadas, os nomes dos “dignos e ilustrados”

professores, dona Maria Cândida informou também sobre o método de ensino

adotado em sua instituição:

“O novo sistema de ensino adotado, (o americano) e, sobre tudo a longa prática que tem as diretoras de magistério sempre nesta capital, é a mais firme garantia de darem uma educação sólida e completa às suas alunas.” 161.

Além da professora Cândida, o professor José Calansas de Assis, cujo

colégio também funcionava na Rua do Imperador anunciou, em 1884, empregar

“todos os esforços para adotar, em seu curso, o método americano, quer no ensino

preparatório, quer no ensino primário” 162.

Em abril de 1880, o professor português Manoel Portugal e Castro,

“propagador do método João de Deus”, fez anunciar ao público sua disposição de

“ensinar a ler e a escrever em 90 lições de hora, no máximo, a qualquer pessoa

maior de 5 anos, e que seja completamente analfabeta” 163, no Ateneu Luso

Brasileiro, vizinho ao Gabinete Português de Leitura, na Rua do Imperador.

160 SILVA, Adriana M. P. da. Op. Cit., 2007, p. 241. 161 Colégio Americano Para Meninas, 49 – Rua do Imperador – 49, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 9, terça-feira, 13 de janeiro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE. 162 Curso Minerva, Internato e Externato, Rua do Imperador n. 52, 1º andar, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 300, terça-feira, 30 de dezembro de 1884, p. 4, Caixa/Rolo 146, FUNDAJ, Recife – PE. 163

Ao público, Publicações a Pedidos, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 90, terça-feira, 20 de Abril

de 1880, p. 2, Caixa 128, FUNDAJ, Recife - PE.

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No sobrado de número 29 da mesma rua, dona Prescilla S. Mendes

Albuquerque, diretora do “Colégio pelo Método Castilho” 164, em janeiro de 1881,

fazia “ciente ao respeitável público e particularmente aos pais de suas alunas que,

no dia 3 de fevereiro”, voltaria a funcionar “a sua aula já muito conhecida” 165.

Os noventa e nove (99) estabelecimentos de ensino anunciados na coluna

“Publicações a Pedidos” do Diário de Pernambuco, nas terças-feiras, entre 1880 e

1888, distribuíam-se por quarenta e seis (46) diferentes ruas da cidade. Em uma

mesma rua, a Rua do Imperador, localizada no bairro de Santo Antônio observamos

a existência anunciada de três diferentes métodos de ensino, o Americano, o de

João de Deus e o de Castilho.

A centralidade atribuída à educação fez dos Oitocentos um período no qual

diversos métodos de ensino foram criados e debatidos, sob a crença na escola

como “chave mestra” do “progresso” social e fator essencial para a modernização

das sociedades ditas “civilizadas” 166. Além dos métodos anunciados, na Rua do

Imperador, podem ter existido e coexistido outros métodos cujos registros foram

perdidos com o tempo.

O professor William T. Robinson, diretor do Instituto Inglês Pernambucano,

cujo “Colégio Americano” funcionava, em 1882, na Estrada de João de Barros,

anunciou utilizar em sua escola: “O método de ensino americano” contando,

inclusive, “com professores e professoras do mesmo país” 167.

Em outras escolas a “intuição” ou/e “lição das coisas” não apareceu como

método, e sim, como parte componente do currículo. O professor Manoel C. da Silva

Braga anunciou, em fevereiro de 1882, o “Programa das aulas do curso Primário e

Preparatório” de sua escola e, entre as dez aulas componentes do “Curso Primário”,

a sexta era “história natural e lições sobre as coisas” 168. Tal como o professor José

164 ALMANACK Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o anno de 1881. Recife, Tipographia Mercantil, 1881, p. 187, APEJE, Biblioteca, Recife – PE. 165

Método Castilho, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 19, terça-feira, 25 de

Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife - PE. 166 CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999, p. 414. 167 Colégio Americano, Instituto Inglês de Pernambuco, 24, Estrada de João de Barros, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 68, n. 136, sexta-feira, 16 de junho de 1882, p. 4, Caixa/Rolo 136, FUNDAJ, Recife – PE. 168Curso Primário e Preparatório, Rua da Imperatriz n. 15, Programa das aulas do curso primário e preparatório no ano letivo de 1882, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 36, terça-feira, 14 de Fevereiro de 1882, Caixa/Rolo 135, p. 3., FUNDAJ, Recife – PE.

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Marques Acauã Ribeiro, diretor do Ateneu Brasileiro que incluiu, entre os conteúdos

da segunda série do curso primário, a chamada “lição das coisas” 169. O bacharel

José Bandeira de Mello e o professor José Ferreira da Cruz Vieira, diretores do

Colégio Dois de Dezembro 170, incluíram em seu currículo os “exercícios de intuição”.

Segundo Franco Cambi, as bases do método intuitivo, podem ser atribuídas a

Pestalozzi e Frobel. Este método foi amplamente difundido na Europa e Estados

Unidos, impulsionou a elaboração de vários manuais, entre os quais destaca-se, no

Brasil, o de Norman Calkin, publicado em português em 1886, com a tradução de

Rui Barbosa. Ou seja, o estadista, o conselheiro, envolveu-se pessoalmente na

seleção e na difusão de um método para o ler, escrever e contar.

Esses manuais, cartilhas, estabeleciam em seu texto padrões de atuação

docente. Por seu intermédio os autores procuravam transformar princípios teóricos a

respeito do conhecimento em princípios práticos, possíveis de serem utilizados nas

salas de aula. Nelas, teorias eram transformadas em prescrições de práticas

destinadas aos professores como um potencial guia das atividades a serem

realizadas no dia-a-dia.

As prescrições contidas nas cartilhas não podem ser lidas como sinônimos de

práticas vividas nas salas de aulas– porque mesmo os seus propagadores

anunciantes poderiam ou não utilizar todas as suas prescrições– mas continham

modelos de docência, conteúdos, formas de fazer que colaboraram para a

construção da escola como pensamos hoje.

Para investigar os métodos de ensino anunciados pelos professores na

cidade do Recife, somamos aos anúncios publicados no Diário de Pernambuco; as

cartilhas de alfabetização: “Cartilha Maternal ou Arte da Leitura” 171, escrita pelo

advogado, político e poeta João de Deus; “Método Castilho para o ensino rápido e

169

Ateneu Brasileiro, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 95, terça-feira, 28 de Abril de 1885, p. 3, Caixa 149. FUNDAJ, Recife – PE. 170 Colégio Dois de Dezembro, Rua do Hospício, n. 53, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 13, terça-feira, 18 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo: 135, FUNDAJ, Recife – PE. 171

DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu

amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

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aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever” 172, do professor

Antônio Feliciano de Castilho; e do único manual do “Método Intuitivo” ou “Lição das

Coisas” o “Primeiras Lições das Coisas: manual de ensino elementar para uso dos

pais ou professores” 173, escrito por A. N. Calkins; e a produção acadêmica a

respeito do tema, desenvolvida na última década.

Além dos métodos de alfabetização já citados, encontramos menção ao

método Ollendorff para ensino de línguas estrangeiras. O professor de “Instrução

Secundária”, Alípio Zacarias de Carvalho 174, anunciou o método Ollendorff como

diretriz para o ensino do inglês e do francês. Segundo Katharine Dunham Maciel 175,

era um método baseado na memorização de regras, depois de uma lista de

palavras, a culminar com a tradução e construção de sentenças, não

necessariamente dentro de qualquer contexto.

O professor Pedro Estellita C. Lins, diretor do Externato do Recife (que

posteriormente, passou a se chamar Colégio Estellita 176), das escolas anunciadas

está foi a única cujo endereço era no bairro do Recife, acrescentou, em janeiro de

1887, a estenografia ao conjunto de suas “respectivas aulas” 177.

A estenografia ou taquigrafia foi um método de escrita baseado em símbolos

desenvolvido em fins do século XIX com o objetivo de tornar a escrita mais rápida e

substituir a escrita alfabética, adequada para o registro de reuniões, da prática

forense e outros fins técnicos, mas não, literários. Amplamente divulgada na França

pelo periódico Journal des Instituteurs, entre os anos de 1891 e 1894, a propaganda

172

CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler

impresso, manuscrito, e numeração e do escrever – 2ª ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. Lisboa: Impr. Nacional, 1853. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012. 173

CALKINS, N.A. Primeiras lições de cousas: manual de ensino elementar para uso dos pais e

professores. Tradução de Rui Barbosa. Obras Completas, Vol. XIII, Tomo I, Rio de Janeiro, 1950. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20das%20Coisas. Ultimo acesso: 30 de Agosto de 2012. 174

Instrução Secundária, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 160, terça-feira,

28 de julho de 1885, p. 4, Caixa/Rolo 150, FUNDAJ, Recife – PE. 175

MACIEL, Katharine Dunham. Métodos e abordagens de ensino de Língua Estrangeira e seus princípios teóricos. Boletim Inter-cultural, v. 34, 2004. 176 Colégio Estellita, Rua Marquez de Olinda, n. 53, Publicações a Pedidos, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 296, terça-feira, 27 de Dezembro de 1887, p. 3, Caixa 159., FUNDAJ, Recife – PE. 177

Externato do Recife, Curso primário e secundário, DIURNO E NOTURNO, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 13, terça-feira, 18 de Janeiro de 1887, p. 2, Caixa/Rolo 156, FUNDAJ, Recife – PE.

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das possibilidades e facilidades de seu ensino na escola primária mobilizou

educadores, inspetores e diretores de escolas na França. Entretanto, apesar de ter

sido defendida de forma constante em períodos pedagógicos, a escrita taquigráfica

foi uma proposta para o ensino da escrita que fracassou na escola francesa, por não

ser acolhida pelos professores.

Segundo Diana Vidal 178, a proposta nunca chegou a circular em periódicos

educacionais no Brasil, não sendo absorvida em momento algum pela escola

pública. No entanto, tal ausência não impediu o professor Pedro Estellita de incluir

em seu currículo o ensino da estenografia ou ao professor Sebastião Mestrinho ter

feito publicar nos “Avisos Diversos” em janeiro de 1888 uma tabela com o alfabeto

taquigráfico, um conjunto de palavras comuns escritas nessa linguagem taquigráfica

e um questionário respondendo questões básicas sobre a “Arte Taquigráfica

ensinada no Brasil Pelo Professor Sebastião Mestrinho” 179.

178 VIDAL, Diana Gonçalves. Culturas Escolares: estudo sobre práticas de leitura e escrita na escola pública primária (Brasil e França, final do século XIX). Campinas, SP: Editores Associados, 2005, p. 128. 179 TACHIGRAPHIA do professor Sebastião Mestrinho, Avisos Diversos, Diário de Pernambuco, Ano 64, n. 6, domingo, 8 de janeiro de 1888, p. 7, FUNDAJ, Recife – PE.

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Imagem 6: Taquigrafia do Professor Sebastião Mestrinho

Fonte: TACHIGRAPHIA do professor Sebastião Mestrinho, Avisos Diversos, Diário de

Pernambuco, Ano 64, n. 6, domingo, 8 de janeiro de 1888, p. 7, FUNDAJ, Recife – PE.

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Outro método divulgado nas páginas do jornal, de forma desvinculada da

“Instrução Pública”, foi o “Método simultâneo de leitura e escrita de Branco

Rodrigues”. Em 1880, foi publicado na seção “Literatura” um texto expositivo sobre o

método, louvando as vantagens de se ensinar a ler e escrever ao mesmo tempo 180.

Não nos detivemos na análise desse método, pois o único acervo público no qual

encontramos disponível esta cartilha foi o da Biblioteca Municipal de Mafra 181 e até

o presente momento não encontramos nenhum trabalho a respeito do uso dessa

cartilha como material didático.

As experiências humanas são mais complexas do que nossa capacidade de

sistematizá-las 182. Nas escolas, vários projetos políticos de diferentes seguimentos

da sociedade, variados modelos de professor, aula e práticas educativas disputaram

[e disputam] espaço, muito além do que foi [e é] possível descrever em um anúncio

ou em vários deles. Nas publicações realizadas pelos professores e diretores de

institutos e colégios do Recife, feitos no Diário de Pernambuco identificamos,

apenas, alguns rastros da diversidade das formas possíveis de ensinar o ler e

escrever (e ser) nas escolas de então.

Além desses métodos a respeito dos quais encontramos menções dentro do

nosso recorte cruzando ao cruzar nossos dados com as adquiridos através da

pesquisa realizada pelo grupo “O trabalho docente em Recife-Olinda, 1851-1890”,

cujo objetivo é orientar a investigação e a análise historiográfica dos registros

referentes às práticas docentes vivenciadas no eixo Recife-Olinda, durante a

segunda metade do século XIX, encontramos em Janeiro de 1872 uma publicação

feita a respeito do Método Zaba, específico para o ensino de história 183.

Segundo o anunciante, o método já na década de 1870 era divulgado e aceito

nas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. De fato nos Relatórios dos

Presidentes da Província da Bahia existem referencias a divulgação e adoção desse

método, em 1871 o desembargador João José de Almeida Couto, fala desse método

180 Método simultâneo de leitura e escrita por Branco Rodrigues, Literatura, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 57, quarta-feira, 10 de março de 1880, p. 8, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE. 181 http://www.cm-mafra.pt/biblioteca/bibliopac/bin/wxis.exe/bibliopac/. Ultimo acesso 10 de dezembro de 1012. 182

SILVA, Adriana M. P. Op. Cit, 2005. p. 223. 183

O método Zab e o Sr. Dr. Collaço, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Terça-feira, 30

de janeiro de 1872, LAPEH – Laboratório de Pesquisa e Ensino de História, Recife – PE.

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mnemônico e da atuação do Conde Zaba em uma conferência no Liceu e na

Câmara Municipal de Salvador e um dos alunos da Escola Normal passou a aplicar

o método na Escola Normal 184 Segundo o divulgador do método:

“Em Pernambuco a população geralmente, o corpo do comércio nacional e estrangeiro, como alemães e ingleses, pessoas assaz instruídas acolheram com muita benevolência o método Zaba e na classe das letras pronunciaram-se em favor do método Zaba os Srs. Drs. Conselheiro Pedro Autran Moraes Sarmento, Manoel Portella, Aprígio Guimarães, Pinto Junior, Corrêa d’Araujo, Franco” 185.

Na documentação por nós consultada e referente ao período entre 1880 a

1888, não foram encontradas referências ao método Zaba, mas isso não significa

que professores em contato com esse método, naquele momento, não o tenham

somado às suas aulas e rotinas pedagógicas.

Como já pontuamos anteriormente, a história dos caminhos da educação na

Província de Pernambuco não foi um tema privilegiado pelos pesquisadores nas

últimas décadas. E, por enquanto, não identificamos nenhum trabalho acadêmico

abordando os métodos de ensino potencialmente utilizados nas escolas públicas ou

particulares na segunda metade do século XIX, com o qual pudéssemos dialogar.

Aliás, a respeito do campo de pesquisa em história da alfabetização, a

escassez de estudos não é um privilégio da historiografia da educação em

Pernambuco. Até a década de 1990 poucos estudos haviam sido feitos a respeito

desse tema. Embora nas últimas duas décadas, no bojo das pesquisas em culturas

escolares, tenham emergido estudos a respeito da história dos métodos de

alfabetização, tais estudos ainda são, nas palavras de Claúdia Maria Mendes

Gontijo, “uma produção acadêmica insipiente, dispersa e não analisada” 186.

Os estudos sobre métodos e cartilhas desenvolvidos nas últimas décadas

privilegiam o material utilizado na alfabetização de jovens e adultos em

184

RELATÓRIO com que o exmo. sr. barão de S. Lourenço passou a administração da província ao 4º vice-presidente. Bahia, Tip. do Jornal, 1871, p. 8. In:TAVARES, Luis Henrique Dias (org.). Fontes para o Estudo da Educação no Brasil – Bahia, TOMO 1. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2001. 185 Idem. 186 GONTIJO, Claúdia Maria Mendes. O método de ensino de leitura e da escrita concretizado no método lição das coisas, Educ. Soc. , v. 32, n. 114, p. 103 – 120, jan-mar, 2011. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br/. Último acesso: 10 de novembro de 2011, p. 104.

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determinadas épocas, discutem políticas norteadoras das campanhas de jovens e

adultos ocorridas em alguns estados brasileiros no século XX ou ainda o discurso

político e religioso sobre a alfabetização, mas pouco nos ajudam a compreender as

dinâmicas e estratégias de ensino e aprendizagem que estiveram em disputa no

Oitocentos.

Apesar destas lacunas, fizemos o esforço de particularizar, dentro das nossas

possibilidades e do nosso lugar de formação, alguns dos métodos presentes nas

escolas anunciadas no Diário, na década da Abolição.

3.1: O Método de João de Deus

A presença da Cartilha Maternal no Império do Brasil, sua divulgação e

apropriação pelos professores brasileiros foi objeto de alguns trabalhos nas duas

últimas décadas. Em 1997, Maria do Rosário Longo Mortatti em “Os sentidos da

alfabetização: São Paulo (1879/1994)” 187, através do estudo dos discursos

elaborados professores e do conteúdo de uma vasta quantidade de cartilhas

produzidas entre 1879 e 1994, analisou os métodos de alfabetização durante esse

longo período, entre eles esteve o Método de João de Deus.

Em 2011, Iole Maria Faviero Trindade, em sua tese “A invenção de uma nova

ordem para as cartilhas: ser maternal, nacional e mestra. Queres Ler?” 188 na qual

analisa os discursos e representações presentes nas cartilhas usadas nas escolas

primarias do Rio Grande do Sul entre 1890 e 1930, também se analisou a Cartilha

Maternal, seu conteúdo, a ação de seus propagandistas e sua apropriação como

método de leitura oficial das escolas no estado do Rio Grande do Sul em 1897.

Em 2011, Roni Cleber Dias de Menezes, em sua tese de doutoramento

intitulada “Reverberações do debate decadência/atraso em Portugal e no Brasil em

fins dos Oitocentos: histórias conectadas” 189 investigou a conexão de indivíduos e o

trânsito de ideias e objetos culturais entre o Brasil e Portugal. Neste trabalho, a

187MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfabetização: São Paulo (1876/1994). São Paulo: Editora UNESP, 2000. 188 TRINDADE, Iole Maria Faviero. A invenção de uma nova ordem para as cartilhas: ser maternal, nacional e mestra. Queres ler? Porto Alegre: UFRGS, tese de doutorado, 2001. 189 MENEZES, Roni Cleber Dias de. Reverberações do debate decadência/atraso em Portugal e no Brasil em fins dos Oitocentos: histórias conectadas. São Paulo, FEUSP, tese de doutorado, 2011.

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investigação da propagação do método João de Deus e da Cartilha Maternal no

Brasil pelos professores Antonio Zeferino Cândido e o professor Manuel de Portugal

e Castro foi privilegiada.

O “Método de João de Deus” encontra-se sistematizado na “Cartilha Maternal

ou Arte da Leitura”, manual escrito pelo poeta português João de Deus e publicado

em 1876, logo se tornando um dos materiais didáticos mais bem recebidos pela

escola portuguesa, sob o titulo de inovação pedagógica seis meses após sua

publicação a cartilha já era utilizada em 200 escolas lusas sendo divulgada e aceita

também em outras partes do mundo lusófono 190.

Segundo Maria Iole Faviero 191, três materiais são referências para o estudo

dos métodos de alfabetização em Portugal: a “Cartilha para aprender e ler” de João

de Barros, primeiro material impresso, feito com o intuito de servir ao ensino da

leitura; o “Método Castilho ou Português” de Feliciano de Castilho, que veio a luz em

1850, e a “Cartilha Maternal” de João de Deus.

190 MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfabetização: São Paulo 1876 – 1994. São Paulo: EDUSP, 2000, p. 59. 191

TRINDADE, Iole Maria Faviero. A invenção de uma nova ordem para as cartilhas: ser

maternal, nacional e mestra. Queres ler? Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001, p. 59.

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Imagem 7: Contra capa da “Cartilha Maternal ou Arte da Leitura” por João de Deus de 1878.

Fonte: DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada

pelo seu amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

O uso desse material pedagógico se estendeu por escolas localizadas

Madeira, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Goa e Angola, onde a

cartilha, inclusive, inspirou a gramática escrita por Cordeiro Mata, a “Cartilha

Racional para se aprender a ler o kimbundo (ou língua angolense) escrita segundo a

Cartilha Maternal do Dr. João de Deus”, através da qual se pretendeu sistematizar o

ensino do kimbundo 192.

A utilização da cartilha em terras lusas ainda é atualmente praticada em

Portugal, Madeira e Açores, segundo o site da “Associação de Jardins Escolas João

192 MENEZES, Roni Cleber Dias de. Reverberações do debate decadência/atraso em Portugal e no Brasil em fins do Oitocentos: histórias conectadas. São Paulo, FEUSP, tese de doutorado, 2011, p. 168.

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de Deus”. Até janeiro de 2013 existiam quarenta (40) jardins-escola em atividade

utilizando esta metodologia 193.

Mapa 06: Rede de Jardins-Escola João de Deus em Portugal – Janeiro de 2013.

Fonte: http://www.joaodeus.com/jardins_escola/rede.asp, último acesso em 15 de Janeiro

de 2013.

Segundo Maria do Rosario Mortati 194, existem basicamente dois métodos de

alfabetização: o sintético, no qual o ensino ocorreria partindo de partes das palavras

(letras e sílabas) para a palavra completa, sendo também conhecido como método

alfabético, fônico ou silábico. E o método analítico, no qual a proposta é ensinar a ler

193 Jardins Escolas João de Deus, Disponível em http://www.joaodeus.com/jardins_escola/rede.asp, ultimo acesso 15 de janeiro de 2013. 194 MORTATI, Maria do Rosário. A “querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: contribuições para metodizar o debate. Revista ACOALFAalp: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa. São Paulo, ano 3, nº 5, 2008. Disponível em: HTTP://acoalfaplp.net. Ultimo acesso 5 de maio de 2012.

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através da palavra em si, partindo do conhecimento da palavra para o conhecimento

das letras, sendo este método conhecido como palavração.

O método elaborado pelo poeta João de Deus configura-se como analítico, a

“Cartilha Maternal ou Arte da Leitura” nos apresenta uma forma de ensinar a ler e

escrever na qual o educando deve conhecer, primeiro, a as palavras em sua

integralidade e, a partir delas, conhecer as letras e os sons das letras. Através do

site da Biblioteca Nacional de Lisboa tivemos acesso a 2ª Edição da Cartilha,

publicada em 1878, ano da chegada do primeiro propagandista oficial da cartilha na

província de São Paulo, sendo por isso uma edição potencialmente utilizada nas

atividades dos professores no Brasil.

A edição da cartilha de 1878 contém um plano de 24 lições, nas quais o

alfabeto é dividido em vogais (a, e, i, o, u), invogais certas (v, f, j, l, d, b, p, l, k, q),

invogais incertas (e, g, r, s, x, m, n), invogais compostas certas (th, Rh,-nh, lh, ph) e

invogal composta incerta (ch), a serem ensinadas, ordenadas por plano de ensino

dividido em três partes, cuja sequência não segue a ordem alfabética.

“O nosso plano é o seguinte: I. Vogais: a, e, i, o, u. II. Invogais certas: v f j-l d-b p-l-k q Invogais incertas: e g-r-s x-m n Invogais compostas certas: th rh-nh lh ph Invogal compostas incertas: ch III. Alfabeto maiúsculo”195.

A edição da cartilha de 1878 não contém descrições a respeito da

organização dos espaços escolares, nem a respeito de quais móveis deveriam estar

na sala, ou os materiais necessários para a aplicação do método. João de Deus

declarava seu desejo de apresentar um método de alfabetização rápido, capaz de

dispensar o uso de “Cartas do ABC” e silabários “cuja interminável série de

combinações mecânicas não há [de] penetrar uma ideia!” 196. Ele também se

posicionou contra a prática de ensinar através da soletração:

195

DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu

amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878, p. 96. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012. 196

Idem, p. VII.

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“Lede-as, e NUNCA SOLETREIS; que mal sabeis como a soletração confunde o principiante e lhe deprava o raciocínio com somas falsas. Lede-as acompanhando fielmente com o ponteiro a letra que estás lendo; e vereis a facilidade, o gosto e admiração com que o aluno vos segue e vos imita, reconhecendo em sua consciência a palavra retratada o papel” (grifo do autor)197. Imagem 08: Modelo para o ensino da letra V

Fonte: DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada

pelo seu amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878, p. 5. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

A única lição cujo princípio ocorre a partir de letras isoladas do contexto de

palavras é a primeira, referentes às vogais. As prescrições de todas as outras lições

seguem usando a leitura de palavras, nas quais as letras se repitam como meio,

para ensinar aos alunos a reconhecerem como determinado som é representado no

mundo das letras. Neste processo a exceção ocorre na décima sétima lição

dedicada ao estudo da letra r, chamada por João de Deus de invogal incerta. O

estudo da letra r, “por sua frequência e pelos seus acidentes de posição e número”

requereria uma lição mais ampla e além do tradicional conjunto de palavras, João de

197 Idem, p. 2.

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Deus construiu um “pequeno dialogo” a partir do qual o professor poderia criar

oportunidade de demonstrara aos alunos os múltiplos usos da letra “r”198.

Imagem 9: Diálogo a partir do qual João de Deus sugeriu o estudo dos diversos “acidentes de posição” da letra r

Fonte: DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada

pelo seu amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878, p. 62 - 65. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

O Império do Brasil recebeu dois divulgadores do método de João de Deus: o

professor de Matemática da Universidade de Coimbra Antônio Zeferino Cândido e o

professor Manuel de Portugal e Castro. Ambos chegaram ao Brasil em fins da

década de 1870, respectivamente em 1878, nas províncias do Rio de Janeiro e de

Pernambuco. Ambos tiveram o intuito de divulgar o método e garantir a

exclusividade do seu uso por professores autorizados e devidamente habilitados.

Em 1878, após chegar ao Rio de Janeiro, o professor Antônio Zeferino

Candido exerceu o magistério e realizou palestras para professores públicos e

198 DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878, p. 57. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

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privados angariando a simpatia de professores e personalidades como Antônio da

Silva Jardim– professor de português da Escola Normal de São Paulo, positivista e

republicano militante, que se tornou um entusiasta do método, divulgando-o

sistematicamente em eventos pedagógicos na província do Espírito Santo, durante a

década de 1880.

Maria do Rosário Mortatti dividiu a história da alfabetização no Brasil em

quatro momentos distintos: 1º) metodização do ensino da leitura; 2º) instituição do

ensino analítico; 3º) a alfabetização sob medida; 4º) alfabetização: construtivismo e

desmetodização. A divulgação do método João de Deus feita por Silva Jardim, teria

sido o primeiro grande marco da história da alfabetização no Brasil, pois foi, segundo

a interpretação da autora, marco fundador da tradição segundo a qual “o ensino da

leitura envolve necessariamente uma questão de método” 199. Mas, apesar de

valorizar o grande volume documental analisado por Mortatti– documentos

impressos e manuscritos escritos produzidos entre 1879 e 1994–, relativos aos

métodos de alfabetização, assim como às ações de Silva Jardim na divulgação do

método João de Deus, não ousamos nos apropriar da sua proposta de periodização.

Acreditamos que a educação no Império do Brasil, conforme o disse Silva200,

sempre foi politicamente descentralizada em relação aos parâmetros responsáveis

por reger o ensino elementar, algo legitimado desde a lei de 1827, e reafirmado pelo

Ato adicional de 1834.

E concordamos com Gondra & Schueler quando afirmaram:

“O processo de construção das formas de educação escolar no Brasil do século XIX não foi uniforme, indiferenciado ou contínuo, o que resultou na desigualdade de condições educacionais entre as Províncias, na profusão de reformas e na complexidade de normas então produzidas” 201.

199

MORTATTI, Maria Rosário Longo. Op, Cit, 2000, p. 25-27./ MORTATTI, Maria do Rosário Longo. História dos métodos de alfabetização no Brasil.Portal Mec Seminário Alfabetização e Letramento Em Debate, 2006, p.4. 200 SILVA, Adriana M. P. Op.Cit., 2007, p. 249. 201 GONDRA, José Gonçalves & SCHUELER, Alessandra. Educação, poder e sociedade no Império brasileiro. São Paulo: Cortez, 2008, p. 38.

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Levando em conta esses fatores, não estou certa se as ações de Silva

Jardim, centradas nas províncias de São Paulo e Espírito Santo poderiam ser

suficientes para consolidar uma tradição capaz de ser “incorporada como habitus e

rotina nas escolas de primeiras letras do Brasil” 202. Desde a primeira metade do

século XIX, vários métodos de alfabetização foram construídos e praticados pelos

sujeitos escolares nas escolas públicas e privadas. O método de João de Deus

representou uma das práticas de uma cultura escolar, entre as várias culturas

escolares em construção e circulação no Brasil de então.

A respeito das ações do professor Manuel de Portugal e Castro, na

propaganda do método João de Deus na província de Pernambuco, nada consta no

trabalho de Mortatti. Quem se dedicou contar a trajetória desse professor foi Roni

Cleber Dias de Menezes, através de cartas e recortes de jornais– enviados pelo

professor, durante sua estadia em Recife, ao poeta João de Deus e ao, então, editor

da cartilha, João da Costa Terenas–, encontrados no Museu João de Deus, em

Portugal 203.

O professor Manuel de Portugal e Castro chegou à província de Pernambuco

em 1879. Após se estabelecer em Recife o professor tomou algumas providências:

se apresentou as autoridades provinciais a fim de tornar oficial sua posição como

propagador autorizado do método João de Deus, abriu uma aula em sua casa para

lecionar a indivíduos analfabetos, se aproximou da comunidade portuguesa

residente em Recife e conseguiu chamar a atenção das autoridades provinciais para

a sua ação pedagógica a ponto de recebê-las como visitas em sua residência e

tendo a oportunidade de demonstrar os progressos de seus alunos.

Ainda em 1879, o propagador utilizou as dependências do Gabinete

Português de Leitura para a realização do exame final dos alunos alfabetizados por

ele em sua primeira experiência pedagógica na província. A ação do professor

Manuel e Castro foi suficiente para chamar atenção dos outros professores da

cidade, dos Lentes da Faculdade de Direito e do Diretor da Instrução Pública, os

quais lhe fizeram uma visita sobre a qual fez referência em uma das cartas enviadas

a João da Costa Terenas.

202 MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Op. Cit. 2000, p. 73. 203 MENEZES, Roni Cleber Dias de. Op. Cit. 2011, p. 204 – 211.

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No entanto, antes da chegada de Castro a Recife, já existia na cidade

professores interessados em utilizar o método de ensino construído pelo poeta. Os

professores Manoel Moreira Gama e Affonso Olindense Ribeiro de Souza, por conta

própria, haviam fundado, na Rua do Imperador, o Ateneu Luso Brasileiro e, em

1879, convidaram o professor Manuel para comparecer a abertura do mesmo.

A adoção do método por parte dos professores, seguindo apenas as

prescrições escritas na cartilha e sem qualquer certificação oficial dada por parte do

propagador oficial desagradou Manuel de Castro que, em carta a João da Costa

Terenas, escreveu:

“(...) pelos simples fato de ler a cartilha ninguém se pode julgar habilitado a lecionar, como sucede com os tipos que aqui estão ensinando e que o público os julga competentes para isso, pelo fato de já terem ensinado a ler pelo método, alguns analfabetos” 204.

No entanto, a opinião negativa do professor em relação ao uso da cartilha não

acompanhado de qualquer orientação ou certificação dada pelo próprio João de

Deus não encontrava cumplicidade em João da Costa Terenas, o qual não

demonstrava nenhum pudor em vender aos professores pernambucanos

interessados quantos volumes desejassem do material. Na última carta enviada pelo

professor a João de Deus, este se referiu a Terenas como “verdadeiro agiota”, a

quem não “importa com que o método seja bem ou mal lecionado, contanto que os

livros se vendam” 205.

Apesar das discordâncias em relação à utilização do método por parte dos

professores Affonso Olindense e Manoel Moreira da Gama, em 1880, o professor

Manuel Portugal anunciou a abertura de sua aula no Ateneu Luso Brasileiro, no qual

já funcionavam as aulas dos dois professores da seguinte forma:

“O propagador do método João de Deus nesta província, Manoel de Portugal Castro, ensina a ler e a escrever em 90

204 Carta de Manuel Portugal e Castro para João da Costa Terenas. Recife, 20 de outubro de 1879. In: Correspondência para João de Deus [1876-1880]. A. Y. P1-41, [Museu João de Deus], fls. 617 – 624. Apud. MENEZES, Roni Cleber de. Op. Cit., 2011, p. 204. 205Carta de Manuel Portugal e Castro para João de Deus. In: Correspondência para João de Deus [1876-1880]. A. Y. P1-41 [Museu João de Deus], fls. 809-14. Apud: MENEZES, Roni Cleber de. Op. Cit., 2011, p. 211.

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lições de hora, no máximo, qualquer pessoa maior de 5 anos, e que seja completamente analfabeta. Não recebe quantia alguma adiantada, e só depois de apresentar o discípulo habilitado em leitura e escrita, se julgará com direito de exigir o que se tiver previamente estipulado. Aula diurna para crianças de ambos os sexos e noturna para adultos. Atheneu Luzo Brasileiro, Rua do Imperador n. 3, junto do Gabinete Português de Leitura” 206.

O professor Manoel permaneceu ministrando suas aulas no Ateneu da Rua

da Imperatriz, no mínimo, até outubro de 1880, data do último anúncio dele ao qual

tivemos acesso. Neste anúncio ele “participava ao público” a abertura de um curso

noturno, no qual admitiria até seis alunos analfabetos adultos ou meninos maiores

de sete anos, gratuitamente:

“Manuel Portugal participa ao respeitável público, que abriu a Rua do Imperador nº 3, um curso no turno para ensinar a ler, ao qual admite gratuitamente seis analfabetos adultos ou menino maiores de 7 anos. Declara mais, que muito grato se confessará a todas as pessoas que assistirem as lições, as quais sempre se principiam as 7 horas da noite.” 207.

Além de propor um método de alfabetização no Ateneu Luso Brasileiro, o

propagador do método João de Deus ainda se ofereceu para ensinar gratuitamente

na Casa de Detenção da Província e para isso recebeu autorização das autoridades

provinciais.

Segundo consta no Relatório produzido pelo Dr. Adelino Antônio de Luna

Freire, então 1º Vice-Presidente da província, em Junho de 1880, foi concedido ao

professor Manuel de Portugal autorização para lecionar gratuitamente, pelo método

João de Deus, na Casa de Detenção, de forma paralela à aula de ensino primário ali

já existente 208. Se as aulas do professor Manuel Portugal deram certo na Casa de

Detenção, quantas pessoas foram alfabetizar por ele ou quais resultados foram

206 Ao público, Publicações a Pedidos, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 90, terça-feira, 20 de Abril de 1880, p. 2, Caixa/Rolo128, FUNDAJ, Recife – PE. 207

Método João e Deus, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 206, terça-feira, 7

de Setembro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 129, FUNDAJ, Recife – PE. 208 Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. Adelino Antonio de Luna Freire, 1º vice-presidente passou a administração ao Exmo. Sr. Dr. Franklin Américo de Menezes Doria em 28 de junho de 1880. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u656/. último acesso em 20 de Fevereiro de 2012.

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obtidos com sua empreitada, os relatórios não informam e seu nome só consta

nesse relatório.

Nas publicações feitas ocasionalmente na seção “Instrução Pública” durante o

período pesquisado não apareceu nenhum artigo remetendo a esse método de

alfabetização e nenhum outro professor fez menção a este método de ensino nos

anúncios publicados nas terças-feiras, no edital publicado pela Secretária de

Instrução Pública de Pernambuco em novembro de 1885 209, convocando os

professores e diretores de colégios particulares da província a enviarem os dados de

suas escolas e alunos não constau o nome do professor Manuel Portugal. Embora o

método do poeta João e Deus e a sua cartilha tenham sido aceitos entre os

professores recifenses, talvez, a forma de aplicação do método utilizada pelo

professor luso talvez não tenha sido igualmente bem recebida por pais e alunos.

3.2: O Método Castilho

No final da década de 1870 quando emergiu em Portugal o método de João

de Deus, sua proposta de alfabetização se consolidava em oposição a antigos

métodos de alfabetização. Um dos representantes desses antigos métodos foi

Antônio Feliciano de Castilho, autor da cartilha “Método Castilho: para ensino do ler

e escrever”, publicada pela primeira vez em 1850.

A cartilha contém uma série de prescrições capazes de abarcar desde a

conduta do professor durante as aulas, passando pela organização da sala, os

textos a serem utilizados em cada aula, o passo a passo de cada lição, exercícios a

serem aplicados com os alunos, até horários de divertimentos e mesmo os materiais

didáticos necessários a aula.

209 Ensino Particular, EDITAL, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 263, terça-feira, 16 de Novembro de 1886, p. 3-4, Caixa/Rolo 155, FUNDAJ, Recife – PE.

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Imagem 10 – Proposta de Organização de Sala de Aula do Método Castilho

Fonte: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 2. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

Segundo o manual escrito por Castilho, o professor, ocupando um lugar a

frente da sala, de cima de um estrado, observando a todos os alunos, deveria

conduzir para todos, ao mesmo tempo, o conteúdo das lições. Os suportes por ele

elencados para o bom desenvolvimento do ensino por parte do professor eram giz,

esponja, pano e vara para apontar. Cada sala deveria ter também um quadro preto

ou de madeira no qual as lições seriam escritas e copiadas pelos alunos em suas

ardósias 210.

Os alunos precisariam apenas de uma ardósia e pena de pedra ou lápis de

gesso, com os quais poderiam realizar os exercícios de escrita sugeridos pelo

professor no quadro negro. Uma mesma sala de aula, segundo Castilho, poderia

abrigar vários alunos em diferentes estados de aprendizagem, desde que os alunos

fossem divididos em três grupos, de acordo com o seu conhecimento da escrita e

210

CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler

impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. – 2ª ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853. Disponível em: http://purl.pt/185. Último acesso 30 de Agosto de 2012, p. 3.

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leitura. Esses grupos deveriam ser distribuídos na sala da seguinte forma: na frente

ficariam os alunos ainda analfabetos, no meio os já detentores de alguns

conhecimentos, mas completamente proficientes na arte da leitura e, no fundo, os já

alfabetizados. Não havia para Castilho problemas em existirem classes mistas e se

houvessem meninas na sala, bastaria separá-las dos meninos.

Imagem 11: Imagem do interior de uma sala de aula contida na “Cartilha Método Castilho

para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever”.

Fonte: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente

refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 27. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

O método de Castilho propunha o ensino da leitura e da escrita através de um

método sintético. O aprendizado dos alunos deveria começar pelas letras,

posteriormente as sílabas e, por fim, palavras, frases e textos. Destaca-se no

método de Castilho a utilização do canto, dos movimentos de mãos e pés, da

repetição de sons junto aos alunos como formas de viabilizar o ensino das letras,

das sílabas e das palavras.

Segundo Castilho, o canto, os movimentos de pés e mãos próprios da

infância são recursos úteis ao ensino das letras. Em sua cartilha, para cada letra do

alfabeto existiria uma pequena história, na qual a letra emerge como a sombra do

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personagem da história, através da qual o aluno decoraria o formato das letras e os

sons da fala por ela representados.

Por exemplo, para o ensino da letra A o professor deveria contar a seguinte

história:

“A Este preguiçoso passa os dias a bocejar. O som que faz

abrindo a boca é, umas vezes mais, outras menos claro. Ora diz Á, com o valor do primeiro Á de Ave; ora, Â com o valor do primeiro A de Anna. Á direita está a sombra dele, e, como ao homem costumam chamar, por zombaria, o senhor Á ou Â, o mesmo nome de Á ou Â, dão a sombra. a O rapazinho é madraço, assim como o sonhou seu pai;

encosta-se ás árvores, segundo ali se vê e faz abrindo a boca os mesmo sons que o pai; por isso lhe chamam o á ou â pequeno. Á sua sombra que está a direita chama-se igualmente á ou â pequeno; como a primeira Á ou  grande”(grifos do autor)211.

Após a história segue-se a imagem do homem e do garoto e suas respectivas

sombras, os seja, a letra “A” maiúscula e “a” minúscula, conforme a imagem abaixo:

211 Idem, p. 28.

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Imagem 12: Letra A da cartilha de Feliciano de Castilho

Fonte: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente

refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 29. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

A proposta de ensino por Feliciano de Castilho para o ensino da leitura e da

escrita foi duramente criticada por João de Deus que, nas primeiras páginas de sua

cartilha, afirmou:

“Esses longos exercício de pura intuição visual constituem uma violência, uma amputação moral contrária a natureza. Seis meses, um ano, e mais, de vozes sem sentido, basta para imprimir num espírito nascente o selo do idiotismo”212.

Os conflitos entre Castilhos e João de Deus foram abordados por Carlota

Josefina M. C. dos Reis Boto, em sua tese de doutoramento, “Ler, escrever, contar e

se comportar: a escola primária como rito do século XIX português (1820-1910)” 213,

através dos livros publicados por eles e de suas falas em periódicos, a autora

212 DEUS, João de. Op. Cit, p. VIII. 213

BOTO, Carlota Josefina Malta Cardoso dos Reis. Ler, escrever, contar e se comportar: a escola

primária como rito do século XIX português (1820-1910). Tese. Departamento de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, 1997.

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esmiuçou características do pensamento pedagógico de ambos; as suas

colaborações ao desenvolvimento da escola portuguesa; os pontos nos quais os

autores divergiam; e os embates travados por eles na imprensa periódica

portuguesa.

Aqui não nos deteremos nesse debate, nos interessa destacar que, apesar

das divergências metodológicas entre os dois pensadores e suas propostas para o

ensino das primeiras letras, elas fizeram parte das ideias que em Recife, durante a

última década da escravidão, podem ter convivido.

A professora Prescilla S. Mendes Albuquerque com o título “Método Castilho”,

publicou o seguinte anúncio no Diário de Pernambuco:

“A abaixo assinada faz ciente ao respeitável público e particularmente aos pais de suas alunas, que no dia 3 de fevereiro, funcionará sua aula já muito conhecida a Rua do Imperador, n. 29, onde continua a receber pensionistas, meio-pensionistas e externas. Prescilla S. Mendes Albuquerque” (grifo meu) 214.

Ao contrário do professor Manoel de Portugal Castro que estava tentando, em

1879 e 1880, se estabelecer na cidade, a professora Prescilla S. Mendes afirmava,

em 1881, ser sua aula “já muito conhecida”. Apesar do conflito entre os autores das

cartilhas nas quais se prescreviam os métodos, nos anúncios por mim consultados,

nenhum conflito entre o professor Manoel e a professora Prescilla foi informado.

O anúncio publicado pela professora no dia 21 de Janeiro de 1881 foi o único

a ser publicado em uma terça-feira. A professora Prescilla S. Mendes de

Albuquerque esteve entre os professores particulares que preferiam anunciar seus

colégios e aulas no “Almanaque Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da

Província de Pernambuco”. Entre 1881 e 1885, na seção “Profissões, industriais,

ofícios e artes”, entre os “Colégios de educação de meninas” esteve presente o

“Colégio pelo Método Castilho” dirigido pela “D. Precilla S. M. M. de Albuquerque, na

Rua do Imperador, n. 29” 215. No já referido Edital publicado pela Instrução

214 Método Castilho, Publicações a Pedidos, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 19, terça-feira, 25 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE. 215 ALMANACK Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o anno de 1881, 1882, 1883, 1884, 1885. Recife, Tipographia Mercantil, 1881, APEJE, Biblioteca, Recife – PE.

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Secretária de Instrução Pública de Pernambuco, em novembro de 1886, convocando

os professores particulares a prestarem contas de seus colégios e alunos, estava

presente o nome dessa professora.

A presença do Método de Castilho no Império do Brasil, em 1880, não era

uma novidade. Em 1855, Feliciano de Castilho esteve na Corte com o intuito

desenvolver atividades propagandísticas de seu método recém-criado. Uma vez

instalado na Corte, o professor buscou conseguir uma audiência com o Imperador

Além disso, procurou realizar palestras para professores públicos e particulares,

abriu um “Curso Normal de Leitura Repentina”, recebeu críticas nos jornais locais e

respondeu tratou de respondê-las fazendo, então, o seu método tornar-se conhecido

por vários professores.

Nos últimos vinte anos a tese de Iole M. F. Trindade 216 foi um dos trabalhos a

investigar o Método de Castilho. Embora ela não tenha investigado ou encontrado

vestígios da utilização da Cartilha de Castilho nas escolas do Rio Grande do Sul,

considerou importante, devido aos embates entre João de Deus e Feliciano de

Castilho, para a compreensão do Método João de Deus a investigar a cartilha

produzida por Castilho e a sua proposta metodológica, visto ser ter João de Deus

construído seu método em oposição ao de Castilho. Em sua analise Trindade frisou

a colaboração de Castilho no processo de sistematização e gramatização da língua

portuguesa.

A respeito da presença de Castilho na Corte, com o intuito de divulgar seu

método, o artigo de Fernando Castelo-Branco intitulado “Castilho tenta difundir o seu

método de leitura no Brasil” 217, publicado em 1977, foi outro achado. Castelo Branco

logrou reconstruir a trajetória do professor na Corte através do uso de artigos

publicados na imprensa comercial da Corte durante a sua permanência por lá.

Segundo a interpretação do autor, toda a propaganda realizada por Castilho tinha

intuito de impor a adoção de seu método desse lado do Atlântico, visto não ter

conseguido tal feito do lado de lá do Atlântico.

216 TRINDADE, Iole Maria Faviero. Op. Cit, 2001 217CASTELO-BRANCO, Fernando. Castilho tenta difundir o seu método de leitura no Brasil. Rev. Fac. Educ. 1977, vol.3, n.1, pp. 32-45. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33235. Último acesso 10 de dezembro de 2012.

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De fato, o método de Castilho não se tornou o método de ensino oficial do

Império do Brasil, no entanto a atuação do professor não era ignorada pelos seus

pares de profissão. Em 1855, no O Liberal Pernambucano: Jornal Político e Social,

foi publicado um artigo denominado “Diversos Métodos de Ensino Elementar” 218.

Neste artigo falou-se a respeito de três métodos de ensino elementar: o individual, o

simultâneo e o mútuo, destacando a existência de aulas por esse método,

ministradas pelo Sr. Gentil, na Bahia e, em Pernambuco, pelo Sr. Gamboa. O

anônimo autor do artigo concluiu sua fala referindo-se ao método de Castilho nos

seguintes termos:

“(...) o Ilmo. Antonio Feliciano de Castilho, no seu excelente método de Leitura repentina, em que sob a direção do próprio Professor, no curto espaço de dois meses, os meninos estão lendo periódicos, escrevendo bastardo, somando até cem (...)” 219.

Apesar de não ter se tornando o método oficial do Império, ou mesmo da

Corte, a partir das atividades de divulgação de seu método realizadas na Corte,

Castilho se tornou conhecido dos professores brasileiros, alguns dos quais adotaram

seu método em suas rotinas pedagógicas.

218 Diversos Métodos de Ensino Elementar, O Liberal Pernambucano. Jornal Político e Social. Ano 4, n. 66, segunda-feira, 15 de Janeiro de 1855, p. 2, Caixa/Rolo 228, FUNDAJ, Recife – PE. 219 Idem.

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3.3. Método Americano ou o Ensino Intuitivo pelas Lições das Coisas

Em junho de 1883, uma escola cujo funcionamento não acorria na cidade do

Recife ou em qualquer outra da província de Pernambuco, foi saudada no Diário de

Pernambuco: o Colégio Abílio, fundado pelo Barão de Macaúbas, professor Abílio

César Borges, na praia do Botafogo, na Corte do Império. Pessoas convidadas para

visitar o colégio naquela ocasião expuseram suas opiniões a respeito do fato. Em

todos os textos publicados, as virtudes daquela instituição, do edifício no qual

funcionava, seu pessoal docente, sua localização– a partir da qual se via “a parte

mais elevada do Pão de Açúcar”, alguns “montes irregulares, abruptos,

ensombrados de uma vegetação escura” tal como uma “o tom imprevisto de uma

paisagem suíça” 220– e o novo método de ensino praticado naquela instituição, o

qual assim foi descrito:

“O método novo parte de um ponto completamente oposto. A criança começa por analisar, por ver. Só depois de ter adquirido a ideia mais lúcida das coisas, por uma espécie de conveniência intima, familiaríssima é que essa ideia sugerida pela observação se formula e de seus fins.” 221.

O “método novo” ao qual os espectadores fizeram referência foi o chamado

método Americano– também conhecido por “Intuitivo” e por “Lições das coisas”–

uma das formas de ensinar mais divulgadas no norte da América, Europa e Brasil

em fins do século XIX. Símbolo de modernidade pedagógica, ao mesmo tempo, foi

tido como método popular, capaz de propagar nas escolas públicas conhecimentos

úteis à vida prática dos alunos.

Conferências pedagógicas 222, relatórios sobre a instrução e artigos

publicados em jornais comerciais e pedagógicos foram espaços nos quais os

220 Colégio Abílio – 20 de Maio de 1883, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 133, terça-feira, 12 de junho de 1883, p. 3, Caixa/Rolo 140, FUNDAJ, Recife – PE. 221

Idem. 222

As conferências pedagógicas eram reuniões de professores e outras autoridades ligadas a instrução nas quais vários temas relacionados à escola primária, como co-educação dos sexos, castigos, métodos de ensino, disciplinas, distribuição das meterias eram debatidos. Essa pratica foi muito difundida no século XIX tornando-se comum em países europeus e no Brasil. Segundo Daniel Cavalcanti de Albuquerque Lemos, o modelo das Conferencias Pedagógicas tornou-se popular devido a uma crescente exigência de formação dos professores primários e da constituição de um

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pressupostos desse método e as vantagens de sua utilização foram divulgadas e

discutidas. Para sistematizar os procedimentos através dos quais o método seria

aplicado na sala de aula surgiram, em fins do século XIX, manuais de “Lições das

coisas”, destinados ao uso dos professores das escolas primárias.

No Brasil as discussões em relação à utilização desse método estiveram

atreladas aos debates que marcaram o fim do Império. A publicação do parecer de

Rui Barbosa, sobre a “Reforma do ensino primário e várias instituições

complementares da instrução pública” 223 e sua tradução do Manual de Lições de

Coisas, de Norman Calkins, em 1886, são expressões deste processo.

No conjunto da historiografia acerca da história da alfabetização e da escola

primária, as pesquisas a respeito do método intuitivo emergiram ao longo dos

últimos dez anos e também são dispersas e pouco analíticas.

Destacamos, no entanto, Analete Regina Schelbauer, que estudou as

discussões a respeito da utilização desse método nas escolas públicas e privadas

da província de São Paulo através de editoriais, artigos, traduções, noticiários e

anúncios publicados no jornal comercial “A província de São Paulo”, entre 1875 e

1890. Esta autora percebeu como o método intuitivo foi um foco de debate de

pessoas ditas “ilustradas” e considerado uma proposta inovadora para o ensino,

superior às já existentes. Schelbauer observou ter havido um embate entre os

entusiastas do método intuitivo e o propagador do método João da Deus na

província de São Paulo, o professor Antonio Zeferino Candido 224.

sistema de instrução pública em vários países, pois eram vistas como saída para desqualificação do professorado. In: LEMOS, Daniel Cavalcanti de Albuquerque. Professores em movimento: a emergência do associativismo docente na Corte Imperial. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. 223 Segundo Rosa Fátima de Sousa, esse documento é “uma das primeiras obras, e a mais completa delas, sobre a organização pedagógica da escola primária e sobre política de educação popular produzida no Brasil no século XIX. Designado como relator da Comissão de Instrução Pública, ao estudo do projeto, Rui Barbosa buscou documentar amplamente o substitutivo, tomando como referência farto material bibliográfico especializado, vindo do exterior. Conforme indicações de Lourenço Filho, no parecer sobre o ensino primário foram citados 365 trabalhos, 179 em língua francesa, 129 em língua inglesa, 26 em português, 5 obras em língua alemã, 4 em italiano e 5 em espanhol. Muitas dessas obras referenciadas por Rui foram publicadas entre 1880 e 1882.” In: Souza, R. F. D. Inovação educacional no século XIX: a construção do currículo da escola primária no Brasil. Cadernos Cedes, Ano XX, nº 51, nov, 2000, p. 10. 224

SCHELBAUER, A. R. Métodos de leitura em circulação no jornal A Província de São Paulo. In: 16º. COLE - No mundo há muitas armadilhas e é preciso quebrá-las, 2007, Campinas. Anais do 16º. COLE. Campinas, 2007. p. 1-14.

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Claúdia Maria Mendes Gontijo 225, pesquisando a história da alfabetização no

Espírito Santo, entre 1870 e 1920, analisou o método de ensino intuitivo cuja

utilização foi imposta à escola primária daquela província através do Regulamento

da Instrução Pública de 1882. Tanto o texto do regulamento, quanto o manual de

“Primeiras Lições de Coisas” de Normal A. Calkins foram alvos da análise de

Gontijo, que concluiu ter sido esse método um dos principais alicerces das críticas

ao ensino mútuo e à memorização nas escolas daquela província.

Ana Carolina Neres 226 também investigou a utilização desse método no

Maranhão, através do livro “O ensino Público” publicado por Almeida de Oliveira, em

1874. No livro “O ensino Público”, Almeida de Oliveira– que era, em São Luís,

advogado, jornalista, deputado do Partido Liberal do Maranhão, republicano,

professor e diretor de escola– discutiu os motivos do fracasso da escola pública

estatal brasileira e, entre as soluções propostas para superar esse fracasso, propôs

a adoção do método intuitivo, para o qual direcionou um dos capítulos de sua obra.

Vera Teresa Valdemarin, investigou entre 2000 e 2006, através do projeto

“Estudando as Lições das Coisas”, algumas das cartilhas difundidas nas escolas

brasileiras do século XIX, a saber: “Lições de cousas” de autoria do Dr. Saffray,

“Plan détudes et leçons de choses” de Jules Peroz; “Exercises et travaux pour les

enfantes selon La méthode et les procedés de Pestalozzi et de Froebel”, de autoria

de Fany Ch. Delon e M. Delon, e “Primeiras Lições de coisas” de Norman Allison

Calkins 227. Em um dos capítulos do livro “O legado educacional do século XIX” 228 e

no livro, “Estudando as lições das coisas” 229 trouxe a público os resultados de sua

investigação a respeito das bases epistemológicas sobre as quais o método de

ensino intuitivo foi construído.

225 GONTIJO, Claúdia Maria Mendes. O método de ensino de leitura e da escrita concretizado no método lição das coisas, Educ. Soc. , v. 32, n. 114, p. 103 – 120, jan-mar, 2011. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br/. Último acesso: 10 de novembro de 2011, p. 104. 226

NERES, Ana Caroline. Almeida de Oliveira e a defesa das lições de coisas na instrução pública (1843-1887). II Simpósio de História do Maranhão Oitocentista, 2011. 227

VALDEMARIN, Vera Tereza. O método intuitivo: os sentidos como janelas e portas. In: SAVIAN, Dermeval; ALMEIDA, Jane Soares de; SOUZA, Rosa Fátima de & VALDEMARIN, Vera Tereza. O legado educacional do século XIX. Campinas: Autores Associados, 2ª Ed., 2006. 228

VALDEMARIN, Vera Tereza. Estudando a Lição das Coisas: analise dos fundamentos filosóficos do método de ensino intuitivo. Campinas: Editores Associados, 2004. 229

VALDEMARIN, Vera Teresa. Estudando as lições da sorte: análise dos fundamentos filosóficos

do Método de Ensino Intuitivo. Campinas, SP: Editores Associados, 2004.

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Para Valdemarin, apesar dos autores dos manuais atribuírem a inspiração e

base teórica a Froebel e Pestalozzi, o método de ensino intuitivo foi elaborado a

partir das ideias empiristas, cujas bases remontam aos séculos XVII e XVIII e às

obras de Francis Bacon, John Locke e David Hume. Considerando fundamental

compreender como essas teorias do conhecimento foram convertidas em

prescrições metodológicas para ensinar a determinados indivíduos, a autora

investigou, além dos manuais de lições das coisas já citados, os livros “Novum

Organun” de Francis Bacon, “Ensaio acerca do entendimento humano”, de John

Locke e “Investigação acerca do entendimento humano”, de David Hume, obras que,

segundo sua interpretação, forneceram a base para a construção do método em fins

do século XIX 230.

Nas palavras de Valdemarin:

“Bacon e Hume vão priorizar a experiência, considerando-a o momento decisivo do conhecimento, uma vez que ela se constitui na oportunidade para que sejam produzidas as impressões que permitirão a elaboração dos princípios. (...) Locke, priorizando a construção das ideias intermediárias em vez da experiência, também busca garantir metodicamente os meios para sua obtenção, estabelecendo regras com as quais o intelecto poderia operar com maior eficácia” 231.

Valdemarin ainda advoga para esse método a responsabilidade por ter aberto

as portas das escolas europeias, americanas e brasileiras para as várias inovações

didáticas pois, devido à prerrogativa de que o aprendizado necessita de várias

experiências concretas, com determinados objetos, vários suportes para o ensino

foram inventados nesse período 232. Caixas de cores e formas geométricas,

gravuras, coleções de objetos variados construídos de madeira, aros e linhas de

diversos tipos de matérias e etc. foram construídas para o uso da escola primária, a

qual também passou a agregar objetos como globos terrestres, mapas, coleções de

insetos, esqueletos humanos, réplicas de partes do corpo humano, animais em

vidros.

230 Idem, p. 5-6. 231 Ibidem, p. 100. 232

VALDEMARIN, Vera Teresa. Estudando as lições da sorte: análise dos fundamentos filosóficos

do Método de Ensino Intuitivo. Campinas, SP: Editores Associados, 2004, p. 104.

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Não por acaso, em janeiro de 1882, o professor Manoel Barbosa de Araújo

adicionou ao anúncio no qual comunicava ao público “os resultados dos exames de

línguas e ciências prestados pelos alunos” do Colégio 7 de Setembro, do qual era

diretor, a imagem de um globo terrestre, um telescópio e um conjunto de réguas

para aulas de geometria.

Imagem 13: Parte do anúncio dos resultados dos exames prestados pelos alunos do

Colégio 7 de Setembro.

Fonte: Colégio Sete de Setembro, Ano de 1881 – Resultado dos Exames de línguas e ciências prestados pelos alunos desse colégio, sob a direção do bacharel Manoel Barbosa de Araujo, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 7, terça-feira, 10 de

Janeiro de 1882, Caixa/Rolo 135, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE.

No livro autobiográfico “O Ateneu”, escrito por Raul de Pompeia a respeito de

sua experiência no colégio “Abílio”, o qual era regido pelos pressupostos do método

intuitivo– conforme dissemos anteriormente–, encontramos uma descrição dos

objetos didáticos à disposição de professores e alunos naquela escola. Quando

descreveu seu primeiro dia de aula, Sergio, personagem principal da história,

apresentou as dependências da escola nos seguintes termos:

“... as coleções, em armários, dos objetos próprios para facilitar o ensino (...). Das paredes pendiam as cartas geográficas, que eu me comprazia de ver como um itinerário de grandes viagens planejadas. Havia estampas coloridas em molduras negras, assuntos de história santa e desenho grosseiro, ou exemplares zoológicos e botânicos, que me revelavam direções de aplicação estudiosa em que eu contava triunfar.” (grifo meu) 233.

233 POMPEIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Martin Claret, 2002, p. 25.

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Diferente dos métodos de João de Deus e Castilhos, o método intuitivo foi

concebido como método geral e as cartilhas produzidas para orientar a prática dos

professores que optavam por seu uso continham, a exemplo da de Norman Allinson

Calkins, prescrições metodológicas para o ensino de todos os conteúdos da escola

primária. Formas geométricas, cores, números, aritmética (soma – subtração –

divisão – multiplicação - frações), sistemas de medidas (peso, comprimento,

profundidade, distância), desenho linear, tempo, som, leitura e escrita, ciência

natural (também chamada de lições de coisas), anatomia humana e educação moral

234.

Com o advento dos exercícios de intuição, os processos de memorização–

baseados apenas na leitura de sentenças– deveriam ser abolidos da vida escolar e

substituídos pelos princípios de observação e trabalho. Através da observação os

alunos deveriam progredir da percepção para a ideia, do concreto para o abstrato,

do simples para o complexo, dos dados para o julgamento. Através do trabalho se

propunha fazer da educação na infância uma oportunidade para a realização de

atividades semelhantes às da vida adulta 235.

Na província de Pernambuco o “Método de Ensino Intuitivo” foi um dos mais

divulgados através do periódico Diário de Pernambuco e outros meios também. Em

junho de 1887, foi publicada uma série de quatorze artigos sobre a “Metodologia –

Lições das Coisas” na coluna “Instrução Pública” explicitando, como o título dos

artigos já sugere, meios práticos para utilização do método nas escolas primárias da

cidade.

No primeiro artigo 236, o autor– cujo nome está ilegível no microfilme–

dissertou a respeito da história do uso do método na província até então. Segundo

ele, desde dezembro de 1876 o ponto “Lição das cousas, suas vantagens, plano a

seguir neste ensino e objetos que nele devem ser preferidos” fez parte do “programa

de pontos para serem discutidos, à escolha dos professores, nas conferências

234

CALKINS, Norman A . Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar para uso dos pais e professores. In: BARBOSA, Rui. Obras Completas. Rio de Janeiro. Vol. XIII, Tomo 1, 1886, Pp. 565 – 573. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20das%20Coisas. Ultimo acesso em: 30 de Agosto de 2012. 235

Idem, p. 92. 236

Metodologia – Lição das Coisas I, Instrução Publica, Diário de Pernambuco, Ano 68, n. 125,

quinta-feira, 2 de Junho de 1887, p. 2, Caixa/Rolo 157, FUNDAJ, Recife – PE.

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pedagógicas” E embora nenhum professor tenha apresentado qualquer trabalho

pedagógico sobre o tema, dois professores dissertaram sobre ele.

“Em 1881, na conferência promovida pelo Grêmio dos Professores Primários, uma matéria foi produzida a respeito do tema pelo professor Cyrillo da Silva Santiago e impressa em folheto. Em 1883, o periódico do “O Grêmio dos Professores” 237, publicou uma tradução feita pelo Dr. Ayres de Albuquerque Gama238 de um trabalho de F. Buisson sobre o ensino intuitivo e os “programas de pontos para os exames de habilitação e concurso para provimento de cadeiras de instrução primária” elaborado pela Escola Normal em 1882, 1883 e 1884. Além disso, também trouxe a luz uma série de pontos sobre as “lições das coisas” e afirmou: “Pelos antecedentes que assim deixamos registrados, vê-se que o assunto não é novidade entre nós; ele deve ser bastante conhecido, ao menos pelos que têm cumprido os trabalhos a que nós temos referido e pelos alunos da Escola Normal, onde seguramente pela sua importância e utilidade geralmente reconhecidas desde muito tempo, e por ser obrigatório ali o seu ensino, as lições de coisas não terão sido consideradas como utopia e estrangeirice” (grifo meu). 239.

A sutileza do autor dos artigos publicados no Diário de Pernambuco ao

começar a sequência de textos sobre o método, relembrando as ocasiões anteriores

nas quais ele foi abordado na província, faz pensar na possibilidade dele, apesar de

todos os esforços dos entusiastas do método, não ter sido aceito plenamente pelos

professores da província. Poderia ser visto por alguns como uma “utopia”– levando

em conta sua aplicação demandar o uso de uma série de utensílios pedagógicos de

difícil aquisição para boa parte dos professores–; como uma “estrangeirice”; ou,

237O Grêmio dos Professores Primários foi uma associação composta por professores de instrução primária, inaugurada oficialmente em 25 de março de 1878, que funcionava no sobrado de nº 7 da Rua do Cabugá. O seu objetivo era promover o aperfeiçoamento da instrução na província e, para tanto, realizava conferências pedagógicas e promovia a impressão de compêndios para o uso dos professores da cidade, além de manter uma biblioteca pública em sua sede. In: ALMANACK Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o anno de 1881. Recife, Tipographia Mercantil, 1881, p. 138-139, APEJE, Biblioteca, Recife – PE. 238 O professor Ayres de Albuquerque Gama, foi uma figura ativa nos assuntos da educação pública e particular na década de 1880, além de ter sido professor da Escola Normal, sócio do Grêmio dos Professores Primários desde 1881, foi eleito membro do Conselho Literário entre os anos de 1885 e 1887, professor de Geometria, História, Alemão e Italiano do colégio Prytaneo. 239

Idem.

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simplesmente, ter sido preterido em detrimento de outros métodos com os quais os

professores já estivessem mais familiarizados.

Outra preocupação do autor do artigo foi explicar uma série de questões a

respeito do método, a começar por definir “o que se entende por lições de cousas”,

passando por “seus fins e vantagens” e um exemplo de “lição de cousas acerca da

atmosfera” 240, para a qual o professor não precisaria de nenhum instrumento

especial, a não ser estimular os alunos a observarem o meio ambiente. Entre as

vantagens do método, ele destacou:

“(...) alargar a esfera das ideias e conhecimentos dos alunos, prepará-los para as realidades da vida prática, enriquecer o vocabulário dos meninos, habituando-os à precisão e propriedade dos termos, a correção da linguagem. Concorre, pela sua flexibilidade, pela variedade dos objetos de que se ocupa, pela sua forma, pelo seu processo, que tanto cativa a atenção dos alunos, – para facilitar a transmissão do ensino e amenizá-lo.” 241.

Como já dissemos, o método intuitivo era global, feito para ser usado em

todos os conteúdos da escola primária, no entanto, ao autor do artigo importou

esclarecer que os professores tanto podiam utilizar os seus preceitos “como curso

regular” ou como “parte distinta entre as do programa escolar”, servindo

ocasionalmente ou constantemente ao “propósito de qualquer das outras lições” 242

do currículo. Possivelmente, tanto houve escolas nas quais o método intuitivo se

tornou regra para todas as disciplinas, quanto houve escolas nas quais ele esteve

presente auxiliando em apenas algumas disciplinas para as quais se revelasse útil.

Apenas três escolas anunciaram aplicar em sua rotina pedagógica o método

Americano, o Colégio Americano do Instituto Inglês Pernambucano, o Colégio

Americano para Meninas e o Curso Minerva.

O Colégio Americano do Instituto Inglês Pernambucano foi fundando na

Estrada de João de Barros, em janeiro de 1881, funcionando, segundo a descrição

240 Metodologia, Lição de Coisas II, Instrução Pública, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 126, sexta-feira, 3 de junho de 1887, p. 3, Rolo/Caixa 157, FUNDAJ, Recife – PE. 241 Idem. 242 Ibidem.

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do diretor Willian T. Robison, assinante dos anúncios da escola, em uma chácara

cuja casa:

“(...) reúne todas as condições higiênicas necessárias; está em perfeito estado de asseio, é bastante arejada, sobretudo na parte destinada para os dormitórios e dispõe de um vasto sítio com espaço suficiente para exercícios e recreio dos educandos(...)” 243.

O programa de ensino do Colégio Americano do Instituto Inglês era composto

de um curso primário, no qual constava “ortografia, leitura, caligrafia, aritmética,

gramática, geografia, escrituração, elocução, desenho e música vocal, ensinados em

inglês e português” 244, e o secundário acadêmico, cujos conteúdos iam muito além

dos exigidos pelos exames da Faculdade de Direito do Recife, contemplando:

“(...) inglês, português, francês, alemão, latim, grego, filosofia natural, anatomia, fisiologia, higiene, botânica, mineralogia, zoologia, química, geologia, aritmética mental, prática comercial, álgebra, geometria, trigonometria, astronomia, história geral, antiga e moderna, especial da Europa, Estudos Unidos e Brasil, filosofia mental, moral, lógica, retórica e economia política” 245.

Tendo em vista, talvez, atrair o público católico, do currículo da escola foi

propositalmente excluída a religião e a respeito dessa exclusão o diretor Robinson

explicitou:

“É escusado dizer que o diretor e os professores envidarão todos os esforços a bem do adiantamento dos alunos, plantando-lhes no espírito os princípios da honestidade, moralidade, lealdade a Deus e a Constituição do Brasil, sem embargo das crenças religiosas de cada um, assunto este que não será tratado nem professado no Instituto.” 246.

243 Instituto Inglês Pernambucano, Estrada de João de Barros, chácara, n. 24, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 13, terça-feira, 18 de janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131. 244 Idem. 245 Ibidem 246 Instituto Inglês Pernambucano, Estrada de João de Barros, chácara, n. 24, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 13, terça-feira, 18 de janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131.

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Para dar conta de tal currículo o Diretor Robinson, contava com professores

brasileiros, mas procurava frisar também que parte deles, assim como outros

funcionários do colégio, eram oriundos dos Estados Unidos. Até dezembro de 1881

ele ainda anunciava a chegada de professores e professoras vindos de New York

247, além dos professores brasileiros.

Em junho de 1882, um ano e meio após a inauguração da escola, o diretor

William T. Robinson já anunciava seus sucessos: o colégio já recebia alunos de

Pernambuco da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, e segundo ele, podendo

atender até 25 alunos, pouco faltava para completar esse número 248. Nessa ocasião

o diretor não mais anunciou todas as muitas disciplinas do curso secundário de sua

escola– colegial–, mas não deixou de informar:

“No curso colegial dão-se todas as matérias que se exigem

nos exames preparatórios, porém o ensino é liberal e completo como dever ser em qualquer colégio e inclui outras matérias, notando-se, além disso, que o aluno não aprende de cor somente, se bem que esse ensino seja mais fácil para o professor, mas que ele entenda e saiba as matérias antes de deixá-las” (negrito do autor, sublinhado meu) 249.

Entre as prerrogativas do método intuitivo estava uma crítica severa a

memorização como prática de ensino, e o diretor Robinson destacava que em sua

instituição, embora os conteúdos fossem os mesmos exigidos pelos exames

preparatórios, o “aprender de cor” não era praticado, embora fosse “mais fácil para o

professor”. Ele também reafirmava a posição do colégio a respeito do ensino

religioso, em suas palavras: “quanto a religião não são toleradas nem a

desobediência, nem a mentira nem preguiça, nem outros costumes” (grifo do em

negrito do autor) 250. Ou seja, deslocou sua ênfase dos dogmas, para a moralidade

cristã.

Outro aspecto da instrução oferecida nesse colégio a ser destacado através

dos anúncios publicados no Diário de Pernambuco foi o ensino de música. Em

247Idem. 248Colégio Americano, Instituto Inglês de Pernambuco, Estrada de João de Barros, n. 24, Diário de Pernambuco, Ano 58, n. 136, sexta-feira, 16 de junho de 1882, p. 4, Caixa/Rolo 13, FUNDAJ, Recife – PE. 249 Idem. 250 Ibidem.

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janeiro de 1883, o diretor Robinson fez publicar um “Aviso Especial” no qual

anunciou a chegada de Mr. George B. Nind, dos Estados Unidos, “o qual veio com o

fim especial de estabelecer e manter um departamento musical”. Para o ele “as

vantagens de combinar o estudo da música com o das línguas e ciências, deve ser

patente a cada pessoa” e para tanto o colégio estava “provido de um excelente novo

piano de mesa americano” e esperava receber um órgão americano251.

Segundo Valdemarin, para os entusiastas do método intuitivo o ensino do

canto era fundamental, entendido como uma “espécie de ginástica que desenvolve

os órgãos respiratórios e vocais” 252. No entanto o uso da música como suporte

pedagógico não era novidade. Castilho, já em 1850, defendeu em sua cartilha o

canto como recurso capaz de estimular o aprendizado: “Como o cantar é

inteiramente do gosto da puerícia, convém que por cantar se abra a escola, e por

outro se remate” 253. Nem é necessário lembrar o quanto as escolas infantis, até os

dias atuais, utilizam músicas para iniciar e encerrar seus expedientes.

Tenham ou não boa parte das escolas adotado o método americano em suas

rotinas pedagógicas, destaca-se entre os conteúdos mais freqüentes nos currículos

das escolas anunciadas no Diário, além do tripé “ler-escrever-contar”, o ensino da

música vocal e instrumental. E nesse contexto, o piano emergiu como um material

didático, aliás, o material didático mais citado pelos anunciantes do Diário de

Pernambuco: das 99 diferentes instituições de ensino anunciadas, trinta afirmaram

ter um piano à disposição de professores e alunos.

251

Colégio Americano, Aviso Especial, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 24, terça-feira, 30 de Janeiro de 1883, p. 3, caixa/rolo 139, FUNDAJ, Recife – PE. 252 VALDEMARIN, Vera Teresa. Op. Cit. 2006, p. 98. 253

CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa : Impr. Nacional, 1853, p. 10. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

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Quadro 1: Escolas nas quais o piano foi anunciado como suporte pedagógico

Escolas nas quais o piano era um suporte didático

Colégio de Nossa das Victórias

Colégio de Nossa Senhora da Pena

Colégio da Imaculada Conceição para Educação das Meninas

Colégio Duas Irmãs

Colégio do Santíssimo Coração de Jesus

Colégio de São José

Colégio Suiço para Meninas

Escola Mista - Porcia de Melo

Colégio de Nossa Senhora da Graça

Colégio Americano

Colégio Pernambucano para o sexo feminino

Colégio de Santa Lucia

Colégio 12 de Maio

Colégio Sete de Janeiro

Escola Particular - Rua Vidal de Negreiros - Mª do Carmo

Colégio 25 de Março

Colégio de Santa Cruz

Institution française de Demoiselles

Maria Brandão

Colégio de Santa Luzia

Colégio Meira

Externato Rua da Penha 23

Colégio Onze de Agosto

Internato Pernambucano

Colégio Dois de Dezembro

Instituto Acadêmico

Escola particular de instrução primária para o sexo masculino -

Rua Velha 36

Aula Particular - Rua do Gervásio Pires n. 43

Instituto de Nossa Senhora do Carmo

Colégio de S. Luiz Gonzaga

Colégio Americano – Instituto Inglês Pernambucano

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Voltando ao Colégio Americano do Instituto Inglês de Pernambuco, os

anúncios a respeito desse colégio, foram constantes no Diário entre janeiro de 1881

e fevereiro de 1883, quando o colégio mudou de endereço, da Estrada de João de

Barros para a Rua Visconde de Albuquerque 254, conhecida como Rua do Hospício.

A partir de 1884 a escola também deixou de aparecer na lista dos “Colégios de

educação para meninos” dos “Almanaques Administrativo, Mercantil, Industrial e

Agrícola da Província de Pernambuco”, mas, no edital publicado em 1886 pela

Secretária da Instrução Pública de Pernambuco 255, convocando os professores a

apresentarem os dados de seus alunos, constava o nome do professor William T

Robinson.

Além do “Colégio Americano” do Instituto Inglês de Pernambuco, funcionou

em Recife o “Colégio Americano para Instrução de Meninas”, sob a direção das

professoras Maria Cândida Bandeira e sua irmã, Anna Pinto Bandeira de

Magalhães. Estas professoras anunciaram, desde 1880, o novo método de ensino,

somado a sua “longa prática” do magistério, como garantias de “sólida” educação

para as alunas nos seguintes termos:

“O novo sistema de ensino adotado, (o americano) e, sobretudo a longa prática que têm as diretoras de magistério sempre nesta capital é a mais firme garantia de darem uma educação sólida e completa as suas alunas.” (grifo meu) 256.

Apesar do nome da escola fazer referência ao método americano, da

divulgação feita pelos homens ilustrados a respeito do método em vários meios, e da

historiografia do tema ser unânime em afirmar ser este um símbolo de modernidade

pedagógica, para as professoras Maria Cândida e Anna Pinto– e, talvez, para os

pais, mães e/ou responsáveis pelas alunas aos quais se destinava seus anúncios–,

254 Colégio Americano, Rua Visconde de Albuquerque, n. 28, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 29, terça-feira, 6 de Fevereiro de 1883, p. 3, caixa/Rolo 139, FUNDAJ, Recife – PE. 255 Ensino Particular, EDITAL, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 263, terça-feira, 16 de Novembro de 1886, p. 3-4, Caixa/Rolo 155, FUNDAJ, Recife – PE. 256

Colégio Americano para educação de Meninas, Rua do Imperador, 49, Diretora, Maria Candida

Bandeira de Magalhães, auxiliada por sua irmã Anna Pinto Bandeira de Magalhães, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 15, terça-feira, 20 de janeiro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE.

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a experiência bem sucedida, a prática, era a melhor fiança do seu trabalho, mais do

que qualquer método.

O “Colégio Americano” das professoras Mª Cândida e Anna Pinto continuou

sendo anunciado no Diário de Pernambuco até 1886, quando já gozava de

antiguidade entre as instituições em funcionamento na cidade, sendo anunciado nos

seguintes termos: “As aulas deste antigo e conceituado instituto para a educação de

meninas abrem-se segunda-feira 11 do corrente. Recebe pensionistas, meio-

pensionistas e externas”(grifo meu) 257. O colégio também consta nas listas dos

“Colégios de Educação de Meninas” publicadas nos “Almanaque Administrativo,

Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco”, publicados entre 1881

e 1885.

O Curso Minerva, Internato e Externato, situado na Rua do Imperador, nº 52,

também anunciou utilizar o método americano. Em dezembro de 1886, o professor

José Calasans de Assis, diretor do curso, fez publicar que:

“(...) tem empregado todos os esforços para adotar em seu curso o método americano, quer no ensino preparatório, quer no ensino primário, e eis o programa que pretende estabelecer: o curso primário é dividido em dois anos, constando o primeiro de rudimentos primários e ensino de coisas, método muito adotado em todos os países cultos” 258.

Diferente do professor Robinson, o qual fez publicar anúncios sobre a

contratação de professores americanos, materiais didáticos e professor de música, o

professor Calasans não publicou nas terças-feiras (e em outros dias consultados),

entre 1880 e 1888, no Diário de Pernambuco e nos deixou sem informações sobre

sua trajetória com ou sem o método intuitivo.

O método Intuitivo ainda ocupou um lugar no currículo do Colégio Dois de

Dezembro, publicado em janeiro de 1881, no Diário de Pernambuco, pelo bacharel

José Bandeira de Mello e o professor José Ferreira da Cruz Vieira. O curso de

instrução primária oferecido pelos professores durava três anos e era dividido em

curso preliminar, elementar e complementar, da seguinte maneira:

257

Colégio Americano, Rua do Imperador, n. 43, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano

62, n. 8, terça-feira, 12 de Janeiro de 1886, p. 5, Caixa/Rolo 152, FUNDAJ, Recife – PE. 258 Curso Minerva, Internato e Externato, Rua do Imperador, n. 52, 1º Andar, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 300, terça-feira, 30 de dezembro de 1884, p. 4, Caixa/Rolo 146, FUNDAJ, Recife – PE.

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“1º ANO CURSO PRELIMINAR Exercícios de Intuição; Religião – Primeiras orações do cristão, ideias fundamentais da moral cristã; Leitura; Caligrafia; Aritmética – as quatro operações sobre inteiros, por meio de contador mecânico; Gramática – conhecimentos das diversas espécies de palavras pela vista dos objetos; Desenho – desenho linear; Ginástica – exercícios preliminares. 2º ANO CURSO ELEMENTAR Religião – Doutrina Cristã Moral – Princípios de Moral aplicados pelo professor; Leitura – Leitura corrente de prosa e verso; Caligrafia – Escrita corrente; Aritmética – as quatro operações sobre inteiro, decimais e frações de sistema legal de pesos e medidas, problemas de uso comum; Gramática – etimologia, ortografia, prática por meio do ditado; Geografia – Geografia do Brasil; Ciências Naturais – Princípios de física e química; Higiene – curtas preleções pelo professor; Desenho – Desenho linear e desenho a vista dos objetos de uso comum; Ginástica – exercícios: 1º carreira cadenciada em zig-zag, em espiral e em cadeias ginásticas, 2º saltos a pé, 3º saltos em largura e altura, 4º cordas de noz, barras de esferas, etc. 3º ANO CURSO COMPLEMENTAR Religião – História Sagrada; Civilidade – Preceitos Leitura – Leitura da Constituição e dos deveres do cidadão, leitura e recitação de prosa e verso; Caligrafia; Aritmética – Proporções, regra de três e aplicações; Gramática – Análise gramatical e lógica, exercícios de ortografia e redução; Geografia – Princípios de Geografia universal e especialmente a do Brasil; História – História do Brasil; Ciências Naturais – Princípios Geral de Zoologia, botânica, fisiologia vegetal e mineralogia; Agricultura – (ensino teórico e prático) noções de geologia, agricultura e culturas especiais mais usadas;

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Higiene; Desenho – desenho de ornatos, carta do Brasil e especialmente da província de Pernambuco; Ginástica – Exercícios; Francês – curso prático” (letra maiúscula do autor, sublinhados meus) 259.

Todo o programa iniciava-se com os exercícios de intuição e, segundo Gladys

M. T. Auras 260, a palavra intuição foi introduzida no vocabulário pedagógico pelos

pedagogos alemães, fazendo referência ao conhecimento sensível, alcançado

através do contato material dos órgãos do sentido, com os objetos a respeito dos

quais se deseja aprender. Segundo os pressupostos do método intuitivo, os

sentidos– tato, paladar, audição e visão– seriam as portas para o conhecimento do

mundo. O programa de ensino, ao começar pelos exercícios de intuição,

pressupunha atividades através das quais as crianças eram estimuladas a observar

e analisar os objetos concretos existentes em seu entorno ou colocados diante delas

pelo professor.

Além dos exercícios de intuição a utilização de objetos como o contador

mecânico nas aulas primárias também era uma recomendação contida nas cartilhas.

Norma A. Calkins, em seu celebrado manual de “Primeiras Lições de Coisas”,

prescreveu o uso desse aparelho nos “Primeiros Exercícios”:

“Lançando mão do contador, proceda o mestre, no começo, do modo que se vai esboçar. Mova uma esfera de cada vez, exigindo que os alunos digam: - ‘Uma esfera e uma esfera são duas esferas; duas esferas e uma esfera, três esferas; três esferas e uma esfera, quatro esferas’, etc” 261.

Embora o uso de instrumentos como o contador mecânico entre outros

tenham sido divulgados pelos entusiastas do método intuitivo, em 1881 não era uma

259 Colégio Dois de Dezembro, Rua do Hospício, n. 53, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 13, terça-feira, 18 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo: 135, FUNDAJ, Recife – PE. 260

AURAS, Gladys Mary Teive. “Uma vez normalista, sempre normalista”: a presença do método de ensino intuitivo ou lição de coisas na construção de um habitus pedagógico (Escola Normal Catarinense – 1911-1935). (Doutorado em Educação) Universidade Federal de Santa Catarina, 2005, p. 136. 261

CALKINS, Norman A. Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar para uso dos pais e professores. In: BARBOSA, Rui. Obras Completas. Rio de Janeiro. Vol. XIII, Tomo I, 1886, p. 268. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20das%20Coisas. Ultimo acesso em: 30 de Agosto de 2012.

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novidade pedagógica, pois Feliciano de Castilho, desde 1853, já recomendava a

utilização desse objeto como suporte “aos primeiros exercícios de contagem vocal”.

Castilho recomendava aquele aparelho por ele reunir “a vantagem de exercitar e

prender a atenção dos alunos, a de tornar desde logo concreta a ideia abstrata de

numeração” 262.

Para os entusiastas do método intuitivo o uso de aparelhos desse tipo não era

recomendado por tornar concretos conceitos abstratos e, sim, porque para se

chegar a conceitos abstratos, seria necessário passar pelos concretos. A ideia não

seria ligar o educando a concretude “das coisas”, mas torná-lo apto a, partindo da

concretude das coisas, mergulhar no mundo do abstrato.

262

CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 274 e 276. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

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Imagem 14: Contador Mecânico, suporte didático sugerido desde 1850 para o ensino da

matemática

Fonte: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente

refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 275. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

O ensino da “gramática” pelo “conhecimento das diversas espécies de

palavras pela vista dos objetos” também é uma prescrição contida na cartilha de

Norman A. Calkins. Segundo ele, o ensino da leitura deveria ser iniciado chamando

a atenção dos alunos para algum objeto cujo aspecto, nome e uso lhes fossem

familiares. Em suas palavras, a sequência das primeiras lições de alfabetização das

crianças devia ocorrer da seguinte forma:

“(...) nas primeiras lições de leitura, se mostrará o objeto, discorrendo a seu respeito, e proferindo-lhe o nome; após o que exigirá o mestre uma estampa desse objeto, ou o desenhará no quadro preto, induzindo os alunos a notarem como essa é a imagem ou a pintura dele. Em seguida se lhe imprimirá por inteiro o nome no quadro preto, ou apresentará impresso numa carta, ou mapa. Então aprenderá o discípulo a

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distinguir o objeto, a sua imagem e a palavra que o nomeia (...)” (grifos em itálico do autor) 263.

Antes de começar a ensinar as letras das palavras, as crianças deveriam ser

postas em contato com muitas palavras, deixando claro serem as palavras “símbolos

dos sons, das coisas e dos pensamentos” 264. E apenas quando as crianças já

estivessem familiarizadas com um número suficientemente grande de palavras,

iniciariam os processos de decomposição das palavras em sílabas/sons e letras.

No Colégio Dois de Dezembro, de acordo com o currículo do “curso de

instrução primária” publicado pelos professores, no tocante ao ensino de gramática,

todo o primeiro ano deveria ser dedicado a conhecer novos tipos de palavras. No

segundo ano, no “Curso Elementar”, eles seriam apresentados a “etimologia,

ortografia e prática do ditado” e no terceiro, no “Curso Completar” finalmente se

fariam “análise gramatical e lógica, exercícios de ortografia e redução”.

O desenho também assumia um papel fundamental no método intuitivo.

Através de sua prática, desde os primeiros anos de aprendizado, as crianças

estariam educando seus olhos e mãos, sendo também preparadas para a

diversidade de suas aplicações no futuro, como o disse Valdermarian:

“(...) se o objetivo do método intuitivo é atingir um grau de aprendizagem que seja demonstrado em construções e trabalhos elaborados pelos alunos, nessa faixa etária específica, esse conhecimento pode ser amplamente avaliado por meio do desenho” 265.

Assim como o desenho, as atividades físicas também desempenhavam um

papel importante na rotina pedagógica e sua alternância com as atividades em sala

de aula tendiam a criar pontos de equilíbrio. A ginástica elencada como parte do

currículo de todos os níveis do programa de ensino primário do colégio Dois de

263

CALKINS, Norman A . Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar para uso dos pais e professores. In: BARBOSA, Rui. Obras Completas. Rio de Janeiro. Vol. XIII, Tomo 1, 1886, p. 422 Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20das%20Coisas. Ultimo acesso em: 30 de Agosto de 2012. 264 Idem, p. 423. 265

VALDEMARIN, Vera Teresa. O método intuitivo: os sentidos como janelas e portas que se abrem

para um mundo interpretado. In: SAVIANI, Dermeval; ALMEIDA; Jane Soares de; SOUZA, Rosa Fátima de & VALDEMARIN, Vera Teresa. O legado educacional do século XIX. Campinas: Editores Associados, 2006.

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Dezembro seria responsável por proporcionar um contrapeso necessário às

atividades intelectuais das crianças, além de ser mais um momento de educar os

sentidos como tato, visão e audição.

No clássico livro “Arruar: história pitoresca do Recife Antigo” 266, Mario Sette

introduziu o capítulo no qual se dedicou a dissertar a respeito da educação nos

tempos do Império com uma gravura do Internato Pernambucano, quando este

ainda funcionava em um casarão na Ponte de Uchoa 267, na qual se viam crianças

praticando esportes, brincando de roda, andando de bicicleta etc. Na legenda ele

interpretou que aquela cena dizia respeito ao horário do “recreio” das crianças.

Imagem 15: Internato Pernambucano, em Ponte de Uchoa

Fonte: SETTE, Mario. Arruar: história pitoresca do Recife Antigo. Recife: Governo do Estado de Pernambuco/Secretaria de Educação e Cultura, 1978, p. 288-289.

266 SETTE, Mario. Arruar: história pitoresca do Recife Antigo. Recife: Governo do Estado de Pernambuco/Secretaria de Educação e Cultura, 1978, P. 288’‘289. 267 O Internato Pernambucano sob a direção de Manoel Alves Viana funcionou de 1876 até 1882 em uma chácara na Ponte de Uchoa, quando foi transferido para o edifício de n. 55 da Rua do Hospício. In: Transferência de Colégio, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 36, terça-feira, 14 de Fevereiro de 1882, Caixa 135, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE.

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A gravura utilizada por Mario Sette é uma republicação e faz referência

imediata àquela publicada pelo professor Manoel Alves Viana em fevereiro de 1881:

Imagem 16: Internato Pernambucano, em Ponte do Uchoa, nº 21, fundado em 1879 pelo

professor Manoel Alves Viana.

Fonte: Internato Pernambucano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 57, n.

36, terça-feira, 15 de fevereiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

Podemos perceber que a gravura reproduziu, em primeiro plano, algumas das

práticas de ginástica descritas pelos professores do Colégio Dois de Dezembro,

como a carreira cadenciada em zig zag, em espiral e em cadeias ginásticas sob a

supervisão de um adulto à esquerda, entre os canteiros e a escada de entrada do

prédio, jogo de pula corda praticado pela criança próxima ao rapaz na bicicleta,

barras de esferas praticado por dois meninos sob a supervisão de um adulto

próximo ao grupo de cinco meninos em uma roda. No mais, ginástica foi um dos

conteúdos aos quais o professor Viana fez menção através de anúncios:

“Internato Pernambucano N. 55 – Rua do Hospício – N. 55

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Instrução primária, secundária, conversação das línguas inglesa e francesa, música, piano e ginástica” (grifos em negrito do autor) 268.

Embora o professor Manoel não tenha incluído nenhuma informação sobre

seu método de ensino em seus anúncios, a gravura escolhida para fazer a

propaganda de sua escola fez referência a uma aula de educação física ou ginástica

realizada ao ar livre.

Imagem 17: Possíveis exercícios de educação física orientados pelos professores

Fonte: Internato Pernambucano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 57, n. 36, terça-feira, 15 de fevereiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

Tão amplo quanto o programa anunciado do Colégio Dois de Dezembro, foi o

programa de ensino anunciado pelo Instituto Dezenove de Abril, sob a direção do

diretor Augusto Porto Carreiro, em dezembro de 1886. Em sua escola o curso

primário era dividido em quatro anos e as matérias se distribuíam da seguinte forma:

“4ª Série 1º Leitura corrente, interpretativa de prosa e verso. Declamação. 2º Aritmética – Proporções e suas aplicações. 3º Caligrafia até letra de fantasia. 4º Geometria: noções aplicadas a arquitetura. 5º Gramática: sintaxe. 6º Redação: exercícios originais. 7º Noções generalíssimas de Geologia. 8º Noções de Geografia. 9º Noções de História do Brasil.

268

Internato Pernambucano, Rua do Hospício, n 55, (Onde foi o colégio dos jesuítas), Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 175, terça-feira, 4 de Agosto de 1885, p. 5, Caixa 150.

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3ª Série

1º Leitura corrente de prosa e verso. 2º Aritmética: Frações e metrologia 3º Caligrafia até cursivo. 4º Desenho linear: problemas sobre as figuras em geral. Estudo de sólidos. 5º Gramática: Lexicologia, análise lexicológica. 6º Exercícios de redação. Descrição de quadros e paisagens. 7º Noções de Física e Meteorologia. 8º Noções de Cosmografia. 2ª Série

1º Leitura corrente de prosa. 2º Aritmética. Operações fundamentais. 3º Caligrafia até bastardinho. 4º Lições de coisas aplicadas á geometria. 5º Gramática: Prosódia e ortografia; análise. 6º Religião. 1ª Série 1º Leitura até soletração. 2º Lição de coisas aplicadas a Aritmética. 3º Caligrafia até bastardo” (grifos meus) 269.

No currículo do curso primário de sua escola, o professor Augusto Porto

Carreiro também incluiu as “lições de coisas”, associando o novo método ao ensino

de aritmética e geometria e apenas nos dois primeiros anos do ensino primário.

Outra escola a adotar em seu currículo a “Lição das Coisas” foi o “Curso

Primário e Preparatório”, em funcionamento na Rua da Imperatriz n. 15, sob a

direção do professor Manuel Chrysogno da Silva Braga. Esta escola tinha um

programa de ensino mais sintético se comparado aos das outras instituições de

ensino já abordadas até o presente (provavelmente porque se tratava de um curso,

e não de uma escola ou colégio), e era composto por apenas dez aulas, as quais

eram ministradas pelo diretor da instituição, auxiliado por dois outros professores:

“1ª Aula: Leitura 2ª Aula: Declamação 3ª Aula: Gramática, teórica e prática 4ª Aula: Aritmética, teórica e prática do sistema métrico 5ª Aula: Geografia 6ª Aula: História Natural e lições sobre as coisas

269

Instituto Dezenove de Abril, Exames da Aula Infantil, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 281, terça-feira, 7 de Dezembro de 1886, p. 3, Caixa 155, FUNDAJ, Recife – PE.

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7ª Aula: Geometria 8ª Aula: Desenho Linear 9ª Aula: Doutrina Cristã 10ª Aula: Caligrafia.” (grifo meu) 270.

Entre as possibilidades para o uso das “lições das coisas”, o professor Manuel

Chrysogno escolheu associá-la a história natural. Segundo Valdemarin, uma

consequência da utilização dos pressupostos do método intuitivo era a inclusão das

ciências da natureza na escola primária 271. Com o ensino centrado em experiências

práticas, a sala de aula ideal para a aplicação das lições de coisas deveria torna-se

um mini-laboratório científico no qual os alunos deveriam aprender testando,

experimentando, trabalhando com os jogos e formas, cores, letras, cartas

geográficas, etc.

Aliás, o professor José Marques Acauá Ribeiro, ao incluir “Lições de Coisas”

no programa de ensino de sua escola, não o associou a nenhuma outra disciplina. O

curso primário do Ateneu Brasileiro foi divido em dois anos e da seguinte forma:

“PROGRAMA DO CURSO PRIMÁRIO 1ª Série Leitura, Caligrafia, Gramática Portuguesa elementar, Aritmética elementar, Noções gerais de Geografia. 2ª Série Leitura, Cartografia do Brasil, Noções de História do Brasil, Lição das Coisas, Desenho Linear, Português.” (grifos em itálico e letra maiúscula do autor, sublinhado meu) 272.

Do programa do curso primário do Ateneu Brasileiro, o conteúdo de “Lição

das Coisas” emerge como uma matéria. No manual de Norman A. Calkins, “lição das

coisas” são exercícios nos quais as crianças deveriam exercitar os sentidos do ver,

apalpar, gostar, cheira, ouvir, falar através da análise de objetos como cadeiras,

sinos e campas, campainhas, alfinetes, relógios, chapéus, sapatos, portas, cartas,

270 Curso Primário e Preparatório, Rua da Imperatriz, n. 15, Programa das aulas do curso Primário e Preparatório no Ano Letivo de 1880, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 102, terça-feira, 4 de Maio de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 128, FUNDAJ, Recife – PE. 271 VALDEMARIN, Vera Teresa, Op. Cit, 2006, p. 96. 272

Atheneu Brasileiro, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 95, terça-feira, 28 de

Abril de 1885, p. 3, Caixa/Rolo 149, FUNDAJ, Recife – PE.

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dedal, chave, esponja, água, leite, vidro, lã, sal, açúcar, cola, goma arábica, cortiça,

couro, vento, obréias, chumbo, ferro, cobre, prata, ouro, imã 273.

Observando a forma como os diretores das escolas optaram por fazer

menção do método intuitivo, americano ou “lição das coisas” em seus anúncios,

podemos perceber a múltiplas formas possíveis de apropriação do método. Tanto

houve instituições, como o Colégio Americano do Instituto Inglês de Pernambuco e o

Colégio Americano para Instrução das Moças, que diziam aplicar o método em sua

integralidade. Houve colégios nos quais os diretores optaram por usar as “lições de

coisas” em apenas uma ou duas disciplinas de acordo com sua conveniência.

Por fim também encontramos o caso do Ateneu Brasileiro, no qual “Lição das

Coisas” constava como uma das matérias do currículo. E este fato nos indica

também que, provavelmente, não havia a necessidade de nenhuma ortodoxia

metodológica para que as escolas particulares conseguissem se estabelecer na

capital da província. Ao que parece, como apontaram duas professoras

anteriormente referidas, valia mais a prática (e provavelmente o reconhecimento

público do professor ou professora) a do que a regra.

Para além das metodologias de ensino, e apesar delas, suspeitamos através

da análise dos anúncios investigados, que nós pudéssemos encontrar vestígios a

respeito da presença das questões políticas emergentes no Recife da década de 80

do século XIX, no ambiente cultural das escolas, ajudando a forjar as culturas

escolares locais. Por esta razão, ao longo de todo o processo da pesquisa,

perseguimos (e esta é a expressão) pistas sobre as possíveis influências do

movimento abolicionista ou das discussões a respeito do fim da escravidão nos

ambientes escolares. Deste esforço, resultou a seção a seguir.

273

CALKINS, Norman A. Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar para uso dos pais e professores. In: BARBOSA, Rui. Obras Completas. Rio de Janeiro. Vol. XIII, Tomo 1, 1886, Pp. 467-516. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20das%20Coisas. Ultimo acesso em: 30 de Agosto de 2012.

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CAPÍTULO 4: A ABOLIÇÃO NOS ANÚNCIOS DOS JORNAIS

4.1. A historiografia da Abolição em Pernambuco

Desde a década de 1850 associações foram formadas em Recife com o

objetivo de emancipar escravos como a “Associação de Socorros Mútuos e Lenta

Emancipação dos Cativos” criada em 1859 e a “Associação Acadêmica Promotora

da Remissão dos Cativos” de 1860. No entanto, foi entre as décadas de 1870 e

1880 que surgiu um número realmente significativo de associações abolicionistas de

vários tipos congregando diversos tipos de pessoas. Segundo Coriolano Medeiros

274, havia dezessete associações abolicionistas em funcionamento na cidade de

Recife em 1884:

Apesar do ativismo de seus membros, essas associações em geral não

tiveram longa duração, sendo dissolvidas após o domingo, 13 de maio de 1888. No

mais a ação desses clubes abolicionistas na capital da província de Pernambuco,

como muitos outros aspectos dos acontecimentos da década de 1880, não foi

transformado em objeto de estudo dos historiadores nos últimos anos.

274

Gilberto Freyre em 1925 por ocasião do aniversário de 100 anos do Diário de Pernambuco

organizou junto a diversos intelectuais “O livro do Nordeste” no qual vários assuntos foram abordados, tais como economia, medicina, música, artesanato e literatura, entre eles esteve o texto “O movimento da Abolição no Nordeste” de Coriolano de Medeiros, na época ele exercia o cargo de diretor interino da Escola de Aprendizes de Artífices da Paraíba, foi responsável pela fundação de revistas e jornais de curta duração na Paraíba. Em 1988 em comemoração ao centenário da Abolição Leonardo Dantas organizou sob o incentivo do CNPq e da FUNDAJ uma coletânea de textos históricos chamada “A Abolição em Pernambuco” entre os textos por ele resgatados estava o de Coriolano de Medeiros. In: MEDEIROS, Coriolano de. O movimento da Abolição no Nordeste. In: SILVA, Leonardo Dantas. A Abolição em Pernambuco. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1988. Pp. 38 – 55.

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Quadro 2: Associações abolicionistas citadas por Coriolano de Medeiros, em

funcionamento em 1884 275.

Associação Mista Redentora dos Cativos

Caixa Emancipadora Maranhense Marques

Rodrigues

Caixa Emancipadora Pedro Bandeira

Caixa Emancipadora Piauiense

Clube Abolicionista D. José

Clube Cupim

Clube Dramático Emancipador

Comissão Central Emancipadora do

Município do Recife

Emancipadora Acadêmica

Emancipadora Cearense

Emancipadora Pernambucana

Grêmio Emancipador

Libertadora Norte-Riograndense

Libertadora Paraibana

Libertadora Sergipana

Sociedade Ave Libertas

Sociedade Musical 28 de Setembro

Sociedade Pernambucana contra a Servidão

Trupe Dramática Abolicionista

Em 1988, no segundo capítulo do livro “Escravidão e Abolição no Brasil:

novas perspectivas”, Ciro Flamarion Cardoso analisou algumas das principais

pesquisas publicadas entre 1960 e 1988 a respeito o tema Abolição e nos primeiros

parágrafos desse texto, mesmo antes de começar a expor suas análises, afirmou: “É

possível enfrentar o exame da abolição brasileira de ângulos muito variados” 276. No

entanto, para o caso de Pernambuco e em especial para o Recife, não contamos

com tamanha variedade de ângulos a respeito deste assunto nas últimas décadas.

275 MEDEIROS, Coriolano de. O movimento da Abolição no Nordeste. In: SILVA, Leonardo Dantas. A Abolição em Pernambuco. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1988, Pp. 41-42. 276 CARDOSO, Ciro Flamarion S.; FRAGOSO, João Luís Ribeiro; CASTRO, Hebe Mattos de & VAINFAS, Ronaldo. Escravidão e Abolição no Brasil: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988, pg. 76.

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Sobre a Abolição e o abolicionismo em Recife, as publicações no momento

atual são escassas e até o presente momento nenhuma dissertação 277 ou tese 278

foi produzida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal

de Pernambuco abordando diretamente este tema. A maior parte das publicações a

respeito deste tema faz parte da Série Abolição, produzida e publicada pela

Fundação Joaquim Nabuco–, em parceria com o Ministério da Ciência e

CNPq/Comissão de Eventos Históricos, em 1988– como forma de comemoração ao

centenário da Abolição no Brasil.

A Série Abolição é composta por vinte um volumes 279, entre os quais

constam edições fac-similares de livros publicados durante a década de 1880 por

alguns militantes abolicionistas, como Joaquim Nabuco, André Rebouças, e Luis

Anselmo da Fonseca; coleções e catálogos de jornais que circularam durante a

campanha abolicionista; trabalhos sobre a escravidão; dois volumes dedicados a

trazer a público os trabalhos apresentados no Primeiro Congresso Afro-Brasileiro,

realizado em 1934, em Recife, sob a coordenação de Gilberto Freyre; biografias de

personalidades como o estadista João Alfredo e Henrique Dias e; como sugere o

título da coleção, alguns volumes sobre a Abolição.

Os livros dedicados a tratar da Abolição são: “Abolição: a Liberdade veio do

Norte”, de Fernando da Cruz Gouvêa; “A Abolição em Pernambuco” organizado por

Leonardo Dantas Silva; e “Atualidade e Abolição”, organizado por Manuel Correia de

Andrade e Eliane Moury Fernandes. Falemos um pouco sobre cada um deles.

277

A Produção Cientifica do Mestrado do Departamento de Pós-Graduação em História da

Universidade Federal de Pernambuco entre os anos de 1977 e 1012 está disponível em: http://www.ppghistoria.ufpe.br/index.php?option=com_content&view=article&id=288&Itemid=233. Ultimo acesso em 01 de Abril de 2012 278

A Produção Cientifica do Doutorado do Departamento de Pós-Graduação em História da

Universidade Federal de Pernambuco entre os anos de 1991 e 2012 está disponível em: http://www.ppghistoria.ufpe.br/index.php?option=com_content&view=article&id=303%3Aproducao-cientifica-doutorado&catid=1&Itemid=233. Ultimo acesso em 01 de Abril de 2012. 279

A lista com os livros contidos nessa série por nós utilizada encontra-se no 21º volume da série, o

livro “Atualidade e Abolição”, organizado por Manuel Correia de Andrade e Eliane Moury Fernandes. Seu conteúdo é derivativo do “Ciclo de Conferências, comemorativo do centenário da Abolição da Escravatura Negra”, realizado pela Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira Rodrigo Melo Franco de Andrade (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco, de agosto de 1987 a fevereiro de 1988, este livro foi publicado em 1991, sendo o último volume da série.

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Em “Abolição: a liberdade veio do Norte” 280, Fernando da Cruz Gouvêa,

através dos jornais publicados em Recife e no Rio de Janeiro, procurou reconstruir

os debates referentes ao movimento abolicionista no Conselho de Ministros, no

Senado do Império, na Câmara dos Deputados, na imprensa da Corte e da

Província, discutindo “o comportamento dos conservadores e liberais, e

contradições, consequências da importância dos interesses” 281 em torno da

extinção do elemento servil no Império do Brasil.

Segundo Cruz Gouvêa, a Abolição teria representado naquele momento um

problema “cruciante” para os estadistas do Império, tanto para os conservadores

quanto para os liberais, pois colocava em questão o direito a propriedade,

assegurado pela própria Constituição. Mas, uma vez realizada tornou-se “a maior

reforma social levada a cabo no Brasil”; reforma esta iniciada no Norte do Império,

devido à ação de personagens como Joaquim Nabuco e José Mariano. Por isso, no

dizer de José do Patrocínio, publicado no jornal “Cidade do Rio” “a liberdade, afinal

viria do Norte” 282.

Sobre a ação dos escravos, Cruz Gouvêa assinalou que a libertação ocorreu

sem a ocorrência uma “insurreição cabal” dessas massas, embora as fugas de

escravos nas regiões cafeeiras tenham, em sua interpretação, aconselhado aos

políticos e aos proprietários a conveniência de se trocar o braço escravo pelo livre.

Em “Abolição: a Liberdade veio do Norte”, a liberdade dos escravos emergiu como

uma concessão da elite senhorial, uma perspectiva a muito superada pelas

pesquisas realizadas nos últimos vinte quatro anos.

Na abertura do I Seminário de Pós-Graduandos em História do Processo de

Abolição e Pós-Abolição no Brasil, realizado em 2011, pelo Programa de Pós-

Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, Eduardo Silva

ponderou da seguinte forma a sua visão a respeito do processo de Abolição no

Brasil:

“A abolição da escravatura não podia mais ser vista (ou combatida) apenas como uma concessão da classe dominante

280 GOUVÊA, Fernando da Cruz. Abolição: A Liberdade veio do Norte. Recife: FUNDAJ –Editora Massangana, 1988. 281

Idem, p. 13. 282 Ibidem, p. 14, 15.

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senhorial. Pelo contrário: as pesquisas revelavam, entre outras coisas, uma fortíssima e decisiva participação popular na conquista da liberdade. A explicação antiga, o paradigma senhorial da Abolição, simplesmente caducou.” 283.

Quanto ao “A Abolição em Pernambuco” 284, organizado pelo jornalista e

escritor Leonardo Dantas Silva, não se trata de uma pesquisa e, sim, de uma

coletânea de ensaios publicados por diversos autores, em diversos meios diferentes,

entre fins do século XIX e início do século XX, a respeito da Abolição junto ao

“Catálogo da exposição realizada no Teatro Santa Isabel entre 13 e 31 de maio de

1938”, em comemoração ao cinquentenário da Abolição.

A coletânea de ensaios elaborada por Leonardo Dantas resgata desde a fala

de Pereira da Costa, “A Ideia Abolicionista”– pronunciada no Teatro de Variedades

de Novo Hamburgo, em agosto de 1887 e publicada no Jornal a Província em

outubro do mesmo ano e posteriormente na Revista do Instituto Arqueológico

Histórico e Geográfico Pernambucano em 1891–, passando pelo artigo publicado

por Joaquim Maria Carneiro Vilela publicado em 13 de Maio de 1905, no Jornal

Pequeno– relembrando as ações realizadas pelo Clube Cupim em Recife durante a

década de 1880– até o ensaio de Coriolano de Medeiros “O movimento da Abolição

no Nordeste”, publicado no “Livro do Nordeste” 285 organizado por Gilberto Freyre

em 1925.

Somado ao “Catálogo da exposição realizada no Teatro Santa Isabel em

comemoração ao Cinquentenário da Abolição”, o livro se destaca por seu caráter

documental, guardando diferentes discursos a respeito dos acontecimentos e

sujeitos envolvidos nos debates e ações que levaram ao fim da escravidão no Brasil.

Por fim, consta na série o livro “Atualidade e Abolição” 286, no qual foram

reunidos os trabalhos apresentados no “Ciclo de Conferências Comemorativas ao

Centenário da Abolição da Escravidão Negra”, realizado pela Fundação Joaquim

283

SILVA, Eduardo. Domingo, dia 13: o undergroud abolicionista de ponta e a conquista da liberdade. In: ABREU, Martha & PEREIRA, Matheus Serva (orgs.). Caminhos da Liberdade: histórias da abolição e do pós-abolição no Brasil. – Niterói: PPG História – UFF, 2011, p. 30 - 31. 284 SILVA Leonardo Dantas (org.). A abolição em Pernambuco. Recife: FUNDAJ - Ed. Massangana, 1988. 285 Gilberto Freyre em 1925 por ocasião do aniversário de 100 anos do Diário de Pernambuco organizou junto a diversos intelectuais “O livro do Nordeste” no qual vários assuntos foram abordados, tais como economia, medicina, música, artesanato e literatura. 286 ANDRADE, Manuel Correia de & FERNANDES, Eliane Moury. Atualidade e Abolição. Recife: FUNDAJ – Massangana, 1991.

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Nabuco entre agosto de 1987 e fevereiro de 1988, somados às conferências

apresentadas por historiadores durante o “Seminário Atualidade e Abolição”,

organizado pela professora Eliana Gonçalves Moury, em 1988.

Entre os temas abordados no livro, além da Abolição, encontramos questões

ligadas à escravidão e ao racismo, a miscigenação e discriminação racial

características do período pós-abolição 287. Como explicou Manuel Correia de

Andrade na introdução do livro, o seminário foi organizado com a intenção não

apenas de discutir a Abolição, mas a atualidade de sua discussão em face as

dificuldades e discriminações sofridas por homens e mulheres negros e negras no

Brasil desde os dias de colônia até a atualidade.

Entre as palestras e conferências registradas destacamos a do prof. Marc Jay

Hoffnagel, “O partido Liberal em Pernambuco e a questão Abolicionista, 1880-1888”

288, no qual defende a tese de que, ao longo de todo o período estudado, o Partido

Liberal, apesar da existência de alguns liberais anti-escravistas, como Joaquim

Nabuco e José Mariano, se opôs a qualquer mudança no status quo escravista,

embora não tenha exposto publicamente esta postura de forma clara e ostensiva 289.

Para ponderar a respeito da atuação do Partido Liberal ao longo do

fortalecimento e radicalização da campanha abolicionista, faz-se necessário, nos

alerta Hoffnagel, levar em conta algumas dificuldades internas enfrentadas por

aquele partido. No limiar da década de 1880, o Partido Liberal de Pernambuco vinha

se recuperando de uma disputa interna por empregos e favores oriundos do poder

central, forte o suficiente para provocar mortes, causar uma cisão dentro do partido e

minar sua força política dentro da província.

Somando a crise interna do partido com a crise econômica vivenciada na

província, conseguir favores do poder central tornava-se cada vez mais importante

para os liberais levando-os a assumir uma postura política de prudência e cautela,

procurando evitar ações capazes de provocar divisões no partido. Hoffnagel afirmou

287 Idem, p. 7 -9. 288 HOFFNAGEL, Marc Jay. O partido Liberal de Pernambuco e a questão da abolicionista, 1880-1888. In: ANDRADE, Manuel Correia de & FERNANDES, Eliane Moury. Atualidade & Abolição. Recife: Massangana – FUNDAJ, 1992, pp. 139 – 152. 289 Idem, p. 142.

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ter sido essa política conciliatória a responsável pela impressão de que o partido

liberal era indiferente à manutenção do sistema escravista 290.

No entanto, mesmo com o declínio da população escrava no Norte do Império

do Brasil os proprietários pernambucanos, segundo o autor, não ficaram indiferentes

ou favoráveis às medidas tomadas no sentido de extinguir a escravidão. O declínio

da população escrava não foi uniforme em todas as propriedades da província e,

mesmo no final da década de 1880, alguns senhores reclamavam nos jornais a

respeito das atividades abolicionistas.

Se em momentos chaves, como as discussões emancipacionistas de 1884,

os líderes liberais pernambucanos não apresentaram uma oposição clara ao

abolicionismo, isso não ocorreu porque eram ‘menos apegados’ ao sistema

escravista, e sim, por falta de condições políticas de lutar abertamente contra os

interesses do governo central. Em nome do poder político, garantidor de empregos,

comissões, promoções e nomeações do poder central, os liberais, em determinados

momentos, fizeram determinadas concessões ao abolicionismo, sem, contudo,

deixar de defender a manutenção da mão de obra escrava em outros momentos.

Para Hoffnagel, a ambiguidade contida na forma como o Partido Liberal de

Pernambuco dialogou, ao longo da década de 1880, com as questões referentes à

extinção do elemento servil no Império do Brasil, não representavam um

abolicionismo precoce, e sim, um distanciamento entre os interesses econômicos do

Império e a classe política 291.

Além de Hoffnagel, Antônio Torres Montenegro foi autor do livro “Abolição” 292,

integrante da Série Princípios da Editora Ática, publicado em 1988. Nele,

Montenegro descreveu o Abolicionismo como um movimento social construído e

desenvolvido pelas camadas médias da população urbana, em constante conflito

com a classe dominante e o governo imperial. Para ele os integrantes do movimento

abolicionista eram empregados do comércio, funcionários públicos, advogados,

médicos, juízes e militares envolvidos em um movimento cuja intenção ia além da

libertação dos escravos, tendo por ambição possibilitar além da liberdade, a

oportunidade de instrução pública para os libertos e uma reforma eleitoral capaz de

290 Ibidem, p. 143 291 Ibidem, p. 149. 292 MONTENEGRO, Antônio Torres. Abolição. São Paulo: Editora Ática, Série Princípios, 1988.

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ampliar a participação política da população. Mesmo com a oposição constante da

classe senhorial organizada nos clubes da lavoura, comércio ou/e indústria, para

Montenegro o abolicionismo representou uma experiência política nova para a

sociedade, através das camadas médias, partindo dos centros urbanos para as

lavouras, articulando-se em nível nacional, utilizando a imprensa como meio de

divulgação de ideias e promotora de mobilização popular Esse movimento teria

“pego de surpresa” os grandes proprietários escravistas e a classe política 293.

Ainda segundo Montenegro, a classe senhorial se opôs durante todo o tempo

e a Abolição se deu devido a pressão da opinião pública mobilizada, responsável por

obrigar o governo imperial a avançar ao seu encontro, anulando as pressões da

maioria conservadora para quem o trabalho escravo deveria ser abolido através da

Lei do Ventre Livre aprovada em 1871 294, caracterizando o Abolicionismo como um

movimento construído exclusivamente pelas camadas médias da população e

constantemente criticado pelos grandes proprietários de terras durante toda a

década de 1880.

Fora do âmbito dos trabalhos escritos por historiadores, encontramos a

coletânea de artigos, organizada pelas professoras Luzilá Gongalves, Ivia Alves,

Nancy Rita Fontes, Luciana Salgues, Iris Vasconcelo & Silvana Vieira de Souza,

“Suaves Amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste” 295. Nesta

coletânea as autoras falam sobre a produção literária de um conjunto de mulheres

engajadas nas lutas abolicionistas em várias províncias do território hoje conhecido

como Nordeste. O foco dos trabalhos apresentados nesse livro se encontra nos

textos produzidos e feitos publicar nos jornais em circulação nas províncias

abordadas por mulheres.

No artigo dedicado a trajetória de autoras da então província de Pernambuco,

Luzilá Gonçalves Ferreira analisou poesias e textos em prosa publicados por

mulheres nos jornais da capital, dando destaque a atuação das mulheres

responsáveis por fundar, em 1884, a “Sociedade Abolicionista Ave Libertas”. Esta foi

uma das muitas associações abolicionistas formadas por pessoas interessadas em

293 Ibidem, p. 45 294 Ibidem, p. 60 295 FERREIRA, Luzilá Gonçalves; ALVES, Iva; FONTES, Nancy Rita... et. Al. Suaves Amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1999.

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arrecadar fundos para compra de alforrias através de atividades como organização

de festas, quermesses, passeatas, concertos e peças teatrais, com o diferencial de

ser a única formada exclusivamente por senhoras em funcionamento na capital

pernambucana 296. Segundo o “Catálogo da exposição realizada no teatro Santa

Izabel”, entre 13 e 31 de maio de 1938, em comemoração ao cinquentenário da

abolição em Pernambuco, sessenta e seis (66) senhoras fizeram parte dessa

sociedade como sociais efetivas 297.

Os trabalhos mais recentes a abordar como as ideias abolicionistas se

espalharam na cidade do Recife foram o trabalho apresentado por Celso Castilho–

professor de História na Vanderbilt University, cuja pesquisa acessamos através de

um ensaio publicado no XXVI Simpósio da ANPUH, em 2011– e um artigo publicado

no livro “História da Escravidão em Pernambuco”, de Flávio Cabral e Robson Costa,

em 2012.

No ensaio apresentado na ANPUH em 2011, “O 25 de março e a

radicalização dos embates abolicionistas no Recife” 298, Celso Castilho abordou dois

eventos importantes ocorridos na cidade do Recife em 1884 e responsáveis, em sua

interpretação, por polarizar as opiniões antiescravistas na capital da província de

Pernambuco, a saber: as comemorações referentes a abolição da escravidão no

Ceará em 25 de Março e a convocação do Congresso de produtores de cana-de-

açúcar em julho, responsáveis por aguçar e mobilizar diversas opiniões.

Castilho defendeu a data da abolição no Ceará como um divisor de águas na

ação dos grupos abolicionistas em Recife, responsável por gerar uma onda de

festejos e manifestações de todos os tipos, dos jornais locais, como o Diário de

Pernambuco 299, nos quais foram publicados diversos textos saudando a província

do Ceará, criticando a escravidão ou enaltecendo a liberdade até as manifestações

296 FERREIRA, Luzilá Gonçalves. A luta das mulheres pernambucanas. In: FERREIRA, Luzilá Gonçalves; ALVES, Iva; FONTES, Nancy Rita et. al. Suaves Amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1999, Pp. 41 – 110. 297

“Cinquentenário da Abolição em Pernambuco. Catálogo de exposição realizada no Teatro de Santa Isabel de 13 a 31 de maio de 1838”. In: SILVA, Leonardo Dantas (org.). A Abolição em Per-nambuco. Recife: Massangana, 1988, p. 69-70. 298

CASTILHO, Celso. O ’25 de março’ e a radicalização dos embates abolicionistas no Recife. Anais do XXVI Simpósio de História – ANPUH, São Paulo, julho 2011. 299

Literatura, Diário de Pernambuco, Ano 60, n.71, quarta-feira, 25 de março de 1884, p. 8,

Rolo/Caixa143, FUNDAJ, Recife – PE.

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públicas das pessoas que invadiram as ruas dos bairros centrais do Recife,

reuniram-se no Campo das Princesas e fizeram recitais no Teatro Santa Isabel.

O cronista e historiador do século XIX, Pereira da Costa, no livro entitulado

“Pernambuco ao Ceará”, registrou uma descrição “das festas celebradas em

Pernambuco por ocasião da redenção da província do Ceará”, a pedido da

Comissão Central Emancipadora do Recife. A essa descrição ele somou vários

textos publicados nos jornais da cidade e fez surgir o livro “Pernambuco ao Ceará: o

dia 25 de março de 1884” 300. Esse livro foi o documento através do qual Celso

Castilho analisou as nuances dessa data, classificada como o maior evento

abolicionista do começo da década de 1880 no Recife, apenas superado pela festa

ocorrida por ocasião do dia “13 de Maio de 1888”.

Segundo Castilho, como reação aos acontecimentos de 25 de março e suas

ramificações os produtores de cana passaram a tomar atitudes para adiar o máximo

possível a abolição. Uma dessas atitudes foi a organização e realização do

Congresso Agrícola em julho de 1884. Nesse encontro os proprietários discutiram

questões relacionadas à manutenção e preservação da economia agrícola e os

direitos dos proprietários de escravos 301. Tal como os relatos das festividades

relativas à Abolição da Escravidão no Ceará, o Congresso Agrícola de Julho de

1884 também foi divulgado e discutido nos jornais da cidade.

Além dos acontecimentos marcantes do ano de 1884, o teatro abolicionista

também foi analisado por Cesar Castilho. No artigo “‘Ao teatro, pelos cativos!’: uma

história política da abolição no Recife” publicado no livro “História da Escravidão em

Pernambuco” 302. Nesse trabalho ele abordou o papel do teatro dentro do movimento

abolicionista em Recife analisando os registros feitos em matérias de jornais a

respeito da atuação da Companhia Lírica Italiana de Teatro em Recife e da soprano

Guiseppina de Senespleda Battaglia.

300 COSTA, F. A. Pereira. Pernambuco ao Ceará: o dia 25 de março de 1884. Fortaleza: Secretária de Cultura e Desporto, 1984. 301

CASTILHO, Celso. O ’25 de março’ e a radicalização dos embates abolicionistas no Recife. Anais do XXVI Simpósio de História – ANPUH, São Paulo, julho 2011, p. 7- 13. 302 CABRAL, Flávio José Gomes; COSTA, Robson. História da Escravidão em Pernambuco. Recife: Ed. UFPE, 2012.

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Segundo Castilho a ação de companhias de teatro como a Companhia

Italiana e de sujeitos como Guiseppina de Senespleda tiveram um papel importante

na transformação do tema “emancipação dos escravos” em objeto de interesse

coletivo e no Abolicionismo no foi o primeiro movimento social capaz de conectar

articulações em vários locais do Brasil 303.

Em Recife, espetáculos teatrais, como os protagonizados por Senespleda,

nos quais o momento áureo era a entrega de cartas de alforrias a cativos, eram

ocasiões públicas e emotivas amplamente divulgadas pelos jornais. Esta divulgação

colaborou para propagar “uma ideia coletiva da abolição” e mesmo quando a

companhia italiana se despediu da província, tais espetáculos continuaram

acontecendo, entre 1880 e 1886 ocorreram no mínimo trinta eventos vinculados a

cena teatral da cidade 304.

Em ambos o textos, Celso Castilho procurou demonstrar como, ao longo da

década de 1880, a população da cidade do Recife foi se apropriado do discurso

abolicionista e se posicionando a favor do fim da escravidão.

As conclusões de Celso Castilho a respeito do engajamento da população em

geral nas discussões sobre o fim da escravidão incluem-se dentro de um panorama

nacional de pesquisas a respeito da Abolição e do pós-abolição, que ao longo dos

últimos 24 anos, vêm percebendo o Abolicionismo como movimento protagonizado

não só pelas camadas médias da sociedade, mas sim por todos os setores da

sociedade.

Dos escravos, passando por libertos, trabalhadores liberais, acadêmicos,

escritores, jornalistas, funcionários públicos e até mesmo membros da Família Real,

o abolicionismo foi um movimento do qual muitos foram protagonistas até não poder

mais ser contido, conseguindo dar fim a escravidão no Império do Brasil no

ensolarado domingo de 13 de Maio de 1888 descrito por Machado de Assis como

um “dia de delírio público”, o único d se lembrava ter visto na vida 305.

303 CELSO, Castilho, “Ao teatro, pelos cativos!”: uma história política da abolição no Recife. In: CABRAL, Flávio José Gomes; COSTA, Robson. História da Escravidão em Pernambuco. Recife: Ed. UFPE, 2012, p. 325-328. 304 Idem, p. 330 – 331. 305 ASSIS, Machado, A SEMANA, Gazeta de noticias, 14 de maio de 1893. In: DUARTE, Eduardo de Assis (org.). Machado de Assis afro-descendente: escritos de caramujo (antologia), Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Pallas/Crisálidas, 2007, p. 73.

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E apesar toda mobilização, será que nos anúncios das escolas estes debates

estavam presentes?

4.2. Os anúncios publicados no Diário e as questões referentes a Abolição

Através de associações, conferências, imprensa, livrarias, confeitarias, clubes

e mobilizações populares, durante a década de 1880 o espaço público sofreu uma

ampliação significativa e a campanha abolicionista foi bastante espaçosa na sua

ocupação, ultrapassando os limites do parlamento e alcançando os mais diversos

públicos da sociedade, inclusive nas escolas 306.

Ao longo da década de 1880 a tensão antiescravista repercutiu por no interior

do campo intelectual e político, tornando-se parte do repertorio de assuntos

associados às noções de liberalismo, civilização, progresso, ordem e a liberdade 307.

Opiniões antiescravistas espalharam-se pelo interior do Estado Imperial através de

suas instituições e agentes, e pelo espaço público em debates que envolviam

intelectuais, políticos, escritores, jornalistas, imprensa e várias instâncias da

sociedade civil.

Conforme dissemos nos capítulos iniciais, os ambientes escolares não se

constroem alheios a sociedade em seu entorno, eles dialogam com ela. Pensando

nisso, procuramos observar como e se os debates em torno da abolição da

escravidão apareceram nos discursos professados pelos professores, nos anúncios

por eles publicados no Diário de Pernambuco.

Em primeiro lugar constatamos que nenhum dos docentes, em seus anúncios,

fez menção à palavra “liberdade”, mas tal silêncio talvez, se relacione mais ao fato

das escolas serem espaços rígida e metodicamente disciplinadores do que a um

possível alheamento por parte dos docentes, em relação a essa questão

notadamente central durante o período estudado.

Na lista das sócias efetivas da sociedade abolicionista “Ave Libertas”

documentada no “Catálogo da Exposição Realizada no Teatro Santa Isabel”, em

306

MELLO, Maria Tereza Chaves. A República Consentida: cultura democrática e cientifica do final do Império. Rio de Janeiro: Editora FGB; Editora da UFRJ (Edur), 2007. 307

SALLES, Ricardo. Abolição da escravidão, classes sociais e intelectuais no Brasil do século XIX: notas de pesquisa. V Simpósio Nacional Estado e Poder: Hegemonia, p. 3. Disponível em www.simposiohegemonia.pro.br/15_Salles_Ricardo.pdf, ultimo acesso em 01 de Maio de 2011.

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maio de 1953, em comemoração ao cinquentenário da Abolição, consta entre os

nomes das sócias o de Dona Olympia Afra de Mendonça 308, diretora do “Colégio do

Amor Divino”. Seu nome foi anunciado a partir de 1884, tanto nos Almanaques

“Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco 309”

como na seção de “Publicações a pedido” do Diário e Pernambuco, como estando à

frente de um “Colégio especial para crianças do sexo masculino”, situado na “Rua da

Imperatriz nº 32 310.

Na “Folha do Norte”, entre os textos publicados em homenagem à extinção

total da escravidão no Ceará, em 25 de março de 1884 311, consta um texto

publicado por Clovis Beviláqua, diretor de uma instituição escolar particular em

funcionamento no bairro do Recife, um externato para o “ensino primário e

secundário” 312 para meninos situados na Rua do Sol cujo funcionamento também foi

anunciado no Almanaque Administrativo da Província 313.

O texto do professor Beviláqua “As festas de hoje” e, nele, o professor saudou

o ocorrido, descrevendo as comemorações desse dia nos seguintes termos:

“Eu penso também convosco; é um dos eventos mais avultosos e talvez o mais moralizador de que a alma de nosso povo foi capaz depois que constituiu-se independente. (...) Eu penso também convosco; é luminoso, é esplendente como um sol o acontecimento que solenizais. Merece bem que se o glorifique com as mais belas expansões do entusiasmo” 314.

308 Cinquentenário da Abolição em Pernambuco. Catálogo de exposição realizada no Teatro de Santa Isabel de 13 a 31 de maio de 1838”. In: SILVA, Leonardo Dantas (org.). A Abolição em Per-nambuco. Recife: Massangana, 1988, p. 70. 309

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1884. Recife: Typ. Mercantil, 1884, p. 229. Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE. 310

Amor Divino, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 47, terça-feira, 26 de fevereiro de 1884, Caixa 143, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE. 311 COSTA, F. A. Pereira. Pernambuco ao Ceará: o dia 25 de março de 1884. Fortaleza: Secretária de Cultura e Desporto, 1984, p. 96-97. 312

Ensino primário e Secundário por Clovis Beviláqua, Rua do Sol, 17, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 60, n. 18, terça-feira, 22 de janeiro de 1884, p. 3 Caixa/Rolo 143, FUNDAJ, Recife – PE. 313 ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1884. Recife: Typ. Mercantil, 1884, p. 229. Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE. 314 BEVILAQUA, Clóvis, As festas de hoje, Folha do Norte. In: COSTA, F. A. Pereira. Pernambuco ao Ceará: o dia 25 de março de 1884. Fortaleza: Secretária de Cultura e Desporto, 1984, p. 96-97.

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O professor Ascêncio M. Meira de Vasconcellos, diretor do Colégio Meira,

apesar de demonstrar não ignorar o furor dos conflitos entre as opiniões anti-

escravistas– emergidas mais fortes do que nunca após a agitação gerada pela

Abolição do Ceará na capital da província de Pernambuco– e a oposição a elas

levantadas pelos produtores de cana de açúcar interessados em adiar ou em

obstruir a abolição– mandou publicar, em abril de 1884, um anúncio bastante

peculiar sobre a disciplina de filosofia ensinada em sua escola:

“A cadeira de filosofia é regida pelo Dr. José Soriano de Souza Filho, um dos moços de mais merecimento da nova geração, e a quem os pais podem com segurança confiar a direção da inteligência de seus filhos no meio das doutrinas perniciosas que de todos os lados os assalta: com tal mestre os meninos tem certeza de só beber princípios sãos e ideias boas” 315.

Aberto em janeiro de 1882 pelo professor Ascêncio M. Meira de Vasconcellos,

na Rua Velha do bairro da Boa Vista 316, em janeiro do ano seguinte teve suas

instalações transferidas para o 2º andar do sobrado de nº 63 a Rua da Imperatriz, no

qual funcionou durante todo o período por nós investigado 317. No anúncio o

professor Meira de Albuquerque fala em “princípios sãos e ideias boas”, mas cuida

de não explicitar quais seriam esses princípios.

A Rua da Imperatriz foi uma das ruas nas quais as casas embandeiraram-se

e iluminaram-se de forma mais efusiva, junto com a Rua do Barão das Vitórias e do

Imperador (lócus das escolas), para as festas de março de 1884 318. Imaginamos ter

sido impossível, a professores e alunos, estarem blindados às movimentações

ocorridas tão próximas de seu ambiente de trabalho e estudo.

Tanto os abolicionistas quanto os proprietários de gente compunham,

provavelmente, a clientela do professor Meira e, talvez, poderia não ser do seu

interesse posicionar-se explicitamente em relação à filosofia ensinada em sua

315

Colégio Meira, Rua da Imperatriz, n. 63, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 92, terça-feira, 22 de Abril de 1884, p. 3, Caixa 144, FUNDAJ, Recife – PE. 316 Colégio Meira, Rua Velha, n. 49, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 2, terça-feira, 3 de Janeiro de 1882, Caixa/Rolo 135, p. 2, FUNDAJ, Recife – PE. 317

Colégio Meira, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 24, terça-feira, 30 de

Janeiro de 1883, p. 4, Caixa/Rolo 139, FUNDAJ, Recife – PE. 318 COSTA, F. A. Pereira. Pernambuco ao Ceará: o dia 25 de março de 1884. Fortaleza: Secretária de Cultura e Desporto, 1984, p. 19.

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escola. Para qual lado caminha a sensibilidade do diretor não se pode definir

partindo apenas de suas palavras no jornal, talvez, sua intenção fosse deixar a

cargo dos pais ou responsáveis a interpretação do que fossem “sãs e boas ideias”,

pois, quaisquer que fosse elas, seriam ensinadas às crianças.

Este, talvez também, tenha sido o posicionamento adotado pelas Sras. Dona

Felicidade Rebello da Silva Santos e Dona Amelia Fiock de Miranda que, em 15 de

abril de 1884, anunciaram o funcionamento do “Colégio 25 de Março para o sexo

feminino” situado:

“(...) no excelente prédio sito à Rua de Gervásio Pires n. 83. Além das primeiras letras e trabalho de agulha, ensina-se também francês, português, geografia, aritmética, desenho, música, piano, dança, flores artificiais, etc. Recebem-se alunas internas, meio-pensionistas e externas” 319.

O dia 25 de Março era data de um dos três feriados nacionais do Império, o

dia oficial de se festejar a “Constituição de 1824”, ou seja, era uma efeméride

escolar. No entanto, após 1884, tornou-se sinônimo da ideia de libertação, em

especial na cidade de Recife, visto a dimensão das festas ocorridas naquela ocasião

320, ao nomearem seu colégio através da utilização dessa data podiam esta fazendo

referencia tanto a um evento quanto a outro deixando a cargo dos pais e/ou

responsáveis pelos alunos a interpretação.

Em relação ao apoio às ideias abolicionistas por parte dos professores

anunciantes do Diário de Pernambuco, a ação da professora Miss Anna Carroll,

diretora do Colégio de Nossa Senhora da Graça, em Ponte de Uchoa– na festa

promovida para a realização dos exames finais do ano de 1883– descrita por

“Alguns espectadores” na manhã de 27 de novembro de 1883, no Diário de

Pernambuco, foi sui generis:

“A Exma. Sra. D. Carroll, querendo comunicar a felicidade, que sentia nesse dia um ser infeliz, surpreendeu-nos com um ato que por si só caracteriza a bondade de seu coração

319 Colégio 25 de Março para o sexo feminino, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 86, terça-feira, 15 de abril de 1884, Caixa 144, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE. 320

CASTILHO, Celso. “Ao teatro, pelos cativos!”: uma história política da abolição no Recife. In: CABRAL, Flavio José Gomes; COSTA, Robson. História da Escravidão em Pernambuco. Recife, Editora da UFPE, 2012, p. 333.

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nobremente cristão. Ela trás entre seus braços a escrava única, legada de seus antepassados, chama-lhe irmã dando-lhe o precioso dom, sem o qual os outros nada valem, a liberdade” 321.

Ainda segundo a descrição a reação dos funcionários empregados pela Sra.

Carroll diante da sua atitude:

“(...) inspirando-se nessa grande ideia, felicitou ambas por se ter, nessa feliz ocorrência, rompido os grilhões do cativeiro que atavam esses braços” 322.

Ora, os exames escolares de fim de ano, na província de Pernambuco, em

fins de 1883 representavam uma grande ocasião no calendário escolar. O professor

Manuel Portugal, propagador do método João de Deus de Leitura, durante a sua

passagem pela província, registrou em carta enviada ao seu editor, Dr. João da

Costa Terenas, o seguinte:

“Preciso que mande imprimir 300 cartas de convite em bom papel e pode mandar conjuntamente igual número de envelopes. Mande também um retrato em ponto grande do Dr. João de Deus para colocar na sala. É preciso dar o maior resplendor possível aos exames, pois esta gente é muito de coisas aparatosas, por isso não seria mal também alugar uma banda de música” (grifo meu) 323.

Os professores particulares da cidade do Recife, aos olhos de Manuel

Portugal, gostavam de fazer do momento dos exames públicos uma ocasião

resplendorosa, aparatosa e musical! Os exames finais poderiam se tornar um

momento no qual toda comunidade escola estaria reunida; pais, mães, autoridades

provinciais, professores, alunos eram convidados a tomar parte da festa “aparatosa”

dos exames.

321

Os exames no Colégio de Nossa Senhora da Graça em Ponte de Uchôa, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 59, n. 273, terça-feira, 27 de Novembro de 1883, p. 3, Caixa/Rolo 142. FUNDAJ, Recife – PE. 322 Idem. 323 Carta de Manuel de Portugal e Castro para João da Costa Terenas. Recife, 20 de outubro de 1879. In: Correspondência para João de Deus [1876-1880]. A. Y. P. 1-41 [Museu João de Deus], fls. 617-624. Apud, MENEZES, Roni Cleber Dias de. Reverberações do debate decadência/atraso em Portugal e no Brasil em fins dos Oitocentos: histórias conectadas. São Paulo: FEUSP, tese de doutorado, 2011, p. 204-205.

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O Regimento das Escolas Públicas Primárias da Província de 1886, que

vigorou até 1888, estabelecia para o curso primário um plano gradual de três anos

progressivos, no qual, para galgar o segundo grau, seria preciso alcançar a

aprovação no primeiro. E para conquistar o terceiro, seria necessário ser aprovado

no segundo ano. Para se chegar ao secundário ou aos preparatórios para o ingresso

nas Faculdades do Império, seria necessário obter a aprovação no terceiro grau

primário.

A passagem de um grau a outro de instrução deveria ocorrer apenas

mediante o resultado satisfatório diante de uma prova escrita, somada a uma prova

oral, a serem realizadas em uma ocasião pública, na qual os alunos eram avaliados

por seus professores, pelo Delegado Literário e por alguma autoridade provincial

convidada. As famílias e os responsáveis eram convidados a comparecer na ocasião

como previa o regulamento: “são convidados os pais e famílias a comparecer, a fim

de que verifiquem o aproveitamento de seus filhos” 324.

Nas escolas particulares esse momento de passagem de um grau a outro de

instrução, através dos exames, era marcado por festas e celebrado com pompa,

descritas em publicações no Diário de Pernambuco, tanto pelos diretores como por

algum convidado da festa (pais de alunos ou alunas ou ex-alunos).

Para a banca avaliadora das crianças eram convidados professores, pessoas

ilustres e autoridades ligadas à administração da instrução pública, membros do

Conselho Literário ou professores destacados. O Dr. Ayres de Albuquerque Gama,

membro do conselho literário entre 1885 e 1887 325, foi convidado para compor a

comissão que avaliou em dezembro de 1886 os alunos de instrução primária do

Instituto Dezenove de Abril 326. O Sr. Olympio Marques da Silva, delegado literário,

foi convidado pela a professora Dona Anna do Rego Barreto de Almeida, diretora do

324

Regimento das Escolas Públicas da Província de Pernambuco, PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 03. Número 54. Ano (1885/1887). Ano de 1886. Pp. 52-54. 325

Fala com que o exmo. sr. presidente, desembargador José Manoel de Freitas, abriu a sessão da

Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco no dia 1 de março de 1884, p. 35. Recife, Typ. de Manoel Figueiroa de Faria & Filhos, 1884. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/701/, último acesso em 20 de fevereiro de 2012. 326

Instituto Dezenove de Abril, Exames da aula Infantil, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 281, terça-feira, 7 de Dezembro de 1886, p. 3, Caixa/Rolo 155, FUNDAJ, Recife – PE.

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colégio de Santa Lúcia, para compor a banca examinadora de suas alunas em 1887

327.

Música também era um elemento dessas celebrações. Dona Anna do Rego

Barreto contratou, para a festa de sua escola, a banca de música do Arsenal da

Guerra, a qual esteve “tocando sempre nos intervalos” e, uma vez finda todas as

atividades das alunas, brindes e discursos, seguiu-se de “um sarau dançante

prolongado, até quase duas horas da manhã 328.

Em dezembro de 1882, uma aluna ex-aluna do Colégio de São José fez

publicar no Diário de Pernambuco uma elogiosa descrição de como ocorreu os

exames das alunas do primeiro grau dessa escola:

“(...) como é de costume, mais uma vez fez públicos os exames e a distribuição dos prêmios às educandas, as quais, depois de examinadas, no dia 7 do corrente, às 10 horas da manhã, reunido numeroso concurso de pessoas gradas e respeitáveis, numa das salas internas do colégio, senhoras e alguns pais das meninas, começaram os exames, dando princípio uma linda poesia recitada por uma aluna, sendo logo depois executadas diversas e bonitas óperas e músicas de piano, intercalando alguns cantos análogos ao ato; duas representações cantadas por duas das educandas, e mais um dueto buffo cantado também por duas meninas, que souberam, pelo seu desenvolvimento e graça, merecer muitos aplausos das pessoas de respeitável auditório” (grifos itálico do autor, sublinhados meus) 329.

Segundo a ex-aluna, o exame público, já em 1882 era costumeiramente feito

de forma pública e nessa ocasião foi celebrado com pompas de grande festa,

regada a canto, piano, recital de poesias, aplausos e presença de pessoas

eminentes.

E no caso do Colégio de São José, o relato acima citado compreende apenas

o primeiro momento do exame. Seguiu-se a ele a entrega das medalhas “das mãos

do 2º governador do bispado, e lhes foram colocadas no peito pelos pais ou pela

327 Colégio de Santa Lucia – Exames Primários, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 290, terça-feira, 20 de Dezembro de 1887, p. 5, Caixa/Rolo 159, FUNDAJ, Recife –PE. 328 Colégio de Santa Lucia – Exames Primários, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 290, terça-feira, 20 de Dezembro de 1887, p. 5, Caixa/Rolo 159, FUNDAJ, Recife –PE. 329 Colégio S. José, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, n. 283, terça-feira, 12 de Dezembro de 1882, p. 3, Caixa/Rolo 138, FUNDAJ, Recife – PE.

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diretora” e, para encerrar a festa, “uma banda vocal executada por 32 meninas” fez-

se ouvir.

A diretora do Instituto de Nossa Senhora do Carmo, no anúncio publicado em

1880, descreveu as dependências da escola, os graus de instrução oferecidos na

instituição (primária e secundária) e as matérias ensinadas, com a seguinte

promessa:

“No fim de cada ano haverá exames públicos no Instituto com assistência de autoridades literárias da província, recebendo os alunos do 3º ano que forem aprovados diplomas conferidos pelo colégio, assinados pelo presidente do ato, examinadores e diretores” 330.

Além de apreciar as provas orais dos alunos enaltecidas por apresentações

musicais de canto e piano e/ou bandas marciais, os convidados às festas poderiam

apreciar a exposição de trabalhos realizados pelos alunos da escola. A ex-aluna do

Colégio de São José que relatou os acontecimentos da festa de dezembro de 1882

pontuou:

“... estava exposta na sala de visitas, uma linda coleção de trabalhos feitos a agulha, seda, froco, etc, que bem demonstravam a delicadeza e perfeição com que estavam acabados” 331.

Assim como o anunciante do Colégio de Santa Lucia explicitou: “Em um

quarto convenientemente preparado estavam expostos trabalhos de agulha e outros,

feitos pelas alunas do colégio, que foram bem apreciados” 332.

Coerente com o relato referente a esse colégio, no romance “O Ateneu”, Raul

Pompéia também narrou detalhes de como eram as ocasiões dos exames públicos e

premiações dos alunos do ensino primário. De suas memórias emerge a seguinte

descrição:

330 Instituto de Nossa Senhora do Carmo, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 15, terça-feira, 20 de Janeira de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 134, FUNDAJ, Recife – PE. 331 Colégio S. José, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, n. 283, terça-feira, 12 de Dezembro de 1882, p. 3, Caixa/Rolo 138, FUNDAJ, Recife – PE. 332 Colégio de Santa Lucia, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 63, n. 290, terça-feira, 20 de Dezembro de 1887, p. 5, Caixa/Rolo 159, FUNDAJ, Recife – PE.

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144

“Transformara-se em anfiteatro uma das grandes salas da frente do edifício, exatamente a que servia de capela... Desarmado o oratório, construíram-se bancadas circulares, que encobriam o luxo das paredes. Os alunos ocupavam a arquibancada. Como a maior concorrência preferia sempre a exibição dos exercícios ginásticos, solenizada dias depois do encerramento das aulas, a acomodação deixada aos circunstantes era pouco espaçosa; e o público, pais e correspondentes em geral, porém mais numeroso do que se esperava, tinha que transbordar da sala da festa para a imediata. Desta antessala, trepado a uma cadeira, eu espiava. Meu pai ministrava-me informações. Diante da arquibancada, ostentava-se uma mesa de grosso pano verde e bordas de ouro. Lá estava o diretor, o ministro do império, a comissão dos prêmios. (...) houve discursos de alunos e mestres; houve cantos, poesias declamadas em diversas línguas. O espetáculo comunicava-me certo prazer respeitoso” 333.

E continuou descrevendo, para além do cenário dos exames públicos, como

os alunos preparavam seus trabalhos para aquela festa:

“Para a exposição dos desenhos foram retiradas as carteiras da sala de estudo, forradas de cetim escuro as paredes e os grandes armários. Sobre este fundo, alfinetaram-se as folhas de Carson, manchadas a lápis pelo sombreado das figuras, das paisagens, pregaram-se, nas molduras de friso de ouro, os trabalhos reputados dignos desta nobilitação” 334.

Os exames– através dos quais os alunos eram avaliados em seu

desempenho durante o ano letivo– eram o momento no qual os pais podiam avaliar

o trabalho da escola e decidir se os alunos permaneceriam ou não naquele

ambiente, no ano seguinte. Todo espetáculo oferecido aos olhos dos pais de alunos

e autoridades governamentais do dia dos exames tinha o fim último de provar o

mérito dos professores e métodos da escola, como o disse a diretora do Colégio da

Imaculada Conceição: “O colégio oferece um corpo docente de reconhecido mérito,

o que provou com os exames os quais foram publicados por esse jornal” 335.

Em abril de 1884 o professor Ascêncio M. Meira de Vasconcelos gabava-se

da qualidade de seu colégio afirmando:

333

POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Martin Claret, 2002, p. 14-15. 334 Idem, pg. 111. 335

Colégio da Imaculada Conceição para o Sexo Feminino, Sito no Caes do Capibaribe n. 36, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 19, terça-feira, 24 de Janeiro de 1882, Caixa 135, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE.

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“Se o merecimento de uma casa de instrução deve se aquilatar pelos esforços empregados pelo seu diretor no sentido de aproveitar o tempo de seus alunos e pelas habilitações por estes reveladas nos exames públicos, certamente o diretor do COLEGIO MEIRA pode gabar-se de não ter sido excedido por nenhum de seus colegas.” (grifo em maiúscula do autor, sublinhados meus). 336.

Mademoiselle Anna Carroll, a professora que libertou a escrava era muito

sabedora da importância daquela ocasião para parte do sucesso ou fracasso no

número de matrículas do ano.

Desde 1880 o Colégio de Nossa Senhora das Graças foi anunciado como

instituição localizada em Ponte de Ponte de Uchoa no edifício de nº 10, “uma

confortável chácara” 337, capaz de oferecer as suas alunas pensionistas, meio-

pensionistas e externas “confortabilidade” e “as melhores proporções de higiene”338.

O currículo de matérias anunciadas, além do tripé de conteúdos básicos “ler-

escrever-contar”, somados às prendas domésticas, incluía outro tripé curricular, o de

“línguas-ciências-artes”.

Segundo Miss Carroll em seu colégio as matérias ensinadas eram:

“Línguas: português, francês, inglês, alemão e italiano. Ciência: geografia, astronomia, aritmética e história. Artes: música, vocalização e piano; desenho a óleo, a crayon e aquarela, e todo e qualquer trabalho de agulha.” (grifos meus) 339.

Com o objetivo de “dar mais desenvolvimento ao seu colégio” 340 ela fazia-se

cercar de um corpo docente especialmente dedicado a determinadas disciplinas:

336

Colégio Meira, Rua da Imperatriz, n. 63, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 92, terça-feira, 22 de Abril de 1884, p. 3, Caixa/Rolo 144, FUNDAJ, Recife – PE. 337 Colégio de Nossa Senhora das Graças, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 27, terça-feira, 4 de fevereiro de 1885, p. 3, Caixa/Rolo 148, FUNDAJ, Recife – PE. 338 Colégio de Nossa Senhora das Graças em Ponte D’Uchoa, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 56, n. 15, terça-feira, 20 de Janeiro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE. 339

Colégio de Nossa Senhora da Graça em Ponte d’Uchoa, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 284, terça-feira, 11 de Dezembro de 1883, p. 3-4, FUNDAJ, Recife – PE. 340

Colégio de Nossa Senhora das Graças, Ponte D’Uchoa, n. 10, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 298, terá-feira, 28 de Dezembro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 130, FUNDAJ, Recife – PE.

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“Português, francês, geografia e história – lecionadas pelo Reverendíssimo. Padre Veloso. Inglês – pela diretora. Primeiras Letras e bordados – pela Sra. D. Augusta da Silva. Piano e canto – pelo senhor Gustavo Wertheimer. Desenho e pintura – pelo Sr. Aurélio de Figueiredo. Instrução Religiosa – Pelo Sr. Vigário Veloso” 341.

As aulas começavam já nos primeiros dias de Janeiro – entre 7 e 10 – e

terminava em dezembro, com as moças prestando exames públicos realizados no

próprio colégio. O pais que assim desejassem, também poderiam solicitar à escola

que preparasse as alunas para prestar os exames das academias do Império. Em

fevereiro de 1885, Miss Carroll fez publicar o nome das suas alunas aprovadas

nesses exames entre 1882 e 1885:

“Lista das alunas que fizeram exames na Academia: 1882. D. Julia de Oliveira, inglês distinção, francês plenamente. D. Izabel A. Pires, idem. 1884. D. Maria Eugenia de Mattos, inglês distinção, francês idem, português idem. 1885. D. Maria C. Monteiro, inglês distinção, francês plenamente; D. Flavia Catão Lopes, francês plenamente.” 342.

Obras de La Fontaine, Chateuabriand, Goldsmith e Longtellew frequentavam

as salas de aula do Colégio de Nossa Senhora das Graças343. Miss Anna Carroll

procurava usar o espaço das “Publicações a pedido”, no Diário de Pernambuco de

maneira a construir uma imagem de instituição moralizada e higienizada para seu

colégio, no qual as moças poderiam ser instruídas em arte, ciências e línguas, a

ponto de estarem aptas a aprovação no exame para as academias do Império, caso

seus pais interessasse isto.

Os espectadores dos exames realizados no dia 25 de novembro de 1883, que

descreveram a ocasião no Diário de Pernambuco, em 27 de novembro, fizeram

questão de reafirmar o quanto o colégio de Miss Carroll era qualificado.

341

Idem. 342 Colégio de Nossa Senhora das Graças, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 61, n. 292, terça-feira, 21 de fevereiro de 1885, p. 3, Caixa/Rolo 151, FUNDAJ, Recife – PE. 343

Colégio de Nossa Senhora das Graças em Ponte d’Uchoa, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 59, n. 284, terça-feira, 11 de Dezembro de 1883, p. 3-4, Caixa/Rolo 142, FUNDAJ, Recife – PE.

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Segundo eles, “ao chegar, tudo anunciava uma festa de família e um certame

da inteligência”, na qual um “grande número de famílias esperava com ansiedade

que sua filha, irmã ou parenta desse a prova pública de seu estudo, proveito e

aplicação durante o ano”. E conforme o esperado, eles contaram terem visto e

ouvido as meninas discorrem sobre geografia universal e história; traduzirem textos

clássicos franceses, em especial as Fábulas de La Fontaine, textos em inglês

“quase que familiarmente”, além de analisarem os clássicos portugueses. Em suas

palavras: “tudo foi um triunfo para as alunas, uma glória para o colégio, um regozijo

para as assistentes, uma satisfação completa para todos” 344.

Pós-exames, seguiu-se o luch, uma sessão musical, leitura de poesias

francesas e brasileiras, um discurso de um professor até e depois de tudo, para

fechar com chave de ouro, a “Exma. Sr. D. Carroll” ainda libertou a sua única

escrava. O ato da diretora foi o responsável por transformar a ocasião trivial em algo

memorável a ponto de merecer o destaque dos espectadores, segundo os quais, “os

que a ela assistiram conservarão por certo a doce lembrança por muito tempo” 345.

Apesar de, durante a década de 1880, a campanha abolicionista ter

aglutinado em torno de si uma enorme diversidade de sujeitos– ganhando o espaço

público de maneira que aniversários, casamentos, bodas, peças de teatro e

batizados, que foram transformados em cenários propícios a entrega de cartas de

alforrias 346– o colégio de Nossa Senhora da Graça, foi à única escola cujo nome

encontrei diretamente associado a um evento de tipo abolicionista.

Os professores anunciantes, provavelmente não estiveram ausentes dos

debates relacionados ao fim da escravidão no Império, no entanto guardaram sua

atuação, pró ou contra a Abolição, para a esfera privada. Talvez, sendo

“empresários”, tenham procurado guardar um silêncio estratégico diante de um tema

capcioso, a respeito do qual a opinião de sua clientela estava fortemente dividida.

344

Os exames no Colégio de Nossa Senhora da Graça em Ponte de Uchôa, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 59, n. 273, terça-feira, 27 de Novembro de 1883, p. 3, Caixa/Rolo 142. FUNDAJ, Recife – PE. 345 Idem. 346

MACHADO, Humberto Fernandes. O processo abolicionista e a construção da Nação.

Sociedade, Cultura e Política no Império, 2006. Disponível em HTTP://sbph.cliomatica.com/2006/sociedade-cultura-e-poder-imperio/humberto-fernandes-machado. Ultimo acesso em 10/04/2012.

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5. COMENTÁRIOS FINAIS

Compreendendo a cultura como um conjunto de sistemas e práticas de

sentidos, percebemos a escola como um espaço social capaz de construir uma

cultura original através da convivência dos vários sujeitos que compõe a

comunidade escolar, a saber: professores, alunos, pais e/ou responsáveis e as

autoridades reguladoras das atividades escolares.

As culturas escolares abarcam a recepção das filosofias e teorias

pedagógicas e a utilização destas filosofias e pedagogias dentro das salas de aula,

sob a forma de práticas de ensino e estratégias de aprendizagem, capazes de

organizar os sujeitos escolares. Existiram [e existem] várias culturas escolares

convivendo em sociedade.

Durante a última década da escravidão existiram na cidade do Recife,

concentradas em seus bairros centrais (Santo Antônio, Boa Vista e São José), várias

escolas particulares de diversos tipos, cujos diretores fizeram publicar, no Diário de

Pernambuco, anúncios com o intuito de convencer e atrair pais e responsáveis por

crianças a matricularem seus filhos em suas escolas. Através desses anúncios

tornou-se possível analisar determinadas características das culturas escolares

existentes no período e da maneira como dialogaram com a sociedade em seu

entorno.

Através de 774 anúncios publicados nas terças-feiras no Diário de

Pernambuco, entre 1880 e 1888, constatamos a existência de 99 estabelecimentos

escolares, divididos entre aulas de primeiras letras para meninos, meninas e mista,

colégios para meninos e meninas e misto, curso comercial e aula noturna.

Nessas instituições diferentes métodos de ensino foram utilizados.

Percebemos a coexistência de três diferentes métodos de alfabetização, a saber: o

Método de Castilho, de João de Deus e o Intuitivo ou Lição das Coisas, além dos

métodos como o Orledoff para o ensino de inglês, o método Zaba para o ensino de

História e a taquigrafia.

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Com relação a estes métodos, analisamos suas cartilhas de alfabetização,

material didático repleto de orientações didáticas a serem seguidas pelos

professores, com o objetivo de viabilizar o aprendizado dos alunos.

No processo de análise destes conjuntos documentais observamos que os

métodos de João de Deus e Castilho eram opostos. O método de Castilho era

sintético, ou seja, o aluno deveria aprender primeiro as letras e posteriormente as

palavras e o de João de Deus analítico, o aluno deveria aprender as letras através

do estudo de palavras inteiras. No entanto, apesar de opostos, ambos podem ter

convivido nas escolas recifenses sem que os professores entrassem em conflito. Já

o método Intuitivo foi o mais citado e também o mais divulgado na província, tratava-

se de um método global destinado a ser utilizado em todas as matérias escolas, no

entanto, podia [e era] ser usado para o ensino de matérias específicas, de acordo

com a conveniência dos professores.

Levando em conta que as culturas escolares desenvolvidas intramuros

dialogam com os acontecimentos da sociedade externa a escola, procuramos

investigar se os debates abolicionistas, que emergiram na sociedade e culminaram

com o fim da escravidão no Brasil, apareceram de alguma forma, nos anúncios das

escolas. Percebemos que, provavelmente, os professores não estiveram ausentes

desses debates, a exemplo da professora Miss Carroll do Colégio de Nossa Senhora

das Graças, a qual na ocasião festiva do exame final de suas alunas em 1883

libertou sua escrava diante dos pais de suas alunas.

Contudo, como “empresários”, os professores optaram, estrategicamente, por

guardar silêncio em relação a sua posição política no tocante às temáticas Abolição

e Liberdade no ocaso da escravidão no Império.

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6. FONTES CITADAS NO TEXTO

Fontes Impressas:

APEJE - Biblioteca

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1881. Recife: Typ. Mercantil, 1881. Arquivo Publico Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE.

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1882. Recife: Typ. Mercantil, 1881. Arquivo Publico Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE.

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1883. Recife: Typ. Mercantil, 1881. Arquivo Publico Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE.

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1884. Recife: Typ. Mercantil, 1881. Arquivo Publico Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE.

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1885. Recife: Typ. Mercantil, 1881. Arquivo Publico Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. RECIFE – PE.

ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1886. Recife: Typ. Mercantil, 1881. Arquivo Publico Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE.

INTERNET:

Fala que á Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco no dia de sua instalação a 15 de setembro de 1888 dirigiu o Exm. Sr. presidente da província, desembargador Joaquim José de Oliveira Andrade. Recife, Typ. de Manoel Figueiroa de Faria & Filhos, 1888, p. 57. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/706/, ultimo acesso em: 20, de fevereiro de 2012.

Falla que á Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco no dia de sua instalação a 2 de março de 1887, dirigiu o Exm. Sr. presidente da província, Dr. Pedro Vicente de Azevedo. Recife, Typ. de Manoel Figueiroa de Faria & Filhos, 1887, p. 45. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/705/, ultimo acesso em 20, fevereiro de 2012.

Falla que o presidente da província conselheiro José Fernandes da Costa Ferreira Junior dirigiu á Assembleia Legislativa de Pernambuco no dia de sua instalação a 6 de março de 1886. Recife Typ. – Manuel Figueiroa de Faria e Filhos, 1886. Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/704/index.html ultimo acesso em 20 de fevereiro de 2012.

Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Adelino Antonio de Luna Freire, 1º vice-presidente passou a administração ao Exm. Sr. Dr. Frankilin Americo de Menezes Doria em 28 de junho de 1880. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u656/. Ultimo acesso em 20 de Fevereiro de 2012.

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Fala que á Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco no dia de sua instalação a 15 de setembro de 1888 dirigiu o Exm. Sr. presidente da província, desembargador Joaquim José de Oliveira Andrade. Recife, Typ. de Manoel Figueiroa de Faria & Filhos, 1888, p. 57. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/706/, ultimo acesso em: 20, de fevereiro de 2012.

Falla que á Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco no dia de sua instalação a 2 de março de 1887, dirigiu o Exm. Sr. presidente da província, Dr. Pedro Vicente de Azevedo. Recife, Typ. de Manoel Figueiroa de Faria & Filhos, 1887, p. 45. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/705/, ultimo acesso em 20, fevereiro de 2012.

Falla que o presidente da província conselheiro José Fernandes da Costa Ferreira Junior dirigiu á Assembleia Legislativa de Pernambuco no dia de sua instalação a 6 de março de 1886. Recife Typ. – Manuel Figueiroa de Faria e Filhos, 1886. Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/704/index.html ultimo acesso em 20 de fevereiro de 2012.

Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Adelino Antonio de Luna Freire, 1º vice-presidente passou a administração ao Exm. Sr. Dr. Frankilin Americo de Menezes Doria em 28 de junho de 1880. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u656/. Ultimo acesso em 20 de Fevereiro de 2012.

Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Adelino Antonio de Luna Freire, 1º vice-presidente passou a administração ao Exm. Sr. Dr. Frankilin Americo de Menezes Doria em 28 de junho de 1880. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u656/. Ultimo acesso em 20 de Fevereiro de 2012.

DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus:

publicada pelo seu amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa : Impr. Nacional, 1853. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

CALKINS, N.A. Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar

para uso dos paes e professores. Tradução de Rui Barbosa. Obras Completas, v. XIII, tomo 1, Rio de Janeiro, 1950. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20das%20Coisas. Ultimo acesso em: 30 de Agosto de 2012.

APEJE

LEI N. 1124. Autoriza o presidente da província a expedir os regulamentos

necessários para a reorganização do ensino primário e secundário. In: PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 02. Número 29. Ano (1865-1877). Ano de 1873. Pp. 68-75. APEJE, Recife – PE.

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Lei n. 1143. Resoluções a respeito da reorganização da instrução pública.

PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 02. Número 29. Ano (1865-1877). Ano de 1874. Pp. 59-66, APEJE, Recife – PE.

REGIMENTO DAS ESCOLAS PÚBLICAS DA PROVÍNCIA DE PERNAMBUCO. PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Arquivo Público Jordão Emerenciano. Estante 29. Prateleira 03. Número 54. Ano (1885/1887). APEJE, Recife – PE.

Regulamento Orgânico da Administração do Ensino Público. In:

PERNAMBUCO, Legislação Provincial de. Estante 29, ano de 1887. APEJE, Recife – PE.

FUNDAJ

Diário de Pernambuco (Recife) – 1872, 1880, 1881, 1882, 1883, 1884, 1885, 1886, 1887, 1888.

O Liberal Pernambucano – Jornal Político e Social (Recife) n. 66, 15/01/1855.

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7. CRÉDITOS DAS IMAGENS

Imagem. 1: A Rua da Imperatriz, antigo Aterro da Boa Vista, já era toda ciosa da elegância de suas lojas, p. 274’’275. SETTE, Mario. Arruar: história pitoresca do Recife Antigo. Recife: Governo do Estado de Pernambuco/Secretaria de Educação e Cultura, 1978.

Imagem. 2: Detalhe da Rua do Imperador – Pernambuco. Litogravura de Frans Heinnrich Carls. In: FREYRE, Gilberto. Sobrado e Mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. 15ª Ed. São Paulo: Ed. Globo, 2004.

Imagem. 3: Arrabalde do Recife, Ponte d’Uchoa. In: SETTE, Mario. Arruar: história

pitoresca do Recife Antigo. 3ª Ed., Recife: Governo do Estado de Pernambuco, Secretária de Educação, 1978, pp. 108’’109.

Imagem 4: Interior de sobrado patriarcal urbano do meado do século XIX. Desenho de Lula Cardoso Ayres, baseado em notas de Gilberto Freyre, nesses prédios urbanos funcionaram além de armazéns e casas familiares e algumas escolas. In: FREYRE, Gilberto. Sobrado e Mucambos: decadência do patriarcado rural e

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Imagem 5: Internato Pernambucano em Ponte do Uchoa, n. 21, fundado em 1879, pelo professor Manoel Alves Viana. In: Diário de Pernambuco, ano 57, n. 36, terça-feira, 15 de fevereiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

Imagem 6: TACHIGRAPHIA do professor Sebastião Mestrinho, Avisos Diversos,

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Imagem 7: Contra capa da “Cartilha Maternal ou Arte da Leitura” por João de Deus de 1878. In: DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª

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Imagem 8: Modelo para o ensino da letra V. In: DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu amigo Candido A. de

Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878, p. 5. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

Imagem 9: Dialogo a partir do qual João de Deus sugeria o estudo dos diversos “acidentes de posição” da letra r. In: Dialogo a partir do qual João de Deus sugeria o estudo dos diversos “acidentes de posição” da letra r In: DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu amigo Candido

A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. - 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878, p. 62-65. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

Imagem 10: Proposta de Organização de Sala de Aula do Método Castilho. In: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed.

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Imagem 11: Imagem do interior de uma sala de aula contida na “Cartilha Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever”. In: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 27. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

Imagem 12: Letra A da cartilha de Feliciano de Castilho. In: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 29. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

Imagem 13: Colégio Sete de Setembro, Ano de 1881 – Resultado dos Exames de

línguas e ciências prestado pelos alunos desse colégio, sob a direção do bacharel Manoel Barbosa de Araujo, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 58, nº. 7, terça-feira, 10 de Janeiro de 1882, Caixa/Rolo 135, p. 3, FUNDAJ, Recife – PE.

Imagem 14: Contador Mecânico, suporte didático sugerido desde 1850 para o ensino da matemática. In: CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. - 2. ed. inteiramente refundida, aumentada, e ornada de um grande

numero de vinhetas. - Lisboa: Impr. Nacional, 1853, p. 275. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

Imagem 15: Internato Pernambucano, em Ponte de Uchoa. In: SETTE, Mario. Arruar: história pitoresca do Recife Antigo. Recife: Governo do Estado de Pernambuco/Secretaria de Educação e Cultura, 1978, P. 288’‘289.

Imagem 16: Internato Pernambucano, em Ponte do Uchoa, nº 21, fundado em 1879, pelo professor Manoel Alves Viana. In: Internato Pernambucano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, ano 57, n. 36, terça-feira, 15 de fevereiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

Imagem 17: Possíveis exercícios de educação física orientados pelos professores. In: Internato Pernambucano em Ponte de Uchoa, Diário de Pernambuco, ano 57, n. 36, terça-feira, 15 de fevereiro de 1881, p. 3, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

CRÉDITO DO MAPA UTILIZADO

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XAVIER, Libânia Nacif. Oscilações do público e do privado na história da educação brasileira. Revista Brasileira de História da Educação, vol. 5, 2003.

Dissertações e Teses:

AURAS, Gladys Mary Teive. “Uma vez normalista, sempre normalista”: a presença do método de ensino intuitivo ou lição de coisas na construção de um habitus pedagógico (Escola Normal Catarinense – 1911-1935). (Doutorado em Educação) Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.

BOTO, Carlota Josefina Malta Cardoso dos Reis. Ler, escrever, contar e se comportar: a escola primária como rito do século XIX português (1820-1910). Tese.

Departamento de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, 1997.

TRINDADE, Iole Maria Faviero. A invenção de uma nova ordem para as cartilhas: ser maternal, nacional e mestra. Queres ler? Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.

SOUZA, Felipe Azevedo. Direitos políticos em depuração: a Lei Saraiva e o eleitorado do Recife entre as décadas de 1870 e 1880. (Dissertação). Recife: UFPE, 2012.

LEMOS, Daniel Cavalcanti de Albuquerque. Professores em movimento: a emergência do associativismo docente na Corte Imperial. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.

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164

9. APÊNDICES

9.1: Escolas Particulares Anunciadas nas “Publicações a Pedido” do Diário de

Pernambuco entre 1880-1888

Ano de 1880

Colégio de Santa Genoveva

José Maria Hollanda Cavalcante

Ana Cristina Wanderley de Albuquerque

Salvador Henrique de Albuquerque

Colégio Pedro II

Ateneu Luzo-Brasileiro – Método João de Deus

Colégio de Nossa Senhora da Graça

Colégio Brasileiro

Colégio Suíço

Colégio Americano para Educação de Moças

Instituto de Nossa Senhora do Carmo

Colégio da Imaculada Conceição para Educação de Meninas

Ensino Particular para do Sexo Feminino

Colégio Sete de Setembro

Colégio Dois de Dezembro

Curso Primário e Preparatório da Rua da Imperatriz

Colégio Duas Irmãs

Colégio Onze de Agosto

Colégio Dois de Fevereiro

Ano de 1881

Escola Particular de Rita de Jesus Bastos

Colégio Americano para educação de meninas

Colégio da Imaculada Conceição

Colégio de Nossa Senhora do Amparo

Colégio Pedro II

Colégio Dois de Dezembro

Aula Particular de Primeiras Letras - José de Souza Cordeiro Simões

Aula Particular de Primeiras Letras - Felippe da Costa Dourado

Colégio Sete de Setembro

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Colégio Dois de Fevereiro

Instituto Inglês de Pernambuco - Colégio Americano

Aula Particular de Primeiras Letras - Anna Theodora Simões

Colégio de Nossa Senhora da Graça

Método Castilho

Colégio Zima

Colégio Brasileiro

Internato Pernambucano

Colégio de Nossa Senhora da Penha

Colégio Isabel

Colégio Inglês

Colégio Onze de Agosto

Colégio Duas Irmãs

Curso Primário Preparatório

Colégio Santa Genoveva

Ano de 1882

Colégio Pedro II

Colégio de Nossa Senhora da Graça

Colégio de Santa Genoveva

Colégio do SS Coração de Jesus

Colégio Meira

Colégio Meira - Curso de Aritmética

Colégio Onze de Agosto

Colégio Pernambucano para o sexo feminino

Colégio Sete de Setembro

Escola Particular Mista de Instrução Primária - Rita de Jesus Bastos

Internato Pernambucano

Aula Particular Para o Sexo Feminino - Rua Formosa

Colégio da Imaculada Conceição

Colégio de Nossa Senhora da Saúde

Colégio de São Francisco

Instituto Acadêmico

Instituto de Nossa Senhor da Carmo

Aula Particular de Primeiras Letras - Felippe da Costa Dourado

Curso de Ensino Superior

Escola Particular Mista Lourença Jovina

Colégio Nazareno

Curso Primário e Preparatório

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Curso Comercial Noturno

Colégio Americano - Instituto Inglês Pernambucano

Colégio de São José

Colégio do Norte

Ensino de Inglês

Colégio Duas Irmãs

Colégio Dois de Dezembro

Instituto Acadêmico - Curso de Férias

Curso Primário e Preparatório - Curso de Férias

Colégio de Nossa Senhora da Penha

Instituto Nossa Senhora do Carmo - Curso de Férias

Ensino Particular na Rua Marques do Herval

Ano de 1883

Colégio Americano - Instituto Inglês

Colégio da Imaculada Conceição

Colégio de Nossa Senhora da Graça

Colégio de Nossa Senhora da Penha

Colégio de Nossa Senhora da Saúde

Colégio Dois de Dezembro

Colégio Instituto Acadêmico

Colégio Sete de Setembro

Curso Primário Preparatório - Rua da Imperatriz

Internato Pernambucano

Colégio Americano Para Educação de Meninas

Colégio de Nossa Senhora das Victórias

Colégio de Santa Luzia para o sexo feminino

Colégio do SS Coração de Jesus

Colégio Meira

Instituto Nossa Senhora do Carmo

Ensino Particular Maria dos Anjos Dornellas Camara

Aula Primária na Torre

Curso de Férias - Olintho Victor

Colégio Onze de Agosto

Ano de 1884

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Colégio da Imaculada Conceição

Colégio de Nossa Senhora da Graça

Colégio Dois de Dezembro

Colégio Instituto Acadêmico

Colégio Nazareno

Colégio Onze de Agosto

Curso de Instrução Primária e Secundária - Rua Visconde de Albuquerque

Curso Primário e Preparatório na Rua da Imperatriz

Internato Pernambucano

Colégio Sete de Setembro

Colégio de Nossa Senhora da Penha

Colégio Pedro II

Instituto de Nossa Senhora do Carmo

Colégio do Santissimo Coração de Jesus

Colégio Meira

Colégio Primeiro de Março

Ensino Particular - Rua Durque de Caxias n. 70

Institution Française de Demoiselles

Transferencia de Colégio - Instituto Acadêmico

Colégio de Nossa Senhora das Vitórias

Ensino Primário e Secundário por Clovis Bevilaqua

Colégio 19 de Abril

Colégio Americano Para Educação de Meninas

Instituto Acadêmico

Curso Primário e Preparatório - Rua do Imperador

Colégio Cruzeiro do Norte

Colégio do Amor Divino

Colégio 25 de Março para o sexo feminino

Aula Particular Noturna de Instrução Primária para adultos

Aula particular para o sexo feminino - Pátio do Terço

Colégio Maria Brandão

Instituto 19 de Abril

Aula Particular D. Joana da Cunha Lapa

Nossa Senhora das Vitórias

Colégio de Santa Cruz

Instituto Philomatico - Curso de Férias

Aula Particular para o sexo Feminino - Rua Vidal de Negreiros

Curso Minerva Internato e Externato

Escola Particular - Rua Vidal de Negreiros

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Ano de 1885

Aula de Primérias Letras - Antonio Cesário Moreira Dias Júnior

City College - Rua das Flores

Colégio do Amor Divino

Colégio da Imaculada Conceição

Colégio Dois de Dezembro

Colégio Instituto Acadêmico

Colégio Nazareno

Colégio de Nossa Senhora das Vitórias

Colégio Pedro II

Escola Particular Mista - Maria Hermina Pedrosa

Escola Mista D. Maria dos Anjos Dornellas Camara

Escola Particular - Anna Theodora Simões

Escola particular - Maria do Carmo Rodrigues de Almeida

Institution Française de Demoiselles

Instituto 19 de Abril

Instituto Philomatico

Aula Particular - Carolina Leopoldina Coelho de Araújo

Curso Primário e Preparatório - Rua do Imperador 15

Colégio de N. Senhora das Graças

Colégio do Santíssimo Coração de Jesus

Colégio de Santa Cruz

Escola Primária Mista - Odorica Argentina dos Santos

Aula Particular - Rua do Gervásio Pires

Colégio de Nossa Senhora da Penha

Curso Primário e Preparatório - Rua da Soledade

Escola particular De instrução primária para o sexo masculino - Julio Soares de Azevedo

Escola Particular - Maria da Conceição de Drummond

Instituto Acadêmico

Colégio de S. Luiz Gonzaga

Colégio Seis de Abril

Instituto de Nossa Senhora do Carmo

Colégio Brasileiro

Internato Pernambucano

Escola de Dona Porcia de Melo

Colégio Onze de Agosto

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Ano de 1886

Colégio de Nossa Senhora da Penha

Colégio Instituto Dezenove de Abril

Colégio Nossa Senhora das Victórias

Colégio Sete de Janeiro

Instituto Française de Demoiselles

Colégio 15 de Maio

Colégio Americano Para Meninas

Colégio do Amor Divino

Colégio Onze de Agosto

Curso Primário e Preparatório - Imperatriz 15

Curso de Instrução Primária – Odorica

Instrução Particular Para Menino - Matriz da Boa Vista

Instituto de Nossa Senhora do Carmo

SS. Coração de Jesus

Colégio de Nossa Senhora das Graças

Colégio de Nossa Senhora da Paz

Colégio da Emulação

Colégio Instituto Acadêmico

Aula Mista - Francisca Martiniana L. Carneiro

Colégio de Nossa Senhora das Victórias

Colégio de Santa Lucia

Escola de Instrução Primária - Julio Soares de Azevedo

Lyceu Tryadelphico

Colégio Parthenon

Colégio 11 de Agosto

Escola Particular - Maria dos Anjos Dornellas Camara

Instituto 19 de Abril

Externato de S. Luiz - Rua do Imperador 52

Colégio de São Luiz Gonzaga

Ano de 1887

Colégio 12 de Maio

Colégio do Amor Divino

Colégio de Nossa Senhora da Penha

Colégio de S. Luiz Gonzaga

Colégio de Santa Lucia

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Escola Particular Julio Soares d'Azevedo

Externato São Luiz

Institution Française de Demoiselles

Instituto de Nossa Senhora do Carmo

Instituto Philomatico

Lyceu Triadelphico

Colégio Santa Cruz

Externato do Recife

Colégio de Nossa Senhora das Vitórias

Colégio Diocesano

Rua da Penha número 23

Instituto 19 de Abril

Colégio 11 de Janeiro

Colégio Meira

Intituto Acadêmico

Escola Mista Particular - Rua da Concordia

Colégio Prytaneu

Colégio 1º de Julho

Externato Para 12 Meninas - Rua do Hospício

Colégio Estellita

Ano de 1888

Colégio do Amor Divino

Colégio de N. S. da Penha

Colégio de Santa Lucia

Colégio Estellita

Colégio Prytâneo

Colégio Primário e Secundário - José de Souza Cordeiro Simões

Institution Française de Demoiselles

Instituto 19 de Abril e Aula Infantil

Instituto Philomatico

Colégio Meira

Colégio Onze de Agosto

Colégio Parthenon

Instituto de Nossa Senhora do Carmo

Lyceu Triadelphico

Escola de Instrução Primária - Rua de Santa Rita

Colégio Diocesano

Curso Noturno - Rua Duque de Caxias

Colégio Sete de Setembro

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9.2: Escolas Anunciadas nos Almanaques Pernambucanos entre 1881 e 1886 e

seus endereços

Escola Central Ponte d'Uchoa

Instituto de Nossa Senhora do Carmo Rua de S. Francisco, 72

Colégio de Santa Genoveva Rua do Visconde de Goyana, 153

Colégio Onze de Agosto Rua do Visconde de Albuquerque, n. 125

Colégio Dois de Dezembro Rua do Visconde de Camaragibe, n. 53

Colégio de S. João Rua do Visconde de Albuquerque, n. 95

Colégio Sete de Setembro Rua do Barão de S. Borja, n. 26

Colégio Pedro II Rua do Barão de São Borja, n. 84

Colégio do Castello Branco Rua do Marques de Olinda, 25

Colégio União Rua do Visconde de Camaragibe, n. 3

Colégio Dois de Fevereiro Rua do Leão Coroado, 5

Atheneu Pernambucano Rua de S. Francisco/Rua do Imperador, n. 24 A

Colégio Rocha Rua do Barão de S. Borja, n. 50

Casa de Educação Rua do Visconde de Albuquerque, n. 33

Curso Primário Preparatório Rua da Imperatriz, n. 15

1882 - Colégio Meira Rua da Ponte Velha, n. 40

Colégio Inglês - Instituto Inglês Estrada do João de Barro, n. 24

Colégio de José Maria de Holanda Cavalcanti Rua da Ponte Velha, n. 59

Internato Pernambucano Rua do Visconde de Camaragibe, n. 55

Instituto Acadêmico Rua da Ponte Velha, n. 59

Colégio de S. Francisco Rua do Visconde de Camaragibe

Colégio Cruz do Norte Rua do Visconde de Rio Branco, n. 159

City Colége Rua Mathias de Albuquerque, n. 46

Externato Rua do Sol, n. 17

Instituto 19 de Abril Rua do Barão de S. Borja, n. 47

Curso Primário e Secundário Rua do Imperador, n. 51

Colégio do Amor Divino Rua da Imperatriz, n. 32

Colégio Americano Rua do Imperador, n. 49

Colégio de S. Angélica sem/endereço

Colégio de S. José - Não aparece Rua da Soledade

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em 1882

Colégio do SS. Coração de Jesus Passagem da Madalena

Colégio de N. S. da Saúde Rua do Visconde de Camaragibe, n. 10

Colégio de N. S. da Penha Rua do Cabugá, n. 7

Colégio pelo Método Castilho Rua do Imperador, n.84

Colégio de S. Vicente de Paula Rua do Visconde de Goiana, n. 84

Colégio Zima Rua do Livramento, n. 38

Colégio da Imaculada Conceição

Colégio de N. S. do Amparo

Colégio de N. Senhora da Esperança

Colégio S. Casimiro Rua da Princesa Izabel, n. 4

Colégio de S. Cecília Rua da Imperatriz, n. 37

Colégio de Santa Rita Rua do Marques de Olinda, n. 33

Colégio Brasileiro Rua da Imperatriz, n. 22

Colégio Franco-Brasileiro Rua do Barão de S. Borja, n. 38

Colégio Suíço Pátio do Carmo, n. 16

Colégio de Nossa Senhora da Graça Ponte d'Uchoa

Colégio de N. S. das Mercês Rua do Imperador, n. 52

Colégio de S. Luiz 1884 - Rua do Barão de S. Borja, n. 52

Casa de Educação Travessa do Paissandu, n. 1

Colégio de Santa Dorothéa

Colégio Pernambucano Rua da Palma, 71

Colégio de São José Soledade

Colégio Particular - 1884 Colégio de Nossa Senhora das Vitórias

Rua do Visconde de Camaragibe, n. 20

Colégio de Santa Luzia Rua do Marques do Herval, n. 33

Colégio de São Vicente de Paula Rua do Visconde de Goiana, 84

Colégio Seis de Abril Rua do Visconde de Albuquerque, n. 26

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9.3. Nome das Ruas dos principais bairros da cidade do Recife segundo foi

publicado no Almanaque Pernambucano de 1886347

Bairro do Recife

Rua do Marquez de Olinda Rua da Cadeia

Rua da Madre de Deus

Rua da Alfandega

Rua do Bom Jesus Rua da Cruz

Rua do Bispo Sardinha Rua do Encanamento

Rua de Domingos José Martins Rua da Senzala Velha

Rua de D. Maria Cesar Rua da Senzala Nova

Rua de Alves Cabral Rua dos Tanoeiros

Rua dos Mascates Becco das Miudinhas

Rua de Thomé de Souza Rua do Lingueta

Rua do Comercio Rua do Trapiche

Rua do Tuyuty Rua da Lapa

Rua do Amorim

Rua da Moeda

Rua da Restauração Rua da Guia

Rua de Maris e Barros Rua da Cordoniz

Beco Largo

Rua do Vigário Tenório Rua do Vigário

Rua do Visconde de Itaparica Rua do Apollo

Rua do Barão do Triumpho Rua do Brum

Rua dos Guararapes

Rua de Vital de Oliveira Travessa do Arsenal

Rua de S. Jorge Rua do Pilar

Praça de Pedro I Praça do Chafariz

Praça do Chaco Largo em Fora de Portas

Praça dos Voluntários Patria

Rua Barreto Menezes Rua da Cacimba

Rua D. Maria de Souza Rua das Crioulas

Beco da Pindoba Beco do Tocolombó

Rua da Companhia Rua em frente do Cais do Forte do

347

Em 1885 as ruas do Recife passaram por uma troca de nomes, nos Almanaque Administrativo,

Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco de 1886 constam os nomes antigos e os novos nomes das ruas dos quatro bairros principais a cidade. In: ALMANAQUE Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o ano de 1886. Recife: Typ. Mercantil, 1886, Pp. 5-8. Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, Biblioteca. Recife – PE.

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Pernambucana Mattos

Rua do Farol

Cais do Apollo

Cais da Alfandega

Bairro da Boa Vista

Rua da Imperatriz Aterro da Boa-Vista

Rua do Visconde do Rio-Branco Rua da Aurora

Rua da União

Rua de Antonio Joaquim de Mello Rua da Saudade

Rua Sete de Setembro Beco dos Ferreiro

Rua do Vinconde de Camaragibe Rua do Hospicio

Rua do Conde da Boa-Vista Rua Formosa e Caminho Novo

Praça do Conde d'eu Praça da Boa Vista

Rua do Visconde de Pelotas Rua do Aração

Rua da Conceição

Rua de Gervasio Pires Rua do Pires

Rua do Rosario

Rua do Riachuelo Canal

Rua da Princesa Isabel Ao lado da Estação de Olinda

Rua de Mamede Simões Rua do Gymnasio

Rua do Capitão Lima Rua do Lima

Rua do Dr. Eustaqui Gomes

A rua que partindo da Imperatriz termina no Cais do Capibaribe (Beco do Queimado)

Rua do Visconde de Albuquerque Ruas da Matriz e Glória

Rua do Visconde de Goyana Rua do Cotovelo

Rua do Barão de S. Borba Rua do Sebo

Rua de S. Gonçalo

Rua da Santa Cruz

Rua de Antonio Carneiro Rua Velha

Rua do Conselheiro Aguiar Ruaa da Alegria

Rua do Leão Coroado Rua da Mangueira

Rua do General Seabra Rua do Jasmim

Rua do Coronel Lamenha Rua dos Prazeres

Rua do Desembargador Nunes Machado Rua da Soledade

Rua de Fernandes Vieira

Rua do Deão Farias Rua do Corredor do Bispo

Rua de D. João Perdigão A que partindo da da Princesa Isabel,

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termina na estação dos Piraes

Rua de D. Vital

A denominada Campo Verde que parte da rua do Riachuelo, e segue na direção norte a encontrar o Pombal

Rua do Dr. Villas-Boas Rua do Atalho

Rua de Sebastião Lopes A paralela a do Atalho

Rua de Maciel Monteiro Beco das Barreiras

Rua do Bispo Cardoso Ayres

A d'atração, que é a que partindo do Corredor do Bispo, atravessa a do Príncipe e segue a direção ao norte deste

Rua do Conselheiro Teodoro Rua da União

Bairro de Santo Antônio

Campo das Princesas

Rua do Imperador

Cais Vinte Dois Novembro Ruas do Colégio e da Cadeira

Praça de Pedro II Cais do Colégio

Rua do Duque de Caxias Praça do Colégio

Rua Primeiro de Março Rua do Queimado

Praça da Independência Rua do Crespo

Rua do Cabugá Praça da União

Rua das Laranjeiras

Rua das Trincheiras

Rua do Barão da Vitória Rua Nova

Praça de Saldanha Marinho Largo da Matriz

Rua de Paulino Camara Camboa do Carmo

Rua de Mathias de Albuquerque Rua das Flores

Rua de Fr. Caneca Ruas da Paz e Cano

Rua de Felippe Camarão Rua da Palma

Rua Marques de Herval Rua da Concordia

Rua Dr. Ivo Mequilino Rua do Sol

Rua da Ilha de Carvalho Rua Bela

Rua do Conselheiro Piretti Rua da Roda

Rua de Vinte Oito de Setembro Rua do Calabouço

Rua de João do Rego Rua da Florentina

Rua do General Abreu e Lima Rua de Santo Amaro

Rua do Major Agostinho Bezerra Rua do Bom Jesus das Crioulas

Rua do Marquez do Recife Travessa do Ouvidor

Rua de Francisco Jacinto Rua de São Francisco

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Largo do Paraiso

Rua de Pedro Ivo Travessa dos Expostos

Largo do Carmo

Rua de Santa Thereza

Rua de Lomas Valentinas Rua das Águas Verdes

Largo de S. Pedro

Rua do Fogo

Rua do Visconde de Inhaúma Rua do Rangel

Rua de Marcilio Dias (parte) Rua Direita

Rua de Pedro Affonso Rua da Praia

Cais do Ramos

Rua do Livramento

Rua de Henrique Dias Rua da Viração

Rua do Dr. Feitosa Rua Estreita do Rosario

Rua Larga do Rosario Até a antiga dos Quarteis

Rua de Vinte e Quatro de Maio Rua dos Ossos

Rua do Barão de Vila-Bela Santa Isabel (ao sul do teatro)

Rua de Neto de Mendonça Rua dos Patos

Bairro de São José

Rua de São José

Rua da Penha

Rua Imperial

Rua de Vidal de Negreiros Rua das Cinco Pontas

Rua Marcilio Dias Rua Direita

Travessa do Serigado

Rua de Santa Cecília

Rua de Domingos Theotonio Ruas das Calçadas

Rua de Christovão Colombo Rua dos Copiares

Largo da Penha

Rua da Assumção

Rua de Dias Cardoso Rua do Caldeireiro

Rua de Santa Rita

Rua do Padre Muniz Rua Nova de Santa Rita

Rua do Nogueira

Rua de Antonio Henrique Rua dos Açouguinhos

Rua de Luiz de Mendonça Rua do Nascente

Rua do Ypyranga Rua do Ouro

Rua do Padre Nóbrega Rua do Alecrim

Rua S. João

Page 178: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO … · 2015-04-14 · Essa é uma das frases clássicas da minha mãe ... cujo encontro foi uma das melhores coisas que a pós-graduação me trouxe

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Rua do Bairro Baixo

Rua do Jardim

Rua do Coronel Suassuna Rua Augusta, Hortas e Martyrios

Travessa do Peixoto

Rua do Gazometro