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A A A M M M ã ã ã e e e C C C ó ó ó s s s m m m i i i c c c a a a Um Aspecto de Deus Paramhansa Yogananda SELF-REALIZATION FELLOWSHIP PUBLISHING HOUSE Mount Washington Estates Los Angeles 65, California

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Um Aspecto de Deus

Paramhansa Yogananda

SELF-REALIZATION FELLOWSHIP

PUBLISHING HOUSE

Mount Washington Estates

Los Angeles 65, California

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Copyright, 1945, by Self-Realization Fellowship First Edition, 1945

Paramhansa Yogananda

A abelha de minha mente adora beber

do lótus azul de Teus pés Ó Mãe Divina, a abelha de minha mente se absorveu em Teus pés de lótus de luz azul. Ela bebe o mel de Teu amor maternal. Essa Tua a-belha real não beberá outro mel que não seja o que é agraciado por Teu perfume.

Ó Mãe Divina, voando acima de todos os jardins de minha fantasia, negando a mim mesmo o mel de todos os prazeres, afinal encontrei a secreta ambrosia de Teu coração de lótus.

Eu era Tua abelha atarefada, que voava pelos campos das encarna-ções, aspirando o alento das experiências; já não vagarei, pois Tua fragrância apagou a sede de perfume de minha alma.

(“Sussurros da Eternidade”, ed. 1949)

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AAA MMMãããeee CCCóóósssmmmiiicccaaa Um Aspecto de Deus

Paramhansa Yogananda

Devemos considerar Deus apenas como o Espírito vasto, impessoal, sem forma nem gênero? Ou podemos apelar ao Criador em alguma forma que seja mais familiar à mente humana? Se for assim, deveríamos dizer “Pai” ou “Mãe”?

Deus é ambos: Pai e Mãe. Parte de Seu Ser está oculta no espaço, para além do uni-verso, onde nada existe senão pura sabedoria. Esse é o aspecto de Deus como Pai. E a Na-tureza inteira é o aspecto de Mãe, porque, aqui, encontramos beleza, doçura, ternura e ge-nerosidade. As flores, os pássaros, a beleza das árvores e dos rios, tudo nos fala do aspecto maternal, do instinto criativo e artístico de Deus. Sorrimos quando pensamos na Mãe, com Seus diamantes das estrelas e da Via Láctea, Seu perfume nas flores, Sua risada nas águas correntes, e todas as outras belezas que vemos na criação. Quando olhamos para a terra abundante de frutos, para todas as coisas que crescem, para o amor de todas as criaturas por seus filhotes, sentimos uma ternura subir em nosso íntimo; pode-mos ver e sentir o instinto maternal de Deus. E se, em algumas ocasiões, a conduta da Natureza parece cruel e inexplicável (na Índia, quando está assim enfureci-da, a Mãe é conhecida como Kali), ora, é assim tam-bém que as medidas disciplinares e protetoras da mãe se parecem à criança.

Quando nos sentamos em um bosque sombrea-do e silencioso; quando, no topo de uma montanha, colocamo-nos diante do céu azul; quando caminha-mos sobre a areia branca junto ao mar cintilante, não podemos deixar de sentir uma certa ternura dentro de nós. Tal é a nossa reação diante do aspecto maternal de Deus. Se, porém, fechamos os olhos e visualizamos o imenso espaço, ficamos dominados pelo sentimento de infinitude, e experimentamos a vibração da pura sabedoria, nada mais que sabedoria. Esse é o aspecto paternal de Deus: a esfera ilimitada onde há a criação, não há estrelas nem planetas, mas apenas o poder sem forma da sabedoria. Esse é o Pai. Portanto, Deus é tanto Pai quanto Mãe.

Quando se afirma que Deus existe em três aspectos – Pai, Filho e Espírito Santo –, vemos no Espírito Santo o aspecto maternal; toda a criação é o Filho; e o Próprio Deus é o Pai. Assim como a mãe se reflete no filho, assim também a Natureza se reflete na criação. Deus, em Seus aspectos de Pai e Mãe, gerou o Filho, símbolo ou expressão do Seu amor. Como partes da criação, também integramos esse símbolo de amor.

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A Trindade na família

Na família humana, vemos a miniatura dessa família maior. Deus está representado no pai, na mãe e na declaração de amor deles pelo filho. Por que é que encontramos essa trindade na família? Por que será? Porque somos todos partes de Deus, e isso é o que Deus é. O Criador, que é ao mesmo tempo infinita sabedoria e sentimento infinito, desejou veí-culos pelos quais pudesse expressar a Sua sabedoria e o Seu sentimento. E assim, ao mani-festar-Se na criação, a sabedoria Dele assumiu a forma do pai, e o sentimento, a forma da mãe.

Cada um de nós é apenas uma expressão parcial do Infinito, porque o pai sempre se move pela razão, e a mãe, pelo sentimento. Ambos são imperfeitos. O pai quer governar a criança pela razão e pela força, e a mãe, pelo sentimento e pela ternura. Ao castigar a cri-ança que se encontra submersa na maldade até a cintura, na tentativa de arrancá-la desse estado infeliz, o pai severo só conseguirá afundá-la ainda mais no mal. A mãe, porém, diz: “Ensine-o pelo amor”. Todavia, se damos apenas doçura, esse excesso pode estragar a cri-ança. Ambos os aspectos de Deus, o paterno e o materno, são necessários para que se man-tenha o equilíbrio.

Falei do amor paterno que, às vezes, é muito rude. Mas nem todo amor materno é perfeito, também. Fritz Kreisler me disse, uma vez: “Minha mãe me amava tanto a ponto de nunca querer que eu deixasse a Europa; mas eu não seria Kreisler hoje se não tivesse desafiado o amor de minha mãe”. Tal amor é egoísta e escravizante.

DEUS COMO DUALIDADE

Os aspectos de Deus como Pai e como Mãe estão aqui re-presentados, juntos em uma única forma. A austera figu-ra masculina, portando os símbolos do poder, funde-se com a figura feminina, delicadamente adornada e dotada dos símbolos da criação.

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Deus manifestado no pai humano

Jesus falou de Deus como Pai. Há alguns santos que falam de Deus como Mãe. Afinal de contas, se consideramos Deus como transcendental, Ele não é Pai nem Mãe, mas assim que pensamos Nele em termos humanos, torna-Se o Pai, a Mãe, o Amigo, o Filho ou o Amado. Assim, a paternidade e a maternidade de Deus estão precisamente em nossa pró-pria família. Quando penso em meus genitores, nunca é como pai ou mãe, mas como as manifestações sagradas de Deus.

Embora eu dissesse que todo homem encarna o aspecto de sabedoria de Deus, às ve-zes podemos achar difícil ver dessa maneira. Talvez você diga: “Bem, é possível que o Pai Celestial esteja nesse homem, mas ele é tão mau que não consigo encontrar qualquer di-vindade nele”. Se você cobrir uma pepita de ouro com lama, dirá que o ouro desapareceu? Não. Você é sábio o suficiente para dizer que o ouro ainda está debaixo do lodo.

A razão e o sentimento em suas formas mais elevadas têm, tanto um quanto o outro, qualidades intuitivas. Assim, a razão pura, exemplificada no homem, pode enxergar tão claramente quanto o sentimento puro, corporificado na mulher. É bem sabido que as mu-lheres têm intuições aguçadas; somente quando ficam excitadas é que perdem esse poder. Todavia, a razão, em sua forma mais elevada, também é intuitiva. Se a premissa for falsa, a conclusão será erra-da. Mas a intuição não pode se equivocar.

O homem divino alcança o estado de equilíbrio de-senvolvendo em si próprio as qualidades paternas e ma-ternas. Concentrando-se no coração, ele pode desenvol-ver as boas qualidades do aspecto maternal de Deus. E concentrando-se no olho espiritual, o centro do saber acima do ponto médio entre as sobrancelhas, ele desen-volverá as qualidades da sabedoria de Deus. Quando me concentro no coração, sinto toda a ternura da Mãe, e essa alegria divina está precisamente no interior de meu coração. E quando me concentro no centro do saber, sin-to toda a sabedoria de Deus-Pai fulgurando ali.

Assim, o homem perfeitamente equilibrado pode sentir por todos o mesmo amor que a mãe sente por seus filhos. Isso é o que o Jesus Cristo sentia. Por isso ele disse: “Pai, per-doa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. Pois ele havia desenvolvido os aspectos paternal e maternal de Deus. Para ele, não eram inimigos, aqueles com lanças que o pre-gavam à cruz, mas eram seus filhos. Quem, senão a mãe, poderia sentir o que Jesus sentiu? Eles eram seus filhos que não o compreendiam. Quando a mãe vê seu filho torturá-la, seu único medo é do que pode acontecer a ele. É o que o Jesus sentiu e, por isso, disse: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. Freqüentemente penso que se ele tives-se dito: “Mãe, perdoa-lhes”, teria sido uma expressão ainda mais terna do seu amor.

Assim, todo pai humano e todo homem em geral – já que todos são pais em potencial – deveriam lembrar-se de que seu corpo e sua mente são um templo do Pai Celestial, que não deve ser profanado por quaisquer paixões más, pois as leis da criação sexual são des-tinadas apenas para a propagação das espécies. O templo do corpo não deve ser usado para abrigar paixões e desejos ruins, devendo seu poder criador ser dirigido para o pen-

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samento celestial de produzir veículos para as almas. E depois, o que é ainda mais impor-tante, todo pai deve lembrar-se de que o Ser Divino habita nele, como num templo. A mai-or criação do pai humano é produzir pensamentos divinos em seus filhos materiais e nutrir seus próprios pensamentos espirituais, cuidando deles como se fossem seus filhos divinos.

E que todo pai se lembre, quando tentado a falar à criança com aspereza: “Já que mi-nha voz é usada pelo Pai Cósmico, não posso falar de maneira errada com meus filhos,

pois minha mente é um vidro transparente através do qual a luz do Pai está brilhando sobre todos eles, que são filhos Dele”. Sua respon-sabilidade não se limita a seus filhos físicos. Todos eles lhe serão tira-dos algum dia. Deus lhe deu essa relação humana para que você possa dar orientação sábia e cuidado protetor a toda mulher e criança de-samparadas que encontrar, assim como toda mulher deveria irradiar o puro amor maternal para todo homem e criança que ela encontrar, e dar esse amor maternal sempre que for necessário para proteger e er-guer alguma pessoa, tirando-a do fosso em que ela caiu. Eu vejo esse

aspecto maternal em toda mulher. Não há nada igual a isto, essa compaixão pura e incon-dicional da mulher pelo homem.

Se o homem der esse respeito a toda mulher que ele encontrar, logo começará a ver na mulher algo que nunca vira antes. Mas aqueles que olham para a mulher como objeto de luxúria estimulam esse mesmo mal dentro de si. À mulher foi dado o instinto materno para salvar o homem das armadilhas do mal. Esse é o propósito de mulher. Ela não foi criada para a sensualidade.

Sei de um grande santo* que exemplificou isso. Alguns de seus discípulos quiseram testá-lo, e enviaram até ele algumas belas prostitutas para tentá-lo. Quando, porém, ele as viu, sua reação não foi de raiva nem de luxúria. De um salto, ele se levantou e exclamou: “Mãe Divina, nessas formas Tu vieste a mim. Curvo-me diante de vocês todas.” E as mu-lheres sensuais prostraram-se diante dele, envergonhadas. O grande amor do santo lavou toda a sensualidade que as cobria como uma crosta de lama, e elas foram transformadas.

O homem deveria olhar para a mulher como se ela fosse sua mãe. Ele perde tanto se só olha para ela como objeto de paixão. Um homem pode ser um juiz na suprema corte, mas em casa, para sua esposa, é apenas uma criança. Porque esse dilúvio de Amor Divino passa pela mãe, o instrumento humano, mesmo os maiores mestres prestaram homenagem a suas mães. Swami Shânkara,† quando sua mãe estava morrendo, voltou para o lado dela, apesar dos votos (pelos quais ele havia renunciado a todos os laços familiares para servir à família maior da humanidade), e depois cremou-lhe o corpo com uma chama mila-grosamente produzida.

* Sri Ramakrishna Paramhansa. † Sri Shankaracharya (Swami Shânkara), o maior filósofo da Índia, foi uma rara combinação de santo, erudi-to e homem de ação. Com lógica irretorquível e estilo gracioso e encantador, Senhor Shânkara interpretou a filosofia Vedanta com espírito rigorosamente advaita (não-dual, monista). O grande monista também compôs poemas de amor devocional. Sua “Oração à Mãe Divina para o perdão dos pecados” traz o refrão: “Apesar de os maus filhos serem muitos, nunca houve mãe que fosse má”.

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Deus manifestado na mãe humana

É igualmente verdade que toda mulher precisa sentir esse mesmo amor por todo o mundo, se gostaria de irradiar o amor da Mãe Divina. Inspirar os homens por tal manifes-tação é dar a maior bênção que a mulher possui.

Quando a mulher está cheia de ódio e raiva, verá no homem essas mesmas qualida-des. É por isso que toda mulher precisa resguardar-se de ser dominada por suas emoções, e manter-se livre de sentimentos negativos. Pois toda mulher que é ciumenta e cheia de ódio perderá a qualidade intuitiva que é o presente especial de Deus para ela. Minha mãe tinha grande intuição porque estava livre de ciúme, ódio e raiva.

Todas as mães estão destinadas a serem a manifestação incondicional do amor de Deus. Mas as mães humanas são imperfeitas. A Mãe Cósmica é perfeita. E quando vejo a cegueira de algumas mães humanas, então digo: “Não é esse o amor envolvente da Mãe Divina”. Quando a mãe puder aperfeiçoar seu amor para que não seja mais possessivo e limitado, então esse amor será transmudado no amor da Mãe Divina.

E, como eu disse antes, é o dever da mãe não apenas amar seus próprios filhos, mas dar esse amor maternal a todos. “Mas”, você dirá, “nós não podemos conhecer todas as pessoas do mundo para lhes dar esse amor.” Quando meditar, concentre-se no coração e diga: “Sinto Deus como Mãe Divina”. E quando estiver consciente desse grande amor, envie-o mentalmente para todas as criatu-ras da terra.

Em vez de ser objeto de tentação, você se tornará então um objeto de inspiração. Eu abençôo todas as mães e digo a elas: estendam a todos os seres esse amor que Deus colocou em seu coração. Precisam ser muito orgulhosas de que a Mãe Divina assumiu a forma de vocês para dar amor tangível ao mundo, não só para seus filhos, mas para todos os filhos Dela nesta terra. Vocês devem fazer o esforço para se lembrar da última parte do que vou declarar: que o Amor Divino que passa através de vocês é incondicional. Não é seu amor, mas o amor da Mãe Divina dentro de vocês. Esse orgulho não deve limitá-las nem torná-las possessivas. Então, serão realmente abençoadas e dirão: “Não estou só orgulhosa de ter um ou dois filhos, mas de ter muitos filhos em toda a terra”. Então vocês se tornarão unificadas com a Mãe Divina.

A mãe que olha para todos como se fossem seus não é mais uma mãe mortal. Ela se torna a Mãe Imortal. Isso é o que todas as santas são. Elas percebem, de repente: “Este a-mor que eu sentia pelos meus, sinto agora por todos. Sei que não sou este corpo, mas sou a Divina Mãe onipresente.” Pensem no que podem se tornar! De uma simples mulher, à Mãe Divina! E por que não? A Mãe Divina as fez à imagem Dela, e vocês precisam mani-festar essa imagem amando a todos.

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Meus pais humanos

Este amor incondicional do qual estou falando não é um amor cego. Não se trata de fechar os olhos para os erros de uma criança, porém amá-la apesar do mau comportamen-to. Todavia, não se deve nem ignorar suas ações erradas nem apoiá-las. Apesar de aceitar sinceramente o amor de meu pai e de minha mãe, sempre descobri que podia ver os defei-tos deles. Meu pai era excessivamente rígido e minha mãe, excessivamente tolerante. Essa foi a minha primeira constatação da verdade de que todo pai deveria temperar sua razão com um pouco amor, e toda mãe deveria equilibrar seu amor com a razão.

Mas, em meu Mestre, Swami Sri Yukteswar, vi a severidade do pai e a gentileza da mãe, sem a cegueira de um e de outro.

Todas essas relações humanas lhe são dadas, não para serem i-dolatradas, mas idealizadas. Se você aprender a pensar em sua mãe como sendo a manifestação do amor incondicional da Mãe Divina, então quando ela se for, ficará confortado e se lembrará de que ela era apenas a forma da Mãe Divina, que veio a você por um pouco de tempo. Se já perdeu sua mãe, precisa encontrar a Mãe Divina que está escondida por detrás dos céus. A Própria Mãe não Se perdeu. Aquela a quem você amou era apenas a representante da Mãe Cósmica, que veio cuidar de você por algum tempo, e agora está submersa nova-mente no ser da Mãe Divina.

Quão bem eu sei disso! Quanto sofri para aprender isso!

Pois minha mãe terrena era tudo para mim. Minhas alegrias nas-ciam e se punham no firmamento da presença dela. Lembro-me de quando senti intuitivamente que ela havia morrido, enquanto eu estava a caminho de casa para vê-la; na estação ferroviária, corri até meu tio e perguntei: “Mamãe está viva?” Meu tio disse: “Sim”. Ai de mim! Terminou que meu tio não me tinha contado a verdade, te-mendo que eu pudesse fazer algo drástico. Quando soube a verdade, busquei os olhos amorosos dela em toda parte, até que as estrelas se tornaram olhos negros olhando para mim, mas não eram aqueles os olhos que eu amava. Narrei essa busca em um de meus poemas,* e como não encontrava consolo até que:

Procurando, insistente, a mãe que morrera, Encontrei a Mãe Imortal. O amor que perdi da mãe terrena Em minha Mãe Cósmica encontrei, afinal. Buscando e sondando Em Seus incontáveis olhos negros, Encontrei os dois olhos negros que perdera.

Foi então – quando perguntei à Mãe Divina: “Por

que tiraste do anel de meu coração o diamante do amor de minha mãe?” – que Ela me falou de Seu amor que en-volve a todos. E parte do que Ela me disse foi:

* Do livro Sussurros da Eternidade, de Paramhansa Yogananda, edição de 1949.

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“Roubei aqueles dois olhos negros Que te aprisionavam, Para que pudesses estar livre E encontrar esses olhos Nos Meus, E nos expressivos olhos De todas as mães de olhos negros, E que pudesses ver, Em todos os olhos negros, Apenas a sombra Dos Meus olhos.”

Se apenas você pudesse experimentar a emoção que senti quando, de repente, perce-

bi que os dois olhos negros de minha Mãe me observavam de cada partícula do espaço, em toda parte. Que experiência foi essa! Toda a minha tristeza converteu-se em alegria. Se você orar profundamente, como eu o fiz, receberá a resposta de maneira audível. Você a-inda não ora com bastante profundidade. Mas quando orar com uma exigência contínua, sincera, decidido a não parar até que a resposta chegue, então você receberá a resposta da Mãe Divina. E verá Nela a sua mãe terrena. Agora, para mim, toda mulher é minha mãe. Mesmo quando há apenas um pálido reflexo de bondade, ainda assim vejo a Mãe.

Quando pensar em Deus como pai ou mãe, você verá por que Ele nunca abandona ninguém e por que Ele perdoará o maior dos pecadores. Sempre que achar que seu pecado é imenso, sempre que o mundo disser que você não presta, chame por Deus como Mãe. Diga: “Mãe Divina, ainda que eu seja um filho malcriado, sou Teu filho”. Quando apela para Seu aspecto materno, Deus não pode dizer nada. Você O derrete. Mas não me enten-da mal. Ele não o apoiará se você continuar agindo errado. Você precisa abandonar suas más ações enquanto reza à Mãe Divina.

Há muita sabedoria na prática da confissão. Não apenas purifica sua consciência, mas aclara a sua condição, mostra o que você precisa fazer ou evitar. Agora, quando você vai ao médico, tem que lhe descrever o que sente, ele prescreve a receita e, se seguir suas instruções, você ficará curado. Mas se continuar agindo errado repetidas vezes, nunca fica-rá curado. O mesmo se aplica à confissão espiritual. Conheço um rapaz que sempre disse: “Posso fazer qualquer coisa que me apraz, porque serei perdoado na semana seguinte, quando me confessar”. Essa é uma visão errada da confissão. Se você não abandonar o mal junto com a confissão, nunca será perdoado.

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Como conquistar o amor da Mãe Divina

Se decidir sinceramente corrigir seus erros e então recorrer a Deus como Mãe, Ele ce-derá rapidamente, porque você terá apelado para Sua ternura e amor incondicional. Tão logo você adora a Mãe, pode colocar-se diante Dela e dizer: “Mãe Divina, travesso ou bom, sou Teu filho. Posso ter sido malvado por muitas encarnações, mas terei de pagar todo esse carma de acordo com a lei? Não posso esperar tanto tempo para estar em Tua presen-ça! Mãe, por favor, perdoa-me! Por que não me podes perdoar? Afinal de contas, sou Teu filho. O que fiz, está feito. Por que deves exigir minha punição? Tudo é passado, e não vou fazer novamente.”

Então a Mãe Divina dirá: “És malcriado; fica longe de mim”.

Mas você responde: “És minha Mãe Divina. Tens de me perdoar.”

“Pede-Me salvação”, propõe a Mãe Divina, “Eu te darei a salvação. Pede-Me sabedoria e Eu te darei a sabedoria, mas não Me peças Meu amor, pois se o levas, Eu fico pobre, sem nada.”

Mas se o devoto clamar: “Não, só quero Teu amor!” então a Mãe Divina dirá: “Já que és Meu filho e Me disseste que sou tua Mãe, como posso deixar de te perdoar?” E Ela lhe dá Sua última pos-se: Seu Amor Divino.

Portanto, se você tem fraquezas, se fracassou na batalha contra a tentação, não se desespere. Afi-nal de contas, perante Deus todos nós somos “pe-cadores”. Mas o santo é um pecador que nunca de-sistiu. E você pode se tornar um santo se persistir até que receba esse amor incondicional de Deus.

A MÃE CÓSMICA

A Mãe do Universo, Jagadamba, aparece aqui representada segurando nas mãos di-versas dádivas. Esta é uma das muitas for-mas em que se cultua na Índia o aspecto fe-minino de Deus.

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O poder da devoção de um santo

Lembro-me de um santo a quem eu visitava na Índia.* Na primeira vez que fui vê-lo, tive de esperar calado, porque ele disse: “Estou conversando com a Mãe Divina”. Ele era tão grande e, ao mesmo tempo, tão meigo e semelhante a uma criança! O semblante dele todo resplandecia com o amor da Mãe Divina. Quando eu estava na presença dele, essas vibrações tomavam conta de mim. Sempre que eu o via conversar com a Mãe Divina, senti em meu coração um amor que era um bilhão de vezes maior do que o que eu sentira por minha mãe terrena, a quem amara com tanto carinho. A emoção era indescritível! Eu sen-tia que não poderia existir por mais um momento sem minha Mãe Divina.

Um dia, fui até esse santo e disse:

– Como é que pode comungar com a Mãe Divina, e eu não? Por favor, pergunte-Lhe se Ela me ama. Eu preciso saber. Não sinto o amor da Mãe Divina agora. Preciso tê-La. Pre-ciso saber que Ela me ama!

Continuei insistindo por muito tempo, até que afinal o santo disse:

– Muito bem, perguntarei para Ela.

E sabem, naquela noite tive uma grande experiência. Guardei-a em silêncio, dentro de mim. Um ou dois dias depois, voltei ao santo, e novamente vi aqueles olhos vol-tados para cima, passeando nos bosques do Infinito. Um amor como esse vocês nunca viram. Na maioria dos mis-sionários que vão à Índia para “salvar os pagãos”, eu não vejo esse amor por Deus. E vi muitos sacerdotes e instruto-res hindus que também não refletem esse amor. Mas tam-bém encontrei alguns grandes mestres em cujos olhos vi a luz de Deus. Eu costumava me curvar aos pés desse bon-doso santo, porque sabia que a Mãe Divina sorria dentro dele.

Assim, perguntei:

– Que disse a Mãe Divina a meu respeito?

Ele respondeu:

– Senhorzinho travesso, senhorzinho travesso!

– Que disse a Mãe Divina? – insisti. – O senhor me prometeu. Que disse Ela?

Contudo, ele só repetia:

– Senhorzinho travesso!

* Mahendra Nath Gupta, conhecido como Mestre Mahasaya ou simplesmente M., o autor de O Evangelho de Sri Ramakrishna. Paramhansa Yogananda narra sua convivência com ele no capítulo 9 da Autobiografia de um Iogue. (N. T.)

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Eu sabia que ele podia enxergar meu íntimo e perceber que eu estava escondendo meus pensamentos para ver se a experiência que eu tivera era real. E mesmo assim, conti-nuei:

– O senhor me prometeu! Por que é que os santos são sempre evasivos?

Então ele respondeu:

– Você veio para testar-me? Isso não está certo. Não veio a Mãe Divina a você, na ou-tra noite, na forma de uma mãe formosíssima, e disse: “Yogananda, Eu sempre te amei?”

Eu não sabia onde enfiar a cara. Estava tão impregnado do néctar da alegria! Eu ha-via meditado o dia todo até que ouvi a resposta, e quando me dirigi a esse santo e ouvi dele aquelas mesmas palavras, o que eu poderia pensar? Só uma coisa: minha Mãe havia realmente respondido!

Quando esse santo falava, ele era exatamente igual a uma criança. No brilho daque-les olhos estava o fulgor dos olhos da Mãe Divina. “Qualquer um que A procure irá encon-trá-La”, ele dizia, “mas terá de fazer o esforço.” Toda vez que penso nele minha alma in-teira é arrebatada, e meu coração se torna tão repleto de amor que não consigo falar. Ele me falou que meu Mestre viria mais tarde. Enquanto isso, ensinou-me o aspecto devocio-nal de Deus – ao passo que meu Mestre, posteriormente, ensinou-me o aspecto de sabedo-ria. Essa combinação me deu o que eu precisava: a completa manifestação de Deus como Pai e Mãe.

Sempre que quero ver Deus como Mãe Divina, penso no amor Dela e em como Ela perdoa a todos.

É um maravilhoso privilégio ser capaz de amar a Deus na forma que a pessoa neces-sita: como Pai Divino quando se busca sabedoria, e como Mãe Divina quando o perdão é necessário. Diga a Ela: “Mãe, tudo o que posso Te dar é o desmesurado amor de meu cora-ção. Tu sabes que Te amo mais que a todos os presentes que me deste. Como podes ficar longe de mim?” Faça desta a sua oração contínua.

Quando descobrir que você já não pensa tanto em comida ou em roupas e bens mate-riais, e que eles estão se afastando de sua consciência, então saberá que está-se aproximan-do cada vez mais de Deus. E se você, apenas uma vez, sentir no coração esse amor, que é o amor do pai e da mãe, o amor da mãe e do filho, e o amor do amante e do amado, então saberá que está unificado com o amor de Deus.

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A resposta da Mãe Divina à fé incondicional

Em Mount Washington, nos terrenos da sede central da Self-Realization Fellowship, e-xiste um pequeno “poço dos desejos”, feito de cimento. Logo após ter comprado o poço, eu estava ajudando os rapazes a removê-lo. Escorregando acidentalmente, o poço caiu em cima de meu pé, com todo o seu peso de pedra. Parecia que o pé fora completamente es-magado; houve uma dor terrível e muita inchação. Fui carregado até meu quarto e todos os presentes quiseram chamar um médico. Mas eu disse: “Se a Mãe Divina me disser para procurar um médico, irei a um, mas se Ela não disser, não irei”. Aguardei, esperando sen-tir, interiormente, qual seria a vontade Dela. A dor em minha perna tornou-se in-suportável; contudo, não havia sinal da Mãe Divina.

No domingo seguinte, eu tinha de dar aula a mui-tas pessoas, e tudo indicava que teria de ser carregado até a tribuna. Não me era possível calçar o sapato. Satã tentou-me naquele domingo, dizendo: “Por que não re-za?” Mas rezar é duvidar. A Mãe Divina sabia do meu transe, e eu estava querendo aceitar a vontade Dela, de modo que eu disse: “Não vou rezar. A Mãe sabe o que me aconteceu de mal.” E, intimamente, falei à Mãe Divi-na: “Quer submerso nas ondas da morte, quer moven-do-me sobre as ondas oceânicas da vida, estou Contigo para sempre”. Então, Satã falou de novo: “Olhe para essas pessoas. Todas se rirão de você. Jamais o viram doente antes, e agora o verão com um pé machucado.” “Não me importo.” Uma vez que vocês consigam ter o amor da Mãe Divina, nem o elogio nem a censura po-dem afetá-los.

Claudicando, dirigi-me à tribuna onde eu falaria. Na soleira, meu pé escorregou i-nadvertidamente; a sensação que tive foi de que cada osso do pé havia sido triturado, tão grande era a dor. Mas no momento em que pisei na plataforma, o terrível hematoma subi-tamente desapareceu; toda a dor cessou e pude enfiar o pé no sapato. Essa foi uma das maiores demonstrações do poder do amor que já experimentei. Caminhei como se nada tivesse jamais acontecido a meu pé. Desnecessário é dizer que eu estava emocionado – não por causa da cura, mas pela presença da Mãe Divina. Ela queria ver se eu oraria para ser curado. Houvesse eu rezado, talvez o pé, no devido tempo, tivesse uma recuperação natu-ral, mas eu não teria tido a grande experiência da Presença Divina.

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A onipresença da Mãe Divina

Não há nada maior do que sentir que Ela está com você. Então, medite na presença da Mãe Divina, que cuidará de você em todos os sentidos, seja a sua dificuldade tristeza, dor ou doença.

Ore com inteligência, com a alma explodindo, raramente em voz alta, de preferência mentalmente, sem mostrar a ninguém o que se passa em seu íntimo. Ore inteligentemente, com máxima devoção, como se Deus estivesse escutando tudo que você afirma mental-mente, em seu interior. Continue orando pela noite adentro, na solidão de sua alma. Ore até que Ela lhe responda por meio da voz inteligível da suprema alegria que explode, for-migando em cada célula do corpo e em cada pensamento, ou por meio de visões claras que descrevam o que você deve fazer.

Aprenda a trabalhar pela Mãe Cósmica como você trabalharia para sua própria mãe. Perceba que você está aqui para amá-La e promover a causa Dela como você mesmo se ajudaria. Todas as formas de amor humano, em sua perfeição, estão encerradas no amor de Deus.

Não clame à Mãe Divina como o bebê que pára de chorar tão logo a mãe lhe manda um brinquedo, mas chore sem cessar, rasgando o coração da Mãe Divina, tal qual um divino bebê teimoso que rejeita todas as atrações e brinquedos de nome, fama, poder e posses – e então você encontrará a resposta para suas orações.

Uma vez, eu estava em Palm Springs. Sob o céu do deserto, eu cantava hinos devocionais da Índia. Então, nas pedras, nas palmeiras e em todos os lugares, eu A vi. É verdade que Deus não tem forma, mas pode assumir qualquer forma que o devoto queira, só para agradá-lo. As-sim, quando eu estava cantando esta canção: “Mãe, minh’alma clama por Ti. Não podes mais Te esconder de mim. Vem do silencioso céu, de minha gruta de silêncio” – Ela apare-ceu em toda parte. Você não tem idéia de como é maravilhosa a Mãe Divina. Quão grande Ela é! Quão amorosa! Como Ela é importante para a sua felicidade!

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A Única Bem-Amada

Sim, Ela é a fonte de seu bem-estar, porque você só está aqui por pouco tempo. Tudo que você experimenta é temporário. Somente a associação com Deus é permanente e para sempre; e, já que é assim, você precisa não se deixar iludir pelas tentações do mundo, a ponto de se esquecer Dele. O Criador pode ser conhecido. O Senhor-Senhora do universo, que pisca nas estrelas, cujo palpitar da vida está em toda folha de grama, é o Ser que você precisa encontrar. Essa é a coisa mais importante do mundo. Você precisa buscar a Bem-Amada no templo do silêncio. Quando seu coração clamar pela Mãe Divina, várias e vá-rias vezes, com devoção e atenção inextinguíveis, então você A encontrará.

Deus pode ser realizado. Deus pode ser conhecido. Não lhes falo de um Deus desconhecido, mas de Al-guém que eu conheço – Alguém que é mais real para mim que todas as coisas que você percebe a seu redor. Alguém que é o próprio oceano por debaixo das ondas de nossas vidas. Você pode passar sem qualquer outra coisa, mas não pode viver sem Deus. E lembre-se: a Bem-Amada só pode ser conhecida no segredo de sua devoção. Se deixar que muitas pessoas saibam de sua devoção, você não terá êxito. Precisa criar amor pela Bem-Amada Divina em seu templo de silêncio, com a súplica incessante: “Revela-Te. Revela-Te.”

Sim, é correto rezar às vezes por coisas de que ne-cessita, mas seu primeiro desejo deve ser o de conhecer Deus, que não pode ser conhecido sem se aderir às leis divinas, sem que se siga um dos caminhos que levam à Fonte. Você precisa experimentar dentro de si todos os princípios sobre os quais estuda. Isso você só pode conseguir por meio da meditação.

Ao pensar em Deus – como Mãe, Pai, Amigo ou Bem-Amado – você não deve ter medo de se perder no Infinito, pois mesmo que assim se perca, ganhará tudo no além. Quem salvar a própria vida voltará a perdê-la, mas quem perder sua vida em Deus se tor-nará imortal. Você precisa se expandir e dissolver sua consciência na consciência imortal de Deus como Mãe Divina em seu interior, percebendo: “Deus como Mãe Divina está den-tro de mim, fora de mim, em toda parte. Curvo-me diante Dela. Eu e minha Mãe Divina somos um. Eu e minha Mãe Divina somos um.”

Mãe Divina, curvo-me a Ti no altar do céu e do oceano. Curvo-me a Ti no altar das religiões universais e manifestando-Te nos grandes Mestres. Curvo-me a Ti, ó Mãe, quando Te vejo manifestada em todas as mães. Mãe Divina, escutarei Tuas canções acima de todas as canções da alma. Assistirei ao movimento de Teus músculos nas ondas do mar. Enquanto vagueio na floresta de meus pensamentos inquietos, seguirei a trilha da concentra-

ção que conduz a Ti. Tu és o amor que sinto por detrás do afeto familiar, conjugal e fraterno. Tu és o amor por detrás de todos os amores. Prostro-me diante de Ti.

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Vem a mim como Bondade (Inspirado em uma canção de Ram Prasad)*

Paramhansa Yogananda Verei amanhecer o dia, ó Mãe Divina, em que meu pronunciar de Teu nome trará consigo uma enchente de lágrimas, que inundará a aridez de meu coração e derrubará os portões escuros de minha ignorância? Então, no lago de minhas lágrimas acumuladas, florescerá o lótus luminoso da sabedoria, e as trevas de minha mente serão dissipadas. Ó Mãe Divina sem forma e que tudo permeias, vem a mim na forma tangível da bondade e leva-me para bem longe das praias da tristeza.

(“Sussurros da Eternidade”, ed. 1949)

* Um dos maiores santos devocionais da Índia.