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Escola Secundária de Vilela | Edição nº 2 Vilela, Março de 2011 Coordenadora: Clementina Santos Imagem e Grafismo: Patrícia Filipe Regresso às Palavras In illo Tempore… Naquele tempo ... de Professora Alberta Rangel Atrasado Naquele tempo, meus irmãos, havia mais tempo. E mais cheiros e sabores. E paisagens e silêncios. Falo do tempo em que estudava numa escola secundária, a Filipa de Vilhena, no Porto. ... César Biltes O poeta é um fingidor: Criações heteronímicas das alunos de 12º Ano DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU JULGO SABER DELA – II Naquele tempo, pois, com dez anos e definivamente de calças compridas, fui para o LICEU ALEXAN- DRE HERCULANO, no Porto. Aí apren- di a jogar a estátua e o eixo, algum francês, e ... João Lima Artigos de Área de Projecto 7º Ano A Biblioteca de Alexandria Catarina Nunes, Luísa Dias e Flávio Pinto da turma 11ºA Alberta Rangel e Albino Pereira

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Page 1: Regresso às Palavras - esvilela.pt · Uma nebulosa bruma, de tempo cíclico e sem dono, mãe e origem de todas as coisas. É curioso como a infinitude desse tempo, envolto em névoa,

Escola Secundária de Vilela | Edição nº 2Vilela, Março de 2011Coordenadora: Clementina SantosImagem e Grafismo: Patrícia Filipe

Regresso às Palavras

In illo Tempore…Naquele tempo ...

de Professora Alberta Rangel

Atrasado

Naquele tempo, meus irmãos, havia mais tempo. E mais cheiros e sabores. E paisagens e silêncios.

Falo do tempo em que estudava numa escola secundária, a Filipa de Vilhena, no Porto. ...

César Biltes

O poeta é um fingidor: Criações heteronímicas das alunos de 12º Ano

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU JULGO SABER DELA – II

Naquele tempo, pois, com dez anos e definitivamente de calças compridas, fui para o LICEU ALEXAN-DRE HERCULANO, no Porto. Aí apren-di a jogar a estátua e o eixo, algum francês, e ...

João Lima

Artigos de Área de Projecto 7º Ano

A Biblioteca de Alexandria

Catarina Nunes, Luísa Dias e Flávio Pinto da turma 11ºA

Alberta Rangel e Albino Pereira

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| 2 | In illo tempore

In illo Tempore

In illoTempore [lat., lit. ‘naquele tempo’] é o tema escolhido para esta edição de “Regresso às Palavras”. O caminho que já percorremos em busca de alguma aprendizagem ensinou-nos a olhar para trás e a rever o nosso trajecto. Gatinhamos, caminhamos, corremos, calcorreamos trilhos e atalhos e decidimos descansar descontraída e oportunamente nos tempos idos, no tempo mítico que convoca as origens, o tempo que nos dita a matéria de que somos feitos.

Enquanto escola, que reflecte sobre o seu percurso, somos to-dos chamados a dar testemunho sobre o passado que fomos de forma a projectar o futuro que seremos, a partir do presente que respiramos, este futuro do passado (passo o trocadilho!). A liberdade de participação neste ritual permite a to-dos os convidados associar-se com responsabilidade e consciência colectiva na construção deste espaço/tempo que é de todos e a con-tribuir para que o caminho se faça na harmonia do dissentimento. Em jeito de advertência final, lembramos que o tema, In illo tempore, é apenas um ponto de partida para a produção desta edição; não é obrigatoriamente o seu ponto de chegada, pois, pela sua na-tureza de jornal de escola, outros temas, outros textos têm aqui lugar, desde que sirvam o seu objectivo primordial, o de espelhar as nossas práticas, enquanto participantes desta causa colectiva que é a educação. A todos estes, os que directa ou indirectamente participam neste projecto de escola, se agradece o contributo em disponibilidade, tempo, criatividade, saber, espírito crítico, atitude construtiva. A todos MUITO OBRIGADO.

Clementina Moreira dos Santos, Professora bibliotecária

Editorial

Casa das Letras

“Vozes longínquas da infância são evo-cadas sempre que se pronuncia Era uma vez…” ........................Pag. 6

“A Biblioteca de Alexandria” ...Pag. 8

“Heterónimo – Fernando Pessoa” ....................................................Pag. 9

“Cartas Pai e Filha” .................Pag. 10.“DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU JULGO SABER DELA – II*” ..................Pag. 11

“Projecto – Em contexto real – Blogue do 11ºB” .................................Pag. 12

Casa das Ciencias

Trabalhos de Àrea de Projecto de tema O Mar:“As Baleias” .............................Pag. 13

“Aumento do nível do mar” ....Pag. 14“A Exploração Oceânica: Ontem e Hoje”....................... Pag. 14“Animais no Ocêano ...” ......... Pag. 15“A perfeição do Mundo Ideal” Pag. 17

“A perfeição do Mundo Ideal” Pag. 17

In Illo tempore

“In Illo tempore” ......................Pag. 2

“Atrasado” ................................Pag. 3

“In illo Tempore… Naquele Tem-po…”......................................... Pag. 3

““In Illo Tempore” – Naquele tempo...” ..................................................Pag. 4

“Naquele tempo… as minhas memórias” ..................................................Pag. 5

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Naquele tempo, meus irmãos, havia mais tempo. E mais cheiros e sabores. E paisagens e silêncios.Falo do tempo em que estudava numa escola secundária, a Filipa de Vilhena, no Porto. Falo do bom tempo!(Naquele tempo também haveria mais miséria, mais ignorância, mais dor. Mas eu não as sentia.)Naquele tempo, a bem dizer, foi ontem. Hoje acordei e tudo estava diferente, a coisa melhorou mas piorou, histeria

mediática, paranóia colectiva, seguidismo imbecil, rebanhização (globalização?), temos mais dinheiro mas gastamos muito mais, ganhamos conforto perdemos satisfação, trancamo-nos mas sentimo-nos mais inseguros.

Portanto, tenho saudades desse meu tempo. As quatro es-tações certinhas, o relógio de ponteiros, o telefone de moedas, a árvore mais importante que o papel, quando ser era mais im-portante do que parecer. Quando tudo era novo.

Curiosamente, lembro-me de um mundo menos colorido. A exploração da cor era mais pura, mais ingénua. A cor vendeu-se. Ou então seria da televisão a preto e branco.

Nunca me imaginei a escrever isto. Perdi-me ou é complexo geracional? Envelheço ou isto é mesmo um circo? Estou depri-mido ou está tudo maluco? Padeço de profissão ou a coisa está mesmo decadente?

Chego atrasado porque sinto falta de tempo, como quem sente falta de ar.

Não tenho tempo, estou cansado, é o que mais ouço, é o que mais digo. Estamos cansados porque não temos tempo para descansar, que é tempo para fazer do tempo o que se quer,

o que apetece, tempo até para não fazer nada.Hoje acordei e tenho dois filhos. Também tenho pena que eles não cresçam com a mesma liberdade, tranquilidade

e contentamento com que cresci. Se calhar é presunção. Aposto que lamentarão, na sua meia – idade, o tempo que há-de vir, glorificando este que decorre, este do meu descontentamento.

Naquele tempo, manos, havia mais tempo. E basta isso para ter saudades do meu tempo.

César Biltes

Nem a natureza, nem o homem, resistem ao passar do tempo! O desejável seria que todas as mudanças ocorressem no sentido de tornar a vida do homem mais fácil, mais tranquila, mais feliz! Seria a ordem natural das coisas, o objecti-vo da evolução da humanidade.

Infelizmente, nada é perfeito! E, se é verdade que hoje, a sociedade nos oferece uma infinidade de bens materiais que nos proporcionam mais conforto, também é verdade, que, com o decorrer do tempo, se vão eliminando práticas de vida e valores morais, no meu entender, essenciais à qualidade de vida no seu todo.

Não sou saudosista, privilegio o presente, mas, sinto que vivemos actual-mente, com ausência de alguns valores que, no passado, constituíam uma mais valia à vida em comunidade.

Longe vão os tempos em que a “palavra de honra” era mais que um tratado ou uma escritura. Naquele tempo, vivia-se num clima de confiança! A honra estabelecia a dignidade pessoal, o carácter da pessoa. Bastava dizer-se: “Dou a minha palavra de honra”…. “ para que ninguém duvidasse de que se tratava de uma verdade, ou de que qualquer compromisso assumido iria ser cumprido.

Hoje, a ”palavra de honra“ quase não se usa na linguagem corrente e, quase só consta dos juramentos formais de presidentes e ministros, que pronunciam a palavra no acto mas, rapidamente se esquecem do seu significado….

Vivemos na base da desconfiança, vivemos à defesa, sempre a pensar que o “outro/a” nos quer enganar e até prejudicar…A mentira banalizou-se e é difícil saber onde está a Verdade.

Tudo tem de ser escrito, para que possa ser cumprido ou comprovado. Esta prática, arrasta-nos, entre outras coi-sas, para uma sociedade burocrática, sem serenidade e paz interpessoal, o que tira algum encanto à vida comunitária.

Em termos gerais, a sociedade mudou para melhor, no que concerne à Liberdade mas retrocedeu em valores, como o Respeito e a Honra.

Naquele tempo… eu dizia com frequência: “Dou a minha palavra de honra…” Hoje, seria quase ridículo, a expressão não faz sentido, pois quase ninguém a entende…

Alberta Rangel

Atrasado

In illo Tempore… Naquele Tempo…

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“In Illo Tempore” – Naquele tempo...

Esta expressão transporta-me, inevitavelmente, para os admiráveis relatos da mitologia. O início dos tempos, an-tes do tempo ter nome. Uma nebulosa bruma, de tempo cíclico e sem dono, mãe e origem de todas as coisas.

É curioso como a infinitude desse tempo, envolto em névoa, nos desperta a consciência dos limites que balizam a nossa existência. Somos incomparáveis à incomensurabilidade que nos aflige. É algo que foge e nos escapa, logo a nós que, ao vermos um princípio, já vislumbramos um fim, em tudo.

Sentimo-nos mais seguros na finitude que nos caracteriza. Somos pequenos, muitas vezes, e gostamos de o ser! A grandeza coloca-nos desafios que nem sempre estamos dispostos a acalentar. Gostamos de seguir caminhos tra-

çados por outros, ainda que esses outros nada nos digam. Caminhos onde o autêntico não encontra lugar. E por mais atractivo que seja sermos nós próprios, é sempre melhor ser igual a todos os outros. Igual, nem que seja na pequenez. Igual a todos, e ao mesmo tempo, a coisa nenhuma...

O ser autêntico é ousadia daquele “In Illo Tempore”, que parece escapar à nossa inquietação de saber e à nossa ânsia de sentido.

Somos seres conformados, mas que podemos, ainda assim, ouvir mais o tempo e desacelerar o passo apressado que nos faz seguir rumos, nem sempre, sentidos como nossos. Podíamos então ousar dar ao tempo algo de nosso em que pudéssemos dar à existência uma essência, uma identidade… A identidade que nos faz, verdadeiramente, ser.

Aquele tempo, incomensurável e primordial, afinal, não nos foge, faz-nos antes ter consciência do infinito por que devemos ansiar. Esse “In illo tempore” de retorno às origens faz-nos entender como a nossa existência está refém do presente e como, ao teimarmos esquecer o passado, nos arriscamos, irremediavelmente, a perder o futuro. Ele ensina--nos a olhar para uma história que, num constante retorno, reinicia um ciclo de legados, bons e maus, mas sempre preciosos ensinamentos.

O tempo dá-nos, afinal, lições que teimamos esquecer. Perdemos o tempo e perdemo-nos. Desprezamos tudo o que não serve o aqui e o agora e temos pressa. Pressa para coisa nenhuma!… Na minha história, tento encontrar e guardar o melhor de mim. O melhor presente que se pode dar a um filho,

sempre me disseram, são os valores. Esses valores que só o tempo sabe guardar, numa memória fundamental ao saber ser de cada um.

Será, por isso, imperdoável esquecer que é nos ensinamentos, povoados de experiências passadas, dos pais e dos avós, que se alicerça o mundo que nos caracteriza e nos confere uma identidade.

Só quando assumirmos essa identidade que nos torna seres singulares mas com um legado passado que não ne-gamos, seremos então, verdadeiramente, donos, de um valoroso tempo.

Do nosso!... À minha mãe a quem devo tudo o que sou.

Aos avós que os meus filhos puderam e souberam conhecer.

Paula Ribeiro, profª Filosofia/Psicologia Escola Secundária de Vilela, Novembro de 2010

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Naquele tempo… as minhas memórias

“No meu tempo, tudo era dife-rente! Dantes é que era…. Quando eu era mais nova… Meu Deus, onde vamos parar? E mais isto, e mais aquilo…” – Palavras de quem já muito viveu, de quem muitas vezes se es-quece que já foi jovem, irreverente, insatisfeito…

Na realidade há problemas que se repetem de geração em geração, que voltam a cada passo e que, de to-das as vezes parecem mais graves e sem solução. O conflito de gerações acontece em todos os tempos, a von-tade de afirmação, de ser diferente, de se reinventar, já fez parte de nós, quando jovens, e também faz parte dos jovens de hoje. O que melhor distingue os tempos, o que muda efectivamente são as realidades, as oportunidades, o acesso ao conheci-mento, à educação.

E, agora sim, eu posso dizer “No meu tempo tudo era diferente!”

A viver em Lordelo era quase impossível ir além da 4ta classe (é possível verificar isto pelo número de homens/mulheres licenciados no concelho de Paredes com mais de 50 anos de idade). O acesso ao ensino era muito dificultado, não havia es-colas, quase não havia transportes … tudo era longe, inacessível e difícil.

Da vontade de dar uma educação melhor aos seus filhos, de lhes criar oportunidades que eles não tiveram, muitos pais viram-se na necessidade de colocar os seus filhos em colégios internos. Não, não era de castigo, tinha de ser mesmo assim para po-derem prosseguir estudos. Éramos afastados, ainda crianças das nossas casas, do mimo dos pais, do confor-to dos nossos lares e “atirados” para colégios onde vivíamos com mais 119 meninas (no meu caso), sem poder “ir a casa” senão uma vez por mês, depois de 15 em 15 dias e só mais tarde semanalmente. Cada uma ti-nha um número pelo qual era iden-tificada, o meu era o 58. A vontade determinada dos meus pais, em par-ticular da minha mãe, indo contra tudo e contra todos (ainda me lem-bro da minha avó dizer: “para quê pôr as meninas a estudar, ainda se fosse um rapaz para estudar para padre!... mais valia pô-las a trabalhar na fá-

brica…”); essa vontade fez com que fossemos para o Colégio Nossa Sra da Con-ceição, em Guimarães. Era um colégio de freiras Franciscanas, claro que só de meninas. Na época, as escolas, mesmo as pri-márias não eram mistas. Havia a sala dos rapazes e a da raparigas e nem nos intervalos nos podíamos misturar (é pelo menos assim que eu me lembro da minha escola).

Eu sou a terceira de 5 irmãs e um irmão. Assim, quando chegou a mi-nha vez de ir para o colégio, tinha eu 10 anos, senti-me uma privilegiada. Já lá tinha duas irmãs mais velhas que me protegiam e apoiavam. Ainda me lembro de ouvir muitas meninas durante a noite a chorar com sau-dades de casa. Sentiam-se sozinhas. Fui para lá para fazer a quarta clas-se (no meu tempo, entrava-se com 7 anos “feitos” para a escola). Tudo era muito diferente de casa, muita disciplina, muitas regras, muito rigor na educação uma menina educada não vai para a janela; Não se deve falar alto; Deve-se dar sempre pas-sagem aos mais velho;, Não se pode “responder” aos mais velhos, …. Ain-da me lembro bem de ter escrito 100 vezes “não se deve responder aos mais velhos.” Tive a ousadia de fazer um comentário, de responder a uma freira criticando uma atitu-de dela; era um pouco irreverente, cheia de razão, confiante das minhas certezas e ainda um pouco exibicio-nista perante as minhas amigas. Que coragem! Que destemida! Quem me dera ter coragem de dizer o mesmo! Responder assim valeu-me um casti-go mas também popularidade. Ain-da tive de pedir desculpa. Assim o fiz e sem reclamar. Se me queixasse ainda era pior…

Numa outra situação, e porque era orgulhosa o suficiente para não pedir desculpa por algo que eu acha-va que tinha razão, fiquei de castigo o fim-de-semana. Quando a minha mãe nos foi buscar, eu não estava autorizada a sair. A minha mãe nem quis saber de mais nada, só disse: Se a Irmã Alzira te pôs de castigo, é porque tu o mereceste, por isso mi-nha filha, as tuas irmãs vão a casa

e tu ficas. Grande mulher a minha mãe que, apesar de sofrer (soube--o mais tarde), não o mostrou e nem pela cabeça lhe passou desautorizar a “famosa” Irmã Alzira. Lembro-me muito bem dela, professora de ma-temática, baixa, gordinha…nunca me foi simpática; se calhar por isso nunca gostei de matemática! E lá fiquei eu. Aí senti o peso do meu orgulho, mas não verguei. “Desculpa é que eu não vou pedir, era o que havia de faltar…eu não tive culpa!” (já nem me lem-bro a razão de tamanho castigo, mas era mesmo assim…). Todo o colégio ficou a saber, já que as minhas irmãs tinham ido a casa e eu não. E lá fiquei eu, com as meninas que nunca iam a casa. Viviam longe e só podiam ir nas férias, ficava caro.

Os anos foram passando.Adorava o início de cada ano lec-

tivo, rever as amigas depois das férias grandes, a confusão da chegada, ar-rumar a roupa, fazer a cama, o cheiro dos livros novos, dos cadernos…

Até que um dia, já estava eu no quinto ano (actualmente 9º), ouvi-mos dizer que tinha havido uma re-volução e que agora havia liberdade. Mas o que é que aquilo queria dizer? Não sabíamos. Mas livres para quê? Foi um bocado confuso aquele final do mês de Abril de 1974 e também os meses seguintes. Lembro-me mui-to bem do que dizíamos: “Ah, agora somos livres, já podemos fazer o que quisermos, então já podemos ir para a janela!” queríamos ver o que se passava lá fora. Sinal de liberdade, aspiração máxima: ir à janela, correr nos corredores, falar mais alto..., sei lá que mais, do que melhor me lem-bro é mesmo de ir para a janela…

Como podem ver “no meu tem-po” as coisas eram bem diferentes.

Maria Elisa Rodrigues

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Casa das Letras

Vozes longínquas da infância são evocadas sempre que se pronuncia Era uma vez…

Tens noventa e seis anos. És velha e magoada. Sabes ler. Sabes os reis, os rios, as tabuadas, e sabes estórias de encantar. As que recordo de manhã, numa padaria, ao sentir o cheiro do pão quente (a meio da noite, acordava com o barulho de um homem branco que, com esforço, subia as escadas e depositava os sa-cos de papel castanho que transpiravam e cheiravam bem; descalça, a medo, aproximava-me, o aroma suave e quente inundava o espaço e os meus pequenos pulmões, sentia fome e devorava, um a um, os bicos dos pães…)

as que ecoam dentro de mim, quando a multidão ruidosa sufoca, e me transportam para as tuas vivências.Tu dizes nada saber do mundo. Levantavas-te com a madrugada, carregaste à cabeça centenas de cadeiras, percorreste trilhos espinhosos, cantavas como a “pobre ceifeira” que “canta, canta sem razão!” e alimentaste gerações (cinco vezes engravidaste, cinco vezes deste vida, que ingrata já te roubou duas!).“[Nada] entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo.”Era uma vez… O que me contaste? As rezas para afastar a trovoada, os responsos para encontrar coisas perdidas, as lendas de moiras encantadas e as estórias de lugares assombrados! Especificavas o tempo e o lugar, nomeavas, com facilidade, as personagens e não hesitavas no encadeamento da narrativa. Os teus ódios e as tuas alegrias estavam presentes e faziam-me sorrir ou ter pesadelos durante o repouso nocturno. Esta é a tua sabedoria, a que eu aprendi e tento transmitir aos meus e aos dos outros.

Tens cinquenta e poucos anos, não sei ao certo. És alto e sábio.“O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas”. Um criador de palavras, um cultivador de sabores e aromas. Sabes interpretar e compreender. Era uma vez… uma mesa de escola, uma janela, um quadro, uma voz e uma presença. A mesa mantém-se igual, a janela também (o que vejo através dela mudou). A voz, suave e majestosa, com dicção acentuada, as pausas longas e silenciosas, marcavam o ritmo de uma lição sobre teorias insondáveis, evoluções brutais, mundos inteligíveis, tarde desvendados. Relembro estas sabedorias (prefiro a palavra no feminino) ensinadas como estórias. Não o são? Sentir-se-ão ofendidos se assim as classificar? Naquele tempo, eram-no.

Era uma vez… uma Mulher e um Homem que, em tempos e espaços diferentes, marcaram o mundo de uma criança, roubaram-no para ela. Ela agradece, passa a mão pela face enrijada e pelos cabelos brancos da Mulher, tenta perceber o porquê do seu sorri-so, quando baixinho pronuncia “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!”.Ela respeita, quando ainda é convidada a ouvir e a beber do saber do Homem, a fruir da ambrósia partilhada e a conti-nuar a “Entender, mais pelo Sentir que pela Razão”.Moral da estória, Tornaram a criança aquilo que ela é.

“Piquena”

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Horizontais

1. A Bela Adormecida dormiu durante _____ anos.4. Quando o Pinóquio mente, ele cresce.7. Ele que queria comer os três porquinhos.9. A Gata Borralheira perdeu um _____.10. A Fada Madrinha da Gata Borralheira tinha uma _____ de condão.11. Quem se apaixonou por Aladin?12. A Branca de Neve foi envenenada com uma _____.13. A Branca de Neve viveu com sete _____.

Verticais

2. A Bela e o _____.3. A Branca de Neve acordou com um _____ do príncipe.5. Como se chama a amiga de Peter Pan?6. Que aconteceu ao lobo de Os Três Porquinhos?8. Quem envenenou a Branca de Neve?11. Quem subiu ao pé de feijão?

Palavras Cruzadas sobre contos infantis

Realizado pelos alunos do 7º D e do 7º EProfessora Fernanda Fonseca

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A Biblioteca de Alexandria

A Biblioteca de Alexandria nasceu de um sonho de Alexandre III da Mace-dónia, cognominado de “O Grande” ou “Magno”. O mais célebre conquis-tador do mundo antigo, um dos três filhos de Filipe II, tornou-se rei aos vinte anos na sequência do assassi-nato de seu pai. Alexandre, um ge-neral sagaz e de extrema habilidade (nunca tendo perdido qualquer ba-talha durante a sua vida), teve como preceptor o grande Aristóteles e este foi determinante no cultivo da sua paixão pela ciência e pelas artes. Um dos seus grandes sonhos era cons-truir uma cidade cultural onde os melhores intelectos da Antiguidade se pudessem reunir e efectuar um estudo sistemático da matemática, física, biologia, astronomia, literatu-ra, geografia e medicina. Alexandria foi fundada em torno de um pequeno “vilarejo”, em 331 a.C., e era uma cidade onde gregos, egípcios, árabes, sírios, hebreus, per-sas, núbios, fenícios, italianos, gaule-ses e iberos trocavam mercadorias e ideias, tendo sido capital do Egipto durante um milénio. Alexandre mor-reu sem ver a cidade dos seus so-nhos edificada, contudo, a semente por si lançada, germinou no reinado de Ptolomeu II Filadelfo, um dos reis gregos e faraós que herdaram a par-te egípcia do Império de Alexandre O Grande. Nesta cidade foram constru-ídos museus, templos e a biblioteca, que terá sido concebida e aberta du-rante o reinado do faraó Ptolomeu I (séc. III a.C.). Até à sua destruição total, cerca de sete séculos mais tar-de, esta biblioteca foi o cérebro e o coração intelectual do Mundo Anti-

go. A Biblioteca Real de Alexandria foi o repositório das melhores cópias do mundo, tendo acumulado neste perí-odo entre 400 mil a 1 milhão de rolos de papiros. Sendo um dos maiores centros de conhecimento do planeta e albergan-do um saber sem igual, foi alvo de cobiça intelectual por parte de sábios de todo o mundo, tais como o mate-mático Euclides, pai da geometria, o astrónomo Aristarco, pai da trigono-metria, o médico Galeno e o físico Arquimedes, entre outras distintas personalidades da época. O último cientista a trabalhar na bi-blioteca foi uma mulher, a alexandri-na Hipátia, que se distinguiu na ma-temática, física e astronomia. Hipátia era uma mulher de grande beleza e,

numa época em que as mulheres ti-nham poucas oportunidades e eram tratadas como objectos, foi um sím-bolo da sabedoria e da ciência. Alvo de inveja por parte do arcebispo Ci-rílo, foi atacada por um grupo de fa-náticos que a arrastaram para fora do carro, arrancaram-lhe a roupa e separaram-lhe a carne dos ossos com conchas de abalone, tendo os seus restos sido posteriormente depois queimados. Sabe-se hoje em dia que a bibliote-ca foi alvo de numerosos incêndios ao longo dos séculos seguintes e as suas perdas foram incalculáveis. Do conte-údo científico desta gloriosa bibliote-ca não resta um único manuscrito e, por exemplo, das 123 peças de teatro de Sófocles só sete sobreviveram e os mesmos números são aplicáveis às obras de Ésquilo e Eurípedes. É um

pouco como se o único trabalho so-brevivente de Shakespeare fosse Um canto de Inverno, mas nós soubésse-mos que ele escrevera outras peças (hoje mundialmente conhecidas), como Hamlet, Romeu e Julieta, Mac-beth e o Rei Lear. Actualmente, num local próximo da antiga biblioteca e com a face voltada para o Mediter-râneo, foi inaugurada, em 2002, a Bi-bliotheca Alexandrina, projecto cuja construção demorou sete anos e or-çamentado em cerca de 200 milhões de euros. O edifício integra uma biblioteca principal e quatro mais pequenas especializadas, vários laboratórios, um planetário, um museu de ciên-cias, um instituto de caligrafia e um Centro de Conferências. Neste local

estão guardados cerca de 10 mil li-vros raros, 100 mil manuscritos, 300 mil títulos de publicações periódicas, 200 mil cassetes áudio e 50 mil víde-os. Nas cerca de 200 salas de estudo disponíveis, trabalham, actualmente, cerca de 3500 investigadores de todo o mundo.

Catarina Nunes, Luísa Dias e Flávio Pinto da turma 11ºA

Solução de “Palavras Cruzadas sobre contos infantis” Pag. 7

Horizontais: 1. CEM ; 4. NARIZ; 7. LOBO; 9. SA-PATO; 10. VARINHA; 11. JASMINE; 12. MAÇÃ; 13. ANÕES.Verticais:2. MONSTRO; 3. BEIJO; 5. SININHO; 6. MORREU; 8. MADRASTA; 11. JOÃO

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O poeta é um fingidor ...

O Eu do Ele

A minha vida não é um barco abandonado?!Sei quem sou e que alma tenho.Dói-me esta consciência de mimE da certeza do meu Destino.Pudesse eu fugir dos trilhosDeste comboio desgovernado…

Aqueles dois braços que me esperamQue me apertam e sufocamFazem com que seja sempre noite em mimToldam-me os sentidosNele sou outro EuO Eu do Ele.

Madalena Negreiros

Redesenha Biográfica

Nome: Madalena Negreiros

Idade: 33 anos. Nasceu no dia 12 de Novembro de 1895 e morreu em 25 de Abril de 1929 de febre tifóide.

Local: Coimbra

Percurso académico: Tirou o curso de Letras na Universidade de Coimbra e é professora de Latim e Grego.Família: era gente humilde do campo. Foi o padrinho emigrado em Paris quem lhe pagou os estudos e a influenciou em termos de estética-literária, a partir dos livros que lhe enviava de lá.

Características físicas: morena de olhos verdes, magra e alta. Tem um sinal na cara. Fuma cigarrilhas e usa monóculo.

Modo de escrita: O cansaço da vida transparece na sua escrita. A condição de mulher só lhe trouxe desgostos: desgostos amorosos e de mãe, perdeu um filho. Não deixa contudo de exaltar a mulher, não a que ela é, mas a que ela gostaria de ser.

Alunos da turma 12º D

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O poeta é um fingidor ...

Cartas Pai e Filha

Lisboa, 10 de Junho de 1932 Meu querido pai,

Recebi a tua carta, e como era de esperar, as minhas saudades por ti invadiram-me. O mundo assusta-me e sinto receio de não conseguir viver esta etapa da melhor forma. Sinto falta de ti, a necessidade suprema de estares aqui, para me guiares. Sinto-me perdida e desorientada como se faltasse uma parte de mim. Sabes, às vezes, imagino a nossa vida como algo irreal, mas perfeito, em que podíamos viver sem receio de que os outros gostem de nós. Penso que me estou a tornar numa seguidora da filosofia daquele ho-mem de que me falaste, sabes, aquele a quem chamas o teu mestre, Alber-to Caeiro. Esse sim, tem a vida ideal. Eu sigo os seus passos, idolatro os seus pensamentos. Ele é o mestre de que todos necessitamos. Crescer com as suas histórias faz de mim uma pessoa melhor. Eu quero ter-te de volta. Quero voltar a dizer “eu amo-te, pai”. Quero dizer-te isto ao ouvido, como outrora fazia quando me ias deitar e me davas aquele beijo terno. Porque não sabes, não fazes ideia mas, às vezes, sonho com esses momentos. Vou recordá-los toda a minha vida. E, quando entrar nesse mundo cruel, simples mortal, guardarei o verdadeiro amor, aquele que existe ente pai e filha. Sou bem diferente desse teu companheiro Reis e não sou ca-paz de chegar à morte de mãos vazias. O nosso amor não tem fim, e como tal não há lugar para a despedida.

Carinhosamente,

Sofia Pessoa

Lisboa, 1 de Junho de 1932

Querida filha,

Sinto falta dos tempos que vivemos. Nesses longínquos mas eternos momentos, eu esquecia tudo o que me atormentava e sentia-me verdadeira-mente feliz. Agora, afastado de tudo, principalmente do ser mais importante da minha vida, volto a estar atormentado pelos fantasmas do meu passado. Oh! Que pena que eu tenho de não te poder acompanhar nesta fase maravilhosa da tua vida. Hoje, já sinto falta deste tempo e tu também um dia sentirás, verás o mundo de uma forma diferente, um mundo mais cruel, com mais imperfeições, um mundo que não está preparado para te receber. Se a nossa vida fosse um eterno estar à janela, se assim ficássemos, como um fundo parado, tendo o mesmo amanhecer, permaneceríamos sem-pre juntos. Desde que nos afastámos o próprio escrever banaliza-se, parece que escrevo sem dar por isso, com mais ou menos atenção, mas meio alheado. Tudo se tornou insuportável, excepto a vida, visto que és a luz dela. Quando nasceste, tudo mudou em mim e por isso qualquer coisa que me faça lembrar de ti é bastante para me consolar. Filha, leva contigo o meu coração, que se esvazia sem querer, como um vaso quebrado. Pensar? Sentir? Um traço longo de fumo ergue-se e dis-persa-se lá ao longe… um tecido inquieto… Tudo o mais é supérfluo! Nós e o mundo e o mistério do mundo que não é mais do que isto.

Com saudades!

Fernando Pessoa

Turma 12ºB

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Casa das Letras | 11 |

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU JULGO SABER DELA – II1

Dizia Bernardo de Chartres que somos como anões aos ombros de gigantes e que assim

podemos ver mais e mais longe que eles. (João de Salisbury, 1115- 1180)

Naquele tempo, pois, com dez anos e definitivamente de calças compridas, fui para o LICEU ALEXANDRE HER-CULANO, no Porto. Aí aprendi a jogar a estátua e o eixo, algum francês, e a fumar travando o fumo com perícia. Ainda hoje vagueio por aqueles círculos perfeitos que acabavam por se enevoar. Saía da camioneta ao cimo do Bonfim. E to-dos os dias sentia que deixara de vez, de vez mesmo, a escola primária e o professor primário, que tinha um tique, um tique nervoso, a piscar os olhos, que, em dias de mau tempo, se cadenciava em muitas dezenas por minuto. Durante quatro longos anos. Todos os dias o sentia e todos os dias o celebrava. Tanto que reprovei. Bendito seja Deus! Acharam por bem os meus maiores que deveria recolher ao claustro. Literalmente. E fui assim, não propria-mente de castigo, para Vila Viçosa, lá longe, no Alentejo, primeiro, para o claustro das Chagas, no que hoje é a Pousada D. João IV, depois, para o dos Agostinhos, ali junto ao Panteão dos Duques de Bragança. Finalmente, com o meu tio a Reitor, fui para Nossa Senhora das Candeias, onde fora o Colégio contíguo à Universidade de Évora, ambos criação do Cardeal Rei D. Henrique. Volvidos sete anos de claustro, saí. E outras celebrações aconteceram. Com a devoção de sempre. Andava eu então a celebrar, corriam os meus moços dezoito anos, primeiro da Faculdade, quando, na sucessão dos dias e das noites, foi a festa, pá. Sem se olhar a despesas. Assim, por entre tentativas e erros meus, lá ficaram por cumprir, pelo menos, um clérigo e um jogador de fu-tebol. Ainda no ALEXANDRE HERCULANO, o meu professor de Ginástica, que a Educação Física ainda não era o que é, Manuel Puga, pretendia que eu fosse mostrar os dotes ao grande Futebol Clube do Porto. A isto o meu pai disse o que disse e eu deixei lá isso. Cá volto eu a ALEXANDRE HERCULANO. Ao gigante ALEXANDRE HERCULANO. Daquela casa, talvez pelo pouco tempo que lá estive, ficou-me vincadamente o nome. Passei, depois, da ressonância à descoberta do muito que ele tinha a dizer. Atribuído ainda na Monarquia e mantido durante a República, respeita a um lutador pela implantação do liberalismo, ainda que depois seu crítico, a um grande historiador, a um grande escritor. Num tempo de quase fa-lência do país, financeira, económica, política, moral e, principalmente, ética, no que esta tem a ver com formação do carácter, bom seria, justamente, tivéssemos alguns marcos de referência, ainda que para deles discordarmos, que nos incentivassem a ir mais longe, para além do recinto da feira. Quero acreditar que esse nome brilhará ainda único, naquele meu liceu. Que algazarra seria se lhe penduras-sem nomes, respeitáveis, mas indistintos, corredor a corredor, sala a sala, pátio a pátio, arrecadação a arrecadação. Enfim, a favelagem e o nanismo do espírito. Naquele tempo, tinha eu dez anos, saía da camioneta no alto do Bonfim. Daí derivava a rua que me levava, cor-tando à direita, ao ALEXANDRE HERCULANO. Bem sabia eu que, se não virasse à direita, se seguia o verdadeiro mundo (!), o Liceu Rainha Santa Isabel, feminino, há muito extinta a Secção do Liceu Carolina Michaëlis. Entretanto, o pouco tempo das calças-compridas-para-sempre mantinha-me esbugalhado o olhar, o ar circunspecto e, bem vistas as coisas, bom menino. Foi bom que Alexandre Herculano, Carolina Michaëlis, a Rainha Santa Isabel, que haveriam de chegar ao meu espírito, se tenham anunciado assim, com esta suavidade. João Lima

1 *Na edição nº 6 do Regresso às Palavras, de Abril de 2009, há um texto meu com este título, então único, em torno da Biblioteca da Escola, cuja leitura, seja pela primeira vez, seja pela segunda, fervorosamente desacon-selho. Trata ele sobretudo do silêncio e também, leio eu, da confusão, a haver para muitos, entre a juvenilização das sociedades humanas e a graçola, o estardalhaço e o ruído invariáveis. A curto prazo, indo por aí, converter-se-á uma biblioteca de escola na extensão do Jardim Infantil.Se alguém persistir em não seguir aquele meu inocente desejo, peço que mo diga. Facultarei fotocópia graciosa do texto na versão original.

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Projecto – Em contexto real – Blogue do 11ºB

http://mat10bvilela.blogspot.com/

É fácil dizer que a matemática está em todo o lado, é um lugar-comum dizer que existe matemática em tudo o que se pensa, se faz ou se pensa que se faz. É fácil arranjar um exemplo do dia-a-dia e dizer está lá a matemática, mas continua-se a ouvir para que preciso de saber matemática? Como ela pode contribuir para a “minha felicidade” ? …Isso felicidade, não foi mencionado futuro, mas lá chegaremos.Comecemos pelo amor de Romeu e Julieta, um verdadeiro clássico, sabiam que o mesmo se baseia em equações matemáticas? Pois é, podem ver isso no trabalho do Professor S. Strogatz intitulado “Questões de amores e equações diferenciais”, escrito em 1998. Mas porquê falar em Romance? Talvez por ser um tema proporcional à felicidade, ou en-tão por ser o tema que mais livros vende no mundo. Mentira, o tema que mais livros vende no mundo é a matemática, todas as crianças do mundo estudam matemática e sem comprarem os respectivos livros, pois são os seus pais que os compram! Estavam à espera do quê? Vamos voltar ao inicio, como pode a Matemática contribuir para a vossa felicidade? É verdade, estão no auge da vossa adolescência, e nenhuma conversa com o sexo oposto abordando a Matemática irá contribuir para a vossa felicidade, ou não! Será? Diálogo entre um casal de jovens apaixonados: Ele – “ Tu és a minha razão de ouro, juntos caminharemos para o infinito e arranjaremos sempre solução para os nossos problemas” Ela – “ Oh, mas sabias que a probabilidade de ficarmos juntos é igual às diferenças que existem entre nós, que são muitas”. Ele – “ Mas sempre me disseram que os extremos se atraem, e embora com os nossos altos e baixos, eu tenho como função amar-te”. Ela – “A minha dúvida é que a tua função tem dias, nem sempre corresponde à imagem que queres dar”. Ele – “ De uma coisa tenho a certeza tu és o meu domínio”.Da mesma forma que este suposto diálogo pode exemplificar que a matemática existe no que se pode pensar e fazer, existe a dificuldade em a ligar ao mundo real. Esta prende-se precisamente com o conceito de poder “tocar” ou “ver” os objectos matemáticos e a consequente finalidade dos mesmos. Ligar a matemática ao mundo real é o “nosso” de-safio deste ano lectivo e o propósito da continuação deste blogue. Vão descobrir e mostrar como a matemática poderá contribuir para serem bem sucedidos no futuro.

As melhores histórias são aquelas que mexem com as cabeças, os corações e as almas das pessoas e, ao fazer isso, trazem novas perspectivas para elas, para os seus problemas e para a sua condição humana. O desafio é desenvolver uma ciência humana que consiga alcançar isso de uma forma mais abrangente. A questão não é: “Contar histórias é uma ciência?”, mas “ Pode a ciência aprender a contar boas histórias?”.

Ian Mitroff & Ralph Kilman ( 1978)

Estão abertas as discussões, confusões e sei lá o que mais,…., os temas são muitos e diversos: Matemática e a En-genharia; Matemática e a Medicina; Matemática e a Política; Matemática e a Publicidade; Matemática e Humor; ….., entretanto a Joana Santos já iniciou a sequência das intervenções com uma experiência na sala de aula, aguardamos as restantes com expectativa e convidamos a comunidade escolar a colaborar neste foco de discussão ao longo de todo o ano lectivo.Desejo um somatório de alegres descobertas sobre a conexão tão questionada, o que a matemática tem haver com……….?

A Professora de Matemática: Esmeraldina Santos

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As Baleias

Em Portugal, as baleias existem nos Arqui-pélagos dos Açores e da Madeira.

No início do século XX, havia cerca de meio milhão de baleias azuis, mas caçaram-se imen-sas destas espécies para a extracção de óleo, carne, ossos e até os seus dentes serviam para o fabrico de adornos. Agora, só restam apenas umas escassas centenas de baleias. Por este fac-to, hoje em dia, a sua captura está proibida.

Existem várias espécies de baleias: baleia cachalote, baleia-de-bossa, baleia sardinheira, baleia franca, baleia-branca, baleia azul, baleia cinzenta, orca….

As baleias podem manter a respiração durante mais de meia hora. Enquanto mergulham, respiram por um orifício na parte superior da cabeça, o ar sai à pressão, com grande força, formando um repuxo de vapor de água até 15 metros de altura. A sua cauda é gigantesca, tem cerca de 7 metros.

Estas espécies comunicam através de sons que se ouvem a muitos quilómetros de distância e, embora seja um animal marinho, não é peixe, mas sim mamífero, pois as crias bebés alimentam-se de leite materno.

Como curiosidade, na Madeira existe “O Museu da Baleia” que se encontra localizado na vila do Caniçal e constitui um testemunho de toda a história da caça à baleia e das actividades a ela associadas. “O Museu da Baleia” tem vindo a desenvolver, nos últimos anos, estudos dos cetáceos no arquipélago da Madeira, com vista à divulgação e ao estudo desta espécie que tem de ser preservada e respeitada por todos nós.

Daniela Pinheiro, Filipa Machado, , Flávia Teixeira, Diana Ferreira e

Mariana Marques.

Ecologia

O Mar

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Segundo estudos, o nível do mar tem vindo a aumentar. Tudo por causa do aumento da temperatura na Terra e dos elevados índices de dióxido de carbono que fazem com que o efeito de estufa aumente a tempera-tura da mesma. Vários cientistas têm atribuído apenas uma parte do au-mento do nível do mar ao aumento de emissões de dióxido de carbono (CO2), libertado pela acção humana, definindo a maior parte do au-mento a factores naturais, como a actividade solar. No entanto, um novo estudo, atribui 3/4 do aumento à acção humana. O estudo foi publicado na revista Geophysical Research Letters.Desde 1900, o nível global do mar teve um aumento à volta de 17 cm. O aumento da temperatura, o derretimento dos icebergs e das camadas de gelo, bem como o aquecimento dos oceanos que, directamente, se expande com o aumento da temperatura, são os principais factores do

Fontes:http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article231http://oaquecimentoglobal.blogspot.com/2007/02/aumento-do -nvel-das-guas-do-mar.html

Aumento do nível do mar

aumento do nível do mar. Quando a temperatura aumenta (acima dos 0 graus Célsius), o gelo vai derreter. Se a temperatura da Terra aumentar nas regiões po-lares, grandes quantidades de gelo irão derreter fazendo com que toda essa água vá directa para os oceanos. Toneladas e mais tonela-das de gelo vão ficar derretidas, se a Terra aquecer o suficiente para que isso aconteça, o que irá causar um aumento drástico do nível do mar. Cidades costeiras irão ficar submersas, destruindo assim muitos imóveis e estruturas. Se todas as pessoas que moram nessas regiões que ficarão sub-mersas, decidirem mudar-se para o interior do continente, isso vai fazer com que haja uma grande falta de espaço e não se vai poder alojar todas as pessoas que, assim, se verão prejudicadas por causa do aumento do nível do mar.

Cláudia Leal; César Sousa; Gonçalo Santos, Turma 7º B

Iceberg a derreter na Antárctida

Desde sempre que o Homem teve curiosidade em descobrir o fundo do mar. Em 1679, o padre Italiano Giovanni Alfonso Borelli foi o primeiro a satisfa-zer essa curiosidade, pois conseguiu mergulhar com segurança e conforto,

Mas o Homem não se ficou por aí e tentou, cada vez mais, atingir maiores profundi-dades. Até hoje, a maior profundidade alcançada foi os 10.912 metros, no submarino Trieste, co-pilotado por Don Walsh e Jacques Piccard, na Fossa das Marianas. Desde então foram sendo descobertas muitas espécies marinhas e também se descobriram os destroços do Titanic, em 1960. As novas tecnologias permitem cartografar a superfí-cie do mar, ajudando na exploração oceanográfica. Os segredos das profundezas têm sido revelados nos últimos anos, mas ainda há muito por descobrir.

Pedro Ribeiro, Guilherme Pereira, Francisco Dias e João Rocha , Turma 7º BFontes Utilizadas: O Grande Livro dos Oceanos, 325; Revista National Geographic, n.º 116, Novembro 2010.

A Exploração Oceânica: Ontem e Hoje

Este sino de mergulho, construído na Inglaterra em fins do Século XVII, recebia to-néis de abastecimento o ar puro destinado a respiração dos mergulhadores, equipa-dos de forma primitiva. Estes engenhos permitiam efectuar operações de recupera-ção a pouca profundidade.

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Índico

O Oceano Índico é o oceano mais quente do planeta e situa-se entre a África, a Ásia e a Oceânia. Tem uma superfície de 73 milhões de km, contém águas límpidas, nas quais existem 5000 ilhas. O seu clima é tropical. A sua profundi-dade máxima é de 7.455 metros.

Existem diversos animais no oceano Indico, desde animais venenosos a peixes inofensivos, mas também existem o peixe mais temido pelos humanos: o Tubarão Branco. Os peixes mais conhecidos são os seguintes: peixe-palhaço, peixe-bola, tubarão branco e tubarão baleia.

Beatriz, Inês Costa, Rui Carneiro, Turma 7º D

Bibliografia:Enciclopédia Geográfica 2, Os oceanos

Pacífico

O Oceano Pacifico é o maior e o mais profundo oceano do mundo. Cobre a maior parte da terra, entre a Ásia, Austrália, América e a An-tárctida. Grande parte do Pacífico tem um clima quente e húmido. O Oceano Pacífico tem uma profun-didade média de 4.282M e a sua extensão corresponde a mais de um terço de toda a superfície ter-restre e metade da superfície dos oceanos.Neste oceano vivem diferentes espécies de animais.Nas ILHAS GALÁPAGOS encon-tram-se duas diferentes espécies curiosas, tais como, a Tartaruga Gigante e o Dragão de Komodo.A Tartaruga Gigante foi descober-ta pelo naturalista Charles Darwin no séc. XIX.

Os Dragões de Komodo foram descobertos por cientistas ociden-tais no princípio do séc. XX.

Hugo Pinho, João Marcelo, Miguel Pinto, Vítor Marques, Turma 7º D

Bibliografia:Enciclopédia Geográfica, Edito-rial Verbo, Lisboa; http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.klickeducacao.com.br/KlickPortal/Enciclopedia/images/Ta/5466/1956.jpg&imgrefurl=http://www.klickeducacao.com.br

Atlântico

O Oceano Atlântico tem em mé-dia uma profundidade de 3.926m e uma área de 106,598 x 106 km2, o que corresponde a 20,8% da superfície terrestre e 29,4% da superfície dos oceanos. As suas águas são temperadas. Neste artigo iremos falar sobre dois animais do Oceano Atlântico, um deles é um parente do tubarão e o outro é uma esponja do mar.Aqui vemos um parente do tu-barão.

Hexanchus griseus é o seu nome e vive em todos os oceanos com águas temperadas e quentes do Planeta Terra. É um animal que não nada em grupo. Podemos dizer que é um animal solitário, que costuma caçar de dia, ficando no fundo do mar durante a noite. É uma espécie muito devoradora, que ataca as presas quando estão vivas. As fêmeas são maiores que os machos e esta espécie pode chegar a medir cinco metros de comprimento.A Hymeniaciacidon sanguínea, a esponja sangrenta, é uma espécie corneocilícia muito encontrada no litoral, médio e profundo do oceano Atlântico Oriental e que também se encontra no mar

Mediterrâneo. “É um animal que

Peixe-Palhaço

Tubarão branco

se reproduz de forma sexuada.”

Ana Machado, Ana Pinto, Ana Pereira e Sandra Pereira, Turma 7º D

Bibliografia:Os Segredos da Natureza – Animais Aquáticos I, Josefa Afonseca, editora Ediclube, pág. 91.

Animais no Oceano ...

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Doenças sexualmente transmissíveis

Actualmente, as doenças sexualmente transmissíveis - doenças venéreas - afectam a maior parte da população e, sobretudo, os adolescentes.Estas doenças são a Sífilis, o herpes genital, a Hepatite B, a SIDA, a Candidíase e a Gonorreia. Estas doenças são transmissíveis por contacto sexual íntimo, quando um dos parceiros se encontra infectado.A sífilis é provocada pela bactéria Treponema pallidum é contagiosa, perigosa, mas é curável. O Herpes genital é causado pelo vírus Herpes simplex.A Hepatite B é causada por um vírus que ataca o fígado e pode levar à morte.

A SIDA é uma doença provocada pelo vírus VIH e é mortal. Pode-se transmitir de várias maneiras.A Candidíase é uma doença causada pelo fungo Candida Albicans.A Gonorreia é causada pela Bactéria gonococos e pode afectar o colo do útero da mulher e a uretra do homem. Para não apanharmos estas doenças sexualmente transmissíveis, devemos ter cuidado e prevenirmo-nos, em todos os casos, já que muitas doenças levam à morte e, mesmo perante as que são curáveis, devemos ter imenso cuidado.

Ângelo Silva, Fábia Bessa, Jorge Silva e Patrícia Cunha, Turma 7ºC

Sexualidade na Adolescência

No Âmbito da disciplina de Área de Projecto, a turma C, do 7º ano, desenvolveu o tema da “educação para a saúde e sexualidade”. O nosso grupo escolheu o subte-ma “sexualidade na adolescência”, por ser uma questão que nos tem preocupado bastante. Somos quatro jovens com doze anos que se tem questionado sobre várias perguntas: o que é a sexualidade? Como é que acon-tecem tantos abusos sexuais? Quais as suas consequên-cias? Quais são as doenças sexualmente transmissíveis? Apesar de termos encontrado várias definições para o termo “sexualidade”, temos muitas dificul-dades em compreende-las e encontrar a nossa própria definição, uma vez que ela depende da forma como cada um vê o assunto. Será qualquer coisa so-bre atracção física, relacionamento amoroso que, no caso dos seres humanos, não diz respeito apenas ao corpo ou à componente física. É importante a entrega afectiva, intelectual e cultural na relação sexual.Enquanto parte fundamental da vida de qualquer ser humano, a nossa expectativa em relação à sexualidade é positiva: nenhuma de nós está à espera de um príncipe encantado, alto loiro de olhos claros, no seu cavalo branco, mas sim de vir a relacionar-se com alguém que seja verdadeiro, empolgante e companheiro, desde que seja apresentável…Preocupam-nos, por outro lado, as noticias que relatam histórias de abuso e exploração sexual, nomeadamente aquelas que dizem respeito às pessoas da nossa idade: usar da força ou privar as pessoas da sua liberdade para as obrigar a manter relações sexuais indesejáveis, é um crime que merece ser penalizado severamente.Muito mais poderíamos dizer sobre este tema, apesar de sermos apenas quat-ro jovens de doze anos. Trabalhá-lo ajudou-nos a aprofundar o conhecimento sobre a sexu-alidade e a estarmos mais prevenidas em relação a situações de abusos ou exploração sexual.Por isso deixámos aqui um conselho: num tempo de grande ansiedade e expectativa que é a vivên-cia da sexualidade na adolescência, não se deixem iludir, sejam responsáveis na sexualidade!

Luana, Marta, Rafaela, Sofia, Turma 7º C

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A perfeição do Mundo Ideal

Naquele tempo, mais precisamente há 400 a.C., o conceito de sólidos platónicos era totalmente desconhecido, até que Platão (era denominado de Platão, pelo seu vigor físico, embora o seu nome verdadeiro fosse Aristo-cles), filósofo e matemático grego, reconheceu a importância de realizar abstracções aproximando-se assim do mundo perfeito das ideias. Foi nesse âmbito que lhe foi atribuída a criação de cinco poliedros perfeitos (tetraedro, hexaedro, octaedro, dodecaedro e icosaedro), igualmente conhecidos como poliedros de Platão, ou sólidos platónicos. Estes sólidos foram idealizados a fim de expressarem, nas suas formas regulares, a per-feição do mundo ideal. Estes sólidos foram adquirindo ao longo dos tempos diversos significados místicos, atribuindo-se-lhes o significado dos 4 elementos (Terra, Ar, Fogo e Água). O Cubo, que é formado por 6 faces quadrangulares, figura a Terra, porque Platão acreditava e afirmava que os átomos de terra seriam cubos, os quais permitiam ser colocados perfeitamente lado a lado, o que lhes con-fere solidez. O Tetraedro é composto por 4 faces, triângulos equiláteros, em cada vértice concorrendo 3 faces, e representa o Fogo, porque segundo Platão o átomo de fogo teria a forma de um poliedro com 4 lados. O Dodecaedro é o único poliedro regular cujas faces são pentágonos regulares, em cada vértice concorrendo 3 faces, e caracteriza o Universo porque para Platão o cosmos seria constituído por átomos com a forma de do-decaedros. O Icosaedro qualifica a água, porque Platão defendia que a água seria constituída por icosaedros e também ele é formado por triângulos equiláteros que se encontram em cada vértice, perfazendo vinte faces.

O Octaedro é arquitectado por 8 faces, triângulos equiláteros, e simboliza o ar, porque o modelo de Platão para um átomo de ar era um poliedro com 8 faces. Os sólidos platónicos manifestam-se nos mais diversos aspectos da nossa vida, na natureza (cristais, organ-ismos vivos, moléculas, etc), na tecnologia, na cultura humana (pinturas, esculturas, religião, arquitectura, design, etc) e na astrologia (elementos dos signos). Os sólidos platónicos tal como a filosofia estão constantemente presentes na nossa vida e, apesar da nossa indiferença, eles assumem um papel indispensável nas nossas vidas.

Carla Sousa, Inês Pacheco, Inês Ribeiro e Patrícia Leal, Turma 10ºC

Pac-man

Pac-man é considerado um clássico da história dos jogos de computador. Elaborado para o Console Atari 2600 no início dos anos 80, tornou-se um dos jogos mais populares do mundo. O jogo é sim-ples: Pac-Man comia pontinhos fugindo de fantas-mas num labirinto. O objetivo era comer todas os pontinhos sem se deixar apanhar pelos fantasmas, aumentando progressivamente a dificuldade.O designer de jogos da Namco, Tohru Iwatani, ide-alizou o Pac-Man num jantar de amigos. inspiran-do-se numa pizza que veio sem uma fatia. Antes de ser o Pac-Man, chamava Puck-Man,

porém decidiram mudar seu nome para evitar que “Puck” se tornasse algo pejorativo na língua inglesa.Turma 10ºH

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Ecos das Efemérides

OUTUBRO: MÊS INTERNACIONAL DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES Diversidade; Desafio; Resistência - As Bibliotecas têm tudo

Subordinado ao tema “Diversity, Challenge, Resilience, School Libraries Have It All” , o mês internacional das biblio-tecas escolares foi comemorado, este ano, na nossa biblioteca em vários momentos e com diferentes intervenientes.

Ao longo do mês, foram distribuídos marcadores de livros aos requisitantes de leitura domiciliária; foi dinamizada uma sessão de formação para os alunos de 7º ano, Bibliotices, na qual os alunos aprenderam a procurar informação, em diferentes suportes e a utilizar de uma forma optimizada os recursos da Biblioteca; a teoria foi consolidada pela prática nas três aulas seguintes em que a equipa da BE reforçou o trabalho de pesquisa, selecção de informação e pro-dução de trabalhos destes alunos.

No dia 25 de Outubro (Dia Nacional das Bibliotecas Escolares) a turma de Animação Sóciocultural de 10º ano soltou os livros e a poesia, musicou as palavras, corporizou as ideias, sensibilizou uma biblioteca repleta de alunos (CEF, 10º e 12º anos).

No dia 29, fechamos as comemorações deste mês tão caro à biblioteca com cerimónia de homenagem à profes-sora Alberta Rangel e a entrega dos prémios aos alunos participantes no Concurso de logótipo da Rede de Bibliotecas de Paredes. A palavra que melhor define esta cerimónia é Reconhecimento: reconheceu a escola o valor e o mérito da professora Alberta Rangel por todo o seu percurso profissional ao serviço do ensino; reconheceu a biblioteca as várias ofertas feitas que tanto têm enriquecido o seu espólio e o esforço que todos têm realizado para a desenvolver; reconheceu a Rede de Bibliotecas de Paredes, em formação, o esforço e a criatividade dos alunos na produção do seu logótipo, da sua face.

Reconhecemos, agora, neste balanço final, a diversidade, o desafio, a resistência das Bibliotecas escolares, no ac-tual contexto educativo, e TUDO o que têm feito em nome do interesse do leitor.

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O Mês do (Autor)

A actividade O Mês do Autor visa homenagear e dar a conhecer grandes vultos da Literatura Portu-guesa e Universal. No primeiro Período, no mês de Outubro, homenageamos Alice Vieira, escritora que tem motivado muitos jovens para a leitura com as suas histórias muito actuais e divertidas. Por essa razão, foram vários os alunos do 7º ano que elaboraram trabalhos sobre a sua vida e obra, expostos na Biblioteca da nossa escola. Novembro foi dedicado ao notável Fernando pessoa, poeta com uma obra extraordinária e inigualável, lido e apreciado no mundo inteiro. Dirigida aos alunos de 12º ano, esta actividade serviu de provocação à emergência inusitada de novas personalidades poéticas pessoanas, num duplo acto de fingimento, a partir de um exercício de escrita lúdica e criativa. Para além desta actividade, foi realizada uma campanha de publici-tação da Biblioteca Digital de Fernando Pessoa; foram divulgados pensamentos e apresentada a exposição “Mundos de Pessoa(s)”. No mês de Dezembro, mês do Natal, mês da magia por excelência, relembrámos Hans Christian Andersen, contista maravilhoso que tem possibilitado inúmeros momentos maravilhosos de diversas gerações que, com os seus contos, têm sonhado e aprendido. Também os nossos alunos puderam sonhar e aprender com a leitura espontânea de alguns contos de Natal na biblioteca.

BLOGUE: [email protected]

[email protected]: a biblioteca online de VilelaCriado no início do primeiro período pela equipa da BE, o blogue [email protected] visa colocar à disposição dos

leitores da Biblioteca Alberta Rangel um conjunto de recursos electrónicos criteriosamente seleccionados por vários professores da escola que têm colaborado na sua construção.

Em apoio ao currículo, à leitura, ao entretenimento, esta biblioteca online propõe-se cumprir os mesmos objecti-vos que a Biblioteca física da escola. Apesar do escasso espólio, esta biblioteca tem a vantagem do seu acesso, que não está condicionado por outras barreiras físicas (horários, espaço) a não ser a ligação à internet.

CONTADORES EM ACÇÃO: CONTOS DE NATAL PARA OS ALUNOS DE 7º ANO

Contos de Natal: um momento de partilha de emoções…Num momento propício para se embalarem os sonhos, os alunos

de 7º ano da nossa escola foram agraciados pela leitura entusiasta e ex-pressiva, em português e espanhol, de contos de Natal, realizada pelos alunos do 11º C e pela professora Cristina Veiga, no dia 12 de Dezembro na Biblioteca da escola.

Ainda que breve, o evento suscitou nos presentes alguns momentos de enternecimento, outros de entusiasmo, e certamente deleite. Com-preenderam todos que a mensagem de Natal é mais do que receber; é dar e partilhar.

Page 20: Regresso às Palavras - esvilela.pt · Uma nebulosa bruma, de tempo cíclico e sem dono, mãe e origem de todas as coisas. É curioso como a infinitude desse tempo, envolto em névoa,

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Agora na Biblioteca ...

Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach

«Havia, no Bando, uma gaivota especial, muito diferente das outras. Buscava a perfeição, queria voar sempre mais alto e mais rápido... Mas, para o Bando, isso era uma irresponsabilidade intolerável. A história maravilhosa da única gaivota que sabia que todas as aves são livres, mesmo que não tenham consciência disso...».

In Wook, disponível em http://www.wook.pt/ficha/fernao-capelo-gaivota/a/id/64793

Contos da Sétima Esfera, de Mário de Carvalho

«No final do Batuque, o jovem cuanhama, muito bebido de cerveja de palma, vergou o arco e disparou uma flecha para as alturas. Era o com-portamento reprovável, pois os anciãos sempre desaconselharam agredir os céus, desculpável, no entanto, pela alacridade ambiente e eflúvios do licor fermentado. Então foi pela primeira vez perfurado o ponto, até aí intocado de voo de pássaro ou mão de homem, em que nascem as trans-mutações. E, de súbito, todos os homens, de todas as partidas do mundo, ficaram sem as suas sombras. ....».

In Wook, disponível em http://www.wook.pt/ficha/contos-da-setima-esfera/a/id/9628414

Como ÁGUA para CHOCOLATE, de Laura Esquivel

«Neste romance surpreendente e admirável, que revelou ao leitor português uma grande escritora mexicana, toda a trama narrativa roda em torno da cozinha e de um certo número de elementos culinários. Cada capítulo abre com uma receita fora do comum (mas ao mesmo tempo perfeitamente realizável), a pretexto e em volta da qual não apenas se juntam os comensais, mas também se “cozem” e “tem-peram” amores e desamores, risos e prantos, e se celebra o triunfo da alegria e da vida sobre a tristeza e a morte. Enorme sucesso editorial, Como Água para Chocolate foi já traduzido em in-úmeros países e adaptado ao cinema.»

In Wook, disponível em http://www.wook.pt/ficha/como-agua-para--chocolate/a/id/40129