reflexões sobre espiritualidade e ministério

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Entregamos nas mãos do Senhor esta Série Contemporâneos e oramos para que, em Sua providência, possamos publicar novas obras com real valor espiritual e promover novos autores contemporâneos.

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Reflexões sobRe espiRitualidade e MinistéRio

© CCC edições

Compilação: Luiz Roberto K. CascaldiRevisão: Regina Célia Ushicawa e Paulo César de OliveiraDiagramação: Editora Tribo da IlhaCapa: Magno PaganelliEditor: Gerson Lima

1ª edição: setembro de 2012

Todos os direitos reservados na língua portuguesa pela CCC edições.Proibida a reprodução total ou parcial deste livro sem a autorização es-crita dos editores.

[email protected]

19 3889-1368 / 19 3217-7089

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Cor-rigida, Fiel (Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil), salvo quando hou-ver outra indicação.

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SUMÁRIO

Dedicatória .............................................................. 7

Agradecimentos ........................................................ 9

Prefácio à Série Contemporâneos ............................ 11

Sobre o Autor ......................................................... 15

Prefácio .................................................................. 17

Prefácio do Autor ................................................... 19

1. Relações fRateRnais ..................................... 21

2. intenções e atitudes .................................... 31

3. Reflexões sobRe a faMília ............................. 61

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4. pRepaRando a nova GeRação ........................ 71

5. Reflexões sobRe o MinistéRio ........................ 85

6. a pateRnidade da fé ................................... 119

7. suCessão .................................................... 133

8. identidade e ChaMaMento ........................... 145

9. dois ou tRês eM noMe de Jesus ................... 179

10. a visão e a paixão .................................... 195

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DeDicatória

Dedico este singelo trabalho a Irani, minha que-rida esposa, pelo grande incentivo que me tem dado no decorrer desses 41 anos juntos.Que o Senhor possa usar estas reflexões para o engrandecimento de Seu nome.

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agraDecimentos

Agradeço em primeiro lugar ao meu Senhor Jesus a oportunidade de servir ao Seu povo com estas palavras que Ele me deu. Meus louvores ao Pai das Luzes, em quem reside toda sabedoria e inte-ligência. Porque d’Ele, por meio d’Ele e para Ele todas as coisas se movem e existem. N’Ele estou incluído, n’Ele me movo, d’Ele recebo e por Sua graça transmito.À minha querida Irani, minha incentivadora fiel nesses anos de convivência; aos meus filhos, que suportam minha ausência física e me animam a continuar no serviço aos santos.Aos meus companheiros de jugo, que me animam, cobrem e corrigem.À Igreja amada, a quem sirvo com todo o prazer do meu coração, pela Graça do Cordeiro, Jesus Cristo, meu Senhor e Deus.

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Prefácio à série contemPorâneos

Ao estudarmos com cuidado as Escrituras, consta-tamos que Deus tem um propósito bem definido: fazer todas as coisas convergirem em Cristo, para que Ele seja cabeça e conteúdo de tudo. Toda Sua obra, ao longo dos séculos, é o desenvolvimento progressivo desse propósi-to. Em Gênesis temos a semente, nos profetas seu cultivo, nos evangelhos seu fruto, que é Cristo, em Atos e nas Epístolas a multiplicação do fruto na Igreja e em Apoca-lipse a colheita (Cristo glorificado nos Seus santos).

Deus sempre encontrou homens fiéis e por meio deles pôde levar Seu propósito adiante, de modo que cada geração procurou ser fiel ao Seu momento. Agora, estamos no tempo final que antecede a vinda de Seu Fi-lho e nossa responsabilidade aumenta ainda mais como herdeiros de tudo que Ele conquistou ao longo dos sécu-los. Deus trabalhou pensando no fim, na colheita final.

Louvamos a Deus por recebermos a contribuição de muitos dos Seus servos do passado. No entanto, corremos

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o risco de nos prender ao que Ele fez no passado e ig-norar o que está fazendo agora, de supervalorizar Seus servos do passado e menosprezar os que Ele usa no pre-sente. Saber o que Ele fez nas gerações passadas é nossa obrigação, mas não saber o que está fazendo hoje seria nossa cegueira; estaríamos atrasados quanto ao progres-so da Sua obra. Herdar o que Deus fez ao longo da his-tória é nossa riqueza e glória, mas não sermos responsá-veis com essa herança no presente seria nossa pobreza e reprovação.

A glória dos servos do Senhor no passado foi pre-parar os santos e novos ministérios para levarem adiante a Sua obra, de maneira que o rio da revelação divina que procede do Seu trono pudesse permear todos os recôndi-tos da Terra. No entanto, sempre que essa responsabilida-de foi ignorada pela geração dos mais velhos, a geração dos mais novos foi enfraquecida, o fluir do Espírito foi estancado e a obra de Deus sofreu danos.

Com o encargo de valorizar o que Deus tem feito em nosso tempo e cooperar com o ministério da Palavra atual é que a Comunhão do Corpo de Cristo Edições (CCC Edições) está iniciando a Série Contemporâneos.

Com essa série o Senhor também nos desafia a nos unirmos a Ele para vencermos dois “gigantes” que tan-to transtornam a edificação da Igreja como Seu Corpo: “Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os parentes e na sua casa” (Mc 6:4); o etnocentrismo espiritual, um espírito de engano que não apenas pro-move exclusivismo sectário como também a crença na supremacia do seu grupo étnico, a autodestruição pelo isolamento e o ataque aos que pensam diferente. Que possamos, assim, valorizar os obreiros autóctones, os

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prefácio à série contemporâneos

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que Deus plantou em nossa terra, bem como sermos complementados e enriquecidos com as diversidades de contribuições no amplo Corpo de Cristo.

Entregamos nas mãos do Senhor esta Série Contem-porâneos e oramos para que, em Sua providência, pos-samos publicar novas obras com real valor espiritual e promover novos autores contemporâneos.

Pelos interesses de Cristo,

Os EditoresCCC Edições

Monte Mor, 20 de setembro de 2012

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sobre o autor

Jamê Nobre é casado com Irani há 41 anos, tem quatro filhos e seis netos e serve ao Senhor no ministé-rio há 42 anos. Tem como encargo maior a unidade da Igreja de Jesus Cristo e o serviço àqueles que cuidam do povo de Deus.

Depois de vivenciar uma experiência difícil como pastor de uma congregação, na qual passou a maior par-te do tempo sozinho, resolveu ajudar àqueles que esti-vessem sozinhos no ministério, entendendo ser essa uma responsabilidade que o Senhor lhe confiou. Assim, tem procurado servir ajudando muitos irmãos espalhados pelo Brasil e por outros países, promovendo aproxima-ção e incentivando os vínculos entre eles.

Ele mora em Jundiaí e faz parte de uma congre-gação que se reúne como Igreja e atualmente está em processo de unidade completa com outras três congrega-ções, conformando um presbitério que serve a todas elas. Mesmo assim, elas têm a consciência de serem apenas uma igreja na cidade, o corpo de Cristo.

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Jamê Nobre é um homem simples, mas dotado com as virtudes de exercer mais paternidade espiritual do que mestria, de lidar mais com o coração dos ouvintes do que com a cabeça deles, de se ocupar mais com pessoas do que com eventos, de equipar os santos e preparar no-vos ministérios do que ser um “bom líder” e desfrutar de uma “igreja biblicamente correta”, embora seja líder nato e rigoroso na doutrina.

Ele procura o crescimento espiritual buscando en-contrar algo mais de Cristo com os que pensam e vivem diferente dele e vive a unidade promovendo a aproxi-mação dos irmãos e encorajando-os a se ajudarem mu-tuamente. Encontramos nele um pai, um amigo, um ho-mem em oração e que reparte mais do que ganhou com Cristo em Sua comunhão do que aprendeu em bons livros, embora os use para enriquecê-lo e confirmá-lo. Ele não está pensando em si, mas trabalhando para a próxima geração.

Inicialmente sua intenção com esta obra era mais de servir aos que caminham com ele, porém entendemos que será de ajuda a um círculo muito maior, por isso a incluímos na Série Contemporâneos. A obra é simples, mas que o Senhor nos faça bons garimpeiros e saibamos encontrar ouro onde aparentemente só há areia.

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Prefácio

Com satisfação digo que me coube a honra de prefa-ciar este livro de meu querido amigo, irmão e colega

de ministério Jamê Nobre. Jamê, por sua índole e característica ministerial,

não viaja pelos recônditos acadêmicos da teologia, em-bora possa afirmar que é bem articulado bíblica e teo-logicamente. Sua área é da espiritualidade prática, da fé engajada, do relacionamento comprometido e da sabe-doria e conhecimento que a vida com Cristo e sua igreja lhe concederam.

Por isso mesmo, os assuntos que trata neste livro têm esta característica. Não expressam o rigor do acade-micismo teológico, mas traduzem a simplicidade e pro-fundidade da espiritualidade que não se afasta da Bíblia, porém avança para as relações em que a vida acontece com Deus e o ser humano, vertical e horizontalmente.

Cada capítulo tem um tema que Jamê procura des-vendar, como produto de sua vida e compromisso com a espiritualidade que propõe. Assim, a título de exemplo,

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companheirismo e amizade para realizar a obra de Deus é o coração do primeiro capítulo. Não é possível mesmo existir a fraternidade em que companheirismo e ami-zade não se façam presentes. Portanto, esta é a chave para a compreensão deste livro, onde uma proposição de espiritualidade e compromisso é a tônica que rege cada capítulo.

Ademir Ifanger(Um dos presbíteros da igreja em Valinhos, SP)

Valinhos, setembro de 2012

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Prefácio Do autor

“Os quais temos ouvido e sabido, e nossos pais no-lo têm contado. Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura os louvores do SENHOR, assim como a sua força e as maravilhas que fez. Porque ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e pôs uma lei em Israel, a qual deu aos nossos pais para que a fizessem conhecer a seus filhos…” – Salmos 78:3-5

No decorrer dos anos o Senhor tem me falado diver-sos assuntos para minha edificação e crescimento.

Tenho procurado transmitir essas falas do Senhor à Sua Igreja para que os irmãos, assim como eu, sejam tocados com a bondade do Espírito Santo.

Pensando em mantê-los vivos em minha lembran-ça e na lembrança do povo a quem sirvo é que me pro-pus escrever esses temas que compõem este pequeno livro. Minha pretensão é passar para a vindoura geração os ensinos de nosso Pai.

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Nenhum dos temas aqui apresentados tem o objeti-vo de esgotar o assunto, mas, ao contrário, de incentivar os irmãos no aprofundamento de cada um deles. Não pensei em hierarquizar os assuntos, porém eles são liga-dos na sua essência.

Que o Senhor Jesus use este trabalho simples para, acima de tudo, glorificar e santificar Seu Santo Nome, e em consequência disso edificar Seu povo.

Que Ele nos abençoe nesta leitura.

Jamê NobreJundiaí, agosto de 2012

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RELAÇÕES FRATERNAIS

“Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão e cooperador, e companheiro nos com-bates, e vosso enviado para prover às minhas ne-cessidades.” – Filipenses 2:25

A Epístola aos Filipenses tem um caráter diferente de todas as outras. É uma carta que trabalha muito

com sentimentos, referindo-se a eles por 58 vezes, e cujo texto central é: “De sorte que haja em vós o mesmo senti-mento que houve em Cristo Jesus…” (2:5). Este versículo aponta para Jesus como o fator de referência das nos-sas relações. Nos versículos 1 a 4 deste mesmo capítulo, Paulo ensina como deveria ser o relacionamento entre os irmãos, como deveriam se comportar, mostrando como o Senhor Jesus fazia.

A palavra sentimento, no versículo 5, pode ser muito bem traduzida como atitude. No entanto, pelo contexto da carta, não é uma atitude intelectual, fria, mas uma ati-tude cheia de paixão, de calor, de afeto. Paulo disse que

cApíTULO 1

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nos últimos dias os homens não teriam afeição natural (Romanos 1:31); o mundo, hoje, perdeu a sensibilidade. Vemos nos noticiários os acontecimentos mais terríveis tratados de forma extremamente fria e sem comoção al-guma, gerando até uma curiosidade mórbida. Essa é a condição do mundo em que estamos vivendo; as pessoas perderam o sentimento. E o lugar que tem de ter uma condição totalmente diferente desta é a Igreja.

Por que as pessoas têm tanta facilidade de mudar de congregação, de sair de um lugar para outro? Não é por causa de costumes ou doutrinas, mas porque elas não têm mais apego, afeto, vínculo de coração; o único vínculo é o “rol de membros”. Se acontece algum impre-visto, a pessoa já quer “mudar de igreja”, como se isso fosse possível, pois a Igreja é superior às organizações. Quando existe afeto e vínculo, você se dispõe a andar com pessoas erradas e diferentes, pois o que gerencia um relacionamento não é o que a pessoa faz, mas o afeto que se tem. Precisamos rogar a Deus para que Ele renove esse sentimento em nós. O que trouxe o filho pródigo de vol-ta para sua casa é o que ele recebia lá dentro. A figura do pai trouxe aquele rapaz de volta, e é isso que precisamos pedir que Deus faça conosco.

Os níveis de relacionamento na Igreja e no ministério

No texto citado Paulo fala de Epafrodito. Ele era um irmão que servia naquela igreja local e havia sido enviado para servir a Paulo. Seu nome significa “adora-dor de Afrodite” ou “adorador de Vênus”. Obviamente ele não estava nesta condição, mas esta foi a sua história, este era o homem designado para servir e ser amigo de Paulo.

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Paulo trabalhou com ele baseando-se em algumas relações. Primeiramente, chamou-o de irmão. Esta é a pri-meira relação que existe entre nós. O fato de sermos irmãos não foi algo que nós determinamos, mas foi estabelecido na cruz; é um fato concreto, pois na cruz Jesus nos fez irmãos. Se não entendermos isso, estaremos celebrando a Ceia in-dignamente, e por esta causa há na igreja muitos fracos, doentes e que dormem (1 Coríntios 11:29-30). Mesmo com todas as diferenças que temos, mesmo às vezes não sendo amigos, somos irmãos, e quem estabeleceu este fato foi o Senhor Jesus. Devemos reconhecer que somos irmãos de todos quantos nasceram de novo, e isso deve reger nossas relações.

“Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com en-tendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus coerdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações.” – 1 Pedro 3:7

Pedro diz que o casal é coerdeiro da graça da vida, ou seja, a primeira e principal relação que rege o casa-mento é a de irmãos. Isso determina a forma de trata-mento, pois passaremos a tratar nossas esposas primei-ramente como irmãs, com carinho, respeito e gentileza.

Jesus Cristo está entre nós, Ele é a nossa ligação e é isso que nos faz irmãos. Não somos irmãos devido a uma religião ou a um clube, mas por causa de Cristo. E não precisamos chamá-los de “irmãos”, pois em casa não fazemos isso com nossos irmãos de sangue.

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Paulo também chamou Epafrodito de cooperador. Este é outro aspecto de nossas relações – trabalhamos juntos.

“Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mes-mo no Senhor. E peço-te também a ti, meu verda-deiro companheiro, que ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida.” – Filipenses 4:2-3

Cooperar é levar o jugo junto, é levar a carga um do outro, é perceber a “carga” do irmão e colocar o meu pescoço embaixo da canga para ajudá-lo a levar o seu jugo. Epafrodito tinha esta característica, de ajudar Paulo a levar a carga do ministério. Ele era irmão e cooperador.

Outro termo utilizado na relação entre eles era o de companheiro. Esta palavra é derivada do latim e significa “co-mer o pão juntos”. É repartir; compartilhar do mesmo pão, seja ele bom ou ruim; é participar das aflições e das alegrias.

Epafrodito também era um enviado para prover as necessidades de Paulo. Ele foi delegado, enviado pela igreja de Filipos, um servo de Paulo a mando da igreja. Os amigos são servos, mas não queira ter servos, e sim ser servo dos seus amigos.

A verdadeira amizade

A primeira relação da Igreja é a de irmãos; a se-gunda é de uma irmandade que produz alguma coisa.

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Jônatas e Davi tinham essa relação. As amizades têm que abençoar a igreja, têm que abençoar o reino de Deus, têm que glorificar o Senhor. A amizade que não tem o propósito de abençoar alguém ou glorificar o Senhor tem que ser desfeita.

Epafrodito era irmão, cooperador no evangelho, companheiro e servo. Ele era o elemento de ligação, o ho-mem que levava as mensagens de Filipos para Paulo e de Paulo para Filipos. Os amigos devem nos ligar aos outros e não ser “estanques”, ou seja, fechar as amizades neles mesmos, as chamadas “panelas”. A amizade deve coope-rar, abençoar, servir a Igreja de Deus. A amizade deles li-gava, reconciliava, ajudava, aproximava as pessoas. Nosso ministério é o da reconciliação (2 Coríntios 5:19).

“Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa opera-ção de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.” – Efésios 4:16

As juntas servem para ligar as partes do corpo. Se nossas amizades não estão ligando as pessoas a Cris-to e umas às outras, elas precisam ser repensadas. As amizades “estanques”, que terminam nelas mesmas, são relações entre egoístas, pessoas que encontram em ou-tras o suprimento para suas próprias necessidades. Mas quando acaba o suprimento, a amizade também termina.

Não existe expressão maior de amizade e de servi-ço do que a atitude de Deus para com Moisés e Abraão, chamando-os de “amigos”, e da atitude de Jesus para co-nosco. Jesus nunca pensou em ter amigos para usufruir dos benefícios das amizades deles; aliás, não temos nada

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que possamos oferecer de vantagem a Ele. É por isso que Ele nos chama de amigos e não de servos; essa é a verdadeira amizade.

“Ninguém tem maior amor do que este, de dar al-guém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” – João 15:13-15

Amizade é dar tudo sem esperar receber algo em troca; esse é o verdadeiro coração de servo. Paulo, apren-dendo com o coração de Jesus, disse:

“Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gas-tar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” – 2 Coríntios 12:15

O relacionamento de Paulo com Epafrodito era uma relação de irmãos; já o relacionamento dele com Tito era de pai e filho. Esta relação de paternidade e fi-liação cresceu tanto que Tito passou a ser cooperador e companheiro de Paulo. Nosso alvo deve ser o de formar nossos filhos naturais e espirituais para que sejam nossos futuros cooperadores e companheiros de ministério.

Deus é hospitaleiro, e essa é uma característica da verdadeira amizade: devemos ser hospitaleiros. Hospita-lidade é um mandamento; primeiro recebemos as pes-soas no coração e, depois, em casa. Esta palavra significa “amar o estrangeiro”, e esta é a função da Igreja, é uma marca do verdadeiro cristão.

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Quem é o amigo?

“E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos falta-rem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.” – Lucas 16:9

Quem é o amigo? O amigo é aquele que se manifesta e nos recebe quando acabam as nossas riquezas. É na an-gústia que aparece ou que se conhece o verdadeiro amigo. É aquele que está conosco quando tudo se acaba, quando somos malfalados, criticados, perseguidos, angustiados.

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contempla-do, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida.” – 1 João 1:1

Na morte de Jesus seu melhor amigo se manifes-tou: João. Foi ele quem ficou aos pés de Jesus na cruz. Não é que Jesus o amasse mais do que aos outros, mas ele gozava mais do amor do Senhor. Essa é a doutrina apostólica: Jesus Cristo conhecido através da amizade, da proximidade.

“Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscí-pulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.” – João 11:16

Amigo é aquele que morre junto. Quando tudo aca-ba, ele continua conosco. O amigo é verdadeiro e fala a verdade em amor. Amor e verdade se completam e não existem de forma isolada.

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Ter amizade é arriscar-se ao sofrimento. Harold Walker afirma: “Se você não quer ser traído, não tenha amigos!”. Muita gente, por não querer ser traída, não de-seja amizade com ninguém. Existe um provérbio menti-roso que diz: “Antes só do que mal acompanhado”. Isso é produto de mágoa, que precisa de cura. Ninguém gosta de andar só porque somos animais gregários, isto é, fei-tos para andar em rebanho. O próprio Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18), porque sozinhos não crescemos. Precisamos de amizades.

Outro erro que cometemos é só andarmos com os que pensam e sentem igual a nós, pois eles não nos acrescentam nada. Só me acrescenta alguma coisa quem pensa diferente. Podemos andar com os iguais, mas, se desejamos crescer, precisamos andar com os que pensam diferente, pois eles nos acrescentam muito.

“E se alguém lhe disser: Que feridas são estas nas tuas mãos? Dirá ele: São feridas com que fui ferido em casa dos meus amigos.” – Zacarias 13:6

Jesus foi ferido na casa dos seus amigos, pelos que lhe eram próximos. Infelizmente é na Igreja que aconte-cem as maiores feridas, mas é nesse lugar que o Senhor nos prepara e nos faz crescer. Se quisermos ser usados por Deus, precisamos nos submeter ao tratamento den-tro da Igreja, operado pelo Espírito Santo através dos irmãos. Em Mateus 26:23, falando de Judas, Jesus disse: “O que mete comigo a mão no prato, esse me há de trair”. Ele foi ferido em sua casa por um dos seus amigos. 1

1 Para uma maior clareza, recomendamos o livreto A Bênção da Traição, de H. L. Roush, publicado pela Editora dos Clássicos, onde ele nos adverte:

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Quem são meus amigos?

Quem são meus amigos? São aqueles de quem eu me fiz próximo. A amizade parte de mim para os outros. Quando procuro amizades que podem me dar algo, isto é utilitarismo e não amizade. Não podemos buscar rela-cionamentos somente por aquilo que as pessoas possam nos oferecer.

Em Lucas 10, quando Jesus ensinava sobre o amor ao próximo, um doutor da lei Lhe perguntou quem era esse próximo. Jesus, então, contou a história do sama-ritano, que demonstrava quem era o verdadeiro amigo: aquele que cuida de alguém que está caído. Fazer o bem, ajudar alguém deveria ser um padrão normal de com-portamento; mas hoje em dia, quem presta um favor a alguém recebe homenagem. O samaritano apenas agiu com sensibilidade. Todos os outros passaram perto do homem que havia sido atacado e nada fizeram, mas o samaritano foi aquele se fez próximo, foi o amigo que parou e o ajudou.

Você tem-se feito próximo das pessoas que não têm nada para lhe dar? Você tem sido como Epafrodito? Você está indo, procurando, fazendo algo por alguém ou está somente esperando que venham e façam por você? Te-mos de ser amigos conforme o exemplo de Jesus, que Se fez amigo, que Se deu por nós!

“A experiência debilitante de ser traído pelos próprios amigos e amados necessariamente virá à vida de cada crente. Abel foi traído pelo seu irmão único, Esaú pelo seu irmão gêmeo, Isaque pelo seu filho, Urias pelo rei em quem confiava e pela sua bela esposa, Jesus por Seu discípulo dedicado, Paulo por falsos irmãos. Creio que todo homem em quem Jesus habita terá nesses últimos e terríveis dias o seu próprio Judas particular (...). Além disso, traição é a experiência comum de todo homem que Deus já usou em qualquer época para a Sua glória”.

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INTENÇÕES E ATITUDES

Deus trata, principalmente, com duas áreas em nossa vida: INTENÇÕES e ATITUDES. Intenção é aquilo

que me leva a fazer alguma coisa, o porquê, a motivação pela qual eu faço as coisas, o que me move e me faz ca-minhar. Já a atitude é a maneira como eu faço as coisas. Então, precisamos ter uma intenção correta e uma atitu-de correta.

“E aquele que examina os corações sabe qual é a in-tenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas contri-buem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu pro-pósito.” – Romanos 8:27-28

Apesar do que afirma o versículo 28, existem mui-tas situações na vida em que não vemos frutos ou bene-fícios. Mas precisamos atentar para o que diz o versículo 27. Muitas vezes não entendemos tudo o que Deus faz e permite que aconteça em nossa vida. Porém a intenção,

cApíTULO 2

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os pensamentos, a mente de Deus a nosso respeito são bons e tudo irá, no fim, concorrer para o nosso bem. Quando Deus não nos concede algo que pedimos ou desejamos, é porque Ele está nos protegendo, nos pre-servando. Se Ele nos desse tudo que pedíssemos, seria ruim para nós, pois não sabemos o que vai acontecer, o que será bom ou ruim para nós, mas Deus sabe. Da mesma forma, nós, no nosso coração, devemos ter uma mente boa, pensamentos bons, intenções boas, corretas e honestas a respeito de Deus e das pessoas. Também precisamos ter atitudes corretas, e existem três que, espe-cialmente, precisamos buscar e praticar.

I - ATITUDE DE DISPONIBILIDADE

Tratando com a preguiça

Ser disponível é estar pronto para fazer o que Deus mandar. O autor da Epístola aos Hebreus diz para nos desembaraçar “de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia” (12:1 – ARA). O peso nos impede de estar disponíveis. E esse peso pode vir sobre nós não apenas através de coisas ruins, mas muitas vezes de coisas consi-deradas boas. Podem ser pecados, como também coisas naturais que impedem nossa corrida. Às vezes estar dis-poníveis implica cortarmos raízes que nos impedem de fazer plenamente o que Deus quer que façamos, e nem sempre estamos preparados para isso.

Hoje, muitas pessoas estão deixando de ser dispo-níveis. Há um pecado que tem contaminado a nossa ge-ração chamado “preguiça”, e ele tem atrapalhado muito

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intenções e atitudes

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a vida da Igreja. A preguiça nos leva a ser displicentes, a procurar o caminho mais fácil, a procurar o peso me-nor; ela tira a nossa disposição e a nossa disponibilidade (Provérbios 19:15; Eclesiastes 10:18; João 5:17).

A preguiça é própria do homem caído, do homem sem Deus, faz parte da natureza humana. O trabalho faz parte do caráter de Deus e a preguiça não cabe na vida de um cristão. A vida da Igreja é construída com sacrifícios, com dedicação e esforço; e a preguiça nos faz procrastinar, adiando para outro dia o que deve ser feito hoje (Provérbios 6:6-9; 12:27; 13:4; 19:24; 26:13-16).

Precisamos ter uma atitude concreta contra a pre-guiça; ela deve ser tratada com muito esforço e dedica-ção para não nos dominar. O trabalho não mata, mas a preguiça sim. Cria-se um estado de inanição que conduz à morte. Quando temos de lutar contra ela? Quando ela começa a se manifestar em nossa vida, para que não nos domine por inteiro e destrua nossa vida espiritual. Isso tem de ser tratado como um pecado.

A preguiça tem um poder para entrar em todas as áreas de nossa vida. A maneira de acabar com a preguiça é se arrepender e tomar uma decisão de não se entregar mais a ela. Não é uma questão de descanso. Precisamos de três coisas fundamentais na vida: boa alimentação, exercício e descanso. Existe um ciclo, que é o trabalho, o exercício e o descanso. O descanso é diferente da pregui-ça, porque é o produto do trabalho.

A preguiça nos leva a parar e, quanto mais para-mos, mais preguiçosos nos tornamos. E para eliminá-la precisamos nos posicionar, tomar decisões e começar a agir. A organização pessoal faz parte do caráter de Cristo em nós. A vida cristã é feita de coisas pequenas. Às vezes

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nos preocupamos com grandes coisas e negligenciamos as pequenas, que acabam prejudicando a nossa vida cristã e a nossa família.

Existe um tipo de preguiça que se manifesta nas pessoas e as leva a serem “preguiçosas ativas”: são aque-las que só fazem o que gostam e não o que precisam fazer (1 Coríntios 4:12, 1 Timóteo 5:17-18). Fatigar é trabalhar muito, se esforçar. Quem quer receber muito também precisa trabalhar muito.

O exemplo de Abraão

A frase que mais expressa essa atitude de dispo-nibilidade se encontra em Gênesis 22:1: “E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui”. Deus provou a disponibilidade de Abraão. “Eis-me aqui” significa “es-tar disponível”. Existem algumas pessoas na Bíblia que disseram essa frase e todas enfrentaram provas, sofrimen-tos e tribulações.

Quando Abraão disse a Deus que estava disponível, o Senhor mandou-o sacrificar seu próprio filho: “E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi” (Gênesis 22:2). Foram três dias caminhando e pensando no que Deus lhe havia mandado fazer. Era um tempo suficiente, se ele qui-sesse, para pensar, se arrepender e voltar.

No versículo 7 lemos: “Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu fi-lho!”. Passados aqueles três terríveis dias, a mesma atitude

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de disponibilidade continuava no coração de Abraão. Nossa disposição de servir a Deus hoje deve ser a mesma daquele dia em que, cheios de emoção, dissemos “eis-me aqui” para Ele. Também deve ser a mesma nos dias em que estivermos muito mal.

Isaque fez uma pergunta: “Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” (Gênesis 22:7b). O que Abraão deve ter sentido diante desta pergunta? Deus não pede a nós coisas que não nos custem sacrifícios (Romanos 8:18; 1 Coríntios 1:5-7; 2 Coríntios 6:4; 2 Timóteo 2:3; 1 Pedro 4:13; 1 Pedro 5:9). A obra de Deus é feita na base da entrega, do sacrifício e não somente da pregação.

Só há culto quando há sacrifício

Isaque estranhou eles estarem indo cultuar ao Senhor e não levar um sacrifício, porque a ideia de culto que aquele povo tinha era que, quando fossem prestar um sacrifício ao Senhor, nunca deveriam ir de mãos vazias. Culto, naquele tempo, era um sacrifício, e alguém sem-pre levava algo para sacrificar. Hoje as pessoas vão aos cultos para receber, mas naquele tempo elas iam para dar. Entendamos que culto e sacrifício são uma só coisa. Se o seu culto não lhe custar um sacrifício, não é culto. O culto sempre envolve a morte de alguma coisa e é feito sempre para agradar a Deus e não a nós mesmos. A vida do cristão é uma vida de sacrifícios, não para a salvação, mas para a implantação do reino de Deus na Terra (2 Samuel 24:4).

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Em 2 Samuel 24:21-24 lemos que Deus mandou Davi comprar o campo de Araúna. O que nos chama a atenção é que Araúna era jebuseu, e Deus havia man-dado Seu povo expulsar todas as nações de Canaã, mas Araúna continuava lá, exatamente no lugar mais sagrado de Israel, onde seria construído o Templo. O povo de Deus foi tolerando os jebuseus, mostrando uma atitude de falta de decisão, relacionamento errado com o povo da terra e comodismo. Davi era rei e poderia simples-mente desapossar Araúna daquele lugar, mas não fez isso. Se ele aceitasse a proposta de Araúna de apenas usar o terreno, seria somente um empréstimo e não a posse do campo. Então Davi respondeu: “… porque não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que não me custem nada” (v. 24b).

Quanto “custa” seu culto? Que sacrifícios, que preço você paga? Essa atitude de dar, de sacrificar ao Senhor é o que caracteriza o verdadeiro culto a Ele (Romanos 12:1). Hoje queremos fazer “cultos agradáveis” às pessoas e não a Deus. É uma cultura voltada a nós e não a Deus. Culto não é lugar de receber, mas de dar; um lugar de levar e não de buscar. A palavra cultura vem de “culto”, e para mudar uma cultura temos de mudar o nosso conjunto de “cultos”. Paulo chama isso de mudança de “mentali-dade” (Romanos 12:1-2). Culto é uma atitude e não um momento, não uma reunião. É uma oferta constante e contínua diante de Deus, em que o fogo não se apaga e o sacrifício não termina.

Abraão, então, respondeu: “Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminha-ram ambos juntos” (v. 8). É Deus quem nos dará graça para oferecermos nosso culto a Ele. Na realidade, não

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damos nada a Deus que Ele não nos tenha dado antes. O Senhor deu Isaque a Abraão, e agora o estava pedindo de volta.

“E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo ado-rado, tornaremos a vós” (Gênesis 22:5). Essa era a fé de Abraão. Deus não fica devendo nada a ninguém. Quanto mais sacrificarmos, mais receberemos d’Ele. Mas não es-pere receber de Deus sem dar. Jesus Se entregou na cruz por nós sem nenhuma restrição, sem nenhuma preguiça; Ele Se entregou totalmente a nós, não Se poupou. Ao nos doarmos ao Senhor, não podemos nos poupar: “Vou dar ao Senhor somente uma parte do meu tempo, uma parte do meu coração, uma parte do meu esforço”. Na obra de Deus isso não funciona.

“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendi-mento, e de todas as tuas forças...” (Marcos 12:30). Em tudo o que empreendermos na obra do Senhor devemos fazê-lo com todo o nosso coração, esforço, dedicação, empenho, intensidade. O cristão é alguém que ama in-tensamente o Senhor. Não seja remisso em relação a Deus; você tem de se entregar por completo.

“E chegaram ao lugar que Deus lhe dissera, e edi-ficou Abraão ali um altar e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha. E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho; mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui” (Gênesis 22:9-11). Aqui vemos que a disponibilidade de Abraão continuava a mesma após

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aqueles três dias. Quanto tempo dura a nossa entrega ao Senhor? Qual é o grau de entrega que temos feito a Deus?

O exemplo negativo de Pedro

Em Lucas 22:33, Mateus 19:27 e 26:58, 69-74 vemos o exemplo negativo de Pedro em relação à sua entrega ao Senhor. Em João 21:3 ele diz: “Vou pescar”, significando que havia desistido de seguir a Jesus, que estava voltando à sua velha vida de pescador. Na hora da dor, da luta, da contrariedade, da perseguição, da dificul-dade você também diz “vou pescar”, desiste de tudo? Ou continua dizendo: “Senhor, eis-me aqui”? A entrega de Pedro durou menos de 24 horas. A nossa entrega conse-gue vencer o tempo e as lutas? Consegue vencer todos os obstáculos? Nós continuamos crendo que devemos nos entregar ao Senhor, ainda que não tenhamos clareza de como as coisas vão terminar?

Moisés

Outra pessoa que disse “eis-me aqui” foi Moisés (Êxodo 3I4). Deus o chamou para mandá-lo de volta exatamente para o lugar de onde ele havia fugido e ao qual nunca mais queria voltar. Ainda que ele tenha ten-tado negociar com Deus, acabou cedendo e obedecendo. Ele tentou criar obstáculos e evitar sacrifícios, mas ape-nas piorou sua situação, pois criou novas situações que exigiram mais ainda dele.

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Existem sacrifícios próprios do ministério, da obra de Deus, mas existem também sacrifícios que nós cria-mos quando resistimos à voz do Senhor, pois sofremos mais do que deveríamos (“Dura coisa te é recalcitrar con-tra os aguilhões” – Atos 26:14). Quem “teima” com Deus sofre mais. Precisamos nos disponibilizar nas mãos do Senhor, independentemente das aflições que virão. Em João 16:33 Jesus diz: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Jesus passou por afli-ções e nós também passaremos; Ele venceu, e nós vence-remos n’Ele.

Isaías

Isaías também disse “eis-me aqui” (Isaías 6:8). A par-tir daquela declaração, começou o seu ministério. Esta fra-se sempre provocará sofrimento e dor, mas é o caminho do verdadeiro discipulado (“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me…” – Mateus 16:24).

Maria

Em Lucas 1 lemos a história de Maria, uma jovem de aproximadamente 15 anos, já desposada de José, que um dia recebe a visita de um anjo, que diz que ela teria um filho gerado pelo Espírito Santo. Sua respos-ta foi: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim

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segundo a tua palavra” (v. 38). Em outras palavras, ela disse: “Eis-me aqui”.

Quais foram as consequências desta atitude de Ma-ria? Ela estava desposada, prometida a José, mas não estava casada, não tinha relacionamento íntimo com ele. Naquela época, naquela situação, ela era considerada adúltera e, consequentemente, deveria ser apedrejada. Quando ela diz: “Eis-me aqui”, estava se dispondo a so-frer o juízo e a condenação por apedrejamento por causa da obra de Deus, a sofrer a vergonha diante dos seus familiares, dos seus vizinhos e amigos. Ela sabia quais seriam as consequências dessa decisão, mas decidiu en-frentar a vergonha, o juízo público e até a morte.

José

Havia também o lado de José. Quando Maria contou-lhe o ocorrido, ele assumiu o risco, a respon-sabilidade e a “culpa”. Ele se dispôs a enfrentar a so-ciedade, a ser julgado pelo crime de “ter engravidado uma moça” antes da hora. Ele também teve a atitude de dizer: “Eis-me aqui”.

Jesus, o exemplo da entrega total

Mas havia também o lado de Jesus. Deus olhou dos céus, viu a humanidade caída e necessitada de sal-vação e perguntou: “A quem enviarei, quem há de ir por mim?”. E Jesus respondeu: “Eis-me aqui, envia-me a mim!”. Jesus Se disponibilizou a Se separar do Pai, a

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Se afastar do trono, a deixar de viver como Deus, a vir e morar no nosso meio, encarnar no ventre de uma menina inexperiente; o Criador sendo entregue aos cuidados da criatura.

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento [ati-tude] que houve também em Cristo Jesus, que, sen-do em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, toman-do a forma de servo, fazendo-se semelhante aos ho-mens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz.” – Filipenses 2:5-8

Jesus é o exemplo da entrega total. Ele não ganhou nada, ao contrário, deixou toda Sua glória, tornou-Se criatura, assumiu a forma de servo, foi obediente até a morte de cruz, fazendo-Se maldito em nosso lugar.

“Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.” – 1 Pedro 2:21

Jesus é o padrão, o modelo de entrega, de disponi-bilidade que Deus quer que nós tenhamos.

Que possamos, por todos os dias da nossa vida, também dizer ao Senhor: “Eis-me aqui!”. É um cami-nho difícil, com muitos obstáculos, mas não existe ou-tro caminho. Andar fora dele é andar na mediocridade, viver uma vida “mais ou menos” em todos os sentidos. Isso não satisfaz nem a nós nem a Deus, não enche o nosso coração nem o coração do Senhor. Deus Se en-tregou totalmente a nós, e nós devemos nos entregar totalmente a Ele.

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“E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, mas não o recebe-ram, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.” – Lucas 9:51-53

A vida cristã é construída com atitudes

Disponibilidade também fala de DECISÃO. O rosto de Jesus mostrava a sua decisão de ir para Jerusalém. Creio que o versículo não se refere ao rosto, mas à atitude de Jesus. Nossa firmeza de caráter, muitas vezes, não é mani-festada nas decisões que tomamos. São as pequenas de-cisões diárias, mas firmes, que constroem nosso caráter e nossa vida. A vida cristã é construída com atitudes, de-cisões práticas, contínuas mudanças. As coisas pequenas são muito importantes, porque o que atrapalha nossa vida cristã não são as coisas grandes, mas as pequenas.

Quando o filho pródigo decidiu voltar para a casa do seu pai, a primeira coisa que a Bíblia diz que ele fez foi “se levantar”; ele tomou uma decisão, fez um propósi-to (Lucas 15:18). Às vezes queremos mudanças grandes e vindas de Deus, mas não tomamos as pequenas deci-sões, que cabem a nós e podem produzir essas mudan-ças. Ele dá a graça e a força, mas a decisão é nossa. Nós não precisamos ter pressa para chegar aonde queremos ir, mas precisamos ter pressa para começar a caminhar. Então, qual é a decisão que você vai tomar HOJE para começar a mudar a sua vida? Quais são as coisas que você precisa começar a mudar? São decisões pequenas, mas firmes e constantes. Será que as pessoas poderão

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olhar para nós e dizer: “Ele tem jeito de quem quer mu-dar sua vida”?

Em Efésios 4:1 Paulo diz: “… andeis como é digno da vocação com que fostes chamados”. Isso é atitude, é decisão, é coerência. Minha vida deve ser vivida de acor-do com aquilo que eu creio.

II - ATITUDE DE DEDICAÇÃO

Uma palavra que também expressa dedicação é CONSAGRAÇÃO. Consagrar significa “tornar santo”. Dedicar é fazer a vida se tornar sagrada, entregue. O mi-nistério é um objeto de zelo. Quem tem um ministério deve ser zeloso por ele.

As atitudes de um ministério saudável

“Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com libera-lidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.” – Romanos 12:7-8

Paulo cita as atitudes que uma pessoa deve ter em cada área do seu ministério. “… se é ministério, seja em ministrar.” A palavra ministério significa “serviço”. Minis-tro, hoje, é sinal de posição, mas naquela época tinha a conotação de escravo, de alguém que era menor, que ser-via aos outros. Um ministro, por exemplo, lavava os pés dos hóspedes ou visitantes que chegassem a uma casa. Quem cuida da casa de Deus é servo do povo.

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“… se é ensinar, haja dedicação ao ensino.” Hoje, infelizmente, a cultura do “fast-food” entrou nas igrejas, nas reuniões, e os líderes não se preocupam em estudar profundamente os temas que pregam ou ensinam. Paulo fala de dedicação, de esmero, de gastar tempo orando, meditando, lendo e estudando a Palavra. O pregador não pode ser preguiçoso.

O evangelho não deve ser fonte de lucro finan-ceiro (1 Timóteo 6:5). Nós não pregamos para ganhar dinheiro. Ministério é um privilégio, é um sacerdócio e não uma profissão. É uma honra trabalhar preparando a noiva de Cristo. E, como Deus nos ama, Ele nos susten-ta, mas não porque merecemos, porque estamos apenas fazendo a nossa obrigação. Somos servos de Deus e não empregados assalariados da Igreja. Deus tem coração, a instituição não.

O evangelho também não deve ser fonte de lucro emocional. Às vezes entramos para o ministério porque “gostamos” de trabalhar nisso, de pregar, aconselhar, visi-tar. Mas não podemos fazer porque gostamos, e sim por-que Deus gosta; não porque nos dá prazer, e sim porque dá prazer a Deus.

O evangelho exige abnegação em favor dos outros. Abnegar-se é negar a si mesmo (Lucas 9:23). Quem não estiver disposto a negar a si mesmo em favor dos ou-tros, quem tem como coisa mais valiosa o seu descanso, o seu comodismo, não serve para o ministério. Jesus nunca procurou Seu próprio conforto (Lucas 9:58). Ele deixou Seu lugar de Rei e Se fez pobre por amor a nós (Filipenses 2:6-8; 2 Coríntios 8:9). Em hipótese alguma podemos querer tirar vantagem do ministério.

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“E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.” – João 17:19

Não podemos fazer nada que possa prejudicar ou atrapalhar a vida dos nossos discípulos. Por causa de-les nós nos sacrificamos, nos abnegamos. Uma mãe que amamenta não pode comer qualquer coisa, pois isto irá para o leite e afetará a criança. Como líderes, nossa vida é pública e sujeita a julgamentos, e não podemos fazer qualquer coisa que prejudique a vida de outras pessoas (1 Coríntios 6:12, 10:23). Temos de nos santificar por causa dos filhos que Deus nos deu para servir. Nos lí-deres deve operar a morte, para que na Igreja haja vida.

“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; e assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida.” – 2 Coríntios 4:8-12

Dedicação fala de cuidar da noiva de Cristo, a “me-nina dos olhos de Deus”. A menina é a pupila dos olhos. Não existe nada no corpo que protejamos mais do que a menina, a pupila dos olhos. É a parte mais sensível e mais protegida do nosso organismo. Então, devemos ter o máximo de cuidado com a Igreja, pois ela pertence a Deus e não a nós. Não podemos fazer as coisas para a

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Igreja de qualquer forma, mas com extremo zelo e cuidado. A Igreja é a noiva de Cristo e não nossa (Efésios 5:26-27). A Igreja é de Deus e não nossa. Nós não temos uma Igreja; ela é do Senhor. Nós somos da Igreja e a servimos (Mateus 16:18).

Falando a verdade em amor

“Antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos.” – 1 Tessalonicenses 2:7

Ser brando com as pessoas é ser carinhoso, amoro-so, cauteloso, comedido nas palavras (Provérbios 15:1). Podemos falar a verdade com todas as pessoas, mas em amor (Efésios 4:15). A verdade de Deus é carregada de amor. Quando Ele fala, a verdade entra em nós e nos transforma porque é cheia do Seu amor. A verdade sem amor mata, pois não vem de Deus.

Jonas não entendeu isso quando Deus lhe disse que iria destruir Nínive. Era uma verdade, mas o que o Senhor queria era salvar e não matar aquele povo. Quan-do o povo se converteu, Jonas ficou bravo com Deus, porque ele ouviu a palavra, mas não compreendeu o co-ração de Deus. Existem muitos ministérios semelhantes a Jonas no meio da Igreja, falando a verdade sem amor, chocando as pessoas, mas não dando esperança; matan-do as pessoas com a “espada do Espírito”. Não podemos matar as pessoas usando a Palavra de Deus. Nosso cora-ção e nossas palavras devem ser brandas, carregadas do amor de Deus.

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Paulo diz ainda que devemos cuidar da Igreja como as amas cuidam dos seus filhos. De que forma cuidamos da Igreja? Como quem cuida dos seus próprios filhos ou como quem cuida dos filhos dos outros, apenas profis-sionalmente? O povo precisa ver em nós a paternidade de Deus. Deus é Pai, e nós, como representantes do Senhor, trazemos ao povo a figura paterna d’Ele.

O pastor, o lobo, o mercenário e a ovelha

Em João 10 os personagens chamam atenção. Há o dono do rebanho, que é o pastor, o lobo, o mercenário e a ovelha. Em nossa cultura, o mercenário é uma figura negativa, mas nos tempos de Jesus era alguém contratado pelo pastor para ajudar a cuidar do rebanho quando este crescia muito, e ele fazia um excelente trabalho. Ajudava a tosquiar, a lavar, a alimentar, a dar remédio às ovelhas, e o pastor lhe pagava por isso. Então, qual é o problema do mercenário? O que faz a diferença entre o mercenário e o pastor? Esta resposta é dada pelo lobo, porque, na hora em que ele chega, o pastor fica e o mercenário foge. Quem revela o que eu sou, o meu caráter, o meu ministé-rio é o lobo. Quando o lobo se manifesta, seja através de uma luta, uma enfermidade, uma necessidade, a falta de dinheiro, uma perseguição, alguém que me calunia, uma situação ruim, nosso caráter é revelado. Qual é a sua ati-tude quando o lobo se manifesta? Se você desistir, fugir, retroceder, então é mercenário e não pastor. E quando você foge, leva outros consigo, pois esta atitude é conta-giosa. O lobo geralmente aparece como algo pequeno, mas que mexe com o nosso coração.

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Se você for um pastor e tratar as ovelhas como suas filhas, o lobo pode vir e você irá lutar e morrer, se neces-sário, junto com as ovelhas. E se, por um acaso, o lobo pegar uma das suas ovelhas, você lutará com ele com todas as suas forças para resgatá-la. Isso é dedicação: uma atitude de entrega, de sacrifício, de disposição até a morte.

Ensinando pelo viver

“Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, perseguições e aflições...” – 2 Timóteo 3:10-11

As pessoas próximas a você têm seguido de perto a sua doutrina, o que você ensina? Elas têm seguido o seu modo de viver, o seu procedimento, a sua intenção, a sua fé? A fé é visível, revelada pelas atitudes (“E Jesus, vendo a fé deles...” – Mateus 9:2). Tiago disse: “… mostra-me a tua fé” (2:18), porque a fé é visível, manifesta-se em nos-sas atitudes e reações. Se você é uma pessoa de fé, isso será visível; se você for uma pessoa incrédula, isso tam-bém será visível. Por isso, a fé sem obras, sem atitudes, é morta, não serve para nada.

Timóteo via de perto a fé que Paulo tinha através das suas ações, reações e atitudes. Nós precisamos en-sinar mais do que palavras – precisamos ensinar a FÉ. Não queremos uma Igreja que aprende coisas bonitas da Bíblia, mas não aprende a viver pela fé. O justo sempre viverá pela fé; caso contrário, Deus não terá prazer nele (Hebreus 10:38).

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As pessoas têm seguido sua longanimidade? Esta palavra significa “ânimo longo”. Lembra-nos uma dina-mite com um longo pavio, que demora a explodir. Não devemos ser explosivos, mas longânimos. É a capacidade de suportar sofrimentos, privações, provações, a capaci-dade para resistir. A palavra “resiliência” é adequada nes-te contexto, pois significa a capacidade de se moldar à pressão, de ser esticado ao máximo, mas, acabada a pres-são, voltar ao estado original. Você não se rompe com a pressão nem fica deformado após ela ter cessado.

As pessoas têm seguido o seu amor e a sua paciên-cia ou perseverança? A perseverança está em falta hoje na Igreja. Somos um povo de muitas iniciativas, mas poucas “acabativas”. Paulo disse: “Combati o bom combate, aca-bei a carreira, guardei a fé” (2 Timóteo 4:7). Perseverança é terminar aquilo que começamos. Deus não tem prazer na alma que retrocede ou naquele que é como a onda do mar, agitada por qualquer vento (Hebreus 10:38; Tiago 1:6). Paulo fala de Alexandre, de Demas e de outros que co-meçaram a segui-lo e retrocederam (2 Timóteo 4:10-14). Quem retrocede no Senhor incorre em maldição. Que Deus nos dê a capacidade de perseverar sempre e nunca retroceder, pois as Suas promessas são para aqueles que perseveram até o fim (Apocalipse 2 e 3). Existem pro-messas específicas para os perseverantes, portanto nunca desista, nunca volte atrás (Romanos 5:3-5).

As pessoas têm seguido de perto as suas aflições e perseguições? Timóteo viu as perseguições de Paulo, mas também viu seus livramentos. Se não formos perse-verantes nas tribulações e perseguições, não veremos os livramentos de Deus.

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O Senhor está conosco em todo o nosso caminho, fortalecendo-nos a cada passo que dermos. Ele firma os nossos pés para trilharmos os Seus caminhos. A vitória, muitas vezes, está no próximo passo; por isso, não de-sista, mas persevere. Tudo isso chama-se DEDICAÇÃO.

III - ATITUDE DE TRABALHO

Aquele que é disponível e dedicado trabalha. Os capítulos 28 e 29 de 1 Crônicas tratam desta atitude. Davi estava preparando seu filho Salomão para construir a casa de Deus, o Templo. O assunto nesses textos é so-bre construção, e todos nós que trabalhamos na obra de Deus somos construtores.

Podemos fazer quatro perguntas baseadas nesses textos: O que fazer, para quem fazer, com o que fazer e como fazer.

pRIMEIRA pERgUNTA:O QUE FAZER?

“Olha, pois, agora, porque o Senhor te escolheu para edificares uma casa para o santuário; esfor-ça-te, e faze a obra.” – 1 Crônicas 28:10

Você se considera uma pessoa escolhida por Deus? Por que você está no ministério? Todas as pessoas cha-madas para o ministério foram tiradas de alguma coisa que estavam fazendo, renunciaram a algo que estavam executando. É importante que todos tenham uma profis-são para que, dali, Deus possa tirá-los e levá-los a renun-ciar alguma coisa. Para fazer a obra de Deus você deve

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ser escolhido para isso e é necessário ter essa certeza, essa convicção, porque na hora da luta e do ataque o que irá sustentá-lo é o fato de você saber que Deus o escolheu para isso. Mas caso não tenha essa convicção, você não terá a força necessária para continuar.

Deus não chama pessoas desocupadas. Você tem convicção de que foi escolhido para edificar a Igreja? Se não tem, é bom parar e escutar o Senhor porque, neste caso, Deus não aceita voluntários. O princípio do minis-tério é ser separado por Ele, e Deus nos escolhe baseado na capacidade d’Ele e não na nossa (1 Coríntios 1:27).

Deus escolheu Salomão para edificar o Templo. Seu nome significa “homem de paz” ou “homem sereno”. Salomão, Moisés e Neemias tinham estas características – eram calmos, mansos, tranquilos. Não era uma coinci-dência. Isso significa que se você quiser trabalhar na obra de Deus, precisa deixar de ser rude, bravo, irado, des-controlado, agitado, ansioso. A obra de Deus é feita por pessoas tranquilas, que são capazes de ouvir o Senhor.

Para que Deus escolheu a Salomão ou O QUE ele deveria fazer? Ele deveria construir o templo, a casa do Senhor. Nós estamos aqui para construir uma casa. So-mos a casa e também os seus construtores. Essa casa não é um prédio físico, uma construção humana. Então, o que é a casa de Deus?

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual tam-bém vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.” – Efésios 2:20-22

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Este texto diz que não somos forasteiros ou estran-geiros, mas morada de Deus, ou seja, o Espírito Santo está trabalhando em nós para construir uma casa para Deus.

“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.” – 1 Pedro 2:5

Cada um de nós individualmente é uma pedra nesta edificação e, juntos, formamos a casa espiritual. O povo de Deus é a Sua casa. Existe uma relação entre Jesus e Davi e o Espírito Santo e Salomão. Davi quis construir uma casa para Deus, mas não pôde fazê-lo porque ele era um homem “de sangue”. Então Deus levantou Salomão para isso, mas foi Davi quem juntou todo o material e entregou nas mãos de Salomão. O Senhor Jesus também não construiu a casa para Deus, porque Ele também era homem “de sangue”, mas juntou na cruz as pedras bru-tas, que somos nós, e entregou-as para o Espírito Santo edificar esta casa para Deus. A Bíblia é clara quando diz que Deus está construindo uma casa para Ele, e essa casa somos nós.

“Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.” – João 14:2-3

Deus só tem uma casa, que é a Igreja (Mateus 8:20). Jesus não tinha uma casa quando esteve na Terra, mas ago-ra Ele tem; a Igreja é o lugar onde Jesus mora. Numa casa

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existem muitos cômodos (moradas). Cada um de nós é morada de Deus em espírito, mas todos formamos uma só casa. O Senhor só tem uma casa, uma noiva, uma família.

Então, o que estamos fazendo? Construindo a casa para Deus. Nosso trabalho é ensinar as pessoas a hospe-dar Deus em sua vida. A presença de Jesus no coração é o que muda e determina o comportamento das pessoas. A consciência da presença de Deus é o que nos impele a viver uma vida santa e nos impede de pecar. Se tivermos a consciência de que somos templo do Espírito Santo, a nossa vida irá mudar. Cada discípulo é morada de Deus onde quer que esteja, e esta consciência e convicção muda tudo em nossa vida.

SEgUNDA pERgUNTA:PARA QUEM FAZER?

“Disse mais o rei Davi a toda a congregação: Salo-mão, meu filho, a quem só Deus escolheu, é ainda moço e tenro, e esta obra é grande; porque não é o palácio para homem, mas para o Senhor Deus.” – 1 Crônicas 29:1

O que estamos fazendo é para Deus; estamos tra-balhando para o Senhor. Não vivemos para agradar a homens, mas a Deus. Quem determina a qualidade de um trabalho é a pessoa que o encomendou. Nosso Deus é exigente, e temos de fazer o melhor para Ele. A quali-dade da obra reflete o caráter de quem a está fazendo e de quem a encomendou. A casa de Deus tem de refletir o caráter de Deus e o caráter dos seus edificadores. Que tipo de casa estamos construindo para Ele? O projeto já foi dado por Ele, e não podemos alterá-lo.

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“Atenta, pois, que o faças conforme ao seu modelo, que te foi mostrado no monte.” – Êxodo 25:40

“E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te coloca-rei; entra no gozo do teu senhor.” – Mateus 25:21

Servo fiel é aquele que faz exatamente o que Senhor lhe determinou que fizesse e da forma como Ele o ins-truiu para fazer.

TERcEIRA pERgUNTA:COM O QUE FAZER?

Para construir a casa para Deus, não basta ter a planta. Precisamos também ter os materiais certos. A casa de Deus não é construída com tijolos, pois estes são feitos de acordo com o caráter de quem faz a forma, mas é construída com pedras vivas. Nós somos pedras porque fazemos parte da Rocha, Jesus, e temos a mesma natureza d’Ele.

As pedras têm de ser vivas, ou seja, não se pode edificar a casa de Deus com pessoas incrédulas, não con-vertidas, cheias de pecados, não comprometidas com o Senhor, porque é material diferente e há uma maldição para aquele que mistura material.

As pedras tinham de ser lavradas ou cortadas na pedreira e depois encaixadas nas paredes do templo. Deus nos tirou da pedreira do inferno e está nos lapi-dando, lavrando no poder do Espírito Santo, com muito fogo. É um processo dolorido, demorado e constante, mas necessário. Depois disso, o Senhor nos coloca na parede da Sua casa.

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Então, não podemos usar outro material na edifi-cação da casa a não ser pedras, a não ser um material santo, puro, lavrado, forjado pelo Senhor. Não cabe na Igreja de Deus fazer as coisas de qualquer jeito, usando qualquer pessoa. Temos de ser zelosos quanto a isto; não podemos “dar um jeito”.

“Eu, pois, com todas as minhas forças já tenho preparado para a casa de meu Deus ouro para as obras de ouro, e prata para as de prata, e cobre para as de cobre, ferro para as de ferro e madeira para as de madeira, pedras de ônix, e as de en-gaste, e pedras ornamentais, e pedras de diversas cores, e toda a sorte de pedras preciosas, e pedras de mármore em abundância.” – 1 Crônicas 29:2

Você emprega todas as suas forças na obra de Deus? Esta obra deve ser feita por gente esforçada e não por gente preguiçosa.

Uma ferramenta que usamos na construção da casa de Deus são os dons espirituais. O material relacionado no texto de 1 Crônicas 29:2 era o enfeite da casa, era o que adornava a casa. No Novo Testamento, o que adorna a Igreja são os dons espirituais. Não são um mero enfei-te, mas são coisas que usamos e embelezam a Igreja, tra-zendo uma nova vida a ela. Você usa os dons espirituais no seu ministério ou faz a obra pela sua própria força? Os dons espirituais são como “andaimes” de Deus em nossa vida. Só podemos edificar até a nossa altura; de-pois disso, só com os andaimes, com os dons espirituais.

Os dons são dados para a edificação, ou seja, não po-demos edificar a vida das pessoas sem eles (1 Coríntios 14). No livro O Obreiro Cristão Normal, de Watchman Nee, há um capítulo dedicado ao “saber ouvir”. Nele o autor

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diz que o obreiro precisa aprender a ouvir mais e falar menos e que devemos escutar em três níveis: o que a pessoa está falando, o que a pessoa gostaria de falar e não consegue e o que a pessoa está escondendo. Todas as pessoas têm uma boa razão e também uma razão ver-dadeira para falar as coisas, e nós temos de descobrir o que ela está falando, o que está querendo falar e o que está escondendo. Sem o Espírito Santo e os dons ninguém consegue isso. Precisamos ouvir o Espírito para aconselhar, profetizar, orar ou fazer qualquer coisa na obra de Deus. Os dons são a nossa caixa de ferramentas, e devemos usá-la.

“E eis que aí tens as turmas dos sacerdotes e dos le-vitas para todo o ministério da casa de Deus; estão também contigo, para toda a obra, voluntários com sabedoria de toda a espécie para todo o ministério; como também todos os príncipes, e todo o povo, para todos os teus mandados.” – 1 Crônicas 28:21

Outra ferramenta que usamos na construção da casa são os ministérios. Deus já colocou na Sua casa todos os ministérios necessários para a edificação. Na Igreja existem apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Ninguém tem todos os ministérios em si mes-mo, por isso precisamos que outros irmãos com minis-térios distintos do nosso nos ajudem na obra que esta-mos edificando. Muitas vezes achamos que temos todos os dons, que sabemos tudo, que podemos fazer tudo. Julgamo-nos os pedreiros, os pintores, o arquiteto, o en-genheiro e até o dono da casa. Para a construção de uma casa exigem-se muitos profissionais; precisamos uns dos outros para nos completarmos.

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Um problema que nos atrapalha é a questão das denominações, porque achamos que “não podemos ajudar quem é de outra denominação”. Precisamos dos homens de Deus que moram na nossa cidade, não im-portam quais sejam as suas denominações. Os ministé-rios precisam se complementar e se ajudar mutuamente. A igreja deve ter essa multiformidade ministerial para que se desenvolva e não fique estagnada com apenas algumas ênfases, geralmente relacionadas ao ministério mais expressivo do seu líder. A igreja que não se desen-volve em todas as áreas fica raquítica, não cresce, não produz. O próprio Deus nos limita para que precisemos uns dos outros.

Unidade só é feita por pessoas que fracassaram, ou seja, que descobriram que sozinhas não podem fazer nada. Se você não depende de ninguém para ajudá-lo é porque ainda não fracassou o suficiente. Que o Senhor nos ajude a entender e enxergar que, sozinhos, não po-demos edificar a Sua casa, e que possamos pedir ajuda aos nossos irmãos. A Igreja é edificada em uma cidade através do trabalho conjunto dos homens que o Senhor ali colocou.

qUARTA pERgUNTA:COMO FAZER?

“E tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai, e serve-o com um coração perfeito e com uma alma voluntária; porque esquadrinha o Senhor todos os corações, e entende todas as imaginações dos pen-samentos; se o buscares, será achado de ti; porém, se o deixares, rejeitar-te-á para sempre. Olha, pois, agora, porque o Senhor te escolheu para edificares

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uma casa para o santuário; esforça-te, e faze a obra.” – 1 Crônicas 28:9-10

A primeira coisa necessária para edificar a casa é conhecer o dono dela, conhecer o Senhor, ter relacio-namento íntimo com Ele, conhecer a mente e o coração d’Ele. Devemos saber, no nosso coração, o que Deus quer e o que Ele não quer, o que Ele gosta e o que Ele não gosta que façamos. Como fazer a obra? Conhecen-do o Senhor.

“E disse Davi a Salomão seu filho: Esforça-te e tem bom ânimo, e faze a obra; não temas, nem te apa-vores; porque o Senhor Deus, meu Deus, há de ser contigo; não te deixará, nem te desamparará, até que acabes toda a obra do serviço da casa do Senhor.” – 1 Crônicas 28:20

Aqui lemos mais duas atitudes necessárias para sa-ber como fazer a obra: esforçar e ter bom ânimo. Esforçar é quando a força natural acaba e vamos além da nossa capacidade normal. Às vezes paramos antes do tempo porque não sabemos o tamanho da nossa força. Esforçar é dar o próximo passo; não precisamos de força para o amanhã, mas para dar o próximo passo.

Ter bom ânimo é um mandamento (Josué 1:6; João 16:33). Quem não obedece ao mandamento está pecando. Assim, quando você estiver desanimado, pre-cisa se arrepender, pedir perdão, obedecer e renovar o ânimo, pois o Senhor já lhe providenciou isso na figura do Espírito Santo. Ele é a nossa força, e é na Sua força e capacidade que nós caminhamos (Salmos 18:2, 31:3).

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Paulo tinha um “acompanhante” que o esbofeteava diariamente, um mensageiro do diabo, para que ele não se tornasse soberbo com relação às revelações que recebia de Deus (2 Coríntios 12:7-9). Paulo orou e clamou a Deus pedindo livramento, mas o Senhor lhe disse que Sua graça lhe bastava, ou seja, aquilo era para o bem dele.

O desânimo é uma das armas destrutivas mais efi-cazes que existe no nosso ministério. Se não o tratarmos com firmeza, ele cresce com o tempo, derruba-nos e ain-da contamina outros. “O desanimado desanima mais o animado do que o animado anima o desanimado.” To-mando o exemplo de um copo com água quente, para que ela se esfrie não é necessário fazer nada, pois com o tempo se esfriará naturalmente. Assim acontece conosco: para esfriarmos basta não fazer nada, nenhum esforço. Para esquentar é necessário esforço, e isso se faz pela lei-tura da Palavra, pela oração, pela busca do Espírito San-to, pelo não se apartar dos irmãos, não andar sozinho, etc. (Provérbios 18:1, 11:14).

“E ainda, porque tenho afeto à casa de meu Deus, o ouro e prata particular que tenho eu dou para a casa do meu Deus, afora tudo quanto tenho prepa-rado para a casa do santuário...” – 1 Crônicas 29:3

Davi sentia um grande afeto pela Casa de Deus. Muitos fazem a obra de Deus sem afeto, sem devoção, sem paixão, friamente, profissionalmente. Você tem afeto pelo povo de Deus? Tem paixão pelo povo de Deus? Davi já tinha dado tudo o que podia do seu reino para a edificação do templo, mas, por causa do afeto que tinha pelo Senhor e pelo Seu povo, ele deu também dos seus bens particulares.

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“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” – Salmos 122:1

Davi se alegrava com o povo de Deus. Quem não tem afeto reserva coisas, guarda coisas para si e não aben-çoa o povo. O que muda a nossa história é o nosso afeto pelo povo do Senhor.

Paulo fala de “sentir dores de parto” pela Igreja (Gálatas 4:19). Quando a mulher sente dores de parto, ela tem um canal natural, dado por Deus, de colocar para fora a criança que foi gerada dentro dela. Os ho-mens não têm esse canal; então, quando estão com dores de parto, a única maneira de dar à luz é através da morte. Ministério é morte para nós e vida para os outros.

“Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; e assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida.” – 2 Coríntios 4:10-12

“Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gas-tar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” – 2 Coríntios 12:15

Que o Senhor nos encha a cada dia de afeto, devoção, paixão pela Sua Igreja, pelos discípulos, pelas pessoas. Jesus entregou sua vida pela Igreja. Que nós também nos en-treguemos mais e mais pelo povo do Senhor. Nosso amor deve ser intenso. O mesmo amor que o Senhor nos deu devemos dar às outras pessoas!

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REFLEXÕES SOBRE A FAMíLIA

Vamos refletir agora sobre como Deus vê a família. Quando vemos a família da mesma maneira que

Deus vê, muita coisa muda em nosso comportamento.

“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” – Romanos 12:1-2

Neste texto, Paulo, dirigido pelo Espírito Santo, usa o verbo “rogar”, que implica um pedido de grande impor-tância. “Não conformar”, por sua vez, tem o sentido de “não tomar ou ter a mesma forma”. Paulo estava dizendo para apresentarmos nosso corpo a Deus e não tomarmos a forma deste mundo.

cApíTULO 3

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Revendo o conceito de família e Igreja

Para o casamento, existe a forma do mundo e a for-ma de Deus. O Senhor está nos ensinando como transfor-marmos o nosso casamento. A “receita” que Paulo dá para isso é a “renovação do nosso entendimento”. As formas ou maneiras de ser não estão fora, mas dentro de nós, na nossa maneira de pensar. Nós refletimos no dia a dia aquilo que pensamos, demonstramos aquilo que acha-mos. Então, Deus trabalha na nossa maneira de pensar. Paulo ensina que se transformarmos os nossos pensa-mentos, a nossa vida será transformada.

O que você pensa sobre o casamento? Qual é a visão de Deus a esse respeito? Precisamos pensar o que Deus pensa. A isso chamamos de “visão profética”: ver as coisas como Deus vê.

Na Bíblia, família e Igreja se confundem, são a mes-ma coisa. No decorrer dos anos nós separamos a Igreja da família. Família passou a ser algo que temos e vive-mos na nossa vida particular e Igreja passou a ser uma atividade religiosa que funciona em alguns momentos da semana. Mas na visão profética, na visão de Deus, famí-lia e Igreja são uma coisa só.

“E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.” – Gênesis 3:8

Deus criou o homem e a mulher, colocou-os no jardim e todos os dias vinha conversar com eles – isso é igreja. Igreja é o relacionamento entre a família e Deus, é

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reflexões sobre a família

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a família chamada pelo Senhor em comunhão com Ele. A palavra “eclésia” significa “chamamento”: Deus cha-mando para Si. Se você e sua família estiverem diante de Deus e Ele estiver no meio de vocês, aí existe uma igreja. Sua família é a sua igreja.

No Éden, o relacionamento, a comunhão de Adão com Deus formava uma igreja. Mas o que aconteceu é que em um determinado dia o casal se descuidou. Em vez de estarem juntos compartilhando das coisas de Deus, Eva se afastou e Adão deixou de cuidar, de estar perto dela e entrou algo no meio. Antes, os dois conversavam entre si e com Deus, e não havia uma quarta pessoa. Só havia a voz do homem, da mulher e de Deus; não havia uma quarta voz no meio, e isso é igreja. Mas porque eles se afastaram um do outro, entrou uma quarta voz e con-fundiu a visão da mulher.

A mulher interpreta as coisas mais pelos seus sen-timentos, emocionalmente, subjetivamente, e o homem interpreta as coisas mais pela razão, pela mente, objetiva-mente. A mulher é mais pastoral, o homem é mais pro-fético. Isso não é um defeito, mas uma característica que Deus lhes deu. Quando a serpente falou com a mulher, ela interpretou segundo seus sentimentos e não exata-mente segundo Deus havia dito. Se ela obedecesse exa-tamente ao que Deus havia falado, nós ainda estaríamos vivendo no Éden. Mas o fato é que Jesus Cristo morreu para nos levar de volta ao paraíso.

Nunca permita que falte o diálogo e a comunhão en-tre você e o seu cônjuge, porque no dia em que isso acon-tecer a serpente entra. Eva ficou só, sem a cobertura do seu marido, e então a serpente entrou e começou a falar ao ouvido dela e distorceu a sua visão. Adão descuidou, se

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afastou, deixou a serpente entrar e conversar com a mu-lher. A lição mais importante que podemos aprender é: não se afastar e não deixar espaço para a serpente entrar. Quando eles se separaram, a serpente entrou, o pecado entrou e eles se afastaram de Deus.

Não existe nenhum desastre na face da Terra que possa ser comparado com o que aconteceu com o ho-mem e com a família a partir desse fato. Se juntarmos todos os terremotos, furacões e tsunamis de todas as épo-cas da história, ainda não será possível comparar com o que aconteceu ao ser humano naquele dia. Nós não con-seguimos calcular os efeitos de uma divisão de um casal.

- Mulher, nunca se aparte do seu marido! Quando você tiver qualquer problema no seu coração e seu ma-rido lhe perguntar o que é, fale, responda, abra seu co-ração; não diga que não tem nada. Fale o que está acon-tecendo e busque o conserto. Parafraseando 1 João 1:7: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, tenho comunhão com o meu cônjuge, e o sangue de Jesus Cris-to, seu Filho, nos purifica (nosso relacionamento, nossa casa) de todo o pecado”.

- Homem, não deixe de tratar as contendas, as dife-renças e os mal-entendidos; não deixe a serpente entrar!

- Casal, não deixe de conversar, de resolver as coi-sas! Seja verdadeiramente interessado no seu cônjuge, porque é impossível que um dos membros da família esteja mal e o outro esteja bem. Se a comunhão está cor-tada entre os dois, também está cortada com Deus. Se o marido não está bem com a sua esposa, suas orações são interrompidas.

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“Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus coerdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações.” – 1 Pedro 3:7

Todo grande empreendimento de Deus na história da humanidade começou com uma família. Quando Ele criou o homem, criou também a mulher. Deus deixou o homem sozinho por um tempo apenas para ele perceber a necessidade que tinha de uma esposa (Gênesis 2:18-20). Quando Deus fez o homem, a Bíblia diz que “macho e fê-mea” os criou (Gênesis 1:27), ou seja, dentro do homem havia duas criaturas, o homem e a mulher. Um dia, Deus fez o homem dormir e, de dentro dele, tirou a mulher (Gênesis 2:21-22). A mulher não foi criada, mas tirada de dentro do homem. Assim também a Igreja estava den-tro de Jesus e, na cruz, quando seu lado foi aberto jorran-do água e sangue, dali Deus tirou-a. Quando o homem se casa, os dois indivíduos que no princípio eram apenas um se tornam novamente um só indivíduo, pois a mulher volta para o homem (Efésios 5:31). Homem e mulher foram feitos diferentes, pois é na diferença que ambos se completam.

A vontade de Deus é que, segundo Habacuque 2:14, toda a Terra se encha “do conhecimento da gló-ria do Senhor”. Como isso iria acontecer? Adão e Eva teriam filhos, e estes se pareceriam com Deus, porque Adão foi criado à Sua imagem, e o casal se parecia com Deus (Gênesis 1:27). Então estas crianças cresceriam, se multiplicariam e toda a Terra se encheria de pessoas pa-recidas com Deus.

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Quando o homem pecou e se afastou de Deus, ele perdeu a semelhança com o Senhor. Então “Adão… gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua ima-gem…” (Gênesis 5:3), ou seja, após o pecado todos os homens se tornaram parecidos com Adão, à sua imagem e semelhança; não eram mais parecidos com o Senhor. Hoje a Terra está cheia de pessoas parecidas com Adão e Eva; não têm mais a semelhança de Deus. Mas Jesus veio à Terra, livrou-nos da maldição de Adão e agora está formando uma família que tem a semelhança d’Ele. Deus está restaurando isso, Ele vai encher a Terra com o co-nhecimento da Sua glória, e todos os Seus filhos terão a imagem e a semelhança do Senhor Jesus.

Noé e sua família

O homem pecou e a Terra se encheu de maldade, a ponto de Deus dizer que Se arrependeu de haver criado o homem (Gênesis 6:5-6). Esta é uma das passagens mais tristes das Escrituras. Mas o Senhor resolveu purificar a Terra. O que Ele fez então? Escolheu uma família, a fa-mília de Noé (Gênesis 6:7-22). Noé estava lavrando a sua vinha quando Deus desceu e lhe disse que iria des-truir a Terra, trazendo um dilúvio sobre ela, e que Noé deveria construir uma arca, que seria a salvação do povo. Mas nunca havia chovido sobre a Terra, ou seja, construir uma arca era uma loucura. Noé não era carpinteiro, e construir uma arca para salvar o povo de um dilúvio que nunca haviam visto ou existido era o maior e mais louco empreendimento que ele poderia fazer. Mas Noé chegou em casa, chamou sua esposa e seus filhos e relatou a