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SUPLEMENTOS • Suplementação de fosfato de sódio em ciclistas de elite FISIOLOGIA • Alterações posturais por região corporal em jovens atletas de alto rendimento • Alteração do V O2 máximo e da porcentagem de gordura de atletas de futebol • Mecanismos moleculares associados à hipertrofia e hipotrofia muscular • Força e resistência muscular de membro dominante e não dominante • Alterações morfofuncionais decorrentes de treinamento de força • Treinamento resistido aplicado ao processo de emagrecimento TERCEIRA IDADE • Plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e prevenção de quedas • Hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural em idosos • Como treinar força com segurança na terceira idade www.atlanticaeditora.com.br 18 anos Revista Brasileira de FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology ano 2017 - volume 16 - número 1 ISSN 16778510

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SUPLEMENTOS• Suplementação de fosfato de

sódio em ciclistas de elite

FISIOLOGIA• Alterações posturais por região

corporal em jovens atletas de alto rendimento

• Alteração do VO2 máximo e da porcentagem de gordura de atletas de futebol

• Mecanismos moleculares associados à hipertrofia e hipotrofia muscular

• Força e resistência muscular de membro dominante e não dominante

• Alterações morfofuncionais decorrentes de treinamento de força

• Treinamento resistido aplicado ao processo de emagrecimento

TERCEIRA IDADE• Plataforma vibratória na

melhora do equilíbrio e prevenção de quedas

• Hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural em idosos

• Como treinar força com segurança na terceira idade

www.atlanticaeditora.com.br

18 anos

R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

F I S I O L O G I ADO E X E R C Í C I OÓrgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

B r a z i l i a n J o u r n a l o f E x e r c i s e P h y s i o l o g y

ano 2017 - volume 16 - número 1 ISSN 16778510

EDITORIALEnvelhecimento ativo e prevenção de quedas, Angelica Castilho Alonso ....................................... 3

ARTIGOS ORIGINAISForça e resistência muscular de membro superior dominante e não dominante no exercício de flexão unilateral de antebraço: comparação entre os sexos, Rodrigo Alves Coelho, Hugo Ribeiro Zanetti, Lucas Gonçalves da Cruz, Marco Aurélio Ferreira de Jesus, Eduardo Gaspareto Haddad ............................................................................................................. 5Alterações morfofuncionais decorrentes de dois métodos de treinamento de força, Allan Lucas Jacques, Marcelle Modolin Vidigal, Rodrigo Pereira, Cláudio Scorcine, Fabrício Madureira, Dilmar Pinto Guedes Junior ........................................................................... 11Alteração do VO2 máximo e da porcentagem de gordura de atletas de futebol profissional, Eduardo Hippolyto Latsch Cherem, Fernando Petrocelli de Azeredo, Leonardo Chrysostomo dos Santos ................................................................................................. 16

RELATOS DE CASOMonitoramento das alterações posturais por região corporal ocorridas em jovens atletas de alto rendimento no período de três anos de treinamento, Josenei Braga dos Santos, Evelise de Toledo, Maurício Dubard, Luiz Fernando Silva, Messias dos Santos, Pedro Ferreira Reis, Antônio Renato Pereira Moro, Antônio Carlos Gomes ................................... 24A influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e prevenção de quedas de uma mulher pós-menopáusica com osteopenia, Alexandre de Souza e Silva, Ferdinando Tadeu Gomes Moreira, Anna Gabriela Silva Vilela Ribeiro, Fábio Vieira Lacerda, Ronaldo Júlio Baganha, Luís Henrique Sales Oliveira ..................................................................... 33

REVISÕESEfeitos da suplementação de fosfato de sódio em ciclistas de elite, Deise Jaqueline Alves Faleiro, Rodrigo Rodrigues ........................................................................... 40Treinamento resistido aplicado ao processo de emagrecimento, Bruno Macedo de Andrade, Caro-lina Francci de Alencar, Paulo Costa Amaral, Henrique Stelzer Nogueira, Leonardo Emmanuel Medeiros Lima .............................................................................................. 46A influência da hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural em idosos, Daniella Oliveira Sousa, Ana Lúcia Rodrigues de Souza, Alexandra Carolina Canonica, Angelica Castilho Alonso ................................................................................................................ 55Mecanismos moleculares associados à hipertrofia e hipotrofia muscular: relação com a prática do exercício físico, Waldecir Paula Lima .................................................... 64Como treinar força com segurança na terceira idade, Marcus Vinicius Grecco, Rodrigo Juliano Dini ............................................................................... 81

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ...........................................................................................90

EVENTOS .............................................................................................................................92

Índiceano 2017 - volume 16 número 2

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Sociedade Brasileira de Fisiologia do ExercícioCorpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

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Editor AssociadoPaulo de Tarso Veras Farinatti

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3Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Editorial

Envelhecimento ativo e prevenção de quedas

Angelica Castilho Alonso*

Uma das maiores conquistas culturais de um povo em seu processo de humanização é o envelhecimento de sua população, refletido em uma melhoria das condições de vida. Estima-se que em 2025 o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, com aproximadamente 32 milhões de indivíduos acima de 60 anos [1].

Uma importante questão em saúde pública é o aumento da frequência de quedas com o avanço da idade. Embora elas não sejam consequências inevitáveis do envelhecimento, quando ocorrem sinalizam o início de fragilidade ou anunciam uma doença aguda, causam graves complicações para a saúde, altos custos assistenciais, além de causarem incapacidades e até mesmo a morte [2].

A meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza a participação da saúde e se-gurança como fatores que devem ser observados para que os idosos participem da sociedade, de acordo com suas necessidades, desejos e capacida-des. Portanto estas mudanças remetem a debates e reflexões tanto na população em geral quanto no meio acadêmico, principalmente quanto à forma de proporcionar qualidade de vida a essa população [3].

A produção científica na área de gerontologia tem crescido consideravelmente e deixa clara a importância de envolver os idosos em programas de exercícios e/ou atividades físicas regulares para a prevenção de várias doenças, bem como para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida [4]. Existe uma variedade de possibilidades de atividades voltadas para o envelhecimento da po-pulação que podem melhorar claramente a força, resistência, equilíbrio postural e biomecânica do

corpo. Vários ensaios clínicos têm demonstrado redução significativa nas quedas em idosos que se exercitam regularmente [1,5-12].

O modo de exercício deve ser aceitável para a população-alvo, ou seja, os participantes devem encontrar uma atividade agradável e também serem capazes de participar regularmente dos programas de exercício [5].

Especificamente a dança tem sido uma ati-vidade bastante procurada pelos idosos. Dentre seus benefícios podemos citar aumento do con-dicionamento físico, do ritmo, da flexibilidade, da força e da leveza, além de ser extremamente prazerosa e bem aceita por este público [1,5-12].

Outra modalidade é a água como boa opção para a prática de exercício físico e é certamente um meio diferenciado e bastante apropriado para pessoas idosas, permitindo o atendimento em grupos, a socialização e melhora significante da funcionalidade [13-14].

Portanto o grande desafio para clínicos e aca-dêmicos é desenvolver estratégias que reduzam o risco de quedas no envelhecimento, melhorando o equilíbrio e aumentando o leque de possibilidades para que se tenha um envelhecimento ativo.

Referências

1. Serra MM, Alonso AC, Peterson M, Mo-chizuki L, Greve JMD’Andra, Garcez-Leme LE. Balance and muscle strength in elderly women who dance samba. PLoS ONE 2016;11(12): e0166105. doi:10.1371/journal.pone.0166105.

2. Alonso AC, Luna NM, Dionısio FN, Speciali DS, Garcez-Leme LE, Greve JMD. Functional

*Pós-doutora em Ciência da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Professora do programa de pós-graduação em Ciências do Envelhecimento da Universidade São Judas Tadeu, SP Correspondência: [email protected]

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 24

balance assessment: review. Medicalexpress 2014;1(6):298-301.

3. Queiroz ZPV, Ruiz, CR, Ferreira, VM. Refle-xões sobre o envelhecimento humano e o futu-ro: questões de ética, comunicação e educação. Revista Kairós 2009;12(1):21-37.

4. Witter C, Buriti MA, Silva GB, Nogueira, RS, Gama, EF. Envelhecimento e dança: análise da produção científica na Biblioteca Virtual de Saúde. Rev Bras Ger Gerontol 2013;16(1):191-9.

5. Eyigor S, Karapolat H, Durmaz B, Ibisoglu U, Cakir S. A randomized controlled trial of Turkish folklore dance on the physical per-formance, balance, depression and quality of life in older women. Arch Gerontol Geriatr 2009;48:84-8.

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11. Kattenstroth JA, Kalisch T, Kolankowska I, Dinse HR. Balance, sensorimotor, and cog-nitive performance in long-year expert senior ballroom dancers. J Aging Res 2011:1-10. doi: 10.4061/2011/176709.

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ARTIGO ORIGINAL

Força e resistência muscular de membro superior dominante e não dominante no

exercício de flexão unilateral de antebraço: comparação entre os sexos

Muscular strength and endurance of dominant and not dominant upper limb in the exercise of forearm unilateral

flexion: comparison between sexes

Rodrigo Alves Coelho*, Hugo Ribeiro Zanetti**, Lucas Gonçalves da Cruz**, Marco Aurélio Ferreira de Jesus***, Eduardo Gaspareto Haddad****

*Especialista em Fisiologia do Exercício - Instituto Passo 1 – Uberlândia/MG, **Discente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba/MG, ***Graduado em Educação Física, Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba/MG, ****Especialista em Gerontologia, Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos, Araguari/MG

ResumoObjetivo: Comparar a força e o desempenho motor

unilateral de membro superior dominante (MSD) e membro superior não dominante (MSND) entre homens e mulheres no exercício de flexão de cotovelo a 50% de 1 repetição máxima (1RM). Métodos: A amostra foi composta por 26 indivíduos de ambos os sexos, com experiência prévia em exercício resistido. Todos os participantes foram submetidos a três testes: um teste de 1RM a fim de determinar a carga dos testes, e dois testes com carga de 50% de 1RM, no qual foi registrado o maior número de repetições possíveis em MSD e MSND. Resultados: Não foram encontradas diferenças significativas na carga absoluta em MSD e

MSND no mesmo gênero. Entretanto houve diferença quando se comparou as cargas máximas tanto em MSD (22,6 ± 3,9 vs. 8,72 ± 1,5) quanto MSND (22,9 ± 3,9 vs. 8,6 ± 1,6) entre homens e mulheres. Em relação ao número máximo de repetições a 50% de 1RM, observou-se que o gênero feminino realizou mais repetições tanto em MSD (27,38 ± 9,06 vs. 18,15 ± 2,30) quanto MSND (27,15 ± 6,81 vs. 17,84 ± 2,07) quando comparado ao gênero masculino. Conclusão: O gênero masculino apresenta maior capacidade de geração de força, entretanto o gênero feminino é mais resistente à fadiga com carga a 50% 1RM.Palavras-chave: resistência muscular localizada, força muscular, exercício unilateral.

Artigo recebido em 12 de dezembro de 2015; aceito em 27 de dezembro de 2015.Endereço para correspondência: Hugo Ribeiro Zanetti, Avenida Tutunas, 490, Uberaba MG, E-mail: [email protected]; Rodrigo Alves Coelho: [email protected]; Lucas Gonçalves da Cruz: [email protected]; Marco Aurélio Ferreira de Jesus: [email protected]; Eduardo Gaspareto Haddad: [email protected]

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 26

Introdução

O conceito de exercício físico tem abrangência na prerrogativa de que há o controle do volume e da intensidade da atividade física que está aconte-cendo. Existem vários tipos de exercícios que com-põem um treinamento físico, dentre eles o treino resistido (TR) se caracteriza como método que envolve conjuntos de exercícios que produzem as ações voluntárias dos músculos esqueléticos contra alguma forma externa de resistência, que pode ser provida pela própria resistência do corpo, pesos livres ou máquinas [1].

Os benefícios acarretados pela prática deste tipo de exercício são variados, como a hipertrofia, gerando aumento da força, potência e resistência musculares e redução de gordura corporal [2]. Existem dois processos primordiais para o au-mento da força de resistência muscular, que são relacionados aos aspectos neurais e hipertróficos [3,4]. As adaptações neurais predominam durante curtos períodos de treinamento. Concomitante-mente às adaptações neuromusculares, a hipertro-fia muscular inicia-se nas primeiras seis semanas de treinamento de força por meio da mudança na quantidade e qualidades de proteínas contrateis da estrutura muscular estriada esquelética [3,4]. Existe ainda, uma inter-relação entre as adapta-ções neurais e hipertrofia na expressão de força e resistência muscular [5].

Entretanto, existem diversas vertentes relacio-nadas com o volume e intensidades que podem ser usadas na estruturação de programas de TR.

Entre as variáveis implicadas nesse tipo de trei-namento destacam-se o número de exercícios, ordem de execução, número de séries e repetições, velocidade de execução, intervalos de recupera-ção entre as séries e os exercícios como também frequência semanal que, por sua vez, produzem respostas diferentes a partir do estimulo específico do treino [6].

A realização do TR pode ocorrer de forma unilateral ou bilateral, sendo esta uma das pos-sibilidades de variação de execução. A principal diferença entre eles reside no fato de a execução unilateral apresentar sinal eletromiográfico maior quando comparado a forma bilateral [7,8]. Há evidencias de que a força desenvolvida, durante ações bilaterais, normalmente são menores do que a soma da força desenvolvida por cada membro [9]. Denominamos tal fenômeno de déficit bila-teral [8-10].

Ainda, é relevante destacar a magnitude das respostas ao TR implicadas pela diferença do gênero, sendo denotados em vários estudos que as mulheres apresentam menores valores de força musculares absolutas do que os ho-mens, tanto em membros superiores quanto em membros inferiores [11,12]. Entretanto as mulheres apresentam maior capacidade de resistência à fadiga quando os exercícios são realizados com carga de intensidade leve a moderado [13].

Assim o objetivo do estudo foi comparar a força e o desempenho motor unilateral de membro superior dominante (MSD) e mem-

AbstractAim: To compare the strength and unilateral motor

performance in the dominant upper limb (DUL) and non-dominant upper limb (NDUL) between men and women in the exercise of elbow flexion at 50% of 1 repetition maximum (1RM). Methods: The sample consisted of 26 subjects of both sexes, with previous experience in resistance exercise. All participants un-derwent three tests: a test of 1RM in order to determine the load test, and two tests with a load of 50% 1RM, which registered the highest number of possible du-plicates on DUL and NDUL. Results: No significant differences were found in absolute load on DUL and

NDUL in the same genre. However there was diffe-rence when comparing these maximum loads in both DUL (22.6 ± 3.9 vs. 8.72 ± 1.5) as NDUL (22.9 ± 3.9 vs. 8.6 ± 1.6) between men and women. Regarding the maximum number of repetitions at 50% 1RM, it was observed that females performed more repetitions in both DUL (27.38 ± 9.06 vs. 18.15 ± 2.30) as NDUL (27.15 ± 6.81 vs. 17.84 ± 2.07) compared to males. Conclusion: The male has a greater capacity to generate force; however females are more resistant to fatigue loading at 50% 1RM.Key-words: localized muscular resistance, muscular strength, unilateral exercise.

7Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

bro superior não dominante (MSND) entre homens e mulheres no exercício de flexão de cotovelo à 50% de 1 repetição máxima (1RM).

Material e métodos

Amostra

A amostra do estudo foi composta por 26 voluntários de ambos os gêneros (13 homens e 13 mulheres), e as características dos volun-tários estão denotados na tabela I. O estudo seguiu as normas éticas de estudo envolvendo seres humanos, conforme lei nº 196/96. Além disso, todos os voluntários assinaram um ter-mo de consentimento livre e esclarecido, sobre todos os procedimentos a serem realizados.

Os critérios para seleção e inclusão dos voluntários foram ausências de doenças que ofertassem riscos para a saúde dos participantes, sendo de origem: cardiovascular (hipertensão arterial, palpitações ocasionais e cardiopatias), respiratória (asma brônquica e doença pulmo-nar obstrutiva crônica), articular (artrite ou artrose), muscular (lesões musculares), reti-nopatias (deslocamento de retina) e gestantes. Além disso, prática de exercício físico regular de no mínimo 40 minutos/dia, 3 vezes por semana, por pelo menos 6 meses e também deveriam estar familiarizados com o TR.

Todos os voluntários selecionados assina-ram um termo de consentimento informando sobre a proposta e procedimentos do estudo e responderam negativamente aos itens do questionário PAR-Q(14) visando identificar prováveis restrições e limitações quanto à prática de exercícios.

Protocolo do teste

Todos os testes foram realizados em local reser-vado (sala de avaliação) sempre com um avaliado (voluntário) e dois avaliadores experientes. Os voluntários foram instruídos dias antes do teste sobre técnicas de execução e postura realizadas em um estudo Piloto, a fim de reduzir margens de erro dos testes. Ainda, os voluntários foram instruídos a manter a dieta diária e alimentar-se cerca de uma hora de antecedência do horário predeterminado para os testes.

Ficou pré-estabelecido que os testes iniciariam com MSD seguido do MSND com intervalo mí-nimo de 3 minutos de um membro para o outro.

Teste de Força Máxima (1RM)

Para avaliação da força máxima, os voluntários obedeceram a um descanso de 72 horas isentos de exercícios que envolvessem a musculatura a ser exigida no teste com o objetivo de restaurar as condições neurais, metabólicas, morfológicas e psíquicas.

Na avaliação da força máxima do MSD e MSND foi utilizado o teste de uma repetição máxima (1RM) no exercício de flexão de cotovelo unilateral sentado, com o voluntário sentado no banco com as costas e quadril apoiados.

Antes do teste os voluntários realizaram um aquecimento localizado visando preparar a mus-culatura envolvida no exercício. O movimento iniciou-se com o antebraço em total extensão, partindo assim para a flexão máxima do ante-braço (fase concêntrica do movimento). Foram executadas até 5 tentativas realizando incrementos progressivos de cargas com 5 minutos de descanso para uma nova tentativa no mesmo braço. Os avaliados foram encorajados verbalmente com a finalidade de incentivá-los a atingir sua força

Tabela I - Medidas descritivas da amostra.

CaracterísticasHomens (n = 13)

Média ± DPMulheres (n = 13)

Média ± DPIdade (anos) 32,71 ± 7,67 33,57 ± 9,63Estatura (cm) 174,21 ± 3,18 158,50 ± 5,14MC (kg) 78,23 ± 2,30 57,43 ± 6,87

MC: massa corporal.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 28

máxima. O teste era interrompido quando não se conseguia mais realizar o movimento da forma previamente estabelecida.

Resistência Muscular Localiza (RML)

A carga utilizada no teste de RML compreen-deu 50% de 1RM e utilizou-se os mesmos padrões de postura execução do teste de 1RM. Durante toda a amplitude de movimento, a velocidade foi controlada, usando-se 1,5 segundos na flexão do antebraço e 1,5 segundos para a extensão do an-tebraço. Durante a execução, os cotovelos perma-neceram apontados para o solo, sem que fossem projetados à frente e o tronco manteve-se apoiado no banco. O ritmo do movimento foi ditado por um metrônomo virtual da marca Dirk’s analógico instalado em um Laptop ajustado para 40 bpm. Os avaliados foram encorajados verbalmente para atingir o maior número de repetições.

O número de repetições alcançadas foi re-gistrado na fadiga e/ou exaustão (momento em que o avaliado não conseguia manter o ritmo do metrônomo, ou o cotovelo era projetado a frente ou ocorriam oscilações posturais).

Estatística

Realizou-se inicialmente análise descritiva dos dados (média e desvio-padrão), posteriormente o teste de Shapiro-Wilk foi realizado para verificar normalidade entre os dados. Em seguida o teste t de Student foi utilizado para comparação das car-gas do teste de 1RM e o pós-teste de comparações múltiplas de Tukey foi realizado para identificar possíveis diferenças entre as médias. O risco alfa assumido foi de 5% (p < 0,05). O registro e ar-mazenamento dos dados foram realizados com o software Microsoft Office Excel 2010 (Microsoft Corp, Redmond, WA®) e as análises no programa GraphPad Prism Software® 6.0.

Resultados

Na figura 1 estam representados os dados referentes as cargas de 1RM de MSD e MSND de ambos os generos.

Figura 1 - Carga absoluta de MSD e MSND em homens e mulheres.

1RM = uma repetição máxima; MSD = membro superior

dominante; MSND = membro supeior não dominante;

*Denota diferença significativa entre sexos (p < 0,05).

Denota-se que não houve diferença significa-tiva (p < 0,05) entre a carga máxima no mesmo gênero, entretanto houve diferença entre a cargas máximas tanto em MSD (22,6 ± 3,9 vs 8,72 ± 1,5) como MSND (22,9 ± 3,9 vs 8,6 ± 1,6) entre os gêneros masculino e femininos, respectivamente.

A figura 2 representa a quantidade de repeti-ções máximas realizadas a 50% de 1RM em MSD e MSND em ambos os generos.

Figura 2 - Número de repetições realizadas até a fadiga com 50% de 1RM.

1RM = uma repetição máxima; MSD = membro superior

dominante; MSND = membro supeior não dominante;

*Denota diferença significativa (p < 0,05) intergrupo.

Houve diferença significativa quando com-parou-se o número de repetições até a fadiga de MSD entre mulheres e homens (27,38 ± 9,06 vs. 18,15 ± 2,30), respectivamente. Tal fato também foi observado quando comparou-se o desempenho do MSND (27,15 ± 6,81 vs 17,84 ± 2,07). Não

9Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

houve diferença entre o número de repetições dentro do mesmo gênero.

Discussão

O objetivo do estudo foi comparar a força e o desempenho motor unilateral de membro supe-rior dominante (MSD) e membro superior não dominante (MSND) entre homens e mulheres no exercício de flexão de cotovelo a 50% de 1 repetição máxima.

O presente estudo foi realizado com indivídu-os treinados em exercícios resistidos, justificando a ausência de uma diferença significativa na variável força entre os MSD e MSND do mesmo gênero. Especula-se que este tipo de treinamento acar-reta em aumento da sincronização das unidades motoras (UMs) agregando maior coordenação intramuscular, que por sua vez desenvolve maiores ativações das fibras por um mesmo motoneu-rônio [7,15,16]. Essa adaptação proporciona incrementos de força coordenada, ou seja, um maior número de fibras musculares se contraem ao mesmo tempo, com menor frequência de estí-mulos, consequentemente, produzindo acréscimo na produção de força muscular [17].

Para aplicação do teste, deve-se ter em vista o déficit bilateral, que se refere à diferença na capa-cidade de geração de força dos músculos quando contraídos isoladamete ou de forma bilateral [7,15]. A carga desenvolvida durante ações bila-terais parece ser menor do que a soma das cargas desenvolvidas por cada membro. Esta diferença está relacionada com a estimulação reduzida de unidades motoras, que poderia ser causada pela inibição dos mecanismos protetores, resultando em uma menor produção de força [15,18].

Foi encontrada uma diferença significativa da força no teste de 1RM entre os gêneros, isto pode ser justificado pelo fato do homem apresentar uma maior proporção de fibras metabolicamente e funcionalmente mais rápidas (fibras IIx), devido a uma maior expressão gênica do músculo esque-lético e na interação com hormônios específicos do gênero masculino comparado com o feminino [19,20]. Enfoque seja dado ao papel do hormônio testosterona, que é encontrado de maneira pre-

dominante em homens, que possui característica anabólica, atuando principalmente sobre as zonas de crescimento dos ossos e músculos, além de influenciar o desenvolvimento de praticamente todos os órgãos do corpo humano [21].

Outro achado do nosso estudo foi que as mulheres realizaram uma maior quantidade de repetições até a fadiga com carga de 50% de 1RM. Nosso estudo corrobora alguns achados da literatura, demonstrando que o gênero feminino apresenta maior resistência à fadiga com cargas inferiores a 70% de 1RM [20,22].

Uma possível explicação para estes achados tange à composição muscular das mulheres, que reside na maior prevalência de fibras do tipo I sobre as fibras do tipo II [12]. As fibras tipo I possuem menor diâmetro, menor velocidade de contração e são mais resistentes à fadiga [23]. No gênero masculino possui maior tendência de apresentar maior porcentagem de fibras rápidas, que possuem maior diâmetro, maior velocidade de contração e menor resistencia à fadiga [24].

Outro ponto referente à diferença entre os gêneros pode ser explicada pelo tamanho da massa muscular envolvida no exercício, a utilização de diferentes substratos energéticos durante a con-tração musucular e a ativação neural [22]. Além disso, pode-se observar diferença na motivação, na habilidade para sustentar o drive central, diferença do suprimento de sangue para a musculatura ativa além das características que levam a fadiga devido à diferença nas quantidades de fibras musculares [12].

Conclusão

Conclui-se que os homens são capazes de desenvolver maior força máxima que as mulheres. No entanto, as mulheres realizaram maior quan-tidade de repetições máximas com carga referente a 50% de 1RM.

Referências

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ARTIGO ORIGINAL

Alterações morfofuncionais decorrentes de dois métodos de treinamento de força

Morphofunctional alterations deriving from two methods of strength training

Allan Lucas Jacques*, Marcelle Modolin Vidigal*, Rodrigo Pereira**, Cláudio Scorcine***, Fabrício Madureira***, Dilmar Pinto Guedes Junior****

*Graduado no curso de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), **Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), Professor da Faculdade da Praia Grande (FPG), Professor da Faculdade de Educação de Educação Física e Esporte (FEFESP/UNISANTA), ***Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), ****Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), Membro do Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício e Treinamento - CEFIT

ResumoO objetivo do presente estudo é comparar as alte-

rações morfofuncionais decorrentes de dois métodos de treinamento de força: repetições fixas e piramidal crescente. Foram avaliados 20 voluntários com idades entre 18 e 40 anos iniciantes em treinamento de força. O programa teve a duração de 10 semanas e foram uti-lizados nos momentos pré e pós-treinamento o teste de 1 repetição máxima (1RM) e a avaliação da composição corporal por meio da bioimpedância. Nas avaliações de cargas máximas, os métodos de repetições fixas e

piramidal crescente foram eficientes para o aumento da força nos testes aplicados entre os momentos pré e pós-treinamento. Para composição corporal ocorre-ram diferenças significativas entre pré e pós na massa magra corporal (MMC). Os resultados demonstram a eficiência de ambos os métodos de treinamento nos ganhos de força máxima e melhoria da composição corporal (aumento de massa muscular e diminuição da porcentagem de gordura corporal) para ambos os grupos, não havendo diferença entre grupos. Palavras-chave: treinamento, força, métodos, composição corporal.

Recebido em 22 de março de 2017; aceito em 18 de abril de 2017. Endereço para correspondência: Allan Lucas Jacques, Rua Torres Homem, 307/21, Embaré, 11025-021 Santos SP, E-mail: [email protected]

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 212

Introdução

O treinamento de força (TF) tem papel funda-mental nos programas de exercícios físicos e tem sido recomendado por várias organizações com a finalidade de melhorar a saúde geral e condi-cionamento físico [1]. Entre os objetivos do TF destacam-se na literatura o aumento da força [2] e hipertrofia muscular [3], além da diminuição do percentual de gordura [4], para fins atléticos [5], estéticos [6] ou de saúde [7]. Em virtude de todas as adaptações e benefícios proporcionados pelo TF, vários protocolos, métodos e sistemas de treinamento foram criados para otimizar o processo de hipertrofia, por meio da manipulação e combinação das variáveis de treinamento como número de repetições, carga, número de séries, intervalo de recuperação, entre outros [8,9].

Alguns autores [8] sugerem que os métodos de TF foram originalmente planejados por levan-tadores olímpicos de peso ou fisiculturistas, entre eles, podemos citar dois métodos, o de repetição fixa (RF) e o piramidal crescente (PC). Um méto-do que tem sido bastante utilizado como estratégia para o aumento da força e hipertrofia é o PC, que se fundamenta na correlação volume versus intensidade de treinamento, quando a cada grupo de determinado exercício ocorre a diminuição ou o aumento do número de repetições realizadas e o simultâneo aumento ou diminuição do peso. Sua aplicação se dá na manipulação da carga de forma crescente ou decrescente em relação à intensidade. Como consequência ocorrem modificações no número de repetições realizadas [10].

Alguns estudos são encontrados na literatura investigando os efeitos dos métodos de treina-

mento em públicos e objetivos distintos, como, por exemplo, comparar os métodos piramidal crescente e decrescente no aumento da força muscular [10], no número de repetições [8], e em mulheres [9]. São encontrados autores que comparam vários métodos no mesmo estudo, em parâmetros morfológicos [11], na composição corporal [12] e ainda a comparação de periodi-zações distintas [13].

Poucos estudos compararam o aumento da força muscular e composição corporal entre os métodos citados anteriormente. O objetivo do presente estudo é de comparar as alterações morfofuncionais decorrentes de dois métodos de treinamento de força, repetição fixa e piramidal crescente.

Material e métodos

Após ser assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, iniciou-se o projeto com 36 participantes, entretanto devido à falta de dis-ponibilidades para os horários de treinos, faltas continuas e desistência do programa de treina-mento foram avaliados 20 indivíduos divididos igualmente em dois grupos: treinamento de repe-tição fixa (RF) e treinamento piramidal crescente (PC). Os sujeitos foram recrutados através de difusão em rede social e como critério de inclusão deveriam estar pelo menos seis meses sem praticar musculação. Estes indivíduos foram classifica-dos como de baixo risco, por não apresentarem qualquer sinal ou sintoma insinuante de doença arterial coronariana de doença cardiopulmonar ou metabólica, avaliada pelo questionário Physical

AbstractThe purpose of this study was to compare the

morphological changes deriving from two methods of strength training: fixed and pyramidal growing repetitions. Twenty volunteers 18 to 40 years old, beginners in strength training, were evaluated. The program had the duration of 10 weeks, pre and post training was used for the 1 repetition maximum (1RM) and the body composition was assessed by bioelectrical impedance test. In evaluations of maximum loads, methods of fixed and growing pyramidal repetitions

were effective for increasing strength tests applied between pre and post training. For body composition were significant differences between pre and post total body mass. The results demonstrate the efficiency of both methods of training in the gains of maximum strength and improving body composition (increased muscle mass and decreased body fat percentage) in both groups.Key-words: training, strength, methods, body composition.

13Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Activity Readiness Questionnarie (PAR-Q) e por anamnese clínica.

O programa foi realizado em 10 semanas. Na primeira semana e na última foram realizadas as avaliações de: 1RM, nos exercícios supino reto, puxador frente e leg press 45° e a composição corporal por meio da bioimpedância da marca Inbody 250. A segunda semana serviu para fami-liarizar os sujeitos com o método de treinamento. A partir da terceira semana até a oitava os grupos foram divididos em RF realizando 4 séries de 12 repetições e PC executando 12/10/8/6 repetições, ambos com pausa de 1 minuto entre séries e 2 minutos entre exercícios. Os exercícios foram divididos de acordo com os segmentos corporais em posterior e anterior e por gêneros (Quadros 1, 2, 3 e 4).

Quadro 1 - 1ª semana - treinamento masculino.Treino A Treino B

Supino reto Puxador frenteSupino com halteres inclinados

Puxador triângulo

Crucifixo retoRemada aberta apa-relho

Rosca alternada mar-telo

Tríceps polia

Rosca direita barra reta Tríceps francêsElevação lateral Remada altaCadeira extensora Stiff

Leg 45Cama flexora/pantur-rilha

Abdominal Lombar

Quadro 2 - 1ª semana - treinamento feminino.Treino A Treino B

Cadeira extensora Cama flexoraAgachamento livre Agachamento sumoCadeira adutora StiffAvanço com halteres 3 apoios abduçãoHack 3 apoios penduloCadeira extensora unilateral

Glúteo graviton/pan-turrilha

Supino com halteres Puxador triânguloRosca direta barra Tríceps poliaElevação combinada Remada altaAbdominal Lombar

Quadro 3 - 2ª a 8ª semana - treinamento masculino.Treino A Treino B

Supino reto Puxador frenteSupino inclinado com halteres

Remada maquina unilateral

Rosca alternada hal-teres

Tríceps corda

Desenvolvimento maquina

Encolhimento

Cadeira extensora Cama flexoraLeg 45° Cadeira abdutoraAbdominal Lombar

Quadro 4 - 2ª a 8ª semana - treinamento feminino.Treino A Treino BCama extensora Cama flexoraLeg 45° Agachamento completoCadeira adutora Glúteo coice Supino maquina Puxador frenteRosca martelo unilateral Tríceps francêsDesenvolvimento com halteres

Crucifixo inverso

Abdominal Lombar

Foi realizada uma análise descritiva dos dados usando média e desvio padrão. Em seguida utili-zamos o Test T de Student para amostras depen-dentes e independentes. O nível de significância aceito foi p ≤ 0,05.

Resultados

Nas avaliações de cargas máximas, os métodos de RF e PC foram eficientes para o aumento da força nos testes aplicados entre os momentos pré e pós-treinamento (ver tabela I). Para composição corporal ocorreram diferenças significativas entre pré e pós na MMC (Tabela II).

Discussão

O presente estudo avaliou o efeito de dois métodos de treinamento, RF e PC ao longo de oito semanas de treinamento no desenvolvimento da força muscular máxima, na qual não se registrou diferença significativa (p = 0,05) entre os métodos

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 214

analisados, porém registrou diferença entre pré e pós-treinamento nos exercícios supino reto, puxador frente e no leg press. Na composição corporal não foram encontradas diferenças entre os grupos, entretanto observou-se aumento da massa magra corporal entre os momentos para os dois métodos avaliados.

No estudo que compara em dezoito volun-tários do sexo masculino, selecionados aleatoria-mente, o efeito de oito semanas de treinamento sobre o número de repetições máximas dos mé-todos PC e piramidal decrescente, não ocorreu diferença significativa entre os métodos ou pré e pós-treinamento [8]. Em outro experimento que comparou os métodos de RF e PC em dezoito in-divíduos experientes em treino de força muscular ao longo de oito semanas de treinamento sobre o desenvolvimento da força muscular máxima, não foram encontradas diferenças significativas entre os métodos e nem entre os momentos pré e pós-treino [14].

No trabalho que teve o objetivo de comparar o impacto de dois métodos, RF e PC na força muscular de dezenove homens adultos treinados, o programa de treinamento com pesos foi rea-lizado em seis semanas e não foram observadas diferenças significativas na força muscular, entre os momentos pré e pós-treino e nem entre grupos [15]. Os resultados confirmam em parte os en-contrados no presente estudo, porém os sujeitos do artigo citado eram treinados.

Os exercícios utilizados apontaram diferenças significativas no aumento da força muscular no

trabalho de Manzini Filho et al. [10], que reali-zaram um experimento durante 8 semanas com o objetivo de comparar os métodos piramidal crescente e decrescente. No exercício supino reto não foi encontrada diferença estatística, não indo ao encontro com os resultados do presente estudo. Vale ressaltar que, no estudo citado, os indivíduos eram ativos fisicamente. Já o estudo de Carvalho et al. [12] encontrou resultados estatisticamente significativos no aumento de força utilizando o método Drop Set nos exer-cícios supino reto e leg press, corroborando os nossos achados.

Nas modificações da composição corporal, os métodos PC e RF foram eficientes para aumen-tar a massa magra corporal. Em um estudo que avaliou 9 indivíduos ativos por 4 semanas, não foram observadas modificações corporais [12]. Em uma periodização que comparou os efeitos do treinamento de força com pesos e no meio líquido, ambas as metodologias foram eficientes para potencializar a massa magra corporal nos universitários avaliados durante 6 meses [16]. Em todos corroboram o presente estudo na variável nutricional, ou seja, não houve controle da alimentação dos voluntários.

As limitações do estudo foram em relação aos grupos que no momento pré estavam com diferenças significativas no exercício supino reto. Quando foram distribuídos os participantes nos grupos não foram observadas diferenças, após a desistência de alguns voluntários ficaram com diferenças estatisticamente significativa.

Tabela I - Avaliações de 1RM no supino, leg press e puxador frente nos grupos de repetições fixas e piramidal crescente.SR Pré SR Pós % LP Pré LP Pós % PF Pré PF Pós %

RF 26,6 ± 7,1 30,8 ± 6,7* 16 122 ± 37,9 161 ± 41,2* 32 35 ± 8,5 43,5 ± 7,1* 24PC 48,6 ± 20,6# 55,4 ± 22,7* 14 169 ± 72,3 211 ± 76,8* 25 62 ± 20,8 67,5 ± 21,8* 9

Os dados estão em kg em forma de média ± desvio padrão; SR = Supino Reto; PF = Puxador Frente; *= diferença esta-

tística significativa entre os momentos e #entre grupos; p ≤ 0,05.

Tabela II - Analise do peso corporal total e composição corporal nos grupos de repetições fixas e piramidal crescente.Peso Pré Peso Pós MMG Pré MMG Pós MGC Pré MGC Pós PGC Pré PGC Pós

RF 60,3 ± 11,3 60,9 ± 11,5 22 ± 3,2 22,49 ± 3,5* 19,7 ± 6,8 19,6 ± 6,6 31,8 ± 5,6 4315 ± 5,3PC 75,7 ± 16,5 75,5 ± 16,0 29,5 ± 6,7 30,1 ± 6,7* 22,6 ± 8,3 21,6 ± 8,6 29,3 ± 7,2 28,8 ± 7,1

Os dados estão em forma de média ± desvio padrão; MMG = Massa magra Corporal; MGC = Massa Gorda Corporal;

PGC = Porcentagem de gordura corporal; *= diferença estatística significativa entre os momentos; p ≤ 0,05.

15Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Conclusão

Os resultados sugerem a eficiência de ambos os métodos de treinamento nos ganhos de força máxi-ma e melhoria da composição corporal (aumento de massa muscular) para ambos os grupos. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre grupos. A magnitude das variáveis escolhidas nos protocolos de treinamento (repetições, pausa, exercícios, séries, população) pode interferir nos resultados. São necessários mais estudos para que sejam estabelecidas conclusões mais concretas.

Agradecimentos

Agradecimentos a Clínica Abbud pela parceria no presente estudo, realizando as avaliações da composição corporal dos voluntários e a academia Praxis pela realização das avaliações de 1RM e pelos treinamentos realizados durante 2 meses.

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ARTIGO ORIGINAL

Alteração do VO2máx e da porcentagem de gordura de atletas de futebol profissional em

função do treinamento de pré-temporadaAlterations in VO2 max and body fat percentage in professional

soccer players

Eduardo Hippolyto Latsch Cherem*, Fernando Petrocelli de Azeredo**, Leonardo Chrysostomo dos Santos**

*Escola Municipal Ginásio Medalhista Olímpico Thiago Braz da Silva, **Laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade Estácio de Sá, LAFIEX, nos campi Nova Iguaçu e Petrópolis II – RJ

ResumoFutebol é um esporte de extrema competitividade,

por isso a necessidade de maior condicionamento físico por parte de seus competidores. Este ponto pode ser observado na pré-temporada, quando, em pouco tem-po, deve haver um aumento do condicionamento físico e alteração da composição corporal. O objetivo deste estudo foi observar a alteração do condicionamento aeróbio de atletas profissionais de futebol durante a pré-temporada de 2007. A amostra limitou-se a 11 homens, atletas de futebol profissional. Coletaram-se dados de composição corporal e do condicionamento aeróbio antes e após a pré-temporada, que teve duração de 30 dias. Os resultados estão descritos como média ± desvio padrão. Utilizou-se teste “t” de Student, aceitan-

do como significativo um p ≤ 0,05. O condicionamen-to aeróbio medido pelo VO2máx não apresentou melhora significativa (52,62 ± 2,28 ml/kg/min, antes e 53,48 ± 3,25 ml/kg/min após a pré-temporada, p = ns) e apesar de não ter havido diferença na massa corporal total dos atletas, (65,13 ± 3,64 kg, antes e 65,30 ± 3,58 kg após a pré-temporada, p = ns) os atletas apresentaram uma discreta, mas significativa alteração da composição corporal medida pelo percentual de gordura (10,58 ± 3,62%, antes e 9,50 ± 2,81%) após a pré-temporada, p < 0,05). Conclui-se que o treinamento aplicado na pré-temporada, não foi suficiente para causar melhora da capacidade aeróbia no grupo como um todo.Palavras-chave: VO2máx, porcentagem de gordura, preparação física.

Recebido em 3 de novembro de 2016; aceito em 23 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Eduardo Hippolyto Latsch Cherem, Avenida Cesário de Melo, S/N, Santa Cruz, 23595-040 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected]; Fernando Petrocelli de Azeredo: [email protected]; Leonardo Chrysostomo dos Santos: [email protected]

17Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Introdução

O futebol é o esporte mais difundido na maioria dos países, especialmente nos latino--americanos e europeus [1-3].

A evolução médica-tecnológica ocorrida nas últimas décadas teve impacto no esporte, com um importante avanço na preparação física dos atletas e consequente exigência de máximo de-sempenho [4].

Cunha [5] relata que estudos realizados com-provam que, durante a década de 1970, existia interesse com a investigação científica no futebol com o intuito de auxiliar a preparação física dos atletas, determinando os sistemas energéticos que predominavam no esporte, através de uma análise de movimento realizada durante as partidas de futebol.

Durante as partidas, os futebolistas realizam esforços curtos, intensos e decisivos caracterizados predominantemente por anaeróbios aláticos com uma concentração lática entre 4 a 9 mMol, sendo o metabolismo aeróbio requerido principalmente nos momentos de recuperação entre esses esforços.

O consumo máximo de oxigênio (VO2Máx) é a variável fisiológica que melhor descreve a capacidade dos sistemas cardiovasculares e respi-ratórios. É aceito como índice que representa a capacidade máxima de integração do organismo em captar, transportar e utilizar o oxigênio para os processos aeróbios de produção de energia durante a contração muscular [6]. Pode ser expresso em

termos absolutos (l/mim) ou relativos à superfície corpórea (ml/kg/min).

Segundo Garcia et al. [7], os testes físicos auxiliam no conhecimento da evolução dos joga-dores, na seleção de testes para cada posição, no descobrimento de novos talentos e na reavaliação do trabalho.

Na literatura, verifica-se que o padrão de VO-2Máx de futebolistas é de aproximadamente 55-60 ml/kg/min. O mesmo resultado foi encontrado nos futebolistas da seleção sueca, resultados de 56,5 ml/kg/min. Na equipe do Aberdeen F.C., da Escócia (Campeonato Europeu) foi observado 57,8 ml/kg/min. E para os primeiro, segundo, terceiro e quarto colocados do campeonato de futebol húngaro, valores de 66,6; 64,3; 63,3 e 58,1 ml/kg/min, respectivamente [8-10].

Testes estes aplicados no início da pré-tem-porada de treinamento permitem uma avaliação precisa de várias qualidades dos atletas. Sendo assim Rinaldi e Arruda [11] dizem que a avaliação física dos jogadores de futebol tem se mostrado importante no sentido de oferecer parâmetros mais exatos para um programa de treinamento.

A variabilidade dos valores de VO2 (ml/kg/min) em futebolistas é grande, não somente pelas características individuais, mas em virtude dos diferentes modelos e metodologias utilizadas nos treinamentos e, também, pelos diferentes tipos de ergômetros e protocolos utilizados na avaliação, como bicicleta ou esteira em testes máximos ou submáximos, e ainda a utilização de medidas

AbstractSoccer is an extreme competitive sport. Therefore,

it is necessary to do high amounts of physical activities. It can be observed in pre-season, when athletes need to improve their endurance and change their body composition in a short period of time. The aim of this study was to observe the alteration of endurance conditioning of professional soccer players in the 2007 pre-season, 30 days longer. The sample consisted of eleven men, who were professional soccer players. We collected body composition and aerobic conditioning data before and after pre-season. The results are shown as mean ± standard deviation. Student’s “t” test was

used, with a p ≤ 0.05 considered as significant. The aerobic conditioning measured by VO2máx not showed a significant improvement (52,62 ± 2,28 ml/kg/min, be-fore and 53,48 ± 3,25 28 ml/kg/min after pre-season, p = ns) and, despite the body weight did not show any alteration (65,13 ± 3,64, before and 65,30 ± 3,58 after pre-season, p = ns) the body fat percentage have a discrete, but significantly alteration (10,58 ± 3,62, before and 9,50 ± 2,81 after pre-season, p < 0,05). It is concluded that the physical training program in pre-season was not enough to improve the group endurance conditioning. Key-words: VO2máx, body fat percentage, soccer of field.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 218

diretas ou indiretas. É sabido que valores de VO-2Máx obtido nos protocolos realizados em bicicleta ergométrica são em média 5% a 20% inferiores àqueles observados em esteira [12], devendo-se relativizar as conclusões dos estudos comparativos realizados com diferentes ergômetros e diferentes protocolos.

Da mesma forma como a capacidade aeró-bia é substancialmente alterada em função de programas vigorosos de treinamento físico, a composição corporal também o é. No entanto, ao invés de aumentar o seu valor, quando nos referimos à porcentagem de gordura corporal, percebemos um decréscimo desta em função do aumento do trabalho físico, como acontece nos sistemas de preparação atlética, mesmo que de pré-temporada [13-16]. Não obstante, mesmo com o aumento na taxa de trabalho físico, tam-bém é necessário um controle da ingesta calórica para que se observem reduções no componente de gordura corporal [8,14].

Hoje o aspecto científico do treinamento físico está muito desenvolvido. Os profissionais se espe-cializam cada vez mais utilizando computadores e os mais variados aparelhos eletrônicos possíveis, para determinar o nível de condicionamento e evolução dos atletas. Portanto, percebe-se que a preparação física evoluiu de tal maneira que seria impensável a falta de um profissional especializa-do em treinamento físico integrando a comissão técnica de uma equipe.

No futebol dos últimos tempos, tudo que for considerado como método auxiliar, (Jump system, Foto Célula, Lactímetro e outros), passa a ser importante e altamente utilizado no campo de jogo, pois nos detalhes são buscados vários anos que pesquisados são muito importante para o alto rendimento dos atletas e de toda sua equipe.

O objetivo deste estudo é comparar a evolução do consumo de oxigênio máximo (VO2Máx) e da porcentagem de gordura no início e no fim da preparação básica (pré-temporada), levando em consideração os métodos de treinamento utili-zados nos atletas profissionais da equipe Estácio de Sá durante a fase de pré-temporada no ano de 2007.

Material e métodos

Amostra

A amostra do estudo foi composta por 11 atletas, do sexo masculino, profissionais de Fu-tebol de Campo, do time Estácio de Sá Futebol Clube, realizada durante a pré-temporada do ano de 2007.

Todos os indivíduos leram e concordaram em assinar um termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com as Normas para a Realização de Pesquisa em Seres Humanos, estabelecidas através da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996. É notório que a resolução supracitada segue a declaração de Helsinque de 1975 [17].

Antropometria

Para obter a porcentagem de gordura corporal foi realizada a avaliação das dobras cutâneas pelo protocolo de 3 dobras cutâneas) de Jackson e Pollock (tríceps, suprailíaca e coxa [18,19].

A massa corporal foi medida em uma balança com precisão de 0,1 kg (Filizola, São Paulo, Bra-sil). A estatura foi medida em um estadiômetro localizado na própria balança, com precisão de 0,5 cm (adipômetro da marca Lange).

As medidas foram aferidas antes e após o período de treinamento.

Treinamento

Para prescrição da zona alvo de treinamento, foi aplicada a fórmula de Karvonen (1957) citada por Haddad et al. [20], utilizando a equação a seguir: 220 – idade. Foi utilizado para o limite inferior 80% da FC máxima e para o limite su-perior 85% da FC máxima. Materiais utilizados: calculadora, monitor de frequência cardíaca.

Para determinar o consumo máximo de oxigênio (VO2Máx) foi utilizado o teste do Yo-Yo Endurance Test [21], o que contou com motivação.

Após a coleta das variáveis percentual de gordura, massa corporal e estatura, frequência cardíaca e VO2Máx, os atletas foram submetidos a doze semanas de treinamento. Nas primeiras

19Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

quatro semanas, o objetivo principal foi à resis-tência aeróbia, porém a partir da segunda semana foi acrescido ao treinamento um aumento de 4% no volume do mesmo. Vale ressaltar que apesar desse aumento no volume total, nas primeiras 3 semanas a ênfase foi na resistência aeróbia, nas semanas seguintes, 5% do valor total foi destinado ao trabalho de resistência anaeróbia.

Nas primeiras semanas, três dias de cada, os atletas eram submetidos a corridas de 7 km dentro da frequência cardíaca determinada pelo escore obtido no teste de VO2Máx, o que variou entre 80 a 85%. Após estas corridas os atletas eram submeti-dos a um trabalho de força na sala de musculação do clube (4 séries de 12 a 15 repetições).

Por ser início do trabalho, o professor optou em não fazer o teste de 1RM, passando então para os atletas que o aumento da carga seria pro-gressivo conforme a melhora dos mesmos nesta valência. Em relação ao acréscimo progressivo no volume total de treinamento, quando as corridas alcançaram 9.780 m, estes acréscimos passaram a não existir, dando uma ênfase maior ao trabalho anaeróbio.

Análise estatística

No presente trabalho foi utilizado o tratamen-to estatístico descritivo através de média, desvio padrão e também técnicas de estatística inferencial com o Test t de Student utilizando o nível de signi-ficância de 95% (p < 0.05). Foi utilizada a curtose para análise da homogeneidade da amostra. Foi

utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 15.0.

Resultados

Os dados descritivos da idade, peso (kg), estatura (m) e frequência cardíaca máxima estão representados como a média, desvio padrão (DP) e curtose, na tabela I.

Os atletas apesar de terem reduzido significa-tivamente suas porcentagens de gordura (antes do treinamento: 10,58 ± 3,62 para 9,5 ± 2,81, depois da pré-temporada. P < 0,05), isso não foi suficiente para causar impacto no peso total (antes do treinamento: 65,13 ± 3,64 kg para 65,3 ± 3,58 kg, depois da pré-temporada. P = ns) (tabela II).

Ainda que se tenha observado uma melhora no VO2max dos atletas, esta melhora, assim como para a variável massa corporal total, não foi sig-nificativa (52,62 ± 2,28 e 53,48 ± 3,25 ml/kg/min, para antes e após o período de treinamento, respectivamente. P = ns) (tabela II).

É importante destacarmos que apenas 3 indivíduos apresentaram reduções no condicio-namento aeróbico, ao comparar-se o período pré e pós-treinamento de pré-temporada. Estes indi-víduos estão destacados (em negrito) no quadro abaixo (quadro 1).

A explicitação destes dados é importante para que se possa discutir, mais adiante, os efeitos do treinamento de pré-temporada sobre esta valência física, o condicionamento cardiorrespiratório,

Tabela I - Variáveis descritivas: idade, peso, estatura e frequência cardíaca máxima.idade (anos) MCT (kg) estatura (cm) FC máx (bpm)

Média 24,50 65,13 178,17 166,26D.P. 3,95 3,64 6,51 5,89Curtose 0,09 - 0,24 - 0,37 - 0,70

MTC = Massa Corporal Total; FCmáx = Frequência Cardíaca Máxima.

Tabela II - Variáveis experimentais: peso, percentual de gordura e VO2 Máximo.MCT (kg) %G VO2 (ml/kg/min)

Antes Após Antes Após Antes ApósMédia 65,13 65,30 10,58 9,50 52,62 53,48D.P. 3,64 3,58 3,62 2,81 2,28 3,25p ns < 0,05 ns

MTC = Massa Corporal Total; %G = porcentagem de gordura corporal

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 220

representado pelos escores do teste de VO2máx utilizado por nós (Yo-Yo Endurance Test).

A porcentagem de gordura corporal apresen-tou uma significativa redução ao se comparar os dados do início da pré-temporada com os valores encontrados ao final da pré-temporada (de 10,6 ± 3,62% no início, para 9,5 ± 2,81% no final da pré-temporada, p < 0,05), como descrito na tabela III.

Discussão

Os resultados apresentados neste trabalho demonstraram que não houve melhora nos escores de VO2Máx dos atletas avaliados, uma vez que os resultados do início, quando comparados ao do final da pré-temporada (52,62 ± 2,28 e 53,48 ± 3,25 ml/kg/min) respectivamente, não demons-traram diferença significativa (p = 0,29).

Uma possível explicação para a não melhora do VO2Máx, pode ser devido ao fato de que, segun-do Powers & Howey [22], apesar de os programas de treinamento de resistência provocarem um aumento no VO2Máx em cerca de 15%, a faixa de aumento pode ser elevada, 30% - 50%, para aqueles com valores iniciais bem baixos, mas

pode ser baixa, de até 2% - 3% para aqueles que começaram o treinamento com valores altos. Já que o VO2Máx é a captação máxima de oxigênio que um indivíduo consegue extrair do ar alveolar e transportar até os tecidos através do sistema cardiovascular e usar para a produção de energia [14,16,22,23].

Apesar de os resultados não demonstrarem di-ferença significativa, a faixa de melhora do grupo se aproximou muito da faixa de melhora esperada para indivíduos já bem condicionados (1,34%).

Cabe destacar que três indivíduos apresenta-ram marcante decréscimo de suas capacidades ae-róbias (-2, 22, 4,49 e 6,46 ml/kg/min) o que, por motivos individuais (individualidade biológica e/ou lesões na pré-temporada e/ou especificidade da posição) podem ter mascarado a melhora no VO2Máx.

Essa afirmação parece ser especialmente interveniente na análise dos resultados, pois ao retirarmos os escores dos três indivíduos que tiveram uma redução acentuada no treinamen-to, observamos outro fenômeno em relação ao treinamento pré-temporada e melhora do con-dicionamento físico.

Mas ao retirarmos os resultados para os indivíduos que tiveram marcante redução do

Tabela III - Valores da porcentagem de gordura antes e após a pré-temporada. Antes Após Melhora %

Média 10,6 9,5 -7,3D.P. 3,8 2,9 14,7p < 0,05

Quadro 1 - Variáveis descritivas com resultado final: VO2Máx Inicial, VO

2Máx Final.

Jogadores REF VO2Máx VO2Máx Inicial VO2Máx Final A 65,0/68,2 56,30 56,00B 65,0/68,2 50,50 54,90C 65,0/68,2 50,50 54,80D 65,0/68,2 54,70 56,60E 65,0/68,2 55,50 55,20F 65,0/68,2 49,60 48,50G 65,0/68,2 55,50 55,80H 65,0/68,2 53,40 58,70I 65,0/68,2 50,20 51,20J 65,0/68,2 52,60 49,20L 65,0/68,2 51,20 48,90

21Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

condicionamento, achamos uma ótima e signi-ficativa melhora, se levarmos em conta que os indivíduos já eram bem treinados, que foi da ordem de 2,56% (1,91 ml/kg/min, p = 0,03), o que, segundo Powers & Howey é uma melhora esperada para essa classe de indivíduos (bem treinados) [9,10,16,22].

Outro fato que suporta a ideia de que o treinamento teria sido eficaz, mas mascarado ao se analisar todo o grupo para a qualidade física VO2Máx, incluindo os três indivíduos já mencionados, está na alteração da porcentagem de gordura corporal entre o início e fim da pré--temporada.

As informações sobre a densidade corporal podem ser convertidas em porcentagens de gordura corporal, que podem ser utilizadas no julgamento sobre a condição física de um indivíduo. Vários autores recomendam uma faixa entre 10 e 15%. Evidências epidemioló-gicas sugerem uma associação inversa entre a atividade física e o peso corporal, com a gordura corporal estando, muitas das vezes e como é o caso em atletas, como conteúdo de massa a ser mantido-reduzido [8,13-15].

Para o percentual de gordura, tal qual para o VO2Máx, temos uma adaptação mais rápida nos indivíduos destreinados e com índices iniciais bem desfavoráveis, em relação a indivíduos previamente treinados e com baixos conteú-dos de gordura corporal. Apesar de se ter uma resposta mais intensa no primeiro grupo de indivíduos, sua redução irá ocorrer em ambos os grupos, evidentemente com magnitude também diferente. Logo, a redução da gordura corporal pode ser utilizada para se observar o impacto de determinado treinamento físico em um grupo de indivíduos, especialmente quando a ingesta energética se mantém constante durante o período de treinamento [14,15].

De fato, percebemos que todos os atletas já apresentavam uma porcentagem de gordura bai-xa no início da pré-temporada (10,6 ± 3,62%), mesmo assim, no relativo curto período de treinamento da pré-temporada, observa-se um positivo e significativo impacto do treinamento sobre a massa corporal total, com redução de 1,1% na porcentagem de gordura (de 10,6 ±

3,62% no início, para 9,5 ± 2,81% no final da pré-temporada, p = 0,04). Se observarmos mais especificamente a melhora, vamos encontrar ín-dices ainda mais interessantes, se compararmos a porcentagem de melhora total da gordura, não em relação à massa corporal total, mas sim tendo como referência o próprio conteúdo de gordura (adotando a porcentagem de gordura inicial como sendo 100% de gordura que o indivíduo apresenta na pré-temporada), obser-vamos uma redução de 7,3%.

Os programas de treinamento planejados para o período de pré-temporada são desenvol-vidos com o intuito maior de provocar positivas adaptações sobre vários componentes que estão relacionados com o condicionamento físico, melhorando-os e aperfeiçoando o rendimento desportivo de atletas e equipes. Dentro deste parâmetro, apresentam-se vários objetivos espe-cíficos, dentre eles temos o aumento do VO2Máx e a redução do conteúdo de gordura corporal, temas abordados neste trabalho [12,24,25].

É importante para a análise do rendimento do grupo ter em mente que dentro de um grupo temos uma variedade de expressões biológicas, que irão responder de forma tão diferenciada quanto possível ao mesmo programa de trei-namento, a este fenômeno damos o nome de individualidade biológica [16,22,24,26].

No presente estudo observa-se como a interferência biológica pode causar alterações significativas no resultado de um grupo e que a não discriminação pormenorizada dos escores individuais podem levar a conclusões impre-cisas. O que se observa aqui, quando levado em conta todo o grupo, foi uma metodologia de trabalho que surtiu efeito em melhorar o VO2Máx do grupo, mas que foi capaz de reduzir a porcentagem de gordura total dos indivíduos. No entanto, ao se excluir possíveis exceções de individualidade biológica (3 em 11), obser-vamos que o treinamento foi adequado para adaptar a qualidade física em questão (VO2Máx).

Conclusão

Os resultados demonstraram que o progra-

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 222

ma de treinamento físico proposto para a pré--temporada da equipe de futebol profissional Estácio de Sá não surtiu efeito em melhorar o VO2Máx do grupo como um todo, mas foi eficaz em alterar a composição corporal, reduzindo a gordura corporal de todo o grupo e mais, se guardada as particularidades biológicas de três dos 11 indivíduos avaliados, também observare-mos que o treinamento surtiu o efeito esperado sobre o VO2Máx, aumentando a capacidade ae-róbia da maior parte dos indivíduos da equipe.

Isso quer dizer que ao se analisar e pres-crever atividades de condicionamento para atletas deve-se ter o devido cuidado de avaliar continuamente a adaptação de cada indiví-duo do grupo, para que o planejamento seja readequado para aqueles indivíduos que não responderem de forma efetiva ao treinamento.

Outros estudos devem ser feitos, nos quais a utilização de um maior número amostral, bem como o emprego de uma variada metodologia de treinamento em diferentes períodos da temporada, associados a diferentes avaliações se fazem necessários, para a observação de como diferentes metodologias de treinamento podem interagir com diferentes indivíduos em diferen-tes fases do planejamento anual de treinamento.

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R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

F I S I O L O G I ADO E X E R C Í C I OÓrgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

B r a z i l i a n J o u r n a l o f E x e r c i s e P h y s i o l o g y

RELATO DE CASO

Monitoramento das alterações posturais por região corporal ocorridas em jovens atletas de alto rendimento no período de três anos

de treinamentoMonitoring of postural alterations per body region found in

high-performance young athletes over three years of training

Josenei Braga dos Santos*, Evelise de Toledo**, Maurício Dubard***, Luiz Fernando Silva***, Messias dos Santos****, Pedro Ferreira Reis*****, Antônio Renato Pereira Moro******, Antônio Carlos Gomes*******

*Coordenador da Rede de Estudo da Postura Humana (REPH), **Especialista em Medicina do Esporte e Atividade Física (ES), ***Treinador Nível I da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), ****Treinador Nível II da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Instituto de Ensino Superior – IESFI – FEFFI, ******Coordenador do Laboratório de Biomecânica – BIOMEC/UFSC, *******Superintendente de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt)

ResumoO objetivo deste estudo de caso foi monitorar

as alterações posturais por região corporal de jovens atletas nas modalidades de atletismo e voleibol durante um período de três anos. Participaram da amostra 14 jovens atletas (7 sexo feminino e 7 masculino) com idade média de 16,4 (± 1,3) anos que treinavam cinco vezes/semana 4 horas/dia. Para a avaliação postural, utilizou-se o protocolo preconizado pela Portland State University (PSU), cujo índice de correção postural (ICP) normal para jovens é de ≥ 75% e para análise das imagens adotou-se procedimentos da biofotogra-metria. Com relação à análise estatística utilizou-se o programa SPSS versão 19.0 sendo os valores percen-tuais expressos em forma de média e desvio padrão. Para análise inferencial utilizou-se teste de Friedman entre os escores de avaliação postural e para escores entre anos, par a par e gênero utilizou-se o teste de

Wilcoxon sendo adotado nível de significância p < 0,05. Os resultados mostraram que na postura houve uma variação percentual significativa entre gênero e ano pelo ICP: a) feminino 2011 (90,9% ± 2,1), 2012 (85,0% ± 3,8) e 2013 (83,6% ± 2,4); e b) masculino 2011 (88,2% ± 5,9), 2012 (85,1% ± 2,1) e 2013 (79,4% ± 4,3). Quanto à região corporal, o abdômen/quadril, em ambos os sexos, obteve (93,0% ± 5,1) e em 2013 os membros inferiores, somente no masculino, apresentaram-se abaixo da normalidade (74,3% ± 7,9). No que se referiu às alterações posturais, (100,0% ± 0,0) indicou hiperextensão em ambos os sexos e (95,2% ± 8,3) no feminino e (100,0% ± 0,0) no masculino, identificou-se escoliose torácica direita. Pode-se con-cluir que monitorar a postura de jovens atletas a longo prazo é uma excelente estratégia diagnóstica.Palavras-chave: postura, adolescentes, esporte.

Recebido em 28 de março de 2017; aceito em 4 de abril de 2017. Endereço para correspondência: Josenei Braga dos Santos, Rua Nelson Carline, 148, Jardim Primavera, 12916-083 Bragança Paulista SP, E-mail: [email protected]

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Introdução

À medida que os jovens atletas evoluem na sua carreira esportiva, o volume e a intensidade dos treinamentos aumentam o que faz com que estes estejam sujeitos a diversas alterações posturais durante sua prática.

Após certo período de treinamento em uma modalidade esportiva, a comissão técnica men-ciona que algumas alterações posturais sempre podem ocorrer e serem instaladas, devido à quantidade de gestos motores treinados repetida-mente de forma unilateral, o que contribui para o aumento do desequilíbrio muscular e articular, auxiliando nas modificações do alinhamento postural dificultando sua correção.

De acordo Fronza e Teixeira [1], Bastos et al. [2] e Santos et al. [3] se aplicarmos avaliações diagnósticas constantes e realizarmos exercícios compensatórios, ao longo da prática esportiva, poderemos minimizar determinadas alterações posturais.

De acordo com Bastos et al. [2], Pastre et al. [4] e Neto Júnior et al. [5], a efetividade na realização de diagnósticos precoces e adoção de medidas profiláticas para cuidar da integridade física e mental do atleta contribuem para melhora do desempenho esportivo, qualidade dos gestos

motores e auxilia na prevenção de problemas mus-culoesqueléticos. Entretanto, para estes autores, ainda são escassos os estudos que focam neste contexto no Brasil, ou seja, que identificam as alterações posturais, seguindo uma padronização nos registros de informações de forma sistemati-zada para possibilitar uma discussão aprofundada e criar possibilidades de comparação com outras pesquisas.

Segundo Veiga, Daher, Morais [6] e Signoreti e Parolina [7], qualquer alteração postural causa retração e desorganização das cadeias musculares e vice-versa, gerando alteração no desalinhamen-to articular, porque o treinamento desportivo baseia-se na repetição constante de determinados movimentos, que podem levar a diminuição da força muscular, flexibilidade, equilíbrio e coorde-nação motora, o que possibilita o surgimento de alterações posturais.

Neste sentido, a avaliação postural é con-siderada como uma estratégia de mensuração para registro e controle e se faz necessária ser realizada de forma periódica e detalhada, durante a periodização estruturada pela comissão técnica buscando minimizar problemas musculoesque-léticos futuros. De acordo com Bastos et al. [2], ela contribui na investigação de padrões posturais nos diferentes esportes, sobretudo na adolescên-

AbstractThis case study aimed to monitor postural altera-

tions per body region found in young track and field athletes and volleyball players over a three-year pe-riod. Fourteen young athletes (7 female and 7 male), with a mean age of 16.4 (± 1.3) years participated in this study. They trained four hours a day five days a week. The Portland State University (PSU) protocol for postural assessment was used, which establishes a normal posture correction index (PCI) of ≥ 75% for young people. The study images were analyzed through biophotogrammetry. Statistical analysis was performed with the SPSS software version 19.0 and the percent-ages were expressed as media and standard deviation. For the inferential statistical analysis, the Friedman test was performed on the scores of the posture as-sessments and the Wilcoxon test, with a significance level of p < 0.05, compared the scores pair by pair and

between different ages and gender. Results regarding posture have showed that, based on the PCI, there has been a significant variation in terms of the percentages obtained between male and female athletes and the years: a) females 2011 (90,9% ± 2,1), 2012 (85,0% ± 3,8) and 2013 (83,6% ± 2,4); b) males 2011 (88,2% ± 5,9), 2012 (85,1% ± 2,1) and 2013 (79,4% ± 4,3). The percentage obtained for the abdominal region and hip for males and females was 93.0% ± 5. In 2013 only the lower limbs of males produced results considered below the normal ranges (74.3% ± 7.9). Results of postural alterations indicated hyperextension for both genders (100.0% ± 0.0) and right thoracic scoliosis for females (95.2% ± 8.3) and for males (100.0% ± 0.0). It can be concluded that long-term monitoring of posture of young athletes is an excellent diagnostic strategy.Key-words: posture, adolescents, sports.

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cia, bem como traçar o perfil e as características do aparelho locomotor. Na visão de Signoreti e Parolina [7], Kendal et al. [8], Magge [9], Vilas Boas e Rosa [10] ter boa postura e equilíbrio muscular leva a um bom alinhamento postural e se baseiam em um equilíbrio entre a força da gravidade, suporte corpóreo e a contração mus-cular, na qual o mínimo de estresse é causado nas articulações, porque quando ele deixa de existir em determinado segmento corporal, os outros segmentos, numa tentativa de ajustar-se, adotam uma posição incorreta sobrecarregando o sistema musculoesquelético.

Tomando-se como referência estes aponta-mentos, objetivou-se neste estudo de caso: a) mo-nitorar as alterações posturais por região corporal ocorridas em jovens atletas de alto rendimento no período de três anos de treinamento e b) verificar quais as alterações mais acometidas.

Material e métodos

Tipo de pesquisa

Esta pesquisa caracteriza-se como sendo uma pesquisa descritiva, do tipo estudo de caso, na qual o pesquisador esforça-se por uma compreensão em profundidade de uma única situação ou fe-nômeno, sendo considerada de caráter descritivo exploratório conforme Thomas e Nelson [11].

AmostraPara coleta de dados, utilizou-se uma amos-

tra constituída de 14 jovens atletas (7 sexo feminino e 7 masculino) com idade média de 16,4 (± 1,3) anos nas modalidades de atletismo e voleibol, que treinavam no estado de São Pau-lo, cinco vezes por semana, em dois períodos, com carga horária de 4 horas/dia, preparação física (treinamento resistido e funcionais), parte técnica e eram filiados a suas respectivas federações no estado.

Toda pesquisa foi desenvolvida durante um período de três anos (2011-2013), sendo as avaliações sempre realizadas a cada ano na fase pré-competitiva (mês de maio).

Critério de inclusão e exclusão

Como critério de inclusão adotou-se ser atleta da equipe por um período mínimo de seis meses e estar participando dos treinamentos durante os três anos de estudo. Já como critério de exclusão adotou-se não ter nenhuma indicação médica de problemas de saúde, musculoesqueléticos (lesões, entorses, contraturas e cirurgias recentes) ou sem treinar durante o período das coletas.

Procedimentos de coleta de dados

Para aquisição das informações referentes aos atletas, aplicou-se um questionário estruturado com perguntas abertas desenvolvido em uma planilha eletrônica do Programa Microsoft Office Excel 2010, com informações referentes ao gênero, idade (em anos completos), local de nascimento, diagnóstico médico para saber se estes atletas possuíam ou já tinham sido diagnosticados com algum problema de saúde (ex: cirurgia, entorses, dores musculares, etc.), anos de estudo (AE), anos de prática na modalidade (APM), melhor resul-tado em competições, massa corporal e estatura.

No que se referiu à vestimenta utilizada para avaliação, as do gênero feminino estavam trajando bermuda de cotton e top e os do gênero masculino shorts esportivo. Com relação aos que tinham cabelos compridos, solicitou-se que fossem presos no momento da avaliação, para facilitar a observação postural, mais especificamente na região do pescoço.

Método PSU

Como instrumento de avaliação, adotou-se o método proposto pela Portland State University (PSU) [12,13], conforme descrito por Santos et al. [14], que é um instrumento que usa os sentidos visuais (observação), dentro de uma perspectiva subjetiva.

Seu principal objetivo é detectar as simetrias e assimetrias e os possíveis desvios e/ou altera-ções posturais entre os segmentos corporais e regiões, em duas posições (posterior e lateral), o que permite ao avaliador quantificar o Índice de Correção Postural (ICP) do avaliado em valores

27Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

percentuais (%), obtido por meio de equações matemáticas estipuladas pelo escore diagnóstico. Para obtenção do ICP total e por regiões, este mé-todo adota como critério de avaliação três escalas: a) 5 – sem desvio; b) 3 – ligeiro desvio lateral; e c) 1 – acentuado desvio lateral.

No que se refere à classificação da postura corporal, este método utiliza como critério de boa postura valor ≥ 75% para adolescentes.

Aquisição e análise das imagens

No que se referiu à aquisição das imagens, utilizou-se uma câmera fotográfica digital Sony Cyber-Shot Sony 8.1 Mega pixels e um tripé FT – 361A, que foi posicionada a 3 metros de distância do avaliado (atleta) e a uma altura de 1,07 metros do chão.

Já com relação à análise das imagens, utiliza-ram-se recursos de computação gráfica do software Corel Draw6® (2014), que é um software de edição de imagens, assim como adotou-se a biofotogra-metria (bios – vida; fotogrametria – aplicação métrica a imagens fotográficas), que é um recurso que remete à aplicação métrica em fotogramas de registro de movimentos corporais, permitindo detectar simetrias, assimetrias e os desvios e/ou alterações posturais entre os segmentos corporais, assegurando acurácia, confiabilidade e reproduti-bilidade [15,16].

Consentimento da pesquisa

Com relação ao consentimento da pesquisa, os atletas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), mostrando que estavam cientes da pesquisa, assim como os res-ponsáveis pela comissão técnica também, pelo fato dos atletas serem menores de idade. Todo procedimento tomou como base a resolução es-pecífica do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (Resolução 196/96) [17].

Análise estatística

Todos os dados da pesquisa foram analisados com o uso do pacote estatístico SPSS, versão 19.0 (IBM Company, EUA) [18], na qual se adotou a

estatística descritiva e os valores foram expressos em forma de médias e desvios padrão (dp).

Previamente à análise inferencial, os escores de avaliação postural foram testados quanto ao pressuposto de normalidade dos resíduos (por visualização dos histogramas), que não foi con-sistentemente atendido. Sendo assim, realizou--se o teste de Friedman. Ao se observar valor estatisticamente significativo, compararam-se os escores entre os anos, par a par, por meio do teste de Wilcoxon. As análises foram realizadas para a amostra estratificada por gênero. O nível de significância adotado foi de 5%.

Resultados

Na Tabela I apresentam-se os valores obtidos (média e desvio padrão), referentes ao perfil físico dos jovens atletas separados por gênero e ano de monitoramento.

Na Tabela II, comparam-se os valores per-centuais por região e o ICP dos jovens atletas por gênero e ano durante o período de monito-ramento.

Na Tabela III, apresentam-se as alterações posturais mais acometidas, por gênero e ano.

Discussão

Após um período de treinamento e compe-tições, espera-se que alterações posturais possam surgir nos jovens atletas devido ao aumento da carga de treinamento que foram aplicados, bem como das mudanças maturacionais que ocorrem nesta fase. Como pode ser observado na Tabela II, constatou-se que ocorrem diversas variações na postura dos atletas de forma significativas, em ambos os gêneros e anos de monitoramento, identificados pelo ICP, onde a RAQ obteve maior valor e a RMI menor.

Na RAQ, esta classificação está associada aos diversos tipos de exercícios de fortalecimento de core, que são aplicados constantemente na preparação física e nos movimentos cíclicos e acíclicos coordenados entre membros superiores e inferiores, o que desenvolve muita força muscular

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 228

Tabela I - Perfil físico dos jovens atletas por ano de monitoramento.

PerfilFeminino (n = 7) Masculino (n = 7)

2011 2012 2013 2011 2012 2013(dp) (dp) (dp) (dp) (dp) (dp)

Idade 16,6 (1,1) 17,4 (1,0) 18,4 (1,0) 16,3 (1,6) 17,6 (1,4) 18,4 (1,4)APM 5,1 (3,0) 6,1 (3,0) 7,1 (3,0) 2,4 (1,9) 3,4 (1,9) 4,4 (1,9)MC (kg) 64,6 (6,7) 64,3 (6,8) 64,0 (5,5) 74,5 (16,2) 76,6 (16,3) 77,1 (13,9)Estatura (m) 1,74 (0,08) 1,75 (0,08) 1,75 (0,08) 1,78 (0,08) 1,81 (0,07) 1,81 (0,08)

APM – Anos de Pratica na Modalidade; MC – Massa Corporal.

Tabela II - Percentual (%) das regiões corporais e ICP dos jovens atletas por gênero e ano. Regiões corpo-

rais

Feminino (n = 7) Masculino (n = 7)2011 2012 2013 2011 2012 2013(dp) (dp) (dp) p (dp) (dp) (dp) p

RCP 87,4 (9,1) 81,7 (3,9) 79,4 (6,3) 0,1286,3 (10,0)

a87,4 (4,3)a 78,3 (6,0)b 0,04

RCDL 98,1 (5,0)a 87,6 (6,0)b 92,4 (7,1)a,b 0,02 92,4 (10,5) 86,7 (0,0) 81,0 (7,1) 0,09RAQ* 98,1 (5,0)a 94,3 (10,5)a 86,7 (7,7)b 0,009 90,5 (6,5) 98,1 (5,0) 90,5 (10,1) 0,19RMI** 84,3 (5,3) 77,1 (9,5) 75,7 (5,3) 0,07 81,4 (17,7) 75,7 (7,9) 74,3 (7,9) 0,83ICP 90,9 (2,1)a 85,0 (3,8)b 83,6 (2,4)b 0,006 88,2 (5,9)a 85,1 (2,1)a 79,4 (4,3)b 0,003

Nota: Médias com letras diferentes são estatisticamente diferentes entre si (p<0,05; teste de Wilcoxon par a par)

RCP – Região da Cabeça e do Pescoço; RCDL – Região da Coluna Dorsal e Lombar; RAQ – Região do Abdômen e Qua-

dril; RMI – Região dos Membros Inferiores; ICP – Índice de Correção Postural; *Maior valor; Menor valor **.

Tabela III - Percentual (%) de alterações posturais por gênero e ano.

Alterações posturais

Feminino (n = 7) Masculino (n = 7)2011 2012 2013 2011 2012 2013n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

PP 6 (85,7) 7 (100,0) 7 (100,0) 5 (71,4) 5 (71,4) 7 (100,0)ETD 7 (100,0) 6 (85,7) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0)ETE** 0 (0,0) 0 (00,0) 0(00,0) 0 (00,0) 0 (00,0) 0 (00,0)Hipercif 4 (57,1) 6 (85,7) 5 (71,4) 5 (71,4) 6 (85,7) 6 (85,7)Hiperlor 4 (57,1) 3 (42,9) 3 (42,9) 4 (57,1) 4 (57,1) 4 (57,1)Hiperext* 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0)

PP – Protusão de Pescoço; ETD – Escoliose Torácica Direita; ETE – Escoliose Torácica Esquerda; Hipercif – Hipercifose;

Hiperlor – Hiperlordose; Hiperext - Hiperextensão; * Maior Frequência; ** Menor Frequência.

nesta região e contribui para a manutenção da boa postura. Para Domingues-Filho [19], esta região é responsável por boa parte dos movimentos, estabilidade e manutenção da postura por meio da coluna vertebral no ser humano, porque o conjunto dos músculos abdominais, glúteos, isquiotibiais, flexores do quadril e extensores, trazem inúmeros benefícios para a saúde de seu praticante, principalmente para o equilíbrio pos-tural e rendimento esportivo.

Já na RMI apresenta-se como a de menor valor em todos os anos, em ambos os gêneros, porém no masculino, notou-se que, no terceiro ano, esta região ficou abaixo dos padrões de normalidade, podendo ser considerada como uma situação crítica e que merece observação clínica.

Quanto às alterações, diversos fatores podem estar interligados. No atletismo, os locais de treino e competições serem distintos, calendário de com-petições, quantidades de movimentos, situação

29Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

de amortecimento na execução de movimentos, paradas bruscas, altos impactos em aceleração, repetidas vezes, curvas da pista e uma força maior da perna dominante. Santos et al. [3], quando avaliaram jovens atletas de atletismo, também identificaram as mesmas classificações para a RMI. Já Bastos et al. [2], em seu estudo com jovens atletas de atletismo em diversas provas, acharam resultados contrários, mostrando que esta região estava dentro dos padrões de normalidade.

Com relação ao voleibol podem ser explici-tados: os locais de treino e competições serem distintos, calendários de competição e a quan-tidade de saltos verticais parados e em desloca-mento. Nesta modalidade, o principal fator é o salto vertical que exige uma grande demanda da capacidade de geração de força e trabalho da mus-culatura envolvida, principalmente do músculo do quadríceps, o que pode causar desequilíbrios entre os músculos extensores e flexores, levando à sobrecarga das estruturas musculotendíneas da articulação do joelho [20].

Desta forma, percebe-se que ambas às moda-lidades contribuem para o aumento de entorses, luxações, contraturas e lesões, como qualquer outro esporte de pista, campo ou quadra, crian-do execuções de movimentos que tracionam bruscamente estas regiões anterior e posterior em inúmeras situações.

Macnicol [21] aponta que estas alterações são decorrentes da realização de movimentos rápidos e complexos ao mesmo tempo e, geralmente, tem suas tarefas dificultadas pela massa corporal devido à necessidade de velocidade e força, o que faz com que o atleta aplique tensões na articulação e oca-sione diversas repetições, tensões e/ou até mesmo cargas consideráveis, o que pode levar ao estado de fadiga, não apenas dos tecidos moles, mas também das estruturas ósseas do fêmur, da tíbia e da patela.

Daneshmandi et al. [22] salientam que estudar o alinhamento dos membros inferiores é de suma importância tanto para o esporte como para a saúde, pois diversas pesquisas tem mostrado que ele pode ser considerado como um fator de risco para prevenção lesões agudas e crônicas.

Outra informação importante encontrada nesta Tabela II foi que os valores percentuais por região foram diminuindo com o passar dos anos,

em ambos os gêneros e as alterações ficando mais evidentes, ou seja, em média -9,0% entre elas, de-monstrando que devido ao aumento do volume, da intensidade e dos gestos motores unilaterais nos treinamentos e competições, desequilíbrios musculares, articulares e alterações posturais, foram surgindo o que aponta a necessidade de uma reprogramação da periodização anual, onde se deva buscar enfatizar um trabalho com exer-cícios compensatórios durante os períodos de treinamentos e após competições.

Estes achados nos mostram o quanto a ava-liação postural é importante e que deve constar no planejamento da periodização anual de trei-namentos, porque com ela se consegue monitorar quais regiões corporais estão comprometidas e, principalmente, os tipos de alterações posturais mais comuns, conseguindo-se, assim, definir qual a intervenção de compensação mais apropriada para a prevenção destas situações.

Verderi [23] quando fala deste assunto orienta exercícios de alongamento e fortalecimento das cadeias musculares, por meio de exercícios iso-métricos e isotônicos (concêntrico e excêntrico).

Mattos [24] aponta a musculação terapêutica como sendo uma estratégia de intervenção a ser utilizada, devendo ser direcionada para ações musculares dinâmicas, com exercícios isométricos para músculos posturais.

Kendall et al. [8] mostram que os exercícios terapêuticos que visam fortalecer músculos fracos e alongar músculos contraídos são os principais meios para que o equilíbrio muscular seja res-taurado.

Mendonça [25] foca numa intervenção volta-da para exercícios de alongamento e flexibilidade que visem explorar os limites corporais, utilizando os mecanismos proprioceptivos para melhora da consciência corporal.

Souchard [26] salienta para a importância das auto-posturas baseadas nos exercícios de flexibili-dade focando na melhora das cadeias musculares.

Já Kolyniak, Cavalcanti e Aoki [27], quando falam do método Pilates, explicam que ele inclui um programa básico de exercícios que fortalecem a musculatura abdominal e paravertebral, bem como exercícios de flexibilidade da coluna e para o corpo todo.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 230

Com relação à variação dos valores percentuais das regiões corporais, de gênero para gênero e ano para ano, quando comparadas entre si, nota-se que no feminino a região de maior valor inicia--se da RAQ para a RMI e no masculino inicia-se da RCDL para a RMI. No feminino um detalhe importante a ser considerado é que seis atletas eram do voleibol, já no masculino quatro eram lançadores, o que mostra uma relação do esporte praticado com as alterações posturais.

Estes achados podem ser explicados pelo fato destes jovens atletas estarem em fase de maturação biológica final que, segundo Lemos, Santos e Gaya [28], Fisberg et al. [29], Guedes e Guedes [30], Weineck [31] e Galahue e Ozmun [32] é muito comum, pois é nesta fase que se inicia o estágio de desenvolvimento do treinamento especializa-do e ocorre à aceleração do crescimento. Isso faz com que a postura sofra variações e predisponha ao aparecimento de alterações posturais, assim como ocorrem os períodos críticos, extremamen-te importantes, não sendo apenas um período de rápidas alterações fisiológicas, mas também uma fase crítica de transição social e psicológica. Mudanças estas observadas e identificadas em conversas informais nos treinos, competições e convívio social com a comissão técnica e com os jovens atletas.

Na PP e hipercifose elas estão relacionadas com a fase final da adolescência devido à fase de estado maturacional, fatores emocionais (intros-pecção, vergonha, etc.), assim como associada à postura sentada por longas horas na utilização de equipamentos eletrônicos (celulares, horas na frente da televisão, computador, jogos, etc.) em média três horas por dia (navegação na internet, e-mails, msn, twitter, facebook, etc.). Informa-ções estas obtidas pela comissão técnica e pelos próprios jovens atletas. De acordo com Marques, Hallal e Gonçalves [33], a manutenção prolonga-da na posição sentada ocasiona o desenvolvimento de posturas inadequadas e sobrecarrega as estru-turas do sistema musculoesquelético.

No genu recurvatum observa-se que existe um desequilíbrio muscular, ou seja, fortalecimento com encurtamento da musculatura posterior e fraqueza da musculatura anterior, que em nossa opinião, podem comprometer a articulação do jo-

elho com o passar do tempo. Conforme Peterson e Renström [34], Weber e Ware [35] a articulação do joelho é a que mais sofre lesão constantemente em indivíduos que praticam esportes. Bertolini et al. [36] explicam que ela tem pouca estabilidade devido a incongruência condilar e recebe muita sobrecarga, sendo necessário criar uma estabili-zação adicional para manter a integridade desta articulação, e Schulz [37] afirma que ela depende de um equilíbrio excelente entre estabilizadores dinâmicos e estáticos, dos tecidos moles e os componentes ósseos e cartilagionosos.

No caso da escoliose (D) o principal fator é a dominância devido à maioria dos gestos motores serem treinados unilateralmente e utilizados em competição repetidas vezes neste mesmo lado. De acordo com Matos [24] e Verderi [23] esta alteração ocorre por haver uma inclinação lateral da coluna com um componente rotacional de vértebras que é causada pela contratura dos mús-culos profundos do tronco. Outra característica desta alteração é que ela surge na maioria das vezes, durante a fase de aceleração do crescimento vertebral, o que torna crianças e adolescentes mais susceptíveis a desenvolvê-las [38].

Já no caso da hiperlordose observa-se uma curvatura na região lombar que está associada a uma anteversão da pelve, que possivelmente, foi oriunda da prática de exercícios de musculação com ênfase nos músculos paravertebrais tais como, arranque, arremesso, encaixe, puxada e pullover que sobrecarregam os eretores da coluna.

Um dos métodos utilizados no tratamento dessa alteração são as posturas estáticas de alon-gamento, baseadas no alongamento isotônico excêntrico [39].

Conclusão

Observou-se neste estudo de caso que os jovens atletas possuem uma boa postura em ambos os sexos, e a região corporal que obteve maior destaque foi a RAQ e que a de menor foi a RMI, sendo a hiperextensão a alteração postural mais prevalente e a escoliose torácica esquerda a menos prevalente durante todo este período de monitoramento.

31Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Constatou-se que houve variações significati-vas tanto na postura como nas alterações posturais entre os anos, percebendo que monitorar jovens atletas é uma excelente estratégia de avaliação diagnóstica (screening) no contexto esportivo, pois auxilia no processo de entendimento desta fase do desenvolvimento motor.

Recomenda-se a organização de uma metodo-logia de exercícios corretivos e preventivos, que possam minimizar as alterações posturais durante e, principalmente, nesta fase do desenvolvimento motor, promovendo qualidade de saúde para o jovem o atleta.

Agradecimentos

A comissão técnica das equipes e aos atletas pelo respeito, confiança e disponibilidade para realização deste trabalho durante este período de três anos.

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RELATO DE CASO

A influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e prevenção

de quedas de uma mulher pós-menopáusica com osteopenia

The influence of the vibration platform in improving balance and preventing falls in a postmenopausal

woman with osteopenia

Alexandre de Souza e Silva, D.Sc.*, Ferdinando Tadeu Gomes Moreira**, Anna Gabriela Silva Vilela Ribeiro**, Fábio Vieira Lacerda, M.Sc.*, Ronaldo Júlio Baganha, M.Sc.*, Luís Henrique Sales Oliveira, D.Sc.*

*Professor do Centro Universitário de Itajubá (FEPI), **Graduados em Educação Física Centro Universitário de Itajubá (FEPI)

ResumoOsteporose e osteopenia são doenças que reduzem

a densidade dos ossos, deixando-os mais propensos a fraturas. A aplicação de exercícios de equilíbrio estático pode melhorar a capacidade funcional e o equilíbrio em idosos. Além disso, os exercícios melhoram a qualidade de vida e previnem quedas. O objetivo deste estudo foi analisar a influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e na prevenção de quedas em uma mulher pós-menopáusica com osteopenia. Foi recrutada para a pesquisa uma mulher com 84 anos de

idade. Foram realizados testes de equilíbrio funcional através da Berg Balance Scale (BBS). O protocolo consistia em uma rotina de treino de 6 semanas, va-riando a intensidade de frequência na plataforma. O resultado observado foi a melhora de equilíbrio após a intervenção. Conclui-se que a plataforma vibratória pode colaborar na prevenção de quedas em mulheres pós-menopáusicas com osteopenia.Palavras-chave: educação física e treinamento, doenças ósseas metabólicas, equilíbrio postural.

Recebido em 26 de dezembro de 2015; aceito em 30 de dezembro de 2015.Endereço de correspondência: Alexandre de Souza e Silva, Av. Dr. Antônio Braga Filho, 687 Bairro Varginha 37501-002 Itajubá MG, E-mail: [email protected], [email protected]; Ferdinando Tadeu Gomes Moreira: [email protected]; Anna Gabriela Silva Vilela Ribeiro: [email protected]; Fábio Vieira Lacerda: [email protected]; Ronaldo Júlio Baganha: [email protected]; Luís Henrique Sales Oliveira: [email protected]

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 234

Introdução

A população idosa vem aumentando a cada ano. Esse fenômeno é comum em todo o mundo, inclusive no Brasil. Ao envelhecer, o indivíduo está exposto a quedas e, consequentemente, à perda da funcionalidade. Em função disso, é importante reduzir a perda da massa óssea, diminuindo, as-sim, os riscos inerentes à idade [1,2].

Osteoporose e osteopenia são diagnosticadas pela perda da massa óssea. São doenças crônicas que muitas vezes não possuem sintomas, que podem levar a fraturas, prejudicando o dia-a-dia do idoso [3]. As mulheres na pós-menopausa são acometidas com mais frequência [4-5], pois o sistema reprodutor feminino desempenha um papel importante na formação e reformulação do esqueleto [6]. Com a chegada da menopausa, a secreção principalmente do estrógeno diminui e, como consequência, temos uma rápida perda óssea em decorrência também da falta de vitamina D [7]. Porém, aspectos genéticos, intrínsecos e ambientais também influenciam no metabolismo ósseo, e um dos fatores não farmacológicos que mais contribuem para a manutenção e desenvol-vimento ósseo são os exercícios físicos [8].

A prática constante de exercício físico de força e/ou de equilíbrio traz benefícios efetivos para a qualidade de vida de mulheres pós-menopausa com osteoporose, podendo ser um meio para prevenção de quedas [9].

O exercício na plataforma oscilante e vibra-tória vem sendo utilizado para a prevenção de fraturas e osteoporose [10]. O programa de trei-namento, por meio das plataformas vibratórias

podem impedir o aparecimento de sarcopenia e osteoporose, podem estimular a produção dos hormônios anabólicos, que promovem o aumento da força e da massa muscular, além de melhorar a coordenação neuromuscular [11].

O efeito do exercício na plataforma vibratória pode estimular a formação óssea, pelo fato da mesma oferecer uma tensão mecânica ao indi-víduo que fica sobre a superfície oscilante, assim há evidências que esse método contribua para o aumento da densidade óssea, força muscular e o equilíbrio em idosos, e poderia ser uma alternativa para aqueles indivíduos que não apresentam con-dições físicas para suportar exercícios vigorosos e de resistência [12], sendo a plataforma vibratória menos exaustiva e estressante quando compara-mos com outros programas de treinamento [13].

O equilíbrio é um agravante ao risco de quedas em idosos, principalmente aqueles com osteoporose devido à regulação e a adaptação do centro de gravidade [14,15]. O ganho de massa muscular e o aumento da força reduz a perda óssea e contribuem para a diminuição dos índices de queda [16,17]. Evidências demonstram os efeitos dos programas de treinamento de força na melhora da capacidade funcional [5,18,19]. Um programa de treinamento com a plataforma vibratória pode melhorar a força e o equilíbrio, o que reduz os fatores de riscos, no entanto temos poucos estudos que analisam os efeitos da plata-forma vibratória no equilíbrio e na diminuição do risco de quedas. O objetivo do estudo foi analisar a influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e na prevenção de quedas em uma mulher pós-menopáusica com osteopenia.

AbstractOsteporose and osteopenia are diseases that reduce

the density of bones, making them more prone to fractures. The application of static balance exercises can improve functional capacity and balance in the elderly. In addition, exercise improves quality of life and prevents falls. The aim of this study was to analyze the influence of the vibration platform in improving balance and preventing falls in a postmenopausal woman with osteopenia. An 84-year old woman was

recruited to this research. Tests of functional balance using the Berg Balance Scale (BBS) were carried out. The protocol consisted of a 6-week training routine by varying degrees of frequency intensity in the platform. We observed improvement in balance after interven-tion. We concluded that the vibrating platform can help to prevent falls in post-menopausal women with osteopenia.Key-words: physical education and training, bone diseases, metabolic, postural balance.

35Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Material e métodos

Seleção da amostra

Foi recrutada para o estudo, uma pessoa do gênero feminino, pós-menopausa com osteopenia na coluna lombar e no fêmur direito. As carac-terísticas estão descritas na tabela I. Para iniciar o programa, o indivíduo não poderia apresentar trombose aguda, doenças sistêmicas, úlceras, prótese articular ou de membro inferior, fino ou parafuso, hérnia, discopatia ou espondilose grave, epilepsia, e neoplasia. Deveria estar sedentária no mínimo há 6 meses e apta a participar de um pro-grama de treinamento. O programa de 6 semanas foi realizado numa cidade do Sul de Minas Gerais. O indivíduo assinou o termo de consentimento que foi lido, esclarecendo todos os riscos e bene-fícios a que estaria exposto durante a pesquisa. O projeto nº151 foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário de Itajubá - FEPI e está de acordo com a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Instrumentos

Utilizou-se uma plataforma vibratória da marca Nova Plate® (Brasil), medindo 75 x 75 cm [20]. A massa corporal e a estatura foram medidas por uma balança e um estadiômetro da marca Filizola® (Brasil), modelo W 300 com classe de exatidão ΙΙΙ. O percentual de gordura corporal foi analisado por meio das dobras cutâneas, cole-tadas utilizando um compasso científico da marca Cescorf® (Brasil) com pressão constante de 10G/mm² e precisão de leitura de 0,1 mm [21,22]. Para avaliação antropométrica, foi utilizada uma fita

métrica metálica da marca Cescorf® (Brasil) [21].O teste de densitometria óssea foi realizado

na Clínica Sul Mineira Tomosul. O estudo den-sitométrico foi realizado em um densitômetro modelo Dexa-Lunar Expert® (USA). A tecnologia DEXA faz uma varredura do sítio em análise e registra, por meio de um sensor de estado sólido, a potência do feixe de raios-x com componentes de duas quilovoltagens, captando a radiação e trans-mitindo o valor digital para o computador. Um sistema algébrico linear soluciona as duas densida-des, tecidos moles e constituintes minerais ósseos e determina a área em cada ponto da matriz. A densitometria mineral óssea resulta da integração do constituinte mineral ósseo, seguida da divisão do valor integrado pela área total [23,24].

Procedimentos

A paciente selecionada para a pesquisa passou por uma avaliação de equilíbrio funcional no iní-cio e no término da pesquisa por um profissional de Educação Física. O método aplicado foi o Berg Balance Scale (BBS), usado para avaliar as habilidades de equilíbrio. Esse método consiste em realizar tarefas, posições e movimentos si-milares ao da vida cotidiana. Cada tarefa possui uma escala ordinal de cinco alternativas que variam entre 0 a 4 pontos e a pontuação máxima que pode ser alcançada é de 5 pontos. A escala é usada para analisar o progresso clínico e a eficácia da intervenção, sendo um teste de fácil e rápida aplicação [25].

A composição corporal foi avaliada pelo teste IMC [26], e para verificar a RCQ utilizou-se a circunferência da cintura, que foi medida colo-cando uma trena abaixo das últimas costelas e

Tabela I - Características gerais do indivíduo da pesquisa antes e após o programa de treinamento na plataforma vibratória

Variáveis Pré-teste Pós-teste Diferença %Idade (anos) 84 84 -Altura (cm) 150,0 150,0 -Massa (kg) 65,6 67,4 2,74%Índice Massa Corporal (IMC) 29,16 29,95 2,70%Relação Cintura Quadril (RCQ) 0,85 0,81 - 4,70%Pressão Arterial Sistólica (mmHg) 150 150 -Pressão Arterial Diastólica (mmHg) 90 90 -

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 236

acima da cicatriz umbilical. Para a medida do quadril, posicionou-se a trena na área de maior protuberância glútea e dividiu-se a circunferência da cintura pela circunferência do quadril [27].

Foi realizada uma avaliação antropométrica e o protocolo utilizado para verificar o percentual de gordura foi o de Pollock e Jackson, com três dobras cutâneas (tricipital, supra-íliaca e coxa) [21,22,28].

O protocolo de treinamento consistiu em uma rotina de atividades na plataforma vibratória. Nas duas primeiras semanas, durante 5 minutos, a plataforma vibratória foi colocada na intensidade de frequência 10 Hz (medida em Hz, a taxa de repetição das oscilações). A partir do 5° min, aumentou-se a frequência para 20 Hz, até com-pletar 10 minutos. Da terceira até a quarta semana iniciou-se a atividade de plataforma vibratória na frequência de 15 Hz, por 5 minutos. A partir do 5° minuto, aumentou-se a frequência para 20 Hz até completar 10 minutos e depois mais 5 minutos na frequência 25 Hz. Da quinta até a sexta semana, iniciou-se a atividade de plataforma vibratória na frequência 20 Hz, por 5 minutos. A partir do 5° minuto, aumentou-se a frequência para 25 Hz até completar 10 minutos. Em seguida, ficou mais 5 minutos na frequência 30 Hz, conforme figura 1 [20].

Figura 1 - Descrição do protocolo de treinamento.

0

5

10

15

20

25

30

1ªe2ª semana 3ªe4ª Semana 5ªe6ª Semana

0á5 min

5á10 min

10á15 min

Análise dos dados

O delineamento da pesquisa pretende deter-minar a influência da plataforma vibratória na me-lhora do equilíbrio e na prevenção de quedas em uma mulher pós-menopáusica com osteopenia.

Os dados da pesquisa foram analisados quan-titativamente, e os resultados das características antropométricas da voluntária foram calculados com a massa corporal, altura, perimetria corpo-

ral, IMC, RCQ, idade e o teste de equilíbrio. As diferenças nos dados antropométricos e no risco de queda foram analisadas por percentual.

Resultados

Após o treinamento de 6 semanas na plata-forma vibratória, a paciente diminuiu o risco de quedas de 32% para 4%, conforme figura 2. Os valores identificados pela escala de equilíbrio de Berg e o percentual de diferença são apresentados na tabela II. O risco de queda apresentou uma melhora de 87,5%. A paciente aumentou a massa magra em 5,30% e diminuiu a gordura corporal em 4,60%. Os resultados das diferenças de per-centual das características antropométricas estão demonstrados na tabela III.

Figura 2 - Redução do risco de quedas após 6 semanas de programa de treinamento na plataforma vibratória.

Discussão

O estudo analisou a influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e na prevenção de quedas em uma mulher pós-menopáusica com osteopenia. Observou-se uma diminuição no risco de quedas após 6 semanas de treinamento. Os resultados são semelhantes ao estudo de Teixeira et al. [5], que apresentou, após 18 semanas de treina-mento com exercícios funcionais (propriocepção e equilíbrio) e fortalecimento do quadríceps, melhora do equilíbrio estático e dinâmico e ganho de força no músculo do quadríceps. Essa melhora contribuiu para diminuir o risco de quedas em mulheres com osteoporose pós-menopausa. O estudo de Madureira et al. [29] com 66 mulheres

37Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Tabela II - Diferença em percentual dos resultados antes e após programa de treinamento na plataforma vibratóriaVariável Pré-teste Pós-teste Diferença %

Risco de quedas 32% 4% - 87,5%Gordura % 34,99 % 33,38% - 4,60%Gordura (kg) 22,95 kg 22,49 kg - 2,00%Massa magra (kg) 42,64 kg 44,90 kg 5,30%

Tabela III - Características antropométricas antes e após programa de treinamento na plataforma vibratóriaVariável Pré-teste Pós-teste Diferença %

Tórax inspirado (cm) 90 89 -1,11%Cintura (cm) 89 86 -3,37%Abdômen (cm) 94 95,5 1,59%Quadril (cm) 104 105 0,96%

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito EsquerdoBraço contraído (cm) 31 31 31,5 31,5 1,61% 1,61%

Antebraço (cm) 24 24 25,5 25,5 6,25% 6,25%

Coxa medial (cm) 48 47 50,5 50,5 5,20% 7,44%

Perna (cm) 36,5 36 37,5 37 2,73% 2,77%

com osteoporose pós-menopausa submetidas a um treinamento de equilíbrio de 12 meses, uma vez por semana, apresentou efeitos que evidenciaram melhoras significativas no equilíbrio e mobilidade, levando a uma redução de quedas e melhorando a qualidade de vida. Os resultados demonstram os benefícios que os exercícios de equilíbrio e força proporcionam no risco de queda.

O estudo de Gusi, Raimundo e Leal [10] de-monstrou que o método de plataforma vibratória, que contemplou 3 sessões por semana durante 8 meses, com 6 séries de 1 minuto, com frequência de 12,6Hz e 3 cm de amplitude com 60° de flexão de joelho, com 1 minuto de intervalo foi mais efetivo para melhorar a densidade mineral óssea (DMO) do quadril e equilíbrio quando compa-rado com 55 minutos de caminhada e 5 minutos de alongamento pelo mesmo período de treina-mento. O estudo de Lai et al. [30] encontrou, em um período de 6 meses, realizando exercícios na plataforma vibratória, com alta frequência e magnitude, efeitos significativamente positivos para a densidade mineral óssea da coluna lombar em mulheres pós-menopausa.

No estudo de Bogaerts et al. [13], observou-se uma melhora não só da força muscular mas tam-bém da capacidade cardiorrespiratória em idosos que passaram por um período de um ano subme-

tidos ao treinamento pela plataforma vibratória.Weber-Rajek et al. [11], no seu estudo de

revisão da literatura sobre os efeitos dos exercí-cios na plataforma vibratória em indivíduos com osteoporose pós-menopausa, constataram que a maioria dos artigos selecionados para análise obti-veram resultados positivos quanto a esse método, no entanto, quando esse tipo de treinamento é comparado com algum tipo de exercício físico, a plataforma vibratória é contestada, já que não apresenta marcadores diferenciais de renovação óssea do que o encontrado em um exercício físico.

Porém sugere-se que treinamentos por esse meio seja encorajado, já que tem uma característi-ca não exaustiva e que não gera tanto estresse para o organismo em relação aos demais treinamentos de condição física tradicionais, mesmo com essa sugestão são necessários maiores esclarecimentos, para se comprovar que o ganho encontrado é suficiente para melhora constante da qualidade de vida [13].

Após o treinamento, a paciente também apresen-tou ganho de massa muscular e reduziu a gordura corporal, que alteraram as medidas antropométricas, aumentando a circunferência dos membros infe-riores e superiores. Batista et al. [20] analisaram os efeitos do treinamento com plataformas vibratórias e observaram a relação da diminuição da gordura

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 238

corporal, que se dá pelo gasto calórico gerado pelas contrações musculares involuntárias do treinamento com vibração, estimulando a musculatura, podendo aumentar a massa magra, mudando assim as carac-terísticas antropométricas.

Conclusão

Conclui-se que o treinamento na plataforma vibratória durante 6 semanas pode melhorar o equilíbrio e aumentar a força, o que leva à diminuição dos riscos de quedas em mulheres pós-menopáusicas. O programa pode diminuir a gordura corporal e aumentar a massa muscular. Sugerem-se estudos com uma amostra maior e um período de treinamento ampliado em relação ao estudo em questão.

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REVISÃO

Efeitos da suplementação de fosfato de sódio em ciclistas de elite

Effects of sodium phosphate supplement in elite of cyclists

Deise Jaqueline Alves Faleiro*, Rodrigo Rodrigues, M.Sc.**

*Nutricionista Esportiva, **Educador Físico

Resumo Introdução: O uso de recursos ergogênicos tem

sido utilizado na melhoria do desempenho em várias modalidades, em especial atletas de endurance. Várias pesquisas têm sido realizadas com o intuito de inves-tigar a eficácia da suplementação de fosfato de sódio. O fosfato de sódio é conhecido por seu importante papel no tamponamento do ácido láctico produzido em exercícios de endurance, com potencial na melhora da fadiga, com consequente melhora do desempenho. Objetivo: Verificar o efeito da suplementação de fosfato de sódio sobre o desempenho em atletas de ciclismo por meio de uma revisão de literatura. Métodos: Fo-ram incluídos ensaios clínicos randomizados ou não, avaliando os efeitos da suplementação de fosfato de sódio como recurso ergogênico sobre o desempenho de ciclistas treinados. A busca foi realizada utilizando as bases de dados Pubmed, Lilacs, Capes e Scielo. Os artigos foram identificados entre os meses de janeiro e agosto de 2015 e utilizaram-se os seguintes termos: fosfato, fosfato de sódio, suplementação de fosfato de sódio, em suas versões em português e inglês. O

desempenho dos ciclistas foi medido por amostras sanguíneas de fosfato sérico, lactato e 2,3-DPG (antes e depois das provas) e teste progressivo de tempo de prova (até exaustão voluntária), com medição do VO2 máximo (através do ergoespirômetro), frequência car-díaca e índice de esforço percebido (escala de Borg). Resultados: Foram identificados 1379 estudos nas bases de dados utilizadas. Após filtragem por título e resumo restaram 37 estudos. Destes, 31 foram excluídos por não apresentarem os critérios de elegibilidade adota-dos, restando 6 estudos incluídos nesta revisão. Dois estudos não observaram benefícios da suplementação ao passo que quatro observaram melhora significativa em consumo de oxigênio, aumento do 2,3-DPG e desempenho. Conclusão: Observamos que os resultados encontrados são divergentes devido às diferenças entre as provas avaliadas, estratégias de suplementação e tipo de população estudada.Palavras-chave: fosfato, ciclismo, suplementação, recursos ergogênicos.

Recebido em 20 de dezembro de 2015; aceito em 29 de dezembro de 2015. Endereço para correspondência: Deise Jaqueline Alves Faleiro, Rua Dr. Hillebrand, 1084, Rio dos Sinos, 93110-100 São Leopoldo RS, E-mail: [email protected], [email protected]

41Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Introdução

Atualmente a vida agitada, o excesso de treina-mentos e a falta de tempo para realizações das re-feições têm sido os principais motivos pelos quais atletas de alta performance buscam a utilização de recursos ergogênicos com intuito de melhorar seu desempenho, já que não conseguem ingerir uma alimentação adequada às suas necessidades diárias [1-3]. Segundo Bernstein et al. [2], recurso ergogênico pode ser considerado como qualquer forma de melhora/utilização da energia/desem-penho. O termo “ergogênico” deriva do grego “ergon” e “genes”, que significam “trabalho” e “produção/criação de”, respectivamente.

Dentre os recursos ergogênicos utilizados na melhora do desempenho, principalmente em atividades aeróbicas, estão os suplementos ali-mentares: cafeína, DMAA, carnitina, arginina, B-alanina, taurina, bicarbonato de sódio, citrato, lactato, cloreto de sódio, bem como a classe dos fosfatos (fosfato de sódio, fosfato de potássio e creatina fosfato) [1,3-7]. Atualmente, observa-mos que os atletas de endurance são uma classe que faz grande uso de suplementos nutricionais, utilizando-se ainda de técnicas para aumento de desempenho [1].

Dentre os tipos de suplementos nutricionais, a suplementação de fosfato tem sido bastante

discutida no que se refere ao aumento do desem-penho por atletas de endurance [8]. O fosfato é um micronutriente essencial, com aproximada-mente 11-14g de fósforo por kg de massa livre de gordura, armazenada no corpo humano, 85% localiza-se no sistema esquelético, 14% nos compostos orgânicos do tecido e 1% no sangue e fluídos corporais [9]. A recomendação diária mínima de fosfato em adultos é de 700 mg/dia, porém o consumo mundial de fósforo está em torno de 1.000 mg/dia. Encontramos fosfato em carnes vermelhas, aves, peixe, ovos e lácteos (apresentam uma melhor absorção), bem como em cereais, grãos, nozes, legumes [10]. Em torno de 60-70% do fosfato ingerido é absorvido no intestino delgado [9].

A suplementação de fosfato, principalmente o de sódio, tem sido bastante discutida no sentido de potencializar o desempenho em atletas de provas de longa duração por ser uma substância tampão do ácido láctico, produzido durante o esforço físico, promovendo maior capacidade de resistência à fadiga, bem como gerando alterações do metabolismo energético ou das respostas do sistema nervoso central [8], melhorando assim a capacidade aeróbica tendo em vista o aumento causado na captação de oxigênio [3,11-13], ge-rando benefícios em provas de caráter aeróbio [4]. Nesta perspectiva, pelo fato de ciclistas de longa

AbstractThe use of ergogenic resources have been used to

improve performance in various ways, especially endu-rance athletes. Several studies have been conducted in order to investigate the efficacy of sodium phosphate supplementation. Sodium phosphate is known for its important role in buffering the lactic acid produced in endurance exercise, with potential for improvement in fatigue, resulting in improved performance. Objective: To investigate the effect of sodium phosphate supple-mentation on performance in cycling athletes through a literature review. Methods: Randomised controlled trials were included or not, evaluating the effects of sodium phosphate supplementation as an ergogenic aid on the performance of trained cyclists. The study was performed using the Pubmed database, Lilacs, Capes and Scielo. Articles were identified between January and August 2015 and included the following terms: phosphate, sodium phosphate, sodium phosphate

supplementation in their versions in Portuguese and English. The performance of cyclists was measured by blood samples of serum phosphate, lactate and 2.3-DPG (before and after the tests) and progressive test of time (up to voluntary exhaustion), with maximum VO2 measurement (via ergospirometer), heart rate and perceived exertion index (Borg scale). Results: 1379 studies were identified in databases used. After filtering by title and abstract remaining 37 studies. Of these, 31 were excluded for not having adopted the eligibility criteria, leaving six studies included in this review. Two studies found no benefit of supplementation while four showed a significant improvement in oxygen consumption, increased 2.3-DPG and performance. Conclusion: We observed that our results are different due to differences between the evidence evaluated sup-plementation strategies and type of population studied.Key-words: phosphate, cycling, supplementation, ergogenic resources.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 242

duração realizarem atividades de alta intensidade, a produção de energia por glicólise anaeróbica é acompanhada por um aumento da acidez intra-muscular, contribuindo para a fadiga, motivo pelo qual atletas têm utilizado cada vez mais recursos ergogênicos como fosfato de sódio, bicarbonato de sódio, citrato de sódio e creatina fosfato, redu-zindo a acidez e retardando a fadiga [14].

Embora alguns estudos encontrem melhora no desempenho decorrente da suplementação de fosfato de sódio, os resultados são controversos, podendo ser justificados pelas diferenças entre as provas avaliadas, quantidades fornecidas e tipo de população estudada [8]. Assim, o objetivo desta revisão é verificar o efeito da suplementação de fosfato de sódio sobre o desempenho em atletas de ciclismo.

Material e métodos

Critérios de elegibilidade

Foram incluídos ensaios clínicos randomiza-dos ou não, avaliando os efeitos da suplementação de fosfato de sódio como recurso ergogênico sobre o desempenho de ciclistas treinados. Fo-ram excluídos estudos com animais, e que não atendessem os critérios de inclusão previamente determinados.

A suplementação dos estudos incluídos não tinha limite de tempo de ingestão antes da prova, nem doses pré-determinadas (geralmente eram fracionados em 4 doses diárias, com inter-valo de 4 horas, com doses que variavam de 25 mg/kg a 75 mg/kg, por 6 dias ou 3-4g/dia, por 3-6 dias).

O desempenho dos ciclistas foi medido por amostras sanguíneas de fosfato sérico, lactato e 2,3 DPG (antes e depois das provas) e teste progressivo de tempo de prova (até exaustão vo-luntária), com medição do VO2 máximo (através do ergoespirômetro), frequência cardíaca, e índice de esforço percebido (escala de Borg).

A busca foi realizada utilizando as bases de dados Pubmed, Lilacs, Capes e Scielo. Os artigos foram identificados entre os meses de janeiro e

agosto de 2015 e utilizados os seguintes termos: fosfato, fosfato de sódio, suplementação de fosfato de sódio, em suas versões em português e inglês. Foram considerados os artigos escritos nas línguas inglesa e portuguesa, publicados nos últimos quinze anos como fonte primária de pesquisa, bem como livros e capítulos de livros para referencial teórico.

Resultados

Foram identificados 1379 estudos nas bases de dados utilizadas. Após filtragem por título e resu-mo, foram excluídos 1342, restando 37 estudos. Destes, 30 foram excluídos por não apresentarem os critérios de elegibilidade adotados, restando 7 estudos incluídos nesta revisão. Ao avaliar os estudos, mais um estudo acabou sendo excluído por ausência de informações quanto ao tipo de avaliação, totalizando 5 estudos incluídos. Quan-to aos resultados, dois estudos não observaram benefícios da suplementação [6,7], no entanto três observaram melhora significativa nas variáveis consumo de oxigênio [3,4,13], aumento do 2,3-DPG e desempenho [4,13] (Tabela I).

Discussão

Suplementação de fosfato de sódio e desempenho em ciclismo

O fosfato de sódio tem sido relatado como um

suplemento nutricional capaz de proporcionar benefícios significativos no desempenho de atletas [6,7]. Segundo Czuba et al. [3], sais de fosfato em formas inorgânicas e orgânicas têm papel fundamental no metabolismo humano, no que se refere ao desempenho no esporte.

As principais alterações que ocorrem com a suplementação de fosfato de sódio são: aumento da capacidade aeróbica, da potência de pico, do limiar anaeróbico, melhora do miocárdio e das respostas cardiovasculares ao exercício, desem-penho de resistência e maior síntese de ATP [8].

Buck et al. [7], em um estudo randomizado, duplo cego, analisou a suplementação de 25 mg, 50 mg e 75 mg/kg de fosfato de sódio, bem como placebo, em 13 ciclistas do sexo feminino, por 6

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dias, com 4 doses diárias, com treino realizado em bicicleta ergométrica. Foram coletadas amostras de sangue de fosfato sérico (antes e depois de cada carreamento). Não houve diferenças significativas no tempo de desempenho e potência de pico. Notou-se que quatro participantes registraram seu maior desempenho de tempo e potência de pico, após suplementação de fosfato de sódio de 50 mg/kg. Acredita-se que os resultados divergem de outros estudos, tendo em vista diferenças entre o metabolismo de homens e mulheres, tais como: afinidade de oxigênio, concentrações hormonais e funções cardíacas. Possivelmente seria necessária uma dose mais elevada para mulheres, a fim de

possibilitar um melhor efeito ergogênico sobre o desempenho de resistência.

Folland et al. [4], em um estudo randomizado, duplo-cego cruzado, analisaram a relação entre a carga de fosfato de sódio e o aumento máximo na captação de oxigênio (desempenho com resis-tência), em 6 ciclistas treinados masculinos (um ciclista desistiu por problemas gastrointestinais). Havia um grupo experimental (suplementação de 1 g de fosfato de sódio) e um placebo (lacto-se), administrado com 300 ml de fluído. Foram suplementados por 6 dias, com 4 doses diárias, antes de efetuar 16,1 km (10 milhas) em ciclismo no laboratório. Foram coletados amostras de ar

Tabela I - Caracterização dos estudos incluídos.Estudo Amostra Tipo de avalia-

çãoSuplementação Resultados

Folland et al. [4]

6 ciclistas – MIdade: 23 ± 4 anosExperiência: 8±4 anosTreinamento: 6.44km(4 milhas) e 14.48 km (9 milhas)

Teste contra--relógio de 16,1 km. Medidas de FC; potência e lactato

1g/4x/dia por 6 diasPlacebo (lactose)

Melhorou o desempe-nho (tempo e potência durante o teste). Melhora captação de O2 em 6-12%Sem diferença na FC e lactato.

Czuba et al. [3]

19 ciclistas – MIdade: 25 ± 1,29 anosExperiência:> 5 anosTreinamento: teste bicicleta ergométrica 35-40 min

Amostras de sangue e Teste de consumo máximo de oxigênio

50 mg/kg (6 dias) + 3 semanas de 25 mg/kg (divididas em 4 porções).Placebo (2g/glicose/4x/dia)

Melhorou o VO2máx., reduziu a FC. Sem dife-rença em lactato.

Brewer et al. [13]

09 ciclistas – MIdade: 32.6 ± 7.4 anosExperiência: 6,9 ± 3,8 anosTreinamento: (testes de 55,3-56,5 min)

Teste de esforço progressivo

50mg/Kg por 6 diasPlacebo

Possível efeito aditivo sobre o VO2 pico e possivelmente sobre o desempenho.

Brewer et al. [6]

21 ciclistas – M 50 mg/kg dividida em 4 doses por 6 diasPlacebo (glicose + sal na proporção de 9/1)

Não melhorou o desem-penho.

Buck et al. [7]

13 ciclistas – FIdade: 25.5 ± 4.4 anosTreinamento: (3,6 h ±2,1 por semana)

Teste de consu-mo máximo de oxigênio

4 doses/dia por 6 dias25 mg/kg/50 mg/kg/75 mg/kg/Placebo

Não encontrou benefí-cios

VO2 = volume de oxigênio; DPG = bisfosfoglicerato; M = masculino; FC = frequência cardíaca; F = feminino.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 244

expirado e sangue capilar. A suplementação de fosfato de sódio melhorou o desempenho de ciclistas treinados, com aumentos funcionais no consumo de oxigênio. Neste estudo, considerou--se o fosfato de sódio como um ótimo recurso ergogênico, capaz de melhorar a captação de oxigênio de 6-12%.

De acordo com Czuba et al. [3], embora os estudos sejam inconclusivos, existe a ideia de que a suplementação de fosfato de sódio pode melhorar a capacidade funcional do sistema de energia aeróbica, indicando que a melhora no metabolismo aeróbico é causada por um au-mento de 2,3-DPG, no eritrócito, que diminui a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, o que facilita a liberação de oxigênio para o tecido muscular durante o exercício. Neste estudo sobre os efeitos da suplementação de fosfato de sódio em ciclistas de elite, os pesquisadores avaliaram os efeitos de carga de fosfato em curto prazo (6 dias), bem como a longo prazo (21 dias), na ca-pacidade aeróbica de ciclistas. Foram selecionados 19 ciclistas treinados, divididos aleatoriamente, em grupo suplementação, que recebeu 6 dias de suplementação com doses de 50 mg/kg/dia, mais 3 semanas de 25 mg/kg/dia, divididos em 4 doses e o grupo controle/placebo, recebeu 2g de glicose, 4 doses por dia. As discrepâncias podem se dar pelas individualidades biológicas. Segundo Cade et al. [11], a ingestão de fosfato de sódio reduz a concentração de lactato durante o exercício de intensidade submáxima.

Brewer et al. [6] analisaram 19 ciclistas mascu-linos, de competição, em um estudo duplo-cego, em que foram suplementados ao longo de 3 meses, e cada fase envolveu seis dias de suplemen-tação de fosfato de sódio ou placebo, em quatro doses diárias. Não houve alterações na frequência cardíaca, nem no lactato sanguíneo. Os autores acreditam que a suplementação de fosfato de sódio deve ser testada em ciclistas que executem provas com mais de 30 minutos de duração, para verificar se a suplementação pode ter resultado benéfico.

As principais justificativas sobre o efeito bené-fico da suplementação de fosfato de sódio sobre o desempenho de ciclistas estão no fato desta estratégia causar: 1) aumento das concentrações de 2,3 – DPG (bisfosfoglicerato), que diminui a

afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, facilitan-do a liberação de oxigênio para o tecido muscular durante o exercício; 2) melhora na eficiência do miocárdio; 3) melhora na capacidade do tampo-namento e síntese de ATP [15,8]; 4) aumento do débito cardíaco em repouso e durante o exercício; 5) redução da frequência cardíaca de exercício de resistência contínua [3]; 6) melhora na capacidade da síntese de ATP.

Esta revisão de literatura foi realizada com o intuito de auxiliar profissionais esportivos à prescrição de suplementação de fosfato de sódio na melhoria da performance de ciclistas de elite, comparando vários exemplos de dosagens e pos-síveis efeitos colaterais. Entretanto, a variedade de protocolos de carreamento de fosfato de só-dio utilizados, tornam os estudos conflitantes e controversos, necessitando a realização de novos estudos.

Aplicações práticas

Analisando os estudos sobre os efeitos da suplementação de fosfato de sódio em ciclistas de elite, observa-se que existe um consenso com o que habitualmente é recomendado na prática clínica.

Referindo-se às dosagens geralmente utiliza-das, observa-se dosagens por volta de 50 mg/kg, por 6 dias, geralmente fracionadas em 4 doses diárias, com intervalo de 4 horas, apresentando-se como recomendação mais segura, evitando-se efei-tos colaterais, como os gastrointestinais (diarréias e constipação).

O uso prolongado de fosfato de sódio pode desregular o equilíbrio eletrolítico, devendo ser evitado em indivíduos com problemas renais, bem como pessoas propensas a cálculo renal.

Conclusão

A partir do nosso estudo, observamos que os resultados sobre a suplementação de fosfato de sódio e o desempenho em ciclistas são confli-tantes, possivelmente pela falta de padronização dos estudos, como por exemplo: tipo de exer-cício realizado, intensidade do exercício, sexo

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dos participantes, tempo de administração da suplementação, dosagem/tipo do suplemento administrado, controle da ingestão dietética, variações biológicas, duração do período de carga, nível de aptidão dos indivíduos incluídos na pesquisa, clima, técnicas de coleta de sangue e parâmetros gerais de avaliação. Assim, estudos futuros devem atentar a estas informações e cuidados para a reprodutibilidade dos resultados no contexto científico e de desempenho nesta modalidade esportiva.

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REVISÃO

Treinamento resistido aplicado ao processo de emagrecimento

Resistance training focusing on weight loss

Bruno Macedo de Andrade*, Carolina Francci de Alencar*, Paulo Costa Amaral**, Henrique Stelzer Nogueira***, Leonardo Emmanuel Medeiros Lima**

*Discente do curso de Educação Física da Universidade Anhembi Morumbi (UAM) São Paulo/SP, **Docente do curso de Educação Física e Membro do Grupo de Pesquisa em Esportes e Atividade Física da Universidade Anhembi Morumbi (UAM). São Paulo/SP, ***Docente em cursos de pós-graduação (FMU, Estácio de Sá, UNIFAE e USCS)

ResumoA obesidade é um problema mundial que atinge as

pessoas de todas as idades, raças e gêneros em diversos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A Organi-zação Mundial da Saúde estima que em 2025 aproxi-madamente 2,3 bilhões de pessoas serão classificadas como pré-obesos e mais de 700 milhões serão obesos, estes valores representarão cerca de 10% da população lutando contra a obesidade. Uma das formas de com-batê-la é por meio da prática regular de atividade física, incluindo o treinamento resistido, a fim de promover a perda de peso. A busca foi realizada na base de dados PubMed (Public Medline or Publisher Medline) e foram selecionados para análise apenas trabalhos publicados

no período de 2011 a 2016. Sendo selecionados para esta revisão 9 artigos. Após análise, concluiu-se que o treinamento resistido junto a outros fatores tem papel significativo para o emagrecimento, contudo, para maior abrangência do assunto, faz-se necessário ampliar os estudos para identificar a aplicação do treinamento resistido no processo de emagrecimento e para verificar, também, qual a melhor estratégia em relação à intensidade e ao volume das sessões para a redução de gordura corporal.Palavras-chave: treinamento de resistência, perda de peso, consumo de oxigênio.

Recebido em 23 de janeiro de 2017; aceito em 31 de março de 2017. Endereço para correspondência: Leonardo Emmanuel Medeiros Lima, Universidade Anhembi Morumbi, Rua Dr. Almeida Lima, 1.134, 03164-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected]; Bruno Macedo de Andrade: [email protected]; Carolina Francci de Alencar: [email protected]; Paulo Costa Amaral: [email protected]; Henrique Stelzer Nogueira: [email protected]

47Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Introdução

Segundo a Organização Mundial da Saúde [1], saúde não é apenas a ausência de doenças, mas sim o estado de completo bem-estar físico, mental e social.

Nos últimos anos, houve o grande crescimento de uma doença que atinge pessoas de todas as idades, raças e gêneros tanto em países desenvol-vidos como em subdesenvolvidos, a obesidade [2], que é o acúmulo excessivo de tecido adiposo trazendo prejuízos à saúde do indivíduo [3]. Ela é considerada uma doença multifatorial, crônica e não transmissível [4] e está relacionada com diversas doenças como osteoartrite, hipertensão, aumento dos níveis de colesterol e de outras gorduras do sangue, diabetes melitus, doenças cardíacas, alguns tipos de câncer e aumento de morte prematura [5], além de contribuir para problemas emocionais como baixa autoestima, isolamento social e depressão [6].

Atualmente, o método mais utilizado para a identificação da obesidade é o Indice de Massa Corporal (IMC), no qual se enquadram como pré-obesos indivíduos com IMC de 25 a 29,9 kg/m² e obesos, indivíduos com IMC igual ou superior a 30 kg/m² [7]. Estima-se que em 2025 cerca de 2,3 bilhões de adultos serão classificados com pré-obesidade e mais de 700 milhões serão obesos. Este valor representa cerca de 10% da população lutando contra a obesidade [8]. O aumento de pessoas obesas ou com pré-obesidade pode ser justificado devido às mudanças ocorridas no último século. Com o crescimento da indústria alimentícia, a dieta da população em geral passou a ser composta predominantemente por carboi-

dratos refinados e gorduras de origem animal [9]. Aliado a isso, também houve mudanças signifi-cativas na relação do indivíduo com a prática de exercícios físicos, já que o seu estilo de vida passou a ter características cada vez mais sedentárias em decorrer da mecanização da maioria das atividades diárias [10].

De uma forma geral, as pessoas passaram a se movimentar cada vez menos e consumir cada vez mais, elevando a taxa de obesidade a um ponto que se tornou uma ameaça à Saúde Pública [11]. Neste sentido, é importante a conscientização da população em relação a manter hábitos ali-mentares saudáveis e prática regular de exercícios físicos [11]. Para os indivíduos que já enfrentam a doença, é necessário que ocorra o emagrecimento, ou seja, a redução da massa gorda através de um balanço energético negativo, uma das formas de se alcançar o déficit calórico é controlando fatores ambientais, como a ingestão energética e a realização de exercícios físicos, gerando um maior dispêndio energético diário e mobilização do tecido adiposo [12].

O treinamento resistido é uma forma de auxi-liar no combate a obesidade, visto que por meio da sua prática irá ocorrer maior dispêndio energético diário, promovendo benefícios no processo de emagrecimento [13]. O treinamento resistido consiste na prática de exercícios organizados de forma sistemática com o objetivo de preparar e disciplinar o corpo a se mover adequadamente contra uma força de resistência [14].

De acordo com o American College of Sports Medicine [15], o treinamento resistido é reco-mendado para a redução e manutenção do peso corporal. Segundo Campos [16], o treinamento

AbstractObesity is a worldwide problem that affects all

age group, races and gender in developed and under--developed countries. The World Health Organization estimates that in 2025 approximately 2.3 billion people will be categorized as pre-obese and more than 700 million as obese, which means approximately 10% of population in the fight against obesity. One of the ways to combat obesity is regular practice of physical activity, including resistance training, aiming loss weight. The search was carried out in PubMed (Public Medline or

Publisher Medline) and we selected for analysis only studies from 2011 to 2016, but we used only 9 in this literature review. After analysis, we concluded that resistance training together with other factors is important for loss weight, however, more studies are needed to identify the resistance training techniques in weight loss process and also to verify which is the best strategy in relation to intensity of workouts and volume of sessions to reduce body fat. Key-words: resistance training, weight loss, oxygen consumption.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 248

resistido promove o aumento do gasto calórico no momento da atividade, o aumento de massa muscular, a diminuição do percentual de gordura e o aumento nos níveis de excesso de consumo de oxigênio pós-exercício (EPOC).

Para Melby [17], o EPOC eleva a taxa meta-bólica basal após a sessão de treinamento, o que favorece o emagrecimento e, consequentemente, o controle de obesidade. Devido às características do treino resistido, o processo de recuperação pós--treino gera um maior impacto sobre o EPOC em decorrer da restauração do estoque de oxigênio sanguíneo e muscular e de fosfocreatina.

Além disso, o reparo tecidual, aumento da temperatura e da frequência cardíaca e a remoção do lactato também são fatores que contribuem para um maior efeito EPOC, aumentando o metabolismo de lipídeos em repouso e sua oxi-dação [18,19].

Neste sentido, o objetivo deste estudo é uma revisão de literatura sobre o papel do treinamento resistido no processo de emagrecimento.

Material e métodos

Esta pesquisa se caracteriza por ser uma revisão de literatura, com base em artigos científicos sobre o treinamento resistido para o emagrecimento.

A busca foi realizada na base de dados PubMed (Public Medline or Publisher Medline), encerrada no dia 08/10/2016, foram selecionados para análise apenas trabalhos publicados no período de 2011 a 2016. Foram considerados para esta revisão apenas os artigos de ensaios clínicos dis-poníveis na íntegra e foram descartados os artigos de revisão bibliográfica.

Foram utilizados os descritores: “treinamento de resistência” e “perda de peso”, seus equivalentes em inglês “resistance training” e “weight loss”. O operador lógico “and” foi usado para combinar os termos. E foi utilizado como critério de in-clusão palavras chaves que constassem no título ou resumo.

Na pesquisa inicial, foram identificados 32 artigos. Após análise do título e dos resumos, foram selecionados para esta revisão 9 artigos.

Foram analisados os seguintes itens: a) ano

de publicação; b) protocolos de intervenção; c) período de duração da sessão de treinamento; d) resultados.

Resultados

De acordo com os artigos selecionados para esta revisão, as características dos estudos estão descritas no Quadro 1.

Foram encontrados três artigos relacionados ao tema que foram publicados no ano de 2012, dois em 2013, dois em 2015, um em 2014 e um em 2016.

Dentre os protocolos utilizados nos estudos encontrados, quatro compararam os efeitos do treinamento resistido versus treinamento aeró-bio no processo de emagrecimento, três estudos intervieram com restrição calórica, além do trei-namento resistido, um estudo interveio com a administração de chá verde junto ao treinamento resistido e um estudo interveio apenas com o treinamento resistido.

Com relação ao tempo de duração de inter-venção, três artigos utilizaram o tempo de três meses, dois para um mês, dois para cinco meses, um estudo com duração de meses e outro com oito meses.

Dentre os resultados encontrados nos estudos, sete apresentaram resultados positivos ao utilizar o treinamento resistido no processo de emagreci-mento, um estudo não encontrou mudanças sig-nificativas com a aplicação isolada do treinamento resistido e um estudo não encontrou resultados significativos no período de intervenção com treinamento resistido ou treinamento aeróbio.

49Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Quadro 1 - Análise dos artigos.

Autores-Ano ParticipantesProtocolos de interven-

ção

Duração da sessão de treina-

mento

Resultados

Chmelo et al. 2016 [20].

24 homens e mulheres com idade entre 65 e 79 anos não praticantes de musculação e obesos.

Separados em dois gru-pos: treinamento resistido (RT) e treinamento resistido + restrição calórica (RT + CR). Foram realizados 3 treinos por semana utilizando 70% 1RM.

5 meses

Perda de massa corporal (74% massa gorda e 26% massa magra) no grupo RT+CR e nenhuma mudan-ça significativa no grupo na composição corporal do grupo RT. Após 18 meses de intervenção, as mudanças do grupo RT+CR foram perdi-das.

Herring et al. 2014 [21].

33 homens e mulheres obesos com idade entre 24 e 68 anos.

Separados em 3 grupos: treinamento aeróbio (AT), treinamento resistido (RT) e controle (CON). Foram realizados 3 treinos por semana com intensidade moderada.

3 meses

Redução de dobras antro-pométricas e melhora na capacidade funcional e psicológica nos grupos AT e RT. Comparando os resulta-dos de AT e RT, não houve diferenças significativas.

Nicklas et al., 2015 [22].

126 homens e mulheres com idade entre 65 e 79 anos não praticantes de musculação e obesos.

Separados em dois gru-pos: treinamento resistido (RT) e treinamento resistido + restrição calórica (RT + CR). Foram realizados 3 treinos por semana utilizando 70% 1RM.

5 meses

Apenas RT+CR reduziu a massa total e teve perda de massa magra. Ambos os gru-pos reduziram massa gorda e percentual de gordura.

Murphy et al., 2015 [23].

20 homens com idade entre 60 e 75 anos e obesos.

Foram realizadas 2 sema-nas de restrição energética (ER) seguidas por 2 sema-nas de restrição energética + treinamento resistido (ER+RT).

1 mês

Redução de massa corporal ao termino das 4 semanas, sendo maior na fase de ER. Redução de gordura em ambas as fases sem diferença significativa entre elas. Redu-ção de massa magra durante a fase ER e manutenção dos valores durante ER+RT

Tapp; Signori-le, 2013 [24]

28 mulheres sedentárias com idade entre 48 e 65 anos.

Foram divididas em 3 gru-pos: treinamento em pla-taforma vibratória (WBV), treinamento resistido em circuito (RT) e treinamen-to aeróbio (AT). Foram realizadas 3 sessões por semana.

2 meses

Não houve mudanças significativas na composição corporal em nenhum grupo, porém uma pequena redução no percentual de gordura foi observada no grupo AT seguida por RT.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 250

Quadro 1 - Análise dos artigos (continuação).

Autores-Ano ParticipantesProtocolos de interven-

ção

Duração da sessão de treina-

mento

Resultados

Roberts et al., 2013 [25].

36 homens obesos com idade média de 22 anos

Foram divididos em dois grupos: RT e controle (C). O grupo RT realizou 3 sessões por semana de treino resistido em alta intensidade com duração de 60 minutos.

3 meses.

Redução significativa de massa gorda e aumento de massa magra no grupo RT, além de melhora no perfil hormonal.

Cardoso et al., 2012 [26].

36 mulheres com sobrepeso ou obesas

Foram divididas em 4 grupos: 1: chá verde; 2: placebo; 3: chá verde + RT; 4: placebo + RT.

1 mês.

Redução da taxa metabólica de repouso (RMR), perda de peso e manutenção da massa magra no grupo 1 e nenhuma mudança signifi-cativa no grupo 2. Aumento significativo da RMR, redução de massa gorda e aumento de massa magra e força muscular no grupo 3 quando comparado ao grupo 4.

Willis et al., 2012 [27].

119 adultos sedentários com sobrepeso ou obesos

Foram divididos em 3 grupos: RT, AT e AT+RT.

8 meses.

AT e AT+RT apresentaram maior redução de massa corporal total e massa gorda sem apresentar diferenças en-tre eles quando comparados ao RT. AT+RT e RT tiveram um maior aumento de massa magra que AT. Maior redução na circunferência da cintura em AT+RT do que AT ou RT.

Ho et al., 2012 [28].

97 homens e mulheres sedentá-rios, com sobre-peso ou obesos e idade entre 40 e 66 anos.

Foram divididos em: Gru-po 1 Controle; Grupo 2 aeróbico; Grupo 3 treina-mentos resistência; Grupo 4 aeróbico e treinamento resistido. Os grupos que receberam intervenção realizaram 5 sessões de treino por semana com duração de 30 minutos e intensidade moderada.

3 meses.

O grupo 4 apresentou melhores resultados para a perda de peso, perda de gor-dura e aptidão cardiorrespi-ratória do que as modalida-des realizadas isoladamente.

51Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Discussão

De acordo com os resultados, o treinamento resistido apresentou resultados satisfatórios na melhora da composição corporal na maioria dos estudos encontrados.

Em seu experimento, Murphy [23] veri-ficou que ao intervir com uma dieta hipoca-lórica, os indivíduos apresentaram redução de massa gorda e magra, porém, ao inserir o treinamento resistido em suas rotinas, ocor-reu a manutenção da massa magra e redução apenas de massa gorda. Esses dados indicam que o treinamento resistido pode ser utilizado como estratégia na preservação de massa magra em indivíduos que buscam o emagrecimento e melhora na composição corporal.

Durante a perda de peso através de restrição energética, ocorre a redução de cerca de 20% do metabolismo de repouso [29]. Embora to-dos os mecanismos que expliquem tal queda ainda não estejam esclarecidos, sabe-se que sua redução é proporcional à redução de massa magra [30]. Desta forma, correlacionando os dados encontrados nos estudos citados, a ma-nutenção da massa magra durante o processo de emagrecimento interferiria na queda do metabolismo de repouso positivamente, faci-litando o processo de emagrecimento.

Cardoso et al. [26] analisaram a taxa de metabolismo em repouso (TMR) após um mês com sessões de treinamento resistido e verificaram que seus valores foram maiores em grupos que praticaram o treinamento resistido. Embora todos os grupos que receberam algum tipo de intervenção apresentaram redução de massa gorda, apenas os grupos que realizaram as sessões de treino resistido tiveram um au-mento da TMR. Isso reforça a ideia de que o treinamento resistido pode atenuar a queda de massa magra e consequentemente a queda de TMR em períodos de restrição calórica.

Além disso, o exercício físico induz impac-tos agudos, como o gasto calórico e aumento do metabolismo após seu término, e crônicos na mobilização e oxidação de gordura devido ao aumento da atividade da enzima lípase hormônio sensível e aumento da densidade mi-

tocondrial, favorecendo o processo de redução de gordura corporal [31,32].

Roberts et al. [25] relataram mudanças significativas na composição corporal com a redução de massa gorda e aumento de mas-sa magra em 36 homens obesos com idade média de 22 anos. Porém, Chmelo et al. [20] não observaram mudanças na composição corporal de idosos ao final de cinco meses de intervenção em grupos que realizaram apenas treinamento resistido. Apenas o grupo de ido-sos que também sofreu intervenção na restrição energética apresentou perda de peso, sendo a maior parte proveniente de massa gorda. Ni-cklas et al. [22], com uma amostra maior de idosos relatou redução de massa gorda em am-bos os grupos, e perda de massa magra apenas no grupo que realizou treinamento resistido e dieta hipocalórica. Os autores ainda relatam que os indivíduos com maior adiposidade inicial apresentaram menor mudança em sua composição corporal quando realizaram apenas o treinamento resistido. Os presentes dados reforçam a importância da prática de exercício físico aliado a uma alimentação saudável como estratégias não farmacológicas no combate à obesidade.

Quando comparada a eficiência entre as modalidades anaeróbias e aeróbias, os resul-tados se mostram divergentes. Para Herring et al. [21], tanto o treinamento aeróbio como o treinamento resistido apresentaram resultados positivos na redução de gordura corporal sem diferenças significativas entre os grupos. O mesmo resultado foi encontrado nos estudos de Tapp e Signorile [30], que, embora discretos, encontraram melhores resultados na redução de gordura corporal no grupo que realizou exercícios aeróbios, seguido pelo grupo que praticou apenas exercício de resistência. O estudo de Tapp e Signorile [24] foi realizado em participantes pós-menopáusicas por um período de dois meses, talvez um maior tempo de intervenção seja necessário para se alcançar resultados expressivos na composição corporal de populações nesse perfil.

Para Willis et al. [27], os resultados en-contrados sugerem que quando se visa o

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 252

emagrecimento, tanto o treinamento aeróbio executado de forma isolada como a combinação de treinamento aeróbio com o treinamento resistido apresentaram resultados semelhantes na redução de gordura corporal e somente o treinamento resistido isolado ou combinado com treinamento aeróbio teve efeito positivo no ganho de massa magra. Todos os grupos tiveram redução no percentual de gordura cor-poral, mas por mecanismos distintos: treina-mento aeróbio devido à redução de massa gorda e treinamento resistido devido ao aumento de volume muscular. Comparando a redução na circunferência de cintura, o melhor resultado foi identificado no grupo que fazia o treino misto. Os autores concluem que o grupo misto apresentou melhores resultados possivelmente devido ao maior volume de treino realizado nas sessões quando comparado aos grupos que praticaram as modalidades isoladas. Resultados semelhantes foram encontrados por Ho et al. [28], os quais relataram que a utilização de um treino misto sendo 15 minutos de exercício aeróbio e 15 minutos de exercício resistido trouxe melhores resultados na perda de peso e gordura corporal quando comparada as modalidades executadas isoladamente por 30 minutos. Ambos os estudos foram realizados em participantes sedentários e obesos e apon-tam que estratégias de treino misto apresentam melhores resultados na composição corporal desses indivíduos.

Existem dois fatores atribuídos ao exer-cício resistido na produção maior no efeito EPOC (consumo excessivo de oxigênio após o exercício). O primeiro fator se refere às res-postas hormonais que alteram o metabolismo, cortisol e especificamente as catecolaminas. O segundo fator se refere ao dano tecidual que acompanhado de um estímulo externo para gerar a hipertrofia tecidual, durante o exercício físico, a síntese de proteína é diminuída, já no pós-treino existe um fenômeno compensató-rio que se denomina efeito EPOC, em que a proteína parece ser estimulada. Além disso, o processo da síntese proteica exige alta demanda energética, e este fator pode contribuir para uma longa estimulação do gasto energético

pós-treinamento.Para Foureaux et al. [33], apesar de estarem

bem documentados na literatura os efeitos do treinamento intervalado aplicado ao processo do emagrecimento, os metabólicos e a compo-sição corporal, o gasto energético e a oxidação de substratos energéticos no período pós-trei-namento ainda não estão bem esclarecidos. Os dados apresentados indicam que o treinamento intervalado, independentemente do tipo da pausa e o método de descanso, afeta o EPOC na sua fase rápida, em torno de 60 minutos após exercícios. Enquanto estudos indicam uma duração média de 90 minutos de EPOC após atividade anaeróbia, o treino aeróbio teve apenas 30 minutos de duração [34], ou seja, os efeitos do EPOC não são determinantes para tal objetivo. Têm sido discrepantes os resulta-dos dos diversos estudos sobre o EPOC, sobre a magnitude e a duração do efeito pós-treino. Enquanto vários estudos demonstram que o EPOC pode permanecer por horas, outros têm concluído que o EPOC é transitivo e mínimo para o efeito do emagrecimento [33].

Conclusão

Os resultados do presente estudo apontam que a aplicação do treinamento resistido pode ser benéfica para o controle da obesidade e no processo do emagrecimento. Diante da relevância do tema, a prática regular de ativi-dade física por meio do treinamento resistido, representa uma intervenção benéfica para a população proporcionando inúmeras vanta-gens e resultados.

Dentre os benefícios para o controle da obe-sidade, o gasto calórico é um deles, seja durante o exercício ou logo após a sessão de treinamen-to (EPOC) gerando o aumento da oxidação de gordura, aumento da massa magra e de força associado a outras metodologias como as dietas controladas. Contudo, para maior abrangência do assunto faz-se necessário ampliar os estudos para identificar a aplicação do treinamento resistido no processo de emagrecimento e para verificar, também, qual a melhor estratégia em

53Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

relação à intensidade e ao volume das sessões para a redução de gordura corporal.

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F I S I O L O G I ADO E X E R C Í C I OÓrgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

B r a z i l i a n J o u r n a l o f E x e r c i s e P h y s i o l o g y

REVISÃO

Influência da hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural em idosos

The influence of water aerobics/hydrotherapy on postural balance in elderly

Daniella Oliveira Sousa*, Ana Lúcia Rodrigues de Souza*, Alexandra Carolina Canonica**, Angelica Castilho Alonso***

*Pós-graduadas pelo curso Fisiologia e Biomecânica do Aparelho Locomotor: Reabilitação e Treinamento do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HCFMUSP, **Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HCFMUSP, ***Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HCFMUSP, Docente do Programa de Pós-graduação em Ciências do Envelhecimento da USJT, São Paulo/SP

ResumoIntrodução: A hidroginástica apresenta caracterís-

tica da ginástica e trabalha o sistema cardiorrespirató-rio, enquanto que a hidroterapia com propriedades terapêuticas atua principalmente na reabilitação de doenças reumáticas, ortopédicas e neurológicas. Os dois tipos de atividade trazem turbulência a água e consequentemente necessidades de ajustes posturais para manter-se em pé. Objetivo: Realizar uma revisão na literatura sobre a influência da hidroginástica/hidro-terapia no equilíbrio postural de idosos. Métodos: Foi realizado um levantamento de estudos a partir das bases de dados Lilacs, Scielo e Pubmed com os descritores: idosos, reabilitação, fisioterapia, equilíbrio postural e hidroterapia, hidroginástica, no período de 2007 a 2014. Após uma criteriosa seleção por título, resumos

e leitura na íntegra dos trabalhos foram selecionados 16 artigos científicos. Resultados: Os resultados deste estudo nos permitiu observar que a prática da hidro-ginástica/hidroterapia influencia na manutenção e melhora do equilíbrio estático e dinâmico de idosos, porém não houve diferenças significativas, quando comparado com práticas realizadas em solo, no que se refere manutenção do equilíbrio e diminuição do risco de quedas. Conclusão: Os estudos apresentados indicaram que há um efeito positivo da prática de atividades físicas sobre o equilíbrio postural de idosos tanto em água quanto em solo.Palavras-chave: idoso, reabilitação, Fisioterapia, equilíbrio postural, hidroterapia.

Recebido em 13 de março de 2017; aceito em 12 de abril de 2017. Endereço para correspondência: Angelica Castilho Alonso, Rua Ovídeo Pires de Campos, 333 Cerqueira Cesar 05403-010 São Paulo SP, E-mail: [email protected]

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 256

Introdução

Como acontece com outros países em de-senvolvimento, o Brasil enfrenta um rápido envelhecimento de sua população, com cerca de 20,6 milhões acima de 60 anos de idade e aproximadamente três milhões acima de 80 anos. Estima-se que em 2025 a população idosa deverá chegar a 32 milhões. A expectativa de vida ao nascer é de 67,3 anos para os homens e 75,2 para as mulheres [1].

Desta maneira há uma crescente preocupação com a qualidade de vida e funcionalidade destes idosos, isto porque o envelhecimento humano caracteriza-se por período de vulnerabilidade e perdas funcionais, comprometendo os diferentes órgãos e sistemas [2].

A manutenção da postura é um desafio constante para o corpo humano, pois demanda um sistema capaz de responder com rapidez e eficiência a perturbações, mesmo em situações instáveis, evitando quedas e mantendo o equilí-brio. A posição do corpo em relação ao espaço é determinada pela integração das funções visual, vestibular e sensório-motor [3]. Durante o mo-vimento, é necessário um controle do centro de gravidade do corpo enquanto este se desloca sobre sua base de apoio, e de níveis adequados de força dos membros inferiores para manutenção do equilíbrio estático e dinâmico [4].

Teixeira et al. [5] citam que áreas do sistema nervoso central (SNC) são submetidas a processos degenerativos com o envelhecimento e as habi-

lidades responsáveis pelos ajustes posturais são afetadas. Esses mecanismos estão diretamente ligados à manutenção do equilíbrio e quando comprometidos a uma tendência a déficit sensó-rio-motor, deterioração do sistema vestibular, da acuidade visual, além da sarcopenia, diminuição da massa óssea levando a algumas doenças como, por exemplo, osteopenia/osteoporose.

Devido a estas alterações o idoso está mais sujeito a quedas que o resto da população. Elas não são consequências inevitáveis do envelheci-mento, mas quando ocorrem sinalizam o início de fragilidade ou anunciam uma doença aguda. Constituem-se em um dos principais problemas clínicos e de saúde pública, devido à sua alta incidência, com as consequentes complicações para a saúde e com os altos custos assistenciais, além de causarem incapacidades e até mesmo a morte [6-8].

Com o envelhecimento populacional tem se buscado, por meio de diferentes tipos de exer-cícios e/ou práticas corporais os mais indicados para melhorar o equilíbrio, prevenindo assim as quedas e suas consequências [9]. Há necessidade de investimentos e pesquisas com exercícios físicos e/ou práticas corporais que possam auxiliar uma velhice saudável, dentre estas atividades estão a hidroginástica e a hidroterapia.

A água é mais uma opção para a prática de exercício físico e é certamente um meio dife-renciado e bastante apropriado para pessoas idosas, permitindo o atendimento em grupos e a facilitação da recreação, socialização e treino

AbstractIntroduction: Water aerobics is similar to land

aerobics, but focus also in cardiac training. While hydrotherapy is the use of water with therapeutic effects and primarily operates in the rehabilitation of rheumatic, orthopedic and neurological disorders. The two types of activity bring turbulence water and consequently proper posture is needed to remain stan-ding. Objective: To carry out a literature review on the influence of water aerobics/hydrotherapy on postural balance in the elderly. Methods: We conducted a survey study from Lilacs, Scielo and Pubmed databases with the key words: elderly, rehabilitation, physiotherapy, postural balance and hydrotherapy, water aerobics,

during 2007-2014. After careful selection by title, abstracts and full reading of the works, sixteen scien-tific studies were selected. Results: The results of this study allowed us to observe that the practice of water aerobics/hydrotherapy influence in the maintenance and improvement of static and dynamic balance of the elderly. However, there was no significant difference, when compared to land aerobics, related to balance maintenance and reduction of falling risk. Conclusion: The studies indicated that there is a positive effect of physical activity on postural balance in elderly both in water and in land.Key-words: aged, rehabilitation, physiotherapy, postural balance, hydrotherapy.

57Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

de domínio da água com movimentos básicos de técnicas aquáticas, que, associadas à funcionali-dade, melhoram a autoestima e a autoconfiança do idoso [9].

As propriedades físicas da água auxiliam ainda mais os idosos na movimentação das articulações, na flexibilidade, na diminuição da tensão articular (baixo impacto), na força, na resistência, nos siste-ma cardiovascular e respiratório, no relaxamento, na eliminação das tensões mentais, possuem com-ponentes como: a flutuação, pressão hidrostática e a resistência da água, que de maneira integrada favorece a melhora do retorno venoso, trás menor impacto nas articulações e maior amplitude de movimento nos exercícios [9,10].

A hidroginástica com característica da gi-nástica trabalha o sistema cardiorrespiratório, melhorando o condicionamento aeróbio do indivíduo. Enquanto que a hidroterapia com propriedades terapêuticas atua principalmente na reabilitação de doenças reumáticas, ortopédicas e neurológicas. No entanto, é preconizado que nos dois tipos de atividade traz turbulência a água e consequentemente necessidades de ajustes postu-rais para manter-se em pé.

Assim o objetivo do estudo é realizar uma revisão na literatura sobre a influência da hidro-ginástica/hidroterapia no equilíbrio postural de idosos.

Material e métodos

Trata-se de um estudo de revisão de literatura realizado com artigos científicos sobre hidroginás-tica/hidroterapia no equilíbrio postural a partir das bases de dados Lilacs, Scielo e Pubmed.

Para levantamento dos dados no presente estudo, foram utilizados os descritores: idosos, reabilitação, fisioterapia, equilíbrio postural e hidroterapia, hidroginástica no período de 2007 ao atual limitado ao idioma português e inglês. Foram incluídos estudos realizados no Brasil e no exterior com idosos, contendo textos completos e tema compatível ao pesquisado.

A partir desses critérios, foram identificadas 75 publicações pelo título. A primeira seleção foi retirar a duplicidade nas bases de dados, das

quais sobraram 73 artigos. Destes, após a leitura do resumo foram excluídos 48 artigos, pois não abordavam o tema. Sobraram 25 artigos, que fo-ram lidos na integra e excluídos aqueles que não atendiam ao objetivo. Ao final do levantamento, totalizaram-se 16 artigos científicos (figura 1).

Figura 1 - Organograma da seleção dos estudos.

Resultados

Após criteriosa análise foram selecionados 15 artigos sobre os programas de hidroterapia/hidroginástica na influência de equilíbrio postural de idosos realizados no Brasil e em outros países.

Discussão

Este estudo teve como objetivo analisar a influência da hidroterapia/hidroginástica no equilíbrio postural em idosos. Foram avaliados 15 artigos, em 13 artigos houve melhora no equilí-brio dinâmico e estático ou em outras capacidades que auxiliam na manutenção do mesmo. Somente em dois estudos de Texeira et al. [5] e Antes et al. [18] não houve nenhum resultado significante

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 258

Autor e ano Casuística Avaliação Protocolo Resultados Berger et al. [10] (2007)

Grupo único de 12 voluntários com idade média de 65 anos

Escala visual analógi-ca (EVA) plataforma de força, Time up and Go (TUG)

Protocolo de quatro semanas de mobilização (movimentação) ativa durante a balneoterapia e mobilização(movimentação). Ativa aplicada em solo exercícios idênticos.

As sessões em água mostraram-se melhores resultados em relação ao protocolo solo para o teste de equilíbrio (TUG) e dor.

Medeiros et al. [2], (2008)

9 pacientes idosas entre 65 e 80 anos

Os idosos foram avaliados através dos testes de equilíbrio dinâmico e estático de Tinetti.

Submetido a exer-cícios de hidrote-rapia/ fisioterapia, por 10 sessões, foram avaliados pré e pós- inter-venção.

Houve melhora signi-ficativa nos testes de marcha e equilíbrio dos indivíduos pós- interven-ção das sessões.

Resende et al.[11], (2008)

25 idosas com mé-dia de idade de 72

Escala de Berg e teste de time up go (TUG).

Submetidas a um programa de hidroterapia de baixa a moderada intensidade, 12 semanas duas sessões por 40 minutos.

Houve diminuição no tempo de execução do TUG. A hidroterapia promoveu melhora no equilíbrio.

Bruni et al. [12], (2008)

24 idosas 11 para o grupo hidrogi-nástica e 13 para controle.

Dois grupos foram submetidos à escala de POMA (equilíbrio e marcha) pré e pós--intervenção.

Grupo Hidrote-rapia (GH): 10 sessões de hidrote-rapia uma vez na semana, 40 min.Grupo Controle (GC): não foi sub-metido à nenhuma intervenção.

O GH apresentou melhor resultado no equilíbrio e marcha.

Cunha et al. [13], (2009)

Ensaio clínico randomizado 47 idosos divididos em três grupos: grupo 1 solo, grupo 2 água e grupo 3 controle

Escala de Berg; Timed Up Go (TUG); escala de Tinetti; escala de medo de queda (FES Brasil) e qualidade de vida (SF36).

Avaliados pré e pós-intervenção de 8 semanas. Três sessões por sema-na de 45 min.

Os grupos água e solo apresentaram bons resultados em relação ao grupo controle. Na escala SF- 36, TUG o grupo água foi melhor. Já na escala FES e Tinetti, o grupo solo foi melhor.

59Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Almeida et al. [4], (2010)

59 idosas prati-cantes de ginástica e hidroginástica divididas em grupo hidroginástica (GH) =31 idosasGrupo Ginástica (GG) 28 idosas.

Teste sentar e levan-tar eTimed Up Go (TUG). Os indivíduos foram avaliados pré e pós--intervenção.

Os participantes deste estudo pra-ticavam ginástica ou hidroginástica no mínimo há seis meses, três vezes por semana.

GG teve melhor resul-tado no teste de sentar e alcançar. Os outros testes não apresentaram diferença significativa entre os grupos.

Cunha et al. [9], (2010)

20 idosos com idade média de 68 anos.

Escala de Berg; SF36 (qualidade de vida); MIF (medida de inde-pendência funcional). Foram avaliados pré e pós-intervenção.

Receberam trei-namento de 12 semanas, duas sessões semanais de 45 min em piscina aquecida com técnicas de Ai Chi.

Houve melhora do equi-líbrio postural avaliado pela Escala de Berg já os outros parâmetros não teve mudança.

Avelar et al. [14], (2010)

36 idosos com media de idade 60 anos. Foram divididos em três grupos: Grupo água, grupo solo e grupo controle.

Escala de equilíbrio de Berg; dinamic gait índex, velocidade da marcha. Testes aplica-dos pré e pós.

6 meses de treina-mento duas vezes por semana 40 min. (aquecimen-to, alongamento de membros inferiores e exercí-cios de resistência muscular).

Os dois grupos água e solo melhoram em rela-ção ao grupo controle, no equilíbrio dinâmico e estático com o pro-grama de resistência muscular dentro ou fora d’água. Entre o grupo água e solo não houve diferença significativa.

Katsura et al. [15], (2010)

20 indivíduos. Divididos em dois grupos (12 com uti-lização de equipa-mento de resistência à água) e (8 que não utilizaram equipamento de resistência à água )

Teste de equilíbrio - time up go (TUG); POMS (escala que avalia estado emocio-nal e humor); testes de força de triceps sural e tibial; teste de sentar e levantar, avaliados pré e pós-intervenção.

Treinamento de 2 meses, três vezes na semana com 90 min. em cada sessão

O grupo que fez o programa de treinamen-to, utilizando exercícios com equipamento de resistência melhorou nos testes de força, TUG, sentar e alcançar, 5m andar na máxima velocidade. O grupo sem resistência apenas no TUG e força.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 260

Teixeira et al. [5] (2011)

Grupo único com 39 idosas, já prati-cantes de atividade física média de 68 anos.

Foram avaliadas pela plataforma de força e o conflito sensorial foi realizado em seis testes de organização sensorial (TOS) por meio da posturografia dinâmica.

Idosas ativas reali-zaram hidroginás-tica duas vezes por semana

Não teve diferença significativa na ampli-tude de deslocamento Antero posterior e médio lateral. Na posturogra-fia Somente na TOS 6, (testes de organização sensorial) com os olhos fechados e pisando em uma almofada, apresen-tou maior instabilidade no equilíbrio. (quanto mais sistemas sensoriais forem manipulados ou suprimidos, mais afetará o equilíbrio dos idosos).

Mann et al. [7], (2012)

36 sujeitos: 31 idosas e 5 idososcom média de 65 anos, separados em grupo hidro = 20 idosos praticantes de hidroginástica e grupo sedentário = 16 idosos que não realizavam nenhu-ma atividade física.

Foi avaliada a ampli-tude e o deslocamento médio lateral eanteroposterior com olhos abertos e fecha-dos na plataforma de força.

Os indivíduos deste estudo não receberam nenhuma interven-ção, apenas foram avaliados os que praticavam hidro e os sedentários.

Não houve diferença significativa entre os dois grupos, quando compa-rados com olhos abertos e fechados dentro de seu próprio grupo. Com olhos abertos o grupo hidroginástica foi melhor em relação ao grupo sedentário.

Berganin et al. [16], (2013)

59 idosos divi-didos em grupo água- GA; grupo terra- GT e grupo controle-GC.

Foi avaliada massa corporal, timed up Go (TUG); para equilí-brio, a flexibilidade de membros superiores e inferiores por meio do teste de sentar e alcan-çar e back- zero (Back Scratch teste, para avaliar flexibilidade de membros superiores).

Indivíduos recebe-ram intervenção por seis meses, duas vezes por semana, 60 minu-tos cada sessão. Foramavaliados pré e pós-intervenção.

No teste para o equilí-brio (TUG) e back-zero (flexibilidade de mem-bros superiores o grupo água obteve melhor resultado em relação ao grupo terra e controle, no teste de sentar e alcançar os dois melho-raram e nas medidas de massa corporal o grupo água obteve maiores reduções de gordura.

Martins et al [17] (2013)

30 indivíduos média de 74 anos, divididos em grupo hidroterapia -10, grupo karatê-10 e grupo inativo- 10

Foi aplicada a escala de Berg, para ava-liação do equilíbrio estático e dinâmico composta por 14 tarefas.

Os grupos praticantes de atividade física mos-traram uma pontuação melhor que o grupo inativo, porém os grupos hidro e karatê não apre-sentaram diferença entre os mesmos.

61Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Yadergarpour et al [18](2013)

16 homens entre 60 e 70 anos. Nove no grupo con-trole e 7 no grupo experimental.

Testes de equilíbrio postural: stance com os olhos abertos e fechados; time up go (TUG). Aplicado pré e pós-intervenção.

Intervenção de 16 sessões, com grupo experimen-tal realizando exercícios na água e na terra.

Exercícios combinados em água e terra se complementam para a melhoria do equilíbrio estático e dinâmico.

Antes et al. [19], (2014)

Um grupo único com 27 idosas, média de 70 anos, praticantes de hidroginástica.

Teste de equilíbrio semi-estático na plataforma de força com os olhos abertos e fechados.

As aulas de hidro-ginástica tinham duração de 50 minutos e intensi-dade moderada, duas vezes por semana.

Não houve diferença significativa em relação ao equilíbrio semi-está-tico com olhos abertos e fechados

em praticantes de hidroginástica, pois como não houve outro grupo para comparar não foi possível ter uma análise real desses resultados.

Quatro estudos compararam grupos de hi-droterapia com grupos controle [7,12,13,17] e concluíram que os grupos de hidroterapia me-lhoraram o equilíbrio quando comparados com os controles, no entanto estes resultados parecem óbvio, pois os grupos controles não realizaram nenhuma atividade. Trata-se de um desenho experimental equivocado e atualmente se discute que incluir um grupo controle e não oferecer nenhum tratamento é adequado em relação aos aspectos éticos.

No estudo transversal de Martins et al. [17], os participantes do grupo controle estavam inativos no mínimo a seis meses, e os indivíduos prati-cantes de hidroginástica e karatê, já praticavam a modalidade pelo menos há dois anos. Entre os indivíduos praticantes de atividade física regular, não houve nenhuma diferença significativa nos aspectos que influenciam no equilíbrio dos idosos, estes grupos obtiveram pontuações elevadas na escala de Berg, quando comparados aos inativos, podendo constatar um maior risco de quedas em idosos sedentários.

Esta diferença entre praticantes de atividade física e sedentários pode ser observada no estudo de Cunha et al. [13] no qual foram avaliados ido-sos que não praticavam nenhuma atividade física e que receberam intervenção de hidroginástica e atividades em solo por oito semanas e foram

avaliados pré e pós-intervenção. O resultado do estudo mostrou que o medo do risco de quedas, o tempo de execução do teste de equilíbrio dinâmico TUG e a escala de qualidade de vida melhoraram significativamente.

Em contrapartida, o trabalho de Teixeira et al. [5] um único grupo foi analisado, sendo este composto por indivíduos que já praticavam atividade física e que utilizaram a hidroginástica como prática de intervenção. Nesse estudo não houve nenhuma diferença significativa pré e pós--intervenção.

Este resultado vai de encontro a outros cincos estudos que compararam grupos que realizaram hidroterapia com aqueles que realizaram exer-cícios no solo Almeida et al. [4], Avelar et al. [14], Berganin et al. [16], Berger et al. [10] e Mann et al. [7]. Segundo os resultados, ambos os grupos aumentaram o equilíbrio sem diferenças significativas entre eles. No estudo de Martins et al. [17] pode-se observar que tanto o grupo de praticantes de karatê como o grupo de pratican-tes de hidroginástica obtiveram escores bastante satisfatórios próximos da pontuação máxima que é de 56 na escala de Berg. O mesmo não ocorreu com o grupo de inativos que apresentou escores inferiores aos ativos e foram classificados como propensão considerável a quedas, por meio do escore total abaixo de 45 pontos. Isso pode ser explicado pelo fato de que idosos sedentários apresentam uma musculatura mais fragilizada decorrente das degenerações causadas pelo fator

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 262

da idade. Outros mecanismos responsáveis pelo equilíbrio postural, como os sistemas vestibulares, visuais e proprioceptivos, também se alteram com o envelhecimento, diminuindo a capacidade de modificações dos reflexos adaptativos. Os resul-tados desses estudos comprovaram a importância da atividade física na manutenção do equilíbrio postural, independente da modalidade.

Bruni et al. [12] em seu estudo diz que o envelhecimento está associado à perda gradual de massa muscular, força, potência e flexibilida-de. Esse fato contribui para uma diminuição da mobilidade, agilidade e funcionalidade, o que está diretamente relacionado com a perda de equilí-brio. No resultado foi observada uma melhora sig-nificativa na força muscular e potência da maioria dos músculos avaliados nos idosos que praticaram hidroterapia, tendo como um fator importante a resistência que a água promove durante a realiza-ção dos movimentos. Bergamin et al. [16] em seu estudo teve como objetivo avaliar a eficácia de um protocolo de exercício de 24 semanas realizado em água de nascente geotérmica e solo, para me-lhorar a função física em geral e massa muscular em um grupo de indivíduos idosos saudáveis e encontrou em seus resultados a manutenção da força de membros inferiores, igualmente como o grupo que realizou atividades em solo, não sendo a hidroterapia significativamente melhor como proposto por Bruni.

No estudo de Almeida et al. [4] dois grupos foram avaliados, indivíduos que fizeram ginás-tica em solo e outro que fez hidroginástica, os resultados não mostraram diferença significativa entre eles, porém, a capacidade de flexibilidade apresentou melhores resultados no grupo que fez ginástica em solo. A flexibilidade tende a se dete-riorar, dentre outros motivos pelo encurtamento muscular causado pela menor quantidade de exercícios realizados e pela rigidez aumentada dos tecidos conjuntivos. Neste estudo os indivíduos que fizeram hidroginástica executaram ao final das sessões exercícios de relaxamento, já o grupo solo realizou exercícios de alongamento, fator que pode ter contribuído para este resultado.

Segundo Resende et al. [11], a multiplicidade de sintomas como dor, fraqueza muscular, fal-ta de equilíbrio, obesidade, doenças articulares,

desordens na marcha, dentre outras, dificultam a realização dos exercícios em solo por idosos, e concorda com Almeida et al. [4] que afirma que, no meio aquático, há diminuição da sobrecarga articular, menor risco de quedas e de lesões. Além disso, a flutuação possibilita ao indivíduo reali-zar exercícios e movimentos que não podem ser realizados no solo.

O estudo de Katsura et al. [15] e Resende et al. [11] enfatizam que exercícios resistidos em idosos fora da água induz a lesão muscular, devido ao maior impacto que sofrem as articulações. Dian-te disso o propósito do estudo foi avaliar idosos utilizando equipamentos criados de resistência aquática comparando com grupo que trabalhou na água sem o equipamento. O estudo conclui que exercícios com equipamento melhoram as funções relacionadas ao equilíbrio, força, caminhada em velocidade, com obstáculos sendo assim, pode auxiliar na prevenção do risco a quedas.

Diante dessas informações, pode-se verificar a importância da prática de atividades físicas para os idosos, no que se refere à manutenção do equilíbrio postural tanto nas atividades terrestres ou em água. No entanto, pode-se observar que a maioria dos trabalhos não apresentam programas padronizados. Falta clareza na descrição do exercício realizado, frequência, intensidade e duração dos mesmos.

Conclusão

O resultado deste estudo nos permitiu obser-var que a prática da hidroginástica/hidroterapia influencia na manutenção e melhora o equilíbrio estático e dinâmico de idosos, assim como a prá-tica de outras atividades fora da água pode ser benéfico para esta capacidade física. Os estudos apresentados indicaram que há um efeito positivo da prática de atividades físicas sobre o equilíbrio postural de idosos tanto em água quanto em solo.

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REVISÃO

Mecanismos moleculares associados à hipertrofia e hipotrofia muscular: relação com

a prática do exercício físicoMolecular mechanisms associated with muscle hypertrophy

and hypotrophy: relationship with physical exercise

Waldecir Paula Lima, D.Sc

Professor Titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), Professor e Orientador do Programa Stricto sensu em Biomateriais – EM (IFSP), Doutor em Biologia Celular e Tecidual pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP)

ResumoAs células (fibras) musculares estriadas esqueléticas

são altamente especializadas, podendo apresentar uma alta capacidade de adaptação morfológica, resultando, entre outras adaptações, em hipertrofia e hipotrofia muscular. Considerando que os processos de hipertrofia e hipotrofia muscular estão diretamente relacionados ao turnover proteico muscular, é importante destacar que as vias de síntese e degradação proteica ocorridas nesta célula são estimuladas por diversos sinais ex-tracelulares controlados, destacando-se a prática do exercício físico agudo e crônico. Em linhas gerais, a hipertrofia muscular está relacionada com as seguintes vias de sinalização: Akt/mTOR (mammalian Target of Rapamycin) e regulação das AMPK (adenosine mono phosphate/AMP-activated protein kinase); ativação das

células satélites; calcineurina/NFAT (Nuclear Factor of Activated T cells); regulação da miostatina. A hipotro-fia muscular relaciona-se com as vias: sinalização das catepsinas ou lisossomais; calpaínas dependentes de cálcio (Ca2+); caspases; ubiquitina proteassoma ATP--dependente (UPS); FoxO (Forkhead box O); TNFα (Tumor Necrosis Factor-α); NFkB (Nuclear Factor kappa-B); glicocorticoides. Sendo assim, o objetivo deste estudo de revisão é elucidar estas vias envolvidas nos processos de hipertrofia e hipotrofia muscular, relacionando-as com os diversos tipos de exercício e treinamento físico. Palavras-chave: treinamento físico, vias de sinalização, células satélites, miostatina.

Recebido em 29 de março de 2016; aceito em 12 de abril de 2016. Endereço para correspondência: Waldecir Paula Lima, Instituto Federal de São Paulo, Rua Pedro Vicente, 625, Canindé, 01109-010 São Paulo SP, E-mail: [email protected]

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Introdução

As células musculares estriadas esqueléticas (fi-bras musculares), inseridas nos músculos estriados esqueléticos, são altamente especializadas, poden-do apresentar uma alta capacidade de adaptação morfológica. Objetivamente, estas adaptações resultam em duas situações: no aumento do tamanho das células musculares, denominada hi-pertrofia e na diminuição do tamanho das células musculares, denominada hipotrofia.

Importante ressaltar que os processos de hi-pertrofia e hipotrofia que ocorrem em cada fibra (célula) muscular, promovem, quando analisadas de forma macro, alterações morfológicas no órgão músculo, denominadas hipertrofia e hipotrofia muscular. Estes processos estão relacionados à área de secção transversa dos músculos (AST), ou seja: um aumento da AST reflete em hipertrofia muscular e uma diminuição da AST reflete em hipotrofia muscular.

Considerando que os processos de hipertrofia e hipotrofia (atrofia) muscular estão diretamente relacionados ao turnover proteico muscular, é importante destacar que as vias de síntese e de-gradação proteica ocorridas na célula muscular estriada esquelética são estimuladas por diversos sinais extracelulares controlados, entre outros, por hormônios, citocinas, fatores de crescimento e potenciais de ação (estímulos neurais), permitin-do a possibilidade da remodelação destas células a partir de um processo dinâmico. Desta forma, entende-se que o aumento da massa magra (hi-pertrofia muscular) ou diminuição da massa ma-

gra (hipotrofia muscular) ocorrem pelo balanço positivo ou negativo entre a síntese e degradação proteica, promovido pela integração coordenada de uma rede extremamente complexa de vias de sinalização intracelular.

Em linhas gerais, a hipertrofia e a hipotrofia muscular estão relacionadas com as seguintes vias de sinalização, descritas no quadro 1 [1-4].

Quadro 1 - Vias de sinalização relacionadas aos processos de hipertrofia e hipotrofia muscular [1-4].

Hipertrofia muscular Hipotrofia muscularVia de sinalização Akt/mTOR (mammalian Target of Rapamycin) e regulação das AMPK (adenosine mono phos-phate/AMP-activated protein kinase)

a. Via de sinalização das catepsinas ou lisossomais

Via da ativação das células satélites

b. Via das calpaínas dependentes de cálcio (Ca2+)

Via da calcineurina/NFAT (Nuclear Factor of Activated T cells)

c. Via das caspases

Via da regulação da miostatina

d. Via da ubiquitina proteassoma ATP-de-pendente (UPS)e. Via FoxO (Forkhead box O)f. Via do TNFα (Tumor Necrosis Factor-α) e NFkB (Nuclear Factor kappa-B)

AbstractThe cells (fibers) skeletal striated muscles are highly

specialized and may have a high capacity of morpho-logical adaptation, resulting, among other adaptations in muscle atrophy and hypertrophy. Whereas the enlargement processes and muscle atrophy are directly related to muscle protein turnover, it is important to note that the process of protein synthesis and degra-dation occurring in this cell is stimulated by several controlled extracellular signals, especially the practice of acute and chronic exercise. In general, muscle hyper-trophy is related to the following signaling pathways: Akt/mTOR (mammalian Target of Rapamycin) and regulation of AMPK (adenosine mono phosphate/

AMP-activated protein kinase); activation of satellite cells; calcineurin/NFAT (Nuclear Factor of Activated T cells); regulation of myostatin. Muscle atrophy relates to the routes: signaling of cathepsins or lyso-somal; calpain-dependent calcium (Ca2 +); caspases; ATP ubiquitin dependent proteasome (UPS); FOXO (forkhead box O); TNFa (Tumor Necrosis Factor-α); NFkB (nuclear factor kappa B); glucocorticoids. Thus, the aim of this review study is to elucidate these path-ways involved in hypertrophy processes and muscle atrophy, relating them to the various types of exercise and physical training.Key-words: physical training, signaling pathways, satellite cells, myostatin.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 266

g. Via dos glicocorti-coides

Destacam-se, como estratégia para estímulo destas vias, o treinamento físico e o desuso muscu-lar, muito embora, atualmente, não exista clareza na relação entre os diversos tipos de exercício agu-do e crônico e as vias de sinalização intracelulares que promovem a hipertrofia e a hipotrofia de células musculares estriadas esqueléticas.

Sendo assim, o objetivo deste estudo de re-visão é elucidar as principais vias envolvidas nos processos de hipertrofia e hipotrofia muscular, relacionando-as com os diversos tipos de exercício e treinamento físico.

Revisão da literatura

Hipertrofia muscular: vias de sinalização intracelular

Segundo Goldberg et al. [5], o processo de hipertrofia do músculo estriado esquelético é resul-tado do aumento da área de secção transversal da fibra muscular, culminando com o aumento da área de secção transversal do músculo. Embora, atual-mente, os mecanismos responsáveis pela hipertrofia muscular ainda não estejam totalmente elucidados, há muito tempo Denny-Brown [6] e Goldspink [7], entre outros pesquisadores, apontaram que processos como o aumento da síntese proteica, o aumento do número e tamanho das miofibrilas e a adição de sarcômeros no interior da fibra muscular são fundamentais para que o músculo obtenha esta adaptação morfológica. Na sequência, serão abordados os principais mecanismos relacionados ao processo de hipotrofia muscular.

Via de sinalização Akt/mTOR (mammalian Target of Rapamycin) e regulação das AMPK (adenosine mono phosphate/AMP-activated protein kinase)

A AKT, uma serina/treinina quinase também denominada de proteína quinase do tipo B (PKB), apresenta destacada função em uma das diversas vias de sinalização intracelular que regula a sín-tese proteica, além de controlar outros diversos

marcadores fundamentais das vias regulatórias de funcionamento celular, relacionados a metabo-lismo, proliferação, sobrevivência, consumo de glicose, angiogênese e crescimento [8].

A família da Akt é constituída de três iso-formas: Akt1, Akt2 e Akt3, embora exista uma predominância da expressão de Akt1 e Akt2 em células musculares estriadas esqueléticas.

A fosforilação e consequente ativação da Akt são conhecidas por uma diversidade de estímulos, como os fatores de crescimento (IGF1), as cito-cinas (Interleucinas) e os hormônios (insulina, testosterona e outros), sugerindo um importante papel da Akt na promoção de síntese proteica celular.

Um esquema simplificado da via de IGF1/Akt é mostrado na Figura 1.

Figura 1 - Um esquema simplificado da via de IGF1--Akt. Adaptação de Schiaffino e Mammucari [9].

A ligação de IGF-1 ao seu receptor conduz à ativação da tirosina-quinase intrínseca e sua autofosforilação, gerando sítios de ligação para o substrato receptor da insulina (IRS), que também é fosforilado pelo receptor de IGF1. O IRS fosforilado atua também como um sítio de ligação para recrutar e, posteriormente, ativar o fosfatidilinositol-3-quinase (PI3K) que, por sua vez, fosforila fosfolípidos da membrana, gerando o fosfoinositide-3,4,5-trifosfato (PIP3). O PIP3 age como um local de ancoragem para duas quinases:

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as dependentes de fosfatidilinositol quinase-1 (PDK1) e a Akt. A subsequente fosforilação da Akt, na serina 308 por PDK1, é que propicia a ativação da Akt. Todas estas etapas ocorrem na superfície interna da membrana celular (deno-minada sarcolema, na célula muscular estriada esquelética). A Akt inibe a degradação proteica por fosforilar os fatores de transcrição da família FoxO, promovendo inibição de sua atividade (maiores informações no item 2.2.2e) e estimula a síntese proteica por meio da ativação da proteína alvo de mamífero de rapamicina ou mammalian Target of Rapamycin (mTOR) e inibição da 3β glicogênio sintase quinase (GSK3β), entre outras moléculas sinalizadoras [8].

Importante ressaltar que a Figura 01 mostra que os fatores de transcrição FoxO são necessários para a regulação da transcrição das ubiquitinas ligases atrogin-1 (ou MAFbx) e MuRF1, con-duzindo à ubiquitinação de miosina e outras proteínas musculares, com a sua degradação por ação do proteassoma 26S. Os FoxOs também são necessários para regular a transcrição da proteína denominada cadeia leve associada a microtúbu-los-3 (LC3) que, em conjunto com a Bcl2, é essen-cial para a ativação da via de autofagia lisossomal.

No que tange a via de estimulação da síntese proteica, TOR é uma proteína serina/treonina quinase com grande tamanho molecular (cerca de 300 kDa), que pertence a família de quinases relacionadas com o fosfatidilinositol (PIK). TOR foi primeira e timidamente descrita, em 1991, como uma proteína relacionada com aspectos antifúngicos e imunossupressores [10]. Estudos posteriores revelaram diversas funções importan-tes de TOR, evidenciando esta proteína quinase na posição central da rede de sinalização que regula o crescimento celular. As funções da TOR englobam a regulação do metabolismo, da tradu-ção e transcrição proteica, em resposta a ativação de nutrientes e fatores de crescimento [11].

Segundo Zoncu, Efeyan e Sabatini [12], a ação da Akt em mTOR é indireta: a Akt inibe as prote-ínas complexas de tuberinas escleroses ou tuberous sclerosis complex (TSC1 e TSC2), que atuam como proteínas de ativação de GTPase (GAP) para inibir a proteína Ras homólogo enriquecido no cérebro ou Ras homolog enriched in brain (Rheb)

que ativa a sinalização de mTOR. A mTOR forma dois complexos de proteínas diferentes, a mTORC1 sensível à rapamicina, quando ligado a raptor, e a mTORC2 insensível à rapamicina, quando ligado a rictor. A mTORC2 é necessária para a fosforilação e ativação de Akt, enquanto a mTORC1 fosforila a quinase S6 (S6K), que por sua vez, fosforila a proteína ribossómica S6 e outros fatores envolvidos no início da tradução gênica, estimulando, assim, a síntese de proteínas. A mTORC1 também ativa a início da tradução gênica do fator 4E (eIF4E) por fosforilação das proteínas inibidoras de ligação eIF4E (4EBPs). A Akt também promove a síntese de proteínas por, diretamente, fosforilar e inativar a GSK3β, pro-movendo, assim, a inibição do fator de iniciação de tradução 2B (eIF2B).

Watson e Baar [13] relatam em seu artigo intitulado mTOR and the health benefits of exercise, que o exercício físico agudo, mas, sobretudo, o crônico, pode trazer diversos benefícios à saúde por, dentre vários aspectos, modular a ativação da proteína mTOR.

Hoppeler et al. [14] citam que o treinamento, principalmente com cargas elevadas, estimula, por diversas vias intervenientes, a atividade aumen-tada da via AKT/m-TOR nas células musculares estriadas esqueléticas, resultando em maior sín-tese proteica e, consequentemente, aumento do trofismo celular.

Em contrapartida, Atherson et al. [15] apon-tam que o exercício crônico de endurance aumenta a atividade da proteína quinase ativada por AMP ou adenosine mono phosphate (AMP)-activated pro-tein kinase (AMPK), resultando em fosforilação da TSC2 com consequente inatividade da mTOR, induzindo a inibição da síntese proteica quando da prática deste tipo de treinamento.

Considerando a relação AMPK e AKT/mTOR com o exercício físico, uma combinação de uma mesma sessão de exercícios de endurance e de força foi reportada para verificar a resposta hipertrófica. Apró et al. [16] apresentavam como hipótese que o aumento de AMPK, induzido pelo exercício de endurance, poderia inibir da sinaliza-ção mTORC1. Esta hipótese foi testada em oito homens treinados que realizaram exercícios de endurance na bicicleta e, depois, exercícios resis-

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tidos. Verificou-se um aumento significativo da atividade de AMPK. Contudo, a elevação indu-zida pelo ciclismo intervalado de alta intensidade na atividade da AMPK não inibiu a atividade do mTORC1 após exercícios resistidos subsequentes, embora os autores do estudo façam resalva a uma possível interferência na resposta hipertrófica, por possível influência em componentes-chave em outras vias da degradação de proteínas.

Sendo assim, entende-se que a influência da AMPK na atividade de mTORC1 por indução da prática de exercício físico agudo e crônico não está bem estabelecida. Postulando investigar mais amplamente esta relação, Vissing et al. [17] desenvolveram um estudo com homens que foram divididos em 3 grupos: praticantes de exercí-cios (10 semanas) de endurance, praticantes de exercícios (10 semanas) de força e grupo de não praticantes (controle). Os dados foram obtidos antes e durante a recuperação pós-atividade de uma sessão aguda de exercício compatível com o realizado nas semanas de treinamento. Houve aumento significativo, após o exercício de força, nas concentrações do fator de crescimento seme-lhante à insulina-1 (IGF-1), AKT fosforilado, mTOR e glicogênio sintase quinase-3, entre outros marcadores de estimulação de síntese pro-teica. O aumento da fosforilação da AMPK foi observado após exercícios de endurance, embora tenha apresentado o mesmo aumento em relação ao pós-exercício de força. Os resultados confir-mam que em indivíduos treinados, a sinalização de mTORC1 é preferencialmente ativada após o exercício, o que induziria a hipertrofia muscular, enquanto a sinalização AMPK é menos específica, quando se trata de sua relação com uma possível inibição da via hipertrófica, para os diferentes tipos de exercício.

Via das células satélites

As fibras (células) musculares esqueléticas e os respectivos músculos formados por elas possuem grande capacidade de adaptação frente a diversas situações fisiológicas, tais como o crescimento, o treinamento físico, os danos/lesões, entre outras. Pelo fato das fibras musculares estriadas esquelé-ticas adultas se apresentarem extremamente dife-

renciadas, essa exacerbada condição de adaptação que estas células apresentam é atribuída a outro tipo de célula residente no músculo esquelético adulto, denominada de célula satélite [18].

Foi indicada, em importante e pioneira pu-blicação no Journal of Biophysical and Biochemical Cytology [19], a primeira descrição das células satélites musculares. Como características espe-cíficas, as células satélites são mononucleadas e indiferenciadas, apresentando sua membrana em comunicação com a membrana da fibra muscular (sarcolema) e com a membrana/lâmina basal. Sua denominação está relacionada com a sua locali-zação, anexada na periferia de fibras musculares estriadas esqueléticas, que são células multinucle-adas (Figura 2).

Figura 2 - Corte transversal de uma fibra muscular esquelética do músculo sartório de rato.

Em destaque: Membranas da Célula Satélite (sp), Fibra

Muscular (mp) e Basal (bm) Microscopia eletrônica,

aumento: 22.000 X. Fonte: [19].

Do ponto de vista funcional, as células satélites apresentam grande atividade mitogênica, con-tribuindo substancialmente para o crescimento/desenvolvimento do músculo na fase pós-natal, o reparo de fibras musculares lesionadas e a manu-tenção do músculo esquelético morfologicamente constituído.

Importante ressaltar que quando o músculo não recebe interferências externas ou internas que resultam em alterações estruturais, como lesões, as células satélites permanecem em estado quies-

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cente, ou seja, estado de dormência/repouso/não ativo. Contudo, estímulos como o crescimento/desenvolvimento, lesões e regeneração/remode-lação, promovem alteração no comportamento destas células. Assim sendo, as células satélites sairiam do estado quiescente para o estado de ativação e, posteriormente, de proliferação. Ao se proliferarem, a partir de atividade mitótica, se juntam e se fundem com a fibra muscular adjacente, promovendo reparo de possível lesão. Ademais, doam seus núcleos para a fibra muscu-lar, aumentando a capacidade de síntese proteica da mesma, o que resultaria em crescimento e desenvolvimento da fibra muscular – hipertrofia muscular [20]. É fato que, em qualquer estado, estas células são capazes de expressarem diversos marcadores da linhagem miogênica, apontados no quadro 2.

Diversos estudos [21-24], especialmente os realizados com a técnica de cultivo celular (in

vitro), apontam para alguns fatores de crescimento como reguladores de atividade, proliferação e diferenciação (em mioblastos) das células sa-télites musculares Ademais, alguns hormônios e citocinas apresentam função regulatória no comportamento das células satélites. Estes fato-res de crescimento, hormônios, citocinas e suas respectivas ações estão apresentados no quadro 3.

Importante constatar a característica autó-crina das células satélites (células que produzem secreção, lançam em direção ao meio extracelular e, posteriormente, receptam a própria secreção), além de, também, serem moduladas por subs-tâncias oriundas de diversos outros territórios corporais, tais como sangue, células do sistema imunológico, sistema nervoso [21].

Como respostas fisiológicas aos possíveis estímulos funcionais (como, por exemplo, a prá-tica do exercício físico que promova microlesões musculares), a célula satélite muscular apresenta

Quadro 2 - Marcadores moleculares utilizados para identificar a população de células satélites do músculo estriado esquelético em sujeitos adultos [18,21].

Marcadores MolecularesEstado que se encontram as células satélites musculares no momento

da expressão gênica dos marcadores moleculares MNF Quiescência, Ativação e Proliferação de Células SatélitesPax7 Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélitesc-Met Quiescência, Ativação e Proliferação de Células SatélitesM-cadherin Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites

NCAMQuiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites Atividade de jun-ções neuromusculares

VCAM-1 Quiescência, Ativação e Proliferação de Células SatélitesMNF-β Quiescência, Ativação e Proliferação de Células SatélitesMyf5 Ativação e Proliferação de Células SatélitesMyoD Ativação e Proliferação de Células SatélitesDesmin Ativação e Proliferação de Células SatélitesMyogenin Ativação e Proliferação de Células Satélitesc-ski Proliferação de Células SatélitesMNF-α Proliferação de Células SatélitesBrdU Proliferação de Células SatélitesPCNA Proliferação de Células Satélites[3H]thymidine Proliferação de Células Satélites

MNF = Fator Nuclear dos Miócotos; Pax7 = Fator de Transcrição paired box; c-Met = MET gene transformante; M-

-cadherin = M-caderina; NCAM = Molécula de Adesão de Células Neurais; VCAM-1 = Molécula de Adesão de Células

Vasculares; MNF-β = Fatores de Regulação Miogênica do tipo Beta; Myf5 = Fatores de Regulação Miogênica tipo Myf5

MyoD = fatores de regulação miogênica tipo MyoD; Desmin = Desmina; Myogenin = Miogenina; c-ski = Regulador

Transcricional do tipo Ski; MNF-α = Fatores de Regulação Miogênica do tipo Alfa; BrdU = Bromodeoxiuridina; PCNA =

Antígeno Nuclear de Proliferação Celular [3H]thymidine = [3H]timidina.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 270

a possibilidade de participar diretamente do processo de reparação com consequente hiper-trofia muscular [25]. É fato que a inativação com diminuição da proliferação e da diferenciação destas células (exacerbada, por exemplo, nos idosos), está relacionada ao processo de hipotrofia muscular [26].

Via da calcineurina/NFAT (Nuclear Factor of Activated T cells)

É fato inquestionável que o Ca++ age como segundo mensageiro em células musculares es-triadas. Portanto, este íon é fundamental para o processo de contração muscular tanto em músculo cardíaco quanto esquelético, embora os mecanis-mos moleculares relacionados a essas contrações sejam diferentes.

Especificamente no tecido muscular esqueléti-co, os impulsos nervosos eferentes promovem, no nível terminal, a liberação de acetilcolina e uma sucessiva despolarização na membrana celular/sarcolema, chegando até os túbulos T. Nos túbu-los T, os canais de cálcio voltagem-dependentes, denominados também de Receptores de Diidro-piridina (DHPR) comunicam-se física e direta-mente com um canal específico de liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático, os receptores de Rianodina (RyR1). Esta comunicação promove

a abertura dos canais de liberação do Ca++ do retículo sarcoplasmático, promovendo a liberação deste Ca++ para o sarcoplasma, local onde ocorre sua ligação com a troponina C do filamento de actina, iniciando o processo mecânico de contra-ção muscular [1].

Importante ressaltar que, no músculo es-quelético, a entrada de Ca2+ oriundo do meio extracelular parece não ser fundamental para a contração muscular, diferente do que ocorre no músculo cardíaco [27].

Ocorre que parte do Ca++ liberado no sarco-plasma pode ligar-se a molécula de calmodulina resultando no complexo Cálcio/calmodulina (Ca2+/CaM), propiciando condições de ativar uma via alternativa que resultaria em estímulo hipertrófico na fibra muscular estriada esquelética.

Segundo Sakuma e Yamaguchi [28], a ligação do complexo Ca2+/CaM com a subunidade regu-ladora da calcineurina, encaminha a sua ativação. A Calcineurina ativada, desfosforila: o NFATc1 (Fator Nuclear de ativação das células T/C1 ou nuclear factor of activated T cells c1), NFATc3 (Fator Nuclear de ativação das células T/C3 ou nuclear factor of activated T cells c3), MEF2C (Fa-tor de potencialização de miócitos 2C ou Myocyte enhancer factor 2C) e MEF2A (Fator de poten-cialização de miócitos 2ª ou Myocyte enhancer factor 2A), resultando em sua translocação desde

Quadro 3 - Alguns fatores de crescimento, hormônios e citocinas e suas respectivas ações nas células satélites mus-culares [21-24].Fatores de crescimento, hormônios e citocinas

Ação dos fatores moduladores nas células satélites musculares

HGF ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↓ Diferenciação FGF ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↓ DiferenciaçãoIGFs ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↑ DiferenciaçãomMGF ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↑ DiferenciaçãoTGF-β ↓ Ativação; ↓ Proliferação; ↓ DiferenciaçãoIL-6 ↑ Ativação; ↑ ProliferaçãoTestosterona ↑ Ativação; ↑ Proliferação;Prostaglandinas ↑ Ativação; ↑ Proliferação;Insulina ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↑ DiferenciaçãoT3 ↓ ProliferaçãoNO ↑ Ativação; ↑ Proliferação;

HGF = Fator de Crescimento do Hepatócito; FGF = Fator de Crescimento do Fibroblato; IGFs = Fatores de Crescimento

semelhante a Insulina; mMGF = Fator de Crescimento Mecânico Muscular; TGF-β = Fator de Crescimento Transforma-

dor-Beta; IL-6 = Interleucina 6; T3 = Hormônio Triiodotironina; NO = Óxido Nítrico.

71Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

o citoplasma até o núcleo. Estes fatores de trans-crição induzem a expressão de genes hipertróficas e/ou de remodelação, tais como Dev MHC (De-velopmental myosin heavy chain), α-actina, IGF-I, miogenina e IL-6 (Interleukin-6). Além disso, a calcineurina inibe o papel funcional da Egr-1 e da miostatina, reconhecidos fatores estimuladores de hipotrofia muscular.

Mais recentemente, Hudson e Price [29] relatam outras possibilidades da relação entre a calcineurina e o controle dos processos hipertró-ficos e hipotróficos (Figura 3).

Figura 3 - Visão Geral dos mecanismos promovidos pela calcineurina em relação ao tamanho das fibras musculares estriadas esqueléticas.

As linhas sólidas representam percursos estabelecidos enquanto as linhas pontilhadas representam interações potenciais. A Ativação de PGC-1α (via MEF2 e NFAT) por meio da ação da calcineurina está sendo considerada, atualmente, a principal cascata de sinalização através da qual ela evita a perda de massa mus-cular. No entanto, parece que a calcineurina apresenta potencial para ativar a miR-23a (de forma direta e/ou indireta, via MEF2 e/ou NFAT), inibindo, assim, a ação de atrogina-1 e MuRF1. Isso representaria um mecanismo adicional pelo qual a calcineurina poderia prevenir a perda de massa magra. Adaptado de Hudson e Price [29].

Via da regulação da miostatina

Identificada em 1997 [30] nas células mus-culares estriadas esqueléticas, a miostatina, tam-bém conhecida como Fator de Crescimento e Diferenciação ou Growth Differentiation Factor-8 (GDF-8), é um membro dos fatores de crescimen-to transformador-beta ou Transforming Growth Factor-beta (TGF-β), pertencentes a superfa-mília de fatores de crescimento e diferenciação secretados por diversas células do organismo. Especificamente, a miostatina funciona como um regulador negativo do crescimento do músculo esquelético [30]. Fica estabelecido, então, que a célula muscular estriada esquelética predominaria em sinalizações que resultariam em aumento da síntese proteica e hipertrofia muscular quando as ações da miostatina estiverem minimizadas.

A miostatina é considerada uma secreção autócrina (esclarecida anteriormente) e parácrina (secretada em direção ao meio extracelular e re-ceptada pelas células vizinhas). Em conjunção, a miostatina é também considerada uma substância endócrina (secretada em direção a rede vascular, transportada pelo plasma sanguíneo e receptada por células de outros tecidos/territórios), como demonstrado por Argilés et al. [31] em importante publicação no periódico Drug Discovery Today.

A miostatina é uma proteína sintetizada em uma forma bruta composta por 375 aminoácidos, prioritariamente no músculo estriado esquelético. Após duas clivagens, gera o Peptídeo Associado à Latência (LAP) (porção um N-terminal), com peso molecular de 40 KDa e a miostatina madura (porção C-terminal), com 26 KDa, A miostatina madura representa a parte biologicamente ativa [32,33].

A função minimizada da miostatina está associada a um aumento na massa muscular, já observado em bois, ratos e, até, em humanos, as-sim como o bloqueio da miostatina melhora a re-generação muscular observado em ratos knockout para a distrofia muscular de Duchenne [34,35].

Durante a embriogênese, a expressão da miostatina está restrita ao desenvolvimento de músculos esqueléticos, embora a miostatina seja expressa por músculos esqueléticos durante a vida adulta [30].

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 272

Conforme apontado por Leal, Santos e Aoki [36], a miostatina é sintetizada pela célula mus-cular na sua forma latente, sendo secretada em direção ao meio extracelular e, consequentemente, associada a um propeptídeo, formando o comple-xo propeptídeo-miostatina. No meio extracelular, este complexo é clivado, liberando a miostina em sua forma ativa. A miostatina ativa tem condições de vincular-se com seu receptor de membrana e, posteriormente, ativar a sinalização cuja função é de inibir a síntese proteica com consequente diminuição do trofismo muscular.

Uma das estratégias que inibiria a ação hi-potrófica da miostatina na célula muscular seria evitar que ela fosse receptada, inibindo sua sina-lização. Entre as diversas e conhecidas proteínas antagonistas/bloqueadoras dos receptores de miostatina – heterodímero ALK 4/5 (Activina I) e Activina IIB, e os compostos que apresentam capacidade de interação com a miostatina no meio extracelular, inibindo sua atividade biológica, re-duzindo sua disponibilidade e subsequente intera-ção com seu receptor, destacam-se a Folistatina ou Folistatin (FS), o gene relacionado com Folistatina ou Follistatin–related gene (FLRG) e o Fator de crescimento e diferenciação associado a proteína sérica-1 ou Growth and differentiation Factor--associated serum protein-1 (GASP-1) [34,37].

A miostatina age fosforilando o receptor Acti-vina IIB e ativando o receptor ALK 4/5-activina I, formando um complexo receptor ativado. Na sequência, inicia-se a sinalização intracelular por meio da ligação com uma classe de proteínas denominada Mothers Against Decapentaplegic (MAD). As MADs, sistematicamente, formam um complexo com outras MADs inibitórias (SMADs do tipo 2, 3 e 4). A associação da SMAD-2 com a SMAD-4 vai permitir seu trans-porte para o núcleo da célula, território onde exerce o papel de um fator de transcrição que regula a expressão de proteínas ligadas à degra-dação proteica, apoptose e inibição do trofismo celular muscular. Em contraste, as SMADs do tipo 6 e, em especial, do tipo 7 agem como anta-gonistas à via de sinalização da miostatina. Kollias e colaboradores [38] apontam que o aumento da SMAD-7 inibe a associação da SMAD-2 com a SMAD-4 e o seu acúmulo nuclear, respostas estas

estimuladas, como descrito anteriormente, pela ação da miostatina. Ademais, é possível afirmar que a SMAD-7, além de inibir a ação hipotrófica sinalizada pela miostatina, acelera a iniciação e diferenciação miogênica levando à hipertrofia celular, sobretudo por meio da interação com a proteína MyoD.

Elinka et al. [39] apontam que a miostatina pode ativar a via das proteínas quinases ativadas por mitógenos ou Mitogen-activated Protein Kinase (MAPK) dos tipos p38 e ERK e inibir a sinalização da via AKT/m-TOR, o que resultaria, ainda que por ação indireta, na diminuição da síntese proteica com consequente hipotrofia da célula muscular.

Tanto a prática do exercício agudo [40] como a do exercício crônico [41], exercem efeito de regulação na expressão e ação da miostatina e/ou moléculas inibitórias que participam de sua via sinalizadora. Desta forma, a atividade hipotrófica muscular que é estimulada pela sinalização da miostatina é minimizada pela ação do exercício.

Hipotrofia muscular: vias de sinalização intracelular

Diversos autores [2,42] apontam para o de-suso do músculo estriado esquelético, sobretudo em função de baixas sobrecargas de trabalho, como o principal fator na diminuição da síntese e aumento da degradação proteica, acarretando em hipotrofia muscular. Este desuso parece influen-ciar de forma negativa o início do processo de tradução proteica, além de facilitar a atividade das vias proteolíticas hipotróficas. Na sequência, serão abordados os principais mecanismos relacionados ao processo de hipotrofia muscular.

Via de sinalização das catepsinas ou lisossomais

As catepsinas são proteases, dos tipos B, D, H e L, encontradas, em especial, nos lisossomos ce-lulares. Embora promovam proteólise, suas ações estão direcionadas para proteínas de membrana, como receptores, transportadores e canais iônicos. As catepsinas não agem em proteínas citosólicas, como as proteínas miofibrilares [2]. Porém, Zhao

73Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

et al. [43] relatam que a proteólise lisossomal dependente de autofagia apresenta mecanismos mais complexos, principalmente em função de uma autofagia aumentada por meio do fator de transcrição FoxO3 (que será posteriormente de-talhado) e uma regulação coordenada entre os sis-temas ubiquitina proteassoma ATP-dependente/UPS e lisossomal (figura 4).

Figura 4 - Vias de sinalização de hipotrofia muscular (ubiquitina proteassoma ATP-dependente/UPS e li-sossomal) controladas pelo fator de transcrição FoxO3, associando mecanismo hipertrófico e hipotrófico. Adap-tado de Zhao et al. [43].

Via das calpaínas dependentes de cálcio (Ca2+)

O sistema de calpaínas integra o grupo de proteases de tipo cisteínas dependentes de cálcio (Ca2+). Less et al. [44] discorrem, a partir de um estudo desenvolvido com ratos, que uma grande depleção de glicogênio poderia resultar na inca-pacidade de reabsorção do cálcio liberado pelas cisternas do retículo sarcoplasmático, sobretudo pela diminuição nas reservas locais de ATP, o que promoveria uma incapacidade das bombas de cálcio (caracterizadas por um transporte ativo – dependente de ATP) funcionarem adequada-mente. Sendo assim, atividades musculares de alto volume e intensidade, poderiam estar relacionadas

com esta grande liberação de Ca2+ e consequente ativação do sistema de calpaínas.

Goll et al. [45], em seu artigo de revisão, relatam a presença das calpaínas 1 (m-calpaína) e 2 (μ-calpaína), além de uma calpaína específica denominada calpaína-3 ou calpastatina, nas cé-lulas musculares estriadas esqueléticas. Embora as funções destas calpaínas nas fibras musculares ainda não estejam descritas claramente na li-teratura, estes autores citam a possibilidade do envolvimento destas calpaínas na organização do citoesqueleto destas células. Goll et al. [45] e Donkor [46] também evidenciam que a m-calpa-ína e a μ-calpaína são, efetivamente, as proteases cálcio-dependentes, enquanto a calpastatina seria responsável por inibir o sistema proteolítico.

Kandarian e Stevenson [4] relatam que o aumento exacerbado na concentração sarcoplas-mática de Ca2+ poderia ativar as calpaínas ligadas a linha/disco-Z, resultando em proteólise com consequente hipotrofia muscular. As proteínas musculares nebulina e fodrina seriam degradadas na presença das calpaínas ativas [47], assim como a vinculina e a titina também são considerados substratos do sistema de calpaínas [2]. Segundo Kandarian e Stevenson [4], a clivagem da titina, proteína que mantém o alinhamento do sarcôme-ro, permite a liberação das proteínas miofibrilares para serem ubiquitinadas e, posteriormente, degradadas no sistema proteassoma/UPS, uma vez que este sistema não é capaz de degradar proteínas intactas.

Via das caspases

As caspases (cysteine-dependent aspartate--specific proteases ou, em português, proteases aspartato-específicas dependentes de cisteína) inserem-se na família das proteases a base de cisteína que reconhecem certos tetrapeptídeos (proteínas-alvo) e os clivam nos sítios próximos ao resíduo de aspartato [48]. Segundo Nicholson [49], as caspases são essenciais para a iniciação e execução de apoptose ou morte programada de células e no processamento e maturação das citocinas inflamatórias.

Nos seres humanos, foram identificados 11 diferentes tipos de caspases: a caspase-1 até a cas-

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 274

pases-10 e caspase-14. Várias caspases adicionais, incluindo caspase-11, caspase-12 e caspase-13 foram detectados em outros mamíferos, tais como roedores e a vaca Bos taurus. Estas 14 caspases encontradas nos mamíferos são classificadas em vários grupos, de acordo com as suas relações filogenéticas e correlacionadas funcionalmente [50]. Dois subgrupos são caracterizados como iniciadores (caspases-2, -8, -9 e -10) e efetores (caspases-3, -6 e -7) na via de sinalização apop-tótica. Na subfamília das caspases inflamatórias, estão incluídas as caspases-1, -4, -5, -11, -12 e -13. A caspase-14 é única, uma vez que não pertence nem as caspases apoptóticas e nem caspases infla-matórias. Ela é considerada uma caspase atuante na diferenciação de queratinócitos na pele [51].

No que tange a fibra muscular, Du et al. [2] destacam a caspase-3 que, por meio de uma conexão entre a via de sinalização da PI3K/Akt e ativação das vias proteolíticas, teria um impor-tante papel na hipotrofia muscular induzida por algumas doenças crônico-degenerativas, como o câncer e o diabetes. Kandarian e Jackman [3] relatam que o sistema proteolítico ubiquitina-pro-teassoma/UPS é capaz de degradar os filamentos de actina ou miosina, contudo, como descrito anteriormente, este sistema não é capaz de quebrar os complexos actomiosina intactos. Sendo assim, as caspases (em especial, a caspase-3) teriam ações conexas àquelas das calpaínas, disponibilizando as proteínas miofibrilares para a ubiquitinação.

Mesmo com o desenvolvimento de diversos estudos objetivando investigar e elucidar os meca-nismos celulares mais intrínsecos, atualmente não existem evidências mostrando o papel das caspases na hipotrofia muscular induzida pelo desuso.

Via da ubiquitina proteassoma ATP-dependente (UPS)

Jackman e Kandarian [2] relatam que o pro-teassoma 26S, responsável pela degradação da maioria das proteínas miofibrilares ubiquinadas decorrente da hipotrofia, caracteriza-se por um complexo proteico constituído por uma subuni-dade central, denominada 20S e duas subunidades periféricas, conhecidas como anéis, denominadas 19S.

Kandarian e Stevenson [4] citam que o processo de ubiquitinação ocorre em função da participação de três enzimas, denominadas: E1 ou de ativação da ubiquitina, E2 ou conjugante de ubiquitina e a E3 ou de ligação da ubiquitina. O mecanismo proteolítico, segundo estes autores, ocorre em função de uma ordem sequencial de etapas. Primeiramente, a ubiquitina é ativada pela enzima E1, procedimento que necessita de ATP. Uma vez ativada, a ubiquitina é transferida para a enzima E2. Na sequência, a enzima E3 (enzima que esta ligada junto ao substrato proteico a ser marcado e. em seguida, hidrolisado), se liga a enzima E2. Em continuidade ao mecanismo, a enzima E2 transfere a ubiquitina para o substra-to proteico (alvo) ligado a E3, marcando-o para posterior clivagem (degradação) no proteassoma. Este mecanismo ocorre repetidas vezes até que se forme uma cadeia de quatro ou mais moléculas de ubiquitina, o que permitiria a degradação, em peptídeos, da proteína alvo no proteassoma (Figura 5 A e B).

Figura 5 - A. Sistema Ubiquitina Proteassoma ATP-dependente/UPS, promovendo mecanismos de ubiquitinação e degradação proteica. B. Ação das enzimas E1, E2 e E3 enfatizadas no Sistema Ubiqui-tina Proteassoma ATP-dependente/UPS. Adaptado de Kandarian e Stevenson [4].

A.

75Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

B.

Como abordado anteriormente, o proteasso-ma não é capaz de degradar proteínas intactas. Postula-se, então, que a proteólise miofibrilar, oriunda do sistema das calpaínas [45] ou esti-mulada pelas caspases [52], seja exigência prévia e fundamental para que ocorram os processos de ubiquitinação e, subsequentemente, de degra-dação proteica no proteassoma 26S. Portanto, sobretudo no desuso muscular, os sistemas das calpaínas e caspases atuariam previamente, libe-rando proteínas oriundas dos sarcômeros para que, posteriormente, estas sofressem os processos de ubiquitinação (enzimas E1, E2 e E3) e degra-dação no proteassoma.

Thomas e Mitch [53] e Kandarian e Jackman [3] discorrem sobre relação entre as proteínas muscle atrophy F-box (MAFbx, também conhecida como atrogin-1) e a muscle ring finger 1 (MuRF-1), com a via ubiquitima proteassoma, indicando--as, inclusive, como marcadores de proteólise da referida via.

Via FoxO (Forkhead box O)

Os fatores de transcrição FoxO (Forkhead box O), integram uma subfamília de um grande grupo de fatores de transcrição denominados forkehead, com destacado papel na homeostase celular As cé-lulas dos seres humanos possuem quatro membros desta família, FoxO1, FoxO3, FoxO4 e FoxO6, sendo todos expressos no músculo esquelético, embora os três primeiros membros sejam os mais estudados neste tecido [54].

Sanchez, Candau, Bernardi [54] ainda apontam que, referente ao processo de trofismo muscular, os FoxO1 e FOXO3 são reguladores--chave da degradação de proteínas, uma vez que

modulam a atividade de vários agentes nas vias proteolíticas ubiquitina-proteassoma e autofágica--lisossomal, incluindo a autofagia mitocondrial, também chamada de mitofagia.

Estes fatores de transcrição/Foxo também têm sido implicados na regulação do mecanismo de apoptose em fibras musculares estriadas esquelé-ticas [55].

A função dos Foxo é minimizada quando os mesmos são fosforilados em seus resíduos con-servados, procedimento que os manteriam no citoplasma. Desta forma, os FoxOs, sobretudo o FoxO1, não iriam para os núcleos das fibras musculares ativar a expressão de diversos genes relacionados com a hipotrofia muscular, os quais se incluem as chamadas ubiquitinas ligases: Atrogin-1 (Muscle Atrophy F-box ou MAFbx) e MuRF-1 (Muscle RING-Finger-1) [56].

Dentre vários fatores, Sandri e colaboradores [57] citam o desuso como um importante esti-mulador do mecanismo hipotrófico via FoxO, aproveitando para apontarem, de forma abran-gente, o comportamento da via FoxO a partir da ação dos estímulos hipertróficos e hipotróficos.

O exercício físico, quer seja de força ou de en-durance, propicia a condição de ativar as vias que promoveriam a fosforilação dos FoxOs, inibindo assim, a expressão gênica de atrogin-1 e MuRF1 [58]. Estas proteínas estão altamente ligadas com o processo de degradação proteica [59].

Via do TNFα (Tumor Necrosis Factor-α) e NFkB (Nuclear Factor kappa-B)

Alguns fatores de transcrição, como o Fator Nuclear kappa-B ou Nuclear Factor kappa-B (NFkB), desempenham um importante papel

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 276

como mediadores da imunidade e inflamação. O NFkB também é expresso no músculo esquelético, no qual medeia o efeito de citocinas inflamatórias, particularmente do fator de necrose tumoral-α ou Tumor Necrosis Factor-α (TNFα,), na perda de massa muscular e caquexia. Dentre os vários processos, o complexo proteico NF-kB (composto por cinco subunidades diferentes: p65 ou Rel 11 A, Rel B, c-Rel, p52 e p50) está envolvido no mecanismo de hipotrofia muscular induzida pelo desuso.

No estado inativo, o fator NFkB é sequestrado no citoplasma por uma família de proteínas inibi-tórias, chamadas de IkB. Em resposta ao TNFα, o complexo de IkB-quinases (IKKβ), fosforila o IkB, resultando na sua ubiquitinação e degradação no proteossoma. Isso leva a translocação nuclear de NFkB e a ativação da transcrição de genes modulados por NFkB, como MuRF-1 [60].

Corroborando o descrito, Cai e colaborado-res [61] apontam que a superexpressão de IKKβ específicos do músculo em ratinhos transgênicos promove uma severa hipotrofia muscular media-da, pelo menos em parte, por MuRF-1, mas não por atrogin-1.

Além disto, o TNFα e outras citocinas pró--inflamatórias também causam resistência à insulina e supressão da via de IGF1-Akt [62]. Portanto, a fosforilação de Akt deve ser sempre ativada quando a via NFkB é minimizada, pelo fato da inibição de Akt contribuir substancial-mente para a hipotrofia muscular. Este conceito é apoiado pelo estudo de Mourkioti e colaboradores [63], desenvolvido com ratos knockout de IKKβ. Estes ratos apresentaram alta resistência à hipo-trofia muscular, além de uma hiperfosforilação da molécula de Akt.

O significado da hipotrofia muscular dimi-nuída após diminuição da atividade de IKKβ e o grau a que esse efeito é dependente de Akt permanecem obscuros.

No entanto, estes resultados destacam a im-portância da interação entre as duas vias, e outros estudos são necessários para elucidar as respectivas contribuições dos caminhos de IKKβ-NFkB e Akt-FoxO na hipotrofia muscular.

O TNF relacionado à fraca indução de apoptose ou TNF-like weak inducer of apoptosis

(TWEAK) é um membro da superfamília de TNF e foi descrito como um indutor de hipotrofia muscular [62]. O TWEAK atua sobre as células que respondem pela ligação ao fator-14 (Fn14), um pequeno receptor de superfície celular. O Fn14 é regulado positivamente nos músculos desnervados, permitindo a ativação do NFkB e, consequentemente, a expressão de MuRF1 (mas não atrogin-1).

Outro importante sinalizador positivo de NFkB em célula muscular é uma ubiquitina ligase denominada fator associado ao receptor de TNF do tipo 6 ou TNF receptor-associated factor 6 (TRAF6), tendo importante papel na ativação da via NFkB por diversos estímulos, entre eles o jejum [64]. Estes mesmos autores também rela-tam que por meio do TRAF6, ocorre indução da hipotrofia muscular pela ativação da via FOXO3 e da via AMPK nos músculos em jejum, além da ativação dos sistemas proteolíticos: ubiquitina--proteassoma e autofagia-lisossomal.

Via dos glicocorticoides

Glicocorticoides é a denominação de uma família de hormônios esteroides produzidos, preferencialmente, na zona fasciculada do córtex da glândula adrenal ou suprarrenal. O principal representante desta família, em seres humanos, é o hormônio cortisol.

É fato inconteste que a concentração de gli-cocorticoides é aumentada em muitas condições patológicas associadas com a perda de massa muscular.

Não obstante, é sabido que o tratamento com glicocorticoides induz ao aumento da expressão de atrogin-1 e MuRF1, resultando em hipotrofia de células musculares em cultivo (in vitro) e in vivo [65,66]. Os mecanismos de hipotrofia muscular modulados pelos glicocorticoides foram recen-temente desvendados [67]. Uma vez no núcleo da fibra muscular estriada esquelética, o receptor de glicocorticoide ativa a expressão de dois ge-nes alvo: o Regulated in development and DNA damage-1 (REDD1) e o Kruppel-like factor-15 (KLF15) [68]. O REDD1 inibe a atividade da mTOR, por promover o aumento da atividade das TSC1 e TSC2. Hayasaka et al. [69] relatam

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que o exercício de endurance induz o aumento da expressão gênica de REDD1, sinalizando, consequentemente, uma inibição da atividade de mTORC1, fato este que poderia estar relacionado com os efeitos “anti-hipertróficos” do hormônio cortisol. A inibição da mTOR é permissiva para a ativação de um programa de hipotrofia através do KLF15. De fato, a ativação de mTOR atenua a hipotrofia muscular induzida por glicocorticoides. KLF15 é um fator de transcrição que está envol-vido em vários processos metabólicos no músculo esquelético como, por exemplo, na regulação positiva da aminotransferase de cadeia ramifica-da 2 (BCAT2). O KLF15 participa também do catabolismo muscular regulando a transcrição gênica de FoxO1, Atrogin-1 e MuRF1. Além disso, o KLF15 afeta negativamente a mTOR através de regulação positiva de BCAT2 que, por sua vez, induz a degradação de aminoácidos de cadeia ramificada. Waddell et al. [70] relatam que FOXO1 e receptores de glicocorticoides coopera-ram mutuamente para ativar a expressão MuRF1.

Conclusão

Postula-se que os processos de hipertrofia e hipotrofia muscular estão diretamente relacio-nados ao turnover proteico muscular. É impor-tante apontar que as vias de síntese e degradação proteica ocorridas na célula muscular estriada esquelética são estimuladas por diversos sinais extracelulares controlados, como por hormônios, citocinas, fatores de crescimento, potenciais de ação (estímulos neurais) e, com destaque, pela prática do exercício físico agudo e crônico. Assim sendo, o objetivo deste estudo de revisão foi eluci-dar as principais vias envolvidas nos processos de hipertrofia e hipotrofia muscular, relacionando-as com os diversos tipos de exercício e treinamento físico.

Muito embora a literatura apresente diversas informações sobre as vias de sinalização promo-toras dos processos de hipertrofia e hipotrofia nas células musculares estriadas esqueléticas e alta relação com a otimização de algumas destas vias pela prática aguda e crônica do exercício físico, a relação de algumas outras vias com o

exercício físico, sobretudo com os diversos tipos de exercício – moderado e intenso, de força e resistência muscular, resistidos e não resistidos, com predomínio do metabolismo aeróbio e com alta participação do metabolismo anaeróbio, entre outros – ainda se mostra pouco esclarecedora, necessitando de estudos mais aprofundados para um maior entendimento.

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F I S I O L O G I ADO E X E R C Í C I OÓrgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

B r a z i l i a n J o u r n a l o f E x e r c i s e P h y s i o l o g y

REVISÃO

Como treinar força com segurança na terceira idade

How to use strength training with security in elderly people

Marcus Vinicius Grecco, Ft.*, Rodrigo Juliano Dini, Ft.*

*Especialista em neuromusculoesquelética pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

ResumoUm programa de treinamento de força bem elabo-

rado pode resultar em melhoria da performance tanto nas atividades da vida diária quanto nas atividades que exijam força muscular. Esta revisão da literatura tem como objetivo verificar se o treinamento de força melhora os aspectos funcionais de pessoas da terceira idade. Nos estudos analisados, observaram-se vários benefícios gerais de um treinamento de força, entre eles: aumento da força muscular, aumento das fibras musculares tanto do tipo I como do tipo II, pequeno aumento da área de secção transversal, diminuição dos níveis de dor, diminuição de gordura intra-abdominal, melhoria da motilidade gastrointestinal, melhoria dos fatores neurais, aumento da densidade óssea, diminuição da porcentagem de gordura, diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares, diminuição dos riscos de desenvolvimento de diabetes mellitus, diminuição de lesões causadas por quedas, aumento da capacidade funcional, melhoria da postura geral, aumento da motivação e melhoria da autoimagem, aumento da agilidade, aumento da flexibilidade e aumento da resistência. A relação tende a continuar à medida que outros estudos vão encontrando outros benefícios importantes para a melhoria da qualidade de vida do idoso. Concluiu-se que o treinamento de força é de fundamental importância no que diz respeito aos aspectos funcionais das pessoas da terceira idade, sendo a força a principal capacidade física que interfere na qualidade de vida.Palavras-chave: reabilitação, idoso, força.

AbstractA successfull program of strength training may

improve daily routine performance of activities that require muscular strength. This literature review aims at verifying if strength training improves functional status of elderly people. The analyzed studies showed the general benefits of a strength training program: increased muscular strength, a slightly increase in muscular potential, in muscular fiber type I and II, indrease of section transversal area, pain relief, lower abdominal fat, increase of gastrointestinal motility, im-provement in bone density, lower body fat percentage, lower cardiovascular disease risks and diabetes mellitus, lower risk of lesions caused by falls, increased functional capacity, improve posture, high self-motivation and self-image, increased agility, flexibility and resistance. The list of benefits will increase as other studies will continue finding other important benefits to improve life quality of the elderly. We concluded that a streng-th training program is fundamental for improving functional status of elderly people, as physical capacity interferes in quality of life.Key-words: rehabilitation, old, strength.

Recebido em 24 de agosto de 2015; aceito em 10 de dezembro de 2015. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846/44, Vila Romana, 05047-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected]

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 282

Introdução

Segundo a gerontologia, a senescência (pro-cesso natural do envelhecimento) é um fenômeno fisiológico decorrente de alterações da atividade celular, e que acarreta ao organismo a deteriori-zação de uma capacidade de manter o equilíbrio homeostático. A senilidade está relacionada com as inúmeras afecções que podem acometer os idosos devido ao processo de envelhecimento [1].

A Organização Mundial da Saúde tem a se-guinte classificação e nomenclatura relacionada ao envelhecimento (terceira idade): Meia-idade, indivíduos entre 45 e 59 anos; Idosos, indivíduos entre 60 e 64 anos; Velhos, indivíduos entre 65 e 90 anos e Muito Velhos, indivíduos acima de 90 anos [2,3].

Os idosos constituem um grupo caracterizado pela grande variação nas capacidades fisiológicas, mentais e funcionais [4].

O uso do treinamento de força para idosos é uma forma de diminuir o declínio das capacidades físicas e da massa muscular relacionadas com a idade, que resulta em melhoria da qualidade de vida [5,6].

Há centenas de publicações de pesquisa sobre os benefícios de treinamento resistido para pes-soas acima dos 60 anos de idade, e vários destes estudos demonstraram que, inclusive pessoas acima de 90 anos, podem obter ganhos de força muscular com melhoria da saúde e da capacida-de funcional, tornando-se mais entusiasmadas e independentes [7].

Na aplicação do treinamento de força para este tipo de população é necessário um profundo co-nhecimento das alterações fisiológicas associadas à idade e dos riscos deste tipo de atividade em faixas etárias mais avançadas [8]. Uma investigação atra-vés de minuciosa anamnese e avaliação física, além de prévia aprovação médica são fundamentais para a maior segurança e certeza dos benefícios desta atividade [9].

A falta de condicionamento, inatividade física ou doença crônica resultam em uma diminuição da força, potência, resistência e flexibilidade, pro-movendo um decréscimo da capacidade funcional e das habilidades de executar atividades da vida diária [5,6].

Capacidade funcional é o nível de condiciona-mento necessário para uma pessoa cuidar sozinha das necessidades domésticas, sociais e da vida diária. A melhoria dos componentes da capacidade fun-cional (força, potência, resistência e flexibilidade) é de extrema importância para manter o desempenho de atividades como subir escadas ou levantar uma cadeira. Por exemplo: a força dos músculos exten-sores do quadril é necessária para levantar, a partir da posição sentada; se esses músculos perderem sua elasticidade, o gesto de caminhar será limitado, a postura ficará errada, qualquer atividade terá maior gasto energético e consequentemente fadiga preco-ce e desequilíbrio [2,5,6,10,11].

Hoje se sabe que o treinamento de força tem um profundo efeito sobre a independência fun-cional e a qualidade de vida de idosos acima dos cem anos [2].

Estímulo à saúde

Estudos epidemiológicos evidenciaram que as populações fisicamente ativas têm menor inci-dência de muitas doenças e situações patogênicas, entre elas a hipertensão arterial, a obesidade, o diabetes mellitus, a dislipidemia, a osteoporose, a sarcopenia e também a ansiedade e depressão. Consequentemente, diminui a ocorrência de aterosclerose e suas consequências: doença coro-nariana, doença cerebrovascular e doença vascular periférica. Também diminui o confinamento no leito devido a fraturas ósseas e incapacidade física grave, reduzindo-se a mortalidade por infecções pulmonares e tromboembolismo.

Um aspecto importante é que os estudos epi-demiológicos não evidenciaram superioridade de nenhuma forma de atividade física sobre outras, no que diz respeito à promoção de saúde. Em publicação conjunta com o Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos da América, o American College of Sports Medicine re-conheceu em 1995 que as suas próprias recomen-dações para promoção de saúde, anteriores a essa data, estavam incorretas. A entidade divulgava até então que os exercícios aeróbios que aumentam o volume de oxigênio máximo eram preferenciais para promoção de saúde. Atualmente consensos internacionais reconhecem que o estímulo à saú-

83Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

de ocorre também com atividades anaeróbias e interrompidas, que não aumentam o volume de oxigênio máximo.

Talvez os estudos não tivessem a sensibilidade necessária para esclarecer esta questão, mas o fato concreto é que atualmente não é possível afirmar que alguma atividade física seja mais saudável do que outras. Por esta razão, as campanhas de saúde não enfatizam a necessidade de uma forma particular de atividade física, mas a importância de um estilo de vida não sedentário. Entende-se por atividade física a contração muscular de qual-quer tipo, que pode ou não levar ao movimento, independente da finalidade: postura, trabalho, locomoção, esporte e lazer. Desde que o gasto calórico seja superior à média diária de duzentas kcal, haverá redução na incidência de doenças. Exercício é conceituado como forma especial de atividade física, planejada, sistematizada, pro-gressiva e adaptada ao indivíduo, sempre com o objetivo de estimular uma ou mais adaptações morfológicas ou funcionais.

Outro aspecto relevante é que os efeitos dele-térios à saúde produzidos pelo sedentarismo são lentamente progressivos. Pessoas jovens seden-tárias não se apercebem dos problemas, que são bastante evidentes no idoso. Esse fato justifica a atitude médica de estimular a atividade física em todas as faixas etárias. Também é importante notar que a motivação para a atividade física pode mudar com a faixa etária, mas isto não afeta o efeito promotor de saúde [5,6,12,13].

Efeitos metabólicos e qualidade de vida

Parâmetros de aptidão como a potência aeróbia, medida pelo volume de oxigênio máxi-mo, e a capacidade aeróbia, medida pelo limiar anaeróbio, são mais eficientemente estimuladas pelos exercícios aeróbios. Durante muito tempo, o volume de oxigênio máximo foi considerado parâmetro de saúde, pela sua associação com me-nores incidências de doenças crônicas, mas hoje se admite que essa relação seja apenas associativa e não de causa e efeito. Pessoas melhoram a saúde quando fazem exercícios, e se os exercícios forem de um tipo que aumenta o volume de oxigênio máximo podem ocorrer conclusões indevidas. Os

exercícios com carga têm pouco efeito no volume de oxigênio máximo, mas estimulam bastante o limiar anaeróbio. Isto ocorre porque o forta-lecimento dos músculos permite que as tarefas sejam realizadas com menor número de fibras. Assim sendo, o nível de produção energética que se atinge com trinta por cento das fibras aumenta após o treinamento. Na vida diária da maioria das pessoas o volume de oxigênio máximo não é utilizado no seu limite máximo. Ao contrário, o limiar anaeróbio tem nítida relação com qualidade de vida, pois as pessoas com baixo limiar fazem a maioria das tarefas laborativas anaerobicamente, portanto com fadiga e desconforto [5,10,14,15].

Do ponto de vista biomecânico, a qualidade de vida depende basicamente de força e flexi-bilidade. Os exercícios com carga estimulam ambas as qualidades, os de alongamento apenas a flexibilidade, e os aeróbios nenhuma delas em grau significativo. Graus máximos de flexibilidade são necessários apenas para alguns atletas, e as lesões articulares incidem mais nas pessoas mais flexíveis [16].

A homeostase hemodinâmica nos esforços da vida diária e do trabalho físico, com pequenas ele-vações da frequência cardíaca e da pressão arterial, depende basicamente da força muscular. Pessoas fortes fazem as tarefas com menor número de fibras; isto significa menor intensidade de esforço; consequentemente, menores repercussões hemo-dinâmicas por mecanismos reflexos [5,11,17-20].

Considerações sobre faixa etária

Pessoas idosas costumam apresentar graus variados de processos degenerativos articulares e vasculares, exigindo maiores cuidados na prática esportiva e nos programas de exercícios terapêuticos ou de condicionamento físico. Muitos idosos são sedentários há muitos anos, exigindo atividades iniciais muito suaves com lenta progressão. Particularmente as perdas de massa óssea e muscular costumam ser impor-tantes nos idosos. Uma pessoa sedentária perde cerca de 10% de massa muscular entre os 25 e 50 anos de idade, e cerca de 30% entre os 50 e 80 anos de idade. A força, a resistência e a flexibilidade diminuem proporcionalmente à

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 284

massa muscular. Estudos mostram ganhos signi-ficativos na força isométrica e isocinética depois de um programa de treino de força para idosos. A força na terceira idade se origina mais de uma adaptação neuromuscular que do aumento da fibra muscular, se comparada ao ganho de força em pessoas jovens, devido ao decréscimo de secreção hormonal (testosterona) na terceira idade. Mulheres idosas conseguem aumentar até 10% a massa muscular e até 200% a força, com apenas alguns meses de treinamento com carga. Estes exercícios têm se mostrado os mais eficientes para as necessidades dos idosos e também os mais seguros [6,7,11,13,17,21].

Sabe-se que a perda de massa muscular ocorre tanto na musculatura lisa quanto na es-triada. Portanto, o sistema gastrointestinal, que é composto por musculatura lisa, é favorecido pelo treinamento de força, tendo diminuição do tempo da passagem de alimentos por este sistema, assim, evitando-se a incidência de cân-cer de colo. É importante ressaltar que quando o indivíduo envelhece ocorre um excesso de ingestão calórica com consecutivo aumento do depósito de gordura corporal. O equilíbrio energético positivo e a falta de atividade física são os maiores contribuintes para o aumento da porcentagem de gordura armazenada e para diminuição da massa corporal magra no enve-lhecimento [6,7,11,13,17,21].

Outro ponto importante para observarmos o motivo da atrofia muscular é o acúmulo de do-enças crônicas, tais como: osteoporose, diabetes, hipertensão, ateroesclerose, depressão, inconti-nência urinária, uso de vários medicamentos e uma alteração na secreção hormonal, e, por isso, os níveis de testosterona e hormônio do cresci-mento estão muito baixos [6,7,11,13,17,21].

Teste da força muscular

As três características mais importantes que afetam o condicionamento muscular são o sexo, a idade e o estilo de vida. O que realmente im-porta é a melhoria física pessoal que permite que melhore a forma como o indivíduo se sente, o funcionamento do corpo e até a sua aparência [4].

Teste do agachamento

Essa avaliação visa os músculos da coxa que são muito usados com regularidade e que nos fornece o estado geral de nível de força em pessoas adultas. É um método prático que se pode realizar em qualquer lugar, sem equipamento de peso. Como se emprega o próprio peso corporal como carga, os resultados são personalizados e não requerem cálculos matemáticos [4].

Procedimentos de teste

Ficar de pé por cerca de 15 a 30 cm diante de uma cadeira. Os pés devem estar afastados quase na largura dos ombros e os calcanhares devem permanecer sobre o chão. Cruze os braços sobre o peito e agache devagar até o glúteo encostar-se à cadeira sempre mantendo as costas eretas. Agache e levante, sempre bem devagar e controlando o movimento para não se desequilibrar, quantas vezes puderem e depois correlacione com a tabela de classificação de força [4].

Avaliação da força muscular

Depois de realizar a maior quantidade possível de agachamentos de maneira confortável, com-pare esse número com o da categoria apropriada, para avaliar o nível atual de condicionamento de força. Por exemplo: um homem de sessenta e dois anos que realiza dezesseis agachamentos apresenta um nível médio de condicionamento de força em seus músculos da coxa e isquiotibiais; e uma mulher de cinquenta e oito anos que realiza dezenove agachamentos possui um alto nível de condicionamento de força no mesmo grupo muscular [4].

Diretrizes para determinar as cargas iniciais de pesos

Embora os níveis de força possam variar entre os grupos musculares, o teste de avaliação de membro inferior deve, em geral, fornecer um bom indicador a respeito do condicionamento total. Quanto mais alto o nível de força, mais carga se usa para iniciar os exercícios. Se a pon-

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tuação atingir uma média superior no teste, o treinamento se iniciará com cargas maiores que no caso de pontuação média inferior. Como diretriz geral cada categoria de condicionamento de força envolve uma carga de treinamento com um quilo a mais que a da categoria imediatamen-te inferior. Para níveis baixos de força deve-se reduzir a carga inicial recomendada em quatro quilos ou mais [10].

Naturalmente as cargas iniciais recomen-dadas se baseiam também na idade e no sexo, se todos esses fatores forem considerados, as cargas sugeridas deverão ser adequadas, embora, devido às diferenças individuais, algumas das cargas recomendadas possam ser pesadas demais e outras possam ser muito leves. Se não for possível completar pelo menos oito repetições no exercício, deve-se reduzir a carga. Se for possível realizar mais do que doze repetições do exercício, sempre de forma correta deve-se aumentar a carga. A carga deve ser suficiente-mente pesada para que se sinta o esforço, mas não tão pesada que cause desconforto muscular. Se a idade for muito avançada ou o estado físico estiver muito debilitado, recomenda-se come-çar os exercícios de treinamento de força no nível mais baixo e evoluir gradualmente. Mas caso o praticante tenha realizado treinamento de força recentemente, podem ser as cargas sugeridas para o exercício que esteja abaixo de sua capacidade. O praticante deverá sentir-se à vontade para usar mais carga somente se realizar o exercício de maneira perfeita. Nunca se deve sacrificar a técnica de treinamento em função de peso excessivo [4.10,19].

Conceitos básicos pra um bom treina-mento de força na terceira idade

Para a elaboração de um programa de treina-mento de força que realmente traga benefícios e seja seguro e compatível com o idoso, os seguintes fatores devem ser lembrados.

O programa deve ser individualizado e espe-cífico: Sempre há inúmeras variáveis que devem ser consideradas na montagem do programa e cada uma delas varia entre os indivíduos. Por exemplo, se o idoso tiver problemas de equilíbrio, deve realizar o exercício sentado e em aparelhos de resistência, e/ou se o idoso tiver dificuldade de ficar em pé, teremos que enfatizar no programa exercícios de força nos músculos da coxa e para-vertebrais [2].

A progressão no volume e intensidade dos exercícios deve ser feita de maneira linear. A pro-gressão pode acontecer pelo aumento do número de séries ou de repetições, pela diminuição dos intervalos entre as séries, pela execução de dois ou mais exercícios para o mesmo grupo muscular, entre outros.

O uso de várias posições para o mesmo exercí-cio também desafia o corpo de maneira diferente e também pode fazer parte da progressão do exercício. Por exemplo: na execução de qualquer exercício na posição em pé há um aumento do trabalho muscu-lar total, quando comparado ao mesmo exercício executado na posição sentada. Na posição em pé há um maior trabalho dos músculos dos membros inferiores, coluna do que na posição sentada, além de uma maior compressão dos discos intervertebrais, principalmente da coluna lombar. Isto mostra a importância de enfatizar a coluna lombar com exer-cícios de fortalecimento e consciência postural antes

Tabela I - Categorias de pontuação do teste do agachamento (em repetições). Condicionamento

de forçaFaixa etária

50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anosHomem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Baixo 12 a 14 6 a 8 9 a 11 3 a 5 6 a 8 0 a 2Abaixo da média 15 a 17 9 a 11 12 a 14 6 a 8 9 a 11 3 a 5

Médio 18 a 20 12 a 14 15 a 17 9 a 11 12 a 14 6 a 8

Acima da média 21 a 23 15 a 17 18 a 20 12 a 14 15 a 17 9 a 11

Alto 24 a 26 18 a 20 21 a 23 15 a 17 18 a 20 12 a 14Fonte: Westcott, [4].

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de prescrever exercícios na posição em pé, pois ela é um elo fraco de ligação entre os membros superiores e inferiores no iniciante [2,8].

Quando a progressão é feita bruscamente, o tecido muscular geralmente se adapta mais rápido que os outros tecidos. Quando o indivíduo que se adaptou desta maneira começa a usar sobre-cargas maiores, o risco de lesões aumenta porque o músculo produz uma tensão que os tecidos de conexão não têm a adaptação compatível para suportar [2,4,8,19].

Fazer a progressão da intensidade e volume do exercício de maneira linear é de vital importância no processo de adaptação. Somente desta maneira a adaptação será sistêmica, ou seja, haverá uma adaptação não só do sistema muscular, mas de todo o sistema musculoesquelético-articular, incluindo os tecidos de conexão. Esta adaptação sistêmica é imprescindível para prevenir proble-mas como tendinites, bursites, periostites e lesões como as avulsões, quando o treinamento já estiver em um nível mais avançado. A sobrecarga dos aparelhos de fortalecimento muscular aumenta de maneira muito brusca. Por exemplo, na mesa romana a primeira placa pesa 4 kg e a segunda pesa 7 kg. Isto representa um aumento de 75% na intensidade, que promove uma progressão muito brusca quando o indivíduo quer aumentar a intensidade do exercício [2,4,8,19].

A ação de radicais livres e o envelhecimento celular: A intensidade correta dos exercícios de musculação e alongamentos, bem como uma dieta que suplemente corretamente as principais vitaminas antioxidantes (vitaminas A, C e Beta Caroteno) ajudam a diminuir a ação dos radicais livres que afetam no envelhecimento celular e aumenta o risco de doenças [21].

Os fatores de risco como a obesidade, hiper-tensão, tabagismo, relação cintura-quadril, entre outros devem ser levados em consideração para a segurança do exercício. Além disso, vestimenta adequada é importante p/ um treino seguro e confortável e isso envolve tênis antiderrapante, roupas folgadas conferindo liberdade de mo-vimento e boa transferência de calor evitando elevação de temperatura. Hidratação adequada, pois o centro da sede no idoso perde a sensibili-dade e para um bom funcionamento muscular é

preciso água, o músculo é formado por 80% de água, a recomendação é de 8 copos diários. Área de exercícios espaçosa, ventilada e bem iluminada confere segurança e conforto para se treinar sem risco de lesão, o local não pode ser um amontoado de aparelhos e gente, pois o idoso pode tropeçar em aparelhos e se desconcentrar com um ambien-te com muita bagunça [4,19-21].

Requerer a liberação médica para este tipo de atividade para verificar se o idoso está apto ou não para se engajar em um programa de treinamento de força. Após a liberação médica, o segundo passo para a segurança do exercitante é a avaliação física realizada pelo fisioterapeuta [14,18,20].

Não utilizar a manobra de Valsalva ou respira-ção bloqueada: a expiração forçada contra a glote fechada, como na manobra de Valsalva, aumenta a pressão intratorácica e impede o retorno venoso ao coração. A respiração bloqueada durante o esforço aumenta a pressão arterial [2,15].

Os exercícios escolhidos devem trabalhar os grandes grupos musculares com uma média de 4 a 6 exercícios, mais 3 a 5 exercícios para grupos musculares menores e pelo menos um exercício para cada principal grupo muscular. Os exercí-cios podem ser feitos com pesos livres e ou com aparelhos. Na fase de adaptação, os aparelhos e determinadas posições devem ser preferidos por diminuírem a exigência de estabilização e consciência postural. Na escolha dos exercícios é importante selecionar aqueles que têm menor risco de quedas com possíveis fraturas [2,10].

As ordens dos exercícios devem seguir as seguintes fases: o aquecimento (bicicleta estacio-nária ou caminhada na esteira), que pode durar de 5 a 10 minutos, dependendo da temperatura ambiente, com a inclusão de alongamentos; a sessão de fortalecimento propriamente dita, com ênfase nos grandes grupos e depois nos pequenos grupos musculares; a volta à calma, que pode ser feita com recuperação ativa e exercício de alongamento (músculos aquecidos se alongam mais fácil), ligamentos, tendões e músculos são menos elásticos nos idosos devido à diminuição de água no organismo, calcificação e substituição das fibras elásticas por colágeno, por isso a impor-tância de alongamentos em uma programação [2,7,11,14,17,18,20].

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Exercícios aeróbios são importantes para au-mentar a resistência cardiovascular e os benefícios do treino de força, devendo-se fazer de maneira gradual 20 minutos ou mais de exercícios de endurance, 3 vezes por semana com intensidade moderada, podendo falar sem dificuldade durante o exercício [,7,11,14,17,18,20].

A sobrecarga utilizada varia com o estágio do treinamento e com o nível de condicionamento prévio, mas os valores devem ficar entre cinquenta e oitenta por cento de uma repetição máxima. Isto somente em trabalhos científicos como parâmetros de avaliação, pois na prática diária é lesivo. Hoje, usam-se cargas relacionadas ao percentual do peso corporal do exercitante e que possa ser levantado entre 8 e 12 repetições sem sentir desconforto e sem esquecer o princípio da progressão [2,4].

O número de séries depende de algumas vari-áveis, mas, de maneira geral, são realizadas duas a três séries por exercício. Começar com uma série e avançar para três, em concordância com o avanço das adaptações do idoso [2].

O número de repetições deve variar entre 6 e 15 de acordo com as variáveis. Não é indicada a realização da série até a falha concêntrica, pois isto aumenta a pressão sanguínea e a frequência cardíaca, principalmente com as cargas entre 50 e 90% de uma repetição máxima.

Menores repetições enfatizam mais força, enquanto o aumento das repetições enfatiza a resistência. Para grupos especiais, como o da terceira idade, a faixa de repetições mais segura é de oito a doze repetições [2,10].

Repetições acima de quinze devem ser evita-das, pois gera um estresse cardiovascular e, menor de seis, gera estresse articular [2,10].

Descanso entre as séries e exercícios: O tempo de descanso tanto entre as séries quanto entre os exercícios depende de muitas variáveis como nível de condicionamento, estado nutricional, intensi-dade do exercício, entre outras. Em geral, quando a intensidade do exercício já estiver próxima de 80% de uma repetição máxima, é recomendável um descanso de 2 a 3 minutos [2,8].

Frequência dos treinos: Esta deve variar de acordo com a intensidade do treinamento e com a forma do programa. Por exemplo: programas

nos quais é utilizada uma separação dos grupos musculares trabalhados por dia podem ser feitos praticamente todos os dias com uma média de 4 a 5 vezes por semana. Já os programas que traba-lham o corpo todo no mesmo dia devem ter um intervalo de pelo menos um dia entre as sessões. Quanto maior a intensidade do treinamento maior deve ser o período de recuperação para uma melhor recuperação tecidual (supercompensação) proporcionando melhor hipertrofia. É importante ressaltar que a fase de anabolismo pós-exercício do idoso é mais lenta do que a de um jovem. Se aparecerem os sintomas de overtraining, o período de recuperação pode estar curto demais [2,8-11].

O princípio da reversibilidade: As adapta-ções do treinamento permanecem enquanto as demandas fisiológicas e metabólicas continuam. A reversão das adaptações começa dias após a interrupção do treinamento. Uma vez que certo nível de condicionamento é atingido, uma míni-ma quantidade de exercícios regulares é necessária para manutenção das adaptações. Em geral, a manutenção das adaptações do treinamento requer menos exercício do que é necessário para induzir as alterações iniciais. Sendo assim, para o idoso a atividade física deve fazer parte dos afazeres da vida diária e deve perdurar enquanto for possível [2].

O princípio da sobrecarga: o corpo se adapta à demanda fisiológica e metabólica do exercício, com o tempo. As sobrecargas de treinamento de-vem progressivamente aumentar para induzirem a contínua melhora das adaptações. No idoso esta sobrecarga não deve ultrapassar de 80 a 90% de uma repetição máxima [2,4].

Periodização: a periodização permite uma variação do treinamento, evita a desmotivação e ajuda a prevenir o overtraining. Além disso, per-mite um contínuo ajustamento do programa de treinamento em resposta ao progresso do idoso ou a outros fatores com lesões e doenças [2,8,10].

A mudança nos costumes alimentares para uma dieta balanceada e de qualidade, a interrup-ção do hábito de fumar e/ou beber em excesso, bem como a importância que estas alterações trazem para a saúde, devem fazer parte das orien-tações do profissional ao idoso, no começo do programa de treinamento [14,18,21].

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Programas de treino em suas diferentes fases

Na fase principiante, deve-se empregar cargas leves, exercícios fáceis de execução (aparelho) e exercício por grupo muscular. Dar preferência aos exercícios básicos (que abrangem muitos gru-pos musculares). Deve-se dar importância nesta fase não à carga, mas sim a execução perfeita do exercício. Treinar de duas a três vezes por semana.

Depois de um mês de adaptação, aumenta-se o volume e a frequência, inserem-se exercícios livres com halteres e eleva-se o número de séries para duas, de exercícios e a carga. Esta é a fase intermediária. Para quatro treinos semanais, pode-se dividir o treino em duas partes: treino A, pelas segundas e quintas: coxas, pernas e braços; e, o treino B, pelas terças e sextas: costas, ombros, peito e abdome.

Quando o corpo já está adaptado ao treino, aumentam-se o volume e a intensidade e passa--se a realizar três séries de cada exercício, de três a quatro exercícios por grupo muscular, seis a oito repetições devido ao aumento da carga pela adaptação nervosa e hipertrofia muscular. Pode--se, também, dividir o treino em três partes: A, segundas e quintas-feiras: peito e costas; B, terças e sextas-feiras :ombro e braço; e C, quartas e sá-bados: coxa, panturrilha e abdome. Esta é a fase avançada [4,10].

Resultados e discussão

Realizou-se, em 1999, um programa de treinamento resistido de alta intensidade (acima de 60% de uma repetição máxima) com 100 in-divíduos idosos. Os indivíduos foram divididos

em grupo controle e grupo de exercício. O pro-grama resultou em significantes ganhos de força e de capacidade funcional, além do aumento da atividade espontânea (medida através de monitor de atividade), nos idosos que participaram do programa, enquanto que, no grupo controle, não houve mudança. Concluiu-se que o exercício pode minimizar ou reverter a síndrome da fragili-dade física que é tão prevalecente entre os idosos [17]. Este estudo prova que não são somente os exercícios aeróbios, que aumentam o volume de oxigênio máximo, os melhores para estimular a saúde. Center for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos e American College of Sports Medicine publicaram, em 1995, que exercícios anaeróbios e intervalados, que não aumentam o volume de oxigênio máximo, serviam também para promover a saúde, e que suas publicações anteriores a esta data sobre recomendações à promoção de saúde estavam incorretas.

Atualmente não é possível afirmar que alguma atividade física seja mais saudável do que a outra. Por essa razão, campanhas de saúde pública não enfatizam em particular uma espécie de atividade física, mas sim o fim do sedentarismo [18].

Relata-se que antes das citações do American College of Sports Medicine, em 1995, os exercícios anaeróbios eram considerados perigosos e muito intensos, não recomendados ao público idoso. Hoje se sabe que ele pode ser suave, como no caso de uma sessão de musculação com peso submáxi-mo. Por outro lado, exercícios aeróbios (pedalar, correr) próximos ao limiar anaeróbio podem ser considerados intensos, pois elevam a frequência cardíaca de maneira considerável, podendo ofere-cer risco cardiovascular para pessoas com doenças coronarianas às vezes subclínicas. É importante ressaltar que se o idoso for impedido de realizar

Tabela II - Programa de treinamento da fase principiante.Exercício Músculo Série Repetições

Leg press Quadríceps e isquiotibiais 1 8 – 12Supino vertical Peitoral, dos ombros e tríceps 1 8 – 12

Remada SentadaGrandes dorsais, bíceps braquial e paravertebrais

18 – 12

Abdominal (encolhimento)Reto abdominal, oblíquos, trans-verso, abdominal inferior 1 8 – 12

Fonte: Westcott [4].

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musculação devido a uma contraindicação abso-luta em relação à segurança de sua saúde, o idoso não poderá realizar mais nenhuma outra pro-gramação de exercício [5,6,10,12,13,14,17,18].

Conclusão

Com os crescentes estudos científicos relacio-nados aos exercícios resistidos, conclui-se que o treinamento de força é de fundamental importân-cia no que diz respeito aos aspectos funcionais das pessoas da terceira idade, sendo a força a principal capacidade física, que interfere na qualidade de vida. Deste modo, percebe-se a importância de profissionais de Fisioterapia estar atualizando-se quanto aos assuntos de treinamento de força: anatomia aplicada, cinesiologia, biomecânica, fisiologia do exercício, reabilitação do movimento humano dentre outros.

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Normas de publicação Fisiologia do Exercício

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cada tabela junto à mesma.1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores.As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e de-senhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, in-trodução, material e métodos, resultados, discussão, con-clusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no dis-quete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor.

2. Página de apresentaçãoA primeira página do artigo apresentará as seguintes infor-mações:- Título em português, inglês e espanhol.- Nome completo dos autores, com a qualificação curricu-

lar e títulos acadêmicos.- Local de trabalho dos autores.- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o

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metodologia, análise).- Descobertas principais do estudo (dados concretos e es-

tatísticos).- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior

novidade.Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores ex-istentes.

5. AgradecimentosOs agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio finan-ceiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial.

6. ReferênciasAs referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências biblio-gráficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:

Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.Exemplo:1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and manage-ment. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), le-tras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publica-ção seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abrevia-dos de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.Exemplo:Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and lo-calization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.

Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: porta-latlanticaeditora.com.br

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 292

Calendário de eventos

2017

Maio

8 a 11 maioCongresso Brasileiro de Biomecânica, I Encontro Latino Americano de Biomecânica e VIII Simpósio em Neuromecânica AplicadaPorto Alegre, RSInformações: www.biomecanica2017.com.br

Julho

27 a 30 de julho22º Congresso Brasileiro Multidisciplinar em DiabetesParaíso, SPInformações: www.anad.org.br

Agosto

1 a 5 de agosto XXXVIII Congresso Mundial da IUPS 2017 “Rhythms of Life”Rio de Janeiro, RJInformações: www.iups2017.com

Setembro

14 a 17 de setembro9º Congresso Internacional de FisioterapiaPorto Alegre, RS Informações: [email protected]

93Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 294

MAIS QUE UMAPÓS EM SAÚDE.UMA ESCOLHAPARA QUEM QUER MAIS DA VIDA.

PÓS-GRADUAÇÃO 2017 - 2º SEMESTRE

CONFIRA OS NOSSOS CURSOS:Cuidados Paliativos e Tanatologia

Farmacologia e Toxicologia Aplicadas à Prática Esportiva

Fisioterapia Dermato Funcional

Fisioterapia Ortopédica

Fisioterapia Respiratória Intensiva

Gerontologia

Imagenologia e Intervenções Endovasculares

Musicoterapia Preventiva e Social

Psicomotricidade

Saúde Coletiva com Ênfase em Estratégia de Saúde da Família

Segurança do Paciente

E outras especializações

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