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TICIANA M. CARVALHO STUDART 2006

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TICIANA M CARVALHO STUDART

2006

CCaappiacuteiacutettuulloo

11 HHiiddrroollooggiiaa AApplliiccaaddaa

INT

Natildeo eacute

cobert

lugar

terres

drsquoaacutegua

quant

Apesa

mesm

princip

contin

RODUCcedilAtildeO Agrave HIDROLOGIA

a toa que o Planeta Terra eacute chamado de ldquoo Planeta Azulrdquo - dois terccedilos de sua superfiacutecie satildeo

os pela aacutegua de mares e oceanos (Figura 11) Na realidade existe aacutegua em praticamente todo

sobre a superfiacutecie terrestre na forma de rios lagos mares e oceanos sob a superfiacutecie

tre na forma de aacutegua subterracircnea e umidade do solo e na atmosfera na forma de vapor

A aacutegua em certos locais pode ocorrer de forma quase ilimitada como nos oceanos ou em

idades praticamente nulas como nos desertos

Figura 11 ndash Planeta Terra

r da maior parte da aacutegua do Planeta em qualquer momento estar contida nos oceanos a

a estaacute em contiacutenuo movimento em um ciclo cuja fonte principal de energia eacute o sol e cuja

al forccedila atuante eacute a gravidade A esta transferecircncia ininterrupta da aacutegua do oceano para o

ente e do continente para o oceano (Figura 12) daacute-se o nome de Ciclo Hidroloacutegico

Ticiana Studart e Nilson Campos

PAGE

3

image1jpg image2jpg

image3jpg

image4jpg image5png image6png image7jpg INTRODUCcedilAtildeO Agrave HIDROLOGIA

Natildeo eacute a toa que o Planeta Terra eacute chamado de ldquoo Planeta Azulrdquo - dois terccedilos de sua superfiacutecie satildeo cobertos pela aacutegua de mares e oceanos (Figura 11) Na realidade existe aacutegua em praticamente todo lugar sobre a superfiacutecie terrestre na forma de rios lagos mares e oceanos sob a superfiacutecie terrestre na forma de aacutegua subterracircnea e umidade do solo e na atmosfera na forma de vapor drsquoaacutegua A aacutegua em certos locais pode ocorrer de forma quase ilimitada como nos oceanos ou em quantidades praticamente nulas como nos desertos

Figura 11 ndash Planeta Terra

Apesar da maior parte da aacutegua do Planeta em qualquer momento estar contida nos oceanos a mesma estaacute em contiacutenuo movimento em um ciclo cuja fonte principal de energia eacute o sol e cuja principal forccedila atuante eacute a gravidade A esta transferecircncia ininterrupta da aacutegua do oceano para o continente e do continente para o oceano (Figura 12) daacute-se o nome de Ciclo Hidroloacutegico

OCEANOS CONTINENTE

CICLO HIDROLOacuteGICO

Figura 12 ndash Transferecircncia da aacutegua oceano x continente

11 Etimologia e definiccedilatildeo de Hidrologia

A palavra HIDROLOGIA eacute originada das palavras gregas HYDOR que significa ldquoaacuteguardquo e LOGOS que significa ldquociecircnciardquo Hidrologia eacute pois a ciecircncia que estuda a aacutegua

Definiccedilatildeo 1 Hidrologia eacute a ciecircncia que trata da aacutegua na Terra sua ocorrecircncia circulaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo suas propriedades fiacutesicas e quiacutemicas e sua reaccedilatildeo com o meio ambiente incluindo sua relaccedilatildeo com as formas vivas relacionada com toda a aacutegua da Terra sua ocorrecircncia distribuiccedilatildeo e circulaccedilatildeo suas propriedades fiacutesicas e quiacutemicas seu efeito sobre o meio ambiente e sobre todas as formas da vida (Definiccedilatildeo proposta pelo US Federal Council for Sciences and Technology (Chow 1959))

Por ser muito ampla eacute difiacutecil pensar numa ciecircncia que natildeo esteja incluiacuteda nesta definiccedilatildeo A Botacircnica ao estudar o transporte de aacutegua atraveacutes dos vegetais ou a Medicina ao estudar a aacutegua no corpo humano fariam parte da Hidrologia Na praacutetica a definiccedilatildeo de Hidrologia eacute

Definiccedilatildeo 2 A Hidrologia estuda as fases do ciclo hidroloacutegico descrevendo seu passado tentando prever seu futuro

2 CICLO HIDROLOacuteGICO

A aacutegua diferencia-se dos demais recursos naturais pela notaacutevel propriedade de renovar-se continuamente graccedilas ao ciclo hidroloacutegico Embora o movimento ciacuteclico da aacutegua natildeo tenha princiacutepio nem fim costuma-se iniciar seu estudo descritivo pela evaporaccedilatildeo da aacutegua dos oceanos seguida de sua precipitaccedilatildeo sobre a superfiacutecie que coletada pelos cursos drsquo aacutegua retorna ao local de partida

A descriccedilatildeo acima simplifica sobremaneira o processo que realmente ocorre (Figura 13) uma vez que natildeo estatildeo computadas as eventuais interrupccedilotildees que podem ocorrer em vaacuterios estaacutegios (Ex precipitaccedilatildeo sobre o oceano) e a iacutentima dependecircncia das intensidade e frequumlecircncia do ciclo hidroloacutegico com a geografia e o clima local

Figura 13 ndash Ciclo Hidroloacutegico (Fonte Dnaee)

Alguns toacutepicos podem ser destacados

1 O sol constitui-se na fonte de energia para a realizaccedilatildeo do ciclo O calor por ele liberado atua sobre a superfiacutecie dos oceanos rios e lagos estimulando a conversatildeo da aacutegua do estado liacutequido para gasoso

2 A ascensatildeo do vapor drsquo aacutegua conduz agrave formaccedilatildeo de nuvens que podem se deslocar sob a accedilatildeo do vento para regiotildees continentais

3 Sob condiccedilotildees favoraacuteveis a aacutegua condensada nas nuvens precipita (sob forma de neve granizo ou chuva)(1) podendo ser dispersada de vaacuterias formas

middot Retenccedilatildeo temporaacuteria ao solo proacuteximo de onde caiu

middot Escoamento sobre a superfiacutecie do solo ou atraveacutes do solo para os rios

middot Penetraccedilatildeo no solo profundo

4 Atingindo os veios drsquo aacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano completando o ciclo

5 As depressotildees superficiais porventura existentes reteacutem a aacutegua precipitada temporariamente Essa aacutegua poderaacute retornar para compor fases seguintes do ciclo pela evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo da plantas

6 Os escoamentos superficial e subterracircneo decorrem da accedilatildeo da gravidade podendo parte desta aacutegua ser evaporada ou infiltrada antes de atingir o curso drsquo aacutegua

7 Atingindo os veios drsquoaacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano completando o ciclo

8 A evaporaccedilatildeo acompanha o ciclo hidroloacutegico em quase todas as suas fases seja durante a precipitaccedilatildeo seja durante o escoamento superficial

Dotado de certa aleatoriedade temporal e espacial o ciclo hidroloacutegico configura processos bem mais complexos que os acima descritos Uma vez que as etapas precedentes agrave precipitaccedilatildeo estatildeo dentro do escopo da meteorologia compete ao hidroacutelogo conhecer principalmente as fases do ciclo que se processam sobre a superfiacutecie terrestre quais sejam precipitaccedilatildeo evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo escoamento superficial e escoamento subterracircneo

3 UM POUCO DA HISTOacuteRIA DA HIDROLOGIA

Os mais antigos trabalhos de drenagem e irrigaccedilatildeo em larga escala satildeo atribuiacutedos ao Faraoacute Meneacutes fundador da primeira dinastia egiacutepcia que barrou o rio Nilo proacuteximo a Mecircnphis com uma barragem de 15m e extensatildeo de aproximadamente 500 metros para alimentar o canal de irrigaccedilatildeo

Tambeacutem no Egito encontram-se os primeiros registros sistemaacuteticos de niacuteveis de enchentes Estes registros datam de 3500 aC e indicavam aos agricultores a eacutepoca oportuna de romper os diques para inundar e fertilizar as terras agricultaacuteveis Nota-se que aos egiacutepcios pouco importava o estudo da Hidrologia como ciecircncia e sim A sua utilizaccedilatildeo

Muitos conceitos errocircneos e falhas de compreensatildeo atravessaram o desenvolvimento da engenharia no seu sentido atual Os gregos foram os primeiros filoacutesofos que estudaram seriamente a Hidrologia com Aristoacuteteles sugerindo que os rios eram alimentados pelas chuvas Sua maior dificuldade eram explicar a origem da aacutegua subterracircnea Somente na eacutepoca de Leonardo da Vinci (por volta de 1500 dC)a ideacuteia da alimentaccedilatildeo dos rios pela precipitaccedilatildeo comeccedilou a ser aceita No entanto foi apenas no ano de 1694 que Perrault atraveacutes de medidas pluviomeacutetricas na bacia do rio Sena demonstrou quantitativamente que o volume precipitado ao longo do ano era suficiente para manter o volume escoado

O astrocircnomo inglecircs Halley em 1693 provou que a evaporaccedilatildeo da aacutegua do mar era suficiente para responder por todas as nascentes e fluxos drsquoaacutegua Mariotte 1em 1686 mediu a velocidade do rio Sena Estes primeiros conhecimentos de Hidrologia permitiram inuacutemros avanccedilos no Seacuteculo XVIII incluindo o teorema de Bernoulli o Tubo Pitot e a Foacutermula de Chegravezy que formam a base da Hidraacuteulica e da Mecacircnica dos Fluidos

Durante o Seacuteculo XIX foram feitos significantes avanccedilos na teoria da aacutegua subterracircnea incluindo a Lei de Darcy No que se refere agrave Hidrologia de aacuteguas superficiais muitas foacutermulas e instrumentos de mediccedilatildeo foram criados

Chow (1954) chamou o periacuteodo compreendido entre 1900 e 1930 ficou conhecido como o Periacuteodo do Empirismo O periacuteodo de 1930 a 1950 seria o Periacuteodo da Racionalizaccedilatildeo Datam desta eacutepoca o Hidrograma Unitaacuterio de Sherman (1932) e a Teoria da Infiltraccedilatildeo de Horton (1933) Entre 1940 a 1950 foram feitos significantes avanccedilos no entendimento do processo de evaporaccedilatildeo Em 1958 Gumbel llanccedila as bases da moderna hidrologia estocaacutestica A partir da deacutecada de 70 a Hidrologia passa a contar com o avanccedilos computacionais o que levaram ao desenvolvimento de muitos modelos de simulaccedilatildeo

4 DISPONIBILIDADES HIacuteDRICAS MUNDIAIS

Segundo Lvovich (apud Raudikivi 1979) a ordem de grandeza e a distribuiccedilatildeo das disponibilidades hiacutedricas no mundo satildeo as mostradas na Tabela 11

Tabela 11 ndash Distribuiccedilatildeo das disponibilidades hiacutedricas no mundo

Fonte Raudikivi (1979)

Deste total cerca de 94 eacute de aacutegua salgada e apenas 6 de aacutegua doce Desconsiderando a quantidade de aacutegua doce sob forma de geleiras aacuteguas subterracircneas e umidade atmosfeacuterica iacutenfimos 00161 do total da aacutegua do Planeta estatildeo disponiacuteveis em rios e lagos (Figura 14) os quais natildeo se encontram equumlitativamente distribuiacutedos sobre todo o Planeta

Figura 14 ndash Aacutegua doce disponiacutevel em lagos e rios

Para se dar uma pequena ideacuteia da maacute distribuiccedilatildeo espacial da aacutegua cita-se o exemplo do Brasil que possui cerca de 12 das reservas hiacutedricas superficiais do mundo mas com aproximadamente 65 destes recursos concentrados na Amazocircnia

Questotildees a se pensar1 Por que se preocupar com as vaacuterias fases do ciclo hidroloacutegico2 Se o estudo da Hidrologia natildeo era importante haacute 30-40 anos atraacutes por que o deveria ser hoje 3 Se essa quantidade de aacutegua doce nunca foi motivo de grandes preocupaccedilotildees por que o seria agora

5 A aacutegua e o desenvolvimento

A aacutegua sempre desempenhou um papel fundamental na histoacuteria da humanidade O surgimentodas cidades sempre se deu ao longo os rios Entretanto natildeo se tinha a percepccedilatildeo da importacircncia da aacutegua como hoje uma vez que sua qualidade e quantidade eram adequadas agraves necessidades da eacutepoca ndash abastecimento diluiccedilatildeo de dejetos pesca geraccedilatildeo de energia entre outros Como as fontes hiacutedricas natildeo eram desenvolvidas no limite de sua possibilidades havia pouco interesse em se obter dados e conhecimento a respeito de suas capacidades maacuteximas e assim a Hidrologia como ciecircncia pouco se desenvolveu

Hoje o cenaacuterio eacute outro Segundo a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) o consumo mundial de aacutegua doce dobrou nos uacuteltimos 50 anos e corresponde atualmente agrave metade de todos os recursos hiacutedricos acessiacuteveis Explorar tais recursos foi o motor do desenvolvimento econocircmico de muitos paiacuteses sobretudo na agricultura abastecimento humano e animal geraccedilatildeo de energia induacutestria e transporte Poreacutem a competiccedilatildeo por aacutegua entre tais setores vem degradando as fontes naturais das quais o mundo depende O ciclo natural da aacutegua tem sido interrompido ou alterado em regiotildees muito artificializadas como as megacidades

Eacute consenso geral que a gestatildeo das aacuteguas eacute uma necessidade E assim a Hidrologia ressurge hoje como ferramenta indispensaacutevel para tal fim uma vez eacute a ciecircncia que trata do entendimento dos processos naturais que datildeo base aos projetos de suprimento de aacutegua Soacute ela pode avaliar como e quanto o ciclo hidroloacutegico pode ser modificado pelas atividades humanas

No passado jaacute existiam estes sinais de desconhecimento da Hidrologia mas os mesmos soacute afetavam pequenas parcelas da populaccedilatildeo e tinham pouca divulgaccedilatildeo Isto tem mudado significativamente nos uacuteltimos 30 anos Hoje jaacute se tem o entendimento que a prosperidade e a sobrevivecircncia da humanidade eacute funccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua doce e potaacutevel e que a cada ano nascem mais alguns milhotildees de consumidores e natildeo eacute criada sequer uma gota drsquoaacutegua a mais no Planeta

Os muacuteltiplos usos e usuaacuterios disputando um mesmo litro de aacutegua e a perspectiva de demandas ainda maiores no futuro indicam que mais e mais profissionais ndash e natildeo somente o engenheiro ndash necessitam ter conhecimentos de Hidrologia Somente assim os tomadores de decisatildeo poderatildeo avaliar as vantagens e desvantagens de cada alteraccedilatildeo proposta no ciclo hidroloacutegico

Exemplos da falta de conhecimentos de Hidrologia na sociedade moderna1 Construccedilatildeo nas planiacutecies aluviais de rios2 Reservatoacuterios superdimensionados 3 Problemas de drenagem urbana4 Construccedilatildeo e reservatoacuterios pouco profundos em regiotildees com altas taxas de evaporaccedilatildeo5 Perfuraccedilatildeo de poccedilos secos em regiotildees cristalinas 6 Problemas de salinizaccedilatildeo de solos em projetos de irrigaccedilatildeo em regiotildees aacuteridas e semi-aacuteridas

Exemplo concreto 1 o Accedilude Cedro ndash Ce O Accedilude Cedro foi construiacutedo em 1906 no municiacutepio de Quixadaacute Cearaacute Exemplo claacutessico de falta de conhecimento hidroloacutegico o reservatoacuterio foi superdimensionado construiacutedo com capacidade de acumulaccedilatildeo equivalente a seis vezes seu volume afluente anual Tendo sangrado pouquiacutessimas vezes desde sua construccedilatildeo a Figura 15 mostra uma das ocasiotildees em que esvaziou totalmente em 2001 Figura 15 - Accedilude Cedro ndash Ce (vazio em novembro de 2001)

Exemplo concreto 2 Inundaccedilatildeo em Fortaleza Ce

A Figura 16 mostra um problema de drenagem urbana caracteriacutesticos das grandes cidades no caso Fortaleza Ce

Figura 16--Enchente em Fortaleza Ce em 1997

6 APLICACcedilOtildeES DA HIDROLOGIA Agrave ENGENHARIA

A Hidrologia natildeo eacute uma ciecircncia pura uma vez que o objeto de estudo eacute usualmente dirigido para aplicaccedilotildees praacuteticas sendo assim o termo ldquoHidrologia Aplicadardquo eacute frequumlentemente utilizado Eis algumas das aplicaccedilotildees da hidrologia

middot Escolha de fontes de abastecimento de aacutegua

middot Subterracircnea - locaccedilatildeo do poccedilo e capacidade de bombeamento

middot Superficial ndash locaccedilatildeo da barragem estimativa da vazatildeo afluente e da vazatildeo a ser regularizada dimensionamento do reservatoacuterio e do sangradouro

middot Drenagem urbana ndash dimensionamento de bueiros

middot Drenagem de rodovias ndash dimensionamento de pontes e pontilhotildees

middot Irrigaccedilatildeo ndash fonte de abastecimento estimativa da evapotranspiraccedilatildeo da cultura

middot Controle de enchentes ndash dragagem do leito do rio construccedilatildeo de reservatoacuterios de controle de cheias

Exemplo concreto 1 cheias e secas no rio Capibaribe

A Bacia do rio Capibaribe Pernambuco tem sua histoacuteria intimamente ligada a episoacutedios de cheias catastroacuteficas notadamente na Regiatildeo Metropolitana de Recife Entretanto nos uacuteltimos anos a cidade vem sendo atingida por uma grave crise no abastecimento drsquoaacutegua sendo obrigatoacuterio o uso extensivo de carros-pipa Os quatro maiores accediludes da bacia ndash Jucazinho Carpina Goitaacute e Tapacuraacute representam cerca de 91 do total acumulado nos accediludes mais importantes da bacia e satildeo utilizados tanto para controle de cheias como para o abastecimento A operaccedilatildeo de reservatoacuterios com muacuteltiplas finalidades eacute feita tradicionalmente com a divisatildeo do volume total armazenaacutevel em zonas para o atendimento de seus diferentes objetivos Na praacutetica a divisatildeo consiste em se alocar volumes de reserva para as respectivas finalidades Objetivos diametralmente conflitantes como controle de cheias ndash que requer que a parte do volume destinada a este fim permaneccedila seca para que a cheia possa assim ser contida ndash e conservaccedilatildeo ndash que precisa que a aacutegua seja efetivamente armazenada para usos futuros em irrigaccedilatildeo e abastecimento municipal e industrial ndash natildeo satildeo faacuteceis de conciliar

As figuras 17 e 18 mostram respectivamente um esquema da bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe com seus barramentos construiacutedos ao longo de seu leito e Recife em um episoacutedio de inundaccedilatildeo

Figura 17 -- Bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe (Pe) e seus barramentos

Figura 16--Enchente em Recife Pe

7 RELACcedilAtildeO DA HIDROLOGIA COM OUTRAS CIEcircNCIAS

Devido a natureza complexa do ciclo hidroloacutegico e suas relaccedilotildees com os padrotildees climaacuteticos tipos de solos topografia e geologia as fronteiras entre a hidrologia e as outras ciecircncias da terra tais como meteorologia geologia ecologia e oceanografia natildeo satildeo muito distintas Na realidade tais ciecircncias tambeacutem podem ser consideradas ramos da hidrologia

middot Meteorologia e Hidrometeorologia ndash estudo da aacutegua atmosfeacuterica

middot Oceanografia ndash estudo dos oceanos

middot Hidrografia ndash estudo das aacuteguas superficiais

middot Potamologia ndash estudo dos rios

middot Limnologia ndash estudo dos lagos e reservatoacuterios

middot Hidrogeologia ndash estudo das aacuteguas subterracircneas

Sendo assim poucos problemas hidroloacutegicos podem ficar limitados a apenas um desses ramos Frequumlentemente devido a grande inter-relaccedilotildees do fenocircmeno a soluccedilatildeo do problema soacute pode ser dada atraveacutes de uma discussatildeo interdisciplinar com profissionais de um ou mais desses ramos Muitas outras ciecircncias podem ainda ser utilizadas na Hidrologia tais como fiacutesica quiacutemica geologia geografia mecacircnica dos fluidos estatiacutestica economia computaccedilatildeo direito etc

Capiacutetulo13

1 13

13

Hidrologia Aplicada13

13

13

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13

(1) Quando a precipitaccedilatildeo se daacute sob forma de neve ou granizo a retenccedilatildeo no solo eacute mais demorada ateacute que ali se processe a fusatildeo13

13

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Hidrologia Aplicada13

13

13

Fonte

Superfiacutecie

(106 Km2)

Volume

(106 Km2)

do Volume Total

Oceanos

360

1370323

9393

Aacuteguas Subterracircneas

-

64000

439

Geleiras e Neve Perpeacutetua

16

24000

165

Lagos

-

230

0016

Umidade do Solo

-

75

0005

Aacutegua na Atmosfera

510

14

0001

Rios

12

00001

Total

1458643

100

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CCaappiacuteiacutettuulloo

11 HHiiddrroollooggiiaa AApplliiccaaddaa

INT

Natildeo eacute

cobert

lugar

terres

drsquoaacutegua

quant

Apesa

mesm

princip

contin

RODUCcedilAtildeO Agrave HIDROLOGIA

a toa que o Planeta Terra eacute chamado de ldquoo Planeta Azulrdquo - dois terccedilos de sua superfiacutecie satildeo

os pela aacutegua de mares e oceanos (Figura 11) Na realidade existe aacutegua em praticamente todo

sobre a superfiacutecie terrestre na forma de rios lagos mares e oceanos sob a superfiacutecie

tre na forma de aacutegua subterracircnea e umidade do solo e na atmosfera na forma de vapor

A aacutegua em certos locais pode ocorrer de forma quase ilimitada como nos oceanos ou em

idades praticamente nulas como nos desertos

Figura 11 ndash Planeta Terra

r da maior parte da aacutegua do Planeta em qualquer momento estar contida nos oceanos a

a estaacute em contiacutenuo movimento em um ciclo cuja fonte principal de energia eacute o sol e cuja

al forccedila atuante eacute a gravidade A esta transferecircncia ininterrupta da aacutegua do oceano para o

ente e do continente para o oceano (Figura 12) daacute-se o nome de Ciclo Hidroloacutegico

Ticiana Studart e Nilson Campos

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3

image1jpg image2jpg

image3jpg

image4jpg image5png image6png image7jpg INTRODUCcedilAtildeO Agrave HIDROLOGIA

Natildeo eacute a toa que o Planeta Terra eacute chamado de ldquoo Planeta Azulrdquo - dois terccedilos de sua superfiacutecie satildeo cobertos pela aacutegua de mares e oceanos (Figura 11) Na realidade existe aacutegua em praticamente todo lugar sobre a superfiacutecie terrestre na forma de rios lagos mares e oceanos sob a superfiacutecie terrestre na forma de aacutegua subterracircnea e umidade do solo e na atmosfera na forma de vapor drsquoaacutegua A aacutegua em certos locais pode ocorrer de forma quase ilimitada como nos oceanos ou em quantidades praticamente nulas como nos desertos

Figura 11 ndash Planeta Terra

Apesar da maior parte da aacutegua do Planeta em qualquer momento estar contida nos oceanos a mesma estaacute em contiacutenuo movimento em um ciclo cuja fonte principal de energia eacute o sol e cuja principal forccedila atuante eacute a gravidade A esta transferecircncia ininterrupta da aacutegua do oceano para o continente e do continente para o oceano (Figura 12) daacute-se o nome de Ciclo Hidroloacutegico

OCEANOS CONTINENTE

CICLO HIDROLOacuteGICO

Figura 12 ndash Transferecircncia da aacutegua oceano x continente

11 Etimologia e definiccedilatildeo de Hidrologia

A palavra HIDROLOGIA eacute originada das palavras gregas HYDOR que significa ldquoaacuteguardquo e LOGOS que significa ldquociecircnciardquo Hidrologia eacute pois a ciecircncia que estuda a aacutegua

Definiccedilatildeo 1 Hidrologia eacute a ciecircncia que trata da aacutegua na Terra sua ocorrecircncia circulaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo suas propriedades fiacutesicas e quiacutemicas e sua reaccedilatildeo com o meio ambiente incluindo sua relaccedilatildeo com as formas vivas relacionada com toda a aacutegua da Terra sua ocorrecircncia distribuiccedilatildeo e circulaccedilatildeo suas propriedades fiacutesicas e quiacutemicas seu efeito sobre o meio ambiente e sobre todas as formas da vida (Definiccedilatildeo proposta pelo US Federal Council for Sciences and Technology (Chow 1959))

Por ser muito ampla eacute difiacutecil pensar numa ciecircncia que natildeo esteja incluiacuteda nesta definiccedilatildeo A Botacircnica ao estudar o transporte de aacutegua atraveacutes dos vegetais ou a Medicina ao estudar a aacutegua no corpo humano fariam parte da Hidrologia Na praacutetica a definiccedilatildeo de Hidrologia eacute

Definiccedilatildeo 2 A Hidrologia estuda as fases do ciclo hidroloacutegico descrevendo seu passado tentando prever seu futuro

2 CICLO HIDROLOacuteGICO

A aacutegua diferencia-se dos demais recursos naturais pela notaacutevel propriedade de renovar-se continuamente graccedilas ao ciclo hidroloacutegico Embora o movimento ciacuteclico da aacutegua natildeo tenha princiacutepio nem fim costuma-se iniciar seu estudo descritivo pela evaporaccedilatildeo da aacutegua dos oceanos seguida de sua precipitaccedilatildeo sobre a superfiacutecie que coletada pelos cursos drsquo aacutegua retorna ao local de partida

A descriccedilatildeo acima simplifica sobremaneira o processo que realmente ocorre (Figura 13) uma vez que natildeo estatildeo computadas as eventuais interrupccedilotildees que podem ocorrer em vaacuterios estaacutegios (Ex precipitaccedilatildeo sobre o oceano) e a iacutentima dependecircncia das intensidade e frequumlecircncia do ciclo hidroloacutegico com a geografia e o clima local

Figura 13 ndash Ciclo Hidroloacutegico (Fonte Dnaee)

Alguns toacutepicos podem ser destacados

1 O sol constitui-se na fonte de energia para a realizaccedilatildeo do ciclo O calor por ele liberado atua sobre a superfiacutecie dos oceanos rios e lagos estimulando a conversatildeo da aacutegua do estado liacutequido para gasoso

2 A ascensatildeo do vapor drsquo aacutegua conduz agrave formaccedilatildeo de nuvens que podem se deslocar sob a accedilatildeo do vento para regiotildees continentais

3 Sob condiccedilotildees favoraacuteveis a aacutegua condensada nas nuvens precipita (sob forma de neve granizo ou chuva)(1) podendo ser dispersada de vaacuterias formas

middot Retenccedilatildeo temporaacuteria ao solo proacuteximo de onde caiu

middot Escoamento sobre a superfiacutecie do solo ou atraveacutes do solo para os rios

middot Penetraccedilatildeo no solo profundo

4 Atingindo os veios drsquo aacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano completando o ciclo

5 As depressotildees superficiais porventura existentes reteacutem a aacutegua precipitada temporariamente Essa aacutegua poderaacute retornar para compor fases seguintes do ciclo pela evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo da plantas

6 Os escoamentos superficial e subterracircneo decorrem da accedilatildeo da gravidade podendo parte desta aacutegua ser evaporada ou infiltrada antes de atingir o curso drsquo aacutegua

7 Atingindo os veios drsquoaacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano completando o ciclo

8 A evaporaccedilatildeo acompanha o ciclo hidroloacutegico em quase todas as suas fases seja durante a precipitaccedilatildeo seja durante o escoamento superficial

Dotado de certa aleatoriedade temporal e espacial o ciclo hidroloacutegico configura processos bem mais complexos que os acima descritos Uma vez que as etapas precedentes agrave precipitaccedilatildeo estatildeo dentro do escopo da meteorologia compete ao hidroacutelogo conhecer principalmente as fases do ciclo que se processam sobre a superfiacutecie terrestre quais sejam precipitaccedilatildeo evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo escoamento superficial e escoamento subterracircneo

3 UM POUCO DA HISTOacuteRIA DA HIDROLOGIA

Os mais antigos trabalhos de drenagem e irrigaccedilatildeo em larga escala satildeo atribuiacutedos ao Faraoacute Meneacutes fundador da primeira dinastia egiacutepcia que barrou o rio Nilo proacuteximo a Mecircnphis com uma barragem de 15m e extensatildeo de aproximadamente 500 metros para alimentar o canal de irrigaccedilatildeo

Tambeacutem no Egito encontram-se os primeiros registros sistemaacuteticos de niacuteveis de enchentes Estes registros datam de 3500 aC e indicavam aos agricultores a eacutepoca oportuna de romper os diques para inundar e fertilizar as terras agricultaacuteveis Nota-se que aos egiacutepcios pouco importava o estudo da Hidrologia como ciecircncia e sim A sua utilizaccedilatildeo

Muitos conceitos errocircneos e falhas de compreensatildeo atravessaram o desenvolvimento da engenharia no seu sentido atual Os gregos foram os primeiros filoacutesofos que estudaram seriamente a Hidrologia com Aristoacuteteles sugerindo que os rios eram alimentados pelas chuvas Sua maior dificuldade eram explicar a origem da aacutegua subterracircnea Somente na eacutepoca de Leonardo da Vinci (por volta de 1500 dC)a ideacuteia da alimentaccedilatildeo dos rios pela precipitaccedilatildeo comeccedilou a ser aceita No entanto foi apenas no ano de 1694 que Perrault atraveacutes de medidas pluviomeacutetricas na bacia do rio Sena demonstrou quantitativamente que o volume precipitado ao longo do ano era suficiente para manter o volume escoado

O astrocircnomo inglecircs Halley em 1693 provou que a evaporaccedilatildeo da aacutegua do mar era suficiente para responder por todas as nascentes e fluxos drsquoaacutegua Mariotte 1em 1686 mediu a velocidade do rio Sena Estes primeiros conhecimentos de Hidrologia permitiram inuacutemros avanccedilos no Seacuteculo XVIII incluindo o teorema de Bernoulli o Tubo Pitot e a Foacutermula de Chegravezy que formam a base da Hidraacuteulica e da Mecacircnica dos Fluidos

Durante o Seacuteculo XIX foram feitos significantes avanccedilos na teoria da aacutegua subterracircnea incluindo a Lei de Darcy No que se refere agrave Hidrologia de aacuteguas superficiais muitas foacutermulas e instrumentos de mediccedilatildeo foram criados

Chow (1954) chamou o periacuteodo compreendido entre 1900 e 1930 ficou conhecido como o Periacuteodo do Empirismo O periacuteodo de 1930 a 1950 seria o Periacuteodo da Racionalizaccedilatildeo Datam desta eacutepoca o Hidrograma Unitaacuterio de Sherman (1932) e a Teoria da Infiltraccedilatildeo de Horton (1933) Entre 1940 a 1950 foram feitos significantes avanccedilos no entendimento do processo de evaporaccedilatildeo Em 1958 Gumbel llanccedila as bases da moderna hidrologia estocaacutestica A partir da deacutecada de 70 a Hidrologia passa a contar com o avanccedilos computacionais o que levaram ao desenvolvimento de muitos modelos de simulaccedilatildeo

4 DISPONIBILIDADES HIacuteDRICAS MUNDIAIS

Segundo Lvovich (apud Raudikivi 1979) a ordem de grandeza e a distribuiccedilatildeo das disponibilidades hiacutedricas no mundo satildeo as mostradas na Tabela 11

Tabela 11 ndash Distribuiccedilatildeo das disponibilidades hiacutedricas no mundo

Fonte Raudikivi (1979)

Deste total cerca de 94 eacute de aacutegua salgada e apenas 6 de aacutegua doce Desconsiderando a quantidade de aacutegua doce sob forma de geleiras aacuteguas subterracircneas e umidade atmosfeacuterica iacutenfimos 00161 do total da aacutegua do Planeta estatildeo disponiacuteveis em rios e lagos (Figura 14) os quais natildeo se encontram equumlitativamente distribuiacutedos sobre todo o Planeta

Figura 14 ndash Aacutegua doce disponiacutevel em lagos e rios

Para se dar uma pequena ideacuteia da maacute distribuiccedilatildeo espacial da aacutegua cita-se o exemplo do Brasil que possui cerca de 12 das reservas hiacutedricas superficiais do mundo mas com aproximadamente 65 destes recursos concentrados na Amazocircnia

Questotildees a se pensar1 Por que se preocupar com as vaacuterias fases do ciclo hidroloacutegico2 Se o estudo da Hidrologia natildeo era importante haacute 30-40 anos atraacutes por que o deveria ser hoje 3 Se essa quantidade de aacutegua doce nunca foi motivo de grandes preocupaccedilotildees por que o seria agora

5 A aacutegua e o desenvolvimento

A aacutegua sempre desempenhou um papel fundamental na histoacuteria da humanidade O surgimentodas cidades sempre se deu ao longo os rios Entretanto natildeo se tinha a percepccedilatildeo da importacircncia da aacutegua como hoje uma vez que sua qualidade e quantidade eram adequadas agraves necessidades da eacutepoca ndash abastecimento diluiccedilatildeo de dejetos pesca geraccedilatildeo de energia entre outros Como as fontes hiacutedricas natildeo eram desenvolvidas no limite de sua possibilidades havia pouco interesse em se obter dados e conhecimento a respeito de suas capacidades maacuteximas e assim a Hidrologia como ciecircncia pouco se desenvolveu

Hoje o cenaacuterio eacute outro Segundo a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) o consumo mundial de aacutegua doce dobrou nos uacuteltimos 50 anos e corresponde atualmente agrave metade de todos os recursos hiacutedricos acessiacuteveis Explorar tais recursos foi o motor do desenvolvimento econocircmico de muitos paiacuteses sobretudo na agricultura abastecimento humano e animal geraccedilatildeo de energia induacutestria e transporte Poreacutem a competiccedilatildeo por aacutegua entre tais setores vem degradando as fontes naturais das quais o mundo depende O ciclo natural da aacutegua tem sido interrompido ou alterado em regiotildees muito artificializadas como as megacidades

Eacute consenso geral que a gestatildeo das aacuteguas eacute uma necessidade E assim a Hidrologia ressurge hoje como ferramenta indispensaacutevel para tal fim uma vez eacute a ciecircncia que trata do entendimento dos processos naturais que datildeo base aos projetos de suprimento de aacutegua Soacute ela pode avaliar como e quanto o ciclo hidroloacutegico pode ser modificado pelas atividades humanas

No passado jaacute existiam estes sinais de desconhecimento da Hidrologia mas os mesmos soacute afetavam pequenas parcelas da populaccedilatildeo e tinham pouca divulgaccedilatildeo Isto tem mudado significativamente nos uacuteltimos 30 anos Hoje jaacute se tem o entendimento que a prosperidade e a sobrevivecircncia da humanidade eacute funccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua doce e potaacutevel e que a cada ano nascem mais alguns milhotildees de consumidores e natildeo eacute criada sequer uma gota drsquoaacutegua a mais no Planeta

Os muacuteltiplos usos e usuaacuterios disputando um mesmo litro de aacutegua e a perspectiva de demandas ainda maiores no futuro indicam que mais e mais profissionais ndash e natildeo somente o engenheiro ndash necessitam ter conhecimentos de Hidrologia Somente assim os tomadores de decisatildeo poderatildeo avaliar as vantagens e desvantagens de cada alteraccedilatildeo proposta no ciclo hidroloacutegico

Exemplos da falta de conhecimentos de Hidrologia na sociedade moderna1 Construccedilatildeo nas planiacutecies aluviais de rios2 Reservatoacuterios superdimensionados 3 Problemas de drenagem urbana4 Construccedilatildeo e reservatoacuterios pouco profundos em regiotildees com altas taxas de evaporaccedilatildeo5 Perfuraccedilatildeo de poccedilos secos em regiotildees cristalinas 6 Problemas de salinizaccedilatildeo de solos em projetos de irrigaccedilatildeo em regiotildees aacuteridas e semi-aacuteridas

Exemplo concreto 1 o Accedilude Cedro ndash Ce O Accedilude Cedro foi construiacutedo em 1906 no municiacutepio de Quixadaacute Cearaacute Exemplo claacutessico de falta de conhecimento hidroloacutegico o reservatoacuterio foi superdimensionado construiacutedo com capacidade de acumulaccedilatildeo equivalente a seis vezes seu volume afluente anual Tendo sangrado pouquiacutessimas vezes desde sua construccedilatildeo a Figura 15 mostra uma das ocasiotildees em que esvaziou totalmente em 2001 Figura 15 - Accedilude Cedro ndash Ce (vazio em novembro de 2001)

Exemplo concreto 2 Inundaccedilatildeo em Fortaleza Ce

A Figura 16 mostra um problema de drenagem urbana caracteriacutesticos das grandes cidades no caso Fortaleza Ce

Figura 16--Enchente em Fortaleza Ce em 1997

6 APLICACcedilOtildeES DA HIDROLOGIA Agrave ENGENHARIA

A Hidrologia natildeo eacute uma ciecircncia pura uma vez que o objeto de estudo eacute usualmente dirigido para aplicaccedilotildees praacuteticas sendo assim o termo ldquoHidrologia Aplicadardquo eacute frequumlentemente utilizado Eis algumas das aplicaccedilotildees da hidrologia

middot Escolha de fontes de abastecimento de aacutegua

middot Subterracircnea - locaccedilatildeo do poccedilo e capacidade de bombeamento

middot Superficial ndash locaccedilatildeo da barragem estimativa da vazatildeo afluente e da vazatildeo a ser regularizada dimensionamento do reservatoacuterio e do sangradouro

middot Drenagem urbana ndash dimensionamento de bueiros

middot Drenagem de rodovias ndash dimensionamento de pontes e pontilhotildees

middot Irrigaccedilatildeo ndash fonte de abastecimento estimativa da evapotranspiraccedilatildeo da cultura

middot Controle de enchentes ndash dragagem do leito do rio construccedilatildeo de reservatoacuterios de controle de cheias

Exemplo concreto 1 cheias e secas no rio Capibaribe

A Bacia do rio Capibaribe Pernambuco tem sua histoacuteria intimamente ligada a episoacutedios de cheias catastroacuteficas notadamente na Regiatildeo Metropolitana de Recife Entretanto nos uacuteltimos anos a cidade vem sendo atingida por uma grave crise no abastecimento drsquoaacutegua sendo obrigatoacuterio o uso extensivo de carros-pipa Os quatro maiores accediludes da bacia ndash Jucazinho Carpina Goitaacute e Tapacuraacute representam cerca de 91 do total acumulado nos accediludes mais importantes da bacia e satildeo utilizados tanto para controle de cheias como para o abastecimento A operaccedilatildeo de reservatoacuterios com muacuteltiplas finalidades eacute feita tradicionalmente com a divisatildeo do volume total armazenaacutevel em zonas para o atendimento de seus diferentes objetivos Na praacutetica a divisatildeo consiste em se alocar volumes de reserva para as respectivas finalidades Objetivos diametralmente conflitantes como controle de cheias ndash que requer que a parte do volume destinada a este fim permaneccedila seca para que a cheia possa assim ser contida ndash e conservaccedilatildeo ndash que precisa que a aacutegua seja efetivamente armazenada para usos futuros em irrigaccedilatildeo e abastecimento municipal e industrial ndash natildeo satildeo faacuteceis de conciliar

As figuras 17 e 18 mostram respectivamente um esquema da bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe com seus barramentos construiacutedos ao longo de seu leito e Recife em um episoacutedio de inundaccedilatildeo

Figura 17 -- Bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe (Pe) e seus barramentos

Figura 16--Enchente em Recife Pe

7 RELACcedilAtildeO DA HIDROLOGIA COM OUTRAS CIEcircNCIAS

Devido a natureza complexa do ciclo hidroloacutegico e suas relaccedilotildees com os padrotildees climaacuteticos tipos de solos topografia e geologia as fronteiras entre a hidrologia e as outras ciecircncias da terra tais como meteorologia geologia ecologia e oceanografia natildeo satildeo muito distintas Na realidade tais ciecircncias tambeacutem podem ser consideradas ramos da hidrologia

middot Meteorologia e Hidrometeorologia ndash estudo da aacutegua atmosfeacuterica

middot Oceanografia ndash estudo dos oceanos

middot Hidrografia ndash estudo das aacuteguas superficiais

middot Potamologia ndash estudo dos rios

middot Limnologia ndash estudo dos lagos e reservatoacuterios

middot Hidrogeologia ndash estudo das aacuteguas subterracircneas

Sendo assim poucos problemas hidroloacutegicos podem ficar limitados a apenas um desses ramos Frequumlentemente devido a grande inter-relaccedilotildees do fenocircmeno a soluccedilatildeo do problema soacute pode ser dada atraveacutes de uma discussatildeo interdisciplinar com profissionais de um ou mais desses ramos Muitas outras ciecircncias podem ainda ser utilizadas na Hidrologia tais como fiacutesica quiacutemica geologia geografia mecacircnica dos fluidos estatiacutestica economia computaccedilatildeo direito etc

Capiacutetulo13

1 13

13

Hidrologia Aplicada13

13

13

13

13

(1) Quando a precipitaccedilatildeo se daacute sob forma de neve ou granizo a retenccedilatildeo no solo eacute mais demorada ateacute que ali se processe a fusatildeo13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

13

Hidrologia Aplicada13

13

13

Fonte

Superfiacutecie

(106 Km2)

Volume

(106 Km2)

do Volume Total

Oceanos

360

1370323

9393

Aacuteguas Subterracircneas

-

64000

439

Geleiras e Neve Perpeacutetua

16

24000

165

Lagos

-

230

0016

Umidade do Solo

-

75

0005

Aacutegua na Atmosfera

510

14

0001

Rios

12

00001

Total

1458643

100

Page 3: TICIANA M. CARVALHO STUDART - aedmoodle.ufpa.br

2Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

OCEANOS CONTINENTE

CICLO HIDROLOacuteGICO

Figura 12 ndash Transferecircncia da aacutegua oceano x continente

11 Etimologia e definiccedilatildeo de Hidrologia

A palavra HIDROLOGIA eacute originada das palavras gregas HYDOR que significa ldquoaacuteguardquo e LOGOS que

significa ldquociecircnciardquo Hidrologia eacute pois a ciecircncia que estuda a aacutegua

Definiccedilatildeo 1 Hidrologia eacute a ciecircncia que trata da aacutegua na Terra sua ocorrecircncia circulaccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo suas propriedades fiacutesicas e quiacutemicas e sua reaccedilatildeo com o meio ambiente incluindo

sua relaccedilatildeo com as formas vivas relacionada com toda a aacutegua da Terra sua ocorrecircncia

distribuiccedilatildeo e circulaccedilatildeo suas propriedades fiacutesicas e quiacutemicas seu efeito sobre o meio ambiente

e sobre todas as formas da vida (Definiccedilatildeo proposta pelo US Federal Council for Sciences and

Technology (Chow 1959))

Por ser muito ampla eacute difiacutecil pensar numa ciecircncia que natildeo esteja incluiacuteda nesta definiccedilatildeo A Botacircnica

ao estudar o transporte de aacutegua atraveacutes dos vegetais ou a Medicina ao estudar a aacutegua no corpo

humano fariam parte da Hidrologia Na praacutetica a definiccedilatildeo de Hidrologia eacute

Definiccedilatildeo 2 A Hidrologia estuda as fases do ciclo hidroloacutegico descrevendo seu passado

tentando prever seu futuro

2 CICLO HIDROLOacuteGICO

A aacutegua diferencia-se dos demais recursos naturais pela notaacutevel propriedade de renovar-se

continuamente graccedilas ao ciclo hidroloacutegico Embora o movimento ciacuteclico da aacutegua natildeo tenha princiacutepio

nem fim costuma-se iniciar seu estudo descritivo pela evaporaccedilatildeo da aacutegua dos oceanos seguida de

sua precipitaccedilatildeo sobre a superfiacutecie que coletada pelos cursos drsquo aacutegua retorna ao local de partida

Ticiana Studart e Nilson Campos

3Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

A descriccedilatildeo acima simplifica sobremaneira o processo que realmente ocorre (Figura 13) uma vez que

natildeo estatildeo computadas as eventuais interrupccedilotildees que podem ocorrer em vaacuterios estaacutegios (Ex

precipitaccedilatildeo sobre o oceano) e a iacutentima dependecircncia das intensidade e frequumlecircncia do ciclo hidroloacutegico

com a geografia e o clima local

Alguns toacutepicos p

1 O s

atu

esta

2 A a

accedilatilde

3 Sob

gra

(1) Quando a precifusatildeo

Figura 13 ndash Ciclo Hidroloacutegico (Fonte Dnaee)

odem ser destacados

ol constitui-se na fonte de energia para a realizaccedilatildeo do ciclo O calor por ele liberado

a sobre a superfiacutecie dos oceanos rios e lagos estimulando a conversatildeo da aacutegua do

do liacutequido para gasoso

scensatildeo do vapor drsquo aacutegua conduz agrave formaccedilatildeo de nuvens que podem se deslocar sob a

o do vento para regiotildees continentais

condiccedilotildees favoraacuteveis a aacutegua condensada nas nuvens precipita (sob forma de neve

nizo ou chuva)(1) podendo ser dispersada de vaacuterias formas

pitaccedilatildeo se daacute sob forma de neve ou granizo a retenccedilatildeo no solo eacute mais demorada ateacute que ali se processe a

Ticiana Studart e Nilson Campos

4Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Retenccedilatildeo temporaacuteria ao solo proacuteximo de onde caiu

Escoamento sobre a superfiacutecie do solo ou atraveacutes do solo para os rios

Penetraccedilatildeo no solo profundo

4 Atingindo os veios drsquo aacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano

completando o ciclo

5 As depressotildees superficiais porventura existentes reteacutem a aacutegua precipitada

temporariamente Essa aacutegua poderaacute retornar para compor fases seguintes do ciclo pela

evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo da plantas

6 Os escoamentos superficial e subterracircneo decorrem da accedilatildeo da gravidade podendo parte

desta aacutegua ser evaporada ou infiltrada antes de atingir o curso drsquo aacutegua

7 Atingindo os veios drsquoaacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano

completando o ciclo

8 A evaporaccedilatildeo acompanha o ciclo hidroloacutegico em quase todas as suas fases seja durante a

precipitaccedilatildeo seja durante o escoamento superficial

Dotado de certa aleatoriedade temporal e espacial o ciclo hidroloacutegico configura processos bem mais

complexos que os acima descritos Uma vez que as etapas precedentes agrave precipitaccedilatildeo estatildeo dentro do

escopo da meteorologia compete ao hidroacutelogo conhecer principalmente as fases do ciclo que se

processam sobre a superfiacutecie terrestre quais sejam precipitaccedilatildeo evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo

escoamento superficial e escoamento subterracircneo

3 UM POUCO DA HISTOacuteRIA DA HIDROLOGIA

Os mais antigos trabalhos de drenagem e irrigaccedilatildeo em larga escala satildeo atribuiacutedos ao Faraoacute Meneacutes

fundador da primeira dinastia egiacutepcia que barrou o rio Nilo proacuteximo a Mecircnphis com uma barragem

de 15m e extensatildeo de aproximadamente 500 metros para alimentar o canal de irrigaccedilatildeo

Tambeacutem no Egito encontram-se os primeiros registros sistemaacuteticos de niacuteveis de enchentes Estes

registros datam de 3500 aC e indicavam aos agricultores a eacutepoca oportuna de romper os diques para

inundar e fertilizar as terras agricultaacuteveis Nota-se que aos egiacutepcios pouco importava o estudo da

Hidrologia como ciecircncia e sim A sua utilizaccedilatildeo

Ticiana Studart e Nilson Campos

5Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Muitos conceitos errocircneos e falhas de compreensatildeo atravessaram o desenvolvimento da engenharia

no seu sentido atual Os gregos foram os primeiros filoacutesofos que estudaram seriamente a Hidrologia

com Aristoacuteteles sugerindo que os rios eram alimentados pelas chuvas Sua maior dificuldade eram

explicar a origem da aacutegua subterracircnea Somente na eacutepoca de Leonardo da Vinci (por volta de 1500

dC)a ideacuteia da alimentaccedilatildeo dos rios pela precipitaccedilatildeo comeccedilou a ser aceita No entanto foi apenas no

ano de 1694 que Perrault atraveacutes de medidas pluviomeacutetricas na bacia do rio Sena demonstrou

quantitativamente que o volume precipitado ao longo do ano era suficiente para manter o volume

escoado

O astrocircnomo inglecircs Halley em 1693 provou que a evaporaccedilatildeo da aacutegua do mar era suficiente para

responder por todas as nascentes e fluxos drsquoaacutegua Mariotte 1em 1686 mediu a velocidade do rio

Sena Estes primeiros conhecimentos de Hidrologia permitiram inuacutemros avanccedilos no Seacuteculo XVIII

incluindo o teorema de Bernoulli o Tubo Pitot e a Foacutermula de Chegravezy que formam a base da Hidraacuteulica

e da Mecacircnica dos Fluidos

Durante o Seacuteculo XIX foram feitos significantes avanccedilos na teoria da aacutegua subterracircnea incluindo a

Lei de Darcy No que se refere agrave Hidrologia de aacuteguas superficiais muitas foacutermulas e instrumentos de

mediccedilatildeo foram criados

Chow (1954) chamou o periacuteodo compreendido entre 1900 e 1930 ficou conhecido como o Periacuteodo do

Empirismo O periacuteodo de 1930 a 1950 seria o Periacuteodo da Racionalizaccedilatildeo Datam desta eacutepoca o

Hidrograma Unitaacuterio de Sherman (1932) e a Teoria da Infiltraccedilatildeo de Horton (1933) Entre 1940 a 1950

foram feitos significantes avanccedilos no entendimento do processo de evaporaccedilatildeo Em 1958 Gumbel

llanccedila as bases da moderna hidrologia estocaacutestica A partir da deacutecada de 70 a Hidrologia passa a

contar com o avanccedilos computacionais o que levaram ao desenvolvimento de muitos modelos de

simulaccedilatildeo

4 DISPONIBILIDADES HIacuteDRICAS MUNDIAIS

Segundo Lvovich (apud Raudikivi 1979) a ordem de grandeza e a distribuiccedilatildeo das disponibilidades

hiacutedricas no mundo satildeo as mostradas na Tabela 11

Ticiana Studart e Nilson Campos

6Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Tabela 11 ndash Distribuiccedilatildeo das disponibilidades hiacutedricas no mundo

Fonte

Superfiacutecie (106 Km2)

Volume

(106 Km2)

do Volume Total

Oceanos 360 1370323 9393

Aacuteguas Subterracircneas - 64000 439

Geleiras e Neve Perpeacutetua 16 24000 165

Lagos - 230 0016

Umidade do Solo - 75 0005

Aacutegua na Atmosfera 510 14 0001

Rios 12 00001

Total 1458643 100 Fonte Raudikivi (1979)

Deste total cerca de 94 eacute de aacutegua salgada e apenas 6 de aacutegua doce Desconsiderando a

quantidade de aacutegua doce sob forma de geleiras aacuteguas subterracircneas e umidade atmosfeacuterica iacutenfimos

00161 do total da aacutegua do Planeta estatildeo disponiacuteveis em rios e lagos (Figura 14) os quais natildeo se

encontram equumlitativamente distribuiacutedos sobre todo o Planeta

Figura 14 ndash Aacutegua doce disponiacutevel em lagos e rios

Para se dar uma pequena ideacuteia da maacute distribuiccedilatildeo espacial da aacutegua cita-se o exemplo do Brasil que

possui cerca de 12 das reservas hiacutedricas superficiais do mundo mas com aproximadamente 65

destes recursos concentrados na Amazocircnia

Ticiana Studart e Nilson Campos

7Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Questotildees a se pensar

1 Por que se preocupar com as vaacuterias fases do ciclo hidroloacutegico

2 Se o estudo da Hidrologia natildeo era importante haacute 30-40 anos atraacutes por que o deveria

ser hoje

3 Se essa quantidade de aacutegua doce nunca foi motivo de grandes preocupaccedilotildees por que o

seria agora

5 A AacuteGUA E O DESENVOLVIMENTO

A aacutegua sempre desempenhou um papel fundamental na histoacuteria da humanidade O surgimento das

cidades sempre se deu ao longo os rios Entretanto natildeo se tinha a percepccedilatildeo da importacircncia da aacutegua

como hoje uma vez que sua qualidade e quantidade eram adequadas agraves necessidades da eacutepoca ndash

abastecimento diluiccedilatildeo de dejetos pesca geraccedilatildeo de energia entre outros Como as fontes hiacutedricas

natildeo eram desenvolvidas no limite de sua possibilidades havia pouco interesse em se obter dados e

conhecimento a respeito de suas capacidades maacuteximas e assim a Hidrologia como ciecircncia pouco

se desenvolveu

Hoje o cenaacuterio eacute outro Segundo a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) o consumo mundial de

aacutegua doce dobrou nos uacuteltimos 50 anos e corresponde atualmente agrave metade de todos os recursos

hiacutedricos acessiacuteveis Explorar tais recursos foi o motor do desenvolvimento econocircmico de muitos paiacuteses

sobretudo na agricultura abastecimento humano e animal geraccedilatildeo de energia induacutestria e transporte

Poreacutem a competiccedilatildeo por aacutegua entre tais setores vem degradando as fontes naturais das quais o

mundo depende O ciclo natural da aacutegua tem sido interrompido ou alterado em regiotildees muito

artificializadas como as megacidades

Eacute consenso geral que a gestatildeo das aacuteguas eacute uma necessidade E assim a Hidrologia ressurge hoje

como ferramenta indispensaacutevel para tal fim uma vez eacute a ciecircncia que trata do entendimento dos

processos naturais que datildeo base aos projetos de suprimento de aacutegua Soacute ela pode avaliar como e

quanto o ciclo hidroloacutegico pode ser modificado pelas atividades humanas

No passado jaacute existiam estes sinais de desconhecimento da Hidrologia mas os mesmos soacute afetavam

pequenas parcelas da populaccedilatildeo e tinham pouca divulgaccedilatildeo Isto tem mudado significativamente nos

uacuteltimos 30 anos Hoje jaacute se tem o entendimento que a prosperidade e a sobrevivecircncia da humanidade

eacute funccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua doce e potaacutevel e que a cada ano nascem mais alguns milhotildees de

consumidores e natildeo eacute criada sequer uma gota drsquoaacutegua a mais no Planeta

Ticiana Studart e Nilson Campos

8Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Os muacuteltiplos usos e usuaacuterios disputando um mesmo litro de aacutegua e a perspectiva de demandas

ainda maiores no futuro indicam que mais e mais profissionais ndash e natildeo somente o engenheiro ndash

necessitam ter conhecimentos de Hidrologia Somente assim os tomadores de decisatildeo poderatildeo avaliar

as vantagens e desvantagens de cada alteraccedilatildeo proposta no ciclo hidroloacutegico

Exemplos da falta de conhecimentos de Hidrologia na sociedade moderna

1 Construccedilatildeo nas planiacutecies aluviais de rios

2 Reservatoacuterios superdimensionados

3 Problemas de drenagem urbana

4 Construccedilatildeo e reservatoacuterios pouco profundos em regiotildees com altas taxas de evaporaccedilatildeo

5 Perfuraccedilatildeo de poccedilos secos em regiotildees cristalinas

6 Problemas de salinizaccedilatildeo de solos em projetos de irrigaccedilatildeo em regiotildees aacuteridas e semi-

aacuteridas

Exemplo concreto 1 o Accedilude Cedro ndash Ce

O Accedilude Cedro foi construiacutedo em 1906 no municiacutepio de Quixadaacute Cearaacute Exemplo claacutessico de falta de

conhecimento hidroloacutegico o reservatoacuterio foi superdimensionado construiacutedo com capacidade de

acumulaccedilatildeo equivalente a seis vezes seu volume afluente anual Tendo sangrado pouquiacutessimas vezes

desde sua construccedilatildeo a Figura 15 mostra uma das ocasiotildees em que esvaziou totalmente em 2001

Figura 15 - Accedilude Cedro ndash Ce (vazio em novembro de 2001)

Ticiana Studart e Nilson Campos

9Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Exemplo concreto 2 Inundaccedilatildeo em Fortaleza Ce

A Figura 16 mostra um problema de drenagem urbana caracteriacutesticos das grandes cidades no caso

Fortaleza Ce

6 APLICACcedilOtildeES

A Hidrologia natildeo eacute

aplicaccedilotildees praacuteticas

algumas das aplica

Escolha

Sub

Supreg

Drenag

Drenag

Irrigaccedilatilde

Figura 16--Enchente em Fortaleza Ce em 1997

DA HIDROLOGIA Agrave ENGENHARIA

uma ciecircncia pura uma vez que o objeto de estudo eacute usualmente dirigido para

sendo assim o termo ldquoHidrologia Aplicadardquo eacute frequumlentemente utilizado Eis

ccedilotildees da hidrologia

de fontes de abastecimento de aacutegua

terracircnea - locaccedilatildeo do poccedilo e capacidade de bombeamento

erficial ndash locaccedilatildeo da barragem estimativa da vazatildeo afluente e da vazatildeo a ser ularizada dimensionamento do reservatoacuterio e do sangradouro

em urbana ndash dimensionamento de bueiros

em de rodovias ndash dimensionamento de pontes e pontilhotildees

o ndash fonte de abastecimento estimativa da evapotranspiraccedilatildeo da cultura

Ticiana Studart e Nilson Campos

10Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Controle de enchentes ndash dragagem do leito do rio construccedilatildeo de reservatoacuterios de controle

de cheias

Exemplo concreto 1 cheias e secas no rio Capibaribe

A Bacia do rio Capibaribe Pernambuco tem sua histoacuteria intimamente ligada a episoacutedios de cheias

catastroacuteficas notadamente na Regiatildeo Metropolitana de Recife Entretanto nos uacuteltimos anos a cidade

vem sendo atingida por uma grave crise no abastecimento drsquoaacutegua sendo obrigatoacuterio o uso extensivo

de carros-pipa Os quatro maiores accediludes da bacia ndash Jucazinho Carpina Goitaacute e Tapacuraacute

representam cerca de 91 do total acumulado nos accediludes mais importantes da bacia e satildeo utilizados

tanto para controle de cheias como para o abastecimento A operaccedilatildeo de reservatoacuterios com muacuteltiplas

finalidades eacute feita tradicionalmente com a divisatildeo do volume total armazenaacutevel em zonas para o

atendimento de seus diferentes objetivos Na praacutetica a divisatildeo consiste em se alocar volumes de

reserva para as respectivas finalidades Objetivos diametralmente conflitantes como controle de

cheias ndash que requer que a parte do volume destinada a este fim permaneccedila seca para que a cheia

possa assim ser contida ndash e conservaccedilatildeo ndash que precisa que a aacutegua seja efetivamente armazenada

para usos futuros em irrigaccedilatildeo e abastecimento municipal e industrial ndash natildeo satildeo faacuteceis de conciliar

As figuras 17 e 18 mostram respectivamente um esquema da bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe

com seus barramentos construiacutedos ao longo de seu leito e Recife em um episoacutedio de inundaccedilatildeo

Figura 17 -- Bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe (Pe) e seus barramentos

Ticiana Studart e Nilson Campos

11Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Figura 16--Enchente em Recife Pe

7 RELACcedilAtildeO DA HIDROLOGIA COM OUTRAS CIEcircNCIAS

Devido a natureza complexa do ciclo hidroloacutegico e suas relaccedilotildees com os padrotildees climaacuteticos tipos de

solos topografia e geologia as fronteiras entre a hidrologia e as outras ciecircncias da terra tais como

meteorologia geologia ecologia e oceanografia natildeo satildeo muito distintas Na realidade tais ciecircncias

tambeacutem podem ser consideradas ramos da hidrologia

Meteorologia e Hidrometeorologia ndash estudo da aacutegua atmosfeacuterica

Oceanografia ndash estudo dos oceanos

Hidrografia ndash estudo das aacuteguas superficiais

Potamologia ndash estudo dos rios

Limnologia ndash estudo dos lagos e reservatoacuterios

Hidrogeologia ndash estudo das aacuteguas subterracircneas

Sendo assim poucos problemas hidroloacutegicos podem ficar limitados a apenas um desses ramos

Frequumlentemente devido a grande inter-relaccedilotildees do fenocircmeno a soluccedilatildeo do problema soacute pode ser

dada atraveacutes de uma discussatildeo interdisciplinar com profissionais de um ou mais desses ramos Muitas

outras ciecircncias podem ainda ser utilizadas na Hidrologia tais como fiacutesica quiacutemica geologia geografia

mecacircnica dos fluidos estatiacutestica economia computaccedilatildeo direito etc

Ticiana Studart e Nilson Campos

appiacuteiacutet a CC tuulloo

22 Bacia Hidrograacutefica

1 GENERALIDADES

O ciclo hidroloacutegico

fechado uma vez que a q

comum o estudo pelos h

de efetiva importacircncia praacute

2 DEFINICcedilAtildeO

Segundo Viessman

topograficamente drenad

de uma simples saiacuteda para

3 DIVISORES

O primeiro passo a

seu contorno ou seja

encaminhando o escoame

Satildeo 3 os divisores d

Geoloacutegico

Freaacutetico

Topograacutefico

Dadas as dificuldad

estratos natildeo seguem um

e no niacutevel freaacutetico (devido

bacia a partir de curvas

divisatildeo topograacutefica

se considerado de maneira global pode ser visto como um sistema hidroloacutegico

uantidade total da aacutegua existente em nosso planeta eacute constante Entretanto eacute

idroacutelogos de subsistemas abertos A bacia hidrograacutefica destaca-se como regiatildeo

tica devido a simplicidade de que oferece na aplicaccedilatildeo do balanccedilo hiacutedrico

Harbaugh e Knapp (1972) bacia hidrograacutefica eacute uma aacuterea definida

a por um curso drsquo aacutegua ou um sistema conectado de cursos drsquo aacutegua dispondo

que toda vazatildeo efluente seja descarregada

ser seguido na caracterizaccedilatildeo de uma bacia eacute exatamente a delimitaccedilatildeo de

a linha de separaccedilatildeo que divide as precipitaccedilotildees em bacias vizinhas

nto superficial para um ou outro sistema fluvial

e uma bacia

es de se efetivar o traccedilado limitante com base nas formaccedilotildees rochosas (os

comportamento sistemaacutetico e a aacutegua precipitada pode escoar antes de infiltrar)

as alteraccedilotildees ao longo das estaccedilotildees do ano) o que se faz na praacutetica eacute limitar a

de niacutevel tomando pontos de cotas mais elevadas para comporem a linha da

PAGE

17

image1wmf

r

2

P

K

c

p

=

Cap 2 Bacia Hidrograacutefica

image39png

image40png image41png image42png image43png

image44png 1 GENERALIDADES

O ciclo hidroloacutegico se considerado de maneira global pode ser visto como um sistema hidroloacutegico fechado uma vez que a quantidade total da aacutegua existente em nosso planeta eacute constante Entretanto eacute comum o estudo pelos hidroacutelogos de subsistemas abertos A bacia hidrograacutefica destaca-se como regiatildeo de efetiva importacircncia praacutetica devido a simplicidade de que oferece na aplicaccedilatildeo do balanccedilo hiacutedrico

image45png 2 DEFINICcedilAtildeO

Segundo Viessman Harbaugh e Knapp (1972) bacia hidrograacutefica eacute uma aacuterea definida topograficamente drenada por um curso drsquo aacutegua ou um sistema conectado de cursos drsquo aacutegua dispondo de uma simples saiacuteda para que toda vazatildeo efluente seja descarregada

image46png 3 DIVISORES

O primeiro passo a ser seguido na caracterizaccedilatildeo de uma bacia eacute exatamente a delimitaccedilatildeo de seu contorno ou seja a linha de separaccedilatildeo que divide as precipitaccedilotildees em bacias vizinhas encaminhando o escoamento superficial para um ou outro sistema fluvial

Satildeo 3 os divisores de uma bacia

middot Geoloacutegico

middot Freaacutetico

middot Topograacutefico

Dadas as dificuldades de se efetivar o traccedilado limitante com base nas formaccedilotildees rochosas (os estratos natildeo seguem um comportamento sistemaacutetico e a aacutegua precipitada pode escoar antes de infiltrar) e no niacutevel freaacutetico (devido as alteraccedilotildees ao longo das estaccedilotildees do ano) o que se faz na praacutetica eacute limitar a bacia a partir de curvas de niacutevel tomando pontos de cotas mais elevadas para comporem a linha da divisatildeo topograacutefica

image47png

Figura 21 ndash Corte transversal de uma bacia (Fonte VILLELA 1975)

image48png 4 CARACTERIacuteSTICAS FIacuteSICAS DE UMA BACIA HIDROGRAacuteFICA

As caracteriacutesticas fiacutesicas de uma bacia compotildeem importante grupo de fatores que influem no escoamento superficial A seguir faremos de forma sucinta uma abordagem de efeitos relacionados a cada um deles tendo como exemplo os dados da Bacia do Riacho do Faustino localizada no municiacutepio do Crato Cearaacute

image49png 41 AacuteREA DE DRENAGEM

A aacuterea de uma bacia eacute a aacuterea plana inclusa entre seus divisores topograacuteficos Eacute obtida com a utilizaccedilatildeo de um planiacutemetro

A bacia do Riacho do Faustino tem uma aacuterea de 264 Km2

image50png

Figura 22 ndash Bacia hidrograacutefica do Riacho do Faustino (Crato-Cearaacute)

image51png 42 FORMA DA BACIA

Apoacutes ter seu contorno definido a bacia hidrograacutefica apresenta um formato Eacute evidente que este formato tem uma influecircncia sobre o escoamento global este efeito pode ser melhor demonstrado atraveacutes da apresentaccedilatildeo de 3 bacias de formatos diferentes poreacutem de mesma aacuterea e sujeitas a uma precipitaccedilatildeo de mesma intensidade Dividindo-as em segmentos concecircntricos dentro dos quais todos os pontos se encontram a uma mesma distacircncia do ponto de controle a bacia de formato A levaraacute 10 unidades de tempo (digamos horas) para que todos os pontos da bacia tenham contribuiacutedo para a descarga (tempo de concentraccedilatildeo) A bacia de formato B precisaraacute de 5 horas e a C de 85 horas Assim a aacutegua seraacute fornecida ao rio principal mais rapidamente na bacia B depois em C e A nesta ordem

image52png

Figura 23 ndash O efeito da forma da bacia hidrograacutefica (Fonte WILSON 1969)

Exprimir satisfatoriamente a forma de uma bacia hidrograacutefica por meio de iacutendice numeacuterico natildeo eacute tarefa faacutecil Apesar disto Gravelius propocircs dois iacutendices

421 COEFICIENTE DE COMPACIDADE (KC)

Eacute a relaccedilatildeo entre os periacutemetros da bacia e de um ciacuterculo de aacuterea igual a da bacia

image53png com
image2wmf

p

=

=

p

A

r

A

r

2

Substituindo temos

image3wmf

p

p

=

A

2

P

K

c

image4wmf

A

P

028

K

c

=

onde P e A satildeo respectivamente o periacutemetro (medido com o curviacutemetro e expresso em Km) e a aacuterea da bacia (medida com o planiacutemetro expressa em Km2) Um coeficiente miacutenimo igual a 1 corresponderia agrave bacia circular portanto inexistindo outros fatores quanto maior o Kc menos propensa agrave enchente eacute a bacia

422 FATOR DE FORMA (Kf)

Eacute a relaccedilatildeo entre a largura meacutedia da bacia (

image5wmf

L

) e o comprimento axial do curso drsquo aacutegua (L) O comprimento ldquoLrdquo eacute medido seguindo-se o curso drsquo aacutegua mais longo desde a cabeceira mais distante da bacia ateacute a desembocadura A largura meacutedia eacute obtida pela divisatildeo da aacuterea da bacia pelo comprimento da bacia

image6wmf

L

L

K

f

=

mas

image7wmf

L

A

L

=

entatildeo

image8wmf

2

f

L

A

K

=

Este iacutendice tambeacutem indica a maior ou menor tendecircncia para enchentes de uma bacia Uma bacia com Kf baixo ou seja com o L grande teraacute menor propensatildeo a enchentes que outra com mesma aacuterea mas Kf maior Isto se deve a fato de que numa bacia estreita e longa (Kf baixo) haver menor possibilidade de ocorrecircncia de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda a sua extensatildeo

A bacia do Riacho do Faustino apresenta os seguintes dados

A = 264 km2 = 26413000 m2

image9wmf

L = 10500 m

P = 25900 m

Assim

image10wmf

41

1

26413000

25900

28

0

A

P

28

0

K

c

=

=

=

image11wmf

41

1

K

c

=

image12wmf

24

0

)

500

10

(

000

413

26

L

A

K

2

2

f

=

=

=

image13wmf

24

0

K

f

=

43 SISTEMA DE DRENAGEM

O sistema de drenagem de uma bacia eacute constituiacutedo pelo rio principal e seus efluentes o padratildeo de seu sistema de drenagem tem um efeito marcante na taxa do ldquorunoffrdquo Uma bacia bem drenada tem menor tempo de concentraccedilatildeo ou seja o escoamento superficial concentra-se mais rapidamente e os picos de enchente satildeo altos

As caracteriacutesticas de uma rede de drenagem podem ser razoavelmente descritos pela ordem dos cursos drsquo aacutegua densidade de drenagem extensatildeo meacutedia do escoamento superficial e sinuosidade do curso drsquo aacutegua

431 ORDEM DOS CURSOS Drsquo AacuteGUA

A ordem dos rios eacute uma classificaccedilatildeo que reflete o grau de ramificaccedilatildeo dentro de uma bacia O criteacuterio descrito a seguir foi introduzido por Horton e modificado por Strahler

ldquoDesignam-se todos os afluentes que natildeo se ramificam (podendo desembocar no rio principal ou em seus ramos) como sendo de primeira ordem Os cursos drsquo aacutegua que somente recebem afluentes que natildeo se subdividem satildeo de segunda ordem Os de terceira ordem satildeo formados pela reuniatildeo de dois cursos drsquo aacutegua de segunda ordem e assim por dianterdquo

Figura 24 ndash Ordem dos cursos drsquo aacutegua na bacia do Riacho do Faustino

A ordem do rio principal mostra a extensatildeo da ramificaccedilatildeo da bacia

432 DENSIDADE DE DRENAGEM

A densidade de drenagem eacute expressa pelo comprimento total de todos os cursos drsquo aacutegua de uma bacia (sejam eles efecircmeros intermitentes ou perenes) e sua aacuterea total

image14wmf

A

D

1

d

aring

=

l

Para a Bacia do Riacho do Faustino

image15wmf

2

d

1

mm

001511

0

000

413

26

900

39

D

m

900

39

=

=

=

aring

l

433 EXTENSAtildeO MEacuteDIA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL (

image16wmf

l

)

Este paracircmetro indica a distacircncia meacutedia que a aacutegua de chuva teria que escoar sobre os terrenos da bacia (EM LINHA RETA) do ponto onde ocorreu sua queda ateacute o curso drsquo aacutegua mais proacuteximo Ele daacute uma ideacuteia da distacircncia meacutedia do escoamento superficial

A bacia em estudo eacute transformada em retacircngulo de mesma aacuterea onde o lado maior eacute a soma dos comprimentos dos rios da bacia (L =

image17wmf

aring

i

l

)

Figura 25 ndash Extensatildeo meacutedia do escoamento superficial (Fonte VILLELA 1975)

4

image18wmf

l

x L = A assim

image19wmf

l

=

image20wmf

L

4

A

Para a Bacia do Riacho do Faustino

image21wmf

m

x

5

165

39900

4

000

413

26

=

=

l

image22wmf

l

= 0165 km

434 SINUOSIDADE DO CURSO Drsquo AacuteGUA (SIN)

Eacute a relaccedilatildeo entre o comprimento do rio principal (L) e o comprimento do talvegue (Lt)

Sin =

image23wmf

t

L

L

Figura 26 ndash Comprimento do rio principal (L) e comprimento do talveque (Lt)

Para a Bacia do Riacho do Faustino

L = 10500 m

Lt = 8540 m

Sin =

image24wmf

23

1

540

8

500

10

=

Sin = 123

Obs Lt (comprimento do talvegue eacute a medida em LINHA RETA entre os pontos inicial e final do curso drsquo aacutegua principal)

44 RELEVO DA BACIA

441 DECLIVIDADE MEacuteDIA DA BACIA

A declividade dos terrenos de uma bacia controla em boa parte a velocidade com que se daacute o escoamento superficial (VILLELA 1975) Quanto mais iacutengreme for o terreno mais raacutepido seraacute o escoamento superficial o tempo de concentraccedilatildeo seraacute menor e os picos de enchentes maiores

A declividade da bacia pode ser determinada atraveacutes do Meacutetodo das Quadriacuteculas Este meacutetodo consiste em lanccedilar sobre o mapa topograacutefico da bacia um papel transparente sobre o qual estaacute traccedilada uma malha quadriculada com os pontos de interseccedilatildeo assinalados A cada um desses pontos associa-se um vetor perpendicular agrave curva de niacutevel mais proacutexima (orientado no sentido do escoamento) As declividades em cada veacutertice satildeo obtidas medindo-se na planta as menores distacircncias entre curvas de niacuteveis subsequentes a declividade eacute o quociente entre a diferenccedila da cota e a distacircncia medida em planta entre as curvas de niacutevel

Figura 27 ndash Meacutetodo das quadriacuteculas

Figura 28 ndash Declividade meacutedia da bacia do Riacho do Faustino

Apoacutes a determinaccedilatildeo da declividade dos vetores constroi-se uma tabela de distribuiccedilatildeo de frequumlecircncias tomando-se uma amplitude para as classes

Tabela 21 ndash Declividade meacutedia da bacia do Riacho do Faustino

Declividade meacutedia da bacia =

image25wmf

1241

ou

mm

1241

0

54

700

6

A distribuiccedilatildeo de frequumlecircncias pode ainda ser plotada no graacutefico declividade x frequumlecircncia acumulada (curva de distribuiccedilatildeo de declividade) Diferentes bacias podem ser plotadas num mesmo graacutefico para fins de comparaccedilatildeo curvas mais iacutengremas indicam um escoamento mais raacutepido

Figura 29 ndash Declividade de duas bacias (Fonte WILSON 1969)

442 ORIENTACcedilAtildeO DA BACIA

A orientaccedilatildeo da bacia eacute importante no que diz respeito a ventos prevalecentes e ao padratildeo de deslocamento de tempestades O meacutetodo da quadriacuteculas tambeacutem eacute utilizado pela determinaccedilatildeo do acircngulo ldquo(rdquo formado pelo vetor conforme diagrama abaixo

Figura 210 ndash Base para mediccedilatildeo dos acircngulos

A amplitude das classes consideradas no agrupamento de vetores foi de 225o Feita a distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia lanccedilamo-la no diagrama Rosa dos Ventos

Tabela 22 ndash Orientaccedilatildeo da bacia do Riacho do Faustino

24750o 270o 29250o

225o 315o

20250o 33750o

180o

0o

20o

15750o 2250o

135o 45o

11250o 6750o

90o

Figura 211 ndash Rosa dos ventos (a partir da tabela 21)

443 CURVA HIPSOMEacuteTRICA

Representa o estudo da variaccedilatildeo da elevaccedilatildeo dos vaacuterios terrenos da bacia com referecircncia ao niacutevel do mar Esta curva eacute traccedilada lanccedilando-se em sistema cartesiano a cota versus o percentual da aacuterea de drenagem com cota superior para isto deve-se fazer a leitura planimeacutetrica parceladamente Os dados foram dispostos em quadro de distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia

Tabela 23 ndash Distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia (bacia do Riacho do Faustino)

Figura 212 ndash Curva hipsomeacutetrica

444 ELEVACcedilAtildeO MEacuteDIA DA BACIA

A elevaccedilatildeo meacutedia da bacia eacute obtida atraveacutes do produto do ponto meacutedio entre duas curvas de niacutevel e a aacuterea compreendida entre elas (coluna 7 da Tabela 23) dividido pela aacuterea total

image26wmf

A

P

E

m

aring

=

i

A

x

image27wmf

9

462

413

26

49

226

12

=

=

E

image28wmf

m

E

9

462

=

445 RETAcircNGULO EQUIVALENTE

Consiste de um retacircngulo de mesma aacuterea e mesmo periacutemetro que a bacia onde se dispotildeem curvas de niacutevel paralelas ao menor lado de tal forma que mantenha sua hipsometria natural O retacircngulo equivalente permite interferecircncias semelhantes agraves da curva hipsomeacutetrica

Seja

P = periacutemetro da bacia

A = aacuterea da bacia

L = lado maior do retacircngulo equivalente

image29wmf

l

= lado menor do retacircngulo equivalente

Kc = coeficiente de compacidade da bacia

A = L x

image30wmf

l

P = 2

image31wmf

(

)

L

+

l

Dado Kc utiliza-se o aacutebaco ao lado e determina-se o valor de

image32wmf

A

L

Figura 2 13 ndash Aacutebaco

image33wmf

c

K

x

A

L

(Fonte VILLELA 1975)

Para a Bacia do Riacho do Faustino tem-se

image34wmf

02

2

A

L

41

1

K

c

=

reg

=

Com A = 264 Km3 ( L = 104 Km

Mas

image35wmf

(

)

Km

9

25

P

L

2

P

L

2

P

=

-

=

+

=

l

l

image36wmf

Km

5

2

=

l

Figura 214 ndash Retacircngulo equivalente

Para determinar a distacircncia entre as curvas de niacutevel no retacircngulo equivalente usou-se os caacutelculos da Tabela 23 dividida por 25

Tabela 24 ndash Caacutelculo da distacircncia entre curvas de niacutevel

446 DECLIVIDADE DO AacuteLVEO

A velocidade de escoamento de um rio depende da declividade dos canais fluviais quanto maior a declividade maior seraacute a velocidade de escoamento

A declividade do aacutelveo pode ser obtido de trecircs maneiras cada uma com diferente grau de representatividade

S1 linha com declividade obtida tomando a diferenccedila total de elevaccedilatildeo do leito pela extensatildeo horizontal do curso drsquo aacutegua

S2 linha com declividade obtida por compensaccedilatildeo de aacutereas de forma que a aacuterea entre ela e a abscissa seja igual agrave compreendida entre a curva do perfil e a abscissa

S3 linha obtida a partir da consideraccedilatildeo do tempo de percurso eacute a meacutedia harmocircnica ponderada da raiz quadrada das declividades dos diversos trechos retiliacuteneos tomando-se como peso a extensatildeo de cada trecho

Tabela 25 ndash Caacutelculo da declividade do aacutelveo

image38wmf

mm

00085

00849

0

9483

113

50082

10

D

L

L

S

m

m

08

0

500

10

21

80

500

10

h

S

m

m

0104

0

500

10

67

354

464

S

2

i

i

i

3

2

1

=

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

egrave

aelig

=

divide

divide

divide

divide

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

egrave

aelig

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

egrave

aelig

=

=

=

=

=

-

=

aring

aring

___ perfil longitudinal do curso drsquo aacutegua principal

Figura 215 ndash Declividade do aacutelveo

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

13

13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

13

Bacia Hidrograacutefica13

13

13

13

Capiacutetulo13

2 13

13

Hidrologia Aplicada13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

Cota

Distacircncia (m)

Distacircncia Acumulada

(na horizontal)

(km)

Declividade

por segmento

image37wmf

d

Dist Real

(na linha inclinada)

(km)

Colunas

6 5

35467

-

-

-

-

-

-

360

840

084

000635

007969

084006

105416

400

6300

714

000635

007969

630013

790579

440

2100

924

001905

013802

210038

152179

464

1260

105

001905

013802

126025

91309

1050082

1139483

Cotas (m)

Fraccedilatildeo de Aacuterea Acumulada

Comprimentos Acumulados (Km)

680 640

017

00184

640 600

088

00918

620 560

600

06249

580 520

1607

16725

540 480

3639

37862

500 440

6113

63594

460 400

8799

91531

420 360

9859

102559

380 320

10000

104030

Cotas (m)

Ponto Meacutedio (m)

Aacuterea

(Km2)

Aacuterea Acumulada (km2)

Acumulada

2 x 3

680 640

660

00466

0466

017

017

3076

640 600

620

01866

02332

071

088

11569

600 560

580

03533

15865

512

600

78491

560 520

540

26600

42465

1007

1607

143640

520 480

500

53666

96131

2032

3639

268330

480 440

460

65333

161464

2474

6113

300532

440 400

420

70933

232397

2686

8799

297919

400 360

380

2800

260397

1060

9859

106400

360 320

340

03733

264130

141

10000

12692

264130

1222649

Classes de Acircngulos

fi

fr()

0o 225o

1

185

225o 45o

3

556

45o 675o

2

370

675o 90o

5

926

90o 1125o

3

556

1125o 135o

3

556

135o 1575o

2

370

1575o 180o

2

370

180o 2025o

2

370

2025o 225o

5

926

225o 2475o

10

1850

2475o 270o

5

926

270o 2925o

4

741

2925o 315o

5

926

315o 3375o

2

370

3375o 360o

0

000

54

CLASSES

Fi

fi ()

fi acum ()

Ponto Meacutedio da Classe

2 X 5

00000 I( 00500

16

2963

10000

00250

0400

00500 I( 01000

12

2222

7037

00750

0900

01000 I( 01500

13

2407

4815

01250

1625

01500 I( 02000

4

742

2408

01750

0700

02000 I( 02500

0

000

1666

02250

0000

02500 I( 03000

7

1296

370

02750

1925

03000 I( 03500

0

000

370

03250

0000

03500 I( 04000

0

000

370

03750

0000

04000 I( 04500

0

000

370

04250

0000

04500 I( 05000

0

000

370

04750

0000

05000 I( 05500

0

000

370

05250

0000

05500 I( 06000

2

370

370

05750

1150

( 54

6700

Page 4: TICIANA M. CARVALHO STUDART - aedmoodle.ufpa.br

3Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

A descriccedilatildeo acima simplifica sobremaneira o processo que realmente ocorre (Figura 13) uma vez que

natildeo estatildeo computadas as eventuais interrupccedilotildees que podem ocorrer em vaacuterios estaacutegios (Ex

precipitaccedilatildeo sobre o oceano) e a iacutentima dependecircncia das intensidade e frequumlecircncia do ciclo hidroloacutegico

com a geografia e o clima local

Alguns toacutepicos p

1 O s

atu

esta

2 A a

accedilatilde

3 Sob

gra

(1) Quando a precifusatildeo

Figura 13 ndash Ciclo Hidroloacutegico (Fonte Dnaee)

odem ser destacados

ol constitui-se na fonte de energia para a realizaccedilatildeo do ciclo O calor por ele liberado

a sobre a superfiacutecie dos oceanos rios e lagos estimulando a conversatildeo da aacutegua do

do liacutequido para gasoso

scensatildeo do vapor drsquo aacutegua conduz agrave formaccedilatildeo de nuvens que podem se deslocar sob a

o do vento para regiotildees continentais

condiccedilotildees favoraacuteveis a aacutegua condensada nas nuvens precipita (sob forma de neve

nizo ou chuva)(1) podendo ser dispersada de vaacuterias formas

pitaccedilatildeo se daacute sob forma de neve ou granizo a retenccedilatildeo no solo eacute mais demorada ateacute que ali se processe a

Ticiana Studart e Nilson Campos

4Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Retenccedilatildeo temporaacuteria ao solo proacuteximo de onde caiu

Escoamento sobre a superfiacutecie do solo ou atraveacutes do solo para os rios

Penetraccedilatildeo no solo profundo

4 Atingindo os veios drsquo aacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano

completando o ciclo

5 As depressotildees superficiais porventura existentes reteacutem a aacutegua precipitada

temporariamente Essa aacutegua poderaacute retornar para compor fases seguintes do ciclo pela

evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo da plantas

6 Os escoamentos superficial e subterracircneo decorrem da accedilatildeo da gravidade podendo parte

desta aacutegua ser evaporada ou infiltrada antes de atingir o curso drsquo aacutegua

7 Atingindo os veios drsquoaacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano

completando o ciclo

8 A evaporaccedilatildeo acompanha o ciclo hidroloacutegico em quase todas as suas fases seja durante a

precipitaccedilatildeo seja durante o escoamento superficial

Dotado de certa aleatoriedade temporal e espacial o ciclo hidroloacutegico configura processos bem mais

complexos que os acima descritos Uma vez que as etapas precedentes agrave precipitaccedilatildeo estatildeo dentro do

escopo da meteorologia compete ao hidroacutelogo conhecer principalmente as fases do ciclo que se

processam sobre a superfiacutecie terrestre quais sejam precipitaccedilatildeo evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo

escoamento superficial e escoamento subterracircneo

3 UM POUCO DA HISTOacuteRIA DA HIDROLOGIA

Os mais antigos trabalhos de drenagem e irrigaccedilatildeo em larga escala satildeo atribuiacutedos ao Faraoacute Meneacutes

fundador da primeira dinastia egiacutepcia que barrou o rio Nilo proacuteximo a Mecircnphis com uma barragem

de 15m e extensatildeo de aproximadamente 500 metros para alimentar o canal de irrigaccedilatildeo

Tambeacutem no Egito encontram-se os primeiros registros sistemaacuteticos de niacuteveis de enchentes Estes

registros datam de 3500 aC e indicavam aos agricultores a eacutepoca oportuna de romper os diques para

inundar e fertilizar as terras agricultaacuteveis Nota-se que aos egiacutepcios pouco importava o estudo da

Hidrologia como ciecircncia e sim A sua utilizaccedilatildeo

Ticiana Studart e Nilson Campos

5Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Muitos conceitos errocircneos e falhas de compreensatildeo atravessaram o desenvolvimento da engenharia

no seu sentido atual Os gregos foram os primeiros filoacutesofos que estudaram seriamente a Hidrologia

com Aristoacuteteles sugerindo que os rios eram alimentados pelas chuvas Sua maior dificuldade eram

explicar a origem da aacutegua subterracircnea Somente na eacutepoca de Leonardo da Vinci (por volta de 1500

dC)a ideacuteia da alimentaccedilatildeo dos rios pela precipitaccedilatildeo comeccedilou a ser aceita No entanto foi apenas no

ano de 1694 que Perrault atraveacutes de medidas pluviomeacutetricas na bacia do rio Sena demonstrou

quantitativamente que o volume precipitado ao longo do ano era suficiente para manter o volume

escoado

O astrocircnomo inglecircs Halley em 1693 provou que a evaporaccedilatildeo da aacutegua do mar era suficiente para

responder por todas as nascentes e fluxos drsquoaacutegua Mariotte 1em 1686 mediu a velocidade do rio

Sena Estes primeiros conhecimentos de Hidrologia permitiram inuacutemros avanccedilos no Seacuteculo XVIII

incluindo o teorema de Bernoulli o Tubo Pitot e a Foacutermula de Chegravezy que formam a base da Hidraacuteulica

e da Mecacircnica dos Fluidos

Durante o Seacuteculo XIX foram feitos significantes avanccedilos na teoria da aacutegua subterracircnea incluindo a

Lei de Darcy No que se refere agrave Hidrologia de aacuteguas superficiais muitas foacutermulas e instrumentos de

mediccedilatildeo foram criados

Chow (1954) chamou o periacuteodo compreendido entre 1900 e 1930 ficou conhecido como o Periacuteodo do

Empirismo O periacuteodo de 1930 a 1950 seria o Periacuteodo da Racionalizaccedilatildeo Datam desta eacutepoca o

Hidrograma Unitaacuterio de Sherman (1932) e a Teoria da Infiltraccedilatildeo de Horton (1933) Entre 1940 a 1950

foram feitos significantes avanccedilos no entendimento do processo de evaporaccedilatildeo Em 1958 Gumbel

llanccedila as bases da moderna hidrologia estocaacutestica A partir da deacutecada de 70 a Hidrologia passa a

contar com o avanccedilos computacionais o que levaram ao desenvolvimento de muitos modelos de

simulaccedilatildeo

4 DISPONIBILIDADES HIacuteDRICAS MUNDIAIS

Segundo Lvovich (apud Raudikivi 1979) a ordem de grandeza e a distribuiccedilatildeo das disponibilidades

hiacutedricas no mundo satildeo as mostradas na Tabela 11

Ticiana Studart e Nilson Campos

6Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Tabela 11 ndash Distribuiccedilatildeo das disponibilidades hiacutedricas no mundo

Fonte

Superfiacutecie (106 Km2)

Volume

(106 Km2)

do Volume Total

Oceanos 360 1370323 9393

Aacuteguas Subterracircneas - 64000 439

Geleiras e Neve Perpeacutetua 16 24000 165

Lagos - 230 0016

Umidade do Solo - 75 0005

Aacutegua na Atmosfera 510 14 0001

Rios 12 00001

Total 1458643 100 Fonte Raudikivi (1979)

Deste total cerca de 94 eacute de aacutegua salgada e apenas 6 de aacutegua doce Desconsiderando a

quantidade de aacutegua doce sob forma de geleiras aacuteguas subterracircneas e umidade atmosfeacuterica iacutenfimos

00161 do total da aacutegua do Planeta estatildeo disponiacuteveis em rios e lagos (Figura 14) os quais natildeo se

encontram equumlitativamente distribuiacutedos sobre todo o Planeta

Figura 14 ndash Aacutegua doce disponiacutevel em lagos e rios

Para se dar uma pequena ideacuteia da maacute distribuiccedilatildeo espacial da aacutegua cita-se o exemplo do Brasil que

possui cerca de 12 das reservas hiacutedricas superficiais do mundo mas com aproximadamente 65

destes recursos concentrados na Amazocircnia

Ticiana Studart e Nilson Campos

7Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Questotildees a se pensar

1 Por que se preocupar com as vaacuterias fases do ciclo hidroloacutegico

2 Se o estudo da Hidrologia natildeo era importante haacute 30-40 anos atraacutes por que o deveria

ser hoje

3 Se essa quantidade de aacutegua doce nunca foi motivo de grandes preocupaccedilotildees por que o

seria agora

5 A AacuteGUA E O DESENVOLVIMENTO

A aacutegua sempre desempenhou um papel fundamental na histoacuteria da humanidade O surgimento das

cidades sempre se deu ao longo os rios Entretanto natildeo se tinha a percepccedilatildeo da importacircncia da aacutegua

como hoje uma vez que sua qualidade e quantidade eram adequadas agraves necessidades da eacutepoca ndash

abastecimento diluiccedilatildeo de dejetos pesca geraccedilatildeo de energia entre outros Como as fontes hiacutedricas

natildeo eram desenvolvidas no limite de sua possibilidades havia pouco interesse em se obter dados e

conhecimento a respeito de suas capacidades maacuteximas e assim a Hidrologia como ciecircncia pouco

se desenvolveu

Hoje o cenaacuterio eacute outro Segundo a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) o consumo mundial de

aacutegua doce dobrou nos uacuteltimos 50 anos e corresponde atualmente agrave metade de todos os recursos

hiacutedricos acessiacuteveis Explorar tais recursos foi o motor do desenvolvimento econocircmico de muitos paiacuteses

sobretudo na agricultura abastecimento humano e animal geraccedilatildeo de energia induacutestria e transporte

Poreacutem a competiccedilatildeo por aacutegua entre tais setores vem degradando as fontes naturais das quais o

mundo depende O ciclo natural da aacutegua tem sido interrompido ou alterado em regiotildees muito

artificializadas como as megacidades

Eacute consenso geral que a gestatildeo das aacuteguas eacute uma necessidade E assim a Hidrologia ressurge hoje

como ferramenta indispensaacutevel para tal fim uma vez eacute a ciecircncia que trata do entendimento dos

processos naturais que datildeo base aos projetos de suprimento de aacutegua Soacute ela pode avaliar como e

quanto o ciclo hidroloacutegico pode ser modificado pelas atividades humanas

No passado jaacute existiam estes sinais de desconhecimento da Hidrologia mas os mesmos soacute afetavam

pequenas parcelas da populaccedilatildeo e tinham pouca divulgaccedilatildeo Isto tem mudado significativamente nos

uacuteltimos 30 anos Hoje jaacute se tem o entendimento que a prosperidade e a sobrevivecircncia da humanidade

eacute funccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua doce e potaacutevel e que a cada ano nascem mais alguns milhotildees de

consumidores e natildeo eacute criada sequer uma gota drsquoaacutegua a mais no Planeta

Ticiana Studart e Nilson Campos

8Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Os muacuteltiplos usos e usuaacuterios disputando um mesmo litro de aacutegua e a perspectiva de demandas

ainda maiores no futuro indicam que mais e mais profissionais ndash e natildeo somente o engenheiro ndash

necessitam ter conhecimentos de Hidrologia Somente assim os tomadores de decisatildeo poderatildeo avaliar

as vantagens e desvantagens de cada alteraccedilatildeo proposta no ciclo hidroloacutegico

Exemplos da falta de conhecimentos de Hidrologia na sociedade moderna

1 Construccedilatildeo nas planiacutecies aluviais de rios

2 Reservatoacuterios superdimensionados

3 Problemas de drenagem urbana

4 Construccedilatildeo e reservatoacuterios pouco profundos em regiotildees com altas taxas de evaporaccedilatildeo

5 Perfuraccedilatildeo de poccedilos secos em regiotildees cristalinas

6 Problemas de salinizaccedilatildeo de solos em projetos de irrigaccedilatildeo em regiotildees aacuteridas e semi-

aacuteridas

Exemplo concreto 1 o Accedilude Cedro ndash Ce

O Accedilude Cedro foi construiacutedo em 1906 no municiacutepio de Quixadaacute Cearaacute Exemplo claacutessico de falta de

conhecimento hidroloacutegico o reservatoacuterio foi superdimensionado construiacutedo com capacidade de

acumulaccedilatildeo equivalente a seis vezes seu volume afluente anual Tendo sangrado pouquiacutessimas vezes

desde sua construccedilatildeo a Figura 15 mostra uma das ocasiotildees em que esvaziou totalmente em 2001

Figura 15 - Accedilude Cedro ndash Ce (vazio em novembro de 2001)

Ticiana Studart e Nilson Campos

9Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Exemplo concreto 2 Inundaccedilatildeo em Fortaleza Ce

A Figura 16 mostra um problema de drenagem urbana caracteriacutesticos das grandes cidades no caso

Fortaleza Ce

6 APLICACcedilOtildeES

A Hidrologia natildeo eacute

aplicaccedilotildees praacuteticas

algumas das aplica

Escolha

Sub

Supreg

Drenag

Drenag

Irrigaccedilatilde

Figura 16--Enchente em Fortaleza Ce em 1997

DA HIDROLOGIA Agrave ENGENHARIA

uma ciecircncia pura uma vez que o objeto de estudo eacute usualmente dirigido para

sendo assim o termo ldquoHidrologia Aplicadardquo eacute frequumlentemente utilizado Eis

ccedilotildees da hidrologia

de fontes de abastecimento de aacutegua

terracircnea - locaccedilatildeo do poccedilo e capacidade de bombeamento

erficial ndash locaccedilatildeo da barragem estimativa da vazatildeo afluente e da vazatildeo a ser ularizada dimensionamento do reservatoacuterio e do sangradouro

em urbana ndash dimensionamento de bueiros

em de rodovias ndash dimensionamento de pontes e pontilhotildees

o ndash fonte de abastecimento estimativa da evapotranspiraccedilatildeo da cultura

Ticiana Studart e Nilson Campos

10Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Controle de enchentes ndash dragagem do leito do rio construccedilatildeo de reservatoacuterios de controle

de cheias

Exemplo concreto 1 cheias e secas no rio Capibaribe

A Bacia do rio Capibaribe Pernambuco tem sua histoacuteria intimamente ligada a episoacutedios de cheias

catastroacuteficas notadamente na Regiatildeo Metropolitana de Recife Entretanto nos uacuteltimos anos a cidade

vem sendo atingida por uma grave crise no abastecimento drsquoaacutegua sendo obrigatoacuterio o uso extensivo

de carros-pipa Os quatro maiores accediludes da bacia ndash Jucazinho Carpina Goitaacute e Tapacuraacute

representam cerca de 91 do total acumulado nos accediludes mais importantes da bacia e satildeo utilizados

tanto para controle de cheias como para o abastecimento A operaccedilatildeo de reservatoacuterios com muacuteltiplas

finalidades eacute feita tradicionalmente com a divisatildeo do volume total armazenaacutevel em zonas para o

atendimento de seus diferentes objetivos Na praacutetica a divisatildeo consiste em se alocar volumes de

reserva para as respectivas finalidades Objetivos diametralmente conflitantes como controle de

cheias ndash que requer que a parte do volume destinada a este fim permaneccedila seca para que a cheia

possa assim ser contida ndash e conservaccedilatildeo ndash que precisa que a aacutegua seja efetivamente armazenada

para usos futuros em irrigaccedilatildeo e abastecimento municipal e industrial ndash natildeo satildeo faacuteceis de conciliar

As figuras 17 e 18 mostram respectivamente um esquema da bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe

com seus barramentos construiacutedos ao longo de seu leito e Recife em um episoacutedio de inundaccedilatildeo

Figura 17 -- Bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe (Pe) e seus barramentos

Ticiana Studart e Nilson Campos

11Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Figura 16--Enchente em Recife Pe

7 RELACcedilAtildeO DA HIDROLOGIA COM OUTRAS CIEcircNCIAS

Devido a natureza complexa do ciclo hidroloacutegico e suas relaccedilotildees com os padrotildees climaacuteticos tipos de

solos topografia e geologia as fronteiras entre a hidrologia e as outras ciecircncias da terra tais como

meteorologia geologia ecologia e oceanografia natildeo satildeo muito distintas Na realidade tais ciecircncias

tambeacutem podem ser consideradas ramos da hidrologia

Meteorologia e Hidrometeorologia ndash estudo da aacutegua atmosfeacuterica

Oceanografia ndash estudo dos oceanos

Hidrografia ndash estudo das aacuteguas superficiais

Potamologia ndash estudo dos rios

Limnologia ndash estudo dos lagos e reservatoacuterios

Hidrogeologia ndash estudo das aacuteguas subterracircneas

Sendo assim poucos problemas hidroloacutegicos podem ficar limitados a apenas um desses ramos

Frequumlentemente devido a grande inter-relaccedilotildees do fenocircmeno a soluccedilatildeo do problema soacute pode ser

dada atraveacutes de uma discussatildeo interdisciplinar com profissionais de um ou mais desses ramos Muitas

outras ciecircncias podem ainda ser utilizadas na Hidrologia tais como fiacutesica quiacutemica geologia geografia

mecacircnica dos fluidos estatiacutestica economia computaccedilatildeo direito etc

Ticiana Studart e Nilson Campos

appiacuteiacutet a CC tuulloo

22 Bacia Hidrograacutefica

1 GENERALIDADES

O ciclo hidroloacutegico

fechado uma vez que a q

comum o estudo pelos h

de efetiva importacircncia praacute

2 DEFINICcedilAtildeO

Segundo Viessman

topograficamente drenad

de uma simples saiacuteda para

3 DIVISORES

O primeiro passo a

seu contorno ou seja

encaminhando o escoame

Satildeo 3 os divisores d

Geoloacutegico

Freaacutetico

Topograacutefico

Dadas as dificuldad

estratos natildeo seguem um

e no niacutevel freaacutetico (devido

bacia a partir de curvas

divisatildeo topograacutefica

se considerado de maneira global pode ser visto como um sistema hidroloacutegico

uantidade total da aacutegua existente em nosso planeta eacute constante Entretanto eacute

idroacutelogos de subsistemas abertos A bacia hidrograacutefica destaca-se como regiatildeo

tica devido a simplicidade de que oferece na aplicaccedilatildeo do balanccedilo hiacutedrico

Harbaugh e Knapp (1972) bacia hidrograacutefica eacute uma aacuterea definida

a por um curso drsquo aacutegua ou um sistema conectado de cursos drsquo aacutegua dispondo

que toda vazatildeo efluente seja descarregada

ser seguido na caracterizaccedilatildeo de uma bacia eacute exatamente a delimitaccedilatildeo de

a linha de separaccedilatildeo que divide as precipitaccedilotildees em bacias vizinhas

nto superficial para um ou outro sistema fluvial

e uma bacia

es de se efetivar o traccedilado limitante com base nas formaccedilotildees rochosas (os

comportamento sistemaacutetico e a aacutegua precipitada pode escoar antes de infiltrar)

as alteraccedilotildees ao longo das estaccedilotildees do ano) o que se faz na praacutetica eacute limitar a

de niacutevel tomando pontos de cotas mais elevadas para comporem a linha da

PAGE

17

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r

2

P

K

c

p

=

Cap 2 Bacia Hidrograacutefica

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image40png image41png image42png image43png

image44png 1 GENERALIDADES

O ciclo hidroloacutegico se considerado de maneira global pode ser visto como um sistema hidroloacutegico fechado uma vez que a quantidade total da aacutegua existente em nosso planeta eacute constante Entretanto eacute comum o estudo pelos hidroacutelogos de subsistemas abertos A bacia hidrograacutefica destaca-se como regiatildeo de efetiva importacircncia praacutetica devido a simplicidade de que oferece na aplicaccedilatildeo do balanccedilo hiacutedrico

image45png 2 DEFINICcedilAtildeO

Segundo Viessman Harbaugh e Knapp (1972) bacia hidrograacutefica eacute uma aacuterea definida topograficamente drenada por um curso drsquo aacutegua ou um sistema conectado de cursos drsquo aacutegua dispondo de uma simples saiacuteda para que toda vazatildeo efluente seja descarregada

image46png 3 DIVISORES

O primeiro passo a ser seguido na caracterizaccedilatildeo de uma bacia eacute exatamente a delimitaccedilatildeo de seu contorno ou seja a linha de separaccedilatildeo que divide as precipitaccedilotildees em bacias vizinhas encaminhando o escoamento superficial para um ou outro sistema fluvial

Satildeo 3 os divisores de uma bacia

middot Geoloacutegico

middot Freaacutetico

middot Topograacutefico

Dadas as dificuldades de se efetivar o traccedilado limitante com base nas formaccedilotildees rochosas (os estratos natildeo seguem um comportamento sistemaacutetico e a aacutegua precipitada pode escoar antes de infiltrar) e no niacutevel freaacutetico (devido as alteraccedilotildees ao longo das estaccedilotildees do ano) o que se faz na praacutetica eacute limitar a bacia a partir de curvas de niacutevel tomando pontos de cotas mais elevadas para comporem a linha da divisatildeo topograacutefica

image47png

Figura 21 ndash Corte transversal de uma bacia (Fonte VILLELA 1975)

image48png 4 CARACTERIacuteSTICAS FIacuteSICAS DE UMA BACIA HIDROGRAacuteFICA

As caracteriacutesticas fiacutesicas de uma bacia compotildeem importante grupo de fatores que influem no escoamento superficial A seguir faremos de forma sucinta uma abordagem de efeitos relacionados a cada um deles tendo como exemplo os dados da Bacia do Riacho do Faustino localizada no municiacutepio do Crato Cearaacute

image49png 41 AacuteREA DE DRENAGEM

A aacuterea de uma bacia eacute a aacuterea plana inclusa entre seus divisores topograacuteficos Eacute obtida com a utilizaccedilatildeo de um planiacutemetro

A bacia do Riacho do Faustino tem uma aacuterea de 264 Km2

image50png

Figura 22 ndash Bacia hidrograacutefica do Riacho do Faustino (Crato-Cearaacute)

image51png 42 FORMA DA BACIA

Apoacutes ter seu contorno definido a bacia hidrograacutefica apresenta um formato Eacute evidente que este formato tem uma influecircncia sobre o escoamento global este efeito pode ser melhor demonstrado atraveacutes da apresentaccedilatildeo de 3 bacias de formatos diferentes poreacutem de mesma aacuterea e sujeitas a uma precipitaccedilatildeo de mesma intensidade Dividindo-as em segmentos concecircntricos dentro dos quais todos os pontos se encontram a uma mesma distacircncia do ponto de controle a bacia de formato A levaraacute 10 unidades de tempo (digamos horas) para que todos os pontos da bacia tenham contribuiacutedo para a descarga (tempo de concentraccedilatildeo) A bacia de formato B precisaraacute de 5 horas e a C de 85 horas Assim a aacutegua seraacute fornecida ao rio principal mais rapidamente na bacia B depois em C e A nesta ordem

image52png

Figura 23 ndash O efeito da forma da bacia hidrograacutefica (Fonte WILSON 1969)

Exprimir satisfatoriamente a forma de uma bacia hidrograacutefica por meio de iacutendice numeacuterico natildeo eacute tarefa faacutecil Apesar disto Gravelius propocircs dois iacutendices

421 COEFICIENTE DE COMPACIDADE (KC)

Eacute a relaccedilatildeo entre os periacutemetros da bacia e de um ciacuterculo de aacuterea igual a da bacia

image53png com
image2wmf

p

=

=

p

A

r

A

r

2

Substituindo temos

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p

p

=

A

2

P

K

c

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A

P

028

K

c

=

onde P e A satildeo respectivamente o periacutemetro (medido com o curviacutemetro e expresso em Km) e a aacuterea da bacia (medida com o planiacutemetro expressa em Km2) Um coeficiente miacutenimo igual a 1 corresponderia agrave bacia circular portanto inexistindo outros fatores quanto maior o Kc menos propensa agrave enchente eacute a bacia

422 FATOR DE FORMA (Kf)

Eacute a relaccedilatildeo entre a largura meacutedia da bacia (

image5wmf

L

) e o comprimento axial do curso drsquo aacutegua (L) O comprimento ldquoLrdquo eacute medido seguindo-se o curso drsquo aacutegua mais longo desde a cabeceira mais distante da bacia ateacute a desembocadura A largura meacutedia eacute obtida pela divisatildeo da aacuterea da bacia pelo comprimento da bacia

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L

L

K

f

=

mas

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L

A

L

=

entatildeo

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2

f

L

A

K

=

Este iacutendice tambeacutem indica a maior ou menor tendecircncia para enchentes de uma bacia Uma bacia com Kf baixo ou seja com o L grande teraacute menor propensatildeo a enchentes que outra com mesma aacuterea mas Kf maior Isto se deve a fato de que numa bacia estreita e longa (Kf baixo) haver menor possibilidade de ocorrecircncia de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda a sua extensatildeo

A bacia do Riacho do Faustino apresenta os seguintes dados

A = 264 km2 = 26413000 m2

image9wmf

L = 10500 m

P = 25900 m

Assim

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41

1

26413000

25900

28

0

A

P

28

0

K

c

=

=

=

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41

1

K

c

=

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24

0

)

500

10

(

000

413

26

L

A

K

2

2

f

=

=

=

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24

0

K

f

=

43 SISTEMA DE DRENAGEM

O sistema de drenagem de uma bacia eacute constituiacutedo pelo rio principal e seus efluentes o padratildeo de seu sistema de drenagem tem um efeito marcante na taxa do ldquorunoffrdquo Uma bacia bem drenada tem menor tempo de concentraccedilatildeo ou seja o escoamento superficial concentra-se mais rapidamente e os picos de enchente satildeo altos

As caracteriacutesticas de uma rede de drenagem podem ser razoavelmente descritos pela ordem dos cursos drsquo aacutegua densidade de drenagem extensatildeo meacutedia do escoamento superficial e sinuosidade do curso drsquo aacutegua

431 ORDEM DOS CURSOS Drsquo AacuteGUA

A ordem dos rios eacute uma classificaccedilatildeo que reflete o grau de ramificaccedilatildeo dentro de uma bacia O criteacuterio descrito a seguir foi introduzido por Horton e modificado por Strahler

ldquoDesignam-se todos os afluentes que natildeo se ramificam (podendo desembocar no rio principal ou em seus ramos) como sendo de primeira ordem Os cursos drsquo aacutegua que somente recebem afluentes que natildeo se subdividem satildeo de segunda ordem Os de terceira ordem satildeo formados pela reuniatildeo de dois cursos drsquo aacutegua de segunda ordem e assim por dianterdquo

Figura 24 ndash Ordem dos cursos drsquo aacutegua na bacia do Riacho do Faustino

A ordem do rio principal mostra a extensatildeo da ramificaccedilatildeo da bacia

432 DENSIDADE DE DRENAGEM

A densidade de drenagem eacute expressa pelo comprimento total de todos os cursos drsquo aacutegua de uma bacia (sejam eles efecircmeros intermitentes ou perenes) e sua aacuterea total

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A

D

1

d

aring

=

l

Para a Bacia do Riacho do Faustino

image15wmf

2

d

1

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001511

0

000

413

26

900

39

D

m

900

39

=

=

=

aring

l

433 EXTENSAtildeO MEacuteDIA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL (

image16wmf

l

)

Este paracircmetro indica a distacircncia meacutedia que a aacutegua de chuva teria que escoar sobre os terrenos da bacia (EM LINHA RETA) do ponto onde ocorreu sua queda ateacute o curso drsquo aacutegua mais proacuteximo Ele daacute uma ideacuteia da distacircncia meacutedia do escoamento superficial

A bacia em estudo eacute transformada em retacircngulo de mesma aacuterea onde o lado maior eacute a soma dos comprimentos dos rios da bacia (L =

image17wmf

aring

i

l

)

Figura 25 ndash Extensatildeo meacutedia do escoamento superficial (Fonte VILLELA 1975)

4

image18wmf

l

x L = A assim

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l

=

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L

4

A

Para a Bacia do Riacho do Faustino

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m

x

5

165

39900

4

000

413

26

=

=

l

image22wmf

l

= 0165 km

434 SINUOSIDADE DO CURSO Drsquo AacuteGUA (SIN)

Eacute a relaccedilatildeo entre o comprimento do rio principal (L) e o comprimento do talvegue (Lt)

Sin =

image23wmf

t

L

L

Figura 26 ndash Comprimento do rio principal (L) e comprimento do talveque (Lt)

Para a Bacia do Riacho do Faustino

L = 10500 m

Lt = 8540 m

Sin =

image24wmf

23

1

540

8

500

10

=

Sin = 123

Obs Lt (comprimento do talvegue eacute a medida em LINHA RETA entre os pontos inicial e final do curso drsquo aacutegua principal)

44 RELEVO DA BACIA

441 DECLIVIDADE MEacuteDIA DA BACIA

A declividade dos terrenos de uma bacia controla em boa parte a velocidade com que se daacute o escoamento superficial (VILLELA 1975) Quanto mais iacutengreme for o terreno mais raacutepido seraacute o escoamento superficial o tempo de concentraccedilatildeo seraacute menor e os picos de enchentes maiores

A declividade da bacia pode ser determinada atraveacutes do Meacutetodo das Quadriacuteculas Este meacutetodo consiste em lanccedilar sobre o mapa topograacutefico da bacia um papel transparente sobre o qual estaacute traccedilada uma malha quadriculada com os pontos de interseccedilatildeo assinalados A cada um desses pontos associa-se um vetor perpendicular agrave curva de niacutevel mais proacutexima (orientado no sentido do escoamento) As declividades em cada veacutertice satildeo obtidas medindo-se na planta as menores distacircncias entre curvas de niacuteveis subsequentes a declividade eacute o quociente entre a diferenccedila da cota e a distacircncia medida em planta entre as curvas de niacutevel

Figura 27 ndash Meacutetodo das quadriacuteculas

Figura 28 ndash Declividade meacutedia da bacia do Riacho do Faustino

Apoacutes a determinaccedilatildeo da declividade dos vetores constroi-se uma tabela de distribuiccedilatildeo de frequumlecircncias tomando-se uma amplitude para as classes

Tabela 21 ndash Declividade meacutedia da bacia do Riacho do Faustino

Declividade meacutedia da bacia =

image25wmf

1241

ou

mm

1241

0

54

700

6

A distribuiccedilatildeo de frequumlecircncias pode ainda ser plotada no graacutefico declividade x frequumlecircncia acumulada (curva de distribuiccedilatildeo de declividade) Diferentes bacias podem ser plotadas num mesmo graacutefico para fins de comparaccedilatildeo curvas mais iacutengremas indicam um escoamento mais raacutepido

Figura 29 ndash Declividade de duas bacias (Fonte WILSON 1969)

442 ORIENTACcedilAtildeO DA BACIA

A orientaccedilatildeo da bacia eacute importante no que diz respeito a ventos prevalecentes e ao padratildeo de deslocamento de tempestades O meacutetodo da quadriacuteculas tambeacutem eacute utilizado pela determinaccedilatildeo do acircngulo ldquo(rdquo formado pelo vetor conforme diagrama abaixo

Figura 210 ndash Base para mediccedilatildeo dos acircngulos

A amplitude das classes consideradas no agrupamento de vetores foi de 225o Feita a distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia lanccedilamo-la no diagrama Rosa dos Ventos

Tabela 22 ndash Orientaccedilatildeo da bacia do Riacho do Faustino

24750o 270o 29250o

225o 315o

20250o 33750o

180o

0o

20o

15750o 2250o

135o 45o

11250o 6750o

90o

Figura 211 ndash Rosa dos ventos (a partir da tabela 21)

443 CURVA HIPSOMEacuteTRICA

Representa o estudo da variaccedilatildeo da elevaccedilatildeo dos vaacuterios terrenos da bacia com referecircncia ao niacutevel do mar Esta curva eacute traccedilada lanccedilando-se em sistema cartesiano a cota versus o percentual da aacuterea de drenagem com cota superior para isto deve-se fazer a leitura planimeacutetrica parceladamente Os dados foram dispostos em quadro de distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia

Tabela 23 ndash Distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia (bacia do Riacho do Faustino)

Figura 212 ndash Curva hipsomeacutetrica

444 ELEVACcedilAtildeO MEacuteDIA DA BACIA

A elevaccedilatildeo meacutedia da bacia eacute obtida atraveacutes do produto do ponto meacutedio entre duas curvas de niacutevel e a aacuterea compreendida entre elas (coluna 7 da Tabela 23) dividido pela aacuterea total

image26wmf

A

P

E

m

aring

=

i

A

x

image27wmf

9

462

413

26

49

226

12

=

=

E

image28wmf

m

E

9

462

=

445 RETAcircNGULO EQUIVALENTE

Consiste de um retacircngulo de mesma aacuterea e mesmo periacutemetro que a bacia onde se dispotildeem curvas de niacutevel paralelas ao menor lado de tal forma que mantenha sua hipsometria natural O retacircngulo equivalente permite interferecircncias semelhantes agraves da curva hipsomeacutetrica

Seja

P = periacutemetro da bacia

A = aacuterea da bacia

L = lado maior do retacircngulo equivalente

image29wmf

l

= lado menor do retacircngulo equivalente

Kc = coeficiente de compacidade da bacia

A = L x

image30wmf

l

P = 2

image31wmf

(

)

L

+

l

Dado Kc utiliza-se o aacutebaco ao lado e determina-se o valor de

image32wmf

A

L

Figura 2 13 ndash Aacutebaco

image33wmf

c

K

x

A

L

(Fonte VILLELA 1975)

Para a Bacia do Riacho do Faustino tem-se

image34wmf

02

2

A

L

41

1

K

c

=

reg

=

Com A = 264 Km3 ( L = 104 Km

Mas

image35wmf

(

)

Km

9

25

P

L

2

P

L

2

P

=

-

=

+

=

l

l

image36wmf

Km

5

2

=

l

Figura 214 ndash Retacircngulo equivalente

Para determinar a distacircncia entre as curvas de niacutevel no retacircngulo equivalente usou-se os caacutelculos da Tabela 23 dividida por 25

Tabela 24 ndash Caacutelculo da distacircncia entre curvas de niacutevel

446 DECLIVIDADE DO AacuteLVEO

A velocidade de escoamento de um rio depende da declividade dos canais fluviais quanto maior a declividade maior seraacute a velocidade de escoamento

A declividade do aacutelveo pode ser obtido de trecircs maneiras cada uma com diferente grau de representatividade

S1 linha com declividade obtida tomando a diferenccedila total de elevaccedilatildeo do leito pela extensatildeo horizontal do curso drsquo aacutegua

S2 linha com declividade obtida por compensaccedilatildeo de aacutereas de forma que a aacuterea entre ela e a abscissa seja igual agrave compreendida entre a curva do perfil e a abscissa

S3 linha obtida a partir da consideraccedilatildeo do tempo de percurso eacute a meacutedia harmocircnica ponderada da raiz quadrada das declividades dos diversos trechos retiliacuteneos tomando-se como peso a extensatildeo de cada trecho

Tabela 25 ndash Caacutelculo da declividade do aacutelveo

image38wmf

mm

00085

00849

0

9483

113

50082

10

D

L

L

S

m

m

08

0

500

10

21

80

500

10

h

S

m

m

0104

0

500

10

67

354

464

S

2

i

i

i

3

2

1

=

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

egrave

aelig

=

divide

divide

divide

divide

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

egrave

aelig

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

egrave

aelig

=

=

=

=

=

-

=

aring

aring

___ perfil longitudinal do curso drsquo aacutegua principal

Figura 215 ndash Declividade do aacutelveo

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

13

13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

13

Bacia Hidrograacutefica13

13

13

13

Capiacutetulo13

2 13

13

Hidrologia Aplicada13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

Cota

Distacircncia (m)

Distacircncia Acumulada

(na horizontal)

(km)

Declividade

por segmento

image37wmf

d

Dist Real

(na linha inclinada)

(km)

Colunas

6 5

35467

-

-

-

-

-

-

360

840

084

000635

007969

084006

105416

400

6300

714

000635

007969

630013

790579

440

2100

924

001905

013802

210038

152179

464

1260

105

001905

013802

126025

91309

1050082

1139483

Cotas (m)

Fraccedilatildeo de Aacuterea Acumulada

Comprimentos Acumulados (Km)

680 640

017

00184

640 600

088

00918

620 560

600

06249

580 520

1607

16725

540 480

3639

37862

500 440

6113

63594

460 400

8799

91531

420 360

9859

102559

380 320

10000

104030

Cotas (m)

Ponto Meacutedio (m)

Aacuterea

(Km2)

Aacuterea Acumulada (km2)

Acumulada

2 x 3

680 640

660

00466

0466

017

017

3076

640 600

620

01866

02332

071

088

11569

600 560

580

03533

15865

512

600

78491

560 520

540

26600

42465

1007

1607

143640

520 480

500

53666

96131

2032

3639

268330

480 440

460

65333

161464

2474

6113

300532

440 400

420

70933

232397

2686

8799

297919

400 360

380

2800

260397

1060

9859

106400

360 320

340

03733

264130

141

10000

12692

264130

1222649

Classes de Acircngulos

fi

fr()

0o 225o

1

185

225o 45o

3

556

45o 675o

2

370

675o 90o

5

926

90o 1125o

3

556

1125o 135o

3

556

135o 1575o

2

370

1575o 180o

2

370

180o 2025o

2

370

2025o 225o

5

926

225o 2475o

10

1850

2475o 270o

5

926

270o 2925o

4

741

2925o 315o

5

926

315o 3375o

2

370

3375o 360o

0

000

54

CLASSES

Fi

fi ()

fi acum ()

Ponto Meacutedio da Classe

2 X 5

00000 I( 00500

16

2963

10000

00250

0400

00500 I( 01000

12

2222

7037

00750

0900

01000 I( 01500

13

2407

4815

01250

1625

01500 I( 02000

4

742

2408

01750

0700

02000 I( 02500

0

000

1666

02250

0000

02500 I( 03000

7

1296

370

02750

1925

03000 I( 03500

0

000

370

03250

0000

03500 I( 04000

0

000

370

03750

0000

04000 I( 04500

0

000

370

04250

0000

04500 I( 05000

0

000

370

04750

0000

05000 I( 05500

0

000

370

05250

0000

05500 I( 06000

2

370

370

05750

1150

( 54

6700

Page 5: TICIANA M. CARVALHO STUDART - aedmoodle.ufpa.br

4Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Retenccedilatildeo temporaacuteria ao solo proacuteximo de onde caiu

Escoamento sobre a superfiacutecie do solo ou atraveacutes do solo para os rios

Penetraccedilatildeo no solo profundo

4 Atingindo os veios drsquo aacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano

completando o ciclo

5 As depressotildees superficiais porventura existentes reteacutem a aacutegua precipitada

temporariamente Essa aacutegua poderaacute retornar para compor fases seguintes do ciclo pela

evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo da plantas

6 Os escoamentos superficial e subterracircneo decorrem da accedilatildeo da gravidade podendo parte

desta aacutegua ser evaporada ou infiltrada antes de atingir o curso drsquo aacutegua

7 Atingindo os veios drsquoaacutegua a aacutegua prossegue seu caminho de volta ao oceano

completando o ciclo

8 A evaporaccedilatildeo acompanha o ciclo hidroloacutegico em quase todas as suas fases seja durante a

precipitaccedilatildeo seja durante o escoamento superficial

Dotado de certa aleatoriedade temporal e espacial o ciclo hidroloacutegico configura processos bem mais

complexos que os acima descritos Uma vez que as etapas precedentes agrave precipitaccedilatildeo estatildeo dentro do

escopo da meteorologia compete ao hidroacutelogo conhecer principalmente as fases do ciclo que se

processam sobre a superfiacutecie terrestre quais sejam precipitaccedilatildeo evaporaccedilatildeo e transpiraccedilatildeo

escoamento superficial e escoamento subterracircneo

3 UM POUCO DA HISTOacuteRIA DA HIDROLOGIA

Os mais antigos trabalhos de drenagem e irrigaccedilatildeo em larga escala satildeo atribuiacutedos ao Faraoacute Meneacutes

fundador da primeira dinastia egiacutepcia que barrou o rio Nilo proacuteximo a Mecircnphis com uma barragem

de 15m e extensatildeo de aproximadamente 500 metros para alimentar o canal de irrigaccedilatildeo

Tambeacutem no Egito encontram-se os primeiros registros sistemaacuteticos de niacuteveis de enchentes Estes

registros datam de 3500 aC e indicavam aos agricultores a eacutepoca oportuna de romper os diques para

inundar e fertilizar as terras agricultaacuteveis Nota-se que aos egiacutepcios pouco importava o estudo da

Hidrologia como ciecircncia e sim A sua utilizaccedilatildeo

Ticiana Studart e Nilson Campos

5Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Muitos conceitos errocircneos e falhas de compreensatildeo atravessaram o desenvolvimento da engenharia

no seu sentido atual Os gregos foram os primeiros filoacutesofos que estudaram seriamente a Hidrologia

com Aristoacuteteles sugerindo que os rios eram alimentados pelas chuvas Sua maior dificuldade eram

explicar a origem da aacutegua subterracircnea Somente na eacutepoca de Leonardo da Vinci (por volta de 1500

dC)a ideacuteia da alimentaccedilatildeo dos rios pela precipitaccedilatildeo comeccedilou a ser aceita No entanto foi apenas no

ano de 1694 que Perrault atraveacutes de medidas pluviomeacutetricas na bacia do rio Sena demonstrou

quantitativamente que o volume precipitado ao longo do ano era suficiente para manter o volume

escoado

O astrocircnomo inglecircs Halley em 1693 provou que a evaporaccedilatildeo da aacutegua do mar era suficiente para

responder por todas as nascentes e fluxos drsquoaacutegua Mariotte 1em 1686 mediu a velocidade do rio

Sena Estes primeiros conhecimentos de Hidrologia permitiram inuacutemros avanccedilos no Seacuteculo XVIII

incluindo o teorema de Bernoulli o Tubo Pitot e a Foacutermula de Chegravezy que formam a base da Hidraacuteulica

e da Mecacircnica dos Fluidos

Durante o Seacuteculo XIX foram feitos significantes avanccedilos na teoria da aacutegua subterracircnea incluindo a

Lei de Darcy No que se refere agrave Hidrologia de aacuteguas superficiais muitas foacutermulas e instrumentos de

mediccedilatildeo foram criados

Chow (1954) chamou o periacuteodo compreendido entre 1900 e 1930 ficou conhecido como o Periacuteodo do

Empirismo O periacuteodo de 1930 a 1950 seria o Periacuteodo da Racionalizaccedilatildeo Datam desta eacutepoca o

Hidrograma Unitaacuterio de Sherman (1932) e a Teoria da Infiltraccedilatildeo de Horton (1933) Entre 1940 a 1950

foram feitos significantes avanccedilos no entendimento do processo de evaporaccedilatildeo Em 1958 Gumbel

llanccedila as bases da moderna hidrologia estocaacutestica A partir da deacutecada de 70 a Hidrologia passa a

contar com o avanccedilos computacionais o que levaram ao desenvolvimento de muitos modelos de

simulaccedilatildeo

4 DISPONIBILIDADES HIacuteDRICAS MUNDIAIS

Segundo Lvovich (apud Raudikivi 1979) a ordem de grandeza e a distribuiccedilatildeo das disponibilidades

hiacutedricas no mundo satildeo as mostradas na Tabela 11

Ticiana Studart e Nilson Campos

6Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Tabela 11 ndash Distribuiccedilatildeo das disponibilidades hiacutedricas no mundo

Fonte

Superfiacutecie (106 Km2)

Volume

(106 Km2)

do Volume Total

Oceanos 360 1370323 9393

Aacuteguas Subterracircneas - 64000 439

Geleiras e Neve Perpeacutetua 16 24000 165

Lagos - 230 0016

Umidade do Solo - 75 0005

Aacutegua na Atmosfera 510 14 0001

Rios 12 00001

Total 1458643 100 Fonte Raudikivi (1979)

Deste total cerca de 94 eacute de aacutegua salgada e apenas 6 de aacutegua doce Desconsiderando a

quantidade de aacutegua doce sob forma de geleiras aacuteguas subterracircneas e umidade atmosfeacuterica iacutenfimos

00161 do total da aacutegua do Planeta estatildeo disponiacuteveis em rios e lagos (Figura 14) os quais natildeo se

encontram equumlitativamente distribuiacutedos sobre todo o Planeta

Figura 14 ndash Aacutegua doce disponiacutevel em lagos e rios

Para se dar uma pequena ideacuteia da maacute distribuiccedilatildeo espacial da aacutegua cita-se o exemplo do Brasil que

possui cerca de 12 das reservas hiacutedricas superficiais do mundo mas com aproximadamente 65

destes recursos concentrados na Amazocircnia

Ticiana Studart e Nilson Campos

7Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Questotildees a se pensar

1 Por que se preocupar com as vaacuterias fases do ciclo hidroloacutegico

2 Se o estudo da Hidrologia natildeo era importante haacute 30-40 anos atraacutes por que o deveria

ser hoje

3 Se essa quantidade de aacutegua doce nunca foi motivo de grandes preocupaccedilotildees por que o

seria agora

5 A AacuteGUA E O DESENVOLVIMENTO

A aacutegua sempre desempenhou um papel fundamental na histoacuteria da humanidade O surgimento das

cidades sempre se deu ao longo os rios Entretanto natildeo se tinha a percepccedilatildeo da importacircncia da aacutegua

como hoje uma vez que sua qualidade e quantidade eram adequadas agraves necessidades da eacutepoca ndash

abastecimento diluiccedilatildeo de dejetos pesca geraccedilatildeo de energia entre outros Como as fontes hiacutedricas

natildeo eram desenvolvidas no limite de sua possibilidades havia pouco interesse em se obter dados e

conhecimento a respeito de suas capacidades maacuteximas e assim a Hidrologia como ciecircncia pouco

se desenvolveu

Hoje o cenaacuterio eacute outro Segundo a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) o consumo mundial de

aacutegua doce dobrou nos uacuteltimos 50 anos e corresponde atualmente agrave metade de todos os recursos

hiacutedricos acessiacuteveis Explorar tais recursos foi o motor do desenvolvimento econocircmico de muitos paiacuteses

sobretudo na agricultura abastecimento humano e animal geraccedilatildeo de energia induacutestria e transporte

Poreacutem a competiccedilatildeo por aacutegua entre tais setores vem degradando as fontes naturais das quais o

mundo depende O ciclo natural da aacutegua tem sido interrompido ou alterado em regiotildees muito

artificializadas como as megacidades

Eacute consenso geral que a gestatildeo das aacuteguas eacute uma necessidade E assim a Hidrologia ressurge hoje

como ferramenta indispensaacutevel para tal fim uma vez eacute a ciecircncia que trata do entendimento dos

processos naturais que datildeo base aos projetos de suprimento de aacutegua Soacute ela pode avaliar como e

quanto o ciclo hidroloacutegico pode ser modificado pelas atividades humanas

No passado jaacute existiam estes sinais de desconhecimento da Hidrologia mas os mesmos soacute afetavam

pequenas parcelas da populaccedilatildeo e tinham pouca divulgaccedilatildeo Isto tem mudado significativamente nos

uacuteltimos 30 anos Hoje jaacute se tem o entendimento que a prosperidade e a sobrevivecircncia da humanidade

eacute funccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua doce e potaacutevel e que a cada ano nascem mais alguns milhotildees de

consumidores e natildeo eacute criada sequer uma gota drsquoaacutegua a mais no Planeta

Ticiana Studart e Nilson Campos

8Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Os muacuteltiplos usos e usuaacuterios disputando um mesmo litro de aacutegua e a perspectiva de demandas

ainda maiores no futuro indicam que mais e mais profissionais ndash e natildeo somente o engenheiro ndash

necessitam ter conhecimentos de Hidrologia Somente assim os tomadores de decisatildeo poderatildeo avaliar

as vantagens e desvantagens de cada alteraccedilatildeo proposta no ciclo hidroloacutegico

Exemplos da falta de conhecimentos de Hidrologia na sociedade moderna

1 Construccedilatildeo nas planiacutecies aluviais de rios

2 Reservatoacuterios superdimensionados

3 Problemas de drenagem urbana

4 Construccedilatildeo e reservatoacuterios pouco profundos em regiotildees com altas taxas de evaporaccedilatildeo

5 Perfuraccedilatildeo de poccedilos secos em regiotildees cristalinas

6 Problemas de salinizaccedilatildeo de solos em projetos de irrigaccedilatildeo em regiotildees aacuteridas e semi-

aacuteridas

Exemplo concreto 1 o Accedilude Cedro ndash Ce

O Accedilude Cedro foi construiacutedo em 1906 no municiacutepio de Quixadaacute Cearaacute Exemplo claacutessico de falta de

conhecimento hidroloacutegico o reservatoacuterio foi superdimensionado construiacutedo com capacidade de

acumulaccedilatildeo equivalente a seis vezes seu volume afluente anual Tendo sangrado pouquiacutessimas vezes

desde sua construccedilatildeo a Figura 15 mostra uma das ocasiotildees em que esvaziou totalmente em 2001

Figura 15 - Accedilude Cedro ndash Ce (vazio em novembro de 2001)

Ticiana Studart e Nilson Campos

9Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Exemplo concreto 2 Inundaccedilatildeo em Fortaleza Ce

A Figura 16 mostra um problema de drenagem urbana caracteriacutesticos das grandes cidades no caso

Fortaleza Ce

6 APLICACcedilOtildeES

A Hidrologia natildeo eacute

aplicaccedilotildees praacuteticas

algumas das aplica

Escolha

Sub

Supreg

Drenag

Drenag

Irrigaccedilatilde

Figura 16--Enchente em Fortaleza Ce em 1997

DA HIDROLOGIA Agrave ENGENHARIA

uma ciecircncia pura uma vez que o objeto de estudo eacute usualmente dirigido para

sendo assim o termo ldquoHidrologia Aplicadardquo eacute frequumlentemente utilizado Eis

ccedilotildees da hidrologia

de fontes de abastecimento de aacutegua

terracircnea - locaccedilatildeo do poccedilo e capacidade de bombeamento

erficial ndash locaccedilatildeo da barragem estimativa da vazatildeo afluente e da vazatildeo a ser ularizada dimensionamento do reservatoacuterio e do sangradouro

em urbana ndash dimensionamento de bueiros

em de rodovias ndash dimensionamento de pontes e pontilhotildees

o ndash fonte de abastecimento estimativa da evapotranspiraccedilatildeo da cultura

Ticiana Studart e Nilson Campos

10Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Controle de enchentes ndash dragagem do leito do rio construccedilatildeo de reservatoacuterios de controle

de cheias

Exemplo concreto 1 cheias e secas no rio Capibaribe

A Bacia do rio Capibaribe Pernambuco tem sua histoacuteria intimamente ligada a episoacutedios de cheias

catastroacuteficas notadamente na Regiatildeo Metropolitana de Recife Entretanto nos uacuteltimos anos a cidade

vem sendo atingida por uma grave crise no abastecimento drsquoaacutegua sendo obrigatoacuterio o uso extensivo

de carros-pipa Os quatro maiores accediludes da bacia ndash Jucazinho Carpina Goitaacute e Tapacuraacute

representam cerca de 91 do total acumulado nos accediludes mais importantes da bacia e satildeo utilizados

tanto para controle de cheias como para o abastecimento A operaccedilatildeo de reservatoacuterios com muacuteltiplas

finalidades eacute feita tradicionalmente com a divisatildeo do volume total armazenaacutevel em zonas para o

atendimento de seus diferentes objetivos Na praacutetica a divisatildeo consiste em se alocar volumes de

reserva para as respectivas finalidades Objetivos diametralmente conflitantes como controle de

cheias ndash que requer que a parte do volume destinada a este fim permaneccedila seca para que a cheia

possa assim ser contida ndash e conservaccedilatildeo ndash que precisa que a aacutegua seja efetivamente armazenada

para usos futuros em irrigaccedilatildeo e abastecimento municipal e industrial ndash natildeo satildeo faacuteceis de conciliar

As figuras 17 e 18 mostram respectivamente um esquema da bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe

com seus barramentos construiacutedos ao longo de seu leito e Recife em um episoacutedio de inundaccedilatildeo

Figura 17 -- Bacia hidrograacutefica do rio Capibaribe (Pe) e seus barramentos

Ticiana Studart e Nilson Campos

11Capiacutetulo 1 Hidrologia Aplicada

Figura 16--Enchente em Recife Pe

7 RELACcedilAtildeO DA HIDROLOGIA COM OUTRAS CIEcircNCIAS

Devido a natureza complexa do ciclo hidroloacutegico e suas relaccedilotildees com os padrotildees climaacuteticos tipos de

solos topografia e geologia as fronteiras entre a hidrologia e as outras ciecircncias da terra tais como

meteorologia geologia ecologia e oceanografia natildeo satildeo muito distintas Na realidade tais ciecircncias

tambeacutem podem ser consideradas ramos da hidrologia

Meteorologia e Hidrometeorologia ndash estudo da aacutegua atmosfeacuterica

Oceanografia ndash estudo dos oceanos

Hidrografia ndash estudo das aacuteguas superficiais

Potamologia ndash estudo dos rios

Limnologia ndash estudo dos lagos e reservatoacuterios

Hidrogeologia ndash estudo das aacuteguas subterracircneas

Sendo assim poucos problemas hidroloacutegicos podem ficar limitados a apenas um desses ramos

Frequumlentemente devido a grande inter-relaccedilotildees do fenocircmeno a soluccedilatildeo do problema soacute pode ser

dada atraveacutes de uma discussatildeo interdisciplinar com profissionais de um ou mais desses ramos Muitas

outras ciecircncias podem ainda ser utilizadas na Hidrologia tais como fiacutesica quiacutemica geologia geografia

mecacircnica dos fluidos estatiacutestica economia computaccedilatildeo direito etc

Ticiana Studart e Nilson Campos

appiacuteiacutet a CC tuulloo

22 Bacia Hidrograacutefica

1 GENERALIDADES

O ciclo hidroloacutegico

fechado uma vez que a q

comum o estudo pelos h

de efetiva importacircncia praacute

2 DEFINICcedilAtildeO

Segundo Viessman

topograficamente drenad

de uma simples saiacuteda para

3 DIVISORES

O primeiro passo a

seu contorno ou seja

encaminhando o escoame

Satildeo 3 os divisores d

Geoloacutegico

Freaacutetico

Topograacutefico

Dadas as dificuldad

estratos natildeo seguem um

e no niacutevel freaacutetico (devido

bacia a partir de curvas

divisatildeo topograacutefica

se considerado de maneira global pode ser visto como um sistema hidroloacutegico

uantidade total da aacutegua existente em nosso planeta eacute constante Entretanto eacute

idroacutelogos de subsistemas abertos A bacia hidrograacutefica destaca-se como regiatildeo

tica devido a simplicidade de que oferece na aplicaccedilatildeo do balanccedilo hiacutedrico

Harbaugh e Knapp (1972) bacia hidrograacutefica eacute uma aacuterea definida

a por um curso drsquo aacutegua ou um sistema conectado de cursos drsquo aacutegua dispondo

que toda vazatildeo efluente seja descarregada

ser seguido na caracterizaccedilatildeo de uma bacia eacute exatamente a delimitaccedilatildeo de

a linha de separaccedilatildeo que divide as precipitaccedilotildees em bacias vizinhas

nto superficial para um ou outro sistema fluvial

e uma bacia

es de se efetivar o traccedilado limitante com base nas formaccedilotildees rochosas (os

comportamento sistemaacutetico e a aacutegua precipitada pode escoar antes de infiltrar)

as alteraccedilotildees ao longo das estaccedilotildees do ano) o que se faz na praacutetica eacute limitar a

de niacutevel tomando pontos de cotas mais elevadas para comporem a linha da

PAGE

17

image1wmf

r

2

P

K

c

p

=

Cap 2 Bacia Hidrograacutefica

image39png

image40png image41png image42png image43png

image44png 1 GENERALIDADES

O ciclo hidroloacutegico se considerado de maneira global pode ser visto como um sistema hidroloacutegico fechado uma vez que a quantidade total da aacutegua existente em nosso planeta eacute constante Entretanto eacute comum o estudo pelos hidroacutelogos de subsistemas abertos A bacia hidrograacutefica destaca-se como regiatildeo de efetiva importacircncia praacutetica devido a simplicidade de que oferece na aplicaccedilatildeo do balanccedilo hiacutedrico

image45png 2 DEFINICcedilAtildeO

Segundo Viessman Harbaugh e Knapp (1972) bacia hidrograacutefica eacute uma aacuterea definida topograficamente drenada por um curso drsquo aacutegua ou um sistema conectado de cursos drsquo aacutegua dispondo de uma simples saiacuteda para que toda vazatildeo efluente seja descarregada

image46png 3 DIVISORES

O primeiro passo a ser seguido na caracterizaccedilatildeo de uma bacia eacute exatamente a delimitaccedilatildeo de seu contorno ou seja a linha de separaccedilatildeo que divide as precipitaccedilotildees em bacias vizinhas encaminhando o escoamento superficial para um ou outro sistema fluvial

Satildeo 3 os divisores de uma bacia

middot Geoloacutegico

middot Freaacutetico

middot Topograacutefico

Dadas as dificuldades de se efetivar o traccedilado limitante com base nas formaccedilotildees rochosas (os estratos natildeo seguem um comportamento sistemaacutetico e a aacutegua precipitada pode escoar antes de infiltrar) e no niacutevel freaacutetico (devido as alteraccedilotildees ao longo das estaccedilotildees do ano) o que se faz na praacutetica eacute limitar a bacia a partir de curvas de niacutevel tomando pontos de cotas mais elevadas para comporem a linha da divisatildeo topograacutefica

image47png

Figura 21 ndash Corte transversal de uma bacia (Fonte VILLELA 1975)

image48png 4 CARACTERIacuteSTICAS FIacuteSICAS DE UMA BACIA HIDROGRAacuteFICA

As caracteriacutesticas fiacutesicas de uma bacia compotildeem importante grupo de fatores que influem no escoamento superficial A seguir faremos de forma sucinta uma abordagem de efeitos relacionados a cada um deles tendo como exemplo os dados da Bacia do Riacho do Faustino localizada no municiacutepio do Crato Cearaacute

image49png 41 AacuteREA DE DRENAGEM

A aacuterea de uma bacia eacute a aacuterea plana inclusa entre seus divisores topograacuteficos Eacute obtida com a utilizaccedilatildeo de um planiacutemetro

A bacia do Riacho do Faustino tem uma aacuterea de 264 Km2

image50png

Figura 22 ndash Bacia hidrograacutefica do Riacho do Faustino (Crato-Cearaacute)

image51png 42 FORMA DA BACIA

Apoacutes ter seu contorno definido a bacia hidrograacutefica apresenta um formato Eacute evidente que este formato tem uma influecircncia sobre o escoamento global este efeito pode ser melhor demonstrado atraveacutes da apresentaccedilatildeo de 3 bacias de formatos diferentes poreacutem de mesma aacuterea e sujeitas a uma precipitaccedilatildeo de mesma intensidade Dividindo-as em segmentos concecircntricos dentro dos quais todos os pontos se encontram a uma mesma distacircncia do ponto de controle a bacia de formato A levaraacute 10 unidades de tempo (digamos horas) para que todos os pontos da bacia tenham contribuiacutedo para a descarga (tempo de concentraccedilatildeo) A bacia de formato B precisaraacute de 5 horas e a C de 85 horas Assim a aacutegua seraacute fornecida ao rio principal mais rapidamente na bacia B depois em C e A nesta ordem

image52png

Figura 23 ndash O efeito da forma da bacia hidrograacutefica (Fonte WILSON 1969)

Exprimir satisfatoriamente a forma de uma bacia hidrograacutefica por meio de iacutendice numeacuterico natildeo eacute tarefa faacutecil Apesar disto Gravelius propocircs dois iacutendices

421 COEFICIENTE DE COMPACIDADE (KC)

Eacute a relaccedilatildeo entre os periacutemetros da bacia e de um ciacuterculo de aacuterea igual a da bacia

image53png com
image2wmf

p

=

=

p

A

r

A

r

2

Substituindo temos

image3wmf

p

p

=

A

2

P

K

c

image4wmf

A

P

028

K

c

=

onde P e A satildeo respectivamente o periacutemetro (medido com o curviacutemetro e expresso em Km) e a aacuterea da bacia (medida com o planiacutemetro expressa em Km2) Um coeficiente miacutenimo igual a 1 corresponderia agrave bacia circular portanto inexistindo outros fatores quanto maior o Kc menos propensa agrave enchente eacute a bacia

422 FATOR DE FORMA (Kf)

Eacute a relaccedilatildeo entre a largura meacutedia da bacia (

image5wmf

L

) e o comprimento axial do curso drsquo aacutegua (L) O comprimento ldquoLrdquo eacute medido seguindo-se o curso drsquo aacutegua mais longo desde a cabeceira mais distante da bacia ateacute a desembocadura A largura meacutedia eacute obtida pela divisatildeo da aacuterea da bacia pelo comprimento da bacia

image6wmf

L

L

K

f

=

mas

image7wmf

L

A

L

=

entatildeo

image8wmf

2

f

L

A

K

=

Este iacutendice tambeacutem indica a maior ou menor tendecircncia para enchentes de uma bacia Uma bacia com Kf baixo ou seja com o L grande teraacute menor propensatildeo a enchentes que outra com mesma aacuterea mas Kf maior Isto se deve a fato de que numa bacia estreita e longa (Kf baixo) haver menor possibilidade de ocorrecircncia de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda a sua extensatildeo

A bacia do Riacho do Faustino apresenta os seguintes dados

A = 264 km2 = 26413000 m2

image9wmf

L = 10500 m

P = 25900 m

Assim

image10wmf

41

1

26413000

25900

28

0

A

P

28

0

K

c

=

=

=

image11wmf

41

1

K

c

=

image12wmf

24

0

)

500

10

(

000

413

26

L

A

K

2

2

f

=

=

=

image13wmf

24

0

K

f

=

43 SISTEMA DE DRENAGEM

O sistema de drenagem de uma bacia eacute constituiacutedo pelo rio principal e seus efluentes o padratildeo de seu sistema de drenagem tem um efeito marcante na taxa do ldquorunoffrdquo Uma bacia bem drenada tem menor tempo de concentraccedilatildeo ou seja o escoamento superficial concentra-se mais rapidamente e os picos de enchente satildeo altos

As caracteriacutesticas de uma rede de drenagem podem ser razoavelmente descritos pela ordem dos cursos drsquo aacutegua densidade de drenagem extensatildeo meacutedia do escoamento superficial e sinuosidade do curso drsquo aacutegua

431 ORDEM DOS CURSOS Drsquo AacuteGUA

A ordem dos rios eacute uma classificaccedilatildeo que reflete o grau de ramificaccedilatildeo dentro de uma bacia O criteacuterio descrito a seguir foi introduzido por Horton e modificado por Strahler

ldquoDesignam-se todos os afluentes que natildeo se ramificam (podendo desembocar no rio principal ou em seus ramos) como sendo de primeira ordem Os cursos drsquo aacutegua que somente recebem afluentes que natildeo se subdividem satildeo de segunda ordem Os de terceira ordem satildeo formados pela reuniatildeo de dois cursos drsquo aacutegua de segunda ordem e assim por dianterdquo

Figura 24 ndash Ordem dos cursos drsquo aacutegua na bacia do Riacho do Faustino

A ordem do rio principal mostra a extensatildeo da ramificaccedilatildeo da bacia

432 DENSIDADE DE DRENAGEM

A densidade de drenagem eacute expressa pelo comprimento total de todos os cursos drsquo aacutegua de uma bacia (sejam eles efecircmeros intermitentes ou perenes) e sua aacuterea total

image14wmf

A

D

1

d

aring

=

l

Para a Bacia do Riacho do Faustino

image15wmf

2

d

1

mm

001511

0

000

413

26

900

39

D

m

900

39

=

=

=

aring

l

433 EXTENSAtildeO MEacuteDIA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL (

image16wmf

l

)

Este paracircmetro indica a distacircncia meacutedia que a aacutegua de chuva teria que escoar sobre os terrenos da bacia (EM LINHA RETA) do ponto onde ocorreu sua queda ateacute o curso drsquo aacutegua mais proacuteximo Ele daacute uma ideacuteia da distacircncia meacutedia do escoamento superficial

A bacia em estudo eacute transformada em retacircngulo de mesma aacuterea onde o lado maior eacute a soma dos comprimentos dos rios da bacia (L =

image17wmf

aring

i

l

)

Figura 25 ndash Extensatildeo meacutedia do escoamento superficial (Fonte VILLELA 1975)

4

image18wmf

l

x L = A assim

image19wmf

l

=

image20wmf

L

4

A

Para a Bacia do Riacho do Faustino

image21wmf

m

x

5

165

39900

4

000

413

26

=

=

l

image22wmf

l

= 0165 km

434 SINUOSIDADE DO CURSO Drsquo AacuteGUA (SIN)

Eacute a relaccedilatildeo entre o comprimento do rio principal (L) e o comprimento do talvegue (Lt)

Sin =

image23wmf

t

L

L

Figura 26 ndash Comprimento do rio principal (L) e comprimento do talveque (Lt)

Para a Bacia do Riacho do Faustino

L = 10500 m

Lt = 8540 m

Sin =

image24wmf

23

1

540

8

500

10

=

Sin = 123

Obs Lt (comprimento do talvegue eacute a medida em LINHA RETA entre os pontos inicial e final do curso drsquo aacutegua principal)

44 RELEVO DA BACIA

441 DECLIVIDADE MEacuteDIA DA BACIA

A declividade dos terrenos de uma bacia controla em boa parte a velocidade com que se daacute o escoamento superficial (VILLELA 1975) Quanto mais iacutengreme for o terreno mais raacutepido seraacute o escoamento superficial o tempo de concentraccedilatildeo seraacute menor e os picos de enchentes maiores

A declividade da bacia pode ser determinada atraveacutes do Meacutetodo das Quadriacuteculas Este meacutetodo consiste em lanccedilar sobre o mapa topograacutefico da bacia um papel transparente sobre o qual estaacute traccedilada uma malha quadriculada com os pontos de interseccedilatildeo assinalados A cada um desses pontos associa-se um vetor perpendicular agrave curva de niacutevel mais proacutexima (orientado no sentido do escoamento) As declividades em cada veacutertice satildeo obtidas medindo-se na planta as menores distacircncias entre curvas de niacuteveis subsequentes a declividade eacute o quociente entre a diferenccedila da cota e a distacircncia medida em planta entre as curvas de niacutevel

Figura 27 ndash Meacutetodo das quadriacuteculas

Figura 28 ndash Declividade meacutedia da bacia do Riacho do Faustino

Apoacutes a determinaccedilatildeo da declividade dos vetores constroi-se uma tabela de distribuiccedilatildeo de frequumlecircncias tomando-se uma amplitude para as classes

Tabela 21 ndash Declividade meacutedia da bacia do Riacho do Faustino

Declividade meacutedia da bacia =

image25wmf

1241

ou

mm

1241

0

54

700

6

A distribuiccedilatildeo de frequumlecircncias pode ainda ser plotada no graacutefico declividade x frequumlecircncia acumulada (curva de distribuiccedilatildeo de declividade) Diferentes bacias podem ser plotadas num mesmo graacutefico para fins de comparaccedilatildeo curvas mais iacutengremas indicam um escoamento mais raacutepido

Figura 29 ndash Declividade de duas bacias (Fonte WILSON 1969)

442 ORIENTACcedilAtildeO DA BACIA

A orientaccedilatildeo da bacia eacute importante no que diz respeito a ventos prevalecentes e ao padratildeo de deslocamento de tempestades O meacutetodo da quadriacuteculas tambeacutem eacute utilizado pela determinaccedilatildeo do acircngulo ldquo(rdquo formado pelo vetor conforme diagrama abaixo

Figura 210 ndash Base para mediccedilatildeo dos acircngulos

A amplitude das classes consideradas no agrupamento de vetores foi de 225o Feita a distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia lanccedilamo-la no diagrama Rosa dos Ventos

Tabela 22 ndash Orientaccedilatildeo da bacia do Riacho do Faustino

24750o 270o 29250o

225o 315o

20250o 33750o

180o

0o

20o

15750o 2250o

135o 45o

11250o 6750o

90o

Figura 211 ndash Rosa dos ventos (a partir da tabela 21)

443 CURVA HIPSOMEacuteTRICA

Representa o estudo da variaccedilatildeo da elevaccedilatildeo dos vaacuterios terrenos da bacia com referecircncia ao niacutevel do mar Esta curva eacute traccedilada lanccedilando-se em sistema cartesiano a cota versus o percentual da aacuterea de drenagem com cota superior para isto deve-se fazer a leitura planimeacutetrica parceladamente Os dados foram dispostos em quadro de distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia

Tabela 23 ndash Distribuiccedilatildeo de frequumlecircncia (bacia do Riacho do Faustino)

Figura 212 ndash Curva hipsomeacutetrica

444 ELEVACcedilAtildeO MEacuteDIA DA BACIA

A elevaccedilatildeo meacutedia da bacia eacute obtida atraveacutes do produto do ponto meacutedio entre duas curvas de niacutevel e a aacuterea compreendida entre elas (coluna 7 da Tabela 23) dividido pela aacuterea total

image26wmf

A

P

E

m

aring

=

i

A

x

image27wmf

9

462

413

26

49

226

12

=

=

E

image28wmf

m

E

9

462

=

445 RETAcircNGULO EQUIVALENTE

Consiste de um retacircngulo de mesma aacuterea e mesmo periacutemetro que a bacia onde se dispotildeem curvas de niacutevel paralelas ao menor lado de tal forma que mantenha sua hipsometria natural O retacircngulo equivalente permite interferecircncias semelhantes agraves da curva hipsomeacutetrica

Seja

P = periacutemetro da bacia

A = aacuterea da bacia

L = lado maior do retacircngulo equivalente

image29wmf

l

= lado menor do retacircngulo equivalente

Kc = coeficiente de compacidade da bacia

A = L x

image30wmf

l

P = 2

image31wmf

(

)

L

+

l

Dado Kc utiliza-se o aacutebaco ao lado e determina-se o valor de

image32wmf

A

L

Figura 2 13 ndash Aacutebaco

image33wmf

c

K

x

A

L

(Fonte VILLELA 1975)

Para a Bacia do Riacho do Faustino tem-se

image34wmf

02

2

A

L

41

1

K

c

=

reg

=

Com A = 264 Km3 ( L = 104 Km

Mas

image35wmf

(

)

Km

9

25

P

L

2

P

L

2

P

=

-

=

+

=

l

l

image36wmf

Km

5

2

=

l

Figura 214 ndash Retacircngulo equivalente

Para determinar a distacircncia entre as curvas de niacutevel no retacircngulo equivalente usou-se os caacutelculos da Tabela 23 dividida por 25

Tabela 24 ndash Caacutelculo da distacircncia entre curvas de niacutevel

446 DECLIVIDADE DO AacuteLVEO

A velocidade de escoamento de um rio depende da declividade dos canais fluviais quanto maior a declividade maior seraacute a velocidade de escoamento

A declividade do aacutelveo pode ser obtido de trecircs maneiras cada uma com diferente grau de representatividade

S1 linha com declividade obtida tomando a diferenccedila total de elevaccedilatildeo do leito pela extensatildeo horizontal do curso drsquo aacutegua

S2 linha com declividade obtida por compensaccedilatildeo de aacutereas de forma que a aacuterea entre ela e a abscissa seja igual agrave compreendida entre a curva do perfil e a abscissa

S3 linha obtida a partir da consideraccedilatildeo do tempo de percurso eacute a meacutedia harmocircnica ponderada da raiz quadrada das declividades dos diversos trechos retiliacuteneos tomando-se como peso a extensatildeo de cada trecho

Tabela 25 ndash Caacutelculo da declividade do aacutelveo

image38wmf

mm

00085

00849

0

9483

113

50082

10

D

L

L

S

m

m

08

0

500

10

21

80

500

10

h

S

m

m

0104

0

500

10

67

354

464

S

2

i

i

i

3

2

1

=

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

egrave

aelig

=

divide

divide

divide

divide

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

ccedil

egrave

aelig

divide

divide

oslash

ouml

ccedil

ccedil

egrave

aelig

=

=

=

=

=

-

=

aring

aring

___ perfil longitudinal do curso drsquo aacutegua principal

Figura 215 ndash Declividade do aacutelveo

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

13

13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

13

Bacia Hidrograacutefica13

13

13

13

Capiacutetulo13

2 13

13

Hidrologia Aplicada13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

EMBED PBrush 13

13

13

13

13

Cota

Distacircncia (m)

Distacircncia Acumulada

(na horizontal)

(km)

Declividade

por segmento

image37wmf

d

Dist Real

(na linha inclinada)

(km)

Colunas

6 5

35467

-

-

-

-

-

-

360

840

084

000635

007969

084006

105416

400

6300

714

000635

007969

630013

790579

440

2100

924

001905

013802

210038

152179

464

1260

105

001905

013802

126025

91309

1050082

1139483

Cotas (m)

Fraccedilatildeo de Aacuterea Acumulada

Comprimentos Acumulados (Km)

680 640

017

00184

640 600

088

00918

620 560

600

06249

580 520

1607

16725

540 480

3639

37862

500 440

6113

63594

460 400

8799

91531

420 360

9859

102559

380 320

10000

104030

Cotas (m)

Ponto Meacutedio (m)

Aacuterea

(Km2)

Aacuterea Acumulada (km2)

Acumulada

2 x 3

680 640

660

00466

0466

017

017

3076

640 600

620

01866

02332

071

088

11569

600 560

580

03533

15865

512

600

78491

560 520

540

26600

42465

1007

1607

143640

520 480

500

53666

96131

2032

3639

268330

480 440

460

65333

161464

2474

6113

300532

440 400

420

70933

232397

2686

8799

297919

400 360

380

2800

260397

1060

9859

106400

360 320

340

03733

264130

141

10000

12692

264130

1222649

Classes de Acircngulos

fi

fr()

0o 225o

1

185

225o 45o

3

556

45o 675o

2

370

675o 90o

5

926

90o 1125o

3

556

1125o 135o

3

556

135o 1575o

2

370

1575o 180o

2

370

180o 2025o

2

370

2025o 225o

5

926

225o 2475o

10

1850

2475o 270o

5

926

270o 2925o

4

741

2925o 315o

5

926

315o 3375o

2

370

3375o 360o

0

000

54

CLASSES

Fi

fi ()

fi acum ()

Ponto Meacutedio da Classe

2 X 5

00000 I( 00500

16

2963

10000

00250

0400

00500 I( 01000

12

2222

7037

00750

0900

01000 I( 01500

13

2407

4815

01250

1625

01500 I( 02000

4

742

2408

01750

0700

02000 I( 02500

0

000

1666

02250

0000

02500 I( 03000

7

1296

370

02750

1925

03000 I( 03500

0

000

370

03250

0000

03500 I( 04000

0

000

370

03750

0000

04000 I( 04500

0

000

370

04250

0000

04500 I( 05000

0

000

370

04750

0000

05000 I( 05500

0

000

370

05250

0000

05500 I( 06000

2

370

370

05750

1150

( 54

6700

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