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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO Ricardo Zeef Berezin O CONSUMO DE VÍDEOS NA TV E PELA INTERNET NO BRASIL: DO TELESPECTADOR PASSIVO AO USUÁRIO ATIVO Rio de Janeiro 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

Ricardo Zeef Berezin

O CONSUMO DE VÍDEOS NA TV E PELA INTERNET NO

BRASIL: DO TELESPECTADOR PASSIVO AO USUÁRIO

ATIVO

Rio de Janeiro

2017

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Ricardo Zeef Berezin

O consumo de vídeos na TV e pela internet no Brasil:

Do telespectador passivo ao usuário ativo

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientador: Prof. D.Sc. Antônio Roberto Ramos Nogueira

Rio de Janeiro

2017

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Ricardo Zeef Berezin

O CONSUMO DE VÍDEOS NA TV E PELA INTERNET NO BRASIL:

DO TELESPECTADOR PASSIVO AO USUÁRIO ATIVO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Administração.

Aprovada por:

__________________________________________

(Nome, titulação e instituição)

Rio de Janeiro

2017

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Roberto Nogueira, pela orientação, e à Professora Paula Chimenti, pelo

relevante auxílio ao longo desta pesquisa.

A todos os professores e funcionários do COPPEAD pelos ensinamentos, disposição e

paciência.

À turma 2015 de mestrandos. Essa jornada foi inesquecível graças a vocês.

A todos os amigos, das mais diversas origens, que fiz dentro e fora da Universidade.

Ao Rio de Janeiro e à Copenhague, por terem me recebido tão bem, e à São Paulo, por

ter, por ora, me aceitado de volta.

A meus familiares, especialmente meus pais, por terem me apoiado sempre, antes no

Jornalismo, agora na Administração. Desculpa por não ter feito Medicina.

Por tudo isso, por toda sorte que tive, espero de coração que os próximos anos sejam

tão bons quanto os dois últimos. Hineni.

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RESUMO

BEREZIN, Ricardo Zeef. O consumo de vídeos na TV e pela internet no Brasil:

Do telespectador passivo ao usuário ativo. 2017. 153f. Dissertação (Mestrado em

Administração) - Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

O número de opções para assistir conteúdo audiovisual cresceu muito nos últimos anos. Com

efeito, se antes a TV era a única plataforma capaz de exibir vídeos em casa, hoje ela tem a

concorrência de smartphones, tablets e computadores, e de serviços como Netflix e YouTube.

No Brasil, entretanto, 70% das pessoas assistem à TV todos os dias, e mesmo os jovens,

embora assíduos usuários de internet, passam diariamente mais de quatro horas diante dela.

Há, portanto, que se investigar de um lado a ascensão dos vídeos on-line, de outro a

persistência da TV. Esta pesquisa, por meio de 12 entrevistas em profundidade, buscou

responder em que sentido o consumo de vídeos pela televisão é diferente do consumo de

vídeos pela internet no Brasil. Descobriu que a TV, com sua grade fixa de canais e

programação linear, incita um uso habitual e não estimula a descoberta de novos conteúdos,

resultando em uma atenção fracionada e dispersa por parte do telespectador. Netflix e

YouTube, em contrapartida, recomendam constantemente vídeos com base nos interesses do

usuário, o qual, em função da autonomia que exerce, tende a prestar mais atenção ao

conteúdo. Em suma, quanto menos programas o telespectador descobre na TV, mais se afasta

dela; quanto mais atrações o usuário descobre nos serviços de streaming, mais se aproxima

deles.

Palavras-chave: TV, vídeos por internet, consumo audiovisual, comportamento do

consumidor

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ABSTRACT

BEREZIN, Ricardo Zeef. O consumo de vídeos na TV e pela internet no Brasil:

Do telespectador passivo ao usuário ativo. 2017. 153f. Dissertação (Mestrado em

Administração) - Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

The number of options to watch audiovisual content has grown a lot in recent years. Indeed,

while the TV was once the only platform capable of displaying video at home, today it faces

competition from smartphones, tablets and computers, and from services like Netflix and

YouTube. In Brazil, however, 70% of people watch TV every day, and even young people,

although regular internet users, spend more than four hours daily in front of it. Therefore, one

must investigate on the one hand the rise of online videos, on the other the persistence of the

TV. This research, through 12 in-depth interviews, sought to answer in what sense the

consumption of videos on television is different from the consumption of videos over the

internet in Brazil. It has discovered that the TV, with its fixed grid of channels and linear

programming, incites a habitual use and does not stimulate the discovery of new contents,

resulting in a fragmented and dispersed attention from the part of the viewer. Netflix and

YouTube, diversely, constantly recommend videos based on the user's interests, who, given

his choice autonomy, tends to pay more attention to the content. In short, the fewer programs

the viewer discovers on TV, the further away he gets from it; the more attractions the user

discovers in streaming services, the closer he gets to them.

Keywords: TV, video streaming, audiovisual consumption, consumer behavior

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Capa da Revista Time 2006 ..................................................................................... 13

Figura 2 - Investimento em propaganda nos EUA em bilhões de dólares (Fonte: State of The

Media, 2015; IAB Internet Advertising Revenue Report, 2015) ............................. 16

Figura 3 - Evolução no consumo de mídia nos EUA de 2010 a 2015 (Fonte: QZ.com,

ZenithOptimedia, 2015) ........................................................................................... 17 Figura 4 - Investimento publicitário global em milhões de dólares (Fonte: Global

Entertainment and Media Outlook, 2015) ............................................................... 19

Figura 5 – Alocação de verba publicitária na TV, aberta e paga, e vídeos on-line (Fonte:

Global Entertainment and Media Outlook, 2015) ................................................... 20

Figura 6 – Número de assinantes de TV paga e Netflix nos EUA por ano (Fonte: Convergence

Consulting, 2015; Netflix, 2011-2016) .................................................................... 20

Figura 7 - Evolução do número de assinantes de TV paga no Brasil (Fonte: ABTA, 2016) ... 26 Figura 8 - Evolução do acesso à internet na população brasileira (Fonte: PNAD, 2016) ........ 27 Figura 9 – Evolução da receita com a comercialização de música em bilhões de dólares

(Fonte: IFPI, 2016) .................................................................................................. 29

Figura 10 – Receita com venda e aluguel de vídeo, incluindo assinaturas, nos EUA em bilhões

de dólares (Fonte: Digital Entertainment Group, 2016, retirado de Statista) .......... 30 Figura 11 - Velocidade média de conexão à internet nos EUA (Fonte: FCC, 2010) ............... 31

Figura 12 – Receita em milhões de libras com vídeos em mídia física no Reino Unido (IHS,

2016, retirado de Statista) ........................................................................................ 33

Figura 13 – Vendas de discos Blu-ray e DVDs em milhares na Bélgica (Fonte: GfK, 2015;

retirado de Statista) .................................................................................................. 34 Figura 14 - Arrecadação do Facebook por segmento em milhões de dólares (Fonte: Facebook;

adaptado de Business Insider, 2015a) ...................................................................... 38

Figura 15 - Participação de vídeos de conteúdo no Brasil por propriedade (Fonte: comScore,

2016) ........................................................................................................................ 39

Figura 16 - Assinantes do Netflix no mercado doméstico e internacional (Fonte: Netflix,

2016; adaptado de Business Insider, 2016a) ............................................................ 42 Figura 17 - Número de originais do Netflix (Fonte: THR, 2016; adaptado de Hollywood

Reporter, 2016a) ...................................................................................................... 43 Figura 18 - Progressão da oferta midiática em minutos nos EUA por residência (Fonte:

Neuman, Park & Panek, 2012) ................................................................................ 46 Figura 19 - Progressão do consumo midiático em minutos nos EUA por residência (Fonte:

Neuman, Park & Panek, 2012) ................................................................................ 47 Figura 20 - Progressão da proporção oferta/demanda de mídia em minutos nos EUA (Fonte:

Neuman, Park & Panek, 2012) ................................................................................ 47

Figura 21 - Modelo integrado de consumo de mídia (adaptado de LaRose, 2012) .................. 55 Figura 22 - Modelo de clutter publicitário nas mídias on-line (adaptado de Ha & McCann,

2008) ........................................................................................................................ 58

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Figura 23 - Satisfação com documentário com interrupção e sem interrupção comercial

(Adaptado de Nelson, Meyvis & Galak, 2009) ....................................................... 59

Figura 24 – Círculos vicioso e virtuoso de descoberta de conteúdo e uso de plataforma ...... 122 Figura 25 – Grupos de consumo da televisão e as respectivas características ....................... 124

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Principais concorrentes no mercado brasileiro de TV e de vídeos por internet .... 37

Quadro 2 – Principais autores e conceitos pesquisados ao longo da Fundamentação Teórica 62

Quadro 3 – Matriz de Amarração da Pesquisa ......................................................................... 65 Quadro 4 – Perfil dos entrevistados e critérios para a sua seleção ........................................... 68

Quadro 5 - Perfil dos entrevistados .......................................................................................... 69 Quadro 6 – Análise de Resultados: Dimensão Acessibilidade ................................................. 76 Quadro 7 – Análise de Resultados: Dimensão Atenção e Publicidade .................................... 79 Quadro 8 - Análise de Resultados: Dimensão Atualidade ....................................................... 84

Quadro 9 – Análise de Resultados: Dimensão Conteúdo e Atualização .................................. 91 Quadro 10 – Análise de Resultados: Dimensão Descoberta .................................................... 97

Quadro 11 – Análise de Resultados: Dimensão Escolha ........................................................ 102 Quadro 12 – Análise de Resultados: Dimensão Hábito e Intencionalidade ........................... 108

Quadro 13 – Análise de Resultados: Dimensão Mobilidade e Dispositivos .......................... 111 Quadro 14 – Análise de Resultados: Dimensão Pirataria ....................................................... 115 Quadro 15 – Análise de Resultados: Dimensão Socialização ................................................ 119

Quadro 16 – Relação das questões do roteiro de entrevista com a Revisão de Literatura ..... 153

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABTA: Associação Brasileira de TV por Assinatura

Anatel: Agência Nacional de Telecomunicações

CGI: Comitê Gestor da Internet do Brasil

FCC: Federal Communications Commission

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFPI: International Federation of the Phonographic Industry

Ibope: Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

RIAA: Recording Industry Association of America

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 13 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 13

1.2. O PROBLEMA ............................................................................................................... 16 1.3. OBJETIVO DO ESTUDO ................................................................................................. 18 1.4. RELEVÂNCIA ................................................................................................................ 18 1.5. DELIMITAÇÃO DE ESTUDO ........................................................................................... 21

1.6. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................ 22 2. REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 23 2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................... 23 2.1.1. DELIMITAÇÃO DE CONCEITOS ................................................................................. 23

2.1.2. BREVE HISTÓRIA DA TV NO BRASIL ....................................................................... 24 2.1.3. BREVE HISTÓRICO DOS VÍDEOS POR INTERNET ....................................................... 27

2.1.4. CENÁRIO ATUAL DO CONSUMO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL NO BRASIL .............. 34 2.1.4.1. BREVE DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS CONCORRENTES NO MERCADO BRASILEIRO DE

TV E DE VÍDEOS POR INTERNET ............................................................................................... 36

2.1.4.1.1. FACEBOOK............................................................................................................ 37

2.1.4.1.2. GLOBO E GLOBOSAT ............................................................................................ 39 2.1.4.1.3. NETFLIX ............................................................................................................... 41 2.1.4.1.4. YOUTUBE ............................................................................................................. 44

2.2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................ 45 2.2.1. GAP MIDIÁTICO........................................................................................................ 45 2.2.2. COMPETIÇÃO E COMPLEMENTARIDADE ENTRE MÍDIAS ........................................ 48

2.2.3. TEORIAS DE USO DE MÍDIA ..................................................................................... 49 2.2.3.1. TEORIA DOS USOS E GRATIFICAÇÕES ..................................................................... 50

2.2.3.2. HÁBITO ..................................................................................................................... 52 2.2.3.3. UM MODELO INTEGRADO ........................................................................................ 54 2.2.4. NOVOS CANAIS, NOVOS CONTEÚDOS ...................................................................... 56

2.2.5. NOVOS CANAIS, NOVA PUBLICIDADE ...................................................................... 57 2.2.5.1. A (IN)SATISFAÇÃO COM A PUBLICIDADE E O EQUILÍBRIO IDEAL ............................ 59

2.2.6. PRINCIPAIS CONCEITOS DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................... 60 2.3. CONCLUSÃO DA REVISÃO DE LITERATURA E PERGUNTA DE PESQUISA .................... 62

2.3.1. MATRIZ DE AMARRAÇÃO DE PESQUISA .................................................................. 63 3. MÉTODO ........................................................................................................................ 66 3.1. TIPO DE PESQUISA........................................................................................................ 66

3.2. COLETA DE DADOS....................................................................................................... 66 3.3. SELEÇÃO DOS ENTREVISTADOS ................................................................................... 67

3.4. ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................................................................... 70 4. ANÁLISE DE RESULTADOS ...................................................................................... 72 4.1. ACESSIBILIDADE .......................................................................................................... 73 4.2. ATENÇÃO E PUBLICIDADE ........................................................................................... 76

4.3. ATUALIDADE ................................................................................................................ 80

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4.4. CONTEÚDO E ATUALIZAÇÃO ....................................................................................... 84

4.5. DESCOBERTA ................................................................................................................ 92 4.6. ESCOLHA ...................................................................................................................... 98 4.7. HÁBITO E INTENCIONALIDADE .................................................................................. 102 4.8. MOBILIDADE E DISPOSITIVOS ................................................................................... 109 4.9. PIRATARIA .................................................................................................................. 111

4.10. SOCIALIZAÇÃO ........................................................................................................... 115 5. DISCUSSÃO DE RESULTADOS ............................................................................... 120 5.1. O USO LEVA À DESCOBERTA; A DESCOBERTA LEVA AO USO ..................................... 120 5.2. DE TELESPECTADOR PASSIVO PARA USUÁRIO ATIVO ................................................ 122 5.3. A PIRATARIA COMO SINTOMA DE UM BUNDLE SEM VALOR ....................................... 125

6. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 127

6.1. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 127

6.2. LIMITAÇÕES DA PESQUISA......................................................................................... 128 6.3. CONTRIBUIÇÕES PARA A ACADEMIA ......................................................................... 129 6.4. CONTRIBUIÇÃO PARA PROFISSIONAIS DA ÁREA ........................................................ 129 6.5. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ..................................................................... 130

ANEXOS ............................................................................................................................... 152

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1. APRESENTAÇÃO

Este capítulo está organizado da seguinte maneira: primeiro, o tema da dissertação é

introduzido, assim como as questões principais que o motivaram. Logo, o problema da

pesquisa é colocado, procedida por seus objetivos, relevância e delimitação. Ao final, a

organização do trabalho é apresentada ao leitor.

1.1. Considerações Iniciais

“Por tomar as rédeas da mídia global, por fundar e moldar a nova democracia digital,

por trabalhar por nada e superar os profissionais em seu próprio jogo, a Pessoa do Ano da

Revista Time é você” (TIME, 2006, tradução do autor). Desde 1927, a tradicional publicação

norte-americana elege o personagem de maior destaque no ano e, em 2006, a escolha, como

se vê, não foi nada convencional: um misterioso e glorificado você. O veículo, assim,

enfatizava as mudanças por que a internet estava passando, uma (r)evolução chamada web

2.0, que dependia da interação dos usuários e que progredia à medida que a colaboração deles

aumentava. A reportagem mencionava desde a enciclopédia Wikipedia à rede social

MySpace, mas a capa deixava claro que o inovação da vez era o YouTube, um serviço de

vídeo criado um ano antes e que acabara de ser vendido ao Google por US$ 1,6 bilhão (CNN,

2006).

Figura 1 - Capa da Revista Time 2006

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Embora a Revista Time tenha tratado o YouTube como um dos representantes da web

2.0, ele também se tornou símbolo de outro fenômeno, um fenômeno que permitiu que

consumidores não tivessem que recorrer exclusivamente à televisão para assistir legalmente

conteúdo audiovisual. Eles passaram a contar também com a internet e o chamado over-the-

top content (OTT), um mecanismo que, como o próprio nome diz, implica na transmissão de

vídeos pelo ar, sem que para tanto provedores de TV paga ou emissoras de TV aberta atuem

como intermediários (BUSINESS INSIDER, 2010).

Se as limitações do YouTube ainda não o colocavam em pé de igualdade com grandes

emissoras – em 2006, os vídeos não podiam ter mais de 100 megabytes (YOUTUBE

OFFICIAL BLOG, 2006) –, a Apple, de sua forma, já tentava ocupar esse espaço. Em 2005, a

iTunes Store passou a comercializar clipes musicais e episódios de seriados, como Desperate

Housewives e Lost, que eram disponibilizados um dia após a exibição na TV. "Nós estamos

fazendo para o vídeo o que fizemos para a música: estamos tornando mais fácil e acessível

para comprar e baixar, reproduzir no computador e levar com você no iPod”, afirmou Steve

Jobs, CEO da companhia, no lançamento (APPLE PRESS INFO, 2005, tradução do autor).

Em 2006, filmes foram agregados ao catálogo (APPLE PRESS INFO, 2006).

Um ano depois, em 2007, o Netflix, à época célebre por seu serviço de aluguel de

DVDs, também estreou sua plataforma de streaming (NEW YORK TIMES, 2007). Tratava-

se, a princípio, de um complemento ao seu produto principal, e com limite de consumo (até

18 horas por mês). O limite, porém, logo foi revogado, e, assim, por US$ 17 mensais, uma

fração do que se pagava pela TV por assinatura, o usuário poderia assistir a quantas horas

quisesse de conteúdo (USA TODAY, 2008). Para o cofundador da companhia, Reed Hastling,

era uma evolução natural; em 2003, ele já falara que esperava que o download de filmes se

equiparasse à reprodução por mídia física. “É por isso que demos ao negócio o nome de

Netflix, não de DVD pelo correio”, disse (SHIH, KAUFMAN & SPINOLA, 2009).

Se o Netflix em 2007 contava com seis milhões de assinantes, hoje ele possui mais de

80 milhões (CNN MONEY, 2016); estima-se que eles passem duas horas por dia utilizando o

serviço (VARIETY, 2015). Já o YouTube, quando da sua aquisição, tinha 50 milhões de

usuários (NEW YORK TIMES, 2006), e agora possui mais de um bilhão (YOU TUBE,

2015); seus vídeos têm mais de oito bilhões de views diários (FORBES, 2014). Quando

avaliada, essa progressão induz a uma simples constatação: se os consumidores estão

ocupando mais de seu tempo com serviços de streaming de vídeo, isso significa que estão

dedicando menos tempo a outras atividades, midiáticas, como ler jornal, ou não, como correr

no parque. Afinal, de acordo com a hipótese da substituição (displacement hypothesis), como

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o tempo é limitado, mais horas atribuídas a uma atividade necessariamente leva a menos

horas atribuídas a outra (DUTTA-BERGMAN, 2004).

O crescimento de consumo de mídia observado nas últimas décadas levou

pesquisadores a afirmar que, dificilmente, tal consumo continuará avançando, seja por

restrições de tempo (MUTZ, ROBERTS & VAN VUUREN, 1993), seja por de atenção

(NEUMAN, PARK & PANEK, 2012). Ou seja, se antes atividades midiáticas tomavam o

espaço de atividades não-midiáticas, agora teríamos um jogo de soma zero, no qual a

ascensão de um novo meio de comunicação provoca a decadência do antigo. Esse jogo de

soma zero já foi bastante explorado no meio acadêmico e remonta a Lazarsfeld (1940, apud

CHA, 2012), que investigou se o rádio ocupava o espaço do jornal, ou a Menselsohn (1964),

sobre a emergência da televisão. Recentemente, Seung Lee, Sang Lee e Kim (2015)

concluíram que o streaming de vídeo principiou um processo de competição com a TV,

podendo, no futuro, até mesmo substituí-la, mesmo dado apontado por Dimmick, Chen e Li

(2004), no que tange ao consumo de notícias.

O número de serviços que oferecem conteúdo audiovisual por meio da internet, assim

como sua qualidade, avançou paralelamente ao desenvolvimento da conexão banda-larga

(CHA, 2013). Com efeito, se antes a TV era o único aparelho capaz de exibir vídeos em casa,

hoje ela tem a companhia de smartphones, tablets e computadores, cada vez mais utilizados

para este fim, conforme YouTube, iTunes e Netflix exemplificam – sem contar produtos

como Hulu e Vimeo, não tão populares no Brasil. As consequências são visíveis: nos Estados

Unidos, entre 2006 e 2016, as quatro maiores emissoras de TV aberta perderam 40% de sua

audiência – no horário nobre, entre adultos de 18 a 49 anos (ADVERTISING AGE, 2016).

No Brasil, a queda, embora mais recente e menos abrupta, é expressiva: em dez anos, a

audiência decaiu 24% (IBOPE, 2005, 2015a); se em 2005, a novela das nove da Globo,

Senhora do Destino, terminou com média de 50,4 pontos, em 2015, Babilônia terminou com

25 (JOVEM PAN, 2015).

Apesar da redução de audiência, é ainda muito cedo para decretar o fim da televisão.

Mais de 70% dos brasileiros a assistem todo dia e, dos domicílios brasileiros, 97,2% possuem

pelo menos um aparelho (IBGE PNAD, 2013). Mesmo os jovens, embora assíduos usuários

de internet, veem em média mais de quatro horas de TV diariamente (SECOM, 2015). Assim,

por mais que se aposte no crescimento dos vídeos on-line, atualmente eles convivem com os

vídeos off-line, sugerindo uma relação de complementaridade, não de substituição (DUTTA-

BERGMAN, 2004).

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1.2. O Problema

Os diversos usos que se atribui à internet a tornam potencialmente uma ameaça para

mídias antigas. Entre 2005 e 2014, por exemplo, a receita publicitária dos jornais impressos

nos Estados Unidos caiu de US$ 47,4 bilhões para US$ 16,4 bilhões (PEW RESEARCH

CENTER STATE OF THE NEWS MEDIA, 2015), enquanto que o gasto com publicidade

digital foi de US$ 12,5 bilhões para US$ 59,6 bilhões (IAB INTERNET ADVERTISING

REVENUE REPORT, 2015) – vide Figura 2. Na música, no mesmo período, a participação

da receita com comercialização de mídia física caiu de 91% para 32%, espaço ocupado tanto

pela venda em formato digital, como por assinaturas de planos de streaming (RIAA, 2015).

0

10

20

30

40

50

60

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Investimento em propaganda nos EUA

Jornal Internet

Figura 2 - Investimento em propaganda nos EUA em bilhões de dólares (Fonte: State of The Media, 2015; IAB

Internet Advertising Revenue Report, 2015)

Com a evolução da estrutura das telecomunicações, que permitiu maior velocidade de

conexão, muitos passaram a especular se a televisão poderia ser a próxima vítima. Essa seria

uma consequência natural, pois, se a internet surgiu como uma plataforma para textos e

imagens, competindo com jornais, e avançou para se tornar o principal canal para áudio,

sobrepujando os CDs, sua transformação em uma plataforma de vídeo viável colocaria em

xeque mais uma das chamadas velhas mídias (CHA & CHAN-OLMSTED, 2012).

A televisão, no entanto, sobrevive e continua pujante. Nos Estados Unidos, sua receita

com publicidade – incluindo modalidade aberta e paga – cresceu de US$ 64 bilhões para US$

78 bilhões entre 2009 e 2013 (NIELSEN STATE OF THE MEDIA, 2014). No Brasil, foi de

RS 14,3 bilhões para R$ 23 bilhões (PROJETO INTER-MEIOS, 2010, 2014), e, segundo o

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Ibope (2016), em 2015, quase 70% do investimento publicitário foi alocado a ela. Ademais,

tanto lá quanto cá, apesar do progresso da internet, a televisão se mantém como uma das

mídias mais utilizadas, com mais de três e quatro horas de uso diário, respectivamente

(ZENITHOPTIMEDIA, 2015; SECOM, 2015), e de maior penetração, presente na quase

totalidade das residências (NIELSEN TOTAL AUDIENCE REPORT, 2014; IBGE PNAD,

2013).

-40% -20% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

Internet

Cinema

TV

Rádio

Revista

Jornal

Evolução do consumo de mídia nos EUA

Figura 3 - Evolução no consumo de mídia nos EUA de 2010 a 2015 (Fonte: QZ.com, ZenithOptimedia, 2015)

Como se vê, o consumo de televisão (Figura 3) e os recursos publicitários nela

investidos não caíram na mesma velocidade com que a internet ascendeu. Mesmo na TV por

assinatura, o número de clientes praticamente quintuplicou em dez anos no Brasil, e em 2015,

segundo a associação do setor, não cresceu por força da crise econômica (ANATEL/ABTA,

2015; IDG NOW, 2015). Nos Estados Unidos, a queda, por enquanto é pequena, de 97,4

milhões de assinantes em 2010 para 96,2 milhões em 2015 (BUSINESS INSIDER,

CONVERGENCE CONSULTING, 2015), e de acordo com a consultoria PwC (2014), 65%

deles, embora usem o Netflix, não abandonaram a TV paga.

Assim, ainda que previsões como a de Bill Gates abundem – em 2007, ele chegou a

afirmar que a internet revolucionaria a televisão em cinco anos (WASHINGTON POST,

2007) –, temos no momento um mercado em que a TV e serviços de streaming competem

pelos consumidores, sem que esses consumidores tenham que excluir o primeiro produto para

ficar com o segundo. Na verdade, durante vários momentos do dia, eles escolherão uma

dessas mídias e os motivos que os levam a um YouTube não são necessariamente os mesmos

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que os levam a uma TV Globo, ainda que ambos ofereçam, em tese, algo parelho: conteúdo

audiovisual (CHA & CHAN-OLMSTED, 2012).

Portanto, considerando que uma tecnologia nova não necessariamente elimina a

antiga, pois, embora superior, pode não cumprir o mesmo propósito, e que, em vez de destruí-

la, tende simplesmente a eclipsá-la (STRATECHERY, 2014), almeja-se com este estudo

investigar o comportamento do consumidor de TV e de vídeos por internet, comparando as

razões que o impelem a utilizar uma plataforma ou outra, e a forma como ele as utiliza.

1.3. Objetivo do Estudo

O objetivo da presente dissertação é estudar os fatores que induzem o público ao uso

da TV e de serviços de vídeos por internet, comparando as características e particularidades

do consumo das mídias referenciadas. Pretende-se, também, compreender a disposição com

que elas atuam, a que nível competem e a que nível se complementam. O comportamento

midiático do consumidor, em relação às escolhas de plataformas de conteúdo audiovisual,

será explorado, sem que, para tanto, suas ações no dia-a-dia sejam predominantemente

consideradas racionais e conscientes, como a Teoria dos Usos e Gratificações defende

(LAZARSFELD, 1940, apud CHA, 2012; RUBIN, 1979, 1981, 1983, 1984; FERGUSON &

PERSE, 2000; BOUWMAN & WIJNGAERT, 2002; KAYE & JOHNSON, 2003; CHA,

2012; CHA E CHA-OLMSTED, 2012), ou baseadas no habito, como diversos pesquisadores

apontam (ROSENSTEIN & GRANT, 1997; WOOD, QUINN, & KASHY, 2002;

VERPLANKEN & WOOD, 2006; LAROSE, 2010).

1.4. Relevância

O investimento publicitário na TV crescerá a 4,1% ao ano, atingindo, em 2019, US$

207 bilhões, estima a PwC. No mesmo período, a receita da TV paga com licenças e

assinaturas crescerá anualmente a 3,5%, chegando ao montante de 243,8 bilhões. Juntas,

televisão aberta e paga, respondem por praticamente um quinto da indústria global de

entretenimento (GLOBAL ENTERTAINMENT AND MEDIA OUTLOOK, PWC, 2015;

SELECTUSA, 2016), índice que aponta por si só a importância delas para o mercado.

No entanto, apesar do crescimento, a expectativa é que a TV perca a liderança em

relação à alocação do bolo publicitário; tal qual a Figura 4 mostra, a internet progredirá a uma

velocidade bem maior e chegará a US$ 240 bilhões, superando-a (GLOBAL

ENTERTAINMENT AND MEDIA OUTLOOK, PWC, 2015).

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19

Figura 4 - Investimento publicitário global em milhões de dólares (Fonte: Global Entertainment and Media

Outlook, 2015)

Vídeo, por sinal, é a categoria que avançará mais rápido quando à receita publicitária

na internet: 19,5% ao ano, acima de buscas, 10%, e display, 7,8% (GLOBAL

ENTERTAINMENT AND MEDIA OUTLOOK, PWC, 2015). Em cima desses índices, o

Facebook afirma que em até dois anos os vídeos constituirão a maior parte de sua rede social

(THE VERGE, 2015a), e outra plataforma, o Snapchat, também na corrida, alcançou dez

bilhões de views diários – eram dois bilhões um ano antes (BLOOMBERG, 2016). O

YouTube deixou de enfatizar visualizações, mas revela que o tempo que os usuários passam

no portal tem aumentado a uma taxa anual de 50% (DIGIDAY, 2015; YOUTUBE, 2015).

É preciso, entretanto, conter a euforia. Ainda que os números sejam bons e as

perspectivas de crescimento melhores ainda, não será tão cedo que a internet baterá a

televisão como principal plataforma audiovisual para o mercado publicitário. Pela previsão da

PwC (2015), conforme a Figura 5 ilustra, em 2019, os vídeos on-line atrairão somente 5,7%

da quantia alocada. A diferença, portanto, pode estar sendo reduzida, mas, dada a supremacia

da televisão aberta, a disparidade segue significativa.

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Figura 5 – Alocação de verba publicitária na TV, aberta e paga, e vídeos on-line (Fonte: Global Entertainment

and Media Outlook, 2015)

Observação semelhante pode ser feita sobre a TV paga: ainda que a previsão seja de

que ela perca clientes em países desenvolvidos como os Estados Unidos, a queda não será tão

tão rápida como desconfiam. Embora o número de assinantes americanos do Netflix tenha

decolado, de 23,4 milhões em 2011 para 45 milhões em 2015 (NETFLIX QUARTERLY

EARNING, 2011; 2016), estima-se que no período a TV por assinatura no país não tenha

perdido mais de um milhão de sua base de clientes (BUSINESS INSIDER, CONVERGENCE

CONSULTING, 2015) – vide Figura 6; ademais, em 2020, 90 milhões de residências ainda

deverão contar com serviço de TV por assinatura, uma base que, embora abaixo do pico de

101 milhões em 2011, segue imponente (DELOITTE TMT PREDICTIONS, 2016).

2011 2012 2013 2014 2015

TV paga 97.6 97.6 97.5 97.2 96.9

Netflix 23.4 29.1 35.6 41.4 47

0102030405060708090

100

Em m

ilhõ

es

de

ass

inan

tes

TV Paga X Netflix (Estados Unidos)

Figura 6 – Número de assinantes de TV paga e Netflix nos EUA por ano (Fonte: Convergence Consulting, 2015;

Netflix, 2011-2016)

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Já no Brasil, a despeito de o Netflix não divulgar os números oficiais, estima-se que o

serviço possua entre quatro e seis milhões de assinantes (UOL, 2016a; NOTÍCIAS DA TV,

2016), tendo desembarcado no país há apenas cinco anos. No período, como dito

anteriormente, a TV por assinatura cresceu, foi de 12,7 milhões de clientes para 21,2 milhões

(ABTA, 2016), enquanto o investimento publicitário alocado à TV saiu de R$ 19 bilhões em

2011 para R$ 25,5 bilhões em 2014 (PROJETO INTER-MEIOS, 2012, 2015).

O que esses dados mostram é que, embora o crescimento explosivo dos vídeos por

internet seja inquestionável, a TV não tem decaído com a mesma velocidade. Assim, o

contexto que experimentamos no momento, no Brasil e no mundo, em que o consumo de

vídeos off-line subsiste com a ascensão do consumo dos vídeos on-line, em que as pessoas

conciliam um hábito antigo com um costume novo, proporciona indícios de que permanecerá

por anos, tornando imperativo estudá-lo. Desta forma, esta dissertação procura dar sua

contribuição ao investigar as razões por trás do comportamento midiático do consumidor,

particularmente no que diz respeito à escolha das plataformas de vídeo.

Nesse sentido, a pesquisa se insere em uma linha de estudo que tenta descrever e

desvendar o consumo de mídia, da sua seleção ao uso que se faz dela. Rubin (1979, 1981,

1984) tratou diversas vezes sobre a televisão, enquanto que Ferguson e Perse (2000), e

Metzger e Flanagin (2002) abordaram a internet. Recentemente, vídeos on-line passaram a ser

objeto de estudo e, por agregarem características da televisão (conteúdo audiovisual) e da

internet (interatividade), trouxeram novas e interessantes implicações (LI, 2006; CHIMENTI,

2010; BELLMAN ET AL., 2012; CHA E CHA-OLMSTED, 2012; CHA, 2013; LEE, Seung;

LEE, Sang & KIM, 2015). Há, portanto, muito que se investigar: de um lado, a ascensão dos

vídeos on-line, de outro a persistência TV, e, principalmente, a forma como eles compõem a

rotina midiática do consumidor.

1.5. Delimitação de Estudo

A magnitude da indústria audiovisual, cujo mercado movimenta bilhões de

consumidores e cujo orçamento se eleva aos bilhões de dólares, ao mesmo tempo em que

serve ao pesquisador como justificativa para seu estudo, exige dele um eixo, de modo a não se

afastar de seu tema principal, e um foco, a fim de que, no afã de responder todas as questões,

termine por não responder a nenhuma. Em outras palavras, escolher uma coisa é renunciar a

outra.

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As estratégias das empresas de mídia não serão esmiuçadas nesta pesquisa. Ela se

propõe a investigar o comportamento midiático dos consumidores que residem no Brasil, e,

portanto, se limita ao contexto brasileiro. O comportamento estudado limitar-se-á ao consumo

de conteúdo audiovisual, enfatizando a dicotomia entre televisão, aberta e paga, e vídeos por

internet, de modo a compreender e comparar o uso que os consumidores fazem das

plataformas.

1.6. Estrutura e Organização do Trabalho

O presente estudo está organizado em seis capítulos. Neste primeiro, Introdução, o

tema da dissertação foi explicitado ao leitor, assim como o problema da pesquisa, seus

objetivos, sua relevância e delimitação.

O segundo capítulo, Revisão de Literatura, é dividido em dois grandes blocos. No

primeiro, Contextualização, será traçado um breve histórico da TV no Brasil e dos vídeos por

internet no mundo. Evidenciar-se-á também o cenário atual, a situação de ambos os

segmentos (TV e vídeos por internet) no país, ressaltando oportunidades, desafios e principais

competidores. Ao segundo bloco, caberá a Fundamentação Teórica pertinente à dissertação.

Já o capítulo seguinte, o terceiro, indicará o Método de Pesquisa, demarcando também

as decisões que levaram o autor a adotá-lo.

Dedicado à Análise de Resultados, o quarto capítulo exibe ao leitor o material coletado

pelo pesquisador e principia sua discussão, confrontando-a com a Revisão de Literatura.

No quinto, temos a Discussão de Resultados, que encerra a digressão iniciada no

capítulo anterior e apresenta as respostas alcançadas. Enfim, o sexto e último capítulo,

Conclusão, as sintetiza, e expõe as limitações enfrentadas durante o estudo, as implicações à

academia e ao mercado, e as oportunidades para pesquisas futuras.

Após as referências bibliográficas, inclui-se o roteiro utilizado para as entrevistas e sua

relação com a Revisão de Literatura.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Contextualização

Nesta seção, convém firmar o momento em que a pesquisa foi desenvolvida,

delineando o contexto que a cerca. Para tanto, um breve histórico, tanto da TV, aberta e paga,

quando dos vídeos por internet, é traçado. Por uma questão de relevância, no primeiro caso

reconstituir-se-á a história no Brasil somente, enquanto que, no segundo, o panorama global

será desdobrado.

Em seguida, o cenário atual brasileiro é apresentado. Como dito, buscar-se-á descrever

a situação atual do mercado audiovisual (TV e vídeos por internet) no país, ressaltando

oportunidades, desafios e principais concorrentes. Os concorrentes (Facebook, Globo e

Globosat, Netflix e YouTube) foram escolhidos tendo como base dados do contexto nacional

– como números de audiência ou de assinantes – e as entrevistas com os consumidores.

2.1.1. Delimitação de Conceitos

De acordo Marchegiani (2004), o encontro da comunicação móvel com aplicações de

internet configura uma nova era, com crescente incorporação de recursos de comunicação e

informação em uma miríade de produtos. Essa nova era é marcada também pela digitalização

dos meios de comunicação e a convergência de mídias, que suscitam novos cenários de

possibilidades técnicas e comerciais (CHIMENTI, 2010). Hoje, por exemplo, um consumidor

pode assistir à TV Globo no notebook e acessar um vídeo do YouTube pela TV. Em vista

disso, para afastar indefinições, cabe aqui clarificar os termos utilizados ao longo do presente

trabalho.

Primeiro, o termo mídia. Ele abrange diversos significados. Jenkins (2006), que toma

como referência a definição da historiadora Lisa Gitelman, menciona dois: mídia como uma

tecnologia que permite a comunicação, ou mídia como um conjunto de protocolos associados

ou práticas sociais e culturais que subsistem através desta tecnologia. No primeiro caso,

portanto, mídia é um canal de distribuição, uma tecnologia, enquanto que, no segundo, são

sistemas culturais, meios de comunicação. Nesta dissertação, este último significado será

adotado, ou seja, mídia como meios de comunicação, os quais têm como função transmitir

conteúdo para informar e entreter o seu público. Como exemplos, podemos citar o jornal, a

revista, o rádio, a televisão e a internet.

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Segundo, os conceitos de velhas mídias, ou mídias tradicionais, e novas mídias, ou

mídias emergentes. A divisão utilizada por diversos autores (DIMMICK, CHEN & LI, 2004;

COULTER E SARKIS, 2005) será adotada. Desta forma, temos:

Mídias tradicionais: televisão aberta, televisão paga, jornal, revista, rádio e outdoor.

Mídias emergentes: internet, celular, games (como Xbox ou Playstation) e tocadores

digitais de áudio e vídeo (como o iPod).

Terceiro, insta distinguir entre televisão e vídeo por internet, ou vídeo on-line, tema

deste trabalho.

Televisão: Abrange canais abertos, como TV Globo, e fechados, como HBO. Inclui

também o simulcasting, ou seja, a transmissão simultânea da programação, via

internet, para dispositivos como computadores, tablets, smartphones e Smart TVs. Em

suma, tudo a que o consumidor assiste seguindo uma grade de programação sobre a

qual ele não tem controle.

Vídeo por internet: Abrange serviços e portais que disponibilizam conteúdo

audiovisual sob demanda por meio da internet. Ou seja, que permitem ao consumidor

navegar pelo catálogo, e selecionar e assistir a vídeos quando e onde desejar (YU ET

AL., 2006). Como exemplos, temos Netflix, YouTube, Facebook, Globo Play,

Globosat Play, Net Now e Popcorn Time.

Conforme esta distinção, e em harmonia com a definição adotada para a mídia neste

trabalho, um consumidor que assistir à novela das seis da TV Globo no notebook por meio do

simulcasting estará vendo TV, mas caso a assista horas depois, às 21h, estará acessando um

conteúdo sob demanda e, portanto, um vídeo por internet.

Por fim, é importante frisar que TV aberta abrange os canais que podem chegar

gratuitamente à residência do consumidor, e, consequentemente, os canais abertos são aqueles

pelos quais o consumidor não precisa pagar para acessar. Logo, os canais pagos são os canais

que fazem parte dos pacotes da TV por assinatura, aos quais o cliente só tem acesso ao pagar

por eles. Neste trabalho, TV paga e TV por assinatura funcionam como sinônimos. Sempre

que o autor ou um dos entrevistados se referir à TV, ele está aludindo à TV aberta e paga.

Qualquer referência à TV como aparelho eletrônico será devidamente sinalizada.

2.1.2. Breve História da TV no Brasil

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A história da televisão no Brasil tem início com a abertura de primeira emissora

nacional, a TV Tupi, em 1950. Vinculada aos Diários Associados, grupo de mídia de Assis

Chateaubriand, ela reinou nessa primeira década, tendo apenas a Record, inaugurada três anos

depois, como rival. A Record, por sua vez, fazendo jus à alcunha atribuída inicialmente à TV

– “um rádio com imagens” –, iniciou suas atividades com a exibição de um programa

musical, característica que a marcaria por algum tempo e que confluiria para os célebres

Festivais de Música Popular Brasileira, transmitidos por ela nos anos 60 (CHIMENTI, 2010).

A TV Globo, hoje líder incontestável entre as emissoras de TV aberta, entrou no ar em

1965, como parte de um grupo que contemplava, além da TV, a Rádio Globo e o Jornal O

Globo. Em 1967, foi a vez de a Rede Bandeirantes ser criada. O modelo brasileiro já se

diferenciava do modelo norte-americano em função de sua verticalização, ou seja, as

emissoras não só transmitiam conteúdo, como produziam grande parte dele. O surgimento do

videoteipe e a fundação da Embratel, que interliga todo o país com redes de micro-ondas,

consolida a tendência, permitindo a integração nacional da programação (LEAL, 2009;

CEROZZI, 2012).

Em 1969, a Rede Globo inicia a transmissão do Jornal Nacional, o primeiro telejornal

exibido simultaneamente para todo o país. Ela também transmite a Copa do Mundo de

Futebol de 1970, vencida pelo Brasil, a primeira a ser exibida ao vivo. Na década de 70,

começa a implantar o conhecido “Padrão Globo de Qualidade”: uma grade semanal fixa,

cujos maiores destaques têm início às 18h com uma novela, seguida de um jornal local, outra

novela, o Jornal Nacional e, por fim, mais uma novela – a depender do dia, um seriado, um

filme ou o futebol a sucede. Esta regularidade de horário e programação se mantém com

pequenas mudanças até hoje, assim como a liderança de audiência, conquistada no mesmo

período (CHIMENTI ET AL., 2012).

Em 1976, o empresário Silvio Santos, que já vinha apresentando um programa

dominical de forma independente, inaugura a TV Studios (TVS), a qual, mais tarde, daria

origem ao Sistema Brasileiro de Televisão, conhecido como SBT. Este substituiria em 1981 a

TV Tupi, que decretara falência um ano antes. Duvidava-se, à época, de que haveria espaço

para uma quarta emissora de televisão: a Rede Globo, sozinha, detinha 60% dos pontos de

audiência e 75% do investimento publicitário, deixando o restante para a Record (28% da

audiência e 7% de share publicitário) e Bandeirantes (12% e 18%, respectivamente). No

entanto, na mesma década o canal de Silvio Santos alcançaria a vice-liderança em

popularidade, investindo principalmente em programas voltados a classes sociais mais baixas

(IBOPE, 2015; CHIMENTI, 2010).

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Somente no final dos anos 80 é que a TV por assinatura chegaria ao país. O canal de

notícias CNN e o de músicas MTV foram os pioneiros, graças a um decreto do governo

federal que regulava o setor. Os grandes investimentos, porém, só se iniciam em 1991, por

meio de grupos de comunicação nacionais: a Abril com a TVA e a Globo com a Globosat. A

incipiência da TV por assinatura no Brasil contrasta com a sua relativa maturidade nos

Estados Unidos; lá, em 1990, ela detinha 51,7 milhões de assinantes (FCC, 1998), e canais

premium como HBO e ESPN amealhavam sucesso. Já seu modesto avanço (em 2002,

contabilizava-se somente 3,5 milhões de assinantes) dá sentido ao surgimento de um último

canal na TV aberta no país: a RedeTV, que foi ao ar em 1999 (ABTA, 2016).

A RedeTV, no entanto, teria um crescimento ínfimo nos anos posteriores, jamais

ultrapassando dois pontos no Ibope anual; já para a TV por assinatura, o período seria

bastante positivo. Em 2014, ela alcançaria o seu apogeu, com 21,2 milhões de assinantes

(Figura 7) no país, tendo entre seus principais players grupos internacionais de telecom, como

America Movil, dona da Net e da Claro, AT&T, detentora da Sky, e Telefonica, controladora

da Vivo. Tal convergência, entre empresas de telefonia e de TV paga, só se tornou possível

devido a alterações na legislação. Em 2011, companhias de telecomunicações foram

autorizadas a oferecer TV por assinatura também pela modalidade cabo e as restrições que

impediam que grupos de capital predominantemente estrangeiro oferecessem o serviço

também foram extintas (TECNOBLOG, 2011); por outro lado, cotas de conteúdo nacional –

três horas e meia por semana em horário nobre – foram estabelecidas para os canais pagos

(MACHADO, 2014).

Figura 7 - Evolução do número de assinantes de TV paga no Brasil (Fonte: ABTA, 2016)

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A TV aberta, em contrapartida, perderia audiência como nunca antes: se em 2004,

marcava 37,3 pontos de audiência, em 2014, cairia para 23 (IBOPE, 2005, 2015a) – em que

pese que os canais abertos sejam os mais vistos também na TV paga (UOL, 2016b). A queda,

claro, não pode ser atribuída somente à ascensão da TV por assinatura; no mesmo período,

por exemplo, a proporção da população com acesso a internet saiu da casa dos 20% para mais

de 50% (Figura 8), sendo o celular o dispositivo mais utilizado para conectar-se – 80,4% ante

76,6% do computador (IBGE PNAD, 2016).

Figura 8 - Evolução do acesso à internet na população brasileira (Fonte: PNAD, 2016)

Em meio à queda na audiência da TV aberta surge a TV digital aberta, lançada em

2007 e progressivamente adotada pelas emissoras em sua programação. O governo brasileiro

escolhe o padrão japonês de transmissão, mas com algumas modificações, com vista à adoção

do software nacional Ginga para o desenvolvimento de recursos de interatividade. Além da

interatividade, a TV digital permitia a transmissão direta a dispositivos móveis – sem

intermediários como operadoras de celular – e a veiculação de vários programas em um único

canal, a multiprogramação. De modo geral, porém, as emissoras usufruíram essencialmente

de um último recurso, a alta definição de som e imagem (HD, na sigla em inglês), e relegaram

os outros, aptos a alterar substancialmente a experiência do consumidor com a TV

(CHIMENTI ET AL., 2012).

2.1.3. Breve histórico dos vídeos por internet

A história dos vídeos on-line começa em 1991. Naquele ano, a equipe liderada por

Quentin Stafford-Fraser na Universidade de Cambridge desenvolveu um software que exibia

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tudo o que uma pequena câmera capturava. O singelo nome do programa, XCoffee, alude à

sua simples função: quem o acessasse do computador, poderia acompanhar ao vivo o estado

da cafeteira do prédio, evitando assim se locomover para, tristemente, se deparar com um

recipiente vazio. Em 1993, o software foi modificado, podendo ser executado de qualquer

navegador, e o mundo todo se tornou apto a acompanhar o estado da cafeteira da

Universidade de Cambridge (THE GUARDIAN, 2009).

Também em 1993, uma transmissão bem mais pretensiosa que a do XCoffee, e em

conformidade com o que espera de uma atração de TV é realizada: um show da banda Rolling

Stones nos Estados Unidos. A exibição, de baixa qualidade de som e imagem, foi ao vivo e

gratuita a quem, claro, tivesse condições de assisti-la. Ocorre que um computador compatível

com a tecnologia custava em torno de US$ 20 mil e a internet, discada, ainda não se

popularizara. A audiência, ao final, foi de somente 200 usuários, mas, como atestado de que a

web não conhece barreiras geográficas, entre eles havia internautas da Nova Zelândia e da

Islândia. Estes, curiosamente, puderam ver também a performance da banda Severe Tire

Damage; formada por funcionários do Xerox PARC, centro de pesquisa responsável pela

transmissão, eles se aproveitaram da situação, liberaram a exibição pouco antes do

programado e serviram, extraoficialmente, como abertura para o show principal. Segundo o

porta-voz do Rolling Stones, isto serviu para relembrar o caráter democrático da internet –

mal sabia ele que, meses antes, a mesma Severe Tire Damage já havia se mostrado em outra

transmissão (NEW YORK TIMES, 1994).

Em 1995, é lançada a série The Spot, primeira produção do que se convencionou

chamar de Web TV, ou seja, uma atração episódica criada primeiramente para a distribuição

on-line (MAJEK, 2002) – hoje a distinção entre Web TV e Internet TV já não é tão clara. The

Spot consistia de um site que os jovens personagens da série tratavam como se fosse um

diário; postavam depoimentos, fotos e vídeos sobre o dia-a-dia, além de interagirem com os

fãs. A série, que, se financiava por meio da venda de anúncios e investimento de companhias

de venture capital, durou três anos e obteve relativo sucesso (THE VERGE, 2015b). Anos

depois, em 2004, em parceria com a operadora Sprint, um remake, produzido para a exibição

em celulares, seria lançado, mas sem o mesmo impacto (PR NEWSWIRE, 2004).

No Brasil, os principais sites nacionais passariam a exibir vídeos nos anos posteriores.

A TV UOL, por exemplo, com 24 horas de programação (UOL, 2012), chegaria em 1997,

enquanto que a TV Terra, com proposta semelhante, apareceria em 2000 (TERRA, 2005)

mesmo ano da estreia da Globo.com (GLOBO.COM, 2016), site que, desde então, serve

como principal repositório dos vídeos primeiramente exibidos pela TV. Outras emissoras,

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porém, demorariam a ter a internet como importante vetor de investimento; o R7, da Record,

por exemplo, potencialmente um rival para a Globo.com, só seria lançado ao fim de 2009

(R7, 2009).

O DVD, uma nova mídia para a exibição de vídeos, começa a ser comercializado em

1995. A princípio, sua invenção pode não parecer vinculada ao avanço dos vídeos por

internet, mas se o CD permitiu a ascensão da música digital, o DVD fez o mesmo para os

filmes, e ambos, indiretamente, fomentaram a pirataria como nunca fora visto antes. A

digitalização do conteúdo, afinal, facilitou também a cópia fidedigna, retirando todos os

empecilhos técnicos e materiais que, antes, a limitavam. Como consequência, surge o

programa Napster em 1999, logo ameaçado por processos legais. Seu fechamento em 2011,

porém, de pouco serviu; os usuários, já acostumados a baixar arquivos de graça, simplesmente

migraram para outros programas de compartilhamento ponto-a-ponto. A indústria da música

sofreu um enorme baque (UNIVERSITY OF NORTH CAROLINA, 2011): se em 1999

atingira seu ápice, com arrecadação de US$ 26,6 bilhões (IFPI, MUSIC BUSINESS

WORLDWIDE, 2015), encerrou 2015 com US$ 15 bilhões. A Figura 9 mostra a trajetória da

receita a partir de 2005, por formato.

Figura 9 – Evolução da receita com a comercialização de música em bilhões de dólares (Fonte: IFPI, 2016)

Por diversas razões – velocidade da conexão à internet, tamanho dos arquivos,

conveniência ou mesmo características inerentes a cada mercado – o compartilhamento de

arquivos não atingiu a indústria audiovisual com o mesmo ímpeto com que atingira a musical.

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Se as grandes gravadoras foram pegas de surpresa por um fenômeno como o do Napster, e

enfrentaram grande queda de receita, formas legais para consumir filmes e séries apareceram

a tempo de evitar que as formais ilegais se popularizassem tanto a ponto de provocar

infortúnio semelhante – vide Figura 10.

Figura 10 – Receita com venda e aluguel de vídeo, incluindo assinaturas, nos EUA em bilhões de dólares (Fonte:

Digital Entertainment Group, 2016, retirado de Statista)

Um exemplo de forma legal de consumir conteúdo audiovisual – e que, segundo

estudos, tem contribuído para a redução do compartilhamento ilegal de arquivos

(TELEGRAPH, 2016; BGR, 2016; STREAMING MEDIA, 2016) é o Netflix. Fundado em

1997, a empresa buscava se aproveitar, por um lado, da emergência de um novo formato de

mídia, o DVD, por outro, de uma nova forma de fechar transações, o e-commerce. De início,

enfrentou dificuldades, mas com a criação de um plano mensal de assinaturas, que permitia ao

cliente alugar quantos DVDs quisesse e recebê-los pelo correio, as perspectivas melhoraram.

Ademais, seu site, utilizado pelos usuários para encomendar os filmes, servia também para

recomendações personalizadas, incentivando, assim, a demanda por títulos do catálogo, e

reduzindo a dependência da companhia por lançamentos e blockbusters (SHIH, KAUFMAN

& SPINOLA, 2009).

Demoraria dez anos para o Netflix inaugurar seu serviço de vídeo sob demanda,

embora, ainda em 2001, a empresa já tivesse revelado sua intenção de oferecê-lo (SHIH,

KAUFMAN & SPINOLA, 2009). A demora é justificável, pois, no período que separa a

intenção do lançamento, a tecnologia necessária ao streaming de conteúdo avançou e se

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popularizou. Se, antes, as condições para receber, processar e exibir um vídeo eram precárias,

além de limitadas a poucos, a internet rápida e acessível, e computadores melhores e mais

baratos solucionaram o problema (DACAST, 2014). Nos Estados Unidos, por exemplo, de

2000 a 2009, a velocidade média da conexão à internet foi de 200 Kbps (quilobit por

segundo) para 6,3 Mbps (megabit por segundo), segundo a comissão de comunicações do

país, uma diferença de 30 vezes (Figura 11).

Figura 11 - Velocidade média de conexão à internet nos EUA (Fonte: FCC, 2010)

Com o desenvolvimento da internet – inclusive com o lançamento comercial da

conexão móvel 3G (BBC, 2001) –, os vídeos on-line ganham espaço. O consumo, porém, era

disperso e complexo. Disperso a julgar pelas maneiras como os vídeos viralizavam: uns

apareciam antes em programas de compartilhamento, outros se espalhavam por correntes de

e-mail ou fóruns on-line; boa parte terminava em sites de humor (LIFEWIRE, 2016).

Complexo pela ausência de um padrão, com Windows Media, QuikTime e RealVideo

protagonizando uma guerra de formatos, cada um exigindo um plug-in diferente, sem

oferecer, no entanto, uma experiência satisfatória (ZDNET, 2005).

Em 2005, surge o YouTube e tudo muda. O portal provoca uma revolução de tal forma

que, já em 2006, é adquirido pelo Google por US$ 1,6 bilhão (CNN, 2006). Ele nasce como

um simples, porém ambicioso, site de compartilhamento de vídeos e evolui para se tornar uma

onipresente plataforma, financiada por anúncios e utilizada por amadores e profissionais,

mídia e marcas, desconhecidos e celebridades. De início, o YouTube já soluciona diversos

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problemas: consolida o Flash como o formato padrão internet – até sua substituição pelo

HTML5 (VENTUREBEAT, 2015) –, assume o dispendioso custo para a hospedagem dos

arquivos audiovisuais, e facilita a descoberta de novos conteúdos com seu algoritmo de

recomendação (QUORA, 2010). A fim de evitar o upload de material protegido por direitos

autorais e, claro, possíveis processos judiciais decorrentes, o site impõe um limite de 15

minutos para cada vídeo. O limite só é abolido em 2010, quando o Google anuncia que sua

ferramenta de reconhecimento de propriedade intelectual seria suficiente para suprimir envios

ilegais (YOUTUBE OFFICIAL BLOG, 2010).

Um ano depois, em 2007, o Netflix estreia seu serviço de vídeo sob demanda (NEW

YORK TIMES, 2007). A princípio como um complemento ao produto principal, não

demorou muito para que a nova plataforma o suplantasse, de tal forma que em 2010 o CEO

Reed Hasting já anunciava que, sob qualquer perspectiva, o Netflix agora era uma empresa de

streaming que também entregava DVDs pelo correio (THE HOLLYWOOD REPORTER,

2010). Para tanto, alguns acordos de licenciamento foram decisivos, entre os quais se destaca

o primeiro grande negócio, em 2008, com a Starz Entertainment, que lhe permitiu

disponibilizar pela primeira vez blockbusters como a animação da Pixar Ratatouille (LOS

ANGELES TIMES, 2008). O Netflix, desta forma, ao oferecer grandes produções aos

usuários, marcava seu terreno e se diferenciava definitivamente do YouTube, cujos vídeos

mais populares, embora cada vez mais sofisticados, não compartilhavam da mesma pretensão

que um Homem-Aranha 3, por exemplo.

No mesmo ano, em 2007, é lançada a Apple TV, um set-top box que, de início, tem o

software iTunes como cerne. Ela representa um importante passo para a integração do

computador à televisão, tornando fácil a exibição de conteúdo do primeiro no segundo

(Apple, 2007). Impulsiona também o desenvolvimento de outros aparelhos do tipo, como o

Roku, revelado em 2008, à época popularmente conhecido como um Netflix player, por trazer

o aplicativo da empresa já instalado (HOT HARDWARE, 2008). O número de dispositivos

aptos a reproduzir instantaneamente vídeos on-line se multiplica: de smartphones a tablets, de

videogames a DVD players, todos eles contribuem para transformar a televisão da sala em

mais um monitor com acesso à internet (ADVERTISING AGE, 2009). No mesmo período, a

própria televisão passa por mudanças, com o advento das chamadas Smart TVs, as TVs

conectadas (CNET, 2011).

Em 2008, após dois anos de uma árdua disputa de formatos, o Blu-ray é declarado o

sucessor do DVD. Tendo como principal vantagem a maior capacidade de armazenamento,

possibilitava a exibição de vídeos em alta-definição – até 2160 linhas, ante apenas 480 linhas

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de seu antecessor. Nunca, no entanto, ele desfrutaria de semelhante popularidade, e os

consumidores, em vez de migrar para uma nova mídia física, se voltariam aos serviços de

streaming – a trajetória de vendas no Reino Unido (Figura 12) serve como exemplo. Quase

uma década depois, somente 44% das casas nos Estados Unidos possuiriam um player

compatível com o formato (FORTUNE, 2016), bem abaixo do DVD, que atingiu 91% (HM

MEDIA, 2012). Steve Jobs, inclusive, chegou a chamar o Blu-ray de “bag of hurt”,

ressaltando que teria o mesmo futuro do herdeiro do CD, qual seja, a obsolescência frente à

internet (THE GUARDIAN, 2010).

Figura 12 – Receita em milhões de libras com vídeos em mídia física no Reino Unido (IHS, 2016, retirado de

Statista)

Com a decadência das mídias físicas, representada pelo fracasso do Blu-ray – vide, por

exemplo, a Figura 13 –, e a inquestionável popularidade do streaming, estúdios e emissoras

elevaram sua aposta na internet. Nesse sentido, dois movimentos se destacam: primeiro, o

lançamento público do Hulu, em 2008 (TECH CRUNCH, 2007) um serviço de streaming

similar ao Netflix, mas inicialmente financiado por meio de publicidade e com foco em séries

de televisivas. O Hulu era resultado de uma joint venture entre incumbentes como Walt

Disney, dona da ABC, Fox e Comcast, detentora da NBCUniversal – mais tarde, a AT&T,

controladora da Time Warner, se uniria a elas. Segundo, a ascensão a partir de 2009 de um

conceito conhecido como TV Everywhere, que permite ao usuário assistir à TV através da

internet. O recurso, de início, era restrito a clientes de TV paga, funcionava como um

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complemento, de modo que pudessem assistir ao conteúdo de canais como HBO ou ESPN em

dispositivos como tablets e em locais que não as suas casas (ARS TECHNICA, 2009).

Figura 13 – Vendas de discos Blu-ray e DVDs em milhares na Bélgica (Fonte: GfK, 2015; retirado de Statista)

A partir de 2011, empresas que atuam no Brasil, como Net e Vivo, passam a oferecer

serviços de vídeo sob demanda. O primeiro a chegar foi o Net Now. Embora o serviço seja

controlado pelo set-top box da empresa, requer uma conexão rápida à internet para funcionar.

Ele disponibiliza aos clientes conteúdos gratuitos ou não a depender dos canais assinados e do

filme pretendido – um lançamento exige pagamento adicional, mas quem possui HBO na

grade não precisa pagar para ver Silicon Valley, por exemplo (ZTOP, 2011; NET, 2016).

Lançado poucos anos depois, o Vivo Play funciona da mesma maneira que o Net Now e

possui recursos semelhantes (VIVO, 2016).

2.1.4. Cenário atual do consumo de conteúdo audiovisual no Brasil

De acordo com Court, Gordon e Perrey (2005), a proliferação de canais de

comunicação, o surgimento de usuários multitarefa e o advento de tecnologias digitais, que

dão ao consumidor mais controle sobre o conteúdo que consome, estão suscitando a

fragmentação de audiência e, consequentemente, tornando mais difícil a tarefa alcançá-la e

impactá-la. No mercado audiovisual, isso é evidente: se antes a TV era a única plataforma

capaz de exibir vídeos em casa, hoje ela tem a companhia de smartphones, tablets e

computadores, e as emissoras competem não somente entre elas pelo dinheiro da publicidade

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e pela atenção do consumidor, mas também com empresas que nasceram e cresceram na

internet.

Os fenômenos elencados por Court, Gordon e Perrey (2005) e as particularidades do

mercado brasileiro levaram Chimenti (2010) a estudar como as novas mídias impactavam a

utilização da TV aberta no país. Afinal, apesar das transformações observadas e prospectadas,

o Brasil seguia – nas palavras Scott Donaton, editor da revista americana Advertising Age –

como um paraíso para os saudosistas, onde ainda era possível alcançar 40% da população

com um comercial veiculado durante o horário nobre da TV Globo.

Em pouco mais de cinco anos, desde a pesquisa de Chimenti (2010), muita coisa

mudou. Hoje, o Brasil tem 102,1 milhões de usuários de internet – eram 67,9 milhões em

2009 (IBGE PNAD, 2009). A internet se tornou a mídia mais utilizada entre os internautas

(SECOM, 2015) e o celular, o dispositivo mais usado para conectar-se, à frente do

computador (IBGE PNAD, 2016). Nove a cada 10 internautas acessam a internet enquanto

assistem televisão, especialmente para checar redes sociais (IBOPE, 2015), e o Facebook,

com mais de 100 milhões de usuários, (OLHAR DIGITAL, 2016) é a mais popular do país –

o Orkut, que então ocupava a liderança, foi extinto (G1, 2014). Dispositivos que levam o

conteúdo audiovisual da internet para o aparelho de TV, como Roku e Apple TV, antes uma

novidade (ADVERTISING AGE, 2009), se popularizaram: no Brasil, Smart TVs já

respondem por metade das vendas totais de TVs (GFK, FOLHA, 2016a), e o Chromecast, do

Google, pode ser encontrado por menos de R$ 200 (BUSCAPÉ, 2017).

Concomitantemente ao avanço da internet, pôde-se observar o desenvolvimento do

mercado de vídeos on-line. De acordo com a Ericsson, do total de tempo que o internauta

brasileiro passa assistindo a conteúdo audiovisual – incluindo aqui a televisão –, 36% é

destinado a vídeos sob demanda transmitidos pela internet (ERICSSON, TELETIME, 2015).

O Brasil é o segundo país no mundo em tempo de visualização de vídeos on-line, segundo o

Google, e 77% dos internautas os consomem (FOLHA, 2016b; KANTAR TNS, STATISTA,

2014). O Netflix, por exemplo, que chegou ao país em 2011, já teria entre quatro e seis

milhões de assinantes país (UOL, 2016a; NOTÍCIAS DA TV, 2016), e o YouTube, segundo o

diretor geral do Google Brasil, atinge mais pessoas de 18 a 49 anos do que a TV por

assinatura (GO AD MEDIA, 2016).

Em 2010, segundo Chimenti (2010) a TV por assinatura tinha ainda grande potencial

de crescimento. De fato, em quatro anos o número de assinantes dobrou. Para Ben Thompson,

do site Stratechery, a TV por assinatura é o socialismo que funciona. “Assinantes pagam

igualmente por tudo, e assistem somente aquilo que querem, para o benefício de todos”, disse

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em 2013. Através dele, todos ganham dinheiro: empresas como Comcast ou Net, para

conseguirem clientes, disponibilizam sua infraestrutura aos canais, que, por sua vez, são

remunerados pelo conteúdo que oferecem, seja pela via indireta da publicidade, seja através

das custosas “affiliate fees” – valor repassado pelas empresas para terem os canais na grade.

Os consumidores, em troca, recebem um bundle (pacote integrado de produtos), cujo preço

seria consideravelmente mais alto caso seus elementos fossem adquiridos individualmente

(STRATECHERY, 2013).

Desde 2014, porém, quando atingiu seu ápice, a base da TV por assinatura no Brasil

diminuiu em quase um milhão (ABTA, 2017). O propósito de crescimento deu lugar à

preocupação com os cancelamentos e ao esforço das empresas para contê-los. Para tanto, elas

começaram a oferecer seus vídeos sob demanda (TELETIME, 2016). Canais pagos iniciaram

a transmissão de seu conteúdo também pela internet e a investir mais no segmento. "Nossa

trincheira é o TV Everywhere, é o que blindou o ecossistema da TV paga”, afirmou Manuel

Belmar, diretor de gestão da Globosat, detentora de mais de 30 canais pagos. Só em 2014, por

exemplo, além do Globosat Play (NOTÍCIAS DA TV, 2014), foram lançados Fox Play

(TELETIME, 2014) e o WatchESPN (MEIO & MENSAGEM, 2014).

À semelhança da TV por assinatura, emissoras da TV aberta, como SBT (PORTAL

IMPRENSA, 2015) e Record (R7, 2015) também começaram a disponibilizar seu conteúdo na

web. Destaque para a TV Globo, líder inconteste de audiência, que reformulou sua

estratégia para a internet com o lançamento, em 2015, do Globo Play, sua plataforma de

vídeos on-line. No presente, o número de usuários que ela alcança em um mês é menor do que

a audiência da TV em um dia (THE ECONOMIST, 2014; IDG NOW, 2016a). Mesmo assim,

para Carlos Henrique Schroder, diretor geral da TV Globo, a plataforma prepara a emissora

para o futuro da distribuição de conteúdo (VARIETY, 2016a).

2.1.4.1. Breve descrição dos principais concorrentes no mercado brasileiro

de TV e de vídeos por internet

Os concorrentes, Facebook, Globo e Globosat, Netflix, e YouTube, foram

selecionados tendo como base dados como audiência e número de assinantes. As entrevistas

serviram para ratificar a escolha, considerando que as referidas empresas, ou seus produtos,

foram as mais mencionadas pelos consumidores.

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Facebook

Maior rede social do Brasil, só perde para

o YouTube em número de vídeos

consumidos por internet no país (BRASIL

DIGITAL DO FUTURO COMSCORE,

2016).

Globo e Globosat

A Globo, líder na TV aberta desde a

década de 70 (IBOPE, 2015), teve em

2016 mais audiência que as outras quatro

emissoras somadas (UOL, 2016d). A

Globosat, braço da organização para a TV

por assinatura, possui mais de 30 canais

pagos e cinco entre os 10 mais vistos em

2016 (FOLHA, 2016c).

Netflix

Netflix é o serviço pago de streaming com

mais assinantes no Brasil (IDG NOW,

2016b). Estima-se que tenha entre quatro

e seis milhões de assinantes e que fature

mais que o SBT no país (UOL, 2016a;

NOTÍCIAS DA TV, 2016).

YouTube

Maior plataforma de vídeos on-line do

Brasil. Responde por 37,4% dos vídeos

assistidos (BRASIL DIGITAL DO

FUTURO COMSCORE, 2016).

Quadro 1 – Principais concorrentes no mercado brasileiro de TV e de vídeos por internet

2.1.4.1.1. Facebook

Quando da abertura de seu capital, em 2012, uma das maiores preocupações que

circundavam o Facebook era quanto à sua capacidade de gerar receita com dispositivos

móveis, afinal, em países como os Estados Unidos os usuários já acessavam a rede social

prioritariamente através deles (FIRST POST, 2012). Hoje, porém, essa preocupação não

existe mais em vista que mais de 84% da arrecadação da empresa provêm da venda de

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anúncios direcionados para tablets e smartphones (CNET, 2016) – a Figura 14 ilustra tal

trajetória. A estratégia do Facebook neste caso seguiu a ordem já preconizada por seu CEO,

Mark Zuckerberg: construir, crescer, monetizar (THE NEXT WEB, 2013).

Figura 14 - Arrecadação do Facebook por segmento em milhões de dólares (Fonte: Facebook; adaptado de

Business Insider, 2015a)

A história parece agora se repetir com o audiovisual. Usuários assistem a 100 milhões

de horas de conteúdo por dia no Facebook e, se em 2014 a maioria advinha de outros sites,

um ano depois 70% já eram hospedados no próprio (RECODE, 2017; FORTUNE, 2015).

Zuckerberg é direto ao afirmar que no centro de todos os aplicativos e serviços da empresa

estará o vídeo, e, segundo um de seus executivos, ele constituirá a maior parte da rede social

em até dois anos (NEW YORK TIMES, 2016a; THE VERGE, 2015a). Em suma, acredita-se

que, se as fotos tomaram o lugar do texto como o tipo de conteúdo mais compartilhado no

Facebook, em breve elas também perderão seu posto. O vídeo é a nova selfie

(ADVERTISING AGE, 2015; HINDUSTAN TIMES, 2015).

Portanto, após construir e crescer, é chegada a hora de monetizar. Timidamente, o

Facebook já o vem fazendo desde 2015, e especula-se que 2017 é o ano em que lançará um

modelo abrangente. Em termos de escala, a rede social, com seus quase dois bilhões de

usuários, é a única capaz de rivalizar com o YouTube, e, não por coincidência, a divisão de

receita proposta é idêntica: ela mantém para si 45% e cede os 55% restantes aos criadores do

conteúdo (FACEBOOK NEWS ROOM, 2016; RECODE, 2017). O Facebook tem como

principais ativos o tempo que os internautas gastam em suas plataformas – 50 minutos diários,

excluindo o WhatsApp –, os dados que tem deles e o controle que exerce sobre elas; com uma

Computadores Dispositivos móveis Pagamentos

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simples mudança de algoritmo, consegue elevar a visibilidade de vídeos nativos, e direcioná-

los, e reduzir os de terceiros. Os primeiros, por exemplo, são reproduzidos automaticamente

no feed, enquanto os últimos, obviamente, não (NEW YORK TIMES, 2016b;

ADVERTISING AGE, 2014; FORTUNE, 2015).

“O Facebook se tornou sinônimo de mobilidade e eu penso que a próxima fronteira é

se tornar sinônimo de vídeo móvel”, disse Carolyn Everson, vice-presidente de marketing da

companhia (FORTUNE, 2015, tradução do autor). A afirmação remete à afirmação do diretor

do YouTube – ambos falam em atrair o dinheiro hoje alocado à televisão –, e as semelhanças

não cessam neste ponto; a rede social também está obstinada com relação à realidade virtual –

adquiriu a Oculus VR em 2014 – e às transmissões ao vivo (THE GUARDIAN, 2014;

RECODE, 2016). Ao contrário do concorrente, entretanto, não está em busca de produções

mais ambiciosas, mas voltado a vídeos de curta duração (BLOOMBERG, 2016).

No Brasil, o Facebook possui mais de 100 milhões de usuários, ou seja, praticamente

todos os internautas do país têm uma conta na rede social (OLHAR DIGITAL, 2016). De

acordo com a comScore (BRASIL DIGITAL DO FUTURO, 2016) do tempo conectado, um

terço é gasto em alguma plataforma da empresa – o que inclui Messenger, Instagram e

WhatsApp. Em março de 2016, 13,4% dos vídeos on-line consumidos no país estavam no

Facebook, atrás somente do YouTube (Figura 15).

Figura 15 - Participação de vídeos de conteúdo no Brasil por propriedade (Fonte: comScore, 2016)

2.1.4.1.2. Globo e Globosat

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A hegemonia da TV Globo no Brasil é um caso bastante particular. Às vésperas da

Copa de Mundo no país, a revista The Economist atentou para o fato de que a audiência que

ela atrairia com o evento não lhe seria inusitada. Pelo contrário, em um dia comum, 91

milhões de pessoas costumavam sintonizá-la, algo que nos Estados Unidos só ocorre uma vez

por ano com a emissora que exibe a final do campeonato de futebol americano, o Superbowl

(THE ECONOMIST, 2014). Embora em uma década a audiência da Globo tenha diminuído

em 24% (IBOPE, 2005, 2015a), desde a referida reportagem a queda foi interrompida: média

de 13,4 pontos em 2016, frente 13,5 em 2014 (VEJA, 2015; UOL, 2016d).

O brasileiro passa muito tempo diante da televisão – quase cinco horas por dia –, mas,

entre aqueles que têm acesso, a internet se tornou a mídia mais utilizada (SECOM, 2015). A

mudança é recente, assim como o lançamento do Globo Play, a plataforma de vídeos on-line

da Globo, acessível por computadores, smartphones, tablets e Smart TVs. É sua iniciativa

mais ambiciosa no segmento, por meio da qual diversas medidas estão sendo perpetradas pela

primeira vez. A emissora, por exemplo, começou a transmitir sua programação ao vivo

também pela internet (simulcasting) e a exibir no serviço conteúdo inédito, como o primeiro

capítulo da novela, ou mesmo exclusivo, como músicas do especial de fim de ano de Roberto

Carlos. À semelhança do Netflix, adicionou de uma vez 11 episódios da série Supermax,

deixando de fora apenas o último, para que fosse ao ar ao mesmo tempo que na televisão (O

GLOBO, 2016; ZERO HORA, 2016). "Isso não é mais uma experimentação. É a afirmação

da nossa filosofia de que determinados conteúdos virão primeiro no Globo Play, antes mesmo

da sua estreia na grade. Alguns conteúdos não estarão na TV. Em muitos casos, serão

conteúdos ligados à programação, mas que terão uma continuação no digital”, disse o diretor

de mídias digitais da companhia, Erick Bretas (G1, 2016a).

Após um ano de vida, o Globo Play contabilizava 67 milhões de usuários únicos e um

alcance médio de 15 milhões ao mês. O tempo de consumo de vídeos on-line da emissora

aumentou em 108%, sem que a audiência do canal de TV diminuísse, segundo Bretas. O

número de assinantes, a quem é dado acesso a programas na íntegra e a conteúdo produzido

de 2010 para cá, não foi divulgado. Tanto eles quanto os internautas que não pagam pelo

serviço são expostos a anúncios antes da reprodução do vídeo, que, em geral podem ser

pulados, como acontece no YouTube. Ou seja, ainda que a Globo enfatize a ausência de

canibalização entre o canal de TV e a plataforma de vídeos por internet, parece temê-la ao

cobrar uma mensalidade (R$ 14,20) por uma experiência completa, ou, ao menos, acredita

ganhar mais cobrando diretamente dos usuários do que indiretamente, com mais audiência e

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maior aporte publicitário para a plataforma (IDG NOW, 2016a; O GLOBO, 2016; G1,

2016a).

Algo parecido ocorre com relação à TV por assinatura. O domínio da Globo, embora

menor que na TV aberta, é irrefutável. Dos 10 canais pagos mais vistos em 2016, cinco

(SporTV, Megapix, Multishow, Viva e GloboNews) pertencem à Globosat, braço do grupo

para o segmento (FOLHA, 2016c). De acordo com o UOL (2016e), seu faturamento só com a

TV por assinatura já é três vezes o da Record, segunda maior emissora do Brasil. Desde 2011,

os assinantes podem assistir aos programas da Globosat através da internet (TV Everywhere),

primeiro com o Muu, que os organizava em gênero, e, a partir de 2014, com o Globosat Play,

que os agrupa segundo os canais que os transmitem. Também é possível vê-los por serviços

sob demanda de operadoras, como o Net Now (NOTÍCIAS DA TV, 2014; ZTOP, 2011).

Apesar dos números positivos, a Globosat pretende pela primeira vez disponibilizar

sua programação para consumidores que não possuem TV por assinatura. Em um modelo

semelhante ao do Netflix, os usuários, mediante uma mensalidade, poderão assistir pela

internet a quantas horas quiserem do canal que adquirirem. A princípio, dois serão oferecidos:

Telecine, para filmes, e Premiere, para futebol; ambos produtos premium, comumente

vendidos fora do bundle da TV paga. “A gente não vai atropelar nossa relação com as

operadoras, é uma aliança para o progresso", afirmou Alberto Pecegueiro, diretor-geral da

empresa. Ele diz que, por um lado, não enxerga queda no consumo de vídeo linear – “estamos

vivendo um 2016 de audiência recorde” –, por outro, que a os vídeos por internet devem

crescer – “é tendência irreversível” (FOLHA, 2016d).

Quase a totalidade do que a Globo exibe é a própria emissora que produz. A Globosat,

embora em menor proporção – tem acordo com mais de 100 produtoras independentes –,

também é responsável pela criação de mais da metade do que transmite (O GLOBO, 2011). A

empresa acredita que seu conteúdo deve ser explorado e distribuído exclusivamente por ela

em território nacional. “É uma situação única no mundo. É a única grande rede de televisão

que não negocia com a gente", disse Ted Sarandos, um dos executivos mais importantes do

Netflix (UOL, 2013) A concorrência por material de qualidade, entretanto, aumentou.

Recentemente, a Globo veiculou na TV aberta, em formato de minissérie, o filme Aldo – Mais

Forte Que o Mundo. Embora quisesse exibi-lo também em sua plataforma on-line, o Globo

Play, não o fará. O Netflix ganhou essa disputa (ESTADÃO, 2017).

2.1.4.1.3. Netflix

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Hastings sempre foi cristalino quanto à diretriz do Netflix: “Quanto mais assinantes

reunimos, mais pagamos aos produtores de conteúdo. E se podemos pagar mais, podemos ter

mais e melhores atrações” (VEJA, 2012). O objetivo tem sido perseguido à risca. Em dez

anos, o número de assinantes foi de 7,4 milhões para mais de 86 milhões (NETFLIX, 2007;

CNN MONEY, 2016). Logo, o capital reservado para a incorporação de novos conteúdos

também aumentou substancialmente e deve alcançar US$ 6 bilhões em 2017 – abaixo

somente da ESPN entre as redes de TV (CNBC, 2016).

Entretanto, por trás dessa remota lógica, há dois fatores que a levam adiante. Primeiro,

a expansão internacional. Iniciada em 2010, com o desembarque no Canadá, atingiu o ápice

em 2016, com a inclusão de mais 130 países, totalizando 190. Materializava-se, assim, a ideia

de uma TV global, presente em quase todos os grandes centros – a China como exceção óbvia

(NETFLIX MEDIA CENTER, 2016). Diante de uma já esperada redução no crescimento

doméstico, o Netflix voltava-se definitivamente ao mercado internacional, cuja participação

sobre o total de assinantes tem progressivamente avançado (Figura 16).

Figura 16 - Assinantes do Netflix no mercado doméstico e internacional (Fonte: Netflix, 2016; adaptado de

Business Insider, 2016a)

Segundo, a expansão da programação própria ou original, isso é, de atrações

produzidas pela própria empresa ou exibidas em primeira mão por ela – vide Figura 17. A

expectativa é que, em 2017, pelo menos mil horas do conteúdo adicionado se insira em uma

destas categorias e que, em um futuro próximo, elas representem 50% do catálogo disponível

(VARIETY, 2016b). A primeira atração exclusiva do Netflix, House of Cards, estrou em

2013, e, desde então, o serviço multiplicou e diversificou suas ofertas, tanto em gênero, de

Estados Unidos Internacional

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séries adultas ou infantis a filmes e documentários, quanto em país de origem, como Narcos,

uma coprodução brasileira e colombiana, e Marseille, da França. De acordo com um agente

de televisão, “eles são como um gigante shopping center, e estão buscando ocupar os espaços

com alguma coisa para todos os gostos” (HOLLYWOOD REPORTER, 2016a)

A exclusividade das atrações serviu a diversos propósitos. Afastou do Netflix a

imagem de que ele seria tão somente uma plataforma que reprisaria programas já exibidos na

TV; nivelou as negociações, cada vez mais tensas, pelos direitos de transmissão desses

programas, visto que os estúdios e redes de televisão enfim se conscientizaram do valor do

streaming e da ameaça que o Netflix representava – antes um parceiro, agora também um

competidor; e ajudou a diferenciá-lo de seus concorrentes, de emissoras convencionais, como

NBC ou FX, a serviços correlatos, como o Hulu (NEW YORKER, 2014; NEW YORK

TIMES, 2016c). A produção de conteúdo, claro, envolve riscos, embora o Netflix diga

conseguir mitigá-lo através da análise dos dados de consumo que coleta de seus assinantes. O

inquestionável sucesso de séries como House of Cards e Orange is The New Black, ambos

com a quinta temporada encomendada – apesar de a empresa não divulgar números de

audiência – reforçam a tese, mas o fracasso da cara Marco Polo e o encerramento precoce de

Bloodline a enfraquecem (FOLHA, 2014; UOL, 2016f; HOLLYWOOD REPORTER, 2016a).

0

20

40

60

80

100

120

140

2012 2013 2014 2015 2016

Número de originais do Netflix

Filmes Estrangeiros

Filmes

Séries infantis

Documentários

Especiais

Séries

Figura 17 - Número de originais do Netflix (Fonte: THR, 2016; adaptado de Hollywood Reporter, 2016a)

13 4

25

59

126

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No Brasil o Netflix passou a operar em 2011, reconhecidamente seu primeiro mercado

internacional, dada a diferença de idioma em relação a Estados Unidos e Canadá (FOLHA,

2016e). A despeito de não divulgar o número oficial, avalia-se que a empresa possua entre

quatro e seis milhões de assinantes no país (UOL, 2016a; NOTÍCIAS DA TV, 2016), e que

lideraria com folga entre os serviços pagos de streaming, à frente inclusive do Spotify, de

música (IDG NOW, 2016b). Em 2016, estreou sua primeira série brasileira, 3%, e viu a

chegada de dois novos concorrentes: HBO Go e Amazon Prime Video (ESTADÃO, 2016;

G1, 2016b).

2.1.4.1.4. YouTube

Como já afirmado, o YouTube, fundado em 2005, provocou uma revolução de tal

maneira que, um ano depois, foi adquirido pelo Google por US$ 1,6 bilhão (CNN, 2006).

Surgiu como um simples site para que usuários compartilhassem vídeos entre eles, mas

evoluiu para se tornar uma onipresente plataforma, utilizada por amadores e profissionais,

mídia e marcas, desconhecidos e celebridades. Hoje, nenhum serviço do tipo o supera em

termos de escala: a cada minuto, 400 horas de conteúdo são adicionadas a ele e o tempo que

seus mais de um bilhão de usuários – 82 milhões no Brasil – gastam assistindo a seus vídeos

cresce a uma taxa de 60% ao ano. Mais da metade das visualizações vêm de dispositivos

móveis (YOU TUBE, 2015; THE VERGE, 2015c; IG, 2016).

A dimensão do YouTube, e a forma como é organizado e monetizado seu vibrante e

caótico catálogo – no qual vídeos profissionais e amadores compartilham do mesmo espaço –

estão intimamente ligados à natureza da internet, mas seu modelo de negócios chega a evocar

a televisão aberta. Graças a um poderoso efeito de rede, praticamente todo o seu conteúdo é

financiado por publicidade, e os ganhos são compartilhados entre o distribuidor, ou seja, o

YouTube, que fica com 45%, e os produtores e criadores, com os 55% restantes (THE

VERGE, 2015c). Há, no entanto, acordos específicos que fogem a este modelo, como os

costurados com grandes gravadoras (FINANCIAL TIMES, 2016).

O YouTube é uma intricada plataforma, e, sendo assim, busca um equilíbrio entre o

valor que mantém para si e o que compartilha com aqueles que dela fazem parte. Em 2016,

talvez por força da concorrência do Netflix, talvez por conta da insatisfação de seus parceiros

de conteúdo (FAST COMPANY, 2014), lançou mão de uma nova estratégia, um novo

produto de nome YouTube Red. Diferentemente do portal convencional, ele é pago (US$ 10

dólares mensais) e só está disponível nos Estados Unidos; em contrapartida, não tem anúncios

e conta com conteúdo exclusivo. Com o serviço, através do qual vantagens em termos de

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financiamento, remuneração e produção são oferecidas, o YouTube vislumbra atrair mais

atrações de qualidade, ao mesmo tempo em que mantém e incentiva os criadores que

nasceram e cresceram na plataforma (New YORK TIMES, 2016d). Segundo o diretor de

negócios, Robert Kyncl, a maioria deles sempre trabalhou com um limitado orçamento, o que

não os impediu de construir uma sólida base de seguidores; um conteúdo mais ambicioso,

porém, requer uma estrutura mais arrojada. “Nós acreditamos no modelo baseado na

publicidade. Do conteúdo do YouTube, 99,99% será gratuito como sempre foi. O mundo a

que todos os nossos parceiros anunciantes estão acostumados está vivo e bem. Não estamos

tirando nada dele, apenas acrescentando” (THE VERGE, 2015c, tradução do autor).

O Red não é a única grande novidade apresentada pelo YouTube nos últimos anos.

Como parte da estratégia do Google para a realidade virtual, o portal ganhou compatibilidade

com vídeos em 360 graus (DIGITAL TRENDS, 2015). O investimento em transmissões ao

vivo aumentou, e todo usuário com uma conta verificada agora pode iniciar uma – inclusive

em 360º (TECH CRUNCH, 2016a). Recentemente, para concorrer com o Twitch, adquirido

pela Amazon, uma versão exclusiva para games foi lançada, na qual é possível assistir a

outras pessoas jogando ou exibir-se jogando. A popularidade da plataforma e a magnitude da

empresa que a controla, como se vê, permitem que muitos recursos sejam desenvolvidos,

testados e lançados em um breve período de tempo. “De modo geral, nós pensamos o

YouTube simplesmente como sinônimo de vídeo”, afirma o diretor de produtos para o

consumidor Manuel Bronstein (THE WIRE, 2015).

2.2. Fundamentação Teórica

2.2.1. Gap Midiático

Ao despontar da era digital, o pesquisador Ithiel de Sola Pool (1983) expôs o

acelerado crescimento do fluxo de informação na mídia de massa, tanto nos Estados Unidos

quanto no Japão. Ele tentava, assim, entender os efeitos de tal fenômeno, especialmente no

que tange à quantidade de informação produzida frente à quantidade de informação

consumida. A análise das variáveis escolhidas, número de palavras transmitidas e recebidas, e

custo de palavra por meio, levaram a três principais conclusões: (1) o fluxo de dados se

tornara progressivamente eletrônico, (2) o custo por palavra caíra radicalmente, e (3)

enquanto a oferta crescia a 8,8% anualmente, o consumo crescia a 3,3%, gerando uma

disparidade cada vez maior. Com base nisso, discussões foram fomentadas a respeito de uma

suposta sobrecarga de informação e em que nível ela seria propícia para sustentar

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economicamente a indústria cultural, sem tornar a escolha do consumidor impraticável ou

mesmo frustrante.

Neuman, Park e Panek (2012) partem de onde Pool (1983) parou, e analisam o fluxo

de informação nos Estados Unidos até 2005. Durante o período de estudo, o padrão

engendrado até 1980, de transição do analógico para o digital, continuou e até mesmo se

acelerou. A televisão e o rádio se mantiveram como os principais meios de informação e

entretenimento do público norte-americano, mas a internet se sobressaiu, pois precisou de

somente pouco mais que uma década para alcançar 90 minutos diários. Em pouco tempo, ela

se tornara uma “ameaça” ao domínio da TV. Neuman, Park e Panek (2012), entretanto,

destacam que essa ideia de competição tende a retroceder à medida que fique menos claro

para o usuário se o que ele está ouvindo ou vendo advém de uma mídia tradicional ou da

internet. Em outras palavras, a convergência transpunha barreiras até então claras e

manifestas.

Os gráficos seguintes ilustram o estado da mídia com a revolução digital. Em primeiro

lugar, o aumento da oferta por residência, dado o aumento no número de opções midiáticas

(Figura 18).

Figura 18 - Progressão da oferta midiática em minutos nos EUA por residência (Fonte: Neuman, Park & Panek,

2012)

Em segundo lugar, o crescimento da demanda, compreensivelmente em uma dimensão

bem menor, linear (Figura 19). O crescimento das atividades midiáticas implica na queda das

atividades não midiáticas, pois o tempo, como sabemos, continua como limitador de

consumo. Há ainda a questão da multitarefa que, em parte, ajuda a explicar a trajetória

(NEUMAN, PARK & PANEK, 2012).

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Figura 19 - Progressão do consumo midiático em minutos nos EUA por residência (Fonte: Neuman, Park &

Panek, 2012)

Do crescimento exponencial da oferta e linear da demanda, surge o terceiro gráfico,

que expressa a enorme lacuna que se formou entre eles (Figura 20). Se em 1960, era de 82

minutos de conteúdo produzido para cada minuto consumido, em 2005 o índice alcançou uma

escala de 884:1.

Figura 20 - Progressão da proporção oferta/demanda de mídia em minutos nos EUA (Fonte: Neuman, Park &

Panek, 2012)

A magnitude da contemporânea escala de oferta/demanda, e a celeridade com que

ascendeu, sugere um desafio cognitivo impossível: escolher uma hora de um programa em

detrimento de outros 883 possíveis Em vista disso, para conseguir eleger uma dentre tantas

opções, consumidores recorrem cada vez mais a tecnologias de inteligência artificial, como

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mecanismos de pesquisa ou algoritmos de recomendação, tecnologias estas que

impulsionaram a própria abundância, fonte do dilema. Neuman, Park e Panek (2012) traçam

uma analogia com a Teoria do Controle (BENIGER, 1986), segundo a qual os mecanismos

técnicos de automação criados no século XIX não foram apenas artefatos contingentes, mas

necessários, por força da complexidade e da velocidade dos novos processos, impossíveis de

serem controlados meramente pela habilidade humana. Ainda que o fluxo de informações

midiáticas não provoque incidentes tão dramáticos, ele passou a ser mediado de forma

semelhante, ou seja, por meio de tecnologias autômatas.

A abundância trouxe à tona uma nova conjuntura, a qual impulsiona mídias do tipo

pull, em que a usuários selecionam o que e quando ver, em vez das do tipo push, em que a

audiência aguarda o horário e o conteúdo que editores escolheram por e para ela. Essa nova

lógica também concede a mecanismos de busca e redes sociais um preponderante papel, pois

sua influência sobre a arquitetura de acesso à informação se fortalece. Daí o escrutínio sobre

portais cujo poder permitiria filtrar informação, direcionar atenção e moldar opiniões

(NEUMAN, PARK & PANEK, 2012). Recentemente, por exemplo, o Google respondeu a

alegações de que estaria escondendo pesquisas desfavoráveis à presidenciável Hillary Clinton,

e o Facebook teve de fazer o mesmo quanto à acusação de que estaria suprimindo notícias a

fim de prejudicar candidatos conservadores (THE VERGE, 2016; GIZMODO, 2016).

2.2.2. Competição e Complementaridade entre Mídias

Como dito, uma enorme lacuna se formou entre a oferta e a demanda por conteúdo.

Pesquisadores, afinal, avaliam que os consumidores têm um tempo delimitado para as

atividades que envolvem mídias e para as que não a envolvem. Ainda que nas últimas décadas

tenhamos observado crescimento do consumo midiático, há agora o diagnóstico de que

chegamos a um limiar – como o gap sugere – de tal maneira que restrições de tempo ou de

atenção impedem que ele siga avançando. Consequentemente, teríamos um jogo de soma zero

no mercado, no qual a vitória de um meio significa a derrota de outro (MUTZ, ROBERTS &

VAN VUUREN, 1993; NEUMAN, PARK & PANEK, 2012).

Para além da ocupação de tempo, o quanto uma mídia serve como substituta ou

complemento a outra também requer análise. O conceito de substituição se refere à tendência

que as pessoas têm de migrar para outra tecnologia caso essa cumpra o mesmo propósito. Cha

e Cha-Olmsted (2012) avançaram nessa tese e indicaram que singularidade funcional

(functional uniqueness) eleva a possibilidade de substituição se a nova tecnologia, ainda por

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cima, compartilhar com a antiga funcionalidade fundamental semelhante (fundamental

functional similarity).

A funcionalidade fundamental semelhante é observada quando um meio é capaz de

exercer a mesma tarefa que o outro, como o notebook que está apto a exibir vídeos tal qual a

televisão. É, portanto, uma qualidade indispensável, mas não suficiente, a uma nova mídia

para que ela substitua a antiga. Já a singularidade funcional (functional uniqueness), ou seja,

os recursos adicionais que a nova mídia proporciona, torna a substituição mais provável, mas,

ainda assim, incerta; é possível, afinal, que os recursos incrementais de uma tecnologia não

tornem uma atividade melhor a ponto de convencer os consumidores a migrar – a

interatividade que o notebook proporciona não faz o ato de ver filme necessariamente mais

prazeroso. Nesse sentido, a singularidade funcional se diferencia da desejabilidade funcional

(functional desirability): enquanto esta significa a disposição de atributos melhores ou mais

desejáveis que os do concorrente, aquela implica em atributos tão somente diferentes (CHA &

CHA-OLMSTED, 2012).

Destarte, é preciso enfatizar que, por mais que duas mídias possuam funcionalidade

fundamental semelhante, disso não se conclui que desempenhem a mesma função com igual

competência. Podem, aliás, gratificar os consumidores de maneira distinta, a depender

também da singularidade funcional ou da desejabilidade funcional que possuam. Assim, um

computador, embora consiga exibir vídeos, não se torna necessariamente um substituto da

televisão.

2.2.3. Teorias de Uso de Mídia

As teorias de uso de mídia são úteis para ponderar a possibilidade de substituição ou

complementaridade entre mídias (FERGUSON & PERSE, 2000; KAYE & JOHNSON, 2003;

DIMMICK, CHEN & LI, 2004; CHA & CHAN-OLMSTED, 2012; CHA, 2013). A princípio,

elas evoluíram a partir de duas principais correntes de pensamento: primeiramente, estudou-se

o efeito exercido pela mídia sobre os indivíduos (media effects), sendo eles considerados

reativos; em seguida, emergiu uma abordagem que enfatizava o uso que os indivíduos faziam

dos veículos (media uses). De modo geral podemos dizer que, se de uma parte tentou-se

averiguar se tal veículo conseguia provocar tal efeito no público, de outra, esse efeito foi

minimizado, dando lugar a uma perspectiva que tinha o consumidor, e o ambiente social que

o rodeia, como foco; em vez de o que a mídia faz com as pessoas, o que as pessoas fazem da

mídia (RUBIN, 1979).

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2.2.3.1. Teoria dos Usos e Gratificações

Esta segunda corrente, cuja origem remonta à década de 40, busca explicar as

motivações por trás de determinado comportamento midiático e suas consequências. A

princípio, pesquisas exploraram os elos entre os produtos dos veículos e as necessidades das

pessoas, enfatizando que elas respondem a estímulos e elegem racionalmente e a todo o

momento o conteúdo e o veículo que melhor atendem seus interesses. Dá-se o nome a essa

vertente de Teoria dos Usos e das Gratificações (LAZARFELD, 1940, apud CHA, 2012). Ela

parte do pressuposto de que o usuário é ativo e seletivo, e afirma uma relação recíproca entre

as gratificações almejadas (motivações e expectativas) e as gratificações obtidas através do

uso das mídias de massa; ou seja, elas podem ser tanto as causas como as consequências de

determinado comportamento. Ao final, há ligações interativas, de mão dupla, entre

motivações, gratificações e conteúdo, originando um modelo triangular (RUBIN, 1981).

A internet, devido aos muitos usos que se atribui a ela, que a tornam potencialmente

uma ameaça – ou oportunidade – para diversas indústrias, tem sido reiteradamente estudada

pela teoria. Sua ascensão modificou a forma como as pessoas consomem notícias

(BOUWMAN & WIJNGAERT, 2002; KAYE & JOHNSON, 2003; DIMMICK, CHEN & LI,

2004) e músicas (RIAA, 2016) de tal maneira que se especula qual mídia será a próxima a

sofrer disrupção. A televisão, claro, aparece como candidata, pois, se a internet surgiu como

uma plataforma para textos e imagens e avançou para se tornar o principal canal para áudio,

sua evolução poderia colocar em xeque mais um meio, desta vez o dos vídeos (CHA &

CHAN-OLMSTED, 2012).

Concebe-se que a substituição de uma mídia só ocorre se a nova possuir

funcionalidades parelhas às da antiga. A Teoria dos Usos e Gratificações, para aprofundar a

propensão de substituição, estuda também se os motivos que levam ao usufruto das mídias

são semelhantes. Pesquisas vinculadas a essa hipótese concluíram que, dentre os motivos para

assistir televisão, destacam-se entretenimento, passar o tempo, relaxamento e informação

(RUBIN, 1979, 1981; CHA & CHAN-OLMSTED, 2012), igualmente citados como

justificativas para o uso da web (FERGUSON & PERSE, 2000).

A teoria distingue ainda uma utilização ritualística da mídia, que suscita sua

incorporação como um passatempo que, praticamente, independe do conteúdo transmitido e,

eventualmente, pode se transformar em hábito, e uma utilização instrumental, que envolve

motivações objetivas (goal-directed), mais intencional e seletiva (RUBIN, 1984). A televisão,

a princípio, teria um uso ritualístico (METZGER & FLANAGIN, 2002). Já a internet

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compreende interpretações distintas, em parte por ser uma mídia relativamente nova em

constante desenvolvimento; Papacharissi e Rubin (2000) sugeriram que sua principal utilidade

é a busca de informação, o que reflete uma motivação instrumental, mas Ferguson e Perse

(2000), embora ressaltem que ela não é tão eficiente quanto a televisão para relaxar, por exigir

mais envolvimento do usuário (lean forward), lhe conferiram atributos de entretenimento, o

que poderia satisfazer demandas ritualísticas. Metzger e Flanagin (2002), por fim, concluíram

que a internet serve às duas motivações em igual medida.

Os vídeos on-line, à primeira vista, parecem ocupar uma posição dúbia: se por um lado

se assemelham ao uso que as pessoas fazem da televisão, tradicionalmente ritualístico, por

outro, se diferem ao ceder ao usuário o controle sobre a programação (pull em vez de push),

tornando-o mais ativo. Cha (2013), por exemplo, constatou que os principais motivos que

levaram jovens a ver vídeos na TV em 2007 (entretenimento e hábito) são diferentes dos que

os levaram a assistir pela internet (relaxar e atualizar-se sobre eventos correntes). Ainda sobre

a TV, “fuga do tédio” surpreendentemente teve uma influência negativa sobre seu uso, assim

como “interação social”. Com relação a gênero de vídeos, não foi constatada uma diferença

de predileção de acordo com a plataforma; as preferências se mostraram as mesmas

independentemente da mídia escolhida.

Já o estudo de Cha e Chan-Olmsted (2012), que incorporou também adultos – todos

usuários de internet –, indicou como principais motivos para assistir a conteúdo audiovisual,

em 2009, o entretenimento relaxante (relaxing entertainment) e o aprendizado oportuno

(timely learning), ou seja, o atualizar-se sobre eventos É um resultado muito diferente do que

era obtido no tempo em que a TV reinava sozinha, quando, em vez de aprendizado, tinha-se o

hábito – além de entretenimento e relaxamento (Rubin, 1981, 1984). Para Cha e Chan-

Olmsted, essa nova disposição, guiada por objetivos específicos, pode estar modificando o

negócio da televisão, e deve incentivar as empresas a adotar uma nova estratégia, na qual

investem em diferentes plataformas – on-line e off-line –, resguardando a singularidade

funcional de cada uma e tendo em perspectiva o que os consumidores esperam delas.

Viswanathan (2005) e Lin (2006) vão na mesma direção ao recomendarem às emissoras um

modelo híbrido, para reduzir a intensidade de competição que a internet representa e o

prejuízo que ela, do contrário, pode causar.

Como observado, a introdução de um novo meio de comunicação não cresce

exatamente na mesma proporção que o antigo diminui por diversas razões: seja por não ser

funcionalmente semelhante ou superior, por não exigir atenção dedicada, facilitando o uso

simultâneo, ou mesmo por tomar tempo apenas de atividades não midiáticas (MUTZ,

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ROBERTS & VAN VUUREN, 1993; NEUMAN, PARK & PANEK, 2012). Seung Lee, Sang

Lee e Kim (2015) estudaram se a popularização dos vídeos on-line na Coreia do Sul afetou o

tempo dedicado a outras mídias, sendo ela audiovisual, como a TV aberta e paga, ou não,

como o jornal e o rádio. A conclusão é de que o tempo gasto com serviços de vídeos on-line,

em 2013, diminuiu o tempo dedicado a mídias antigas audiovisuais, como televisão, mas não

impactou mídias não audiovisuais, como jornais e redes sociais. Isso sugere que o streaming

de vídeo principiou um processo de competição com a TV, podendo no futuro substitui-la.

Ressalta-se, porém, que na Coreia do Sul o número de clientes da TV por assinatura

ainda não decrescera, e que o streaming de conteúdo produzido por emissoras ou por usuários

(user generated contente), ao contrário do streaming de filmes, não afetou o tempo da TV,

indicando, nesse caso, uma relação de complementaridade (LEE, Seung; LEE, Sang & KIM,

2015). Tal relação também já fora aventada por Cha e Chan-Olmsted (2012). Ao compararem

os usuários e não usuário de vídeos on-line, verificaram que os últimos tendem a considerar

estas plataformas como substitutas da televisão mais que os primeiros, ou seja, parte dos

usuários reconhecia uma complementaridade que os não usuários, por motivos óbvios, não

poderiam identificar. Dutta-Bergman (2004) apontou dado semelhante para o consumo de

notícias: quando da existência de interesses específicos, como política e esporte, os

consumidores eram levados a procurar informação tanto na nova mídia quanto na tradicional.

As relações de competição e complementaridade, portanto, parecem aceitar diferentes

graus de intensidade. Ademais, ressalta-se que particularidades temporais (2009 e 2013) e

geográficas (Estados Unidos e Coreia do Sul) na coleta de dados podem explicar resultados

distintos que, por exemplo, Seung Lee, Sang Lee e Kim (2016) e Cha e Chan-Olmsted (2012)

obtiveram.

2.2.3.2. Hábito

Ao enfatizar a ativa seleção de meios de comunicação e conteúdo pelo usuário, a

Teoria de Usos e Gratificações reduziu o papel que o hábito desempenha no comportamento.

Nem sempre foi assim, ressalta LaRose (2012). Um dos modelos, desenvolvido por

Palmgreen, Wenner e Rosengren (1985), colocava o hábito em evidência, pois considerava

que a estrutura da mídia, da cultura e da sociedade o precedia, e ele, por sua vez, impactava

expectativas e necessidades. Rubin (1984) também buscou harmonizar a questão, ao propor

que o usufruto da mídia pode ser instrumental ou ritualizado. Dito de outra forma, ainda que a

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audiência fosse ativa, isso não significa que ela o fosse sempre, e seu grau, ademais, podia

variar conforme a motivação.

Parte dos estudos inseridos na teoria, porém, assenta itens relativos ao hábito junto a

outras dimensões de gratificações, como entretenimento ou informação – uma alternativa

possível nos questionários de Rubin (1979), “assisto TV para passar o tempo”, parece agregar

atitude e costume na mesma categoria, por exemplo. Não obstante, o maior obstáculo é a

presunção da capacidade dos consumidores de expressar os motivos de suas ações, ou seja,

neste caso a teoria dependeria de respostas conscientes para um fenômeno que é largamente

inconsciente, ainda que sentimentos latentes, presume-se, poderiam explicar variâncias

inexploradas (LAROSE, 2012; RUBIN, 1984).

Assim, o hábito se impõe como uma hipótese rival à utilizada pela Teoria de Usos e

Gratificações para prever e compreender comportamentos. Para LaRose (2012), essa razão

explica o êxito da abordagem para explicitar as intenções de uso da Internet para quem ainda

não havia adotado o meio (LIN, 1999) e a falha ao tentar elucidar o uso corrente. Os usuários,

afinal, poderiam já não ter claro em sua memória os motivos que os levaram usar a Internet

incialmente, uma vez que o uso já se tornara um costume, em grande medida, automático e

inconsciente. Essa questão se torna ainda mais importante quando constatado que, embora o

hábito não receba ênfase da Teoria de Usos e Gratificações, as dimensões relacionadas a ele,

como passatempo, foram preditores significativos de consumo em diversos estudos (RUBIN,

1979; RUBIN, 2000; CHA & CHAN-OLMSTED, 2012).

Conceitualmente, o hábito é um processo automatizado que, uma vez iniciado,

mantem-se quase que por si só. Ele se define por quatro ausências: ausência de atenção, de

intenção, de consciência e de controle. Ressalta-se que as quatro ausências não são

necessárias a todo e qualquer hábito, e que são independentes umas das outras – é difícil,

afinal, identificar um comportamento que agregue todas, embora o costume de zapear por

canais de TV se aproxime disso (BARGH & CHARTRAND, 1999). Ademais, o hábito

automatizado é modulado pelas intenções e pelo contexto, ou seja, não é ininterrupto ou

eterno, e nenhum comportamento pode ser atribuído exclusivamente a ele (ROSENSTEIN &

GRANT, 1997; WOOD, QUINN, & KASHY, 2002; VERPLANKEN & WOOD, 2006).

Guiados por essa perspectiva, dois grupos emergiram, um afirmando o objetivo como

a variável dependente do hábito, mas o contexto como independente, e outro firmando o

inverso, o objetivo como independente e o contexto como a dependente. Ao final, eles foram

identificados como complementares e unidos sob uma mesma acepção, qual seja, a de que

hábito seria uma forma de resposta automatizada que se desenvolve à medida que as pessoas

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repetem ações em circunstâncias estáveis (VERPLANKEN & WOOD, 2006; LAROSE,

2012).

Dessa forma, tem-se que indivíduos se engajam incialmente em ações conscientes,

mas a recorrente associação entre um dado comportamento (ler o jornal) e uma dada situação

(durante o café) tornam a representação mental de um hábito cada vez mais acessível à

memoria (AARTS & DIJKSTERHUIS, 2000). O hábito, portanto, se fortalece quando há

múltiplas oportunidades de praticá-lo em contextos semelhantes, e reflete gratificações

médias obtidas em um longo prazo e não resultados esporádicos e inesperados. As ações que

o constituem são a manifestação observável de uma resposta cognitiva automática, e

aparecem quando uma espécie de gatilho é ativado (LAROSE, 2012).

2.2.3.3. Um Modelo Integrado

O modelo de LaRose (2012) separa a aquisição de um hábito de sua ativação (Figura

21). A intenção com a separação é explicitar que, enquanto o hábito está sendo desenvolvido

pelo indivíduo, a estabilidade das circunstâncias e a presença de gatilhos (cues) contextuais

são fundamentais. Todavia, quando estabelecidos, tais estímulos deixam de ser indispensáveis

e podem inclusive ser reorganizados sem que o hábito se extinga.

Na primeira parte, portanto, os hábitos são orientados pela associação entre o consumo

de determinada mídia e o efeito esperado, em circunstâncias definidas tanto por seus aspectos

externos (horário, localização, companhia) quanto internos (pensamentos, objetivos, humor).

Nesse estágio, o comportamento é determinado por uma intenção consciente de obter certos

resultados ou evitar outros. Soma-se a isso uma espécie de mecanismo autorregulatório, de

auto-observação e autojulgamento, relativo a um planejamento de longo prazo, pois, como

ressalva a Perspectiva Social Cognitiva (Social Cognitive Perspective), o ser humano não é

guiado apenas por resultados imediatos (LAROSE, 2012).

A transição entre a obtenção do hábito e sua ativação não é tão bem compreendida,

tampouco é determinista. Depende, entretanto, de uma quantidade mínima de repetições de

um comportamento, da apreensão da relação entre o ato e a gratificação, e certa estabilidade

de contexto. O hábito, ademais, influencia o comportamento antes mesmo que esteja

completamente estabelecido, isto é, antes do estágio em que novas repetições já não implicam

em seu fortalecimento (TOATES, 2006; LAROSE, 2012).

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Figura 21 - Modelo integrado de consumo de mídia (adaptado de LaRose, 2012)

O hábito midiático consolidado admite tipos diversos de correlações. O costume de

assistir à novela das 9 após o jantar, por exemplo, pode se sustentar por anos, mesmo que as

condições sejam significativamente diferentes: o momento da refeição pode não ser mais o

mesmo, assim com a estrutura familiar ou as expectativas acerca da novela. Pode ainda

assumir forma bastante distinta, como o indivíduo que, embora assista a outro tipo de

programa, continua ligando a TV no mesmo horário. Hábitos estabelecidos, afinal, são

mantidos pela média das expectativas de resultados de longo prazo e só respondem

lentamente às mudanças nas expectativas de curto prazo (LAROSE, 2012)

Estima-se que mais da metade de todos os comportamentos midiáticos pode ser

atribuído ao hábito (WOOD, QUINN, & KASHY, 2002). No entanto, por considerá-lo apenas

quando ocorrido em um dado contexto, pesquisadores podem ter obtido um índice

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significativo, mas ainda assim subestimado, aponta LaRose (2012). Ele se refere tanto a

hábitos que se repetem em contextos inconsistentes, como àqueles que ocorrem com uma

frequência menor, mas resistem, como assistir ao Superbowl (final do campeonato de futebol

americano, realizada uma vez ao ano).

2.2.4. Novos Canais, Novos Conteúdos

A escolha de uma nova mídia pode acarretar também uma mudança na seleção de

conteúdo. Pesquisas já indicaram que, ao modificar o canal de distribuição de off-line para

on-line, o padrão de consumo se altera. Isso é perceptível, por exemplo, quando se estuda que

tipos de produtos são adquiridos em um caso e no outro (BRYNJOLFSSON, HU & SMITH,

2003, 2011). Disso, porém, não se pode concluir se o próprio consumidor muda de

comportamento ou se a discrepância pode ser atribuída a efeitos de seleção: canais atraindo

clientes heterogêneos ou clientes escolhendo o canal de acordo com o produto que desejam

comprar. Zentner, Smith e Kaya (2016) procuraram desvendar esse dilema com sua pesquisa

sobre o mercado de aluguel de DVDs.

Tradicionalmente, o mercado de aluguel de DVDs exibe um efeito “supestar”, ou seja,

poucos títulos respondem por grande parte da receita. Em teoria, a ascensão da internet tanto

pode abalá-lo quanto deixá-lo praticamente ileso. No ambiente on-line, por exemplo, há

ferramentas de pesquisa e algoritmos que personalizam que produtos aparecem em destaque,

potencialmente reduzindo a concentração de transações em poucos produtos. No entanto,

esses mesmos algoritmos podem favorecer um efeito “superstar” se basearam suas

recomendações nas mercadorias já populares e não nos que poderão vir a ser (FLEDER &

HOSANAGAR, 2009). Um bom exemplo da internet não provocando mudanças na variedade

de produtos adquiridos foi evidenciado em estudo de Pozzi (2012), que relatou maior

exploração de diferentes marcas nas lojas físicas dos supermercados que na sua versão on-

line.

Zentner, Smith e Kaya (2016) construíram um modelo econômico para minimizar os

efeitos de seleção do mercado estudado. Por meio dele, concluíram que consumidores que

passaram a pedir DVDs pela internet passaram a alugar títulos menos populares do que

quando recorriam a lojas físicas. Uma mudança de comportamento, portanto, que acompanha

a mudança de canal de transação.

Assim, se a migração para internet provoca uma mudança no comportamento do

consumidor, que tende a recorrer menos a títulos populares, produtores e distribuidores de

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conteúdo talvez precisem alterar sua estratégia também. Historicamente, estúdios se apoiam

em grandes sucessos que respondem por boa parte de sua arrecadação; no entanto, à medida

que a rede ganha espaço, múltiplos títulos típicos da cauda longa – mais específicos, menos

populares, ou seja, de nicho – podem se tornar investimentos mais rentáveis (ZENTNER,

SMITH & KAYA, 2016).

2.2.5. Novos Canais, Nova Publicidade

Novas mídias e novos conteúdos originam também novos técnicas de monetização. No

século XX, os veículos de comunicação se agigantaram, distribuindo conteúdo a uma

audiência cada vez maior e cada vez mais acostumada a não despender quase nada por ele.

Eram os anunciantes, afinal, que financiavam a informação editorial ao inserirem

propagandas em meio a ela. Imperava como estrutura de negócio o subsídio cruzado, em que

empresas pagavam aos veículos, que, em troca, faziam com que as mensagens publicitárias

chegassem a um público a que só eles tinham acesso. No século XXI, no entanto, as novas

mídias se consolidaram, propiciando ao consumidor maior controle sobre o que ele quer

consumir e quando. Consequentemente, fragilizaram o sistema anterior, ainda largamente

utilizado, baseado na interrupção gerenciado pelos veículos em parceria com os anunciantes.

O YouTube, para citar um exemplo, permite ao usuário pular anúncios após poucos segundo

de exibição. Por este sistema, sugere-se que a audiência de um anúncio não traduz

necessariamente a atenção por ele captada (RODRIGUES, CHIMENTI & NOGUEIRA,

2012; RODRIGUES, 2009).

Muitas interrupções geram o chamado “congestionamento” (clutter) publicitário. Ele

ocorre quando a quantidade de conteúdo não editorial é desproporcionalmente grande em

relação ao conteúdo editorial disponível. Este é um fenômeno indesejado pelos consumidores,

que se incomodam com propagandas ostensivas, mas também pelas empresas, que temem que

sua mensagem perca impacto se colocada entre tantas outras. Redes de televisão e de rádio,

por serem mídias cativas (captive), ou seja, por convencionalmente não permitirem que o

público pule as propagandas, atraem mais críticas nesse sentido, ao contrário de jornais e

revistas, cujo ritmo é ditado pelo próprio leitor (self-paced). A internet ganha um espaço só

seu, por ser tanto captive como self-paced a depender do formato do anúncio (HA &

MCCANN, 2008).

O clutter publicitário pode ser avaliado segundo a abordagem estrutural (quantidade e

nível das intromissões), funcional (percepção subjetiva do consumidor a respeito dos

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anúncios) ou processual de informação (capacidade do consumidor de absorver a mensagem).

As abordagens se complementam: o processamento da publicidade e a percepção do

“congestionamento” coadunam com as propriedades de cada mídia; o efeito final, portanto,

advêm da combinação de fatores, alguns partindo do público, outros das características

subjacentes ao veículo. Com isso em mente, Ha e McCann (2008) desenvolveram um modelo

para o clutter nas mídias on-line:

Figura 22 - Modelo de clutter publicitário nas mídias on-line (adaptado de Ha & McCann, 2008)

O modelo (Figura 22) incorpora variáveis “físicas” e objetivas, provenientes da

abordagem estrutural. São variáveis tais como frequência, tamanho e localização, que, por

estarem sob o controle de mídia e anunciantes, podem ser gerenciadas para reduzir a aversão

do consumidor frente a anúncios – ou até mesmo, se divertidos e relevantes, torná-los bem

quistos. Também identifica variáveis que estão além do controle das empresas; são questões

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subjetivas a cada usuário e concernentes à sua receptividade em relação à publicidade.

Embora não possam ser regidas, devem ser consideradas para as estratégias publicitárias (HA

& MCCANN, 2008).

A ideia, portanto, é que gerenciando uma série de variáveis e pesando outras, veículos

e anunciantes possam chegar a um plano que maximize a efetividade dos anúncios sem

frustrar as expectativas do consumidor.

2.2.5.1. A (in)satisfação com a publicidade e o equilíbrio ideal

Há um consenso de que as pessoas não gostam de comerciais, pois, entre outros

motivos, eles interrompem a fruição do conteúdo. No entanto, Nelson, Meyvis e Galak (2009)

descobriram que, por mais que usuários evitem interrupções na programação televisiva, elas

podem, supreendentemente, aprimorar a experiência como um todo. Isso porque as pessoas

tendem a se habituar ao conteúdo, de modo que o minuto subsequente costuma ser menos

prazeroso que o anterior. Comerciais, embora indesejados por si só, além de interromper o

processo, conseguem revertê-lo. A Figura 23, por exemplo, mostra que a satisfação percebida

sobre um documentário foi maior quando este foi exibido com uma interrupção comercial

(disrupted) do que quando exibido sem (continuous).

Figura 23 - Satisfação com documentário com interrupção e sem interrupção comercial (Adaptado de Nelson,

Meyvis & Galak, 2009)

Considerando esses fatores, por que comerciais são recriminados e evitados? Para

Nelson, Meyvis e Galak (2009), existe uma espécie de miopia hedônica, pois, como os

comerciais tendem a ser menos agradáveis que o programa principal, em um primeiro

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momento parecem reduzir a satisfação, ainda que, ao fim, ajudem a elevá-la. Deve-se, porém,

ter cuidado com as conclusões acerca dos efeitos dos comerciais. O benefício gerado por eles

depende não só das características dos anúncios, como também das do público e do conteúdo:

a satisfação com um documentário sobre bisões, utilizado no experimento, foi aprimorada

com os intervalos, o que não significa que o mesmo aconteça com programas mais

inquietantes, como ficções contemporâneas tais quais séries e novelas (NELSON, MEYVIS

& GALAK, 2009). De fato, Bellman et al. (2012), ao estudarem o impacto de anúncios em

vídeos on-line sobre o público, verificaram que atrações populares do horário nobre norte-

americano são low-adaptation programs, ou seja, os intervalos não reiniciam a habituação –

pois a excitação aumenta naturalmente durante o transcorrer do programa – nem elevam sua

satisfação. Tampouco reduzem sua excitação, diga-se.

Bellman et al. (2012), ademais, indicaram um equilíbrio entre os interesses de mídia,

anunciantes e usuários quanto à frequência dos comerciais em vídeos on-line: três minutos,

constituídos por seis peças de 30 segundos, para programas de uma hora. Se por um lado os

consumidores não consideram esse nível intrusivo – não mais do que um minuto por hora,

pelo menos – as empresas maximizam a possibilidade de que suas marcas serão recordadas. O

resultado contraria a opinião corrente de que a publicidade deve se limitar ao mínimo

possível, do contrário não será tolerada no ambiente dos vídeos on-line. A questão que se

coloca, porém é: se os consumidores acreditam que comerciais prejudicam sua experiência,

como convencê-las do contrário, evitando assim que a qualidade do serviço seja questionada?

Em outras palavras, como desviar-se do Teorema de Thomas, segundo o qual, “se as pessoas

definem certas situações como reais, elas são reais em suas consequências”?

A ascensão dos vídeos on-line, para Bellman et al. (2012), representa uma

oportunidade para distribuidores de conteúdo e anunciantes negociarem um novo modelo de

subsídio publicitário em vez de simplesmente replicarem o atual. Comparativamente, o novo

modelo oferece menos espaços publicitários a um custo maior. Danaher, Bonfrer e Dhar

(2008) sugeriram que o “congestionamento” de anúncios na televisão convencional decorreu

da exigência dos próprios anunciantes, de modo a equilibrar o valor de inserção e a audiência

do programa. Os vídeos on-line poderiam, portanto, alterar as regras do jogo, ao prover um

ambiente com poucos, mas efetivos comerciais, ou mesmo vender todo um programa a uma

única marca.

2.2.6. Principais Conceitos da Fundamentação Teórica

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O Quadro 2 a seguir apresenta os principais conceitos e autores pesquisados ao longo

da Fundamentação Teórica.

Tópico Subitem Autores Pesquisados

Gap midiático

Lacuna entre consumo e demanda

de conteúdo

Pool (1983), Neuman, Park e

Panek (2012)

Impulso a mídias do tipo pull e

push Neuman, Park e Panek (2012)

Competição e

complementaridade

Competição entre atividades

midiáticas e não midiáticas

Mutz, Roberts e Van Vuuren

(1993); Neuman, Park e

Panek (2012)

Competição e complementaridade

entre mídias

Ferguson e Perse (2000);

Kaye e Johnson (2003);

Dimmick, Chen e Li (2004);

Chimenti (2010); Cha e Chan-

Olmsted (2012); Cha (2013)

Singularidade funcional,

funcionalidade fundamental

semelhante e desejabilidade

funcional

Cha e Cha-Olmsted (2012)

Teorias de uso de

mídia e motivos de uso Teoria dos Usos e Gratificações

Lazarsfeld (1940, apud Cha,

2012); Rubin (1979, 1981,

1983, 1984); Ferguson e Perse

(2000); Bouwman e

Wijngaert (2002); Kaye e

Johnson (2003); Cha (2012);

Cha e Cha-Olmsted (2012)

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Hábito

Rosenstein e Grant (1997);

Bargh e Chartrand, (1999);

Wood, Quinn e Kashy (2002);

Verplanken e Wood (2006);

LaRose (2010); Modelo

integrado: LaRose (2010)

Consumo de

distribuição

Variedade de consumo com

mudança de canal de distribuição

Brynjolfsson, Hu e Smith

(2003, 2011); Fleder e

Hosanagar (2009); Pozzi

(2012); Zentner, Smith e

Kaya (2016)

Publicidade

Atenção e audiência

Rodrigues (2009); Rodrigues,

Chimenti e Nogueira (2012)

Congestionamento publicitário Ha e McCann (2008)

Satisfação com publicidade e

equilíbrio ideal

Nelson, Meyvis e Galak

(2009); Bellman, Treleaven-

Hassard, Robinson e Varan

(2012)

Quadro 2 – Principais autores e conceitos pesquisados ao longo da Fundamentação Teórica

2.3. Conclusão da Revisão de Literatura e Pergunta de Pesquisa

Conforme exposto ao longo da Fundamentação Teórica, pesquisadores já estudaram o

comportamento midiático do consumidor, tentando desvendar as razões que o levam a

consumir determinada mídia de determinada forma. Diversos estudos também inquiriram se e

a que nível uma mídia complemente ou concorre com a outra.

Há poucas pesquisas, porém, que investigam, especificamente, o comportamento do

consumidor como telespectador da televisão e como usuário de vídeos por internet,

comparando-os (CHA & CHAN-OLMSTED, 2012; CHA, 2013; LEE, Seung; LEE, Sang &

KIM, 2015). Afinal, se a televisão é uma mídia com pelo menos meio século de existência, a

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origem dos vídeos on-line data da década de 90, e somente com a evolução da conexão

banda-larga, e o lançamento do YouTube, em 2005, é que eles começaram a ganhar terreno.

O mercado brasileiro é contemplado por Chimenti (2010). Em face do avanço das

novas mídias, e tendo em conta as particularidades do Brasil – que ainda vivia os anos de

glória da mídia de massa (ADVERTISING AGE, 2007) –, Chimenti estudou como elas, as

novas mídias, impactavam a utilização da TV aberta no país. A pesquisa, porém, contemplou

todas elas – o que, no caso, incluía a TV por assinatura –, e considerou a internet como um

todo, não somente seu uso para o consumo de vídeos.

Como destacado na Contextualização, em pouco mais de cinco anos, muita coisa

mudou. O número de internautas cresceu, o acesso à internet por meio de dispositivos móveis

explodiu e os vídeos on-line se popularizaram, atingindo quase 80 milhões de consumidores.

Hoje, além do YouTube, novos concorrentes, como o Netflix ou mesmo o Facebook, tomam

espaço da televisão. Como consequência, os canais da TV por assinatura passaram a

disponibilizar seu conteúdo on-line, sob demanda, e mesmo a TV Globo, embora ainda goze

de grande audiência, passou a exibir sua programação também pela internet.

Diante disso, a presente pesquisa faz as seguintes perguntas: Em que sentido o

consumo de vídeos pela televisão é diferente do consumo de vídeos pela internet no Brasil? A

que nível essas mídias competem e a que nível elas se complementam?

Para tentar buscar respostas a essas perguntas, o autor elaborou um roteiro de

entrevista, inspirado na Revisão de Literatura, disponível no Anexo 2, que o ajudará na ida a

campo e favorecerá a coleta de informações pertinentes ao tema.

2.3.1. Matriz de Amarração de Pesquisa

A Matriz de Amarração (Quadro 3) é um instrumento metodológico elaborado por

José Afonso Mazzon (TELLES, 2001, apud MAZZON, 1981). Através dela, é possível

visualizar como os elementos da pesquisa, como objetivos, questões e procedimentos de

análise de dados, se integram.

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Objeto de estudo Objetivos da pesquisa Questões da pesquisa

Levantamento e

Análise de Dados C

on

tex

tua

liza

ção

História da TV no Brasil Familiarizar-se com a história da

TV no Brasil. Como a TV se tornou a mídia mais popular do

Brasil? Como a Globo obteve tamanho domínio? Dados secundários:

- Publicações

acadêmicas - Notícias

- Pesquisas de mercado

História dos vídeos por internet Investigar a evolução dos vídeos

on-line no Brasil e no mundo.

Quando a transmissão de

vídeos na internet se tornou viável? E popular?

Cenário atual do consumo de

conteúdo audiovisual no Brasil

Compreender o cenário atual do

consumo de conteúdo audiovisual no Brasil.

Como os vídeos por internet

impactaram o uso da TV no Brasil?

Fu

nd

am

en

taçã

o T

eóric

a

Gap midiático Entender o gap entre oferta e

demanda por conteúdo, e como isso influenciou o crescimento de

mídias do tipo pull.

Como a proliferação de

canais de comunicação modificou o consumo

midiático? Mídias do tipo

pull são mesmo o futuro?

Dados secundários:

- Publicações

acadêmicas

Competição e

complementaridade entre mídias

Analisar o que torna uma mídia

complementar ou substituta da outra.

Os vídeos por internet

representam uma ameaça à TV ou a apenas a

complementam?

Teoria de Usos de Mídia Familiarizar-se com as teorias de uso de mídia.

Que fatores explicam o comportamento midiático do

consumidor, especialmente

no que se refere ao consumo de vídeos?

Relação entre meio e conteúdo Compreender a inter-relação

entre a escolha da mídia e a seleção de conteúdo.

Ao mudar de mídia, usuários

passam a consumir conteúdos diferentes?

Publicidade conforme o meio Ponderar como a publicidade

difere de uma mídia para outra.

Como a publicidade atua na

televisão e nos vídeos por internet?

Co

leta

de D

ad

os

Mídias que consome Familiarizar-se com a rotina midiática do entrevistado.

Que mídia o entrevistado utiliza no dia-a-dia e como o

consumo de vídeos se encaixa nessa rotina?

Dados secundários:

- Publicações acadêmicas

- Notícias - Pesquisas de

mercado

Frequência de uso e gasto Apurar a frequência com que o

usuário utiliza mídias de vídeo e quanto gasta com elas.

Quanto tempo o usuários

consome com TV e com vídeos por internet? Qual é o

seu gasto com essas mídias?

Simplicidade e conveniência Apurar a facilidade e a conveniência que o consumo de

televisão e de vídeos por internet entrega ao usuário.

Que facilidades entregam e que dificuldades impõem o

consumo de TV e de vídeos por internet? Qual é mais

fácil e conveniente de

utilizar?

Padrões de uso: locais, horários e

dispositivos

Averiguar as circunstâncias em

que o consumo de TV e de vídeos

por internet ocorrem.

Que horas o entrevistado

assiste TV ou consome

vídeos por internet? Onde? Que dispositivos utiliza?

Motivo do consumo Averiguar o que leva o

entrevistado a assistir TV ou a consumir vídeos por internet.

Que motivos estão por trás

do consumo de conteúdo audiovisual do entrevistado?

Eles são diferentes para a TV e para os vídeos on-line?

Diversão e relaxamento Averiguar se a TV e os vídeos

por internet divertem ou relaxam.

A que plataforma de vídeo o

entrevistado recorre quando quer se divertir? E quando

quer relaxar? Por quê?

Intencionalidade do consumo Averiguar o nível de intenção com que o entrevistado utiliza a

TV e consome vídeos por

internet.

O uso da TV e o consumo de vídeo non-line são escolhas

racionais ou podem ser

atribuídos ao hábito?

Atrações e descoberta Apurar que tipo de conteúdo o

entrevistado assiste na TV e na

internet, e como os descobre.

Há diferença entre o que o

entrevistado vê na televisão e

assiste por internet? Como ele descobre os conteúdos

que consome em uma mídia e na outra?

Ineditismo do conteúdo Averiguar se as atrações a que o

entrevistado assiste foram

produzidas recentemente.

A agilidade com que novos

conteúdos são adicionados

influem na escolha de mídia

audiovisual do entrevistado?

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Variedade e flexibilidade Apurar como o entrevistado

enxerga a variedade de conteúdo e a flexibilidade de uso da TV e

dos vídeos por internet.

A flexibilidade de horário

influi na escolha de mídia audiovisual do entrevistado?

Ele está satisfeito com a variedade de conteúdo?

Agilidade de informação e

sincronismo

Apurar se o entrevistado assiste a

vídeos para se atualizar sobre eventos e que plataforma utiliza.

A televisão tem uma

vantagem em relação aos vídeos por internet devido à

cobertura jornalística e à transmissão de grandes

eventos?

Interação social Apurar se o entrevistado assiste à conteúdo audiovisual sozinho ou

acompanhado e se comenta com

outras pessoas sobre o que assiste.

Em que a interação social difere em se tratando de

consumo de TV e de vídeos

por internet? Entrevistado sente falta da catarse coletiva

que o final de uma novela provocava?

Mídia ideal Verificar qual é a mídia ideal

para o entrevistado.

Que recursos e que conteúdo

a mídia ideal do entrevistado teriam? Ele está satisfeito

com as ofertas midiáticas

atuais?

Passado e presente Verificar como era o consumo de

conteúdo audiovisual do

entrevistado há cinco anos e como é agora.

Em que o consumo

audiovisual do entrevistado

há cinco anos difere de seu consumo no presente? Os

vídeos por internet provocaram alguma

mudança?

An

áli

se d

e R

esu

lta

do

s e

Co

nclu

são

O consumo de televisão e de vídeos por internet

Verificação, interpretação e redução das informações

coletadas nas entrevistas.

Exposição das inferências perpetradas por meio delas, à luz

da literatura. Discorrer sobre

comportamento do consumidor

de TV e de vídeos por internet,

explorando as razões que o impelem a utilizá-las e as formas

como ele as utiliza.

Em que sentido o consumo de vídeos pela televisão é

diferente do consumo de

vídeos pela internet? A que nível essas mídias competem

e a que nível elas se

complementam?

Dados primários: - Entrevistas em

profundidade com 12

consumidores

Dados secundários:

- Publicações

acadêmicas

- Notícias - Pesquisas de

mercado

Co

nsi

der

ações

Fin

ais

Implicações da pesquisa ao

mercado de conteúdo audiovisual no Brasil e à academia

Reflexão sobre que questões

inicialmente propostas foram respondidas. As limitações

enfrentadas durante o estudo, as

implicações à academia e ao mercado, e as oportunidades para

pesquisas futuras.

De que forma presente

dissertação pode ser utilizada pelo mercado de conteúdo

audiovisual? Qual é a sua

contribuição para a academia? Qual são suas

lacunas, que podem ser exploradas por pesquisas

futuras?

Dados primários:

- Entrevistas em profundidade com 12

consumidores

Quadro 3 – Matriz de Amarração da Pesquisa

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66

3. MÉTODO

Este capítulo é dedicado à descrição do método escolhido para a pesquisa, além da

exposição das razões que justificam a escolha. Como se evidenciará, o método, qualitativo e

exploratório, é adequado aos objetivos da pesquisa e às circunstâncias impostas pelo tema. Os

procedimentos para a coleta de dados, e consequente análise – por meio da metodologia

denominada análise de conteúdo – também serão destacados, assim como os motivos da

seleção dos sujeitos.

3.1. Tipo de Pesquisa

Dadas as mudanças no âmbito do consumo de conteúdo audiovisual nos últimos cinco

anos, e a falta de publicações acadêmicas no período que investiguem, no contexto brasileiro,

de que forma essas mudanças impactaram o uso da televisão e o acesso a vídeos por internet,

conforme exposto na Revisão de Literatura, esta dissertação se faz oportuna.

A presente pesquisa tem como fim estudar o comportamento do consumidor como

telespectador de televisão e como usuário de vídeos por internet. Pretende-se, desta forma, a

partir de entrevistas em profundidade com o consumidor, compreender as razões por trás de

seu comportamento midiático no que se refere à escolha das plataformas de vídeo.

De acordo com Malhotra (1999), o método de pesquisa escolhido deve ser adequado

ao objetivo que ela persegue. Yin (1989) salienta que o processo qualitativo serve a

conjunturas que requerem aprofundamento, enquanto Costa Filho (2002) ressalta que

pesquisas exploratórias são indicadas para um tema de estudo relativamente novo, sobre o

qual o pesquisador deseja familiarizar-se. Moraes (1999), por fim, observa que a análise de

conteúdo é recomendada à descrição e interpretação de documentos e textos, e investigação

de seus significados para além de uma leitura comum.

Logo, considerando que o objeto de estudo é contemporâneo, que o tema, por

conseguinte, requer inserção por parte do pesquisador, e ainda a falta de publicações

acadêmicas nos últimos cinco anos que o investiguem em profundidade, optou-se por uma

pesquisa qualitativa e exploratória, além de uma análise de resultados baseada na metodologia

de análise de conteúdo, haja vista o objetivo de compreender em profundidade o fenômeno

pesquisado.

3.2. Coleta de Dados

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A entrevista em profundidade foi escolhida como principal meio para coleta de dados.

Trata-se de um procedimento de interação social, através do qual o pesquisador obtém

informações relevantes dos respondentes (HAGUETTE, 1997). De acordo com Kvale (1996),

a entrevista é uma espécie de conversa, útil para a apreensão das ideias, emoções e percepções

do entrevistado quanto ao objeto de estudo.

Dentre os formatos possíveis de entrevista, o semiestruturado foi selecionado por ser

mais apropriado aos objetivos da pesquisa. Por possuir características de uma conversa

informal, ele permite que novos tópicos apareçam à medida que a entrevista transcorra; sua

base está nas questões que o pesquisador propõe, fundamentadas na revisão de literatura,

porém seus desdobramentos dependem dos caminhos por que o entrevistado decide seguir.

Ao pesquisador cabe somente conduzir a entrevista, provocar e escutar o respondente,

permitindo a ele discorrer sobre suas ideias livremente, visando um processo fluido, jamais

rígido (MANN, 1975).

Para preservar a flexibilidade, sem renunciar à consistência, um roteiro com poucas

perguntas – abertas e inspiradas na literatura – foi elaborado. Ele serviu, conforme orienta

Patton (2002), como um guia, a fim de garantir que todos os assuntos relevantes fossem

abordados. Foi construído sob os ideais da imparcialidade e da isenção; procurou-se, assim,

evitar que as reflexões pessoais do pesquisador comprometessem tanto a ela quanto a própria

entrevista. A relação do roteiro com a Revisão de Literatura está no Anexo 1 e o roteiro está

no Anexo 2.

Todos os depoentes autorizaram a gravação das entrevistas. A gravação garante um

registro fidedigno da conversa e permite ao pesquisador concentrar-se somente nela,

dispensando-o de constantes anotações e facilitando uma boa interação entre as partes.

Ademais, torna possível a transcrição da entrevista, o que auxilia significativamente a

posterior análise de dados (WALSHAM, 1995).

3.3. Seleção dos Entrevistados

A seleção dos entrevistados seguiu critérios pré-estabelecidos, conforme o Quadro 4

ilustra, o que tende a aumentar a qualidade das informações coletadas (PATTON, 2002). Os

entrevistados residem no Brasil – e por uma questão de acessibilidade, moram em São Paulo

ou Rio de Janeiro –, são da classe A e têm entre 25 e 30 anos. Procurou-se também um

equilíbrio de gêneros: metade dos depoentes é do sexo masculino, metade do sexo feminino.

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Nesta faixa etária, 25 a 30 anos, estão pessoas que acessam a internet por mais tempo

que a média da população e que consomem mais vídeos on-line, mas, ainda assim, mantêm

uso intenso da TV: 83% a assistem pelo menos cinco dias na semana (SECOM, 2015;

KANTAR TNS, 2015). Ademais, nesta idade começam a se empregar, habilitando-se a tomar

decisões financeiras, contratar serviços e comprar produtos – a taxa de ocupação entre pessoas

com idade entre 25 e 39 anos é o triplo da faixa anterior, de 18 a 24 (IBGE PNAD, 2016).

Destarte, a maior parte dos domicílios de classe A possui internet banda larga (87%) e

TV por assinatura (86%). Nove em cada dez pessoas desta classe também acessam a rede pelo

celular, via conexão 3G ou 4G. Deste modo, as escolhas de consumo dos entrevistados

tendem a ser por preferências pessoais, não por dificuldade de acesso (CGI TIC Domicílios,

2014; ABTA, 2015).

Quadro 4 – Perfil dos entrevistados e critérios para a sua seleção

As entrevistas foram feitas entre maio e julho de 2016, e, em média, se estenderam por

pouco mais de uma hora. Ao fim das últimas, foi possível perceber similaridade entre os

discursos, tornando dispensável a marcação de mais depoimentos. Esta decisão se apoia nas

recomendações de Yin (1989) e Eisenhardt (1989). O primeiro argumenta que estudos

qualitativos exploratórios seguem a lógica da replicação, não da amostragem, de modo que o

aparecimento de padrões promove a validade dos resultados obtidos. Já Eisenhardt (1989)

alega que as entrevistas devem cessar quando há saturação teórica (quando a melhoria

incremental propiciada por novas entrevistas é mínima).

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Quadro 5 - Perfil dos entrevistados

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3.4. Análise de Resultados

A análise de resultados de uma pesquisa qualitativa consiste da verificação,

interpretação e redução das informações coletadas. Tem como objetivos finais a apresentação

concisa dos dados obtidos, bem como a exposição das inferências perpetradas a partir deles

(MILES & HUBERMAN, 1984). De acordo com Olabuenaga e Ispizúa (1989, apud

MORAES, 1999), a análise de conteúdo, metodologia adotada neste trabalho, é uma técnica

para ler e interpretar dados de toda classe de documentos, que permite conhecer aspectos e

fenômenos da vida social, de outro modo, inacessíveis.

O primeiro passo consiste da transcrição das entrevistas. É procedido pela redução e

organização dos dados. Como afirma Moraes (1999), estes chegam ao investigador em estado

bruto, e, portanto, necessitam ser preparados, transformados em unidades de registro, e

categorizados e agrupados de forma a facilitar o trabalho de compreensão a que a análise de

conteúdo aspira. Miles e Huberman (1984) falam em sumarização e refinamento das

informações disponíveis; em verdade, processos praticados durante toda a pesquisa, mas que,

para a análise de resultados, se voltam às informações obtidas durante o trabalho de campo.

O terceiro passo é o de exibição dos dados. Trata-se do primeiro momento em que o

resultado do trabalho – os significados intuídos das mensagens captadas – é comunicado

(MORAES, 1999). Considerando a dificuldade de analisar simultaneamente muitas

informações, torna-se de extrema relevância a forma como elas são apresentadas – textos,

gráficos, imagens. Só assim é possível ao pesquisador analisar adequadamente tudo o que foi

coletado em campo, facilitando o seu entendimento e o do leitor (MILES & HUBERMAN).

A quarta e última fase é destinada à interpretação dos dados: a busca por

regularidades, padrões e explicações, plausível agora que os passos anteriores já foram

terminados. Nesta etapa cabe ao pesquisador realizar inferências e alcançar conclusões, as

quais, de início, pareciam frágeis, mas que ganham solidez conforme o processo se encerra

(MILES & HUBERMAN, 1984). Como sublinhado por Moraes (1999), toda leitura desagua

em uma interpretação, entretanto, o analista de conteúdo deve exercitá-la com maior

profundidade, debruçando-se não somente sobre os conteúdos manifestos, como também

sobre os latentes.

Ressalta-se por fim que, como recomendado por Yin (2003), fontes secundárias, como

publicações acadêmicas e pesquisas de mercado, serviram não só para a elaboração do roteiro

de entrevista, como também para incrementar as evidências produzidas pelos depoimentos e

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as interpretações decorrentes deles. Optou-se por percorrer todas as etapas sem o auxílio de

softwares de análises qualitativas.

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4. ANÁLISE DE RESULTADOS

Conforme descrito na seção referente ao método de pesquisa, a Análise de Resultados

consiste da verificação, interpretação e redução das informações coletadas. Portanto, este

capítulo tem como objetivos a apresentação dos dados, bem como a exposição das inferências

perpetradas por meio deles, à luz da literatura.

Tanto as informações quanto as interpretações decorrentes foram segmentadas em

dimensões, o que auxilia na análise dos resultados e em seu entendimento (MILES &

HUBERMAN, 1984). A literatura, como recomendado, contribuiu decisivamente para a

análise, servindo não apenas para a elaboração do roteiro de entrevista, como também para

incrementar e esclarecer as evidências encontradas (Yin, 2003).

Algumas dimensões, como Descoberta, e Hábito e Intencionalidade, tiveram escopo e

desígnio reforçados durante o processo de coleta de dados e análise, pois, por mais que tais

temas já tenham sido explorados em outras ocasiões, sua relevância ficou evidenciada ao fim

desta pesquisa – e, dada sua natureza exploratória, o sucedido é condizente e mesmo

desejável. Ressaltam-se, enfim, as manifestas relações entre as dimensões, visto que, embora

segmentadas, as informações refletem comportamentos, e somente quando reunidas são

capazes de explicá-los; em outras palavras, um entrevistado assiste a determinado conteúdo

de determinada maneira por razões que perfazem Acessibilidade, Atenção e Publicidade, e

Escolha, por exemplo.

As dimensões são as seguintes:

Acessibilidade

Atenção e Publicidade

Atualidade

Conteúdo e atualização

Descoberta

Escolha

Hábito e Intencionalidade

Mobilidade e Dispositivos

Pirataria

Socialização

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4.1. Acessibilidade

Nesta seção, dois temas centrais estão reunidos: (1) o custo/benefício que a mídia

oferece ao consumidor e (2) a facilidade com que ela é utilizada, ou, em suma, seu grau de

conveniência. Ambos foram abordados por Rubin (1984) e Chimenti (2010), e sugerem o

quão acessível determinada mídia é.

Como já mencionado, em 2013, Ben Thompson, do site Stratechery, disse que a TV

por assinatura é o socialismo que funciona, pois “assinantes pagam igualmente por tudo, e

assistem somente aquilo que querem, para o benefício de todos” (STRATECHERY, 2013).

Como consequência, pelo que pagam, os consumidores, recebem um bundle, cujo preço seria

consideravelmente mais alto caso seus elementos fossem adquiridos individualmente. O

problema, porém, é que, embora as empresas estivessem satisfeitos com o acordo tácito, os

consumidores não parecem mais estar. Os entrevistados nesta pesquisa, com uma exceção

(Entrevistado 8), foram enfáticos: hoje, o benefício que o modelo oferece não condiz com o

seu custo.

“Acho que a TV por assinatura não tem um custo/beneficio para mim porque assisto muito pouco, não

vejo tanta vantagem e o preço é alto. É um custo que para a gente aqui em casa não justifica” (Entrevistada 1).

“Moro com minha mãe. No momento que eu me mudar e tiver que morar sozinha, jamais iria gastar R$

200 por mês em uma TV. É legal, é bom ter, mas não é essencial. A gente até falou outro dia [sobre cancelar TV

paga]. Minha mãe falou que a gente nem vê mais televisão, não tem por quê” (Entrevistada 4).

“Não assisto TV por duas razões simples. Econômica, não vejo por que pagar por uma TV se, quando

via [na casa dos pais] era um negócio que eu via por comodidade, tinha lá, era só procurar o canal. E o segundo

motivo é o advento da tecnologia. Tenho acesso a conteúdo de qualidade muito mais rápido pela internet. Acho

que essa é a maior desvantagem da TV: gastar dinheiro com um produto que te oferece poucas opções”

(Entrevistado 12).

O questionado custo/benefício da TV paga, por vezes, vem acompanhando da

exaltação do custo/benefício dos serviços de vídeos por internet. Preços e valores, ademais, se

embaralham diante da prática de se compartilhar contas. Este comportamento, comum entre

clientes do Netflix, torna a assinatura ainda mais barata. A empresa, vale ressaltar, não

pretende coibi-lo, por entender que aqueles que não têm um login próprio, cedo ou tarde o

terão (TECH CRUNCH, 2016b).

“Eu comecei a ver Breaking Bad, que é muito bom. Daí fiquei viciada. Eu via pelo Netflix de uma

amiga minha. Então, R$ 20, não iria fazer diferença. A gente paga R$ 20 na Netflix e R$ 200 na Net”

(Entrevistada 4).

“É R$ 20 agora... ou 22, não sei. Não paga uma entrada de cinema. Como é muito barato acho

improvável que eu deixe de assinar. Mas logo que aconteceu isso, de eu pensar em cancelar, entrei e percebi

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que tinham colocado filmes novos. O Netflix, inclusive, minha mãe usa minha senha. Por algum tempo meu pai

usou também” (Entrevistada 5).

“Eu assino desde fevereiro, mas antes eu usava a conta dos outros. Primeiro de um amigo e depois um

irmão. Assinei pra liberar a conta dele, porque meu irmão foi para os EUA e daí aconteceu de dividir com o

pessoal de lá. Eu agora divido com uma pessoa daqui [de casa]” (Entrevistada 11).

Mesmo aqueles que enxergam valor no que a TV por assinatura oferece, expressam

descontentamento com o bundle: para levar um produto, afinal, são obrigados a levar muitos

outros. Eles questionam especialmente a falta de flexibilidade de um pacote que, em tese,

serviria para deixa-los mais satisfeitos, não menos.

“Eu já pensei em cancelar TV paga. Já mexemos no plano várias vezes pra tentar. Mas na verdade não

existe um plano que se adeque às nossas necessidades. Seriam esportes e filmes só. Geralmente, pacote que

envolve esportes e filmes já envolveu todo o resto antes” (Entrevistado 6).

“Agora está cada vez menos relevante a TV a cabo. Vou zapeando, continuo zapeando, mas cada vez

menos encontro um canal por que eu queira pagar. Me imagino cancelando, o que me mantém é a programação

esportiva ao vivo. E o Game of Thrones [na HBO]. É tão específico e vale tanto a pena que se eu só tivesse

opção de ver na TV a cabo... são essas pequenas coisas que me mantém” (Entrevistado 7).

Nesse sentido, surge a demanda pelo desmonte do pacote, de modo que os produtos

sejam oferecidos individualmente; em outras palavras, o unbundle. De acordo com

Andreessen e Barksdale (2014), ambos, bundle e unbundle, são consequências da emergência

de determinada tecnologia. Antes, por exemplo, era oportuno incluir uma dezena de músicas

em um álbum para distribuí-lo, mas, mais tarde, com a ascensão da internet, o download

individual de faixas ganhou força. Guardadas as devidas distinções, muitos agora pedem por

canais separados e não mais reunidos sob um mesmo plano. Há também, concomitantemente,

um processo de re-bundle, que Spotify ou Apple Music explicitam.

“Não tem um programa que eu considero interessante a ponto de me fazer pagar um plano. Mas eu

pagaria R$ 5, R$ 10 por um canal tipo GNT, Discovery. Vamos supor que fossem cinco programas, cinco canais

que gostaria de assinar, eu pagaria R$ 25 por mês. Mas R$ 50, não sei... pra assistir muito de vez em quando

sendo que já pago Netflix e estou satisfeita. Não faço tanta questão” (Entrevistada 1).

“Se o GNT fosse um canal que tivesse que pagar e eu não pudesse ter de graça [utilizando a conta do

pai]? Eu pagaria. Acho que eu pagaria mais até, uns R$ 10. Eu assisto ele na mesma frequência ou,

dependendo, até mais do que o Netflix” (Entrevistada 2).

“Eu acho que não assinaria TV paga se fosse morar sozinho. Talvez eu assinasse algum pacote para,

por exemplo, ver o jogo do Palmeiras pelo computador. É uma prioridade, mas acho que as empresas já se

adiantaram a isso e vincularam os produtos deles. O pay-per-view é R$ 50, R$ 60 a mais” (Entrevistado 9).

Surpreende a disposição dos entrevistados em pagar por conteúdo audiovisual.

Aqueles que não contratam TV paga identificam um gap entre o que gastam hoje em dia e o

que aceitariam pagar. O pensamento é semelhante entre aqueles que assinam, mas que, uma

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vez fora da casa dos pais, não pretendem assinar. Em resumo, considerando a aptidão dos

consumidores para gastar mais, uma oportunidade para novos serviços é ao menos insinuada.

“Eu acho que o que pode acontecer é o que a HBO fez, lançar um canal dela. Eu acho que se mais

canais fizerem isso no Brasil, aí sim, eu assinaria dessa forma. HBO, Telecine, GNT, Multishow... Pagaria, mas

não mais de R$ 100” (Entrevistada 10).

“O ideal é que fosse um pacotão. Eu gosto do Netflix porque é um valor muito bom. Você poderia pagar

um pouco a mais pra poder ir puxando coisas que você goste. Eu gastaria R$ 100, R$ 150 com um serviço

assim, ideal” (Entrevistada 11).

“Eu pagaria a mais para ver um filme que eu quisesse muito ver. Mas teria que ser esse valor, R$ 3, R$

4. Porque, por exemplo, na Apple TV quando você entra aparecem alguns filmes de lançamento. Daí cliquei

outro dia e estava um valor R$ 20 pra você alugar. Ridículo. Assim vou ao cinema. Teria que ser um valor um

pouco mais barato” (Entrevistada 5).

Espanta também que, contrariamente ao senso comum, muitos entrevistados, embora

jovens e de classe alta, enfrentam adversidades relacionadas a novas e nem tão novas

tecnologias. Estas não seriam, portanto, tão acessíveis, quanto mais intuitivas. Alguns

entraves surgem de sincera dificuldade – uma Smart TV com vários aplicativos, mas sem o do

Netflix –, outros nascem de legítima falta de interesse – não assistir TV aberta porque o

prédio não tem antena parabólica. Muitos dos contratempos surgem quando um consumidor

tenta assistir a uma mídia originalmente pensada para um aparelho em outro, como um canal

da TV no computador ou o Netflix no televisor. Ao final, a multiplicidade de plataformas,

cabos e conexões, e recentes avanços de velhas mídias – o que é TV digital? – sugerem

facilidades, mas também provocam confusão.

“Até comprei um cabo HDMI pra ligar o Netflix do computador na televisão da sala. Pra poder

assistir aqui quando eu quisesse com minha mãe. Mas não deu. Essa televisão é meio antiga e a gente não

conseguiu conectar a imagem, o som. Bem complicado, então desisti” (Entrevistada 1).

“A televisão [aparelho eletrônico] não tem antena. Aqui no prédio não tem parabólica, por exemplo.

Então [para assistir à televisão aberta] eu teria que colocar ou aquela antena da Sky no lado de fora ou botar um

garrancho com Bombril na ponta” (Entrevistada 3).

“Se eu soubesse fazer isso, assistir NBA pela ESPN, Globosat na internet, até faria, mas não sei”

(Entrevistado 6).

“Eu comprei uma Smart TV e assinei Netflix. Comprei a Smart TV mais por causa do Netflix mesmo,

mas não pega. Descobri que para funcionar, tem que comprar um outro aparelho que assim daria pra...não

entendo muito disso” (Entrevistado 8).

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Dimensão Inferências

Acessibilidade

Relatos de baixo custo/benefício da

TV por assinatura e alto

custo/benefício dos serviços de vídeo

por internet

Falta de flexibilidade dos pacotes de

TV por assinatura (bundle)

Disposição dos entrevistados para

pagar por conteúdo audiovisual

Gap entre o que muitos entrevistados

gastam com conteúdo audiovisual e

quanto se dispõem a gastar indica

oportunidade para novos serviços de

vídeo

Multiplicidade de plataformas, cabos

e conexões provoca confusão

Quadro 6 – Análise de Resultados: Dimensão Acessibilidade

4.2. Atenção e Publicidade

As novas mídias propiciam ao consumidor maior controle sobre o que ele quer

consumir e quando. Isso inclui a publicidade; o YouTube, para citar um exemplo, permite ao

usuário pular um comercial após poucos segundo de exibição. Por este sistema, sugere-se que

a audiência de um anúncio não traduz necessariamente a atenção por ele captada

(RODRIGUES, CHIMENTI & NOGUEIRA, 2012; RODRIGUES, 2009). Ele se opõe ao

modelo utilizado pelas velhas mídias, baseado na interrupção forçada e inevitável. Destarte, a

presente dimensão trata tanto das considerações dos entrevistados acerca da publicidade

exibida pelas mídias, como da atenção dedicada a elas.

Segundo Bargh e Chartrand (1999), o hábito é um processo definido por quatro

ausências: ausência de atenção, de intenção, de consciência e de controle. Muitos

entrevistados, de fato, relacionaram a atenção que dedicam a um conteúdo à intencionalidade

ou intensidade com que o consomem.

“Tenho atenção exclusiva. Futebol não, eu me permito sair, mexer no celular fazer qualquer coisa. Às

vezes até leio junto com o futebol principalmente quando o jogo está ruim. Mas o Game of Thrones ou Roda

Viva eu tendo a me concentrar 100% neles” (Entrevistado 6).

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“A gente fica assistindo o Jornal Nacional durante o jantar, comentando o que aconteceu no dia. O

Jornal Nacional acaba virando uma pauta de conversas do que está acontecendo no mundo. Quando ele está

desinteressando, a gente às vezes deixa a televisão ligada, abaixa o volume no mínimo e começa a conversar de

outra coisa” (Entrevistado 7).

“Então, essa é a diferença, eu não assisto de fato, não paro e fico prestando atenção. Realmente, minha

TV [aparelho] fica ligada o tempo todo e é sempre na Globo. Mas a minha dedicação à TV é bem dispersa.

Mesmo quando eu estou sentada, não quer dizer que eu esteja acompanhando. Já quando é o Netflix, aí eu paro

e assisto. Eu me dispus a assistir aquilo” (Entrevistada 10).

“Deixo o Netflix ligado, coloco alto o volume. É bom até para treinar o inglês. Daí vou fazendo

minhas coisas, passo pelo vídeo quando quero ver e pronto. Tem séries que eu assisto mesmo. Por exemplo,

House of Cards eu paro e assisto” (Entrevistada 11).

Como esperado, o costume de dividir a atenção entre duas ou mais telas

simultaneamente foi ressaltado pelos entrevistados. Está em consonância com pesquisas

recentes que investigaram esse comportamento: uma, de 2015, revelou que 88% dos

internautas brasileiros utilizam a internet enquanto assistem TV, especialmente para checar

redes sociais – o MasterChef, reality show da Bandeirantes, destaca-se em número de

menções (IBOPE, 2015b).

“Quando vejo televisão ou vídeos por internet eu fico mexendo no celular ao mesmo tempo. Isso é um

desafio porque quando começo a ver filme no Netflix também faço isso. Fico me policiando pra não fazer

quando o filme não me pega de cara (Entrevistada 5).

“Às vezes meu celular fica longe, mas eu faço parte das pessoas que usam celular minuto a minuto

praticamente” (Entrevistado 9).

Infere-se alguma relação entre a atenção dedicada à mídia e a lembrança dos anúncios

nela veiculados. Ao mesmo tempo, a quantidade, a repetição e o volume alto dos comerciais

não só provocam insatisfação entre os entrevistados, como contribuem para repeli-los.

“Meu problema é comercial. MasterChef, por exemplo, que são duas horas de episódio, eu não consigo

mais ver. Assisto enquanto estou lavando louça, enquanto estou fazendo alguma coisa, escovando os dentes.

Comerciais me incomodam muito, perturbam a paz das casas brasileiras. É muita gritaria, até porque eles

aumentam o som” (Entrevistada 3).

“Na TV aberta tendo a prestar mais atenção, porque tem propagandas que considero bem feitas. Sei,

por exemplo, as que estão rolando durante o Jornal Nacional. Eu acho que a TV aberta não fica muito tempo,

costuma ter dois minutos de intervalo. Quando chega na TV paga, daí repetem a mesma propaganda, no

período de uma hora aparecem 10, 15 vezes. O fato de repetir muito faz com que eu fique distraído, não preste

atenção” (Entrevistado 8).

“Os anúncios em que eu presto mais atenção em geral são os do MasterChef. Eu acabo prestando mais

atenção nos anúncios porque o MasterChef é um programa que a gente de fato assiste. Qual é aquele que é

engraçado da idade? Que vai reduzindo a idade. Da Tubaína” (Entrevistada 10).

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A publicidade provoca reações diversas, independentemente da mídia. Na televisão,

alguns entrevistados não suportam, outros não se incomodam – e há, inclusive, quem diz

gostar, como visto acima.

“Tira um pouco a atenção, mas no fundo você está ouvindo o que está acontecendo. Não fica parada

assistindo comercial, mas...” (Entrevistada 4).

“Me perturba bastante. Eu fico muito bravo porque quando entra o comercial aumenta o volume e isso

me deixa... é desagradável. E também quanto mais velho você fica, menos manobrável vai ficando”

(Entrevistado 9).

No YouTube, a situação é semelhante. Ademais, os entrevistados afirmam, em via de

regra, pular o anúncio tão logo podem, e aqueles que não o fazem é porque usam

bloqueadores (Ad Blockers) para driblá-los.

“Quando ligo pelo Chrome, no computador, tem o Adblocker. Então é outra vida. Mas no Firefox, por

exemplo, tem comercial, aí eu pulo o mais rápido possível. No meio do vídeo então, quero morrer.

Principalmente você vai ouvir o disco e entre uma música e outra tem propaganda” (Entrevistada 5).

“Quando eu vejo YouTube... Não, me incomodo menos porque eu posso pular os comerciais se eu estou

achando chato. Em 95% das vezes eu pulo” (Entrevistada 3).

“Me incomoda, muito diferente da TV aberta, quando tenho uma tolerância maior. No YouTube não

vejo a hora de não ver o comercial. Atribuo isso ao fato de que acabei de clicar no negócio e imediatamente

quero ver algum negócio. Então não tenho paciência com o YouTube” (Entrevistado 7).

Dadas as afirmações dos entrevistados, é natural que se questione a efetividade da

publicidade tal qual a conhecemos. Na televisão, eles a evitam; nos vídeos por internet, eles

costumam interrompê-la.

“É uma coisa tão automática que realmente perde um pouco o intuito da propaganda, porque você nem

para para prestar atenção. Você só fica com o mouse posicionado para quando acabar os segundos você já

pular” (Entrevistada 1). “Ponho no mute várias vezes, pulo o comercial se tiver com algum delay na televisão sem pestanejar.

Se não tem delay, muitas vezes dou pause e vou fazer alguma coisa para que o tempo renda” (Entrevistado 9).

Não obstante, boa parte admite recordar-se de uma propaganda ou outra, embora tente

relegá-las. As lembranças costumam ser parcas e confusas: às vezes, só o mote do anúncio se

mantém, às vezes somente o nome do anunciante.

“Não me lembro de nenhuma. Mentira, me lembro de uma propaganda da Dove, mas que só deu tempo

de ver porque pulei rápido... ficou na minha cabeça” (Entrevistada 1).

“Eu não me lembro de comercial. A figura do Neymar me é presente na cabeça, propaganda de alguma

coisa que ele está sempre fazendo, cueca, barbeador, shampoo” (Entrevistado 12).

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79

Nem a TV, nem as plataformas de vídeo on-line, em particular o YouTube, aparecem

em vantagem nesse quesito. Naturalmente, considerando o pequeno número de participantes

desta pesquisa, não seria razoável traçar qualquer tipo de estimativa. Todavia, diante do alto

número de anúncios a que os entrevistados são expostos em seu dia-a-dia, o baixo número de

lembranças surpreende, e sugere um clutter publicitário tal qual Ha e McCann (2008)

descrevem: indesejado tanto pelos consumidores, que se incomodam com propagandas

ostensivas, quanto pelas empresas, que não obtêm o impacto esperado por seus anúncios.

Por fim, a possibilidade de pagar para retirar os comerciais de um serviço como o

YouTube, ou para evitar que eles apareçam em uma mídia como o Netflix, é admitida por

uma parcela dos entrevistados, e recusada por outra.

“Se tivesse propaganda, eu continuaria assinando Netflix, mas iria ficar brava. Ou se tivesse a opção

de pagar um pouco mais e não ter a propaganda, dependendo do quanto fosse, talvez eu pagaria. Para uma

coisa que assisto regularmente” (Entrevistada 1).

“Acho que no futuro não vou poder pular todos os comerciais no YouTube. Daí sim, pagaria para não

ter. Pagar é um método difícil... mas provavelmente sim” (Entrevistada 3).

“Comercial no YouTube me incomoda, óbvio. É uma competição pra ver qual consigo pular mais

rápido, mas não pagaria para não ter. É meio que um contrassenso. Praticamente comprar meu próprio

silêncio? Prefiro ficar bravo e tentar não consumir o que for propagado” (Entrevistado 9).

Dimensão Inferências

Atenção e Publicidade

A intencionalidade com que uma

mídia é consumida está ligada à

atenção que se dedica a ela

Atenção dedicada à mídia está ligada

à lembrança dos anúncios nela

veiculados

Alto número de anúncios a que os

entrevistados são expostos e baixo

número de lembranças sugere um

congestionamento publicitário

Quantidade, repetição e som alto dos

comerciais provocam insatisfação e

contribuem para repeli-los

Quadro 7 – Análise de Resultados: Dimensão Atenção e Publicidade

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4.3. Atualidade

A busca por informação é uma razão preponderante tanto para o consumo de televisão

(RUBIN 1979, 1981, 1983, 1984) quanto para o acesso à internet (PAPACHARISSI &

RUBIN, 2000; METZGER & FLANAGIN, 2002). Diante disso, autores já investigaram os

motivos que levam um indivíduo a escolher uma mídia e não a outra para satisfazer essa

necessidade (DIMMICK, CHEN & LI, 2004; BOUWMAN & WIJNGAERT, 2002; KAYE &

JOHNSON, 2003). Recentemente, por exemplo, Cha e Cha-Olmsted (2012) indicaram que, na

visão dos usuários, os vídeos on-line são mais adequados para se atualizar que a televisão.

Destarte, esta dimensão trata de questões de tal natureza, sobre a forma como os entrevistados

consomem notícias e se mantêm atualizados sobre eventos correntes.

Como já dito, com raras exceções, os entrevistados não se mostraram preocupados em

assistir novos conteúdos tão logo eles são adicionados a serviços de vídeo sob demanda ou

exibidos pela televisão. Para eventos ao vivo, porém, especialmente esportes, a avaliação é

diferente: se o último episódio de uma série mantém seu sentido no dia seguinte, é como se

uma partida de futebol, horas depois, já o perdesse.

“Na televisão só futebol, praticamente. Geralmente vou no que está passando, não tenho preferência

por narrador. Mas acho que a imagem da Globo é um pouquinho melhor. Dou preferência aos canais fechados,

ESPN ou Fox Sports, mas quando está passando na Globo...” (Entrevistado 6).

“O que me mantém na TV paga é a programação esportiva ao vivo. Se aparecesse uma alternativa

viável de programação esportiva, que eu pudesse assistir por fora da TV a cabo, consideraria muito cancelar.

Esta é vantagem da TV paga: ela oferece uma programação esportiva variada que eu não vou ter em nenhum

outro lugar, não conheço nenhum outro sistema em que eu consiga zapear por sete ou oito canais... é o mundial

de algum esporte, ao mesmo tempo está passando futebol americano, e posso escolher entre eles”

(Entrevistado 7).

“ESPN, SporTV, Fox Sports também. Gosto muito de canais esportivos. Vejo na maioria das vezes

futebol, mas estava vendo as finais do basquete. Vôlei eu gosto também de assistir quando tem e agora o Brasil

está jogando. Basicamente esses três, basquete, vôlei e futebol” (Entrevistado 8).

“Pra mim o que tem de bom na televisão é isso, os eventos esportivos, e o principal deles é o futebol.

Eu sei que no dia seguinte ao jogo todo mundo sabe quanto foi porque viu na televisão. Se você não ver o jogo

agora... ver ao vivo é mais legal” (Entrevistado 9).

A programação esportiva leva os entrevistados à televisão tanto para assistir a algum

evento especifico, como uma partida de futebol de seu time na quarta, quanto para descobrir

que eventos ela está transmitindo no momento, como um jogo de tênis ou de basquete no

domingo. Em outras palavras, os consumidores ligam a TV tanto com uma intenção

determinada, quanto com uma intenção difusa, cujo ato de zapear evidencia.

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“Programas esportivos eu sei já de antemão o que vai passar ou não. Então isso ajuda a direcionar um

pouco. Se vai ter um jogo legal do São Paulo já sei, vou direcionando para assistir ao jogo às 22h. É jogo da

Copa América, Eurocopa, NBA, Roland Garros... já acompanho antes e ligo a televisão pra isso”

(Entrevistado 7).

“A primeira coisa que faço é passar nos canais de esporte. Se não tiver nada, ponho em uma TV

aberta, vejo se está rolando algum jornal, dou uma passada na TV paga, um programa de entretenimento ou um

documentário. Mas sempre estou de olho no esporte. O esporte de 20 em 20 minutos vejo se começou alguma

coisa legal” (Entrevistado 9).

A transmissão de eventos esportivos, portanto, qualifica-se como um diferencial da

TV. Trata-se, para utilizar um conceito vislumbrado na literatura, de uma singularidade

funcional que ela possui e que os entrevistados, por também serem consumidores de vídeos

on-line, reconhecem (CHA & CHAN-OLMSTED, 2012). Nesse sentido, a importância do

esporte é notória e se traduz em números: a ESPN é, de longe, o canal cujas empresas de TV

por assinatura dos Estados Unidos mais pagam para ter na grade, e os custos com direitos de

transmissão, seja pelo futebol brasileiro, seja pelo futebol americano, crescem a cada ano

(FORBES, 2015; BUSINESS INSIDER, 2015b; GLOBOESPORTE, 2016).

Embora jogos esportivos, devido à assiduidade e intensidade com que são

acompanhados, ocupem lugar de destaque, há outros eventos, como premiações e reality

shows, que também foram citados. Ademais, coberturas jornalísticas de acontecimentos

excepcionais – mas tão típicos de 2016 – foram, da mesma forma, lembradas.

“Apesar de não ser mais um hábito, acho importante você poder ter essa possibilidade. Por exemplo,

teve o atentado na Bélgica, liguei ali para ver. Você sente falta da cobertura ao vivo. Por mais que você esteja

lendo, demora um pouco pra chegar mais informações. Essa é uma vantagem da televisão” (Entrevistada 4).

“O Oscar este ano foi legal, assisti com minha mãe e minha irmã, e a gente comentava vestidos, tudo.

Eu queria assistir o Oscar e só dá pra ver se for pela televisão. É muito difícil achar um link no dia pra ver”

(Entrevistada 5).

“Faz um ano mais ou menos que vejo MasterChef na Band. As pessoas comentavam, daí a gente

começou a assistir pelo YouTube. Mas agora a gente assiste na Band toda terça, até por ser um reality, porque

se você não ver naquele dia...” (Entrevistada 10).

“Eu assisti, pra não dizer que não acompanho nada, assisti alguns pronunciamentos na televisão de

fato. Época que teve o panelaço, só. E assisti uma vez o Jornal Nacional no dia que eu realmente quis assistir

porque havia sido um dia importante. Não lembro exatamente o que aconteceu, se foi logo depois da votação do

impeachment ou algo assim” (Entrevistado 6).

O noticiário televisivo diário, majoritariamente ao vivo, entretanto, não se mostrou tão

popular entre os entrevistados. Por uma série de razões, muitas das quais já elencadas por

Dimmick, Chen e Li (2004) como variedade, conveniência e velocidade de atualização, boa

parte disse preferir acompanhar os acontecimentos pela internet, por meio de grandes portais

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ou redes sociais. Vale ressaltar também que os vídeos on-line inseridos nas páginas têm

relevância menor, pois os respondentes disseram preferir ler a notícia a assisti-los.

“Quando é alguma coisa muito importante, sim, até ligo a TV. Por exemplo, vai passar tal programa,

mesmo o impeachment a gente assistiu um pouco. Mas prefiro acompanhar pela internet e, depois, no

computador ler as noticias. Me informo pela internet, praticamente tudo é pela internet” (Entrevistada 1).

“Para me informar sobre conteúdo brasileiro, conteúdo de importância, procuro mais na internet,

Google ou páginas de jornal. Mais reportagem, porque em geral ignoro o vídeo” (Entrevistado 2).

“Primeira coisa, acordo e já pego o celular, já olho minha timeline [do Facebook], vejo as principais

noticias. Porque é isso, acaba tendo essa horizontalização da informação, você não vê só de um veiculo que está

te falando, você não é pautado só por aquilo, você é pautado pelo que está ali na sua timeline. Bem ou mal, na

verdade é seu ciclo de amigos que te fala coisas que te interessam” (Entrevistada 4).

“Eu recebo o newsletter da Folha, porque como eu sou assinante, eles mandam a capa do jornal, à

tarde mandam dicas do editor. Durante a semana é mais site da Folha e UOL. Eu nem gosto tanto do site da

Folha assim, mas, eu sou esse tipo de pessoa, estou consumindo informação o tempo todo. Às vezes eu deixo o

Twitter ligado também. De fim de semana, leio jornal impresso” (Entrevistada 10).

Mesmo aqueles que costumam assistir a telejornais não os têm como prioritários. Em

outras palavras, eles assumem papel secundário frente à internet e, frequentemente, são vistos

enquanto outras atividades são realizadas.

“Se você falar “desliga a televisão, não vai ter mais telejornal”, vai ser ruim a mudança de hábito,

mas fora isso não me agrega muita coisa. O Jornal Nacional raramente traz conteúdos aos quais não fui

exposto ao longo do dia. Eu acho que se ele não tivesse o horário das 20h30 às 21h15, eu não iria atrás

reportagens. Por quê? A noticia que está lá eu já vi em outros lugares, na internet, nos jornais impressos. Eu

assisto pelo hábito, pelo momento, por pautar alguma conversa, por pautar o jantar. Boa parte do tempo eu

estou dividindo a atenção com alguma coisa” (Entrevistado 7).

“Eu gosto porque às vezes eu consigo me informar sobre alguma coisa que eu não consegui durante o

dia ou então, no caso do Jornal da Manhã, quando estou tomando café, porque eu já consigo saber mais ou

menos como está a situação do transporte em São Paulo. Mas não gosto do jornalismo da TV, é aquilo que eu

assisto meio falando mal, sabe, mas acabo assistindo” (Entrevistada 10).

Muitos entrevistados que não assistem a telejornais, todavia, anunciaram a disposição

para vê-los, caso a qualidade melhorasse. Ecoa aqui certa insatisfação com o jornalismo das

Organizações Globo, cuja hegemonia no Brasil é inquestionável. Eles afirmam escolher a

internet, entre outros motivos, por ela permitir o acesso a diferentes perspectivas sobre o

mesmo fato, o que seria mais difícil através da televisão, quanto mais através de um mesmo

grupo de comunicação.

“Noticiário é irritante ver pela ótica da Globo. Não rola. Agora há pouco tempo, na época do “golpe”

a gente via a TV Brasil, via a Dilma falando e tal, mas noticiário da Globo, da Globonews, era só para querer

morrer, supertendencioso. Acho que se tivesse algum jornal que batesse com a minha visão ideológica, até

voltaria a assistir, poderia até me manter como assinante da TV paga. É importante ter também essa

possibilidade. Não é minha prioridade, não é um hábito, mas sei que tenho aquilo ali, e posso poder ter essa

opção” (Entrevistada 4).

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“Dificilmente vejo programa noticioso. Um dos motivos é que quando estou na frente da televisão estão

passando programas que não são noticiosos. Primeiro, porque, como vejo na minha mãe mais tarde, algum

programa x tá passando na Globonews e, segundo, porque não gosto da Globo. Não confio” (Entrevistada 5).

“Eu acho que você até consegue encontrar coisas diferentes, mas demanda muito tempo pra assistir

vários canais de uma mesma noticia pra extrair alguma coisa. Eu acho que a internet tem uma grande

vantagem. Você filtra muito mais rápido. Acho muito mais interessante” (Entrevistado 12).

Consciente do atrativo de que a TV ainda dispõe, do caráter simultâneo de suas

transmissões, empresas de internet têm avançado sobre esta área, mas, a julgar pela presente

pesquisa, sem sucesso evidente. Há anos, por exemplo, o YouTube exibe ocasionalmente

festivais de música, enquanto que Facebook e Twitter, este por meio do Periscope, têm

incorporado vídeos ao vivo a suas plataformas e incentivado usuários a compartilhá-los (THE

VERGE, 2012; RECODE, 2016). Poucos entrevistados, porém, disseram ter interagido com

esses vídeos ou mesmo tê-los visto.

“Eu já fiz uma transmissão ao vivo pelo Youtube. Era um evento que tem todo ano de funk, chamado

Rio Parada Funk. Já vi palestras ao vivo também, algumas pelo YouTube ou pelo Facebook. Mas não é tão

disseminado. Existir, [o ao vivo] até existe na internet, mas não tem tanto quanto na televisão” (Entrevistada

4).

“Às vezes rola um vídeo ao vivo no Facebook, mas nunca vi. Tenho um pouco de preguiça na verdade

porque não sei se o que o cara, o músico vai falar eu quero ouvir, não sei quanto tempo vai demorar, então

prefiro ouvir depois. Porque muitas vezes o que o cara fez fica lá e pode ver depois” (Entrevistado 9).

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Dimensão Inferências

Atualidade

Programação esportiva ao vivo foi

mencionada como um dos principais

atrativos da televisão

Programação esportiva leva os

entrevistados à TV tanto para assistir

a algum evento especifico (uma

intenção determinada) quanto para

descobrir que eventos ela está

transmitindo no momento (uma

intenção difusa)

Transmissão de grandes eventos

esportivos é uma singularidade

funcional que a TV possui e os

entrevistados reconhecem

Outros eventos ao vivo, como

premiações e reality shows, também

foram citados, assim como coberturas

jornalísticas de acontecimentos

excepcionais

O noticiário televisivo diário não se

mostrou popular entre os

entrevistados, que preferem a internet

para se informar

Entre as vantagens de se informar pela

internet, foram mencionadas a

agilidade, a conveniência e a

disposição de diferentes perspectivas

sobre o mesmo fato

Quadro 8 - Análise de Resultados: Dimensão Atualidade

4.4. Conteúdo e Atualização

A qualidade e a quantidade de conteúdo, além da presteza com que ele é renovado, são

atributos agrupados nesta seção, e já investigados na literatura. Rubin (1981, 1984) verifica

que o usufruto de mídia descrito como instrumental é sustentado por programas que os

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telespectadores têm em alta conta, os quais eles dizem gostar de acompanhar. Dimmick, Chen

e Li (2004), ao abordarem o consumo de notícias, elencam oito elementos relevantes de

escolha, dentre eles a atualização do material disponível, e sua variedade. Já Lin (2006), por

considerar especificamente o webcasting, alude à importância de se reduzir a janela de

exibição entre a TV e os serviços de vídeo por internet.

Sobre a TV aberta – em particular a TV Globo –, os entrevistados demonstraram

insatisfação com o conteúdo exibido, ainda que conceda a qualidade da produção. Tirante as

transmissões ao vivo, como esportivos e noticiários, poucos disserem acompanhá-la; o único

programa que se sobressaiu foi o reality de gastronomia da Rede Bandeirantes, o MasterChef,

por vezes acessado pelo YouTube.

“Não suporto as produções da Globo em geral. Não tenho acompanhado, mas quando me lembro das

coisas que assistia... A programação da televisão é muito engessada. Já deu de Globo. Ela te oferece o que

quer, na hora que quer, do jeito que quer, com os artistas que quer. Isso é irritante. Eu não aguento mais os

mesmos artistas há tantos anos” (Entrevistada 11).

“Pensando bem, eu vejo mais como rotina. Eu não gosto do conteúdo, eu não gosto da novela, eu não

presto atenção. Exceto o MasterChef que eu realmente acompanho. Acho que o bico da TV [aberta] é muito

amplo, você não encontra alguma coisa focada” (Entrevistada 10).

“Uma vantagem da TV é a produção, a forma como o conteúdo é tratado. Muitas vezes pego no

YouTube tem muita coisa tosca, mal feita, mal preparada. Na TV aberta tudo é muito cuidado, tudo HD, tudo

parece ser trabalhado a perfeição” (Entrevistado 7).

Na TV paga, uma relação desfavorável entre a quantidade e a qualidade dos programas

parece emergir, como se, frente a uma miríade de conteúdo, os consumidores renunciassem.

Parte das séries e filmes mencionados pelos entrevistados passa também – ou até mesmo antes

– nos canais pagos, mas o desencanto se mantém pela dificuldade de encontrá-los. Uma

entrevistada, por exemplo, que possui TV por assinatura, disse assistir How to Get Away with

Murder pelo Netflix, pois nenhum canal exibe a série; no entanto, a Sony não só a exibe,

como já veicula a terceira temporada, enquanto o serviço sob demanda continua na segunda.

“Raramente assisto televisão e quando assisto em outros lugares eu tenho mais certeza de que não

quero assinar. Tem 200 canais, você fica mudando 500 mil vezes, fica indo e vindo até achar alguma coisa

interessante e às vezes nem é tão interessante. Nenhum programa me interessa muito, na verdade. Normalmente

quando ligo a televisão fico mudando e não acho nada” (Entrevistada 1).

“Apesar de ter falado várias vezes que não vario muito, existe uma variedade absurda de coisas na TV

paga. É uma vantagem. Mas a desvantagem é que, nessa infinidade de programas, 95% não me atendem, não

servem pra nada pra mim. Várias vezes eu vejo a programação e nada me chama a atenção. Absolutamente

nada” (Entrevistado 7).

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Como resultado, respondentes que consomem TV paga com alguma periodicidade

afirmam assistir programas repetidos, até por uma questão de conveniência – sabem o horário

em que são transmitidos ou não se importam de vê-los do meio para o final. Outros, cujos

interesses são atendidos por algum canal, embora saibam que o conteúdo é primeiramente

exibido na TV, preferem acompanhá-lo depois, pela internet.

“Tem uma intersecção grande entre o conteúdo que eu vejo na internet e a TV. Eu assisto muito GNT,

pelo GNT Play. Agora eu estou em baixa, mas eu vejo bastante coisa. Ensine criança a comer, Bela Gil, coisa

de comida, decoração. São conteúdos da TV, só que aquele formato da TV não funciona para mim”

(Entrevistada 2).

“Eu vejo pontualmente programa de receita. Tem o programa da Rita Lobo que faz umas receitas

legais, então vejo pela internet. Mas ver um programa desse inteiro pra mim é um chato. É todo muito parecido.

Engraçado que quando vejo alguma coisa na TV que quero mesmo, na casa da minha mãe, é alguma coisa que

já assisti, um Friends ou Sex and the City” (Entrevistada 5).

“Sempre tem alguma coisa que dá pra assistir. Filmes que eu gosto. Às vezes algum filme que já passou

um tempo atrás. Não é filme antigão, preto e branco, é filme repetido, filme que já passou, eu já vi, e às vezes

assisto” (Entrevistado 8).

De programas roteirizados recentemente produzidos, e exclusivos para a TV, poucos

foram mencionados. As séries Game of Thrones e Girls, da HBO, fogem à regra, mas,

coincidentemente, ambos estrearam tempos atrás, em 2011 e 2012, respectivamente.

“Só paro na televisão pra assistir Game of Thrones na HBO mesmo. Faz uns dois anos que faço isso”

(Entrevistado 2).

“Tem uma série que vejo, que adoro, Girls que passa de domingo à meia noite. Quando eu estava na

minha mãe eu fazia questão de estar na televisão naquele horário e assistir. Mas, senão, no dia seguinte já está

na internet pra assistir on-line” (Entrevistada 5).

A situação é distinta em se tratando do Netflix. Ainda que produções nem tão recentes

tenham sido bastante mencionadas, como House of Cards e Orange is the New Black, as duas

de 2013, outras tantas, posteriores, também foram lembradas, como Demolidor, Better Call

Saul e Narcos, de 2015, e Love, de 2016. Ademais, muitas séries originalmente exibidas na

TV por assinatura só foram vistas pelo Netflix, e entrevistados afirmam que só assistirão a

novas temporadas quando o serviço as incorporar.

“Outra série que via pra “desligar o cérebro” era o Modern Family. Tem mais temporada que tem no

Netflix, mas não fui atrás, quando chegar mais no Netflix continuo vendo” (Entrevistada 5).

“O que mais me frustra é não ter tempo pra ver esse monte de séries que tem rolado aí. Reforço a

importância do Netflix. Principalmente séries. Pra filmes e séries está virando a primeira coisa, o top of mind

nosso é o Netflix” (Entrevistado 7).

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“Eu assisto séries todos os dias. Começou com o Netflix o meu vício. Eu não acompanho na televisão

porque não tenho paciência. Adiciona no Netflix eu vou correndo assistir, mas enquanto estiver na televisão eu

nem me importo” (Entrevistada 11).

Como se observa, o incômodo com a demora em atualizar conteúdo, embora exista,

não soa determinante. Com raras exceções – Game of Thrones, novamente –, os entrevistados

acompanham as séries em seu próprio ritmo; alguns veem um episódio por semana, outros

preferem assistir vários de uma vez. É como se a conveniência tivesse vencido a ansiedade.

“Em geral não assisto no mesmo dia que lança. Sei que vai lançar Orange Is The New Black agora em

julho, vai ter uma nova temporada, mas não decorei qual dia. Vou ficar meio atenta, ver se começo a assistir

logo que começar, mas não vou ficar me programando para assistir no dia que sair” (Entrevistada 2).

“Sou muito atrasada em série. Vou ver depois, no final. É até, de certa forma, uma coisa boa. Por

exemplo, How to Get Away with Murder acabou e estou desesperada para lançar a terceira temporada. Mas,

quando lançar, vou ter esquecido a segunda, porque demora tanto tempo. Então é tão melhor assim”

(Entrevistada 4).

“Programas da TV por assinatura que me puxam... não tenho nenhum hoje específico. Nenhum

programa, a não ser o Game of Thrones, que passa necessariamente no domingo. Tem de assistir naquele

horário, é quase como se fosse ao vivo” (Entrevistado 7).

A satisfação com as séries disponíveis no Netflix é evidente. O mesmo, porém, não

pode ser dito a respeito do catálogo de filmes, questionado por sua qualidade1, variedade e

atualidade. Com efeito, a TV por assinatura é alvo de críticas semelhantes, ainda que a janela

de exibição que a separa do cinema seja menor.

“O catalogo de filmes do Netflix é desatualizado. A janela de exibição, a demora, é uma desvantagem.

Poderiam botar coisas mais recentes, coisas mais interessantes. Tem muito daquelas comedias românticas. O

canal Brasil, por exemplo, passa bastante filme brasileiro que você não acha no Netflix” (Entrevistada 4).

“Quando vou pra casa da minha mãe, ela tem TV a cabo, HBO, Telecine, então fico zapeando

loucamente e 80% das vezes não acho absolutamente nada. Muito raramente tem algum filme que gosto. Não

tem um balanço entre filmes populares e os mais cult. Entrou numa fórmula muito igual e isso me desagrada

bastante” (Entrevistada 5).

Verificou-se, ademais, que muitos entrevistados costumavam assistir a mais filmes do

que o fazem hoje em dia. As razões apontadas são diversas: melhora na variedade e qualidade

das séries, que competem com os longas-metragens pela atenção do consumidor, menor

tempo disponível para lazer ou a já mencionada insatisfação com o catálogo disponível. De

toda forma, tal mudança está em conformidade com o que foi apontado por Zentner, Smith e

1 Em entrevista, Hastings demonstrou preocupação com o tempo que separa o lançamento de um filme no

cinema de sua disponibilização no Netflix. Sobre críticas ao catálogo, ironizou: “Se perguntadas, muitas pessoas

dizem que querem grandes filmes de qualidade. É comum encontrar quem afirma gostar de Scorcese e Woody

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Kaya (2016), quanto à alteração de mídia acarretando também uma alteração na seleção de

conteúdo.

“Eu tinha muito mais o hábito de ver filme do que agora, não sei por quê. É fase. Ultimamente tenho

visto muito mais séries do que filme. Acho que o catalogo de filmes da Netflix deixa muito a desejar. Mas não

que o do Telecine seja maravilhoso” (Entrevistada 4).

“Sinto falta de ver mais filmes, gostaria de ver um pouco mais. É um lapso do mercado que identifico:

não está tão evoluído para filmes como está para séries. Eu atribuo também ao Netflix essa tendência. Essas

coisas são muito conectadas. A qualidade do cinema que diminui com a qualidade das séries aumentando”

(Entrevistado 7).

“Tenho visto poucos filmes porque eu acho que as séries, com episódios mais curtos e tal, me deixaram

mal-acostumada. Eu acho que eu comecei a mudar quando passaram a comercializar muitos boxes de séries,

tipo Gilmore Girls. E aí com o Netflix desandou. Hoje vejo uns três filmes por mês. Antigamente, nossa, três por

fim de semana” (Entrevistada 10).

Se o conteúdo do Netflix o coloca em competição direta com a televisão, tornando

tênue a distinção qualitativa entre um e outro – mais de um entrevistado tratou-os de forma

equânime, considerando o Netflix, à sua maneira, uma TV –, o YouTube se impõe como algo

significativamente diferente. Fiel à empresa a que pertence, ele emerge como um aglutinador

de interesses diversos, um misto de buscador, inventário e depósito. Em outras palavras, um

representante da cauda longa (ANDERSON, 2006), que compreende incontáveis nichos, de

vídeos curtos e despretensiosos a palestras educativas ou registros históricos.

“A Bela Gil criou um canal (no YouTube) e eu sigo ela no Facebook. Daí eu sempre vejo o que ela

posta, vídeos de cinco minutos, vejo as receitas dela. Esse canal é produzido pela mesma produtora, que é a

Conspiração, que produz no GNT” (Entrevistada 4)

“O que costumo fazer, que é rotina é assistir os gols de algum jogo que não vi. Costumo assistir pelo

YouTube porque sempre tem uma hora depois do jogo terminar, tem os melhores momentos. São vídeos de seis

minutos, com o narrador em off, contando o que aconteceu” (Entrevistado 6).

“Se entro no YouTube, geralmente é para procurar uma coisa específica. Uso bastante quando vou dar

aula de música, videoaula, comentários, entrevista de baterista, show de um amigo que quero ver como foi”

(Entrevistado 9).

“Acho que do meu consumo de vídeo na internet, 60% é do YouTube. Não tem canais fixos que assino,

mas gosto de assistir animes japoneses. Em geral, o primeiro vídeo sei o que quero. Daí tem as playlists, né,

que vão passando. Se estou jantando, esse quero, esse não quero e vou escolhendo” (Entrevistado 12).

O consumo se dá de diferentes maneiras. Para alguns entrevistados ele é disperso,

motivado por compartilhamentos de amigos no Facebook ou, uma vez no portal, pelas

recomendações que aparecem ao lado do vídeo correntemente assistido. Mesmo para estes, no

Allen, mas que, pelo que constatamos, passa mais tempo assistindo a filmes de monstros e zumbis” (VEJA,

2012).

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entanto, o canal Porta dos Fundos aparece como uma constante. JoutJout Prazer também é

citado.

“Em um dia assisto, quando muito, cinco vídeos de, no máximo, cinco minutos. Geralmente é através

do Facebook, alguém posta alguma coisa e eu assisto. Eu gosto desses vídeos meio imbecis, virais. Se achei

engraçado, acabo abrindo no YouTube pra ver se tem outros vídeos desse canal que me interessam”

(Entrevistada 1).

“Acesso muito pouco o YouTube, acho muito legal, gosto muito da JoutJout, mas não tenho o costume

de ver. Se alguém me manda "olha esse vídeo que maneiro", eu vejo, mas não tenho costume, não assino Porta

dos Fundos, essas coisas que têm semanalmente” (Entrevistada 4).

“Normalmente quando entro voluntariamente no YouTube é pra ouvir musica. Às vezes é um vídeo

especifico que quero ver, show etc. Ou, por exemplo, para ver JoutJout. Hoje aconteceu isso, entrei para ver, vi

dois dela e comecei a ver outros vídeos” (Entrevistada 5).

“Não assino canais no YouTube. Já assisti muito Porta dos Fundos, mas entro de vez em quando e

assisto tudo de uma vez” (Entrevistada 11).

Parte menor dos entrevistados assina canais, e costuma acompanhá-los com certa

assiduidade.

“Assino vários canais no YouTube. Screen Junkies, Animation Danation, Maxxima, Honey Pranks.

Mais coisa voltada pra review de filmes, animação, comédia, paródia, essas coisas. São canais americanos,

conteúdo feito para o YouTube” (Entrevistado 2).

“Assino canais no YouTube. Criei esse hábito. Muitos dos canais são ligados à mídia impressa que

gosto. Então TV Folha, TV Estado, TV de um site americano. Por exemplo, NBA TV, que é um canal que a NBA

tem, ou tênis quando está tendo Roland Garros, Winbledon. Tem alguns canais que “favoritei” e vou mais por

esse caminho” (Entrevistado 7).

O YouTube, embora tenha a variedade de seu conteúdo exaltada, recebe críticas

quanta à sua qualidade. Algo até esperado, dadas a natureza de seu negócio – em que material

profissional recebe tratamento parelho ao do amador – e a magnitude de seu catálogo –

estima-se que, a cada minuto, 400 horas de vídeo são adicionadas à plataforma (THE

GUARDIAN, 2015). Ainda assim, entrevistados reconheceram uma melhora e até elogiaram

uma espécie de autenticidade que permeia seu material.

“Os documentários que vejo no YouTube são de melhor qualidade que os da TV. São feitos de uma

forma diferente do que é produzido na Discovery, por exemplo. São pessoas interessadas naquilo, produzido de

uma forma independente. É um clima diferente” (Entrevistado 2).

“Eu acho boa a qualidade de som e imagem. No Netflix, de profissionais, né, e não no YouTube. Ainda

que a qualidade dos vídeos no YouTube tenha aumentado muito nos últimos cinco anos” (Entrevistada 3).

“Falta um controle pensando em internet. Falta um controle, não que isso devesse acontecer, mas eu

preferiria que tivesse uma qualidade maior. Um programa de televisão é pensado e muitas vezes uma palestra

que você assiste é um cara da plateia que filmou. Às vezes o som não está tão legal” (Entrevistado 6).

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Por último, a aptidão do YouTube para a música parece se manter, apesar da crescente

popularidade de serviços voltados exclusivamente a ela, como Deezer e Spotify. Parcela

significativa dos entrevistados disse acessar o portal com o intuito de ouvir música e, muitas

vezes, esse é o intuito que mais o faz visitá-lo com frequência.

“YouTube eu uso pra ouvir uma música específica. Deezer é pra deixar no random” (Entrevistada 10).

“Eu acordo, coloco musica. Normalmente é YouTube ou Spotify. No trabalho também, música o dia

inteiro, principalmente no YouTube daí. Acho que o Spotify o problema é ter de encontrar uma lista que me

agrade. Porque minhas listas também me enjoam. O YouTube eu acho mais fácil de usar” (Entrevistada 11).

“Eu uso o YouTube diariamente para ouvir música. Mais no período da manhã. Também quando quero

um trecho especifico daquela música, boto aquele trecho que sei que no YouTube vou encontrar” (Entrevistado

12).

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Dimensão Inferências

Conteúdo e Atualização

Insatisfação com o conteúdo da TV

aberta

Relação desfavorável entre a

quantidade e a qualidade dos

programas na TV paga; entrevistados

desistem de procurá-los

Entrevistados que assistem à TV por

assinatura costumam ver conteúdos

repetidos

Poucos programas roteirizados

recentemente produzidos e exclusivos

para a TV foram mencionados

Diversos programas roteirizados

recentemente disponíveis no Netflix

foram mencionados

Incômodo com a demora em atualizar

conteúdo, embora exista, não soa

determinante; entrevistados

acompanham as séries em seu próprio

ritmo

Insatisfação com a qualidade dos

filmes exibidos na TV ou disponíveis

no Netflix

Muitos entrevistados relataram assistir

a menos filmes hoje em dia do que

antigamente

YouTube como aglutinador de nichos,

conteúdo autêntico, mas, por vezes,

de baixa qualidade

Entrevistados utilizam o YouTube

para ouvir música com frequência

Quadro 9 – Análise de Resultados: Dimensão Conteúdo e Atualização

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4.5. Descoberta

O crescimento da mídia de massa, impulsionado pelo estabelecimento da era digital,

promoveu por um lado o aumento do consumo de informação, por outro, propiciou a explosão

de sua produção. Como resultado, alcançamos uma inédita e desmedida escala de

oferta/demanda, em que cada usuário seleciona uma hora de conteúdo entre outros milhares

disponíveis (NEUMAN, PARK & PANEK, 2012). A escolha de conteúdo, seja ela racional,

seja ela automatizada, pressupõe sua descoberta, a qual pode anteceder o consumo – através

da recomendação de um amigo, por exemplo – ou mesmo ocorrer concomitantemente a ele –

o deparar-se com um programa durante o ato de zapear (LAROSE, 2010). É disto que se trata

a presente sessão: a descoberta de novo conteúdo, e como ela impacta o consumo dos

entrevistados.

Como já destacado, poucos filmes e séries produzidos recentemente e transmitidos

pela televisão foram mencionados durante as entrevistas. Os respondentes, mesmo quando

veem conteúdo originalmente exibido por ela, mal sabem precisar que canal o veicula, pois o

consumo ocorre preferencialmente por meio de serviços de vídeo sob demanda. Alguns

admitem que, possivelmente, há programas interessantes que passam na TV, mas, por não

estarem cientes de sua existência, não os assistem.

“Eu gosto de TV, trabalho com isso, mas realmente estou perdendo o contato. Eu descobria os

programas pela propaganda. Eu adorava, ainda adoro as chamadas do Canal Brasil, por exemplo. Acho

maravilhosas, criativíssimas. Do GNT também, até do próprio Multishow. Programas que vão estrear e ainda

não estão na programação, você fica curioso pra ver, isso funcionava muito comigo, mas ultimamente não tenho

atentado. Acho que é isso: tem certas coisas que você para de prestar atenção, e elas simplesmente

desaparecem” (Entrevistada 4).

“Quanto mais fora da televisão você está, menos você sabe das coisas interessantes que tem ali. Então

é uma bola de neve. Eu acho que comecei a assistir menos televisão porque as coisas estavam mais

desinteressantes. Mas conforme esse processo começa, ele tende a se intensificar porque quanto menos você

assiste, menos fica sabendo. Você começa a não considerar mais aquela opção. Acho que hoje estou vivendo um

pouco esse momento. A televisão foi restrita ao futebol, ao Game of Thrones que são coisas que sei que existe,

vou atrás, mas o que acontece além disso na televisão eu não sei. Nem pra saber se me interessa ou não”

(Entrevistado 6).

Os testemunhos coincidem com levantamentos recentes, a saber, sobre como os

consumidores descobrem novos programas na televisão. Em pesquisa da Annalect, do Grupo

Omnicom, os comerciais veiculados na própria TV foram mencionados por 55% da amostra;

em seguida aparecem, respectivamente, o zapear por canais e as recomendações de amigos –

pesquisa da Ovum encontrou resultados parecidos (WALL STREET JOURNAL, 2015;

MASHABLE, 2013). Vislumbra-se aqui um círculo vicioso, os consumidores não descobrem

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conteúdo porque não veem TV ou não veem TV porque não descobrem conteúdo. Um círculo

cuja intensidade parece aumentar na medida em que o boca a boca diminui.

Com efeito, os programas produzidos nos últimos três anos para a televisão foram

mencionados justamente por aqueles entrevistados que mantêm o hábito, mesmo que de

forma esporádica, de zapear por canais. Ressalta-se, porém, que, com frequência, isso não foi

suficiente para convencê-los a assistir tais atrações em horário determinado.

“Já aconteceu de eu ver o programa até o fim, mas não estou lembrando se aconteceu recentemente.

Mas não, de passar a ver aquilo com certa frequência, não. Tem um programa que foi feito pra televisão, pro

National Geographic, mas que no final vi pelo Netflix, ‘Cosmos’. Mas foi por indicação” (Entrevistada 5).

“O que acontece é que zapeei e parei em um canal involuntariamente, e o programa foi bom. Mas

também são muito poucos. Quando acontece geralmente é reality. Vamos assistir esse e sempre quando zapeio e

vejo que está passando esse tal programa, paro e começo a ver. É a zapeada, meio sem querer: apertei e me

divertiu por cinco minutos. Beleza” (Entrevistado 7).

“Eu gosto dos programas de humor. Às vezes eu pego. Outro dia, estava zapeando e peguei um do

Porchat e da Tatá Werneck, ‘Tudo Pela Audiência’. Vi um pedaço só. Eles dois eu conhecia, mas o programa

deles juntos não. Foi uma coincidência, não sabia que estava passando naquela hora e não me programo pra

ver, nem sei que horas passa, nem sei que dia passou” (Entrevistado 9).

Sublinha-se que o círculo vicioso da TV, se se intensifica na medida em que o boca a

boca diminui, também parece ser rompido por ele. Os programas aqui citados – Game of

Thrones, Girls e MasterChef – embora não propriamente novos, passaram a ser

acompanhados por alguns entrevistados tardiamente, influenciados pela recomendação de

amigos.

“Eu descobri Girl por indicação. As pessoas estavam comentando. Então comecei vendo por um site

de séries e os últimos episódios, na casa da minha mãe, eu vi pela HBO” (Entrevistado 5).

“Não sou contra propaganda, mas ela não me faz eventualmente começar a assistir um programa, ela

não tem esse poder. Acontece também de o jornal indicar, acho interessante, mas não anoto e acabo não

assistindo. A chance de ver [com o jornal indicando] aumenta, claro, mas o que é efetivo pra mim é o boca a

boca” (Entrevistado 7).

“Eu comecei a ver Game of Thrones por recomendação. Tanto é que as primeiras temporadas eu

assisti no Net Now. Daí cheguei no momento da televisão, e as duas últimas temporadas já assisti ao vivo”

(Entrevistado 8).

Nos serviços de vídeo por internet, observa-se uma conjuntura substancialmente

diferente – ainda que, em alguns aspectos, ela guarde semelhanças com a TV. Nenhum

entrevistado aludiu a interrupções comerciais, ou chamadas, como meio de descoberta, mas

mencionaram o navegar irrefletido e sem compromisso, o flanar pelo material disponível

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como forma de encontrá-lo. De maneira diversa, portanto, Netflix, YouTube ou Facebook

também se apoiam nas próprias plataformas para divulgar o conteúdo que possuem.

É como se o instintivo trocar de canais, ato em desuso, cedesse espaço a um novo tipo

de zapear, desta vez personalizado e, por conseguinte, mais efetivo. Por exemplo, é conhecido

o zelo que o Netflix tem por seu algoritmo de recomendação, criado quando a empresa só

entregava DVDs e continuamente aprimorado desde então (LAKHANI ET AL., 2014); é

através dele que o conteúdo do serviço é organizado conforme os interesses do usuário que o

utiliza. A meta é fazê-lo descobrir algo para assistir em até 90 segundos e evitar o fastio de

uma busca prolongada, a qual, em última instância, provoca a renúncia (BUSINESS

INSIDER, 2016b).

“Eu só zapeio assim no Netflix. Eles acertam nas combinações. Fico lá vendo o que eles têm de novo, o

que eles estão sugerindo. Tenho também uma lista que montei, do que quero ver. É tipo um cardápio”

(Entrevistada 3).

“Em geral eu zapeio pela TV, não encontro nada e O.K., vamos para a Netflix. Esse é o padrão. Eu

zapeio no Netflix como zapearia na televisão, ou seja, como quem vai passar por 200 canais e eventualmente

não vai parar em nenhum. Mas em vez de passar por 200 canais e não achar nada interessante, eu passo por

200 filmes e acho pelo menos um interessante. Daí vou salvando na minha lista” (Entrevistado 7).

“Sim, eu zapeio no Netflix. Porque às vezes a gente está assistindo uma série, aí acaba e dá aquele

vácuo. A gente começa a zapear, acha uma série que agrada começa assistir. Quando é filme aí dá todo um

trabalho de ficar procurando, série eu acho que é mais fácil” (Entrevistada 10).

O zapear pelo conteúdo e as recomendações personalizadas contribuem para a

descoberta de conteúdo, mas a sugestão de amigos, tal qual ocorre na TV, também influencia

o consumo.

“Descubro pelas pessoas comentando, também pelo esquema Netflix de montar sugestões baseadas nas

coisas que já assisti. Normalmente uma combinação dos dois. O Netflix me sugere e daí alguém comenta, então

vou assistir um episódio pra ver se gosto” (Entrevistada 1).

“Eu descubro conteúdo das duas formas, zapeando e pelos amigos. O Netflix tem aquele sistema de

recomendação pra você. Muito por isso, por esse algoritmo... mas as pessoas também compartilham que estão

vendo uma série tal e daí eu assisto” (Entrevistada 4).

“Tem coisas que eu assisto porque tem gente que fala que é muito bom. E às vezes falam que é muito

ruim e eu assisto pra ver se é muito ruim. É uma forma de socializar. Todo mundo fala de Game of Thrones

menos eu? Não é possível que todo mundo esteja viciado nesse negócio. Breaking Bad também, pessoal já

acabou de assistir e eu estou começando pelo Netflix. Todo mundo fala que é a melhor série do mundo”

(Entrevistada 11).

O consumo de vídeos no YouTube e no Facebook também é fortemente influenciado

pela sugestão de conhecidos e por algoritmos de organização. Ambos, aqui, parecem se

misturar. O Facebook, afinal, exibe conteúdo compartilhado, ou sugerido, pelas páginas e

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amigos que o usuário segue ou possui, e sua exposição, norteada pelo algoritmo, decorre da

interação que o usuário mantém com eles (FACEBOOK HELP CENTER, 2016). O YouTube

funciona de maneira semelhante: os vídeos mostrados dependem dos canais que o internauta

assina e do seu histórico de interação (YOUTUBE HELP, 2016). Ademais, boa parte dos

entrevistados disse chegar ao portal a partir de aplicativos de mensagens, como WhatsApp, e

redes sociais, em especial justamente o Facebook.

“Dificilmente entro no YouTube procurando alguma coisa especifica. Assino poucos canais, e não

tenho costume de ficar olhando. Assisto principalmente por recomendação dos amigos no Facebook”

(Entrevistada 1).

“Eu vejo mais o que já conheço no YouTube, mas um canal me leva a descobrir outro. Por exemplo, um

canal que tem um conteúdo similar ao do primeiro, você não chega a ele por causa de uma propaganda, é mais

como uma sugestão. Tem todo um conglomerado, canais que são mais ou menos do mesmo estilo... então você

fica sabendo de um por causa de outro” (Entrevistado 2).

“Acho que o Facebook que é minha fonte principal de vídeos da internet. Quando vou parar no

YouTube muitas vezes é porque um vídeo foi postado por algum amigo no Facebook” (Entrevistado 9).

“Sempre que botava para ver Cavaleiros do Zodíaco no YouTube aparecia na lateral, à direita,

algumas recomendações de vídeos parecidos. Esse Berserk, por exemplo. Vi uma cena, achei legal, assisti ao

primeiro episódio e fiquei viciado. No dia seguinte, com tempo livre, vi sem parar e foi muito bom. Esse

algoritmo do YouTube acaba acertando” (Entrevistado 12).

No caso do YouTube, há ainda um relevante mecanismo de pesquisa, ao qual os

entrevistados afirmaram recorrer quando estão à procura de algum material específico. Tal

busca, aliada ao algoritmo de recomendação, por vezes suscita o consumo de outros vídeos

que, originalmente, o usuário não pretendia ver.

“Outro dia eu estava procurando uma versão do João Nogueira daquela musica ‘Poder da Criação’.

Estava procurando uma que tem um poema antes, ele recita o poema. Daí essa musica me sugeriu um

programa, um encontro de uns 15 minutos, uma roda de samba em homenagem ao próprio João Nogueira e ao

Paulo César Pinheiro. Era uma roda com vários músicos e parecia um programa de televisão. Não sei o que era

aquilo, um coro bonito. Daí assisti aquilo” (Entrevistado 6).

“Se quero uma coisa de tênis, no YouTube tem. O YouTube atende muito essa questão do nicho. Quero

assistir uma coisa especifica, li sobre um assunto no jornal e quero me aprofundar, quero ver quem é esse cara

que o jornal citou. Vou lá e procuro” (Entrevistado 7).

“Eu não entro no YouTube para ver os vídeos que ele me recomenda. Nunca, jamais. Se entro

diretamente no YouTube é para procurar uma coisa específica. Lógico que, depois da busca, você navega pra

caramba de um vídeo pra outro. Você vai navegando de um pra outro. Vejo o vídeo de um batera e quando

termina tem outro vídeo desse cara. Quando vejo o vídeo desse cara tem outro vídeo de outro batera que você

deixa pra ver outro dia...” (Entrevistado 9).

Conforme destacado na revisão de literatura, a magnitude da contemporânea escala de

oferta/demanda de conteúdo resulta em uma escolha impraticável, superada na maioria das

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vezes somente com o uso de tecnologias de inteligência artificial, como mecanismos de

pesquisa ou algoritmos de recomendação (NEUMAN, PARK & PANEK, 2012). Os relatos

dos entrevistados reforçam esse ponto. No entanto, alguns expressaram leve insatisfação com

a situação ou mesmo a disposição para, de certa forma, esquivar-se dela. O algoritmo, afinal,

não é capaz de surpreender, e a elaboração de uma lista própria no Netflix por parte do

consumidor, embora seja uma medida tímida, desponta como um exemplo de resistência à

recomendação do algoritmo.

“Nunca assisto pelo que o Netflix está recomendando. Sempre escolho das coisas que foram zapeadas,

de ficar fuçando e tal, vendo a variação, a repercussão. Filme eu te diria que sei bastante: quais filmes estão no

Netflix, quais não estão. Sempre que tem uma novidade eu fico esperto, isso é novo, não tinha visto antes. Gosto

ou não? Em potencial, jogo pra minha lista. Nela entra umas 30, 35 coisas por mês, mas acabo assistindo duas,

três, quatro. Isso acontece muito. Acontece de fazer uma limpeza na lista também, isso não me interessa mais e,

por isso, acabo nem vendo” (Entrevistado 7).

“Uma coisa meio dúbia que acabei de falar é que não vejo tanta televisão porque não tem o que gosto.

Mas no YouTube, que tem o que gosto, é uma relação meio complexa. Muitas vezes no YouTube você pega sem

saber o que assistir. Você digita um vídeo de alguma coisa que te leva pra uma coisa, e depois pra outra coisa.

Não é um problema tão difícil de resolver, mas você é tentado a ver determinados tipos de vídeo pelo seu

histórico. O YouTube te recomenda muita coisa. Muitas vezes você acha que está escolhendo, mas na verdade

está escolhendo as opções que ele te deu. Como se você estivesse olhando 20 canais que aquele vídeo te gerou.

Se vejo um vídeo de bateria brasileira ele te gera mais dez vídeos de bateria brasileira, dentre outras coisas.

Você vai navegando nessa, mas acaba ficando meio preso a isso. Na televisão não. Pode estar passando um

programa de culinária que você nunca veria no YouTube, mas você veria na televisão porque você passou por

ele” (Entrevistado 9).

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Dimensão Inferências

Descoberta

Entrevistados acreditam que ainda há

programas interessantes na TV, mas

por não terem conhecimento deles,

não os assistem

Vislumbra-se aqui um círculo vicioso:

os consumidores não descobrem

conteúdo porque não veem TV ou não

veem TV porque não descobrem

conteúdo

Círculo vicioso da TV se intensifica

na medida em que o boca a boca

diminui, mas também parece ser

rompido por ele

Programas produzidos recentemente

para a televisão foram mencionados

justamente por entrevistados que

mantêm o hábito, mesmo que

esporádico, de zapear por canais

Netflix, YouTube ou Facebook

também se apoiam nas próprias

plataformas para divulgar o conteúdo

que possuem; não com intervalos

comerciais, mas com recomendações

elaboradas por algoritmos

Muitos vídeos do YouTube são

descobertos através do Facebook

Muitos entrevistados encontram um

vídeo no YouTube através do

mecanismo de pesquisa, e o algoritmo

de recomendação suscita o consumo

de outros conteúdos

Quadro 10 – Análise de Resultados: Dimensão Descoberta

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4.6. Escolha

De um lado, a era digital removeu as restrições de espaço e demanda que limitavam a

oferta de conteúdo, e um mundo de escassez deu lugar a um mundo de abundância

(ANDERSON, 2006). De outro, impulsionou mídias do tipo pull, no qual usuários selecionam

o que e quando ver, em detrimento das do tipo push, na qual a audiência aguarda o horário

delimitado por editores para consumir o que foi definido por eles (NEUMAN, PARK &

PANEK, 2012). Esta dimensão aborda, por conseguinte, duas liberdades: de conteúdo, em

que o consumidor escolhe – ou entende que escolheu – o conteúdo que consome, e de horário,

em que ele decide quando consumi-lo.

Dimmick, Chen e Li (2004), ao elencarem oito elementos que influem na escolha de

uma mídia, listaram quatro relacionados à liberdade de horário: programação, ou seja, o grau

de adaptação do conteúdo à rotina do consumidor; tempo, que é a possibilidade de consumir o

material no momento desejado; escolha, o acesso conveniente a ele; e rapidez, a agilidade

com que ele é recebido. Os entrevistados, invariavelmente, remeterem a esses elementos ao

tratarem da TV e dos vídeos por internet.

“Não tenho tempo de assistir televisão. Mal tenho tempo de ver Netflix, mas ele me proporciona essa

possibilidade encaixar o que quero assistir nos horários que eu posso. Se fosse acompanhar uma série na

televisão não iria conseguir, provavelmente não conseguiria ligar a televisão em um determinado horário.

Então essa facilidade de parar e continuar nos espaços de tempo que tenho durante meu dia-a-dia é

fundamental” (Entrevistada 1).

“A vantagem dos vídeos por internet é a questão da demanda, posso ver na hora que eu quiser, como

quiser, e não tem comercial. A facilidade de você clicar e começar... não ter de ir à locadora, apesar de eu

gostar, mas não é todo dia que você está a fim de ir. Então você só sentar e já ter um filme à sua mão é

interessante” (Entrevistada 5).

“A TV te obriga a estar lá assistindo ao mesmo tempo. Você tem um compromisso com o horário – que

é até uma vantagem, às vezes, quando a programação é ao vivo. Mas digamos que quero assistir o Jornal

Nacional inteiro, sempre vou ter de ligar a televisão às 20h30 e desligar às 21h15. Ela não é flexível. É uma

grade horária linear. Não é você que está no controle, a outra pessoa que escolhe o horário” (Entrevistado 7).

A grade horária fixa da TV aberta também desestimula os entrevistados a assistir

atrações pelos quais dizem até se interessar. Por vezes, conseguem acompanhá-las pela

internet, como é o caso do MasterChef. Isto não ocorre, no entanto com programas da Globo,

que, embora lembrados, só estão disponíveis na íntegra a assinantes do Globo Play.

“Eu comecei a ver o MasterChef [pelo YouTube], mas acho que mesmo se eu tivesse televisão, mesmo

curiosa, talvez acabasse não vendo porque eu teria de estar o tempo inteiro na frente da televisão, o que é uma

coisa difícil. Ele é muito longo e acaba muito tarde” (Entrevistada 5).

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“Eu acredito que a Globo produz bons conteúdos, mas em horários que não me atendem. Tipo, 11 e

meia da noite tem uma série que acho interessante, mas o horário não me permite. Se eu tivesse à disposição

qualquer programa da Globo, talvez eu começasse a assistir a essas séries” (Entrevistado 7).

“A minha rotina meio que gira em torno desses programas [da Globo]. Mas, por exemplo, tem alguma

séries que passam e que eu não consigo assistir. Até gostaria, algumas são boas, mas não tem como”

(Entrevistada 10).

Sobre os serviços de TV por assinatura, as alternativas oferecidas à grade linear, como

o Net Now e o Globosat Play, que utilizam a internet, ou mesmo o gravador do set-top box,

não se mostraram populares entre os entrevistados assinantes. Alguns as utilizam com certa

assiduidade, mas, vistas como complementares ao produto principal, acabam relegadas ou

esquecidas.

“Eu via GNT pelo Net Now na casa do meu pai. Agora eu uso a conta dele. Tem uma intersecção

grande entre o conteúdo que eu vejo na internet e a TV. Eu assisto muito GNT, pelo GNT Play. Agora eu estou

em baixa, mas eu vejo bastante coisa” (Entrevistada 3).

“Já vi coisas do Globosat Play. Acho interessante a ferramenta, acho muito bom até porque se perdi

um programa, é só ligar e ver. Mas não tenho costume, é falta de hábito mesmo” (Entrevistada 4).

“Eu não uso o Net Now. Quando eu estou com ela [namorada] a gente vê mais o Netflix”

(Entrevistado 8).

“Utilizo o gravador da Net. Já usei bem mais pra falar a verdade, pra assistir filmes que programei.

Parei de fazer. Não sei te dizer por quê... tenho assistido menos televisão. Tanto que essa entrevista que tentei

ver hoje de futebol está gravada há meses, um ano quase. Então eu programei pra ver e não vi. Mas é uma

função que considero excelente” (Entrevistado 9).

Além de enaltecerem os serviços de vídeo por internet, e especialmente o Netflix, por

eles adequarem-se à sua rotina – e não o inverso, como a TV prescreve – os entrevistados

ressaltaram a possibilidade de assistir ao conteúdo em seu próprio ritmo, seja ele cadenciado

ou contínuo.

“Meu padrão é assistir separadamente cada episódio de série no Netflix, no meu tempo. A não ser que

seja um fim-de-semana que não esteja fazendo absolutamente nada. Mas, no geral, eu assisto um por dia, um

por semana. E pauso direto para mexer no celular” (Entrevistada 1).

“Eu não acompanho série na televisão porque não tenho paciência. Fica parecendo novela. Imagina:

um capítulo agora e outro na semana que vem. Eu me mato, eu sou ansiosa. Gosto de assistir cinco episódios de

uma vez, de fim-de-semana, quando posso. Eu tenho dormido mal justamente por causa do Netflix. Você assiste

um episódio, depois mais um e vai indo” (Entrevistada 11).

“Estou vendo Arrow agora. Então vejo três ou quatro de uma vez. Eu parei na primeira temporada de

ver Game of Thrones exatamente porque lançam um episodio, depois lançam outro. Não assisto há dois anos”

(Entrevistado 12).

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Destarte, a liberdade de horário – o ‘quando’ – que as novas formas de ver conteúdo

audiovisual permitem é irrestritamente reconhecida. A liberdade de conteúdo – o ‘o que’ –,

contudo, admite nuances. É verdade que grande parcela do conteúdo produzido pode ser

obtida pela internet – a seleção ilimitada, mencionada por Anderson (2006) –, mas como os

entrevistados, em geral, restringem sua escolha ao que lhe é facilmente acessível, a liberdade

deixa de ser irrestrita e passa a ser mediada. Dadas as incomensuráveis opções que os serviços

utilizados oferecem, há abundância, mas em vez de uma Biblioteca de Babel, temos, como

dito em um dos diálogos, “um cardápio”. E o usuário não recebe o que não está nele.

“Aquele canal fez a programação toda e você só olha. Mas quando você vai pela internet você não está

recebendo um conteúdo pronto e pensado para você naquele horário. A novela, uma série na televisão eu tenho

que ver no dia. Já no Netflix posso fazer uma maratona. Quero ver esse filme nessa hora e vou ver. Essa é a

principal vantagem. A desvantagem é que nem tudo está na Netflix. Mas nem tudo está na televisão também”

(Entrevistada 4).

“É outra pessoa que está fazendo essa escolha por você. Tem uma autonomia relativa. Por um lado

você pode assistir a hora que quiser, o que quiser, mas não é você que diz o que vai ter lá. O que tem lá é o que

o Netflix decidiu” (Entrevistado 6).

“Entrei uma vez no Netflix pra ver isso, os filmes que tinha, porque o dvd que estava vendo em casa

deu problema. Estava vendo e exatamente na metade do filme, estava achando o filme super legal e não

consegui ver o final do filme porque não tinha no Netflix. A única vez que quis ver não tinha” (Entrevistado 9).

“Eu vejo o que quero, essa é a principal vantagem dos vídeos por internet. A programação da televisão

é muito engessada. Ela te oferece o que quer, na hora que quer, do jeito que quer, com os artistas que quer. Isso

é irritante. O Netflix também acaba fazendo isso, mas você tem muita opção e você não tem a restrição de

horário” (Entrevistada 11).

O conteúdo de que o Netflix dispõe influencia as escolhas que os entrevistados

assinantes do serviço fazem, ou seja, fortalece uma dinâmica em que a oferta condiciona a

própria demanda. Esse comportamento é observado especialmente em relação aos usuários

assíduos da plataforma, mas aqueles que não a utilizam com frequência encontram outros

tipos de restrição como o catálogo de DVDs que possuem ou os canais de TV que acessam.

“Nunca aconteceu de procurar alguma coisa no Netflix e não ter mais. Nem sabia que tiravam”

(Entrevistada 1).

“Não sei baixar filme, nem gosto. Eu gostava muito de ir à locadora, mas em dois anos todas

acabaram. Eu não tenho essa opção se eu quisesse. Acabei parando de ver certos filmes... porque não tem no

Netflix. Acabo vendo os filmes que tem no Netflix” (Entrevistada 4).

“Isso acontece com baixa frequência, baixar filmes. Mas o que acontece? A televisão é totalmente

passiva, e você baixar um filme é totalmente ativo; você precisa de um interesse pra procurar determinado filme

em um lugar. No Netflix você fica condicionado a ver só os filmes que estão lá. Eu acho que o Netflix, apesar

dar criticas que fiz, tem produção própria interessante. Mas às vezes estou me limitando porque ao invés de ir

atrás, você vê no Netflix. Fico deixando de ver o que poderia estar vendo” (Entrevistada 5).

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101

“Quando quero assistir um filme, dou uma olhada nos DVDs que tenho. Por quê? Porque sei que em

casa tem uns filmes bons que ainda não vi. Temos uns 200 DVDs que minha mãe comprou – ela já comprou

mais, hoje compra menos. Caso não fosse assim, talvez eu procurasse no Netflix. Quando é um filme especifico,

caso ainda esteja no cinema, vou ao cinema pela experiência. Se saiu do cinema, fico esperto no Telecine pra

gravar” (Entrevistado 9).

Já o YouTube, por conta da natureza de sua plataforma e da forma como os

consumidores interagem com ela, entrega uma impressão de escolha maior. O serviço dispõe

de uma quantidade imensurável de vídeos, de modo que não há um ‘cardápio’ concebível.

Assim, regularmente, os usuários buscam por interesses sem saber ao certo o que poderão

encontrar. A principal limitação, claro, é a ausência de grandes produções, mas como os

entrevistados não pagam pelo YouTube, demonstraram no máximo resignação por não

encontrá-las lá.

“Uma coisa que assisto bastante e não mencionei são as palestras. No YouTube. A última que assisti

que me lembro foi uma do Viveiros de Castro, chamava ‘A morte como quase acontecimento’. Um ciclo de

palestras, e tinha esta palestra dele inteira no YouTube. Super legal. Encontrei buscando mesmo. Eu estava

lendo um livro dele, e quando você sabe que o cara é vivo ou viveu há pouco tempo, acontece de ter esses

registros” (Entrevistado 6).

“Se quero uma coisa de tênis, no YouTube tem. O YouTube atende muito essa questão do nicho. Quero

assistir uma coisa especifica, li sobre um assunto no jornal e quero me aprofundar, quero ver quem é esse cara

que o jornal citou. Digito o nome do cara, geralmente tem um vídeo. Então para nicho, o YouTube resolve bem,

você consegue achar coisas muito especificas” (Entrevistado 7).

“Eu uso o YouTube para ver palestras também. Palestras de jornalistas, pensadores. Entrevista com

Fernando Henrique, com Ciro Gomes, Bob Fernandes, Leandro Karnal, esses caras. Por exemplo, lembro que

uma época vi uns vídeos do Bob Fernandes na internet, achei interessantes, mas percebi que o vídeo era de

algum tempos, queria algo novo, Daí vi a entrevista dele no Abujamra. Faz dez anos o negócio, era bem antigo,

mas vi. O YouTube você acha coisas assim navegando pelo nome do cara. Já vi entrevista Gilberto Gil. É só

escrever lá” (Entrevistado 9).

“Eu comecei a assistir o Game of Thrones pela conta de uma amiga na HBO. Também pelo YouTube,

que tinha um ou outro episódio. Mas foi minha grande decepção com o Netflix, não ter Game of Thrones”

(Entrevistada 11).

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102

Dimensão Inferências

Escolha

Entrevistados disseram assistir mais a

vídeos na internet porque podem vê-

los no momento mais oportuno

Entrevistados assistem ao conteúdo de

serviços como o Netflix em ritmos

diferentes, cadenciado ou de uma vez

(binge-watching)

Grade horária fixa da TV aberta

desestimula os entrevistados a assistir

atrações pelos quais dizem até se

interessar. Em alguns casos

(MasterChef), as acompanham pela

internet

Serviços como Net Now e Globosat

Play não se mostraram tão populares

A oferta de conteúdo condiciona a

demanda; muitos entrevistados, por

exemplo, só assistem a filmes que o

Netflix disponibiliza

YouTube entrega uma impressão de

escolha maior, pois não há um

“cardápio” concebível. Não há

grandes produções, mas os

entrevistados sabem que não as

encontrarão lá

Quadro 11 – Análise de Resultados: Dimensão Escolha

4.7. Hábito e Intencionalidade

A Teoria dos Usos e Gratificações parte do pressuposto de que o usuário é ativo e

seletivo, e, portanto, elege racionalmente e a todo o momento o conteúdo e o veículo que

melhor atendem suas necessidades (LAZARSFELD, 1940, apud CHA, 2012; RUBIN, 1979,

1981, 1983, 1984; FERGUSON & PERSE, 2000; BOUWMAN & WIJNGAERT, 2002;

KAYE & JOHNSON, 2003; CHA, 2012; CHA E CHA-OLMSTED, 2012). Pesquisadores,

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103

entretanto, questionam tal pressuposto, pois avaliam que o hábito, inconscientemente

construído, teria grande influência sobre o comportamento das pessoas (ROSENSTEIN &

GRANT, 1997; WOOD, QUINN, & KASHY, 2002; VERPLANKEN & WOOD, 2006;

LAROSE, 2010). Ainda que ambas comportem gradações – Rubin (1981) fala em usufruto

instrumental e ritualizado, e LaRose (2012) separa a aquisição de um hábito de sua ativação –,

em linhas gerais uma se volta à intenção explícita do consumidor, e a outra investiga sua

ausência. Esta dimensão trata desta contenda e de que modo os comentários e costumes dos

entrevistados se reportam a ela.

Conceitualmente, o hábito é um processo automatizado que, uma vez iniciado,

mantém-se quase que por si só. Ele reflete gratificações médias obtidas em um longo prazo, e,

portanto, se fortalece à medida que as oportunidades de praticá-lo em situações semelhantes

se repetem (ROSENSTEIN & GRANT, 1997; WOOD, QUINN, & KASHY, 2002;

VERPLANKEN & WOOD, 2006; LAROSE, 2010). Contudo, como as entrevistas da

presente pesquisa ilustram, um hábito não é ininterrupto, tampouco eterno, e, embora

resistente, pode ser quebrado seja por uma variação de contexto, seja pela recorrente

frustração de expectativas.

Todos os entrevistados, por terem, em maior ou menor intensidade, crescido assistindo

TV, compartilhavam da tendência de repetir o comportamento (CHIMENTI, 2010). No

entanto, o que se observou foram três grupos relativamente distintos: um que abandonou a TV

completamente ou que só a assiste pontualmente, um que a mantém como um hábito

frequente, mas controlado, e, finalmente, um que a utiliza compulsivamente, ou seja, o hábito

na acepção do termo.

Alguns membros do primeiro grupo nem sequer têm acesso à TV aberta. Outros,

embora tenham inclusive TV paga, só a possuem por morar com os pais, e destacam que, uma

vez morando sozinhos, não pensam em assiná-la por conta própria – a não ser por um preço

significativamente inferior. Ao perguntados, todos sabiam precisar quanto tempo assistiram

de TV na semana anterior, mesmo porque, se não nulo, o tempo se restringia a um ou dois

programas, como futebol ou o já obstinadamente citado Game of Thrones. A intenção do ato é

sempre pontual, clara, explícita, ou, nas palavras de um entrevistado: “A geladeira eu sempre

abro sem saber o que vou comer, mas a televisão eu não ligo sem saber o que vou ver”.

“Tinha uma época em que eu assistia bem mais televisão. Principalmente na época de escola, quando

eu tinha mais tempo, era um ritual. Mas, agora, vai fazer três ou quatro anos que a gente até cancelou TV paga.

Por um tempo eu insisti em manter, mas por minha mãe, ela nunca assistia... eu, então, só a cada 15 dias. Daí,

quando começaram a surgir essas novas ferramentas para assistir os programas, eu desisti. Nem sei quando foi

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a ultima vez que liguei a televisão, sinceramente. Quando a gente precisa assistir alguma noticia, impeachment,

a gente liga” (Entrevistada 2).

“Eu sabia os horários dos programas. Eu acompanhava mesmo. Eu perdi o hábito, não foi uma coisa

calculada do tipo "vou parar de ver TV", foi uma coisa que foi acontecendo. Era principalmente TV paga, TV

aberta muito de vez em quanto, futebol... Hoje em dia TV pra mim é pontual, exatamente isso. Meu consumo de

audiovisual, agora, se restringe basicamente ao Netflix” (Entrevistada 4).

“Na minha adolescência sim, eu assistia Warner, séries, eu dava uma zapeadinha. É um costume que

eu perdi, seguramente. Hoje, quando ligo, é pra ver algo específico. Futebol, Game of Thrones e, às vezes, Roda

Viva” (Entrevistado 6).

Como visto a partir dos relatos acima, um hábito, embora resistente, pode ser quebrado

por uma recorrente frustração de expectativas, que afetam gradualmente as gratificações

obtidas em um longo prazo. Pode também, como se nota a seguir, ser perdido por uma

mudança de circunstância, pela falta dos gatilhos contextuais que antes o estimulavam e que,

no novo cenário, deixaram de existir.

“Eu chegava do colégio, almoçava e deitava. Assistia a todos os programas possíveis. Todos da Globo.

Tinha o Jornal Hoje, depois começava o Vídeo Show, daí vinha o ‘Vale a Pena Ver de Novo’, que geralmente

era uma novela legal. Em seguida era Sessão da Tarde, tinha Malhação... Novela das nove era com minha mãe.

Eu acho que era um ritual. Isso com 17, 18 anos. Quando cheguei aqui foi ruptura total. Eu não assisto TV

aberta tem uns oito anos, desde que vim pra São Paulo. E, hoje, não assisto nada de TV” (Entrevistada 11).

“Eu fui assistindo menos televisão. Foi uma mudança gradual, mas também foi um pouco bruta porque

eu saí de casa. Digamos que eu assistia meia hora de televisão por dia e, depois, não assistia mais nada. Na

minha primeira casa, que eu morei um ano, por nove meses eu não tinha nem televisão e não ia comprar;

comprei porque a minha ex-namorada queria” (Entrevistada 12).

Curioso, ademais, o efeito que o retorno dos gatilhos contextuais provoca. Ainda que

esporádico, ele tem o potencial para reanimar hábitos adormecidos. Isso ocorreu tanto com os

entrevistados que abandonaram a TV quanto com aqueles que mantêm o costume de assisti-la.

No primeiro caso, o resultado final parece contrabalancear-se com o mecanismo

autorregulatório, de auto-observação e autojulgamento, a que LaRose (2012) se refere – os

usuários ou têm novos interesses ou não querem ser atraídos pelos antigos, como novelas. No

segundo, o hábito se modifica, com o abandono dos canais abertos em favor dos fechados.

“Daí eu praticamente não assisto Globo. Quando eu vou para a casa dos meus pais, eu assisto, sei lá,

reality de comida, séries... Eu também coloco direto na Warner, que está passando The Big Bang Theory ou

Friends, ou aquele Two And a Half Men. São episódios repetidos, essas séries eu assisto geralmente como TV

aberta, sabe, não estou lá prestando atenção. Eu acabo deixando porque eu sei que vou gostar” (Entrevistada

10).

“É uma coisa que eu gosto, de ficar zapeando. Mas só quando vou para a casa minha mãe. Chutaria

umas duas vezes por mês, que eu paro na frente da televisão Na verdade esse hábito, meu costume se mantém

até por uma memória afetiva boa, mas ele não... não consigo ter a satisfação total porque não encontro

programas que gosto. Tenho esse costume, mas não fico duas horas, passo vinte minutos e depois desisto”

(Entrevistada 5).

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“Meus pais têm TV paga, mas só assistem Globo. Quando eu volto pra lá eu não vejo mais. Eles

assistem e eu geralmente peço pra abaixar a televisão um pouco, pra conversar com eles. Eu não entendo

absolutamente nada. Não sei o nome das novelas mais, nada” (Entrevistada 11).

Já no segundo grupo, de hábito controlado, a televisão aparece principalmente por sua

singularidade funcional – transmissões de grandes eventos esportivos, por exemplo –, mas

também é acionada em momentos de ócio.

“Programas esportivos eu sei já de antemão o que vai passar ou não. Então isso ajuda a direcionar um

pouco. Se vai ter um jogo legal do São Paulo já sei, vou direcionando para assistir ao jogo às 22h. É jogo da

Copa América, Eurocopa, NBA, Roland Garros... já acompanho antes e ligo a televisão pra isso. Meio que

existe um hábito predeterminado que vou assistir a um jornal, vai ser uma programação mais jornalística no

começo da noite que vai migrar pra esportiva no final” (Entrevistado 7).

“Se eu estou irritado, chateado, vou deitar e assistir qualquer coisa. Como se minha vida não

dependesse disso. Você deita no sofá, porque também tem isso, eu não assisto televisão em pé, assisto deitado no

sofá, lugar que você se sente bem; você provavelmente comeu porque você está na sua casa e se quiser comer

pode comer. Você está na sua casa, curtindo, no seu sofá, dorme no sofá vendo televisão. Então consumo a

televisão numa posição de estabilidade, segurança” (Entrevistado 9).

A rotina dos entrevistados, embora tenha a TV como sua parte, não é organizada em

função dela. Sobre os poucos programas que acompanham, eles não os têm em alta conta, mas

os assistem mesmo assim; trata-se de um ritual breve e descompromissado.

“O Jornal Nacional não é importante para a minha profissão, ou muito pouco importante. Eu tinha

esse hábito em casa na minha família. Dos 17 anos até os 25 eu parei porque meus horários eram diferentes.

Por que voltou esse hábito agora? O horário casa com o horário que estou jantando com minha esposa. Então o

Jornal Nacional acaba pautando nossa conversa. A gente fica assistindo, comentando o que aconteceu no dia.

Ajuda a lembrar... você viu isso? O Jornal Nacional acaba virando uma pauta de conversas do que está

acontecendo no mundo. Quando ele está desinteressante, a gente às vezes deixa a televisão ligada, abaixa o

volume no mínimo e começa a conversar de outra coisa, como foi o dia, o trabalho, o que aconteceu”

(Entrevistado 7).

“Jornal tento ver Jornal da Globo. Não é todo dia porque dá raiva [por razões ideológicas]. Às vezes

migro pra TV paga, que é a Globonews, que às vezes dá raiva também, mas pelo menos me satisfaço mais. Mas

basicamente quando ligo a televisão procuro algum esporte” (Entrevistado 9).

Enfim, no terceiro grupo, de uso compulsivo, o que sobressai não é o motivo que o faz

acionar a televisão, mas o que o faz apagá-la. Os entrevistados declararam mantê-la ligada

praticamente por todo o tempo em que estão em casa, e só desligá-la – quando a desligam –

por uma razão específica, uma atividade concorrente tal qual assistir ao Netflix ou dormir.

Eles veem de filmes repetidos a programas que tão somente suportam, usualmente com uma

atenção fracionada e dispersa.

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“Estou sempre assistindo televisão. É uma coisa automática. Chego em casa e tenho que ligar a TV,

nem que eu nem vá assistir. Não sei por quê. Tipo, deixo ela lá e vou tomar banho, trocar de roupa, jantar. Uma

coisa que costuma acontecer também é eu dormir com a televisão ligada. Normalmente, minha mãe vai lá e

desliga. Coloco, estou assistindo, bate o cansaço e durmo. Nem percebo...” (Entrevistado 8).

“Eu volto para casa e a primeira coisa que eu faço é ligar a TV porque eu não gosto de silêncio. TV

aberta e sempre na Globo. No geral a TV está sempre ligada, mesmo quando eu estou fazendo outras atividades,

lendo um livro, mexendo no celular, lendo revistas. Eu começo a prestar mais atenção quando começa o Jornal

Nacional” (Entrevistada 10).

“Netflix eu não sou dispersa, é porque eu me dispus a assistir aquilo. Novela é uma coisa que fica

passando, às vezes eu presto atenção, porque mesmo a novela tem núcleos, né, então tem uns núcleos que eu

acho mais chatos, então me distraio, tem outros que eu acho mais interessantes, aí eu presto atenção. Mas a

novela eu não assisto do começo ao fim, sempre paro no meio e a gente vai ver a Netflix ou eu vou para o

quarto ler alguma coisa” (Entrevistada 10).

Apesar de a televisão servir a propósitos similares, o uso que os entrevistados desse

grupo fazem dela é significativamente diferente. Um, que possui TV por assinatura e mal

utiliza o Netflix, costuma trocar bastante de canal – ainda que pare sempre nos mesmos – e

assistir a esporte e filmes. A outra entrevistada utiliza o Netflix com frequência, no qual

acompanha diversas séries, e, embora não preste atenção, é por meio da Globo que ela vê o

dia passar. Ele gosta do conteúdo que a TV exibe; ela não, mas liga mesmo assim.

“Costumo assistir o que estiver passando. Esportes, qualquer filme. Sempre tem alguma coisa que dá

pra ver. Às vezes algum filme que já passou um tempo atrás. Não é filme antigão, preto e branco, é filme

repetido, filme que já passou, eu já vi, e às vezes assisto” (Entrevistado 8).

“É engraçado que o horário do Jornal Nacional me induz a algumas coisas: se o jornal acaba mais

cedo, a novela acaba também, então eu já vou para a cama porque vai passar futebol. Quarta-feira é quando

mais sinto isso, já acabou a novela e aí eu geralmente vou para o quarto mais cedo, ver Netlfix ou ler antes de

dormir. Talvez seja um pouco por isso que eu prefiro o barulho da TV. Se eu ponho uma música, eu vou meio

que me perder no tempo né. Como a Globo, por exemplo, tem horários bem rígidos para a programação, eu

deixo ligado e já sei mais ou menos o horário da minha rotina” (Entrevistada 10).

A origem do hábito também aproxima os membros do grupo. Ele é reconhecidamente

antigo e remonta a costumes familiares.

“Minha mãe, por exemplo, vê bastante televisão. Minha mãe muda um pouco, é mais novela. Jornal às

vezes, mas basicamente novela direto. Meu irmão costumava dormir também vendo TV quando ele morava

comigo. Dormia na sala mesmo e a televisão ficava ligada” (Entrevistada 8).

“Quando eu estava na escola ainda, em casa eu deixava a TV ou o rádio ligados para estudar, o

barulho nunca me incomodou. Eu assistia a muito TV desde que morava com meus pais. Eles assistiam muita

também” (Entrevistada 10).

Enquanto a TV conserva um forte elemento de hábito, é difícil atribuí-lo também aos

vídeos por internet, por eles terem a escolha, ou a intenção, como premissa. Eles concedem o

controle último – o clique decisivo – ao usuário, que, por sua vez, parece predisposto a prestar

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atenção ao conteúdo em função da autonomia que exerceu. Segundo o Entrevistado 9, “você

meio que se obriga a assistir porque no final foi você que escolheu”. Ressalta-se, todavia, que

a atenção, embora provável, não é assegurada: mais de um entrevistado afirmou dispersar-se

enquanto utiliza o Netflix ou o YouTube, voltando-se a eles apenas em momentos

particulares.

A passividade que a TV engendra, por mais que sistematicamente atacada, é também,

curiosamente, resguardada. Alguns respondentes, enquanto admitem que a TV produz certa

inércia indesejável, disseram que ela promove uma espécie de relaxamento, como se,

repentinamente, a ausência de autonomia se tornasse um ponto positivo, afastando-os do

fastio da escolha.

“Porque a televisão para mim a TV representa isso. O que me atrai na televisão é essa questão de

“desligar o cérebro” totalmente. É totalmente passivo. Na internet e mesmo no Netflix você tem de escolher o

conteúdo, e mesmo que seja muito pouco, é uma atitude. Eu jamais escolheria essa coisa, totalmente passiva, ao

invés da internet, claro. Se fosse para escolher a televisão ou o Netflix, escolheria o Netflix” (Entrevistada 5).

“Acho que, quando quero relaxar, às vezes eu ligo a televisão. Você “aluga a cabeça”. Tenho esse

costume de zapear, mas de uns tempos para cá diminuiu bastante porque meu conceito de tempo livre também

diminuiu. Estou livre, mas não quero empregar esse tempo na televisão. Você senta na frente da televisão e você

aluga a cabeça, você não pensa. Você “aluga a cabeça”, seja pelo futebol, pela novela... A televisão pensa pra

você” (Entrevistado 9).

“Tem uma coisa engraçada. Assim, se eu chego do trabalho e vamos ver alguma coisa no Netflix, eu

nunca quero. Eu acho que a TV mesmo eu não estando prestando atenção nela, ela me ajuda a relaxar assim.

Eu não estou pensando em nada, estou pensando em várias outras coisas e eu não preciso dedicar minha

atenção” (Entrevistada 10).

Dimensão Inferências

Hábito e Intencionalidade

Três grupos relativamente distintos de

entrevistados: um que abandonou a

TV completamente ou que só a assiste

pontualmente, um que a mantém

como um hábito controlado, e um que

a utiliza compulsivamente, o hábito

na acepção do termo

O que entrevistado que assiste a TV

pontualmente: “A geladeira eu sempre

abro sem saber o que vou comer, mas

a televisão eu não ligo sem saber o

que vou ver”

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O de hábito controlado: “Meio que

existe um hábito predeterminado de

que vou assistir a um jornal, vai ser

uma programação mais jornalística no

começo da noite que vai migrar pra

esportiva no final”

O de uso compulsivo: “Estou sempre

assistindo televisão. É uma coisa

automática. Chego em casa e tenho

que ligar a TV, nem que eu nem vá

assistir. Não sei por quê”

A origem do hábito é

reconhecidamente antiga e remonta a

costumes familiares

Um hábito, embora resistente, pode

ser quebrado por uma recorrente

frustração de expectativas ou por uma

mudança significativa de

circunstância

É difícil atribuir um forte elemento de

hábito aos vídeos on-line, por eles

terem a escolha, ou a intenção, como

premissa; concedem o controle último

– o clique decisivo – ao usuário

O entrevistado parece predisposto a

prestar atenção ao conteúdo dos

vídeos on-line em função da

autonomia que exerceu na hora de

escolhê-los

Alguns respondentes, ao mesmo

tempo que dizem que a TV produz

certa inércia indesejável, afirmam que

ela promove uma espécie de

relaxamento; a ausência de autonomia

como um ponto positivo

Quadro 12 – Análise de Resultados: Dimensão Hábito e Intencionalidade

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4.8. Mobilidade e Dispositivos

Depois da década dos computadores pessoais e da internet, temos agora a era da

tecnologia móvel. As inovações dos últimos anos permitiram a incorporação de recursos de

comunicação e informação em uma miríade de produtos (MARCHEGIANI, 2004), o

smartphone emergindo como o mais popular deles. O comportamento midiático do

consumidor e, claro, seu consumo de conteúdo audiovisual, foram substancialmente

impactados por essas mudanças (CHA, 2012; CHA & CHAN-OLMSTED, 2012; LEE,

Seung; LEE, Sang & KIM, 2015). Esta dimensão trata, portanto, deste tema, da multiplicação

de dispositivos utilizados para reproduzir vídeos, e da possibilidade de consumi-los a

qualquer hora, em qualquer lugar (CHIMENTI, 2010).

De acordo com pesquisa encomendada pelo Google, o smartphone já é mais utilizado

que o computador para o consumo de vídeos on-line no Brasil: 72%, ante 64%. O índice não

surpreende, considerando que o celular superou o PC também como o dispositivo mais

utilizado para conectar-se à internet (GOOGLE, 2015; IBGE PNAD, 2016), e sugere que a

impopularidade da TV digital em dispositivos móveis – em 2013, apenas 10% da população

possuía aparelhos compatíveis com a tecnologia – não pode ser atribuída ao tamanho da tela

(TELETIME, 2013). O YouTube, aponta o Ibope, é um dos aplicativos mais utilizados pelos

brasileiros, atrás somente do WhatsApp e do Facebook (IBOPE, 2015c).

Há de se diferenciar, entretanto, número de vídeos de quantidade de horas. Como

ressalta o Netflix, ainda que metade dos usuários use o smartphone para acessar o serviço, o

dispositivo responde por somente 10% do tempo de consumo (FIERCE CABLE, 2016). De

fato, os entrevistados disseram assistir pelo celular vídeos do YouTube ou do Facebook, em

geral mais curtos, mas recorrer à TV ou ao notebook para conteúdo mais extenso.

“O YouTube pelo celular e o Netflix pelo notebook. Dá pra assistir Netflix pelo celular? Nunca faria

isso. Tela pequena, tem que ficar segurando....” (Entrevistada 1).

“Gente que vê filme no celular eu não entendo. Não sei se seria capaz. Só se tivesse em um momento de

muita restrição, mas pra mim é bem estranho ver um filme numa tela desse tamanho” (Entrevistada 5).

“Eu confundo Netflix com televisão porque assisto na televisão mesmo. Na minha casa antiga, eu via

em uma Smart TV. Aqui, na casa da minha mãe, é no Playstation”. (Entrevistada 6).

“Vejo vídeos no smartphone. Mas não faço muito isso. É raro, só quando é um vídeo muito curto que

está numa rede social. Com o Youtube eu tenho criado o mesmo hábito que tenho com o Netflix, de ligar e

assistir na televisão. Quando não é assim é no tablet” (Entrevistado 7).

Somente um entrevistado mencionou o uso do tablet para o consumo de vídeos, em

conformidade com reportagens recentes que aludem ao rápido declínio nas vendas desse tipo

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110

de dispositivo (COMPUTERWORLD, 2016). O smartphone, por outro lado, foi

constantemente citado. Respondentes, mesmo em casa e com aparelhos reconhecidamente

mais adequados ao alcance, o utilizam por tê-lo como mais rápido e prático.

“As pessoas estão acessando muito mais conteúdo por celular hoje. Às vezes eu tenho preguiça de ligar

o computador, por isso prefiro acessar a programação pelo smartphone. Você tem o meio termo que são os

tablets. Mas eles não atendem a essa demanda especifica de conteúdo audiovisual. Para vídeos do YouTube até

que dá, mas pra você assistir um filme... é desconfortável, você tem que ficar segurando” (Entrevistada 1).

“Eu uso o celular para ver YouTube principalmente quando estou com preguiça. Por exemplo, esses

dias estava frio e eu queria ficar debaixo da coberta. Daí usei o celular. A tela desse novo que comprei, iPhone

6, é grandinha, então fica legal de ver” (Entrevistado 6).

Dois entrevistados apenas declararam assistir a canais pagos por meio das plataformas

de TV Everywhere que eles oferecem. Possivelmente por conta da baixa adesão a esse recurso,

poucos parecem valorizá-lo. Algo diverso acontece, por exemplo, com o Netflix, reverenciado

por sua ubiquidade, quer dizer, pela possibilidade de acessá-lo a qualquer hora, em qualquer

lugar.

“Tem essa vantagem de poder assistir Netflix onde eu quiser. Posso viajar e assistir” (Entrevistada 1).

“Vejo YouTube mais pelo notebook. Netflix também. Quando vou para a casa da minha mãe, daí é

Apple TV” (Entrevistada 5).

“Uso o Globosat Play, o Net Now, tudo que é ligado à Net. Por exemplo, vai ter um jogo de futebol e

não estou em casa, estou em uma viagem, daí assisto pelo Globosat Play” (Entrevistado 7).

“Eu levo meu notebook na casa dos meus pais para assistir Netflix. Eu assisto também à noite assim.

Mas durante o dia eu acabo assistindo o que tem na sala, daí é TV por assinatura” (Entrevistada 10).

Outra particularidade a se salientar é que, embora a participação dos dispositivos

móveis no consumo de vídeos seja significativa (GOOGLE, 2015) isso não significa que tal

consumo ocorra fora da residência, em qualquer lugar. Conforme relatado pelos entrevistados,

há certos empecilhos que impedem uma real mobilidade, como o limite de dados dos planos

de internet para celular ou mesmo uma sensação de insegurança conhecida dos brasileiros.

“Muitas vezes, quando estou voltando do trabalho, eu gostaria de ver um vídeo. Mas no ônibus eu

tenho receio porque acho que chama atenção. Sem contar que gasta muito banda larga. Então, em vez disso,

venho lendo alguma coisa” (Entrevistado 7).

“Eu assisto Netflix na academia enquanto faço a esteira. Com o celular. Mas só porque tem wi-fi lá”

(Entrevistada 11).

“Eu não uso o YouTube fora de casa porque gasta muito minha internet” (Entrevistado 12).

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111

O consumo de conteúdo audiovisual pela rede do celular (3G ou 4G), desta forma,

quando ocorre, fica restrito a vídeos curtos do YouTube, do Facebook ou mesmo da Globo,

citada pelas transmissões esportivas.

“Eu assisto vídeos do YouTube ou do Facebook às vezes quando estou de bobeira, esperando alguma

coisa, no transporte público, por exemplo. Do Netflix não” (Entrevistada 1).

“Se der pra eu ver no celular eu vou assistir. Porque se eu marco alguma coisa com ela [namorada], ir

ao shopping, por exemplo, e está passando o Flamengo, eu não quero perder o jogo, mas também não quero

ficar mal com ela, então é celular direto. Normalmente é pelo site do Globo.com, mesmo. Vejo os gols, os

melhores momentos” (Entrevistado 8).

Dimensão Inferências

Mobilidade e Dispositivos

Os entrevistados costumam assistir

pelo celular vídeos do YouTube ou do

Facebook, mais curtos, mas recorrer à

TV ou ao notebook para conteúdo

mais extenso

O smartphone é muito utilizado para

vídeos. Diversos respondentes,

mesmo em casa, o utilizam por tê-lo

como mais rápido e prático

Embora o smartphone seja muito

utilizado para vídeos, isso não

significa que tal consumo ocorra fora

da residência; empecilhos impedem

uma real mobilidade, como o limite

de dados dos planos de internet ou

uma sensação de insegurança no

transporte público

O consumo de conteúdo audiovisual

pela rede do celular fica restrito a

vídeos curtos

Quadro 13 – Análise de Resultados: Dimensão Mobilidade e Dispositivos

4.9. Pirataria

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Como já destacado, se o CD permitiu a ascensão da música digital, o DVD fez o

mesmo para os vídeos, e ambos, indiretamente, levaram o compartilhamento ilegal de

conteúdo a um nível nunca visto antes. A digitalização, afinal, facilitou a cópia, e a

popularização da internet rápida, a distribuição, retirando os empecilhos técnicos e materiais

que o limitavam (UNIVERSITY OF NORTH CAROLINA, 2011). Todavia, serviços legais e

acessíveis de streaming como Netflix e Spotify têm contribuído para reduzir a pirataria,

conforme estudos apontam (TELEGRAPH, 2016; BGR, 2016; STREAMING MEDIA, 2016).

Esta dimensão, portanto, trata deste tema, da disputa entre os meios legais e ilegais de

conteúdo, e o contexto que leva os usuários a utilizar um ou outro.

De fato, os entrevistados declararam hoje recorrer menos ao download ilegal de

arquivos. Muitos atribuem essa mudança ao advento de serviços como o Netflix, mas a nova

postura dos canais pagos, que lançam temporadas inéditas de séries como Game of Thrones

ou Walking Dead simultaneamente nos Estados Unidos e no Brasil, também foi lembrada.

“Há cinco anos a gente alugava filme, íamos à locadora, a gente era guerreiro. Mas era muita coisa

baixada também, por torrent. Até acontece de recorrer à pirataria, mas hoje é bem menos por causa do Netflix”

(Entrevistada 3).

“Eu era um ávido consumidor de conteúdo pirata. Eu tinha um ou dois sites que eu achava confiáveis

para filme. Eu leio muito sobre o assunto, então eu ia lá e baixava, baixava mais coisas do que de fato assistia.

Mas de 2014 para cá ficou diferente: de um cara que baixava de tudo virei um cara que não baixa nada.

Primeiro, o fato de ter migrado cada vez mais para séries, e menos pra filmes, me ajudou a sair da pirataria.

Segundo, por as séries originais do Netflix me interessarem. Mas mesmo a TV por assinatura mudou. O próprio

Game of Thrones, com a HBO, tem um lançamento simultâneo no mundo todo. Há uns três anos, todas as series

que eu assistia estavam no episódio 10 nos EUA e no terceiro aqui” (Entrevistado 7).

“Quando eu fui morar sozinha, eu tinha só a TV aberta, mas eu não assistia tanto porque eu estudava

à noite. Então, como eu também não tinha TV por assinatura, eu via bastante filme no computador. Eu baixava

muito filme antes do Netflix. Hoje eu nem cogito mais baixar, tenho preguiça. Assisto Netflix mesmo”

(Entrevistada 10).

Outro ponto ressaltado que contribui para reduzir a pirataria é a menor janela de

exibição que separa o cinema da TV por assinatura e dos serviços de streaming. Alguns

respondentes, inclusive, até se dispõem a pagar um valor avulso para ter acesso a um filme em

particular antes que ele entre na grade de programação dos canais pagos. Pelos relatos,

entretanto, isso não ocorre com frequência.

“Eu uso o Net Now. Pouco, muito pouco, mas uso. Se o filme é novo e eu quero muito ver, até pago

separado. Recentemente, paguei para alugar Os Oito Odiados pelo Net Now. Mas, por exemplo, se não estiver

lá ainda, assisto pirata mesmo” (Entrevistado 2).

“A Netflix, trazendo coisas simultaneamente no mundo inteiro, não tem porque baixar ilegalmente. Era

uma questão de ineditismo, eu baixava muita coisa porque só chegaria na TV em um ano. Mas o Netflix tem

diminuído a janela de exibição. Muito filme que acabou de sair do cinema já está lá” (Entrevistado 7).

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O consumo ilegal de conteúdo, embora tenha diminuído, não desapareceu. E assumiu

uma nova forma. Atualmente, em vez de baixar o vídeo para assisti-lo depois, usuários

recorrem a softwares como o Popcorn Time, que, à semelhança de programas predecessores,

utiliza o protocolo BitTorrent para fazer o download rápido de arquivos, mas, como o Netflix,

exibe o vídeo instantaneamente, à medida que o download é feito (BLOOMBERG, 2015).

“Não tem nenhuma série que eu tenha começado a ver nos últimos anos que não fosse do Netflix. No

máximo tem Girls, mas comecei a ver em 2013. Eu não assisto pela HBO, eu assisto por um pirata. É um

aplicativo [PopCorn Time], que você assiste on-line. Vai entrar na última temporada” (Entrevistada 10).

“Quando me sobre tempo, às vezes uma vez por semana, duas no máximo, eu assisto série americana.

Tem dois locais principais: um programa que se chama Popcorn Time e outro chamado Stremio” (Entrevistado

12).

Sites ilegais de streaming também foram mencionados, inclusive para eventos ao vivo,

como jogos de futebol.

“Eu comecei a assistir Girls pela internet. Em um site aleatório que tem as séries [em streaming]. Os

últimos episódios, como eu estava na minha mãe, eu vi pela TV mesmo” (Entrevistada 5).

“Às vezes estou aqui [casa da namorada] e tem jogo do Flamengo que não está passando no SporTV.

Então boto na internet. Já aconteceu algumas vezes. Boto na internet e coloco pra sair a imagem na televisão.

Daí fico assistindo. Nem sei se é pirata [é pirata]. Tem um monte de propaganda” (Entrevistado 8).

“Já assisti jogos no computador, meio que na raça, VerdãoTV.com. Você não sabe exatamente quem

está transmitindo, mas às vezes o sinal é igual da televisão e imagino que deve basicamente retransmitir o sinal

ilegalmente, pirata mesmo” (Entrevistado 9).

Conforme já mencionado, o conteúdo de que o Netflix dispõe influencia as escolhas

que os entrevistados assinantes do serviço fazem, ou seja, fortalece uma dinâmica em que a

oferta condiciona a própria demanda. Em casos específicos, porém, como para assistir a uma

série de uma rede concorrente (Girls na HBO, por exemplo) ou para acessar novas

temporadas que ainda não chegaram à plataforma, essa dinâmica é interrompida, e os

respondentes recorrem à pirataria.

“How to Get Away with Murder passa na televisão americana. Depois vai para o Netflix. Acho que só

tem a primeira temporada lá. Quando eu acabei, já tinha a segunda on-line, tipo nesses sites que você vê séries

pela internet. Vi a segunda temporada assim. Mas a imagem é péssima, o som... mas eu estava viciada”

(Entrevistada 4).

“Muitas vezes, o que chega no Netflix de séries são temporadas que não estão de acordo, no mesmo

ritmo que a da produção dela né. Então, sei lá, está na temporada sete, eles disponibilizam até cinco. Se eu

assisti até aquilo e acabou Netflix, eu vou para esse aplicativo [Popcorn Time] e vejo se já tem os episódios

(Entrevistada 10)”

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A julgar pelas declarações dos entrevistados, graças ao advento de serviços legais de

streaming, de ato frequente o consumo ilegal de conteúdo transformou-se em último recurso.

Apenas o Entrevistado 12 surge como exceção: ele disse recorrer à pirataria com frequência,

e, por isso, é interessante observar como a hierarquia de suas escolhas se diferencia da dos

demais.

“Em primeiro lugar, quando quero ver alguma coisa específica, busco no Netflix. Se não tem, vou no

YouTube, porque às vezes tem o filme inteiro lá. Se também não tem, faria uma busca por torrent, que já acho

mais complicado, mas se eu quiser ver muito uma coisa...” (Entrevistada 1).

“Recorro primeiro ao Popcorn Time porque tem mais conteúdo e ele chega mais rápido. Raras vezes

acontece de não ter o que estou procurando. Se não tem no Popcorn Time, vou no Stremio. Se não tem no

Stremio, vou no Netflix [com o log-in da namorada], e se não tem no Netflix vou ao Youtube. Daí, se não tem em

nenhum lugar desses, não tem o que fazer” (Entrevistado 12).

Os entrevistados, enfim, como o Netflix ilustra, se dispõem a pagar pelo que

consomem. No entanto, caso não aprovem o custo-benefício de dado serviço, como ocorre

com frequência em relação à TV por assinatura, preferem alternativas ilegais de streaming

para assistir ao conteúdo. Por vezes, até desistem de vê-lo.

“Se alguém me recomenda alguma coisa da TV paga, sei lá, não assisto. Procuro ver se tem na internet

alguma outra forma de assistir. Se não tiver não vou pagar, ter um plano de TV por assinatura só por causa de

um programa que, certamente, não vou ter nem tempo de assistir com regularidade” (Entrevistada 1).

“Se eu morasse sozinho, não assinaria TV paga. Game of Thrones, por exemplo, não seria uma coisa

que me faria assinar. Eu voltaria aos sites piratas, como fazia antes de ter HBO” (Entrevistado 2).

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Dimensão Inferências

Pirataria

Os entrevistados declararam recorrer

menos ao download ilegal de arquivos

Netflix foi apontado como principal

motivador da mudança. Lançamento

simultâneo de novas atrações nos

EUA e no Brasil, e menor janela de

exibição que separa o cinema da TV

por assinatura e dos serviços de

streaming também foram lembrados

O consumo ilegal de conteúdo

assumiu uma nova forma. Em vez de

baixar o vídeo para assisti-lo depois,

entrevistados usam a softwares de

streaming como o Popcorn Time

Em geral, entrevistados recorrem à

pirataria em casos bastante

determinados: uma série específica ou

um evento esportivo em especial

Embora se disponham a pagar por

conteúdo, caso não aprovem o custo-

benefício de dado serviço (TV paga,

por exemplo) entrevistados preferem

alternativas ilegais de streaming

Quadro 14 – Análise de Resultados: Dimensão Pirataria

4.10. Socialização

O consumo de audiovisual emerge como uma atividade social na literatura, seja

porque se pode assistir ao conteúdo na companhia de outras pessoas, seja porque este serve

como tópico para conversas vindouras (RUBIN, 1981, 1984; CHA, 2012). Destarte, a

presente dimensão trata desta questão, o comportamento midiático do entrevistado e a

interação social que ele provoca ou que por ela é afetado.

Primeiramente, é perceptível que o comportamento dos entrevistados é um quando

sozinhos e outro quando acompanhados. Dada a alteração de contexto, fator sublinhado por

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116

LaRose (2012), a transformação era esperada. As variações são múltiplas e abrangem do tipo

de conteúdo ao dispositivo utilizado.

“Agora meu namorado e eu estamos vendo Lost, que é velhão, mas eu nunca tinha visto. Tem coisas

que vejo só e tem séries que a gente vê junto. Tem de ver junto senão dá briga” (Entrevistada 4).

“Meu uso do YouTube é mais individual. Chego em casa uma hora antes da minha esposa e nesse

horário dou uma olhada. Quando ligo a televisão? Ligo a televisão quando ela chega. Ou quando esses canais

de YouTube não tem nada muito de relevante" (Entrevistado 7).

“Se eu estou com outra pessoa dificilmente estou vendo alguma coisa no computador. É mais na TV

daí” (Entrevistado 9).

“Eu vejo televisão mais sozinha. O Netflix é mais eu e ele [namorado]. Assim, se eu vou assistir Netflix

durante a semana é com ele, se ele não está aqui, eu vou fazer outra coisa, vou ler. Porque a gente acompanha

séries juntos” (Entrevistada 10).

Por vezes, os entrevistados relatam uma mudança de comportamento cujo fim ou o

gatilho é a socialização. Nesses casos, a diferença de costume entre eles e seus pais, mais

afeitos à TV, se evidencia.

“Na casa do meu pai o que vejo de televisão na casa dele é involuntário. Sento porque ele está lá na

televisão, às vezes sento pra ficar com as pessoas e as pessoas estão vendo programas e fico lá. Meu pai, minha

madrasta, minhas vó. Eles veem muita televisão” (Entrevistada 4).

“Antes de vir pra São Paulo eu assistia TV. Eu cheguei à conclusão que era um momento que eu tinha

com minha mãe, assistindo novela. Quando eu volto para casa, em Salvador, eles [pais] assistem e eu

geralmente peço pra abaixar a televisão um pouco, pra conversar com eles” (Entrevistada 11).

“Eu não tinha televisão no meu quarto. À noite minha mãe gostava de ver os programas dela. Às vezes

eu sentava pra ver junto, esses programas do João Kleber, Marcia Goldschmidt. Eram programas que eu

considero muito ruins. Mas eu sentava e acabava me divertindo. Eram esses programas na companhia dela e

por inércia assistia” (Entrevistado 12).

Esse fenômeno ocorre também, ainda que em menor intensidade, com pessoas de

mesma faixa etária. Potencialmente, ele pode alterar o comportamento individual do usuário,

ou seja, seu consumo midiático no dia-a-dia.

“Eu assistia mais há seis meses, na minha casa antiga. Minha ex-namorada gostava muito de séries e

tinha o costume de procurar, me mostrar, e a gente acabava assistindo. Começamos Breaking Bad, Orange Is

The New Black e Lost. Não terminei nenhuma das três. Acho que o ambiente da casa influencia. Lá, na casa

antiga, que eu dividia com ela e com amigos, eu assistia mais porque eles assistiam. E, aqui, com minha mãe e

irmã, eu assisto menos porque ninguém assiste” (Entrevistado 6).

“Assisto filmes. Canais de filme, Telecine, HBO. Canais esportivos também. Seriados eu não via muito,

mas depois que comecei a namorar, há um ano, passei a acompanhar. O Netflix, então, eu vejo mais em fim-de-

semana, quando estou na casa dela. Mas até por isso, por esta influência, comecei a assinar também”

(Entrevistado 8).

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Curiosamente, serviços de streaming, como o Netflix, de um lado facilitaram a

socialização por meio do consumo de audiovisual, por outro, a dificultaram. Como os vídeos

podem ser vistos a qualquer hora, a experiência de catarse coletiva, tornada tão mais aparente

por causa das redes sociais, perdeu força: cada consumidor, afinal, acompanha seu programa

em seu próprio tempo. A profusão de conteúdo e a incerteza sobre quem está acompanhando

determinada atração também dificultam conversas a respeito.

“Não sinto falta de ver junto com todo mundo. Não preciso comentar ao mesmo tempo, posso comentar

depois. Acho legal, gosto quando alguém assiste ao mesmo seriado que eu e posso conversar. Uma parte chata

daí, realmente, é o spoiler. Você está vendo uma série e às vezes a pessoa não sabe se você está vendo ou não.

Outras pessoas já viram e você acaba sabendo o que vai acontecer” (Entrevistada 1).

“Eu acho legal essa sensação de todo mundo ver a mesma coisa, como aconteceu com Avenida Brasil

uns anos atrás, porque às vezes não tem com quem discutir, debater. Mas não sinto, assim, muita falta... porque

debato ainda as coisas que vejo com pessoas que já viram” (Entrevistada 4).

“O Game of Thrones é um dos raros programas de televisão, hoje, que ainda se comenta no dia

seguinte, os colegas de trabalho estão falando, a gente bate papo sobre isso. É como se fosse ao vivo. É um

pouco do que acontecia com as novelas nos anos 90, 2000. Eu gosto dessa sensação, acho legal pra caramba.

Isso dá uma diferença porque está todo mundo na mesma página e fica divertido de comentar, discutir. Os

vídeos por internet dificultam essa troca de experiências, fica todo mundo receoso na hora que vai falar porque

não sabe em que ponto cada um está na série. É uma desvantagem. Eu gosto de comentar os conteúdos que vejo

e cada vez menos eu encontro outras pessoas que estão vendo esses conteúdos” (Entrevistado 7).

Nesse sentido, os eventos ao vivo, ao manterem a experiência da catarse outrora tão

comum à TV, tornam-se ainda mais particulares.

“Eu gosto de ver ao vivo essas coisas de... é uma boa lembrança! Essas coisas sociais, Oscar, jogo que

é social, não vou ver o jogo da copa sozinha, não ligaria se não fosse social” (Entrevistada 3).

“Cada um vê no seu horário e consequentemente todo muito vê sozinho. Isso fica patente no futebol. Se

cada um puder assistir ao futebol num horário, não iria existir futebol porque o negócio é ver coletivamente.

Acho interessante quando isso se dá com experiências narrativas. Como que tem acontecido com o Game of

Thrones que muita gente tem assistido junto. Isso cria um modo de sociabilidade e eu antecipo que amanha vou

comentar com o pessoal. Acho interessante esse sincronismo” (Entrevistado 6).

“Pra mim o que tem de bom na televisão é isso, os eventos esportivos, e o principal deles é o futebol.

Eu sei que no dia seguinte ao jogo todo mundo sabe quanto foi porque viu na televisão. Se você não ver o jogo

agora... ver ao vivo é mais legal” (Entrevistado 9).

Em contrapartida, entrevistados ressaltaram que, graças a essa particularidade dos

vídeos por internet, à opção de assistir ao conteúdo no momento mais oportuno, eles

conseguem acompanhá-lo junto a pessoas próximas com horários díspares.

“Normalmente não assisto Netflix com alguém, mas o House of Cards eu estava assistindo com meu

namorado. A gente assistiu junto a ultima temporada inteira, de uma vez, sem parar. É legal. Teve outra coisa

que a gente viu junto, uma série que tem no Netflix. É da BBC e está lá” (Entrevistada 5).

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“Vou desligar a TV só umas dez, e durmo às onze. Entre dez e onze é o horário que se eu estou com ele

[namorado], a gente vai ver alguma coisa no Netflix. Eu acho que é no meio da novela, que a gente para e vê

Netflix. Mas não é todo dia, porque ele tem uma rotina, eu tenho outra” (Entrevistada 10).

Por último, como ressaltado na dimensão Descoberta, a socialização é decisiva para a

seleção de novos conteúdos. Isso se dá, claro, por meio de diálogos presenciais, mas as redes

sociais ou os aplicativos de mensagens, por reunirem muitas conversas em uma mesma

superfície, parecem tão ou mais importantes. O YouTube, com seus vídeos curtos, virais e,

com frequência, inseridos na própria interface do portal, emerge por ora como um dos

principais beneficiados desta relação, mas os vídeos nativos do Facebook também foram

citados. Alguns, ao navegar pela rede social, disseram não saber se estão assistindo ao vídeo

de um ou de outro. Os entrevistados sublinharam que razoável parcela do conteúdo que

consomem do YouTube é vista pelo Facebook – ou após serem redirecionados por ele – ou

recebida por WhatsApp.

“Não entro na página inicial do YouTube. É por recomendação de alguém para ver esse vídeo; Porta

dos Fundos, às vezes, eu olho o que está acontecendo. Tinha um canal de um cara francês, volta e meio dou uma

olhada se quero dar uma risada e assim vai, mas todos por indicação ou que alguém compartilhou no

Facebook” (Entrevistada 3)

“Passo muito tempo no Facebook, direto. Acontece de ver muito vídeos por lá. Não sei te falar se são

do YouTube ou do próprio Facebook. Contando com eles, talvez dê uma hora de vídeos na internet por dia. Com

quatro horas de televisão” (Entrevistado 8).

“Acho que o Facebook que é minha fonte principal de vídeos da internet. Quando vou parar no

YouTube muitas vezes é porque um vídeo foi postado por algum amigo no Facebook” (Entrevistado 9).

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Dimensão Inferências

Socialização

O comportamento dos entrevistados é

um quando sozinhos e outro quando

acompanhados; as variações são

múltiplas e abrangem do tipo de

conteúdo ao dispositivo utilizado

Potencialmente, o comportamento do

consumidor quando acompanhado

pode alterar seu comportamento

individual, desacompanhado

Entrevistados relataram mudanças de

comportamento cujo fim ou o gatilho

é a socialização

Serviços de streaming de um lado

facilitam a socialização, por outro, a

dificultam: flexibilidade de horário

permite que pessoas com horários

díspares acompanhem juntas atrações,

mas a experiência de catarse coletiva

perdeu força, pois cada consumidor

acompanha seu programa em seu

próprio tempo

Eventos ao vivo, ao manterem a

experiência da catarse outrora tão

comum à TV, tornaram-se ainda mais

particulares

A socialização é decisiva para a

seleção de novos conteúdos

audiovisuais. Redes sociais e

aplicativos de mensagens emergem

tão ou mais importantes que os

diálogos presenciais

Quadro 15 – Análise de Resultados: Dimensão Socialização

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5. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

O presente capítulo tem como objetivo combinar as dimensões da seção anterior, de

Análise de Resultados, reorganizando-as com base nas inferências logradas. Como enfatizado,

a segmentação dos dados auxilia na análise e interpretação dos resultados, mas somente

quando reunidos eles são capazes de explicar o comportamento do consumidor como um

todo. Pretende-se, portanto, expor de forma elucidativa as respostas obtidas –

independentemente das dimensões a que pertencem –, relacionando-as com a Revisão de

Literatura.

À luz da literatura, e com a contribuição dos dados coletados durante as entrevistas, a

Discussão de Resultados circunda as perguntas da pesquisa, quais sejam: Em que sentido o

consumo de vídeos pela televisão é diferente do consumo de vídeos pela internet no Brasil? A

que nível essas mídias competem e a que nível elas se complementam? As respostas estão

divididas em três subseções, a saber:

O uso leva à descoberta; a descoberta leva ao uso

De telespectador passivo para usuário ativo

A pirataria como sintoma de um bundle sem valor

5.1. O uso leva à descoberta; a descoberta leva ao uso

É do escritor e roteirista William Goldman a asserção “ninguém sabe nada”, em alusão

aos estúdios de Hollywood, que, independentemente do número de blockbusters que tenham

produzido, jamais poderiam antecipá-los. No final, tudo não passaria de uma grande aposta, e

fórmulas repetidas serviriam para mitigar os riscos – é a impressão de que, se algo deu certo

no passado, dará certo no futuro (FOLHA, 2016f). Um ganhador do Emmy, em artigo para o

Hollywood Reporter (2016b), vai na mesma direção e afirma que o sucesso na indústria

audiovisual obedece a dois preceitos: trabalho duro e um bocado de sorte. Nenhuma dessas

afirmações, e a imprevisibilidade que elas sugerem, no entanto, explica a popularidade das

atrações exibidas pelo Netflix entre os entrevistados, e as poucas menções a atrações que o

serviço não transmite. Como relacioná-las?

Uma das formas de explicar o fenômeno é a partir da dimensão de Descoberta. Como

dito, muitos respondentes acreditam que ainda existem bons programas na TV, mas por não

terem conhecimento deles, não os assistem. “Quanto mais fora da televisão você está, menos

você sabe das coisas interessantes que têm ali. Então é uma bola de neve”, disse o

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Entrevistado 6. “Acho que é isso: tem certas coisas que você para de prestar atenção, e elas

simplesmente desaparecem”, afirmou a Entrevistada 4. Para recuperar a comparação do

Netflix com um shopping center (HOLLYWOOD REPORTER, 2016a), é como se a TV

também o fosse, e só ao visitar o shopping você descobriria as lojas que acabaram de abrir.

Coerentemente, programas produzidos nos últimos três anos para a televisão, e

exclusivos dela, foram mencionados principalmente por entrevistados que mantêm o hábito,

mesmo que esporádico, de consumi-la sem uma intenção específica. Foram descobertos

através de um despretensioso zapear por canais, “uma coincidência”, na palavra de um deles.

Mesmo as propagandas, as chamadas de programação, declaradamente não lhes provocam

qualquer efeito. “Não sou contra propaganda, mas ela não me faz eventualmente começar a

assistir um programa, ela não tem esse poder”, disse o Entrevistado 7.

Assim como a televisão, serviços que oferecem vídeos por internet, como Facebook,

Netflix e YouTube, também se apoiam em suas próprias plataformas para divulgar o conteúdo

que possuem. Entrevistados mencionaram o navegar irrefletido, o flanar pelo material

disponível como uma forma de encontrá-lo, algo parelho ao zapear por canais. O fundamento,

no entanto, é absolutamente distinto. Enquanto a ordem dos canais na TV independe de quem

a acessa, as plataformas on-line mencionadas organizam seu conteúdo conforme as ações

pregressas e os interesses do usuário que as utiliza, além das recomendações de seus amigos;

uma “grade” personalizada, portanto. Ao final, a ideia é que o consumidor não tenha que

procurar com afinco o conteúdo que lhe interessa, e, sim, que o conteúdo apresente-se a ele.

Essa dinâmica de descoberta remonta à magnitude da escala de oferta/demanda de

conteúdo que temos hoje, e ao notável desafio de seleção que ela envolve (NEUMAN, PARK

& PANEK, 2012). Para superá-lo, os entrevistados recorrem a algoritmos de

recomendação/organização, mecanismos inteligentes de pesquisa e, enfim, mídias do tipo

pull, em vez de mídias do tipo push. Canais de TV abertos e pagos, ao disponibilizarem seu

conteúdo na internet, abraçaram esta última tendência, permitindo ao consumidor assistir ao

programa que quer, onde e quando desejar, mas, por ora, relegaram as outras duas – o que

talvez explique seu uso somente pontual. O Globosat Play, por exemplo, preso à lógica da

TV, enfatiza os canais que fazem parte da plataforma, como GNT ou Multishow, não os

programas de que dispõe; e diferentemente de Netflix ou YouTube, sua interface não impele

o consumidor à descoberta de novo conteúdo, mas favorece a seleção do que ele já conhece.

Em seu site, se lê: “Perdeu o último episódio da sua série preferida? Quer ver aquele filme de

novo?” (GLOBOSAT PLAY, 2016).

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Vislumbra-se, assim, um círculo vicioso e um círculo virtuoso (Figura 24):

consumidores não descobrem conteúdo da TV porque não a veem ou não a veem porque não

descobrem conteúdo, e descobrem conteúdo das plataformas on-line porque as utilizam ou as

utilizam porque descobrem conteúdo. O círculo vicioso, ressalta-se, se se intensifica à

medida que o boca a boca diminui, também pode ser rompido por ele. O MasterChef,

transmitido pela Bandeirantes, é um exemplo claro, e um caso a ser estudado. Trata-se do

único programa de TV recente – estreou há menos de três anos, em 2014 – reiteradamente

lembrado durante as entrevistas. Como já dito na Análise de Resultados, a socialização

despontou como um relevante fator para a seleção de novos conteúdos audiovisuais, sendo

que redes sociais e aplicativos de mensagens, por reunirem diversas conversas em uma

mesma interface, mostraram-se tão ou mais importantes que os diálogos presenciais. De fato,

a maioria diz ter começado a assistir o reality por influência de amigos e, vale frisar, o

programa tem presença proeminente nas redes sociais (IBOPE, 2015b, 2015d).

Figura 24 – Círculos vicioso e virtuoso de descoberta de conteúdo e uso de plataforma

5.2. De telespectador passivo para usuário ativo

Durante a pesquisa, foi possível perceber três grupos relativamente distintos quanto ao

uso da TV: um que praticamente a abandonou ou que só a assiste pontualmente; um que a tem

Vídeos on-line: interface e

programação personalizadas

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como um hábito frequente, mas controlado, e um cujo uso é compulsivo (Figura 25). Este

último grupo é o que, por vasta vantagem, mais assiste televisão. O que sobressai entre seus

membros não é o motivo que os fazem ligar a TV, mas a razão que os fazem desligá-la.

Diferentemente do que pressupõe a Teoria dos Usos e Gratificações, eles não parecem ativos

e seletivos quanto às suas escolhas; pelo contrário, veem de filmes repetidos a programas que

tão somente suportam, usualmente com uma atenção fracionada e dispersa. Seu consumo é

habitual na acepção do termo: um processo automatizado que, uma vez iniciado, mantem-se

quase que por si só (BARGH & CHARTRAND, 1999).

A TV, de um modo geral, parece incitar um uso habitual, contemplando, se não todos

os elementos que o caracterizam, de acordo Bargh e Chartrand (1999) – ausência de atenção,

de intenção, de consciência e de controle – pelo menos alguns. Respondentes do segundo

grupo, de hábito controlado, expõem essa relação ao comentarem o consumo que fazem da

mídia. Eles a utilizam principalmente com uma intenção determinada, mas por vezes recorrem

a ela por força de um gatilho contextual – a hora do jantar é a hora do Jornal Nacional – ou

em momentos de ócio, sem ter um anseio claro em mente. “Acho que, quando quero relaxar,

às vezes eu ligo a televisão”, disse um deles. “Você senta na frente da televisão e você “aluga

a cabeça”, você não pensa, [...] a televisão pensa pra você”.

Entretanto, o grupo que menos vê televisão é também o mais numeroso desta pesquisa.

Seus membros cresceram assistindo à TV e a tinham como um hábito, mas, hoje, o perderam.

Só a utilizam – se a utilizam – em ocasiões particulares, como jogos de futebol, que precisam

ser vistos ao vivo, do contrário perdem seu sentido, ou uma série excepcional, como Game of

Thrones, cujo número de spoilers é proporcional ao sucesso que faz. Eles ilustram o que já foi

dito sobre o hábito: mesmo quando resistente, ele pode ser quebrado, seja por uma

significativa variação de contexto, caso da Entrevistada 11, que trocou de cidade e foi morar

em um pensionato, seja pela recorrente frustração de expectativas, como é o caso dos outros

integrantes do grupo. Alguns nem sequer possuem TV aberta em casa – mas assinam Netflix.

São esses entrevistados, os que assistiam à TV com frequência, e não o fazem mais, e

que passaram a utilizar assiduamente serviços como Netflix e YouTube, os maiores exemplos

de que os vídeos por internet concorrem com a televisão e não apenas a complementam. Se

Seung Lee, Sang Lee e Kim (2015), com dados de 2009, afirmaram que o streaming de vídeo

iniciara um processo de competição com a TV, podendo no futuro substituí-la, é possível

afirmar que para os respondentes da presente pesquisa esse referido futuro já chegou. Eles

preferem serviços de vídeo on-line porque a singularidade funcional (functional uniqueness)

que estes possuem – a possibilidade de assistir ao conteúdo que quiser na hora que desejar –

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também os torna, para utilizar os termos adotados por Cha e Cha-Olmsted (2012),

funcionalmente mais desejáveis (functional desirability), tanto para filmes, como para séries e

programas.

Desta forma, o uso da TV fica restrito a séries excepcionais, por definição, raras –

Game of Thrones, por exemplo, estreou em 2011 – transmissões de grandes eventos,

especialmente os esportivos, e coberturas jornalísticas de fatos atípicos, como o impeachment

de 2016. O noticiário televisivo diário, ressalta-se, não se mostrou popular entre os

entrevistados; eles disseram preferir se atualizar através da internet, por considerá-la mais

conveniente e ágil, e, ocasionalmente, até mais confiável, por oferecer diferentes perspectivas

sobre o mesmo fato.

Figura 25 – Grupos de consumo da televisão e as respectivas características

Quanto aos vídeos por internet, apesar da frequência com que são consumidos, eles

não parecem induzir um uso habitual por terem a escolha como premissa. Eles concedem o

controle último – o clique decisivo – ao usuário, que, em função da autonomia que exerceu,

mostra-se predisposto a prestar atenção ao conteúdo – foi o próprio usuário, afinal, que

selecionou o vídeo dentre inúmeras opções. Em suma, a intencionalidade com que uma mídia

é consumida se relaciona à atenção que o entrevistado dedica a ela.

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Essa relação, logo, é um indicador importante também para o segmento publicitário,

principalmente em um cenário em que audiência de um veículo não traduz necessariamente a

atenção por ele captada (RODRIGUES, CHIMENTI & NOGUEIRA, 2012; RODRIGUES,

2009). Entretanto, o baixo número de lembranças de propagandas aferido durante a presente

pesquisa sugere um clutter, indesejado tanto por consumidores, que, incomodados com a

quantidade, optam por ignorá-las ou pulá-las, quanto por anunciantes, que não obtêm o

impacto desejado (HA & MCCANN, 2008). Nem a TV, nem os vídeos on-line abrem

vantagem nesse quesito. Como consequência, as lembranças de anúncios, quando existem,

são turvas, e constituídas somente por seu personagem – um jogador famoso, por exemplo –

ou pelo nome do anunciante.

5.3. A pirataria como sintoma de um bundle sem valor

Em se tratando do consumo de conteúdo audiovisual, os entrevistados disseram hoje

recorrer menos à pirataria do que antes. Embora ela tenha ficado mais fácil e conveniente,

graças a softwares como Popcorn Time, nem por isso tornou-se mais frequente. Os

respondentes – exceção feita ao Entrevistado 12 – só fazem uso da pirataria em situações bem

específicas, um evento esportivo ou séries como Game of Thrones ou Girls, exclusivas da

HBO. Alguns fatores podem ser apontados como principais motivadores da mudança, dentre

os quais três se destacam:

Primeiro, o advento e a popularidade de plataformas de vídeos por internet. Nesse

sentido, embora o YouTube e o Facebook sejam também bastante utilizados pelos

consumidores, e possam indiretamente ter contribuído para a redução, o papel que o Netflix

exerce mostrou-se decisivo. É ele que oferece o tipo de conteúdo, como filmes e séries, que os

entrevistados costumavam obter, com frequência, ilegalmente, através de softwares de

compartilhamento de arquivos.

Segundo, uma dinâmica em que a oferta de vídeos dos serviços de streaming

condiciona a demanda, em conformidade com que já fora aventado por Zentner, Smith e Kaya

(2016), isto é, a escolha de uma nova mídia acarretando uma mudança na seleção de

conteúdo. Tal dinâmica ficou evidente em relação ao Netflix, cujo catálogo influencia as

escolhas que os entrevistados assinantes fazem. Eles, por mais que se disponham a pagar por

um filme em especial, só o fazem – se o fazem – esporadicamente, se limitando, assim, às

longas-metragens disponíveis na plataforma. Muitos também aguardam pela incorporação de

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novas temporadas de uma série ao serviço, embora saibam que elas já estejam disponíveis

através outros canais, legais ou não.

Terceiro, a própria disposição dos entrevistados de pagar pelo conteúdo que

consomem, a depender do custo/benefício propiciado. De um lado, a mensalidade praticada

pelo Netflix foi unanimamente exaltada –, “[a mensalidade] não paga uma entrada de cinema”

–, de outro, o valor cobrado pela TV por assinatura foi recorrentemente reprovado. As

plataformas fundadas na internet modificaram a avaliação que os consumidores têm sobre o

preço apropriado dos serviços de vídeos, sobre o custo condizente ao valor oferecido. A TV

por assinatura é considerada cara por ter se tornado dispensável – “é bom ter, mas não é

essencial”. Aqueles que não a possuem, ademais, reconhecem um gap entre o que gastam

com conteúdo audiovisual e quanto aceitariam gastar, uma lacuna, portanto, que pode ser

explorada.

Os produtos da TV por assinatura, como já abordado, não são vendidos

separadamente. Desse modo, a única opção para o cliente é pagar por um bundle, ou seja, um

pacote integrado de canais, cujo preço seria consideravelmente mais alto caso seus elementos

fossem adquiridos separadamente (STRATECHERY, 2013). A questão que se coloca é:

quantos desses canais, se dispostos individualmente, seriam assinados? Por parte dos

entrevistados, poucos, o que resulta em um bundle sem valor e sem propósito. “Não vou

pagar, ter um plano de TV por assinatura só por causa de um programa”, afirmou uma

entrevistada. A solução encontrada para tal dilema é a pirataria. Esta, de ato contínuo, tornou-

se circunstancial. Entretanto, segue existindo.

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6. CONCLUSÃO

Durante a pesquisa, a atualidade do tema de estudo restou evidente. Os últimos dois

anos foram intensos em notícias relativas ao consumo de conteúdo audiovisual no Brasil e no

mundo, assim como a movimentação das empresas envolvidas. Emissoras de TV aberta

projetaram-se no mundo dos vídeos por internet e empresas de streaming lapidaram suas

ofertas. A Globo lançou sua plataforma de vídeos on-line, com direito à simulcasting da

programação, o Netflix expandiu suas operações para 130 novos países e elevou a aposta em

atrações originais, o YouTube disponibilizou uma versão paga do serviço, sem propagandas e

com conteúdo exclusivo, e o Facebook sublinhou seu foco em vídeos, especialmente os

transmitidos ao vivo.

Tantos acontecimentos em tão pouco tempo tornaram o assunto em discussão mais

desafiador para o autor. É, enfim, chegado o momento de apresentar a conclusão da pesquisa.

Não se tem a pretensão aqui de exaurir o tema, mas contribuir para a progressão de seu

conhecimento. O presente capítulo tem como objetivo encerrar a digressão iniciada nas seções

anteriores, de Análise e Discussão de Resultados, sintetizando as inferências apresentadas.

Expõe, ademais, as limitações enfrentadas durante o estudo, as implicações à academia e ao

mercado, e as oportunidades para pesquisas futuras.

6.1. Conclusão

Como discutido nas seções anteriores, a própria forma como a TV é estruturada parece

incitar um uso habitual: as pessoas que mais a assistem são conduzidas por um processo

automatizado, que mantem-se quase que por si só, sem deferência ao conteúdo exibido,

resultando em uma atenção fracionada e dispersa. Já os vídeos por internet, por terem a

escolha como premissa, requerem um usuário ativo, que, em função da autonomia que exerce,

tende a prestar mais atenção ao conteúdo por ele selecionado.

A TV, com sua grade fixa de canais e programação linear, não estimula a descoberta

de novos conteúdos. Plataformas de streaming como Netflix e YouTube, em contrapartida,

personalizam a experiência; não só permitem que o consumidor assista ao que quer, onde e

quando desejar, como recomendam vídeos com base em seus interesses e histórico. Novos

conteúdos são constantemente descobertos, pois o usuário não precisa sequer sair à sua

procura, eles se colocam à sua frente. Quanto menos programas o telespectador descobre na

TV, mais se afasta dela; quanto mais atrações o usuário descobre nos serviços de streaming,

mais se aproxima deles. De um lado um círculo vicioso, de outro um círculo virtuoso.

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Os entrevistados que não têm a TV como hábito veem pouco sentido em acioná-la.

Somente o fazem com uma intenção determinada, com vista às parcas atrações que os atraem,

como os eventos esportivos, uma série ou outra, como Girls e Game of Thrones, e o reality

show MasterChef. A TV por assinatura se converte em um gasto questionável, e a pergunta

consequente é elementar: tem fundamento pagar R$ 200 reais por um serviço, quando o

concorrente, por R$ 20, além de cumprir o mesmo propósito (funcionalidade fundamental

semelhante), oferece recursos complementares (singularidade funcional) que o tornam

superior (desejabilidade funcional)? Para a maioria, não. O bundle, de solução, transformou-

se em empecilho, e os consumidores, impossibilitados de adquirir um item do pacote sem

levá-lo por inteiro, recorrem à pirataria.

6.2. Limitações da Pesquisa

O estudo apresenta limitações inerentes a qualquer pesquisa, decorrentes em parte das

escolhas metodológicas. Estas limitações devem ser consideradas quando da generalização e

análise de resultados. Representam também oportunidades para investigações futuras, que, ao

suprir as lacunas deixadas, podem suscitar novas descobertas e implicações (CHIMENTI,

2010).

Diversas limitações são comumente atribuídas ao método de entrevista em

profundidade. Ao utilizá-lo, o pesquisador fica sujeito a questões relativas a ele próprio, como

a influência das opiniões pessoais sobre o roteiro de pesquisa, ou concernentes ao

entrevistado, como respostas omitidas ou distorcidas, ou a adoção de um discurso ideal em

vez de real. Com efeito, falhas podem ocorrer tanto na interpretação imediata das réplicas,

que provocam novas perguntas, como na interpretação posterior, já na análise de resultados

(GIL, 2002).

A flexibilidade das entrevistas em profundidade dificulta a comparação das respostas,

fundamental para as inferências finais, principalmente se o conteúdo de uma diferir muito do

das outras. Como ressaltam Fontana e Frey (1994), o roteiro semiestruturado pode levar à

omissão de determinados relevantes, caso não seja aplicado com cuidado. No caso da presente

pesquisa, a seleção dos entrevistados também pode afetar o resultado, pois a escolha dos não

foi aleatória, mas respondeu a critérios de acessibilidade – conhecidos do pesquisador ou

conhecidos de conhecidos.

Por fim, é necessário salientar o contexto no qual o estudo se insere. A pesquisa, por

apresentar um corte transversal, e não longitudinal, baseia-se sua análise em um único

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momento – as entrevistas foram realizadas de maio a julho de 2016, de forma que os dados

colhidos restringem-se a um curto espaço de tempo. Os resultados devem ser ponderados

tendo em vista as rápidas mudanças por que tem passado o mercado investigado.

6.3. Contribuições para a Academia

A presente pesquisa se propôs a investigar o consumidor brasileiro enquanto

telespectador de televisão e usuário de vídeos por internet. Admite-se que, ao descrever seu

comportamento midiático e explicá-lo à luz da literatura, ressaltando ainda a disposição com

que as duas mídias – TV e plataformas de vídeos on-line – atuam, atingiu seus objetivos.

Almeja-se que, com a contribuição desta dissertação, novas pesquisas acadêmicas possam

surgir, inclusive de caráter quantitativa, para reforçar as inferências apresentadas.

6.4. Contribuição para profissionais da área

Com base na Análise de Resultados e na Conclusão, que decorrem do exame dos

depoimentos dos entrevistados à luz da Revisão de Literatura, a pesquisa oferece as seguintes

recomendações aos profissionais que atuam no mercado de mídia audiovisual no Brasil.

1. Concentrar esforços e investimentos em plataformas próprias de vídeos por

internet, inclusive com a produção de conteúdo inédito ou exclusivo. O

conteúdo criado para a internet pode ter características diferentes, ou seja, não

precisa estar amarrado à linguagem televisiva.

2. Empresas não devem limitar seu investimento em conteúdo com base na

quantidade de horas em um dia ou em uma semana. A internet não conhece

restrições de tempo.

3. Como em mídias do tipo pull os consumidores podem assistir ao que quiserem

na hora que desejarem, não há porque relacionar conteúdo, público-alvo e

momento do dia.

4. Transformar as plataformas de vídeo on-line em ferramentas para que

consumidores descubram conteúdos novos ou do catálogo – programas antigos

podem ser redescobertos. Vinculá-las às redes sociais, personalizando as

sugestões de vídeos com base nos interesses e histórico de visualização do

usuário, e recomendações de seus amigos.

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5. Distribuir o conteúdo e divulgá-lo através de diversas plataformas e

dispositivos. Consumidores que não veem TV, por exemplo, precisam saber o

que a empresa produz. Redes sociais são mídias indispensáveis com grande

influência sobre a seleção de conteúdo por parte do usuário.

6. Elaborar estratégias que explorem o uso da segunda tela.

7. Há oportunidade para uma real mobilidade dos vídeos, hoje limitada pelos

planos de internet das operadoras de celular. Desenvolver recursos para que

vídeos de interesse do consumidor possam ser baixados automaticamente pela

rede Wi-fi – e, posteriormente, apagados. Assim, eles podem ser assistidos na

rua ou no transporte público sem comprometer a franquia de dados.

8. Manter ou elevar o investimento em transmissões de grandes eventos,

especialmente os esportivos.

9. Na TV por assinatura, é preciso repensar o bundle – eliminá-lo ou pelo menos

flexibilizá-lo. Consumidores se dispõem a pagar pelo que querem ver, mas não

consideram atrativos os pacotes que os obrigam a despender mais por canais

que não desejam. O gap entre quanto gastam com conteúdo audiovisual e

quanto se dispõem a gastar – além da ocasional pirataria – explicita o

problema, e sugere espaço para que novos serviços sejam oferecidos.

10. Agilidade de informação, notificações personalizadas e ênfase em diferentes

perspectivas sobre um mesmo fato podem convencer o consumidor a se

informar por meio de vídeos, na TV ou na internet.

11. Alto número de anúncios a que os entrevistados são expostos em seu dia-a-dia

e baixo número de lembranças sugere um congestionamento publicitário tanto

na TV quanto nos vídeos on-line. Consumidores têm, inclusive, recorrido a

novos métodos, como Ad Blockers, para evitar propagandas, o que reforça a

necessidade de repensar sua forma. Comerciais mais curtos, criativos e

direcionados, mas menos frequentes e ostensivos, podem reverter a situação e

contribuir para que um equilíbrio seja alcançado.

12. Menor consumo de filmes pode ser uma tendência. Pode também ser uma

falha de mercado, o que representa uma oportunidade para empresas.

6.5. Sugestões para pesquisas futuras

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A seleção dos entrevistados seguiu critérios pré-estabelecidos. Como mencionado, os

respondentes residiam no Brasil – por uma questão de acessibilidade, em São Paulo ou Rio de

Janeiro – pertenciam à classe A e tinham entre 25 e 30 anos. Estudos futuros, portanto, ao

optar por critérios outros, podem colher dados diferentes, que gerem novas descobertas e

contribuam para a construção do conhecimento acerca do consumo de conteúdo audiovisual.

Ao longo da presente dissertação, algumas particularidades do consumo foram

reveladas, e podem, portanto, suscitar novas pesquisas. O uso intenso da televisão por jovens

que também assistem a vídeos por internet pode ser aprofundado, assim como indícios de uso

habitual de serviços de vídeo on-line. A crescente importância da programação esportiva para

a TV por assinatura, a redução do consumo de filmes e as razões por trás desse movimento, e

as implicações de uma nova forma de baixar vídeos ilegalmente – simbolizada pelo Popcorn

Time – também emergem como temas interessantes.

As inferências apresentadas neste trabalho podem ser fortalecidas se validades

estatisticamente por uma abordagem quantitativa. Novas pesquisas podem, portanto, verificar

desde a relação entre descoberta de conteúdo e consumo de mídias audiovisuais, à existência

de um gap entre quanto os consumidores gastam com vídeos e quanto se dispõem a gastar.

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ANEXOS

ANEXO 1: Relação do roteiro de entrevista com a Revisão de Literatura

Questões do roteiro

Aspectos a serem explorados Referências na Literatura

Mídias que costuma utilizar no dia-a-dia A frequência e as circunstâncias das

atividades midiáticas

CHIMENTI, 2010

Uso da TV aberta e paga, e de vídeos on-line

Gasto e frequência

RUBIN, 1984; MUTZ, ROBERTS &

VAN VUUREN, 1993; CHIMENTI,

2010; LEE, Seung; LEE, Sang & KIM,

2015; NEUMAN, PARK & PANEK,

2012

Motivos de consumo

RUBIN, 1979, 1981, 1984;

FERGUSON & PERSE, 2000;

BOUWMAN & WIJNGAERT, 2002;

KAYE & JOHNSON, 2003;

DIMMICK, CHEN & LI, 2004; LIN,

2006; LAROSE, 2010; CHA E CHA-

OLMSTED, 2012; CHA, 2012

Intencionalidade do consumo

ROSENSTEIN & GRANT, 1997;

WOOD, QUINN, & KASHY, 2002;

VERPLANKEN & WOOD, 2006;

LAROSE, 2010

Programas que assiste e como os

descobre

RUBIN, 1981, 1984; DIMMICK,

CHEN & LI, 2004; LIN, 2006;

ZENTNER, SMITH & KAYA, 2016

Padrões de uso: locais, horários e

dispositivos

ANDERSON, 2006; NEUMAN, PARK

& PANEK, 2012; DIMMICK, CHEN &

LI, 2004; MARCHEGIANI, 2004;

CHIMENTI, 2010

Atenção dedicada e publicidade

RODRIGUES, 2009; HA & MCCANN,

2009; NELSON, MEYVIS & GALAK,

2009; BELLMAN ET AL., 2012;

RODRIGUES, CHIMENTI &

NOGUEIRA, 2012

Uso em companhia ou sozinho RUBIN, 1981, 1984; CHA, 2012

Pirataria

UNIVERSITY OF NORTH

CAROLINA, 2011; TELEGRAPH,

2016; BGR, 2016; STREAMING

MEDIA, 2016

Vantagens e desvantagens da TV aberta e paga, e

de vídeos on-line

Custo RUBIN, 1984; CHIMENTI, 2010

Simplicidade RUBIN, 1984; CHIMENTI, 2010

Mobilidade MARCHEGIANI, 2004; CHIMENTI,

2010

Qualidade de conteúdo

RUBIN, 1981, 1984; DIMMICK,

CHEN & LI, 2004; LIN, 2006;

CHIMENTI, 2010; CHA, 2012

Ineditismo do conteúdo DIMMICK, CHEN & LI, 2004; LIN,

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153

2006

Agilidade de informação, sincronismo e

confiabilidade

BOUWMAN & WIJNGAERT, 2002;

KAYE & JOHNSON, 2003;

DIMMICK, CHEN & LI, 2004; LIN,

2006

Flexibilidade, variedade e segmentação

DIMMICK, CHEN & LI, 2004;

ANDERSON, 2006; RODRIGUES,

2009; HA & MCCANN, 2009;

NELSON, MEYVIS & GALAK, 2009;

BELLMAN ET AL., 2012;

RODRIGUES, CHIMENTI &

NOGUEIRA, 2012; NEUMAN, PARK

& PANEK, 2012; ZENTNER, SMITH

& KAYA, 2016;

Interação social RUBIN, 1981, 1984; CHA, 2012

Diversão e relaxamento

RUBIN, 1979, 1981, 1984; WOOD,

QUINN, & KASHY, 2002;

VERPLANKEN & WOOD, 2006; LIN,

2006; CHIMENTI, 2010; LAROSE,

2010; CHA, 2012

Mídia ideal Como seria a mídia ideal do

entrevistado

CHIMENTI, 2010

Como era o uso no passado comparado ao

presente/como será no futuro

Como era o consumo de conteúdo

audiovisual do entrevistado há cinco

anos comparado ao presente. Como ele

pensa que será no futuro, daqui a cinco

anos.

CHIMENTI, 2010

Quadro 16 – Relação das questões do roteiro de entrevista com a Revisão de Literatura

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ANEXO 2: Roteiro de Entrevista

1. Gostaria que você falasse sobre as mídias que costuma utilizar no seu dia-a-dia.

2. Gostaria de explorar melhor o uso que você faz da televisão. Na última semana, quantos

dias você assistiu TV, tanto paga quanto aberta? Quantas horas por dia? Para quê? E quanto

gasta por mês com TV paga?

Explorar: (1) Motivos (2) Intencionalidade (3) O que busca, (4) Programas que assiste e como

os descobre, (5) Padrões de uso como locais, horários e dispositivos utilizados, (6) Atenção

dedicada, (7) Tolerância aos comerciais, (8) Uso em companhia ou sozinho, (10) Influência

do grupo.

3. Na sua percepção, quais as grandes vantagens da TV, tanto aberta quanto paga? E as

desvantagens?

Explorar: (1) Simplicidade, (2) Qualidade de som e imagem, (3) Mobilidade, (4) Custo, (5)

Conveniência (6) Conteúdo, qualidade e variedade, (7) Ineditismo e sincronismo (8)

Agilidade de informação, (9) Confiabilidade, (10) Flexibilidade e segmentação, (11)

Flexibilidade/Grau de Controle, (12) Interação Social, (13) Relaxamento, (14) Diversão.

4. Repetir para vídeos por internet. Perguntar sobre o uso de Globo Play, Globosat Play,

Netflix, YouTube e Facebook. Perguntar se paga por algum desses serviços. Verificar se o

consumo de vídeos on-line alterou o uso da TV. Aprofundar as diferenças entre ambos, mas

também entre as diferentes plataformas on-line.

Explorar: (1) Motivos (2) Intencionalidade (3) O que busca, (4) Programas que assiste e como

os descobre, (5) Padrões de uso como locais, horários e dispositivos utilizados, (6) Atenção

dedicada, (7) Uso exclusivo ou não, (8) Tolerância aos comerciais, (9) Uso em companhia ou

sozinho, (10) Influência do grupo, (11) Pirataria.

5. Na sua percepção, quais as grandes vantagens dos vídeos on-line? E as desvantagens?

Explorar: (1) Simplicidade, (2) Qualidade de som e imagem, (3) Mobilidade, (4) Custo, (5)

Conveniência (6) Conteúdo, qualidade e variedade, (7) Ineditismo e sincronismo (8)

Agilidade de informação, (9) Confiabilidade, (10) Personalização e segmentação, (11)

Flexibilidade/Grau de Controle, (12) Interatividade, (13) Interação Social, (14) Relaxamento,

(15) Diversão, (16) Envolvimento, (17) Escapismo

6. Como era seu uso no passado (cinco anos) e como você acha que será no futuro?