romantismo séc. xix -...
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Romantismo
séc. XIX
Delacroix: A LiberdadeDelacroix: A morte de Shakespeare
Vítor Meireles: A morte de Moema, também retratadano célebre poema Caramuru, de Santa Rita Durão
Importante lembrar!!!!_________
Contexto histórico europeu
• Revolução Francesa, 1789: idealização do amor e da pátria (nacionalização)• I Revolução Industrial, 1760 (Inglaterra): individualismo• Iluminismo, auge na França em 1751: Século das Luzes ou Ilustração• Bloqueio Continental, 1806: o imperador Napoleão I proíbe o acesso dos navios do
Reino Unido da Grã Bretanha e da Irlanda aos portos dos países dominados pelo IImpério Francês, como Espanha e Portugal
Contexto histórico brasileiro
• Vinda da família real portuguesa para o Brasil, 1808 (fuga da ira de Napoleão)– a colônia se torna no Império Português– desenvolvimento da ex-colônia para atender às necessidades da corte– política, economia, educação, “imprensa”, editoras, sociedade = cultura– projeto político-literário de José de Alencar
• Independência do Brasil, 1822• Abolição da escravatura, 1888• Proclamação da República, 1889
Ambas sob forte pressão da Inglaterra, queprecisava de novos mercados consumidorespara atender à sua expansão edesenvolvimento industrial.
Napoleão Bonaparte , 1769-1821
Dom João de Bragança, João IV. 1767-1826, Príncipe Regente em 1808.
Dom Pedro I, 1798-1834
Influências Artísticas
• ALEMANHA: Sturm und Drang (1760), movimento românticoalemão que visava ao nacionalismo e à liberdade de expressão dossentimentos.
Tempestade e ímpeto (tradução), serviu de reação aoracionalismo do Iluminismo;
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) foi o grande expoentedo movimento com sua obra Sofrimentos do jovem Werther(1774), que trata de um amor abnegado pelo desencontro e pelosuicídio;
• FRANÇA:
Alfred Musset (1810-1857), foi uma referência na poesiaromântica;
Victor-Marie Hugo (1802-1885), foi um dos grandes nomes doromantismo, mas transcendeu sua estrutura com toquesrequintados de realismo como na obra Os Miseráveis (1826);
Alexandre Dumas Filho (1824-1895) foi uma das maioresreferências do romance de costumes com sua obra A dama dascamélias (1848);
• INGLATERRA: o ícone máximo foi Lord Byron (George Gordon Byron,1788-1824), escritor do poema épico Don Juan (1821, uma dasvárias versões que existem no mundo, fazendo da personagem ummito literário)
Johann Wolfgang von Goethe(Frankfurt, 28 de Agosto de 1749— Weimar, 22 de Março de1832)
Projeto Político-Literário de José de AlencarLiteratura Nacional: Unificação e Identidade
A ideia de nacionalização e unificaçãode Alencar da cultura e arte brasileirassó poderia ser pensada e efetivadaatravés de uma língua e de um mito deformação comuns. Por isso, a literaturafoi o principal meio de vinculação epropaganda destes ideais, e o indígenafoi o símbolo mais próximo deancestralidade do que é o brasileiro,mesmo que a miscigenação,principalmente luso-indígena, fosse oideal mais forte desse momento.
Periódicos: os folhetins foram osgrandes promulgadores da literatura eos mais fortes patrocinadores dapropaganda nacionalista.
Influências europeias: embora sebusque o nacional, o olhar europeu, quenossos autores tiveram e valorizavam,ainda será predominante.
Autor
Obra Público leitor
Literatura Nacional
Crítica Literária
Tradição Literária
Brasileiros
Teoria Literária
AS diferenças entre...
romance poesia
• Moralizador• Costumes• Conservador• Patriarcal• Machista• Moral aristocrata e comportamento
burguês• Final feliz: de acordo com o ideal
moralizante europeu• Antítese do Bem vs Mal• Idealização do amor, da moral e
sociedade• Temas: as instituições, os valores, o
índio e a corte do império• “Exceção”: Memórias de um
sargento de milícias, de ManuelAntônio de Almeida (de cunhorealista europeu, mas com finalromântico)
• Independente do moralismo• Subjetividade: eu lírico• Individualismo• Livre de grande parte dos preconceitos
sociais• Visão e influência europeias: estrutura e
temas• Sem finais felizes: amor platônico,
angústia da vida e desejo de fuga• Nacionalização (ufanismo)• Liberdade: República e Abolição;
expressão dos sentimentos• Alienação social Vs crítica social• Três Gerações de poesia
– I Geração: Ufanista/Indianista– II Geração: ultrarromântica/byroniana– II Geração: condoreira
• 1836: Suspiros poéticos e saudades, deGonçalves de Magalhães – primeira obraromântica publicada no Brasil
As Gerações da Poesia Romântica
• Idealização da pátria: ufanismo/patriotismo (exagero)
– natureza (flora e fauna)
– a terra (território)
– nacionalidade: clima de independência
• Idealização do ancestral comum: indianismo
– mito do bom selvagem (honra e altivez): ritualantropofágico
– origem/folclore: identidade nacional
– europeizado
• Idealização do amor:
– drama/exagero/sentimentalismo
– platonismo e incorrespondência
– chantagem emocional
– subjetividade: sofrimento amoroso
• Autores: Gonçalves de Magalhães e Gonçalves dias
I Geração: indianista-ufanista
Gonçalves Dias: 1823-1864
Gonçalves De MagalhãesObra: Suspiros poéticos e saudades
O Canto do Cisne
Meus versos são suspiros de minha alma,Sem outra lei que o interno sentimento;E como o fumo que do fogo se ergue,Sobem ao céu, e perdem-se nos ares.(...)Cada pensamento meu,Como uma baga de incenso,Do turíbulo de minha almaSobe ao alcáçar do Imenso.
Eis por que ainda no da vida exílio,Entre o véu de tristeza que me enlutaAlguns assomos de prazer ressumbram,Como do pirilampoNa escuridão da selva a luz lampeja;Eis por que minha liraInopinados sons desliza às vezes;Eis por que ainda para mim um risoA Natureza enfeita;Eis por que a noite presta-me seu bálsamo,E na aurora que surge encantos acho.
Eco para meus suspirosEu acho na Natureza;E para a voz de minha almaUm acento de tristeza.(...)Eu canto como o Cisne, sem que saibaSe é meu último canto;Como o arbusto que brota mortais flores,Minha alma se dilata, e aromas verte;Como a luz que falece, e se afogueia,Em sacro amor meu coração se inflama;Como o rio que manso se desliza,Como o ligeiro zéfiro que adeja,Devolvem-se meus dias,Como vagas do mar, um após outro,E não sei qual será o derradeiro.
Inda um suspiro, minha alma,Como o Cisne hoje exalemos.Se amanhã virmos a aurora,Novos hinos entoemos.Cantemos, cantemosCo'a noite, e co'o dia,Seja nossa vidaContínua harmonia.
Ainda Uma Vez Adeus (lírico)
Enfim te vejo! - enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado A não lembrar-me de ti!
Adeus qu'eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, Por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!
Lerás, porém, algum dia Meus versos d'alma arrancados, D'amargo pranto banhados, Com sangue escritos; - e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiede Que chores, não de saudade, Nem de amor, - de compaixão.
Canção do Exílio (natureza)
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite–Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias
I-Juca Pirama (indianismo)- aquele que é digno de ser morto; ritual antropofágico
No meio das tabas de amenos verdores,Cercadas de troncos – cobertos de flores,Alteiam-se os tetos de altiva nação.São todos timbiras, guerreiros valentes!Seu nome lá voa na boca das gentes,Condão de prodígios, de glória e terror!
Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi.
Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.
(...)Deixai-me viver!Não vil, não ignavo,Msd forte, mas bravo,Serei vosso escravo:Aqui virei ter.Guerreiros, não choro;Se a vida deploro,Também sei morrer.(...)"Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte; Pois choraste, meu filho não és! Possas tu, descendente maldito De uma tribo de nobres guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de vis Aimorés.
Sê maldito, e sozinho na terra;Pois que a tanta vileza chegaste,Que em presença da morte choraste,Tu, cobarde, meu filho não és.
• Influências do poeta inglês Lord Byron
• Tuberculose: a doença que devastou metade da Europa
• A depressão vital: desejo de morte
• Medo, evasão e drama exagerado
• A busca pelos vícios: tabagismo, alcoolismo e amores vãos
• Subjetividade exacerbada: só os sentimentos do eu lírico importam
• Forte individualismo
• Sensibilidade egoísta
• Contraste: beleza da mulher Vs dor existencial
• Autores: Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu
II Geração: ultrarromântica-byroniana-mal do século
SofrimentoAmor platônico
Tédio da vida
Morte: evasão/fugafim da dor existencial
Vícios
Tereza (medo e platonismo)
Não acordes tão cedo! Enquanto dormesEu posso dar-te beijos em segredoMas quando nos teus olhos raia a vidaNão ouso te fitar... eu tenho medo!
Enquanto dormes, eu te sonho amanteIrmã de serafins, doce donzela:Sou teu noivo... respiro em teus cabelosE teu seio venturas me revela [...]
Ideias Íntimas (tédio)
Vou ficando blasé, passeio os diasPelo meu corredor, sem companheiro,Sem ler, nem poetar. Vivo fumando.Minha casa não tem menores névoas.
Que as deste céu de inverno... Solitário,Passo as noites aqui e os dias longos,Dei-me agora ao charuto de corpo e alma;Não passeio a cavalo e não namoro. (...)
O! meu pobre leito, desfeito aindaA febre aponta na noturna insôniaAqui lânguido à noite debati-me,Em vãos delírios anelando um beijoForam sonhos contudo. A minha vidaSe esgota em ilusões. (...)
O! ter vinte anos sem gozar de leveA ventura de uma alma de donzela!E sem na vida ter sentido nuncaNa suave atração de um róseo corpoMeus olhos turvos se fecharam de gozo (...)
Álvares de Azevedo
Se eu morresse amanhã (morte)
Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que manhã! Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n'alva Acorda a natureza mais loucã!Não me batera tanto amor no peitoSe eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devoraA ânsia de glória, o dolorido afã...A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!
Álvares de Azevedo, 1831-1852.
Também escreveu um livro de contosNoite na Taverna, 1855, sob temáticassombrias que envolvem necrofilia,incesto, imoralidade. É totalmente àsavessas de sua produção poética.
Amor
Amemos! Quero de amorViver no teu coração!Sofrer e amar essa dorQue desmaia de paixão!Na tu'alma, em teus encantosE na tua palidezE nos teus ardentes prantosSuspirar de languidez!Quero em teus lábio beberOs teus amores do céu,Quero em teu seio morrerNo enlevo do seio teu!Quero viver d'esperança,Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trançaQuero sonhar e dormir!Vem, anjo, minha donzela,Minh'alma, meu coração!Que noite, que noite bela!Como é doce a viração!E entre os suspiros do ventoDa noite ao mole frescor,Quero viver um momento,Morrer contigo de amor!
Lembrança de Morrer
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,Que o espírito enlaça à dor vivente,Não derramem por mim nenhuma lágrimaEm pálpebra demente.
Eu deixo a vida como deixa o tédioDo deserto, o poento caminheiro,... Como as horas de um longo pesadeloQue se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,Onde fogo insensato a consumia:Só levo uma saudade... é desses temposQue amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade... é dessas sombrasQue eu sentia velar nas noites minhas...De ti, ó minha mãe, pobre coitada,Que por minha tristeza te definhas!
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,Se um suspiro nos seios treme ainda,É pela virgem que sonhei... que nuncaAos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadoraDo pálido poeta deste flores...Se viveu, foi por ti! e de esperançaDe na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,Verei cristalizar-se o sonho amigo...Ó minha virgem dos errantes sonhos,Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitárioNa floresta dos homens esquecida,À sombra de uma cruz, e escrevam nela:Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
Sombras do vale, noites da montanhaQue minha alma cantou e amava tanto,Protegei o meu corpo abandonado,E no silêncio derramai-lhe canto!
Mas quando preludia ave d’auroraE quando à meia-noite o céu repousa,Arvoredos do bosque, abri os ramos...Deixai a lua pratear-me a lousa!
Noite na Taverna (contos)Fragmento do capítulo Johann
Mostra bem o delírio noturno de Álvares deAzevedo. Em uma disputa d ebilhar, oprotagonista sente-se ofendido por outrojovem. Insultam-se e acabam duelando.Johann mata o estranho. Depois, rouba-lheum anel e, ao revisar o bolso dodesconhecido, encontra dois bilhetes: umapara sua mãe e outro para sua amada.À uma hora da noite na rua de… n. 60, 1°andar acharás a porta aberta. Tua G.Não tinha outra assinatura. Eu não soube oque pensar. Tive uma idéia: era uma infâmia.Fui à entrevista. Era no escuro. Tinha nodedo o anel que trouxera do morto. Sentiuma mãozinha acetinada tomar-me pelamão, subi. A porta fechou-se.Foi uma noite deliciosa! A amante do loiroera virgem! Pobre Romeu! Pobre Julieta!Parece que essas duas crianças levavam anoite em beijos infantis e em sonhos puros!
(Johann encheu o copo: bebeu-o, masestremeceu.)Quando eu ia sair, topei um vulto a porta.— Boa noite, cavalheiro, eu vos esperavahá muito. Essa voz pareceu-me conhecida.Porém, eu tinha a cabeça desvairada.Não respondi: o caso era singular.Continuei a descer: o vulto acompanhou-me. Quando chegamos à porta, vi luzir afolha de uma faca. Fiz um movimento e alâmina resvalou-me no ombro. A luta fez-se terrível na escuridão. Eram doushomens que se não conheciam; que nãopensavam talvez terem-se visto um dia aluz, e que não haviam mais ver-seporventura ambos vivos.O punhal escapou-lhe das mãos, perdeu-seno escuro: subjuguei-o. Era um quadroinfernal, um homem na escuridãoabafando a boca do outro com a mão,sufocando-lhe a garganta com o joelho, e aoutra mão a tatear na sombra procurandoum ferro.
Nessa ocasião, senti uma dor horrível: frioe dor me correram pela mão. O homemmorrera sufocado, e na agonia meenterrara os dentes pela carne. Foi a custoque desprendi a mão sanguenta edescarnada da boca do cadáver. Ergui-me.Ao sair tropecei num objeto sonoro.Abaixei-me para ver o que era. Era umalanterna furta-fogo. Quis ver quem era ohomem. Ergui a lâmpada. O último clarãodela banhou a cabeça do defunto, eapagou-se…Eu não podia crer: era um sonhofantástico toda aquela noite. Arrastei ocadáver pelos ombros levei-o pela laje dacalcada ate ao lampião da rua, levantei-lhe os cabelos ensanguentados do rosto…Um espasmo de medo contraiuhorrivelmente a face do narrador... Tomouo copo, foi beber: os dentes lhe batiamcomo de frio: o copo estalou-lhe noslábios.
Aquele homem - sabeis-lo? Era do sangue do meu sangue, era filho das entranhas de minha mãe como eu... era meu irmão! Uma ideia passou ante meus olhos como um anátema. Subi ansioso ao sobrado. Entrei. A moca desmaiara de susto ouvindo a luta. Tinha a face fria como o mármore. Os seios nus e virgens estavam parados e gélidos como os de uma estátua. A forma de neve eu a sentia meio nua entre os vestidos desfeitos, onde a infâmia asselara a nódoa de uma flor perdida. Abri a janela, levei-a ate aí… Na verdade que sou um maldito! Olá, Archibald, dai-me um outro copo, enchei-o de conhaque, enchei-o até a borda! Vede! Sinto frio, muito frio... tremo de calafrios e o suor me corre nas faces! Quero o fogo dos espíritos! A ardência do cérebro ao vapor que tonteia… quero esquecer! — Que tens, Johann? Tiritas como um velho centenário! — O que tenho? O que tenho? Não o vedes, pois? Era linha irmã!
Casimiro e Abreu
Meus oito anos (infância e saudade)
Oh que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueiras,A sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais.
Como são belos os diasDo despontar da existênciaRespira a alma inocência,Como perfume a flor;
Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!
Amor e Medo (angústia sentimental)
Quando eu te fujo e me desvio cautoDa luz de fogo que te cerca, oh! Bela,Contigo dizes, suspirando amores:- Meu Deus! Que gelo, que frieza aquela!
Como te enganas! Meu amor é chamaQue se alimenta no voraz segredo,E se te fujo é que te adoro louco...És bela – eu moço; tens amor – eu medo!
Casimiro de Abreu 1839-1860
• Contraste: infância vs maturidade• Infância: ingenuidade, pureza e sem
sofrimento• Maturidade: o homem em constante
sofrimento, angústia amorosa
• Condor: símbolo de liberdade
• Propagandas abolicionista (1888) e republicana (1889)
• Crítica social e tomada de consciência: escravidão
• A condição do negro cativo: sentimento e protagonismo
• Revolta, indignação e o comportamento do negro escravo
• A realidade dos porões do navio negreiro
• Castro Alves foi o principal escritor da geração:
– Os escravos (Navio Negreiro, Vozes d’África, Bandido Negro)
– Espumas Flutuantes ( poesia lírica, amorosa: Laço de Fita)
III Geração: condoreira – o caso Castro Alves
Vozes d’África (humanidade do negro)
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?Em que mundo, em qu’estrela tu te escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,Que embalde, desde então, corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus? (...)Não basta inda de dor, Ó Deus terrível?E pois teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?
E que é que eu fiz, Senhor? Que torvo crimeEu cometi jamais, que assim me oprime
Teu gládio vingador?
Castro Alves, 1847-1871
O navio negreiro (escravidão)
Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas avermelha o brilho.Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de açoite...Legiões de homens negros como a noite,Horrendos a dançar...
E ri-se a orquestra irônica, estridente...E da ronda fantástica a serpenteFaz doudas espirais ...Se o velho arqueja, se no chão resvala,Ouvem-se gritos... o chicote estala.E voam mais e mais...Presa nos elos de uma só cadeia,A multidão faminta cambaleia,E chora e dança ali!Um de raiva delira, outro enlouquece,Outro, que martírios embrutece,Cantando, geme e ri!(...)
No entanto o capitão manda a manobra,E após fitando o céu que se desdobra,Tão puro sobre o mar,Diz do fumo entre os densos nevoeiros:"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!Fazei-os mais dançar!..."(...)Senhor Deus dos desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus!Se é loucura... se é verdadeTanto horror perante os céus?!Ó mar, por que não apagasCo'a esponja de tuas vagasDe teu manto este borrão?...Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufão! (...)
Bandido Negro
Corre, corre, sangue do cativoCai, cai, orvalho de sangue
Germina, cresce, colheita vingadoraA ti, segador a ti. Está madura.
Aguça tua fouce, aguça, aguça tua fouce.(E. SUE - Canto dos filhos de Agar)
Trema a terra de susto aterrada...Minha égua veloz, desgrenhada,Negra, escura nas lapas voou.Trema o céu ... ó ruína! ó desgraça!Porque o negro bandido é quem passa,Porque o negro bandido bradou:
Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingança feroz.
Dorme o raio na negra tormenta...Somos negros... o raio fermentaNesses peitos cobertos de horror.Lança o grito da livre coorte,Lança, ó vento, pampeiro de morte, Este guante de ferro ao senhor.
Eia! ó raça que nunca te assombras!Pra o guerreiro uma tenda de sombrasArma a noite na vasta amplidão.Sus! pulula dos quatro horizontes,Sai da vasta cratera dos montes,Donde salta o condor, o vulcão.
E o senhor que na festa descantaPare o braço que a taça alevanta,Coroada de flores azuis.E murmure, julgando-se em sonhos:"Que demônios são estes medonhos,Que lá passam famintos e nus?"
Somos nós, meu senhor, mas não tremas, Nós quebramos as nossas algemasPra pedir-te as esposas ou mães. Este é o filho do ancião que mataste. Este - irmão da mulher que manchaste... Oh! não tremas, senhor, são teus cães.
São teus cães, que têm frio e têm fome,Que há dez séc'los a sede consome...Quero um vasto banquete feroz...Venha o manto que os ombros nos cubra.Para vós fez-se a púrpura rubra,Fez-se a manto de sangue pra nós.
Meus leões africanos, alerta!Vela a noite... a campina é deserta. Quando a lua esconder seu clarão Seja o bramo da vida arrancado No banquete da morte lançado Junto ao corvo, seu lúgubre irmão.
Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingança feroz.
Trema o vale, o rochedo escarpado,Trema o céu de trovões carregado,Ao passar da rajada de heróis,Que nas éguas fatais desgrenhadasVão brandindo essas brancas espadas,Que se amolam nas campas de avós.
Cai, orvalho de sangue do escravo,Cai, orvalho, na face do algoz.Cresce, cresce, seara vermelha,Cresce, cresce, vingança feroz.
Adormecida (lírica)
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalço do tapete rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte, Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras, Iam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as folhas verdes, Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se... Mas quando a via despeitada a meio, P'ra não zangá-la... sacudia alegre Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida: "Ó flor! — tu és a virgem das campinas! "Virgem! — tu és a flor da minha vida!..."
O Adeus de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala...
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa... E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos... sec'los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei!... descansa!...
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
• Castro Alves costumava dedicarseus poemas a seus amoresverdadeiros ou aventurasamorosas que vivera
• Dama da Noite ou Dama Negra:a mulher a quem mais dedicarasua poesia
Laço de Fita
Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...Prendi meus afetos, formosa Pepita.Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!Não rias, prendi-meNum laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas,Nos negros cabelos da moça bonita,Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,Formoso enroscava-seO laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,Qual pássaro bravo, que os ares agita,Eu vi de repente cativo, submissoRolar prisioneiro
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeiaDebalde minh'alma se embate, se irrita...O braço, que rompe cadeias de ferro,Não quebra teus elos,Ó laço de fita!
Meu Deusl As falenas têm asas de opala,Os astros se libram na plaga infinita.Os anjos repousam nas penas brilhantes...Mas tu... tens por asasUm laço de fita.
Há pouco voavas na célere valsa,Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...Beijava-te apenas...Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornosN'alcova onde a vela ciosa... crepita,Talvez da cadeia libertes as trançasMas eu... fico presoNo laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do valeAbrirem-me a cova... formosa PepitalAo menos arranca meus louros da fronte,E dá-me por c'roa...Teu laço de fita.
Boa noite!
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.A lua nas janelas bate em cheio...Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.Mas não digas assim por entre beijos...Mas não me digas descobrindo o peito,– Mar de amor onde vagam meus desejos.Julieta do céu! Ouve.. a calhandra já rumoreja o canto da matina.Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira... ...Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se a estrela-d'alva os derradeiros raiosDerrama nos jardins do Capuleto,Eu direi, me esquecendo d'alvorada:"É noite ainda em teu cabelo preto..."
É noite ainda! Brilha na cambraia– Desmanchado o roupão, a espádua nua –o globo de teu peito entre os arminhosComo entre as névoas se balouça a lua...
É noite, pois! Durmamos, Julieta! Recende a alcova ao trescalar das flores, Fechemos sobre nós estas cortinas... – São as asas do arcanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lâmpadaLambe voluptuosa os teus contornos...Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinosAo doudo afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijosTreme tua alma, como a lira ao vento,Das teclas de teu seio que harmonias,Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,Ri, suspira, soluça, anseia e chora...Marion! Marion!... É noite ainda.Que importa os raios de uma nova aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,Sobre mim desenrola teu cabelo...E deixa-me dormir balbuciando:– Boa noite! –, formosa Consuelo...