universidade de caxias do sul Área do conhecimento … · 2018. 9. 12. · 1 universidade de...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE JORNALISMO
GABRIELA FIORIO
A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA COBERTURA DE ATENTADOS
TERRORISTAS PELO JORNAL NACIONAL: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS
ATAQUES ÀS TORRES GÊMEAS E AO JORNAL CHARLIE HEBDO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II. Orientador(a): Ma. Adriana dos Santos Schleder
Caxias do Sul 2017
2
GABRIELA FIORIO
A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA COBERTURA DE ATENTADOS
TERRORISTAS PELO JORNAL NACIONAL: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS
ATAQUES ÀS TORRES GÊMEAS E AO JORNAL CHARLIE HEBDO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II, do curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul. Aprovada em: ___/___/_____
Banca Examinadora __________________________________________ Profª. Ma. Adriana dos Santos Schleder Universidade de Caxias do Sul __________________________________________ Profª. Ma. Ana Laura Paraginski Universidade de Caxias do Sul __________________________________________ Prof. Me. Jacob Raul Hoffmann Universidade de Caxias do Sul
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente aos meus pais, Ana Silvia Sozo Fiorio e Itacir Antônio
Fiorio, pela ajuda, paciência e dedicação em todos os momentos desta caminhada.
À minha querida professora e orientadora, Adriana Schleder, pelos
ensinamentos, pela confiança no meu trabalho, pelas risadas e pelas correções em
vermelho que irão ficar registradas na minha memória.
À minha colega e amiga Ângela Salvallaggio pelo apoio, pelas leituras e
correções, por ouvir minhas reclamações, por sempre me oferecer um obro amigo
quando eu mais precisava.
Um agradecimento especial aos jornalistas André Luiz Azevedo e Caco
Barcellos que foram solícitos e que colaboraram com suas vivências para o
enriquecimento deste trabalho.
A todos, meu muito obrigada!
4
RESUMO
Esta monografia tem por objetivo investigar como a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da cobertura de atentados terroristas no telejornalismo. Para isso foram selecionadas duas coberturas realizadas pelo Jornal Nacional: o atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, e o atentado ao Jornal Charlie Hebdo, em 07 de janeiro de 2015. A pesquisa traz os conceitos de gêneros de programas de TV com ênfase no telejornalismo, além de abordar o avanço tecnológico da televisão e a produção de reportagens. Por meio da Análise de Conteúdo e das técnicas de revisão bibliográfica, observação e entrevista, é possível perceber que a tecnologia qualificou o processo de produção de conteúdo no telejornal facilitando a interação entre jornalistas e telespectadores. Palavras chaves: Tecnologia. Telejornalismo. Produção de conteúdo. Cobertura
internacional. Jornal Nacional.
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Categorias e gêneros dos programas na TV brasileira ....................... 14
Figura 2 – Entrevista por telefone ....................................................................... 119 Figura 3 – Reportagem via telefone .................................................................... 129 Figura 4 – Repórter na rua .................................................................................. 121 Figura 5 – Avião colide na segunda torre – Imagem chamada JN ...................... 123 Figura 6 – Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 1 ..................... 123 Figura 7 – Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 3 ..................... 124 Figura 8 – Avião colide na segunda torre – Imagem nota coberta ...................... 124 Figura 9 – Policiamento em postos turísticos de Paris ........................................ 126 Figura 10 – Imagem de celular ............................................................................ 126 Figura 11 – Página do Facebook do Jornal Charlie Hebdo ................................. 127 Figura 12 – Entrada ao vivo Zileide Silva ............................................................ 133 Figura 13 – Entrada ao vivo Zileide Silva lendo as últimas informações ............ 134 Figura 14 – Entrada ao vivo André Luiz Azevedo .............................................. 135 Figura 15 – Repórter fica de costas para câmera .............................................. 136 Figura 16 – Correspondente internacional em Londres ...................................... 137 Figura 17 – Correspondente internacional em Nova York ................................... 138
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09
2 GÊNEROS DE PROGRAMA DE TV ................................................................... 12
2.1 CONCEITOS .................................................................................................... 12
2.2 CATEGORIA INFORMAÇÃO ........................................................................... 14
2.2.1 Telejornal ..................................................................................................... 15
2.3 HIBRIDISMO .................................................................................................... 17
3 A EVOLUÇÃO DA TV NO BRASIL .................................................................... 20
3.1 AS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ................................................... 20
3.2 AS MUDANÇAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ................................ 25
4 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNAL ............................................. 32
4.1 A NOTÍCIA ....................................................................................................... 32
4.2 ESCOLHA DA PAUTA .................................................................................... 34
4.3 ELABORAÇÃO DA REPORTAGEM ............................................................... 35
4.3.1 Repórter ....................................................................................................... 35
4.3.2 Cinegrafista e imagens ............................................................................... 36
4.3.3 Fontes e entrevistas .................................................................................... 37
4.3.4 Texto ............................................................................................................. 37
4.3 EDIÇÃO ........................................................................................................... 38
4.3 NO AR ............................................................................................................. 40
5. JORNALISMO INTERNACIONAL NA REDE GLOBO DE TELEVISÃO........... 42
5.1 O INÍCIO .......................................................................................................... 42
5.2 AVANÇO TECNOLÓGICO .............................................................................. 43
5.3 CORRESPONDENTES E ENVIADOS ESPECIAIS ........................................ 45
5.4 AGÊNCIAS INTERNACIONAIS ...................................................................... 46
5.5 PROCESSO DE PRODUÇÃO DE COBERTURAS INTERNACIONAIS .......... 47
5.6 TERRORISMO ................................................................................................ 48
7
6. METODOLOGIA ............................................................................................... 51
6.1 MÉTODO .......................................................................................................... 51
6.1.1 Pré-Análise ................................................................................................... 51
6.1.2 Exploração do material ............................................................................... 52
6.1.3 Tratamento dos resultados obtidos, inferência e interpretação ............. 53
6.2 TÉCNICAS ....................................................................................................... 54
6.2.1 Revisão Bibliográfica .................................................................................. 54
6.2.2 Observação .................................................................................................. 57
6.2.2.1 Objeto de estudo ........................................................................................ 57
6.2.2.2 Corpus da Pesquisa ................................................................................... 58
6.2.2.2.1 Ataque às Torres Gêmeas ...................................................................... 58
6.2.2.2.2 Ataque ao Jornal Charlie Hebdo ............................................................. 88
6.2.3 Entrevista ..................................................................................................... 103
6.2.3.1 Fontes de informação ................................................................................. 104
6.2.3.1.1 Zileide Silva ............................................................................................. 104
6.2.3.1.1.1 Questionário aplicado ........................................................................... 105
6.2.3.1.1.2 Ausência de retorno ............................................................................. 106
6.2.2.1.2 André Luiz Azevedo ................................................................................ 106
6.2.3.1.2.1 Questionário aplicado ........................................................................... 107
6.2.2.1.3 Edney Silvestre ....................................................................................... 110
6.2.3.1.3.1 Questionário aplicado ........................................................................... 111
6.2.3.1.3.2 Ausência de retorno ............................................................................. 112
6.2.2.1.4 Caco Barcellos ........................................................................................ 112
6.2.3.1.4.1 Questionário aplicado ........................................................................... 113
6.2.2.1.5 Jornalistas do RS ................................................................................... 115
7. A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NAS COBERTURAS DE ATENTADOS
TERRORISTAS NO JORNAL NACIONAL ........................................................... 117
7.1 AVANÇO TECNOLÓGICO .............................................................................. 117
7.1.1 Equipamentos ............................................................................................. 118
7.1.2 Imagem ........................................................................................................ 122
7.1.2 Interação ..................................................................................................... 128
7.2 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO DO TELEJORNAL .......................................... 129
7.2.1 Cobertura jornalística ................................................................................. 129
8
7.2.2 Ancoragem e entradas ao vivo ................................................................. 131
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 140
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 144
APÊNDICE A: PROJETO DE PESQUISA MONOGRAFIA I ................................ 150
APÊNDICE B: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA A
JORNALISTA ZILEIDE SILVA ............................................................................. 151
APÊNDICE C: QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA A
JORNALISTA ZILEIDE SILVA ............................................................................. 152
APÊNDICE D: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO ............................................................... 153
APÊNDICE E: QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O
JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO................................................................ 154
APÊNDICE F: QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO JORNALISTA ANDRÉ LUIZ
AZEVEDO ............................................................................................................. 155
APÊNDICE G: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA EDNEY SILVESTRE ...................................................................... 159
APÊNDICE H: GRAVAÇÃO NA ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O JORNALISTA
CACO BARCELLOS ............................................................................................. 160
APÊNDICE I: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA RODRIGO LOPES ......................................................................... 161
APÊNDICE J: QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O
JORNALISTA RODRIGO LOPES ......................................................................... 162
APÊNDICE I: MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA DANIEL SCOLA ............................................................................. 164
ANEXO A: ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 11 DE SETEMBRO DE 2001 .......... 166
ANEXO B: ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 07 DE JANEIRO DE 2015 .............. 167
ANEXO C: PRINCÍPIOS EDITORIAIS DO GRUPO GLOBO ................................ 168
9
1 INTRODUÇÃO
Sempre digo para as pessoas que o jornalismo me encontrou. A paixão pela
profissão despertou quando comecei a trabalhar em uma rádio na minha cidade,
Flores da Cunha, Rio Grande do Sul. Os contatos que fazia para buscar as
informações, a relação de proximidade com as pessoas durante o processo das
coberturas jornalísticas e a transmissão dos fatos me encantavam a cada dia. Desde
este período, há cinco anos, percebi que sair da rotina me deixava mais eufórica e,
quando ocorriam fatos como acidentes trágicos ou perseguição a bandidos, ficava
com mais vontade de saber o que havia acontecido e ir em busca da notícia.
Comecei a prestar mais atenção no processo de como é realizada a busca de
imagens e informações para passar aos ouvintes, telespectadores e leitores; de
como o repórter tem que se portar frente a essas situações; até que ponto o
jornalista pode demostrar seu sentimento e até mesmo arriscar sua vida para passar
a melhor informação possível e ter credibilidade. E a tecnologia: no que ela
contribui? As reportagens melhoraram? Ficou mais fácil produzir conteúdo?
Na procura por respostas a esses questionamentos, percebi uma
necessidade de compreender como a tecnologia influenciou a apuração da notícia e
transmissão da informação aos espectadores, com foco em coberturas jornalísticas
de atentados terroristas. E, a partir dessa reflexão, surgiu a questão norteadora
desta monografia: de que forma a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da
cobertura de atentados terroristas no telejornalismo?
Para auxiliar no processo metodológico, foi definido o corpus da pesquisa: as
coberturas jornalísticas do Jornal Nacional, também chamado de JN, em 11 de
setembro de 2001, atentado às Torres Gêmeas; e 7 de janeiro de 2015, atentado ao
Jornal Charlie Hedbo – um estudo comparativo entre as duas no que diz respeito à
evolução tecnológica da comunicação. Também foram elencadas três hipóteses
para contribuir com o estudo: o avanço tecnológico facilitou o processo de produção
das notícias, desde a apuração do fato, edição e transmissão de conteúdo, até a
entrada ao vivo dos repórteres; a tecnologia permitiu maior acesso às informações
por parte dos telespectadores, o que exige precisão na apuração dos fatos por parte
dos meios de comunicação; por meio das mídias sociais e ferramentas, como
smartphone, os antigos receptores de informações se transformaram em produtores
10
de conteúdo, alterando o processo de produção da notícia por parte dos veículos
tradicionais.
Investigar como a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da cobertura de
atentados terroristas no telejornalismo é o objetivo geral dessa pesquisa. Também
foram definidos os objetivos específicos: conceituar e classificar os gêneros e
formatos de programas de televisão; conhecer como se dá o processo de evolução
do telejornalismo, a partir do surgimento de novas tecnologias e da internet;
identificar como se dá o processo de produção de conteúdo no telejornalismo;
analisar como ocorre a apuração de notícias em atentados terroristas no
telejornalismo; avaliar o processo de produção de conteúdo do Jornal Nacional;
analisar como se deu a cobertura do atentado terrorista às Torres Gêmeas e ao
Jornal Charlie Hebdo; entrevistar repórteres do Jornal Nacional que participaram das
coberturas dos atentados terroristas em 2001 e 2015; comparar as coberturas
jornalísticas no Jornal Nacional sobre os atentados terroristas a partir da evolução
tecnológica.
Para realizar a pesquisa foram definidos como método a Análise de Conteúdo
e como técnicas a revisão bibliográfica, a entrevista por questionário e a observação.
O resultado do estudo será apresentado em oito capítulos.
No capítulo 2, Gêneros de Programas de TV, são conceituados categoria,
gêneros e formatos, ampliando as definições necessárias para o melhor
entendimento desta monografia. Este capítulo também aborda o hibridismo, conceito
que traz novos olhares sobre a produção de conteúdo audiovisual.
O capítulo 3, A evolução da TV no Brasil, apresenta a influência da tecnologia
na TV, as mudanças ocasionadas no processo de comunicação e a interatividade
entre repórteres e telespectadores.
O quarto capítulo, Produção de conteúdo no telejornalismo, expõe os
processos de produção de um telejornal, a partir da escolha da pauta, execução da
reportagem pelos repórteres e cinegrafistas, edição e exibição da notícia.
O capítulo 5 trata do Jornalismo internacional na Rede Globo de televisão,
desde seu início, a influência da tecnologia no trabalho de correspondentes
internacionais e o trabalho das agências internacionais. Além disso, é apresentado o
processo de produção de coberturas jornalísticas com foco no terrorismo.
O capítulo 6 é a Metodologia, onde é exposto todo o processo de produção de
conteúdo deste trabalho a partir do método e das técnicas abordadas. É
11
apresentado o corpus da pesquisa, a decupagem1 das edições do Jornal Nacional
analisadas, além das entrevistas com jornalistas que fizeram a cobertura dos
atentados terroristas.
O sétimo capítulo apresenta A influência da tecnologia nas coberturas de
atentados terroristas no Jornal Nacional, onde o método e as técnicas desenvolvidos
ao longo do trabalho se unem junto às observações da pesquisadora.
O oitavo capítulo aborda as Considerações Finais onde é respondida a
questão norteadora e confirmada ou refutada as hipóteses da pesquisa.
1 Listagem de material para posterior seleção dos trechos a serem aproveitados na edição.
12
2 GÊNEROS DE PROGRAMA DE TV
A televisão, desde sua invenção até hoje, é sinônimo de tecnologia e assumiu
uma importância na vida cotidiana das pessoas, pois tem o poder de disseminar
informações. José Carlos Aronchi de Souza, em seu livro Gêneros e Formatos na
Televisão Brasileira (2004), separa os programas de televisão em categorias,
gêneros e formatos, iniciando um processo de identificação do produto.
A classificação e os conceitos estabelecidos por Souza (2004) e outros
autores da área serão apresentados neste capítulo.
2.1 CONCEITOS
É do nosso cotidiano classificar tudo que existe em grupos. E com a televisão
não é diferente. As categorias são divisões que atendem à necessidade de separar
e classificar os gêneros de televisão. A categorização permite compreender melhor a
dinâmica de produção e planejamento dos programas. A identificação das categorias
dos programas, conforme Souza (2004, p. 39), segue a natureza e as funções da
televisão, que “deve sempre entreter e pode também informar”, além de unir os
elementos por meio do espaço de produção, dos anseios dos produtores e dos
desejos do público receptor.
Harris Watts, no livro On Camera: o curso de produção de filme e vídeo da
BBC (1990, p. 20), complementa que o entretenimento “é necessário para toda e
qualquer ideia de produção, sem exceções”. Conforme o autor entreter é interessar,
surpreender, divertir, estimular ou desafiar a audiência, despertando a vontade de
assistir ao programa.
Já o objetivo de informar, para Watts (1990, p. 20), “significa possibilitar que a
pessoa, no final da exibição, saiba um pouco mais sobre alguma coisa do que ela
sabia no começo do programa”.
Os programas de televisão são classificados em cinco categorias, que possui
gêneros próprios, conforme Souza (2004): entretenimento, informação, educação,
publicidade e outros.
13
Souza (2004) aborda em seu livro conceitos de outros autores, como Barbosa
Filho2, que define gênero como unidades de informação que definem a forma de
apresentação do conteúdo acompanhando o momento histórico da produção. Já
para Martín-Barbero3, os gêneros podem ser entendidos como estratégias de
comunicabilidade, fatos culturais e modelos dinâmicos, articulados com as
dimensões históricas de seu espaço de produção e apropriação.
Os gêneros, segundo Souza (2004, p. 42), “devem ser relacionados com
aspectos históricos e culturais”, ordenando os estudos dos programas televisivos.
Elizabeth Bastos Duarte, em seu artigo Televisão, entre gêneros, formatos e tons
(2007, p. 01), complementa que os gêneros funcionam como estratégias de
comunicabilidade e são “categorias discursivas e culturais que se manifestam sob a
forma de subgêneros e formatos”.
Os gêneros sempre são acompanhados dos formatos. Duarte (2007) afirma
que, no caso dos programas de TV, os formatos ajudam a definir os gêneros. Souza
(2004) contribui na conceituação fazendo uma comparação com a biologia:
há muita semelhança entre gêneros e formatos na televisão no que se refere ao estudo de gênero no campo da biologia. Assim como na biologia existem gêneros e espécies, em televisão coexistem os gêneros e formatos. Pode-se fazer uma analogia, com as devidas diferenças, entre as espécies da biologia e os formatos de televisão. Na Biologia, várias espécies constituem um gênero, e os gêneros agrupados formam uma classe. Em televisão, vários formatos constituem um gênero de programa, e os gêneros agrupados formam uma categoria (SOUZA, 2004, p. 45).
Ampliando o significado, José Carlos Aronchi de Souza, em seu artigo
Formatação de programas de tv e sua influência para a classificação do gênero
(p.01, 2011), complementa que os “formatos dos programas de tv exigem uma
compreensão do desenvolvimento da televisão sob vários aspectos, inclusive o
tecnológico”.
Um conceito claro sobre formato é apresentado por Nísia Martins do Rosário,
no seu artigo Formatos e gêneros em corpos eletrônicos (2007, p. 5): “o formato [...]
atende à necessidade de uniformização de padrões, buscando constâncias de
linguagem e de discurso e, ao mesmo tempo, permitindo a exclusão da diversidade”.
2 BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2009. 3 MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.
14
Por meio da conceituação de categoria, gêneros e formatos, Souza (2004)
apresenta em seu livro um esquema das categorias e gêneros dos programas na TV
brasileira (Figura 1).
Figura 1 - Categorias e gêneros dos programas na TV brasileira
Fonte: SOUZA, 2004, p. 92.
No presente trabalho, a partir da conceituação, entende-se a necessidade de
aprofundar a categoria informação para a elaboração desta pesquisa, que tem como
o objeto de estudo o Jornal Nacional e a cobertura de atentados terroristas.
2.2 CATEGORIA INFORMAÇÃO
A informação deve estar, fundamentalmente, a serviço do público. Olga
Curado em seu livro A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo (2002,
p. 16), afirma que “a informação deve colaborar para produzir em nós um sentimento
de inclusão social ou política, aumentando a nossa consciência acerca do que se
passa nas nossas cercanias ou alhures”.
A categoria informação é subdividida em quatro gêneros, conforme Souza
(2004): debate, documentário, entrevista e telejornal.
15
O debate são produções de baixo investimento e, segundo Souza (2004, p.
143), é a “alternativa para emissoras com pouco poder financeiro de produzir
programas informativos mais sofisticados”. A característica principal do gênero é o
número de entrevistados que, juntos, criam o debate.
Souza (2004) acrescenta que o apresentador único caracteriza a maioria dos
programas, sendo o formato mais frequente desse gênero a mesa-redonda. O autor
ainda afirma que o programa de debate pode conter pequenas reportagens que
ilustram o tema.
Já o gênero documentário é uma demonstração de qualidade dos programas
de telejornalismo. De acordo com Souza (2004), os temas abordados pelos
documentários apresentam importância histórica, social, política, científica ou
econômica e aprofundam assuntos do cotidiano.
O conceito básico desse gênero é buscar o máximo de informação acerca do
assunto que será abordado e tentar mostrar todos os ângulos de um tema.
Conforme Souza (2004), o documentário pode apresentar vários formatos como
entrevistas, debates e narração em off, com o objetivo de não torná-lo cansativo.
O próximo gênero, a entrevista, está fortemente ligada aos programas
jornalísticos das emissoras, onde o jornalista “não tem o compromisso de deixar o
entrevistado à vontade, podendo questioná-lo sobre fatos polêmicos e chegar até à
discórdia” (SOUZA, 2004, p. 148).
José Marques de Melo4 enfatiza que “a entrevista é um relato que privilegia
um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a
coletividade” (MELO apud SOUZA, 2004, p. 148).
O último gênero da categoria informação é o telejornal, que se destaca diante
do objeto desta pesquisa, que aborda as coberturas jornalísticas do Jornal Nacional.
Este gênero será aprofundado separadamente no próximo subtítulo.
2.2.1 Telejornal
O telejornal, conforme Souza (2004, p. 149), “é um programa que apresenta
características próprias e evidentes, com apresentação em estúdio chamando
matérias e reportagens sobre os fatos mais recentes”. As emissoras mantêm uma
4 MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. 2.ed. rev. Petrópolis, RJ: Vozes,
1994.
16
estrutura independente para o departamento de Jornalismo, com tecnologia para a
produção de programas.
O autor Arlindo Machado, em seu livro A televisão levada a sério (2014),
afirma que o principal problema na compreensão do conceito de telejornal é dizer
que a função básica do gênero é informar sobre o que está acontecendo, e que a
abordagem se restringe a tentar verificar o grau de exatidão ou de confiabilidade da
informação veiculada.
Conforme Machado (2014), o telejornal desmonta os discursos a respeito dos
acontecimentos. Ele afirma que as informações do telejornal constituem um
processo em andamento.
O gênero telejornal apresenta múltiplas funções. Souza (2004, p.152), afirma
que o primeiro formato foi o noticiário, com os apresentadores lendo textos para a
câmera: “um ou mais apresentadores lêem os textos e apresentam as reportagens
externas realizadas pelos jornalistas, ao vivo ou gravadas”. Machado (2014)
complementa:
tecnicamente falando, um telejornal é composto de uma mistura de distintas fontes de imagem e som: gravações em fita, filmes, material de arquivo, fotografia, gráficos, mapas, textos, além de locução, música e ruídos. Mas, acima de tudo e fundamentalmente, o telejornal consiste de tomadas em primeiro plano enfocando pessoas que falam diretamente para a câmera (posição stand-up), sejam elas jornalistas ou protagonistas: apresentadores, âncoras, correspondentes, repórteres, entrevistados, etc. De fato o quadro básico do telejornal consiste no seguinte: o repórter, em primeiro plano, dirigindo-se à câmera, tendo ao fundo um cenário do próprio acontecimento a que ele se refere em sua fala, enquanto gráficos e textos inseridos na imagem datam, situam e contextualizam o evento; se tudo isso for ao vivo, mais adequado ainda (MACHADO, 2014, p. 103).
Seguindo na mesma linha de pensamento, Souza (2004) acrescenta que os
principais telejornais continuam sendo transmitidos ao vivo para dar um tom de
atualidade e permitem a realização de entrevistas em diversos pontos do país e do
mundo.
Mas para a construção de um telejornal, os formatos são de suma
importância. Conforme Souza (2004), são eles: nota, reportagem, entrevista,
indicadores econômicos, editorial, comentário, crônica e charges. Estes podem ser
utilizados nos programas ao vivo ou gravados em estúdios. O formato ao vivo pode
ser transmitido em tempo real, simultaneamente ao acontecimento, ou gravado ao
17
vivo. Souza (2004) enfatiza que os programas transmitidos ao vivo evitam cortes e
interrupções.
O telejornal faz parte da programação da TV brasileira cumprindo uma
determinação legal. O decreto lei 52.795 de 31 de outubro de 1963, que trata do
regulamento dos serviços de radiodifusão, estipula que as emissoras dediquem
cinco por cento do horário da programação diária ao serviço noticioso.
Com a evolução e o aparecimento das mídias sociais, o engessamento dos
gêneros, categorias e formatos têm sofrido questionamentos. É o que será
detalhado no próximo subtítulo.
2.3 HIBRIDISMO
Com o avanço das tecnologias, muitos conceitos estão sendo transformados.
Esse é o caso dos formatos televisivos. Para Machado (2014, p. 68), os conceitos de
gêneros não conseguem abranger a complexidade dos fenômenos. Para ele, é
preciso “recorrer a um conceito mais flexível ou melhor adaptável a um mundo em
expansão e rápida mutação”: o hibridismo.
Leila Lima de Souza, no artigo O processo de hibridação cultural: prós e
contras (2013), conceitua hibridismo como o processo de junção de diferentes
matrizes culturais.
Seguindo este pensamento, Machado (2014) afirma que um programa não se
encaixa em um gênero apenas, até porque os gêneros são mutáveis.
Para complicar, sabemos que as obras realmente fundantes produzidas em nosso século não se encaixam facilmente nas rubricas velhas e canônicas e quanto mais avançamos na direção do futuro, mais o hibridismo se mostra como a própria condição estrutural dos produtos culturais (MACHADO, 2014, p. 67).
Na mesma linha, François Jost, em seu artigo Para além da imagem, o
gênero televisual: proposições metodológicas para uma análise das emissões de
televisão (2007, p. 101), diz que “é um equívoco acreditar que seja possível
estabelecer uma classificação única e estável dos gêneros”.
Para reforçar esse conceito, Elizabeth Bastos Duarte, no artigo Reflexos
sobre os gêneros e formatos televisivos (2006), explica que dizer de um programa
18
que ele é informativo ou de entretenimento é praticamente nada informar sobre ele,
pois existe a mistura de gêneros e formatos.
Nessa nova fase, Machado (2014) afirma que o conceito mais adequado para
gênero é o do pensador russo Mikhail Bakhtin5.
Gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada linguagem, um certo modo de organizar ideias, meios e recursos expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de modo a garantir a comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa forma junto às comunidades futuras (BAKHTIN, 1981 apud MACHADO, 2014, p. 68).
Essa transformação de conceito, conforme Egle Muller Spinelli, no artigo
Jornalismo audiovisual: gêneros e formatos na televisão e internet (2012), surgiu a
partir das possibilidades de convergências tecnológicas, comunicacionais e
profissionais. Renata Rezende, em seu artigo A tecnologia e a transformação do
dispositivo televisivo: produções sensórias no hibridismo realidade/ficção (2012),
acrescenta que a narrativa híbrida é uma característica do novo sistema de
comunicação baseado na integração em rede digitalizada de múltiplos modos, ou
seja, a capacidade de incluir e abranger diferentes expressões culturais.
Duarte (2006) afirma que, antes de tudo, gênero é uma estratégia de
comunicabilidade e quanto mais híbrido e complexos se tornam os produtos
televisuais, mais discussão existem em torno do assunto, isso porque existe uma
dificuldade na compreensão do conceito.
Rosário (2007, p. 04) complementa que seria mais assertivo pensar que “os
discursos televisivos estariam atravessados pelos gêneros e não organizados por
eles, os quais se comporiam numa instância de aglutinação discursiva que permitiria
uma tessitura de relações significativas entre programas”.
Assim, Duarte (2006, p.22) afirma que “a televisão vem construindo seus
gêneros/subgêneros e formatos, cujas estratégias, configurações e regularidades
adequam-se aos princípios e lógicas, possibilidades e restrições, que regem o
próprio funcionamento do meio”.
Esse novo momento dos formatos de televisão se caracteriza por romper com
os valores tradicionais. E as transformações tecnológicas influenciaram muito na
flexibilização destes processos.
5 BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense, 1981.
19
A partir da conceituação de hibridismo é possível perceber que a tecnologia
tem influência direta na evolução da TV e do telejornalismo. Assunto do próximo
capítulo.
20
3 A EVOLUÇÃO DA TV NO BRASIL
A televisão tem um poder de transmitir informação e entretenimento. Mas o
universo da TV está em constante evolução. Com um olhar tecnológico, este
capítulo abrangerá o avanço da televisão no Brasil a partir do telejornalismo.
3.1 AS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS
A televisão era uma realidade em praticamente todos os países entre o final
dos anos 1940 e início dos anos 1950. A TV, trazida ao Brasil em 1950 por
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, se consolidou como um meio
de informação e comunicação de massa e apresentava telejornais que eram
adaptados de programas de rádios. Conforme Bistane e Bacellar, no seu livro
Jornalismo de TV (2008, p. 106), “notícias eram lidas pelos locutores no estúdio e
havia pouquíssimas imagens para ilustrar a informação”. Tudo acontecia ao vivo.
O videotape, também conhecido como VT, chegou no Brasil em 1960. O
aparelho foi uma inovação para produzir vídeos gravados. Ele foi usado pela
primeira vez na cobertura da inauguração de Brasília, pela então TV Tupi, primeira
emissora de televisão do Brasil. De acordo com Bistane e Bacellar (2008), as
máquinas de videotepe tinham dois metros de altura e as fitas eram enormes: nada
prática para coberturas jornalísticas.
Paternostro (2006) acrescenta que com a chegada do VT uma revolução foi
instaurada no telejornalismo. Houve uma racionalização da produção, uma
economia de custos e de tempo, além de melhorar a qualidade dos programas.
Em 1965 surgiu a emissora das Organizações Globo que, conforme
Paternostro (2006, p. 33), começou “com uma programação voltada para a linha
popular [...] e, associada ao grupo norte-americano Time-Life, parte para a
implantação de esquema network, comprando ou contratando emissoras pelo país
(as afiliadas) para expandir o seu sinal”.
Na mesma época, constitui-se a Empresa Brasileira de Telecomunicações –
Embratel – que interligou todo o Brasil por meio de linhas básicas de microondas.
Em 1969, a TV Globo lançou o primeiro programa em rede nacional: o Jornal
Nacional (JN).
21
William Bonner, no livro Jornal Nacional: modo de fazer (2009), descreve o
que é o JN.
O Jornal Nacional é um programa jornalístico de televisão. Por ser jornalístico, apresenta temas comuns aos jornais impressos, aos programas jornalísticos de rádio, aos sites da internet voltados para notícias e, em parte, às revistas semanais de informação. Por ser um programa de televisão, procura apresentar esses temas com a linguagem apropriada ao veículo: com um texto claro, para ser compreendido ao ser ouvido uma única vez, ilustrado por imagens que despertem o interesse do público por eles – mesmo que não sejam temas de apelo popular imediato (BONNER, 2009, p. 13).
1969 foi o ano de grandes avanços. Os satélites vieram para colaborar nos
sistemas de transmissão e o Brasil iniciava a era da comunicação espacial. De
acordo com Bistane e Bacellar (2008), uma das vantagens do satélite é que quase
nada constitui barreira para a transmissão. As autoras relatavam que “do local que
são captadas, as imagens sobem até o satélite, descem até a emissora, são
enviadas para a torre de transmissão e chegam à casa do telespectador” (p. 115).
Guilherme Jorge de Rezende, em seu livro Telejornalismo no Brasil: um perfil
editorial (2000), complementa que as transmissões via satélite possibilitavam a
integração nacional e a aproximação com o restante do mundo. O autor também
ressalta que, paralelo ao processo tecnológico, o rigor no planejamento da produção
identificava o novo modelo de telejornalismo: deveria manter o nível do noticiário a
altura do avanço tecnológico, não permitindo a improvisação e escrito por redatores
selecionados.
Carlos Tourinho, em seu livro Inovação no Telejornalismo: o que você vai ver
a seguir (2009), ressalta que para o Brasil foi um momento histórico: 28 de fevereiro
de 1969, o apresentador Hilton Gomes, de Roma, anunciava a primeira reportagem
internacional via satélite para o Brasil. Segundo Tourinho (2009, p. 63), “os satélites
de comunicação e a presença do correspondente no exterior começaram a se tornar
indispensáveis para o telejornalismo”.
Paternostro (2006, p. 26) acrescenta que “com a integração dos sistemas de
satélite de comunicação, o mundo da informação evoluiu tanto que passou a ser
muito simples [...] acompanhar algo que acontece no outro lado do planeta no
momento exato que está acontecendo, sem sair de casa”.
A TV inicia o ano de 1970 sob regras impostas pelo governo militar. A
ditadura estabeleceu o controle da informação. Mas a televisão se reinventou e
22
ressurgiu após a suspensão da censura. O jornalismo começou a ocupar mais
espaço nas programações, com telejornais na hora do almoço e à noite.
Outro grande fato que marcou o avanço tecnológico foi a televisão em cores.
Conforme Tourinho (2009), o sistema, lançado nos Estados Unidos em 1954,
chegou no Brasil experimentalmente em 1963. Mas só em 1972 as primeiras
imagens em cores foram exibidas na TV brasileira. De acordo com o autor, a
Embratel foi a responsável pela primeira transmissão oficial: a Festa da Uva, em
Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. Tourinho (2009) ainda ressalta que foi a partir de
1973 que o Jornal Nacional passou a exibir a programação em cores regularmente.
Nos anos 1990, a televisão por assinatura chegou à população. Conforme
Paternostro (2006), a TV a cabo, como também pode ser chamada, é uma das
indústrias mais lucrativas do mundo. Bistane e Bacellar (2008) acrescentam que,
enquanto a TV aberta briga pela audiência para atrair patrocinadores, a televisão por
assinatura aposta na segmentação do público e vende conteúdo.
Mas a grande mudança veio no final dos anos 1990, início dos anos 2000:
chegou a era da TV digital. César Bolaño e Valério Brittos, no livro A televisão
brasileira na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes (2007),
afirmam que o processo de implantação do sistema digital impõe à TV mudanças
significativas no que diz respeito à relação do telespectador com o televisor e com o
conteúdo por ele transmitido.
Isso se deve a troca das tecnologias analógicas para as suas equivalentes
digitais. Roberto Wertman, em seu artigo Jornalismo em alta definição (2005),
salienta a importância dessa transição.
Para falarmos de TV digital, de suas características, vantagens e novidades, precisamos primeiro entender realmente a diferença entre transmissões analógicas e digitais. Na antiga tecnologia analógica, as imagens são convertidas em frequências e modulações especifica que são entendidas e traduzidas pelo receptor. A tecnologia digital substitui as informações por sequências binárias que são recebidas e traduzidas pelo receptor. [...] A TV digital também permite a recepção em dispositivos móveis, como TVs portáteis, [...] ou até mesmo celulares (WERTMAN, 2005, p. 221).
Ampliando este pensamento, Paternostro (2006, p. 63) salienta que a TV de
alta definição oferece imagens mais amplas, com mais detalhes, contraste e
definição: “no formato digital não importa se existem ou não obstáculos entre a
23
transmissão e a recepção. [...] os sinais chegam à casa do telespectador com a
mesma qualidade que saíram da emissora”.
Tourinho (2009) afirma que o Brasil adotou o modelo baseado na tecnologia
japonesa, incorporando outras inovações. A tecnologia brasileira recebeu o nome de
SBTVD – Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Renato Cruz, em seu livro TV
digital no Brasil: tecnologia versus política (2008), conta que, no dia 29 de junho de
2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto 5.820 que
estabeleceu as diretrizes para a digitalização da TV brasileira.
Cruz (2008) afirma que a TV digital é uma ferramenta importante para auxiliar
na inclusão digital. A Agência Brasil6 divulgou dados do IBGE, de pesquisa realizada
em 2014, mas veiculada em 2016, que 97,1% dos 67 milhões de domicílios
brasileiros tem televisão. Desses 40% da população têm televisão digital aberta. Um
quarto dos domicílios com aparelhos de TV, cerca de 15 milhões, tinha apenas TV
analógica aberta. A mesma pesquisa divulgou dados da TV por assinatura: 32,1%
dos lares brasileiros com aparelhos de televisão possui TV a cabo.
A TV digital traz, além da melhor qualidade de áudio e imagem, os conceitos
de mobilidade, podendo ser assistida em movimento, e também de portabilidade, a
televisão está no celular e no computador, além da interatividade. Por esse motivo
está sendo realizado o desligamento do sinal analógico em diversas cidades do
Brasil. Conforme o Ministério da Ciência, Tecnologia Inovações e Comunicações7 a
migração do sistema iniciou em 2016 e segue até 2018. Durante esse período as
emissoras podem veicular, simultaneamente, a programação em tecnologia
analógica e digital.
A internet é o centro de uma nova revolução na comunicação. Paternostro
(2006, p. 21) afirma que a internet é “o meio de comunicação mais atual, que nos
modifica e modifica o mundo de uma forma muito mais rápida do que imaginamos”.
A autora ainda acrescenta que a internet promove uma reviravolta na organização
da sociedade.
Lúcia Santaella, em seu artigo A crítica das mídias na entrada do século XXI
(2002, p. 49), acrescenta que com essa transformação iniciaram “os trânsitos e
6 AGÊNCIA BRASIL. IBGE: 40% dos brasileiros têm televisão digital aberta. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-04/ibge-embardada-ate-amanha-10h-0604>. Acesso em: 10 set. 2017. 7 Disponível em: <http://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/textogeral/TV-Digital.html>. Acesso em: 22 nov. 2017
24
intercâmbios dos meios de comunicação entre si, criando redes de
complementariedades”. Conforme a autora, uma informação passa de uma mídia a
outra. Ela ressalta que essas fusões via computador já estavam sendo antecipadas
pelo hibridismo, a mistura entre os formatos e gêneros.
Essa convergência tecnológica redesenhou o cenário da comunicação.
Manuel Castells, em seu livro O poder da comunicação (2015, p. 107), salienta que
a televisão continua sendo o meio predominante de comunicação de massa, mas
“foi profundamente transformada pela tecnologia [...] a ponto de hoje ser mais
compreendida como um meio que combina transmissão de massa disseminada com
transmissão especializada”.
O autor ainda afirma que a internet e a comunicação sem fio não são mídias
tradicionais. Eles são meios de comunicação interativa.
Não faz sentido comparar a internet com a televisão [...]. Além disso, a internet está cada vez sendo mais usada para acessar a mídia de massa (televisão, rádio, jornais) bem como qualquer forma de produto cultural ou informacional digitalizado (filmes, músicas, revistas, livros, artigos de jornais, banco de dados) (CASTELLS, 2015, p. 112).
Com a internet, o formato da reportagem e do telejornal também sofreu
alterações. De acordo com Tourinho (2009), as câmeras cinematográficas foram
substituídas pelas eletrônicas, o que facilitou a gravação e alterou o processo de
produção. O autor complementa que a tecnologia permitiu maior agilidade aos
telejornais, contato com múltiplas fontes e possibilidades de ser visto por mais
espectadores. Tourinho ainda salienta que com as transformações os equipamentos
necessários para uma transmissão são mínimos: o repórter sozinho consegue dar
conta, além do custo ser menor e ter uma maior mobilidade na hora da execução da
matéria.
Com isso, o telejornal e o conteúdo transmitido por ele, passaram a inovar,
mas todos tiveram que se adaptar: técnicos, operadores, cinegrafistas e jornalistas.
Paternostro (2006) afirma que:
25
a chegada de uma nova tecnologia sempre é um desafio, pois é preciso abandonar um sistema já dominado e partir para o desconhecido. [...] Com a tecnologia eletrônica, os repórteres, por exemplo, tinham de se preparar muito mais para realizar uma cobertura, pois a qualquer momento podiam entrar ao vivo. Isso significa que tinham de “contar” a matéria para o telespectador, de forma clara, precisa, correta, objetiva – sem ler, na base do improviso, e sem ter grande conhecimento do assunto, enquanto o cinegrafista mostrava as imagens relacionadas àquele acontecimento, no mesmo instante (PATERNOSTRO, 2006, p. 64).
Fernando Firmino da Silva, em seu artigo Jornalismo e tecnologias da
mobilidade: conceitos e configurações (2008), conceitua uma das transformações
como jornalismo móvel. Para o autor, a intensificação da mobilidade na produção da
notícia exerce a característica mais definidora na evolução. Para Silva (p. 5), os
celulares são “pequenos computadores com grande poder de processamento e de
conexão concebidos para múltiplas tarefas de cunho multimídia”.
Com a internet, as mensagens estão chegando mais rápido, graças à
dinamização da indústria da cultura e da informação. Tourinho (2009, p. 205)
acredita que “se houver um avanço na interatividade, com um canal de retorno, o
jornalismo poderá ser beneficiado, podendo ampliar as informações fornecidas, a
partir da demanda do telespectador”.
Nesta linha, Raquel Recuero, em seu livro Redes sociais na internet (2009),
complementa que a possibilidade de expressão e socialização através das
ferramentas de comunicação mediada pelo computador e pelo celular é a mais
significativa mudança na televisão.
O avanço das tecnologias e a participação do telespectador na construção da
notícia são fatores que alteram os processos de comunicação, o que será abordado
no próximo subtítulo.
3.2 AS MUDANÇAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
Criada como um meio para a liberdade de expressão, a internet, segundo
Castells, no livro A galáxia internet: reflexões sobre internet, negócios e sociedade
(2004), permite a comunicação de muitos para muitos. Este é o diferencial desta
tecnologia que, aliada a outros recursos, possibilita a descentralização da
informação. O autor Pierre Lévy, também traz esse conceito no livro Ciberespaço:
26
um hipertexto com Pierre Lévy (2000, p. 13), abordando também outros modelos da
relação entre emissores e receptores.
a) Um e todos: representado pelos meios de comunicação de massa, tendo
um centro emissor e uma multiplicidade de receptores, no qual a
mensagem é divulgada em um único sentido, sem interatividade entre as
partes;
b) Um e Um: embora proporcione uma interação perfeita entre as partes, não
possui a emergência do coletivo na transmissão da informação, como no
caso do telefone;
c) Todos e Todos: não há distinção entre emissores e receptores, pois todas
as partes em contato podem ocupar, concomitantemente, as duas
posições, estabelecendo um novo tipo de interação.
André Lemos, em seu livro Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura
contemporânea (2013), complementa que as novas tecnologias estão fazendo com
que a centralização da informação acabe e a interatividade entre as pessoas se
fortaleça. Conforme Fernanda Correa Silveira Galli, no artigo Linguagem da Internet:
um meio de comunicação global, qualquer elemento adquire a possibilidade de
interação com a internet. As interconexões entre pessoas dos mais diferentes
lugares do planeta são facilitadas, assim como a busca por opiniões e ideias
convergentes.
A interatividade está ligada aos novos media digitais. Carlos Montez e
Valdecir Becker no livro TV digital interativa: conceitos, desafios e perspectivas para
o Brasil (2005), elaboraram uma escala de zero a sete onde destacam o processo
evolutivo da interação do público com a TV:
Nível 0: é o estágio onde a televisão exibia imagens em preto e branco e o
espectador possuía de um a dois canais disponíveis. A ação do espectador resumia-
se a ligar e desligar o aparelho, regular volume, brilho ou contraste e trocar de um
canal para outro;
Nível 1: a televisão ganhou cores, maior número de emissoras e controle
remoto, facilitando o manejo que o telespectador tinha sobre o aparelho;
Nível 2: alguns equipamentos se incorporaram à televisão, como o
videocassete, as câmeras portáteis e os jogos eletrônicos. O telespectador ganhou
27
novas tecnologias para apropriar-se do objeto televisão, podendo ver vídeos e jogar,
sem assistir, obrigatoriamente, a programação de fluxo;
Nível 3: já apareciam sinais de interatividade de características digitais. O
telespectador podia interferir no conteúdo a partir de telefones, fax ou correio
eletrônico;
Nível 4: é o estágio da chamada televisão interativa em que se podia
participar do conteúdo a partir da rede telemática em tempo real, escolhendo
ângulos de câmera, diferentes encaminhamentos das informações, etc. O
telespectador ainda não possuía controle total sobre a programação. Ele apenas
reagia a impulsos e caminhos pré-definidos pelo transmissor;
Nível 5: o telespectador passou a participar da programação enviando vídeo
de baixa qualidade, que poderia ser originado por intermédio de uma webcam ou
filmadora analógica;
Nível 6: a largura de banda desse canal aumenta, oferecendo a possibilidade
de envio de vídeo de alta qualidade, semelhante ao transmitido pela emissora.
Dessa forma, a interatividade chega a um nível muito superior a simples reatividade,
como caracterizado no nível quatro;
Nível 7: a interatividade plena é atingida. O telespectador passa a se
confundir com o transmissor, podendo gerar conteúdo. Esse nível é semelhante ao
que acontece na internet, onde qualquer pessoa pode publicar um site, bastando ter
as ferramentas adequadas. O telespectador pode produzir programas e enviá-los à
emissora, rompendo o monopólio da produção e veiculação das tradicionais redes
de televisão.
As novas tecnologias da informação, de acordo com Tourinho (2009),
oferecem instantaneidade, interatividade, abrangência e liberdade. O celular virou
fonte de informação e é um grande aliado no consumo de conteúdo.
E tudo isso com a possibilidade da interação entre emissor-receptor, relação que muitas vezes é subvertida com a participação cada vez maior do colaborador emitindo notícias, opiniões, fotos e muito mais, no mais puro conceito de interatividade 2.0. E quem é o colaborador? Qualquer receptor que tenha como acessar um computador (TOURINHO, 2009, p. 138).
28
Conforme pesquisa realizada pelo IBGE em 2015 e divulgada em 2016 pela
Agência Brasil8, o celular se consolidou como principal meio para acessar a internet
em 92,1% dos domicílios brasileiros.
Com a aproximação da tecnologia, as pessoas passaram de espectadores de
forma clássica, que assistiam ao telejornal pela televisão e apenas recebiam a
informação, para produtores de conteúdo, que estão oferecendo informações ao
mesmo tempo que recebem.
Cínthia Soares Barbosa, em seu artigo A televisão além do controle remoto:
uma análise da participação do público no telejornalismo (2013), enfatiza a
participação do receptor.
A tecnologia digital, com sua possibilidade de convergência, e a tentativa de migração da televisão para outras plataformas modificou as relações da produção jornalística com o público. Uma das 57 grandes transformações causadas pela popularização dos aparelhos digitais foi a participação do telespectador na construção da notícia. O público soma a condição de espectador tradicional de televisão, a possibilidade de influenciar tanto na rotina de apuração dos fatos como na realização de uma reportagem. Surge, então, o jornalismo participativo, em que a própria população passa a registrar os acontecimentos através de aparatos como celular e câmeras digitais e fazer parte do noticiário (BARBOSA, 2013, p. 56).
Seguindo a mesma linha de pensamento Barbosa (2013), enfatiza que o
público deixa de ser somente receptor e passa a participar do processo de produção
contribuindo para a melhor produção da notícia. Com a participação do
telespectador o formato e a linguagem do telejornalismo sofre alterações. Conforme
Christina Feraz Musse e Mila Barbosa Pernisa, no artigo Telejornalismo: novos
formatos no cenário de crise da TV aberta (2011), a participação ativa do público em
reportagens e o hábito de compartilhar vídeos caseiros modificam a estrutura rígida
dos programas cedendo lugar para uma informalidade e descontração que se
aproximam mais da realidade do atual consumidor de notícias.
Várias são as nomenclaturas utilizadas por autores para definir essa ação.
Carolina Danielli e Simone Orlando, no artigo O uso do Whatsapp na rotina produtiva
da emissora de rádio BandNews Fluminense FM (2015), definem como jornalismo
cidadão.
8 AGÊNCIA BRASIL. IBGE: celular se consolida como o principal meio de acesso à internet no Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-12/ibge-celular-se-consolida-como-o-principal-meio-de-acesso-internet-no-brasil>. Acesso em: 10 set. 2017.
29
O jornalismo cidadão designa a produção e a difusão de informação por cidadãos que não têm formação jornalística ou que não estão ligados a veículos de comunicação tradicionais. Ele é um reflexo da visão do público, a fim de construir debates comandados por editores para desenvolver um “senso comum”. Nesses casos, o receptor atua como protagonista do processo noticioso e não apenas como um coadjuvante (DANIELLI, ORLANDO, 2015, p. 5).
Com a participação mais ativa do telespectador, cresce a discussão sobre o
também chamado jornalismo colaborativo. Conforme Tourinho (2009, p. 214), “é
uma manifestação que ganhou força na Internet e já se espalhou por impressos e
televisão”.
Carlos Castilhos, no artigo Webjornalismo: o que é notícia no mundo on-line
(2005), acrescenta que a principal mudança da profissão do jornalista com a
interatividade é a perda do controle de informação “na medida em que a web deu ao
público leitor a capacidade de também publicar informações na internet” (p. 234). O
autor também salienta que a sobrevivência dos veículos de comunicação
tradicionais está ligada a credibilidade e confiabilidade.
Com a internet, a recepção de conteúdo também sofreu interferências.
Tourinho (2009) afirma que o perfil do usuário da internet é procurar várias fontes
quando buscam a informação. Na mesma linha de pensamento, Castilhos (2005)
afirma que a credibilidade terá cada vez mais peso na hora de se diferenciar quem
de fato merece o crédito.
Guilherme Pinheiro, no artigo O Cidadão-Repórter e o Papel do Jornalista
Profissional através do Jornalismo Participativo (2009), enfatiza que qualquer
pessoa pode registrar, filmar e gravar qualquer informação e ainda enviá-la via
internet através do celular. Tourinho (2009) traz em seu livro um trecho de uma
entrevista com o diretor da Central Globo
de Jornalismo, Carlos Schroder, que se mostrava otimista sobre o novo conceito de
jornalismo:
a boa notícia é que o jornalista é o centro da informação. Seja na TV, rádio, jornal, Internet ou celular, você precisa da matéria-prima. Ou seja: o nosso futuro está “assegurado”. Hoje, o importante é estar presente com a sua marca. E isso não pode ser só na TV. A credibilidade é o alvo e o que tem de ser preservado. Com isso, podemos e devemos estar presentes em qualquer plataforma porque seremos vistos, ouvidos ou lidos, não importa aonde (TOURINHO, 2005, p. 226).
30
Para continuar desenvolvendo um trabalho de credibilidade, os jornalistas dos
veículos de comunicação de massa precisam estar sempre atualizados. Castilhos
(2005, p. 255) destaca o profissional multimídia, que “trabalhará simultaneamente
com texto, áudio, vídeo e interatividade, num ambiente de convergência de veículos
impressos, audiovisuais e cibernéticos”.
Para ampliar o conceito, Taís de Mendonça Jorge e Fábio Henrique Pereira,
no artigo Jornalismo on-line no Brasil: reflexões sobre perfil do profissional
multimídia (2009), ressaltam a fusão de funções do jornalista multimídia com a fala
do editor de Economia da Folha Online, Tony Schiaretta.
A essência da prática jornalística não mudou. O bom jornalista continua sendo aquele capaz de apurar uma boa matéria, escrever um bom texto, fazer um bom título. Aquele que dá a informação rápida, objetiva, crítica, pluralista e independente. O papel do jornalista multimídia se expande, ele se torna mais flexível e completo, exige novas habilidades. Para trabalhar na internet, ele precisa ousar e tentar novas formas de comunicar; conhecer as especificidades do meio, entender e aprender a usar as ferramentas; ser cada vez mais um contador de histórias (SCHIARETTA, Tony. 2006 apud JORGE, Thaís; PEREIRA, Fábio. 2009).
Outro fator que Barbosa (2013) destaca, e que está presente desde o
surgimento da televisão, é a transmissão ao vivo. Para a autora, o ao vivo é uma
característica fundamental da TV para concorrer com atualização minuto a minuto da
internet. Conforme Yvana Fechine, no artigo Tendências, usos e efeitos da
transmissão direta no telejornal (2006), a televisão perdeu a exclusividade tendo que
se adequar a novas estratégias.
Nesse cenário em que a imediaticidade e a capacidade de interação agregam maior valor às mídias, observa-se uma tendência à utilização cada vez maior da transmissão direta pelos telejornais tanto para a produção de um efeito de atualidade na divulgação da informação quanto para a construção de um sentido de presença entre os sujeitos envolvidos na comunicação (FECHINE, 2006, p. 139).
O avanço tecnológico reinventou a televisão, que foi crescendo e se
atualizando aos poucos. Não há mais como fazer jornalismo sem a ajuda da internet,
mesmo sendo necessária a checagem das notícias para apurar a veracidade do
fato.
31
O processo de produção de conteúdo, com o jornalismo multimídia, também
sofreu alterações ao longo do tempo, mas o objetivo de informar continua intacto. O
próximo capítulo tratará da elaboração do conteúdo para o telejornal, desde a
definição do que é notícia até a apresentação ao vivo.
32
4 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNALISMO
O telejornalismo é a busca permanente de formas eficientes de transmitir
informação correta ao maior número possível de cidadãos. Heródoto Barbeiro e
Paulo Rodolfo de Lima, em seu livro Manual de Telejornalismo: os segredos da
notícia na TV (2002, p. 46), salientam que “mesmo com tanta tecnologia disponível,
o jornalismo depende da velha e boa reflexão, investigação, acurácia e divulgação”.
Até o conteúdo produzido ser exibido na televisão, existe um processo de
produção, uma rotina diária de jornalistas que, em equipe, buscam informações,
fontes e imagens para contar o que é notícia. Todas as etapas da produção de
conteúdo para o telejornal serão apresentadas nos próximos subtítulos.
4.1 A NOTÍCIA
A base do telejornalismo é a notícia. Curado (2002, p.15) conceitua notícia
como “a informação que tem relevância para o público”. O jornalista ou a emissora
avaliam sempre se o fato é notícia ou não para iniciar o processo de produção do
conteúdo, até ser divulgado. Conforme Ana Stela de Souza Pinto, em seu livro
Jornalismo diário (2009), para ser notícia o fato precisa ser novo, importante e de
interesse do público.
A autora lista outros critérios para definir a importância de uma notícia:
a) Imediatismo: a informação inédita é mais importante do que a já publicada;
b) Improbabilidade: a notícia menos provável é mais importante do que a
esperada;
c) Utilidade: quanto mais pessoas possam ter sua vida afetada pela notícia,
mais importante ela é;
d) Apelo: quanto maior a curiosidade que a notícia possa despertar, mais
importante ela é;
e) Empatia: quanto mais pessoas puderem se identificar com o personagem
e a situação da notícia, mais importante ela é;
f) Conflito: disputa entre pessoas, países, corporações, além de tratarem de
diferentes interesses, costumam ser interessantes;
g) Proeminência: notícias sobre pessoas famosas tem mais impacto;
33
h) Oportunidade: o momento da publicação faz a diferença. Publicar uma
informação exclusiva sobre uma reunião antes que ela aconteça é mais
jornalístico do que publicá-la depois.
A notícia é a informação a serviço do público. Curado (2002) enfatiza que a
notícia explica como determinado fato aconteceu, identificando personagens,
localizando geograficamente onde ocorreu a situação, descreve as circunstâncias,
situa num contexto histórico para dar ao público uma perspectiva e noção da
amplitude do fato.
A mediação feita pelo jornalista entre a comunidade e a fonte de informação é extremamente poderosa. A televisão é a referência única de grande parte da população que se atualiza pelos seus noticiários. O telejornal [...] está no ar com a missão de oferecer esclarecimentos sobre os fatos. O limite do jornalismo é a verdade (CURADO, 2002, p. 17).
Para Nelson Traquina, no livro Teorias do Jornalismo: a tribo jornalística –
uma comunidade interpretativa transnacional (2005), o conjunto de valores-notícias
é que determina se um acontecimento pode se tornar notícia ou não. São eles:
morte, notoriedade, proximidade, relevância, novidade, tempo, notabilidade,
inesperado, conflito/controvérsia e infração. Conforme o autor, esses critérios são
mutáveis e podem variar de uma empresa para outra.
Para produzir o Jornal Nacional, Bonner (2008) cita outros critérios que são
levados em consideração pela emissora:
a) Abrangência: quanto maior o universo de pessoas atingidas por um fato,
maior a probabilidade de ser publicado;
b) Gravidade das implicações: quanto maior for a gravidade de um fato,
maior a possibilidade de ser noticiado;
c) Caráter histórico: tem valor absoluto, reportagens que ficarão escritas na
história e que determinam uma cobertura diferenciada.
d) Peso do contexto: importância relativa de uma notícia quando comparada
às demais daquele dia;
e) Importância do todo: mostrar aquilo que de mais importante se deu
naquele dia, com clareza, isenção, pluralidade e correção.
34
A partir destes critérios, a escolha da pauta é de grande importância no
processo de produção de conteúdo. E, para sugerir pautas é necessário hierarquizar
a informação, prever etapas de apuração e antecipar a edição do material, o que
será detalhado no próximo subtítulo.
4.2 ESCOLHA DA PAUTA
A pauta é um conjunto de dados e informações. É o ponto de partida para
uma reportagem. De acordo com Curado (2002, p. 40), ela mostra uma notícia
completa, mas que deverá ser desdobrada ao longo da execução. Em televisão, ela
só existe se for composta por mais de três linhas e não deve ser genérica.
Em uma redação, o produtor ou pauteiro é o encarregado de reunir
informações que possam se transformar em reportagens. Barbeiro e Lima (2002)
acrescentam que o produtor é aquele que na imensidão dos acontecimentos capta o
que pode ser transformado em reportagem. Conforme Ivor Yorke, no livro Jornalismo
diante das câmeras (1998), a coleta da notícia deve ser organizada e sistemática.
O produtor é o responsável por boa parte das condições materiais e do
conteúdo do telejornal. Segundo Curado (2002, p. 44), “no pior entendimento é a
“babá” do repórter”. A autora complementa que:
o produtor oferece o eixo da matéria. Marca a entrevista, identifica as fontes de imagens, reúne o arquivo sobre o assunto, roteiriza a pauta, propondo como a matéria deve ser estruturada e, finalmente, encaminha essa produção ao repórter, no caso de a matéria justificar a presença de um (CURADO, 2002, p. 44).
A pauta pode não ser executada ou ser contada por outro viés se o fato
indicado inicialmente não for confirmado ou tiver uma importância menor que outra.
Curado (2002), ressalta que a pauta faz um pente-fino no material divulgado e
vasculha os detalhes. A apuração pode dar boas indicações, mas a autora afirma
que é na rua que produtor e repórter ficam em contato com a reportagem, podendo a
matéria ser modificada ou não.
A busca e planejamento das reportagens não devem se limitar ao assunto do
dia, por isso há dois tipos de pauta, segundo Curado (2002): a factual e a produzida.
35
a) Factual: é a cobertura. O jornalista acompanha e registra o fato que está
ocorrendo. É o tipo mais simples de pauta, já que se refere ao evento que
está sendo desdobrado. Oferece em poucas palavras sugestões para
enfoques de cobertura. Quando ocorre um evento de grandes proporções,
que tem vários aspectos a serem abordados, gera uma pauta factual
coordenada, isto é, que contém várias reportagens conexas;
b) Produzida: pauta de investigação. Pode começar a partir de um lembrete
da agenda, onde o pauteiro levanta novos dados do evento. Uma
antecipação da produção permite o agendamento de filmagens e
entrevistas com personagens que ficarão menos acessíveis durante o
evento.
Os modelos de pauta que sustentam o telejornal também são exemplificados
por Bonner (2009):
a perna “factual”, dos assuntos do dia, urgentes, acontecidos depois da última edição exibida do telejornal, e a perna de “atualidades”, que compreende aqueles temas não urgentes, mas atuais, que têm acontecido – e que tanto faz serem abordados no telejornal de hoje como no de amanhã, ou na semana que vem (BONNER, 2009, P. 47).
A partir desse processo, a pauta é entregue para o repórter e o cinegrafista,
que prosseguem na execução da reportagem.
4.3 ELABORAÇÃO DA REPORTAGEM
Para a boa execução da reportagem, algumas pessoas e fatores são
fundamentais. É o que será detalhado nos próximos subtítulos.
4.3.1 Repórter
O repórter é o líder da equipe externa. Conforme Curado (2002, p.46), o
profissional “dá o ritmo ao time, discute as necessidades do trabalho em campo,
reúne as informações, faz as entrevistas e apronta o texto da reportagem”. Na
função do repórter de vídeo, é preciso ter boa voz e presença empática,
36
características específicas de comunicabilidade. De acordo com a autora, o
jornalista terá uma escala de responsabilidades de acordo com sua experiência:
a) Repórter local: nível inicial da carreira. Faz reportagens que serão exibidas
na área de cobertura local da emissora;
b) Repórter regional: o trabalho aparece em várias emissoras que
retransmitem o programa. As reportagens são um pouco mais elaboradas
e abrangentes;
c) Repórter de rede nacional: o profissional que atende a uma audiência mais
numerosa e diversificada. São profissionais experientes com autoridade,
discernimento e equilíbrio para estar à frente de uma reportagem em rede
nacional;
d) Correspondente internacional ou enviado especial: topo da carreira de
repórter. É o profissional que possui méritos pelo aprendizado contínuo e
que acumula experiências, atuando no exterior.
4.3.2 Cinegrafista e imagens
A parceria com o repórter e o cinegrafista também é de grande valia para uma
boa reportagem. O repórter cinematográfico, como também é chamado, é o olho do
telespectador, pois capta as imagens que irão ao ar.
Curado (2002) enfatiza que o cinegrafista, junto com o repórter, conhece o
conjunto da pauta e o objetivo da reportagem. A autora enfatiza que “o bom
cinegrafista não se limita a cumprir uma pauta que designa cenas a serem filmadas.
Procura compreender contexto e enfoque da matéria” (p. 50). Barbeiro e Lima (2002)
completam que as reportagens ao vivo devem sempre reproduzir o som ambiente,
dando o clima do acontecimento.
As imagens dão credibilidade e força às notícias. Bistane e Bacellar (2008, p.
42) afirmam que “uma imagem é capaz de incluir determinado assunto no telejornal”.
E Yorke (1998, p. 80) completa que os cinegrafistas possuem muito poder, pois eles
“tomam decisões editoriais toda vez que apontam as lentes para determinada cena e
não para outra”.
Com o avanço tecnológico, os aparelhos celulares também viraram uma
ferramenta para os jornalistas que contribuem na construção da informação, com
câmeras fotográficas e de vídeo, gravadores de voz e acesso à Internet.
37
4.3.3 Fontes e entrevistas
A maioria das informações jornalísticas são relatadas por pessoas que
testemunharam ou participaram de eventos e fatos de interesse público. Por isso, a
notícia é construída por indivíduos e a melhor forma de se apurar a informação é por
meio da entrevista. Barbeiro e Lima (2002) salientam que o repórter deve sempre
preparar com antecedência as perguntas que vai fazer, deve ser incisivo e firme,
sem agredir o entrevistado. Os autores ainda reforçam que “o repórter deve obter do
entrevistado respostas curtas que satisfaçam às indagações contidas na pauta” (p.
69).
A entrevista é a melhor fonte de informação jornalística. Curado (2002, p. 98)
complementa que “é o elemento mais forte e refrescante porque propicia uma
relação dinâmica com a autoridade informativa”.
A entrevista em televisão, segundo Barbeiro e Lima (2002), tem o poder de
transmitir o que o jornalismo impresso nem sempre consegue: a exposição da
intimidade do entrevistado, os gestos, o olhar, o tom de voz, a mudança de
semblante. Conforme os autores, “boas entrevistas são aquelas que revelam
conhecimento, esclarecem fatos e marcam opiniões” (p. 85).
Mas para que a entrevista seja boa, o repórter precisa aprender a ler as
entrelinhas. Conforme Luciana Bistane e Luciane Bacellar, no livro Jornalismo de TV
(2008, p. 18), um bom repórter “não se contenta com a primeira versão, desconfia,
foge do óbvio”.
Christina Ferraz Musse e Mariana Ferraz Musse, no artigo A entrevista no
telejornalismo e no documentário: possibilidades e limitações (2010, p.1), salientam
que em reportagens factuais “o telejornalismo tende a enfatizar os depoimentos mais
imediatos, que, por ainda não terem se distanciado do acontecimento, costumam ser
mais fidedignos”. Portanto, a entrevista é uma estratégia da construção da matéria
para constatar a veracidade do fato.
4.3.4 Texto
O texto no Jornalismo é de suma importância. Já na TV ele complementa a
imagem. Vera Íris Paternostro, em seu livro O Texto na TV: Manual de
38
Telejornalismo (2006), recorda do velho provérbio chinês: uma boa imagem vale
mais do que mil palavras.
No jornalismo de TV, o texto e a imagem precisam conversar e, para isso
acontecer, o texto deve ser claro, conciso, direto, preciso, simples e objetivo.
Paternostro (2006) afirma que:
é com a imagem que a televisão compete com o rádio e o jornal. É com a imagem que a TV exerce o seu fascínio e prende a atenção das pessoas. É preciso respeitar a força da informação visual e descobrir como associá-la à palavra, porque a informação na TV funciona a partir da relação texto/imagem (PATERNOSTRO, 2006, p. 61).
No telejornalismo, o texto é escrito para ser falado pelo locutor e ouvido pelo
receptor. Paternostro (2006) dá sugestões para o texto ter uma boa compreensão:
frases curtas, pontuação e pausas.
A autora ainda salienta que para escrever o texto é preciso saber quais
imagens estão à disposição da reportagem. É necessário ter as imagens
correspondentes às informações que serão faladas. A partir disso, o jornalista pode
começar a escrever. Paternostro (2006, p. 73) enfatiza que “a ideia de fazer um texto
descritivo [...] deve ser totalmente deixada de lado. Não há necessidade de se
descrever o que o telespectador já está vendo”.
Para construir um bom texto de TV, o repórter deve responder a cinco
questões básicas: o lead - Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Por quê? O lead
fará com que informações fundamentais sejam ditas, sem comprometer a imagem.
Paternostro (2006) ressalta que a imagem tem sua narrativa própria e, para
transmitir a emoção de um momento, o silêncio e o som original do que está
acontecendo é importante para a contextualização da reportagem.
O texto jornalístico na TV está inteiramente ligado à edição, o que será
detalhado no próximo subtítulo.
4.4 EDIÇÃO
Editar significa montar a matéria. O processo de edição requer uma avaliação
em conjunto das informações. O editor recebe todas as imagens feitas pelo repórter
cinematográfico e, através da decupagem, seleciona aquelas que melhor se
39
adequam ao texto do repórter. Conforme Curado (2002), na hora da edição
cinegrafista, repórter e editores devem discutir a melhor forma de trabalhar a
matéria.
As reportagens elaboradas para um telejornal diário possuem, normalmente,
um tempo entre 1’05’’ e 1’30’’ (um minuto e cinco segundos e um minuto e trinta
segundos). Este tipo de reportagem tende a seguir um padrão, de acordo com
Curado (2002):
a) Texto do apresentador (cabeça) – cerca de 15’’ para chamar a
reportagem;
b) Texto em off 9 – entre 20’’ e 30’’;
c) Sonora ou fala de entrevistado – entre 10’’ e 15’’;
d) Passagem10 do repórter – entre 15’’ e 20’’;
e) Sonora de entrevista – entre 10’’ e 15’’;
f) Narração final em off, do repórter – entre 10’’ e 15’’.
Barbeiro e Lima (2002, p. 103) acrescentam que “nem sempre a passagem do
repórter é necessária numa edição. A presença forçada, apenas para que ele
apareça, pode quebrar a sequência da edição. O que importa é a notícia”.
Os autores também salientam que o editor deve mentalizar a matéria como
um todo e definir quais informações serão destaques na cabeça da matéria, para
saber o ponto de partida da edição, pois o texto lido pelo âncora nunca deve ser o
mesmo que o início do off da reportagem.
Contrariando Curado (2002), Barbeiro e Lima (2002, p. 103) destacam que as
reportagens não devem seguir o mesmo padrão: “como o jornal de TV é formado em
sua maior parte por reportagens editadas, se o estilo for o mesmo pode tornar o
programa monótono”.
Após a edição estar completa e o arquivo fechado, a matéria é organizada
dentro do script, que mostra a ordem que as matérias entrarão no ar e como os
apresentadores do telejornal chamarão cada reportagem. Isso será detalhado no
próximo subtítulo.
9 Off: texto feito pelo repórter com base nas imagens oferecidas pela equipe de reportagem.
Disponível em <http://jornal.metodista.br/tele/manual/reportagem.htm> Acesso em: 16 out. 2017. 10 Passagem: É o momento que o repórter aparece na matéria. Disponível em
<http://jornal.metodista.br/tele/manual/reportagem.htm> Acesso em: 16 out. 2017.
40
4.5 NO AR
Na hora do programa, o âncora é o apresentador que acumula a atividade de
editor-chefe ou editor-executivo, de acordo com Curado (2002). É o principal
apresentador do telejornal e a autoridade na equipe, participando em todas as fases
da construção do telejornal. A autora afirma que o profissional “[...] é um editor, um
produtor, um pauteiro, um apurador e um repórter. As qualidades exigidas de um
âncora são muitas; é um profissional raríssimo e, portanto, bastante valorizado em
qualquer mercado” (p. 55).
Conforme Barbeiro e Lima (2002), o âncora integra um processo de contar à
sociedade o que está acontecendo. Ele deve ter participação ativa e acompanhar a
evolução das notícias durante todo o dia. Heródoto Barbeiro, no artigo Ancoragem
(2005), reitera que o papel do profissional é pilotar o jornal no ar e fora dele.
Além dos apresentadores que chamam as reportagens, muitos repórteres
entram ao vivo na programação para situar o telespectador. Yvana Fechine, no
artigo Tendências, usos e efeitos da transmissão direta no telejornal (2006), afirma
que a entrada ao vivo é uma aproximação temporal entre a ocorrência do fato e a
transmissão do telejornal. A autora salienta que o repórter fala ao vivo do mesmo
lugar no qual se deu o fato, em duas configurações:
a) O repórter dá todas as informações por meio de um stand-up, sequência
na qual as informações são dadas a partir de uma aparição, em primeiro
plano, do repórter;
b) O repórter dá as últimas informações ao vivo e chama uma reportagem
gravada por ele mesmo ou outro repórter, sobre o fato noticiado horas
antes do telejornal ir ao ar. É muito comum ainda o telejornal mostrar uma
reportagem gravada feita por um determinado repórter e, depois da sua
exibição, chamá-lo numa entrada ao vivo.
Fechine (2006) acrescenta que as entradas ao vivo confirmam para o
telespectador a veracidade dos fatos e que erros, imprevistos e problemas técnicos
são aceitáveis como marcas de fidedignidade da transmissão e do conteúdo.
Todos os detalhes, desde a apuração da informação até a divulgação da
notícia, estão estabelecidos pelos critérios editoriais da Rede Globo, empresa em
que o telejornal analisado nesta pesquisa está inserido. A linha editorial adotada em
41
201111 (Anexo C), para nortear as redações do grupo se adapta as novas
tecnologias.
No documento, a família Marinho salienta a importância da era digital e da
multidão de indivíduos que utiliza a internet para se comunicar. O registro também
recomenda que todos os veículos da emissora Globo tenham estruturas para
receber as observações do público e imagens captadas por celulares.
Informações e imagens enviadas pelo público pela internet só devem ser publicadas depois de averiguação quanto à sua veracidade. Na cobertura de eventos que o trabalho de jornalistas esteja cerceado, haverá casos em que será necessária a publicação de informações e imagens assim obtidas, sem averiguação, mas o público deverá ser avisado de que não há como confirmar se são verdadeiras (Princípios editoriais do Grupo Globo, 2011, p. 12).
O investimento em tecnologia, a fim de garantir a rapidez ao trabalho dos
jornalistas, também é um dos princípios editoriais:
os veículos das Organizações Globo terão sempre como prioridade investir em tecnologia capaz de dar celeridade ao trabalho jornalístico e à sua difusão. Deverão estar atualizados com o que de melhor houver em maquinaria, equipamentos, softwares e meios de transporte (Princípios editoriais do Grupo Globo, 2011, p. 16).
Todo o planejamento de uma reportagem existe para dar espaço ao
imprevisível. Curado (2002, p. 94) enfatiza que “é muito mais simples mobilizar uma
equipe [...] quando toda a força do acontecimento exige, se a redação tem uma
rotina”.
O capítulo seguinte busca a compreensão do jornalismo internacional e a
rotina de uma cobertura imprevisível.
11 Disponível em: <http://g1.globo.com/principios-editoriais-do-grupo-globo.html>. Acesso em: 22
out.2017.
42
5 JORNALISMO INTERNACIONAL NA REDE GLOBO DE TELEVISÃO
Com ênfase na TV Globo e no Jornal Nacional, objeto de estudo desta
pesquisa, este capítulo irá tratar da evolução do jornalismo internacional e como se
dá o processo de produção de conteúdo por meio dos correspondentes e agências
de notícias. O capítulo também abrangerá as coberturas jornalísticas de terrorismo.
Para a elaboração deste capítulo foram encontradas poucas referências
bibliográficas sobre o assunto, muito mais com livros de depoimentos sobre
coberturas específicas, do que a prática profissional nas matérias internacionais.
5.1 O INÍCIO
Mostrar aquilo que de mais importante está acontecendo pelo mundo é um
dos objetivos do Jornal Nacional. Conforme Carolina Cavalcanti, no livro A cobertura
internacional do Jornal Nacional: correspondente, enviados especiais e usos de
tecnologias (2014), o JN, desde o seu início, utilizava o noticiário internacional para
se diferenciar da concorrência. E Bonner (2009, p. 18) complementa dizendo que
esse tipo de abordagem “é uma tarefa de uma ambição gigantesca e de uma
complexidade extrema”.
Em 1971, com a chegada dos satélites, imagens do exterior eram fornecidas
diariamente à TV Globo pelo Sistema Ibero-Americano de Notícias – SIN. Conforme
o livro Memória Globo (2004), todas as manhãs uma conferência telefônica com os
países Ibero-Americanos (Espanha, Portugal, México, Colômbia, Venezuela,
Argentina e Chile) elaborava a pauta do dia e, para a matéria ser aceita e
encaminhada via satélite, precisava da aprovação de, no mínimo, três países.
Em 1973, a Globo assinou um contrato com a agência de notícias United
Press International, que passou a enviar diretamente, do mundo inteiro e via satélite,
imagens para o Jornal Nacional.
Com as transmissões via satélite que garantiam qualidade nas coberturas
internacionais, a Rede Globo decidiu investir em bases no exterior, montando seu
primeiro escritório, em novembro de 1973, em Nova York. Conforme o Memória
Globo (2004, p. 43), “a sucursal começou numa pequena sala e com uma única
câmera, mas logo depois foram instalados estúdios de áudio e vídeo, além de um
arquivo com imagens de noticiários norte-americanos”. Maria Cleidejane Esperidião,
43
no artigo A era do kit-correspondente: tendências da cobertura internacional no
telejornalismo brasileiro (2007), acrescenta que a Rede Globo dispunha dos
melhores equipamentos como também enxergava na cobertura internacional a
possibilidade de exercer um jornalismo sem o monitoramento da censura, que
imperava no país sob o regime militar.
Em 1974, o escritório de Londres começou a funcionar. Em 1977 foi criado
um escritório em Paris e outro na cidade de Colônia, na Alemanha, além de um
pequeno escritório em Buenos Aires. Já em 1982, entrou em atividade o escritório
de Washington. Mas na década de 1980, três escritórios fecharam.
Para reduzir custos operacionais no continente europeu, a emissora decidiu centralizar suas atividades em Londres, fechando as sucursais em Paris e Colônia. [...] Nesta mesma época também foi desativada a sucursal de Buenos Aires (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p. 136).
Conforme o jornalista americano Peter Goodman, citado por Maria Clara
Nicolau Vieira, no artigo Correspondente internacional: estudo sobre a atual
conjuntura da profissão (2015), as notícias internacionais são extremamente caras,
pois requerem profissionais qualificados, que domine outros idiomas, que saiba
apurar e reportar bem as histórias.
A TV Globo é a emissora brasileira que detém a maior infraestrutura fora do
país, com escritórios em lugares estratégicos para coberturas: Estados Unidos,
Europa, Oriente Médio, Argentina e China. E toda essa evolução está ligada ao
avanço tecnológico, que será abordado no próximo subtítulo.
5.2 AVANÇO TECNOLÓGICO
A tecnologia tem papel fundamental no jornalismo internacional. Conforme
Vieira (2015), ao mesmo tempo em que as tecnologias facilitaram imensamente a
transmissão de informações do correspondente às redações e vice-versa, elas
também trouxeram novos desafios para a profissão, que exigiriam a adaptação do
profissional.
A primeira novidade no jornalismo internacional veio com a Guerra do Golfo,
em 1991. De acordo com o Memória Globo (2004, p. 242), pela primeira vez os
44
correspondentes apareceram conversando entre si “numa época em que a
transmissão ao vivo ainda era uma operação arriscada, sujeita a inúmeras falhas”.
Em outubro de 2001, na Guerra no Afeganistão, o videofone foi inaugurado
pelo correspondente Pedro Bial. Conforme o Memória Globo (2004), o repórter falou
ao vivo, transmitindo som e imagem para o Brasil e utilizando um programa
desenvolvido pela emissora que codifica e decodifica imagens, captadas por uma
câmera digital e transmitidas via satélite por um computador portátil.
O videofone foi tema de artigo do jornalista Sérgio Dávila, seis meses antes
da Globo fazer o uso do aparelho. Conforme Cavalcanti (2014), o jornalista previa
que o videofone iria revolucionar os telejornais, transmitindo as notícias ao vivo na
TV de qualquer lugar do mundo sem depender de meios oficiais, embora com
qualidade inferior.
Com a difusão das tecnologias, uma maior agilidade foi proporcionada nas
coberturas e transmissões internacionais. De acordo com Bistani e Bacellar (2008),
com as transformações os repórteres podem falar ao vivo de qualquer país
utilizando a transmissão via internet, o que permite que os correspondentes
trabalhem praticamente sozinhos.
A Rede Globo é exemplo desse avanço tecnológico, onde o correspondente
possui uma câmera e um notebook para realizar toda a matéria.
A estrutura do jornalismo da Globo no exterior tem uma mobilidade que se serve do desenvolvimento espetacular da tecnologia de comunicação e transmissão dos últimos anos. Com equipamentos de dimensões reduzidas, um repórter consegue enviar material diretamente para a Globo, sem a necessidade de reservar um canal de satélite. Ele grava o material com uma câmera comum, transfere o material para um notebook, edita a reportagem digitalmente e a transmite, comprimida, num arquivo digital pela internet (BONNER, 2009, p. 38).
Seguindo o mesmo ponto de vista, Cavalcanti (2014) afirma que a internet
tornou possível o imediatismo a um custo muito baixo, fazendo com que o
correspondente se apropriasse dos novos dispositivos tecnológicos, como a câmera
do celular e a do computador. Além disso, a autora complementa que imagens
amadoras estão fazendo parte de reportagens, que contam também com registros
profissionais, e cujos textos são construídos pelo repórter.
45
O cotidiano do correspondente e do enviado especial ao exterior, que
acompanhou a mudança na rotina e no fazer jornalístico por conta do avanço
tecnológico, é o assunto do próximo subtítulo.
5.3 CORRESPONDENTES E ENVIADOS ESPECIAIS
Correspondente internacional é o profissional que mora por um período
indeterminado em outro país, a serviço de um veículo de comunicação. O enviado
especial também representa uma emissora, mas é designado pontualmente para
cobrir determinado fato ou evento e retorna ao seu lugar de origem após o término
da pauta. A explicação de Cavalcanti (2014) também informa que o correspondente
pode desenvolver um trabalho de enviado especial ao realizar o deslocamento do
país ou da região onde está sediado.
Conforme o livro Memória Globo (2004), a presença de correspondentes nos
locais onde se dão os fatos confere mais veracidade à notícia do que o mero uso do
material das agências internacionais. E, com o novo cenário tecnológico, é cada vez
mais exigida do profissional uma maior habilidade com os diversos tipos de
ferramentas tecnológicas para atuar na dinâmica da convergência. Dione Oliveira
Moura e Luciane Fassarella Agnez, no artigo Correspondentes Internacionais:
problematização em torno da era digital e o jornalismo (2014), acrescentam que as
tecnologias influenciam numa produção mais ágil, de maior volume e em diversas
mídias.
De acordo com Bonner (2009), o Jornal Nacional mostra o mundo aos
brasileiros com os olhos de brasileiros. Conforme o jornalista, isso tem sido realizado
em todos os maiores acontecimentos internacionais. Esse relato já era abordado no
livro Memória Globo (2004, p. 42), onde afirma que os correspondentes
“personalizavam a notícia, tinham a visão brasileira, sabiam o que era de interesse
nacional”.
Nessa linha, Jorge Pontual, no artigo O correspondente internacional (2005,
p. 187), comenta que o olhar brasileiro “não significa necessariamente uma visão
provinciana, bitolada e deslumbrada diante do resto do mundo. Pode indicar uma
curiosidade mais aguda, mais crítica, menos limitada pelos parâmetros do primeiro
mundo”.
Para Pontual,
46
trabalhar como correspondente no exterior é visto como um prêmio para o repórter. Mas é um trabalho puxado, duro, longe da família e dos amigos, estressante, extremamente perigoso na cobertura de guerras e em geral mal remunerado quando se leva em conta o custo de vida em outro país. [...] Mas é uma oportunidade extraordinária para conhecer o mundo, aprender, ventilar as ideias, se reinventar e conhecer melhor a si mesmo [...] há também o enriquecimento profissional pelo acesso a novas tecnologias, a exposição a um mundo de informação e cultura que nem sempre chega ao Brasil (PONTUAL, 2005, p. 188).
O jornalista ainda ressalta que o correspondente tem grande dificuldade de
cultivar fontes porque está sempre viajando. E que é muito difícil de conseguir boas
entrevistas, porque para a maioria das pessoas o Brasil não é um mercado de
interesse.
Conforme Cavalcanti (2014), veículos de comunicação de grande porte
desejam uma cobertura autêntica, de alta qualidade e independente, investem em
profissionais próprios para não depender exclusivamente de materiais das agências
internacionais. Mas, conforme Moura e Agnez (2014), o correspondente
internacional também abastece as informações das agências de notícias, o que será
detalhado no próximo subtítulo.
5.4 AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
As agências internacionais de televisão seguem a mesma lógica que as
agências de notícias: são responsáveis por reunir, processar e distribuir notícias
para as empresas assinantes ao redor do mundo. Conforme João Batista Natali, em
seu livro Jornalismo Internacional (2004, p. 48), “as agências de imagens oferecem
às emissoras um cardápio que eu diria “pasteurizado” em seus assuntos e enfoques.
Não há imagens destinadas exclusivamente ao telespectador senegalês, tcheco ou
brasileiro”.
Com o desenvolvimento do jornalismo e das estruturas tecnológicas para a
difusão das notícias, as agências internacionais aumentaram o fluxo de informações.
Conforme Cavalcanti (2014), essa produção em larga escala é mais viável
economicamente para os veículos de comunicação. A autora afirma que as
emissoras têm mais informações por um preço muito mais baixo do que se o
material fosse produzido pelo próprio veículo.
47
Mas a era digital, por outro lado, afetou diretamente as agências
internacionais. Conforme o CEO da Agence France-Presse, Emmanue Hoog, citado
por Júlia Libório Rocha Lima, no artigo A tradução da notícia: língua e informação no
jornalismo internacional (2013), três são as dificuldades enfrentadas pelas agências
nessa era:
a) Velocidade: nunca antes o tempo entre o acontecimento e a liberação da
notícia foi tão pequeno;
b) Massa: aumento do número de profissionais e os cidadãos atores nas
redes sociais;
c) Imagem: a palavra escrita não é mais a principal entrada da informação. O
audiovisual se tornou tão importante quanto.
E analisando essas mudanças que também afetaram diretamente os
correspondentes, o próximo subtítulo abordará a forma pela qual os profissionais
vêm lidando com a influência da tecnologia durante a produção das coberturas.
5.5 PROCESSO DE PRODUÇÃO DE COBERTURAS INTERNACIONAIS
Operação especial. Esse é o nome dado por Carlos Tourinho, em seu livro
Inovação no Telejornalismo: o que você vai ver a seguir (2009), quando se trata da
produção de conteúdo para uma cobertura jornalística imprevisível.
Conforme o Memória Globo (2004, p. 340), “quando há um evento de grandes
proporções, a primeira coisa a fazer é dividir a equipe em duas. Uma se dedica à
transmissão ao vivo; a outra cuida dos telejornais”. Os correspondentes
internacionais fazem entradas ao vivo atualizando informações e relatando aquilo
que assistem in loco. Outros produzem reportagens e buscam fontes para sua
matéria.
Mas a rotina do correspondente é diária e não apenas nas operações
especiais. Conforme Giovanni Guizzo da Rocha, no artigo Além das mídias: o que
os livros revelam sobre as práticas de repórteres internacionais (2012), quando o
repórter não está realizando uma cobertura, ele deve manter-se informado sobre os
acontecimentos locais ou de relevância, o que envolve a constante leitura de jornais,
revistas, assistir TV e ouvir rádio, além de ficar atento às agências de notícias.
48
Rocha (2012, p. 29) ressalta que a rotina do correspondente é “estar ligado 24 horas
nas notícias e pronto para entrar em ação viajando o mundo”.
Ana Carolina Vanderlei Cavalcanti e Thiago Soares, no artigo A cobertura
internacional do Jornal Nacional: efeitos de proximidade e os fatos - a partir de uma
perspectiva brasileira (2014), relatam que o correspondente pode ser um profissional
com mais autonomia, realizar matérias de conhecimento cultural, que não
interessam para as agências, mas é de grande valia para seu país. Porém, essa
liberdade também traz uma maior responsabilidade na apuração dos fatos.
Entretanto, o que marca de fato a carreira de um correspondente internacional
é a cobertura de assuntos polêmicos, guerras, catástrofes e o terrorismo. E o
cuidado que os profissionais devem ter na divulgação e apuração desses casos que
será abordado no subtítulo a seguir.
5.6 TERRORISMO
De acordo com o dicionário Michaelis12, terrorismo é um sistema
governamental que se impõe por meio do terror, sem respeito aos direitos e às
regalias dos cidadãos; uso sistemático da violência como meio de repressão. E,
conforme dados do livro de Anne Williams e Vivian Head, Ataques Terroristas: a face
oculta da vulnerabilidade (2010, p.19), o primeiro registro dessa palavra surgiu na
academia francesa em 1798 “onde foi relacionada com um sistema ou domínio do
terror”.
Ainda de acordo com as autoras, o terrorismo é o resultado direto de uma
explosão de sentimento popular onde as pessoas acreditam que o uso da violência e
da força bruta pode transformar para melhor o cenário político. Os terroristas sempre
planejam seus ataques com a finalidade de obter o máximo de publicidade,
escolhendo alvos que exemplifiquem ao que eles se opõem.
Eduardo Cintra Torres, no artigo 11 de Setembro: as quatro fases do evento
midiático (2007), afirma que o terrorismo necessita de uma cobertura midiática e é
missão dos jornalistas de noticiar. Mas o autor lembra que a notícia dos atos
também é um objetivo dos próprios terroristas para validar o ataque. Na mesma
linha, André Luiz Azevedo, na série especial apresentada pelo JN na comemoração
12 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/terrorismo/> Acesso em: 16 out. 2017.
49
dos 50 anos de jornalismo da Globo13, revela que a preocupação do correspondente
o tempo todo é “de que maneira a gente pode cobrir essa questão do terrorismo, não
sonegando a informação, mas não sendo usados pelos terroristas para fazer a
divulgação”.
E foi isso que aconteceu na cobertura do dia 11 de setembro de 2001. Nos
primeiros minutos do atentado às Torres Gêmeas, as emissoras de TV já se
direcionavam para o evento. Com um tratamento cauteloso, segundo o site Memória
Globo14, os repórteres, primeiramente, informavam aos telespectadores sobre um
acidente e não um ataque terrorista. Com o impacto do segundo avião, a TV Globo
começou a cogitar a hipótese de atentado, redirecionando o conteúdo a ser
apresentado no JN daquele dia e mobilizando toda a equipe de correspondentes de
Nova York, Washington, Londres e Beirute, com reportagens e imagens exclusivas.
Conforme o site, o telejornal exibiu entrevistas com analistas políticos e
especialistas em relações internacionais que não hesitaram em afirmar que o mundo
seria outro depois daquela terça-feira.
Torres (2007) afirma que as práticas do jornalismo durante estes eventos
possuem certas características. O autor lista as alterações e comportamentos
verificados na prática jornalística durante a cobertura de 11 de setembro:
a) Transmissão direta dos impactos mundiais do evento;
b) Interrupção das emissões normais de televisão;
c) Transmissão sem fim à vista e edições especiais da imprensa;
d) Revalorização dos jornalistas em inquéritos de opinião;
e) Grande presença do jornalismo opinativo;
f) Exibição das emoções dos jornalistas;
g) O papel das imagens como testemunho do evento;
h) Aumento do consumo de todos os media.
Portanto, em todas as coberturas factuais há uma mudança no
comportamento da emissora, proporcionando ao telespectador um conhecimento
amplo dos acontecimentos. Conforme Bonner (2009, p.20), o Jornal Nacional é “um
13 MEMÓRIA GLOBO. 50 anos de jornalismo na Globo Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/telejornais-e-programas/jornal-nacional/jornal-nacional-50-anos-de-jornalismo-da-globo.htm> Acesso em: 30 set. 2017. 14 MEMÓRIA GLOBO. Atentados de 11 de Setembro. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-de-11-de-setembro/sobre.htm>. Acesso em: 30 ser. 2017.
50
jornal de vocação factual”. E são nessas reportagens que tem necessidade urgente
de publicação que o JN se apoia, dando perfis distintos às edições do telejornal.
Contar com escritórios internacionais e correspondentes é sinônimo de
privilégio para a TV. Com um material exclusivo e diferenciado, as reportagens
internacionais enobrecem o telejornalismo brasileiro, fazendo com que as pessoas
fiquem sabendo o que de importante está acontecendo no Brasil e no mundo.
Após a revisão bibliográfica, é importante conhecer as outras etapas do
processo metodológico desenvolvido no presente estudo. Assunto que será
abordado no próximo capítulo.
51
6 METODOLOGIA
Para investigar como a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da
cobertura de atentados terroristas no telejornalismo, esta pesquisa foi realizada a
partir do método de Análise de Conteúdo, proposto por Laurence Bardin (2011), e
das técnicas de revisão bibliográfica, entrevista e observação.
6.1 MÉTODO
O método que norteia esta pesquisa é a Análise de Conteúdo. Segundo
Bardin (2011, p.15), a análise de conteúdo é “um conjunto de instrumentos
metodológicos [...] em constante aperfeiçoamento que se aplicam a “discursos”
extremamente diferenciados”. Fonseca Júnior, no artigo Análise de Conteúdo (2012,
p. 280), acrescenta que “a formação do campo comunicacional não pode ser
compreendida sem se fazer a análise de conteúdo”.
Conforme Bardin (2011), o método possui três fases: a pré-análise; a
exploração do material; e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.
Os subtítulos abaixo aprofundarão cada uma das fases.
6.1.1 Pré-análise
A pré-análise é a fase da organização e planejamento do trabalho a ser
elaborado. Tem como objetivo esquematizar as ideias iniciais para o
desenvolvimento de um plano de análise.
Seguindo o conceito da autora, esta fase é contemplada por cinco atividades:
a primeira é o contato com os documentos a analisar. Bardin (2011) chama esta
atividade de leitura flutuante, que é o conhecimento prévio do material a ser
analisado.
A segunda é a escolha dos documentos que fornecem informações sobre o
problema levantado. Conforme a autora, com o universo já demarcado é necessário,
muitas vezes, proceder-se à constituição de um corpus. Bardin (2011, p. 126)
conceitua corpus como “o conjunto dos documentos tidos em conta para serem
submetidos aos procedimentos analíticos”. Para sua constituição, existem regras:
52
a) Regra da exaustividade: é preciso ter-se em conta todos os elementos do
corpus. Não se pode deixar de fora qualquer um dos elementos;
b) Regra da representatividade: a análise pode ser realizada com uma
amostra desde que o material seja qualificado para isso;
c) Regra da homogeneidade: os documentos retidos devem ser
homogêneos, não apresentando demasiada singularidade fora desses
critérios;
d) Regra da pertinência: os documentos retidos devem ser adequados.
A terceira atividade é a formulação das hipóteses e dos objetivos. Segundo
Bardin (2011), hipótese é uma afirmação provisória que iremos verificar e objetivo é
a finalidade geral da pesquisa. Conforme a autora, as hipóteses nem sempre são
formuladas na etapa da pré-análise.
A quarta atividade consiste na referenciação dos índices e a elaboração dos
indicadores. Se o texto contém índices, o trabalho preparatório se dará a partir
destes, em função das hipóteses, caso elas estejam determinadas.
A quinta e última atividade é a preparação do material. A autora afirma que
“antes da análise propriamente dita, o material reunido precisa ser preparado” (p.
130), ou seja, fazer recortes e separando por conteúdo. E com isso, segue para a
segunda fase, a exploração do material que será explanado no próximo subtítulo.
6.1.2 Exploração do material
A exploração do material é a fase da análise propriamente dita, onde
demanda um maior tempo. Conforme Bardin (2011, p. 131), a exploração é longa e
“consiste em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função
das regras previamente formuladas”.
A fase de codificação ou tratamento do material é onde ocorre a
transformação do texto bruto selecionado na pré-análise em uma representação do
conteúdo. E, a partir da codificação do material, começa a ser pensada e colocada
em prática a fase da categorização.
Segundo Bardin (2011, p.147), “categorização é uma operação de
classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação, em
53
seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente
definidos”.
A autora afirma que para classificar elementos em categorias é preciso
investigar o que cada um deles tem em comum com os outros, o que permite o
agrupamento. Bardin (2011, p. 148) enfatiza que “o processo classificatório possui
uma importância considerável em toda e qualquer atividade científica”.
Para uma boa categorização, os materiais devem possuir as seguintes
características, conforme Bardin (2011):
a) Exclusão mútua: cada elemento não pode existir em mais de uma divisão;
b) Homogeneidade: um único princípio de classificação deve governar a sua
organização;
c) Pertinência: uma categoria é considerada pertinente quando está
adaptada ao material de análise;
d) Objetividade e fidelidade: o organizador deve definir claramente onde se
encaixa cada elemento para determinar a entrada na categoria;
e) Produtividade: um conjunto de categorias é produtivo se fornece
resultados férteis.
Esta fase tem sua continuidade no tratamento dos resultados obtidos,
interferência e interpretação, que será ampliado no próximo subtítulo, em busca da
resposta da questão norteadora.
6.1.3 Tratamento dos resultados obtidos, inferência e interpretação
A terceira fase diz respeito ao tratamento dos resultados brutos, de maneira a
serem significativos e válidos. Bardin (2011, p.131) afirma que “tendo à sua
disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar
interpretações a propósito dos objetivos previstos”. Os resultados obtidos também
podem servir de base para outra análise, iniciando novamente todo o processo.
Para que isso ocorra, Bardin (2011) afirma que o analista pode se apoiar
nos elementos clássicos da comunicação: emissor, receptor e mensagem. O
emissor ou produtor da mensagem tem uma função importante e representativa na
comunicação. Já o receptor tem como finalidade agir ou adaptar-se de acordo com a
54
mensagem recebida. E por fim, a mensagem é o ponto de partida e o indicador sem
o qual a análise não seria possível.
As fases da Análise de Conteúdo são de grande relevância para desenvolver
um bom trabalho. E, para auxiliar neste processo, técnicas serão apresentadas nos
próximos subtítulos dando suporte para responder a questão norteadora e confirmar
ou não as hipóteses da pesquisa.
6.2 TÉCNICAS
Para auxiliar na aplicação do método, foram escolhidas três técnicas e
desenvolvidas ao longo do projeto: revisão bibliográfica, entrevista e observação.
6.2.1 Revisão bibliográfica
A revisão bibliográfica é de fundamental importância para um trabalho de
pesquisa, pois envolve toda a leitura examinada pelo aluno referente ao assunto
delimitado. Para Ida Stumpf, no artigo Pesquisa Bibliográfica (2012), essa técnica
consiste na identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente, para que
o estudante acrescente em suas ideias e opiniões o que os autores dizem sobre o
assunto.
Em um sentido mais restrito:
é um conjunto de procedimentos que visa identificar informações bibliográficas, selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e proceder a respectiva anotação ou fichamento das referências e dos dados dos documentos para que sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico (STUMPF, 2012, p. 51).
A pesquisa bibliográfica, segundo a autora, divide-se em quatro partes: a
primeira e a segunda respondem as perguntas por que e quando revisar a literatura.
A terceira e a quarta parte apresentam passos de como realizar a pesquisa e formas
de anotar as leituras feitas.
Segundo Stumpf (2012) é necessário revisar a literatura para estabelecer as
bases em que os alunos irão avançar e conhecer o que já existe. A autora salienta
que isso é fundamental para evitar “despender esforços em problemas cuja solução
já foi encontrada” (p. 52).
55
A consulta à bibliografia é uma atividade que acompanha o investigador e
orienta os passos que deve seguir. E, quando o trabalho estiver concluído, é preciso
disponibilizar os resultados alcançados. Stumpf (2012, p. 52) ressalta que o texto
divulgado vai se somar ao conjunto de literaturas já existentes, “permitindo que se
estabeleça o encontro entre a fonte geradora de conhecimento (autor) e aqueles que
desejam obtê-lo (usuários/leitores)”.
A revisão da literatura é uma atividade constante e, na medida que o indivíduo
vai lendo sobre o assunto, ele começa a identificar conceitos que se relacionam até
chegar ao problema que irá investigar. A autora completa que, de todas as leituras
realizadas, algumas ideias se manterão e outras serão descartadas
momentaneamente.
Depois de definido o problema, o indivíduo precisa aprofundar os conceitos e
suas relações. Conforme Stumpf (2012):
o material básico para isto já deve estar disponível, pois foi utilizado para elaborar o problema e justificar o tema proposto. Mas precisa ser ampliado através de uma boa estratégia de busca que recupere tanto textos de trabalhos teóricos quanto de outros estudos e pesquisas relacionados (STUMPF, 2012, p.53).
Este planejamento evitará perda de tempo e direcionará o estudo ao objetivo
proposto. Com a leitura dos textos, os conceitos serão contemplados e enriquecerão
a análise, “uma vez que nada substitui o conhecimento próprio, formado através de
leituras direcionadas que fez para a elaboração do trabalho” (STUMPF, 2012, p. 54).
A autora definiu um conjunto de procedimentos para identificar, selecionar,
localizar e obter documentos de interesse para a realização do trabalho acadêmico.
Cada etapa deve alcançar a seguinte finalidade:
a) Identificação do tema e assuntos: o aluno precisa definir o tema de estudo
com precisão. É necessário elaborar uma lista de palavras-chaves e
termos gerais e específicos relacionados ao assunto para realizar um
levantamento de fontes bibliográficas, pesquisar seus significados e
traduções;
b) Seleção das fontes: o produto desta identificação é uma lista, a mais
completa possível, de leituras representativas que irão servir de suporte
para a pesquisa. A primeira fonte que indicará a bibliografia adequada e o
56
material básico para a pesquisa é o orientador. Mas o aluno deve se
apropriar de fontes secundárias:
a) Bibliografias especializadas: publicações que contem a relação de
obras publicadas sobre determinado assunto, em um período
específico;
b) Índices com resumo: índice da literatura de artigos de periódicos,
contendo a referência e o resumo de cada item. Também chamado
de abstracts;
c) Portais: serviços e informações disponíveis em sites das instituições
mantenedoras;
d) Resumos de teses e dissertações: publicações que contém a
indicação do autor, título, orientador, ano e universidade;
e) Catálogos de bibliotecas: relação de obras de uma biblioteca, com
entradas por autor, título e assuntos;
f) Catálogos de editoras: publicações de editoras que se especializam
em publicar livros em determinadas áreas do conhecimento.
c) Localização e obtenção do material: o início da etapa de localização do
material se dá com a consulta à biblioteca local e, em seguida, a outras
fontes, como catálogos coletivos;
d) Leitura e transcrição dos dados: com a posse dos documentos, o
estudante faz a leitura dos mesmos. O resultado deve ser anotado para
fazer a referenciação;
e) Considerações finais: após o término da etapa, o aluno está prestes a
redigir seu trabalho.
Neste projeto, os temas que passaram por revisão bibliográfica resultaram em
quatro capítulos: Gêneros de programa de TV; A evolução da TV no Brasil;
Produção de conteúdo no telejornal; e Jornalismo internacional na Rede Globo de
Televisão.
Além da revisão bibliográfica, outra técnica importante é a observação, a qual
possibilita um envolvimento maior do pesquisador com a monografia e que será
detalhada no próximo subtítulo.
57
6.2.2 Observação
A observação é uma técnica que está evidente em todas as etapas da Análise
de Conteúdo, principalmente no tratamento dos resultados obtidos, interpretação e
inferências. De acordo com Antônio Carlos Gil, em seu livro Métodos e Técnicas de
Pesquisa Social (1999, p.110), “a observação nada mais é que o uso dos sentidos
com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano”. Como
ressalta o autor, a sua principal vantagem é que os fatos são percebidos
diretamente, sem qualquer intermediação.
A observação pode ser estruturada ou não estruturada. De acordo com o grau
de participação do observador, pode ser participante ou não participante. A partir
disso, Gil (1999) classifica a observação em:
a) Observação simples: o pesquisador permanece alheio a situação que
pretende observar. É um espectador, observa de maneira espontânea;
b) Observação participante: consiste na participação real do conhecimento. O
observador assume um papel de membro do grupo;
c) Observação sistemática: tem como objetivo a descrição precisa dos
fenômenos ou o teste de hipóteses.
A observação presente nessa pesquisa é a simples, pois foram observados
pela pesquisadora dois episódios exibidos no Jornal Nacional envolvendo a
cobertura de atentados terroristas no dia da ocorrência dos fatos.
6.2.2.1 Objeto de estudo
O Jornal Nacional é o principal telejornal da TV Globo. Com cerca de meia
hora de duração, o JN conquistou a preferência do público e se firmou como um dos
mais respeitáveis telejornais do país. Conforme informações do site Memória
Globo15 o telejornal é pautado pela credibilidade, isenção e ética em suas coberturas
jornalísticas nacionais e internacionais. O JN estreou em 1º de setembro de 1969 e
15 MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional. Disponível em:
<http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/telejornais/jornal-nacional.htm> Acesso em: 25 mar. 2017.
58
foi o ponto de partida de um projeto que pretendia transformar a Globo na primeira
rede de televisão do Brasil.
Conforme o site, o JN é transmitido de segunda a sábado e possui três
editorias: local, nacional e internacional, sendo que os assuntos têm que atrair a
atenção de todos os espectadores do Brasil inteiro. No início, as primeiras edições
duravam 15 minutos.
Em 1970, o JN contava com 150 profissionais, entre editores, locutores,
repórter e cinegrafistas, conforme o livro Memória Globo. A cobertura no exterior foi
fortalecida e a Globo passou a investir nos correspondentes internacionais. E assim
o JN evoluiu junto com as tecnologias, aperfeiçoando as reportagens com novos
equipamentos até a mudança de cenário, que acompanha a evolução tecnológica e
as tendências.
6.2.2.2 Corpus da pesquisa
Para desenvolver esta pesquisa, foram observadas duas edições do Jornal
Nacional para verificar como se deu a cobertura do atentado terrorista às Torres
Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, e ao jornal Charlie Hebdo, 7 de janeiro de
2015, no dia do acontecimento dos dois fatos.
6.2.2.2.1 Ataque às Torres Gêmeas
No dia 11 de setembro de 2001, as Torres Gêmeas do World Trade Center,
maior ícone da supremacia econômica norte-americana, localizadas em Manhattan,
Nova York, vieram abaixo depois de ser atingidas, cada uma, por um Boeing 767.
Conforme o site Memória Globo, a Rede Globo foi a primeira TV aberta
brasileira a mostrar um flash do atentado terrorista nos Estados Unidos da América:
às 9h52min – apenas sete minutos após o choque do primeiro avião na Torre Norte
– a emissora pôs no ar as primeiras imagens que chegavam da CNN. Na data, o
Jornal Nacional apresentou uma edição especial com uma hora de duração, e o
noticiário bateu o recorde de audiência daquele ano.
Ainda conforme o site, em Nova York os correspondentes Edney Silvestre,
Zileide Silva, Heloísa Villela e Jorge Pontual saíram em busca de imagens que as
redes de TV norte-americanas não mostravam. Foram entrevistadas pessoas nas
59
ruas que sobreviveram à tragédia, inclusive brasileiros que estavam em Nova York.
Durante o telejornal, Zileide Silva fez diversas entradas ao vivo, passando as últimas
informações.
Outros correspondentes também fizeram entradas ao vivo no JN falando dos
reflexos do ocorrido nas outras partes do mundo: em Londres, os repórteres Ernesto
Paglia e Marcos Losekan, e, no Líbano, o repórter Mounir Safatli.
De acordo com informações do Memória Globo, houve muito esforço
envolvido dos profissionais que trabalhavam no escritório da emissora em Nova
York. Os voos haviam sido todos suspensos, e as pontes de acesso à cidade
fechadas. O sistema de transportes entrou em colapso e não havia metrô, ônibus ou
mesmo táxis circulando em Manhattan, onde fica a sucursal da Globo. E, mesmo
assim, todas as informações foram ao ar.
O programa Jornal Nacional exibido em 11 de setembro de 2001 tem duração
de 57 minutos. Neste dia, foram 15 reportagens, sendo 13 sobre o ataque às Torres
Gêmeas, análise de especialistas sobre o fato e as consequências para o mundo
todo. O JN inicia com Willian Bonner e Fátima Bernardes na bancada introduzindo
as manchetes da edição, como será detalhado em forma de decupagem a seguir.
Jornal Nacional – Edição Atentado ao World Trade Center
11 de setembro de 2001 – 57’
ESCALADA
Fátima Bernardes (FB): Onze de setembro de dois mil e um.
Willian Bonner (WB): Uma terça-feira que vai marcar a história da humanidade.
Imagens de fumaça e pessoas correndo.
FB: A maior potência do planeta é alvejada pelo terror.
WB: World Trade Center, Nova York.
FB: No mais importante centro financeiro do mundo.
Imagens da torre após o ataque.
FB: Uma torre queima após ser atingida por um avião.
WB: Enquanto o incêndio avança no arranha-céu um segundo avião é jogado contra
a torre vizinha.
60
Imagens do avião atingindo a segunda torre. Som ambiente. Pessoas gritando
e torres pegando fogo.
FB: Em menos de duas horas dois dos prédios mais altos do mundo se desfazem
em uma montanha de poeira e fumaça.
Imagens dos prédios caindo.
WB: Na cidade sede do poder americano, outra aeronave despenca sobre o
Pentágono, o centro de inteligência militar.
Imagens do Pentágono com fogo e fumaça.
FB: E mais um boeing cai na Pensilvânia.
WB: O planeta em alerta geral.
FB: Chefes de estado condenam o banho de sangue.
WB: E reforçam a segurança nas fronteiras.
FB: Bolsas de valores e moedas internacionais estão abaladas pelos atentados.
WB: Nos territórios ocupados por Israel, palestinos comemoram a maior ofensiva
terrorista de todos os tempos.
FB: E na madrugada no mundo árabe, explosões. Mísseis riscam o céu de Cabul, a
capital do Afeganistão.
WB: O Jornal Nacional mostra a análise de especialistas sobre as consequências
dos ataques.
Imagens das Torres Gêmeas em meio a fumaça.
FB: O depoimento dos brasileiros que testemunharam a tragédia.
WB: O apoio oficial aos que estão nos Estados Unidos.
Imagens de pessoas caminhando e correndo em meio a poeira.
FB: O dia em que os americanos experimentaram o horror de uma grande guerra.
WB: O Jornal Nacional está começando agora.
VINHETA DE ABERTURA
FB: Boa noite. Eram oito horas e quarenta e cinco minutos da manhã em Nova York.
Nove e quarenta e cinco em Brasília. Um avião americano de passageiros batia em
cheio numa das Torres do World Trade Center. Um acidente tão inimaginável que
imediatamente chamou a atenção de todo o planeta. Mas não era acidente. Para a
perplexidade do mundo inteiro foram-se registrando acontecimentos que nenhum
61
roteirista de Hollywood imaginou. E era tudo real. Estava começando o maior
atentado terrorista de todos os tempos.
REPORTAGEM 1
Inicia reportagem com imagem das Torres Gêmeas pegando fogo e muita
fumaça. Sequência de imagens mais próximas descrevendo o que o repórter fala.
Edney Silvestre (ES): O edifício mais alto de Nova York em chamas. Angústias,
acenos, gritos de socorro nas janelas. O maior ataque terrorista da história da
humanidade começou com o choque de um avião sequestrado um pouco antes. As
imagens estavam sendo transmitidas pela TV ao vivo quando, dezoito minutos
depois, um outro avião se aproxima pela direita do quadro e bate na outra torre.
Imagens do choque da segunda torre em diversos ângulos com som
ambiente. Sirenes, gritos, correria.
Depoimento: São coisas horrível, horrível, horrível.
ES: Nas ruas próximas do atentado, correria.
Imagens de pessoas correndo, gritando, chorando. Policiais nas ruas pedindo
para as pessoas se afastarem do local, buzinas.
ES: Lágrimas.
Depoimento (traduzido pelo repórter): As pessoas estão pulando das janelas, ela
diz.
Novamente imagens das Torres com pessoas se jogando.
ES: Aumenta o desespero. A todo o momento alguém se jogava lá de cima.
Imagens mais distantes.
ES: Os dois aviões que se chocaram contra o World Trade Center tinham sido
sequestrados. As Torres construídas para resistir até um choque de um boing 727,
tinham sido atingidas por dois aviões maiores. Jatos 767 sequestrados em Boston.
Os dois aviões levavam passageiros.
Imagens do presidente dos Estados Unidos se pronunciando.
ES: O presidente dos Estados Unidos, George Bush, confirma: foi um atentado
terrorista.
ES: A brasileira Bruna Paixão trabalha em um restaurante que fica perto do World
Trade Center.
62
Bruna Paixão: [...] elas entravam no restaurante, pediam pra usa o telefone porque
elas não conseguiam usar o telefone público e iam ao banheiro vomitar. Era um
desespero. Muita gente machucada chegou no restaurante também, muita gente
nervosa, chorando, foi um caos. Nunca vi uma coisa como essa, foi um caos.
ES - Passagem (imagem do repórter com as Torres Gêmeas ao fundo): Toda a
área próxima ao atentado ficou fechada. Lá onde estavam os prédios do World
Trade Center, só fumaça. Os dois edifícios de cento e dez andares vieram abaixo
após as explosões.
Imagens das Torres.
ES: A primeira torre a cair foi a do norte.
Imagem da torre caindo com som ambiente. Sirenes.
ES: Pouco depois, as dez e vinte e cinco da manhã, os andares superiores da
segunda torre começam a ceder, e vem abaixo.
Continua imagens da queda, com som ambiente. Muita fumaça, pessoas
correndo com a cara empoeirada.
ES: O capelão brasileiro, Élio dos Anjos, foi ajudar as vítimas.
Élio dos Anjos: [...] bombeiros, e tinha pessoas em choque. Eu comecei a ficar
muito nervoso porque começou a vim muita fumaça e a gente não sabia se subia,
pegava o elevador, se descia. Os bombeiros “calma, calma”. Olha, foi terrível.
Imagens das ambulâncias, polícias, ruas.
ES: As ambulâncias, ainda cobertas de pó, não param. Polícias, bombeiros e
equipes de socorro aumentam a cada momento.
Retorna as imagens das Torres.
ES: As fundações das Torres são de aços. O engenheiro brasileiro Carlos Levi, diz
que é improvável que apenas o choque dos aviões pudesse levar os prédios abaixo.
Carlos Levi: Fica difícil acreditar que apenas o choque dos aviões e as explosões
causassem o desabamento dos prédios de uma maneira tão rápida. As próprias
imagens assustam com a velocidade que ocorreu.
Imagens do desabamento com som ambiente de gritos.
ES: Há suspeita que o prédio tenha sido implodido pelos terroristas.
Imagens do desabamento com som ambiente de gritos.
ES: Alguns especialistas acham que o World Trade Center acabou ruindo por uma
combinação de fatores: o choque do avião, as explosões que se seguiram, mais o
fogo enfraqueceram as estruturas dos andares superiores, e o peso deles ao cair
63
levou o resto. O ataque ao World Trade Center é o maior já ocorrido em solo
americano desde que os japoneses bombardearam Pearl Harbor. Lá foram mortos
dois mil, duzentos e oitenta soldados e sessenta e oito civis. Foi o que levou os
Estados Unidos a entrar na Segunda Guerra Mundial.
VOLTA PARA BANCADA
WB: Com cento e dez andares e quatrocentos e dezessete metros de altura, as
Torres Gêmeas do World Trade Center eram os prédios mais altos de Nova York.
NOTA COBERTA – fala do apresentador do telejornal com imagens ilustrativas
sobre o acontecimento
Imagens do World Trade Center ilustram a fala de Willian Bonner.
WB: Os edifícios abrigavam lojas e escritórios de quatrocentas e trinta empresas
onde trabalhavam cinquenta mil pessoas. Começou a ser construído em 1970 numa
tentativa do governo do estado de Nova York de revitalizar a sul da ilha de
Manhattan. Desde então o prédio, o quinto mais alto do mundo e o segundo dos
Estados Unidos, virou ponto turístico. Dos dois terraços do edifício era possível ver a
Estátua da Liberdade ao sul, o bairro do Brooklyn a leste e a cidade de Nova Jersey
a oeste. Em fevereiro de noventa e três, o World Trade Center foi alvo de um ataque
à bomba que matou seis pessoas e deixou mais de mil feridos. A responsabilidade
pelo atentado, há oito anos, foi assumida pelo terrorista mais procurado do mundo:
Osama Bin Laden.
VOLTA PARA BANCADA
FB: Além da destruição em Nova York, o terror atacou o símbolo do poder militar
dos Estados Unidos: o Pentágono.
REPORTAGEM 2
Imagens do Pentágono ilustrando fala do repórter.
64
Luiz Fernando Silva Pinto (LP): Exatos quarenta minutos após o segundo avião
atingir o World Trade Center em Nova York, os militares que trabalhavam na face
oeste do Pentágono tiveram durante breves momentos uma visão de pesadelo. Um
Boing 757 da companhia aérea United mergulhando diretamente contra o prédio. O
impacto abriu uma cratera numa das faces dessa construção imensa, que é na
verdade, um sanduíche de cinco edifícios, um dentro do outro. Todos com seis
andares de altura. Das dezenas de portas do Pentágono, milhares de funcionários
foram retirados às pressas.
LP - Passagem: Não só a violência do ataque, à tragédia que ele provoca, assusta
os americanos. A simbologia é muito forte também. O coração das forças armadas
foi atingido. A capital desse país é muito mais vulnerável do que os cidadãos podiam
imaginar.
Imagens que ilustram a fala do repórter.
LP: Os que trabalham em Washington e moram fora da cidade, nos subúrbios,
saíram dos escritórios ouvindo informações de que uma outra explosão teria
acontecido ao lado do Departamento de Estado, e outra ainda, próximo ao Capitólio.
O clima na capital da maior potência do mundo era de medo e incerteza. A
possibilidade de novos ataques estava na mente de todos. Em pouco tempo
Washington praticamente parou. Todo o pessoal foi retirado da Casa Branca e do
Congresso. Funcionários federais foram dispensados em toda a cidade.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Este rapaz está surpreso. Diz que esperava
que o Pentágono fosse mais seguro.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Os terroristas estão enganados em achar
que conseguiram o objetivo deles. Vão ser condenados por noventa e nove por
cento da população do mundo, ele diz.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Esse outro, diz que deve ter retribuição. É
um crime. Tem que haver justiça.
Imagens do Pentágono após queda do avião.
LP: Um estado de alerta nas forças armadas americanas foi acionado logo depois
do atentado contra o Pentágono. Dois porta-aviões nucleares e vários cruzadores
foram dirigidos para a defesa dos litorais do país.
Imagens do pronunciamento do vice-almirante Steven Petropoulus.
LP: A explicação do vice-almirante Steven Petropoulus:
65
Steve Petropoulus (traduzido): Essa tarde foi curta. Nós estamos ainda sob
ataque.
Imagens Pentágono.
LP: Até agora o Pentágono não está divulgando a lista dos funcionários atingidos no
atentado. Sabe-se que trinta e cinco pessoas estão feridas e não há informações
sobre mortes.
VOLTA PARA BANCADA
WB: A sequência dos acontecimentos levou o governo americano a acionar o plano
de emergência. Nunca na história tantos aviões foram sequestrados ao mesmo
tempo.
REPORTAGEM 3
Depoimento (traduzido pela repórter): Esta americana, uma nova-iorquina, ela
conseguiu explicar como os americanos estão se sentindo hoje. É horrível, eu não
podia imaginar que isso poderia acontecer. Que somos tão vulneráveis assim.
Imagens dos destroços e aviões.
Zileide Silva (ZS): Os Estados Unidos, o país mais poderoso, o mais rico do mundo.
Teve um momento hoje em que o Departamento de Aviação americano perdeu o
contato. Não sabiam onde estavam oito aviões.
Gráficos indicando a fala da repórter.
ZS: Quatro tinham sido sequestrados. Dois dá American Airlines. O que se chocou
com a primeira torre ia de Boston para Los Angeles. O outro que atingiu o
Pentágono, ia de Washington também para Los Angeles. Segundo a empresa, os
dois aviões levavam 158 passageiros e 17 tripulantes. Os outros dois aviões eram
da United Airlines. O que atingiu a segunda torre fazia a rota Boston – Los Angeles.
Com nove tripulantes e 56 passageiros. E o que caiu na Pensilvânia. Um avião com
38 passageiros e sete tripulantes. Uma das passageiras desse avião com um celular
conseguiu avisar ao marido “Estamos sendo sequestrados. Os sequestradores estão
com facas ou punhais”.
Novamente imagens das Torres após queda.
66
ZS: A United não informou se o avião caiu antes de atingir algum alvo terrorista ou
se por uma outra razão. Todos os passageiros e tripulantes desses quatro aviões,
285 pessoas, morreram.
Imagens das Torres quando foram recém atingidas e de aeroportos.
ZS: Logo após o primeiro choque, na torre do World Trade Center, o plano de
emergência dos Estados Unidos contra ataques terroristas foi acionado e, pela
primeira vez na história americana, essa imagem, aeroportos super movimentados,
não foi vista. Todos os aeroportos do país foram fechados para pousos e
decolagens. Quarenta mil voos foram cancelados. Os outros, transferidos para o
Canadá. O Departamento de Aviação Civil informou que eles só voltam a funcionar,
talvez, a partir de amanhã, ao meio dia.
Imagens fronteira com o México.
ZS: A fronteira com o México foi e continua fechada. E alvos em potencial, prédios,
monumentos, pontes, túneis, tudo que poderia ser atingido por outros atentados
foram isolados ou desocupados, inclusive o prédio das Nações Unidas, em Nova
York.
Imagens da Nasa e segue com imagens descrevendo fala da repórter.
ZS: Na Flórida, a Nasa, Agência Espacial Americana, entrou em estado de
emergência máxima. A Disney fechou os parques na Flórida. Em Seattle, os
principais pontos turísticos da cidade, essa torre foi fechada (imagem da torre). Eram
os Estados Unidos tentando se proteger.
VOLTA PARA BANCADA
FB: Na história recente, os americanos sofreram diversas ações terroristas, nem
todas promovidas por estrangeiros. Mas o maior de todos os suspeitos é árabe.
REPORTAGEM 4
Inicia reportagem com imagem de Osama Bin Laden.
Heloísa Villela (HV): O primeiro nome da lista de suspeitos é o saudita Osama Bin
Laden, considerado o inimigo número um dos Estados Unidos. Ele vive no
Afeganistão, protegido pelo governo Talibã. Em 1998, Bin Laden teria financiado os
atentados às embaixadas americanas na África. Foram duas embaixadas, do
67
Quênia e da Tanzânia, ao mesmo tempo. 224 pessoas morreram. Quatro terroristas
ligados a Osama Bin Laden foram julgados e condenados à prisão perpetua nos
Estados Unidos. Há menos de três semanas, Bin Laden teria ameaçado a organizar
um atentado como o de hoje. Uma fonte do FBI disse à rede de televisão NBC, que
Osama Bin Laden deve estar por trás dos ataques. Ele é suspeito de outros ataques:
às bases militares americanas na Arábia Saudita em noventa e cinco e noventa e
seis e ao Destroyer USS Cole, no Lêmen, o ano passado. Há anos o governo
americano pede a extradição de Bin Laden, mas o Afeganistão nega o pedido. Bush
já tinha avisado: vai responsabilizar o Afeganistão por qualquer ataque de Bin
Laden.
HV – passagem: As autoridades americanas estão evitando falar em suspeitos. O
último atentado que os Estados Unidos sofreram em território americano aconteceu
em 1995 em Oklahoma.
Imagens do atentado em Oklahoma.
HV: O carro bomba que destruiu o edifício do governo federal matou 168 pessoas.
Os americanos logo suspeitaram de extremistas árabes. Depois, o FBI pegou o
verdadeiro culpado, um americano, Timotthy MCVeigh, que foi executado em junho
deste ano.
Imagens Colin Powell.
HV: Na hora em que aviões explodiam em prédios americanos, o secretário de
Estado, Colin Powell, estava no Peru. Ele interrompeu a visita oficial para voltar aos
Estados Unidos.
Imagens general da Guerra do Golfo.
HV: Antes de embarcar, o general da Guerra do Golfo mandou um recado aos
terroristas.
General (traduzido pelo repórter): Eles podem destruir edifícios e matar pessoas,
mas nunca matarão a democracia.
VOLTA PARA BANCADA
WB: Durante a madrugada no Oriente, a capital do Afeganistão começou a ser
bombardeada.
68
NOTA COBERTA
Imagens da TV CNN.
WB: As imagens da rede CNN mostram mísseis e armas antiaéreas em ação nos
arredores de Cabul. As explosões começaram por volta das seis e meia da tarde,
horário de Brasília. Assessores da presidência dos Estados Unidos disseram que
não houve ataques americanos no Afeganistão e levantaram a hipótese que o
bombardeio tenha sido obra da oposição do governo Talibã.
VOLTA PARA BANCADA
FB: Vamos agora ao vivo a Nova York. A repórter Zileide Silva tem novas
informações.
AO VIVO
ZS: Fátima, essa informação que os Estados Unidos não têm nada a ver com os
ataques a Cabul foi confirmada agora a pouco pelo secretário de Defesa americano.
E aqui em Nova York um terceiro prédio, que ficava ao lado das Torres Gêmeas,
caiu também. Foi no finalzinho da tarde. (Imagens do prédio) Ele tinha 47 andares.
Esse prédio, as Torres e outros cinco edifícios formavam o principal complexo
econômico aqui de Nova York. (Volta Zileide ao vivo) Agora, sete e meia da noite,
aqui em Nova York, oito e meia aí no Brasil, um exército de 10 mil pessoas está no
local vasculhando os escombros em busca de vítimas e sobreviventes. Segundo o
prefeito de Nova York, pelo menos duas mil e cem pessoas ficaram feridas só aqui
em Nova York. Seiscentas foram hospitalizadas.
Imagens de Nova York
ZS: Quase doze horas após o atentado, é impossível saber quantas pessoas
morreram. Mas pelo menos, como vinte mil estavam nos prédios, ou próximas a
eles, durante os atentados, o número de mortes pode chegar a dezenas de milhares.
Bonner.
VOLTA PARA BANCADA
69
WB: Em instantes, o país que se preparava para a Guerra nas Estrelas é vítima de
seus aviões de passageiros.
FB: E o atendimento aos feridos em uma cidade paralisada pelo terror.
INTERVALO
SEGUNDO BLOCO
WB: O presidente americano George Bush estava fora de Washington quando
aconteceram os ataques.
REPORTAGEM 5
Inicia reportagem com imagens do presidente no Congresso recebendo a
notícia do atentado no ouvido.
Repórter: Quando os ataques começaram, o presidente Bush participava de um
congresso sobre educação, na Flórida. Foi na sala de aula que ele recebeu a
notícia.
Bush em pronunciamento e embarcando em avião.
Repórter: Bush pediu orações e um minuto de silêncio. Depois, anunciou que
estava voltando a Washington. Mais tarde, Bush apareceu num local mais distante
da capital ainda. Na base aérea do estado de Louisiana.
Pronunciamento Bush.
George Bush (traduzido pelo repórter): Bush disse que a liberdade foi atacada por
covardes sem fé e que ela seria defendida. O presidente prometeu cassar e punir os
responsáveis. Disse que está fazendo tudo o que é necessário para proteger a
população.
Repórter: Há oito meses no poder, Bush enfrenta a primeira grande prova: o maior
ataque terrorista já realizado em território americano. Ele disse que as forças do país
estão sendo testadas, e que vão passar no teste. A primeira dama, Laura Bush, faria
um pronunciamento no Senado sobre educação. Ao lado do senador, Edward
Kennedy, Laura garantiu que as crianças do país estão protegidas.
Imagem Laura Bush se pronunciando.
70
Passagem: A primeira-dama e as filhas foram levadas para um lugar não revelado.
George Bush deixou a base aérea de Louisiana e foi pra outra base aérea, no
estado de Nebraska, no centro dos Estados Unidos, bem longe de Washington, mas
já voltou a capital. A Casa Branca anunciou que ele fará um pronunciamento, logo
mais, às nove horas. Dez da noite, em Brasília.
VOLTA PARA BANCADA
FB: Os ataques terroristas surpreenderam também por derrubarem o que parecia
uma verdade incontestável. Até hoje, o mundo considerava o sistema de segurança
americano praticamente inviolável.
NOTA COBERTA
Inicia nota coberta com pronunciamento de Bush.
FB: Os inimigos mudaram. Foi com esta frase que o presidente George Bush
anunciou o início de um novo projeto antimísseis americano, em maio deste ano.
Imagens com gráficos.
FB: Depois da Guerra Fria, o inimigo não era mais a Rússia. O terror poderia atacar
do Irã, do Iraque, da Coréia do Norte. O sistema de 60 bilhões de dólares vai criar
armas capazes de derrubar mísseis inimigos logo após o lançamento.
Imagem do segundo avião batendo na torre.
FB: Só que o ataque não veio do espaço. Foi despachado por aviões civis e
americanos.
Depoimento: Significa que nenhum sistema de segurança mais perfeito é infalível. E
o terrorismo é exatamente isso. É surpresa.
Depoimento: Agora sim é que a gente vai poder dizer que isso era previsível. Mas
até aí nunca ninguém imaginou que iam se encontrar piloto de avião a jatos
disponíveis a se suicidar, atacando um prédio. Quer dizer, era impossível prevê isso.
Imagens de avião decolando.
FB: Todos os dias mais de 20 mil aviões decolam e pousam nos Estados Unidos. A
questão agora é saber como foi possível levar um boeing ao Pentágono sem que ele
fosse interceptado muito antes de atingir um alvo tão estratégico.
71
VOLTA PARA BANCADA
WB: Com a população em pânico e os transportes interrompidos, Nova York parou.
REPORTAGEM 6
Imagens de rodovias e ao fundo a fumaça das Torres Gêmeas.
Jorge Pontual (JP): O clima em toda cidade era de guerra. Mesmo em lugares que
só se via de longe a fumaça do incêndio.
Imagens do FBI nas ruas, carros de polícia. Som ambiente. Sirenes. Imagens
de pânico e pessoas gritando (mesmas imagens de reportagens anteriores).
JP: Todos os túneis e pontes que levam pra ilha de Manhattan foram fechados.
Imagens de policias nas ruas (mesmas imagens de reportagens anteriores).
JP: As bolsas e os bancos não chegaram a abrir. As escolas ficaram com as
crianças, porque os pais não puderam buscá-las. Só as ambulâncias circulavam,
levando feridos pra todos os hospitais da cidade.
JP - Passagem (ao fundo a Times Square): Times Square, o coração de Nova
York, parou. As pessoas andam de um lado pra outro na rua em estado de choque.
Depoimento (traduzido pelo repórter): É uma guerra. É como Pearl Harbor,
quando o Japão nos atacou de surpresa.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Esta não quer revide. Destruíram a minha
casa, ela disse. O símbolo da minha cidade. Mas a América tem que responder com
amor.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Nova York vai dar a volta por cima, disse o
policial. Nós sempre levantamos a cabeça.
Imagens que ilustram fala do repórter.
JP: Os nova-iorquinos demostraram solidariedade fazendo fila na porta dos bancos
de sangue. Sem metrô nem ônibus, o jeito foi voltar a pé pra casa. Ou sentar na
calçada pra ver no telão as notícias da tragédia.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Esta se desesperou. Quero ir pra casa. Era
tudo que ela conseguia dizer.
JP: Muitos eram sobreviventes que andaram mais de sessenta quarteirões ainda
surpresos por estarem vivos.
72
Depoimento (traduzido pelo repórter): Nós estávamos sendo retirados do
segundo prédio quando o avião caiu. Tudo tremeu. Parecia um terremoto. Meus
amigos que estavam nos andares de cima devem ter tido uma morte horrível. Muitos
pularam lá do alto.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Este estava ao lado do primeiro prédio
quando ele desabou. Ainda levava poeira nos sapatos. Sai correndo a toda. A
nuvem dos escombros atrás. Muita gente caiu e morreu sob os destroços.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Este ficou encurralado entre o rio e o
incêndio. Só escapei de morrer asfixiado porque alguém me deu uma toalha
molhada.
JP: John Muzel trabalha em Wall Street e viu de perto o que aconteceu.
John Muzel: Não havia visibilidade nenhuma e não havia forma de respirar fora dos
prédios. E o pessoal ia correndo pra Wall Street com uma parede de fumaça e
neblina atrás. Todos cobrindo suas caras com lenços com água indo em direção ao
oposto do World Trade Center. Então todo mundo foi pra parte leste da cidade para
poder subir andando.
Imagens de fumaça.
JP: O prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, estava em um prédio ao lado do
World Trade Center. Chegou a ficar preso nos escombros, mas conseguiu sair pelo
subsolo.
Rudolph Giuliani (traduzido pelo repórter): Nova York e a América, disse Giuliani,
são mais fortes que esses bárbaros terroristas. A democracia vai prevalecer.
VOLTA PARA BANCADA
FB: No Brasil, trinta voos para os Estados Unidos foram cancelados. Dois aviões
que já estavam lá tiveram que voltar.
REPORTAGEM 7
Imagens aeroportos.
Flávio Fachel (FF): Pouco depois do atentado, o painel do aeroporto informava:
todos os voos previstos para os Estados Unidos foram cancelados. Aviões que já
estavam no ar receberam ordens de interromper a viagem.
73
Piloto: A companhia me informou que era pra retornar devido a um ataque terrorista
e que não ia conseguir pousar lá.
FF: Os passageiros desse voo da TAM que ia de São Paulo para Miami, ficaram
assustados.
Passageiro: A tripulação ajudou a gente se acalmar e tudo. A gente não sabia o que
estava acontecendo, entendeu. Só viu o avião voltando e depois que o comandante
informou pra gente.
Passageira: Estou nervosa porque eu tenho minha filha lá com meus netos e meu
genro. Eu ia visitá-los.
Imagem avião.
FF: Outro voo da TAM que ia de Brasília para Miami, fez escala em Manaus, e não
seguiu viagem. Por telefone as pessoas tentavam saber notícias de Nova York. Dois
aviões da Varig que saíram de São Paulo foram desviados para duas cidades no
México. Por precaução, a United Airlines decidiu interromper vários voos, inclusive o
deste grupo que saiu de Boston ontem à noite, mesma cidade que um dos aviões foi
sequestrado. Os passageiros foram obrigados a trocar de companhia em São Paulo
para conseguir chegar ao Rio de Janeiro.
Depoimento: Eu fiquei horrorizada porque podia ter sido comigo. Questão de horas.
Depoimento: Eu entrei em pânico e pensei logo na terceira guerra mundial.
FF: Esta estudante esperava a chegada da mãe que vinha de Nova York. Quando
soube que vários aviões foram sequestrados, entrou em pânico.
Depoimento: O cara falou que cinco estavam sumidos, que não tinha informação.
Eu comecei a chorar. Eu falei: putz minha mãe que tava vindo de lá. Só o
desespero, não pensei mais em nada.
FF – Passagem (aeroporto): Nos aeroportos pouca informação. Durante o dia nem
a Infraero, nem as companhias aéreas sabiam dizer o que vai acontecer com os
voos entre Brasil e Estados Unidos previstos para os próximos dias.
Imagens aeroportos.
FF: A segurança dos aeroportos do país foi reforçada. Em Salvador, facas e
tesouras identificadas pelo raio-x foram retiradas das bagagens. Em Belo Horizonte,
até veículos foram revistados. A tragédia fez muita gente mudar os planos no balcão
do aeroporto. Este grupo cancelou uma viagem para a Europa.
Depoimento: Nós estamos muito preocupados com essa evolução do que houve lá
nos Estados Unidos.
74
Depoimento: A situação está muito perigosa, né. Muito difícil, os aviões estão sendo
sequestrados. Prefiro voltar pra casa.
VOLTA PARA BANCADA
WB: E voltamos ao vivo aos Estados Unidos. Zileide, qual é a situação de momento
aí em Nova York?
AO VIVO
ZS: Bonner, Manhatan começa a tentar voltar ao normal. Hoje cedo as
comunicações aqui na cidade praticamente pararam. Os celulares não funcionavam.
Completar uma ligação pra outro país era praticamente impossível. Uma situação
difícil, mas é o que está previsto, e deve acontecer quando um plano de emergência
é acionado. Agora a situação é um pouco mais normal. Algumas linhas do metrô já
estão funcionando. Túneis e pontes já foram liberados, mas apenas para quem quer
deixar a cidade. E o prefeito de Nova York fez um apelo: pediu para que as pessoas
não venham para Nova York amanhã, já que as investigações continuam. As
escolas públicas e as escolas católicas não vão ter aulas amanhã. Fátima.
VOLTA PARA BANCADA
FB: Em instantes, especialistas analisam as consequências do terror para o futuro
do planeta.
WB: E os territórios ocupados por Israel: palestinos comemoram o banho de
sangue.
INTERVALO
TERCEIRO BLOCO
FB: A menos de uma semana os Estados Unidos se retiraram da conferência da
ONU sobre racismo e xenofobia na África do Sul. Foi um protesto contra a decisão
75
de se classificar Israel como um país racista. Posições como estas alimentaram ao
longo dos anos o ódio de extremistas muçulmanos.
REPORTAGEM 8
Inicia reportagem com imagens de comemoração no Oriente Médio.
Ernesto Paglia (EP): Terror na América, festa no Oriente Médio. Nas ruas do
território palestino ocupado por Israel, os americanos são vistos como amigos do
inimigo israelense, portanto inimigos que merecem o pior. Alá é maior, grita esse
grupo. Pra exibir felicidade o dono da loja distribui doces. Há muita gente disposta a
festejar a desgraça alheia diante das câmeras internacionais. Mas os líderes do
mundo islâmico querem se distanciar do terror.
Imagens do embaixador talibã.
EP: O embaixador do regime talibã afegão, o mais radical entre os governos
islâmicos, condenou o ataque.
Imagem do palestino Yasser Arafat
EP: Com um ar grave, preocupado, o palestino Yasser Arafat oferece os pêsames
ao presidente Bush e ao povo americano.
Yasser Arafat (traduzido pelo repórter): É um ataque terrível, diz ele. Estou
completamente chocado. É inacreditável.
EP: A rápida condenação revela o medo que toma conta do mundo árabe e
muçulmano. Confirma do Oriente Médio, o jornalista Mounir Safatli.
Mounir Safatli (por telefone): Líbano, Síria, Jordânia, Irã, Iraque e Líbia. Esses seis
países colocaram suas forças armadas em estado de alerta máximo a um temor
generalizado sobre qual será a reação americana diante das acusações de que
extremistas muçulmanos estariam por trás dos atentados nos Estados Unidos. As
facções palestinas tidas como suspeitas também estão em alerta nos
acampamentos de refugiados na Jordânia, Síria e Líbano. Em quase todos os
países árabes favoráveis à causa palestina o clima é de tensão. Todos estão
preocupados com a reação que já começou vinda do ocidente. Aqui no Líbano, por
exemplo, cinco companhias aéreas internacionais suspenderam seus voos para
Beirute, apesar do primeiro ministro libanês Rafic Hariri se apressar em lamentar os
atentados e encaminhar condolências ao povo americano, no sinal de que o Líbano
nada tem a ver com o que aconteceu nos Estados Unidos.
76
Imagens dos campos de refugiados.
EP: A festa nos campos de refugiados palestinos é inflamada por quase um ano de
confrontos diários com a força de ocupação israelense. Mas a maioria dos
habitantes do mundo árabe, que nada tem a ver com o terror, vai dormir hoje com
medo de uma retaliação americana.
EP – Passagem (Rua da Europa): Mas, quem teme sofrer o maior prejuízo de
todos é a imensa e pacífica comunidade muçulmana que vive aqui na Europa.
Imagem especialista.
EP: Preocupado com uma onda de preconceito anti-árabe, o especialista britânico
alerta.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Radicais islamistas não podem ser
confundidos com a imensa população muçulmana que trabalha e respeita as leis
pelo mundo a fora.
VOLTA PARA BANCADA
FB: O primeiro ministro Israelense, Ariel Sharon, decretou luto no país. As fronteiras
com o Egito e a Jordânia foram fechadas como medida de segurança. E o ministro
da Defesa cancelou uma viagem que faria nos próximos dias aos Estados Unidos.
WB: Aqui no Brasil, lideranças islâmicas e judaicas condenaram o atentado e
fizeram um apelo a favor da paz.
REPORTAGEM 9
Inicia reportagem com imagens que norteiam a fala do repórter.
Alberto Garpar (AG): Na mesquita do bairro paulistano do Cambuci, uma oração
pela paz citando o alcorão, livro sagrado do islamismo.
Depoimento: Se nós matar uma pessoa é como tivesse matado toda a humanidade.
Então nós deploramos este ato criminoso.
AG – Passagem (mesquita): Ofensa à religião, atentados como os de hoje nos
Estados Unidos são condenados também por entidades muçulmanas de caráter
mais político que atuam em São Paulo.
Imagens de um militante palestino em sua casa.
77
AG: Abaixo a ocupação. A frase cobre as paredes da casa onde encontramos um
militante palestino. Ao lado dele, um judeu. Juntos eles lideram uma entidade que
prega a paz entre os dois povos. Pra eles, o fato da maior potência do planeta não
ter conseguido se defender do ataque de hoje mostra que a força não vai garantir a
segurança mundial.
Judeu: Nós podemos tentar acabar com o terrorismo pela força ou podemos acabar
com o terrorismo pela paz.
Militante palestino: Por que não é possível que o mundo, que a ONU, que os
governos mundiais, deixem isso acontecer mais uma vez.
AG: No Rio, este representante da juventude islâmica tem medo que o atentado
estimule o preconceito contra os muçulmanos.
Representante da juventude islâmica: Que se apure o atentado. Que se veja
realmente quem fez isso e que se condene quem praticou isso. Não as demais
pessoas. Generalizar isso é uma injustiça.
Depoimento: As boas relações entre a comunidade judaica e a comunidade
muçulmana no Brasil vão continuar sendo relações de respeito mútuo e cordialidade.
Não vamos importar terror para o Brasil.
VOLTA PARA BANCADA
FB: Na Grã Bretanha, faltavam quinze minutos para as duas horas da tarde quando
o primeiro avião se chocou com a uma das Torres do World Trade Center. A partir
daquele momento não só o país como toda a Europa parou, atônita, para saber o
que estava acontecendo.
REPORTAGEM 10
Imagens das ruas de Londres que ilustram fala do repórter.
Marcos Losekann (ML): A tradicional pontualidade britânica hoje não funcionou. O
país parou diante da TV pra assistir as notícias que chegavam ao vivo dos Estados
Unidos. Do centro de Londres ninguém esperou até às cinco da tarde para sair do
trabalho. Lojas, bares e principalmente prédios públicos foram esvaziados. A bolsa
de valores fechou o pregão duas horas antes do horário normal. As linhas de metrô
chegaram a ser interrompidas. Todos os voos sobre a capital da Grã Bretanha foram
78
proibidos e os voos para os Estados Unidos suspensos. O Canary Wharf, prédio
mais alto de Londres, também ficou vazio.
ML - Passagem (Londres): Esse clima tenso entre os britânicos encontra uma
explicação principalmente no campo da diplomacia. A Grã-Bretanha é a principal
aliada dos Estados Unidos, costuma apoiar o governo americano em todas as
decisões políticas. Hoje, essa amizade histórica deixou os cidadãos daqui com a
sensação de que Londres poderia ser o próximo alvo.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Estou com muito medo, diz a moça.
Também tenho pena das pessoas inocentes que morreram.
Depoimento (traduzido pelo repórter): Este homem se diz apavorado. Meu receio
é de que isso provoque a terceira guerra mundial.
Imagens Ministro Britânico Tony Blair.
ML: O primeiro ministro britânico, Tony Blair, cancelou uma reunião ministerial pra
fazer um pronunciamento.
Tony Blair (traduzido pelo repórter): Estamos solidários com o povo americano. O
mundo precisa se unir para erradicar o terrorismo.
Imagens das manifestações.
ML: De toda a Europa partiram manifestações no mesmo sentido. O presidente da
França, Jacques Chirac, chamou de monstruoso o que aconteceu na América. O
presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que foi uma tragédia terrível e convocou
uma reunião ministerial pra discutir a segurança. O chanceler federal alemão,
Gerhard Schröder, classificou o ato terrorista de abominável. E o secretário geral da
OTAN, George Robertson, conclamou o mundo a formar uma frente comum para
combater o terrorismo. A União Europeia já convocou uma reunião de emergência
pra discutir um plano de ação. Todas as embaixadas americanas na Europa e na
Ásia tiveram a segurança reforçada. Em Londres, diante das barreiras de
isolamento, foram deixados buquês de flores, homenagens às vítimas da violência,
que hoje abalou o mundo.
VOLTA PARA BANCADA
WB: Os analistas políticos são unanimes em dizer que o mundo será outro depois
desta terça-feira. O ministro das relações exteriores do Brasil, Celso Lafer, disse que
a situação é de gravidade única, e de consequência ainda imprevisíveis.
79
Celso Lafer: É um episódio decisivo. Ele muda o funcionamento do sistema
internacional. Ele coloca as sombras da incompreensão no centro da vida mundial.
Isto terá um efeito grande sobre tudo e sobre todos e mudará a maneira pela qual
conduzimos a ação diplomática. Este evento é mais sério do que qualquer outro nos
últimos tempos, e ele tem um alcance maior do que foi o fim da Guerra Fria e a
queda do muro de Berlim.
Depoimento: Eu acho que os países europeus, os outros blocos do mundo, quer
dizer, América Latina, as várias organizações dos estados americanos, eles têm que
tomar um papel mais ativo no mundo. Ou seja, o mundo deve ter uma
descentralização de poder. Essa é uma questão que pode ser feita até a médio
prazo. A curto prazo os Estados Unidos vão mudar completamente seu sistema de
vigilância interna.
Depoimento: Eu acho que haverá, pelo menos, três respostas. Uma resposta militar
muito forte contra algum país. Eles vão tentar escolher, se não conseguirem
descobrir quem foi, vão tentar escolher um dos países e os dois candidatos sérios a
tomarem um ataque maciço que oxalá não seja nuclear, são Iraque e Afeganistão. A
segunda resposta é uma resposta que vai obrigar o presidente Bush a sair do
relacionismo e, a partir de um relacionamento internacional com seus aliados, com
os países democráticos, ter uma política mais forte contra o terrorismo. E uma
terceira reação, fundamental, é o problema do Oriente Médio. O presidente Clinton
tentou fazer a paz, o presidente Bush esqueceu o Oriente Médio. Vai ser obrigado a
relembrar o Oriente Médio.
VOLTA PARA BANCADA
FB: E voltamos ao vivo dos Estados Unidos com a repórter Zileide Silva. Zileide, que
informação nós temos sobre os brasileiros em Nova York?
AO VIVO
ZS: Fátima, o governo brasileiro informou que dez empresas brasileiras tinham
escritórios nas Torres do World Trade Center. Muitos brasileiros eram funcionários
de corretoras. Essas imagens são de Nova York agora à noite. Imagens ao vivo. E
esses funcionários brasileiros se concentravam principalmente no vigésimo quinto e
80
no centésimo sétimo andar das Torres. Brasileiros que não conseguiram chegar ao
trabalho ligaram para a redação da Rede Globo aqui em Nova York. Assustados,
eles diziam não ter informações sobre os colegas que estavam no prédio. Além
desses funcionários, um outro grupo de brasileiros trabalhava ali: engraxates, no
subsolo do prédio, onde funcionava um shopping center e operavam várias linhas de
metrô e trem. Até agora, o consulado brasileiro não divulgou a lista com as vítimas.
Segundo o consulado, porque ainda não se sabe a nacionalidade deles. E não é só
o consulado brasileiro. Até agora, nenhuma lista foi divulgada com essa relação.
Bonner.
VOLTA PARA BANCADA
WB: Daqui a pouco, bolsas de valores e moedas internacionais são abaladas pelo
atentado.
FB: E veja também: a polícia suspeita que o assassinato do prefeito de Campinas foi
crime político.
INTERVALO
QUARTO BLOCO
A reportagem 11 fala sobre o senador Jader Barbalho no caso do desvio de
dinheiro do Banpara, onde o relatório da comissão de ética ficou pronto e incrimina o
senador dizendo que Jader Barbalho abusou de suas atribuições de presidente do
Senado, adiando a tramitação de um requerimento que pedia informações do Banco
Central, um comportamento que configura indício de improbidade administrativa.
Já a reportagem 12, de Caco Barcellos, acompanha o velório e enterro do
prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos, do PT, que foi assassinado na noite
anterior. O crime parou Campinas e mais de 50 mil pessoas participaram do velório
e cortejo pelas principais ruas da cidade.
Em seguida, Fátima Bernardes, dá uma nota informando o falecimento do
empresário José Ermírio de Moraes Filho, presidente do Conselho de Administração
do grupo Votorantim. O empresário sofria de câncer.
81
PREVISÃO DO TEMPO
VOLTA PARA BANCADA
WB: Gustavo Kuerten foi eliminado na primeira rodada do torneio de tênis da Bahia.
Guga enfrentou outro brasileiro, Flávio Saretta, de 21 anos. Depois de vencer com
facilidade o primeiro set por 6 x 4, Gustavo Kuerten foi surpreendido. Saretta
empatou o jogo com 6 x 2 no segundo set e acabou fechando a partida com 6 x 4 no
terceiro.
FB: Voltamos com novas informações sobre os atentados terroristas nos Estados
Unidos. Ao vivo de Nova York Zileide Silva diz como estão as investigações.
AO VIVO
ZS: Fátima, o FBI acaba de abrir uma página na internet pedindo para que as
pessoas mandem informações que possam levar aos autores desses atentados. A
CIA e o FBI não tem nenhuma pista concreta até agora. Esta é a informação oficial.
Mas funcionários do Pentágono disseram hoje cedo que tinham informações sobre o
envolvimento de Osama Bin Laden. Segundo eles, só o bilionário saudita teria
ousadia e recursos suficientes para organizar uma série de atentados como esses.
O exército americano está em alerta máximo e, se for necessário, pronto para agir.
Agora a pouco, a agência de notícias espanhola EFE disse que um grupo chamado
de Exército Vermelho Japonês teria assumido a autoria do atentado. Um integrante
do grupo telefonou para um jornal na Jordânia dizendo que era uma retaliação aos
ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki em 1945. E, apesar da sede do FBI ser
em Washington, toda a investigação sobre essa série de atentados será conduzida
pelo escritório do FBI aqui em Nova York. Esse escritório é muito mais eficiente. Foi
ele que investigou e solucionou o atentado de noventa e três. E agora a pouco a
empresa aérea America Airlines informou que todos os aviões dela que estavam
desaparecidos já foram localizados. Bonner.
VOLTA PARA BANCADA
82
WB: As explosões nos Estados Unidos provocaram uma onda que em segundos
atingiu os principais mercados financeiros do mundo. Bolsas de valores
interromperam os negócios e as que funcionaram tiveram quedas violentas.
REPORTAGEM 13
Imagens das Torres caindo após ataque.
William Waack (WW): As Torres Gêmeas arrasadas pelo atentado abrigavam
mesas de operadoras de mercado do mundo inteiro, no coração do capitalismo
globalizado. O impacto imediato foi muito mais além do que transformar um símbolo
em fumaça. As bolsas de Nova York, ali perto, e a bolsa eletrônica Nasdaq, pelas
quais pulsa a economia mundial nem chegaram a abrir.
Imagem mapa do mundo.
WW: A onde de choque da explosão atingiu em cheio os mercados europeus. A
bolsa de Londres fechou em baixa de 5,72%, a maior queda nos últimos 35 meses.
A de Paris, baixa de 7,39%. Há dois anos não caia tanto. Frankfurt queda de 8,49%,
maior baixa dos últimos 32 meses. Bolsa de Milão, baixa de 7,79%. No México, as
ações caíram 5,55%. Na Argentina, o pregão foi interrompido quando a queda bateu
5,20%.
Imagens bolsa de valores de São Paulo.
WW: Pela primeira vez nos últimos 10 anos na Bolsa de Valores de São Paulo os
negócios foram suspensos. As onze e quinze da manhã o pregão já acumulava
queda de 9,18%, a maior desde janeiro de noventa e nove, quando houve a
desvalorização do real. Com o resultado de hoje, a Bovespa já contabiliza baixa de
29,04% este ano.
WW – Passagem: A paralisação dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo
não foi apenas o resultado do horror e da emoção provocados pelas imagens vindas
dos Estados Unidos entre os operadores. A bolsa simplesmente não tinha mais
condições de fixar preços.
Depoimento: O motivo de nós fecharmos foi extremamente técnico. Há informações
desencontradas em todos os cantos e nós achamos melhor, pro bem dos
investidores em geral, encerrar as atividades do pregão do dia de hoje.
Imagens da bolsa de valores.
83
WW: Houve poucos negócios nas mesas de câmbio com o dólar batendo novo
recorde, dois reais e sessenta e seis centavos, alta de 2,03%, apesar da intervenção
do Banco Central. Diante do clima de nervosismo, o governo preferiu cancelar três
leilões de títulos públicos, no total de 4,7 bilhões de reais em papéis. Refletindo
temores e conflitos no Oriente Médio, o preço do barril de petróleo subiu 13% e
chegou aos 31,05 dólares. Outro sintoma de insegurança, o ouro na bolsa de metais
de Londres teve alta de 7%. Mas economistas acham que o impacto imediato do
atentado em Nova York se desfaz também a curto prazo.
Depoimento: Nós estamos sob impacto de uma grande tragédia. É natural que num
primeiro momento a reação seja de uma certa histeria, movida pelos pânicos de um
e pela especulação de outros que tentam tirar proveito da situação. Mas isso não é
permanente. Isso vai durar alguns dias, a vida depois volta ao normal, a economia
americana está em processo de desaceleração e isso pode até chegar em uma
recessão, mas não será por causa dessa tragédia. Na verdade, a economia é muito
mais robusta e não é um acidente, um ataque terrorista que vai mudar grande
tendências e movimentos profundos que tão ocorrendo no mundo.
VOLTA PARA BANCADA
FB: Veja a seguir. A aflição das famílias de brasileiros que estão em Nova York.
WB: E as últimas informações sobre o dia que vai marcar a história.
INTERVALO
QUINTO BLOCO
FB: O presidente Fernando Henrique convocou uma reunião de emergência para
discutir os reflexos que os atentados terroristas podem ter na economia brasileira. A
segurança foi reforçada nos consulados e na embaixada americana.
REPORTAGEM 14
Imagem embaixada.
84
Heraldo Pereira (HP): A embaixada americana em Brasília liberou todos os
funcionários e ficou fechada. Na porta, reforço no policiamento. O comunicado pediu
que os americanos que vivem no Brasil redobrem a segurança. Quem trabalha na
embaixada de Israel também teve de sair e a polícia aumentou a vigilância. No Rio,
o esquadrão antibombas fez uma revista no consulado americano. Os funcionários
tiveram que deixar o prédio. Consulados de São Paulo e do Recife também foram
desocupados. O comando da aeronáutica liberou os aeroportos nacionais aos
aviões que não puderem descer nos Estados Unidos, além de recomendar maior
fiscalização no embarque de passageiros. O Itamaraty divulgou uma nota
condenando a violência e lamentando as mortes. O presidente Fernando Henrique
Cardoso, se dizendo chocado e com uma preocupação extrema, acompanhou tudo
pela televisão no Palácio da Alvorada.
Imagem da carta de Fernando Henrique.
HP: O presidente mandou uma carta de solidariedade ao presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush, e repudiou o ato terrorista. Num pronunciamento, o
presidente se mostrou preocupado também com os brasileiros que estão nos
Estados Unidos e determinou que recebam toda a assistência do consulado.
Fernando Henrique Cardoso: Nova York já existe no consulado um conjunto de
telefones à disposição dos brasileiros para que eles possam acalmar as suas
famílias e mostrar que nada lhes aconteceu. É provável que diante da virulência dos
atos praticados, haja consequências em todo o mundo, principalmente econômicas,
e o Brasil é parte do sistema mundial, e pode vir a ser direta ou indiretamente
afetado por essas turbulências. É inegável que se não houver uma ação atenta do
governo as consequências podem ser maiores, e nós estamos atentos.
HP – Passagem: Para se antecipar as consequências deste episódio e tentar fazer
uma avaliação, principalmente nos desdobramentos da economia brasileira, o
presidente Fernando Henrique Cardoso chamou quatro ministros, inclusive o da
Fazenda, Pedro Malan. A reunião foi a portas fechadas. Depois, o presidente
convocou o Conselho de Defesa Nacional.
Imagens da reunião com o conselho.
HP: O governo vai fazer uma análise dos reflexos da situação dos Estados Unidos
aqui no Brasil. O conselho foi comunicado das medidas para proteger os cidadãos
americanos, e o presidente Fernando Henrique tranquilizou o encarregado de
85
negócios dos Estado Unidos, que está respondendo pela embaixada americana em
Brasília.
VOLTA PARA BANCADA
WB: Até agora a pouco o Itamaraty ainda não tinha conseguido notícias sobre
possíveis vítimas brasileiras. Entre os que sobreviveram aos atentados há relatos
impressionantes.
REPORTAGEM 15
Imagens de uma senhora chorando.
Edney Silvestre (ES): Apreensão em São Paulo. Dona Cecília passou a manhã
tentando o contato com o filho Cleiton que mora em Nova York. Não conseguiu. As
primeiras notícias vieram só à tarde. Um amigo confirma que Cleiton está bem. Só
então Dona Cecília se acalma.
Cecília: Só tenho que agradecer a Deus, só isso. Muito obrigada meu Deus.
Imagem operadora telefônica.
ES: O congestionamento das linhas aumentou a angústia de quem procurava
informações sobre parentes nos Estados Unidos. Em uma das operadoras, as
ligações aumentaram 40 vezes. Um número de serviço foi posto à disposição do
usuário, 0800 703 2111.
Imagens das famílias.
ES: Em Uberaba, Dona Nilda espera alguma notícia sobre o filho Tiago. Há quatro
meses em Nova York, ele servia café em três andares do World Trade Center. Em
Goiânia, os irmãos de Fabrício Guimarães ouviram incrédulos o relato dele. Fabrício
embarcou ontem à noite e chegou hoje cedo à Nova York.
Fabrício, por telefone. Descrição do relato dele.
Fabrício Guimarães: Eu cheguei, acho que uns 15 ou 20 minutos antes da
explosão. Eu cheguei a Nova York e o taxista me chamou a atenção. Eu tava na
Long Island Express Highway e deu pra ver muito bem a explosão em si. E, quando
eu estava chegando mais ou menos perto do meu objetivo, que é mais ou menos 3 a
4 quadras do World Trade Center, foi quando vi a queda da primeira torre, foi uma
86
coisa assim, muito, mas muito assustador. Foi uma das coisas mais assustadoras
que eu já vi na minha vida.
Foto do advogado Paulo Lins e Silva.
ES: Por pouco o advogado Paulo Lins e Silva não tomou o voo de Boston,
justamente o avião que bateu na segunda torre.
Paulo Lins e Silva: Eu não entrei nesse voo para Nova York porque era um voo
muito cedo, e nós estávamos exaustos voltando de Montreal para pegar um voo que
retardou demais. Eu estou muito nervoso aqui nos Estados Unidos, porque eu estou
com a minha família e nós não sabemos quando é que nós vamos sair.
Foto Larry Pinto de Farias Júnior.
ES: Funcionário de uma corretora, Larry Pinto de Farias Júnior conseguiu sair do
World Trade Center a tempo.
Larry Pinto de Farias Júnior: Eu estava trabalhando. Nós ouvimos aquele
estrondo, aquele barulho muito forte. Eu trabalhava no 25º andar. Parecia a
sensação de um terremoto. O edifício balançou, e balançou muito forte mesmo, e aí
nós fomos para a saída de emergência, para a saída de incêndio. O medo maior,
foram dois medos: o primeiro medo foi na escada de incêndio, porque não pode
entrar pra nenhum andar, aquelas portas corta-fogo não tem acesso aos andares e
começou a subir a fumaça e um cheiro muito forte de combustível. Deu medo e para
descer 25 andares de escada, com milhares de pessoas tentando descer ao mesmo
tempo, graças a Deus não teve pânico. O segundo avião se chocou contra a outra
torre quando eu estava na escada e eu não vi.
VOLTA PARA BANCADA
FB: O Itamaraty montou um esquema de plantão para dar informações a parentes
de brasileiros que moram nos Estados Unidos. O repórter Roberto Kovalick tem as
informações.
AO VIVO
Roberto Kovalick: O consulado brasileiro em Nova York recebeu a informação da
polícia americana de que em só dois dias, no mínimo, será possível saber se há
brasileiros entre as vítimas. Segundo o Itamaraty, o prédio onde funciona o
87
consulado foi desocupado, mas uma pequena equipe permanece lá para dar
informações. De acordo com o Itamaraty, 800 mil brasileiros estão nos Estados
Unidos, 300 mil em Nova York. E para dar informações às famílias no Brasil, o
Itamaraty criou um serviço de informações que vai funcionar 24 horas por dia. O
telefone é o seguinte: 61, que é o código de Brasília, 411 64 56. Bonner.
VOLTA PARA A BANCADA
WB: E agora as últimas informações ao vivo de Nova York com a correspondente
Zileide Silva.
AO VIVO
ZS: Bonner, daqui a pouco o presidente americano George Bush faz um
pronunciamento à nação. Ele já está na Casa Branca. E o tom do discurso vai ser de
retaliação e impaciência. Ele vai dizer aos americanos: os Estados Unidos já foram
testados várias vezes, sempre venceram, e agora, segundo ele, não vai ser
diferente. Mas o presidente também vai fazer um apelo ao povo americano para que
o país volte ao normal. E os 170 hospitais de Nova York estão lotados. As vítimas
estão sendo levadas para hospitais de outras cidades. E a empresa aérea United
Airlines acaba de informar que está liberando inicialmente 25 mil dólares para os
parentes das vítimas. E o grupo de oposição ao Talibã assumiu a autoria das
explosões em Cabul. Eu tenho mais uma informação aqui, que a inteligência
americana, tá difícil porque a gente está recebendo as informações ao vivo, que a
inteligência americana conseguiu interceptar mensagens de Osama Bin Laden sobre
os ataques. Esta é a última informação que nós estamos acabando de receber aqui
no escritório da Globo, em Nova York. Fátima.
FB: O mundo assistiu hoje ao mais brutal de todos os ataques terroristas. Sem
armas químicas, sem bombas atômicas, aviões foram lançados contra símbolos do
poderio americano. O pânico instalado no coração econômico do planeta. Imagens
de filme e que gostaríamos de ver tão somente nas telas de cinema.
Imagens com som ambiente dos atentados.
FB: Nós voltaremos a qualquer momento com outras informações dos atentados
terroristas dos Estados Unidos e com o pronunciamento ao vivo do presidente da
88
América, George Bush. E ainda novos detalhes dos ataques, o socorro às vítimas e
a reação do governo americano você vai ver no Jornal da Globo. Até amanhã.
WB: Até amanhã.
ENCERRAMENTO
6.2.2.2.2 Ataque ao Jornal Cherlie Hebdo
Sete de janeiro de 2015. Onze e meia da manhã em Paris. Dois homens
vestidos de preto e fortemente armados invadiram a redação do jornal satírico
Charlie Hebdo. A ação, que durou poucos minutos, resultou em 12 mortos, entre
jornalistas e policiais.
De acordo com o site Memória Globo16, a Globo divulgou as primeiras notícias
do atentado em um plantão na manhã. O correspondente em Lisboa, André Luiz
Azevedo, foi enviado a Paris e de lá entrou, ao vivo, no JN daquele dia mostrando os
detalhes do ocorrido. A movimentação de repórteres pelo mundo inteiro foi exibida
pelo JN no dia.
Os correspondentes em Londres, Cecília Malan e Roberto Kovalick, também
se deslocaram para Paris. Relataram os desdobramentos do atentado e a
manifestação histórica que levou mais de três milhões de pessoas às ruas das
cidades francesas. Renato Machado, de Londres, mostrou a repercussão do
atentado na Europa; de Jerusalém, Rodrigo Alvarez contou como os atos terroristas
foram recebidos no mundo árabe; Fábio Turci, de Nova York, falou da reação do
Presidente Barack Obama.
Participaram ainda da cobertura os repórteres Edney Silvestre, Paulo Renato
Soares, Renato Biazzi, Giuliana Morrone, Tiago Eltz, Pedro Vedova e Helen
Sacconi.
Oitenta mil policiais foram mobilizados na caçada aos irmãos argelinos. A
população de Paris foi às ruas em protesto contra o terrorismo. Uma onda de
indignação e solidariedade se espalhou pelo mundo, com manifestações na maioria
16 MEMÓRIA GLOBO. Atentado Terrorista ao Charlie Hebdo. Disponível em:
<http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentado-charlie-hebdo/atentado-charlie-hebdo-equipe-e-estrutura.htm>. Acesso em 25 mar. 2017.
89
das grandes cidades do planeta. O slogan Je Suis Charlie, Eu sou Charlie, na
tradução, tomou conta das ruas.
O programa Jornal Nacional exibido em 07 de janeiro de 2015, tem duração
de 40’. Neste dia, foram 12 reportagens ao ar, sendo 6 sobre o ataque ao Jornal
Charlie Hebdo, no primeiro e segundo blocos. O JN foi apresentado por Heraldo
Pereira e Renata Vasconcellos, como será detalhado em forma de decupagem, a
seguir.
Jornal Nacional – Edição Atentado ao Charlie Hebdo
07 de janeiro de 2015 – 40’
VINHETA DE ABERTURA
Renata Vasconcellos (RV): A França sofreu hoje o pior atentado do país em mais
de 50 anos. Doze pessoas morreram. Onze ficaram feridas. O alvo foi a redação de
um jornal de humor, conhecido em todo o mundo pelas sátiras que faz de religião,
de políticos, da corrupção e dos costumes. A reportagem é do correspondente André
Luiz Azevedo.
REPORTAGEM 1
Imagens de celulares. Som ambiente
André Luiz Azevedo (AA): Eram onze e meia da manhã em Paris, oito e meia no
horário de Brasília, quando os tiros de armas automáticas foram ouvidos. No alto de
um prédio vizinho, jornalistas de uma agência de notícias registraram o ataque.
Mapa de Paris, com a localização do atentado.
AA: O alvo era a sede de um jornal satírico, o Charlie Hebdo, perto da Praça da
Bastilha.
Imagens das marcas de tiros da redação e segue com imagens do jornal.
AA: Dois atiradores encapuzados entraram na redação durante a reunião de pauta.
É quando os jornalistas discutem os assuntos que o jornal vai abordar. Na edição
desta semana o jornal trazia uma entrevista com um escritor que imagina um futuro
em que a França se tornaria uma nação islâmica. Antes de atirar, os terroristas
perguntavam os nomes das vítimas. Entre elas, o editor chefe e três cartunistas.
90
Imagens CNN.
AA: Segundo testemunhas, os terroristas gritaram: vingamos o profeta Maomé.
Imagens do jornal e também das postagens.
AA: Hoje cedo, antes do ataque, o jornal havia postado na internet uma charge do
chefe do grupo extremista estado islâmico, Abu Bakr Al-Baghdadi, que se diz
sucessor de Maomé.
Imagens feitas na hora do atentado.
AA: Na fuga, os homens trocaram tiros com a polícia. Um cúmplice esperava no
carro. Mas antes de fugir, os atiradores tiveram tempo de voltar e executar friamente
o policial caído na calçada. Depois voltaram para o carro, seguindo para o norte da
capital francesa onde abandonaram o veículo e roubaram outro.
Imagens pós-atentado.
AA: A polícia começava a caçada enquanto os feridos recebiam socorro.
VOLTA PARA BANCADA
Heraldo Pereira (HP): Logo após o atentado, as autoridades francesas deram início
a uma caçada aos três terroristas. Segundo o jornal Le Mond e a revista Le Point, a
polícia identificou o grupo. Dois deles seriam irmãos de origem argelina que teriam
recentemente retornado da Síria. O terceiro, ainda não identificado, teria 18 anos.
Em Paris, a segurança foi reforçada em toda a cidade.
REPORTAGEM 2
Imagem do reforço policial em Paris.
André Luiz Azevedo (AA): A primeira grande preocupação do governo francês foi
com os jornalistas, os alvos mais prováveis caso acontecessem outros ataques. Os
prédios que abrigam empresas de mídia receberam proteção reforçada. O
presidente francês, François Hollande, visitou o local do atentado em Paris ainda de
manhã.
Imagens do pronunciamento do presidente e volta com imagens do reforço
policial.
AA: Ele disse não haver dúvidas de que era um ataque terrorista contra jornalistas e
contra a liberdade de expressão. Hollande aumentou o alerta de segurança nacional
91
para o nível máximo. Pelo menos 300 soldados do exército foram acionados para
patrulhar locais públicos, como aeroportos, lojas de departamentos e escolas. A
região da Torre Eiffel, que vive lotada de franceses e turistas, recebeu um reforço na
segurança, assim como pontos de ônibus, estações de metrô e trem. Excursões
escolares foram canceladas.
Imagens do carro usado no atentado.
AA: O primeiro carro usado no ataque foi abandonado e recolhido pelas
autoridades. Segundo os investigadores, os terroristas bateram durante a fuga e
roubaram outro carro no caminho. A polícia disse que a caça aos assassinos é uma
prioridade. E que os três homens são extremamente perigosos.
VOLTA PARA BANCADA
RV: O jornal Cherlie Hebdo conquistou os franceses pela irreverência, pela
criatividade. Ganhou fama mundial pelas sátiras contra o fanatismo religioso. Mas
também é conhecido pelas críticas que faz sem distinções ideológicas e políticas a todo
tipo de opressão.
REPORTAGEM 3
Imagem de uma edição do jornal Charlie Hebdo.
Tiago Eltz (TE): Provocador e anarquista, o jornal semanal Charlie Hebdo chega
todas às quartas nas bancas francesas. É conhecido por usar humor como uma
arma pela liberdade de expressão. Muitos dos cartunistas que fundaram o Charlie
Hebdo trabalharam antes em outra revista, a Hara-Kiri, fechada por fazer piada com
a morte do presidente francês Charles de Gaulle.
Passagem: O jornal nasceu na década de 1970 e nesses mais de 40 anos de vida
manteve o caráter amplamente provocador. Suas charges satirizaram com a mesma
acidez, por exemplo, movimentos de esquerda ou de direita, feministas e
conservadores e até as religiões.
Imagens de capas dos jornais.
TE: O jornal semanal fez sátiras ao profeta Maomé, mas também bateu de frente
com outras religiões. Publicou a própria versão sobre o nascimento de Cristo,
92
mostrou o Papa consagrando uma camisinha. Satirizou judeus e muçulmanos. E o
tratamento dado pelo governo francês aos imigrantes.
Imagens do cartunista George Wolinski e de arquivos da Globo.
TE: O maior cartunista do jornal era George Wolinski, de 80 anos. Francês de
origem judaica, ele era um mito do cartunismo mundial e inspirou o trabalho de
muitos outros profissionais da área. Ele é considerado um dos expoentes do Maio de
sessenta e oito, manifestações que começaram pedindo por reforma de educação
na França e se transformaram numa greve geral no país.
Volta imagens das sátiras do cartunista.
TE: Wolinski conseguiu captar nos desenhos dele o espírito político e de revolução
sexual da época. Uma das personagens mais marcantes do artista foi Paulete, uma
espécie de musa erótica das histórias em quadrinhos dos anos 1960. Em 1993,
Wolinski esteve no Rio e participou da Bienal Internacional de Quadrinhos.
Volta com imagens do atentado, socorristas e fotos das vítimas.
TE: Outros três cartunistas estão entre as vítimas do atentado. Jean Cabut, o Cabu,
colaborava com o jornal desde a fundação. Cabu iria completar 77 anos na próxima
semana. E Tinhus, com 57 anos, colaborava com várias revistas e emissoras de
televisão. Stephane Charbonnier, o Charb, tinha 43 anos e era o responsável pela
publicação desde 2009. Ele já tinha recebido ameaças de morte e vivia sob proteção
policial. Dois anos atrás, ao falar sobre liberdade de expressão, Charb disse que
preferia morrer de pé a viver de joelhos.
VOLTA PARA BANCADA
HP: A publicação de charges mostrando o fundador do Islamismo já foi motivo de
protestos e atentados. Um deles, contra o mesmo jornal atingido hoje.
NOTA COBERTA
Imagens arquivo.
HP: Em 2011, a sede do Charlie Hebdo foi atacada com bombas incendiárias. O jornal
também já havia sido processado por associações islâmicas da França. Mas o tribunal
considerou que as charges eram críticas ao terrorismo, e não à religião. Antes, em 2006,
a publicação de desenhos sobre o profeta Maomé pelo jornal dinamarquês Yillands
93
Posten desencadeou uma onda de protestos. Hoje, o jornal reforçou a segurança dos
funcionários.
RV: E a gente vai agora ao vivo a Paris, com o correspondente André Luiz Azevedo,
que está perto da Praça da Bastilha, na área onde houve o atentado. Boa noite
André.
AO VIVO
AA: Muito boa noite Renata, muito boa noite a todos aí no Brasil. Exatamente, eu
estou bem próximo do local do atentado, há cerca de 150 metros, até onde os
jornalistas podem ir. Este aqui é o bairro da Bastilha, um bairro histórico de Paris,
conhecido pela liberdade, um bairro que houve aquele episódio da libertação
durante a Revolução Francesa. Por isso, esse simbolismo ainda maior desse
atentado. Quando eu vim do aeroporto pra cá já percebi em vários pontos aqui de
Paris uma espécie de reação contra esse atentado. Agora à noite, o que a gente
sente, ao mesmo tempo que é um clima de apreensão na cidade por causa desse
atentado, mas também uma reação dos franceses, dos parisienses, dizendo que não
vão se curvar ante essa ameaça terrorista. A vida na cidade aparentemente continua
normal, as pessoas caminham pelas ruas de Paris com apreensão, com
preocupação, já que foi dado o alerta máximo em relação a possibilidade de novos
atentados, mas os parisienses reagem.
Imagens das manifestações.
AA: Em vários pontos da cidade existem manifestações de apoio, de solidariedade
ao jornal e, ao mesmo tempo, de protesto contra esse violento atentado terrorista.
Agora à noite aqui em Paris houve manifestações particularmente na Praça da
República e também na Praça da Bastilha. Uma manifestação que não foi
convocada, espontânea, onde manifestantes carregaram cartazes e também
levavam pontos de luz demonstrando esse sinal de liberdade.
Volta repórter ao vivo.
AA: Em várias cidades do interior da França também houve manifestações de
protestos contra o atentado e ao mesmo tempo de solidariedade aos jornalistas. A
própria líder da extrema-direita francesa, Marie Le Pen, deu uma declaração dizendo
que o atentado é uma tentativa de amedrontar a França, mas que isso não vai ser
conseguido. Em toda a Europa há reações expressivas de manifestações de apoio aos
94
franceses, aos jornalistas franceses. Na Espanha, houve uma certa preocupação porque
alguns jornais receberam envelopes e encomendas suspeitas, mas houve uma
investigação e nada de concreto foi percebido. Então, nesse momento nós estamos
aqui, há cerca de 150 metros do local do atentado, na região da Bastilha, junto com
todos os jornalistas. Há um clima de apreensão, mas ao mesmo tempo há uma espécie
de reação dos franceses contra essa tentativa, esse atentado à liberdade de expressão
num país que é a pátria da liberdade. Voltamos com vocês, Heraldo, Renata.
HP: As informações de André Luiz Azevedo.
INTERVALO
SEGUNDO BLOCO
HP: A Europa toda está em alerta, em choque, com o atentado à sede do jornal
francês. A gente conversa agora com o correspondente em Londres, Renato
Machado. Renato, boa noite. O tom das manifestações, das reações. Há reações
em todo o continente?
Renato Machado (RM): Boa noite, Renata. Boa noite, Heraldo. Os líderes europeus
se uniram para classificar o ataque ao Cherlie Hebdo como um ataque à liberdade
de expressão e de imprensa. Os adjetivos usados foram: abominável, bárbaro,
criminoso. Na França, se formou uma corrente de solidariedade e apoio ao jornal e
aos profissionais em geral. O lema é Todos Somos Charlie. E agora à noite o
presidente François Hollande falou para um país ainda em choque. E pediu a união
da França.
REPORTAGEM 4
Imagem do pronunciamento do presidente.
RM: O presidente francês foi categórico: vamos caçar os autores desse ato
deplorável e eles vão pagar. Num pronunciamento agora à noite a todos os
franceses, François Hollande declarou que quinta-feira será um dia de luto na
França. E que o país não vai se curvar ao terrorismo.
Imagens pronunciamento ministros e pessoas que seguem na fala do
repórter.
95
RM: Em Londres, o ataque dominou um encontro entre os primeiro-ministros da Grã-
Bretanha e da Alemanha. David Cameron garantiu que a população britânica está ao
lado da francesa na luta contra o terror. Angela Merkel se solidarizou com as
famílias das vítimas. E disse que o massacre vai contra todos os valores
compartilhados na Europa. O Vaticano classificou o ataque como abominável, e
afirmou que foi um ato contra pessoas e contra a liberdade de expressão. O Imam
em Paris, Hassen Chalghoumi, visitou o local do ataque e chamou os criminosos de
bárbaros. E foi enfático.
Hassen Chalghoumi (traduzido pelo repórter): Eles dizem que matam em nome
do profeta. Mas que profeta é esse? Só se for o diabo.
Imagens de publicações.
RM: A Federação Internacional de Jornalismo afirmou que matar jornalistas é um
ataque contra a profissão como um todo. A imprensa francesa mostrou que não irá
se render e se calar. Publicações de diferentes correntes ideológicas se uniram para
expressar indignação. E num ato comovente de solidariedade, rádios, jornais e
canais de TV da França colocaram seus funcionários e seus equipamentos à
disposição da revista Charlie Hebdo. E a frase Je suis Charlie, Eu sou Charlie, em
português – foi uma das mais usadas ao longo do dia, reproduzida em cartazes que
foram levantados em manifestações espontâneas em cidades como Londres, Berlin
e Madrid.
VOLTA PARA BANCADA
RV: O governo americano prometeu ajuda aos franceses na caça aos responsáveis pelo
ataque dessa manhã. Vamos então ao vivo agora para Nova York conversar com o
correspondente Fábio Turci. Boa noite, Fábio.
AO VIVO
Fábio Turci (FT): Boa noite, Renata, Heraldo. Boa noite a todos. O presidente Barack
Obama telefonou à tarde para o presidente francês, François Hollande, para prestar
solidariedade. Ele ofereceu ajuda para identificar, prender e levar à justiça os
responsáveis pela tragédia e qualquer outra pessoa que tenha ajudado a planejar a
96
ação. Obama, que já tinha divulgado uma nota condenando o ataque, decidiu falar à
imprensa sobre a tragédia antes de uma reunião na Casa Branca.
REPORTAGEM 5
Imagens de Barack Obama.
FT: Ao lado do vice-presidente, Joe Biden, e do secretário de Estado John Kerry, o
presidente Barack Obama disse que o ataque foi covarde e que os terroristas temem a
liberdade e o direito da imprensa se expressar livremente. Obama afirmou que os
Estados Unidos vão ajudar na caça aos responsáveis pelo atentado e lembrou que a
França é a aliada mais antiga dos Estados Unidos e está sempre com os americanos na
luta contra o terrorismo. O presidente disse ainda que é importante reconhecer que
esses tipos de ataques podem acontecer em qualquer lugar do mundo.
Imagens pronunciamento.
FT: Mais cedo, junto ao ministro das Relações Exteriores polonês, John Kerry, chefe da
diplomacia americana, ofereceu solidariedade aos franceses na língua deles.
Depoimento (traduzido pelo repórter): A liberdade de expressão e a liberdade de
imprensa são valores universais fundamentais. Este princípio foi atacado, mas nunca
será erradicado.
Imagens pronunciamento.
FT: O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, chamou o ataque de horrendo,
injustificável e a sangue-frio. E completou:
Ban Ki-Moon (traduzido pelo repórter): Também foi um ataque direto a um pilar da
democracia: a imprensa e a liberdade de expressão.
Passagem: O Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou o ataque, que
chamou de bárbaro e covarde. E reafirmou a necessidade de combater, de todas as
formas, a ameaça do terrorismo à paz e à segurança do mundo. Para o conselho,
qualquer ato de terrorismo é crime e injustificável.
Imagem de Phillippe Bolopion.
FT: Phillippe Bolopion, da organização de defesa de direitos humanos - Human, rights
watch, disse que é preciso ficar atento para qualquer tipo de reação contra minorias.
Phillippe Bolopion (traduzido pelo repórter): Os que cometem esses ataques
horríveis, ele diz, podem até alegar que estejam agindo em nome do islã, mas não
97
estão. Temos que condenar os que conduziram e comandaram esse ataque e mais
ninguém.
Imagem do diretor executivo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Joel
Simon.
FT: Para o diretor executivo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, o ataque desta
quarta-feira representa o desafio da liberdade de imprensa em todas as partes do
mundo.
Joel Simon (traduzido pelo repórter): Pessoas armadas não podem determinar o
limite da liberdade de expressão.
FT: Joel Simon deu um recado aos jornalistas do mundo todo.
Joel Simon (traduzido pelo repórter): Não podemos nos autocensurar. Como
jornalistas, temos que defender de pé os nossos direitos. Talvez tenhamos que proteger
jornalistas em lugares que nunca pensamos que fossem arriscados.
VOLTA PARA BANCADA
HP: O correspondente Rodrigo Alvarez traz as reações do mundo árabe ao
atentado.
AO VIVO
Rodrigo Alvarez: A Liga Árabe, que representa 21 países, condenou energicamente o
atentado ao jornal francês. Num comunicado, o secretário-geral da organização, Nabil
Arabi, disse que foi um ataque promovido por terroristas. Arabi também expressou
solidariedade com o povo francês e com a família das vítimas. A universidade Al-Azhar,
do Egito, considerada o centro teológico sunita mais importante do mundo islâmico,
afirmou que a religião muçulmana é contra a violência. A instituição, que têm uma
tradição de mais de mil anos e é a segunda universidade mais antiga do mundo,
declarou através do porta-voz que a violência não deve ser usada nem mesmo como
resposta a uma ofensa cometida contra sentimentos islâmicos sagrados.
VOLTA PARA BANCADA
98
RV: O Ministério das Relações Exteriores do Irã declarou que o ataque dá continuidade
a uma onda de radicalismo e de violência, física e mental, que se espalhou pelo mundo
nos últimos dez anos. E afirmou que qualquer ato terrorista contra inocentes é alheio ao
pensamento e aos ensinamentos do islã.
HP: Aqui no Brasil, perplexidade. Cartunistas manifestaram indignação. Eles
defenderam a liberdade de expressão e exaltaram a obra dos cartunistas, em
especial de Georges Wolinski, mestre dos chargistas brasileiros.
REPORTAGEM 6
Imagens da redação do jornal.
Paulo Renato Soares (PS): O ataque à redação do Charlie Hebdo atingiu também
cartunistas no mundo inteiro.
Chico Caruso: É o imponderável travestido de guerra santa, mas é uma covardia
religiosa isso. Covardia criminosa travestida de religiosa.
Ziraldo: É muito chocante porque é uma coisa inimaginável você entrar pela
redação e atirar a esmo, matar doze pessoas. Quer dizer, que civilização é essa?
Que civilização é essa? É uma coisa muito estranha. Eu fiquei chocado. E todo
mundo ficou muito chocado.
Passagem: Eles podem ser diferentes no estilo. No tipo do traço, na escolha das
cores. Mas os cartunistas têm a sensibilidade de defender ideias, às vezes, sem
usar uma única palavra. Em desenhos cheios de humor, crítica, ironia, sátira são
comentaristas da atualidade.
Ique: Olha, esse atentado chocou a todos nós, principalmente os cartunistas. E eu
comparo esse atentado ao 11 de setembro. Esse é o 11 de setembro dos
cartunistas. E eles eram os melhores no momento e estavam ali dando o melhor
deles na batalha contra o terrorismo, a favor da liberdade de expressão. Jamais
imaginei que um desenho pudesse provocar um ataque terrorista.
Ziraldo: A minha geração, Jaguar, Fortuna, eu, Cláudio, Millôr, a gente tem muito
contato com eles. Nos congressos, nas viagens, nos salões de humor pelo mundo...
São os humoristas que realmente influenciaram toda uma geração, inclusive a minha
geração aqui no Brasil, todo mundo. Esse livro aqui, o Wolinski teve aqui no Brasil,
ele teve aqui em casa. Me fez essa dedicatória, que é fantástica.
99
Chico Caruso: O Wolinski eu conheci aqui, era um cara que já naquela época devia
ter uns 70 anos, uns dez anos atrás, e que agora tinha 80. Baixinho, rápido, assim
muito inteligente e fez esse retrato meu, essa caricatura que eu acho sensacional,
que é feito com poucas linhas, poucas e boas. O meu retrato aqui. Você vê como ele
era bom na caricatura. Me pegou em cinco minutos ali a gente conversando.
Tomando um chope e tal. Eu já era fã dele, ele fez um personagem nos anos
setenta, sessenta e oito, por aí, que era sensacional que era Paulete, era uma
mulher linda. Só que ela aprisionava a alma de um velho rabugento. A inteligência
das conversas, dos enredos que ele criava, era sensacional.
Laerte: Foi decisivo, mudou a minha vida. Conhecer o trabalho desses, dessas
pessoas ilumina as possibilidades na vida da gente, assim e numa época em que eu
tava em formação. Gostava muito de desenhar, mas não sabia ainda direito o que
fazer com o desenho. Então, essa gente emitia uma luz orientadora. Eu acho que é
um momento da gente se solidarizar com Charlie Hebdo que é um patrimônio da
humanidade, eu acho que é um jornal importantíssimo para a história do humorismo
e do jornalismo combativo.
Imagem nota.
PS: A Associação dos Cartunistas do Brasil divulgou uma nota de repúdio ao
atentado. No texto, afirma: o desenhista é justamente o artista que busca a defesa
dos mais fracos e oprimidos, desde que as charges começaram há 200 anos.
Esperamos que esse triste acontecimento seja um exemplo de intolerância a ser
varrido das relações humanas para que a morte desses jornalistas e desenhistas
não seja em vão.
Ique: Quando eles deram um tiro nos cartunistas eles não mataram só aqueles
cartunistas que estavam na frente de batalha. Eles deram um tiro em cada um de
nós. E esse tiro a gente vai sentir daqui pra frente. Porque eles queriam matar não
os cartunistas, mas a essência do cartunista. A essência da luta deles, que é contra
esse radicalismo religioso, contra a falta de liberdade de expressão, a liberdade
jornalística, do próprio desenho do cartoon, do humor. Esse limite do humor é o
limite da própria defesa da sociedade e dos interesses da comunidade como um
todo.
VOLTA PARA BANCADA
100
HP: Nas redes sociais da internet, os chargistas de todo o mundo prestaram
homenagens aos mortos pelo terror.
REPORTAGEM 7
Imagens de charges sobre o ataque.
Repórter: A frase Je suis Charlie, Eu sou Charlie, em português, foi uma das mais
usadas ao longo do dia. Os desenhistas destacaram que as únicas armas usadas pelos
colegas mortos eram o desenho, como na ilustração do australiano Richard Pope, em
que o atirador diz: ele desenhou primeiro. E na do ilustrador chileno Francisco Olea que
convoca os companheiros a tomar as armas, todas para o desenho, lápis, apontador,
borracha e régua. O francês Jean Duvergier desenhou a mulher-símbolo da República
Francesa chorando pelo ataque. Já o espanhol Bernardo Erlich lembrou que tudo não
passava de sátiras. Na charge, ele diz que o mundo é levado tão a sério que o humor é
profissão de risco. O cartunista brasileiro Rodrigo Brum pediu humor, no lugar da guerra,
em letras menores: pelo amor de Deus, Alá, Buda, Jesus, Maomé, Tupã, Zeus, Javé,
Amonha, Oxóssi ou outro ser superior que você acredita. O francês Martin Vidberg disse
que não poderia deixar de desenhar hoje e fez um desabafo: hoje sou desenhista da
imprensa, hoje sou jornalista, hoje desenho por Charlie Hebdo. Ao longo desta edição
você verá outras homenagens aos cartunistas mortos no atentado na França.
VOLTA PARA BANCADA
RV: Em nota, a presidente Dilma Rousseff classificou o ataque como sangrento e
intolerável. E manifestou profundo pesar e indignação. A presidente acrescentou
ainda que o ato de barbárie, além das lastimáveis perdas humanas, é um inaceitável
ataque à liberdade de imprensa, que ela reforça, é um valor fundamental das
sociedades democráticas.
HP: A Associação de Jornais, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a
Associação Nacional de Editores de Revista e a Associação Brasileira de Emissoras
de Rádio e Televisão condenaram o atentado e alertaram para a ameaça à liberdade
de expressão. A ABI disse ainda que não se pode mais aceitar que manifestações
de intolerância política e religiosa sejam utilizadas como instrumento de intimidação
contra jornalistas.
101
RV: O vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil,
professor Ali Zoghbi, repudiou o atentado de maneira categórica e afirmou que o islã
é uma religião cuja essência e tradição evoca a paz, a preservação da vida e o
direito da liberdade de expressão. Ele disse também que foi uma ação abominável a
ocorrida em Paris nesta quarta-feira, que requer firme condenação de toda a
humanidade.
INTERVALO
TERCEIRO BLOCO
A reportagem 8 informa sobre o roubo de 200 motocicletas de um depósito do
Departamento de Transportes do Rio. A polícia disse que foi uma ação comandada
por um dos criminosos mais procurados do Estado.
Já a reportagem 9 fala sobre o acidente do Airbus da AirAsia que caiu no Mar
de Java. As equipes da agência de buscas e resgate da Indonésia acharam a cauda
do avião. Até o momento já foram encontrados quarenta corpos. Vinte e quatro
identificados por peritos indonésios. Acredita-se que mais corpos surgirão à medida
que partes maiores da fuselagem do Airbus forem localizadas.
A reportagem 10 revela diversas irregularidades no maior complexo
penitenciário de Pernambuco, o presídio Antônio Luiz Lins de Barros, no Recife.
A reportagem 11 informa que o candidato do PMDB à presidência da Câmara,
Eduardo Cunha, foi citado na operação Lava Jato, que investiga corrupção na
Petrobras.
INTERVALO
QUARTO BLOCO
Já a reportagem 12 fala da preparação dos times de futebol, os quais terão
mais tempo para treinar, antes dos inícios dos campeonatos estaduais.
VOLTA PARA BANCADA
102
HP: Bem, voltamos a falar agora sobre o atentado que deixou 12 mortos, hoje na
França. O enviado especial à Paris, André Luiz Azevedo, está no local do ataque.
André, como é que estão os trabalhos de busca dos terroristas?
AO VIVO
AA: Bem, são as últimas informações, divulgadas agora a pouco, inclusive pelo site
da revista francesa Le Point, a polícia estaria neste momento fazendo um cerco há
cerca de 140 quilômetros daqui da capital, Paris...
Imagens da BFM TV (canal de notícias francês)
AA: ...na cidade de Reims, fica há 140 quilômetros a leste de Paris, e onde estariam
os três suspeitos do atentado. Os nomes de dois deles já foram divulgados: seriam
Said e Charif Kouachi, dois irmãos, um deles, inclusive, já teria passagem pela
polícia, acusado de recrutar pessoas para extremistas.
Volta imagens ao vivo de André.
AA: Neste momento, a gente vê um comboio policial que sai aqui da região da
Bastilha. Então confirmando, há um cerco policial neste momento na cidade de
Reims pra tentar prender os três suspeitos. O terceiro suspeito seria um rapaz de 19
anos que não teve o nome divulgado. Uma outra informação, já se sabe com mais
detalhes como foi a entrada dos terroristas no jornal francês. Segundo a informação
divulgada agora a pouco, eles conseguiram render uma cartunista que chegava na
hora, Corinne Hein, que chegava com uma filha. Ela chegava no jornal, foi rendida
pelos terroristas, que se anunciaram como da Al Qaeda, ameaçaram matar a filha de
Corinne, e assim tiveram acesso ao jornal. Então, nesse momento, estaria sendo
feito um cerco pra tentar prender os terroristas que fizeram o ataque aqui na capital
francesa. Voltamos com vocês, Heraldo e Renata.
VOLTA PARA BANCADA
RV: Obrigada André Luiz Azevedo, trazendo aí as informações ao vivo da área, do
local, do atentado de hoje de manhã, fecha-se o cerco aos três suspeitos de cometer
este atentado. No Rio de Janeiro, um grupo de cerca de 100 pessoas, entre
brasileiros e estrangeiros, se reuniu numa praça da zona sul da cidade em protesto
contra o atentado.
103
Imagens do protesto no Rio.
RV: A manifestação marcada por uma rede social é uma homenagem às vitimas e
em defesa da liberdade de expressão.
ENCERRAMENTO
A partir da observação, a técnica de entrevista se mostra bastante pertinente
para que se possa ter um melhor entendimento de quem vivenciou os atentados de
perto. Isto será enfatizado no subtítulo seguinte.
6.2.3 Entrevista
Outra técnica de grande valia para esta pesquisa, que irá auxiliar para
responder a questão norteadora, é a entrevista. Para Jorge Duarte, no artigo
Entrevista em Profundidade (2012, p. 62), é uma “técnica qualitativa que explora um
assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de
informantes”. Bardin (2011, p.93) complementa que na entrevista lidamos com “uma
fala relativamente espontânea, com um discurso falado, que uma pessoa – o
entrevistado – orquestra mais ou menos à sua vontade”. Gil (1999) ainda afirma que
a entrevista é uma forma de interação social.
Por meio da entrevista é possível, segundo Duarte (2012), compreender o
processo do jornalismo.
Entender como produtos de comunicação estão sendo percebidos por funcionários, explicar a produção da notícia em um veículo de comunicação, identificar motivações para o uso de determinado serviço, conhecer as condições para uma assessoria de imprensa ser considerada eficiente, identificar as principais fontes de informações de jornalistas que cobrem economia (DUARTE, 2012, p. 63).
A entrevista é uma coleta de dados. Conforme Gil (1999), ela pode ser
estruturada ou menos estruturada. A partir desse princípio, a entrevista se classifica
em:
a) Entrevista informal: este tipo de entrevista é a menos estruturada. É uma
visão geral do problema pesquisado;
104
b) Entrevista focalizada: é uma entrevista livre, mas com foco em um tema
específico;
c) Entrevista por pautas: apresenta certo grau de estruturação, pois é guiada
por uma relação de interesse que o entrevistador vai explorando;
d) Entrevista formalizada ou estruturada: esta entrevista se desenvolve a
partir de uma relação fixa de perguntas com um grande número de
entrevistados. Possibilita o tratamento quantitativo de dados.
Para esta pesquisa, as entrevistas realizadas foram estruturadas. Por meio de
um questionário padrão elaborado para cada acontecimento, elas foram aplicadas
de duas formas: presencial e por e-mail. As fontes de informação escolhidas para a
aplicação da entrevista serão detalhadas no próximo subtítulo.
6.2.3.1 Fontes de informação
Para essa etapa, os repórteres escolhidos foram Zileide Silva, por ser a
correspondente principal na cobertura do atentado terrorista às Torres Gêmeas, em
11 de setembro de 2001; André Luiz Azevedo, por ser o principal correspondente na
cobertura do ataque terrorista ao Jornal Charlie Hebdo, em 7 de janeiro de 2015; e o
repórter Edney Silvestre por estar presente nos dois fatos.
Para complementar o contexto, foi realizada uma entrevista com o repórter
Caco Barcellos. Mesmo não sendo o foco principal, Barcellos já foi correspondente
internacional e também participou de grandes coberturas jornalísticas internacionais
de guerras e atentados. O repórter esteve na cidade natal da pesquisadora (Flores
da Cunha) participando de um evento, onde ocorreu a entrevista presencialmente.
As informações sobre os profissionais citados foram retiradas do site Memória
Globo.
6.2.3.1.1 Zileide Silva
Zileide Silva é conhecida por sua atuação nas áreas de economia e política. A
repórter, apresentadora e correspondente internacional participou de coberturas
importantes como a dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e de
diversas eleições presidenciais, nos Estados Unidos e no Brasil.
105
Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero, São Paulo, foi contratada pela
Globo em 1997 para trabalhar na sucursal de Brasília, na área de economia,
principalmente para o Jornal Nacional. Logo passou a fazer também a cobertura
diária do Palácio do Planalto, dos ministérios e do Congresso.
Acompanhou de perto a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso
e também acompanhou FHC no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça,
sua primeira grande cobertura internacional pela Globo. Em 2000, foi convidada para
ser correspondente em Nova York.
Zileide Silva participou da cobertura histórica das eleições que levou Luiz
Inácio Lula da Silva à Presidência da República e foi a primeira repórter negra a
integrar uma comitiva presidencial brasileira. Zileide Silva participou das coberturas
jornalísticas das eleições de 2006 e 2010, passando a integrar o seleto time de
repórteres que acompanharam todos os presidentes eleitos pelo voto direto desde a
queda do regime militar – de Collor a Dilma, sem interrupção.
A jornalista ganhou quatro vezes o Prêmio Comunique-se: em 2004, 2006 e
2008 foi eleita a melhor jornalista política; em 2005, a melhor repórter.
6.2.3.1.1.1 Questionário aplicado
a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no jornalismo
audiovisual.
b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como
correspondente internacional? Como foi essa experiência?
c) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como correspondente
internacional, quais você destaca?
d) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas são as mais
desafiadoras? Por quê?
e) Você era correspondente quando aconteceu o ataque às Torres Gêmeas.
A partir do fato, como se desenvolveu a cobertura?
f) Você entrou ao vivo no Jornal Nacional daquele dia. Como foi esse
processo do ao vivo? Naquela época era difícil fazer essas transmissões?
g) Como ocorre o processo de produção de conteúdo pós-fato e nos dias que
seguem? Precisa atender diversos programas da emissora? Existem
repórteres de apoio ou é um trabalho solitário e constante?
106
h) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e
transmissão da informação facilita a cobertura de uma pauta como essa?
i) Com tanta tecnologia existente atualmente, você faria o que de diferente
numa pauta como a das Torres Gêmeas?
j) Como a evolução tecnologia influenciou o seu trabalho como
correspondente internacional?
k) O espectador, agora, além de receptor é também é produtor de conteúdo.
Em diversas coberturas gravações de celulares são utilizadas para
contextualizar o fato. Como você vê a participação do público na produção
jornalística?
6.2.3.1.1.2 Ausência de retorno
A pesquisadora encaminhou mensagem via Facebook, a qual não foi
visualizada e também o questionário por e-mail não teve resposta. Todos os
contatos foram registrados e estão nos apêndices da pesquisa (Apêndices B e C).
6.2.3.1.2 André Luiz Azevedo
Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, a ECO, iniciou na Globo em dezembro de 1981. André
Luiz Azevedo participou da cobertura da campanha das Diretas Já, da eleição de
Tancredo Neves e, em seguida, cobriu sua doença e morte.
Em 1991, o jornalista fez a reportagem sobre a máfia do INSS, a qual ganhou
destaque mundial. Em 2002, André Luiz Azevedo estava na equipe que cobriu o
sequestro e a morte do jornalista Tim Lopes. Já no ano de 2011, passou a integrar a
equipe do JN no Ar, projeto onde o jornalista viajou em um avião especial por todas
as regiões para retratar os principais problemas do país.
Em 2012, André Luiz Azevedo iniciou sua carreira de correspondente da
Globo, em Portugal. Entre os fatos que ele cobriu estão a crise econômica, a
repercussão na Europa do sorteio das chaves da Copa do Mundo de 2014, a
renúncia do Rei Juan Carlos da Espanha e os ataques ao jornal Charlie Hebdo.
107
6.2.3.1.2.1 Questionário aplicado
A pesquisadora encaminhou uma mensagem para o jornalista via rede social
Facebook. André Luiz Azevedo respondeu, passando seu e-mail para o envio do
questionário.
O questionário com as respostas está reproduzido abaixo e a íntegra se
encontra nos apêndices da pesquisa (Apêndices D, E e F).
a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no jornalismo
audiovisual.
André Luiz Azevedo (AA): Comecei a trabalhar na Rádio Jornal do Brasil em 1972,
referência do jornalismo radiofônico na época. Fui repórter, editor, apresentador até
1982 quando fui convidado para trabalhar na TV Globo. Na Globo então são 35 anos
sempre como repórter em todos os telejornais, rede, programas etc.
b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como
correspondente internacional? Como foi essa experiência?
AA: Como repórter baseado no Rio fiz muitas viagens como enviado especial para
América do Sul, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Colômbia...
Cobri golpes, crises, situações variadas nessas viagens.
Em 2012 fui convidado a ser correspondente em Portugal com responsabilidade de
cobertura na Península Ibérica, África, principalmente colonização portuguesa, e
enviado especial para situações diversas no restante da Europa. Assim cobri a
guerra na Ucrânia entre outras coisas.
Em Portugal procurei fazer trabalho mais autoral e menos baseado em agências.
Assim me voltei para notícias que não despertam muito interesse das agências
internacionais, mais interessam aos brasileiros pela ligação com Portugal.
Com isso ao invés de apenas “amarrar” o noticiário das agências, pautava, produzia,
fazia a reportagem e edição do meu material. Serviço Completo. Principalmente
histórias de comportamento. Além disso procurei também fazer a cobertura da
comunidade brasileira local.
108
Considero que essa é uma falha dos correspondentes internacionais, que por conta
da grande pressão do noticiário das agências não cobrem a comunidade brasileira
local, considerada por muitos um “assunto menor”.
Além disso essa é uma cobertura que dá trabalho e difícil porque a comunidade nem
sempre quer expor por conta de problemas legais. Mas tentei e consegui algumas
vitórias.
c) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como correspondente
internacional, quais você destaca?
AA: A Guerra na Ucrânia por conta de ser um conflito real, em condições de
trabalho difíceis. Além da temperatura abaixo dos vinte graus negativos, a geração
do material numa situação como essa com conexões de internet difíceis complica
tudo.
A cobertura do atentado do Charlie Hebdo também foi marcante por conta da
importância do evento, o significado como agressões a liberdade, num país e cidade
icônicos como França e Paris. Numa cobertura como essa que chegamos já com o
evento acontecido, tudo se torna mais difícil em termos técnicos principalmente.
Depois com o tamanho do evento a cobertura se complica com a necessidade de
estar em permanente contato com a redação e ao mesmo tempo se deslocar para
apurar notícias in loco e não repassadas pelas agências.
d) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas são as mais
desafiadoras? Por quê?
AA: Já respondi acima.
e) Você era correspondente quando aconteceu o ataque ao jornal Charlie
Hebdo. A partir do fato, como se desenvolveu a cobertura?
AA: Estava em Lisboa quando fui deslocado. O primeiro desafio é chegar. Então
tem a logística de deslocamento, passagem etc.
A questão do equipamento. O que levar? O mínimo possível para ter agilidade, mas
o máximo para não faltar nada. Isso faz com que se leve tudo na mão para não
perder tempo com recolhimento de bagagem e chance de extraviar.
109
Com isso o lado pessoal fica por último. O mínimo de roupa. Mas o mínimo de roupa
não é pouco no inverno. Mas tem que caber numa pequena parte da mochila que já
está ocupada com o material.
No local a preocupação com a transmissão do material. Não adianta produzir e não
conseguir gerar. Contatos com produtoras, que já estão sobrecarregadas com outros
pedidos. Nessa hora experiência e tradição contam. Qualidade da comunicação. A
internet que sempre funciona, nessas horas costuma falhar.
Ao mesmo tempo precisa estar junto para ter material de qualidade, mas antenado
com o restante para não perder a noção geral e não ser furado.
Ao contrário do passado, onde se produzia para um grande jornal da noite, agora é
preciso produzir constantemente porque tem noticiário em todos os momentos e
todo mundo quer o melhor e não adianta dizer que está cansado que não dormiu
nem comeu, ninguém quer saber.
E quando for ao ar o último jornal, lembre-se que de madrugada já tem outro. E não
toma furo.
f) Como ocorre o processo de produção pós-fato e nos dias que seguem?
Precisa atender diversos programas da emissora? Existem repórter de
apoio ou é um trabalho solitário e constante?
AA: Já respondi. Tem vezes que o trabalho é solitário, outras vezes mais de uma
equipe e a redação te dá uma retaguarda. Mas é uma espécie de vergonha se a
redação der notícias que você no local não sabe.
g) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e
transmissão da informação facilita a cobertura de uma pauta como essa,
se compararmos a uma outra pauta como o ataque às Torres Gêmeas, em
2001?
AA: A tecnologia ajuda muito. Mas a tensão continua. Desde que comecei as
viagens internacionais no início da década de 80 tudo mudou. Naquela época
tínhamos que alugar um horário de satélite que custa uma fortuna e ir numa tv local
ou produtora para fazer a geração. E era uma agonia.
Agora geralmente fazemos a transmissão pela internet. Sem custo em princípio o
que facilitou muito. Mas a tensão não acabou. Depende da qualidade do sinal. Não
110
sinal de ligação telefônica, mas de transmissão de imagens. É a primeira coisa que a
gente quer saber quando chega como é upload que a gente consegue.
h) Como a evolução tecnológica influenciou o seu trabalho como
correspondente internacional?
AA: Continuando o que já falei. A evolução barateou os custos, aumentou a
facilidade, e aumentou muito também a cobrança.
i) O espectador, agora, além de receptor é produtor de conteúdo. Na
cobertura do ataque ao jornal Charlie Hebdo foi possível perceber o uso
de gravações de celulares para contextualizar o fato. Como você vê a
participação do público na produção jornalística?
AA: É a grande novidade das coberturas locais, nacionais e internacionais. Alguém
sempre está filmando. E no Charlie Hebdo não foi diferente. Quando é um evento
que todo mundo tem essa colaboração é de graça, quando são imagens exclusivas
podem custar muito caro.
6.2.3.1.3 Edney Silvestre
Edney Silvestre especializou-se em reportagens sobre cultura,
comportamento e responsabilidade social. Como correspondente em Nova Iorque,
participou da equipe que cobriu os atentados terroristas de 11 de setembro. Ao lado
do cinegrafista Orlando Moreira foi um dos primeiros jornalistas a chegar ao local
dos atentados, onde registrou imagens da devastação e o desespero da população
nas ruas da cidade.
Edney Silvestre foi contratado pela Globo, como correspondente no escritório
de Nova York, em 1997. Logo em seu primeiro ano enfrentou um grande desafio: a
cobertura da morte da Princesa Diana. Acompanhou também o escândalo que
envolveu o então presidente norte-americano Bill Clinton e a estagiária da Casa
Branca.
O repórter voltou ao Brasil em março de 2002 e participou de coberturas de
diversos carnavais, Rock in Rio, e as eleições de 2002, 2006 e 2010. Outra grande
111
cobertura que contou com a sua participação foi o Pan-Americano no Rio de Janeiro,
em 2007.
Com a renúncia do Papa Bento XVI, em 2013, Edney Silvestre voltou às
grandes pautas internacionais. Em janeiro de 2015, o jornalista participou da
cobertura dos atentados terroristas ao jornal Charlie Hebdo.
6.2.3.1.3.1 Questionário aplicado
a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no jornalismo
audiovisual.
b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como
correspondente internacional? Como foi essa experiência?
c) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como correspondente
internacional, quais você destaca?
d) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas são as mais
desafiadoras? Por quê?
e) Você era correspondente quando aconteceu o ataque às Torres Gêmeas.
A partir do fato, como se desenvolveu a cobertura?
f) Você gravou reportagens para o Jornal Nacional daquele dia. Como foi
esse processo? Naquela época era difícil fazer as reportagens e
encaminhá-las ao Brasil?
g) Você também fez reportagens quando ocorreu o ataque ao jornal Charlie
Hebdo em 2015. Como se deu o processo?
h) Quais as diferenças que você vê no processo das reportagens em 2001 e
em 2015?
i) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e
transmissão da informação facilita a cobertura de pautas como essas?
j) Como a evolução tecnologia influenciou o seu trabalho como
correspondente internacional?
k) O espectador, agora, além de receptor é também é produtor de conteúdo.
Em diversas coberturas gravações de celulares são utilizadas para
contextualizar o fato. Como você vê a participação do público na produção
jornalística?
112
6.2.3.1.3.2 Ausência de retorno
A pesquisadora encaminhou mensagem via Facebook, a qual não foi
visualizada. Todos os contatos foram registrados e estão nos apêndices da pesquisa
(Apêndice G).
No livro do jornalista William Bonner, Jornal Nacional: modo de fazer (2009), o
repórter Edney Silvestre relata sua experiência na cobertura do atentado de 11 de
setembro.
Eu e o Orlando Moreira [repórter cinematográfico radicado há mais de 30 anos em Nova York] fomos para a área do atentado. E, como se pode imaginar, a situação era completamente caótica. Dentro daquela área havia muita fumaça. Não se enxergava nada. Você não sabia muito bem onde você estava. A polícia não queria deixar que a gente passasse, nem de um lado nem do outro, porque, obviamente, a cena era terrível. Várias pessoas saltaram, porque com o calor de mil graus, elas não conseguiam ficar pisando no chão. A área foi, inclusive, fechada. Eles estenderam um pano para mantê-la fechada, de forma a não poder ser fotografada. Não me parecia haver interesse de alguém em mostrar isso. Nós – Orlando Moreira e eu – tínhamos de ir nos desviando para poder chegar até o local. Quando a gente estava relativamente perto, chegando ao Canal Street, a polícia começou a afastar todos que estavam ali porque havia um escapamento de gás. E se houvesse alguma coisa, alguma chama, toda aquela área poderia explodir. O que a gente não sabia também é que o atentado tinha abalado profundamente toda a estrutura embaixo do World Trade Center, e vários túneis de metrô tinham desabado. Aquilo ali é um aterro e tem uma parede de lado. Se ela cedesse, por pressão do rio – e já começava a ceder, porque os túneis tinham sido soterrados –, essa parede poderia vir abaixo. Se a parede viesse abaixo, ninguém imagina o que aconteceria. Enquanto isso, no escritório, as pessoas que não era jornalistas – a recepcionista, a moça que tomava conta dos assuntos econômicos – também colaboravam. Todos começaram a entrar na internet, a ver televisão, a passar notícias. Então, o escritório funcionou e fez um jornal enorme, com uma grande contribuição para o Jornal Nacional e, depois, para os outros jornais da casa. Tudo isso com o mínimo de pessoas. [...] Enquanto todos os outros canais mostravam imagens compradas, imagens de satélites, a TV Globo tinha suas imagens, e os seus repórteres estavam lá (BONNER, 2009, p. 38).
6.2.3.1.4 Caco Barcellos
Caco Barcellos entrou na Globo em 1984 como repórter especial da redação
de São Paulo. Começou a fazer reportagens investigativas e ganhou destaque. Em
1992 cobriu o massacre do Carandiru.
113
Em 2002, assumiu o posto de correspondente internacional em Londres e, em
seguida, foi transferido para Paris. Como correspondente, cobriu o atentado
terrorista em Madri, em 2003 e a morte do Papa João Paulo II, em 2005.
Em abril de 2006, estreou um novo projeto, o Profissão Repórter, no qual ele
e uma equipe de jornalistas recém-formados passaram a revelar os bastidores da
notícia, mostrando ao telespectador o processo de produção de uma reportagem.
6.2.3.1.4.1 Questionário aplicado
A pesquisadora realizou a entrevista com o jornalista presencialmente, em
sua cidade natal, onde Caco Barcellos estava palestrando. Durante a coletiva de
imprensa, a pesquisadora pode realizar as perguntas, as quais estão transcritas
abaixo. A gravação original está nos apêndices da monografia (Apêndice H).
a) Como é trabalhar com jovens profissionais? O que eles te ensinam?
Caco Barcellos (CB): Eles me ensinam muito mais do que eu ensino a eles. Eles
tiveram muita sorte na vida e na profissão de chegarem logo depois dessa revolução
digital, que trouxe a possibilidade de você democratizar o acesso à informação de
qualidade, que não tínhamos no passado. A minha geração não tinha isso. E eles
sabem usar isso muito bem, as novas tecnologias, para melhorar a qualidade da
reportagem que a gente faz noite e dia. Eles têm muito mais facilidade do que eu em
usar a nova tecnologia. Então, sem brincadeira, eu aprendo mais com eles do que
eles comigo. É uma troca, na verdade, muito interessante. Eu tenho algumas
experiências que, às vezes, são úteis e a gente troca muitas ideias sobre os
desafios que vamos encontrar no caminho e, quase sempre, os desafios não
envolvem diferenças para quem está começando e para quem está há muito tempo
na estrada. Reportagem não tem regra, é uma experiência nova todo o dia, um
processo novo todo dia. É muito interessante porque todos estão com a mesma
vontade de fazer o melhor sempre, correr atrás e enfrentar os desafios juntos.
114
b) Hoje, a notícia chega de uma forma muito rápida, devido às redes sociais,
e também qualificada. Qual a diferença de quando você começou e agora
com os jovens que trabalham com você?
CB: Antigamente a gente se iludia e achava que tinha que correr para contar
primeiro com exclusividade. As pessoas se orgulhavam em dizer: primeira mão,
fomos os primeiros a chegar. Há muito tempo eu não me preocupo mais com isso.
Mais importante que contar primeiro é contar melhor. Antes da bomba cair os
equipamentos ao vivo já estavam registrando a expectativa da queda, como vamos
chegar antes da bomba cair lá? De qualquer maneira essa pressa fica aí
perfeitamente atendida na necessidade de chegar rápido porque um robô pode
executar isso. Mas um robô, por mais moderno que seja, nunca vai explicar porque
aquela bomba caiu naquele lugar, o que está por trás daquela bomba. Eternamente
será necessária a figura do repórter para contextualizar a história, pra explicar a
história. Não há tecnologia que nos substitua, felizmente.
c) Então, mesmo com tanta tecnologia, estar na rua é fundamental?
CB: É essencial. Há quem não ache importante, mas eu acho essencial. Por que o
novo está na rua, não está dentro das redes sociais. E se está nas redes é porque
alguém já fez e então o restante está no copia e cola. Você pode sair para a rua
para acompanhar coisas que já aconteceram ou foram postadas, mas o novo
sempre está na rua. Há quem esqueça isso.
d) Como é estar no meio a esse caos sempre em busca da informação.
Como isso é feito?
CB: É um processo fascinante e diário. É a possibilidade de quando você vai à rua
com o espírito aberto, o coração aberto e de alma tranquila, você vai pra aprender e
não pra ensinar. Quer coisa melhor do que todo o dia você ter a chance de aprender
sobre algo da realidade brasileira? Cada pessoa tem dentro de si sempre uma
grande história. Cabe você saber ouvir essa história. Você pode passar e ignorar
totalmente a existência de algumas pessoas, mas se você se dedicar ali, a ouvir
principalmente, é fascinante. E cada pessoa pode oferecer pra você o conhecimento
115
dela, em todos os níveis. Pode ir atrás de um intelectual ou de um simples
trabalhador que tem grandes experiências pra passar pros outros.
e) Como está a imprensa hoje?
CB: Acho que precisamos de aliados nas ruas e nas reportagens. Pensando em
jornalismo, o gênero reportagem é o mais carente, está em desuso e fora de moda e
a gente precisa desses aliados. O jornalismo está hipercarregado de copiadores e
supercarregado de jornalistas de opinião. Mesmo a televisão, está cheia de
programas de blá-blá-blá, de conversa, que são fundamentais. É importante essa
troca de ideia, mas falta muito a reportagem e tem excesso de opinião. Tem gente
copiando antes de ter aprendido. Opina antes de se formar. Por exemplo, a
operação Lava Jato é o trabalho dos promotores, não é do jornalista. O que faz o
jornalista? Reproduz o que o promotor ou o juiz fez. Falta reportagem, e na
cobertura da Lava Jato não tem reportagem. Falta luz própria, falta repórter na rua.
f) Você tem vários anos de profissão, com reportagens e livros que abordam
sobre a violência. Sempre conseguiu manter a sua liberdade?
CB: Na verdade, liberdade é sempre do dono. O que eu sempre tive foi uma
independência respeitada. Se eu quisesse 100% eu tinha que ter o meu jornal, a
minha revista ou televisão. Às vezes a gente quer uma hora para algo, mas quem
vai dizer se terei uma hora ou cinco minutos serão os donos. Mas independência
sempre consegui. Não me envergonho de nada que fiz e não estou dizendo que fiz
coisas boas, mas se fiz coisas ruins a responsabilidade foi minha. Nunca do editor,
do chefe ou do dono da empresa. Sem eu fraquejei ou fui fraco ou não tenho
queixas. Poderia em algumas situações ter feito melhor, mas se não o fiz a culpa foi
minha.
6.2.3.1.5 Jornalistas do RS
Para complementar o conteúdo sobre o tema correspondente internacional, a
pesquisadora entrou em contato com os jornalistas Rodrigo Lopes e Daniel Scola,
do grupo RBS, que já atuaram como correspondente. Com ausência de retorno, os
contatos e os questionários feitos estão nos apêndices (Apêndices H, I e J).
116
A partir da aplicação do método e das técnicas, será possível realizar a
análise de conteúdo do corpus pesquisado.
117
7. A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NAS COBERTURAS DE ATENTADOS
TERRORISTAS NO JORNAL NACIONAL
Com base na definição do corpus da pesquisa, na revisão bibliográfica dos
temas abordados, na decupagem dos programas e entrevistas realizadas com
jornalistas, será possível fazer a análise de conteúdo proposta pelo método desta
monografia. O objetivo é responder a questão norteadora da pesquisa - de que
forma a tecnologia contribuiu para o aprimoramento da cobertura de atentados
terroristas no telejornalismo? - e confirmar ou não as hipóteses elencadas no estudo.
É importante salientar que a pesquisadora tem ciência de que os dois
acontecimentos destacados no trabalho, o ataque às Torres Gêmeas e ao Jornal
Charlie Hebdo, possuem diferentes proporções, assim como a cobertura realizada
pelo Jornal Nacional nos dias destacados. O fato de terem impactos diferentes não
interferem na análise do conteúdo proposta no presente estudo, já que o foco da
pesquisa é o avanço tecnológico na cobertura de atentados terroristas durante a
produção e transmissão da informação.
Como resultado da codificação proposta por Bardin, foram elencadas duas
categorias macro: avanço tecnológico, com as subcategorias equipamentos, imagem
e interação; e produção de conteúdo do telejornal, com as subcategorias cobertura
jornalística e ancoragem e entrada ao vivo.
7.1 AVANÇO TECNOLÓGICO
A televisão é um dos meios de comunicação tradicionais que faz parte da
rotina diária dos cidadãos. Desde seu surgimento, a TV evoluiu muito,
principalmente nos equipamentos. A modernização fez com que os profissionais
trabalhassem com menos instrumentos e produzissem mais.
A imagem é o principal recurso do veículo e ao longo dos anos também
sofreu alterações, principalmente com o surgimento da internet e da disseminação
da informação pelos telespectadores, assim surgindo uma interação entre jornalista
e espectadores.
Ao longo da análise de conteúdo equipamentos, imagem e interação se
destacaram dentro do avanço tecnológico e estão presentes nesta categoria para
responder à questão proposta pelo trabalho.
118
7.1.1 Equipamentos
A televisão chegou ao Brasil em 1950 e seus primeiros programas eram
adaptados do rádio. Os telejornais, conforme Bistane e Bacellar (2008) no capítulo 3,
eram ao vivo com os apresentadores lendo as informações, sem muitas imagens.
Com o avanço tecnológico, os equipamentos utilizados para realizar as
reportagens foram evoluindo. A primeira grande evolução foi o videotape (VT),
abordado no capítulo 3. O equipamento que oportunizava reproduzir vídeos
gravados provocou uma revolução na TV. Paternostro (2006), também no capítulo 3,
destaca que, em virtude disso, a qualidade dos programas melhorou, houve uma
economia de custo e tempo, além de uma racionalização na produção.
O VT é de grande valia e muito utilizado na televisão. Podemos constatar isso
no programa JN do dia 11 de setembro de 2001, como abordado na decupagem no
capítulo 6, onde as mesmas imagens do atentado captadas por cinegrafistas são
reproduzidas mais de quatro vezes durante a exibição do telejornal. Com poucas
imagens disponíveis, até mesmo pelo fato dos repórteres não poderem chegar tão
próximo ao acontecido, por segurança, o VT proporciona um maior fôlego a quem
está apresentando o jornal, podendo repetir as imagens que impactam os
telespectadores. Com a tecnologia, o recurso da imagem ficou mais fácil, porque
qualquer imagem que é importante para contextualizar o fato pode estar presente na
matéria, mesmo sem a qualidade necessária. Aqui o que se preza é a informação,
independente da qualidade, como será possível perceber no próximo subtítulo, onde
a imagem será destaque.
Outra tecnologia já existente, mas de suma importância na cobertura do 11 de
setembro, foi o telefone. Entrevistas foram concedidas por meio dele (Figura 2) e até
mesmo o correspondente do Oriente Médio, Mounir Safatli, relata a repercussão do
fato, via aparelho (Figura 3).
119
Figura 2 - Entrevista por telefone
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Figura 3 - Reportagem via telefone
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Com o VT e o surgimento do satélite, a exibição de fatos internacionais se
tornou mais acessível. De acordo com Paternostro (2006), as informações evoluíram
tanto que ficou fácil acompanhar algo que acontece no outro lado do mundo no
momento exato, e sem sair de casa.
120
O jornalista André Luiz Azevedo (2017), em entrevista para a autora desta
monografia, compara o satélite com a internet, no capítulo 6. O profissional afirma
que era preciso alugar um horário de satélite, o que custava caro, e ir até uma TV
local para fazer a geração do conteúdo. Tinha que ser programado. E isto aconteceu
em 2001: com as reportagens já programadas para rodar no Jornal Nacional, os
repórteres e cinegrafistas envolvidos sabiam que a matéria iria ao ar no horário do
JN, deixando tudo pronto para o momento. Era um trabalho realizado
exclusivamente para o Jornal Nacional.
Já com a era digital, as interferências são menores na comparação ao
processo anterior, dos satélites. Paternostro (2006) salienta que a imagem e o som
não possuem tanto ruído. E com a internet tudo ficou ainda mais fácil. Mas, com
isso, o formato das reportagens e do telejornal sofreram alterações. Conforme
Tourinho (2009) no capítulo 3, as câmeras cinematográficas foram substituídas
pelas eletrônicas, o que facilitou a gravação. Além disso, a tecnologia permitiu maior
agilidade aos telejornais, contato com múltiplas fontes e possibilidades de ser visto
por mais espectadores.
Neste contexto, o celular é uma ferramenta muito utilizada. Fernando Firmino
da Silva (2008), no capítulo 3, afirma que os celulares são pequenos computadores
que realizam múltiplas tarefas para a disseminação de conteúdo. Com eles qualquer
indivíduo pode publicar imagens e informações dos fatos cotidianos.
E, de acordo com a entrevista de Caco Barcellos (2017), cedida a autora
deste trabalho, a revolução digital trouxe a possibilidade de democratizar o acesso à
informação de qualidade, o que não se tinha no passado. Conforme o jornalista, a
tecnologia veio “para melhorar a qualidade da reportagem que a gente faz noite e
dia” (BARCELLOS, 2017).
Conforme Tourinho (2009), os equipamentos necessários para uma
transmissão agora são mínimos: o repórter sozinho consegue dar conta de tudo,
além do custo ser menor e ter uma maior mobilidade na hora da execução da
matéria. Neste sentido, Bistane e Bacellar (2008) complementam que, com a
chegada da internet, o repórter fala ao vivo de qualquer lugar do mundo. De acordo
com a Rede Globo, no capítulo 5:
121
com equipamentos de dimensões reduzidas, um repórter consegue enviar material diretamente para a emissora, sem a necessidade de reservar um canal de satélite. Ele grava o material com uma câmera comum, transfere o conteúdo para um notebook, edita a reportagem digitalmente e a transmite, comprimida, num arquivo digital pela internet (BONNER, 2009, p. 38).
Esse processo, muito mais moderno e prático, é comentado por Azevedo
(2017) em entrevista quando afirma que é necessário se deslocar até o ocorrido
levando apenas os equipamentos necessários para realizar a cobertura. O jornalista
ressalta: “o mínimo possível para ter agilidade, mas o máximo para não faltar nada.
Isso faz com que se leve tudo na mão para não perder tempo com recolhimento de
bagagem e chance de extraviar” (AZEVEDO, 2017).
Mas, conforme Barcellos (2017), “mesmo com tanta tecnologia, estar na rua é
fundamental”. Esse contexto pode ser percebido em 2001, quando não existia outra
opção a não ser buscar a informação na rua. E também é possível analisar em 2015
(Figura 4), mas com uma dinâmica diferente. No ataque ao Charlie Hebdo, as
informações eram constantes e a perseguição aos terroristas estava acontecendo no
momento, o fato foi vivenciado.
Figura 4 – Repórter na rua
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Conforme pudemos perceber no capítulo 3 e também no capítulo 5, a questão
tecnológica faz com que os repórteres intensifiquem o seu trabalho, pois a
mobilidade e a instantaneidade são os principais pontos desta evolução no ambiente
122
televisual. Entretanto, a tecnologia não deve ultrapassar os limites humanos e,
sendo assim, as agências de notícias ganham força e as transmissões dos estúdios
de TV também. Esse fator será aprofundado em subtítulo específico.
Outro ponto com características fortes no telejornalismo, a imagem, também
acompanhou a evolução proporcionada pela tecnologia, o que será percebido na
próxima subcategoria.
7.1.2 Imagem
As imagens proporcionam credibilidade e força às notícias dos telejornais.
Conforme Machado (2014), no capítulo 2, o telejornal é composto por sons e
imagens que, além de ilustrarem o que o repórter narra, transmitem a dimensão do
acontecimento aos telespectadores. As imagens dentro da reportagem podem ser o
complemento da fala ou o ponto principal, como na reportagem de 11 de setembro
de 2001.
Mencionado na subcategoria anterior, o VT foi de grande importância para a
cobertura do atentado às Torres Gêmeas. As poucas imagens capturadas pelos
cinegrafistas da Globo, principalmente no momento da tragédia, foram transmitidas
diversas vezes naquele dia. A escolha da imagem do segundo avião colidindo na
Torre pode ter sido uma estratégia da Rede Globo para impactar o telespectador e
valorizar as imagens do fato, além de intensificar e ampliar a cobertura,
proporcionando que, com as mesmas imagens outras informações relevantes
possam sem transmitidas. Esse contexto pode ser verificado na decupagem e
também nas imagens abaixo (Figuras 5, 6, 7 e 8).
123
Figura 5 - Avião colide na segunda torre – Imagem chamada JN
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Figura 6 - Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 1
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
124
Figura 7 - Avião colide na segunda torre – Imagem reportagem 3
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Figura 8 - Avião colide na segunda torre – Imagem nota coberta
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Conforme Edney Silvestre, em depoimento citado no capítulo 6, “enquanto
todos os outros canais mostravam imagens compradas, imagens de satélites, a TV
Globo tinha suas imagens próprias” (BONNER, 2009, p. 38). O fato se destaca na
cobertura do jornal de 11 de setembro, pois a emissora não comprou imagens de
125
agências e, por isso, foi indicada pela Academia Nacional de Artes e Ciências da
Televisão dos Estados Unidos ao prêmio Emmy Internacional, pela sua cobertura,
sendo finalista ao lado da emissora alemã RTL e das britânicas ITN e BBC17.
Com a evolução da internet e o surgimento das mídias digitais, houve um
impacto no segmento da imagem. Conforme citado no capítulo 3, por Paternostro
(2006), a chegada de uma nova tecnologia sempre é um desafio e o fato das
pessoas estarem no local do ocorrido podendo gravar e divulgar informações via
internet influenciou na produção do conteúdo.
A interatividade entre repórteres e telespectadores com o avanço da internet,
oferece uma abrangência maior na construção da notícia. De acordo com Barbosa
(2013), citado no capítulo 3, o telespectador está em mais lugares que o repórter,
até porque, principalmente no exterior, os escritórios estão cada vez mais enxutos,
possuindo uma equipe bem pequena. Mas a verificação da veracidade dos materiais
continua sendo um trabalho indispensável pelos profissionais da TV, mantendo a
credibilidade da emissora.
Na exibição do programa JN no dia 7 de janeiro de 2015, durante a cobertura
do atentado ao jornal francês Charlie Hebdo, é possível perceber mudanças de
imagens em comparação a 2001. O uso da internet possibilitou a divulgação de
conteúdo que agregou valor à notícia. Imagens divulgadas por pessoas comuns que
estavam em lugares onde o repórter não conseguiu chegar (Figura 9) foram o
destaque na reportagem.
17 Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-de-11-de-setembro/emmy.htm> Acesso em: 21 out. 2017.
126
Figura 9 - Policiamento em pontos turísticos de Paris
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Como já abordado no subtítulo Equipamentos, o celular também virou fonte
de informação e é um grande aliado na difusão e no consumo de conteúdo,
principalmente com a chegada dos smartphones, aparelhos que possuem acesso à
internet. Em 2015, não foi diferente. Imagens de celulares da hora do ocorrido foram
registradas e divulgadas durante a reportagem do JN (Figura 10) para dar mais
precisão ao fato.
Figura 10 - Imagem de celular
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
127
De acordo com os princípios editoriais do Grupo Globo informados no capítulo
4:
informações e imagens enviadas pelo público pela internet só devem ser publicadas depois de averiguação quanto à sua veracidade. Na cobertura de eventos que o trabalho de jornalistas esteja cerceado, haverá casos em que será necessária a publicação de informações e imagens assim obtidas, sem averiguação, mas o público deverá ser avisado de que não há como confirmar se são verdadeiras (Princípios editoriais do Grupo Globo, 2011, p. 12).
Outro fator importante que a internet possibilitou foi a utilização das redes
sociais. Em 2015, imagens publicadas pelo jornal Charlie Hedbo, em seu perfil do
Facebook, também foram fontes de informação para os veículos de comunicação
(Figura 11), além de ser um recurso de imagem a mais para complementar a notícia.
Figura 11 - Página do Facebook do Jornal Charlie Hedbo
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
A partir da cobertura de 7 de janeiro de 2015, podemos analisar que em 2001
se enfatizava muito a qualidade da imagem e, em 2015, o que se prezou foi a
informação. E isso aproxima cada vez mais o telespectador do fato, possuindo uma
maior interação com os veículos, o que será ampliado na subcategoria seguinte.
128
7.1.3 Interação
Com o avanço tecnológico ainda no início, em 2001, durante o atentado às
Torres Gêmeas, a interação entre os públicos ainda priorizava o processo de
comunicação de um para todos, como contextualizado no capítulo 3 por Pierre Lévy
(2000). Os veículos de comunicação de massa ainda eram o emissor da informação,
tendo uma multiplicidade de receptores.
Pode-se perceber, por meio deste processo de comunicação, que durante a
cobertura do atentado os repórteres tiveram uma atuação mais profunda,
investigando o acontecido, entrevistando um grande número de pessoas com pontos
de vista diferentes, apresentando diversos relatos do ocorrido, além de atualizar os
telespectadores de toda a repercussão em outros países, e o que seria afetado,
como, por exemplo, o dólar, o petróleo e até os deslocamentos para os Estados
Unidos. Tudo foi contextualizado durante a uma hora de cobertura do Jornal
Nacional.
Já em 2015, com a influência da tecnologia, houve uma abertura para novos
processos de comunicação: os profissionais contam com o auxílio de
telespectadores. O público se apropria da informação e acaba colaborando com a
matéria, o chamado jornalismo colaborativo, que é a produção e a difusão de
informação por cidadãos que não têm formação jornalística ou que não estão ligados
a veículos de comunicação tradicionais, abordado no capítulo 3. As pessoas
passaram de espectadoras de forma clássica, que assistiam ao telejornal e apenas
recebiam a informação, para produtores de conteúdo, que estão oferecendo
informações ao mesmo tempo que recebem.
Também em 2015 as informações poderiam ser encontradas em diversas
plataformas da internet, obrigando o telejornal a focar em outros aspectos que ainda
não foram mencionados e atualizar as informações constantemente,
complementando o que as diversas fontes já haviam divulgado. Por isso, a
abordagem da cobertura do jornal Charlie Hebdo foi diferente das Torres Gêmeas,
por causa da realidade da internet, e isso faz com que a cobertura do atentado ao
Charlie Hebdo possa parecer mais superficial, não levando tanto em conta as
entrevistas e utilizando mais recursos oriundos da internet e mídias sociais para
transmitir ao público a grande proporção da tragédia.
129
Essa diferença entre as duas datas apresentadas neste trabalho revela que a
TV Globo modificou sua linha editorial para uma nova realidade que está sendo
vivenciada no momento: a da evolução tecnológica pós-surgimento da internet e,
consequentemente, a sociedade da informação.
Todos esses novos aspectos, o jornalismo colaborativo e a internet,
influenciaram na produção do conteúdo do telejornal, o que poderemos perceber na
próxima categoria desta análise.
7.2 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO DO TELEJORNAL
Dentro desta categoria serão abordados dois aspectos de relevância para a
análise deste trabalho. São eles: cobertura jornalística e ancoragem e entradas ao
vivo. Como pudemos perceber, estes aspectos complementam os anteriores já
desenvolvidos, mas com foco principal no conteúdo jornalístico, e não na tecnologia.
Conforme Curado (2002) no capítulo 4, a TV é referência nas notícias para
grande parte da população, por isso a busca constante na veracidade dos fatos,
imagens e entrevistas são fundamentais para a construção de uma boa reportagem.
7.2.1 Cobertura jornalística
Equipamentos evoluem, imagens mudam, cenários se modernizam e a fala se
atualiza com o tempo, mas a estrutura de uma reportagem permanece igual e é
essencial para o telejornalismo. Como apresentado no capítulo 2 desta monografia,
o telejornal é um programa com características próprias, com apresentação em
estúdio chamando reportagens. Conforme o economista Tony Schiaretta, citado por
Jorge e Pereira (2009), no capítulo 3, o bom jornalista continua sendo aquele capaz
de apurar uma boa matéria, escrever um bom texto, fazer um bom título. Aquele que
passa a informação rápida, objetiva, crítica, pluralista e independente.
Ao longo dos anos, os valores-notícias não mudaram: imediatismo,
improbabilidade, morte, abrangência, caráter histórico. Como citam Barbeiro e Lima
(2002, p. 46) no capítulo 4, “mesmo com tanta tecnologia disponível, o jornalismo
depende da velha e boa reflexão, investigação, acurácia e divulgação”.
O que é possível notar com os avanços tecnológicos e principalmente com a
internet, é a instantaneidade na divulgação dos fatos e a interação entre repórter e
130
telespectadores, já apresentada no subtítulo anterior, o que também norteiam esta
subcategoria.
O público influencia na rotina de apuração dos fatos, uma vez que mais
pessoas, além da equipe, estão atentas aos acontecimentos. Na cobertura de 2015
essa interação foi fundamental, já que conforme o jornalista americano Peter
Goodman, citado por Vieira (2015), no capitulo 5, as notícias estrangeiras são
extremamente caras, pois requerem um profissional qualificado, que domine outros
idiomas, que saiba apurar e reportar bem as histórias.
Em 2001, os escritórios internacionais da Rede Globo estavam no auge,
iniciando um trabalho que proporcionaria melhor qualidade aos telejornais. Mesmo
com grandes gastos, 14 profissionais em todo o mundo trabalharam
incansavelmente para realizar a edição especial do JN.
Mas com o avanço da tecnologia, equipamentos mais qualificados
substituíram muitos profissionais, baixando o custo da produção dos
correspondentes. Em 2015, a cobertura do Charlie Hebdo possuía tecnologia à
disposição com equipamentos modernos e internet, e apenas seis repórteres
trabalharam em torno do acontecido.
Conforme o jornalista principal da cobertura do atentado ao jornal Charlie
Hebdo, André Luiz Azevedo (2017), ao chegar para realizar uma cobertura já com o
evento em andamento, tudo se torna mais difícil. O profissional ressalta: “depois com
o tamanho do evento a cobertura se complica com a necessidade de estar em
permanente contato com a redação e ao mesmo tempo se deslocar para apurar
notícias in loco e não repassadas pelas agências” (AZEVEDO, 2017).
Azevedo (2017) ainda afirma que durante a cobertura do Charlie Hedbo,
mesmo com a tecnologia disponível, há uma preocupação com a transmissão do
material no local: “a internet que sempre funciona, nessas horas costuma falhar”
(AZEVEDO, 2017).
Jorge Pontual, no capítulo 5, corrobora com a fala de Azevedo apontando
outro problema que o correspondente tem: a dificuldade de cultivar fontes porque
está sempre viajando. E, por esse motivo, as agências internacionais ganharam
espaço no telejornalismo. Cavalcanti (2014) aborda esse tema no capítulo 5, onde a
produção em larga escala é mais viável economicamente, pois a emissora possui
mais informações por um preço muito mais baixo do que se o material fosse
produzido pelo próprio veículo.
131
Conforme Azevedo (2017) há muitos correspondestes que se baseiam
apenas em notícias de agências, narrando basicamente os fatos disponíveis por ali.
“Considero que essa é uma falha dos correspondentes internacionais, que por conta
da grande pressão do noticiário das agências não cobrem a comunidade brasileira
local, considerada por muitos um “assunto menor”” (AZEVEDO, 2017).
Mas ao longo das decupagens dos dois episódios, trazidas no capítulo 6, é
possível perceber uma diferença na abordagem dos fatos. Como já relatado, a
internet modificou a linha editorial do JN, e, ao mesmo tempo, podemos perceber
uma diferença na relação de profundidade de conteúdo. É possível afirmar que, em
2015, por se tratar de um atentado envolvendo um veículo de comunicação, a
emissora optou por não se posicionar abertamente, se detendo apenas no relato dos
fatos, mas, ao mesmo tempo, contextualizando o local do ocorrido, e frisando a
liberdade de expressão e de imprensa, como é possível perceber na entrada ao vivo
de André Luiz Azevedo.
AA: [...] Este aqui é o bairro da Bastilha, um bairro histórico de Paris, conhecido pela
liberdade, um bairro que houve aquele episódio da libertação durante a Revolução
Francesa. Por isso esse simbolismo ainda maior desse atentado.
A partir desse entendimento de que a internet influenciou a produção da
notícia, consequentemente a divulgação da mesma também teve que ser pensada e
reformulada. A apresentação do telejornal e como o âncora e os repórteres abordam
o assunto teve uma mudança significativa entre os dois episódios analisados. Este
contexto será aprofundado na próxima subcategoria.
7.2.2 Ancoragem e entradas ao vivo
Depois de todo o trabalho de produção e apuração do conteúdo, as
reportagens estão prontas para irem ao ar. Neste subtítulo veremos a mudança da
abordagem dos apresentadores do telejornal, comparando as duas datas, e também
a evolução dos repórteres nas entradas ao vivo.
As entradas ao vivo conferem veracidade ao acontecido, mas para continuar
dando credibilidade à emissora os jornalistas precisam se atualizar com as
tecnologias, como já abordado dentro desta análise. É o chamado profissional
132
multimídia que, de acordo com Castilhos (2005, p. 255), no capítulo 3, é o jornalista
que “trabalhará simultaneamente com texto, áudio, vídeo e interatividade, num
ambiente de convergência de veículos impressos, audiovisuais e cibernéticos”.
Em 2001, foi possível perceber por meio da decupagem, no capítulo 6, que as
entradas ao vivo possuíam uma linguagem mais dura, um texto mais decorado, com
o repórter aparecendo sempre em plano médio e sem movimentações de câmera
(Figura 12), como pode ser conferido no exemplo abaixo retirado da decupagem do
conteúdo.
ZS: Fátima, essa informação que os Estados Unidos não têm nada a ver com os
ataques a Cabul foi confirmada agora a pouco pelo secretário de Defesa americano.
E aqui em Nova York um terceiro prédio, que ficava ao lado das Torres Gêmeas,
caiu também. Foi no finalzinho da tarde.
ZS: Bonner, Manhatan começa a tentar voltar ao normal. Hoje cedo as
comunicações aqui na cidade praticamente pararam. Os celulares não funcionavam.
Completar uma ligação pra outro país era praticamente impossível. Uma situação
difícil, mas é o que está prevista, e deve acontecer quando um plano de emergência
é acionado. Agora a situação é um pouco mais normal. Algumas linhas do metrô já
estão funcionando. Túneis e pontes já foram liberados, mas apenas para quem quer
deixar a cidade. E o prefeito de Nova York fez um apelo: pediu para que as pessoas
não venham para Nova York amanhã, já que as investigações continuam. As
escolas públicas e as escolas católicas não vão ter aulas amanhã. Fátima.
133
Figura 12 - Entrada ao vivo Zileide Silva
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Pode-se perceber que a fala da jornalista Zileide Silva é programada, mas as
entradas ao vivo são de grande importância para noticiar as últimas informações e
deixar o telespectador atualizado a cada momento. Isso é percebido na última
entrada ao vivo da jornalista (Figura 13) quando ela recebe uma informação de
última hora. Aqui é importante destacar que, conforme a autora Fechine (2006), no
capítulo 4, imprevistos e problemas técnicos são aceitáveis como marcas da
fidedignidade da transmissão e do conteúdo.
ZS: [...] Eu tenho mais uma informação aqui, que a inteligência americana, tá difícil
porque a gente está recebendo as informações ao vivo, que a inteligência americana
conseguiu interceptar mensagens de Osama Bin Laden sobre os ataques. Esta é a
última informação que nós estamos acabando de receber aqui no escritório da
Globo, em Nova York. Fátima.
134
Figura 13 - Entrada ao vivo Zileide Silva lendo últimas informações
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Nas últimas coberturas de atentados, em 2017, observadas pela
pesquisadora como espectadora, durante a entrada ao vivo, os repórteres utilizam o
celular por causa das constantes atualizações. E esses avanços que acompanham a
tecnologia são percebidos na cobertura de 2015, em comparação com 2001, quando
o jornalista utiliza da informalidade e da descontração para ter um contato mais
próximo da realidade do atual consumidor de notícias.
André Luiz Azevedo (2017), em suas aparições ao vivo, está na rua, em meio
ao movimento, e não no estúdio como Zileide Silva, em 2001. Com uma imagem que
possui mais movimento e uma linguagem mais solta (Figura 14), pode-se notar que
o repórter conseguiu se adaptar ao novo perfil de apresentação. E, no caso de
Azevedo, a vivência fez com que o jornalista conseguisse se aprimorar ainda mais,
se colocando no lugar do cidadão.
AA: Muito boa noite Renata, muito boa noite a todos aí no Brasil. Exatamente, eu
estou bem próximo do local do atentado, a cerca de 150 metros, até onde os
jornalistas podem ir. Este aqui é o bairro da Bastilha, um bairro histórico de Paris,
conhecido pela liberdade, um bairro que houve aquele episódio da libertação
durante a Revolução Francesa. Por isso esse simbolismo ainda maior desse
atentado. Quando eu vim do aeroporto pra cá já percebi em vários pontos aqui de
135
Paris uma espécie de reação contra esse atentado. Agora à noite, o que a gente
sente, ao mesmo tempo que é um clima de apreensão na cidade por causa desse
atentado, mas também uma reação dos franceses, dos parisienses, dizendo que não
vão se curvar ante essa ameaça terrorista. A vida na cidade aparentemente continua
normal, as pessoas caminham pelas ruas de Paris com apreensão, com
preocupação, já que foi dado o alerta máximo em relação a possibilidade de novos
atentados, mas os parisienses reagem.
Figura 14 - Entrada ao vivo André Luiz Azevedo
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Pode-se também perceber que o repórter conta o que está vendo (Figura 15),
o que presenciou na sua chegada ao local do atentado, além de falar o que as
pessoas estão sentindo no momento. Não há uma preocupação estática como em
2001, aqui o que vale é a informação, sem fala programada e valorizando a
presença do repórter. Também é possível notar que o profissional repete
seguidamente as informações, pois é o que está acontecendo no momento.
136
Figura 15 - Repórter fica de costas para a câmera
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
AA: Neste momento a gente vê um comboio policial que sai aqui da região da
Bastilha. Então confirmando, há um cerco policial neste momento na cidade de
Reims, pra tentar prender os três suspeitos. [...] Então nesse momento estaria sendo
feito um cerco pra tentar prender os terroristas que fizeram o ataque aqui na capital
francesa.
Além das entradas ao vivo do local do ocorrido, outra possibilidade de
atualizar as informações, e que foi apresentada em 2015, são as entradas ao vivo de
correspondentes de outros lugares do mundo. Esta é uma estratégia da emissora
para valorizar os seus pontos no exterior e ao mesmo tempo dar um fôlego ao
repórter principal, para buscar mais informações e dar um tom de atualização.
Assim, os correspondentes passam as informações ao vivo (Figura 16 e 17),
e, em seguida, chamam a própria reportagem sobre a repercussão do fato no país
em que se encontram.
BANCADA
HP: A Europa toda está em alerta, em choque, com o atentado a sede do jornal
francês. A gente conversa agora com o correspondente em Londres, Renato
137
Machado. Renato, boa noite. O tom das manifestações, das reações. Há reações
em todos o continente.
AO VIVO
Renato Machado (RM): Boa noite Renata, boa noite Heraldo. Os líderes europeus
se uniram para classificar o ataque ao Cherlie Hebdo, como um ataque à liberdade
de expressão e de imprensa. Os adjetivos usados foram: abominável, bárbaro,
criminoso. Na França se formou uma corrente de solidariedade e apoio ao jornal e
aos profissionais em geral. O lema é "Todos Somos Charlie". E agora à noite o
presidente François Hollande falou para um país ainda em choque. E pediu a união
da França.
Figura 16 – Correspondente internacional em Londres
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
BANCADA
RV: O governo americano prometeu ajuda aos franceses na caça aos responsáveis pelo
ataque dessa manhã. Vamos então ao vivo agora para Nova York conversar com o
correspondente Fábio Turci. Boa noite Fábio.
138
AO VIVO
Fábio Turci: Boa noite Renata, Heraldo. Boa noite a todos. O presidente Barack Obama
telefonou à tarde para o presidente francês, François Hollande, para prestar
solidariedade. Ele ofereceu ajuda para identificar, prender e levar à justiça os
responsáveis pela tragédia e qualquer outra pessoa que tenha ajudado a planejar a
ação. Obama, que já tinha divulgado uma nota condenando o ataque, decidiu falar à
imprensa sobre a tragédia antes de uma reunião na Casa Branca.
Figura 17 – Correspondente internacional em Nova York
Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão
Outro fator de destaque abordado por Azevedo (2017) é a produção de
conteúdo para todos os jornais da emissora.
Ao contrário do passado, onde se produzia para um grande jornal da noite, agora é preciso produzir conteúdo constantemente, porque tem noticiário em todos os momentos e todo mundo quer o melhor e não adianta dizer que está cansado, que não dormiu nem comeu, ninguém quer saber. E quando for ao ar o último jornal, lembre-se que de madrugada já tem outro (AZEVEDO, 2017).
Nesse sentido, é importante ressaltar o profissional multimídia, o qual exige
uma maior agilidade do jornalista. Nessa linha, nota-se, em 2015, que o repórter não
fez grandes reportagens. Porém, ele se encontra em todos os jornais passando as
informações atualizadas que buscou nos momentos em que não estava no ar.
139
Diante dos fatos analisados é possível perceber uma diferença no formato da
apresentação das reportagens de coberturas de atentados terroristas após a
disseminação da internet e a modernidade dos equipamentos. Com os dados sendo
atualizados constantemente em diversas plataformas da internet, o telejornal não se
detém apenas naquele fato, como aconteceu em 2001. Outros assuntos de
relevância também ganham espaço na programação.
Além disso, a postura dos repórteres se transformaram, não sendo apenas
uma figura que transmite a informação, mas sim fazendo uma interação com o
telespectador contando os fatos como ele vê, como em uma conversa informal.
A partir das categorias e da reflexão realizada em cada subcategoria da
análise conteúdo é possível identificar que o telejornalismo acompanhou a evolução
tecnológica se adaptando aos novos formatos, podendo responder à questão
norteadora e confirmar ou refutar as hipóteses previamente estabelecidas na
pesquisa, as quais serão contempladas nas considerações finais.
140
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo da história o homem criou diversas ferramentas para aprimorar a
comunicação. A partir dos anos de 1970 com desenvolvimento de equipamentos
tecnológico e a junção com a internet, as pessoas do mundo inteiro puderam se
comunicar. E, no telejornalismo não foi diferente: as notícias internacionais
ganharam espaço nas edições diárias dos jornais.
Com isso, a pesquisadora percebeu a necessidade de compreender como a
tecnologia influenciou na apuração da notícia e na transmissão da informação aos
espectadores durante a cobertura de atentados terroristas. Para isso, esse trabalho
buscou avaliar as coberturas jornalísticas realizadas pelo Jornal Nacional nos
atentados terroristas às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de
2001; e ao jornal semanário Charlie Hebdo, na França, em 7 de janeiro de 2015; e
fazer um comparativo sobre a influência da tecnologia nessas coberturas.
A convergência tecnológica redesenhou o cenário da comunicação e a
televisão precisou acompanhar as mudanças, tornando-se mais ágil, mais próxima
do público e complementando o que a internet já proporcionou de informação para
as pessoas.
Com a apresentação dos conceitos de categorias, gêneros e formatos de
programas de TV, no início da pesquisa, foi possível compreender o telejornalismo.
A partir disso, a evolução da TV no Brasil foi de grande valia para entender o
processo de transformação da tecnologia e como a mesma influenciou a produção
de conteúdo jornalístico. A conceituação de Jornalismo Internacional veio para
esclarecer como é a rotina de um correspondente e as adversidades de produzir
conteúdo no exterior.
Com base nas referências bibliográficas, na decupagem das edições do JN e
nas entrevistas realizadas com jornalistas é possível responder à questão
norteadora desta pesquisa: de que forma a tecnologia contribuiu para o
aprimoramento da cobertura de atentados terroristas no telejornalismo?
A influência da tecnologia na busca de conteúdo e na disseminação da notícia
é facilmente observada. Mas, ao mesmo tempo que a internet possibilitou acesso
mais rápido e prático às informações, a Rede Globo enxugou as equipes de
profissionais internacionais. Com isso, os jornalistas que permaneceram no exterior
passaram a produzir conteúdo para todos os telejornais do veículo, gerando assim
141
uma sobrecarga no trabalho. Esse fato é observado no atentado ao jornal Charlie
Hebdo, em 2015, onde poucos jornalistas participaram da cobertura no local do
atentado e correspondentes de outras regiões ganharam espaço informando aos
espectadores a repercussão do ocorrido nos diversos pontos do mundo. Diferente
de 2015, a cobertura do atentado às Torres Gêmeas, em 2001, possuía uma equipe
maior, possibilitando mais imagens da própria emissora. Assim, a TV Globo não
necessitou buscar imagens de internet e agências internacionais, valorizando o
trabalho dos profissionais do grupo e o conteúdo transmitido.
Para auxiliar nesta resposta foram levantadas três hipóteses. A primeira: o
avanço tecnológico facilitou o processo de produção das notícias, desde a apuração
do fato, edição e transmissão de conteúdo até a entrada ao vivo dos repórteres. Esta
hipótese foi confirmada, pois não se tem dúvidas que a tecnologia veio para auxiliar
e facilitar a produção de conteúdo para a TV, melhorando a qualidade da
reportagem. Com a internet, a apuração do fato se tornou mais eficaz: mesmo sendo
imprescindível o repórter estar na rua, checando as informações in loco, o
profissional pode também ter acesso à sociedade da informação que está
alimentando as diversas plataformas com notícias que podem colaborar e acrescer
no conteúdo do telejornal. O avanço tecnológico também possibilitou o
deslocamento de repórteres para fora dos estúdios, com equipamentos que cabem
em uma mochila e que podem ser manuseados por apenas uma pessoa. A
reportagem pode ser gravada e editada em qualquer lugar e enviada no mesmo
instante à Central de Jornalismo. As entradas ao vivo dos repórteres também
evoluíram: o que antes, na maioria das vezes, acontecia dentro dos estúdios por
falta de mobilidade, agora está na rua. Com uma linguagem mais solta e
movimentação de câmera, o repórter tem uma relação mais próxima com o
telespectador e pode contar o que está acontecendo no momento, sem falas
programadas. É a informação que recém chegou, transmitida no improviso.
A segunda hipótese afirma que a tecnologia permitiu maior acesso às
informações por parte dos telespectadores, o que exige precisão na apuração dos
fatos por parte dos meios de comunicação. Ela pode ser confirmada e completa a
hipótese anterior, pois com a internet as pessoas ficam informadas por diversas
plataformas instantaneamente e a TV precisou se transformar para não repetir as
informações que os telespectadores já viram, exigindo um aprofundamento e uma
contextualização dos fatos, necessitando de uma maior precisão na apuração do
142
conteúdo. Isso resultou em mais intervenções dos repórteres ao vivo, com as
informações de última hora, além de complementar com o relato da vivência do
repórter no local do fato. Também é possível analisar que o repórter faz uma
retrospectiva contando um pouco da história da região onde ele se encontra,
contextualizando o fato e não apenas repassando as informações. É importante
ressaltar aqui que a repercussão do fato em outros países também complementa a
reportagem e a tecnologia possibilitou essa comunicação.
E a terceira hipótese diz que por meio das mídias sociais e ferramentas, como
smartphone, os antigos receptores de informações se transformaram em produtores
de conteúdo, alterando o processo de produção da notícia por parte dos veículos
tradicionais. Ela também pode ser confirmada, pois é possível perceber ao longo do
estudo que a tecnologia deixou os jornalistas sobrecarregados ao assumirem
múltiplas funções, não conseguindo fazer uma cobertura de forma abrangente. A
pequena equipe de jornalismo dos escritórios internacionais não consegue estar em
todos os lugares, abrindo assim espaço aos vídeos e imagens registradas por
pessoas que estão no local do fato. Isso altera o processo de produção da notícia,
valorizando muito mais a informação do que a imagem a ser exibida pelo telejornal.
Esta participação do telespectador qualifica a informação, pois mostra o que quase
nunca aparece nas reportagens tradicionais, insere o espectador no processo de
produção, mesmo que de forma indireta. Considerar a opinião do receptor e
introduzir o olhar dele na reportagem transforma a rotina do fazer jornalístico, algo
que, num passado recente, não seria admissível, e só se modificou em função do
avanço tecnológico e das mudanças provocadas pela internet e sociedade da
informação.
O objetivo geral da pesquisa - investigar como a tecnologia contribuiu para o
aprimoramento da cobertura de atentados terroristas no telejornalismo - foi
alcançado ao longo da produção desta pesquisa, como também os objetivos
específicos: conceituar e classificar os gêneros de programa de televisão; conhecer
como se dá o processo de evolução do telejornalismo, a partir do surgimento de
novas tecnologias e da internet; identificar como se dá o processo de produção de
conteúdo no telejornalismo; analisar como ocorre a apuração de notícias em
atentados terroristas no telejornalismo; avaliar o processo de produção de conteúdo
do Jornal Nacional; analisar como se deu a cobertura do atentado terrorista às
Torres Gêmeas, em 2001 no Jornal Nacional; analisar como se deu a cobertura do
143
atentado terrorista ao jornal Charlie Hebdo, em 2015 no Jornal Nacional; comparar
as coberturas jornalísticas no Jornal Nacional sobre o atentado terrorista às Torres
Gêmeas e ao jornal Charlie Hebdo por meio da evolução tecnológica.
O objetivo de entrevistar repórteres do Jornal Nacional que participaram das
coberturas dos atentados terroristas em 2001 e 2015 foi atingido parcialmente, pois
não houve retorno de alguns jornalistas, o que não interferiu na análise desta
monografia. Foi inserida entrevista por meio de contato presencial com o jornalista
Caco Barcellos que contribuiu de forma positiva para o estudo.
Durante o andamento desta monografia a pesquisadora ampliou seus
conhecimentos sobre o Jornalismo Internacional e, principalmente, a influência que a
tecnologia tem sobre os meios de comunicação. Foi possível analisar que a cada dia
os telejornais de reinventam para continuar passando credibilidade e estar mais
próximos dos seus espectadores, usufruindo da internet a seu favor e fazendo com
que a interação entre telespectadores e jornalistas esteja cada vez mais ativa, mas
sem perder o seu principal objetivo de estar a serviço do público.
Este estudo foi muito significativo para o aprendizado da pesquisadora, a qual
percebeu que a evolução tecnológica é importante para a comunicação, mas o bom
jornalismo é imprescindível.
144
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA BRASIL. IBGE: 40% dos brasileiros têm televisão digital aberta. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-04/ibge-embardada-ate-amanha-10h-0604>. Acesso em: 10 set. 2017. AGÊNCIA BRASIL. IBGE: celular se consolida como o principal meio de acesso à internet no Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-12/ibge-celular-se-consolida-como-o-principal-meio-de-acesso-internet-no-brasil>. Acesso em: 10 set. 2017. AZEVEDO, André Luiz. Entrevista concedida à pesquisadora desta monografia em 02 de julho de 2017. BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense, 1981. BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de telejornalismo: os segredos da notícia na TV. 2.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Campus, 2002. BARBEIRO, Heródoto. Ancoragem. In: RODRIGUES, Ernesto (Org.). No próximo bloco...: o jornalismo brasileiro na TV e na internet. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. p. 113 – 116. BARBOSA, Cínthia Soares. A televisão além do controle remoto: uma análise da participação do público no telejornalismo. Porto Alegre, 2013. Disponível em: <http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/4549>. Acesso em: 10 set. 2017. BARCELLOS, Caco. Entrevista concedida à pesquisadora desta monografia em 24 de abril de 2017. Flores da Cunha, RS. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BISTANI, Luciana; BACELLAR, Luciane. Jornalismo de TV. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2008. BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; BRITTOS, Valério Cruz. A televisão brasileira na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes. São Paulo: Paulus, 2007. BONNER, William. Jornal Nacional: modo de fazer. Rio de Janeiro: Globo, 2009. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. _______. O poder da comunicação. 1 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015. _______. A galáxia internet: reflexões sobre internet, negócios e sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
145
CASTILHOS, Carlos. Webjornalismo: o que é notícia no mundo on-line. In: RODRIGUES, Ernesto (Org.). No próximo bloco...: o jornalismo brasileiro na TV e na internet. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. p. 231 – 256. CAVALCANTI, Carolina. A cobertura internacional do Jornal Nacional: correspondentes, enviados especiais e usos de tecnologias. Florianópolis: Insular, 2014. CAVALCANTI, Ana Carolina Vanderlei; SOARES, Thiago. A cobertura internacional do Jornal Nacional: efeitos de proximidade e os fatos a partir de uma perspectiva brasileira. Disponível em: <http://www.biblionline.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica/article/view/19497>. Acesso em: 30 set. 2017. CRUZ, Renato. TV digital no Brasil: tecnologia versus política. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. CURADO, Olga. A notícia na TV: O dia-a-dia de quem faz telejornalismo. São Paulo: Alegro, 2002. DANELLI, Carolina e ORLANDO, Simone. O uso do Whatsapp na rotina produtiva da emissora de rádio BandNews Fluminense FM. 2015. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-3148-1.pdf>. Acesso em: 07 de set. 2017. DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão: entre gêneros, formatos e tons. Intercom, 2007. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R0399-1.pdf>. Acesso em: 18 maio 2017. _______. Reflexões sobre os gêneros e formatos televisivos. In: DUARTE, Elizabeth Bastos; CASTRO, Maria Lília Dias de (Org.). Televisão: entre o mercado e a academia. Porto Alegre: Sulina, 2006. p. 19 – 29. DUARTE, Elizabeth Bastos; CASTRO, Maria Lília Dias de (Org.). Televisão: entre o mercado e a academia. Porto Alegre: Sulina, 2006. _______. Televisão: entre o mercado e a academia II. Porto Alegre: Sulina, 2007. DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2012. ESPERIDIÃO, Maria. A era do “kit correspondente”: tendências da cobertura internacional no telejornalismo brasileiro. 2007. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1175-1.pdf>. Acesso em: 30 set. 2017. FECHINE, Yvana. Gêneros televisuais: a dinâmica dos formatos. 2001. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/3195/3195.PDF>. Acesso em: 19 ago. 2017.
146
_______. Tendências, usos e efeitos da transmissão direta no telejornal. In: DUARTE, Elizabeth Bastos; CASTRO, Maria Lília Dias de (Org.). Televisão: entre o mercado e a academia. Porto Alegre: Sulina, 2006, p. 139 – 154. G1. Princípios editoriais do Grupo Globo. Disponível em: <http://g1.globo.com/principios-editoriais-do-grupo-globo.html>. Acesso em: 22 out.2017. GALLI, Fernanda Correa Silveira. Linguagem da Internet: um meio de comunicação global. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Fernanda_Galli/publication/242249190_LINGUAGEM_DA_INTERNET_um_meio_de_comunicacao_global/links/552290560cf29dcabb0d79ee/LINGUAGEM-DA-INTERNET-um-meio-de-comunicacao-global.pdf>. Acesso em: 07 set. 2017. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. JORGE, Thaís de Mendonça; PEREIRA, Fábio Henrique. Jornalismo on-line no Brasil: reflexões sobre perfil do profissional multimídia. Revista FAMECOS, 2009. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/6318/0>. Acesso em: 07 set. 2017. JOST, François. Para além da imagem, o gênero televisual: proposições metodológicas para uma análise das emissões de televisão. In: Televisão: entre o mercado e a academia II. Porto Alegre: Sulina, 2007. p. 89 – 102. JÚNIOR, Wilson Corrêa da Fonseca. Análise do Conteúdo. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2012. p. 280 – 304. LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 6.ed. Porto Alegre: Sulina, 2013. LÉVY, Pierre. Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Lévy. Porto Alegre: Ed. Artes e Ofícios, 2000. LIMA, Júlia Libório Rocha. A tradução da notícia: língua e informação no jornalismo internacional. 2013. Disponível em: <http://bdm.unb.br/bitstream/10483/6493/1/2013_JuliaLiborioRochaLima.pdf>. Acesso em: 27 set. 2017. MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. 2.ed. rev. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. MEMÓRIA GLOBO. 11 de setembro. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-de-11-de-setembro/emmy.htm> Acesso em: 21 out. 2017.
147
MEMÓRIA GLOBO. 50 anos de jornalismo da Globo. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/telejornais-e-programas/jornal-nacional/jornal-nacional-50-anos-de-jornalismo-da-globo.htm>. Acesso em: 30 set. 2017. MEMÓRIA GLOBO. André Luiz Azevedo. Disponível em <http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/andre-luiz-azevedo/trajetoria.htm>. Acesso em: 06 maio 2017. MEMÓRIA GLOBO. Caco Barcellos. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/caco-barcellos.htm>. Acesso em: 06 maio 2017. MEMÓRIA GLOBO. Edney Silvestre. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/edney-silvestre/trajetoria.htm>. Acesso em: 06 maio 2017. MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional: a notícia faz história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/telejornais/jornal-nacional.htm>. Acesso em: 25 mar. 2017. MEMÓRIA GLOBO. Zileide Silva. Disponível em: <http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/zileide-silva/trajetoria.htm>. Acesso em: 06 maio 2017. MESQUITA, Cristiana. Cobertura Internacional é para gente grande. 2002. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mo170420021.htm>. Acesso em: 24 jun 2017. MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir. TV Digital Interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2005. 2ª edição. Disponível em: <http://www.gingadf.com.br/blogGinga/livro/TV-Digita-Interativa_2a_EDICAO_Valdecir_e_Montez.pdf>. Acesso em: 12 out. 2017. MOURA, Dione Oliveira; AGNEZ, Luciane Fassarella. Corresponsales internacionales: problematización en torno a la era digital y el periodismo. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, 2014. Disponível em: <http://www.alaic.org/revistaalaic/index.php/alaic/article/view/461>. Acesso em: 30 set. 2017. MUSSE, Christina Ferraz; MUSSE, Mariana Ferraz. A entrevista no telejornalismo e no documentário: possibilidades e limitações. 2010. Disponível em: <http://revistas.univerciencia.org/index.php/rumores/article/view/7456>. Acesso em: 16 out. 2017.
148
MUSSE, Christina Ferraz; PERNISA, Mila Barbosa. Telejornalismo: novos formatos no cenário de crise da TV aberta. Disponível em: <http://www.periodicos.usp.br/alterjor/article/view/88228>. Acesso em: 07 set. 2017. NATALI, João Batista. Jornalismo Internacional. São Paulo: Contexto, 2004. PATERNOSTRO, Vera Íris. O Texto na TV: manual de telejornalismo. 2 ed., ver, e atualizada. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. PINHEIRO, Guilherme. O Cidadão-Repórter e o Papel do Jornalista Profissional através do Jornalismo Participativo. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2009/resumos/R14-0289-1.pdf>. Acesso em: 07 set. 2017. PINTO, Ana Estela de Sousa. Jornalismo Diário: reflexões, recomendações, dicas e exercícios. São Paulo: Publifolha, 2009. PONTUAL, Jorge. O correspondente internacional. In: RODRIGUES, Ernesto (Org.). No próximo bloco...: o jornalismo brasileiro na TV e na internet. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. p. 183 – 195. PRADO, José Luiz Aidar (org.). Crítica das práticas midiáticas: da sociedade de massa às ciberculturas. São Paulo: Hacker Editores, 2002. RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial. São Paulo: Summus, 2000. REZENDE, Renata. A tecnologia e a transformação do dispositivo televisivo: produções sensórias no hibridismo realidade/ficção. 2012. Disponível em: <http://www.revistas.ufpi.br/index.php/rbhm/article/viewFile/3910/2269>. Acesso em: 19 ago. 2017. ROCHA, Giovanni Guizzo da. Além das mídias: o que os livros revelam sobre as práticas de repórteres internacionais. São Leopoldo. 2012. Disponível em: <http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/3124/alem_midias.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 30 set. 2017. RODRIGUES, Ernesto (Org.). No próximo bloco...: o jornalismo brasileiro na TV e na internet. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. ROSÁRIO, Nísia Martins do. Formatos e gêneros em corpos eletrônicos. 2007. Disponível em: <http://corporalidades.com.br/site/wp-content/uploads/downloads/2013/12/2007_2.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2017. SANTAELLA, Lucia. A crítica das mídias na entrada do século XXI. In: PRADO, José Luiz Aidar (org.). Crítica das práticas midiáticas: da sociedade de massa às ciberculturas. São Paulo: Hacker Editores, 2002. p. 44 – 56.
149
SILVA, Fernando Firmino da. Jornalismo e tecnologias da mobilidade: conceitos e configurações. 2008. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Fernando_Silva58/publication/242743972_JORNALISMO_E_TECNOLOGIAS_DA_MOBILIDADE_Conceitos_e_onfiguracoes_1/links/55a13a8308aec9ca1e63d5e2.pdf>. Acesso em: 07 set.2017. SOUZA, José Carlos Aronchi de. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São Paulo: Summus, 2004. _______. Formatação de programas de tv e sua influência para a classificação do gênero. 2011. Disponível em: <http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/6/6f/GT5Texto011.pdf>. Acesso em: 21 maio 2017. SOUSA, Leila Lima de. O processo de hibridação cultural: prós e contras. 2013. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/view/21983/12102>. Acesso em: 19 ago. 2017. SPINELLI, Egle Muller. Jornalismo audiovisual: gêneros e formatos na televisão e internet. Revista Altejor, ano 03, volume 02, edição 06. São Paulo: 2012. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/alterjor/article/view/88269/91147>. Acesso em: 19 ago. 2017. STUMPF, Ida Regina C. Pesquisa bibliográfica. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antônio. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2012. p. 51 – 61. TOURINHO, Carlos. Inovação no telejornalismo: o que você vai ver a seguir. Vitória: Espaço Livros, 2009. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo – volume II: a tribo jornalística-uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, v. 2, 2005. VIEIRA, Maria Clara Nicolau. Correspondente internacional: estudo sobre a atual conjuntura da profissão. 2015. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/alterjor/article/view/105427>. Acesso em: 07 set. 2017. YORKE, Ivor. Jornalismo diante das câmeras. São Paulo: Summus, 1998. WATTS, Harris. On Camera: o curso de produção de filme e vídeo da BBC. São Paulo: Summus,1990. WERTMAN, Roberto. Jornalismo em alta definição. In: RODRIGUES, Ernesto (Org.). No próximo bloco...: o jornalismo brasileiro na TV e na internet. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. p. 221 – 230. WILLIAMS, Anne; HEAD, Vivian. Ataques terroristas: a face oculta da vulnerabilidade. Tradução Débora da Silva Guimarães Isidoro. São Paulo: Larousse do Brasil, 2010.
150
APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA MONOGRAFIA I
151
APÊNDICE B – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA A
JORNALISTA ZILEIDE SILVA
152
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA A
JORNALISTA ZILEIDE SILVA
153
APÊNDICE D – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO
154
APÊNDICE E – QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O
JORNALISTA ANDRÉ LUIZ AZEVEDO
155
APÊNDICE F – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO JORNALISTA ANDRÉ
LUIZ AZEVEDO
156
157
158
159
APÊNDICE G – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA EDNEY SILVESTRE
160
APÊNDICE H – GRAVAÇÃO NA ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O
JORNALISTA CACO BARCELLOS
A gravação na íntegra da entrevista com o jornalista Caco Barcellos encontra-se no
CD do Apêndice A.
161
APÊNDICE I – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA RODRIGO LOPES
162
APÊNDICE J – QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO VIA E-MAIL PARA O
JORNALISTA RODRIGO LOPES
Questionário
a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no Jornalismo.
b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como
repórter/correspondente internacional? Como foi essa experiência?
c) Qual a diferença para o repórter de estar trabalhando no seu país e estar
trabalhando no exterior? O que é mais desafiador?
d) Como é a busca pela informação no exterior? Tem alguma rotina
estabelecida?
e) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como repórter/correspondente
internacional, quais você destaca?
f) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas e guerras são
as mais desafiadoras? Por quê?
g) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e
transmissão da informação facilita a cobertura de pautas como essas?
h) E como a tecnologia influencia no trabalho como repórter/correspondente
internacional?
163
i) O acúmulo de funções e a transmissão ininterrupta para diferentes
veículos da mesma empresa prejudica ou dificulta a apuração das
informações neste tipo de cobertura (ataques terroristas e guerras), já que,
muitas vezes, o trabalho é solitário?
j) Neste tipo de cobertura, quais são as principais fontes de referência para
transmissão da informação (agências de notícias, outros veículos de
comunicação, fontes oficiais...)?
k) Como ocorre a apuração das informações, principalmente quando não
existe uma equipe de trabalho, apenas o jornalista realiza a cobertura?
Você já passou por situações como essa?
l) Quais as dicas que você dá para os jornalistas que pretendem trabalhar
em coberturas internacionais? Ser um jornalista multimídia é
imprescindível?
164
APÊNDICE K – MENSAGEM ENCAMINHADA VIA FACEBOOK PARA O
JORNALISTA DANIEL SCOLA
Questionário
a) Gostaria que você contasse a sua trajetória profissional no Jornalismo.
b) Em que momentos da sua trajetória profissional você atuou como
repórter/correspondente internacional? Como foi essa experiência?
c) Qual a diferença para o repórter de estar trabalhando no seu país e estar
trabalhando no exterior? O que é mais desafiador?
d) Como é a busca pela informação no exterior? Tem alguma rotina
estabelecida?
e) Dentre as coberturas jornalísticas feitas como repórter/correspondente
internacional, quais você destaca?
165
f) Pode-se dizer que as pautas envolvendo ataques terroristas e guerras são
as mais desafiadoras? Por quê?
g) Pode-se dizer que a evolução tecnológica na produção, edição e
transmissão da informação facilita a cobertura de pautas como essas?
h) E como a tecnologia influencia no trabalho como repórter/correspondente
internacional?
i) O acúmulo de funções e a transmissão ininterrupta para diferentes
veículos da mesma empresa prejudica ou dificulta a apuração das
informações neste tipo de cobertura (ataques terroristas e guerras), já que,
muitas vezes, o trabalho é solitário?
j) Neste tipo de cobertura, quais são as principais fontes de referência para
transmissão da informação (agências de notícias, outros veículos de
comunicação, fontes oficiais...)?
k) Como ocorre a apuração das informações, principalmente quando não
existe uma equipe de trabalho, apenas o jornalista realiza a cobertura?
Você já passou por situações como essa?
l) Quais as dicas que você dá para os jornalistas que pretendem trabalhar
em coberturas internacionais? Ser um jornalista multimídia é
imprescindível?
166
ANEXO A – ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 11 DE SETEMBRO DE 2001
167
ANEXO B – ÍNTEGRA JORNAL NACIONAL 07 DE JANEIRO DE 2015
168
ANEXO C – PRINCÍPIOS EDITORIAIS DO GRUPO GLOBO
O arquivo completo dos Princípio Editoriais do Grupo Globo encontra-se no CD do
Anexo B.