uma literatura nos trópicos

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7/18/2019 Uma literatura Nos Trópicos

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O entre-lugar no discurso latino-americano

A discussão sobre identidade latino-americana volta à tona recentemente - a partir da

segunda metade do século passado - tanto pelos novos movimentos sócio-

revolucionários quanto por uma nova abordagem das ciências humanas a respeito dos

 problemas sociais da América Latina.Entretanto para adentrar nesse tema é preciso

antes de tudo debru!ar-se sobre uma análise histórica" é necessário compreender o

desenrolar do processo colonial vivido pelos latino-americanos e buscar o embrião do

que seria a identidade dos povos da América.

# con$lito entre coloni%ador e coloni%ado sem d&vida é a essência do que ho'ese con$igura no embate entre Europa e (ovo )undo. *eria na verdade o desenrolar de

uma história em curso o desenlace que tende a estruturar o antagonismo entre in$erior e

superior. Esse desequil+brio é sustentado pela de$asagem e dependência econ,mica entre

os pa+ses" o mais rico detém o poder e domina enquanto o mais pobre é subordinado aos

interesses do primeiro.A no!ão de in$erior é algo manipulado. Essa é a antiga e por que

não atual/ lógica colonialista. A coloni%a!ão é pois a vitória do europeu no (ovo

)undo e se con$igura menos por ra%0es culturais do que por imposi!ão brutal e violentade uma nova conduta ideológica. Era mais uma 1nsia dominadora do que um dese'o de

conhecer o 2e3ótico2. (ão havia espa!o para o contágio cultural se $a%ia necessário o

estabelecimento dos padr0es metropolitanos sendo os códigos religioso e ling4+stico os

 principais asseguradores dessa domina!ão.

A 5eligião e L+ngua européias serviram como instrumentos de controle e sua

arbitrariedade acaba por sustentar uma verdadeira cru%ada em prol do e3term+nio dos

tra!os originais do 2selvagem2. A América trans$ormar-se-ia numa cópia uma

representa!ão do que seria 2civili%ado2. *eus tra!os originais tornam-se constantes alvos

de e3term+nio por parte dos coloni%adores sendo a duplica!ão a &nica regra válida de

civili%a!ão. E é essa lógica que permeia as práticas (eocolonialistas só que desta ve%

a modernidade utili%a-se de novos métodos de coer!ão e domina!ão. A idéia agora é

e3portar o velho de $orma lenta e gradual numa espécie de 2e3porta!ão do d6mod62 e

com isso incluem-se costumes e valores re'eitados pela metrópole.7onsumimos o velho

com a sensa!ão ilusória de estarmos nos apro3imando do 2civili%ado2.

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Entretanto voltando-se para o passado colonial da América Latina nota-se que há um

desvio da norma em termos 2civili%atórios2" o que era para ser destru+do e 2revestido de

europeu2 acaba por mesclar-se com os elementos da metrópole. A América en$im

desa$ia a no!ão de unidade a qual a Europa tanto quis $a%er reinar. # elemento europeu

$unde-se com o 2selvagem2 e dá origem ao mesti!o. # código ling4+stico e a religião

 perdem sua 2pure%a2 e se dei3am 2macular2 por novas aquisi!0es e por $im o elemento

h+brido prevalece.

8o'e a América Latina se encontra num dilema" não pode mais negar-se à invasão

estrangeira nem tampouco pode alme'ar voltar a sua posi!ão de isolamento. 2#

silêncio seria a resposta dese'ada pelo imperialismo cultural ou ainda o eco sonoro que

apenas serve para apertar os la!os do poder conquistador. 9alar escrever signi$icam"

$alar contra escrever contra2*ilviano *antiago/. #u se'a vive-se o impasse de estar 

contra ou omisso às in$luências estrangeiras.

Essa busca por identidade é uma constante na realidade brasileira. # :rasil talve% mais

do que qualquer outro pa+s da América Latina se vê incapa% de se reconhecer enquanto

na!ão homogênea.(ão se reconhece nem enquanto latino-americano - $ato intensi$icado

 pela di$eren!a de idioma perante os outros pa+ses. Em verdade o pa+s é um con'unto de

na!0es que dividem o mesmo espa!o territorial uma verdadeira colcha de retalhos

$ormada por ind+genas negros brancos a+ se incluem" portuguesesalemãesholandeses

etc/ e mesti!os; cada qual com suas peculiaridades. E provavelmente é da+ que surge a

idéia de caráter posti!o ou imitado de vida que nos é atribu+do pois o :rasil não é um

corpo &nico que possui ra+%es próprias. < um emaranhado de ra+%es e tradi!0es de

di$erentes povos é uma mescla histórica onde cada parte contribuiu para a $orma!ão dotodo.7omo saber o que é original (ossa originalidade se sustenta e3atamente na

ausência dela mesma. *omos uma 'un!ão das muitas originalidades. *egundo a

compreensão de #s=ald de Andrade nós deglutimos o estrangeiro e nos criamos.

>esde o colégio quando o pro$essor nos ensina a valori%ar $ontes e in$luências em

detrimento do conte&do propriamente dito aceitamos o caráter posti!o que nos é

atribu+do. Esse $alido método se enrai%ou no sistema universitário e menospre%a ou atémesmo ridiculari%a produ!0es latino-americanas quando acentuam a 2pure%a2 e

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2per$ei!ão2 de obras criadas pela sociedade colonialista ou neocolonialista redu%indo a

cria!ão dos artistas latino-americanos à condi!ão de obra parasitária e sem discurso

 próprio.7om isso acreditamos que a verdade de um te3to só pode ser assinalada pela

d+vida e pela imita!ão de uma $onte 2pura2 e 2intang+vel2.

< sobre essa realidade que versa a *emana de Arte )oderna de ?@. Ela procura

reconhecer o :rasil em sua própria realidade $ugindo de conceitua!0es pré-

estabelecidas e aceitando a in$luência estrangeira mas não como algo a ser imitado mas

como uma $orma de acréscimo e adapta!ão ao 'á e3istente. As vanguardas européias se

inserem nesse conte3to adaptando seus elementos ao ver nacional e se moldando às

necessidades dos artistas brasileiros. A idéia é meramente antropo$ágica" digerir o alheio

e aproveitar apenas o que se é aproveitável para a realidade nacional. *eria portanto

uma e3periência sensual e re$le3iva com o signo estrangeiro.

A ilusão do nacionalismo e3arcebado personi$icado pelo personagem Bolicarpo

Cuaresma cria uma aversão a tudo que é e3terior e re'eita possibilidades de

assimila!0es bené$icas. Esse tipo de purismo se estabelece como um antagonismo

latente à marca de 2inautenticidade2 que nos é atribu+da e por sua ve% se torna tão

indigno quanto o &ltimo. Breservar-se de valores estrangeiros não signi$ica valori%ar e

engrandecer o local isso seria meramente ilusório 'á que comportamos em nós mesmos

o sentimento da contradi!ão entre a realidade nacional e o prest+gio ideológico dos

 pa+ses que nos servem de modelo.Entretanto não é com gan1ncia que devemos

consumir o estrangeiro. >evemos absorver a produ!ão destes de $orma gradual e cr+tica

sem trans$ormar essa aceita!ão em modismo.

A di$iculdade de reconhecer-se transparece nas mais diversas mani$esta!0es art+sticas. #cinema como e3celente contador de histórias da humanidade adequou-se per$eitamente

à necessidade de transmitir as mais variadas narrativas sobre o que seria a identidade

das na!0es por meio de pro'e!0es. )acuna+ma para dar um e3emplo nacional é a

 personi$ica!ão do que seria a gênese do povo brasileiro. >e modo análogo as $ic!0es

literárias nacionalistas delineiam essa tentativa de auto-conhecimento. Em Dracema osé

de Alencar dei3a $luir a idéia de que o povo brasileiro é $ormado pela 'un!ão entre o

ind+gena e o homem branco e3cluindo o negro desse processo. #utros como Filberto9reGre seguem outra linha de pensamento admitindo o negro no processo construtor de

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nossa identidade. # $ato é que o problema não é meramente racial. As culturas se

entrela!aram de tal $orma que se torna imposs+vel destrinchá-las e agregar valor à essa

ou àquela. >evemos portanto reconhecermo-nos como um todo. (ovamente"somos

uma colcha de retalhos onde uma parte não é entendida sem o todo ou vice-versa e

onde cada contribui!ão e releitura nos $a% quem nós somos.