traducão etnohistoria

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Cadernos De Etnohistória Uerj 1 Programa de Estudos dos Povos Indígenas Departamento de Extensão Sub-Reitoria de Extensão e Cultura UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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  • Cadernos De Etnohistria Uerj 1

    Programa de Estudos dos Povos Indgenas

    Departamento de Extenso

    Sub-Reitoria de Extenso e Cultura

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

  • 2

    REITOR

    Antnio Celso Alves Pereira

    VICE-REITOR

    Nilca Freire

    SUB-REITOR DE GRADUAO/SR-1

    Ricardo Vieralves de Castro

    SUB-REITOR DE PS-GRADUAO E PESQUISA/SR-2

    Reinaldo Felipe Nery Guimares

    SUB-REITORA DE EXTENSO E CULTURA/SR-3

    Maria Therezinha Nbrega da Silva

    DEPARTAMENTO DE EXTENSO

    Liany Bonilla da Silveira Comino

    PROGRAMA DE ESTUDOS DOS POVOS INDGENAS

    Jos Ribamar Bessa Freire

    Traduo e apresentao dos textos : Jos Ribamar Bessa Freire

    Circulao Restrita

    1998

    CADERNOS DE ETNOHISTRIA - UERJ N 1 1998

    C O N T E DO

    Apresentao

    5

  • 3

    O que etnohistria? - Bernard S. Cohn

    - Introduo

    - Histrico do enfoque

    - Fontes e Mtodos

    - Documentos Escritos

    - Tradio Oral

    - Trabalho de campo

    - Etnohistria e Antropologia

    - Historiadores e Antroplogos

    - Bibliografia

    7

    Etnohistria ou histria indgena? - Osvaldo Silva Galdames

    - Bibliografia

    O ensino de Etnohistria - Jos R. Bessa Freire

    - Bibliografia

    - Ementa e Programa da disciplina

    25

    29

    Programa de Estudos dos Povos Indgenas - Depext/Sr-3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

    1998

  • 4

    ORIGINAIS

    1. Bernard S. Cohn: O QUE ETNOHISTRIA?

    A International Encyclopedia of the Social Science (17 volumes) apresenta,

    no VI volume, oito artigos sob o verbete History. Um deles este,

    intitulado O que Etnohistria (p.440-448). A Enciclopdia foi editada

    em 1968, sob a coordenao de David L. Sills, e teve uma re-edio em

    1972 pela The Macmillan Company and Free Press, de New York.

  • 5

    2. Osvaldo Silva Galdames: ETNOHISTRIA OU HISTRIA INDGENA?

    SILVA GALDAMES, Osvaldo (1988): Etnohistoria o Historia Indgena?

    in Encuentro de Etnohistoriadores. Serie Nuevo Mundo: Cinco Siglos. N 1,

    7-9. Universidad de Chile. Santiago de Chile. Enero,1988.

    APRESENTAO

    A publicao dos Cadernos de Etnohistria, embora em forma

    artesanal e com circulao restrita, tem por objetivo tornar acessvel aos

    estudantes artigos relacionados ao tema, publicados originalmente em uma

    lngua estrangeira e que permanecem inditos em portugus.

    Neste primeiro nmero, apresentamos a traduo do ingls de um

    artigo de Bernard S. Cohn, publicado em 1968, em New York, na

    Enciclopdia Internacional de Cincia Social. Nele, o autor define

    Etnohistria, faz uma retrospectiva das diversas abordagens da disciplina,

    relacionando-as com as diferentes correntes antropolgicas. Avalia a

    pesquisa etnohistrica nos Estados Unidos, desde o incio do sculo XX,

    com nfase nas dcadas de 40 e 50, situando os principais autores, suas

    obras e a importncia delas. Descreve o contexto em que foi criada a revista

    Etnohistory, em 1954 e o papel por ela desempenhado e proporciona

    informaes sobre pesquisas realizadas na Inglaterra, Frana, frica, regio

    do Pacfico, sia e Amrica. Define o perfil do etnohistoriador e o uso

    crtico da documentao. Discute as fontes: os documentos escritos, a

    tradio oral, o trabalho de campo e a relao com outras disciplinas.

  • 6

    Depois de trinta anos de sua publicao, este artigo de Bernard Cohn

    pode ser lido hoje quase como um documento histrico, por ser um

    marco balizador da historiografia indgena produzida nos Estados Unidos.

    Da o interesse em discuti-lo. Uma primeira traduo dele ao portugus foi

    feita em 1985 por J.R.Bessa e R.C. Almeida, ento professores do

    Departamento de Histria da Universidade do Amazonas, merecendo

    naquela ocasio uma edio mimeografada, para uso dos alunos. Como

    continua indito em portugus, decidimos refazer a traduo, com

    mudanas substanciais, entre as quais a traduo de termos tcnicos que na

    verso anterior haviam permanecido em ingls, o que foi possvel graas ao

    Dicionrio de Cincias Sociais da Fundao Getlio Vargas, editado em

    1986.

    O segundo artigo, traduzido do espanhol, de autoria de Osvaldo

    Silva Galdames, professor do Departamento de Ciencias Historicas de la

    Universidad de Chile. Trata-se de uma breve comunicao apresentada no

    Encontro de Etnohistoriadores, realizado em outubro de 1987 em Santiago

    do Chile e publicada no ano seguinte no primeiro nmero da revista da

    Serie Nuevo Mundo: Cinco Siglos. Procura definir Etnohistria e discutir a

    formao do etnohistoriador, numa perspectiva um pouco diferente daquela

    apresentada no artigo de Bernard Cohn. Contm ainda algumas informaes

    sobre o enfoque dado na Amrica Latina e na Universidade do Chile, onde

    foi criada uma rea especfica no Programa de Mestrado, dedicada

    Etnohistria.

    O terceiro artigo uma tentativa de contextualizar a histria indgena

    no Brasil, de discutir a situao em que se encontra a pesquisa etnohistrica

    e a sua insero na universidade brasileira. Trata-se, na realidade, de um

    contraponto aos dois outros artigos. No final, apresentamos o programa da

  • 7

    disciplina Etnohistria, que ser ministrada neste segundo semestre de 1998

    na UERJ.

    No momento em que o Brasil se prepara para comemorar os 500 anos

    de sua existncia, esperamos que esses Cadernos contribuam para formar

    aquele tipo de historiador sonhado por Peter Burke, em seu livro O Mundo

    como Teatro: estudos de antropologia histrica. No o historiador guardio

    da memria de feitos gloriosos, como imaginava Herdoto, mas o guardio

    de fatos incmodos, dos esqueletos no armrio da memria social, capaz

    de recordar s pessoas aquilo que elas gostariam de esquecer.

    Jos R.B.Freire

    Coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indgenas

    O QUE ETNOHISTRIA?

    Bernard S. Cohn

    INTRODUO

    O termo Etnohistria foi empregado pela primeira vez, de

    forma ocasional, no incio do sculo XX, mas s na dcada de 40 comeou

    a ser usado, de forma sistemtica, por alguns antroplogos culturais,

    arquelogos e historiadores norte-americanos, para denominar suas

  • 8

    pesquisas e publicaes sobre a histria dos povos indgenas no Novo

    Mundo. Nos ltimos anos, Etnohistria passou a significar o estudo

    histrico de qualquer povo no-europeu. Estes estudos tentam reconstruir a

    histria das sociedades pr-letradas, antes e depois do contato com o

    europeu, utilizando fontes escritas, orais e arqueolgicas, alm dos

    conceitos e critrios da antropologia cultural e social.

    Os etnohistoriadores combinam suas fontes histricas com o

    trabalho de campo etnogrfico, realizado nas sociedades cujo passado eles

    pretendem reconstruir. O seu objetivo enriquecer a Histria Universal,

    que levar em considerao o sistema scio-cultural dos povos indgenas.

    Deste modo, os etnohistoriadores norte-americanos concentraram particular

    ateno na localizao e migrao das tribos indgenas, nas mudanas das

    adaptaes culturais ao meio-ambiente, na histria demogrfica, na

    natureza exata das relaes de cada tribo em particular com os europeus e

    nas conseqncias, para os ndios americanos, de atividades como o

    comrcio de peles e a guerra (Simpsio sobre o conceito de Etnohistria,

    1961).

    A Etnohistria direcionou seus estudos principalmente para as

    formaes culturais especficas, de modo equivalente aos registros

    etnogrficos da pesquisa de campo dos antroplogos. Houve um pequeno

    esforo para construir um corpo de generalizaes, tanto atravs da

    comparao, como atravs do desenvolvimento de categorias ou de

    conceitos articulados, o que tornaria possvel a comparao inter-regional.

    Os enfoques peculiares e os problemas da Etnohistria derivam da natureza

    das sociedades indgenas que so estudadas, do perodo, do tipo e da

    durao da dominao europia, da espcie de documentao disponvel e

    da orientao terica dos antroplogos que estudaram a regio.

    Muitos so os aspectos que permitem diferenciar a

    Etnohistria da Histria Colonial convencional. O etnohistoriador, como

  • 9

    regra geral, tem experincia de campo e contato direto com a rea. Esta

    experincia aumenta o seu conhecimento sobre as sociedades indgenas e

    sobre como elas realmente funcionam ou funcionaram. Em conseqncia,

    sua interpretao dos testemunhos dos documentos aprofundada. Ele

    tende a pensar muito mais em termos sistmicos e funcionais do que apenas

    em termos do acaso e dos detalhes. Procura usar o seu conhecimento mais

    amplo da organizao social e cultural e constri suas unidades a partir de

    conceitos tais como sociedades segmentadas em cls, sociedades

    camponesas e sociedades patrimoniais. Sua percepo do fato

    histrico, at mesmo quando utiliza os documentos produzidos pela

    administrao colonial, sempre na perspectiva dos ndios, muito mais do

    que na do administrador europeu. Est mais interessado no impacto da

    prtica e da poltica colonial do que na gnese dessas polticas na sociedade

    metropolitana.

    HISTRICO DO ENFOQUE

    Uma das principais fontes da Antropologia era a preocupao

    com a histria do homem em geral, o estudo comparativo de sociedades e

    instituies e a reconstruo histrica de sociedades concretas. Voltaire,

    Gustav Klemm, Sir Henry Maine, J.F. McLennan, J.J. Bachofen, N.D.

    Fustel de Coulanges, L.H. Morgan e E. Tylor aproximaram-se

    gradualmente dos registros histricos, procurando estabelecer uma cincia

    comparativa da sociedade e da cultura. Esses primeiros antroplogos

    usaram informaes sobre as civilizaes clssicas, a ndia, os povos

    brbaros europeus, as instituies da Europa medieval, alm dos relatos

    dos missionrios e viajantes sobre as sociedades primitivas. Em suas

    reconstrues generalizantes e tericas da histria do homem, eles

  • 10

    descobriram e classificaram alguns aspectos essenciais das sociedades

    primitivas e camponesas.

    Os esquemas gerais de uma histria evolucionista,

    formulados por esses primeiros antroplogos, foram rejeitados

    posteriormente, mas eles esclareceram como os documentos, focalizados

    pela teoria comparativa, podem ser usados para compreender determinadas

    seqncias da mudana social e cultural.

    No comeo do sculo XX, difusionistas tais como Ratzel e

    Graebner, e em seguida distribucionistas como Wissler, Kreber e Lowie

    negaram a possibilidade do uso de mtodos histricos diretos na

    reconstruo da histria das sociedades indgenas. Kreber acreditava que

    para o estudo de pequenas sociedades primitivas, to antigas que no

    podem ser datadas... no possumos nem mesmo um documento escrito

    antes de nossa poca (KREBER, 1952:.65).

    Robert Lowie, negando categoricamente que o homem

    primitivo seja dotado de perspectiva ou senso histrico, criticou o uso da

    tradio oral e dos relatos dos viajantes feito por Swanton e Dixon, quando

    escreveram a histria das migraes dos ndios da Amrica do Norte

    (SWANTON & DIXON: 1914). Lowie observou que os problemas

    histricos dos antroplogos s podem ser resolvidos pelos mtodos

    objetivos da Etnologia Comparativa, da Arqueologia, da Antropologia

    Fsica e da Lingstica. (LOWIE: 1917-1960, 206 e 210).

    A escola distribucionista ou histrica americana

    concentrou todo seu esforo para descobrir informaes sobre a cultura e a

    sociedade na memria cultural dos mais velhos sobreviventes das tribos

    indgenas americanas,. Essas informaes ou caractersticas sociais e

    culturais, os itens da cultura material e os dados lingsticos foram

    mapeados geograficamente, na tentativa de deduzir as afinidades

    intertnicas, histricas ou cronolgicas. Os distribucionistas de nenhuma

  • 11

    maneira estavam interessados na histria particular das tribos. Um desses

    enfoques tpicos o de Sapir, cujo livro Perspectivas do tempo na cultura

    indgena americana: um estudo do mtodo, publicado em 1916, dedica

    apenas duas das suas 87 pginas ao uso de documentos e tradies orais

    indgenas. Os trabalhos da escola histrica americana perderam fora,

    devido sua subordinao aos estudos de distribuio de traos culturais

    simples ou complexos (por exemplo, a Dana do Sol, contos e mitos

    especficos) e pela falta de uso sistemtico de documentos e tradies orais.

    Sua tendncia produzir descries interminveis de fenmenos em uma

    base territorial ou relatos descritivos sincrnicos da memria de

    determinadas culturas.

    As pesquisas antropolgicas com orientao histrica foram

    desaprovadas tambm na dcada de 20, na Inglaterra, por Malinowski e

    Radcliffe-Brown. Ambos argumentaram que documentos para o estudo das

    sociedades primitivas eram inacessveis. Radcliffe-Brown sustentou que a

    Antropologia Social e a Histria tinham naturezas antagnicas, devendo os

    antroplogos sociais, to diferentes dos etnlogos, se ocuparem com o

    avano das generalizaes sobre a estrutura da sociedade, como resultado

    do estudo comparativo das sociedades primitivas, sem referncia sua

    histria. Estudos sincrnicos ou interseccionados das sociedades foram

    cuidadosamente diferenciados dos estudos diacrnicos, ou seja dos estudos

    das mudanas das sociedades atravs dos tempos; esses ltimos - os

    diacrnicos- com condies de produzir apenas explicaes acerca do

    singular.

    Muitos antroplogos sociais britnicos evitaram as pesquisas

    diacrnicas at a dcada de 50, seguindo risca as observaes de

    Radcliffe-Brown. Antroplogos britnicos e americanos continuaram

    estudando a mudana cultural e social, sem referncia aos documentos

    histricos, mesmo quando as fontes documentais eram facilmente

  • 12

    acessveis, como nos casos da pesquisa de Lucy Mair sobre Baganda (1934)

    ou de Mnica Hunter Wilson sobre Pondo (1936). A pesquisa de Gluckman

    sobre o sistema poltico Zulu (1940) e a obra de Nadel intitulada Black

    Byzantium (1942) usaram documentos histricos para desenvolver o

    modelo de estruturas polticas antes das incurses europias. No entanto

    essas no so pesquisas histricas, mas abstraes analticas a partir de

    fontes histricas, com o objetivo de esclarecer os princpios estruturais.

    A nica exceo digna de nota durante todo este perodo o

    estudo sobre o beduno de Cirenaica (1949) de E. Evans-Pritchard. Neste

    trabalho, seu autor analisou o processo pelo qual uma sociedade

    segmentada em cls desenvolveu instituies e funes polticas

    centralizadas. Uma ordem de lderes religiosos muulmanos - a Ordem dos

    Sanusi - migrou para a regio de Cirenaica no alvorecer do sculo XIX e

    preencheu as funes religiosas e de troca necessrias sociedade. Do

    ponto de vista geogrfico e estrutural, esses lderes muulmanos

    localizaram os seus centros religiosos nas fronteiras dos territrios tribais e

    dos cls que a viviam. Principalmente devido presso, primeiro dos

    administradores turcos e depois dos italianos que tentaram governar os

    bedunos, os chefes da ordem religiosa - como nicos lderes visveis -

    foram obrigados a desempenhar funes polticas mais amplas na

    sociedade. Evans-Pritchard usou relatrios e registros coloniais acessveis,

    narrativas publicadas, tradies orais e as lembranas de participantes nos

    acontecimentos que compuseram a narrativa histrica. Toda a base do The

    Sanusi of Cyrenaica reside na compreenso do seu autor sobre como

    funciona um sistema poltico acfalo em uma sociedade segmentada em

    cls. E esta compreenso que lhe d no s os princpios estruturais com

    os quais ele organizou sua narrativa histrica, como tambm lhe

    proporciona um modelo para o estudo do processo de mudanas estruturais

  • 13

    internas de toda e qualquer sociedade que se encontrar sobre o impacto do

    controle externo.

    Nos Estados Unidos, no perodo entre 1910 a 1930, alguns

    poucos antroplogos usaram mtodos histricos diretos para reconstruir os

    passados tribais, como o caso de John R. Swanton, em sua pesquisa sobre

    alguns povos indgenas do sudoeste americano (1922:1946) e o de Frank

    G.Speck, em sua histria sobre as tribos do nordeste dos Estados Unidos

    (1928). Para esta tarefa, eles contaram com o seu prprio trabalho de

    campo entre os remanescentes das tribos das respectivas regies e fizeram

    uso intensivo de uma dupla srie de documentos histricos.

    Os primeiros exemplos mais evidentes de pesquisa

    etnohistrica sistemtica so encontrados justamente num volume de

    estudos dedicados a Swanton, publicado pelo Smithsonian Institution em

    1940. William Fenton usou documentos dos sculos XVII e XVIII para

    localizar o territrio e as migraes de grupos iroqueses (1940). Willian

    Duncan Strong demonstrou que os documentos histricos podem ser usados

    de forma combinada com os dados arqueolgicos para fornecer, do presente

    ao passado, um registro contnuo de stios particulares (1940). O estudo de

    Julian Steward sobre as sociedades da Grande Bacia combina a ecologia, a

    histria, a arqueologia e a etnografia, havendo descoberto critrios nos

    processos culturais e estruturais (1940 ). Esses trs estudos revelam a

    abordagem etnolgica que seria formalizada nos anos 50.

    Os dados etnogrficos acumulados evidenciaram a falsidade

    das primeiras hipteses sobre a imutabilidade das culturas e sociedades

    antes do contato europeu. Os antroplogos comearam a reconhecer que no

    perodo anterior ao contato, em vez de estagnao das sociedades indgenas,

    ocorreram mudanas de trs tipos. Primeiro, houve mudanas cclicas em

    pequena escala, comprovadas pelo crescimento e diviso de cls e de

    famlias extensas. Segundo, houve ainda ciclos maiores de expanso

  • 14

    poltica e cultural, quando as linhagens, no interior das tribos, conseguiram

    dominar grupos similares; no entanto, muitas sociedades no puderam

    desenvolver instituies para impedir a reafirmao da independncia de

    tais grupos, de tal forma que as organizaes tribais extensas cresceriam

    durante um tempo sujeitas a uma ou a outra parte de uma tribo, apenas para,

    novamente, voltar a fragmentar-se em pedaos dentro de grupos menores. O

    terceiro tipo de mudana envolve as migraes tribais de grande amplitude,

    ocasionando muitas transformaes polticas, sociais e nas normas rituais.

    Alm desses processos internos de mudana, os

    etnohistoriadores demonstraram as conseqncias indiretas dos intrusos -

    europeus e rabes, por exemplo - sobre as sociedades e culturas nativas,

    mesmo antes do perodo da dominao europia. O trfico de escravos,

    tanto no leste como no oeste da frica, o comrcio no oeste africano

    atravs do deserto de Saara e a circulao de marfim na frica central e no

    litoral leste ocasionaram importantes mudanas polticas nas sociedades

    africanas. O comrcio de peles na Amrica do Norte deu origem a

    significativas guerras intertribais, ao aparecimento da noo de propriedade

    e ao surgimento de um sistema social estratificado, baseado na obteno e

    na posse diferenciada de peles. A introduo do cavalo nas grandes

    pradarias da Amrica do Norte mudou o modo de vida de muitas tribos que,

    na poca, viviam em regio de fronteiras. Em cada caso, a cultura e a

    sociedade eram consideradas pelos antroplogos como estticas e estveis e

    a partir do momento em que se podia avaliar ou descrever as mudanas,

    elas estavam em si mesmas mudando devido a influncias externas.

    (EWERS:1955; LEACOCK:1954; JONES:1963; DILSE: 1956).

    A aprovao pelo Congresso Nacional, em 1946, do INDIAN

    CLAIMS ACT (Legislao Sobre o Direito dos ndios) propiciou um

    vigoroso avano na pesquisa etnohistrica nos Estados Unidos. Protegidas

    por estas disposies legais, as tribos indgenas podiam mover ao judicial

  • 15

    contra o Governo Federal, exigindo indenizao pelas terras que lhes foram

    tomadas depois que haviam assinado tratados protegendo seus direitos.

    Antroplogos foram contratados como especialistas, tanto pelas tribos

    indgenas como pelo Governo, para estabelecer a localizao, o tamanho e

    o tipo de controle indgena sobre os vrios territrios e a exata natureza das

    obrigaes contratuais. Isto atraiu o interesse de muitos etnlogos, que

    anteriormente, em suas pesquisas sobre os ndios americanos, haviam

    prestado pouca ateno aos enormes recursos dos arquivos do Governo

    Federal e documentao de vrios Estados. A principal revista do ramo -

    ETNOHISTORY - foi fundada em 1954, em parte com o objetivo de

    proporcionar uma sada para as matrias e para o interesse desenvolvido

    pelas reivindicaes judiciais dos ndios.

    Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a expanso das

    oportunidades de pesquisa de campo na Amrica Latina e na sia e o

    surgimento de muitos Estados oriundos do sistema colonial tm sido um

    extraordinrio estmulo para o trabalho etnohistrico. Em muitas dessas

    reas existem tradies literrias de longo alcance e uma riqueza de

    documentos histricos. Na Amrica Latina, por exemplo, certas reas foram

    cobertas com fontes histricas por um perodo de 400 anos. (Para um

    resumo da literatura, ver ADAMS:1962; ARMILLAS:1960;

    GIBSON:1955). No leste e sudeste asitico, foram realizadas importantes

    pesquisas etnohistricas sobre as estruturas de parentesco e de cls,

    (FREEDMAN:1958; R.J. SMITH:1962), posse da terra (T.C SMITH:1959),

    recrutamento e treinamento da burocracia indgena (HO:1962;

    MARSH:1961; SILBERMAN:1964), histria e mobilidade social urbana

    (R.J. SMITH:1963), comunidades imigrantes ( SKINNER:1957) e sistemas

    polticos indgenas (GULLICK:1958). Estudos etnohistricos sobre o sul da

    sia e o centro leste esto comeando a aparecer (COHN:1962 a, 1962 b;

    POLK: 1963).

  • 16

    Nas pesquisas europias, firmou-se uma longa tradio de

    estudos do medievo clssico e do comeo da sociedade moderna, orientados

    por mtodos e conceitos sociolgicos e antropolgicos. A maioria desses

    trabalhos foi produzida muito mais por especialistas em Histria Social,

    Econmica e Jurdica do que pelos prprios antroplogos. A pesquisa

    etnohistrica sobre a sociedade clssica atraiu considervel ateno

    (KLUCKHOHN:1961). Baseado na Odissia, Finley escreveu um ensaio

    sobre a cultura e a estrutura social da Grcia da era herica, usando

    deliberadamente para isso as idias de Malinowski, Mauss, e Radcliffe-

    Brown (FINLEY:1954). J Dodds (1951), em sua anlise da literatura

    grega, aproximou-se de alguns conceitos da antropologia, inspirado pela

    psicoanlise. Os grandes trabalhos de Marc Bloch sobre a sociedade feudal

    (1939-1940) e sobre a estrutura rural da Frana medieval (1931)

    demonstram as possibilidades de uma etnohistria da Europa na Idade

    Mdia.

    A narrativa da Histria Social britnica da poca de Maitland

    (1897) e Vinogradoff (1905) foi marcada pelo uso consciente ou

    inconsciente da Antropologia Social. Temas modernos que receberam um

    sofisticado tratamento etnohistrico incluem a nobreza feudal dos francos

    (WALLACE-HADRILL:1959), o parentesco anglo-saxnico

    (LANCASTER:1958) e os sistemas de casamento do comeo da Idade

    Moderna (STONE:1965, 589-671; HABAKKUK:1950). Embora os

    antroplogos sociais tenham realizado muitos trabalhos cientficos de

    campo nas sociedades camponesas europias, poucos exemplos de pesquisa

    etnohistrica, sistemtica e rigorosa, tm aparecido. Uma exceo o

    trabalho de Lawrence Wyllie, um estudioso da literatura e civilizao

    francesas, que fundamentado na pesquisa de campo entre os camponeses da

    Frana, foi capaz de mostrar a utilidade das tradies orais e dos

  • 17

    documentos no estudo das mudanas dos sistemas de valores de uma aldeia

    rural (WYLLIE:1965).

    Um trabalho importante e cuidadoso comea a ser feito, em

    reas sem longa tradio escrita. O JOURNAL OF AFRICAN HISTORY,

    criado em 1960, mostra a utilizao de crnicas oficiais, tradies africanas

    arquivadas e documentos em idiomas rabe e copta. A histria institucional

    do povo Maori, no sculo XVIII, comea a ser escrita (VAYDA:1961;

    BIGGS:1960). O JOURNAL OF PACIFIC HISTORY foi recentemente

    criado para dar vazo pesquisa etnohistrica cada vez maior na regio do

    oceano Pacfico.

    FONTES E MTODOS

    DOCUMENTOS ESCRITOS

    O etnohistoriador, no uso que faz dos documentos escritos,

    enfrenta inicialmente o mesmo problema e aplica as mesmas tcnicas que

    os historiadores convencionais. Se ele recebeu uma formao de

    antroplogo e j realizou uma pesquisa de campo, muitas vezes fica

    profundamente frustrado, quando tem de sujeitar-se aos documentos. Em

    geral, os problemas formulados pela pesquisa etnohistrica dizem respeito

    histria local ou so problemas sub-histricos. O etnohistoriador no est

    interessado nos acontecimentos principais, bem documentados, com os

    quais se preocupa o especialista em histria poltica; com muita freqncia,

    o que ele quer conhecer so as particularidades do passado, tais como os

    laos de parentesco de vultos histricos obscuros em uma sociedade

    indgena, o movimento e a situao de linhagens particulares em pocas

    determinadas, os significados simblicos de uma cerimnia de coroao em

  • 18

    um reino africano, a populao de um grupo indgena americano no sculo

    XVIII.

    Muitas vezes difcil identificar corretamente os indivduos e

    grupos pelos quais a etnohistria se interessa. Devido sua formao de

    antroplogo, o etnohistoriador espera construir indutivamente, a partir de

    fragmentos parciais de informao, um quadro do funcionamento do

    sistema. No entanto, ele no pode gerar os seus prprios dados, formulando

    questes populao e observando seu comportamento no contexto de

    experincias vivenciadas. Os documentos por ele manuseados quase nunca

    foram escritos pelo povo cuja estrutura scio-cultural ele quer estudar; so

    relatos redigidos por observadores, simplrios e preconceituosos, que quase

    sempre entendiam s pela metade a realidade que estavam descrevendo.

    Se o etnohistoriador usa os arquivos administrativos como um

    historiador, ele deve saber no apenas quem escreveu as atas ou o relato

    das decises tomadas e porque escreveu, mas tambm deve situar os dados

    num contexto mais amplo da poltica administrativa. Certos registros

    oficiais, tais como os cadastros de imposto, as demarcaes de terra e

    documentos de medidas judiciais vigentes, se bem que diferentes das

    decises polticas, muitas vezes revelam ser os melhores dados. Esses

    materiais so filtrados pelo crivo cultural dos administradores, com menos

    perfeio. O etnohistoriador deve constantemente tentar compreender as

    categorias do administrador e do observador externo, to bem quanto ele

    deve compreender os sistemas indgenas de classificao. A interpretao

    de documentos oficiais ou no-oficiais, de declaraes polticas ou de

    outras fontes primrias, requer uma compreenso da cultura e da sociedade

    dos administradores coloniais. Isto , por si s, muito difcil, porque grande

    parte dos feitos da sociedade metropolitana pode ter uma aparncia

    enganadora.

  • 19

    O etnohistoriador tem de saber de que grupo social especfico

    o administrador proveniente e se seus valores, a sua educao e filosofia

    poltica e social diferem do resto da sociedade, e, em caso afirmativo, como

    diferem. Precisa compreender a estrutura da administrao colonial e saber

    com quem estavam comprometidos os autores dos documentos que ele

    estuda. Deve perceber as relaes entre os responsveis pelas decises na

    Metrpole, os administradores na sede da colnia e os homens operando na

    rea. Tem de verificar como os administradores coletaram os dados e

    informaes, quais so os ndios com os quais eles negociam e quais so

    aqueles que eles empregam como trabalhadores. Necessita descobrir quais

    noes desenvolvidas sobre as sociedades indgenas estavam erradas, como

    elas influram nas observaes e decises, e como essas decises - baseadas

    em tal desinformao - afetaram as diferentes etnias. A tarefa do

    etnohistoriador usar os mtodos histricos convencionais, mas colocando

    sempre perguntas diferentes e guardando na conscincia o seu compromisso

    com a sociedade indgena. (CURTIN:1964).

    Existe, para quase todas as regies, grandes colees de fontes

    primrias j publicadas, tais como a srie de 73 volumes do Thwaite (Cartas

    Jesuticas das Misses 1896-1901) para a Amrica do Norte; as colees de

    Theal (1883) e Brsio (1952-1960) para o sudoeste africano; os documentos

    parlamentares da Gr-Bretanha para ndia e frica. As principais fontes, no

    entanto, so para ser encontradas nos arquivos nacional e regional, na

    administrao local e nos cartrios de registro da rea que est sendo

    estudada.

    O desenvolvimento poltico e social pode ser observado

    atravs dos olhos de alguns indgenas, em regies onde os documentos

    foram elaborados pelos prprios membros da sociedade local, como

    Uganda, Emirados do norte da Nigria e Estados Malaios, porque a os

  • 20

    europeus tentaram manter o sistema poltico indgena, governando

    indiretamente.

    TRADIO ORAL

    Nos ltimos anos, particularmente no estudo da Histria das

    sociedades africanas, o etnohistoriador e o antroplogo preocupado com a

    histria demonstraram convincentemente como a tradio oral pode ser

    registrada, confrontada, verificada e usada para fins histricos

    (ABRAHAM:1961; VANSINA: 1961; M.G.SMITH: 1961). As tradies

    orais cobrem uma ampla variedade de temas e de assuntos e podem ser

    encontradas sob mltiplas formas. Sociedades com instituies polticas

    centralizadas e Estados conquistados produziram, muitas vezes, histrias

    orais bem desenvolvidas, mantendo especialistas, cuja preocupao

    memorizar e transmitir estas tradies. No uso desta forma de tradio oral,

    obviamente todo cuidado necessrio, na medida em que a histria reflete

    tanto a estrutura socio-poltica do presente, quanto a do passado, e est

    constantemente se transformando para poder dar conta de situaes em

    mudana (BARNES:1951; CUNNISON: 1951).

    A histria oral reproduz os grupos sociais no interior da

    sociedade; relatos do passado de aldeias e linhagens desempenham a funo

    especfica de relacionar os grupos uns com os outros, confirmando ou

    corrigindo as pretenses locais e justificando as relaes de parentesco. O

    etnohistoriador, freqentemente, confrontado com uma extraordinria

    multiplicidade de relatos conflitantes do passado, inclusive da mesma aldeia

    (COHN:1961). Segmentos tribais, linhagens nobres e cortes devem ter

    histrias bem preservadas, que funcionam como garantias legais para

    justificar a estrutura social do momento

  • 21

    Como Vansina (1961) demonstra, a narrativa histrica no o

    nico aspecto da tradio oral que pode ser registrado, confrontado e

    utilizado; frmulas sagradas, nomes, poesias, genealogias, contos

    folclricos, mitos e exemplos legais so teis ao etnohistoriador. Na

    interpretao da tradio oral, a nfase deve ser primeiro colocada no

    contexto cultural no qual se encontra a tradio. Vansina define a tradio

    oral como testemunhos do passado que so transmitidos deliberadamente

    de boca em boca. Tal como ele faz no caso de documentos escritos, o

    pesquisador deve sempre perguntar que funo a tradio desempenha na

    sociedade atual. Mesmo o testemunho que comprovadamente falso pode

    ser de grande valor, na medida em que ele pode, ocasionalmente, conter

    fatos histricos.

    Quando pessoas de fora passam um longo tempo registrando

    narrativas orais indgenas (como por exemplo, entre o povo Maori), a

    relao entre a tradio oral e a estrutura poltica contempornea pode ser

    usada para compreender no apenas o passado narrado, mas a prpria

    situao poltica atual, existente no momento do registro.

    TRABALHO DE CAMPO

    O trabalho de campo essencial para o ofcio do

    etnohistoriador, o que o diferencia do historiador convencional. A

    orientao antropolgica bsica desenvolvida atravs da experincia, da

    observao sistemtica e da coleta de dados realizadas com povos que esto

    vivos, com o objetivo de descrever e analisar o funcionamento de seu

    sistema social.

    Em conseqncia, o trabalho de campo a base da maior parte

    da formao do etnohistoriador, atravs dele que o pesquisador

    desenvolve sua sensibilidade em relao estrutura de uma sociedade, o

  • 22

    que difcil conseguir atravs apenas do estudo de dados documentais.

    Idias referentes a processos e relaes histricas podem ser verificadas,

    atualmente, no campo, onde aspectos sociais e culturais continuam ainda

    operando.

    ETNOHISTRIA E ANTROPOLOGIA

    Os estudos diacrnicos realizados no produziram at hoje

    formulaes tericas. Enquanto estudos sincrnicos geralmente permitem

    ao etnohistoriador deduzir os processos sociais de evidncias documentais,

    muito mais difcil demonstrar a contribuio que os estudos diacrnicos

    daro para a construo de teorias ou mesmo para o desenvolvimento de

    generalizaes descritivas relacionadas sociedade e cultura. Mesmo no

    mais rigoroso estudo etnogrfico sincrnico, o etngrafo deve se ocupar

    com a dimenso do tempo. No mnimo, ele est se relacionando com trs

    geraes e com indivduos cujas vidas abrangem um perodo de 60 anos.

    Inevitavelmente o etngrafo de campo formula perguntas sobre o passado;

    ele deve confrontar a questo de padres com padres em mudana, de

    ajustes sociais acidentais com aspectos permanentes da estrutura social.

    Atravs do estudo histrico, o antroplogo pode identificar

    aquelas mudanas no interior do sistema que so o resultado de seqncias

    instveis, casuais ou cclicas e aquelas decorrentes de realinhamentos

    estruturais. Nadel e outros argumentaram que para conhecer o

    direcionamento da mudana social estrutural necessrio um mergulho

    profundo no tempo (NADEL:1957, captulo 6; LVI-STRAUSS: 1949).

    Desta forma, por exemplo, estudo estatstico rigoroso mostra que existem

    em muitas sociedades, seno em todas, autonomia ou liberdade numa

    escolha individual de residncia, ainda que ela seja patrilocal ou matrilocal,

    e essas escolhas podem estar vinculadas a outras variveis. Estudos

  • 23

    sincrnicos podem dar conta dessas relaes, mas se ns queremos explicar

    a mudana, ento os mtodos histricos para estudar uma sociedade - seja

    ela primitiva, camponesa ou industrial - so o pr-requisito para o

    desenvolvimento de teorias adequadas. (EVANS-PRITCHARD:1961;

    M.G.SMITH:1962; THOMAS:1963).

    HISTORIADORES E ANTROPLOGOS

    O estudo do passado divorciado dos valores e paixes da

    poca do historiador; a idia de que os fatos histricos podem ser

    determinados e, se ordenados cronologicamente, podem falar por si ss;

    enfim, o desenvolvimento da histria cientfica do sculo XIX - com

    algumas notveis excees - levou os historiadores a evitar

    conscientemente os conceitos e generalizaes que deveriam orientar e

    elucidar a sua descrio e anlise do passado. No sculo XX, entretanto, os

    historiadores tm se tornado cada vez mais conscientes de que eles utilizam

    - e devem utilizar - generalizaes, caso queiram fazer algo mais do que

    simplesmente editar textos.

    H. Stuart Hughes (1960: 25-26) destacou pelo menos quatro

    nveis em que se d essa generalizao. Primeiro: os historiadores

    abstraem, generalizam e comparam implicitamente, usando palavras como

    nao, revoluo, desenvolvimento, tendncia e classe social, ou

    seja, generalizam semanticamente. Segundo: concluses na forma de

    declaraes ordenadas sobre um homem, um perodo ou um movimento so

    generalizaes. Terceiro: esquematizaes inerentes em idias tais como

    urbanizao e industrializao, pelas quais fragmentos e partes do

    estudo histrico so organizados em termos de processo ou estrutura, so

  • 24

    generalizaes e esto prximas daquelas elaboradas pelos cientistas

    sociais. Finalmente, existem sistematizaes amplas e inclusivas da

    histria ou metahistria, associadas com o trabalho de homens como

    Spengler e Toynbee. nesse quarto nvel, ou seja, no uso consciente de

    conceitos referentes a processo e estrutura na sociedade e cultura, que o

    cientista social e o historiador podem melhor dialogar e inter-relacionar

    suas pesquisas.

    Se a atividade caracterstica do historiador o estudo do

    passado e se seu princpio de organizao uma seqncia no tempo, ento

    ele deve tomar emprestado princpios de organizao de outras disciplinas,

    tanto das Cincias Sociais como das demais Cincias Humanas. Na maior

    parte das sub-reas da Histria, este processo de emprstimo explcito,

    por exemplo, na Histria Econmica, onde os conceitos e mtodos da

    Economia so constantemente utilizados para fornecer a estrutura

    conceitual. A Histria Social e a Histria das Idias tambm devem muito

    Psicologia, Sociologia e Antropologia.

    Nos ltimos trinta anos, tem havido muitos esforos para

    utilizar a abordagem dos antroplogos no estudo da Histria. A

    Antropologia que tem se mostrado mais prxima dos historiadores a

    Antropologia Cultural. O conceito de cultura, como uma idia abrangente

    que cobre comportamentos e valores de um determinado povo, num tempo

    bem delimitado, adapta-se bem s preferncias dos historiadores. Hughes

    coloca isso muito bem quando afirma: ... a abordagem da Antropologia

    Cultural se aproxima tanto daquela do historiador, que freqentemente

    parece idntica a ela (HUGHES,1960:34)

  • 25

    Como o pesquisador em Histria, o estudioso das culturas

    exticas adota uma atitude altamente tolerante em relao a seus dados,

    ficando absolutamente satisfeito no domnio da impreciso e dos

    procedimentos intuitivos, tentando agarrar aquilo que considera como

    sendo os problemas centrais da sociedade com as quais ele se ocupa.(Ver

    WARE:1940; GUTSCHALK:1963 e Social Science Research

    Council:1954).

    Livros como o Patterns of Culture de Ruth Benedict (1934) e

    ensaios de antroplogos que realizaram estudos de carter nacional so

    considerados como modelos pelos historiadores (ver POTTER:1954, por

    exemplo), mais interessados na prpria abordagem da Antropologia

    Cultural do que nas tcnicas, mtodos e conceitos. Com notveis excees,

    como Marc Bloch, os historiadores no tm se empenhado em combinar o

    trabalho de campo com a pesquisa histrica para encontrar nas sociedades

    traos ainda existentes de tcnicas agrcolas e industriais anteriores ou

    formas sobreviventes de relao social (BLOCH:1939-1940).

    Contudo, onde antroplogo e historiador aparecem

    necessitando mais um do outro, justamente no estudo das sociedades pr-

    industriais e modernizantes de hoje e nas pesquisas sobre as sociedades

    histricas que caracterizaram o mundo inteiro antes do incio do sculo

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    WYLIE, Laurence (1965): The Life and Death of a Myth. Pages 164-185 in Melford E. Spiro (Editor): Context and Meaning in Cultural

    Anthropology. New York. Free Press.

    ETNOHISTRIA OU HISTRIA INDGENA?

    Osvaldo Silva Galdames

    Quando Clark Wissler utilizou, em 1909, o termo Etnohistria,

    estava se referindo a um mtodo que combinava os dados arqueolgicos e

    os histricos - provenientes de cronistas, funcionrios pblicos,

    missionrios e viajantes - com o objetivo de reconstruir a histria das

    culturas pr-letradas para as quais no se possua antecedentes

    contemporneos (BAERREIS,1961:49). Nesse sentido, as fontes escritas

    cumpriam um papel similar ao dos informantes empregados pelos

    etngrafos. Tratava-se, ento, de buscar na documentao europia

    respostas s indagaes sobre as estruturas socio-econmicas e polticas,

    as idias e crenas religiosas ou o sistema de parentesco das etnias

    americanas.

    Naturalmente, as informaes assim obtidas deviam submeter-se a

    uma severa crtica interna e externa, afim de filtr-las dos preconceitos ou

    interpretaes falsas inerentes a toda e qualquer observao de fatos

    culturais, realizados por pessoas estranhas sociedade descrita. O

  • 32

    resultado foi o desenvolvimento de uma nova tcnica, vinculada tanto

    Histria como Antropologia, da qual surgiu uma metodologia, na qual

    tambm desempenhava um importante papel a tradio oral que, na falta

    de outra denominao, se chamou etnohistria.

    Da se conclui - como assinalou Trigger (1982) - que a etnohistria

    no uma disciplina autnoma, mas uma metodologia usada por

    pesquisadores que devem possuir alm da habilidade de um bom

    historiador convencional, um slido conhecimento de etnografia, se querem

    ser capazes de avaliar as fontes e interpret-las com um entendimento

    razovel das percepes e motivaes do povo nativo envolvido.

    (TRIGGER,1982:9)

    O etnohistoriador , portanto, um historiador das sociedades no-

    ocidentais. Devido natureza de seu trabalho, ele deve combinar mtodos

    prprios das disciplinas histricas e antropolgicas, incluindo a

    arqueologia. Somente dessa forma poder reconstruir o passado daquelas

    culturas que entraram no mundo ocidental durante a poca em que os

    europeus se lanaram ao descobrimento e colonizao de outros

    continentes. Partindo dessa perspectiva, podemos distinguir dois campos de

    ao para a etnohistria. Um representaria o interesse de revelar o

    comportamento das instituies sociais, econmicas, polticas e ideolgicas

    das culturas nativas no momento do contato com os europeus. O outro, a

    preocupao de estudar as mudanas vivenciadas pelas sociedades

    indgenas, como conseqncia deste contato com a cultura ocidental,

    fenmeno que se traduz em um processo de aculturao.

    Com base no que acabamos de descrever aqui, muitos

    pesquisadores argumentam que a etnohistria , mais apropriadamente, a

    histria de uma determinada etnia. Eles defendem que. por esse motivo, o

    termo devia ser abandonado e substitudo pelo de histria de tal ou qual

    sociedade nativa. Nesse sentido, por exemplo, os doutores John Murra e

  • 33

    Franklin Pease falam de uma histria andina. No Chile tambm estamos

    em condies de comear a escrever as histrias dos diversos grupos

    tnicos que habitavam nosso territrio no momento da chegada dos

    conquistadores. Para isso, alm das crnicas do sculo XVI, contamos com

    a possibilidade de prospectar, em busca de novas informaes, nos arquivos

    civis e eclesisticos, recorrer tradio oral, analise dos mitos, aos

    trabalhos etnogrficos ou aos dados produzidos pela arqueologia. Deste

    modo, podemos revelar o comportamento cultural daquelas sociedades no

    momento em que foram contatadas pelos europeus e as mudanas

    ocasionadas pelo contato.

    O objetivo da pesquisa etnohistrica justifica que uma das reas do

    Programa de Mestrado em Histria, oferecido pelo Departamento de

    Cincias Histricas da Universidade do Chile seja Etnohistria,

    considerando-a como um termo genrico, da mesma forma que Histria do

    Chile, Histria da Amrica ou Histria Universal e que admite

    especializaes tendentes a estudar certos aspectos ou a reconstruir, em

    forma global, a histria de um grupo nativo em especial.

    Com esse critrio em mente, organizamos o Encontro de

    Etnohistoriadores, realizado de 8 a 10 de outubro de 1987. Conseqente

    com o que foi dito anteriormente, dividiu-se em dois simpsios: Contato

    Cultural I e Contato Cultural II. No primeiro, como expressava o

    manifesto de convocao, procurou-se debater... o encontro das

    sociedades indgenas americanas com a cultura ocidental de raiz europia,

    em sua etapa expansiva inicial. O corte cronolgico priorizou o sculo

    XVI, sem descartar os outros sculos posteriores, para aqueles casos em

    que a primeira relao intertnica se produziu depois do ano 1.600.

    O segundo simpsio tinha como finalidade aprofundar a

    problemtica do contato com processo de aculturao, centrando-se em

  • 34

    situaes histricas prprias do perodo ps-conquista (fases colonial e

    republicana).

    Houve tambm uma mesa de comunicaes, onde se abriu espao

    para a exposio de trabalhos que no tinham uma relao direta com os

    simpsios.

    No total, foram apresentados cerca de trinta trabalhos.

    Lamentavelmente, nem todos foram enviados a tempo para sua publicao

    neste primeiro volume, no qual se juntam o Departamento de Cincias

    Histricas e a Faculdade de Filosofia, Humanidades e Educao para

    comemorar o Quinto Centenrio do Descobrimento da Amrica.

    BIBLIOGRAFIA

    BAERREIS, David (1961): The Ethnohistorical Approach and Archaelogy.

    Ethnohistory 8:49-77

    EWERS, S.R.(1961): Symposium in the Concept of Etnohistory.

    Ethnohistory 7:262-270

    LURIE, Nancy (1961): Ethnohistory: An Ethnological Point of View.

    Ethnohistory 8:78-92

  • 35

    STURTEVANT, W.C.(1966):Anthropology, History and Ethnohistory.

    Ethnohistory 13:1-51

    TRIGGER, Bruce (1978): Ethnohistory and Archaeology. Ontario

    Archaeology 30:17-24

    ---------------------- (1982): Ethnohistory: Problems and Prospects.

    Ethnohistory 29:1-19

    VALENTINE, C. A. (1960): Use of the Ethnohistory in an Acculturation

    Study. E Ethnohistory 7:1-28

    O ENSINO DE ETNOHISTRIA

    Jos R. Bessa Freire

    H mais de 40 mil anos, existem sociedades humanas vivendo aqui

    em territrio brasileiro, em luta permanente com a natureza, adaptando-se a

    ela, transformando-a, dominando-a e freqentemente at servindo-a. Essas

    sociedades domesticaram plantas, praticaram uma agricultura sofisticada

    para os padres culturais ento vigentes, fabricaram instrumentos de

    trabalho, produziram uma refinada cermica, transformaram o algodo em

  • 36

    redes e mantas e a mandioca em farinha, estocaram e conservaram

    alimentos, descobriram as propriedades medicinais e nutritivas de ervas e

    frutas, inventaram centenas de lnguas diferentes, realizaram observaes

    rigorosas e classificaram o mundo natural com uma taxonomia complexa,

    produziram literatura oral, poesia, msica, cantos e danas, elaboraram

    mitos, criaram deuses, migraram, navegaram, brigaram, fizeram e

    desfizeram alianas, amaram, enfim, viveram e se reproduziram aqui,

    graas aos saberes acumulados que lhes permitiram fazer uma leitura

    correta do ecossistema.

    H 500 anos, os europeus aportaram no litoral, penetrando depois o

    interior, na busca da fora de trabalho indgena. Encontraram resistncia e

    destruram muitas das sociedades locais e com elas suas lnguas e seus

    saberes, ocasionando o que foi considerado pela escola demogrfica de

    Berkeley como uma das maiores catstrofes demogrficas da histria da

    humanidade (BORAH:1976)). Lanaram as bases da atual sociedade

    mestia que sobrevive atualmente em territrio brasileiro e da qual fazemos

    parte, construindo assim uma nova cultura e um novo povo.

    Hoje, procurando entender esse processo histrico, algumas perguntas

    se impem: qual a verso da sociedade brasileira, por exemplo, sobre o

    embate histrico da conquista e de todo o processo do contato? Em que

    contexto, sob quais condies e com base em quais fontes foi produzido

    esse saber? Em que medida, a difuso de um conhecimento assim

    produzido contribui para uma relao positiva dos ndios com a sociedade

    nacional ou refora preconceitos discriminatrios? Quais as verses dos

    diferentes grupos tnicos sobre as suas origens e sobre a sua histria? Qual

    a contribuio indgena para a formao da identidade nacional? Afinal, o

    que que a atual sociedade brasileira sabe sobre as experincias passadas

    dos povos que habitaram milenarmente seu territrio? Como reconstruir a

    histria de sociedades sem escrita?

  • 37

    Durante muito tempo, a historiografia considerou os povos de

    tradio oral como povos sem histria ou povos pr-histricos, nica e

    exclusivamente por lhes faltar literacidade, isto , uma prtica

    sistemtica de leitura e escritura. Argumentava-se que, na ausncia de

    documentos escritos, os documentos de cultura material constituam pistas

    frgeis para o levantamento da histria desses povos. Quanto memria

    oral, ela no era digna de credibilidade. Portanto, sem fontes escritas, no

    havia histria.

    A historiografia ocidental, da qual a brasileira faz parte, desdenhou

    desde o seu incio qualquer documentao verbal que no fosse escrita. De

    forma arrogante, padronizou este trao e universalizou o seu modelo de

    confiabilidade nos documentos escritos, fazendo extensiva esta qualidade

    ao resto do mundo que foi encontrado no processo de colonizao. Os

    povos grafos, que j eram tratados etnocentricamente como povos pr-

    lgicos, foram considerados tambm como povos sem histria, posto que

    no dominavam a escrita. (FREIRE, 1992: 154)

    Nos ltimos quarenta anos, esta situao comeou a mudar, com o

    surgimento da Etnohistria, uma disciplina que, segundo Le Goff,

    constitui um dos desenvolvimentos recentes mais interessantes da cincia

    histrica. (LE GOFF, 1984: 46)

    A Etnohistria reconhece as profundas diferenas entre as sociedades

    essencialmente orais e as sociedades onde predomina a escrita, cada uma

    delas com formas distintas de armazenamento, transmisso e produo do

    saber, o que exige procedimentos particulares de abordagem. No entanto,

    considera tais sociedades como equivalentes, no sentido de que ambas

    possuem uma memria institucionalizada.

    Ao descobrir a existncia, nas sociedades grafas, de mecanismos de

    conservao e transmisso da memria coletiva, a Etnohistria reconhece e

    valoriza a tradio oral, o que permite a integrao de novas fontes a serem

  • 38

    trabalhadas pelo historiador, com novos mtodos, reformulando o

    sentimento de impossibilidade de reconstruir a memria dos povos sem

    escrita.

    As pesquisas que incorporaram a tradio oral, como fonte,

    realizadas nas quatro ltimas dcadas, vm demonstrando que os

    julgamentos sobre as culturas grafas, consideradas como incapazes de

    construir o pensamento abstrato, so preconceitos que confundem o saber

    com a escrita, quando na expresso talvez simplificadora do tradicionalista

    africano Tierno Bokar, mas didtica para esse contexto, a escrita uma

    coisa, e o saber outra. A escrita apenas uma fotografia do saber, mas no

    o saber em si. (HAMPAT B, 1980: 181)

    interessante observar que est em curso um processo de

    recuperao da tradio oral no apenas nas sociedades sem escrita, mas at

    mesmo naquelas que tm uma longa e forte tradio literria, derrubando os

    preconceitos sobre sua credibilidade:

    Se tradio e memria oral significassem fantasia e fragilidade

    perptua, compreenderamos mal que sociedades sem escrita tenham

    sustentado prticas e realizaes polticas e culturais, algumas vezes

    complexas, extensas e durveis. (MONIOT, 1979:102)

    Desta forma, a tradio oral passou a ser trabalhada no apenas como

    uma fonte que se aceita por falta de outra melhor e qual nos resignamos

    por desespero de causa, mas como uma fonte integral, cuja metodologia j

    se encontra bem estabelecida. (KI-ZERBO:1980, 31). Nas ltimas

    dcadas, a disciplina Etnohistria ganhou importncia, passando a integrar

    os currculos de universidades norte-americanas, europias e de pases da

    rea andina, especialmente no Peru, com a publicao de revistas

    especializadas.

    No Brasil, um dos primeiros foruns onde se discutiu a temtica foi o

    Grupo de Trabalho Histria Indgena e do Indigenismo, coordenado por

  • 39

    Manuela Carneiro da Cunha, da USP, que realizou o seu primeiro encontro

    formal em 1984, no quadro da reunio da ANPOCS - Associao Nacional

    de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais. Naquela ocasio, trs

    blocos temticos foram discutidos: 1. Fontes para a Histria Indigena e do

    Indigenismo; 2. Processos regionais e estudos de caso e 3. A Histria do

    Indigenismo. A partir desse encontro, algumas universidades brasileiras

    passaram a integrar a disciplina em seus programas curriculares. No

    primeiro semestre de 1985, Etnohistria oferecida na Ps-Graduao da

    UNICAMP (SP). No segundo semestre do mesmo ano, o Curso de Histria

    da Universidade Federal do Amazonas reformula sua grade curricular,

    introduzindo esta disciplina na graduao. Logo depois, ocorre mudana

    similar na Universidade Federal da Bahia, seguida de algumas outras

    instituies de ensino superior.

    No entanto, em nosso pas, ainda no so muitas as universidades

    que oferecem essa disciplina aos seus alunos, o que pode explicar a pouca

    produo nesse campo, a ausncia de textos tericos e metodolgicos

    publicados em portugus e um certo desconhecimento sobre a questo.

    Como observa Manuela Carneiro da Cunha, sabe-se pouco da histria

    indgena: nem a origem, nem as cifras de populao so seguras, muito

    menos o que realmente aconteceu. Mas progrediu-se, no entanto: hoje est

    mais claro, pelo menos, a extenso do que no se sabe. Ela chama a

    ateno para o fato de que uma histria propriamente indgena ainda est

    por ser feita. No s o obstculo, real, da ausncia de escrita, no s a

    fragilidade dos testemunhos materiais, mas tambm a dificuldade de

    adotarmos esse ponto de vista outro sobre uma trajetria de que fazemos

    parte. (CARNEIRO DA CUNHA:1992,11 e 20)

    Nos ltimos anos, um esforo vem sendo feito para mapear a

    documentao manuscrita e iconogrfica relacionada histria indgena.

  • 40

    No Rio de Janeiro, nos anos de 1992 a 1994, uma equipe de 10 bolsistas do

    Programa de Estudos dos Povos Indgenas, num projeto elaborado pelo

    Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo da USP, vasculhou mais de

    300 fundos, colees e arquivos pertencentes a 25 grandes instituies

    localizadas na cidade do Rio de Janeiro. Nos dois anos que se seguiram -

    1995, 1996 - uma equipe mais reduzida realizou levantamento em arquivos

    cartoriais, paroquiais e municipais de algumas cidades do Norte Fluminense

    e do vale do Paraba. Nesses arquivos, tanto da capital como do interior, foi

    encontrada rica documentao manuscrita relativa histria indgena, ainda

    que dispersa, fragmentada, mal conservada e desorganizada.

    Trs publicaes resultaram deste trabalho. A primeira foi o Guia de

    Fontes para a Histria Indgena e do Indigenismo em Arquivos Brasileiros -

    acervos das capitais, editado pela USP. A segunda publicao, em dois

    volumes, foi editada pela prpria UERJ: Os ndios em arquivos do Rio de

    Janeiro, com informaes organizadas segundo um programa de banco de

    dados, ao invs de um arquivo de texto, colocado disposio dos

    pesquisadores. Concebido para ambiente Windows 3.1, baseado no

    programa ACCESS da Microsoft, este programa permite a manipulao dos

    dados e um acesso mais direto s informaes. A terceira publicao um

    texto para-didtico destinado s escolas do 2 grau: Os Aldeamentos

    Indgenas do Rio de Janeiro.

    Apesar desse avano, durante o II Encontro Fluminense de Estudantes

    de Historia (EFEH), realizado em Campos, em outubro de 1997, constatou-

    se que nenhum dos cursos ali representados havia incorporado a disciplina

    Etnohistria, sequer como optativa. Finalmente, no segundo semestre de

    1998, pela primeira vez, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro

  • 41

    (UERJ) abre um espao, dentro da grade curricular, para que alunos de

    graduao do curso de histria discutam a questo (Ver Ementa, em anexo).

    Bibliografia

    BORAH, Woodrow: (1976): The historical demography of Aboriginal and Colonial America: na attempt at Perspective. UW Press. Madison.

    CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (1992) : Introduo a uma histria indgena in Histria dos ndios no Brasil, 9-24, Companhia das Letras.

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    FREIRE, Jos R. Bessa (1992): Tradio oral e memria indgena: a canoa do tempo in Amrica: Descoberta ou inveno. 138-164. 4

    Colquio UERJ. Imago Editora. Rio de Janeiro.

    ----------------------------- (1997): Os problemas do ensino e da pesquisa histrica na atualidade. Palestra no II Encontro Fluminense de

    Estudantes de Histria (EFEH) Refletindo sobre a histria do Rio de Janeiro. Campos dos Goytacazes RJ. Outubro de 1997.

    FUNDAO GETULIO VARGAS (1986): Dicionrio de Cincias Sociais. Editora da FGV. Rio de Janeiro.

    HAMPAT B, A.(1980): A tradio viva in Ki-Zerbo, J.(coord): Histria Geral da frica. Vol.I, Metodologia e Pr-Histria da frica.

    tica-UNESCO. So Paulo

    KI-ZERBO, J. (coord.) (1980): Histria Geral da frica. Vol. I. Metodologia e Pr-Histria da frica. So Paulo. tica-Unesco.

    LE GOFF, Jacques (1984): Memria in Enciclopdia Einaudi. Vol. I. Memria-Histria. Rio de Janeiro. Imprensa Nacional-Casa da Moeda,

    pp.11-50

  • 42

    MONIOT, Henri (1979): A histria dos povos sem histria in Histria: novos problemas. 2 edio. Livraria Francisco Alves Editora. Rio de

    Janeiro.

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ

    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE HISTRIA

    Disciplina: Tpico Especial de Histria do Brasil V - Etnohistria

    Sigla : HUM 627-7

    Crditos : 03

    C. Horria: 45 h.

    Turma : 01

    Professor : Jos R. Bessa Freire

    EMENTA - Sociedades etnolgicas e sociedades histricas. Relao

    Histria e Etnologia. Definio de Etnohistria: principais conceitos. A

    questo do mtodo. As fontes: os documentos escritos e a tradio oral.

    Relao com as diferentes disciplinas associadas. Etnohistria do Rio de

    Janeiro.

  • 43

    OBJETIVOS:

    Avaliar criticamente o termo Etnohistria;

    Demonstrar como vem se dando a evoluo da etnohistria e sua relao

    com diferentes disciplinas: antropologia, histria, arqueologia,

    lingstica, demografia etc.;

    Reconhecer e discutir mtodos, fontes e conceitos que possam ser

    instrumentais para o desenvolvimento da pesquisa histrica em

    sociedades grafas;

    Repensar a histria dos grupos tnicos do Rio de Janeiro em relao ao

    contedo da disciplina, isto , discutir mtodos, conceitos e tcnicas

    operativos para uma Histria das Etnias do Estado.

    CONTEDO PROGRAMTICO

    I. O que Etnohistria?

    1. A propsito do conceito

    2. A operacionalidade do termo Etnohistria.

    3. O objeto da Etnohistria.

    4. A construo de uma Histria das Populaes Indgenas

    II. O fazer Histria em sociedades grafas ou sem Estado

    1. Caracterizao das sociedades orais

    2. Discusso sobre as fontes.

    3. A tradio oral, a literatura histrica e etnolgica

    4. Os relatos dos primeiros viajantes

  • 44

    III. Histria e Antropologia

    1. A construo de uma Histria de populaes etnicamente

    diferenciadas;

    2. Conceitos de interculturalidade, situao histrica e contato

    intertnico

    3. Etnohistria e disciplinas associadas

    4. A incorporao de mtodos histricos na anlise diacrnica de

    sociedades grafas

    IV. Etnohistria do Rio de Janeiro

    1. Produo etnohistrica do Rio de Janeiro

    2. A tradio oral nas crnicas de Lry, Thevet e Gndavo

    3. As fontes escritas e os grandes arquivos

    4. O discurso dos ndios em arquivos paroquiais e cartoriais

    METODOLOGIA

    O curso ser desenvolvido atravs de aulas expositivas, seminrios,

    discusso de textos lidos previamente e outras atividades, envolvendo

    sempre trabalhos individuais ou em grupo.

    AVALIAO

    Alm da avaliao na sala de aula, atravs da participao dos alunos nas

    discusses de texto, ser sugerida a realizao de um trabalho final, no qual

    o aluno sistematize algumas das principais idias desenvolvidas ao longo do

    curso. Do trabalho constar tambm um levantamento bibliogrfico sobre

    uma etnia escolha do aluno. A meta que eles possam exteriorizar de

  • 45

    forma prtica algumas idias sobre a utilizao de mtodos, fontes e

    conceitos relacionados Etnohistria.

    BIBLIOGRAFIA

    BERNARDI, Bernardo: A Etnohistria in Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos. Lisboa. Edies 70. 1988

    BRAND, Antonio: Etnohistria: conceituao, perspectivas e fontes. Porto Alegre. PUC-RS. Trabalho do Curso de Ps-Graduao em Histria. 1991

    CALEFFI, Paula: Indianismo e Etnohistria. in Anais da XII Reunio da SBPH. Porto Alegre, 1992

    CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org): Histria dos ndios no Brasil. Companhia das Letras/Fapesp. So Paulo. 1992

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    COHN, Bernard S. : O que Etnohistria? Manaus. Universidade do Amazonas. Depto.Histria.1985

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    FREIRE, Jos R. B: Os viajantes e os ndios do Norte Fluminense no sculo XIX. in ANAIS - II Jornada de Trabalho. Revista do Centro de

    Cincias do Homem. UENF. Campos. 1998

    -----------------------: Os ndios nos arquivos paroquiais de Pdua. in ANAIS. I Jornada de Trabalho. Revista do Centro de Cincias do Homem

    da UENF. Campos. 1997

    ----------------------- : Os ndios em Arquivos do Rio de Janeiro. UERJ. Rio de Janeiro. Vol. I - 1995. Vol. II - 1996.

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    ----------------------- : Tradio Oral e Memria indgena. in Amrica: Descoberta ou Inveno. 4 Colquio UERJ. Editora Imago. RJ. 1992

    (pp.138-164)

    FREIRE, Jos R. B : As primeiras imagens da Conquista. UERJ. Rio de Janeiro. 1992

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    LITAIFF, Aldo: As divinas palavras. Identidade tnica dos Guarani-Mby.Editora da UFSC. Florianpolis.1996

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    MEGGERS, Betty J.: Amrica Pr-Histrica. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1979

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