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Textos sobre Água Doce - Mundo 'O aquecimento global é um cenário sombrio, mas ainda é reversível' Conversamos com José Marengo, pesquisador do Inpe e único brasileiro a participar do relatório do IPCC 05/05/2014 - 12H05/ atualizado 12H0505 / por Alexandre Rodrigues O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgou, no fim de março, um estudo que traz uma constatação sombria: os efeitos nefastos das alterações no clima já podem ser sentidos em vários países, inclusive no Brasil. Com mais de mil páginas, o documento mostra como as enchentes vão devastar a costa dos países e danificar as cidades e como a fome vai se espalhar por causa do aquecimento global. “As mudanças climáticas já estão afetando as populações”, disse a GALILEU José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e único brasileiro a participar da conclusão do documento. “Não precisamos esperar 50 anos por inundações ou secas intensas e ondas de calor.” Um dos impactos já sentidos é a crise da água no Brasil. As enchentes no Acre e a seca em São Paulo são efeitos de mudanças climáticas que exigem medidas de longo prazo dos políticos. “Precisamos de melhor gerenciamento. Não tanto aumentar a oferta, mas gerenciar a pouca água que teremos”, afirma Marengo. (Foto: Horácio Gama/ Editora Globo) A previsão do estudo é sombria, com secas e eventos climáticos extremos. São mudanças irreversíveis? Por enquanto, não. O sumário avalia o que aconteceu nas últimas décadas e a tendência se as coisas continuarem assim. Vemos ondas de frio e de calor e perdas na agricultura por causa das mudanças climáticas. E outras coisas, como o derretimento das geleiras. O aumento de 2 °C (na temperatura da Terra) é o que podemos chamar de cenário “menos pior”. Mas o aquecimento pode ser o dobro disso. Aí é um cenário sombrio, mas ainda temos formas de reverter. Haverá conflito por causa da água? Na América do Sul e na África já houve conflitos, até guerras, por causa de água. Uma grande seca pode gerar uma migração em massa, que vai para países ricos, como os da Europa e os Estados Unidos. As consequências se espalham por todo o mundo e isso pode agravar problemas sociais. Já se observam populações que não se sentem seguras. No Nordeste é prevista uma queda de 22% nas chuvas. Isso pode provocar uma grande migração? O Nordeste tem uma tradição de migração. Teve a seca de 1877, quando milhares de pessoas morreram de fome, que se vê em romances como Os Sertões. Hoje a seca não mata, mas a migração é um problema grave. Na África já teve guerra por menos do que isso. No caso do Nordeste, o problema é o mau gerenciamento. Israel, por exemplo, tem água obtida com tecnologia. E ao lado tem a Palestina, que vive no mesmo cenário, com todos os problemas de falta de água. A tecnologia pode resolver o problema da escassez de água? Tecnologia é uma solução, mas não faz milagres. Os israelenses começaram a usar um sistema de irrigação gota a gota (que molha a terra sem desperdício). Gerenciam e, mesmo tendo menos, essa água é bem usada. Isso é uma forma de adaptação. A população contribui não desperdiçando. O exemplo de Israel é melhor porque eles inventaram tecnologias, principalmente essa da irrigação com gota. No Brasil, o Nordeste tem seca, mas Petrolina segue sendo um polo de produção de champanhe e vinho porque houve investimento privado numa forma racional de irrigação. Essas tecnologias deveriam pagar menos impostos. Com tecnologia, todas as regiões pobres do país seriam beneficiadas. A pobreza é um obstáculo para as adaptações dos países às mudanças? É. Adaptação é um processo que custa dinheiro e poucos governos podem arcar com isso. Fala-se em fundos mundiais de adaptação, mas há uma série de questões. Quem garante que esse dinheiro vai para a adaptação e não se perderá em corrupção? Fundos de adaptação já existem faz tempo, mas há certa paralisia. Não podemos ficar parados. Quando a mudança é pior, o custo é mais alto. O Brasil tem um dos maiores mananciais de água doce do mundo. Mesmo assim o país pode enfrentar problemas parecidos com os da Europa? Depende da área. Na Amazônia, Rio Branco está isolada. Em São Paulo tem enchente e na Serra da Cantareira não cai uma só gota. Em algumas áreas a chuva pode ser maior, causando deslizamento de terras e enxurradas, e em outras

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Page 1: Texto Sobre Água 2015

Textos sobre Água Doce - Mundo

'O aquecimento global é um cenário sombrio, mas ainda é reversível' Conversamos com José Marengo, pesquisador do Inpe e único brasileiro a participar do relatório do IPCC 05/05/2014 - 12H05/ atualizado 12H0505 / por Alexandre Rodrigues

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgou, no fim de março, um estudo que traz uma constatação sombria: os efeitos nefastos das alterações no clima já podem ser sentidos em vários países, inclusive no Brasil. Com mais de mil páginas, o documento mostra como as enchentes vão devastar a costa dos países e danificar as cidades e como a fome vai se espalhar por causa do aquecimento global. “As mudanças climáticas já estão afetando as populações”, disse a GALILEU José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e único brasileiro a participar da conclusão do documento. “Não precisamos esperar 50 anos por inundações ou secas intensas e ondas de calor.” Um dos impactos já sentidos é a crise da água no Brasil. As enchentes no Acre e a seca em São Paulo são efeitos de mudanças climáticas que exigem medidas de longo prazo dos políticos. “Precisamos de melhor gerenciamento. Não tanto aumentar a oferta, mas gerenciar a pouca água que teremos”, afirma Marengo.

(Foto: Horácio Gama/ Editora Globo)

A previsão do estudo é sombria, com secas e eventos climáticos extremos. São mudanças irreversíveis? Por enquanto, não. O sumário avalia o que aconteceu nas últimas décadas e a tendência se as coisas continuarem assim. Vemos ondas de frio e de calor e perdas na agricultura por causa das mudanças climáticas. E outras coisas, como o derretimento das geleiras. O aumento de 2 °C (na temperatura da Terra) é o que podemos chamar de cenário “menos pior”. Mas o aquecimento pode ser o dobro disso. Aí é um cenário sombrio, mas ainda temos formas de reverter.

Haverá conflito por causa da água? Na América do Sul e na África já houve conflitos, até guerras, por causa de água. Uma grande seca pode gerar uma migração em massa, que vai para países ricos, como os da Europa e os Estados Unidos. As consequências se espalham por todo o mundo e isso pode agravar problemas sociais. Já se observam populações que não se sentem seguras.

No Nordeste é prevista uma queda de 22% nas chuvas. Isso pode provocar uma grande migração? O Nordeste tem uma tradição de migração. Teve a seca de 1877, quando milhares de pessoas morreram de fome, que se vê em romances como Os Sertões. Hoje a seca não mata, mas a migração é um problema grave. Na África já teve guerra por menos do que isso. No caso do Nordeste, o problema é o mau gerenciamento. Israel, por exemplo, tem água obtida com tecnologia. E ao lado tem a Palestina, que vive no mesmo cenário, com todos os problemas de falta de água.

A tecnologia pode resolver o problema da escassez de água? Tecnologia é uma solução, mas não faz milagres. Os israelenses começaram a usar um sistema de irrigação gota a gota (que molha a terra sem desperdício). Gerenciam e, mesmo tendo menos, essa água é bem usada. Isso é uma forma de adaptação. A população contribui não desperdiçando. O exemplo de Israel é melhor porque eles inventaram tecnologias, principalmente essa da irrigação com gota. No Brasil, o Nordeste tem seca, mas Petrolina segue sendo um polo de produção de champanhe e vinho porque houve investimento privado numa forma racional de irrigação. Essas tecnologias deveriam pagar menos impostos. Com tecnologia, todas as regiões pobres do país seriam beneficiadas.

A pobreza é um obstáculo para as adaptações dos países às mudanças? É. Adaptação é um processo que custa dinheiro e poucos governos podem arcar com isso. Fala-se em fundos mundiais de adaptação, mas há uma série de questões. Quem garante que esse dinheiro vai para a adaptação e não se perderá em corrupção? Fundos de adaptação já existem faz tempo, mas há certa paralisia. Não podemos ficar parados. Quando a mudança é pior, o custo é mais alto. O Brasil tem um dos maiores mananciais de água doce do mundo. Mesmo assim o país pode enfrentar problemas parecidos com os da Europa? Depende da área. Na Amazônia, Rio Branco está isolada. Em São Paulo tem enchente e na Serra da Cantareira não cai uma só gota. Em algumas áreas a chuva pode ser maior, causando deslizamento de terras e enxurradas, e em outras

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menor. Esse é o problema da mudança climática. Acontece de 200 mililitros de chuva estarem previstos para um mês e se concentrarem em três dias e 27 ficarem sem chuvas. São extremos. Então precisamos de melhor gerenciamento. Não tanto aumentar a oferta, mas gerenciar a pouca água que teremos.

http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2014/05/era-dos-extremos.html

ÁGUA: PROPRIEDADE PRIVADA Em alguns lugares do mundo, água tem dono - e quem quiser usar precisa pagar caro. Saiba por que devemos fazer de tudo para evitar a privatização dos recursos hídricos. POR RAQUEL SODRÉ

A água está acabando. Mas antes de acabar, ela vai ficar mais rara. E cara. Em algumas regiões do planeta, água já vale ouro - e tem gente ganhando muito dinheiro com isso. Quando a água deixa de ser um recurso natural público, direito de todos, e passa a ser um produto, acontece o que chamamos de “comoditização”.

Existem várias formas de comércio de água. “O que eu temo é que elas fiquem tão comuns que a gente nem perceba quando a água não for mais nossa, nem da comunidade, nem das próximas gerações”, diz Maude Barlow, co-fundadora do Blue Planet Project, organização que trabalha em nível internacional para garantir o direito humano à água. É preciso muita força nos remos para contrariar a maré da privatização.

A FONTE DO PROBLEMA

Não é de hoje que a água é tratada como produto. Conheça a história recente do fenômeno

A comoditização da água começou nos anos 1990, quando o Banco Mundial (organização financeira internacional que empresta dinheiro a países em desenvolvimento e economias fragilizadas) promoveu os serviços de água no mercado mundial. Naquela década, com o boom da privatização, o Banco convenceu alguns países que privatizar a distribuição de água para a população era uma boa forma de arrecadar fundos. Nos países que decidiram adotar essa prática, o Esta-do ainda era o proprietário da água, mas eram empresas privadas que cuidavam de sua distribuição para a população (e eram donas também das instalações necessárias para o serviço). Eram as chamadas “parcerias público-privadas” nos serviços de água.

O problema disso era que, para ter lucro, as empresas que dominavam o serviço subiram os preços da água que chega-va às torneiras das pessoas. O povo sentiu no bolso e protestou. A insatisfação fez com que várias cidades comprassem de volta o direito de assumir o controle da água. “Só na França, 40 municípios, incluindo Paris, tornaram a água públi-ca novamente”, diz Barlow.

Além do surgimento das parcerias público-privadas para a gestão da água, os anos 1990 trouxeram a moda da água mineral (nas décadas anteriores, água engarrafada era luxo). Com o passar do tempo, o costume ficou ainda mais popular. “Chegamos ao ponto de ter algo como 260 bilhões de litros de água engarrafada em garrafas de plástico no ano passado. Há países que acham que não precisam oferecer um serviço de água limpa para os cidadãos, porque as pessoas podem simplesmente comprar água engarrafada”, diz Barlow.

Outra forma de privatizar e restringir o acesso à água são os chamados "water tradings" (expressão em inglês para “trocas de água”) que funcionam mais ou menos assim: um país emite licenças para o acesso à água (por mineradoras, por empresas de água mineral, por agronegócios etc). Então, essas licenças são convertidas em direito à propriedade. Assim, as empresas passam a poder comprar e vender esse direito à água no livre mercado - como se fosse soja ou petróleo. O Chile e alguns estados dos EUA são exemplos de lugares que fizeram isso.

A Austrália também fez water tradings, e lá o sistema foi um completo desastre. Mas, quando ele surgiu, em 1994, parecia promissor. O país passava por períodos de seca na época, e o governo pensou que os water tradings serviriam como incentivo para que empresas e agronegócios economizassem água, pois, dessa maneira, a água que sobrasse podia ser vendida. Mas o que aconteceu de verdade foi que as grandes empresas engoliram as pequenas e os grandes agronegócios arrasaram os pequenos produtores. Entraram em jogo também os grandes investidores, e depois os investidores internacionais.

“O preço da água subiu dramaticamente em dez anos, ao ponto de surgirem as figuras de cowboys corretores de água, que fizeram rios de dinheiro”, conta Barlow. Foi mais ou menos como a bolha imobiliária que, segundo especialistas, vivemos agora. Só que, em vez de a especulação ser em cima de imóveis, era em cima de fontes de água. O resultado foi que, quando o governo federal quis comprar de volta os direitos sobre a água do país para salvar da seca a bacia Murray-Darling, não conseguiu pagar o preço que as empresas cobravam.

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A água também pode ser comprada por meio dos “land and water grabs” (ou “‘abocanhados’ de terra e água”). Nos acordos desse tipo, uma empresa ou um governo rico compra grandes quantidades de terra em um país mais pobre e reivindica o direito à posse da água dentro daquele terreno. Segundo Maude, na África, há um território equivalente a três Grã Bretanhas que foi comprado por países ricos, investidores internacionais, fundos de cobertura, planos públicos de aposentadoria, dentre outros. “É uma nova forma de colonialismo”, comenta.

Normalmente, a água comprada em um país permanece dentro daquele país, mas legalmente pertence a um agente de fora. Atualmente, alguns poucos países do Oriente Médio compram água do exterior, mas a questão, segundo Maude, é muito controversa. No Canadá, em 1998, o governo de Ontario deu uma permissão para que uma empresa privada vendesse água do Lago Superior para abastecimento e enviasse para a Ásia para engarrafamento. O governo dos Estados Unidos interveio e Ontario cancelou a licença. Atualmente, somente em situações de emergência - como as frequentes secas sofridas pelo sudeste dos EUA - a água é transportada em caminhões pipa para o país vizinho.

http://super.abril.com.br/crise-agua/aguapropriedadeprivada.shtml

As lições de Israel Como o árido país vem vencendo a guerra contra a escassez de água e o que o Brasil pode aprender com isso Por Edson Franco, enviado especial a Tel-Aviv

Vencidas as batalhas pela indepen-dência de Israel, o primeiro chance-ler do recém-nascido país, David Ben-Gurion, assumiu em maio de 1948 sabendo que uma “guerra” bem mais difícil estava em curso. Espalhado por uma região desértica, com clima en-tre tropical e semi-árido e escassas fontes naturais de água doce, o Esta-do precisa lutar diariamente para que sua população não morra de sede. Gurion resumiu a sua estratégia sob o slogan “fazer o deserto florir” e esti-mulou os seus cientistas a descobrir fórmulas para semear oásis. Passados 63 anos, Israel vem vencendo essa “guerra”.

RITUAL

Judeus ortodoxos na cerimônia anual do Tashlich, em praia de Tel-Aviv

As principais armas do país têm sido a construção de usinas de dessalinização, o reaproveitamento quase total do esgoto e o combate ao desperdício. Exatamente por isso, florescem empresas que monitoram cada milímetro cúbico de água que flui pelos canos do país com sistemas computadorizados capazes de diagnos-ticar vazamentos em tempo real. O aproveitamento de cada gota é o mote da Netafim, empresa especial-zada em sistemas de irrigação. Sua história se confunde com a formação do kibutz Hatzerim, localizado em pleno deserto do Negev. Hoje, o verde domina o lugar, onde famílias compartilham residências, refeitórios e orações com os profissionais da empresa. “Moisés nos trouxe até aqui e mostrou o caminho, só não ensinou a tecnologia para controlar as águas”, brinca Igal Aisenberg, presidente da Netafim.

Além da irrigação sem desperdício, os agricultores contam cada vez mais com a água e o adubo gerados por centrais de tratamento. Uma das mais produtivas é a Shafdan, em Tel-Aviv, onde profissionais separam lixo, material orgânico e água. O primeiro é enviado para usinas de reciclagem, o segundo vira adubo e o terceiro é purificado e vai para os canos dos sistemas de irrigação.

Quando se trata de matar a sede nacional, no entanto, a maior aposta vem mesmo do mar. A cidade litorâ-nea de Ashkelon abriga a segunda maior usina de dessalinização do mundo. Os canos da instalação avan-çam um quilômetro mar adentro e abastecem as membranas que separam líquidos e sólidos. A empresa por trás do negócio é a IDE Technologies, que comanda mais três usinas no país e produz cerca de 300 milhões

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de metros cúbicos anuais do líquido. Hoje, quase metade dos israelenses bebe água dessalinizada. “E o melhor é que o custo está cada vez mais baixo. O metro cúbico custa US$ 0,53. No passado não muito distante, eram US$ 3”, contabiliza Fredi Lokiec, vice-presidente executivo da IDE.

DESSALINIZAÇÃO

A usina de Ashkelon, segunda maior do planeta

AVANÇO

“O custo da dessalinização da água está cada vez mais

baixo”, diz o executivo Fredi Lokiec Com todos esses esforços, Israel espera chegar a 2015 livre da necessidade de fontes naturais de água. “Não chegaremos lá porque somos espertos. Não temos outra saída”, diz Booky Oren, organizador da Watec, feira dedicada ao líquido que acontece em novembro. E o que o Brasil, cheio de rios e lagos, tem a aprender com tudo isso? Muito, pois estima-se que, nos próximos 20 anos, o consumo mundial de água suba 50%. Se um dia ela faltar por aqui, as soluções já terão sido desenvolvidas em pleno deserto.

http://www.istoe.com.br/reportagens/137099_AS+LICOES+DE+ISRAEL?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

Maiores aquíferos do planeta estão sob ameaça de esgotamento As águas subterrâneas estão sendo usadas de forma irresponsável e a culpa é dos humanos, dizem pesquisadores POR AGÊNCIA BRASIL

Um terço das maiores bacias de águas subterrâneas do mundo estão sendo esgotadas pelo consumo humano. A conclusão está em de dois estudos da Universidade da California, divulgados nesta semana no site da Agência Espacial Americana (Nasa).

De acordo com os pesquisadores, a população mundial usa as águas subterrâneas de forma indiscriminada, apesar de não haver informações precisas sobre a dinâmica de reposição dessas reservas.

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É o primeiro estudo que analisa as perdas dos aquife-ros a partir de dados coletados no espaço, pela Nasa. As leituras dos satélites Grace, especializados em analisar a gravidade do planeta, permitiram a inter-pretação do volume de água e mostraram que 13 dos 37 maiores aquíferos estudados entre 2003 e 2013 estão sendo esvaziados em velocidade superior à da reposição de água nos sistemas.

Dos 13 aquíferos ameaçados, oito foram classifica-dos de “superestressados”, por terem muito pouca ou nenhuma reposição natural, e cinco foram considera-dos “extremamente” ou “altamente” estressados, o que varia de acordo com o tempo da reposição.

Os aquíferos mais sobrecarregados estão nas regiões mais secas do planeta, onde as populações usam

Os aquíferos mais sobrecarregados estão nas regiões mais secas do planeta, onde as populações usam intensamente águas subterrânea (Foto: Thinkstock)

intensamente águas subterrâneas. A equipe de pesquisa descobriu que o Sistema Aquífero Árabe, que atende 60 milhões de pessoas, é o mais superestressado do mundo. O segundo é a Bacia Aquífera Indu, no Noroeste da Índia e no Paquistão, e o terceiro é a Bacia Murzuk-Djado, no Norte da África.

http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Sustentabilidade/noticia/2015/06/maiores-aquiferos-do-planeta-estao-sob-ameaca-de-esgotamento.html

Recuperação de mananciais: como aprimorar as políticas públicas para controlar a poluição das fontes de água Por Evanildo da Silveira Edição 43 - Setembro/2014

Dono de 11,6% da água doce do planeta, o Brasil não deveria ter problemas para abastecer sua população. Não é bem isso que ocorre, no entanto. O consumo de água de baixa qualidade e até mesmo a falta dela é uma realidade para milhões de brasileiros. A distribuição desigual pelo território nacional - cerca 70% da água se concentra na Amazônia, onde vivem apenas 7% da população nacional - dificulta a entrega, mas o que, de fato, aumenta o risco de desabasteci-mento dos brasileiros é a degradação de nascentes e mananciais, principalmente nas áreas urbanas. Recuperar esses recursos e evitar que os que ainda estão intactos sejam poluídos é medida urgente, mas complexa e desafiadora. Algumas iniciativas colocadas em prática no país mostram, no entanto, que isso é possível.

O problema começa com o desrespeito à legislação e a falta de fiscalização para que ela seja cumprida. Desde 1965, o Brasil dispõe de um código florestal que protege nascentes, rios, lagos e lagoas.

Em 25 de maio de 2012 foi promulgada a Lei no 12.651, que instituiu o novo Código Florestal, que determina medidas de proteção ambiental. Em seu Art. 4o, a nova lei diz que são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs), entre outras, as faixas marginais de qualquer curso d'água natural perene e intermitente; as áreas no entorno das nas-centes, qualquer que seja sua situação topográfica, e dos lagos e lagoas naturais.

O Código também determina o tamanho da área a ser preservada. No caso dos córregos, riachos ou rios, ela varia de 30 m a 500 m, dependendo da lar-gura deles. Nas margens de lagos e lagoas, a faixa de preservação tem que ser de 30 m nas cidades e 100 m na zona rural, enquanto nas nascentes a APP deve ter raio mínimo de 50 m. Muito bonito no papel, mas a verdade é que a lei quase nunca foi cumprida como deveria.

Grande parte dos córregos urbanos não tiveram suas margens preservadas e são destino para lançamento clandestino de efluentes domésticos e disposição de resíduos

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Nas últimas décadas, o crescimento desordenado das cidades, o desmatamento de encostas e das matas ciliares, a poluição e o uso inadequado dos solos têm contribuído para degradar e colocar em risco as nascentes e mananciais, diminuindo a quantidade e a qualidade da água, que abastece a população, principalmente nas grandes cidades.

O saneamento básico precário e a coleta e tratamento de esgoto insuficiente contribuem para agravar o problema, porque todos esses efluentes são lançados nos corpos d'água, que se tornam poluídos. Segundo dados do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos - 2012, o último disponível, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, 43,9% da população urbana do Brasil não tem coleta de esgoto. Do total que é gerado no país, apenas 38,6% são tratados. Mesmo o que é coletado - 56,1% nas zonas urbanas - não é tratado em sua totalidade, chegando a apenas 69,4%.

Como mudar? O enfrentamento à recuperação e proteção de mananciais envolve articulação do poder público, da iniciativa privada e o apoio da sociedade civil. As medidas abrangem criação e fiscalização de áreas protegidas, aquisição de terras de interesse ambiental para criação de unidades de conservação e programas intensivos de reurbanização em regiões com ocupações irregulares para recomposição de matas ciliares, implantação de parques lineares e ampliação da oferta de parques públicos.

Como medida prioritária, destaca-se "a desativação dos lixões e sua substituição por aterros sanitários que não impactem mananciais de superfície ou subterrâneos", pontua a engenheira civil Mônica Ferreira do Amaral Porto, professora titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). O fim dos lixões foi determinado na Política Nacional de Resíduos Sólidos e tinha data para acabar: 2 de agosto de 2014. Porém, de acordo com Ministério do Meio Ambiente (MMA), somente 2.202 dos 5.570 municípios brasileiros atingiram a meta. Estima-se que cerca de 40% dos resíduos não tenham destinação adequada no País.

A universalização da coleta de esgoto é igualmente urgente. "Ela só será conseguida com investimentos em obras", diz Mônica. "Depois de concluída a coleta, é muito mais simples implantar o tratamento." No papel, a situação está encaminhada. Falta fazer. O Governo Federal aprovou, por meio de uma portaria interministerial, em 6 dezembro do ano passado, o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), instituído pelo Art. 52 da Lei 11.445/2007. Os investimentos previstos são de R$ 508 bilhões entre 2013 e 2033 para a universalização dos serviços. O Plansab deve abranger o abastecimento, o esgotamento sanitário, o manejo de resíduos sólidos e de águas pluviais.

Mônica acrescenta mais um desafio à lista dos que devem ser superados na área de abastecimento de água e saneamento básico: a poluição difusa. "Não é possível erradicá-la, mas ela pode ser controlada", diz. "Aumento da infiltração por meio de áreas verdes ou valetas gramadas, pavimento permeável, por exemplo, e outras soluções de infiltração ajudam a reduzi-la." A limpeza da cidade com a redução do lixo nas ruas, o controle de sedimentos gerados em obras, entre outras, são medidas que contribuem para o controle da poluição difusa. Os efluentes industriais, por sua vez, devem ser tratados em estações próprias antes de serem lançados.

Nos centros urbanos, a complexidade é ainda maior, pela ocupação desordenada. É o que ocorre nas regiões das represas Guarapiranga e Billings, em São Paulo, por exemplo, onde a população chega a 1,6 milhão de habitantes. Retirar todo mundo e restaurar a vegetação nativa e as matas ciliares não é uma opção viável.

Na opinião da engenheira Mônica, o ideal seria que a legislação tivesse sido cumprida e a ocupação não tivesse ocorrido. Agora, diante do fato consumado, as medidas vão ao encontro da requalificação urbana, que reordene a ocupação. O primeiro passo é realocar pelos menos os moradores mais próximos dos cursos d'água. "Depois, deve-se criar uma área urbana mais organizada, com faixa não edificante e permeável em perímetro marginal aos córregos, e instalar infraestrutura na área ocupada, com ruas em que possa entrar caminhão de lixo e passar rede coletora de esgoto", diz. "Com isso, evita-se lançamento irregular nos reservatórios e é possível proteger os mananciais, ainda que a região esteja ocupada", avalia.

Pagamento por serviços ambientais Para o ecólogo e mestre em Ecologia, Sérgio Luis de Carvalho, do Departamento de Biologia e Zootecnia Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), medidas corretivas para recuperação de mananciais passam pela recolonização de matas ciliares nativas, mobilização social por conscientização e incentivos

Projetos de reurbanização de áreas adensadas em torno de margens de córregos, com realocação de

moradias e implantação de infraestrutura sanitária, são premissas para proteção dos cursos d'água em

áreas urbanas

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governamentais, como a redução de taxas e de impostos para proprietários de terras ou indústrias que agem de forma ecologicamente correta.

Monitoramento hidrológico da qualidade das águas do projeto Conservador das Águas, do município de Extrema, em Minas Gerais, faz parte de um conjunto de ações para promover a adequação ambiental das propriedades rurais

Em linha análoga a essa última medida, destaca-se a iniciativa "Produtor de Água", da Agência Nacional de Águas (ANA), que prevê o apoio técnico e financeiro, por meio do pagamento por serviços ambientais (PSA), à execução de ações de conservação da água e do solo. Entre elas, estão a construção de terraços e bacias de infiltração, a readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes e o reflorestamento de áreas de proteção permanente e reserva legal. O objetivo é reduzir a erosão e assoreamento dos mananciais nas áreas rurais, onde nascem os cursos d'água que abastecem as cidades. Pelo menos oito estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal - já desenvolvem projetos com o apoio do "Produtor de Água". O exemplo pioneiro e mais conhecido é o de Extrema, na Serra da Mantiqueira, no sul de Minas Gerais, onde ficam as nascentes do Rio Jaguari, que corre na divisa entre São Paulo e Minas, e é o principal alimentador do Sistema Cantareira, fornecendo 67% do total da água que abastece a cidade de São Paulo. Para recuperar as nascentes e áreas degradadas, a prefeitura da cidade criou o programa Conservador das Águas, pioneiro no Brasil e que já recebeu várias premiações, entre as quais o Prêmio Internacional por Melhores Práticas para a Melhoria das Condições de Vida, concedido no ano passado pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, o ONU-Habitat.

Criado em 2007, o programa conta com a ajuda de parceiros, como os governos de Minas Gerais e Federal, por meio da ANA, organizações não governamentais (ONGs) e empresas privadas. Com isso, a prefeitura paga aos proprietários R$ 150,00 mensais por cada hectare de pastagem que eles deixam de utilizar - mais do que ganhariam se alugassem seus pastos. "É um instrumento que beneficia o dono da terra, que recebe um pagamento para proteger seu terreno e os serviços ambientais prestados, como fornecer água para os mananciais", explica o biólogo e educador ambiental, César Pegoraro, que trabalha para várias ONGs. "Com o PSA, evita-se a especulação imobiliária e o uso inadequado do solo."

http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/43/recuperacao-de-mananciais-como-aprimorar-as-politicas-publicas-para-controlar-327098-1.aspx