se você disponibilizar, eles construirão?

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Se você disponibilizar, eles construirão? A educação capturada pelo ideário da cultura hacker e algumas reflexões sobre os modelos contemporâneos de EaD Apresentação para o 11º Seminário Nacional ABED – 9 e 10.06.2015 Alexandre Rosado ([email protected]) Instituto Nacional de Educação de Surdos Departamento de Ensino Superior (Núcleo de Educação Online)

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Page 1: Se você disponibilizar, eles construirão?

Se você disponibilizar, eles construirão?A educação capturada pelo ideário da cultura hacker e algumas reflexões sobre os modelos contemporâneos de EaD

Apresentação para o 11º Seminário Nacional ABED – 9 e 10.06.2015Alexandre Rosado ([email protected])Instituto Nacional de Educação de SurdosDepartamento de Ensino Superior (Núcleo de Educação Online)

Page 2: Se você disponibilizar, eles construirão?

Comunidades virtuais colaborativas

Autonomia e Autoinstrução

Materiais digitais para educação

Produção autoral “todos-todos”

Otimismo ou “as possibilidades e promessas infinitas de um futuro digital”

A literatura das décadas de 80 e 90 sobre as revoluções sucessivas das técnicas e a

mudança planetária via novas tecnologias.

A “cabana digital”, a “aldeia global”, a “sociedade da informação”, a “árvore de

conhecimentos”, as “psicotecnologias” e a “sociedade sem escolas”.

Page 3: Se você disponibilizar, eles construirão?

Análise de comunidades onlineVivências como participante de um projeto Wiki e o que aprendi com o

estudo da Wikipédia: “de perto ninguém é normal”.

Discussões duradouras sobre validades dos conteúdos

Hierarquia com base no número de colaborações

Brigas e disputas por territórios

Bloqueio de verbetes por vandalismo

Page 4: Se você disponibilizar, eles construirão?

A desconfiança empírica sobre as fachadas construídas ou “puxando a cortina dos bastidores”

(com a ajuda de Bruno Latour e Erving Goffman)

Page 5: Se você disponibilizar, eles construirão?

É preciso desconfiar dos consensos sobre as tecnologias na educação: nativos digitais (?), ambientes

online abertos (?), computadores que mudam práticas (?).

Page 6: Se você disponibilizar, eles construirão?

Informações lucrativas sobre hábitos de estudantes

Práticas docentes que permanecem

Gastos excessivos com computadores

Instrução programada continuaUsando a metáfora de Bruno

Latour, é preciso “abrir a caixa preta” das tecnologias

na educação e entrar em seus bastidores.

Alguns autores tem nos auxiliado a pensar o “Lado B” das

tecnologias na Educação.

Page 7: Se você disponibilizar, eles construirão?

Em busca das origens:a cultura hacker e seu

ideário liberal.

Alguns princípios:Informação livre.

Entusiasmo com o trabalho.Comunitarismo.

Autonomia individual.Descentralização e anti-burocracia.

Transformação dos sujeitos (e da sociedade) via computadores.

Page 8: Se você disponibilizar, eles construirão?

O ideário hacker nasce em laboratórios estadunidenses de alta tecnologia, com jovens engenheiros muito motivados, com uma ética de trabalho diferenciada.

Nos anos 90 e 2000 ela se populariza através da difusão em massa dos computadores.

Page 9: Se você disponibilizar, eles construirão?

A cultura hacker chega na educação:os ideais de abertura da informação, autonomia dos alunos e

democratização do ensino: MOOCs, REAs e PLEs

Page 10: Se você disponibilizar, eles construirão?

Suspeitando das fachadas da tecnologia na educaçãoou

“Afinal, onde está aquele aluno autônomo, entusiasmado e criativo aqui no meu AVA?”

Page 11: Se você disponibilizar, eles construirão?

O que revela a empiria ou“Pequenos dados, grandes indagações.”

Somente 3% dos wikipedistassão altamente participativos

na escrita da Wikipédia

Em pesquisa recente (Rosado e Tomé), 72% dos alunos portugueses

entrevistados nunca haviam publicado vídeo de autoria própria

em redes sociais. 74,5% nunca publicaram áudio.

Em pesquisa com alunos EaDmilitares (Bianco e Rosado),

somente uma parte deles de fato criou um grupo cooperativo, autoral e com baixa intervenção de tutores.

O padrão que proponho aqui, já detectado por Clay Shirky, é:

pequeno percentual de produtores líderes, parte maior de produtores

eventuais e grande massa de consumidores de conteúdos.

Page 12: Se você disponibilizar, eles construirão?

Reflexões sobre o momento presente:Bastidores da produção do curso de Pedagogia Bilíngue EaD no

Instituto Nacional de Educação de Surdos

Page 13: Se você disponibilizar, eles construirão?

Modelo UAB

Plataforma AVA

Tutor bolsistaPolo

presencial

Pesquisa e planejamento (conteudista)

Aplicação do curso (tutores)

Gestão dos alunos (coord. e AVA)

Page 14: Se você disponibilizar, eles construirão?

Pedagogia Bilíngue INES

Previsão de 11 polos e 360 alunos/ano

__________________

Necessidade, declarada nas políticas públicas, de formar professores e

democratizar o ensino(diretrizes internacionais e déficit

nacional de docentes)__________________

Que interesses essas demandas e esses modelos atendem?Atenção aos organismos

internacionais e suas diretrizes!

Page 15: Se você disponibilizar, eles construirão?

Pontos de atenção!

1. O ideal de aluno produtor e autor. Afastar a generalização do ideário

hacker de colaboração e entusiasmo para detectar a diversidade de alunos

recebidos no curso e suas apropriações das tecnologias.

2. Os tutores continuam sendo vistos como auxiliares, não professores, com

baixa remuneração (bolsistas), alto número de alunos e desligamentos

constantes.

Page 16: Se você disponibilizar, eles construirão?

Pontos de atenção!

3. Alunos surdos, em geral, dominam pouco o português e precisam de

comunicação bilíngue (LP/Libras). A maioria nasce de pais ouvintes e

muitos são privados do contato com a Libras.

4. Como criar, no INES, modelos de EaD que se afastem do modelo-padrão da UAB? Ênfase, a princípio, em vídeos em Libras, links externos e em mapas

mentais como diferencial.Mas isso bastará? Que outros modelos

e práticas ainda precisam ser pensadas?

Page 17: Se você disponibilizar, eles construirão?

Modelo criado para construção das disciplinas

do curso de Pedagogia Bilíngue online do INES

7 semanas por disciplina.Progressão de competências.

Vídeos e textos próprios.Links e vídeos externos.

Glossário e Fórum.Grupos de atividades.

Modelo produzido pelo Núcleo de Educação Online do INES a ser

implantado em 2015 e avaliado depois do primeiro semestre de 2016.

Page 18: Se você disponibilizar, eles construirão?

DESLIGANDO...É preciso enxergar as “telas azuis” dos projetos

envolvendo tecnologias na educação.

Page 19: Se você disponibilizar, eles construirão?

Bibliografia consultada

BARBROOK, Richard. Futuros imaginários: das máquinas pensantes à aldeia global. São Paulo: Peirópolis, 2009.

BIANCO, Pedro Henrique; ROSADO, Luiz Alexandre da Silva. Autoria e autonomia em uma experiência de formação continuada online de docentes militares. In: ROSADO, Luiz Alexandre da Silva et al. Educação e tecnologia: parcerias 3.0. Riode Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2014. p. 213-239.

BLIKSTEIN, Izidoro. Kaspar Hauser ou a Fabricação da Realidade. São Paulo: Cultrix, 2003.

BRETON, P. Le culte de l´Internet: uma menace pour le lien social? Paris: La Découverte, 2000.

CUBAN, Larry. Oversold and underused: computers in the classroom. Harvard University Press: Cambridge; Londres, 2001.

FERREIRA, Giselle Martins dos Santos. De conteúdo a recurso, prática e pedagogia: sobre o movimento REA e suas ramificações. Revista Educação e Cultura Contemporânea, v. 9, n. 18, p. 20-37, 2012.

FIGUEIREDO, Ana Valéria; MAMEDE-NEVES, Maria Apparecida Campos; PEDROSA, Stella Maria Peixoto de Aevedo. As múltiplas facetas da internet para jovens em rede. In: ETIC – Encontro de Educação e Tecnologias de informação e comunicação, 6, 2008, Rio de Janeiro. Anais..., Rio de Janeiro, UNESA, 2008, p. 1 a 16.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.

ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Vozes: Petrópolis, 1985.

LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: editor UNESP, 2000.

LATOUR, Bruno. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru, SP: EDUSC, 2001.

LEMGRUBER, Marcio Silveira. Educação a distância: expansão, regulamentação e mediação docente. Educação em foco, Juiz de Fora, v. 14, n. 1, p. 145-159, mar./ago. 2009.

LEMOS, André. Cibercultura, cultura e identidade. Em direção a uma “Cultura Copyleft”? Revista Contemporanea, v.2, n. 2, p 9-22, dez. 2004.

Page 20: Se você disponibilizar, eles construirão?

Bibliografia consultada

LÉVY, Pierre. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. Tradução Maria Lúcia Homem e Ronaldo Entler. São Paulo, SP: Editora 34, 2001. 192 p.

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução Luiz Paulo Rouanet. 4. Ed. São Paulo, SP: Edições Loyola, 1998. 216 p.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro, RJ: Editora 34, 1993. 208 p. 21 cm (Coleção TRANS).

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro, RJ: Editora 34, 1999. 264 p. (Coleção TRANS).

LEVY, Steven. Hackers: heroes of the computer revolution. Dell Publishing: New York, 1984.

MACEK, Jakub. Defining cyberculture. Jul. 2005. Disponível em: <http://macek.czechian.net/defining_cyberculture.htm>. Acesso em: 07 abr. 2012.

MALANCHEN, Jülia. Uma análise crítica sobre as políticas para a formação de professores a distância no Brasil. Caderno de Pesquisa: Pensamento Educacional, v. 6, n. 13, p. 69-96, 2011.

MAMEDE-NEVES, Maria Apparecida Ccampos. Jovens em rede: representação e significação da internet pelo olhar de jovens universitários. Relatório de pesquisa CNPq. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2008. (mimeogr.).

MAMEDE-NEVES, Maria A. C; ROSADO, Luiz Alexandre da Silva; MARTINS, Tatiane M. de O. Mídias digitais na escola: a “eterna” fase de transição? Apropriações e perspectivas encontradas entre estudantes e professores. Revista e-Curriculum, São Paulo, v. 11, n.2, p. 515-536, ago.2013.

MOCELIN, Daniel Gustavo. A ética hacker do trabalho: rompendo com a jaula de ferro? Sociologias, Porto Alegre, v. 10, n. 19, p. 322-345, jan./jun. 2008.

NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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Bibliografia consultada

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PRETTO, Nelson; PINTO, Cláudio da Costa. Tecnologias e novas educações. Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 31, p. 19-30, jan./abr. 2006.

PRETTO, Nelson. Redes colaborativas, ética hacker e educação. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.26, n.03, p.305-316, dez. 2010.

ROSADO, Luiz Alexandre da Silva; TOMÉ, Vitor Manuel Nabais. As redes sociais na internet e suas apropriações por jovens brasileiros e portugueses em idade escolar. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 96, n. 242, p. 11-25, jan./abr. 2015.

ROSADO, Luiz Alexandre da Silva. Autoria textual coletiva fora do âmbito acadêmico e institucional: análise da comunidade virtual Wikipédia e suas contribuições para a educação. 303 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Departamento de Educação, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2008a.

ROSADO, Luiz Alexandre da Silva. Projetos de autoria coletiva em ambientes educacionais on-line: propondo alguns princípios norteadores. In: MAMEDE-NEVES, M. A.; CASTANHEIRA, M. As coisas são coisas: até que os jovens em rede provem o contrário. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2008b. p. 307-344.

ROSADO, Luiz Alexandre da Silva. Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições. 478p. Tese (Doutorado em Educação) –Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2012.

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Bibliografia consultada

SCHLESENER, Anita Helena; MATTEI, Adriana Rocio Nitsche. Intelectual e universidade: observações acerca da organização do trabalho docente na educação superior a distância. Caderno de Pesquisa: Pensamento Educacional, v. 6, n. 13, p. 131-144, 2011.

SECRETARIA Nacional de Promoção da Pessoa com Deficiência. Viver sem Limite – Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. SDH-PR/SNPD, 2013.

SELWYN, Neil. Distrusting educational technology: critical questions for changing times. Routledge: New York, 2014.

SHIRKY, Clay. Lá vem todo mundo: o poder de organizar sem organizações. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

SILVA, Marco. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2006. 220 p.

TOFFLER, Alvin. A terceira onda. Tradução João Távora. 7 ed. Rio de Janeiro: Record, 1980. 492 p.

VALLE, Lílian e SOUZA, Sónia Ribeiro de. EAD: políticas públicas de qualidade? Caderno de Pesquisa: Pensamento Educacional, v. 6, n. 13, p. 27-42, 2011.

WATTERS, Audrey. The monsters of education technology. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2014.