traducao l'uscita

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Luigi Pirandello All'uscita Na saída Mistero profano Mistério profano aprile 1916 abril de 1916 Tradução de Vanina Carrara Sigrist Edizione di riferimento Opere di Luigi Pirandello, Maschere nude, Nuova edizione diretta da Giovanni Macchia, a cura di Alessandro D'Amico, vol. I, I Meridiani, Arnoldo Mondadori, Milano 1997 IV edizione Edição de referência Obras de Luigi Pirandello, Máscaras Nuas, Nova edição produzida por Giovanni Macchia, organizada por Alessandro D’Amico, vol. I, I Meridiani, Arnoldo Mondadori, Milão, 1997, 4ª edição APPARENZE: dell'Uomo grasso del Filosofo della Donna uccisa del Bambino dalla melagrana APARÊNCIAS: do Homem gordo do Filósofo da Mulher assassinada do Menino da romã ASPETTI DELLA VITA: un Contadino una Contadina un vecchio Asino con un gran fascio d'erba una Bambina

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Tradução de texto de Luigi Pirandello

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Page 1: Traducao l'Uscita

Luigi Pirandello

All'uscitaNa saída

Mistero profanoMistério profano

aprile 1916abril de 1916

Tradução de Vanina Carrara Sigrist

Edizione di riferimentoOpere di Luigi Pirandello, Maschere nude, Nuova edizione diretta da Giovanni

Macchia, a cura di Alessandro D'Amico, vol. I, I Meridiani, Arnoldo Mondadori, Milano 1997 IV edizione

Edição de referênciaObras de Luigi Pirandello, Máscaras Nuas, Nova edição

produzida por Giovanni Macchia, organizada por Alessandro D’Amico, vol. I, I Meridiani, Arnoldo Mondadori, Milão, 1997, 4ª edição

APPARENZE:

dell'Uomo grasso del Filosofo della Donna uccisa del Bambino dalla melagrana

APARÊNCIAS:do Homem gordodo Filósofoda Mulher assassinadado Menino da romã

ASPETTI DELLA VITA:

un Contadino una Contadina un vecchio Asino con un gran fascio d'erbauna Bambina

FIGURAS DA VIDA:um Camponêsuma Camponesaum velho Asno com um grande feixe de

capim

Page 2: Traducao l'Uscita

uma Menina

Un muro, una porta. Di qua, campagna, all'uscita posteriore d'un cimitero. Di là dal muro - grezzo, bianco - s'intravedono, in una trasparenza scolorata d'umido barlume crepuscolare, alti cipressi notturni.

Um muro, uma porta. Do lado de cá, um descampado, na saída dos fundos de um cemitério. Do lado de lá do muro, branco acinzentado, podem ser avistados altos ciprestes noturnos, pela transparência desbotada da úmida luminosidade crepuscular.

I morti, lasciato il corpo inutile nelle fosse, escono lievi dalla porta con quelle apparenze vane che si diedero in vita.

Os mortos, abandonando o corpo inútil nas sepulturas, saem contentes pela porta com as falsas aparências que mantiveram em vida.

L'apparenza dell'Uomo grasso siede su una logora panca a piè d'un grande albero, con le mani appoggiate al bastone e sulle mani il mento. Uscito da parecchi giorni, non sa risolversi a muoversi di lì, e assiste, ma senza mostrare di compiacersene, allo stupore, al terrore, alla disillusione, alla nausea, che le altre apparenze, uscendo di tanto in tanto dalla porta del cimitero, danno a vedere, e al modo con cui poi s'avviano, incerte, afflitte, disgustate, sgomente.

A aparência do Homem gordo está sentada sobre um banco gasto embaixo de uma grande árvore, com as mãos apoiadas num bastão e sobre elas a cabeça. Saído há poucos dias, ele não se resolve a sair dali, e fica observando, sem demonstrar compaixão, o estupor, o terror, a desilusão, a náusea que as outras aparências sentem a cada vez que saem pela porta do cemitério, e o modo como voltam em seguida, incertas, aflitas, frustradas, angustiadas.

È uscita or ora, magra e capelluta, sebbene calva alla sommità del capo, l'apparenza del Filosofo. Ha mostrato anch'essa un grande stupore; s'è guardata attorno smarrita; poi, da lontano, ha avvistato l'Uomo grasso seduto a piè dell'albero; s'è ricomposta e ora gli s'avvicina.

Nesse instante, magra e cabeluda, apenas com o topo da cabeça calvo, sai a aparência do Filósofo. Também ele demonstra grande estupor. Olha ao redor, desorientado. Depois, de longe, avista o Homem gordo sentado embaixo da árvore. Recompõe-se e então se aproxima.

Il filosofo: Che maraviglia, buon uomo? che maraviglia? È così. Naturalissimo.O filósofo: Que maravilha, amigo? Que maravilha nada! É assim.

Naturalíssimo.

L’uomo grasso: Lo dite a me? Oh bella! Sarete maravigliato voi. A me, già m'è passata.O homem gordo: Está dizendo isso a mim? Ora essa! Você parece

maravilhado. Eu já superei isso.Il filosofo: Ma no! Io? Di che? Se vi dico che è naturalissimo.

Page 3: Traducao l'Uscita

O filósofo: Não senhor! Eu? Com o quê? Estou lhe dizendo que é naturalíssimo.

L’uomo grasso: Ho capito. Mi vorreste dare a intendere che l'avevate preveduto, di dovervi ritrovare così, ancora qua.

O homem gordo: Entendi. Você está querendo me dizer que já tinha previsto encontrar-se assim, bem aqui.

Il filosofo: No. Questo no. Anzi, la mia maraviglia (se pure ne avrò mostrata un poco in principio) è stata proprio per questo, vi prego di credere: che io non l'abbia preveduto.

O filósofo: Não. Não é isso. A minha maravilha (se cheguei a demonstrá-la um pouco a princípio) estava justamente no fato, acredite, de que eu não havia previsto nada.

L’uomo grasso: Eh già, se vi sembra così naturale.O homem gordo: Oh, claro, mas lhe pareceu tão natural...

Il filosofo: Ve lo posso dimostrare, se volete, in due parole.O filósofo: Eu posso lhe provar, se quiser, em duas palavras.

L’uomo grasso: No, per carità: fatene a meno. Che consolazione volete che mi dia codesto postumo esercizio della vostra ragione?

O homem gordo: Não, por caridade, deixe disso. Que consolação você quer me proporcionar com esse exercício póstumo da sua razão?

Il filosofo: Postumo? Ma che postumo! Io seguito a ragionare, come voi a esser grasso, caro mio. E per il solo fatto che io e voi siamo ancora qui, seguito a vedere in me e in voi due vane forme della ragione. Non ve ne sentite consolare?

O filósofo: Póstumo? Que póstumo! Eu continuo refletindo, assim como você continua gordo, caro amigo. E pelo simples motivo que eu e você ainda estamos aqui, continuo vendo em mim e em você duas formas falsas da razão. Isso não lhe consola?

L’uomo grasso: Se sapeste come ne sono mortificato!O homem gordo: Se você soubesse como me sinto mortificado!

Il filosofo: Perché voi forse, pover'uomo, vi figuraste in vita di vederle e toccarle come cose vere, codeste forme; mentre erano soltanto illusioni necessarie del vostro essere, come del mio, che per consistere in qualche modo, capite? avevano bisogno (e l'hanno tuttora) di creare a se stessi un'apparenza. Non capite proprio?

O filósofo: Talvez porque você, pobre homem, tenha em vida visto e tocado essas formas como coisas verdadeiras, enquanto, na verdade, eram apenas ilusões necessárias do seu ser, tanto quanto do meu, que para existirem de algum modo, entende?, precisavam (e ainda precisam) criar para si mesmos uma aparência. Entendeu agora?

L’uomo grasso: Come volete che capisca? Parlate troppo sottile per un uomo grasso come me.

O homem gordo: Como você quer que eu entenda? Você falou muito sutilmente para um homem gordo como eu.

Page 4: Traducao l'Uscita

Il filosofo: State a sentire. Ve lo spiego per via d'esempio. Prendiamo questo cimitero qua. Voi lo vedeste, certo, in vita chi sa quante volte.

O filósofo: Escute. Eu lhe explico com um exemplo. Consideremos este cemitério aqui. Você o viu certamente em vida sabe-se lá quantas vezes.

L’uomo grasso: Qualche volta, triste, ci venivo a passeggiare.O homem gordo: Algumas vezes, quando estava triste, eu vinha passear

por aqui.

Il filosofo: E non vi venne mai in mente che le tombe non erano fatte per i morti, ma per i vivi?

O filósofo: E não lhe passou nunca pela cabeça que os túmulos não eram feitos para os mortos, mas sim para os vivos?

L’uomo grasso: Volete dire della vanità delle epigrafi?O homem gordo: Você diz isso por causa da vaidade dos epitáfios?

Il filosofo: No; storia vecchia, codesta. Dico del bisogno che ha la vita di fabbricare una casa ai suoi sentimenti. Non basta ai vivi averli dentro, nel cuore, i sentimenti: se li vogliono vedere anche fuori; toccarli; e costruiscono loro una casa. Fuori, dove - naturalmente - chi ci sta? Nessuno.

O filósofo: Não, essa é uma velha história. Eu estou falando da necessidade da vida de fabricar uma casa para seus sentimentos. Não basta aos vivos guardar seus sentimentos dentro, no coração; eles querem vê-los também fora, tocá-los, e lhes constroem uma casa. Fora, onde naturalmente fica quem? Ninguém.

L’uomo grasso: Come, nessuno? I morti.O homem gordo: Como, ninguém? Os mortos.

Il filosofo: Ma no, brav'uomo; di noi poveri morti, dopo un po' di tempo, che volete che resti in quelle fosse là? Se mai, un po' di polvere. Niente. E che cosa sono allora le tombe? Il ricordo, l'affetto, il rispetto, la devozione (tutti sentimenti, come vedete) sentimenti dei vivi che, non contenti d'essere coltivati dentro, o diffidando che dentro non sarebbero durati a lungo, si sono pagato il lusso d'una casetta fuori: quelle tombe là. Chi ci abita? Se i vivi li hanno ancora dentro, ci abiteranno loro, questi sentimenti: il ricordo, l'affetto, il rispetto, la devozione. O se no, nessuno. La vanità, come voi avete detto, che è anch'essa un sentimento, vi faccio notare. E andiamo avanti. State a sentire. Io avevo in vita un caro cagnolino.

O filósofo: Claro que não, meu amigo. Depois de um tempo, o que você quer que sobre de nós, pobres mortos, naquelas sepulturas lá? Quando muito, um pouco de pó. Nada mais. E o que são então os túmulos? A lembrança, o afeto, o respeito, a devoção (todos sentimentos, como vê), sentimentos dos vivos que, não contentes de serem cultivados dentro ou desconfiados de que dentro não durariam muito, pagaram pelo luxo de possuir uma casinha fora: aqueles túmulos ali. Quem os habita? Se os vivos ainda os tiverem dentro, serão esses sentimentos os habitantes, a lembrança, o afeto, o respeito, a devoção. Caso contrário, ninguém. Já a vaidade, como você disse, que também é um sentimento, eu lhe mostrarei. Vamos adiante. Escute. Eu tinha em vida um querido cachorrinho.

Page 5: Traducao l'Uscita

L’uomo grasso: Gli avete edificato una tomba?O homem gordo: Você mandou construir-lhe um túmulo?

Il filosofo: No, no, che! È vivo ancora, lui, di là. Tanto caro, poverino: bianco e nero, vispo: un diavoletto. Me lo portavo a spasso col suo sonagliolo d'argento nel collarino: pareva non toccasse mai terra, con quelle quattro esili zampette frementi. Ma mi faceva spesso disperare: voleva entrare in tutte le chiese, capite? E io, a corrergli dietro. - «Bibì, Bibì; qua Bibì», - (si chiamava - cioè, lo chiamavo - Bibì). Non riusciva a capacitarsi perché a un cagnolino bellino come lui non fosse lecito entrare in chiesa. Alle mie sgridate, s'acculava; alzava una delle zampine davanti; sternutiva; poi, con un'orecchia su e l'altra giù, stava a guardarmi con l'aria di credere che là non ci stesse nessuno e che lui perciò potesse entrarci. «Ma come non ci sta nessuno, Bibì?», gli dicevo io carezzandolo. «Ci sta il più rispettabile dei sentimenti umani, carino, il quale, non contento neanche lui d'abitare nel petto degli uomini, ha voluto fabbricarsi fuori una casa, e che casa! Cupole, navate, colonne, ori, marmi, tele preziose.» Ora voi, buon uomo, forse siete in grado di comprendere. Come casa di Dio è senza dubbio infinitamente più grande e più ricco il mondo, che una chiesa; incomparabilmente più nobile e prezioso d'ogni altare, lo spirito dell'uomo in adorazione del mistero divino. Ma questa è la sorte di tutti i sentimenti che si vogliono costruire una casa: si rimpiccoliscono, per forza, e diventano anche un poco puerili, per la loro vanità. E la sorte stessa di quell'infinito che è in noi, quando per alcun tempo si finisce in quest'apparenza che si chiama uomo, labile forma su questo volubile granello di terra perduto nei cieli.

O filósofo: Não, não, imagine! Ele ainda está vivo, do lado de lá. Tão querido, coitadinho, branco e preto, serelepe, um diabinho. Levava-o passear com seu sininho de prata na coleira. Parecia nunca encostar no chão, com aquelas quatro finas patinhas saltitantes. Mas deixava-me verdadeiramente desesperado, querendo entrar em todas as igrejas, entende? E eu, correndo atrás: “Bibi, Bibi, aqui, Bibi” – chamava-se, ou melhor, eu o chamava Bibi. Ele não entendia por que um cachorrinho lindinho como ele não podia entrar na igreja. Com meus gritos, ele se retraía, levantava uma das patinhas dianteiras, espirrava; depois, com uma orelha para cima e outra para baixo, ficava me olhando com um jeito de que parecia não ter ninguém ali e, por isso, podia entrar. “Mas como não tem ninguém, Bibi?”, dizia-lhe eu acariciando-o. “Está aqui o mais respeitável dos sentimentos humanos, querido, o qual, não contente também ele de habitar o peito dos homens, quis fabricar para si uma casa fora, e que casa! Cúpulas, naves, colunas, ouros, mármores, telas preciosas”. Agora você talvez esteja pronto para entender, bom amigo. Como casa de Deus, o mundo é sem dúvida infinitamente maior e mais rico do que uma igreja, incomparavelmente mais nobre e precioso do que qualquer altar é o espírito do homem em adoração ao mistério divino. Mas este é o destino de todos os sentimentos que querem construir para si uma casa: diminuem inevitavelmente e se tornam um pouco infantis, por sua vaidade. E tem esse mesmo destino o infinito que está em nós, quando se encerra por um tempo nesta aparência que se chama homem, forma breve sobre este grão volúvel de terra perdido nos céus.

L’uomo grasso: Ma dunque io e voi e tutti quelli che escono da quella porta là che cosa siamo ora, si può sapere? Apparenze d'apparenze?

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O homem gordo: Mas então eu, você e todos que saem por aquela porta ali somos o quê, posso saber? Aparências de aparências?

Il filosofo: No, perché? La stessa apparenza, ma con questo divario: che quella che ci davano gli altri è là, nella fossa; e quella che ci davamo noi è qua, ancora per poco, in voi e in me. Noi ne siamo, insomma, la vanità ancora per poco superstite. Un'ultima ombra d'illusione persiste ancora in noi. Ci piace ancor tanto ritenere la nostra vana parvenza, che dobbiamo ancora aspettare, per liberarcene, ch'essa a poco a poco si diradi e dilegui. Già voi, forse per effetto dei miei discorsi, mi sembrate un po' più rarefatto. Ah, ecco: è bastato che ve lo dicessi: vi riaddensate subito, povera ombra. Che vi ritiene? Siete grasso, ma sembrate così malinconico.

O filósofo: Não, por quê? É a mesma aparência, mas com uma diferença: aquela que nos davam os outros está ali, na sepultura, e aquela que nos dávamos nós está aqui, por pouco tempo, em você e em mim. Nós somos, em resumo, a vaidade remanescente por pouco tempo. Uma última sombra de ilusão persiste ainda em nós. Ainda nos agrada muito preservar nossa imagem falsa, que devemos ainda esperar que ela pouco a pouco se enfraqueça e apague, para nos libertarmos. Talvez pelo efeito dos meus discursos, parece-me que você já está um pouco mais rarefeito. Ah, aí está: bastou que eu dissesse isso e você se adensou de novo, de repente, pobre sombra. O que o mantém assim? Você é gordo, mas parece tão melancólico.

L’uomo grasso: Ho un rammarico. Non so. Vedo ancora: il giardinetto della mia casa al

sole. Un tappetino verde, alla finestra. La vasca, con lo specchio d'acqua in ombra. E i pesciolini rossi che vengono come a mordere a galla. Le piante attorno guardano attonite i circoletti che s'allargano nell'acqua silenziosi. Io sono ancora là, tra il respiro fresco delle nuove foglioline, come una vecchia foglia morta che non sappia ancora staccarsi. La vedo: c'è davvero là questa foglia morta; aspetto che un soffio la faccia crollare; e allora forse, come voi dite, dileguerò.

O homem gordo: Sinto uma angústia, não sei. Eu vejo ainda o jardinzinho da minha casa ao sol. Uma cortininha verde, na janela. A fonte com o espelho d’água na sombra. E os peixinhos vermelhos que vêm como se mordessem a superfície. As plantas em torno olham atônitas os pequenos círculos que se alargam na água silenciosos. Eu estou ainda lá, no clima fresco das novas folhinhas, como uma velha folha morta que não sabe como se deixar cair. Eu a vejo, está realmente lá essa folha morta. Espero que um sopro a faça se desprender, e então, talvez, como você disse, eu me apagarei.

Il filosofo: Ma è solo per quel vostro giardinetto il rammarico?O filósofo: Mas é só por causa do seu jardinzinho a angústia que sente?

L’uomo grasso: No. I fiori però furono sempre veramente la mia maraviglia. Che la terra li potesse fare. Avete un bel dire voi, illusioni. Un usignuolo veniva a cantare ogni notte nel mio giardino, tutto ridente e squillante a maggio di rose gialle, di rose rosse, di rose bianche e di garofani e di geranii. Tutta la vostra filosofia, vedete, non impediva a quell'usignuolo di cantare e a quelle rose di sbocciare e d'incantare e inebbriare col loro profumo il giardino. Potevate cacciarlo, quell'usignuolo, e strappare tutte quelle mie rose. L'usignuolo se ne sarebbe volato nel giardino accanto e avrebbe seguitato a cantare da un altro albero ogni notte alle stelle. E tutte le rose di maggio da tutti i giardini non avreste potuto strapparle di certo. Sono cose che passano, sì. Ma il mio rammarico è ora di non averne saputo godere. L'aria io la respiravo, e non me lo diceva ch'io vivevo, quando la

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respiravo; quel cinguettio d'uccelli nati col maggio nel mio e negli altri giardini fioriti attorno alla mia casa, l'udivo, e non me lo dicevano quegli uccelli e quei fiori che io vivevo, quando li udivo cinguettare e ne aspiravo i profumi. Una miseria di pensiero mi teneva assorto e chiuso. Di tanta vita che, intanto, entrava in me per i sensi aperti non facevo conto. E poi mi lagnavo. Di che? di quella miseria di pensiero, d'un desiderio insoddisfatto, d'un caso contrario già passato. E intanto tutto il bene della vita mi sfuggiva. Ma no: ora me n'accorgo: non è vero: non mi sfuggiva. Sfuggiva alla mia coscienza; ma non a questo mio corpo che assaporava il gusto della vita, senza dirselo; per cui sto ancora qua come un mendico davanti a una porta, dove non gli è più concesso d'entrare: il gusto della vita che mi faceva accettare tutte le contrarietà, tutte le condizioni che il pensiero intanto scioccamente stimava misere e intollerabili. Certe domeniche, quando mia moglie fingeva di andare a messa e se n'andava invece dal suo amante -

O homem gordo: Não. É que as flores sempre foram verdadeiramente a minha maravilha. A terra fazendo-as brotar. Vocês, ilusões, possuem um discurso encantador. Um rouxinol vinha cantar toda noite no meu jardim, todo sorridente e altissonante no mês de maio das rosas amarelas, vermelhas, brancas, dos cravos e gerânios. Toda a sua filosofia, percebe, não impedia aquele rouxinol de cantar e aquelas rosas de desabrochar, encantar e inebriar com o seu perfume todo o jardim. Você poderia caçar aquele rouxinol e destruir todas aquelas minhas rosas. O rouxinol iria voar em direção ao jardim ao lado e continuaria a cantar de uma outra árvore para as estrelas toda noite. E todas as rosas de maio de todos os jardins você não poderia certamente destruir. São coisas que passam, sim. Mas a minha angústia se deve a não ter sabido aproveitá-las. Eu respirava o ar e ele não me dizia que eu estava vivo, quando o respirava. Eu ouvia aquela tagarelice dos pássaros nascidos em maio no meu e nos outros jardins floridos ao redor da minha casa, e aqueles pássaros e flores não me diziam que eu estava vivo, quando os escutava tagarelar e aspirava seu perfume. Uma pobreza de pensamento me deixava absorto e fechado. Toda aquela vida, no entanto, que entrava em mim pelos meus sentidos abertos eu não percebia. E depois eu me lamentava. De quê? Daquela miséria de pensamento, de um desejo insatisfeito, de uma desavença já passada. Enquanto isso, todo o bem da vida me escapava. Ou melhor, agora entendo, não é verdade que me escapava. Escapava de minha consciência, mas não deste meu corpo que saboreava o gosto da vida, sem dizê-lo. Por isso estou ainda aqui como um mendigo diante de uma porta pela qual não lhe é mais permitido entrar. Pelo gosto da vida, que me fazia aceitar todas as contrariedades, todas as condições que o pensamento, por outro lado, estupidamente julgava miseráveis e intoleráveis. Certos domingos, quando minha mulher fingia ir à missa para ir, na verdade, ao encontro de seu amante...

Il filosofo: - ah poveretto, lo sapevate?O filósofo: Ah, coitadinho, você sabia?

L’uomo grasso: Ecco, vedete? una realtà che non era illusione.O homem gordo: Aí está, viu?, uma realidade que não era ilusão.

Il filosofo: E no, potrei dimostrarvi, caro, ch'era illusione, come tutto il resto.

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O filósofo: Claro que não, posso demonstrar-lhe, amigo, que era sim uma ilusão, como todo o resto.

L’uomo grasso: Che mia moglie mi tradiva? Ma se era un fatto!O homem gordo: Que minha mulher me traía? Mas era um fato!

Il filosofo: Già. A cui voi davate questa realtà.O filósofo: Sim, ao qual você dava uma realidade.

L’uomo grasso: Ma come potevo non dargliela, se di fatto mia moglie mi tradiva?O homem gordo: Mas como eu podia não dá-la, se de fato minha mulher

me traía?

Il filosofo: Ecco. Questo che chiamate un fatto, del piacere che vostra moglie si prendeva con un uomo che non eravate voi, vi pare che avesse per lei la stessa realtà che per voi, se a lei dava piacere e a voi dolore? E da che nasceva il vostro dolore se non dall'illusione che v'eravate fatta che vostra moglie v'appartenesse? Sono tutte idee vane, mio caro, come tutta una vana idea è la vita. Una vostra idea era vostra moglie, una vostra idea il suo tradimento, una vostra idea il vostro dolore. Il guajo è questo, che la vita non è possibile, se non a patto di dare realtà a tutte queste nostre idee. Bisognerebbe non vivere, buon uomo.

O filósofo: Olhe. Isso que você chama um fato, o prazer que sua mulher sentia com um homem que não era você, poderia ter para ela a mesma realidade que para você, se a ela dava prazer e a você, dor? E de onde nascia a sua dor senão da ilusão que você havia construído de que sua mulher lhe pertencia? São todas idéias falsas, caro amigo, como a própria vida é uma idéia falsa. Era uma idéia sua a sua mulher, idéia sua a traição, idéia sua a sua dor. A questão é essa, a vida não é possível, a não ser para dar realidade a todas essas nossas idéias. Seria necessário não viver, meu bom homem.

L’uomo grasso: Forse avete ragione. E il gusto che io sentivo della vita dipendeva certo dal poco pensiero che mi davo dei miei casi e dalle scarse illusioni che mi facevo. Non crediate che fosse in fondo per me un gran dolore il tradimento di mia moglie. Ne sospiravo, sì; e dicevo fuori, a me stesso, ch'era per pena; ma dentro sentivo ch'era un sospiro di sollievo. Ma non pieno, mai, perché dovete sapere ch'ella non era contenta neanche del suo amante, come non era contenta di nulla, di nessuno. Le finirà male certamente. E anche per questo, vedete? non so staccarmi di qua.

O homem gordo: Talvez você tenha razão. O gosto que eu sentia da vida dependia certamente do pouco pensamento que eu aplicava nos meus problemas e das escassas ilusões que eu tinha. Não pense que para mim, no fundo, tenha sido uma grande dor a traição de minha mulher. Eu suspirava, sim, e dizia a mim mesmo, por fora, que era uma pena. Mas, por dentro, sentia que era um suspiro de alívio. Não inteiramente, isso nunca, porque você deve saber que ela não estava contente nem com seu amante, assim como não estava contente com nada, com ninguém. Ela acabará mal, certamente. E ainda assim, você vê?, não consigo afastar-me daqui.

Il filosofo: La aspettate?O filósofo: Você a espera?

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L’uomo grasso: Sì, presto. La uccideranno. Ne sono sicuro. Il suo amante la ucciderà, oggi o domani. Forse in questo stesso momento che sto a dirvelo.

O homem gordo: Sim, por pouco tempo. Irão matá-la. Tenho certeza. Seu amante a matará, hoje ou amanhã. Talvez neste instante em que estou dizendo isso.

Pausa. Guarda davanti a sé con occhi vani. Poi riprende:

Pausa. Olha diante de si com olhos dispersos. Depois retoma:

Me ne viene la certezza dalla gioja che nei miei ultimi momenti non si curò nemmeno di nascondere, non tanto per la mia morte imminente, quanto per lo spettacolo pietoso del dolore cupo, disperato di lui che mi stava presso il letto e si struggeva di non saper più che cosa fare per tenermi in vita.Vem-me a certeza da alegria que, nos meus últimos minutos, ele sequer pensou em esconder, não tanto pela minha morte iminente quanto pelo espetáculo piedoso da dor profunda, desesperada que ele sentia próximo ao meu leito, martirizando-se por não saber mais o que fazer para me manter vivo.

Il filosofo: Ah, come? egli non desiderava la vostra morte?O filósofo: Mas como? Ele não desejava a sua morte?

L’uomo grasso: Sarete un gran sapiente, ma vedo che comprendete poco le cose della vita. Egli non poteva non avermi caro; e v'assicuro ch'io ebbi fin da principio una grande compassione per quest'uomo; perché, subito dopo il tradimento, mia moglie rovesciò su lui tutto l'odio di ferocissima nemica che prima aveva per me; e per me riprese ad avere quel certo volubile affetto, un po' scherzoso, un po' mordente dei primi tempi del nostro fidanzamento, quando mi cacciava un fiore in bocca e poi diceva: - «Che buffo assassino!» - Potei avere in breve la soddisfazione di questa certezza: che soffriva lo stesso martirio che avevo sofferto io, l'uomo che aveva creduto di farmi male ingannandomi; e che perciò al martirio aggiungeva anche un sincero e crudelissimo rimorso. Per quest'uomo, vedete, la mia morte è stata la più grande delle sventure, giacché per essa mia moglie non tanto sperò di liberarsi di me, quanto di lui, ch'era come l'ombra del mio corpo; non perché mi stesse sempre vicino, ma perché dovete sapere che quel certo marito fa sempre, appena è possibile, quel certo amante. Sparito il corpo, non sussiste più l'ombra. Finché c'ero io, quello era l'amante. Ma ora? Nella libertà, perché uno? e ancora quello, ombra uggiosa d'un corpo che non c'è più? Ne vorrà un altro; più altri, forse.

O homem gordo: Você é um grande sábio, mas vejo que compreende pouco das coisas da vida. Ele não podia não gostar de mim. E posso assegurar que eu senti desde o princípio uma grande compaixão por esse homem, porque, logo após a traição, minha mulher lançou sobre ele todo o ódio de inimiga feroz que sentia antes por mim. E por mim voltou a sentir aquele certo afeto volúvel, um pouco brincalhão, um pouco agressivo, do começo do nosso casamento, quando lascava um beijo na boca e depois dizia: “Que ridículo sedutor!”. Pude ter logo a satisfação desta certeza: que o homem que pensava me fazer mal, enganando-me, sofria o mesmo martírio que eu havia sofrido, e que, por isso, acrescentava a seu martírio um remorso sincero e cruel. Veja que para esse homem a minha morte se tornou a maior das desventuras, já que, com ela, minha mulher não só esperava livrar-se

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de mim, mas também dele, que era como uma sombra do meu corpo. Não porque estivesse sempre a meu lado, mas porque você deve saber que a um certo marido corresponde sempre, assim que possível, um certo amante. Desaparecido o corpo, não existe mais a sombra. Enquanto eu existisse, aquele seria o amante. Mas, e agora? Com a liberdade, por que um e ainda o mesmo amante, sombra tediosa de um corpo que não existe mais? Ela irá querer um outro, talvez outros.

Il filosofo: E credete che egli la ucciderà?O filósofo: E você acha que ele a matará?

L’uomo grasso: Per non sentirla ridere. Alla prima risata, la ucciderà. Per ora ella si tiene, forzata dall'apparenza del dolore che deve darsi per la mia morte recente. Ma io già gliela sento gorgogliare nelle viscere convulse la tremenda risata, che alla fine proromperà in faccia a lui da quella sua feroce bocca rossa tra il taglio dei lucidi denti. Ride come una pazza. Vedete, v'ho detto che la vostra filosofia non poteva strappare le rose del mio giardino; ma la risata di quella donna altro che questo poteva! Ogni qual volta la sentivo ridere, mi pareva ne tremasse la terra, e il cielo si sconvolgesse, e il mio giardinetto si riducesse arido, irto di cardi spinosi. Le scatta dalle viscere come una frenetica rabbia di distruzione. È terribile, terribile quella risata su lo spasimo di chi la sente. Certo egli la ucciderà.

O homem gordo: Para não ouvi-la dando risadas. Na primeira risada, irá matá-la. Por enquanto, ela se contém, forçada pela aparência de dor que deve manter pela minha morte recente. Mas eu já posso ouvi-la rumorejar em suas vísceras convulsas uma tremenda risada, que ao fim borbotará daquela sua feroz boca vermelha entre os dentes brilhantes, direto na cara dele. Ela ri como uma louca. Veja, eu lhe disse que a sua filosofia não podia destruir as rosas do meu jardim, mas a risada daquela mulher poderia muito mais que isso! Cada vez que a escutava rir, parecia que a terra tremia, o céu sacudia e o meu jardinzinho ficava árido, furado por galhos espinhosos. Arrancava de suas vísceras como uma frenética raiva de destruição. É terrível, terrível aquela risada sobre o espasmo de quem a sente. Certamente ele a matará.

Pausa di sospensione. Sta come in ascolto, con una mano levata e gli occhi fissi nel vuoto.

Pausa de suspensão. Ele fica como em escuta, com uma mão suspensa e os olhos fixos no vazio.

Forse l'ha già uccisa. Tra poco la vedremo uscire di là. - Eccola! eccola! Oh Dio, vedete? eccola: balla, gira come una trottola. È lei! Ride, ride! Tutta scarmigliata! E sulla mammella manca, vedete? il sangue! Lo spruzza tutt'intorno! - Qua, qua! Vieni qua! Non girare più così! Siedi qua!Talvez já a tenha assassinado. Daqui a pouco a veremos sair de lá. – Lá vem ela! Lá vem ela! Oh, Deus, está vendo? Lá vem ela, dançando, girando em pirueta. É ela! Está rindo, rindo! Toda

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despenteada! E sobre o seio esquerdo, está vendo?, tem sangue! Espirrando por toda parte! – Aqui, aqui! Venha aqui! Não fique girando mais assim! Sente-se aqui!

La donna uccisa (cascando a sedere sulla panca): Ah, qua... Tu? oh Dio... com'è? No, no... Ma come! Sono di nuovo con te? Ah ah ah ah ah!

A mulher assassinada (precipitando-se para sentar no banco): Ah, aqui... Você? Oh, meu Deus...como? Não, não... Mas como? Estou com você de novo? Ah ah ah ah ah!

L’uomo grasso: Non ridere! Non ridere più così!O homem gordo: Não ria! Não ria mais assim!

La donna uccisa: Che imbecille! M'ha rimandata a te! E verrà anche lui, sai? S'è ferito a morte, dopo aver ferito me: qua, guarda. Oh, guardate anche voi, signore; tanto, ormai! se il mio seno si solleva, non vi farà più impressione. Ah ah ah ah. Guardate, signore, mio marito com'è afflitto. No, caro! Che dici? Credi che abbia ancora l'obbligo della pudicizia? Ecco, ecco, me lo nascondo coi capelli, così. Se mi deste un pettine per ravviarmeli... sono tutti arruffati. Ma, sai, caro? Mi lasciò là, per tutta una mattinata, arrovesciata sul letto: così: guarda: con tutto il seno scoperto: così: e tanta gente entrò a vedermi; e temo che anche le gambe mi abbiano vedute. Sì, un poco. Ah ah ah ah. Ma che imbecille! Credette di farmi male. E anch'io, sì, anch'io ebbi una gran paura che mi facesse male. Voleva prendermi. Gli sfuggivo. Gli ballavo attorno, girando, come una matta. M'avete veduta? Così. A un tratto, ah! un colpo, qua, freddo; caddi; mi sollevò da terra; m'arrovesciò sul letto; mi baciò, mi baciò; poi con la stessa arma si ferì su me; lo sentii scivolare pesante a terra; gemere, gemere ai miei piedi. E mi durò fino all'ultimo su la bocca il caldo del suo bacio. Ma forse era sangue.

A mulher assassinada: Que imbecil! Entregou-me de novo a você! E ele virá também, está sabendo? Feriu-se gravemente, depois de ter ferido a mim. Aqui, olhe. Oh, olhe você também, senhor. Mas, agora, se o meu seio se levantar, não lhe causará tanta impressão. Ah ah ah ah. Olhe, senhor, como meu marido está aflito. Não, querido! O que está dizendo? Acredita que eu ainda tenha a obrigação do pudor? Está bem, está bem, escondo-o com os cabelos, assim. Se você me desse um pente para escová-los... Estão todo embaraçados. Mas, sabe, querido? Ele largou-me lá, durante um dia inteiro, derrubada na cama, assim, olhe, com o seio todo descoberto, assim, e tanta gente entrou para me ver, receio que até minhas pernas foram vistas. Sim, um pouco. Ah ah ah ah. Mas que imbecil! Acha que me fez um mal. Até eu, sim, até eu tive muito medo de que me fizesse mal. Queria me prender. Eu fugia. Dançava ao seu redor, girando, como uma louca. Você me viu? Assim. De repente, ah!, um golpe, aqui, frio. Eu caí. Ergueu-me do chão, derrubou-me sobre a cama, beijou-me, beijou-me. Depois, com a mesma arma, feriu-se em cima de mim, senti que caiu pesadamente no chão, gemendo, gemendo a meus pés. E durou até o fim sobre meus lábios o calor do seu beijo. Mas talvez fosse sangue.

Il filosofo: Sì, ne avete ancora un filo, difatti, sul mento.O filósofo: Sim, você ainda tem de fato um fio sobre a testa.

La donna uccisa (subito portandoselo via con la mano): Ah, ecco.

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A mulher assassinada (rapidamente limpando-se com a mão): Ah, é mesmo.

Poi:Era sangue. Lo volevo dire. Perché nessun bacio mai m'ha bruciato. Arrovesciata sul letto, mentre il soffitto bianco della camera mi pareva s'abbassasse su me, e tutto mi s'oscurava, sperai, sperai che quell'ultimo bacio finalmente, oh Dio, mi avesse dato il calore che le mie viscere esasperate hanno sempre, e sempre invano, bramato; e che con quel caldo ora potessi rivivere, guarire. Era il mio sangue. Era questo bruciore inutile del mio sangue, invece.Depois:Era sangue. É o que eu disse. Porque nenhum beijo nunca me queimou de verdade. Derrubada sobre a cama, enquanto o teto branco do quarto parecia abaixar-se sobre mim, e tudo escurecia, eu esperava, esperava que aquele último beijo finalmente, oh Deus, tivesse-me dado o calor que minhas vísceras exasperadas sempre tinham pedido, sempre em vão. Esperava que com aquele calor eu então pudesse reviver, estar curada. Era o meu próprio sangue. Era, na verdade, essa inútil chama do meu sangue.

Silenzio. L'apparenza dell'Uomo grasso tentenna amaramente il capo e poi, con aria più cupa e dolorosa lo riappoggia sul bastone, mentre l'apparenza del Filosofo resta intenta e quasi sbigottita a mirar la donna uccisa, la quale, a un tratto, guardando verso l'uscita del cimitero, ha come un tremito e s'ilara tutta e grida:

Silêncio. A aparência do Homem gordo balança amargamente a cabeça e depois, com um semblante mais sombrio e doloroso, apóia-a novamente sobre o bastão, enquanto a aparência do Filósofo continua atenta e quase estupefata a olhar a mulher assassinada, que, de repente, olhando em direção à saída do cemitério, sente um certo calafrio, alegra-se e grita:

La donna uccisa: Oh guardate, guardate! Guarda anche tu, smuoviti, solleva il mento dal bastone! Guarda chi viene di là, correndo leggero sui rosei piedini!

A mulher assassinada: Oh, olhem, olhem! Olhe também você, mexa-se, levante a cabeça desse bastão! Olhe quem vem lá, correndo ligeiro com pezinhos cor-de-rosa!

Il filosofo: Un bimbo.O filósofo: Um menininho.

La donna uccisa: Caro! E che regge, che regge tra le manine? Una melagrana? Oh, guardate, una melagrana. Vieni, vieni qua, caro! qua da me, vieni!

A mulher assassinada: Querido! E o que ele carrega, o que carrega nas mãozinhas? Uma romã? Oh, olhem, é uma romã.

Il bimbo dalla melagrana: Questa - a me, tutta - tutta a me - tutta.O menino da romã: Ela é minha, só minha, todinha minha.

La donna uccisa: Sì, caro, da' qua: ecco; è dura la buccia: te l'apro io, te la schiccolo io. E tu la mangerai. Tutta, sì. Aspetta. Qua nella mia mano. Oh, vedi? Vedi com'è rossa?

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A mulher assassinada: Claro, querido, dê aqui, isso, é muito dura a casca, deixe que eu abro, descasco para você. E você poderá comê-la. Todinha, isso. Espere. Está aqui na minha mão. Está vendo? Vê como é vermelha?

Il bimbo dalla melagrana: Sì, sì - a me - tutta - a me.O menino da romã: Sim, sim, é minha, toda minha.

La donna uccisa: Tutta, sì, aspetta. Ecco, mangia questi chicchi intanto. Ah, i tuoi labbruzzi, caro, come mi vellicano la mano! Ecco, sì, il resto - tutta a te. Vuoi che ne diamo un chicco, uno, uno solo, a questo pover'uomo che guarda col mento sul bastone? No? Niente, allora - tutta a te! Ecco, mangia. Oh come ti sei fatto nero il musino!

A mulher assassinada: Toda sua, sim, espere. Pronto, coma essas sementinhas então. Ah, os seus labiozinhos, como acariciam a mão! Pronto, sim, o resto, tudo para você. Você quer dar uma semente, uma, só uma, a este pobre homem que nos olha com a cabeça sobre o bastão? Não? Então não, tudo para você! Pronto, coma. Oh, como ficou suja sua carinha!

Il bimbo dalla melagrana: Ancora - ancora - a me.O menino da romã: Mais, mais, quero mais.

La donna uccisa: Restano gli ultimi chicchi, caro, vedi? Queste sono le bucce... - Ah! A mulher assassinada: Só faltam as últimas sementinhas, querido, está

vendo? Essas são as cascas... Ai!

La donna dà un grido. Mangiati gli ultimi chicchi nel cavo della mano, il Bimbo è svanito nell'aria. Restano per terra le bucce della melagrana; le ultime, ancora nell'altra mano della donna, scivolano anch'esse a terra.

A mulher solta um grito. Depois de comer as últimas sementes na palma da mão, o Menino desapareceu no ar. Sobraram no chão cascas de romã. Aquelas que ainda estavam na mão da mulher caem também no chão.

Il filosofo: Era quella melagrana il suo ultimo desiderio. Si teneva ad esso con tutt'e due le manine. Era tutto lì, in quei chicchi di rubino che non aveva potuto assaporare.

O filósofo: Aquela romã era o seu último desejo. Segurava consigo com as duas mãozinhas. Estava tudo ali, naquelas sementes de rubi que não tinha conseguido saborear.

La donna uccisa: E io? Il mio desiderio? Ah!A mulher assassinada: E eu? O meu desejo? Ah!

China il capo, con le mani sul volto, e chiusa tra le fiamme dei capelli che le vengono avanti, piange perdutamente. Allora, a quel pianto, nel silenzio, si sente cadere il pesante bastone su cui l'apparenza dell'Uomo grasso teneva appoggiate le mani e il mento. Il volto atterrito della donna, al rumore, esce di tra i capelli scostati con le mani e guarda, accanto a sé, il vuoto. L'altro, ritraendosi dietro al sedile e accostandosi al tronco dell'albero, le fa cenno di guardare, non già a colui che non c'è più, ma ad alcuni massicci aspetti della vita che sopravvengono dalla campagna: un Contadino, una Contadina, un vecchio asinello con un gran fascio

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d'erba sulla schiena e, sovr'esso, una Bambina. Questa, istintivamente, come se avvertisse nell'ombra gli occhi atroci dell'apparenza della Donna uccisa che la fissano, si copre il volto con le manine, mentre il vecchio asino si ferma a fiutare le bucce sparse della melagrana e coi grossi labbri bigi ne toglie qualcuna e poi la lascia e sbruffa con le froge a terra.

Ela abaixa a cabeça, com as mãos no rosto, e coberta pelos fios de cabelo que lhe caem na fronte, chora perdidamente. Agora, com aquele choro, no silêncio, ouve-se despencar o pesado bastão sobre o qual a aparência do Homem gordo levava apoiadas as mãos e a cabeça. O rosto da mulher, assustado pelo estrondo, aparece por entre os cabelos afastados com as mãos e olha, ao redor, o vazio. O outro, retraindo-se atrás do banco e se encostando ao tronco da árvore, faz-lhe sinal para olhar, não aquilo que já não existe, mas algumas maciças figuras da vida que surgem do campo: um Camponês, uma Camponesa, um velho burrico com um grande feixe de capim sobre o lombo, e, em cima, uma Menina. Instintivamente, como se percebesse na sombra os olhos cruéis da aparência da Mulher assassinada fixados em si, a menina cobre o rosto com as mãozinhas, enquanto o velho burro pára para cheirar as cascas espalhadas da romã e, com o grosso beiço cinzento, pega uma, depois larga e cospe com o focinho no chão.

Il contadino: Oh, guarda: un bastone. Qualcuno l'avrà perduto. Arrì! Jù!O camponês: Oh, olhe, um bastão. Alguém deve ter perdido. Ai, meu

Deus!

La contadina: E tu perché ti metti così le manine sugli occhi?A camponesa: E você, por que está colocando assim as mãozinhas nos

olhos?

La bambina: Ho paura.A menina: Tenho medo.

Il contadino: Su, su, abbiamo fatto tardi. Arrì! Jù!O camponês: Vamos, vamos, já estamos atrasados. Ai, meu Deus!

La contadina: Di' con me una preghiera per i poveri morti.A camponesa: Repita comigo uma oração para os pobres mortos.

Il Contadino caccia l'asino col bastone raccattato. Riprendono il cammino. L'apparenza della Donna uccisa si leva in piedi, squassa il capo scarmigliato, alza le braccia disperatamente e fugge come una pazza dietro alla Bambina scomparsa. L'apparenza del Filosofo resta alta, dritta nell'ombra, aderente tutta al tronco del vecchio albero.

O Camponês toca o burro com o bastão encontrado. Retomam o caminho. A aparência da Mulher morta fica em pé, sacode a cabeça despenteada, levanta os braços desesperadamente e sai correndo como uma louca atrás da Menina que foi embora. A aparência do Filósofo permanece alta, erguida na sombra, toda aderida ao tronco da velha árvore.

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Il filosofo: Ho paura ch'io solo resterò sempre qua, seguitando a ragionare.O filósofo: Tenho medo de que só eu ficarei sempre aqui, pensando e

pensando.

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