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Anais do Seminário dos Estudantes da Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417 VIII Edição (2012) 570 Trabalho, técnica e emancipação no jovem Habernas Vinicius dos Santos Xavier * RESUMO O objetivo do presente texto é caracterizar a dicotomia entre trabalho e interação na teoria de juventude de Jürgen Habermas. Para tanto, apresentar-se-á, em um primeiro momento, como o pensador desenvolve sua argumentação em torno dos conceitos de ação instrumental e ação comunicativa, expostos, principalmente, em Técnica e Ciência como “Ideologia”. Nesse contexto, Habermas compreende o trabalho como técnica de apropriação da natureza, não sendo o âmbito no qual se formam a subjetividade e as relações sociais; e, em outro aspecto, pauta a constituição cultural e a sociabilidade em uma esfera distinta daquele da ação racional-instrumental. Esta é denominada como interação, na qual ocorrem as relações intersubjetivas e, além do mais, domínio por excelência da possibilidade de emancipação. Assim sendo, não compreende o problema da sociedade moderna relacionado diretamente à produção material e ao trabalho social. Antes, há uma intervenção da esfera da produção na esfera comunicativa que impede os indivíduos de se emanciparem, caracterizado por uma tecnocracia. Neste âmbito, observa a necessidade de transformação apenas no tocante ao político, à democracia, por meio da constituição de uma esfera pública autônoma e reflexiva. Em seguida, mostrar-se-á como o equacionamento entre trabalho e técnica, apreendido de forma não-dialética, constitui- se de modo problemático, tanto para os desdobramentos da teoria habermasiana quanto à emancipação, como também em relação a crítica ao empreendimento de Marx. A partir de uma interpretação crítica da categoria trabalho, assumindo o desenvolvimento marxiano da teoria do valor e do fetiche da produção, propor-se-á uma alternativa crítica à teoria da emancipação de Habermas. Para isso, far-se-á necessário demonstrar como, segundo Marx, a distinção entre trabalho e interação, da vida humana constituída em duas esferas separadas, é carente de sentido, já que, tomando-se a dialética imanente do trabalho, a interação é um dos momentos das relações de produção, do trabalho social. Por fim, constatar-se-á que a teoria habermasiana, ao equacionar trabalho e técnica, possui um fundamento problemático que se reflete e desdobra por toda sua análise acerca do capitalismo. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho. Técnica. Interação. Emancipação. Habermas. * Mestrando pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar; [email protected]

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Page 1: Trabalho, técnica e emancipação no jovem Habernassemppgfil/wp-content/uploads/2012/05/45... · 2014-10-07 · RESUMO O objetivo do presente texto é caracterizar a dicotomia entre

Anais do Seminário dos Estudantes da Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar

ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417 VIII Edição (2012)

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Trabalho, técnica e emancipação no jovem Habernas

Vinicius dos Santos Xavier*

RESUMO O objetivo do presente texto é caracterizar a dicotomia entre trabalho e interação na teoria de juventude de Jürgen Habermas. Para tanto, apresentar-se-á, em um primeiro momento, como o pensador desenvolve sua argumentação em torno dos conceitos de ação instrumental e ação comunicativa, expostos, principalmente, em Técnica e Ciência

como “Ideologia”. Nesse contexto, Habermas compreende o trabalho como técnica de apropriação da natureza, não sendo o âmbito no qual se formam a subjetividade e as relações sociais; e, em outro aspecto, pauta a constituição cultural e a sociabilidade em uma esfera distinta daquele da ação racional-instrumental. Esta é denominada como interação, na qual ocorrem as relações intersubjetivas e, além do mais, domínio por excelência da possibilidade de emancipação. Assim sendo, não compreende o problema da sociedade moderna relacionado diretamente à produção material e ao trabalho social. Antes, há uma intervenção da esfera da produção na esfera comunicativa que impede os indivíduos de se emanciparem, caracterizado por uma tecnocracia. Neste âmbito, observa a necessidade de transformação apenas no tocante ao político, à democracia, por meio da constituição de uma esfera pública autônoma e reflexiva. Em seguida, mostrar-se-á como o equacionamento entre trabalho e técnica, apreendido de forma não-dialética, constitui-se de modo problemático, tanto para os desdobramentos da teoria habermasiana quanto à emancipação, como também em relação a crítica ao empreendimento de Marx. A partir de uma interpretação crítica da categoria trabalho, assumindo o desenvolvimento marxiano da teoria do valor e do fetiche da produção, propor-se-á uma alternativa crítica à teoria da emancipação de Habermas. Para isso, far-se-á necessário demonstrar como, segundo Marx, a distinção entre trabalho e interação, da vida humana constituída em duas esferas separadas, é carente de sentido, já que, tomando-se a dialética imanente do trabalho, a interação é um dos momentos das relações de produção, do trabalho social. Por fim, constatar-se-á que a teoria habermasiana, ao equacionar trabalho e técnica, possui um fundamento problemático que se reflete e desdobra por toda sua análise acerca do capitalismo. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho. Técnica. Interação. Emancipação. Habermas.

* Mestrando pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar; [email protected]

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Introdução

A consideração teórica de Jürgen Habermas do período de juventude, centrada

principalmente nos textos Mudança Estrutural da Esfera Pública, Conhecimento e

Interesse e Técnica e Ciência como “Ideologia”, que constam da década de 1960, é o

laboratório no qual forja seu pensamento e que será decisivo em sua teoria posterior, com

a chamada guinada linguística, a partir da década de 1980. Nesse primeiro período,

“Habermas infere uma perspectiva de leitura do trajeto Kant-Marx sustentada num duplo

espectro: a contraposição entre o prisma da constituição formativa da subjetividade

conforme o que seria o modelo da Bildung [formação] (objetivação/alienação e posterior

superação formativa desta alienação), por um lado; e, por outro, a perspectiva social da

intersubjetividade.” (MAAR, 2000, p. 79).Habermas fundamenta-se na filosofia hegeliana

de Iena apreendendo duplamente o processo formativo do espírito: de um lado, tem-se a

perspectiva “idealista, em que o espírito constitui um processo dialético de exteriorização-

alienação e posterior superação desta alienação; e [de] outro, comunicativo, em que o

espírito se forma num procedimento interativo de reconhecimento intersubjetivo.” (MAAR,

2000, p. 72).

A perspectiva habermasiana, nesse aspecto, sustenta uma diferenciação básica

no que tange o Homem enquanto ser social: 1.aação racional dirigida a fins – o trabalho

como tal –, que ele caracteriza enquanto técnica, na qual o Homem se realiza

historicamente como gênero humano; e, 2.ainteração, calcada na intersubjetividade

linguisticamente mediada constituindo a práxis efetiva do sujeito social. Na primeira

vertente, “há uma teoria evolutiva do sujeito como ser humano genérico; o trabalho,

apreendido como processo de reprodução social do ser genérico, [que] é indiferente

quanto à orientação da ação” (MAAR, 2000, p. 71). Na outra, fundada numa racionalidade

social, o ser humano teria o poder para se emancipar por meio de uma comunicação livre

de dominação organizando a vida social de forma democrática. Desse modo, existem

“duas formas distintas mas necessárias da ação social” (HONNETH, 1999, p. 17), sendo

que “o mundo da vida” – o domínio da interação comunicativa –, “é reservado à esfera da

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razão comunicativa, espaço por excelência da intersubjetividade, da interação”

(ANTUNES, 2009, p. 155 – grifo do autor).

No entanto, Habermas não faz uma crítica efetiva do trabalho social, tampouco,

consequentemente, do capitalismo enquanto sistema de dominação. Ao não relacionar

emancipação e produção social, toma um produto como componente distinto e

autônomo da totalidade. Segundo sua teoria, a totalidade secciona-se em duas vertentes:

ação instrumental e ação comunicativa. Ao não intentar a crítica ao trabalho, portanto,

deixa de entrever que a totalidade social é formada na esfera da produção da vida

material. Sendo esta, na sociedade capitalista, subsumida ao movimento autônomo e

abstrato do capital, a interação, momento de realização do ser social, é um fetiche, um

momento da práxis efetiva alienada.

Nesse sentido, a proposta do presente artigo é: 1.compreender a proposta

habermasiana que relaciona, por um lado, trabalho e interação e, por outro, interação e

emancipação. Para isso, será necessário considerar, em sua teoria da juventude, a análise

intentada pelo pensador, principalmente aquela que tem como centro organizador seus

ensaios reunidos em Técnica e Ciência como “Ideologia” (2009); 2. tomando como base a

teoria marxiana, fazer uma crítica ao trabalho social, núcleo da totalidade social capitalista,

que tem como seus momentos o fetichismo da produção e o trabalho abstrato, alheios ao

controle dos indivíduos e, além disso, autônomo frente a eles, assumindo posição de

dominador que subsume e coloca, a partir de si, uma totalidade reificada. Com isso,

relaciona-se a equação formalista entre trabalho e técnica na teoria do jovem Habermas a

fim de verificar até que ponto elas carecem de sentido; e, 3.por último, as considerações

finais, que trazem conclusões, por mais que parciais, de como a teoria habermasiana é

posta sobre um fetiche e, por isso, fadada a, por um lado, ratificar o capitalismo, e, por

outro, girar sobre um todo falso. Desse modo, tentar-se-á demonstrar alguns pontos

problemáticos na teoria da juventude de Habermas.

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Trabalho e Interação: o problema da emancipação

Ao propor a substituição do par conceitual marxiano de “forças produtivas e

relações de produção” pelo par “trabalho e interação”, fundamentando-o no trajeto

hegeliano pré-Fenomenologia do Espírito, Habermas concebe uma leitura da obra

marxiana, “centrada numa orientação histórico-evolutiva da história e não conforme a

crítica a uma ‘constelação histórica’, a da alienação correspondente à socialização

capitalista resultante da luta de classes”. (MAAR, 2000, p. 72). Assim sendo, sua

concepção se dá ao distinguir, de um lado, o progresso do gênero humano para a melhor

dominação técnica da natureza exterior; e, por outro, a possibilidade de emancipação – já

que, com o “desencantamento do mundo”, a dominação não se funda mais de modo

tradicional (HABERMAS, 2009) – por meio de uma formação da subjetividade pautada

numa vontade autônoma e livre de coação externa, uma vontade política autorreflexiva

que se comporia no campo da interação intersubjetiva por meio da linguagem.

É elucidativo como Habermas define em dois campos distintos as ações

instrumental e comunicativa. Sua perspectiva fundamentada na discussão pública,

perpassada por uma ética prático-normativa, define a subjetividade no comportamento

que se dá por meio de normas sociais. A ação comunicativa, nesse sentido, “orienta-se

segundo normas de vigência obrigatória que definem as expectativas recíprocas de

comportamento e que têm de ser entendidas e reconhecidas, pelo menos, por dois

sujeitos agentes. [...]. O seu sentido objetiva-se na comunicação linguística quotidiana.”

(HABERMAS, 2009e, p. 57). É na intersubjetividade do acordo e no reconhecimento

daquelas normas que ela se funda. Há, além disso, a caracterização distintiva entre técnica

e subjetividade: a ação racional dirigida a fins dispõe aos Homens habilidades técnicas, na

medida em que as normas, ligadas à comunicação, estruturam a personalidade.

Dessa maneira, o par conceitual trabalho-interação, ainda que distintos entre si,

constituem os domínios nos quais se fundamenta a emancipação humana. No âmbito do

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trabalho, o gênero humano em seu conjunto, evolutivamente ao longo da história,

encontra seu ponto mais alto na sociedade capitalista, aquela na qual a ciência e a técnica

são as mais avançadas e liberam o Homem do domínio da natureza exterior. A atitude

instrumental é “parte constitutiva de certa forma de ação que, ao contrário da interação,

tem como objetivo primordial o domínio técnico sobre objetos inanimados.” (HONNETH,

1999, p. 17). Isto indica que na esfera da ação instrumental a humanidade alcança seu

cume com o capitalismo industrial avançado, podendo submeter a natureza ao seu jugo

por meio da racionalização e das ampliação e aplicação técnico-científica.

De tal modo, não há, diz Habermas em seu ensaio Técnica e Ciência como

“Ideologia” (2009e), como supor uma alternativa histórica às conquistas no campo da ação

instrumental. Sua argumentação expressa que a ciência e a técnica – que compõem o

campo no qual a ação instrumental se efetiva – não podem ser entendidas como “projeto”,

já que, assim sendo, teria que se conduzir a um projeto “do gênero humano no seu

conjunto, e não a um projeto historicamente superável.” (2009e, p. 51). Na esfera da

técnica e da ciência não é possível uma alternativa, já que isto comporia um erro lógico.

Para Habermas, o nível de evolução atingido pelas realizações da técnica é irrenunciável,

não podendo ser substituído por qualquer alternativa: “não se vê como poderíamos

renunciar à técnica, isto é, à nossa técnica, substituindo-a por uma qualitativamente

distinta, enquanto houvermos de manter a nossa vida por meio do trabalho social e com a

ajuda dos meios que substituem o trabalho.” (HABERMAS, 2009e, p. 52).

A emancipação caso fosse fundamentada no âmbito do trabalho social, assim

como o é no pensamento marxiano, deveria pautar-se em uma totalização do gênero

humano por meio da esfera instrumental que, não obstante, Habermas a entende como

simples funcionalidade em torno da dominação da natureza. A emancipação situada na

práxis laborativa, na atividade instrumental, compõe-se de um erro lógico-interpretativo

da história da espécie, já que, grosso modo, trabalho é técnica de apropriação e domínio

da natureza, sendo um dos aspectos imanentes da existência humana ao longo da história

que tende a evoluir e chega ao seu nível mais elevado na modernidade. Neste âmbito,

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nem a filosofia hegeliana do período de Iena, nem a teoria social marxiana conseguem

atingir satisfatoriamente a concepção de formação da subjetividade e, por conseguinte, a

emancipação propriamente dita. O equívoco de Marx, segundo Habermas, constitui-se ao

colocar ambos os campos – trabalho e interação – em um único, o do trabalho, não

deslocando as relações intersubjetivas do plano da ação instrumental.

Nesse sentido, critica-se a concepção marxiana pelo fato de identificar a

emancipação estritamente na esfera da produção. Segundo ele, Marx põe a formação no

campo da produção, engendrada pelo trabalho social.“Marx reduz o curso da reflexão ao

nível do agir instrumental” (HABERMAS, 1987b, p. 60). O quadro institucional – a interação –

está situado nas relações de produção. Desse modo, forças produtivas e relações de

produção, para Habermas, são momentos reduzidos a um mesmo fator, o “ato autogerador

da espécie pelo trabalho” (HABERMAS, 1987b, p. 59). Isto indica que a experiência da

reflexão situa-se, equivocamente segundo Habermas, no desdobramento das forças

produtivas, e não nos processos de interação simbolicamente mediados, no

reconhecimento intersubjetivo e livre de coações. Mesmo que para Habermas as forças

produtivas tenham sido o motor da evolução sócio-humana, elas não representam um

potencial de libertação – a não ser aquela libertação das carências materiais dos Homens

que são satisfeitas com a ampliação do domínio técnico-científico no capitalismo. E isso,

aliado a sua recorrência a Hegel, justifica-o para que possa reinterpretar o materialismo

histórico sob a luz do par conceitual trabalho-interação, colocando-os em domínios

distintos.

Não obstante, a não-emancipação na sociedade moderna se dá por uma

dificuldade de ordem política. É a vontade política, a autonomia – “única ideia de que

somos senhores” (HABERMAS, 2009a, p. 144) –, a formação de uma vontade coletiva via

consenso, que é violada por aquilo que o filósofo chama de ideologia: a interferência da

esfera de ação instrumental na interação, causada por uma tecnocracia de ordem

abstrata, substituindo o verdadeiro interesse da espécie humana por um interesse

coisificado, estranho àquele que seria o efetivo. Esta falsa consciência que envolve o

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interesse gera uma despolitização na opinião pública que, além do mais, desvia a práxis

vital (interação) para fins particulares, regidos, numa inversão, pela técnica e não pela

linguagem. Assim, a convivência sob “condições objetivas de uma capacidade de

disposição imensamente ampliada”, só pode ser adquirida e mantida por meio da

democracia, da liberdade e da autonomia no pensar e nas relações sociais, ou seja, sob

“as formas institucionalmente garantidas de uma comunicação geral e pública, que se

ocupa das questões práticas” (HABERMAS, 2009c, p. 101).

No entanto, “a despolitização das massas da população, que é legitimada pela

consciência tecnocrática”, na qual ocorre, ao mesmo tempo, “uma autoprojeção dos

homens em categorias”, faz com que os modelos coisificados das ciências transmigrem

para o “mundo sociocultural”, o mundo da vida, obtendo um poder objetivo sobre a

autocompreensão autônoma dos indivíduos (HABERMAS, 2009e, p. 82). Habermas

sustenta que tal despolitização aumenta um “comportamento adaptativo” que, apesar de

tudo, “é só o reverso de uma erosão contínua da esfera da interação linguisticamente

mediada, sob a pressão da estrutura da ação racional dirigida a fins” (HABERMAS, 2009e,

p. 76). A ideologia tecnocrática, por essa via, começa a ocultar a diferenciação entre

ambas às esferas – da ação racional dirigida a fins e da interação, que são distintas – da

consciência dos Homens, tendendo a anulá-la. Isso decorre de uma força do domínio da

produção social para falsear a consciência e substituí-la por outra, que seja engendrada

por essa esfera. Logo, a forma de tecnocracia imposta acaba por intervir na essência da

esfera pública e da humanidade, gerando um perigo vital coletivo.

Habermas concebe que essa “irracionalidade da dominação” somente é refreada

na formação de uma vontade coletiva, “que se ligue ao princípio de uma discussão geral e

livre de domínio.”(HABERMAS, 2009c, pp. 105-06). Um saber puramente técnico torna-se

nocivo à humanidade. Logo, um poder político ligado ao diálogo deve, a partir da

discussão pública, sem intervenções da esfera técnica, decidir os usos do progresso

técnico de forma consciente. “Uma sociedade cientificada só poderia constituir-se como

sociedade emancipada, na medida em que a ciência e a técnica fossem mediadas pelas

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cabeças dos homens juntamente com a prática vital.”(HABERMAS, 2009b, p. 127). É

somente por meio da autorreflexão que se engendra a emancipação. Neste sentido,

propõe-se que são os processos de interação que devem ser alterados, visando o debate

público e o interesse comum, livre da coação e da repressão, liberto das restrições

impostas à comunicação. É assim que se pauta, politicamente, a escolha reflexiva sobre as

formas de vida que se poderiam escolher, caso a comunicação fosse livre. De tal modo, os

Homens poderiam escolher como almejam viver, não se restringindo ao que querem, mas

ao como querem, ampliando a disposição e o quadro da vontade por meio do

alargamento das possibilidades.

Entretanto, a autocoisificação dos Homens não se dá em um movimento

imanente da produção da vida e das relações sociais por meio do trabalho. Ela se constitui

por uma ampliação ideológica do progresso técnico-científico em direção ao mundo da

vida. A anulação da distinção entre ação instrumental e interação ocorre por que a

administração política distancia-se da esfera pública, e a vontade política dos seres sociais

acaba por corrompida pela lógica científica. “O progresso técnico-científico que assume

função legitimadora constitui uma exacerbação no plano interativo de conteúdos

técnicos. Importa mantê-los separados.”(MAAR, 2000, p. 76).

Isso indica, entre outras coisas, que progresso técnico e racionalização da

conduta da vida social não significa emancipação. A dominação é legitimada por meio da

tecnocracia, da eficácia administrativa que, apesar disso, é mantida sob os mesmos

padrões da ação instrumental e não por uma esfera pública autônoma: “com a

institucionalização do progresso técnico-científico, o potencial das forças produtivas

assumiu uma forma que leva o dualismo do trabalho e interação a ocupar um segundo

plano na consciência dos homens.” (HABERMAS, 2009e, p. 73 – grifo do autor). O

progresso técnico-científico só se faz possível enquanto legitimador da nova dominação

porque Habermas assume que, no capitalismo tardio, a ciência se torna a maior força

produtiva.

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A interferência da esfera técnica, além de anular a distinção fundamental entre

interação e ação instrumental, faz com que o mundo da vida seja colonizado pela

totalização técnico-científica que invade a esfera comunicacional, transformando o debate

público, que deveria tratar de questões práticas em torno da eticidade, em resoluções de

problemas de ordem técnica, assim como ocorre nos subsistemas de ação estratégico-

instrumental. Dessa forma, os meios de controle que se desenvolvem no interior do

sistema – poder e dinheiro –

acabam por se sobrepor ao sistema interativo, à esfera comunicacional. Opera-se uma instrumentalização do mundo da vida, sua tecnificação. Com o aumento e complexificação dos subsistemas, o fetichismo, descrito por Marx, acaba por invadir e instrumentalizar o mundo da vida. Dá-se, então, o que Habermas caracteriza como processo de colonização

do mundo da vida (ANTUNES, 2009, p. 149 – grifo do autor).

Entretanto, a teoria habermasiana que distingue a vida social do ser genérico em

duas esferas, só é possibilitada por uma apreensão do trabalho social em uma concepção

transhistórica, a qual fomenta, assim, a crítica em vistas da emancipação distinta da esfera

da produção e do trabalho social. Já que o trabalho é “apreendido como processo de

reprodução social do ser genérico” (MAAR, 2000, p. 71), a via emancipatória da

humanidade estaria posta no âmbito da interação, distinto do plano de ação instrumental

quanto a meios e fins técnicos. Com isso, o pensador relega a crítica imanente à esfera

produtiva e situa sua interpretação no desenvolvimento de orientações normativas –

normas, estas, que devem ser internalizadas no próprio processo de formação na relação

intersubjetiva restrita à comunicação.

Ao compreender o mundo da vida em outra esfera, constituído independente do

trabalho e, por conseguinte, entender o trabalho como técnica, simplesmente, Habermas

equaciona trabalho a agir instrumental, à técnica pura e simples de dominação da

natureza. Por separar a atividade humana em dois campos, consegue argumentar acerca

da colonização do mundo da vida, já que o processo de erosão da intersubjetividade é

extrínseco a ela própria: “é a interação linguisticamente mediatizada entre sujeitos que

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fornece o padrão capaz de medir os danos provocados no interior do mundo vivido

social.” (HONNETH, 1999, p. 16), e só por meio dela que pode ser revertido.

A apreensão da vida social – e, por extensão, da crítica de Marx ao capitalismo –

feita por Habermas se dá, por um lado, ao desconsiderar a dialética imanente do trabalho,

tendo-se, ao contrário, uma postulação do trabalho como dominação da natureza

externa: como agir natural da espécie humana. Ao fazê-lo, retira o campo formativo – a

dialética – da esfera da atividade prática dos Homens. Além disso, ao levar em conta

apenas o trabalho concreto e o colocar lado-a-lado à técnica, constituidor intrínseco do

ser genérico, considera-o parte da história evolutiva da espécie que culmina na

modernidade, com a incorporação da ciência moderna à produção. Não há distinção, por

parte de Habermas, dos tipos de trabalho e seus determinados contextos sócio-históricos;

isto é, não existe trabalho, segundo Marx, fora de um modo de produção específico, um

conceito abstrato que se possa igualar em todas as épocas históricas. Por outro lado, a

apreensão dialética habermasiana somente se efetiva no âmbito da intersubjetividade, a

esfera formativa por excelência. Assim, ao não colocar o trabalho sob a ótica da crítica,

Habermas aprende-o apenas como trabalho concreto dos indivíduos na subjugação da

natureza para seu uso, como técnica, não levando em consideração toda a complexidade

dessa categoria inserida no sistema capitalista. Tão somente com essa apreensão do

trabalho que pode propor aquilo que chama de mudança de paradigma: do paradigma da

produção ao paradigma da comunicação.

Trabalho e Técnica: uma equação formal

A mudança de paradigma na teoria habermasiana de juventude é propiciada pela

interpretação, por um lado, da filosofia hegeliana do período de Iena e, por outro, a

consideração sobre a estrutura teórica marxiana. Por conceber, como pano de fundo de

sua concepção, o Espírito em duas esferas distintas, sua leitura dos textos hegelianos pré-

Fenomenologia do Espírito se dá ao compreender uma daquelas esferas como desprovida

de dialética. Habermas interpreta o movimento dos textos hegelianos na dicotomia entre

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trabalho e interação: primeiro, tem-se o trabalho individual dado a diferenciações; em

seguida, o movimento dialético da intersubjetividade. Além disso, a não abrangência do

trabalho em sua ambivalente universalidade, faz com que a interação se contraponha ao

trabalho social em sua forma abstratamente generalizada (MAAR, 2000, p. 92). Só por

meio de uma apreensão do trabalho em termos individuais, e não fundado em uma

especificidade, como se dá no capitalismo, que também engendra a totalidade social com

o trabalho abstrato e o fetiche da produção, que pode contrapor a dialética formativa da

esfera da comunicação ao domínio não-dialético da técnica. Desse modo, Habermas “vê a

técnica unicamente ‘no elemento da individualidade’; sua generalidade social [...] só seria

implementada pela interação subjetiva. Em suma: dialética [...] para Habermas seria uma

questão atinente só ao plano cultural-subjetivo.”(MAAR, 2000, p. 92).

O trabalho concreto individual concebido pelo filósofo constitui um ponto

problemático na fundamentação de sua teoria. Seu conceito de sociedade, “pressuposta

como formação social determinada e não nos termos de um modo de produção alienante

e deformador em sua efetividade formativa” (MAAR, 1999, p. 38), gera uma

autoafirmação do sistema capitalista. O trabalho concreto, vinculado a individuações e

diferenciações, é dado ao trato político de ganhos subjetivos. Isto só se faz possível por

Habermas equacionar trabalho e técnica, sem distingui-los quanto ao conteúdo, à forma e

à gênese de cada um. A relativização operada neste âmbito faz com que seu papel na

formação seja minimizado e relativizado, sendo efetivamente relevante somente

enquanto “esfera produtiva” que gera aquilo que ele chama de “tecnocracia”, a

interferência desta esfera no mundo da vida.

Contudo, só é admissível a relativização do papel do trabalho social geral ao não

o conceber como metabolismo entre Homem e natureza. Esta configuração geral do

trabalho social, forma o sujeito ao formar e conformar o objeto estabelecendo-se como

uma mediação entre Homem e natureza. Em todas as sociedades isso se constitui como

ponto fundamental através do qual se obtém e se mantém a existência humana. É por

meio dessa mediação que se satisfazem as necessidades, que se produz e reproduz a vida

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humana. É condição necessária para a sobrevivência do Homem. “Na expressão mais

simples, o trabalho se apresenta como intercâmbio de energias, metabolismo a operar entre

o homem e a natureza, processo de assimilação e expulsão de substâncias que se faz à custa

de acumular e despender forças naturais.” (GIANNOTTI, 1984, p. 85). O trabalho, assim

entendido, aparece como trocas de energias entre o organismo e o meio.

Porém, Habermas não concebe o trabalho composto dessa maneira. O

equacionamento que faz entre técnica e trabalho, não dá conta dessa forma geral do

metabolismo sujeito-objeto. Ao apreender a técnica como intrinsecamente humana de

modo positivo, concreto e formal, por meio da qual apenas se mantém a existência como

subsistência, e não como formação, dá-se a possibilidade para criticar o modelo marxiano

sem, entretanto, fazer uma crítica radical ao complexo capitalista, de valorização e

revalorização do capital. Habermas propõe uma interpretação do pensamento de Marx,

ao invés de uma crítica.

Por conta disso, na modernidade a técnica aparece com seu aspecto quase que

totalmente desenvolvido. A inserção das ciências na produção engendra, no capitalismo

tardio, a sociedade do fim do trabalho, sem, contudo, abolir de fato o trabalho alienado.

As compensações sociais, a distribuição da capacidade produtiva e dos produtos sociais,

aliadas à ciência, leva aquela concepção de sociedade, baseada no trabalho proletário e

na exploração do trabalho direto dos indivíduos como fonte de assegurar as valorização e

revalorização do capital, a perder cada vez mais sua importância. Não obstante, para

apreender as ciências como dominante no processo de produção, e, com isso, criticar o

“paradigma da produção” de Marx, é necessário desconsiderar o trabalho em suas

complexidade e especificidades.

Ao contrário, segundo Marx (1993), o trabalho só se torna efetivo longe dessa

abstração, ou seja, inserido em um contexto social determinado.Marx diz nos Grundrisse

que“a produção é sempre apropriação da natureza pelo indivíduo no seio e por intermédio

de uma forma de sociedade determinada.” Sendo que o trabalho propriamente dito “só se

efetiva ao ser inscrito num modo de produção determinado.” (MARX, 1993, p. 87).

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No capitalismo, todavia, o trabalho constitui uma forma de mediação social,

limitada historicamente e quase objetiva que serve “como o fundamento social decisivo das

características básicas da modernidade.” (POSTONE, 1993, p. 5). São, de outra forma, os

produtos do trabalho abstrato, aquele trabalho desprovido de todo o conteúdo e

independente das necessidades e vontades dos indivíduos envolvidos no processo, que

tomam para si, agora como sujeito da relação, a capacidade de dominar as relações sociais a

partir de um princípio abstrato.

Entendido como fundamento da mediação social no capitalismo, o trabalho

institui, tomando para si, a síntese da sociedade: a relação social. Logo, a mediação entre

os Homens se dá por meio do trabalho objetivado criado pelo processo de produção. Este

trabalho objetivado pode ser traduzido em categorias especificamente capitalistas: o

valor, a mercadoria, o capital, isto é, trabalho acumulado alheio aos produtores. O

trabalho desempenha papel decisivo nesta sociedade, e somente nela: ele medeia as

relações sociais e, consequentemente, institui uma forma social específica. Tal formação

social, além de ser instituída pelo trabalho nesta maneira particular, repõe esse mesmo

modo de trabalho de forma a naturalizá-lo e eternizá-lo. “A formação social assim

constituída aparece no dia a dia como se fosse ‘objetiva’, isto é, como produto abstraído

do processo de sua formação material, instalando-se como se fosse a verdadeira

‘natureza’ da sociedade.” (MAAR, 2006, p. 27). A ênfase de Marx na esfera da produção se

dá por conta dela estar intrinsecamente associada a todas as outras esferas da vida social,

determinando-as e dominando-as.

Ao pôr o trabalho vivo e direito subsumido ao trabalho morto – capital; em última

instância, capital constante, maquinaria, grande indústria –, reduzindo as subjetividade e

capacidades dos indivíduos à força de trabalho, passiva diante do movimento abstrato do

capital, o trabalho deixa de ser simples dominação da natureza exterior com a finalidade da

subsistência material humana – técnica, diz Habermas – e se coloca na posição de elemento

reificado predominante que aparece como componente fundamental da totalidade. Na

forma geral da produção capitalista, os meios de produção, as condições objetivas de

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trabalho, material de trabalho e meios de trabalho – a maquinaria, a tecnologia, em suma, a

grande indústria –, não se apresentam subsumidos ao trabalhador; antes, este é que

aparece a eles subsumido.

Desse modo, no sistema capitalista o trabalho aparece disperso, subsumido ao

processo produtivo centrado na grande indústria. Sua “unidade existe não nos

trabalhadores vivos, mas na maquinaria viva (ativa), que diante do fazer individual não

significativo do trabalhador, aparece em face deste como organismo poderoso.” O

trabalho morto enfrenta o vivo como força dominante do processo no qual o trabalho

está inserido (MARX, 1993, pp. 693-94). Nesse âmbito, o processo produtivo capitalista

visa a si próprio: não é meio de metabolismo do trabalhador fragmentado com a natureza.

Ele serve apenas a si mesmo, medeia-se, já que a totalidade social é suprassumida para si.

“Tudo isso vem subverter o modo de produção capitalista, convertendo condições e

resultados em manifestações do valor que se põe a si mesmo, a saber, do capital.”

(GIANNOTTI, 1984, p. 124). O trabalho passado, além do mais, apresenta-se visivelmente

como independente do trabalho enquanto auto-atividade: ao invés de ser subordinado

por este último, o trabalho passado é que o subordina a si. Ocorre, assim, a subsunção do

trabalho vivo ao capital. A produção pautada no trabalho acumuladoalcança forma

independente e plena autonomia em relação aos trabalhadores, ao mesmo tempo em que

se coloca em oposição a eles.

Há, aqui, a inversão fetichista da produção: o objeto torna-se sujeito, determina

as relações; os indivíduos, isolada ou coletivamente, são momentos coisificados dentro do

processo. Estes indivíduos são determinados pelo movimento autônomo do objeto,

aquele do qual fazem parte na produção. Desse modo, partindo da combinação social que

tem o capital como sujeito, “a desapropriação do poder produtivo do trabalhador ocorre

no próprio processo de produção” (NEGT & KLUGE, 1999, p. 104).

A isso cabe acrescentar que a subsunção real está intrinsecamente relacionada ao

fetiche da produção. Somente quando o trabalho é transformado em força de trabalho,

por um lado, e quando a grande indústria fundada na maquinaria e na tecnologia, que,

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além do mais, incorpora a ciência na produção a fim de tornar o trabalho vivo supérfluo,

separando concepção e execução, por outro, que o capital pode se tornar uma potência

autônoma face aos indivíduos. Com a grande indústria, “com o uso de máquinas no

processo de trabalho”, o movimento objetivo da valorização de capital incorpora em si a

ciência (ROMERO, 2005, p. 170). O trabalho só é real e efetivamente subsumido ao capital

no momento em que ele independe das capacidades do trabalhador e rege-se por meio

de um caráter científico. Com isso, coloca-se o trabalho ao lado da produção, como

simples instrumento passivo coordenado pelo movimento da máquina: o trabalho perde

seu caráter de auto-atividade. Cria-se um imperativo tecnológico na produção capitalista:

“os poderes intelectuais se concentram no capital e intervêm no processo de trabalho

como saber externos aos trabalhadores e propriedades do capital” (ROMERO, 2005, pp.

175-6). Assim sendo, o fetichismo da produção se coloca como uma necessidade objetiva

da própria produção capitalista, uma vez que ela é materializada no sistema da ciência

aplicada como tecnologia.

Cabe ressaltar que a ciência aplicada na produção não é, como quer Habermas, a

primeira força produtiva do capitalismo tardio; antes, é um dos modos de existência do

capital, subsumida, também ela, ao movimento autônomo do capital fetiche. As

determinações práticas, a consciência enquanto tal, são um dos momentos desse

movimento abstrato, enquanto o indivíduo é reduzido a uma determinação mecânica.

Todas as categorias derivadas do capital, por mais que pareçam autônomas frente a ele –

e isso também vale para a “interação simbolicamente mediada” –, assumem uma posição

subordinada ao processo de valorização. Somente com o capital dotando o processo de

trabalho por um caráter técnico-científico, tornando a tecnologia uma forma derivativa do

capital, ou mesmo uma das formas de manifestação dele, é que a subsunção real do

trabalho ao capital se efetiva plenamente.

As combinações sociais, tanto objetivas quanto subjetivas, expropriadas do

trabalhador individual e coletivo, desenvolvem-se como forças estranhas que dominam o

trabalhador. Os fins particulares dos indivíduos e suas vontades conscientes estão

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subsumidos à totalidade do processo. Dessa maneira, o capital adquire objetividade

autodeterminada, transformando-se em sujeito na medida em que configura mais sua

coisidade, por ter incorporado o trabalho e as determinações sociais como seus momentos.

Sua forma de existência, neste sentido, é de uma autonomia efetiva face aos indivíduos.

O capital, à medida que subtrai da força de trabalho socialmente produtiva uma das sínteses que partem dele, institui uma combinação, com poder de realidade, da força de trabalho social. O capital não incorpora apenas o trabalho social, portanto, mas também as combinações sociais da força de trabalho, que se acumulam diante do trabalhador individual sob a forma de poderes sociais. (NEGT & KLUGE, 1999, pp. 104-5).

É o capital em si e para si que possui realidade e determina todos os momentos da

totalidade social a partir da produção alienada. O fetiche do capital faz com que ele próprio

apareça como o “demiurgo do mundo moderno”, “centro organizador da produção,

compreendendo todas as atividades sociais e [...] transformando-as em atividades

produtivas.”(NEGT & KLUGE, 1999, p. 104 – grifo do autor).

Isto indica que a consideração habermasiana acerca do trabalho, como dominação

da natureza e não como atividade prático-formativa, é ideológica. Quando considera a

interação como práxis vital, Habermas ratifica a reifícação gerada nas relações sociais fetiches,

colocada pelo movimento abstrato da produção. O fim da sociedade do trabalho – a ciência

substituindo o trabalho como primeira força produtiva –, calcada na ocultação das relações

sociais efetivas, só é possível ao transformar o “paradigma” ideologicamente: desconsidera e

relega a práxis efetiva e a realoca em um momento singular dessa práxis mesma. A

comunicação é um momento singular da existência humana; é um elemento que tem sua

formação no âmbito do trabalho social. Sendo um singular – e todo singular carrega em si a

totalidade, suas determinações –, então o processo que engendra uma totalidade fetiche o

faz um singular fetiche, desvinculado e alienado de si, ele mesmo como seu ser-outro,

desconectado e abstraído de si mesmo. E se no capitalismo essa formação é colocada pelo

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sujeito abstrato, a “interação” entre os Homens será tão mais técnica na medida mesmo em

que é, cada vez mais, coisificada.

A carência de sentido no jovem Habermas é proporcionada por tomar a

mistificação como realidade efetiva. Já que, como exposto, a sociedade é composta por

determinações histórico-específicas, e tais determinações são relações sociais de

produção fetichizadas, a naturalização da sociedade baseada no trabalho alienado,

concebida como “sociedade do fim do trabalho”, ou, como efetivamente aparece na

teoria habermasiana nos fins da década de 1960 – a interação como âmbito da

sociabilidade e da emancipação –, não é possível separar o ser genérico do Homem em

duas esferas distintas. Se se compreende o trabalho como práxis social e, ainda, a

subsunção real do trabalho ao capital, tendo-se as relações sociais como síntese dialética

de uma totalidade fetiche, carece de fundamento a separação em dois âmbitos.

Considerar o trabalho enquanto técnica é abstraí-lo. Destarte, “falar em colonização do

mundo da vida pelo sistema parece ser, então, uma versão muito tênue [...] frente à

totalização operada pela vigência do trabalho abstrato e pela fetichização da mercadoria e

suas repercussões reificadas no interior da esfera comunicacional. E o capitalismo por

certo é muito mais do que um subsistema.” (ANTUNES, 2009, p. 157 – grifo do autor).

Por mais que Habermas, em suas conclusões,

compreenda uma tecnificação no mundo da vida, a esfera da produção

“colonizando” a totalidade da sociedade assumindo o peso de domínio e anulação do

plano econômico sobre os indivíduos, possui o equívoco de tomar o produto como causa.

Oculta, em sua teoria, que os Homens são sujeitos e objetos desse processo de relações

sociais abstraídas. Sua função ideológico-legitimadora ocorre ao relegar a produção da

efetividade social e tomar por base um produto reificado. Não é o mundo da vida que é

colonizado pelo capital; antes, o mundo da vida é capital, um de seus momentos de

desenvolvimento, algo de particular que se generaliza de modo falso. As relações sociais

capitalistas são, tão somente, relações sociais que ocorrem na sociedade na qual o capital

é o demiurgo. Conceber uma mudança do “paradigma da produção” ao “paradigma da

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comunicação” é sustentar uma teoria do produto como esfera separada e autônoma. É,

em uma palavra, mistificação. “As forças produtivas não são técnicas; mas são sociais, isto

é, não são apenas resultados de uma ‘interação social’, mas simultaneamente constituem

um plano social em que se configura um modo de pensar, de refletir, de agir, de

‘esclarecimento’, ou então, de um referencial ‘normativo’.” (MAAR, 1999, p. 56). Em

última instância, a ideologia se dá ao equacionar trabalho e técnica e, consequentemente,

desvincular as relações sociais do âmbito da práxis efetiva.

Considerações Finais

A obra habermasiana de juventude está posta sobre uma consideração peculiar

sobre a evolução emancipatória da humanidade. A mudança de paradigma – da produção à

interação – secciona dualisticamente a história do ser genérico. Essa dualidade pode levar à

emancipação. De um lado, tem-se a evolução técnica, que culmina na modernidade como a

mais evoluída, fazendo com que o Homem se liberte do jugo da natureza; por outro, a

esfera pública na qual as modernas relações sociais se formam e tomam corpo. É aqui que,

na sociedade capitalista – e não para além dela –, pode haver emancipação, distinguindo de

modo prático ambas as esferas. “No nível mais abstrato, a sobrevalorização habermasiana

se efetiva pela perda da relação de distância e prolongamento existente entre o trabalho e a

práxis interativa, que assume a forma relacional entre esferas que se tornam dissociadas, a

partir da complexificação da vida societal.” (ANTUNES, 2009, p. 157). Habermas coloca

trabalho e interação como momentos distintos de um todo articulado, que embora fazendo

parte de uma totalidade não é, esta, aquela específica, característica das modernas relações

de produção da vida material.

Ao equacionar trabalho e técnica, na qual há a identificação a uma ação

instrumental estratégica no domínio das formações sociais no trajeto histórico do

Homem, na modernidade, verifica-se uma perturbação pela crescente expansão desse

campo nas relações intersubjetivas. A pretensa crítica habermasiana assume função

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afirmativa, ideológico-legitimatória da reifícação social. Ao prostrar o trabalho no âmbito

da dominação da natureza externa, circunscrevendo-o à esfera técnica, assume e ratifica o

trabalho alienado. A práxis vital realiza-se em um momento abstrato da práxis efetiva. A

subsunção real do trabalho ao capital, tendo-se as relações sociais como síntese abstrata

do movimento da produção, como uma sua realização, não é levado em consideração por

Habermas. Antes, assume-a como técnica que engendra uma tecnocracia formal,

dominando o mundo da vida externamente.

No entanto, o movimento da produção capitalista toma para si os momentos de

efetivação da sociabilidade humana e, consequentemente, realiza as determinações

sociais como sua plena concretização. O trabalho é subsumido à produção concomitante à

alienação gerada a si mesmo. Quem possui autonomia e a consolida é uma coisa, que se

traduz em trabalho passado, objetivado. Este processo estabelece a supremacia da

produção, enquanto produção de trabalho engendrando mais trabalho, na medida em

que os indivíduos e suas relações sociais são coisificados.

Ainda assim, o fato está em que não é simplesmente uma abstração dominante,

que determina a efetividade sem antes ter surgido dela: engendra-se na produção social.

Tal abstração consiste em uma forma historicamente específica de interdependência, de

caráter impessoal e objetivo. São, ainda, constituídas por formas determinadas de prática

social e, além disso, tornam-se independentes das pessoas engajadas nessas práticas.

Neste processo, “o resultado é uma forma de dominação social nova e crescentemente

abstrata – uma forma que subordina as pessoas a imperativos estruturais impessoais e a

restrições que não podem ser adequadamente captadas em termos de dominação

concreta (isto é, dominação pessoal ou de grupo) [...].” (POSTONE, 1993, pp. 3-4). Além

disso, essa forma efetiva de dominação é expressa no trabalho objetivado. Marx

caracteriza tal dominação fundada no trabalho morto como força estranha ao trabalho

vivo: a dominação, portanto, “está fundamentada na forma valor da própria riqueza, uma

forma de riqueza social que contrapõe o trabalho vivo (os trabalhadores) a uma força

estruturalmente alheia e dominante.” (MARX, 1993, p. 831). O trabalho, de tal maneira,

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ao invés de formar a personalidade dos indivíduos, enquanto experiência, forma a

personalidade do capital no momento mesmo em que coisifica as pessoas ao seu próprio

modo. Nesse domínio, nocapitalismo o trabalho social não é somente o objeto de

dominação e exploração, mas é ele mesmo o fundamento essencial de dominação.

Assim sendo, o momento da intersubjetividade simbolicamente mediada é um

dos aspectos de realização do trabalho abstrato. A emancipação posta na comunicação

livre ratifica o trabalho alienado. Ao não fazer uma crítica ao trabalho, à produção da vida

material capitalista, relegando a centralidade do trabalho, Habermas deixa escapar o

essencial: a esfera formativa – que, não obstante, deforma o ser social que se relaciona

intersubjetivamente por meio de uma determinação abstrata. Nesse sentido, “o sistema

não coloniza o mundo da vida como algo exterior a ela. ‘Mundo da vida’ e ‘sistema’ não

são subsistemas que possam ser separados entre si, mas são partes integrantes e

constitutivas da totalidade social que Habermas, sistêmica, binária e dualisticamente

secciona.” (ANTUNES, 2009, p. 158). A esfera da interação é, portanto, um fetiche surgido

da totalidade do capital. Somente com a superação do trabalho alienado é que se poderia

pautar uma sociabilidade livre, surgida da prática social longe do domínio abstrato do

capital e, somente assim, determinando uma sociedade livre por meio de uma produção

não reificada e abstrata.

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