revista meiaum nº 3

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3 turismo no irã ? Um brasiliense visita o país e fica surpreso com o que vê Moradores do bairro nobre resistem à ocupação de área do Cerrado para construção de superquadra de luxo + + lei do silêncio ? O desespero de quem tem um vizinho que adora raves Ano 1 | Junho 2011 | www.meiaum.com.br U Sudoeste em pé de guerra

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Moradores do bairro nobre resistem à ocupação de área do Cerrado para construção de superquadra de luxo

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N°3

turismo no irã ?Um brasiliense visita o país e fica surpreso com o que vê

Moradores do bairro nobre resistem à ocupação de área do Cerrado para

construção de superquadra de luxo

++ lei do silêncio ? O desespero de quem tem um vizinho que adora raves

Ano

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Sudoeste em pé de guerra

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Todo mundo que tem carro tem de pagar o IPVA. Mas nem todo mundo sabe que o IPVA faz muito mais do que ajudar na conservação das ruas. Os recursos arrecadados também são aplicados nas escolas, nos hospitais e postos de saúde e nas obras de infraestrutura que melhoram a vida de todos. Por isso é um dos impostos mais importantes. O IPVA que você paga ajuda o DF a andar. www.fazenda.df.gov.br

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Todo mundo que tem carro tem de pagar o IPVA. Mas nem todo mundo sabe que o IPVA faz muito mais do que ajudar na conservação das ruas. Os recursos arrecadados também são aplicados nas escolas, nos hospitais e postos de saúde e nas obras de infraestrutura que melhoram a vida de todos. Por isso é um dos impostos mais importantes. O IPVA que você paga ajuda o DF a andar. www.fazenda.df.gov.br

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Papos da CidadeReflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

Crônica – Milena GaldinoComo dormir se o vizinho resolve dar uma festa daquelas?

CapaQualidade de vida no Sudoeste é ameaçada pela quadra 500

Conto – Zínia AraripeA história de Bel, que se redescobriu na capital federal

Fora do PlanoPaola Lima analisa os bastidores da política local

Artigo – José Tadeu SeixasSerá que Agnelo sabe o que quer a classe média?

TurismoAs surpresas e as lendas do Irã

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Artigo – Bruno GafanhotoÉ preciso discutir a questão da música ao vivo nas quadras comerciais do Plano Piloto

PerfilRubens Mazer (foto) pesa os pratos dos clientes e lhes dá uma dica preciosa

Artigo – Alberto do CarmoUma reflexão sobre o bullying

Caixa-PretaA política nacional por Luiz Cláudio Cunha

Arte, Cultura e LazerOs destaques da programação da cidade

Banquetes e BotecosEm cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é

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ÍNDICE

A MEIAUM ERROUNa edição n° 2, fizemos confusão com o nome do professor da UnB Luiz Alberto Gouvêa (foto), trocando o sobrenome por Corrêa. Ele foi fonte da nossa matéria de capa, sobre os problemas do Plano Piloto.

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Chico Sant’Anna pág. 28Editor do Diplomacia, da TV Senado, ex-vice-presidente das Federações Latino-Americana de Jornalistas (Felap) e Internacional de Jornalistas (FIJ), presidiu o Sindicato dos Jornalistas do DF. PhD em Ciências da Informação e Comunicação pela Univ. de Rennes 1 – França e mestre pela FAC-UnB, com pesquisa em imprensa e integração latino-americana.

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Bruno Gafanhoto pág. 36Músico profissional formado pela UnB, é professor no Instituto de Bateria Bateras

Beat e baterista da banda brasiliense Zero10. Brasiliense, mas nascido no Pará,

tem apenas 22 anos – dizem que mais parece um velho ranzinza de 50. Metade

jazz, metade rock ‘n roll, leva no peito uma paixão quase tão grande quanto a

música: o Flamengo.

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ColaboraDorEs

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Luiz Cláudio Cunha pág. 44Jornalista, gaúcho e gremista. Trocou o sul pelo cerrado em 1980, para se exilar, com prazer, no Lago Norte. Ali trabalha curtindo joias do jazz e da música clássica. É surdo para o resto. Detesta Twitter, Orkut e Facebook, baboseiras que encurtam o mundo e a inteligência. Fã de Churchill, Darwin, Richard Dawkins e de todos que usam a luz da razão e da ciência contra a treva das religiões e dos fanatismos. Vive uma paixão por Inaê, a netinha mais linda do planeta.

Paula Oliveira pág. 38A tranquilidade para conversar fez com que

ela se tornasse uma daquelas jornalistas que adoram bater um papo, mais até

do que escrever. Gosta de ouvir e contar histórias, principalmente as de Luísa, a

sobrinha que ela jura ser sua filha, para raiva da genitora da menina, Mariana. Não

recusa um convite para a balada. Detesta briga e tem a manha como arma principal.

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Priscila Praxedes pág. 45Típica brasiliense de fins de semana em

barzinhos e, às vezes, futebol, esta elétrica jornalista se define cosmopolita. Frequenta

rodas de samba, cinema, teatro e perdeu anos de vida em micaretas. É adepta das corridas e maratonas da cidade. Foi essa

mistura lúdica, brega e popular, sem preconceitos, que a trouxe para assumir as

redes sociais da meiaum e a coluna Arte, Cultura e Lazer.

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Zínia Araripe pág. 22É jornalista das mais ecléticas. Foi repórter e editora até ser atraída pelo menos glamuroso, mas mais tranquilo, serviço público. Chegou a Brasília em 1993, quando chovia sem descanso, e pensou, feliz: “No Ceará não tem disso, não!”. A paisagem árida da seca, que lhe trouxe memórias do sertão do Cariri, onde nasceu, completou a paixão pela cidade.

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Thyago Arruda pág. 14Ele nem carrega o sobrenome na certidão de nascimento, mas fez questão de adotá-lo em homenagem ao pai, Marcio Arruda, de quem herdou a profissão. Ouvia as histórias dele e bastidores das reportagens. Daí, ainda adolescente, surgiu o encanto pela atividade. O brasiliense de 29 anos está há oito na profissão. Quando a próxima edição da meiaum sair, ele já terá nos braços Lucas, irmãozinho de Caio.

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E mais...Bianca Stucky pág. 8, Paulo Mesquita pág. 8, Pedro Ernesto pág. 8, Fabrício Fernandes pág. 9, Kátia Morais pág. 9, Lu Caldas pág. 9, Lúcio Flávio págs. 10 e 51, Laura Násser pág. 10, Luiz Martins da Silva pág. 11, Milena Galdino pág. 12, Jéssica Paula pág. 14, Rômulo Geraldino pág. 22, José Tadeu Seixas pág. 26, Tuco pág. 26, Alberto do Carmo pág. 42, Humberto Freitas pág. 54, Marcela Benet pág. 54

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Paola Lima pág. 25Baiana, em Brasília desde 1994, quando decidiu cursar Jornalismo e mudar de vida. Mudou e descobriu que ser brasiliense lhe parecia ainda mais natural do que ser soteropolitana. Blogueira e colunista, divide o tempo entre os bastidores da política local e as descobertas de Miguel, um brasiliense lindo de quem tem a sorte de ser mãe.

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Gougon págs. 25 e 44É jornalista e artista plástico, mas foi como

chargista no Jornal de Brasília e em publicações alternativas que ganhou maior visibilidade.

Publicou três livros de charge política. Dedica-se hoje às artes, com foco nos mosaicos, entre os quais os monumentos ao educador Paulo

Freire, à frente do MEC; ao líder estudantil Honestino, no campus da UnB; e ao educador

Anísio Teixeira, na Escola Parque da 507 Sul.

Cláudia Dias pág. 36Designer de interfaces, especialista em design estratégico, apaixonada por fotografia e estampas de poá. Vê inspiração para criação em tudo, desde um livro bem diagramado ao fundo colorido de um copo de acrílico. Uma vez, em uma agência da cidade, escutou uma frase e guardou: “foco no foco do cliente do cliente”.

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Rafania Almeida pág. 14É o drama de todo editor pela teimosia

e pelos textos imensos. Tem síndrome de escritora. Desafia todos os modelos

de “mocinha”. Joga video game, comenta futebol e fala palavrão. O único amor em

que acredita é o platônico que vive por Johnny Depp. Ex-bailarina, tem paixão

pelo boxe, com o qual se identifica desde criança, quando viu Rocky Balboa.

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Ana Paula Ferraz págs. 48 e 53Adora cheiro de chuva depois do período de seca. O pôr do sol de Brasília quando as nuvens ficam cor de rosa. Os ipês carregados de flores amarelas. Fotografa todos os azulejos do Athos Bulcão. Desenhava móveis quando era criança. Gostaria de fazer cenários. Fez pós-graduação em Cinema. Não dirige e se vira bem. Tem orgulho de ser brasiliense.

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Karina Gomes Barbosa pág. 46Dona de uma personalidade mais forte que o

preto de seus cabelos, a espiã multifacetada da KGB trabalha sob os disfarces de professora,

doutoranda em Cinema e jornalista. A arte da camuflagem e as histórias baseiam-se em seu

vício por TV e filmes. De uma novela mexicana aos dramas iranianos, ela faz questão de ser todos os

personagens possíveis de um livro inacabado.

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(meiaum) é uma publicação mensal da editora meiaum Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: AnnA HAlley Diretora de Produção: DAnielly Alonso Editor de fotografia: nilson CArvAlHo Projeto gráfico e diagramação: CArlos DrumonD Revisão: BiAnCA stuCkyAssistente de Produção: Cristine sAntosPubliciDADE Sucesso Mídia comunicações – (61) 3328-8046 – [email protected]ão Fcâmara Gráfica & Editora – cSG 9 lote 3 Galpão 3, Taguatinga SulOs textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: [email protected]

| fACeBook Acompanhe nossa página | twitter Siga @revistameiaum | www.meiAum.Com.Br

CAPA | Por CíCero loPes Desenho finalizado em aquarela Jornalista ilustrador, começou a desenhar profissionalmente aos

12 anos. É editor de infografia do Jornal de brasília e empresário.

Carta dos editores

Perguntar não ofende

Diretores: Anna Halley, Danielly Alonso e Hélio Doyle SHiN cA 1 lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – lago Norte | brasília-DF | (61) 3468-1466

www.editorameiaum.com.br

()MEIAU

Nesta terceira edição a meiaum pede licença a um dos mestres da comunicação brasileira e colaborador deste veículo,

Luiz Cláudio Cunha, para fazer uso de suas palavras: “O jornalismo de excelência se faz com excelentes perguntas”. Foi na vida profissional que ele descobriu a filosofia e a proferiu no momento em que foi diplomado por Notório Saber na Universidade de Brasília, em maio. Sábias palavras.

É nessa linha de pensamento que a meiaum concebeu o material das próximas páginas. Com questionamentos que visam a despertar a curiosidade do leitor e a levá-lo a pensar sobre o dia a dia. A revista pergunta sobre uma Brasília que saiu do papel para provocar polêmicas diárias e extensas. Sobre seus habitantes, ora insaciáveis, ora satisfeitos em uma plenitude poética. Na

matéria de capa, Rafania Almeida questiona a necessidade e os reais interesses da construção de uma nova e luxuosa superquadra no saturado Sudoeste. No mesmo contexto, José Tadeu Seixas pergunta se o governador Agnelo vai conseguir atender a exigente classe média local. Bruno Gafanhoto quer saber onde está a vida noturna e artística, enquanto Milena Galdino pergunta por que o agito está na casa vizinha.

A personagem do conto de Zínia Araripe reflete sobre os rumos que tomou na vida e faz perguntas a si mesma. Paula Oliveira sempre quis saber por que aquele senhor do restaurante natural recomenda que cada garfada seja mastigada 32 vezes. E os papos levantam dúvidas sobre o comportamento da humanidade dita evoluída e o da jovem cidade. Por que não perguntar sobre aquilo que se come?

Marcela Benet quer descobrir onde foi parar a excelência gastronômica de um dos mais queridos restaurantes da cidade.

Chico Sant’Anna indaga sobre o Irã que conhecemos e o Irã que ele foi ver de perto. Paola Lima quer saber se o governo local é de coalizão ou de colisão mesmo. Alberto do Carmo não encontra resposta para a perversidade humana...

No dito popular, perguntar não ofende. Não ofende mesmo? Se não, por que vemos veículos de comunicação omissos, jornais comprometidos e um descontrolado Collor invadindo a sucursal da IstoÉ? Luiz Cláudio Cunha também quer saber. Por isso segue no seu direito e dever de continuar perguntando. Afinal, “o que assusta o valentão Collor?”.

Anna Halley e Hélio Doyle

issn 2236-2274

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PaPos Da CIDaDE } i lustrações Pedro Ernesto

A alegria contagiaOutro dia andávamos a Céu e eu (minha Lou Lou) pelo Parque da Cidade, quando uma moça passou por nós e disse: – Adorei a sua roupa e o seu cachorro! Elogio a que eu respondi com um sorriso. Em seguida ela soltou: – E o seu sorriso! Ao que sorri ainda mais.Esse episódio inusitado foi uma injeção de ânimo para o meu dia. Levou-me, inclusive, a pensar no quanto seria bom se todos, como essa moça, andássemos pelas ruas observando e ressaltando pequenas belezas dos que passam por nós. Se mesmo em meio à correria do cotidiano nos permitíssemos esse tempo para olhar e elogiar o próximo.– Adorei seus óculos escuros!– Nossa, esse colar fez toda a diferença!– Que olhos lindos você tem!Em tempos em que injeções contaminadas com HIV geram polêmica e desconfiança dos que passam por nós, seria bem mais agradável polemizar com injeções de bem-estar. Prepará-las, assim como nos preparamos para sair de casa.Que este texto se torne uma ampola de alto-astral e de convicção no próximo, que você a aspire com uma seringa e a injete Brasília afora.Bianca Stucky

Faixa de pedestres: o mito da educaçãoDia desses almocei com um amigo carioca que fazia escala em Brasília. Ele estava acompanhado de três colegas – dois de Natal (RN) e uma de Belo Horizonte (MG) –, todos encantados com a parada que o taxista fez ao avistar um passante. “O motorista de Brasília é muito educado, né? Para até na faixa de pedestres”, disse um deles.Com tristeza, respondi: “Não é bem assim. Vou levá-los ao aeroporto e mostro que isso é uma ilusão”. Acharam graça, mas perceberam que eu falava sério. No caminho, mostrei uma série de coisas que os motoristas de Brasília fazem para jogar por terra a aparente educação com a faixa.O primeiro drama: velocidade. Tanto para quem corre demais quanto para os que correm (?) de menos. Recrimino mais quem anda a 80 km/h no eixinho do que os que andam a 40 km/h. Segundo: seta. Acho que tem gente que desconhece esse item do veículo. Não é possível a pessoa não dar conta de sinalizar que vai fazer um retorno, mudar de faixa ou entrar na tesourinha. Facilita a vida dela e a de todo mundo.Terceiro: falta de educação. Engloba os demais. Os brasilienses não dão a vez a ninguém, furam fila, fazem fila dupla, fecham uma faixa da via (que só tem duas) para fazer um retorno, ultrapassam o sinal vermelho...Quarto problema: a faixa de pedestres. Some todos os fatores acima e se imagine parando na faixa de pedestres. Eu confesso que paro de olho no retrovisor. Meu maior medo é parar e levar uma pancada na traseira do carro – o que já vi acontecer com várias pessoas. No “passeio” com os turistas ainda me aconteceu de parar na faixa de pedestres numa entrequadra, mais à direita da pista. Os colegas viram o pedestre começar a atravessar e, antes de chegar à metade da via, outro

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veículo passar à esquerda, sem se importar com o indefeso passante.Paulo Mesquita

Brasília e aqueles lábiosCerta vez, um amigo (que não mora aqui) falou-me que “Brasília era uma prisão a céu aberto”, citando a escritora Clarice Lispector. Não sei se Lispector assim pensou. Sei que essa questão-problema, se existe, me traz TRÊS pesos sobre os ombros: uma pergunta sem resposta, um preço por não saber lidar com isso e uma dúvida por pensar que talvez esse tema não tenha importância. Eis-me com a questão: Por que Brasília (que tem um Brasil dentro dela) ocupa tanto espaço com sua monumentalidade, a despeito de NÓS?... Agora, vou comigo. Tu vens?!... O céu estava aberto, o dia claro, e as nuvens coloridas infantilmente. Sons ecoaram de nenhum lugar. Voltava da redação da revista meiaum, onde fui realizar uma visita para conhecer uma das responsáveis por esse belo trabalho e também oferecer uma reportagem, e encaminhava-me ao Jornal de Brasília, onde estou lotado (lotado?). Eis que, de repente, tomei-me de assalto por uma imagem e um encantamento... aqueles lábios, de um vermelho ardente, estavam deitados sobre fios de ouro; senti uma embriaguez ao vê-los. Foi quando dei por mim que estava a admirar a sombra daqueles lábios, a ilusão deles, seu reflexo sobre o vidro de um carro, com todas as suas tonalidades e traços realçados pelo Senhor, o Sol. Vi-me tomado de desejo, poesia e assombro. Isso pela ilusão a que me deixei levar... Eram lábios encantadores, e eu queria cobri-los de beijos, se quem os tinha daquele jeito imaginado, assim o quisesse, mas... Eu os beijaria, naquele vidro do carro, até o fim de tudo (olha isso?!). Então, Brasília acabou de festejar seus 51 anos e...Fabrício Fernandes

O céu de Brasília e outras consideraçõesAos primeiros acordes da canção homônima de Fernando Brant e Toninho Horta já pude antecipar o que sentiria ao chegar à cidade, anos depois. À época, pude voar ao som do piano que ouvia do andar de cima do meu apê no Rio. De quebra, faturei um amigo talentoso da música, Zelito Medeiros, que, coincidentemente, já tocara com renomados artistas da capital, como a família Ernest Dias, prodígio na apresentação da música instrumental. Era só um prenúncio. Do lado de cá vieram também o deslumbramento dos dias de outono, de um céu tão limpo como desafiador. Alguns o têm como o mar. Prefiro sentir inspiração. Os acordes, que também falam das mazelas de viver no Planalto Central, nos remetem ainda ao desejo de que o prazer de habitar a cidade seja mais igualitário e com assertivas políticas, que é pra combinar com a natureza do lugar. Um devaneio meu, provavelmente do outono, como dizia o velho Drummond: uma estação mais da alma que do coração. A realidade dura por agora é aquela que nos coloca à frente das perspectivas da administração local, nesse pouco tempo de governo. Inspira-nos, para além da fabulosa estação, um olhar déjà-vu da política propriamente dita, daquele filme que já vimos e não gostamos do final. Faltam nos noticiários informações que possam nos fazer crer que Brasília, já tão sacrificada em governos anteriores, segue noutro rumo para tentar sanar problemas históricos. A exemplo da política federal, seus habitantes confirmaram nas urnas a confiança que sentiam no representante partidário do governo. O tempo necessário de arrumar a casa pra começar o choque de gestão a gente até entende. Mas, por ora, não conseguimos vislumbrar o passo adiante do governo. Por enquanto, o que se vê são trocas de

cargos e disputas pelo poder no Buriti. Mais grave: diferentes compreensões sobre os problemas da cidade, conceitos gerados por divergências políticas que já deveriam estar articuladas para melhor conduzir a política local. É, sem dúvida, um tempo que destoa do espetáculo da natureza.Kátia Morais

Ônibus funcionais, quem seria contra?Desde a inauguração da cidade, e até recentemente, circulavam em Brasília os ônibus de órgãos públicos, que passavam pelas várias cidades e pelo Plano Piloto levando os servidores ao trabalho e de volta para casa. Num tempo em que o trânsito era tranquilo, faziam viagens de ida e volta até na hora do almoço. Alegando que era mordomia, o então presidente Fernando Collor acabou com os ônibus funcionais. Como o transporte público no Distrito Federal já era muito ruim, os servidores passaram a usar seus automóveis. E como depois ficou mais fácil comprar carro, mais automóveis passaram a trafegar. Hoje, Brasília vive o caos no trânsito e nos estacionamentos, com motoristas estressados e alguns péssimos condutores. Ao longo da Esplanada dos Ministérios há uma longa fila de carros estacionados por todas as vias. Ouvi uma vez, do próprio Oscar Niemeyer, que ele sempre recomendava aos amigos que visitem Brasília só nos fins de semana, porque o mall da Esplanada fica muito feio com carros estacionados por todos os lados.Os estacionamentos dos órgãos ficam abarrotados e já foram criadas opções de estacionamentos distantes, com vans para transportar os servidores até o trabalho. Na Câmara dos Deputados, esse sistema foi batizado de “economildo” – as vans partem de um estacionamento depois do TCU para o próprio TCU, para o STF e para a Câmara,

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circulando de minuto a minuto, gastando combustível. E ainda é preciso manter lá seguranças para veículos e pessoas. Por que não voltam os ônibus funcionais? Muita gente deixaria seus veículos em casa e viria para o trabalho mais confortavelmente, lendo, conversando, diminuindo o estresse, pois muitos já chegam mal-humorados ao trabalho, depois de longos congestionamentos. Haveria menos carros nas ruas e nos estacionamentos e menos monóxido de carbono no ar. Os órgãos poderiam cobrar aos servidores, que recebem auxílio-transporte.Sei que os dirigentes vão ficar preocupados com o que a imprensa vai falar, mas com tudo devidamente explicado e as vantagens bem demonstradas, quem seria contra?Lu Caldas

Brasília, a cidade dos mil olhosEm Janela indiscreta, de 1954, James Stewart encarna um fotógrafo preso a uma cadeira de rodas depois de quebrar a perna. Para driblar o tédio, passa o dia bisbilhotando a vida alheia da janela do apartamento, presenciando não só a comédia, mas também a tragédia da vida privada. A elegante e envolvente narrativa do mestre Alfred Hitchcock nos deixa uma lição exemplar: ninguém escapa ao voyeurismo. Em outro clássico dos anos 50, A rosa negra, Orson Welles vive um líder mongol vil que sonha dominar o mundo a partir da China e da Índia. Lá pelas tantas, dois forasteiros ingleses aportam em seus domínios e são recebidos por um mensageiro que avisa: “Cuidado com os mil olhos de Kubla Kahn!”. A dupla de aventureiros não entende nada, até perceber que seus passos e movimentos são vigiados pelos seguidores do temido líder. “São os mil olhos de Kubla Kahn.” Escrito em 1949 pelo inglês George Orwell, o romance 1984 virou filme claustrofóbico que

critica o controle e a intervenção arbitrária de governos autoritários na vida de seus cidadãos, cunhando a famosa expressão Big Brother, o “olho que tudo vê”. George Orwell mirava regimes totalitaristas e líderes insanos como Napoleão, Hitler, Mussolini e Stalin, mas a metáfora se encaixa com perfeição à paranoia e esquizofrenia que toma conta da sociedade do espetáculo do século 21. Não olhe agora, mas você está sendo filmado. Já em A conversação, de 1974, Gene Hackman é um perito em espionagem industrial, expert em grampos, que vê sua vida virar um pesadelo depois de ouvir o que não deve: detalhes de um assassinato. Nunca Francis Ford Coppola foi tão perturbador. Bem, Brasília não é Hollywood, mas virou a Babilônia da corrupção com suas inúmeras gravações de vídeos e conversas telefônicas escusas que denunciam tudo o que há de mais podre e sujo nos meandros do poder. Uma espécie de Big Brother de mil olhos indiscretos onde todos tudo veem. Desde promotores ilegítimos, passando por secretários biônicos e distritais bufões, flagrando até um chefe de executivo em seu melhor papel: o de poderoso chefão. Lúcio Flávio

Quem é mesmo sem noção?– Viu como fulana estava ridícula ontem à noite com aquele vestido? Ela não tem corpo para segurar um bandage dress, coitada. Que falta de noção...Enquanto eu ouvia a resenha de moda, pensava por que diabos a tecnologia evoluiu a ponto de o sinal do celular não cair mais com tanta facilidade no elevador. Não bastasse o desconforto de dividir o espaço de um metro por um com desconhecidos, temos de compartilhar a conversa. Todo mundo se olhando com aquela cara de “nem tô prestando atenção”, como se não ouvir fosse uma opção.

– Ai, amigááá, estou no elevador, a ligação pode cair a qualquer momento, mas enquanto isso deixa eu te contar, fulana encheu a cara e só faltou se jogar em cima dele... – continuou a moça, tão à vontade que por alguns segundos eu me senti mal por ouvir a conversa. Já foi o tempo em que o uso do celular era condenado nos livros de etiqueta. Agora até Glorinha Kalil deve tuitar na mesa do almoço. Out é não ficar batucando no iPhone enquanto espera a chegada da refeição. O uso do celular é tão natural que chegamos ao ponto de atender a ligação para dizer que não podemos falar. Ao volante, então, é um descaramento. Se a gente soubesse como fica patético andando a 40km/h, fazendo zigue-zague na pista enquanto manda aquela SMS... e ainda dizem que ridícula é a moça do bandage dress.Anna Halley

Instinto profissionalPreciso de ajuda para entender o surto de incoerência que tem devastado as mães de primeira viagem. Se você tiver até 35 anos e pertencer à classe média alta de Brasília, tente puxar o papo em uma mesa de boteco e aposto que ao menos uma pessoa vai contar que conhece alguma mãe infectada pela epidemia.O primeiro sintoma aparece quando descobrem a gravidez. Eis que o evento mais natural e instintivo do mundo animal se torna sublime, sagrado; a mãe, um ser divinizado; o bebê, a própria fragilidade encarnada. Aula disso, curso daquilo, pode isso, não pode aquilo, come isso, não come aquilo... Tenho minhas dúvidas sobre a legitimidade do ditado “gravidez não é doença”. O ritual constante de preparação dura looooongos nove meses. Para as mães, deve ser o maior barato. Para quem convive com elas, um saco! A obsessão pelo tal parto humanizado, o enxoval comprado em Nova York, o carrinho de última geração para as corridas com o bebê (sim, porque corrida de

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rua é tendência e é preciso voltar à boa forma!) e as últimas novidades do mundo das grávidas. Por isso digo que são vítimas de um surto de incoerência. Por um lado, querem voltar às origens, fazem questão do parto normal, se possível em casa, de cócoras ou na água (igual ao da Gisele Bündchen, que também é tendência!) com a ajuda de uma doula, de preferência. Por outro, não percebem que são devoradoras de produtos e serviços in relacionados à gravidez. São presas fáceis de um nicho de mercado que constantemente provoca mudanças de comportamento baseadas em conceitos modernos para que as mães de primeira viagem tenham tudo sob o mais perfeito controle até o grande dia (e o pior é depois dele, mas aí é outro papo). A impressão é de que o foco está cada vez mais na mãe, que quer fazer tudo certo, do que no bebê em si. Com tantos cursos e tanta preparação, viram profissionais de algo que sempre foi instintivo e natural.Laura Násser

Passando roupaPassar roupa é viajante,Deslizante superfície,Ao mesmo tempo tecido,Daqui a pouco, planície. Por vezes, pequena rusga,Na insistência vira vínculo,Em escalas por geografiasDesertos, montanhas, picos. Passar navio em Planeta,Ferrovias, via selvas,Mississipi’s ferryboats,E Hawai, cristas azuis. De Anchorage ao Polo Sul,Gelos vão-se alicorando,De tanto calor passandoDe uma a outra latitude.

Passar roupa é devaneio,Mapa-múndi, planisfério,Esquadrilhas da fumaça,Até que alguém, gritando: Olha a roupa, passador!Acabas queimando o pano!Ou uma coisa ou outra!Nem tudo se faz sonhando! Nem roupa fica passada,Nem poesia se encomenda,

Mas como se voa quando,Gerúndio é o presente flanando.Passar uma roupa a ferro,É exercício siderúrgico.Sideral rigor se exigeComo em manobras de nave. Mas logo se vê a nevePara além do Aconcágua,Borrifos de gêiseres na Islândia,Tormenta suando o Saara. Pois censor o seja a mimQuem nunca se apercebeu,Se se na Terra ou no Céu,Em aconchegos de iglus.Luiz Martins da Silva

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Que noite!

A rave é na minha rua

Só queria dormir, mas a janela tremia ao som da batida eletrônica da casa vizinha. Tapar o ouvido com o travesseiro não ajudou e a polícia

não deu jeito. Você acredita mesmo na Lei do Silêncio?

É assim: o cara compra uma casa de R$ 2 milhões e acha que tem de dar uma rave todo mês para valer cada tostão. A última festinha foi no feriado da Pás-coa. Bem ali na minha rua, na minha cara, no meu ouvido.

Eu acho que pelo menos eles deveriam colocar nas caixas de correio dos vizinhos um enve-lope com comprimidos de ecs-tasy. Porque para aguentar essa música insuportável, só consu-mindo mesmo substância ile-gal. Não me entendam errado. Eu não uso ecstasy, nem droga nenhuma. Sou até crente. Mas confesso que peco quando um mala desses resolve me roubar uma noite de sono. E podem

me chamar de mal-humorada, tô nem aí. Quanto vale a sua noite de sono, aliás?

É Sábado de Aleluia. Os su-postos cristãos, que não come-ram carne na sexta para lem-brar a morte de Jesus, agora enchem a cara de vodca para lidar com a fossa pela morte do Cristo. Que luto deles, que luta a minha...

Eu viro para o lado e tapo o ouvido com o travesseiro. O relógio no criado-mudo é meu algoz. Ele avisa: 1 AM. A janela treme ao som da mesma música de uma hora atrás. O DJ de rave, aliás, é o profissional que ga-nha a grana mais fácil do mun-do. Ele leva uma música só para

a festa e toca a maldita a noite inteira para os convivas, que de tão chapados não percebem que estão sendo enganados.

Abro a gaveta para matar a saudade dos tampões de ouvi-do que comprei para ocasiões assim. Eles são umas espumas azuis altamente eficazes: de-pois de devidamente inseri-das na orelha, você pode bater palmas e não ouvir seu próprio som. De tão bons, não são re-comendados para famílias com crianças, afinal os pequenos poderiam acordar e chorar ho-ras a fio sem que a mãe se desse conta. O jeito é esperar mes-mo. Uma hora passa, eles vão se cansar, imagino.

Texto MILEnA gALdInO

CrôNICa

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2 AM. Resolvo dar uma de macho – ali-ás, o macho dorme tranquilamente ao meu lado com o auxílio do tampão mágico. Pego o celular e ligo para o 190. Do outro lado da linha, a atendente finge interesse e per-gunta o endereço. Eu delato o vizinho com um sorriso sádico no canto dos lábios e dou nome falso só para evitar constrangimen-tos ao chegar e sair de casa (como se fosse eu a transgressora da lei).

Eu desligo e penso: “Agora eles vão ver o que é Lei do Silêncio, os FDP”.

3 AM. Nada de sirene, só o tum-tum-tum do DJ é o que ouço...

Ligo para o 190 perguntando se vai de-morar e faço o discurso mais apelativo que me vem à cabeça: “Tenho filho pequeno”, digo, atrás de uma alma solidária. Sem re-torno. Aí eu solto essa: “Pode vir aqui que vocês vão apreender uma quantidade ab-surda de drogas”.

A mulher mais do que depressa retruca: “Ah, se tem droga tem de ser com a polí-cia civil. Ligue 197”, diz, aliviada por me despachar.

Obedeço. Sento na cama e disco 197, como ela mandou. O menu é complicado, repito a operação umas quatro vezes por-que no escuro sempre aperto o botão erra-do do telefone.

Finalmente, consigo falar com alguém depois de uma espera que – essa sim – quase me faz pegar no sono. O sujeito diz: “Ah, mas isso aí é problema da delegacia mais próxima daí”.

Então eu pergunto: “E qual o telefone de lá?”.

Ele me manda de volta para o menu e eu fico mais um tempo na fila de espera. Fi-nalmente um caboclo me atende bocejan-do. Eu digo que quero falar com a delegacia do Lago Sul para acabar com a rave que está rolando há horas, dias, talvez anos, na mi-nha rua.

E ele, assim mesmo, sem o mínimo pu-dor, pergunta se eu posso ligar no 102 para ter auxílio à lista.

Eu desligo o telefone p. da vida e começo a pensar naquelas pessoas da rave. Será que eles atendem os celulares para dar satisfa-ção a pais desesperados à procura deles? Aposto que não. E vou além: levam flores para as mães no segundo domingo de maio como se isso fosse reparar tamanha falta.

Resolvo ir até o berço e lá faço uma pe-quena oração: “Meu Deus, não deixe meu bebê ir a uma rave, nunca, nunca. Faça com que os amigos dele fiquem com sono às oito da noite”.

Fecho a porta do quarto e vejo os pri-meiros raios de sol. O tum-tum começa a murchar mais ou menos na mesma hora em que o aquecimento solar automático da piscina percebe o calor do dia e dispara o seu motor.

Quase sinto o cheiro da marola de ma-conha que deve estar rolando. Uma amiga entendida do assunto me esclareceu uma vez: “Eles não são maconheiros, menina. Quem vai a uma rave usa droga estimulante, e a maconha é para relaxar. Não combina com esse tipo de música. No máximo, eles puxam a onda da maconha lá no final, só para fechar a festa”, avisa minha consulto-ra para assuntos alucinógenos.

Penso em ir até a casa da rave. “Vou pre-gar o polegar no interfone para acordar todo o mundo.” Depois tenho uma ideia ainda melhor: vou contratar um carro de som para tocar Roupa Nova no ouvido de-les o dia inteiro. E caio na real: vou mes-mo é ter a classe e a elegância que faltam aos meus nobres vizinhos. Tenho de pas-sar maquiagem para disfarçar as olheiras e sair de salto alto.

O bebê, claro, acorda. Dando a noite como perdida, passo uma mensagem para minha melhor amiga, que mora na quadra vizinha. “Dani, vamos aproveitar o domin-go para caminhar?”

A resposta vem logo depois no celular: “Não, amiga. Vou dormir agora. Fiquei acordada por causa de uma rave aqui na minha rua”. ) )

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500

Moradores temem que nova superquadra prejudique a alta qualidade de vida do Sudoeste e dizem que o bairro está no limite. Construtoras enxergam ali uma mina de ouro

Texto RAFAnIA ALMEIdA

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Uma polêmica ronda o bairro nobre com o metro quadrado mais caro de Brasília. A construção da su-perquadra 500 – com 22 prédios residenciais, três blocos comerciais, 4 mil pessoas e cerca de 1,2 mil veículos – é o motivo do clima tenso que coloca de

um lado moradores do Sudoeste e o Ministério Público e, do outro, o governo do Distrito Federal, o Instituto do Patrimônio Históri-co e Artístico Nacional (Iphan), comerciantes e, principalmente, a empreiteira que construirá a quadra. Os moradores querem man-ter a qualidade de vida que têm hoje, mas enfrentam um adversário poderoso: o mercado imobiliário, que avança sobre as áreas vazias da cidade.

Os moradores alegam que a nova superquadra é uma afronta ao projeto do urbanista Lucio Costa, que em 1987 previu a expansão do Plano Piloto para os setores Oeste Sul e Oeste Norte (hoje Su-doeste e Noroeste), mas, na visão deles, não da forma como está sendo feita. Ao mesmo tempo, são acusados, pelos que apoiam a construção da quadra 500, de provincianos e elitistas que querem impedir o crescimento da cidade e preservar, só para eles, um es-paço nobre no Plano Piloto.

Moradores já instalados querem manter o bairro do jeito que está e acham que cresceu mais do que deveria. Só que as constru-toras sabem que há moradores de outras regiões ansiosos para se mudar para o Sudoeste e assim querem expandir o bairro – o que significa muito dinheiro para o mercado imobiliário. Comercian-tes pensam no aumento de faturamento, o GDF nos benefícios do adensamento e no IPTU mais elevado.

O morador e empresário Élcio Eustáquio da Silva, de 63 anos, acha que a quadra 500 é “uma das piores coisas que podem acon-tecer no Sudoeste”. Argumenta que, além de desmatar uma área de Cerrado virgem, vai adensar o bairro e ficará insustentável morar no local. Juliana Suaiden Santos, de 40 anos, defende a nova qua-dra, como a maioria dos comerciantes, porque atrairá mais clien-tes para seu negócio.

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PROBLEMAs nO PARAísO No Sudoeste há quase um consenso: o

bairro é ótimo, mas está no limite. Oferece excelente qualidade de vida, com o Parque da Cidade ao lado e à vista e todo tipo de co-mércios e serviços – shopping, grifes varia-das, restaurantes, cafés, academias, centros de estética, lavanderias. Mas o trânsito é im-praticável nos horários de pico. Com poucas alternativas de saída, quase todos os mora-dores são obrigados a trafegar pela Primeira Avenida, a principal. Tanto quadras comer-ciais quanto superquadras residenciais de-sembocam nela. As saídas do bairro – o Eixo Monumental e a pista que separa o Sudoeste do Parque da Cidade – também estão engar-rafadas na ida e na volta do trabalho.

As ruas ainda são mais limpas que as de vários setores de Brasília, mas já começam a acumular sujeira. Os contêineres de lixo trans-bordam logo pela manhã. Caminhões de des-carga utilizam as escassas paradas de ônibus para desembarcar as mercadorias. Isso quan-do não impedem a circulação nos estaciona-mentos, com muitos carros importados, em

que pedestres e veículos começam a disputar espaço. Conseguir uma vaga é difícil.

Moradores, empresários e profissionais liberais entram em confronto por causa da transformação irregular de salas comerciais em pequenos apartamentos, o que aumentou a população além do projetado. Habitantes das superquadras reclamam do inchaço causado pelos moradores das áreas comerciais. Quem vive nas quitinetes se incomoda com o movi-mento das lojas e quem trabalha no comércio se irrita com as constantes reclamações dos moradores. Não é raro ver uma toalha ou uma camisa pendurada ao lado de um consultório odontológico.

Andar de bicicleta deixou de ser uma faci-lidade para os que voltam de um passeio no vizinho Parque da Cidade. Melhor ir para casa empurrando do que pedalando, sob o risco de ser atropelado.

A segurança é boa, mas também não é mais a mesma. Moradores de rua sabem que ali conseguem uns trocados, facilmente dados pelos bem remunerados habitantes. Nos es-tacionamentos, pequenos furtos, antes inco-

Quase todos têm de trafegar pela Primeira Avenida, impraticável nas horas de pico.

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muns, já são realidade. O tráfico de drogas está presente. “Tem gente que só precisa do ponto para ganhar dinheiro fácil, vendendo tóxico”, conta um flanelinha.

A pouca idade do Sudoeste, 22 anos, não o exime de problemas de uma cidade grande. O temor dos moradores é que a construção da superquadra 500 – por mais nobre que ela seja, com a previsão de apartamentos luxuosos – agrave essa situação e, além de degradar uma grande área de Cerrado virgem, traga o caos para o bairro e desvalorize os supervaloriza-dos apartamentos. Segundo a Administração Regional, o bairro foi construído para abrigar 50 mil pessoas, hoje já está com 56 mil e a ten-dência é aumentar.

BRIgAs nA JUsTIçAO bairro que na década de 1990 era parte

do Cruzeiro e foi apelidado de Lamaoeste ou Faroeste, por causa do barro e das construções inacabadas, ganhou prédios suntuosos, dife-rentes do que se costuma ver nas Asas Norte e Sul. Paramentados de janelas e azulejos que reluzem ao sol e, muitas vezes, dão a impressão de ser feitos de ouro, são atrativos aos olhos de quem deseja um lar de dar inveja. É para atrair a atenção de qualquer comprador. Foi o que devem ter pensado os empresários que viram no bairro uma fonte de muito dinheiro, com apartamentos que chegam a ser vendidos por R$ 10 milhões. Quem não ficaria tentado?

O Sudoeste, assim como o Noroeste, foi previsto por Lucio Costa no Brasília Revisitada, em 1987, como extensão do Plano Piloto. Com

cerca de 5,6 milhões de metros quadrados, tem 435 edifícios. São 37 blocos comerciais, 24 na avenida principal. As superquadras são 13, com 120 blocos. No Sudoeste Econômico, com prédios de três andares, são 15 quadras com 167 projeções.

O terreno da superquadra 500, entre o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Eixo Monumental, é de propriedade da Antares Engenharia – que teria como sócio o empresário Nenê Constantino, fundador da Gol. A área, que pertencia à Marinha, ficou com a Antares após uma permuta, em 2002, por 784 apartamentos em Águas Claras. Ou-tras empresas teriam demonstrado interesse no terreno, mas desistiram. O contrato, re-sultado de licitação pública, chegou a ser sus-penso pelo Tribunal de Contas da União sob a suspeita de prejuízo ao erário, uma vez que o terreno avaliado em R$ 325 milhões teve o valor reduzido para R$ 177 milhões na troca. Mas a Justiça decidiu a favor da Antares. O detalhe é que a Marinha, segundo o proces-so, não tinha interesse em construir unida-des habitacionais no Sudoeste, mas alienou o terreno em troca de apartamentos que ainda seriam construídos em Águas Claras.

A construção já foi questionada em ações movidas pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do DF. A Antares e o governo do Distrito Federal, porém, estão ga-nhando as batalhas judiciais. O Iphan, que zela pela área tombada de Brasília, também defen-de a nova superquadra.

Uma liminar conseguida em janeiro de

Moradores das superquadras dizem que uso irregular de

salas comerciais fez a população do bairro

ultrapassar o projetado.

Sudoeste no limiteO trânsito é caótico, as ruas acumulam lixo, falta espaço para descarga de mercadorias e a segurança diminuiu. Dá mesmo para crescer mais?

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2010 pelo MPDFT e por associações de mo-radores, tendo o governo, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e a Antares como réus, impede a empresa de iniciar qualquer cons-trução no terreno, sob pena de multa diária de R$ 300 mil, para evitar a modificação substancial da destinação da área e o risco à economia de terceiros que comprarem as unidades imobiliárias. O processo corre na Vara de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF.

A nova quadra está, segundo a Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb), em local non aedificandi – onde não se pode construir – e integra a escala bucólica da área

tombada. “O Ministério Público do DF é ter-minantemente contra a construção da quadra 500, ela é uma afronta ao tombamento da cida-de em um lugar em que não está previsto cons-trução”, afirma o promotor de Justiça Paulo José Leite Farias. “Não havia previsão alguma de edificação à direita do Inmet”, garante.

O presidente do Iphan, Alfredo Gastal, afir-ma que ninguém está ferindo o tombamento. A filosofia de “no meu quintal, não” é usada por ele para explicar a resistência da comunidade à nova quadra. Gastal diz que ninguém quer que se construa mais nada na cidade, para poupar a vista, para não ser incomodado, para não ter de dividir espaço. A defesa que faz da 500 é

veemente: “Estão discutindo detalhes eco-lógicos e de tombamento como se isso fosse possível. Não tem discussão. Não há naquele terreno espécies nativas raras. A construção será a 230 metros do Eixo Monumental, com um parque separando os dois. A cidade está virando uma província, todo mundo acha que Brasília é seu quintal”.

O procurador-chefe do Meio Ambiente, do Patrimônio Urbanístico e Imobiliário do DF, Emílio Ribeiro, diz que a questão do tomba-mento é batalha vencida. Explica que Lucio Costa estabeleceu a expansão no Brasília Re-visitada e não existe limitação de construção na área. O presidente da Associação Parque

Ecológico das Sucupiras, Fernando Lopes, não concorda com o procurador que representa o GDF. Afirma que os interessados têm agido de má-fé para se beneficiar de um empreen-dimento milionário. “A expansão descarac-terizaria irreversivelmente a visada do Eixo Monumental, comprometendo seriamente o projeto original”, argumenta.

Como boa parte dos moradores do bairro, a deputada federal Erika Kokay, do PT, acha que o Sudoeste não suporta mais adensa-mento, pois já tem escala populacional dife-rente do Plano Piloto. “Enquanto no Plano é 15% de construção e 85% de escala bucólica, no Sudoeste é o contrário e ele se desvirtua

A região prevista para receber a 500 fica a 230 metros do Eixo

Monumental. É a área demarcada na foto.

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do conceito de parque concebido por Lucio Costa”, avalia. A deputada ressalta ainda que não há demanda reprimida de habitação para a classe média alta. “A única necessida-de, nesse caso, é das construtoras em enri-quecer ainda mais”, acusa.

“O impacto do trânsito acontecerá, o Eixo Monumental recebe fluxo de diversas cidades e serão pelo menos mais mil carros se essa área for consolidada”, ataca o promotor Paulo Leite. Ele cita a capacidade de esgotamento do bairro, que deverá aproveitar a estação de tratamento de água e esgoto da Asa Sul: “Para receber essa quantidade de esgoto, a capacidade deve ser ampliada e deveriam ser construídas lagoas de contenção para evitar problemas maiores”.

A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do GDF assegura que a CEB e a Caesb apresentaram estudos mostrando que o sistema de captação e tratamento de esgoto de Brasília opera abaixo da capacidade, devi-do à pouca demanda. “Não são 4 mil pessoas que vão mudar a capacidade de esgotamento e, se tiver de ser ampliada, será”, garante a diretora de Parcelamentos Urbanos da Se-dhab, Tereza Lodder. Ela diz que foi feito um relatório de impacto de vizinhança, exigido para o licenciamento ambiental, que revelou não haver grandes interferências com ruí-dos, iluminação, níveis de sombreamento e parâmetros de desvalorização imobiliária, entre outros pontos.

O Ministério Público do DF questiona a licença concedida pelo Ibram, com aval da Secretaria de Meio Ambiente, nos últimos dias de governo, em dezembro. A licença am-biental foi suspensa temporariamente, por precaução, em março, por recomendação do MPDFT e decisão do secretário de Meio Am-biente, Eduardo Brandão. O objetivo é revi-sar os estudos e o documento. Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Meio Ambiente explicou que a construção da nova quadra está prevista no Brasília Revisitada e apenas “demorou a ser construída”. O resul-tado da reavaliação da licença sairá ainda nes-te semestre, certamente com parecer positi-

vo, uma vez que ninguém no governo é contra a quadra. Se a licença ambiental for liberada, faltará apenas o registro de parcelamento em cartório para o início das obras.

Criticado por ter concedido a licença, o es-pecialista em Gestão Ambiental Gustavo Souto Maior, ex-presidente do Ibram, afirma que já havia um estudo técnico em andamento e o superintendente de licenciamento, “um dos mais experientes técnicos do órgão”, foi o res-ponsável pela emissão do documento. “Essa licença chegou para mim como todas as outras e fiz o processo natural, assinei com as 30 re-comendações feitas para a empresa responsá-vel pela construção”, conta. Logo após o licen-ciamento ser concedido, Souto Maior recebeu uma ligação de um executivo da Antares recla-mando das exigências. “O Iphan não permitiu a construção de coberturas e ele veio reclamar que sairia no prejuízo”, afirma.

Como morador de Brasília há 30 anos, Sou-to Maior se diz contra novas construções na cidade. Como especialista, no entanto, duvida que a questão ambiental impeça a consolida-ção da quadra 500 do Sudoeste. “Por questões de adensamento, a empresa já se comprome-teu a fazer as compensações. O que pesa ali é o tombamento, que está em discussão. Cabe à Justiça resolver isso.” Mas ele não acredita que o tombamento seja empecilho, pois o projeto era para a construção de prédios de três anda-res e o próprio Iphan recomendou que fosse ampliado para blocos de seis andares. Gastal explica por quê: “A quadra 500 está no con-junto das superquadras, não do Sudoeste Eco-nômico, é uma visão conjunta da massa de seis pavimentos”.

O administrador do Sudoeste, Marcelo Ciciliano, teme a piora no trânsito, espe-cialmente no Eixo Monumental e na ave-nida principal. Para ele, a questão do tom-bamento não está bem definida e as obras são um risco para a preservação dos traços de Lucio Costa: “Acredito que se já temos um problema não podemos aumentá-lo. E o Sudoeste hoje está com problemas es-truturais e sociais. Mas sou a favor da lega-

Élcio, de 63 anos, foi para o Sudoeste pela

tranquilidade. Descreve a 500 como “uma das

piores coisas que podem acontecer no bairro”.

Nilson Carvalho

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lidade. Se a quadra for considerada legal, que seja construída”.

UMA MInA dE OUROProcurada para detalhar a construção do

novo empreendimento e os imbróglios judi-ciais, a Antares passou a bola para a Oeste Sul, que assumiu a responsabilidade pela constru-ção da superquadra 500. A assessoria da Oeste Sul não confirma, mas a empresa teria, entre os sócios, os filhos de Nenê Constantino. De acordo com os assessores, a Oeste Sul é apenas parceira da Antares e teria comprado uma parte da nova quadra para construir.

A empreiteira tenta derrubar todos os ar-gumentos contra a 500, pois o Sudoeste é uma verdadeira mina de ouro. O diretor de Marke-ting do Sindicato da Habitação do DF (Secovi), Gilvan João da Silva, afirma que o setor teve valorização de mais de 50% em 2008. A crise econômica mundial fez com que, em 2009 e em 2010, essa valorização caísse para 25% e 30%. Em 2011, deverá ficar em torno de 20%, devido às projeções do Noroeste, mas não corre o risco de cair mais, e os imóveis tendem a ficar cada vez mais caros. “O Sudoeste ainda é um investi-mento mais certeiro, pois as pessoas preferem investir onde veem infraestrutura concreta”, avalia. “A do Noroeste ainda não sabem como vai funcionar e a do Sudoeste está pronta.”

Quem depositou as expectativas no bairro desde o início construiu um patrimônio de res-peito. A empresária Maria José Klein investiu no Sudoeste há 13 anos, quando ela e o mari-do, Harry Klein, compraram salas para instalar uma escola de idiomas. “Na época, pagamos R$ 45 mil em uma sala de 40 metros quadrados”, lembra. Recentemente, decidiram ampliar os negócios e compraram mais uma sala, a quin-ta, do mesmo tamanho, por R$ 245 mil. Assim como moradores, Maria José teme a desvalo-rização que a dita expansão do Sudoeste possa trazer para a área. O dirigente do Secovi duvida que isso aconteça.

A Antares assinou acordo em que se com-promete a promover compensações no Su-doeste para evitar grande impacto na região

Retornocerteiro

Os imóveis tendem a ficar cada vez mais caros. O Sindicato da Habitação estima que a valorização

neste ano seja de 20%.

e, com isso, evitar a desvalorização. Entre as exigências que terá de cumprir estão construir 24 quilômetros de ciclovias, fazer uma com-pensação ambiental no valor de R$ 1,5 milhão na recuperação do manancial da microbacia do Riacho Fundo, implementar os Parques do Bosque e das Sucupiras, plantar árvores nati-vas do Cerrado, monitorar e fazer manutenção de redes de abastecimento de água, esgota-mento sanitário e captação de águas pluviais e realizar obras de acessibilidade e melhoria dos estacionamentos.

A empresa, empenhada em convencer os moradores do Sudoeste, patrocinou um suple-mento de 16 páginas no Jornal da Comunidade, em abril, em defesa da nova quadra 500. O ca-derno saiu sem um anúncio sequer e sem citar o nome da empreiteira.

O AIndA PACATO sUdOEsTEO ritmo é de cidade de interior, mas com ní-

vel mais elevado devido à alta renda per capita. É fácil andar pelo bairro, localizar o que preci-sa, sair de uma loja de sapatos, comer um crepe e passar na lavanderia. Uma saída pode render muitos gastos, conversas e tranquilidade ím-par. Élcio Eustáquio da Silva, de 63 anos, mora há nove no bairro, onde abriu duas lavande-rias. “Vim da Octogonal para cá pelo ritmo de vida que poderia levar aqui, valorizo uma vida tranquila”, diz, degustando sua salada de frutas recém-comprada em uma loja próxima.

Élcio costuma fazer as atividades do dia a dia a pé. Usa o carro em casos extremos ou quando precisa sair do Sudoeste. Também não valeria a pena ir com o carro para não ter onde estacio-nar e gastar gasolina, uma vez que tudo é perto. O bairro com benefícios de metrópole é pacato como cidade pequena. “Só temos problemas com os guardadores de carro, que costumam cometer crimes e tiram um pouco da nossa se-gurança”, afirma. Ganhou amigos e um hábito raro em Brasília, a conversa fiada. Os negócios vão muito bem. Élcio acha que existe público para todo o comércio do Sudoeste, especial-mente o seu. Não faltam clientes, em maioria jovens moradores das quitinetes.

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No bairro, é comum ver pessoas em mesas nas calçadas, tomando o café da manhã, baten-do um papo, lendo um livro. Foi o que chamou a atenção de Juliana Suaiden Santos, de 40 anos, moradora da Asa Sul que resolveu in-vestir no Sudoeste há oito meses. Proprietária do empório Café com Bolacha, percebe que o comportamento dos clientes é diferente: “Eles saem para comer. Não são como em outros lugares, onde compram para levar para casa. Preferem a praticidade”.

A falta de transporte público obriga jovens a enfrentar a noite do Sudoca a pé, mas sem medo. Danilo Mattos, de 22 anos, veio de Porto Velho (RO) há dois anos para estudar e desco-briu que fazer caminhada à noite não é apenas um hábito saudável, mas obrigatório. Desce no Terminal do Cruzeiro e anda até a 104, onde mora, às 23 horas. Além dos passeios noturnos com a leve brisa no rosto, Danilo aprendeu no Sudoeste a cultura de tomar café fora de casa. “Posso ler um livro, combinar de encontrar com meus amigos”, diz.

Os casais jovens passeiam calmamente no meio da semana. Sorridentes, com respiração compassada, óculos de grife e tênis com amor-tecedores de última geração. Encontramos Claudio Dias, de 37 anos, e Danielle Rabello, de 32, há cinco anos no bairro. Os dois servidores públicos aproveitam a manhã livre para cami-nhar pelas ruas menos movimentadas. Deixa-ram Águas Claras por comodidade, qualidade de vida e localização, mais central e próxima do trabalho. “Fora que a rede de serviços aqui é excelente e podemos fazer tudo a pé”, avalia Danielle. Ela comemora o fato de o filho de 12 anos poder fazer tudo sozinho, como ir ao fute-bol e às aulas de inglês sem precisar de trans-porte especializado, de babá ou dos pais. Para o casal, é até melhor não depender de carro. “Às vezes levamos 20 minutos só para conseguir sair da quadra”, reclama Claudio.

A vida é bela no Sudoeste, apesar dos pro-blemas. A dúvida é se esse cenário será manti-do com a chegada de mais 4 mil pessoas e tone-ladas de concreto que se instalarão na quadra 500. (Colaborou Jéssica Paula) ) )

Foi no Sudoeste que Danilo, de 22 anos, criou o hábito de tomar café fora de casa. “Posso ler, encontrar amigos.”

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Diante do abismo

Um salto sobre Brasília

O horizonte vasto da cidade abria espaço também dentro de Bel. Ela precisava mudar, mas não sabia por onde

Bel Matarazzo olha mais uma vez a paisagem longínqua, mas seu cérebro não registra o que vê, imerso em lembranças e pensamentos confusos, en-quanto o instrutor faz os últi-mos ajustes no equipamento de bungee jump.

Nesse estado semi-hipnóti-co ela tinha percorrido o longo trajeto de São Paulo a Santiago do Chile, depois até Auckland e dali a Queenstown. Vinte ho-ras de ansiedade aguda, um nó na boca do estômago, a respi-ração acelerada. Ela ia saltar mais de 40 metros abaixo da ponte do Kawarau River, sus-pensa numa corda elástica. Por que, era uma pergunta ainda sem resposta clara. Só resol-veu seguir uma intuição. Pela primeira vez ouvia aquela voz interna que vinha submersa

durante tantos anos. Sua vida estava errada. Precisava mu-dar, mas não sabia por onde. Só sabia que precisava seguir aquela voz, ser irracional pela primeira vez, arriscar sair do rumo traçado ela não lembrava mais com que objetivo, ou se o objetivo era válido.

Jornalista, Bel trabalhou mais de dez anos, desde os tempos de faculdade, em re-dações de jornais e revistas, sempre correndo atrás da no-tícia, fissurada no trabalho. Uma workaholic típica. Entrava por volta de 11 horas na reda-ção, depois de correr por 40 minutos ou malhar na acade-mia próxima de casa. Lia to-dos os jornais, começava a se pautar: ligava para suas fontes, tomava anotações. Almoçava – quando podia – muitas vezes

para conversar sobre trabalho. E o resto do dia se desenrola-va num torvelinho, as horas voando, os prazos fugindo. Chegava a noite, os telejornais ainda ditavam sua hora de sair: se houvesse furo, tinha que correr atrás, mais do que nun-ca contra o relógio.

Aquela adrenalina toda se espraiava no chope com co-legas, ainda nas conversas o trabalho. Chegar em casa cedo, pra quê? Carlos vivia no mes-mo ritmo. Quando estavam juntos, TV, DVD, livro ou re-vista evitavam conversas in-cômodas além da rápida troca de informações sobre assuntos necessários do resto de vida em comum, novidades – cada vez menos – da vida de cada um. Fim de semana sim, outro não, trabalho. Fora isso conversas

Texto ZínIA ARARIPE Ilustração RôMULO gERALdInO

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fúteis, programas sociais e culturais, mais leitura, mais TV. E a vida sendo consumida sem surpresas, sem prazer, sem norte.

Não mudou muito quando ela resolveu abandonar a redação e fazer assessoria de comunicação. Há dois anos Bel trabalha numa grande empresa do ramo com sede em São Paulo e escritórios no Rio e em Brasília.

Brasília...Nos últimos oito meses, fora designa-

da para supervisionar os trabalhos da Sua Agência de Notícias na capital federal, fa-zer contatos com os clientes mais impor-tantes do setor público. E aquela cidade insólita, que ela passou a visitar a cada duas semanas, esta sim, começou a mu-dar sua vida, abriu seus horizontes de uma forma impossível na arquitetura confusa e densa de São Paulo.

A opção por assessoria foi ditada pela vontade de ganhar mais, de fugir da con-sumição que era o jornalismo. Mas logo ela direcionou para a nova atividade a obses-são pelo trabalho. Seu interesse voltou-se para a parte gerencial. Lia todos os manu-ais modernos sobre eficácia, inteligência emocional, qualidade total. Era uma má-quina produtiva.

A ioga foi introduzida em sua vida na perspectiva de torná-la ainda mais con-centrada no seu foco. Todavia, alguma coisa foi se operando nela a partir da fala suave da instrutora, do aquietar do “turbi-lhão mental”, da forma determinada, mas suave, com que seu corpo ia se moldando aos asanas.

Contribuiu para esse processo o conta-to com a paisagem aberta de Brasília, o ar desolado e de estranha beleza das árvores secas, do gramado cinzento, monotonia quebrada de vez em quando por explosões de amarelo dos ipês floridos e um ou outro verde que persistia nas copas de espécies resistentes à estiagem.

O impacto vinha principalmente do céu, da multiplicidade de cores que ele pro-

porcionava nos fins de tarde, dos diversos tons de azul, que ora doía de tão intenso, ora se enfeitava de nuvens de formatos e texturas diferentes.

Bel mal se lembrava de ver o céu em São Paulo.

Como a arquitetura tumultuada da Pau-liceia, em seu cérebro parece que não so-brava espaço para nada que não fosse tra-balho, pragmatismo, preencher o pouco tempo vago.

Em Brasília, sozinha no hotel nos in-tervalos do trabalho ou à noite, depois da ioga – fez questão de se matricular numa academia da cidade, para não interromper a prática –, diante da paisagem insólita e do horizonte vasto que se descortinava pe-las janelas, foi-se abrindo espaço também dentro dela.

Sua vida estava errada, via agora, clara-mente.

Ela se sentia sufocada, quase sem ar, quando voltava a São Paulo.

Ao mesmo tempo ia sendo tomada por uma desconhecida calma interna, uma vontade cada vez maior de desacelerar o ritmo, de poder sentir o cheiro da terra, ver a cor do céu com mais frequência, dei-xar-se ficar assim parada, contemplando, serenada.

Começou a se lembrar de um projeto antigo, a única coisa que teve realmente vontade de fazer fora o trabalho: praticar algum esporte radical. Gostava do contato com a natureza, amava a aventura, experi-mentar sensações novas, aquela carga de adrenalina que a arrebata e devolve depois renovada, cheia de energia, achando que pode tudo.

No início o jornalismo propiciava essas sensações. Depois, não mais.

Num desses domingos em que ficava em casa, preguiçosamente lendo os res-tos dos jornais do dia enquanto assistia ao Fantástico, viu Glória Maria no seu papel predileto, de personagem da notícia, se preparando para um salto de bungee jump

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na Nova Zelândia, o paraíso dos esportes radicais. Acompanhou tudo atentamente: suspendeu a respi-

ração enquanto ouvia a repórter descrevendo suas sen-sações antes do salto, acelerou o coração quando Glória enfim pulou, mordeu o lábio de inveja quando ela emer-giu e comentou seu feito sem fôlego.

Bel não sabia que rumo dar à sua vida, e um sinto-ma emblemático do vazio em que tinha mergulhado era não ter ideia do que fazer das férias próximas. Viajar com Carlos, nem pensar. Providencialmente ele já ti-nha impossibilitado sua folga no mesmo período que ela. A melhor amiga finalmente arrumara namorado, tinha cada vez menos tempo pra Bel. Ela contava nos dedos de uma só mão as pessoas de quem realmente gostava de desfrutar a companhia, e nenhuma delas es-tava disponível.

A reportagem de Glória Maria lhe deu uma inspi-ração: iria à Nova Zelândia. Tinha pouco tempo para pesquisar roteiros, se inteirar de informações sobre o lugar, do qual tinha uma vaga ideia. Encomendou levantamento de preços e sugestões de roteiro a duas agências e só pediu uma coisa: queria ir direto a Que-enstown, ao salto monumental sobre o Kawarau River, onde Glória esteve. Ela gravara o nome.

Com ansiedade, mas com a sensação crescente de liberdade, Bel foi cumprindo as tarefas pendentes do trabalho, preparando seu substituto, pagando as contas de casa. Raspou suas economias para a viagem. Partiu, enfim.

Agora, depois da primeira noite em Queenstown, mal tendo enxergado o mundo diferente à sua volta, ela olhava para o imenso abismo a seus pés, um pouco ofuscada pelo sol radiante que emergia da montanha, um ar fresco e puro lavando seu rosto.

Seu passado parecia tão distante quanto a natureza em miniatura sobre a qual mergulharia. Não queria mais nada do que ficara para trás. O que faria depois, não tinha ideia. O futuro era tão enigmático quanto a sensação diante do abismo.

Disse ok para o instrutor, respirou fundo, saltou.A última imagem que lhe veio à mente foi Brasília

recoberta de verde após as primeiras chuvas – lumi-nosa, ensolarada, cheia de promessas. Assim encon-trara a cidade quando esteve lá, três dias antes de en-trar de férias.

Era pra lá que queria voltar, pensou com os olhos bem fechados, antes de voar. ) )

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Um governo de colisãoEleito pela aliança partidária adversária ao governador Agnelo Queiroz, o deputado distrital Olair Francisco (PRTB) se con-fundiu com as palavras, esses dias, ao tentar explicar por que abandonou o bloco denominado de “oposição” na Câmara Le-gislativa para integrar a base aliada. “Este deve ser um governo de colisão”. O distrital queria dizer coalizão, mas talvez tenha definido melhor o que pode ser um governo que reúne tantos aliados diferentes.Desde o primeiro dia, o governo PT adota a máxima de que não se descartam aliados. O problema dessa filosofia, principal-mente no Distrito Federal, é que a aliança quase nunca se dá por adesão do adversário a projetos e políticas públicas do Poder Executivo. A motivação, na maioria das vezes, é tão somente a manutenção do poder. Ser governo rende mais do que ser opo-sição – seja com o direito a nomeações de apoiadores, influência em contratos e projetos ou maior cacife para a próxima disputa eleitoral (isso para citar apenas as justificativas publicáveis). Dentro desse contexto, em que o interesse prioritário não necessariamente é um plano de governo de consen-so, a coalizão em pouco tempo se transforma no que co-nhecemos por fogo amigo.

Ritmo lentoA ampla aliança de Agnelo inclui até par-tidos historicamente adversários do PT, como DEM e PSDB. Isso já é suficiente para neutralizar ações oposicionistas, ain-da que não sejam aliados oficiais. O caso do PSDB é o pior. Com só um parlamentar eleito – o distrital Washington Mesquita –, concentra mais esforços em sua recupera-ção política do que no combate ao GDF. Oposicionistas naturais do PT, os rorizis-tas também têm outro foco: salvar o man-dato da deputada Jaqueline Roriz (PMN), flagrada recebendo dinheiro de Durval Barbosa. Além disso, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) voltou-se para suas origens. Analisa disputar a prefeitura de Luziânia no próximo ano.

Críticas no quintalSem oposição, o governo ouve críticas dentro de casa. Ou, no máximo, da casa vizinha. Perto de completar seis meses no comando do Buriti, a gestão petista tem sido questionada em público por dois ex-aliados: o senador Cristovam Buar-que (PDT), que não esconde a decepção com o programa de governo, e o deputa-do federal Izalci Lucas (PR), que, exclu-ído dos projetos de Ciência e Tecnologia, área onde atuou nos últimos anos, dedica quase todos os discursos no plenário da Câmara dos Deputados a apontar proble-mas no atual governo. Isso sem falar nos embates dentro do próprio PT – que ren-dem, sozinhos, histórias para uma próxi-ma coluna.

Já o Democratas anda mais do que amigá-vel. Um único sinal de rebeldia surgiu nas negociações pela presidência da CPI do Pró-DF. Eliana Pedrosa (DEM) derrotou o petista Chico Leite, desgastando o poder de negociação dos governistas. Na prática, porém, a eleição da democrata provocará pouca ou nenhuma dor de cabeça ao Buri-ti. O foco das investigações são contratos firmados em governos anteriores, como o do então democrata José Roberto Arruda, e suspensos na gestão do PT.O DEM promete mudar de postura em agosto, quando está prevista eleição inter-na. O ex-deputado federal Alberto Fraga – que ficou sem tribuna ao perder a eleição para o Senado – deve ser eleito presidente regional. Eliana será a vice.

Fora Do PlaNopor PAOLA LIMA

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artIgo

Com a barba aparada milimetricamenteSerá que o governador sabe o que quer a classe média de Brasília? Não vale chutar saúde, educação e segurança

Texto JOsé TAdEU sEIxAs Ilustração TUCO

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Rogério Rosso até hoje se pergunta por que diabos assumiu Brasília na lama e deixou a cidade no mato. Fernando Henrique ficou oito anos no po-der e levou mais oito para só agora se tocar de que existe o povo e o povão. E Lula levou um dia para

rebater FHC e dizer que quer todo mundo, o povo, o povão e a classe média.

Mas, afinal, o que quer a classe média? E o que quer a classe média de Brasília?

Na eleição do ano passado, a gente decidiu que queria um novo caminho. Aqui em Brasília a fórmula é bem simples. União = candidato que escapou dos escândalos de corrupção + vice que é cria de quem criou o escândalo de corrupção + de-putados que mamaram na teta do escândalo de corrupção.

Aí surgiu Agnelo, que já completou 100 dias no governo, anos de oposição e pelo jeito até agora quis fazer tudo para o povo, para o povão, para a classe média e corre sério risco de não fazer nada.

Classe média de Brasília vai dizer, sempre que o Agnelo perguntar, que quer saúde, educação, segurança e o salário em dia. E aí Agnelo vai sempre responder o que você já sabe o quê.

Mas o que a classe média de Brasília quer (aliás, cuja ren-da é classe AA em qualquer outra cidade) é um pouco mais ou menos, a depender de qual classe és tu, leitor.

Eles querem poder ficar no bar até qualquer hora, desde que não falte vaga no estacionamento do meu apartamento ou o barulho não me incomode quando quiser dormir. Mas aí se eu moro na rua do Beirute, todos os bares devem fechar tarde menos esse, que me atrapalha.

Eu não quero segurança. Eu quero pegar meu carro sem medo de sofrer sequestro relâmpago, colocar um som legal no meu carro sem roubarem e poder encher a cara sem blitz. De resto, what happens in Samambaya stays in Samambaya. Ou você, leitor, realmente se preocupa a quantas anda o combate ao tráfico de drogas na Ceilândia?

Combate à droga, e à violência, é tirar aquele pessoal magro, quase um graveto, que fica descalço embaixo do sol pedindo dinheiro. Eles dizem que é para comida, mas eu tenho certe-za de que é para comprar crack. E, mesmo se não for, é muita gente perdida naquele miolo entre o Pátio Brasil e o Brasília Shopping. Por que não procuram emprego? Ficar embaixo do sol um dia inteiro não é coisa de batalhador.

Doutor Agnelo, em três anos como médico e mais de 20 como político, você já deve saber que eu não quero saúde. Eu quero vaga no estacionamento do Santa Lúcia e que, de preferência, a consulta seja rápida e eficiente.

Eu não quero educação. Quero que a inflação dos livros

e das mensalidades da escola não exploda meu orçamen-to de janeiro.

Aliás, inflação é uma coisa que me tira do sério. É igual ao dólar, dá saudade do tempo que não precisava de uma promo-ção da Gol para comprar uma passagem para Buenos Aires. E Miami? Hoje nem se apertar o orçamento dá conta. (Vou com-prar meu iPhone por aqui mesmo, na Feira do Paraguai.)

Falando em feira, e a Torre de TV? Poxa, morreu mesmo a baiana do acarajé?

Ah, e eu não quero também mais imposto. Gasolina a R$ 3,00 não dá. Daqui a pouco o jeito vai ser andar de ônibus (não, não vai). Aliás, vou lançar um jingle para 2014: menos impostos, mais concurso público.

E em 2014 tem a Copa do Mundo também. O estádio vai custar R$ 600 milhões. Vamos supor que o VLT (linha aero-porto-estádio-shopping do ex-governador), uma outra obra ali, toda a Copa chegue a R$ 1 bilhão. Faça as contas aí para ver se tudo que pedi acima chega a esse valor e saberás se sou con-tra ou a favor. (Resposta: sim, vai ser superchique ser palco da abertura da Copa). E o melhor: em 2015 a Madonna vai estar um luxo cantando no Mané Garrincha. Será que vai dar tempo de o Rolling Stones substituir Copacabana?

Todo dia aqui em Brasília, meu doutor Agnelo, eu vivo um paradoxo. Você já deve ter percebido como meu humor é sensí-vel quando o assunto é serviço público. Quanto menos eu pre-cisar do governo, melhor para mim. Mas, quanto mais o gover-no contratar gente e fizer concurso público, melhor para mim.

Ética? Desde que não atrapalhe a minha vida e eu não fi-que sabendo, está ótimo o governo ter duas dezenas de de-putados e secretários investigados por uma fauna de crimes. É tudo em nome da união. E isso eu já sabia desde a eleição. (Até rimou, Agnelo.)

Boa gestão? Sim, camarada. Basta não ter matagal no cami-nho da padaria, a faixa de pedestre estar bem pintada e a placa de trânsito explicar o melhor labirinto para o Iguatemi.

Ei, Agnelo, isso tudo é mentirinha, tá? O que a gente quer mesmo é um novo caminho... Aqui em Brasília o exemplo vem de baixo, companheiro.

Aí surgiu Agnelo, que já completou 100 dias no governo, anos de oposição e até agora quis fazer tudo para o povo, para o povão, para a classe média e corre sério risco de não fazer nada.

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Um brasiliense descobre que no Irã nem tudo é como nos dizem que é. Conheceu um país com indústria forte, mulheres atuantes, diversidade religiosa e um povo muito simpático.

As tradições, no entanto, ainda impressionam quem é do Ocidente

Texto e fotografia ChICO sAnT´AnnA

turIsmo

ao eixo do mal

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Duas e meia da manhã, 30 de favardin de 1390. Estamos no Irã. Aqui prevalece o calendário solar, ou persa. Os meses são defi-nidos pelos movimentos solares do zodíaco. O primeiro dia do ano, 1º de favardin, equivale ao nosso 20 ou 21 de março, de-pendendo da ocorrência do equinócio. Depois de mais de um

dia de viagem, saindo de Brasília, chegamos à “última parada” ou ao “fim da linha”. Não se trata de juízo de valor, mas do significado em farsi da palavra Te-erã, quando a cidade era uma pequena aldeia no fim de uma rota de caravanas.

Sob o olhar severo de um grande pôster do Aiatolá Khomeini, encontro-me na fila de estrangeiros. Confesso que, diante do oficial de polícia que fitava mi-nha face, cutucava o computador e xeretava meu passaporte cheio de carimbos, inclusive de entrada nos EUA, não estava tranquilo. Mesmo sendo convidado do Ministério do Turismo da República Islâmica do Irã.

Cinquenta quilômetros separam o aeroporto Aiatolá Khomeini do centro da cidade. Começam as surpresas: uma autopista bem cuidada faz a conexão. As ruas são limpíssimas, não se veem favelas nem barracos ao longo da rodovia. Enfim chegamos ao Laleh International Hotel, um cinco estrelas que, em 1979, com a revolução islâmica, deixou de ser Intercontinental.

Teerã é uma metrópole de 9 milhões de habitantes aos pés das montanhas Al-borz. Cobertas de neve, dão um toque úmido ao clima. Com a região metropoli-tana, a população sobe a 14 milhões dos 60 milhões de iranianos. Ela concentra mais da metade da indústria nacional: eletroeletrônicos, armamentos, têxteis, açúcar, cimento, químicos, refinaria de petróleo e automóveis. São produzidos mais de 1 milhão de veículos por ano. Destaque para o carro de tecnologia na-cional, Samana (cavalo, em farsi).

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Aos poucos, percebe-se que várias imagens transmitidas pela mídia internacional são in-verídicas. O Estado se faz presente, mas o Irã está longe de ser socialista. O capital privado é visível e não faltam bancos. O comércio e a construção civil são intensos a olho nu. Esta-mos longe de vivenciar um país destruído pela guerra e pelas sanções econômicas impostas pela Organização das Nações Unidas a pedi-do das grandes potências. O Irã contorna as dificuldades infligidas pelo bloqueio. Desde 2002, cresce a uma média de 6% ao ano. Pos-sui indústria de defesa avançada, produz seus próprios submarinos e se prepara para enviar o primeiro iraniano ao espaço.

Teerã conta com metrô e linhas expressas de ônibus articulados, mas nada alivia o trânsito, intenso e indisciplinado. Motoboys com suas motos encapotadas deixam a irreverência dos brasileiros no chinelo. Faltou espaço nas ave-nidas, a calçada vira atalho. Faixa contínua e “gelo baiano” não são impedimentos para cru-zar, de um lado ao outro, as grandes avenidas (por sinal retornos e balões são inexistentes em Teerã). O melhor é que ninguém buzina nem xinga os barbeiros, e não se veem acidentes.

Seis e meia da manhã. Um canto choroso corta os ruídos da metrópole. Um mulá, de seu minarete, convida os muçulmanos a rezar. Nos quartos dos hotéis há uma seta apontando a direção para Meca e na gaveta da mesa de ca-beceira estão o Alcorão, em inglês e farsi, e um pequeno tapete para que os fiéis orem.

O pãozinho iraniano

A produção do taftun se dá em fornos de barro, do tipo de assar pizza, recheados de bolinhas de argila expandida. A massa é jogada sobre as bolinhas e lá fica até assar. Eles são pendurados e os consumidores – num estilo meio francês – os levam sem qualquer embalagem. Algumas bicicletas e motonetas têm uma cestinha apropriada para a iguaria.

O som dos minaretes também significa hora de acordar e de sair às ruas para conhe-cer o tão temido país do “eixo do mal”. Antes, o café da manhã. Uma espécie de coalhada sí-ria que pode ser misturada com mel ou com compota de morangos nos espera. O taftun, pão persa, feito de farinha integral de trigo, é imperdível. Fininho, acompanha todas as re-feições. Pode ser apreciado quente, com uma espécie de ricota sobre ele espalhada. Pepi-nos e tomates frescos também fazem parte da primeira refeição dos iranianos.

Nas manchetes do dia – em inglês, é claro –, os avanços econômicos do país. O Tehran Times, que circula há 33 anos, registra o vo-lume recorde de negociações na bolsa de valores: 12,5 bilhões de dólares, o maior em 44 anos. Ainda em destaque, as negociações para a criação do bloco de integração regional reunindo Irã, Turquia e Azerbaijão e a inten-ção do Irã de celebrar acordos com os Brics. A questão nuclear não fica de fora. O domí-nio da tecnologia das centrífugas de terceira geração é a manchete principal. Por sua vez, o Iran News proclama que as reservas de ouro da mina de Tabak estão em 4 milhões de to-neladas e poderão proporcionar dez anos de segurança econômica.

Finalmente saio às ruas. O povo iraniano é parecido com o brasileiro. Não apenas em termos físicos. É alegre, acolhedor, comu-nicativo e solidário. As pessoas passeiam até altas horas pelas alamedas floridas, hidrata-

das por fontes de água. As principais cidades iranianas têm um tipo de rede de umidifica-dores. Canaletas ao lado das vias são frequen-temente inundadas para atenuar o calor e a secura. A técnica data do Império Persa e se-ria uma boa dica para a seca de Brasília.

As MULhEREsCom minha máquina fotográfica, sinto-me,

nas avenidas de Teerã, como um caçador de aves no Pantanal: a cada mulher de hijab – véu – que passa na rua miro a objetiva para tentar capturar a imagem. São tantas que fico assim meio perdido, virando-me de um lado ao ou-tro. Logo se percebe outra imagem caricata que poderia ser incluída no rol das lendas interna-cionais. É certo que todas as mulheres usam o véu, obrigatório por lei, mas portá-lo está longe de representar subjugação. O Alcorão determi-na que a mulher se vista de forma a não atrair a atenção dos homens. O uso do véu simboli-za a elevação espiritual da condição feminina, assim como o turbante concede aos homens a sacralização da cabeça.

Elas estão por todas as partes e têm atu-ação forte na vida política e econômica na-cional. Representam 17% da mão de obra contratada, com maior concentração nos setores industrial e agrícola – 26%. Ocu-pam 16% das altas funções parlamentares e de governo, segundo o Centro de Defesa da Mulher e da Família (CDMF), órgão vincu-lado à presidência do Irã.

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preta seja uma distinção religiosa, nos mer-cados e bazares nota-se que os coloridos das brilhantes sedas atraem o desejo feminino.

Não há burcas no Irã, elas são típicas do Afeganistão. São vários os tipos e cores de véus, que têm simbologia. Tive a oportuni-dade de conversar, como jornalista, com al-gumas mulheres de idades e percepções di-ferentes quanto ao véu. Neguin – brilhante, em farsi – é tecnóloga em indústrias gráficas. Encontrei-a, com amigas, lanchando no Par-que Niavaran, outrora residência de verão do Xá Reza Pahlavi. As residências do ex-monar-ca se transformaram em museus e parques. A entrada custa de US$ 1,50 a US$ 3 e maiores de 60 anos não pagam. Vaidosa, unhas pin-tadas com adereços em alto relevo, bastante maquiada, conversa fluentemente em inglês. Não reclama do uso do véu – que por sinal lhe cai muito bem –, mas ressalta que, aos 22 anos, gostaria de mais opções de lazer. Acha

“Até na guerra contra o Iraque as mulheres lutaram com hijab. Após a revolução, passa-ram a ter um papel mais importante, focado na produção do pensamento. Hoje estão in-formadas de tudo que acontece no país. Te-mos mulheres no Parlamento, nas ciências, na medicina, empresárias e até no esporte. Mesmo com a roupa islâmica, temos ganha-do várias medalhas”, salienta Maryam Moja-tahedzadeh, presidente do CDMF.

A assalariada tem direito a remuneração igual à dos homens, conta com estabilidade no emprego para a gestante, licença-gravidez de seis meses e de aleitamento por dois anos. Nas universidades, desde 1979 houve cresci-mento de 70% e hoje elas representam 65% dos 3,5 milhões de universitários iranianos. São inverídicas as versões de que só podem sair acompanhadas pelos homens. Ao celu-lar, ao volante, nas escolas, estão em todas as partes e primam pela elegância. Embora a cor

No Irã, o véu – hijab – é obrigatório. Há diversos formatos e cores, com diferentes simbologias. Deve tampar todo o cabelo. As mulheres não podem mostrar as canelas. Esta foto foi feita em Yazd, a cerca de 600 km de Teerã.

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a vida em Teerã chata: “Não há vida noturna, nem boa-tes”. Para se divertir, restaurantes, cinema e cafés, onde é possível fumar o narguilé – tipo de cachimbo em louça ou vidro. Os jovens costumam fumar em praças e parques públicos. Como o chimarrão, o uso coletivo do narguilé é uma forma de socialização.

Neguin reclama de ter de trabalhar muito, com pou-cas férias (a cada quatro meses, o empregado tem direito a uma semana de folga). Não pode namorar livremente, seu pai a vigia. Indagada se pensa em se casar, acena ne-gativamente com a cabeça e ressalta que por enquanto não pensa nisso. Antes, gostaria de viajar e conhecer Espanha, Austrália, Estados Unidos e, risonha, o Brasil.

No sítio arqueológico de Persépolis, antiga capital do Império Persa, a 70 quilômetros de Shiraz, encontrei duas amigas: Massi e Bahar. Ambas com 25 anos. Uma é con-tabilista, a outra aeroviária. Pediram-me para tirar uma foto. As duas portavam véus. Minutos depois, em um can-to mais isolado, reencontro-as e me pedem nova foto. No momento do clique, retiram seus véus. Minha sensação é de que fora um ato de rebeldia, de audácia, como quem faz topless em uma praia proibida. Puxo a conversa e me dizem que gostam de ir a shows, mas os espetáculos são organi-zados alternadamente para homens e mulheres. “Isso é muito chato, não podemos paquerar”, reclama Massi.

Kimia, 15 anos, inglês perfeito – a maioria dos jovens fala muito bem o inglês –, vem conversar na porta de outra ex-residência, a de inverno, de Pahlavi. Com seu unifor-me escolar azulado, quer saber tanto de nós quanto nós dela. Indaga se somos da Amerika (dos EUA) e o que faze-mos lá. Do Brezilia (pronúncia de Brasil), ela e suas amigas conhecem pouco. Apenas uma sabia o nome de uma cida-de: Rio de Janeiro. Ninguém conhecia Brasília e algumas achavam que Buenos Aires era a nossa capital.

Estudante secundarista, diz que é feliz, mas gostaria de “ser livre”. Pergunto o que significa ser livre, se deseja deixar o país. Responde-me negativamente. Diz que gos-ta do Irã, que até gostaria de fazer estudos de genética no Canadá, mas que voltaria a morar no Irã. Liberdade para Kimia é não ser obrigada a usar véu. No sistema escolar iraniano, o ensino até a faculdade não é misto. Há colégios para meninos e para meninas. Os garotos, mesmo os pe-quenos, usam gravatinhas e paletós. Nas atividades exter-nas, uma fila para os garotos, uma para as meninas.

Outras não sentem o véu como limitação. Ao contrário, consideram que lhes dá paz, proteção e que realça o va-lor da mulher. É a visão de Mahdiyar Arab. Pós-graduada

Neguim, de 22 anos, não se importa em usar véu, mas reclama da falta de lazer. Quer viajar pelo mundo antes de se casar.

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O país teve seu perfil étnico composto a partir dos persas, armênios cristãos ortodoxos, curdos e judeus. A pluralidade religiosa é assegurada pela Constituição. As minorias religiosas têm, por lei, direito a representantes na Assembleia Legislativa. Predomina o islamismo, mas é comum encontrar sinagogas, igrejas católicas ortodoxas (abaixo) e, principalmente, templos zoroastras. O zoroastrismo, a primeira religião monoteísta, é o segundo maior contingente religioso do país. Os seguidores acreditam na força dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar.

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em História, 29 anos, moradora de Yazd, em pleno deserto, considera-o proteção contra a concepção de mulher-objeto. Indagada so-bre sua ambição como mulher, sua resposta, emocionada e com os olhos embargados em lágrimas, é de cunho religioso. Os muçulma-nos chamam Jesus de Isa e tratam-no como um grande profeta que retornará antes do Juízo Final ao lado do 12º Imam (espécie de apóstolo de Maomé), Mahdi (O Guiado). De acordo com as tradições, os dois retornarão à Terra para livrar o mundo da injustiça e da tirania. O sonho de Mahdiyar é viver o sufi-ciente para presenciar esse dia.

Embora tenham assumido maior protago-nismo, as mulheres ainda são vítimas de vio-lência, principalmente nas camadas sociais mais desfavorecidas e na periferia das gran-des cidades. Um dos calcanhares de aquiles é a violência perpetrada por taxistas contra passageiras sozinhas. As tradições ainda in-duzem a uma presença mais familiar da mu-lher. Primeiro, a família – comportamento incentivado pelo governo, que considera a fa-mília a base da sociedade. Dessa forma, mui-tas mulheres se dedicam às tarefas domésti-cas, ou ao trabalho artesanal familiar, como a tapeçaria, ou à agricultura, dado que muitos maridos não permitem que a mulher trabalhe num ambiente separado do núcleo familiar. Mudar essa realidade ainda é um desafio.

InFORMAçãO, sIMDecidi não voltar sem entrar em uma li-

vraria. Não só achei cinco títulos diferentes de Paulo Coelho como ouvi do livreiro que as obras são de venda fácil. Assim, esse é mais um dos tópicos que poderiam entrar na rela-ção de lendas. Recentemente foi veiculada no Brasil a informação de que as obras de Coelho estavam proibidas no Irã. A ministra da Cul-tura, Ana Holanda, chegou a emitir protesto oficial. A versão local para o boato de censu-ra às obras de Coelho é que seu editor no Irã, Arash Hezaji, teria problemas judiciais e es-taria foragido na Inglaterra, e decidira apro-veitar os ventos Rousseff, não tão simpáticos

O trânsito em Teerã é intenso e indisciplinado,

mas ninguém xinga ou buzina e não se veem

acidentes.

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àquele país, para apimentar mais as relações.Se os livros de Coelho estão livres nas pra-

teleiras, o mesmo não se pode dizer das re-des sociais. Twitter, Youtube e Facebook são bloqueados. Quando se tenta acessar, uma página se abre e não informa que o acesso é proibido, mas sugere uma série de opções ao internauta, inclusive uma versão iraniana do Youtube. O medo seria a utilização das redes de forma hostil, incentivando rebeliões como as registradas no Egito e na Síria. A ação go-vernamental, no entanto, é contornada por um software passível de ser baixado na in-ternet. Outras ferramentas de comunicação, como Skype e MSN, operam normalmente.

No Irã são editados 4,5 mil jornais e re-vistas – 2,5 mil diários. Meios de comuni-cação são explorados tanto pela iniciativa privada quanto pelo Estado. O maior jornal, Hamshahri (em português, o cidadão) tem tiragem de 900 mil exemplares e é de oposi-ção ao governo. As televisões são essencial-mente públicas. Canais internacionais como BBC, France 24, Al Jazeera, Deutsche Welle e o chinês CCTV News são captados na TV por assinatura. O Irã tem um canal internacional em inglês, a PressTV, e se prepara para uma versão em espanhol, a HispanicTV.

VIsITAR UM PAís sEM CARTãO dE CRédITO nãO TEM PREçO

O Irã recebe por ano cerca de 3,5 milhões de estrangeiros. A maior parte é da região, em especial Iraque, Emirados Árabes, Paquistão e Kuwait. Muitos são atraídos pelo turismo religioso ou de saúde. Em seguida, sobres-saem alemães e japoneses, estes muito que-ridos pela fama de gastadores. Os russos são tidos como muquiranas.

É o quinto país em biodiversidade. Negocia com o Brasil o repasse da tecnologia de ecotu-rismo. Quer mostrar que tem paragens para to-dos. Do esporte de inverno, passando pelo de-serto ao centro, às praias, no sul, além de uma multiplicidade de sítios arqueológicos, alguns tombados, como Persépolis.

O grande problema são as sanções da ONU. Os cartões de crédito internacionais e cheques de viagem não são aceitos. O turista precisa levar dinheiro vivo. As reservas de hotelaria e pré-pagamentos ficam prejudicados. A mídia internacional é outro complicador, mas o tu-rismo é visto como vital para se contrapor a ela. “Nossos inimigos pintam uma imagem feia do Irã. O turista quando aqui chega espera ver po-breza, sujeira, uma nação destruída pela guerra e pelas sanções. Depois, volta ao seu país com

outra mentalidade”, salienta o governador de Isfahan, Ali Reza Zakev Isfahani.

O país ambiciona ampliar para 20 milhões o volume anual de turistas. A meta parece utópica, mas, nos quatro primeiros meses de 2011, comparados com os de 2010, o turismo cresceu 37%. Para chegar à meta, investimen-tos em infraestrutura com recursos do petró-leo. O governo financia até 60% das inversões e iranianos que moram no exterior estão sen-do estimulados a investir no país.

Hotéis finos brotam no deserto. Novas co-nexões aéreas começam a operar. Já voam para a Venezuela e cogitam duas linhas para o Bra-sil: uma de Teerã a São Paulo, com escala em Beirute, e outra partindo do sul do Irã. A escala no Líbano é economicamente estratégica pela existência de 10 milhões de descendentes de libaneses no Brasil e a inexistência de linhas aéreas diretas entre os dois países.

Para brasileiros, o Irã se revela muito bara-to. Hotéis cinco estrelas têm diárias de US$ 90 a US$ 200, entradas em parques e museus não saem por mais de US$ 3. Em Yazd, elas custam R$ 0,40. Refeições também não são caras. Um jantar à base de carnes grelhadas ou trutas, com direito a degustar o narguilé, não passa dos R$ 24, refrigerantes incluídos. ) )

Turismo sem mancadas

• Os homens não podem cumprimentar as mulheres com aperto de mão ou beijinhos. Devem colocar a mão no coração, curvar-se levemente e expressar Salam.• Nos aeroportos, há dois sistemas de fiscalização de bagagens: um na chegada e outro no embarque. Homens e mulheres usam acessos diferenciados.• A moeda oficial do Irã é o Rial. O povo usa a expressão toman, palavra de origem turca que significa dez mil. Um toman equivale a 10 Rials. Um alerta: praticamente todas as notas trazem a face do Aiatolá Khomeini. Uma nota de 5 mil tomans, a mais corriqueira, equivale a US$ 4,5.• Os banheiros em áreas públicas e nas áreas comuns de muitos hotéis e restaurantes finos não têm vasos sanitários ocidentais. É utilizada a chamada privada turca, uma louça que fica embutida no piso do banheiro. Para suas necessidades, o usuário ou a usuária deve ficar de pé.• Kebab é o prato tradicional do iraniano. Trata-se de um grelhado, tipo brochete, e vem acompanhado de legumes cozidos e batata frita. Existem de carne de frango e de boi, mas recomendo o de camarão ou de carneiro. Não se come carne de porco no Irã. As trutas são deliciosas.• Apesar das sanções da ONU, Coca-Cola e Pepsi são fabricadas no país. As cervejas não têm álcool e algumas têm sabor de limão, pêssego ou outra fruta. O chá preto é mais comum ao final da refeição do que o café. • A turista não tem que se preocupar apenas com o hijab. As blusas devem ser compridas, passando das nádegas e as mangas, longas. Calças não podem ser de cintura baixa nem do tipo corsário. A canela não pode aparecer.

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A cultura de Brasília é um polígono irregularA execução de música ao vivo nos bares das quadras comerciais requer diálogo franco entre empresários, músicos e governo

artIgo

Texto BRUnO gAFAnhOTO Ilustração CLáUdIA dIAs

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Seal, Guns ‘N Roses, Diana Krall, Shakira, Jack Johnson... Em meio à chegada de vários shows internacionais, Brasília ainda convive com a di-ficuldade dos artistas locais em promover cultura de grande porte para o público do DF. Os moti-

vos vão desde a velha reclamação de moradores das quadras residenciais devido ao ruído nas casas noturnas até a falta de fomento do governo aos microempresários e produtores culturais. Até quando o berço de Legião Urbana, Cassia El-ler, Móveis Coloniais e Hamilton de Holanda está fadado a ser polo cultural de exportação?

Em abril, em plena comemoração dos 51 anos de Brasília, dois bares com música ao vivo na 408 Norte foram fechados pelo GDF devido à reclamação de moradores pelo ruído. De-pois dos primeiros minutos de indignação, eu, que tenho na música minha profissão, decidi me despir da revolta cega e tentei fazer uma reflexão mais profunda.

Os moradores têm direito a dormir, os artistas têm direito a trabalhar e os outros moradores têm direito a se divertir. O problema é: essa sinuca de bico tem origem antiga. As limita-ções do projeto de Brasília e o inchaço populacional resultaram na multiplicação de residências nas sobrelojas dos comércios locais, na insuficiência de estacionamentos (ou acham que todo mundo prefere parar nas quadras residenciais?), maior densidade demográfica... Há outro problema. Responda-me, querido leitor: em quantos fins de semana você combinou com amigos de se encontrar no Setor de Diversões Norte (ou Sul) para ir a um bar? A setorização a que Brasília se propôs infeliz-mente não funciona no quesito lazer.

Deixemos os problemas e vamos direto a um fato. A simples interdição – sem diálogo – das casas noturnas não só é ultra-jante como também ruim para a própria cidade. Nosso governo grita a plenos pulmões que luta pela abertura da Copa. Como receber turistas sem vida noturna de qualidade? Como ter ba-res e casas bem equipados e preparados se os que funcionam sofrem para se manter abertos? Não preciso nem entrar no lugar-comum de que uma cidade sem arte é uma cidade triste, morta. Prefiro ressaltar um ponto importantíssimo: é neces-sário se despir da carga caridosa quando se fala em fomentar a arte ou prover estrutura para os artistas locais. Ajudar-nos a ter condições de trabalho não é altruísmo. É investimento. Signi-fica dinheiro no bolso tanto de artistas como de empresários e, sim, do governo. Sem arte há menos lazer, menos casas e me-nos impostos. A dificuldade para conseguir alvará que permita música em estabelecimento comercial é exagerada e prejudi-cial para todas as partes.

Não pretendo, de forma alguma, ir contra a Lei do Silêncio,

que prevê limite de 85 decibéis oriundos das casas. Respeito o direito ao sono de quem tirou o fim de semana para descan-sar. Só acredito ser óbvia a necessidade de discussão. A his-tória mostra que bastam duas ou três reclamações para fechar um bar com 40 ou 50 pessoas. Ao mesmo tempo, é necessário investimento dos empresários em acústica. Estes também pre-cisam frear o avanço das mesas de bares no sentido das áreas residenciais. Um diálogo franco entre empresários, músicos e governo deve pôr lado a lado todas as facetas da situação, acabar com as incoerências e traçar estratégias para revitalizar a cultu-ra sem prejudicar o descanso do vizinho.

Calma, leitor. A produção cultural de nossa terra ainda assim é rica, plural. Brasília virou um dos maiores polos de música instrumental do Brasil. Grande parte devido às gerações de artistas que saem da Escola de Música, da UnB e do Clube do Choro – este último, além de fazer escola, é responsável por uma agenda cultural de primeira linha o ano todo. A multiplicação de escolas particulares de música mostra o aumento do interesse dos jovens pela arte. O teatro se popularizou. O CCBB traz exposições de renome nacional e internacional periodicamente.

Em minutos, conseguimos buscar na memória vários ta-lentos locais, em vários estilos. Mas quantos ainda estão aqui? Quantos têm espaço regular nas agendas culturais? A solução só vai surgir quando todos os lados entenderem que fazem par-te do mesmo polígono. Alô, governo! Cultura é investimento importante! É qualidade de vida e dinheiro no bolso. Alô, em-presários! Vamos botar na mesa projetos e soluções para ate-nuar o incômodo de quem descansa. Alô, músicos! Sim, nós mesmos! Está na hora de mostrar que artista sabe se mobilizar, argumentar com inteligência, sem precisar se utilizar sempre do romantismo. Cabe a nós também mostrar o retorno que da-mos à sociedade. Alô, público! Incentive os músicos da cidade! De todas as classes que abordamos aqui, vocês são a maioria.

Há alguns anos, a arte sobreviveu a uma ditadura que per-seguia, censurava e torturava. Cabe a nós honrar essa história.

Os moradores têm direito a dormir, os artistas têm direito a trabalhar e os outros moradores têm direito a se divertir. Essa sinuca de bico tem origem antiga. A setorização a que Brasília se propôs infelizmente não funciona no quesito lazer.

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Lembre-se das 32 mastigadas. Ele não o deixa esquecer. Este militar reformado faz sucesso entre os frequentadores do restaurante do filho. Ele é o responsável por pesar os pratos dos clientes e tentar fazer com que a refeição seja apreciada, e não engolida

Texto PAULA OLIVEIRA Fotos nILsOn CARVALhO

PErFIl

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Este paranaense de 75 anos é marca registrada do restaurante natural Green’s. Não tem cliente que pas-se pela balança sem ouvir quantas vezes deve mastigar cada garfada.

Ele recomenda 32 para a maioria, mas é flexí-vel. Nos dias em que é servido vatapá, o pessoal pode contar até 28, ou menos. “Para aqueles que não têm dentes, sugiro uma sopinha”, brinca. É sempre com bom humor que Rubens Mazer recebe os clientes do restaurante do fi-lho Rogério. Diz que o alto-astral dos frequen-tadores inspira as brincadeiras, mas não é bem assim. A ordem está invertida. Quem espera na fila para pesar o prato de comida de cara fecha-da logo é contagiado pelas piadas de Rubens. Ele chama a atenção de alguns: “Não esqueça as trinta e duas”. Para outros, a abordagem é: “Vai dar as trinta e duas hoje?”. Ele explica. “Perguntei se vai dar as trinta e duas mastiga-das, minha senhora. Não pense besteira!” E logo dá uma gargalhada simpática.

Os funcionários também se divertem. Di-zem que “o seu Rubens é a alegria do restau-rante”. Quando ele chega, não tem um que não seja provocado. Ele mexe com um, com outro, desce até a cozinha para cumprimentar o pes-soal, dá uma olhada no cardápio do dia (só por curiosidade) e chega ao escritório.

Normalmente é simpático com todos, mas quando fica bravo é melhor sair de perto! “Se tem alguma coisa de que não gosta, ele solta uns gritos, mas logo depois fica tudo bem”, conta Rogério. Capitão reformado do Exército, Rubens quer as coisas muito bem organiza-das e feitas da maneira mais correta possível. Não gosta de dar uma ordem duas vezes. Mas os episódios de brabeza são raros. Boa gente, adora um papo furado. Se quiser falar sobre atualidades, ele engata a conversa também. Lê jornais e revistas diariamente.

Rubens bate ponto todos os dias nos dois restaurantes da rede brasiliense. Às nove da manhã já está no da Asa Norte para ajudar em uma coisa ou outra na administração. Quando o bufê é servido, assume seu posto: a balança. À tarde, segue para a outra loja, na Asa Sul. O

A brincadeira das trinta e duas começou nem ele sabe quando.

Como não entendia de nada disso, mas

queria entrar na dança, inventou esse número.

expediente termina às cinco da tarde e Rubens vai direto para casa. “Não conheço quase nada de Brasília; vou de casa para o restaurante da Asa Norte, de lá sigo para o da Asa Sul e de-pois só quero saber da minha casa mesmo”, diz. Coloca o short e o chinelo e vai para frente da televisão ou pega um livro. Aliás, a leitura é uma das grandes paixões dele, depois de Antô-nia, com quem é casado há mais de 50 anos, e do Coritiba Foot Ball Club, claro. Ele resiste à tecnologia. O celular fica desligado, dentro de uma bolsa guardada no carro. É só para emer-gências. Computador? Não quer saber disso.

Por causa da carreira militar, a família Ma-zer morou em várias cidades, mas o patriarca sempre sonhou em voltar para a sua terrinha, Curitiba. Quando foi reformado, em 1986, fez isso. Morava em Brasília com a esposa e os três filhos e foi embora para o Paraná, acom-panhado por Antônia. “Minha mãe diz que ele abandonou as crianças e meu pai responde que éramos maiores abandonados”, diverte-se Rogério. Duas das “crianças” ficaram porque já estavam casadas e Rogério, o único solteiro, decidiu morar sozinho por aqui mesmo. Qua-se dez anos depois, Rogério precisou de ajuda para abrir o restaurante e o pai voltou. A prin-cípio, ele ficaria somente três meses. Passado o período mais chato para abrir um negócio, com intensa demanda burocrática, Rubens descobriu um trabalho que o deixava (e ainda deixa) muito feliz. O contato com os clientes o encantou e o momento em que fica na balança é um dos mais agradáveis do dia. “Eu me divir-to aqui e adoro o que faço”, resume.

A brincadeira das trinta e duas mastigadas começou nem ele sabe quando. Cada um que ia lá dizia alguma coisa sobre a quantidade ne-cessária. Conversa fiada. Como ele não enten-dia de nada disso, mas queria entrar na dança, inventou esse número. Baseou-se na quanti-dade de dentes de um adulto. Depois pesqui-sou e viu que tinha alguma lógica.

Foi uma cliente que sugeriu que ele fizes-se um cartaz para indicar a regra nada formal do Green’s. O texto passou por adaptações. Seria “Não esqueça as 32”. Mas acharam que

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não pegava bem começar com uma palavra tão negativa. Rubens resolveu o problema com “Lembre-se das 32”. A frase tem destaque na parede atrás da balança, mas hoje não está sozinha. São mais 38 delas, cada uma em uma língua. Todas são contribuições de fregueses. Entre os idiomas estão o esperanto e o man-darim. Agora Rubens quer em sueco. “Minha ideia era que fossem 32 idiomas, mas o pessoal chega aqui, procura determinado dialeto e, se não encontra, me manda depois”, conta.

Como bom paranaense, passou a vida co-

mendo churrasco sem se preocupar com mas-tigação, calorias ou colesterol. Desde que assu-miu a função no restaurante natural, melhorou a alimentação e passou a se preocupar mais com a saúde. Rogério nota um rejuvenesci-mento do pai desde então. Resultado da adoção de hábitos saudáveis? Ou o fato de ele trabalhar com prazer? Vai saber! Que ele está mais bem--humorado e mais bem disposto do que antes é notório. “Ele, que nunca foi muito adepto de atividades físicas, hoje faz até hidroginástica com a minha mãe”, destaca Rogério.

Rubens garante que muita gente emagreceu em razão das trinta e duas. Não que seja receita de dieta, mas tem lógica. Comer devagar an-tecipa o sentimento de saciedade. Será que ele mesmo cumpre o que prega? Ele garante que sim. Se alguém duvidar, pode colocá-lo à prova. Uma vez fizeram o teste. Foi servido mamão e banana. Duas frutas bem moles, que com duas dentadas já estão prontas para ser engolidas. Para não perder a moral, acredite ou não, Rubens jura de pé junto que mastigou trinta e duas vezes cada pedacinho. ) )

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artIgo

A cultura da crueldade – bullyingO termo está na moda, mas a prática é antiga. A impunidade só faz crescer a crença avassaladora segundo a qual contra a perversidade, só mais perversidade, para deter... a perversidade

Texto ALBERTO FRAnCIsCO dO CARMO

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Década de 50. Pátio de recreio de respeitável colégio católico de elite. Um aluno estava começando a conversar com uns colegas. E vê aquele cara. Sabia que não gostava dele. Não sabia o motivo. Nem sequer conver-

savam. Nas mãos, uma raquete de pingue-pongue. Cal-mamente se aproxima. Então o outro percebe. Era uma tampinha de garrafa! E ele está mirando o olho dele! Em coisa de segundos, o cara dispara a tampinha, que atinge o indefeso estudante. O ruído dos estilhaços se confunde com sensação cortante de cacos dentro do olho.

Nos minutos seguintes, o horror. “Estou cego! Estou cego!” A vítima chora. Homem não chora, mas chorar se-ria sua salvação. É levado à sala da diretoria. Embora de elite, o colégio não tinha enfermaria. O diretor, tenso. Toma um chumaço de algodão. E num tempo, que à víti-ma parecem séculos, começa a “pescar” os cacos dentro do olho, com o chumaço retorcido. Um, dois, três... A contagem segue até dez.

– Tem mais uns quatro, ou cinco. Mas desses não dou conta. Vamos para o oculista.

Consultório. O oculista, a lâmpada forte nos olhos. A “pesca” de cacos continua. Mais quatro. Ao todo, quatorze...

As lágrimas salvaram-lhe a vista. Empurraram os ca-cos para baixo e protegeram a córnea. Homem chorão pode até evitar a cegueira. Tampão no olho.

Em casa, à noite, visita inesperada. O pai do canalha. Mil salamaleques. “Não, eu pago tudo, vou castigar meu filho. Você lhe perdoa, né?” Nojo. Do filho conhecera a maldade. Do pai, o cinismo hipócrita, movido a dinheiro.

Nem suspenso o agressor foi. Também nunca procurou se aproximar, se redimir, pedir desculpas. Ficou “na dele”.

Pergunta a sociólogos, antropólogos, psicólogos, ou juris-tas: até que ponto o prazer em rir está ligado a anelos sádicos?

Lembro-me de um relato de uma missionária ame-ricana que viveu um bom tempo numa tribo amazônica. Contou ela que entre os índios qualquer acidente que re-sultasse em transtorno a alguém desatava um crescendo de risadas entre eles. Em suma: não havia senso de hu-mor, a não ser na chacota, na comemoração da pequena desgraça alheia.

O bullying tem dessas coisas. A diferença é que a des-graça, que os agressores julgam “nada de mais”, é pro-vocada por eles, agressores. E até poucas décadas atrás, era considerado algo normal, “consagrado pelo uso”. De fato, apenas em 1970, na Noruega, o professor Dan Olweus teve a “ideia mãe” de iniciar pesquisas que resul-

taram na conscientização de que o bullying era algo noci-vo. Antes, não. Veja-se o filme Juventude Transviada, com James Dean. O que faziam com o personagem? Bullying. Que acaba numa tragédia. Num filme mais antigo, Os Si-nos de Santa Maria, com Bing Crosby e Ingrid Bergman, ela faz o papel de uma freira. Que se condói de um alu-no, vítima de bullying. Denuncia à diretoria, que pune os abusadores? Chama os pais para uma advertência? Não. Aprende uns golpes de boxe e, na moita, ensina o menino a revidar os ataques. Ensinou-o a defender-se no varejo, ele que sofria agressões no atacado....

Em suma: durante muito tempo, e ainda se notam in-dícios disso, havia nos colégios nichos autoritários. Um sutil endosso à lei do mais forte. A tão falada disciplina rígida era, na verdade, falsa. Disciplina significava ficar quieto em sala de aula. Nos colégios de freiras, havia até uma irmã leiga em cada sala para conter bagunceiras e vigiar os professores. Mas, sobretudo nos colégios mas-culinos, nos recreios, o inferno, não o céu, era o limite. Alguns padres até fumavam ostensivamente na frente de alunos, treinando-os para o futuro tabagismo machista. Coisas “delicadas”, como aulas de canto orfeônico, tra-balhos manuais, eram dadas de qualquer jeito. E assim continua, e muito pior. No Brasil, em sala de aula, impe-ra hoje a indisciplina na base de “o cliente tem sempre razão”. Ao contrário do que ocorre no exterior, há mais bullying em sala de aula...

Essa cultura da crueldade possivelmente vicejou e se espalhou globalmente e, é claro, pelo Brasil. E seus fru-tos, possivelmente, alimentam o negativismo que se ob-serva no mundo. A descrença, a quase proibição da bon-dade. Como catalisador, temos a ausência da Justiça e, consequentemente, do conhecimento – a nível popular – da legislação sobre agressões, injúrias, difamações. E a impunidade só faz crescer a crença avassaladora segundo a qual contra a perversidade, só mais perversidade, para deter... a perversidade. Na ficção, a ex-presidiária da novela das nove vai indo nesse caminho. Na vida real, de mistura com a demência insuspeitada e, sobretudo, não tratada, chegou-se a Columbine e a Realengo.

Ah, o cara que quase ficou cego? Fui eu.

“Ah, então ouve só: dos fracos, os fortes nunca têm dó.”

Cartilha Infantil na Alemanha nazista

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O que assusta o valentão Collor?O senador Fernando Collor é desbocado, imortal e fan-farrão. Em agosto de 2009 teve a coragem de assumir um papel nada higiênico sobre o veludo azul do Senado, con-fessando em discurso que estava “obrando, obrando e obrando” na cabeça do colunista Roberto Pompeu de To-ledo, da Veja. Um mês depois teve a audácia de transpor os umbrais da imortalidade arrebatando uma cadeira na Academia Alagoana de Letras – sem ter escrito até hoje um único livro – graças à camaradagem de 22 dos 30 intelec-tuais da terra. Os restantes oito imortais das Alagoas vota-ram corajosamente em branco. Em junho de 2010 invadiu destemido – pelo telefone – a sucursal da revista IstoÉ em Brasília para ameaçar o repórter Hugo Marques: “Se eu lhe (sic) encontrar, vai ser para enfiar a mão na sua cara, seu filho da puta!”, arrotou, com sua proverbial fineza. Agora, Collor acaba de enfiar a mão na cara da presiden-te Dilma Rousseff, que ele diz apoiar. O Planalto sonhava com a aprovação pelo Senado em 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, do projeto que libera o acesso a documentos sigilosos após 25 anos.

Constrangimentos Durante 16 anos, FHC e Lula se omitiram vergonhosamente do dever ético de fulmi-nar o sigilo eterno que protege documentos que podem iluminar as trevas do passado. Com a hombridade que seus antecessores não tiveram, Dilma quer abrir os arquivos públicos. Como presidente da Comissão de Relações Exteriores, Collor avocou o projeto e travou a discussão. Alegou “constrangi-mentos diplomáticos”, citando quatro epi-sódios históricos como fundamento para este absurdo. O primeiro, claro, é a Ditadura Militar (1964-1985). O senador se perfila com nostálgicos do golpe e com a impuni-dade a torturadores, o que anistia nenhu-ma deveria agasalhar. O segundo é o Estado Novo (1937-1945), período de arbítrio de

ser contrário a uma iniciativa do Gover-no Dilma. Certamente, o ex-presidente Collor não deve estar conspirando em causa própria. É sempre útil lembrar que seu tesoureiro de campanha, PC Farias, foi acusado pelo irmão do senador, Pedro Collor, de ser o ‘testa de ferro’ do então presidente em uma extensa rede de cor-rupção e tráfico de influência. Se a lei de Dilma passar, documentos ultrassecre-tos do ‘Esquema PC’ estariam liberados a partir de 2017. Mas é a singular condição de único presidente demitido por justa causa do poder, no processo de impeach-ment de 1992, que lhe dá o merecido título de imortal. Para isso, Collor nem precisa escrever um livro. Basta o que obrou em seu fugaz governo.

Getúlio Vargas. O terceiro é a Questão do Acre (1899-1903), conflito que começou com a invasão do território boliviano por seringalistas brasileiros e terminou com a anexação pacífica de um novo Estado ao Bra-sil, em troca de uma indenização à Bolívia e da construção da ferrovia Madeira-Mamoré. O quarto episódio é — acreditem — a Guerra do Paraguai (1864-1870), o maior confli-to armado da América Latina, que produziu 370 mil mortos, dos quais 50 mil brasileiros. Tudo isso, que aconteceu há quase 150 anos, ainda é um “constrangimento diplomático”, segundo o sensível Collor.

Documentos perigososQue constrangimento, cara-pálida? O Itamaraty, que apoia o projeto, não pode

CaIxa-PrEtapor LuIz CLáudIO CunhA

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Relacionamentos, conflitos e um pouco de amoR

O conflito de poder entre homens e mulheres é o tema do espetáculo

de dança Danaides (foto), da companhia brasiliense Basirah. A narrativa

remete a líquidos – sangue, lágrimas e suor. Menos dramáticos do que

a tragédia grega, mas também voltados para a relação homem-mulher,

são os lançamentos no cinema: Corações perdidos, história de um

casal abalado por uma tragédia; o brasileiro Estamos juntos, no qual

uma médica se envolve com dois homens; e Namorados para sempre,

que ensina como amar novamente. No teatro, a comédia Manual de

sobrevivência ao casamento mostra problemas do dia a dia, como

divisão do banheiro, ronco, TPM, traições e toalha em cima da cama.

Como sempre, final feliz: romance com o show do Roupa Nova.

Cinema – lançamentos

a casa Diretor: Rodrigo Garcia. Laura (María Salazar) e seu pai, Wilson (Gustavo Alonso), se hospedam em uma casa para avaliá-la e resolvem passar a noite lá. Tudo parece ir bem, até que Laura ouve um barulho no andar superior. Wilson vai ver o que está acontecendo, enquanto ela permanece sozinha lá embaixo esperando o seu pai voltar. O enredo é baseado em uma história verdadeira que aconteceu em 1944 em um pequeno vilarejo do Uruguai. O filme mostra segundo por segundo, a tentativa de Laura em sair da casa, que esconde um segredo. Terror. Verifique a classificação. Kinoplex

em 3 de junho. 79 minutos.

Carros 2Diretor: John Lasseter. Relâmpago McQueen (voz de Owen Wilson) resolve participar da Corrida dos Campeões, o que faz com que ele corra na Itália, na França, na Inglaterra e no Japão. Ao seu lado está Mater (Larry the Cable Guy), que acaba se envolvendo no mundo da espionagem internacional quando conhece o

investigador Finn McMissile (Michael Caine). Animação. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex

em 24 de junho. 90 minutos.

Contra o tempoDiretor: Duncan Jones. O capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) faz parte de um projeto ultrassecreto denominado SourceCode, capaz de transportar um homem para o corpo de outro, assumindo a sua identidade. Depois da explosão de um trem num atentado terrorista, ele tem a missão de voltar no tempo, no corpo de uma das vítimas, e tentar descobrir o autor do crime porque um novo ataque será realizado. Na missão, o capitão se apaixona por Christina (Michelle Monaghan), uma das vítimas do trem, e pretende mudar a história. Ação. Classificação 12 anos. Cinemark em 17 de

junho. 110 minutos.

Corações perdidosDiretor: Jake Scott. Doug (James Gandolfini) e Louis (Melissa Leo) têm o casamento abalado devido a uma tragédia familiar. Com o tempo, eles se distanciam cada vez mais. Um dia, Doug vai a New Orleans para

participar de uma conferência e conhece Mallory (Kristen Stewart), uma jovem que trabalha em casas de striptease. Decidido a ajudá-la, Doug permanece na cidade. A situação logo provoca estranheza em Louis, que decide ir ao encontro do marido. Drama.

Classificação 16 anos. Cinemark e Kinoplex em 3 de

junho. 110 minutos.

estamos juntos Diretor: Toni Venturi. Carmem (Leandra Leal) é uma jovem médica que tem uma vida independente na agitada São Paulo, ao lado do seu amigo DJ Murilo (Cauã Reymond). Surpreendida por sintomas de uma inesperada doença, ela é obrigada a enfrentar seus medos enquanto vive uma paixão com um músico argentino (Nazareno Casero) ao mesmo tempo em que se relaciona com um homem misterioso (Lee Taylor) que vive em seu apartamento. Drama. Classificação 12 anos.

Cinemark em 17 de junho. 99 minutos.

Kung fu panda 2Diretor: Jennifer Yuh. Po (Jack Black) vive o sonho de ser um dragão guerreiro, protegendo

Die

go B

ress

ani

artE, Cultura E lazEr

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artE, Cultura E lazEr

o Vale da Paz ao lado dos mestres Shifu (voz de Dustin Hoffman), Tigresa (Angelina Jolie), Macaco (Jackie Chan), Víbora (Lucy Liu), Louva-Deus (Seth Rogen) e Garça (David Cross). Sua paz chega ao fim quando surge um inimigo que possui uma arma secreta capaz de permitir a conquista da China e provocar o fim do kung fu. Para impedi-lo, Po e os Cinco Furiosos precisam cruzar o país e derrotá-lo. Animação. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex

em 10 de junho. 100 minutos.

london BoulevardDiretor: William Monahan. Depois de deixar a prisão, um gângster (Colin Farrell) decide mudar de vida e sair do crime. Com o novo objetivo traçado, ele é contratado como segurança de uma jovem atriz (Keira Knightley) que vive reclusa, com medo de tudo. Em suas buscas pela liberdade, cada qual à sua maneira, os dois acabam descobrindo o amor. Suspense. Classificação 10 anos. Kinoplex em

17 junho. 103 minutos.

Cinema

“Quer que eu autorize um ataque a uma

nação árabe amiga?”, pergunta o presi-

dente. “Eles abrigam terroristas”, respon-

de o conselheiro. Um habitué da Casa

Branca pode ter ouvido essa conversa,

em tempos recentes, no Salão Oval, entre

Barack Obama e um de seus conselheiros

militares.

Foi ouvida também no cinema. Especifica-

mente num filme de não muita qualidade,

Ponto de Vista (2008). Uma das inúmeras

produções que exploram a obsessão de

Hollywood não só com o terrorismo, mas

com a manutenção e amplificação do

clima de paranoia permanente.

Uma das mais intrigantes visões do sub-

mundo do planejamento, da execução e

das implicações morais de matar está em

Munique (2005), de Steven Spielberg.

Agentes do Mossad e colaboradores israe-

lenses assassinam, um a um, os integran-

tes do grupo terrorista palestino Setembro

Negro que mataram cinco atletas de Israel

na Olimpíada de 1972.

Os vingadores rodam a Europa caçando os

assassinos. Depois de julgamento sumá-

rio, matam-nos. Se, de um lado, o crime

cometido pelos palestinos foi inafiançável,

a vingança com a chancela do governo

israelense tem ambiguidades morais igual-

mente sombrias.

Dez anos depois do 11 de setembro e

dias depois da morte do inimigo-públi-

co-número-um Osama bin Laden, os

Estados Unidos talvez experimentem a

vingança na carne. Talvez saibam, como

os assassinos de Munique (filme e cida-

de), as implicações dos jogos do terror.

Karina Gomes Barbosa É jornalista e professora

A árvore da vida Diretor: Terrence Malick. A trama gira em torno do casal O’Brien e seus três filhos. Jack (Brayden Whisenhunt) é o irmão mais velho e, no começo da trama, está vivendo uma feliz e inocente infância com seus 11 anos. Tudo muda quando um dos irmãos morre e a família entra em desespero. A história passa então a mostrar a transformação do garoto Jack em um adulto (Sean Penn) perdido no mundo moderno e em constante busca pelo sentido da vida. Drama. Verifique a

classificação. Cinemark em 23 de junho. 90 minutos.

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namorados para sempreDiretor: Derek Cianfrance. Casados há vários anos e com uma filha, Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) passam por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas. Os dois tentam superar os problemas buscando no passado e no presente os motivos que os mantiveram unidos e os fizeram se apaixonar um pelo outro. Romance.

Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 10 de

junho. 91 minutos.

super 8Diretor: J.J. Abrams. No verão de 1979, seis garotos de uma pequena cidade de Ohio presenciam uma colisão de trens enquanto faziam um filme com a câmera Super 8. Pouco depois, estranhos desaparecimentos e eventos inexplicáveis começam a acontecer na cidade e logo eles desconfiam de que aquele acidente não foi por acaso. Ficção. Classificação

10 anos. Cinemark em 1° de junho. 100 minutos.

X-men: Primeira classe Diretor: Matthew Vaughn. O início da saga X-Men. Antes que Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lensherr (Michael Fassbender) adotassem os nomes de Professor X e Magneto, eles eram dois jovens descobrindo seus poderes. No começo, não eram rivais, mas amigos próximos, trabalhando juntos para impedir o Armageddon. No processo, uma grave cisão entre os dois se abre, o que dá início à eterna guerra entre a Irmandade de Magneto e os X-Men do Professor X. Ação. Classificação livre.

Cinemark e Kinoplex em 3 de junho. 109 minutos.

Cinema – outros

Cine – concertos Música e cinema ao ar livre. Projeção de filmes acompanhada de execução musical ao vivo, feita por músicos profissionais franceses. Reunindo os grupos Le Workshop de Lyon e Baron Samedi, da companhia ARFI – Association a la Recherche d’un FolkloreImaginaire. 28 de junho a 3 de julho, no

Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca.

Classificação livre. Telefone: 3310-7087.

ProgramaçãoChangFilme mudo de 1927, dirigido por Meriam C. Cooper e B. Shoedsack após três anos de filmagem na selva da Tailândia. Mostra a vida de camponeses que moram em uma cabana sobre palafitas no meio da floresta, rodeados por animais selvagens. Nesse ambiente, a vida é uma luta incessante pela sobrevivência. 3 de

julho, às 19h20. 70 minutos.

CinérirSobre os curtas-metragens de Buster Keaton, com os filmes The Blacksmith (Ferraduras modernas) e The Neighbors, Charles Chaplin com o The champion (O campeão de boxe), Laurel e Hard com Big Business (Negócios de arromba). 29 de junho e 1

de julho, às 20h. 70 minutos.

CinésClaffHomenagem a um dos grandes nomes do pastelão do cinema mudo, o comediante contemporâneo de Charles Chaplin e Keaton: o grande Harry Langdon (1884 – 1944). 28 de

junho, às 20h, e 2 de julho, às 18h. 70 minutos.

KoKo le ClownOs Irmãos Max e Dave Fleischer, uns dos primeiros astros da animação, são os criadores de Popeye, Betty Boop e Super-Homem. Koko é um filme que marcou a liberdade da arte dos dois irmãos na animação e no cartoon. Combinando música acústica e eletrônica,

Jean Bolcato e Guy Villerd propõem, em uma hora de filmes, as pequenas histórias musicadas, entremeadas de canções e textos. 1 de julho, às 18h30, e 3 de julho, às 18h. 60 minutos.

nanouKO documentário mostra o cotidiano de uma família de esquimós que vive na baía de Hudson. A luta pela sobrevivência, os deslocamentos constantes, a pesca e a caça às focas. 30 de junho, às 20h, e 2 de julho, às

19h30. 70 minutos.

naomi KawaseRetrospectiva que exibirá 30 filmes da cineasta japonesa. Um cinema pessoal, muitas vezes autobiográfico, com histórias atravessadas pela perda e pela busca da identidade. No dia 9, a sessão será comentada e haverá uma mesa-redonda com especialistas e pesquisadores. Até 12 de junho, no cinema de Centro Cultural

Banco do Brasil. Verificar a classificação e os

horários. Telefone: 3310-7087.

músiCa

Ângela rô rôA cantora abre a noite com o show Voz e Piano, que vem sendo apresentado em várias cidades brasileiras, com seus grandes sucessos. Depois recebe dois convidados surpresa. 17 e 18 de junho, às 21h, no Teatro Oi

Brasília. Ingresso (inteira): R$ 25. Classificação 18

anos. Telefone: 3424-7121.

Clube do ChoroEm junho, o Clube do Choro está com uma seleção de músicos e compositores brasileiros com proposta de boas canções instrumentais. Destaque para a diversidade, não apenas do choro, mas de ritmos com misturas de samba e jazz. Shows às quartas, quintas, sextas e aos sábados

a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação

14 anos. Telefone: 3324-0599.

Toninho Ferraguti e grupo Choro Livre: 1, 2 e 3 de

junho

Ted e Marvin Falcon: 4 de junho >>

Cinemark Iguatemi: 3577-5140; Pier 21: 3223-7506;

Taguatinga Shopping: 3352-4708

www.cinemark.com.br

Kinoplex: 3329-1617

www.kinoplex.com.br

Page 48: Revista meiaum Nº 3

artE, Cultura E lazEr

Ricardo Silveira Trio: 8, 9 e 10 de junho

Armindo Nogueira: 11 de junho

Joatan Nascimento e Choro Livre: 15, 16 e 17 de junho

Caca Pereira: 18 de junho

Henrique Neto: 22, 23 e 24 de junho

Passo Largo: 25 de junho

Samba Jazz Trio: 29 e 30 de junho

Festa do seu JoãoA festa está completando dez anos, com shows de Victor e Leo, Nando Reis, Forró Lunar, Serjão Loroza e Mr. Babão. 4 de junho, 21h, na

área externa do Ginásio Nilson Nelson. Ingressos

(inteira): Pista R$ 120; Camarote VIP R$ 200.

Classificação 18 anos. Telefone: 3328-0360.

Festival das ÁguasO Lago Paranoá será cenário da primeira edição do Festival das Águas, evento brasiliense que comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente. Para promover a data serão realizadas atividades ambientais, culturais e esportivas. Com a participação de artistas de rock, pop, samba e MPB que se apresentam nos três palcos. 2 a 5

de junho, na Concha Acústica. Entrada franca e

livre. Telefone: 3532-6900.

Palco principalGalinha Preta, In Natura, Dudu Aire, Di

música

Nos anos 90, o que fez a alegria da minha

adolescência foram as Feiras de Música

no Teatro Garagem do Sesc. Assisti aos

shows dos ainda desconhecidos Little

Quail, Raimundos e Maskavo Roots. Sinto

saudade da proximidade com as bandas,

do clima despretensioso e criativo. Essa

recordação veio à tona com a terceira

edição do Festival Caça-Bandas, que

estreou em 4 de maio, no Cult 22 Rock

Bar. O objetivo é semelhante: dar espaço

para a molecada tocar. A prioridade são

as músicas autorais, independentemente

do gênero. Para o produtor do evento,

Gustavo Vasconcellos, Brasília ainda é far-

ta em produzir qualidade com diversidade

e quantidade com variedade. Quando se

trata do consumo do que é produzido

aqui, o papo é outro. Garantir a longe-

vidade criativa e econômica das bandas

brasilienses é uma das metas.

Funciona assim: três grupos tocam quatro

músicas cada um. Só uma é selecionada.

No fim do mês há um confronto entre

os ganhadores de cada semana, que

concorrem à gravação de uma faixa para

o CD do festival. E por assim vai todas as

quartas-feiras até dezembro. Questionei

o Gustavo sobre o que mudou da época

dos shows do Teatro Garagem para cá e

tenho que compartilhar a resposta: “An-

tes a feira era de música, hoje a música é

de feira”. Viva a criatividade!

A entrada para o Caça-Bandas custa

R$ 5 até as 22h e R$ 10 depois. O Cult 22

Rock Bar fica no CA 7, Lago Norte. Vá lá!

Ana Paula FerrazÉ jornalista, mas queria ser arquiteta

SandyA cantora e compositora retoma sua primeira turnê em carreira solo. O público poderá assistir a interpretações das canções inéditas de seu álbum de estreia, Manuscrito, lançado em maio de 2010. 18 de junho, às 22h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Setor VIP R$ 200;

Setor Especial R$ 160; Setor Superior R$ 100. Classificação 14 anos. Telefone: 3214-2712.

Page 49: Revista meiaum Nº 3

49

Boresti, MV Bill e Titãs: 4 de junho, às 20hH3, CPM22, Planta e Raiz, NX Zero e Ponto de Equilíbrio, Zeca Baleiro, Jorge Aragão e Pitty: 5 de junho, às 15h

Palco alternativoSurf Session, Som de Bob, Tim Marley e 3 e Jah: 5 de junho, às 10h

Palco feira ambientalSatisfaction, Cazuza Cover, Beatles Cover, Duplo Etério e Rafael Torres e Gabriel: 3 e 4 de junho, às 19h

marreco’s FestFestival de rock anual que ocorre desde 2001. Funciona como vitrine para as bandas de metal do Centro-Oeste, contribuindo para o fortalecimento da cena musical independente. Shows das bandas: Rage, Hirax, Zak Stevens, Violator, Deceivers, Totem, More Tools, Age Of Arthemis, Scatha, Motarge, Estamira, In the Shadows e Red Old Snake. 18 de junho, às 14h, no Clube

da Imprensa. Ingresso (inteira): R$ 160 (Obrigatório

levar 1 kg de alimento não perecível, exceto sal).

Classificação 14 anos. Telefone: 9968-0724.

natirutsApós passar pela Oceania, África, Europa e América, o Natiruts volta para casa com o show de encerramento da turnê Racaman. Com apresentação também da banda Katchafire, da Nova Zelândia. 12 de junho, às

18h, na Concha Acústica. Ingressos (inteira): Área

Premium R$ 100; Pista R$ 70. Classificação 16 anos.

Telefone: 3425-3300.

roberta CamposCantora e compositora, a mineira radicada em São Paulo vem aos poucos ganhando seu espaço. Ela compõe desde criança e já participou de várias bandas, dentre elas a Pop Troti, de Sete Lagoas (MG). Sua influência musical vai de Bob Dylan

a Milton Nascimento, tem uma pitadinha de folk/rock, com um toque marcante da música mineira. 10 e 11 de junho, às 21h,

no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 25.

Classificação 16 anos. Telefone: 3424-7121.

roupa nova A nova turnê comemora as três décadas de carreira do sexteto, que nunca mudou a formação. Com as participações, pelo telão do show, de Sandy (Chuva de prata), padre Fábio de Melo, Milton Nascimento e banda Fresno. 10 de junho, à 0h, no Opera

Hall. Ingressos (inteira): Pista R$ 40; Área VIP R$

70 (open bar); Mesas (4 lugares) R$ 600 (open bar).

Classificação 16 anos (área VIP e mesas, 18 anos).

Telefone: 3425-3300.

eXPosições

Brasília, meio século da capital do BrasilPor meio de fotografias, filmes e documentos históricos, a origem e a trajetória da cidade. Os destaques são: a maquete de Brasília, com 30 metros quadrados; quatro instalações de artistas plásticos locais e a realização de um ciclo de cinema sobre a capital. A mostra já passou por Madri (Espanha) e Lisboa (Portugal). Até 3 de junho, de segunda a sexta-feira, das 9h às

18h; sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h,

na Câmara Legislativa – Foyer do Plenário. Entrada

franca e livre. Telefone: 3348-8286.

Claire malletClaire é uma francesa que mora há um ano em Brasília. Sua exposição é composta por 28 telas. A transição entre cenas urbanas, a água, as árvores, os jardins, os vasos floridos, as casas e o céu aberto são características da artista nas suas pinturas. Até 12 de junho, de terça a domingo, das 11h às 22h,

no Café Daniel Briand (104 Norte). Entrada franca

e livre. Telefone: 3326-1135.

Diversidade e afinidade: universo x reversoA exposição apresenta obras de 48 artistas nacionais e internacionais, que vêm sendo reunidas há quase cinco anos pelo espaço Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco). A mostra é composta por esculturas, desenhos, pinturas, fotografias, vídeos e instalações. 9

de junho a 25 de julho, de terça a domingo, das 9h

às 19h, no Ecco. Entrada franca e livre. Telefone:

3327-2027.

Gerhard richter – sinopse A mostra traz 27 edições e pinturas selecionadas pelo próprio Richter, considerado pelos críticos da arte como “Picasso do século 21”. É baseada em fotografias dos anos 60 até as pinturas abstratas dos anos 80 e 90. A exposição cobre todas as fases do trabalho do artista. Até 12 de junho, das 9h às 21h, na Galeria Vitrine da

Caixa Cultural de Brasília. Entrada franca e livre.

Telefone: 3206-9448.

islã – arte e civilização Mais de 300 obras que contam 1,4 mil anos da história do Islã. Já passou pelo Rio de Janeiro e por São Paulo. Até 3 de julho, de terça a domingo,

das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil.

Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7081.

JK e as personalidades do século XXA exposição apresenta 20 fotografias que registram os contatos de Juscelino Kubitschek com diversas personalidades da época. Foram selecionadas imagens de celebridades da arte, da política e do futebol. Até 31 de junho, de terça a domingo, das

9h às 18h, no Memorial JK. Entrada franca e livre.

Telefone: 3326-7860.

los caprichos de GoyaOs Caprichos é a primeira série de gravuras

Page 50: Revista meiaum Nº 3

artE, Cultura E lazEr

Miragens: arte contemporânea no mundo islâmico São 58 obras de 19 artistas contemporâneos com origem em países do Oriente Médio, norte da África e diáspora. Com pinturas, fotografias, desenhos, instalações e vídeos, a exposição aborda temas como o lugar da mulher na sociedade, o diálogo entre modernidade e tradição, os estereótipos relativos ao Oriente Médio e os conflitos bélicos mais recentes. Até 8 de junho,

de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone:

3310-7087.

de Goya, editada em 1799. Sua gestação coincide provavelmente com a grave doença que o pintor contraiu no começo daquela década e que o deixou surdo. As pinturas foram produzidas durante sua convalescência. Com 80 gravuras de referências a personagens de seu tempo, a exposição mostra os comentários conservados pelo Museu do Prado com a própria letra do artista. Até 18 de junho, às terças-

feiras, das 9h às 11h, e às quartas, das 15h às 18h, no

Espaço Cultural Instituto Cervantes. Entrada franca

e livre. Telefone: 3242-0603.

luthier: concertopara cordas e coresInédita, a exposição de João Reis III inspira-se em ambiências sonoras e em instrumentos musicais imaginários. Quadros a óleo e a tinta acrílica, todos com a mesma temática: objetos plásticos inventivos, pseudoinstrumentos musicais que mobilizem o desejo de produzir músicas. Até 5 de junho, das 10h às 22h, na Livraria

Cultura CasaPark (passarela do mezanino). Entrada

franca e livre. Telefone: 3410-4033.

Rep

rod

uçã

o/A

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A P

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es

exposição

Esqueçam Osama bin Laden e o espectro

do terrorismo que paira no inconsciente

de milhares de pessoas do Ocidente. As

belezas e os encantos da cultura islâmica

transcendem qualquer ato arbitrário e a

prova está na formidável exposição Islã:

arte e civilização, em cartaz no CCBB até

o dia 3 de julho.

Uma aula de história e tradição, a mostra,

inédita no Brasil, reúne mais de 300 obje-

tos e artigos da vida cotidiana mulçumana

num período que percorre 13 séculos.

São 1.400 anos de herança cultural.

O vasto material faz parte de museus

de países como Síria, Irã, Líbia, Líbano,

Marrocos e Nigéria, além de materiais do

acervo da Biblioteca e Centro de Pesquisa

América do Sul.

Organizado por espaços temáticos, em

sentido cronológico, o passeio pelas duas

galerias traz como destaques as ruínas do

Palácio de Al-Hir Al-Gharbi, na Síria, sede

da primeira dinastia do império islâmico,

erguido no século 7. Relíquias dos séculos

11, 12 e 16, como candelabros de cobre,

jarros e vasos de cerâmica encantam pela

riqueza dos detalhes.

Mundialmente conhecidos pela exuberân-

cia, tapetes persas do século 17 e 19 são

atrações à parte, assim como instrumen-

tos de combate, entre eles elmos, escudos

e espadas ornamentados com requintes

caligráficos. Como já dizia o filósofo

mulçumano Averróis: “Um homem é mais

parecido com o seu tempo do que com

seus próprios pais”.

Lúcio FlávioÉ jornalista

Page 51: Revista meiaum Nº 3

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mandalas de magdalaNas 18 telas, a artista Magdala se utiliza de cores vivas e símbolos míticos. Azuis, verdes e amarelos, em seus mais variados tons, foram colocados na ponta do pincel para dar vida a elefantes, sapos, rosas e figuras inspiradas no antigo Egito. Em forma de mandalas, ela faz uma conexão, de forma poética e “energética”, do homem com o mundo. Até 3 de junho, de

segunda a sexta, das 10h às 18h, no Espaço Chatô.

Entrada franca e livre. Telefone: 3214-1350.

mundo jurássicoDevido à grande procura, a exposição, em cartaz desde abril, foi prorrogada. Traz 22 réplicas em tamanho real de dinossauros encontrados na Ásia, na América, na África e na Europa. O que chama mais a atenção é o tiranossauro rex montado em tamanho

equivalente à idade adulta: tem 7 metros de altura e 14 metros de comprimento. Até

12 de junho, de terça a domingo, das 10h às 22h, no

Pátio Brasil Shopping. Ingressos (inteira): terça a

sexta R$ 40, sábado e domingo R$ 50. Classificação

livre. Telefone: 3344-2900.

negative experienceA exposição é composta por 22 imagens do fotógrafo Davilym Dourado. O artista expõe seus negativos à ação de produtos químicos (como alvejantes ácidos e detergentes). A mistura corrói a película do filme e faz com que a emulsão – que fixa a imagem no negativo – comece a se dissolver, criando outra imagem. Até 26

de junho, de terça a domingo, das 9h às 21h, na

Galeria Picollada Caixa Cultural de Brasília.

Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Compromissos da Justiça com você em 2011

Para maiores informações consulte o portal

do seu tribunal.

Após as sessões de julgamento,

publicar os acórdãos em até dez dias.

Acabar com o estoque de processos que entraram na Justiça até o fim de 2006 e, quanto aos processos trabalhistas, eleitorais, militares e de competência do tribunal do júri até o final de 2007.

Julgar mais processos do que a quantidade que entrou na Justiça este ano.

Publicar mensalmente a produtividade dos magistrados no portal do tribunal.

Compromisso com a Justiça do Brasil.

w w w . c n j . j u s . b r

UM COMPROMISSO QUELEVA O NOSSO NOME

UM COMPROMISSO QUELEVA O NOSSO NOME

o Brasil na arte popularOs brasilienses têm a oportunidade de ver 1,5 mil obras do Museu da Casa do Pontual, no Rio. Na arte escultórica de 70 artistas de todas as regiões, a história de um país diverso e rico em manifestações populares. Até 26 de junho, de terça a domingo, das 9h às 18h30,

no Museu Nacional da República. Entrada franca e

livre. Telefone: 3325-5220.

rubem Grilo – Xilográfico Um passeio pelos trabalhos realizados nos últimos 25 anos por Rubem Grilo. O público tem a oportunidade de ver uma seleção de obras cujos temas e abordagens ganham ampla densidade e configuração dramática. Até 26 de junho, de terça a domingo, das 9h às 21h,

na galeria principal da Caixa Cultural de Brasília.

Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Page 52: Revista meiaum Nº 3

teatro

Jogo de cena – junino O clima junino estará na decoração e nas brincadeiras comandadas pela dupla Welder Rodrigues e Ricardo Pipo e na trilha sonora do evento, sob a condução do DJ Chuchu. 29 de

junho, às 20h, no Teatro da Caixa. Ingressos (inteira):

R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3206-9448.

manual de sobrevivência ao casamentoO espetáculo que vai resolver todos os seus problemas, Manual de sobrevivência ao casamento é a nova comédia do G7. Por meio de um manual de regras sobre a boa convivência no casamento, o grupo conta a história de duas pessoas que decidem se

Maria do Caritó Maria do Caritó é uma comédia que revela valores, costumes e crendices que permeiam o imaginário do povo brasileiro. A protagonista é uma solteirona beirando os 50 anos, decidida a se casar, mesmo que para isso precise enfrentar a fúria do pai e de toda a cidade, que acreditam que ela seja uma santa. Elenco: Lilia Cabral (foto), Leopoldo Pacheco, Fernando Neves, Silvia Poggetti e Dani Barros. 3, 4 e 5 de junho, sexta e sábado, às 21h, domingo, às 20h, no Teatro Nacional.

Ingressos (inteira): sexta R$ 70, sábado e domingo R$ 80. Classificação 14 anos. Telefone: 3325-6239.

Gu

ga M

elga

r casar no ardor da paixão e depois sofrem as consequências da vida a dois. Até 31 de julho,

sábados às 21h, e domingos, às 20h, no teatro La

Salle. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 14

anos. Telefone: 8129-4709.

mostra internacional de teatroCom espetáculos de companhias da Alemanha, Finlândia, Portugal e Argentina. no teatro do

Centro Cultural Banco do Brasil. Ingresso (inteira):

R$ 15. Telefone: 3310-7087.

Programaçãoamar (argentina)Duas cadeiras, um ramo de árvore, microfones e lanternas. Seis atores, três homens e três mulheres, surgem vestidos para sair como casais. A partir daí, inicia-se um jogo intenso, mágico e radical. 9 a 12

de junho, quinta e sexta, às 21h; sábado, às 18h30;

domingo, às 20h. Classificação 16 anos.

Kesusteluja (finlândia)O malabarista Ville Wallo e o mágico Kalle Hakkarainen, dois artistas da consagrada companhia finlandesa WHS, utilizam elementos visuais fortes para refletir sobre a passagem do tempo. O espetáculo começa com duas cadeiras vazias no palco e uma trilha sonora que remete à sonoridade industrial. 18 e 19 de junho, sábado, às 21h, domingo, às 20h.

Classificação 14 anos.

Persona (Portugal)Depois de deixar de falar em uma representação teatral, a atriz Elizabeth Vogler é internada e uma jovem enfermeira, Alma, é contratada. As duas desenvolvem uma estranha relação. Inicialmente, Alma tenta preencher o vazio provocado pelo silêncio de Elizabeth, falando incessantemente sobre sua vida. Logo fica óbvio que o interesse de Elizabeth é mais do que mera educação ou curiosidade voyeurista. Ela quer absorver a identidade de Alma. 16 e 17 de junho, às 21h.

Classificação 16 anos.

artE, Cultura E lazEr

Page 53: Revista meiaum Nº 3

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teatro delusio (alemanha)No espetáculo, os três jovens se entregam incansavelmente à busca da própria felicidade. Bob é hábil, forte e imprevisível; Bernd é doente, com um cansaço crônico, andando sempre de um lado para outro, cumprindo ordens; e Ivan é um acomodado, de apetite insaciável, e não quer perder o controle que exerce no teatro. 23, 24, 25 e 26 de

junho, quinta a sábado, às 21h, domingo, às 16h.

Classificação 14 anos.

nova dramaturgia brasileira Será apresentado um espetáculo diferente por semana. O projeto promoverá encontros entre jovens escritores e diretores de diferentes estados para criarem uma série de quatro espetáculos inéditos que traçarão um novo panorama da dramaturgia no Brasil. Até 5 de

junho, de quarta a sábado, às 19h, domingo, às 18h, no

Centro Cultural Banco do Brasil. Ingressos (inteira):

R$ 15. Classificação 14 anos. Telefone: 3310-7081.

on ice aventuras em Walt Disney WorldA Malévola, que deseja se apoderar da Disneylândia, lançou um feitiço do sono sobre todos os personagens, mas Os Incríveis conseguem salvar a Disney. Apresentado por Mickey, Minnie, Pateta, Donald, Margarida, Pluto, Tico, Teco, Buzz Lightyear, Coelho Branco, Alice, Chapeleiro Maluco, entre outros. A aventura conta com atrações como Jungle Cruise, Space Mountain, Mansão Encantada e Piratas do Caribe. 16 a 19 de junho,

quinta, às 15h e às 20h; sexta, às 20h; sábado, às

15h e às 19h; e domingo, às 11h e às 15h, no Ginásio

Nilson Nelson. Ingressos (inteira): quinta e sexta

R$ 60, sábado e domingo R$ 80. Classificação livre.

Telefone: 8432-3661.

os cafajestesCom uma nova versão, Os cafajestes é protagonizada por quatro machistas: Onório, Estevão, Alencar e Alfredinho.

Eles cantam, dançam e atuam, tendo sempre como alvo as mulheres que os cercam. 3 a 5 de junho, sexta e sábado, às 21h,

domingo, às 20h, no Teatro dos Bancários.

Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos.

Telefone: 3262-9090.

Jornada americanaO fotógrafo Vitor Schietti percorreu 7 mil quilômetros pelos cenários clássicos do meio-oeste norte-americano. Em 27 peças, ele divide com o público as experiências vividas durante seis meses nos Estados Unidos. A mostra retrata, principalmente, a interação com o meio, natureza e cidade. Entre os lugares retratados, Nova Iorque, São Francisco, Los Angeles, Malibu e outros. Na fotografia são construídos planos por uma lógica pictórica que registra marcas que mais parecem terem sido feitas por pincéis e áreas diluídas de aquarela. Até 18 de junho,

segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h

às 18h, na Galeria Objeto Encontrado (102 Norte).

Entrada franca e livre. Telefone: 3326-3506.

Dança

Danaides Novo trabalho da companhia Basirah. O rei Dânao teve 50 filhas de mulheres diferentes. Seu irmão, Egito, teve 50 filhos, os egiptíades. Para tentar manter as posses na família, Egito propôs ao irmão casarem sua prole uma com a outra. Dânao não aceita, provocando uma guerra entre eles, da qual Egito sai vencedor. Dânao foge e acaba se tornando o rei de Argos. Ao enfrentar novamente Egito, tem de aceitar a proposta. Na noite de núpcias, as Danaides embebedam seus noivos e cortam o pescoço de todos. 2 a 12 de junho, de quinta a sábado, às

21h, domingo, às 20h, no Teatro Funarte Plínio

Marcos. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 16

anos. Telefone: 3033-5447.

Dança

O conflito entre o masculino e o fe-

minino, as relações de poder, sangue,

lágrimas, suor. O novo trabalho da

companhia brasiliense baSiraH, Danai-

des, atualiza o mito grego das 50 filhas

do rei Dânao. As mulheres que nomeiam

o espetáculo são conhecidas como guer-

reiras assassinas. Na noite de núpcias,

embebedaram seus noivos e cortaram o

pescoço de todos eles. A coreógrafa e

diretora, Giselle Rodrigues, se encantou

por esta história, narrada por Ésquilo

sob o título de As Suplicantes, e a trans-

formou em movimento.

Não o fez sozinha. Giselle teve orienta-

ção teórica do professor Marcus Motta e

incluiu no processo de criação a impro-

visação e a proposta de cada um dos 15

dançarinos. Onze deles, aliás, são novos

integrantes. Para renovar o grupo de

intérpretes do baSiraH, foi feita audição

aberta a bailarinos e atores. O resultado é

que Danaides conta com apenas quatro

artistas do baSiraH propriamente dito.

A cenografia ficou a cargo de Roustang

Carrilho que, junto aos figurinos de

Eduardo Barón, tornam o mito contem-

porâneo. A trilha sonora foi originalmente

composta por Tomás Seferim, da banda

brasiliense Sacassaia, e a luz é assinada

por Dalton Camargos.

A julgar pelo respeitável currículo de

espetáculos do grupo, entre eles os

densos e belos O homem na parede, Eu

só existo quando ninguém me olha e

Sebastião, não perca Danaides. (Veja o

serviço ao lado)

Ana Paula Ferraz Na página 48 queria ser arquiteta, mas agora

queria ser dançarina

Page 54: Revista meiaum Nº 3

O Universal Diner foi aberto em 1997 de forma despretensiosa e irreverente. Era uma mistura de bar gay com restaurante em que gogo boys se apresentavam. As patricinhas da cidade escolhiam o Universal para suas despedidas de solteira. O ambiente kitsch, ou brega mesmo, com pinguins, bicho de pelúcia, pôsteres, discos de vinil e tudo que você possa imaginar pendurado, criava uma atmosfera superdivertida. Foi assim que o restaurante começou e se mantém até hoje, mesmo passando por uma reforma e em novo espaço. Virou uma atração turística da cidade. Acredito que a autodidata chef Mara Alcamim nunca imaginou que a casa chegaria ao sucesso a que chegou. Sua comida extraordinária pavimentou tal popularidade.

O restaurante hoje é espaçoso, com ambientes independentes e um bar divertido, com música boa e dançante. No meio da noite encontramos clientes até em cima do balcão, extravasando toda a alegria que se irradia no local. Caipiroska de frutas ou um belo vinho, gente bonita, música deliciosa, sempre uma noite muito agradável. Há ainda a opção de almoçar ou jantar tranquilamente, no andar superior, que se mantém isolado, e na varanda que tem um clima romântico por conta da sua iluminação e do seu jardim. Isso é o Universal!

Do pão de ciabatta com aquela manteiga de ervas ao camarão Sexy Shrimp, da entradinha de cogumelos ao picadinho, tudo era maravilhoso. Infelizmente, era! Hoje, com o crescimento da rede de restaurantes de Mara, a qualidade não é mais a mesma. Nem a qualidade, nem os preços, que por sinal estão exorbitantes, maiores do que os de muitos restaurantes badalados de São Paulo. Antes, você podia ir cinquenta vezes e todas elas eram especiais. Ultimamente tenho ido e não tenho saído satisfeita. Algumas vezes a comida tem chegado fria, o serviço não é tão atencioso, e da última vez até o camarão estava com uma textura questionável.

Já a alegria continua a mesma, com lista de espera extensa, sem vaga para reservas de última hora. A diversão ainda é garantida, mas acredito que não é só a diversão que mantém um restaurante, e sim uma boa comida. Prefiro acreditar que é uma fase. Dói-me escrever isso, mas tenho certeza de que da próxima vez vou poder dizer: Quer comer muuuito bem, beber, dançar e se divertir? Vá ao Universal!

i lustração humberto Freitas

SCLS 210 bloco C lojas 12 a 18(61) 3443-2089

Almoço Terça a sexta: 12h – 15h

sábado e domingo: 12h –16hJantar

Segunda a quinta: 19h – 0h sexta e sábado: 19h – 1h30

1 2 3 4 5

Quer ir a um local divertido? Vá ao Universal

baNquEtEs E botECos } Por marCEla bENEt

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