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á m+m Órgão Oficial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado ATENÇÃ RURAL e 1981 ário rural em SP é H 9.384.03 < m 2, Dirigentes vâo a Brasília para impedir divisões Dirigentes e assessores debatem programa de educação para 81 Diretores da FETAESP. representan- tes dos 10 Grupos Regio- nais na Comissão Esta- dual de Sindicalismo e Educação e a assessoria da FETAESP reunidos nas duas fotos. O encontro foi em Agudos, de 3 a 5 de fevereiro. No primero dia, a Diretoria da Fetaesp e a assessoria fizeram um balanço do programa edu- cacional e das atividades em geral promovidas nc Estado no ano passado. No segundo e terceiro dia, compareceram os repre- sentantes dos Grupos Regionais levando suges- tões para o novo progra- ma educacional. O Presi- dente da Fetaesp coorde- nou o encontro. VISITA Estagiários do ICT trocam idéias na FETAESP sobre Proalcool, Economia, Politica, e Sindicalismo. (pag. 4) Os estagiários demonstraram muito interesse em conhecer os problemas da nossa categoria: ao mesmo tempo mostraram que têm um apetite enorme por assuntos políti- cos, seja de política sindical, seja de política econômica ou partidária. Na página 4, a visita. FETAESP e sindicatos denunciam ao ministro a péssima assistência. Em fevereiro, durante encontro em Fernandópolis, a FETAESP e os dirigentes do Grupo Regional 4 entregaram ao Ministro da Previdência , Jair Soares, memorial denunciando desleixo, na assistência médico-hospitalar. (pég. 7) 18 anos, Goulart assinava o Estatuto do Trabalhador Rural É possível que o Estatuto do Trabalhador Rural existisse desde 1954, caso $ Getúlio nâo tivesse morrido. Foram necessários mais nove anos de brigas para que o projeto de Fernando Ferrari fosse aprovado em 1963 Recém aprovado, Ferrari morreu. (PÍ9- 3). Trabalhador desafia fazendeiro! Inácio Albertini , nosso companheiro de assessoria da Fetaesp, conta na última página a história de um desafio entre um trabalhador e um fazendeiro. O fazendeiro começou contando vantagens mas não agüentou o desafio! Usinas nucleares e titulações esquentam sindicalismo no Ribeira O Vale do Ribeira é motivo de preocupações eada vez maiores para o nosso sindicalismo: a tensão cresce, os grileiros aumentam, a titulação pelo governo vai demorar muito e teme-se pelos latifúndios; além disso, o Governo federal vai mesmo construir duas centrais nucleares, entre Iguape e Peruibe. (última pagina).

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Page 1: ário rural em SP é H 9.384.03 - :: Centro de Documentação ...Os estagiários demonstraram muito interesse em conhecer os problemas da nossa categoria: ao mesmo tempo mostraram

á m+m Órgão Oficial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado

ATENÇÃ

RURAL e 1981

ário rural em SP é H 9.384.03 <m 2,

Dirigentes vâo a Brasília para impedir divisões

Dirigentes e assessores debatem programa de educação para 81

Diretores da FETAESP. representan- tes dos 10 Grupos Regio- nais na Comissão Esta- dual de Sindicalismo e Educação e a assessoria da FETAESP reunidos nas duas fotos. O encontro foi em Agudos, de 3 a 5 de fevereiro. No primero dia, a Diretoria da Fetaesp e a assessoria fizeram um balanço do programa edu- cacional e das atividades em geral promovidas nc Estado no ano passado. No segundo e terceiro dia, compareceram os repre- sentantes dos Grupos Regionais levando suges- tões para o novo progra- ma educacional. O Presi- dente da Fetaesp coorde- nou o encontro.

VISITA

Estagiários do ICT trocam

idéias na FETAESP sobre

Proalcool, Economia, Politica, e

Sindicalismo.

(pag. 4) Os estagiários demonstraram muito interesse em conhecer os problemas da nossa

categoria: ao mesmo tempo mostraram que têm um apetite enorme por assuntos políti- cos, seja de política sindical, seja de política econômica ou partidária. Na página 4, a visita.

FETAESP e sindicatos denunciam ao ministro a péssima assistência.

Em fevereiro, durante encontro em Fernandópolis, a FETAESP e os dirigentes

do Grupo Regional 4 entregaram ao Ministro da Previdência , Jair

Soares, memorial denunciando desleixo, na assistência médico-hospitalar.

(pég. 7)

Há 18 anos, Goulart assinava o Estatuto

do Trabalhador Rural É possível que o Estatuto do

Trabalhador Rural existisse desde 1954, caso $ Getúlio nâo tivesse morrido. Foram

necessários mais nove anos de brigas para que o projeto de Fernando Ferrari fosse aprovado em 1963 Recém aprovado, Ferrari morreu.

(PÍ9- 3).

Trabalhador desafia fazendeiro!

Inácio Albertini , nosso companheiro „ de assessoria da Fetaesp, conta na última

página a história de um desafio entre um trabalhador

e um fazendeiro. O fazendeiro começou contando vantagens mas não agüentou o desafio!

Usinas nucleares e titulações esquentam

sindicalismo no Ribeira O Vale do Ribeira é motivo de

preocupações eada vez maiores para o nosso sindicalismo: a tensão cresce, os grileiros

aumentam, a titulação pelo governo vai demorar muito e teme-se pelos

latifúndios; além disso, o Governo federal vai mesmo construir duas centrais

nucleares, entre Iguape e Peruibe. (última pagina).

Page 2: ário rural em SP é H 9.384.03 - :: Centro de Documentação ...Os estagiários demonstraram muito interesse em conhecer os problemas da nossa categoria: ao mesmo tempo mostraram

c A OPINIÃO DO LEITOR 3

Mande sua carta para Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo (FETAESP) R. Brigadeiro fobias, 118, 36f andar, conjunto 7, jornal REALIDADE RURAL CEP. 01032.

Um pito de Palmital ao governo e descrentes: reforma agrária, poxa!

Companheiros, a Reforma Agrária é a solução para a maior parte dos problemas do nosso Pa!s, e o Governo também sabe disso.

Mas, ele não tem coragem de mexer com os grandes lati- fundiários do Brasil.

Porque a maior parte deles não são brasileiros. São mono- polistas estrangeiros, que dominam o setor agrícola no Brasil.

Até no Amazonas existe um norte americano que tem um projeto de exploração das nossas riquezas, chamado projeto Jari.

0 nosso Governo devia estar dormindo quando este pirata chegou aqui.

A Reforma Agrária, companheiros, tem que ser feita em todo o País onde ele se fizer necessária. E não querer empur- rar o pobre do trabalhador para o Amazonas, entre bichos, doenças, e os nossos irmãos indios, e deixar tudo pronto para depois os grileiros ir tomar a terra da gente outra vez.

O que o Govenro precisa e deixar os índios em paz, e criar coragem e enfrentar ao lado do povo essa raça estrangeira comprando,lou melhor,roubando nossas terras. Dê ao povo d que é do povo, a terra é do povo que nela precisa trabalhar.

As. Francisco Domingos, soóio do Sindicato dos Trabalha- dores Rurais de Palmital, n» 4.083 (SP).

Caro companheiro: sua carta vai esclarecer muita gente' pôr aí, que pensa que lá em Brasília o pessoal é sério. Sério mesmo é o nosso pessoal que vive no cabo da enxada, pen- sando no bem do Brasil, vivendo honestamente, respeitando as leis, vivendo do suor do rosto e ainda dando de comer para multa vagabundagem por ai, que parece morcego, vive do sangue dos outros.

É Reforma Agrária mesmo que o Brasil precise Com uma nova política agrícola, com extensão rural, um ci^operativis- mo de verdade, educação para as crianças, os moços e os adultos da roça, mais valor para o homem do campo.

Certamente os dirigentes do seu Sindicato vão ficar con- ,tentesiao tomarem conhecimento da sua carta. E muita gen- te vai acordar. Escreva sempre.

Mirassol, preocupado com expansão da cana,

oferece sugestões 0 Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mirassol, por sua

diretoria , percebendo a Inquietação dos trabalhadores dian- te das transformações que vemocorrendo.na regiâole.a posi- ção de alguns mais exaltados, no sentido de prevenir medi- das drásticas, ouvindo os associados, faz a s seguintes con- siderações e reivindicações.

Que nessa região predominava a lavoura de café, que foi erradicada em grande parte e substituído por pastagem que mais recentemente, outras áreas de café remanescentes estão sendo transformadas em lavouras de laranja.

Se não bastasse, o fato da laranja e pastagem ocupar um mínimo do mão-de-obra, os empregadores vem usando cada vez com mais freqüência herbicida nas lavouras.

À vista disso, a cada ano tem sido mais escasso o traba- lho nessa região; Finalmente, temos assistido â proliferação das lavouras de cana-de-açúcar, com a instalação de usinas, primeiramente de Catanduva, posteriormente em Monte Aprazível, cujas lavouras já abrangem municípios da base territorial deste Sindicato.

Já conhecemos casos de fazendas que estão arrancando café para plantar cana contrariando declarações recentes de Ministros ligados ao setor.

Já vemos boatos de que outras usinas serão instaladas na regiãc criando uma série de preocupações para a categoria, que começam a perguntar o que fazer e como vamos conse- guir a nossa sobrevivência.

Queremos deixar claro que os trabalhadores filiados a este Sindicato não são contrários à plantação de cana. Se o, Governo criou o PROALCOOL, alguma razão especial deve existir.

Querem e pleiteiam os trabalhadores rurais filiados a este Sindicato o direito de trabalhar e viver condignamente, com ou sem a lavoura canavieira.

Considerando que este ano, mais do que no ano passado, os trabalhadores rurais sofreram a angústia do desemprego;

Considerando ainda que nesta época, que já é considera- da, oferta de sewiços para os plantios, os trabalhadores vem ainda encontrando dificuldades para arranjar serviço, e quan- do encontram é por número reduzido de dias.

Considerando que a introdução do PROALCOOL vai tornar a situação muito mais angustiante.

Reunidos os trabalhadores rurais na sede social do Sindi- cato e nas suas delegacias, sindicais, onde se analizou pro- fundamente o problema, resultando nas seguintes reivindica- ções: a. Que seja garantido elas pelas autoridades, responsáveis pelo setor a execução de uma política do PROALCOOI, de forma a garantir emprego digno ao trabalhador rural. b. Que não se permita a proliferação indiscriminada da lavou- ra canavieira sem reservas de áreas para outras culturas. c. Que se proíba de modo efetivo a substituiçâodecafé por cana. d. Com o objetivo de assegurar maior permanência do traba- lhador nas fazendas e uma remuneração mais justa, incen- tivado pelo Governo a parceria na produção de cana. e. Que seja extendido ao trabalhador rural paulista o Decreto n' 57.020,obrigandoo empregador rural a ceder a cada tra- balhador rural uma área de terras de 2 (dois) hectares, para cultura de subsistência.

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mirassol; a) Osval- do de Oliveira, presidente; Ricieri Grolla; secretário e Domin- gos Zaniboni, tesoureiro.

Prezados companheiros e aos leitores: os comentários e as reivindicações deste documento certamente serão o acom-

panhados o interior do Estado e em outras entidades. Uma bela reflexão e uma tomada de posição que merece ser deti-, demente analisada pela sua ousadia. A parceria na cana, par- ticularmente, exige uma pergunta: como fazê-la? Qual o pre- ço que os usineiros exigirão para isso? Os leitores, se quiserem, que comentem e sugiram. O debate está aberto.

ATENÇÃO! Menor salário rural é 9.384,03 em SP

A diretoria da FETAESP avisa: a partir de 15 de março, em virtude da nova política salarial, o menor salário mínimo do Estado na zona rural não pode ser inferior a Cr$ 9.384,03.

Isso porque o reajuste semestral para quem ganha até três salários mínimos é de 50,71% para o nosso pessoal.

Para alguém pode parecer que Cr$ 9.384,03 é um grande salário, mas a diretoria alerta que essia quantia continua insignifi- cante e irrisória para propiciar uma remune- ração quejatenda às necessidades principais do homem do campo e sua família, numa época em que a inflação atinje a loucura de índices superiores a 115% ao ano. Numa época em um preso custa ao Governo do Estado no mínimo Cr$ 13.500,00 ao mês.

Para quem ganha mais de três salários,o índice é de 46,1%, mais Cr$ 800,60. Acima. de 10 salários , é de 36,88%, mais Cr$ 6.137,80.

Eleições em sindicatos Para o mês de março

de 1981 estão programa- das eleições nos seguin- tes Sindicatos:

Dias 7 e 8 - Pompéia; Dias 21 e 22 - Jardinópo- lis; Dias 2 8 e 29 - Barra Bonita;

Tomarão posse as novas Diretorias:

Dia 19 - Pindamonhan- gaba - Diretores Efeti- vos: Jandiro José de Sene, José Bento Ribei- ro e Benedito Marcelino da Rocha.

Dia 19 - Araras - Diretores Efetivos: Nori- val Guadaghin, Antônio

Tarifa e Vidor Jorge Fai- ta.

Dia 30 - Gália - Dire- tores Efetivos: Vergílio José da Silva, Sebastião Sanavio Filho e Luis da Silva.

DEPARTAMENTO DE ORIENTAÇÃO SINDI- CAL (DOS) — FETAESP.

De General Salgado, uma poesia volante pelo dia da mulher

J]1;\IIIJ.AíJJ

Dia 8 de março comemorou-se o DIA INTERNACIONAL DA MULHER, instituído pela Organização das ações Unidas. Uma data importante para nos, da roça. onde as mulheres sofrem tanto pelos baixos salários que ganham jun- to com os homens, como também pela ignorância, excesso de trabalho, incom- preensões, preconceitos. Ainda não é vista como um ser humano, uma cidadã da mesma forma que o homem.

Como homenagem à MULHER DO CAMPO, publicamos os versos de dona Maria, lavadeira de General Salgado, versos que nos foram érmados pelo nosso Sindicato no município. Seu marido, Alcides, é diarista na rdça e de tanto tra- balhar no pesado e mexer com veneno, está adoentado e teve que Jicar parado quase três meses. Mas, como a situação apertou, está indo trabalhar mesmo doente. Eles participam do Grupo de Vila Maria, em Gal. Salgado.

Dona Maria, animada pelas reuniões na Vila, escreveu uns versos. Estes ver- sos contam a história de uma revolta entre os trabalhadores, na qual ela estava presente. _

Seus versos têm por título "O SINO DA FAZENDA"

"Vou contar a minha história de quando eu tinha meus oito anos de idade. Meu pai era viuvo

e tornou a casar e mudou numa fazenda

e lavouras foi tocar.

Trabalhava de colono Tocava o sino prá alevantar Meu pai .muito revoltado um companheiro veio convidar prá fazer uma reunião prá essa lei mudar.

No meio tinha um pucha-saco que não queria aceitar o meu pai disse prá ele nada você vai falar se você abrir a boca a turma vai lhe arrebentar.

Quando foi a tardezinha o administrador veio avisar prá ir lá na fazenda que o patrão estava lá

foram tudo combinado começaram todos a falar prá tirar a disciplina "desse jeito assim não dá nós temos hora prá dormir também tem hora prá alevantar Não precisa conduzir a buzina prá poder ir trabalhar colono não é cachorro prá os fazendeiros mandar".

No outro dia seguinte saimos prá trabalhar por nossa livre vontade não escutamos o sino tocar passamos em frente a fazenda e o sino.não estava lá. A reunião que foi feita o fazendeiro escutou deixou os colonos em paz e a disciplina acabou.

Pág. 2 — REALIDADE RURAL, MARÇO DE 1981

RURAL

Diretoria

^Roberto Toshio Horiguti Presidente.

Francisco Benedilu Rocha Secretário Geral.

Mário Vatanabe I9 Secretário

Emílio Bertuzzo 2' Secretário

Orlando Izaque Birrer Tesoureiro Geral

José Bento de Santi l9 Tesoureiro

Antônio David de Souza . 29 Tesoureiro Editor Responsável José Carlos Salvagni (SJP 5177)

Relações Públicas João Ferreira Neto

Rua Brigadeiro Tobias, 118, 36' andar - Conj. 3.607

CEP 01032 - End. Telegrifico:

FETAESP - Telefones; 228-983? 228-9353 - São Patílb -

CaMpMo c mpmto Mt OACMM tfa AAM CrATtcaa CMH4 VA. KodovH

* í>*n. km. 314 - POM:

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( A OPINIÃO DA FETAESP )

Vida digna para • • • ^

Em boa hora, as comunidades cristãs do Brasil escolheram o tema para a presente Campanha da Fraternidade: "Saúde para todos".

Reza a Proclamaçâo Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo 25': 'Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegu- rar asiea sua família, saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médi- cos..."

Ora, o realidade gritante que nos rodeia, parece ignorar este apelo das Nações civilizadas, sucedâ- neas, da antiga Liga das Nações.

Organismos internacionais, de si, não são.sufi- cientes para atingir a consciência do homem que, cada vez mais, se identifica com o tradicional pro- vérbio: "o homem é lobo para o homem".

A concentração de 50% da renda nacional nas mãos de 5% de privilegiados, reduz 95% dos brasi- leiros a condições infra-humanas.

Sõ uma visão cristã da realidade humana pode estabelecer critérios para uma ação eficaz de não enganosa fraternidade.

E nesta visão do homem criado por Deus é que encontramos as prerrogativas de "obra prima" a exigir melhores atenções.

0 Trabalhador rural, por exemplo, carece de um tratamento que o torne verdadeiramente irmão, em igualdade de direitos.

A mulher e a criança , por exemplo, estão a exi- gir o respeito dos programas oficiais que se detêm, , muitas vezes, numa ação curativa de emergência , quando precisamos , na verdade, de uma ação

mais radical que atinja as causas, mais do que seus efeitos.

Os acidentes de trabalho se multiplicam, não obstante o esforço das estatísticas oficiais, em demonstrar o contrário.

0 preço justo não é alcançado; não há terra para todos.

Em síntese: precisamos de melhores salários, jornada mais humana, condições mais dignas de um trabalho honrado, ecologia, voltada para o bem estar do homem, menos latifúndios, etc, etc.

Tudo mais é paliativo, é demagógico, para não dizer desumano.

Saúde para Todos é o que desejamos , porque para nós, como para os antigos romanos, a supre- ma lei é, ainda, a salvação do povo.

A DIRETORIA

Você sabe quem e o homem da foto?

Morreu há 18 anos Há exatamente 18 anos, no dia 2 de março

de 1963 (76 anos depois da Libertação dos . Escravos), o então presidente João Goulart assinava uma lei importantíssima, que pela primeira ve/ protegia o trabalho no campo; pela primeira vez se garantia algum direito ao trabalhador rural :pela primeira vez se mostra- va aos patrões do campo que eles também tinham leis a cumprir daí por diante; essa lei era o Estatuto do Trabalhador Rural (alterado em I973)>

Infelizmente o autor dessa lei, que ficou nove anos brigando por ela, estava ausente. Poucos dias antes ele falecera, num acidente de aviação, logo após despedir-se como depu- tado, da Câmara Federal, onde teve atuação destticada como líder de partido.

Esse importante personagem, a quem pres- tamos uma Justíssima homenagem (e, igual- mente, aos que com ele lutaram pelo ETR e Reforma Agrária), era o deputado gaúcho Fernando Ferrari, um Jovem impulsivo e pro- missor parlamentar, candidato à vice-presi- dência da República em 1961 na sua famosa "Campanha das Mãos Limpas". Ele queria ser um vice-presidente do campo, chateado com a visão excessivamente urbana e industrialista dos políticos, inconformado com o atraso no campo e a miséria social.

ELE INSISTIA: "CAMINHEMOS PARA AS REFORMAS!"

O grande passo com que sonhava Fernando Ferrari, assim como outros companheiros da época, era chegar finalmente à REFORMA AGRÁRIA. Mas a Reforma Agrária que ele pensava não era revolucionária, não mudava

do dia para a noite violentamente a situação existente no campo. Ela seria, ao contrário, feita em etapas, de maneira que cada passo dado não teria mais recuo. O primeiro passo era o Estatuto do Trabalhador Rural, que, como lei, teria o papel civilizador, segundo ele, de dar ao homem do campo consciência de si mesmo, de libertá-lo do medo político e pre- pará-lo para subir os demais degraus da escala

0 que o Estatuto trouxe O Estatuto, do Trabalha-

dor Rural, quando surgiu, foi objeto de critica, com o argumento de que a maioria dos seus artigos eram sim- ples cópia da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aplicada na cidade. Mas, o importante é que o Estatuto (Lei 4.214) conseguiu intro- duzir, pela primeira vez em nossa história, a legislação trabalhista no campo. Antes dele, nosso trabalhador era completamente desampara- do. Só tinha alguns direitos, por Constituição. Em 1973 o ETR foi revogado, criando- se em seu lugar a Lei 5.889.

Com o ETR de acordo com o departamento jurídico da Fetaesp foram introduzi- das as seguintes normas no

campo; carteira de Traba- lhador Rural; Jornada de oito horas, com intervalo para repouso e pagamento de horas extras; ganho nunca inferior ao salário mínimo regional, regulamantados os descontos salariais, habita- ção, etc; obrigação de pagar descanso semanal; normas de higiene e segurança no trabalho, condições de mora- dia e defesa da saúde do tra- balhador; normas de prote- ção ao trabalho da mulher e do menor; regulamentou o contrato individual de traba- lho, estipulando normas para a contratação coletiva.

O trabalhador passou, então, a ter estabilidade no emprego, direito a aviso pré- vio, indenização por tempo

de serviço nas dispnesas injustas, férias remuneradas, etc. De modo particular, o ETR reconheceu e traçou normas para a organização sindical, com características próprias, para o então nas- cente Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais; criou o "CONSELHO ARBITRAL", que seria composto por representan- tes de empregados e empre- gadores, presidido por representante do Ministério Público, tendo por compe- tência conciliar, administra- tivamente os conflitos entre empregados e empregadores rurais, antes da Reclamação Trabalhista na Justiça do Trabalho (nãp funcionou). E o ETR criou também a Pre- vidência Social para o homem do campo.

social que o legislador (políticos ou Governo) lhe constrói. O segundo grande passo séria o estabelecimento de uma lei de arrendamen* tos, que de fato regulasse de vez o difícil, o complexo, o amplo problema dos arrenda- mentos rurais no Brasil. Em terceiro lugar, na etapa final do processo, se cuidaria da distri- buição das glebas à semelhança do que se fez na Bolívia e no México.

Mas o primeiro passo, criar uma legislação social para o campo, protegendo o trabalho e levando a Previdência, não foi fácil. Exigiu nove longos anos. Tudo começou em 1954, quando o então presidente Getúlio Vargas, pouco tempo antes de sua morte, enviou um projeto de lei aos deputados e senadores defendendo a criação da legislação trabalhis- ta rural. Conforme Ferrari conta no seu livro "ESCRAVOS DA TERRA", seu testamento político, os patrões começaram logo a mostrar sua força; "Uma luta começou, então, na Câmara Federal. As reações mais violentas, ao lado dos conhecidos métodos procrastina- tórios, foram postos em prática pelos adversá- rios da ascenção do proletariado rural".

Outras tentativas foram feitas nos anos seguintes, mas sempre esbarravam na resis- tência dos latifundiários. Finalmente, no dia 21 de abril de 1960, data em que Juscelino inaugurava Brasília, começava a última etapa da luta em favor de uma legislação social no campo; Ferrari apresentou o projeto do Esta- tuto do Trabalhador Rural, aprovado três anos depois

O estatuto do Trabalhador Rural, para Ferrari, não era apenas um instrumento de Justiça, mas principalmente de educação do homem do campo para garantir as conquistas feitas e para partir para outras conquistas; "Que adiantaria - indagava ele - dividir terras, que adiantaria dar glebas, que adiantaria a conceder terras àqueles que não as possuem, se não educarmos estes homens, se não lhes dermos a consciência da lei, a consciência dos seus direitos?"

MAS COMO KUBITSCHEK, ELE TAMBÉM SE ENGANOU...

Ferrari não se cansava de dizer que "o problema da terra e do homem que a trabalha é ainda um dos maiores de quantos preocu- pam a comunidade brasileira. Sustento, mes- mo, que 80°,, das soluções dos grandes proble-

mas nacionais serão encontrados a partir da data da organização dos campos, do aumento da sua produtividade e do amparo social ao rurícola em geral". Ele queria mesmo que a industrialização do País viesse depois que os campos estivessem organizados, com uma Reforma Agrária.

Num de seus últimos discursos, em novembro de 1962, ao falar sobre inflação e a crise econômica da época, o deputado lembrava que outras reformas precisavam vir, e com urgência; "Caminhemos, senhores deputados, para as reformas a recomeçar pela AGRARIA, contra a inflação e contra a misé- ria! Façamo-lo já, agora!" - insistia ele.

Mas, a exemplo do falecido presidente Jus- celino Kubitschek, Ferrari também pecou pelo excesso de otimismo, ou mesmo ingenui- dade. Juscelino, por exemplo, ao entregar o Governo a Jânio, pacificamente, sem as crises anteriores, com uma nova Capital,acreditava que uma nova era havia começado, com democracia estável, sem ditaduras e crises ^militares. Sete meses depois Jânio renuncia- va... E Ferrari, ao ser indagado sobre a possi- bilidade dos latifundiários reagirem com violência às Reformas, disse que eles eram fortes mas sensíveis, compreenderiam.

A propósito, Ferrari disse um dia a um jor- nalista, a respeito, que "tal é, todavia, a corrente de opiniões e de tal sorte se proces- sará a Reforma Agrária, que não creio possam os grandes proprietários se opor, com êxito, ao advento fatal dessa nova ordem. E, a mais, os próprios senhores de terras de hoje rece- bem cada dia mais o impacto da vida social, e, permeáveis que são a muitas idéias novas, concluirão por se incorporar ao determinismo da reforma".

Só que quando Jango se dispôs a fazer a Reforma Agrária encontrou de outro lado, contra êle, a oposição ferrenha, por exemplo, da Sociedade Rural Brasileira e das demais entidades patronais. Caido Jango, Castello Branco fez o Estatuto da Terra. Nçm Castello conseguiu fazer a Reforma Agrária. E hoje a situação está de tal forma que 1% dos donos de terra controu 55% das terras brasileiras. Que diria Ferrari, hoje?

Difícil saber. Mas certamente não ficaria de braços cruzados deixando a coisa piorar. Ia cansar de novo os ricos de tanto falar em Reforma Agrária...

Opinião de Caboclo O Macaco

Compadre Belarminò e "nhâ" Zefa andam preocupados com o tal de planejamento familiar.

O Governo quer ditar normas sobre o assunto.

Não quanto vamos ganhar, mas quantos filhos vamos ter.

"Cada macaco no seu galho", diz o ditado.

Quer dizer que o governo deve ter bons "planejadores" que con-

seguem manter a infla- ção, emprego abundante, preço justo, etc. etc.

Mas, na hora em que- tudo isso funcionar, nem precisa planejamento familiar, porque haverá comida para todos, é claro:

O planejamento fami- liar, o governo pode dei- xar para nós mesmos,, compadre Belarminò.

Esse galho é nosso e só nosso; tá?

J.F.N.

REALIDADE RURAL, MARÇO DE 1981 — Pég. 3

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Enquadramento sindical: ministério também acha que estamos certos

O nosso sindicalismo promete e faz. E, conforme foi prometido em dezembro, fomos a Brasília no mês de fevereiro levar o nosso protesto contra a ameaça de divisão dos canavieiros por causa de falhas na legislação do enquadramento sindical, bem como contra a tentativa do sindicalismo patronal de forçar o enqua- dramento dos nossos pequenos produto- res em seus sindicatos.

A viagem a Brasília ocorreu no dia 19 de fevereiro. A comitiva paulista estava composta pelo presidente da FETAESP (e vice do CONTAG), Roberto Toshio Horiguti; e pela seguinte comissão Representativa dos Sindicatos da área canavieira: Hermínio Stefanin (Pres. STR de Jaú); José Rodrigues Xavier (Pres. STR de Barra Bonita); Antônio José Bom (Pres. STR de Capivari) e Lázaro de Souza (Tes. STR de Jaboticabal). E em Brasília a CONTAG acompanhou a comitiva paulista ao Ministério do Tra- balho e a outros locais, endossando o movimento paulista.

NOSSA POSIÇÃO, BEM RECE- BIDA NO MINISTÉRIO

A comitiva paulista entrevistou-se no Ministério com o Secretário das Rela- ções do Trabalho, Alencar Rossi. Foi

uma longa conversa longa, em cima do documento da comitiva paulista, que recebeu a redação final do nosso departa- mento jurídico.

De acordo com o presidente da Fetaesp, o Secretário das Relações do Trabalho acatou plenamente as reivindi- cações do Movimento Sindical dos Tra- balhadores Rurais de São Paulo, tanto em relação aos canavieiros aos pequenos produtores, reconhecerão que até dois módulos eram trabalhadores rurais, e até três módulos, sem empregados, os pro- prietários poderiam fazer opção por nos- so sindicalismo ou o sindicalismo patro- nal.

Depois da audiência no Ministério do Trabalho, a comitivia paulista foi entre- vistar-se com o representante dos traba- lhadores no Grupo de Trabalho que estu- da á reformulação da legislação trabalhis- ta e sindical, que também acatou as nos- sas posições.

E junto à CONTAG a comitiva paulista1

não recebeu apenas pleno apoio como também a informação de que o movimen- to se tornará nacional e será tema de des- taque na reunião do Conselho de Repre- sentantes. De outro lado, a diretoria da Fetaesp recomenda que os "Sindicatos pressionem os político para se manifesta- rem a nosso favor.

"QUEM TRABALHA NA LAVOURA É TRABALHADOR RURAL"

No documento de 7 páginas, entregue ao Ministro do Trabalho, a comitiva

■paulista diz que a expansão da lavoura canavieira, com a implantação do Pro- grama Nacional do Álcool (PROAL- COOL) no Estado, vem tornando deses- peradora a situação do Movimento Sindi- cal dos Trabalhadores Rurais em razão do entendimento que se vem ao Enqua- dramento Sindical da Agro-Indústria, quando, na verdade,a própria Legislação Trabalhista e Previdenciária Rural é clara a nosso favor.

E assinala o documento; - Ademais, por uma questão lógica,

todo aquele que trabalha NA LAVOU- RA, preparaando a terra, plantando, capinando e colhendo É TRABALHA- DOR RURAL, uma vez que NATURE- ZA DO SERVIÇO PRESTADO pelo empregado é que passa a caracterizá-lo como rurícola.

E destaca o documento: - A chamada "teoria finalística" da

empresa (ou seja, a atividade preponderan- te) já por demais ultrapassada, não tem nenhum agasalho na legislação trabalhis- ta rural.

FETAESP recebe estagiários do ICT e mostra sua posição sobre proalcooi e economia

PROGRAMA NACIONAL DO ÁLCOOL e A SITUA- ÇÃO POLÍTICA E ECONÔ- MICA DO PAIS. estes foram os temas escolhidos pelos 45 estagiários do Instituto Cultu- ral do Trabalho (ICT) para serem debatidos com a direto- ria da FETAESP em sua visi- ta, à nossa sede no dia II de fevereiro.

Os estagiários foram apre- sentados à diretoria da FETAESP pelo companheiro João Ferreira Neto. que é tam- bém professor do ICT. Haviam entre eles jovens sindicalistas ' do Sul. centro-oeste e Nordes- te, e todos com um interesse muito grande em conhecer a realidade do campo e em ton- versar sobre temas de política e economia nacional. ROBERTO: O PROAL- COOL FOI FEITO À REVELIA DO POVO

O Presidente da Fetaesp (e vice da CONTAG). Roberto Toshio Horiguti, deu as boas vindas aos estagiários em nome da diretoria e fez uma breve palestra sobre o ponto de vista da Fetaesp sobre o PROALCOOL.

"O Proálcool - disse o presi- dente da Fetaesp . foi feito à revelia do povo. da Nação Bra- sileira, sem fugir ao modelo, econômico, político e social desse País. Eu citaria como exemplo disso, que na Comis- são Nacional do PROAL- COOL existem 13 órgãos, e desses, há três representando os patrões da cidade e do cam- po e nenhum órgão represen- tando os trabalhadores da cidade e do campo. Por ai se pode ver que os principais inte- ressados no assunto ficaram de fora".

De acordo com o presidente da FETAESP, em São Paulo o PROALCOOL vai beneficiur 95 grupos de usinas. Destas 95. 12 são novas destilarias autônomas. 72 serão destila- rias anexas, para produzir ál- cool em lugar de açúcar. Então por isso em dois anos a produ- ção'de álcool cresceu depressa, triplicou. Por isso o crescimen- to da produção de álcool daqui por diante será mais lento. O PROALCOOL PRE-t CISA PARAR, PARA RECOMEÇAR CONOSCO.

Roberto disse ainda que o álcool nunca vai substituir o petróleo e que o PROÀL- C0OL,na verdade, serviu para fazer uma aliança ainda maior entre os latifundiários e os industriais, para ficar com mais terras ainda. Em Piraci- caba, por exemplo, não há mais terra livre, só cana e assalariado. Os usineiros ado- tam a tática de arrendar as terras dos pequenos. Os peque- nos mudam-se para as cidades e os usineiros. então os usinei- ros fazem pressões e acabam induzindo os pequenos produ- tores a venderem de vez suas terras. , ,

A certa altura de sua pales- tra, depois de haver demons- trado que o PROALCOOL, do jeito que está, é contrário aos trabalhadores rurais, Roberto sustentou seu ponto de vwía de que só há mesmo uma saída: 7,0 PROALCOOL tem que parar hoje, ser completamente reformulado para retornar então com a participação dos trabalhadores rurais, porque do jeito que está hoje, o PROALCOOL exclui total- mente os pequenos e médios

agricultores, transformando-os em boias-frias".

Esses pequenos e médios agricultores precisam ficar na lavoura, ainda mais agora: "Quando falta alimento - lamentou o presidente da FETAESP - o Governo fica apelando para a produção para exportar, etc. E nós. pequenos, temos capacidade de produzir cana, milho, etc e se não esta- mos produzindo não é por cul- pa nossa. É porque o Governo só dá estimulas para os gran- des."

Roberto, no entanto, fez questão de esclarecer que "o Movimento Sindical dos Tra- balhadores Rurais nunca foi contrário à implantação do PROALCOOL. Nós fomos contra a forma como' ele foi implantado. Se queremos que

, ele pare e seja revisto é para melhorar. EM VALPARAIZO SURGIRAM O "GA- TO", O "GATINHO" E O "GATÃO"...

Para reforçar seu ponto de vista, o Presidente da FETAESP mostrou que o povo da cidade e mesmo do campo está muito mal informado sobre o PROALCOOL. Tomou o exemplo do municí- pio de Valparaizo onde foi implantada uma usina de ál- cool: Lá o pessoal achou ótimo a usina. Mas na verdade, a usi- na veio explorar ainda mais os, trabalhadores, sem direitos. Foi criada uma empresa de mão de obra, o "gatão" que vai buscar trabalhadores inclu- sive na Bahia e em outros esta- dos. Também tem os "gatos" menores que ficam chupando o sangue dos nossos volantes.

Em outras plavras, tanto os canavieiros como quaisquer outros trabalhadores empregados nos setores agráriosjde quais- quer indústrias (usinas, etc), são pacifi- camente trabalhadores rurais. "Qualquer exploração ir-iustrial, em estabelecimen- to agrário é desenvolvida, evidentemen- tee, por trabalhadores da lavoura, na agricultura, sendo pacificamente TRA- BALHADORES RURAIS"- assinala o documento.

De outro lado, ao tratar do caso dos pequenos produtores, o documento assi- nala ainda que pequenos proprietários sem empregados , que eram vinculados aos nossos Sindicatos, passaram a ser vin- culados aos Sindicatos Rurais (dos patrões), sem que eles tenham melhorado de nível de vida e o seu rendimento, pre- judicando com isso também a representa- tividade que tinham com os nossos Sindi- catos. E por isso os dirigentes sindicais reafirmaram a posição do III Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais de que os pequenos produtores, com área superior a dois e inferior a três módulos possam vincular-se por opção, nos Sindi- catos de Trabalhadores Rurais, enquanto que os que tem dois módulos e menos seriam, pacificamente, vinculados aos nossos Sindicatos.

A Diretoria da Fetaesp em São Paulo recebeu os estagiários do ICT. Na foto o Presidente dá FETAESP (e vice da CONTAG), Roberto Toshio Horiguti, fala aos estagiários sobre o PROAL- COOL e outros aspectos da política econômica, bem como expõe os problemas enfrentados pela nossa categoria e sindicalismo.

Agrônomos farão congresso sobre agricultura ecológica

A terra de lavoura do Brasil está sen- do assassinada, à base da erosão, causa- da pelas cada vez maiores e possantes máquinas dos latifúndios, e dos cada vez mais fortes e incontrolados venenos e produtos químicos que são usados para "aumentar a produtividade"(como diz o Governo).

Faz algum tempo já que os agrôno- mos vem denunciando esse assassinato da terra. E desse jeito o Brasil não che- gará a ser celeiro de si mesmo, quanto mais do mundo.

Mas os agfonomos não vêm apenas gritando. No ano passado, por exemplo, a Associação dos Engenheiros Agrôno- mos do Estado de São Paulo (AEASPj criou um departamento só para estudar técnicas de produção e de trato do solo, próprias para o Brasil, e denunciar as mentiras que se contam por ai, com o patrocínio de indústrias, bancos e gran- de comércio, sobre "modernização".

O Departamento da AEASP chama- se: GRUPO DE AGRICULTURA ALTERNATIVA.

Desse Grupo fazem parte não apenas agrônomos, mas também outros profis- sionais e interessados. O GRUPO DE AGRICULTURA ALTERNATIVA, que vem recebendo um número enorme de cartas de consulta, já realizou em agosto do ano passado um curso sobre Agricultura Ecológica.

O Grupo se reúne de 15 em 15 dias. Além disso, promove também trocas de idéias, palestras, debates sobre Agricul- tura Alternativa. E em abril será reali- zado um Encontro Nacional sobre Agri- cultura Ecológica em Curitiba,orgam- zado pelos responsáveis pelo GRUPO DE AGRICULTURA ALTERNATI- VA e agrônomos de outras entidades. Esse Congresso será patrocinado pela Federação das Associações de Enge- nheiros Agrônomos do Brasil (FAEAB). Será de 20 a 24 de abril.

A Fetaesp, através da assessoria de imprensa, tem participado dessa iniciati- va pioneira dos agrônomos.

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Page 5: ário rural em SP é H 9.384.03 - :: Centro de Documentação ...Os estagiários demonstraram muito interesse em conhecer os problemas da nossa categoria: ao mesmo tempo mostraram

Nossa programação é certa? Para grupos regionais, sim.

O espirito da programação educacional desenvolvida no ano passado no nosso Institu- to, em Agudos, agradou aos dirigentes sindicais de uma forma geral, correspondeu ao seu pensamento e anseios, conforme manifestação qua- se total dos representantes dos 10 Grupos Regionais que fazem parte da.COMISSÃO ESTADUAL DE SINDICA- LISMO E EDUCAÇÃO em Agudos, em reunião realiza- da de 4 a 6 de fevereiro. Des- sa reunião, destinada a deba- ter e a formular novo progra- ma educacional, participa- ram a Diretoria e a Assesso- ria da FETAESP.

No primeiro dia reuniu-se apenas a assessoria e a Dire- toria da FETAESP, numa avaliação geral das ativida- des do ano passado. No dia seguinte, então, comparece- ram os representantes dos Grupos Regionais.

AS SUGESTÕES DOS GRUPOS REGIONAIS

Uma observação que par- tiu de todos os representan- tes foi a de que é muito difi- cultoso para os Sindicatos o envio de pessoas para faze- rem cursos no nosso Institu- to, em Agudos. E por isso vários representantes trouxe- ram sugestões de alguns cur- sos regionais, cursos nos sin- dicatos. As sugestões servi- rão como subsídio para a FETAESP na elaboração do atual programa educacional.

O Grupo Regional 1 atra- vés de seu representante, Paulo Silva, sugeriu a realiza- ção de encontros de funcioná- rios e diretores no ITE- TRESP; encontros com a par- ticipação dos três diretores de cada Sindicato, para melhor entrosam ente; encontros de advogados com dirigentes, para ajustar atuação; cursos de liderança no ITETRESP e nos Grupos Regionais. Essas sugestões coincidiram com as dos Grupos Regionais 5 e 6, segundo seus respectivos representantes. Benedito Vieira de Magalhães e Nori- val Guadaghin.

O representante do Grupo Regional 3,. Roque Queiroz do Nascimento, comentou que os cursos às vezes coinci- dem com as épocas de maior atividade na lavoura e por isso é difícil os Sindicatos

nestas épocas encontrar pes- soas dispostas a ir à Agudos. Seu Grupo recomendou que a FETAESP acompanhe as mobilizações dos Sindicatos, orientando-os, uma vez que o povo dá muito valor à presença de representantes da Fetaesp.

Já o Grupo Regional 4, através de seu repreentante. Amador Muniz de Araújo,, sugeriu uma programação mais regional e nos Sindicatos como cursos para trabalhado- res rurais nos Sindicatos; cur- sos para suplentes e conselhos fiscais nas regiões; cursos para dirigentes novos no Ite- tresp; mais cursos de educação sindical, Reforma Agraria, política agricola, realidade política, para trabalhadores, e a transformação do fundo rotativo da Fetaesp para fundo de desenvolvimento sindical, para apoiar os Sindicatos mais fracos no envio de pessoal a Agudos. Também sugeriu um Congresso Regional no Final do ano.

Do Grupo Regional 6, segundo Norival Guadaghin, o representante, veio a ên- fase para a necessidade de se estudar cursos regionais, ên- razão da dificuldade de deslocamento ao ITE- TRESP. O Grupo Regional 7, aliás, por seu representan- te, Antônio Zanon, endossou essa sugestão. Esse grupo rei- vindicou cursos para líderes de bairros , com a participa- ção da Fetaesp.

O Grupo Regional 8, atra- vés do representante, José Gomes, sugeriu, em primeiro lugar, que em vez de criar tantas extensões de bases e sub-sedes, fossem fundados mais Sindicatos. O Grupo defendeu a presença dè asses- sores da Fetaesp nas reuniões dos Grupos Regionais e tam- bém em cursos noturnos.

O Grupo Regional 9, por seu representante, Antônio Crispinr da Cruz, sugeriu mais ênfase ao aspecto políti- co nos cursos. Para o Grupo Regional 2, segundo seu representante, Antônio Sil- va^ programa ;,educacional- do ano passado deve conti- nuar, com cursos noturnos nos Sindicatos e encontros de médicos e dentistas. Tam- bém sugeriu cursos sobre dis- sídios coletivos e legislação trabalhista, para aprofundar o conhecimento e visão dos dirigientes sindicais.

O Grupo Regional 10,

segundo seu representante, José Ferreira Cruz, defendeu a realização de 2 cursos por ano em cada região; 2 encon- tros para dirigentes no ITE- TRESP; cursos para produ- tores, enviados pelos Sindi- catos: cursos para atenden- tes.

MAS DIRIGENTES CONCLUEM: CURSOS DEVEM SER MESMO NO ITETRESP

Ênfase especial foi dado pelos participantes do encontro sobre a necessida- de dos Grupos Regionais e Sindicatos mais fortes apoia- rem os Sindicatos em dificul- dade, numa política de soli- dariedade. E o presidente da Fetaesp, Roberto Toshio Horiguti, enfatizou muito a necessidade dos advogados integrarem-se mais nos problemas e na vida sindical, mas ponderou sobre as difi- culdades de um encontro conjunto sdvogados-dirigen- tes no ITETRESP. ' Um grande debate houve entre os presentes sobre a viabilidade dos cursos serem dados nos Grupos Regionais. Depois do debate chegou-sé à conclusão de que os cursos devem ser dados mesmo no ITETRESP. A finalidade do Itetresp, aliás, é ser uma escola de educação da cate- goria e tem que buscar esse objetivo. A categoria não tem condições de se descen- tralizar tanto.A categoria em Agudos uma escola de ní- vel elevado e padrão alto e isso tem de ser mantido. Por isso os dirigentes concluíram que o Itetresp deve conti- nuar como centro educacio- nal. Da parte do Departa- mento educacional da Fetaesp informou-se que os Grupos Regionais que acha- rem por bem promover algum curso bem específico, na região, que isso seja solici- tado e, na medida do possí- vle, seria atendido.

O companheiro Arnaldo dos Santos, responsável pelo Departamento de Educação, recomendou, por seu lado, aos dirigentes para que sejam fiéis aos programas, não ape- nas colaborando no envio do pessoal, mas também não substituindo o tesoureiro ou o Secretário em cursos que são para eles.

No Nordeste, a pior seca: no S. Francisco, água demais

O Nordeste está enfrentando sua pior seca do século, segundo o noticiário da imprensa. E a tal "prioridade agrícola" do Governo por outro lado cada vez mais mostra qual é sua verdadeira cara. Ao longo do Rio São Fran- cisco, no Nordeste, onde estão sendo cons- truídas uma série de barragens, os trabalhado- res rurais estão sendo esmagados embaixo do desrespeito das hidroelétricas do Governo e dos privilégios que o Governo está dando aos ricos no acesso às terras desapropriadas às margens das represas, contrariando o que rei- vindicavam os trabalhadoresque ficaram sem sua$ terras.

E para lutar contra o rolo compressor da tal. "prioridade agrícola", o Movimento Sindical' ao longo do São Francisco, abrangendo cinco Estados, tem feito várias mobilizações, con- tando com pleno apoio de órgãos da Igreja e outros organismos que estão do nosso lado. O centro de todas as mobilizações tem sido nor- malmente Petrolandia.

O presidente da FETAESP, Roberto Toshio Horiguti, na qualidade de Vice Presi- dente da Confederação Nacional dos Traba- lhador^, na Agricultura (CONTAG) presidiu de 21 a 26 de janeiro um desses encontros, do

sindicalismo, ao longo do São Francisco, na cidade de Juazeiro, na Bahia.

Desde o início o Governo, através da hidroelétrica Chesf e da CODEVASF vem sabotando o movimento sindical, fazendo sacanagens, procurando impor seu projeto, como costuma impor outras coisas. Isso dizia respeito particularmente à hidroelétrica de Itaparica.

Depois de muita pressão o Governo forne- ceu o mapeamento, mas este ano já se negou a dar a terra às margeiis do lago pára os peque- nos não contam nos projetos de irrigação, com poucas .excessões, na redondeza ha gran- des propriedadesjcujas melhores terras estão cobertas de cana. E o Governo,na sua "priori- dade agrícola" para exportação, decidiu cons- truir um aeroporto internacional na região para exportar hortifrutigranjeiros, quando o que mais falta para o nordeste é comida.

Em dezembro, os trabalhadores, através das nossas Federações em Pernambuco e bahia, e Sindicatos, aprovaram documento que foi entregue ao Presidente Figueiredo, represen- tando 120 mil pessoas-

Cinco menores morrem em dois desastres com caminhões de volantes]

Os trabalhadores, especialmente os volan- tes, estão enfrentando uma verdadeira guerra, contra a qual eles não podem defender-se. É a guerra causada pela cabeça dura do Gover- no, que não quer dar nenhuma solução séria para o campo, uma solu- ção para nós; nessa guerra o Governo tem todo o apoio dos grandes capitalista , que não querem que o nosso pes- soal melhores de vida.

Essa guerra está cau- sando muitas mortes, só do nosso lado. Os com- panheiros volantes é que estão pagando o pato.

No dia 12 de feverei- ro, por exemplo, um gra- víssimo acidente ocor- reu em Riolãndia, segun- do nos informa Pedro Gabriel de Oliveira, pre- sidente do nosso Sindi- cato em Cardoso.

Houve um violento choque entre um cami- nhão que transportava óleo e o caminhão que transportava 30 compa- nheiros volantes. Do choque resultou o triste e vergonhoso saldo 4 mortos, todos menores (três mocinhas e um rapazote) e mais 26 feri- dos.

EM CASCAVEL, NO PARANÁ , OUTRO CHOQUE

FATAL

Dentro dessa guerra contra os trabalhadores rurais, outro choque muito grave ocorreu no dia 17 de janeiro, em Cascavel, no Paraná. Um Ford velho trans- portando 45 volantes, desgovernou-se e causou a morte ao menino Moa- cir Bizzi, de 13 anos,e a Neuza Gomes, 25 anos.

O caminhão ia para o município de Formoso, pela rodovia PR 317, quando numa curva pró- xima a uma ponte o capo do motor soltou-se.

bateu no pára-brisas, tirando a visão do moto- rista e em conseqüência o caminhão despencou numa ribanceira, cau- sando além das duas mortes, mais 35 feridos. O caminhão totalmente inseguro, sem cobertura. O motorista ficou des- controlado e fugiu depois do acidente.

Até quando essa guer- ra vai continuar? Quan- do morre um ministro, um parente dele, etc, é aquela cerimônia toda,; todo o mundo lamenta. Mas trabalhador voltan- te morre tanto que os jornais quase nem consi- deram mais notícia, dão notas pequeninas, quan- do dão.

Elogios paro o Lula polonês; cadeia para o Lula brasileiro

Nos últimos tempos os jor- nais brasileiros, inclusive os conservadores, aqueles que defendem os pontos de vista dos milionários e até mesmo das multinacionais, se encheram de grossos títulos, grandes fotos e matérias falando de um líder sindical polonês chamado Lech Walecza. Grande manche- tes, inclusive, destacam de modo particular as sgreves que ele lidera.

Estranhamente, estes mes- mos jornais conservadores cobrem de insultos, agres- sões, maldades e malícia um outro líder sindical, este num brasileiro, chamado Luís Inácio da Silva, o famoso LULA, um pernambucano que a exemplo de Lech Waleczà também liderou grandes movimentos de tra- balhadores, liderou greves na luta por melhores salários.

por respeito ao trabalhador por liberdade e autonqmia sindical.

Lula, a exemplo de Lech Walecza, também recebeu ameaças do Governo, inclu- sive foi levado à justiça mili- tar pela Lei de Segurança Nacional, foi condenado à reclusão. Nesse julgamento,

realizado no fimTfe feverei- ro, nem ele, nem seus com* panheiros de diretoria do Sindicato de S. Bernardo, nem os advogadoá compare- ceram ao julgamento, por- que foi montado um esque- ma policial nunca visto para acompanhar o julgamento. Ficaram presos um dia, no outro dia foram soltos.

Cardeais: escravidão e pecado mandam no

Brasil. * A Igreja (que está começandoímaisluma\Canpa-

nha da Fraternidade, tendo como tema este qno "SAÚDE PARA TODOS") deixou o Governo am-ãdo no fim do ano. Foi quando o cardeal de Fortaleza, D. Aloisu Lorscheider; ex-presidente da CNBB, disse que as divergências e atritos entre a Igreja e o Gover- no se devem à diferença da visão sócio-econõmico- política da Igreja de um lado,e do Governo, do outro.

- A visão da Igreja - disse o cardeal - é que o sistema sócio-econõmico-politíoo adotado entre nós é ura sistema pecaminoso, anti-evangélíco, necessitando de uma profun- da transformação, que significa uma mudança estrutural

do sistema, uma nova ordem internacional; na qual a dis- tribuição equhativa dos bens, o respeito dos direitos fun- damentais da pessoa humana, a livre e efetiva participa- ção política de todos os cidadãos seja uma realidade.

O Governo, em outras palavras, não gostou nada de ser chamado de pecaminoso. Áfas se isso não é pecaminoso, o que é mesmo pecado, heim?

Mas para acabar esta noticia, vale lembrar tam- bém declaração no final de janeiro do arcebispo D. Helder Câmara, de Olinda e Recife, na Universidade Federal de Pernambuco. Ao falar um pouco sobre á dura história dos índios e escravos africanos no Bra- sil. D. Helder disse: "Depois do 13 de maio de 1888, o colonialismo interno estava firmado, exercido por um pequeno grupo de ricos do nosso país, que só sabe lidar com escravos, ontem africanosjjoje brasileiros. Ontem na agricultura, hoje no que resta de agricultura c no que des- pontou como Indústria".

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MURAL BANCO MUNDIAL QUER COLOCAR CABRESTO NO BRASIL

POSSEIROSDE MIRACATU PEDEM APOIO DA FESTAESP Uma Comissão formada

por 12 trabalhadores rurais do Bairro Vista Grande, de Miracatu (no Vale do Ribei- ra) esteve na Fetaesp em, fevereiro, entrevistando-se com o diretor José Bento De Santi e com o assessor jurídi- co, José Antônio Pancotti, levando a angústia de 32 famílias ameaças de despejo pelo explorador de madeira e palmito, Ângelo Pappalardo, residente na cidade de Pedro de Toledo, próximo ao lito- ral.

De acordo com Deolino, Rodrigues da Costa, as 32 famílias em suas maioria vieram da cidade de São Geraldo da Piedade, em Minas, perto de Governador Valadares. Depois de oito anos que o pessoal estava na gleba do Bairro Vista Gran- de, em Miracatu, depois que o pessoal abriu as estradas e separou os lotes em áreas de

. 10 alqueires para cada famí- lia, é que apareceu o tal do Pappalardo, entre outros, dizendo que a terra era deles.

ATENÇÃO:

A FETAESP recebeu da Fundacentro três coleções de eslaides, acompanhados de gravação, sobre "Segurança na utilização de defensivos agrícolas". As coleções foram entregues pelo presidente da Fundacentro, Arthur Rodri- gues Quaresma ao presidente da Fetaesp. Roberto Toshio Horiguti, que é também conse- lheiro da Fundacentro.

Estas três coleções estão à disposição dos Sindicatos, para apresentar nas reuniões na sede ou nos bairros. Aqui na Fetaesp é só conversar com o companheiro José Siqueira, assessor, que vai ficar com o controle das coleções. Menores, idosos e adoentados não devem aplicar defensivos

Cada uma das coleções .apresenta recomendações mui- to simples e claras sobre como aplicar de maneira correta defensivos agrícolas, podero-

A partir daí começou inferno para os posseiros; problemas judiciais, citações de despejo, muitos compa- nheiros sendo forçados 'a sair. E faltava a eles a expe- riência de se defenderem em conjunto, como também lhes faltava a noção de como usar o Sindicato em sua defesa:

"Depois de oito anos - disse Antônio Dias da Silva, i resi- dente lá desde 1961 - apare- ceu o Pappalardo com um Papel em branco dizendo que era para assinar. Teve companheiro que o homem enganou e tortíou a assinatu- ra, deles. Apareceram tam- bém outras pessoas se dizen- do donos".

As propriedades estão cadastradas no INCRA. Os produtos cultivados pelo pes- soal são a banana, feijão, milho, arroz e laranja. E quando o pessoal veio de

' Minas, não existia estrada, nada. "Nós passamos até

FETAESP EMPRESTA SOBRE DEFENSIVOS.

sos no combate às pragas, doenças, ervas daninhas, mas que costumam matar também os trabalhadores que os apli- cam.

Além de indicar os defensi- vos agrícolas apropriados para combater cada problema, os eslaides orientam sobre como preparar, como usar, sobre a época de aplicar, dosagens, como guardar ou transportar os defensivos - o transporte deve ser sempre separado dos trabalhadores.

Os eslaides recomendam aos aplicadores de defensivos o uso, para sua proteção, de camisas de mangas compridas e equipamentos de proteção

. individual (botas, máscaras, luvas, avental e óculos), não devendo o trabalho do aplka- dor ser mais do que quatro horas por dia a fim de afastar os riscos de intoxicação.

Outro ponto importante é

fome là" - contam. Hoje o pretenso dono (continua iofernando a vida do pessoal, algumas famílias estão amea- çadas de despejo e as famí- lias restantes não têm paz, não podem derrubar um pouco de mato para plantar e melhorar sua renda, não podem tirar uma, madeira para melhorar a casa onde moram. Isso porque o Pap- palardo, que vive à base de extração de palmito e madei- ra, é quem vive denunciando os posseiros junto à Polícia Florestal: "Não fazemos mais serviço porque ele não deixa: toca jagunço e a Flores- ta em cima da gente, para não deixar a gente fazer coi- sa alguma.

E concluem: ' "estamos num sufoco miserável. A perseguição é demais: é jugunço, é violência. Tem jagunço contratado morando lá conosco, há dois anos. E a Polícia Florestal chegou áté a correr atrás de um morador com revólver, em 1975

ESLAIDES

que menores, idosos ou adoen- tados, pessoas fracas estão proibidas de serem contrata- das para aplicação de defensi- vos;

Mas o mesmo tomando todos estes cuidados, uma recomendação: se aparece- rem, por acaso, sinais de ton- tura, enjôo, vômitos, tremo- res, ou ainda, qualquer outro tipo de anormalidade, deve-se consultar imediatamente um médico, levando o rótulo do produto utilizado, pois assim o médico vai poder agir mais depressa e evitar maiores problemas para o trabalhador.

Como se pode ver,Ias cole- ções são muito interessantes e certamente vão sensibilizar os trabalhadores, como também servem como um bom instru- mento de educação sindical aos nossos Sindicatos, nos contatos com os trabalhado- res.

CRÉDITO RURAL E PROAGRO MUDAM

Está todo o mundo chian- do contra as mudanças no crédito rural, verificadas no dia 17 de dezembro, por decisão do Conselho Mone- tário Nacional. Para o Norte e Nordeste, as taxas de juros foram elevadas para 35% ao ano, e para as demais regiões, para 45% ao ano (so- mando tudo, dá em torno de 55%). Além disso a cobertura do PROAGRO foi baixada de 80% para 70% do valor financiado.

Os minis e pequenos pro- dutores podem retirar 100% do empréstimo pedido (se tiverem sorte do banco con- ceder), enquanto os médios só poderão retirar 80%, e os, grandes, 60%. Mini-produtor e aquele cuja produção no' ano passado foi até 100 MVR, e pequeno, de 100 a 600 MVR. Cada MVR (Maior Valor de Referência) corresponde a Cr$ 2.996,00.

Com a tremenda dificulda- de que o Governo encontra de arrumar dinheiro empres- tado lá fora, se convenceu de que é preciso levar o agricul- tor a reaplicar sua renda nocampo. Segundo a' imprensa, o Governo está estudando dar a garantia do PROAGRO também para quem não utiliza crédito. O Governo também pensa limi- tar o crédito para a compra

de máquinas novas, pata levar os agricultores a usar bem e conservar as máquinas que possuem.

Mas enquanto a renda dos agricultores na Europa caiu no ano passado em 18,5%,; informa-se aqui no Brasil que a renda por produtor rural em relação ao homem da cidade está menor do que em 1969, isso apesar do enor-

me êxodo rural que houve. A relação em 1960 era de 1 por 4,4 e hoje, de 1 por 4,8, segundo Alamir Mesquita, agrônomo do IPEA (órgão do Ministério do Planeja- mento). E, pior, ainda, ele mostra que a produção de comida no Brasil não acom- panha o aumento da popula- ção, apesar do grande aumento das exportações, segundo o jornal Gazeta Mercantil (18/02).

Fachada da nova sede do nosso Sindicato em Dracena, inau- gurada no ano passado. Só a fachada tem 26 metros. A área construida, de fundo, tem 35 metros, divididos em duas alas, uma para administração e atendimento médico e ambulatórios. Outra para reuniões, com um salão onde cabem 600 trabalha- dores confoHavelmente sentados. São 700 m2 de área construi- da. A base total cobre no\e municípios, onde existem aproxi- madamente 25 mil trabalhadores.

Há alguns anos atrás a moda era dizer: "Ninguém segura este País". E todo o mundo repetia isso, feito papa- gaio. Mas veio a crise econô- mica, a inflação começou a fazer peteca do dinheiro brasi- leiro, atingindo em fevereiro o índice nada religioso de 8,5% somando nos últimois 12 meses o total de 119,5%. A inflação de 1980 foi de 110,2%. E ninguém mais fala em "milagre brasileiro". Vai ver que alguém andou passan- do milagre falso. Não tem mais milagroso na rua...

O Brasil hoje está num»

situação econômica que exige muito dinheiro emprestado lá fora (na opinião da gente do Governo), e os bancos não vão atendendo na primeira canta- da. Em janeiro chegou uma turma do famoso FMI (Fundo Monetário Internacional), uma turma séria, sisuda, carrancuda,de pouca conversa.

E fala daqui, fala dali; o pes- soal do Fundo já mandou a receita: repetir a dose de 1964, controlando o salário, etc. etc.

Mas a gritaria foi tanta por aqui que o Governo já foi dizendo meio contra-gosto que a receita já não adianta hoje. A doença piorou.

Acontece que a solução é um pouco diferente, e eles não querem ver: ao invés de valori- zar o dinheiro dos ricos, que tal valorizar um pouco mais o trabalho dos pobres, redistri- buindo a terra como aliás, devia ter sido feito em 1964 e não foi feito? Com Reforma Agrária em 64, será que a situação do Brasil não seria outra?

Os chefes dessa turma virão no finai de março ou abril.

DECLARADA "INCONSTITUCIONAL" AUTONOMIA SINDICAL

Papel aceita qualquer tinta impressa. Assinar papel não estraga a mão de ninguém. Cumprir o que está escrito é que nem sempre dá.

Acontece que em dezembro o nosso Senado Federal revogou "por inconstitucionalidade" três disposições da convenção 110, de 1958, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A primeira -disposição proibia a suspensão das ativi- dades das organizações de

NO CAMPO padrões e trabalhadores rurais por ato administrativo; a nova redação do artigo impede apenas a dissolução das entidades sindicais por- ato do Executivo.

A segunda disposição (ou artigo) suspensa é a que per-

.. mitia a organização de enti- • dadés sindicais rurais sem au- torização prévia do Executi- vo, estabelecendo ainda como única condição para isso, que seus integrantes se sujeitassem aos estatutos.

A terceira disposição sus-

pensa é a que recomendava que a legislação de cada País não fosse contrária nem apli- cada de modo contrário às garantias previstas pela con- venção 110. A resolução do senado tomou n9 131/80, de acordo com notícia publica- da pelo jornal "Gazeta Mer- cantil".

Taí. Liberdade e autono- mia sindical é boa para americanos, Franceses.ingle- ses, enfim, para os povos mais desenvolvidos e civiliza- dos. Para o Brasil, não.

ALTA SOROCABANA, SEM ASSISTÊNCIA HOSPITALAR. . Em fevereiro, o nosso pes-

soal do Grupo Regional 10, da Alta Sorocabana, voltou a botar a boca no trombone con- tra a péssima assistência médi- ca que os trabalhadores estão recebendo dos hospitais por lá.

Waldemar Modaelli, presi- dente do nosso Sindicato em Presidente Prudente, e Braz Albertini, presidente do nosso Sindicato em Regente Feijó,

convocaram a imprensa para uma entrevista coletiva no dia 13 de fevereiro e denunciaram que "os beneficiários do Funrural na Alta Sorocabana estão praticamente sem assis- tência médica".

Segundo a matéria publica- da no jornal ' 'O Estado de São Paulo", no dia seguinte, se precisarem de tratamento com especialistas ou assistência

ambulatória! de urgência, a única opção para os trabalha- dores rurais hoje é pagar pelas consultas, caso contrário correm o risco até de morrer sem atendimento.

í. isso ai: a Campanha da Fraternidade deste ano diz que precisamos de "SAÚDE PARA TODOS". Se falta dinheiro, problema de quem constrói central nuclear e outros elefantes brancos.

UMÃ BOA NOTÍCIA: O INCRA COMEÇA A FUNCIONAR... O INCRA fez sua máquina

funcionar no ano passado e conseguiu entregar em todo o País 110 mil títulos, quando a média anterlorera de 25 mil títulos. Nos próximos três anos o INCRA espera solu- cionar os principais proble- mas de litígios de terra em

todo o País. Para tanto, o ór- gão conta com 11 mil pessoas direta ou indiretamente envolvidos na tarefa de titu- lação as terras, cuja demar- cação tem um custo médio de Cr$ 70 mil para cada 100 hectares legalizados.

Taí: o INCRA está sepre-

parando para uma bela Reforma Agrária em todo o País. Só pode. Sabendo que existem sete ou oito milhões de tamilia sem terra, já é uma boa notícia saber que a má- quina do INCRA começou a funcionar...

SITIANTES INVADEM SITIO EM SOROCABA, REVOLTADOS No final de janeiro, revolta-

dos, 15 sitiantes invadiram uma área de 240 alqueires, do Patrimônio do Estado entre Araçoiaba da Serra e Salto de Pirapora, área que havia sido cedido em 1979 à Fundação Zoológica de São Paulo para produção de alimento para os animais.

Com muita razão, o pessoal estava revoltado porque já há alguns anos um fazendeiro - Joaquim Ferraz, vem produ- zindo naquela área com o apoio de Marcos Siqueira, funcionário da Procuradoria, encarregado de vigiar a área.

O fazendeiro tem 100 alquei-

res plantados, 85 cabeças de gado e outras criações. Ao invadirem a área, lavraram a terra de noite, argumentando:

"Ou planto todo o mundo ou não planta ninguém".

Nosso Sindicato em Soroca- ba está na cobertura.

PARANÁ QUER SALÁRIO MAIOR PARA TRABALHADOR ESPECIALIZADO

Ao contrário do ano passa- do, quando os patrões do Paraná aceitaram um acordo com o nosso sindicalismo naquele Estado, através da FETAEP, neste ano os patrões fecharam a cara. A data base do nosso pessoal do Paraná é I' de fevereiro.

A FETAEP apresentava as seguintes reivindicações: manutenção da convenção coletiva dó ano passado, quanto ao piso salarial (salá- rio mínimo mais 15%); pro- dutividade de 4% e salário profissional para os trabalha-

dores rurais especializados. De acordo com a impren-

sa, sobre o salário profissio- nal para trabalhadores espe- cializados os patrões fecha- ram a . cara argumentando que tal divisão se torna impraticável na agricultura onde os trabalhadores devem estar aptos para exercer fun- ções diversas. Argutemen- tam que quem forma a espe-

,cialização é o próprio patrão, especialização, que na opinião dos patrões, não há.

No entanto a FETAEP

pleiteou um adicional de 50% sobre o piso salarial da categoria rural para os traba- lhadores especializados, a saber: tratoristas, colheitado- res, operadores de máquinas, inseminadores argificiais, vacinadores, castradores e enxertadores. Aliás, oara os colheitadores de máquina a FETAEP e o sindicalismo reivindicavam 75% a mais que o piso salarial, e para aqueles que acumulam fun- ções, como a de mecânico, 100% a mais que o pois da ca- tegoria.

EM ITANHAÉM HÁ EMPREGO PARA MAIS DE 100 FAMÍLIAS O Presidente do nosso Sin-

dicato em Itanhaém, Arnóbio Vieira da Silva costuma visitar com muita freqüência todas as fazendas de banana que exis- tem em sua base territorial. É assim que ele fica conhecendo os problemas dos assalariados, fica sabendose há atrasos e se

o dissídio coletivo está sendo cumprido.

Na FETAESP, há poucos dias, Arnóbio, contou com o Sindicato em Itanhaém desen- volveu seu trabalho nas bases e deixou uma importante revela- ção: faltam aproximadamente 100 famílias de trabalhadores

rurais em Itanhaém. Para família desempregadas, que 'queiram trabalhar nos bana- nais, é só passar no Sindicato em Itanhaém,que tem emprego' garantido acima do salário, com moradia nas fazendas e cuidadosa fiscalização perma- nente do Sindicato .

Pág. 6 — REALIDADE RURAL, MARÇO DE 1981

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■V

O prêmio Nobel da Paz veio a S. Paulo. E um argentino.

No mês de fevereiro esteve em São Paulo um argentino que ficou famoso no mundo inteiro: Adolfo Perez Esquivei, que ganhou ofrêmio Nobel da Paz em 1980.

Adolfo, arquiteto de profis- são, largou tudo para se envol- ver de corpo e alma na defesa de milhares de argentinos per- seguidos, desaparecidos ou assassinados pela simples razão de serem contrários ao Governo Militar que há alguns anos toma conta da Argentina.

E para defender esses perse- guidos, Adolfo não usa a violência. Ao contrário ele pra- tica a não-violência. Ou seja, ele denuncia os erros, junto com seus companheiros, denuncia as injustiças, exige justiça, mas não usa armas, não agride de jeito nenhum. Só que direito humano é direito humano, e ponto final. Ele pode apanhar, pode ser perse- guido, mas a verdade é sempre aquela.

E claro que quem mexe com cobra uma hora ou outra leva picada. Assim também Adolfo acabou sendo torturado e preso durante 15 meses, na Argenti- na, pais em que até crianças ■desapareceram pela persegui- ção política do Governo!

Por toda a firmeza e não- violência, Adoljo recebeu o

Em Assis, regional quer crssísf encicr digna

Prêmio Nobel. E se arrependi- mento mata, deve ter muita fente doente na Argentina, oje...

No Brasil, Esquivei recebeu um tratamento muito carinho- so por parte do povo e das pes- soas que querem que o Brasil deixe de ser de meia dúzia e passe a ser de todos. Ele, inclu- sive, esteve conversando com posseiros em Miracatu, no Vale do Ribeira, ameaçados de expulsão. Só que aqui no Bra- sil também tem gente que não gosta dele e da sua não-violên- cia, da sua firmeza. E por isso ele chegou a ser detido por duas horas na Policia Federal em São Paulo em razão de declarações que ele fez dizendo que exigir justiça não é revan- chismo mas direito de toda a pessoa que se considere preju- dicada. Aliás, a famosa Decla- ração dos Direitos Humanos,

Em Pereira Barreto, um abaixo assinado pela

reforma agrária No dia 15 de fevereiro

houve uma cerimônia muito interessante no nosso Sindi- cato em Pereira Barreto: a diretoria do Sindicato rece- beu um abaixo assinado dos seus associados, pelo qual eles se comprometem a lutar no fortalecimento do Sindi- cato, aumentando o número de associados, como também reivindicando Reforma Agrária na região, uma vez que aumenta o número dos volantes e está cada vez mais escassa a terra para arrenda- mento e parceria. .

. A esta cerimônia, dirigida pelo Presidente do Sindicato,

Elízio Coqueiro de Oliveira, compareceu também o presi- dente da Fetaesp, Roberto Toshio Horiguti — prove- niente de Fernandopolis, onde no dia anterior havia se entrevistado com o Ministro da Previdência, Jair Soares.

A cerimônia de Pereira Barreto é mais uma novidade que anima o nosso sindicalis- mo a ir em frente, cada Sin- dicato procurando caminhos próprios, de acordo com sua realidade. É mais um Sindi- cato motivando seus associa- dos a exigirem seus direitos como cidadãos brasileiros. Parabéns para os associados, que tomaram a iniciativa.

Empréstimo do FAS para nova sede de Capivari

Em agosto próximo os companheiros trabalhadores rurais de Capivari vão receber um grande e espaçoso prédio de três andares, onde será a sede do nosso Sindicato na cidade. Um prédio que terá, entre outras coisas, um salão de assembléias onde caberão folgadamente 800 pessoas, sentadas.

Para tanto, no dia 26 de fevereiro a diretoria do Sindicato, composta de Antônio José Bom (Pres.), Ronaldo de Madeira Jesus (Secr.) e João Freguglia (tes.), mais a esposa de Antônio, Tereza de Lara Bom, e o advogado Roney Pires de Camargo, vieram a São Paulo. Junto à Caixa Econômica Federal a dire- toria do Sindicato obteve um empréstimo de Cr$ 2.620.000,00, do Fundo de Desenvolvimento Social (FAS).

Este empréstimo se destina às obras finais da sede social, na rua Pe. Aroldo, no centro da cidade. A nova sede terá 1.316 m2 de área construída, distribuídos em 3 andares.

A base territorial do nosso Sindicato em Capivari abrange nove municípios, onde existem aproximadamente 60 mil traba- lhadores, 80% dos quais canavieíros, segundo o Presidente. São indaiatuba, Raffard, Mambuca, Elias Fausto, Monte Mor, Rio das Pedras, Sta. Bárbara do Oeste, Salto e Capivari. O Sindicato tem sub-sedes em indaiatuba, Sta. Bárbara e Rio das Pedras.

da ONU, diz muito mais e o Brasil inclusive assinou essa declaração...

Aliás, a NÃO-VIOLÊNCIA está ajudando a esclarecer e organizar inclusive posseiros, na Paraíba, na famosa locali- dade de Alagamar. Os cinco mandamentos da NÃO- VIOLÊNCIA que eles defini- ram, com o apoio do arcebispo D. José Maria Pires f o famoso D. Pele), são: /?, nunca matar; 2", jamais ferir; i",

estar sempre atento; 4?, sem- pre se unir; e, 5', desobedecer às ordens de sua excelência que podem nos destruir.

A NÃO-VIOLÊNCIA sur- giu na índia, no início deste sé- culo, através do famoso Mahatma Gandhi, um advoga- do muito tímido, mas que levou o povo indiano a se tornar independente em 1947. É bem verdade que pouco depois um violento inconformado o assassinou. Mas só com a Não- Violência mesmo é que a índia se tornaria independente.

Cá prá nós: Prá ser NÃO- VIOLENTO o que precisa mesmo é ter coragem! Mas que dá certo, dá certo...

Mais uma importantíssima reunião regio- nal, para tratar do problema médico-hospita- lar, foi realizada. Essa vez foi em Assis, no dia 5 de fevereiro. Estiveram presentes o presi- dente da FETAESP (e vice da CONTAG), Roberto Toshio Horiguti, o responsável pelo setor rural do INAMPS, Jorge Narciso de Matos.

Compareceram ao encontro os dirigentes dos Sindicatos de Regente Feijó, Presidente Prudente, Presidente Epitácio, Chavantes, Paraguaçu Paulista, Quatá, Rancharia, Echa- porã, Cândido Mota, Piraju, Palmital (Flori- néia) e Assis, representantes dos hospitais, num total de 60 pessoas.

Vários Sindicatos do Grupo Regional 10 (Al- ta Sorocabana), que já haviam realizado sua reunião regional para tratar do problema mé- dico-hospitalar em Presidente Prudente, no ano passado, compareceram também à reu- nião em Assis para reforçar as reivindicações da região vizinha, num excelente ato de soli- dariedade.

INAMPS GARANTE: NAO FALTA VERBA A HOSPITAIS.

De acordo com o Presidente da Fetaesp, que presidiu a reunião, os assuntos tratados no encontro foram o mau atendimento médi- co-hospitalar aos trabalhadores rurais na região, a falta de melhor critério de identifica- ção dos casos de urgência, e outros conflitos que surgem constantemente entre os Sindica- tos e os hospitais por causa do tratamento ina- dequado dispensado aos trabalhadores rurais. _A reunião, por sinal, teve muita repercus-

são pública na região, tanto que a imprensa regional deu todo o destaque no noticiário, com grandes manchetes, tanto as emissoras de rádio como os jornais "A Gazeta de Assis" e "Voz da Terra", que nos chegaram às mãos.

Os dirigentes sindicais reclamaram da sujei- ra, da falta de leitos e de médicos, da falta de um atendimento justo e amplo ao trabalhador rural, enquanto que Jorge Narciso, do INAMPS, insistia em dois pontos: 1) um dos grandes problemas que existe é a desinforma- ção com relação aos contratos firmados entre o INAMPS (exFunrural) e os hospitais, sobre

CAUSA DE INJUSTIÇAS E

os direitos do trabalhador, quando ele pode ser atendido ou não pelo convênio; e, 2) os hospitais, de sua parte, recebem pagamento suficiente para garantir os custos e auferir lucros, pelo serviço prestado aos beneficiários da previdência rural.

"URGÊNCIA": MORTES, BURRICES.

Uma das frustrações do encontro foi a ausência dos responsáveis pela Santa Casa de Misericórdia de Assis, hospital regional, em relação à qual se acumulavam reclamações dos Sindicatos, o que dirigentes consideraram uma demonstração do desinteresse para com os trabalhadores rurais.

Quatá e Chavantes, segundo os jornais, fize- ram duras críticas ao hospital de Assis, denun- ciando o constante retorno de pacientes enca- minhados pelos Sindicatos, tendo de ser reen- caminhados a outros hospitais, com perda de tempo, dinheiro, e, particularmente, expondo os pacientes a riscos de vida muito elevados. E assim ocorrem casos de pacientes que falecem por falta de atendimento. Por isso os Sindica- tos reivindicaram que o hospital de Rancharia seja transformado em hospital regional.

Aliás, segundo o presidente da Fetaesp, uma grande causa de mortes e injustiças é o tal "atendimento de urgência". Muitos pacientes, extremamente necessitados, não são atendidos pelos hospitais convenientes, tendo depois de retornar numa situação lasti- mável. Tanto os hospitais, como a Previdência lucrariam muito mais se fizessem exames e atendessem os pacientes a tempo, evitando operações onerosas, longos interfiamentos, respeitando com isso um Direito Humano do trabalhador rural; que é o de ter saúde e de receber assistência do Governo para manter essa saúde em ordem.

Dessa maneira, quando o hospital aperta os casos de "urgência", pretendendo atender menos pacientes e gastar menos, na verdade está cometendo não apenas injustiças e aten- tados à vida dos trabalhadores, mas também uma grande burrice, na medida em que irá gastar mais e emperrar seu serviço com aten- dimentos posteriores complicados.

J. Soares recebe memorío/em fernandopolis f Em reunião realizada em

Fernandopolis, no dia 14 de fevereiro, dirigentes Sindi- cais do Grupo Regional 4 (Araraquarense), liderados pelo presidente da Fetaesp (e vice da CONTAG), Roberto Toshio Horiguti, entregaram ao Ministro da Previdência, Jair Soares, um memorial denunciando as falhas hospitalares, as dificuldades de atendimen- to dos trabalhadores rurais.

No memorial, segundo o presidente da Fetaesp, os dirigentes lembram ao Governo a responsabilidade que o Governo assumiu através da lei que instituiu o atendimento médico-hos- pitalar e a previdência rural, na criação do PRO- —RURAL, um atendimen- to que praticamente não existe, uma vez que os exa- mes complementares são pagos pelo próprio traba-

lhador (apesar de seu baixo ganho), o trabalhador rural

produtor é obrigado a cus- tear as despesas hospitala- res, sem condições e injus- tamente, uma vez qué quando vendem sua produ- ção já se habilitam a um atendimento completo, pelo desconto ao Funrural.

No documento, os diri- gentes também reivindicam uma identificação mais cri-

teriosa para os trabalhado- res rurais, especialmente quanto à questão de "ur- gência", uma vez que hoje o trabalhador rural está sendo jogado como peteca de um hospital para outro.

Na ocasião, os Sindica- tos de Cardoso e Populina reivindicaram a transferên- cia de seu hospital regional, de Rio Preto para Votupo- ranga.

Fartura recebe queixas de Taguaí O Ambulatório do INAMPS (ex-

Funrural) em Taguaí está rio Sindicato dos patrões, o Sindicato Rural. E para serem atendidos, como é de direito, os trabalhadores rurais precisam, em pri- meiro lugar, tirar ficha na prefeitura, por vontade do prefeito, para depois conseguirem a sorte de serem atendi- dos no ambulatório do Sindicato dos patrões.

Taguaí é extensão do nosso Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Fartura. E cansados de serem mal atendidos e da burocracia, os trabalhadores rurais pediram que o Sindicato de Fartura organizasse uma reunião na sede onde seriam debatidas as dificuldades de atendimento.

A reunião foi realizada no dia 14 de. fevereiro. A ela compareceu, além da diretoria do nosso Sindicato em Fartu- ra, também o companheiro José Bento De Santi, diretor da área de Assistên- cia e Previdência Social da FETAESP. E como prova do interesse, basta ver que compareceram mais de 300 traba-

lhadores, cada um.trazendo suas recla- mações.

No final da reunião foi aprovado um abaixo-assinado, relatando os fatos e pedindo providências urgentes ao INAMPS.

O referido abaixo-assinado foi entre- gue ao Diretor da FETAESP e entre- gue posteriormente ao INAMPS, do qual agora a FETAESP aguarda provi- dências.

Taguaí é uma forte região produtora do Estado. O lamentável é que nem o escasso benefício que é assegurado pela assistência médico-hospitalar aos trabalhadores rurais no atual sistema previdenciário, nem isso os trabalhado- res rurais de Taguaí (e em outros locais) estão recebendo. Lamentável também a burocracia com fundo políti- co que a prefeitura impôs para o aten- dimento no Sindicato dos patrões. Lamentável da mesma forma o desres- peito do médico que atende no ambu- latório quando quer, cumprindo horá- rio próprio, pessoal.

REALIDADE RURAL, MARÇO DE 1981 — Pig. 7

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Usinas nucleares: posseiros do Litoral só saem com garantia de novas terras

Que o Governo, por conta própria como sempre , decida instalar centrais neokares no Brasil, num discutível acordo com a Alema- nha, passando por cima da opinião dos cien- tistas especializados, políticos, de jornais e da opinião pública, já e um fato. muitíssimo gra- ve.

Mas bem mais grave é querer passar por cima também das 600 famílias de pequenos produtores de Iguape e Peruíbe, região onde serão instaladas duas centrais nucleares, no belo litoral sul paulista. Como ocorre em todo o eternamente esquecido Vale do Ribeira, os pequenos produtores de Iguape e Peruibe também são considerados posseiros, porque como acontece no Vale, eles também não tem os títulos das terras onde vivem.

E apesar dos costumeiros novatos grileiros e pretensos donos que sempre aparecem e incomodam, esses pequenos produtores garantem fartas colheitas de banana (principal produto da região), feijão, milho, e outros produtos que andam fazendo uma tremenda falta na mesa dos brasileiros, mais falta do que central nuclear ou o petróleo dos árabes.

Mas, ao que parece, aNUCLEBRAS, que é a empresa do Governo que vai construir e tomar conta das centrais nucleares, está querendo pagar uma mixórdia pelo que é dos posseiros por direito de suor, aireito de calo. A área de Peruibe e Itanhaém onde serão construídas as centrais nucleares, já foi decla- rada de utilidade pública e delimitada para desapropriação. O Governo tem pressa. E nessa pressa, nessa corrida, os posseiros têm medo de serem passados também para trás. Exigência dos Posseiros: Terra , por

Terra O nosso Sindicato em Itanhaém e os possei-

ros já realizaram várias reuniões em Peruíbe para falar sobre o assunto. A duas dessas reu- niões, uma no final de janeiro e outra no dia 1' de março, a FETAESP se fez presente, na primeira vez através do diretor secretário, Francisco Benedito Rocha, e outra vez atra- vés do próprio Presidente , Roberto Toshio Horiguti.

Na primeira reunião, realizada na sede social da Sociedade de Melhoramentos e Beneficente da Zona Rural de Peruibe (ver matéria nesta edição), falou-se sobre os problemas das cerca de 2.000 famílias de pos- seiros, importunados constantemente por grileiros, candidatos a grileiros, e pretensos donos.

Na segunda reunião, realizada na sede social da Sociedade Agrícola Beneficente de Melhoramentos do Bairro de Tetequera e Adjacências o assunto foi as centrais nuclea- res e as desapropriações foi relatado na reu- nião, num outro encontro entre os pequenos produtores e um representante da NUCLEBRAS, que adiantou algumas conclu- sões do levantamento que a empresa está

fazendo do que existia na área a ser. desapro- priada.

Essas informações apavoraram os pequenos produtores. Por exemplo, uma igreja que cus- tou ao povo de Iguape Cr$ 250.000,00 , para a Nuclebrás não vale mais que Cr$ 49.000,00. Da mesma forma,ma enquanto uma dúzia de bananas está custando CrS 40,00 no mercado da cidade, a cova de bananas (touceira) para a Nuclebrás não valeria mais de CrS 25,00. E pelo pé de limão a Nuclebrás não pretenderia pagar mais que CrS 30,00, quando só á muda hoje vale CrS 150,00.

A FETAESP vem acompanhando o caso desde o início, ao lado do nosso Sindicato em Itanhaém e das Sociedades dos posseiros de Peruibe. E um fato que indignou o presidente da FETAESP, Roberto TosnioHonçuti, e ao presidente do Sindicato Arnóbio Vieira da Sil- va, é que corre a informação de que o prefeito de Peruíbe e a Câmara Municipal aguardam um documento da NUCLEBRAS e a para orientar os posseiros, enquanto as organiza- ções deles, o Sindicato, e a FETAESP, os principais interessados, não receberam até agora a mínima satisfação da NUCLEBRÁS.' Espera-se que a coisa mude.

De qualquer forma, os posseiros já firma- ram' uma posição: se tiveram de sair a com- pensação que exigem è indenização justa de tudo e de modo particular, vão querer terra boa em outro lugar, terra onde vão poder con- tinuar produzindo e vivendo da produção agrícola. Indenização da terra em dinheiro é ilusória, não dá para comprar nda.

Sindicato: "Usina Nuclear não acaba com a fome no Brasil".

Para a diretoria do Sindicato de Itanhaém, usinas nucleares são coisas que o Brasil não precisa. "O Brasil precisa é de uma Reforma Agrária Autêntica, dividir a terra para todos os trabalhadores que deseja, trabalhar na terra"- esse é o ponto de vista da diretoria.

Segundo os diretores, pesquisas feitas mos- tram que 90% os trabalhdores rurais brasilei- ros são doentes, não por falta de remédio mas de comida; são os que mais trabalham e os que mais passam fome. Por isso, segundo os diretores, "não é com usinas nucleares que o governo vai resolver o problema da fome do trabalhador brasileiro. Não acreditamos em progresso e desenvolvimento enquanto o tra- balhador não tiver comida, enquanto não tiver um salário justo para sua alimentação, uma habitação digna e um lazer com calor humano para os seus filhos. Aí está a lavoura completamente abandonada com os boias frias servindo de escravos para uma casta viver comodamente à custa do suor e do sacri- fício do povo brasileiro. Aí está o salário de fome que é um verdadeiro desafio ao Gover- no que deseja implantar usinas nucleares gas- tando uma fortuna , enquanto não temos nem hospital na Região".

Reuniões no Vale do Ribeira. Jugaiá e Registro Em Juquiá, duas reuniões

no início de fevereiro: uma dos Sindicatos de Itanhaém, Registro e Juquiá, sobre problemas regionais, com pre- sença do Secretário da Fetaesp, Francisco Benedito Rocha, e advogados. Outra (foto ao lado) com os possei- ros no Pé da Serra, no Bairro dos Corujas. No dia seguinte, os dirigentes participaram de reunião com lideres de Bairros dos Núcleos Sindicais de Registro, conforme fotos abai- xo. Vale do Ribeira, uma prio- ridade para o sindicalismo em razão da enormidade dos problemas fundiários.

Peruibe wwgmt WêêM

No último dia, o Secretário da FETAESP, acompanhado de assessores, esteve na sede da Socie- dade de Melhoramentos e Beneficente da Zona Rural de Peruibe, com presença de Arnóbio Vieira da Silva, presidente do Sindicato de Itanhaém ; Euclides Marques, presidente da Sociedade ; Gil-. berto Fernandes, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Bairro de Tetequera e Adjacências, além de Bernardo Lorena, agrônomo da Casa da Agricultura. Em debate os problemas de mais de 2.600 famílias de posseiros e as conseqüências das usinas atômicas que vão ser implantadas no local (ver matéria ao lado).

DESAFIO I FAZENDEIRO Quanto vale a minha terra você pergunto, seu Zé? Pois vale muitos milhões, você sabe como é que é. Estando aí tô ganhando, só vendo quando eu quizé.

II TRABALHADOR RURAL Só vendo quando quizé! Desculpe meu tubarão, eu estava cá pensando, em termos de produção. Nada vale a sua terra nesse bruto quiçação.

III — FAZ. Nesse bruto quiçação!_ Prá um pião que ocê. é,

você já falo demais, já começo me enche. Se terra ocê nunca teve, Onde qué chega você?

IV—TR -, Onde qu& chega você, com essa sua arrogância? Vamo continá a conversa. pois isso não tem importância. Ê que, terra abandonada. nunca trará abundância.

V — FAZ. ' Nunca trará' abundância! ■ Isso é sua ilusão, Pois aqui nessa fazenda eu tenho uma criação de gadoque é muito grande e que alimenta a nação.

VI— TR Que alimenta a nação, eu ouvi você fala. Mas, na produtividade, deixa muito a deseja. Se ocê dé oportunidade, isso eu posso prova.

VII — FAZ. Isso eu posso prova. E o seu papo já se foi, pois aqui, nesta fazenda, eu tenho cinco mil boi. Inda mora duas família, sem conta com mais nóis dois.

VIII — TR Sem conta com mais nós dois, parece que ocê falo. De: mil alqueire de terra foi o que você herdo! pode produzi bem mais. o bom senso constata.

IX—FAZ. O bom senso constato. Mas, o que isso interessa? Se essa terra é minha, Ela é minha, ora essa! Agora ocê dá licença, porque tô com muita pressa.

X—TR Por que tá com muita pressa, escorrego como sabão. Falo agora pro ouvinte, com muita convicção: que fazê Reforma Agrária é a melhor solução.

XI—TR Dez mil alqueire de terra, como exemplo é muito bom. Em vez de cinco mil boi, ponho uma população'' mínima de mil família, dessa mesma regiãq.

XII—TR Não precisa ir muito longe, pois aqui tem muita gente que está marginalizada, vivendo como indigente. E podem produzi mais, pois são gente inteligente.

XIII—TR Sei que não é muito fácil, mas, no verso eu enumero. "Só dez alqueire de terra, é só isso que eu quero". Um trabalhador falo, um trabalhador sincero.

XIV—TR O trabalhador urbano compra casa na cidade, prá paga até em trinta ano. E muito facilidade! E o trabalhador rural só passa necessidade.

XV—TR Por que não se vende terra co'a mesma facilidade? Prá produzi alimento prá nossa sociedade, Prá dá garantia de vida ao povo lá da cidade.

XVI—TR Essa terra é muito boa prá prantá ar róis e feijão: tomate, milho e mandioca: minduim e algodão: frutas, mamona e soja, café e também criação.

XVII—TR Os cartola tá falando prá aumenta a produção. Mas, não qu^ Reforma Agrária, Só protege o tubarão! Se o problema é alimento, nós temos a solução:

XVIII—TR O Estatuto da terra é uma Lei já elaborada. Alguma de suas parte já está regulamentada. Falta só a execução Dessa lei tão comentada. Castelo Branco a criou, dentro da Revolução. Mas, depois engaveto, cometendo ingratidão. Agora estamo esperando numa resposta do JOÃO.

Inácio Albertini (Assessor da FETAESP)