trabalho de geologia formatado
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIASGEOLOGIA
ASPECTOS GEOGRÁFICOS, HISTÓRICOS, BIOLÓGICOS E GEOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ, SANTA CATARINA
Anderson Machado BarbosaCarla de Souza Rosa
Mariane DahmerPriscila Barros DelbenSheila Simone Kerber
Veronyca Rivero Corrêa de Souza
Florianópolis – SCJulho de 2012
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................3
2. GEOLOGIA DE SANTA CATARINA.......................................................................3
2.1. Província Costeira.............................................................................................4
2.2. Geologia da Planície Costeira...........................................................................4
2.3. Estatigrafia da Planície Costeira..........................................................................5
2.4. Setores Fisiográficos da Planície Costeira...........................................................6
3. SETOR SUL DA PROVÍNCIA COSTEIRA: MUNICÍPIO ARARANGUÁ.................7
3.1. Aspectos Históricos................................................................................................7
3.2. Aspectos Geográficos.............................................................................................8
3.3. Aspectos Geológicos...............................................................................................9
3.3.1. Formação Rio do Rasto e Formação Teresina.........................................10
3.4. Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá...............................................................13
3.5. Aspectos Biológicos..............................................................................................16
4. REFERÊNCIAS..................................................................................................................19
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1. INTRODUÇÃO
O estado de Santa Catarina está localizado na região Sul do Brasil, entre os paralelos
25º57'41" e 29º23'55" de latitude Sul e entre os meridianos 48º19'37" e 53º50'00" de longitude
Oeste (GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 2012). O estado apresenta
6.248.436 habitantes, área de 95.703,487 km² e 293 municípios (IBGE, 2010) (Figura 1).
Figura 1. Localização do estado de Santa Catarina (Fonte: HORN FILHO, 2003).
2. GEOLOGIA DE SANTA CATARINA
De acordo com Scheibe (1986), Santa Catarina apresenta seis litotipos: migmatitos
(rochas metamórficas em estado de fusão com coexistência de feições ígneas e metamórficas)
e granulitos (rochas de alto grau metamórfico) do éon Arqueano; granitos, rochas
metassedimentares (rochas sedimentares iniciais) e metamórficas associadas, de idade
proterozóica; rochas sedimentares gonduânicas paleozoicas; rochas basálticas, intermediárias
e ácidas mesozoicas; rochas alcalinas do final do Era Mesozoica e início do Período Terciário
(Era Cenozoica); e sedimentos do litoral, da idade cenozoica (HORN FILHO, 2003).
Horn Filho & Diehl (1994, 2001) subdividiram a geologia catarinense em cinco
grandes províncias geológicas, ou seja, unidades geomorfológicas posicionadas por seus
caracteres estruturais, petrográficos, sedimentares e evolutivos: Escudo Catarinense; Bacia do
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Paraná; Planalto da Serra Geral; Complexo Alcalino e Província Costeira (Figura 2) (HORN
FILHO, 2003).
Figura 2. Províncias geológicas do estado de Santa Catarina. (Fonte: HORN FILHO, 2003).
2.1. Província Costeira
A fragmentação do Gonduana, que separou a América do sul da África, gerou
unidades geológicas, o embasamento e as bacias sedimentares marginais de Pelotas e
Santos, que constituem a Província Costeira. Essas unidades são extracontinentais, de
caráter tectônico passivo e estão assentadas no oceano Atlântico (ALMEIDA et al.,1976).
O termo província costeira descreve uma unidade tridimensional abrangendo os aspectos
geológicos, estratigráficos e estruturais (VILLWOCK, 1972 apud HORN FILHO, 2003).
É uma região onde predominam os terrenos de baixa altitude (até 60m) e profundidade
(até 200m), sendo adjacente aos continentes, oceanos, mares e composta a priori de
sedimentos consolidados a semi-consolidados e de forma secundária por rochas cristalinas
e sedimentares.
A compartimentação mais recente da Província Costeira catarinense foi proposta por
Diehl & Horn Filho (1996), definindo oito setores geológico-geomorfológicos: Central
(118km), Setentrional (86km), Centro-Norte (81km), Nordeste (70km), Meridional
(69km), Centro-Sul (63km), Sudeste (26km) e Sul (25km) (HORN FILHO, 2003) (Figura
3).
2.2. Geologia da Planície Costeira
A planície costeira abrange depósitos característicos de dois sistemas: o sistema
continental e sistema transicional ou costeiro. O sistema continental está associado às encostas
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das terras altas, englobando os depósitos coluvial, de leque aluvial e fluvial, geralmente
datados do Quaternário indiferenciado.
Figura 3. Setores geológico-geomorfológicos da Planície Costeira (Fonte: HORN FILHO, 2003).
O sistema costeiro, na maioria das regiões do tipo laguna-barreira, associado às
variações relativas do nível do mar ocorridas durante o Quaternário, compreende depósitos
pleistocênicos e holocênicos; dos ambientes marinho raso, eólico, lagunar e paludial, cujas
principais formas de relevo são terraços, dunas, cordões regressivos e planícies. Depósitos do
Quinário incluem sedimentos de origem artificial construídos pela ação tecnógena
antropogênica, como aterros e rejeitos minerais. Os sambaquis, de idade holocênica, típicos
da planície costeira catarinense, constituem acumulações de origem natural, com mistura de
materiais de origem sedimentar, artefatos líticos e restos orgânicos.
O sistema praial localizado entre os sedimentos da planície costeira e da plataforma
continental exibe praias diversificadas no que diz respeito às características geomorfológicas,
sedimentológicas e morfodinâmicas.
A costa do estado de Santa Catarina é classificada como uma costa do tipo Atlântico, de
granulometria predominantemente arenosa, com presença marcante de afloramentos
rochosos.
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2.3. Estratigrafia da Planície Costeira
Cada região mapeada da Província Costeira de Santa Catarina apresenta sua estratigrafia
específica, entretanto, em traços gerais, a mesma pode ser observada no Quadro 1. A coluna
estratigráfica consiste de unidades litoestratigráficas do embasamento e depósitos e suas
fácies dos sistemas deposicionais continental, costeiro e marinho, típicos dos ambientes da
planície costeira e plataforma continental. As idades dos depósitos são variáveis, com
acumulações que ocorrem desde o Terciário até o Quinário.
Quadro 1. Estratigrafia geral da Província Costeira Catarinense (Fonte: HORN FILHO, 2003).
2.4. Setores Fisiográficos da Planície Costeira
A Província Costeira de Santa Catarina foi compartimentada do ponto de vista
fisiográfico em três setores diferenciados: Norte, Central e Sul. Entretanto, interdigitados
entre si, no qual Araranguá ocupa uma posição de destaque localizada no setor Sul. Este
possui forte presença de depósitos quartenários dos ambientes sedimentares marinho e
lagunar, que são típicos do sistema deposicional lagura-barreira, o distinguindo dos demais
setores dessa província (Quadro 2).
O Setor Sul apresenta terras altas e tem como destaque de planícies as seguintes
feições morfológicas: complexo lagunar Imaruí-Mirim-Santo Antônio, barreira múltipla
complexa e morro dos Conventos (HORN FILHO et al., 1988 apud HORN FILHO, 2003).
Com relação à plataforma continental, a fácies arenosa acompanha praticamente todos
os setores da Província Costeira, enquanto que as lamas representam faixas de largura
consideráveis paralelas à costa nos setores Norte e Sul. No que se refere às praias do litoral
catarinense voltadas para o oceano Atlântico, no setor Sul predomina o estágio modal
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dissipativo e a granulometria arenosa é fina, a forma do litoral é retilínea e contínua e a forma
das praias é alongada (HORN FILHO, 2003).
Quadro 2. Aspectos geológicos, geomorfológicos e geográficos do setor Sul da Província Costeira (Fonte: HORN FILHO, 2003).
3. SETOR SUL DA PROVÍNCIA COSTEIRA: MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ
O litoral sul brasileiro pode ser dividido, segundo Muehe (1998) em dois
macrocompartimentos: o Macrocompartimento Litoral Retificado Norte (que se estende do
cabo de Santa Marta – SC até a cidade de Torres – RS) e o Macrocompartimento dos Sistemas
de Laguna (que engloba todo o litoral do Rio Grande do Sul).
Araranguá está situada no primeiro macrocompartimento, o qual é caracterizado por
ter um único arco-praial, com pouco mais de 117 km de extensão, interrompido apenas por
canais de maré, como a barra do Urussanga e a barra do Araranguá (POMPÊO &
MOSCHINI, 2001).
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3.1 Aspectos Históricos
A região onde atualmente está localizado o município de Araranguá foi habitada, até
meados do século XVIII, por índios carijós e kaingangs (Santa Catarina Turismo, 2012). No
início do século XIX, chegaram à região os portugueses, vindos de Laguna e, mais tarde,
imigrantes italianos, alemães, poloneses e espanhóis. Com a chegada desses povos, as etnias
que anteriormente habitavam a região foram exterminadas. Atualmente, a maioria dos
moradores apresenta descendência italiana (Governo do Estado de Santa Catarina, 2012).
Em 1848, a região recebeu o nome de Nossa Senhora Mãe dos Homens e foi
caracterizada como distrito subordinado ao município de Laguna. Em 1864, passou a se
chamar Campinas e, em 3 de abril de 1880 foi emancipada, passando a se chamar Araranguá,
período em que foi desmembrado dos municípios de Laguna e Tubarão (IBGE, 2012).
A partir de 1880 diversos distritos no entorno da região foram criados e, hora
anexados hora desmembrados de Araranguá. A última divisão territorial ocorreu em 1999,
quando o município passou a ser constituído por distritos: Araranguá, Hercílio Luz, Balneário
Morro dos Conventos e Sanga da Toca (IBGE, 2012).
3.2. Aspectos Geográficos
O município de Araranguá localiza-se no Setor Sul da Província Costeira, no extremo
sul do estado de Santa Catarina, a 210 km da capital do estado, Florianópolis (Governo do
Estado de Santa Catarina, 2012). Está situado entre as coordenadas 28° 49’ 59” a 29° 59’ 48”
de latitude Sul e 49° 17’ 26” a 49° 37’ 23” de longitude Oeste de Greenwich (Figura 4). Os
limites geográficos são ao sul o município de Sombrio, ao norte Maracajá, a leste o Oceano
Atlântico e o Balneário Arroio do Silva e a oeste os municípios Turvo e Meleiro (AZEVEDO,
2004) (Figura 5).
Araranguá possui uma área de 303.907 km² e 61.310 habitantes (IBGE, 2012).
Encontra-se situado a 13 metros de altitude e, de acordo com a classificação de Köppen,
apresenta clima caracterizado como mesotérmico úmido com temperatura média de 20ºC
(Governo do Estado de Santa Catarina, 2012).
A economia do município gira em torno da agriculta, comércio e algumas indústrias.
Na agricultura há destaque para a produção de arroz, mandioca, feijão, fumo e milho. No setor
industrial podemos citar as indústrias metalúrgica, cerâmica, moveleira e de confecções
(Cidades, 2012).
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Figura 4. Localização geográfica do município de Araranguá, Santa Catarina. (Fonte: Google Mapas,
2012).
Figura 5. Limites geográficos do município de Araranguá, Santa Catarina. Fonte: Santa Catarina
Turismo, 2012.
3.3. Aspectos Geológicos
Araranguá possui um embasamento cristalino constituído pelas rochas mais antigas
do Estado de Santa Catarina, cujas idades vão desde 2,5 bilhões de anos (Éon
Proterozoico) até 570 milhões de anos (Éon Proterozoico, Era Pré Cambriana) (Conceição,
2012).
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A área urbana da cidade de Araranguá é formada por depósitos sedimentares
quaternários com ocorrência de rochas das formações Rio do Rasto que são constituídos
por siltos, argilitos e arenitos finos de cores que graduam do verde ao vermelho, com
representação local de bancos calcíferos com abundantes fragmentos de conchas; e da
Formação Teresina a qual é composta por depósitos marinhos, sendo constituídos por
rochas sedimentares de granulometria muito fina. A Planície Costeira é formada por
sedimentos marinhos formados por depósitos marinhos parcialmente recobertos por dunas
litorâneas. Há também a ocorrência de sedimentos lagunares (matéria orgânica), típicos do
sistema deposicional laguna-barreira (HORN FILHO et al., 1988 apud HORN FILHO,
2003). Os sedimentos continentais são depósitos gravitacionais de encosta (eluviões e
coluviões) e adquirem características graduais de sistemas de leques aluviais para canais
anastomosados. Ocorre também depósitos de areias, argilas e cascalhos de sedimentos
inconsolidados, que são porosos e permeáveis com espessuras variáveis que constituem os
sedimentos aluviais. Esta estrutura forma vales fluviais com planícies de inundação
(GOMES, 1987). Esses depósitos são formados por areias, argilas e cascalhos de
sedimentos inconsolidados, porosos e permeáveis com espessuras variáveis. Devido a estas
características estas áreas sofrem a ação direta das águas e ventos resultando em erosão. A
alta porosidade e grau de permeabilidade indicam que essas áreas sedimentares possuem
lençol freático muitas vezes próximo à superfície, proporcionando uma facilidade ao
aproveitamento com poços rasos, mas também o perigo de contaminação por dejetos. A
ocupação humana é implicada nestas áreas, já que nas áreas baixas há constantes
inundações e nas áreas de paleodunas há intensa erosão quando desprovidas de vegetação.
Além de que muitas destas áreas são protegidas da ocupação por questões legais de
legislação federal específica.
3.3.1. Formação Rio do Rasto e Formação Teresina
A formação do Rio do Rasto está localizada na região Sul do Estado de Santa Catarina
(Figura 6). Nesta região ocorre um dos melhores conjuntos de afloramentos da coluna
estratificada da borda sudeste da Bacia do Paraná, representando uma das colunas clássicas da
estratigrafia do Gondwana mundial (WHITE, 1988).
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Figura 6. Representação geral da Serra do Rio do Rasto.
Na formação Rio do Rasto há uma transição entre a deposição de um ambiente
marinho raso e depósitos de planície costeira, passando à implantação de uma sedimentação
flúvio-deltaica, ou seja, vários canais ou braços do leito do rio. A formação Rio do Rasto é
dividida em dois membros: Serrinha (Inferior) e Morro Pelado (Superior).
O Membro Serrinha é constituído por arenitos finos, bem selecionados, intercalados
com siltos e argilitos da tonalidade que gradua do cinza ao vermelho, podendo vir a conter
calcário margoso. Ocorre laminação cruzada entre os arenitos e siltos, de forma ondulada. As
camadas silto-argilosas mostram laminação plano-paralela (decantação). Os siltos e argilitos
demostram desagregação esferoidal bastante desenvolvida e sendo um referencial para a
identificação desse membro (GORDON JR, 1947).
As litologias da sequência Serrinha são resultados de avanços graduais de desgastes
clásticos de planícies por marés, o que caracteriza um ambiente de transição entre os
depósitos de águas rasas da Formação Teresina e os continentais do Membro Morro Pelado
(SCHNEIDER et al, 1974). Dessa forma, caracteriza-se um ambiente marinho transicional e a
graduação das cores mais avermelhadas da base para o topo do membro Serrinha sugerem
condições mais oxidantes (ABOARRAGE & LOPES; 1986).
O Membro superior Morro Pelado é um depósito em ambiente flúvio-deltáico
(ABORRAGE & LOPES, 1986). É constituído por lentes de arenitos finos, avermelhados,
intercalados em siltos e argilitos (os quais podem apresentar diferentes cores, como tons de
roxo, marrom, verde, amarelos dentre outros). Verifica-se sedimentos estratificados, plano
paralelo de forma cruzada acanalada, laminação plano paralela, cruzada, e de corte e
preenchimento (Figuras 7 e 8). Suas camadas possuem geometria sigmoidal ou tabular.
Apesar de possuir sedimentos de lagos e planícies aluviais, recobertos por dunas de areia de
clima árido este ambiente é estritamente continental (SCHNEIDER et al, 1974).
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O conteúdo fossilífero desta formação é constituído por pelecípodes (moluscos
bivalves), conchostráceos (pequenos crustáceos de carapaça bivalve), palinomorfos (grãos de
pólen vegetal ou esporos fúngicos), restos de plantas e por anfíbios labiritodontes (Classe
Amphibia, Sub-classe Labyrinthodontia). Além de folhas e caules das espécies
Dichoplhyllites sp., Paracalamites sp., Schizoneura sp., Glossopteris sp., Pecopteris sp.,
Neoggerathiopsis sp. e Dizeugtheca sp. que posssibilitam posicionar esta formação entre o
Permiano Superior e o Triássico Inferior (Castro et al; 1994).
Figura 7. Representação de arenitos avermelhados, com estratificação plano-paralela e cruzada
acanalada. Estrada Pântano Grande – Rio Pardo, RS. Foto de Ricardo da Cunha Lopes.
Figura 8. Representação de siltos e argilitos avermelhados, com estratificação plano-paralela. Sapucaia
do Sul, RS. Foto: Geraldo de Barros Pimentel.
A formação Teresina se localiza sob a formação do Rio do Rasto, tendo a Formação
Serra Alta subjacente. É paleontologicamente constituída por restos de plantas,
lamelibrânquios (bivalves) e palinomorfos (compostos orgânicos de dimensões diminutas).
Segundo a Carta Estratigráfica da Bacia do Paraná (PETROBRÁS, 1994 apud Plano de
Recuperação de Áreas Degradadas, 2008), esta Formação data do Permiano Superior.
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Quanto à descrição litológica, a Formação Teresina é constituída por argilitos, folhetos
e siltos de cor cinza ao verde que se intercalam com arenitos muito finos acizentados. Possui
principalmente sedimentos do tipo “flaser” que é uma estrutura lenticular alongada de argila
formada pela deposição de lama em calhas das marcas de onda ou de corrente, e que
posteriormente são recobertas por novas deposições de areia cobrindo essas lentes e
originando laminações cruzadas, plano paralela, ondulada e convoluta, estratificação
“hummocky”, marcas onduladas e gretas de contração. De acordo com as características dos
sedimentos encontrados nesta formação é possível admitir que houve uma deposição em
ambiente marinho de águas rasas e agitadas, com muitas ondas e ação do tipo infra-maré a
supra-maré (White, 1988). Eventualmente também há intercalações de camadas de calcário
impuro, às vezes oolíticos e silicificados (COSTA, 2010). Este calcário oolitico é
caracterizado por grãos arredondados formados por precipitação química de carbonato de
cálcio inorgânico em águas agitas e onde há pouca deposição de material detrítico.
3.4. Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá
A rede hidrográfica da Região do Extremo Sul Catarinense pertence ao sistema da
Vertente do Atlântico e insere-se em duas bacias hidrográficas, a do Rio Araranguá e a do Rio
Mampituba (Figura 9). Os rios que drenam estas duas bacias são de um modo geral de
pequena extensão, escoando de Oeste para Leste da região, tendo suas nascentes na serra geral
ou encosta (ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO EXTREMO SUL CATARINENSE,
2012).
O Rio Araranguá encontra-se localizado no extremo-sudeste do Estado de Santa
Catarina entre os paralelos 28° 54’ e 28° 55’ S, no Município de Araranguá e entre os
meridianos 49° 18’ e 55° W. É o formador principal da bacia hidrográfica do Rio Araranguá e
forma com as bacias dos rios Urussanga e Mampituba, a Região Hidrográfica Estadual do
Extremo Sul de Santa Catarina (SANTOS, 2006).
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Figura 9. Bacias Hidrográficas dos Rios Araranguá e Mampituba (Fonte: ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO EXTREMO SUL CATARINENSE, 2012).
A nascente do Rio Araranguá está localizada no Parque Nacional da Serra Geral no
estado do Rio Grande do Sul, onde possui o nome de Rio da Pedra. O rio nasce nos campos de
cima da serra e se direciona ao Oceano Atlântico, com um total de 110km de extensão. Passa
a ser chamado de Araranguá ao entrar na região do município de mesmo nome e receber as
águas do Rio Mãe Luzia. Sua foz está localizada próxima ao Morro das Pedras (Araranguá –
SC).
Cerca de 15 cursos d’água principais compõem o seu sistema hídrico, dentre os quais se
destacam os Rios Mãe Luzia, Amola Faca, Itoupava, Jundiá, dos Porcos, Turvo, das Pedras,
Araranguá e São Bento (Figura 10).
Sua bacia hidrográfica abrange 16 municípios, dentre os quais Araranguá, Criciúma e
Nova Veneza (Figura 11). Os principais rios desta bacia, além do Rio Araranguá, são: o Rio
Manoel Alvez, Rio Amola Faca, Rio Itoupava, Rio da Pedra (ASSOCIAÇÃO DOS
MUNICÍPIOS DO EXTREMO SUL CATARINENSE, 2012).
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Figura 10. Rede Hidrográfica da Bacia do Rio Araranguá.
Figura 11. Localização da área correspondente à bacia hidrográfica do Rio Araranguá.
Atualmente é um dos pontos considerados críticos no estado com relação à
disponibilidade hídrica e à qualidade das águas, sendo que nessa bacia 2/3 dos seus rios 15
encontram-se poluídos (KREBS & ALEXANDRE, 2000). Segundo Krebs & Alexandre
(2000), as principais fontes de poluição é a provinda do meio urbano (em razão da falta de
rede de canalização e tratamento de esgoto nos municípios), também na região onde recebe as
águas do Rio Mãe Luzia (que é contaminado pelos defensivos agrícolas das plantações de
arroz que irriga) e pelos resíduos das atividades mineradoras que atingem o Vale do
Araranguá (como o beneficiamento de carvão).
O comprometimento ambiental da sub-bacia do Rio Mãe Luzia é ainda mais agravado
pelo seu histórico de ter concentrado cerca de 70% das atividades produtoras de carvão do
Brasil durante os anos de 1970 e 1980. Acrescentando-se a isso, a situação de poluição deste
rio é agravada ao receber as águas do Rio Sangão, que é por sua vez atingido por poluentes
das atividades de beneficiamento de carvão, poluição industrial, resíduos urbanos e esgotos
domésticos provindos de Criciúma (KREBS & ALEXANDRE, 2000).
De acordo com estudos da Mitsubishi Material Corporation (1997), somente as áreas de
mineração a céu aberto, minas de subsolo e áreas de deposição de rejeitos piritosos, são
responsáveis por 3668ha de áreas degradadas. Neste contexto, o uso racional e a preservação
dos recursos hídricos adquirem uma importância vital, uma vez que são imprescindíveis não
só para os seres humanos, mas como para toda a biota local.
O Rio Itoupava que participa da formação do Rio Araranguá (Figura 10), é fortemente
atingido por poluentes provenientes do plantio de arroz. Krebs & Alexandre (2000) alertam
para o grande volume de sólidos transportados pelos rios – que é aumentada durante a época
do preparo das quadras para o plantio de arroz –, pois isto pode incrementar a perda de solos
agricultáveis e comprometer o rio por assoreamento, aumento da turbidez e arraste de
defensivos agrícolas incorporados ao solo, prejudicando a qualidade da água.
Apesar de o rio Araranguá sofrer salinização em sua foz, é praticada a pesca artesanal,
onde os pescadores trabalham com o auxílio dos botos (Tursiops sp., Ordem Cetacea, Família
Delphinidae) para encurralar os peixes em suas redes. Este tipo de atividade é benéfica para as
duas espécies, por otimizar as chances de captura de peixes para ambos os animais e ser mais
seletiva quanto ao tamanho dos peixes, sendo um mutualismo (DAURA-JORGE et al., 2012).
Entretanto, devido ao pequeno tamanho populacional da colônia de botos nos arredores de
Araranguá, este cenário está muito à mercê das intempéries, apresentando riscos
principalmente para os botos, que sofrerão por falta de habitat e recursos alimentares.
2.5. Aspectos Biológicos
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O município em questão também é demarcado pela presença dos seguintes corpos
hídricos: Rio Araranguá (ao Norte), Rio Itaipava (a Oeste), Arroio do Silva (a Leste) e Lagoa
do Caverá (ao Sul). Nesta área predomina a Cobertura Sedimentar do Quaternário (a qual é
constituída por depósitos inconsolidados de areias, de siltos, argilas ou aglomerados, ao longo
da planície costeira e nos vales principais dos cursos d’água), existem naturalmente extensões
de dunas e praias, as quais abrigam uma biota característica.
Os depósitos presentes nesta região podem ser marinhos, aluvionares, lagunares,
eólicos e coluvionares. Estes depósitos oferecem distintos recursos para os seres vivos, e
entende-se por “recurso” qualquer item que propicie a sobrevivência destes seres, como
energia térmica, energia luminosa, fonte de energia para alimentação, substrato, dentre outros.
Em Araranguá são bem caracterizadas as dunas da região Morro dos Conventos. Este
ambiente de depósito praial, é ecologicamente denominado “ambiente de restinga”.
A Resolução do Conama n. 261/1999 (BRASIL, 1999), que estabelece e aprova os
parâmetros básicos para análise dos estágios sucessionais de vegetação de restinga para o
estado de Santa Catarina, define restinga como “um conjunto de ecossistemas que
compreende comunidades vegetais florística e fisionomicamente distintas, situadas em
terrenos predominantemente arenosos, de origens marinha, fluvial, lagunar, eólica ou
combinações destas, de idade quaternária, em geral com solos pouco desenvolvidos. Estas
comunidades vegetais formam um complexo vegetacional edáfico e pioneiro, que depende
mais da natureza do solo que do clima, encontrando-se em praias, cordões arenosos, dunas e
depressões associadas, planícies e terraços.”
Segundo Falkenberg (1999), o termo restinga vem sendo cada vez mais utilizado no
sentido de ecossistema, considerando não só as comunidades de plantas, mas também as de
animais e o ambiente físico em que vivem.
A ação de fatores como soterramento pela areia, freqüência do vento, falta de água (ou
em alguns locais o alagamento), alta salinidade, pobreza de nutrientes no solo, excesso de
calor e luminosidade tornam os ecossistemas de restinga frágeis (BRESOLIN, 1979;
WAECHTER, 1985; HESP, 1991 apud KLEIN et al, 2007). Em função dessa fragilidade, a
vegetação da restinga, exerce papel fundamental para a estabilização dos sedimentos e
manutenção da drenagem natural, bem como para a preservação da fauna residente e
migratória associada que encontra neste ambiente disponibilidade de alimentos e locais
seguros para nidificar e proteger-se de predadores (BRASIL, 1999).
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Na restinga existe a formação de lagoas costeiras, as quais no litoral brasileiro são muito
abundantes e variam desde pequenas depressões, preenchidas com água da chuva e/ou do mar,
de caráter temporário, até corpos d’água de grandes extensões como a lagoa dos Patos no Rio
Grande do Sul (ESTEVES, 1998 apud POMPÊO & MOSCHINI, 2001). Segundo Esteves
(1998 apud POMPÊO & MOSCHINI, 2001), as lagoas costeiras são de grande importância,
constituindo-se regiões de interface entre zonas costeiras, águas interiores e águas costeiras
marinhas.
Mesmo apresentando tal importância, os ecossistemas de restinga têm sofrido crescentes
impactos nos últimos 50 anos, principalmente devido à especulação imobiliária, invasão de
espécies exóticas e expansão das áreas de agropecuária (SCHERER et al., 2005 apud KLEIN,
et al, 2007).
No que se refere à flora vegetal de dunas costeiras, há tanto plantas perenes, quanto
anuais de inverno e de verão (CORDAZZO & SEELIGER, 1987). Nas zonas costeiras do sul
do Brasil, de um modo geral, as espécies dominantes são Blutaparon portulacoides, Panicum
racemosum, Spartina ciliata, Hydrocotyle bonariensis, Andropogon arenarius e
Androtrichum trigynum. A distribuição e abundancia destas espécies está diretamente ligada à
estabilidade do substrato e a distancia do lençol freático (CORDAZZO, 1985; CORDAZZO
& SEELIGER, 1993). A espécie Blutaparon portulacoides em especial, uma planta
rizomatosa, é também controlada por processos de deposição e erosão de areia. Hidrocotyle
bonariensis explora oportunisticamente as áreas sazonalmente alagadas (COSTA, 1987;
COSTA & SEELIGER, 1988). Andropogon arenaius é uma planta perene, endêmica de dunas
estáveis do sul do Brasil e Uruguai (CORDAZZO, 1985).
Quanto à fauna, os insetos são o grupo dominante das dunas costeiras. Os coleópteros
(besouros), com mais de 40 espécies são os mais diversos, com destaque para escarabídeos
cavadores de areia. Há também espécies associadas com a porção aérea das plantas, como
antacídeos (Lagrioida nortoni), abundantes em folhas de algumas espécies de gramíneas, e o
caruncho Listroderes uruguayensis, que vive e se alimenta entre plantas do gênero
Hydrocotile. Também há registro de lagartas de mariposa (Ecpantheria indecisa) e larvas de
mosca (família Agromyzidae). Algumas moscas e vespas são bem adaptadas ao ambiente de
dunas, graças à lhabilidade de se enterrar na areia, e de localizar e capturar insetos enterrados
durante o vôo. (SEELIGER et al., 1998).
Podem ocorer também espécies de vertebrados, como o Bufo arenarum e a rã da areia
Pleurodema darwini, que costumam predar insetos e aranhas durante a noite. Serpentes mais
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comuns pertencem à família Colubridae. Associados à vegetação pode haver também
roedores e corujas (SEELIGER et al., 1998).
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