banquete nos trópicos - visão do paraíso

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  • 5/14/2018 Banquete nos trpicos - Viso do paraso

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    d em ais tam bem in sistir e m q ue essa Introducdo ao Brasil tem u rn d up lo o b-j et iv o - e st imu la r 0 c an ta ta c om a s t ex to s o ri gi na is e f ac il it ar 0a ce ss o d os n ao -e sp ec ia li st as a o d ia lo go d es se s a ut or es .

    D e ve -s e r eg is tr ar q ue , embo ra a r es po ns ab iI id ad e p el a o rg an iz ac ao d es -t e J iv ro n os c aib a e xc lu si va me nte , e le te rn u ma d iv id a c om B en ja min A bd alaJ un i or , Ma r ia V i ct or ia B e ne v id e s, Wa ln i ce Nogue ir a Ga lv a o, C a rl os Gu iI h ermeMo ta , Ron al do Va in f as , L u ci a L ip p i O l iv e ir a, E l id e Rug ai B a st os , B r as il io S al lumJ r., M ar co A ur el io N og ue ir a, I sa be l A le xa nd re e C el so M in g.

    SERGIO BUi\RQUE DE ROLANDA

    V t s a o dopara f so

    R o n al da V a in fa s

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    JiIsl0 DOPARAiSO: BIOGRAF lA DE U M A ID EI A

    V is Cio do p ar ais o: o s m otiv os e den ic os n o d es co br im en to e c olo niz a-yC iodo B ras il fo i 0 titu lo d a tese q ue lev ou S erg io B uarq ue d e H olan da ac ate dr a d e h is to ri a d a c iv il iz ac ao b ra sil eir a, e m 1 95 8, n a U ni ve rs id ad e d e S aoPaulo. 0 l iv ro s er ia p ub li ca do n o a no s eg ui nt e, m a is d e 2 0 a no s d ep oi s, portan-t o, d o c el eb re Raizes d o B ra si I (1936), e ns ai o q ue i nc 1u ir ia S er gi o B u ar qu e n ag al er ia d e nossos pr inc ipai s h i s to r i adore s. A decada de 1940 e so bretudo a de1950 s er iam , s em di rv ida, a s m ai s ferteis n a c ar re ir a d es se g ra nd e h is to ri ad o rb ra si le ir o, Em 1 9 45 p ub li ca ra Monyoes e, em 19 57, Caminhos e f ron te i ras ,r eu ni nd o e ns aio s e p esq ui sa s r ea liz ad as e m p ar te n os a no s 1 94 0, e m e sp ec ia l"i nd io s e mamelucos",

    E p os si ve l i de nt if ic ar n es sa s o br as 0 c em e d a co ntrib uic ao d e S erg ioBuar q ue p a ra no ss a h i st o ri og r af ia . E v er da de q ue S er gi o B u ar qu e o rg an iz ar iae red ig iria b oa p arte d a Hi st or ia g era l da civil izacdo brasi le ira, e nt re 1 96 0e 1 9 77 , n o c as o o s v ol um e s r el at iv os a os p er io do s c ol on ia l e im pe ri al , s em f al ard e d iv er so s e ns ai os h is to ri co s o u d e c ri ti ca l it er ar ia , e sp ec ia im e nt e d os Capt-tulos de literatura colonial, obra postum a - falecido Sergio B uarq ue em1 98 2, a os 8 0 a no s - p re cio sis sim a a nto lo gi a p re pa ra da p or A nto ni o C an did on os a no s 1990. Ma s 0 c em e d a o bra encontra-se b asi ca me nte n os a no s 1 94 0-1950. P or m eio d ess as o br as S er gi o B ua rq ue s e a fi rm ou c om o h is to ria do r d ast ot al id ad es s oc ia is , e m pe nh ad o em d es ve nd ar o s a sp ec to s e co nom ic os , s oc ia ise p ol it ic os d e n os sa h is t6 ri a, e nt re la ca nd o- os s emp re , s em d es cu ra r d o sa sp ec -t os im ag in ar ie s o u d o q ue s e p od er ia c ha ma r, p ar a u sa r u m a e xp re ss ao " co nc i-liatoria", de his toria intelectual.

    V isC io do paraiso, q ue m u it os c on si de ra m 0 liv re m ais erudito dah is to ri og ra fi a b ra si le ir a e t al ve z t en ha s id o a p ri nc ip al o br a d e S er gi o B u ar qu e,e certamente 0me lh or e xempl o d a c on tr ib ui ca o d e S er gi o B u ar qu e d eH o l an daa u m a h is to ria d as "representacoes me nt ai s" p ro du zi da n o B ra si l. ' P ub li ca doe m 1 95 90 l iv ro n ao a lc an co u a m er ec id a r es so na nc ia n um a d ec ad a, a d e 1 96 0,onde as preocupacoes da h i st or io g ra fi a b r as il ei ra , a in d a mu i to e n sa is ti ca , l ig a -vam-se is p re oc up ac ee s d o momen to , e sp ec ia lm e nt e a c rise q ue lev aria a om o vi me nto m ili ta r d e 1 96 4 e a c ri st al iz ac ao d o r eg im e , em 1 96 8 ~1 96 9. L iv ro sp r es ti g ia d os e ram , e n ta o , 0 Formacao e conomi ca do B ras il , d e Ce ls o Fu rt ad o ,, Abordei e ss e aspec to de Vi.

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    ou 0 Formacao htstortca do Brasil, de N elso n W em eck Sod re, am bos con-c eb id os n os a no s 1950 e r ee di ta do s n a d ec ad a s eg ui nte . M a s a s eg un da e di ca ode V is ao d o paraiso s air ia e xa ta me nt e e m 1969, a no f un eb re d e n os sa h ist 6-ria , p assa do s p ou co m ais d e d e z a no s d e s ua a paricao n a fo rm a d e t ese u niv er-sitaria,

    E sse liv ro d e S erg io B uarq ue, se mp re m uito feste jad o e re co nh ecid o,c us ta ria p or em a ir ri ga r n oss a h ist or io gr af ia , e mb or a t en ha r ec eb id o u ma te r-c ei ra e ru ya o e m 1 97 7. R ee di ta do e m 1994, e sta va ja in se rid o n a y og a d a " hi s-t 6r ia d as m en ta li da de s" q ue m ar co u p ar te d e n o ss a h is to ri og ra fi a n a d ec ad a d e1980 e prevalece ho je com alento, a inda q ue sob outros rotu los ou enqua-d ra me nto s, c om o n o c as o d a " no va h is t6 ria c ul tu ra l" . P or i sso m esm o e d if un -d id a a id eia d e q ue S er gio B ua rq ue f az ia " his t6 ri a d as m en ta lid ad es " avant lalettre, is to e , a nte s d e su a d if us ao na F ra nc a d os a no s 1960-1970 c om a s o br asd e R ob er t M an dro u, G eo rg es D ub y, Jac qu es L e G off e m uito s o utro s. O bra sp re oe up ad as c om 0 q ue P ie rr e C ha un u c ha mo u d e " te rc eir o n iv el " d a e str ut u-r a s oc ia l, o u s ej a, o s f en om e no s l ig ad os a s r el ig io si da de s, a s c re nc as c ol et iv as ,o s se nti me nto s, o s c od ig os d e c om p or ta me nto c on sa gr ad os p el o u so . F en om e-n os d e lo ng a d ur ac ao , c uja p er ce pc ao , e m p ar te in sp ir ad a p ela a nt ro po lo gi ae st ru tu ra li st a, v ol ta va -s e p ar a 0 mye l d e f ria ld ad e p re se nte n as s oc ie da de sh is to ric as , p et rif ic an do -a s, p or v ez es , a o m en os n o to ca nte a e ss a d im en sa oa lg o i n ce r ta d a s r e pr e se n ta c oe s.o s up os to p io ne ir is mo d e S er gi o B ua rq ue n o q ue to ea a h ist 6r ia d as m en -ta lid ad es s e r ef e re , o bv ia me nte , a o li vr o Visao do para iso , o bra q ue, d e fato ,tr ato u d e a sp ec to s q ue d ep ois c ar ac te riz ar ia m m u it os e stu do s d aq ue le m o vi-m en to h is to rio gr af ic o f ra nc es . M as e d e to do m od o d if ic il , p ar a n ao d iz er i ne -x a to , r e la c io n ar 0 S erg io B uarq ue d e VisCiodo paraiso c om a h is to r io g ra f iafr an ce sa, so bre tu do ao m ov im en to q ue ali se d esen vo lv eu a p artir d e fm s d osanos 1960. A li as , a h is to ri og ra fi a f ra nc es a 5 6mu i to p on tu alm en te e m e nc io na -d a o u c ita da n o l iv ro .

    E n con tr am-s e c it ad o s en passant 0 F em an d B rau de l d o Mediterrdneoe 0 mundo mediterrdnico; seu discipulo Pierre Chaunu, de Seville etI 'Atlantique; e so bretu do L uc ie n F eb vre, u rn d os fu nd ad ore s d a esco la d osA nn ale s, n om e d a r ev ist a f un da da q ua nd o S er gi o B ua rq ue a tu av a e om o jo m a-lis ta n a A le ma nh a, o nd e p er ma ne ce u d e 1929 a 1935.

    N o que toea it obra de Lucien Febvre - e e dele 0 c on ce it o d e outtllagem en tal p re se nte n o liv ro so bre R ab elais, A e po ca d a d es cre nc a (1 94 2) -,t alv ez s e p os sa e st ab ele ce r a lg um p ar en te se o e ntr e o s a uto re s. P ar en te sc otem atico , o u se ja, as cre nca s o u d esc ren cas d e so cie dad es c oev as - a F ra nca I T I J J

    d o R en asc im en to e 0 mun do i be ro -a me ric an o d a e xp an sa o a tl an ti ca . P ar en -t es c o no t oc a nt e a e le ic ao d e f on te s l it er ar ia s c omo b as e d e i nv es ti ga ca o h is to -rica, 0q ue f az d e ambo s, S er gi o B u ar qu e e F eb vr e, a um s 6 t empo , h is to ri ad o re se e ri ti co s l ite ra ri os . P ar en te sc o n o q ue to ea it r eb eld ia in te le ct ua l: F eb vr e aenfrentar 0m ito d e u m R ab el ai s a te u e S er gio B ua rq ue a q ue st io na r 0m ito d eu rn B rasil p ara disia co . M as a s se me lh an ca s p ara m p or ai. E m F eb vre, c ujot it ul o d a o br a f al a em d es cr en ca , p ro cu ra -s e a nt es d emo ns tr ar 0 c ont ra ri o , i st oe , a i m po ss ib il id ad e q ue t in h a 0h omem q u in he nt is ta d e d es cr er o u d e s ec ul ar i-za r 0m un do . E m S erg io B uarq ue , c uja o bra tra ta d o im ag in ar io d o p araisot er re al n a c ol on iz ac ao i be ri ca , p ro cu ra -s e d emo ns tr ar , p ar a 0 ca so por tugues,u m p re co ce d es en ca nt am en to d o m un do , u m a e sp ec ie d e " re alis mo p ed est re "q ue c ed o ab an do no u as m otiv aco es e den ica s p resu mid am en te p re sen tes n ad es co be rta d o N ov o M u nd o. S er gi o B ua rq ue e m ui to c la ro a e sse r esp eit o:

    A obse s sa o d e i rr e al id a d es e , com efeito, 0q u e m e no s p ar ec e mover a qu el es hom e nsem suaconstanle demanda de terras ignotas, E, se bern que ainda alheios a esse "sensodo imposslvel", por onde, segundo observou f inamente Lucien Febvre, pode distin-guir-se a nossa da mentalidade quinhentista, nem por isso mostravam grande aia empe rs c gu i r q u im e r as . P od ia r n a dm it ir 0maravilhoso, e admi t ir am-no ate de borngrade ,m as s 6 e nq ua nt o s e a ch as se a le m d a 6 rb it a d o s ab er e mp ir ic o. '

    A r iv aliz ar c om a p re se nc a d a "n ov a h ist or ia s oc ia l f ra nc es a" n o p en sa -m e nt o d e S er gi o B u ar qu e, q u an do n ao s up er an do -a , e st ar ia a f il os of ia , a s oc io -lo gia e a h is to rio gr af ia a le ma s, c om o b em in dic ou M ar ia O dil a d a S ilv a D ia sem tex to d e 1985.3Ne ss e c amp o d e a fi ni da de s i nt el ec tu ai s p od er -s e- ia i nc lu iro p r6 pr io R an ke , e st ud ad o p or S er gi o B ua rq ue , e sp ec ia lm en te q ua nto a c on -v ic cao n o q ue d ev er ia ser a cap acid ad e essen cia l d o h isto riad or, isto e, a d e" dis ce rn ir a s g ra nd es u nid ad es d e se nti do n o e ma ra nh ad o d e a co nte ci me nto s efa to s d o p assa do ". A p re se nca d a h isto rio gra fia a le ma n o a uto r d e VisCiodoparaiso s e p o d e p er ce be r n a imp o rt an ci a d a o b ra d e E r n st C u rt i u s, EuropatscheLiteratur un Lateinisches Mittlealter ( 1 948 ). 4 S e rg i o Buar q ue 0 reconheceue xpl ic it amen te , e se re v endo 0 prefacio it seg un da ed ica o d a o br a, e m 1968,sublinhando 0 r ec ur so a u ma to pi ca e ap az d e a r tic ula r a p es qu is a h eu ri stic a d e I T I J Jt ex to s l it er ar io s c om a in ve st ig ac ao p ro pr ia me nt e h ist 6r ic a. P ois e c om b as e

    , Serg io Buarque de Holsnda, Y)"$aO do paraiso (3) ed. S ilo Paulo : Nac iona l, 1977), p. 5.l Maria Odila da S . D i as , . . Ser gi o Buarque de Holanda, historiador", em Sergio Bu o rq ue d e H olanda

    (Silo Paulo: Atica, 1985). Literature europeia e Idade Media latina.

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    na reconstituicao d o p ro ce ss o d e transmissao dos arquetipos do paratso terres-tre q ue se constroi Vis lio do paraiso, d e fi ni do po r S e rg io Buar qu e , l it er almen -te , c om o "a b io gr af ia d e u m a ideia". Um a biografia c ons tr u id a s obr e o s d iv e rs ostopoi d o im ag in ar io e de nic o, a e xe mp lo d a J u v en ta , d o J a rd im d as D elic ia s o u,p ar a c it ar 0 p rop ri o S e rg io Buar q ue , "0 d a p er en e p rim av er a e i nv ar ia ve l t em -p era nc a d o a r q ue p re va le ce ri a n aq ue le h or to s ag ra do ".'

    A lem d isso , e c aso d e re alca r 0 f or te d ia lo go q ue S er gio B ua rq ue m an -te rn c om a h ist or io gr afi a d o seculo XIX, a o m en os c om a lg un s historiadores-chave, com o Jacob Burckhardt, autor do classico A civtlizacdo daRen as c en c e i ta li an a, o br a d e 1 86 4, N o e nta nto , S er gio B ua rq ue d ele d isc or -da num p on to c en tr al , a s ab er , q ua nt o a existencia d e um a f ra tu ra r ad ic al e nt rea Idade M edia e 0 Renascimento, R en as cim en to q ue , p ar a S er gi o B ua rq ue ,era m eno s o tim ista d o q ue se su pu nh a, a ssim co mo m uito afeito as m ag ias,f ab ul as e m a ra vi lh as m e di ev ai s. A c re nc a n a " pr od ut iv id ad e i ne xa ur iv el , q ua seo rg ia sti ca , d o h om em e d a N at ur ez a e a in da ", n o R en asc im en to , "o u ja e , d izS er gio B ua rq ue , so fr ea da p or tit ub eio s e h es ita co es [ ... ]. E n e ss es moment o ssituados na in fan cia, tan to q uan to n a ag on ia, d e u ma era d e o tirn ism o, q ueir em os d ep ar ar c om e xp re ss oe s in de ci sa s e ntr e a d o a ba ti me nto d a c ria tu ra ea d e s ua e xa lt ac ao ", 6 E p ar a a cr es ce nta r u rn d er ra de ir o e xe mp lo d o d ia lo go d eVis lio do paraiso c om a h is to ri og ra fi a o it oc en ti st a, v al e m e nc io na r 0 ItalianoA r tu ro G r af , a ut or d e l iv ro h oj e mu it o r ev is it ad o, 0Mi to s, l eg en da s e s up er s-t iryoesna Idade Media, o rigin aim en te p ub lic ad o em 18 86 . L iv ro q ue tratae xatam en te d o tem a d e Vis iio do para iso e m o utr o contexto, o u s ej a, 0 pro-b le ma d a b usc a d o p ar ais o t er re al n a lit er atu ra m ed ie va l d e v ia ge ns, f oss emr ea is, c om o a d e M ar co P olo , f os se m f ic tic ia s, c om o a d e Je an d e M an de vil le .

    D i fi ci l, p o rt an to , r el ac io n ar d ir et amen te Vis liodo paralso c om a h is t6 ri ad as m en ta lid ad es f ra nc esa , s ej a c om o p re cu rs or d a c ha ma da N ov a H ist or iad o s a nos 1970; s ej a c omo a ut or a fi na do c om a s m e nt al id ad es j a d iv is ad as p el osf un da do re s d os Annales, ae xem plo d o F eb vre, qu e e stu do u R ab elais, au doM a rc B lo ch , q ue p ub li co u Os r e is t aumatur go s n o m ead o d a d ecad a d e 19 20 .C uriosam ente, M arc B loch nao e citado por Sergio B uarque em V i si io d oparaiso, c omo t amb em n a o 0 f or a e m Ra is es d o B ra si l d e 1936 . E n tr e ta n to ,p od e- se d iz er q ue e c om o M ar c B lo ch q ue t ra ba lh a S er gio B ua rq ue n o to ca ntea p er ic ia d a c om pa ra ca o h ist or ic a, a c om pr ov ar 0 q ue e sc re ve ra B lo ch , e m

    , Sergio Buarque de Holanda , "Prefacio it segunda edi9ao", em Vi.ao do paralso, c it ., p . XX. Ibid . p. 182.

    ..~

    1930 , s o br e " a c ompa ra ca o c omo va ri nh a d e c ond a o d a h i st or ia ", S e rg io Buar qu eja fizera com maestria uso da comparacao entre a A merica portuguesa e aespanhola em Ra lz es d o B ra si l, s ob re tu do em "0 s em e ad or e o ladrilhador",te xto c ap ita l q ue r ela ti viz a a u nid ad e d e u ma c olo niz ac ao ib er ic a a o in dic ard if er en c as d e e st il o: 0 e st il o c iv il iz ad o r d o e sp a nho l, a rr is ca ndo - se no i nt er io r ,o rd en an do s ua c cu pa ca o c om b as e e m c id ad es p la nif ic ad as, s on ha nd o e m f a-ze r d a A m erica u ma N ov a E sp an ha, u ma N ov a G ran ad a; 0 e st il o f e it or ia l d op ortu gu es, p or ou tro lad o, sem pre n osta lg ico d o rein o, a c ultiv ar a terra n ol it er al , a mercadejar n os p or to s, a rr an ha nd o a p ra ia c omo c ar an gu ej o. E v o1 ta -ria a faze-lo co m notavel sistematica em Vis lio do paraiso, no qu al r et oma r ias eu q ue st io nam en to d a h omo ge ne id ad e d a c ol on iz ac ao i be ri ca .

    PARAlso TERREAL VERSUS REALI SMO PEDESTREo liv ro se e str ut ur a, p or ta nt o, a p ar ti r d e u ma s is te ma tic a c om pa ra ca o

    e ntr e a s id eia s e im ag en s q ue p or tu gu ese s e e sp an ho is c on str uir am s ob re o se sp ac os am er ic an os . E 0p ro bl em a c en tr al s e e x p li ci ta l og o n o p rim ei ro c ap it u-l o " Ex pe ri en ci a e f an ta si a" , n o q ua l S er gi o B u ar qu e e xp oe 0e ss en c ia ld o c on-tr as te : d o l ad o e sp an ho l, p re do min io d e v iso es e de ni za do ra s, r ec up er ac ao er ec ri ac ao d as i rn ag en s p ar ad is ia ca s p ro du zi da s n o O ci de nt e h av ia s ec ul os ; d oI ad o p or tu gu es, p re do mi ni o d e v iso es p ra gm ati ca s, p ou co a fe ita s a o i de ar ioe d en iz a do r e , d e r es to ,a o s e lement os ma ra v il ho so s qu e c a ra ct er iz av am 0 ima-g in a ri o o c id e nt al n a e poc a d a s d e sc obe rt as . E a o s po rt ugu es es q u e c o rr es pond ea e xp er ie nc ia e nu nc ia da n o t it ul o d o c ap it ul o, a o p as so q ue a f an ta si a e sobre-tu do h isp an ic a, A p rim eira frase d o liv ro na o d elia d uv id a so bre a tese: "0g os to d am a r av il ha e d o m i st er io , q ua se i ns ep ar av el d a l it er at ur a d e v i ag en s n ae ra d os g ra nd es d esc ob rir ne nt os, o cu pa e sp ac o si ng ul ar me nte r ed uz id o n ose sc r it os q u in h en ti st as p o rt u gu e se s s o br e 0Novo Mundo"."

    S er gi o B u ar qu e a tr ib ui 0 q ua se d esd em p or tu gu es c om a s te rr as a me ri-c an as d es co be rt as a nt es d e t ud o a e xp er ie nc ia d as n av eg ac oe s n a A fr ic a e n aA si a. J a c al ej ad os c om 0 e nc on tr o d e o ut ro s p ov os e c iv il iz ac oe s, o s p or tu gu e-se s, q ue n av eg av am h av ia q ua se um s ec ulo , n ao t er ia m s e i mp re ssi on ad o c omma is um a d es co be rt a, e nt re o ut ra s. D a i a r ar ef ac ao d e im ag en s m a ra vi lh os as ,a s m ir ab ili a, ta o r cc orr en te s n as c ro nic as d e v ia ge ns , d es de a s c ro nic as a nti-

    , I bid. , p. L

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    g as d e v ia ge ns im ag in ar ia s, c om o a d e M an de vi lle , a te a s c ro nic as d e v ia ge nsde fato realiza das , co mo as espanholas posteriores a 1492. A famil i ar i dadeleva a indiferenca, disse c er ta v ez u rn h is to ria do r f ra nc es ( Blo ch ), e talvezt en ha s id o e ss e 0c as o d os l us it an os n o B ra si l, f am il ia ri za do s, p or a ss im d iz er ,com 0 en co ntro d e terras e povos "exoticos",

    S erg io B ua rq ue r ef or ca e ss a p os sib ilid ad e e xp lic ativ a, a gr eg an do q ueta lv ez a " fa sc in io d o O rie nte " re ce m- de sc ob er to p elo s p or tu gu es es r on da a b-s or ve ss e e m d em a si a a s e ne rg ia s i ma gi na ti va s d os l us it an os , e m pa li de ce nd o, as eu s o lh os , a e xu be ra nc ia da te rr a b ra sil ic a. M as e sta e h ip 6te se m ais f ra gi l,po is su gere u rn des lu mb ram ento p ortug ues em face do O riente qu e ma l sep od e d iv is ar n a c rd nic a s ab re a i nd ia , C hin a a u J ap ao ."

    F os se p el a e xp er ie nc ia a cu rn ul ad a, f os se p el a p er si st en ci a cia fantasiaoriental, 0 fato e q ue , p ar a S er gi o B u ar qu e, 0 " re al ism o p ed es tr e" d os p or tu -g ue se s n as c ro ni ca s s ab re 0B ra si ll em b ra va m u it o 0 e sp ir ito e a a rte m ed ie -v ais , p arti cu la ris ta s, p ou eo im ag in os as , p re se nt es e m p in tu ra s e m q ue a re o sa nj os p ar ec ia m r en un ci ar a o v oo , p re fe ri nd o c ar ni nh ar s ab re p eq ue na s n uv en s.T ud o e m f ra nc o c on tr as te c om a a rte re na sc en tis ta , 0 g os to p ela fa nta sia , a s" in du co es a ud ac io sa s e d el ir an te s i ma gi na co es " d o Q u at ro cc en to .

    S er gio B ua rq ue n ao fo me ce r az oe s d ef in itiv as p ar a 0 " re al ismo p e de s -t re " d o i ma gi na ri o l us it an o e m f ac e d os d es co br im e nt os a m er ic an os , l im it an do -s e a e nu nc ia r p os sib ilid ad es n o p l an o d a e sp ec ula ca o, M as n ao r es ta d uv id a d eq ue , e om pa ra do s a os re gis tro s e sp an h6 is , o s p or tu gu es es s ao p alid os n o q ueto ea a os a sp ec to s d elir an te s e m ara vilh os os . A id eia d o p ar ais o, e m e sp ec ia l,p r at ic am e nt e n ao a p ar ec e na c rd ni ca c ol on ia l p or tu gu es a, c om e xc e~ ii o d e u rnS im ao d e V a sc on ce lo s, j es ulta q ue , n o s ec ulo X V II , d efe nd eu a lo ca liz ac ao d op ar ais o te rr ea l n o B ra sil, o u d e u rn R oc ha P ita q ue f ez 0me sm o , s em n en hum aen fase, n a su a His/aria da America portuguesa (1730).o e lo gi o d a n at ur ez a, q ue S er gi o B u ar qu e c on st at ou n a c rd ni ca q ui nh en -tis ta e s eis ce ntis ta , p ar e xe mp lo , n ao d es me nt iri a 0 t om m o no c6 rd io , q ua seb uro cr atic o p re do mi na nte . N em r ne sm o o s a rro ub os d e u rn P ero V az d e C am i-n ha - qu e v iu a terra d o B ras il tao fertil q ue, em s e p lan tan do , "d ar-s e-a nelatu do " - r iv aliz ar ia c om 0 re gis tr o e sp an ho lla ud at6 rio d o c lim a, d os a re s, d ae xu be ra nc ia d a f lo ra e d a f au na , t ud o a do rn ad o c om s er es f an ta st ic os e i nd ic io sd o p arais o p ro xim o. N o c aso po rtu gu es, m es mo 0 e lo gio d a te rr a s e r ef er ia ,

    E 0 que se pereeb. nos tex tos e documentos c itados em Luis deAlbuquerque et aJ.. 0 confrontodo olhar: a encontro do. povo. na epoca das navegacoes portuguesas (Lisboa: Caminho,1991).

    antes de tudo, e d e m a ne ir a m u it o pragmatics, a s potencialidades economicasd o t er ri t6 ri o e a s r en da s q ue a e xp lo ra ca o c ol on ia l p od er ia p ro po rc io na r a e l- re i,

    E ss a e, p ois, a p rim eira gran de tese d e VisOodo para/so. T e se p ar ad o -x a! p or qu e, n o t oc an te a v is ao p ort ug ue sa , s ub lin ha e xa ta me nte a a us en cia d ee le me nt os e de niz ad or es o u, q ua nd o m en os , a dm it e u ma p re se nc a m uit o " ate -n ua da " o u " ad elg ac ad a" , p ar a u sa r a s p ala vra s d o a uto r.

    MARAVILHAS DO Novo MUNDO, WCUS DO EDENA visao d o p arafs o pro sp erou d e fato n as c ro nic as d o d es co br im en to e

    c on qu is ta c as te lh an a, a c om ec ar p el o g en ov es C ri st ov ao C o lom bo , d es co br i-da r da A m er ic a e m 1 49 2. M os tr a- no s S er gio B ua rq ue a v er da de ira o bs es sa od e C olo mb o c om 0 q ue j ul ga va s er a p ro xi mi da de d o p ar ai so t er re al , e sc re ve n-d o d as A ntilhas ao s reis cato lico s, F ern and o e Isab el. N um a d ess as cartas,refere-se a s t er ra s d es co be rt as c om o 0 "o utre m un do" e co mo 0 " s it io a be n -y oa do o nd e v iv er ar n n os so s p rim eir os p ais ". C om o s e a cr ed ita va , d es de a I da -d e M e dia , q ue e ra n as p ar te s o ri en ta is d o r nu nd o q ue s e lo ca liz av a 0 E de n, d eo nd e A diio e E va f or am e xp uls os , e c om o 0m esmo C olo mb o ju lg av a e sta r n asc er ca ni as d e C ip an go ( Ja pa o) o u C at ai ( Ch in a) , 0p ar ai so , s eg u nd o 0almiran-te, dev eria estar p rox im o. N a su a corresp on den cia com o s reis esp an ho is,Colombo n a a d e ix o u d e r eu n ir i numer o s i nd ic io s d e ss a p ro x im i da d e p a ra di si ac a,in c1 uin do a p re se nc a d e s er es b iz ar ro s e p r od ig io so s q ue ju lg ou v er n o j o ve mcontinente.

    A p a rt ir de Co lombo, i numer o s c ro n is ta s e sp a nh o is , l ai co s o u r el ig io s os ,se r e fe r ir am a lo ca li za cd o d o p ar ais o te rr ea l n a A m er ic a e S er gio B ua rq ueo s e xa min a u rn a u rn , c ot eja nd o n arr ativ as , r as tr ea nd o a s m at ri ze s d e ta l o uq ua I v is ao a me ric an a d o E d en . E m v arie s c ap it ulo s d o liv ro , a q ue sta o r ea p a -r ec e, n ar ra da c om maxima e ru di ca o, a e xe mp lo d os c ap lt ul os " Te rr as i nc og -n it as ", " Pa ra is o p er di do " a u "V. sa o d o p a ra is o" , c ap it ul o q ue e ta titulo a obra.E m "P arais o p erd id o", em bo ra seja ele 0 s etim o d o li vr o, e nc on tr am os v er -d ad eira ex eg ese da tem atica ed enica n o rn un do o cid ental, na qu al S ergioB uarqu e inv en taria o s tem as a serem ch ecad os no im ag in ario ib erica do sdescobrimentos.

    U r n d o s m a io re s p ro pa ng ad is ta s, s e n ao 0ma io r, d a l oc al iz ac ao d o p ar a-I so t e rr ea l n a Am er ic a f oi A n to ni o d e L e6 n P in el o, c on se lh ei ro r ea l d e C a st ei a,illlI c ro n is ta -mo r d o r ei no , n um is r na ta , r ec o pi la do r d e " la s l ey e s d e I n di as " , b ib li 6f il o,u rn d os sab ios m ais eru dito s, en fim , d o S ig lo de O ro espanhol, E ntre 1 64 5 e

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    1650, L eo n P in elo e se re ve u s ua o br a m ag na , EIparaiso en el Nuevo Mundo,e omp os to d e e in co l iv ro s, u rn t ot al d e 88 capitulos, cujos or ig inai s manusc r itosc on ta va m c om m ais d e o ito ce nto s f ol io s. L eo n P in elo e xa min ou e im pu gn outo da s a s te se s q ue b usc av am l oc aliz ar 0 p ar ai so n o O ri en te , p ro cu ra nd o de-mon str ar q ue o s r io s b ib li co s n a e mb oc ad ura d os q ua is fi ca va 0E de n n ao e ra mo T i gr e, 0Eufrates, 0G an ges e 0Ni lo, s enao , re spec tivamen te, 0Ma da le na , n aa tu a l Co lomb ia , 0 Orenoco, Prata e 0A mazo nas. A lo ca lizaca o ex ata o ua pr ox im ad a d o p ara iso e sta ria , p or ta nto , n a r eg ia o a ma zo ni ca , n a Am az on iap er ua na c on fl ue nt e c om a r eg ia o andina,

    M ost ra -n os S er gio B ua rq ue q ue L e6 n P in elo n a o s e l im it ou a d es cr ev ere ss es r io s, tr ac an do a s a na lo gia s c om o s s ab er es e de niz ad or es tr ad ic io na is,m a s a gr eg ou p orm en or es t ip ic am e nt e am er ic an os a c ar ac te ri za ca o d es se p a-raiso no M un do N ov o. A arvore do bem e do mal niio d ar ia , a ss im , a m a~ a,f ru to d o p e ca do o rig in al p ar a m uito s, n em 0f ig o, c omo d is se ram o ut ro s, m a s 0m ara cu ja , a g ra na dil la , e m e sp an ho l, c uja c or e sa bo r, s eg un do 0c ro ni st a, " em uito co nfo rm e a o q ue dizem o s ex po sitores d o p orn o qu e fo i instru men to den ossa p erd icao e feitico ao s o lh os d e E va". Pro sseg uin do n a su a ''teo ria'',L e 6n P in e lo afirmou qu e 0ho mem fora c riad o n a A meric a do Sui, razao pelaqual 0 c on ti ne nt e p oss uia " a fo rm a d e u rn c ora ca o", N e e t er ia c on st ru id o s uaarea n a v erten te o ciden tal da - co rd ilh eira d os A ndes c om ced ro s e m ad eira sf or te s d a regiao, etc.A pa rt ir da narrativa de L eo n P in el o, S er gi o B ua rq ue p ro cu ra i de nt if ic ara p re se nc a d e a lg un s d es se s e le me nto s p ar ad is ia oo s e m c er to s e sc rito s lu sita -n os, m or me nte n o d o p ad re S ir na o d e V a sc on ce lo s, u rn d os r ar os q ue d ef en de ua l oc al iz ac ao d o p ar ai so t er re a1 'n o B ra si l, t en do e sc ri to n os a no s 1660. Mas aex eg ese d e n osso au to r, S ergio B uarq ue, so con tribu i p ara re fo rcar su a tesec en tr al : " po br e f ig ur a h av er ia m d e f az er , e m r ea 1i da de , a qu el es s et e p ar ag ra -f os d e S im ao d e V as co nc elo s", c om pa ra do s a . c op io sa o br a d o c ro ni sta e sp a-n ho l, p or s in al d e r emo ta o ri gem ju da ic a.

    M as as "v isees d o p araiso " d e L e6 n P melo e d e ou tro s nao se lim ita va ma d es cr ev er o u p ro cu ra r d eli mita r 0 e sp ac o e de nic o p rim or dia l, a m or ad a d eA d ao e E va a nt es d o p ec ad o i rr em i ss iv el . N o s e sc ri to s p ro du zi do s n o O ci de nt ec rist ae q ue , d es de a ld ad e M ed ia , se d ed ic ar am a r as tr ea r 0p ar ai so t er re al n oO rien te, co nfig urou -se u rn a p leiad e d e m itos e m arav ilh as, m uitos d ele s deo ri ge m m ais re mo ta , q ue r n a A ntig uid ad e o cid en ta l, q ue r n o p ro pr io O rie nte .A s n ar ra tiv as e de niz ad or as e ra m v er da de ir am en te in se pa ra ve is d o m ito d asa ma zo na s, d o H ort a das Hes pe ri de s o u J ar dim d as D e li ci as , d o E ld or ad o, dafonte da etem a juventude - a Juventa - da existencia de m onstros e seres

    b iz ar ro s, d e se re ia s e d ra go es, p ig me us e g ig an te s, canibais e c op ro fa go s? e ,s em d uv id a, m o ns tr os cia m ais v ariad a esp ecie e g en ero , co mo o s acefalos -h om en s ao s q uais falta vam as cab eca s - o u o s cino ce fa lo s, fig ura s h um ana sc om c ab ec a d e cao, d en tr e o ut ro s s er es h ib ri do s a u h ip er tr of ia do s n as o re lh as ,p es o u maos.S er gi o B ua rq ue d ef en de , c om m ax im o b rilh o e e ru dic ao ; q ue "a c on ve n-. ; : i i o l it er ar ia d os m it os e de ni co s, o nd e a n ar ra ti va b ib li ca s e d e ix ar a c on tam in arde r em in is ce nc ia s c la ss ic as [ ... ] e ta mb em d a g eo gr af ia f an ta stic a d e t od as a se po ca s, v ei o a a fe ta r d ec is iv am e nt e" a s d es cr ic oe s c ol on ia is d o p ar ai so t er re s-t re . E r us so r es id e 0m io lo d o liv ro , t ar ef a v er da de ir am en te d em iu rg ic a a q ue I T I J Js e propos 0ma io r h is to r ia d or b r as il ei ro : c o te ja r n a rr at iv as d a An ti gu id a de c la s-s ica , incluindo 0l en d ar io h e le n is ti co ou me smo o ri en ta l s ob r e 0cosmos fantas-tico, com as interpretacoes da narrativa biblica, so bretu do n o tem po dae sc ol as ti ca ( se cu lo s X II I- XIV) , e d ai c om a s n a rr at iv a s d e a v en tu re ir os ,c o n-q ui sta do re s e m is si on ar ie s q ue a tu ar ar n n o N ov o M un do . H om en s q ue v ir am ,a qu i e a li , m u lh er es g ue rr ei ra s, r ot as d o E ld or ad o, t er ra s d e im or ta li da de , s er esmon st ru o so s, h umano s, a n ima ls o u h ib r id o s.

    N o ra str ea me nto d ess es m ito s, S er gio B ua rq ue n oo se c on te nta , p or em ,em i de nt if ic ar a s m a tr iz es c la ss ic as o u m e di ev ai s q ue i rr ig ar am 0 imaginariodos conqui st adore s cia America , admit i nd o i ng re di en te s f an ta st ic os d e o ut ra st ra di co es e ur op ei as , c omo a do s c el ta s, p re se nt es , p ar e xempl o, em t 6p ic os dalenda d e S ao Brandao e s ua i 1h a encantada, ou em t ra c es da mitolog ia he roicai nd ig en a, c om o n o c aso d a " te rr a s em m al" d os tu pin am ba s, S erg io B ua rq ue em uit o c la ro a e sse r es pe ito , a o d iz er q ue

    a i de ia d e q ue e xi st e n a T e rr a, c om e fe it o, a lg um s it io d e b em -a ve nt ur an ca , s o acessivela o s m o r ta ls a tr a ve s d e m il p er ig o s e p en as , m an if es to s o ra s ob a apa renc ia de um aregiao tenebrosa , o ra d e colunas I gn ea s q ue n os impedem de a lc a nc a -l o , o u e n lAo d ed em o nl os o u p av o ro so s m o ns tr os , pode prevale ce r , pore rn , independentemente dastradiQlSes c la s si ca s ou da s e s co l as ti c aa sutllezas.t?

    E nt re e ss as t ra di co es e nc on tr ar -s e- ia a c el eb re J uv en ta , " fo nt e d a e te rn aj uv en tu de ", c uj as a gu as j or ra vam d e s it io MO mu it o d is ta nt e d o p ro pr io Eden,a pe s se gu ir u m p er cu rs o subterraneo, M an de vill e, q ue d eix ou n o se cu lo X IVuma b ela n ar ra tiv a d e v ia ge ns a o "o utr o m un do " - v ia ge m im ag in ar ia , q ue , n a

    , C omed o .l i: o$ .e fezes,1. Sergio Buarque de Rolanda, Vis{fo do paraiso, c it ., p . 2 0 .

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    ve rd ad e, jam ais realiz ou -, d isse ter v ista a fo nte e b eb id o d e su a ag ua tres o uq ua tr o v ez es, E n a c ar ta a tr ib uid a a o le nd ar io P re st e Jo ao , c on sta q ue a m es mafo nte f ic av a a t re s e li as d e v ia ge m d o "jardim d e o nd e A da o f or a expulso", Au -t en ti co a pe nd ic e d o E d e n , assim era a Ju ve nta no s rela to s so bre este "o utromu nd o f an ta st ic o" q ue , c omo i nd ic a S er gi o B u ar qu e, f oi m i gr an do p ar a a Amer i-c a n a m ed id a e m q ue s e d es en ca nta va 0 Or ie n te a tr av e s d a e xp a ns ao ma ri tima.

    Juan Ponce de Le6n, depois de m uitos anos na A merica e contando jac om5 0 a no s, d is po s- se a l oc al iz ar 0 c am in ho p ara a "s ag ra da f on te e p ar a 0 rioonde os velhos se revigoram e rem oeam ". L oca1izou a prim eira na ilha deB im in i e 0 r io n a c on ti gu a p en in su la d a F l6 ri da . "A le nd a i nd ig en a", a fi rm aS er gio B ua rq ue , ''v ie ra a pe na s e nd oss ar v elh a tr ad ic ao e ru dit a so br e a e xis -tenda, em algum a parte do orbe, de um a fonte dotada daquelas proprie-dades"." A pesar da frustracao de todos com 0 ma lo gr o d as d es co be rt asf an ta st ic as , s emp re f u gi d ia s, 0 l enda r io nOOesmoreceu . 0p ro dig io so e ra m e-n os r ea l d o q ue a pa re nt e, a li me nt ad o p or c er ta " di sp os ic ao d e e sp ir it o" p ro pr iod e mu it os s ol da do s d a c on qu is ta , q ue o s l ev av a, " de po is d e t an to s e sp et ac ul osin us it ad os , a v er e m t ud o m ar av il ha s [ ...r'.

    O utr a le nd a a pa re nta da a o m it o d a J uv en ta e , c om o e le , a pe nd ic e r ec or -re nt e n a v is ao d o E d e n , fo i a da s c el eb re s am az on as , a s mu lh er es g ue rr ei ra s d etr ad ic ao lo ng ui ss im a n o O cid en te e n o O rie nte P r6 xim o. C olo mb o c he ga ria asu blin har, n o se u e xe mplar d a Hi st or ia r erum escrita p elo p ap a Pio Il, certap ass ag em o nd e s e m en ci on av a u ma il ha d e : te me as , isle femelle, qu e ch eg ou as er l oc aliz ad a n a m ist er io sa il ha d e Matimino, P ed ro M ar tir d 'A ng hie ra , c uj aDecadas do Orbe Novo , escrita 00 i ni ci o d o s ec ul o XV I, i ns pi ra va -s e n os p ri -rneiros relatos da decoberta da A merica, nao hesitaria em m encionar asf am ig er ad as am az on as , m u lh er es q ue s om e nt e em c er ta s e po ca s do a no s e a ju n-t av am c om ma ch os , r ef ug ia nd o- se d ep oi s em c un ic ul os p ar a: e vi ta r o s v ar oe s.

    D e co ntin en tals n a o rig em , co mo in dica Se rgio B ua rq ue, as am az on asi r ia rn s e t rans fo rmar porvezes em m is te ri os as mu lh er es i ns ul ar es , p ar a s er emen fim l oc al iz ad a s e v is ta s 00g ra nd e r io -m a r, p or e ss a raz1io chamado pos te r io r -m e nt e d e - " Ri o das Amazonas" , 0a tu al r io Am az on as. S er gi o B ua rq ue c on ta -nos ~m detalhe com o isso ocorreu, na altura de 1541, quando a expedicaoc om an da da p or F ra nc isc o d e O r el la na p ar tiu d e Q u ito r um o a o im ag in ar io P aisd a C an el a. 0 au to r d a n arrativ a in au gura l fo i 0 c ap el ao d a e xp ed ic ao , 0d om in ic an o f re i G asp ar d e C ar va ja l, q ue 0 f ez d ep oi s d e f er re nh os c omb at es

    " Ibid. , p. 21

    e ntr e e sp an h6 is e i nd io s, i nc lu in do a s m ulh er es g ue rr eir as d e q ue f ala va rn a san tig as len das, A o d es c rev e-las, afin no u q ue "e ra m m em brud as, d e g ran dee st at ur a e b ra nc as ; t in ha rn c ab el ei ra mu it o l on ga , t ra nc ad a e r ev ol ta n o a lt o dacabeca; a nd av ar n n ua s, c om a s v er go nh as t ap ad as ". E , s eg un do S er gi o B ua rq ue ,''uma so en tre e las v alia, n o c om bate, po r d ez h om en s". N iio resta d uv id a deque C arvajal rnisturou traces do antigo lendario sobre as am azonas com ae xp er ie nc ia v iv id a n os c om ba te s tr av ad os n o g ra nd e r io , a cr esc en ta da p or in -fonnacoe s qu e 0 p ro pri o d om in ic an o r ec olh er ia e ntr e in dio s d o lugar." Mass eu r el at o s er ia 0p rim ei ro d e u m a s er ie a ce rc a d a e xis te nc ia d ess a c om un id a-d e de g uerreira s fina lm en te en co ntrad a n o N ov o M un do , e m esp ecial n a re-giae que levaria seu nome. ,A s d escrico es so bre a Ju ven ta e 0 p ai s d as a ma zo na s, v iz in ho s d o E de nou ap en dices d ele em m aie r o u m en or g rau , sao a pe na s d ois ex em plos d en treo s v a rie s e stu da do s p or S er gio B ua rq ue e rn s ua o br a. N ela se s uc ed em p re ci o-s as d es cr ic oe s d e l ug ar es o nd e 0r ea l e 0imag in a ri o s e c onf u nd em , imbr ic andot empo ra li da d es a n ti ga s e moder na s, c ru z ando t ra d ic o es c u lt ur ai s mu lt ip la s, q u ero ri gi na ri as d o V e lh o Mu nd o, q ue r i ns pi ra da s n os r el at os a rn er in di os .

    V ale , p or em , su blin ha r q ue o s m a is a bu nd an te s e m elh or es r ela to s so br ete ma s e de ni co s a pa re ce m n a c ro nic a h isp an ic a, a de lg ae an do -se , p el o m en osn os se us a sp ec to s m ais im ag in os os o u e ru dito s, n a c ro ni ca d e o rig em p ort o-gu esa. O s p ob res sete p arag rafo s d e Sim OO de V asco ncelo s o u m esm o a d es-cricao d as am azo nas q ue faria Ped ro T eix eira n o se cu lo X VII n ae ch eg amseq uer a m atiza r essa constatacao, co mp ro van do a te se cen tral d e S erg ioB ua rq ue e m se u liv re maior,

    SUME : CONTRlBUIc ;AO LUS0-BRASILE lRA

    E de ni za ca o p al id a e a de lg ac ad a, r ea 1i sm o e p ra gm a ti sm o f or te s, n em p ori ss o a c ro ni ca p or tu gu esa d ei xo u d e d ar m os tr as d e a de sa o a o im ag in ar io fan-ta stic o q ue m ar co u a d es co be rta d o N ov o M un do . 0mi to ma is g e nu in amen te

    11 Lulz Mot t v iri a a de svenda r de vez 0 misterio do relate de Carvajal, que misturou tradi9!Sesarrtigas com infonna~~e8 recolhidas entre 08 natives sobre as acc/acuna, as "vi rgens do Sol" doimper io inca, de cuja exi .t encia sabiam 08 indios da regilo amazonica. Esclareee, ainda, queCarvajal prova velmente viu em C ambote as mulheres guer re i ras da cul tura tupinamba. Cf. L.Mot t, "As amazonas: urn milo e algumas hipoteses", em Renaldo Vainfas (org. ), America emt emp o d e c a nqu is t a (Rio de Janei ro: Zahar , 1992) , pp. 3356.

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    ViMU uo f'lIlUii>V

    l u so -bra si le iro se ri a a fa mo sa I en da d e Sume, ou seja, a crenca de que a Ame-r ic a fo ra o bjeto d o a po sto la do d e T o me n os p rim or dio s d o c ris tia nis mo . L en daq ue , n a v er da de , rnantem pouca relacao com a ideia d o p ara is o te rr es tre , o uc om o s m i to s q ue em to rn o d ele g rav ita va m, e xc eto p elo s Iig am es e ntr e a a~ ood es se ap os to lo e a ex is ten cia d o le nd ar io r ein o d o P re ste J oa o, cr en ca g es ta dan a BOO xaId ad e M ed ia . D e to do m od o, a " Ie nd a d e S um e" in te gr a a im ag in ariom ara vilh os o d os d es co br im en to s a me ric an os e, s eg un do S er gio B uar qu e, f oic ap az d e e xp an di r- se , s ob o ut ra s r ou pa ge ns , p el a v iz in ha Am er ic a e sp an ho la ,n ot ad am en te n o P ar ag ua i, P er u e r eg ia o p la ti na .

    D e T om e, 0 apostolo d es ig na do p or C ri st o, apos a Ressurreicaaparapregar 0e va ng elh o n as fin is te rra s d o m un do , as n otlc ia s d ata m d a I da de M e-

    illlI dia . S er gio B uar qu e re co rd a q ue , d es de a v ia ge m d e V a sco d aG am a, e m 1 49 8,fo ra m re co lh id os in dicio s d es sa le nd a im em or ial, e, n o ca so d os c ris ta os da

    dndia, urn ram o dos nestorianos era ali cham ado de "cristaos de S ao Tome".~s a~5es de Sao Tome, a devocao de que foi alvo, suas reliquias, tudo isso

    aparece r eg is tr ad o a u me ne io n ad o na cronica p or tu gu es a s ab re 0 O r ie nt e, i n-c 1u in do a c or re sp on de nc ia d o i ns ig ne j es ui ta S . F ra nc is co X av ie r, 0 liv ro d eDuarte B arbosa e m uitos outros. 0 fato e que, com o boa parte do lendarioo cid en tal acerca do O riente, tam bem a relativa ao aposto lad o de S ilo T om em igrou p ara a A merica. A prim eira no ticia desse presu mido ap ostolado noBra si l e ncon tr a -se na N ov a G az et a A IemU , in fo rm a S erg io B uar qu e, lo go n oin ic io d o s ec ulo X VI, a q ua l m en cio na a " re co rd ac ao d e S ao T om e" q ue p are -c iam t er os indios brasilicos. Diz 0 texto: "Quiseram mo st ra r a os p o rt ug u es esas pegadas de S ao T om e no in terior do pais. Ind icam tam bem q ue tem cruzesp el a t er ra a de nt ro , E q ua nd o f al am d e S ao T om e, c ha mam- lh e 0D eu s p eq ue -no, m as que hav ia outro D eus maior"."

    D iv eI '$ 9S o ut ro s c ro ni st as , s ob re tu do o s r el ig io so s, e d en tr e e le s o s j es ui -tas, contribuiram p ara adensar a con viccao ou su speita de q ue T om e haviap reg ad o n o B ra siL E n oo ta rd ou p ara q ue, n o in icio d o s ecu lo X VI , o s j es uitasse pusessem a rastrear as pegadas de S a o Tome e outros indicios de seua po sto la do e m te rra s b ra silica s, a br in do ca min ho p ara u rn in es go tav el in te r-cambio de s im bo lo s e ntr e a c ultu ra c ato lic a d os c olo niza do re s e as tra dic oe sam erindias. Sergio B uarque sublinha, com razao, que essa "especie de

    i ll lI ha gi og ra fi a d o Sao T om e b ra si le ir o" d ev eu -s e s ob re tu do a c ol ab or ac ao d osm is si on ar ie s c at 6l ic os , d e m o do q ue s e i nc ru st ar am , afinal, tradicoes cristas

    1) S6rgio Buarque de Holanda, Vi~l1odo paraisa, c it ., p . 108 .

    e m c ren ya s o rig in aria s d os p rim itiv es m or ad or es d a ter ra , " Qu e a p re sen cad as p eg ad as n as p ed ra s s e tiv es se as so ciad o, e ntre e ss es , e j a a nte s d o ad ve n-to d o h omem b ra nc o, itp as sa gem d e algum heroi c iv il izador, e admiss iv e l, quandos e t en ha e m c on ta a c ir cu ns ta nc ia d e s er ne lh an te a ss oc ia ca o s e a ch ar d is se mi -n a d a e ntr e in um er as p op ula co es p rim itiv as em to do s a s lu ga re s d o m un do . "14N o caso do B rasil es teve co m certeza asso ciada ao es forco do s jesuitas emampa ra r, u rn p ou co i ng en u ar ne nt e, e verdade, 0 e sfo rc o d a c ateq ue se. T om ef oi a ss oc iad o, n o B ras il, a u m d os h er ois da cu lt u ra tupin amba , 0 Sum e, e asa fi ni da de s f on et ic as e nt re o s d oi s " de mi ur go s" j og ou p ap eI d ec is iv e n a c re nc aj es ui ti ca d e q ue 0B ra si l s of re ra u rn e sb oc o d e e va ng el iz ac ao e m te mp os i do s.

    M a s, e xc eto p elo frisson do m ead e do seculo X VI, quand o as jesuitas def at o r as tr ea ra m a s p eg ad as d o a po st ol o, a l en da d o S um e- T om e l us o- br as il ei rof oi p er de nd o v ig o r c o m 0tempo, 0c on tr ar io , a li as , d o q ue o co rr eu n a Am er ic ae sp an h ol a, o nd e 0 le nd ar io s ob re es se s up os to a po st ol ad o f in co u r ai ze s m ai sp ro fu nd as e d ur ad ou ra s, S er gi o B u ar qu e i de nt if ic a v ar ie s p er cu rs os cia lendano Peru e no Paraguai e com isso reforca sua tese de que 0im ag in ar io m a ra -v il ho so n o B ra si l s em pr e f oi m oo s a te nu ad o d o q ue n a v iz in ha Am er ic a h is pa ni -c a. M i to v ag o n o B ra si l, 0 S a o T ome amer ic an o

    se VIIi e nr iq ue ce r e g an ha r m ai s l us tre a m ed id a q ue a n otic ia d e s ua s p re dic as s ee xp an d e p ar a o es te , r um o as p os ae ss ce s d e Castela, S e nd o, c o mo e , d e f at o, 0 unicom i to d a c on qu is ta c uj a p ro ce de nc ia l us o- br as il ei ra p ar ec e b er n a ss en te , e ss a c ir cu ns -lancia e 0 b as ta nt e, s em d uv id a, p ar a d ar u ma n09i1.o d a r ne nt al id ad e q u e d ir ig iu c ad au rn d o s p ov o s i be ri co s em s ua o b ra c ol on iz ad o ra ."

    S A LV A ~A O E SP JR IT U AL E R IQ U EZ A M A T ER IA L

    'P er co rr ca dc m it os e l en da s d e d iv er sa s t ra di co es c ul tu ra is e v a ri ad a p ro -c ed en ci a, S er gi o B ua rq ue a br e u rn a mp lo l eq ue d e p os si bi li da de s p ar a s e c om -p re en de r a r iq ue za d o i ma gi na ri o p re se nt e n os d es co br im en to s e c on qu is ta s daA me rica p elo s ib eric os . M as n ao s e d ev e e nte nd er, p or is so , q ue s e t ra ta d e u rnliv re c on stru id o s ab re " ca ma da s d e a r" , p erd id o e ntre p ara is os e f an tas ia s,s em n en hu ma c on ex ao co m a h is t6 ria s oc ia l da colonizacao,

    II lbtd., p . 109 .U Ibid .. p, 125.

  • 5/14/2018 Banquete nos trpicos - Viso do paraso

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    No " Pr e f ac io a seg un da e dicao " d a o b ra, q ue s6 v eio a p ub lico em 1 96 9,S er gi o B ua rq ue f ez q ue st ao d e a dv er ti r 0 l ei to r d e q ue , embo ra n ii o s e t r at as sed e u ma "h ist6 ria to tal", p ois ace ntu av a o s m ito s e id eias, Vtsdo do paraison it o e xc lu ia c on si de ra co es , a o m e no s imp li ci ta s, a os c omp lem en to s o u s up or -t es m ate ria is d aq ui lo q ue , "e m su ma , n a l in gu ag em m ar xis ta , se p od er ia c ha -mar de infra-estrutura't.!" A advertencia e a cautela de Sergio B uarque sej us ti fi ca v am , e n ta o , p e lo c lima da epoca, pre st igio do marx ismo na h i sto riog ra f iae r ec ru de sc im en o d o r eg im e m il ita r e m te mp o d e A I ~ 5.

    D e to do m od o, S erg io B ua rq ue o us ou in ov ar , p rim eir o a o s ug er ir q ue a sid eia s q ue e stu da va n o l iv ro p od em t er a nt ec ip ad o e m esm o e sti mu la do "p ro ~c ess os m ate ri ais d e m ud an ca s oc ia l". E , s eg un do , a o d iz er q ue e ss as m es ma sid eia s, a ss im c om o "s e m ov em n o e sp ac o, hiq ue a co nte ce r q ue ta mb em v ia -jem no tem po, e porventura m ais depressa do que os suportes, passando ar ea gir s ob re c on di co es d if er en te s q ue v en ha m a e nc on tr ar a o l on go d o c am i-n ho ". E m p ou cas lin has S erg io B uarq ue fo i cap az d e d esafiar, de u rn lad o, 0e sq ue ma ti sm o m ar xis ta , e nta o e m y og a, se gu nd o 0 q ua l a s c on di co es so ci o-e co no mic as se mp re d et er min av am a s to ta lid ad es s oc ia is; e , d e o utr o la do , s u-g eriu q ue "as m en talida des" p ode riam av anc ar m ais rap ida men te do q ue o sp ro ce ss os m a te ri ai s - 0 c on tr ar io , p or ta nto , d o q ue c om ec av am a a fi rm ar , n am es ma e po ca , o s h ist ori ad or es fr an ce se s d a N ov a H is to ria .

    S eja c om o f or , S er gio B ua rq ue s e m o str a m ui to a te nt o a s po ss iv e is c o ne -x oe s e nt re 0 tem po dos m itos e 0 t empo d a c o lo n iz ac a o, 0 a rumo d as v is oe se de ni ca s e a s m oti va co es c on ere ta s d a e xp an sa o e d a a ca o c ol on iz ad or a d osp ov os i be ric os , E n a . o e de a dm i ra r q ue a ss im 0 t en ha f ei to , j a q ue a s p r6 pr ia sv er so es m e di ev ai s d o m i to d o p ar ai so t er re st re j am a is o pu se ram r ad ic alm en tea s al va ca o e sp ir it ua l e o e nr iq ue cim en to m a te ri al . N o s l iv ro s d e v ia ge ns , r ea iso u ima gi na ri as , p ro du zi do s n a B ai xa l da de M e di a, j uv en ta s o u j a rd in s d as d el l-c ia s c on viv ia m c om il ha s o u la go s d ou ra do s, l ug ar es o nd e o s p rin ci pe s s e v e s-ti am c om m an to s d e p er ola s o u p ed ra s p re cio sa s,

    T ra ns po st os p ar a 0 cenario americano, t ai s m it os " au re os e a rg en te os "i ri am mob il iz ar im ime ra s e xpe d ic o es de c onqu is ta e e xpl o ra c ao t er ri to ri al , me s-c lan do -se a p ro cura d o P ais d a C an ela ou do p ro prio E den c om a o bse ssiv abusca de ouro e pedras preciosas, assunto que nosso autor desenvolve emd iv er so s c ap itu io s, a p ro po sito d e t al o u q ua ll en da , c om o n o c ap itu lo "P ec as ep ed ra s" . 0 c ap it ul o " Te rr as i nc og ni ta s" , s eg un do d o l iv ro , t en ni na p re lu di an do

    " Ibid. , "Prefscio a segunda ed;~lo', p. XIX.

    a a niU is e d es sa r el ae ao e nt re b usc a d a sa lv ac ao e d a r iq ue za , q ua nd o S er gioB ua rq ue a fir ma q ue o s c on qu is ta do re s a ca ba ri am p or c an on iz ar a p ro pr ia g a-n an cia . "G an an cia ", a fin na S er gio B ua rq ue , " na o a pe na s d e r iq ue za s c om oain da d e h on rarias, ap arato s e g lo rias d o m un do , q ue p assam a co nstitu ir am e ta c on st an te d o c on qu is ta do r c as te lh an o. E a ss im , a te a v en tu ra e te rn a v er na ter, m uitas v eze s, p ara e le, a co r d a p rop ria co bica , co m 0 q ue s e r ec ob re 0p ar ai so , em s ua ima gi na ca o, d e t od as a s g al an te ri as terrenas.?"

    T em a- ch av e p ar a s e lo ca liz ar e ssa fo rti ss im a c on ex ao e nc on tr a- se n omito am er ic an o d o E ld or ad o, i ns pi ra do n a l en da o ri en ta l d o " Pr in ci pe D o ur a-d o" c om s ua la go a e se us te so ur os in fin ito s. S er ia 0E ld or ad o p ro cu ra do e mva ria s pa r te s da Am eri ca : e m S an ta M ar ta , n a N ov a G ra na da , a tu al C ol om bia ;n o v al e do C au ca , s itu ad o n a m es ma r eg ia o; n a G ui an a; n o p ais d os Om ag ua ," on de m a is l on gam en te p er du ro u, s emp re s ob 0fa sc inio que despe r tava 0nomed a r es pl an de sc en te M a no a" . Im im e ra s e xp ed ic oe s, p or ta nt o, s e r ea 1i za ram n ab us ca d o E ld or ad o, se mp re m esc la nd o, c om o a fir ma 0 a uto r, "a r elig ia o d oC ris to e 0 c ulto d o B ez erro de O uro ". E tam an ha fo i a ob sessao q ue, n a cele-bre ex ped icao a mazo nica d e P ed ro d e O rsu a, a m esm a q ue cele brizo u L op ed eA g u ir re , c he go u- se a n om e ar 0 c he fe e xp ed ic io na ri o, c om s in et e o fi ei al , d e" Go ve rn ad or e C ap it ao -G e ne ra l d o D o ur ad o" , u rn p ai s e nc an ta do e quimerico,

    V ig or os o e nt re o s c on qu is ta do re s c as te lh an os , 0m ito d o E ld or ad o ir iae mp ali de ce r, ta mb em e le , e ntr e o s p or tu gu es es. A o bs es siv a p ro cu ra d e o ur oq ue ta nto a nim ou o s lu sita no s d esd e 0 i ni ci o d a c o lo n iz a ca o , e s6 se viu re-c om pe ns ad a n o f in al d o se cu lo X V II c om a d es co be rta d os v ei os d as G er ais ,p ar ec e te r p re sc in di do d e e le me nto s f an ta sti co s, 0 E ld or ad o f oi c it ad o a pe ~nag de passagem por frei V icente do Salvador em sua Historia do Brasil( 16 27 ), e ig ua lm en te d e m o do tim id o p or P er o d e M a ga lh ae s G an da vo ( 15 76 ),ao m en cio nar u ma serra "fe rm osa e . resp lan descen te " o nd e se h av ia m e n-contrado um as pedras verdes. G abriel Soares de Souza, no seu Tratadodescritivo ( 15 87 ), n ae . f ez q ua lq ue r m en ca o a o a ss un to , lo go e le q ue m on ta -ria expediC ao em busca de ouro, sertao adentro, onde viria a m orrer. D em odo q ue, co mo d iz S erg io B uarq ue, e sse elem en to fan ta stico , no c aso d oD o ur ad o b ra si le ir o, " ne nh um t ex to q ui nh en ti st a 0 ce r ti f ic a ". Rea fi rma-s e,po is, ta mb em n o do min io d a b usca d e riq ueza s, 0 " re al is mo p ed es tr e" d osp or tu gu es es em s ua a ca o c ol on iz ad or a,

    17 Ibid., pp. 32-33.

  • 5/14/2018 Banquete nos trpicos - Viso do paraso

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    PARAfso AUSENTEA s sim s er ia , q ua nd o mu it o, 0p ar ai so l us o- br as il ei ro . N a v er da de , S er gi o

    Buarque 0 c on si de ro u c om o a us en te , t ra ga do p elo s in te re ss es i me di ato s d eum a colonizacao predat6ria e pouco ligada a m otivacoes propriam entec iv il iz ac io na is . N o ss o a ut or r et om a c om e ss a t es e, q ue r ei te ra n o c ap it ul o f in al ," Ame ri ca p or tu gu es a e I nd ia s d e C as te la ", a qu il o q ue h av ia e sb oc ad o em Raisesdo Brasil, e sp ecia lm en te n o c ap itu lo "0 sem ead or e 0 l ad r il h ado r" . S e rg i oB ua rq ue p ro cu ra a va nc ar e t ec e c on si de ra co es s ob re a p er sis te nc ia o u d iss i-p a~ ii o d o ima gi na ri o f an ta st ic o p re se nt e n as c ol on iz ac oe s i be ri ca s e 0 ti po d emonarquia , 0g ra u m ai or o u m en or d a c en tr aliz ac ao p olit ic a n os d oi s p ais es , ao co rr en ci a o u a us en ci a d e p ro je to s im pe ri ai s q ue a rt ic ul as sem , n os d oi s c as os ,c ol on iz ac ao e r el ig ia o. N o ss o a ut or a cr es ce nt a, a ss im , o ut ra s p os si bi li da de se xp lic ativ as p ar a ta o f la gr an te c on tr as te e nt re a s m en ta lid ad es c as te lh an a ep or tu gu esa n o p ro ce sso d e r ep re se nt ac ao d a c on qu is ta . M as , a b em d a v er da -d e, a pe na s t an ge nc ia e ss es n ov os e lem en to s, p re va le ce nd o, n o c on ju nt o, a t es ed e q ue, p or se rem ex pe rim en tad os n as tid es d a d esco berta, o s lu sitan os n aov ir am n o B ra si l s en ao u rn a v as ta a re a d e e xp lo ra ca o,

    A d es co be rta d o o ur o, e m f in s d o s ec ulo X V II , c on tr ib uir ia ta rd ia me ntep ar a u ma r en ov ac ao d es se m ar as mo p ou co f an ta sio so q ue m ar ca ra o s p rim ei-r os s ec ul os l us o- br as il ei ro s. A o me no s a m i ra gem impe ri al , it moda das lndiasd e C as te la , ir ia a nim ar o s p or tu gu es es , a fir ma S er gio B ua rq ue . U m a i de ia q uec h eg a ri a a e st imu l ar 0g ov em ad or D io go B ote lh o, a in da n o inicio dos s e is cen-to s, a rec lam ar p ara si 0 t it ul o d e v ic e- re i, " como s e 0 e n fe it ic as se a e sp e ra n ced e g ov ern ar o utro P eru o u u ma se gu nd a in dia ".

    M as n ad a d is so f ez su rg ir , s eg un do S er gio B ua rq ue , u rn a v is flo d o B ra silp ar ad is ia co . E e p or r ne ta fo ra d e um a c ol on iz ac ao g en ui nam en te p re da to ri aqu e 0 autor conclui 0 liv ro d iz en do q ue , s im , " te re mo s n os so s e ld or ad os . O sdas m i na s, c er ta m en te , m a s ainda 0 do a c uc a r, 0 d o ta ba co , d e ta nt os o ut ro sg en er os a gr ic ol as q ue s e t i ra m da t er ra f er ti l, e nq ua nt o f er ti l, c omo 0 o ur o see xt ra i, a te e sg ot ar -s e d o c as ca lh o, s em r et ri bu ic ao d e b en ef ic io s" ."

    " lbtd., p. )23.

    SERAFIM LEITE

    Hist6ria da Companhiad e Jesus no Brasil

    J oa o Ado lf o Hansen