revista do crefito-2 - 7ª edição

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Entrevista: Wilson Savino, diretor do Instituto Oswaldo Cruz, fala sobre a epidemia de Zika Pág. 4 Novas Câmaras Técnicas de Fisioterapia: Perícia e Gestão Pág. 12 Artigos: Fisioterapia e Terapia Ocupacional Pág. 20 Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2º Região - Ano 4 - Número 07 - Abril de 2016. revista do O Brasil contra o Aedes aegypti O papel da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional Pág. 7 Foto: Rodrigo Mexas e Raquel Portugal / Fiocruz Imagens

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Publicação oficial do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2ª Região (Crefito-2), Autarquia Federal responsável pelo controle social da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional no Estado do Rio de Janeiro.

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Page 1: Revista do Crefito-2 - 7ª Edição

Entrevista: Wilson Savino, diretor do Instituto Oswaldo Cruz, fala sobre a epidemia de Zika Pág. 4

Novas Câmaras Técnicas de Fisioterapia: Perícia e Gestão Pág. 12

Artigos: Fisioterapia e Terapia Ocupacional Pág. 20

Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2º Região - Ano 4 - Número 07 - Abril de 2016.

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O Brasil contra o Aedes aegypti

O papel da Fisioterapia e da Terapia OcupacionalPág. 7

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ExpedienteSumário

Entrevista: diretor do Instituto Oswaldo Cruz, Wilson Savino, fala sobre o zika vírus Pág. 4

O Brasil contra o Aedes aegypti: fisioterapeuta e terapeuta ocupacional na linha de frente das ações de reabilitação Pág. 7

Novas Câmaras Técnicas de Fisioterapia: Perícia e Gestão Pág. 12

Série Memória: primeira Residência em Fisioterapia do Estado do Rio de Janeiro Pág. 14

Dr. Arnaldo de Oliveira:fisioterapeuta e medalhista olímpicoé destaque também no âmbito social Pág. 16

Dra. Beatriz Berro Marins: precursora na utilização da Hipoterapia Pág. 18

Artigo Fisioterapia: “Exercícios de Vibração de Corpo Inteiro no Esporte” Pág. 20

Artigo Terapia Ocupacional: “Abordagens Terapêuticas Ocupacionais na Prática Desportiva e Paralímpica” Pág. 22

Fiscalização: novo suporte tecnológico dinamiza atuação Pág. 24

Orientação do Defis : a fiscalização dos Conselhos Profissionais Pág. 25

Eventos do Crefito-2: programação aberta Pág. 26

REVISTA DO CREFITO-2 Publicação oficial do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2ª Região.

CREFITO-2

Sede Rio de Janeiro – RJRua Félix da Cunha, 41, Tijuca, Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20260-300 Telefone: (21) 2169-2169E-mail: [email protected]

Subsede Sul Fluminense / Volta Redonda – RJRua 18-B, 43, Sala 405 – Edifício Centro Empresarial, Vila Santa Cecília,Volta Redonda – RJ. CEP: 27260-100. Telefone: (24) 3343-3930E-mail: [email protected]

Subsede Norte Fluminense / Campos dos Goytacazes – RJRua Alvarenga Filho, 114, Sala 607 – Condomínio CDT, Pelinca, Campos dos Goytacazes – RJ. CEP: 28035-125. Telefone: (22) 3025-2580E-mail: [email protected]

Horário de atendimento ao públicoSegunda a sexta-feira, das 9h às 16h.

Sitewww.crefito2.gov.br

DiretoriaPresidente: Dra. Regina Maria de FigueirôaVice-Presidente: Dr. Omar Luis Rocha da SilvaDiretora Secretária: Dra. Isis Simões MenezesDiretor Tesoureiro: Dr. Robson de Jesus Pavão

Conselheiros EfetivosDr. Bruno Vilaça RibeiroDra. Isis Simões MenezesDr. Jorge Luis da Silva NascimentoDr. José Antunes da Fonseca FilhoDr. Omar Luis Rocha da SilvaDra. Paula Maria Passos dos SantosDra. Regina Maria de FigueirôaDr. Robson de Jesus PavãoDra. Valéria Martins Quintão Rocha

Conselheiros SuplentesDra. Adalgisa Ieda Maiworm BromerschenckelDr. Edson Virginio RodriguesDra. Luciene Abreu SantosDra. Marisa BacellarDr. Odir de Souza CarmoDra. Patrícia Valesca Ferreira ChavesDra. Renata Campos VelasqueDra. Sandra Maria da Silva Carneiro

REVISTA DO CREFITO-2Comissão EditorialPresidente: Dra. Regina FigueirôaVice-presidente: Dr. Omar Luis Rocha da SilvaAssessoria de Comunicação: Eneida Leão (MTB 31710/RJ e CONRERP 3089) e Sidonio Macedo Jr (MTB JP 31856/RJ)

Redação: Assessoria de ComunicaçãoRevisão e Diagramação: Expressiva Comunicação e EducaçãoTiragem: 40 mil exemplaresPeriodicidade: quadrimestralImpressão: Fox PrintContato: [email protected]

Todo o conteúdo publicado nesta revista poderá ser reproduzido em parte ou integralmente, desde que a fonte seja citada.

Page 3: Revista do Crefito-2 - 7ª Edição

Editorial

Dra. Regina FigueirôaPresidente do Crefito-2

N o dia 7 de abril de 2016, o Colegiado 2015-2019 do Crefito-2 completou um ano de posse. Foram doze me-ses intensos, permeados por muito trabalho, dedicação e integração entre nossos conselheiros. Queremos compartilhar as conquistas deste primeiro ano de gestão com nossos colegas fisioterapeutas e terapeutas

ocupacionais, a quem estendemos sinceros agradecimentos pela parceria e confiança.

Desde que nos candidatamos à Diretoria do Crefito-2, em 2010, escolhemos como lema de nosso grupo “Agregar para Fortalecer”. Nossas ações, que sempre são pautadas pelos princípios éticos, morais e deontológicos, em defesa da boa assistência à saúde por meio do atendimento fisioterapêutico e terapêutico ocupacional, foram guiadas por este mote: agregar para fortalecer.

Afirmamos com clareza que o período 2010-2014 foi nosso tempo de agregar: colocamos a casa em ordem, revisa-mos nossas práticas, traçamos novas rotas, alteramos alguns planos a partir da atenção aos anseios e demandas dos profissionais jurisdicionados e realizamos muito nos campos da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional.

Na gestão em curso, 2015-2019, seguimos agregando, mas temos como palavra balizadora a força do verbo “fortale-cer”, que, segundo os dicionários, entre outras definições, significa “tornar forte” e ”encorajar”.

É a síntese do nosso trabalho: tornar nosso Conselho Regional cada vez mais forte, respeitado e apropriado pelos cidadãos e jurisdicionados como um defensor da saúde e das profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional; e encorajar cada profissional a praticar e difundir o que preconizam seus Códigos de Ética profissional, as leis e reso-luções que normatizam a prática da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional, caminho este que só pode resultar em um atendimento de qualidade à população.

Neste primeiro ano, seguimos atuando no resgate da história, tão necessária à pavimentação de novas estradas profis-sionais. Homenageamos o primeiro plenário do Coffito e profissionais de destaque na Fisioterapia e Terapia Ocupacional, tanto no Rio de Janeiro quanto no Brasil e no exterior. Realizamos nossa XV Jornada Científica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, em duas etapas, com enorme sucesso. Avançamos no projeto de interiorização, com fomento às ações das nossas Subsedes Norte e Sul Fluminense. Combatemos as distorções no exercício profissional e trabalhamos na conscientização dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais sobre seus deveres e direitos. Criamos novas Câmaras Técnicas sobre assuntos de vanguarda e tantas outras realizações.

Agora, começamos o segundo ano da gestão 2015-2019 com muita determinação, dando continuidade a arrojados pro-jetos, como: implantação do sistema Denúncia On-line, que permitirá envio de relatos por computador ou smartphone; fomento às ações do Departamento de Fiscalização; retomada da agenda de eventos das Câmaras Técnicas; digitali-zação dos documentos apresentados pelos profissionais para registro no órgão; organização do Espaço Memória; apri-moramento das ferramentas de comunicação digital, como site, informativos e ações; realização da Jornada Científica no Rio de Janeiro e no interior; abertura de novas Subsedes; entre tantos outros projetos.

Abrindo espaço para apresentar a sétima edição da Revista do Crefito-2, compartilhamos nestas páginas um extrato do trabalho realizado e dos principais projetos em andamento. Mostramos o importante papel do fisioterapeuta e do terapeuta ocupacional no âmbito da reabilitação e atendimento dos casos de bebês com microcefalia, doença cujos índices estão em ascensão com o surto de infeção aguda pelo vírus zika. Ainda sobre este assunto, nossa equipe rea-lizou uma entrevista exclusiva com o diretor do Instituto Oswaldo Cruz, Dr. Wilson Savino, amplificando o diálogo com a comunidade científica. Também inauguramos, neste número, a seção de artigos assinados por profissionais convidados e, em reportagens, apresentamos atuações de destaque na Fisioterapia e na Terapia Ocupacional.

Desejamos que este canal de comunicação e interação nos aproxime, agregue e fortaleça cada vez mais.

Boa leitura.

“Começamos o segundo ano da gestão 2015-2019 com muita determinação, dando continuidade a arrojados projetos."

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4 revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016

Wilson Savino, diretor do Instituto Oswaldo Cruz desde 2013, integra o

Gabinete Fiocruz para o Enfrentamento à Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional decorrente da tríplice epidemia de zika, dengue e

chikungunya. Graduado em Ciências Biológicas (UERJ), mestre em

Histologia e Embriologia (UFRJ), doutor em Ciências - Biologia Celular

e Tecidual (USP) e pós-doutor em Imunologia Celular (Hospital Necker,

Paris), Savino é reconhecido nacional e internacionalmente, tendo recebido

vários prêmios e honrarias, como o título “Chevalier dans l’Ordre de

Palmes Académiques”, do governo Francês, e a medalha Luis Federico

Leloir, do governo Argentino. Presidiu a Sociedade Brasileira de Imunologia (1993-1995), a Sociedade Brasileira

de Biologia Celular (2010-2014), e a Sociedade Internacional de

Neuroimunomodulação (2011-2014). Atualmente, é membro titular da Academia Brasileira de Ciências,

Pesquisador 1A do CNPq e Cientista do Nosso Estado, da Faperj, só

para citar parte de seu vasto currículo. Em entrevista à Revista

do Crefito-2, Wilson Savino fala sobre os estudos e ações que

estão sendo desenvolvidos pela Fiocruz em relação ao zika vírus

e o grande desafio que essa epidemia representa para todos os

profissionais da Saúde.

No dia 18 de fevereiro, foi publicada uma portaria do Ministério da Saúde tornando obrigatória a notificação de doença aguda e óbito pelo vírus zika, inclusive em gestante. Essa medida pode contribuir para as pes-quisas sobre a associação desse vírus à microcefalia?

Wilson Savino: Essa medida contribui positivamente, pois teremos um retrato mais fidedigno do que realmente está acontecendo e, consequen-temente, um poder de resolução maior. Agora, qualquer caso tem de ser notificado, o que não acontecia antes, e por isso havia uma subnotificação. Essa obrigatoriedade permitirá que estudos de correlação de microcefalia com zika, por exemplo, se façam com mais acurácia.

Há certa dificuldade na precisão do diagnóstico. A Fiocruz desenvolveu um teste molecular para identificação de dengue, chikungunya e zika; e está desenvolvendo um teste sorológico. Como esses testes funcio-nam? Quando esses testes estarão disponíveis? Como poderão auxiliar na comprovação ou não da associação da zika à microcefalia e outras doenças?

WS: O chamado teste molecular identifica diretamente a presença do ge-noma do vírus, o que é muito bom. No entanto, como o vírus só permanece no sangue circulante entre quatro ou cinco dias, uma pessoa infectada que não esteja mais nesta janela de tempo terá um resultado negativo. Na urina, essa janela se estende por até duas semanas, mas ainda assim é um curto período se tomamos como parâmetro os nove meses de gravidez. Já o teste sorológico detecta os anticorpos contra o vírus, ou seja, identifica a resposta imunológica da pessoa contra o vírus, a qual é muito duradoura.

Desde os primórdios da imunologia, é sabido que quando uma pessoa entra em contato pela primeira vez com um vírus produz um tipo de anticorpo muito rapidamente. Depois de sete dias já está produzindo o anticorpo chamado IgM, com capacidade de reconhecimento específico do vírus. Então, a pessoa tem anticorpos antivírus da classe IgM e isso se dá em uma janela de tempo também da ordem de 15 dias. A grande diferença é que, depois disso, o organismo começa a produzir outros anticorpos com a mesma capacidade de atingir e reconhecer o vírus, da chamada classe IgG, e que podem permanecer cerca de dois anos na corrente sanguínea. Esse teste é fundamental na análise dos casos de microcefalia. Com esse teste, poderemos saber se a mulher foi ou não infectada com o zika vírus. É uma das frentes em que nós da Fiocruz estamos trabalhando, na unidade de Curitiba (PR), com urgência. Há, no entanto, outras instituições, nacionais e estrangeiras, trabalhando no desenvolvimento desse tipo de teste.

Até o momento, pelo menos duas empresas, uma na Alemanha e outra no Canadá, fizeram um teste sorológico para zika e colocaram no mercado. A Anvisa, por conta da emergência em saúde pública, aprovou o uso, mas os testes ainda não foram validados. Como o vírus da dengue é muito parecido com o da zika, por exemplo, um desses testes sorológicos, aparentemente, reconhece dengue também, o que não resolve a questão. O que estamos montando na Fiocruz é um painel de soros de pacientes infectados e de controle de não infectados e esse painel funcionará como um sistema de validação de testes.

Assim, o que vem se desenhando, por uma sugestão do Centro de Preven-ção e Controle de Doenças de Atlanta (CDC), que é o maior do mundo; do FDA, equivalente à Anvisa; e a Organização Mundial de Saúde (OMS), é que o Brasil, no caso a Fiocruz, se transforme em um centro internacional de validação de testes sorológicos para a zika. Então, estamos construindo esse painel, para que tenhamos um sistema de validação.

Entrevista

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Trata-se de uma certificação dos testes, em que iremos atestar a sua sensibilidade em identificar o vírus e a sua especificidade, se só reco-nhece aquele vírus e não outros. Essa sensibilidade e especificidade são determinantes e, absolutamente, essenciais, para que um dado produto seja útil para a sociedade. Caso contrário, começamos a ter resultados falsos. Ou seja, o falso negativo, quando a pessoa está in-fectada, faz o teste e dá negativo; ou falso positivo, quando o paciente não tem o vírus e o resultado é positivo. A sensibilidade e a especifici-dade são atributos essenciais para os testes. E para a sua validação é fundamental dispormos de um painel muito bem conhecido.

O painel deve ser concluído nos próximos dois meses e, por volta de agosto, o teste sorológico estará pronto, mas ainda não em escala para utilização pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso vai demorar um pouco mais, pois ainda teremos que fabricar os testes, como estamos fazendo com o teste molecular. Por volta de junho, já teremos disponibilizado ao SUS, cerca de 50 mil kits de teste molecular. Esse teste, desenvolvido pela Fiocruz, é capaz de distinguir zika, dengue (1, 2, 3 e 4) e chikungunya.

Além de estar debruçada sobre a forma de precisar o diagnóstico, que outros estudos a Fiocruz vem desenvolvendo sobre zika, dengue e chikungunya? Há estudos sobre vacinas?

WS: Vacina não é simples de desenvolver. Há dez anos se tenta fazer vacina para a dengue e ainda não se tem. Existe uma que co-meça a ser testada agora pelo Instituo Butantã, que foi desenvolvida essencialmente nos EUA, mas que ainda não sabemos como será. Há uma regulamentação que estabelece todo um passo a passo obrigatório. Primeiro é preciso definir o candidato vacinal, que está

relacionado ao desenho molecular; depois é necessário ter um mo-delo animal para testar a vacina, e não existe ainda modelo animal claramente estabelecido para zika; tudo dando certo no modelo animal, é preciso verificar o grau de toxicidade da vacina, como estamos falando de epidemia de microcefalia associada à infecção congênita pelo vírus, temos que testar em mulheres grávidas, em bebês, não sendo verificada toxicidade; é necessário verificar a imunização, e por aí vai. É um passo a passo de grande complexi-dade que é preciso cumprir e isso demanda tempo.

Atualmente, existem cerca de 30 projetos diferentes sobre vacina contra zika no mundo. Aqui na Fiocruz, estamos começando a desenhar os candidatos vacinais, primeiro a molécula a ser reco-nhecida pelo nosso sistema imune, depois o veículo que será usado para levar essa molécula ao local determinado no nosso organis-mo. Já existe esse conhecimento para outras vacinas e estamos adaptando agora para a vacina contra zika. Existe uma hipótese de que essa vacina contra dengue possa ser adaptada para imunizar também contra zika, para que seja uma vacina polivalente para dengue e zika, mas é apenas uma hipótese.

Há um conjunto razoavelmente grande de empresas e laboratórios que estão trabalhando para desenvolver uma vacina. Mas também há grupos que estão buscando alternativas de intervenção terapêu-tica. Por exemplo, tratar as mães preventivamente para impedir que o vírus chegue à placenta, ou atravesse a placenta. Esse é todo um outro campo de tratamento que está iniciando. Devemos fazer na Fiocruz uma oficina de trabalho com pesquisadores de várias partes do mundo, com experiência neste tipo de pesquisa, para identificar uma molécula que já exista ou construir uma molécula que possa

“Tanto nos casos de Guillain-Barré como de microcefalia, as ações de saúde serão de muita complexidade e exigirão uma atuação de vários profissionais, como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, etc. É importante que esses profissionais tenham noção de que, o que está acontecendo hoje no Brasil, os envolverá, necessariamente pelo próximo decênio, e que eles cuidarão de centenas e centenas de famílias, em uma atuação de saúde multidisciplinar.”

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Interiorização

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ter o efeito de bloqueador do vírus. É importante que essas duas linhas de experimentos sigam paralelas.

Mas por enquanto, como não temos a vacina, nem o tratamento, a alternativa para diminuir a epidemia é controlar o mosquito. Quanto a isso há duas vertentes diferentes entre si. Uma, no âmbito educacional, com o envolvimento da sociedade como um todo no combate aos focos de mosquito, o que é fundamental. E outra, relativa aos experimentos que estão sendo realizados como alternativa para o controle do mosquito. Um deles é refe-rente à Wolbachia. Um grupo de pesquisadores australianos de-monstrou que o mosquito infectado por essa bactéria não libera o vírus da dengue. À época, um pesquisador da Fiocruz estava trabalhando com esse grupo e houve um acordo para trazer esta tecnologia para o Brasil. A Fiocruz está, então, desenvolvendo um experimento de controle de mosquitos capazes de transmitir zika, em alguns bairros do Rio de Janeiro e Niterói. A lógica é colocar milhares de mosquitos infectados com a bactéria no ambiente, e com o tempo espera-se que essa população domi-ne os mosquitos comuns. Os resultados são promissores. Há, inclusive, a possibilidade de estender esse tipo de intervenção a uma cidade inteira, do porte de Niterói, mas isso exigirá uma logística urbana muito complexa. Se essa mudança de esca-la vier a acontecer, ela demandará uma organização logística muito grande e o envolvimento da sociedade será fundamental. Em reuniões sobre uso de tecnologias de informação de alta complexidade, já cogitamos o desenvolvimento de softwares de simulação para esse experimento.

Há outro experimento sendo realizado na Amazônia, que consiste em uma armadilha para mosquito contendo larvicida. Quando o mosquito pousa na armadilha, ele se impregna de larvicida. En-tão, onde ele colocar seus ovos, ele também deixa o larvicida. Os resultados têm demonstrado uma queda de mais de 90% na quantidade de mosquitos. Essa é uma outra estratégia na qual a Fiocruz vem trabalhando, além da Wolbachia.

Outra doença que pode estar associada à zika é a síndrome Guillain-Barré. O Instituto Oswaldo Cruz e a Universidade Fede-ral Fluminense (UFF) estabeleceram uma parceria para estudar essa síndrome. O que será pesquisado?

WS: Essa parceria ainda está começando. O Hospital Antônio Pedro tem uma unidade de pesquisa clínica em neurologia muito boa, dirigida pelo médico pesquisador Osvaldo Nascimento, e a nossa intenção é estudar a interação neuroimune que ocorre em pacientes portadores de Síndrome de Guillain-Barré, em asso-ciação com infecção pelo zika vírus. Essa síndrome acomete os nervos periféricos, gerando uma fraqueza muscular muito gran-de, o que pode levar, inclusive, à morte. E há, também, toda uma sintomatologia e uma apresentação clínica específicas. O que vamos avaliar é se o zika vírus está desencadeando um processo autoimune nesses indivíduos e gerando Guillain-Barré, ou se o vírus, por si só, é capaz de provocar uma lesão no nervo periférico e provocar a síndrome de Guillain-Barré por um mecanismo bio-lógico completamente diferente. Para isso, iremos estudar alguns pacientes e montaremos determinados experimentos dentro do laboratório, para verificar se esses mecanismos biológicos são

semelhantes ou diferentes. As respostas auxiliarão no tipo de conduta terapêutica a ser adotada.

O que mais a Fiocruz vem desenvolvendo?

WS: Para estudar microcefalia e a sua relação causal com zika, esta-mos realizando o que se chama de coortes. São grupos de pessoas reunidas por semelhanças, por exemplo, uma coorte de mulheres grá-vidas. E estou me referindo a de três a quatro milhares de mulheres grávidas que serão envolvidas em um estudo e depois seus bebês serão também acompanhados, para identificar se apresentaram mi-crocefalia, qual o percentual, se houve ou não infecção por zika, se existem outras alterações neurológicas, etc. Isso, além de exigir um alto investimento, mobiliza um esquema de trabalho e de assistência para todas as famílias que tiveram bebês com microcefalia. A Fiocruz conta com o Instituto Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF), que é referência para doenças genéticas, incluindo microcefalia, além de ser um grande centro hos-pitalar para recém-natos com problemas. E vimos observando um aumento no número de bebês assistidos com microcefalia. Já solicita-mos recursos, não só ao Ministério da Saúde como a outras entidades, no sentido de que esse estudo possa também garantir a assistência a essas crianças. A ideia é que se desenvolvam centros de assistência também em outros locais e o SUS terá de se remodelar para atender a uma demanda que não havia. Será necessário formar um grande número de profissionais da área da Saúde, para fazer face a esse cenário que era imprevisível há doze meses, e tudo indica que não irá desaparecer nos próximos doze meses. Esse é um desafio enorme.

A Fiocruz montou um gabinete de crise, do qual participo, que se dedicou, de metade de dezembro até metade de janeiro, a elaborar um plano global da ação para enfrentamento dessa emergência de Saúde Pública em âmbito nacional, e que foi entregue ao Ministro da Saúde. É um plano complexo, que leva em consideração o controle do mosquito, a microcefalia, todos os estudos que precisam ser feitos para entender a doença, os testes diagnósticos, a assistência em saúde, etc. Vale destacar que a Fiocruz participa de um acordo de cooperação com a USP e o Instituto Pasteur de Paris, e essas duas instituições aderiram ao plano que elaboramos. Esse plano também foi apresentado ao Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e ao Instituto Nacional de Saúde da França, que irá, em parceria com a Fiocruz, coordenar um grande projeto para atender a um edital da União Europeia para aprovar um ou dois projetos com orçamento total de dez milhões de euros.

Todo esse complexo trabalho de estruturação deu muita solidez de coordenação e visibilidade à Fiocruz, em âmbito nacional e internacional. É importante salientar que esse plano está perma-nentemente sendo atualizado, pois a escala de tempo que estamos vivendo na atual conjuntura é outra, com muitas coisas acontecen-do. Por exemplo, o Instituto Pasteur, que aderiu ao nosso plano, desenvolveu um teste sorológico que vamos validar. E se estiver ok, ótimo! Vamos expandir em escala e começar a usar. O que interessa é a expansão do conhecimento e as respostas à socie-dade. Nesse sentido há um fato curioso que temos observado com a epidemia de zika, o qual, se perpetuado, trará uma mudança de paradigma ao fazer científico, cujo foco deve ser o conhecimento e a resposta à sociedade, e não o seu autor.

Entrevista

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Capa

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Nas últimas décadas, o aumento dos casos de dengue no Brasil já era um problema suficien-temente grande para a saúde pública. O Aedes

aegypti, mosquito transmissor da doença, encontrou con-dições adequadas para se proliferar e passou a transmitir outras enfermidades, como zika e chikungunya.

O primeiro caso de zika identificado no Brasil foi há pouco mais de um ano, em abril de 2015. Apesar de ser uma doen-ça com sintomas menos severos que a dengue, o vírus tem causado preocupação por conta de seus efeitos em alguns grupos, especialmente, nas mulheres grávidas. A Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS) considera o cenário preocu-pante, devido à associação entre a infecção aguda pelo vírus zika e complicações potenciais, incluindo a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré.

De acordo com o Ministério da Saúde, “cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus zika não desenvolvem ma-nifestações clínicas”. Os sintomas – dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos – evoluem de forma benigna e desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias.

A via de transmissão primária é o mosquito Aedes aegypti, ainda que a OMS afirme que “a transmissão sexual de vírus zika também é uma possibilidade, com evidência limitada registrada em alguns casos”. A agência da Organização das

Um mosquito,O Aedes aegypti está ainda mais perigoso. Além do vírus da dengue, ele vem alarmando o mundo com a transmissão também dos vírus zika e chikungunya. Mais do que o combate ao mosquito, que exige investimentos em saúde pública, saneamento e infraestrutura de qualidade, é fundamental conhecer melhor essas doenças e estar preparado para enfrentar as demais enfermidades a elas relacionadas, como a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré, que podem estar associadas à zika.

várias doenças

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Capa

8 revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016

Nações Unidas (ONU) reforça que a base de evidências sobre o vírus zika continua extremamente limitada e a orientação acerca da transmissão será revista, bem como as recomendações, conforme surjam novas evidências.

Notificação é obrigatóriaA Portaria 204/2016 do Ministério da Saúde incluiu na lista de doenças com notificação compulsória todos os casos suspeitos de doença aguda pelo vírus zika e febre chikungunya. Os casos de-verão ser comunicados às autoridades de saúde semanalmente. Nas situações de gestantes com suspeita de infecção pelo vírus ou de óbito suspeito, a noti-ficação será imediata, ou seja, deve ser submetida em até 24 horas.

“No caso da microcefalia, embora já houvesse a necessidade de notifi-cação, ela [notificação] estava entre outras inúmeras malformações con-gênitas e, a partir de agora, dare-mos um destaque especial. O que a Portaria faz, na prática, é tornar obrigatória a notificação do vírus da zika relacionado à microcefalia”, ressaltou o então ministro da Saú-de, Marcelo Castro, durante reunião entre representantes de institutos de pesquisa do Brasil e dos EUA para discutir ações contra o vírus.

Notificação compulsória é a comuni-cação obrigatória da ocorrência de de-terminadas doenças ou agravos à saú-de por parte dos profissionais de saúde no exercício da profissão, bem como aos responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particu-lares de saúde e ensino, de acordo com a Lei Federal nº 6.259/1975, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica.

Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional na linha de frente da assistência à saúde

Dos muitos problemas causados pelo Aedes aegypti, a infecção aguda provocada pelo vírus zika é apontada como responsável por um quadro dramático na saúde brasileira: aumento nos casos de bebês com microcefalia e no número de pacientes acometidos pela síndrome de Guillain-Barré. Neste cenário, os serviços de Fisioterapia e Terapia Ocupacional serão mais demandados e terão pela frente o grande desafio de acolher e cuidar desses pacientes.

O Brasil está vivendo uma grave situação na área da saúde e, infelizmente, o prog-nóstico é que o país enfrente, pelo menos, uma década de grandes desafios. Den-tre eles, o mais urgente é o atendimento de qualidade às pessoas com sequelas causadas pela infecção aguda pelo vírus zika. Dr. Wilson Savino, diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em entrevista conce-dida a esta edição da Revista do Crefito-2 (pág. 4), destacou a emergente deman-da pelo trabalho dos fisioterapeutas, te-rapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outras profissões de saúde.

Diante da emergência de saúde e dos desafios de atuação, especialmente no próximo decênio, os profissionais de-vem procurar áreas de especialização para exercer de forma mais qualificada suas profissões. É imperativo que os fisioterapeutas e terapeutas ocupacio-nais busquem atualização profissional e recorram a uma bagagem de conheci-mentos para atuar com a complexidade e a variedade dos casos, nos mais di-versos graus de acometimento.

A coordenadora da CT Fisioterapia Neurofuncional do Crefito-2 e profes-sora da Unifeso e UCB, Dra. Wilma Costa Souza, aponta que “é impor-tante conhecer os conceitos básicos

da recuperação motora e funcional e pautar sua prática em evidências científicas consolidadas”.

O aperfeiçoamento constante também é importante na atuação dos profissio-nais de Terapia Ocupacional. Dra. Cecília Spinola Gonçalves Lamonica, terapeuta ocupacional do Hospital Maternidade Fer-nando Magalhães, unidade da Prefeitura do Rio de Janeiro especializada no aten-dimento às grávidas de alto risco, afirma que a capacitação deve ser permanente.

“Precisamos estar capacitados, habi-litados e com conhecimentos prévios básicos, projetados para a patologia ou sequela que o paciente apresenta. Cada um deles possui particularidades. Para cada um e para cada família, o terapeuta ocupacional tem que ter um acolhimento, até para que haja aderência ao tratamen-to. Se a família percebe o profissional bem formado, trazendo recursos para favorecer o desenvolvimento, a evolução no dia a dia, as atividades do cotidiano, ela vai estar integrada. O profissional tem uma responsabilidade enorme, em si próprio primeiro, na sua formação ética e moral, mas também com a evolução e ampliação do conhecimento. A gradua-ção é pré-requisito, mas depois não dá para parar. É uma luta pessoal”.

Dra. Wilma Costa Souza, coordenadora da CT Fisioterapia Neurofuncional do Crefito-2

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MicrocefaliaO bebê com microcefalia demanda pre-cocidade no início de seu tratamento, e deve passar por atendimentos com uma equipe multidisciplinar de saúde. O Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, do Ministério da Saúde, incluiu a criação das Diretrizes de Esti-mulação Precoce, direcionada ao trata-mento de crianças de 0 a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsi-comotor decorrente de microcefalia. Vale lembrar que as orientações po-dem ser aplicadas a outras condições ou agravos de saúde que interfiram no desenvolvimento neuropsicomotor nesta fase. Consulte o documento na internet, em bit.ly/estimulação.

A técnica de Estimulação Precoce consis-te na aplicação de recursos terapêuticos com o objetivo de favorecer o desenvolvi-mento motor, cognitivo, sensorial, linguís-tico e social, prevenindo ou atenuando possíveis prejuízos (Ministério da Saúde, 2016). O objetivo principal do tratamento é capacitar a criança para a realização independente de suas atividades diárias possibilitando sua participação na socie-dade da melhor forma possível.

Dra. Wilma Costa Souza , que é profes-sora de Fisioterapia Neurofuncional, res-salta, ainda, que “a criança acometida pela microcefalia é portadora de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, podendo apresentar também deficiên-cias auditivas e visuais. É importante destacar que, dada a complexidade dos casos de microcefalia, é necessária a atuação de equipe multidisciplinar. O envolvimento da família é também fun-damental para o desenvolvimento de habilidades funcionais na criança”.

Para a terapeuta ocupacional do Hos-pital Maternidade Fernando Magalhães, Dra. Cecília Spinola, “a família tem o papel de dar continuidade ao trabalho”. A profissional defende o “atendimento

de portas abertas para os pais” e lem-bra que “quando se trata de criança, os pais têm que ser parceiros o tempo todo. É preciso uma relação de empatia, especialmente do profissional, que deve estar disponível para receber e acolher as dores e frustrações da família”.

Dra. Wilma Costa lembra que, na Fisiote-rapia, “há diversos cursos que ministram técnicas específicas para tratamento do paciente neurológico como, por exemplo: Estimulação Precoce para crianças com alteração do desenvolvimento psicomotor; Conceito Neuroevolutivo Bobath; Terapia de Restrição e Indução do Movimento, na recuperação funcional pós-AVC (Aciden-te Vascular Cerebral); entre outros”. Ela aponta que “o atendimento a crianças e adultos com doenças neurológicas é especialidade da Fisioterapia Neurofun-cional, cujo profissional habilitado deve ser fisioterapeuta com especialização na área de Fisioterapia Neurofuncional". Há quatro formas do profissional obter o título de especialista, conforme ressalta a Dra. Wilma Costa: reconhecimento de sua especialidade outorgado pelo Con-

selho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito), após realização de prova escrita; curso de pós-graduação; mestrado; ou doutorado na área”.

A Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (Abrafin) elaborou um parecer sobre a atuação do fisioterapeu-ta na Estimulação Precoce. A demanda foi apresentada pelo Coffito. No âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a Câmara Técnica de Fisioterapia Neurofuncional do Crefito-2 também se debruçou sobre o tema, destacando que o Parecer “ofe-rece subsídios relevantes para a com-preensão do tratamento fisioterapêutico da criança com microcefalia” e “com-plementa as informações contidas” nas diretrizes do Ministério da Saúde.

“A grande questão de todos os trata-mentos, de qualquer sequela, patologia ou alteração, é a precocidade; começar o mais cedo possível com as estimula-ções”, lembra a Dra. Cecília Spinola. Ela explica que “a criança com microcefalia pode apresentar déficit auditivo, visual e motor, em grau que vai depender do

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comprometimento do sistema nervoso central. “Há casos muito graves, de pacientes que precisam de traqueos-tomia, gastrostomia, possuem tônus e parte motora muito comprometida, com uma sobrevivência de qualidade muito difícil. Também há casos de crianças com uma microcefalia limítrofe, que está funcional, apesar das dificuldades nas atividades mais elaboradas e corticais, como a linguagem e a motricidade fina”.

Em março de 2016, o Ministério da Saúde começou a oferecer um curso à distância sobre Estimulação Preco-ce, tendo como público alvo fisiote-rapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, médicos, entre outros profissionais que atuam em diversos serviços do Sistema Úni-co de Saúde, nas Redes de Atenção Básica e Especializada, como os liga-dos aos Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASF) e os Centros Es-pecializados em Reabilitação (CER). A meta do Ministério é capacitar e certificar 7.525 profissionais.

Outra terapia que apresenta bons re-sultados, conforme aponta a terapeuta ocupacional da Maternidade Fernando Magalhães, é a Integração Sensorial, onde são realizados “estímulos com uma variação enorme de equipamentos”. Nessa terapia, o profissional busca a integração de todos os sistemas senso-riais – visual, auditivo, gustativo, olfativo, proprioceptivo, tátil, vestibular –, sendo estes dois últimos os mais trabalhados.

A Terapia da Integração Sensorial foi desenvolvida pela terapeuta ocupacional americana Anna Jean Ayres, que a de-finiu como “o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do corpo no ambiente”.

A Integração Sensorial foi tema central do III Fórum da Câmara Técnica de Saú-de Funcional da Terapia Ocupacional do Crefito-2, realizado em 2014, no Auditó-rio da Associação Fluminense de Amparo aos Cegos (Afac), em Niterói. O evento recebeu representantes da Associação dos Terapeutas Ocupacionais do Estado do Rio de Janeiro (Atoerj), da Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais (Abrato), da Associação de Musicotera-pia do Estado do Rio de Janeiro, e repre-sentantes dos Crefitos 1, 3 e 6.

Síndrome de Guillain-BarréConforme esclarece a fisioterapeuta Dra. Wilma Costa Souza, a síndrome de Guillain-Barré (SGB) é “uma doença autoimune, que provoca a inflamação aguda dos nervos periféricos, podendo acometer também as raízes nervosas proximais e os nervos cranianos. Na doença, verifica-se a alteração da fun-ção da bainha de mielina, o que dificulta a transmissão do impulso nervoso. O paciente pode apresentar paresias ou paralisias flácidas e simétricas, com início a partir das extremidades, poden-do atingir membros inferiores, tronco e membros superiores. Em alguns casos ocorre o acometimento do músculo diafragma, levando a um quadro de insuficiência respiratória”.

O bibliotecário Caio Costa, que teve um quadro agudo de SGB, em 2011, revela o drama vivido por ele e destaca a Fi-sioterapia como uma grande aliada em seu processo de recuperação. Morador do Rio de Janeiro, ele estava prestan-

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do serviços em São José dos Campos, interior de São Paulo, quando sentiu os primeiros sintomas.

“Tive acompanhamento fisioterapêu-tico desde o início, no primeiro dia de UTI: fui internado no domingo e na segunda-feira já tive sessão com a fo-noaudióloga e a fisioterapeuta. Eram várias profissionais, na UTI e no quar-to. Foi imprescindível o tratamento e o acompanhamento fisioterapêutico. Na própria UTI já comecei a ter me-lhoras. A síndrome paralisou meus músculos da face e eu estava falan-do ‘embolado’. Eu tive que aprender a falar de novo. A fazer tudo. Então, foi de extrema importância a fisiote-rapeuta em todos os momentos. Fui fazer sessões diárias de Fisioterapia. Eu digo que eu voltei a andar pela mi-nha fisioterapeuta, que me ajudou em tudo. Foram três meses e meio”.

Grato pela excelente recuperação que teve com apoio dos fisioterapeutas, Caio destaca que “o corpo tem lembranças, tem memória”. Ele conta que, durante o período mais grave da doença, era como se tivesse esquecido como andar e fazer todos os movimentos: “A gen-te tem que ir abrindo as caixinhas da memória do corpo. Os fisioterapeutas foram essenciais neste sentido: só eles souberam abrir as caixinhas para que o corpo lembrasse”.

Sobre a preocupação com os casos de Gullain-Barré associados à zika, o bibliotecário revela sua apreensão. “Primeiro, vem a preocupação com o resultado de um exame que diagnos-tique que é exatamente Guillain-Barré, pois isso demora muito e é um proble-ma ainda. No meu caso, foi aguda, e se os médicos não tivessem dado um ‘tiro no escuro’ eu teria morrido. Essa é a primeira preocupação. A segun-da é a falta de conhecimento, não só da sociedade, mas dos profissionais, que precisam diagnosticar, identificar a síndrome e tomar a atitude correta.

Dra. Cecília Spinola, terapeuta ocupacional do Hospital Maternidade Fernando Magalhães.

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revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016 11

Existem vários tratamentos, e o meu foi um deles, foi o mais radical, por ter sido aguda. Existem outras formas de tratar Gullain-Barré, mas a falta de conheci-mento é um entrave, um agravante”.

A experiência do paciente encontra eco na declaração do Dr. Osvaldo Nascimen-to, que é professor titular de neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em síndrome de Guillain-Barré. Em entrevista ao Jornal O Globo, ele afirmou que “a polirradi-culoneuropatia ou síndrome de Guillain--Barré recebeu nova classificação. E muitos médicos têm dificuldade de re-conhecer todas as suas manifestações clínicas. Isso é muito grave no momento em que surgem casos associados ao (ví-rus) zika. Temos visto um maior número de pacientes com esse quadro e alguns apresentam complicações mais severas que o quadro clássico”.

No tratamento do paciente com quadro da síndrome, “o Fisioterapeuta Neuro-funcional avalia as alterações das es-truturas e funções do corpo, ou seja, as deficiências e as dificuldades na realização das atividades do dia a dia, ou limitações do paciente, e seleciona técnicas específicas para tratá-las”, explica Dr. Edson Virginio Rodrigues, conselheiro do Crefito-2, especialista e membro da CT Fisioterapia Neurofun-cional, ex-chefe da Unidade Raquime-dular da Associação Brasileira Benefi-cente de Reabilitação (ABBR).

O conselheiro aponta que a SGB é uma aguda ou subaguda polineurite idiopá-tica, identificada pela primeira vez em 1916, em dois soldados, por cientistas franceses. Os dados que se apresenta-vam até recentemente, de acordo com o Dr. Edson Virginio, davam conta de “uma taxa de mortalidade de 50%”, em virtude de “falência ventilatória, embo-lia pulmonar e arritmia cardíaca”.

A relação entre infecção por zika e ca-sos de SGB teve início após a epidemia na Polinésia Francesa, que elevou 20 vezes o número de casos registrados

da síndrome. No Rio de Janeiro, o mo-nitoramento de casos de complicação neurológica pós-zika foi determinado pela Secretaria de Estado de Saúde, com a notificação obrigatória a partir de julho de 2015. Até o fechamento desta matéria, foram notificados 50 casos no território fluminense: 21 casos em investigação, com relato de manchas vermelhas na pele – prin-cipal sintoma da infecção pelo vírus zika; 17 casos aguardam resultados de exames laboratoriais; 9 casos compatíveis com infecção por zika; e 3 casos foram descartados.

Dr. Edson Virginio Rodrigues, conselheiro do Crefito-2, especialista e membro da CT Fisioterapia Neurofuncional.

Crefito-2 oferece capacitação gratuita sobre estimulação precoce na microcefaliaEm poucos dias, o Crefito-2 recebeu mais de 500 solicitações de vagas para a ca-pacitação “A Prática das Ações Relativas à Resposta à Ocorrência de Microcefalia e/ou Alterações do Sistema Nervoso Cen-tral (SNC) Relacionadas à Infecção pelo Vírus Zika no Âmbito da Reabilitação”. O curso foi organizado em parceria com a Atoerj, com realização nos dias 19 e 20 de maio, no auditório do Crefito-2, na Sede Rio de Janeiro.

A enorme procura pelas pré-inscrições comprova a importância da formação continuada e o interesse dos profissio-nais de saúde sobre o tema. Foram qua-se 600 inscritos para a primeira rodada. O Conselho Regional deverá abrir novas turmas para atender à demanda.

A capacitação tem como objetivos es-pecíficos a apresentação aos profis-sionais da reabilitação e afins sobre os protocolos de ocorrência de microcefa-lia relacionada à infecção pelo vírus zika do Ministério da Saúde e a capacitação em programas de estimulação precoce conforme as diretrizes e protocolos pre-conizados pelo Ministério.

Além disso, os organizadores pretendem difundir o fluxo de encaminhamento/re-gulação para a Rede Regional de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência e es-timular a criação de plano de intervenção dos serviços de reabilitação, Núcleos de Assistência à Saúde da Família (NASFs) e serviços de atenção domiciliar, articu-lado com os recursos assistenciais e co-munitários do território, em consonância com as ações regionais.

A capacitação contou com a partici-pação de palestrantes com vasta ex-pertise nos campos da vigilância em saúde, atenção à saúde das mulheres e dos recém-nascidos; distúrbios do desenvolvimento, estimulação pre-coce e abordagens terapêuticas da Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia, destacando a impor-tância da equipe multidisciplinar.

O tema também integra a programação da I Jornada Científica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Crefito-2 no Norte-Noroeste, realizada em Campos dos Goytacazes, onde está localizada uma das subsedes do Crefito-2.

A cobertura completa sobre as edições da capacitação, eventos e Jornadas es-tará na próxima edição desta revista.

Participe das próximas edições desta capacitaçãoPara receber os informes e alertas sobre abertura de inscrições para novas roda-das deste curso, ou dos demais even-tos gratuitos promovidos pelo Conselho Regional, basta realizar o cadastro em www.crefito2.gov.br/cadastro.html. É importante verificar se os Informati-vos e mensagens enviadas pelo Conse-lho Regional estão caindo nas caixas de spam ou lixo eletrônico e liberar o re-cebimento das mensagens do Crefito-2. Para acompanhar a programação de eventos do Crefito-2 ou de entidades de classe e parceiros, visite o site.

www.crefito2.gov.br/eventos.html.

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Câmaras Técnicaspreparam agenda

12 revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016

Reflexão Técnica e Científica

Programação para o ano de 2016 conta com novidades. Coordenação desenvolveu eventos temáticos para Fisioterapia e Terapia Ocupacional, com abordagens sobre atuação profissional e inserção no mercado de trabalho. Novas Câmaras Técnicas já foram lançadas, como as de Gestão e Perícia, e grupos sobre outros temas serão formalizados ainda neste ano.

R eformuladas na Gestão 2010-2014, as Câmaras Técnicas con-solidaram-se graças ao trabalho

de coordenadores e integrantes, que con-tribuíram para o sucesso da temporadas de eventos que marcaram a história do Crefito-2. Todo o sucesso colhido é mo-tivação para a elaboração de uma nova agenda, com formatações diferenciadas e temas atualizados, aderentes aos precei-tos do Plano de Ação do Colegiado para o quadriênio 2015-2019.

A conselheira e coordenadora geral das Câmaras Técnicas do Crefito-2, Dra. Re-nata Velasque, comenta sobre os novos projetos: “Desenvolvemos aberturas es-pecíficas para Fisioterapia e Terapia Ocu-pacional, com debates envolvendo diversas Câmaras Técnicas, e intensificaremos a produção de material técnico-científico”.

De acordo com a coordenadora, a ideia é abrir as temporadas com debates sobre o mercado profissional, abordando o pa-norama geral, empregabilidade, desafios do empreendedorismo, as especialidades profissionais e áreas de atuação.

Outro caminho a ser percorrido pelas Câmaras a partir deste ano é a elabo-ração de materiais técnico-científicos e informativos. “Pode ser tanto sobre um tema específico, com elaboração exclusivamente por uma Câmara Téc-nica, como sobre um tema correlato, com estudos em parceria entre várias especialidades. A abordagem das se-quelas da microcefalia, por exemplo, pode ser feita pela Fisioterapia Neuro-funcional e pela Terapia Ocupacional”, explica Dra. Renata Velasque.

O Conselho tem experiências bem suce-didas neste campo, com as publicações impressas e digitais das cartilhas “Tera-pia Ocupacional na Assistência Social”, com dois volumes, já produzidas pela Câmara Técnica da Terapia Ocupacional nos Contextos Sociais.

Na esteira desta proposta, já está em andamento o projeto “Crefito-2 Explica”. Trata-se de uma série de informativos em formato folder, onde as Câmaras Técnicas esclarecem a sociedade sobre a atuação das especialidades profissionais e a respei-to de temas emergentes. Os periódicos se-rão distribuídos em versão impressa pelas Câmaras Técnicas em suas ações e even-tos, bem como encaminhados para institui-ções de ensino superior, estabelecimentos de saúde, entre outros. Além disso, haverá divulgação do material pela internet. O site do Crefito-2 hospedará todos os números da série, sendo possível realizar download e compartilhar os arquivos, tornando os conhecimentos mais acessíveis.

Perícia e Gestão são temas de novas Câmaras Técnicas

A cada temporada, as Câmaras Técnicas passam por reformulações. Além da re-novação de equipes, acontece a criação de novas CTs, conforme a necessidade do Conselho Regional se debruçar sobre o estudo mais aprofundado de uma es-pecialidade, área ou situação específica.

Neste ano, o Crefito-2 já conta com mais dois novos temas de vanguarda, que são ob-jeto de discussões constantes – Fisioterapia em Perícia e Fisioterapia em Gestão.

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Conheça mais sobre os objetivos das novas CTs nos depoimentos de seus coordenadores.

Fisioterapia em Gestão

Coordenadora: Dra. Adalgisa Ieda Maiworm Bromerschenckel

Conselheira do Crefito-2; coordenadora da Divisão de Fisioterapia PPC/Hospital Universitário Pedro Ernesto/Uerj. Doutoranda em Ciências Médicas/Uerj; mestre em Ciências da Saúde (UFRN); e especialista em Fisioterapia Pneumofuncional (Coffito).

“A Câmara Técnica de Gestão tem o propósito de de-bater temas polêmicos e de pouco entendimento, tanto na esfera pública quanto privada, permitindo a troca de informações e esclarecimentos sob a luz da legislação para este segmento. Atualmente, no Estado do Rio de Janeiro, há mais de 30 mil fisioterapeutas inscritos sob nossa jurisdição. São vários gestores nas redes pública e privada, que precisam ter sintonia fina na condução da gestão. Como coordenadora desta nova Câmara, tracei como objetivo, em um primeiro momento, buscar a aproximação dos gestores de ambos os segmentos – público e privado – e saber como cada um tem conduzi-do seus afazeres. Queremos mostrar a importância da formação nas áreas de gestão de recursos humanos, financeiros, de produtos e serviços. Além disso, há pla-nos de realizar cursos de atualização, aperfeiçoamento e até mesmo de capacitação inicial de gestores. Até bem pouco tempo, os serviços de Fisioterapia eram gerenciados por não fisioterapeutas. Felizmente, esta realidade mudou, mas, dentro da formação do profis-sional, percebemos que ainda há algumas limitações neste contexto. Pretendemos mostrar a importância do gestor e suas atribuições referentes ao crescimento da profissão. São muitas as possibilidades atuais para o fisioterapeuta, além da assistência. A gestão de servi-ços tem se mostrado mais uma grande oportunidade. Queremos oferecer suporte técnico a qualquer gestor que solicitar nossa orientação.”

Fisioterapia em Perícia

Coordenador: Dr. Marco Antônio de Souza Gama

Fisioterapeuta perito da Divisão de Perícias Judiciais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (DIPEJ-TJ/RJ); associado ao Conselho Nacional de Peritos Judiciais (Conpej); e membro da Associação Brasileira de Fisioterapia Forense (ABFF).

“No Rio de Janeiro, estamos na área judicial desde 2009, e percebemos que, hoje, o universo de atuação do fisioterapeuta perito é bem mais amplo. Estamos iniciando nossa caminhada enquanto Câmara Técnica e estabelecendo como projeto primário os contatos e aproximação com as diversas entidades e autorida-des constituídas. Penso que, estrategicamente, a CT tenha importante papel nesse processo de abertura e consolidação da inserção do fisioterapeuta nesse mercado. Por orientação da Dra. Regina Figueirôa, trabalharemos criando as oportunidades para aber-tura do mercado e para promoção de debates sobre a área. Temos como objetivo apresentar o trabalho da Fisioterapia em Perícias e Assistências Técnicas Judiciais para os profissionais fisioterapeutas e os nossos principais clientes, que são advogados, juízes e outros demandantes – pessoas físicas e jurídicas. Os profissionais fisioterapeutas são nomeados Peritos Judiciais ou indicados Assistentes Técnicos Judiciais, atuando em processo judicial. Podem, ainda, elabo-rar pareceres para uso em ações judiciais junto aos diversos órgãos do judiciário no Rio de Janeiro, pres-tando assessoramento nas áreas judicial e extrajudi-cial, ligadas à Perícia Fisioterapêutica e à Assistência Técnica Judicial. Atuam também elaborando Parece-res Fisioterapêuticos para uso em ações judiciais e extrajudiciais, bem como em outras demandas para as quais sejam solicitados.”

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Série

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1989

1990

1991

1992

1993

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1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

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A história da Fisioterapia no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), vinculado à Universidade do Estado

do Rio de Janeiro, merece um capítulo es-pecial. Não só por ter sido a primeira Re-sidência em Fisioterapia em todo o estado, mas também por ter sido um momento de valorização profissional em um hospital de referência no país. Para tanto, o apoio do neurologista Dr. Ronaldo Lauria, que ocu-pava o cargo de vice-diretor do Hupe, foi fundamental na ocasião.

O ápice dessa trajetória ocorreu, princi-palmente, entre os anos de 1988 e 1991, período em que a Diretoria do Hupe, sob a gestão dos médicos-professores Ricar-do Donato e Ronaldo Lauria, trabalhou in-cansavelmente em prol da valorização da Fisioterapia no Hospital. A idealização dos Programas de Residência foi uma iniciativa do Dr. Lauria, que percebia o valor da oti-mização da assistência fisioterapêutica no Hupe e, acima de tudo, por entender qual o papel de um hospital-escola na formação e na capacitação profissional nas diversas áreas da Saúde.

Antes, o Hupe só contava com dois fisioterapeutas, entre eles a Dra. Isis Simões Menezes, que ainda hoje é uma das preceptoras dos residentes na Unati (Universidade da Terceira Idade da Uerj). A fisiote-rapeuta viveu todo esse amadurecimento da pro-fissão na Instituição e conta que, “naquele tempo, o fisioterapeuta era um profissional desvalorizado e sem oportunidades de crescimento no hospital. A partir de 1988, quando tomou posse a nova Di-retoria, essa história começou a ser reescrita. Em solidariedade com a causa dos fisioterapeutas do Hupe, o Crefito-2 apoiou com pareceres técnicos e, mais adiante, ofereceu respaldo para a criação da Residência”, acrescenta Dra. Isis Menezes, que atualmente é diretora secretária do Crefito-2.

Foram várias ações promovidas com a lide-rança do Dr. Ronaldo Lauria até a criação da Residência, como “a contratação de fisiotera-peutas para atuar no CTI 24 horas por dia, na Unidade Intermediária de Cirurgia Geral, Cirur-gia de Tórax, Unidade Clínica de Adolescentes e o Núcleo de Atenção ao Idoso. E, ainda, foi realizado um concurso público com vaga para sete profissionais, que embora fosse bastante aquém da necessidade, foi uma conquista para a categoria”, relembra a Dra. Isis Menezes.

A Série Memória, em sua 7ª edição, recupera a história da criação da primeira Residência em Fisioterapia no Estado do Rio de Janeiro, que teve seu nascimento no Hospital Universitário Pedro Ernesto – o Hupe/Uerj.

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Idealizador e responsável pela criação da Resi-dência em Fisioterapia no Hupe, Dr. Lauria conta que sua luta iniciou pela implantação de um setor de Fisioterapia, que não existia. Isso ocorreu por conta de um episódio com um paciente seu no CTI, e que, a seu pedido, teve acompanhamento de uma equipe de fisioterapeutas e apresentou uma resposta muito melhor no tratamento do que outros que não tinham o mesmo tipo de atenção. A partir dessa constatação, as convicções do Dr. Lauria se consolidaram e começou seu trabalho para incluir fisioterapeutas nos atendimentos aos pacientes do hospital.

Em entrevista, ele afirma que foi muito difícil inserir a Fisioterapia na rotina da instituição e enfrentou muita resistência de todos os lados, mas, acredita que, com o tempo, as opiniões mudaram por conta dos resultados que eram percebidos pelos próprios pacientes. “O objetivo de criar a Residência foi, não

apenas beneficiar o treinamento e formação pro-fissional em Fisioterapia, mas também ao próprio hospital e seus pacientes, que passariam a ter o atendimento de que necessitavam, contribuindo na sua recuperação. Era uma forma possível de suprir essa necessidade da instituição”, explica Dr. Lauria. O Programa de Residência seguia a mo-dalidade de treinamento em serviço, com 90% da carga horária em atividades assistenciais no hos-pital e 10% teórica, sob coordenação das Dras. Isis Menezes e Solange de Araújo.

Entre as medidas tomadas pela nova Diretoria es-tava a transferência dos fisioterapeutas para outros setores, como o de Ortopedia, onde os profissionais poderiam atuar plenamente pela primeira vez no hospital. Outra ação importante foi “a implantação de estágio curricular com instituições conveniadas e o estágio para profissionais”, como recorda Dra. Isis Menezes. Com o tempo, a Fisioterapia ganhou o CTI Geral e logo foram contratados fisioterapeu-tas para atuar 24 horas no setor. E foi justamente nessas áreas que teve início o Programa de Resi-dência do Hupe, com três vagas oferecidas para o CTI Geral e uma para a Ortopedia.

A criação da Residência foi um divisor de águas em relação a autonomia de atuação dos fisiote-rapeutas e resultou na criação de mais três áreas nos anos seguintes: Clínica em Cirurgia Geral; Geriátrica e Gerontológica; e Neurofuncional. Os projetos pedagógicos foram aprovados pelo Co-ffito por meio de portarias, que datam entre os anos de 2000 a 2002.

A “Fisioterapia no Hupe” foi tema de artigo publicado no Jornal do Crefito-2, edição 22, de janeiro de 1994. Publicação faz parte do acervo histórico do Conselho Regional.

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De lá para cá, o trabalho desenvolvido por esse ex-velocista vai além das pistas. Além de ações voltadas ao esporte, o projeto atua

também nas áreas educacional, médica, nutricional, social, intelectual e psicológica, contribuindo para o aprimoramen-to e aproveitamento integrados de todas as potencialidades biopsicossociais de crianças e jovens.

E isso não é tudo: o Núcleo de Esporte Olímpico Arnaldo de Oliveira também proporciona, por meio do emprego útil do tempo de lazer, um clima de perfeita sociabilidade, estabi-lidade da saúde, fortalecimento da vontade, aquisição de novas habilidades e noções de higiene, além do estímulo a tendências de liderança e implantação de hábitos saudáveis. Tudo isso movido pelo desejo de um atleta em retribuir o que conquistou com o esporte, que acaba ajudando a revelar novos talentos no Rio de Janeiro.

“Sempre sonhei em ter um projeto social para poder ajudar crianças a se encaminharem na vida, o que concretizei com o Futuro Olímpico. E muito me motiva continuar sonhando, ao ver o crescimento dessas crianças e adolescentes, que chegam de um jeito e, no decorrer do trabalho, apresentam uma alteração positiva no comportamento, tanto em casa quanto na escola, conquistando bolsas de estudo e suas

Atuação Profissional

Futuro Olímpico: projeto descobre promessas olímpicas para o atletismo

Com o objetivo de levar a prática do atletismo a crianças e jovens de baixa renda do Rio de Janeiro,

o projeto Futuro Olímpico foi criado pelo medalhista olímpico e fisioterapeuta Arnaldo de Oliveira

no dia 27 de outubro de 2007.

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revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016 17

próprias medalhas. Todas essas trans-formações me motivam”, explica.

E do sonho do medalhista em retribuir o que conquistou com o esporte, o projeto brotou e ajuda a revelar no-vos talentos e a promover com isso a inclusão social. Em seu Núcleo de Esporte Olímpico, Dr. Arnaldo de Oli-veira realiza a iniciação esportiva e o treinamento em atletismo para cerca de 200 crianças e jovens carentes dos bairros de Jardim Sulacap e Campo Grande, localizados na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O Núcleo conta com o apoio da Comissão de Desportos da Aeronáutica (CDA), na Universidade da Força Aérea (Unifa), onde fica a pista que é usada diariamente pelos alunos para aulas e treinos.

“Meu maior sonho é ver um atleta que iniciou no projeto chegar a uma olimpí-ada e, uma vez chegando lá, conquistar sua própria medalha olímpica. Temos atletas com potencial e não estamos medindo esforços para concretizar essa meta. Tenho certeza de que nós conseguiremos”, idealiza o medalhista olímpico e fundador do projeto.

A inclusão ao projeto acontece ainda na escola. Uma vez por mês, escolas das redes municipal e estadual são visitadas para divulgar o projeto Futu-ro Olímpico, que é apresentando por meio de palestras e com a orientação de profissionais que explicam o que é o esporte, suas conquistas e o que traz de benefícios. Os alunos descobertos nessas escolas passam pelas fases de: iniciação e desenvolvimento, indo até o alto rendimento.

Durante as aulas de Educação Físi-ca, são realizados testes específicos com os alunos, que são avaliados nos treinos, de acordo com os períodos preparatórios gerais, específicos e competitivos de cada categoria. Cada

participante é agrupado de acordo com a sua faixa etária, da mesma forma como define a Federação de Atletismo do Rio de Janeiro.

O Núcleo de Esporte Olímpico ofe-rece uma estrutura profissional que ajuda bastante no desenvolvimento dos meninos, que contam com pista olímpica com oito raias, quadra po-liesportiva, quadra de tênis, ginásio, sala de musculação, duas piscinas e campo de futebol.

Atualmente, o trabalho desenvolvido pelo ex-velocista conferiu a ele outro título, o de descobridor de talentos olímpicos. Como prova disso estão suas alunas: Bárbara Leôncio, campeã mundial dos 200 metros, em 2007; Evelyn dos Santos, que esteve em Pe-quim e Londres; e a promessa, Sarah

Santos, campeã brasileira juvenil nos 400 metros, em 2014, e campeã sul--americana juvenil com o revezamento 4×400 metros, em 2013.

Embora seja o fundador, Dr. Arnaldo de Oliveira faz questão de ressaltar que não está sozinho no projeto e conta com o apoio de vários pro-fissionais de diferentes especializa-ções, como instrutores de atletismo, fisioterapeutas, entre outros.

O Futuro Olímpico conta com al-guns poucos patrocínios, mas que são importantes para o custeio e a manutenção do projeto. Os recursos são destinados principalmente para a compra de materiais esportivos, uni-formes e alimentação para os atletas, além de bolsa-auxílio e pagamento dos profissionais, entre outros.

Medalhista olímpico no atletismo, fisioterapeuta recebeu comenda do Crefito-2

Dr. Arnaldo de Oliveira, considerado um dos melhores velocistas do atletismo nacional nas décadas de 1980 e 1990, encerrou sua trajetória nas pistas com medalha de bronze no 4×100 metros dos Jogos de Atlanta, em 1996, ao lado de Robson Caetano, André Domingos e Edson Luciano. Além das conquistas como atleta, Dr. Arnaldo foi agraciado, em 2015, pelo Crefito-2 com a Medalha de Honra ao Mérito Dr. Fernando Lemos, por sua relevante contribuição profissional como fisioterapeuta no âmbito do desporto. A comenda foi entregue durante solenidade de abertura da XV Jornada Científica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Crefito-2, no dia 4 de novembro de 2015, que teve como temática central a Fisioterapia Desportiva.

Atualmente, além de cuidar do Futuro Olímpico, o ex-atleta foi convidado para atuar como comentarista esportivo no canal Sport TV, para as coberturas Olímpicas. O atleta também será um dos condutores da tocha olímpica para os Jogos de 2016, no Rio de Janeiro, que percorrerá 27 estados durante 95 dias, saindo de Brasília no dia 3 de maio e chegando no dia 5 de agosto para a cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio, no Maracanã.

Dr. Arnaldo de Oliveira durante atendimento fisioterapêutico a aluna do projeto Futuro Olímpico.

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18 revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016

Dra. Beatriz Berro Marins é terapeuta ocupacio-nal, pós-graduada em Neurologia da Motri-cidade e atua na Escola de Aprendizes, no

Jockey Club Brasileiro, desde 1997, com Equitação Terapêutica. Membro da North American Riding for the Handicapped Asso-ciation (Narha) e da American Hippotherapy Association (Aha), fundou o Projeto Equitar, e é referência no Brasil e no exterior nesse tipo de tratamento. Por conta do seu pioneirismo, recebe constantemente convites para proferir cursos e palestras sobre o tema em vários países e realiza cursos de formação para pro-fissionais que queiram desenvolver ou apenas conhecer esse trabalho. Além disso, a terapeuta ocupacional é coautora em diversos livros da saúde, colabora com uma revista ítalo-brasi-leira e acumula várias premiações, entre moções e comendas de entidades privadas e públicas, como a Medalha de Honra ao Mérito Dr. Fernando Lemos, do Crefito-2.

A eficiência da utilização de cavalos como recurso terapêutico com pacientes com necessidades especiais

A terapeuta ocupacional

Dra. Beatriz Berro Marins é pioneira no

uso da Hipoterapia no Brasil e faz

questão de compartilhar

sua experiência.

De acordo com a profissional, a Hipoterapia é “um méto-do terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abor-dagem interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com defici-ência. Consiste em realizar exercícios sobre um cavalo com o objetivo de desenvolver as capacidades funcionais do paciente, de modo que ele adquira independência nas atividades da vida diária”.

Segundo pesquisas, o cavalo existe há cerca de 55 milhões de anos e, por volta de três milhões de anos, o animal come-çou a se espalhar por diferentes partes do mundo. Foi assim que homem e cavalo se encontraram para a realização de várias atividades que envolviam a agricultura, o transporte, a guerra e até mesmo o esporte.

Atuação Profissional

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revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016 19

Atualmente, apesar de estar restrito aos ambientes rural e esportivo, vemos que o cavalo ainda mostra seu valor. Não são raros os tratamentos de ordem terapêutica que recomendam a equita-ção por se tratar de uma atividade que combina esforço físico com os benefí-cios da socialização com o animal.

A prática equestre com fins terapêu-ticos vem de longa data. As primeiras referências são a Hipócrates (58-377 a.C.) – considerado por muitos como uma das figuras mais importantes da história da Medicina, o próprio “Pai da Medicina” – prescrevendo a equita-ção para o tratamento da insônia. Já em 124 a.C., Asclepíades da Prússia – médico grego – indicou a equitação para tratar a epilepsia e vários tipos de paralisia. Indicava os movimentos do cavalo a pacientes epiléticos, paralíti-cos, letárgicos, frenéticos e também para os acometidos de malária.

No século XIX, o “Pai da Psicanálise”, Sigmund Freud, recomendava o cavalo para pacientes com histerismo, e com-parava: “o movimento do cavalo é o único que se assemelha ao movimento do útero humano”.

Foi por meio da Terapia Ocupacional que se observou a grande eficiência da utilização de cavalos para tratamento de crianças com paralisia cerebral, principal-mente em relação ao tempo de evolução do paciente, que é bem mais rápido. Isso porque o estímulo do animal perdura por duas horas após cada sessão.

A Equoterapia – como é conhecida no Bra-sil – tem sido a vida da Dra. Beatriz Berro, pioneira no uso dessa prática no país, des-de a criação da Equitar – Centro Brasileiro de Estudos, Desenvolvimento e Pesquisa, instituição que coordena. Inquieta e com espírito investigador, a terapeuta ocupa-cional sempre buscou alternativas e for-mas de atuar diferenciadas, com foco em melhores resultados para seus pacientes, e não demorou muito a abandonar a prá-tica tradicional ao conhecer e perceber os ganhos rápidos que a Hipoterapia (nomen-clatura utilizada internacionalmente desde o início do século XIX e como ela prefere chamar) proporciona.

Para quem não entende como a Hipo-terapia ou Equitação Terapêutica traz tantos benefícios ao tratamento de pessoas com necessidades especiais, a Ande-Brasil (Associação Nacional de Equoterapia) explica que, “em um tra-balho padrão de Hipoterapia, que tem duração de cerca de 30 minutos, o ca-valeiro terá executado de 1.800 a 2.250 ajustes tônicos posturais”. Por isso, um dos benefícios bem conhecidos nesse tipo de tratamento refere-se à melhoria das partes física e motora do paciente. Isso porque o cavalo, ao mover-se, força o cavaleiro a realizar esses ajustes tôni-cos, equilibrando-se a cada passo que o animal executa. E “esses movimentos tridimensionais e multidirecionais são equiparados ao do caminhar humano. E isso não é tudo, eles provocam ainda o

estímulo do sistema nervoso central e proporcionam um aumento da capacida-de de atenção, sem falar das vivências sensoriais, afetivas e sociais com o ca-valo”, como explica a Dra. Beatriz Berro.

Estudiosa no tema, a terapeuta ocupa-cional esclarece que “o trabalho com e sobre o animal, além de despertar o interesse pelo mundo em um diálogo tônico-motor-afetivo, é um facilitador do desenvolvimento humano para a realização de atividades lúdico-tera-pêuticas. Além disso, dentro da tera-pia com cavalo são usados diversos materiais e intervenções terapêuticas de acordo com a necessidade de cada caso. Entre eles também está o Pediasuit/Therasuit, onde é utilizado no picadeiro o suit, que é uma órtese macia e dinâmica”. E acrescenta que, “este tipo de tratamento (com cavalo) proporciona uma rica oportunidade de consciência, conhecimento e valo-rização corporal, principalmente se for associado com outras técnicas”.

Ela relata que há crianças que chegam completamente inertes e que não fazem nada no cavalo, e, com o decorrer do movimento e da relação entre animal, terapeutas e paciente, isso se modifica muito rápido. Dra. Beatriz Berro defen-de que esse tipo de trabalho deve ser feito por uma equipe multidisciplinar e, principalmente, transdisciplinar, para que o resultado seja mais eficiente. Nor-malmente, a partir da quarta sessão, o terapeuta já visualiza a evolução. Isso acontece porque, segundo ela, ao ser posicionado no cavalo, o paciente re-cebe vários estímulos ao mesmo tempo e os profissionais precisam trabalhar e elaborar as atividades com o paciente estando cada membro da equipe den-tro de seu contexto disciplinar. A equipe da Dra. Beatriz é composta diariamente por pelo menos quatro profissionais de áreas diferentes em cada sessão: fi-sioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e o cuidador do animal.

saúde educação equitação

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Autores: Dr. Mario Bernardo-Filho (fisioterapeuta; professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ); Dr. Odir de Souza Carmo (fisioterapeuta; presidente da Câmara Técnica de Fisioterapia Desportiva do Crefito-2); Dr. Samuel Brandão Sobrinho Neto (fisioterapeuta; mestrando pela UERJ; membro da Câmara Técnica de Fisioterapia Desportiva do Crefito-2); Dra. Danúbia de Sá-Caputo (fisioterapeuta; doutoranda pela UERJ).*

Procedimentos terapêuticos e técnicas inovadoras são in-corporados em nossas atividades profissionais por meio do desenvolvimento tecnológico em diversas áreas do conheci-mento. Para que nossa atuação seja eficaz, precisamos nos preparar com o estudo das bases fisiológicas, biomecânicas e aplicabilidades da técnica e/ou procedimento em questão. Especialmente na área da saúde, o conhecimento sobre po-tencialidades, objetivos, limitações, critérios relacionados à segurança e biossegurança é fundamental para garantir que haverá um aproveitamento, maior possível, dos benefícios e a não exposição dos pacientes a riscos desnecessários. As plataformas oscilantes/vibratórias, que permitem a geração de exercício de vibração de corpo inteiro (EVCI), possuem uma tecnologia com grande potencialidade e aplicabilidade em pacientes e em pessoas saudáveis.

O EVCI surgiu na década de 60, do século passado, quando o programa espacial da en tão União Soviética verificou que os astronautas que retornavam do espaço apresentavam fra-turas ósseas e perda de massa óssea mais precocemente que seus colegas que não tinham participado das referidas viagens espaciais. Como uma tentativa de diminuir estas per-das ósseas e musculares, as vibrações mecânicas, geradas em plataforma oscilante/vibratória, foram introduzidas no programa de treinamento dos astronautas.

Os astronautas eram submetidos a treinamentos especiais, incluindo sessões de EVCI, antes da partida, com o objetivo de impedir ou minimizar efeitos indesejáveis devido à ausên-cia de gravidade no es paço e de ajudar na recuperação mais

rápida após o retorno à Terra. A exposição às vibrações mecâ-nicas produzidas em plataforma oscilante/vibratória pareceu, realmente, reduzir os efeitos negativos das perdas de força muscular e óssea nos astronautas. Concomitan temente, esse procedimento foi introduzido na rotina de atletas de compe-tição, no ballet e na medicina, na própria União Soviética.

O EVCI tem sido considerado como uma modalidade segura, eficaz e acessível de exercício. O uso para a prevenção, contro-le e tratamento de doenças, em pessoas treinadas e não trei-nadas, surge em inúmeras publicações científicas. Da mesma forma, tem sido ofertado para atletas que praticam diversos esportes. Apesar de estar presente em academias e clínicas, o número de trabalhos publicados em revistas conceituadas ainda é muito reduzido, embora a quantidade de publicações tenha aumentado consideravelmente nos últimos anos.

Um cuidado especial deve ser dado em relação aos efeitos não totalmente esclarecidos do ponto de vista científico, e que podem ser considerados indesejáveis quando da expo-sição de uma pessoa (treinada ou não treinada) a EVCI. Isso mostra a relevância de que profissionais habilitados estejam supervisionando a aplicação de ECVI. Alguns desses efeitos poderiam ser esperados, entretanto, outros não. É importante o conhecimento por parte do profissional sobre a possibili-dade de surgir (i) aquecimento dos pés, formigamento nos membros inferiores, vertigem, desconforto grave do quadril e na região lombar, náuseas, cãibras e dor na mandíbula, pescoço e panturrilha em pessoas não treinadas, (ii) com-plicações em paciente com litíase renal assintomática e (iii) episódios de hematúria em atleta de elite saudável (corredor com obstáculos). Isso demonstra que condutas rigorosas sejam adotadas quando da exposição de uma pessoa a EVCI.

O EVCI é produzido quando vibrações mecânicas geradas em plataforma oscilante/vibratória são transmitidas para uma pes-soa que está em contato direto com a base dessas plataformas. Três tipos principais de plataformas podem ser identificados; (i) sincrônico, quando a base sobe e desce de forma vertical, (ii) alternado, na qual, enquanto o lado direito da base sobe, o lado esquerdo desce, e vice-versa, e (iii) triplanar, com a base executando movimentos em três planos, para cima e para baixo, para frente e para trás, e para o lado direito e esquerdo.

Exercício de Vibração de Corpo Inteiro (EVCI) e sua aplicação no esporte

Artigo

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revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016 21

De modo geral, ao ser exposta às vibrações mecânicas, a pessoa encontra-se em pé sobre a base de uma plata-forma em funcionamento. O indivíduo pode ficar parado ou realizar movimentos, por exemplo, os de agachamento, durante esta exposição. Entretanto, se a pessoa estiver sentada em uma cadeira com os pés apoiados sobre a base destas plataformas, as vibrações geradas também podem ser transmitidas para o corpo. Ao longo do tempo, novos posicionamentos do indivíduo em relação à base da plataforma foram surgindo, e, em particular, para atletas existem inúmeras possibilidades.

A vibração mecânica produzida nesta plataforma apresenta um movimento oscilatório, sinusoidal e determinista. É ca-racterizada pela frequência, expressa em Hertz (Hz), e pela amplitude ou pelo deslocamento pico-a-pico, expressos em mm. Esses parâmetros biomecânicos são de elevada im-portância e devem ser considerados de forma criteriosa nos protocolos de EVCI. Além disso, um tempo de trabalho, se-guido por um tempo de repouso deve ser respeitado, assim como o número de contatos da pessoa com a plataforma. Essas considerações são primordiais e, desta forma, há necessidade de que o profissional (como o fisioterapeuta) seja devidamente habilitado para supervisionar o acesso da pessoa no contato com a plataforma.

O uso clínico dos EVCI revela diversos efeitos benéficos, como melhora na força e potência muscular, e do equilíbrio, diminuição da dor, aumento de flexibilidade, e em aspectos relacionados com a qualidade de vida. O aspecto na promoção da saúde e na prevenção de doenças também tem sido demonstrado. A recuperação de lesões musculares e articulares tem sido favo-recida pelo aumento da propriocepção. O EVCI melhora a função do músculo quadríceps em indivíduos que fizeram reconstrução do ligamento cruzado anterior. O efeito dos EVCI na concentra-ção plasmática de biomarcadores hormonais e não hormonais também tem sido descrito, como aumento da testosterona e hormônio de crescimento e diminuição da glicose.

Nos esportes, a utilização dos EVCI em atletas de elite e bem treinados mostra que, com protocolos apropriados, ocorre melhora da performance, como na medida do desempenho na altura do salto vertical e na potência mecânica que é au-mentada, assim como na flexibilidade e na atividade muscular. Isto é descrito em artigos em importantes revistas científicas.

Um outro aspecto na utilização dos EVCI é a especificidade de cada modalidade desportiva, como a intensidade e a fre-quência de treinamento, a dimensão do corpo do atleta, e os grupamentos musculares mais importantes para a realização de uma determinada prática esportiva.

Atletas de diversas modalidades têm sido beneficiados com o uso de EVCI. No futebol, o ato de correr é a atividade predominante, com esforços para uma arrancada (sprint), disputas com jogadores adversários, saltos e mudanças de direção são fatores de desempenho importantes, que exigem a força máxima e potência anaeróbia do sistema neuromuscular. Estas respostas fisiológicas irão depender da qualidade da preparação física dos atletas com exercí-cios adequados. A melhora da força e da potência muscular tem sido descrita. De forma mais específica, o sprint dos jogadores tem sido reportado cientificamente. Em relação aos atletas de combate/luta, como o judô, taekwondo e karatê, o alongamento é predominantemente utilizado como parte do processo de aquecimento. É também utilizado ao final de sessões de treino para melhorar e/ou manter a flexibilidade. A melhora da flexibilidade tem sido descrita em vários indivíduos devido ao EVCI. Em atletas que realizam o esporte de combate/luta, foi demonstrado o aumento de força de preensão palmar. Na modalidade de mergulho, há necessidade de habilidade, coordenação, flexibilidade e força muscular dos membros inferiores. A melhora da flexibilidade e da força explosiva dos membros inferiores tem sido mostrada em atletas praticantes de mergulho. Em jogadoras de basquetebol, tem sido mostrado que o EVCI melhora a força explosiva e estabilidade postural. Na dança, o EVCI pode ser usado como uma intervenção na formação suplementar benéfica para aumentar a flexibilidade e o salto em dançarinos altamente treinados.

Esses achados, entretanto, não são unanimidade em todos os trabalhos publicados, o que mostra que temos muito a aprender em relação ao uso dos EVCI nos esportes, e é necessário aprimorar o conhecimento sobre a adequação dos parâmetros biomecânicos. Protocolos, com a definição do tempo conveniente de contato do atleta com a base da plataforma, devem ser devidamente esclarecidos. Essas considerações, aliadas à possibilidade de efeitos indese-jáveis importantes para pessoas treinadas e não treinadas, reforçam a necessidade de estudos sobre a tecnologia que envolve a geração dos EVCI também nos esportes, assim como suas aplicações.

*As opiniões e informações emitidas em artigos assinados são de inteira e única responsabilidade de seus autores. As opiniões emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do Crefito-2. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.

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Autora: Dra. Adriana Renata Sathler de Queiroz (terapeuta ocupacional; docente do Curso de Graduação em Terapia Ocupacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRJ)

O tema apresenta a aplicação de um modelo de prática baseado na estrutura referencial da adaptação ocupacio-nal (Schkade e Schultz, 1992). A autora propõe integrar os conceitos de ocupação, adaptação e ambiente com a finalidade de investigar a capacidade de resiliência fun-cional de pessoas em situação de vulnerabilidade social com ou sem deficiência física.

O esporte, por ser uma atividade atraente que congrega componentes como a ludicidade, trabalha a corporeida-de promovendo a satisfação pessoal, bem como estimula a criatividade no sentido da ocupação ressignificadora. Revela-se, outrossim, como um recurso ocupacional ge-rador de processos adaptativos essenciais, que enriquece, sobremaneira, o viver-no-mundo.

Compreender a hermenêutica da ocupação humana por meio da gestalt do modus faciendi antrópico sobre a ambiência e aprofundar o conhecimento da adaptação do Homo Ludens (Huizinga, 1999), consoante o método fenomenológico-exis-tencial heideggeriano, oferece uma consistente percepção de como o ser humano organiza os seus diversos ecossistemas, de acordo com cada estrutura existencial que, no plano in-dividual, ele vai montando o seu ser-no-mundo (Heidegger, 1988), e como se desdobra pela agregação coletiva.

Este método filosófico enriquece o entendimento antropoló-gico e psicossocial, pois sugere um pensar que organiza o

Artigo

Adaptação Ocupacional e Ambiental: Abordagens Terapêuticas Ocupacionais na Prática Desportiva e Paralímpica

processo da intervenção centrada nos sentimentos provoca-dos pela atividade desportiva, tais como o prazer, o empenho psicofísico, o anseio profissionalizante e o significado intrín-seco do desempenho ocupacional estimulado pela motivação e a superação pessoal.

O esporte, em sua natureza intrínseca, estimula a partici-pação, o confronto de habilidades e conquistas (sempre no plano da projeção social), que notabiliza o vencedor. Ocorre, por vezes, no âmbito do paradesporto, o competir sem ser algo que “aniquila” o contendor, e, não raro, se vê um atleta “ajudando” o outro na busca do melhor desempenho. Neste momento, a solidariedade é singular, a rivalidade fica para um segundo plano, dando lugar a uma competição integradora.

Como a temática é transversal às variáveis de gênero, ida-de, classe social e morfologia, o desporto favorece inúmeras possibilidades para o terapeuta ocupacional adentrar pelas vertentes científicas que constituem a prática da profissão (áreas, componentes e os contextos do desempenho) em resposta adaptativa aos desafios ocupacionais e, conse-quentemente, ao seu constructo reabilitador de acordo com a dinâmica fatorial da ecologia humana, na construção da estrutura e do projeto existencial do indivíduo.

O contexto desportivo implica em uma interação entre as pessoas envolvidas e inseridas no seu ambiente ocupa-cional, onde componentes sensoriomotores, cognitivos e psicossociais propulsionam os processos motivacionais. O detalhe operacional se desenvolve na evolução do desem-penho ocupacional, que depende, por sua vez, do processo de adaptação e da resiliência ocupacional. Assim sendo, a pessoa passa a lidar com o estresse gerado pela condição biopsicossocial tornando-se agente da própria mudança em busca da sua autonomia.

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revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016 23

Trata-se de uma visão panorâmica da estrutura integradora dos fatores ocupacionais, ambientais e adaptativos do sujeito, considerando as propriedades físicas, sociais e culturais que interagem com os fatores psicobiológicos.

O projeto, desenvolvido com púberes em comunidades do Rio de Janeiro com vulnerabilidade socioeconômica (Queiroz e Silva, 2003), apresentou elementos importantes no processo de adap-tação psicossocial em território estrangeiro por meio do intercâm-bio cultural da USA Cup nos Estados de Minnesota e Iowa - EUA.

A USA Cup é uns dos maiores torneios de futebol juvenil do mundo, propiciando a participação de projetos que utilizam o desporto para exercer uma influência positiva para a inclu-são social e desenvolvimento pessoal em regiões economi-camente desfavorecidas.

Dentre os resultados mais significativos dessa experiência desportiva internacional, utilizando o esporte juntamente com atividades de enriquecimento educacional e cultu-ral, destacam-se: a melhora espontânea no desempenho escolar com destaque para as disciplinas de geografia, história e inglês; a transformação comportamental e ati-tudinal sob o modus vivendis na comunidade autóctone e na escola, tanto quanto o imaginário sobre o como-vencer--na-vida e como melhorar no empenho psicomotor para as atividades esportivas organizadas.

A capacidade de adaptação da pessoa em vulnerabilidade é testada a todo momento, pois vivem em situações de estresse diário. O sujeito resiliente acredita que pode vencer o desafio imposto pela própria incapacidade. A partir daí, rompe com o isolamento, o pensamento e o sentimento depressiforme passando a integrar a sociedade.

Com relação ao paradesporto, a terapia ocupacional foi integrada ao trabalho pioneiro do neurologista alemão Ludwig Guttmann que, em 1945, fundou um centro de tratamento e de reabilitação no Hospital de Stoke Mande-ville, na região de Surrey, Inglaterra. A proposta de utilizar as atividades esportivas para o tratamento alternativo de indivíduos lesionados durante a Segunda Guerra Mundial, unindo trabalho e esporte para otimizar a reabilitação, fez surgir os Jogos Paralímpicos.

As paralimpíadas tornaram-se uma oportunidade de apro-ximar pessoas com deficiência física do mercado de traba-lho adequado, sendo também uma nova forma de inclusão social que dá visibilidade às capacidades e possibilidades plenas do indivíduo.

O avanço tecnológico das próteses para fins paradesportivos tem ajudado paratletas a obter resultados de alta performan-ce, tornando-os cada vez mais competitivos para alcançar o reconhecimento profissional.

As contribuições da terapia ocupacional, invariavelmente, ocorrem no contexto transdisciplinar da equipe de especia-listas, que focam na modernização, na funcionalidade dos materiais, no conforto ergonômico, no esforço adequado e na desenvoltura corporal necessária para atingir o rendimento diferenciado, de acordo com as rígidas regras que regulam o uso de tecnologias assistivas nas paralimpíadas.

O projeto acadêmico “DesporTO em ação”, do Instituto Fe-deral de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRJ em interface com as atividades de ensino, pesquisa e extensão, visa con-tribuir para a construção de práticas e saberes da terapia ocupacional aplicada ao esporte.

Este projeto está vinculado ao projeto “João do Pulo”, do Ministério da Defesa, que em ação conjunta, por meio da parceria entre o IFRJ e o Comando da Aeronáutica/Uni-versidade da Força Aérea (UNIFA)/Comissão de Desporto da Aeronáutica (CDA), objetiva a valorização pessoal e a integração social de militares com deficiência física por meio do esporte, assim como, a adaptação ocupacional paralímpica dos talentos detectados nas atividades es-portivas adaptadas.

Na internet Referências bibliográficas: bit.ly/TOArtigoRevista07

*As opiniões e informações emitidas em artigos assinados são de inteira e única responsabilidade de seus autores. As opiniões não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do Crefito-2. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.

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24 revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016

As denúncias encaminhadas ao Crefito-2 são importantes meios de comunicação e contribuem

com o trabalho do Departamento de Fiscali-zação (Defis). Os Códigos de Ética da Fisio-terapia (Resolução Coffito 424) e da Terapia Ocupacional (Resolução Coffito 425) des-tacam que os profissionais devem reprovar quem infringe postulado ético ou dispositivo legal e representar este fato aos Conselhos Regional e Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e quando for o caso, aos de-mais órgãos, competentes.

Para conferir mais dinamismo aos mecanis-mos de envio e verificação das denúncias, o Crefito-2 está desenvolvendo novas plata-formas digitais integradas. O site do órgão, que recebe denúncias por meio do canal Ouvidoria, contará com recurso específico como nova função no sistema Crefito-2 On--line. Além disso, haverá uma versão em formato de aplicativo para smartphone, aproximando ainda mais o profissional e a sociedade do Conselho.

Após o recebimento das denúncias, há dois di-recionamentos distintos, conforme a natureza do ato denunciado. Se a reclamação configu-rar infração já consumada, será alvo direto de procedimento processual apuratório. De ou-tra forma, na insuficiência de elementos para abertura direta do processo ético-disciplinar, a Diretoria do Conselho remeterá os autos ao Departamento de Fiscalização, que procederá às diligências necessárias.

Fiscalização

Novas ferramentas prometem dinamizar

ato fiscalizador e envio de denúncias

ao Crefito-2

A implantação de novos sistemas é uma ação primordial à atuação do Departamento de Fiscalização, que ganha mais agilidade e efetividade. A informatização de processos, que teve início na Gestão 2010-2014, segue sob a supervisão do vice-presidente do órgão, Dr. Omar Luis Rocha da Silva.

Tecnologia no ato fiscalizador

Entrou em funcionamento, no dia 21 de março, a nova versão do siste-ma informatizado de fiscalização do Crefito-2. A plataforma substitui os antigos formulários em papel, utiliza-dos até então durante o ato fiscaliza-dor, e que demandavam posterior lan-çamento em sistema quando os fiscais retornavam ao Conselho Regional.

“O sistema que está entrando em operação é mais abrangente e com-pleto do que o projeto original, pois procuramos incluir todas as situações e demandas solicitadas pela equipe do Defis”, destaca o supervisor do Depar-tamento de Informática do Crefito-2, Hudson Soeiro.

Com a nova tecnologia, os agentes fiscais têm acesso em tempo real ao banco de dados da autarquia, e po-dem realizar as consultas sobre toda

a situação dos jurisdicionados, bem como realizar diretamente no sistema as ações do ato fiscalizador, como a emissão de termos de visita e impres-são de notificações de ocorrências, exigências ou autuação de irregulari-dades constatadas. Além do sistema instalado nos notebooks, o kit digital inclui impressora térmica portátil.

“Denúncia x Denuncismo”

Tema de palestra da XV Jornada Cien-tífica do Crefito-2 – Etapa Terapia Ocupacional, em dezembro de 2015,

Treinamento do novo sistema de Fiscalização. De pé, o

supervisor de Informática do Crefito-2, Hudson Soeiro. Sentados, da esquerda para a direita, os agentes fiscais:

Dr. Rafael Vianna; Dr. Maurício Moreira; Dra. Thais Suguikawa;

Dr. Carlos Iuri da Silva; e Dra. Claudia Marques.

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revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016 25

o assunto foi abordado pelos agentes fiscais Dra. Cláudia Guimarães Marques, Dr. Rafael Vianna e Dr. Maurício de Souza Moreira. A mesa-redonda con-tou com as presenças da conselheira do Crefito-2 e presidente da Comissão de Fiscalização, Dra. Valéria Quintão, e da vice-presidente do Coffito, Dra. Luziana Carvalho de Albuquerque Maranhão. Os fiscais re-forçaram a importância da denúncia para o trabalho do Defis e convocaram a todos para atuarem como vigilantes, encaminhando ao Crefito-2 todos os re-latos de irregularidades que tiverem conhecimento. O Defis distribuiu um documento com orientações sobre meios de encaminhar denúncias ao Crefito-2, também veiculado no site do Conselho.

A fiscalização dos Conselhos Profissionais

A missão dos Conselhos Profissionais precisa ser bem esclarecida, seja para a sociedade ou para as próprias categorias. De forma objetiva, é importan-te entender que os Conselhos não são associações de classe, no sentido sindical, nem sociedades de caráter cultural ou recreativo. São entidades de Direito Público, com destinação específica de zelar pelo interesse da sociedade, fiscalizando o exercício profissional das categorias que a eles são vinculadas. A ação dos Conselhos de Fiscalização Profissional deve se desenvolver no sentido da valorização do diploma, da moralização profissio-nal, da proteção dos interesses sociais, da legalidade e, principalmente, no resguardo dos princípios éticos da atuação profissional junto à coletividade.

É importante destacar que as atividades de fiscalização do exercício pro-fissional desenvolvidas por essas entidades não abrangem diretamente todos os aspectos do exercício das profissões, mas tão somente aquelas de conteúdos técnico e ético. Após o ato fiscalizador, se constatadas irregu-laridades que não sejam de sua alçada, os Conselhos devem representar às autoridades competentes os fatos que apurar e cuja solução ou repressão não tenham competência para resolver.

Os Conselhos Profissionais, além do poder processante e punitivo dos in-fratores, detêm a prerrogativa de só permitir o exercício da profissão pelo habilitado portador de registro na respectiva autarquia. Eles desempenham atividade de polícia administrativa, já que, em vigor, têm poderes outorgados pela União para efetuar o controle do exercício profissional.

Com o registro ou inscrição no Conselho Profissional, o interessado não só obtém autorização para o exercício da profissão, mas também adquire responsabilidade profissional. Portanto, o objeto de qualquer procedimen-to disciplinar no âmbito dos Conselhos será para apurar a infringência de regras de deontologia ou ética profissional dos que neles estão inscritos, devendo tal conduta ser pesquisada e, eventualmente, punida, além de ser considerada não do ponto de vista individual, mas a partir de regras morais e jurídicas que devem reger cada profissão. Parte-se do pressuposto de que, quando o profissional se registra no seu respectivo Conselho sabe quais são suas obrigações morais e jurídicas perante a autarquia e a sociedade, pelo fato de ser uma profissão reconhecida e regulamentada.

No caso das categorias de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, as infrações à ética profissional estão definidas no Artigo 16 da Lei Federal 6.316/1975, e as possíveis penalidades estão listadas no Artigo 17 da mesma lei.

Durante o ato fiscalizador, o agente fiscal é o executor da fiscalização, sendo os olhos do Conselho. Portanto, é quem verifica as informações, as docu-mentações e o cumprimento ou não dos aspectos técnicos e da legislação específica das profissões e constata as infrações que porventura sejam cometidas, notificando-as por meio do Auto de Infração.

No decorrer desta atividade, são registradas no Termo de Visita as informa-ções cadastrais da clínica ou consultório, bem como a narrativa de uma situ-ação verificada pelo próprio agente fiscal ou narrada por outrem. Ao narrar conduta infracional ou antiética, o Termo de Visita é documento auxiliar ao Auto de Infração. As afirmações do agente fiscal nos referidos documentos têm fé pública. Se o profissional ou empresa foi notificado por infração à legislação da categoria durante o ato fiscalizador, o documento lavrado pelo agente público iniciará procedimento administrativo no Crefito-2, para possível aplicação de penalidades em conformidade com o disposto em lei.

Confira em edição futura da Revista do Crefito-2: “Fui autuado, o que fazer?”

ORIENTAÇÃO DO DEFIS

Vice-presidente do Crefito-2 e integrantes da mesa-redonda “Denúncia x Denuncismo”. Da esq. para a dir.: Dr. Omar Luis Rocha da Silva; Dr. Maurício Moreira; Dra. Luziana de Carvalho Albuquerque Maranhão; Dra. Valéria Quintão; Dra. Claudia Marques; e Dr. Rafael Vianna.

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Eventos

26 revista do CREFITO-2 Número 07 Abril de 2016

Os fisioterapeutas e terapeutas ocupa-cionais das Regi-

ões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro estarão reunidos no auditório do Instituto Federal Flumi-nense Campos-Guarus, em Cam-pos dos Goytacazes, nos dias 23, 24 e 25 de junho, para a I Jornada Científica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Crefito-2 nas Regi-ões Norte e Noroeste Fluminense.

O evento adotará como temáti-ca central a “Construção Política das Práticas em Saúde: Ações Interdisciplinares e Estratégias In-tegradas”. A programação contará com mesas-redondas abordando assuntos atuais, como: Centros Especializados em Reabilitação (CER); Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF); e Dispensação de Órteses e Próteses.

Outro tema em destaque será atua-ção de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais em resposta à ocor-rência de microcefalia relacionada à infecção aguda causada pelo ví-rus zika, no âmbito da reabilitação.

I Jornada Científica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Crefito-2 nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense

Evento celebra as profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional com programação técnico-científica de alto nível.

A organização local do evento está a cargo da Subsede Norte Fluminen-se, sob o comando da Dra. Elizabeth Neves Fernandes; e das coordena-doras dos Núcleos Macaé e Itape-runa, Dra. Carla Cecília Ribeiro dos Santos e Dra. Fernanda Rodrigues Junqueira, respectivamente.

“Estamos trabalhando para reali-zar em Campos um evento com o brilhantismo técnico-científico e de organização que o Crefito-2 já rea-liza no município-sede. Esta expe-riência que o Conselho adquiriu ao longo dos anos consagrou o nome da Jornada e levar esta atividade para o interior é um sonho que estamos perseguindo com obstina-ção”, destaca Dra. Regina Figueirôa, presidente do Crefito-2.

A primeira Jornada Científica do Crefito-2 foi realizada no Rio de Janeiro, em 1993, quando foi criada como encontro profissional para homenagear os fisioterapeu-tas e terapeutas ocupacionais pela passagem do dia 13 de outubro, quando se comemora o dia nacio-nal das profissões.

EVENTOS DO CREFITO-2 – AGENDA 2016

16 de abrilFisioterapia no Século XXI: Desafios e Perspectivas

19 e 20 de maioCapacitação - A Prática das Ações Relativas à Resposta à Ocorrência de Microcefalia e/ou e/ou Alterações do Sistema Nervoso Central (SNC) Relacionadas à Infecção pelo Vírus Zika no Âmbito da Reabilitação

21 de maioVI Ciclo de Debates de Saúde do Idoso

11 de junhoIII Fórum da Câmara Técnica de Fisioterapia em Traumato Ortopedia

18 de junhoI Ciclo de Debates A Atuação da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional no Contexto da Educação

23, 24 e 25 de junhoI Jornada Científica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Crefito-2 nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.

02 de julhoII Fórum da Câmara Técnica de Fisioterapia Cardiovascular

09 de julhoIII Fórum da Câmara Técnica de Fisioterapia em Dor 23 de julho II Fórum da Câmara Técnica de Fisioterapia Respiratória

30 de julhoII Fórum da Câmara Técnica de Acupuntura

Programação sujeita a alterações.Consulte a agenda atualizada no site em participe. www.crefito2.gov.br/eventos.html

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Estágio legal tem cadastro e crachá!

O estágio é um ato educativo supervisionado e só pode ser desenvolvido pelo acadêmico regularmente matriculado em cursos de Fisioterapia ou Terapia Ocupacional, ofertados por Instituições de Ensino Superior (IES). Há duas modalidades de estágio: obrigatório e não obrigatório.

O estágio obrigatório é um requisito necessário para a formação do acadêmico e obtenção do diploma de fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional. O estágio não obrigatório é desenvolvido como atividade complementar ou opcional e deve estar em conformidade com os projetos pedagógicos dos cursos de graduação e com a Lei 11.788/2008.

As práticas de ambas as modalidades são regulamentadas pelas Resoluções Coffito 431 e 432, (Fisioterapia) e 451 e 452 (Terapia Ocupacional). As Resoluções apontam para a obrigatoriedade do cadastro dos estagiários no Conselho Regional e o uso do crachá de estagiário.

Com o uso do crachá, fica claro ao paciente que ele está sendo atendido por um profissional em formação, e não por um fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional já habilitado.

Há particularidades em relação ao cadastro e emissão dos crachás, conforme a profissão e modalidade de estágio. Veja no site do Crefito-2 todas as normas.

Cabe destacar que os Códigos de Ética Profissional da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional preveem notificação e penalidades para os estabelecimentos que não cumprirem as Resoluções.

Estamos preparando uma reportagem especial sobre o tema. Confira na próxima edição da Revista do Crefito-2.

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Em dia com asua profissão

Você sabia que manter seu cadastro no Conselho Regional sempre atualizado é obrigatório, conforme expõem os Códigos de Ética e Deontologia da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional?

Atualizar seus dados é muito fácil. Basta acessar os serviços on-line do Crefito-2, localizar a seção “Acesso Restrito – Pessoa Física”, escolher a opção “Atualização Cadastral” e concluir os procedimentos. Fácil, não é mesmo?

Lembre-se de atualizar seu cadastro sempre que mudar de telefone, e-mail ou endereço.

Com isso, você garante o recebimento dos informativos eletrônicos, desta Revista e de demais correspondências do Crefito-2!

Atualize seu cadastro e fique em dia com as notícias de seu interesse.