renê marques - empreendedorismo

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REVISTA IMPACTO PONTAL 149 AomdoEnsinoMédio,Renêdividia-seem2 objetivos:cursarFaculdadedeAdministraçãoou Engenharia Elétrica, áreas que despertavam-lhe umapaixãoespecialmasqueinfelizmenteteve de desistir após receber a notícia de que seria paiaos18anosdeidade.Diantedisso,abdicou dosestudosparasededicarafamília.Consciente dequeparasechegaraumníveldeestabilidade interessante, precisaria antes de uma prossão para amadurecer. A princípio tentou ser Eletri- cistaResidencial.Oquenãofuncionou,poisnão davam conançaa umgaroto de18 anos, des- conhecido,parafazeraredeelétricadeumare- sidência.Dessaforma,fezEletrônicaporcorres- pondênciapeloInstitutoUniversaleaprendeua fazermanutençãodeeletrodomésticos. Mesmofazendoocurso,Renêtinhaaindade sustentarumafamília.Porissotrabalhouemum motel por 2 anos, das 18 às 6 horas. Aprovei- tava a madrugada no motel para estudar, mas denadaadiantariaateoriasemaprática.Então fez a proposta ao dono da TV Lar em Ituiuta- ba, de trabalhar gratuitamente todas as tardes utilizandooquejáestavaaprendendonocurso, emtrocalhedariaminstruçõessobreEletrônica. Na ocasião não existia vaga de emprego, mas EMPREENDEDORISMO Renê Marques Mesmo diante uma longa história repleta de contratempos que quase o fizeram desistir, esse empresário, guiado por sua veia empreendedora, há 6 anos fundou a Play Games, que atualmente é referência no segmento de diversão e games em Ituiutaba aceitaramsuaproposta.Oiníciofoidifícil.Renê trabalhava a noite toda no motel, estudava na madrugadaetrabalhavacomassistênciatécnica em eletrodomésticos durante a tarde. O com- binado era que Renê se sentasse em uma ban- cada,observasseotrabalhodosprossionaise ajudassequandopreciso,masporvezespediam quelavasseochão,obanheiro,quezesseser- viçodebanco.Nomedodeperderaquelaopor- tunidade,faziatudosempestanejar,poisviaali achancedecrescer.Depoisdeumtempo,pas- saramremunerarRenêporsuagarraeesforço, oquedeixouaquelegarotoquetinhaapenasa pretensãodeaprendermuitosatisfeito. Após esse imenso aprendizado, fez alguns freelancesepartiuparaUberlândialevandosob o braço uma lista de empresas que retirou do catálogo telefônico e, por incrível que pareça, assim que chegou conseguiu trabalho em uma empresaonde,apósasaídadorestantedostéc- nicos, foi a única alternativa da empresa, logo Renê,queeramaisjovemecomamenorrelação técnicadeconhecimento.Comooúnicotécnico daloja,trabalhoupor1anodas8damanhãaté às23horase,pelaprimeiraveznavida,come- çouaganharbem. Renê esua família fotos:PointdaPhoto

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Autor: Arthur Silva Revista Impacto - 2012

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Page 1: Renê Marques - Empreendedorismo

REVISTA IMPACTO PONTAL 149

Ao��m�do�Ensino�Médio,�Renê�dividia-se�em�2�objetivos:�cursar�Faculdade�de�Administração�ou�Engenharia�Elétrica,�áreas�que�despertavam-lhe�uma�paixão�especial��mas�que�infelizmente�teve�de�desistir� após� receber� a� notícia� de�que� seria�pai�aos�18�anos�de�idade.�Diante�disso,�abdicou�dos�estudos�para�se�dedicar�a�família.�Consciente�de�que�para�se�chegar�a�um�nível�de�estabilidade�interessante,�precisaria� antes�de�uma�pro�ssão�para�amadurecer.�A�princípio� tentou� ser�Eletri-cista�Residencial.�O�que�não�funcionou,�pois�não�davam�con�ança�a�um�garoto�de�18�anos,�des-conhecido,�para�fazer�a�rede�elétrica�de�uma�re-sidência.�Dessa�forma,�fez�Eletrônica�por�corres-pondência�pelo�Instituto�Universal�e�aprendeu�a�fazer�manutenção�de�eletrodomésticos.�Mesmo�fazendo�o�curso,�Renê�tinha�ainda�de�

sustentar�uma�família.�Por�isso�trabalhou�em�um�motel�por�2�anos,�das�18�às�6�horas.�Aprovei-tava�a�madrugada�no�motel�para�estudar,�mas�de�nada�adiantaria�a�teoria�sem�a�prática.�Então�fez� a� proposta� ao�dono� da�TV�Lar� em� Ituiuta-ba,�de� trabalhar�gratuitamente� todas�as� tardes�utilizando�o�que�já�estava�aprendendo�no�curso,�em�troca�lhe�dariam�instruções�sobre�Eletrônica.�Na� ocasião� não� existia� vaga� de� emprego,�mas�

EMPREENDEDORISMO

Renê MarquesMesmo diante uma longa história repleta de contratempos que quase o fizeram desistir, esse empresário, guiado por sua veia empreendedora, há 6 anos fundou a Play Games, que atualmente é referência no segmento de diversão e games em Ituiutaba

aceitaram�sua�proposta.�O�início�foi�difícil.�Renê�trabalhava� a� noite� toda�no�motel,� estudava�na�madrugada�e�trabalhava�com�assistência�técnica�em� eletrodomésticos� durante� a� tarde.� O� com-binado�era�que�Renê�se�sentasse�em�uma�ban-cada,�observasse�o�trabalho�dos�pro�ssionais�e�ajudasse�quando�preciso,�mas�por�vezes�pediam�que�lavasse�o�chão,�o�banheiro,�que��zesse�ser-viço�de�banco.�No�medo�de�perder�aquela�opor-tunidade,�fazia�tudo�sem�pestanejar,�pois�via�ali�a�chance�de�crescer.�Depois�de�um�tempo,�pas-saram�remunerar�Renê�por�sua�garra�e�esforço,�o�que�deixou�aquele�garoto�que�tinha�apenas�a�pretensão�de�aprender�muito�satisfeito.Após� esse� imenso� aprendizado,� fez� alguns�

freelances�e�partiu�para�Uberlândia�levando�sob�o�braço�uma� lista�de� empresas� que� retirou�do�catálogo� telefônico� e,� por� incrível� que� pareça,�assim�que�chegou�conseguiu� trabalho�em�uma�empresa�onde,�após�a�saída�do�restante�dos�téc-nicos,� foi� a� única�alternativa� da�empresa,� logo�Renê,�que�era�mais�jovem�e�com�a�menor�relação�técnica�de�conhecimento.�Como�o�único�técnico�da�loja,�trabalhou�por�1�ano�das�8�da�manhã�até�às�23�horas�e,�pela�primeira�vez�na�vida,�come-çou�a�ganhar�bem.

Renê�e�sua�família

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Ali,�adquiriu�muita�experiência,�principalmente�em�telefonia��xa,�porém,�ainda�se�sentia�mal�dian-te�da�sua�relação�com�a�cidade,�longe�dos�amigos,�da�família�e�da�casa�espírita�da�qual�sempre�fez�parte.��Em�Ituiutaba�receberia�menos,�porém,�te-ria�contato�com�todos�que�amava.�Foi�exatamen-te�isso�que�fez.�Assim�que�chegou,�encontrou�um�conhecido� que� lhe� convidou� pra� trabalhar� em�uma�empresa�chamada�JSD,�onde�os�técnicos�não�recebiam�salário,�apenas�a�comissão�de�50%�so-bre�o�valor�dos�serviços.�O�mais�experiente�deles�ganhava�cerca�de�um�salário�mensal�com�suas�co-missões.�Renê�havia�saído�de�Uberlândia�ganhan-do� 5� salários,� porém,� se� conformou,� pois� sabia�que�devia� trabalhar�muito�antes�de�sonhar�alto.�Logo�no�primeiro�mês,�conseguiu�sua�comissão�de� 50%� lhe� rendeu�mais� de� 4� salários.� Isso� foi�um�estardalhaço�na�empresa.��Não�é�que�eu�era�melhor�que�ninguém,�tinha�apenas�um�treino�es-pecial�com�o�que�trabalhavam,�que�era�telefonia��xa.�Por� isso�eu� tinha�o� triplo�da�velocidade�de�um�técnico�convencional�,��diz�Renê.�Um�rapaz�desconhecido�nos�primeiros�meses�já�

ganha�5�a�6�salários,�enquanto�muitos�colabora-dores�estavam�lá�há�anos�e�ganhavam�apenas�1�salário.� Um� desconforto� entre� os� colaboradores�da�empresa�pairou�no�ar�e�tiveram�de�diminuir�a�porcentagem�de�lucro�de�Renê�que�preferiu�aban-donar�o�cargo.�E,�em�2002,�inaugurou�a�FM�Áudio�e�Vídeo�com�uma�nova� ideologia:�sempre� traba-lhar�com�o�que�ainda�não�havia�mercado�de�Ituiu-taba�ou�uma�mínima�concorrência,�por�isso�fazia�manutenção�em�impressoras�a�laser�e�monitores�de� TV� e� computador.� Nesse� momento� o� Brasil�passava�por�uma�importante�fase�de�tecnologias�mais�práticas�e�baratas�que�colocaram�Renê�em�uma�séria�di�culdade��nanceira.�Só�conseguia�pa-gar�o�aluguel�graças�a�empréstimos.�Nessa�época,�

expôs�na�loja�um�aparelho�de�videogame�que�cha-mou�muita�atenção�do�público�e�atraiu�a�fregue-sia,�porém,�alguns�dias�depois�a�loja�foi�furtada�e�mais�de�20�aparelhos�roubados.��Renê�teve�de�re-embolsar�todos�os�produtos�aos�seus�donos,�cau-sando�um�dé�cit��nanceiro�imenso�na�loja.�Mais�tarde,�Renê�descobriu�que�o�ladrão�tinha�a�inten-ção�de�roubar�apenas�o�videogame�exposto,�mas�acabou�levando�mais�aparelhos.�Diante�do�roubo,�colocou�alarme�na�loja,�mas�dias�depois,�aprovei-tando-se�dos�foguetes�devido�a�um��jogo�da�Copa�do�Mundo�de�2006,�os�bandidos�furtaram�a�loja�novamente.�O�alarme�disparou,�mas�sem�discado-ra�para�avisar�do�assalto�por�telefone�e�devido�à�euforia�das�ruas,�o�alarme�não�foi�notado.�Esse�foi�outro�desfalque�enorme�onde�levaram�novamente�um�número� considerável� de� aparelhos�que� teve�mais�uma�vez�que�restituir�seus�proprietários.Esse� foi� um� período� que� Renê� se� viu� diante�

da� lama.� Para� não� pagar� aluguel,� se� propôs� a�morar� em� uma� casa� espírita� onde� sua� esposa�fazia�as�sopas�e�ele�ajudava�nos�afazeres.�Com�dois��lhos�para�cuidar,�sem�infraestrutura�para�trabalhar,� com� dé�cit� �nanceiro�muito� grande�devido�aos�roubos,�sem�veículo�pra�transportar�os�instrumentos�de�trabalho�e�ainda�emocional-mente�abalado.�Renê�se�via�diante�do�abismo,�foi�quando�ouviu�de�seu�amigo�Wellington�Santana:��Aprenda�a�amar�o�que�você�tem�que�Deus� irá�lhe�reservar�algo�melhor�.�Ali,�Renê�teve�uma�ideia,�mais�uma�vez�olhando�

pra�um�setor�difícil�e�que�poucos�se�interessariam�em� trabalhar.� Utilizando� talvez� um� dos�maiores�motivos� da� tragédia� em� seus� negócios:� o� video-game.��Com�otimismo�começou�a�estudar�o�mer-cado�dos�games,�sua�concorrência�em�Ituiutaba�e�viajou�para�aprender�sobre�o�funcionamento�dos�videogames.�Renê�sentia�a�cada�segundo�que�por�

Renê�se�preocupa�em�oferecer�um�serviço�interativo,�onde�os�clientes�podem�brincar�antes�de�comprar

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trás�de� todo�aquele� esforço�havia�um�sucesso�a�sua�espera.�Então,�abriu�mão�dos�clientes�que�ti-nha�e�iniciou�o�ousado�empreendimento�com�ape-nas�300�reais�emprestados�do�seu�tio�Zé�Carlos.�Assim� inaugurou� a�Play�Games,� na�Avenida� 15,�onde�faria�manutenção�de�videogames.�O�negócio�começou�bem�lento.�Muitos�diziam�que��não�valia�a�pena� largar� tudo�e�mexer�com�videogame,�ele�tinha�uma�família�para�sustentar.�Era�loucura.�Vi-deogame�era�ruim,�chato�de�trabalhar�.�Mas�exa-tamente�por�saber�que�aquele�produto�era�ruim�e�chato�de�trabalhar,�em�uma�visão�de�empreende-dorismo,�Renê�enxergou�ali�a�chance�de�sucesso.Sempre�que�arrumava�um�videogame,�os�clien-

tes� procuravam� acessórios,� como� cabos,� CDs.�Diante�disso,�visando�expandir�seu�negócio,�pas-sou�a�vender�videogames�e�todas�as�necessida-des�do�seu�público.�Ali�a�empresa�rapidamente�ganhou�um�nome�no�mercado�pelo�atendimento�diferenciado�e�uma�relação�que�agrega�valor�ao�serviço,�onde�o�cliente�vai�para�casa�satisfeito,�sabendo�que�não�levou�apenas�um�videogame,�mas� uns� instrumento� de� diversão� para� ele� e�toda�família,�além�do�conhecimento�que�se�deve�ter� sobre� o� � aparelho.� �Mostro� aos�meus� cola-boradores�que�devemos�dar�o�máximo�de�nós,�porque� estão� fazendo� isso� não� pra� mim,� mas�

sim�pra�formação�do�caráter�pro�ssional�deles.�Quando�se�mostram�atenciosos�e�prestativos�no�entendimento�de�um�cliente,�quem�leva�o�crédi-to�são�eles.�Acho�que�esse�tipo�de�aprendizado�vale� bem�mais� que� dinheiro.� O� dinheiro,� você�pode�perder,�ser�roubado�como�eu�já�fui,�mas�o�conhecimento�e�o�caráter�que�você� tem,��cam�pra�sempre.�Acho�que�você�tem�o�que�dá,�e�não�o�que�tem�,�diz�Renê.A�visão�ímpar�e�ousada�de�Renê,�trouxe�para�

Ituiutaba� um� espaço� e� produtos� diferenciados�no� segmento� da� diversão� que� com� certeza� irá�marcar�a�juventude�de�uma�geração.�Atualmente�vejo�o�quanto�os�momentos�que�

me� abdiquei� do� descanso� e�me� privei� pra� po-der�estudar�e�me�dedicar�ao�trabalho�valeram�a�pena.��Por�trás�de�todas�as�di�culdades�criam-se�um�valores�inestimáveis.�Graças�a�tudo�isso,�te-nho�a�minha�esposa�Edma,�grande�companheira�que�desde�o�início�esteve�ao�meu�lado�e�sei�que�nada�disso�seria�possível�sem�ela,�sou�pai�de�3��-lhos:�Rafaella�,�Renê�e�Endrell,�e�posso�dar�a�eles�uma�educação�de�qualidade,�médicos�de�quali-dade�e�uma�ótima�qualidade�de�vida�pra�todos,�além�da�perspectiva�de�poder�ajudar�o�próximo.�sei�que�todos�são�capazes�quando�acreditam�nis-so�,�diz�Renê,�emocionado.

Renê�em�sua�1ª�o�cina�quando�era�Freelancer�(1999)

Para ser empreendedor não é necessário dinheiro e talento, o principal é ter o desejo e a vontade de gerir um negócio. Eu sempre soube que pra isso eu pagaria um preço, um preço de muito trabalho e dedicação. Às vezes vemos que o caminho que estamos seguindo é o errado, porém, não é necessário desistir, apenas troque a direção e continue a perseguir seu sonho por um caminho diferente. Para o empreendedor moderno eu dou apenas uma dica: tome muito cuidado com a emoção. Antes de tudo, aprenda a se conhecer, conhecer suas limitações diante da sociedade pra poder identi�car as áreas a seu dispor. Uma vez que você se identi�cou, comece a estudar o padrão de vida de quem trabalha nessas áreas. Quem observa o médico, vê que ele tem fazenda, carro bom e tudo, mas observe que ele acorda de madrugada para fazer plantões e às vezes tem que clinicar no dia seguinte, sobrando pouco tempo pra descanso. Os prós e contras devem ser analisados, por isso tenha foco. Nin-guém que �ca em cima do muro obtém sucesso.

Área�de�diversão�da�Play�Games