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Se falta inovação, o problema pode estar na sala de aula.

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FALTA INOVAÇÃO

Se o país não consegue figurar na lista dos que mais inovam,

o problema passa pela sala de aula. Fomos investigar por

que a nossa educação não acompanha os avanços da

contemporaneidade.

VIVIANE MOSÉ, DIRETO AO PONTO

A professora e filósofa critica a educação de massa, propõe

um modelo de ensino mais individualizado e vai ao cerne da questão: “Se queremos um

ensino de qualidade, temos que investir em cultura”.

ACM JÚNIOR: LIDERANÇA PROATIVA

Em entrevista exclusiva, o presidente da Rede Bahia

fala sobre economia, negócios e educação. “A carência de

liderança é uma deficiência na Bahia, tanto no setor público

como no privado.”

54

62

5010ONLINE

E MURAL

12FÓRUM DELIDERANÇA

16ESCOLA DE NEGÓCIOS

20BLOCO

DE NOTAS

24IMÓVEIS+

26MÍDIA+

106CONTE AÍ

SUMÁRIO

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5 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m O U T U B R O 2 0 1 3 Revista [B+]

NOTAS DE TEC 88

[C] MONIQUE MELO 82 | [C] BIANCA PASSOS 84[C] INGRID QUEIROZ 90

LOGÍSTICA 32A palavra que tanto movimenta o mercado na voz das empresas baianas.

EMPRESA VERDE 66Líder global, setor florestal brasileiro quer manter competitividade.

PEQUENOS RENTÁVEIS 76As crianças movimentam a economia baiana e são o novo alvo de empreendedores atentos ao mercado.

MERCADO AUDIOVISUAL 96A televisão brasileira muda e aumenta a produção com sotaque baiano.

NEGÓCIOS 29

SUSTENTABILIDADE 65

LIFESTYLE 75

ARTE & ENTRETENIMENTO 91

STARTUP 40Conheça o Parque Tecnológico da Bahia.

BANCOS DE FOMENTO 36A mão amiga na hora de abrir um negócio.

[C] ISAAC EDINGTON 74A força transformadora das bikes.

MERCADO DE RESTAURANTES 80Alheios à crise, novos restaurantes aportam na cidade.

SABOR 86Receita de uma deliciosa sobremesa que leva cupuaçu.

MERCADO CULTURAL 92Um bate-papo sobre economia criativa.

EXPERIÊNCIA 44Que tal cortar o seu cabelo enquanto toma um chope?

[C] LUIZ MARQUES 48A força de competição do Nordeste.

APLAUSOS 100Entrevista com Guy Ferreira, da Video Hobby.

PRO BEM 70 O Rio Vermelho está mudando. Veja como.

TENDÊNCIAS 72As bicicletas laranjas chegam a Salvador.

[C] CRIS OLIVIERI 104 Uma política para estimular o acesso à cultura.

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6 Revista [B+] O U T U B R O 2 0 1 3 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

[Presidente] Rubem Passos Segundo [Diretor Executivo] Claudio Vinagre (claudio.vinagre@

revistabmais.com) [Editor Chefe] Fábio Góis ([email protected]) [Diretora de

Marketing] Bianca Passos ([email protected]) [Repórteres] Carolina Coelho,

Murilo Gitel e Pedro Hijo ([email protected]) [Projeto Gráfico e Diagramação]

Person Design [Fotografia] Stúdio Rômulo Portela [Revisão] Rogério Paiva [Colaboradores]

Ana Paula Paixão, Andréa Castro, Antonio Freitas Netto, Carlos Vianna Junior, Carol Vidal,

Clara Corrêa, Felipe Arcoverde, Luis Fernando Lisboa, Núbia Cristina, Paulo Sousa, Renato Ato,

Uilma Carvalho, Victor Lima [Colunistas] Bianca Passos, Cris Olivieri, Ingrid Queiroz, Isaac

Edington, Luiz Marques Filho, Monique Melo, [Portal] Enigma.net

[Redes Sociais] ADSS Presença Digital [iPad] uTochLabs (www.revistabmais.com/ipad)

[Conselho Editorial] César Souza, Cristiane Olivieri, Fábio Góis, Geraldo Machado, Ines

Carvalho, Isaac Edington, Jack London, Jorge Portugal, José Carlos Barcellos, José Roberto

Mussnich, Luiz Marques Filho, Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin, Reginaldo Souza Santos

e Sérgio Nogueira [Conselho Institucional] Aldo Ramon (Júnior Achievement), António

Coradinho (Câmara Portuguesa), Antoine Tawil (FCDL), Jorge Cajazeira (Sindipacel), José

Manoel Garrido Gambese Filho (ABIH-BA), Mário Bruni (ADVB), Adriana Mira (Fieb), Laura

Passos (Sinapro), Pedro Dourado (ABMP), Renato Tourinho (Abap), Wilson Andrade (Abaf)

Realização Editora Sopa de Letras Ltda.

CNPJ 13.805.573/0001-34

Reserva de anú[email protected]

SALVADOR - BAHIA71 3012-7477Av. ACM, 2671, Ed. Bahia Center, sala 1102, Loteamento Cidadela, Brotas CEP: 40.280-000

REPRESENTAÇÃO EM OUTROS ESTADOSGrupo Pereira de Souzawww.grupopereiradesouza.com.br

A edição 20 traz na capa a fotografia do baiano Rafael Martins, utilizando a técnica light painting. Agradecemos a Escola de Administração da Ufba por ceder suas instalações para a produção da foto. A criação foi produzida pela equipe da Bahia Comunicação. Agradecemos a Aline Pinheiro e Paulo Vianna (atendimento), Wanderley Gomes (diretor de criação) e Humberto Jonas (diretor de arte).

Tiragem: 10 mil exemplaresPeriodicidade: BimestralImpressão: Grasb

Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss 170g/m2 e miolo impresso em papel Couché Suzano® Gloss, 95g/m2, da Suzano Papel e Celulose, produzidos a partir de florestas renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada foi plantada para este fim.

A Revista [B+] pode ser lida no site, iPad e encontrada nas principais livrarias e bancas de revista da cidade. Pergunte na banca mais próxima da sua casa.

PONTOS DE VENDA

EXPE DIENTE

A Revista [B+] abre espaço para que você, leitor, dê a sua opinião, crítica e sugestão sobre as nossas matérias. O que te agradou? O que poderíamos melhorar? Qual a sua dúvida? Queremos saber o que você tem a dizer para que o conteúdo da [B+] esteja sempre alinhado com o que você quer ler.

Existem diversos canais pelos quais podemos manter este contato:

SITE www.revistabmais.com E-MAIL [email protected] 71 3012-7477

QUEREMOS TE OUVIR

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VOCÊ TEM A SENSAÇÃO DE QUE PASSAMOS PARTE DE NOSSO TEMPO TENTANDO APRENDER AS MESMAS LIÇÕES REPETIDAMENTE? SEMPRE QUEREMOS ACHAR NOVAS RESPOSTAS, PORÉM FAZENDO ANTIGAS PERGUNTAS. TALVEZ SEJA A HORA DE IRMOS MAIS FUNDO EM NOSSOS QUESTIONAMENTOS.

Imagino que você já deva ter escutado que a educação é a chave para o desenvolvimento do país. Uma vez com escolas prontas, professores e salas de aula cheias, alçaríamos longos voos rumo a uma economia forte. Se essa fosse a única resposta certa, estaríamos em um outro patamar de desenvolvimento. Porque o Brasil de hoje tem, sim, mais escolas, universidades, mais alunos, investimentos em pesquisa, tecnologia e também uma economia mais pujante. Mas, segundo avaliações de índices globais, ainda temos uma longo caminho a percorrer. Então a pergunta não é a quantidade, mas a qualidade do desenvolvimento.

Vamos tomar como base o tradicional Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia a longevidade, o acesso à educação e a qualidade de vida da população. No relatório de 2013, o Brasil demonstra avanços: cresceu 24% no IDH desde 1990. No entanto, ainda amarga a 85ª posição entre 187 países avaliados, atrás de nossos vizinhos Peru (77º), Venezuela (71º), Uruguai (51º), Argentina (45º) e Chile (40º). A Bahia encontra-se em situação similar. Evoluímos, mas em um ritmo lento. Dados do IDH municipal apontam Salvador como uma cidade de alto desenvolvimento humano, com 0,759 ponto (do total de 1,0 possível). Essa pontuação lista a capital baiana na 383ª posição entre os municípios do Brasil e nenhuma cidade baiana está entre as que foram avaliadas em situação de desenvolvimento humano muito alto. Se restringimos a apenas educação, o relatório Capital Humano do Fórum Econômico Mundial coloca o Brasil na 88ª posição de um total de 122 países, mais próximo dos piores do mundo do que dos melhores.

Este breve contexto revela os desafios que vivemos. Um cenário rico, que exige criatividade para superar barreiras e criar novas soluções, que tragam benefícios sociais, econômicos e ambientais. Mas por que faltam atitudes inovadoras? Em busca de questionamentos mais profundos é que lançamos, nesta edição 20, uma luz sobre o tema. A resposta dos especialistas vem em coro: o modelo de ensino adotado no país. O diretor-geral do Senai, o baiano Rafael Lucchesi, e a filósofa Viviane Mosé são taxativos em afirmar que o sistema educacional brasileiro não estimula a

EDITO R IAL

QUESTIONAMENTOS MAIS PROFUNDOS

criatividade, a liderança nem a inovação. Professor da Ufba e presidente do grupo Rede Bahia, Antônio Carlos Magalhães Júnior conversou conosco e revelou opiniões sobre o assunto na visão de quem reúne a experiência entre a academia e as gestões pública e privada. O extenso tema segue discutido ao longo das reportagens, permeando debates entre Eric Taller e Gilberto Monte sobre como inovar com a economia criativa, o modelo do bairro-escola aplicado no Rio Vermelho, as competências exigidas para solucionar questões nos setores de logística e florestal do estado, além de casos inspiradores de quem já inova e promove serviços que apoiam a economia do estado.

E é com esse desejo de aprofundar os debates sobre temas fundamentais ao setor produtivo baiano que, há dois anos, a primeira Revista [B+] foi publicada. Doze edições se passaram e esse objetivo segue crescendo, agora com ainda mais apoio das entidades empresariais, universidades e faculdades, instituições públicas, não-governamentais e cidadãos mobilizados, que encontram, nas reportagens publicadas pela [B+], inspirações e dados importantes para o dia a dia de seus negócios. É animador acompanhar uma publicação viva, que une setores, conecta pessoas com ideais, dissemina conceitos e práticas em prol de uma Bahia rica, inovadora, cheia de singularidades criativas. Por isso, convido você também a fazer parte desse movimento. Divulgue os conteúdos entre seus amigos e compartilhe suas experiências conosco.

BOA LEITURA.Fábio Góis, editor-chefe da Revista [B+]

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ONL IN E E MU RAL

O recente levantamento sobre o fluxo migratório realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) coloca a Bahia em primeiro lugar no ranking dos estados com maior número de migrantes. O destino preferido dos que deixam o estado é São Paulo, que em 2012 já abrigava mais de 1,7 milhão de baianos.

De acordo com a pesquisa, em 2013, 50.700 baianos sairão da sua terra natal rumo a outros estados. A maior parte deste grupo vem do semiárido, região que sofre com a seca e onde fica mais da metade dos municípios baianos.

Antecipando o levantamento, a edição 19 da Revista [B+] tratou sobre um dos fatores que mais fazem a Bahia perder seus naturais: a falta de oportunidades para crescer na carreira. O assunto deu o que falar.

[MATÉRIA DE CAPA]Parabéns pela reportagem de capa. A Bahia precisa mesmo sair do rame-rame. Meus dois filhos estão muito bem em São Paulo e não querem voltar. Um deles retornou de um intercâmbio universitário de um ano na França, selecionado pela Unicamp. Voltar para a Bahia? Como? Fiquem por lá, com a graça do Senhor do Bonfim!

MARIA AUXILIADORA, pelo site

Realmente, os melhores talentos do jornalismo devem mesmo ter saído da Bahia. Só os piores poderiam chegar a um subtítulo tão ofensivo e depreciador para uma revista.

ALBERTO, pelo site

A remuneração é um ponto crítico em Salvador. O custo de vida é alto, o trabalho é duro, os profissionais talentosos: por que tanta diferença? As oportunidades de desenvolvimento e crescimento também são restritas. Mas um ponto que me incomoda bastante é a cultura. Muita coisa ainda gira em torno do governo, os “círculos” de networking são bem restritos e muitos jovens executivos, fora do ambiente de trabalho, só falam de festa, farra, show e isso me cansa. São poucas opções em muitos sentidos, infelizmente.

CAROLINA MANCIOLA, pelo site

Infelizmente, em pleno século 21 e com toda revolução tecnológica que vivemos, a Bahia continua atrasada até no mercado de trabalho. O que prevalece por aqui é o velho Q.I. (Quem Indica). Todos os meus amigos que saem daqui da “terrinha” logo conseguem emprego em suas áreas de formação. Sou jornalista e tenho planos para, quando terminar minha pós-graduação, ir morar e estudar em São Paulo. Porque, na Bahia, nem ser cantor de axé music está dando mais.

ROGÉRIO DUARTE, pelo site

As obras que ilustram as colunas desta edição são de Davi Caramelo, publicitário, artista visual e ilustrador soteropolitano. Alguns trabalhos de Davi já percorreram diversos países da América Latina, como Bolívia, Argentina, Chile e Colômbia.

Contatos: [email protected] / Galeria RV - [email protected] - 71 3347-4929

MURAL

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A evasão é notável em determinadas áreas. Às vezes não são as questões financeiras, mas questões de mercado, clientes, parceiros, entre outras coisas.

GUSTAVO BONFIM, pelo site

Matéria interessante sobre a migração de talentos baianos de todas as áreas para estados como São Paulo e Rio de Janeiro, entre outros. Infelizmente o mercado em Salvador apequenou-se faz muito tempo. Isso em praticamente todas as áreas.

LEONARDO ARAÚJO, pelo site

Depois de ler um dos artigos da edição 19, comecei a pensar num projeto para que os alunos da área de TI entendessem que a Bahia está em falta de empresas que ofereçam inovação e crescimento ao novo profissional.

IOT NORDESTE, pela fanpage

Parabéns pela revista, pela iniciativa de fomentar o desenvolvimento e o diálogo entre lideranças no estado. A capa sobre evasão de talentos mexeu comigo, porque faz 11 anos que moro fora de Salvador e me sinto muito turista dentro da minha própria cidade.ANDREA MOTA, diretora executiva de O Boticário, durante o sétimo Fórum de Liderança [B+]

[MATÉRIA EDUCAR PARA VENCER]Cybele faz um belo trabalho para capacitar os professores. Cybele é gente que faz! Faz um Brasil melhor!

JULIANA MOUSINHO, pela fanpage

[MATÉRIA CACHOEIRA, A PARATY BAIANA?]Bem longe disso! Quem já esteve nas duas cidades sabe disso. A querida Cachoeira tem potencial, mas ainda está bem longe de se tornar uma Paraty.

VEVÉ BRAGANÇA, pela fanpage

[MATÉRIA A ARTE DO INTERIOR QUE GANHOU O MUNDO]Waldomiro de Deus, você é nosso referencial de orgulho juazeirense. Saiba que por onde passa nós estamos juntos a ti.

KELLY CRISTINA, pelo site

QUAL SUA VISÃO SOBRE A EVASÃO DE TALENTOS DA BAHIA?Este fenômeno acontece em todo lugar. Não é algo apenas da Bahia. Mas acredito que o mais grave desta evasão é que está se criando um hiato de profissionais. Os melhores estão indo cada vez mais jovens para outros centros de negócios e a Bahia está perdendo a sua competitividade econômica em segmentos de alto valor. Isto impacta diretamente na formação da geração futura de empreendedores.

POR QUE VOCÊ DECIDIU IR TRABALHAR FORA DO ESTADO?Eu tentei diversas alternativas antes de decidir sair da Bahia. Um problema que enfrentei é que, por mais recursos e investimentos que sejam colocados para impulsionar o crescimento do estado, sempre as mesmas pessoas estão liderando. Cheguei até a me questionar se o modo como planejava a minha carreira era contra o modelo ou tendência que acontece no mundo hoje. E quando descobri, vi que estava, na verdade, me preparando para outro mercado com mais oportunidades. Minha avaliação, depois de quase um ano fora, é que a Bahia precisa aproveitar melhor os profissionais que querem evoluir, valorizando e criando oportunidade para que estes profissionais possam ter um papel mais estratégico na construção de um estado melhor e mais forte.

O QUE O FARIA RETORNAR?Acho que aqueles que estão fora e pensam em voltar têm a visão de que este retorno não deve ser apenas motivado pelo desejo de encontrar um ambiente repleto de oportunidades profissionais, e sim, por condições adequadas para construir um ambiente favorável e de desenvolvimento. Estas condições possibilitariam concretizar a imagem de que é possível construir uma Bahia que permite o desenvolvimento de novos talentos com qualidade de vida e alternativas de carreiras que vão desde criar novos negócios inovadores a liderar empresas.

Jacques Chicourel é baiano e saiu da terra natal para fazer carreira em São Paulo. Hoje, ele é gerente de inovação da Telefônica Vivo, uma das maiores empresas de telecomunicação do país. Jacques, leitor da [B+], nos contatou pelo Twitter para falar mais sobre a capa da edição 19, que provoca a reflexão sobre o grande número de profissionais cheios de potencial que saem da Bahia em direção a outros estados com mais oportunidades. O bate-papo, você confere abaixo.

FOTO: Divulgação

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FÓRU M DE L IDERAN Ç A

Os diferenciais competitivos e as boas estratégias que as empresas devem adotar para o sucesso nos negócios foram os assuntos centrais durante o sexto Fórum de Liderança [B+], patrocinado pela Caixa Econômica Federal e Desenbahia. O papel de promover o debate ficou por conta do economista e diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Rafael Lucchesi, em um café-palestra realizado no dia 29 de julho, no hotel Matiz, em Salvador. Com a pergunta “Por que inovar?”, o executivo provocou os empresários baianos a abandonar o sistema imitativo e focar em inovação nos seus negócios. “Precisamos mudar o panorama das empresas brasileiras, caso contrário nosso sistema econômico entrará em colapso nos próximos anos”, alertou Lucchesi.

“Em relação à inovação, nós precisamos sair do atraso”Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai

FÓRUNS [B+] MOVIMENTAM DEBATES SOBRE INOVAÇÃO, INTERIORIZAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ECONOMIA CRIATIVA

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Para fomentar o debate entre o empresariado baiano, a Revista [B+] realizou o sexto, o sétimo e o oitavo Fóruns de Liderança [B+] e lançou um novo produto: A Bordo com a [B+]. Executivos de destaque nacional foram convidados a apresentar suas ideias sobre as boas estratégias que as empresas devem adotar para o sucesso nos negócios nos diversos setores

O foco em ampliar a atuação dos negócios no interior dos estados nordestinos é uma tendência de setores produtivos e interesse comum dos governos. Sendo assim, a [B+] e seus patrocinadores, Caixa Econômica Federal e Desenbahia, trouxeram a Salvador Andrea Mota, diretora executiva do Grupo O Boticário, para falar sobre as oportunidades de negócios na interiorização. No evento, realizado no dia 26 de agosto, a administradora ressaltou as estratégias da grupo para estender as operações rumo ao Nordeste e interior. A pujança econômica do estado da Bahia foi um dos fatores principais para que a empresa escolhesse atuar aqui e firmar terreno para a instalação da fábrica de Camaçari e do centro de distribuição em São Gonçalo dos Campos.

“De 16 novas lojas que abriremos no Nordeste, 8 delas serão no interior”Andrea Mota, diretora do Grupo O Boticário

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Fotos e palestras na íntegra no link: bit.ly/forunsbmais

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A BORDO C O M A [B +]

Guiados por uma maré de bons negócios, diretores de agências de comunicação do mercado baiano foram convidados a participar do primeiro A Bordo com a [B+]. O novo produto da Editora Sopa de Letras foi realizado no dia 29 de agosto, e começou com uma recepção no Acqua Café, na Bahia Marina. Em seguida, os convidados foram levados pelo barco-hotel Schooner Resort a um passeio pela Baía de Todos os Santos para ouvir Maurício Magalhães, presidente da agência Tudo, palestrar sobre “Mercado de mídia: novos caminhos”. Na ocasião, Maurício levantou questões sobre a cultura de negócios da Bahia e opinou sobre a pouca visão estratégica do estado que exporta talentos para outros mercados.

“Precisamos ver o que fazer para evoluir, e não reclamar constantemente”Maurício Magalhães, diretor da agência Tudo

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[01] Renato Simões (RSF), Rafael Lucchesi, Maiara Liberato (Duetto) e Cláudio Vinagre (Sopa de Letras); [02] Geral do VI Fórum; [03] Edivaldo Boaventura (Academia de Letras); [04] Tatiana Ferraz e Eliane Almeida (Laboratório Sabin); [05] Professor Roberto Santos; [06] João Gomes (Rede Bahia); [07] Aline Lobo (Sebrae); [08] Adriana Mira (Fieb) e Renato Simões (RSF); [09] Fernando Passos (Engenhonovo); [10] Vitor Lopes (Desenbahia); [11] Isaac Edington (Ecopa); [12] Geral do VII Fórum; [13] Antônio Soave (Grupo O Boticário), Cláudio Vinagre (Sopa de Letras), Andrea Mota, Christopher John (Grupo O Boticário), Maiara Liberato (Duetto) e Renato Simões (RSF); [14] Thiago Souza (Desenbahia); [15] Alexandra Presidio (Donna); [16] Rosana Aparecida (Oi); [17] Roberval Luania (Chaves Outdoor) e José Linhares (Central de Outdoor); [18] Israel Alves (Casas Pelourinho); [19] Mirela Cubilhas (Enashop); [20] Maurício Lins e Manuela Andrade (Home Design); [21] Hélio Tourinho (Band), Rubem Passos (Revista [B+]) e Pedro Dourado (Uranus 2); [22] Lon Menezes (Tidelli); [23] Rubem Passos (Revista [B+]), Mauricío

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FÓRUM DE L IDERAN Ç A

A economista Ana Carla Fonseca, sócia-diretora da Garimpo Soluções, inspirou os empresários baianos com ideias da economia criativa, durante o 8º Fórum de Liderança [B+], realizado no dia 25 de setembro, em Salvador, com patrocínio da Caixa Econômica Federal e Sebrae. Cases de países como Chile, Inglaterra, China e Peru foram apresentados para instigar o potencial de inovação da Bahia. Atualmente, apenas 1,1% do PIB baiano representam os negócios em torno da economia criativa, mas, apesar da falta de incentivos do poder público, Ana Carla instruiu os convidados a identificar as oportunidades de negócios a serem exploradas dentro do setor.

“O primeiro passo está na mão do empreendedor”Ana Carla Fonseca, sócia-diretora da Garimpo Soluções

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Magalhães (Tudo), Renato Tourinho (Abap-BA); [24] Convidados a bordo; [25] Paulo Vianna (Bahia Comunicação); [26] Janaina Santana (SLA); [27] Vitor Barros(Propeg), Renato Tourinho(Abap-BA), Pedro Dourado (Uranus2); [28] Adriano Mascarenhas, Ana Queiroz (Coelba) e Fred Barreto (Acqua); [29] Flávio Fernandez (Propeg); [30] Americo Neto (Viamidia), Claudio Vinagre (Sopa de Letras), Marco Antônio (Tempo Propaganda) e Éder Galindo (Propeg); [31] Aline Lisboa e Marcelo Azevedo (Unica); [32] Vitor Barros (Propeg), Emília Medina e Bruno Cartaxo (Morya); [33] Ana Coelho (TV Aratu) e Potyra Lavor (Sou Comunicação); [34] Ana Carla Fonseca (Garimpo de Soluções) e Renato Simões Filho (RSF); [35] Geral do VIII Fórum; [36] José Elio (Sebrae); [37] Leandro Araújo e Marcel Garcia (Caixa); [38] Mario Bestetti (Overbrand); [39] Fernanda Studart e Aline Oliveira (Perini); [40] Gilberto Monte (In-Vento); [41] Monyca Mota (Sedes-PMS); [42] Roberto Alban (Roberto Alban Galeria de Arte); [43] Tharryra Hijazi e Andréa Paula (Secom); [44] Ivan Lopes e Roberval Luânia (Central de Outdoor).

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Para Fernanda Gretz, coordenadora da unidade de atendimento individual do Sebrae Bahia, a principal dica é a identificação adequada da oportunidade de negócio. “Para minimizar riscos e ampliar resultados, as capacitações e orientações empresariais são as melhores ferramentas”, afirma. Ela lembra ainda que o próprio Sebrae oferece essas ferramentas para o aprimoramento do jovem empreendedor, a exemplo de capacitações gratuitas, presenciais e a distância, competições educacionais, como o Desafio Universitário, e orientações técnicas nos pontos de atendimento, no portal e central de relacionamento Sebrae. “Devido à importância que esse público jovem dá ao empreendedorismo, o Sebrae desenvolve o programa de educação empreendedora, em que prevê ações realizadas nas instituições de ensino”, explica.

Fred Prado, de 25 anos, é um dos sócios do Utopia Resto-Bar, um dos pioneiros em Salvador em adotar o conceito de gastrobar. Com menos de um ano de funcionamento, o local já conquistou uma clientela cativa que não abre mão de bom atendimento, comida de qualidade e ambiente agradável. Para garantir o funcionamento do empreendimento, Prado destaca a importância das ferramentas de gestão, especialmente para os jovens que estão começando no mundo dos negócios. “Os

H á pouco mais de cinco meses, o jovem empresário Fabio Orleans, de 29 anos, se uniu a três amigos e abriu a Analogic, um centro de treinamento

físico localizado no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Para gerenciar as demandas diárias do empreendimento, os sócios decidiram implantar ferramentas de gestão que fossem simples, modernas, eficientes, de baixo custo e com bons resultados.

O perfil de Fábio e seus sócios destaca uma área fundamental para a sustentabilidade de uma pequena empresa, mas muitas vezes esquecida pelos empreendedores: a gestão. “Toda empresa tem que desempenhar algumas tarefas de gestão para manter-se minimamente eficiente”, afirma Ernani Coelho Neto, vice-diretor da Escola de Administração da Ufba. “São aspectos que, quando negligenciados, aumentam o risco de quebra do negócio, mesmo se a empresa estiver operando num nicho de mercado favorável”, aponta.

De acordo com Neto, quatro aspectos são fundamentais na hora de planejar a gestão da empresa: a parte financeira, os objetivos do empreendimento, o relacionamento com os clientes e a gestão de pessoas. “Esse contexto sugere algumas ferramentas básicas para o dia a dia das pequenas empresas. Por exemplo, para a gestão financeira, o fluxo de caixa real e projetado. Para a gestão dos objetivos, o planejamento estratégico. Para o relacionamento com clientes, há softwares que servem para manter e acompanhar os registros sobre os clientes e suas transações com a empresa. Para a gestão de pessoas, metodologia de participação nos resultados com base no desempenho”, diz.

ESCO LA DE N EG Ó C IO S

FERRAMENTAS DE GESTÃO: ESTRATÉGIAS PARA O SUCESSOPequenos empreendedores contam as principais ferramentas que ajudam a gerir seus negócios e garantir vida longa à empresa

por CLARA CORRÊA fotos RÔMULO PORTELA

Fábio Orleans e Ricardo Duarte Sarmento implantaram ferramentas

de gestão para regular os dados do centro de treinamento físico do

qual são proprietários

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dados nos possibilitam conhecer a empresa ‘de cabo a rabo’, em todos os seus processos, entender os pontos fortes e fracos, monitorar resultados, estruturar planos e estratégias. Sem esses dados tempestivos, não é possível uma administração de qualidade, principalmente nos tempos atuais”, diz. “É gastar tempo com coisas que não trazem retorno e acreditar que as coisas vão mudar ou cair do céu. Todo negócio envolve riscos, e boas ferramentas de gestão ajudam a minimizá-los”, completa. Quem pensa de forma semelhante é Bruno Fontes, diretor de desenvolvimento da Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (AJE-Bahia). Para ele, a falta de experiência e relacionamento de mercado são pontos que afetam os jovens empreendedores no início da estruturação da empresa. “Assim, para alcançar um crescimento organizado, a gestão básica da empresa deve ser o principal foco”, aponta.

Para Ernani Coelho Neto, as pequenas empresas que profissionalizarem mais rapidamente sua gestão terão mais chances de sucesso. “Fico impressionado com a quantidade de empresários inovadores e tecnicamente talentosos que eu encontro e que estão enfrentado dificuldades. Estou falando de gente competente, empreendedora e inteligente, que foi capaz de desenvolver negócios fantásticos e reconhecidos, mas que acabam frustrando seus sonhos por ter negligenciado a gestão da empresa. Portanto, o primeiro desafio a ser superado significa uma mudança de mentalidade, a compreensão de que o empreendedor não é um inventor de produtos ou serviços, e sim um criador das condições necessárias para que o produto ou serviço se transforme em riqueza para si e para a sociedade. Isso exige uma gestão qualificada”, diz.

Na opinião de Fontes, os processos vitais, como gerenciamento financeiro e tributário, controles de pagamento de pessoal e encargos trabalhistas, além da pesquisa de mercado e plano de marketing, precisam ser minuciosamente gerenciados pelas pequenas empresas nos primeiros anos de existência. “Isso é estratégico para garantir o crescimento e a antecipação de sazonalidades e oscilações do mercado”, opina. Mas se engana quem pensa que as ferramentas de gestão são necessárias apenas na implantação do negócio. Para Para o vice-diretor da Escola de Administração da Ufba, a importância desses instrumentos cresce proporcionalmente ao desenvolvimento da empresa. “Crescer significa ficar mais complexo. Se uma pequena empresa ganha porte, as decisões não podem mais ficar centralizadas apenas no empresário. Ele não poderia dar conta de tudo. Por isso é comum encontrar empresas em dificuldade exatamente quando elas começam a crescer, ou seja, no momento em que o modelo de gestão que sempre deu certo deixa de funcionar”, alerta. Quem reforça a importância de se manter informado e em busca

“É preciso a compreensão de que o empreendedor

não é um inventor de produtos ou serviços, e sim um criador das condições necessárias para que o produto ou

serviço se transforme em riqueza para si e para a

sociedade. Isso exige uma gestão qualificada”

Ernani Coelho Neto, vice-diretor da Escola de Administração da Ufba

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ESCOLA DE NE G Ó C IO S

permanente do aprimoramento das habilidades empresariais é Fernanda Gretz. “É fundamental que os jovens que pretendem empreender tenham uma dedicação permanente na busca de conhecimentos”, afirma.

GERAÇÃO MAIS ATENTABruno Fontes acredita que o empreendedor do século 21 tem as fortes características da inquietude e busca melhores oportunidades. “Os jovens buscam novas fronteiras de relacionamento, novos mercados inexplorados e conseguem internalizar novas tendências e práticas de gestão. Assim, vimos com maior frequência o surgimento de pequenas empresas que adotaram modelos inovadores e que tiveram um rápido e lucrativo crescimento, se tornando fenômenos e cases como jovens empresários de sucesso”, diz Fontes.

Sendo assim, os jovens empreendedores representam uma oportunidade de mudança de cultura empresarial no país. “Esses jovens são ambiciosos, mas também cresceram ouvindo falar de profissionalismo, responsabilidade social e sustentabilidade. Eles estão mais abertos a adotar modelos de gestão adequados à nossa realidade e também conscientes de que as agendas empresariais são mais largas do que apenas margens elevadas”, define Neto. Para ele, a nova geração de empreendedores reconhece a complexidade do mundo em que vivemos e busca qualificação e parcerias para atuar nele. “Mas sou de opinião que precisamos juntar mais esforços nesta direção. Se queremos que mais jovens se tornem empreendedores aptos a disputar mercados exigentes, temos que incluir esta discussão no ciclo de formação escolar e profissional deles”, conclui. [B+]

GOURMET EVOLUTION - Sistema próprio para administração de restaurantes e bares, fornece relatórios de abertura e fechamento de mesas, fluxo de caixa com base nos recebimentos registrados, controle de estoque, controle de ponto dos funcionários etc. “Com ele podemos saber o que mais vendemos, quem mais vende, em que horários mais vendemos e monitorar os resultados de ações específicas”.

OPINÁRIO - Ferramenta simples e bastante conhecida, consiste em um formulário que é entregue aos clientes após o encerramento da conta para sinalizar como foi a qualidade do serviço e dos produtos. “Nos permite corrigir imediatamente erros tempestivamente. O intuito é sermos excelentes em tudo. Se o cliente preenche 4 estrelas em quase tudo, mas marca 3 estrelas em algum ponto, neste precisamos melhorar”.

INCENTIVO PARA A EQUIPE - Para atrair e reter a equipe, composta por jovens - muitos deles universitários - os empreendedores investem em salários acima do mercado e distribuição de gratificações por desempenho individual e geral. “Nosso ‘turn over’ é baixo. Fazemos palestras sobre saúde e cuidados no trabalho, incentivamos a prática de esportes (futebol toda segunda-feira à noite) e temos reuniões periódicas para mostrar dados e conversar sobre tudo. Todos são ouvidos e participam dando ideias.”

FERRAMENTAS DE GESTÃO IMPLANTADAS NO RESTAURANTE UTOPIA

Para Fred Prado, um dos sócios do Utopia Resto-Bar, uma boa gestão permite conhecer

a empresa “de cabo a rabo” e minimiza os riscos envolvidos em todo negócio

Fred Prado e Marcelo Conde, sócios do Utopia Resto-Bar, dão a dica: todo negócio envolve riscos, e boas ferramentas de gestão ajudam a minimizá-los

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b loco de no tas

CONGRESSO PROMOVE DEBATE SOBRE RECURSOS HUMANOS NA BAHIA

O Bahia Othon Palace Hotel, em Salvador, foi o ponto de encontro do oitavo Congresso Baiano de Gestão de Pessoas promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-BA). Realizado nos dias 19 e 20 de setembro, o evento, que teve como tema Mobilizar para Reinventar: Pessoas, Negócios e Resultados, apresentou os principais especialistas do setor de recursos humanos em workshops, palestras e exposições, para debates com o público baiano sobre a atuação do profissional nas empresas.

FOTO: Divulgação

Estudo mostra seis tecnologias que vão revolucionar as universidades

Relatório publicado por um grupo de especialistas em tecnologia educacional das instituições New Media Consortium (NMC) e Educase aponta as tendências para a inovação das universidades. O uso de tablets e os cursos online foram vistos como alternativas de curto prazo, enquanto a implantação da linguagem de games e o big data serão destaque nos próximos cinco anos. Em longo prazo, o estudo aposta nas tecnologias da impressão 3D e nos equipamentos integrados a roupas e acessórios para mudar o cenário educacional.

BAHIA IMPLANTA CENTRO DE EXCELÊNCIA TECNOLÓGICA COM SUPERCOMPUTADOR

Dois supercomputadores, sendo um deles o mais rápido em processamento da América Latina, serão instalados no centro para inovação industrial na sede do Senai/Cimatec, em Salvador, como parte do Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho. O projeto, que vai receber investimentos de R$42 milhões, permitirá que a Bahia atenda às demandas dos segmentos de petróleo e gás, além de fomentar a formação e capacitação de pesquisadores em diversas áreas de instituições de ensino superior e técnico.

Startup Weekend Salvador reuniu 70 participantes e 32 novas ideias

A segunda edição do Startup Weekend Salvador contabilizou 54 horas de trabalho em três dias de evento, realizado durante um fim de semana de setembro. Apenas nove das 32 ideias apresentadas pelos 70 participantes, chegaram à final. O júri, composto por 12 mentores, entre eles Caio Mário Paes de Andrade e Likiso Hattori, fez a escolha das três startups vitoriosas: em primeiro lugar a Pastar, em segundo a Mais Filhotes e em terceiro a Palextra.

O BOTICÁRIO ENTRA NO MERCADO DE AMENITIES

O setor de cortesias para hotéis (conhecido como amenities) ganhou um novo parceiro. O Boticário será representado pela marca Nativa SPA e terá como parceiro a Realgem’s, maior fabricante de cosméticos para hotelaria do país. Segundo Marcelo Vital, diretor da Equipotel, esse mercado movimenta cerca de R$3 bilhões ao ano.

FOTO: Carol Garcia/GOVBA

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SHOPPING SE INSTALA NA BAHIA E PROMETE PRODUTOS DE GRIFE ATÉ 80% MAIS BARATOSLocalizado na Estrada do Coco, km 12,5, em Vila de Abrantes, Camaçari, o shopping Outlet Premium reunirá mais de 100 marcas nacionais e internacionais que venderão, durante todo o ano, itens de coleções passadas com descontos de até 80%. O empreendimento ocupa 121 mil metros quadrados às margens da BA-099 (Estrada do Coco), com 1,6 mil vagas de estacionamento, e contará com 71 lojas de 100 fabricantes. Dentre as marcas que já confirmaram presença estão Aramis, Asics, Calvin Klein Jeans, Chilli Beans, Ellus, Hering, John John, Lacoste, Le Lis Blanc, Nike, Oakley, Polishop, Sergio K., Sunglass Hut, TNG e VR.

EMPRESÁRIOS REÚNEM-SE EM SALVADOR PARA DISCUTIR SOBRE GERAÇÃO DE NEGÓCIOS A Escola de Administração da Ufba, em Salvador, foi o ambiente escolhido para sediar o Encontro de Empreendedores, um projeto piloto que visa integrar empresários para discutir e conversar sobre desenvolvimento e geração de negócios. O evento, realizado no dia 31 de agosto, possibilitou o contato entre empresários de diversos setores e idades. Empreendedores que já têm empresa discutiram sobre formação de redes de negócio. Já o workshop “como abrir e estruturar o meu negócio” foi voltado para quem deseja empreender. O encontro foi organizado pelas empresas LX-360 Desenvolvimento Organizacional, Cuisine Salgados e Doces, Utopia Resto -Bar, Contribute Contadores Associados, DoisF Marketing digital, universitários e pela AJE-BA, Associação de Jovens Empreendedores.

FOTO: Eduardo Freire

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b loco de no tas

CASA COR BAHIA 2013 INAUGURA COM O TEMA “UM OLHAR MUDA TUDO”Em sua 19ª edição, a Casa Cor traz 60 ambientes desenvolvidos a partir do tema “Um olhar muda tudo” por 88 profissionais, entre arquitetos, decoradores, designers e paisagistas. Até o dia três de novembro, o público vai poder passear por ambientes idealizados e decorados, com projetos que vão da sala de estar ao restaurante. A mostra acontece em Salvador, no estacionamento D7 do Shopping Iguatemi, ocupando uma área de 4.700 m2, e no estacionamento G1 do Boulevard Shopping, em Feira de Santana, com 1.600 m2.

NO BRASIL, TEMPO MÉDIO PARA ABRIR UMA EMPRESA É DE 119 DIASO estudo G20 Entrepreneurship Barometer, da multinacional de consultoria e auditoria Ernst & Young, apresenta um novo método para ranquear os países do grupo de acordo com cinco pilares do ecossistema empreendedor: acesso a financiamento; cultura empreendedora; impostos e regulamentação; educação e capacitação; e apoio coordenador. Para os empreendedores brasileiros, impostos, regulamentação e financiamento foram considerados os itens que mais impactam o crescimento dos negócios. Enquanto o tempo médio para abrir uma empresa no Brasil é de 119 dias, nos demais países do G20 a média é de 20 dias. Ademais, o tempo gasto para resolver questões tributárias é de 2.600 horas, contra 347 horas dos demais países.

Maragogipe terá 1ª indústria de beneficiamento de carne de fumeiro do país

Tradicional produtor de carne de fumeiro da Bahia, o município de Maragogipe receberá sua primeira indústria especializada em beneficiamento deste produto no Brasil. O anúncio foi feito pelo secretário estadual da Agricultura (Seagri), Eduardo Salles, e pelo diretor geral da Adab, Paulo Torres, durante a apresentação anteprojeto da unidade aos produtores. Com a implantação, os custos serão diminuídos, a produção otimizada e a comercialização do produto terá qualidade comprovada.

FOTO: Xico Diniz

A designer de interiores Priscila Diniz criou um ambiente para

homenagear Luciano Szafir

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FOTO: Divulgação

TIM REÚNE NORTE E NORDESTE PARA DISCUTIR REDE DE FIBRA ÓPTICADurante o evento Workshop TIM, realizado em Recife, em setembro, a empresa de telecomunicações reuniu a imprensa do Norte e Nordeste para discutir os benefícios da rede de fibra óptica na telefonia como alternativa para o aumento na velocidade de transmissão de dados. A meta da empresa é que, em 2016, essa tecnologia atinja a malha dos 65 mil quilômetros de extensão no país, superando os 46 mil km atuais.

LG com novidades para o fim de ano

A marca LG apresenta dois modelos das televisões LA9700, disponíveis no mercado a partir de outubro. Elas vêm com sistema de som de 4.1 canais e câmera Skype integrada. A empresa também lança o SlidePad, um computador conversível com tela de 11,6 polegadas sensível ao toque e teclado embutido. Outra novidade é a linha de monitores UltraWide, com três modelos que oferecem telas 21:9 de 29 polegadas e painel IPS, que proporciona imagens sem distorção em ângulos de até 178º.

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imóve i s+

POR NÚBIA CRISTINA

Um bairro no entorno do Aeroclube

O Aeroclube Plaza Show, localizado na Avenida Octávio Mangabeira, vai se tornar uma âncora para a orla de Salvador. No entorno desse equipamento privilegiado surgirá uma verdadeira cidade verticalizada, com residências, lojas, empresas, serviços e hotéis. A Odebrecht Realizações Imobiliárias não confirma a informação, mas tem planos de investir naquela região, criando uma área onde haja moradia, lazer, hotelaria, comércio e serviços no entorno do Aeroclube. Sustentável, o projeto diferenciado leva a assinatura de Antonio Caramelo. Uma fonte do mercado imobiliário, que prefere não se identificar, afirma que a revitalização do Aeroclube e adjacências por enquanto está apenas no papel, mas avalia que o projeto é excepcional.

Moura Dubeux aguarda definição para construir em Ondina

Uma das maiores incorporadoras da região Nordeste, com sede no Recife e filiais em Maceió, Salvador, Fortaleza e Natal, a Moura Dubeux aguarda uma definição clara em torno do PDDU e da Lous para dar andamento ao projeto que prevê a construção de um empreendimento residencial e um hotel cinco estrelas da bandeira Beach Class, no imóvel que abrigava o Salvador Praia Hotel, na Avenida Oceânica, em Ondina. O novo diretor regional, Fernando Arraes, afirma que a empresa espera ver definidos, o mais breve possível, os padrões urbanísticos para a cidade. Ele acaba de assumir o cargo e almeja um ambiente de negócios propício a novos investimentos. Enquanto o impasse não é resolvido, a incorporadora comemora o sucesso de vendas do seu primeiro empresarial de alto padrão na capital baiana: o ITC Salvador, localizado no Costa Azul.

ANDRADE MENDONÇA É DESTAQUE EM PESQUISA DELOITTE – EXAME PME 2013

A oitava edição da pesquisa “As PMEs que mais crescem no Brasil”, realizada pela Deloitte, em parceria com a revista Exame PME, aponta que a construtora baiana Andrade Mendonça teve crescimento de 72,7% entre 2010 e 2012. O estudo, divulgado no mês agosto, demonstra que a receita líquida da empresa teve incremento anual de 31,4%. A pesquisa anterior destacou a Andrade Mendonça como a segunda empresa da indústria da construção que mais cresce no Brasil, com variação positiva no faturamento de 502,5%, no período de 2009 a 2011.

GRUPO AMÉRICO AMORIM INVESTE NA BAHIA

O grupo português Américo Amorim (AA) planeja transformar a Península de Maraú, na Costa do Dendê, sul do estado, em destino preferencial para turistas estrangeiros de alta renda. Está em fase de licenciamento ambiental um projeto do grupo com investimento previsto de US$500 milhões, que vai contemplar a construção de três hotéis, vilas, apartamentos, campos de golfe e de polo, além de um espaço hípico. O diretor da Siravol Incorporadora (empresa do grupo), Antonio Meirelles, afirma que o empreendimento deve ser construído em seis etapas, em um prazo de dez a 12 anos. A família paulista Ruas, fabricante de carrocerias e proprietária de uma frota superior a quatro mil ônibus urbanos, é sócia do empreendimento, mas o grupo AA busca atrair fundos de investimentos como parceiros do projeto. Três redes demonstraram interesse em administrar o complexo hoteleiro: a brasileira Fasano, a norte-americana Four Seasons e a cingapurense Aman, uma das maiores redes de alto luxo do mundo.

Praia do Cassange, em Maraú

FOTO: Solange Rossini / Setur-BA

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pe r f i l

L ançar empreendimentos de sucesso no interior baiano e expandir os horizontes da empresa para além das fronteiras do estado. Essa estratégia está

sendo delineada pelo sócio-diretor da Dona Empreendimentos, Antônio Medrado. A construtora e incorporadora segue fortalecida pelo reconhecimento que advém da conquista do Prêmio Ademi-BA 2013 em duas categorias: Empresa Revelação do Ano e Lançamento Imobiliário do Ano até 15 mil metros quadrados de área construída.

A tática de buscar novos mercados tem o objetivo de impulsionar o crescimento da empresa, mas também é uma saída para driblar um problema que ainda emperra os planos

ANTÔNIO MEDRADOESTÁ PRONTOPARA CONQUISTAR NOVOS MERCADOS

de ascensão das construtoras e incorporadoras que atuam em Salvador. “A insegurança jurídica prejudicou muito o mercado imobiliário de Salvador em 2013 e já deixou seus reflexos para o próximo ano, uma vez que muitos projetos de longo prazo, que seriam delineados no primeiro, no máximo início do segundo semestre deste ano, ficaram emperrados”, afirma Medrado.

Em julho, o Tribunal de Justiça da Bahia decidiu que ficam suspensos os efeitos da nova Lei de Ordenamento de Uso e Ocupação do Solo do Município (Louos) e do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), aprovados pela Câmara de Salvador em dezembro de 2012, e alvo de uma ação de inconstitucionalidade. Com a decisão, voltam a valer em Salvador o PDDU de 2008 e a Louos de 1984. “Agora, temos parâmetros jurídicos válidos, o que nos permite criar uma agenda positiva e seguir em frente, trabalhando”, ressalta o empresário, destacando que espera ver todas as ações julgadas e as questões de legislação resolvidas, o mais breve possível.

Mesmo com o cenário desfavorável, Medrado tem motivos para celebrar. Na atualidade, a Dona Empreendimentos colhe os frutos de um modelo de gestão eficiente. “Nossos projetos são lastreados por estudos de mercado e de produto, acompanhados de cuidadoso planejamento, que garantem o cumprimento de prazos e metas”, afirma o diretor. Em 2012, lançou o Noveau Horto Florestal, um empreendimento de estrondoso sucesso. Hoje, a empresa se dedica à construção de dois grandes empreendimentos: o Quinta Avenida (Jardim Armação), lançado em 2011, e o Noveau (Horto Florestal).

Graduado em engenharia civil, pela Universidade Federal da Bahia, com pós-graduação em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Medrado criou a Dona em 1997. Inicialmente, a empresa atuava em vários segmentos da engenharia, se dedicando especialmente às obras públicas, mas há seis anos passou a focar no mercado imobiliário, investindo em projetos diferenciados para atender às necessidades do consumidor.

FOTO: Kin Kin

Antônio Medrado exibe os prêmios Ademi-BA 2013

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Você acredita que o mercado publicitário da Bahia vive um momento delicado. A que isso se deve?É evidente que o desempenho do mercado publicitário está diretamente relacionado à performance da economia. Não apenas o Brasil, mas a economia internacional ainda vive um momento delicado, reflexo da crise dos últimos três anos, e esse processo atinge a Bahia e, por consequência, o nosso mercado publicitário. Temos insistido que a publicidade é um dos componentes fundamentais para fazer frente a uma crise econômica, por incentivar o consumo e consequentemente a busca por soluções que estimulem as empresas a manter os níveis de produção. Na Bahia não é diferente. As nossas agências têm trabalhado para criar saídas em busca da produtividade, tanto em relação aos seus clientes, quanto no âmbito macro da economia.

Essas dificuldades sacrificam mais o mercado publicitário do que os demais setores?Eu diria que em um momento sensível da economia ocorrem reestruturações em que determinados segmentos são mais atingidos. No caso da publicidade baiana, perdemos grandes anunciantes regionais, em função de fusões e aquisições por grandes marcas nacionais e até multinacionais. Banco Econômico, Baneb, Ipê, Telebahia, Suarez, Tio Correia, Romelsa, Ciplan, Arapuã, Sogeral, Supermini foram alguns desses anunciantes que deixaram de existir. Os seus incorporadores não mantiveram a mesma relação com o mercado e não surgiram outras empresas locais para ocupar esses espaços, impactando nas agências e na economia como um todo. Acredito que o mercado publicitário é talvez o setor da economia que mais sofre com o peso da

PUBLICIDADE EM PAUTA

Renato Tourinho, presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade da Bahia, dá o seu parecer sobre o atual momento do mercado, que, segundo ele, é o que mais sofre com as altas cargas tributárias

m íd i a+ per f i l

FOTO: Divulgação

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E qual seria o caminho para resolver essa questão?Nós, empresários, precisamos ter uma ação firme e ao mesmo tempo um diálogo aberto com os setores institucionais. Mostrar que essa postura tributária não favorece e sim prejudica a economia, e a capacidade da gerarmos mais qualidade de vida. Acreditamos que o diálogo franco e aberto com os gestores públicos está gradativamente se tornando prática comum, com sinais claros tanto da gestão que ora se inicia, como pela gestão mais antiga, e temos certeza que neste caso a soma dos fatores altera positivamente o produto.

A postura das agências tem mudado para acompanhar as mudanças da cidade e do mundo. O senhor sente que elas estão abertas para inovação? Como essa mudança de postura afeta na relação com o cliente?Inovação e publicidade caminham passo a passo e formam um só corpo, tanto na criação quanto na incorporação tecnológica. Destaco as mídias sociais como a grande transformação da publicidade. Hoje as marcas são moldadas em tempo real e as empresas de publicidade já estão conseguindo tirar proveito desse movimento. O que antes acontecia em sentido único, com as empresas determinando as tendências para os clientes, hoje ocorre no sentido inverso, com os consumidores sendo determinantes na estruturação e conceituação das marcas. O consumidor fala diretamente o que ele quer e pretende, o que nos obriga a mais dinamismo, agilidade, facilidade, adequação e rapidez na busca dos resultados.

carga tributária. Estamos entre as atividades que pagam o limite máximo de impostos e o custo infligido aos nossos clientes reduz a sua capacidade de investimento, inclusive na área de comunicação. A atual carga tributária é um dos fatores de inibição da atividade econômica e prejudica a nossa competitividade em escala nacional e internacional. Estamos na contramão do processo da lógica de desenvolvimento. Os governos falam de desoneração do custo e em contrapartida aumentam o seu custeio. Vejam bem: custeio e não investimento. O impacto dessas duas equações para o conjunto da sociedade é perverso, se traduzindo em desemprego e, o mais grave, no desestímulo ao empreendedorismo.

Vivemos um momento em que o Brasil cresce em direção às regiões fora dos grandes polos econômicos. De que forma isso muda a postura das empresas e quais são as estratégias criadas pelas agências para acompanhar este crescimento? Quando em 2011 a Abap-Bahia promoveu o evento “Nordeste, A Bola da Vez”, reunindo 570 participantes, entre os quais estavam 80 dos maiores anunciantes do mercado nacional, tínhamos claramente essa percepção: as melhores oportunidades da nossa economia estariam fora dos eixos tradicionais, sobretudo no Nordeste, e essa realidade, mesmo nesse momento delicado, não mudou. Incorporamos de longe o maior contingente de brasileiros que alcançaram a classe média e, consequentemente, a maior proporção de crescimento do consumo. São fatores que têm atraído, cada vez mais, empresas, inclusive indústrias, de âmbito nacional a se instalarem em nossa região. O nosso esforço tem sido no sentido de integrar nacionalmente o mercado publicitário, de forma que essas empresas ao se instalarem, por exemplo, na Bahia, tenham a sua publicidade regional criada pelas agências locais, respeitando assim, a linguagem, o comportamento do consumidor e logicamente com muito mais eficiência. Mas é evidente que esse processo poderia ter avançado ainda mais e não deve ser apenas um esforço do setor publicitário, mas do conjunto da economia da nossa região e também da área governamental.

Mas os incentivos fiscais, de certa forma, não amenizam essas questões?Os incentivos fiscais são concedidos em situações específicas e especiais. Portanto, não atingem a todos e principalmente, não atingem ao empresário que está no local. Geralmente os incentivos são utilizados como elementos de atração para empresas que vêm de outras regiões ou de outros países. Consideramos que esses benefícios deveriam estar atrelados a uma contrapartida social, não só na geração de emprego, mas que os recursos originados desta parceria tenham um percentual obrigatório de investimento no local onde a empresa está instalada, visando assim criar sustentabilidade econômica e consequentemente mais oportunidades para as empresas e cidadãos locais.

“Nós, empresários, precisamos ter uma ação firme e ao mesmo tempo um diálogo aberto com os setores institucionais”

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míd ia+

Guinness wheel-chairs basketball Fugindo do óbvio, a campanha da cerveja Guinness se propôs a emocionar quando trouxe um jogo de basquete em cadeira de rodas para falar sobre o valor da amizade.

Lixeira da felicidadeA Coca-Cola criou uma ação de conscientização no Rio de Janeiro em parceria com a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) com o intuito de deixar a cidade limpa.

Nota esquecida AACDA Associação de Assistência à Criança Deficiente criou uma nota falsa para mostrar que com o dinheiro que você esquece no bolso é possível ajudar muita gente.

Nike Free Flyknit Nas alturas! Para ressaltar a natureza única da tecnologia utilizada para desenvolver o novo tênis da Nike, um outdoor mostra como o produto é produzido ao vivo.

A team that unites the world Considerado como um dos grandes virais do ano, o comercial leva os jogadores do Barcelona para um aeroporto. O vídeo tem participação do craque Neymar.

OS VÍDEOS DE AÇÕES E COMERCIAIS MAIS VISTOS NOS ÚLTIMOS DOIS MESES

APOIOINST ITUC IONAL

Para quem gosta de música e de propaganda

A campanha comemorativa de 25 anos da Globo FM de Salvador ficou a cargo da agência Marcativa. Enredado pelo conceito “A trilha que marca a sua vida toca na Globo FM”, o comercial dá voz aos ouvintes da rádio, que contam como a música faz parte da vida de cada um deles. “Para nós, é muito prazeroso trabalhar com um cliente que, como a própria campanha diz, marca a vida da gente”, afirma Aline Lazar de Sá, sócia-diretora da Marcativa.

AGÊNCIA BAIANA CONQUISTA PRÊMIO PROFISSIONAIS DO ANO DA REDE GLOBO

A campanha “Jorge e Zélia”, criada pela Ideia 3 em 2012 para o Shopping Iguatemi de Salvador, foi escolhida como a melhor campanha de shoppings da América Latina dos últimos 30 anos, no 12° Congresso Interacional do setor. Agora emplacou mais um grande prêmio. A Rede Globo, em cerimônia realizada em Manaus, anunciou a peça como a melhor campanha do Norte e Nordeste de 2012. A campanha teve a direção de criação de Wilton Oliveira, direção de arte de Jan Hlavnicka e redação de Davi Franco e Paulo Sales.

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NEGÓCIOS

CELEIRO DE INOVAÇÕES

LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO

4032

ECONOMIA 36 | EXPERIÊNCIA 44 | [C] LUIZ MARQUES 48

FOTO: Carol Garcia/SECOM FOTO: Manu Dias/SECOM

Apoio:

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conduzida, a logística é um tema cada vez mais recorrente. Só para se ter ideia, Salvador sediou dois eventos em agosto com foco nesta temática: o Fórum de Oportunidades de Investimentos na Bahia, realizado pelo Lide na Fieb, e o primeiro Fórum Nordeste de Logística ADVB, na Fecomércio.

“A Bahia tem R$37 bilhões para receber de investimentos privados nos próximos cinco anos, dos quais 60% irão para mineração, celulose e energia eólica, mas este quadro encontra dificuldade na logística”, admite o secretário do planejamento José Sérgio Gabrielli.

Em nível nacional, falta competitividade entre os modais, na opinião de Hedeverton Andrade, diretor da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), ligada ao Ministério dos Transportes. O transporte rodoviário opera

I magine o seguinte problema: dois grandes produtores de frutas da América Latina disputam o mercado holandês de exportação. Um deles é

de Juazeiro, da região do Vale do São Francisco, norte baiano. O outro é do Chile. A qualidade dos produtos de ambos pouco difere e suas safras costumam ir de vento em popa. Mas a quantia de US$5 mil a menos por contêiner fará com que os importadores de Roterdã fechem negócio com os chilenos.

O que é que os chilenos têm? Uma logística mais eficiente, que vai desaguar em preços mais competitivos. Palavra de apenas nove letras, mas que tem uma capacidade gigantesca de jogar os mercados para cima ou para baixo, a depender de como é

LOGÍSTICA,SEGUNDO O MERCADOUm panorama da logística no estado na visão de empresas que dependem da eficiência deste setor para se desenvolver e contribuir com a economia baiana

por MURILO GITEL

NEGÓ C IO S | i n f raes t ru tu ra

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FOTO: Divulgação

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no limite de sua capacidade e tem idade média da frota em 18 anos. A infraestrutura ferroviária moderna, por sua vez, é restrita a poucos corredores dedicados ao minério de ferro, sendo que 2/3 da malha, cujos trechos têm mais 100 anos, deixam de ser explorados.

“Há pressão na demanda e oferta limitada. Os gargalos somam-se a esse desbalanceamento. Os impactos desse problema são a perda de competitividade, produção e empregos”, aponta Andrade.

MERCADO BAIANOMas como o mercado baiano trata a sua logística? Apesar dos gargalos já mencionados, empresas de diversos setores investem cada vez mais em tecnologia para dar um tratamento adequado desde a produção, passando pelo armazenamento até a distribuição, seja por via aérea, marítima ou terrestre.

A Carballo Faro, por exemplo, tem a meta de ser a maior importadora e distribuidora do Nordeste nos próximos anos. Com mais de 40 anos de atuação, a empresa trabalha com uma gama de mais de 700 produtos do gênero alimentício, que são comercializados para o grande e pequeno varejista, restaurantes e redes hoteleiras, além de eventos de todos os portes.

“Trabalhamos em três turnos. Pela manhã, fazemos inventário rotativo e recebemos as mercadorias. À tarde, arrumamos o depósito e os produtos. À noite, fazemos a separação de todos os pedidos”, explica André Faro Carballo, diretor da empresa. A importadora e distribuidora conta com um galpão de sete mil metros quadrados, na região do Porto-Seco Pirajá, distribuídos entre as partes seca, refrigerada e congelada.

De acordo com o empresário, o depósito de congelados passa por ampliação, com foco nas câmaras frigoríficas. “Também estamos dispostos a investir 2% do faturamento em logística, aumentando a nossa frota de veículos”, projeta. A Carballo Faro registrou crescimento de 19% em 2012, em relação ao ano anterior.

Mas como depende de uma boa infraestrutura para receber e entregar as mercadorias, Faro cobra mais investimentos do poder público em logística. “Um contêiner do Mercosul demora dois meses, da Europa quatro e da Ásia seis para chegar à nossa empresa, em média. Utilizamos mais o modal marítimo e o que vemos são portos com nenhuma capacidade para escoar cargas e estradas sem condições de tráfego no Nordeste brasileiro”, pontua.

FOTOS: Divulgação

Outra empresa com atuação destacada nesse segmento é a importadora e distribuidora de hortifrutigranjeiros Frutas Líder, que realiza importações diretas do Chile, Peru, Uruguai, Argentina e de países da América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. Só em 2012, o total de frutas e verduras comercializadas atingiu a marca de 32 mil toneladas.

Situada na região do CIA-Aeroporto, em uma área de 6.700 metros quadrados, a empresa possui uma frota de 35 caminhões refrigerados (15 próprios e 20 agregados), que, juntos, atendem a cerca de 250 clientes, a exemplo de Walmart (Bompreço e Todo Dia), Carrefour (Atacadão), Cencosud (Mercantil Rodrigues e G Barbosa), Casino (Extra Supermercados e Assaí Atacado), hotel Catussaba e churrascaria Fogo de Chão.

“Utilizamos o modal rodoviário para cargas do Mercosul (Argentina e Chile) e o modal marítimo para cargas de outros países parceiros (China, Peru, Espanha, Portugal, Estados Unidos)”, explica o gerente comercial da Frutas Líder, Felipe Lima, responsável pela área de mercado internacional.

A Carballo Faro conta com um galpão de sete mil metros quadrados

na região do Porto-Seco Pirajá

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A empresa tem variação de receita entre 2% e 3,5% ao ano, e investe em infraestrutura e mão de obra qualificada. A exemplo da Carballo Faro, também pretende aumentar a frota de caminhões, que é renovada a cada quatro anos em média, para atender às necessidades da demanda.

Os gargalos portuários também estão entre as principais queixas da empresa, na avaliação do gerente comercial da Frutas Líder. “Principalmente no que diz respeito aos carregamentos marítimos, pois hoje dependemos de apenas um terminal portuário em Salvador e das péssimas condições de nossas rodovias, que atrasam as entregas e a recepção de nossas mercadorias”, observa Felipe Lima.

PORTO PRIVADO DA FORDUm dos exemplos mais emblemáticos na área de logística na Bahia é o terminal portuário privativo Miguel de Oliveira, no município de Candeias, construído pelo governo do estado e transferido para a Ford, por meio de concessão, em 2005. Primeiro porto privado automotivo do Brasil, o empreendimento estrategicamente situado a 35km da fábrica de Camaçari viabiliza importações e exportações de veículos para países como México, Canadá e Turquia.

“A planta de Camaçari é a mais importante da Ford na América do Sul. Tínhamos dificuldades de logística dentro de áreas urbanas, como Salvador, porque 40% da produção era escoada em caminhões-cegonhas”, justifica Edson Molina, diretor de logística da Ford. Segundo ele, o modelo EcoSport é o que tem mais saída pelo porto privado, com 55% dos embarques, seguido pelo Fiesta Sedã (32%) e pelo Fiesta Hatch (13%).

Mais de 500 mil veículos foram movimentados no porto do Canal de Cotegipe só em 2010. O empreendimento tem capacidade para 6.024 veículos e pode receber navios de grande porte de até 200 metros de comprimento. Qualquer automóvel pode ser localizado em segundos através de um sistema de radiofrequência e até dez caminhões-cegonha podem operar no local simultaneamente. “Ninguém faz nada em logística se não houver integração”, defende Molina. “Uma logística eficiente e de alta performance define mercados”, completa.

OPERAÇÃO DO GRUPO TPCO gerenciamento de pátio do porto Miguel de Oliveira é feito pelo Grupo TPC, grupo baiano que se tornou um dos maiores do país em logística. Na Bahia, atua nos setores

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aeroportuário, portuário, automotivo, cuidados pessoais, telecom/eletroeletrônico, impressos, petroquímico e de comércio exterior. “Nosso foco é na qualificação dos profissionais e na inteligência dos sistemas operacionais”, ressalta André Sampaio, diretor do setor de cuidados pessoais da companhia.

A logística geral integra as atividades de armazenagem, com recebimento, triagem, separação de pedidos, customização (como etiquetagem e embalagem) e expedição – transporte e distribuição. Entre as tecnologias utilizadas pelo grupo destacam-se o Warehouse Management System (WMS), voltado para a gestão da operação, o Transportation Management System (TMS) e o Sistema de Controle de Distribuição (SCD), para o rastreamento da carga.

No setor de cuidados pessoais, o Grupo TPC também opera o centro de distribuição da Natura em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. Só em 2011, cerca de três mil entregas foram feitas diariamente no estado. “Nosso esforço é para a redução no tempo de entrega dos pedidos, mas sem perder a eficiência logística”, pondera Sampaio. O resultado foi que a Natura certificou a TPC como melhor operador de logística do país nos anos de 2011 e 2012.

De acordo com Paulo Guedes, gerente de planejamento, performance e qualidade da Natura, já houve uma evolução de 6% na efetividade do centro de distribuição (cumprimento de prazos) e uma redução de 42% das queixas de consultoras quanto a falhas na separação dos produtos.

PROJETOS LOGÍSTICOSPara o ministro dos Transportes, o baiano César Borges, o momento é de duplicar as rodovias e ampliar a malha ferroviária. “Aeroportos, portos e rodovias serão estimulados por diversos leilões a partir do segundo semestre, colocando a infraestrutura a serviço da iniciativa privada. A logística do país é uma ‘obsessão’ da presidente Dilma”, garantiu.

Entre os projetos governamentais de médio e longo prazos capazes de desafogar a logística, o ministro destaca o Programa de Investimento em Logística (PIL), que está em andamento e inclui parceria com a iniciativa privada, e o Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), cuja conclusão está marcada para o segundo semestre de 2014.

A polêmica construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que tem a proposta de dinamizar o escoamento da produção de minério e grãos do estado e servir de elo aos outros polos do país, deve ter o trecho entre Caetité-Ilhéus pronto até o final de 2014, e até Barreiras em 2015, segundo o ministro. A ideia é que o escoamento via Porto Sul (Ilhéus) atenue o fluxo de caminhões sentido Porto de Paranaguá, reduzindo, significadamente, o custo do frete. [B+]

O porto Miguel Oliveira, em Candeias, foi o primeiro porto privado automotivo do Brasil e garante as operações de exportação da fábrica da Ford

Contêineres armazenados no porto de Salvador

A Ferrovia de Integração Oeste-Leste ainda segue em obras, mas é uma das esperanças do setor

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NEGÓ C IO S | econ omia

O cenário acolhedor da vila de Trancoso, no município de Porto Seguro, revela a história de Maria da Glória Peruzzo

Possa, mais uma que se confunde com as de outros empreendedores brasileiros que buscam, nas próprias qualidades, fontes de recursos para gerar renda que sustente suas famílias.

De forma acanhada, ainda no ano de 1982, dona Glória, como é carinhosamente chamada, abriu uma pequena pizzaria na própria casa, em Itabela, sul da Bahia. Como o local ainda não tinha nome, as pessoas diziam que iam comer “uma pizza de dona Glória, naquela portinha”. O nome Portinha pegou. Em 1993, a família se mudou para o povoado de Trancoso. Lá reinaugurou a pizzaria que, em 2000, cresceu para um restaurante self-service. Hoje circulam mais de 1500 pessoas por dia no estabelecimento. O negócio familiar expandiu, empregou mais pessoas, e dona Glória abriu mais dois restaurantes: um em Arraial D´Ajuda e outro em Porto Seguro.

Ao longo desse caminho, foi necessário o apoio financeiro de um banco para sustentar as operações. A opção foi escolher o crédito do cartão do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), como explica Glória: “O meu restaurante começou muito pequeno aqui em Trancoso. Junto com minha família, toco o negócio até hoje. Na hora de investir, a gente precisava de crédito. Compramos tudo o que precisávamos com o cartão do banco, desde talheres até carro utilitário”.

Citamos o exemplo do restaurante Portinha, por ser mais um na lista das mais de 200 mil micro e pequenas empresas situadas na Bahia, que são responsáveis por mais de 50% dos empregos formais. Segundo dados da

MÃO ABERTA

Agências de fomento e bancos de desenvolvimento disponibilizam apoios financeiros para fortalecer o ambiente empreendedor e aquecer a economia do estado

por VICTOR LIMA

FOTO: Divulgação

FOTO: Michell Zappa

“O meu restaurante começou muito pequeno e, na hora de investir, a gente

precisava de crédito. Compramos tudo o que precisávamos com o cartão do banco,

desde talheres até carro utilitário”

Maria da Glória Peruzzo Possa, proprietária do Portinha

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Vitor Lopes, diretor de negócios da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia). Segundo ele, um projeto viável é muito importante para que as agências de fomento auxiliem o empresário.

“Evidentemente que, na atual conjuntura, o financiamento ou crédito de longo prazo obtido através de agências e bancos de desenvolvimento tornaram-se ferramentas bastante estimulantes ao empreendedorismo. As condições de juros e prazos praticados nessas instituições são compatíveis com a realidade empresarial brasileira e, nesse sentido, as agências de fomento acabam proporcionando um ambiente favorável à instalação ou ampliação de negócios”, aponta Paulo Guimarães.

Vitor Lopes informa também que a atuação da Desenbahia tem aumentado em todo o estado, assim como a sua carteira de negócios. “Liberamos R$70 milhões em financiamento em 2007, já no ano de 2010, foram aproximadamente R$250 milhões, dois anos depois R$550 milhões. A nossa meta é chegar a um bilhão de reais em 2016”, indica.

Luciano Candemil, diretor da Austral Logística, diz que as linhas de crédito com condições atrativas oferecidas pela Desenbahia são um incentivo para o desenvolvimento do empreendimento no estado. Candemil explica que esse tipo de estímulo viabilizou a sua empresa investir na construção de um moderno centro de distribuição, com equipamentos e sistemas logísticos de ponta. “Com isso, seremos o mais bem estruturado operador logístico da Bahia, especializado na logística de alimentos industrializados. Como reflexo, somente no lançamento da primeira etapa, construímos 150 empregos diretos e 300 indiretos. Na segunda etapa, este número sobe para 300 e 600 respectivamente”, conta.

Superintendência de Estudos Econômicos e Social da Bahia (SEI), as atividades econômicas no estado registraram um crescimento de 1,5% no primeiro trimestre de 2013, em comparação com o mesmo período no ano anterior. Os dados revelam um cenário em que as instituições financeiras tornam-se peças chaves no estímulo do desenvolvimento do estado, com promessas de juros baixos, facilidade de pagamento, prazos estendidos e exigências mínimas para cadastro.

Além dos tradicionais bancos, o sistema financeiro nacional é composto por algumas instituições que podem ser operadas pelo Governo Federal e do Estado, com o intuito de viabilizar o crescimento econômico e conceder financiamento de capital fixo e de giro, associado a projetos.

Dentre elas, pode se destacar as agências de fomento, que financiam projetos de investimento, e os bancos de desenvolvimento que tem como papel fornecer recursos financeiros que estimulem a economia de suas localidades. Tais instituições também emprestam dinheiro ao Estado, no entanto, de acordo com Banco Central, o crédito deve ser fornecido, prioritariamente às empresas privadas.

IMPORTÂNCIA PARA O NORDESTEPara Jorge Antônio de Oliveira, superintendente do Banco do Nordeste na Bahia (BNB), os instrumentos de fomento tem grande importância para a região, e tem por finalidade minimizar a histórica desigualdade econômica do Nordeste em relação aos eixos Sul e Sudeste. “A região Nordeste vê seus anseios de representatividade no cenário político e econômico nacional. Portanto, ter uma instituição financeira atuante, com corpo técnico e gerencial qualificado e conhecedor dos problemas locais, com recursos que atraiam novos investimentos para a região é tão importante quanto necessário”, pontua Oliveira.

O chefe do departamento Nordeste do BNDES, Paulo Guimarães, ressalta que o acesso ao financiamento, embora importante, é apenas uma etapa na viabilização de um empreendimento ou implantação de uma empresa. Para Guimarães, um plano de negócio bem detalhado é fundamental a fim de que minimize os riscos inerentes a qualquer investimento. A opinião é compartilhada por

FOTOS: Rômulo Portela

Vitor Lopes, diretor de negócios da Desenbahia

Luciano Candemil usou linhas de crédito para investir do centro de distribuição da Austral Logística

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EMPREENDEDORISMO NAS UNIVERSIDADESA Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) é uma outra opção para quem desenvolve ações nas instituições de ensino superior. Desde 2008, a instituição desenvolve um programa chamado Empreende Bahia, que oferece uma série de editais para o estímulo e a disseminação da cultura empreendedora no estado. Um exemplo é o edital de apoio às incubadoras de empresa, que por sua vez estimulam também à concepção de empresas inovadoras dentro das incubadoras. Outro edital oferecido pela instituição visa o apoio à educação para empreendedorismo com ações nas universidades sobre capacitação, gestão de inovação e transferência de tecnologia. “Estamos criando um ambiente de promoção da cultura empreendedora no estado”, afirma Vivia Alves, coordenadora de desenvolvimento tecnológico e empreendedorismo da Fapesb.

Desde 2007, a Fapesb promove o edital do concurso Ideias Inovadoras, que visa disseminar a cultura do empreendedorismo reconhecendo e premiando inovações. Qualquer pessoa pode participar, basta submeter proposta por meio de formulário através do portal da instituição.

O pesquisador Lucas Artigas venceu o edital em 2012, na categoria Inventores Independentes, com o projeto Dispositivo Giratório Analógico Musical. O mesmo ocorreu com o empresário Bruno Rabelo, que também venceu o edital, no mesmo ano, com o projeto Braile Jet. O produto criado pelos sócios Bruno Cavalcanti, Daniel Veiga e o próprio Rabelo é uma impressora braile de baixo custo para auxiliar na formação de jovens e criação de conteúdos digitais. “Este incentivo serve para nos motivar a continuar nossos projetos. O ideias Inovadoras é um edital bastante cobiçado e estimula o entendimento do empreendedorismo e a busca pela inovação”, ressalta Bruno Rabelo. [B+]

BNDESÉ hoje o principal instrumento de financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em todos os segmentos da economia, em uma política que inclui as dimensões social, regional e ambiental. O BNDES opera de forma direta e indireta. Nas operações diretas, o pleito de financiamento é encaminhado diretamente ao BNDES e analisado pela equipe técnica do banco. De maneira geral, é o que ocorre na análise de projetos de investimento com valor a partir de R$10 milhões (BNDES Finem). Já nas operações indiretas, o financiamento com recursos do BNDES é concedido através das instituições financeiras credenciadas, responsáveis pela análise da operação de crédito. É o que ocorre, por exemplo, nas operações de Finame/PSI, BNDES Automático e na análise de limite de crédito do cartão BNDES. Em seu Planejamento Corporativo 2009/2014, o banco elegeu a inovação, o desenvolvimento local e regional e o desenvolvimento socioambiental como os aspectos mais importantes do fomento econômico no contexto atual, e que devem ser promovidos e enfatizados em todos os empreendimentos apoiados pelo Banco.

DESENBAHIAEm 2012, após um trabalho de planejamento estratégico, a Desenbahia focou sua atuação em projetos de longo prazo e operações estruturadas (concessões e PPPs). No entanto, continua financiando os investimentos fixos e de giro para pequena e média empresa e também atuando com microcrédito através do programa Credibahia em parceria com a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) e com as prefeituras municipais. Mais de 170 municípios são beneficiados pelos programas da agência de fomento. Os interessados em novos negócios podem conseguir crédito de no máximo 70% do investimento. Com o negócio já instalado, a Desenbahia disponibiliza até 90% do valor necessário.

BANCO DO NORDESTEO Banco do Nordeste opera por meio do Fundo constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) criado na constituição de 1988. Provido de recursos federais, o FNE financia investimentos de longo prazo e, complementarmente, capital de giro ou custeio. Além dos setores agropecuário, industrial e agroindustrial, o BNB também financia os setores de turismo, comércio, serviços, cultura e infraestrutura.

LINHAS DE CRÉDITO

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FOTO: Divulgação

Jorge Antônio de Oliveira,

superintendente do BNB

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A lbert Moreira é um daqueles jovens enérgicos, que fala com paixão de suas ideias e vibra com os resultados alcançados pela Viva Inovação, empresa

da qual é fundador e na qual ocupa o cargo de CEO. Há dois anos no mercado, provém soluções tecnológicas para as áreas de serviços, obras, finanças, almoxarifado, além de softwares para medição e avaliação de produtividade. A tecnologia dos produtos é 100% baiana e cada um deles pode ser adaptado de acordo com a realidade e a necessidade do cliente.

A agilidade e a criatividade da equipe já garantiram novas perspectivas de negócios, com a aprovação de dois projetos pelo edital de subvenção econômica Pappe, fomentado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secti), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e Agência Brasileira de Inovação (Finep). O resultado é que receberão o recurso de R$1,2 milhão para o desenvolvimento dos projetos, o primeiro de um software de gestão da inovação organizacional, que pode ser usado para gerir criações de ideias até a evolução destas em planos para redução de custos ou geração de receita. Já o projeto de marketing turístico criará uma ferramenta que auxilia na seleção de roteiros turísticos de acordo com o perfil do usuário. O foco é inserir na ferramenta os principais atrativos das sedes da Copa do Mundo de 2014. A Viva Inovação foi a única empresa na história do edital a aprovar projetos em duas modalidades.

Mas como essas ideias inovadoras podem ser bem aceitas e compradas pelo mercado local? A questão é que muitas soluções que surgem ainda dentro das universidades ou no cotidiano profissional não encontram espaço para chegar até os clientes. Nesse contexto, as incubadoras tornam-se aliadas das empresas em formação para que se estruturem e tenham a chance de alçar voos.

Ainda celebrando as conquistas recentes, Albert Moreira reconhece a importância de estar em um ambiente

NEGÓ C IO S | s ta r tu p

INFRAESTRUTURA PARA A INOVAÇÃO

Espaço de incubadora de empresas no Parque Tecnológico da Bahia contribui para que ideias embrionárias transformem-se em produtos para ganhar o mercado

por CAROL VIDAL

fotos RÔMULO PORTELA

ilustrações MARIA TARRAFA

Albert Moreira, CEO da Viva Inovação

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41 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m O U T U B R O 2 0 1 3 Revista [B+]

que promova ainda mais inovação. Por isso a Viva Inovação é uma das mais novas empresas incubadas no Parque Tecnológico da Bahia, instrumento do estado inaugurado há um ano, na Avenida Luiz Viana Filho, e que oferece infraestrutura e consultoria para organizações de base tecnológica e que apresentam produtos inovadores. Durante o tempo em que estão no edifício Tecnocentro, dentro do parque, as equipes têm à disposição rede de internet de alta velocidade, espaço para reuniões e conferências, além da possibilidade de troca de experiências com outros empreendedores.

“O parque veio de uma demanda de ter um agente que fizesse a ponte entre a pesquisa acadêmica e o mercado”, explica Leandro Barreto, coordenador executivo do parque. E, segundo ele, o empreendimento também ajudará a alavancar o desenvolvimento da região onde está instalado, da mesma forma que aconteceu com outras iniciativas semelhantes, como o Parque Tecnológico da Paraíba, criado ainda na década de 1980, e os parques no Sul do país, lugares em que a relação universidade-empresajá está consolidada. Através da assessoria da Fundação Certi, de Santa Catarina, especialista na modelagem e gestão de ambientes de inovação, as empresas incubadas serão constantemente avaliadas em cinco eixos que apresentam gargalos e potencialidades em um empreendimento: equipe, tecnologia, capital, mercado e gestão.

Joselito Lima, sócio da NN Solutions, empresa que atua no desenvolvimento de softwares e sistemas eletrônicos, aplicativos mobile e plataforma web, já aponta mudanças na atuação da empresa com o auxílio da consultoria que, após a fase de diagnóstico, agora foca no esforço de venda. “Um dos pontos abordados foi em relação à propaganda, que estava enfatizando muito a empresa e foi orientado a focar mais no produto ao construir as peças publicitárias”, explica. A empresa está desenvolvendo dois produtos no momento: o Slep (Scanner Leitor Portátil) – aplicativo que transforma texto em áudio para deficientes visuais – e o Map Bus, rastreamento para ônibus que permite identificar quanto tempo o veículo levará para chegar em determinado ponto.

Quem também está no parque são os engenheiros Vinícius Dias, Danilo Gomes da Silva e Vitor Girardi, sócios na Imago, empresa que criaram ainda na faculdade. Um dos produtos desenvolvidos por eles foi a plataforma elevatória móvel, uma espécie de elevador que ajuda na locomoção de pessoas com deficiência em lugares que não possuem rampas. Eles oferecem aluguel e instalação do equipamento, que ocupa menos espaço do que a rampa fixa.

A dentista Kenya Felicíssimo explica que a demanda para o aparelho que elimina ronco veio de seus pacientes no consultório

Leandro Barreto, diretor executivo do Parque Tecnológico da Bahia, explica que o lugar é uma ponte

entre pesquisa e mercado

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INDÚSTRIA CRIATIVAEm breve, essas e outras empresas que fazem parte da incubadora do Parque Tecnológico da Bahia terão companhia. Através de edital, mais de dez empresas de base tecnológica que desenvolvam produtos e serviços voltados para a indústria criativa vão instalar escritórios no parque. Há também o projeto de ampliação da infraestrutura, com a criação de laboratórios científicos compartilhados, que permitirão potencializar o uso desses ambientes e a troca de ideias entre pesquisadores que estão estudando um mesmo tema.

A ideia é que os laboratórios tragam soluções de biotecnologia para as áreas de saúde, produção agrícola, ambiental e industrial. Haverá, inclusive, espaço para a realização dos testes pré-clínicos, usados durante a pesquisa de novos medicamentos. Já para incentivar a popularização da ciência, será construída uma escola de iniciação científica, que funcionará no contraturno escolar, como uma educação complementar. O foco é nos alunos do ensino médio dos bairros do entorno do parque. Já para a população em geral, haverá o Mundo da Ciência, uma espécie de museu, com espaço interativo para visitação. [B+]

Vinícius Dias criou com seus sócios uma plataforma de acessibilidade que ganhou também utilidade em shows de banda de axé music

Foi durante um dos trabalhos que conheceram o arquiteto baiano Giuseppe Mazzoni, responsável por inaugurar uma nova fase da empresa: a atuação na área de eventos. Assim, esses elevadores foram usados para fins cenográficos em shows das bandas Chiclete com Banana e Harmonia do Samba e na gravação do DVD da cantora Claudia Leitte, em que cinco plataformas foram responsáveis pelos efeitos do show.

Se muitas soluções inovadoras criam a necessidade, há produtos que nascem de uma demanda já existente. É o caso do aparelho para eliminar o ronco criado pela dentista Kenya Felicíssimo, que percebeu a potencialidade do produto durante seu trabalho no consultório, e se instalou no Parque Tecnológico para desenvolver o protótipo. O aparelho é feito de plástico biodegradável e é descartável, podendo ser usado por até 15 dias. O produto está no processo de finalização, mas já há projetos para o futuro: “A ideia é que esse aparelho ajude no exame de diagnóstico de apneia”, adianta a dentista.

A presença em uma incubadora de empresas também ajuda na troca de experiência entre os empreendedores. É o que acredita Patric Piton, sócio da Maqhin, empresa de tecnologia da informação que produz softwares, sites e aplicativos para projetos inovadores. “A infraestrutura do parque facilita o networking. Além disso, dá uma segurança maior ao cliente a nossa presença aqui, pois serve como referência de qualidade e seriedade no trabalho, inclusive para o futuro”, diz Patric.

Patric Piton, da Maqhin, um dos criadores de um cardápio digital que facilita a vida de restaurantes

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EXCELÊNCIA DI TOMASO

Localizada em um pequeno ponto no bairro da Barra, a camisaria Ernesto di Tomaso conquistou Lula e Hugo Cháves pelo colarinho

por ANDREA CASTRO

fotosRÔMULOPORTELA

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As duas Marias trabalham para

manter o padrão de excelência

do negócio

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O acabamento impecável encantou clientes ilustres como o ex-presidente Lula, seu vice José de Alencar, o ex-senador Antonio Carlos

Magalhães, o governador Jaques Wagner e até mesmo o venezuelano Hugo Cháves. Mas qual seria o segredo do sucesso desse negócio fora do eixo da moda nacional que atraiu e fidelizou tantas personalidades?

Fundada em 1979 pelo italiano Ernesto di Tomaso, a discreta camisaria localizada na Barra ganhou projeção rapidamente entre a nata da sociedade baiana. Ele deixou a matriz na Itália com o seu sócio e trouxe na bagagem profissional a famosa gola italiana e os punhos duplos. O trabalho artesanal e 100% personalizado conquistou os clientes.

“Quando alguém se propõe a fazer um trabalho sob medida, tem que estar atento, saber ouvir, sintonizar e ter sensibilidade para atender aos anseios de quem vai usar a peça”, declara Maria Silva Santos, atual sócia do empreendimento.

MARIA MARIADepois do retorno do italiano Ernesto di Tomaso a sua terra natal, na década de 90, só mesmo ela, modista da casa desde a sua fundação, poderia manter o padrão de excelência do negócio. Braço direito de Tomaso, comprou sua parte na empresa e seguiu os passos do mestre. “Ele era muito eficiente, fazia tudo com muito zelo”, conta Maria Silva. Depois de algum tempo, associou-se ao negócio outra Maria, Maria Auxiliadora Junqueira, a Dôra.

As duas Marias seguem a produção. Apesar da fama, o empreendimento em si é pequeno, conta apenas com três pessoas na produção e duas no administrativo. O volume de camisas produzidas elas não revelam, mas é em escala artesanal. Outro diferencial do negócio, garantem, são os preços, mais em conta em relação às principais grifes. “O nosso foco é conservar a qualidade no produto e no atendimento e preservar a história e tradição do negócio”, conta Dôra.

SEM TOMAR PARTIDONo mundo da política, a camisaria também é democrática. Faz sucesso tanto entre os partidos de esquerda como os de direita. O ex-senador Antonio Carlos Magalhães, assim como seu filho, Luis Eduardo Magalhães, eram grandes admiradores e iam à loja, pessoalmente, tirar as medidas.

Também cliente fiel, o ex-presidente Lula fazia questão de usar as camisas baianas nos principais eventos, inclusive os de posse da presidência. Ganhou a primeira peça da primeira-dama da Bahia, Fátima Mendonça, e seguiu os passos do amigo Jaques Wagner na preferência pela camisaria. A gola sob medida, que se adaptava bem ao pescoço curto e grosso de Lula, ficou conhecida como “potente”.

Alguns políticos faziam questão de passar as suas preferências diretamente para Maria. “José de Alencar ligava pessoalmente para passar os detalhes de como queria suas encomendas”, conta Maria Silva, sem nenhuma vaidade. A empresária faz questão de ressaltar: “Todos os nossos clientes são ilustres. Damos a mesma atenção e nos dedicamos com o mesmo cuidado a cada pessoa que visita nossa loja”.

CAMISAS DA SORTEFoi esse atendimento personalizado que conquistou também o advogado eleitoral Tiago Ayres, de 32 anos, cliente da camisaria há sete. “Elas são antenadas com as tendências, sugerem, indicam o melhor material e modelo, de acordo com o perfil de cada um”, declarou.

Nesse processo de customização, Tiago também revela uma curiosidade. Todas as suas camisas confeccionadas na Ernesto di Tomaso levam as iniciais do seu nome, T e A. E no punho direito, na abotoadura, é colocado o seu número de sorte, o sete. “É também considerado o número de Deus e da perfeição. Sempre que aperto a mão das pessoas, seja para cumprimentar ou fechar um negócio, está lá no punho direito o meu número preferido”, declarou. [B+]

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fazê-los se sentir em casa enquanto cuidavam da aparência ou simplesmente esperavam por outra pessoa. Encontrou a resposta através de pesquisas feitas mundo afora. Além dos aspectos técnicos e estéticos que foram estudados, um detalhe teve destaque na pesquisa: “Percebi que uma boa ideia tem que vir acompanhada da coragem de inovar”.

Foi assim que surgiu a ideia de montar uma barbearia diferenciada. Na Cabelo & Barba, aberta há um ano e meio na Rua Barros de Falcão 95, Matatu de Brotas, o cliente tem a possibilidade de beber quantos chopes quiser, além de outras bebidas, antes, durante e depois do “tapa no visual”.

Sim, Lima criou uma barbearia que é também um bar. Apesar do casamento entre os dois serviços ter dado certo, no começo, o empreendedor temeu que o

H á inovações que são geradas lentamente. Amadurecem junto com o inovador e só depois de muitos anos se cristalizam em um

novo produto ou uma nova maneira de oferecer um serviço. Foi dessa forma que o soteropolitano Pedro Augusto Lima, 33 anos, inovou no mercado de estética para homens em Salvador.

Sua família sempre trabalhou com salão de beleza. Por isso, desde menino, viveu entre tesouras e chuva de cabelos cortados. “Tomava café, almoçava e jantava no salão”, conta. Consciente de seu futuro como empreendedor, Lima vivia a rotina do salão da família enquanto pensava o que poderia oferecer de diferente no futuro negócio.

Um fato lhe chamou a atenção. “Homens apareciam raramente e quando vinham não se sentiam à vontade”. Foi então que Lima se perguntou de que maneira poderia

CHOPE, CABELO E BARBA

NEGÓ C IO S | e x per i ên c ia

Como fazer os homens se sentirem em casa enquanto cuidam da estética? A resposta merece um brinde

por CARLOS VIANNA JUNIOR

fotos RÔMULO PORTELA

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bar sobressaísse. “Ainda bem que não aconteceu; nossos clientes vêm para a barbearia e o bar é sempre segunda opção. Era isso que queríamos”, explica.

DETALHESPedro Lima lembra que, como se tratava de um projeto piloto, todos os detalhes foram pensados minunciosamente, o que levou a construção do Cabelo & Barba, Barbearia e Choperia demorar cerca de um ano. “Coloquei em prática todo o conhecimento que adquiri observando e pesquisando empreendimentos parecidos”, conta.

Por isso, a barbearia ocupa uma área ao nível da rua, e o bar está em um ponto mais elevado. A parede lateral, que fica em frente à Rua Barros de Falcão, é de vidro da metade para cima. “Com isso, oferecemos a privacidade aos clientes que estão na barbearia e a visão da rua para quem está no bar”, explica, acrescentando que a arquitetura deve ser o padrão da filial que já está sendo projetada.

O time de barbeiros também traz resultados das pesquisas, mas recebe um toque da sensibilidade do empreendedor. São dois homens e uma mulher. Isso mesmo. Apesar de ser um ambiente tipicamente masculino, Lima entendeu que quebrar alguns paradigmas seria bom para o negócio. “Muitos homens preferem ser tocados no rosto por uma mulher. Testei e vi que funciona”, afirma.

PASSADO ATUALHouve um tempo em que homem só cortava cabelo em barbearias. Nelas, os clientes se sentiam em casa enquanto apuravam o visual. Este ambiente, que chegou a desaparecer em muitas cidades, foi o que Lima quis reconstituir, em parte: “Sim, porque o homem de hoje é outro, mas o encanto daquelas barbearias ainda tem força. Então, uma modernizada naquele ambiente se fez necessária”.

Por isso, a antiga toalha quente no rosto antes de fazer a barba reaparece, mas com uma essência de eucalipto. Certamente nas antigas barbearias,

durante o processo de barbear, uma massagem no rosto com creme esfoliante seria uma “frescura” inimaginável. “O homem moderno faz sobrancelha, limpeza de pele e questiona qual o melhor produto para que ele se mantenha mais atraente, e isso nós incorporamos a nossa barbearia”, explica.

BARO efeito mais interessante de ter um bar dentro da barbearia está no fato de aparecerem muitos clientes acompanhados. Para Lima, o negócio acabou por criar um movimento diferente entre amigos. “Já imaginou ser convidado por um colega para acompanhá-lo enquanto ele corta o cabelo, ou faz a barba? Pois é, isso vem ocorrendo”, conta. E foi o que aconteceu com Nivaldo Souza Lima. “Estou acompanhando meu amigo. É minha primeira vez aqui e achei uma boa ideia”, disse, enquanto saboreava um chope.

A novidade agradou também ao amigo de Nivaldo, o suíço David Fürst, que estava de férias em Salvador. “Queria cortar o cabelo e uma amiga me indicou. Então convidei meu amigo para me acompanhar. Temos salões parecidos em Berna (capital da Suíça), mas, até onde sei, não sevem bebidas alcoólicas. É uma boa ideia, principalmente porque quem o acompanha espera em grande estilo”, avaliou. [B+]

“Percebi que uma boa ideia tem que vir acompanhada da coragem de inovar”

Pedro Augusto Lima

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NEGÓ C IO S | econ omia

Participei recentemente de um evento em Recife para discutir a economia nordestina. Nos últimos anos, o crescimento do PIB nordestino se apresentou acima da média do Brasil. Se o Nordeste fosse um país - excluído do Brasil - seríamos o terceiro PIB da América do Sul, atrás apenas do Brasil sem Nordeste e da Argentina.

Como explicar este dinamismo? Para começar, as forças que estimularam o crescimento brasileiro nos últimos anos (e que perdem força) também estimularam o Nordeste: quais sejam o crédito pessoal, a incorporação da classe C e o Bolsa Família. Mas também crescemos em função de nossas mazelas, pois quando se é pobre é mais fácil crescer do que quando se é rico. Nossa renda per capita representa apenas 40% da renda per capita brasileira.

O Nordeste foi beneficiado por um intenso crescimento e ainda possui um vasto mercado de consumo a ser atendido. Nosso crescimento, contudo, não foi coordenado, foi (e é) um pouco no cada um por si.

O Nordeste sofre da falta de planejamento estratégico do Brasil. Pergunto: existe planejamento estratégico para a economia brasileira feito pelo governo federal? Ou o que temos é o apagar de fogo conjuntural e constante? Nós perdemos a capacidade de planejar e isto levou ao cada um por si da guerra fiscal, que é uma guerra lutada por cada uma das 27 unidades da federação (incluindo o DF). A discussão sobre as alíquotas de ICMS e sobre a nova metodologia do FPE é enviesada pela falta de visão de longo prazo e pelo “desequilíbrio” federativo.

Então surgem boas notícias: iniciativas como o projeto Integra Brasil, criado pelo Centro das Indústrias e Federação

das Indústrias do Ceará, possuem como foco uma estratégia efetiva de desenvolvimento regional (a idéia já foi apresentada aqui na Fieb). Ou seja, em função da falta de uma estratégia nacional, o ideal seria uma estratégia conjunta de desenvolvimento dos estados nordestinos, amalgamados pela suas classes política, empresarial e acadêmica. Precisamos ser mais competitivos sim, para atrair e desenvolver negócios.

Mas Salvador está fora do eixo geográfico do crescimento nordestino: estamos no meio do caminho entre o Sudeste e o quente Nordeste. A “quase” conurbação que vai de Recife a Natal pegando até 150km para o interior tem uma população estimada em 5,8 milhões de habitantes. Já a Região Metropolitana de Salvador, incluindo Feira de Santana, tem uma população estimada em 4,1 milhões de pessoas. O mercado ao norte é maior e mais adensado e se apresenta mais dinâmico.

Ademais, Salvador é uma cidade muito cara Temos preços de Sudeste com salários de Nordeste. Somos pouco competitivos também em função dos nossos custos de serviços, terras e de aluguel, e da insegurança jurídica (vide o caso PDDU e a Louos).

Voltei para a Bahia com a sensação de que temos que nos esforçar mais para não perder terreno. Somente um exemplo: o táxi que paguei à cooperativa de taxistas em Recife para deixar o aeroporto custou R$18. Em Salvador paguei R$102 no táxi para sair do aeroporto. Competir assim é difícil.

Luiz é superintendente da Fundação Escola de Administração da Ufba (FEA) e professor de finanças e economia

NORDESTE: COMO CRESCER AINDA MAIS?

POR LUIZ MARQUES DE ANDRADE FILHO

ARTE: Davi Caramelo - Enjoy It While It Lasts - 2013

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por FÁBIO GÓIS

fotos RÔMULO PORTELA

ENTREV ISTA ACM JÚ N IO R

Acadêmico, gestor, político, o presidente da Rede Bahia é um homem que deixa revelar seu clamor por um estado mais produtivo. Para ele, três fatores são essenciais para fazer a economia avançar: infraestrutura, educação e lutar pelas coisas da Bahia

ENTRE NÚMEROS E RESULTADOS

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Com sua experiência na gestão privada e pública, além da academia, como vê a atual movimentação da economia baiana? A Bahia ainda é a maior economia do Nordeste, mas perdeu o protagonismo por conta dos avanços de Pernambuco e Ceará, que começaram a empreender mais do que o nosso estado. Historicamente, nos tornamos líderes na década de 70, quando o primeiro posto da economia nordestina era dos pernambucanos. Imagine que, até os anos 60, nossa economia era centrada no cacau, o que representava 65% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) arrecadado pelo estado. Mas então veio o Polo Petroquímico, que mudou completamente a estrutura econômica, somando-se ao desenvolvimento da agricultura no oeste e os polos de celulose, automotivo, além do desenvolvimento do turismo. Isso promoveu a diversificação da matriz econômica, o que nos deu uma melhor condição. Ainda assim, poderíamos estar mais à frente.

Parte das ações que inovaram a matriz econômica que o senhor citou aconteceu entre as décadas de 70 e 80. Como promover algo do tipo atualmente? Cabe ao setor público atrair investimentos. Ficamos durante muito tempo parados, embora haja uma reconhecida melhora no momento recente. Temos áreas muito problemáticas, como é o caso do semiárido, onde há dificuldades de desenvolver a agricultura e ainda mais de reter a população no local.

Então a responsabilidade é somente do poder público?O poder público não pode tomar o lugar do empresário, como operador e empreendedor. Mas ele pode ser o regulador e indutor da atividade econômica. Pode atrair o setor privado para a área do empreendedorismo a partir de estímulos. Portanto, o gestor público pode criar condições de competitividade, como incentivos fiscais, mas também logísticos, de infraestrutura, segurança das regras regulatórias e de construção de parcerias público-privadas (PPP). A infraestrutura do Brasil é muito carente, na Bahia também. Nós temos um problema de portos que é sério. Muito se fala em Porto Sul, mas é ainda uma coisa indefinida, enquanto o Porto de Aratu precisa ser expandido. Afinal de contas estamos exportando por outros portos nacionais. Tem que aumentar o empenho do setor público para atração de capital.

O andar firme e olhar concentrado com que Antônio Carlos Magalhães Júnior se aproxima de nós contrasta com o sorriso e gentileza demonstrados no cumprimento de boas-vindas e no convite a sentar nas

cadeiras da sala de reunião da presidência do grupo Rede Bahia. Acompanhado apenas por um tablet, deixado ao lado da mesa durante a entrevista, se coloca à disposição para falar sobre gestão e economia baiana, temas que o acompanham por praticamente toda a vida – pessoal e profissional.

Aos 61 anos, ACM Júnior traz em seu nome a herança de um dos políticos mais marcantes do estado da Bahia, transmitida também ao filho, que hoje ocupa a cadeira de prefeito da cidade de Salvador. Irmão do ex-deputado federal Luis Eduardo Magalhães, ACM Júnior passou pela política quando assumiu a vaga no Senado da República, após a renúncia de Antonio Carlos Magalhães, em 2001, e novamente no ano de 2007, após a morte de seu pai. Apesar da vertente política, a dedicação principal de Júnior sempre foi pautada em números, planejamentos e resultados.

Formado na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde pouco tempo depois começou a lecionar economia e finanças, o que faz até os dias de hoje, ACM Júnior teve uma extensa carreira de executivo no antigo Banco Econômico, até quando a família lhe deu, em 1989, a responsabilidade de “pilotar” o que se tornaria a Rede Bahia. Determinado a expandir os negócios, iniciou um trabalho de profissionalização na empresa familiar: formou lideranças, abriu novos mercados e se fez presente em todo o estado ao longo dos anos. A TV Bahia, criada em 1985 sendo retransmissora da TV Manchete e que passou a ser Rede Globo em 1987, consolidou-se e faz da Bahia a maior audiência da Globo entre os estados brasileiros. Com o jornal Correio, alvo de críticas pela postura política, Júnior fortaleceu as demais editorias e azeitou a gestão administrativa até poder reestruturar o veículo, o que o fez assumir o posto de líder entre os jornais impressos do estado.

O desejo do protagonismo de seu líder fez a Rede Bahia ampliar. O grupo então atua com 16 empresas, sendo seis emissoras de TV aberta, uma emissora de TV fechada, três emissoras de rádio FM, um jornal diário, uma gráfica, uma empresa de conteúdo e entretenimento, uma produtora de vídeo, um portal de internet, além da Santa Helena Construtora.

Diante de desafios e oportunidades que a economia baiana vive, escutamos as opiniões deste empresário, acadêmico e político. Seja qual for a definição em que melhor se encaixa, ACM Júnior sempre transparece caloroso ao falar da Bahia e faz questão de deixar um alerta: “Os gestores privados e públicos precisam brigar a ferro e fogo pelas coisas do estado. Não podemos ficar parados”.

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Qual o poder que o setor privado tem de fomentar a economia? O setor privado é fundamental para a inovação. Se o Brasil não é mais competitivo hoje, é porque inovou pouco. A falta de competividade da indústria, de maneira particular, é por conta da falta de inovação que foi adicionada de 20 anos para cá nos projetos industriais. É hora de se repensar e nos centrar na inovação, pois ela pode nos trazer a médio prazo soluções para muitos setores que hoje estão com dificuldade, tanto no mercado doméstico como internacional.

É possível apontar um setor com forte potencial a ser explorado na Bahia? Nos últimos anos, deixamos de ser vanguardistas no turismo. Temos um potencial enorme não só em Salvador, mas em regiões do litoral norte, baixo sul, sul, Chapada Diamantina. Basta que os governos resolvam entrar de forma mais decisiva e inteligente para que nós possamos usar nossos recursos naturais. No turismo, não é preciso disputar investimentos industriais, simplesmente potencializar nossos recursos naturais com investimentos menores, que podem gerar grandes resultados. Deveríamos explorar mais o turismo.

E como avalia a educação brasileira? Aí está uma das causas do baixo índice de inovação e empreendedorismo não só na Bahia, mas no Brasil inteiro. Deixamos muito a desejar neste setor. Cometemos erros na área educacional e demoramos muito tempo para saná-los. Agora estamos pagando o preço. É preciso que se cuide da educação pois ela é capaz de reverter esse processo e dar condições de um desenvolvimento social, que, junto com um progresso econômico, traga um crescimento para o país.

Mas é possível tirar esse atraso? A estrutura de ensino universitário é antiga, preocupada mais em formar executivos para empresas do que empreendedores. Mas essa realidade está em mudança. Há uma certa conscientização de que se deve estimular uma nova postura para o mercado. Nas disciplinas voltadas a economia e finanças, que são as quais leciono, os professores buscam mostrar instrumentos que permitam um empreendedor financiar seu próprio negócio, como fundos de private equity, venture capital. Outros exemplos vêm da Universidade de São Paulo e da Fundação Getúlio Vargas, que apresentam condições diferenciadas na grade curricular, além de seminários e eventos com enfoques modernos e melhor direcionados – sempre em busca de qualificar os estudantes e reduzir um buraco deixado pela deficiência da educação brasileira. Mas essa melhoria de qualidade precisa vir até a base, para o ensino básico e fundamental.

Sinto que o senhor vê com esperanças uma possível mudança de cenário. Mas como conduzir setores econômicos e sociais, muitas vezes tão diversos, rumo a uma cultura que busque a modernização e a inovação? A carência de liderança é uma deficiência na Bahia, tanto no setor público como no privado. Não é que não exista, mas existem poucos líderes. Se nós tivéssemos mais gente com capacidade de liderar e de desenvolver projetos de negócios no setor privado, assim como estratégias de desenvolvimento econômico no setor público, nós teríamos uma outra condição.

"O SETOR PRIVADO É FUNDAMENTAL PARA A INOVAÇÃO. SE O BRASIL NÃO É MAIS COMPETITIVO HOJE, É PORQUE INOVOU POUCO"

ENTREV ISTA ACM JÚ N IO R

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E quais características um líder deve ter?O líder tem que ter credibilidade junto com os seus liderados. Ele é o condutor, quem vai guiar o grupo para atingir os objetivos desejados. Para tanto, é papel do líder saber montar equipes, com as peças certas e nos lugares certos. Assim irá garantir os resultados.

O grupo Rede Bahia foi o primeiro e ainda único que criou estruturas de emissoras em cidades do interior do estado. Por que decidiram fazer isso, ainda na década de 80? Procuramos conseguir concessões de emissoras de TV no interior do estado por uma razão muito simples. Se nós tivéssemos só uma emissora que cobrisse todo o estado, teríamos um preço para o anunciante local absolutamente inviável, pois seria muito caro para uma região mais pobre. No momento em que conseguimos entrar nessas regiões, o anunciante paga um preço local, o que faz mais sentido para a realidade dele. O outro lado é ter a possibilidade de fazer um jornalismo local, fundamental para atrair a atenção dos telespectadores.

Mas como foi preparar lideranças para dar sequência ao crescimento da organização? A Rede Bahia tem uma tradição de criar talentos. É um processo antigo, que nos acompanha há mais de 20 anos. E as experiências fora muito positivas, formando talentos de alto nível para nós como para o mercado.

Muitos dos executivos que passaram por seu grupo hoje estão fora da Bahia. Há alguma maneira de reter esses profissionais no mercado?A concentração empresarial é um caminho difícil de voltar. Por exemplo, o poder de decisão do varejo baiano, cada dia mais, está indo para o sul porque os empreendimentos vão sendo adquiridos. Na Rede Bahia, sentimos esse reflexo. Quando os clientes passam a ser nacionais, eles começam a ser atendidos pela Globo e não mais por nós. Em nosso caso, nós não perdemos a receita, mas perdemos o protagonismo da negociação. No ramo industrial, é a mesma coisa, a Braskem é uma empresa local, mas o poder de decisão está em São Paulo. É inevitável! Quando se tornam empresas nacionais, vão ter a sede em São Paulo. Agora, nem por isso a gente deve se acomodar e não buscar desenvolver empreendimentos e atrair organizações de outros locais. Isso é importante para que o estado possa arrecadar mais receita e se desenvolver.

Qual é a expectativa do senhor para uma Bahia do futuro?A minha expectativa é que possamos urgentemente resolver os problemas de portos, rodovias e ferrovias. Digo isso porque é o que prejudica e atrasa as condições de se atrair novos investimentos para o estado. Uma má logística gera uma rejeição. Outro ponto é a educação, que embora seja um problema nacional, nos afeta muito. Ao trabalhar nessas duas áreas, principalmente, teremos outra condição de competitividade. Outra coisa importantíssima é a vontade de lutar pelas coisas da Bahia. Os gestores privados e públicos precisam brigar a ferro e fogo, no bom sentido, pelas coisas do estado. É preciso atrair obras de infraestrutura e investimento. Nós não podemos ficar parados, esperando que as coisas aconteçam porque outros estados estão se empenhando muito. [B+]

"A CARÊNCIA DE LIDERANÇA É UMA DEFICIÊNCIA NA BAHIA, TANTO NO SETOR PÚBLICO COMO NO PRIVADO"

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EDUCAR PARA INOVAR

A falta de articulação entre os setores educacional e empresarial interfere na competitividade do mercado. Nesse cenário, a educação é o principal agente de mudança na cultura de inovação

CAPA

por ANTÔNIO NETTO

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N em o destaque do Brasil no mercado econômico mundial, fazendo parte do grupo dos países emergentes, os Brics – ao lado de Rússia, Índia, China e África do Sul –, pode garantir a questão da competitividade do mercado brasileiro perante os

concorrentes mundiais. A carência de uma agenda de inovação bem estruturada é um dos principais fatores que influenciam negativamente a economia do país.

Quando se fala em inovação, entende-se todo o processo de pesquisa e desenvolvimento que venha, efetivamente, a transformar um conhecimento em algo aplicável e rentável, em outras palavras, pegar uma ideia ou um problema e trabalhá-lo de forma a aumentar os lucros e a competitividade.

Rafael Lucchesi, economista baiano e diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), tem acompanhado as mudanças do panorama de inovação das empresas e políticas brasileiras. Para ele, nos últimos dez anos, há uma agenda em construção de política industrial no país, mas que ainda é frágil e sem densidade.

“Há um esforço grande dos gestores públicos na criação de um ambiente de negócios favorável, com uma abordagem de política industrial, como a constituição da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), em que existe uma parceria público-privada muito positiva para o governo brasileiro e lideranças empresariais em torno da agenda de inovação. O Brasil tem feito progressos rápidos no período recente, mas ainda em uma velocidade lenta, tanto no setor público quanto no setor privado. Precisamos dar maior celeridade à capacidade de incorporar inovação no chão de fábrica brasileiro”, afirma Lucchesi.

FALTA DE ARTICULAÇÃO COM SETOR EMPRESARIALO diretor do Senai alerta ainda para a problemática das estratégias e condutas empresariais, que estão distantes da agenda de inovação. Nesse processo, é preciso articular mais as instituições de conhecimento com o setor empresarial. “Se fôssemos colocar três fatores decisivos para o desenvolvimento brasileiro, seriam: educação, educação e educação. Um grande problema que nós temos com a competitividade é a qualidade do nosso sistema educacional. Há melhoras, mas a média educacional brasileira ainda é muito fraca. Um segundo problema é que o sistema educacional brasileiro é academicista. Nós precisamos melhorar este sistema educacional na agenda de educação profissional”, pontua Lucchesi.

Ele explica que o conteúdo educacional do país, tanto no ensino fundamental quanto no médio, prioriza o ensino “como se todos fossem para a universidade, quando na verdade vai uma minoria”. Assim, o mercado recebe indivíduos despreparados para a realidade profissional, criando um ambiente mercadológico pouco inovador e competitivo.

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“NO BRASIL, HOJE, MENOS DE 7% DOS JOVENS DE 15 A 19 ANOS FAZEM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL JUNTO COM EDUCAÇÃO REGULAR. A MÉDIA DOS 30 PAÍSES MAIS RICOS, QUE COMPÕEM A OCDE, É ACIMA DE 40%”

Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai

CAPA

Para Luiz Marques Filho, economista e superintendente da Fundação Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o problema educacional brasileiro é antigo e sério, e consertá-lo é a base para o desenvolvimento de longo prazo. Ele observa que, enquanto economias emergentes, como Índia e China, dão muito valor à educação formal e profissional, nós ainda a relegamos a uma situação muito precária. Ele concorda com os argumentos de que o crescimento de longo prazo precisa ter uma base de produtividade do trabalho e esta base é a educação. “Modelos econômicos de crescimento nos últimos anos dão muito peso à produtividade do trabalho, e nisto a educação é fundamental. O learning by doing, por exemplo, é um modelo que se baseia na produtividade da força de trabalho. A ação sobre a educação precisa ser imediata e séria. Se negativa, já estamos correndo o risco de ser uma grande fazenda, exportando commodities minerais e agrícolas, mas perdendo a indústria e mesmo as áreas avançadas dos serviços tecnológicos”, afirma Marques Filho.

“No Brasil, hoje, 17 a cada 100 jovens vão para a universidade. E o resto? Como vai para o mercado de trabalho sem uma hora de educação profissional? Eu acho que isso é uma enorme exclusão da possibilidade de inserção dos indivíduos no mercado de trabalho. Uma enorme despreocupação do sistema educacional, da maneira como essas pessoas vão se tornar produtivas”, analisa.

A opinião também é compartilhada pela professora Adelaide de Rezende. Pedagoga e consultora educacional na empresa Strix Educação, ela considera que o modelo educacional brasileiro ainda está muito centrado na transmissão de conteúdos.

“Há uma preocupação excessiva em definir diretrizes, o que termina transformando os cursos de formação em roteiros de estudo, por isso mesmo, desatualizados e descontextualizados. Nesse sentido, não conseguem colocar o profissional no mercado de trabalho em função do descompasso entre o que foi trabalhado e o que o mundo do trabalho está a exigir”, avalia.

FOTO: Nelson Coelho

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“NO BRASIL SE FAZ MUITA PESQUISA BÁSICA, QUE NÃO SAI DAS UNIVERSIDADES. NOS EUA, HÁ UMA APLICAÇÃO PROFUNDA NOS PROCESSOS E NA LINHA DE DESENVOLVIMENTO, QUE GERA PRODUTO, QUE GERA PATENTE E QUE GERA DINHEIRO”

Wesleyan Araújo, pesquisador baiano, que foi bolsista no MIT

ENSINO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICOPara Lucchesi, é preciso melhorar e incentivar a questão da educação profissional, “que é importante para ter uma política educacional de maior articulação com os jovens e que assegure desenvolvimento econômico e social para o país”. Segundo o diretor do Senai, essa é uma agenda de extrema importância: “No Brasil, hoje, menos de 7% dos jovens de 15 a 19 anos fazem educação profissional junto com educação regular. Na Alemanha, por exemplo, esse número é de 53%. A média dos 30 países mais ricos, que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é acima de 40%. No nível médio, há um grande gargalo. Nós temos que incluir a educação profissional como uma matriz importante do nosso sistema educacional, senão não vamos contribuir para a sustentabilidade de ciclos de desenvolvimento”.

Em 2011, o governo federal criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), justamente para suprir o gargalo existente na oferta de cursos de educação profissional e tecnológica no país. Esse programa é um importante agente de mudança e balanceamento do sistema educacional brasileiro. Através do Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec), o Pronatec distribuiu, no segundo semestre daquele ano, quase 240 mil vagas gratuitas de ensino médio sequencial para educação técnica.

“Um curso técnico hoje é altamente competitivo com qualquer formação universitária. E não há uma oposição entre educação técnica e formação superior. O jovem vai entrar mais cedo no mercado de trabalho e pode, inclusive a partir disso, ter uma melhor orientação vocacional para continuar os seus estudos no nível superior, progredindo na sua inserção profissional”, afirma Lucchesi.

PONTE ENTRE UNIVERSIDADES E EMPRESASDesenvolver produtos no ambiente acadêmico em parcerias com empresas e indústrias foi um processo que se disseminou principalmente no final do século 19, com maior força nos Estados Unidos. Essa parceria

pioneira foi bem-sucedida particularmente em duas grandes universidades, que hoje são notadamente grandes polos de inovação: Harvard e MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, sigla em inglês).

O MIT é um importante centro universitário e se destaca pelo desenvolvimento técnico e científico, tendo como alunos dezenas de vencedores do famoso Prêmio Nobel. O pesquisador e estudante universitário Wesleyan Araújo é baiano e foi bolsista no MIT. Da sua experiência nos Estados Unidos, ele destaca o foco mercadológico e industrial das pesquisas e desenvolvimento.

“A diferença básica é que, quando estamos na pesquisa na universidade [nos Estados Unidos], é óbvio que existem financiadores do governo, mas quem paga basicamente todo o processo são as próprias indústrias, que têm o interesse em

FOTOS: Divulgação

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CAPA

consolidada no Brasil. Mas, sobretudo, venho observando um movimento muito positivo de aproximação, tanto da parte dos professores como das empresas”.

MUDANÇAS NA CULTURA DE INOVAÇÃO NA BAHIANa opinião de Lucchesi, a inovação acontece na empresa e, por isso, é preciso haver uma mudança cultural, não apenas por parte das universidades e instituições de ensino. “As empresas precisam estar mais comprometidas. O que os países fazem é criar facilidade para que as empresas invistam em inovação”, afirma. Se nos últimos anos essa relação universidade-empresa está sendo apoiada por alguns órgãos governamentais de fomento, o cenário parece ser propício para que a cultura empresarial de inovação ganhe força.

Na Bahia, a agenda de inovação tem tido resultados, inclusive com a construção de polos tecnológicos e de desenvolvimento industrial. Mas quando falamos de mudança cultural, um dos bons exemplos baianos é a empresa Softwell Solutions. Criada em 2007, a empresa é fornecedora de tecnologia de desenvolvimento para a indústria de software. Em 2010, com pouco mais de três anos de existência, venceu o Prêmio Finep de Inovação, em nível nacional, se tornando uma das empresas mais inovadoras do país.

desenvolver e inovar. Aqui no Brasil se faz muita pesquisa básica, que na maioria das vezes não sai das universidades. Nos Estados Unidos, há uma aplicação profunda nos processos e na linha de desenvolvimento, que gera produto, que gera patente e que gera dinheiro”, relata. No MIT, o pesquisador baiano trabalhou com pesquisas na área de engenharia de tecidos, que pretendem desenvolver um fígado artificial.

Rafael Lucchesi reforça que é preciso haver uma mudança cultural no Brasil. “Se nós tivermos nos Estados Unidos e por acaso puxarmos um assunto com um pesquisador, é normal perguntar ‘para que empresa o senhor trabalha?’, porque 80% trabalham em empresas. Se esse mesmo diálogo acontecesse no Brasil, perguntaríamos ‘em que universidade o senhor leciona?’, porque mais de 80% dos pesquisadores trabalham em instituições de ensino”, explica.

No Brasil, o movimento dessa interface entre universidades e indústrias ainda não é robusto, mas ganha espaço. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP) é uma das pioneiras em incentivar esse tipo de relação. A agência Inova, que é o núcleo de inovação tecnológica da Unicamp, é uma porta de entrada das empresas na universidade e responsável pelas áreas de propriedade intelectual, transferência de tecnologias com empresas e empreendedorismo tecnológico.

João Marcos Romano, diretor de parcerias e projetos colaborativos na Inova-Unicamp, explica que a agência não é uma unidade de ensino, pois não ministra cursos ou disciplinas. “Ela atende pesquisadores da Unicamp que têm interesse em proteger uma tecnologia ou realizar uma parceria em pesquisa e desenvolvimento com empresas”, diz.

Para Romano, uma pesquisa desenvolvida na universidade de caráter inovador só se torna efetivamente uma inovação se sair do âmbito universitário e chegar ao mercado por meio de processos, produtos ou serviços: “É preciso que existam empresas interessadas nessas tecnologias. Parece-me ainda que essa cultura de pesquisa e desenvolvimento varia muito de empresa a empresa, de modo que não se pode dizer que esteja totalmente

“O POVO BAIANO É EXTREMAMENTE CRIATIVO, ATÉ POR CONTA DAS DIFICULDADES. E QUANDO SE TEM DIFICULDADE É PRECISO CRIAR UM AMBIENTE DE SOLUÇÕES, DE INOVAÇÃO”

Wellington Freire, presidente da Softwell Solutions

FOTO: Edson Ruiz

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Para auxiliar e incentivar esse processo de estruturação de um plano de inovação, de pesquisa e desenvolvimento, na Bahia, o Senai tem prestado um serviço de referência para as empresas e indústrias. Luis Alberto Breda Mascarenhas, gerente no núcleo estratégico Senai-BA, explica que um dos objetivos da instituição é oferecer a assessoria tecnológica às empresas baianas de forma a incentivar a mudança cultural de inovação: “São diversos projetos de conhecimento e ferramentas para otimizar a produtividade da indústria em todos os segmentos”.

Dentre as diversas linhas de apoio, Mascarenhas destaca alguns dos procedimentos da instituição: “Prestamos um suporte tecnológico. Se a empresa tem um gargalo e precisa superá-lo, então pode ir ao Senai para buscar soluções para esses problemas, sejam de pequeno ou grande impacto. Isso se aplica também ao desenvolvimento de produto, processos ou modelagens”.

“Numa outra linha, a empresa pode buscar um apoio tecnológico do instituto e

CAPA

Wellington Freire, presidente da Softwell Solutions, explica que o ponto central do negócio é a inovação: “Temos na empresa essa cultura de inovar. As pessoas precisam estar inseridas nesse contexto. O povo baiano é extremamente criativo, até por conta das dificuldades. E quando se tem dificuldade, é preciso criar um ambiente de soluções, de inovação. Por mais investimentos que se tenha, é preciso lembrar que um parque tecnológico não é feito só com tijolo e cimento, mas com conhecimento e empresas”.

Mas Freire sabe das dificuldades de estruturar todo um processo de inovação. “Há uma deficiência quando você tem uma ideia inovadora para colocá-la em prática. As inovações são traduzidas do papel para um investidor interessado ou até para recursos federais, que existem, mas ainda não são esclarecidas de forma simples. O inovador acha que descobriu a penicilina, mas não sabe como pontuar essas ideias, o plano de mercado e associar as empresas com os recursos disponíveis”, explica Freire.

UNIVERSITÁRIO ANALISA UM PROJETO NA INOVA-UNICAMP, QUE É O NÚCLEO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DA UNICAMP, CONSIDERADO PORTA DE ENTRADA DAS EMPRESAS NA UNIVERSIDADE

FOTO: Felipe Christ

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um fomento financeiro da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e da Fapesb (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia), por exemplo. Ajudamos a elaborar um projeto. Se for aprovado, desenvolvemos o projeto de inovação e desenvolvimento junto com a empresa”, detalha Mascarenhas.

O gerente do Senai chama ainda a atenção para soluções de baixo custo, que se adaptam muito bem à pequenas empresas. “Temos parcerias baseadas em desenvolvimento de projetos de final de curso de alunos, desenvolvendo projetos reais para as empresas, de aplicação prática. Esse processo é interessante porque é uma solução de custo reduzido para a empresa e com a inserção do aluno no mercado de trabalho, unindo educação e inovação”, explica.

NÚCLEOS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICAA Lei de Inovação, sancionada no Brasil em 2005, promoveu a criação de Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT). Esses núcleos têm a finalidade de gerir e incentivar políticas de

inovação nas instituições científicas e tecnológicas. Na Bahia, universidades públicas e privadas têm seus próprios núcleos e agências de inovação, como a Ufba, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e a Universidade Salvador (Unifacs). No entanto, apesar desses núcleos baianos de inovação serem um avanço para o modelo educacional, ainda há uma fragilidade na relação universidade-indústria:

“O objetivo dos núcleos não é alugar a universidade para as indústrias. É voltado para o desenvolvimento que já existe. Cria condições de contrato de pesquisa, dos royalties, e de proteger as patentes desenvolvidas para que haja uma participação da universidade e do Estado”, afirma Tércio Rogério de Souza, técnico administrativo do núcleo de inovação tecnológica da Ufba.

Segundo Souza, a maioria dos projetos desenvolvidos no NIT da Ufba partem dos próprios pesquisadores, professores e universitários da instituição. São ainda poucos os casos de pesquisas aplicadas para necessidades específicas de empresas ou indústrias. ”As patentes registradas na universidade ficam à disposição para ser negociadas no mercado”, explica.

Nessa dinâmica, há o risco de pesquisas e patentes não chegarem a ser aplicadas na indústria, mas, para Souza, o NIT “introduz um futuro para a pesquisa tecnológica nas pesquisas universitárias”, uma mudança cultural do modelo acadêmico de pesquisas. [B+]

FOTO: João Alvarez/Sistema Fieb

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T ão vastas quanto o currículo da professora e filósofa Viviane Mosé, são as suas opiniões contra o modelo de ensino brasileiro. Crítica de uma

educação de massa, que despreza a individualidade de cada estudante, Viviane acredita que o modelo piramidal, no qual o professor manda e o aluno obedece, acaba com a possibilidade de formar cidadãos pensantes. “O mercado sofre com a ausência de todos os tipos de liderança: desde CEOs até o líder do chão de fábrica, e isso ocorre porque não formamos pessoas críticas”, diz. Com a experiência de oito anos à frente da promoção de políticas públicas para a educação e a bagagem de mais de 30 anos como professora, Viviane lançou o livro A Escola e os Desafios Contemporâneos, que propõe novos modelos de ensino e discussões sobre o assunto. “Nós temos grandes intelectuais que não têm capacidade de agir no mundo coorporativo e outras pessoas com alta capacidade prática, mas sem nenhuma potência de argumentação, e é isso que temos que romper”.

A escola brasileira tem condições de formar novos líderes?Não, muito pelo contrário. A escola brasileira corta a cabeça de futuras lideranças, elimina mesmo. E é a relação piramidal, em que o aluno só obedece e decora conteúdos, a responsável por isso. Todas as escolas brasileiras trabalham no regime de passividade, no qual o aluno é apenas um decorador de conteúdos. Nós todos carecemos de uma inteligência viva, de um discurso mais elaborado, não de uma inteligência cumulativa. O Brasil tem grandes intelectuais que não têm capacidade de agir no mundo coorporativo e outras pessoas com alta capacidade de ação, mas sem nenhuma potência de argumentação, e é isso que temos que romper.

por PEDRO HIJO

ENTREV ISTA V I V IANE MO SÉ

A ESCOLA BRASILEIRA ELIMINA LIDERANÇAS

FOTO: Divulgação

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Rafael Lucchesi, economista e diretor do Senai, diz que o sistema educacional no país castra possíveis novos empreendedores por ter um viés que prioriza o ensino acadêmico em detrimento do ensino técnico. Falta uma maior integração entre as pesquisas acadêmicas e a parte técnica?Ser empreendedor é um talento que pode ser estimulado no aluno desde pequeno, mas essa sede de ação não é valorizada pela escola no Brasil. O aluno que pode se tornar um empreendedor, em geral, tira notas baixas e é por isso que a escola o desestimula, porque não há um conhecimento vivo que o motive. Eu discordo desse binômio entre academia e ensino técnico. A questão é que o pensamento precisa ser vivo, e agregar, no mesmo modelo educacional, o modelo prático e teórico.

Mas como fazer essa integração?O certo é que o aluno não estude para o trabalho e, sim, no trabalho. É simples. Uma escola pode aplicar a teoria na prática levando os alunos até a cantina para que lá eles possam aprender sobre divisão matemática, por exemplo. O que acontece é que, no Brasil, existe um ranço de submissão intelectual ao primeiro mundo que faz com que a gente sempre se sinta inferior conceitualmente. Nossa dificuldade não é entre o acadêmico e o técnico, é maior do que isso. A nossa educação técnica é pouco conceitual, pouco elaborada academicamente, e a nossa educação acadêmica é muito submissa e sem nenhuma prática. O caminho não é opor o acadêmico ao prático, o que precisamos é criar uma educação viva, que faça o aluno viver melhor, que não seja um acúmulo de dados na memória. Por que eu preciso acumular dados na memória se eu posso acessar o Google? O desafio é criar uma escola para todos (classe popular ou elite), porque todo o mundo aqui pena do mesmo problema: passividade.

Você é simpática ao modelo de escola mais personalizado, que trata cada aluno de forma individual, acompanhando as suas particularidades. Como este modelo funcionaria em larga escala, já que falamos de mais de 30 milhões de alunos no país?Não se faz escala mais. Temos que trabalhar com a municipalização do ensino no país, em que cada município deve lidar com o seu número de alunos. Essa ideia de escala está errada. Se você faz uma educação em escala, você precisa passar o mesmo modelo para todos os lugares e regiões, o que é uma tortura, porque não leva em consideração o contexto dessas cidades, os temas, a estrutura, a ação. Na Bahia, por exemplo, um município tem que receber verbas federais, municipais, estaduais ou verba dos projetos que existem de financiamento, e usar essa verba em seu município, que deve ser dividido por áreas e cada área deve ter um tipo de escola diferente. Isso não é difícil de fazer.

Como atrair um aluno, tão conectado à tecnologia, para uma escola que não se renova?Basta tirar as cadeiras voltadas para o quadro e o professor mandando no aluno. A coisa que mais caracteriza a internet é a liberdade do usuário de poder ir e vir e isso se choca com a escola, que é um lugar onde o professor determina a vida do aluno. O aluno é o centro da educação, ele é um pesquisador, e o professor é um estimulador de temas, um provocador de questões. Precisamos entender que o conhecimento não é mais fundado no conteúdo, mas na inteligência. O que proponho é que a escola seja um lugar aonde os alunos vão para discutir os temas que eles pesquisam nos computadores em casa.

Mas como o professor pode dar conta de inovar em sala de aula seguindo um currículo tão ultrapassado?O Ministério da Educação tem os PCNs, que são os parâmetros curriculares nacionais. Eles são amplos, mas definem um eixo do que deve ser feito. O município precisa pegar esses PCNs e as orientações estaduais e criar o currículo do município. A escola tem direito ainda de adaptar o currículo da escola ao proposto pelo município, mas isso não é o que acontece. O que vemos hoje são escolas que não têm currículo, elas seguem um padrão proposto por algum professor há 30 anos. O problema não está nos currículos, porque todo o mundo já sabe que eles precisam ser mais focados na pesquisa e na particularidade dos municípios. O problema está na formação do professor, em transformá-lo em um provocador de discussões.

“A FERIDA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ESTÁ NA PÉSSIMA QUALIDADE DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS”

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pesquisar eu vejo que está melhorando, que todos estão juntos, brigando por aquilo, mudando metodologias. Enfim, em cinco ou dez anos nós vamos ter uma boa massa de alunos bem formados no ensino básico, mas vão chegar a um ensino médio que anda mal das pernas.

Qual a sua avaliação sobre o ensino médio no país?O ensino médio é inútil. Ele é feito para o aluno passar no vestibular e não faz nem isso, afinal o aluno não consegue passar se não fizer um cursinho. Ele deveria formar pessoas capazes de se posicionar, de interpretar e pesquisar. O que vemos nas empresas são pessoas de nível médio sem capacidade de ação. Então, o que acontece: a gente obriga o nosso aluno a ir para a universidade. O aluno que termina o ensino médio e não vai para a universidade se torna um ninguém. O mundo coorporativo precisa que a escola mude. A condição para o crescimento econômico é a formação de pessoas críticas e que não apenas tenham título. Pensando no contexto das empresas, imagine o quão é importante ter um empregado que saiba desenvolver pensamentos, que se posiciona criticamente, antenado com a atualidade. Um cidadão crítico é muito mais útil para uma empresa. O mercado deseja uma mudança da nossa educação, o que tenta impedir é a nossa cultura de submissão.

O Brasil já conseguiu colocar alunos na escola. Como fazer para que esse ensino seja de qualidade e que essa qualidade venha de forma rápida?Se o problema é conceitual, nós temos que investir em cultura. O orçamento do Ministério da Cultura é ridículo e as políticas públicas não apoiam quem deveriam apoiar. Por qual razão uma Ivete Sangalo ou uma Fernanda Montenegro precisam de apoio do governo? O investimento em cultura vinculado à educação é o caminho. Aumentar os espaços de arte nos municípios, por exemplo, mudaria radicalmente nossa educação. Leila Diniz grávida com a barriga de fora em Ipanema foi mais fundamental para as conquistas femininas do que todas as legislações a respeito. Viu como a cultura rapidamente leva a gente a mudar? É só ter uma grande discussão no Brasil sobre sociedade contemporânea, mas, para isso, precisamos de pessoas que pensam. O que o professor precisa para melhorar hoje não é voltar para a universidade, e sim abrir a cabeça, abrir mão do poder centralizador. [B+]

ENTREV ISTA V I V IANE MO SÉ

Tirar a autoridade do professor na sala de aula não é a quebra de um grande tabu?O professor ensina do mesmo modo que ele aprendeu. A ferida da educação brasileira está na péssima qualidade das universidades brasileiras, tanto públicas quanto privadas. E é uma ferida que ninguém toca. Todo o mundo diz que o problema é do ensino básico e que, se a universidade não é boa, é porque está recebendo aluno ruim. Isso não é verdade. O pior problema da educação brasileira é ter uma universidade de baixíssima qualidade, onde os alunos são tratados como passivos ao poder do professor. A maior cristalização de poder do professor não é no ensino básico, é na universidade. Quanto mais difícil, o professor fala, mais inteligente e grandioso ele é considerado, ou seja, os alunos entram sem saber e saem sem saber de nada, honrando aquele professor que fala difícil. Aloizio Mercadante, ministro da Educação, disse recentemente que nós temos que atingir no ensino básico a mesma qualidade que já atingimos nas universidades, dando exemplo das grandes pesquisas tecnológicas que o Brasil tem feito. Mas ele está completamente equivocado, porque só quem faz pesquisa é São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Das dez universidades que mais pesquisam no Brasil, cinco estão em São Paulo e mesmo assim têm ensinos altamente deficientes. É bom lembrar que é dessa universidade que saem nossos professores, que têm uma grande dificuldade de fazer uma análise da nossa educação, porque, claro, eles nunca aprenderam.

Como incentivar o desenvolvimento de outras competências como criatividade e pensamento crítico, se não temos uma educação básica de qualidade? A nossa educação básica tem melhorado muito. O Brasil é o país que mais cresceu em educação básica no mundo. Em 20 anos, nós melhoramos 128% nessa área. O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) cresceu 43%. O último Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) indica que a educação pública está crescendo muito mais do que a privada, e quando eu vou aos municípios para

“A CONDIÇÃO PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO É A FORMAÇÃO DE PESSOAS CRÍTICAS”

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SUSTENTABILIDADE

Apoio:

PRO BEMProjeto Bairro-Escola, em Salvador

70EMPRESA VERDE | 66

TENDÊNCIAS | 72

[C] ISAAC EDINGTON | 74

FOTO: Shirley Stolze

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T alvez você não saiba, mas 100% das folhas de papel produzidas no país e utilizadas no nosso dia a dia vieram dos 2,2 milhões de hectares

de áreas reflorestadas para produzir celulose e papel. Os dados são da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), que destaca o crescimento da área plantada, a evolução tecnológica, da gestão florestal e o desenvolvimento das estratégias de sustentabilidade do setor. Dentro do cenário nacional, a Bahia tem destaque pela ampliação e fortalecimento do mercado, com destaque para a produtividade duas vezes maior do que a média mundial e para o eminente potencial de crescimento.

Dados do anuário Bahia Florestal 2012, produzido pela Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf) e lançado em julho deste ano, apontam o setor como o segundo mais importante na pauta de exportações baianas, responsável por 16% dos US$11,5 bilhões exportados pela Bahia em 2012 e pela geração de 320 mil empregos diretos e indiretos. Ainda segundo o documento, somente no ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor atingiu R$8 bilhões, o que significa 5% do PIB estadual. No mesmo ano, a indústria de base florestal contribuiu com US$1,7 bilhão, representando 49% dos US$3,5 bilhões do saldo da balança comercial do estado.

PRODUTIVIDADE EM ALTAUm conjunto de fatores locais, como condições do solo, incidência de luz, abundância de chuvas, disponibilidade de área de plantio e relevo razoavelmente plano, combinado com o desenvolvimento genético das plantas, garante à Bahia o título de recordista mundial de produtividade, com taxas de produção por metro cúbico duas vezes maior do que em países concorrentes. De acordo com Wilson Andrade, diretor executivo da Abaf, o estado produz 44m3 por hectare/ano, enquanto o Brasil tem uma média de 35m3 por hectare/ano e países concorrentes têm 20m3 por hectare/ano. “Existe aqui uma grande condição de competitividade e atração de investidores que já estão e que devem vir ainda mais”, diz.

Jorge Cajazeira, presidente do Sindpacel (Sindicato das Indústrias do Papel, Celulose, Papelão, Pasta de Madeira para Papel e Artefatos de Papel e Papelão no Estado da Bahia) e diretor de relações institucionais da Suzano Papel e Celulose, destaca a região entre Jequitinhonha e a foz do Mucuri, no extremo sul da Bahia, que, segundo ele, possui condições climáticas “excepcionais” para o cultivo de eucalipto. Ele lembra ainda que a Bahia possui uma política simpática aos investimentos que tornaram o estado a maior potência

SUST ENTAB IL IDADE | empresa ve rde

FLORESTAS QUE MOVEM A ECONOMIA

Indústria de base florestal aposta na produtividade para fortalecer o mercado baianopor CLARA CORRÊA

FOTO: Nilton Souza

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nordestina com uma grande diversidade industrial e agrícola. “Na Bahia encontramos matéria-prima abundante para a fabricação de celulose. Além da madeira, a soda, o cloro, o amido e o gás, que podem ser encontrados no estado ou nos vizinhos Espírito Santo e Minas Gerais”, explica.

COMPETITIVIDADE AMEAÇADAPorém, apesar dos benefícios da alta produtividade, a competitividade do setor pode ser comprometida pelos altos custo de produção. Para Jorge Cajazeira, a competitividade dos produtos florestais está se deteriorando frente aos seus principais concorrentes internacionais. “No início desta década, o Brasil era o país com o menor custo de produção de madeira de processo. No entanto, após 12 anos, já perdemos quatro posições. É mais caro produzir madeira para a indústria de celulose no Brasil do que na Rússia, Indonésia e Estados Unidos”, alerta.

Andrade cita pontos como a logística e a segurança jurídica como empecilhos para o desenvolvimento do setor. “É preciso que os processos de licenciamento ambiental sejam acelerados, o que já tem sido feito, mas ainda pode melhorar. Também é preciso rever as limitações com os investimentos estrangeiros para projetos produtivos, que geram impostos e empregos e não deveriam receber barreiras. Outro problema são os encargos fiscais e trabalhistas, que ainda oneram os diversos setores da economia, muito mais do que os países concorrentes. Se não tivermos uma política de incentivos para mantermos a vantagem da produtividade, essa pode ser absorvida pelos altos custos”, aponta o diretor.

OPORTUNIDADES DE NOVOS NEGÓCIOSSegundo Wilson Andrade, o setor cresceu 2,6% acima do PIB brasileiro e há a possibilidade de crescimento ainda maior graças ao desenvolvimento de outras economias ligadas à silvicultura, como construção civil, mineração e energia limpa. Além de celulose e papel, as florestas plantadas geram matéria-prima para a produção de painéis de madeira (MDF, aglomerados), processamento mecânico (madeira serrada, vigas, sarrafos), madeira tratada (mourões, postes e pilares), siderurgia (ferro e aço) e energia (lenha industrial, biomassa, pallets), além das aplicações medicinais, como a fabricação de produtos farmacêuticos, químicos, automobilísticos e alimentares, e ambientais, como sequestro de carbono e conservação dos solos.

“Grandes indústrias, como as do Polo Petroquímico, estão utilizando energia produzida a partir do vapor da queima do eucalipto. Outra fonte de crescimento é o Programa ABC de agricultura de baixo carbono, em que o governo realiza consórcios da silvicultura junto com a pecuária e a área de

O setor já é o segundo mais importante na pauta de exportações baianas, gera 320 mil empregos diretos e indiretos e contribui com 49% dos US$3,5 bilhões do saldo da balança comercial do estadoDados do anuário Bahia Florestal 2002

FOTO: Divulgação

FOTO: Emo Italiaander

Jorge Cajazeira, diretor da Suzano Papel e Celulose

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grãos, por meio de incentivos fiscais e financiamentos, o que reduz a monocultura, permite a administração dos recursos humanos em épocas diferentes, incentiva fazendas com produção integrada, com renda ao longo de todo o ano e oriunda de diversas fontes, melhora a administração dos recursos, entre outros benefícios. Existem ainda grandes projetos de mineração integrada, como o da Ferbasa, que une minas e siderúrgicas. Em resumo, existe muito espaço para a indústria crescer, só faltam projetos”, acredita Andrade.

SERVIÇOS AMBIENTAIS: DE CONFLITOS PARA GERAÇÃO DE RIQUEZAA indústria de base florestal sempre enfrentou críticas de especialistas e órgãos de preservação ambiental, que acusam as monoculturas de árvores como o eucalipto, pinus e acácia de absorver grandes quantidades de água, podendo ressecar rios e outras fontes hídricas existentes no entorno dessas plantações. Outras críticas dizem respeito aos impactos sociais das culturas, que, ao explorarem grandes áreas produtivas de forma altamente mecanizada, limitam ou subcontratam a mão de obra humana da região. Para amortizar essa situação, o setor tem buscado transformar as relações de conflito em parcerias benéficas para o empresário, a sociedade e a natureza. Para José Castro Silva, professor do departamento de engenharia florestal da Universidade Federal de Viçosa, a maioria das críticas às atividades de reflorestamento é decorrente de falhas ocorridas na implantação e manejo dos primeiros povoamentos, “quando, por falta de escrúpulo e de conhecimentos técnicos, cometeram-se verdadeiros crimes contra a

SUSTENTABIL IDADE | emp resa ve rd e

natureza”. O professor acredita que, na maioria das vezes, o grande culpado pelas alterações do ambiente não é o eucalipto em si e nem a floresta, “mas o próprio empresário, devido ao pouco preparo técnico”.

Para mudar esse cenário, o setor tem investido em desenvolvimento de profissionais e de novos modelos de negócios que valorizem os ganhos sociais e ambientais. Um deles é o mercado de carbono, que visa comercializar a redução das emissões de dióxido de carbono consequentes do reflorestamento no mercado global. “Um hectare de floresta plantada sequestra 200 toneladas de carbono por ano. Na Bahia, temos 700 mil hectares plantados, o que gera um beneficio ambiental não só para a Bahia, mas para o mundo, e isso deve ser calculado”, defende Andrade. Ele lembra que o Código Florestal obriga os proprietários de terra a preservar 20% da área produtiva, mas que o setor de florestas plantadas na Bahia triplica essa área. “Para cada hectare produzido, nós preservamos 0,7 hectare. Agora nós aguardamos que aconteça a valorização dos ativos ambientais para que possamos vender crédito de carbono. Isso ainda é um pouco para inglês ver, mas acreditamos que em breve terá valor de negócio”, afirma.

Apesar dos desafios que o setor ainda encontra pela frente, Cajazeira lembra que enquanto 100g de chocolate consomem 1.200 litros de água para ser produzidos e um par de sapatos de couro utiliza 16.600 litros, uma folha de papel gasta apenas dez litros. “Sabendo-se desses fatos, adicionando-se o efeito positivo do papel na mitigação do efeito estufa, podemos colocar uma frase no rodapé dos nossos correios eletrônicos: o papel nacional é feito a partir de florestas sustentáveis – se precisar imprima!”. Mas só se precisar. [B+]

ALTA PRODUTIVIDADE A Bahia produz 44m3 por hectare/ano, enquanto o Brasil tem uma média de 35m3 por hectare/ano e países concorrentes têm 20m3 por hectare/ano

FOTO: Eduardo Moody

Fábrica da Veracel

Celulose

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A prender arte nas galerias, física na oficina mecânica, cidadania nas praças, cultura com as baianas de acarajé, biologia na

colônia de pescadores e história com os antigos moradores. Os saberes populares das ruas do Rio Vermelho começam a entrar no conteúdo escolar dos colégios públicos do bairro e a envolver estudantes e moradores na busca da expansão do aprendizado. A iniciativa Bairro-Escola Rio Vermelho quer transformar as escolas em um lugar de soluções para fazer da comunidade um espaço mais acolhedor.

Já diz um sábio provérbio africano: “É preciso toda uma aldeia para educar uma criança”. Assim, o desafio de desenvolver uma educação que possa lidar com as demandas do século 21 tem feito educadores de todo o mundo buscarem novos caminhos que respondam aos modos de refletir das crianças e adolescentes de hoje.

“Na educação contemporânea, a escola não pode ser o único lócus da aprendizagem, é preciso a interface entre o saber acadêmico e o saber das ruas, ampliar os espaços e os agentes do aprendizado para uma educação mais completa”, diz Anna Penido, jornalista baiana, diretora do Instituto Inspirare e animadora do Bairro-Escola Rio Vermelho.

Por conta disso, o projeto apartidário idealizado pelo Instituto Inspirare, da família baiana Gradin, tomou como referência o conceito da ONG Bairro-Escola Cidade Escola Aprendiz, que, desde 1997, experimenta o modelo de comunidade educativa no bairro de Vila Madalena, em São Paulo. Lá, unidos por uma associação, sociedade civil e escolas conseguiram em poucos anos transformar o antigo bairro conhecido por “risca faca” em um lugar da moda, que hoje abriga uma concentração de ateliês, exposições artísticas e lojas de vanguarda.

SUST ENTAB IL IDADE | p ro bem

QUEBRANDO OS MUROS DA ESCOLACoração da boemia soteropolitana e da festança de Iemanjá, o Rio Vermelho abre os braços para receber uma iniciativa comunitária que quer transformar o bairro em uma grande sala de aula. Inspirado na metodologia da Cidade Escola Aprendiz, projeto do bairro Vila Madalena, em São Paulo, o Bairro-Escola quebra os muros da educação tradicional e expande o conceito de aprendizagem para fora dos colégios

por CAROLINA COELHO

FOTOS: Shirley Stolze, Camila Souza e Divulgação

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Todos encontram uma forma de ensinar e, porque não, aprender. July Holler, do restaurante La Taperia, participou da ação Merenda com o chef, levando a culinária espanhola para os pratos dos adolescentes e ensinando as merendeiras do colégio Euricles de Matos a preparar receitas com um sabor diferente. “Maior do que a própria ação é poder sensibilizar os outros empresários a ajudarem também”, diz ela, que inspirou os fornecedores do Rio Vermelho a doarem os ingredientes para preparar uma paella no encontro seguinte, abstendo assim o ônus para a escola.

A colaboradora Angélica Villas-Boas, diretora do instituto de música que carrega seu nome, levou a banda dos seus alunos para fazer uma apresentação para os estudantes durante o evento Bairro-Escola na Praça, que visa resignificar a praça Monsenhor Antônio da Rocha Vieira como um espaço para as atividades mensais entre a comunidade e as escolas. “Hoje vivemos isolados um do outro, então vejo a iniciativa como um potencial enorme para voltarmos a nos integrar”, acredita Angélica.

Entender que a educação vai muito além das salas de aula é saber que ao jogar lixo no chão você estará dando o exemplo para uma criança fazer o mesmo. “A partir do momento que as pessoas entenderem seu papel como eternos educadores e aprendizes, vamos criando essa cultura de aprendizagem que desenvolve o potencial das pessoas e, consequentemente, a própria comunidade”, defende Anna. [B+]

A experiência de Vila Madalena se ampliou e virou referência para outros bairros de São Paulo e também de outras cidades, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Boa Vista. Em Salvador, o programa foi adaptado para ser acolhido pelo Rio Vermelho, escolhido por ser um bairro ícone da cidade. Duas instituições referências em ações sociais, a ONG Cipó e o Instituto Chapada de Educação e Pesquisa, foram chamadas para estar à frente da iniciativa e dar as diretrizes do projeto.

A revitalização parte das escolas públicas e das lideranças comunitárias do bairro e tomam como público-alvo os próprios estudantes. Governo, empresas, artistas e movimentos sociais são convidados a participar e, com o apoio, a organização do Bairro-Escola cria estratégias para intervenções urbanas. Os espaços públicos são resignificados e todos os moradores tornam-se agentes do aprendizado e assumem voluntariamente responsabilidades comunitárias.

EDUCADORES E APRENDIZES A ideia é ver na corresponsabilização um elemento fundamental para uma melhor educação. As escolas públicas, “tão invisíveis aos olhos da sociedade”, lembra Anna Penido, tornam-se elementos essenciais para gerar o sentimento de que a educação é um valor a ser priorizado. Se toda a gente está envolvida, compartilhando o que sabe com os alunos, é mais fácil exercer um monitoramento sobre o que acontece ali e cobrar também das políticas públicas.

O BAIRRO-ESCOLA SE ESTRUTURA A PARTIR DE QUATRO EIXOS ESTRATÉGICOS:

[03] MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA

Estudantes criam agências de notícias para motivar o engajamento, promover

a troca e divulgar oportunidades

educativas.

[04] GOVERNANÇA LOCAL

Grupos de trabalhos intersetoriais tomam decisões

compartilhadas e articulam as necessidades educativas

às ofertas de apoio oferecidas pela comunidade.

[01] EDUCAÇÃO INTEGRAL Programa de formação

continuada para gestores, coordenadores e professores

das escolas por meio da construção de trilhas

educativas com a comunidade.

[02] ARRANJOS CULTURAIS

Artistas, universidades, empresários, poder

público e cidadãos propõem projetos de revitalização

de espaços públicos com potencial educativo.

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O projeto de revitalização da praça Monsenhor Antônio da Rocha Vieira contempla um espaço multiuso esboçado pelas arquitetas Clarissa Morgenroth e Anna Dietzsch, do escritório paulista DBB, parceiros da Cidade Escola Aprendiz

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O sistema consiste na instalação de estações “inteligentes” em locais estratégicos, conectadas a uma central de operações via wireless alimentadas por energia solar. “Desde a Cidade Baixa até Itapuã, planejamos dez iniciativas, entre ciclovias e ciclofaixas, para formar uma malha cicloviária. Agora, investiremos em educação e incentivo para criar essa cultura, do uso de bicicletas como alternativa ao transporte”, completou o secretário. A primeira ciclofaixa liga o bairro do Campo Grande ao Centro.

NOVA CULTURA“Vamos inserir uma nova cultura na cidade, uma mudança de paradigma tanto para o lazer quanto para o transporte”, ressaltou o prefeito de Salvador, ACM Neto. Segundo ele, o segundo circuito a ser instalado é o da orla, entre os bairros Barra e Ondina. “Haverá divisão da pista para garantir o espaço dos ciclistas”, garantiu o gestor, que projeta no programa um dos legados para a Copa do Mundo de 2014 - a capital da Bahia é uma das 12 sedes.

“O ideal é o deslocamento curto dos ciclistas, até três quilômetros, para que o usuário possa retirar outras bicicletas em novas estações”, pontuou o diretor da Serttel, Ângelo Leal, que trouxe o projeto de compartilhamento de bikes para o Brasil após ter se encantado com a experiência de cidades europeias, como a capital francesa, Paris.

Entre os cicloativistas que estiveram presentes na inauguração do sistema de compartilhamento de bicicletas, no centro de Salvador, a paulista Renata Falzoni defendeu que as ciclofaixas são “as sementes de tudo” e lembrou que a capital baiana encontra-se “atordoada por tantos carros”. “Vou torcer para que o programa dê certo na prática. Com vontade política, vai. Sou otimista”, disse.

t endênc ias

SALVADOR VAI DE BIKE

O dia 22 de setembro, conhecido como o Dia mundial Sem Carro, ganhou um tom especial para a capital baiana: Salvador inaugurou o sistema público de bicicletas compartilhadas, por meio do Movimento Salvador Vai de Bike, que busca incentivar o uso das bicicletas na cidade, impactar positivamente a mobilidade urbana e disseminar uma cultura de sustentabilidade entre os soteropolitanos.

Salvador é a quinta capital do país a implantar o projeto, além de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. A iniciativa é da prefeitura em parceria com a empresa pernambucana Serttel e o banco Itaú. Para usar o sistema, o usuário realiza um credenciamento anual no valor de R$10, que pode ser feito no site do programa.

“Primeiro, realizamos um mapeamento da cidade e escolhemos 40 locais onde poderiam ser instalados os pontos de compartilhamento, cada um com dez unidades de bikes”, explicou o secretário do Escritório Municipal da Copa do Mundo da Fifa (Ecopa), Isaac Edington, principal incentivador da ideia. Quanto ao descrédito de algumas pessoas sobre o sistema em relação à preservação dos equipamentos e questões de segurança pública (as bicicletas terão chips e serão monitoradas 24 horas), o gestor do Ecopa lembrou que o programa deu certo em todas as cidades em que foi implantado.

COMO FUNCIONA1° Passo: O usuário precisa se cadastrar no sistema pela internet, no site www.bikesalvador.com. No cadastramento, será necessário efetuar o pagamento da anuidade, com valor R$10, através de cartão de crédito, sem a cobrança de tarifas diárias ou mensais. Depois, será possível utilizar o serviço ao longo de 12 meses.

2° Passo: Para destravar a bicicleta, o usuário poderá ligar para o número 4062-7024, ou utilizar o aplicativo do Bike Salvador para smartphones, informando o número de identificação da estação e da bicicleta que deseja retirar. Em breve, será disponibilizada a destrava através do Salvador Card.

Projeto de compartilhamento de bicicleta chega à capital baiana depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. Meta é cadastrar dez mil soteropolitanos na iniciativa da Prefeitura, Serttel e banco Itaú

FOTO: Max Haack

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O artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro indica: Deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinquenta

centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta é infração média, com penalidade de multa.

Acredite, respeitar esse pequeno espaço pode dar início a uma transformação importante na cidade de Salvador, que precisa, urgentemente, valorizar outros meios de transporte, e neste caso específico a bicicleta. O mais incrível é que essa atitude é uma ação simples que não depende do prefeito, da Câmara de Vereadores, da polícia, de empresa privada, do seu patrão ou chefe. Depende, única e exclusivamente, de você que possui um carro. É o comportamento individual com benefício coletivo.

As consequências desse comportamento surgem em efeito cascata: menos riscos para os ciclistas, mais bicicletas nas ruas, assim menos carros, menos trânsito, menos estresse, melhor qualidade do ar, mais saúde para população, mais gente ocupando o espaço urbano, o que contribui para o declínio da violência e mais qualidade de vida para todos.

Convivência e compartilhamento são palavras de ordem que reforçam uma atitude que devemos disseminar entre os soteropolitanos. O tráfego de bicicletas pode ser compartilhado tanto com carros quanto com pedestres. E é lógico que infraestrutura cicloviária é importante para qualquer cidade, entretanto são necessários investimentos

do poder público que sempre serão limitados. Todavia, ilimitadas são a nossa capacidade de exercer a cidadania, nossa atitude individual de cumprir o código de trânsito, respeitar os ciclistas e fazer de um ato simples o início de uma nova forma de convivência nas ruas na cidade.

A Prefeitura de Salvador criou o Movimento Salvador Vai de Bike, um incentivo ao uso da bicicleta. Ele contempla a instalação de estações públicas de compartilhamento de bicicletas, circuitos de ciclofaixas e ciclorrotas, ações de conscientização, educação, eventos e atividades pró-uso de bikes, também a ampliação, implantação e requalificação da infraestrutura cicloviária, instalação de paraciclos e bicicletários, e o estímulo à criação de políticas públicas voltadas para o setor.

Tudo isso requer um esforço grande do poder público municipal, com o envolvimento de diversas secretarias e órgãos municipais, e diálogo com setores da sociedade. Já para você, cidadão que possui um carro, o esforço é mínimo. Para se engajar no movimento, basta tratar o ciclista com respeito e dar o primeiro passo, respeitando a distância de 1,5 metro. Compartilhe essa atitude.

Isaac é secretário do Escritório Municipal para Copa do Mundo na Prefeitura de Salvador e articulador do Movimento Salvador Vai de Bike.

1,5M. UMA PEQUENA DISTÂNCIA PARA TRANSFORMAR TODA UMA CIDADE

POR ISAAC EDINGTON

ARTE: Davi Caramelo - Deixa Fluir II - 2012

SUSTENTAB IL IDADE | resp onsa b i l i da de soc ia l

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LIFESTYLE

MERCADO INFANTIL: O DESEJO DAS CRIANÇAS É ORDEM E MOVIMENTA A ECONOMIA

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GASTRONOMIA | 80

[C] MONIQUE MELO | 82

[C] BIANCA PASSOS | 84

SABOR | 86

NOTAS DE TEC | 88

[C] INGRID QUEIROZ | 90

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J á se foi o tempo em que academia, moda, salão de beleza e até limusine eram “coisas de adulto”. No mundo contemporâneo, as crianças, não à toa, se tornaram alvo de investimentos. Elas escolhem o que consumir e

ditam tendências. E é pensando nisso que empreendedores têm se empenhado para se destacar e cair no gosto da garotada.

A gama de serviços direcionados para o público infantil é cada vez mais ampla e diversificada. Por ano, o mercado infantil brasileiro movimenta em torno de R$50 bilhões, de acordo com relatório do Sebrae que será lançado na Feira do Empreendedor Bahia de 2013, em outubro. Segmentos voltados para esse público, como o ramo de brinquedos, crescem, em média, 14% ao ano, o que representa o dobro do verificado em setores destinados a adultos.

As publicitárias Carla Tourinho e Kitty Viana também viram nesse mercado um grande filão. Decidiram investir em um serviço diferenciado e passaram dois anos pesquisando a fundo o que já vinha sendo feito, as principais carências e potenciais. Depois de viajar para as principais capitais brasileiras em busca de respostas, voltaram com a bagagem cheia de ideias.

BRINCADEIRA LEVADA A SÉRIO

O mercado voltado para o público infantil tem se tornado cada

vez mais segmentado, profissional e lucrativo

por ANDREA CASTRO

L IFESTYLE | mercad o i n fan t i l

Cerca de 1.300 crianças se reuniram no Palacete das Artes, em

Salvador, para trocar brinquedos. A segunda edição do evento será

em outubro

FOTO: Divulgação

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Há quatro anos, foi criado o salão de diversão O Pop. “Sempre foi meio traumático para as crianças cortar o cabelo. Buscamos criar um ambiente que pudesse divertir”, declara Tourinho. O salão oferece formas de entreter desde a hora da espera até o momento do corte (as crianças podem assistir a filmes em monitores individuais, jogar videogames de última geração ou se divertir no chamado “brinquedão”, de três andares).

Mas os serviços não pararam por aí. O Pop se tornou um espaço para festas infantis que foge do convencional. Com temas diversos, a criançada pode desfrutar de serviços nada básicos, como banho de espuma, DJ e até limusine para passear com os amigos. Outro diferencial destacado pela empresária Carla Tourinho é o fato de o espaço estar dentro de um shopping center, oferecendo maior comodidade e segurança.

“Às vezes, as crianças acabam de fazer o corte e não querem ir embora. Eu saio para resolver outras coisas no shopping e não me preocupo em deixá-los, pois o atendimento é bem personalizado e os profissionais são especializados”, declara Silvana Silveira, mãe de Rafael, de 11 anos, e Sofia, de 6. Silvana afirma que o custo/benefício vale

a pena. O corte de cabelo seria até mais acessível do que os praticados em salões convencionais. Já as festas variam entre R$2.100 e R$2.900 a depender da produção.

DESAFIOS DO NEGÓCIOCarla Tourinho garante que o negócio é lucrativo, mas deve ser conduzido com profissionalismo e paixão. “Para ser um colaborador, tem que ter paciência e gostar realmente de trabalhar com criança”, alerta.

Essa também é uma das preocupações da empresária Beth Bahiense para tocar o seu negócio: mão de obra qualificada. Proprietária do bufê infantil Pingo Mágico, Beth Bahiense e sua equipe absorvem a maior parte dos serviços, pouca coisa é terceirizada. “Sinto a necessidade de fidelizar meus colaboradores”, declara.

Beth já trabalhava com crianças, como professora, quando abriu uma loja de decoração para festas infantis. Até que, em 2007, resolveu unir suas habilidades e criar o espaço Pingo Mágico, oferecendo toda a estrutura para a realização de uma festa infantil, com direito a animadores e camarim para a criançada. “Senti a necessidade de criar um espaço que desse mais liberdade para as crianças brincarem”, ressalta.

Segundo Beth, uma das vantagens de trabalhar com festas infantis é a carga horária mais reduzida de trabalho. Por outro lado, não vê perspectivas de ampliar o negócio. “Já existe um

As publicitárias Carla Tourinho e Kitty Viana, sócias do salão O Pop: “Buscamos criar um ambiente em que a criança pudesse cortar o cabelo e se divertir”

FOTO: Rômulo Portela

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número de casas para festas infantis que atende à atual demanda”, alerta. Por outro lado, Beth faz questão de ressaltar que faltam espaços para grandes espetáculos e eventos, inclusive para crianças.

PEGANDO LEVEOutra carência que Salvador apresenta é a falta de espaços específicos para atividades físicas infantis. Mas essa lacuna começa a ser suprida. Em 2011, a My Gym Children’s Fitness Center foi inaugurada, trazendo uma nova proposta para os pequenos. A academia busca desenvolver força e coordenação motora, assim como habilidades sociais e autoestima. O método é realizado através de atividades genuinamente infantis e agregadas a ginástica não competitiva, acrobacias, músicas, danças e fantoches.

“A motivação foi a necessidade de uma atividade física divertida e completa para meu filho. Durante minha vida toda pratiquei esporte e sei dos benefícios que ele traz”, defende a empresária Priscila Szal, proprietária da My Gym, professora de educação física, técnica de vôlei e basquete e ex-atleta. “Além da parte física, socialização, de trabalhar o vencer e perder, há diversão e saúde”, completa.

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A empresária de São Paulo viu potencial no mercado baiano para o segmento infantil. “O negócio ainda está em fase de maturação. Mas o investimento é pequeno e a lucratividade está em crescimento”, afirma. Atualmente, possui 65 alunos, mas a capacidade é para 150. A idade média das crianças é de 2 a 5 anos, mas há aulas para bebês, a partir de seis semanas, até 13 anos.

A My Gym é uma franquia americana com 30 anos de atuação e está presente em 27 países. No Brasil, sua presença é recente, com franqueados em São Paulo e Goiânia. E o negócio tem previsão de se expandir na capital baiana e região metropolitana. “A My Gym tem selecionadas 16 pessoas interessadas na franquia”, revela Szal.

A empresária afirma que o negócio é muito bom, mas é preciso superar alguns desafios. “O principal é mudar a percepção das pessoas, que não valorizam o esporte como educação. O governo também não valoriza. Vejam a nossa participação nas Olimpíadas. Nos Estados Unidos, o esporte é tão valorizado quanto a formação acadêmica”, desabafa.

AÇÃO CONSCIENTEMas parece que a mentalidade das pessoas já começa a despertar para outras questões que também dizem respeito ao bem-estar e ao futuro das crianças. Uma iniciativa que gerou o interesse da garotada foi a Feira Troca de Brinquedos, que reuniu 1.300 pessoas no Palacete das Artes, em Salvador. “A segunda edição superou as expectativas. Mostra o quanto as pessoas estão cada vez mais preocupadas com o que as crianças estão consumindo”, declarou a cofundadora do Movimento Infância Livre de Consumismo, Mariana Sá.

Durante a feira, as crianças levam brinquedos em bom estado que não querem mais usar e trocam com as outras. “São brinquedos bacanas, que despertam o interesse. As crianças negociam entre elas”, explica Mariana. A programação do evento também contou com atrações culturais e troca de livros.

De acordo com a organizadora, a feira é resultado de uma convocação do Instituto Alana, sediado em São Paulo, a entidades nacionais e estrangeiras que formam uma rede colaborativa para realizar os eventos locais. Essas instituições atuam em direitos da criança, através de uma plataforma digital, com mais de um milhão de alcances nas redes sociais. [B+]

Priscila Szal, proprietária e professora da My Gym, explica que a academia trabalha não só a parte física, mas também a socialização da criança

FOTO: Rômulo Portela

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L IFESTYLE | g as t ron omia

R einventar. Essa é a palavra de ordem para os restaurantes da capital baiana que enfrentam os solavancos do mercado com um garfo e uma faca

nas mãos e a inovação na cabeça. Para os empresários do ramo, o mercado está atravessando a pior crise dos últimos 20 anos. O aumento no custo dos alimentos e bebidas, da taxa de aluguel e do pagamento dos funcionários são alguns dos fatores exibidos para o acréscimo de 30 a 35% do valor dos cardápios nos últimos quatro anos. O bolso do baiano começa a pesar e a procurar alternativas para o desfalque, evitando a saidinha gastronômica inclusive nos finais de semana.

A margem de lucro para os empresários do segmento também despencou. Se há dez anos esse número superava os 20%, atualmente mal chega aos 7 ou 8%. “Estamos caros e com baixos resultados”, queixa-se o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia (Abrasel-Ba), Luiz Henrique do Amaral. Na atual conjuntura, até os restaurantes dos shoppings centers encontram dificuldades, e o dirigente teme o fechamento dos negócios e uma apatia empresarial.

por CAROLINA COELHO fotos RÔMULO PORTELA

REINVENTANDO O MERCADO

Apesar da queda do movimento e de um alerta de crise no mercado, o setor gastronômico impulsiona seus gestores em busca de novidades para conquistar o público não só pela barriga, mas também pela inovação

Salão do Caco Bahia, que traz para Salvador um conceito de gastronomia aprovado em outros estados do Brasil

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INOVAÇÃO GASTRONÔMICAEnquanto a crise assombra alguns, novos restaurantes chegam a Salvador e apostam em novidades para encher as mesas. A reinauguração do Coco Bahia traz novidades. Após o incêndio, em 2012, os sócios optaram por trocar o rústico pelo sofisticado e assimilar o formato da casa ao das outras cinco capitais, que tem como carro-chefe os frutos do mar à la carte. Com três ambientes, o restaurante tem lugar para 500 clientes e uma adega de vinho com 200 rótulos. “Modificamos o conceito gastronômico de serviço e vamos dar destaque às refeições familiares com mesas grandes e pratos fartos”, diz Eugênio Vieira, um dos sócios majoritários do Coco Bambu.

O grupo EAO Empreendimentos, empresa de membros da família Odebrecht, anunciou a chegada do Pobre Juan após a fusão do Baby Beef e o Chez Bernard. Com especialidade em carnes de cortes nobres, o restaurante traz os conhecimentos do churrasco da Argentina para sua décima casa no Brasil e a segunda no Nordeste.

Novidades como as sobremesas feitas com o doce de leite Havanna se juntam ao diferencial do serviço, que garantiu aos antigos funcionários um treinamento técnico em São Paulo, com intenção de assemelhar o serviço com as outras casas. “A Bahia, por natureza, é muito receptiva e hospitaleira, o que é fundamental para um bom serviço”, completa o sócio Rafael Valdívia. Inaugurada em setembro, o restaurante conta com programação musical e uma adega de vinhos com 270 rótulos, na expectativa de promover um “upgrade” na gastronomia da cidade.

O mesmo desejo é compartilhado pelo chef Gerson Alves, de 35 anos, que há oito meses inaugurou o restaurante de culinária internacional Na Casa Du Chef, no Subúrbio Ferroviário. O cardápio oferece polvo, carpaccio de salmão e crepes franceses a preço justo para a população do entorno. “Eu quero que o bairro cresça e que essa imagem ruim do Subúrbio seja desmitificada”, diz Gerson, nascido em Periperi.

Com capacidade para 40 pessoas, o restaurante é procurado para reservas por empresários, estudantes e locais. Ainda este ano, o chef quer ampliar o espaço e abrir um quintal para oferecer algo mais informal, com cerveja gelada e comida de boteco. De passo em passo, ele caminha para o seu sonho de organizar um festival gastronômico no Subúrbio, que já conta com dois restaurantes tradicionais, o Cabana do Camarão e o Boca de Galinha. [B+]

A equação traiçoeira não está afetando somente a capital baiana. Em São Paulo, chefs renomados têm absorvido os aumentos para não repassar ao cliente, e ainda assim o lucro sobre o faturamento não consegue passar dos 10%. Além da evolução dos custos tradicionais, novas demandas têm surgido, como os investimentos em segurança, segundo o v ice-presidente da associação nacional de restaurantes, Sérgio Kuczynski.

Com um almoço fora de casa custando R$26,59, o mais caro do Nordeste, segundo recente pesquisa da Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert), os restaurantes baianos buscam superar a crise em meio à baixa capacidade de compra da população e a fama de péssimo atendimento.

SOLUÇÕES PARA O MERCADOEmpreender em gastronomia virou cool, mas é preciso expertise na área de gestão de alimentos e pessoas. Com o ambiente macroeconômico desfavorável ao setor, não há espaço para empresários despreparados na rua. “O grande erro do empresário é não querer investir em uma mão de obra capacitada”, diz o gastrônomo e consultor de restaurantes Vevé Bragança.

Para o especialista, três atitudes empreendedoras podem ajudar a reverter o quadro da crise: focar em oferecer apenas um tipo de alimentação; capacitar o funcionário a vender seu cardápio e remunerá-lo por produtividade, criando um plano de salário de acordo com o tempo dentro da casa, além de repassar a gorjeta integral para incentivá-lo; e fazer uma carta harmonizada de vinhos com preços justos, para estimular a venda agregada de petiscos.

A associação tenta desonerar o setor buscando melhorias na relação com os impostos, na folha de pagamento e ICMS – que na Bahia chega aos 27,5%. Porém, segundo Luiz Henrique, da Abrasel-Ba, a tendência natural do mercado é de que algumas funções se tornem mecanizadas, apesar da limitação da área, e o quadro de funcionários venha a diminuir.

Sucesso em quatro estados, o Pobre Juan quer ser um ícone

da gastronomia em Salvador

NO SITEAprenda a fazer um crepe francês com Gerson Alves

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Referência de elegância em seus trabalhos, seja em Paris, Buenos Aires, Nova York ou nas principais capitais brasileiras, o arquiteto paulista Jorge Elias conversou com a [B+] sobre luxo

O que não pode faltar em uma boa decoração?Móveis e obras de arte de boa qualidade. Acho que luxo na decoração é poder usufruir deste requinte com simplicidade e sem afetação.

O que é elegante em uma decoração?Pode muito bem ser a sobriedade e a exclusividade, pois a decoração hoje é muito pasteurizada, todo o mundo usa as mesmas coisas. Acho que exclusividade se aplica bem a partir do momento que você tem um profissional competente e sem compromissos trabalhando para você. Mas não gosto muito da palavra sofisticação, considero uma palavra muito cafona.

Qual é o seu processo de trabalho? Você tem um roteiro de lugares chaves para encontrar peças incríveis?É difícil fazer um roteiro, pois normalmente eu garimpo pelo mundo os móveis que vou usar, viajando por toda

A beleza sempre exerceu um grande fascínio nos seres humanos. E, graças a ela, depois do desenvolvimento da engenharia e da

arquitetura, os olhos se voltaram para o design de interiores, ou seja, cresceu a vontade de deixar os espaços aconchegantes, funcionais e, claro, belos. Este pujante setor da economia está em alta e não para de crescer. Não é por acaso que tradicionais marcas de moda, como Versace, Roberto Cavalli, Armani, Fendi, Kenzo e Missoni, invadem o segmento de design e decoração, transportando seu bem maior: a exclusividade. Aliás, luxo nessa área pode ser definido como único, autêntico, de qualidade e bem planejado. Em síntese: uma mistura de arte e personalidade, que vai sempre se adaptando aos novos tempos e às culturas. Atualmente, por exemplo, graças à tecnologia, podemos encontrar infinidades de produtos funcionais e inovadores, que não agridem o meio ambiente.

Com a abundância de informação, variedade de lojas, galerias, antiquários, revistas e eventos - Casa Cor, Salão Internacional de Móvel de Milão, entre outros - dedicados a este pujante setor, é importante a escolha de um competente profissional para traduzir o que o cliente deseja.

Nem sempre foi assim. A pioneira na Bahia ao lado do italiano Carlos Georgetti, Sizininha Simões, lembra quando não se encontrava quase nada na cidade e para mostrar as novidades precisava recorrer às revistas estrangeiras. Desta Bahia do início dos anos 60, Sizininha lembra da revolução que foi a abertura da loja Ralf, que produzia móveis de design próprio e altíssima qualidade. Para ela, um bom projeto deve ser original, ter arte legítima que valorize o ambiente, e, principalmente, ser a cara do cliente, o maior desafio, prega hoje já aposentada.

O LUXO NA DECORAÇÃO

L IFESTYLE | mercad o d e l u xo

POR MONIQUE MELO

BATE PAPO

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a parte, sem lugares específicos. E, aqui no Brasil, vou a antiquários e lugares mais descolados ou eu mesmo desenho e mando executar exclusivamente para o meu cliente em fornecedores tanto aqui no país quanto em qualquer outro lugar do mundo.

De onde vem a inspiração para os seus projetos?Vem da vida, das viagens, daquilo que eu vejo, dos lugares que frequento, do que leio, convivo, admiro, mas não copio.

E o futuro? Quais são os seus sonhos como profissional?Eu tenho tudo o que eu sonhei. Não tenho nada que eu tenha sonhado e não tenha realizado. Tenho tudo, a começar por uma família, que eu amo e pela qual sou amado. O resto é só ter saúde e disposição para aproveitar o que a vida me deu, com uma dose de muito trabalho, obstinação e esforço pessoal, mas fazendo sempre o que eu sempre sonhei e o que me realiza, que é o meu trabalho. [B+]

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L IFESTYLE | mod a

O ambiente em que os shopping centers atuam é dinâmico e competitivo. O cenário está dividido entre a expansão do mercado e as incertezas econômicas e políticas que vive nosso país hoje. O marketing voltado a este setor complexo e dinâmico está tendo que se reinventar, de forma a conquistar e fidelizar os novos e velhos consumidores.

De 2006 até 2012, houve um crescimento de 30% de shoppings no país, em 2013, oito já foram inaugurados e mais 33 serão lançados. No Brasil, os shoppings ainda estão, em sua maioria, nas regiões Sul e Sudeste, onde estão 75% deles, e nas capitais, onde 51% dos malls estão intalados. Em Salvador, por exemplo, a concorrência está acirrada. O restante do estado começa agora a ser visto como uma possibilidade de expansão de forma mais significativa.

Avaliando a concorrência, pode-se destacar que, além de os shoppings em formato tradicional concorrerem com eles mesmos, outros canais chamam a atenção, como o e-commerce, as vendas diretas, que estão sofrendo investimento de lojistas tradicionais como O Boticário e Lojas Marisa, e os outlets.

Quem consome tudo isso? Justamente a nova classe média. O dinheiro, de fato, tem mudado de mãos, mas nem todos estão conseguindo conquistar este consumidor da classe C, que, segundo Associação Brasileira de Shopping Centers, apenas contribui com 23% do público dos shoppings. Este grupo ainda prefere as lojas de rua. Então, um dos desafios do setor é a conquista desta fatia do mercado.

Outro elemento que exige um olhar especial para a área e para o nosso momento cultural é o uso das redes sociais e

como aproveitar os clientes de e-commerce para os próprios shoppings físicos existentes hoje.

Algumas administradoras ainda não estão focando nas redes, outras estão aderindo ao digital, sem vendas online, mas buscando criar relacionamento nas redes sociais. Contudo, já há grupos planejando lançar um shopping virtual, onde suas lojas possam vender produtos ou direcionar os clientes para seus próprios sites de venda.

Os desafios neste setor são muitos, inclusive o de criar receitas financeiras além dos aluguéis das lojas, com o uso da área comum do shopping para eventos, mídia, serviços ao cliente e promoções.

A grande provocação, no entanto, é como criar novas soluções de estímulo às vendas. O consumidor vem amadurecendo e exigindo um maior esforço para a percepção correta dos seus desejos e necessidades. Em pouco tempo, acredito que a solução de sorteios de automóveis não será o bastante para garantir aumento de vendas nas festas de fim de ano. O consumidor quer mais. Dessa forma, o planejamento estratégico em marketing apresenta-se como um instrumento gerencial imprescindível para a elaboração de estratégias que permitam que esses empreendimentos tenham um posicionamento no mercado capaz de gerar vantagens competitivas e fidelizar seus clientes em meio a uma vasta gama de plataformas de compras.

Bianca é empresária e consultora de marketing

SHOPPING CENTER: TENDÊNCIAS E DESAFIOS

POR BIANCA PASSOS

ARTE: Davi Caramelo - Seu Mundo

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P ara fugir da mesmice dos grandes pratos principais, Paulo Soares, diretor da Avis de Salvador, preferiu

apresentar uma experiência nova de sua cozinha aos caçadores de paladar. Apesar de as sobremesas não serem a sua especialidade – o administrador tem a faca afiada mesmo é na cozinha japonesa –, ele ressalta a beleza desse doce, que, arrumado em uma taça, ganha elegância e, o Pai-nosso que nos perdoe, é impossível não nos deixar cair em tentação.

A receita aprendida com o chef Flávio Frederico na primeira edição do Bahia Gourmet foi adaptada a partir do gosto e do feeling de Paulo para as harmonizações gustativas. Sem formação em gastronomia, mas com incontáveis cursos na bagagem, o aprendiz de chef explica que não entra na cozinha por obrigação: “Só cozinho se tiver a motivação do prazer e não da necessidade”.

Milimétrico nas medidas, ele é preciso na quantidade dos ingredientes postos na panela, e faz questão de cortar tudo na mão. “Gosto de fazer tudo manualmente para que as partes fiquem uniformes e o gosto caia exato no paladar”, explica. Outra peculiaridade do cozinheiro é testar a receita em casa para aprimorá-la antes de oferecê-la aos amigos da Confraria Prestige. A dedicação foi reconhecida quando o prato de Paulo, um camarão flambado na cachaça com caju, foi eleito o melhor da história do grupo culinário.

Para encontrar os ingredientes, Paulo sugere aos leitores procurar nas casas de confeiteiros nos bairros tradicionais das boleiras baianas, Sete Portas e Barroquinha. Já o cupuaçu foi comprado na Ceasinha do Rio Vermelho.

TRIPLAMENTE SABOROSA

Unanimidade no gosto dos nordestinos, o mungunzá se mistura à acidez do cupuaçu e ao irresistível chocolate em uma sobremesa com triplo sabor e um toque de rapadura, canela e amendoim

por CAROLINA COELHO

L IFESTYLE | s ab or

FOTOS: Carolina Coelho

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MODO DE PREPARO DO CUPUAÇULeve ao fogo em panela inox o cupuaçu, a água, a glucose de milho e o ácido cítrico. Ao iniciar a fervura, acrescente o açúcar e deixe cozinhar por dez minutos, mexendo sempre. Desligue, deixe esfriar e leve à geladeira.

MODO DE PREPARO DO MUNGUNZÁColoque o milho de molho na água por pelo menos 12 horas. Leve ao fogo com o leite até ficar macio. Incorpore o leite de coco e o açúcar, e deixe ferver por mais dez minutos. Desligue, deixe esfriar e leve à geladeira.

DOCE MAGIA

- 500g de polpa fresca de cupuaçu

- 200g de açúcar granulado

- 125ml de água

- 50g de glucose de milho

- 10g de ácido cítrico

- 300g de milho-branco

- 2 litros de leite

- 200ml de leite de coco

- 200g de açúcar

INGREDIENTES PARA 10 PORÇÕES

FOTOS: Carolina Coelho

- 300g de chocolate Nestlé meio amargo em barra

- 125ml de creme de leite fresco

- 20ml de cachaça

- Rapadura

- Amendoim torrado, salgado e grosseiramente picado

- Canela em pó

- Canela em pau

MODO DE PREPARO DO GANACHE DE CHOCOLATEFerva o creme de leite e derrame sobre o chocolate picado em um refratário em banho-maria. Misture até homogeneizar e esfriar. Incorpore a cachaça.

MONTAGEM DA SOBREMESAEm uma taça de Martini, coloque no fundo alguns grãos de amendoim e sobre o amendoim coloque 2cm do doce de cupuaçu, deixando ele bem assentado na taça. Sobre o doce de cupuaçu, coloque 1cm de ganache de chocolate e resfrie um pouco para dar consistência. Em seguida, coloque 1,5cm de mugunzá, e finalize polvilhando canela em pó e por cima raspas de rapadura. Espete uma lasca de canela em pau para decoração.

Page 88: Revista [B+] Edição 20

no tas de t ec

EVERNOTE BUSINESS Facilita pesquisas e

experiências em equipe, criando um local de trabalho

aberto, produtivo e mais inteligente. Disponível em

português, a versão premium do app custa R$20 por mês.

GOTOMEETINGO app permite a realização de reuniões via teleconferência e ainda possibilita que o usuário

salve e compartilhe documentos durante os encontros. A versão

premium do serviço custa US$49 por mês.

SALESFORCEDestinado a quem trabalha

com vendas e quer monitorar o perfil dos consumidores. O usuário ainda pode criar

gráficos e tabelas de relatórios. O custo do app varia entre

R$10 e R$563 por mês.

ANY.DO Gratuito, o app permite que o usuário possa adicionar

tarefas por texto, voz ou via e-mail, limpar os trabalhos

concluídos apenas balançando seu telefone e até agendar

tarefas recorrentes.

IBRAINSTORMApp gratuito e voltado para iPads, o iBrainstorm é uma plataforma de colaboração

multidispositivo, via bluetooth, onde outros usuários podem interagir, possibilitando uma

colaboração instantânea.

5 APPS PARA TE AJUDAR NO TRABALHO

88 Revista [B+] J U L H O / A G O S T O 2 0 1 3 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

MAÇÃ COLORIDAÉ sempre assim: basta você piscar os olhos e a Apple lança uma nova versão do iPhone. No começo de setembro deste ano, por exemplo, dois novos modelos foram lançados. O iPhone 5C, mais barato e que usa a tecnologia do iPhone 5 e tem corpo de plástico, e o iPhone 5S, smartphone que sucede a quinta versão do aparelho da Apple e que, dentre as novidades, traz um leitor biométrico para destravar o aparelho que usa as impressões digitais do usuário. O modelo 5C, por sua vez, foi o que mais chamou a atenção dos apple maníacos. O aparelho tem corpo de policarbonato reforçado e virá em cinco cores: verde, branco, azul, rosa e amarelo. A previsão de chegada ao Brasil é para o fim deste ano.

É HORA DE MORFAR! Com cara (e tecnologia) de acessório de super-herói, os smartwatches prometem ser o novo “must have” tecnológico. O primeiro relógio inteligente da Samsung, o Galaxy Gear, por exemplo, começa a ser vendido no Brasil em outubro com produção nacional. O modelo roda Android 4.3 Jelly Bean, tem conexão 3G e Wi-Fi, permite fazer ligações com controle de voz, acessar e-mails, redes sociais, receber notificações, mensagens e (ainda) mostra a hora. O item, que tem tela de 1,63 polegadas, conta com uma bateria que dura até 25 horas. A Sony, aproveitou o lançamento da concorrente para lançar o SmartWatch 2, agora com tecnologia NFC. Será que a moda pega?

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89 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m O U T U B R O 2 0 1 3 Revista [B+]

COMO MONTAR UM PERFIL ATRATIVO NO LINKEDIN+ COLOQUE UMA BOA FOTO: “É importante que o usuário escolha uma foto adequeada para o ambiente profissional. Ao adicionar uma foto ao perfil, o usuário aumenta em sete vezes a chance de ter o perfil visualizado.”

+ ADICIONE MATERIAL DE PORTFÓLIO: “Se você é médico, publique trabalhos e pesquisas que tenha feito; se é designer, coloque arquivos em 3D que mostrem um pouco do que você é capaz de fazer”.

+ CONTECTE-SE COM AS PESSOAS CERTAS: “O LinkedIn não é um campeonato de conexões onde ganham quem se relaciona com mais pessoas, a ideia é que o usuário se conecte com pessoas que tenham importância profissional para ele”.

S e você não conhece alguém que tenha um perfil no LinkedIn, provavelmente já recebeu algum convite para ingressar no site. A rede,

voltada para conexões profissionais, é uma das que mais crescem no mundo (são cerca de 400 mil novos usuários por mês) e agora aposta no público jovem com o lançamento de um novo recurso voltado para as universidades. Conversamos com Milton Beck, diretor da área de soluções de talentos do LinkedIn no Brasil.

O LinkedIn se mantém em alta e com ótimos números aqui no Brasil. A que se deve este crescimento de usuários?Os usuários estão no LinkedIn por dois principais motivos. O primeiro é se conectar com outros profissionais. Através do compartilhamento de suas competências, o usuário mostra quem ele é profissionalmente e aumenta o networking. Outra razão para as pessoas entrarem no LinkedIn é o conteúdo publicado pelos usuários. Há muito conteúdo compartilhado na rede diariamente, o que atrai muitas pessoas.

Qual o perfil dos usuários do LinkedIn?Trinta por cento dos usuários estão no LinkedIn à procura de emprego, o restante, o que equivale a 10,5 milhões de usuários, é chamado de usuários passivos. São profissionais que não estão procurando emprego, mas que estão dispostos a conversar com empresas que se interessarem por seus perfis. Por isso é importante tanto para o usuário que quer aumentar o seu número de conexões, quanto para uma empresa que queira recrutar profissionais.

Qual o modelo de negócios do LinkedIn? Como vocês faturam? Temos três fontes de receita principais. A primeira é a subscrição premium, ou seja, o usuário paga um pouco mais por mês para que os recrutadores tenham um acesso mais fácil ao seu perfil. Todo esse negócio é 20% da receita. A outra forma de faturar com o site são as propagandas segmentadas, o que equivale a 30% da receita. Os outros 50% equivalem às soluções para os departamentos de RH das empresas.

3 PERGUNTAS PARA MILTON BECK, DO LINKEDIN

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Comunicar-se e relacionar-se com seus clientes e público-alvo têm sido um desafio para muitas marcas, principalmente pelo universo de informações e mensagens publicitárias que acabam impactando o consumidor de maneira invasiva e ineficaz seja pela TV, jornal, rádio, impressos e internet. É um volume de informação em que o consumidor, que cada vez mais possui o poder de escolha, se envolve e se entretém com o que mais o interessa.

E é nesse contexto que as marcas buscam, através do branded content, uma nova alternativa, diante dos modelos tradicionais da comunicação, transformando o conteúdo em algo divertido, útil e relevante para seus clientes. Também conhecido como branded entertainment, o branded content utiliza o entretenimento como forma de construir uma mensagem conceitual e emocionante, deixando sempre os valores da marca como protagonistas. A marca deixa de atuar apenas com o um objetivo comercial. Ela consegue criar um vínculo muito maior do que o de vendas, uma relação de identificação e de afetividade com o consumidor. A venda acontece como consequência, de maneira sutil, baseada numa experiência positiva com a marca.

O consumidor agora passa a ter uma percepção diferenciada pela marca que o impacta. Ele se engaja, compra e se torna fiel à marca que melhor contar histórias, a que

melhor agregar na sua vida. Seja através dos filmes, shows, livros, games ou nas redes sociais, é ele que vai escolher quando, o que e onde vai assistir, interagir e compartilhar. Altera também a forma como as empresas lidam com a proporção do investimento em qualidade de produção e mídia, já que agora quanto maior a qualidade, maiores serão os resultados. A mídia será, em grande parte, espontânea pela sua produção ou vinda de outros novos formatos.

Seguindo esta tendência, diversas marcas já possuem resultados incomparáveis ao que poderiam ter: tanto de relacionamento, posicionamento e vendas. É um momento que conflita a comunicação tradicional e a interativa, que por isso exige que as marcas entendam cada vez mais seus consumidores e produzam conteúdos que eles queiram de maneira muito criativa, porém é uma grande oportunidade para as empresas que, principalmente em épocas de baixo consumo, querem se aproximar dos seus clientes e do seu público-alvo. Esse é um momento estratégico que as empresas não podem deixar passar!

Ingrid é sócia-diretora da DMI, agência de conteúdo e interatividade

BRANDED CONTENT PARA UM NOVO CONSUMO

POR INGRID QUEIROZ

L IFESTYLE | va re jo

ARTE: Davi Caramelo - Dont Do This To Me - 2013

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ARTE &ENTRETENIMENTO

CULTURAEconomia criativa

TELEVISÃOO espelho da Bahia

92 96

APLAUSOS 100 | [C] CRIS OLIVIERI 104

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O DESAFIO DA

ECONOMIA CRIATIVA

ARTE & ENTRETEN IMENTO | economia c r i a t i va

por CAROLINA COELHO

Com a intenção de valorizar uma das principais ferramentas para o desenvolvimento das pessoas e das cidades, a criatividade, reunimos dois

empresários do setor de economia criativa, o norte-americano Eric Taller e Gilberto Monte, para um bate-papo sobre o mercado cultural, suas dificuldades e as

possíveis soluções para superar o modelo industrial vigente de se fazer cultura

FOTOS: Rômulo Portela

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S entado à mesa, o norte-americano Eric Taller, que, antes mesmo de falar português, já estava envolvido com o Brasil produzindo um

programa de música brasileira em uma rádio educativa na Califórnia. Ao chegar a terras tupiniquins, há dez anos, criou a Ginga P. Culture Business e estabeleceu uma parceria com a Putumayo World Music, gravadora que leva em seu conceito um formato inovador de distribuição de coletâneas de sons globais, instalando pontos de venda em lugares não tradicionais da cidade. Lançou seu próprio catálogo brasileiro com dez títulos no mercado e a novidade foi febre no Rio e São Paulo. A experiência se tornou referência para as estratégias do Circuito Motiva, o atual projeto de Eric, que aposta em ações inovadoras para promover os artistas independentes baianos mundo afora.

Ao seu lado à mesa, o sergipano Gilberto Monte, iniciado em 2002 na economia criativa dentro da Eletrocooperativa, um laboratório para pensar novos modelos de inclusão financeira para jovens de baixa renda com base em música e tecnologia. Em 2008, atuou como diretor musical dentro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e, após quatro anos de gestão pública, sentiu a necessidade de partir para a iniciativa privada, quando fundou a In-Vento, empresa de soluções e inovações para empreendimentos culturais que, entre os feitos, já orientou estratégias de investimento e de captação de recursos para turnês para os cantores Russo, da Baiana System, e Lucas Santtana. Recentemente, Gilberto e a dupla de jovens da AP303 uniram forças e fundiram suas empresas, criando a Voulta.

Com ponto de encontro no Trapiche Pequeno, o primeiro prédio de Salvador voltado para grandes nomes da indústria criativa local e nacional, Eric e Gilberto discutem as dificuldades de se fazer negócio com projetos que fujam da lógica industrial de oferta e consumo e estejam associados a uma distribuição mais igualitária entre os envolvidos. “Nosso entendimento de economia criativa é pensá-la como possibilidade de criar novos modelos de relações financeiras e soluções que criem impactos sociais para a base da pirâmide cultural”, diz Gilberto, antes de ser completado por Eric: “É o mesmo de ensinar o cara a pescar em vez de dar o peixe para ele”.

Os dois defendem um novo modelo de conhecimento, um saber a que o mercado analógico ainda não dá valor. Como exemplo, Gilberto cita o trade turístico baiano e questiona o modelo da “baiana asséptica dançando para gringo ver”. “Inovação é levar os turistas para conviver com os grupos de samba de roda dentro da casa deles e comendo a receita da matriarca. Não é preciso forçar essa cultura a entrar na lógica da indústria”, explica.

Na vanguarda do debate das inovações, eles precisam convencer muita gente antes de ver suas ideias financiadas. Ancorados pelas leis de incentivo, os projetos são muitas vezes incompreendidos e reprovados, ora pela banca curadora, ora pelos departamentos de marketing das grandes empresas. No entanto, a inovação continua buscando estratégias para mostrar seu potencial de mudança. “Para criar a transformação, precisamos de senso crítico, e isso só se dá com informação através da educação”, diz Gilberto.

Quem patrocina a economia criativa? ERIC: A maioria dos recursos é pública, através das leis de incentivo pelo Faz Cultura. Este ano, vamos entrar com o patrocínio do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, que para a gente é melhor porque dá uma flexibilidade para trabalhar com qualquer produtora, qualquer projeto, independente de quem é o patrocinador.GIL: O capital privado da Bahia não investe. Não investe mesmo em inovação. O que sustenta nossa empresa é muito mais os clientes de fora da Bahia do que os daqui.

Quais são as barreiras da economia criativa na Bahia?GIL: Falar de inovação na Bahia é um problema grande. Todo o mundo fala que se deve inovar, mas muitas vezes se faz um projeto bacana e é reprovado nos editais, porque a curadoria não entende o que é inovação. Quem está no poder e tem grana está inserido na lógica industrial e pode até achar muito bacana a inovação, mas prefere ficar no conforto e não arriscar. A indústria não entende o capital ativo que está dentro dos projetos inovadores e precisamos transcender isso.ERIC: As empresas não entendem o tipo de benefício que um projeto inovador vai trazer. “Mas quantas pessoas vão ver o nome da marca no projeto?”, os patrocinadores perguntam. Mas esse não é o conceito.

As leis de incentivo são limitadas?GIL: A lei de incentivo tem um papel importante para atrair empresas e mostrar o quão importante é o financiamento da cultura para o país, mas o que era para ser uma solução temporária virou um establishment de mercado. O que era para ser um processo de entender ‘como eu ganho visibilidade através de ações positivas?’ virou uma distorção de ‘como eu soco minha marca na testa de alguém?’, porque hoje as marcas querem tomar todo o espaço visual do evento.

93 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m O U T U B R O / N O V E M B R O 2 0 1 3 Revista [B+]

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ERIC: A cultura das leis de incentivo deixa o mercado artístico mal acostumado, porque o comércio não se sustenta, só através das contratações públicas. Os departamentos de marketing das empresas podem escolher apoiar um grupo de jazz ou o artista pop de grande nome que vai chamar mais atenção para sua marca.

Quais são as dificuldades em produzir cultura no Brasil?ERIC: Nos Estados Unidos, o sistema de financiamento público-privado é bem diferente. As empresas e suas fundações investem em instituições grandes de cultura, como ONGs ou companhias de dança e teatro. O grande diferencial positivo do Brasil é que você tem oportunidade como produtor, pois tem mais acesso a captação através das leis de incentivo.GIL: Os brasileiros perderam a relação de valor com a criação, do quanto vale e por que pagar. Já que está sendo subsidiado por recurso público, é de graça, e isso tem um sentido. O jovem se acostumou desde pequeno a não pagar por cultura, então quando um produtor quer fazer um evento, mas não tem lei de incentivo e precisa cobrar pelo ingresso, o público não consegue entender aquele valor.

Falta informação para se valorizar a cultura da Bahia?ERIC: Os brasileiros, em geral, pagam demais para os grandes artistas, chegam a dar R$1 mil para assistir Madonna, coisa que não acontece lá fora, mas se você traz um músico de jazz é difícil achar aqui um público que pague.GIL: Salvador não tem um portal bem estruturado de informação sobre o que está acontecendo culturalmente na cidade, e estamos falando de um

estado que exporta cultura e tem em torno de si todo o falatório do turismo. O projeto de um site com divulgação e venda de ingressos de eventos musicais deveria estar no edital de música, porque o conceito do edital é incentivar toda a cadeia musical, mas se é inscrito é reprovado.

Qual seria a solução para atrair investimento à inovação da cultura?GIL: Criar soluções para que todo o setor cultural ganhe. É papel do poder público criar sistemas de visibilidade e conexão. A partir do momento que o governo fala que a economia criativa pode ser sim uma alavanca de desenvolvimento e impacto social, todo o imaginário econômico começa a se mover em função daquilo, mas não vemos discussões do mercado privado em larga escala e também não vemos o governo moderando o financiamento das políticas públicas. ERIC: Eu não sei qual é a solução, mas estamos tentando criar projetos inovadores que captem a atenção das empresas patrocinadoras.

E como transformar esse quadro? GIL: Para haver transformação é preciso criar novos modelos econômicos e educacionais, porque os que temos não estão mais funcionando. A falta de informação da sociedade é um problema agora que o país quer dar um salto em um novo momento econômico, pois começa a ser freado pelo seu próprio não investimento em inovação e tecnologia. As startups brasileiras copiam os modelos americanos que deram certo e esperam o mercado chegar aqui para as empresas de fora comprarem os negócios delas. Isso é um problema porque a economia não está mais sendo movida pela paixão. [B+]

ARTE & ENTRE TEN IMENTO | econ omia c r i a t i va

FOTO: Rômulo PortelaFOTO: Guto Miranda

(à dir) A Lojinha Motiva percorre o Brasil vendendo CDs de músicos independentes. (à esq) As empresas In-Vento e AP303, dos jovens Dandara e Bianco, uniram forças e lançaram a Voulta no mercado criativo

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O sotaque brasileiro tomou o lugar da enxurrada de dublagens e legendas que pairavam sobre os canais de televisão por assinatura no Brasil. A responsável

por causar essa mudança no cenário audiovisual do país foi a Lei 12.485/2011, conhecida como Lei da TV Paga. A regulamentação trouxe modificações na organização dos canais estrangeiros que integram a grade de programação das televisões a cabo, além de estimular uma maior concorrência no setor de operadoras que oferecem este serviço nos estados.

Segundo Mauro Garcia, diretor executivo da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão (ABPITV), a Lei da TV Paga tem duas vertentes. A primeira é a inserção de conteúdo nacional e independente nos canais de TV por assinatura e o aumento da quantidade de canais 100% brasileiros, articulando as empresas que atuam nos vários elos da cadeira produtiva do setor. “Mas, existe outro lado da lei, que é o da regulação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações): o incentivo ao surgimento de novas operações locais. A possibilidade, por exemplo, de se juntar banda larga com televisão oferece maior acesso a ambos os serviços”, explica. Dessa forma, pequenas operações entraram no mercado e as grandes criaram novos pacotes para seus clientes. De acordo com Garcia, o número de assinantes cresce, desde 2011, 27% ao ano.

por LUÍS FERNANDO LISBOA

fotos RÔMULO PORTELA

O surgimento da Lei da TV Paga modificou a organização do cenário

televisivo no país e as produtoras baianas prometem não ficar de fora

da grade de programação

De janeiro a dezembro de 2012, a quantidade de horas

de produções televisivas brasileiras triplicou,

passando de 82 para 286 Pesquisa da Ancine

ARTE & ENTRETEN IMENTO | a ud iov i sua l

A TV VERDE

AMARELA

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POSSIBILIDADES ANIMADORASProfissionais baianos do campo audiovisual estão atentos a essa nova fatia de mercado e não pretendem ficar de fora das novas possibilidades. Esse é o caso de Amadeu Alban, diretor criativo da Movioca - Casa de Conteúdo. Formado em publicidade, ainda na faculdade ele já trabalhava com televisão, dirigindo programas de emissoras locais como Aprovado e Na Carona (exibido pela TV Bahia até 2005). “Entre 2006 e 2011, os canais não estavam abertos. Não respondiam e-mails e nem conseguíamos falar por telefone. Depois da lei, pelo menos somos ouvidos”, confessa.

Desde 2010, Amadeu vai às feiras e participa de encontros nacionais e internacionais. “São as únicas formas de ver e ser visto”. De acordo com ele, o mais importante evento nacional para a indústria televisiva é a Rio Content Market.

Foi em uma peregrinação à Mipcom, feira internacional realizada em Cannes, dedicada a todos os formatos de programas de televisão, que Amadeu conseguiu fechar a

“Nós ficamos durante muito tempo entre cinco e seis milhões de assinantes. Em 2013, já chegamos a 17 milhões de assinaturas em todo o Brasil”, conta Garcia. De acordo com ele, os hábitos de consumo dessa nova parcela de telespectadores foram formados pela TV aberta: com toda a programação em português, seja dublada ou original. “Quando eles migram para os canais fechados também querem se ver representados. A brasilidade é que fideliza esse público. A lei veio regulamentar um movimento que já estava acontecendo no mercado”, esclarece.

Os números apresentados pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) são estimulantes. De janeiro a dezembro de 2012, a quantidade de horas de produções televisivas brasileiras triplicou, passando de 82 para 286. Além disso, os contratos celebrados entre produtores independentes e canais fechados (CRT) passaram de 178, no primeiro trimestre de 2011, para 860, no segundo trimestre de 2013.

POTENCIAL REGIONAL A nova legislação gera um aquecimento no mercado e favorece as iniciativas regionais. “A própria lei e o novo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) preveem programas de capacitação para produtoras regionais. Há um grande movimento para permitir a inserção de conteúdos de todo o Brasil”, comenta Mauro Garcia. “As produções vindas de fora do eixo Rio-São Paulo estão crescendo. Profissionais do Rio Grande do Sul e Minas Gerais já estão galgando este espaço. Um bom exemplo é a série Mulher de Fases, exibida pelo HBO e produzida pela Casa de Cinema, de Porto Alegre”, acrescenta.

A ABPITV tem executado o seu papel de formar e preparar as produtoras locais em encontros, onde são realizadas palestras e oficinas, além da possibilidade de dialogar com executivos de grandes canais. “Estamos invertendo o processo: indo ao encontro das produtoras”. A associação já realizou uma edição em Porto Alegre com a presença de mais de 70 produtores brasileiros. Salvador é a próxima da lista a receber representantes de canais para conversar com os profissionais baianos. Em outubro, é a vez de Belo Horizonte.

Sylvia Abreu, diretora da Truque Produtora e uma das articuladoras desse encontro, diz que estão programados workshops para a formatação de projetos televisivos, palestras e exposições prévias dos produtos de profissionais locais. Além disso, Sylvia cita o surgimento da Associação de Produtores e Cineastas da Bahia (APCBA) como uma importante iniciativa para fortificar o mercado e valorizar a regionalização.

“Estamos lutando por uma entrada nesse mercado de televisão por assinatura. Nosso conteúdo é universal, mas sem perder o sotaque”Amadeu Alban

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ARTE & ENTRETEN IMENTO | au d iov i sua l

coprodução de uma série de animação infantil com uma empresa francesa. O projeto chamado Zoonets tem 26 episódios de 11 minutos e está em processo de venda para canais brasileiros. Hoje, a Movioca tem cinco projetos de animação infantil e dois documentários. “Estamos lutando por uma entrada nesse mercado de televisão por assinatura. Nosso conteúdo é universal, mas sem perder o sotaque”, afirma Alban.

Além dele, outras produtoras têm se movimentado para colocar o nome da Bahia no mercado. Candida Luz Liberato, sócia-diretora da Liberato Produções Culturais, acredita que as animações são uma boa possibilidade nesse primeiro momento de inserção no cenário. “A animação tem se mostrado como a técnica mais fácil de vender”, opina. Candida Luz vai realizar a primeira série de animação da Bahia: Turma do Xaxado, que tem estreia prevista para setembro de 2014 e foi vendida para a TVE (Irdeb).

Sylvia Abreu, da Truque, também aposta nas animações. Tadinha, uma série infantil concebida em parceria com a produtora Origem Filmes, será realizada com recursos do FSA e traz a história de uma menina que descobre um buraco no quarto e vive várias aventuras. Também faz parte dos seus planos o projeto Bicos, que são filmetes televisivos, com duração um minuto e meio, sobre os trabalhos informais de rua.

POTENCIAL SIMO programa Mê de Música, disponível no Youtube, foi o pontapé inicial para que a equipe realizadora do projeto desejasse conquistar novos espaços. Renata Hasselman, produtora do webprograma, conta que o grupo de seis pessoas se reuniu por conta do interesse em realizar um material para a internet com temática de música. Depois de 12 episódios bem recebidos pelos internautas, eles perceberam que era possível migrar para a plataforma televisiva, fazendo algumas alterações.

“Nesse meio tempo, a Lei 12.485 entrou em vigor e começa a abrir um leque de caminhos. Até então, a televisão era um lugar inalcançável para a gente”, diz Renata. “Quando a lei apareceu, a gente se questionou: por que não levar essa linguagem livre, adotada na internet, também para a televisão?”, completa Igor Souto, diretor de cena das iniciativas do grupo.

Pegando o gancho do final da Copa das Confederações e as projeções para a Copa do Mundo, a equipe decidiu fazer uma série sobre futebol, chamada Cidade em Campo. Serão 13 episódios que passarão por cidades-sede da Copa do Mundo com a intenção de criar a relação entre futebol e cidade. “Ganhamos recursos via Fundo de Cultura da Bahia para executar um piloto da série e um projeto de venda. Escrevemos um projeto porque, para vender um conteúdo a um canal, é preciso ter algo concreto para apresentar”, conclui Renata. [B+]

Candida Luz Liberato em frente à Turma do Xaxado, que tem previsão de estreia para 2014

Igor Souto provoca: por que não levar essa linguagem livre da

internet também para a televisão?

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À MARGEM DA CRISEOs piratas vieram, saquearam e causaram danos incontáveis ao mercado da videolocadora e a nossas experiências estéticas cinematográficas, com suas imagens em baixa resolução e sons de qualidade duvidosa. A União Brasileira de Vídeo (UBV) confirma: em 2005 havia quase 14 mil locadoras no Brasil; em 2012 esse número caiu para quatro mil, gerando uma exorbitante redução de 71%. Se a pirataria veio para democratizar o acesso doméstico aos filmes, o barateamento das TVs de LED chegou para estimular o público a querer o melhor dos efeitos da sétima arte. Pelo menos é isso que acredita Guy Ferreira, que este ano completou 30 anos à frente da Video Hobby, a maior locadora da Bahia, com 27 mil filmes em seu acervo. Passada a tormenta da crise, Guy reinventou seu negócio e acrescenta: “Fechar as portas nunca foi uma opção”.

Com tantas opções de filmes on-line, o que faz uma pessoa ir a uma locadora?A locadora é o primeiro lugar que recebe o filme depois que ele sai do cinema, e não existe serviço a cabo, on-line ou streaming que tenha um acervo do nosso tamanho. Hoje as pessoas querem filmes com qualidade de imagem e o câncer da pirataria já está sendo tratado.

ap lausos

Quais são suas estratégias para reinventar o serviço de locação de filmes?Estamos investindo muito no blu-ray. Já pensamos também em entrega delivery, mas isso faria girar apenas o filme lançamento e encalharia o catálogo. Existe muito serviço que compete comigo, então preciso trazer o cliente para dentro da loja. Delivery de devolução, sim, é algo que acho que vale a pena.

Os serviços de personalização, como café, livraria e revistaria, têm retorno?O cliente não vai à Video Hobby tomar café ou comprar livro e revista, ele acaba comprando por conveniência. Não é nosso principal produto, mas existe um movimento em cima disso e agrega benefícios ao meu negócio. Se eu tivesse que sobreviver do café, eu já tinha quebrado faz tempo.

Assim como a locação de equipamentos para eventos?Esse nosso setor tem vida própria e se sustenta sozinho. O local é separado, os equipamentos são novos e a equipe não usa freelancer. Hoje somos o maior do mercado. São 28 anos de experiência fazendo eventos importantes. Para nós, evento é um ser vivo, envolve comprometimento e é preciso estar o tempo todo atento às dificuldades técnicas que possam vir a surgir.

Sempre vai existir público para as videolocadoras?Com certeza. Existe o público mais velho que é fiel, mas me surpreendo ao ver muitas famílias e também jovens buscando filmes mais antigos. Nosso acervo é grande, então a Video Hobby acaba despertando esse interesse nas pessoas.

Nada de drama nos negócios de Guy Ferreira, proprietário da Video Hobby

FOTO: Rômulo Portela

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Salvador ganha filial da Urban Arts

Referência no mundo da arte digital e ilustração, a badalada galeria paulista Urban Arts abre sua décima filial brasileira na capital baiana, com uma loja física no Rio Vermelho. Tendo como conceito levar arte com preço acessível, a galeria divulga e comercializa trabalhos de artistas, designers e ilustradores de talento. A franquia baiana está sob o comando do sócio João Paulo Fichman e foi inaugurada em setembro.

FRANK MENEZES COMEMORA 30 ANOS DE CARREIRA Famoso pelo monólogo O Indignado, em cartaz desde 2008 nos teatros baianos, o ator Frank Menezes completa 30 anos de palco este ano com um novo espetáculo, intitulado A Capivara Selvagem. A peça é uma tragicomédia baseada no cinema noir e de terror psicológico e coloca Frank como Dora Lee, uma velha atriz desajustada que decide voltar aos palcos, mas que enfrenta seu pior inimigo: a falta de talento. A montagem, inaugurada em setembro, ficará durante uma temporada de três meses no Teatro Módulo.

SELEÇÃO DO BAHIA MUSIC EXPORT 2013 É DIVULGADABaianaSystem, Bembatrio, Cascadura, CH Straatmann, Dão & a Caravana Black, Larissa Luz, Lucas Santtana e Maglore são alguns dos 29 artistas que estarão no quarto volume do disco Bahia Music Export. As canções farão parte de duas coletâneas promovidas pelo Programa de Mobilidade Artística e Cultural, e serão lançadas na Womex – World Music Expo, uma das mais relevantes feiras de negócios e oportunidades do mercado da música internacional, que acontecerá em outubro na cidade de Cardiff, Inglaterra.

ap lausos

Cineasta baiana conquista prêmio no Festival Visões Periféricas

O curta-metragem Da Alegria, Do Mar e de Outras Coisas, da cineasta baiana Ceci Alves, foi o único filme baiano premiado na sétima edição do Festival Visões Periféricas, no Rio de Janeiro, conquistando menção honrosa. A história relata o caso da travesti baiana Júnior da Silva Lago, a “Luana”, que foi assassinada por homens armados quando foi atacada na praia.

FOTO: Andrea Magnoni

FOTO: Divulgação

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AMERICAN DREAM

Faz três anos que a jovem atriz Gabriela Duarte, de 24 anos, saiu do Brasil em direção a Nova York para fazer um curso de teatro e cinema na Lee Strasberg, uma das mais conceituadas escolas de arte do mundo. Desde então, Gabriela coleciona passagens por produções americanas e sonha alçar voos maiores. Conversamos com a atriz sobre trabalho, concorrência, mercado e, claro, cinema

Simplesmente, amor Filme americano que trata sobre diversas relações amorosas. Entre os personagens está Karl, vivido pelo brasileiro Rodrigo Santoro. “Assisto a esse filme todo natal, me faz sentir bem, além disso, sou superfã do trabalho de Rodrigo.”

Ensaio sobre a cegueira A adaptação para as telonas do livro de José Saramago, dirigida por Fernando Meirelles, traz Alice Braga vivendo a mulher dos óculos escuros. Alice é uma das brasileiras de maior sucesso em Hollywood. “Ensaio sobre a cegueira, é um dos meus filmes preferidos”.

VIPsO premiado filme de Toniko Mello conta com Wagner Moura entre os atores principais. “Wagner é um ator genial e que está começando uma carreira internacional. Sinto muito orgulho dos atores brasileiros conquistando espaço no cinema americano.”

GABRIELA DÁ A DICA: 3 FILMES COM ATORES BRASILEIROS QUE DESPONTARAM EM HOLLYWOOD

Muitos atores brasileiros fazem sucesso no Brasil e só depois migram para outros países. Não seria mais fácil seguir esta mesma linha ou é o desafio de ser atriz nos Estados Unidos que mais te motiva?Quando saí do Brasil, foi só para estudar, não tinha planos futuros, mas acabei me “reapaixonando” por Nova York. É que eu já morei aqui por muitos anos quando era criança, então resgatei aquela lembrança gostosa da minha infância. Talvez fosse um pouco mais fácil começar no Brasil, mas eu não seria a atriz que sou hoje se não tivesse feito isso agora. Nova York te obriga a amadurecer e a crescer profissionalmente de um jeito muito mais rápido do que no Brasil, porque aqui você trabalha e compete com os melhores dentre os melhores de todo o mundo. Realmente, não é o jeito mais fácil! Posso até voltar a trabalhar no Brasil, mas sempre voltando para Nova York ou Los Angeles. Sinto que agora o meu lugar é aqui.

Você se formou no Brasil, no curso da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro, e depois foi para os Estados Unidos. Qual a maior diferença entre ser atriz no Brasil e aí?Eu cheguei a atuar no Brasil, mas por pouco tempo. Eu sinto tantas diferenças, difícil dizer qual é a maior. O que eu posso dizer, a partir da minha experiência, é que nos EUA os atores são mais solidários. Sinto que no Brasil, se alguém sabe de um teste, não te fala, porque não quer mais concorrência. Aqui não tem isso. Acho que os atores brasileiros têm que se ajudar mais, já é uma profissão tão difícil, né? Sei de pessoas no Brasil que esconderam figurino do outro ator em uma peça! Não vejo isso acontecendo aqui. Os atores americanos que conheço querem crescer buscando novos cursos ou lendo mais. Outra diferença é que o mercado aqui é muito grande. Talvez, até maior do que pareça ser. Quando você acha que não tem mais o que produzir eles estão sempre criando coisas novas.

Você acabou de gravar o seriado americano Deadly Affairs (Gabriela viveu Veronica em um dos episódios). Quais os próximos passos?Estou prestes a gravar um videoclipe com um novo rapper chamado Neff. Adorei a música dele, porque ele incluiu trechos de “Sexy Saddie”, dos Beatles, e eu sou a maior fã dos Beatles! Então, estou superanimada com esse projeto! Depois disso, volto para a rotina dos testes. No momento, estou à procura de um novo agente. Consigo muita coisa sozinha, mas realmente é necessário um bom agente para conseguir melhores oportunidades.

FOTO: Divulgação

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Após seis meses de atraso, finalmente foi publicada a regulamentação do Vale Cultura. Com o Vale - que será oferecido para empregados de grandes empresas -, poderão ser adquiridos não só ingressos para teatro, cinema, shows, etc; mas também CDs, DVDs, revistas, jornais, instrumentos musicais, equipamentos para artes, obras e cursos de arte. Ou seja, diversas produções poderão ser fortalecidas por essa receita extra.

A criação de uma política para estimular o acesso aos bens culturais faz muito sentido neste momento. Muitos espetáculos não têm conseguido público suficiente para permanecer em cartaz por tempo além do patrocinado. Hoje, os menos dispendiosos monólogos se restringem ao período custeado pelo patrocínio, com apresentações de sexta a domingo. Com essa verba, talvez mais pessoas tenham acesso e possam lotar nossos espetáculos. Teremos um público novo.

Mas que produção será realmente beneficiada? Diversamente do proposto por muitos educadores, o Ministério da Educação não foi incluído na força-tarefa de construção do Vale Cultura. O público para produção diversificada se forma na base escolar, com acesso e, também, com informação. Não cabe aos gestores qualificar o que o cidadão deve assistir. Mas o estímulo aos jovens e estudantes para experimentar a diversidade não se resume apenas em disponibilizar os meios financeiros, mas também em propiciar a construção de repertório e de pensamento crítico. Ou seja, o Vale precisará de ações complementares. Sem fazer críticas específicas, é importante saber a diferença entre cultura e entretenimento.

A política cultural brasileira vem sendo construída majoritariamente através da concessão de incentivos fiscais. Nada contra termos cada vez mais verba de renúncia. Ao contrário, afinal a cultura responde por míseros 1% do total da renúncia do país, enquanto que outras tantas áreas - certamente não tão relevantes para a formação humanística dos brasileiros - ficam com a renúncia de aproximadamente R$118,8 bilhões.

Contudo, não se pode continuar com sistema único. Para além da renúncia fiscal, precisam ser implantadas outras ações de fomento, de criação de canais de distribuição, de formação de público, e de atendimento a uma massa que não terá direito ao Vale Cultura. É importante notar que, todos os empregados de empresas que não recolhem imposto sobre lucro real (ou seja, as empresas pequenas e médias), bem como todos os trabalhadores informais não terão nenhum tipo de vale.

Assim, embora seja muito importante garantir ao cidadão o recurso específico e exclusivo para usufruir dos bens culturais, e considerando que em médio prazo o Vale possa vir a representar uma revolução no consumo destes bens do país, é salutar que o Ministério da Cultura, em conjunto com seus pares, pense em ações que maximizem esse acesso, que incluam a diversidade de produções, e auxiliem na formação e qualificação do público. Caminharemos, assim, para que o Vale seja mesmo utilizado em cultura e para que nos tornemos cidadãos melhores pela transformação da arte.

Cris é advogada, master em administração das artes e mestre em política cultural (USP- ECA)

PÚBLICO PARA NOSSOS ESPETÁCULOS, CURSOS E OBRAS?

POR CRIS OLIVIERI

ARTE: Davi Caramelo - Sea of Love

ARTE & ENTRETEN IMENTO | o f f b roa dwa y

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pedrada instantes antes e com certeza iria virar refeição. O cimento estava encurralando os animais silvestres e muitos deles estavam dando no canteiro central da Paralela. Há tempos pintou o boato que o ex-prefeito João Henrique teve que se mudar de uma casa adquirida nas imediações por causa de uma invasão de barbeiros e escorpiões.

O mendigo desapareceu canteiro adentro e me lembrei então de Badu, um matuto que em 1969 nunca tinha entrado em um carro, só tinha avistado um de longe. Badu morava no interior do interior de Inhambupe, na Fazenda Saco, e um dia, depois de uma caminhada de horas, sentamos em uma pedra para descansar. Numa árvore próxima, lá estava um camaleão. De repente, uma borboleta se aproximou e o camaleão zupt, engoliu a borboleta. Badu, com um sorriso matuto no canto da boca, me perguntou: “E a borboleta?”. Na tampa, respondi: morreu, o camaleão comeu. Ele, com sua sapiência matuta, falou: “Morreu nada, virou camaleão”. Filosofia pura, lendo Platão no Vale do Capão, em um trecho ele falava exatamente sobre isso, transformação. Nada se perde, tudo se transforma. Pois é, a borboleta virou camaleão e daqui a pouco um camaleão ia virar mendigo, e assim a vida seguia.

O trânsito andou e no rádio a notícia de que um chimpanzé fumante foi resgatado e enviado ao Brasil. Um chimpanzé de 12 anos de idade que aprendeu a fumar cigarros para entreter os visitantes de um zoológico foi resgatado por defensores dos direitos dos animais e enviado para um santuário no Brasil. O animal, chamado Ômega, nunca subiu numa árvore nem viu outros chimpanzés. O trânsito fluiu e finalmente estava chegando ao destino. Uma hora e cinquenta minutos de Itapuã ao Rio Vermelho, aproximadamente o mesmo tempo gasto para ir de Salvador a Feira de Santana.

Sérgio é produtor cultural e diretor do núcleo de criação da Rede Bahia

Doze e meia e eu preso neste trânsito travado da Paralela. A onda de carros é imensa e já senti que vai ser difícil chegar à reunião na hora marcada. Fazer o quê? Penso com meus botões: relaxe, respire fundo, ligue o som e faça aquele artigo que Rubens Passos lhe pediu para a Revista [B+]. No rádio, notícias das manifestações, depois da invasão do Palácio do Planalto, muitas câmaras municipais e estaduais estavam sendo invadidas. A política está em baixa e muitos ícones desabaram na pesquisa, foram para o chão, terra, como diz a escritora Aninha Franco.

Parece que o copo transbordou. Me lembrei do filme Tropa de Elite 2, do momento em que o Capitão Nascimento espanca barbaramente um político corrupto - literalmente o arrebenta. Houve gritos e palmas no cinema e agora percebo que aquilo já era um sinal de saco cheio. Me lembrei de Berlusconi e da pancada que ele recebeu quando lhe jogaram na cara uma réplica de pedra do Vaticano, fraturou o nariz e perdeu quatro dentes, baixando em hospital. Na memória outra cena que pensei tratar-se de uma pegadinha: José Dirceu dando um pulo e gemendo, da bengalada que recebeu nas costas em pleno aeroporto, dada por um senhor indignado. Os simples mortais estavam chegando perto.

No rádio entra Maria Bethânia cantando Salve as Folhas, de Ildásio Tavares. Nada mais apropriado para o momento, quando da janela do carro vejo o cimento avançando sobre a Paralela, sem antes terem inaugurado e cercado o Parque do Vale Encantado.

“Sem folha não tem sonhoSem folha não tem vida

Sem folha não tem nada”

O trânsito não anda e da janela uma cena dantesca. No canteiro central, um farrapo humano com um enorme camaleão na mão seguro pelo rabo. O camaleão se debatia e sangrava muito. Acredito que tinha levado uma paulada ou uma

ARTE: Davi Caramelo - Entao ele achou que tinha o mundo - 2012

PARALELA DOZE E MEIAPOR SÉRGIO SIQUEIRA

CONTE A Í

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