universidade do estado da bahia - uneb departamento de educaÇÃo – dedc i curso de ... ·...

111
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE PEDAGOGIA / GESTÃO José Tadeu Neris Mendes AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE: PRÓS E CONTRAS NA FALA DO PROFESSOR Salvador 2009

Upload: lyphuc

Post on 03-Dec-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEBDEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I

CURSO DE PEDAGOGIA / GESTÃO

José Tadeu Neris Mendes

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE: PRÓS E CONTRAS NA FALA DO PROFESSOR

Salvador2009

Page 2: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

2

José Tadeu Neris Mendes

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE: PRÓS E CONTRAS NA FALA DO PROFESSOR

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia com Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia/DEDC I, sob a orientação da Profª.Maria AlbaMachado Guedes Mello.

Salvador 2009

Page 3: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

3

FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEBBibliotecária : Jacira Almeida Mendes – CRB : 5/592

Mendes, José Tadeu Neris Avaliação de desempenho docente: prós e contras na fala do professor / José Tadeu Neris Mendes. – Salvador, 2009. 111f.

Orientadora: Maria Alba Machado Guedes Mello. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia . Campus I. 2009.

Contém referências e apêndices.

1. Professores - Avaliação. 2. Avaliação educacional. 3. Desempenho -Avaliação. I. Melo, Maria Alba Machado Guedes. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação.

CDD:370.71

Page 4: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

4

José Tadeu Neris Mendes

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE: PRÓS E CONTRAS NA FALA DO PROFESSOR

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Pedagogia – Licenciatura Plena, Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, sob a orientação da Profª.Maria Alba Machado Guedes Mello.

Salvador, de de 2009.

Orientadora:Profª. Maria Alba Machado Guedes Mello

Departamento de Educação UNEB/Campus I

Banca:Profª.Elisabete Santana

Departamento de Educação UNEB/Campus I

Profª Rilza CerqueiraDepartamento de Educação UNEB/Campus I

Page 5: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

5

Dedico este trabalho, para:

Minha mãe D. Lili, com todo o meu amor.

Aristina Nunes e Isabel Mendes, minhas avós (quanta saudade)

João Nery Lopes, meu avô, meu herói.

Elisangela, uma esposa e tanto. Inspiração cotidiana

Teresa Cristina, querida irmã. Motivação permanente.

Meus irmãos, Bosco e Lázaro, presenças constantes

Filipe, Lina, Lana, Lore e Zeca, filhos queridos.

Jaime Simões Gonçalves, amigo de todas as horas.

Venâncio Urbano Pereira da Costa Miranda, inesquecível amigo (Portuga, que falta).

Page 6: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

6

AGRADECIMENTOS

Ao Grande Geômetra, pela coragem e benção da vida.

Aos Mestres Ascensos, fontes perenes de sabedoria.

À Universidade do Estado da Bahia.

À Professora Alba Maria Machado Guedes, pelo apoio incondicional.

Aos professores da UNEB, Departamento de Educação/Campus I, especialmente Patrícia Magris, Elizabete Santana, Valdélio Silva, Waldemar Nobre, Otoniel Rocha, Rilza Cerqueira, Ana Célia da Silva, Maria Antonia Coutinho, Antonio Amorim, Lívia Britto e Fátima Urpia, por ampliarem a trilha durante a jornada.

Ao Professor Luiz Carlos Café da Silva, pelo incentivo.

A minha madrinha Florisbela Nunes, pelo carinho e apoio de todas as horas.

Às tias e tios queridos: Florizete Nunes, Olívia Mendes, Analice Nery, Armando Correia, Pedro Mendes, Joaquim Fernando Nunes, exemplos de vida e dignidade.

Aos primos Luciana e Cristiano; Isa e Juninho; Armando Nunes, Genildo e Ana, Gilberto e Gilcélia, pelos bons momentos.

Aos sobrinhos Catarina, Vinicius, Jaqueline, João Vitor, Júlia, Lucas, Marina, Nanda, Rafael, Gabi e João Pedro.

Aos inesquecíveis amigos Professor Manoel Barros Sobrinho, Sérgio Augusto Gomes Veloso Viana, Verônica Menezes Fahel e Professor Adelmar Linhares (in Memorian) exemplos de virtude e caráter.

Ao querido Carlos “China” Bastos, coerência e dignidade.

Ao mestre na senda, Antonio Letieres Leite – um Essênio entre nós –, pelos ensinamentos.

Aos professores das unidades onde estagiei: Pinto de Aguiar, Aliomar Baleeiro, Marcos Veronese.

Aos professores amigos: André Luís Vieira, Luis Augusto Santiago, VanúsiaCardeal, Nadege, Vera Teixeira, Graça Amaral.

Aos colegas da jornada, em especial Caio Vinicius, Luciene Jesus Soares (Bênção), Faraildes Lopes (Fará), Marilene (Mari), Antonio Reginaldo (Regi), Cristiano Agapito (Baêa), Evangivaldo Bispo (Ivan), Tatiane (Tati), Laedson (Mudo), Iberê Nascimento (Ibera, Sherek).

Aos amigos Jorge Couceiros, Delson A. dos Santos, Mário Félix e Odilon Sousa.

A professora Dacilda Oliveira Rios (in Memorian).

Ao professor José Luis Sampaio Pamponet (in Memorian).

E a todos os professores, que passaram em minha vida acadêmica.

Aos membros das Excelsas escolas.

A todos os professores.

Page 7: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

7

“Temos, todos que vivemos, uma vida que é vivida e outra que é pensada. E a única vida que temos é essa que é dividida entre a verdadeira e a errada”.

“Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Fernando Pessoa

Page 8: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

8

RESUMO

Esta pesquisa de caráter exploratório tem como principal objetivo investigar a percepção do professor da rede pública estadual de ensino sobre a Avaliação de Desempenho Docente. A principal questão da pesquisa é: Qual a percepção do professor da rede pública de ensino sobre os impactos da Avaliação de Desempenho Docente na sua atuação profissional? A discussão sobre o desempenho docente ocorre em dois momentos: o primeiro, através de uma extensa revisão bibliográfica; e o segundo, por meio da escuta de 60 professores/as da rede pública de ensino estadual na cidade do Salvador. Com a revisão bibliográfica constata-se que a idéia de avaliar é inerente ao ser humano, e à medida que as relações se tornam mais complexas esse ato ganha contornos específicos para cada situação, sobretudo no âmbito das organizações. No ambiente organizacional, o ato de avaliar integra o planejamento estratégico como preocupação em diagnosticar o mérito do desempenho das pessoas em suas funções específicas e obter feedback para enfrentar os cenários nos quais atua. Através do questionário estruturado aplicado junto aos/às professores/as no período de maio a agosto de 2009, foram construídas três categorias que indicam a percepção docente quanto: a dimensão política da avaliação do desempenho docente; o impacto da Avaliação de Desempenho Docente para a função do professor; as relações entre a Avaliação de Desempenho Docente e o sistema gestor da educação. Ao longo desta pesquisa a Avaliação de Desempenho Docente é tratada como uma possibilidade democrática para a construção de uma ética profissional, que demarque as funções do professor no exercício das suas atividades.

Palavras-chave: avaliação de desempenho – mérito – avaliação de desempenho docente –profissionalização – função docente

Page 9: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

9

ABSTRACT

This exploratory research has as main objective to investigate the perception of the teacher in state public education on the Evaluation of Teaching Performance. The main research question is: What is the perception of the teacher in the public education on the impacts Evaluation of Teaching Performance in your professional performance? The discussion of teacher performance occurs in two stages: first, through an extensive literature review, and second, by listening to 60 teachers from public schools statewide in the city of Salvador. With the literature review reveals that the idea of review is inherent to human beings, and as relationships become more complex this act takes shape for each individual situation, especially in the field of organizations. In organizational environment, the act of evaluating integrated strategic planning as a concern in diagnosing the merits of the performance of people in their specific functions and obtain feedback to deal with scenarios in which it operates. Through structured questionnaire applied to teachers from May to August 2009, were built three categories indicating the perception about teaching: the political dimension of teacher performance assessment, the impact of Teacher Performance Assessment for the teacher's role; relations between the Teaching Performance Assessment and the education system manager. Throughout this research the Teaching Performance Assessment is treated as a democratic possibility to build an ethic work, which demarcate the duties of the teacher in carrying out their activities.

Key-words: performance evaluation - merit - evaluation of teacher performance -professionalism - teaching function

Page 10: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

10

LISTA DE QUADROS, FIGURAS E GRÁFICOS

I. QUADROS

QUADRO 1 Evolução das teorias da administração e da avaliação de desempenho 20QUADRO 2 Métodos de avaliação de desempenho 22

QUADRO 3Avaliação de desempenho em cenário de conflitos – a concepção política/adaptativa da decisão

29

QUADRO 4 Dimensões da avaliação do desempenho 32

QUADRO 5Categorias e subcategorias de análise para a formação do planejamento estratégico

66

QUADRO 6 Efeitos da resistência à avaliação de desempenho 70

II. FIGURAS

FIGURA 1Modelos básicos para avaliação de desempenho a partir de decisão estratégica

26

FIGURA 2 Gestão política no processo do acoplamento estrutural. 39

FIGURA 3Dez formas distintas de relacionamento com diferentes parceiros para avaliação de desempenho emancipatória.

45

III. GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Sexo. 83GRÁFICO 2 Anos de atuação. 84GRÁFICO 3 Atua em outras unidades de ensino. 84GRÁFICO 4 Passou por algum processo de Avaliação de Desempenho Docente. 85GRÁFICO 5 Em que momento foi avaliado. 86GRÁFICO 6 Quem avaliou. 87GRÁFICO 7 Conhece instrumento que legitima a Avaliação de Desempenho Docente. 87GRÁFICO 8 Instrumento que valida a Avaliação de Desempenho Docente 88GRÁFICO 9 Intenção da Avaliação de Desempenho Docente. 89GRÁFICO 10 O que muda na escola a partir da Avaliação de Desempenho Docente. 90

GRÁFICO 11O que representa a implantação da Avaliação de Desempenho Docente na unidade de ensino.

90

GRÁFICO 12 Aspectos positivos da avaliação docente. 91GRÁFICO 13 Aspectos negativos da avaliação docente. 92GRÁFICO 14 Considera necessária a Avaliação de Desempenho Docente. 93

GRÁFICO 15A Avaliação do Desempenho Docente e melhoria da qualidade da ação do professor no processo ensino-aprendizagem.

93

GRÁFICO 16 Relação entre o trabalho docente, a avaliação docente e a gestão escolar. 95GRÁFICO 17 Fatores preponderantes ao bom desempenho docente. 95GRÁFICO 18 A avaliação docente atrelada a outros critérios inerentes à escola. 97

GRÁFICO 19Condições da escola que devem ser levadas em consideração no momento da Avaliação de Desempenho Docente.

98

GRÁFICO 20 Função docente. 99

GRÁFICO 21Elementos que devem ser levados em consideração para uma Avaliação de Desempenho Docente.

100

Page 11: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 161.1 CONCEITOS E BASES HISTÓRICAS 161.2 DISCUTINDO MODELOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 251.3 A QUEM INTERESSA E POR QUE AVALIAR 311.4 AVALIAÇAO DOCENTE E AVANÇOS DEMOCRÁTICOS NA

EDUCAÇÃO40

1.5 ASPECTOS POLÍTICOS E LEGAIS 45

2 TRABALHO DOCENTE E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 502.1 FUNÇÃO DOCENTE E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PROFISSÃO 512.1.1 Profissionalização 522.1.2 Formação do modelo de identidade docente x Profissionalização

docente55

2.1.3 Situação atual da função docente 582.2 AVALIAÇÃO DOCENTE E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 612.3 POR QUE A RESISTÊNCIA 702.4 ASPECTO MULTIDIMENSIONAL DA AVALIAÇÃO DOCENTE 74

3 O QUE PENSAM OS PROFESSORES SOBRE A AVALIAÇÃO DOCENTE

79

3.1 O PERCURSO DA PESQUISA 793.2 COM A PALAVRA O PROFESSOR 833.2.1 Caracterização dos Entrevistados 833.2.2 Dimensão Histórica e Política da Avaliação de Desempenho

Docente85

3.2.3 Compreensão do Impacto da Avaliação de Desempenho Docentepara a Função do Professor

88

3.2.4 Relação da Avaliação de Desempenho Docente e a questão doSistema Educacional

94

CONSIDERAÇÕES FINAIS 101

REFERÊNCIAS 105

APÊNDICES 109

Page 12: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

12

INTRODUÇÃO

O conteúdo desta pesquisa ganha contornos de pertinência num momento

em que a sociedade brasileira, contando com as divulgações nos meios de

comunicação, entrelaçam o resultado do trabalho docente com a qualidade da

educação oferecida. A análise obtida apresenta diagnóstico simplificado, pois não se

apega aos dados que apontam as inadequações das políticas públicas, ou mesmo

do conflito dialético (Capital x Trabalho; Educação x Aparelho Ideológico do Estado)

mas, um aspecto pontual se sobressai: a própria condição docente.

As respostas dos sindicatos de professores são reconhecidamente justas,

mas não agregam: lembram o látego e o chocalho, inseparáveis a promover o

barulho. Continuam avançando contra a corrente – da jusante para a nascente – do

problema da crise educacional e encontram as causas da discutível qualidade da

educação, nas condições de trabalho; nos poucos recursos e indisponibilidade de

tempo dos professores para formação continuada; na superlotação das salas de

aula; nas políticas públicas deficientes.

Não existe uma discussão quanto à responsabilidade, mas quanto a direitos

negados. E a situação esbarra no julgamento de méritos da legalidade. Essa

trajetória tem sido estéril para os avanços no sentido de definir realmente qual a

função do professor, qual a responsabilidade do professor, qual o papel da formação

profissional em toda essa situação da qualidade do ensino no Brasil.

A partir destas matrizes, pretende-se com a presente investigação ampliar a

importância da Avaliação de Desempenho Docente, tomando como base a fala do

professor, visto que as estratégias até então empreendidas não tiveram discussão

com a categoria para diagnosticar, com os supostos avaliados, as especificidades e

não incorrer em ações compulsórias que exijam num breve espaço de tempo em

correções de rumos, também providenciadas nos gabinetes dos gestores das

políticas públicas para a educação.

Page 13: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

13

As respostas do sistema, ocorrem na forma da intervenção estatal, como no

caso do processo de certificação docente, de caráter voluntarista, implementado

pelo Governo do Estado da Bahia, baseado no disposto pelo Sistema Nacional de

Certificação e Formação Continuada de Professores da Educação Básica distante

do que se pretende como Avaliação de Desempenho Docente que subsidie o

aperfeiçoamento coletivo da profissão e descambe para clarear as indefinições da

função docente – até o momento ora centrado no aluno, ora pendendo para a

aprendizagem – e estabeleça um código de ética profissional.

Esta pesquisa, desta forma, cria a expectativa de que a avaliação docente

poderá provocar movimentos que contribuirão para a ruptura dos modelos

tradicionais, velhos paradigmas da educação, que encaram a avaliação apenas

como uma medida autoritária de controle e possibilidade de manipulação, e

esquecem que essa pode alavancar posturas e atitudes de reflexão, emancipação e

autonomia profissional docente.

A Avaliação Docente pode-se constituir em um marco do planejamento

participativo dos profissionais da educação, que, em convivência democrática,

podem definir as bases para implantação de processos de avaliação dos

professores, como possibilidade emancipatória, ao proporcionar um feed-back que

permita ações indicativas para a consolidação de um planejamento estratégico e/ou

participativo da gestão educacional, referendando a ação emancipatória, edificante,

para o corpo docente, entendido num contínuo processo de (auto) formação.

Eis a crença que as mudanças decorrentes da Avaliação de Desempenho

Docente estarão diretamente relacionadas com a ampliação do compromisso

político, da formação técnica e compromisso ético profissional, que resulte na

melhoria da qualidade da escola.

Assim, a pesquisa busca responder: Qual a percepção do professor da rede

pública de ensino sobre os impactos da Avaliação de Desempenho Docente na sua

atuação profissional? E, para responder a este questionamento, traçou-se como

principal objetivo investigar a percepção do professor da rede pública de ensino

sobre a Avaliação de Desempenho Docente, através de algumas especificidades: a

contextualização da sua discussão, no âmbito das políticas públicas; identificação

Page 14: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

14

do que pensam os professores sobre o impacto da Avaliação do Desempenho

Docente nos processos pedagógicos das unidades de ensino (UEs); e também

identificar o que pensam os/as professores/as sobre o impacto da Avaliação do

Desempenho Docente na relação entre as instância gestoras do sistema estadual de

educação, na Bahia.

E para percorrer este caminho, definiu-se uma pesquisa de caráter

exploratório, tendo como principal instrumento um questionário estruturado aplicado

junto a 60 professores da rede pública de ensino estadual na cidade do Salvador, no

período de maio a agosto de 2009.

A exposição do trabalho está dividida em três capítulos assim distribuídos:

O primeiro traz à tona aspectos relacionados aos pressupostos teóricos da

avaliação de desempenho, enfatizando historicamente, a longevidade do ato de

avaliar e como as organizações adotam sistematicamente o processo de avaliação

para identificar suas potencialidades e corrigir os rumos estratégicos para sobreviver

em cenários turbulentos.

Este capítulo aborda ainda, a partir da evolução do quadro político em

cenários autoritários, a idéia da Avaliação de Desempenho Docente como uma

possibilidade democrática para incrementar a participação coletiva no sistema

educacional. Além de apresentar quadros que procuram elucidar alguns aspectos

teóricos sobre o tema, faz uma breve abordagem sobre os aspectos políticos e

legais, no Brasil, da realidade da Avaliação de Desempenho Docente.

No segundo capítulo é discutido o trabalho docente e a avaliação de

desempenho, com base na questão da necessidade tanto para as definições da

função docente com vistas à institucionalização da profissão – ainda incerta pela

quantidade de missões atribuídas às escolas – quanto pela ampliação democrática

do planejamento democrático.

A resistência à Avaliação do Desempenho Docente é tratada neste capítulo,

enfatizando a questão do mérito, ainda dúbio no cenário da gestão pública, pois

tradicionalmente é utilizado para agraciar os bem nascidos ou aos poucos

Page 15: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

15

privilegiados que, num “golpe” de sorte de encontram-se no lugar certo, na hora

certa e foram contemplados pelos benefícios do sistema.

Por fim, o último capítulo, faz uma síntese da percepção dos 60

professores/as entrevistados/as, que resultou em 21 gráficos analisados pela lente

de quatro categorias, elencadas para facilitar a compreensão de como esses atores

percebem a importância da Avaliação do Desempenho Docente: (1) perfil do

docente; (2) dimensão política da avaliação do desempenho docente; (3) impacto da

Avaliação de Desempenho Docente para a função do professor; (4) relações entre a

Avaliação de Desempenho Docente e o sistema gestor da educação.

O trabalho possui duas expectativas básicas: a primeira de ampliar a

polêmica sobre um tema que vem ganhando no cenário das políticas públicas – a

tanto em nível nacional quanto internacional – relevância, pois vem mobilizando, no

atual modelo neoliberal, tanto adeptos quanto céticos sobre a necessidade e/ou

importância da Avaliação de Desempenho Docente.

A segunda expectativa está ligada à condição de aluno que se beneficiou do

serviço público de ensino e acredita poder deixar uma parcela de contribuição

pessoal, com um trabalho que pode ser criticado, corrigido, modificado, alterado e

ampliado para melhorar a qualidade da função e da atuação docente.

De acordo com Gaston Bachelard, é através do esforço individual, que a

subjetividade atinge a transubjetividade, isto é, os desejos conscientes desvelam o

oculto e o homem ultrapassa à sua própria condição e passa a transformar.

Um dos principais ingredientes para a transformação é a capacidade de

avaliar e atingir o status subjetivo da consciência crítica. Assim, de seres avaliadores

marcos pela subjetividade – pois decidimos e a partir dessa condição é que fazemos

escolhas e tomamos decisões –, cabe-nos permitir o olhar de outrem, para nos

transformarmos e atingirmos a emancipação.

Page 16: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

16

1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

A avaliação é um fenômeno presente entre todos os seres humanos que

fazem escolhas, diante da existência de opções que permitam a confrontação. No

entanto, ela se faz mais complexa, à medida que as relações se tornam mais

imbricadas e surgem novas redes na trama que compõe a teia do sistema sócio-

econômico-histórico, no qual convivem e exige maior capacidade de refletir e tomar

decisões individuais, diferentes.

Antes de atingir o âmago do trabalho, este capítulo articulará conceitos

sobre a avaliação de desempenho de forma genérica, enfatizando as bases

históricas, a quem interessa avaliar e, por fim o sentido da Avaliação de

Desempenho Docente e a identificação de seus parâmetros políticos.

1.1 CONCEITOS E BASES HISTÓRICAS

Então se cumpriu o que foi dito por intermédio do profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas, de prata preço em que foi estimado aquele a quem alguns dos filhos de Israel avaliaram. (Evangelho, segundo Mateus – cap. 27; vers. 9)

Tomando como exemplo a Bíblia, pelo aspecto literário de antiguidade, para

a civilização ocidental, pode-se perceber que a prática de avaliar não é atual como

argumentam os que buscam no neoliberalismo as causas primeiras e últimas da

flexibilização das relações de trabalho na contemporaneidade.

Outra citação bíblica encontra-se no Livro de Êxodo (Cap. 18; vers. 13-27),

contendo um debate entre Moisés e seu sogro Jetro, a respeito da necessidade de

nomeação de auxiliares, já apontava vestígios do ato de ser humano avaliar de

outrem.

Page 17: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

17

[...] Não é bom o que fazes. Sem dúvidas desfalecerás, assim tu, como este povo que está contigo: pois isto é pesado demais para ti; tu só não o podes fazer. [...] Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta, chefes de dez, para que julguem este povo em todo tempo. [...] Escolheu Moisés homens capazes [...] e os constituiu por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, [...].

Nesta citação é possível perceber que Jetro avalia Moisés ao mencionar que

“Não é bom o que fazes” e sugere que procure “dentre o povo homens capazes”. Em

outro momento, o sogro sugere para Moisés que estabeleça comparações entre os

homens com o intuito de escolher, entre os seus pares, aqueles que, porventura,

poderiam atender às expectativas de Jetro.

Daquele período até a contemporaneidade, a avaliação evoluiu na proporção

dos avanços das exigências da dinâmica dos sistemas construídos, acima de tudo

com o propósito de servir como uma forma de retroinformação ao

procedimento de comportamento humano nas organizações.

Os estudos de Dias et al (2003) afiançam que no Brasil as primeiras

informações escritas sobre o tema podem ser encontradas na Constituição de 1824,

que decidiu como condição para o acesso aos cargos públicos o preenchimento de

alguns critérios: “Todo cidadão pode ser admitido aos cargos públicos civis, políticos

ou militares, sem outra diferença que não seja por talentos ou virtudes”.

(Constituição de 1824, artigo 179, item XIV). Portanto, estes requisitos “talento ou

virtudes” eram uma forma de avaliar o ingresso no setor público1.

No entanto, é no âmbito das organizações com o advento da revolução

industrial – e com mais critério a partir do século XIX – quando os avanços

tecnológicos, a urbanização e a produção em escala, dão o impulso para a

construção do que atualmente se concebe como globalização, que as corporações

sentiram a necessidade de formas de controle e regulação mais sofisticadas para

1 Não foram encontradas informações sobre os métodos de avaliação. É provável que a constatação da notoriedade de saberes era um dos pré-requisitos.

Page 18: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

18

mensurar as ações humanas, tanto no processo produtivo, como suas

necessidades, a fim de orientar o desempenho da capacidade instalada para suas

ações no mercado.

Avaliar, portanto, no âmbito das organizações lucrativas, significa buscar

posicionamento estratégico ante uma realidade e estabelecer vantagens

competitivas2 para o enfretamento da concorrência. Desta forma, graças à

engenharia, à contabilidade e à administração científica foram sendo criados,

desenvolvidos e aperfeiçoados os indicadores para avaliar e mensurar o

desempenho das pessoas e dos processos produtivos nas organizações.

Um dos pioneiros da administração científica, que estabeleceu práticas de

avaliar os operários foi Frederick Taylor3, dispensando atenção especial ao

desempenho do trabalho a fim de obter um aumento da produtividade para as

empresas, acreditando que existia uma “única maneira certa” de execução das

tarefas. Assim, em seus estudos, Taylor “surge com o “homem de primeira classe”

que deve servir como base para o estudo de tempos e movimentos”. (MOTTA, 1996,

p.7).

Depois de estabelecido os padrões de produção era necessário a seleção, o

treinamento, o controle por supervisão e a fixação de uma forma de incentivos para

que estes padrões fossem cumpridos.

À medida que evolui e torna-se complexo o processo de administração das

organizações, a avaliação na mesma proporção, passa a constituir-se em uma etapa

essencial no processo de gestão organizacional, para "conhecer a realidade,

compará-la com o que deveria ser, tomar conhecimento rápido das diversas

divergências e as suas origens e tomar as atitudes de correção" (MARTINS, 1996,

p.323), ou, ainda: de se ter um "mecanismo de reforço do comportamento positivo e

correção de rumo no caso de resultados não desejados", na visão de Gomes e

Salas (1997, p.22). Esse mecanismo necessita ser entendido como inerente ao 2 Para Michael Porter (1986), vantagens competitivas compreende o estabelecimentos de diferenciais e que por um longo período não poderão ser adotados pelos concorrentes.3 Frederick Winslow Taylor - Engenheiro americano. Criou um sistema de organização científica do trabalho que aprimorou a capacidade de produção a partir da união entre máquina e esforço humano. Suas teorias foram decisivas para o planejamento industrial moderno. Manufatura em oficina (1903), Princípios de administração científica (1911).

Page 19: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

19

funcionamento das organizações à medida que as mesmas possuem propósitos a

alcançar.

Ao estudar as pesquisas de Shigunov Neto (2000), Dias et al (2003),

identificam que a evolução do pensamento administrativo está dividida em sete

tipologias de abordagem e, cada uma delas possui peculiaridades próprias,

conforme o Quadro 1 abaixo:

Page 20: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

20

QUADRO 1 – EVOLUÇÃO DAS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

TIPOLOGIA DEABORDAGEM

BASES TEÓRICAS ÊNFASE ORGANIZACIONALAVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

I. CLÁSSICA Administração Científica de Taylor, com ênfase nas tarefas e a de Fayol4.

a) Estrutura organizacional;b) Racionalização do trabalho no nível operacional.

Ênfase as tarefas

II. HUMANÍSTICA

a) Teoria das Relações Humanas;b) Teoria do Comportamento Organizacional;c) Teoria do Desenvolvimento Organizacional;d) Estudos de Elton Mayo5.

a) Ambiente de trabalho.b) Estilos de Administração;c) Teoria das decisões.

Observa aspectos psicológico e ambiental por considerar que as condições de trabalho também eram fatores influenciadores no desempenho das pessoas.

III. NEOCLÁSSICA

a) Teoria Neoclássica da Administração, na qual se enfatizam os princípios clássicos da prática da administração, os resultados, os objetivos e o ecletismo; b) Administração por Objetivos, destacando a necessidade de estabelecimento de objetivos pelas partes envolvidas, bem como a elaboração de planos e metas.

a) Ambiente de trabalho e aspectos psicológicos para atingir metas. b) Organização formal;c) Funções do administrador.

Estabelecimento de metas e objetivos a serem cumpridos.

IV. ESTRUTURALISTA Teoria da Burocracia (Teoria Estruturalista)

a) Racionalidade organizacional;b) Múltipla abordagem: organização formal e informal;c) Motivação, liderança, comunicações e dinâmica de grupo;d) Mais voltada para a sociologia organizacional e as organizações de poder e liderança

Privilegiava a execução do trabalho e as condições organizacionais.

V. COMPORTAMENTALa) Teoria Comportamental (Behaviorista) b) Teoria do Desenvolvimento Organizacional

a) Enfatizavam as pessoas;b) Visava uma mudança planejada e estruturada da cultura organizacional;c) Integração dos objetivos organizacionais e individuais;d) Mudança organizacional planejada.

Considerava os aspectos psicológicos, a motivação, a organização, o ambiente e os grupos de trabalho.

VI. SISTÊMICA Teoria InterdisciplinarDivide-se nas fases da Cibernética, da Teoria da Matemática e da Teoria dos Sistemas.

Contemplavam os elementos da organização e do trabalho, minimizando a importância do homem nesse contexto.

VII. CONTINGENCIAL

Tem origem com as pesquisas de Chandler, Burns e Stalker, Woodward e Lawrence e Lorsch, sobre a Teoria da Contingência, considerando imperativos de ordem ambiental e tecnológico.

Encara a organização como um sistemaaberto que mantém relação com diversos sistemas internos e externos

Contemplavam aspectos das teorias tecnicistas e humanísticas

Fonte: Adaptado a partir de Dias et al (2003) e Chiavenato (2000)

4 Henry Fayol – Engenheiro e administrador francês. Pioneiro na racionalização do trabalho em administração, criador de um método que preconiza normas administrativas gerais, batizado em sua homenagem de fayolismo. Administração geral e industrial (1916). 5 George Elton Mayo – Psicólogo australiano. Estudou as relações dos trabalhadores com a empresa. Suas conclusões foram incorporadas à teoria da administração de empresas. Os problemas humanos de uma civilização industrial (1933).

Page 21: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

21

As informações contidas no quadro acima sintetizam como a avaliação de

desempenho foi evoluindo com o desenvolvimento de pesquisas associadas aos

processos de gestão empresarial, orientadas para identificar e avaliar a ação, o

desempenho, dos indivíduos no ambiente organizacional, possuindo conotações

diferentes ao longo da história da ciência da administração.

A partir do final da Segunda Guerra Mundial (1945), os sistemas de

avaliação apresentaram maior destaque e tornaram-se mais freqüentes, e, desde

então, verifica-se que, cada vez mais, as empresas vêm em busca de novos

modelos para adapta-los à sua realidade e ao mundo moderno, apresentando uma

grande tendência de sair do foco de apenas avaliar o desempenho para se

concentrar mais em gerenciá-lo.

Numa perspectiva mais simples “avaliação de desempenho é o processo

pelo qual as organizações avaliam o desempenho do empregado no cargo”.

(CHIAVENATO, 2000, p. 269).

Em termos de definições, os autores especializados no tema, pouco se

diferenciam; vejamos:

Avaliar é apreciar, estimar, fazer idéia de, ajuizar, criticar ou julgar. Desempenho é o comportamento real do empregado face a uma expectativa ou um padrão de comportamento estabelecido pela organização. Assim, avaliação de desempenho é a crítica que deve ser feita na defasagem existente no comportamento do empregado entre a expectativa de desempenho definida com a organização e o seu desempenho real. (SIQUEIRA, 2002, p. 56).

Avaliar quer dizer apreciar, medir, mensurar, julgar, comparar ou conferir. Avaliação, num sentido geral, significa apreciar um ser, situação ou atividade, considerando os fatores ou elementos que o constituem, atribuindo-lhe um “justo” valor. (XAVIER, RIBEIRO e FILHO, 1988, p.46).

O desempenho significa performance, resultado do trabalho ou atuação, que consideramos estar composto dos resultados (quantitativamente e qualitativos), da capacidade (conjunto do potencial, conhecimento e habilidades) e das atitudes. (BÖHMERWALD, 1996, p. 29).

Além disso, há pouca diferença entre as definições dos autores sobre

Page 22: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

22

avaliação e avaliação de desempenho e, dos tempos bíblicos, citado anteriormente

sobre a instrução de Jetro para Moisés, em analogia às concepções dos estudiosos

acima citados, há mínima divergência sobre o que é avaliar. Há em essência apenas

o tempo e as diferentes realidades que os separa, pois o que se pretende no ato de

avaliar é obtenção de informações, feedback, para observar identificar limitações e

equacionamento de problemas emergentes, tomar decisões.

Portanto, a avaliação de desempenho é responsabilidade permanente, que

deve estar presente em todas as etapas da formação das equipes nas organizações,

pois a sua complexidade e as conexões estabelecidas são dinâmicas, sistemáticas e

requer métodos cada vez mais elaborados.

QUADRO 2 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

CRITÉRIOPRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

FAVORÁVEIS DESFAVORÁVEIS

Auto-avaliação de desempenho

O próprio funcionário é o responsável pelo monitoramento do seu desempenho, auxiliado pelo seu superior através de parâmetros fornecidos sobre sua performance, eficiência e eficácia.

Propiciar a oportunidade de mútuo esclarecimento do empregado e seu superior, a reparação de muitos defeitos causados por distorções de percepção além de oportunizar uma grande interação subordinado-superior. É um processo de retroalimentação.

O fato de ocorrer atritos devido a divergências de opinião, principalmente se o avaliado for mais competente que seu superior.

Coletiva e Equipe de trabalho

A equipe avalia cada um de seus membros, definindo metas e objetivos.

É a auto-avaliação em equipe; permite que a equipe avalie seu gerente dentro das demandas esperadas deste, permitindo o intercâmbio ao inverso (subordinado-superior), alimentando uma relação mais participativa.

A avaliação no sentido inverso poderia desencadear efeitos indesejáveis, tais como enfraquecimento ou mesmo perda de autoridade.

Avaliação 360º

Esse processo baseia-se na utilização de fontes múltiplas, circular para fornecer feedback sobre as competências de uma pessoa, envolvendo suas habilidades, atributos pessoais, comportamentos e desempenho.

O desempenho é avaliado de forma circular, por todos que mantém interação com o avaliado, (supervisor, colegas, clientes (internos/externos), subordinados, pares e o próprio avaliado) num número mínimo de seis pessoas, produzindo-se assim, diferentes informações, enriquecendo de forma substancial o

A maioria das organizações ainda não consegue fazer o uso diferenciado da hierarquia e da autoridade para dar e receber feedback não-censurado.

Page 23: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

23

processo avaliativo ao vislumbrar as variadas demandas que o avaliado recebe do seu ambiente de trabalho, valorizando a participação democrática, a construção de um clima de abertura, franqueza e autenticidade na equipe.

Comissão de avaliação de desempenho

Consiste em uma comissão designada para esta finalidade, formada por pessoas de diferentes unidades organizacionais e com membros permanentes (presidente, diretores de RH) e transitórios (gerentes) que irão analisar e julgar o desempenho de todos os funcionários.

Participação ativa dos avaliados.

A comissão é um elemento externo ao relacionamento funcionário gerente, causando estranheza aos avaliados e podendo prejudicar a predisposição destes para a avaliação caso não venha a considerar os critérios de proximidade e conhecimento dos gerentes sobre os avaliados.

Concentrado no órgão de Recursos Humanos (RH)

A responsabilidade total pela avaliação é assumida por este órgão.

Participação ativa dos avaliados.

Trabalha no genérico, não tendo espaço para a singularidade de cada indivíduo, o que pode vir a provocar reações negativas.

Comparação simples

Constitui na construção de uma escala de graus predeterminados de desempenho, variando de ruim a ótimo, no qual cada subordinado é classificado de acordo o seu comportamento.

Indicadores conhecidos.

Não estabelece as regras da avaliação, ficando estas a cargo do avaliador, e possui grande subjetividade além de não ser pró-ativo.

Comparação aos pares ou binária.

O comportamento do funcionário A é comparado com o do B, do C e assim sucessivamente, quando este desempenho for melhor ganha um sinal + se pior leva o sinal - , após as avaliações soma-se +1 aos sinais positivos e obtêm-se o escalonamento das pessoas.

Indicadores conhecidos.

Não estabelece as regras da avaliação, ficando estas a cargo do avaliador, e possui grande subjetividade além de não ser pró-ativo.

Pesquisa de campo

Um especialista em avaliação entrevista as chefias para juntamente com estas avaliar os empregados, levantando as causas do desempenho.

Indicadores conhecidos.

Analisa se o comportamento humano e os fatos, não a pessoa. Esse método exige muito tempo e recursos humanos, o que limita o seu uso.

Técnica de incidentes críticos

Baseia-se nas características extremas que representam o desempenho, envolvendo uma lista de incidentes críticos de comportamentos efetivos e inefetivos no trabalho, não se preocupando com o comportamento normal, e sim com desempenhos excepcionalmente positivos ou negativos.

Indicadores estatísticos.

Onerosa e impopular ao se basear em medidas extremas e não no comportamento do dia-a-dia, o que impossibilita revelar a efetividade do desempenho.

Page 24: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

24

Escolha forçada

Consiste na distribuição forçada dos empregados em grupos predefinidos de desempenho. Esse modelo pressupõe a existência de uma curva normal de desempenho em uma organização existindo sempre aqueles que possuem desempenhos baixos, regulares e excelentes

Indicadores estatísticos.

Baseia-se no princípio de que a organização possui obrigatoriamente certa quantidade de pessoas ineficazes. Esse sistema não vislumbra o melhoramento e provoca distorções avaliativas.

Escalas gráficas

Este permite a avaliação do desempenho a partir de características pré-determinadas graduadas desde péssimo a excepcional. São escolhidos os fatores mais aplicáveis a um conjunto de cargos.

Muito comum no serviço público objetivava precipuamente a implantação dos critérios de promoção então definidos para os funcionários públicos federais, isto é, a promoção por merecimento e antiguidade.

Indicadores estatísticos.

Não permite flexibilidade por parte do avaliador, apresentar distorções de desempenho, se preocupar apenas com o passado não visando ações de melhoria e por colocar o avaliador no papel de juiz..

FONTE: Adaptado a partir de Pontes (1989), Chiavenato (1992), Reis (2000) e Siqueira (2002)

Dentre todas as perspectivas apresentadas, as mais eficientes são aquelas

que dão flexibilidade e liberdade para os sujeitos mais interessados na avaliação de

desempenho: subordinados e gerentes. Quanto maior o grau de interação, mais

reais serão os dados obtidos de eficiência na retroalimentação, proporcionando

resultados mais positivos. (SIQUEIRA, 2000).

Partindo deste pressuposto, Reis (2000, p. 51-52) destaca a importância do

feedback, por permitir “[...] identificar e discutir discrepâncias entre percepções

dentro de determinado grupo, buscando soluções de melhorias [...] no ambiente de

trabalho são um importante elemento no desenvolvimento profissional e pessoal,

contribuindo com a aquisição e o amadurecimento de habilidades e com a melhoria

de desempenho”.

Na busca por englobar critérios de equidade no processo avaliativo que

estimulem às pessoas, muitas organizações criam seus próprios sistemas

espelhando-se em métodos conhecidos e ajustando-o às suas características.

Page 25: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

25

Dentre os métodos existentes, o trabalho de Pontes (1989) destaca aqueles

considerados tradicionais como Comparação Simples, Comparação aos Pares ou

Binária, Pesquisa de Campo, Incidentes Críticos, Escolha Forçada e Escalas

Gráficas.

Os modelos tradicionais são geralmente burocratizados, rotineiros e

repetitivos. A avaliação funciona como fim e não como meio. São excludentes,

provocando uma sensação de julgamento com o processo de avaliação por

minimizar a participação do avaliado e não proporcionar feedback. Há também uma

limitação dos fatores de avaliação de desempenho, não proporcionando uma visão

global dos resultados.

1.2 DISCUTINDO MODELOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Para Miranda (2007) o problema básico para construir a avaliação de

desempenho encontra-se no modelo de decisão, adotado para sua implantação.

Estes modelos decisórios são influenciados pelas teorias da administração. As

teorias clássica, neoclássica e estruturalista possibilitam decisões racionais e

esperam que a avaliação de desempenho leve em conta o “homem economista” e o

“homem administrador” que procura trabalhar com o mundo real e buscar soluções

ótimas, portanto na área burocrática.

A teoria comportamental6, por sua vez, considera a representação moderna

da organização, um cenário de ambigüidades, incertezas e riscos, em ambientes

imperfeitos, exige modelos construtivistas, o que requer da avaliação de

desempenho um foco ampliado a partir de quatro pilares: o racionalismo, o

processualismo, o político e o ambíguo.

Então, organizando a proposição de modelos para o processo de avaliação

de desempenho, pela consideração dos dois grande modelos de processo decisório

(Construtivismo e Racionalismo) e também pela consideração das categorias de

6 Ver Quadro 1.

Page 26: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

26

processos de formação de estratégias (Concepcionais e Processuais), conforme as

idéias de Miranda (2007), quatro possibilidades podem ser aventadas, de acordo a

figura 1, baseada na matriz BCG7.

FIGURA 1 – Modelos básicos para avaliação de desempenho a partir de decisão estratégica

CO

NS

TR

UT

IVIS

MO

DE

CIS

ÓR

IOA

VA

LIA

ÇÃ

O C

OM

BA

SE

CO

NC

EP

CIO

NA

LIS

TA

Alt

os 3

Político/Adaptativo

4

Prescritivista/Construtivista

Bai

xos 1

Voluntarista

2

Racional/Burocrático

Baixos Altos

RACIONALISMO DECISÓRIO AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO PROCESSUALISTA

A partir dessa estruturação, com base nos estudos de Miranda (2007), fica

evidente a evolução do aprendizado8 em decisões estratégicas a partir da avaliação

de desempenho, do voluntarismo ao prescritivismo construtivista.

7 A matriz BCG foi criada pelo Boston Consulting Group (um grupo de consultoria da cidade de Boston, nos EUA), e organiza os negócios de uma organização em forma de matriz, com os vetores participação e crescimento da empresa. O eixo “y” define a participação em relação à concorrência e o eixo “x” está relacionado com o crescimento organizacional como um todo (Miranda, 2005).8 Duffy e Jonassen (1991, apud Miranda, 2005, p. 83) caracterizam a busca de aprendizagem não com o objetivo de fazer com que as pessoas saibam coisas, mas que saibam como fazer interpretações utilizando recursos desenvolvidos por elas mesmas.

Page 27: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

27

O primeiro modelo, com base na figura acima, é o voluntarista que

apresenta baixos níveis de racionalismo decisório/avaliação de desempenho

processualista; e baixo construtivismo decisório/avaliação de desempenho

concepcionalista.

Nesse modelo, os processos de decisão para a aplicação da avaliação de

desempenho, concentram-se em aspectos individuais, criando expectativa em torno

de um “grande cérebro”, um otimismo irresponsável, também se vale da intuição9,

que salva a organização dos seus enganos e erros até então cometidos, entretanto,

seus critérios de decisão além de idealistas e ideológicos, mostram-se bastante

restritos. Quando indagados para esclarecimentos mais aprofundados acerca do que

realmente estão propondo, sentem-se ofendidos e desprezados, reforçando a

imagem restrita dos seus argumentos.

O segundo modelo racional/burocrático é marcado por alto racionalismo

decisório/avaliação de desempenho processualista e baixo construtivismo decisório/

avaliação de desempenho concepcionalista. Nesse modelo a forma organizacional

que é a considerada característica das sociedades modernas é a

racional/burocrática.

A expressão “organização burocrática” refere-se a uma determinada organização formal, que dá um máximo de ênfase ao aspecto racional de sua organização, para garantir o máximo de eficiência técnica em relação aos fins prefixados, e que adquire certa prática rotinizada e ritualizada na execução dos papéis e das funções. (MIRANDA, 2005, p. 85)

A racionalidade contida nesse nível caracteriza as organizações pelos

objetivos que pretende atingir. E estes objetivos estão alicerçados na tecnologia e no

ambiente, que orientam as estruturas, os processos e o comportamento das

organizações. As decisões fluem a partir de informações rigorosamente analisadas

para obtenção de um diagnóstico e a avaliação de desempenho se dá a partir de um

diagnóstico para o atingimento dos objetivos organizacionais. A racionalidade

domina a vida e os destinos da organização.

9 A intuição compreende o ato ou capacidade de pressentir, conhecer alguma coisa por um canal diferente da razão. (PEREIRA; FONSECA, 1997).

Page 28: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

28

Esse modelo, de acordo com Miranda (2005), possui uma visão limitada de

objetivos calcados em parâmetros hierárquicos, tecnológicos, no ambiente onde

atua nos processos e comportamentos de competitividade, ou seja, “matematizam”

os problemas, tentando torná-los concretos, para estabelecer limites para melhor

controlar e dominar, por critérios de racionalidade, a vida e os destinos de uma

organização, com pressupostos quantificáveis e passa-se a ter uma visão

fragmentada, oferecida pelos atores envolvidos no processo.

O autor enfatiza que este racionalismo exacerbado, muito se assemelha ao

mito do “leito de Procusto”10, pois prevê soluções ótimas, tendendo à otimização

forçada de resultados. E o seu sucesso depende mais de uma anomalia, do acidente

adequado, do que do mérito da operacionalização do processo em si. As

conseqüências do fracasso, que é comum, exigem um constante recomeço e podem

ser vistas como o esforço do mito de Sísifo11. (MIRANDA, 2005).

O terceiro nível, denominado por Miranda (2007) de modelo

político/adaptativo apresenta um baixo racionalismo decisório/avaliação de

desempenho processualista e alto construtivismo decisório/ avaliação de

desempenho concepcionalista; faz exaltação ao “incrementalismo”, pela dispensa de

informações completas que permitam a compreensão macroambiental dos cenários,

como pela visão limitada para a escolha de alternativas que viabilizem o sucesso da

tomada de decisão e por extensão da avaliação de desempenho.

Nesse nível, predomina a parcialidade, tanto nas alternativas quanto nos

métodos para a decisão, optando pelo ensaio e erro, pela procrastinação, pelo

escalonamento, pelo fracionamento, ambigüidade, dubiedade e busca de

reversibiidade. Por outro lado, os gestores desempenham um papel mais político do

que administrativo; é um negociador, um mediador, que procura meios para

10 Personagem da mitologia grega que obrigava suas vítimas a deitarem-se num leito de ferro e cortava-lhes os pés, quando excediam o tamanho deste, ou esticava-os, quando não o atingiam. As pessoas deviam ficar na medida de seu leito.

11 Personagem da mitologia grega condenado a carregar uma enorme pedra montanha acima e ao atingir o cume, a pedra rola montanha abaixo e Sísifo recomeça a tarefa que dura para sempre. (BRANDÃO, 2002, Vol. I, p. 226)

Page 29: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

29

estabelecer ações viáveis para a organização e a busca da real utilidade para o seu

projeto em diversos modos de ação, e, por vezes, baseados em interesses próprios.

Neste modelo, o poder é difuso e mutável. Existe dualidade de controle e os

conflitos entre as autoridades administrativas são constantes. A decisão para o

processo de avaliação de desempenho, torna-se mais um jogo político, conforme

quadro 3, no qual o resultado depende da posição privilegiada de seus participantes.

QUADRO 3 – AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO EM CENÁRIO DE CONFLITOS – A CONCEPÇÃO POLÍTICA/ADAPTATIVA DA DECISÃO

CARACTERÍSTICAS IMPLICAÇÕES

Múltiplas, não-consensuais, baseados em interesses próprios.

Os atores têm interesses mais diversos, além de quaisquer objetivos mais altos.

Expressões dos próprios interesses dos atores. Sectarismo.

Consenso.

Sobrevivência dos mais preparados.

Construção de coalizões.

Arena para negociações.

Ratifica as propostas do bloco majoritário.

Provavelmente não desejadas por nenhum ator em particular.

Pouca ou nenhuma ligação causal entre objetivos e resultados.

Certificar e monitorar detalhes das escolhas. Compromisso geral com a escolha feita.

Conseqüências negociadas da escolha. Mudança nas condições organizacionais.

Mudanças relativas no poder do ator e nas condições organizacionais.

Depende das observações dos participantes.

FONTE: Adaptado de Miranda ( 2005, p. 90).

Vale lembrar que as organizações constituem-se em estruturas políticas e

operam pela distribuição de autoridade e pelo estabelecimento de um pacto para o

exercício do poder onde a influência de cada grupo é limitada pelos interesses e

atividades de outros grupos e que, ocasionalmente, reúnem-se para obter resultados

através de negociações. Isto significa que as organizações exigem esforço

cooperativo e compromisso com finalidades comuns.

Page 30: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

30

No entanto, percebe-se que o conflito de interesse existe entre as pessoas,

que, em última análise, compartilham um destino comum e das quais se espera um

trabalho em grupo. O que torna as ações mais políticas e menos ideológicas e

racionais, carecendo de construções permanentes de negociação para se

manterem.

O quarto nível compreende o modelo prescritivista/construtivista, que

possui alto racionalismo decisório/avaliação de desempenho processualista e alto

construtivismo decisório/avaliação de desempenho concepcionalista, representando

uma nova etapa para tornar o processo de apoio à tomada de decisão da avaliação

de desempenho uma ação interativa, com um maior envolvimento dos agentes para

a estruturação do problema, análise das questões a partir de hipóteses e variáveis

centradas numa realidade não apenas no plano concreto, mas levando em

consideração outros espaços e possibilidades que complementam a rede de

relações, o que permite ampliar e diversificar critérios de decisão e a

operacionalização processual da decisão. (MIRNADA, 2005).

Essa operacionalização para a construção de modelos de avaliação de

desempenho tem no processo evolutivo da Teoria Geral da Administração alguns

momentos característicos, dos quais vale salientar dois deles: o primeiro, no

contexto da escola tradicional, quando a avaliação do desempenho não possuía um

tratamento global dentro da administração, era um ato isolado, mecânico e

centralizado na avaliação do chefe.

O outro surgiu a partir das concepções behavioristas e das críticas que

buscaram uma adequação para uma construção em etapas, oferecendo uma

perspectiva mais humana, racional e participativa.

Mas, à medida que as organizações evoluem apresentam maior

necessidade de obter informações sobre os resultados para manter suas atividades

permanentes e as medidas de comparação que fornecem feed back, ou seja, as

avaliações de desempenho tornam-se mais sofisticadas para fazer modificações e

ajustamentos e saem dos muros das indústrias e alcançam empresas de outros

segmentos, inclusive do setor público, especialmente a partir da década de 1980.

Page 31: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

31

A ênfase no interesse em avaliar desempenho, de acordo com Drucker

(1995), dá-se como uma necessidade das organizações para conhecerem os

resultados previamente e estrategicamente planejados.

1.3 A QUEM INTERESSA E POR QUE AVALIAR

Como pode ser visto nas linhas anteriores, a avaliação é uma prática comum

na vida das pessoas, e, avaliação de desempenho é o resultado do desenvolvimento

das pesquisas e estudos sobre administração de recursos humanos desde o início

do século XX, seguindo diferentes padrões e evoluindo concomitantemente aos

avanços das técnicas administrativas utilizadas pelas organizações.

É importante salientar, no entanto, que em todas as fases da sociedade

humana, a presença das avaliações de desempenho se manteve associada à

conveniência do que assegurava a prosperidade. Assim, sabiam, quais objetos

materiais afetavam a prosperidade da sociedade e como as pessoas influenciavam

para tal. Prevalecia uma concepção de fomentar melhores desempenhos, pois

tinham o entendimento de que isso possibilitaria aumentos de valor.

Portanto, durante longo tempo, a avaliação de desempenho assumiu o

caráter de simples formalidade prescritiva, para auxiliar no processo de tomada de

decisões em busca de resultados imediatos; entretanto, atualmente, se tornou um

instrumento vital para a administração estratégica de recursos. (MIRANDA, 2007).

O grau de contribuição do empregado na execução de seus trabalhos, no

ambiente organizacional, pode ser identificado através da avaliação de desempenho

funcional, momento em que são comprados os resultados das ações praticadas pelo

mesmo com as expectativas da empresa. A partir das considerações de Matos

(1991), foi desenvolvido o quadro 4 a seguir, que exibe a dimensão e os requisitos

exigidos para a construção do processo de avaliação de desempenho.

Page 32: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

32

QUADRO 4 – DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO

DIMENSÃO REQUISITOS EXIGIDOS

Técnica Conhecimento e habilidades técnicas relacionadas à sua formação profissional.

Administrativa

Abrange os conhecimentos e habilidades nas funções de planejar, controlar e avaliar suas atividades profissionais, assim como propor de ações que venham a contribuir na melhoria do desenvolvimento do trabalho a fim de proporcionar um aumento da produtividade, a satisfação dos clientes e a utilização eficiente dos recursos necessários para o cumprimento das tarefas.

PsicossocialCorresponde às habilidades e atitudes pessoais no que tange aos aspectos relacionados com a emoção, criatividade, relacionamento, sensibilidade, motivação, dentre outros.

PolíticaRefere-se ao comportamento do empregado nas suas relações com o seu superior e colegas de trabalho, bem como nas questões relacionadas ao exercício do poder e nas articulações com outros setores.

Fonte: Elaborado a partir de Matos (1991).

O quadro acima representa a complexidade de variáveis que devem ser

levadas em conta na prática da avaliação de desempenho; por isso há uma espécie

de consenso entre os autores que discutem a questão da medição do desempenho,

associado aos propósitos organizacionais e os próprios fatores utilizados em todas

as fases da avaliação de desempenho.

Os processos avaliativos tornam-se mais recorrentes nos cenários de alta

concorrência, marcado pela turbulência dos mercados, pois este instrumento pode

auxiliar na tomada de decisões para o posicionamento estratégico. E, desta

condição cunhou-se o termo hipercompetição, para uma compreensão macro deste

ambiente de intensas mudanças, em que "concorrentes flexíveis, agressivos e

inovadores invadem o mercado, erodindo fácil e rapidamente, as vantagens de

protagonistas grandes e bem-situados". (D’AVENI, 1995, p.IX).

Schein (1982, p.6), ao tratar da questão das transformações e das

exigências que as organizações devem responder, apresenta como hipótese

subjacente para atendimento dessa demanda, o aspecto do "crescimento pessoal",

justificando que elas (as organizações) somente poderão mostrar-se eficientes para

enfrentar "um ambiente externo que sofre mudanças imprevisíveis" através do bom

desempenho das pessoas.

Page 33: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

33

Portanto, o desempenho das organizações não pode ser mais observado

exclusivamente sob o ângulo das finanças; e mesmo, no âmbito das organizações

estatais, também se requer outras formas de explicitar as realizações ou ações no

sentido de atendimento das metas. Por esse motivo, Teixeira e Santana (1995, p. 3)

ressaltam que há a necessidade de um aprofundamento da análise da administração

pública, para que se fuja das "abordagens superficiais que povoam as páginas das

publicações diárias".

Kaplan e Norton (1997) afirmam que, as organizações devem ser

observadas pelas suas relações com os clientes; pela forma como são

desenvolvidos seus processos internos; pelo "comportamento" das finanças e, ainda,

sob o aspecto do "aprendizado e crescimento". Propõem, em decorrência, um

instrumento de avaliação do desempenho organizacional que "traduz" as estratégias

sob o enfoque operacional (Balanced Scorecard). (grifo nosso)

A importância de avaliar também é defendida por Miranda (2007), ao

destacar que os processos formais de planejamento estratégico começam com uma

avaliação prospectiva do ambiente da organização, com base em cenários

alternativos, procurando antecipar descontinuidades relevantes e novas ameaças e

oportunidades. (grifo nosso)

Com base nesses elementos, e em uma avaliação das potencialidades e

limitações internas, são estabelecidos dois tipos de metas: de resultados de médio e

curto prazo e de desenvolvimento estratégico. Os programas e orçamentos de

operação orientam as unidades operacionais em sua atividade cotidiana de geração

de resultados enquanto que os programas e orçamentos estratégicos cuidam do

desenvolvimento do potencial futuro. Os respectivos controles são de natureza

completamente distinta um do outro. (grifo nosso)

Vale destacar, que existem autores que se opõem à avaliação de

desempenho e, surpreendentemente, um desses opositores é o guru dos programas

de qualidade no Japão, Edward Deming, por considerar o referido processo como

uma das cinco doenças fatais que atingem a administração. Barbosa (1996)

descreve que, segundo Deming, o sistema de avaliação de desempenho traz

resultados negativos porque se revela arbitrário e injusto, que desmoraliza os

Page 34: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

34

empregados, alimenta o desempenho imediatista, aniquila o trabalho em equipe,

estimula o medo e a mobilidade administrativa, já que as pessoas mal avaliadas

tendem a procurar outros empregos.

Em relação às considerações positivas, Barbosa (1996, p. 7) descreve:

[...] é francamente reconhecido que os sistemas de apuração ou avaliação do merecimento revelaram-se, no passado, acima de tudo, rudimentares e imperfeitos processos de apreciação e registro de aptidões e hábitos de trabalho [...] porém, que eles são preferíveis a julgamentos não escritos formulados individualmente pelos administradores, a administração de pessoal deve aceitar o desafio da situação e fazer por desenvolver instrumentos mais adequados e úteis. Acredito que, praticamente, experimentamos todos os tipos de sistemas de apuração de merecimento que apareceram. Nem um deles se revelou inteiramente satisfatório [...]

Merecem considerações também as análises de Siqueira (2002) a respeito das

divergências de opiniões acerca o processo de Avaliação de Desempenho e conclui que:

Compatibilizar a necessidade formal do sistema de avaliação de desempenho com a sua inevitável impossibilidade de aplicação sistemática no cotidiano é um desafio, mas esse objetivo não é inalcançável. Como muitas organizações de sucesso demonstram, é possível tornar a avaliação mais realista e operacional, e não mais obrigatória e determinativa. (SIQUEIRA, 2002, p.5).

[...] a solução para o problema de avaliação de desempenho não reside no fato de extingui-la, mas de modificar a maneira como ela vem sendo aplicada. (SIQUEIRA, 2002, p.8).

As dúvidas quanto à avaliação de desempenho não são novas e Siqueira

(2002) traz os comentários de Probst (1938), destacando que já naquela época

existiam discussões:

Apurar ou não o merecimento não é mais a questão. O essencial é como apurar o merecimento – como apurá-lo meticulosamente, facilmente, sem preconceitos e sem levantar antagonismo. (PROBST, 1938)

Portanto, não se pode negar avaliação de desempenho é uma incógnita para

muitos estudiosos, uma vez que algumas pesquisas vêm demonstrando resultados

não satisfatórios quanto à sua aplicabilidade, enquanto outras têm apresentado que

a mesma constitui uma poderosa ferramenta para conhecer o potencial dos

empregados, podendo ser utilizado o seu resultado para objetivos diversos.

Page 35: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

35

O maior entrave ao processo de avaliação, de acordo com Siqueira (2002), é

o mau avaliador:

Os programas de avaliação de desempenho implantados na maioria das organizações têm a sua legitimidade e validade contestadas porque enfocam essencialmente os detalhes técnicos e subestimam um fator que deveria ser alvo de maior preocupação: o avaliador. (SIQUEIRA, 2002, p. 62)

O papel do avaliar é significativo, pois se ele não tiver condições de avaliar

de maneira eficiente e eficaz, poderá gerar a insatisfação do avaliado e

comprometer o clima organizacional da empresa, a motivação, a produtividade,

gerando, dessa forma, uma reação em cadeia.

Portanto, ao avaliar o empregado, o avaliador deverá:

a) conhecer profundamente os cargos e as pessoas que avaliará;

b) ser imparcial;

c) fornecer feedback de forma regular e cuidadosa, ressaltando os pontos positivos,

apresentando os negativos por meio de demonstração de dados e colocando-se à

disposição do avaliado para a solução do problema. (SIQUEIRA, 2002).

As contribuições de Fraga e Nunes (2002) ao tema consideram que a

aplicação eficaz do processo de avaliação de desempenho poderá apresentar

vantagens tanto para empresa quanto para o funcionário.

No tocante à organização, com o uso desse recurso poderá identificar de um

lado o seu relacionamento com a sua cadeia de valor12 e por outro o grau de

contribuição do funcionário para a execução da meta estabelecida, planejar ações

para corrigir possíveis desvios apresentados, bem como o seu resultado poderá

servir como indicador para processos de treinamento, promoção, transferência de

funções ou setores, progressão salarial e carreira profissional.

Os funcionários, por sua vez, poderão:

12 A Cadeia de Valor de uma organização implica, portanto, no entendimento de sua relação com o ambiente interno e externo; num primeiro instante, suas atividades e processos e, noutra etapa, seus relacionamentos com os fornecedores e clientes.

Page 36: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

36

[...] identificar melhor as diretrizes da empresa, adaptando-se a elas, conhecer quais as expectativas de seu superior e as medidas por ele tomadas para corrigir distorções que eventualmente ocorram, e principalmente o funcionário tem oportunidade de crescimento e desenvolvimento dentro da empresa. (FRAGA e NUNES, 2002, p.12)

Siqueira (2002, p. 58) enumera algumas das aplicações das avaliações,

dentre outras, pode-se citar:

Identificação da diferenças individuais;

Estímulo à comunicação interpessoal;

Desenvolvimento do conceito de “equipe de dois”, formada por chefe e

subordinado;

Estímulo à identificação de problemas de trabalho em geral, no relacionamento

individual, intraequipe ou interequipes;

Registro histórico suplementar para ações administrativas de gestão;

Apoio às pesquisas de clima organizacional;

Estímulo ao desenvolvimento individual do avaliador e do avaliado;

Gestão de crises nas equipes e nos processos operacionais (sistemas técnico e

social);

Auxílio na verificação de aprendizagens.

Portanto, não obstante as críticas dirigidas à avaliação de desempenho,

essta prática apresenta-se de maneira cada vez mais constante na política de

Recursos Humanos das empresas, principalmente com o argumento de valorização

do indivíduo dentro das organizações, configura-se como uma importante ferramenta

para o desenvolvimento de pessoas e competências, um instrumento de grande

valia para o crescimento organizacional.

Contudo, para que a mesma venha a agregar valor tanto para organização

quanto para os seus funcionários, é fundamental que ela seja mais que um aparato

burocrático, ou que limite o desenvolvimento da consciência profissional com

aumentos salariais.

E dois outros autores (BERGAMINI, 1993; MIRANDA, 2007), com

argumentos favoráveis, entendem a importância estratégica da avaliação de

Page 37: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

37

desempenho. O primeiro atribui à fase em que se dá o planejamento da avaliação de

desempenho como a maior responsável pelo sucesso ou fracasso da mesma.

Miranda (2007, p. 49) considera importante a avaliação de desempenho pela

dinâmica e transitoriedade da realidade organizacional, que trabalha contra a

estratégia, “[...] pois a estratégia exige mudança e avaliação de desempenho e

conseqüentes ‘trocas compensatórias’, que são temidas, afinal se manter

conservador e não fazer mudanças poder ser preferível a arriscar ser punido por

uma má escolha”.

Nesse momento rompe-se com os paradigmas anteriores e ampliam-se os

debates e discussões no processo de tomada de decisão. Isto implica que agentes

da decisão constroem a avaliação de desempenho de forma criativa, considerando-o

sob todas as possibilidades de resolução, pois aprendem no próprio processo, visto

que o processo considera os valores concretos e abstratos, os aspectos qualitativos

e quantitativos, dotando assim, o modelo de alta concentração de interação,

recomendando nos resultados o constante monitoramento para atender os valores

estabelecidos.

Para Miranda (2007), a perspectiva da tomada de decisão para a avaliação

de desempenho, em sua versão construtivista, a princípio não permite que o

planejamento e as estratégias se esgotem na busca de dados, não se concentrem

na opinião de um agente, ou que devam ser produzidas apenas porque foram

solicitadas.

Ao contrário, a abordagem construtivista é um novo paradigma para a

construção da avaliação de desempenho que incorpora um método que privilegia a

democracia, um procedimento válido, legítimo e aceito pela comunidade dos

agentes envolvidos, e, de apresentar considerações válidas, consistentes e

coerentes, sem a pretensão de estar formando um axioma.

A cada momento de mudança significativa, no contexto de atuação das

organizações, são elaborados processos de avaliação de desempenho, para se

definir as decisões estratégicas de enfrentamento da nova realidade.

Page 38: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

38

[...] Para enfrentar descontinuidades, é preciso escolher as direções certas para o crescimento futuro, dentre muitas alternativas e saber como mobilizar as energias de um grande número de pessoas na nova direção escolhida. (ANSOFF e MAC DONNEL, 2003, p. 85).

Para o enfrentamento dessas mudanças a gestão rejeita os processos

lineares, verticais, causais e monolíticos e recorrem ao feed back, da avaliação de

desempenho construída a partir das redes de interrelacionamento, para a

formulação das decisões estratégicas, do planejamento, essenciais ao sucesso dos

investimentos estratégicos da gestão.

E, o setor público, para assegurar o sucesso da governança, também vem

definindo junto aos seus setores o posicionamento estratégico que deve orientar

suas ações, não mais baseado na lógica hierárquica de gestão.

[...] o Estado agora não é apenas produtor, mas ativador da produção de bens públicos abrange também as lógicas de gestão do setor privado e do terceiro setor; isto é, a concorrência e a negociação. Por isso, ele necessita de informações sobre o funcionamento, a lógica dos atores envolvidos dos outros setores. (TENÓRIO e VIEIRA, 2009, p. 30).

O centro dinâmico da política do Estado são as redes de informações, para

uma permanente avaliação, que acaba por configurar-se como uma atividade “[...]

que vislumbra a melhoria do processo, o aperfeiçoamento da gestão e prestação de

contas à sociedade” (TENÓRIO e VIEIRA, 2009, p. 32), produzindo uma gestão política de

acoplamento estrutural:

Page 39: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

39

A prestação de contas dá-se a partir do ciclo de ações sóciopolíticas,

conforme o diagrama acima, que aponta para uma realização sistemática e

continuada, como requisito para a permanência da produção de informações

necessárias à avaliação de impacto e de resultados.

O primeiro esboço de uma avaliação de desempenho surge a partir dos

Sistemas Nacionais de Avaliação Educacional do Ensino Superior (SINAES), que

em seu artigo 6º., atribui ao órgão colegiado, Comissão Nacional de Avaliação da

Educação Superior (Conaes), que articula processos avaliativos do desempenho dos

estudantes (Enade) dos cursos de graduação (ACG) e da avaliação das instituições

de ensino superior (Avalies).

Esse “mix de governança” (TENÓRIO e VIEIRA, 2009, p. 37), no entanto,

não contempla a plena prestação de contas à democracia, à sociedade e

responsabilidade social ao coletivo de professores, como instrumento de progressão

na carreira e regulamentação da profissão docente: a Avaliação de Desempenho

Docente.

Figura 2 - Gestão política no processo do acoplamento estrutural.

PERCEPÇÃO SOCIAL

DO

SISTEMA

COMPORTMENTO

SOCIAL

COMPROMETIMENTO

POLÍTICO

Fonte: Elaborado a partir de Tenório e Vieira, 2009.

Page 40: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

40

1.4 AVALIAÇAO DOCENTE E AVANÇOS DEMOCRÁTICOS NA EDUCAÇÃO

Ao longo das discussões, é possível perceber que as iniciativas

implementadas, toda ação construída pelo homem, em quaisquer dos campos de

sua intervenção, necessita de ser avaliada, bem como os agentes que dela participa

também são avaliados quanto ao nível de esforço desprendido, de modo mais ou

menos sistemático, a fim de que se verifique o equilíbrio e coerência entre o que foi

originalmente concebido e o resultado final.

A educação brasileira, até a década de 1970 – quando se vivia o ponto

áureo do milagre econômico, que dava sustentação à ditadura iniciada em 1964 –,

manteve-se “engessada” e “míope”, com dificuldades para refletir sobre si mesma, e,

naquele momento incapaz de perceber a abrangência dos seus limites no seu

contexto histórico.

Essa miopia conduzia as observações sobre a ação do professor – naqueles

dias – para a perspectiva herdada das influências da igreja que o mantinha como um

“sacerdote”, amparado por uma formação carregada de vícios tecnicistas “que

fizeram do professor meramente um “dador” de aulas [...] encarregado de decretar

os rumos de seus alunos como apenas num acerto de contas [...] aprovar ou

reprovar [...] gerir mecanismos de transmissão de conhecimentos”. (TASSO;

MACHADO, 2009, p. 4).

Com o processo de abertura e a incipiente democracia, começaram a surgir

as idéias daqueles que pensavam a educação em sua abrangência de sistema, sem

esquecer as engrenagens que a compunham. Destaca-se dentre os pensadores

Paulo Freire, que com uma vasta bibliografia, que não só criticava a ética dos

interesses do capitalismo como propunha novos métodos que valorizassem a

socialização dos menos favorecidos, a pesquisa dos professores e a curiosidade dos

alunos.

Freire (1992) convida à reflexão do compromisso profissional, e em outra

obra (1997, p. 11), destaca:

Page 41: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

41

A avaliação da prática da professora se impõe por duas razões. A primeira faz parte da própria natureza da prática, de qualquer prática. Quero dizer o seguinte: simplesmente toda prática coloca a seus sujeitos, de um lado, sua programação, de outro, sua avaliação permanente.

Programar e avaliar não são, contudo, momentos separados um à espera do outro. São momentos em permanentes relações.

A programação inicial de uma prática, às vezes, é refeita luz das primeiras avaliações que a prática sofre. Avaliar implica, quase sempre, reprogramar, retificar. A avaliação, por si mesmo, não se dá apenas no momento que nos parece o ser final de certa prática.

A segunda razão por que a avaliação se impõe está exatamente na necessidade que têm os seus sujeitos de, acompanhando passo a passo a ação dando-se, observar se seus objetivos estão por ser alcançados. Afinal, verificar se a prática está levando à concretização do sonho por causa do qual estamos praticando.

Neste sentido, a avaliação da prática é fator importante e indispensável à formação da educadora. Quase sempre, lamentavelmente, avaliamos a pessoa da professora e não sua prática. Avaliamos para punir e não para melhorar a ação dos sujeitos e não para formar.

Assim, a avaliação docente é necessária e deve ser continuada, e sob a

ótica freiriana é o momento da reflexão de carências, que descamba para as

condições de realizar uma auto-avaliação do seu desempenho em sala de aula.

Segundo esse autor, a avaliação da prática docente deve abranger todos os

componentes envolvidos no processo educativo, ou seja, deve estar dentro do

contexto onde o curso está inserido, tendo como objetivo levar a qualidade do

ensino.

E, quando se pensa em qualidade da educação, nos dias atuais, crucifica-se

o professor, como salienta Didonê et al (2007, p. 32), concordando porém que não é

correta a adoção da “[...] política do avestruz e achar que a culpa é só do aluno ou

do governo, que investe pouco em Educação”, visto que “[...] os dados da Unesco,

sobre o Brasil que gasta em torno de 4,3% do Produto Interno Bruto com Educação”

se aproxima dos percentuais adotados por muitos países desenvolvidos.

Page 42: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

42

Um dos motivos para os problemas com a qualidade da educação encontra-

se nas relações de trabalho, na forma como se dá processo de avaliação docente,

pois

[...] o tipo de contrato de trabalho que se estabelece entre o setor público e os profissionais da Educação, gerou um corporativismo na categoria impensável entre outros tipos de trabalhadores: Se o professor falta, não é punido no bolso e poucos têm coragem de discutir a culpa dele quando o aluno fracassa. Tudo é responsabilidade do sistema e ficamos por isso mesmo, (DIDONÊ, et al. 2007 p. 33).

Essa realidade é frequentemente destacada nos veículos de comunicação,

e, cada vez mais a sociedade solicita alguma medida avaliativa para o professorado.

Isto se dá de acordo com Freire (1997, p. 11) porque um dos equívocos associados

à avaliação docente “[...] está em como mecanicamente pomos a avaliação para o

final do processo”, como uma forma de punição.

Esta é uma herança autoritária, do voluntarismo tecnoburocrata, que

vislumbra, na crítica, o caos da autoridade, situação que precisa ser alterada, pois

não se aprende primeiro, para depois investigar, ao contrário, aprende-se

investigando.

Por esta razão é lamentável, nos processo de avaliação docente que seja

avaliada a figura do professor e não a sua prática. Essa situação é típica da

avaliação punitiva, o que não melhora a ação dos docentes envolvidos.

Acontece que o bom começo para unir a boa prática seria a avaliação do contexto em que ela se dará. A avaliação do contexto significa um reconhecimento do que vem nele ocorrendo, como e por quê. Neste sentido, esse pensar crítico sobre o contexto que implica avaliá-lo, precede a própria programação da intervenção que pretendemos exercer sobre ele, ao lado daqueles e daquelas com quem trabalharemos. (FREIRE, 1997, p. 12).

Essas idéias evocam a complexidade que envolve a Avaliação de

Desempenho Docente, pelas inúmeras variáveis sóciohistóricas do contexto onde

ocorrerá, ganhando assim contorno de compromisso político, pois não se trata de

algo do aqui e agora, mas de uma situação que extrapola ao momento da

intervenção.

Page 43: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

43

Tal condição é ratificada em Arroyo (2000, p. 46) que considera a avaliação

de desempenho funcional como “a capacidade de escuta sempre renovada”. Isto é

possível através do feedback, que alguns teóricos defendem como principal

motivação para o ato de avaliar pessoas nas organizações.

E, no caso específico da Avaliação do Desempenho Docente, pode ser uma

oportunidade de oferecer o feedback, que a sociedade, em tempos de democracia,

cobra dos organismos responsáveis pela educação no Brasil, para construir um

significado de coletividade, buscando um projeto maior de sociedade que atenda aos

interesses de todos os envolvidos: professores e população.

Este é o momento de destacar o poder da educação em várias instâncias:

órgãos governamentais que compõem o sistema de política educacional; a

sociedade; a família; os órgãos de representatividade dos docentes; dos gestores

educacionais; e dos próprios discentes.

Por essa razão, a avaliação docente não pode estar centrada na

quantificação e na verificação dos produtos finais, pois diz respeito a outros

subsetores, como a história da escola, a história dos docentes, a história da didática,

a história legislativa e da “vida interna” da escola, com suas regras, seus rituais,

seus delineamentos ligados à iniciação à vida social. (CAMBI, 1999).

Portanto, justificam-se as várias concepções que contestam as propostas

quantitativas de avaliação, por considerar “a educação como um processo tecnicista

[...] tem, como preocupação única, a comprovação do grau em que os objetivos

previamente estabelecidos foram alcançados”. (SAUL, 2006, p. 44).

Para contrapor-se a essa situação, deve-se analisar a avaliação docente sob

a perspectiva da democracia, que não pode ser ensinada, mas praticada. Essa

prática, por sua vez, requer a emancipação do processo avaliativo.

A avaliação emancipatória caracteriza-se como um processo de descrição, análise e crítica de uma dada realidade, visando transformá-la. Destina-se à avaliação de programas educacionais ou sociais. Ela está situada numa vertente político-pedagógica cujo interesse primordial é emancipador, ou seja, libertador, visando

Page 44: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

44

provocar a crítica, de modo a libertar o sujeito de condicionamentos deterministas. O compromisso principal desta avaliação é o de fazer com que as pessoas direta ou indiretamente envolvidas em uma ação educacional escrevam a sua "própria história" e gerem as suas próprias alternativas de ação. (SAUL, 2000, p. 61).

Portanto, a avaliação emancipatória, ao pretender atingir os objetivos do ato

educativo, necessita estar envolvida em decisões democráticas, pois existe um

caráter significativo de negociação entre os participantes do processo avaliativo,

impulsionando a autodeterminação e a busca de auto-aperfeiçoamento.

A Avaliação de Desempenho Docente constitui-se em um dos mecanismos de gestão do sistema de ensino e em instrumento de aperfeiçoamento das diretrizes político-eduacionais, tanto no nível da rede como o nível das escolas; propicia ainda o auto-conhecimento do professorado, contribuindo para o seu aperfeiçoamento profissional. (SANTANA, MELLO e BRANDÃO, 2006, p. 5).

A partir dessa perspectiva, a proposta da avaliação emancipatória associa-

se mais à realidade das unidades de ensino e das políticas públicas, sem se

contaminar com a burocracia governamental. Essa proximidade pode interferir na

condução do processo e transformar essa ação democrática em trabalhos

normativos e prescritivos, como a possibilidade desses mesmos órgãos

governamentais ditarem a agenda de pesquisa acadêmica.

Enfim, uma avaliação docente emancipatória passa, necessariamente, por

metodologias que privilegiem a participação crítica de todos os envolvidos: docentes,

discentes, gestores, funcionários, instância governamental.

De acordo com Santana, Mello e Brandão (2006, p. 5), é do processo

avaliativo docente, que podem surgir subsídios e informações capazes de orientar

“[...] procedimentos facilitadores do planejamento, coordenação e avaliação das

atividades”.

Com base na figura 3, abaixo, é possível perceber as instâncias envolvidas

na concepção/construção/prática da avaliação emancipatória, com o destaque que

este processo se manterá em permanente estado de avaliação, pois a sua

Page 45: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

45

estruturação em parcerias está permeada de um caráter democrático e ético não

apenas para operacionalização, mas para ser repensado e reinterpretado.

Figura 3 – Dez formas distintas de relacionamento com diferentes parceiros para

avaliação de desempenho emancipatória.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Sendo assim, a avaliação emancipatória requer a compreensão do todo da

instituição, podendo visualizar vários segmentos como o pedagógico e o estrutural,

como uma resposta à percepção social acerca do sistema (fig. 2), traduzido em ato

político, legal e legitimado pela categoria docente.

1.5 ASPECTOS POLÍTICOS E LEGAIS

O modelo da administração pública brasileira sempre esteve associada ao

autoritarismo patriarcal e posteriormente à tecnoburocracia. Características

monolíticas para atender aos ideais da dupla Estado Nacional e Elites Nacionais.

Page 46: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

46

Nesse contexto de cumplicidade patrimonialista13, as políticas para a

administração pública se manteve, atrelada mais à manutenção do status quo, do

que à busca de alternativas viáveis para o desenvolvimento e crescimento nacional.

Aliás, sempre interessou mais o crescimento que o próprio desenvolvimento, “[...] o

Brasil parece ter abandonado, ou talvez esquecido a idéia do desenvolvimento [...]”

(BRESSER PEREIRA, 2004, p. 12). Afinal, para haver desenvolvimento são

necessários ingredientes democráticos, que busquem – pelo menos minimamente

igualdade – para competências e habilidades estratégicas multifacetadas.

As argumentações de alguns autores (CUNHA, FERNANDES E FOSTER,

2003, p. 97) sobre as bases legais da Avaliação de Desempenho Docente, indicam

uma associação política através dos acordos firmados entre o governo brasileiros e

organismos de financiamento internacional da educação, a partir da segunda

metade dos anos 1980, com vistas “[...] à produtividade e universalização de

padrões de qualidade”.

Não devem ser desprezados os ares democráticos que a política brasileira

experimenta, pois a concepção de avaliação de desempenho envolve o desejo de

conhecer uma dada realidade produtiva, tanto de bens quanto de serviços, ação

pouco provável em governos autoritários, que prescrevem soluções a partir de

analistas de gabinete.

A dificuldade, a princípio, tem sido compreender a dialética que envolve o

modelo econômico pós-moderno, pautado nos princípios da globalização e por

extensão do neoliberalismo que requer Estados democráticos, flexíveis e

avaliadores, que se contraponham ao Estado-providência, autoritário e regulador.

Afinal, a marca da globalização é a desregulamentação e a flexibilidade.

Os Estados democráticos, muito embora se preocupem com a regulação,

também consideram os aspectos emancipatórios do indivíduo exigidos pelo

mercado, escamoteado por vezes como conquistas cidadãs. O que aflora a partir daí

é o aspecto das motivações, o desempenho meritocrático presente nas conquistas.

13 Patrimonialismo – forma de dominação política onde não há separação do público e privado.

Page 47: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

47

Essa meritocracia, observada de forma isolada pode ser constatada como

um ranço do pensamento autoritário, que encara o mérito como componente inato

às pessoas (predestinadas) ou conquista (de esforçados)14 e se estende também

para propostas de avaliação de desempenho, especialmente no setor público ali

recheado de um discurso tecnoburocrático.

Embora o discurso político e o da teoria de administração não deixem transparecer a complexidade do tema, é bom ter-se claro que meritocracia e avaliação de desempenho são temas extremamente polêmicos, não só no Brasil como em outros países, além de serem questões controversas para a teoria de administração moderna, tanto no âmbito do serviço público como no das empresas privadas.(BARBOSA, 1996, p. 60)

No entanto, em sociedades que buscam a democracia e declaram-se

igualitárias, adota-se como base a idéia de que os indivíduos, enquanto iguais, o

único instrumento capaz de diferenciá-los com relação ao ordenamento social, em

termos de status, é o desempenho individual.

No plano das organizações públicas regidas pelo ordenamento do Direito

Administrativo, as primeiras indicações da necessidade de avaliação de

desempenho são encontradas na Constituição de 1824, que recomenda a admissão

no serviço público daqueles que se diferenciam pelos “talentos” e “virtudes”.

A partir da década de 1990, o setor público brasileiro começou a

experimentar uma reforma para valorização profissional, centrada na avaliação

periódica do desempenho, para justificar a progressão na carreira.

A Emenda Constitucional 19/98, prevê procedimentos de avaliação periódica de desempenho na administração pública, podendo levar à

14

De acordo com as observações de Mello (2005) um dos defensores da meritocracia no Brasil foi o Isaías Alves, ex- Secretário da Educação na Bahia, entre 1938 e 1942, que a considerava não como algo inato, mas como uma conquista pelo esforço e empenho pessoal através da educação. Foi um dos pensadores que, durante o Estado Novo, contribuiu para a consolidação da Educação como um mecanismo de legitimação do Estado, articulando o ideário cristão à nova ordem ditatorial.

Page 48: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

48

exoneração de servidor estável que apresente desempenho insuficiente em processos sucessivos de avaliação. (ABREU; BALZANO, 2001, p. 219).

No âmbito do magistério público a LDB (9.394/96), esclarece:

Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: [...] IV -progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho [...]

Em outro documento jurídico, a Resolução n. 03/97do Conselho Nacional de

Educação (CNE), fica definido que

[...] as novas carreiras de magistério devem contemplar níveis de titulação e incentivos de progressão por qualificação do trabalho docente, entre os quais avaliação do desempenho no trabalho. (ABREU; BALZANO, 2001, p. 219).

As autoras destacam ainda que segundo o PNE “os planos de carreira para

o magistério devem assegurar promoção por mérito”. (ABREU; BALZANO, 2001, p.

219).

Diante da ausência de uma força política capaz de mediar a evolução

profissional do servidor público brasileiro e, por extensão, do professor das escolas

públicas, em tempos democráticos e neoliberais ainda próximos do autoritarismo –

que esteve presente em todas as etapas do processo de construção da sociedade

brasileira –, o único sistema aceitável até o momento é o “mérito”, que define

historicamente os talentos individuais no desempenho de tarefas e funções.

Isso significa que as pessoas são comparadas e classificadas tomando-se como base o desempenho relativo de cada uma, e que nenhum outro fator (relações pessoais e consangüíneas, poder econômico e político) pode ser levado em conta nesse processo

Page 49: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

49

classificatório, sob pena de invalidar a filosofia central de todo o sistema. (BARBOSA, 1996, p. 60).

O talento meritocrático, ao excluir os laços consangüíneos, de parentesco e

classe social e privilegiar o esforço individual, aparece como um modelo que

aparentemente oferece oportunidades. E, de acordo com Barbosa (1996), a

meritocracia apresenta-se como “uma exigência de uma sociedade democrática”,

pois num primeiro olhar garante a igualdade de oportunidades a todos os iguais.

A Avaliação de Desempenho Docente no Brasil, apresenta-se de forma

paradoxal, pois possui tanto um caráter prescrito quanto político adaptativo. O

primeiro aspecto pode ser observado no assentamento dos documentos legais do

sistema educacional como forma de aplicar a meritocracia. O caráter político

adaptativo não contextualiza o processo, o faz na “carona”; da “brisa” democrática

que despreza os desiguais e duplamente excludente, porque seleciona os

privilegiados e dentre esses são escolhidos os considerados melhores para liderar e

ocupar postos de destaque na hierarquia.

Page 50: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

50

2 TRABALHO DOCENTE E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

“Un día los intelectuales apolíticos de mi pais seráninterpelados por el hombre sencillo de nuestro pueblo

Se les preguntará sobre lo que hicieranCuando la patria se apagava lentamente

Como una hoguera dulce, pequeña y sola”(Otto René Castillo)

O trabalho do homem, de acordo com Hanna Arendt (2007), é um

componente que só faz sentido pleno, na sociedade contemporânea, quando atinge

as esferas da vida pública e privada do universo onde habita.

Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida do eremita em meio à natureza selvagem, é possível sem um mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a presença de outros seres humanos. [...] Um homem que trabalhasse e fabricasse e construísse um mundo habitado somente por ele mesmo não deixaria de ser um fabricador, mas não seria um homo faber teria perdido a sua qualidade especificamente humana e seria, antes, um deus – certamente não o criador, mas um demiurgo divino como Platão o descreveu em um dos seus mitos. (ARENDT, 2007, p. 31).

E, por essa razão vem sendo discutida e debatida ao longo dos anos,

notadamente a partir da década de 1980. Este capítulo concentra-se em destacar

duas razões principais para tais preocupações.

A primeira está associada às verdades compulsórias, do “ser” professor.

Essa percepção, elaborada historicamente, impõe à função do professor a condição

de missão sacerdotal, transmissora de conhecimentos e formadora moral, capaz de

responder a todas as questões que envolvem as relações do homem no planeta.

O papel docente sempre teve importância marcante nas sociedades.

Page 51: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

51

Fomos um dia o que alguma educação nos fez. E estaremos sendo, a cada momento de nossas vidas, o que fazemos com a educação que praticamos e o que os círculos de buscadores de saber com os quais nos envolvemos estão constantemente criando em nós e fazendo conosco. (BRANDÃO, 2000, p. 451).

Esta importância de certa forma forjou o ideário da vocação para ensinar, de

formar pessoas e construir uma via de mão única para a percepção da função

docente, colaborando em ampliar a crise da profissão docente: baixos salários que

obriga turnos exaustivos de trabalho para a sobrevivência, são exemplos visíveis.

A segunda preocupação deste capítulo concentra-se numa análise crítica,

pois foi a partir da contestação inicial a tal ideologia que surgiram os primeiros

estudos críticos da profissão docente, com os ares da democracia que rondavam o

Brasil, no início da década de 1980. E, sobre tal premissa Martín Martinez (1998, p.

15):

Como en toda proesión la excelencia es imposible sin vocación, pero la vocación por si misma no genera buenos profesionales. No se aprende a ser profesor o profesora en el simples ejercicio del desempeño.

Essas percepções, em época recente, no Brasil, ampliaram as discussões

sobre a importância do reconhecimento da profissão docente. Mas, enquanto

preocupação das políticas públicas em escala mundial é relativamente recente.

2.1 FUNÇÃO DOCENTE E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PROFISSÃO

Nas relações de trabalho os termos função, profissão e profissionalismo

parecem se confundir. No entanto, a terminologia função designa o exercício das

atribuições que o profissional desempenha.

Page 52: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

52

2.1.1 Profissionalização

As primeiras manifestações de organização profissional do trabalho

remontam à Idade Média através das corporações de ofício e das guildas, que na

verdade protegiam os interesses e mantinham os privilégios de artesãos e

comerciantes. (CATANI, 1997).

Em sentido estrito, as corporações reuniam apenas os artesãos, enquanto

as guildas constituíam formas mais diversificadas de associação, que abrangiam

comerciantes e mercadores.

De acordo com Catani (1997), estruturalmente ambas inspiraram-se no

modelo hierárquico das ordens religiosas, donde os aspectos de fraternidade ou

irmandade que apresentavam. O nome guilda deve-se ao fato de seus membros,

originalmente, efetuarem contribuições em espécie para mantê-las (um dos

significados de guilda é pagamento, compensação).

As guildas eram dirigidas por mestres, obrigatoriamente donos de oficinas ou lojas, e detentores de marcas de manufatura ou comércio. Abaixo dos mestres vinham os oficiais (isto é, os que já tinham ofício) ou jornaleiros, remunerados por jornada diária de trabalho e, por fim, os aprendizes. Para ser alçado a mestre, o candidato tinha de fazer uma "obra-mestra", que era julgada pelos mestres de sua guilda. Se aprovado, habilitava-se a abrir sua própria oficina. (CATANI, 1997, p. 96).

Essas observações indicam que mesmo naquelas estruturas de

trabalhadores já existia uma forma de avaliação do desempenho, para qualificar à

condição de mestre em um determinado ofício.

Tinha assim o início do conceito de profissão, que se ampliou segundo as

necessidades do estágio de desenvolvimento e do grau de divisão de trabalho de

uma sociedade determinada, adquiriu significado moderno a partir da revolução

industrial do século XVIII.

Page 53: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

53

O sentido ampliou-se e incorporou as atividades militares pagas e

permanentes. Na atualidade, a palavra tem sentido mais abrangente e inclui todas

as ocupações remuneradas que exigem treinamento e institucionalização.

A profissão, portanto é a atividade especializada – manual, técnica,

científica, artística – de cujo exercício o homem tira sua subsistência. No passado, a

expressão tinha uso restrito e referia-se especificamente ao exercício da medicina,

advocacia e sacerdócio, formas remuneradas de trabalho que não envolviam o

comércio e o esforço físico. (CATTANI, 1997)

A categoria “profissão” está associada à aquisição de conhecimentos para o

exercício de uma determinada atividade e constitui-se como uma conquista

individual e de reconhecimento público.

A formação profissional, na sua acepção mais ampla, designa todos os processos educativos que permitam, ao indivíduo, adquirir e desenvolver conhecimentos teóricos, técnicos e operacionais relacionados à produção de bens e serviços, quer esses processos sejam desenvolvidos nas escolas ou nas empresas. (CATANI, 2004, p. 94)

Para Savard (apud VEIGA et al, 2005, p. 24), as profissões possuem

algumas características gerais, como:

a) Especificidade, complexidade e atributos intelectuais;

b) Conhecimento especializado, com formação técnica e/ou universitária;

c) Exercício autônomo e responsável;

d) Componentes que formam um grupo coeso, regidos por uma ética e identidade

comuns ao conjunto dos profissionais.

O reconhecimento público da profissão dá-se basicamente, pelo aspecto da

autonomia e da representatividade colegiada. A autonomia está associada à

capacidade de tomar decisões, sem a intervenção e mediação de segmentos

externos.

Page 54: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

54

Profissionalismo, por sua vez, envolve as especificidades da profissão, isto é

“[...] a complexa variedade a que um profissional se deve submeter para

desempenhar o trabalho com dignidade, justiça e responsabilidade”. (VEIGA et al

2005, p. 27).

Dentre os atributos que distinguem uma profissão estão o saber

especializado, a aquisição de uma técnica ou arte, autonomia profissional e de

responsabilidade e a existência de uma organização que ateste a competência e fixe

as regras profissionais.

A regulamentação das profissões é realizada pelo Estado, que as organiza

de forma a não permitir o ingresso de pessoas não-habilitadas e transformar-lhes a

estrutura num sistema de categorias herméticas, que algumas vezes dificulta a

aplicação analógica das normas do direito do trabalho, se forem incompatíveis entre

si. (CATTANI, 1997).

Por sua vez, Veiga et al (2005) destacam que as profissões organizam-se

num sistema mais ou menos autônomo de ordens profissionais, constituído de

conselhos regionais e de um conselho federal, que fiscaliza o exercício da profissão,

controla-a, emite carteiras mediante registro e zela por seu código de ética. Desde

1891, as constituições brasileiras mostram interesse em salvaguardar a livre escolha

da atividade profissional. A constituição de 1988 determina: "É assegurado a todos o

livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização

de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei." (VEIGA et al, 2005, p. 29).

O que chama atenção, com relação ao segmento educação é a

complexidade que envolve a função docente. Historicamente, existe a compreensão

de que a principal atividade do professor é ensinar.

Mas, vale lembrar que o termo “ensinar”, em termos educacionais evoca dois

aspectos fundamentais: o tradicional que aponta para a transmissão de saberes

disciplinares, verticalizada; e a perspectiva pedagógica transitiva e processual,

situada num dado contexto sóciohistórico, em permanente construção.

Page 55: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

55

2.1.2 Formação do modelo de identidade docente x Profissionalismo docente

Historicamente, Gusdorf (2003) destaca a importância do professor e a

forma como construiu uma identidade centrada na hierarquia do saber; e descreve a

sua experiência pessoal: no momento da entrada do professor numa sala de aula

enfatiza o estabelecimento de uma hierarquia, pois ali “[...] se faz o silêncio e os

alunos ficam de pé por um instante [...] A palavra do professor abre um campo de

possibilidades indefinidas”. (GUSDORF, 2003, p. 40-41).

Nesse modelo aristotélico da relação professor-aluno, onde o magister fala

palavras quase sagradas para uma platéia silenciosa, que escuta.

A maior parte dos cidadãos se sente sempre, diante de seu professor primário, como que de volta à infância, e qualquer verdade saída de sua boca tem mais ou menos valor de catecismo. (GUSDORF, 2003, p. 43).

Essa identidade docente construída historicamente com o aval da Igreja e

mantida pelo Estado não impediu a existência do desejo da profissão docente, como

consta dos escritos de Comênio, Lutero, Erasmo de Roterdã e com mais ênfase a

partir do fim do século XVII. (VEIGA et al, 2005).

Dentre os fatores apontados como impedimento para a profissionalização do

professor, destacam-se a feminização e a dificuldade em promover a formação de

uma identidade funcional de caráter sócio-histórico-político diante dos diferentes

papéis atribuídos à figura do professor, pois muitos fazeres e saberes fazem parte

do seu universo. (grifos nosso).

Quanto ao primeiro argumento, Cunha et al (2005, p. 10) enfatiza esta

situação destacando que “[...] se tomarmos a estrutura de poder social, é evidente

que profissões com contingentes profissionais femininos se fragilizam e ficam mais

débeis na sua condição”.

Page 56: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

56

No tocante à identidade, trata-se de uma expressão subjetiva, apreendida

“[...] através da representação de si mesmo”, constituindo-se uma palavra

polissêmica pelas múltiplas possibilidades como “[...] sistema de representações

diversas”. (CATTANI, 1997, p. 127).

Essas representações identitárias, por sua vez, são constituídas de

personagens que se conservam, se sucedem e coexistem, como um conjunto de

aparência única, como na composição dos quadros ocupacionais de várias

categorias – que representam coletivos diversos – e reconhecidas como profissão.

A formação da identidade docente, de acordo com Veiga et al (2005), contou

com a ingerência de dois segmentos basilares: primeiramente da Igreja e

posteriormente do Estado. Assim, a identidade do professor, historicamente atrelada

às influências externas.

Contrariamente a outros grupos profissionais, os docentes não codificaram jamais, de maneira formal, um conjunto de regras deontológicas. Isto se explica por duas razões: primo, comportamento ético lhes foi ditado do exterior, em princípio pela Igreja, depois pelo Estado; secundo, estas duas instituições exerceram, uma após a outra o papel de mediadores da profissão docente, tanto em suas relações internas quanto nas externas (NÓVOA, apud VEIGA et al, 2005, p. 23).

A mediação da Igreja e depois do Estado e grupos representativos das elites

têm embaçado a construção de uma identidade profissional docente, especialmente

porque ao longo da trajetória das lutas e conquistas políticas dos professores, até

hoje não se conseguiu estabelecer a regulamentação ética que fornece o código que

identifica e regulamenta a função docente, condição comum ao conjunto dos

profissionais.

Essa ausência de identidade profissional repercute nas condições de

trabalho do professor, pois

Page 57: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

57

[...] o rótulo profissão é utilizado para identificar um grupo altamente formado, competente, especializado e dedicado, que corresponde efetiva e eficientemente à confiança pública. (VEIGA et al, 2005, p. 24).

Essa visão não se adapta, de pronto, aos professores, visto que esses

(apesar da perspectiva sacerdotal que os identifica conforme a conveniência política)

ainda contam com o anseio social – construído pelo Estado – a da condição de

portadores de competências adquiridas no processo de formação, como se

estivessem sendo preparados para a produção de bens em escala industrial.

No campo da formação dos profissionais da educação, estamos vivenciando o que poderíamos configurar como o retorno às concepções tecnicistas e pragmatistas da década de 1970, agora em um patamar mais avançado, deslocando o referencial da qualificação do emprego – qualificação profissional – para a qualificação do indivíduo – em que a concepção neoliberal de competência tem levado a centrar os processos de formação no desenvolvimento de competências comportamentais. (FREITAS, 2004, p. 1097).

Diante dessa idéia, percebe-se que a expectativa de construção de

identidade e profissionalização dos professores, possui um apelo ideológico à

medida que, diante do dinamismo do capitalismo e das mutações sociais advindas,

requer novas representações tanto no interior do sistema educativo, quanto na

atuação docente.

Essa situação é o que Abraham (1986) denomina de “labirinto” que forma ao

redor dos professores. Um labirinto que representa os tortuosos percursos que os

docentes transitam. Em alguns momentos com vários rumos para escolher, em

outros sem perspectiva alguma de rumo a tomar.

Essa analogia ao labirinto, demonstra as possibilidades de becos sem saída

e de ilusões, que mantêm os professores sem uma bússola para orientação. E,

porventura quando são apresentadas, surgem como características gerais que

confunde o docente às profissões liberais, como se fosse possível consolidar uma

Page 58: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

58

identidade por analogia direta, uma mediação que despreza as construções

históricas existentes.

2.1.3 Situação atual da função docente

Foi a secularização da escola que possibilitou ao professor uma situação de

privilégio junto à sociedade e a afirmação de uma autoridade na perspectiva de uma

pedagogia respeitável, onde o aluno era convidado a aprender aquilo que deveria

saber. O bom aluno era aquele que se destacava na repetição e imitação do seu

mestre.

Esse pensamento deu subsídios a uma das teses mais aceitas pelos

regimes autoritários, para manter a condição disciplinar e, no Brasil, autores como

Oliveira Viana, que defendiam o modelo conservador, acreditavam na escola como

organização institucional e no professor como seu principal agente, para a

preparação e educação da sociedade brasileira no sentido da verdadeira

democracia. (MEDEIROS, 1978).

No entanto, dialeticamente, a condição da função do professor modifica-se

com o sucesso do capitalismo, fundado no mecanismo das ciências e dos saberes,

na fragmentação do conhecimento e, por extensão, da atividade do trabalhador.

O capitalismo também legará uma formação docente alicerçada nos

mesmos moldes, pois tem por base a especialização “estilhaçada” e a instituição de

ensino representante do sistema educacional que trata do currículo como uma

receita e o mantém em “grade”, preso, inflexível e hermético.

E, para atender às mudanças da nova realidade, de avanços tecnológicos, o

sistema educacional modifica-se e a escola requer um profissional da educação

subordinado à autoridade de organizações burocráticas, públicas ou privadas,

perdendo assim a condição de determinar os objetivos do seu trabalho.

Page 59: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

59

Assim, os professores são imersos no labirinto citado por Abraham (1987) e

passam a ser comparados como os profissionais de linha, da produção industrial. E

a competência, socialmente reconhecida, passa a ser avaliada pela capacidade do

cumprimento de tarefas burocráticas e aplicação dos conteúdos curriculares no

prazo definido pelo calendário das jornadas e das unidades de ensino, do ano letivo.

A burocratização do trabalho docente está inserida nesse panorama dentro de uma nova ordem da divisão social do trabalho, as decisões mais importantes da ação educativa estão a cargo de especialistas e do poder central restando, aos professores, as tarefas de aplicação das políticas previamente definidas. Os problemas pedagógicos se transformam em problemas técnicos, cuja solução exige o concurso de pessoas especializadas, entre as quais não figuram os professores. A burocratização do trabalho facilmente caminha para uma forma de controle também burocrático da atividade educativa. (CUNHA, 2005, p. 8).

Essa situação produz o confronto com o exercício da profissão, dar aulas no

passado não era mais difícil, nem mais fácil do que hoje, à medida que a profissão

docente nunca foi fácil e sempre encerrou dificuldades.

Entretanto, há uma série de problemas da educação e tensões do mundo

atual que interferem na escola, na organização curricular e no trabalho dos

professores, tais como a multiplicidade de papéis, a burocratização, a indisciplina e

violência que se agravam. Apesar desses complicadores, há aspectos que hoje são

melhores, tais como a orientação que antes era precária e a facilidade de recursos

didáticos, bibliográficos e audiovisuais. (VILA, 1998).

As melhorias, no entanto, não superam o processo denominado por Arroyo

(2009) de “repolitização da avaliação”. Este termo sintetiza as ações de política do

Estado, em nível nacional, de avaliar as escolas públicas, e, por extensão os

coletivos populares ali representados (professores, alunos, gestores, famílias) e

definir parâmetros de desenvolvimento nacional.

Para o autor, são “[...] estes coletivos “sócio-étnico-raciais”, dos campos e

periferias urbanas que estiveram sob o olhar avaliativo, sob desconfiança enquanto

não provarem o contrário”. (ARROYO, 2009, p. 6).

Page 60: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

60

Ainda Arroyo (2009) lembra que os resultados do processo da avaliação não

são individuais, são agregados ao coletivo ao qual pertencem, “uma perversa

comparação dos desiguais entre eles”. São escolas de pontos diferentes do país,

professores do norte versus professores do sul, que são classificados de forma que

fere a qualquer princípio ético e convertidos em vergonha nacional.

Esse refinamento político de avaliar revela outra face de uma democracia à

moda brasileira, que cria leis e não assegura os direitos nelas contidos, que

regurgita um discurso liberal e ainda promove políticas públicas que ampliam a

saída do funil para a exclusão. (ARROYO, 2009)

A educação e os professores devem estar preparados para atender aos

anseios do pensamento autoritário e meritocrático, como pode ser visto na fala de

Francisco de Campos, na década de 1930, mas tão contemporânea aos anseios das

elites:

A verdadeira educação concentra o seu interesse antes sobre os processos de aquisição do que sobre o objeto que eles têm em vista [...] o desequilíbrio existente entre a nossa já intensa vida econômica e a ausência de uma educação adequada [...] o nosso ensino é destituído de cunho técnico e profissional sendo mais um ensino literário e livresco, sem conexão com as realidades. (MEDEIROS, 1978, p. 21)

Assim, foi erguida nas bases sólidas do pensamento autoritário e

conservador, a construção das políticas públicas no Brasil, carentes de um

planejamento crítico e de avaliação sistemática que considere a cadeia/coletividade

envolvida no processo.

Deu-se o contrário: as avaliações são pessoais, lineares e identificam

apenas os aspectos positivos e negativos, para classificar e mensurar, mascarando

o desempenho, que descarta outras variáveis, existentes em um planejamento

estratégico democrático participativo.

Page 61: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

61

2.2 AVALIAÇÃO DOCENTE E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

A tríade estratégia, planejamento e avaliação são os componentes

essenciais à eficiência e eficácia do processo de gestão empresarial, para o

atingimento de objetivos. De acordo com Porter (1986), se a estratégia consiste na

busca deliberada para atingir os objetivos previamente definidos pelo planejamento,

a avaliação do esforço para desempenho do planejado é a amálgama da tríade.

Mas, dos três elementos, o planejamento é o fio condutor que orienta e determina a

intensidade e qualidade das ações estratégicas.

E para Miranda (2007, p. 36), o

[...] planejamento estratégico e avaliação de desempenho, compreende o elixir da sobrevivência para as organizações no atual mundo globalizado, turbulento, flexível, no qual erros estratégicos e decisões monolíticas não têm espaço [...].

Pensar estrategicamente significa basear-se nos sistemas e nas redes de

relacionamentos existentes, para permitir o estudo da redefinição das ações

estratégicas, buscando aperfeiçoamentos. Em outras palavras, significa também

escolher o que não fazer.

Pode-se, por fim, observar que o planejamento estratégico envolve uma

abordagem construtivista e tem as seguintes características básicas: participação,

organização do pensamento, partilhamento do conhecimento e geração de

mudanças.

A opção do poder público no Brasil, para planejar as suas ações, inclusive a

educação foi o caminho contrário. Adotou-se um padrão de idéias para intervir, nas

quais não pode haver lugar para proposições que incluem processos avaliativos,

nem das etapas nem do produto final.

Esta exclusão é o resultado da evolução do Estado brasileiro, que de acordo

com Bresser-Pereira (1977), pode ser dividida em três fases básicas: o Estado

Oligárquico, de 1822 a 1930; o Estado Populista, até 1964; e o Estado

Page 62: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

62

Tecnoburocrático-Capitalista, a partir dessa data. A este respeito Faoro (1975) faz

análises sobre o Brasil usando fundamentos de Max Weber no que se refere ao

“patrimonialismo”15 e “estamento”16.

Em todas estas etapas foi marcante a ausência de uma força política e

mesmo de um grupo social de destaque para mediar a evolução sócio-econômica do

Brasil. O único agente presente foi o Estado, “subordinado aos objetivos do

capitalismo” que assume a condição de “facilitar o processo de acumulação, motor

do desenvolvimento capitalista”. (BRESSER-PEREIRA, 1981).

No processo de desenvolvimento o Estado brasileiro, são fartamente

conhecidas e constituem, talvez, exemplo mais visível desse intervencionismo, as

manipulações do planejamento desenvolvimentista, financiado pelo setor público,

para atender aos interesses privados.

E, o período ditatorial de 1964 a 1985, pode ser considerado um exemplo

dos mais marcantes, especialmente no tocante à educação, quando se constata o

crescimento numérico da categoria docente, por um lado e por outro o arrocho

salarial a que foi submetida. (FERREIRA JÚNIOR; BITTAR, 2006).

Para uma sociedade que tinha por base ideológica a perspectiva

modernizadora, pela via do autoritarismo, esses fatores associados, ganham

contornos claros do conflito dialético, pois por um lado torna-se a maior categoria

profissional do país, e, por outro, confere-lhe uma identidade de oposição ao regime.

Vale salientar, no entanto, que no período denominado por Bresser-Pereira

de “estado populista, até 1964”, no curto período do governo João Goulart,

vislumbra-se a busca de um planejamento de bases democráticas para a educação,

como possibilidade de fortalecer a identidade docente, detalhado no Plano Nacional

de Educação, inclusive no que se refere ao processo de profissionalização docente,

contendo no seu planejamento metas quantitativas e qualitativas para serem

atingidas até 1970, inclusive normas prevendo a distribuição de recursos dos fundos

nacionais de educação.

15 Patrimonialismo – forma de dominação política onde não há separação do público e privado.16 Estamento – estrato social.

Page 63: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

63

A parte relativa à educação do plano de desenvolvimento do governo João Goulart – detalhada no Plano Trienal de Educação –, além de estabelecer objetivos para o ensino primário, médio e superior, previa os recursos financeiros e a assistência técnica necessários à implantação de programas de construções de prédios escolares e de recuperação e aperfeiçoamento do magistério. Para promover esta “recuperação e aperfeiçoamento”, o Plano anunciava a necessidade de formação dos professores supervisores, profissionais responsáveis por acompanhar e colaborar no treinamento de até dez professores leigos em seus locais de trabalho.17 A preparação dos professores supervisores ficaria sob responsabilidade dos Centros de Treinamento do Magistério que seriam colocados em funcionamento em diversos pontos do país.18 (FERREIRA, 2009, p. 5).

A autora destaca nesse processo o apoio de Anísio Teixeira – então

dirigente da CAPES (Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)

e do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) – , ao Plano Trienal de

Goulart:

As escolas serão o que forem os seus professores. Nada menos que quarenta Centros de Treinamento do Magistério projeta instituir o governo federal nos próximos oito anos. E talvez dezoito, nos próximos três anos. Tais centros serão centros de demonstração, com escolas primárias de alto nível, em que, pelo método de aprendizado, farão a sua formação, melhor diria, seu tirocínio, os professores dos professores brasileiros. Cada um destes professores de alto nível será um supervisor, que tomará a seu cargo aperfeiçoar cinco ou dez professores comuns. Deste modo, partindo de um bom padrão, tentaremos generalizar este bom padrão. (TEIXEIRA, 1963, apud FERREIRA, 2009, p. 5).

A súmula dos cursos para supervisores, enunciava os objetivos, bem como o

seu conteúdo:

O objetivo desses cursos é dotar o País de um grupo de professores capazes de orientar regentes leigos do magistério primário, já em

17 Conforme explica o Plano Trienal de Educação, o magistério primário distribuía-se em três grupos: as normalistas, diplomadas no segundo ciclo do nível médio, os regentes de ensino, diplomados no primeiro ciclo do nível médio, e os chamados “leigos”, sem formação regular e provindos, em sua maioria, da escola primária (BRASIL, 1963, apud FERREIRA, 2009, p. 5).18 Estava prevista a entrada em funcionamento, até 1965, de Centros de Treinamento do Magistério em São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo, Ceará, Alagoas, Maranhão, Pará, Paraíba e Brasília (BRASIL, 1963, p. 15).

Page 64: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

64

exercício, em localidades que não dispõem de professores diplomados em número suficiente para atender ao total de crianças em idade escolar. Essa preparação a ser realizada em 06 meses, compreende:

a) o estudo dos objetivos da escola primária, como instituição essencialmente educativa;

b) conhecimento de novas técnicas de ensino, inclusive recursos audiovisuais;

c) elaboração de programa de aperfeiçoamento do magistério de acordo com as necessidades individuais e as necessidades sócio-econômicas das regiões por ele atendida;

d) análise e prática da função de Supervisor e elaboração de planos de supervisão a serem realizados nas localidades onde os bolsistas deverão trabalhar, orientando, pelo menos, 10 professores não diplomados.

O currículo do Curso compreende: Fundamentos da Educação, Currículo e Supervisão, Linguagem, Matemática, Estudos Sociais e Ciências Naturais, Recreação e Jogos, Arte Infantil, Artes Industriais e Música na Escola Primária e a parte prática recebe especial ênfase (PINHO, apud FERREIRA, 2009, p. 5).

Os ideários democráticos de Goulart e a possibilidade de profissionalização

docente no país, esbarraram no desmantelamento do Estado de direito que

construiu a ditadura militar, o que deu lugar, de acordo com Bresser-Pereira, ao

fortalecimento da presença da tecnoburocracia como aliada da produção capitalista,

um modelo que, embora dominante ainda não se apresentava de forma pura no

Brasil19. Este capitalismo industrial incipiente, que caracteriza a formação social

brasileira está marcado por claros traços tecnoburocráticos, como também em todas

as etapas da evolução econômica brasileira e a característica comum que as une é

a dependência:

[...] No Estado Oligárquico a dependência ocorre nos quadros da divisão internacional do trabalho e do imperialismo via comércio internacional. O Estado Populista corresponde a um período de crise e de reestruturação do sistema capitalista central. O Estado Tecnoburocrático está marcado pela nova dependência tecnológica, através das empresas multinacionais manufatureiras, que se

19 A este respeito, Campos (1996, p. 206) afirma: “O capitalismo nunca existiu no Brasil [...] somos um país pré-capitalista ou até mesmo anti-capitalista [...] Somos uma sociedade patrimonialista [...]”.

Page 65: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

65

instalam no País principalmente a partir dos anos 50. (BRESSER-PEREIRA, 1981).

Assim, aquela categoria pequena, oriunda das camadas média e mesmo da

elite, não afeita à organização sindical, passarão a se constituir, “especialmente os

do primário e secundário”, do ponto de vista do trabalho assalariado, os “proletários

das profissões liberais”. (MILLS, 1979, apud FERREIRA JÚNIOR; BITTAR, 2006, p.

1162).

Planejamento democrático e avaliação docente, num primeiro momento podem

parecer distantes e dicotômicos. Porém, se observados como complementos que

assegurem a participação de interessados num determinado processo, pode-se inverter

aquela impressão.

No ambiente das organizações, para enfrentar as constantes mudanças, o

planejamento estratégico é construído coletivamente, visto que vem sendo adotado para

auxiliar todos os processos de gestão, pois o ponto focal da estratégia é o fortalecimento

da missão, que conduz as organizações a definirem e mensurarem seus objetivos de

desempenho estratégico e controlar o seu atingimento. (MIRANDA 2007).

Miranda (2007) também destaca que a busca do planejamento estratégico

participativo resulta da incapacidade dos velhos modelos de administração não

conseguirem adequar-se de forma unívoca à complexa e descontínua realidade dos

cenários, permeado por rupturas.

[...] Para enfrentar descontinuidades, é preciso escolher as direções certas para o crescimento futuro, dentre muitas alternativas e saber como mobilizar as energias de um grande número de pessoas na nova direção escolhida. A resposta a essas questões representa a essência da formulação estratégica. Nessa altura, a estratégia passa a ser uma ferramenta de gestão essencial [...]. (ANSOFF; McDONNEL, 1993). (Grifo nosso)

O impacto cumulativo de todas essas mudanças externas e internas é

significativo para os gestores, que não foram preparados na sua formação

Page 66: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

66

educacional para tratar os níveis de volatilidade e incerteza externas, conjugadas

com a complexidade interna, que passam a caracterizar as organizações de todos

os níveis, sobretudo a partir dos anos 1980. O planejamento estratégico, de caráter

participativo aparece, então, para oferecer respostas visando o atendimento de

algumas dessas necessidades.

Portanto, o planejar estrategicamente pode ser vislumbrado como um

conceito multidimensional, pela perspectiva de encenar um conjunto coerente de

grandes prioridades e de decisões que orientam o desenvolvimento e a construção

do futuro de uma organização num horizonte de longo prazo.

Michael Porter (1986) destaca que para se definir um método para a formação

do planejamento e sua estratégia são necessários o que denomina de “Testes de

Consistência”, que contém contêm categorias e subcategorias de análise:

QUADRO 5 – CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE PARA A FORMAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE

InternaAs metas são mutuamente alcançáveis; será que as políticas operacionais básicas se dirigem para as metas; será que as políticas operacionais básicas se reforçam mutuamente.

Ajuste ambiental

Será que as metas e as políticas exploram as oportunidades; será que as metas e as políticas abordam as ameaças [...] até o grau possível com os recursos disponíveis; será que a oportunidade das metas e das políticas reflete a habilidade do meio em absorver as ações; será que as metas e as políticas respondem aos interesses mais amplos da sociedade;

Ajuste de RecursosSerá que as metas e as políticas se ajustam aos recursos à disposição da companhia em relação à concorrência; será que a oportunidade das metas e das políticas reflete a habilidadeda organização em modificar-se;

Comunicação e Implementação

Será que as metas foram bem compreendidas pelos principais implementadores; será que existe uma congruência suficiente entre as metas e as políticas e os valores dos principais implementadores de modo a assegurar um compromisso; será que existe capacidade gerencial suficiente para permitir uma implementação efetiva.

FONTE: Elaborado com base em PORTER, Michael (1986).

A partir da identificação das categorias e subcategorias e a tentativa de

interrelacioná-las, Porter (1986) propõe um “processo para formulação de uma

estratégia”, em bases que reúnem empirismo e intuição.

Esses pressupostos teóricos sobre o planejamento estratégico fazem parte

da realidade da gestão de organizações públicas e privadas na Europa e Estadas

Unidos, desde o início do século XX, com avanços em períodos posteriores às duas

Grandes Guerras.

Page 67: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

67

Nas nações periféricas, o pensar estrategicamente não se adequava aos

modelos políticos baseados no autoritarismo. Predominava a intervenção e o

pragmatismo, pois como dizia o ex-líder chinês Deng Xiao Ping, em frase que ficou

célebre, “[...] não importa a cor do gato. Importa que ele pegue os ratos”.

Intervenção se tornou sinônimo de pensar estrategicamente. E, no Brasil

estas “ações estratégicas” para “pegar os ratos” são encontradas, num breve olhar,

sobre os planos desenvolvimentistas, um verdadeiro receituário desenvolvimentista.

No diapasão do pensamento tecnoburocrata brasileiro, mesmo os problemas

mais complexos, raramente mereceram um planejamento estratégico e participativo,

com a presença da rede de interessados, para construir as decisões e

conhecimentos estratégicos, sobre o objeto planejado.

Nesse contexto imperava o planejamento era recheado das decisões

voluntaristas, com baixos índices de racionalismo e construtivismo, e a avaliação de

desempenho eram fragmentadas e de acordo com a concepção individual dos

avaliadores, prevalecendo por vezes a intuição idealista e romântica o que iria ajudar

no processo de exclusão dos que não se adequavam ao perfil institucionalmente

aceito.

Com a falência do modelo desenvolvimentista, o modelo avaliador é

mantido. E, para os docentes, foi um momento divisor de águas, pois com o

aumento de cargos técnicos no processo de industrialização e o início da ampliação

da oferta de vagas nas unidades de ensino, os profissionais liberais que antes

compunham os quadros de professores irão dar lugar a professores licenciados.

É, a partir deste momento, que tem início o processo de proletarização

docente inaugurado pelo modelo do capitalismo tardio brasileiro, também chamado

por Arroyo (2009), de exclusão coletiva do professorado, pois marca além do

empobrecimento no plano econômico, comprometeu significativamente o capital

cultural que a antiga categoria detinha.

[...] a velha formação social composta de profissionais liberais –como advogados, médicos, engenheiros, padres etc. – constituía um cabedal cultural amealhado em cursos universitários de sólida tradição acadêmica. Ao contrário, as licenciaturas instituídas pela reforma universitária do regime militar operaram um processo

Page 68: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

68

aligeirado de formação com graves conseqüências culturais.(FERREIRA JÚNIOR; BITTAR, 2006, p. 1162).

Os detentores do mérito do conhecimento disponibilizado pela origem social

eram os professores e, ensinavam também nas mais conceituadas unidades de

ensino do setor público, onde admitidos os filhos das elites, através do concurso de

admissão e alguns poucos integrantes das camadas menos favorecidas da

população, mas também detentores de méritos para ali estudarem.

A avaliação de desempenho por mérito dá a tônica aos acessos a

professores e alunos, de uma forma linear e mecânica, carente das subjetividades

que envolvem o processo ensino-aprendizagem. Estava em jogo apenas a conquista

palpável, mensurável das capacidades, inatas para alguns, e as competências

construídas com a aquisição do conhecimento.

Sobre essa situação Barbosa (1996, p. 64) destaca que os “males da

avaliação de desempenho” têm por base:

[...] a suposição da existência de uma realidade concreta e objetiva que pode ser captada em sua dimensão concreta, fotográfica, nos seus mínimos detalhes, e livre da subjetividade do observador, desde que se usem os meios científicos adequados. O objetivo final é a criação de uma engenharia social que consiga mapear e controlar a realidade tão exatamente como se imagina que ainda possa ocorrer no mundo físico. Embora este seja um pressuposto geral da teoria de administração, existem diferenças [...] na maneira como as sociedades lidam com essa pressuposição, que refletem o que elas pensam sobre o que é meritocracia e quais os problemas que surgem no momento da sua implementação prática. É nesta dimensão que residem as especificidades dos diversos universos sociais a esse respeito.

Mais uma vez, pode-se ver a presença do voluntarismo e do pragmatismo

dos que avaliam, para manter a engenharia social vigente, desprezando a

importância das diferenças e dos diferentes pontos de vista que dão origem, o que

proporciona a idéia de cultura, pois envolve os ritmos e estilos dos ambientes onde

se dá o processo avaliativo do desempenho.

E aderindo às idéias de Barbosa (1996, p. 65), percebe-se que o recurso do

planejamento participativo para a construção da avaliação docente, ao longo da sua

Page 69: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

69

elaboração e execução, poderá conduzir à percepção de que o desempenho é

também o “[...] resultado do ambiente e circunstâncias em que os indivíduos

operam”.

A autora destaca que além das variáveis da condição social e das

deficiências estruturais do sistema educacional, devem ser consideradas as

idiossincrasias pessoais, ou seja, as produções individuais avaliadas perdem o

caráter hierárquico da comparação.

No entanto, o resultado disto, especialmente no Brasil é o sentimento de

resistência à Avaliação de Desempenho Docente:

[...] na sociedade brasileira esperamos sempre que nossas produções individuais sejam avaliadas no contexto em que foram produzidas e cada um de nós atuou. Isso significa que queremos ser analisados dentro da lógica do “eu e as minhas circunstâncias”. O que eu fui capaz de fazer dentro do contexto social em que operei. [...] A conseqüência disso é que as produções individuais se tornam incomparáveis entre si, pois o produto de cada uma é visto como fruto de condições históricas e subjetivas particulares e únicas, não equivalentes a nenhuma outra, na medida em que, dificilmente, o peso de cada uma das variáveis no desempenho de um indivíduo pode ser medido e, portanto, comparado com o de outro, com as mesmas condições. (BARBOSA, 1996, p. 88)

Resulta assim, o sentimento de injustiça entre os avaliados, pois no

processo não se considerou as condições de realização do trabalho e a história de

vida dos envolvidos.

No Brasil, o método de avaliação de desempenho, possui bases históricas

nos fundamentos da meritocracia, como critério de ordenação social, isto é o “[...]

reconhecimento público da capacidade de cada um, realizar determinada coisa ou

posicionar-se numa determinada hierarquia com base nos seus talentos [...]”.

(BARBOSA, 1999, p. 31).

O que não é levado em consideração neste modelo voluntarista é a

desigualdade de condições para competir. E o sistema educacional no Brasil, não

oferece garantias que possibilitem minimizar as distorções que favorecem às elites,

e num conflito de classes histórico, acirra ainda mais a discriminação e exclusão

social.

Page 70: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

70

2.3 POR QUE A RESISTÊNCIA

De acordo com Barbosa (1999), os principais argumentos para a resistência

aos processos de avaliação de desempenho desencadeados em organizações tanto

públicas quanto privadas no Brasil é a ausência de um sistema meritocrático atuante

em todos os domínios da sociedade. Assim, as avaliações estão associadas à

existência em larga escala do nepotismo e fisiologismo, como forma de seleção e

legitimação das desigualdades sociais.

Surgindo sob múltiplas facetas, as resistências constituem-se em um

fenômeno que provoca atrasos, custos e instabilidade inesperados no processo de

mudança estratégica, isto é, tanto durante quanto após a instalação da mudança. O

quadro 6, sumaria os principais efeitos da resistência à mudança estratégica.

QUADRO 6 - EFEITOS DA RESISTÊNCIA À AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

DURANTE APÓSAtrasos e demoras no início do processo Defasagem de desempenhoDemora e ineficiências imprevistas na etapa de implantação

Os resultados esperados demoram a acontecer

Esforços dentro da organização visando sabotá-la ou enterrá-la

Surgem esforços para anular os efeitos das mudanças

FONTE: Adaptado de Lobato, 1997, p. 52-69.

Lobato (1997) ainda salienta que nem toda a mudança proposta acarreta uma

resistência. Especialmente se a mudança for acompanhada por uma transferência

de mais poder para grupos, as mudanças serão aceitas favoravelmente. O contrário

pode acontecer se a mudança prevista envolver a transferência de poder na cultura

organizacional.

No caso dos docentes e do funcionalismo público, não ocorre uma

transferência de poder na maioria das vezes; apenas a progressão na carreira e

melhorias salariais. Tratando dos funcionários do setor público, os estudos de

Barbosa (1999) destacam que esses acreditam na meritocracia. No entanto, a

Page 71: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

71

autora em suas entrevistas constatou cinco razões que demonstram resistência à

avaliação de desempenho:

a) O desempenho deve ser o único critério de avaliação;

b) A insatisfação é total, pois em muitos lugares as pessoas nem sabem se um dia

existiu algum sistema de avaliação;

c) Ninguém confia nos resultados, pois consideram os resultados injustos e os

avaliadores inaptos;

d) Antiguidade é considerada um mal necessário, pois corrige as injustiças da

avaliação de desempenho;

e) Os chefes não gostam de avaliar porque isso causa tensão entre os funcionários

e tendem a avaliar todos positivamente.

O pensamento entre os brasileiros acerca da avaliação de desempenho por

mérito é dúbio, pois se de um lado num discurso democrático destaca a importância

da meritocracia, por outro lado recorre ao mesmo discurso diante de tal prática para

considera-lo injusto, produzido para promover a competição das categorias

profissionais e antidemocrático.

Quando se passa do discurso a favor da meritocracia à sua prática efetiva, a avaliação adquire novo significado: instrumento autoritário, excludente, imposto de cima para baixo, que representa ameaça à cidadania e que irá desagregar e desmontar um todo homogêneo.(BARBOSA, 1999, p. 62).

Em documento elaborado por representantes do Sindicato de Professores

de Minas Gerais, acerca da Avaliação de Desempenho Docente, eles enfatizam que

esta prática é uma forma de controle dos gastos públicos e funciona como uma

espécie de prestação de contas e a meritocracia, por sua vez “pressupõe um

processo de avaliação pelo qual se discute quem merece ou quem não merece ter

alguns “privilégios”, portanto o “prêmio” não pode ser para todos e deve haver

critérios ou normas de corte”. (OLIVEIRA et al.).

Page 72: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

72

As autoras destacam que a Secretaria de Educação de Belo Horizonte,

elaborou um documento expondo que o objetivo geral era “avaliar o resultado do

trabalho efetivo realizado pelo servidor, de modo a definir o grau de contribuição de

cada servidor na consecução dos objetivos da Proposta Político-Pedagógica da

Secretaria Municipal de Educação”.

E os objetivos específicos apresentados foram:

a) avaliação das unidades escolares e dos organismos pedagógicos e administrativos da SMED; b) assegurar que os desempenhos individuais geram os resultados esperados; c) subsidiar o processo de avanço funcional: progressão, promoção e ascensão; d) firmar na cultura organizacional a preocupação com a Avaliação de Desempenho para a valorização da competência profissional; e) subsidiar os processos de planejamento, formação e desenvolvimento dos Recursos Humanos; f) dinamizar o fluxo de comunicação entre gerentes e servidores, delimitando e esclarecendo suas responsabilidades relacionadas ao trabalho e incentivando a administração participativa; g) permitir ao servidor a identificação e a busca dos meios necessários ao seu desenvolvimento, através de sua participação e conhecimento dos resultados da avaliação; h) desenvolver a formação gerencial dos servidores no exercício de cargos comissionados.

Oliviera et al ainda exibe os critérios de avaliação, que estavam divididos em

duas partes, a avaliação do desempenho e eficiência no exercício das atribuições do

cargo; e formação/outros que engloba todos os demais itens acima listados em

conjunto.

Assim, a aprovação do/a servidor/a estava condicionada à porcentagem

mínima de 50% e os conceitos com um sistema de pontuações na ordem crescente

de 4 (quatro) a -1 (menos um), respectivamente apresentadas foram:

a) Muito acima do esperado

b) Acima do esperado

c) Dentro do esperado

d) Abaixo do esperado

e) Muito abaixo do esperado

Page 73: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

73

De acordo com estes critérios, o/a servidor/a seria avaliado com base nos

seguintes fatores: eficiência e eficácia, profissionalismos, assiduidade/pontualidade,

relacionamento interpessoal no trabalho, zelo com o patrimônio, administração de

conflitos e atendimento à comunidade. (OLIVIERA et al)

Após diversos seminários, debates e assembléias para definir a sua

proposta de avaliação na qual considerava junto com a categoria o investimento

pessoal e o investimento coletivo como princípios importantes numa avaliação

institucional e individual, o sindicato dos professores apresentou, ampliou propostas

e passou a ouvir a comunidade, pais, alunos e não conseguiu estabelecer um

acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte.

Os sindicalistas promoveram greve e a progressão automática ocorreu, sem

que houvesse a Avaliação de Desempenho Docente, com isso argumentam que o

propósito é a promoção de desigualdades, isto significa que a meritocracia é

rejeitada ideologicamente, pois numa sociedade, como a brasileira, onde igualdade

é um conceito que possui duas dimensões: legal e moral.

A primeira concebe que todos são iguais, civicamente perante a lei. A

segunda, de ordem moral, superior à lei e defendida por todos, como uma crença

que sustenta a concepção de igualdade em todas as instâncias das relações.

Mas, mesmo no âmbito do direito, cujo objeto é, em última instância, a

justiça, os resultados são diferentes. Fácil imaginar no plano moral que deseja

igualdade de oportunidades, com base na pressuposição da semelhança dos

homens entre si, enquanto sujeitos de uma mesma espécie e despreza as origens

sociais dos indivíduos.

Entre os lusitanos, a Federação Nacional dos Professores, em documento

público condena a meritocracia, pois a implementação de um modelo de avaliação

docente baseado na meritocracia “[...] implica que todos os avaliados possam

evidenciar mérito, logo, o estabelecimento de quotas para a atribuição de algumas

menções (Muito Bom e Excelente, no caso do modelo proposto pelo ME) é contrária

ao espírito do modelo”. (BARBOSA, 1999, p. 68).

Page 74: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

74

A concepção ou o “espírito do modelo” é maculado ao atribuir as quotas,

resulta basicamente em sociedades cujos processos históricos não possuem

controle social efetivo. E a responsabilidade pelos resultados individuais, exime o

sujeito tanto das virtudes quanto das faltas.

E, ao traçar um paralelo desses sentimentos entre brasileiros e norte-

americanos, verifica-se:

Enquanto na sociedade norte-americana um dos temas centrais é a dramatização da superioridade ontológica do indivíduo sobre o grupo social, como bem demonstram os heróis de seu imaginário e sua filosofia política, no Brasil poderíamos dizer que ocorre justamente o inverso. Entre nós, duvida-se da capacidade do indivíduo de moldar a realidade de acordo com sua visão de mundo, por sua determinação e esforço. (BARBOSA, 1999, p. 66).

Nosso herói é um forte, não porque domina, mas pela resistência passiva e

submissa. Essa submissão pode ser da forma triste, calada ou irreverente, buscando

jeitinhos. E, numa sociedade com essas características, a promoção pelo mérito não

pode implicar demérito, tanto por questões éticas e morais, na punição daqueles que

não atingiram os patamares de mérito.

Por outro lado, também deve ser mencionado que sistemas ineficientes são

vistos com desconfiança pelos envolvidos e talvez como afirmou Harvey Walker [...]

é melhor não ter sistema algum do que ter um que produza resultados nos quais a

maioria não deposita confiança.

2.4 ASPECTO MULTIDIMENSIONAL DA AVALIAÇÃO DOCENTE

Ao longo desse trabalho as discussões sobre a condição de “ser” professor

como um profissional do ensino, não deixou de lado a condição de profissional que

aprende continuamente e, assim, também se desenvolve. Portanto, os processos

avaliativos precisam construir a globalidade e a integração entre o sujeito e o objeto.

Page 75: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

75

A redução do fenômeno complexo e multidimensional da avaliação docente

a um só ou a poucos aspectos, sem articulação, traz o risco de resumir o processo a

um desses instrumentos dedicados a medir, comparar e responsabilizar, o que pode

comprometer os resultados de desfigurar objetivos; portanto o aspecto da

globalidade deve ser enfatizado sob pena de perder-se o entendimento

multidimensional.

Esse caráter multimensional está em todas as esferas da atuação docente,

pois a atuação do professor envolve, de forma integrada, as trajetórias de formação,

atuação profissional e também pessoal do professor. Portanto, os diversos espaços

pelos quais trilha o professor e considerando também as suas experiências prévias à

entrada na docência são elementos que influenciam na sua docência.

Desta forma, deve-se compreender que o professor é uma pessoa, cujo lado

pessoal afeta os desejos, as necessidades e conseqüentemente as experiências

pelas quais irá passar no exercício de sua profissão (ABRAHAM, 1987).

Zabalza (2004) diferencia três grandes dimensões na definição do papel

docente:

Dimensão profissional que permite o acesso aos componentes essenciais que definem essa profissão: quais são suas exigências (retorno esperado pela atuação profissional), como constrói sua identidade profissional e em torno de quais parâmetros o faz, quais são os principais dilemas que caracterizam o exercício profissional, quais são as necessidades de formação inicial e permanente etc.

Dimensão pessoal que permite considerar alguns aspectos de grande importância no mundo da docência: tipo de envolvimento e compromisso pessoal característicos da profissão docente, ciclos de vida dos docentes e situações pessoais que os afetam (sexo, idade, condição social etc.), problemas de ordem pessoal que costumam acompanhar o exercício profissional (burn out, estresse, desmotivação etc.), fontes de satisfação e insatisfação no trabalho, a carreira profissional.

Dimensão administrativa que nos situa diante dos aspectos mais claramente relacionados com as condições contratuais, com os sistemas de seleção e promoção, com os incentivos, com as condições (carga horária, horários, obrigações vinculadas ao exercício profissional etc.. (ZABALZA, 2004, p. 106).

Page 76: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

76

Dessa forma, o autor insiste que a dimensão “educativa” da atividade

profissional docente não combina com um mero know-how científico por parte dos

docentes universitários e que esses profissionais além de bons cientistas ou bons

administradores necessitam ser bons formadores (ZABALZA, 2004). Na tentativa de

que as funções do professor universitário sejam efetivamente realizadas, esse autor

se vale do conceito de dilema como instrumento para abordar situações complexas

e às vezes dicotômicas em relação a esse ideal.

No tocante à questão avaliativa, as considerações apresentadas por Tenório

et al (2009) indicam que os modelos adotados para avaliação de desempenho, ainda

estão estreitamente vinculados às idéias tayloristas de posto de trabalho,

extremamente rígidas. Por isto a razão da inadaptabilidade dos modelos, resumida

em três características básicas: isolamento, temporalidade, adoção de um modelo

universal.

[...] o isolamento se refere ao fato de o processo de avaliação ser conduzido de forma a isolar o indivíduo do contexto no qual se insere [...] a temperolidade remete à tendência das competências serem consideradas pontualmente, sob uma medida temporal – a competência avaliada refere-se apenas ao ano avaliado [...] adoção de um modelo universal, que indica que existe um modelo de avaliação de desempenho que é padronizado globalmente, com a mesma descrição e o mesmo perfil para funções iguais. (TENÓRIO, et al, 2009, p. 276).

Essa situação é válida universalmente para as atividades profissionais, seja

para aquelas que exigem conhecimentos especializados, como para as que

requerem múltiplos saberes, como os professores, cuja atuação tem como

característica a formação contínua e a interação sócio-histórico-institucional, em

permanente construção.

A categoria é marcada por uma complexidade multidimensional, mesmo que

permaneça indefinida quanto à condição e o status profissional, como dito

anteriormente, ainda não possui um órgão deliberativo que defina a sua real função

docente e sua conduta ética diante de um lastro ocupacional que tem um caráter

multidimensional (social, político, histórico, econômico, tecnológico e científico).

Page 77: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

77

Assim, sem possuir um código, um estatuto profissional, nacional/universal,

que defina quais as suas atribuições, e, mesmo uma ética própria, como avaliar o

desempenho docente? Os problemas das organizações, normalmente possuem uma

origem sistêmica e não uma responsabilização individualizada. Como avaliar

devidamente? Como será possível discernir, em um mau desempenho docente?

Como mensurar a parcela de culpa do sistema? De que maneira pode ser avaliada a

responsabilidade do professor?

E, a partir destas indagações a proposta de Avaliação de Desempenho

Docente recai sobre a condição profissional docente. Essa por sua vez requer uma

reflexão sobre a importância da ética do professor, que “[...] estabeleça as fronteiras

ou horizontes morais da profissão” (VEIGA, et al, 2008, p. 34), para além do controle

burocrático até então imposto e reconheça as interações pertinentes à função.

A condição ética docente, até então reconhecida são aquelas de uma

condição pré-profissional, com um vasto espectro do sacerdócio, que relaciona sua

prática aos anseios da família dos alunos e do estado burocrático.

Nessa realidade há uma ética da consciência solitária, mas também de

angústia pedagógica, numa verdadeira associação com o desamparo e o

despreparo, para uma prática com interesses coletivos e democráticos.

Mas, no momento em que se pensa em profissionalização docente, deve-se

ampliar a atuação tridimensional – família, escola e Estado –, para uma centralidade

multidimensional, da atuação docente fundada em interações,

[...] (a) o convívio entre os sujeitos envolvidos (professores, alunos, pais e os próprios pares – professores e gestores); (b) as interações de ordem institucional, o que envolve a corporação docente (uma dimensão intraprofissional), as relações com a instituição escolar a que o docente serve, bem como com as relações com a sociedade a que a instituição se põe à disposição. (VEIGA et al 2008, p. 43).

O processo de construção da Avaliação de Desempenho Docente, portanto

deve seguir esses mesmos parâmetros da multidimensionalidade da

Page 78: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

78

profissionalização docente, considerando a ampla reflexão sobre a ética em geral,

que possibilite nortear as várias dimensões inerentes ao tema.

[...] Um projeto ético-profissional implica um processo permeado por conflitos e contradições, e suas determinações fundantes extrapolam a profissão, esbarrando nas condições reais de vida social. (VEIGA et al , 2008, p. 129).

Para as autoras essas considerações são necessárias, pois no caso

específico da atuação docente, de acordo com as autoras, o ingrediente ético além

de expressar “consciência profissional e sociopolítica”, na esfera subjetiva, integra o

seu cotidiano no fazer pedagógico de cumprimento curricular, com a

intencionalidade de formar culturalmente outros seres humanos.

Tomando por base os pressupostos de Veiga et al (2008), Santana, Mello e

Brandão (2006) e Saul (2006), a implantação de um sistema de Avaliação de

Desempenho Docente, não pode funcionar como uma licença profissional, mas

como uma proposta emancipatória para a consciência profissional do professor em

tempos modernos, com a preocupação na regulamentação da função docente,

assentada num código de ética para definir o exercício da docência, com bases

democráticas e asseguradoras da autonomia docente no sistema educacional.

Page 79: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

79

3 O QUE PENSAM OS PROFESSORES DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE

O objeto não espera no limbo a ordem que vai libertá-lo; o objeto não preexiste a si mesmo, retido por algum obstáculo; o objeto existe sob condições positivas de um feixe completo de relações.

MICHAEL FOUCAULT.

Neste capítulo, onde são apresentados os aspectos metodológicos da

pesquisa, destaca-se a percepção dos professores sobre a Avaliação de

Desempenho Docente constitui-se na oportunidade para compreender a consciência

de profissional dos entrevistados. É o “sobre si e seu mundo”, onde não se conta

mais necessariamente com os documentos, o silêncio é quebrado e inicia-se o

processo da síntese, construída ao longo de uma carreira, por relacionamentos, por

contradições sociais e da (re)construção histórica e política estagnadas na memória

silenciosa. Descrença marcada pela descontinuidade.

3.1 O PERCURSO DA PESQUISA

A presente pesquisa foi realizada no município do Salvador, por meio de

questionário encaminhado a 200 professores de escolas públicas estaduais de

médio e grande porte, localizadas no bairros de Mussurunga, Cabula e Costa Azul.

O questionário é de caráter objetivo e estruturado, mas em algumas das

questões, existe a possibilidade da múltipla escolha, dada a complexidade do tema,

e em outras solicita-se a justificativa de respostas com a opção “Outros.

Especificar”, o que permite comentários. Este tipo de instrumento permite ainda o

tratamento quantitativo das respostas analisadas por meio de categorias, o que

possibilita aprofundar teoricamente as questões ligadas ao objeto da pesquisa.

Page 80: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

80

O recurso deste instrumento de pesquisa, pelas características próprias da

múltipla escolha e por solicitar justificativa, tem, entre outras vantagens, a de

possibilitar a flexibilidade de respostas, a avaliação dos diversos ângulos de

respostas dadas às questões propostas, a observação do que o informante diz e

como diz a visão que tem de uma dada realidade e a verificação de afirmações

contraditórias e similares contidas nessas respostas. (SANTOS FILHO, 1995).

A pesquisa foi realizada, no período de março a junho a agosto de 2009,

tendo como principais dificuldades a devolução dos questionários, pois menos da

metade – apenas 60 questionários – , foram devolvidos e quando perguntado a

alguns que receberam e não fizeram a devolução alegaram falta de tempo.

O questionário aplicado permitiu procedimentos quantitativos de análise

demonstrada em tabelas de freqüência, por categoria de resposta e de referências

de informações fornecidas pelos sujeitos às questões relacionadas aos dados de

identificação dos informativos da pesquisa.

Quanto aos aspectos metodológicos, o presente trabalho tem como natureza

uma pesquisa exploratória e descritiva, à medida que objetivou "levantar as

opiniões, atividades e as crenças de uma população" (GIL, 1996, p. 46), a respeito

da Avaliação de Desempenho Docente.

Outras vantagens são apontadas por Gil (1996, p. 57), da seguinte forma:

Conhecimento direto da realidade à medida que as próprias pessoas informam a respeito [...] de suas crenças e opiniões; [...] economia e rapidez [...] quando os dados são obtidos mediante questionários, os custos tornam-se relativamente baixos, [...] torna-se possível à obtenção de grande quantidade de dados em curto espaço de tempo.

O que exige, enquanto pesquisa qualitativa uma postura interpretativa-

compreensiva, buscando a ampliação e aprofundamento da compreensão de um

fenômeno, mais do que a busca da causalidade dos mesmos.

Conforme Santos Filho (1995, p. 43):

Page 81: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

81

Seu propósito fundamental é a compreensão, explanação e especificação do fenômeno. O pesquisador precisa tentar compreender o significado que os outros dão às suas próprias situações.

A análise quantitativa foi realizada através da analise de conteúdo

proposta por Bardin (1979), efetivada em três etapas fundamentais: pré-análise,

tratamento do material e resultados e interpretações e concebe a análise de

conteúdo como um procedimento de investigação sistematizada com o propósito

descritivo e a análise de conteúdos se efetiva a partir das seguintes fases:

a) Pré-análise, quando foram feitas leituras do material resultante da pesquisa, cuja

finalidade foi a identificação de indicadores pertinentes às categorias (variáveis) e

que pudessem orientar a interpretação final; sendo selecionada a unidade de

registro que orientou o processo de codificação posterior (tabela e gráficos).

Bardin (1979, p. 105) define a pré-análise como um sentido de unidade

“que se destaca naturalmente de um texto analisado”. A escolha da unidade

temática proposta por este autor, define e caracteriza o tipo temático.

b) Tratamento do material consistiu numa operação de codificação. Compreendeu

o momento da seleção das categorias para atender aos objetivos do estudo e a

preparação do questionário, afirmadas por meio da evidência de indicadores e falas

dos participantes.

Page 82: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

82

É o filtro das informações, a constatação da coerência que um conjunto de

dados possuem em torno de um eixo comum, para avalia-los de forma sistematizada

e construir indicadores de análise.

c) Resultados e interpretações foram processadas as codificações, permitindo o

aprofundamento dos significados por intermédio de inferências e interpretações que

os quadros ensejam, e que representam a síntese das opiniões dos colaboradores,

ou seja, dos participantes da pesquisa.

A análise e discussão dos dados, foi seguida de acordo com Bardin (1979,

p. 120): “Através da análise de conteúdos procedeu-se ao agrupamento dos dados

em planilhas, a fim de categorizar as repostas abertas obtidas dos participantes”.

Procedeu-se a apuração dos resultados em tabelas e gráficos, que servem

de demonstrações das questões da pesquisa, utilizando-se o percentual estatístico e

do referencial teórico, para chegar-se aos resultados.

Os participantes, conforme os critérios de inclusão, professores da rede

pública estadual, foram informados sobre os objetivos da pesquisa, e aceitaram

participar, assinando o termo de consentimento específico (apêndice A), no qual

constam informações acerca da importância da pesquisa e da participação dos

convidados, assegurando-lhes o anonimato e garantindo-lhes o sigilo.

A coleta de dados, nesta pesquisa ocorreu a partir da eleição da população

da amostra, professores em plena atividade de suas funções em escolas públicas

estaduais na cidade do Salvador. O material coletado, foi organizado em quatro

categorias para interpretação qualitativa. A palavra categoria, em geral, se refere a

um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou

que se relacionam entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série. As

categorias são empregadas para se estabelecer classificações (GIL, 1999).

Page 83: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

83

Desta forma, resolveu-se organizar os dados através das categorias para

uma melhor adequação dos mesmos e uma análise sistematizada.

3.2 COM A PALAVRA O PROFESSOR

No estudo realizado procurou-se além de identificar o perfil dos professores

as representações – suas idéias – acerca da Avaliação do Desempenho Docente na

sua prática. A expectativa era de que o estudo oferecesse subsídios para análises

de possíveis mudanças e rupturas nos velhos paradigmas da educação, que

encaram a avaliação apenas como uma medida autoritária de controle e

possibilidade de manipulação.

3.2.1 Caracterização dos Entrevistados

Os dados coletados e analisados indicam um perfil docente formado por

maioria de mulheres, 78% (gráfico 1). Verifica-se que o gênero é uma categoria

importante para a compreensão da profissão docente, sobretudo, quando o olhar é

direcionado para identificar como as professoras entraram, permaneceram e têm

atuado na profissão, o que ratifica a profissão como tipicamente feminina e

impedimento à profissionalização.

Page 84: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

84

Encontrou-se, na pesquisa, um número significativo de professores/as (30%)

com mais de 15 anos de trabalho docente na rede estadual, enquanto empataram

com 28% aqueles que atuam entre 6 e 15 anos como professores. (Gráfico 2).

O tempo de trabalho educativo pode indicar a experiência dos professores

no manejo de turmas e no acompanhamento do trabalho individual e de grupos.

Quando perguntados sobre os espaços de atuação do docente, os dados do

Gráfico 3, apontam que houve maior percentual de professores/as (58%) com

jornada de trabalho em tempo integral em uma Unidade Escolar.

Page 85: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

85

Este dado é um indicador positivo, já que o trânsito de uma escola para

outra pode afetar, consideravelmente, o desempenho do profissional nos seus

espaços de trabalho.

A literatura especializada, ao tratar do mal-estar docente, atribui uma dessas

condições às longas jornadas de trabalho a que é submetido o/a professor/a

diariamente para aumentar o orçamento doméstico e conseguir uma melhor

qualidade de vida.

3.2.2 Dimensão Histórica e Política sobre a Avaliação do Desempenho Docente

O objetivo de identificar a percepção dos/as professores/as sobre a

existência de políticas públicas, sua dimensão e legalidade que instruam acerca da

Avaliação de Desempenho Docente foi um dos elementos do questionário.

Assim, para investigar esta percepção no percurso profissional do docente

(Gráfico 4), os entrevistados, em sua maioria (83%) percebeu-se em processos de

avaliação de desempenho, em algum dado momento da sua carreira profissional.

Page 86: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

86

Entretanto, ao serem perguntados em qual momento ele/a foi avaliado/a,

(Gráfico 5), 59% dos docentes identificou no concurso de seleção para o cargo

público um momento de avaliação docente.

Estas respostas indicam um dado interessante, porque dá visibilidade à

percepção do docente quanto a ferramentas de avaliação. O caso em questão

demonstra, equivocadamente, que provas e exames seletivos são encarados como

meio de avaliação de desempenho profissional, quando na verdade são

instrumentos que validam o ingresso para um cargo, que será ocupado por uma

categoria profissional.

Consequentemente, os/as investigados/as, de forma coerente reconhecem a

sua maior quantidade (40%) a Secretaria de Educação (SEC) como responsável

pelo processo avaliativo. (Gráfico 6).

Page 87: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

87

Os docentes identificam momentos de avaliação de desempenho, ao longo

de suas carreiras, porém, 56% não (re)conheceu o(s) instrumento(s) legal(is) que

legitima a Avaliação de Desempenho Docente.(Gráfico 7).

Mas, dentre aqueles 36% identificou como um dos instrumentos o Plano de

Progressão de Carreira e 30% na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) os

documentos legais que legitimam a prática de avaliação de desempenham (Gráfico

8.)

Page 88: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

88

De certo, a LDB 9394/96 traz em seu escopo a orientação para a valorização

profissional baseada na titulação/habilitação e na avaliação de desempenho. Bem

como, por meio do Estatuto do Magistério e o Plano de Carreira do Profissional da

Educação foi instituído o incentivo à Certificação Ocupacional.

3.2.3 Impacto da Avaliação de Desempenho Docente para a Função do

Professor

As concepções acerca da motivação dos órgãos federal e estadual da

educação em estimular, promover e implantar mecanismos de avaliação foi

compreendida pelos docentes como medida de amplo espectro de atuação. (Gráfico

9).

Os professores, portanto, reconhecem a Avaliação de Desempenho Docente

como mecanismo de melhoria da qualidade de ensino (37%), identificação das

necessidades para a formação docente (29%) e forma de estabelecer critérios para

a progressão da carreira docente (24%).

Page 89: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

89

Os dados do gráfico acima, confirmam o Relatório Nacional do Sistema de

Avaliação do Ensino Básico de 1990 (1991, p. 7); nesse documento o Governo

expôs sua pretensão, através dos mecanismos avaliativos,

[...] detectar, primeiramente, os problemas de ensino-aprendizagem existentes e, em segundo lugar, determinar em que condições (de gestão, de competência docente, de alternativas curriculares etc.) são obtidos melhores resultados e que áreas exigem uma intervenção para melhorar as condições de ensino.

Perguntados sobre o que muda na escola a partir da Avaliação de

Desempenho Docente (Gráfico 10), a maior parcela dos entrevistados com 61% de

indicações, atribuiu à melhoria da qualidade do ensino.

.

Page 90: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

90

O questionário aplicado buscou ainda a compreensão do/a professor/a sobre

o que representava, para na Unidade Escolar, a implantação da avaliação docente.

(Ggráfico 11).

Os percentuais mais elevados foram alcançados pelas perspectivas da

avaliação como um indicador da qualidade de ensino na escola, com 33% das

indicações e do nível didático-pedagógico do docente (21%).

Page 91: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

91

De acordo com os dados do gráfico acima, os/as entrevistados/as percebem

a possibilidade da relação entre a implantação da Avaliação de Desempenho

Docente como política educacional mais ampla e os processos sistematizados de

organização e gestão dentro da escola. Por sua vez, os gráficos 12 e 13,

apresentam respectivamente a percepção dos professores sobre aspectos positivos

e negativos.

O primeiro (Gráfico 12) considera que o principal fator positivo é o feedback

para o próprio professor (40%), para refletir sobre sua prática, e outro percentual

(29%) destaca o feedback para o coletivo da unidade escolar, como ponto positivo

da Avaliação do Desempenho Docente.

Este ideário do feedback, como fator positivo, traz à tona a necessidade de

quebrar o silêncio, do processo educativo, o trabalho solitário do docente. Nesse

contexto a Avaliação de Desempenho Docente é compreendida, como uma fonte

potencial de informações e diagnóstico, para observar, identificar limitações e

equacionamento de problemas emergentes.

Page 92: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

92

O segundo (Gráfico 13) aponta como principais aspectos negativos ao

processo de Avaliação de Desempenho Docente: não mostra a capacidade real do/a

professor/a (40%) e também responsabiliza o professor pela crise da educação

(30%) .

Nestes dois últimos gráficos (12 e 13), os/as professores/as entrevistados

sinalizam para uma concepção da avaliação de desempenho do trabalho docente,

na qual, se pretenda superar as dificuldades, atingir os objetivos de equidade,

qualidade e assumir responsabilidade na busca da excelência do desempenho

escolar.

Mesmo observando como um dos principais aspectos negativo da Avaliação

de Desempenho Docente, uma forma de responsabilizar o professor pelos

problemas da educação no Brasil, os/as entrevistados/as, destacam no Gráfico 14,

com 75% de indicações a necessidade desse instrumento.

Page 93: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

93

No Gráfico 15, os/as professores/as, apresentam as motivações da

necessidade da Avaliação de Desempenho Docente, quando 29% a considerou

como um forma de promover a busca de metodologias e didáticas adequadas à

atuação e 28% enfatizou o estímulo ao repensar das práticas como melhoria da

qualidade da ação do/a professor/a.

Page 94: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

94

Nos gráficos 9 a 15, os/as entrevistados/as reconhecem na Avaliação do

Desempenho Docente uma possibilidade de reflexão para a função do/a e para o/a

professor/a, criando uma expectativa para atuação favorável, pois implica o resgate

aos seus instrumentos de trabalho: do conteúdo (saber) ao método (saber fazer).

Segundo Mello (1982) este caminho permite mapear as causas da

precariedade da prática docente e, ao professor reflexivo, possibilita perceber como

parte do problema do ponto de vista das deficiências de sua formação.

3.2.4 Avaliação de Desempenho Docente e o Sistema Gestor da Educação

A partir do processo de democratização do país, o sistema educacional vem

sendo lenta e gradativamente possibilitando a autonomia do modelo, para as

adequações às condições, minimizando as divergências e contradições nestas

instituições, bem como criar uma tensão positiva, para constituir entre os atores

envolvidos uma expectativa na construção de trabalho coletivo, e manutenção de

uma gestão descentralizada e autônoma, sustentada por redes de apoio, horizontal,

para a consolidação democrática da gestão escolar.

As respostas obtidas junto aos/às entrevistados/as (Gráfico 16) apontam a

percepção que possuem sobre este momento e reforçam que a relação entre o

trabalho docente, a avaliação docente e a gestão escolar, “consolidam a democracia

e o planejamento participativo” (37%) e uma outra parcela considerável com 32% de

indicações, consideram esta relação como uma oportunidade para o “feedback da

atuação docente para a gestão e comunidade”.

Page 95: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

95

Conscientes e coerentes quanto aos prováveis resultados da relação

enunciadas pelo gráfico acima, os/as professores/as entrevistados/as, consideram

(Gráfico 17), a importância dos conteúdos e metodologias de ensino (37%), como

um dos fatores preponderantes ao bom desempenho docente, bem como a

valorização profissional (31%).

De acordo com Mello (1982), a competência técnica envolveria tanto o

domínio dos conteúdos de ensino pelo professor como o seu entendimento a

respeito das relações entre os vários aspectos da escola.

Page 96: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

96

Entretanto, numa análise global da questão aplicada, destacam-se outros

aspectos nevrálgicos para estes profissionais: a valorização profissional – plano de

carreira e melhor remuneração – salário e carga horária de trabalho. Este dado

manifesta uma percepção ampla do/a professor/a quanto à Avaliação do

Desempenho Docente, qual seja, uma avaliação que leve em consideração, “a

cabeça, o coração e o bolso do professor” (MEC/SEIF, 2003).

A questão salarial dos profissionais da educação – independente da

consciência quanto à importância da Avaliação de Desempenho Docente para a

gestão escolar sedimentar-se como democrática – tem sido motivo de

questionamento do arcabouço democrático do Estado, por não receber a devida

atenção no momento das reivindicações.

O silêncio do Estado, neste momento, de acordo com a expectativa dos/as

professores/as põe em dúvida esta democracia assentada sobre as desigualdades

sócio-econômicas da categoria, obstruindo efetivamente a instauração da

democracia real e afetando o desempenho docente e por extensão comprometendo

o processo ensino-aprendizagem no interior das escolas.

Ainda que, cônscios da importância da capacidade técnica para o bom

desempenho, os professores, em sua grande maioria (86%) (Gráfico 18),

assinalaram que a Avaliação de Desempenho Docente deve estar atrelada a outros

critérios inerentes a escola.

Page 97: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

97

Nesse sentido, o governo da Bahia implantou um plano de valorização do

magistério para assegurar a melhoria da qualidade do desempenho do/a

professor/a.

Segundo o documento Perfil da Educação da Bahia – 2006, essa ação foi

“traduzida na implementação do conjunto de ações centradas na qualificação dos

profissionais do magistério, com reflexos na definição de critérios para promoção na

carreira e conseqüente garantia de benefícios e vantagens”.

Por conseguinte, governo da Bahia introduziu um sistema meritocrático para

a Certificação Ocupacional dos profissionais da educação do estado.

[...] a Certificação Ocupacional é um processo de avaliação dos conhecimentos e habilidades básicas necessárias ao exercício das funções educacionais. Seu objetivo é profissionalizar o quadro de servidores do Estado, com a utilização de critérios e méritos para a ascensão profissional. (Perfil da educação na Bahia, SEC-Ba, 2006).

O método adotado pelo Governo do Estado na Bahia, não representa em

essência uma Avaliação de Desempenho Docente, pois não leva em consideração

Page 98: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

98

as especificidades da função do professor. E, no Gráfico 19, a seguir, os/as

entrevistados/as, indicam algumas das condições que devem ser levadas em

consideração no momento da Avaliação de Desempenho Docente.

Das sugestões apresentadas para escolha, os/as respondentes apontam

com um índice de 43% que as “condições de trabalho (recursos materiais e

financeiros)” e “a avaliação institucional” (20%), como os fatores preponderantes, na

realidade das escolas, para serem considerados na oportunidade da Avaliação de

Desempenho Docente.

Dentre as opções de resposta, contava como possibilidade a “função

docente claramente definida”, e apenas 11% dos/as investigados/as atentaram para

essa condição.

A indefinição quanto às funções do professor, diante do “[...] excesso de

pedidos que a sociedade nos faz e, ao mesmo tempo, uma cada vez maior

fragilidade do estatuto docente. Os professores têm perdido prestígio, a profissão

docente é mais frágil hoje do que era há alguns anos. (NÓVOA, 2007, p. 12).

Page 99: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

99

É neste contexto de mudanças e incertezas que, à medida que amplia e

(des)profissionalização, ganha impulso a expressão “mal-estar docente”, cunhada

por Esteve (1999), pela quantidade de expectativas e cobranças dirigidas ao sistema

educacional, que não possui lastro para o atendimento das demandas e “terceiriza”

aos professores a missão de cumpri-las.

E, quando perguntados sobre o campo de atuação do professor, as

respostas apresentaram percentuais próximos: 26% consideram a função precípua

do docente é “intermediar o processo de aprendizagem; 25% identificou que ao/à

professor/a cabe “facilitar ao aprendiz as condições de ler, interpretar e refletir a

partir de sua própria vivência”.

Os/as entrevistados/as demonstram estar conscientes de sua função como

mediadores/as na dimensão de uma formação que se constitui como permanente,

ou seja, ao longo da vivência dos sujeitos.

Indagados/as sobre os elementos que devem ser levados em consideração

para a construção de um processo de Avaliação de Desempenho Docente (Gráfico

Page 100: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

100

21), no interior das escolas públicas, os/as entrevistados/as, indicaram como

importante “a auto-avaliação do professor” (26%); outros (21%) apontaram “os

resultados de desempenho do aluno”; 19% identificam que os conhecimentos

técnicos especializados na disciplina, também devem ser levados em conta no

momento da avaliação de desempenho; e, 16%, a assiduidade para cumprir as

horas letivas.

A resposta dos professores indica que os/as entrevistados/as possuem uma

ação reflexiva apesar do excesso de missões atribuído às instituições de ensino e

conseguem identificar com clareza o impacto da sua atuação no desempenho global

do aluno.

Esta característica destaca um comportamento ético de significativa

importância para o “outro”, pois “o” vislumbra como o principal aspecto no processo

educativo e essa percepção sugere uma concepção ampliada e global da Avaliação

de Desempenho Docente.

Page 101: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

101

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na verdade, a razão para avaliar existe a partir do momento em que uma

ação humana começa a ser desenvolvida, desde a mais simples e individual até a

mais coletiva. Não se concebe, pois, que só se avaliam iniciativas quando problemas

se colocam; ao contrário, a avaliação é inerente ao processo de construção histórica

da sociedade e das instituições.

Ao longo dos capítulos deste trabalho questionou-se: qual a função docente?

Qual é o papel da avaliação de desempenho na carreira docente? Que dimensões

devem ser avaliadas no desempenho dos profissionais docentes? Por que os

docentes resistem à avaliação de desempenho? Que instrumentos legais, podem

ser construídos para definir a função ética docente? Estas questões foram

abordadas no percurso do trabalho e foram respondidas, tanto no plano teórico

quanto na fala dos professores.

No patamar da teoria, ficou evidenciada a importância de avaliar para os

seres humanos, e, no plano das organizações este instrumento permite o

(re)conhecimento das ações que estão sendo desenvolvidas, para mantê-las no

mesmo estágio, fazer correção, isto é, tomar decisões de forma que assegure a sua

participação e sobrevivência no momento de crises.

Os teóricos referendados apresentam prós e contras em relação à avaliação

de desempenho, fazendo sempre alusão da importância de quem e como se dá o

processo avaliativo.

No ambiente específico do sistema educacional, no qual o professor

historicamente tem sua atuação ora homologada pela Igreja, ora pelo Estado, num

verdadeiro processo de intervenção, ainda não se definiu como em outras categorias

profissionais qual a verdadeira função docente.

Page 102: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

102

Assim, o trabalho traz a expectativa da Avaliação de Desempenho Docente

como o momento de reflexão e construção de uma ética profissional, que demarque

os limites das “interrelações socioinstitucinais” do exercício da docência.

Os mecanismos até agora utilizados, como a certificação, traduzem a

realidade de um sistema que estabelece padrões de mérito e competência para a

escolha das lideranças educacionais do Estado e embotam a percepção do/a

professor/a sobre a Avaliação do Desempenho Docente, atrelando-a à realização de

provas e exames, descolando-a de uma realidade mais ampla e específica dos

interesses da função docente.

É na fala dos atores que o trabalho ganha substância e, aí sim, atinge o seu

principal objetivo de (re)conhecer a percepção do professor sobre a Avaliação de

Desempenho Docente, em quatro momentos interdependentes.

O primeiro traça um perfil profissional dos/as entrevistados/as, quando ficou

caracterizado a questão da presença marcante de mulheres na função docente. A

maioria dos/as entrevistados/as (30%) possui um tempo de atuação de mais de 15

anos de magistério e 58% atua em apenas uma unidade de ensino.

Os autores revelam a existência de algumas idéias que afirmam como um

dos obstáculos à profissionalização docente é a presença marcante de mulheres,

mais cordatas e menos afeitas ao debate político para enfrentar e posicionar-se

junto aos interventores da profissão – Igreja e Estado –, no momento de buscar

definições éticas para a função.

A fala dos/as professores/as, no entanto, deixa uma outra impressão, visto

que no plano da percepção da dimensão política sobre a Avaliação do Desempenho

Docente, os/as entrevistados/as reconhecem o processo seletivo como o primeiro

momento de avaliação de desempenho a que foram submetidos.

Embora não consigam distinguir seleção de avaliação de desempenho

profissional, os/as entrevistados/as reconhecem a intervenção do Estado no

processo e compreendem que a regulamentação docente passa pelo crivo da

legitimidade de instrumentos jurídicos.

Page 103: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

103

Inexiste assim a autonomia profissional, como nas demais categorias

profissionais, recorra a critérios próprios de avaliação de desempenho. Ou seja, que

os avaliadores conheçam a realidade, as especificidades dos avaliados, no que diz

respeito às suas atuações num ambiente concreto, e não de forma generalizada,

com critérios universais, como se fossem trabalhadores de unidades de produção

em escala, submetidos às rotinas e burocracias de manuais.

A percepção sobre o impacto da Avaliação de Desempenho Docente para a

função do professor, possui um caráter de consciência profissional significativa,

tanto quanto ao objeto na dimensão do ensino quanto às necessidades de identificar

previamente as carências ainda no momento da formação profissional, no curso

universitário.

Esse senso, mantém-se coerente ao destacar que a partir da Avaliação de

Desempenho Docente – ao contrário da expectativa dos que vêm esta ferramenta

como instrumento de controle – ocorrerão mudanças significativas no ambiente

escolar, notadamente na identificação do nível didático-pedagógico dos professores,

servindo como um indicador da qualidade do ensino e oferecendo subsídios para a

formação continuada.

Vale salientar que, ao identificar os pontos positivos da Avaliação de

Desempenho Docente, é amplamente considerado o valor do feedback para o

próprio professor, bem como para o coletivo da unidade escolar. E, nos pontos

negativos, provavelmente pela experiência com a certificação destacam que não

mostra a capacidade real dos avaliados e chamam a atenção que o método pode

ser punitivo, pois é associado à responsabilização do professor pela crise da

educação.

Entretanto, os/as entrevistados/as consideram necessária a Avaliação de

Desempenho Docente, pela possibilidade de estimular a busca de metodologias e

didáticas adequadas à atuação, num gesto reflexivo de redimensionar as práticas

para melhorar a própria qualidade de trabalho.

Quanto à compreensão da Avaliação de Desempenho Docente e o sistema

gestor da educação, a opinião dos/as professores/as, indica a importância da

Page 104: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

104

Avaliação de Desempenho Docente, desde que consideradas as especificidades e

sejam utilizados elementos como: a auto-avaliação, os resultados de desempenho

do aluno e assiduidade no cumprimento das horas letivas.

Estes critérios deixam transparecer o desejo de um processo justo, visto que

sentem-se coletivamente punidos pela ausência de políticas públicas adequadas

tanto no processo educacional propriamente dito, quanto na intervenção que lhes

retira a autonomia de participarem democraticamente, como atores e auxiliares do

processo de tomada de decisão sobre as atividades que desenvolvem.

Page 105: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

105

REFERÊNCIAS

ABRAHAM, Ada (Org.) El mundo interior de los enseñantes. Barcelona: Gedisa, 1987.

ABREU, Mariza; BALZANO, Sonia. Progressão na carreira do magistério e avaliação de desempenho. In: RODRIGUES, Maristela Marques; GIÁGIO, Mônica (orgs.) Guia de Consulta para o Programa de Apoio aos Secretários Municipais de Educação – PRASEM III. Brasília: FUNDECOLA/MEC, 2001.

ANSOFF, Igor, McDONNEL, Edward. Implantando a administração estratégica.São Paulo: Atlas, 1993.

ARROYO, Miguel. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. Rio de Janeiro: Petrópolis: Vozes, 2000.

BARBOSA, Lívia. Igualdade e meritocracia. A ética do desempenho nas sociedades modernas. Rio de Janeiro: FGV, 1999.

BARBOSA, Lívia. Meritocracia à brasileira: o que é desempenho no Brasil Revista do Serviço Público. V.120 – n.3, p.3-45, set/dez. 1996.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Editora. Setenta, 1979.

BRANDÃO, Carlos R. Ousar utopias: da educação cidadã à educação que a pessoa cidadã cria. In: AZEVEDO, José Clóvis de, GENTILLI, Pablo, KRUG, Andréa e SIMON, Kátia (orgs). Utopia e democracia na educação cidadã. Porto Alegre: UFRGS/SME, 2000, p. 449-462.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A sociedade estatal e a tecnoburocracia. São Paulo: Brasiliense, 1981.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estranhas boas razões. Folha de São Paulo, 01.09.2004.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. O capitalismo dos técnicos. In Conjuntura Política 29, da ABCP/UFMG, setembro, 2001.

CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.

CASTANHEIRA, Ana Maria; CERONI, Mary Rosane. Reflexões sobre o processo de avaliar docente contribuindo com sua formação. Dezembro de 2007. Disponível no site http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-40772007000400009&script=sci_arttext

CUNHA, Maria Isabel da. (org.) Formas avaliativas. São Paulo: Autores Associados, 2005.

Page 106: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

106

DIDONÊ, D. et al. O papel da avaliação. Revista Nova Escola. Ed. Abril. Jan./Fev. 2007, p.31-33.

DRUCKER, Peter F. Administrando em tempo de grandes mudanças. São Paulo: Pioneira, 1995.

DRUCKER, Peter. Fator humano e desempenho. São Paulo: Pioneira, 1981.

ESTEVE, José Manuel. O mal-estar docente – a sala de aula e a saúde dos professores. São Paulo: EDUSC, 1999.

FENPROF. Federação Nacional dos Professores. Avaliação do Desempenho Docente: Proposta para a construção de um modelo coerente, integrado, compatível e eficaz. Portugal.

FERREIRA JÚNIOR, Amarilio; BITTAR, Marisa. a ditadura militar e a proletarizaçãodos professores. In: Revista Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 97, p. 1159-1179, set./dez. 2006 1159. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br

FERREIRA, Márcia Santos. Reforma educacional e identidade profissional: o centro de treinamento do magistério de Cuiabá no processo de profissionalização docente em Mato Grosso nos anos 1960. Disponível no site: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/jevdyvod.doc. Acessado em 28 de julho de 2009.

FRAGA, Rinaldo Martins; Nunes, Rogério da Silva. Sistema de Avaliação de Desempenho Gerencial em Bancos Estatais. Disponível em <http://www.fecap.br>. Acessado em 28 de maio de 2009.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não - cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho D’água, 1997.

FREITAS, H. de. Certificação do docente e formação do educador: regulação edesprofissionalização. Educação & Sociedade (2004), 24 (85), p. 1095-1124.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar um projeto de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas. 1996.

GUSDORF, Georges. Professores para quê? Para uma pedagogia da pedagogia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

KAPLAN, Robert; NORTON, David. A estratégia em ação. 10. ed., Rio de Janeiro: Campus, 1997.

LOBATO, David Menezes. Administração estratégica: uma visão orientada para a busca de vantagens competitivas. Rio de Janeiro: P&C Botafogo, 1997.

Page 107: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

107

MATOS, Ruy de A. Gestão e Democracia nas Organizações. Brasília: Ed. Livre, 1991.

MEDEIROS, Jarbas. Ideologia autoritária no Brasil 1930/1945. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1978.

MELLO, Maria Alba Machado. Isaías Alves de Almeida e a Educação na Bahia. In: Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 14, n. 24, p. 125-140, jul./dez., 2005

MIRANDA, Venâncio Urbano Pereira da Costa. Planejamento estratégico e decisão na petroquímica baiana (1978/1992): análises, dificuldades, aprendizados e avanços. Salvador: Vento Leste, 2007.

NÓVOA, Antonio. Desafios do professor no mundo contemporâneo. Palestra proferida no Sindicato dos Professores de São Paulo. 2007.

NÚÑEZ, Isauro Beltrán e RAMALHO, Betania Leite. A profissionalização da docência: um olhar a partir da representação de professoras do ensino fundamental. In: Revista Iberoamericana de Educación.

OLIVEIRA, Cristiane Nunes de et al. A avaliação dos/as profissionais da rede municipal de educação de Belo Horizonte: punição x premiação.

PEREIRA, Maria José Lara de Bretãs; FONSECA, João Gabriel Marques. Faces da decisão. São Paulo: Makron Books, 1997.

PONTES, B.R. Avaliação de Desempenho: uma abordagem sistêmica. São Paulo: Atlas, 1989.

PORTER, Michael. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1986.

RODRIGUES, Maristela Marques; GIÁGIO, Mônica (orgs.) Guia de Consulta para o Programa de Apoio aos Secretários Municipais de Educação – PRASEM III. Brasília:FUNDECOLA/MEC, 2001.

ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

SANTANA, Elisabete C., MELLO, Maria Alba Machado, BRANDÃO, Maria de Fátima. Sistemática para Avaliação de Desempenho Docente. São Sebastião do Passe: Secretaria de Educação e Cultura. 2006.

SANTOS FILHO, Pedro Augusto. Normas técnicas para o trabalho científico. Porto Alegre, l995.

SAUL, Ana Maria. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e à prática de avaliação e reformulação de currículo. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

Page 108: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

108

SCHEIN, Edgar H. Psicologia organizacional. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1982.

SIQUEIRA, Wagner. Avaliação de Desempenho: como romper amarras e superar modelos ultrapassados. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Ed., 2002. 182 p.

SOUSA. Jesus Maria. As missões (im)possíveis do professor: O bem/mal estar docente. Disponível no site: http://www.uma.pt/jesussousa/Tribuna/7.pdf

TASSO, Rosemary; MACHADO, Hilka Vier. Avaliação do Desempenho Docente: uma análise sobre a avaliação de desempenho diagonal semestral nas escolas de educação básica do estado do Paraná. Disponível no site: www.repositorio.seap.pr.gov.br/arquivos/File/artigos/educacao/avaliacao_do_desempenho_docente.pdf. Acessado em 16/06/2009.

TEIXEIRA, Hélio I., SANTANA, Solange M. (coord.) Remodelando a gestão pública. São Paulo: Edgar Blücher, 1995.

VILA, Fernando Gil. Crise do professorado: uma análise crítica. São Paulo: Papirus, 1998.

ZABALZA, M. A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Page 109: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

109

APÊNDICE

Page 110: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

110

QUESTIONÁRIO SOBRE AVALIAÇÃO DOCENTE

Este questionário tem por objetivo complementar um trabalho monográfico para o curso de Pedagogia com Ênfase em Gestão da educação, cujo foco central é analisar a opinião dos professores sobre a Avaliação Docente.

1. SEXO [ ] M [ ] F

2. TEMPO DE ATUAÇÃO NA REDE PÚBLICA01 a 5 anos6 a 10 anos11 a 15 anosMais de 15 anos

3. ATUA EM OUTRAS UNIDADES ESCOLARES.[ ] Sim [ ] Não

4. VOCÊ JÁ PASSOU POR ALGUM PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE NA REDE PÚBLICA? [ ] Sim [ ] Não

5. EM QUE MOMENTO?Quando prestou concurso públicoAo completar o estágio probatórioPela coordenação da escolaNunca foi avaliado(a)

6. QUEM AVALIOU?SecretariaGestor da escolaEscolaAgência de certificaçãoCoordenadorOutros ProcessosNão sabe

7. VOCÊ CONHECE ALGUM INSTRUMENTO LEGAL QUE JUSTIFIQUE A AVALIAÇÃO DOCENTE? [ ] Sim [ ] Não

8. CASO TENHA RESPONDIDO SIM À QUESTÃO 7 QUAL?LDBPCN’sConstituição FederalPlano Nacional de EducaçãoPlano de Progressão do Serviço PúblicoDesconhece

9. PARA VOCÊ QUAL(IS) A(S) INTENÇÃO(S) DO MEC/SEC EM IMPLANTAR A AVALIAÇÃO DOCENTE?Melhorar a qualidade do ensinoCriar critérios para a progressão da carreira docenteCriar indicadores para controle do trabalho docentePadronizar a ação docenteIdentificar necessidades para a formação docente Outros. Especificar

10. O QUE MUDA NA ESCOLA COM A IMPLANTAÇÃO DA AVALIAÇÃO DOCENTE? O compromisso dos professoresA atuação da coordenaçãoA aplicação dos conteúdosMelhora a qualidade do ensinoDesestimula a ação dos professoresDá clareza à função do professor em sala de aulaOutros. Especificar

11. PARA VOCÊ O QUE REPRESENTA A IMPLANTAÇÃO DA AVALIAÇÃO DOCENTE EM UE?Um indicador de qualidade de ensinoA coordenação fazer acertos pedagógicosConhecer o nível didático-pedagógico docenteBases para a formação continuadaNão acredita na necessidade da avaliação docente

Page 111: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC I CURSO DE ... · 2011-05-12 · Monografia apresentada como requisito parcial ... FICHA CATALOGRÁFICA

111

12. QUAIS OS ASPECTOS QUE VOCÊ CONSIDERA COMO POSITIVOS DA AVALIAÇÃO DOCENTE?Feed back para o professorFeed back para o coletivo da unidade escolarConstituir indicadores para a progressão na carreiraUm avanço ético na profissionalização docenteAmpliar a representatividade junto à sociedade

13. QUAIS OS ASPECTOS QUE VOCÊ CONSIDERA COMO NEGATIVOS DA AVALIAÇÃO DOCENTE?Retrocesso ético para o controle da função docenteNão acrescenta ganhos à progressão na carreiraNão articula bom desempenho com qualidade do ensinoNão mostra a capacidade real do professorResponsabiliza o professor pela crise da educação

14. VOCÊ ACHA NECESSÁRIA A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE? [ ] Sim [ ] Não

15. COMO A AVALIAÇÃO PODE REPERCUTIR NA(S) RESPONSABILIDADE(S) DO PROFESSOR PARA A EXCELÊNCIA DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM?

Estimula o repensar das práticasPromover a busca metodologias e didáticas mais adequadasPensar coletivamente o processo ensino-aprendizagemExigir condições adequadas para o exercício da funçãoDefine papel do professor no processo ensino-aprendizagem

16. COMO VOCÊ ANALISA A RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO DO DOCENTE, A AVALIAÇÃO DOCENTE E A GESTÃO ESCOLAR?

Não há relação de proximidade de interesses e açõesForma indireta de interferência e controle no trabalho docenteConsolida a democracia e o planejamento participativoElaboração coletiva das decisões da gestão para a docênciaFeed back da atuação docente para a gestão e comunidade

17. QUAIS OS FATORES PREPONDERANTES PARA UM EXCELENTE DESEMPENHO DOCENTE? Apenas o conhecimento dos conteúdos da disciplinaDomínio dos conteúdos e metodologias de ensinoA valorização profissional – plano de carreiraMelhor remuneração – salário e carga horáriaA criação de código de ética para o professor

18. A AVALIAÇÃO DOCENTE DEVE ESTAR ATRELADA A OUTRO(S) CRITÉRIO(S) INERENTE(S) À ESCOLA? [ ]Sim [ ] Não

19. SE RESPONDEU “SIM” À QUESTÃO ANTERIOR, QUAL? Condições de trabalho (recursos materiais e financeiros)Realidade da formação docenteAção da coordenação pedagógicaFunção docente claramente definida Avaliação institucional

20. EM SUA OPINIÃO QUAIS AS FUNÇÕES DOCENTES DO PROFESSOR.

Intermediar o processo de aprendizagemFacilitar ao aprendiz as condições de ler, interpretar e refletir a partir de sua própria vivênciaSelecionar conteúdos significativos em função dos objetivosRelacionar conteúdos do currículo a partir da vivência dos alunosTer domínio dos conteúdos e métodos de ensino

21. QUE ELEMENTOS DEVEM SER LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO PARA UMA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE?

Os resultados de desempenho do alunoTempo de atuação do professorAssiduidade para cumprir as horas letivasConhecimentos técnicos especializados na disciplinaPlano de aula, caderneta e outros documentos da escolaA auto-avaliaçãõ do professor