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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE JORNALISMO GABRIELA FIORIO A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA COBERTURA DE ATENTADOS TERRORISTAS PELO JORNAL NACIONAL: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS ATAQUES ÀS TORRES GÊMEAS E AO JORNAL CHARLIE HEBDO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II. Orientador(a): Ma. Adriana dos Santos Schleder Caxias do Sul 2017

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE JORNALISMO

GABRIELA FIORIO

A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA COBERTURA DE ATENTADOS

TERRORISTAS PELO JORNAL NACIONAL: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS

ATAQUES ÀS TORRES GÊMEAS E AO JORNAL CHARLIE HEBDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II. Orientador(a): Ma. Adriana dos Santos Schleder

Caxias do Sul 2017

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GABRIELA FIORIO

A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA COBERTURA DE ATENTADOS

TERRORISTAS PELO JORNAL NACIONAL: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS

ATAQUES ÀS TORRES GÊMEAS E AO JORNAL CHARLIE HEBDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II, do curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul. Aprovada em: ___/___/_____

Banca Examinadora __________________________________________ Profª. Ma. Adriana dos Santos Schleder Universidade de Caxias do Sul __________________________________________ Profª. Ma. Ana Laura Paraginski Universidade de Caxias do Sul __________________________________________ Prof. Me. Jacob Raul Hoffmann Universidade de Caxias do Sul

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente aos meus pais, Ana Silvia Sozo Fiorio e Itacir Antônio

Fiorio, pela ajuda, paciência e dedicação em todos os momentos desta caminhada.

À minha querida professora e orientadora, Adriana Schleder, pelos

ensinamentos, pela confiança no meu trabalho, pelas risadas e pelas correções em

vermelho que irão ficar registradas na minha memória.

À minha colega e amiga Ângela Salvallaggio pelo apoio, pelas leituras e

correções, por ouvir minhas reclamações, por sempre me oferecer um obro amigo

quando eu mais precisava.

Um agradecimento especial aos jornalistas André Luiz Azevedo e Caco

Barcellos que foram solícitos e que colaboraram com suas vivências para o

enriquecimento deste trabalho.

A todos, meu muito obrigada!

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RESUMO

Esta monografia tem por objetivo investigar como a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da cobertura de atentados terroristas no telejornalismo. Para isso foram selecionadas duas coberturas realizadas pelo Jornal Nacional: o atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, e o atentado ao Jornal Charlie Hebdo, em 07 de janeiro de 2015. A pesquisa traz os conceitos de gêneros de programas de TV com ênfase no telejornalismo, além de abordar o avanço tecnológico da televisão e a produção de reportagens. Por meio da Análise de Conteúdo e das técnicas de revisão bibliográfica, observação e entrevista, é possível perceber que a tecnologia qualificou o processo de produção de conteúdo no telejornal facilitando a interação entre jornalistas e telespectadores. Palavras chaves: Tecnologia. Telejornalismo. Produção de conteúdo. Cobertura

internacional. Jornal Nacional.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Categorias e gêneros dos programas na TV brasileira ....................... 14

Figura 2 – Entrevista por telefone ....................................................................... 119 Figura 3 – Reportagem via telefone .................................................................... 129 Figura 4 – Repórter na rua .................................................................................. 121 Figura 5 – Avião colide na segunda torre – Imagem chamada JN ...................... 123 Figura 6 – Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 1 ..................... 123 Figura 7 – Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 3 ..................... 124 Figura 8 – Avião colide na segunda torre – Imagem nota coberta ...................... 124 Figura 9 – Policiamento em postos turísticos de Paris ........................................ 126 Figura 10 – Imagem de celular ............................................................................ 126 Figura 11 – Página do Facebook do Jornal Charlie Hebdo ................................. 127 Figura 12 – Entrada ao vivo Zileide Silva ............................................................ 133 Figura 13 – Entrada ao vivo Zileide Silva lendo as últimas informações ............ 134 Figura 14 – Entrada ao vivo André Luiz Azevedo .............................................. 135 Figura 15 – Repórter fica de costas para câmera .............................................. 136 Figura 16 – Correspondente internacional em Londres ...................................... 137 Figura 17 – Correspondente internacional em Nova York ................................... 138

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09

2 GÊNEROS DE PROGRAMA DE TV ................................................................... 12

2.1 CONCEITOS .................................................................................................... 12

2.2 CATEGORIA INFORMAÇÃO ........................................................................... 14

2.2.1 Telejornal ..................................................................................................... 15

2.3 HIBRIDISMO .................................................................................................... 17

3 A EVOLUÇÃO DA TV NO BRASIL .................................................................... 20

3.1 AS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ................................................... 20

3.2 AS MUDANÇAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ................................ 25

4 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNAL ............................................. 32

4.1 A NOTÍCIA ....................................................................................................... 32

4.2 ESCOLHA DA PAUTA .................................................................................... 34

4.3 ELABORAÇÃO DA REPORTAGEM ............................................................... 35

4.3.1 Repórter ....................................................................................................... 35

4.3.2 Cinegrafista e imagens ............................................................................... 36

4.3.3 Fontes e entrevistas .................................................................................... 37

4.3.4 Texto ............................................................................................................. 37

4.3 EDIÇÃO ........................................................................................................... 38

4.3 NO AR ............................................................................................................. 40

5. JORNALISMO INTERNACIONAL NA REDE GLOBO DE TELEVISÃO........... 42

5.1 O INÍCIO .......................................................................................................... 42

5.2 AVANÇO TECNOLÓGICO .............................................................................. 43

5.3 CORRESPONDENTES E ENVIADOS ESPECIAIS ........................................ 45

5.4 AGÊNCIAS INTERNACIONAIS ...................................................................... 46

5.5 PROCESSO DE PRODUÇÃO DE COBERTURAS INTERNACIONAIS .......... 47

5.6 TERRORISMO ................................................................................................ 48

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6. METODOLOGIA ............................................................................................... 51

6.1 MÉTODO .......................................................................................................... 51

6.1.1 Pré-Análise ................................................................................................... 51

6.1.2 Exploração do material ............................................................................... 52

6.1.3 Tratamento dos resultados obtidos, inferência e interpretação ............. 53

6.2 TÉCNICAS ....................................................................................................... 54

6.2.1 Revisão Bibliográfica .................................................................................. 54

6.2.2 Observação .................................................................................................. 57

6.2.2.1 Objeto de estudo ........................................................................................ 57

6.2.2.2 Corpus da Pesquisa ................................................................................... 58

6.2.2.2.1 Ataque às Torres Gêmeas ...................................................................... 58

6.2.2.2.2 Ataque ao Jornal Charlie Hebdo ............................................................. 88

6.2.3 Entrevista ..................................................................................................... 103

6.2.3.1 Fontes de informação ................................................................................. 104

6.2.3.1.1 Zileide Silva ............................................................................................. 104

6.2.3.1.1.1 Questionário aplicado ........................................................................... 105

6.2.3.1.1.2 Ausência de retorno ............................................................................. 106

6.2.2.1.2 André Luiz Azevedo ................................................................................ 106

6.2.3.1.2.1 Questionário aplicado ........................................................................... 107

6.2.2.1.3 Edney Silvestre ....................................................................................... 110

6.2.3.1.3.1 Questionário aplicado ........................................................................... 111

6.2.3.1.3.2 Ausência de retorno ............................................................................. 112

6.2.2.1.4 Caco Barcellos ........................................................................................ 112

6.2.3.1.4.1 Questionário aplicado ........................................................................... 113

6.2.2.1.5 Jornalistas do RS ................................................................................... 115

7. A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NAS COBERTURAS DE ATENTADOS

TERRORISTAS NO JORNAL NACIONAL ........................................................... 117

7.1 AVANÇO TECNOLÓGICO .............................................................................. 117

7.1.1 Equipamentos ............................................................................................. 118

7.1.2 Imagem ........................................................................................................ 122

7.1.2 Interação ..................................................................................................... 128

7.2 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO DO TELEJORNAL .......................................... 129

7.2.1 Cobertura jornalística ................................................................................. 129

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7.2.2 Ancoragem e entradas ao vivo ................................................................. 131

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 140

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 144

APÊNDICE A: PROJETO DE PESQUISA MONOGRAFIA I ................................ 150

APÊNDICE B: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA A

JORNALISTA ZILEIDE SILVA ............................................................................. 151

APÊNDICE C: QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA A

JORNALISTA ZILEIDE SILVA ............................................................................. 152

APÊNDICE D: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO ............................................................... 153

APÊNDICE E: QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O

JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO................................................................ 154

APÊNDICE F: QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO JORNALISTA ANDRÉ LUIZ

AZEVEDO ............................................................................................................. 155

APÊNDICE G: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA EDNEY SILVESTRE ...................................................................... 159

APÊNDICE H: GRAVAÇÃO NA ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O JORNALISTA

CACO BARCELLOS ............................................................................................. 160

APÊNDICE I: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA RODRIGO LOPES ......................................................................... 161

APÊNDICE J: QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O

JORNALISTA RODRIGO LOPES ......................................................................... 162

APÊNDICE I: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA DANIEL SCOLA ............................................................................. 164

ANEXO A: ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 11 DE SETEMBRO DE 2001 .......... 166

ANEXO B: ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 07 DE JANEIRO DE 2015 .............. 167

ANEXO C: PRINCÍPIOS EDITORIAIS DO GRUPO GLOBO ................................ 168

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1 INTRODUÇÃO

Sempre digo para as pessoas que o jornalismo me encontrou. A paixão pela

profissão despertou quando comecei a trabalhar em uma rádio na minha cidade,

Flores da Cunha, Rio Grande do Sul. Os contatos que fazia para buscar as

informações, a relação de proximidade com as pessoas durante o processo das

coberturas jornalísticas e a transmissão dos fatos me encantavam a cada dia. Desde

este período, há cinco anos, percebi que sair da rotina me deixava mais eufórica e,

quando ocorriam fatos como acidentes trágicos ou perseguição a bandidos, ficava

com mais vontade de saber o que havia acontecido e ir em busca da notícia.

Comecei a prestar mais atenção no processo de como é realizada a busca de

imagens e informações para passar aos ouvintes, telespectadores e leitores; de

como o repórter tem que se portar frente a essas situações; até que ponto o

jornalista pode demostrar seu sentimento e até mesmo arriscar sua vida para passar

a melhor informação possível e ter credibilidade. E a tecnologia: no que ela

contribui? As reportagens melhoraram? Ficou mais fácil produzir conteúdo?

Na procura por respostas a esses questionamentos, percebi uma

necessidade de compreender como a tecnologia influenciou a apuração da notícia e

transmissão da informação aos espectadores, com foco em coberturas jornalísticas

de atentados terroristas. E, a partir dessa reflexão, surgiu a questão norteadora

desta monografia: de que forma a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da

cobertura de atentados terroristas no telejornalismo?

Para auxiliar no processo metodológico, foi definido o corpus da pesquisa: as

coberturas jornalísticas do Jornal Nacional, também chamado de JN, em 11 de

setembro de 2001, atentado às Torres Gêmeas; e 7 de janeiro de 2015, atentado ao

Jornal Charlie Hedbo – um estudo comparativo entre as duas no que diz respeito à

evolução tecnológica da comunicação. Também foram elencadas três hipóteses

para contribuir com o estudo: o avanço tecnológico facilitou o processo de produção

das notícias, desde a apuração do fato, edição e transmissão de conteúdo, até a

entrada ao vivo dos repórteres; a tecnologia permitiu maior acesso às informações

por parte dos telespectadores, o que exige precisão na apuração dos fatos por parte

dos meios de comunicação; por meio das mídias sociais e ferramentas, como

smartphone, os antigos receptores de informações se transformaram em produtores

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de conteúdo, alterando o processo de produção da notícia por parte dos veículos

tradicionais.

Investigar como a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da cobertura de

atentados terroristas no telejornalismo é o objetivo geral dessa pesquisa. Também

foram definidos os objetivos específicos: conceituar e classificar os gêneros e

formatos de programas de televisão; conhecer como se dá o processo de evolução

do telejornalismo, a partir do surgimento de novas tecnologias e da internet;

identificar como se dá o processo de produção de conteúdo no telejornalismo;

analisar como ocorre a apuração de notícias em atentados terroristas no

telejornalismo; avaliar o processo de produção de conteúdo do Jornal Nacional;

analisar como se deu a cobertura do atentado terrorista às Torres Gêmeas e ao

Jornal Charlie Hebdo; entrevistar repórteres do Jornal Nacional que participaram das

coberturas dos atentados terroristas em 2001 e 2015; comparar as coberturas

jornalísticas no Jornal Nacional sobre os atentados terroristas a partir da evolução

tecnológica.

Para realizar a pesquisa foram definidos como método a Análise de Conteúdo

e como técnicas a revisão bibliográfica, a entrevista por questionário e a observação.

O resultado do estudo será apresentado em oito capítulos.

No capítulo 2, Gêneros de Programas de TV, são conceituados categoria,

gêneros e formatos, ampliando as definições necessárias para o melhor

entendimento desta monografia. Este capítulo também aborda o hibridismo, conceito

que traz novos olhares sobre a produção de conteúdo audiovisual.

O capítulo 3, A evolução da TV no Brasil, apresenta a influência da tecnologia

na TV, as mudanças ocasionadas no processo de comunicação e a interatividade

entre repórteres e telespectadores.

O quarto capítulo, Produção de conteúdo no telejornalismo, expõe os

processos de produção de um telejornal, a partir da escolha da pauta, execução da

reportagem pelos repórteres e cinegrafistas, edição e exibição da notícia.

O capítulo 5 trata do Jornalismo internacional na Rede Globo de televisão,

desde seu início, a influência da tecnologia no trabalho de correspondentes

internacionais e o trabalho das agências internacionais. Além disso, é apresentado o

processo de produção de coberturas jornalísticas com foco no terrorismo.

O capítulo 6 é a Metodologia, onde é exposto todo o processo de produção de

conteúdo deste trabalho a partir do método e das técnicas abordadas. É

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apresentado o corpus da pesquisa, a decupagem1 das edições do Jornal Nacional

analisadas, além das entrevistas com jornalistas que fizeram a cobertura dos

atentados terroristas.

O sétimo capítulo apresenta A influência da tecnologia nas coberturas de

atentados terroristas no Jornal Nacional, onde o método e as técnicas desenvolvidos

ao longo do trabalho se unem junto às observações da pesquisadora.

O oitavo capítulo aborda as Considerações Finais onde é respondida a

questão norteadora e confirmada ou refutada as hipóteses da pesquisa.

1 Listagem de material para posterior seleção dos trechos a serem aproveitados na edição.

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2 GÊNEROS DE PROGRAMA DE TV

A televisão, desde sua invenção até hoje, é sinônimo de tecnologia e assumiu

uma importância na vida cotidiana das pessoas, pois tem o poder de disseminar

informações. José Carlos Aronchi de Souza, em seu livro Gêneros e Formatos na

Televisão Brasileira (2004), separa os programas de televisão em categorias,

gêneros e formatos, iniciando um processo de identificação do produto.

A classificação e os conceitos estabelecidos por Souza (2004) e outros

autores da área serão apresentados neste capítulo.

2.1 CONCEITOS

É do nosso cotidiano classificar tudo que existe em grupos. E com a televisão

não é diferente. As categorias são divisões que atendem à necessidade de separar

e classificar os gêneros de televisão. A categorização permite compreender melhor a

dinâmica de produção e planejamento dos programas. A identificação das categorias

dos programas, conforme Souza (2004, p. 39), segue a natureza e as funções da

televisão, que “deve sempre entreter e pode também informar”, além de unir os

elementos por meio do espaço de produção, dos anseios dos produtores e dos

desejos do público receptor.

Harris Watts, no livro On Camera: o curso de produção de filme e vídeo da

BBC (1990, p. 20), complementa que o entretenimento “é necessário para toda e

qualquer ideia de produção, sem exceções”. Conforme o autor entreter é interessar,

surpreender, divertir, estimular ou desafiar a audiência, despertando a vontade de

assistir ao programa.

Já o objetivo de informar, para Watts (1990, p. 20), “significa possibilitar que a

pessoa, no final da exibição, saiba um pouco mais sobre alguma coisa do que ela

sabia no começo do programa”.

Os programas de televisão são classificados em cinco categorias, que possui

gêneros próprios, conforme Souza (2004): entretenimento, informação, educação,

publicidade e outros.

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Souza (2004) aborda em seu livro conceitos de outros autores, como Barbosa

Filho2, que define gênero como unidades de informação que definem a forma de

apresentação do conteúdo acompanhando o momento histórico da produção. Já

para Martín-Barbero3, os gêneros podem ser entendidos como estratégias de

comunicabilidade, fatos culturais e modelos dinâmicos, articulados com as

dimensões históricas de seu espaço de produção e apropriação.

Os gêneros, segundo Souza (2004, p. 42), “devem ser relacionados com

aspectos históricos e culturais”, ordenando os estudos dos programas televisivos.

Elizabeth Bastos Duarte, em seu artigo Televisão, entre gêneros, formatos e tons

(2007, p. 01), complementa que os gêneros funcionam como estratégias de

comunicabilidade e são “categorias discursivas e culturais que se manifestam sob a

forma de subgêneros e formatos”.

Os gêneros sempre são acompanhados dos formatos. Duarte (2007) afirma

que, no caso dos programas de TV, os formatos ajudam a definir os gêneros. Souza

(2004) contribui na conceituação fazendo uma comparação com a biologia:

há muita semelhança entre gêneros e formatos na televisão no que se refere ao estudo de gênero no campo da biologia. Assim como na biologia existem gêneros e espécies, em televisão coexistem os gêneros e formatos. Pode-se fazer uma analogia, com as devidas diferenças, entre as espécies da biologia e os formatos de televisão. Na Biologia, várias espécies constituem um gênero, e os gêneros agrupados formam uma classe. Em televisão, vários formatos constituem um gênero de programa, e os gêneros agrupados formam uma categoria (SOUZA, 2004, p. 45).

Ampliando o significado, José Carlos Aronchi de Souza, em seu artigo

Formatação de programas de tv e sua influência para a classificação do gênero

(p.01, 2011), complementa que os “formatos dos programas de tv exigem uma

compreensão do desenvolvimento da televisão sob vários aspectos, inclusive o

tecnológico”.

Um conceito claro sobre formato é apresentado por Nísia Martins do Rosário,

no seu artigo Formatos e gêneros em corpos eletrônicos (2007, p. 5): “o formato [...]

atende à necessidade de uniformização de padrões, buscando constâncias de

linguagem e de discurso e, ao mesmo tempo, permitindo a exclusão da diversidade”.

2 BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2009. 3 MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.

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Por meio da conceituação de categoria, gêneros e formatos, Souza (2004)

apresenta em seu livro um esquema das categorias e gêneros dos programas na TV

brasileira (Figura 1).

Figura 1 - Categorias e gêneros dos programas na TV brasileira

Fonte: SOUZA, 2004, p. 92.

No presente trabalho, a partir da conceituação, entende-se a necessidade de

aprofundar a categoria informação para a elaboração desta pesquisa, que tem como

o objeto de estudo o Jornal Nacional e a cobertura de atentados terroristas.

2.2 CATEGORIA INFORMAÇÃO

A informação deve estar, fundamentalmente, a serviço do público. Olga

Curado em seu livro A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo (2002,

p. 16), afirma que “a informação deve colaborar para produzir em nós um sentimento

de inclusão social ou política, aumentando a nossa consciência acerca do que se

passa nas nossas cercanias ou alhures”.

A categoria informação é subdividida em quatro gêneros, conforme Souza

(2004): debate, documentário, entrevista e telejornal.

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O debate são produções de baixo investimento e, segundo Souza (2004, p.

143), é a “alternativa para emissoras com pouco poder financeiro de produzir

programas informativos mais sofisticados”. A característica principal do gênero é o

número de entrevistados que, juntos, criam o debate.

Souza (2004) acrescenta que o apresentador único caracteriza a maioria dos

programas, sendo o formato mais frequente desse gênero a mesa-redonda. O autor

ainda afirma que o programa de debate pode conter pequenas reportagens que

ilustram o tema.

Já o gênero documentário é uma demonstração de qualidade dos programas

de telejornalismo. De acordo com Souza (2004), os temas abordados pelos

documentários apresentam importância histórica, social, política, científica ou

econômica e aprofundam assuntos do cotidiano.

O conceito básico desse gênero é buscar o máximo de informação acerca do

assunto que será abordado e tentar mostrar todos os ângulos de um tema.

Conforme Souza (2004), o documentário pode apresentar vários formatos como

entrevistas, debates e narração em off, com o objetivo de não torná-lo cansativo.

O próximo gênero, a entrevista, está fortemente ligada aos programas

jornalísticos das emissoras, onde o jornalista “não tem o compromisso de deixar o

entrevistado à vontade, podendo questioná-lo sobre fatos polêmicos e chegar até à

discórdia” (SOUZA, 2004, p. 148).

José Marques de Melo4 enfatiza que “a entrevista é um relato que privilegia

um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a

coletividade” (MELO apud SOUZA, 2004, p. 148).

O último gênero da categoria informação é o telejornal, que se destaca diante

do objeto desta pesquisa, que aborda as coberturas jornalísticas do Jornal Nacional.

Este gênero será aprofundado separadamente no próximo subtítulo.

2.2.1 Telejornal

O telejornal, conforme Souza (2004, p. 149), “é um programa que apresenta

características próprias e evidentes, com apresentação em estúdio chamando

matérias e reportagens sobre os fatos mais recentes”. As emissoras mantêm uma

4 MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. 2.ed. rev. Petrópolis, RJ: Vozes,

1994.

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estrutura independente para o departamento de Jornalismo, com tecnologia para a

produção de programas.

O autor Arlindo Machado, em seu livro A televisão levada a sério (2014),

afirma que o principal problema na compreensão do conceito de telejornal é dizer

que a função básica do gênero é informar sobre o que está acontecendo, e que a

abordagem se restringe a tentar verificar o grau de exatidão ou de confiabilidade da

informação veiculada.

Conforme Machado (2014), o telejornal desmonta os discursos a respeito dos

acontecimentos. Ele afirma que as informações do telejornal constituem um

processo em andamento.

O gênero telejornal apresenta múltiplas funções. Souza (2004, p.152), afirma

que o primeiro formato foi o noticiário, com os apresentadores lendo textos para a

câmera: “um ou mais apresentadores lêem os textos e apresentam as reportagens

externas realizadas pelos jornalistas, ao vivo ou gravadas”. Machado (2014)

complementa:

tecnicamente falando, um telejornal é composto de uma mistura de distintas fontes de imagem e som: gravações em fita, filmes, material de arquivo, fotografia, gráficos, mapas, textos, além de locução, música e ruídos. Mas, acima de tudo e fundamentalmente, o telejornal consiste de tomadas em primeiro plano enfocando pessoas que falam diretamente para a câmera (posição stand-up), sejam elas jornalistas ou protagonistas: apresentadores, âncoras, correspondentes, repórteres, entrevistados, etc. De fato o quadro básico do telejornal consiste no seguinte: o repórter, em primeiro plano, dirigindo-se à câmera, tendo ao fundo um cenário do próprio acontecimento a que ele se refere em sua fala, enquanto gráficos e textos inseridos na imagem datam, situam e contextualizam o evento; se tudo isso for ao vivo, mais adequado ainda (MACHADO, 2014, p. 103).

Seguindo na mesma linha de pensamento, Souza (2004) acrescenta que os

principais telejornais continuam sendo transmitidos ao vivo para dar um tom de

atualidade e permitem a realização de entrevistas em diversos pontos do país e do

mundo.

Mas para a construção de um telejornal, os formatos são de suma

importância. Conforme Souza (2004), são eles: nota, reportagem, entrevista,

indicadores econômicos, editorial, comentário, crônica e charges. Estes podem ser

utilizados nos programas ao vivo ou gravados em estúdios. O formato ao vivo pode

ser transmitido em tempo real, simultaneamente ao acontecimento, ou gravado ao

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vivo. Souza (2004) enfatiza que os programas transmitidos ao vivo evitam cortes e

interrupções.

O telejornal faz parte da programação da TV brasileira cumprindo uma

determinação legal. O decreto lei 52.795 de 31 de outubro de 1963, que trata do

regulamento dos serviços de radiodifusão, estipula que as emissoras dediquem

cinco por cento do horário da programação diária ao serviço noticioso.

Com a evolução e o aparecimento das mídias sociais, o engessamento dos

gêneros, categorias e formatos têm sofrido questionamentos. É o que será

detalhado no próximo subtítulo.

2.3 HIBRIDISMO

Com o avanço das tecnologias, muitos conceitos estão sendo transformados.

Esse é o caso dos formatos televisivos. Para Machado (2014, p. 68), os conceitos de

gêneros não conseguem abranger a complexidade dos fenômenos. Para ele, é

preciso “recorrer a um conceito mais flexível ou melhor adaptável a um mundo em

expansão e rápida mutação”: o hibridismo.

Leila Lima de Souza, no artigo O processo de hibridação cultural: prós e

contras (2013), conceitua hibridismo como o processo de junção de diferentes

matrizes culturais.

Seguindo este pensamento, Machado (2014) afirma que um programa não se

encaixa em um gênero apenas, até porque os gêneros são mutáveis.

Para complicar, sabemos que as obras realmente fundantes produzidas em nosso século não se encaixam facilmente nas rubricas velhas e canônicas e quanto mais avançamos na direção do futuro, mais o hibridismo se mostra como a própria condição estrutural dos produtos culturais (MACHADO, 2014, p. 67).

Na mesma linha, François Jost, em seu artigo Para além da imagem, o

gênero televisual: proposições metodológicas para uma análise das emissões de

televisão (2007, p. 101), diz que “é um equívoco acreditar que seja possível

estabelecer uma classificação única e estável dos gêneros”.

Para reforçar esse conceito, Elizabeth Bastos Duarte, no artigo Reflexos

sobre os gêneros e formatos televisivos (2006), explica que dizer de um programa

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que ele é informativo ou de entretenimento é praticamente nada informar sobre ele,

pois existe a mistura de gêneros e formatos.

Nessa nova fase, Machado (2014) afirma que o conceito mais adequado para

gênero é o do pensador russo Mikhail Bakhtin5.

Gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada linguagem, um certo modo de organizar ideias, meios e recursos expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de modo a garantir a comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa forma junto às comunidades futuras (BAKHTIN, 1981 apud MACHADO, 2014, p. 68).

Essa transformação de conceito, conforme Egle Muller Spinelli, no artigo

Jornalismo audiovisual: gêneros e formatos na televisão e internet (2012), surgiu a

partir das possibilidades de convergências tecnológicas, comunicacionais e

profissionais. Renata Rezende, em seu artigo A tecnologia e a transformação do

dispositivo televisivo: produções sensórias no hibridismo realidade/ficção (2012),

acrescenta que a narrativa híbrida é uma característica do novo sistema de

comunicação baseado na integração em rede digitalizada de múltiplos modos, ou

seja, a capacidade de incluir e abranger diferentes expressões culturais.

Duarte (2006) afirma que, antes de tudo, gênero é uma estratégia de

comunicabilidade e quanto mais híbrido e complexos se tornam os produtos

televisuais, mais discussão existem em torno do assunto, isso porque existe uma

dificuldade na compreensão do conceito.

Rosário (2007, p. 04) complementa que seria mais assertivo pensar que “os

discursos televisivos estariam atravessados pelos gêneros e não organizados por

eles, os quais se comporiam numa instância de aglutinação discursiva que permitiria

uma tessitura de relações significativas entre programas”.

Assim, Duarte (2006, p.22) afirma que “a televisão vem construindo seus

gêneros/subgêneros e formatos, cujas estratégias, configurações e regularidades

adequam-se aos princípios e lógicas, possibilidades e restrições, que regem o

próprio funcionamento do meio”.

Esse novo momento dos formatos de televisão se caracteriza por romper com

os valores tradicionais. E as transformações tecnológicas influenciaram muito na

flexibilização destes processos.

5 BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense, 1981.

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A partir da conceituação de hibridismo é possível perceber que a tecnologia

tem influência direta na evolução da TV e do telejornalismo. Assunto do próximo

capítulo.

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3 A EVOLUÇÃO DA TV NO BRASIL

A televisão tem um poder de transmitir informação e entretenimento. Mas o

universo da TV está em constante evolução. Com um olhar tecnológico, este

capítulo abrangerá o avanço da televisão no Brasil a partir do telejornalismo.

3.1 AS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS

A televisão era uma realidade em praticamente todos os países entre o final

dos anos 1940 e início dos anos 1950. A TV, trazida ao Brasil em 1950 por

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, se consolidou como um meio

de informação e comunicação de massa e apresentava telejornais que eram

adaptados de programas de rádios. Conforme Bistane e Bacellar, no seu livro

Jornalismo de TV (2008, p. 106), “notícias eram lidas pelos locutores no estúdio e

havia pouquíssimas imagens para ilustrar a informação”. Tudo acontecia ao vivo.

O videotape, também conhecido como VT, chegou no Brasil em 1960. O

aparelho foi uma inovação para produzir vídeos gravados. Ele foi usado pela

primeira vez na cobertura da inauguração de Brasília, pela então TV Tupi, primeira

emissora de televisão do Brasil. De acordo com Bistane e Bacellar (2008), as

máquinas de videotepe tinham dois metros de altura e as fitas eram enormes: nada

prática para coberturas jornalísticas.

Paternostro (2006) acrescenta que com a chegada do VT uma revolução foi

instaurada no telejornalismo. Houve uma racionalização da produção, uma

economia de custos e de tempo, além de melhorar a qualidade dos programas.

Em 1965 surgiu a emissora das Organizações Globo que, conforme

Paternostro (2006, p. 33), começou “com uma programação voltada para a linha

popular [...] e, associada ao grupo norte-americano Time-Life, parte para a

implantação de esquema network, comprando ou contratando emissoras pelo país

(as afiliadas) para expandir o seu sinal”.

Na mesma época, constitui-se a Empresa Brasileira de Telecomunicações –

Embratel – que interligou todo o Brasil por meio de linhas básicas de microondas.

Em 1969, a TV Globo lançou o primeiro programa em rede nacional: o Jornal

Nacional (JN).

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William Bonner, no livro Jornal Nacional: modo de fazer (2009), descreve o

que é o JN.

O Jornal Nacional é um programa jornalístico de televisão. Por ser jornalístico, apresenta temas comuns aos jornais impressos, aos programas jornalísticos de rádio, aos sites da internet voltados para notícias e, em parte, às revistas semanais de informação. Por ser um programa de televisão, procura apresentar esses temas com a linguagem apropriada ao veículo: com um texto claro, para ser compreendido ao ser ouvido uma única vez, ilustrado por imagens que despertem o interesse do público por eles – mesmo que não sejam temas de apelo popular imediato (BONNER, 2009, p. 13).

1969 foi o ano de grandes avanços. Os satélites vieram para colaborar nos

sistemas de transmissão e o Brasil iniciava a era da comunicação espacial. De

acordo com Bistane e Bacellar (2008), uma das vantagens do satélite é que quase

nada constitui barreira para a transmissão. As autoras relatavam que “do local que

são captadas, as imagens sobem até o satélite, descem até a emissora, são

enviadas para a torre de transmissão e chegam à casa do telespectador” (p. 115).

Guilherme Jorge de Rezende, em seu livro Telejornalismo no Brasil: um perfil

editorial (2000), complementa que as transmissões via satélite possibilitavam a

integração nacional e a aproximação com o restante do mundo. O autor também

ressalta que, paralelo ao processo tecnológico, o rigor no planejamento da produção

identificava o novo modelo de telejornalismo: deveria manter o nível do noticiário a

altura do avanço tecnológico, não permitindo a improvisação e escrito por redatores

selecionados.

Carlos Tourinho, em seu livro Inovação no Telejornalismo: o que você vai ver

a seguir (2009), ressalta que para o Brasil foi um momento histórico: 28 de fevereiro

de 1969, o apresentador Hilton Gomes, de Roma, anunciava a primeira reportagem

internacional via satélite para o Brasil. Segundo Tourinho (2009, p. 63), “os satélites

de comunicação e a presença do correspondente no exterior começaram a se tornar

indispensáveis para o telejornalismo”.

Paternostro (2006, p. 26) acrescenta que “com a integração dos sistemas de

satélite de comunicação, o mundo da informação evoluiu tanto que passou a ser

muito simples [...] acompanhar algo que acontece no outro lado do planeta no

momento exato que está acontecendo, sem sair de casa”.

A TV inicia o ano de 1970 sob regras impostas pelo governo militar. A

ditadura estabeleceu o controle da informação. Mas a televisão se reinventou e

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ressurgiu após a suspensão da censura. O jornalismo começou a ocupar mais

espaço nas programações, com telejornais na hora do almoço e à noite.

Outro grande fato que marcou o avanço tecnológico foi a televisão em cores.

Conforme Tourinho (2009), o sistema, lançado nos Estados Unidos em 1954,

chegou no Brasil experimentalmente em 1963. Mas só em 1972 as primeiras

imagens em cores foram exibidas na TV brasileira. De acordo com o autor, a

Embratel foi a responsável pela primeira transmissão oficial: a Festa da Uva, em

Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. Tourinho (2009) ainda ressalta que foi a partir de

1973 que o Jornal Nacional passou a exibir a programação em cores regularmente.

Nos anos 1990, a televisão por assinatura chegou à população. Conforme

Paternostro (2006), a TV a cabo, como também pode ser chamada, é uma das

indústrias mais lucrativas do mundo. Bistane e Bacellar (2008) acrescentam que,

enquanto a TV aberta briga pela audiência para atrair patrocinadores, a televisão por

assinatura aposta na segmentação do público e vende conteúdo.

Mas a grande mudança veio no final dos anos 1990, início dos anos 2000:

chegou a era da TV digital. César Bolaño e Valério Brittos, no livro A televisão

brasileira na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes (2007),

afirmam que o processo de implantação do sistema digital impõe à TV mudanças

significativas no que diz respeito à relação do telespectador com o televisor e com o

conteúdo por ele transmitido.

Isso se deve a troca das tecnologias analógicas para as suas equivalentes

digitais. Roberto Wertman, em seu artigo Jornalismo em alta definição (2005),

salienta a importância dessa transição.

Para falarmos de TV digital, de suas características, vantagens e novidades, precisamos primeiro entender realmente a diferença entre transmissões analógicas e digitais. Na antiga tecnologia analógica, as imagens são convertidas em frequências e modulações especifica que são entendidas e traduzidas pelo receptor. A tecnologia digital substitui as informações por sequências binárias que são recebidas e traduzidas pelo receptor. [...] A TV digital também permite a recepção em dispositivos móveis, como TVs portáteis, [...] ou até mesmo celulares (WERTMAN, 2005, p. 221).

Ampliando este pensamento, Paternostro (2006, p. 63) salienta que a TV de

alta definição oferece imagens mais amplas, com mais detalhes, contraste e

definição: “no formato digital não importa se existem ou não obstáculos entre a

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transmissão e a recepção. [...] os sinais chegam à casa do telespectador com a

mesma qualidade que saíram da emissora”.

Tourinho (2009) afirma que o Brasil adotou o modelo baseado na tecnologia

japonesa, incorporando outras inovações. A tecnologia brasileira recebeu o nome de

SBTVD – Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Renato Cruz, em seu livro TV

digital no Brasil: tecnologia versus política (2008), conta que, no dia 29 de junho de

2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto 5.820 que

estabeleceu as diretrizes para a digitalização da TV brasileira.

Cruz (2008) afirma que a TV digital é uma ferramenta importante para auxiliar

na inclusão digital. A Agência Brasil6 divulgou dados do IBGE, de pesquisa realizada

em 2014, mas veiculada em 2016, que 97,1% dos 67 milhões de domicílios

brasileiros tem televisão. Desses 40% da população têm televisão digital aberta. Um

quarto dos domicílios com aparelhos de TV, cerca de 15 milhões, tinha apenas TV

analógica aberta. A mesma pesquisa divulgou dados da TV por assinatura: 32,1%

dos lares brasileiros com aparelhos de televisão possui TV a cabo.

A TV digital traz, além da melhor qualidade de áudio e imagem, os conceitos

de mobilidade, podendo ser assistida em movimento, e também de portabilidade, a

televisão está no celular e no computador, além da interatividade. Por esse motivo

está sendo realizado o desligamento do sinal analógico em diversas cidades do

Brasil. Conforme o Ministério da Ciência, Tecnologia Inovações e Comunicações7 a

migração do sistema iniciou em 2016 e segue até 2018. Durante esse período as

emissoras podem veicular, simultaneamente, a programação em tecnologia

analógica e digital.

A internet é o centro de uma nova revolução na comunicação. Paternostro

(2006, p. 21) afirma que a internet é “o meio de comunicação mais atual, que nos

modifica e modifica o mundo de uma forma muito mais rápida do que imaginamos”.

A autora ainda acrescenta que a internet promove uma reviravolta na organização

da sociedade.

Lúcia Santaella, em seu artigo A crítica das mídias na entrada do século XXI

(2002, p. 49), acrescenta que com essa transformação iniciaram “os trânsitos e

6 AGÊNCIA BRASIL. IBGE: 40% dos brasileiros têm televisão digital aberta. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-04/ibge-embardada-ate-amanha-10h-0604>. Acesso em: 10 set. 2017. 7 Disponível em: <http://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/textogeral/TV-Digital.html>. Acesso em: 22 nov. 2017

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intercâmbios dos meios de comunicação entre si, criando redes de

complementariedades”. Conforme a autora, uma informação passa de uma mídia a

outra. Ela ressalta que essas fusões via computador já estavam sendo antecipadas

pelo hibridismo, a mistura entre os formatos e gêneros.

Essa convergência tecnológica redesenhou o cenário da comunicação.

Manuel Castells, em seu livro O poder da comunicação (2015, p. 107), salienta que

a televisão continua sendo o meio predominante de comunicação de massa, mas

“foi profundamente transformada pela tecnologia [...] a ponto de hoje ser mais

compreendida como um meio que combina transmissão de massa disseminada com

transmissão especializada”.

O autor ainda afirma que a internet e a comunicação sem fio não são mídias

tradicionais. Eles são meios de comunicação interativa.

Não faz sentido comparar a internet com a televisão [...]. Além disso, a internet está cada vez sendo mais usada para acessar a mídia de massa (televisão, rádio, jornais) bem como qualquer forma de produto cultural ou informacional digitalizado (filmes, músicas, revistas, livros, artigos de jornais, banco de dados) (CASTELLS, 2015, p. 112).

Com a internet, o formato da reportagem e do telejornal também sofreu

alterações. De acordo com Tourinho (2009), as câmeras cinematográficas foram

substituídas pelas eletrônicas, o que facilitou a gravação e alterou o processo de

produção. O autor complementa que a tecnologia permitiu maior agilidade aos

telejornais, contato com múltiplas fontes e possibilidades de ser visto por mais

espectadores. Tourinho ainda salienta que com as transformações os equipamentos

necessários para uma transmissão são mínimos: o repórter sozinho consegue dar

conta, além do custo ser menor e ter uma maior mobilidade na hora da execução da

matéria.

Com isso, o telejornal e o conteúdo transmitido por ele, passaram a inovar,

mas todos tiveram que se adaptar: técnicos, operadores, cinegrafistas e jornalistas.

Paternostro (2006) afirma que:

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a chegada de uma nova tecnologia sempre é um desafio, pois é preciso abandonar um sistema já dominado e partir para o desconhecido. [...] Com a tecnologia eletrônica, os repórteres, por exemplo, tinham de se preparar muito mais para realizar uma cobertura, pois a qualquer momento podiam entrar ao vivo. Isso significa que tinham de “contar” a matéria para o telespectador, de forma clara, precisa, correta, objetiva – sem ler, na base do improviso, e sem ter grande conhecimento do assunto, enquanto o cinegrafista mostrava as imagens relacionadas àquele acontecimento, no mesmo instante (PATERNOSTRO, 2006, p. 64).

Fernando Firmino da Silva, em seu artigo Jornalismo e tecnologias da

mobilidade: conceitos e configurações (2008), conceitua uma das transformações

como jornalismo móvel. Para o autor, a intensificação da mobilidade na produção da

notícia exerce a característica mais definidora na evolução. Para Silva (p. 5), os

celulares são “pequenos computadores com grande poder de processamento e de

conexão concebidos para múltiplas tarefas de cunho multimídia”.

Com a internet, as mensagens estão chegando mais rápido, graças à

dinamização da indústria da cultura e da informação. Tourinho (2009, p. 205)

acredita que “se houver um avanço na interatividade, com um canal de retorno, o

jornalismo poderá ser beneficiado, podendo ampliar as informações fornecidas, a

partir da demanda do telespectador”.

Nesta linha, Raquel Recuero, em seu livro Redes sociais na internet (2009),

complementa que a possibilidade de expressão e socialização através das

ferramentas de comunicação mediada pelo computador e pelo celular é a mais

significativa mudança na televisão.

O avanço das tecnologias e a participação do telespectador na construção da

notícia são fatores que alteram os processos de comunicação, o que será abordado

no próximo subtítulo.

3.2 AS MUDANÇAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

Criada como um meio para a liberdade de expressão, a internet, segundo

Castells, no livro A galáxia internet: reflexões sobre internet, negócios e sociedade

(2004), permite a comunicação de muitos para muitos. Este é o diferencial desta

tecnologia que, aliada a outros recursos, possibilita a descentralização da

informação. O autor Pierre Lévy, também traz esse conceito no livro Ciberespaço:

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um hipertexto com Pierre Lévy (2000, p. 13), abordando também outros modelos da

relação entre emissores e receptores.

a) Um e todos: representado pelos meios de comunicação de massa, tendo

um centro emissor e uma multiplicidade de receptores, no qual a

mensagem é divulgada em um único sentido, sem interatividade entre as

partes;

b) Um e Um: embora proporcione uma interação perfeita entre as partes, não

possui a emergência do coletivo na transmissão da informação, como no

caso do telefone;

c) Todos e Todos: não há distinção entre emissores e receptores, pois todas

as partes em contato podem ocupar, concomitantemente, as duas

posições, estabelecendo um novo tipo de interação.

André Lemos, em seu livro Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura

contemporânea (2013), complementa que as novas tecnologias estão fazendo com

que a centralização da informação acabe e a interatividade entre as pessoas se

fortaleça. Conforme Fernanda Correa Silveira Galli, no artigo Linguagem da Internet:

um meio de comunicação global, qualquer elemento adquire a possibilidade de

interação com a internet. As interconexões entre pessoas dos mais diferentes

lugares do planeta são facilitadas, assim como a busca por opiniões e ideias

convergentes.

A interatividade está ligada aos novos media digitais. Carlos Montez e

Valdecir Becker no livro TV digital interativa: conceitos, desafios e perspectivas para

o Brasil (2005), elaboraram uma escala de zero a sete onde destacam o processo

evolutivo da interação do público com a TV:

Nível 0: é o estágio onde a televisão exibia imagens em preto e branco e o

espectador possuía de um a dois canais disponíveis. A ação do espectador resumia-

se a ligar e desligar o aparelho, regular volume, brilho ou contraste e trocar de um

canal para outro;

Nível 1: a televisão ganhou cores, maior número de emissoras e controle

remoto, facilitando o manejo que o telespectador tinha sobre o aparelho;

Nível 2: alguns equipamentos se incorporaram à televisão, como o

videocassete, as câmeras portáteis e os jogos eletrônicos. O telespectador ganhou

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novas tecnologias para apropriar-se do objeto televisão, podendo ver vídeos e jogar,

sem assistir, obrigatoriamente, a programação de fluxo;

Nível 3: já apareciam sinais de interatividade de características digitais. O

telespectador podia interferir no conteúdo a partir de telefones, fax ou correio

eletrônico;

Nível 4: é o estágio da chamada televisão interativa em que se podia

participar do conteúdo a partir da rede telemática em tempo real, escolhendo

ângulos de câmera, diferentes encaminhamentos das informações, etc. O

telespectador ainda não possuía controle total sobre a programação. Ele apenas

reagia a impulsos e caminhos pré-definidos pelo transmissor;

Nível 5: o telespectador passou a participar da programação enviando vídeo

de baixa qualidade, que poderia ser originado por intermédio de uma webcam ou

filmadora analógica;

Nível 6: a largura de banda desse canal aumenta, oferecendo a possibilidade

de envio de vídeo de alta qualidade, semelhante ao transmitido pela emissora.

Dessa forma, a interatividade chega a um nível muito superior a simples reatividade,

como caracterizado no nível quatro;

Nível 7: a interatividade plena é atingida. O telespectador passa a se

confundir com o transmissor, podendo gerar conteúdo. Esse nível é semelhante ao

que acontece na internet, onde qualquer pessoa pode publicar um site, bastando ter

as ferramentas adequadas. O telespectador pode produzir programas e enviá-los à

emissora, rompendo o monopólio da produção e veiculação das tradicionais redes

de televisão.

As novas tecnologias da informação, de acordo com Tourinho (2009),

oferecem instantaneidade, interatividade, abrangência e liberdade. O celular virou

fonte de informação e é um grande aliado no consumo de conteúdo.

E tudo isso com a possibilidade da interação entre emissor-receptor, relação que muitas vezes é subvertida com a participação cada vez maior do colaborador emitindo notícias, opiniões, fotos e muito mais, no mais puro conceito de interatividade 2.0. E quem é o colaborador? Qualquer receptor que tenha como acessar um computador (TOURINHO, 2009, p. 138).

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Conforme pesquisa realizada pelo IBGE em 2015 e divulgada em 2016 pela

Agência Brasil8, o celular se consolidou como principal meio para acessar a internet

em 92,1% dos domicílios brasileiros.

Com a aproximação da tecnologia, as pessoas passaram de espectadores de

forma clássica, que assistiam ao telejornal pela televisão e apenas recebiam a

informação, para produtores de conteúdo, que estão oferecendo informações ao

mesmo tempo que recebem.

Cínthia Soares Barbosa, em seu artigo A televisão além do controle remoto:

uma análise da participação do público no telejornalismo (2013), enfatiza a

participação do receptor.

A tecnologia digital, com sua possibilidade de convergência, e a tentativa de migração da televisão para outras plataformas modificou as relações da produção jornalística com o público. Uma das 57 grandes transformações causadas pela popularização dos aparelhos digitais foi a participação do telespectador na construção da notícia. O público soma a condição de espectador tradicional de televisão, a possibilidade de influenciar tanto na rotina de apuração dos fatos como na realização de uma reportagem. Surge, então, o jornalismo participativo, em que a própria população passa a registrar os acontecimentos através de aparatos como celular e câmeras digitais e fazer parte do noticiário (BARBOSA, 2013, p. 56).

Seguindo a mesma linha de pensamento Barbosa (2013), enfatiza que o

público deixa de ser somente receptor e passa a participar do processo de produção

contribuindo para a melhor produção da notícia. Com a participação do

telespectador o formato e a linguagem do telejornalismo sofre alterações. Conforme

Christina Feraz Musse e Mila Barbosa Pernisa, no artigo Telejornalismo: novos

formatos no cenário de crise da TV aberta (2011), a participação ativa do público em

reportagens e o hábito de compartilhar vídeos caseiros modificam a estrutura rígida

dos programas cedendo lugar para uma informalidade e descontração que se

aproximam mais da realidade do atual consumidor de notícias.

Várias são as nomenclaturas utilizadas por autores para definir essa ação.

Carolina Danielli e Simone Orlando, no artigo O uso do Whatsapp na rotina produtiva

da emissora de rádio BandNews Fluminense FM (2015), definem como jornalismo

cidadão.

8 AGÊNCIA BRASIL. IBGE: celular se consolida como o principal meio de acesso à internet no Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-12/ibge-celular-se-consolida-como-o-principal-meio-de-acesso-internet-no-brasil>. Acesso em: 10 set. 2017.

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O jornalismo cidadão designa a produção e a difusão de informação por cidadãos que não têm formação jornalística ou que não estão ligados a veículos de comunicação tradicionais. Ele é um reflexo da visão do público, a fim de construir debates comandados por editores para desenvolver um “senso comum”. Nesses casos, o receptor atua como protagonista do processo noticioso e não apenas como um coadjuvante (DANIELLI, ORLANDO, 2015, p. 5).

Com a participação mais ativa do telespectador, cresce a discussão sobre o

também chamado jornalismo colaborativo. Conforme Tourinho (2009, p. 214), “é

uma manifestação que ganhou força na Internet e já se espalhou por impressos e

televisão”.

Carlos Castilhos, no artigo Webjornalismo: o que é notícia no mundo on-line

(2005), acrescenta que a principal mudança da profissão do jornalista com a

interatividade é a perda do controle de informação “na medida em que a web deu ao

público leitor a capacidade de também publicar informações na internet” (p. 234). O

autor também salienta que a sobrevivência dos veículos de comunicação

tradicionais está ligada a credibilidade e confiabilidade.

Com a internet, a recepção de conteúdo também sofreu interferências.

Tourinho (2009) afirma que o perfil do usuário da internet é procurar várias fontes

quando buscam a informação. Na mesma linha de pensamento, Castilhos (2005)

afirma que a credibilidade terá cada vez mais peso na hora de se diferenciar quem

de fato merece o crédito.

Guilherme Pinheiro, no artigo O Cidadão-Repórter e o Papel do Jornalista

Profissional através do Jornalismo Participativo (2009), enfatiza que qualquer

pessoa pode registrar, filmar e gravar qualquer informação e ainda enviá-la via

internet através do celular. Tourinho (2009) traz em seu livro um trecho de uma

entrevista com o diretor da Central Globo

de Jornalismo, Carlos Schroder, que se mostrava otimista sobre o novo conceito de

jornalismo:

a boa notícia é que o jornalista é o centro da informação. Seja na TV, rádio, jornal, Internet ou celular, você precisa da matéria-prima. Ou seja: o nosso futuro está “assegurado”. Hoje, o importante é estar presente com a sua marca. E isso não pode ser só na TV. A credibilidade é o alvo e o que tem de ser preservado. Com isso, podemos e devemos estar presentes em qualquer plataforma porque seremos vistos, ouvidos ou lidos, não importa aonde (TOURINHO, 2005, p. 226).

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Para continuar desenvolvendo um trabalho de credibilidade, os jornalistas dos

veículos de comunicação de massa precisam estar sempre atualizados. Castilhos

(2005, p. 255) destaca o profissional multimídia, que “trabalhará simultaneamente

com texto, áudio, vídeo e interatividade, num ambiente de convergência de veículos

impressos, audiovisuais e cibernéticos”.

Para ampliar o conceito, Taís de Mendonça Jorge e Fábio Henrique Pereira,

no artigo Jornalismo on-line no Brasil: reflexões sobre perfil do profissional

multimídia (2009), ressaltam a fusão de funções do jornalista multimídia com a fala

do editor de Economia da Folha Online, Tony Schiaretta.

A essência da prática jornalística não mudou. O bom jornalista continua sendo aquele capaz de apurar uma boa matéria, escrever um bom texto, fazer um bom título. Aquele que dá a informação rápida, objetiva, crítica, pluralista e independente. O papel do jornalista multimídia se expande, ele se torna mais flexível e completo, exige novas habilidades. Para trabalhar na internet, ele precisa ousar e tentar novas formas de comunicar; conhecer as especificidades do meio, entender e aprender a usar as ferramentas; ser cada vez mais um contador de histórias (SCHIARETTA, Tony. 2006 apud JORGE, Thaís; PEREIRA, Fábio. 2009).

Outro fator que Barbosa (2013) destaca, e que está presente desde o

surgimento da televisão, é a transmissão ao vivo. Para a autora, o ao vivo é uma

característica fundamental da TV para concorrer com atualização minuto a minuto da

internet. Conforme Yvana Fechine, no artigo Tendências, usos e efeitos da

transmissão direta no telejornal (2006), a televisão perdeu a exclusividade tendo que

se adequar a novas estratégias.

Nesse cenário em que a imediaticidade e a capacidade de interação agregam maior valor às mídias, observa-se uma tendência à utilização cada vez maior da transmissão direta pelos telejornais tanto para a produção de um efeito de atualidade na divulgação da informação quanto para a construção de um sentido de presença entre os sujeitos envolvidos na comunicação (FECHINE, 2006, p. 139).

O avanço tecnológico reinventou a televisão, que foi crescendo e se

atualizando aos poucos. Não há mais como fazer jornalismo sem a ajuda da internet,

mesmo sendo necessária a checagem das notícias para apurar a veracidade do

fato.

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O processo de produção de conteúdo, com o jornalismo multimídia, também

sofreu alterações ao longo do tempo, mas o objetivo de informar continua intacto. O

próximo capítulo tratará da elaboração do conteúdo para o telejornal, desde a

definição do que é notícia até a apresentação ao vivo.

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4 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNALISMO

O telejornalismo é a busca permanente de formas eficientes de transmitir

informação correta ao maior número possível de cidadãos. Heródoto Barbeiro e

Paulo Rodolfo de Lima, em seu livro Manual de Telejornalismo: os segredos da

notícia na TV (2002, p. 46), salientam que “mesmo com tanta tecnologia disponível,

o jornalismo depende da velha e boa reflexão, investigação, acurácia e divulgação”.

Até o conteúdo produzido ser exibido na televisão, existe um processo de

produção, uma rotina diária de jornalistas que, em equipe, buscam informações,

fontes e imagens para contar o que é notícia. Todas as etapas da produção de

conteúdo para o telejornal serão apresentadas nos próximos subtítulos.

4.1 A NOTÍCIA

A base do telejornalismo é a notícia. Curado (2002, p.15) conceitua notícia

como “a informação que tem relevância para o público”. O jornalista ou a emissora

avaliam sempre se o fato é notícia ou não para iniciar o processo de produção do

conteúdo, até ser divulgado. Conforme Ana Stela de Souza Pinto, em seu livro

Jornalismo diário (2009), para ser notícia o fato precisa ser novo, importante e de

interesse do público.

A autora lista outros critérios para definir a importância de uma notícia:

a) Imediatismo: a informação inédita é mais importante do que a já publicada;

b) Improbabilidade: a notícia menos provável é mais importante do que a

esperada;

c) Utilidade: quanto mais pessoas possam ter sua vida afetada pela notícia,

mais importante ela é;

d) Apelo: quanto maior a curiosidade que a notícia possa despertar, mais

importante ela é;

e) Empatia: quanto mais pessoas puderem se identificar com o personagem

e a situação da notícia, mais importante ela é;

f) Conflito: disputa entre pessoas, países, corporações, além de tratarem de

diferentes interesses, costumam ser interessantes;

g) Proeminência: notícias sobre pessoas famosas tem mais impacto;

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h) Oportunidade: o momento da publicação faz a diferença. Publicar uma

informação exclusiva sobre uma reunião antes que ela aconteça é mais

jornalístico do que publicá-la depois.

A notícia é a informação a serviço do público. Curado (2002) enfatiza que a

notícia explica como determinado fato aconteceu, identificando personagens,

localizando geograficamente onde ocorreu a situação, descreve as circunstâncias,

situa num contexto histórico para dar ao público uma perspectiva e noção da

amplitude do fato.

A mediação feita pelo jornalista entre a comunidade e a fonte de informação é extremamente poderosa. A televisão é a referência única de grande parte da população que se atualiza pelos seus noticiários. O telejornal [...] está no ar com a missão de oferecer esclarecimentos sobre os fatos. O limite do jornalismo é a verdade (CURADO, 2002, p. 17).

Para Nelson Traquina, no livro Teorias do Jornalismo: a tribo jornalística –

uma comunidade interpretativa transnacional (2005), o conjunto de valores-notícias

é que determina se um acontecimento pode se tornar notícia ou não. São eles:

morte, notoriedade, proximidade, relevância, novidade, tempo, notabilidade,

inesperado, conflito/controvérsia e infração. Conforme o autor, esses critérios são

mutáveis e podem variar de uma empresa para outra.

Para produzir o Jornal Nacional, Bonner (2008) cita outros critérios que são

levados em consideração pela emissora:

a) Abrangência: quanto maior o universo de pessoas atingidas por um fato,

maior a probabilidade de ser publicado;

b) Gravidade das implicações: quanto maior for a gravidade de um fato,

maior a possibilidade de ser noticiado;

c) Caráter histórico: tem valor absoluto, reportagens que ficarão escritas na

história e que determinam uma cobertura diferenciada.

d) Peso do contexto: importância relativa de uma notícia quando comparada

às demais daquele dia;

e) Importância do todo: mostrar aquilo que de mais importante se deu

naquele dia, com clareza, isenção, pluralidade e correção.

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A partir destes critérios, a escolha da pauta é de grande importância no

processo de produção de conteúdo. E, para sugerir pautas é necessário hierarquizar

a informação, prever etapas de apuração e antecipar a edição do material, o que

será detalhado no próximo subtítulo.

4.2 ESCOLHA DA PAUTA

A pauta é um conjunto de dados e informações. É o ponto de partida para

uma reportagem. De acordo com Curado (2002, p. 40), ela mostra uma notícia

completa, mas que deverá ser desdobrada ao longo da execução. Em televisão, ela

só existe se for composta por mais de três linhas e não deve ser genérica.

Em uma redação, o produtor ou pauteiro é o encarregado de reunir

informações que possam se transformar em reportagens. Barbeiro e Lima (2002)

acrescentam que o produtor é aquele que na imensidão dos acontecimentos capta o

que pode ser transformado em reportagem. Conforme Ivor Yorke, no livro Jornalismo

diante das câmeras (1998), a coleta da notícia deve ser organizada e sistemática.

O produtor é o responsável por boa parte das condições materiais e do

conteúdo do telejornal. Segundo Curado (2002, p. 44), “no pior entendimento é a

“babá” do repórter”. A autora complementa que:

o produtor oferece o eixo da matéria. Marca a entrevista, identifica as fontes de imagens, reúne o arquivo sobre o assunto, roteiriza a pauta, propondo como a matéria deve ser estruturada e, finalmente, encaminha essa produção ao repórter, no caso de a matéria justificar a presença de um (CURADO, 2002, p. 44).

A pauta pode não ser executada ou ser contada por outro viés se o fato

indicado inicialmente não for confirmado ou tiver uma importância menor que outra.

Curado (2002), ressalta que a pauta faz um pente-fino no material divulgado e

vasculha os detalhes. A apuração pode dar boas indicações, mas a autora afirma

que é na rua que produtor e repórter ficam em contato com a reportagem, podendo a

matéria ser modificada ou não.

A busca e planejamento das reportagens não devem se limitar ao assunto do

dia, por isso há dois tipos de pauta, segundo Curado (2002): a factual e a produzida.

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a) Factual: é a cobertura. O jornalista acompanha e registra o fato que está

ocorrendo. É o tipo mais simples de pauta, já que se refere ao evento que

está sendo desdobrado. Oferece em poucas palavras sugestões para

enfoques de cobertura. Quando ocorre um evento de grandes proporções,

que tem vários aspectos a serem abordados, gera uma pauta factual

coordenada, isto é, que contém várias reportagens conexas;

b) Produzida: pauta de investigação. Pode começar a partir de um lembrete

da agenda, onde o pauteiro levanta novos dados do evento. Uma

antecipação da produção permite o agendamento de filmagens e

entrevistas com personagens que ficarão menos acessíveis durante o

evento.

Os modelos de pauta que sustentam o telejornal também são exemplificados

por Bonner (2009):

a perna “factual”, dos assuntos do dia, urgentes, acontecidos depois da última edição exibida do telejornal, e a perna de “atualidades”, que compreende aqueles temas não urgentes, mas atuais, que têm acontecido – e que tanto faz serem abordados no telejornal de hoje como no de amanhã, ou na semana que vem (BONNER, 2009, P. 47).

A partir desse processo, a pauta é entregue para o repórter e o cinegrafista,

que prosseguem na execução da reportagem.

4.3 ELABORAÇÃO DA REPORTAGEM

Para a boa execução da reportagem, algumas pessoas e fatores são

fundamentais. É o que será detalhado nos próximos subtítulos.

4.3.1 Repórter

O repórter é o líder da equipe externa. Conforme Curado (2002, p.46), o

profissional “dá o ritmo ao time, discute as necessidades do trabalho em campo,

reúne as informações, faz as entrevistas e apronta o texto da reportagem”. Na

função do repórter de vídeo, é preciso ter boa voz e presença empática,

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características específicas de comunicabilidade. De acordo com a autora, o

jornalista terá uma escala de responsabilidades de acordo com sua experiência:

a) Repórter local: nível inicial da carreira. Faz reportagens que serão exibidas

na área de cobertura local da emissora;

b) Repórter regional: o trabalho aparece em várias emissoras que

retransmitem o programa. As reportagens são um pouco mais elaboradas

e abrangentes;

c) Repórter de rede nacional: o profissional que atende a uma audiência mais

numerosa e diversificada. São profissionais experientes com autoridade,

discernimento e equilíbrio para estar à frente de uma reportagem em rede

nacional;

d) Correspondente internacional ou enviado especial: topo da carreira de

repórter. É o profissional que possui méritos pelo aprendizado contínuo e

que acumula experiências, atuando no exterior.

4.3.2 Cinegrafista e imagens

A parceria com o repórter e o cinegrafista também é de grande valia para uma

boa reportagem. O repórter cinematográfico, como também é chamado, é o olho do

telespectador, pois capta as imagens que irão ao ar.

Curado (2002) enfatiza que o cinegrafista, junto com o repórter, conhece o

conjunto da pauta e o objetivo da reportagem. A autora enfatiza que “o bom

cinegrafista não se limita a cumprir uma pauta que designa cenas a serem filmadas.

Procura compreender contexto e enfoque da matéria” (p. 50). Barbeiro e Lima (2002)

completam que as reportagens ao vivo devem sempre reproduzir o som ambiente,

dando o clima do acontecimento.

As imagens dão credibilidade e força às notícias. Bistane e Bacellar (2008, p.

42) afirmam que “uma imagem é capaz de incluir determinado assunto no telejornal”.

E Yorke (1998, p. 80) completa que os cinegrafistas possuem muito poder, pois eles

“tomam decisões editoriais toda vez que apontam as lentes para determinada cena e

não para outra”.

Com o avanço tecnológico, os aparelhos celulares também viraram uma

ferramenta para os jornalistas que contribuem na construção da informação, com

câmeras fotográficas e de vídeo, gravadores de voz e acesso à Internet.

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4.3.3 Fontes e entrevistas

A maioria das informações jornalísticas são relatadas por pessoas que

testemunharam ou participaram de eventos e fatos de interesse público. Por isso, a

notícia é construída por indivíduos e a melhor forma de se apurar a informação é por

meio da entrevista. Barbeiro e Lima (2002) salientam que o repórter deve sempre

preparar com antecedência as perguntas que vai fazer, deve ser incisivo e firme,

sem agredir o entrevistado. Os autores ainda reforçam que “o repórter deve obter do

entrevistado respostas curtas que satisfaçam às indagações contidas na pauta” (p.

69).

A entrevista é a melhor fonte de informação jornalística. Curado (2002, p. 98)

complementa que “é o elemento mais forte e refrescante porque propicia uma

relação dinâmica com a autoridade informativa”.

A entrevista em televisão, segundo Barbeiro e Lima (2002), tem o poder de

transmitir o que o jornalismo impresso nem sempre consegue: a exposição da

intimidade do entrevistado, os gestos, o olhar, o tom de voz, a mudança de

semblante. Conforme os autores, “boas entrevistas são aquelas que revelam

conhecimento, esclarecem fatos e marcam opiniões” (p. 85).

Mas para que a entrevista seja boa, o repórter precisa aprender a ler as

entrelinhas. Conforme Luciana Bistane e Luciane Bacellar, no livro Jornalismo de TV

(2008, p. 18), um bom repórter “não se contenta com a primeira versão, desconfia,

foge do óbvio”.

Christina Ferraz Musse e Mariana Ferraz Musse, no artigo A entrevista no

telejornalismo e no documentário: possibilidades e limitações (2010, p.1), salientam

que em reportagens factuais “o telejornalismo tende a enfatizar os depoimentos mais

imediatos, que, por ainda não terem se distanciado do acontecimento, costumam ser

mais fidedignos”. Portanto, a entrevista é uma estratégia da construção da matéria

para constatar a veracidade do fato.

4.3.4 Texto

O texto no Jornalismo é de suma importância. Já na TV ele complementa a

imagem. Vera Íris Paternostro, em seu livro O Texto na TV: Manual de

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Telejornalismo (2006), recorda do velho provérbio chinês: uma boa imagem vale

mais do que mil palavras.

No jornalismo de TV, o texto e a imagem precisam conversar e, para isso

acontecer, o texto deve ser claro, conciso, direto, preciso, simples e objetivo.

Paternostro (2006) afirma que:

é com a imagem que a televisão compete com o rádio e o jornal. É com a imagem que a TV exerce o seu fascínio e prende a atenção das pessoas. É preciso respeitar a força da informação visual e descobrir como associá-la à palavra, porque a informação na TV funciona a partir da relação texto/imagem (PATERNOSTRO, 2006, p. 61).

No telejornalismo, o texto é escrito para ser falado pelo locutor e ouvido pelo

receptor. Paternostro (2006) dá sugestões para o texto ter uma boa compreensão:

frases curtas, pontuação e pausas.

A autora ainda salienta que para escrever o texto é preciso saber quais

imagens estão à disposição da reportagem. É necessário ter as imagens

correspondentes às informações que serão faladas. A partir disso, o jornalista pode

começar a escrever. Paternostro (2006, p. 73) enfatiza que “a ideia de fazer um texto

descritivo [...] deve ser totalmente deixada de lado. Não há necessidade de se

descrever o que o telespectador já está vendo”.

Para construir um bom texto de TV, o repórter deve responder a cinco

questões básicas: o lead - Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Por quê? O lead

fará com que informações fundamentais sejam ditas, sem comprometer a imagem.

Paternostro (2006) ressalta que a imagem tem sua narrativa própria e, para

transmitir a emoção de um momento, o silêncio e o som original do que está

acontecendo é importante para a contextualização da reportagem.

O texto jornalístico na TV está inteiramente ligado à edição, o que será

detalhado no próximo subtítulo.

4.4 EDIÇÃO

Editar significa montar a matéria. O processo de edição requer uma avaliação

em conjunto das informações. O editor recebe todas as imagens feitas pelo repórter

cinematográfico e, através da decupagem, seleciona aquelas que melhor se

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adequam ao texto do repórter. Conforme Curado (2002), na hora da edição

cinegrafista, repórter e editores devem discutir a melhor forma de trabalhar a

matéria.

As reportagens elaboradas para um telejornal diário possuem, normalmente,

um tempo entre 1’05’’ e 1’30’’ (um minuto e cinco segundos e um minuto e trinta

segundos). Este tipo de reportagem tende a seguir um padrão, de acordo com

Curado (2002):

a) Texto do apresentador (cabeça) – cerca de 15’’ para chamar a

reportagem;

b) Texto em off 9 – entre 20’’ e 30’’;

c) Sonora ou fala de entrevistado – entre 10’’ e 15’’;

d) Passagem10 do repórter – entre 15’’ e 20’’;

e) Sonora de entrevista – entre 10’’ e 15’’;

f) Narração final em off, do repórter – entre 10’’ e 15’’.

Barbeiro e Lima (2002, p. 103) acrescentam que “nem sempre a passagem do

repórter é necessária numa edição. A presença forçada, apenas para que ele

apareça, pode quebrar a sequência da edição. O que importa é a notícia”.

Os autores também salientam que o editor deve mentalizar a matéria como

um todo e definir quais informações serão destaques na cabeça da matéria, para

saber o ponto de partida da edição, pois o texto lido pelo âncora nunca deve ser o

mesmo que o início do off da reportagem.

Contrariando Curado (2002), Barbeiro e Lima (2002, p. 103) destacam que as

reportagens não devem seguir o mesmo padrão: “como o jornal de TV é formado em

sua maior parte por reportagens editadas, se o estilo for o mesmo pode tornar o

programa monótono”.

Após a edição estar completa e o arquivo fechado, a matéria é organizada

dentro do script, que mostra a ordem que as matérias entrarão no ar e como os

apresentadores do telejornal chamarão cada reportagem. Isso será detalhado no

próximo subtítulo.

9 Off: texto feito pelo repórter com base nas imagens oferecidas pela equipe de reportagem.

Disponível em <http://jornal.metodista.br/tele/manual/reportagem.htm> Acesso em: 16 out. 2017. 10 Passagem: É o momento que o repórter aparece na matéria. Disponível em

<http://jornal.metodista.br/tele/manual/reportagem.htm> Acesso em: 16 out. 2017.

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4.5 NO AR

Na hora do programa, o âncora é o apresentador que acumula a atividade de

editor-chefe ou editor-executivo, de acordo com Curado (2002). É o principal

apresentador do telejornal e a autoridade na equipe, participando em todas as fases

da construção do telejornal. A autora afirma que o profissional “[...] é um editor, um

produtor, um pauteiro, um apurador e um repórter. As qualidades exigidas de um

âncora são muitas; é um profissional raríssimo e, portanto, bastante valorizado em

qualquer mercado” (p. 55).

Conforme Barbeiro e Lima (2002), o âncora integra um processo de contar à

sociedade o que está acontecendo. Ele deve ter participação ativa e acompanhar a

evolução das notícias durante todo o dia. Heródoto Barbeiro, no artigo Ancoragem

(2005), reitera que o papel do profissional é pilotar o jornal no ar e fora dele.

Além dos apresentadores que chamam as reportagens, muitos repórteres

entram ao vivo na programação para situar o telespectador. Yvana Fechine, no

artigo Tendências, usos e efeitos da transmissão direta no telejornal (2006), afirma

que a entrada ao vivo é uma aproximação temporal entre a ocorrência do fato e a

transmissão do telejornal. A autora salienta que o repórter fala ao vivo do mesmo

lugar no qual se deu o fato, em duas configurações:

a) O repórter dá todas as informações por meio de um stand-up, sequência

na qual as informações são dadas a partir de uma aparição, em primeiro

plano, do repórter;

b) O repórter dá as últimas informações ao vivo e chama uma reportagem

gravada por ele mesmo ou outro repórter, sobre o fato noticiado horas

antes do telejornal ir ao ar. É muito comum ainda o telejornal mostrar uma

reportagem gravada feita por um determinado repórter e, depois da sua

exibição, chamá-lo numa entrada ao vivo.

Fechine (2006) acrescenta que as entradas ao vivo confirmam para o

telespectador a veracidade dos fatos e que erros, imprevistos e problemas técnicos

são aceitáveis como marcas de fidedignidade da transmissão e do conteúdo.

Todos os detalhes, desde a apuração da informação até a divulgação da

notícia, estão estabelecidos pelos critérios editoriais da Rede Globo, empresa em

que o telejornal analisado nesta pesquisa está inserido. A linha editorial adotada em

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201111 (Anexo C), para nortear as redações do grupo se adapta as novas

tecnologias.

No documento, a família Marinho salienta a importância da era digital e da

multidão de indivíduos que utiliza a internet para se comunicar. O registro também

recomenda que todos os veículos da emissora Globo tenham estruturas para

receber as observações do público e imagens captadas por celulares.

Informações e imagens enviadas pelo público pela internet só devem ser publicadas depois de averiguação quanto à sua veracidade. Na cobertura de eventos que o trabalho de jornalistas esteja cerceado, haverá casos em que será necessária a publicação de informações e imagens assim obtidas, sem averiguação, mas o público deverá ser avisado de que não há como confirmar se são verdadeiras (Princípios editoriais do Grupo Globo, 2011, p. 12).

O investimento em tecnologia, a fim de garantir a rapidez ao trabalho dos

jornalistas, também é um dos princípios editoriais:

os veículos das Organizações Globo terão sempre como prioridade investir em tecnologia capaz de dar celeridade ao trabalho jornalístico e à sua difusão. Deverão estar atualizados com o que de melhor houver em maquinaria, equipamentos, softwares e meios de transporte (Princípios editoriais do Grupo Globo, 2011, p. 16).

Todo o planejamento de uma reportagem existe para dar espaço ao

imprevisível. Curado (2002, p. 94) enfatiza que “é muito mais simples mobilizar uma

equipe [...] quando toda a força do acontecimento exige, se a redação tem uma

rotina”.

O capítulo seguinte busca a compreensão do jornalismo internacional e a

rotina de uma cobertura imprevisível.

11 Disponível em: <http://g1.globo.com/principios-editoriais-do-grupo-globo.html>. Acesso em: 22

out.2017.

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5 JORNALISMO INTERNACIONAL NA REDE GLOBO DE TELEVISÃO

Com ênfase na TV Globo e no Jornal Nacional, objeto de estudo desta

pesquisa, este capítulo irá tratar da evolução do jornalismo internacional e como se

dá o processo de produção de conteúdo por meio dos correspondentes e agências

de notícias. O capítulo também abrangerá as coberturas jornalísticas de terrorismo.

Para a elaboração deste capítulo foram encontradas poucas referências

bibliográficas sobre o assunto, muito mais com livros de depoimentos sobre

coberturas específicas, do que a prática profissional nas matérias internacionais.

5.1 O INÍCIO

Mostrar aquilo que de mais importante está acontecendo pelo mundo é um

dos objetivos do Jornal Nacional. Conforme Carolina Cavalcanti, no livro A cobertura

internacional do Jornal Nacional: correspondente, enviados especiais e usos de

tecnologias (2014), o JN, desde o seu início, utilizava o noticiário internacional para

se diferenciar da concorrência. E Bonner (2009, p. 18) complementa dizendo que

esse tipo de abordagem “é uma tarefa de uma ambição gigantesca e de uma

complexidade extrema”.

Em 1971, com a chegada dos satélites, imagens do exterior eram fornecidas

diariamente à TV Globo pelo Sistema Ibero-Americano de Notícias – SIN. Conforme

o livro Memória Globo (2004), todas as manhãs uma conferência telefônica com os

países Ibero-Americanos (Espanha, Portugal, México, Colômbia, Venezuela,

Argentina e Chile) elaborava a pauta do dia e, para a matéria ser aceita e

encaminhada via satélite, precisava da aprovação de, no mínimo, três países.

Em 1973, a Globo assinou um contrato com a agência de notícias United

Press International, que passou a enviar diretamente, do mundo inteiro e via satélite,

imagens para o Jornal Nacional.

Com as transmissões via satélite que garantiam qualidade nas coberturas

internacionais, a Rede Globo decidiu investir em bases no exterior, montando seu

primeiro escritório, em novembro de 1973, em Nova York. Conforme o Memória

Globo (2004, p. 43), “a sucursal começou numa pequena sala e com uma única

câmera, mas logo depois foram instalados estúdios de áudio e vídeo, além de um

arquivo com imagens de noticiários norte-americanos”. Maria Cleidejane Esperidião,

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no artigo A era do kit-correspondente: tendências da cobertura internacional no

telejornalismo brasileiro (2007), acrescenta que a Rede Globo dispunha dos

melhores equipamentos como também enxergava na cobertura internacional a

possibilidade de exercer um jornalismo sem o monitoramento da censura, que

imperava no país sob o regime militar.

Em 1974, o escritório de Londres começou a funcionar. Em 1977 foi criado

um escritório em Paris e outro na cidade de Colônia, na Alemanha, além de um

pequeno escritório em Buenos Aires. Já em 1982, entrou em atividade o escritório

de Washington. Mas na década de 1980, três escritórios fecharam.

Para reduzir custos operacionais no continente europeu, a emissora decidiu centralizar suas atividades em Londres, fechando as sucursais em Paris e Colônia. [...] Nesta mesma época também foi desativada a sucursal de Buenos Aires (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p. 136).

Conforme o jornalista americano Peter Goodman, citado por Maria Clara

Nicolau Vieira, no artigo Correspondente internacional: estudo sobre a atual

conjuntura da profissão (2015), as notícias internacionais são extremamente caras,

pois requerem profissionais qualificados, que domine outros idiomas, que saiba

apurar e reportar bem as histórias.

A TV Globo é a emissora brasileira que detém a maior infraestrutura fora do

país, com escritórios em lugares estratégicos para coberturas: Estados Unidos,

Europa, Oriente Médio, Argentina e China. E toda essa evolução está ligada ao

avanço tecnológico, que será abordado no próximo subtítulo.

5.2 AVANÇO TECNOLÓGICO

A tecnologia tem papel fundamental no jornalismo internacional. Conforme

Vieira (2015), ao mesmo tempo em que as tecnologias facilitaram imensamente a

transmissão de informações do correspondente às redações e vice-versa, elas

também trouxeram novos desafios para a profissão, que exigiriam a adaptação do

profissional.

A primeira novidade no jornalismo internacional veio com a Guerra do Golfo,

em 1991. De acordo com o Memória Globo (2004, p. 242), pela primeira vez os

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correspondentes apareceram conversando entre si “numa época em que a

transmissão ao vivo ainda era uma operação arriscada, sujeita a inúmeras falhas”.

Em outubro de 2001, na Guerra no Afeganistão, o videofone foi inaugurado

pelo correspondente Pedro Bial. Conforme o Memória Globo (2004), o repórter falou

ao vivo, transmitindo som e imagem para o Brasil e utilizando um programa

desenvolvido pela emissora que codifica e decodifica imagens, captadas por uma

câmera digital e transmitidas via satélite por um computador portátil.

O videofone foi tema de artigo do jornalista Sérgio Dávila, seis meses antes

da Globo fazer o uso do aparelho. Conforme Cavalcanti (2014), o jornalista previa

que o videofone iria revolucionar os telejornais, transmitindo as notícias ao vivo na

TV de qualquer lugar do mundo sem depender de meios oficiais, embora com

qualidade inferior.

Com a difusão das tecnologias, uma maior agilidade foi proporcionada nas

coberturas e transmissões internacionais. De acordo com Bistani e Bacellar (2008),

com as transformações os repórteres podem falar ao vivo de qualquer país

utilizando a transmissão via internet, o que permite que os correspondentes

trabalhem praticamente sozinhos.

A Rede Globo é exemplo desse avanço tecnológico, onde o correspondente

possui uma câmera e um notebook para realizar toda a matéria.

A estrutura do jornalismo da Globo no exterior tem uma mobilidade que se serve do desenvolvimento espetacular da tecnologia de comunicação e transmissão dos últimos anos. Com equipamentos de dimensões reduzidas, um repórter consegue enviar material diretamente para a Globo, sem a necessidade de reservar um canal de satélite. Ele grava o material com uma câmera comum, transfere o material para um notebook, edita a reportagem digitalmente e a transmite, comprimida, num arquivo digital pela internet (BONNER, 2009, p. 38).

Seguindo o mesmo ponto de vista, Cavalcanti (2014) afirma que a internet

tornou possível o imediatismo a um custo muito baixo, fazendo com que o

correspondente se apropriasse dos novos dispositivos tecnológicos, como a câmera

do celular e a do computador. Além disso, a autora complementa que imagens

amadoras estão fazendo parte de reportagens, que contam também com registros

profissionais, e cujos textos são construídos pelo repórter.

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O cotidiano do correspondente e do enviado especial ao exterior, que

acompanhou a mudança na rotina e no fazer jornalístico por conta do avanço

tecnológico, é o assunto do próximo subtítulo.

5.3 CORRESPONDENTES E ENVIADOS ESPECIAIS

Correspondente internacional é o profissional que mora por um período

indeterminado em outro país, a serviço de um veículo de comunicação. O enviado

especial também representa uma emissora, mas é designado pontualmente para

cobrir determinado fato ou evento e retorna ao seu lugar de origem após o término

da pauta. A explicação de Cavalcanti (2014) também informa que o correspondente

pode desenvolver um trabalho de enviado especial ao realizar o deslocamento do

país ou da região onde está sediado.

Conforme o livro Memória Globo (2004), a presença de correspondentes nos

locais onde se dão os fatos confere mais veracidade à notícia do que o mero uso do

material das agências internacionais. E, com o novo cenário tecnológico, é cada vez

mais exigida do profissional uma maior habilidade com os diversos tipos de

ferramentas tecnológicas para atuar na dinâmica da convergência. Dione Oliveira

Moura e Luciane Fassarella Agnez, no artigo Correspondentes Internacionais:

problematização em torno da era digital e o jornalismo (2014), acrescentam que as

tecnologias influenciam numa produção mais ágil, de maior volume e em diversas

mídias.

De acordo com Bonner (2009), o Jornal Nacional mostra o mundo aos

brasileiros com os olhos de brasileiros. Conforme o jornalista, isso tem sido realizado

em todos os maiores acontecimentos internacionais. Esse relato já era abordado no

livro Memória Globo (2004, p. 42), onde afirma que os correspondentes

“personalizavam a notícia, tinham a visão brasileira, sabiam o que era de interesse

nacional”.

Nessa linha, Jorge Pontual, no artigo O correspondente internacional (2005,

p. 187), comenta que o olhar brasileiro “não significa necessariamente uma visão

provinciana, bitolada e deslumbrada diante do resto do mundo. Pode indicar uma

curiosidade mais aguda, mais crítica, menos limitada pelos parâmetros do primeiro

mundo”.

Para Pontual,

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trabalhar como correspondente no exterior é visto como um prêmio para o repórter. Mas é um trabalho puxado, duro, longe da família e dos amigos, estressante, extremamente perigoso na cobertura de guerras e em geral mal remunerado quando se leva em conta o custo de vida em outro país. [...] Mas é uma oportunidade extraordinária para conhecer o mundo, aprender, ventilar as ideias, se reinventar e conhecer melhor a si mesmo [...] há também o enriquecimento profissional pelo acesso a novas tecnologias, a exposição a um mundo de informação e cultura que nem sempre chega ao Brasil (PONTUAL, 2005, p. 188).

O jornalista ainda ressalta que o correspondente tem grande dificuldade de

cultivar fontes porque está sempre viajando. E que é muito difícil de conseguir boas

entrevistas, porque para a maioria das pessoas o Brasil não é um mercado de

interesse.

Conforme Cavalcanti (2014), veículos de comunicação de grande porte

desejam uma cobertura autêntica, de alta qualidade e independente, investem em

profissionais próprios para não depender exclusivamente de materiais das agências

internacionais. Mas, conforme Moura e Agnez (2014), o correspondente

internacional também abastece as informações das agências de notícias, o que será

detalhado no próximo subtítulo.

5.4 AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As agências internacionais de televisão seguem a mesma lógica que as

agências de notícias: são responsáveis por reunir, processar e distribuir notícias

para as empresas assinantes ao redor do mundo. Conforme João Batista Natali, em

seu livro Jornalismo Internacional (2004, p. 48), “as agências de imagens oferecem

às emissoras um cardápio que eu diria “pasteurizado” em seus assuntos e enfoques.

Não há imagens destinadas exclusivamente ao telespectador senegalês, tcheco ou

brasileiro”.

Com o desenvolvimento do jornalismo e das estruturas tecnológicas para a

difusão das notícias, as agências internacionais aumentaram o fluxo de informações.

Conforme Cavalcanti (2014), essa produção em larga escala é mais viável

economicamente para os veículos de comunicação. A autora afirma que as

emissoras têm mais informações por um preço muito mais baixo do que se o

material fosse produzido pelo próprio veículo.

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Mas a era digital, por outro lado, afetou diretamente as agências

internacionais. Conforme o CEO da Agence France-Presse, Emmanue Hoog, citado

por Júlia Libório Rocha Lima, no artigo A tradução da notícia: língua e informação no

jornalismo internacional (2013), três são as dificuldades enfrentadas pelas agências

nessa era:

a) Velocidade: nunca antes o tempo entre o acontecimento e a liberação da

notícia foi tão pequeno;

b) Massa: aumento do número de profissionais e os cidadãos atores nas

redes sociais;

c) Imagem: a palavra escrita não é mais a principal entrada da informação. O

audiovisual se tornou tão importante quanto.

E analisando essas mudanças que também afetaram diretamente os

correspondentes, o próximo subtítulo abordará a forma pela qual os profissionais

vêm lidando com a influência da tecnologia durante a produção das coberturas.

5.5 PROCESSO DE PRODUÇÃO DE COBERTURAS INTERNACIONAIS

Operação especial. Esse é o nome dado por Carlos Tourinho, em seu livro

Inovação no Telejornalismo: o que você vai ver a seguir (2009), quando se trata da

produção de conteúdo para uma cobertura jornalística imprevisível.

Conforme o Memória Globo (2004, p. 340), “quando há um evento de grandes

proporções, a primeira coisa a fazer é dividir a equipe em duas. Uma se dedica à

transmissão ao vivo; a outra cuida dos telejornais”. Os correspondentes

internacionais fazem entradas ao vivo atualizando informações e relatando aquilo

que assistem in loco. Outros produzem reportagens e buscam fontes para sua

matéria.

Mas a rotina do correspondente é diária e não apenas nas operações

especiais. Conforme Giovanni Guizzo da Rocha, no artigo Além das mídias: o que

os livros revelam sobre as práticas de repórteres internacionais (2012), quando o

repórter não está realizando uma cobertura, ele deve manter-se informado sobre os

acontecimentos locais ou de relevância, o que envolve a constante leitura de jornais,

revistas, assistir TV e ouvir rádio, além de ficar atento às agências de notícias.

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Rocha (2012, p. 29) ressalta que a rotina do correspondente é “estar ligado 24 horas

nas notícias e pronto para entrar em ação viajando o mundo”.

Ana Carolina Vanderlei Cavalcanti e Thiago Soares, no artigo A cobertura

internacional do Jornal Nacional: efeitos de proximidade e os fatos - a partir de uma

perspectiva brasileira (2014), relatam que o correspondente pode ser um profissional

com mais autonomia, realizar matérias de conhecimento cultural, que não

interessam para as agências, mas é de grande valia para seu país. Porém, essa

liberdade também traz uma maior responsabilidade na apuração dos fatos.

Entretanto, o que marca de fato a carreira de um correspondente internacional

é a cobertura de assuntos polêmicos, guerras, catástrofes e o terrorismo. E o

cuidado que os profissionais devem ter na divulgação e apuração desses casos que

será abordado no subtítulo a seguir.

5.6 TERRORISMO

De acordo com o dicionário Michaelis12, terrorismo é um sistema

governamental que se impõe por meio do terror, sem respeito aos direitos e às

regalias dos cidadãos; uso sistemático da violência como meio de repressão. E,

conforme dados do livro de Anne Williams e Vivian Head, Ataques Terroristas: a face

oculta da vulnerabilidade (2010, p.19), o primeiro registro dessa palavra surgiu na

academia francesa em 1798 “onde foi relacionada com um sistema ou domínio do

terror”.

Ainda de acordo com as autoras, o terrorismo é o resultado direto de uma

explosão de sentimento popular onde as pessoas acreditam que o uso da violência e

da força bruta pode transformar para melhor o cenário político. Os terroristas sempre

planejam seus ataques com a finalidade de obter o máximo de publicidade,

escolhendo alvos que exemplifiquem ao que eles se opõem.

Eduardo Cintra Torres, no artigo 11 de Setembro: as quatro fases do evento

midiático (2007), afirma que o terrorismo necessita de uma cobertura midiática e é

missão dos jornalistas de noticiar. Mas o autor lembra que a notícia dos atos

também é um objetivo dos próprios terroristas para validar o ataque. Na mesma

linha, André Luiz Azevedo, na série especial apresentada pelo JN na comemoração

12 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-

brasileiro/terrorismo/> Acesso em: 16 out. 2017.

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dos 50 anos de jornalismo da Globo13, revela que a preocupação do correspondente

o tempo todo é “de que maneira a gente pode cobrir essa questão do terrorismo, não

sonegando a informação, mas não sendo usados pelos terroristas para fazer a

divulgação”.

E foi isso que aconteceu na cobertura do dia 11 de setembro de 2001. Nos

primeiros minutos do atentado às Torres Gêmeas, as emissoras de TV já se

direcionavam para o evento. Com um tratamento cauteloso, segundo o site Memória

Globo14, os repórteres, primeiramente, informavam aos telespectadores sobre um

acidente e não um ataque terrorista. Com o impacto do segundo avião, a TV Globo

começou a cogitar a hipótese de atentado, redirecionando o conteúdo a ser

apresentado no JN daquele dia e mobilizando toda a equipe de correspondentes de

Nova York, Washington, Londres e Beirute, com reportagens e imagens exclusivas.

Conforme o site, o telejornal exibiu entrevistas com analistas políticos e

especialistas em relações internacionais que não hesitaram em afirmar que o mundo

seria outro depois daquela terça-feira.

Torres (2007) afirma que as práticas do jornalismo durante estes eventos

possuem certas características. O autor lista as alterações e comportamentos

verificados na prática jornalística durante a cobertura de 11 de setembro:

a) Transmissão direta dos impactos mundiais do evento;

b) Interrupção das emissões normais de televisão;

c) Transmissão sem fim à vista e edições especiais da imprensa;

d) Revalorização dos jornalistas em inquéritos de opinião;

e) Grande presença do jornalismo opinativo;

f) Exibição das emoções dos jornalistas;

g) O papel das imagens como testemunho do evento;

h) Aumento do consumo de todos os media.

Portanto, em todas as coberturas factuais há uma mudança no

comportamento da emissora, proporcionando ao telespectador um conhecimento

amplo dos acontecimentos. Conforme Bonner (2009, p.20), o Jornal Nacional é “um

13 MEMÓRIA GLOBO. 50 anos de jornalismo na Globo Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/telejornais-e-programas/jornal-nacional/jornal-nacional-50-anos-de-jornalismo-da-globo.htm> Acesso em: 30 set. 2017. 14 MEMÓRIA GLOBO. Atentados de 11 de Setembro. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-de-11-de-setembro/sobre.htm>. Acesso em: 30 ser. 2017.

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jornal de vocação factual”. E são nessas reportagens que tem necessidade urgente

de publicação que o JN se apoia, dando perfis distintos às edições do telejornal.

Contar com escritórios internacionais e correspondentes é sinônimo de

privilégio para a TV. Com um material exclusivo e diferenciado, as reportagens

internacionais enobrecem o telejornalismo brasileiro, fazendo com que as pessoas

fiquem sabendo o que de importante está acontecendo no Brasil e no mundo.

Após a revisão bibliográfica, é importante conhecer as outras etapas do

processo metodológico desenvolvido no presente estudo. Assunto que será

abordado no próximo capítulo.

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6 METODOLOGIA

Para investigar como a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da

cobertura de atentados terroristas no telejornalismo, esta pesquisa foi realizada a

partir do método de Análise de Conteúdo, proposto por Laurence Bardin (2011), e

das técnicas de revisão bibliográfica, entrevista e observação.

6.1 MÉTODO

O método que norteia esta pesquisa é a Análise de Conteúdo. Segundo

Bardin (2011, p.15), a análise de conteúdo é “um conjunto de instrumentos

metodológicos [...] em constante aperfeiçoamento que se aplicam a “discursos”

extremamente diferenciados”. Fonseca Júnior, no artigo Análise de Conteúdo (2012,

p. 280), acrescenta que “a formação do campo comunicacional não pode ser

compreendida sem se fazer a análise de conteúdo”.

Conforme Bardin (2011), o método possui três fases: a pré-análise; a

exploração do material; e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Os subtítulos abaixo aprofundarão cada uma das fases.

6.1.1 Pré-análise

A pré-análise é a fase da organização e planejamento do trabalho a ser

elaborado. Tem como objetivo esquematizar as ideias iniciais para o

desenvolvimento de um plano de análise.

Seguindo o conceito da autora, esta fase é contemplada por cinco atividades:

a primeira é o contato com os documentos a analisar. Bardin (2011) chama esta

atividade de leitura flutuante, que é o conhecimento prévio do material a ser

analisado.

A segunda é a escolha dos documentos que fornecem informações sobre o

problema levantado. Conforme a autora, com o universo já demarcado é necessário,

muitas vezes, proceder-se à constituição de um corpus. Bardin (2011, p. 126)

conceitua corpus como “o conjunto dos documentos tidos em conta para serem

submetidos aos procedimentos analíticos”. Para sua constituição, existem regras:

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a) Regra da exaustividade: é preciso ter-se em conta todos os elementos do

corpus. Não se pode deixar de fora qualquer um dos elementos;

b) Regra da representatividade: a análise pode ser realizada com uma

amostra desde que o material seja qualificado para isso;

c) Regra da homogeneidade: os documentos retidos devem ser

homogêneos, não apresentando demasiada singularidade fora desses

critérios;

d) Regra da pertinência: os documentos retidos devem ser adequados.

A terceira atividade é a formulação das hipóteses e dos objetivos. Segundo

Bardin (2011), hipótese é uma afirmação provisória que iremos verificar e objetivo é

a finalidade geral da pesquisa. Conforme a autora, as hipóteses nem sempre são

formuladas na etapa da pré-análise.

A quarta atividade consiste na referenciação dos índices e a elaboração dos

indicadores. Se o texto contém índices, o trabalho preparatório se dará a partir

destes, em função das hipóteses, caso elas estejam determinadas.

A quinta e última atividade é a preparação do material. A autora afirma que

“antes da análise propriamente dita, o material reunido precisa ser preparado” (p.

130), ou seja, fazer recortes e separando por conteúdo. E com isso, segue para a

segunda fase, a exploração do material que será explanado no próximo subtítulo.

6.1.2 Exploração do material

A exploração do material é a fase da análise propriamente dita, onde

demanda um maior tempo. Conforme Bardin (2011, p. 131), a exploração é longa e

“consiste em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função

das regras previamente formuladas”.

A fase de codificação ou tratamento do material é onde ocorre a

transformação do texto bruto selecionado na pré-análise em uma representação do

conteúdo. E, a partir da codificação do material, começa a ser pensada e colocada

em prática a fase da categorização.

Segundo Bardin (2011, p.147), “categorização é uma operação de

classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação, em

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seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente

definidos”.

A autora afirma que para classificar elementos em categorias é preciso

investigar o que cada um deles tem em comum com os outros, o que permite o

agrupamento. Bardin (2011, p. 148) enfatiza que “o processo classificatório possui

uma importância considerável em toda e qualquer atividade científica”.

Para uma boa categorização, os materiais devem possuir as seguintes

características, conforme Bardin (2011):

a) Exclusão mútua: cada elemento não pode existir em mais de uma divisão;

b) Homogeneidade: um único princípio de classificação deve governar a sua

organização;

c) Pertinência: uma categoria é considerada pertinente quando está

adaptada ao material de análise;

d) Objetividade e fidelidade: o organizador deve definir claramente onde se

encaixa cada elemento para determinar a entrada na categoria;

e) Produtividade: um conjunto de categorias é produtivo se fornece

resultados férteis.

Esta fase tem sua continuidade no tratamento dos resultados obtidos,

interferência e interpretação, que será ampliado no próximo subtítulo, em busca da

resposta da questão norteadora.

6.1.3 Tratamento dos resultados obtidos, inferência e interpretação

A terceira fase diz respeito ao tratamento dos resultados brutos, de maneira a

serem significativos e válidos. Bardin (2011, p.131) afirma que “tendo à sua

disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar

interpretações a propósito dos objetivos previstos”. Os resultados obtidos também

podem servir de base para outra análise, iniciando novamente todo o processo.

Para que isso ocorra, Bardin (2011) afirma que o analista pode se apoiar

nos elementos clássicos da comunicação: emissor, receptor e mensagem. O

emissor ou produtor da mensagem tem uma função importante e representativa na

comunicação. Já o receptor tem como finalidade agir ou adaptar-se de acordo com a

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mensagem recebida. E por fim, a mensagem é o ponto de partida e o indicador sem

o qual a análise não seria possível.

As fases da Análise de Conteúdo são de grande relevância para desenvolver

um bom trabalho. E, para auxiliar neste processo, técnicas serão apresentadas nos

próximos subtítulos dando suporte para responder a questão norteadora e confirmar

ou não as hipóteses da pesquisa.

6.2 TÉCNICAS

Para auxiliar na aplicação do método, foram escolhidas três técnicas e

desenvolvidas ao longo do projeto: revisão bibliográfica, entrevista e observação.

6.2.1 Revisão bibliográfica

A revisão bibliográfica é de fundamental importância para um trabalho de

pesquisa, pois envolve toda a leitura examinada pelo aluno referente ao assunto

delimitado. Para Ida Stumpf, no artigo Pesquisa Bibliográfica (2012), essa técnica

consiste na identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente, para que

o estudante acrescente em suas ideias e opiniões o que os autores dizem sobre o

assunto.

Em um sentido mais restrito:

é um conjunto de procedimentos que visa identificar informações bibliográficas, selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e proceder a respectiva anotação ou fichamento das referências e dos dados dos documentos para que sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico (STUMPF, 2012, p. 51).

A pesquisa bibliográfica, segundo a autora, divide-se em quatro partes: a

primeira e a segunda respondem as perguntas por que e quando revisar a literatura.

A terceira e a quarta parte apresentam passos de como realizar a pesquisa e formas

de anotar as leituras feitas.

Segundo Stumpf (2012) é necessário revisar a literatura para estabelecer as

bases em que os alunos irão avançar e conhecer o que já existe. A autora salienta

que isso é fundamental para evitar “despender esforços em problemas cuja solução

já foi encontrada” (p. 52).

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A consulta à bibliografia é uma atividade que acompanha o investigador e

orienta os passos que deve seguir. E, quando o trabalho estiver concluído, é preciso

disponibilizar os resultados alcançados. Stumpf (2012, p. 52) ressalta que o texto

divulgado vai se somar ao conjunto de literaturas já existentes, “permitindo que se

estabeleça o encontro entre a fonte geradora de conhecimento (autor) e aqueles que

desejam obtê-lo (usuários/leitores)”.

A revisão da literatura é uma atividade constante e, na medida que o indivíduo

vai lendo sobre o assunto, ele começa a identificar conceitos que se relacionam até

chegar ao problema que irá investigar. A autora completa que, de todas as leituras

realizadas, algumas ideias se manterão e outras serão descartadas

momentaneamente.

Depois de definido o problema, o indivíduo precisa aprofundar os conceitos e

suas relações. Conforme Stumpf (2012):

o material básico para isto já deve estar disponível, pois foi utilizado para elaborar o problema e justificar o tema proposto. Mas precisa ser ampliado através de uma boa estratégia de busca que recupere tanto textos de trabalhos teóricos quanto de outros estudos e pesquisas relacionados (STUMPF, 2012, p.53).

Este planejamento evitará perda de tempo e direcionará o estudo ao objetivo

proposto. Com a leitura dos textos, os conceitos serão contemplados e enriquecerão

a análise, “uma vez que nada substitui o conhecimento próprio, formado através de

leituras direcionadas que fez para a elaboração do trabalho” (STUMPF, 2012, p. 54).

A autora definiu um conjunto de procedimentos para identificar, selecionar,

localizar e obter documentos de interesse para a realização do trabalho acadêmico.

Cada etapa deve alcançar a seguinte finalidade:

a) Identificação do tema e assuntos: o aluno precisa definir o tema de estudo

com precisão. É necessário elaborar uma lista de palavras-chaves e

termos gerais e específicos relacionados ao assunto para realizar um

levantamento de fontes bibliográficas, pesquisar seus significados e

traduções;

b) Seleção das fontes: o produto desta identificação é uma lista, a mais

completa possível, de leituras representativas que irão servir de suporte

para a pesquisa. A primeira fonte que indicará a bibliografia adequada e o

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material básico para a pesquisa é o orientador. Mas o aluno deve se

apropriar de fontes secundárias:

a) Bibliografias especializadas: publicações que contem a relação de

obras publicadas sobre determinado assunto, em um período

específico;

b) Índices com resumo: índice da literatura de artigos de periódicos,

contendo a referência e o resumo de cada item. Também chamado

de abstracts;

c) Portais: serviços e informações disponíveis em sites das instituições

mantenedoras;

d) Resumos de teses e dissertações: publicações que contém a

indicação do autor, título, orientador, ano e universidade;

e) Catálogos de bibliotecas: relação de obras de uma biblioteca, com

entradas por autor, título e assuntos;

f) Catálogos de editoras: publicações de editoras que se especializam

em publicar livros em determinadas áreas do conhecimento.

c) Localização e obtenção do material: o início da etapa de localização do

material se dá com a consulta à biblioteca local e, em seguida, a outras

fontes, como catálogos coletivos;

d) Leitura e transcrição dos dados: com a posse dos documentos, o

estudante faz a leitura dos mesmos. O resultado deve ser anotado para

fazer a referenciação;

e) Considerações finais: após o término da etapa, o aluno está prestes a

redigir seu trabalho.

Neste projeto, os temas que passaram por revisão bibliográfica resultaram em

quatro capítulos: Gêneros de programa de TV; A evolução da TV no Brasil;

Produção de conteúdo no telejornal; e Jornalismo internacional na Rede Globo de

Televisão.

Além da revisão bibliográfica, outra técnica importante é a observação, a qual

possibilita um envolvimento maior do pesquisador com a monografia e que será

detalhada no próximo subtítulo.

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6.2.2 Observação

A observação é uma técnica que está evidente em todas as etapas da Análise

de Conteúdo, principalmente no tratamento dos resultados obtidos, interpretação e

inferências. De acordo com Antônio Carlos Gil, em seu livro Métodos e Técnicas de

Pesquisa Social (1999, p.110), “a observação nada mais é que o uso dos sentidos

com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano”. Como

ressalta o autor, a sua principal vantagem é que os fatos são percebidos

diretamente, sem qualquer intermediação.

A observação pode ser estruturada ou não estruturada. De acordo com o grau

de participação do observador, pode ser participante ou não participante. A partir

disso, Gil (1999) classifica a observação em:

a) Observação simples: o pesquisador permanece alheio a situação que

pretende observar. É um espectador, observa de maneira espontânea;

b) Observação participante: consiste na participação real do conhecimento. O

observador assume um papel de membro do grupo;

c) Observação sistemática: tem como objetivo a descrição precisa dos

fenômenos ou o teste de hipóteses.

A observação presente nessa pesquisa é a simples, pois foram observados

pela pesquisadora dois episódios exibidos no Jornal Nacional envolvendo a

cobertura de atentados terroristas no dia da ocorrência dos fatos.

6.2.2.1 Objeto de estudo

O Jornal Nacional é o principal telejornal da TV Globo. Com cerca de meia

hora de duração, o JN conquistou a preferência do público e se firmou como um dos

mais respeitáveis telejornais do país. Conforme informações do site Memória

Globo15 o telejornal é pautado pela credibilidade, isenção e ética em suas coberturas

jornalísticas nacionais e internacionais. O JN estreou em 1º de setembro de 1969 e

15 MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional. Disponível em:

<http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/telejornais/jornal-nacional.htm> Acesso em: 25 mar. 2017.

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foi o ponto de partida de um projeto que pretendia transformar a Globo na primeira

rede de televisão do Brasil.

Conforme o site, o JN é transmitido de segunda a sábado e possui três

editorias: local, nacional e internacional, sendo que os assuntos têm que atrair a

atenção de todos os espectadores do Brasil inteiro. No início, as primeiras edições

duravam 15 minutos.

Em 1970, o JN contava com 150 profissionais, entre editores, locutores,

repórter e cinegrafistas, conforme o livro Memória Globo. A cobertura no exterior foi

fortalecida e a Globo passou a investir nos correspondentes internacionais. E assim

o JN evoluiu junto com as tecnologias, aperfeiçoando as reportagens com novos

equipamentos até a mudança de cenário, que acompanha a evolução tecnológica e

as tendências.

6.2.2.2 Corpus da pesquisa

Para desenvolver esta pesquisa, foram observadas duas edições do Jornal

Nacional para verificar como se deu a cobertura do atentado terrorista às Torres

Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, e ao jornal Charlie Hebdo, 7 de janeiro de

2015, no dia do acontecimento dos dois fatos.

6.2.2.2.1 Ataque às Torres Gêmeas

No dia 11 de setembro de 2001, as Torres Gêmeas do World Trade Center,

maior ícone da supremacia econômica norte-americana, localizadas em Manhattan,

Nova York, vieram abaixo depois de ser atingidas, cada uma, por um Boeing 767.

Conforme o site Memória Globo, a Rede Globo foi a primeira TV aberta

brasileira a mostrar um flash do atentado terrorista nos Estados Unidos da América:

às 9h52min – apenas sete minutos após o choque do primeiro avião na Torre Norte

– a emissora pôs no ar as primeiras imagens que chegavam da CNN. Na data, o

Jornal Nacional apresentou uma edição especial com uma hora de duração, e o

noticiário bateu o recorde de audiência daquele ano.

Ainda conforme o site, em Nova York os correspondentes Edney Silvestre,

Zileide Silva, Heloísa Villela e Jorge Pontual saíram em busca de imagens que as

redes de TV norte-americanas não mostravam. Foram entrevistadas pessoas nas

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ruas que sobreviveram à tragédia, inclusive brasileiros que estavam em Nova York.

Durante o telejornal, Zileide Silva fez diversas entradas ao vivo, passando as últimas

informações.

Outros correspondentes também fizeram entradas ao vivo no JN falando dos

reflexos do ocorrido nas outras partes do mundo: em Londres, os repórteres Ernesto

Paglia e Marcos Losekan, e, no Líbano, o repórter Mounir Safatli.

De acordo com informações do Memória Globo, houve muito esforço

envolvido dos profissionais que trabalhavam no escritório da emissora em Nova

York. Os voos haviam sido todos suspensos, e as pontes de acesso à cidade

fechadas. O sistema de transportes entrou em colapso e não havia metrô, ônibus ou

mesmo táxis circulando em Manhattan, onde fica a sucursal da Globo. E, mesmo

assim, todas as informações foram ao ar.

O programa Jornal Nacional exibido em 11 de setembro de 2001 tem duração

de 57 minutos. Neste dia, foram 15 reportagens, sendo 13 sobre o ataque às Torres

Gêmeas, análise de especialistas sobre o fato e as consequências para o mundo

todo. O JN inicia com Willian Bonner e Fátima Bernardes na bancada introduzindo

as manchetes da edição, como será detalhado em forma de decupagem a seguir.

Jornal Nacional – Edição Atentado ao World Trade Center

11 de setembro de 2001 – 57’

ESCALADA

Fátima Bernardes (FB): Onze de setembro de dois mil e um.

Willian Bonner (WB): Uma terça-feira que vai marcar a história da humanidade.

Imagens de fumaça e pessoas correndo.

FB: A maior potência do planeta é alvejada pelo terror.

WB: World Trade Center, Nova York.

FB: No mais importante centro financeiro do mundo.

Imagens da torre após o ataque.

FB: Uma torre queima após ser atingida por um avião.

WB: Enquanto o incêndio avança no arranha-céu um segundo avião é jogado contra

a torre vizinha.

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Imagens do avião atingindo a segunda torre. Som ambiente. Pessoas gritando

e torres pegando fogo.

FB: Em menos de duas horas dois dos prédios mais altos do mundo se desfazem

em uma montanha de poeira e fumaça.

Imagens dos prédios caindo.

WB: Na cidade sede do poder americano, outra aeronave despenca sobre o

Pentágono, o centro de inteligência militar.

Imagens do Pentágono com fogo e fumaça.

FB: E mais um boeing cai na Pensilvânia.

WB: O planeta em alerta geral.

FB: Chefes de estado condenam o banho de sangue.

WB: E reforçam a segurança nas fronteiras.

FB: Bolsas de valores e moedas internacionais estão abaladas pelos atentados.

WB: Nos territórios ocupados por Israel, palestinos comemoram a maior ofensiva

terrorista de todos os tempos.

FB: E na madrugada no mundo árabe, explosões. Mísseis riscam o céu de Cabul, a

capital do Afeganistão.

WB: O Jornal Nacional mostra a análise de especialistas sobre as consequências

dos ataques.

Imagens das Torres Gêmeas em meio a fumaça.

FB: O depoimento dos brasileiros que testemunharam a tragédia.

WB: O apoio oficial aos que estão nos Estados Unidos.

Imagens de pessoas caminhando e correndo em meio a poeira.

FB: O dia em que os americanos experimentaram o horror de uma grande guerra.

WB: O Jornal Nacional está começando agora.

VINHETA DE ABERTURA

FB: Boa noite. Eram oito horas e quarenta e cinco minutos da manhã em Nova York.

Nove e quarenta e cinco em Brasília. Um avião americano de passageiros batia em

cheio numa das Torres do World Trade Center. Um acidente tão inimaginável que

imediatamente chamou a atenção de todo o planeta. Mas não era acidente. Para a

perplexidade do mundo inteiro foram-se registrando acontecimentos que nenhum

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roteirista de Hollywood imaginou. E era tudo real. Estava começando o maior

atentado terrorista de todos os tempos.

REPORTAGEM 1

Inicia reportagem com imagem das Torres Gêmeas pegando fogo e muita

fumaça. Sequência de imagens mais próximas descrevendo o que o repórter fala.

Edney Silvestre (ES): O edifício mais alto de Nova York em chamas. Angústias,

acenos, gritos de socorro nas janelas. O maior ataque terrorista da história da

humanidade começou com o choque de um avião sequestrado um pouco antes. As

imagens estavam sendo transmitidas pela TV ao vivo quando, dezoito minutos

depois, um outro avião se aproxima pela direita do quadro e bate na outra torre.

Imagens do choque da segunda torre em diversos ângulos com som

ambiente. Sirenes, gritos, correria.

Depoimento: São coisas horrível, horrível, horrível.

ES: Nas ruas próximas do atentado, correria.

Imagens de pessoas correndo, gritando, chorando. Policiais nas ruas pedindo

para as pessoas se afastarem do local, buzinas.

ES: Lágrimas.

Depoimento (traduzido pelo repórter): As pessoas estão pulando das janelas, ela

diz.

Novamente imagens das Torres com pessoas se jogando.

ES: Aumenta o desespero. A todo o momento alguém se jogava lá de cima.

Imagens mais distantes.

ES: Os dois aviões que se chocaram contra o World Trade Center tinham sido

sequestrados. As Torres construídas para resistir até um choque de um boing 727,

tinham sido atingidas por dois aviões maiores. Jatos 767 sequestrados em Boston.

Os dois aviões levavam passageiros.

Imagens do presidente dos Estados Unidos se pronunciando.

ES: O presidente dos Estados Unidos, George Bush, confirma: foi um atentado

terrorista.

ES: A brasileira Bruna Paixão trabalha em um restaurante que fica perto do World

Trade Center.

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Bruna Paixão: [...] elas entravam no restaurante, pediam pra usa o telefone porque

elas não conseguiam usar o telefone público e iam ao banheiro vomitar. Era um

desespero. Muita gente machucada chegou no restaurante também, muita gente

nervosa, chorando, foi um caos. Nunca vi uma coisa como essa, foi um caos.

ES - Passagem (imagem do repórter com as Torres Gêmeas ao fundo): Toda a

área próxima ao atentado ficou fechada. Lá onde estavam os prédios do World

Trade Center, só fumaça. Os dois edifícios de cento e dez andares vieram abaixo

após as explosões.

Imagens das Torres.

ES: A primeira torre a cair foi a do norte.

Imagem da torre caindo com som ambiente. Sirenes.

ES: Pouco depois, as dez e vinte e cinco da manhã, os andares superiores da

segunda torre começam a ceder, e vem abaixo.

Continua imagens da queda, com som ambiente. Muita fumaça, pessoas

correndo com a cara empoeirada.

ES: O capelão brasileiro, Élio dos Anjos, foi ajudar as vítimas.

Élio dos Anjos: [...] bombeiros, e tinha pessoas em choque. Eu comecei a ficar

muito nervoso porque começou a vim muita fumaça e a gente não sabia se subia,

pegava o elevador, se descia. Os bombeiros “calma, calma”. Olha, foi terrível.

Imagens das ambulâncias, polícias, ruas.

ES: As ambulâncias, ainda cobertas de pó, não param. Polícias, bombeiros e

equipes de socorro aumentam a cada momento.

Retorna as imagens das Torres.

ES: As fundações das Torres são de aços. O engenheiro brasileiro Carlos Levi, diz

que é improvável que apenas o choque dos aviões pudesse levar os prédios abaixo.

Carlos Levi: Fica difícil acreditar que apenas o choque dos aviões e as explosões

causassem o desabamento dos prédios de uma maneira tão rápida. As próprias

imagens assustam com a velocidade que ocorreu.

Imagens do desabamento com som ambiente de gritos.

ES: Há suspeita que o prédio tenha sido implodido pelos terroristas.

Imagens do desabamento com som ambiente de gritos.

ES: Alguns especialistas acham que o World Trade Center acabou ruindo por uma

combinação de fatores: o choque do avião, as explosões que se seguiram, mais o

fogo enfraqueceram as estruturas dos andares superiores, e o peso deles ao cair

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levou o resto. O ataque ao World Trade Center é o maior já ocorrido em solo

americano desde que os japoneses bombardearam Pearl Harbor. Lá foram mortos

dois mil, duzentos e oitenta soldados e sessenta e oito civis. Foi o que levou os

Estados Unidos a entrar na Segunda Guerra Mundial.

VOLTA PARA BANCADA

WB: Com cento e dez andares e quatrocentos e dezessete metros de altura, as

Torres Gêmeas do World Trade Center eram os prédios mais altos de Nova York.

NOTA COBERTA – fala do apresentador do telejornal com imagens ilustrativas

sobre o acontecimento

Imagens do World Trade Center ilustram a fala de Willian Bonner.

WB: Os edifícios abrigavam lojas e escritórios de quatrocentas e trinta empresas

onde trabalhavam cinquenta mil pessoas. Começou a ser construído em 1970 numa

tentativa do governo do estado de Nova York de revitalizar a sul da ilha de

Manhattan. Desde então o prédio, o quinto mais alto do mundo e o segundo dos

Estados Unidos, virou ponto turístico. Dos dois terraços do edifício era possível ver a

Estátua da Liberdade ao sul, o bairro do Brooklyn a leste e a cidade de Nova Jersey

a oeste. Em fevereiro de noventa e três, o World Trade Center foi alvo de um ataque

à bomba que matou seis pessoas e deixou mais de mil feridos. A responsabilidade

pelo atentado, há oito anos, foi assumida pelo terrorista mais procurado do mundo:

Osama Bin Laden.

VOLTA PARA BANCADA

FB: Além da destruição em Nova York, o terror atacou o símbolo do poder militar

dos Estados Unidos: o Pentágono.

REPORTAGEM 2

Imagens do Pentágono ilustrando fala do repórter.

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Luiz Fernando Silva Pinto (LP): Exatos quarenta minutos após o segundo avião

atingir o World Trade Center em Nova York, os militares que trabalhavam na face

oeste do Pentágono tiveram durante breves momentos uma visão de pesadelo. Um

Boing 757 da companhia aérea United mergulhando diretamente contra o prédio. O

impacto abriu uma cratera numa das faces dessa construção imensa, que é na

verdade, um sanduíche de cinco edifícios, um dentro do outro. Todos com seis

andares de altura. Das dezenas de portas do Pentágono, milhares de funcionários

foram retirados às pressas.

LP - Passagem: Não só a violência do ataque, à tragédia que ele provoca, assusta

os americanos. A simbologia é muito forte também. O coração das forças armadas

foi atingido. A capital desse país é muito mais vulnerável do que os cidadãos podiam

imaginar.

Imagens que ilustram a fala do repórter.

LP: Os que trabalham em Washington e moram fora da cidade, nos subúrbios,

saíram dos escritórios ouvindo informações de que uma outra explosão teria

acontecido ao lado do Departamento de Estado, e outra ainda, próximo ao Capitólio.

O clima na capital da maior potência do mundo era de medo e incerteza. A

possibilidade de novos ataques estava na mente de todos. Em pouco tempo

Washington praticamente parou. Todo o pessoal foi retirado da Casa Branca e do

Congresso. Funcionários federais foram dispensados em toda a cidade.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Este rapaz está surpreso. Diz que esperava

que o Pentágono fosse mais seguro.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Os terroristas estão enganados em achar

que conseguiram o objetivo deles. Vão ser condenados por noventa e nove por

cento da população do mundo, ele diz.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Esse outro, diz que deve ter retribuição. É

um crime. Tem que haver justiça.

Imagens do Pentágono após queda do avião.

LP: Um estado de alerta nas forças armadas americanas foi acionado logo depois

do atentado contra o Pentágono. Dois porta-aviões nucleares e vários cruzadores

foram dirigidos para a defesa dos litorais do país.

Imagens do pronunciamento do vice-almirante Steven Petropoulus.

LP: A explicação do vice-almirante Steven Petropoulus:

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Steve Petropoulus (traduzido): Essa tarde foi curta. Nós estamos ainda sob

ataque.

Imagens Pentágono.

LP: Até agora o Pentágono não está divulgando a lista dos funcionários atingidos no

atentado. Sabe-se que trinta e cinco pessoas estão feridas e não há informações

sobre mortes.

VOLTA PARA BANCADA

WB: A sequência dos acontecimentos levou o governo americano a acionar o plano

de emergência. Nunca na história tantos aviões foram sequestrados ao mesmo

tempo.

REPORTAGEM 3

Depoimento (traduzido pela repórter): Esta americana, uma nova-iorquina, ela

conseguiu explicar como os americanos estão se sentindo hoje. É horrível, eu não

podia imaginar que isso poderia acontecer. Que somos tão vulneráveis assim.

Imagens dos destroços e aviões.

Zileide Silva (ZS): Os Estados Unidos, o país mais poderoso, o mais rico do mundo.

Teve um momento hoje em que o Departamento de Aviação americano perdeu o

contato. Não sabiam onde estavam oito aviões.

Gráficos indicando a fala da repórter.

ZS: Quatro tinham sido sequestrados. Dois dá American Airlines. O que se chocou

com a primeira torre ia de Boston para Los Angeles. O outro que atingiu o

Pentágono, ia de Washington também para Los Angeles. Segundo a empresa, os

dois aviões levavam 158 passageiros e 17 tripulantes. Os outros dois aviões eram

da United Airlines. O que atingiu a segunda torre fazia a rota Boston – Los Angeles.

Com nove tripulantes e 56 passageiros. E o que caiu na Pensilvânia. Um avião com

38 passageiros e sete tripulantes. Uma das passageiras desse avião com um celular

conseguiu avisar ao marido “Estamos sendo sequestrados. Os sequestradores estão

com facas ou punhais”.

Novamente imagens das Torres após queda.

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ZS: A United não informou se o avião caiu antes de atingir algum alvo terrorista ou

se por uma outra razão. Todos os passageiros e tripulantes desses quatro aviões,

285 pessoas, morreram.

Imagens das Torres quando foram recém atingidas e de aeroportos.

ZS: Logo após o primeiro choque, na torre do World Trade Center, o plano de

emergência dos Estados Unidos contra ataques terroristas foi acionado e, pela

primeira vez na história americana, essa imagem, aeroportos super movimentados,

não foi vista. Todos os aeroportos do país foram fechados para pousos e

decolagens. Quarenta mil voos foram cancelados. Os outros, transferidos para o

Canadá. O Departamento de Aviação Civil informou que eles só voltam a funcionar,

talvez, a partir de amanhã, ao meio dia.

Imagens fronteira com o México.

ZS: A fronteira com o México foi e continua fechada. E alvos em potencial, prédios,

monumentos, pontes, túneis, tudo que poderia ser atingido por outros atentados

foram isolados ou desocupados, inclusive o prédio das Nações Unidas, em Nova

York.

Imagens da Nasa e segue com imagens descrevendo fala da repórter.

ZS: Na Flórida, a Nasa, Agência Espacial Americana, entrou em estado de

emergência máxima. A Disney fechou os parques na Flórida. Em Seattle, os

principais pontos turísticos da cidade, essa torre foi fechada (imagem da torre). Eram

os Estados Unidos tentando se proteger.

VOLTA PARA BANCADA

FB: Na história recente, os americanos sofreram diversas ações terroristas, nem

todas promovidas por estrangeiros. Mas o maior de todos os suspeitos é árabe.

REPORTAGEM 4

Inicia reportagem com imagem de Osama Bin Laden.

Heloísa Villela (HV): O primeiro nome da lista de suspeitos é o saudita Osama Bin

Laden, considerado o inimigo número um dos Estados Unidos. Ele vive no

Afeganistão, protegido pelo governo Talibã. Em 1998, Bin Laden teria financiado os

atentados às embaixadas americanas na África. Foram duas embaixadas, do

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Quênia e da Tanzânia, ao mesmo tempo. 224 pessoas morreram. Quatro terroristas

ligados a Osama Bin Laden foram julgados e condenados à prisão perpetua nos

Estados Unidos. Há menos de três semanas, Bin Laden teria ameaçado a organizar

um atentado como o de hoje. Uma fonte do FBI disse à rede de televisão NBC, que

Osama Bin Laden deve estar por trás dos ataques. Ele é suspeito de outros ataques:

às bases militares americanas na Arábia Saudita em noventa e cinco e noventa e

seis e ao Destroyer USS Cole, no Lêmen, o ano passado. Há anos o governo

americano pede a extradição de Bin Laden, mas o Afeganistão nega o pedido. Bush

já tinha avisado: vai responsabilizar o Afeganistão por qualquer ataque de Bin

Laden.

HV – passagem: As autoridades americanas estão evitando falar em suspeitos. O

último atentado que os Estados Unidos sofreram em território americano aconteceu

em 1995 em Oklahoma.

Imagens do atentado em Oklahoma.

HV: O carro bomba que destruiu o edifício do governo federal matou 168 pessoas.

Os americanos logo suspeitaram de extremistas árabes. Depois, o FBI pegou o

verdadeiro culpado, um americano, Timotthy MCVeigh, que foi executado em junho

deste ano.

Imagens Colin Powell.

HV: Na hora em que aviões explodiam em prédios americanos, o secretário de

Estado, Colin Powell, estava no Peru. Ele interrompeu a visita oficial para voltar aos

Estados Unidos.

Imagens general da Guerra do Golfo.

HV: Antes de embarcar, o general da Guerra do Golfo mandou um recado aos

terroristas.

General (traduzido pelo repórter): Eles podem destruir edifícios e matar pessoas,

mas nunca matarão a democracia.

VOLTA PARA BANCADA

WB: Durante a madrugada no Oriente, a capital do Afeganistão começou a ser

bombardeada.

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NOTA COBERTA

Imagens da TV CNN.

WB: As imagens da rede CNN mostram mísseis e armas antiaéreas em ação nos

arredores de Cabul. As explosões começaram por volta das seis e meia da tarde,

horário de Brasília. Assessores da presidência dos Estados Unidos disseram que

não houve ataques americanos no Afeganistão e levantaram a hipótese que o

bombardeio tenha sido obra da oposição do governo Talibã.

VOLTA PARA BANCADA

FB: Vamos agora ao vivo a Nova York. A repórter Zileide Silva tem novas

informações.

AO VIVO

ZS: Fátima, essa informação que os Estados Unidos não têm nada a ver com os

ataques a Cabul foi confirmada agora a pouco pelo secretário de Defesa americano.

E aqui em Nova York um terceiro prédio, que ficava ao lado das Torres Gêmeas,

caiu também. Foi no finalzinho da tarde. (Imagens do prédio) Ele tinha 47 andares.

Esse prédio, as Torres e outros cinco edifícios formavam o principal complexo

econômico aqui de Nova York. (Volta Zileide ao vivo) Agora, sete e meia da noite,

aqui em Nova York, oito e meia aí no Brasil, um exército de 10 mil pessoas está no

local vasculhando os escombros em busca de vítimas e sobreviventes. Segundo o

prefeito de Nova York, pelo menos duas mil e cem pessoas ficaram feridas só aqui

em Nova York. Seiscentas foram hospitalizadas.

Imagens de Nova York

ZS: Quase doze horas após o atentado, é impossível saber quantas pessoas

morreram. Mas pelo menos, como vinte mil estavam nos prédios, ou próximas a

eles, durante os atentados, o número de mortes pode chegar a dezenas de milhares.

Bonner.

VOLTA PARA BANCADA

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WB: Em instantes, o país que se preparava para a Guerra nas Estrelas é vítima de

seus aviões de passageiros.

FB: E o atendimento aos feridos em uma cidade paralisada pelo terror.

INTERVALO

SEGUNDO BLOCO

WB: O presidente americano George Bush estava fora de Washington quando

aconteceram os ataques.

REPORTAGEM 5

Inicia reportagem com imagens do presidente no Congresso recebendo a

notícia do atentado no ouvido.

Repórter: Quando os ataques começaram, o presidente Bush participava de um

congresso sobre educação, na Flórida. Foi na sala de aula que ele recebeu a

notícia.

Bush em pronunciamento e embarcando em avião.

Repórter: Bush pediu orações e um minuto de silêncio. Depois, anunciou que

estava voltando a Washington. Mais tarde, Bush apareceu num local mais distante

da capital ainda. Na base aérea do estado de Louisiana.

Pronunciamento Bush.

George Bush (traduzido pelo repórter): Bush disse que a liberdade foi atacada por

covardes sem fé e que ela seria defendida. O presidente prometeu cassar e punir os

responsáveis. Disse que está fazendo tudo o que é necessário para proteger a

população.

Repórter: Há oito meses no poder, Bush enfrenta a primeira grande prova: o maior

ataque terrorista já realizado em território americano. Ele disse que as forças do país

estão sendo testadas, e que vão passar no teste. A primeira dama, Laura Bush, faria

um pronunciamento no Senado sobre educação. Ao lado do senador, Edward

Kennedy, Laura garantiu que as crianças do país estão protegidas.

Imagem Laura Bush se pronunciando.

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Passagem: A primeira-dama e as filhas foram levadas para um lugar não revelado.

George Bush deixou a base aérea de Louisiana e foi pra outra base aérea, no

estado de Nebraska, no centro dos Estados Unidos, bem longe de Washington, mas

já voltou a capital. A Casa Branca anunciou que ele fará um pronunciamento, logo

mais, às nove horas. Dez da noite, em Brasília.

VOLTA PARA BANCADA

FB: Os ataques terroristas surpreenderam também por derrubarem o que parecia

uma verdade incontestável. Até hoje, o mundo considerava o sistema de segurança

americano praticamente inviolável.

NOTA COBERTA

Inicia nota coberta com pronunciamento de Bush.

FB: Os inimigos mudaram. Foi com esta frase que o presidente George Bush

anunciou o início de um novo projeto antimísseis americano, em maio deste ano.

Imagens com gráficos.

FB: Depois da Guerra Fria, o inimigo não era mais a Rússia. O terror poderia atacar

do Irã, do Iraque, da Coréia do Norte. O sistema de 60 bilhões de dólares vai criar

armas capazes de derrubar mísseis inimigos logo após o lançamento.

Imagem do segundo avião batendo na torre.

FB: Só que o ataque não veio do espaço. Foi despachado por aviões civis e

americanos.

Depoimento: Significa que nenhum sistema de segurança mais perfeito é infalível. E

o terrorismo é exatamente isso. É surpresa.

Depoimento: Agora sim é que a gente vai poder dizer que isso era previsível. Mas

até aí nunca ninguém imaginou que iam se encontrar piloto de avião a jatos

disponíveis a se suicidar, atacando um prédio. Quer dizer, era impossível prevê isso.

Imagens de avião decolando.

FB: Todos os dias mais de 20 mil aviões decolam e pousam nos Estados Unidos. A

questão agora é saber como foi possível levar um boeing ao Pentágono sem que ele

fosse interceptado muito antes de atingir um alvo tão estratégico.

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VOLTA PARA BANCADA

WB: Com a população em pânico e os transportes interrompidos, Nova York parou.

REPORTAGEM 6

Imagens de rodovias e ao fundo a fumaça das Torres Gêmeas.

Jorge Pontual (JP): O clima em toda cidade era de guerra. Mesmo em lugares que

só se via de longe a fumaça do incêndio.

Imagens do FBI nas ruas, carros de polícia. Som ambiente. Sirenes. Imagens

de pânico e pessoas gritando (mesmas imagens de reportagens anteriores).

JP: Todos os túneis e pontes que levam pra ilha de Manhattan foram fechados.

Imagens de policias nas ruas (mesmas imagens de reportagens anteriores).

JP: As bolsas e os bancos não chegaram a abrir. As escolas ficaram com as

crianças, porque os pais não puderam buscá-las. Só as ambulâncias circulavam,

levando feridos pra todos os hospitais da cidade.

JP - Passagem (ao fundo a Times Square): Times Square, o coração de Nova

York, parou. As pessoas andam de um lado pra outro na rua em estado de choque.

Depoimento (traduzido pelo repórter): É uma guerra. É como Pearl Harbor,

quando o Japão nos atacou de surpresa.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Esta não quer revide. Destruíram a minha

casa, ela disse. O símbolo da minha cidade. Mas a América tem que responder com

amor.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Nova York vai dar a volta por cima, disse o

policial. Nós sempre levantamos a cabeça.

Imagens que ilustram fala do repórter.

JP: Os nova-iorquinos demostraram solidariedade fazendo fila na porta dos bancos

de sangue. Sem metrô nem ônibus, o jeito foi voltar a pé pra casa. Ou sentar na

calçada pra ver no telão as notícias da tragédia.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Esta se desesperou. Quero ir pra casa. Era

tudo que ela conseguia dizer.

JP: Muitos eram sobreviventes que andaram mais de sessenta quarteirões ainda

surpresos por estarem vivos.

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Depoimento (traduzido pelo repórter): Nós estávamos sendo retirados do

segundo prédio quando o avião caiu. Tudo tremeu. Parecia um terremoto. Meus

amigos que estavam nos andares de cima devem ter tido uma morte horrível. Muitos

pularam lá do alto.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Este estava ao lado do primeiro prédio

quando ele desabou. Ainda levava poeira nos sapatos. Sai correndo a toda. A

nuvem dos escombros atrás. Muita gente caiu e morreu sob os destroços.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Este ficou encurralado entre o rio e o

incêndio. Só escapei de morrer asfixiado porque alguém me deu uma toalha

molhada.

JP: John Muzel trabalha em Wall Street e viu de perto o que aconteceu.

John Muzel: Não havia visibilidade nenhuma e não havia forma de respirar fora dos

prédios. E o pessoal ia correndo pra Wall Street com uma parede de fumaça e

neblina atrás. Todos cobrindo suas caras com lenços com água indo em direção ao

oposto do World Trade Center. Então todo mundo foi pra parte leste da cidade para

poder subir andando.

Imagens de fumaça.

JP: O prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, estava em um prédio ao lado do

World Trade Center. Chegou a ficar preso nos escombros, mas conseguiu sair pelo

subsolo.

Rudolph Giuliani (traduzido pelo repórter): Nova York e a América, disse Giuliani,

são mais fortes que esses bárbaros terroristas. A democracia vai prevalecer.

VOLTA PARA BANCADA

FB: No Brasil, trinta voos para os Estados Unidos foram cancelados. Dois aviões

que já estavam lá tiveram que voltar.

REPORTAGEM 7

Imagens aeroportos.

Flávio Fachel (FF): Pouco depois do atentado, o painel do aeroporto informava:

todos os voos previstos para os Estados Unidos foram cancelados. Aviões que já

estavam no ar receberam ordens de interromper a viagem.

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Piloto: A companhia me informou que era pra retornar devido a um ataque terrorista

e que não ia conseguir pousar lá.

FF: Os passageiros desse voo da TAM que ia de São Paulo para Miami, ficaram

assustados.

Passageiro: A tripulação ajudou a gente se acalmar e tudo. A gente não sabia o que

estava acontecendo, entendeu. Só viu o avião voltando e depois que o comandante

informou pra gente.

Passageira: Estou nervosa porque eu tenho minha filha lá com meus netos e meu

genro. Eu ia visitá-los.

Imagem avião.

FF: Outro voo da TAM que ia de Brasília para Miami, fez escala em Manaus, e não

seguiu viagem. Por telefone as pessoas tentavam saber notícias de Nova York. Dois

aviões da Varig que saíram de São Paulo foram desviados para duas cidades no

México. Por precaução, a United Airlines decidiu interromper vários voos, inclusive o

deste grupo que saiu de Boston ontem à noite, mesma cidade que um dos aviões foi

sequestrado. Os passageiros foram obrigados a trocar de companhia em São Paulo

para conseguir chegar ao Rio de Janeiro.

Depoimento: Eu fiquei horrorizada porque podia ter sido comigo. Questão de horas.

Depoimento: Eu entrei em pânico e pensei logo na terceira guerra mundial.

FF: Esta estudante esperava a chegada da mãe que vinha de Nova York. Quando

soube que vários aviões foram sequestrados, entrou em pânico.

Depoimento: O cara falou que cinco estavam sumidos, que não tinha informação.

Eu comecei a chorar. Eu falei: putz minha mãe que tava vindo de lá. Só o

desespero, não pensei mais em nada.

FF – Passagem (aeroporto): Nos aeroportos pouca informação. Durante o dia nem

a Infraero, nem as companhias aéreas sabiam dizer o que vai acontecer com os

voos entre Brasil e Estados Unidos previstos para os próximos dias.

Imagens aeroportos.

FF: A segurança dos aeroportos do país foi reforçada. Em Salvador, facas e

tesouras identificadas pelo raio-x foram retiradas das bagagens. Em Belo Horizonte,

até veículos foram revistados. A tragédia fez muita gente mudar os planos no balcão

do aeroporto. Este grupo cancelou uma viagem para a Europa.

Depoimento: Nós estamos muito preocupados com essa evolução do que houve lá

nos Estados Unidos.

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Depoimento: A situação está muito perigosa, né. Muito difícil, os aviões estão sendo

sequestrados. Prefiro voltar pra casa.

VOLTA PARA BANCADA

WB: E voltamos ao vivo aos Estados Unidos. Zileide, qual é a situação de momento

aí em Nova York?

AO VIVO

ZS: Bonner, Manhatan começa a tentar voltar ao normal. Hoje cedo as

comunicações aqui na cidade praticamente pararam. Os celulares não funcionavam.

Completar uma ligação pra outro país era praticamente impossível. Uma situação

difícil, mas é o que está previsto, e deve acontecer quando um plano de emergência

é acionado. Agora a situação é um pouco mais normal. Algumas linhas do metrô já

estão funcionando. Túneis e pontes já foram liberados, mas apenas para quem quer

deixar a cidade. E o prefeito de Nova York fez um apelo: pediu para que as pessoas

não venham para Nova York amanhã, já que as investigações continuam. As

escolas públicas e as escolas católicas não vão ter aulas amanhã. Fátima.

VOLTA PARA BANCADA

FB: Em instantes, especialistas analisam as consequências do terror para o futuro

do planeta.

WB: E os territórios ocupados por Israel: palestinos comemoram o banho de

sangue.

INTERVALO

TERCEIRO BLOCO

FB: A menos de uma semana os Estados Unidos se retiraram da conferência da

ONU sobre racismo e xenofobia na África do Sul. Foi um protesto contra a decisão

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de se classificar Israel como um país racista. Posições como estas alimentaram ao

longo dos anos o ódio de extremistas muçulmanos.

REPORTAGEM 8

Inicia reportagem com imagens de comemoração no Oriente Médio.

Ernesto Paglia (EP): Terror na América, festa no Oriente Médio. Nas ruas do

território palestino ocupado por Israel, os americanos são vistos como amigos do

inimigo israelense, portanto inimigos que merecem o pior. Alá é maior, grita esse

grupo. Pra exibir felicidade o dono da loja distribui doces. Há muita gente disposta a

festejar a desgraça alheia diante das câmeras internacionais. Mas os líderes do

mundo islâmico querem se distanciar do terror.

Imagens do embaixador talibã.

EP: O embaixador do regime talibã afegão, o mais radical entre os governos

islâmicos, condenou o ataque.

Imagem do palestino Yasser Arafat

EP: Com um ar grave, preocupado, o palestino Yasser Arafat oferece os pêsames

ao presidente Bush e ao povo americano.

Yasser Arafat (traduzido pelo repórter): É um ataque terrível, diz ele. Estou

completamente chocado. É inacreditável.

EP: A rápida condenação revela o medo que toma conta do mundo árabe e

muçulmano. Confirma do Oriente Médio, o jornalista Mounir Safatli.

Mounir Safatli (por telefone): Líbano, Síria, Jordânia, Irã, Iraque e Líbia. Esses seis

países colocaram suas forças armadas em estado de alerta máximo a um temor

generalizado sobre qual será a reação americana diante das acusações de que

extremistas muçulmanos estariam por trás dos atentados nos Estados Unidos. As

facções palestinas tidas como suspeitas também estão em alerta nos

acampamentos de refugiados na Jordânia, Síria e Líbano. Em quase todos os

países árabes favoráveis à causa palestina o clima é de tensão. Todos estão

preocupados com a reação que já começou vinda do ocidente. Aqui no Líbano, por

exemplo, cinco companhias aéreas internacionais suspenderam seus voos para

Beirute, apesar do primeiro ministro libanês Rafic Hariri se apressar em lamentar os

atentados e encaminhar condolências ao povo americano, no sinal de que o Líbano

nada tem a ver com o que aconteceu nos Estados Unidos.

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Imagens dos campos de refugiados.

EP: A festa nos campos de refugiados palestinos é inflamada por quase um ano de

confrontos diários com a força de ocupação israelense. Mas a maioria dos

habitantes do mundo árabe, que nada tem a ver com o terror, vai dormir hoje com

medo de uma retaliação americana.

EP – Passagem (Rua da Europa): Mas, quem teme sofrer o maior prejuízo de

todos é a imensa e pacífica comunidade muçulmana que vive aqui na Europa.

Imagem especialista.

EP: Preocupado com uma onda de preconceito anti-árabe, o especialista britânico

alerta.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Radicais islamistas não podem ser

confundidos com a imensa população muçulmana que trabalha e respeita as leis

pelo mundo a fora.

VOLTA PARA BANCADA

FB: O primeiro ministro Israelense, Ariel Sharon, decretou luto no país. As fronteiras

com o Egito e a Jordânia foram fechadas como medida de segurança. E o ministro

da Defesa cancelou uma viagem que faria nos próximos dias aos Estados Unidos.

WB: Aqui no Brasil, lideranças islâmicas e judaicas condenaram o atentado e

fizeram um apelo a favor da paz.

REPORTAGEM 9

Inicia reportagem com imagens que norteiam a fala do repórter.

Alberto Garpar (AG): Na mesquita do bairro paulistano do Cambuci, uma oração

pela paz citando o alcorão, livro sagrado do islamismo.

Depoimento: Se nós matar uma pessoa é como tivesse matado toda a humanidade.

Então nós deploramos este ato criminoso.

AG – Passagem (mesquita): Ofensa à religião, atentados como os de hoje nos

Estados Unidos são condenados também por entidades muçulmanas de caráter

mais político que atuam em São Paulo.

Imagens de um militante palestino em sua casa.

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AG: Abaixo a ocupação. A frase cobre as paredes da casa onde encontramos um

militante palestino. Ao lado dele, um judeu. Juntos eles lideram uma entidade que

prega a paz entre os dois povos. Pra eles, o fato da maior potência do planeta não

ter conseguido se defender do ataque de hoje mostra que a força não vai garantir a

segurança mundial.

Judeu: Nós podemos tentar acabar com o terrorismo pela força ou podemos acabar

com o terrorismo pela paz.

Militante palestino: Por que não é possível que o mundo, que a ONU, que os

governos mundiais, deixem isso acontecer mais uma vez.

AG: No Rio, este representante da juventude islâmica tem medo que o atentado

estimule o preconceito contra os muçulmanos.

Representante da juventude islâmica: Que se apure o atentado. Que se veja

realmente quem fez isso e que se condene quem praticou isso. Não as demais

pessoas. Generalizar isso é uma injustiça.

Depoimento: As boas relações entre a comunidade judaica e a comunidade

muçulmana no Brasil vão continuar sendo relações de respeito mútuo e cordialidade.

Não vamos importar terror para o Brasil.

VOLTA PARA BANCADA

FB: Na Grã Bretanha, faltavam quinze minutos para as duas horas da tarde quando

o primeiro avião se chocou com a uma das Torres do World Trade Center. A partir

daquele momento não só o país como toda a Europa parou, atônita, para saber o

que estava acontecendo.

REPORTAGEM 10

Imagens das ruas de Londres que ilustram fala do repórter.

Marcos Losekann (ML): A tradicional pontualidade britânica hoje não funcionou. O

país parou diante da TV pra assistir as notícias que chegavam ao vivo dos Estados

Unidos. Do centro de Londres ninguém esperou até às cinco da tarde para sair do

trabalho. Lojas, bares e principalmente prédios públicos foram esvaziados. A bolsa

de valores fechou o pregão duas horas antes do horário normal. As linhas de metrô

chegaram a ser interrompidas. Todos os voos sobre a capital da Grã Bretanha foram

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proibidos e os voos para os Estados Unidos suspensos. O Canary Wharf, prédio

mais alto de Londres, também ficou vazio.

ML - Passagem (Londres): Esse clima tenso entre os britânicos encontra uma

explicação principalmente no campo da diplomacia. A Grã-Bretanha é a principal

aliada dos Estados Unidos, costuma apoiar o governo americano em todas as

decisões políticas. Hoje, essa amizade histórica deixou os cidadãos daqui com a

sensação de que Londres poderia ser o próximo alvo.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Estou com muito medo, diz a moça.

Também tenho pena das pessoas inocentes que morreram.

Depoimento (traduzido pelo repórter): Este homem se diz apavorado. Meu receio

é de que isso provoque a terceira guerra mundial.

Imagens Ministro Britânico Tony Blair.

ML: O primeiro ministro britânico, Tony Blair, cancelou uma reunião ministerial pra

fazer um pronunciamento.

Tony Blair (traduzido pelo repórter): Estamos solidários com o povo americano. O

mundo precisa se unir para erradicar o terrorismo.

Imagens das manifestações.

ML: De toda a Europa partiram manifestações no mesmo sentido. O presidente da

França, Jacques Chirac, chamou de monstruoso o que aconteceu na América. O

presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que foi uma tragédia terrível e convocou

uma reunião ministerial pra discutir a segurança. O chanceler federal alemão,

Gerhard Schröder, classificou o ato terrorista de abominável. E o secretário geral da

OTAN, George Robertson, conclamou o mundo a formar uma frente comum para

combater o terrorismo. A União Europeia já convocou uma reunião de emergência

pra discutir um plano de ação. Todas as embaixadas americanas na Europa e na

Ásia tiveram a segurança reforçada. Em Londres, diante das barreiras de

isolamento, foram deixados buquês de flores, homenagens às vítimas da violência,

que hoje abalou o mundo.

VOLTA PARA BANCADA

WB: Os analistas políticos são unanimes em dizer que o mundo será outro depois

desta terça-feira. O ministro das relações exteriores do Brasil, Celso Lafer, disse que

a situação é de gravidade única, e de consequência ainda imprevisíveis.

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Celso Lafer: É um episódio decisivo. Ele muda o funcionamento do sistema

internacional. Ele coloca as sombras da incompreensão no centro da vida mundial.

Isto terá um efeito grande sobre tudo e sobre todos e mudará a maneira pela qual

conduzimos a ação diplomática. Este evento é mais sério do que qualquer outro nos

últimos tempos, e ele tem um alcance maior do que foi o fim da Guerra Fria e a

queda do muro de Berlim.

Depoimento: Eu acho que os países europeus, os outros blocos do mundo, quer

dizer, América Latina, as várias organizações dos estados americanos, eles têm que

tomar um papel mais ativo no mundo. Ou seja, o mundo deve ter uma

descentralização de poder. Essa é uma questão que pode ser feita até a médio

prazo. A curto prazo os Estados Unidos vão mudar completamente seu sistema de

vigilância interna.

Depoimento: Eu acho que haverá, pelo menos, três respostas. Uma resposta militar

muito forte contra algum país. Eles vão tentar escolher, se não conseguirem

descobrir quem foi, vão tentar escolher um dos países e os dois candidatos sérios a

tomarem um ataque maciço que oxalá não seja nuclear, são Iraque e Afeganistão. A

segunda resposta é uma resposta que vai obrigar o presidente Bush a sair do

relacionismo e, a partir de um relacionamento internacional com seus aliados, com

os países democráticos, ter uma política mais forte contra o terrorismo. E uma

terceira reação, fundamental, é o problema do Oriente Médio. O presidente Clinton

tentou fazer a paz, o presidente Bush esqueceu o Oriente Médio. Vai ser obrigado a

relembrar o Oriente Médio.

VOLTA PARA BANCADA

FB: E voltamos ao vivo dos Estados Unidos com a repórter Zileide Silva. Zileide, que

informação nós temos sobre os brasileiros em Nova York?

AO VIVO

ZS: Fátima, o governo brasileiro informou que dez empresas brasileiras tinham

escritórios nas Torres do World Trade Center. Muitos brasileiros eram funcionários

de corretoras. Essas imagens são de Nova York agora à noite. Imagens ao vivo. E

esses funcionários brasileiros se concentravam principalmente no vigésimo quinto e

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no centésimo sétimo andar das Torres. Brasileiros que não conseguiram chegar ao

trabalho ligaram para a redação da Rede Globo aqui em Nova York. Assustados,

eles diziam não ter informações sobre os colegas que estavam no prédio. Além

desses funcionários, um outro grupo de brasileiros trabalhava ali: engraxates, no

subsolo do prédio, onde funcionava um shopping center e operavam várias linhas de

metrô e trem. Até agora, o consulado brasileiro não divulgou a lista com as vítimas.

Segundo o consulado, porque ainda não se sabe a nacionalidade deles. E não é só

o consulado brasileiro. Até agora, nenhuma lista foi divulgada com essa relação.

Bonner.

VOLTA PARA BANCADA

WB: Daqui a pouco, bolsas de valores e moedas internacionais são abaladas pelo

atentado.

FB: E veja também: a polícia suspeita que o assassinato do prefeito de Campinas foi

crime político.

INTERVALO

QUARTO BLOCO

A reportagem 11 fala sobre o senador Jader Barbalho no caso do desvio de

dinheiro do Banpara, onde o relatório da comissão de ética ficou pronto e incrimina o

senador dizendo que Jader Barbalho abusou de suas atribuições de presidente do

Senado, adiando a tramitação de um requerimento que pedia informações do Banco

Central, um comportamento que configura indício de improbidade administrativa.

Já a reportagem 12, de Caco Barcellos, acompanha o velório e enterro do

prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos, do PT, que foi assassinado na noite

anterior. O crime parou Campinas e mais de 50 mil pessoas participaram do velório

e cortejo pelas principais ruas da cidade.

Em seguida, Fátima Bernardes, dá uma nota informando o falecimento do

empresário José Ermírio de Moraes Filho, presidente do Conselho de Administração

do grupo Votorantim. O empresário sofria de câncer.

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PREVISÃO DO TEMPO

VOLTA PARA BANCADA

WB: Gustavo Kuerten foi eliminado na primeira rodada do torneio de tênis da Bahia.

Guga enfrentou outro brasileiro, Flávio Saretta, de 21 anos. Depois de vencer com

facilidade o primeiro set por 6 x 4, Gustavo Kuerten foi surpreendido. Saretta

empatou o jogo com 6 x 2 no segundo set e acabou fechando a partida com 6 x 4 no

terceiro.

FB: Voltamos com novas informações sobre os atentados terroristas nos Estados

Unidos. Ao vivo de Nova York Zileide Silva diz como estão as investigações.

AO VIVO

ZS: Fátima, o FBI acaba de abrir uma página na internet pedindo para que as

pessoas mandem informações que possam levar aos autores desses atentados. A

CIA e o FBI não tem nenhuma pista concreta até agora. Esta é a informação oficial.

Mas funcionários do Pentágono disseram hoje cedo que tinham informações sobre o

envolvimento de Osama Bin Laden. Segundo eles, só o bilionário saudita teria

ousadia e recursos suficientes para organizar uma série de atentados como esses.

O exército americano está em alerta máximo e, se for necessário, pronto para agir.

Agora a pouco, a agência de notícias espanhola EFE disse que um grupo chamado

de Exército Vermelho Japonês teria assumido a autoria do atentado. Um integrante

do grupo telefonou para um jornal na Jordânia dizendo que era uma retaliação aos

ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki em 1945. E, apesar da sede do FBI ser

em Washington, toda a investigação sobre essa série de atentados será conduzida

pelo escritório do FBI aqui em Nova York. Esse escritório é muito mais eficiente. Foi

ele que investigou e solucionou o atentado de noventa e três. E agora a pouco a

empresa aérea America Airlines informou que todos os aviões dela que estavam

desaparecidos já foram localizados. Bonner.

VOLTA PARA BANCADA

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WB: As explosões nos Estados Unidos provocaram uma onda que em segundos

atingiu os principais mercados financeiros do mundo. Bolsas de valores

interromperam os negócios e as que funcionaram tiveram quedas violentas.

REPORTAGEM 13

Imagens das Torres caindo após ataque.

William Waack (WW): As Torres Gêmeas arrasadas pelo atentado abrigavam

mesas de operadoras de mercado do mundo inteiro, no coração do capitalismo

globalizado. O impacto imediato foi muito mais além do que transformar um símbolo

em fumaça. As bolsas de Nova York, ali perto, e a bolsa eletrônica Nasdaq, pelas

quais pulsa a economia mundial nem chegaram a abrir.

Imagem mapa do mundo.

WW: A onde de choque da explosão atingiu em cheio os mercados europeus. A

bolsa de Londres fechou em baixa de 5,72%, a maior queda nos últimos 35 meses.

A de Paris, baixa de 7,39%. Há dois anos não caia tanto. Frankfurt queda de 8,49%,

maior baixa dos últimos 32 meses. Bolsa de Milão, baixa de 7,79%. No México, as

ações caíram 5,55%. Na Argentina, o pregão foi interrompido quando a queda bateu

5,20%.

Imagens bolsa de valores de São Paulo.

WW: Pela primeira vez nos últimos 10 anos na Bolsa de Valores de São Paulo os

negócios foram suspensos. As onze e quinze da manhã o pregão já acumulava

queda de 9,18%, a maior desde janeiro de noventa e nove, quando houve a

desvalorização do real. Com o resultado de hoje, a Bovespa já contabiliza baixa de

29,04% este ano.

WW – Passagem: A paralisação dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo

não foi apenas o resultado do horror e da emoção provocados pelas imagens vindas

dos Estados Unidos entre os operadores. A bolsa simplesmente não tinha mais

condições de fixar preços.

Depoimento: O motivo de nós fecharmos foi extremamente técnico. Há informações

desencontradas em todos os cantos e nós achamos melhor, pro bem dos

investidores em geral, encerrar as atividades do pregão do dia de hoje.

Imagens da bolsa de valores.

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WW: Houve poucos negócios nas mesas de câmbio com o dólar batendo novo

recorde, dois reais e sessenta e seis centavos, alta de 2,03%, apesar da intervenção

do Banco Central. Diante do clima de nervosismo, o governo preferiu cancelar três

leilões de títulos públicos, no total de 4,7 bilhões de reais em papéis. Refletindo

temores e conflitos no Oriente Médio, o preço do barril de petróleo subiu 13% e

chegou aos 31,05 dólares. Outro sintoma de insegurança, o ouro na bolsa de metais

de Londres teve alta de 7%. Mas economistas acham que o impacto imediato do

atentado em Nova York se desfaz também a curto prazo.

Depoimento: Nós estamos sob impacto de uma grande tragédia. É natural que num

primeiro momento a reação seja de uma certa histeria, movida pelos pânicos de um

e pela especulação de outros que tentam tirar proveito da situação. Mas isso não é

permanente. Isso vai durar alguns dias, a vida depois volta ao normal, a economia

americana está em processo de desaceleração e isso pode até chegar em uma

recessão, mas não será por causa dessa tragédia. Na verdade, a economia é muito

mais robusta e não é um acidente, um ataque terrorista que vai mudar grande

tendências e movimentos profundos que tão ocorrendo no mundo.

VOLTA PARA BANCADA

FB: Veja a seguir. A aflição das famílias de brasileiros que estão em Nova York.

WB: E as últimas informações sobre o dia que vai marcar a história.

INTERVALO

QUINTO BLOCO

FB: O presidente Fernando Henrique convocou uma reunião de emergência para

discutir os reflexos que os atentados terroristas podem ter na economia brasileira. A

segurança foi reforçada nos consulados e na embaixada americana.

REPORTAGEM 14

Imagem embaixada.

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Heraldo Pereira (HP): A embaixada americana em Brasília liberou todos os

funcionários e ficou fechada. Na porta, reforço no policiamento. O comunicado pediu

que os americanos que vivem no Brasil redobrem a segurança. Quem trabalha na

embaixada de Israel também teve de sair e a polícia aumentou a vigilância. No Rio,

o esquadrão antibombas fez uma revista no consulado americano. Os funcionários

tiveram que deixar o prédio. Consulados de São Paulo e do Recife também foram

desocupados. O comando da aeronáutica liberou os aeroportos nacionais aos

aviões que não puderem descer nos Estados Unidos, além de recomendar maior

fiscalização no embarque de passageiros. O Itamaraty divulgou uma nota

condenando a violência e lamentando as mortes. O presidente Fernando Henrique

Cardoso, se dizendo chocado e com uma preocupação extrema, acompanhou tudo

pela televisão no Palácio da Alvorada.

Imagem da carta de Fernando Henrique.

HP: O presidente mandou uma carta de solidariedade ao presidente dos Estados

Unidos, George W. Bush, e repudiou o ato terrorista. Num pronunciamento, o

presidente se mostrou preocupado também com os brasileiros que estão nos

Estados Unidos e determinou que recebam toda a assistência do consulado.

Fernando Henrique Cardoso: Nova York já existe no consulado um conjunto de

telefones à disposição dos brasileiros para que eles possam acalmar as suas

famílias e mostrar que nada lhes aconteceu. É provável que diante da virulência dos

atos praticados, haja consequências em todo o mundo, principalmente econômicas,

e o Brasil é parte do sistema mundial, e pode vir a ser direta ou indiretamente

afetado por essas turbulências. É inegável que se não houver uma ação atenta do

governo as consequências podem ser maiores, e nós estamos atentos.

HP – Passagem: Para se antecipar as consequências deste episódio e tentar fazer

uma avaliação, principalmente nos desdobramentos da economia brasileira, o

presidente Fernando Henrique Cardoso chamou quatro ministros, inclusive o da

Fazenda, Pedro Malan. A reunião foi a portas fechadas. Depois, o presidente

convocou o Conselho de Defesa Nacional.

Imagens da reunião com o conselho.

HP: O governo vai fazer uma análise dos reflexos da situação dos Estados Unidos

aqui no Brasil. O conselho foi comunicado das medidas para proteger os cidadãos

americanos, e o presidente Fernando Henrique tranquilizou o encarregado de

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negócios dos Estado Unidos, que está respondendo pela embaixada americana em

Brasília.

VOLTA PARA BANCADA

WB: Até agora a pouco o Itamaraty ainda não tinha conseguido notícias sobre

possíveis vítimas brasileiras. Entre os que sobreviveram aos atentados há relatos

impressionantes.

REPORTAGEM 15

Imagens de uma senhora chorando.

Edney Silvestre (ES): Apreensão em São Paulo. Dona Cecília passou a manhã

tentando o contato com o filho Cleiton que mora em Nova York. Não conseguiu. As

primeiras notícias vieram só à tarde. Um amigo confirma que Cleiton está bem. Só

então Dona Cecília se acalma.

Cecília: Só tenho que agradecer a Deus, só isso. Muito obrigada meu Deus.

Imagem operadora telefônica.

ES: O congestionamento das linhas aumentou a angústia de quem procurava

informações sobre parentes nos Estados Unidos. Em uma das operadoras, as

ligações aumentaram 40 vezes. Um número de serviço foi posto à disposição do

usuário, 0800 703 2111.

Imagens das famílias.

ES: Em Uberaba, Dona Nilda espera alguma notícia sobre o filho Tiago. Há quatro

meses em Nova York, ele servia café em três andares do World Trade Center. Em

Goiânia, os irmãos de Fabrício Guimarães ouviram incrédulos o relato dele. Fabrício

embarcou ontem à noite e chegou hoje cedo à Nova York.

Fabrício, por telefone. Descrição do relato dele.

Fabrício Guimarães: Eu cheguei, acho que uns 15 ou 20 minutos antes da

explosão. Eu cheguei a Nova York e o taxista me chamou a atenção. Eu tava na

Long Island Express Highway e deu pra ver muito bem a explosão em si. E, quando

eu estava chegando mais ou menos perto do meu objetivo, que é mais ou menos 3 a

4 quadras do World Trade Center, foi quando vi a queda da primeira torre, foi uma

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coisa assim, muito, mas muito assustador. Foi uma das coisas mais assustadoras

que eu já vi na minha vida.

Foto do advogado Paulo Lins e Silva.

ES: Por pouco o advogado Paulo Lins e Silva não tomou o voo de Boston,

justamente o avião que bateu na segunda torre.

Paulo Lins e Silva: Eu não entrei nesse voo para Nova York porque era um voo

muito cedo, e nós estávamos exaustos voltando de Montreal para pegar um voo que

retardou demais. Eu estou muito nervoso aqui nos Estados Unidos, porque eu estou

com a minha família e nós não sabemos quando é que nós vamos sair.

Foto Larry Pinto de Farias Júnior.

ES: Funcionário de uma corretora, Larry Pinto de Farias Júnior conseguiu sair do

World Trade Center a tempo.

Larry Pinto de Farias Júnior: Eu estava trabalhando. Nós ouvimos aquele

estrondo, aquele barulho muito forte. Eu trabalhava no 25º andar. Parecia a

sensação de um terremoto. O edifício balançou, e balançou muito forte mesmo, e aí

nós fomos para a saída de emergência, para a saída de incêndio. O medo maior,

foram dois medos: o primeiro medo foi na escada de incêndio, porque não pode

entrar pra nenhum andar, aquelas portas corta-fogo não tem acesso aos andares e

começou a subir a fumaça e um cheiro muito forte de combustível. Deu medo e para

descer 25 andares de escada, com milhares de pessoas tentando descer ao mesmo

tempo, graças a Deus não teve pânico. O segundo avião se chocou contra a outra

torre quando eu estava na escada e eu não vi.

VOLTA PARA BANCADA

FB: O Itamaraty montou um esquema de plantão para dar informações a parentes

de brasileiros que moram nos Estados Unidos. O repórter Roberto Kovalick tem as

informações.

AO VIVO

Roberto Kovalick: O consulado brasileiro em Nova York recebeu a informação da

polícia americana de que em só dois dias, no mínimo, será possível saber se há

brasileiros entre as vítimas. Segundo o Itamaraty, o prédio onde funciona o

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consulado foi desocupado, mas uma pequena equipe permanece lá para dar

informações. De acordo com o Itamaraty, 800 mil brasileiros estão nos Estados

Unidos, 300 mil em Nova York. E para dar informações às famílias no Brasil, o

Itamaraty criou um serviço de informações que vai funcionar 24 horas por dia. O

telefone é o seguinte: 61, que é o código de Brasília, 411 64 56. Bonner.

VOLTA PARA A BANCADA

WB: E agora as últimas informações ao vivo de Nova York com a correspondente

Zileide Silva.

AO VIVO

ZS: Bonner, daqui a pouco o presidente americano George Bush faz um

pronunciamento à nação. Ele já está na Casa Branca. E o tom do discurso vai ser de

retaliação e impaciência. Ele vai dizer aos americanos: os Estados Unidos já foram

testados várias vezes, sempre venceram, e agora, segundo ele, não vai ser

diferente. Mas o presidente também vai fazer um apelo ao povo americano para que

o país volte ao normal. E os 170 hospitais de Nova York estão lotados. As vítimas

estão sendo levadas para hospitais de outras cidades. E a empresa aérea United

Airlines acaba de informar que está liberando inicialmente 25 mil dólares para os

parentes das vítimas. E o grupo de oposição ao Talibã assumiu a autoria das

explosões em Cabul. Eu tenho mais uma informação aqui, que a inteligência

americana, tá difícil porque a gente está recebendo as informações ao vivo, que a

inteligência americana conseguiu interceptar mensagens de Osama Bin Laden sobre

os ataques. Esta é a última informação que nós estamos acabando de receber aqui

no escritório da Globo, em Nova York. Fátima.

FB: O mundo assistiu hoje ao mais brutal de todos os ataques terroristas. Sem

armas químicas, sem bombas atômicas, aviões foram lançados contra símbolos do

poderio americano. O pânico instalado no coração econômico do planeta. Imagens

de filme e que gostaríamos de ver tão somente nas telas de cinema.

Imagens com som ambiente dos atentados.

FB: Nós voltaremos a qualquer momento com outras informações dos atentados

terroristas dos Estados Unidos e com o pronunciamento ao vivo do presidente da

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América, George Bush. E ainda novos detalhes dos ataques, o socorro às vítimas e

a reação do governo americano você vai ver no Jornal da Globo. Até amanhã.

WB: Até amanhã.

ENCERRAMENTO

6.2.2.2.2 Ataque ao Jornal Cherlie Hebdo

Sete de janeiro de 2015. Onze e meia da manhã em Paris. Dois homens

vestidos de preto e fortemente armados invadiram a redação do jornal satírico

Charlie Hebdo. A ação, que durou poucos minutos, resultou em 12 mortos, entre

jornalistas e policiais.

De acordo com o site Memória Globo16, a Globo divulgou as primeiras notícias

do atentado em um plantão na manhã. O correspondente em Lisboa, André Luiz

Azevedo, foi enviado a Paris e de lá entrou, ao vivo, no JN daquele dia mostrando os

detalhes do ocorrido. A movimentação de repórteres pelo mundo inteiro foi exibida

pelo JN no dia.

Os correspondentes em Londres, Cecília Malan e Roberto Kovalick, também

se deslocaram para Paris. Relataram os desdobramentos do atentado e a

manifestação histórica que levou mais de três milhões de pessoas às ruas das

cidades francesas. Renato Machado, de Londres, mostrou a repercussão do

atentado na Europa; de Jerusalém, Rodrigo Alvarez contou como os atos terroristas

foram recebidos no mundo árabe; Fábio Turci, de Nova York, falou da reação do

Presidente Barack Obama.

Participaram ainda da cobertura os repórteres Edney Silvestre, Paulo Renato

Soares, Renato Biazzi, Giuliana Morrone, Tiago Eltz, Pedro Vedova e Helen

Sacconi.

Oitenta mil policiais foram mobilizados na caçada aos irmãos argelinos. A

população de Paris foi às ruas em protesto contra o terrorismo. Uma onda de

indignação e solidariedade se espalhou pelo mundo, com manifestações na maioria

16 MEMÓRIA GLOBO. Atentado Terrorista ao Charlie Hebdo. Disponível em:

<http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentado-charlie-hebdo/atentado-charlie-hebdo-equipe-e-estrutura.htm>. Acesso em 25 mar. 2017.

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das grandes cidades do planeta. O slogan Je Suis Charlie, Eu sou Charlie, na

tradução, tomou conta das ruas.

O programa Jornal Nacional exibido em 07 de janeiro de 2015, tem duração

de 40’. Neste dia, foram 12 reportagens ao ar, sendo 6 sobre o ataque ao Jornal

Charlie Hebdo, no primeiro e segundo blocos. O JN foi apresentado por Heraldo

Pereira e Renata Vasconcellos, como será detalhado em forma de decupagem, a

seguir.

Jornal Nacional – Edição Atentado ao Charlie Hebdo

07 de janeiro de 2015 – 40’

VINHETA DE ABERTURA

Renata Vasconcellos (RV): A França sofreu hoje o pior atentado do país em mais

de 50 anos. Doze pessoas morreram. Onze ficaram feridas. O alvo foi a redação de

um jornal de humor, conhecido em todo o mundo pelas sátiras que faz de religião,

de políticos, da corrupção e dos costumes. A reportagem é do correspondente André

Luiz Azevedo.

REPORTAGEM 1

Imagens de celulares. Som ambiente

André Luiz Azevedo (AA): Eram onze e meia da manhã em Paris, oito e meia no

horário de Brasília, quando os tiros de armas automáticas foram ouvidos. No alto de

um prédio vizinho, jornalistas de uma agência de notícias registraram o ataque.

Mapa de Paris, com a localização do atentado.

AA: O alvo era a sede de um jornal satírico, o Charlie Hebdo, perto da Praça da

Bastilha.

Imagens das marcas de tiros da redação e segue com imagens do jornal.

AA: Dois atiradores encapuzados entraram na redação durante a reunião de pauta.

É quando os jornalistas discutem os assuntos que o jornal vai abordar. Na edição

desta semana o jornal trazia uma entrevista com um escritor que imagina um futuro

em que a França se tornaria uma nação islâmica. Antes de atirar, os terroristas

perguntavam os nomes das vítimas. Entre elas, o editor chefe e três cartunistas.

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Imagens CNN.

AA: Segundo testemunhas, os terroristas gritaram: vingamos o profeta Maomé.

Imagens do jornal e também das postagens.

AA: Hoje cedo, antes do ataque, o jornal havia postado na internet uma charge do

chefe do grupo extremista estado islâmico, Abu Bakr Al-Baghdadi, que se diz

sucessor de Maomé.

Imagens feitas na hora do atentado.

AA: Na fuga, os homens trocaram tiros com a polícia. Um cúmplice esperava no

carro. Mas antes de fugir, os atiradores tiveram tempo de voltar e executar friamente

o policial caído na calçada. Depois voltaram para o carro, seguindo para o norte da

capital francesa onde abandonaram o veículo e roubaram outro.

Imagens pós-atentado.

AA: A polícia começava a caçada enquanto os feridos recebiam socorro.

VOLTA PARA BANCADA

Heraldo Pereira (HP): Logo após o atentado, as autoridades francesas deram início

a uma caçada aos três terroristas. Segundo o jornal Le Mond e a revista Le Point, a

polícia identificou o grupo. Dois deles seriam irmãos de origem argelina que teriam

recentemente retornado da Síria. O terceiro, ainda não identificado, teria 18 anos.

Em Paris, a segurança foi reforçada em toda a cidade.

REPORTAGEM 2

Imagem do reforço policial em Paris.

André Luiz Azevedo (AA): A primeira grande preocupação do governo francês foi

com os jornalistas, os alvos mais prováveis caso acontecessem outros ataques. Os

prédios que abrigam empresas de mídia receberam proteção reforçada. O

presidente francês, François Hollande, visitou o local do atentado em Paris ainda de

manhã.

Imagens do pronunciamento do presidente e volta com imagens do reforço

policial.

AA: Ele disse não haver dúvidas de que era um ataque terrorista contra jornalistas e

contra a liberdade de expressão. Hollande aumentou o alerta de segurança nacional

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para o nível máximo. Pelo menos 300 soldados do exército foram acionados para

patrulhar locais públicos, como aeroportos, lojas de departamentos e escolas. A

região da Torre Eiffel, que vive lotada de franceses e turistas, recebeu um reforço na

segurança, assim como pontos de ônibus, estações de metrô e trem. Excursões

escolares foram canceladas.

Imagens do carro usado no atentado.

AA: O primeiro carro usado no ataque foi abandonado e recolhido pelas

autoridades. Segundo os investigadores, os terroristas bateram durante a fuga e

roubaram outro carro no caminho. A polícia disse que a caça aos assassinos é uma

prioridade. E que os três homens são extremamente perigosos.

VOLTA PARA BANCADA

RV: O jornal Cherlie Hebdo conquistou os franceses pela irreverência, pela

criatividade. Ganhou fama mundial pelas sátiras contra o fanatismo religioso. Mas

também é conhecido pelas críticas que faz sem distinções ideológicas e políticas a todo

tipo de opressão.

REPORTAGEM 3

Imagem de uma edição do jornal Charlie Hebdo.

Tiago Eltz (TE): Provocador e anarquista, o jornal semanal Charlie Hebdo chega

todas às quartas nas bancas francesas. É conhecido por usar humor como uma

arma pela liberdade de expressão. Muitos dos cartunistas que fundaram o Charlie

Hebdo trabalharam antes em outra revista, a Hara-Kiri, fechada por fazer piada com

a morte do presidente francês Charles de Gaulle.

Passagem: O jornal nasceu na década de 1970 e nesses mais de 40 anos de vida

manteve o caráter amplamente provocador. Suas charges satirizaram com a mesma

acidez, por exemplo, movimentos de esquerda ou de direita, feministas e

conservadores e até as religiões.

Imagens de capas dos jornais.

TE: O jornal semanal fez sátiras ao profeta Maomé, mas também bateu de frente

com outras religiões. Publicou a própria versão sobre o nascimento de Cristo,

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mostrou o Papa consagrando uma camisinha. Satirizou judeus e muçulmanos. E o

tratamento dado pelo governo francês aos imigrantes.

Imagens do cartunista George Wolinski e de arquivos da Globo.

TE: O maior cartunista do jornal era George Wolinski, de 80 anos. Francês de

origem judaica, ele era um mito do cartunismo mundial e inspirou o trabalho de

muitos outros profissionais da área. Ele é considerado um dos expoentes do Maio de

sessenta e oito, manifestações que começaram pedindo por reforma de educação

na França e se transformaram numa greve geral no país.

Volta imagens das sátiras do cartunista.

TE: Wolinski conseguiu captar nos desenhos dele o espírito político e de revolução

sexual da época. Uma das personagens mais marcantes do artista foi Paulete, uma

espécie de musa erótica das histórias em quadrinhos dos anos 1960. Em 1993,

Wolinski esteve no Rio e participou da Bienal Internacional de Quadrinhos.

Volta com imagens do atentado, socorristas e fotos das vítimas.

TE: Outros três cartunistas estão entre as vítimas do atentado. Jean Cabut, o Cabu,

colaborava com o jornal desde a fundação. Cabu iria completar 77 anos na próxima

semana. E Tinhus, com 57 anos, colaborava com várias revistas e emissoras de

televisão. Stephane Charbonnier, o Charb, tinha 43 anos e era o responsável pela

publicação desde 2009. Ele já tinha recebido ameaças de morte e vivia sob proteção

policial. Dois anos atrás, ao falar sobre liberdade de expressão, Charb disse que

preferia morrer de pé a viver de joelhos.

VOLTA PARA BANCADA

HP: A publicação de charges mostrando o fundador do Islamismo já foi motivo de

protestos e atentados. Um deles, contra o mesmo jornal atingido hoje.

NOTA COBERTA

Imagens arquivo.

HP: Em 2011, a sede do Charlie Hebdo foi atacada com bombas incendiárias. O jornal

também já havia sido processado por associações islâmicas da França. Mas o tribunal

considerou que as charges eram críticas ao terrorismo, e não à religião. Antes, em 2006,

a publicação de desenhos sobre o profeta Maomé pelo jornal dinamarquês Yillands

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Posten desencadeou uma onda de protestos. Hoje, o jornal reforçou a segurança dos

funcionários.

RV: E a gente vai agora ao vivo a Paris, com o correspondente André Luiz Azevedo,

que está perto da Praça da Bastilha, na área onde houve o atentado. Boa noite

André.

AO VIVO

AA: Muito boa noite Renata, muito boa noite a todos aí no Brasil. Exatamente, eu

estou bem próximo do local do atentado, há cerca de 150 metros, até onde os

jornalistas podem ir. Este aqui é o bairro da Bastilha, um bairro histórico de Paris,

conhecido pela liberdade, um bairro que houve aquele episódio da libertação

durante a Revolução Francesa. Por isso, esse simbolismo ainda maior desse

atentado. Quando eu vim do aeroporto pra cá já percebi em vários pontos aqui de

Paris uma espécie de reação contra esse atentado. Agora à noite, o que a gente

sente, ao mesmo tempo que é um clima de apreensão na cidade por causa desse

atentado, mas também uma reação dos franceses, dos parisienses, dizendo que não

vão se curvar ante essa ameaça terrorista. A vida na cidade aparentemente continua

normal, as pessoas caminham pelas ruas de Paris com apreensão, com

preocupação, já que foi dado o alerta máximo em relação a possibilidade de novos

atentados, mas os parisienses reagem.

Imagens das manifestações.

AA: Em vários pontos da cidade existem manifestações de apoio, de solidariedade

ao jornal e, ao mesmo tempo, de protesto contra esse violento atentado terrorista.

Agora à noite aqui em Paris houve manifestações particularmente na Praça da

República e também na Praça da Bastilha. Uma manifestação que não foi

convocada, espontânea, onde manifestantes carregaram cartazes e também

levavam pontos de luz demonstrando esse sinal de liberdade.

Volta repórter ao vivo.

AA: Em várias cidades do interior da França também houve manifestações de

protestos contra o atentado e ao mesmo tempo de solidariedade aos jornalistas. A

própria líder da extrema-direita francesa, Marie Le Pen, deu uma declaração dizendo

que o atentado é uma tentativa de amedrontar a França, mas que isso não vai ser

conseguido. Em toda a Europa há reações expressivas de manifestações de apoio aos

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franceses, aos jornalistas franceses. Na Espanha, houve uma certa preocupação porque

alguns jornais receberam envelopes e encomendas suspeitas, mas houve uma

investigação e nada de concreto foi percebido. Então, nesse momento nós estamos

aqui, há cerca de 150 metros do local do atentado, na região da Bastilha, junto com

todos os jornalistas. Há um clima de apreensão, mas ao mesmo tempo há uma espécie

de reação dos franceses contra essa tentativa, esse atentado à liberdade de expressão

num país que é a pátria da liberdade. Voltamos com vocês, Heraldo, Renata.

HP: As informações de André Luiz Azevedo.

INTERVALO

SEGUNDO BLOCO

HP: A Europa toda está em alerta, em choque, com o atentado à sede do jornal

francês. A gente conversa agora com o correspondente em Londres, Renato

Machado. Renato, boa noite. O tom das manifestações, das reações. Há reações

em todo o continente?

Renato Machado (RM): Boa noite, Renata. Boa noite, Heraldo. Os líderes europeus

se uniram para classificar o ataque ao Cherlie Hebdo como um ataque à liberdade

de expressão e de imprensa. Os adjetivos usados foram: abominável, bárbaro,

criminoso. Na França, se formou uma corrente de solidariedade e apoio ao jornal e

aos profissionais em geral. O lema é Todos Somos Charlie. E agora à noite o

presidente François Hollande falou para um país ainda em choque. E pediu a união

da França.

REPORTAGEM 4

Imagem do pronunciamento do presidente.

RM: O presidente francês foi categórico: vamos caçar os autores desse ato

deplorável e eles vão pagar. Num pronunciamento agora à noite a todos os

franceses, François Hollande declarou que quinta-feira será um dia de luto na

França. E que o país não vai se curvar ao terrorismo.

Imagens pronunciamento ministros e pessoas que seguem na fala do

repórter.

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RM: Em Londres, o ataque dominou um encontro entre os primeiro-ministros da Grã-

Bretanha e da Alemanha. David Cameron garantiu que a população britânica está ao

lado da francesa na luta contra o terror. Angela Merkel se solidarizou com as

famílias das vítimas. E disse que o massacre vai contra todos os valores

compartilhados na Europa. O Vaticano classificou o ataque como abominável, e

afirmou que foi um ato contra pessoas e contra a liberdade de expressão. O Imam

em Paris, Hassen Chalghoumi, visitou o local do ataque e chamou os criminosos de

bárbaros. E foi enfático.

Hassen Chalghoumi (traduzido pelo repórter): Eles dizem que matam em nome

do profeta. Mas que profeta é esse? Só se for o diabo.

Imagens de publicações.

RM: A Federação Internacional de Jornalismo afirmou que matar jornalistas é um

ataque contra a profissão como um todo. A imprensa francesa mostrou que não irá

se render e se calar. Publicações de diferentes correntes ideológicas se uniram para

expressar indignação. E num ato comovente de solidariedade, rádios, jornais e

canais de TV da França colocaram seus funcionários e seus equipamentos à

disposição da revista Charlie Hebdo. E a frase Je suis Charlie, Eu sou Charlie, em

português – foi uma das mais usadas ao longo do dia, reproduzida em cartazes que

foram levantados em manifestações espontâneas em cidades como Londres, Berlin

e Madrid.

VOLTA PARA BANCADA

RV: O governo americano prometeu ajuda aos franceses na caça aos responsáveis pelo

ataque dessa manhã. Vamos então ao vivo agora para Nova York conversar com o

correspondente Fábio Turci. Boa noite, Fábio.

AO VIVO

Fábio Turci (FT): Boa noite, Renata, Heraldo. Boa noite a todos. O presidente Barack

Obama telefonou à tarde para o presidente francês, François Hollande, para prestar

solidariedade. Ele ofereceu ajuda para identificar, prender e levar à justiça os

responsáveis pela tragédia e qualquer outra pessoa que tenha ajudado a planejar a

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ação. Obama, que já tinha divulgado uma nota condenando o ataque, decidiu falar à

imprensa sobre a tragédia antes de uma reunião na Casa Branca.

REPORTAGEM 5

Imagens de Barack Obama.

FT: Ao lado do vice-presidente, Joe Biden, e do secretário de Estado John Kerry, o

presidente Barack Obama disse que o ataque foi covarde e que os terroristas temem a

liberdade e o direito da imprensa se expressar livremente. Obama afirmou que os

Estados Unidos vão ajudar na caça aos responsáveis pelo atentado e lembrou que a

França é a aliada mais antiga dos Estados Unidos e está sempre com os americanos na

luta contra o terrorismo. O presidente disse ainda que é importante reconhecer que

esses tipos de ataques podem acontecer em qualquer lugar do mundo.

Imagens pronunciamento.

FT: Mais cedo, junto ao ministro das Relações Exteriores polonês, John Kerry, chefe da

diplomacia americana, ofereceu solidariedade aos franceses na língua deles.

Depoimento (traduzido pelo repórter): A liberdade de expressão e a liberdade de

imprensa são valores universais fundamentais. Este princípio foi atacado, mas nunca

será erradicado.

Imagens pronunciamento.

FT: O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, chamou o ataque de horrendo,

injustificável e a sangue-frio. E completou:

Ban Ki-Moon (traduzido pelo repórter): Também foi um ataque direto a um pilar da

democracia: a imprensa e a liberdade de expressão.

Passagem: O Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou o ataque, que

chamou de bárbaro e covarde. E reafirmou a necessidade de combater, de todas as

formas, a ameaça do terrorismo à paz e à segurança do mundo. Para o conselho,

qualquer ato de terrorismo é crime e injustificável.

Imagem de Phillippe Bolopion.

FT: Phillippe Bolopion, da organização de defesa de direitos humanos - Human, rights

watch, disse que é preciso ficar atento para qualquer tipo de reação contra minorias.

Phillippe Bolopion (traduzido pelo repórter): Os que cometem esses ataques

horríveis, ele diz, podem até alegar que estejam agindo em nome do islã, mas não

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estão. Temos que condenar os que conduziram e comandaram esse ataque e mais

ninguém.

Imagem do diretor executivo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Joel

Simon.

FT: Para o diretor executivo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, o ataque desta

quarta-feira representa o desafio da liberdade de imprensa em todas as partes do

mundo.

Joel Simon (traduzido pelo repórter): Pessoas armadas não podem determinar o

limite da liberdade de expressão.

FT: Joel Simon deu um recado aos jornalistas do mundo todo.

Joel Simon (traduzido pelo repórter): Não podemos nos autocensurar. Como

jornalistas, temos que defender de pé os nossos direitos. Talvez tenhamos que proteger

jornalistas em lugares que nunca pensamos que fossem arriscados.

VOLTA PARA BANCADA

HP: O correspondente Rodrigo Alvarez traz as reações do mundo árabe ao

atentado.

AO VIVO

Rodrigo Alvarez: A Liga Árabe, que representa 21 países, condenou energicamente o

atentado ao jornal francês. Num comunicado, o secretário-geral da organização, Nabil

Arabi, disse que foi um ataque promovido por terroristas. Arabi também expressou

solidariedade com o povo francês e com a família das vítimas. A universidade Al-Azhar,

do Egito, considerada o centro teológico sunita mais importante do mundo islâmico,

afirmou que a religião muçulmana é contra a violência. A instituição, que têm uma

tradição de mais de mil anos e é a segunda universidade mais antiga do mundo,

declarou através do porta-voz que a violência não deve ser usada nem mesmo como

resposta a uma ofensa cometida contra sentimentos islâmicos sagrados.

VOLTA PARA BANCADA

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RV: O Ministério das Relações Exteriores do Irã declarou que o ataque dá continuidade

a uma onda de radicalismo e de violência, física e mental, que se espalhou pelo mundo

nos últimos dez anos. E afirmou que qualquer ato terrorista contra inocentes é alheio ao

pensamento e aos ensinamentos do islã.

HP: Aqui no Brasil, perplexidade. Cartunistas manifestaram indignação. Eles

defenderam a liberdade de expressão e exaltaram a obra dos cartunistas, em

especial de Georges Wolinski, mestre dos chargistas brasileiros.

REPORTAGEM 6

Imagens da redação do jornal.

Paulo Renato Soares (PS): O ataque à redação do Charlie Hebdo atingiu também

cartunistas no mundo inteiro.

Chico Caruso: É o imponderável travestido de guerra santa, mas é uma covardia

religiosa isso. Covardia criminosa travestida de religiosa.

Ziraldo: É muito chocante porque é uma coisa inimaginável você entrar pela

redação e atirar a esmo, matar doze pessoas. Quer dizer, que civilização é essa?

Que civilização é essa? É uma coisa muito estranha. Eu fiquei chocado. E todo

mundo ficou muito chocado.

Passagem: Eles podem ser diferentes no estilo. No tipo do traço, na escolha das

cores. Mas os cartunistas têm a sensibilidade de defender ideias, às vezes, sem

usar uma única palavra. Em desenhos cheios de humor, crítica, ironia, sátira são

comentaristas da atualidade.

Ique: Olha, esse atentado chocou a todos nós, principalmente os cartunistas. E eu

comparo esse atentado ao 11 de setembro. Esse é o 11 de setembro dos

cartunistas. E eles eram os melhores no momento e estavam ali dando o melhor

deles na batalha contra o terrorismo, a favor da liberdade de expressão. Jamais

imaginei que um desenho pudesse provocar um ataque terrorista.

Ziraldo: A minha geração, Jaguar, Fortuna, eu, Cláudio, Millôr, a gente tem muito

contato com eles. Nos congressos, nas viagens, nos salões de humor pelo mundo...

São os humoristas que realmente influenciaram toda uma geração, inclusive a minha

geração aqui no Brasil, todo mundo. Esse livro aqui, o Wolinski teve aqui no Brasil,

ele teve aqui em casa. Me fez essa dedicatória, que é fantástica.

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Chico Caruso: O Wolinski eu conheci aqui, era um cara que já naquela época devia

ter uns 70 anos, uns dez anos atrás, e que agora tinha 80. Baixinho, rápido, assim

muito inteligente e fez esse retrato meu, essa caricatura que eu acho sensacional,

que é feito com poucas linhas, poucas e boas. O meu retrato aqui. Você vê como ele

era bom na caricatura. Me pegou em cinco minutos ali a gente conversando.

Tomando um chope e tal. Eu já era fã dele, ele fez um personagem nos anos

setenta, sessenta e oito, por aí, que era sensacional que era Paulete, era uma

mulher linda. Só que ela aprisionava a alma de um velho rabugento. A inteligência

das conversas, dos enredos que ele criava, era sensacional.

Laerte: Foi decisivo, mudou a minha vida. Conhecer o trabalho desses, dessas

pessoas ilumina as possibilidades na vida da gente, assim e numa época em que eu

tava em formação. Gostava muito de desenhar, mas não sabia ainda direito o que

fazer com o desenho. Então, essa gente emitia uma luz orientadora. Eu acho que é

um momento da gente se solidarizar com Charlie Hebdo que é um patrimônio da

humanidade, eu acho que é um jornal importantíssimo para a história do humorismo

e do jornalismo combativo.

Imagem nota.

PS: A Associação dos Cartunistas do Brasil divulgou uma nota de repúdio ao

atentado. No texto, afirma: o desenhista é justamente o artista que busca a defesa

dos mais fracos e oprimidos, desde que as charges começaram há 200 anos.

Esperamos que esse triste acontecimento seja um exemplo de intolerância a ser

varrido das relações humanas para que a morte desses jornalistas e desenhistas

não seja em vão.

Ique: Quando eles deram um tiro nos cartunistas eles não mataram só aqueles

cartunistas que estavam na frente de batalha. Eles deram um tiro em cada um de

nós. E esse tiro a gente vai sentir daqui pra frente. Porque eles queriam matar não

os cartunistas, mas a essência do cartunista. A essência da luta deles, que é contra

esse radicalismo religioso, contra a falta de liberdade de expressão, a liberdade

jornalística, do próprio desenho do cartoon, do humor. Esse limite do humor é o

limite da própria defesa da sociedade e dos interesses da comunidade como um

todo.

VOLTA PARA BANCADA

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HP: Nas redes sociais da internet, os chargistas de todo o mundo prestaram

homenagens aos mortos pelo terror.

REPORTAGEM 7

Imagens de charges sobre o ataque.

Repórter: A frase Je suis Charlie, Eu sou Charlie, em português, foi uma das mais

usadas ao longo do dia. Os desenhistas destacaram que as únicas armas usadas pelos

colegas mortos eram o desenho, como na ilustração do australiano Richard Pope, em

que o atirador diz: ele desenhou primeiro. E na do ilustrador chileno Francisco Olea que

convoca os companheiros a tomar as armas, todas para o desenho, lápis, apontador,

borracha e régua. O francês Jean Duvergier desenhou a mulher-símbolo da República

Francesa chorando pelo ataque. Já o espanhol Bernardo Erlich lembrou que tudo não

passava de sátiras. Na charge, ele diz que o mundo é levado tão a sério que o humor é

profissão de risco. O cartunista brasileiro Rodrigo Brum pediu humor, no lugar da guerra,

em letras menores: pelo amor de Deus, Alá, Buda, Jesus, Maomé, Tupã, Zeus, Javé,

Amonha, Oxóssi ou outro ser superior que você acredita. O francês Martin Vidberg disse

que não poderia deixar de desenhar hoje e fez um desabafo: hoje sou desenhista da

imprensa, hoje sou jornalista, hoje desenho por Charlie Hebdo. Ao longo desta edição

você verá outras homenagens aos cartunistas mortos no atentado na França.

VOLTA PARA BANCADA

RV: Em nota, a presidente Dilma Rousseff classificou o ataque como sangrento e

intolerável. E manifestou profundo pesar e indignação. A presidente acrescentou

ainda que o ato de barbárie, além das lastimáveis perdas humanas, é um inaceitável

ataque à liberdade de imprensa, que ela reforça, é um valor fundamental das

sociedades democráticas.

HP: A Associação de Jornais, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a

Associação Nacional de Editores de Revista e a Associação Brasileira de Emissoras

de Rádio e Televisão condenaram o atentado e alertaram para a ameaça à liberdade

de expressão. A ABI disse ainda que não se pode mais aceitar que manifestações

de intolerância política e religiosa sejam utilizadas como instrumento de intimidação

contra jornalistas.

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RV: O vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil,

professor Ali Zoghbi, repudiou o atentado de maneira categórica e afirmou que o islã

é uma religião cuja essência e tradição evoca a paz, a preservação da vida e o

direito da liberdade de expressão. Ele disse também que foi uma ação abominável a

ocorrida em Paris nesta quarta-feira, que requer firme condenação de toda a

humanidade.

INTERVALO

TERCEIRO BLOCO

A reportagem 8 informa sobre o roubo de 200 motocicletas de um depósito do

Departamento de Transportes do Rio. A polícia disse que foi uma ação comandada

por um dos criminosos mais procurados do Estado.

Já a reportagem 9 fala sobre o acidente do Airbus da AirAsia que caiu no Mar

de Java. As equipes da agência de buscas e resgate da Indonésia acharam a cauda

do avião. Até o momento já foram encontrados quarenta corpos. Vinte e quatro

identificados por peritos indonésios. Acredita-se que mais corpos surgirão à medida

que partes maiores da fuselagem do Airbus forem localizadas.

A reportagem 10 revela diversas irregularidades no maior complexo

penitenciário de Pernambuco, o presídio Antônio Luiz Lins de Barros, no Recife.

A reportagem 11 informa que o candidato do PMDB à presidência da Câmara,

Eduardo Cunha, foi citado na operação Lava Jato, que investiga corrupção na

Petrobras.

INTERVALO

QUARTO BLOCO

Já a reportagem 12 fala da preparação dos times de futebol, os quais terão

mais tempo para treinar, antes dos inícios dos campeonatos estaduais.

VOLTA PARA BANCADA

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HP: Bem, voltamos a falar agora sobre o atentado que deixou 12 mortos, hoje na

França. O enviado especial à Paris, André Luiz Azevedo, está no local do ataque.

André, como é que estão os trabalhos de busca dos terroristas?

AO VIVO

AA: Bem, são as últimas informações, divulgadas agora a pouco, inclusive pelo site

da revista francesa Le Point, a polícia estaria neste momento fazendo um cerco há

cerca de 140 quilômetros daqui da capital, Paris...

Imagens da BFM TV (canal de notícias francês)

AA: ...na cidade de Reims, fica há 140 quilômetros a leste de Paris, e onde estariam

os três suspeitos do atentado. Os nomes de dois deles já foram divulgados: seriam

Said e Charif Kouachi, dois irmãos, um deles, inclusive, já teria passagem pela

polícia, acusado de recrutar pessoas para extremistas.

Volta imagens ao vivo de André.

AA: Neste momento, a gente vê um comboio policial que sai aqui da região da

Bastilha. Então confirmando, há um cerco policial neste momento na cidade de

Reims pra tentar prender os três suspeitos. O terceiro suspeito seria um rapaz de 19

anos que não teve o nome divulgado. Uma outra informação, já se sabe com mais

detalhes como foi a entrada dos terroristas no jornal francês. Segundo a informação

divulgada agora a pouco, eles conseguiram render uma cartunista que chegava na

hora, Corinne Hein, que chegava com uma filha. Ela chegava no jornal, foi rendida

pelos terroristas, que se anunciaram como da Al Qaeda, ameaçaram matar a filha de

Corinne, e assim tiveram acesso ao jornal. Então, nesse momento, estaria sendo

feito um cerco pra tentar prender os terroristas que fizeram o ataque aqui na capital

francesa. Voltamos com vocês, Heraldo e Renata.

VOLTA PARA BANCADA

RV: Obrigada André Luiz Azevedo, trazendo aí as informações ao vivo da área, do

local, do atentado de hoje de manhã, fecha-se o cerco aos três suspeitos de cometer

este atentado. No Rio de Janeiro, um grupo de cerca de 100 pessoas, entre

brasileiros e estrangeiros, se reuniu numa praça da zona sul da cidade em protesto

contra o atentado.

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Imagens do protesto no Rio.

RV: A manifestação marcada por uma rede social é uma homenagem às vitimas e

em defesa da liberdade de expressão.

ENCERRAMENTO

A partir da observação, a técnica de entrevista se mostra bastante pertinente

para que se possa ter um melhor entendimento de quem vivenciou os atentados de

perto. Isto será enfatizado no subtítulo seguinte.

6.2.3 Entrevista

Outra técnica de grande valia para esta pesquisa, que irá auxiliar para

responder a questão norteadora, é a entrevista. Para Jorge Duarte, no artigo

Entrevista em Profundidade (2012, p. 62), é uma “técnica qualitativa que explora um

assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de

informantes”. Bardin (2011, p.93) complementa que na entrevista lidamos com “uma

fala relativamente espontânea, com um discurso falado, que uma pessoa – o

entrevistado – orquestra mais ou menos à sua vontade”. Gil (1999) ainda afirma que

a entrevista é uma forma de interação social.

Por meio da entrevista é possível, segundo Duarte (2012), compreender o

processo do jornalismo.

Entender como produtos de comunicação estão sendo percebidos por funcionários, explicar a produção da notícia em um veículo de comunicação, identificar motivações para o uso de determinado serviço, conhecer as condições para uma assessoria de imprensa ser considerada eficiente, identificar as principais fontes de informações de jornalistas que cobrem economia (DUARTE, 2012, p. 63).

A entrevista é uma coleta de dados. Conforme Gil (1999), ela pode ser

estruturada ou menos estruturada. A partir desse princípio, a entrevista se classifica

em:

a) Entrevista informal: este tipo de entrevista é a menos estruturada. É uma

visão geral do problema pesquisado;

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b) Entrevista focalizada: é uma entrevista livre, mas com foco em um tema

específico;

c) Entrevista por pautas: apresenta certo grau de estruturação, pois é guiada

por uma relação de interesse que o entrevistador vai explorando;

d) Entrevista formalizada ou estruturada: esta entrevista se desenvolve a

partir de uma relação fixa de perguntas com um grande número de

entrevistados. Possibilita o tratamento quantitativo de dados.

Para esta pesquisa, as entrevistas realizadas foram estruturadas. Por meio de

um questionário padrão elaborado para cada acontecimento, elas foram aplicadas

de duas formas: presencial e por e-mail. As fontes de informação escolhidas para a

aplicação da entrevista serão detalhadas no próximo subtítulo.

6.2.3.1 Fontes de informação

Para essa etapa, os repórteres escolhidos foram Zileide Silva, por ser a

correspondente principal na cobertura do atentado terrorista às Torres Gêmeas, em

11 de setembro de 2001; André Luiz Azevedo, por ser o principal correspondente na

cobertura do ataque terrorista ao Jornal Charlie Hebdo, em 7 de janeiro de 2015; e o

repórter Edney Silvestre por estar presente nos dois fatos.

Para complementar o contexto, foi realizada uma entrevista com o repórter

Caco Barcellos. Mesmo não sendo o foco principal, Barcellos já foi correspondente

internacional e também participou de grandes coberturas jornalísticas internacionais

de guerras e atentados. O repórter esteve na cidade natal da pesquisadora (Flores

da Cunha) participando de um evento, onde ocorreu a entrevista presencialmente.

As informações sobre os profissionais citados foram retiradas do site Memória

Globo.

6.2.3.1.1 Zileide Silva

Zileide Silva é conhecida por sua atuação nas áreas de economia e política. A

repórter, apresentadora e correspondente internacional participou de coberturas

importantes como a dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e de

diversas eleições presidenciais, nos Estados Unidos e no Brasil.

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Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero, São Paulo, foi contratada pela

Globo em 1997 para trabalhar na sucursal de Brasília, na área de economia,

principalmente para o Jornal Nacional. Logo passou a fazer também a cobertura

diária do Palácio do Planalto, dos ministérios e do Congresso.

Acompanhou de perto a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso

e também acompanhou FHC no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça,

sua primeira grande cobertura internacional pela Globo. Em 2000, foi convidada para

ser correspondente em Nova York.

Zileide Silva participou da cobertura histórica das eleições que levou Luiz

Inácio Lula da Silva à Presidência da República e foi a primeira repórter negra a

integrar uma comitiva presidencial brasileira. Zileide Silva participou das coberturas

jornalísticas das eleições de 2006 e 2010, passando a integrar o seleto time de

repórteres que acompanharam todos os presidentes eleitos pelo voto direto desde a

queda do regime militar – de Collor a Dilma, sem interrupção.

A jornalista ganhou quatro vezes o Prêmio Comunique-se: em 2004, 2006 e

2008 foi eleita a melhor jornalista política; em 2005, a melhor repórter.

6.2.3.1.1.1 Questionário aplicado

a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no jornalismo

audiovisual.

b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como

correspondente internacional? Como foi essa experiência?

c) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como correspondente

internacional, quais você destaca?

d) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas são as mais

desafiadoras? Por quê?

e) Você era correspondente quando aconteceu o ataque às Torres Gêmeas.

A partir do fato, como se desenvolveu a cobertura?

f) Você entrou ao vivo no Jornal Nacional daquele dia. Como foi esse

processo do ao vivo? Naquela época era difícil fazer essas transmissões?

g) Como ocorre o processo de produção de conteúdo pós-fato e nos dias que

seguem? Precisa atender diversos programas da emissora? Existem

repórteres de apoio ou é um trabalho solitário e constante?

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h) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e

transmissão da informação facilita a cobertura de uma pauta como essa?

i) Com tanta tecnologia existente atualmente, você faria o que de diferente

numa pauta como a das Torres Gêmeas?

j) Como a evolução tecnologia influenciou o seu trabalho como

correspondente internacional?

k) O espectador, agora, além de receptor é também é produtor de conteúdo.

Em diversas coberturas gravações de celulares são utilizadas para

contextualizar o fato. Como você vê a participação do público na produção

jornalística?

6.2.3.1.1.2 Ausência de retorno

A pesquisadora encaminhou mensagem via Facebook, a qual não foi

visualizada e também o questionário por e-mail não teve resposta. Todos os

contatos foram registrados e estão nos apêndices da pesquisa (Apêndices B e C).

6.2.3.1.2 André Luiz Azevedo

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, a ECO, iniciou na Globo em dezembro de 1981. André

Luiz Azevedo participou da cobertura da campanha das Diretas Já, da eleição de

Tancredo Neves e, em seguida, cobriu sua doença e morte.

Em 1991, o jornalista fez a reportagem sobre a máfia do INSS, a qual ganhou

destaque mundial. Em 2002, André Luiz Azevedo estava na equipe que cobriu o

sequestro e a morte do jornalista Tim Lopes. Já no ano de 2011, passou a integrar a

equipe do JN no Ar, projeto onde o jornalista viajou em um avião especial por todas

as regiões para retratar os principais problemas do país.

Em 2012, André Luiz Azevedo iniciou sua carreira de correspondente da

Globo, em Portugal. Entre os fatos que ele cobriu estão a crise econômica, a

repercussão na Europa do sorteio das chaves da Copa do Mundo de 2014, a

renúncia do Rei Juan Carlos da Espanha e os ataques ao jornal Charlie Hebdo.

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6.2.3.1.2.1 Questionário aplicado

A pesquisadora encaminhou uma mensagem para o jornalista via rede social

Facebook. André Luiz Azevedo respondeu, passando seu e-mail para o envio do

questionário.

O questionário com as respostas está reproduzido abaixo e a íntegra se

encontra nos apêndices da pesquisa (Apêndices D, E e F).

a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no jornalismo

audiovisual.

André Luiz Azevedo (AA): Comecei a trabalhar na Rádio Jornal do Brasil em 1972,

referência do jornalismo radiofônico na época. Fui repórter, editor, apresentador até

1982 quando fui convidado para trabalhar na TV Globo. Na Globo então são 35 anos

sempre como repórter em todos os telejornais, rede, programas etc.

b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como

correspondente internacional? Como foi essa experiência?

AA: Como repórter baseado no Rio fiz muitas viagens como enviado especial para

América do Sul, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Colômbia...

Cobri golpes, crises, situações variadas nessas viagens.

Em 2012 fui convidado a ser correspondente em Portugal com responsabilidade de

cobertura na Península Ibérica, África, principalmente colonização portuguesa, e

enviado especial para situações diversas no restante da Europa. Assim cobri a

guerra na Ucrânia entre outras coisas.

Em Portugal procurei fazer trabalho mais autoral e menos baseado em agências.

Assim me voltei para notícias que não despertam muito interesse das agências

internacionais, mais interessam aos brasileiros pela ligação com Portugal.

Com isso ao invés de apenas “amarrar” o noticiário das agências, pautava, produzia,

fazia a reportagem e edição do meu material. Serviço Completo. Principalmente

histórias de comportamento. Além disso procurei também fazer a cobertura da

comunidade brasileira local.

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Considero que essa é uma falha dos correspondentes internacionais, que por conta

da grande pressão do noticiário das agências não cobrem a comunidade brasileira

local, considerada por muitos um “assunto menor”.

Além disso essa é uma cobertura que dá trabalho e difícil porque a comunidade nem

sempre quer expor por conta de problemas legais. Mas tentei e consegui algumas

vitórias.

c) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como correspondente

internacional, quais você destaca?

AA: A Guerra na Ucrânia por conta de ser um conflito real, em condições de

trabalho difíceis. Além da temperatura abaixo dos vinte graus negativos, a geração

do material numa situação como essa com conexões de internet difíceis complica

tudo.

A cobertura do atentado do Charlie Hebdo também foi marcante por conta da

importância do evento, o significado como agressões a liberdade, num país e cidade

icônicos como França e Paris. Numa cobertura como essa que chegamos já com o

evento acontecido, tudo se torna mais difícil em termos técnicos principalmente.

Depois com o tamanho do evento a cobertura se complica com a necessidade de

estar em permanente contato com a redação e ao mesmo tempo se deslocar para

apurar notícias in loco e não repassadas pelas agências.

d) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas são as mais

desafiadoras? Por quê?

AA: Já respondi acima.

e) Você era correspondente quando aconteceu o ataque ao jornal Charlie

Hebdo. A partir do fato, como se desenvolveu a cobertura?

AA: Estava em Lisboa quando fui deslocado. O primeiro desafio é chegar. Então

tem a logística de deslocamento, passagem etc.

A questão do equipamento. O que levar? O mínimo possível para ter agilidade, mas

o máximo para não faltar nada. Isso faz com que se leve tudo na mão para não

perder tempo com recolhimento de bagagem e chance de extraviar.

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Com isso o lado pessoal fica por último. O mínimo de roupa. Mas o mínimo de roupa

não é pouco no inverno. Mas tem que caber numa pequena parte da mochila que já

está ocupada com o material.

No local a preocupação com a transmissão do material. Não adianta produzir e não

conseguir gerar. Contatos com produtoras, que já estão sobrecarregadas com outros

pedidos. Nessa hora experiência e tradição contam. Qualidade da comunicação. A

internet que sempre funciona, nessas horas costuma falhar.

Ao mesmo tempo precisa estar junto para ter material de qualidade, mas antenado

com o restante para não perder a noção geral e não ser furado.

Ao contrário do passado, onde se produzia para um grande jornal da noite, agora é

preciso produzir constantemente porque tem noticiário em todos os momentos e

todo mundo quer o melhor e não adianta dizer que está cansado que não dormiu

nem comeu, ninguém quer saber.

E quando for ao ar o último jornal, lembre-se que de madrugada já tem outro. E não

toma furo.

f) Como ocorre o processo de produção pós-fato e nos dias que seguem?

Precisa atender diversos programas da emissora? Existem repórter de

apoio ou é um trabalho solitário e constante?

AA: Já respondi. Tem vezes que o trabalho é solitário, outras vezes mais de uma

equipe e a redação te dá uma retaguarda. Mas é uma espécie de vergonha se a

redação der notícias que você no local não sabe.

g) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e

transmissão da informação facilita a cobertura de uma pauta como essa,

se compararmos a uma outra pauta como o ataque às Torres Gêmeas, em

2001?

AA: A tecnologia ajuda muito. Mas a tensão continua. Desde que comecei as

viagens internacionais no início da década de 80 tudo mudou. Naquela época

tínhamos que alugar um horário de satélite que custa uma fortuna e ir numa tv local

ou produtora para fazer a geração. E era uma agonia.

Agora geralmente fazemos a transmissão pela internet. Sem custo em princípio o

que facilitou muito. Mas a tensão não acabou. Depende da qualidade do sinal. Não

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sinal de ligação telefônica, mas de transmissão de imagens. É a primeira coisa que a

gente quer saber quando chega como é upload que a gente consegue.

h) Como a evolução tecnológica influenciou o seu trabalho como

correspondente internacional?

AA: Continuando o que já falei. A evolução barateou os custos, aumentou a

facilidade, e aumentou muito também a cobrança.

i) O espectador, agora, além de receptor é produtor de conteúdo. Na

cobertura do ataque ao jornal Charlie Hebdo foi possível perceber o uso

de gravações de celulares para contextualizar o fato. Como você vê a

participação do público na produção jornalística?

AA: É a grande novidade das coberturas locais, nacionais e internacionais. Alguém

sempre está filmando. E no Charlie Hebdo não foi diferente. Quando é um evento

que todo mundo tem essa colaboração é de graça, quando são imagens exclusivas

podem custar muito caro.

6.2.3.1.3 Edney Silvestre

Edney Silvestre especializou-se em reportagens sobre cultura,

comportamento e responsabilidade social. Como correspondente em Nova Iorque,

participou da equipe que cobriu os atentados terroristas de 11 de setembro. Ao lado

do cinegrafista Orlando Moreira foi um dos primeiros jornalistas a chegar ao local

dos atentados, onde registrou imagens da devastação e o desespero da população

nas ruas da cidade.

Edney Silvestre foi contratado pela Globo, como correspondente no escritório

de Nova York, em 1997. Logo em seu primeiro ano enfrentou um grande desafio: a

cobertura da morte da Princesa Diana. Acompanhou também o escândalo que

envolveu o então presidente norte-americano Bill Clinton e a estagiária da Casa

Branca.

O repórter voltou ao Brasil em março de 2002 e participou de coberturas de

diversos carnavais, Rock in Rio, e as eleições de 2002, 2006 e 2010. Outra grande

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cobertura que contou com a sua participação foi o Pan-Americano no Rio de Janeiro,

em 2007.

Com a renúncia do Papa Bento XVI, em 2013, Edney Silvestre voltou às

grandes pautas internacionais. Em janeiro de 2015, o jornalista participou da

cobertura dos atentados terroristas ao jornal Charlie Hebdo.

6.2.3.1.3.1 Questionário aplicado

a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no jornalismo

audiovisual.

b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como

correspondente internacional? Como foi essa experiência?

c) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como correspondente

internacional, quais você destaca?

d) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas são as mais

desafiadoras? Por quê?

e) Você era correspondente quando aconteceu o ataque às Torres Gêmeas.

A partir do fato, como se desenvolveu a cobertura?

f) Você gravou reportagens para o Jornal Nacional daquele dia. Como foi

esse processo? Naquela época era difícil fazer as reportagens e

encaminhá-las ao Brasil?

g) Você também fez reportagens quando ocorreu o ataque ao jornal Charlie

Hebdo em 2015. Como se deu o processo?

h) Quais as diferenças que você vê no processo das reportagens em 2001 e

em 2015?

i) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e

transmissão da informação facilita a cobertura de pautas como essas?

j) Como a evolução tecnologia influenciou o seu trabalho como

correspondente internacional?

k) O espectador, agora, além de receptor é também é produtor de conteúdo.

Em diversas coberturas gravações de celulares são utilizadas para

contextualizar o fato. Como você vê a participação do público na produção

jornalística?

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6.2.3.1.3.2 Ausência de retorno

A pesquisadora encaminhou mensagem via Facebook, a qual não foi

visualizada. Todos os contatos foram registrados e estão nos apêndices da pesquisa

(Apêndice G).

No livro do jornalista William Bonner, Jornal Nacional: modo de fazer (2009), o

repórter Edney Silvestre relata sua experiência na cobertura do atentado de 11 de

setembro.

Eu e o Orlando Moreira [repórter cinematográfico radicado há mais de 30 anos em Nova York] fomos para a área do atentado. E, como se pode imaginar, a situação era completamente caótica. Dentro daquela área havia muita fumaça. Não se enxergava nada. Você não sabia muito bem onde você estava. A polícia não queria deixar que a gente passasse, nem de um lado nem do outro, porque, obviamente, a cena era terrível. Várias pessoas saltaram, porque com o calor de mil graus, elas não conseguiam ficar pisando no chão. A área foi, inclusive, fechada. Eles estenderam um pano para mantê-la fechada, de forma a não poder ser fotografada. Não me parecia haver interesse de alguém em mostrar isso. Nós – Orlando Moreira e eu – tínhamos de ir nos desviando para poder chegar até o local. Quando a gente estava relativamente perto, chegando ao Canal Street, a polícia começou a afastar todos que estavam ali porque havia um escapamento de gás. E se houvesse alguma coisa, alguma chama, toda aquela área poderia explodir. O que a gente não sabia também é que o atentado tinha abalado profundamente toda a estrutura embaixo do World Trade Center, e vários túneis de metrô tinham desabado. Aquilo ali é um aterro e tem uma parede de lado. Se ela cedesse, por pressão do rio – e já começava a ceder, porque os túneis tinham sido soterrados –, essa parede poderia vir abaixo. Se a parede viesse abaixo, ninguém imagina o que aconteceria. Enquanto isso, no escritório, as pessoas que não era jornalistas – a recepcionista, a moça que tomava conta dos assuntos econômicos – também colaboravam. Todos começaram a entrar na internet, a ver televisão, a passar notícias. Então, o escritório funcionou e fez um jornal enorme, com uma grande contribuição para o Jornal Nacional e, depois, para os outros jornais da casa. Tudo isso com o mínimo de pessoas. [...] Enquanto todos os outros canais mostravam imagens compradas, imagens de satélites, a TV Globo tinha suas imagens, e os seus repórteres estavam lá (BONNER, 2009, p. 38).

6.2.3.1.4 Caco Barcellos

Caco Barcellos entrou na Globo em 1984 como repórter especial da redação

de São Paulo. Começou a fazer reportagens investigativas e ganhou destaque. Em

1992 cobriu o massacre do Carandiru.

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Em 2002, assumiu o posto de correspondente internacional em Londres e, em

seguida, foi transferido para Paris. Como correspondente, cobriu o atentado

terrorista em Madri, em 2003 e a morte do Papa João Paulo II, em 2005.

Em abril de 2006, estreou um novo projeto, o Profissão Repórter, no qual ele

e uma equipe de jornalistas recém-formados passaram a revelar os bastidores da

notícia, mostrando ao telespectador o processo de produção de uma reportagem.

6.2.3.1.4.1 Questionário aplicado

A pesquisadora realizou a entrevista com o jornalista presencialmente, em

sua cidade natal, onde Caco Barcellos estava palestrando. Durante a coletiva de

imprensa, a pesquisadora pode realizar as perguntas, as quais estão transcritas

abaixo. A gravação original está nos apêndices da monografia (Apêndice H).

a) Como é trabalhar com jovens profissionais? O que eles te ensinam?

Caco Barcellos (CB): Eles me ensinam muito mais do que eu ensino a eles. Eles

tiveram muita sorte na vida e na profissão de chegarem logo depois dessa revolução

digital, que trouxe a possibilidade de você democratizar o acesso à informação de

qualidade, que não tínhamos no passado. A minha geração não tinha isso. E eles

sabem usar isso muito bem, as novas tecnologias, para melhorar a qualidade da

reportagem que a gente faz noite e dia. Eles têm muito mais facilidade do que eu em

usar a nova tecnologia. Então, sem brincadeira, eu aprendo mais com eles do que

eles comigo. É uma troca, na verdade, muito interessante. Eu tenho algumas

experiências que, às vezes, são úteis e a gente troca muitas ideias sobre os

desafios que vamos encontrar no caminho e, quase sempre, os desafios não

envolvem diferenças para quem está começando e para quem está há muito tempo

na estrada. Reportagem não tem regra, é uma experiência nova todo o dia, um

processo novo todo dia. É muito interessante porque todos estão com a mesma

vontade de fazer o melhor sempre, correr atrás e enfrentar os desafios juntos.

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b) Hoje, a notícia chega de uma forma muito rápida, devido às redes sociais,

e também qualificada. Qual a diferença de quando você começou e agora

com os jovens que trabalham com você?

CB: Antigamente a gente se iludia e achava que tinha que correr para contar

primeiro com exclusividade. As pessoas se orgulhavam em dizer: primeira mão,

fomos os primeiros a chegar. Há muito tempo eu não me preocupo mais com isso.

Mais importante que contar primeiro é contar melhor. Antes da bomba cair os

equipamentos ao vivo já estavam registrando a expectativa da queda, como vamos

chegar antes da bomba cair lá? De qualquer maneira essa pressa fica aí

perfeitamente atendida na necessidade de chegar rápido porque um robô pode

executar isso. Mas um robô, por mais moderno que seja, nunca vai explicar porque

aquela bomba caiu naquele lugar, o que está por trás daquela bomba. Eternamente

será necessária a figura do repórter para contextualizar a história, pra explicar a

história. Não há tecnologia que nos substitua, felizmente.

c) Então, mesmo com tanta tecnologia, estar na rua é fundamental?

CB: É essencial. Há quem não ache importante, mas eu acho essencial. Por que o

novo está na rua, não está dentro das redes sociais. E se está nas redes é porque

alguém já fez e então o restante está no copia e cola. Você pode sair para a rua

para acompanhar coisas que já aconteceram ou foram postadas, mas o novo

sempre está na rua. Há quem esqueça isso.

d) Como é estar no meio a esse caos sempre em busca da informação.

Como isso é feito?

CB: É um processo fascinante e diário. É a possibilidade de quando você vai à rua

com o espírito aberto, o coração aberto e de alma tranquila, você vai pra aprender e

não pra ensinar. Quer coisa melhor do que todo o dia você ter a chance de aprender

sobre algo da realidade brasileira? Cada pessoa tem dentro de si sempre uma

grande história. Cabe você saber ouvir essa história. Você pode passar e ignorar

totalmente a existência de algumas pessoas, mas se você se dedicar ali, a ouvir

principalmente, é fascinante. E cada pessoa pode oferecer pra você o conhecimento

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dela, em todos os níveis. Pode ir atrás de um intelectual ou de um simples

trabalhador que tem grandes experiências pra passar pros outros.

e) Como está a imprensa hoje?

CB: Acho que precisamos de aliados nas ruas e nas reportagens. Pensando em

jornalismo, o gênero reportagem é o mais carente, está em desuso e fora de moda e

a gente precisa desses aliados. O jornalismo está hipercarregado de copiadores e

supercarregado de jornalistas de opinião. Mesmo a televisão, está cheia de

programas de blá-blá-blá, de conversa, que são fundamentais. É importante essa

troca de ideia, mas falta muito a reportagem e tem excesso de opinião. Tem gente

copiando antes de ter aprendido. Opina antes de se formar. Por exemplo, a

operação Lava Jato é o trabalho dos promotores, não é do jornalista. O que faz o

jornalista? Reproduz o que o promotor ou o juiz fez. Falta reportagem, e na

cobertura da Lava Jato não tem reportagem. Falta luz própria, falta repórter na rua.

f) Você tem vários anos de profissão, com reportagens e livros que abordam

sobre a violência. Sempre conseguiu manter a sua liberdade?

CB: Na verdade, liberdade é sempre do dono. O que eu sempre tive foi uma

independência respeitada. Se eu quisesse 100% eu tinha que ter o meu jornal, a

minha revista ou televisão. Às vezes a gente quer uma hora para algo, mas quem

vai dizer se terei uma hora ou cinco minutos serão os donos. Mas independência

sempre consegui. Não me envergonho de nada que fiz e não estou dizendo que fiz

coisas boas, mas se fiz coisas ruins a responsabilidade foi minha. Nunca do editor,

do chefe ou do dono da empresa. Sem eu fraquejei ou fui fraco ou não tenho

queixas. Poderia em algumas situações ter feito melhor, mas se não o fiz a culpa foi

minha.

6.2.3.1.5 Jornalistas do RS

Para complementar o conteúdo sobre o tema correspondente internacional, a

pesquisadora entrou em contato com os jornalistas Rodrigo Lopes e Daniel Scola,

do grupo RBS, que já atuaram como correspondente. Com ausência de retorno, os

contatos e os questionários feitos estão nos apêndices (Apêndices H, I e J).

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A partir da aplicação do método e das técnicas, será possível realizar a

análise de conteúdo do corpus pesquisado.

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7. A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NAS COBERTURAS DE ATENTADOS

TERRORISTAS NO JORNAL NACIONAL

Com base na definição do corpus da pesquisa, na revisão bibliográfica dos

temas abordados, na decupagem dos programas e entrevistas realizadas com

jornalistas, será possível fazer a análise de conteúdo proposta pelo método desta

monografia. O objetivo é responder a questão norteadora da pesquisa - de que

forma a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da cobertura de atentados

terroristas no telejornalismo? - e confirmar ou não as hipóteses elencadas no estudo.

É importante salientar que a pesquisadora tem ciência de que os dois

acontecimentos destacados no trabalho, o ataque às Torres Gêmeas e ao Jornal

Charlie Hebdo, possuem diferentes proporções, assim como a cobertura realizada

pelo Jornal Nacional nos dias destacados. O fato de terem impactos diferentes não

interferem na análise do conteúdo proposta no presente estudo, já que o foco da

pesquisa é o avanço tecnológico na cobertura de atentados terroristas durante a

produção e transmissão da informação.

Como resultado da codificação proposta por Bardin, foram elencadas duas

categorias macro: avanço tecnológico, com as subcategorias equipamentos, imagem

e interação; e produção de conteúdo do telejornal, com as subcategorias cobertura

jornalística e ancoragem e entrada ao vivo.

7.1 AVANÇO TECNOLÓGICO

A televisão é um dos meios de comunicação tradicionais que faz parte da

rotina diária dos cidadãos. Desde seu surgimento, a TV evoluiu muito,

principalmente nos equipamentos. A modernização fez com que os profissionais

trabalhassem com menos instrumentos e produzissem mais.

A imagem é o principal recurso do veículo e ao longo dos anos também

sofreu alterações, principalmente com o surgimento da internet e da disseminação

da informação pelos telespectadores, assim surgindo uma interação entre jornalista

e espectadores.

Ao longo da análise de conteúdo equipamentos, imagem e interação se

destacaram dentro do avanço tecnológico e estão presentes nesta categoria para

responder à questão proposta pelo trabalho.

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7.1.1 Equipamentos

A televisão chegou ao Brasil em 1950 e seus primeiros programas eram

adaptados do rádio. Os telejornais, conforme Bistane e Bacellar (2008) no capítulo 3,

eram ao vivo com os apresentadores lendo as informações, sem muitas imagens.

Com o avanço tecnológico, os equipamentos utilizados para realizar as

reportagens foram evoluindo. A primeira grande evolução foi o videotape (VT),

abordado no capítulo 3. O equipamento que oportunizava reproduzir vídeos

gravados provocou uma revolução na TV. Paternostro (2006), também no capítulo 3,

destaca que, em virtude disso, a qualidade dos programas melhorou, houve uma

economia de custo e tempo, além de uma racionalização na produção.

O VT é de grande valia e muito utilizado na televisão. Podemos constatar isso

no programa JN do dia 11 de setembro de 2001, como abordado na decupagem no

capítulo 6, onde as mesmas imagens do atentado captadas por cinegrafistas são

reproduzidas mais de quatro vezes durante a exibição do telejornal. Com poucas

imagens disponíveis, até mesmo pelo fato dos repórteres não poderem chegar tão

próximo ao acontecido, por segurança, o VT proporciona um maior fôlego a quem

está apresentando o jornal, podendo repetir as imagens que impactam os

telespectadores. Com a tecnologia, o recurso da imagem ficou mais fácil, porque

qualquer imagem que é importante para contextualizar o fato pode estar presente na

matéria, mesmo sem a qualidade necessária. Aqui o que se preza é a informação,

independente da qualidade, como será possível perceber no próximo subtítulo, onde

a imagem será destaque.

Outra tecnologia já existente, mas de suma importância na cobertura do 11 de

setembro, foi o telefone. Entrevistas foram concedidas por meio dele (Figura 2) e até

mesmo o correspondente do Oriente Médio, Mounir Safatli, relata a repercussão do

fato, via aparelho (Figura 3).

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Figura 2 - Entrevista por telefone

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Figura 3 - Reportagem via telefone

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Com o VT e o surgimento do satélite, a exibição de fatos internacionais se

tornou mais acessível. De acordo com Paternostro (2006), as informações evoluíram

tanto que ficou fácil acompanhar algo que acontece no outro lado do mundo no

momento exato, e sem sair de casa.

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O jornalista André Luiz Azevedo (2017), em entrevista para a autora desta

monografia, compara o satélite com a internet, no capítulo 6. O profissional afirma

que era preciso alugar um horário de satélite, o que custava caro, e ir até uma TV

local para fazer a geração do conteúdo. Tinha que ser programado. E isto aconteceu

em 2001: com as reportagens já programadas para rodar no Jornal Nacional, os

repórteres e cinegrafistas envolvidos sabiam que a matéria iria ao ar no horário do

JN, deixando tudo pronto para o momento. Era um trabalho realizado

exclusivamente para o Jornal Nacional.

Já com a era digital, as interferências são menores na comparação ao

processo anterior, dos satélites. Paternostro (2006) salienta que a imagem e o som

não possuem tanto ruído. E com a internet tudo ficou ainda mais fácil. Mas, com

isso, o formato das reportagens e do telejornal sofreram alterações. Conforme

Tourinho (2009) no capítulo 3, as câmeras cinematográficas foram substituídas

pelas eletrônicas, o que facilitou a gravação. Além disso, a tecnologia permitiu maior

agilidade aos telejornais, contato com múltiplas fontes e possibilidades de ser visto

por mais espectadores.

Neste contexto, o celular é uma ferramenta muito utilizada. Fernando Firmino

da Silva (2008), no capítulo 3, afirma que os celulares são pequenos computadores

que realizam múltiplas tarefas para a disseminação de conteúdo. Com eles qualquer

indivíduo pode publicar imagens e informações dos fatos cotidianos.

E, de acordo com a entrevista de Caco Barcellos (2017), cedida a autora

deste trabalho, a revolução digital trouxe a possibilidade de democratizar o acesso à

informação de qualidade, o que não se tinha no passado. Conforme o jornalista, a

tecnologia veio “para melhorar a qualidade da reportagem que a gente faz noite e

dia” (BARCELLOS, 2017).

Conforme Tourinho (2009), os equipamentos necessários para uma

transmissão agora são mínimos: o repórter sozinho consegue dar conta de tudo,

além do custo ser menor e ter uma maior mobilidade na hora da execução da

matéria. Neste sentido, Bistane e Bacellar (2008) complementam que, com a

chegada da internet, o repórter fala ao vivo de qualquer lugar do mundo. De acordo

com a Rede Globo, no capítulo 5:

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com equipamentos de dimensões reduzidas, um repórter consegue enviar material diretamente para a emissora, sem a necessidade de reservar um canal de satélite. Ele grava o material com uma câmera comum, transfere o conteúdo para um notebook, edita a reportagem digitalmente e a transmite, comprimida, num arquivo digital pela internet (BONNER, 2009, p. 38).

Esse processo, muito mais moderno e prático, é comentado por Azevedo

(2017) em entrevista quando afirma que é necessário se deslocar até o ocorrido

levando apenas os equipamentos necessários para realizar a cobertura. O jornalista

ressalta: “o mínimo possível para ter agilidade, mas o máximo para não faltar nada.

Isso faz com que se leve tudo na mão para não perder tempo com recolhimento de

bagagem e chance de extraviar” (AZEVEDO, 2017).

Mas, conforme Barcellos (2017), “mesmo com tanta tecnologia, estar na rua é

fundamental”. Esse contexto pode ser percebido em 2001, quando não existia outra

opção a não ser buscar a informação na rua. E também é possível analisar em 2015

(Figura 4), mas com uma dinâmica diferente. No ataque ao Charlie Hebdo, as

informações eram constantes e a perseguição aos terroristas estava acontecendo no

momento, o fato foi vivenciado.

Figura 4 – Repórter na rua

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Conforme pudemos perceber no capítulo 3 e também no capítulo 5, a questão

tecnológica faz com que os repórteres intensifiquem o seu trabalho, pois a

mobilidade e a instantaneidade são os principais pontos desta evolução no ambiente

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televisual. Entretanto, a tecnologia não deve ultrapassar os limites humanos e,

sendo assim, as agências de notícias ganham força e as transmissões dos estúdios

de TV também. Esse fator será aprofundado em subtítulo específico.

Outro ponto com características fortes no telejornalismo, a imagem, também

acompanhou a evolução proporcionada pela tecnologia, o que será percebido na

próxima subcategoria.

7.1.2 Imagem

As imagens proporcionam credibilidade e força às notícias dos telejornais.

Conforme Machado (2014), no capítulo 2, o telejornal é composto por sons e

imagens que, além de ilustrarem o que o repórter narra, transmitem a dimensão do

acontecimento aos telespectadores. As imagens dentro da reportagem podem ser o

complemento da fala ou o ponto principal, como na reportagem de 11 de setembro

de 2001.

Mencionado na subcategoria anterior, o VT foi de grande importância para a

cobertura do atentado às Torres Gêmeas. As poucas imagens capturadas pelos

cinegrafistas da Globo, principalmente no momento da tragédia, foram transmitidas

diversas vezes naquele dia. A escolha da imagem do segundo avião colidindo na

Torre pode ter sido uma estratégia da Rede Globo para impactar o telespectador e

valorizar as imagens do fato, além de intensificar e ampliar a cobertura,

proporcionando que, com as mesmas imagens outras informações relevantes

possam sem transmitidas. Esse contexto pode ser verificado na decupagem e

também nas imagens abaixo (Figuras 5, 6, 7 e 8).

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Figura 5 - Avião colide na segunda torre – Imagem chamada JN

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Figura 6 - Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 1

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

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Figura 7 - Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 3

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Figura 8 - Avião colide na segunda torre – Imagem nota coberta

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Conforme Edney Silvestre, em depoimento citado no capítulo 6, “enquanto

todos os outros canais mostravam imagens compradas, imagens de satélites, a TV

Globo tinha suas imagens próprias” (BONNER, 2009, p. 38). O fato se destaca na

cobertura do jornal de 11 de setembro, pois a emissora não comprou imagens de

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agências e, por isso, foi indicada pela Academia Nacional de Artes e Ciências da

Televisão dos Estados Unidos ao prêmio Emmy Internacional, pela sua cobertura,

sendo finalista ao lado da emissora alemã RTL e das britânicas ITN e BBC17.

Com a evolução da internet e o surgimento das mídias digitais, houve um

impacto no segmento da imagem. Conforme citado no capítulo 3, por Paternostro

(2006), a chegada de uma nova tecnologia sempre é um desafio e o fato das

pessoas estarem no local do ocorrido podendo gravar e divulgar informações via

internet influenciou na produção do conteúdo.

A interatividade entre repórteres e telespectadores com o avanço da internet,

oferece uma abrangência maior na construção da notícia. De acordo com Barbosa

(2013), citado no capítulo 3, o telespectador está em mais lugares que o repórter,

até porque, principalmente no exterior, os escritórios estão cada vez mais enxutos,

possuindo uma equipe bem pequena. Mas a verificação da veracidade dos materiais

continua sendo um trabalho indispensável pelos profissionais da TV, mantendo a

credibilidade da emissora.

Na exibição do programa JN no dia 7 de janeiro de 2015, durante a cobertura

do atentado ao jornal francês Charlie Hebdo, é possível perceber mudanças de

imagens em comparação a 2001. O uso da internet possibilitou a divulgação de

conteúdo que agregou valor à notícia. Imagens divulgadas por pessoas comuns que

estavam em lugares onde o repórter não conseguiu chegar (Figura 9) foram o

destaque na reportagem.

17 Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-de-11-de-setembro/emmy.htm> Acesso em: 21 out. 2017.

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Figura 9 - Policiamento em pontos turísticos de Paris

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Como já abordado no subtítulo Equipamentos, o celular também virou fonte

de informação e é um grande aliado na difusão e no consumo de conteúdo,

principalmente com a chegada dos smartphones, aparelhos que possuem acesso à

internet. Em 2015, não foi diferente. Imagens de celulares da hora do ocorrido foram

registradas e divulgadas durante a reportagem do JN (Figura 10) para dar mais

precisão ao fato.

Figura 10 - Imagem de celular

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

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De acordo com os princípios editoriais do Grupo Globo informados no capítulo

4:

informações e imagens enviadas pelo público pela internet só devem ser publicadas depois de averiguação quanto à sua veracidade. Na cobertura de eventos que o trabalho de jornalistas esteja cerceado, haverá casos em que será necessária a publicação de informações e imagens assim obtidas, sem averiguação, mas o público deverá ser avisado de que não há como confirmar se são verdadeiras (Princípios editoriais do Grupo Globo, 2011, p. 12).

Outro fator importante que a internet possibilitou foi a utilização das redes

sociais. Em 2015, imagens publicadas pelo jornal Charlie Hedbo, em seu perfil do

Facebook, também foram fontes de informação para os veículos de comunicação

(Figura 11), além de ser um recurso de imagem a mais para complementar a notícia.

Figura 11 - Página do Facebook do Jornal Charlie Hedbo

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

A partir da cobertura de 7 de janeiro de 2015, podemos analisar que em 2001

se enfatizava muito a qualidade da imagem e, em 2015, o que se prezou foi a

informação. E isso aproxima cada vez mais o telespectador do fato, possuindo uma

maior interação com os veículos, o que será ampliado na subcategoria seguinte.

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7.1.3 Interação

Com o avanço tecnológico ainda no início, em 2001, durante o atentado às

Torres Gêmeas, a interação entre os públicos ainda priorizava o processo de

comunicação de um para todos, como contextualizado no capítulo 3 por Pierre Lévy

(2000). Os veículos de comunicação de massa ainda eram o emissor da informação,

tendo uma multiplicidade de receptores.

Pode-se perceber, por meio deste processo de comunicação, que durante a

cobertura do atentado os repórteres tiveram uma atuação mais profunda,

investigando o acontecido, entrevistando um grande número de pessoas com pontos

de vista diferentes, apresentando diversos relatos do ocorrido, além de atualizar os

telespectadores de toda a repercussão em outros países, e o que seria afetado,

como, por exemplo, o dólar, o petróleo e até os deslocamentos para os Estados

Unidos. Tudo foi contextualizado durante a uma hora de cobertura do Jornal

Nacional.

Já em 2015, com a influência da tecnologia, houve uma abertura para novos

processos de comunicação: os profissionais contam com o auxílio de

telespectadores. O público se apropria da informação e acaba colaborando com a

matéria, o chamado jornalismo colaborativo, que é a produção e a difusão de

informação por cidadãos que não têm formação jornalística ou que não estão ligados

a veículos de comunicação tradicionais, abordado no capítulo 3. As pessoas

passaram de espectadoras de forma clássica, que assistiam ao telejornal e apenas

recebiam a informação, para produtores de conteúdo, que estão oferecendo

informações ao mesmo tempo que recebem.

Também em 2015 as informações poderiam ser encontradas em diversas

plataformas da internet, obrigando o telejornal a focar em outros aspectos que ainda

não foram mencionados e atualizar as informações constantemente,

complementando o que as diversas fontes já haviam divulgado. Por isso, a

abordagem da cobertura do jornal Charlie Hebdo foi diferente das Torres Gêmeas,

por causa da realidade da internet, e isso faz com que a cobertura do atentado ao

Charlie Hebdo possa parecer mais superficial, não levando tanto em conta as

entrevistas e utilizando mais recursos oriundos da internet e mídias sociais para

transmitir ao público a grande proporção da tragédia.

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Essa diferença entre as duas datas apresentadas neste trabalho revela que a

TV Globo modificou sua linha editorial para uma nova realidade que está sendo

vivenciada no momento: a da evolução tecnológica pós-surgimento da internet e,

consequentemente, a sociedade da informação.

Todos esses novos aspectos, o jornalismo colaborativo e a internet,

influenciaram na produção do conteúdo do telejornal, o que poderemos perceber na

próxima categoria desta análise.

7.2 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO DO TELEJORNAL

Dentro desta categoria serão abordados dois aspectos de relevância para a

análise deste trabalho. São eles: cobertura jornalística e ancoragem e entradas ao

vivo. Como pudemos perceber, estes aspectos complementam os anteriores já

desenvolvidos, mas com foco principal no conteúdo jornalístico, e não na tecnologia.

Conforme Curado (2002) no capítulo 4, a TV é referência nas notícias para

grande parte da população, por isso a busca constante na veracidade dos fatos,

imagens e entrevistas são fundamentais para a construção de uma boa reportagem.

7.2.1 Cobertura jornalística

Equipamentos evoluem, imagens mudam, cenários se modernizam e a fala se

atualiza com o tempo, mas a estrutura de uma reportagem permanece igual e é

essencial para o telejornalismo. Como apresentado no capítulo 2 desta monografia,

o telejornal é um programa com características próprias, com apresentação em

estúdio chamando reportagens. Conforme o economista Tony Schiaretta, citado por

Jorge e Pereira (2009), no capítulo 3, o bom jornalista continua sendo aquele capaz

de apurar uma boa matéria, escrever um bom texto, fazer um bom título. Aquele que

passa a informação rápida, objetiva, crítica, pluralista e independente.

Ao longo dos anos, os valores-notícias não mudaram: imediatismo,

improbabilidade, morte, abrangência, caráter histórico. Como citam Barbeiro e Lima

(2002, p. 46) no capítulo 4, “mesmo com tanta tecnologia disponível, o jornalismo

depende da velha e boa reflexão, investigação, acurácia e divulgação”.

O que é possível notar com os avanços tecnológicos e principalmente com a

internet, é a instantaneidade na divulgação dos fatos e a interação entre repórter e

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telespectadores, já apresentada no subtítulo anterior, o que também norteiam esta

subcategoria.

O público influencia na rotina de apuração dos fatos, uma vez que mais

pessoas, além da equipe, estão atentas aos acontecimentos. Na cobertura de 2015

essa interação foi fundamental, já que conforme o jornalista americano Peter

Goodman, citado por Vieira (2015), no capitulo 5, as notícias estrangeiras são

extremamente caras, pois requerem um profissional qualificado, que domine outros

idiomas, que saiba apurar e reportar bem as histórias.

Em 2001, os escritórios internacionais da Rede Globo estavam no auge,

iniciando um trabalho que proporcionaria melhor qualidade aos telejornais. Mesmo

com grandes gastos, 14 profissionais em todo o mundo trabalharam

incansavelmente para realizar a edição especial do JN.

Mas com o avanço da tecnologia, equipamentos mais qualificados

substituíram muitos profissionais, baixando o custo da produção dos

correspondentes. Em 2015, a cobertura do Charlie Hebdo possuía tecnologia à

disposição com equipamentos modernos e internet, e apenas seis repórteres

trabalharam em torno do acontecido.

Conforme o jornalista principal da cobertura do atentado ao jornal Charlie

Hebdo, André Luiz Azevedo (2017), ao chegar para realizar uma cobertura já com o

evento em andamento, tudo se torna mais difícil. O profissional ressalta: “depois com

o tamanho do evento a cobertura se complica com a necessidade de estar em

permanente contato com a redação e ao mesmo tempo se deslocar para apurar

notícias in loco e não repassadas pelas agências” (AZEVEDO, 2017).

Azevedo (2017) ainda afirma que durante a cobertura do Charlie Hedbo,

mesmo com a tecnologia disponível, há uma preocupação com a transmissão do

material no local: “a internet que sempre funciona, nessas horas costuma falhar”

(AZEVEDO, 2017).

Jorge Pontual, no capítulo 5, corrobora com a fala de Azevedo apontando

outro problema que o correspondente tem: a dificuldade de cultivar fontes porque

está sempre viajando. E, por esse motivo, as agências internacionais ganharam

espaço no telejornalismo. Cavalcanti (2014) aborda esse tema no capítulo 5, onde a

produção em larga escala é mais viável economicamente, pois a emissora possui

mais informações por um preço muito mais baixo do que se o material fosse

produzido pelo próprio veículo.

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Conforme Azevedo (2017) há muitos correspondestes que se baseiam

apenas em notícias de agências, narrando basicamente os fatos disponíveis por ali.

“Considero que essa é uma falha dos correspondentes internacionais, que por conta

da grande pressão do noticiário das agências não cobrem a comunidade brasileira

local, considerada por muitos um “assunto menor”” (AZEVEDO, 2017).

Mas ao longo das decupagens dos dois episódios, trazidas no capítulo 6, é

possível perceber uma diferença na abordagem dos fatos. Como já relatado, a

internet modificou a linha editorial do JN, e, ao mesmo tempo, podemos perceber

uma diferença na relação de profundidade de conteúdo. É possível afirmar que, em

2015, por se tratar de um atentado envolvendo um veículo de comunicação, a

emissora optou por não se posicionar abertamente, se detendo apenas no relato dos

fatos, mas, ao mesmo tempo, contextualizando o local do ocorrido, e frisando a

liberdade de expressão e de imprensa, como é possível perceber na entrada ao vivo

de André Luiz Azevedo.

AA: [...] Este aqui é o bairro da Bastilha, um bairro histórico de Paris, conhecido pela

liberdade, um bairro que houve aquele episódio da libertação durante a Revolução

Francesa. Por isso esse simbolismo ainda maior desse atentado.

A partir desse entendimento de que a internet influenciou a produção da

notícia, consequentemente a divulgação da mesma também teve que ser pensada e

reformulada. A apresentação do telejornal e como o âncora e os repórteres abordam

o assunto teve uma mudança significativa entre os dois episódios analisados. Este

contexto será aprofundado na próxima subcategoria.

7.2.2 Ancoragem e entradas ao vivo

Depois de todo o trabalho de produção e apuração do conteúdo, as

reportagens estão prontas para irem ao ar. Neste subtítulo veremos a mudança da

abordagem dos apresentadores do telejornal, comparando as duas datas, e também

a evolução dos repórteres nas entradas ao vivo.

As entradas ao vivo conferem veracidade ao acontecido, mas para continuar

dando credibilidade à emissora os jornalistas precisam se atualizar com as

tecnologias, como já abordado dentro desta análise. É o chamado profissional

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multimídia que, de acordo com Castilhos (2005, p. 255), no capítulo 3, é o jornalista

que “trabalhará simultaneamente com texto, áudio, vídeo e interatividade, num

ambiente de convergência de veículos impressos, audiovisuais e cibernéticos”.

Em 2001, foi possível perceber por meio da decupagem, no capítulo 6, que as

entradas ao vivo possuíam uma linguagem mais dura, um texto mais decorado, com

o repórter aparecendo sempre em plano médio e sem movimentações de câmera

(Figura 12), como pode ser conferido no exemplo abaixo retirado da decupagem do

conteúdo.

ZS: Fátima, essa informação que os Estados Unidos não têm nada a ver com os

ataques a Cabul foi confirmada agora a pouco pelo secretário de Defesa americano.

E aqui em Nova York um terceiro prédio, que ficava ao lado das Torres Gêmeas,

caiu também. Foi no finalzinho da tarde.

ZS: Bonner, Manhatan começa a tentar voltar ao normal. Hoje cedo as

comunicações aqui na cidade praticamente pararam. Os celulares não funcionavam.

Completar uma ligação pra outro país era praticamente impossível. Uma situação

difícil, mas é o que está prevista, e deve acontecer quando um plano de emergência

é acionado. Agora a situação é um pouco mais normal. Algumas linhas do metrô já

estão funcionando. Túneis e pontes já foram liberados, mas apenas para quem quer

deixar a cidade. E o prefeito de Nova York fez um apelo: pediu para que as pessoas

não venham para Nova York amanhã, já que as investigações continuam. As

escolas públicas e as escolas católicas não vão ter aulas amanhã. Fátima.

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Figura 12 - Entrada ao vivo Zileide Silva

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Pode-se perceber que a fala da jornalista Zileide Silva é programada, mas as

entradas ao vivo são de grande importância para noticiar as últimas informações e

deixar o telespectador atualizado a cada momento. Isso é percebido na última

entrada ao vivo da jornalista (Figura 13) quando ela recebe uma informação de

última hora. Aqui é importante destacar que, conforme a autora Fechine (2006), no

capítulo 4, imprevistos e problemas técnicos são aceitáveis como marcas da

fidedignidade da transmissão e do conteúdo.

ZS: [...] Eu tenho mais uma informação aqui, que a inteligência americana, tá difícil

porque a gente está recebendo as informações ao vivo, que a inteligência americana

conseguiu interceptar mensagens de Osama Bin Laden sobre os ataques. Esta é a

última informação que nós estamos acabando de receber aqui no escritório da

Globo, em Nova York. Fátima.

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Figura 13 - Entrada ao vivo Zileide Silva lendo últimas informações

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Nas últimas coberturas de atentados, em 2017, observadas pela

pesquisadora como espectadora, durante a entrada ao vivo, os repórteres utilizam o

celular por causa das constantes atualizações. E esses avanços que acompanham a

tecnologia são percebidos na cobertura de 2015, em comparação com 2001, quando

o jornalista utiliza da informalidade e da descontração para ter um contato mais

próximo da realidade do atual consumidor de notícias.

André Luiz Azevedo (2017), em suas aparições ao vivo, está na rua, em meio

ao movimento, e não no estúdio como Zileide Silva, em 2001. Com uma imagem que

possui mais movimento e uma linguagem mais solta (Figura 14), pode-se notar que

o repórter conseguiu se adaptar ao novo perfil de apresentação. E, no caso de

Azevedo, a vivência fez com que o jornalista conseguisse se aprimorar ainda mais,

se colocando no lugar do cidadão.

AA: Muito boa noite Renata, muito boa noite a todos aí no Brasil. Exatamente, eu

estou bem próximo do local do atentado, a cerca de 150 metros, até onde os

jornalistas podem ir. Este aqui é o bairro da Bastilha, um bairro histórico de Paris,

conhecido pela liberdade, um bairro que houve aquele episódio da libertação

durante a Revolução Francesa. Por isso esse simbolismo ainda maior desse

atentado. Quando eu vim do aeroporto pra cá já percebi em vários pontos aqui de

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Paris uma espécie de reação contra esse atentado. Agora à noite, o que a gente

sente, ao mesmo tempo que é um clima de apreensão na cidade por causa desse

atentado, mas também uma reação dos franceses, dos parisienses, dizendo que não

vão se curvar ante essa ameaça terrorista. A vida na cidade aparentemente continua

normal, as pessoas caminham pelas ruas de Paris com apreensão, com

preocupação, já que foi dado o alerta máximo em relação a possibilidade de novos

atentados, mas os parisienses reagem.

Figura 14 - Entrada ao vivo André Luiz Azevedo

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Pode-se também perceber que o repórter conta o que está vendo (Figura 15),

o que presenciou na sua chegada ao local do atentado, além de falar o que as

pessoas estão sentindo no momento. Não há uma preocupação estática como em

2001, aqui o que vale é a informação, sem fala programada e valorizando a

presença do repórter. Também é possível notar que o profissional repete

seguidamente as informações, pois é o que está acontecendo no momento.

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Figura 15 - Repórter fica de costas para a câmera

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

AA: Neste momento a gente vê um comboio policial que sai aqui da região da

Bastilha. Então confirmando, há um cerco policial neste momento na cidade de

Reims, pra tentar prender os três suspeitos. [...] Então nesse momento estaria sendo

feito um cerco pra tentar prender os terroristas que fizeram o ataque aqui na capital

francesa.

Além das entradas ao vivo do local do ocorrido, outra possibilidade de

atualizar as informações, e que foi apresentada em 2015, são as entradas ao vivo de

correspondentes de outros lugares do mundo. Esta é uma estratégia da emissora

para valorizar os seus pontos no exterior e ao mesmo tempo dar um fôlego ao

repórter principal, para buscar mais informações e dar um tom de atualização.

Assim, os correspondentes passam as informações ao vivo (Figura 16 e 17),

e, em seguida, chamam a própria reportagem sobre a repercussão do fato no país

em que se encontram.

BANCADA

HP: A Europa toda está em alerta, em choque, com o atentado a sede do jornal

francês. A gente conversa agora com o correspondente em Londres, Renato

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Machado. Renato, boa noite. O tom das manifestações, das reações. Há reações

em todos o continente.

AO VIVO

Renato Machado (RM): Boa noite Renata, boa noite Heraldo. Os líderes europeus

se uniram para classificar o ataque ao Cherlie Hebdo, como um ataque à liberdade

de expressão e de imprensa. Os adjetivos usados foram: abominável, bárbaro,

criminoso. Na França se formou uma corrente de solidariedade e apoio ao jornal e

aos profissionais em geral. O lema é "Todos Somos Charlie". E agora à noite o

presidente François Hollande falou para um país ainda em choque. E pediu a união

da França.

Figura 16 – Correspondente internacional em Londres

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

BANCADA

RV: O governo americano prometeu ajuda aos franceses na caça aos responsáveis pelo

ataque dessa manhã. Vamos então ao vivo agora para Nova York conversar com o

correspondente Fábio Turci. Boa noite Fábio.

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AO VIVO

Fábio Turci: Boa noite Renata, Heraldo. Boa noite a todos. O presidente Barack Obama

telefonou à tarde para o presidente francês, François Hollande, para prestar

solidariedade. Ele ofereceu ajuda para identificar, prender e levar à justiça os

responsáveis pela tragédia e qualquer outra pessoa que tenha ajudado a planejar a

ação. Obama, que já tinha divulgado uma nota condenando o ataque, decidiu falar à

imprensa sobre a tragédia antes de uma reunião na Casa Branca.

Figura 17 – Correspondente internacional em Nova York

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão

Outro fator de destaque abordado por Azevedo (2017) é a produção de

conteúdo para todos os jornais da emissora.

Ao contrário do passado, onde se produzia para um grande jornal da noite, agora é preciso produzir conteúdo constantemente, porque tem noticiário em todos os momentos e todo mundo quer o melhor e não adianta dizer que está cansado, que não dormiu nem comeu, ninguém quer saber. E quando for ao ar o último jornal, lembre-se que de madrugada já tem outro (AZEVEDO, 2017).

Nesse sentido, é importante ressaltar o profissional multimídia, o qual exige

uma maior agilidade do jornalista. Nessa linha, nota-se, em 2015, que o repórter não

fez grandes reportagens. Porém, ele se encontra em todos os jornais passando as

informações atualizadas que buscou nos momentos em que não estava no ar.

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Diante dos fatos analisados é possível perceber uma diferença no formato da

apresentação das reportagens de coberturas de atentados terroristas após a

disseminação da internet e a modernidade dos equipamentos. Com os dados sendo

atualizados constantemente em diversas plataformas da internet, o telejornal não se

detém apenas naquele fato, como aconteceu em 2001. Outros assuntos de

relevância também ganham espaço na programação.

Além disso, a postura dos repórteres se transformaram, não sendo apenas

uma figura que transmite a informação, mas sim fazendo uma interação com o

telespectador contando os fatos como ele vê, como em uma conversa informal.

A partir das categorias e da reflexão realizada em cada subcategoria da

análise conteúdo é possível identificar que o telejornalismo acompanhou a evolução

tecnológica se adaptando aos novos formatos, podendo responder à questão

norteadora e confirmar ou refutar as hipóteses previamente estabelecidas na

pesquisa, as quais serão contempladas nas considerações finais.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da história o homem criou diversas ferramentas para aprimorar a

comunicação. A partir dos anos de 1970 com desenvolvimento de equipamentos

tecnológico e a junção com a internet, as pessoas do mundo inteiro puderam se

comunicar. E, no telejornalismo não foi diferente: as notícias internacionais

ganharam espaço nas edições diárias dos jornais.

Com isso, a pesquisadora percebeu a necessidade de compreender como a

tecnologia influenciou na apuração da notícia e na transmissão da informação aos

espectadores durante a cobertura de atentados terroristas. Para isso, esse trabalho

buscou avaliar as coberturas jornalísticas realizadas pelo Jornal Nacional nos

atentados terroristas às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de

2001; e ao jornal semanário Charlie Hebdo, na França, em 7 de janeiro de 2015; e

fazer um comparativo sobre a influência da tecnologia nessas coberturas.

A convergência tecnológica redesenhou o cenário da comunicação e a

televisão precisou acompanhar as mudanças, tornando-se mais ágil, mais próxima

do público e complementando o que a internet já proporcionou de informação para

as pessoas.

Com a apresentação dos conceitos de categorias, gêneros e formatos de

programas de TV, no início da pesquisa, foi possível compreender o telejornalismo.

A partir disso, a evolução da TV no Brasil foi de grande valia para entender o

processo de transformação da tecnologia e como a mesma influenciou a produção

de conteúdo jornalístico. A conceituação de Jornalismo Internacional veio para

esclarecer como é a rotina de um correspondente e as adversidades de produzir

conteúdo no exterior.

Com base nas referências bibliográficas, na decupagem das edições do JN e

nas entrevistas realizadas com jornalistas é possível responder à questão

norteadora desta pesquisa: de que forma a tecnologia contribuiu para o

aprimoramento da cobertura de atentados terroristas no telejornalismo?

A influência da tecnologia na busca de conteúdo e na disseminação da notícia

é facilmente observada. Mas, ao mesmo tempo que a internet possibilitou acesso

mais rápido e prático às informações, a Rede Globo enxugou as equipes de

profissionais internacionais. Com isso, os jornalistas que permaneceram no exterior

passaram a produzir conteúdo para todos os telejornais do veículo, gerando assim

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uma sobrecarga no trabalho. Esse fato é observado no atentado ao jornal Charlie

Hebdo, em 2015, onde poucos jornalistas participaram da cobertura no local do

atentado e correspondentes de outras regiões ganharam espaço informando aos

espectadores a repercussão do ocorrido nos diversos pontos do mundo. Diferente

de 2015, a cobertura do atentado às Torres Gêmeas, em 2001, possuía uma equipe

maior, possibilitando mais imagens da própria emissora. Assim, a TV Globo não

necessitou buscar imagens de internet e agências internacionais, valorizando o

trabalho dos profissionais do grupo e o conteúdo transmitido.

Para auxiliar nesta resposta foram levantadas três hipóteses. A primeira: o

avanço tecnológico facilitou o processo de produção das notícias, desde a apuração

do fato, edição e transmissão de conteúdo até a entrada ao vivo dos repórteres. Esta

hipótese foi confirmada, pois não se tem dúvidas que a tecnologia veio para auxiliar

e facilitar a produção de conteúdo para a TV, melhorando a qualidade da

reportagem. Com a internet, a apuração do fato se tornou mais eficaz: mesmo sendo

imprescindível o repórter estar na rua, checando as informações in loco, o

profissional pode também ter acesso à sociedade da informação que está

alimentando as diversas plataformas com notícias que podem colaborar e acrescer

no conteúdo do telejornal. O avanço tecnológico também possibilitou o

deslocamento de repórteres para fora dos estúdios, com equipamentos que cabem

em uma mochila e que podem ser manuseados por apenas uma pessoa. A

reportagem pode ser gravada e editada em qualquer lugar e enviada no mesmo

instante à Central de Jornalismo. As entradas ao vivo dos repórteres também

evoluíram: o que antes, na maioria das vezes, acontecia dentro dos estúdios por

falta de mobilidade, agora está na rua. Com uma linguagem mais solta e

movimentação de câmera, o repórter tem uma relação mais próxima com o

telespectador e pode contar o que está acontecendo no momento, sem falas

programadas. É a informação que recém chegou, transmitida no improviso.

A segunda hipótese afirma que a tecnologia permitiu maior acesso às

informações por parte dos telespectadores, o que exige precisão na apuração dos

fatos por parte dos meios de comunicação. Ela pode ser confirmada e completa a

hipótese anterior, pois com a internet as pessoas ficam informadas por diversas

plataformas instantaneamente e a TV precisou se transformar para não repetir as

informações que os telespectadores já viram, exigindo um aprofundamento e uma

contextualização dos fatos, necessitando de uma maior precisão na apuração do

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conteúdo. Isso resultou em mais intervenções dos repórteres ao vivo, com as

informações de última hora, além de complementar com o relato da vivência do

repórter no local do fato. Também é possível analisar que o repórter faz uma

retrospectiva contando um pouco da história da região onde ele se encontra,

contextualizando o fato e não apenas repassando as informações. É importante

ressaltar aqui que a repercussão do fato em outros países também complementa a

reportagem e a tecnologia possibilitou essa comunicação.

E a terceira hipótese diz que por meio das mídias sociais e ferramentas, como

smartphone, os antigos receptores de informações se transformaram em produtores

de conteúdo, alterando o processo de produção da notícia por parte dos veículos

tradicionais. Ela também pode ser confirmada, pois é possível perceber ao longo do

estudo que a tecnologia deixou os jornalistas sobrecarregados ao assumirem

múltiplas funções, não conseguindo fazer uma cobertura de forma abrangente. A

pequena equipe de jornalismo dos escritórios internacionais não consegue estar em

todos os lugares, abrindo assim espaço aos vídeos e imagens registradas por

pessoas que estão no local do fato. Isso altera o processo de produção da notícia,

valorizando muito mais a informação do que a imagem a ser exibida pelo telejornal.

Esta participação do telespectador qualifica a informação, pois mostra o que quase

nunca aparece nas reportagens tradicionais, insere o espectador no processo de

produção, mesmo que de forma indireta. Considerar a opinião do receptor e

introduzir o olhar dele na reportagem transforma a rotina do fazer jornalístico, algo

que, num passado recente, não seria admissível, e só se modificou em função do

avanço tecnológico e das mudanças provocadas pela internet e sociedade da

informação.

O objetivo geral da pesquisa - investigar como a tecnologia contribuiu para o

aprimoramento da cobertura de atentados terroristas no telejornalismo - foi

alcançado ao longo da produção desta pesquisa, como também os objetivos

específicos: conceituar e classificar os gêneros de programa de televisão; conhecer

como se dá o processo de evolução do telejornalismo, a partir do surgimento de

novas tecnologias e da internet; identificar como se dá o processo de produção de

conteúdo no telejornalismo; analisar como ocorre a apuração de notícias em

atentados terroristas no telejornalismo; avaliar o processo de produção de conteúdo

do Jornal Nacional; analisar como se deu a cobertura do atentado terrorista às

Torres Gêmeas, em 2001 no Jornal Nacional; analisar como se deu a cobertura do

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atentado terrorista ao jornal Charlie Hebdo, em 2015 no Jornal Nacional; comparar

as coberturas jornalísticas no Jornal Nacional sobre o atentado terrorista às Torres

Gêmeas e ao jornal Charlie Hebdo por meio da evolução tecnológica.

O objetivo de entrevistar repórteres do Jornal Nacional que participaram das

coberturas dos atentados terroristas em 2001 e 2015 foi atingido parcialmente, pois

não houve retorno de alguns jornalistas, o que não interferiu na análise desta

monografia. Foi inserida entrevista por meio de contato presencial com o jornalista

Caco Barcellos que contribuiu de forma positiva para o estudo.

Durante o andamento desta monografia a pesquisadora ampliou seus

conhecimentos sobre o Jornalismo Internacional e, principalmente, a influência que a

tecnologia tem sobre os meios de comunicação. Foi possível analisar que a cada dia

os telejornais de reinventam para continuar passando credibilidade e estar mais

próximos dos seus espectadores, usufruindo da internet a seu favor e fazendo com

que a interação entre telespectadores e jornalistas esteja cada vez mais ativa, mas

sem perder o seu principal objetivo de estar a serviço do público.

Este estudo foi muito significativo para o aprendizado da pesquisadora, a qual

percebeu que a evolução tecnológica é importante para a comunicação, mas o bom

jornalismo é imprescindível.

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APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA MONOGRAFIA I

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APÊNDICE B – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA A

JORNALISTA ZILEIDE SILVA

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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA A

JORNALISTA ZILEIDE SILVA

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APÊNDICE D – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO

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APÊNDICE E – QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O

JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO

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APÊNDICE F – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO JORNALISTA ANDRÉ

LUIZ AZEVEDO

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APÊNDICE G – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA EDNEY SILVESTRE

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APÊNDICE H – GRAVAÇÃO NA ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O

JORNALISTA CACO BARCELLOS

A gravação na íntegra da entrevista com o jornalista Caco Barcellos encontra-se no

CD do Apêndice A.

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APÊNDICE I – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA RODRIGO LOPES

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APÊNDICE J – QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O

JORNALISTA RODRIGO LOPES

Questionário

a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no Jornalismo.

b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como

repórter/correspondente internacional? Como foi essa experiência?

c) Qual a diferença para o repórter de estar trabalhando no seu país e estar

trabalhando no exterior? O que é mais desafiador?

d) Como é a busca pela informação no exterior? Tem alguma rotina

estabelecida?

e) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como repórter/correspondente

internacional, quais você destaca?

f) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas e guerras são

as mais desafiadoras? Por quê?

g) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e

transmissão da informação facilita a cobertura de pautas como essas?

h) E como a tecnologia influencia no trabalho como repórter/correspondente

internacional?

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i) O acúmulo de funções e a transmissão ininterrupta para diferentes

veículos da mesma empresa prejudica ou dificulta a apuração das

informações neste tipo de cobertura (ataques terroristas e guerras), já que,

muitas vezes, o trabalho é solitário?

j) Neste tipo de cobertura, quais são as principais fontes de referência para

transmissão da informação (agências de notícias, outros veículos de

comunicação, fontes oficiais...)?

k) Como ocorre a apuração das informações, principalmente quando não

existe uma equipe de trabalho, apenas o jornalista realiza a cobertura?

Você já passou por situações como essa?

l) Quais as dicas que você dá para os jornalistas que pretendem trabalhar

em coberturas internacionais? Ser um jornalista multimídia é

imprescindível?

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APÊNDICE K – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O

JORNALISTA DANIEL SCOLA

Questionário

a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no Jornalismo.

b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como

repórter/correspondente internacional? Como foi essa experiência?

c) Qual a diferença para o repórter de estar trabalhando no seu país e estar

trabalhando no exterior? O que é mais desafiador?

d) Como é a busca pela informação no exterior? Tem alguma rotina

estabelecida?

e) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como repórter/correspondente

internacional, quais você destaca?

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f) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas e guerras são

as mais desafiadoras? Por quê?

g) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e

transmissão da informação facilita a cobertura de pautas como essas?

h) E como a tecnologia influencia no trabalho como repórter/correspondente

internacional?

i) O acúmulo de funções e a transmissão ininterrupta para diferentes

veículos da mesma empresa prejudica ou dificulta a apuração das

informações neste tipo de cobertura (ataques terroristas e guerras), já que,

muitas vezes, o trabalho é solitário?

j) Neste tipo de cobertura, quais são as principais fontes de referência para

transmissão da informação (agências de notícias, outros veículos de

comunicação, fontes oficiais...)?

k) Como ocorre a apuração das informações, principalmente quando não

existe uma equipe de trabalho, apenas o jornalista realiza a cobertura?

Você já passou por situações como essa?

l) Quais as dicas que você dá para os jornalistas que pretendem trabalhar

em coberturas internacionais? Ser um jornalista multimídia é

imprescindível?

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ANEXO A – ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 11 DE SETEMBRO DE 2001

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ANEXO B – ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 07 DE JANEIRO DE 2015

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ANEXO C – PRINCÍPIOS EDITORIAIS DO GRUPO GLOBO

O arquivo completo dos Princípio Editoriais do Grupo Globo encontra-se no CD do

Anexo B.