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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
Renata Apar ecida Ribeiro Custódio
ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO APLICADA À ODONTOLOGIA – CLÍNICA
GERAL – UM ESTUDO DE CASO
Dissertação submetida ao Programa de Pós
Graduação em Engenharia de Produção como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Ciências em Engenharia de Produção
Or ientador : Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr.
Itajubá 2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
Renata Apar ecida Ribeiro Custódio
ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO APLICADA À ODONTOLOGIA – CLÍNICA
GERAL – UM ESTUDO DE CASO
Dissertação aprovada por banca examinadora em 22 de dezembro de 2006, conferindo à
autora o título de Mestre em Ciências em Engenharia de Produção.
Banca Examinadora:
Examinador: Prof. José Geraldo Trani Brandão, Dr.
Examinador: Prof. Carlos Henrique Pereira Melo, Dr.
Or ientador : Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr.
Itajubá 2006
iii
Para Antônio Carlos, Ágata e Íris.
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AGRADECIMENTOS Tenho muito a agradecer aos professores Luiz Gonzaga Mariano de Souza e Alaor
José Borges de Campos, principalmente pelo apoio para meu ingresso nas ciências em
engenharia.
Ao prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, agradeço a todas as orientações e
oportunidades de estágiodocência tão importantes para minha formação como professora
universitária.
Agradeço ao prof. Carlos Henrique Pereira Mello pelas contribuições ao longo dos
seminários apresentados.
Agradecimento especial à Dra. Siomara Gonçalves Borges pela acolhida, confiança e
apoio. Agradeço também à Marina, enquanto auxiliar extrabucal, pelo esforço em buscar
soluções para facilitar o trabalho odontológico no caso estudado.
Aos pacientes que a mim permitiram observar seus tratamentos odontológicos, meu
muito obrigado.
Aos representantes da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), da Dabi Atlante,
da Revista da Faculdade de Odontologia de Passo Fundo e aos professores Francisco Fialho e
Gilsée Ivan Régis Filho pelo apoio bibliográfico.
Aos meus pais, sempre na arquibancada.
A minha irmã Isabel, engenheira e educadora, que me fortaleceu nos momentos de
cansaço, mostrandome através de seu exemplo que apenas a dedicação pode levar a
concretização dos trabalhos.
Não posso deixar de agradecer a Angélica, que criou condições para que eu pudesse
me ausentar de minha casa com tranqüilidade para realizar esta pesquisa.
Meu muito obrigado aos amigos Bernadette, Felipe, Marco Aurélio, Mari, Guido,
Tarcisa, Ivone, Thaís pelo apoio que sem a menor dúvida me deram condições para cumprir
as várias etapas deste trabalho.
v
Tudo começa com uma escolha.
vi
RESUMO Esta dissertação se propôs a realizar a análise da atividade do cirurgiãodentista a fim
de construir um ponto de vista desta profissão. Para tanto foi aplicada a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho – AET, por se tratar de um método de abordagem ascendente, que permite compreender como o trabalhador age e reage nas situações de trabalho. Foi escolhido um caso para estudo, onde o profissional se encontra bem próximo do perfil do cirurgiãodentista brasileiro traçado pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sócioeconômicas (Inbrape). Também foram identificadas as estratégias adotadas para fazer face aos constrangimentos da atividade. O estudo demonstrou haver uma interrelação entre as ações intrabucais e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, mas também evidenciou um forte componente relacionado à organização do trabalho que compromete a produtividade e a qualidade de vida do cirurgiãodentista. Por fim, foram feitas as recomendações ergonômicas para o caso e identificados os referenciais que nortearão o aperfeiçoamento e/ou desenvolvimento do assento odontológico.
Palavraschave: ergonomia; AET; cirurgiãodentista; odontologia.
vii
ABSTRACT The purpose of this study is to analyze the activity of the surgeondentist in order to
construct a point of view of this profession. For in such way the methodology of the Analysis Work’s Ergonomics AWE was applied, considering a method of ascending treatment that allows understanding as the worker acts and reacts in the work situations. A case for study was chosen for a professional that is close to the profile of the Brazilian surgeondentist did by the Inbrape (Brazilian Institute of Social Economics Research). Also had been identified the strategies adopted to make face to the constraints of the activity. This study demonstrated having interrelations between the intramouthed actions and the Workrelated Musculoskeletal Disorders – WRMD’s, but also evidenced a strong component related to the organization of the work that compromises the productivity and the quality of life of the surgeondentist. Finally, the ergonomic recommendations for the case had been made and references was identified that will guide the improvement and/or development of the surgeon dentist seat.
Keywords: ergonomics; AWE; surgeondentist; dentistry.
viii
LISTA DE FIGURAS Figura 1: Chaves de Garengeot, pelicano e fórceps. 8 Figura 2: Primeira cadeira odontológica. 9 Figura 3: Chaves de Garengeot. 10 Figura 4: Base multifatorial do DORT. 25 Figura 5: esquema gráfico ISO/FDI. 36 Figura 6: Zonas de alcance. 38 Figura 7: A tarefa. 41 Figura 8: Tarefa, atividade e trabalho. 41 Figura 9: Trena CASTO. 49 Figura 10: Goniômetro CARCI. 50 Figura 11: Metodologia AET. 50 Figura 12: Marcação de consulta. 54 Figura 13: Planta baixa do consultório. 55 Figura 14: Medidas do mocho. 56 Figura 15: Equipo com três pontas. 56 Figura 16: Pedal de acionamento do motor. 56 Figura 17: Armários. 57 Figura 18: Gaveteiro móvel. 57 Figura 19: Refletor. 57 Figura 20: Cadeira do paciente. 58 Figura 21: Cuspideira e sugador. 58 Figura 22: Fluxograma das 9 etapas prescritas para a execução da prótese – fase moldagem
definitiva. 59 Figura 23: Fluxograma das 19 etapas prescritas para a execução da restauração
fotopolimerizadora. 60 Figura 24: Primeiro recorte na atividade. 62 Figura 25: Planta baixa do consultório. 63 Figura 26: Vista frontal dos armários alto e baixo sob o balcão. 64 Figura 27: Ação extrabucal. 66 Figura 28: Ação intrabucal. 66 Figura 29: Organização do trabalho. 67 Figura 30: Postura fixa na ação intrabucal. 68 Figura 31: Postura incorreta dos ombros. 69 Figura 32: Postura incorreta da cervical vertebral. 69 Figura 33: Postura incorreta da coluna cervical. 70 Figura 34: Apoio insuficiente dos pés. 70 Figura 35: Deslocamento da CD até o sugador. 75 Figura 36: Pegando material na geladeira 76 Figura 37: Pegando material no armário 76 Figura 38: Aplicação do esquema gráfico. 77 Figura 39: Plano horizontal 79 Figura 40: Compressão da parte inferior da coxa e angulação do joelho. 79 Figura 41: Mocho vista lateral. 80 Figura 42: Angulações da cadeira odontológica em estudo. 81 Figura 43: Ângulos necessários para relaxamento máximo segundo Lehmann. 81 Figura 44: Posição de acionamento do sugador. 82 Figura 45: Zonas de inclinação lateral e flexão do tronco. 83
ix
LISTA DE QUADROS Quadro 1: A evolução da ergonomia 19 Quadro 2: Base multifatorial do DORT. 25 Quadro 3: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas. 26 Quadro 4: Estudos pertinentes às condições biomecânicas em profissionais da área
odontológica. 29 Quadro 5: Classificação dos movimentos do cirurgiãodentista. 38 Quadro 6: Etapas da intervenção ergonômica. 43 Quadro 7: Observações sobre etapas restauração fotopolimerizada. 61 Quadro 8: Prédiagnóstico 65 Quadro 9: Posturas e patologias associadas. 84
x
LISTA DE ABREVIATURAS ABO – Associação Brasileira de Odontologia
ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico
ACBO – Academia Brasileira de Odontologia
AET – Análise Ergonômica do Trabalho
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CD – Cirurgiãodentista
CFO – Conselho Federal de Odontologia
DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
FIO – Federação Interestadual de Odontologia
FNO – Federação Nacional de Odontologia
IEA – International Ergonomic Association Inbrape – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sócioeconômicas
PT – Posto de Trabalho
PTO – Posto de Trabalho Odontológico
SELF – Société d’Ergonomie de Langue Française UDT – Unidade Dental Tripartida
xi
SUMÁRIO 1. Introdução 1
1.1 Considerações iniciais 1 1.2 Justificativa 2 1.3 Objetivos Gerais e Específicos 3
1.3.1 Objetivo Geral 3 1.3.2 Objetivos Específicos 3
1.4 Limitações 3 1.5 Estrutura do Trabalho 3
2. Odontologia e Ergonomia 5 2.1 Considerações iniciais 5 2.2 Histórico da Odontologia 5 2.3 Ergonomia 16
2.3.1 A Ergonomia no Brasil 21 2.4 Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho do Cirurgiãodentista 23 2.5 Ergonomia e Odontologia 30
2.5.1 O posto de trabalho odontológico 32 2.6 Análise Ergonômica do Trabalho 38
2.6.1 Considerações iniciais 38 2.6.2 Objeto de estudo da AET 39 2.6.3 Tarefa e atividade 40 2.6.4 A construção da ação ergonômica 42
3. Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo de caso 47 3.1 Bases para uma abordagem metodológica 47
3.1.1 Pressupostos 47 3.1.2 Instrumentos de estudo 47 3.1.3 O trajeto metodológico 50
3.2 Apresentação do caso estudado 51 3.2.1 A escolha do caso 51 3.2.2 Análise da demanda 51 3.2.3 Abordagem global 53 3.2.4 Prédiagnóstico 65 3.2.5 Observação sistemática 65
3.3 Considerações finais 71
4. Análise e diagnóstico 72 4.1 Análise das observações 72
4.1.1 A organização do trabalho 72 4.1.2 O consultório odontológico 77 4.1.3 As posturas 83
4.2 Diagnóstico 86
5. Recomendações e conclusões 88 5.1 Recomendações 88
5.1.1 Horários 88 5.1.2 Agendamento 88 5.1.3 Documentos 88
xii
5.1.4 Materiais 89 5.1.5 Trabalho a duas mãos 89 5.1.6 Equipamentos e mobiliário 90 5.1.7 Quanto à formação de novos profissionais 90
5.2 Conclusões 91
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 94
ANEXO A 98
ANEXO B 99
ANEXO C 100
1
1. Introdução
1.1 Considerações iniciais O homem sofre os efeitos positivos e negativos do trabalho. No que toca aos efeitos
negativos, estes devem ser analisados para que se possa adequar o trabalho ao homem. Esta
dissertação se propõe a estudar o posto de trabalho do cirurgiãodentista, CD, pois o
odontólogo é sem dúvida uma das profissões liberais que se submete aos constrangimentos 1
posturais para a execução de seu trabalho (VILAGRA, 2002). Este profissional trabalha com
um campo visual bastante restrito, a boca, e desenvolve seu trabalho em uma superfície
pequena e de difícil acesso, a faceta de um dente. Para que seu trabalho se cumpra ele adota
posturas fixas que o irão predispor a adquirir doenças osteomusculares (RASIA, 2004).
Segundo Rasia (2004), as pesquisas realizadas até então com estes profissionais são
reducionistas, pois se restringem ao envio de questionários aos CDs. Os estudos encontrados
com o foco voltado para a análise da atividade ainda são incipientes. Deste modo este estudo
visa construir um ponto de vista da atividade deste profissional fundamentado na análise do
trabalho e, sobretudo na relação estabelecida entre as observações, verbalizações, entrevistas,
análise de documentos e dados. Para tanto será utilizada a metodologia da Análise
Ergonômica do Trabalho AET (GUÉRIN et al., 2001) por se tratar de método de
investigação que possibilita ao pesquisador compreender o trabalho a partir da análise das
atividades e das situações de trabalho, ou seja, confrontando o idealizado com o real e
buscando estabelecer uma relação de fatos em situação de trabalho que esteja contribuindo
para a ocorrência de efeitos negativos sobre a saúde. Neste estudo a AET tem um papel
primordial de evidenciar as causas de desconforto sofridas pelo CD por analisar a estrutura do
trabalho, as relações do indivíduo consigo mesmo, com outros sujeitos, os instrumentos e os
objetos (JAMIL, 2004). Para este estudo foi selecionado um caso cujo profissional é do sexo
feminino, com 22 anos de formada, sem auxiliar e que atua na clínica geral como liberal. Este
perfil está bastante próximo do perfil traçado pela pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro
de Estudos e Pesquisas Sócioeconômicos (Inbrape) com 614 CDs, no ano de 2002, onde a
maioria dos profissionais é do sexo feminino (57,5%), trabalha sem auxiliar (56,7%) e atua na
clínica geral (76,7%).
1 A palavra constrangimento origina do latim constringere e significa apertado, aperto, compressão, coação, obrigatoriedade, restrição, cerceamento, injunções, etc. em ergonomia ela pode ter o mesmo significado mas aplicado ao trabalho humano.
2
Pretendese após este estudo ter as referências necessárias que evidenciarão a
necessidade de se desenvolver e/ou aperfeiçoar instrumentos, equipamentos bem como uma
nova proposta de organização do trabalho deste profissional de modo a melhorar sua
qualidade de vida.
1.2 Justificativa A busca por este tipo de pesquisa foi motivada pela necessidade sentida pela
pesquisadora de aprofundar nos estudos dos fatores causadores dos problemas músculo
esqueléticos enquanto trabalhava como fisioterapeuta em uma clínica de reabilitação e
realizava inúmeros tratamentos de dentistas. Os poucos estudos na área fez com que este tema
fosse de interesse acadêmico e adequado para uma dissertação.
Segundo MichalakTurcotte (2000) os cirurgiõesdentistas CDs apresentam dores
músculoesqueléticas mais do que outros, enquanto que a prevalência de desconforto e dores
músculoesqueléticas atinge um índice de 62% da população em geral, em CDs seu percentual
atinge 93%. Esses profissionais estão sentindo a diminuição na produção de serviços e a
necessidade de adquirir estratégias para se adaptarem ao trabalho devido aos sintomas que
desenvolvem por causa dos Distúrbios Osteomusculares Relativos ao Trabalho DORTs.
Também Kelsey (1982) e Letho (1990) encontraram em seus trabalhos uma maior freqüência
de sintomas entre os CDs com relação à população em geral.
Apesar de estudos sistemáticos que são feitos desde a década de 50 e são responsáveis
pelas primeiras propostas de modificações no processo de trabalho dos dentistas, inclusive a
mudança do trabalho da posição ortostática para a posição sentada, o conhecimento sobre
esses problemas ainda é incipiente (BARRETO & FILHO, 2001).
Desta forma, percebese a necessidade de se fazer um estudo deste profissional para
compreender como o trabalho é executado e porque o percentual é tão grande nesta
população. Acreditase que um maior entendimento das estratégias adotadas pelo CDs dará
orientações importantes para se atingir os objetivos deste trabalho.
3
1.3 Objetivos Gerais e Específicos 1.3.1 Objetivo Geral
Estudar o posto de trabalho do cirurgiãodentista através da metodologia da Análise
Ergonômica do Trabalho (AET), visando construir um ponto de vista da atividade desta
profissão para a construção das recomendações ergonômicas.
1.3.2 Objetivos Específicos
a) Obter as referências necessárias que evidenciarão a necessidade de se desenvolver
e/ou aperfeiçoar instrumentos e/ou equipamentos que melhorem a qualidade de vida dos
cirurgiõesdentistas.
b) Identificar as estratégias adotadas para reduzir os constrangimentos no trabalho;
c) Fazer as recomendações ergonômicas necessárias para o caso estudado.
1.4 Limitações Por se tratar de um estudo de caso isolado não é possível generalizar os resultados,
porém esperase encontrar os pontoschave comuns a todos os CDs. Neste trabalho o uso de
recursos áudiovisuais como meio de apoio à coleta de dados, ficou limitado devido à
preocupação em se proteger a privacidade do paciente.
1.5 Estrutura do Trabalho O Capítulo 1 situa a dissertação através da relevância, justificativa, objetivos geral e
específicos, limitações e apresenta a estrutura do trabalho.
O Capítulo 2 destinase a revisão da literatura sendo dividido em quatro partes: a
primeira discorre sobre o histórico da odontologia, como surgiu e se desenvolveu. Fica
evidente que a profissão evoluiu muito tecnicamente, mas não da mesma forma em relação à
posição de trabalho; a segunda parte destinase ao histórico da Ergonomia e da sua aplicação
nas diversas áreas; a terceira parte se refere aos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho – DORT – no CD; a quarta parte trata da Odontologia e Ergonomia que visa
descrever as contribuições ergonômicas no trabalho do CD; a quinta e última parte descreve o
método Análise Ergonômica do Trabalho (AET), suas aplicações e adequações para este
estudo.
4
O Capítulo 3 trata especificamente da aplicação da metodologia AET no estudo de
caso selecionado.
A discussão dos dados e informações encontrados durante a análise ergonômica e a
elaboração do diagnóstico são abordados no capítulo 4.
O Capítulo 5 traz as recomendações para o caso estudado, as conclusões, bem como as
sugestões para trabalhos futuros baseados no conteúdo desta dissertação.
5
2. Odontologia e Ergonomia
2.1 Considerações iniciais Este capítulo descreve brevemente a evolução histórica da odontologia. Trata da
evolução do instrumental e dos tratamentos utilizados, do trabalho empírico, da formação da
profissão bem como das leis que foram estabelecidas para controle do exercício profissional.
Traz também a contribuição da ergonomia na odontologia bem como relaciona os principais
distúrbios osteomusculares a que o CD está predisposto. Referese também à história da
ergonomia bem como as contribuições desta última para a odontologia. Por fim, apresenta a
metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho AET.
Acreditase que os conhecimentos atuais só adquirem seu exato valor quando vistos
dentro de uma dimensão histórica. A história deve ser a explicação dos feitos para estabelecer
as relações entre causa e efeito. Ela é ponto de partida para novas criações.
2.2 Histór ico da Odontologia O texto a seguir apresenta de forma cronológica um histórico da odontologia desde a
época dos Sumérios. Não se pretende explorar o assunto em profundidade e sim evidenciar os
principais eventos que marcaram a odontologia ao longo do tempo (ADA, 2006).
5000 a.C. Um texto sumério descreve “vermes do dente” como a causa das cáries.
2600 a.C. Primeira referência a uma pessoa identificada como praticante da arte
dentária. Era o egípcio HesyRe, frequentemente chamado de 1º. dentista.
500 300 a.C. Hipócrates e Aristóteles escreveram acerca da arte dentária incluindo a
erupção padrão dos dentes, tratamentos de dentes cariados, extração dentária com fórceps e a utilização de arames para firmar dentes perdidos e maxilares fraturados.
Para Souza (1917), poucos vestígios são encontrados da arte dentária antes de
Hipócrates. Ele relata alguns estudos arqueológicos como de Boucher de Perthes que
descobriu em Abbeville, na França, um maxilar humano, cujo terceiro molar apresentava
extensa cárie. Também cita a reconstituição de ossos fósseis encontrados em uma gruta La
Chapelle aux Saints – França – que revelou ser uma mandíbula de um idoso com unicamente
dois caninos. Concluise, portanto que antes da idade da pedra, dos metais os homens já
conheciam os efeitos das cáries e que ou os dentes caíam ou eram extraídos. O mesmo autor
6
cita o papiro de Ebers, da civilização egípcia, como sendo um dos primeiros documentos da
história da medicina e dá destaque onde se lêem algumas passagens referentes às dores de
dentes, abscessos e gengivites. Provas fiéis de arte dentária são encontradas nas múmias do
Egito: dentes ourificados e peças protéticas. Investigações realizadas sobre maxilares no
período neolítico demonstram já atos cirúrgicos e extrações dentárias. O primeiro implante
data do século VII a.C. ao ser identificado na Argélia um crânio feminino com uma falange
implantada na região dos prémolares superiores (GÁRCIA & MÉNDEZ, 2002).
100 a.C. O romano Celsus escreveu, no seu importante compêndio de medicina, sobre
a higiene oral, colocação de dentes perdidos, tratamentos para dores de dentes e fraturas dos
maxilares.
500 1000 d.C. Durante a Idade Média, na Europa, a medicina, a cirurgia e a
odontologia eram praticadas pelos monges.
700 d.C. Um texto chinês sobre medicina menciona a utilização de “pasta de prata”
como um tipo de amálgama.
1130 1163 Os Éditos Papais proibiram os monges de executar qualquer tipo de
cirurgia, sangria ou extração dentária. Após os Éditos, os barbeiros tomaram o lugar dos
monges visto que já costumavam ajudálos nas suas atividades cirúrgicas.
1210 Surge, na França, uma corporação de barbeiros. Havia dois grupos de barbeiros:
os que foram treinados e educados para fazer cirurgias complexas e os que executavam
serviços rotineiros de barbear, sangria e extração dentária. Estes eram os cirurgiõesbarbeiros.
1220 A Escola de Montpellier – França – começou a conferir títulos de doutores da
faculdade de Medicina, os cirurgiões de SaintCôme e os cirurgiõesbarbeiros. Curiosamente
existia uma superioridade dos médicos que não se abaixavam para operar. Os cirurgiões
desprezavam as pequenas cirurgias, entre elas as dentárias que eram deferidas aos cirurgiões
barbeiros (SOUZA, 1917).
1363 O termo dentista foi criado pelo cirurgião francês Guy Chauliac e apareceu em
seu livro “Chirugia Magna”.
1400 Uma série de decretos, na França, proíbe os cirurgiõesbarbeiros de praticarem
todos os atos cirúrgicos excetuando sangria e extração dentária.
7
1500 No Brasil, a odontologia passa a ser conhecida a partir da carta de Pero Vaz de
Caminha que descreve os habitantes com bons rostos, o que pode indicar dentes sadios e
bonitos. Crânios encontrados em Lagoa Santa (MG), em regiões litorâneas de São Paulo e do
Paraná e observações dos primeiros colonizadores indicam que os índios tinham dentes bem
implantados e com pouquíssimas cáries, mas acentuada abrasão, causada pela mastigação de
alimentos duros. A tribo kuikuro, do norte do Mato Grosso, preenchia cavidades dentárias
com resina de jatobá aquecida, que cauterizava a polpa e funcionava como uma obturação,
depois de endurecida.
1530 Foi publicado, na Alemanha, o primeiro livro dedicado unicamente à arte
dentária. Escrito para barbeiros e cirurgiões que tratam a boca, o livro fala de higiene oral,
extração dentária, brocagem de dentes e colocação de obturações em ouro.
1534 1536 Na época da criação das capitanias hereditárias, com a chegada das
expedições colonizadoras e a formação dos primeiros núcleos de povoação, chegam ao Brasil
mestres de ofício de diversas profissões. Eram artesãos entre os quais se incluíam os barbeiros
que além de cortar e pentear os cabelos e barbear faziam curativos em muitos tipos de
machucados e operações cirúrgicas pouco importantes. Por possuírem grande habilidade
manual, passaram a cuidar da boca, fazendo extrações dentárias. O Regimento do Físicomor
de Portugal, datado de 25 de fevereiro de 1521 regulou o ofício desses profissionais (ABO,
1998). Neste período existiam as extrações dentárias, com técnicas primitivas, instrumental
impróprio, nenhuma forma de higiene e nenhum tipo de anestesia. A odontologia era
praticada pelo barbeiro ou sangrador e suas técnicas eram passadas sem qualquer teoria a
partir da oralidade e da vivência.
1572 Em Paris é publicada por Ambroise Paré (15101590) “Cinq Livres de
Chirurgie”, que tratava das variadas cirurgias bucais e da odontologia em geral. Este
enriqueceu o instrumental com a invenção das chaves de Garengot e do pelicano (tipo de fórceps primitivo com a extremidade semelhante ao bico de pelicano) (Figura 1). Suprimiu os
métodos inumanos anteriores de tratar as feridas por meio de azeite quente e popularizou o
uso das ligaduras vasculares para conter as hemorragias. Trabalhou na reimplantação dentária
e foi o primeiro que utilizou a prótese na fissura palatina. Contribuiu em muito para melhoria
das técnicas e para elevar o prestígio da profissão (GÁRCIA & MÉNDEZ, 2002).
8
Figura 1: Chaves de Garengeot, pelicano e fórceps. Fonte: Museu e biblioteca de Odontologia de São Paulo
Séc. XVIII Surgem os primeiros vestígios de legislação brasileira, regularizando o
exercício da arte de curar em todos os seus ramos. Com o paulatino enriquecimento do estado
de Minas Gerais, incrementado com o início do ciclo do ouro, a Casa Real Portuguesa nomeia
o primeiro cirurgiãomor desse estado, regulamentando os práticos de toda metodologia
dentária. A prática passava a contar agora com certo grau de organização, tanto que, nesse
mesmo período, a Lei 17 de junho de 1782 cria a Real Junta de ProtoMedicato, formada por
sete deputados, médicos ou cirurgiões, para um período de três anos, para uma melhor
fiscalização das colônias portuguesas. A essa junta caberia o exame e a expedição de cartas e
licenciamento de todos aqueles que tirassem dentes.
Durante a fase Précientificista historiadores destacam a Europa como o berço da
prática odontológica, surgindo ali os primeiros escritos sobre essa ciência. Em 1728, na
França, o médico Pierre Fauchard (16781761), com seu livro: "Le Chirurgien Dentiste au
Traité des Dents", revoluciona a odontologia, trazendo novos conhecimentos, criando técnicas
e aparelhos, sendo justamente chamado de "Pai da Odontologia Moderna".
Nas últimas décadas deste século, surgiu agitando o cenário político brasileiro,
Joaquim José da Silva Xavier (1746 1792), conhecido como Tiradentes, por exercer entre os
seus múltiplos ofícios, o de dentista. Tiradentes possuía grande habilidade como operador e
que não se limitava a isso, também esculpia, provavelmente em marfim ou osso de canela de
boi, coroas artificiais para repor no lugar dos dentes ausentes. Entre os objetos encontrados
em sua casa, em Vila Rica, havia cinco pratos de pó de pedra branca, dois frascos de vidro
grandes, duas garrafas finas pequenas, uma peneira de seda e instrumental de dentista. Os
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instrumentos fazem parte da reserva técnica do Museu Histórico Nacional (RJ): são dois
fórceps, duas chaves de extração e uma espátula. É considerado o “Patrono da Odontologia".
Nessa época não existia o tratamento de canal, os dentes eram extraídos com alavancas
rudimentares, as obturações eram de chumbo sobre os tecidos cariados e polpas afetadas. As
próteses eram simples e amarradas com fios aos dentes que haviam sobrado. Dentaduras eram
esculpidas em marfim ou osso. Dentes humanos ou de animais eram utilizados e retidos na
boca por molas.
1760 O inglês John Baker é o primeiro dentista, treinado sob o ponto de vista médico,
a praticar a odontologia na América.
1789 O francês Nicolas Dubois de Chemant recebe a patente para dentes de porcelana.
1790 Foi construída a primeira cadeira (Figura 2) feita especificamente para o
paciente, pelo dentista americano Josiah Flagg. Era portátil, de fácil montagem e acoplada a
uma caixa com a qual era transportada ao lugar onde o paciente estava. Foi utilizada entre
1885 a 1930.
Figura 2: Primeira cadeira odontológica. Fonte: Reprodução Catálogo Geral S. S. White 1929.
23 de maio de 1800 Foi criado o “Plano de Exames”, que consistia em um
aperfeiçoamento das formalidades e dos exames. É encontrado nesse ano em documentos do
Reino o vocábulo “dentista”. Esse é o início da arte dentária como profissão autônoma no
Brasil.
Início de 1808 Fugindo das forças francesas, o príncipe regente D. João VI, sua corte
e a elite portuguesa (15 mil pessoas) chegavam a Salvador, tornandose o Brasil, sede do
reino. Houve um grande surto de progresso. No hospital de São José, na Bahia criouse a
Escola de Cirurgia, graças à interferência do Dr. José Correa Picanço, físico e cirurgiãomor,
em nome da Real Junta do ProtoMedicato, mas que em nada beneficiou os dentistas, pois não
10
só licenciou os profissionais da corte como expediu cartas legalizando 11 barbeiros de
Salvador, todos negros, de baixa classe social, forros e até alguns escravos de poderosos
senhores.
Março de 1808 A família real chega ao Rio de Janeiro e o cirurgiãomor iniciou o
licenciamento dos profissionais da Corte, estendendo a fiscalização por todo reino. As
autorizações eram semelhantes às expedidas aos barbeiros baianos. Igualmente a Bahia os
barbeiros e sangradores eram normalmente escravos ou forros. Utilizavam "chaves de Garengeot" (Figura 3) enferrujadas e infectadas na extração de dentes dos escravos e dos brancos sem recursos financeiros com o auxílio de técnicas desorientadas, provocando
traumatismos nos dentes, lábios, queixo, língua, tecidos da boca e com manobras
intempestivas, tirando também dentes próximos aos que estavam sendo tratados.
Figura 3: Chaves de Garengeot. Fonte: Museu de Petrópolis
É criada no Rio de Janeiro a Escola Anatômica e Médica no Hospital Militar e da
Marinha, no Rio de Janeiro, com um caráter eminentemente pragmático. Em 07 de outubro de
1809 é abolida a Real Junta do ProtoMedicato, ficando todas as responsabilidades ao encargo
do físicomór e do cirurgiãomór, com a colaboração de seus delegados e subdelegados.
1811 No Brasil, a primeira carta de dentista foi expedida em nome do português Pedro
Martins de Moura, que dava o direito apenas de "tirar dentes" e não fazia referência a demais
operações cirúrgicas ou protéticas. Neste mesmo ano, Sebastião Fernandes de Oliveira,
natural da Vila de Vitória, Espírito Santo, foi o primeiro brasileiro a receber sua carta de
autorização. As leis que regulamentavam o ensino da cirurgia (plano de estudos de cirurgia),
aprovado pelo decreto de 1 de abril de 1813, não ajudavam a arte dentária. Os dentistas
possuíam conhecimentos rudimentares, sem escolas, sem cursos. Nenhum prérequisito era
exigido para obter a carta da profissão de tirar dentes, nem mesmo saber ler. A profissão se
bipartia: as operações cirúrgicas tinham sua licença dependendo do cirurgiãomor e, os
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curativos nos dentes com licença dependendo do físicomor, ou seja, a parte médica da
profissão.
1820 José Correa Picanço, cirurgiãomor, concedeu ao francês Doutor Eugênio
Frederico Guertin, a primeira carta a um dentista mais evoluído, por ser diplomado pela
Faculdade de Odontologia de Paris, para exercer sua profissão no Rio de Janeiro. Este recebeu
permissão para extrair dentes, praticar todas as operações necessárias ao ramo, fazer
curativos, etc. Este profissional atingiu elevado conceito, atendendo a maior parte da nobreza,
inclusive D. Pedro II e familiares. Este verdadeiro dentista trouxe um progresso imensurável,
principalmente referente à prótese. Colocava coroas metálicas, obturava dente com ouro ou
chumbo, fazia limpeza nos dentes ou os extraia. Publicou em 1819 "Avisos tendentes à
conservação dos dentes e sua substituição", sendo, ao que tudo indica a primeira obra de
odontologia feita no Brasil. Em seguida outros dentistas franceses vieram trazendo o que
havia de melhor na odontologia mundial.
30 de agosto de 1828 D Pedro I (17981834) suprime o cargo de cirurgiãomór, cujas
funções passaram a serem exercidas pelas Câmaras Municipais e Justiças Ordinárias. O
objetivo dessa mudança era descentralizar a concessão de licenças, mas esbarrava na falta de
profissionais capacitados a examinar os candidatos em todos os lugares.
1832 James Snell inventou a primeira cadeira dentária reclinável.
1839 Foi publicado o American Journal of Dental Science, o primeiro jornal sobre dentária no mundo.
1840 Horace Hayden e Chapin Harris fundaram a primeira escola de odontologia de
todo o mundo: o Baltimore College of Dental Surgery.
A partir de 1840 Os dentistas franceses foram aos poucos suplantados com a chegada
de profissionais dos Estados Unidos, como Clintin Van Tuyl, o primeiro a utilizar
clorofórmio, em casos excepcionais, para anestesia. Em 1849 publica seu livro: "Guia dos
dentes são”. Este guia era destinado ao grande público, porém foi aproveitado pelos dentistas
da época, porque abrangia todos os assuntos odontológicos.
1840 Foi fundada a American Society of Dental Surgeons.
12
1846 O dentista William Morton fez a primeira demonstração pública, com sucesso,
da utilização da anestesia com éter na cirurgia.
1850 Criada a Junta de Higiene Pública, em substituição à fiscalização exercida pela
Câmara Municipal, onde pelas medidas saneadoras possibilitou à medicina uma enorme
evolução. Esta Junta era responsável por ações saneadoras e pela regularização de
profissionais formados em universidades estrangeiras. Um ano depois, o decreto nº. 828,
artigo 28, determinava que médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras apresentassem
suas cartas de habilitação à Junta.
1859 Formação da American Dental Association (ADA).
18611865 Outros dentistas chegam dos Estados Unidos, alguns fugindo da Guerra da
Secessão.
1866 Lucy Hobbs, americana, foi a primeira mulher a conseguir o grau de medicina
dentária.
1869 Surge a primeira revista odontológica no Brasil: "Arte Dentária", sob a direção
de João Borges Diniz, dentista formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e a
“Revista Dentária” de 1879 e o “Manual do Dentista” por Cardoso & Cia., que vendia artigos
de cirurgia em geral. Nesta época, muitos brasileiros foram estudar nos Estados Unidos,
devido à liderança na evolução técnica e científica mundial. O primeiro foi Carlos Alonso
Hastings, natural do Rio Grande, que estudou no Philadélfia Dental College, radicouse no Rio de Janeiro e modificou o motor WeberFerry, que ficou conhecido como motor de
Hastings.
1870 O ensino da odontologia ganhou mais impulso no Brasil a partir do decreto
7.247, artigo 24, de 19 de abril de 1879, que determinava que a cada faculdade de Medicina
ficassem anexos uma escola de Farmácia, um curso de Obstetrícia e Ginecologia e um curso
de Cirurgia Dentária. Estava cada vez mais próxima a criação de um curso de odontologia.
1871 James Morrison revolucionou a prática da odontologia ao patentear a broca
elétrica acionada por pedal.
1871 O americano George Green recebe a patente pelo primeiro mecanismo elétrico
para odontologia: um motor independente associado a uma peça de mão.
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1877 Surge a primeira cadeira dentária com mecanismo hidráulico, por Wilkerson.
4 de julho de 1879 – Brasil – a Decisão do Império nº. 10 concedia aos aprovados no
curso de cirurgia dentária o título de Cirurgiãodentista, mas o privilégio de “Cirurgião
dentista da Casa Imperial” era outorgado aos nascidos em famílias da alta sociedade, em geral
formados no exterior. Um levantamento entre 1840 e 1889 nos “Livros da Mordomia Mor da
Casa Imperial”, observouse que apenas 32 profissionais foram agraciados com tal privilégio
por D. Pedro II, estes na sua maioria do Rio de Janeiro.
1889 Formouse pela Faculdade de Odontologia do Rio de Janeiro, Isabela Von
Sidow, paulista de Cananéia, tornandose a primeira mulher dentista formada no Brasil.
1919 A Reforma Educacional deu origem à Deontologia Odontológica, onde os
princípios, fundamentos e a ética profissional eram estudados, sendo criada também a Cadeira
de Medicina legal aplicada à arte dentária.
25 de outubro Ficou sendo o "Dia do Cirurgiãodentista Brasileiro", pois nesta data
em 1884, Vicente Cândido. F. Sabóia e Thomas Gomes dos Santos Filho, escreveram um
texto dentro dos Estatutos das Faculdades de Medicina do Império, denominado "Reforma
Sabóia”, através do decreto nº. 9311, onde constava pela primeira vez, que a odontologia
formaria um curso independente.
1880 O tubo metálico flexível revoluciona tanto o processo de fabricação como o marketing da pasta de dentes. Até aqui, os dentifrícios apenas existiam sob a forma de líquido ou de pó e eram feitos por dentistas. Eram vendidos em garrafas, recipientes de porcelana ou
caixas de papel. O tubo de pasta de dentes, pelo contrário, é produzido em massa nas fábricas,
o seu marketing é feito em grande escala e é vendido em todos os EUA.
23 de fevereiro de 1880 O Visconde de Sabóia assumiu a direção da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro e atualizou o ensino material e cientificamente, criando
laboratório de cirurgia dentária, trazendo aparelhos e instrumentos dos Estados Unidos e
montou um laboratório de prótese dentária. A Thomas Gomes dos Santos Filho, cirurgião
dentista, a odontologia nacional muito deve, principalmente por ter descoberto a fórmula de
vulcanite e em seguida produzila.
12 de março de 1881 O decreto nº. 8024, art. 94 do Regulamento para os exames das
Faculdades de Medicina diz: “Os cirurgiõesdentistas que quiserem se habilitar para o
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exercício de sua profissão passarão por duas séries de exames: o primeiro de anatomia,
histologia e higiene, em suas aplicações à arte dentária; o outro de operações e próteses
dentárias”.
25 de outubro de 1884 O ensino de odontologia foi oficialmente instituído no Brasil,
por intermédio do Visconde de Sabóia. No início, o ensino era vinculado às Faculdades de
Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, programado em três séries. Ao concluir o curso, o
aluno recebia o título de Cirurgiãodentista, sem colar grau ou outras formalidades.
1885 A primeira assistente de odontologia é empregada pelo dentista Edmond Kells.
As suas funções eram de assistir o dentista durante o tratamento dos pacientes, de limpar os
instrumentos, fazer o inventário, apontamentos, a contabilidade e a recepção.
1890 Willoughby Miller, um dentista americano ao trabalhar na Alemanha, diz num
livro seu que a cárie dentária é originada por micróbios. Isto provocou um grande interesse
pela higiene oral dando origem a um movimento, ao nível mundial, para promoção de uma
escovação regular dos dentes e da utilização do fio dental.
8 de novembro de 1895 No laboratório da Universidade de Wurzburg, o físico alemão
Wilhelm Conrad Roentgen (18451923) descobre o Raio X. Esta descoberta trouxe uma
grande colaboração nos tratamentos dentários e médicos.
1896 O dentista Edmond Kells fez a primeira radiografia dentária em pessoa viva nos
EUA.
1899 No estado de São Paulo, o ensino de odontologia surge ligado à Farmácia. Foi
inaugurada a Escola Livre de Farmácia e Odontologia (entidade particular), que mais tarde
acolheria a Faculdade de Medicina e em 1932 passou para rede estadual de ensino.
1905 O químico alemão Alfred Einhorn formulou a anestesia local com procaína que
mais tarde ficou com o nome comercial de Novocaína.
1913 Alfred Fones fundou a primeira Escola de Higiene Oral e ficou conhecido como
o Pai da Higiene Dental dado que foi o primeiro a utilizar este termo.
1917 Fundação da Associação Brasileira de Odontologia Nacional, sob a identificação
de Federação Odontológica Brasileira (ABO, 1998).
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1919 O decreto promulgado pelo Presidente Epitácio Pessoa, transforma o curso
oferecido pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em Faculdade de Odontologia, com
quatro anos de duração. Entretanto tal reforma só foi executada em 1925 no prédio anexo à
Faculdade de Medicina e oferecendo um curso de três anos. Em 1947 o curso de odontologia
passou a ser oferecido em quatro anos, tendo formado sua primeira turma em 1951.
Anos 30 Surge a industrialização das cadeiras odontológicas, próximas aos padrões
atuais. Nos anos 70, ela toma o formato atual, com mesas e aparelhos auxiliares.
1930 1943 Frederick McKay, dentista do Colorado, verificou que níveis elevados de
flúor na água de beber estavam associados a um baixo nível de cáries e a um alto grau de
manchas castanhas no esmalte dos dentes. Por volta de 1940, Trendley Dean determinou o
nível ideal de flúor na água de modo a reduzir as cáries dentárias sem manchar os dentes.
1938 Surge a primeira escova de dentes feita com fibras artificiais (nylon).
1945 As cidades de Newburgh e New York introduziram fluoreto de sódio nas suas
redes públicas de água.
1950 Começa a ser vendida a primeira pasta de dentes com flúor.
1957 John Borden introduz a turbina de alta rotação. A Airotor consegue velocidades de 300.000 rpm e foi um sucesso comercial instantâneo.
1958 Surge uma cadeira dentária totalmente reclinável.
1960 Os raios laser são desenvolvidos e aprovados para procedimentos em tecidos
moles.
1960 É comercializada a primeira escova de dente elétrica. Foi desenvolvida na Suíça
depois da 2ª. Grande Guerra e introduzida depois nos EUA.
1962 Rafael Bowen desenvolve BisGMA, a complexa resina utilizada na maior parte
dos modernos materiais de restauração dos dentes.
1990 Tem início a era da odontologia associada à estética com o aparecimento de
novas cores de materiais de restauração, de tratamento para o branqueamento dos dentes e a
colocação de implantes dentários.
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Desde a primeira citação sobre os vermes dos dentes pelos Sumérios (5000 anos a.C.)
até os dias de hoje com os sofisticados tratamentos curativos, corretivos e estéticos a
odontologia muito evoluiu principalmente no que diz respeito ao instrumental, aos
equipamentos, a técnica e ao reconhecimento da profissão. No entanto, em relação à postura
de trabalho, o CD passou de um atendimento itinerante, onde inclusive levava consigo a
cadeira odontológica, para o confinamento em salas cada vez menores tornandose refém de
todo o arsenal que utiliza para seu trabalho, da técnica e do contexto atual de alta
competitividade. A ergonomia em muito contribuiu para a evolução da odontologia, tanto em
relação ao conforto do paciente quanto em relação aos equipamentos e as posturas de trabalho
do CD. Por isso, conhecer o histórico da ergonomia, seus conceitos e aplicações contribuirá
para uma ampla abordagem do posto de trabalho odontológico.
2.3 Ergonomia Etimologicamente o termo “ergonomia” significa regras, leis naturais (nomos) do
trabalho (ergon). O termo foi criado por Wojciech. Jastrzebowski em 1857 no seu artigo
intitulado “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseados nas leis objetivas da
ciência sobre a natureza”. No entanto, foi apenas em 16 de fevereiro de 1950, que Murrel
propõe o termo ergonomia após consultar estudiosos da língua grega e latina (IIDA, 2005).
Sanders & McCormick (1993) consideram que a ergonomia remonta a iniciativas
empíricas desde a préhistória em que o homem buscou formas de adaptar o ambiente ao
redor às suas necessidades, transferindo a força de seu trabalho para animais, adequando
instrumentos às suas características anatômicas.
Com a 2ª. Guerra Mundial (1939 1945) novos aparatos tecnológicos surgem, aviões
cada vez mais velozes, submarinos, radares e tanques foram instituídos rapidamente,
tornandose indispensáveis nos campos de batalha. A nova realidade trouxe uma série de
comandos complexos que somados ao clima de tensão excessiva, pressões físicas e
psicológicas levavam os operadores a muitos erros, alguns com conseqüências fatais. Os
equipamentos militares exigiam dos operadores raciocínio e decisões rápidas em condições
críticas, grande quantidade de informações, alta complexidade nas operações, demonstrando
se assim várias incompatibilidades entre o humano e o tecnológico (MORAES, 2005).
Neste cenário, vários pesquisadores, entre eles o engenheiro inglês K. F. Hywell
Murrel, o fisiologista Floyd e o psicólogo Welford empenharamse no estudo que buscava
adaptar os instrumentos bélicos às características e capacidades do militar, visando reduzir as
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perdas humanas e materiais. Além de se agravar o conflito entre o homem e a máquina,
deixam a desejar também as formas tradicionais de resolução dos mesmos – a seleção e o
treinamento. Assim engenheiros juntamse a psicólogos e fisiologistas para adequar a nova
tecnologia não só as características físicas, mas também psicológicas e cognitivas. Desta
forma integramse à análise outras variáveis como recepção e tratamento da informação
(ABRAHÃO & PINHO, 2001). Esta cooperação pluridisciplinar também propunha utilizar as
descobertas na indústria ou em qualquer outra atividade civil. Esses pesquisadores em 1949
formaram uma sociedade a “Ergonomic Research Society” para estudar o homem em ambiente de trabalho. Os ergonomistas voltaram sua atenção para as milhares de máquinas
presentes no cotidiano e descobriram que “muitos dos erros que atormentavam marinheiros,
soldados e aviadores, existiam – e ainda existem – nas fábricas, nas estradas, na sinalização
urbana, nos tratores, caminhões, automóveis e até mesmo num fogão doméstico” (MORAES,
2005). Muitos projetos inadequados, de incompatibilidade no sistema homemtarefamáquina
como painéis com difícil interpretação pelo operador, sinais de trânsito que confundem os
motoristas, instrumentos de difícil manuseio são oriundos da falta de estudos para a adaptação
às características físicas, psíquicas e cognitivas humanas.
Em meados dos anos 50 do século passado a ergonomia surge na França em serviços
especializados nas indústrias. É importante esclarecer que em virtude da ausência da França
na aventura tecnológica advinda da exigência militar na II Guerra Mundial, os ergonomistas
francófonos foram conduzidos a estabelecerem uma problemática com menor influência da
abordagem sistêmica. Em 1958, J.M. Faverge, J. Leplat e B. Guiguet publicam a obra “L’adaptation de la machine à l’homme” pela Presses Universitaires de France. Mas sua
institucionalização só acontece no início dos anos 60 com a criação da Société d’Ergonomie de Langue Française (SELF) que agrupava profissionais da França, Suíça, Bélgica e Luxemburgo. Seu objetivo era o de adaptar o trabalho ao homem, tendo como foco o estudo
específico do trabalho humano. Essa abordagem francofônica é voltada para a atividade
realizada, centrandose no estudo da interrelação entre o homem e o contexto de produção de
bens e serviços no qual está inserido. Tal pensamento se opôs ao conceito dominante à época:
a adaptação do homem a sua profissão (BONNARDEL, 1943 apud WISNER, 2004).
É necessário, de acordo com Wisner (2004), apresentar brevemente as disciplinas que
contribuíram para a ergonomia nascente como eram naquela época a fim de evitar concebêlas
como são atualmente. As disciplinas são:
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• A fisiologia do trabalho estava baseada nas questões energéticas do trabalho muscular,
tanto na Alemanha, (MaxPlanck Institüt für Arbeitphysiologie de Dortmund) como
na França (Laboratório de Fisiologia do Trabalho do Conservatoire National des Arts
et Métiers CNAM). As medidas de consumo de oxigênio, da freqüência cardíaca e da
temperatura central do corpo possibilitavam o estudo da fisiologia do trabalho
muscular e os efeitos do calor. A eletromiografia (EMG) surgiu mais tarde. As
pesquisas em relação à neurofisiologia do trabalho somente eram relativas à visão e à
fadiga auditiva.
• A antropometria voltada para ergonomia estava em conflito com a antropologia física,
a qual tinha como problemática as teorias e metodologias voltadas a caracterizar os
esqueletos das etnias vivas ou de escavações. O ergonomista estava interessado no
conhecimento das características de trabalhadores vivos. Portanto, não se conseguia
um diálogo científico que atendesse as necessidades dos ergonomistas.
• A biomecânica mostrouse indispensável para os ergonomistas no que diz respeito a
compreensão e modelização do gesto voluntário, acústica, efeito das vibrações,
biomecânica dos impactos. Como na antropometria os diversos especialistas em
mecânica também estavam pouco adaptados às necessidades dos ergonomistas.
• A psicologia usada na ergonomia era considerada experimental. Esta se surpreendia
com a pequena amostra necessária aos fisiologistas e estes ficavam surpresos com a
variabilidade dos resultados encontrados pelos psicólogos. As questões
epistemológicas dificultavam o diálogo entre estes profissionais.
Não foi fácil para os “ergonomistas constituírem uma abordagem comum dos
problemas colocados pela prática” (WISNER, 2004), pois o mesmo fenômeno industrial seria
tratado como antropométrico, biomecânico, fisiológico ou psicológico de acordo com o
especialista que fosse consultado.
Na mesma época se forma nos Estados Unidos a Human Factors Society, a ergonomia dos métodos e das tecnologias, centrada na contínua necessidade de adaptação da máquina ao
homem e que utiliza a ciência para melhorar as condições de trabalho. “O Departamento de
Defesa Aérea dos EUA "USAF", começou a financiar a atividade, atitude que alicerçou as
pesquisas, e deu aos militares a vanguarda nos estudos e pesquisas da época. O próprio termo, Human Factors, possui uma forte conotação militarista, sendo que os estudos antropométricos
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realizados serviram para a construção de aeronaves equipamentos e posteriormente o projeto
da cápsula espacial. Pela primeira vez os projetos eram feitos de dentro para fora. No entanto,
sua aplicação na indústria tomou uma conotação de menosprezo, servindo muito pouco para a
elaboração de novos projetos” (MORAES, 2005).
Helander (1997) apud Soares (2004), caracteriza a evolução da ergonomia
demonstrando que a sua história refletiu as mudanças da sociedade e seus anseios, extrapolou
o ambiente industrial e seu sistema produtivo e incorporou o usuário comum. Esta evolução é
possível de se observar no Quadro 1:
Década Representação
50 Ergonomia militar
60 Ergonomia industrial
70 Ergonomia do consumo
80 Ergonomia de software e da interação homemcomputador
90 Ergonomia organizacional e cognitiva
00 Era da comunicação global e da ecoergonomia
Quadro 1: A evolução da ergonomia
A ergonomia é uma disciplina jovem, em evolução, e que vem reivindicando o status de ciência como afirma Abrahão & Pinho (2001). Montmollin (1990) a define como a Ciência do Trabalho ou por Wisner (1990) uma arte alimentada de métodos e conhecimentos resultantes da investigação científica. A arte na qual são utilizados o saber tecnocientífico e o saber dos trabalhadores sobre a própria situação do trabalho (WISNER, 1994). A
ergonomia está conceitual e eticamente comprometida com o ser humano e deve ser entendida
como a ciência de aplicação dos conhecimentos relativos ao homem, ao processo e aos
produtos, buscando o funcionamento harmônico e seguro do sistema homemmáquina
(OLIVEIRA et al., 1998). Um dos interesses da ergonomia (ABRAHÃO & PINHO, 2001) é
saber o que os trabalhadores realmente fazem, como fazem e porque fazem.
Segundo a definição da Associação Internacional de Ergonomia (IEA, 1969): ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e ambiente de trabalho. A Sociedade de Ergonomia de Língua Francesa em 1988 em sua definição
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acentua fortemente, segundo Curie (2004), o caráter pragmático de seu objetivo e abordagem:
ergonomia é a utilização de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para conceber instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados pelo maior número de pessoas, com o máximo de conforto, de segurança e de eficiência. (Wisner (1996) apud
Abrahão & Pinho (2001) aponta a ergonomia como uma disciplina multidisciplinar do
desenvolvimento mais recente da ciência e da técnica e cobre um largo espectro de
conhecimentos (engenharia, fisiologia, biomecânica, antropologia, psicologia, sociologia,
filosofia...). Uma disciplina de síntese, convocada para fornecer as bases de ação em um campo de ação em um campo onde a parte ocupada pelos fatores não controlados ou não controláveis é importante. Abrahão & Pinho (2001) salientam que a ergonomia incorpora na base de seu arcabouço teórico, um conjunto de conhecimentos científicos vindos de diversas
áreas (Antropometria, Fisiologia, Psicologia,...) e os aplica com vistas às transformações do
trabalho. Consideram como critério de avaliação do trabalho três eixos: a segurança, a
eficiência e o bem estar dos trabalhadores nas situações de labor. Maggi & Tersac (2004)
reforçam as colocações acima quando dizem que a ergonomia (francofônica) busca articular o
conhecimento obtido de diversos campos científicos distintos. Conhecimentos que quando confrontados e articulados de forma integrada contribuem para a tecnologia e organização
do trabalho na definição da melhoria desta realidade (ABRAHÃO & PINHO, 2001).
Oliveira et al. (1998) classificam a ergonomia em dois tipos fundamentais e que às
vezes se superpõem:
• Ergonomia do produto: concepção de produtos com atenção voltada para a utilização
que terão por parte dos consumidores. Para isso é necessário o conhecimento das
características e necessidades dos usuários para atendêlos com conforto e segurança;
• Ergonomia da produção: ocupase do conforto e segurança dos trabalhadores. É
necessário conhecimento técnico para a incorporação dos princípios ergonômicos aos
processos de trabalho.
Wisner (1987) classificou a ergonomia de acordo com a ocasião em que ela atua. São
elas:
• Ergonomia de concepção: quando a contribuição ergonômica acontece durante o
projeto do produto, da máquina, ambiente ou sistema;
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• Ergonomia de correção: quando a ergonomia é aplicada a situações reais para se
resolver problemas que se refletem na segurança, fadiga excessiva, doenças do
trabalhador ou quantidade e qualidade da produção;
• Ergonomia de conscientização: quando a ergonomia objetiva a capacitar os próprios
trabalhadores para a identificação e correção dos problemas do diaadia ou aqueles
emergenciais;
• Ergonomia de participação: é a que procura envolver o próprio usuário (trabalhador ou
consumidor) do sistema na solução de problemas ergonômicos.
Wisner (1995) afirma que a ergonomia sustentase hoje em dois pilares: um de base
comportamental, que apreende as variáveis que determinam o trabalho pela via da análise do
comportamento e outro subjetivo que qualifica e valida os resultados. Ambos têm o propósito
de transformar as condições e a relação do homem com o trabalho. A ergonomia busca
produzir conhecimentos sobre o trabalho, as condições e a relação do homem com sua
atividade e formular conhecimentos, ferramentas e princípios suscetíveis de orientar
racionalmente a ação de transformação das condições de trabalho. A produção do
conhecimento e a racionalização da ação constituem o eixo principal da pesquisa ergonômica
(ABRAHÃO & PINHO, 1999).
2.3.1 A Ergonomia no Brasil Moraes & Soares (1989) afirmam que a implantação da ergonomia no Brasil se deu
junto às engenharias e ao desenho industrial. Tiveram como fundamento de suas especulações
teóricas e aplicações práticas a adoção dos manuais de Grandjean (1975), Murrel (1975),
Sanders & McCormick (1987) e Woodson (1981). Moraes & Soares (1989) afirmam que não
se aplicava naquela época os experimentos de laboratório, mas apenas se propunham algumas
modificações com bases nos dados destas referências bibliográficas. Duas novas abordagens
passaram a ser aplicadas a partir do enfoque baseado na psicologia, as pesquisas
experimentais sobre o comportamento do motorista desenvolvidas na USP campus de
Ribeirão Preto, e os trabalhos com ênfase numa análise sóciotécnica desenvolvidos na
Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
Com o surgimento dos livros de Chapanis (1962, 1972) e Miester (1971, 1985) uma
nova abordagem metodológica com ênfase na observação sistemática do trabalho, análise da
tarefa, medidas do ambiente e levantamentos antropométricos passaram a fazer parte do
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escopo do ergonomista brasileiro (Soares, 2004). O acesso à bibliografia francesa em especial
os livros de Montmollin (1986), Sperandio (1984) e Wisner (1987), acrescentou novas
ferramentas e métodos de intervenção da ergonomia no Brasil.
O desenvolvimento da ergonomia no Brasil foi influenciado pela Ergonomia da
Atividade, praticada nos países de língua francesa e foi difundida a partir dos anos 70 por
Alain Wisner, devido à formação de diversos mestres e doutores em ergonomia e por meio de
suas várias viagens ao Brasil (LIMA & JACKSON FILHO, 2004). Ainda para Ferreira &
Mendes (2003) a Ergonomia da Atividade é uma abordagem científica que investiga a inter relação entre os indivíduos e o contexto de produção de bens e serviços (espaço físico, organizacional e social). Ela analisa as contradições presentes nesta interrelação e, em conseqüência, as estratégias individuais e coletivas de mediação operatórias que são forjadas para responder à diversidade de exigências existentes nas situações de trabalho.
O interesse por essa corrente da ergonomia, segundo Lima & Jackson Filho (2004), foi
sua proposta teóricometodológica e a prática de resolver e tratar os problemas das condições
de trabalho a partir da compreensão das atividades do trabalhador, do seu “trabalhar”,
mostrando a inteligência prática dos trabalhadores, a importância do coletivo e a necessidade
de desenhar sistemas de produção a partir da visão ampla do homem, usualmente reduzida a
suas componentes físicas.
Apesar desta forte influência, podemse distinguir duas linhas ergonômicas presentes
no Brasil: uma dos métodos e das tecnologias, mais antiga e caracteristicamente americana
(anglosaxônica), centrada na contínua necessidade de adaptação da máquina ao homem,
chamada de human factors e outra mais recente de origem européia (francofônica), que tem
como foco o estudo específico do trabalho humano, visando adaptálo ao homem. Essa
abordagem francofônica é voltada para a atividade realizada, centrandose no estudo da inter
relação entre o homem e o contexto de produção de bens e serviços no qual está inserido.
Essas duas abordagens da ergonomia (MONTMOLLIN, 1990) não são contraditórias, mas
complementares, uma vez que a anglosaxônica realiza suas pesquisas, muitas vezes, em
laboratório, e a francofônica em situações reais de trabalho para verificar os aspectos que
constituem fatores de desgaste para o trabalhador.
23
2.4 Os Distúrbios Osteomuscular es Relacionados ao Trabalho do Cirurgiãodentista
Como ponto de partida, entendese DORT como uma síndrome relacionada ao
trabalho, caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não, tais como:
dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, geralmente nos membros superiores, mas podendo
acometer também os membros inferiores. Estes sintomas resultam da combinação da
sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de tempo para sua
recuperação. A sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados grupos
musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela
permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado,
particularmente quando essas posições exigem esforço ou resistência das estruturas músculo
esqueléticas contra a gravidade. A necessidade de concentração e atenção do trabalhador para
realizar suas atividades e a tensão imposta pela organização do trabalho, são fatores que
interferem de forma significativa para a ocorrência do DORT (BRASIL, 2003).
O DORT não se caracteriza por uma patologia aguda. É de início insidioso onde o
indivíduo apresenta dor normalmente ao final da jornada de trabalho ou quando faz um
esforço maior. Em seguida, os sintomas são mais persistentes mesmo fora do trabalho. Caso
as condições de trabalho não mudem os sintomas passam a afetar as atividades da vida diária,
como pendurar roupa no varal, segurar uma panela, parafusar, girar uma maçaneta, secar os
cabelos, etc. À dor e ao desconforto são somados outros sintomas e sinais como o edema,
perda da força e o calor local.
É importante saber que quando um diagnóstico de DORT é indicado significa que
existe uma síndrome já bem conhecida da medicina (ortopedia, reumatologia e clínica
médica), decorrente do uso excessivo das estruturas osteomusculares por condições especiais
e inadequadas de trabalho (OLIVEIRA et al., 1998), ou seja, a patologia desenvolvida pelo
trabalhador possui sua origem no trabalho. Sem este nexo causal uma patologia não pode ser
caracterizada como DORT para fins legais. Essas patologias não têm um tratamento difícil,
mas possuem uma má evolução, diminuindo o desempenho profissional, caso não se aborde
de forma efetiva o fator causador.
Como se pode observar no histórico da odontologia, a profissão evoluiu muito
tecnicamente, seja no que diz respeito aos materiais ou aos instrumentos. Nos últimos tempos
esta evolução tem sido cada vez mais rápida devido às pesquisas mais intensas que tentam
atender a uma demanda cada vez maior com o objetivo de se aumentar a produtividade e
24
diminuir os custos. Dentro de um contexto global, segundo Saquy e Pécora (1994), o trabalho
tornase mais dependente da técnica, o que aumenta de forma assustadora o número de
acidentes e doenças profissionais. No que toca ao CD, existe um grande risco de desenvolver
tais doenças devido ao uso e dependência também cada vez maiores da técnica para exercer
com êxito sua profissão e se tornar mais competitivo.
A ANVISA (BRASIL, 2006), em seu documento “Serviços Odontológicos: Prevenção
e Controle de Riscos” considera como riscos ocupacionais a possibilidade de perda ou dano e
a probabilidade de que tal perda ou dano ocorra. Implica, pois, na probabilidade de ocorrência
de um evento adverso. Segundo o documento, os riscos mais freqüentes a que estão sujeitos
os profissionais que atuam em assistência odontológica são:
• Os físicos: ruído, vibração, radiação ionizante e nãoionizante, temperaturas extremas,
iluminação deficiente ou excessiva, umidade e outros. São causadores desses riscos:
caneta de alta rotação, compressor de ar, equipamento de RX, equipamento de laser,
fotopolimerizador, autoclave, condicionador de ar, etc.
• Os químicos: poeiras, névoas, vapores, gases, mercúrio, produtos químicos em geral e
outros. Os principais causadores desses riscos são: amalgamadores, desinfetantes
químicos (álcool, glutaraldeído, hipoclorito de sódio, ácido peracético, clorexidina,
entre outros) e os gases medicinais (óxido nitroso e outros).
• Os ergonômicos: postura incorreta, ausência do profissional auxiliar e/ou técnico, falta
de capacitação do pessoal auxiliar, atenção e responsabilidade constantes, ausência de
planejamento, ritmo excessivo, atos repetitivos, entre outros.
• Os mecânicos ou de acidente: entre os mais freqüentes, podemos citar: espaço físico
subdimensionado, arranjo físico inadequado, instrumental com defeito ou impróprio
para o procedimento, perigo de incêndio ou explosão; edificação com defeitos;
improvisações na instalação da rede hidráulica e elétrica; ausência de EPI e outros.
• Por ausência de conforto no ambiente de trabalho: sanitário em número insuficiente e
sem separação por sexo, falta de produtos de higiene pessoal, como sabonete líquido e
toalha descartável nos lavatórios, ausência de água potável para consumo, não
fornecimento de uniformes, ausência de ambientes arejados para lazer e confortáveis
para descanso, ausência de vestiários com armários para a guarda de pertences, falta
de local apropriado para lanches ou refeições, falta de proteção contra chuva, entre
outros.
25
• Os biológicos: a probabilidade da ocorrência de um evento adverso em virtude da
presença de um agente biológico. Sabese que as exposições ocupacionais a materiais
biológicos potencialmente contaminados constituem um sério risco aos profissionais
da área da saúde nos seus locais de trabalho. Estudos desenvolvidos nesta área
mostram que os acidentes envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos correspondem
às exposições mais freqüentemente relatadas.
Podese observar que os riscos são inúmeros, porém aqueles que estão fortemente
ligados ao desenvolvimento do DORT são os biomecânicos (postura, força, compressão
mecânica, repetitividade, habilidade) que estão enquadrados nos riscos ergonômicos. Oliveira
et al. (1998) afirmam que o DORT é o resultado do uso abusivo dos músculos e tendões, por
movimentos rápidos, repetitivos e de força, em ações estáticas e posturas inadequadas.
A abordagem dos aspectos biomecânicos do DORT é mais freqüentemente valorizada
talvez pelo fato de serem facilmente observados e mensurados. No entanto, Lym & Carayon
(1995) mapearam a base multifatorial do DORT que somados aos fatores biomecânicos
evidenciam que o caminho para amenizar esta problemática não pode se limitar apenas a um
destes fatores. A Figura 4 deixa bem clara a etiologia do DORT segundo estes autores.
Figura 4: Base multifatorial do DORT. Fonte: adaptado de Oliveira et al. (1998).
O exercício da profissão leva o CD a utilizar de forma intensa os membros superiores
o que pode gerar patologias específicas de acordo com sua especialidade. Contudo, Rasia
(2004) aponta além das posturas fixas, o estresse como um componente que pode acentuar as
patologias do trabalho. Aliados a isto também se encontram as características hereditárias e o
estilo de vida adotado por cada um.
Segundo Smith (1996), há oito fatores de risco que interferem na possibilidade de
ocorrência de distúrbios osteomusculares nos membros superiores relacionados ao trabalho.
São eles:
Etiologia
Fatores psicossociais
Stress psicológico
Fatores ergonômicos
DORT
26
• A freqüência dos movimentos do membro superior: índice de repetição e duração da
exposição;
• A postura das articulações do braço (mão, punho, cotovelo, ombro) e do pescoço;
• A força necessária para realizar a tarefa ou a carga que cria forças na musculatura e
nos tecidos;
• A vibração;
• As condições ambientais;
• As características da organização do trabalho;
• As condições psicosociológicas;
• Os fatores de risco de ordem individual, tal como o sexo.
A instrução normativa do INSS descreve de forma exemplificada a relação entre
o trabalho e algumas entidades nosológicas no Quadro 2.
Lesões Causas ocupacionais
Exemplos Alguns diagnósticos diferenciais
Bursite do cotovelo (olecraniana)
Compressão do cotovelo contra superfícies duras
Apoiar o cotovelo em mesas
Gota, contusão e artrite reumatóide
Contratura de fáscia palmar
Compressão palmar associada à vibração
Operar compressores pneumáticos
Heredofamiliar (Contratura de Dupuytren)
Dedo em Gatilho Compressão palmar associada à realização de força
Apertar alicates e tesouras
Diabetes, artrite reumatóide, mixedema, amiloidose.
Epicondilites do Cotovelo
Movimentos com esforços estáticos e preensão prolongada de objetos, principalmente com o punho estabilizado em flexão dorsal e nas pronosupinações com uso de força.
Apertar parafusos, desencapar fios, tricotar, operar motosserra.
Doenças reumáticas e metabólicas, hanseníase, neuropatias periféricas, contusão traumas.
Quadro 2: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas (continua). Fonte: Brasil (2003).
27
Lesões Causas ocupacionais
Exemplos Alguns diagnósticos diferenciais
Síndrome do Canal Cubital
Flexão extrema do cotovelo com ombro abduzido. Vibrações.
Apoiar cotovelo ou antebraço em mesa
Epicondilite medial, seqüela de fratura, bursite olecraniana forma T de Hanseníase.
Síndrome do Canal de Guyon
Compressão da borda ulnar do punho.
Carimbar Cistos sinoviais, tumores do nervo ulnar, tromboses da artéria ulnar, trauma, artrite reumatóide e etc.
Síndrome do Desfiladeiro Torácico
Compressão sobre o ombro, flexão lateral do pescoço, elevação do braço.
Fazer trabalho manual sob veículos, trocar lâmpadas, pintar paredes, lavar vidraças, apoiar telefones entre o ombro e a cabeça.
Cervicobraquial gia, síndrome da costela cervical, síndrome da 1ª. costela, metabólicas, Artrite Reumatóide e Rotura do Supra espinhoso.
Síndrome do Pronador Redondo
Esforço manual do antebraço em pronação.
Carregar pesos, praticar musculação, apertar parafusos.
Síndrome do túnel do carpo
Síndrome do Túnel do Carpo
Movimentos repetitivos de flexão, mas também extensão com o punho, principalmente se acompanhados por realização de força.
Digitar, fazer montagens industriais, empacotar.
Menopausa, trauma,tendinite da gravidez (bilateral), lipomas, artrite reumatóide, diabetes, amiloidose, obesidade neurofibromas, insuficiência renal, lupus eritematoso, condrocalcinose do punho.
Quadro 2: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas (continua). Fonte: Brasil (1993).
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Lesões Causas ocupacionais
Exemplos Alguns diagnósticos diferenciais
Síndrome do Interósseo Anterior
Compressão da metade distal do antebraço.
Carregar objetos pesados apoiados no antebraço
Tendinite do Supra – espinhoso
Elevação com abdução dos ombros associada a elevação de força.
Carregar pesos sobre o ombro
Bursite, traumatismo, artropatias, doenças metabólicas.
Tenossinovite de De Quervain
Estabilização do polegar em pinça seguida de rotação ou desvio ulnar do carpo, principalmente se acompanhado de força.
Apertar botão com o polegar
Doenças reumáticas, tendinite da gravidez (particularment e bilateral), estiloidite do rádio
Tendinite da Porção Longa do Bíceps
Manutenção do antebraço supinado e fletido sobre o braço ou do membro superior em abdução.
Carregar pesos
Artropatia metabólica e endócrina, artrites, osteofitose da goteira bicipital, artrose acrômio clavicular e radiculopatias C5C6.
Tenossinovite dos extensores dos dedos
Fixação antigravitacional do punho.
Movimentos repetitivos de flexão e extensão dos dedos.
Digitar,
operar mouse
Artrite Reumatóide, Gonocócica, Osteoartrose e Distrofia Simpático– Reflexa (síndrome Ombro Mão).
Quadro 2: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas. Fonte: Brasil (1993).
Com o intuito de esclarecer, mas não de esgotar o assunto, pretendese destacar as
principais patologias ou regiões corpóreas que o CD está predisposto a desenvolver.
Segundo Michelin et al. (2000) e Laderas & Felsenfeld (2002), os distúrbios que mais
acometem os CDs são: a síndrome do túnel do carpo, as tendinites e os problemas de pescoço
e coluna. Segundo uma pesquisa realizada por Rio & Rio (2000) com 450 dentistas na cidade
de Belo Horizonte, 92,12% sentiram nos últimos 12 meses dor ou incômodo físico
relacionados ao exercício da profissão e 96,85% consideram a profissão estressante. Gobbi
(2003), em sua pesquisa com 165 CDs de uma cidade no interior de São Paulo, encontrou
29
referência a algum tipo de sintoma osteomuscular nos últimos 12 meses em 92,7%, sendo que
as regiões mais afetadas foram a cervical (67,3%), punhos e mãos (63%), lombar (62,4%),
torácica (61,2%) e ombros (58,8%). Resultados próximos destes foram encontrados por
Finsen et al. (1998), onde 65% dos entrevistados em sua pesquisa na Dinamarca apresentavam
algum tipo de dor ou desconforto também nas regiões do pescoço e/ou ombros. No entanto,
para Régis Filho et al., (2005) as regiões mais afetadas pelo DORT são ombro/braço
(39,40%), punho/mão (18,30%) e pescoço (17,20%). Neste mesmo trabalho os autores
afirmam que o CD pertence a um grupo profissional exposto a risco considerável de adquirir
algum tipo de DORT desde que alguns fatores (força excessiva, posturas incorretas, alta
repetitividade de um mesmo padrão de movimento, compressão mecânica dos tecidos,
características pessoais) estejam presentes.
Michelin et al. (2000) também cita uma alta prevalência de dores lombares,
desconforto no pescoço e ombro. Burke et al. (1997) apontaram a aposentadoria prematura
por DORT em 29,5% da população de 393 CD pesquisados. Por fim, Murphy (1997)
sintetizou as pesquisas realizadas ao longo de 40 anos segundo o públicoalvo e região afetada
pela dor ou desconforto. É o que se pode observar no Quadro 3:
Pesquisador(es) Ano População alvo Par te do corpo afetada
Eccles & Powell 1955/1956 CDs Punho/mãos
Murtomaa 1982 CDs e auxiliares Extremidades inferiores
Diakow & Cassidy 1984 CDs Região lombar
Anderson 1984 Trabalhadores manuais Pescoço
Katevuo 1985 CDs Coluna cervical
Shugars 1987 CDs Diversos locais
Melrad 1990 CDs Pescoço/Cervical
Rundcrantz 1990 CDs Ombros/Pescoço
Stock 1991 Profissionais da área odontológica
Braços
Oberg 1993 Higienista dental Pescoço/Ombros
Stockstill 1993 CDs Extremidades superiores
Conrad 1993 Higienista dental Punhos
Liss 1995 Higienista dental Diversos locais
ADA 1995 CDs e higienistas Diversos locais
Marklin 1996 CDs Região lombar
Quadro 3: Estudos pertinentes às condições biomecânicas em profissionais da área odontológica (Murphy, 1997). Fonte: Rasia (2004).
30
Segundo Murphy (1997), os fatores de risco para desenvolver o DORT foram
identificados e podem ser demonstrados pela não adoção dos princípios ergonômicos,
incluindo, dentre diversas causas, o posto de trabalho, as ferramentas, o paciente, as técnicas
de trabalho (uso do espelho), a organização e o ambiente de trabalho. No entanto, não estão
limitados somente a uma causa independente, apresentando assim, razão multifatorial,
concordando, portanto com Lym & Carayon (1995). Os dados acima confirmam a
necessidade de se compreender melhor a gênese destes distúrbios e a atividade do CD.
2.5 Ergonomia e Odontologia As primeiras contribuições da ergonomia no campo da odontologia destinaramse a
melhorar as condições de trabalho dos CDs, criando e aperfeiçoando as ferramentas,
instrumentos e mobiliário utilizado por esses profissionais. A abordagem human factors ou anglosaxônica é muito forte nos estudos ergonômicos voltados para essa área. De fato, na
revisão da literatura sobre ergonomia na odontologia ainda é incipiente os estudos com a
abordagem francofônica, ou seja, estudos ergonômicos voltados para a análise da atividade.
Embora seja citada no histórico da odontologia a construção da primeira cadeira em
1790, feita especificamente para os pacientes, pelo dentista americano Josiah Flagg, para
Barros (1993) a primeira grande novidade no campo da ergonomia voltada para a odontologia
se dá com a construção da cadeira operatória do tipo Relax, em 1944, sendo inspirada nas poltronas para pilotos de bombardeiros B29, que proporcionaram ao dentista trabalhar com o
paciente na posição sentada ou reclinada e com o mínimo de tensão possível. Em seguida,
surgiram as demais inovações, tais como o primeiro mocho giratório, o PostureConfort Stool, e a técnica para sucção de alta potência, WashedFieldTechnique, permitindo que o dentista executasse seu trabalho com o campo operatório limpo, boa visibilidade e sem
maiores interrupções. Outra grande contribuição (MARQUAT, 1980) foi à concepção do
equipo dividido, split unit concept, que separava os elementos do equipo do CD dos elementos da assistente, ao invés de estarem todos juntos, como era originalmente.
Contudo foi o artigo referente à Ergonomia em Odontologia publicado por Eccles e
Powell no Reino Unido que introduziu os conceitos de ergonomia para odontologia na década
de 50 (MURPHY, 1997). Em 1959, foi realizado um grande workshop sobre problemas físicos relacionados ao trabalho odontológico na Western Reserve University School of Dentistry, Cleveland, Ohio (LALUMANDIER et al., 2001 apud RASIA 2004). Esse workshop foi realizado para avaliar as posturas e movimentos dos CDs em seu trabalho
31
clínico, sendo então publicado em 1963 o primeiro artigo norteamericano sobre Ergonomia e
Odontologia (MURPHY, 1997).
Posteriormente, em 1965, outros estudos foram realizados pela Pierre Fauchard Academy, que confirmaram que um terço dos CDs sofria com problemas nas costas. Kilpatrick e colaboradores identificaram as regras posturais e de procedimentos na década
seguinte e determinaram normas para o trabalho odontológico na posição sentada
(LALUMANDIER et al., 2001 apud RASIA, 2004).
De 1970 até a atualidade, as universidades têm trabalhado os conceitos e práticas na
atividade odontológica como a lógica nos procedimentos, o “trabalho a quatro mãos”, human factors e ergonomia odontológica propriamente dita (LADERAS & FELSENDELD, 2002).
A University of British Columbia, no início da década de 1980, realizou pesquisas buscando investigar a lógica nos procedimentos clínicos, baseado em um modelo postural
individual (RUCKER & SUNELL, 2002). Os trabalhos iniciaram com estudos de exercícios
proprioceptivos para determinar as preferências posturais do profissional e adoção de posições
para controle físico e visual na atividade de movimento fino, baseado nas necessidades
músculosesqueléticas individuais, anatômicas e fisiológicas. Utilizouse para isso estratégias
operacionais as quais tentavam neutralizar as limitações que talvez tenham sido impostas pelo
equipamento específico e pela experiência psicomotora prévia.
Atualmente os CDs desenvolvem suas atividades profissionais com sofrimento
psíquico e físico. Atuam em um contexto macrossocial de alta competitividade, aumento da
produtividade e redução de custos. O estresse derivado deste contexto tem sido bastante
significativo. Neste cenário é que a ergonomia odontológica busca adequar o trabalho
odontológico às características do ser humano, propiciando saúde e produtividade no trabalho
e na vida. É a aplicação dos conceitos da ergonomia à prática odontológica, com o objetivo de racionalizála, de acordo com as características do trabalho odontológico (RIO & RIO, 2000), possibilitando ao profissional evitar posturas e movimentos não produtivos e anti
anatômicos, evitando a fadiga e o desgaste desnecessário, produzindo mais e melhor e
proporcionando maior conforto e segurança ao paciente. Segundo os mesmos autores a
ergonomia odontológica visa principalmente:
• Propiciar maior conforto no trabalho;
• Prevenir o estresse e a fadiga visual, física e psíquica;
32
• Prevenir sintomas (dor, dormência, perda de força) e afecções músculoesqueléticas
relacionadas ao trabalho;
• Prevenir o aparecimento de varizes dos membros inferiores.
Para Djerassi (1971) apud Castro & Figlioli (1999), a ergonomia aplicada à
odontologia tem como objetivo obter meios e sistemas para diminuir o estresse físico e
mental, prevenir as doenças ocupacionais, buscando uma produtividade mais expressiva.
Seguindo a linha Human Factors buscase a racionalização do trabalho (POI & TAGLIAVINI, 1999) com a organização dos procedimentos clínicos, conceitos sobre
gerenciamento empresarial, noções sobre ergonomia, divisão da área de trabalho e postura de
trabalho, odontologia a quatro mãos e preservação da saúde do profissional. Para Castro &
Figlioli (1999), os princípios ergonômicos, os conceitos de racionalização dos procedimentos
odontológicos e sua respectiva aplicação são fundamentais para alcançar a simplificação do
trabalho, a prevenção da fadiga e o maior conforto tanto para equipe quanto para o paciente.
2.5.1 O posto de trabalho odontológico Para bem se compreender a atividade do CD antes de tudo é importante introduzir
alguns conceitos acerca do posto de trabalho.
Segundo Iida (2005), o posto de trabalho (PT) é a configuração física do sistema
homemmáquinaambiente. É uma unidade produtiva envolvendo um homem e o
equipamento que ele utiliza para realizar o trabalho, bem como o ambiente que o circunda.
Para Rio & Rio (2000), o PT do CD é constituído pelos seguintes elementos:
• Cadeira odontológica;
• Mocho do dentista;
• Refletor;
• Equipo;
• Unidade suctora (sugador e cuspideira);
• Unidade auxiliar.
33
Para Barros (2006), o PT é formado por duas unidades dentárias tripartidas (UDT),
sendo que, cada UDT é dividida também em três unidades:
a) Unidade do paciente:
• Cadeira odontológica.
• Encosto para nuca e ombros.
b) Unidade do CD:
• Dois aparelhos de corte de alta rotação com as pontas;
• Dois aparelhos de corte de baixa rotação com as pontas (micromotor);
• Um aparelho auxiliar específico de acordo com a especialidade exercida pelo
profissional;
• Uma seringa tríplice (água, ar e spray);
• Armário fixo;
• Armário móvel;
• Uma bandeja auxiliar acoplada ao equipo;
• Um mocho;
• Comandos eletrônicos de todos os aparelhos no pé direito.
c) Unidade da auxiliar intrabucal:
• Armários fixos;
• Unidades suctoras de baixa e alta potência;
• Seringa tríplice;
• Funil (cuspideira móvel);
• Armário ou bandeja auxiliar;
34
• Mocho;
• Comandos eletrônicos de todos os aparelhos nos pés;
• Aparelhos auxiliares acionados, comandados, corrigidos e fornecidos pela auxiliar
extrabucal quando presente na equipe.
Neste trabalho, a unidade produtiva do caso estudado se enquadra no conceito de Rio
& Rio (2000), uma vez que é utilizado apenas uma UDT e sem uma equipe de auxiliares extra
e intrabucal.
Em relação à postura que deve ser adotada, a posição sentada é considerada a mais
favorável para exercer a atividade odontológica, pois o gasto energético é menor que em pé.
Barros (2006) cita a pesquisa de E. Atzler que em seu manual de fisiologia afirma que uma
pessoa sentada consome 4% de energia e uma pessoa em pé 12%. Quando se adota a postura
em pé e inclinada este consumo energético passa para 55%. De acordo com Barros (2006),
inicialmente o trabalho odontológico era executado com o CD em pé e sem auxiliar. Finsen et
al. (1998) constatou que 82% dos dentistas na Dinamarca trabalhavam principalmente
sentados, 13% em pé e o restante alternava essas posições. Segundo Iida (2005), a posição
sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter esta postura e a ligeira
inclinação para frente a torna mais natural e menos fatigante do que a ereta. Em relação à
posição em pé, a sentada tem a vantagem de liberar as pernas para tarefas produtivas e
facilitar a realização de trabalhos delicados com os dedos. Isto vem de encontro com a
atividade do CD que precisa ao mesmo tempo utilizar o pedal para acionar o motor e de
precisão motora e visual para intervir no dente. Dul & Weerdmeester (2001) vêem a postura
sentada também como menos fatigante que a postura em pé, contudo recomendam que não se
deva ficar por tempo prolongado na posição sentada. Este fato se torna mais importante para
as atividades que exijam um acompanhamento visual onde o pescoço e as costas ficam
inclinados para frente e são submetidos à tensão. Por fim, recomendam que quando a tarefa
exige um tempo prolongado sentado, devese alternar com outras tarefas que permitam andar
ou ficar em pé. De encontro a esta recomendação Barros (2006) sugere duas UDT para que o
CD possa alternar as posturas sentada, em pé e andando. No entanto, isto apenas se torna
possível quando se possui uma equipe de auxiliares.
Levando em consideração a racionalização do trabalho, a maneira mais favorável de se
trabalhar (BARROS, 2006) em odontologia é com o “trabalho a 4 mãos”. Desde 1943, Klein
35
demonstrou que um CD utilizando uma auxiliar atendia 33% de pacientes a mais que um CD
sem auxiliar. Em 1946, Waterman trabalhando com uma auxiliar bem preparada aumentou em
50% sua produtividade e com duas auxiliares aumentou para 75% (BARROS, 2006). Segundo
Finkbeiner (2000), o “trabalho a quatro mãos” abrange um conceito de trabalho em conjunto
por uma habilidade individual precisa dentro de padrões ergonomicamente delineados com o
intuito de promover produtividade da equipe odontológica, qualidade nos cuidados com o
paciente, ao mesmo tempo em que busca o bemestar dos profissionais que compõem o grupo.
Tal sistema de trabalho apenas é interessante quando o mesmo minimiza movimentos
indesejados e acelera a maioria dos procedimentos. A delegação de funções simples ao
auxiliar traz resultados altamente satisfatórios no balanço final.
Atualmente, é absurda a idéia de um CD trabalhar sem um auxiliar, mas há
profissionais que ainda o fazem (BARROS, 1995). A técnica de transferência de
instrumentos, comumente utilizada na medicina, aumenta a produtividade e é pouco utilizada
na odontologia. O “trabalho a quatro mãos” não se configura na simples transferência de
instrumental de um profissional para o outro e nem no aumento substancial de velocidade no
atendimento. Mais do que isso, esse sistema é o caminho para um trabalho inteligente e
eficiente.
Para muitos CDs e assistentes (FINKBEINER, 2000) é rotina afirmar que executam o
“trabalho a 4 mãos”. No entanto, os relatos de estresse físicos são evidentes, devido à
utilização inadequada de equipamentos e técnicas, pois há desconhecimento dos conceitos
básicos do “trabalho a 4 mãos”. Os dentistas podem, ainda, serem observados realizando
torções e virandose para alcançar instrumentos ao seu lado. Se o assistente não está repondo
constantemente todo o instrumental necessário e/ou os equipamentos não estão ao alcance do
assistente, o verdadeiro “trabalho a 4 mãos” não está sendo praticado.
Com o objetivo de orientar a atividade odontológica é que a Internacional Organization for Standardization (ISO) e a Federation Dentaire Internacionale (FDI) descreveram esquematicamente o sistema de trabalho para esta classe. O esquema se baseia
em um relógio imaginário colocado sobre o posto de trabalho odontológico onde se pode
indicar a posição a ser adotada pelo CD e seu auxiliar durante o atendimento do paciente (POI
& TAGLIAVANI, 1999; CASTRO & FIGLIOLI, 1999). No centro deste sistema encontrase
o campo operatório. O paciente com a cabeça voltada para as 12 horas e os pés para 6 horas.
A posição do CD e do auxiliar será então denominada de acordo com o número para o qual as
costas deste profissional estejam voltadas. A Figura 5 mostra o esquema gráfico com o CD
em 9h e seu auxiliar em 3h.
36
Figura 5: esquema gráfico ISO/FDI. Fonte: Porto (1994).
Além disso, toda a atividade do tratamento está em volta do paciente (FINKBEINER,
2000). Essa área de trabalho pode ser dividida em 4 zonas ou regiões de atividade. Essa
orientação também é realizada com um mostrador de relógio. Deste modo, temse para
profissionais destros a região:
• do operador: estendese das 7 às 12 horas;
• do assistente: das 2 às 4 horas;
• de transferência: entre 4 e 7 horas;
• estática: entre 12 e 2 horas.
Normalmente, o CD destro posicionase em 7, 9 ou 11 horas. As posições mais
vantajosas para execução do trabalho odontológico são em 9 e 11 horas. A posição 9 horas
(CASTRO & FIGLIOLI, 1999; BARROS, 2006) permite ao CD ampla visualização direta das
faces dos dentes inferiores e superiores, assim como da maioria das regiões da boca. Sua
vantagem em relação à posição de 7 horas é que se houver inclinação do tronco, esta será
frontal e não lateral, além de manter os braços junto ao corpo. Em 11 horas, o profissional
trabalha com visão indireta, principalmente das faces palatinas dos dentes anteriores
superiores, sendo orientada para utilização de instrumentos manuais e turbina de baixa
rotação.
Pesquisa realizada com CDs dinamarqueses apontou a posição de 10 horas como a
mais adotada, enquanto que as posições de 9 e 11 horas apresentaramse em segundo e
terceiro lugar respectivamente na preferência dos pesquisados. Nessa mesma pesquisa,
somente 2% dos profissionais trabalham sem auxiliares em tempo integral. Já 34% utilizam
auxiliares em mais de 50% de suas atividades e 18% clinicam com auxiliares em todos os
37
procedimentos (FINSEN et al, 1998). No Brasil, sabese que 56,7% dos CDs trabalham sem
auxiliar (CFO, 2002).
As sugestões para um posicionamento correto da equipe sugerem que o CD deve estar
sentado em posição de 9 horas, com o paciente reclinado em posição supina e o auxiliar
posicionado em 3 horas com pequenas variações à esquerda e à direita. Barros (2006) acredita
que nesta posição o CD pode atuar em qualquer dente, em qualquer face com visão direta
concordando, portanto com Castro & Figlioli (1999). O auxiliar (POLLACK, 1996) também
deve ter acesso total ao campo operatório, para que o serviço técnico tornese mais preciso.
Todos os aparelhos (equipos, periféricos, bandeja auxiliar com instrumentais e materiais
necessários, armários ou gavetas de armários, suctor, terminal de computador) e o campo
operatório devem estar em um plano horizontal imaginário que passa a altura do cotovelo do
CD quando ergonomicamente sentado. A tolerância de variação de altura para este plano é de
até 15 cm acima do mesmo.
Para Castro & Figlioli (1999), a visão direta para o auxiliar pode ser alcançada com o
posicionamento entre 1 e 3 horas, podendo também adotar a posição de 5 horas. No entanto a
posição de 3 horas permite que o auxiliar tenha uma visão direta do campo operatório,
desempenhando muito bem o afastamento e sucção, obtendose menor fadiga e assim, melhor
rendimento. Esse posicionamento é ideal quando o CD trabalha em 9 ou 11 horas. Para os
profissionais canhotos as posições devem ser invertidas com as do auxiliar.
Tanto o CD quanto seu auxiliar necessita do máximo suporte lombar oferecido por
seus respectivos mochos (POLLACK, 1996; POLLACKSIMON, 2000). O auxiliar necessita
estar a uma altura de 10 a 15 centímetros a mais que a visão do CD com um suporte para
descanso dos pés. A posição elevada permite uma visualização do campo operatório acima
das mãos do profissional, enquanto ocorre a assistência. Além disso, o paciente também
participa da adoção de posturas que facilitem o trabalho do CD. Sempre se deve solicitar ao
paciente que altere a posição de sua cabeça para melhor visualização e estabilidade do campo
operatório.
Para reorganizar os materiais com objetivo de atingir as condições de trabalho
favoráveis é interessante exemplificar os movimentos desempenhados no diaadia pelos CDs.
Barros (1999) classificou os movimentos desempenhados pelo CD em 5 tipos, conforme é
mostrado no Quadro 4:
38
Movimento Exemplo 1 Somente dos dedos Pegar um rolete de algodão. 2 De dedos e punho Manipular um instrumento manual. 3 Dedos, punho e cotovelo Alcançar a caneta de altarotação. 4 Todo o braço e ombro Alcançar materiais além da área de trabalho, sem fazer torção da coluna. 5 Torção completa do
tronco Virarse para alcançar um equipamento.
Quadro 4: Classificação dos movimentos do cirurgiãodentista. Fonte: Barros (1999).
Os movimentos (BARROS, 1999) que englobam as classes 1, 2 e 3 formam o que é
considerada a área ótima para o trabalho com as duas mãos (Figura 6).
Figura 6: Zonas de alcance. Fonte: Iida (2005).
Esta área é denominada área de pega normal e o campo operatório deve estar dentro
deste espaço para evitar que o profissional realize movimentos incorretos.
As faculdades de odontologia são os melhores locais para aprendizagem ergonômica e
dos princípios de utilização dos equipamentos para otimizar o trabalho. No entanto, essas
entidades freqüentemente oferecem equipamentos antigos os quais apresentam uma
configuração mais eficiente para instrução do que para a prática (RUCKER, 2000; BARROS
1999). Além disto, normalmente adotase o trabalho a 2 mãos durante o período de
aprendizado na maioria das faculdades, o que dificulta ainda mais a assimilação de um
trabalho ergonomicamente correto (FINKBEINER, 2000; RUCKER, 2000).
2.6 Análise Ergonômica do Trabalho
2.6.1 Considerações iniciais Segundo Wisner (2004), a AET surgiu nos trabalhos de Pacaud nas suas pesquisas
sobre os carteiros de registro da SNCF (1946), (Societé National des Chemins de Fer –
39
Sociedade Nacional das Ferrovias) em que ela mostra que todas as operações são de uma
extrema variedade, não acontecem a partir de uma ordem préestabelecida, mas se entrelaçam e algumas são abandonadas momentaneamente, em benefício de outras mais urgentes e imperativas. Em seu trabalho com operadoras de informações telefônicas Pacaud (1949), releva quatorze tipos de dificuldades que as operadoras deviam resolver. Embora
tenha inaugurado esta prática ela não teorizou a respeito, o que foi retomado de maneira mais
abrangente por Ombredane e Faverge na obra “A Análise do Trabalho” publicado em 1955
(WISNER, 1994) onde esses autores escrevem:
Certos aspectos significativos da tarefa estão previstos e inscritos nos ensinamentos próprios da formação profissional; outros há, em número indefinido, que não estão previstos e estão sujeitos à descoberta do trabalhador. Acrescentemos que esta descoberta não leva necessariamente a uma clara tomada de consciência por parte do trabalhador e que está na origem de impressões e macetes que atribuímos de bom grado a algum dom natural do homem.
Wisner (1994) evidencia que neste texto estão claramente descritas as razões que
exigem a realização de análises do trabalho, observações feitas diretamente no campo,
dirigindose não somente às ações, mas também às observações e às tomadas de informações
pelos trabalhadores. Contudo, foi a partir de Thereau e Pinsky que a AET foi mais claramente
identificada e descrita.
A AET é considerada um método de abordagens ascendentes (Bottom up) se opondo ao método experimental (descendente ou top down), e é utilizada para responder a uma
questão precisa e é orientada para a proposição de soluções operatórias. Sua característica
fundamental, segundo Wisner (2004), é de ser um método destinado a examinar a
complexidade, sem colocar em prova um modelo escolhido a priori. A AET aparece como ferramenta essencial de orientação da intervenção ergonômica e não leva somente às
transformações ergonômicas, mas também às contribuições essenciais para a organização do
trabalho, à definição dos postos de trabalho, à formação das transferências de tecnologias,
dentre outros.
2.6.2 Objeto de estudo da AET O traço fundamental da ergonomia anglófona é que ela visa melhorar os instrumentos
técnicos e os meios de trabalho, de onde se tem que o objeto desta linha é em primeiro lugar o
equipamento, portanto privilegia as pesquisas em laboratório. No caso da ergonomia
francofônica o objeto é o trabalho (WISNER, 2004), o conhecimento das atividades de
trabalho. Sua intervenção em situações especificas é efetuada diretamente nos locais de
40
trabalho (MAGGI, 2006). Ao contrário das técnicas de tempos e métodos tradicionais que
reduz o trabalho a uma somatória de gestos isolados e passíveis de serem divididos,
reelaborados e recompostos, a AET vai buscar como o trabalhador enquanto um ser integral
age, raciocina e utiliza sua inteligência para fazer face às variabilidades e imprevistos que a
ele se apresentam nas situações de trabalho (SALERNO, 1998). Para Iida (2005), a AET visa
ampliar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma situação
real de trabalho.
A situação real de trabalho é o campo no qual a atividade do homem é exercida. Então
se tem que a atividade do homem no trabalho é orientada em vista de um determinado
resultado. Esta atividade é organizada no interior de um grupo social e exercida de maneira
regular. O resultado desta atividade que é econômica e produtora de utilidade social necessita
de coordenação do conjunto das atividades humanas, no sentido de produzir o que é útil.
Neste sentido, a atividade de trabalho é a maneira como esse resultado é obtido, isto é, a ação
ou forma de trabalhar na matéria, de manejar um instrumento, maneira como uma coisa criada
pelo homem foi executada (FIALHO & SANTOS, 1995). Portanto, a ergonomia tem por
objeto de estudo o trabalho e o cerne deste objeto é a própria atividade de trabalho (GUÉRIN
et al., 2001).
2.6.3 Tarefa e atividade Neste momento é interessante introduzir o conceito de tarefa para que se possa fazer
uma distinção deste do de atividade. Guérin et al. (2001) explicam e exemplificam: quando se
pergunta a um trabalhador sobre seu trabalho, ele fala a princípio sobre os resultados a obter
de seu trabalho (ele embala produtos, ela costura vestidos, ela atende desempregados, ele
dirige trens,...) e em seguida dos meios de que dispõe (eu disponho de caixas de papelão,
bandejas plásticas, um rolo de filme PVC, tenho uma máquina de costura, tenho um fichário,
uso o telefone,...). Na realidade eles estão se referindo às tarefa que cumprem. Então, têmse a
tarefa como os resultados antecipados a partir das condições determinadas. Esquematicamente
isto é demonstrado na Figura 7:
41
Figura 7: A tarefa. Fonte: Guérin et al., (2001).
Ainda para estes mesmos autores, o conceito de atividade é dado como a maneira que
os resultados são obtidos e os meios utilizados. Complementando o esquema mostrado na
Figura 7, temse então a Figura 8:
Figura 8: Tarefa, atividade e trabalho. Fonte: Guérin et al., (2001).
Podese concluir, portanto que existem três realidades:
• a tarefa como resultado antecipado fixado em condições determinadas;
• a atividade de trabalho como realização da tarefa;
• o trabalho como unidade da atividade de trabalho, das condições reais e dos resultados
efetivos dessa tarefa.
Resultados antecipados
Condições deteminadas
TAREFA
Resultados antecipados
Condições deteminadas
TAREFA
Resultados efetivos
Condições reais
ATIVIDADE DE TRABALHO
Trabalho prescr ito
Trabalho real
42
Portanto, temse que a análise ergonômica da atividade é a análise das estratégias,
entendidas aqui como regulação, antecipação, usadas pelo operador para administrar a
distância entre “o que é pedido” (trabalho prescrito) e “o que a coisa pede” (trabalho real). A
tarefa é imposta ao operador. Ela é exterior ao operador, determina e constrange sua atividade,
mas ao mesmo tempo é indispensável para que ele possa operar. A atividade, segundo
Ferreira & Mendes (2003), tem um caráter mediador, apresentando uma dinâmica de
“mutações”, em que o indivíduo transforma o contexto e ao mesmo tempo é transformado por
ele.
2.6.4 A construção da ação ergonômica A análise da atividade de trabalho, segundo Guérin et al. (2001), tem sua
particularidade: não existe modelo único de ação ergonômica e sim alguns princípios comuns
importantes. É ao longo do desenvolvimento da ação que o ergonomista constrói sua
compreensão da situação de trabalho, apreende a realidade em sua especificidade inclusive
frente aos imprevistos e a diversidade de demandas e dos objetos da ação ergonômica. A
análise da atividade de trabalho tem essa especificidade: não pode ser uma abordagem
baseada simplesmente na aplicação de ferramentas préconstruídas. Ela é um processo onde o
ergonomista entra, no qual fica imerso. É ao longo do desenvolvimento do processo que ele
constrói sua compreensão da situação de trabalho e estrutura de maneira adequada seus
conhecimentos.
Sendo a AET um método destinado a analisar a complexidade das situações de
trabalho, ninguém pode pretender fazer uma abordagem somente com sua competência.
Portanto, é necessário fazer um certo recorte do campo de conhecimento e da ação. Cada um
se coloca em função deste recorte sem ignorar que a dimensão de trabalho pela qual se
interessa não é independente das outras.
O método AET (GUÉRIN et al., 2001) tem como foco o estudo da atividade e não
possui rigidez em suas etapas, ao contrário, permite uma flexibilização de acordo com a
situação real de trabalho. Os autores apresentam o esquema geral da abordagem ergonômica
como sendo uma construção que se elabora e toma forma ao longo do desenrolar da ação e
cada ação é singular. Existe, porém um conjunto de fases que vão estruturar a construção da
ação ergonômica, onde a importância de cada uma, o que compreendem as idas e vindas entre
elas, é específica de cada ação ergonômica.
43
O esquema do Quadro 5 mostra as etapas que compõem a AET. A intervenção em
ergonomia é um processo singular que tem seu início a partir de uma demanda socialmente
estabelecida. Os contornos e as formas dessa intervenção vão se transformando no confronto
com a realidade de trabalho, determinando a seqüência das etapas e os recortes da realidade.
A AET, com todas as suas etapas, implica em decompor para apreender a atividade para
recompôla sob novas bases, considerando a análise de trabalho real e a participação do
trabalhador no processo (ABRAHÃO, 1993).
Quadro 5: Etapas da intervenção ergonômica. Fonte: Guérin et al. (2001).
Inter ação com os
oper ador es, papel das
entr evistas e das
verbalizações
Observações globais da atividade (observações aber tas)
Exploração do funcionamento da empresa e de seus traços: características da população, da produção, indicadores relativos à eficácia e à saúde. Hipóteses de nível 1: escolha das
situações a analisar.
Das primeiras formulações de demanda à identificação dos fatores gerais em jogo: análise da demanda e do contexto,
reformulação da demanda.
Análise do processo técnico e das tarefas
Diagnóstico: diagnóstico local incidindo sobre a(s) situação(ões)
analisada(s) em detalhe; mas igualmente diagnóstico global incidindo sobre
o funcionamento mais geral da empresa.
Formulação de um
prédiagnóstico Hipóteses
de Nível 2
Definição de um plano de observações
Observações sistemáticas
Tratamento dos dados
Validação
44
Para Guérin et al. (2001), a AET pode ser organizada da seguinte forma:
a) A análise da demanda A ação ergonômica iniciase a partir de uma demanda, aqui entendida como uma
solicitação, um pedido. Frequentemente, a demanda é um incômodo que se apresenta
cotidianamente e é quase sempre colocada em termos de problemas a resolver, isolados de seu
contexto. Portanto, é necessário reformular a demanda inicial e hierarquizar os diferentes
problemas colocados, articulálos entre si e, às vezes apontar outros. Devese detectar a
natureza dos outros problemas potenciais interrogandose sobre o grau de importância
daqueles que foram apontados e reformular a demanda inicial numa problemática de natureza
ergonômica centrada na atividade de trabalho (GUÉRIN et al., 2001). Nesta fase, os primeiros
dados da situação de trabalho são levantados, permitindo a formulação das hipóteses de
primeiro nível (hipóteses de nível 1 ou preliminares) a serem consideradas na realização do
estudo: tipo de tecnologia utilizada, organização do trabalho implantada, principais
características do pessoal disponível, principais aspectos sócioeconômicos da empresa e os
diversos pontos de vista a respeito do problema formulado na demanda (FIALHO &
SANTOS, 1995). As hipóteses elaboradas nesta etapa levarão a escolha das situações de
trabalho que devem ser analisadas em detalhe para se obter elementos que respondam às
questões levantadas.
b) Obser vações globais da atividade Uma primeira visita à situação de trabalho permite compreender a natureza das
questões levantadas e como os problemas se manifestam concretamente para os operadores.
Estas primeiras observações abertas tentam compreender o processo técnico e as tarefas
confiadas aos operadores, mas também observar as estratégias adotadas por eles e colher
comentários. É o primeiro contato que determina as possibilidades posteriores de acesso ao
posto de trabalho e também é uma oportunidade para informar os motivos da ação
ergonômica. Devese ter em mente os elementos que motivam a demanda e fazer as relações
entre os constrangimentos da situação de trabalho, a atividade desenvolvida pelos operadores
e as conseqüências dessa atividade para a saúde e para a produção. Essas articulações
permitirão formular um prédiagnóstico ou hipóteses de nível 2. Esta hipótese normalmente é
estruturada da seguinte maneira: “parece que tais fatores levam os operadores a trabalhar de
tais maneiras, o que pode explicar tais conseqüências”. É a partir deste prédiagnóstico que se
vai estabelecer um plano de observação para verificar, enriquecer e demonstrar tais hipóteses.
45
c) Diagnóstico A partir dos registros de observações e das explicações fornecidas pelos operadores é
que o diagnóstico pode ser dado. Ao se ater à atividade real se compreenderá as dificuldades
encontradas em um determinado lugar e se identificará os pontos que devem ser objeto das
transformações dessas situações de trabalho. Por fim, é a partir deste diagnóstico que se
realizam as recomendações e se propõe um acompanhamento do processo de transformação.
Para Fialho & Santos (1995), o plano metodológico da AET pode ser dividido em três
etapas, a saber:
a) Análise das referências bibliográficas.
b) Análise ergonômica do trabalho, que está dividida em três fases:
• Análise da demanda: nesta fase se define o problema a ser estudado a partir de uma
negociação com os vários atores sociais envolvidos. A partir dos primeiros dados
coletados da situação de trabalho é possível se formular as hipóteses de nível 1;
• Análise da tarefa: a partir das hipóteses de nível 1 fazse a análise das condições de
trabalho e uma descrição minuciosa dos diversos componentes do sistema. Todos estes
dados poderão confirmar ou recusar as hipóteses formuladas;
• Análise da atividade: é a análise dos comportamentos de trabalho (posturas, ações,
gestos, comunicações, direção do olhar, movimentos, verbalizações, raciocínios,
estratégias, resoluções de problemas, modos operativos, tudo o que possa ser
observado ou inferido a respeito da conduta do trabalhador) que serão confrontados
com os dados obtidos na fase anterior e permitirão elaborar um prédiagnóstico da
situação de trabalho.
c) Síntese ergonômica do trabalho: que está dividida em duas fases.
• Estabelecimento do diagnóstico da situação de trabalho;
• Elaboração do caderno de encargos de recomendações.
A obra destes últimos autores é pragmática, pois traz a metodologia AET em forma de
manual ou roteiro a ser seguido pelos profissionais na análise do posto de trabalho. Por outro
lado, a obra de Guérin et al. (2001) propõe o estudo e entendimento do método da AET e
46
além de discutir o método em si referencia inúmeros exemplos. Portanto, este último foi
escolhido como livro de referência principal para o desenvolvimento desta pesquisa.
47
3. Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo de caso
3.1 Bases para uma abordagem metodológica
3.1.1 Pressupostos Neste capítulo será apresentado o caminho metodológico percorrido para abordar o caso
escolhido. Ferreira (2002) destaca cinco pressupostos que ditam alguns cuidados a se tomar para
não comprometer a eficiência e a eficácia da AET. São eles:
• Situaçãoproblema: é a própria demanda e que segundo o autor nada mais é que a ponta
do iceberg, pois mascara com freqüência seus reais determinantes. A reformulação da demanda através dos recortes e da hierarquização de suas causas por meio da busca de
informações pertinentes é um procedimento incontornável desta reformulação. Ela serve
de bússola da AET, pois orienta a trajetória de investigação.
• Par ticipação: é determinante para os resultados confiáveis da AET, pois sem a
participação dos atores sociais envolvidos com a demanda a realização da análise da
atividade fica comprometida.
• Informação: o acesso à informação deve ser irrestrito, contudo baseado nas regras
deontológicas.
• Var iabilidade: nas dimensões interindividual (gênero, idade, dimensões corporais,
personalidade, história pessoal, experiências e vivências) e intraindividual (leva em
conta o estado fisiológico, cognitivo e afetivo dos indivíduos e que se modificam ao
longo de uma jornada influenciando suas ações).
• Atividade: o que faz, porque faz e como o faz é o centro de interesse da AET.
3.1.2 Instr umentos de estudo Para se analisar um caso através da AET lançase mão de vários instrumentos que
facilitarão a apreensão da atividade e promoverão as recomendações adequadas que serão feitas.
Tais instrumentos são:
a) Obser vações livres
48
As observações livres tiveram início logo no primeiro contato com a CD para verificar se
a mesma estava próxima do perfil do CD brasileiro. Uma vez constatado que sim e a
profissional estar de acordo em participar da pesquisa, as primeiras visitas foram agendadas.
Nesta primeira reunião foram apresentados os objetivos da pesquisa e dois esquemas resumidos
da metodologia AET (ANEXO A e B). Nesta mesma reunião foi formulada a demanda inicial.
Algumas questões foram colocadas para a CD para se ter uma compreensão maior do serviço
prestado por ela, tais como: quais são os tratamentos que realiza, se possui auxiliar, se planejou
o consultório, se atende por convênios, se possui alguma queixa de dor ou desconforto
relacionado ao trabalho, se usa visão direta ou indireta e qual postura adota durante o
tratamento. Ao término desta, novas visitas foram programadas, tendo como critério a aceitação
da presença da pesquisadora no consultório por parte do paciente. A preocupação com o
conforto e a privacidade do paciente foi um aspecto que apareceu logo na primeira reunião e
demonstrou ser uma forte premissa.
As visitas subseqüentes tiveram como objetivo a observação livre de cada tipo de
tratamento a fim de verificar qual elemento era mais relevante para cada um deles. Antes
mesmo de relatar tais atendimentos, é interessante citar os outros instrumentos utilizados.
b) Análise documental A coleta de informações se deu também através da consulta de documentos internos, tais
como:
• Agenda: utilizada para marcação das sessões e lembretes;
• Ficha clínica: onde a cada sessão é anotado o procedimento realizado e as observações
para aquele caso;
• Caderno de controle de atendimentos: onde é registrado o nome, a data inicial e final
do último tratamento. Este controle é feito mensalmente.
• Arquivo: situado no mezanino, onde as fichas clínicas ficam guardadas em envelopes
e ordenadas por datas de nascimento.
A consulta a estes documentos revelou uma parte da organização do trabalho. Todas as
anotações são manuscritas pela própria CD durante ou ao final da sessão ou ainda após o
expediente quando a profissional chega mesmo a levar para casa as fichas clínicas para terminar
de completálas.
49
c) Obser vações sistemáticas As observações sistemáticas tiveram início logo que os procedimentos foram descritos
pela CD e identificados pela pesquisadora durante as observações, confirmando a
obrigatoriedade da seqüência dos procedimentos para se executar os tratamentos. Por se tratar
da metodologia AET cada etapa do procedimento foi considerada uma tarefa a ser cumprida,
pois existe uma seqüência obrigatória que não pode ser modificada quando conveniente. A
partir desta descrição das tarefas foi possível prosseguir no conhecimento das situações reais de
trabalho e realizar os recortes necessários.
d) Entrevistas semiestruturadas Estas entrevistas foram preparadas em vários momentos da pesquisa com o objetivo de
se conhecer cada vez mais a organização do trabalho e compreender o porquê de alguns gestos,
posturas, ações, decisões, modificações no modo operatório, enfim apreender o trabalho real.
e) Verbalizações Para Guérin et al. (2001), a atividade não pode ser reduzida ao que é observável. O
raciocínio, o tratamento das informações, o planejamento das ações só podem ser realmente apreendido por meio das explicações. As verbalizações podem aparecer ao longo de uma entrevista, durante uma observação e revelam normalmente alguma restrição do trabalho.
f) Equipamentos utilizados para registros de dados Para mensuração do espaço físico e elementos que o compõem, foram utilizadas uma
trena marca CASTO 3m x 19 mm (Figura 9), máquina fotográfica HP 3.3 MP e goniômetro
CARCI (Figura 10).
Figura 9: Trena CASTO.
50
Figura 10: Goniômetro CARCI.
Não foram realizadas filmagens dos tratamentos para preservar a privacidade do
paciente. Também não foram mensurados os níveis de ruído, iluminação, temperatura, umidade
do ar e ventilação por não estarem presentes na demanda e por não serem considerados
relevantes durante a pesquisa.
3.1.3 O trajeto metodológico O trajeto metodológico seguido está baseado no esquema geral da abordagem de Guérin
et al., (2001). A Figura 11 descreve resumidamente as fases que serão apresentadas.
Figura 11: Metodologia AET. Fonte: adaptado de Guérin et al. (2001) pela autora.
Abordagem global
Hipóteses nível 1
Análise da atividade
Prédiagnóstico Hipóteses nível 2
Observações sistemáticas Tratamento dos dados Validação
Diagnóstico
Recomendações
Definição de um plano de observação
Análise da
demanda
51
3.2 Apresentação do caso estudado
3.2.1 A escolha do caso O profissional escolhido para este estudo foi uma cirurgiãdentista, clínica geral, de 46
anos, formada há 22 anos e que atua em consultório próprio situado em uma clínica médica na
cidade de Itajubá MG há 7 anos.
Este caso foi selecionado, pois a profissional está bem próxima do perfil do CD
brasileiro traçado pela pesquisa encomendada à Inbrape pelas entidades 2 nacionais de
odontologia no ano de 2002.
Na Tabela 1 foram destacados os principais índices desta pesquisa que nortearam a
escolha realizada:
Critér io adotado Caso escolhido
57,5% sexo feminino Sexo feminino
76,7% clínico geral Clínica geral
89,6% autônomo Autônoma
56,7% sem auxiliar Sem auxiliar
Tabela 1: critérios adotados para escolha do caso estudado.
3.2.2 Análise da demanda
a) A demanda inicial A demanda inicial foi formulada logo na primeira visita onde também tiveram início as
observações livres. Após sanar algumas dúvidas por parte da profissional, foi formulada a
seguinte demanda inicial:
“Diante da noção de ergonomia acadêmica, diante do grupo heterogêneo de pacientes, com labirintite, idosos, gestantes, não dá para por em prática as posições de Threndelemburg e de 9h. Eu adquiri a insegurança da visão indireta. A anatomia dos dentes é muito parecida podendo diminuir a precisão do trabalho”.
2 ABO (Associação Brasileira de Odontologia), ABENO (Associação Brasileira de Ensino Odontológico), ACBO (Academia Brasileira de Odontologia), CFO (Conselho Federal de Odontologia), FIO (Federação Interestadual de Odontologia) e FNO (Federação Nacional de odontologia).
52
b) O que está em jogo (les enjeux) A reformulação da demanda se deu a partir do conhecimento dos elementos que estavam
em jogo nesta situaçãoproblema colocada inicialmente. Foram identificadas as seguintes
questões:
• Ergonomia: a princípio nesta demanda fica claro que a profissional faz pouco uso da
posição mais indicada, tanto para o paciente quanto para ela, ou seja, supina e 9h
respectivamente. Ela refere também não usar a visão indireta com auxilio do
espelhinho o que indica que deve realizar muitas inclinações e rotações do tronco para
ter a visão direta. Ela refere que na faculdade era avaliada segundo a ergonomia
empregada. Os alunos eram policiados se faziam uso da visão indireta. Contudo, ela
revela que possui noções da ergonomia correta de trabalho, mas que não as segue. A
afirmação abaixo deixa isto evidente. Quando se começa a trabalhar sozinha, a gente faz diferente. Desta forma a profissional se adapta ao posto e às necessidades do paciente em
detrimento do conforto próprio para atingir o resultado satisfatório. Ela refere ter tido
uma epicondilite direita que a afastou do trabalho por três meses e no momento
apresenta uma epicondilite esquerda, dores no cóccix, dor lombar lado direito e
ardência em todo o ombro, lado direito e esquerdo, além de dores de cabeça
freqüentes.
• Bem estar do paciente: esta demanda também aponta uma preocupação com o
conforto do paciente e que ao longo das observações realizadas ficou confirmada
como uma forte premissa. A profissional se preocupa com todos os aspectos que
envolvem o paciente. Ela diz:
Eu atendo meu paciente de forma holística.
Para ela a prioridade é o bem estar do paciente. Ela relata que existe paciente que fica
uma sessão toda falando.
Tem que dar atenção ao paciente. Tem que ser um pouco psicóloga. Isto é importante, pois na próxima ele estará mais relaxado e eu poderei trabalhar com mais facilidade.
• Sucesso do tratamento: o sucesso do trabalho está ligado à precisão que a CD tem
que ter durante o procedimento. Ela relata que quando faz um trabalho de escultura
fica com todo o corpo tenso. O sucesso também está vinculado ao bem estar do
53
paciente que assim colabora com o tratamento permanecendo mais tranqüilo, seguro e
confiante.
c) Reformulação da demanda A fim de responder à demanda (situaçãoproblema) colocada pela profissional e
considerando as questões nela embutidas, a pesquisadora optou por conduzir a pesquisa de
forma a identificar as restrições deste posto de trabalho, que fazem com que a CD não siga as
normas básicas de ergonomia odontológica e que expõe a mesma aos riscos de desenvolver
dores músculoesqueléticas. Ainda de outra forma, como a profissional se expõe e como se
preserva destas restrições, ou seja, quais são as estratégias adotadas por ela para fazer face a
estes constrangimentos. A opção por este caminho se justifica pelo fato da profissional
apresentar dores osteomusculares como já foi citado.
3.2.3 Abordagem global Dando seqüência na pesquisa, procurouse conhecer a estrutura do consultório.
a) A organização do trabalho Os atendimentos são realizados de segunda a sextafeira das 8:00 às 11:00 e das 13:00 às
17:00. A jornada semanal é, portanto de 35 horas.
O agendamento, na grande maioria das vezes, é realizado pela própria CD e para cada
sessão é reservada uma hora. A clínica da qual o consultório faz parte, dispõe de duas
secretárias que também fazem o agendamento nos horários em que a CD não está presente. Nos
horários normais de atendimento da profissional elas se limitam a transferir a ligação telefônica
para o consultório para que o paciente converse diretamente com a mesma. A CD optou por este
sistema de agendamento, pois refere que as secretárias não foram treinadas para receber e
orientar os pacientes odontológicos Na Figura 12 é possível verificar como este processo
acontece.
54
Figura 12: Marcação de consulta.
A profissional além de atender a pacientes particulares (cerca de 50%) também atende
seus antigos pacientes de convênio pelo custo operacional. Desde 2003 se desligou do convênio
por questões econômicas. Refere que a partir desta mudança passou a trabalhar menos e ter um
faturamento maior. Concluiu, portanto que não vale a pena ser credenciada.
Em relação aos materiais, eles estão distribuídos nas gavetas do gaveteiro móvel, nas
prateleiras do armário alto (portas da esquerda e portas de vidro), dentro da geladeira e na
primeira gaveta à direita no balcão.
b) O consultór io odontológico O atual consultório tem uma área total de 12,82 m² (3,74 X 3,43) e ainda mais 6,68 m²
(3,43 X 1,95) de mezanino. Foi projetado na época para um trabalho a duas mãos. A partir do
ano de 1999 passou a ter uma auxiliar após um problema de epicondilite direita que a obrigou a
se afastar do trabalho por três meses. No entanto, há 2 anos está sem esta profissional. Refere
que os custos são altos para se ter um funcionário, contudo programa a contratação de uma
pessoa por saber que este custo é compensatório pela qualidade do trabalho e pela saúde.
A estrutura física está demonstrada na Figura 13 que mostra a planta baixa do
consultório:
O paciente aguarda par a falar com a CD ou a ligação é transfer ida
Se sim, marcação das
sessões.
Execução do tratamento
Paciente faz o contato com a secretár ia
pessoalmente ou por telefone
CD ver ifica o caso e faz ou não
a marcação
1ª. sessão para or çamento é feita.
Aber tur a de uma ficha clínica. Paciente decide se irá ou não realizar o
tratamento.
55
Figura 13: Planta baixa do consultório.
Nesta planta podem ser observados:
• Os elementos da CD indicadas com as setas vermelhas:
Ø Mocho
Mesa com
compu tador e
telefone
253
90
230
Janela de vidro
Liga/desl
refletor
pedal
sugador
Raio X
balcão
EQUIPO Escada mezanino
76 100
65
75
135
69
86
128
69
96
Base 40 X 85
60
57
57
111
mocho
230
343
56
Figura 14: Medidas do mocho.
Ø Equipo
Figura 15: Equipo com três pontas.
Ø Comando eletrônico no pedal
Figura 16: Pedal de acionamento do motor.
5
14
46
13
36
57
Ø Armário fixo
Figura 17: Armários.
Ø Armário móvel
Figura 18: Gaveteiro móvel.
Ø Refletor.
Figura 19: Refletor.
58
• Os elementos do paciente são indicados pelas setas verdes:
Ø A cadeira odontológica e o apoio para a cabeça
Figura 20: Cadeira do paciente.
• Os elementos do auxiliar são indicados pela seta azul:
Ø O sugador
Figura 21: Cuspideira e sugador.
c) Os documentos colocados à disposição
• Agenda
• Ficha clínica;
• Caderno de controle de atendimentos.
Os documentos embora todos preenchidos à mão, são bem organizados. No entanto, a
CD não possui uma estatística de quantos pacientes são particulares e custo operacional, quantos
fazem tratamento protético, preventivo, restaurador ou estético. Existe somente uma estimativa.
Detalhe
59
d) Tratamentos realizados
Em seu consultório ela oferece os seguintes tratamentos:
• Restaurações fotopolimerizadas (resinas): realizados com maior freqüência;
• Restaurações de amálgama: realizados com menor freqüência;
• Reabilitação protética;
• Prevenção;
• Odontologia com ênfase na estética (clareamento, troca de restaurações de amálgama
por de resina, redução de espaço interdental).
Para cada tipo de tratamento foi feito um fluxograma com as etapas obrigatórias
seguidas pela dentista para sua execução. Por se tratar da metodologia AET, cada etapa desta
está sendo considerada uma tarefa a ser cumprida, ou seja, as etapas precisam ser
obrigatoriamente realizadas numa determinada ordem para a realização do tratamento
odontológico e não podem ser alteradas por conveniência. A seguir, para efeito de
exemplificação, segue o fluxograma de uma das fases do tratamento de prótese (Figura 22) e
outro correspondente ao tratamento de restauração fotopolimerizada (Figura 23).
O tratamento protético é realizado nos casos onde houve perda de dentes ou quando
um dente precisa de uma grande restauração e o mesmo não oferece apoio para uma
restauração fotopolimerizada, por exemplo.
Figura 22: Fluxograma das 9 etapas prescritas para a execução da prótese – fase moldagem definitiva.
Moldagem da gengiva
Anestesia da superfície gengiva
4 Isolamento relativo
3 5
Cimentação do provisório
9
Remoção do provisório / do
cimento provisório
2
Moldagem do antagonista
8 Preparação do paciente
1
Moldagem 7
Afastamento gengival com fio
retrator
6
60
O tratamento de restauração fotopolimerizada é realizado diante de uma lesão cariosa
ou diante do interesse do paciente pela estética.
Figura 23: Fluxograma das 19 etapas prescritas para a execução da restauração fotopolimerizadora.
O Quadro 6 contém as observações acerca das etapas com o propósito de facilitar a
compreensão do fluxograma.
Anestesia infiltrativa
Uso do carbono de dupla face e escultura
Remoção das cunhas, da matriz e do isolamento
relativo
Uso do aparelho fotopolimerizador
20 segundos
Aplicação do adesivo escolhido
Refazer o isolamento relativo
Aplicação do ácido fosfórico
Preparo e inserção do forramento
11
3
10 9
7
6
15 17
Aplicação da pomada anestésica
2
Lavagem com água para a remoção do
ácido
8
Preparação do paciente
1 Escultura
Remoção da cárie e/ou obturação
Isolamento relativo com algodão
5
Colocação da resina em pequenos fragmentos
13
Uso do aparelho fotopolimerizador
40 segundos
14
Caso necessário uso de uma matriz para a reconstrução das
laterais do elemento e cunhas na região
gengival
Teste com fio dental para verificar excessos
18
Polimento final 19
12
4
16
61
Quadro 6: Observações sobre etapas restauração fotopolimerizada.
Entre todos os tratamentos, a CD considera o de prótese o mais desgastante pelo custo
para ela e para o paciente, por isto se preocupa muito com a execução e com a satisfação do
paciente com o resultado final.
Foi observada uma sessão de cada tratamento e constatado que o tratamento de prótese
de fato é bastante desgastante pela preocupação com o resultado e pelos muitos movimentos
para manipulação dos materiais, por isso muitos gestos para acessar as gavetas, o balcão, o
equipo, ligar e desligar o sugador (este procedimento é adotado para se poupar o compressor
que já parou por sobrecarga), muitos movimentos com o mocho, de sentar e levantar para pegar
material no armário alto e sobre o balcão. Contudo, o tratamento de restauração
fotopolimerizada também apresenta uma grande manipulação de materiais e é realizado com
maior freqüência, embora seja realizado sem a mesma preocupação relativa ao custo do
tratamento protético.
e) A escolha da situação Após a observação de todos os tratamentos, foi realizado o primeiro recorte da
atividade da CD para prosseguir a análise (Figura 24). Foram escolhidos os tratamentos de
prótese dentária e restauração fotopolimerizada segundo os critérios destacados no esquema da
Figura 24.
Etapa Observações sobre algumas etapas 1 Receber o paciente, acomodálo na cadeira e colocar as proteções (babador, toalha, guardanapo). 2 Aplicar o anestésico tópico com auxílio de pinça e algodão na região onde será feita a anestesia. 3 Aplicar a anestesia com auxilio de seringa e agulha. 4 Utilização da caneta de alta rotação para remoção da cárie e/ou obturação. 5 Isolamento relativo nada mais é que colocar os roletes de algodão ao redor do dente para se
manter a região seca. 6 O forramento é o material que antecede a resina, visando maior proteção do elemento dentário. 7 Aplicação do ácido fosfórico no elemento dentário para aumentar a porosidade do esmalte e da
dentina. 8 Usase sempre o sugador simultaneamente. 10 O adesivo é um material que irá ficar entre a resina e o dente. 11 Aumenta o poder de aderência do adesivo. 12 A matriz é uma espécie de banda ou cinta de metal ou plástico que é colocada ao redor do dente
para auxiliar na reconstrução das paredes do dente. 13 A colocação da resina em pequenos fragmentos evita a contração indesejada do material. 14 Uso do fotopolimerizador por 40 segundos é feito após a inserção de cada fragmento para
endurecêlo. 16 Eliminação do excesso de resina com caneta de alta e baixa rotação. 17 Usando um carbono de dupla face para marcar os pontos altos, esculpe a resina de acordo com a
oclusão do paciente. Usamse brocas especiais para tal procedimento; 18 É testado o uso do fio dental comprovando se não há excesso de material nas proximais do dente; 19 Realização do polimento com brocas com pontas abrasivas, de borracha, com tiras de lixa de
granulações diversas. Por fim é usada uma pasta para polimento.
62
Observação
Restauração resina
Restauração amálgama
Prótese
Estética prevenção
Custo
Materiais
Resultado
Satisfação
1º. recorte na atividade
Maior freqüência
Figura 24: Primeiro recorte na atividade.
É extremamente importante ressaltar que não foi possível utilizar recursos áudiovisuais
durante as observações para preservar a privacidade do paciente, preocupação permanente da
CD. Os dois tipos de tratamento foram acompanhados e os dados contabilizados e registrados.
Segue um dos gráficos (Gráfico 1) que representa a atividade odontológica através da
freqüência com que as ações aconteceram:
Ações realizadas durante o tratameno de prótese fase prova do núcleo metálico
68 70
14
1 3 5 0 0 0
7 9 1 5 0
11
1 7 1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
1 Ações
Freqüência
intervir na boca utilizar equipo utilizar balcão abrir portas esq abrir portas vidro abrir/fechar 1a. Gaveta D abrir/fechar 2a. Gaveta D abrir/fechar 3a. Gaveta D abrir/fechar 4a. Gaveta D abrir/fechar 1a. Gaveta Central abrir/fechar 2a. Gaveta Central abrir/fechar 3a. Gaveta Central abrir/fechar 4a. Gaveta Central abrir/fechar geladeira deslocar até sugador acionar pedal reposicionar refletor atender telefone
Gráfico 1: Tratamento de prótese.
63
Ao ler o gráfico considerar que cada vez que o dentista acessava uma gaveta, ou ia até a
boca do paciente, ou até o equipo, por exemplo, foi contabilizada uma ação. Podese verificar
no gráfico uma grande intervenção intrabucal (68) e uma grande utilização do equipo (70).
Para estas ações a CD realizava inúmeras rotações de tronco, mais acentuadas a direita. Em
relação a utilização do balcão, ela necessitava afastar o mocho, girar para a direita e se levantar
quando não permanecia sentada e se esticava para alcançar algum material. Foi observada uma
grande utilização do gaveteiro central que apesar de possuir rodízios permaneceu imóvel sob o
balcão. Outra ação que chamou a atenção foi a de deslocamento até o sugador para ligálo e
desligálo. A maioria destes deslocamentos foi realizada deslizando o mocho até a posição de 3
horas e outras levantando do mesmo e se deslocando até o dispositivo liga e desliga. Por fim,
foram observados muitos reposicionamentos do refletor para evitar que o paciente bata a
cabeça quando for cuspir e para trazer o foco de luz sobre o equipo para melhorar a
visualização de uma peça que está esculpindo. Na Figura 25 a planta do consultorio é
reapresentada com destaque para os itens observados:
Figura 25: Planta baixa do consultório.
230
Mesa com compu tador e
telefone
Liga/desl
refletor
pedal
sugador
Raio X
balcão
EQUIPO Escada mezanino
76 100
65
75
135
69
86
128 96
Base 40 X85
60
57
57
111
69
Janela de vidro
64
Por tas de
vidro
Por tas de
vidro
Geladeira
Auto clave
L i x o
Na Figura 25 é importante destacar a localização do dispositivo liga/desliga no sugador
e a distância entre a mesa e o apoio de cabeça para o paciente que fica bastante reduzida – 57
cm – quando se faz uso da inclinação total da cadeira dificultando a passagem com o mocho.
Na Figura 26, o destaque é para a altura das prateleiras internas do armário alto e para o
lado de abertura da porta da geladeira.
Figura 26: Vista frontal dos armários alto e baixo sob o balcão.
Prateleiras (Portas esquerda)
87,5
78
230
53 64 71
170
193
145
65
3.2.4 Prédiagnóstico A partir das observações podese elaborar o seguinte prédiagnóstico (Quadro 7):
Em função: A CD faz: Isto car acter iza: Mas leva frequentemente a profissional a:
•da disposição dos materiais nas gavetas e armários;
•do controle liga e desliga do sugador;
•das regulagens do refletor;
•do pequeno espaço existente entre o apoio de cabeça da cadeira do paciente e a mesa.
•uma grande utilização do equipo e do balcão para manipular os materiais;
•uma grande utilização dos gaveteiros para procurar/pegar o material necessário;
•vários deslocamentos com o mocho para ligar e desligar o sugador;
•várias mudanças da posição do refletor quando o paciente se senta para cuspir e quando necessita de luz sobre o equipo;
•utilização insuficiente da inclinação da cadeira do paciente.
• uma sessão sem uma seleção prévia dos materiais.
• realizar inúmeras inclinações e rotações de tronco e deslocamentos com o mocho o que provoca uma fadiga física e dores lombo sacrais e uma perda de tempo na procura do material desejado;
• evitar um super aquecimento do compressor;
• garantir a segurança, conforto do paciente e sucesso do tratamento
Quadro 7: Prédiagnóstico.
Este prédiagnóstico apresenta uma explicação para o problema levantado inicialmente
na demanda. A partir deste ponto serão escolhidos os métodos mais adequados para se
trabalhar nos recortes que serão realizados na atividade.
3.2.5 Observação sistemática As observações sistemáticas foram realizadas com base no prédiagnóstico. Foi
traçado um plano de observação que resultou na seguinte configuração.
a) Os recor tes Para esta fase inicial foi escolhida a variável tempo das ações para se compreender
como elas se distribuem ao longo de uma sessão. Uma planilha (ANEXO C) foi preparada
para se poder acompanhar a transição de uma ação para outra bem como o intervalo entre
elas.
Após a observação foi possível realizar um segundo recorte na atividade e chegar a
classificálas em dois tipos:
• O recor te das ações Ø as extrabucais: são todas as ações que acontecem fora da boca do paciente, como por
exemplo: pegar a caneta de alta rotação, pegar o jato de ar/água, pegar um rolete de
66
algodão, pegar um instrumental sobre o equipo, pegar um material na geladeira, na
gaveta, no armário alto, pegar o aparelho fotopolimerizador, o jato de bicarbonato,
atender ao telefone, deslocarse até o sugador, etc. A foto da Figura 27 mostra um
destes tipos de ação extrabucal.
Figura 27: Ação extrabucal.
Ø intrabucais: são todas as ações de intervenção na boca do paciente, como por
exemplo: usar a caneta de alta rotação, explorar a boca com o espelhinho, avaliar um
dente, colocar um rolete de algodão, esculpir, aplicar uma anestesia, inserir um
material (resina, amálgama, ácido fosfórico, adesivo, etc.), dar um jato de água/ar, etc.
A foto da Figura 28 ilustra uma ação intrabucal.
Figura 28: Ação intrabucal.
A seguir o Gráfico 2 que resume a observação do tempo das ações extra e intrabucais.
67
Gráfico 2: Tempo das ações intra e extrabucais.
• Análise do tempo das ações Embora a diferença de tempo seja pequena ela passa a ser significativa quando se
considera que a ação extrabucal tem uma relação direta com a organização do trabalho:
distribuição dos materiais, posicionamento dos equipamentos periféricos, etc. Na foto da Figura
29 é possível perceber este aspecto ao se observar a posição do equipamento fotopolimerizador
sobre o balcão:
Figura 29: Organização do trabalho.
No entanto, as ações intrabucais tem uma relevância maior em relação às extrabucais,
pois elas estão diretamente relacionadas às posturas estáticas, ou seja, quando a CD intervêm na
boca ela fixa sua postura para aumentar a precisão manual e para focar o ponto do dente onde
Ações extra e intra bucal
extrabucal in trabucal
52%
48%
68
ela atua. Esta postura está sempre associada à tensão muscular seja pela manutenção da mesma
seja pelo contexto de apreensão em executar uma atividade onde o paciente na maioria das
vezes apresenta medo, expectativa ou dor. Além disto, a postura estática é uma das responsáveis
pelo desenvolvimento dos DORT. Uma outra questão que também é importante ressaltar que, na
atividade odontológica, a ação intrabucal é a que agrega valor ao tratamento, portanto mais um
motivo para reconhecer a relevância desta ação. A foto da Figura 30 exemplifica esta
consideração.
Figura 30: Postura fixa na ação intrabucal.
Na foto da Figura 30 a CD mantém sua postura para intervir com a mão direita e segurar
o sugador com a esquerda, além de manter a cabeça fixa permitindo assim a visão do dente em
tratamento.
A partir destas observações foi possível realizar o terceiro recorte na atividade e eleger
as ações intrabucais como foco de estudo. As observações se seguiram ainda sobre os
tratamentos de prótese e restaurações fotopolimerizadas. As seguintes posturas foram
identificadas como sendo as que mais são adotadas durante as ações intrabucais:
69
Figura 31: Postura incorreta dos ombros.
Na foto da Figura 31 pode ser observada uma abdução do ombro além de 45º. Esta
abertura dos braços é considerada excessiva uma vez que além desta graduação passase a ter a
contração dos músculos supraespinhoso e trapézio superior, que compromete a coluna cervical
e cintura escapular. Também pode ser observada nesta foto a ausência de apoio para a coluna
lombar.
Figura 32: Postura incorreta da cervical vertebral.
Na foto da Figura 32 observase uma flexão acentuada da coluna vertebral sendo mais
acentuada ao nível da cervical. Podese perceber também nesta postura a ausência de apoio
lombar.
70
Figura 33: Postura incorreta da coluna cervical.
Na Figura 33, verificase a inclinação da cabeça para a direita com rotação para a
esquerda. Esta postura é bastante presente, pois a CD adota a postura de trabalho de 10h e utiliza
a visão direta do dente. Sendo assim necessita realizar tal rotação da coluna cervical.
Figura 34: Apoio insuficiente dos pés.
Por fim, na Figura 34, constatase que a base de apoio do corpo está muito reduzida
devido ao mau posicionamento dos pés. Também se verifica a ausência de apoio da coluna
lombar.
71
3.3 Considerações finais
Após a análise das posturas foi possível identificar as principais posturas que são
adotadas durante os 52% de tempo de uma sessão. São elas:
• Abdução de ombros;
• Flexão da coluna vertebral sendo mais acentuada na região cervical que leva a falta de
apoio para a coluna lombar;
• Inclinação da cabeça para a direita com rotação para a esquerda;
• Apoio insuficiente dos pés caracterizado por extensão acima de 120º do joelho esquerdo
e flexões menores que 90º do joelho direito.
Estas posturas desencadeiam dor, desconforto, fadiga e predispõem a profissional a
adquirir as doenças músculoesqueléticas.
72
4. Análise e diagnóstico
4.1 Análise das observações
Este capítulo tem por objetivo discutir os dados coletados, identificando os elementos
restritivos (constrangimentos) e estratégias adotadas para contornálos. Após esta análise, o
diagnóstico para o caso estudado será formulado.
Para facilitar a análise, o texto foi dividido nos seguintes tópicos: a organização do
trabalho, o consultório odontológico e as posturas de trabalho.
4.1.1 A organização do trabalho
a) Horár ios A CD faz questão de agendar um paciente por hora e não mais do que isto, salvo alguma
urgência que segundo ela a agita.
Ela não realiza pausas programadas durante a jornada, mas aproveita os atrasos do
paciente para tomar um café, uma água e andar um pouco pela clínica. Quando não existe este
intervalo circunstancial ela refere tomar água até mesmo quando não está com sede somente
para poder parar um pouco.
b) Agendamento
O agendamento é realizado pela CD durante seu horário de trabalho. Isto garante que o
paciente tenha o atendimento segundo o padrão da profissional. Em relação a ela mesma fazer o
agendamento ela diz:
Se eu mesma não fizer isto as meninas (duas secretárias da clínica) não vão conseguir manobrar lá fora e aí eu vou perder muito mais.
A interrupção de um atendimento para atender ao telefone gera normalmente um
desconforto para a CD, e apesar da aceitação deste fato por parte do paciente que está na
cadeira, a mesma reconhece que ele não gosta, mas que colabora com ela.
O paciente não gosta, mas entende.
Esta aceitação também se deve ao bom nível de relacionamento que a profissional
estabelece com seu paciente desde a marcação da primeira consulta, passando pela primeira
avaliação onde se discute o diagnóstico, o tratamento, o orçamento, a intenção do paciente e o
73
tipo de pagamento. Normalmente não inicia um procedimento na primeira sessão. Para a CD
este primeiro contato é fundamental para estabelecer uma relação de confiança.
Neste momento, a CD tem tido o auxílio de uma pessoa no período da tarde. Este auxílio
se caracteriza mais como o de uma auxiliar extrabucal, que se limita a fazer algum
agendamento segundo a orientação da profissional, pegar algum material, ir ao protético, fazer o
serviço externo, realizar a desinfecção dos materiais e organizar o consultório. Normalmente os
instrumentais usados na parte da manhã são lavados e esterilizados no início da parte da tarde
por esta pessoa.
c) Documentos
• Caderno de controle de atendimentos: todos os documentos são manuscritos e bem
organizados. Para a CD, a forma como organiza os dados permite que ela encontre o que
deseja com facilidade. Ela faz referência em relação à busca de uma informação neste
caderno:
Eu sempre encontro o que quero.
Neste caderno de controle de atendimentos ela tem o nome do paciente, a data de início e
do final do tratamento. Estes dados fazem com que a CD saiba se um paciente finalizou,
interrompeu o tratamento ou não deu continuidade no mesmo. Esta informação é
baseada na presença do registro da data final e não existe nenhuma observação. Ela
verifica o nome, a data e relembra o porquê daquele paciente ter, por exemplo,
interrompido o tratamento. De onde se tem um desconhecimento dos números
estatísticos de casos de abandono e conclusão de tratamento. Um dos meios de controle
que ela possui para saber se existe alguma pendência é de que, se uma ficha está no
arquivo de baixo e não no arquivo do mezanino é porque o paciente está em tratamento,
ou ainda não efetuou o pagamento, ou porque está esperando uma posição do paciente
para decidir se irá ou não realizar o tratamento.
Da mesma forma a profissional não tem este mesmo controle estatístico para os tipos de
tratamento, lucro, custo de materiais por tratamento, pacientes particulares e com custo
operacional, adultos, crianças, idosos, gestantes e especiais. Ela refere que seu controle
financeiro do consultório também deixa a desejar.
74
• Fichas clínicas: as fichas clínicas dos pacientes também são feitas à mão e a profissional
muitas vezes leva as fichas para casa para completálas quando não é possível fazer isto
a tempo no consultório.
Hoje acordei mais cedo para deixar as fichas em dia e não dei conta.
Eu levo as fichas para casa, mas elas voltam do mesmo jeito.
O fato de ter uma ficha desatualizada gera por vezes uma angústia por não poder
esquecer de anotar uma observação importante na ficha de um paciente.
Vou anotar que estou usando este medicamento com ele para saber disto na próxima vez que ele voltar. Quando uso este medicamento não posso usar um outro.
Para não comprometer tempo de sessão do paciente a CD leva as fichas para casa. O
trabalho fica desta forma estendido à vida privada.
d) Música ambiente Um recurso utilizado pela CD para favorecer o relaxamento do paciente é de colocar
músicas calmas. Segundo ela a música também a tranqüiliza.
A música relaxa o paciente e a dentista também.
e) Mater iais
Os materiais necessários a um tipo de atendimento estão localizados em vários lugares.
As bandejas clínicas, por exemplo, ficam na estufa que está no mezanino. A cada sessão é
necessário subir para buscar uma. Ela dispõe de 8 bandejas de rotina, sendo: 2 para orçamento
(uma pediátrica e outra adulto), 3 clínicas, 1 para amálgama e 2 bandejas de cirurgia (extração
de dente decíduo ou drenagem). Segundo a CD, os cuidados com as bandejas são desgastantes.
Ela verbaliza:
Esta parte é desgastante, porque precisa lavar, secar para não manchar o inox...
A esterilização leva de 40 minutos à 1 hora e 30 minutos, dependendo do material. Ela
possui a autoclave que fica em baixo, mas prefere utilizar a estufa porque acredita ser mais
eficaz na esterilização.
Além da bandeja clínica, a resina necessária para as restaurações fotopolimerizadas fica
na geladeira e é retirada durante a sessão. Grande parte dos materiais fica armazenada no
75
armário alto por terem uma embalagem volumosa que não cabe no gaveteiro móvel, o que faz
com que a CD se desloque muitas vezes durante uma sessão, sente e levante do mocho para
pegar este tipo de material. Todos os demais instrumentais e materiais de uso ficam nas gavetas
do gaveteiro móvel e na primeira gaveta do balcão à direita.
f) Trabalho a duas mãos O trabalho odontológico é executado a duas mãos e esta escolha leva a CD a adotar uma
posição de trabalho intermediária, 10h ou 11h, onde ela precisa estar perto do paciente, do
sugador, bem como dos materiais. Isto faz com que ela conduza uma sessão com um grau de
tensão maior do que se ela tivesse um auxiliar, fato que favoreceria sua concentração no
tratamento. Ela relata que quando tinha auxiliar sua qualidade de vida era outra.
Nas fotos a seguir (Figura 35, Figura 36 e Figura 37) pode ser observada
respectivamente a CD fazendo a função de auxiliar, deslocandose até o sugador para ligálo,
em pé pegando um material no armário alto e abrindo a geladeira, por exemplo.
Figura 35: Deslocamento da CD até o sugador.
76
Figura 36: Pegando material na geladeira
Figura 37: Pegando material no armário
Como se pode verificar nas fotos, a CD tem que se deslocar para pontos diferentes em
função do material que necessita e do sugador. Este sistema de trabalho passa a ser, portanto
desgastante para a profissional.
77
4.1.2 O consultór io odontológico
a) A posição de trabalho
O consultório foi avaliado segundo a norma ISO/FDI e o conceito de PTO de Barros
(2006), que orienta o posicionamento dos equipamentos bem como do CD no consultório.
A CD deste estudo adota preferencialmente em seu trabalho a posição de 10h para
trabalhar na maioria das faces dos dentes. Esta posição é adotada porque também favorece o
deslocamento até o sugador e permite que ela segure a mangueira do mesmo a mantendo na
boca do paciente. Na foto da Figura 38, temse a visualização de um esquema gráfico
sobreposto ao consultório para facilitar esta análise.
Figura 38: Aplicação do esquema gráfico.
Para facilitar a análise serão seguidos alguns itens de orientação:
9h
10h
8h 4h
5h
2h
A
B
C
7h
11h 1h
3h
12h
6h
78
• Círculo A Nesta área o CD, o auxiliar bem como todo o material, instrumental e terminais de
equipamentos em uso devem estar presentes, pois esta área é considerada o espaço ideal de
pega. Neste caso, podese verificar que as pontas do equipo bem como os materiais da gaveta
que aparece aberta e que contém os materiais em uso estão fora deste espaço. Esta disposição
leva a CD a realizar inúmeras rotações do tronco para a direita para pegar as pontas do equipo
bem como materiais na gaveta.
• Círculo B Dentro desta área está o espaço máximo de pega.
Nela devem estar o corpo do equipo, o armário móvel e o sugador. As gavetas dos
armários quando abertas devem cair dentro deste círculo. No caso acima o corpo do equipo está
parcialmente posicionado dentro da área indicada como correta. Por outro lado o sugador com
seu dispositivo liga/desliga e a mangueira estão de acordo para um trabalho a quatro mãos, a
saber.
• Círculo C Nesta área devem estar a pia e o corpo dos armários fixos. Verificase que estes itens
estão praticamente dentro da área citada.
b) Os equipamentos
• Mocho Ø Os rodízios: durante as observações foi verificado que a CD realizava um grande
esforço para se deslocar com o mocho. Esta impressão foi confirmada pela profissional,
que rapidamente verificou os rodízios e constatou que eles não estavam em bom estado e
logo em seguida os substituiu por outros novos. A mudança dos rodízios trouxe uma
alteração da forma de trabalhar deixando a CD mais ágil e realizando deslocamentos
com uma grande redução do esforço. A mudança também teve uma repercussão nas
dores do cóccix que desapareceram em seguida.
Ø Medidas: em relação à altura do assento, ele está um pouco acima do ideal, pois a CD
possui 38 cm de distância do solo até a fossa poplítea (região posterior do joelho) e o
assento está a 46 cm. Esta diferença de altura leva a uma compressão da parte posterior
da coxa, o que compromete a circulação sanguínea. Segundo Barros (2006), a fossa
79
poplítea deve estar um pouco à frente da borda anterior do assento e neste caso ela se
encontra 16 cm além da borda quando bem posicionada no mocho (Figura 39).
Figura 39: Plano horizontal (elaborada pela autora).
Um outro fator que também colabora para dificultar a circulação sanguínea nesta região
é a extensão do joelho. Uma variação aceitável é de 90º a 120º. Na Figura 40 é possível
visualizar esta distância e a angulação excessiva do joelho esquerdo de 130º.
Figura 40: Compressão da parte inferior da coxa e angulação do joelho.
Ø Revestimento: foi observada que a CD procurava sempre se acomodar melhor no
mocho. Uma fala da profissional veio de encontro a esta observação:
16 cm
90º 120º aceitável
38 cm 68 cm
Plano hor izontal = 15 cm
130º
80
Não sei o que acontece, mas eu fico escorregando neste mocho. Deve haver algum
material antiderrapante para revestimento.
De fato o revestimento não é antiderrapante, mas esta situação está mais relacionada ao
tamanho do assento como foi visto e à regulagem do encosto que será falado em seguida.
Ø Regulagens: o mocho permite regulagens de altura do assento, no entanto esta altura
permanece sempre a mesma e não é ajustada de forma a não comprimir a coxa em sua
face posterior. O encosto também pode ser regulado no sentido de afastar e aproximar do
dorso. Foi constatado que o encosto encontrase muito próximo da coluna lombar de
forma a reduzir a área do assento e por conseqüência a área de contato da bacia com o
mocho e favorecer o escorregamento do qual a profissional se queixou anteriormente
(Figura 41).
Figura 41: Mocho vista lateral.
• Cadeira odontológica Ø Inclinação: a cadeira permite colocar o paciente na posição supina, pois sua
inclinação varia de 110º a 170º de flexão dos quadris (Figura 42). A angulação dos
joelhos é fixa em 160º o que não favorece um grande relaxamento do paciente quando
na posição deitado. Barros (2006) cita em seu trabalho os estudos de Lehmann que
identificou a posição que o corpo fica mais relaxado, ou seja, deitado com um ângulo
de 135º de flexão de joelhos e quadris e a cabeça no mesmo nível dos joelhos (Figura
43).
81
Figura 42: Angulações da cadeira odontológica em estudo.
Figura 43: Ângulos necessários para relaxamento máximo segundo Lehmann. Fonte: adaptado de Barros (2006).
Portanto, de acordo com este estudo, a cadeira do paciente não promove o relaxamento
total do paciente.
• Gaveteiro A CD faz uso deste gaveteiro em todas as sessões que realiza, mas não se utiliza da
parte superior do mesmo, tão pouco o movimenta sendo que é um armário móvel. Utiliza
todas as gavetas para guardar materiais e instrumentais e durante uma sessão, abre e fecha
muitas vezes as gavetas para procurar um item que necessita. Durante uma observação de uma
sessão de restauração fotopolimerizadora foram contabilizados 27 vezes a ocorrência deste
evento.
O gaveteiro em relação ao plano horizontal está dentro dos limites de tolerância
máxima, ou seja, altura do cotovelo + 15 cm. Neste caso, têmse: 68 + 15 = 83 cm para altura
máxima do plano horizontal. A parte superior do gaveteiro se encontra a 78 cm de altura e a
primeira gaveta a 71 cm, portanto, dentro desta zona de tolerância.
• Equipo Este equipamento é fundamental para o tratamento, pois traz nele os motores de alta e
baixa rotação bem como a seringa de jato de água e ar. Serve também de apoio para
instrumentais, materiais e para o manuseio dos mesmos.
quadril
135º
135º
joelho
joelho
quadril
170º
160º
82
Durante a observação verificouse a queda da caneta de alta rotação do suporte do
equipo algumas vezes. A CD afirmou que a braçadeira da caneta necessita de um ajuste para
que isto não ocorra, pois o custo de uma caneta é bastante elevado.
A área da bandeja, utilizada para o manuseio de material e de apoio possui 76 cm de
altura e a região de pega das canetas está a 66 cm de altura. Considerando um plano
horizontal de trabalho entre 68 e 83 cm, verificase que apenas a área de pega das canetas está
um pouco abaixo do ideal.
• Sugador O sugador é parte integrante da unidade do auxiliar, por isso fica situado à esquerda do
paciente (junto à cuspideira), local onde deve estar o auxiliar que trabalha com um CD destro.
No caso estudado, o sugador também se encontra à esquerda do paciente embora a CD
não possua auxiliar. Um outro fator agravante é o seu acionamento que além de estar situado
no próprio equipamento possui um dispositivo de liga e desliga giratório que ela utiliza
sempre com a mão esquerda fazendo movimentos de pronosupinação. É importante
relembrar que ela possui uma epicondilite esquerda. Observar destaque na Figura 44.
Figura 44: Posição de acionamento do sugador.
Portanto além da profissional ter que se deslocar até o sugador para pegar a mangueira
ela também precisa ir até ele para reposicionála, ligar e desligar o mesmo. Isto implica em
deslocamentos desnecessários, perda de tempo e comprometimento do membro superior
esquerdo, pois a CD abduz e flete o ombro para alcançar o dispositivo e realiza uma rotação
interna e externa de todo o membro superior.
83
4.1.3 As posturas
a. As posturas durante os procedimentos dos tratamentos
Em relação aos procedimentos para realizar os tratamentos, ela refere que eles não são
feitos de forma automática, pois uma atenção é necessária para executálos. Por isso a postura
durante a intervenção intrabucal se torna mais importante no que diz respeito ao grau de tensão
associado.
Segundo Finkbeiner (2000), existem alguns ângulos que devem ser respeitados para se
prevenir os DORT. Segundo a autora estes distúrbios aparecem quando estas angulações são
excessivas e mantidas por longos períodos. Ela cita três zonas de trabalho que estão destacadas
nas fotos da Figura 45.
• a primeira que é a aceitável (em verde);
• a segunda que é a zona comprometedora (em amarelo);
• e a terceira, a zona prejudicial.
Figura 45: Zonas de inclinação lateral e flexão do tronco.
A natureza do trabalho do CD requer a adoção de posturas longe do eixo central. Isto é
mais importante durante a intervenção intrabucal onde a tensão e a duração são fatores de
agravamento. No caso estudado, foram identificadas as posturaspadrão adotadas pela CD. O
Quadro 8 traz uma relação destas posturaspadrão, acompanhadas das fotos ilustrativas e das
doenças a que elas predispõem.
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Postur as Patologias Sinais e sintomas apr esentados pela CD
Cabeça e tr onco
Flexão
Inclinação
Síndrome
do
desfiladeiro
torácico.
Cefaléias freqüentes;
Contratura muscular em região de trapézios;
Lombalgia;
Coccialgia.
Rotação
Quadro 8: Posturas e patologias associadas (continua).
85
Postur as Patologias Sinais e sintomas apresentados pela CD
Membros super ior es
Flexão de ombro Epicondilite do cotovelo;
Síndrome do canal cubital;
Síndrome do pronador redondo;
Dor e contratura muscular em toda região de ombro
direito e esquerdo;
Epicondilite do cotovelo esquerdo.
Abdução de ombro
Tendinite do supraespinhoso; A abdução é mais acentuada no ombro esquerdo devido a
sustentação da mangueira do sugador ou uso de
outro instrumental com a mão esquerda. Esta posição favorece o
aparecimento da tendinite do supraespinhoso.
Flexão e pronação de cotovelo e punho
Tenossinovite de De Quervain.
Tenossinovite dos extensores
dos dedos.
Propensão a desenvolver a Tenossinovite de De Quervain por manter o
polegar em pinça enquanto segura o sugador.
Também para tenossinovite dos extensores por fixação antigravitacional do punho.
Quadro 8: Posturas e patologias (continua).
86
Posturas Patologias Sinais e sintomas apr esentados pela CD
Membros infer ior es
Extensão de joelho esquerdo Varizes Possui varizes discretas e
não refere dor no momento.
Quadro 8: Posturas e patologias
4.2 Diagnóstico
Nesta etapa, após haver percorrido o trajeto metodológico da AET, é possível elaborar
um diagnóstico para o caso. Para Guérin et al. (2001) o diagnóstico aponta os fatores a serem
considerados para permitir uma transformação da situação de trabalho. Segue então o
diagnóstico:
Independente do tratamento, encontramse presentes as posturas estáticas durante a
intervenção intrabucal, pois elas dão condições para focar o ponto a ser tratado e suporte para
aumentar a precisão manual. Este fato, associado à ausência de uma auxiliar, leva a CD a se
posicionar em 10h para que possa estar próxima ao sugador, segurar e manter a mangueira na
boca do paciente. Nesta posição a profissional necessita abduzir e fletir o ombro esquerdo para
posicionar o membro superior sobre a cabeça do paciente, realizar uma inclinação lateral direita
do tronco e da cabeça, bem como uma rotação desta última para a esquerda para obter a visão
direta da face do dente. Ligado a este fato, está o pequeno espaço existente entre a escrivaninha
e o apoio de cabeça da cadeira odontológica quando na posição supina, ou seja, 57 cm, o que
leva a utilizar uma inclinação menor da cadeira, pois necessita passar por trás da mesma com o
mocho para acessar o sugador. Esta situação é encontrada mesmo quando o paciente não possui
restrições físicas (labirintite, gravidez, senilidade, etc.), pois a análise demonstra ser o espaço
físico uma forte restrição que interfere no modo operatório. Associados a estes fatores existe a
organização do trabalho que leva a profissional a realizar inúmeros deslocamentos e
87
movimentos desnecessários para procurar o material desejado nos armários e gaveteiro,
provocando fadiga física. A CD faz um uso excessivo do balcão por conta desta organização.
Para desenvolver um trabalho tranqüilo e satisfatório, o bem estar do paciente é um fator
importante. Para se conseguir atingir este estado a profissional dedica uma sessão inteira para
avaliação de novos pacientes, esclarecimento do caso, orientação, formas de pagamento e
programação do número de sessões. Este primeiro contato diminui a expectativa do paciente e o
prepara para a próxima sessão na qual a CD utiliza de recursos como música ambiente calma
para o seu relaxamento.
88
5. Recomendações e conclusões
5.1 Recomendações A partir do estudo foi possível formular as recomendações necessárias para abordar o
caso. Algumas destas recomendações são básicas e outras específicas.
5.1.1 Horár ios A CD faz uma boa gestão de sua agenda, no entanto ela pode prever na mesma os
momentos para atualização de fichas e pausas para descanso. Os horários podem ser
flexibilizados e não necessariamente exatos.
Ela deve estar atenta para os dias onde estão previstos atendimentos mais desgastantes
como os de prótese dentária e prever um intervalo para descanso após a sessão, bem como
agendar no início da manhã ou da tarde, momento em que se encontra mais descansada.
5.1.2 Agendamento Para eliminar o incômodo de interrupções com telefonemas durante a sessão, um
treinamento para as secretárias externas ao consultório poderia ser eficaz na medida em que
elas tivessem conhecimento sobre os tipos de tratamento, tempo necessário para cada um
deles, agendamento de urgências, etc. Em caso de dúvidas as secretárias poderiam anotar o
recado e a profissional retornar a ligação em um intervalo programado para este fim,
preferencialmente na parte da tarde quando conta com a presença da auxiliar extrabucal. A
idéia é de que além de representar a profissional as secretárias filtrem as ligações, solicitando
a mesma somente quando for necessário.
5.1.3 Documentos
Apesar de organizados os documentos não estão fornecendo as estatísticas necessárias
a uma boa gestão financeira.
A introdução de uma estatística do número de sessões por mês, por tipo de tratamento,
idade de pacientes (crianças, adultos e idosos), casos especiais, casos de interrupção ou
abandono, número de orçamentos, lucro por tratamento poderá ser um importante fator de
decisão para a escolha de tratamentos a realizar segundo a relação custobenefício físico e
financeiro, bem como o direcionamento de investimentos futuros (equipamento, cursos de
formação, contratação de auxiliar intrabucal, etc.).
Em relação às fichas clínicas, a atualização diária é importante para que informações
não sejam esquecidas. Por isto, recomendase, além dos momentos destinados a este fim, o
89
uso de um gravador onde se possa registrar diariamente as informações e depois transcrevê
las para as fichas.
5.1.4 Mater iais O uso da autoclave deve ser priorizado para a esterilização dos materiais odontológicos
por se encontrar melhor localizada dentro do consultório em relação à estufa.
Os materiais devem estar distribuídos nas gavetas do gaveteiro móvel de acordo com a
freqüência de uso e tipo de tratamento, sendo que a 1ª. e a 2ª. gavetas devem ser eleitas para
os materiais de maior manuseio por estarem estas dentro do plano horizontal de ação. Em
seguida a 3ª. e 4ª. gavetas devem ser escolhidas nesta ordem para o armazenamento de
materiais menos utilizados mas necessários.
Quanto aos materiais que estão no armário alto, a primeira prateleira deve ser
destinada aos materiais necessários a maioria dos tratamentos.
Modificar o lado de abertura da porta da geladeira de forma que abra para a esquerda
facilitando desta forma o acesso aos produtos no seu interior.
Inserir uma luz direcionada sobre o equipo para facilitar a visão dos materiais que
manipula sobre ele e não necessitar deslocar o refletor.
5.1.5 Trabalho a duas mãos Adotar o verdadeiro conceito de trabalho a quatro mãos é sem dúvida uma solução
para redução do estresse e aumento da produtividade, no entanto as adequações para reduzir a
fadiga, a exposição aos riscos ocupacionais e para um trabalho a duas mãos dentro do
contexto atual são as seguintes:
Afastar a cadeira odontológica do balcão cerca de 30 cm de forma a aumentar o
espaço e permitir que acesse a geladeira ou o armário alto quando o equipo estiver
posicionado ao lado da cadeira.
Eliminar a escrivaninha de trás da cadeira odontológica.
Retirar o gaveteiro móvel debaixo do balcão e posicionálo atrás da cadeira
odontológica.
Adaptar um dispositivo liga e desliga do sugador junto ao equipo ou no pedal, bem
como um suporte para encaixar a mangueira do sugador junto ao equipo.
Reduzir o tamanho do fio do pedal.
90
Posicionar o equipo paralelamente a cadeira de forma que este fique com as pontas das
canetas voltadas para a CD.
Eliminar a cadeira do computador e adquirir um novo mocho que possa servir ao uso
esporádico do computador e a auxiliar extrabucal no período da tarde.
Fazer uso da inclinação total da cadeira quando não houver restrições para o paciente.
Tornar o paciente mais colaborativo durante a sessão de forma a solicitar mudanças da
posição da cabeça para melhorar a visibilidade das faces dos dentes e não realizar inclinações
excessivas do tronco e da cabeça.
Fazer uso de lupa própria para o trabalho odontológico para diminuir o esforço visual.
Por fim, iniciar um treinamento da auxiliar extrabucal para assistência intrabucal.
5.1.6 Equipamentos e mobiliár io Realizar manutenção preventiva dos equipamentos e mobiliário.
Trocar o revestimento do mocho por um material antiderrapante.
Regular o encosto do mocho de forma que fique para trás 5 cm e permita que a CD se
acomode melhor no assento.
Trocar os rodízios do gaveteiro.
Regular as gavetas do gaveteiro para que fiquem mais macias para abrir e fechar.
Ajustar a braçadeira do equipo correspondente à caneta de alta rotação.
Realizar uma revisão no compressor.
5.1.7 Quanto à formação de novos profissionais É extremamente importante que os conhecimentos ergonômicos sejam bem
sedimentados ainda durante a formação acadêmica. Um verdadeiro conceito de trabalho a
quatro mãos deveria ser introduzido desde a faculdade de forma que o aluno possa atuar como
auxiliar intrabucal e como CD. Acreditase que esta formação de base é de grande
importância para a verdadeira adoção deste conceito na vida profissional.
91
5.2 Conclusões Esta dissertação teve como um dos seus objetivos específicos fazer as recomendações
ergonômicas necessárias para o caso estudado. Este fim foi atingido, pois as recomendações
abrangem tanto as atividades extrabucais quanto as intrabucais favorecendo a adoção de
posturas mais adequadas, a redução da fadiga, a otimização do espaço, enfim abordam a
organização do trabalho de forma ampla e os aspectos biomecânicos.
Um outro objetivo específico foi de identificar as estratégias adotadas para reduzir os
constrangimentos no trabalho. Os constrangimentos identificados e as estratégias
correspondentes são apresentados no Quadro 9:
Constrangimentos Estratégias
Medo da dor Para ter controle sobre o medo da dor a CD precisa ter a confiança do paciente e respeitar o limiar desta dor durante uma intervenção. A conquista da confiança do paciente tem início no agendamento pela própria CD, passa pela sessão de uma hora que é destinada a consulta inicial e culmina com a realização do tratamento em si onde a profissional procura promover um ambiente descontr aído através da conversa e de música ambiente relaxante. Em relação à dor, ela estabelece inicialmente um código gestual (levantar a mão esquerda) para que o paciente avise quando sentir o menor incômodo. O paciente sabe que a CD está atenta em relação ao aparecimento da dor e que não irá abusar. Um pequeno descuido pode despertar este mecanismo de defesa do paciente e comprometer a confiança do mesmo na profissional.
Precisão manual Como a intervenção intrabucal requer uma precisão manual, a CD adota postur as estáticas. Para promover o próprio relaxamento durante e entre as sessões, a CD coloca música ambiente tr anqüila e anda pela clínica entr e as sessões par a se movimentar .
Perfeccionismo no atendimento
Para garantir a qualidade do atendimento desde o primeiro contato até a conclusão do tratamento, a CD faz questão de r ealizar o agendamento dos pacientes, função esta que poderia ser delegada às duas secretárias externas ou totalmente à auxiliar extra bucal no período da tarde sem comprometer ou interromper uma sessão.
Gerenciamento do Tempo
O período de uma hor a par a cada paciente ameniza a tensão, pois o tempo de procedimento pode sofrer variações de acordo com o tratamento e dificuldades encontradas no decorrer da sessão e comprometer o horário, o que agita em muito a profissional. Ela sabe que poderia realizar um maior número de tratamentos por dia, mas refere que o custo pessoal é muito alto e que prefere esperar a ser esperada.
Localização do sugador
O equipamento é projetado para um trabalho a quatro mãos para um CD destro. O sugador, portanto encontrase do lado esquerdo do paciente, local onde deve estar a auxiliar intrabucal. Neste caso para acionálo a CD se posiciona em 10 horas local onde pode intervir na boca, utilizar o equipo e o sugador.
Campo oper atór io restr ito
Atuar com precisão manual em uma faceta de um dente exige uma boa visualização do local. Para isso, a CD faz uso de uma lupa adaptada para a odontologia e da visão dir eta, pois refere que esta favorece a precisão manual.
Quadro 9: Constrangimentos e estratégias adotadas
92
O terceiro e último objetivo específico era de obter as referências necessárias que
evidenciarão a necessidade de se desenvolver e/ou aperfeiçoar instrumentos e equipamentos
que melhorem a qualidade de vida dos cirurgiõesdentistas. Neste estudo, foi possível
verificar que a posição sentada é a de menor gasto energético (4%) e a adoção de posturas
estáticas aumenta a precisão manual durante as intervenções intrabucais e favorece a precisão
visual. Para atender a estas condições necessárias ao atendimento, o mocho se torna um
elemento chave neste cenário, merecendo, portanto ser repensado de maneira a promover uma
postura mais ergonômica ao profissional com o objetivo de minimizar os efeitos indesejáveis
das posturas estáticas – os DORT. Alguns elementos foram identificados e merecem uma
reflexão para se repensar o conceito de assento ergonômico para o CD. São eles:
• Apoio lombar: para diminuir a tensão na musculatura da coluna vertebral;
• Apoio para membros superiores: para que os braços não fiquem suspensos;
• Estabilidade/aderência: para que não se deslize sobre o assento e sobre o solo durante
um procedimento;
• Mobilidade: para que favoreça o deslocamento quando necessário;
• Adaptabilidade: para que permita a variabilidade postural e a quebra do padrão
postural estático.
O objetivo geral desta dissertação era de estudar o posto de trabalho do cirurgião
dentista através da metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), visando construir
um ponto de vista da atividade desta profissão para a construção das recomendações
ergonômicas. A AET mostrouse um método bastante adequado para o estudo e compreensão
da atividade promovendo desta forma que as adequações atendessem às necessidades da CD.
Ao se conhecer as determinantes desta atividade, os constrangimentos e estratégias
adotados pela CD para amenizálos, bem como as doenças osteomusculares a que o
profissional se expõe, foi possível construir um ponto de vista desta profissão caracterizada
como:
• Estressante: por exigir um controle do medo da dor, não apenas por parte do paciente,
mas também por parte da CD que teme que ela apareça;
93
• Perfeccionista: pela busca do sucesso no tratamento e satisfação do paciente. O
desgaste proveniente da busca pela perfeição desde o agendamento até a manutenção da
clientela colabora ainda mais para o aumento de tensão já existente nas posturas estáticas;
• Restritiva: pela intervenção em pequena área, pela exigência de precisão manual e
visual, pela adoção de posturas estáticas, e pela questão econômica que priva o profissional de
ter sua equipe de auxiliares intra e extrabucais.
Estes três elementos também são encontrados na literatura. Por outro lado, a CD deste
estudo apresenta uma grande satisfação em ter escolhido a odontologia. Acreditase que a
satisfação profissional se dá através da realização de um procedimento bem feito e do controle
da dor e do medo. Esta é a gratificação que compensa o custo negativo inerente à atividade.
Tendo como base o conteúdo desta dissertação, seguem algumas sugestões para
trabalhos futuros:
• a simulação em software específico, como o Promodel, por exemplo, pode trazer uma
contribuição para a organização do trabalho;
• estudo do assento para o CD, no que diz respeito aos elementos mínimos necessários
para fornecer uma posição ergonômica;
• a formação acadêmica relativa à ergonomia odontológica e ao conceito de trabalho a 4
mãos;
• a análise ergonômica do trabalho da especialidade odontopediatria, por ser a criança
um paciente especial no que diz respeito a dor e ao tempo de tolerância à intervenção
intrabucal.
94
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98
ANEXO A – Análise Ergonômica do Trabalho
Atividade
Demanda
Abordagem global
Obser vação sistemática
Diagnóstico
99
ANEXO B – Esquema geral do método da análise ergonômica
Abordagem global Análise estrutural
Análise da Demanda
Análise da Atividade do Trabalho Observação global da atividade
Formação de um Pré diagnóstico Hipóteses
Definição de um plano de
observação
Obser vações sistemáticas Tratamento dos dados
Diagnóstico
Recomendações
Realização Validação
100
ANEXO C – Planilha para observação do tempo das ações