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Recursos Naturais, Meio Ambiente e Desenvolvimento

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Flávia BortolotiTiago Henrique dos Santos GarbimTatiana de Ávila MiguelLílian Gavioli de Jesus

Recursos naturais meio ambiente e desenvolvimento

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bortoloti, Flávia da Silva

ISBN 978-85-8482-166-2

1. Geografia da população. 2. População. 3. Demografia. I. Jesus, Lílian Gavioli de. II. Título

CDD 910

Gavioli de Jesus. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2015. 192 p. : il.

B739g Geografia da população / Flávia da Silva Bortoloti, Lílian

© 2016 por Editora e Distribuidora Educacional S.A

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e

transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Presidente: Rodrigo GalindoVice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava

Gerente Sênior de Editoração e Disponibilização de Material Didático: Emanuel Santana

Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra DannaCoordenação de Produção: André Augusto de Andrade Ramos

Coordenação de Disponibilização: Daniel Roggeri RosaEditoração e Diagramação: eGTB Editora

2016Editora e Distribuidora Educacional S.A

Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João PizaCEP: 86041-100 — Londrina — PR

e-mail: [email protected] Homepage: http://www.kroton.com.br/

Bortoloti, Flávia da Silva

ISBN 978-85-8482-325-3

1. Recursos naturais. 2. Desenvolvimento econômicoAspectos ambientais. 3. Ecologia. I. Garbim, Tiago Henrique dos Santos, II. Miguel, Tatiana de Ávila. III. Jesus, Lílian Gavioli de. IV. Título.

CDD 577

Flávia da Silva Bortoloti, Tiago Henrique dos Santos Garbim, Tatiana de Ávila Miguel, Lílian Gavioli de Jesus. – Londrina:Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016. 210 p.

B739r Recursos naturais, meio ambiente e desenvolvimento /

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Sumário

Unidade 1 |Histórico da questão ambiental e sua relação com a popu-

lação

Seção 1 - A evolução das questões ambientais 1.1 | O Planeta Terra 1.2 | A descoberta da agricultura e o uso artificial do planeta: interferências no meio ambiente 1.3 | A constituição das primeiras cidades 1.4 | Do artesanato à revolução industrial 1.5 | As Indústrias: agravamento das questões ambientais 1.6 | Conferências mundiais sobre o meio ambiente

1.6.1 | Estocolmo – 1972 1.6.2 | Comissão mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento (CMMAD) 1.6.3 | Conferência de Toronto – 1988 1.6.4 | Conferência de Genebra – 1990 1.6.5 | Conferência das nações unidas para o meio ambiente e o desenvolvimento (CNU-MAD) 1.6.6 | Conferência das partes (COP)

1.6.7 | Conferência sobre o desenvolvimento sustentável (RIO+20)

Seção 2 - Crescimento populacional e a utilização dos recursos naturais 2.1 | O Crescimento populacional mundial e os recursos naturais 2.2 | A relação população e recursos naturais

2.2.1 | Consumo de combustíveis fósseis 2.2.2 | Consumo de água

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Unidade 2 | Recursos naturais e fontes de energia

Seção 1 - Recursos naturais: conceitos e aplicações 1.1 | O que são Recursos Naturais? 1.2 | Tipos de recursos naturais 1.3 | Recursos naturais são aplicados como fontes de energia

Seção 2 - Fontes de energia renováveis: exemplos e distribuição 2.1 | Energia solar

2.2 |Energia eólica

2.3 |Energia hidrelétrica 2.4 |Energia geotérmica 2.5 |Energia das ondas e marés 2.6 |Energia de biomassa

Seção 3 - Fontes de energia não renováveis: exemplos e distribuição3.1 | Carvão 3.2 | Petróleo 3.3 | Gás natural 3.4 | Energia nuclear

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Unidade 3 | Ecologia e agronegócio – conceitos básicos e impactos so-

cioambientais no brasil

Seção 1 - Fundamentos de ecologia 1.1 | Cadeias e teias alimentares 1.2 | Relações ecológicas 1.3 | Dinâmica ambiental – equilíbrio ecológico, ação antrópica e poluição

Seção 2 - Agronegócio: impactos socioambientais, econômicos e sustentabilidade 2.1 | Agronegócio: impactos socioambientais, econômicos e sustentabilidade 2.2 | Impactos sociais e ambientais do agronegócio

2.2.1 | Impactos socioeconômicos 2.2.2 | Impactos socioambientais 2.2.2.1 | A questão dos fertilizantes, defensivos, adubos e antibióticos 2.2.2.1.1 | Desmatamento e biodiversidade 2.2.2.2 | Solo 2.2.2.3 | Poluição, resíduos e efluentes 2.2.2.4 | Demanda por recursos naturais 2.2.2.5 | A questão dos transgênicos e da segurança alimentar

2.3 | Sustentabilidade e agronegócio

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Unidade 4 | A importância da educação ambiental na conservação dos

recursos naturais

Seção 1 - Sustentabilidade e política nacional da educação ambiental

Seção 2 - Educação ambiental: projetos na escola

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Apresentação

Caro aluno, você está iniciando mais uma disciplina do Curso de Licenciatura em Geografia, cujo nome é Recursos Naturais, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Ao iniciar nossos estudos nesta disciplina, faço um convite para uma jornada pelo conhecimento geográfico, em especial sobre os conceitos que envolvem a dinâmica socioambiental.

Você sabe quais foram as principais conferências mundiais sobre o meio ambiente? Sabe o que são recursos naturais? Ou ainda, qual a importância da Educação Ambiental na manutenção dos recursos naturais?

Você será conduzido, ao longo da construção dos conhecimentos desta disciplina, a correlacionar um conjunto de conteúdos básicos já apreendidos em outras disciplinas, o que vai favorecer a compreensão de novos tópicos. Essa inter-relação é importante, pois a aprendizagem ocorre não linearmente, mas por meio de redes. Dessa maneira, é essencial correlacionar e estabelecer elos para que as reflexões e sistematizações das ideias apresentem consistência.

Esta disciplina é de suma relevância tanto para sua formação acadêmica quanto para sua atuação como professor de Geografia. Por meio da disciplina de Recursos Naturais, Meio Ambiente e Desenvolvimento, portanto, você poderá melhor compreender as interações entre o meio natural e o meio social e, ainda, as profundas modificações causadas pelo homem no meio ambiente em favor do desenvolvimento econômico.

Na Unidade 1 – Histórico da Questão Ambiental e sua Relação com a População, você compreenderá a questão ambiental em suas bases históricas, conhecerá as principais conferências mundiais sobre o meio ambiente e, ainda, verá a discussão sobre o crescimento populacional e a utilização de recursos naturais.

Na Unidade 2 – Recursos Naturais e Fontes de Energia, será analisado o que são os recursos naturais, qual sua importância para o manejo dos diferentes ecossistemas. Nessa unidade serão abordados, também, exemplos de fontes de energia renováveis e não renováveis, bem como sua distribuição.

Na Unidade 3 – Ecologia e Agronegócio – Conceitos Básicos e Impactos Socioambientais no Brasil, serão discutidos os fundamentos de ecologia e os impactos ambientais, econômicos e sociais do agronegócio no Brasil.

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Na Unidade 4 – A Importância da Educação Ambiental na Conservação dos Recursos Naturais, você compreenderá a relação entre a Educação Ambiental, a sustentabilidade e o manejo dos recursos naturais.

Espera-se que, após o estudo desta disciplina, você possa melhor apreender os estudos socioambientais, seus objetivos e propósitos e possa colocar em prática os conhecimentos aqui construídos em sua futura prática docente.

Bom estudo!

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Unidade 1

HISTÓRICO DA QUESTÃO AMBIENTAL E SUA RELAÇÃO COM A POPULAÇÃO

Na Seção 1.1, apreenderemos sobre o modo com que a degradação do meio ambiente se iniciou e perdurou ao longo da evolução da humanidade, se intensificando. Ainda nesta seção vamos conhecer algumas das principais conferências mundiais sobre o meio ambiente e seus resultados.

Na Seção 1.2, discutiremos o crescimento populacional mundial e o consumo de recursos naturais, em especial os combustíveis fósseis e a água.

Seção 1 | A evolução das questões ambientais

Seção 2 | Crescimento populacional e a utilização dos recursos naturais

Objetivos de aprendizagem:

Nesta unidade, você será levado a compreender o histórico da questão ambiental no mundo; a conhecer as conferências mundiais sobre o meio ambiente e, ainda, apreender sobre o crescimento populacional e o consumo de recursos naturais.

Flávia Bortoloti

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Introdução à unidade

Caro acadêmico, você já teve acesso a algum material que discutisse a questão ambiental? Já estudou a respeito das conferências mundiais sobre o meio ambiente e a evolução das discussões sobre a relação entre o homem e o meio ambiente?

Nesta unidade, você é convidado a conhecer e analisar o modo como se deu a relação do homem como o meio que o cerca e, ainda, como as ações humanas fizeram para originar e agravar os problemas ambientais pela exploração e pelo consumo de recursos naturais.

Bons estudos!

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Seção 1

A evolução das questões ambientais

Caro acadêmico, você sabe o que é a questão ambiental? Como ela tem evoluído? O modo como o ser humano tem se relacionado com os recursos naturais?

Nesta seção, você vai compreender como ocorreu a evolução das questões ambientais e, ainda, conhecer as principais conferências mundiais sobre o meio ambiente.

Antes de iniciarmos nossas discussões, observe a Figura 1.1, o planeta Terra, e reflita sobre os seguintes questionamentos:

• O planeta Terra pode ser considerado jovem?

• Ele está em constante transformação ou é estático?

• Como os seres humanos interferem na transformação do planeta?

Fonte: Disponível em: <https://pixabay.com/get/08868f2b89f1db892b60/1438190018/earth-11015_1280.jpg?direct>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Figura 1.1 | O planeta Terra

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Para aprofundar o conhecimento sobre a formação do planeta Terra, acesse o site: <http://natgeotv.com/pt/terra-formacao-de-um-planeta>. Acesso em: 20 ago. 2015. Nele você encontrará vídeos exclusivos sobre a Terra, bem como galerias com imagens impressionantes.

Se colocássemos a formação do planeta Terra em uma linha do tempo com duração de um ano, como ela ficaria?

1.1. O planeta Terra

O planeta Terra foi formado há cerca de 4,5 bilhões de anos (mostrando-se muito “jovem” se comparado com a formação do universo, cerca de 15 a 18 bilhões de anos) e ao longo de sua história propiciou um conjunto de condições únicas para a existência e a estabilidade de diversas formas de vida, e evidências de vida bacteriana foram já encontradas em rochas com idade de 3.500 milhões de anos. A evolução da vida tornou possível o surgimento dos homens primitivos, porém, há “apenas” 2 milhões de anos. Portanto, a história da humanidade é considerada muito curta em relação à história da vida na Terra.

Na evolução da formação do planeta existem

[...] registros de drásticas alterações ambientais, como a deriva dos continentes; as rupturas na crosta terrestre, áreas as quais há milhões de anos pertenciam ao fundo do mar e hoje são habitadas, como, por exemplo as ilhas havaianas, que surgiram bem depois da formação do planeta, por consequência de erupções vulcânicas; as glaciações registradas, diminuindo a temperatura do planeta em vários graus centígrados, são também exemplos de fenômenos geológicos e climáticos que podem ser medidos em milhões e até centenas de anos, mostrando que o planeta Terra não é algo inanimado, mas sim vivo e em constante transformação natural (SILVA; CRISPIM, 2011, p. 164, grifos nossos).

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Se toda a história de nosso planeta, desde o primeiro momento de sua existência até o presente momento, tivesse ocorrido em um intervalo de um ano, os primeiros de nossos ancestrais iniciaram suas andanças, no continente africano, no dia 31 de dezembro às 19:12 horas e Cabral só chegaria ao Brasil às 23:59:57 horas do mesmo dia!

Caro acadêmico, você já se deu conta de que é da Terra que retiramos tudo aquilo de que necessitamos para nossa sobrevivência, tal como água e alimentos? Já percebeu que sobre ela construímos nossas moradas e dela obtemos matérias-primas para a produção de nossos utensílios e energia? Todavia, é nela que depositamos todos resíduos, tanto os industriais quanto os domésticos.

A humanidade intervém no meio em que vive, pelo menos, desde que aprendeu a dominar o fogo e então começou a modificar as condições naturais do planeta. Não se sabe ao certo quando o homem começou a dominar o fogo e a natureza, mas há registros de exploração mineral com cerca de 40.000 anos, quando a hematita era minerada na África para ser utilizada como tinta para decoração.

Caro acadêmico, como futuro professor de geografia, você pode utilizar o filme a Guerra do Fogo para discutir com seus alunos a importância do domínio do fogo para a sobrevivência da raça humana.

Mesmo com a intervenção humana sendo iniciada há tantos séculos, os impactos gerados no meio ambiente, antes da revolução agrícola (8.000 a.C.), eram muito baixos, pois os primeiros humanos, por serem caçadores e coletores nômades, retiravam da natureza somente o necessário para sua subsistência e apresentavam baixa densidade demográfica.

De acordo com Cordani e Taioli (2003, p. 518):

[...] os registros mais antigos de uso artificial da Terra e sua exploração mais ativa são de 8.000 a.C., com o início da chamada revolução agrícola. Desde então a humanidade explora os recursos naturais do planeta e modifica a superfície terrestre para atender suas necessidades que crescem continuamente com o desenvolvimento das civilizações.

Caro acadêmico, você consegue perceber que o domínio do fogo e da agricultura transformaram radicalmente a vida humana e o planeta Terra?

Para que possamos compreender a evolução das questões ambientais é necessário que entendamos como evoluiu o uso artificial da Terra.

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1.2 A descoberta da agricultura e o uso artificial do planeta: interferências no meio ambiente

O uso artificial do planeta se iniciou há cerca de 11.000 anos com o desenvolvimento das primeiras formas de agricultura. O desenvolvimento de técnicas de plantio ocasionou grandes mudanças no modo de vida da humanidade. Os cuidados com a agricultura exigiam que os homens a esta dedicassem uma parte de seu tempo que outrora era destinado à caça e à colheita. Assim, dentre outros fatores, o homem foi se tornando sedentário.

Mas não apenas mudanças sociais ocorreram com o desenvolvimento da agricultura. É a partir de então que impactos significativos do homem sobre meio se iniciam.

De acordo com Silva e Crispim (2011, p. 164), a “[...] evolução histórica das questões ambientais repercute desde os tempos remotos, quando o homem desenvolveu um relacionamento direto como dependente dos recursos existentes na natureza, sua fonte de sobrevivência”.

Estudos realizados a partir da sondagem de amostras de gelo (por meio dos gases aprisionados em bolhas de ar) com 2 quilômetros de comprimento, retirados do continente Antártico e da Groelândia, indicam que, não coincidentemente, houve aumento da concentração de CO2 (dióxido de carbono) e CH4 (gás metano) – gases capazes de aprisionar calor na atmosfera e acentuar o efeito estufa – na mesma época em que se começa a prática da agricultura. As amostras analisadas preservaram um registro de 400 mil anos da temperatura do planeta e dos níveis de dióxido de carbono e metano na atmosfera.

A agricultura se originou na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates – região onde atualmente se situa o Iraque –, há cerca de 11.000 anos, quase concomitantemente, no norte da China e poucos milênios mais tarde, nas Américas. Através dos tempos, a agricultura se espalhou para outras regiões e há cerca de 2.000 anos todos os alimentos conhecidos hoje já eram cultivados em algum lugar do mundo.

Observe a seguir a Figura 1.2, que apresenta a localização da antiga civilização mesopotâmica.

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Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fe/Karte_Mesopotamien.png>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Figura 1.2 | Mesopotâmia

Pode parecer que realizar uma análise da agricultura primitiva e correlacioná-la com a degradação ambiental global seja duro demais em épocas que a queima de combustíveis fósseis (carvão, gás natural e petróleo) estão atingindo níveis extremamente altos, em que a natureza não mais consegue absorver todo o carbono lançado à atmosfera. No entanto, Cordani e Taioli (2003, p. 518) afirmam:

Vários séculos atrás, a civilização da Mesopotâmia utilizava intenso sistema de irrigação que, pelo manejo intenso e impróprio, levou à salinização dos solos e sua consequente degradação para agricultura. Também a civilização Maia, na América Central, entrou em decadência pela má utilização do solo, o que provocou intensa erosão e escassez de água.

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Portanto, por mais que na atualidade os impactos ambientais causados pela exploração dos recursos do planeta sejam mais intensos e visíveis, é possível afirmar que surgimento da agricultura aumentou sobremaneira as transformações da natureza.

Estudos demonstraram que o início da agricultura pode ter originado o agravamento do efeito estufa, porque grandes áreas florestadas foram desnudadas para dar lugar ao plantio. Para se ter uma ideia da magnitude do problema, na Inglaterra, no ano 1086, 90% das florestas naturais em terras baixas agricultáveis haviam sido eliminadas; isso em uma época em que se estima que a densidade populacional do país fosse de cerca de 10 habitantes por quilômetro quadrado.

Cientistas, analisando as práticas agrícolas de civilizações de tecnologia avançada que habitavam os vales férteis de importantes rios da Índia e da China, acreditam que essas áreas foram desflorestadas há 2.000 ou 3.000 anos, pois nessa época já apresentavam densidade demográfica maior que a inglesa supracitada.

A retirada da vegetação nativa acarreta diversos impactos sobre o meio, como a exposição do solo que tende a ser carregado pelas águas das chuvas aos rios, o que prejudica a fertilidade e pode incorrer em assoreamento de curso d’água, além de aumentar a concentração de carbono na atmosfera, já que os gases CO2 e CH4 são produzidos na queima e na decomposição da matéria, respectivamente.

O metano é emitido naturalmente na atmosfera por meio da decomposição de vegetais em água parada. Após a vegetação de pântanos e charcos florescerem, no fim do verão, elas morrem e emitem carbono na atmosfera na forma de CH4. Outra forma natural de emissão ocorre por meio de fezes e gases intestinais dos animais. Dessa forma, o desenvolvimento da pecuária também acarretou maiores concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera.

Os seres humanos desenvolveram, no sul da Ásia, há cerca de 5.000 anos, técnicas de irrigação a partir da inundação de terras baixas, como no sul da China, onde a inundação de áreas próximas a rios foi utilizada para o plantio de variedades de arroz adaptadas. Com extensas planícies alagáveis ao redor de grandes rios, faz sentido que vastas porções de terra pudessem ter sido alagadas tão logo a técnica fosse descoberta, aumentando a concentração de metano pelo mesmo motivo que ocorre em pântanos ou charcos.

Há 3.000 anos essa técnica já havia se difundido para Indochina e o vale do rio Ganges (Índia), e há cerca de 2.000 anos agricultores do sudeste asiático começaram a construir terraços em terrenos escarpados para o cultivo do arroz. A técnica de terraceamento consiste na construção de terraços artificiais, isto é, no aplainamento em degraus de superfícies inclinadas, em forma de curvas de nível, interrompendo o declive, para que ocorra a retenção da água e de sedimentos.

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Com a realização da agricultura em áreas artificialmente alagadas, não é difícil de entender que a interferência artificial no planeta estava ocorrendo e, assim como em pântanos, a decomposição de vegetação em ambiente de água parada gerava uma quantidade considerável de gás metano.

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/92/LongjiTerraces.jpg>.Acesso em: 20 ago. 2015.

Figura 1.3 | Terraços em Guangxi, China

O geólogo estadunidense William F. Ruddiman, que estuda mudanças climáticas há aproximadamente 40 anos, defende a ideia de que as práticas agrícolas de nossos ancestrais dispararam o aquecimento global milhares de anos antes de começarmos a queimar combustíveis fósseis e a andar de automóveis.

Caro acadêmico, você acha que a ideia do geólogo William F. Ruddiman é plausível?Para saber mais da hipótese formulada por esse cientista, acesse o site: <http://www.humansandnature.org/william-ruddiman-and-the-ruddiman-hypothesis-article-196.php>. Acesso em: 20 ago. 2015.

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É sabido que a temperatura média da Terra foi oscilante através dos tempos e que muito provavelmente novas mudanças hão de ocorrer. As geleiras são os grandes laboratórios naturais que ajudam a comprovar essas mudanças. Mais de 400 mil anos de registro de temperatura e dos níveis de dióxido de carbono e metano na atmosfera podem ser estudados a partir dos gases que ficam aprisionados nas bolhas de ar e demonstram que o planeta já passou por períodos com médias térmicas anuais mais ou menos elevadas, resultando em degelo – e consequente aumento do nível do mar – ou épocas glaciais – tendo a última terminado há cerca de 20.000 anos.

As análises de perfurações de gelo indicaram que a temperatura média global tendia a declinar, há cerca de 11.000 anos, assim como as concentrações de CO

2

e CH4 na atmosfera. O que se observou foi uma abrupta mudança em caminho

contrário, justamente quando a agricultura se tornou uma prática difundida em todo o globo. A concentração de CO

2 começou a aumentar há cerca de 8.000

anos e, 3.000 anos mais tarde, a mesma coisa aconteceu com o metano. Acredita-se que não foi por mero acaso ou processo natural.

Simulações sugerem que, sem a interferência humana nas emissões de gases do efeito estufa (tanto da agricultura quanto da indústria), a temperatura média da Terra seria quase 2º C mais fria do que é hoje. Pode parecer pouco, mas a média global na última máxima glacial, há 20 mil anos, era apenas 5º C a 6º C mais baixa do que hoje! Então, talvez, as práticas agrícolas podem ter evitado que entrássemos em uma nova era glacial.

Fato inegável é: as atividades humanas influenciam diretamente no equilíbrio do planeta.

Para saber mais sobre as alterações climáticas, acesse a reportagem: “Quando os humanos começaram a alterar o clima?” Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/quando_os_humanos_comecaram_a_alterar_o_clima_.html>. Acesso em: 20 ago. 2015.

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1.3 A constituição das primeiras cidades

Com o gradual aumento populacional, novas áreas precisaram ser destinadas à agricultura, as quais eram conseguidas por meio da derrubada de matas e florestas. As árvores derrubadas serviam como combustível e matérias-primas para construção de moradias. Assim, o homem foi, cada vez mais, aumentando não só seu poder de controle sobre a natureza, mas também sua capacidade de fixação. No entanto, a agricultura e o sedentarismo, apenas, caracterizam não a formação de cidades, mas, no máximo, aglomerações humanas ou então vilas.

Para a efetivação de aglomerados humanos que possam ser considerados cidades, a agricultura teve que evoluir até tornar possível a existência de um excedente, isto é, o que aconteceu apenas quando a produção de alimentos se tornou maior que a necessidade para a alimentação.

Isso porque não havia mais a necessidade de que todos do bando se dedicassem apenas à atividade agrícola. Desse modo, um grupo de pessoas deveria se dedicar a outras atividades, como a segurança do bando, o comércio e o artesanato. Assim, houve a criação da divisão social do trabalho, o qual foi o fator último necessário para a constituição das cidades.

Lembre-se, caro acadêmico, de que antes da existência de uma divisão social do trabalho, havia a divisão sexual do trabalho, em que os homens eram responsáveis pela caça e as mulheres pela criação e cultivo de alimentos.

As primeiras cidades foram fundadas às margens de grandes rios, em razão da necessidade de utilizar a água para abastecimento e irrigação. Assim, as grandes cidades da Antiguidade foram sendo construídas na Mesopotâmia (atual Iraque), entre os rios Tigre e Eufrates, nos vales do Rio Nilo (Egito), do Rio Indo (Centro-Norte da Índia) e dos grandes rios da China. Em virtude disso alguns autores chamam essas cidades de hidráulicas.

Como apreendemos anteriormente, algumas civilizações perderam sua importância por terem degradado o meio ambiente em que viviam, como as civilizações mesopotâmica e maia. Mas, ainda na Antiguidade, houve tentativas de conter os abusos dos recursos naturais, como no Egito há mais de 3.000 anos.

De acordo com Viestel (2011, p. 2): “Na sociedade egípcia os recursos naturais tinham um valor histórico próprio (com suas características econômicas, políticas, sociais e culturais), o que fez com que a questão ambiental fosse uma questão de sobrevivência, e não uma ‘visão de conservação’ ou ‘consciência ambiental’ [...].”

A partir de então, paulatinamente, novas técnicas e novos instrumentos foram desenvolvidos para melhoria da vida da população. O artesanato foi mais difundido e, consequentemente, aumentou o uso artificial do planeta, mas não ao ponto de se tornar expressivo.

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No trabalho artesanal, o trabalhador tem identidade total com o produto que está desenvolvendo, tendo em vista que participa de toda a produção. Contudo, a produtividade é muito baixa.

1.4 Do artesanato à revolução industrial

Até o período feudal, a produção artesanal continua sendo a única forma de produção. Quando se inicia a decadência desse período e começa a ascensão das cidades1, o comércio se torna uma prática mais difundida que outrora.

O trabalho artesanal foi sucedido pela manufatura, quando a produção se tornou mais complexa, pois, no processo manufatureiro, vigorava a divisão do trabalho, isto é, o produto não era mais realizado pelas mãos de uma só pessoa; portanto, a produção aumentou de forma nunca antes imaginada.

As manufaturas eram estabelecimentos que podiam ser considerados a primeira forma histórica de produção capitalista. Eram constituídas por empresas que produziam mercadorias com métodos artesanais, isto é, embora sem o uso de máquinas movidas por uma forma de energia não humana, nelas trabalhavam, por vezes, até centenas de pessoas, com uma divisão do trabalho bem definida, ou seja, cada trabalhador desempenhava determinada função.

Entre os séculos XVI e XVII, mudanças radicais sob todos os aspectos nas relações sociais e de trabalho começaram a ocorrer com o desenvolvimento da manufatura. Não só a produção e a capacidade de produção aumentaram, mas também a utilização de recursos da natureza.

A complexidade do trabalho manufatureiro pode ser considerada o alicerce da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX. Com o advento de máquinas, a capacidade produtiva do ser humano alcançou números nunca antes imaginados, porém a altos custos ao equilíbrio ambiental, visto que o combustível adotado para mover as máquinas das fábricas foi o carvão mineral, abundante na Inglaterra e altamente poluidor.

O processo industrial foi inaugurado por uma série de mudanças tecnológicas, econômicas e sociais. Até a época em que se inicia a Revolução Industrial, as preocupações com a degradação ambiental não eram tratadas com muita relevância. E, diante da necessidade de busca de maiores fontes de matérias-primas e em razão do crescente e acelerado aumento populacional observados nos últimos dois séculos, a indústria mundial usurpou, a bel-prazer do lucro, toda a fonte natural de que necessitou. 1 É bom dizer que os feudos, em razão de suas características, não podem ser considerados cidades. O modo de produção feudal está baseado na servidão, em que não há mobilidade social, além de ser quase que exclusivamente agrário.

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Para saber mais sobre o desenvolvimento da tecnologia e seus impactos no meio ambiente, acesse o documento acadêmico intitulado “Tecnologia e Meio Ambiente”, de Alessandro Ribeiro de Sousa e Orlene Silva da Costa. Disponível em: <http://estudio01.proj.ufsm.br/cadernos/ifgo/tecnico_acucar_alcool/tecnologia_meio_ambiente.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Mesmo assim, nesse cenário, na França do século XVIII nasceu a ideia de preservação e recuperação do meio ambiente, quando artistas (principalmente pintores) realizaram um movimento para recuperar e preservar a floresta de Fontenebleu.

Caro acadêmico, você consegue perceber que, com o desenvolvimento das técnicas e da tecnologia, os seres humanos foram alterando com maior intensidade o meio ambiente?

Veja que, hoje em dia, praticamente não existe um local que não tenha sido modificado, mesmo que em menor escala, pelo homem.

1.5 As Indústrias: agravamento das questões ambientais

A Revolução Industrial teve início não por acaso. Os donos das manufaturas já tinham percebido as vantagens econômicas do aumento da produtividade, e havia a necessidade de aumentá-la ainda mais para alcançarem maiores lucros. Ademais, a Inglaterra possuía uma grande soma de riquezas que puderam ser investidas em novos meios para aumentar a produção, razão pela qual conseguiram desenvolver máquinas para cuja movimentação não era utilizada energia humana.

A aplicação da energia a vapor às máquinas permitiu que estas fossem completamente revolucionadas. Seu tamanho e sua velocidade de operação deixaram de estar limitados pela capacidade do organismo humano, de modo que sua eficiência parecia não ter limites. A energia a vapor passou a ser utilizada também no transporte, tanto marítimo (barcos a vapor), quanto terrestre (locomotivas). O proprietário de uma fábrica mecanizada podia vender seu produto a um preço muito inferior do que o dono de uma manufatura, e com uma margem de lucro muito maior. Desse modo, a produção industrial se difundiu com rapidez.

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Mas a revolução tecnológica das máquinas teve altos custos tanto para o operário – não era raro haver fábricas que empregavam crianças e idosos, com jornadas de trabalho que ultrapassavam 15 horas – quanto para o meio ambiente, tendo em vista que o carvão mineral foi utilizado para a produção de vapor.

As cidades operárias inglesas foram cada vez mais aumentando o crescimento populacional, não porque os salários pagos pelos donos das fábricas fossem atrativos para os camponeses, mas porque o governo local desapropriou as terras rurais para “liberar” os homens às fábricas. Esses trabalhadores livres vendiam sua força de trabalho para as indústrias, pois era a única forma que tinham para ganhar dinheiro.

Com os baixos salários e os altos índices de poluição, as cidades operárias inglesas eram completamente insalubres. Os serviços públicos mais básicos, como coleta de esgoto e abastecimento de água, não acompanhavam a intensa migração de pessoas dos campos para as cidades.

Com o decorrer dos anos, os sistemas de produção industrial passaram por diversas modificações, tornando-se cada vez mais complexos e produtivos e buscando sempre a maximização dos lucros e a minimização dos custos de produção. Com a fase monopolista do capital e a introdução dos conceitos de racionalização do trabalho proposto por Taylor2, a produção industrial se apoiou no suor de seus operários para que os lucros fossem os maiores possíveis.

A busca de maiores lucros motivou maiores níveis de produção e, por consequência, maior exploração dos recursos naturais, elevando conjuntamente a degradação do meio ambiente, por meio de desmatamentos, a poluição do ar, da água e do solo e aumento da geração de resíduos, dentre outros impactos negativos.

As mudanças ocorridas nos modos de produção fabril durante o século XIX acarretou também mudanças no nosso modo de vida cotidiano; somos influenciados a consumir cada vez mais, resultando em altos custos ao meio ambiente.

Para se ter uma ideia, se todos os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta vivessem com um consumo médio de um morador dos EUA, estipula-se que em menos de 5 anos seriam esgotadas as matérias-primas da Terra. Além disso, seria praticamente impossível suprir a demanda de energia. Isso nos traz a reflexão de que uma mudança em nosso comportamento consumista talvez seja a única solução para diminuir a problemática ambiental de hoje.

De acordo com Silva e Crispim (2011, p. 165) ,2 Frederick Winslow Taylor (1856-1915), estadunidense, engenheiro, considerado o pai da "Organização Científica do Trabalho", desenvolveu um conjunto de estudos que determinaram a organização do processo de trabalho contemporâneo, difundido em todo o mundo (COELHO; GONZAGA, s.d).

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A sociedade consumista em que vivemos enfrenta a acelerada degradação dos recursos naturais que compromete a qualidade de vida, principalmente das futuras gerações e, por outro lado, leva nossa sociedade a procurar modelos alternativos que harmonizem o desenvolvimento econômico com a indispensável proteção ambiental.

Caro acadêmico, reflita sobre o seguinte questionamento: é possível modificar os padrões de exploração de recursos naturais sem, no entanto, afetar negativamente a economia global?

Após a Segunda Guerra Mundial, com o agravamento da problemática ambiental, as preocupações em torno do tema passaram a se destacar. O aumento populacional e o das áreas urbanas tornaram mais evidentes os problemas que a industrialização estava ocasionando ao meio ambiente, principalmente nos países mais industrializados. As preocupações com a questão ambiental começaram a ser consideradas mais pertinentes, pois esta mostrava-se, cada vez mais, capaz de comprometer a qualidade de vida da população. Os problemas relativos ao ambiente foram se acentuando e discussões a respeito do futuro do planeta tornaram-se mais frequentes. As interferências humanas no meio ambiente não mais tinham como ser negligenciadas.

Por exemplo, em dezembro de 1952, a cidade de Londres foi acometida de um grande desastre. Durante o inverno daquele ano, diversas fábricas, sobretudo as de geração de energia elétrica, e, também, as residências, utilizavam o carvão mineral como combustível, lançando à atmosfera uma grande quantidade de gases tóxicos, como o enxofre, além de material particulado, ocasionando o fenômeno do smog — que é a contração das palavras fog e smoke (fumaça).

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No dia 4 de dezembro do mesmo ano, uma massa de ar frio vinda do Norte penetrou na cidade e ocasiou uma inversão térmica; e até o dia 13 mais de 4.000 pessoas acabaram morrendo de problemas cardíacos e respiratórios.

Procure mais sobre o episódio o Grande Smog. Para isso, acesse o site disponível em: <http://lhys.org/iag/141-smog.pdf> Acesso em: 20 ago. 2015. Nele você encontrará um breve texto com importantes dados e fatos desse momento na Inglaterra.

Observe a Figura 1.4 a seguir para visualizar como Londres ficou coberta por um grande nevoeiro durante três dias. Após esse episódio trágico em 1956, o Parlamento Britânico aprovou uma legislação regulando a emissão de poluentes no país.

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/02/Nelson%27s_Column_during_the_Great_Smog_of_1952.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Figura 1.4 | Smog em Londres – 1952

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Outro fator de grande importância para a divulgação dos problemas ambientais são os desastres provocados pelas indústrias no mundo todo. Muitas empresas foram responsáveis por desastres que levaram a óbito milhares de pessoas, como, por exemplo, a contaminação por mercúrio na lagoa Minamata (Japão) em 1956, ocasionada pela empresa Chisso Co. Ltd. Há também a explosão do reator da empresa ICMESA, em Seveso (Itália), em 1976, que liberou toneladas de dioxina; a falha em equipamento (ou humana) da unidade de fabricação de isocianato de metila da Union Carbide Índia Ldt. em Bhopal (Índia), em 1984, em que ocorreu a descarga de acidental na atmosfera de 40 toneladas da mistura que estava em processo; a explosão de um dos reatores nucleares da Usina de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, que espalhou material radioativo correspondente a mais de quarenta vezes ao das bombas de Hiroshima e Nagazaki juntas; ou o vazamento de 24.000 barris de petróleo da Exxon Valdez, em 1989, no santuário ecológico da Baía de Príncipe Williams, no Alasca. Somente esses cinco acidentes ambientais somaram prejuízos maiores que U$ 13.670.000.000,00 (U$ 12 bi somente em Chernobyl) e causaram danos à vida de mais de 140.000 pessoas, sem contar os danos causados ao meio ambiente.

Perceba, caro acadêmico, que a industrialização é a maior responsável pela rápida degradação que vivemos atualmente. A partir da década de 1960, as preocupações com o meio ambiente passaram a ser amplamente discutidas e popularizadas e a Organização das Nações Unidas (ONU), começaram a realizar conferências internacionais para discutir o assunto.

1.6 Conferências mundiais sobre o meio ambiente

Caro estudante, antes de adentrarmos em nossas reflexões sobre as principais conferências mundiais sobre o meio ambiente, é necessário que mencionemos um importante trabalho realizado pela bióloga marinha Rachel Carson na década de 1960; e, ainda, a criação do Clube de Roma, ocorrida no final da mesma década.

Carson lançou em setembro de 1962 um livro intitulado Primavera Silenciosa, em que denunciou o intenso uso de agrotóxicos, em especial do diclorodifeniltricloroetano (DDT), primeiro pesticida moderno, amplamente utilizado após a Segunda Guerra Mundial.

A bióloga constatou que esse pesticida atingia todo ecossistema, solo, águas, fauna e flora, e poderia trazer riscos à saúde humana, já que o DDT tem efeito cumulativo na cadeia alimentar.

Por mais plausíveis, reais e apoiadas por diversos segmentos da sociedade que fossem as formulações de Carson, fabricantes de pesticidas se uniram para desacreditar as ideias da bióloga. Pereira (2012, s/p.) aponta que :

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Entender o perfil da população de um país é fundamental par o delineamento de políticas públicas nas áreas de saúde, educação, habitação e sistema previdenciário, bem como para a elaboração de análises, estudos e prognósticos sobre o desenvolvimento demográfico e socioeconômico da nação.

Cientistas comprometidos com a produção de agrotóxicos publicaram artigos questionando a legitimidade do livro porque a autora não tinha doutorado (era mestre em zoobotânica), e outros a atacaram com argumentos preconceituosos, chamando-a de “freira da natureza”, “solteirona”, “feiticeira”, insinuando que deveria se calar apenas pelo fato de ser uma mulher.

Apesar desse fogo cruzado – as difamações e o avanço do câncer –, Rachel Carson depôs no Senado dos Estados Unidos e participou de debates e de programas na televisão, divulgando os perigos dos agrotóxicos para a saúde humana e para o ambiente.

Para saber mais sobre Rachel Carson, leia as informações do site <http://www.rachelcarson.org/>. Acesso em: 20 ago. 2015. Nele você encontrará informações sobre seus estudos, sua biografia, livros e pesquisas recentes que foram inspiradas nessa cientista.Procure, também, pelo livro Primavera Silenciosa, principal obra de Rachel Carson. Leia uma resenha sobre esse livro tão importante para os debates sobre o meio ambiente no site <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2010/275/pdf_aberto/resenha275.pdf>. Acesso em 20 ago. 2015.

O DDT teve seu uso banido em vários países europeus e nos Estados Unidos durante as décadas de 1960 e 1970. Atualmente, cerca de 180 países restringem o uso desse pesticida. No Brasil, as proibições com relação à fabricação e à comercialização desse composto somente ocorreu no ano de 2009 (PEREIRA, 2012).

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Apesar de já ter se passado mais de meio século da publicação de Carson, seu livro ainda continua a direcionar e inspirar os debates em torno da temática do uso de agrotóxicos. Caro acadêmico, pesquise mais sobre esse tema, que é de fundamental importância, já que Brasil lidera o ranking de consumo de agrotóxicos.

No final da década de 1960 foi criado o Clube de Roma. Em 1968, um pequeno grupo de profissionais das áreas de diplomacia, indústria, universidades e representantes da sociedade civil se reuniu em Roma para discutir suas preocupações com relação ao crescimento econômico e ao consumo de recursos naturais.

Esse grupo também trouxe à tona discussões sobre o consumismo como fator para a degradação ambiental, o crescimento populacional mundial, o aumento das atividades industriais e, ainda, propôs que se pensasse em todos os tipos de poluição, e não somente a poluição atmosférica que se mostrava mais em evidência naquele momento. O Clube, atualmente, trabalha em parceria com organizações como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Clube de Roma teve papel decisivo nas discussões que posteriormente ocorreriam na primeira conferência mundial sobre o meio ambiente, pois, no ano de 1972, esse grupo publicou o relatório “Os limites do crescimento”, no qual se realizou uma projeção para cem anos do crescimento populacional e econômico – não considerando os avanços tecnológicos e a possibilidade de descoberta de novos recursos e materiais. Constatou-se que, para atingir a estabilidade econômica respeitando a limitação e a finitude dos recursos naturais, seria necessário parar o crescimento populacional global e a industrialização, trazendo, assim, a tese do Crescimento Zero.

De acordo com Meadows (1972, p. 20 apud GODOY, 2007, s.p.), as teses e conclusões do relatório “Os limites do crescimento” são:

1. Se as atuais tendências de crescimento da população mundial industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial.2. É possível modificar essas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que se possa manter até um futuro remoto. O estado de

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equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual.3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.

Para aprofundar o entendimento sobre o Clube de Roma, entre no site: <http://www.clubofrome.org> (acesso em: 20 ago. 2015), no qual você encontrará publicações, notícias, webcast e eventos sobre o meio ambiente.

1.6.1 Estocolmo – 1972

A Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano foi a primeira conferência da ONU para discutir os problemas ambientais que afetavam o mundo. Aconteceu em Estocolmo na Suécia em 1972. Estavam presentes na conferência, representantes de 113 países, 250 organizações não governamentais e organismos da ONU.

Nessa conferência as nações foram alertadas para o fato de que as ações humanas estavam causando sérias degradações à natureza, o que poderia colocar em risco a própria sobrevivência da humanidade.

As discussões desse evento foram marcadas pelo confronto entre as perspectivas dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos (ou em desenvolvimento). Enquanto os países desenvolvidos propunham programas internacionais, voltados à conservação dos recursos naturais e genéticos da Terra, os países subdesenvolvidos (ou em desenvolvimento) argumentavam que a imposição de exigências de controle ambiental poderia retardar e aumentar os custos de seu recente processo de industrialização.

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Os debates dessa conferência resultaram na Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, uma carta com princípios de responsabilidades e comportamentos que deveriam orientar as decisões sobre as políticas ambientais; também foi elaborado um plano de ação que convocava países, organismos da ONU e demais organizações internacionais, a cooperarem na busca de soluções para os problemas ambientais.

Leia mais sobre a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, documento elaborado na Conferência da ONU em Estocolmo 1972, no site da Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo, disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-o-ambiente-humano.html>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Ainda no ano de 1972, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Caro acadêmico, reflita como o ano de 1972 foi importante para a evolução dos debates sobre o meio ambiente.

1.6.2. Comissão mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento (CMMAD)

A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – também conhecida como Comissão Brundtland por ter sido presidida por Gro Harlem Brundtland – foi criada em 1983, pela ONU, e tinha como objetivo reexaminar as questões relativas ao meio ambiente e reformular propostas realistas para abordá-las e, ainda, propor novas formas de cooperação internacional, a fim de nortear ações e políticas na realização de mudanças necessárias para a contenção dos problemas ambientais.

Uma das principais ações dessa Comissão era a realização de audiências ao redor mundo afim de se produzir um relatório formal com as conclusões advindas dessas reuniões.

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O relatório foi publicado após três anos de audiências com líderes de governo e o público em geral no mundo todo sobre questões relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Reuniões públicas foram realizadas tanto em regiões desenvolvidas quanto nas em desenvolvimento, e o processo possibilitou que diferentes grupos expressassem seus pontos de vista em questões como agricultura, silvicultura, água, energia, transferência de tecnologias e desenvolvimento sustentável em geral. (UNEP, 2003, p. 11).

O relatório final da Comissão foi intitulado Our Common Future (Nosso futuro comum) e foi publicado em 1987. Nesse documento, o desenvolvimento sustentável foi definido como o “desenvolvimento que atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade de gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987 apud UNEP, 2004, p. 11).

A CMMAD enfatizou problemas ambientais como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio – conceitos inovadores para época – e, ainda, demonstrou preocupação com o fato de que a velocidade das transformações da natureza, causadas pelas ações humanas, excediam a capacidade das ciências em avaliar e propor soluções para os problemas ambientais.

“A Comissão concluiu que os arranjos institucionais e as estruturas de tomada de decisões existentes, tanto em âmbito nacional quanto no internacional, simplesmente não comportavam as demandas do desenvolvimento sustentável.” (UNEP, 2004, p. 11)

Caro acadêmico, para ler o documento original do relatório “Nosso futuro comum”, acesse o site <https://ambiente.files.wordpress.com/2011/03/brundtland-report-our-common-future.pdf> . Acesso em: 20 ago. 2015.

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1.6.3. Conferência de Toronto – 1988

Esta conferência ficou conhecida como a “Conferência de Toronto sobre a atmosfera em mudança”, tendo sido a primeira a se preocupar com o clima. Nesse evento, governantes e cientistas discutiram em conjunto as ações humanas na mudança do clima. Os governos dos países industrializados comprometeram-se a diminuir, voluntariamente, as emissões de CO2, com o corte de 20% até o ano de 2005.

Esse evento foi de fundamental importância para a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organismo internacional instituído pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a fim de fornecer ao mundo uma visão científica sobre as alterações climáticas e suas possíveis repercussões ambientais e socioeconômicas.

Para saber mais sobre o IPCC, acesse o site do Painel, em que você encontrará informações atualizadas sobre o clima do planeta e, ainda, publicações sobre o tema. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/index.htm>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Em agosto de 1990 foi publicado o primeiro relatório de avaliação climática do IPCC, mostrando que havia sinais de aumento da temperatura do planeta. Nesse documento se afirmava que seria necessário reduzir de 60 a 80% das emissões de CO2 para se estabilizar a concentração desse gás na atmosfera.

1.6.4. Conferência de Genebra – 1990

Diante do relatório de avaliação climática do IPCC, ocorreu em Genebra na Suíça, em novembro de 1990, a segunda conferência sobre o clima do mundo; a primeira ocorreu na mesma cidade no ano de 1979. O relatório do IPCC foi o principal impulso político para nortear uma resposta global à ameaça da mudança do clima.

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Nessa Conferência foi reafirmado que os países deveriam ter compromissos reais com a comunidade internacional e traçar metas para atender ao objetivo de estabilizar as emissões de gases do efeito estufa a fim de impedir uma interferência perigosa no clima global. Ainda nesse evento discutiu-se a produção de um tratado internacional do clima, que seria criado em 1992.

1.6.5. Conferência das nações unidas para o meio ambiente e o desenvolvimento (CNUMAD)

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra, Eco-92 ou Rio-92, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, foi uma das maiores conferências realizadas para a discussão das questões ambientais. Vinte anos depois da primeira Conferência Mundial da ONU sobre o meio ambiente, líderes mundiais e entidades ambientais se reuniram para analisar como estava a evolução das políticas de proteção ambiental.

Os principais objetivos dessa conferência foram:

• Avaliar a situação ambiental de acordo com o desenvolvimento.• Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias não poluentes aos países em desenvolvimento.• Examinar estratégias para a incorporação de preocupações ambientais ao processo de desenvolvimento.• Estabelecer um sistema de cooperação internacional para prever ameaças ambientais e prestar socorro em casos de emergência.• Reavaliar o sistema de organismos da ONU, criando, se necessário, novas instituições para implementar as decisões da conferência. (PORTAL BRASIL, 2012, s/p.).

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Caro acadêmico, você consegue perceber que, com o passar dos anos, as questões ambientais se tornaram cada vez mais urgentes e discutidas em nível mundial? Convido você a pesquisar mais sobre esse tema e refletir sobre as mudanças ocorridas com relação ao tratamento das questões ambientais em escala global.

Na Eco-92 foram produzidos cinco documentos e duas Convenções de suma importância que, entre outros aspectos, advertiam sobre a necessidade, urgente, de transformação de comportamento, com a finalidade de preservar a vida Terra.

São resultados da Rio-92:

A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (contendo 27 princípios); A Agenda 21 – um plano de ação para o meio ambiente e o desenvolvimento no século XXI; A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB); A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS); um acordo para negociar uma convenção mundial sobre a desertificação; A declaração de Princípios para o Manejo Sustentável de Florestas. (UNEP, 2004, p. 16).

Para saber mais sobre a Agenda 21 leia o Box 1 a seguir, no qual você encontrará informações relevantes sobre as quatro principais áreas de atuação desse documento, o qual, mesmo não tendo validade legal, mostra-se como um instrumento importante e influente no campo do meio ambiente. Ela contém 4 seções, 40 capítulos, 115 programas, e aproximadamente 2.500 ações a serem implementadas.

Ainda que esse instrumento seja base de referência para o manejo ambiental na maior parte das regiões do mundo, as práticas enfatizadas em seus 40 capítulos são pouco efetivas, em razão, principalmente, dos altos custos de implantação.

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Box 1: Agenda 21

A Agenda 21 estabelece uma base sólida para a promoção do desenvolvimento em termos de progresso social, econômico e ambiental. A Agenda 21 tem quarenta capítulos, e suas recomendações estão divididas em quatro áreas principais:

• Questões sociais e econômicas como a cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável, combater a pobreza, mudar os padrões de consumo, as dinâmicas demográficas e a sustentabilidade, e proteger e promover a saúde humana.

• Conservação e manejo dos recursos visando ao desenvolvimento, como a proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento, o combate à desertificação e à seca, a promoção da agricultura sustentável e do desenvolvimento rural, a conservação da diversidade biológica, a proteção dos recursos de água doce e dos oceanos e o manejo racional de produtos químicos tóxicos e de resíduos perigosos.

• Fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo mulheres, crianças e jovens, povos indígenas e suas comunidades, ONGs, iniciativas de autoridades locais em apoio à Agenda 21, trabalhadores e seus sindicatos, comércio e indústria, a comunidade científica e tecnológica e agricultores.

• Meios de implementação do programa, incluindo mecanismos e recursos financeiros, transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis, promoção da educação, conscientização pública e capacitação, arranjos de instituições internacionais, mecanismos e instrumentos legais internacionais e informações para o processo de tomada de decisões.

Fonte: UNEP. Integração entre o meio ambiente e o desenvolvimento: 1972-2002. In: IBAMA. Perspectivas do Meio Ambiente Mundial 2002 – GEO-3. Nairobi, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 2004. Disponível em: <http://www.wwiuma.org.br/geo_mundial_arquivos/capitulo1.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2015.

Caro acadêmico, enquanto futuro professor de Geografia, você acredita que a Agenda 21 possa ser utilizada em suas práticas docentes?

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Aprofunde mais o conhecimento sobre a Agenda 21 na escola ao ler a publicação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério da Educação (MEC) intitulada “Formando Com-Vida: construindo a Agenda 21 na escola”, na qual você encontrará projetos e oficinas que podem lhe auxiliar em suas práticas pedagígicas. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/com_vida.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015.

1.6.6 Conferência das partes (COP)

As COPs começaram a ser realizadas anualmente em meados da década de 1990. A Conferência das Partes (COP) é um foro internacional de negociação dos princípios e políticas referentes à implantação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQMC).

A COP-1 foi realizada em Berlim, em 1995, onde foram realizadas negociações e definidas metas para a redução dos gases do efeito estufa; a COP-2 ocorreu em 1996 em Genebra, quando foi decidido que os relatórios do IPCC iriam nortear as futuras decisões sobre o clima e, ainda, que os países em desenvolvimento receberiam auxílio financeiro da Conferência das Partes para desenvolver programas de redução de emissões de gases do efeito estufa.

A COP-3 indubitavelmente foi a principal na década de 1990, pois foi nessa conferência ocorrida em Kyoto, em 1997, que foi criado o Protocolo de Kyoto, que impõe aos países signatários a reduzir (5,2%, comparando-se com os níveis de 1990, até o ano de 2012, tendo sido, entretanto, estendido até o ano de 2017) suas emissões de gases do efeito estufa. Para que entrasse em vigor era necessário que 55 países (dentre eles os mais industrializados e poluidores) retificassem o acordo, pois, juntos, eles representavam 55% das emissões globais de gases do efeito estufa. O Protocolo entrou em vigor somente em 2005 com a adesão da Rússia ao acordo. Os Estados Unidos, um dos maiores emissores de gases poluentes, não aderiram ao acordo.

A COP-4 foi realizada na Argentina, em 1998. Nessa reunião decidiu-se como seria a implantação das medidas preconizadas pelo Protocolo de Kyoto. A COP-5 (Bonn – Alemanha, 1999) deu início às reuniões sobre a Mudança de Uso da Terra

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e Florestas. Durante a COP-6 (em Haia – Holanda, 2000) o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou que não ratificaria o Protocolo, alegando que os custos de diminuição desses gases seriam muito elevados.

Na COP-7 (Marrakesh – Marrocos, 2001), o Brasil apresentou uma proposta de criação de Fundo de Desenvolvimento Limpo, no qual os países que estivessem descumprindo suas metas de redução de emissão de gases do efeito estufa, deveriam depositar valores, que seriam utilizados pelos países em desenvolvimento, com objetivo de auxiliá-los no desenvolvimento tecnológico e de “[...] evitar que os países em desenvolvimento cometessem os mesmos erros, no âmbito ambiental que os países desenvolvidos” (MARCHEZI; SANTOS, 2013, p. 42). A proposta foi recusada e substituída pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que entrou em vigor após a COP-8 (Nova Délhi – Índia, em 2001).

O MDL possibilita que os países desenvolvidos, que possuem metas de reduções descritas no Protocolo de Kyoto, possam adquirir certificados de redução de emissões (RCE) de GEE em projetos gerados e implementados em países em desenvolvimento, como forma de cumprir parte de suas metas de redução. (MARCHEZI; SANTOS, 2013).

Aprenda mais sobre MDL lendo a publicação intitulada Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – Guia de orientação. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro_mdl/mdl_1.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Das COPs que se sucederam, as mais importantes foram a COP-16 (Cancun – México, 2010), em que foi criado um Fundo Verde do Clima, que administra todo o dinheiro dos países desenvolvidos aplicado em mecanismos para a diminuição dos gases do efeito estufa, e a COP-17 (Durban – África do Sul, 2011), em que houve a renovação do Protocolo de Kyoto e a extensão de suas metas de redução de emissões de gases poluentes para 2017.

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1.6.7 Conferência sobre o desenvolvimento sustentável (RIO+20)

Esta conferência foi realizada em 2012 no Rio de Janeiro e ficou conhecida como Rio+20 em razão de ter marcado os vinte anos de realização da Eco-92. Nesse evento houve a contribuição na definição das ações futuras (para os próximos 20 anos) para o desenvolvimento sustentável. Os principais temas abordados durante a conferência foram a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

De acordo com Brasil (2012, s/p.), a questão da economia verde é

[...] o desafio proposto à comunidade internacional é o de pensar um novo modelo de desenvolvimento que seja ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável. Assim, a economia verde deve ser uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável. O Brasil propõe-se a facilitar as discussões, uma vez que o debate sobre o tema encontra-se em estágio inicial.

Leia sobre a Rio+20 no site do evento disponível em: <http://www.rio20.gov.br/> . Acesso em: 20 ago. 2015. Nele você encontrará os documentos resultantes da Conferência, o relatório de sustentabilidade os cadernos de sustentabilidade, que trazem as diretrizes de sustentabilidade, bem como um guia de boas práticas, para os setores da construção civil, empresas de alimentação e hoteleiro.

Caro acadêmico, após refletir sobre a ideia supracitada, você acredita que seja possível encontrar um mecanismo para que o desenvolvimento seja ambientalmente “responsável, socialmente mais justo e economicamente fiável”?

Fato inegável é que, entre avanços e retrocessos, os debates sobre as ações humanas e suas contribuições para a degradação ambiental estão na pauta do

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dia de, praticamente, todos os países do mundo, cabendo aos governos, ONGs e todos os segmentos da sociedade unirem-se para que as ações sustentáveis sejam efetivamente colocadas em prática.

1. De acordo com os conhecimentos construídos nesta seção e com seus conhecimentos prévios, pontue por que o planeta Terra pode ser considerado jovem quando comparado com a evolução do Universo e, ainda, por que a Terra pode ser considerada um organismo em transformação.

2. O Brasil pode ser considerado um país que inovou nos debates sobre o meio ambiente no momento em que levou à comunidade internacional a proposta de criação de Fundo de Desenvolvimento Limpo. No entanto a proposta brasileira foi recusada e em seu lugar criou-se o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.Diante disto, explique o que é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e o modo como ele pode auxiliar na diminuição das emissões de gases do efeito estufa.

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Seção 2

O crescimento populacional e a utilização dos recursos naturais

Caro acadêmico, você sabe o que é a questão ambiental? E qual é a relação entre o crescimento populacional e o uso dos recursos naturais? Já teve acesso a alguma teoria que levasse em consideração o crescimento da população e a pressão sobre os recursos naturais?

Aprendemos na Seção 1.1 que o ser humano transforma o meio em que vive, pelo menos, desde a descoberta do fogo. Vimos ainda que, com a evolução da sociedade, a descoberta de novos modos de produzir e o modo de consumo exacerbado provocaram intensa exploração dos recursos naturais. Nesta seção, você verá discussões e reflexões sobre o crescimento populacional e sua relação com a utilização dos recursos naturais.

Antes de iniciarmos as discussões sobre o crescimento populacional e a utilização dos recursos naturais, é necessário entender o que são esses recursos (que serão discutidos com maior profundidade na Unidade 2 deste material).

De acordo com o Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais (RECURSOS, 2002, p. 198), recurso natural é “tudo o que se encontra na Natureza que podemos utilizar, como os alimentos, energia, matéria-prima para construções etc.”; o ar, a água, o solo, minerais não renováveis (ferro, areia), energia renovável (sol, vento, fluxos de água), energia não renovável (combustíveis fósseis, energia nuclear).

Portanto, é possível compreender que os recursos naturais são necessários à vida, tanto humana quanto a animal, e que a utilização inconsciente deles pode trazer sérios risco à vida.

2.1 O crescimento populacional mundial e os recursos naturais

Caro estudante, você se recorda de como a população cresce? Lembra-se de quais são os tipos de crescimento populacional existentes?

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A população apresenta dois tipos de crescimento: o vertical (natural ou vegetativo) e o crescimento horizontal. O crescimento vertical é mensurado pela diferença entre as taxas de natalidade e mortalidade; o crescimento horizontal, por sua vez, é medido pela diferença entre o número de imigrantes e emigrantes.

Neste tópico nos ocuparemos de refletir sobre o crescimento vertical da população. De acordo com dados da ONU (2004b), no ano 2000 o planeta Terra atingiu a marca de 6,1 bilhões de habitantes e somente onze anos depois já éramos em 7 bilhões. Recentemente, no ano de 2015, já somos cerca de 7,4 bilhões de pessoas habitando a Terra.

Caro aluno, você acredita que os impactos ambientais são ocasionados pelo intenso crescimento populacional mundial ou pelo modo como a maior parte da população mundial orienta seu consumo? Realize pesquisas e reflita sobre este questionamento.

Para que possamos compreender como o planeta chegou a 7 bilhões de habitantes, é interessante revisar a história e observar os dados ao longo do tempo. Desse modo, podemos evidenciar que a população mundial tem crescido de modo contínuo ao longo do tempo, apesar de apresentar intensidades e proporções diferentes.

Na Figura 1.5 (Crescimento da População Mundial [1500 – 2050]), podemos observar a trajetória do crescimento da população mundial.

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Fonte: Sene e Moreira (2010, p. 194)

Figura 1.5 | Crescimento da População Mundial (1500-2050)

Caro aluno, qual é a interpretação que podemos ter a partir das informações desse gráfico?

Perceba que até 1800 o crescimento da população ocorreu em um ritmo muito lento. No início do século XIX o mundo tinha um contingente populacional inferior a 1 bilhão de habitantes, embora tenha atingido o primeiro bilhão de pessoas nas primeiras décadas do referido século. A partir do século XX, especialmente na segunda metade, 1950, observa-se um crescimento exponencial, de modo que entre 1950 e 2000, mais que duplicou o número de habitantes no planeta, passando de 2,5 bilhões em 1950 para 6,1 bilhões em 2000.

Segundo estimativas da ONU, a população mundial cresce cerca de 1,3% ao ano. Contudo esse crescimento ocorre de forma desigual entre as regiões do mundo, em especial entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ainda de acordo com as estimativas das Nações Unidas, as regiões que apresentam maior crescimento são a Ásia e a África.

Na Tabela 1.1 é possível observar que a China e a Índia apresentam, respectivamente, 1,3 bilhões e 1,2 bilhões de habitantes.

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Fonte: Modificado de Word Population Data Sheet (2014, p. 2). Disponível em: <http://www.prb.org/pdf14/2014-world-population-data-sheet_eng.pdf>.Acesso em: 20 ago. 2015.

Quadro 1.1 | População Mundial 2014 – países mais populosos

Perceba, analisando a Figura 1.5, que a população mundial tende a chegar à marca de 9,2 bilhões por volta dos anos 2050. Em 29 de julho de 2015 a ONU3 publicou um relatório indicando que em 2100 haverá 11 bilhões de habitantes e, também, que em apenas sete anos a população da Índia será maior que da China. O documento diz ainda que em 35 anos a Nigéria será o terceiro maior país do mundo e o Brasil passará a ocupar a sétima posição, em 2050, e a décima terceira em 2100.

De acordo com Letra (2015, s.p.)

A maior taxa de crescimento populacional nas próximas três décadas estará concentrada na África. Pela projeção da ONU, a população de 28 nações desse continente irá dobrar. E olhando além, até 2100, Angola, Burundi e RD Congo serão um dos 10 países da África com maior aumento populacional. [...] O crescimento da população depende muito dos rumos do padrão de fertilidade, porque segundo a ONU, pequenas mudanças de comportamento podem gerar grandes diferenças no total da população em cada região. Em anos recentes, por exemplo, a taxa de fertilidade caiu em quase todas as regiões do mundo, até mesmo na África, apesar do continente manter o maior índice de fertilidade.Com a redução da fertilidade, o número de pessoas mais velhas aumenta ao longo do tempo. Até 2050, o total de pessoas acima de 60 anos deverá dobrar. Na América Latina e Caribe, 25% da população terá 60 anos ou mais em 2050.

3 United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2015). World Population Prospects: The 2015 Revision, Key Findings and Advance Tables. Working Paper No. ESA/P/WP.241. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wpp/Publications/Files/Key_Findings_WPP_2015.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2015.

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Podemos perceber ao analisar as informações apresentadas pelo recente relatório da ONU que a população mundial apresenta uma dinâmica mutável com o tempo. Vemos também que os países que por ora estão no topo do ranking de quantidade de habitantes tendem a perder lugar para os que hoje estão longe da liderança.

Diante dessas projeções da intensa degradação ambiental instaurada na atualidade, é urgente haver discussão sobre a disponibilidade dos recursos naturais para a manutenção da vida na Terra.

Existem diferentes abordagens para se analisar a relação população e meio ambiente, uma das quais é a neomalthusiana, difundida a partir da década de 1970. Nessa abordagem traça-se uma relação direta entre o crescimento populacional e a pressão sobre os recursos naturais. Assim, o controle demográfico seria parte da solução da disparidade da equação população e disponibilidade de recursos. Essa teoria foi amplamente utilizada para tentar explicar as causas da fome e da pobreza no mundo, já que se acreditava que nos países pobres havia maior degradação ambiental, razão pela qual a produção de alimentos tenderia a ser menor. Todavia, sabe-se, atualmente, que uma das causas da pobreza e da fome é, dentre outras, a má distribuição de renda em nível mundial.

A visão neomalthusiana pode ser compreendida como simplista já que considera somente a dimensão demográfica, não relacionando a questão ambiental a aspectos associados ao desenvolvimento e ao crescimento econômico e desconsiderando que os padrões de produção e consumo, realizados até o momento, são extremamente poluidores e, por vezes, predatórios. Perceba que nessa visão considera-se que o crescimento populacional seria o centro dos problemas econômicos, sociais e ambientais.

2.2. A relação população e recursos naturais

Vimos na Seção 1.1 que diversos fatos contribuíram para a degradação ambiental vivenciada globalmente e a agravaram, como o desenvolvimento das atividades agrícolas, a Revolução Industrial até o atual modelo de vida do capitalista. Apreendemos também que, diante do agravamento das questões ambientais, na década de 1960 se iniciaram os debates sobre o tema. Contudo, é somente a partir do final do século XX que se presencia a ampliação da consciência da sociedade em relação à degradação do meio ambiente.

Por séculos o meio ambiente foi considerado depósito direto dos subprodutos inaproveitáveis das atividades econômicas, comportamento esse que era orientado pela impressão de que os recursos eram infindáveis. Essa conduta advém da visão

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antropocêntrica – em vigor desde o início do século XIX –, que defende o homem como centro do universo, alheio ao meio ambiente (ou ambiente natural). Segundo essa perspectiva, a natureza serviria exclusivamente para satisfazer as necessidades humanas e ser refúgio para os problemas causados pela vida urbana.

Dentro da perspectiva da natureza como refúgio, surge a noção de natureza intocada que norteou as ideias preservacionistas, muito mais voltadas às necessidades do homem do que para a “preservação” do meio ambiente.

A visão biocêntrica, na qual o homem é parte integrante do meio ambiente, modifica a ideia de proteção ambiental e conduz à tomada de consciência sobre os limites do planeta a partir da década de 1960, momento em que a degradação ambiental tornou-se mais evidente.

A diferença entre essas visões consiste no fato de que a primeira baseia-se no crescimento econômico como precondição para a manutenção da vida e de que a segunda tem como centro primordial a dimensão ecológica, a partir da qual o desenvolvimento econômico poder ser alcançado juntamente com a preservação dos recursos naturais.

Aprofunde o conhecimento a respeito das visões antropocêntrica e biocêntrica do meio ambiente lendo o artigo de Fabíola Ferreira e Zulmira Áurea Cruz Bomfim, intitulado “Sustentabilidade Ambiental: visão antropocêntrica ou biocêntrica?”. Disponível em: <http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3609197.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015.

As características de desenvolvimento (desde a era primitiva até o momento mais tecnológico) da humanidade exigem um consumo cada vez maior de recursos naturais, tanto minerais quanto energéticos.

Observe a Figura 1.6 e perceba que o consumo de energia aumenta dependendo do estágio de desenvolvimento em que a sociedade se encontra. Assim, quanto maior for o nível de desenvolvimento dos povos, maior será a demanda por energia per capita.

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Fonte: Modificado de Cordani e Taioli (2003, p. 519)

Figura 1.6 | Consumo de energia por fase de desenvolvimento da humanidade

De acordo com Cordani e Taioli (2003, p. 519):

Para possibilitar o conforto da população atual da Terra, o volume de materiais mobilizados pela humanidade (materiais para construção, minerais e minérios) é maior do que aquele mobilizado pelos processos geológicos característicos da dinâmica externa da Terra. Tal constatação coloca a humanidade não só como um efetivo “agente geológico”, mas como importante modificador da superfície do planeta na atualidade.

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Estima-se que o consumo médio de recursos naturais essenciais nos países desenvolvidos seja de 16 toneladas per capita por ano. Já nas regiões menos desenvolvidas, esse consumo seria cerca de 8 toneladas per capita por ano.

No ano de 2006 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) lançou um atlas intitulado Planeta em perigo: atlas das ameaças atuais às pessoas e ao meio ambiente. Nesse estudo, a ONU aponta como principais ameaças o aquecimento global (em razão das emissões de gases do efeito estufa), o intenso uso da água, a poluição nos oceanos, o uso de energia nuclear (tanto civil, quanto militar) e os acidentes industriais que geram degradação do meio ambiente e da vida humana.

Mesmo passados nove anos da publicação desse estudo, o cenário mundial pouco se alterou. Estima-se que o consumo de recursos naturais até 2050 seja triplicado, passando para 140 bilhões de toneladas por ano caso não sejam tomadas medidas drásticas para frear a superexploração.

A grande questão é que consumimos recursos naturais em uma velocidade muito maior do que a Terra pode produzi-los. Desse modo, se os padrões de consumo se mantiverem, precisaremos mais que um planeta para os satisfazer. No entanto, mesmo diante de descobertas recentes de um planeta com características semelhantes às da Terra fora do sistema solar, temos até agora apenas um planeta para atender a nossas necessidades de sobrevivência.

Veja mais a respeito da recente descoberta que a NASA fez de um planeta gêmeo da Terra. Disponível em: <http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=4696119>. Acesso em: 17 set. 2015.

Pontuaremos a seguir o consumo de dois dos principais recursos naturais utilizados em larga escala no mundo: os combustíveis fósseis (principal fonte de energia) e a água (recurso essencial à vida).

2.2.1. Consumo de combustíveis fósseis

O aumento constante do consumo de combustíveis fósseis é uma realidade desde a Revolução Industrial. Nos últimos cem anos houve uma demanda crescente de energia por parte dos países em desenvolvimento, demonstrando, assim, que o crescimento econômico, nos moldes postos atualmente, é um fator

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de risco e poderá provocar um impacto global nas próximas décadas.

Observe a Tabela 1.2 a seguir e perceba que, mesmo diante do apelo global pelo uso de fontes de energia renováveis, o consumo de petróleo no mundo ainda é muito alto, impactando diretamente no aumento das emissões de gases do efeito estufa.

País Consumo de petróleo (barris por dia)

Estados unidos 18.961

China 10.480

Japão 4.531

Índia 3.660

Rússia 3.493

Brasil 3.003

Arábia saudita 2.961

Fonte: Energy Information Administration (EIA). Disponível em: <http://www.eia.gov/beta/international/rankings/#?prodact=5-2&cy=2013>. Acesso em: 17 set. 2015.

Quadro 1.2 | Consumo de petróleo total em 2013

Para visualizar a evolução da exploração das reservas mundiais de petróleo de 1980 a 2013, acesse o site <http://www.eia.gov/beta/international/> (acesso em: 20 ago. 2015), no qual você encontrará gráficos e mapas sobre as reservas mundiais de petróleo e sua capacidade produção.

Observe na Figura 1.7 a seguir um gráfico no qual você poderá visualizar os maiores consumidores de carvão do mundo.

Fonte: Energy Information Administration (EIA). Disponível em: <http://www.eia.gov/beta/international/>. Acesso em 31 jul. 2015.

Figura 1.7 | Pessoas em ambientes diversos realizando atividades diversas

4.000,000

3.000,000

2.000,000

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1.000,000

0

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Estima-se que os combustíveis fósseis tendem a continuar sendo a fonte dominante de energia e fornecerão 78% de tudo o que o mundo consumirá em 20354.

Leia mais sobre o consumo mundial de carvão de 1980 a 2010 no site <http://www.eia.gov/todayinenergy/detail.cfm?id=4390> (acesso em: 20 ago. 2015), em que você encontrará um mapa animado no qual é possível visualizar a evolução do consumo de carvão no mundo.

Outro combustível que apresenta grande consumo mundial é o gás natural, como podemos observar no Figura 1.8 a seguir.

Fonte: Energy Information Administration (EIA). Disponível em: <http://www.eia.gov/beta/international/>. Acesso em: 31 jul. 2015.

4 Fonte: Energy Information Administration. Disponível em: <http://futurelab.com.br/site/futureblog/numeros-recentes-mostram-o-crescimento-continuo-no-consumo-de-combustiveis-fosseis/>. Acesso em: 31 jul. 2015.

Figura 1.8 | Consumo de gás natural seco em 2012

Diante dos dados apresentados e das estimativas para as próximas duas décadas, é possível inferir que o modelo de produção e consumo de bens que está em vigor há mais de 50 anos é incompatível com a ideia de sustentabilidade apresentada em 1987, no relatório Nosso Futuro Comum, o que, sem muito sucesso, tenta-se

30,000

25,000

20,000

15,000

10,000

5,000

0

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5 Planet in peril: Atlas of current threats to people and the environment. Disponível em: <http://apps.unep.org/publications/index.php?option=com_pub&task=download&file=000667_en>. Acesso em: 31 jul. 2015.

colocar em prática. Isso ocorre porque a visão de muitos países ainda está voltada para o desenvolvimento econômico em detrimento da proteção ambiental.

2.2.2. Consumo de água

A água é um dos recursos naturais mais importantes para a manutenção da vida na Terra, no entanto a maior parte das pessoas não está ciente disso.

Você, acadêmico, já pensou na importância da água? Já parou para pensar que, sem água, não temos a produção de alimentos e de bens indispensáveis à vida?

De acordo com Lunardi e Rabaiolli (2013, p. 47),

A água doce, indispensável à vida, é um recurso renovável, porém finito e relativamente escasso em algumas regiões. A maior demanda é decorrente do crescimento acelerado da população. O desperdício e o uso inadequado aceleram o esgotamento e degradam esse recurso. Problemas desse tipo já ocorrem em certas áreas e se mantidas as atuais formas de uso da água eles poderão abranger todo o planeta, gerando uma crise global da água.

O século atual se iniciou com uma grave crise hídrica. Segundo apontamentos da ONU5, mais de 1 bilhão de seres humanos não tem acesso a água potável e 2,4 bilhões não têm acesso a saneamento básico. Para algumas pessoas, a água parece abundante, mas as reservas estão distribuídas de forma desigual. Considerando que alguns países detêm 60% de reservas de água doce do planeta, a Ásia, lar de 60% da população do mundo, só tem 30% do total.

Entretanto, não é somente a distribuição desse recurso que é preocupante; a qualidade da água também é um problema. Quanto maior for a quantidade consumida, maior será a água residual produzida. Nos países em desenvolvimento, 90% da água residual e 70% de resíduos industriais correm direto para rios e mares sem qualquer forma de tratamento.

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Pesquise sobre o uso e a distribuição da água no mundo lendo a publicação Planet in peril: Atlas of current threats to people and the environment, na qual você poderá observar mapas com essas informações. Disponível em: <http://apps.unep.org/publications/index.php?option=com_pub&task=download&file=000667_en>. Acesso em: 20 ago. 2015.

Lunardi e Rabaiolli (2013, p. 48) nos ensinam que:

Juntamente com a escassez causada pela demanda crescente, nos países industrializados o problema da poluição das águas doces representa uma seria preocupação. Esse fator reduz os recursos de água doce. Dois milhões de toneladas de resíduos são jogados diariamente nas fontes receptoras, incluindo componentes industriais, químicos, dejetos humanos e resíduos agrícolas (fertilizantes e herbicidas).

Perceba que não é somente o crescente consumo que faz com que os recursos hídricos sejam escassos. A poluição indiscriminada da água doce em vários países do mundo também contribui para uma possível crise hídrica de escala global. Apesar de sua extrema importância, a água é mal utilizada, mau uso que é caracterizado tanto pelo uso excessivo (abuso e desperdício, que reduzem a quantidade disponível) quanto pelo uso inadequado que leva à degradação do recurso (pela redução de sua qualidade).

O desperdício e a poluição de corpos hídricos por resíduos industriais e domésticos têm se tornado uma preocupação mundial. Estima-se que daqui quinze anos (2030) o planeta enfrentará um déficit de água de 40%, a menos que a gestão desse recurso seja modificada drasticamente6.

Caro acadêmico, você consegue pensar em ações que possam minimizar os impactos negativos sobre os corpos hídricos?

6 Fonte: Gestão mais sustentável da água é urgente. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/urgent_need_to_manage_water_more_sustainably_says_un_report/#.Vb0Ct_lViko>. Acesso em: 31 jul. 2015.

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A ONU, em seu Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 – Água para um Mundo Sustentável, aponta que a crise global de água é um problema muito mais relacionado à governança que à disponibilidade do recurso. O uso abusivo é frequentemente o resultado de modelos antigos de utilização de recursos naturais e de governança. A utilização de recursos para o crescimento econômico tem regulação deficiente e é realizada sem controle adequado.

De acordo com esse Relatório7 (UNESCO, 2015, p. 6):

O avanço em governança dos recursos hídricos exige o envolvimento de uma ampla gama de atores sociais, por meio de estruturas de governança inclusivas, que reconheçam a dispersão da tomada de decisão através de vários níveis e entidades. É imperativo reconhecer, por exemplo, a contribuição das mulheres para a gestão local dos recursos hídricos e seu papel nas tomadas de decisão relacionadas à água. Enquanto diversos países enfrentam impasses em relação a reformas na área de recursos hídricos, outros têm feito grandes progressos na implementação de vários aspectos da gestão integrada de recursos hídricos (GIRH), incluindo a gestão descentralizada e a criação de organismos de bacias hidrográficas. Considerando que a implementação da GIRH, com muita frequência, é orientada para a eficiência econômica, há necessidade de enfatizar as questões de equidade e sustentabilidade ambiental, e adotar medidas para fortalecer a responsabilidade social, administrativa e política.

7 Relatório original disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002318/231823E.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2015.

Esse Relatório afirma ainda que a demanda hídrica global é fortemente influenciada pelo crescimento da população, pela urbanização, pelas políticas de segurança alimentar e energética, e pelos processos macroeconômicos, tais como a globalização do comércio, as mudanças na dieta e o aumento do consumo. Prevê que no ano de 2050 haverá um aumento de 55% na demanda hídrica mundial, principalmente em virtude da crescente demanda do setor industrial, dos sistemas de geração de energia termoelétrica e dos usuários domésticos.

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As demandas concorrentes pela água impõem decisões difíceis quanto à sua alocação e limitam a expansão de setores críticos para o desenvolvimento sustentável, em particular, para a produção de alimentos e energia. A competição pela água – entre “usos” da água e “usuários” da água – aumenta o risco de conflitos localizados e as desigualdades são perpetuadas no acesso aos serviços, com impactos significativos nas economias locais e no bem-estar humano. (UNESCO, 2015, p. 2).

A ONU afirma, ainda, que os aquíferos freáticos estão baixando, mostrando que que cerca de 20% dos aquíferos do mundo inteiro estão superexplorados. A intensidade da urbanização, aliada às práticas agrícolas impróprias, o desmatamento e a poluição estão entre os fatores que colocam o meio ambiente no limite, com relação tanto ao fornecimento de “serviços ecossistêmicos”8, quanto ao provisionamento de água potável.

“Os aquíferos, que concentram água no subterrâneo e abastecem nascentes e rios, são responsáveis atualmente por fornecer água potável à metade da população mundial e é de onde provêm 43% da água usada na irrigação.” (PORTAL BRASIL, 2015, s/p.)

Caro aluno, os desafios que se colocam para o futuro são muitos, como pontua a Organização das Nações Unidas. Devemos compreender, então, que o crescimento populacional é parte desse desafio. No entanto, ele não pode ser visto como o problema central dos problemas ambientais, sociais e econômicos.

A intensa exploração e o consumo de recursos naturais não representam mais um modelo sustentável, o que já tem sido exaustivamente discutido há pelo menos 30 anos, como pudemos perceber ao refletir sobre as Conferências Mundiais do Meio Ambiente. Muitas metas foram traçadas ao longo de tantas discussões; todavia, os avanços no cumprimento são imensamente mais lentos que os do ritmo de destruição. Os alertas da ONU são contínuos: se não modificarmos nossa relação com os recursos naturais, as projeções para os próximos 100 anos podem não ser muito otimistas.

O maior desafio no século XXI, referente à questão ambiental, é colocar plenamente em prática o discurso do desenvolvimento sustentável e a busca de alternativas para os problemas ambientais já instaurados e, ainda, a tentativa de minimizar a possibilidade e novos impactos.

8 Sumário Executivo do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos (2015). Disponível em: <http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/SC/images/WWDR2015ExecutiveSummary_POR_web.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2015. Relatório Integral (Original) disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002318/231823E.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2015.

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Enquanto professores de uma ciência que estuda as diferentes interações do homem com o meio, devemos incluir em nossas práticas pedagógicas ações que tenham como objetivo sensibilizar os alunos e toda a comunidade escolar na busca do desenvolvimento sustentável e do consumo consciente.

A fim de aprofundar-se no estudo da dinâmica populacional e meio ambiente, procure pelo livro Dinâmicas demográficas e ambiente, organizado por Álvaro de Oliveira D’Antona e Roberto Luiz do Carmo. Disponível em: <http://www.nepo.unicamp.br/textos/publicacoes/livros/ambiente/DinamicasDemograficasAmbiente.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015.

1. O crescimento populacional mundial em diversos momentos foi encarado como um dos fatores principais na crescente degradação ambiental e na superexploração dos recursos naturais. Tendo como base os conhecimentos construídos nesta seção e seus conhecimentos prévios, é correto afirmar que o crescimento exponencial da população mundial é o fator central dos problemas ambientais? Por quê?

2. A relação entre o homem e o meio ambiente pode ser analisada por duas principais visões, a antropocêntrica e a biocêntrica. Explique como a relação homem/meio ambiente é analisada por essas duas correntes de pensamento.

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- O uso artificial do planeta Terra teve maior intensidade a partir da revolução agrícola por volta de 8.000 a.C. e foi aprofundado com o desenvolvimento da sociedade em suas fases de desenvolvimento.- A questão ambiental começou a ser discutida com maior seriedade na década de 1960, por meio do Clube de Roma (1968).- A partir da década de 1970 se iniciaram as Conferências Mundiais sobre o Meio Ambiente organizadas pela Organização das Nações Unidas. A primeira ocorreu em Estocolmo na Suécia e a última em 2012 no Rio de Janeiro.- No ano de 1987 o Relatório de Brundtland definiu o desenvolvimento sustentável, trazendo uma nova tratativa aos problemas ambientais e a exploração dos recursos naturais.- Em 1997 foi criado o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2007, mesmo sem a ratificação dos Estados Unidos.- O crescimento populacional não é o principal responsável pelos impactos sobre os recursos naturais, mas sim o padrão de consumo e produção das sociedades atuais.

Nesta unidade tivemos a oportunidade de discutir como se deu a evolução da questão ambiental desde as mais primitivas interações entre o homem e o meio que o cerca até a instauração da sociedade de consumo que estamos vivenciando na atualidade. Também pudemos apreender as relações entre o crescimento populacional e a utilização dos recursos naturais, além de compreender que somente o crescimento populacional não pode ser considerado como centro dos problemas ambientais, econômicos e sociais enfrentados pelos diferentes países do mundo. Como futuro professor de Geografia, é essencial que você inclua em suas práticas pedagógicas ações que tenham como objetivo sensibilizar os alunos com relação ao desenvolvimento sustentável e ao consumo consciente. Esperamos que durante seus estudos você tenha se motivado para aprofundar seus conhecimentos sobre os conteúdos aqui apresentados. Procure mais sobre o assunto em livros, artigos e revistas eletrônicas disponíveis na internet e sites especializados.

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1. A Revolução Industrial foi, indubitavelmente, um marco histórico na exploração dos recursos naturais e no agravamento da degradação ambiental, em especial com relação à emissão dos gases do efeito estufa, que possibilitam o aumento da temperatura do planeta. No entanto, há uma teoria que aponta que a difusão das práticas agrícolas desde a antiguidade foi um dos fatores preponderantes para as mudanças climáticas.

Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta corretamente as hipóteses dessa teoria.

a) Essa teoria aponta, por meio de medições realizadas em bolhas de ar presentes nas calotas polares do Ártico, que as concentrações de gases do efeito estufa foram muito elevadas quando houve a disseminação das práticas agrícolas. b) Essa teoria aponta, por meio de aferições realizadas em bolhas de ar presentes nas calotas polares, que as concentrações de gases metano e dióxido de carbono foram elevadas quando houve a disseminação das indústrias.c) Essa teoria aponta, por meio de estudos realizados em bolhas de ar presentes nas calotas polares, que as concentrações de gases do efeito estufa foram diminuídas no momento em que houve a disseminação da agricultura.d) Essa teoria aponta, por meio de aferições realizadas em bolhas de ar presentes nas calotas polares do Ártico, que as concentrações de gases do efeito estufa foram intensificadas desde o momento que houve o domínio do fogo pelo homem. e) Essa teoria aponta, por meio de medições realizadas em estrias de calotas polares, que as concentrações de gases metano foram minimizadas com o advento da Revolução Industrial.

2. A exploração e o consumo de recursos naturais mostraram-se diferenciados ao longo do desenvolvimento da humanidade. A partir da Revolução Industrial a exploração e o consumo desses recursos tornaram-se muito mais intensos, acarretando e intensificando a degradação ambiental. Diante disso, analise as afirmações a seguir e depois assinale a alternativa correta.

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I – A Revolução Industrial fez aumentar o consumo de bens graças aos altos salários.II – Durante a Revolução Industrial houve a passagem da manufatura para a maquinofatura.III – A primeira fonte de energia para as máquinas utilizadas nas indústrias foi o carvão mineral.IV – As fontes de energia renováveis começaram a ser utilizadas na indústria no século XIX.

É verdadeiro o que se afirma apenas em:

a) I e IV.b) II e III.c) III e IV.d) I e III.e) II e IV. 3. O processo industrial utiliza majoritariamente como fonte de energia os combustíveis fósseis e recursos naturais não renováveis que, por vezes, são altamente poluidores. Os gases emitidos pela queima dos combustíveis fósseis podem contribuir para qual problema ambiental em nível mundial?Assinale a alternativa que apresenta o problema ambiental que pode ser agravado pela queima de combustíveis fósseis.

a) Derretimento das geleiras.b) Chuva ácida.c) Aquecimento global. d) Inversão térmica.e) Ilhas de calor.

4. Em 2006, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) lançou Planeta em perigo: atlas das ameaças atuais às pessoas e ao meio ambiente, documento que mostra que os recursos hídricos do planeta são distribuídos de modo desigual entre os continentes. No entanto, uma crise hídrica global pode ocorrer não somente em razão da distribuição desigual da água no planeta.

Diante disso, assinale a alternativa que apresenta os elementos que podem motivar uma crise hídrica global.

a) Degradação dos mananciais e desperdício no consumo.b) Escassez de rios e bacias hidrográficas.c) Ausência de lençóis freáticos.d) Redução das áreas agriculturáveis.e) Poluição dos aquíferos freáticos.

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5. Em 1983 foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – também conhecida como Comissão Brundtland, com a finalidade de reexaminar as questões relativas ao meio ambiente e reformular propostas realistas para abordá-las. Essa Comissão formulou um Relatório intitulado Nosso Futuro Comum, no qual foi definido o conceito de que os recursos naturais devem ser utilizados de modo racional para que as gerações futuras tenham disponíveis os mesmos recursos que a geração atual tem. Assinale a alternativa que apresenta a nomenclatura do conceito definido pelo Relatório Nosso Futuro Comum.

a) Crescimento neomalthusiano ambiental.b) Desenvolvimento sustentável.c) Ecodesenvolvimento neoliberal.d) Desenvolvimento ambiental.e) Ecocapitalismo ambiental.

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RECURSOS Naturais. In: LIMA E SILVA, Pedro Paulo de. Dicionário brasileiro de ciências ambientais. 2. ed. Rio de Janeiro: Thex, 2002.

SENE, Eustáquio; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. 3. ed. São Paulo: Scipione, 2010.

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VIESTEL, Roberto Marin. História e questão ambiental: apontamentos. In: Simpósio de Educação Ambiental e Transdisciplinaridade, 2, 2011, Goiânia. Anais... Goiânia: UFG / IESA / NUPEAT, 2011. p. 1-9.

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Unidade 2

RECURSOS NATURAIS E FONTES DE ENERGIA

A análise dos recursos naturais do planeta nos permite compreender todos aqueles elementos que são necessários à manutenção de organismos, populações e ecossistemas. São os recursos naturais que dão a base para o funcionamento de tais ecossistemas. Sendo assim, é de suma importância compreendermos o que são esses recursos e também como eles podem ser explorados.

Seção 1 | Recursos naturais: conceitos e aplicações

Objetivos de aprendizagem:

Caro aluno, na segunda unidade do seu material vamos iniciar um assunto que será de extrema importância nos próximos temas das próximas unidades de seu livro. Quando abordados os tópicos relacionados a recursos naturais e fontes de energia, tenha em mente que diferentes análises podem ser realizadas acerca dos temas, uma vez que estes podem funcionar como assuntos transversais e interdisciplinares em áreas como: Ciências Biológicas, Geografia, Gestão Ambiental, Engenharia Ambiental, dentre outras. A visão interdisciplinar vai nos orientar à medida que desenvolvermos os conteúdos da unidade de estudo, porém os enfoques necessários aos profissionais da Geografia, especialmente no campo da licenciatura, serão sempre enfatizados.

Compreender não só no que consistem os recursos naturais, sua disponibilidade, distribuição, aplicações, usos, mas também a maneira como os mesmos podem estar relacionados com fontes de energia disponíveis nos dá a base necessária para a análise mais profunda acerca de tais fontes energéticas, seus diferentes exemplos e processos, os panoramas mundial e brasileiro, os impactos e as perspectivas futuras. Você está convidado a ver uma interessante perspectiva acerca dos recursos naturais do planeta e fontes de energia, para que, assim, possa compreender e aplicar os seus conceitos com os alunos em sala de aula.

Tiago Henrique dos Santos Garbim

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Fontes de energia renováveis são aquelas que consistem em recursos naturais renováveis, ou seja, aqueles não exauríveis. Aplicadas em várias partes do mundo, são aquelas que podem manter-se e serem aproveitadas ao longo do tempo sem a chance de seu esgotamento. É interessante que possamos conhecer a respeito da distribuição dessas fontes de energia no Brasil e no mundo.

Fontes de energia não renováveis correspondem aos recursos naturais não renováveis, ou seja, aqueles que são exauríveis. Assim como as fontes renováveis, embora altamente aplicadas, seus recursos são limitados, dependentes de recursos disponíveis no planeta, porém não com a mesma demanda dos renováveis, uma vez que a chance de seu esgotamento é possível de acontecer. Conhecer a respeito da distribuição dessas fontes de energia no Brasil e no mundo nos permite refletir acerca de sua importância.

Seção 2 | Fontes de energia renováveis: exemplos e distribuição

Seção 3 | Fontes de energia não renováveis: exemplos e distribuição

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Introdução à unidade

Esta unidade gira em torno de princípios básicos a respeito do uso de fontes e recursos de energia do planeta. Independentemente de como o assunto for abordado, o cenário atual sobre ele é preocupante e deve ser levado em consideração. O uso de recursos energéticos do planeta é um dos principais fatores que afetam o meio ambiente em qualquer escala, uma vez que o consumo de combustíveis fósseis após a Revolução Industrial ficou cada vez mais intenso e foi responsável pelo aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera em cerca de 30% a mais do que antes, acarretando problemas ambientais como o aquecimento global. A maneira pela qual um recurso é explorado também pode influenciar diretamente no ambiente, uma vez que, se não for realizada da forma mais apropriada, pode vir a causar danos e desequilíbrios ambientais. Casos que demonstram como esses exemplos podem vir a surgir estão presentes na mídia, como o grande vazamento de petróleo que aconteceu no Golfo do México em 2010, um dos maiores desastres de vazamento desse tipo na história.

O foco deste material não é necessariamente esse a respeito das questões ambientais, porém, se tivermos a visão de como a exploração e o uso de recursos e fontes energéticas acontece no mundo, poderemos compreender os seus conceitos básicos de forma mais efetiva. Dessa maneira, na Seção 2.1 desta unidade, vamos analisar os recursos naturais em sua forma mais básica. Veremos como são definidos, analisaremos exemplos e suas aplicações como fontes de energia; podendo visualizar como as fontes de energia são caracterizadas. Na Seção 2.2 vamos abordar as fontes que são renováveis, analisando exemplos e sua distribuição no Brasil e mundo. Na Seção 2.3 vamos realizar uma análise semelhante à da segunda seção, enfatizando, no entanto, as fontes de energia não renováveis.

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Seção 1

Recursos naturais: conceitos e aplicações

Recursos naturais são importantes ao balanço e equilíbrio no meio ambiente, proporcionando o melhor desenvolvimento e adaptação do homem no planeta Terra. Para que possamos compreender a existência de recursos naturais, devemos também saber da importância dos mesmos para a sobrevivência de qualquer forma viva do planeta, desde o homem até qualquer animal ou planta que habita a superfície terrestre.

1.1 O que são recursos naturais?

Primeiramente, vamos começar nossos estudos compreendendo a que correspondem os recursos naturais. Deve-se ter a ideia inicial de que o homem sempre teve diversas matérias-primas e recursos a seu dispor desde o início dos tempos, ou seja, o homem sempre retirou do ambiente tudo aquilo que ele acreditava que iria lhe beneficiar de alguma maneira (Figura 2.1). Entram, nesse contexto, os recursos naturais, principalmente quando analisamos a definição do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com base na qual conseguimos realmente ter essa visão. Segundo esse órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), são recursos naturais todas as matérias-primas de ordem renovável ou não renovável que são obtidas diretamente da natureza e aproveitadas pelo homem (PNUD, 2010).

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Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Neanderthals_-_Artist%27s_rendition_of_Earth_approximately_60,000_years_ago.jpg>. Acesso em: 09 set. 2015.

Figura 1.1 | Pessoas em ambientes diversos realizando atividades diversas

Conheça melhor o que é o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no link <http://www.pnud.org.br/sobrepnud.aspx>. Acesso em: 01 set. 2015.

Recursos naturais são todos os elementos que são essenciais à sobrevivência e à manutenção da vida de qualquer ser vivo, já que todos nós dependemos deles. Eles podem ser de ordem mineral, vegetal, ambiental, combustíveis fósseis, dentre outros. Exemplos práticos de recursos naturais podem ser: água, ar, água, flora, fauna, minerais, energia, dentre outros.

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Uma vez que o homem extrai recursos naturais, tecnologias são necessárias para tornar esse recurso possível ao uso?

A extração de recursos naturais visando lucro é uma prática comum de sociedades capitalistas. A mineração, por exemplo, é uma prática que surgiu no Brasil desde a época do Brasil colônia, quando os portugueses extraíam recursos naturais de nosso país, como por exemplo, o ouro (BARRETO, 2001). Alguns metais são extraídos e utilizados como matérias-primas na produção de materiais que farão parte da indústria da construção civil, além dos demais ramos das engenharias, em que matérias-primas como essas são extremamente necessárias aos processos de produção (VALVERDE, 2001).

À medida que o homem passou a utilizar os recursos naturais em processos produtivos e tecnológicos, ele melhorou a sua qualidade de vida: recursos que inicialmente eram indispensáveis à sua sobrevivência poderiam então ser considerados fontes que promoviam o bem-estar material e, consequentemente, social. As atividades de extração de recursos de forma excessiva acabaram por promover grandes alterações no equilíbrio natural que acontece nos ecossistemas.

Saiba como acontece o equilíbrio dos ecossistemas com mais detalhes no link <http://www.infoescola.com/ecologia/equilibrio-ecologico/>. Acesso em: 01 set. 2015.

Hoje, nas linhas que estudam os recursos naturais, o que se defende fortemente é a questão do desenvolvimento sustentável, vertente favorável a que a humanidade deva sim usufruir dos recursos naturais disponíveis, porém com a consciência de que a biodiversidade e o manejo sustentável de tais recursos devem ser mantidos, ou seja, a cultura da gestão sustentável dos recursos naturais.

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Organizações como o WWF-Brasil estimulam e apoiam as comunidades de reservas extrativistas que realizam essas práticas prezando pela manutenção do meio ambiente, pois, assim, nossa qualidade de vida pode ser mantida e aumentada. Tais práticas podem melhorar a produtividade e a renda das comunidades que as aplicam.

Conheça como esses programas de uso sustentável dos recursos naturais funcionam no link da página oficial do WWF-Brasil. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/amazonia/amazonia_acoes/uso_sustentavel/>. Acesso em: 01 set. 2015.

Os recursos naturais são divididos em dois grupos: os recursos renováveis e os recursos não renováveis. Os recursos renováveis são aqueles que se renovam naturalmente após o seu uso, ou seja, que são repostos na natureza em taxas iguais ou superiores àquelas antes de o homem deles usufruir. Um exemplo prático e muito fácil de ser identificado de recurso renovável é a água, um recurso que se renova naturalmente através do ciclo hidrológico (Figura 2.2). Esse processo é impulsionado por fatores como: energia térmica solar (que promove a evaporação da água), força dos ventos (os quais transportam o vapor d’água), a gravidade (que promove as chuvas e o deslocamento das águas nos continentes) e a água, que estará disponível para as plantas absorverem e realizarem fotossíntese. A água presente nos seres vivos, oceanos, rios, lagos e solos passa por evaporação, sendo o ciclo, portanto, constante (TUNDISI, 2003).

Saiba mais sobre o ciclo hidrológico no link <http://www.mma.gov.br/agua/recursos-hidricos/aguas-subterraneas/ciclo-hidrologico>. Acesso em: 1 set. 2015.

Basicamente, podemos concluir que recursos naturais renováveis são elementos da natureza que são processados e transformados para atender às necessidades do homem sem degradar o ambiente de alguma maneira, sendo constantemente repostos através de ciclos biogeoquímicos. Outros exemplos de recursos naturais renováveis são as florestas, o solo e a biomassa, de origem animal ou mineral, mas que sempre estarão consumindo gases da atmosfera e se desenvolvendo.

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Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ciclo_da_%C3%A1gua.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Figura 2.2 | Ciclo hidrológico com detalhes

Recursos naturais renováveis sempre se renovam em longos períodos de tempo?

Os recursos não renováveis são aqueles que, embora também sejam provenientes da natureza como os renováveis, não se renovam naturalmente após o seu uso. Tais recursos são provenientes de matéria orgânica em decomposição que é depositada e compactada, processo geológico que levou milhões de anos para acontecer. Logo, demorará todos esses milhões de anos para acontecer novamente. Quando esses recursos são retirados do ambiente e utilizados, eles não podem ser reaproveitados ou reutilizados. Um exemplo clássico é o petróleo, sobre o qual voltaremos a discutir sobre mais à frente em nossa unidade. No entanto, o que neste momento você deve ter em mente, caro aluno, é como ele se forma. A formação do petróleo acontece a partir da deposição no fundo de lagos e mares de restos de seres vivos que morreram no decorrer de milhares

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de anos. Com o tempo esses restos iam sendo cobertos por sedimentos, que se transformavam em rochas sedimentares e, com a ação do calor e pressão e de reações complexas, formaram o petróleo. Outros exemplos de recursos não renováveis são o carvão e o urânio.

Saiba mais sobre a formação do petróleo no link: <http://www.uenf.br/uenf/centros/cct/qambiental/pe_formacao.html>. Acesso em: 01 set. 2015.

Todos os recursos não renováveis são oriundos de processos geológicos?

Odum (2001) destaca a importância da conservação de recursos naturais, uma vez que assim asseguramos a preservação de um ambiente de qualidade, garantindo matérias-primas aos produtos essenciais, além de assegurar uma produção contínua de plantas, animais e matérias úteis mediante um ciclo equilibrado de retirada e renovação.

Bem, agora que você já compreendeu o que são os recursos naturais e que eles podem ser divididos em dois grupos: renováveis e não renováveis, chegou a hora de estudar os quatro tipos básicos de recursos naturais: recursos minerais, recursos hídricos, recursos biológicos e recursos energéticos. Esses quatro tipos podem ser distribuídos dentro dos dois grupos de recursos naturais que estudamos (renováveis e não renováveis).

1.2 Tipos de recursos naturais

Vamos iniciar nossas análises com os recursos minerais, que nada mais são do que as concentrações de rochas e minerais que juntos estabelecem a crosta terrestre e apresentam características específicas. Trata-se de recursos não renováveis que apresentam origem geológica a partir dessas rochas e minérios

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que são amplamente utilizados na indústria em ramos da construção civil ou na produção de fios de cobre, por exemplo, que são fundamentais na condução de eletricidade.

Os recursos minerais são classificados em recursos metálicos e não metálicos, e são extraídos a partir das atividades de mineração. Alguns exemplos de recursos minerais metálicos são: cobre (Cu), alumínio (Al), ferro (Fe), chumbo (Pb), entre outros. Exemplos de minerais não metálicos são: granito, basalto, mármore, areia etc.

Quais são os objetivos de uso de recursos minerais metálicos e não metálicos?

A maneira pela qual a extração de um recurso mineral é feita pode poluir o ambiente ou degradá-lo, gerando um impacto visual na paisagem (Figura 2.3), por exemplo, quando um corpo d’água é contaminado a partir da exploração de uma mina ou quando a extração de um mineral deixa o solo vulnerável à erosão (MECHI; SANCHES, 2010).

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gypsum_layers_Caprock_Canyons_1.JPG>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Figura 2.3 | As práticas de extração de recursos minerais podem vir a deixar o solo vulnerável

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Os recursos hídricos correspondem à água que está ao dispor do homem, sendo ela superficial ou subterrânea. Assim como comentado anteriormente e analisado na Figura 2.2, os recursos hídricos são considerados recursos renováveis graças à conexão deles com os grandes ciclos que acontecem no planeta. Infelizmente o cenário observado hoje a respeito do uso da água é de grande desperdício em atividades domésticas, industriais e também na agricultura. Os recursos hídricos potencialmente disponíveis ao homem estão presentes em lagos, rios e lençóis de água subterrâneos, os aquíferos.

Mesmo se tratando de um recurso natural renovável, a qualidade da água pode vir a diminuir em razão do grande desperdício, já que, dessa forma, há um grande risco de a qualidade da água disponível ao homem diminuir. Trabalhos como o de Moraes e Jordão (2002) mostram que o crescimento populacional desenfreado tende a superar os níveis suportados pela natureza, resultando em um estresse no sistema hídrico, além das práticas de degradação de recursos hídricos que podem vir a poluir o pouco que ainda resta de água apropriada ao consumo humano.

Saiba mais sobre recursos hídricos no conteúdo oferecido no link <http://www.mma.gov.br/agua/recursos-hidricos>. Acesso em: 01 set. 2015.

Os recursos biológicos representam uma série de recursos que o homem pode obter e utilizar a partir de outros seres vivos, razão pela qual falamos que esses recursos são renováveis, assim como os recursos hídricos. O homem pode aplicar esses recursos em diferentes áreas de sua vida, na alimentação, na construção, na indústria têxtil, na produção de medicamentos e vacinas etc. Esses recursos geralmente são explorados e obtidos por meio de práticas humanas que podem ser de ordem extrativista ou coletora. Sendo assim, dentro dos recursos biológicos se enquadram recursos agropecuários, aquáticos, florestais, entre outros, ou seja, qualquer prática que envolva seres vivos em qualquer ordem.

Recursos biológicos são indispensáveis à nossa vida?

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A agricultura representa hoje a principal fonte de alimentos que são plantados e coletados pelo homem, assim como a pecuária, em que animais são criados em cativeiro e utilizados como alimento ou na produção de produtos para as pessoas; a caça pode também ser uma prática comum de alguns países, bem como a pesca. Por fim, das florestas provêm madeira e matérias-primas como a celulose, utilizadas na produção de produtos e serviços para a sociedade. Uma vez que os recursos biológicos são considerados inesgotáveis, a extração e a retirada desses recursos acabam acontecendo de forma desenfreada, levando à superexploração e consequente perda da biodiversidade (PRIMACK; RODRIGUES, 2001).

Mais detalhes sobre a perda da biodiversidade você encontra no link <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/biodiversidade/consequencias_perda_biodiversidade/>. Acesso em: 01 set. 2015.

Por fim, os recursos energéticos incluem as fontes de energia que provêm de recursos disponíveis no ambiente. Nesse sentido, esses recursos podem ser tanto renováveis quanto não renováveis, uma vez que isso vai depender do tipo de recurso que está envolvido na produção de energia. Como esses recursos são os pontos principais de nosso livro, vamos então dar-lhes ênfase nas próximas duas seções deste material. Para resumirmos todos os tipos de recursos naturais e suas particularidades, acompanhe o esquema presente na Figura 2.4 a seguir!

Fonte: O autor (2015)

Figura 2.4 | Os tipos de recursos naturais e suas classificações

RECURSOSNATURAIS

NÃORENOVÁVEIS

RENOVÁVEIS

HÍDRICOS

BIOLÓGICOS

ENERGÉTICOS

ENERGÉTICOS

MINERAIS

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elaborou um documento que traz o vocabulário básico de recursos naturais e ambiente. Confira o arquivo no link <http://ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/vocabulario.pdf>. Acesso em: 01 set. 2015.

1.3 Recursos naturais são aplicados como fontes de energia

Os recursos naturais podem apresentar um certo potencial energético, porém a forma em que está disponível pode não ser aquela aplicável como fonte de energia propriamente dita. Por exemplo, a água, quando move uma turbina, apresenta o potencial de ser convertida em energia elétrica, que é aplicável e que usamos diariamente em nosso cotidiano.

Fontes primárias de energia são aquelas que são provenientes diretamente da natureza, como a energia solar, os ventos, a água, os combustíveis fósseis e urânio. As fontes secundárias de energia são aquelas provenientes de reações que transformam as fontes primárias, como, por exemplo, a energia química.

Assim, caro aluno, conseguimos visualizar como transformações conseguem viabilizar recursos naturais enquanto formas de energia. Por exemplo, a água tem esse potencial de mover turbinas e produzir energia elétrica, a qual, por sua vez, será convertida em calor e eletricidade, formas de energia viáveis. Ou ainda, o petróleo, um combustível fóssil, que é refinado em gasolina que produz energia e move carros (Figura 2.5).

Fonte: Disponível em: A - <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bomba_Cabe%C3%A7a_de_Cavalo.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.Fonte:Disponível em: B - <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Petrol_pump_mp3h0355.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.Fonte: Disponível em: C - <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boy_driving.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Figura 2.5 | Exemplo de como recursos naturais se transformam em fontes de energia: (A) extração de petróleo, (B) bombas de gasolina abastecendo carros, (C) pessoa dirigindo um carro. Uma vez extraído, o petróleo é transformado em gasolina, combustível que move carros.

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Desse modo, você consegue traçar uma relação e perceber que, toda vez que você acende uma lâmpada ou liga o seu computador, essa energia só está ao seu dispor graças à força das águas em turbinas de usinas hidrelétricas, ou ainda quando dirige o seu carro e compreende o poder da gasolina e do petróleo. Assim funciona a dinâmica da viabilização de recursos naturais em fontes de energia.

Todo recurso natural apresenta potencial energético?

1. O uso de recursos oriundos da natureza é um fato que pode ser observado desde os primórdios, quando o homem das cavernas retirava do ambiente algumas matérias-primas essenciais para a sua sobrevivência. Tais recursos podem ser considerados renováveis ou não renováveis. Qual é a diferença entre recursos renováveis e recursos não renováveis?

2. Fontes de energia renováveis ou não renováveis devem apresentar potencial energético. Porém, nem sempre a forma que encontramos na natureza é a forma viável do recurso para ser aplicado como energia.Nesse contexto, como se diferenciam as fontes primárias e as fontes secundárias de energia?

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Seção 2

Fontes de energia renováveis: exemplos e distribuição

Assim como vimos anteriormente, recursos energéticos são determinados pelas fontes de energia que provêm de recursos naturais, sendo um de seus tipos os recursos energéticos renováveis. As fontes de energia renováveis utilizam-se de recursos que são inesgotáveis, ou seja, que podem manter-se disponíveis por um longo tempo, uma vez que contam com recursos que se regeram ao longo do tempo ou simplesmente são ativos permanentemente. Os principais tipos dessa energia serão abordados nesta seção. Conheça então suas características, aplicações e distribuição no planeta.

2.1 Energia solar

Segundo Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014a), fontes de energia renováveis representam hoje aproximadamente 8% da energia mundial, embora essa porcentagem continue aumentando em muitas regiões do mundo de maneira significativa. Estudos indicam que até 2050 as fontes renováveis de energia devem chegar à margem de 30% a 40% no mundo, uma vez que esforços mundiais vêm sendo realizados para o aumento desse percentual. Nos Estados Unidos, um exemplo de grande potência, de toda a energia lá utilizada proveniente de fontes renováveis, 1% é energia solar, 50% é biomassa, 9% é eólica, 35% é hidrelétrica convencional e 5%, geotérmica. Já no Brasil, as energias renováveis representam cerca de 85% da energia elétrica que é produzida e utilizada em nosso país.

Brasil é o quarto maior produtor de energia renovável no mundo. Disponível em: <http://www.pac.gov.br/noticia/3c67e495>. Acesso em: 01 set. 2015.

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Os recursos energéticos renováveis representam uma alternativa vantajosa ao mundo, uma vez que podem ser usados de diversas maneiras, geram problemas ambientais mínimos, além de oferecerem grandes esperanças a países em desenvolvimento, cujas taxas de desenvolvimento econômico são afetadas pelos altos custos de energia. Acompanhe no Quadro 2.1 como recursos energéticos renováveis podem ser utilizados. Vamos detalhar todos eles e outros mais nos tópicos que seguem em nossa unidade.

Recurso Uso

Solar Aquecimento e refrigeração de ambientes, aquecimento de água, eletricidade, termoeletricidade.

Eólica Eletricidade, mecânica.

Hídrica Eletricidade, mecânica.

Biomassa Calor, eletricidade, combustíveis.

Geotérmica Eletricidade, aquecimento.

Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014a)

Quadro 2.1 | Possibilidades de uso de recursos energéticos renováveis

Se fontes de energia renováveis são tão vantajosas, por que são quase sempre subutilizadas?

Assim como vimos no Quadro 2.1, a energia solar pode ser utilizada para o aquecimento de prédios e da água para o consumo residencial e também para a produção de eletricidade por meio de células solares e geradores de calor. Hoje podemos considerar que os sistemas de aquecimento solar que são aplicados na obtenção de água quente doméstica, embora lentamente, crescem de forma constante no mundo, com pelo menos 5% por ano, de forma mais intensa na Ásia e na Europa. De fato a energia solar já apresenta um crescimento de 35% por ano no mundo todo. O grande crescimento das técnicas de aquecimento solar no mundo aconteceu no começo da década de 1980, com estímulos do governo, quando o embargo do petróleo em 1973 aumentou os preços do petróleo e da eletricidade (HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2014a).

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Basicamente todos os sistemas solares de aquecimento possuem características estruturais em comum, uma vez que são formados pelas seguintes partes: aparelho de coleta, estrutura de armazenamento e sistema de distribuição. Mas você sabe como um sistema aquecedor solar de água funciona? Descubra a resposta no link <http://www.soletrol.com.br/educacional/comofunciona.php> . Acesso em: 1 set. 2015.

A conversão de luz solar em eletricidade é chamada de geração fotovoltaica (FV), uma tecnologia muito interessante porém relativamente dispendiosa, uma vez que as células solares são caras, embora, de acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014c), os avanços nessa tecnologia cooperem com o avanço do desenvolvimento de materiais com custos mais baixos e maiores eficiências. Fatos como esse demonstram que os campos de FV fornecem energia a diversas aplicações residenciais, iluminação externa e até mesmo refrigeração de vacinas. Nessa tecnologia, células solares formam as placas solares (Figura 2.6), representando uma fonte de energia não poluente e funcionando em diversos locais do mundo com saídas de ordem de megawatts.

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:STAROKOZACHESOLARSTATION.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Figura 2.6 | Estação de FV em Starokozache, na Ucrânia

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O planeta conta com um potencial de energia solar para a implantação de tais tecnologias (Figura 2.7). Atualmente, Europa, Ásia e América do Norte são os continentes onde as projeções para a implantação de energia solar são maiores. De fato o continente europeu é o que concentra maior capacidade de geração de energia solar, representando 55% do mercado hoje em dia. No entanto, outros países continuam ajustando suas tecnologias para a implantação de placas fotovoltaicas. Países como a Alemanha, Itália, China, Japão, Espanha, França, República Checa, Bélgica, Austrália e Estados Unidos representam as maiores capacidades de energia solar instaladas. Detendo as maiores porcentagens do mercado mundial de energia solar, esses países continuam a ampliar sua capacidade de energia.

Japão vai ter o maior sistema de armazenamento de energia solar do mundo. Leia mais sobre o assunto em: <http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/2015/06/japao-vai-ter-maior-sistema-de-armazenamento-de-energia-solar-do-mundo.shtml>. Acesso em: 1 set. 2015.

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:SolarGIS-Solar-map-World-map-en.png>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Figura 2.7 | Potencial de energia solar global

No Brasil, de acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014a), a energia solar ainda é pouco difundida, com restrição às regiões Sul e Sudeste. Porém, de qualquer forma, não podemos descartar o fato de que esses números estão crescendo em todo o

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país. Programas e movimentos incentivam a utilização de sistemas de aplicação de energia solar, como o Solcial, o primeiro programa social de energia solar no Brasil. Diferentes técnicas que buscam analisar o potencial energético solar do Brasil e da América latina vêm sendo aplicadas, como demonstra o trabalho de Martins, Pereira e Echer (2004), o qual detalha como funciona o modelo BRASIL-SR, que mapeia esse potencial energético mediante técnicas de satélite geoestacionário, com resultados bem esperançosos. De acordo com Pereira et al. (2006), no Atlas Brasileiro de Energia Solar, a região da Amazônia apresenta um potencial enorme para a implantação de sistemas de FV.

Feita a comparação com os países onde a energia solar é predominante, vê-se que há no Brasil as maiores taxas de irradiação solares, razão pela qual as condições seriam muito mais favoráveis aqui do que naqueles países. Recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vem contratando novos projetos para a geração de energia solar no país: na Bahia encontram-se os maiores investimentos, onde se pode contar com a construção de 16 usinas solares. Reflexos desses investimentos são vistos, por exemplo, na Usina Fotovoltaica Cidade Azul, que abastece cerca de 2,5 mil residências com essa fonte renovável de energia em Tubarão, no sul do estado de Santa Catarina.

A maior usina solar do Brasil em Santa Catarina entra em operação comercial. Disponível em: <http://www.tractebelenergia.com.br/wps/portal/internet/imprensa/press-release/conteudos/Release_Operacao_Usina_Solar>. Acesso em: 01 set. 2015.

Por qual motivo a energia solar é tão pouco aplicada no Brasil?

Infelizmente o Brasil conta apenas com 1% da produção de energia por meio de sistemas solares ou eólicos, em razão dos objetivos políticos do país, que continua a insistir nas usinas hidrelétricas. Graças à grande capacidade fotovoltaica do país, investimentos pouco a pouco começam a surgir em nosso território, com modelos que objetivam implementar a utilização de energia solar como nos moldes alemães.

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2.2 Energia eólica

Com um impacto ambiental praticamente insignificante, o interesse na força dos ventos para a produção de energia nos remete à Antiguidade, quando moinhos de vento eram comuns na China, Babilônia e Holanda, correspondendo a uma das primeiras fontes naturais de energia do mundo. De acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014c), atualmente, países nos quais os governos apresentam um plano consistente de incentivos econômicos apresentam um número alto de instalações de energia eólica, incentivando a construção de parques eólicos em campos ou em costas marinhas (Figura 2.8).

Fonte: Disponível em: A – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Windpark_Havelland_1.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015. Fonte: Disponível em: B – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Middelgrunden_wind_farm_2009-07-01_edit_filtered.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Figura 2.8 | Exemplos de parques eólicos: A – Complexo eólico na Alemanha. B – Parque eólico em costa marinha na Dinamarca.

Como funcionam turbinas eólicas? Leia mais no link <https://evolucaoenergiaeolica.wordpress.com/aerogerador-de-eixo-horizontal/>. Acesso em: 01 set. 2015.

A energia eólica pode ser utilizada para bombear água, mover moinhos ou também para gerar energia elétrica, tornando-se uma fonte altamente rentável a partir do desenvolvimento de rotores e geradores de alta eficiência e passando a ser uma interessante alternativa frente ao esgotamento do aproveitamento hidrelétrico (TAIOLI, 2009). É o recurso energético que aumenta mais rapidamente no mundo em relação a sua utilização, crescendo cerca de 30% a 40% ao ano. Entre 2000 e 2008, a energia eólica deu um salto de 55% ao ano na Europa, que

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lidera o ranking de maior capacidade instalada (cerca de 135.000 MW em 2014) e de 37% ao ano nos Estados Unidos. Considera-se que ela pode vir a suprir cerca de 30% da demanda de eletricidade dos EUA até 2020 (HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2014c).

Na Tabela 2.1 você acompanha a capacidade instalada nos 10 maiores mercados mundiais de energia eólica. É interessante enfatizar que a energia das turbinas eólicas é produzida se houver vento com velocidades médias e os países nos quais os campos e fazendas eólicas são instalados devem apresentar tais capacidades.

País Capacidade instalada (mw)

China 114,609

Estados Unidos 65,879

Alemanha 39,165

Espanha 22.987

Índia 22,465

Reino Unido 12,440

Canadá 9,694

França 9,285

Itália 8,663

Brasil 5,939

Resto do mundo 58,473

Total 369,597

Fonte: Global Wind Energy Council (2014)

Quadro 2.1 | Possibilidades de uso de recursos energéticos renováveis

Assim como analisado na Tabela 2.1 acima com dados da Global Wind Energy Council e também com base nos dados provenientes das estatísticas da World Wind Energy Association, o cenário atual do uso da energia eólica no mundo vem crescendo cada vez mais, com grande destaque a China.

China dá o maior impulso à energia eólica já visto no mundo. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/01/140108_china_eolica_mdb>. Acesso em: 01 set. 2015.

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De acordo com Taioli (2009), o Brasil possui um grande potencial para o aproveitamento da energia eólica, uma vez que apresenta regiões favoráveis em razão dos ventos, com destaque aos litorais norte e sul do país, a região do vale do rio São Francisco e o oeste dos estados do Paraná e Santa Catarina. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, o Ceará apresenta uma das maiores proporções de geração de energia eólica com 34%, seguido de Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul com 20% cada. Os seis maiores parques e fazendas eólicas do país são: Parque Eólico de Osório (RS), Usina de Energia Eólica de Praia Formosa (CE), Parque Eólico Alegria (RN), Parque Eólico de Rio do Fogo (RN), Parque Eólico Eco Energy (CE) e Parque Eólico de Paracuru (CE).

Como a energia eólica contribui para o desenvolvimento do país?

O Brasil está recebendo grande destaque no campo da energia eólica. Acompanhe as notícias que comprovam tal fato em: <http://www.pac.gov.br/noticia/22d0c0bd> (acesso em: 1 set. 2015) e também em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2015/04/capacidade-de-energia-eolica-deve-crescer-62-em-2015-no-pais>. Acesso em: 01 set. 2015.

2.3 Energia hidrelétrica

A energia hidrelétrica fornece cerca de 21% da eletricidade consumida no planeta e 15% da energia produzida no País. Barragens já eram construídas antigamente para viabilizar a água disponível à população. No entanto, a partir do desenvolvimento da energia elétrica, as barragens passaram a ser integradas à sua produção (Figura 2.9). Aproveitando o gradiente hidráulico dos rios, com um fluxo contínuo de água, turbinas e geradores de energia elétrica são movidos, sendo esta considerada então uma energia renovável (TAIOLI, 2009).

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Os locais em que barragens são implantadas levam em consideração a largura do rio e a topografia da região, visando ao melhor aproveitamento do gradiente do rio e evitando a inundação extensa da região. Sendo assim, a região em que se pretende instalar uma barragem hidrelétrica deve atender a esses critérios, além daqueles de ordem ambiental. Alguns critérios de restrição à inundação da área de implantação durante tal instalação das barragens são analisados. Por exemplo, em algumas regiões do norte do Brasil as características topográficas são relativamente planas, exigindo o alagamento de áreas maiores do que as consideradas ideais. Fatores como desmatamento da região a ser alagada, deslocamento de cidades, inundação de sítios históricos e arqueológicos, além do assoreamento da barragem e destino das barragens após sua vida útil, são elementos um tanto quanto contraditórios se levados em conta.

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ItaipuAerea2AAL.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015.

Figura 2.9 | Usina hidrelétrica de Itaipu na cidade de Foz do Iguaçu no Paraná

Segundo Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014c), fornecendo 650.000 MW de energia no mundo todo, nos últimos dez anos a produção hidrelétrica mundial cresceu apenas 1,8% ao ano. Na Tabela 2.2 acompanhamos o cenário mais recente acerca da produção hidrelétrica no mundo.

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PaísEletricidade gerada

(bilhões de kwh)Capacidade instalada

(Milhares de mw)

China 538 171

Estados Unidos 272 78

Brasil 380 77

Canadá 380 73

Rússia 163 46

Índia 131 35

Noruega 139 27

Japão 94 22

Suécia 80 17

Fonte: U.S Energy Information Administration (2015)

Tabela 2.2 | Produção Hidrelétrica no mundo

Assim como observado na Tabela 2.2, a energia hidrelétrica é muito utilizada no Brasil. Essa utilização está concentrada principalmente nas regiões Sul e Sudeste, graças à sua extensa rede fluvial. Segundo dados do Portal Brasil (2014), de todo o potencial hidrelétrico do país, 40,5% estão localizados na Bacia Hidrográfica do Amazonas – para efeito de comparação, a Bacia do Paraná responde por 23%, a do Tocantins, por 10,6% e a do São Francisco, por 10%, sendo que a Região Norte no geral apresenta um grande potencial a ser explorado.

Analisando todos os fatores que estudamos acerca da energia hidrelétrica, você a considera uma energia totalmente limpa?

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Conheça as dez maiores usinas hidrelétrica do mundo no link <http://www.brasilescola.com/geografia/as-maiores-hidreletricas-mundo.htm>. Acesso em: 1 set. 2015.

2.4 Energia geotérmica

De acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014f), a energia geotérmica é produzida a partir do calor originado no interior do planeta Terra. Vulcões, gêiseres, fontes de água e lama quentes são as evidências mais visíveis que nos permitem perceber o calor que existe dentro e abaixo da crosta terrestre, limitada a alguns lugares (Figura 2.10).

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:NesjavellirPowerPlant_edit2.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2015

Figura 2.10 | Usina geotérmica de Nesjavellir na Islândia

Essa fonte de energia começou a ser explorada em 1904 na Itália, quando a eletricidade foi produzida a partir de vapor natural, expandindo esse princípio a diversas usinas geotérmicas que estão em operação em todo o planeta. Na Tabela 2.3 podemos acompanhar a capacidade mundial em usinas de energia geotérmica.

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País Capacidade instalada (mwe)

Estados Unidos 3086

Filipinas 1904

Indonésia 1197

México 958

Itália 843

Nova Zelândia 628

Islândia 575

Japão 536

El Salvador 204

Quênia 167

Total 58,473

Fonte: Dickson e Fanelli (2004)

Quadro 2.1 | Possibilidades de uso de recursos energéticos renováveis

As aplicações dessas fontes de energia podem ser elétricas ou não, porém os sistemas de vapor seco são os mais aplicados na geração de eletricidade; um exemplo são os gêiseres. Basicamente, a energia geotérmica é explorada de maneira em que o vapor natural gerado na Terra é retirado e usado para fazer funcionar uma turbina, gerando, consequentemente, eletricidade. Devemos atentar para que, eventualmente, essas fontes naturais de vapor podem vir a se esgotar em razão do uso excessivo, embora, mesmo assim, sejam consideradas fontes renováveis de energia, sendo a extensão dos recursos geotérmicos considerada grande (HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2014f).

Leia o artigo “Suíça é recordista em número de usinas geotérmicas” no link <http://www.swissinfo.ch/por/suíça-é-recordista-em-usinas-geotérmicas/7864706>. Acesso em: 14 out. 2015.

No Brasil essa fonte de energia é explorada a partir de zonas termais presentes em parques localizados em Caldas Novas (GO) e Poços de Caldas (MG) e utilizada na forma de água aquecida. Contudo, o Brasil não possui potencial necessário para ser utilizado na produção de energia geotérmica, uma vez que o terreno brasileiro é muito antigo, sem formações que tornem possíveis rochas derretidas ou magma mais perto da superfície, o que torna tal fonte cara e trabalhosa em nosso país.

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Como essa fonte de energia renovável poderia ser explorada em nosso território?

2.5 Energia das ondas e marés

De acordo com Taioli (2009), a maré é um fenômeno natural que ocorre duas vezes ao dia, causado pela interação gravitacional entre a Terra, a Lua e o Sol, processo dependente das posições relativas destes. O homem aproveita a energia proveniente das marés através da conversão de energia potencial em energia cinética, armazenando água durante a maré cheia por meio da abertura de uma barragem que permite a entrada de água em um dique; quando a maré baixa, a água sai por turbinas geradoras de energia elétrica. É um sistema que necessita de correntes e marés fortes, sendo possível em apenas algumas regiões do mundo.

A energia cinética das ondas pode ser usada para fazer funcionar uma turbina. Protótipos fixos e flutuantes visam aproveitar tal energia, em uma dinâmica em que a elevação da onda em uma câmara promove a saída do ar, movimento que pode vir a girar uma turbina, que se transforma em energia elétrica por meio de um gerador. Modelos também podem ser aplicados em movimentos de êmbolos que podem fazer funcionar geradores.

Em alguns países as marés são utilizadas na geração de energia, como França, Rússia, Portugal, Estados Unidos e China, porém a implantação depende muito de características geográficas do litoral e da amplitude da maré (Figura 2.11). Essa fonte de energia também não é aproveitada no Brasil, uma vez que as amplitudes das marés não permitem o aproveitamento desse tipo de energia.

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Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Barrage_de_la_Rance.jpg>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.11 | Usina La Rance na França. Eletricidade é produzida a partir da energia das marés.

Uma vez que os custos de implantação dessas tecnologias são bastante elevados e as condições para sua implementação são muito específicas, torna-se um método um tanto quanto pouco aplicável no mundo. Além disso, sua construção pode vir a gerar alguns impactos ambientais.

Como a energia de ondas e marés pode ser aplicada em processos de dessalinização da água do mar?

2.6 Energia de biomassa

Segundo Hinrichs, Kleinbach, Reis (2014e), a biomassa representa uma fonte de energia e começou a ser buscada a partir da realidade de que, um dia, combustíveis fósseis – os quais serão abordados na próxima seção desta unidade – iriam se esgotar, e a solução para tal problema estaria mais próxima do que imaginávamos. A biomassa representa uma fonte de energia muito antiga, mas que permanece atual e se mostra fundamental frente ao cenário mundial, funcionando como alternativa de combustíveis.

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A biomassa apresenta potencial de substituir combustíveis fósseis no futuro?

Considera-se energia de biomassa aquela que é derivada de matéria viva, por exemplo, grãos, árvores e plantas aquáticas, podendo ainda ser encontrada em resíduos agrícolas e florestais, bem como em resíduos sólidos municipais. Alguns estudiosos consideram a biomassa como “energia solar armazenada”, sendo convertida em combustível de três possíveis maneiras: combustíveis sólidos (lascas de madeira), combustíveis líquidos (produzidos pela ação química ou biológica sobre a biomassa) e combustíveis gasosos (produzidos por meio de altas temperaturas e alta pressão).

Com a aplicação das três diferentes técnicas, vários produtos com potencial energético são derivados da biomassa, como, por exemplo: bio-óleo (aplicado no aquecimento e geração de energia elétrica), biogás (gases obtidos da decomposição de matéria orgânica que podem gerar energia elétrica – Figura 2.12), etanol ou metanol (combustíveis produzidos a partir de matérias-primas como a cana de açúcar, milho e madeira), gás natural comprimido – GNC (combustível gasoso que pode funcionar em veículos como alternativa ao álcool ou à gasolina), biodiesel (combustível produzido a partir de óleos vegetais de dendê, mamona, sorgo, soja etc., representando uma interessante alternativa ao diesel padrão – Figura 2.13), carvão vegetal (obtido da carbonização da lenha), turfa (material orgânico encontrado em regiões pantanosas) e lenha (a utilização de biomassa mais antiga).

Figura 2.12 | Usinas de biogás podem gerar energia elétrica

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Usinabiogas.JPG>. Acesso em: 10 out. 2015.

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Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jetta_Biodiesel.jpg>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.13 | O biodiesel representa uma interessante alternativa ao diesel padrão

Recursos de biomassa apresentam capacidade de oferecer energia em qualquer lugar. Fornece, por exemplo, até 25% da energia dos Estados Unidos; na Suécia representa 32% das necessidades energéticas do país; a Finlândia, por sua vez, recebe 70% de sua energia de fontes renováveis, e 80% disso provém de madeira florestal e restos agrícolas. De acordo com dados da IEA Bioenergy Task 40, o Brasil é o país que mais utiliza biomassa na sua produção de energia, representando 16% do uso mundial, seguido dos Estados Unidos (9%) e Alemanha (7%), num contexto em que a biomassa representa 10% da produção global de energia. O etanol é o biocombustível mais aplicado no Brasil (proveniente da cana de açúcar) e Estados Unidos (proveniente do milho), mas também é produzido na Alemanha (proveniente do centeio) e França (proveniente da beterraba e trigo). Na União Europeia em geral, o biodiesel predomina no mercado de biocombustíveis.

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Leia o artigo “Geração por biomassa no Brasil vai receber investimentos de US$ 26 bilhões”. Disponível em: <http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=4&cid=238706>. Acesso em: 01 set. 2015.

1. A energia de biomassa corresponde a uma fonte de energia relativamente antiga, porém, com os avanços capitalistas, os combustíveis fósseis predominaram no mercado. Atualmente vivemos em um cenário mundial em que a energia de biomassa volta a ganhar espaço como fonte alternativa aos combustíveis fósseis. Sendo assim, quais são as possíveis maneiras de conversão da energia de biomassa?

2. A energia hidrelétrica representa uma considerável parcela em escala mundial quando analisamos as fontes de energia aplicadas em diferentes países. Essa fonte cresce consideravelmente ano após ano e divide opiniões quanto à sua aplicabilidade. Com base nos tópicos abordados, quais os dados de produção de energia hidrelétrica no Brasil e no mundo?

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Seção 3

Fontes de energia não renováveis

Uma vez que já abordamos as fontes de energia renováveis, na continuação da unidade trataremos das fontes de energia não renováveis. Tais fontes de energia utilizam-se de recursos naturais que não estão disponíveis continuamente na natureza, ou seja, recursos naturais esgotáveis, que desaparecerão em curto, médio ou longo prazo. Vários fatores de ordem ambiental e política podem estar envolvidos quando tais fontes de energia são analisadas, justamente em razão de suas características. Em nossa seção abordaremos os seus principais tipos, bem como suas aplicações e distribuição.

3.1 Carvão

Os combustíveis fósseis integram as fontes de energia não renováveis, representando cerca de 85% das fontes comerciais de energia usadas no mundo, nas quais não se enquadram somente o carvão, mas também o petróleo e o gás natural – os quais abordaremos mais à frente nesta seção, caminhando ao encerramento de nossa unidade. De acordo com as informações e reflexões de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b), as reservas desses combustíveis podem não durar muito mais do que a existência das pessoas vivas hoje, razão pela qual as fontes de energia renováveis que analisamos na Seção 2.2 vêm recebendo maior atenção, sendo grandemente exploradas e investidas, já que uma solução para tal situação deve ser encontrada.

Fontes de energia renováveis substituirão fontes de energia não renováveis?

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Nos Estados Unidos, a utilização do carvão corresponde à maior parte da produção de energia doméstica, seguida pelo gás natural e o petróleo. A atual demanda de combustíveis fósseis é reflexo da sociedade atual e do uso excessivo das fontes esgotáveis de energia. A situação pode ser guiada a uma possível crise, uma vez que há constante crescimento do mercado dos transportes, combinado à não expansão da economia global de combustível nos últimos anos.

Segundo Taioli (2009), o carvão mineral é utilizado há mais de 2.000 anos, desde a ocupação romana da Inglaterra, quando utilizavam o carvão para aquecer suas casas. Contudo, a expansão do carvão começou com as máquinas a vapor que eram movidas por esse combustível. Podemos definir carvão, basicamente, como uma rocha sedimentar combustível, formada pelo soterramento e pela consequente compactação de matéria orgânica vegetal, processo no qual o aumento da pressão e da temperatura e o movimento tectônico a transformam em carvão com uma concentração elevada de carbono. No Brasil a existência de carvão no sul de Santa Catarina é conhecida desde 1827.

As classificações citadas por Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b) mostram que existem quatro tipos básicos de carvão: lignitos (carvões mais jovens), sub-betuminoso (pressões e temperaturas maiores), betuminoso (calor e pressão adicionais) e antracito (carvão muito duro com alto valor calorífico). Os processos de extração de carvão envolvem o subsolo e também minas de superfície onde ocorrem. Cerca de 60% de todo o carvão produzido hoje é extraído de minas de superfície, de veios muito próximos à superfície da Terra, onde máquinas escavadeiras realizam a sua retirada (Figura 2.16).

Leia interessantes informações sobre as características e o processamento de carvão mineral no link a seguir: <http://www.aneel.gov.br/arquivos/pdf/atlas_par3_cap9.pdf>. Acesso em: 02 set. 2015.

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Na Figura 2.14 você pode acompanhar a distribuição das reservas mundiais de carvão mineral segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Na Figura 2.15, você também pode verificar um gráfico que traz a mesma relação. De certa forma, a distribuição de carvão mineral no mundo é irregular. Embora a Rússia, por exemplo, possua aproximadamente 50% das reservas conhecidas, uma das maiores reservas está presente nos Estados Unidos, chegando a quase 300 bilhões de toneladas recuperáveis, cerca de 30% do carvão do mundo, razão pela qual o carvão apresenta uma importância tão grande para essa nação.

O Brasil conta com cerca de 0,1% do carvão conhecido no mundo todo apenas. O carvão brasileiro explorado é derivado de uma paleoflora típica do Carbonífero e Permiano do antigo supercontinente Gondwana. O carvão brasileiro utiliza os depósitos na borda leste da bacia do Paraná, principalmente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em rochas de idade permiana inferior – cerca de 260 Ma (TAIOLI, 2009).

Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)

Figura 2.14 | Reservas mundiais de carvão mineral

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Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b)

Fonte: Disponível em: <https://pixabay.com/en/brown-coal-open-pit-mining-97100/>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.15 | Reservas recuperáveis mundiais de carvão

A mineração de superfície de carvão apresenta uma série de problemas ambientais envolvendo o solo de tais regiões, uma vez que modificam o meio ambiente. No Brasil, por exemplo, quando as atividades de extração de carvão começaram a acontecer no início do século XX, pouca importância à preservação ambiental foi dada. Logo, várias regiões de produção de carvão mineral vêm sofrendo consequências. Alguns dos problemas decorrentes da mineração do carvão são: acidificação de rios, chuvas ácidas, degradação do ambiente, subsidência local, rebaixamento do nível freático, assoreamento das drenagens, poluição dos solos e doenças relacionadas ao trabalho (TAIOLI, 2009).Figura 2.16 | Mineração de carvão

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Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Oil.png>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.17 | Rocha reservatório de hidrocarbonetos

3.2 Petróleo

O petróleo é um líquido oleoso, normalmente com densidade menor que a da água, com cores variadas: incolor, verde, marrom e preto. As utilidades do petróleo já foram muito diferentes com o passar das diferentes épocas, sendo utilizado como impermeabilizante, na iluminação, até que destilarias começaram a processar o petróleo que era retirado de poços. Todo o aspecto histórico culminou com a invenção dos motores de combustão interna e a produção de automóveis movidos à gasolina, dando um uso mais notório ao combustível proveniente do refino do petróleo. Nesse momento se iniciava a revolução da indústria do petróleo que é visível até hoje, graças a suas aplicações, como nos exemplos que vimos na Figura 2.5.

De acordo com Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b) e Taioli (2009), várias teorias tentam explicar a origem do petróleo, o qual, basicamente, consiste em uma mistura de óleo bruto, gás natural em solução e semissólidos asfálticos espessos e pesados, consistindo em uma mistura complexa de hidrocarbonetos (compostos de hidrogênio e carbono). Sua origem é proveniente de matéria orgânica soterrada com sedimentos lacustres ou marinhos. A grande diferença entre a formação do carvão mineral para os hidrocarbonetos é a matéria-prima: o material lenhoso origina o carvão e as algas originam os hidrocarbonetos, processos definidos pela sedimentação que ocorre a seguir. Todos os depósitos de petróleo contêm gás natural, mas nem todos os depósitos de gás natural contêm óleo.

Na Figura 2.17 você confere um esquema de uma rocha reservatório e como a matéria orgânica dos hidrocarbonetos se modifica em razão da profundidade e das condições de pressão e temperatura.

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Trazido à superfície, o petróleo é transportado à refinaria para a separação de seus constituintes, produzindo combustíveis como a gasolina, o óleo diesel, o óleo combustível, a querosene, os gases provenientes de petróleo, o asfalto, entre outros (Figura 2.18).

Fonte: Disponível em: A – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ShellMartinez-refi.jpg>. Acesso em: 10 out. 2015.Fonte: Disponível em: B – <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Crude_Oil_Distillation-es.svg>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.18 | A – Refinaria de petróleo. B – Separação dos produtos provenientes do petróleo

Conheça mais detalhes acerca do refinamento do petróleo no link <http://www.brasilescola.com/quimica/refinamento-petroleo.htm>. Acesso em: 01 set. 2015.

Acompanhando a grande procura por petróleo que no mundo não para de crescer desde o seu descobrimento, vamos agora abordar as reservas de petróleo disponíveis no planeta. A distribuição do petróleo não é uniforme, uma vez que algumas regiões podem ter esgotado suas reservas enquanto outras ainda são descobertas em novas regiões. A maior distribuição de petróleo no mundo está no Oriente Médio, em campos que contêm cerca de 55% do petróleo mundial, em 0,5% da área total do planeta. Na Tabela 2.4 você pode verificar a distribuição das reservas de petróleo no mundo.

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País Reservas de petróleo (bilhões de barris)

Arábia Saudita 267

Canadá 178

Irã 136

Iraque 115

Kuwait 104

Venezuela 99

Emirados Árabes Unidos

98

Rússia 60

Líbia 44

Nigéria 36

Estados Unidos 21

China 16

Qatar 15

Argélia 12

México 10

Noruega 7

Índia 6

Egito 4

Indonésia 4

Reino Unido 3

Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b)

Tabela 2.4 | Reservas mundiais de petróleo.

O petróleo é crucial para a economia mundial, especialmente em aplicações nas quais sua substituição é difícil atualmente, como transporte, agricultura e produtos petroquímicos. Você acredita que outra fonte energética poderá substituí-lo?

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Dados presentes em Taioli (2009) mostram que no Brasil já havia referências acerca da existência de petróleo na região sul da Bahia desde o século XIX, embora a primeira descoberta de petróleo de interesse comercial tenha acontecido em 1938, no município de Lobato, Bahia, na bacia sedimentar do Recôncavo. Em seguida houve descobertas no continente (bacia de Sergipe-Alagoas, bacia do Espírito Santo, bacia Potiguar, bacia do Solimões e na bacia do Paraná) e na plataforma continental (Potiguar, Campos, Foz do Amazonas, Ceará, Santos, Espírito Santo e Costa da Bahia). De todas as bacias, a de Campos possui as maiores reservas de petróleo em produção no país (Figura 2.19). No passado, as bacias do Recôncavo e Sergipe-Alagoas eram importantes produtoras, porém atualmente as bacias de Campos, Espírito Santo e Potiguar respondem por quase toda a produção de petróleo do Brasil.

Saiba mais sobre os impactos ambientais devido à exploração e consumo de petróleo no link <http://www.oei.es/divulgacioncientifica/reportajes_047.htm>. Acesso em: 1 set. 2015.

Nosso país apresenta potencial na exploração de petróleo?

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Fonte: Lucchesi (1998)

Figura 2.19 | Bacias sedimentares brasileiras

3.3 Gás natural

Segundo informações de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b), assim como o petróleo bruto, o gás natural é formado a partir da decomposição da matéria orgânica, composta por uma mistura de hidrocarbonetos leves, principalmente metano (CH4). Como comentado anteriormente, ele pode estar misturado com o petróleo bruto ou estar presente em regiões em que não há petróleo bruto (Figura 2.17).

O gás natural corresponde a uma fonte de energia muito versátil, podendo ser aplicada como fonte de geração de energia elétrica alimentando turbinas e substituindo o carvão e o petróleo (outros combustíveis fósseis). Também pode ser uma alternativa para combustíveis automotivos, substituindo a gasolina, o etanol e o óleo diesel. Além disso, pode ter aplicações domésticas e ser utilizado no lugar do GLP (o gás liquefeito de petróleo ou gás de cozinha) e, por fim, funciona como um insumo básico da indústria gasoquímica, produzindo compostos como metano e ureia. De certa forma, apresenta queima limpa, pois emite 2/3 da emissão do carvão mineral e 60% do petróleo.

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Atualmente a utilização de gás natural consiste em 15,6% do consumo de energia mundial, crescendo vagarosamente ao ritmo de 1,5% ao ano. As reservas mundiais de gás natural são estimadas em mais de 6.200 trilhões de pés cúbicos (tft3), sendo possivelmente suficientes para mais 60 anos, de acordo com a taxa anual de consumo que é 108 tft3. Na Tabela 2.5 é possível verificar a distribuição das reservas mundiais de gás natural, sendo as maiores delas encontradas na Rússia.

País Gás natural (trilhões de pés cúbicos)

Rússia 1680

Irã 991

Qatar 892

Arábia Saudita 258

Estados Unidos 238

Emirados Árabes Unidos

214

Nigéria 184

Venezuela 171

Argélia Líbia 159

Iraque 112

Indonésia 106

Noruega 82

China 80

Kuwait 63

México 58

Canadá Egito 58

Líbia 54

Índia 38

México 13

Reino Unido 12

Fonte: Adaptado de Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014b)

Tabela 2.5 | Reservas mundiais de gás natural

Segundo dados do Portal Brasil, o Brasil tem investido na expansão do uso do gás natural, que, além de apresentar menor emissão de poluentes no processo de

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combustão, favorece a maior durabilidade aos equipamentos em que é utilizado. O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2021) prevê para o ano de 2016 uma produção de 134 milhões de m³/dia e, para o ano de 2021, uma produção de 200 milhões de m³/dia, reflexo da descoberta da camada pré-sal no país.

Leia o artigo “Estudo diz que pré-sal do Brasil contém 176 bilhões de barris de petróleo e gás” no link <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/pre-sal-do-brasil-contem-176-bilhoes-de-barris-de-petroleo-e-gas-diz-estudo.html>. Acesso em: 01 set. 2015.

3.4 Energia nuclear

A última fonte de energia não renovável que vamos analisar é a energia nuclear. Primeiramente, vamos compreender como funciona esse tipo de energia. A energia nuclear é gerada pela fissão do núcleo do elemento Urânio (235U) através de um bombardeamento de nêutrons, liberando mais nêutrons e calor, o que acontece em cadeia. Com o estudo mais aprofundado de tal fonte de energia, foi possível gerar sistemas de controle dessas reações em cadeia, o que estabeleceu um controle da energia gerada, com o consequente uso dela em fins militares ou de energia termoelétrica (TAIOLI, 2009).

A energia nuclear é uma fonte de energia totalmente segura?

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Os sistemas de geração de energia por fissão nuclear são os chamados reatores e fazem parte das usinas geradoras de eletricidade ou usinas termonucleares, onde a geração de energia é feita por meio de turbinas que são movidas a vapor de água, aquecidas por combustível nuclear (Figura 2.20).

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Esquema_de_uma_Usina_Nuclear.png>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.20 | Esquema de uma usina nuclear

A concentração média de urânio na crosta terrestre é de 2 ppm. Para ser considerada uma jazida, a concentração de urânio deve ser de 400 a 2.500 vezes maior do que a sua concentração média. Na Figura 2.21 encontramos os países produtores de minérios de urânio.

Segundo dados presentes em Hinrichs, Kleinbach e Reis (2014d), em países como a França, 77% de toda a energia elétrica produzida provém das usinas nucleares; a Coreia do Sul tem cerca de 35% de eletricidade proveniente de energia nuclear, seguida da Alemanha, que possui aproximadamente 30%, empatada com o Japão que também possui 30%. Na Tabela 2.6 é possível conferir todos esses dados com maiores detalhes, além da constatação de 70 reatores que estão em construção no mundo, de acordo com dados da International Atomic Energy Agency de 31 de dezembro de 2014.

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Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paises-Produtores-de-Uranio-2007.png>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.21 | Países produtores de minérios de urânio

No Brasil, energia elétrica é gerada em usinas nucleares como a de Angra dos Reis (RJ), embora a energia nuclear tenha sido pouco explorada. De fato, em nosso país já foram estudadas e catalogadas dezenas de milhares de ocorrências de urânio, porém nenhuma dessas descobertas levou a algum depósito economicamente explorável. A primeira unidade mineira e de beneficiamento do Brasil foi iniciada em 1982, em Caldas no sul de Minas Gerais, tendo fornecido combustível para a usina nuclear de Angra dos Reis. Uma vez que essa mina chegar ao ponto de exaustão, o urânio passará a ser produzido na região sudoeste da Bahia, nos municípios de Lagoa Real e Catité, que apresentam reservas com uma estimativa de 100 mil toneladas de urânio. No Ceará, no município de Santa Quitéria, há uma jazida com cerca de 140 mil toneladas. Veja quais são as reservas brasileiras de urânio na Figura 2.22. Com a soma de todas essas jazidas, nosso país já alcança o sexto lugar em reservas de urânio no mundo, como você pode conferir na Tabela 2.6 (TAIOLI, 2009).

Leia o artigo “Jazida de urânio no Ceará é promessa para geração de energia”. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2015/08/03/noticiasjornalcotidiano,3478264/itataia-uma-promessa-para-o-futuro-da-energia-nuclear-no-brasil.shtml>. Acesso em: 01 set. 2015.

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Embora a Europa Ocidental dependa muito de energia nuclear, a tendência é de um afastamento dessa tecnologia, como se pode ver em alguns países que já interromperam novas construções. A energia eólica, além de outras renováveis, substituirá a nuclear.

Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:UranioBrasil.gif>. Acesso em: 10 out. 2015.

Figura 2.22 | Distribuição das reservas brasileiras de urânio

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PaísUnidades em

operaçãoMW

Unidades em construção

Argentina 3 1627 1

Armênia 1 375 -

Bielorrússia - - 2

Bélgica 7 5927 -

Brasil 2 1884 1

Bulgária 2 1926 -

Canadá 19 13500 -

China 23 19007 26

República Tcheca 6 3904 -

Finlândia 4 2752 1

França 58 63130 1

Alemanha 9 12074 -

Hungria 4 1889 -

Índia 21 5308 6

Irã 1 915 -

Japão 48 42388 2

República da Coreia 23 20717 5

México 2 1330 -

Holanda 1 482 -

Paquistão 3 690 2

Romênia 2 1300 -

Rússia 34 24654 9

Eslováquia 4 1814 2

Eslovênia 1 688 -

África do Sul 2 1860 -

Espanha 7 7121 -

Suécia 10 9470 -

Suíça 5 3333 -

Emirados Árabes Unidos - - 3

Reino Unido 16 9373 -

Ucrânia 15 13107 2

Estados Unidos 99 98639 5

Total 438 376216 70

Fonte: International Atomic Energy Agency (2015)

Tabela 2.6 | Energia nuclear no mundo – 31 de dezembro de 2014

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1. O gás natural representa uma fonte de energia consideravelmente versátil, apresentando diferentes aplicações na geração de energia elétrica ou em combustíveis automobilísticos, representando uma alternativa mais limpa e sustentável quando comparada aos combustíveis de origem fóssil. Quais dados nos permitem dizer que o gás natural apresenta queima limpa?

2. O petróleo em nosso país não apresenta um potencial tão amplo de exploração. Porém se reconhece que o Brasil é detentor de importantes bacias sedimentares. Indique quais são as bacias sedimentares brasileiras e as suas principais características.

1. Recursos naturais são todas as matérias-primas de ordem renovável ou não renovável que são obtidas diretamente da natureza e aproveitadas pelo homem.2. Os recursos renováveis são aqueles que se renovam naturalmente após o seu uso, ou seja, eles são repostos na natureza em taxas iguais ou superiores àquelas de antes de o homem usufruí-los.3. Os recursos não renováveis são aqueles que, embora provenientes da natureza – assim como os renováveis –, não se renovam naturalmente após o seu uso.4. Recursos energéticos incluem as fontes de energia que provêm de recursos disponíveis no ambiente. Sendo assim, esses recursos podem ser tanto renováveis quanto não renováveis.5. Fontes de energia renováveis representam hoje aproximadamente 8% da energia mundial, porcentagem que continua aumentando no mundo significativamente.

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6. Países como a Alemanha, Itália, China, Japão, Espanha, França, República Checa, Bélgica, Austrália e Estados Unidos representam as maiores capacidades de energia solar instaladas, detendo as maiores porcentagens do mercado mundial de energia solar. No Brasil, a energia solar ainda é pouco difundida, com restrição às regiões Sul e Sudeste.7. O cenário atual do uso da energia eólica no mundo vem crescendo cada vez mais, com grande destaque para a China. O Brasil possui um grande potencial para o aproveitamento da energia eólica, com destaque para os litorais norte e sul do país.8. A energia hidrelétrica fornece cerca de 21% da eletricidade consumida no planeta e 15% da energia produzida no País. Os países que lideram a produção de energia hidrelétrica no mundo são China e Estados Unidos, seguidos do Brasil.9. Países com as maiores capacidades geotérmicas instaladas são: Estados Unidos, Filipinas e Indonésia. No Brasil essa fonte de energia é explorada a partir de zonas termais presentes em parques localizados em Caldas Novas (GO) e Poços de Caldas (MG), utilizada na forma de água aquecida.10. Em alguns países as marés são utilizadas na geração de energia, como França, Rússia, Portugal, Estados Unidos e China, fonte não explorada no Brasil.11. O Brasil é o país que mais utiliza biomassa na sua produção de energia, representando 16% do uso mundial, seguido dos Estados Unidos (9%) e da Alemanha (7%). A biomassa representa 10% da produção global de energia.12. A distribuição de carvão mineral no mundo é irregular: a Rússia possui aproximadamente 50% das reservas conhecidas, seguida dos Estados Unidos com 30%. O Brasil apresenta apenas 0,1% do carvão conhecido no mundo todo, em depósitos na borda leste da bacia do Paraná.13. A maior distribuição de petróleo no mundo está no Oriente Médio, em campos que contêm cerca de 55% do petróleo mundial, em 0,5% da área total do planeta. De todas as bacias sedimentares brasileiras, a de Campos possui as maiores reservas de petróleo em produção no país.14. As maiores reservas de gás natural do mundo são encontradas na Rússia, seguidas de Irã e Qatar. O Brasil tem investido na expansão do uso do gás natural.15. A energia nuclear depende diretamente dos minérios de urânio disponíveis no mundo. Países como Estados Unidos, França, Japão e Rússia lideram os números a respeito do potencial e de unidades em operação em seus territórios. O Brasil alcança o sexto lugar em reservas de urânio no mundo, fornecendo combustível para, por exemplo, a usina nuclear de Angra dos Reis.

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Para concluir esta unidade, podemos refletir sobre como as fontes de energia e as suas classes, assunto que aqui estudamos, estão sendo aplicadas e estimuladas no Brasil. É preciso olhar para o presente para que se possa compreender as perspectivas do futuro de nosso país a respeito das tecnologias e aplicações energéticas em nosso território.A energia não renovável apresentou crescimento na matriz energética do País, um cenário em que os combustíveis fósseis continuam a dominar o mercado, com cerca de 57,6% de participação. Porém, percebe-se que fontes não renováveis estão começando a perder participação, uma vez que fontes energéticas alternativas vêm ganhando maior espaço na matriz energética brasileira.Sendo assim, analisando as fontes de energia renováveis, podemos perceber que estamos passando por uma era de transição em que, literalmente, bons ventos estão por vir. Estima-se que em 2014 e até o fim de 2015, o Brasil terá atraído cerca de US$ 300 bilhões em investimentos para a geração de energia elétrica, dos quais 70% serão direcionados à energia eólica e solar. Acredita-se que até a data estimada, energia eólica, solar e de biomassa, que somam cerca de 14%, alcançarão cerca de 50% de capacidade instalada no país.Nosso país segue a tendência mundial de aproveitamento de energias limpas e renováveis, uma vez que, atualmente, de acordo com as linhas do desenvolvimento sustentável, devemos hoje ter o cuidado necessário para mantermos a qualidade das condições de vida de nosso planeta para as gerações futuras. Caro aluno, estamos vivenciando um momento na história do planeta em que fontes alternativas ganham destaque, tomando o lugar de práticas mais antigas e menos sustentáveis.

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1. Consideramos que os recursos renováveis são aqueles que se renovam naturalmente após o seu uso, ou seja, aqueles que são repostos na natureza em taxas equivalentes àquelas disponíveis antes de seu uso. Qual das alternativas a seguir traz uma opção em que encontramos apenas fontes de energia renováveis? a) Energia eólica, energia solar, carvão mineral.b) Biomassa, energia eólica, energia nuclear.c) Energia nuclear, carvão mineral, gás natural.d) Petróleo, biomassa, energia geotérmica.e) Energia eólica, energia solar, biomassa.

2. A mineração de superfície de carvão apresenta uma série de problemas ambientais envolvendo o solo das regiões em que é realizada, uma vez que modifica muito o meio ambiente. Quais são as desvantagens da mineração de superfície na extração de carvão mineral?

3. Os recursos naturais não renováveis são provenientes de matéria orgânica em decomposição que é depositada e compactada através de processos geológicos que levam milhões de anos para acontecer. Quando esses recursos são retirados do ambiente e utilizados, eles não podem ser reaproveitados ou renovados.Qual das alternativas a seguir traz uma opção de fonte de energia não renovável?a) Energia nuclear.b) Energia eólica.c) Energia solar.d) Energia de biomassa.e) Energia geotérmica.

4. “A Finlândia recebe 70% de sua energia de fontes renováveis. Disso, 80% provém de madeira florestal e restos agrícolas”. A informação sobre a Finlândia nos permite que concluir que

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esses 80% de suas fontes de energia são gerados a partir de qual das opções seguintes?a) Energia de combustíveis fósseis.b) Energia de biomassa.c) Energia solar.d) Energia de ondas e marés.e) Energia de fissão nuclear.

5. As aplicações das fontes de energia geotérmica podem ser de ordem elétrica ou não, sendo os sistemas de vapor seco os mais aplicados na geração de eletricidade. De que maneira a energia geotérmica é explorada para a geração de eletricidade?

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Unidade 3

ECOLOGIA E AGRONEGÓCIO – CONCEITOS BÁSICOS E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO BRASIL

Serão introduzidos aqui fundamentos da Ecologia importantes para a compreensão da dinâmica entre meio ambiente, sociedade e economia. Você aprenderá o que é bioma, habitat, ecossistema, dentre outros. Além disso, serão discutidos os tipos de relações ecológicas, as cadeias e teias alimentares.

Você vai aprender o que é o agronegócio, sua importância e a forma como foi estabelecido no Brasil. Além disso, serão discutidos os impactos econômicos, sociais e ambientais decorrentes do atual modelo do agronegócio brasileiro.

Seção 1 | Fundamentos de ecologia

Seção 2 | Agronegócio: impactos socioambientais, econômicos e sustentabilidade

Objetivos de aprendizagem:

Nesta unidade, você vai aprender o significado dos principais conceitos de Ecologia e, em seguida, verá a importância do agronegócio para a economia brasileira, bem como os impactos positivos e negativos para a sociedade e para o meio ambiente.

Tatiana de Ávila Miguel

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Introdução à unidade

Com certeza, você conhece alguns conceitos de Ecologia, porém muitas vezes é possível confundi-los. Por essa razão, acaba-se analisando as consequências das ações humanas de maneira equivocada. Na maioria das situações, o homem é separado do meio ambiente, gerando assim uma partição que na verdade não existe, uma vez que o ser humano é uma espécie animal integrante dos ecossistemas. Nesse sentido, todas as atividades humanas (econômicas e sociais, por exemplo) estão intrinsecamente relacionadas ao meio ambiente e à sua preservação. Desde muito antigamente o homem utiliza a agropecuária como base para o desenvolvimento das sociedades, e, atualmente, essas atividades estão englobadas dentro do sistema do agronegócio. Embora extremamente importante para economia e para a sociedade, o atual modelo de agronegócio utilizado no Brasil e no mundo acarreta diversos impactos socioambientais negativos, o que levanta questões sobre o futuro das sociedades e a necessidade de mudanças para que o desenvolvimento seja mais sustentável. Assim, na primeira parte desta unidade você vai compreender os conceitos fundamentais da Ecologia, para que na Seção 3.2 possamos introduzir a questão do agronegócio, levando em consideração o seu desenvolvimento histórico e as consequências positivas e negativas que dele decorrem. Por fim, vamos discutir a sustentabilidade no agronegócio, juntamente com alternativas para que os impactos socioambientais negativos possam ser ultrapassados.

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Seção 1

Fundamentos de ecologia

A ecologia é, basicamente, o ramo da biologia que estuda os seres vivos e suas interações entre si e com o meio ambiente.

A relação dos seres vivos com a natureza vem sendo observada e estudada pela humanidade intuitivamente desde seus primórdios, pois o homem precisava conhecer o seu ambiente para sobreviver. Os primeiros antecedentes científicos da ecologia são encontrados na história grega, através de um discípulo de Aristóteles: Teofrasto, cujos estudos descreveram as relações dos organismos entre si e com o meio ambiente. Porém, o termo Ecologia surgiu apenas em 1866, no livro Morfologia Geral dos Organismos do biólogo alemão Ernst Haeckel, com a proposta de relacionar a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin à morfologia animal e de estudar a relação das espécies entre si e com o ambiente.

Com base em sua definição, podemos notar que a Ecologia é uma ciência interdisciplinar, que permeia diversos ramos, como agronomia, etologia, zoologia, botânica, biogeografia, genética, paleontologia, sociologia, entre outros, sendo de extrema importância para a humanidade.

Qual é a importância da Ecologia em nossa vida cotidiana?

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O estudo da Ecologia exige a observação e o conhecimento dos componentes abióticos (não vivos) e bióticos (seres vivos) de um sistema. Entre os fatores abióticos podemos incluir qualquer componente físico-químico de um ambiente, como temperatura, umidade, água, luz, vento, solo etc. Entre os componentes bióticos, por sua vez, incluem-se todos os organismos vivos – plantas, animais, fungos, algas etc. O conjunto desses fatores, bióticos e abióticos, é denominado biossistema (Figura 3.1).

Fonte: Adaptado de Odum (2004, p. 6)

Figura 3.1 | Biossistemas – Hierarquia dos níveis de organização

Conforme podemos observar na Figura 3.1, há muitos conceitos importantes para a Ecologia, tais como população, comunidade e ecossistema. Para facilitar nossos estudos, vamos trabalhar tais conceitos em forma de tópicos.

• Espécie

Conjunto de organismos semelhantes, estrutural e funcionalmente, capazes de se reproduzir e gerar descendentes férteis.

• População = Espécie + Ambiente

Conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem na mesma área, em um mesmo intervalo de tempo.

• Comunidade ou Biocenose = População + Ambiente

Conjunto de populações (seres vivos de diferentes espécies) que vivem na mesma área, no mesmo intervalo de tempo.

• Habitat

É o local geográfico ocupado por uma espécie.

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• Biótopo

Área geográfica ocupada por uma biocenose ou comunidade. Alguns autores trabalham biótopo e habitat como sinônimos. Porém, aqui vamos utilizar a palavra habitat quando estivermos fazendo referência a uma única espécie, e biótopo quando referenciarmos comunidades.

• Ecossistema = Biocenose + Biótopo

Conjunto de comunidades que vivem na mesma área, no mesmo intervalo de tempo.

• Biota

Conjunto de seres vivos (ou componentes bióticos) de uma região.

• Bioma

Não há um consenso sobre o conceito de bioma, que pode ser trabalhado de diferentes maneiras, por diferentes autores (COUTINHO, 2006). Porém, de forma geral, podemos defini-lo como um conjunto de ecossistemas ou uma área geográfica que apresenta uniformidade de macroclima, fitofisionomia (aspecto da vegetação de um lugar), de determinada fauna e outros organismos vivos associados, e de outras condições ambientais, como altitude, solo, alagamentos, fogo e salinidade. Essas características lhe conferem estrutura e funcionalidade peculiares e ecologia própria. Os principais biomas da Terra são Savana, Deserto, Tundra, Mediterrâneo, Floresta Tropical Úmida, Floresta Tropical Seca, Floresta Temperada, Chaparral, Prados Temperados, Montanhas e Taiga. No Brasil temos seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.

Como biomas podem ser delimitados de diferentes formas, há biomas maiores e menores, e até “biomas dentro de biomas”. Por exemplo, o bioma Cerrado faz parte do Savana, e o Floresta Amazônica faz parte do Floresta Tropical. Uma revisão detalhada pode ser encontrada no artigo “O Conceito de Bioma”, de Leopoldo Magno Coutinho, publicado em 2006 na revista Acta Botanica Brasilica (vol. 20, n. 1, p. 13-23). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-33062006000100002>. Acesso em: 6 out. 2015.

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• Biosfera ou Ecosfera

É o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, é todo o espaço ocupado por seres vivos no planeta. Podemos dizer que Biosfera = litosfera (superfície terrestre) + hidrosfera (ambientes aquáticos) + atmosfera + biota do planeta.

• Biodiversidade

É sinônimo de diversidade biológica, ou seja, variedade do número de espécies diferentes encontradas em determinado sistema ecológico. Quanto maior a biodiversidade, maior o número de espécies diferentes encontradas.

• Espécie Nativa

Espécie que é natural de um determinado ecossistema ou região, ou seja, é própria da região em que vive e cresce dentro dos seus limites naturais.

• Espécie Exótica

Não habita seu local natural, isto é, foi introduzida pelo homem. Quando a espécie vive em harmonia com os organismos nativos, dizemos que ela é uma espécie exótica introduzida. Já a espécie que altera as condições ambientais do solo, da água, elimina e/ou interfere nas espécies nativas é denominada de espécie exótica invasora.

A introdução de espécies exóticas invasoras é uma das principais causas para a perda da biodiversidade, pois sua propagação é muito ampla, e geralmente se reproduz rapidamente. Com isso, a fauna e a flora nativas são prejudicadas, podendo fugir do seu ambiente natural para sobreviver ou, em casos mais extremos, serem extintas. Exemplos comuns de invasoras são eucalipto, pínus, braquiária, beijinho, goiabeira. Você pode conhecer mais sobre as espécies invasoras no Brasil acessando o link: <http://www.mma.gov.br/estruturas/174/_publicacao/174_publicacao17092009113400.pdf>. Acesso em: 8 out. 2015.

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Agora que você já aprendeu os principais conceitos de ecologia, vamos estudar as relações ecológicas importantes para discutirmos os impactos ambientais provocados pelo homem, especialmente pelo agronegócio, que é o tema da Seção 2.

1.1 Cadeias e teias alimentares

As cadeias alimentares são as inter-relações de alimentação dos seres vivos. É pelo alimento que conseguimos a energia necessária para sobreviver. Certos organismos são capazes de produzir seu próprio alimento (organismos autotróficos), ao passo que alguns precisam se alimentar de outros seres vivos (organismos heterotróficos).

Você provavelmente já ouviu a celebre frase de Antoine Lavoisier “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Essa citação resume perfeitamente o que ocorre em uma cadeia alimentar: uma transferência de matéria e energia através dos seres vivos, desde os organismos autotróficos até os heterotróficos, retornando a matéria para a natureza através dos decompositores. Como podemos observar na Figura 3.2, os organismos são classificados em produtores, consumidores e decompositores, de acordo com o seu papel na cadeia alimentar.

• Produtores: são sempre autótrofos e por isso estão no início de qualquer cadeia alimentar. Exemplos: plantas e algas.

• Consumidores: são os organismos heterótrofos, que podem ser:

• Consumidores primários: sempre herbívoros, ou seja, se alimentam dos autótrofos.

• Consumidores secundários, terciários e assim por diante: sempre carnívoros, se alimentam de outros heterótrofos (herbívoros ou carnívoros).

• Decompositores: são organismos que transformam matéria orgânica em matéria inorgânica, fazendo que esses compostos retornem à natureza para serem reutilizados. Exemplos: bactérias e fungos.

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Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Figura 3.2 | Cadeia alimentar – ciclagem de matéria e fluxo de energia

Embora a matéria seja sempre reciclada, o fluxo de energia através da cadeia alimentar é unidirecional. Isso quer dizer que parte dessa energia é perdida no decorrer de uma cadeia alimentar, diminuindo sempre a cada nível trófico, que é uma etapa ou estágio da cadeia.

Os produtores ocupam sempre o primeiro nível trófico. Os consumidores primários ocupam o segundo nível trófico, consumidores secundários estão no terceiro nível, e assim por diante. Os decompositores estão no último nível trófico. Alguns animais ocupam mais de um nível trófico, pois são onívoros, ou seja, se alimentam tanto de vegetais quanto de outros animais. Como exemplo, podemos citar o homem.

Na natureza, as interações e relações dos seres vivos são mais complexas, e as cadeias alimentares se entrelaçam, formando as teias alimentares.

1.2 Relações ecológicas

Conforme discutimos anteriormente, as interações entre os seres vivos (relações ecológicas) são um ponto-chave no estudo da Ecologia. Quando a interação ocorre

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entre indivíduos da mesma espécie, dizemos que é uma relação intraespecífica. Quando esse relacionamento ocorre entre indivíduos de espécies diferentes, dá-se a ele o nome de relação interespecífica. Podemos ainda classificar os tipos de interação em harmônicas (quando pelo menos uma espécie é beneficiada e não ocorre prejuízo para nenhuma das partes) ou desarmônicas (pelo menos uma espécie é prejudicada). A Figura 3.3 mostra um resumo das diferentes relações ecológicas que observamos na natureza.

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Figura 3.3 | Principais relações ecológicas

A forma como uma espécie se comporta (seus hábitos alimentares, reprodutivos, territoriais etc.) se relaciona com as outras e interfere no meio ambiente, ou seja, o seu “papel no ecossistema” é o que define seu nicho ecológico. Esse conceito engloba todas as relações ecológicas e alimentares que discutimos anteriormente, e é de suma importância para compreendermos a dinâmica da natureza, o equilíbrio ambiental e como as ações humanas interferem no meio ambiente.

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1.3 Dinâmica ambiental – equilíbrio ecológico, ação antrópica e poluição

A dinâmica de relações de organismos entre si e com o meio ambiente é extremamente complexa; tudo se entrelaça, seja por meio das teias alimentares, por meio das relações ecológicas, seja pelas mudanças ambientais (tanto naturais quanto aquelas provocadas pelo homem). Podemos fazer aqui uma analogia: a natureza funciona como se fosse um só organismo vivo, tal qual o corpo humano, onde tudo acontece de forma interligada e com o propósito de manter um equilíbrio.

Podemos, portanto, definir o equilíbrio ecológico como a relação que acontece entre os organismos vivos e com o seu meio, assegurando a sobrevivência das espécies e preservação dos recursos naturais. Quando em equilíbrio, a fauna e a flora do ecossistema são praticamente constantes, mostrando, assim, uma relação de dependência e ajuste complexo, que é essencial para manter a continuidade das espécies. É um balanço delicado, com muitas variáveis, o qual, portanto, pode ser facilmente afetado, provocando o chamado desequilíbrio ecológico.

Fator de desequilíbrio é qualquer acontecimento ou evento que venha a perturbar as características naturais de um ecossistema. Podem ser fatores naturais (furacões, terremotos, tempestades etc.) ou induzidos pelo homem (poluição, desmatamento, caça, despejo inadequado de resíduos etc.). Em alguns casos, os fatores de desequilíbrio induzem ao desenvolvimento de adaptações, as quais são de suma importância no processo evolutivo e na manutenção das espécies. Por exemplo: nos cerrados, onde o fogo é um fator de desequilíbrio periódico (ocorre em intervalos mais ou menos regulares), muitas árvores e plantas se adaptaram de tal forma que precisam, inclusive, do fogo em alguns processos reprodutivos. Nesse caso, o fogo do cerrado é um fator de desequilíbrio para alguns componentes do ecossistema mas para outros não.

Você consegue citar alguns fatos que poderiam ocorrer com uma espécie que não se adapta a um fator de desequilíbrio constante?

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As ações do homem também podem causar perturbações nos ecossistemas, provocando desde efeitos imperceptíveis a curto prazo até a destruição de ecossistemas inteiros. É muito importante que você perceba que, como na natureza os seres vivos são interligados em um ecossistema delicadamente equilibrado, as perturbações ocorridas em uma única espécie refletirão em toda a teia trófica e nas relações ecológicas, afetando todo o ecossistema. É por isso que há uma grande preocupação com temas como o de biodiversidade, por exemplo.

Se você se interessa em saber mais sobre os impactos da humanidade na natureza, leia no livro Destruição e equilíbrio (o homem e o ambiente no espaço e no tempo), de Sérgio de Almeida Rodrigues (São Paulo: Atual, 1989. p. 98). O autor discute a questão do antropocentrismo, desde a origem da espécie humana, e demonstra que as relações que desenvolvemos com a natureza hoje atingem um ponto crítico.

Além da perda de biodiversidade, outras consequências negativas comuns da ação antrópica no meio ambiente são a chuva ácida, o desmatamento, a poluição das águas e do ar, o efeito estufa, a erosão, os incêndios florestais, as inundações, as alterações climáticas, a eutrofização, a destruição da camada de ozônio, dentre outros.

A humanidade possui hoje uma visão antropocêntrica em relação ao meio ambiente, ou seja, o ser humano se vê como centro do planeta e detentor do papel de dominador sobre a natureza. Entretanto, somos apenas uma espécie dentre tantas outras e devemos passar a nos ver em nosso lugar, como parte integrante da biosfera. Daí a importância da Educação Ambiental.

Todas as relações que o homem estabelece entre si e com o meio ambiente são estudadas pela Ecologia Humana, pela Sociologia e pela Antropologia. Portanto, você pode perceber que, conforme discutimos no início desta unidade, a Ecologia é uma ciência interdisciplinar. Isso quer dizer que, para discutirmos e realmente compreendermos a natureza, precisamos, além de estudar a fauna e a flora dos ecossistemas, estudar o comportamento humano e seu impacto na natureza.

O homem interfere negativamente no meio ambiente de várias maneiras. Muitas vezes nossos próprios hábitos diários causam prejuízos enormes para a natureza.

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Imagine uma situação bastante comum: lavar a calçada, ou não reciclar o lixo, ou despejar óleo na pia. Agora imagine que há no mundo 7 bilhões de pessoas (Organização das Nações Unidas – ONU, 2014) e que apenas um centésimo de toda a população mundial faça alguma dessas atividades diariamente. O resultado dessa conta é que diariamente 7 milhões de pessoas prejudicam o meio ambiente de alguma forma, isso se levarmos em consideração apenas 1 centésimo da população mundial e 1 fator de desequilíbrio. Se, no entanto, extrapolarmos essa estimativa e considerarmos que a maioria das pessoas não faz a sua parte para a preservação do meio ambiente, e que temos milhares de indústrias, pastagens e plantações, milhões de veículos movidos a combustível fóssil, toneladas de resíduos, fica fácil perceber o quanto o homem prejudica o meio ambiente e o quão importante é a Ecologia.

1. Algumas espécies de morcegos frugívoros (ou seja, que comem frutas) estão contaminadas com um vírus chamado Nipah. Esse vírus pode provocar infecções graves em muitos animais domésticos, como porcos, e também em humanos. Na Malásia, em 1998, as fazendas de criação de porcos invadiram o ambiente natural dos morcegos, e os chiqueiros ficaram cheios de frutas mordidas, fezes e urina infectada. Os porcos adoeceram e as pessoas foram contaminadas pela carne ou excrementos dos animais, tendo sido de 50% a taxa de mortalidade (SEGATTO, 2006).

Com base no texto, analise as afirmações:

I. No texto, a expressão “ambiente natural” corresponde a habitat.II. Os porcos foram contaminados por meio da ingestão dos morcegos.III. Os seres humanos foram infectados pelo contato com excrementos contaminados e também através da cadeia alimentar, pela ingestão da carne de porco.IV. Na cadeia alimentar, as árvores frutíferas são produtoras, e os morcegos consumidores primários.V. A contaminação dos porcos não ocorreu através da cadeia alimentar, pois eles não se alimentam dos morcegos.Estão corretas as afirmativas:

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a) I e II, apenas.b) I, III e IV, apenas.c) I, III, IV e V, apenas.d) II, III, e IV, apenas.e) I, II, III, IV, V.

2. Na natureza as relações ecológicas ocorrem de várias formas e maneiras surpreendentes:I. A erva de passarinho é uma planta que não possui clorofila. Ela se apoia no tronco das árvores e retira seiva para realizar a fotossíntese e se alimentar.II. Nas florestas, samambaias se apoiam no topo das árvores em busca de luminosidade.III. Em algumas espécies de tubarão, dentro do útero da mãe, os embriões mais fortes se alimentam dos mais fracos e de ovos não fecundados. IV. Os seres humanos cultivam abelhas para produção de mel. V. Os crocodilos permitem que aves-palito pousem dentro de sua boca para que estas se alimentem dos restos de comida e das sanguessugas que ali se instalam. VI. A associação entre certos fungos e algas clorofíceas ou cianobactérias costuma ser tão íntima que ambos formam um novo tipo de organismo, o líquen. VII. Algumas espécies de árvores produzem substâncias que são dissolvidas pela água das chuvas e levadas até o solo, onde dificultam o crescimento de outras espécies vegetais, ou até mesmo matam sementes, impedindo que germinem. VIII. Os cupins por vezes infestam casas e se alimentam da madeira. Porém eles não são capazes de digerir a celulose. Para isso, contam com a ação de protozoários que vivem em seu aparelho digestório para se alimentarem. As situações acima correspondem respectivamente a quais tipos de relação ecológica?

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Seção 2

Agronegócio: impactos socioambientais, econômicos e sustentabilidade

Você sabe o que é agronegócio? Muitas vezes, a primeira coisa que vem à mente ao ouvir ou ler essa palavra é a agropecuária, embora esta seja somente uma porção de toda a cadeia que engloba o agronegócio (observe a Figura 3.4). O agronegócio é formado por um conjunto de diversas atividades correlacionadas, que estão diretamente ligadas à agropecuária (MENDES, 2007). O termo engloba toda a cadeia, formada por fornecedores, indústrias, transporte e serviços. Portanto, relaciona três setores da economia: o primário (agropecuária e extração vegetal), o secundário (industrial) e terciário (distribuição e comercialização).

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Figura 3.4 | Atividades e setores do agronegócio

Agronegócio

Sinônimo: agrobusiness.

Definição: é o conjunto de todas as atividades econômicas relacionadas à agropecuária.

Costuma-se dividir o agronegócio em três partes.

1. Pré-porteira: fabricantes e fornecedores de matéria-prima, equipamentos e insumos.

2. Dentro da porteira: negócios agropecuários propriamente ditos (pequenos, médios ou grandes produtores).

3. Pós-porteira: transporte, distribuição e venda (incluindo frigoríficos, as indústrias têxteis, moinhos, indústrias de suco e alimentos, mercados, empacotadores, distribuidores de alimentos, fábricas de ração etc.).

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2.1 Breve Histórico do Agronegócio Brasileiro

A agricultura moderna teve início na Europa durante os séculos XVIII e XIX, sendo impulsionada pelo aumento da atividade industrial – a chamada Revolução Agrícola foi fundamental para a decomposição do feudalismo e a implementação do capitalismo. Durante esse período, a agricultura ainda utilizava força animal e o setor manufatureiro usava máquinas a vapor (VEIGA, 1991).

Aos poucos os animais foram substituídos por máquinas e as indústrias químicas passaram a ter um papel crucial para o aumento do rendimento das lavouras, em especial após a II Guerra Mundial. No Brasil, o processo de modernização agrícola iniciou-se na década de 1950, mas se acentuou no final da década de 1960 e início de 1970, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, na chamada Revolução Verde. Sobre essa revolução, Albergoni e Pelaez (2007, p. 32) relataram:

Apoiada em uma promessa de aumento da oferta de alimentos que proporcionaria a erradicação da fome, a revolução verde resultou em um novo modelo tecnológico de produção agrícola que implicou na criação e no desenvolvimento de novas atividades de produção de insumos (químicos, mecânicos e biológicos) ligados à agricultura.

O processo de modernização da agricultura foi a base para a formação do agronegócio. À medida que esse processo foi se intensificando, a demanda por insumos e maquinário aumentou, acarretando o desenvolvimento de indústrias destinadas a atender especificamente ao setor agropecuário. Com o passar do tempo, a correlação entre os setores agropecuário e industrial tornou-se cada vez mais íntima, e a agropecuária já não poderia ser abordada de maneira isolada.

O Estado teve papel crucial na modernização da agricultura e na consolidação do agronegócio no Brasil, mediante programas como o Crédito Rural Subsidiado, o qual incentivava o investimento na área agrícola. Em 1980, em razão da crise fiscal do Estado e do descontrole da inflação, o governo viu-se obrigado a reduzir sua participação no financiamento do crédito rural, e para tal buscou outras fontes de financiamento, aumentou a atuação dos agentes privados e retirou progressivamente a política de crédito subsidiado. Na década de 1990 o Estado já deixaria de ser a principal fonte de crédito rural, assumindo um papel de agente regulador e incentivador do agronegócio (RAMOS; MARTHA JUNIOR, 2010).

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O desenvolvimento tecnológico promovido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) também foi de fundamental importância. Com o tempo, a produção agropecuária brasileira passou a ser baseada em grande escala, apoiando-se na mecanização do campo, no uso de químicos, sementes híbridas e no seu vínculo com a indústria.

O agronegócio no Brasil consolidou-se rapidamente e foi difundido de tal maneira que, na atualidade, não apenas grandes propriedades enquadram seu modelo de produção nesse conceito, mas também muitas propriedades de agricultura familiar realizam sua produção de forma que podemos considerá-las inseridas no agronegócio.

O desenvolvimento do agronegócio é extremamente dependente da infraestrutura. Para você se situar na atual conjuntura do nosso país, leia o artigo “O agronegócio e os desafios do financiamento da infraestrutura de transportes no Brasil”, de César Nunes de Castro (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, 2015). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=25081%3Atd-2074-o-agronegocio-e-os-desafios-do-financiamento-da-infraestrutura-de-transportes-no-brasil&catid=344%3A2015&-directory=1&Itemid=1>. Acesso em: 6 out. 2015.

2.2. Impactos sociais e ambientais do agronegócio

A palavra “impacto” imediatamente nos remete a fatos ruins, mas obviamente os impactos podem ser tanto negativos quanto positivos. Ao consideramos o agronegócio, a maior parte das consequências positivas está relacionada com a questão econômica e social. Entretanto, há muitos pontos negativos também relacionados ao social, além do meio ambiente. Para discutirmos todos esses fatores de forma clara, vamos dividir nosso conteúdo em tópicos.

2.2.1. Impactos socioeconômicos

A consequência mais óbvia da modernização do campo é o aumento expressivo na produção e produtividade das lavouras, além do crescimento do setor agrícola e da ampliação da área destinada à agropecuária. Com o aumento da produtividade e a mecanização da agropecuária, ocorre diminuição dos custos de produção, o

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que acarreta preços mais baixos dos alimentos. Isso se aplica a toda a cadeia do agronegócio, por exemplo: quando o preço da soja, do milho e de outros grãos diminui, todos os produtos industrializados derivados também sofrem queda de preço, incluindo produtos de origem animal, já que a ração contém esses grãos. Barros (2006, p. 2) relatou que, de 1989 a 2006:

A produção física de alimentos expandiu 68% enquanto a população cresceu 27%. Isso significa que a disponibilidade per capita de alimentos para os brasileiros cresceu 32%. O custo da alimentação caiu 11% graças a um aumento médio de produtividade agrícola de cerca de 2,6% ao ano e pecuária em torno de 4% ao ano.

Com o aumento da produção também houve incremento das exportações, e o Brasil passou a ocupar um papel de destaque no cenário mundial. A modernização e o desenvolvimento do agronegócio, portanto, melhoram a competitividade da agropecuária brasileira, proporcionado aumento das exportações. Dessa forma, o agronegócio assume uma posição crucial para a economia nacional.

Atualmente, o agronegócio é responsável por 37% dos postos de trabalho no Brasil, por 23% do PIB e por 40% do faturamento das exportações, sendo um dos principais responsáveis pelos superávits comerciais. Além disso, o desempenho do setor é um dos fatores determinantes da inflação, já que 23% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é representado por bebidas e alimentos (CEPEA, 2014).

Você com certeza já se deparou inúmeras vezes com os termos “produção” e “produtividade”. Você sabia, no entanto, que eles são conceitos diferentes? Produção é a quantidade física de bens ou produtos obtidos (por exemplo: 10 litros de leite, 20 quilogramas de soja etc.). Produtividade, por outro lado, é uma medida de eficiência ou performance, com base na economia, sendo geralmente expressa em porcentagem. Em geral, quanto maior é a produtividade, menores são o tempo e os recursos utilizados para a produção (ou seja, os custos foram reduzidos e a produção foi alta).

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Da perspectiva econômica, o agronegócio visa sempre ao aumento da produtividade, o que requer, primeiramente, melhorias tecnológicas. Portanto, a expansão do agronegócio incentiva de forma direta o desenvolvimento científico (principalmente nas áreas de engenharia, ciências biológicas e agronomia) e tecnológico. De fato, temos hoje no Brasil uma grande parte das pesquisas científicas das universidades voltada ao agronegócio e à biotecnologia, além de institutos importantes, tais como a Embrapa, Iapar, Emater, Epamig, Emdagro, IPA, entre outros.

O crescimento do setor agropecuário, apoiado no advento de novas tecnologias que tornaram possível o cultivo em terras anteriormente tidas como impróprias, promoveu a incorporação de áreas produtivas em regiões que antes tinham participação marginal na produção agrícola nacional (Centro-Oeste, Norte – principalmente Roraima, Rondônia, Pará e Tocantins – e Nordeste – principalmente Maranhão, Bahia e Piauí). Nessas regiões, a chegada do agronegócio atraiu investimentos e propiciou aumento do desenvolvimento econômico, geração de empregos, melhora de infraestrutura e de IDH (AZEVEDO; PASQUIS, 2007; ÁVILA; ÁVILA, 2007).

Sempre que falamos de agronegócio, benefícios e adversidades se contrapõem, gerando uma discussão de duas vias. Do ponto de vista econômico, há mais impactos positivos do que prejuízos. Entretanto, o agronegócio continua a ser tido como um dos principais agentes nas questões ambientais e sociais.

Conforme discutimos no tópico anterior, historicamente a difusão do agronegócio no Brasil ocorreu graças à expansão da fronteira agrícola e à utilização dos recursos naturais, combinados às políticas governamentais de incentivo e a adventos tecnológicos. O crédito agrícola subsidiado, que foi de extrema importância para a expansão do agronegócio, privilegiou os detentores de grandes propriedades, o que causou concentração de renda e terras, promovendo, portanto, grande diferenciação social e espacial, com consequente marginalização do pequeno produtor. Além disso, o aumento da produtividade da terra promoveu a alta de preços dos terrenos, dificultando ainda mais o acesso aos pequenos e médios produtores. Esse processo histórico ocorre até hoje e levanta as questões dos movimentos sociais e da tão necessária reforma agrária em busca de uma distribuição de terras mais justa.

Com a substituição gradual do crédito subsidiado, a partir da década de 1990 a agricultura familiar foi inserida no contexto do agronegócio, e aos poucos foi aumentando sua participação na agropecuária brasileira, o que auxiliou a diminuição da desigualdade social no campo (GANZAROLLI; BERENGUER, 2010). Atualmente tem se verificado uma tendência nesse sentido, com a inclusão cada vez maior de pequenos produtores nas cadeias produtivas do agronegócio. Porém, precisamos ressaltar que, apesar disso, a desigualdade social historicamente gerada pelo

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agronegócio ainda persiste, devendo ser adotadas outras medidas para sanar esse problema.

Sendo a produtividade um dos fatores mais importantes para a competitividade de mercado, quanto maior é a extensão de terra e melhor é a tecnologia empregada, maior é a possibilidade de entrada no mercado externo. Isso quer dizer que, graças à estrutura do agronegócio, os grandes produtores são quem geram os produtos de exportação brasileiros, enquanto pequenos e médios produtores abastecem somente o mercado interno.

Ainda assim, Mendonça (2005) acrescenta que:

[...] as pequenas e médias propriedades respondem pela maior parte do abastecimento do mercado interno brasileiro e pela maior parte dos empregos existentes no meio rural. De acordo com o 2º Plano Nacional de Reforma Agrária, a agricultura familiar responde por 37,8% da produção, mas consome apenas 25,3% do crédito, enquanto a patronal, que responde por 61% da produção, consome 73,8% do crédito.

Apesar de não apresentar um conceito bem definido, podemos entender fronteira agrícola como a região onde as atividades agropecuárias avançam sobre o meio natural. Portanto, não se trata de uma linha fixa, tal como a fronteira entre países, mas sim de um limite mais ou menos definido, que muda com o decorrer do tempo.

Outros impactos sociais causados pelo agronegócio ocorrem indiretamente, em razão da contaminação e/ou da alteração do meio ambiente. A expansão da fronteira agrícola, por exemplo, vem gerando diversos conflitos de terras em virtude do deslocamento das populações tradicionais. Outras discussões sobre o avanço do agronegócio estão nas questões de disponibilidade e distribuição de alimentos, a segurança alimentar, as implicações na saúde animal e humana, entre outros. Para facilitar os seus estudos, alguns desses tópicos serão abordados com mais detalhes nos próximos itens.

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Se o agronegócio gera desigualdades sociais, por que ocorre melhora no IDH?

Para que você possa compreender melhor, segue lista com os impactos socioeconômicos gerados pelo agronegócio, discutidos anteriormente:

• Aumento da produção e da produtividade no setor agropecuário.

• Diminuição do custo de bebidas e alimentos para o consumidor final.

• Aumento das exportações e geração de riquezas (PIB e balança comercial).

• Incentivo ao desenvolvimento tecnológico e científico.

• Incorporação de áreas anteriormente impróprias para o cultivo.

• Concentração de renda e terras nas mãos dos grandes produtores.

• Desenvolvimento econômico, geração de empregos e melhoria da infraestrutura e do IDH.

• Aumento das desigualdades sociais no meio rural.

• Aumento no valor da terra.

• Dificuldade na participação de pequenos e médios agricultores no setor agropecuário.

• O mercado de exportações fica nas mãos dos grandes produtores, e o mercado interno é abastecido por pequenos e médios produtores.

• Expansão da fronteira agrícola, conflitos de terras, deslocamento de populações tradicionais.

2.2.2 Impactos socioambientais

Nesta parte, vamos abordar os impactos ambientais do agronegócio e suas consequências para o meio social. Vamos iniciar nossa reflexão apenas citando os principais impactos e vamos separá-los em itens para que você possa compreender melhor.

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No campo (setores de produção agropecuária), há problemas de contaminação por adubos, agrotóxicos, fertilizantes e antibióticos utilizados na criação animal, além dos riscos para a saúde dos trabalhadores que manuseiam os defensivos químicos. Além disso, a expansão da fronteira agrícola promove o desmatamento, causando um intenso desequilíbrio ecológico e perda de biodiversidade. Também há a questão dos transgênicos, do uso da água e do empobrecimento e erosão do solo.

No transporte, no armazenamento e no processamento, a poluição é um dos principais problemas ambientais gerados. A indústria é responsável pela poluição tanto do ar quanto da água e do solo. No caso específico do agronegócio, a indústria de alimentos é uma das maiores fontes de resíduos orgânicos e efluentes, os quais frequentemente são despejados no ambiente sem tratamento adequado. Aqui também contabilizamos as peixarias, os matadouros, os abatedouros e os frigoríficos, que geram uma grande quantidade de resíduo orgânico, o qual pode causar diversos problemas ambientais a curto e longo prazo, bem como proliferação de roedores, insetos e de doenças. Há ainda as indústrias têxteis, cujos resíduos químicos são um grande problema ambiental.

Conforme você aprendeu anteriormente, o agronegócio engloba uma gama imensa de diferentes indústrias, além dos setores de transporte, armazenagem e distribuição, todos com a sua parcela de contribuição para a degradação do meio ambiente. Portanto, a questão dos resíduos e efluentes é extensa, e não podemos abordá-la aqui como um todo, mas podemos ter uma noção geral do potencial poluidor do agronegócio e de quão importante é o tratamento de resíduos e efluentes industriais.

Durante a etapa de distribuição e consumo também temos os problemas de desperdício de alimentos, geração de resíduos (embalagens), poluição do ar por combustíveis fósseis, desmatamento (abertura de estradas, rodovias e ferrovias), dentre outros. Em suma, o agronegócio é composto por uma rede imensa e diversificada, e a forma como o meio ambiente é prejudicado ocorre de diversas maneiras. Os desequilíbrios ecológicos (que estudamos na Seção 3.1) gerados podem ter consequências a curto, médio e longo prazo, sendo estas sentidas diretamente por todas as formas de vida do planeta. Veremos os principais impactos socioambientais com detalhe nos tópicos seguintes.

2.2.2.1 A questão dos fertilizantes, defensivos, adubos e antibióticos

O agronegócio visa maior produtividade e competitividade. Nessa perspectiva, não são levados em consideração a conservação dos recursos naturais, o equilíbrio ecológico, a sustentabilidade do sistema de produção e a qualidade dos alimentos (no que se refere à contaminação por substâncias químicas). Com isso, ocorre grande uso de agrotóxicos, fertilizantes, adubos e antibióticos.

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Os agrotóxicos são utilizados para impedir o crescimento e a proliferação das chamadas “pragas” de lavoura. O primeiro problema que podemos destacar aqui é a contaminação por via direta dos trabalhadores que manuseiam esses produtos químicos e das comunidades dos entornos (tanto da lavoura quanto das indústrias que fabricam agrotóxicos). A intoxicação aguda (exposição a doses elevadas; dano aparente a curto prazo) pode provocar convulsões, vômitos, cefaleia, dermatite, lesões etc. Já na intoxicação crônica (exposição contínua a baixas doses; danos visíveis a longo prazo) pode ocorrer perda de fertilidade e câncer. Os consumidores são contaminados de forma indireta e ficam sujeitos à exposição crônica, uma vez que resíduos dos agrotóxicos permanecem nos alimentos (SOARES; PORTO, 2007). A mesma lógica se aplica para outros insumos químicos que podem ser utilizados na agropecuária.

No meio ambiente, os agrotóxicos contaminam o solo, a água e a biota. Os mesmos efeitos tóxicos observados nos seres humanos podem ocorrer em qualquer outro animal, incluindo os efeitos teratogênicos e promotores de mutação. Alguns tipos de agrotóxicos podem acumular ao longo da cadeia alimentar (biomagnificação), contaminando todos os organismos envolvidos no processo, inclusive os seres humanos. Além disso, Soares e Porto (2007, p. 134) afirmam que:

[...] alguns agrotóxicos, além de erradicar as pragas, também eliminariam seus inimigos naturais [...]. Acrescenta-se o fato de que alguns indivíduos são mais resistentes, o que faz com que, na maior parte das vezes, as pragas não sejam completamente dizimadas, restando indivíduos com genótipo mais forte. O cruzamento desses indivíduos [...] promove aumentos substanciais na população, fazendo com que a praga volte mais resistente [...].

No solo, o acúmulo de agrotóxicos e outros insumos químicos pode provocar a queda de fertilidade. A contaminação da água e do solo por agrotóxicos, adubos, fertilizantes e antibióticos também é um problema constante, já que a deterioração da qualidade de águas subterrâneas e superficiais (inclusive fontes de abastecimento) é a principal preocupação no que diz respeito ao impacto da agropecuária no ambiente.

Os fertilizantes e adubos provocam um incremento massivo de matéria orgânica no solo e na água, acarretando uma série de problemas ambientais. O balanço de nutrientes nos ecossistemas equilibrados é afetado em razão do aumento de um

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ou de outro componente. Uma das consequências mais comuns é o aumento dos níveis de fósforo e nitrogênio em corpos d’água, ocasionando a eutrofização. Esse fenômeno é caracterizado pelo crescimento de microalgas e cianobactérias toxigênicas (que produzem substâncias tóxicas denominadas de cianotoxinas), configurando, em muitos casos, um problema de saúde pública. A contaminação da água por cianotoxinas é cada vez mais constante e, visto que o tratamento de água convencional não elimina as toxinas, configura um perigo cada vez maior para a saúde humana e animal. Além disso, como a taxa de multiplicação das algas é bastante alta, forma-se uma cobertura na superfície da água, o que interfere nas trocas gasosas com o meio ambiente. Com isso, ocorrem diminuição da concentração de oxigênio dissolvido e, consequentemente, morte da biota aquática do local.

No ano de 1996, em Caruaru, Pernambuco, água contaminada com cianotoxinas foi fornecida a um centro de hemodiálise. Do total de pacientes, 85% foi afetado. Cerca de 23 morreram nas primeiras duas semanas em decorrência de sintomas neurológicos ou de falência hepática. Nas cinco semanas seguintes, outros 37 pacientes faleceram em razão de efeitos tóxicos no fígado (JOCHIMSEN et al., 1998; POURIA et al., 1998).

Em relação aos antibióticos utilizados na produção animal, muitos compostos não são metabolizados completamente, sendo excretados na urina e nas fezes. A utilização dos excretos animais como adubo no lodo de esgoto é uma das principais vias de contaminação do meio ambiente por antibióticos (CHRISTIAN et al., 2003). Os resíduos de antibióticos podem contaminar o solo diretamente, serem transportados para os corpos d’água ou absorvidos pelas plantas, afetando seu crescimento e desenvolvimento e resultando em risco alimentar à saúde humana e animal (BOXALL et al., 2006). Os efeitos tóxicos crônicos em animais são geralmente estudados em laboratório, em situações diferentes daquelas encontradas no meio ambiente. Portanto, ainda se sabe pouco sobre os problemas de ecotoxicidade de antibióticos e sua interação com outros resíduos (REGITANO; LEAL, 2010).

Outra questão é a possibilidade do surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos, principalmente em razão da exposição contínua a baixas concentrações, a qual exerce uma pressão de seleção natural (CHANDER et al., 2007).

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É importante perceber que, conforme veremos nos tópicos seguintes, os organismos vivos (aquáticos e terrestres) são expostos a uma grande variedade de compostos e moléculas residuais, as quais podem interagir entre si de forma aditiva, antagônica, sinérgica etc. Ou seja, a situação real dos impactos socioambientais do agronegócio é bastante complexa, e os diversos processos que estudamos aqui ocorrem de forma simultânea, constituindo uma ampla cadeia de consequências.

2.2.2.1.1 Desmatamento e biodiversidade

Desde o início de sua expansão, na década de 1960, a agropecuária vem sendo um dos principais fatores de desequilíbrio dos recursos naturais. Com o crescimento populacional, não somente no Brasil, mas em todo o mundo, a produção de alimentos também aumentou. De 1972 a 2001, por exemplo, foi necessário produzir alimentos para cerca de 2,22 bilhões de pessoas a mais (UNITED NATIONS, 2001).

A expansão agropecuária nos moldes do agronegócio intensificou o uso dos recursos naturais, gerando e/ou agravando muitos dos processos de degradação do meio ambiente. Por meio da atividade agropecuária, ocorrem, por exemplo, o desmatamento, a compactação do solo, a lixiviação de nutrientes, a poluição e a erosão, que são processos ainda mais agravados pelo crescimento populacional e pela urbanização trazidas pelo agronegócio.

Embora existam diversas causas para o desmatamento (extração ilegal de madeira, expansão urbana, dentre outros), um relatório da Forest Trends (organização sem fins lucrativos) foi elaborado para determinar exatamente quanto do desmatamento mundial é causado pelo agronegócio. A pesquisa concluiu que de 2000 a 2012, entre 63% e 75% do desmatamento ocorreu graças à expansão do agronegócio. Dessa porcentagem, 36% a 65% era ilegal, ou seja, não detinha licença, utilizava técnicas destrutivas de ocupação e/ou outras atividades proibidas pelos governos locais (HARBALL, 2014).

De acordo com o mesmo relatório, Brasil e Indonésia detém 75% do total das florestas devastadas ilegalmente. No Brasil, os principais responsáveis pelo desmatamento foram a produção de soja, a pecuária bovina e a apropriação irregular de terras públicas (grilagem). A organização aponta ainda o agronegócio como responsável pelo desmatamento de pelo menos 90% da Amazônia brasileira (WELLE, 2014).

Embora o Brasil ainda apresente alta porcentagem de desmatamento ilegal, a derrubada ilegal da Amazônia regrediu mais de 70% se comparada aos índices de 1996 a 2005, graças às medidas legais implantadas pelo governo em 2004. A legislação nacional determina que as propriedades rurais privadas mantenham pelo menos 20% da flora natural (a denominada Reserva Legal). Entretanto, ainda não

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existem cadastros oficiais para determinar quem cumpre a lei, daí o “incentivo” à ilegalidade. Com o intuito de auxiliar na regularização desse processo, o Cadastro Ambiental Rural foi introduzido no novo Código Florestal. O cadastro incluirá dados georreferenciados da terra, determinando as áreas de proteção permanente e Reserva Legal, por exemplo. Com isso, espera-se que ocorra uma regressão do desmatamento ilegal por parte dos proprietários privados (WELLE, 2014).

Conforme você aprendeu anteriormente, o agronegócio no Brasil foi implantado de maneira desenvolvimentista, não levando em consideração os impactos ambientais e suas consequências para as comunidades. Portanto, o aumento de pastagens e terras aráveis tem causado o desmatamento de florestas e a degradação dos biomas brasileiros, especialmente no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia.

A Amazônia é o maior bioma brasileiro e detém 1/3 de todas florestas tropicais úmidas do planeta. Esse bioma contém grande número de espécies deferentes de animais e vegetais, muitas das quais são endêmicas (que ocorrem somente em determinada área). Além disso, acredita-se que a Floresta Amazônica contém a maior biodiversidade do mundo e 20% da toda a água potável disponível no planeta. O segundo maior bioma do Brasil é o Cerrado, sendo considerado a savana mais rica do planeta. Nele existe uma grande variedade de espécies endêmicas, tanto animais quanto vegetais, e diversidade de habitats.

De acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), a porcentagem de áreas desmatadas do Bioma Cerrado atingiu 49,1% até 2010, e na Amazônia Legal (área de 5,2 milhões de km², que inclui o bioma Amazônia e inclui parte do Cerrado), embora o ritmo de degradação venha diminuindo, o desmatamento chegou a 14,83% até 2011. A devastação do Cerrado também atinge o Pantanal, uma vez que seus principais rios nascem nas chapadas, as quais têm diversos problemas ambientais decorrentes do agronegócio. Além disso, no Pantanal também ocorre grande expansão agropecuária, bioma que já teve 15% de seu total desmatado.

O desflorestamento na Amazônia e no Cerrado acarreta perda de biodiversidade, extinção de espécies, danos aos solos e à água (perda de nutrientes, erosão e poluição), além de ameaçar a sobrevivência de populações tradicionais, que dependem da floresta. Precisamos considerar também que os biomas desempenham um papel fundamental no clima, já que sua devastação pode provocar desertificação e contribuir para o aquecimento global, entre outros danos. O desmatamento também ameaça a regulação de vazão dos rios, bem como a qualidade e a quantidade da água e os ecossistemas aquáticos em geral.

Sempre que discutimos desmatamento, é importante lembrar que as queimadas são frequentemente utilizadas para a remoção da vegetação original. A queima da vegetação, além de poluir a atmosfera, também afeta diretamente o solo, já

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que facilita a ocorrência de processos erosivos e promove perda de nutrientes. Com isso, acaba sendo necessária a utilização de quantidades cada vez maiores de fertilizantes e outros produtos químicos na lavoura, o que também impacta o meio ambiente, conforme aprendemos no item anterior. De acordo com o IBGE (2015), as queimadas e o desflorestamento são as principais fontes de CO2 e gases do efeito estufa.

Somando todos os efeitos do desmatamento provocado pelo avanço desenfreado do agronegócio, os impactos resultantes alteram o equilíbrio dos ecossistemas, os quais, por sua vez, fornecem condições fundamentais ao bem-estar do ser humano.

2.2.2.2 Solo

A degradação dos solos é um dos principais impactos ambientais das atividades agropecuárias e geralmente é resultado de práticas inadequadas de cultivo e criação animal. Você provavelmente já sabe que o cultivo impróprio do solo e a manutenção de monoculturas causam perda de nutrientes, razão pela qual ocorre um aumento no uso de produtos químicos nas lavouras. Além disso, a pecuária também constitui um grande problema ambiental para a preservação do solo, principalmente porque promove sua compactação, diminuindo a permeabilidade e, consequentemente, aumentando o escoamento superficial de água. Com isso, agravam-se os problemas de lixiviação, contaminação de corpos d’água e erosão, dentre outros. Por essa razão, ocorrem favorecimento de eutrofização, perda de biodiversidade, além de prejuízos socioeconômicos. Por exemplo: à medida que o solo é degradado, pode ocorrer a perda de fertilidade do terreno, resultando em baixa produção e produtividade agrícola, ou seja, impactando na economia e na sociedade.

2.2.2.3 Poluição, resíduos e efluentes

Além da poluição causada diretamente pelas atividades agropecuárias, o agronegócio traz consigo o desenvolvimento de infraestrutura, urbanização e centros industriais, todos os quais são fontes de poluição.

Você sabe a diferença entre efluentes e resíduos? Resíduo é qualquer material que sobra e é descartado, podendo ser sólido, líquido ou gasoso, embora o termo seja mais usado para designar materiais sólidos. Efluente é a terminologia utilizada para os resíduos líquidos, provenientes do meio urbano ou da indústria.

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As cidades, rodovias e indústrias promovem a contaminação do ar, uma vez que diversas atividades, incluindo o transporte, exigem a queima de combustíveis fósseis. A poluição do ar representa um risco à saúde (pneumonia, asma, doenças respiratórias, tumores etc.), além de poder provocar fenômenos como a chuva ácida, a inversão térmica e a alteração climática.

Os efluentes e resíduos urbanos e industriais também causam grande impacto no meio ambiente. Quando não tratados, os efluentes líquidos (provenientes dos esgotos sanitários e das indústrias) lançados na água causam um forte desequilíbrio ecológico, pois alteram o conteúdo de oxigênio dissolvido na água, interferindo na vida aquática, e promovem um aumento nos níveis de nutrientes orgânicos, tais como o fósforo e o nitrogênio, provocando a eutrofização e a proliferação de microalgas tóxicas. Com isso, os processos de decomposição e toda a cadeia alimentar são afetados e geralmente atingem o homem, seja através da contaminação alimentar (pela ingestão de peixes, por exemplo), seja através de doenças.

A poluição da água por compostos orgânicos pode provocar diversas doenças, tais como amebíase, cisticercose, cólera, disenteria, entre outras. Há ainda a possibilidade de poluição da água por compostos químicos (corantes, metais pesados, agrotóxicos etc.), muitos dos quais têm potencial carcinogênico e teratogênico, além de alterarem o equilíbrio hormonal de seres humanos e animais. Com isso, ocorre o desenvolvimento de tumores, de doenças hepáticas e de tireoide, de dermatoses, alergias, lesões e até alterações neurológicas. Os poluentes químicos também podem ser acumulados ao longo da cadeia alimentar, provocando efeitos tóxicos em plantas e animais.

Alguns tipos de efluente alteram a temperatura da água (poluição térmica), como por exemplo águas utilizadas para sistemas de refrigeração em indústrias. Esse efluente provoca um aumento na temperatura do ecossistema aquático, o que ocasiona queda da concentração de oxigênio dissolvido, afetando todas as formas de vida e relações ecológicas.

Assim, o tratamento de efluentes é extremamente importante para a conservação do meio ambiente e, embora algumas empresas tenham programas para esse fim, ainda existe uma grande quantidade de efluentes sem tratamento sendo despejados na água. Aqui podemos dizer que o problema é ainda mais grave em regiões menos desenvolvidas economicamente.

Os resíduos sólidos (orgânicos e inorgânicos) gerados pelo meio urbano e pelas indústrias também representam um desafio para a preservação do meio ambiente. Muitas cidades e comunidades não possuem um programa de destinação adequada do lixo, por exemplo. Assim como qualquer tipo de poluição, os resíduos sólidos também impactam na economia e na saúde humana.

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Com o crescente desenvolvimento agroindustrial e urbano, principalmente nos moldes desenvolvimentistas do agronegócio, a sociedade enfrentará cada vez mais as consequências da emissão de poluentes no meio ambiente, seja por meio de sua presença no ar, através de sua deposição no solo e nos vegetais, seja pela contaminação da água.

Conhecendo mais sobre os efeitos que os resíduos urbanos e industriais provocam no meio ambiente, fica fácil para você compreender como o tratamento e a destinação adequada são importantes: além do impacto negativo nos ecossistemas, a poluição afeta diretamente a vida do ser humano.

2.2.2.4 Demanda por recursos naturais

Anteriormente, você aprendeu que o crescimento populacional e a expansão do agronegócio demandam cada vez mais terras, o que causa a expansão da fronteira agrícola, o desmatamento e a poluição. Porém, a demanda por outros recursos também aumenta. Por exemplo, com a expansão do espaço urbano e da produção trazida pelo agronegócio, é necessário aumentar a geração de energia, melhorar a malha viária, disponibilizar acesso à água, dentre outros. Ou seja, toda a infraestrutura necessária precisará ser construída em meio à mata nativa, provocando sua diminuição e sua degradação. As hidrelétricas e usinas eólicas provocam um grande desiquilíbrio ecológico quando instaladas. Há também a questão da irrigação, que muitas vezes desvia o curso de rios para fins produtivos e afeta o ecossistema como um todo.

Faremos aqui apenas esta breve discussão, porém você pode imaginar a extensão dos danos que a expansão insustentável do agronegócio pode causar. Tente pensar em tudo o que discutimos nos tópicos anteriores em um só cenário e tenha em mente que o desenvolvimento econômico ainda impera sobre a preservação do meio ambiente em nossa sociedade.

2.2.2.5 A questão dos transgênicos e da segurança alimentar

Antes de discutirmos esse tópico, você precisa entender o que é segurança alimentar. Esse conceito implica não somente a qualidade dos alimentos, mas também a sua quantidade, sua disponibilidade e sua forma de produção. De acordo com a Lei n. 11.346, artigo 3º:

A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (CONSEA, 2006).

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Neste sentido, vamos abordar como algumas práticas corriqueiras no agronegócio impactam diretamente na quantidade e na qualidade dos alimentos. Daremos um enfoque à questão das toxinas naturais, aos agrotóxicos e transgênicos, relacionando-os com a o desenvolvimento de novas tecnologias.

Existem diversos microrganismos que vivem naturalmente nos grãos e que, conforme a pressão ambiental, produzem substâncias com efeito tóxico para humanos e diversos outros animais – as chamadas toxinas naturais. Nas principais lavouras comerciais (milho, soja, trigo, café, amendoim, dentre outras) há diferentes espécies de fungos que danificam os grãos e produzem toxinas naturais com efeitos diversos, incluindo promotores de câncer. Para sanar esse problema, os produtores muitas vezes utilizam fungicidas, mas essa prática, embora elimine visualmente os fungos, pode provocar um aumento na produção das toxinas naturais antes que o microrganismo morra (FALCÃO et al., 2011).

Como consequência, o alimento fica contaminado não somente com resíduos químicos, mas também com toxinas naturais, reduzindo assim a qualidade e ocasionando riscos à saúde. Lembre-se de que muitos animais que nos servem de alimento também comem grãos contaminados (com toxinas naturais e compostos químicos), e algumas substâncias e moléculas são acumuladas no decorrer da cadeia alimentar até chegar nos seres humanos.

A contaminação dos alimentos por toxinas naturais é um problema mundial, porém existem legislações locais que estabelecem níveis máximos permitidos nos alimentos. Esse é um problema que ocorre naturalmente e, apesar de poder ser intensificado com o uso de agentes químicos, também pode ser controlado com boas práticas de cultivo e pesquisas que explorem opções para minimizar sua ocorrência.

Nesse sentido, a biotecnologia é uma ferramenta de suma importância para a agropecuária e o agronegócio em geral. Essa ciência é praticada pela humanidade de forma intuitiva há milhares de anos, em processos de fermentação para fabricação de vinho, pão e cerveja, nos cruzamentos de plantas e animais para obtenção de melhoria, em técnicas de enxertia, entre outros. Foi entre as décadas de 1950 e 1980, com a descrição da estrutura do DNA e a descoberta de enzimas de restrição, que a biotecnologia deu um grande salto e passou a ter maior atenção no meio científico. A partir desse momento, os cientistas puderam desenvolver uma técnica de melhoria em nível molecular, a denominada tecnologia do DNA recombinante, que permitiu o desenvolvimento de organismos transgênicos (FARAH, 2007).

Basicamente, os organismos transgênicos ou geneticamente modificados (OGM) são aqueles que receberam um gene que não possuíam anteriormente, seja da mesma espécie, seja de outra completamente diferente. Podemos

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dizer, portanto, que a transgenia é uma evolução do melhoramento genético convencional. Os cientistas pesquisam a transgenia não somente em plantas, mas também em microrganismos e animais. Uma vez que nossa discussão está atrelada ao agronegócio, vamos focar apenas naquilo que nos é relevante, ou seja, nas variedades geneticamente modificadas de plantas utilizadas atualmente na agricultura.

Se você quiser aprender mais sobre biotecnologia, genes, tecnologia do DNA recombinante e transgenia, leia o livro DNA – Segredos e Mistérios, de Solange Bento Farah (2007). O livro foi escrito de forma que qualquer pessoa pudesse entender seu conteúdo, em linguagem bastante acessível, ou seja, para lê-lo você não precisa entender muito de Biologia ou Genética.

A maioria das pesquisas genéticas relacionadas ao agronegócio desenvolve plantas transgênicas pelos seguintes motivos: desenvolver tolerância à seca ou herbicidas, resistência a insetos e vírus, melhorar o valor nutricional do alimento, ou ainda para a utilização de plantas como biofábricas de medicamentos. Aprendemos que a contaminação dos alimentos por agrotóxicos é um dos principais problemas na segurança alimentar, e, tendo isso em vista, muitas variedades transgênicas de grãos passaram a ser utilizadas com a promessa de aumento da produtividade e de redução do uso de insumos químicos. É importante que você compreenda que, assim como qualquer tecnologia, a utilização da transgenia na produção de alimentos apresenta vantagens e desvantagens, conforme resumido na Figura 3.5.

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Figura 3.5 | Prós e contras da utilização de plantas transgênicas

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No Brasil, a utilização dos transgênicos é regulamentada pela Lei de Biossegurança (Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005), mas ainda há bastante polêmica em torno desse assunto. A aceitação pelo consumidor também é outra questão relevante para o agronegócio, já que o público em geral vê os alimentos transgênicos como prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Entretanto, a utilização de novas tecnologias (incluindo a transgenia) é de extrema importância para que se possam melhorar as práticas agropecuárias, sendo fundamental para a evolução das técnicas de cultivo.

Você sabia que alguns medicamentos e hormônios que a humanidade consome cotidianamente, como por exemplo a insulina e o GH (hormônio do crescimento), são produzidos por microrganismos transgênicos?

Uma outra questão importante da segurança alimentar é o desperdício de alimentos durante todas as etapas do agronegócio (produção, armazenagem, processamento, transporte e consumo). De todo o alimento desperdiçado no mundo, a maior porcentagem (54%) ocorre nas etapas de produção, manipulação, pós-colheita e armazenagem. Os outros 46% ocorrem durante o processamento, a distribuição e o consumo. O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo, jogando fora cerca de 30% de toda a produção (FAO, 2013).

Muito se debate a respeito dos motivos de tamanho desperdício. Os principais fatores envolvidos são a falta de logística ao longo da cadeia produtiva e a necessidade de melhora na infraestrutura (decorrente da limitação financeira e estrutural no cultivo, na colheita, no transporte e no armazenamento). Há também dois problemas cruciais no comportamento do consumidor: a compra de alimentos em excesso e a rejeição de grandes quantidades de alimentos graças aos padrões estéticos e de qualidade, acarretando desperdícios enormes. Além disso, todo esse alimento descartado constitui um resíduo e, portanto, impacta negativamente no meio ambiente, conforme apresentado anteriormente.

Conforme pudemos analisar até aqui, há diversos impactos positivos e negativos decorrentes do agronegócio, o qual ainda precisa ser redesenhado e/ou aprimorado para que se consiga uma produção agropecuária sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental.

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2.3. Sustentabilidade e agronegócio

Agora que você já aprendeu os impactos negativos do agronegócio e também a sua importância socioeconômica para o Brasil, com certeza já percebeu porque esse modelo é tão criticado, compreendendo que são necessárias diversas melhorias para o Brasil conseguir implantar uma produção agroindustrial sustentável.

Atualmente, o fortalecimento do agronegócio brasileiro depende cada vez mais da adoção de estratégias sustentáveis, que integrem a produção, a preservação ambiental e a responsabilidade social. Para superar a insustentabilidade atual, os novos modelos de agropecuária deverão ser racionais na utilização de recursos naturais, desenvolver-se dentro da legalidade e dos princípios de preservação dos ecossistemas, produzir alimentos saudáveis em qualidade e quantidade necessárias e trabalhar em conjunto com o sistema econômico e com a sociedade.

Quanto ao desmatamento ilegal, a educação ambiental, a difusão de conhecimento e tecnologia são extremamente importantes para acabar com o problema, já que ajudam a melhorar a produtividade, tornando, portanto, “a legalidade rentável”. Além disso, é necessária a realização de cadastro e fiscalização via satélite das propriedades rurais.

O aumento populacional e a crescente demanda por alimentos exercem forte pressão sobre o agronegócio, o que favorece a expansão da fronteira agrícola e a degradação do meio ambiente. Nesse sentido, para um desenvolvimento mais sustentável, social e ambientalmente, as pesquisas científicas e a utilização de tecnologias que aumentam a produtividade são cruciais. Além disso, são necessários investimentos em profissionalização, infraestrutura e logística, a fim de reduzir o desperdício de alimentos e melhorar a sua distribuição, diminuindo assim os problemas de fome, desnutrição e de expansão das áreas destinadas à agropecuária.

Em relação ao desperdício de alimentos, a abordagem para a solução precisa ser multidisciplinar e interinstitucional, visando ao melhor aproveitamento dos alimentos, incluindo aqueles fora do padrão de consumo, bem como a integração das práticas de cultivo, pós-colheita, processamento e aproveitamento de subprodutos. Como exemplos, podemos citar a capacitação dos produtores rurais e a utilização de resíduos de alimentos para compostagem. Além disso, é necessário um maior planejamento para equilibrar oferta e demanda, e, em casos de excedentes, pode-se adotar estratégias como a reutilização de alimentos através de mercados secundários ou da doação. Quando a qualidade dos alimentos não permitir sua reutilização, a reciclagem e a recuperação permitem que o desperdício seja diminuído (como por exemplo através de digestão anaeróbia, compostagem ou incineração de subprodutos para geração de energia).

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No agronegócio algumas medidas já estão sendo utilizadas para redução dos impactos socioambientais, dado que a maioria dos projetos está relacionada ao aproveitamento de resíduos, como, por exemplo, a queima do bagaço de cana e o tratamento de dejetos suínos em biodigestores para geração de energia (CENAMO, 2005).

O papel do Estado para a adoção de medidas que favoreçam a sustentabilidade é crucial, tais como o Cadastro Ambiental Rural, o projeto de lei que institui o pagamento por serviços ambientais (que recompensa produtores rurais pela proteção e restauração de áreas degradadas) e legislação específica para proteção dos biomas nacionais. O incentivo ao desenvolvimento tecnológico também é uma alternativa interessante, já que possibilita incorporar a sustentabilidade ao agronegócio de maneira estratégica, por meio da adoção de novos padrões de produção.

Para que se possa realmente conseguir a sustentabilidade do agronegócio, é necessário que seja sempre realizado um planejamento prévio para orientar o desenvolvimento, levando em consideração as limitações e vulnerabilidades do ambiente. Dessa forma, trata-se de buscar medidas não apenas mitigadoras, mas também preventivas, através de mecanismos como o Zoneamento Ambiental e o Zoneamento Ecológico Econômico. Essas ferramentas permitem que o desenvolvimento seja realizado em conformidade com as características e particularidades de cada local, e não de maneira uniforme como ocorre atualmente. Com isso, consegue-se uma maior integração e sustentabilidade entre agroindústria, economia, sociedade e meio ambiente.

Embora o Estado tenha adotado certas medidas favoráveis ao desenvolvimento sustentável do agronegócio, a complexidade da questão fundiária e dos impactos socioambientais ainda encontra muitos desafios, principalmente em razão dos interesses unicamente econômicos e de manutenção do status quo representados pela bancada ruralista no Congresso.

Tendo em vista a sustentabilidade do setor agroindustrial, existe hoje uma tendência de crescimento da Agroecologia. Essa ciência tem uma perspectiva holística de desenvolvimento econômico, social e preservação ambiental. Dessa forma, prioriza-se a qualidade dos alimentos e processos de produção, garantindo a preservação dos recursos naturais e mantendo o equilíbrio ecológico. Ainda nessa perspectiva, o homem é colocado como parte integrante da natureza, sendo a cultura e o conhecimento histórico dos povos e trabalhadores também incorporados no processo produtivo, juntamente com o conhecimento técnico-científico. De forma geral, a agroecologia tem seu foco no tratamento das áreas produtivas dentro dos ecossistemas (agroecossistemas), afirmando a sua correlação e dependência e, portanto, fornecendo princípios para que ocorra um desenvolvimento economicamente viável e ao mesmo tempo culturalmente sensível, socialmente justo e ecologicamente correto.

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Na prática, a agroecologia é aplicada nas formas de:

• Agricultura Orgânica (ou Biológica): não se permite o uso de insumos químicos em geral (fertilizantes sintéticos, agrotóxicos etc.) e transgênicos. A produção para ser considerada orgânica deve contemplar o uso responsável dos recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais locais.

• Agricultura Biodinâmica: as práticas são bastante parecidas com a agricultura orgânica, porém aqui há um caráter “religioso”, baseado na influência cósmica. A propriedade é entendida como um organismo vivo (as práticas promovem a interação entre animais e vegetais e seguem o calendário astrológico biodinâmico). A principal diferença aqui é a utilização de preparados biodinâmicos (adubos biodinâmicos), os quais são utilizados para intensificar as relações da terra com o cosmos.

• Agricultura Natural: apresenta uma vinculação religiosa (Igreja Messiânica), e as práticas agrícolas devem respeitar as leis da natureza, reduzindo ao máximo a interferência do homem. Na prática não se realizam nem o revolvimento do solo nem a utilização de composto químicos e adubos orgânicos. Aqui recomenda-se a utilização apenas de materiais vegetais (composto, cobertura morta, adubação verde etc.) e outros recursos naturais (microrganismos do solo, controle biológico de pragas e controle biomecânico de ervas daninhas). Procura integrar os povos por intermédio de uma agricultura sustentável e competitiva, já que tem claras consequências econômicas e sociais.

• Permacultura: engloba uma visão holística, onde os seres vivos, as infraestruturas e os recursos naturais (bem como seus inter-relacionamentos) são unidos para criar ambientes humanos em harmonia com a natureza. Dá ênfase na aplicação dos princípios básicos da natureza em ambientes produtivos. Une práticas tradicionais com tecnologia, proporcionando um desenvolvimento integrado da propriedade rural. Tem um design definido por um esquema conhecido como a flor da permacultura.

Como você pode perceber, há inúmeras estratégias que podemos adotar para reduzir os impactos negativos provocados pelo agronegócio e ao mesmo tempo manter suas implicações positivas para a economia e para a sociedade.

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1. Em relação aos impactos sociais, econômicos e ambientais gerados pelo agronegócio, podemos afirmar que:a) A política de crédito rural subsidiado foi fundamental para o avanço do agronegócio e beneficiou pequenos, médios e grandes produtores.b) A utilização de agrotóxicos e fertilizantes nas lavouras vem crescendo conforme a necessidade de aumento da produtividade e competitividade. c) Os resíduos e efluentes gerados pelo agronegócio são exclusivos das atividades agropecuárias.d) A incorporação da agricultura familiar no modelo do agronegócio ocorreu desde o início de sua implantação, por meio das políticas de crédito subsidiado e de regulação de mercado.e) A contaminação do ar é a principal consequência da expansão do agronegócio.

2. Sobre a expansão do agronegócio podemos afirmar que:a) A erosão é um problema intensificado pelo agronegócio, principalmente porque novas rodovias são construídas.b) A eutrofização é um problema ambiental causado pelo agronegócio, porém não apresenta correlação direta com as atividades agropecuárias.c) A expansão da fronteira agrícola na Amazônia e no Cerrado foi realizada de forma lenta, tendo sido preservada a maior parte da fauna e flora nativa. d) O agronegócio leva o desenvolvimento para áreas longínquas, beneficiando a população como um todo, principalmente por trazer oportunidades de emprego para as comunidades indígenas e ribeirinhas.e) O crescimento populacional e o aumento da demanda por alimentos são fatores que influenciam diretamente na expansão do agronegócio.

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Veja um resumo do que você aprendeu nesta unidade:

• Alguns fundamentos da Ecologia são importantes para a compreensão da dinâmica entre meio ambiente, sociedade e economia (biossistemas, espécie, população, comunidade, habitat, ecossistema, biota, bioma, entre outros).• As cadeias alimentares são as inter-relações de alimentação dos seres vivos, que podem ser classificados em produtores, consumidores e decompositores.• As relações ecológicas podem ser harmônicas ou desarmônicas, intraespecíficas ou interespecíficas.• O equilíbrio ecológico é a relação que ocorre entre os organismos vivos e com o seu meio, assegurando a sobrevivência das espécies e a preservação dos recursos naturais. Fator de desequilíbrio é qualquer acontecimento ou evento que venha a perturbar as características naturais de um ecossistema, podendo ser naturais ou induzidos. • O agronegócio é formado por um conjunto de diversas atividades correlacionadas, que estão diretamente ligadas à agropecuária.• No Brasil, o processo de modernização agrícola iniciou-se na década de 1950, mas se acentuou no final da década de 1960 e início de 1970, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, na chamada Revolução Verde. • O agronegócio é responsável por 37% dos postos de trabalho no Brasil, por 23% do PIB e por 40% do faturamento das exportações, sendo um dos principais responsáveis pelos superávits comerciais. • Você viu os principais impactos socioeconômicos e socioambientais decorrentes do atual modelo de agronegócio. • Você compreendeu a complexidade da questão dos transgênicos, o desperdício de alimentos e a segurança alimentar.• O aumento populacional e a crescente demanda por alimentos exercem forte pressão sobre o agronegócio, o qual necessita de alterações no modelo para que seja conseguido um desenvolvimento mais sustentável.• Há inúmeras estratégias que podemos adotar para reduzir os impactos negativos provocados pelo agronegócio e ao mesmo tempo manter suas implicações positivas para a economia e para a sociedade, sendo crucial o papel do Estado.

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Nesta unidade, você aprendeu o significado dos principais conceitos de Ecologia, bem como o papel do homem como ser integrante da natureza e dos ecossistemas. Com isso, você, futuro professor de Geografia, terá um embasamento mais holístico para discutir os impactos das ações humanas no meio ambiente com seus alunos.Você também aprendeu o que é agronegócio e como foi a sua implementação histórica no Brasil, o que é crucial para a compreensão de como e por que o atual modelo é como é. Discutimos ainda alguns dos principais impactos socioambientais e socioeconômicos do agronegócio no Brasil, bem como alternativas para um desenvolvimento e uma expansão sustentáveis. Assim, o futuro professor de Geografia poderá incorporar essa discussão com outras questões e disciplinas aprendidas durante o curso e futuramente auxiliar na difusão do conhecimento científico, colaborando para uma sociedade cada vez melhor e mais justa.

1. O avanço desenfreado do agronegócio e da fronteira agrícola alteram o equilíbrio dos ecossistemas, os quais, por sua vez, fornecem condições fundamentais ao bem-estar do ser humano. Sobre o equilíbrio ecológico, analise as afirmativas:

I. Equilíbrio ecológico se refere à dinâmica de relações entre os organismos entre si e com o meio ambiente, de maneira que a sobrevivência das espécies e a preservação dos recursos naturais sejam asseguradas.II. O desequilíbrio ecológico ocorre somente quando o homem interfere na natureza, através da poluição, do desmatamento, da caça esportiva, entre outros.III. Durante o equilíbrio ecológico, a fauna e a flora do ecossistema são praticamente constantes.

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IV. Fatores de desequilíbrio podem induzir o desenvolvimento de adaptações.V. Furacões, terremotos, tempestades, ciclones e maremotos são exemplos de fatores de desequilíbrio naturais.

É incorreto o que se afirma em:a) I e III, apenas.b) I, II e III, apenas.c) II e V, apenas.d) IV, apenas.e) II, apenas.

2. No Brasil, o processo de modernização agrícola ocorreu por meio da chamada Revolução Verde, a qual resultou em um modelo de produção agrícola baseado na utilização de insumos químicos, máquinas e biotecnologias. Sobre o desenvolvimento histórico e a consolidação do agronegócio no Brasil, assinale a alternativa correta:

a) O processo de modernização da agricultura foi a base para a formação do agronegócio. b) A correlação entre os setores agropecuário e industrial enfraqueceu-se com o advento das novas tecnologias, e a agropecuária passou a intensificar sua produtividade, não mais necessitando dos insumos industriais.c) O Estado teve papel crucial na modernização da agricultura, principalmente na década de 1970, atuando como agente regulador e incentivador.d) Com o tempo, a produção agropecuária brasileira passou a ser baseada em grande escala, apoiando-se em práticas sustentáveis. e) O agronegócio no Brasil consolidou-se rapidamente e foi difundido de maneira a beneficiar igualmente pequenos, médios e grandes proprietários.

3. Muitos impactos positivos, especialmente no âmbito socioeconômico, são decorrentes do agronegócio brasileiro. Sobre a questão, assinale V (para as afirmações verdadeiras) ou F (para as afirmações falsas).

( ) O agronegócio é de extrema importância para a economia brasileira, sendo gerador de riquezas e empregos. ( ) Apesar da utilização de novas tecnologias, o modelo atual do agronegócio não facilita a produção agropecuária em áreas impróprias para cultivo e/ou criação de animais.

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( ) O agronegócio traz o desenvolvimento local, colaborando para uma maior igualdade social nos meios rural e urbano.( ) Embora extremamente importante para a economia brasileira, o agronegócio promove a concentração de terras e de renda, favorecendo primariamente os grandes produtores.( ) Uma vez que a demanda por alimentos acarreta a demanda por maior produtividade, a expansão do agronegócio incentiva o desenvolvimento tecnológico e científico.

4. Desmatamento legal e perda de biodiversidade são consequências negativas da expansão das fronteiras agrícolas de acordo com o atual modelo de agronegócio. Sobre esse assunto, assinale a alternativa incorreta:a) A expansão da fronteira agrícola e o desmatamento ilegal estão relacionados com o crescimento populacional e o aumento da demanda por alimentos.b) Além do desmatamento e da perda de biodiversidade, a expansão do agronegócio intensifica o uso dos recursos naturais, promovendo a degradação do meio ambiente por meio da compactação do solo, da lixiviação de nutrientes, da poluição e da erosão, por exemplo.c) O aumento de pastagens e terras aráveis tem causado o desmatamento de florestas e a degradação dos biomas brasileiros, especialmente na Mata Atlântica, Caatinga e Amazônia. d) No âmbito do agronegócio brasileiro, os principais responsáveis pelo desmatamento são a produção de soja, a pecuária bovina e a grilagem. e) Embora o Brasil ainda apresente alta porcentagem de desmatamento ilegal, a derrubada ilegal da Amazônia regrediu mais de 70% se comparada aos índices de 1996 a 2005, graças às medidas legais implantadas pelo governo, tais como a reserva legal e o cadastro ambiental rural.

5. Atualmente, o fortalecimento do agronegócio brasileiro depende cada vez mais da adoção de estratégias sustentáveis, que integrem a produção, a preservação ambiental e a responsabilidade social. Sobre esse tema, assinale a alternativa correta.

a) Os novos modelos de agropecuária deverão utilizar os recursos naturais conforme sua necessidade, embora os impactos possam ser negativos ao meio ambiente, a fim de

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produzir alimentos saudáveis em qualidade e quantidade necessárias.b) A educação ambiental, a difusão de conhecimento e tecnologia são extremamente importantes para acabar com os problemas ambientais gerados pelo agronegócio.c) Para reduzir os impactos socioambientais negativos do agronegócio será necessário diminuir a produtividade, utilizar menos tecnologias e insumos, além da fiscalização via satélite das propriedades rurais.d) Para um desenvolvimento mais sustentável, o foco deve ser na expansão das áreas destinadas à agropecuária, a fim de eliminar os problemas de distribuição de alimento e fome.e) O papel do Estado para a adoção de medidas mitigadoras é a principal questão para que o desenvolvimento do agronegócio e a expansão da fronteira agrícola possam ser sustentáveis.

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Unidade 4

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

A Política Nacional de Educação Ambiental, o conceito de Sustentabilidade e até mesmo a Política Nacional de Resíduos Sólidos serão discutidos a fim de que você conheça esses mecanismos estatais que devem possuir significado no ambiente escolar, uma vez que Geografia forma também para a cidadania.

Projetos na escola ainda são muito precários em sua praticidade e exequibilidade. Nesta seção busca-se instrumentalizar e aproximar do ambiente escolar as práticas relevantes de Educação Ambiental.

Seção 1 | Sustentabilidade e política nacional da educação ambiental

Seção 2 | Educação ambiental: projetos na escola

Objetivos de aprendizagem:

Caro acadêmico, você conhecerá nesta unidade a relação entre Educação Ambiental, Sustentabilidade, Recursos Naturais, no contexto das políticas públicas que contribuem para a sua legalidade e exequibilidade, mas de um modo que contribua para sua formação enquanto licenciando em Geografia. Entenderá e compreenderá práticas, a forma como fazer projetos a partir da aprendizagem significativa na educação básica acerca da Educação Ambiental (EA), para que não reproduza práticas tradicionais e sem objetivos pedagógicos geográficos, conseguindo, no entanto, construir na comunidade escolar projetos que transformem a paisagem da escola sem que isso se manifeste apenas mediante cartazes colados nas paredes da escola. Essas reflexões acerca dos conceitos buscam que sua formação seja pautada na criticidade das concepções e na relação com o atual espaço geográfico.

Lílian Gavioli de Jesus

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Introdução à unidade

A Educação Ambiental é muitas vezes entendida pelo ambiente escolar como uma data comemorativa, seja em setembro com o dia da árvore, seja em junho com o dia do meio ambiente. A equipe pedagógica e a comunidade escolar devem realizar construções e desconstruções a respeito daquilo a que remete o conceito de Educação Ambiental.

O primeiro passo é respaldar-se nas leis, como a Lei n. 6.938 de 1981, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente. Ela deve ser lida e discutida em reuniões pedagógicas ou até mesmo em reuniões com a presença da comunidade escolar, para que, com base nela, sejam formuladas ações e os projetos a partir dos quais a comunidade local e a escola possam juntos promover melhorias no bairro e também no ambiente escolar.

Essas melhorias só poderão ser solidificadas ao se envolver o todo, como a Secretaria de Educação e/ou Cultura e a do Meio Ambiente, para haver respaldo público e legal, ou seja, para que a lei federal seja cumprida em escala municipal.

Além de não ser uma tarefa fácil, muitas vezes ela pode ser frustrante ao professor de Geografia, como será detalhado nesta unidade, considerada a realidade socioeconômica e cultural das famílias, a qual muitas vezes pode ser vulnerável, o que dificulta um diálogo pautado na Educação Ambiental.

Todavia, mesmo com essas dificuldades, a escola ainda é um local em que os alunos e a família buscam por um refúgio. Essa é a realidade das escolas públicas brasileiras, dadas as condições que são oferecidas e a estrutura arcaica que ainda é mantida.

Essa busca de “esperança” que o bairro tinha em relação ao ambiente escolar não deve ser confundida com um ato assistencialista, o que é de responsabilidade dos gestores e educadores a partir de suas ações e interações para com a comunidade que cerca a escola.

Com isso, envolver a criatividade e a criticidade em Projetos de Educação Ambiental poderá sensibilizar os envolvidos para com os recursos naturais. Ora, como buscar a preservação destes apenas com gravuras nos livros didáticos? Ou ainda, com trabalhos (cópias – impressões apenas) de sites de busca na internet

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(quando o conteúdo não é copiado do próprio livro didático)? Essas ações, não se assuste, ainda imperam na educação brasileira.

Por acreditar em você, espero que aproveite esta leitura a fim de questionar e refletir sobre as políticas públicas voltadas ao meio ambiente; aos recursos naturais e ao seu desenvolvimento e aplicabilidade nas escolas. Ou existe ambiente melhor para se debater as políticas públicas que não sejam as escolas?

Portanto, perceba que, ao desenrolar desta unidade, você poderá entrar em conflito com inúmeras questões, o que é aqui o nosso papel: proporcionar-lhe um pensamento além do que já foi escrito e um dia pensado, essa é a aprendizagem significativa.

Boa leitura!

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Seção 1

Sustentabilidade e política nacional da educação ambiental

Palavras de um general

General, teu tanque é um carro forte. Ele derruba uma floresta e esmaga cem homens. Tem, porém, um defeito: Precisa de um motorista. General, teu bombardeiro é poderoso Voa mais depressa que a tempestade, Carrega mais que um elefante. Tem, porém, um defeito: Precisa de um piloto. General, o homem é muito útil. Sabe voar, sabe matar. Tem, porém, um defeito: Ele sabe pensar. (Brecht, B. Antologia poética, s.d.)

O homem, como o próprio poeta coloca, é um ser crítico, isto é, questionador sobre sua atual condição. A natureza e seus recursos são vistos pelos homens a partir de uma lógica capitalista, como um meio para o modo de produção ao se espacializar, aplicando-se, com base nisso, uma logística com fins lucrativos.

Todavia, esse não é o pensamento que os geógrafos possuem em relação ao meio e os recursos naturais. Sim, existe uma “onda” de sustentabilidade atrelada ao modo de vida urbano que podemos chamar de “gourmet” (que impera desde o início do século XXI). No entanto, o que se deve evidenciar, do ponto de vista do pensamento geográfico, se refere à quantidade dos recursos naturais, onde eles estão, quem são os que deles necessitam para subsistência e como devem ser preservados, conservados e até mesmo manipulados.

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A Geografia entende os recursos naturais como parte dos elementos espaciais e não como uma área afim. Entender e compreender a razão da preservação e conservação dos recursos naturais é uma ação cidadã, que pode ser realizada nos espaços escolares. Por isso, aqui colocamos a importância da Educação Ambiental atrelada à Geografia, já que serão vários os desafios que deverão ser encarados pelo licenciado em Geografia, seja em ambientes de educação formal, como na escola, seja até mesmo em ONGs, em que ocorre a educação informal.

Os desafios não se limitam a construir e desenvolver projetos, eles também dão continuidade a estes a partir da comunidade escolar. A mídia e também as redes sociais podem ser utilizadas para a sensibilização ambiental, para que se construa uma sociedade mais reflexiva sobre o seu futuro em relação aos recursos naturais do espaço de vivência.

Eis o que deve ser enfatizado desde já: professores de Geografia, muitas vezes, ao ensinar sobre os recursos naturais, atribuem exemplos a lugares distantes da permanência e interação dos alunos. Promovem, por exemplo, “Semana do Meio Ambiente” nas escolas, com a utilização de cartazes e pinturas em sulfite. Esquecem do espaço escolar como algo ativo na vida escolar, pois a impressão que passam é a de uma educação inexistente, em que os livros didáticos são projetados em terceira ou quarta dimensão no ambiente escolar, sem que seja considerado o conhecimento prévio do aluno ou até mesmo o espaço escolar.

Observamos que os entornos das escolas públicas brasileiras, assim como ambientes internos, não possuem regras ou até mesmo uma organização interna referente ao destino dos resíduos sólidos de maneira correta. Ou, se existem as famosas lixeiras coloridas, estas são pouco utilizadas pelos alunos, quando não são depredadas ou utilizadas apenas como “decoração” da escola.

Alunos criaram um videoclipe sobre problemas ambientais que podem ser gerados pelo lixo próximo da escola em que estudam e foram vencedores de um concurso promovido pela TV Escola. Leia a reportagem na íntegra. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17878:video-sobre-lixo-jogado-perto-de-escola-de-sp-ganha-concurso&catid=372&Itemid=86>. Acesso em: 22 out. 2015.

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Isso se observa até mesmo no caso de escolas que possuem a merenda escolar no lugar da cantina, em que os resíduos dos alimentos são colocados pelos funcionários das escolas, e não pelos alunos. Você deve se perguntar: “por que isso ocorre?”. Isso acontece porque no Brasil ainda existem práticas equivocadas sobre as ações dos alunos na escola, que são justificadas com frases como “eles não saberão fazer isso!”, “isso é trabalho dos serventes”, “são muito pequenos para separar esse lixo”, “a bagunça será imensa, vamos evitar”.

Esse é o reflexo das gestões das escolas brasileiras que, por sua vez, minimizam as atitudes referentes à Educação Ambiental, que não está presa simplesmente à horta da escola e às lixeiras coloridas.

A Educação Ambiental está associada à socialização e à pretensão de futuro, razão pela qual colocamos aqui, nesta seção, a sustentabilidade, que não se configura enquanto conceito científico, aparecendo, na verdade, de maneira eficaz e sugestiva, além de reflexiva, sobre as ações humanas presentes, alegando-se uma inquietação com as futuras gerações, o que muitas vezes é minimizado pelo imediatismo da sociedade que vem se formando no século XXI, tão acelerado por tecnologias e aplicativos on-line.

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) se iniciou com a Lei n. 6.938 de 1981, a partir da Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi (observe na Figura 4.1 abaixo a localização), em meados de 1970, com vistas a uma educação dinâmica e progressista.

Fonte: Disponível em: Google Maps (2015). Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/place/Tbilisi,+Georgia/@42.4085915,43.3736782,6.75z/data=!4m2!3m1!1s0x40440cd7e64f626b:0x61d084ede2576ea3>. Acesso em 1 set. 2015.

Figura 4.1 | Tbilisi – capital da Geórgia

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Junto a essa política da década de 1980, no mesmo ano, o Brasil teve uma nova Constituição, a qual assegura como dever do Estado a promoção da Educação Ambiental em todas as modalidades de ensino, assim como a conscientização ambiental pública, para que se evitem danos no ambiente; na sociedade.

Durante a década de 1990, eventos sobre os fatores ambientais e de Educação Ambiental ocorreram a fim de realizar uma discussão sobre as leis e diretrizes que estariam envolvidas ou poderiam ser desenvolvidas.

Foi no Brasil, em 1992, que ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com o objetivo de reunir chefes de Estado e de governo e ONGs para a discussão e análise sobre documentos relacionados aos problemas ambientais.

Numa avaliação realizada por um grupo de 150 ONGs sobre o desempenho dos países na Conferência, o pior deles foi atribuído, por unanimidade, aos Estados Unidos, pela conduta destrutiva nas negociações da Convenção de Climas e do Tratado de Biodiversidade; o segundo lugar coube à Arábia Saudita, por resistir às propostas referentes ao uso de outras formas de energia, que não as derivadas do petróleo; o terceiro lugar coube ao Japão; em quarto lugar ficou a Malásia, por colocar a soberania nacional acima das questões ambientais. (PENTEADO, 2010, p. 17).

Percebam que o Estados Unidos, o país que possui a maior indústria biotecnológica do mundo e também um dos maiores PIBs, acaba por influenciar os demais países com decisões negativas relacionadas às políticas ambientais, dada a sua importância no cenário mundial.

Lembre-se de que este evento ficou conhecido como Rio-92, ou Eco-92, ou ainda Cúpula da Terra, após 20 anos da Conferência de Estocolmo (Suécia), em que os países envolvidos reconheceram a importância da sustentabilidade e suas responsabilidades com o meio ambiente.

O principal documento que foi discutido na Rio 92 se chama “Agenda 21”, que corresponde a um instrumento para a organização de futuras sociedades sustentáveis em diferentes espaços geográficos, que une conceitos referentes a meio ambiente, justiça social e competência econômica. Esse instrumento possui participação coletiva e ativa com as comunidades envolvidas, e o seu início data de 2002 no Brasil.

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Para sua implantação, é necessário o Fórum da Agenda 21, um elo entre sociedade e Estado que objetiva a construção do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável, com projetos e ações de curto, médio e longo prazos.

• Assista ao vídeo a seguir que relata brevemente o que ocorreu na Rio 92 e também na Rio +20. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=g77DTYKJecU>. Acesso em: 23 out. 2015.• A Rio +20 é explicada pelo negociador-chefe do Brasil, André Corrêa do Lago. Assista ao vídeo na íntegra em: <https://www.youtube.com/watch?v=2kxDpnhUwfw>. Acesso em: 23 out. 2015

A Agenda 21 pode ser discutida e construída pela comunidade escolar de uma escola, o que é bastante atrativo, dados os projetos a serem executados. Nesse sentido, é importante que se organizem reuniões e que estas sejam registradas em atas, para que haja uma formalização das ações dos projetos, assim como dos que estão envolvidos.

Uma prática como esta partir do professor de Geografia é primordial, considerados seus conhecimentos científicos, que podem ser utilizados para a transformação da paisagem. Vamos agora exemplificar algumas práticas que podem envolver a Agenda 21.

A sala de aula é o primeiro local. Deve-se orientar os alunos sobre a quantidade de resíduos produzidos em um período de aula, como proporcionar momentos de reflexão sobre por que razão se deve manter a sala de aula limpa, sem papéis de doces no chão ou até mesmo folhas de caderno que foram amassadas, restos de aparas de lápis e resíduos de borracha escolar.

Reflexões podem ser feitas com os alunos do ensino fundamental ou médio a partir de músicas instrumentais e sons da natureza (se possível, próximos de um riacho). É necessário que o aluno compreenda o motivo da reflexão, caso contrário, “pôr o lixo na lixeira” não fará sentido.

Mas há as situações complexas em que o aluno reside em uma moradia de baixa renda, cuja família não partilha desses conhecimentos ambientais, por falta de instrução e também de convívio com a realidade desses conceitos. Esse é o maior desafio! Esse é o momento em que todo professor busca ser o super-herói,

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estimulando o aluno de variadas maneiras. Todavia, o professor deve não perder suas expectativas referentes a aprendizagem, mas se precaver de que a educação ambiental se intimida quando não há estrutura para que ela possa ocorrer por omissão estatal, dada a condição de qualidade de vida ofertada ao indivíduo de baixa renda.

Atrelar os objetivos de uma aprendizagem significativa sobre Educação Ambiental à realidade socioeconômica e cultural dos alunos é o que os envolvidos na Agenda 21 devem considerar ao esboçar os projetos.

Como podem ver, não é uma simples tarefa que acarretará como atividade final um simples cartaz nos corredores da escola, mas em ações permanentes que alterarão a paisagem escolar.

Pensando em indivíduos de baixa renda e sua relação com a cultura da periferia, o hip hop se apresenta com um bom aliado, seja pela música, seja pelas artes plásticas.

Uma das atividades a se desenvolver poderá ser o grafite para reconstruir uma sala de aula ao ar livre (algum espaço abandonado no pátio escolar), ou nos muros escolares a partir de releituras artísticas ou charges, ou nas paredes da quadra escolar, ou no refeitório, proporcionando um ambiente educativo de maior qualidade.

Veja no link seguinte que o grafite é uma metodologia utilizada em algumas escolas brasileiras. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=km5fWQiKN4U>. Acesso em: 23 out. 2015.

Observe que essa ação, que envolve a arte, poderá se estender por toda a comunidade escolar e não se restringir a um pequeno grupo, podendo acontecer em diferentes turmas escolares e com um professor de arte.

As escolas brasileiras assumem em sua maioria o caráter conteudista, mesmo alegando em seu projeto político-pedagógico linhas antagônicas a esse pensamento escolar. Isso é o resultado da estrutura falha na organização pedagógica das escolas em sua maioria públicas do Brasil. Há precariedade de recursos didáticos e estrutura física incompatível com a faixa etária dos alunos

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(como, por exemplo, as carteiras escolares muito grandes ou muito pequenas), dados os poucos programas eficazes de formação para o professor oferecidos pelo Estado, assim como tempo escasso que o professor possui para sua formação, considerada a grande carga horária que assume (o que compromete sua saúde e a qualidade de seu trabalho), que é necessária para que possua condições mínimas financeiras para seu sustento.

Conseguimos traçar mais um obstáculo para que aconteça uma educação qualitativa no ambiente escolar, pois relatamos quão vulneráveis são as condições enfrentadas pelos professores brasileiros.

A Educação Ambiental seria um estímulo ou um tropeço na formação e na prática dos docentes, em especial os de Geografia?

Até o momento você percebeu quão provocador é trabalhar a Educação Ambiente nos ambientes escolares.

Atente-se ao fato de que o Programa Nacional de Educação Ambiental possui quatro diretrizes a serem seguidas, as quais foram estabelecidas pelo Ministério do Meio Ambiente, sendo elas: transversalidade; sustentabilidade; participação e controle social; e fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente.

Em paralelo a essas diretrizes, abrimos para a discussão sobre o caso dos lixões no Brasil. O descarte dos resíduos sólidos no Brasil é poucas vezes trabalhado nas escolas brasileiras. As lixeiras coloridas, como já mencionado antes, muitas vezes não são utilizadas da forma correta, por falta de informação da comunidade escolar. Isso ocorre porque os professores não possuem essas informações, que devem ser oriundas de formações pedagógicas, uma vez que não são todas as áreas do conhecimento que estudam os resíduos sólidos.

Ocorre que, com a Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos. É uma das ações que devem ser realizadas em todo território nacional, a partir da colaboração das prefeituras, com a mudança dos lixões para os aterros sanitários.

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Está sujeito a multa aquela prefeitura que não executar o que rege a mencionada lei, sendo próximo de 60% o número dos municípios brasileiros que não respondem a essa nova legislação.

De acordo com dados do Ministério de Meio Ambiente, cerca de 2.000 municípios buscaram realizar algumas medidas, como a compostagem e a reciclagem. Os demais encontram sérios problemas ao discutir, ou até mesmo mitigar, essa questão, dada a falta de profissionais específicos no corpo técnico.

A Figura 4.2 retrata o espaço geográfico dos lixões. Observe quão vulnerável é este lugar, e a pergunta que emerge é: “por que só agora, a partir dos anos 2000, é que isso foi ser pensado?”

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d0/LixaoCatadores20080220MarcelloCasalJrAgenciaBrasil.jpg>Acesso em: 26 out. 2015.

Figura 4.2 | Lixão no Brasil – local de despejo ou de trabalho?

Essa lei ainda busca:

• Uma gestão mais eficaz perante os resíduos e sua gestão, ou seja, a forma como não gerar tais resíduos, ou reduzir, ou reutilizar, ou reciclar, ou ainda fornecer um tratamento específico para o rejeito.

• Fontes alternativas de energia a partir do lixo, sendo fiscalizados os gases tóxicos que poderão ser liberados.

• Atualização do Plano Nacional de Resíduos Sólidos a cada quatro anos.

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Para refletir sobre o cotidiano dos indivíduos que moram no lixão, trabalhe com os alunos o documentário Ilha das Flores.Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg>. Acesso em: 23 out. 2015.

Os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo com Lei Federal 12305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos):

• Resíduos domiciliares.

• Resíduos de limpeza urbana.

• Resíduos sólidos urbanos.

• Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços.

• Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico.

• Resíduos industriais.

• Resíduos de serviços de saúde.

• Resíduos da construção civil.

• Resíduos agrossilvipastoris.

• Resíduos de serviços de transportes.

• Resíduos de mineração.

Quanto à periculosidade, os resíduos são classificados apenas em resíduos perigosos e não perigosos (BRASIL, 2010).

Os resíduos domiciliares, de acordo com a legislação, são oriundos de atividades domésticas em residências urbanas. De acordo com Zanta e Ferreira (2015), são os resíduos domiciliares que são concebidos e coletados cotidianamente no domicílio e seus semelhantes.

Já os resíduos de limpeza urbana são gerados a partir da varrição, limpeza de vias públicas e outros serviços de limpeza urbana. Observe na imagem a seguir um exemplo.

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Fonte: Disponível em: <https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQS5MfaypPxxqGxfomU29Po6WiqXdAjnRiN7jD5IgphBM2wkwzt>. Acesso em: 23 out. 2015.

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6b/Lixo2.JPG/250px-Lixo2.JPG>. Acesso em: 23 out. 2015.

Figura 4.3 | Exemplo de limpeza urbana – Garis limpando as vias públicas

Figura 4.4 | Resíduos sólidos urbanos

Os resíduos sólidos urbanos podem ser domésticos (oriundos de casas e apartamentos), comerciais (mercados, hotéis, escritórios), institucionais (escolas e outras instituições) e de serviços municipais (manutenção de jardins, varrição de vias etc.), ou seja, engloba os resíduos domiciliares e de limpeza urbana.

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Os municípios ganharam um novo prazo para erradicar os lixões e então instaurar o funcionamento dos aterros sanitários: até o dia 31 de julho de 2018 para as capitais e municípios das regiões metropolitanas; já para os municípios de fronteira, que possuam mais de 100 mil habitantes, o período vai até julho de 2019. Os prazos finais serão 2020 e 2021, sendo o primeiro para os municípios entre 50 e 100 mil habitantes e o último para os que possuem menos de 50 mil habitantes. Você pode ler mais sobre o assunto na reportagem do link a seguir: <http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/07/01/senadores-aprovam-prorrogacao-do-prazo-para-fechamento-dos-lixoes> . Acesso em 9 nov. 2015.

Os resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, por sua vez, são os gerados nessas atividades, ou seja, englobam os resíduos de limpeza urbana, os resíduos dos serviços públicos de saneamento básico, os resíduos de serviços de saúde, os resíduos de construção civil e os de serviços de transporte.

Os resíduos dos serviços públicos de saneamento básico são aqueles gerados nessas atividades e também nos resíduos sólidos urbanos. Já os resíduos industriais são os concebidos pelas atividades industriais, ou seja, a partir da transformação de elementos em novos produtos que passaram por processos químicos e físicos. Pode-se citar como exemplo os resíduos derivados das estações de tratamento de água e/ou esgoto.

Os resíduos de serviços de saúde geralmente são conhecidos como lixo hospitalar, ou seja, correspondem ao descarte de seringas, gazes, algodão, remédios com a data de validade antiga, entre outros.

Fonte: Disponível em: <http://www.ortigueira.pr.gov.br/media/med/e53563e935f4b47320b9d8bc97644f54.jpg>. Acesso em: 9 nov. 2015.

Figura 4.5 | Exemplos de resíduos hospitalares

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Logo a seguir acompanhe as classificações desses resíduos de acordo com a NBR 12808 (ABNT, 1993).

Fonte: Elaborado pelo autor (2015, adaptado de ABNT, 1993)

Figura 4.6 | Classificação dos resíduos de serviço de saúde.

Conheça as subdivisões dessas classificações a partir da leitura do seguinte link: <http://wp.ufpel.edu.br/residuos/files/2014/04/NBR-12808-1993-Res%C3%ADduos-de-servi%C3%A7os-de-sa%C3%BAde.pdf> . Acesso em: 3 nov. 2015. Trata-se da NBR 12808 (ABNT) de resíduos de serviços de saúde.

Os resíduos da construção civil são aqueles provenientes de reformas e demolições, assim como os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis.

Acesse o documentário Resíduos da Construção Civil - Programa Ecologia em Ação disponível no link a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=-aj0VeVOP1s> (acesso em: 3 nov. 2015) e realize uma breve reflexão sobre o tema e até mesmo como esse tipo de manuseio ocorre na sociedade.

Os resíduos agrossilvipastoris são os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades. Eles possuem potencial energético em algumas situações, como na queima do bagaço de cana-de açúcar (Figura 4.7). Todavia, deve-se atentar para o descarte de embalagens dos defensivos agrícolas para que não haja maiores danos na sociedade.

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O Programa Agrinho busca atrair jovens em idade escolar (ensino fundamental) para uma proximidade com as áreas rurais e também enfatiza o manejo e o descarte de defensivos agrícolas.Assista a um vídeo sobre o assunto no link a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=JqcnqLizdok> . Acesso em: 23 out. 2015.

Fonte: Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Bagaco_000fk5h6pn202wyiv80sq98yqirrjbz0.jpg>.Acesso em: 3 nov. 2015.

Figura 4.7 | Bagaço para a geração de energia

Os resíduos de serviços de transportes são originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira. Os resíduos de mineração, por sua vez, são aqueles gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios. Observe o exemplo na Figura 4.8, em que o regato possui grande quantidade superficial de hidróxido de ferro, já que recebe águas ácidas provenientes de uma mina de carvão.

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Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b8/Iron_hydroxide_precipitate_in_stream.jpg>. Acesso em: 3 nov. 2015.

Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/thumb/1/1b/Chernobyl_Disaster.jpg/250px-Chernobyl_Disaster.jpg>. Acesso em: 3 nov. 2015.

Figura 4.8 | Precipitado de hidróxido de ferro num regato recebendo águas ácidas de uma mina de carvão

Figura 4.9 | O acidente em Chernobil

Os resíduos perigosos oferecem riscos à saúde coletiva e também ao meio ambiente. Podem ser patogênicos, tóxicos, corrosivos, entre outros. Um caso pode ser exemplificado com os resíduos radioativos decorrentes do acidente nuclear que ocorreu em 1986 na Usina Nuclear de Chernobil (Figura 4.9). Cerca de 50 mil pessoas tiveram que se deslocar em razão da radiação presente na atmosfera, o que pode causar desde perda de membros até o óbito.

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Os resíduos não perigosos são todos aqueles que não se enquadram como os perigosos, que foram explicados acima.

Existe também a classificação dos resíduos sólidos a partir da NBR 10004 (ABNT), cuja leitura você faz no link: <http://www.ccs.ufrj.br/images/biosseguranca/CLASSIFICACAO_DE_RESIDUOS_SOLIDOS_NBR_10004_ABNT.pdf> . Acesso em: 3 nov. 2015.

Agora que você já conheceu as classificações utilizadas a partir do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, vamos entender o que podemos separar para descarte utilizando as lixeiras ecológicas coloridas (Figura 4.10)

Fonte: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/imagem/0000000542/0000004645.jpg>. Acesso em: 3 nov. 2015

Figura 4.10 | Lixeiras recicláveis

Para mobilizá-lo diante desta temática, você pode assistir ao vídeo a seguir com algumas dicas sustentáveis. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gVkZ2xP5IW8>. Acesso em: 23 out. 2015.

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Nesta seção, você conheceu alguns conceitos e parte da legislação acerca da Educação Ambiental e dos Recursos Naturais, que pouco são discutidos tanto na formação do professor, como em sua prática escolar.

Na próxima seção serão enfatizados os projetos na escola, com o objetivo de concretizar de maneira qualitativa as práticas no ensino de Geografia.

1. A Lei n. 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), é bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado) (BRASIL, 2010).De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, classificam-se como resíduos domiciliares e industriais:

a) Resíduos provenientes de culturas, como o feijão e o lixo hospitalar.b) Resíduos provenientes de indústrias lácteas e de varredura urbana.c) Resíduos provenientes de feiras livres e indústrias de esmaltes.d) Resíduos provenientes de restos e cascas de frutas e de indústrias de leite.e) Resíduos provenientes de indústrias lácteas e restos de pneus.

2. Trata-se de um documento elaborado pela ONU, que busca a construção de projetos evidenciando o caráter sustentável, tendo sido discutido na Eco-92 no Rio de Janeiro. Pode ser aplicado nas escolas desde que haja envolvimento com a comunidade escolar e os demais órgãos que representem o Estado, pois busca garantir a qualidade econômica e ambiental.

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A que documento se refere o texto anterior?a) Protocolo de Kyoto.b) Pacto Nacional da Educação Ambiental.c) Agenda 21.d) Carta de Crédito de Carbono.e) Carta da Terra.

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Seção 2

Educação ambiental – Projetos na escola

Caro acadêmico, nesta seção, você é convidado a compreender a discussão sobre projetos de Educação Ambiental na Educação Básica. Você verá a importância da Educação Ambiental formal – que ocorre nos âmbitos escolares– na busca pela manutenção, exploração e utilização sustentável dos recursos naturais.

Como vimos anteriormente, a evolução das técnicas e tecnologias dos seres humanos ao longo do tempo levou o meio ambiente a um estágio de depreciação nunca presenciado anteriormente.

A exploração irracional dos recursos naturais e a produção industrial movida pela ideia de maximização dos lucros, somadas às ocupações irregulares e ao descarte incorreto de resíduos sólidos, resultaram em intensos impactos ambientais como os desmatamentos, assoreamento de corpos hídricos, desertificação, perda de fertilidade do solo, poluição das águas (superficiais e subterrâneas), poluição do ar e do solo.

Diante de todos os impactos e desastres que a humanidade tem vivenciado nos últimos séculos, cabe questionarmos: o que fazer?

As ações devem ser urgentes e de âmbito global, ainda que se aja localmente visando à obtenção de resultados que beneficiarão globalmente. A Educação Ambiental pode ser apontada como um dos caminhos para mitigar os efeitos da crise ambiental que está instaurada.

Você já teve acesso a algum material que abordava o tema Educação Ambiental? Já pensou na importância desse tema nas atividades escolares na Educação Básica?

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De acordo com EPA (2008, apud LUZZI, 2005, p. 15), “por meio da Educação Ambiental, as pessoas passam a compreender como as ações individuais afetam o meio ambiente, adquirem competências para pensar os vários lados das questões e tornar-se mais aptas para tomarem decisões conscientes”. Diaz (2002) nos ensina que devemos resgatar a relação que os homens primitivos tinham com o meio ambiente, que estava baseada no respeito à natureza.

O papel da Educação Ambiental, segundo Pelicioni e Philippi Jr. (2014, p. 3), é “[...] formar e preparar cidadãos para a reflexão crítica e para uma ação social corretiva, ou transformadora do sistema, de forma a tornar viável o desenvolvimento integral dos seres humanos”.

Caro acadêmico, você já pensou onde e quando começaram as discussões sobre Educação Ambiental?

Vimos na Unidade 1 deste livro que as discussões referentes ao meio ambiente chegaram ao cenário mundial nas décadas de 1960 e se fortaleceram nas décadas seguintes. Foi na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em 1977 em Tbilisi na Geórgia, que foi consolidado o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), proposto inicialmente na Conferência de Estocolmo de 1972.

Leia a Declaração da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-content/uploads/cea/Tbilisicompleto.pdf>. Acesso em: 8 out. 2015.

Na Conferência de Tbilisi foi proposto que a educação ambiental deveria se constituir em uma educação geral e permanente, para que, desse modo, pudesse reagir às transformações realizadas no mundo, devendo esta ter uma intervenção formal (institucionalizada, que ocorre nas unidades de ensino públicas ou privadas de ensino básico e superior) e não formal ou informal (que ocorre fora das instituições de ensino e tem como objetivo a sensibilização da coletividade, por meio de ações educativas).

De acordo com a Declaração da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (1977, p. 1):

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A Educação Ambiental, bem compreendida, deverá constituir uma educação geral permanente que reaja às mudanças produzidas num mundo em rápida evolução. Essa educação deverá preparar o indivíduo através da compreensão dos principais problemas do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe os conhecimentos técnicos e as qualidades necessárias para desempenhar uma função produtiva que vise melhorar a vida e proteger o ambiente, valorizando os aspectos éticos.

Perceba, caro acadêmico, que, na proposta dessa Conferência, a Educação Ambiental tem papel fundamental na intervenção e transformação da realidade concreta. Também segundo a Declaração supracitada, as ações de EA devem ter um enfoque global – ainda que sejam ações locais –, basear-se na interdisciplinaridade (diferentes ciências interagindo entorno da mesma temática ou objetivo) e ser voltadas para a comunidade, estimulando os indivíduos a intervirem em realidades específicas. Em Tbilisi foi realizado um apelo aos Estados membros para que realizassem políticas de educação ambiental incorporando os objetivos e diretrizes da Conferência.

Acesse o artigo “Políticas públicas de educação ambiental numa sociedade de risco: tendências e desafios no brasil de Luciano Chagas Barbosa”, para ter mais informações sobre as políticas públicas para Educação Ambiental no Brasil. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao11.pdf>. Acesso em: 8 out. 2015.

Outro marco institucional importante no decurso da Educação Ambiental no mundo foi a Agenda 21, como citado na seção anterior, um documento concebido e aprovado pelos governos durante a Rio-92. A Agenda 21 pode ser compreendida como:

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[...] um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Além do documento em si, a Agenda 21 é um processo de planejamento participativo que resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor e planeja o futuro de forma socioambientalmente sustentável. (BRASIL, 2007, p. 12).

Para efetivar as práticas da Educação Ambiental, como a Agenda 21, precisaremos entender mais sobre os projetos. Para isso, vamos nos respaldar na Pedagogia de Projetos, já que ela possui suas raízes na Escola Nova, um movimento que ocorreu na educação com vistas à modernização, ou seja, com o objetivo de que a educação brasileira não ficasse marginalizada perante as novas descobertas científicas acerca do processo de ensino-aprendizagem.

Quatro eram as propostas da Escola Nova: revisão do ensino tradicional, inclusão de fatores históricos e culturais na formação educacional, utilização de referenciais teóricos oriundos da Biologia e Psicologia para a capacitação do professor (a fim de que compreendesse as fases do sujeito) e a transferência da responsabilidade da ação educadora da família e da Igreja para a escola, como forma de amenizar as diferenças sociais e culturais existentes entre os diversos grupos e, juntamente com isso, a responsabilização do Estado pela educação do indivíduo (LAMEGO, 1996).

A Pedagogia de Projetos foi muito discutida antes mesmo do movimento Escola Nova:

A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Ela surgiu no início do século com John Dewey e outros representantes da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão estava embasada numa concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida presente tão real e vital para o aluno como a que ele vive em casa, no bairro ou no pátio”. (LEITE, 2014, p. 28).

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John Dewey, um dos primeiros pedagogos da Escola Nova, iniciou seus estudos sobre projetos a partir de sua concepção de construção coletiva do conhecimento, segundo a qual o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se unem dinamicamente. Ele acredita que o aluno deva ter condições para resolver por si próprio os seus problemas, porque a escola não apenas prepara a vida, como é a vida. Para que um projeto se consolide, o pedagogo propõe que este surja através de uma situação problemática e que esta situação seja levada para além dos muros da escola e então se estabeleça uma solução para esta por meio de um olhar não fragmentado diante das disciplinas escolares (DEWEY, 1970).

O então chamado Método de Projetos chegou ao Brasil, juntamente com o movimento conhecido como Escola Nova. Opondo-se aos princípios da escola tradicional, foi um movimento desencadeado por grandes educadores europeus, tais como Maria Montessori, Ovídio Decroly, Edouard Claparède e outros. E tiveram, na América do Norte, dois grandes expoentes: John Dewey e seu discípulo, William Kilpatrick. Foram esses dois norte-americanos os criadores do Método de Projetos, com suas ideias disseminadas no Brasil, principalmente por Anísio Teixeira e Lourenço Filho. (PEREIRA, 2014, p. 83).

Sabe-se que um projeto tem suas origens no irreal e com seus avanços atinge a materialidade. O professor tende a buscar no mundo das ideias um ponto de partida, para então estruturar um projeto. Todavia, para isso é necessário haver uma boa estrutura e um respaldo teórico-científico, caso contrário, a prática escolar seria apenas uma reunião de saberes populares aplicados (NOGUEIRA, 2001). E assim complementa Perrenoud (2003, p. 13-14):

[...] uma empreitada coletiva gerada pelo grupo-classe, na qual o professor coordena, mas não decide tudo; Uma orientação para uma produção concreta (textos, jornais, espetáculos, exposições, maquetes, experiências científicas, festas, passeios, eventos esportivos, concurso etc.); Um conjunto de tarefas nas quais todos os alunos possam participar e tenham uma função ativa, a qual poderá variar em função de seus recursos e interesses; Um aprendizado de saberes e conhecimentos no âmbito da gestão de projetos (decidir, planejar, coordenar etc.); Um aprendizado identificável e que conste do programa de uma ou mais disciplinas; Uma atividade emblemática e regular, colocada a serviço do programa.

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A pedagogia de projetos visa um sistema de ensino pautado na interdisciplinaridade, ou seja, um conhecimento uno, sem fragmentações, que busca por um saber totalitário e não especializado. Trabalhar com projetos na escola é um desafio e também é visto e entendido como um trabalho árduo pelos professores:

[...] a negação em trabalhar com um projeto interdisciplinar não está na má vontade dos professores, mas talvez na obstinação em cumprir 100% de seu conteúdo, não percebendo as múltiplas possibilidades que um projeto deste porte pode gerar em resultados, ou, ainda, na insegurança de como proceder como ator de um projeto interdisciplinar. O não entendimento de uma proposta interdisciplinar também parece ser uma das barreiras. Como já mencionado, a simplicidade como é encarada e a dificuldade apresentada pelo professor, que acredita ter que elaborar exercícios, problemas, questões e atividades pertinentes à temática em questão, fazem da interdisciplinaridade o “bicho papão”, que dará mais trabalho do que ele possui. Por estes e outros motivos, a interdisciplinaridade acaba não sendo uma prática, o professor não assume uma atitude interdisciplinar e continua o seu árduo trabalho de ministrar conteúdos compartimentados e descontextualizados do dia a dia do aprendiz. A interdisciplinaridade apresenta-se apenas no sonho do coordenador pedagógico, do diretor e de alguns poucos professores que conseguem enxergar além das paredes da sala de aula. (NOGUEIRA, 2001, p. 54).

Logo, materializar os projetos, ainda na perspectiva ambiental, será um desafio. Segundo Reigota (2009), é importante que possamos definir bem alguns conceitos quando trabalhamos nos projetos de educação ambiental em quaisquer que sejam os campos de abordagem. Devemos analisar os problemas ambientais em nosso planeta, no sentido da compreensão do consumo excessivo de recursos naturais por uma certa parcela da humanidade e, ainda, sobre o desperdício e produção de artigos inúteis à qualidade de vida. Esse paralelo nos permite refletir sobre um conceito errado que desenvolvemos ao abordarmos problemas ambientais, vinculando os mesmos unicamente à quantidade de pessoas que existe no planeta.

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Por qual motivo os problemas ambientais são vinculados ao número de pessoas que vivem em nosso planeta?

A educação ambiental analisa os princípios reflexivos das relações econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza, possibilitando a sobrevivência de espécies naturais e também da humanidade. O homem e suas práticas representam um frágil componente de todo o sistema que é o planeta Terra, sendo o equilíbrio homem-natureza essencial para a manutenção de todas as funções básicas para a nossa sobrevivência e a de todas as espécies presentes no planeta Terra (Figura 4.11). Nesse contexto, a educação ambiental se mostra muito importante.

Fonte: Disponível em: Érico Candido (Wikimedia Commons). Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9e/Equilibrio_homem_natureza.png>. Acesso em: 30 out. 2015.

Figura 4.11 | O equilíbrio homem-natureza é essencial ao planeta

Como a ausência de planejamento ambiental pode impactar a natureza?

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Podemos unir todos os conceitos sobre os quais se reflete nesse interessante vídeo a seguir, que aborda a Associação Peixe-Boi, para conhecermos a importância dos componentes da natureza ao homem em uma abordagem socioambiental. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mZ3l8WylLW8>. Acesso em: 9 nov. 2015.Como podemos associar os pontos acerca da conscientização e educação ambiental com todos os aspectos abordados nesse vídeo?

Ainda de acordo com Reigota (2009), a educação ambiental deve preparar os cidadãos a exigirem justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais com a natureza, devendo, assim, ser compreendida como educação política. Logo, caro aluno, devemos inspirar e fazer crescer esses mesmos sentimentos em nossos alunos quando abordamos a educação ambiental em sala de aula.

A educação ambiental como educação política deve então enfatizar nos cidadãos o “porquê” e o “como” fazer, já que, dado o contexto histórico em que vivemos, ela assume um caráter questionador, tornando o processo de educação criativo e inovador mas ao mesmo tempo crítico. Tal espírito crítico leva à formação de cidadãos cada vez mais ativos no exercício de seus direitos e deveres políticos frente aos problemas ambientais (REIGOTA, 2009; REGOTA, 2010).

Para aprimorar o entendimento sobre a situação da educação ambiental frente aos discursos atuais sobre a natureza, leia o interessante artigo de Reigota (2010) presente no link: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v36n2/a08v36n2.pdf> . Acesso em: 26 out. 2015.

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Em suma, a educação ambiental pode sim colaborar com a redução de impactos negativos no planeta, uma vez que orienta cidadãos mais conscientes de seus diretos e deveres. Esses cidadãos, sejam crianças, sejam adultos, vão atuar em suas comunidades, ocasionando uma primeira mudança no sistema. É claro que os resultados não acabam sendo imediatos, mas com o tempo e esforço coletivo esse cenário se modificará (figuras 4.12 e 4.13).

Fonte: Disponível em: <http://lh3.ggpht.com/_pUt1891eyMo/TNQsyNxqq2I/AAAAAAAABrM/GFyzcHjOVas/Escola-Estadual-Sebastiao-Augusto-Loureiro_ACRIMA20101105_0001_13%5B6%5D.jpg?imgmax=800>. Acesso em: 26 out. 2015.

Figura 4.12 | O projeto “Peladão Verde na Escola” desenvolve trabalho com jovens no Amazonas. Assim a conscientização ambiental é passada adiante.

Saiba como projetos e cooperativas são desenvolvidos em comunidades e contribuem com a educação ambiental e conscientização no seguinte vídeo:<https://www.youtube.com/watch?v=ezDTYUm4BVs>. Acesso em: 26 out. 2015.Projetos como esse podem ser iniciados nas escolas e se expandirem para toda a comunidade, atingindo crianças, jovens e adultos.

Esse sentimento de compreensão frente à importância da educação ambiental existe há algum tempo, por exemplo, na Declaração de Estocolmo em 1972. O seu princípio 19 já determinava desde então a essencialidade da educação ambiental, favorecendo o público e formando assim a opinião pública e uma conduta

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consciente das pessoas e empresas no sentido da proteção e melhoria do ambiente e todos os fatores que o permeia (TOALDO; MEYNE, 2013). A conscientização e a compreensão da complexidade do meio ambiente seriam a chave do processo. Observe na imagem a seguir.

Fonte: Disponível em: <http://www.ra-bugio.org.br/manutencao/uploaded/petro2.jpg>. Acesso em: 26 out. 2015.

Figura 4.13 | Alunos nas atividades de educação ambiental de interpretação de trilha no centro interpretativo da Mata Atlântica.

O desenvolvimento e o destaque das políticas ambientais, principalmente nos países em desenvolvimento, vêm tornar a educação ambiental cada vez mais necessária. No artigo 225, §1º, VI, da Constituição Federal e pela Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, determina-se que a educação ambiental deve ser estimulada e abranger todos os níveis de ensino, promovendo a conscientização pública para a preservação (TOALDO; MEYNE, 2013).

Conheça a Declaração do Rio de Janeiro sobre a Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf>. Acesso em: 26 out. 2015.

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Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), implantados a partir de 1998 e fortemente difundidos nas séries referentes ao ensino fundamental, implantaram os chamados temas transversais, aqueles que permeiam todas as disciplinas dos alunos. Esses temas prezam pelo fortalecimento dos princípios de cidadania nos alunos, trabalhando temas como: meio ambiente, ética, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo (BRASIL, 2008).

O tema transversal “meio ambiente” abriu espaço para o campo da educação ambiental nas escolas. Desde então esse tema poderia ser trabalhado de forma ampla com os alunos por meio de diferentes atividades.

Para a implantação de tal projeto na rede de ensino, o MEC estabeleceu o programa Capacitação de Multiplicadores em EA, uma vez que com os novos temais propostos pelos PCN há a uma inovação no processo de ensino, envolvendo alunos, professores, funcionários e comunidade. A formação dos professores foi o principal alvo do programa, estabelecendo processos que são guiados desde a análise de problemas socioambientais até o planejamento voltado à educação ambiental. Da mesma maneira, os Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola (PAMA) também vieram com a intenção de proporcionar ferramentas aos professores em sua formação, que deveria ser continuada (BRASIL, 2008; PEDRINI, 2002).

Para saber mais detalhes sobre a formação de multiplicadores para educação ambiental bem como a avaliação de um programa de Educação Ambiental do Ministério da Educação, acesse o documentos disponível no link:<http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2011/04/multiplicadores-para-educacao-ambiental.pdf> >. Acesso em: 26 out. 2015.

Como programas de capacitação em educação ambiental poderiam colaborar para realidades fora das escolas?

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A educação ambiental também pode ser aplicada no cenário empresarial. Conheça essa perspectiva de acordo com o texto do link a seguir:<http://www.sobreadministracao.com/como-a-educacao-ambiental-para-funcionarios-pode-beneficiar-sua-empresa/> . Acesso em: 26 out. 2015.

Dois importantes eventos aconteceram em 2003 em Brasília: a I Conferência Nacional do Meio Ambiente, que abordou o tema “Vamos Cuidar do Brasil”, e a I Conferência Nacional Infantojuvenil do Meio Ambiente. Em suma, esses eventos prezaram pelo estabelecimento e consolidação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), analisar a situação ambiental do país, promovendo assim a educação ambiental nas escolas (BRASIL, 2008).

Conheça melhor sobre as Conferências Nacionais pelo Meio Ambiente e o projeto Vamos Cuidar do Brasil com escolas sustentáveis no vídeo:<https://www.youtube.com/watch?v=n2wSGUXEWd0>. Acesso em: 26 out. 2015.Além do vídeo, para saber mais detalhes sobre os princípios e bases do projeto Vamos Cuidar do Brasil, acesse o documento disponível no link:<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao3.pdf>. Acesso em: 26 out. 2015.

Como comentado, o Vamos Cuidar do Brasil (um projeto do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, com a colaboração dos Ministérios do Meio Ambiente e Educação) estabelece a criação das Com-Vidas (Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola), com a intenção de que todas as atividades de educação ambiental extrapolem o âmbito escolar e promovam o aprendizado e, até, a transformação de todos nós (Figura 4.14).

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Fonte: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/imagem/0000002538/md.0000030861.jpg>. Acesso em: 26 out. 2015.

Figura 4.14 | Simples atividades que visem à reutilização de materiais que seriam jogados no lixo, conscientização sobre a reciclagem, plantio de mudas e sementes de plantas, dentre outras, são desenvolvidas com as crianças dentro das Com-Vidas.

Com-Vida é uma organização, nas escolas, que visa desenvolver e acompanhar a Educação Ambiental de forma permanente e continuada, envolvendo a comunidade. Estudantes são os principais articuladores da Com-Vida. Seu principal objetivo é potencializar as ações de educação ambiental nas escolas do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e de ensino médio, por meio da criação e manutenção de um espaço democrático e participativo que congregue toda a comunidade escolar e fomente iniciativas voltadas para a sustentabilidade socioambiental e para a melhoria da qualidade de vida na escola e sua comunidade, assim como o diálogo sobre temas socioambientais contemporâneos.

Vamos aprender mais sobre o Com-Vida assistindo ao vídeo a seguir indicado e analisando as ações sustentáveis desenvolvidas em uma escola, de forma que consigamos visualizar todo o processo na prática:<https://www.youtube.com/watch?v=1undjnTLqAw> (acesso em: 26 out. 2015).

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Quais setores das escolas devem estar articulados na implantação de projetos sustentáveis?

Os Censos Escolares do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) comprovam que a educação ambiental foi amplamente disseminada nas escolas e aplicadas como parte dos assuntos presentes nos currículos. O que nos surpreende é que algumas escolas já vinham implantando temas referentes à Educação Ambiental e ao meio ambiente ativamente nas turmas desde a convenção Rio-92, visto que esta convenção, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, já discutiu e levantou alguns pontos referentes às questões ambientais (BRASIL, 2008).

Conheça melhor a definição sobre Censos Escolares na página do INEP:<http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em: 26 out. 2015.

Alguns pontos levantados por Reigota (2009) acerca da aplicação prática da educação ambiental são pertinentes à nossa formação. Vamos considerar tais pontos dentro dos conteúdos trabalhados, da metodologia aplicada, da avaliação realizada e dos recursos didáticos segundo o autor!

1) Os conteúdos não devem ser estritamente específicos, uma vez que os pontos trabalhados dentro da temática da educação ambiental devem obedecer à problemática ambiental vivida no cotidiano dos alunos, a qual deve ser resolvida. Não deve haver a transmissão específica de acepções específicas da biologia ou geografia, porém alguns conceitos básicos devem ser compreendidos pelos alunos, mas de maneira natural.

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2) Os métodos para a aplicação da educação ambiental são diversos e muito particulares. Em suma, eles devem obedecer aos padrões estabelecidos pelo professor, com base no nível de seus alunos e das temáticas atuais que possam ser abordadas. O professor deve ser sempre criativo ao abordar os assuntos com seus alunos.

3) Alguns conteúdos que podem ser trabalhados de forma interdisciplinar nas atividades de educação ambiental são: saneamento básico, extinção de espécies, poluição, efeito estufa, biodiversidade, reciclagem do lixo, entre outros. Como os conceitos são trabalhados de forma interdisciplinar, cada disciplina contribui com seus pontos específicos.

4) A avaliação dos alunos depende muito dos objetivos da prática aplicada. Basicamente, elas devem seguir o sentido da exploração da solução dos problemas ambientais levantados.

5) Os recursos didáticos empregados são variados, mas sua eficácia dependerá de como o professor os aplica e de sua criatividade (Figura 4.15).

Na realização da educação ambiental, podemos empregar os métodos: – Passivo (em que só o professor fala). – Ativo (em que os alunos realizam experiências sobre o assunto).– Descritivo (em que os alunos aprendem definições de conceitos e descrevem o que observaram em trabalhos de campo).– Analítico (em que os alunos completam suas descrições com mais informações e respondem questões sobre o tema).– Interdisciplinar (em que professores de diferentes disciplinas trabalham um mesmo tema).– Histórias de vida (em que os alunos fazem um levantamento de histórias relacionadas com o tema).– Pedagogia do projeto (em que toda a escola – até mesmo os pais – se envolvem no estudo de um tema específico).

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Fonte: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c6/Heep_Hong_healthy_kids_nursery_school.JPG/800px-Heep_Hong_healthy_kids_nursery_school.JPG>. Acesso em: 26 out. 2015.

Figura 4.15 | Apresentações escolares são atividades simples mas criativas e efetivas

O professor pode trabalhar a educação ambiental juntamente com a política dos 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar)! Confira no link a seguir:<http://www.futuroprofessor.com.br/educacao-ambiental-3rs>. Acesso em: 26 out. 2015.

Trabalhos como o de Marques et al. (2014) enfatizam a importância da formação da consciência ecológica nos alunos durante o trabalho dos tópicos relacionados com a educação ambiental. Os autores discutem as dificuldades que são encontradas ao se trabalhar a quebra de conceitos em nossos alunos no sentido da preservação e uso consciente dos recursos naturais. Devemos tomar algumas medidas capazes de sensibilizar a população e transformar o seu modo de pensar. Introduzir novos conceitos e moldar a consciência de nossos alunos (especialmente os de ensino fundamental) pode ser o primeiro passo na influência ambiental positiva da sociedade.

Barbosa (2010) desenvolveu em seu trabalho uma análise sobre como a educação ambiental vem sendo implementada e desenvolvida nas escolas. O autor

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notou que, nas escolas em questão, os princípios vigentes na legislação brasileira são aplicados, visando realizar atividades permanentes com os alunos, trabalhando a formação de professores e envolvendo a comunidade local, processos que, embora possam ser melhorados, são destaque. Essa é a melhor maneira de implantar e realizar a educação ambiental nas escolas!

Freitas et al. (2012) destaca que a educação ambiental pode apresentar uma ênfase no contexto tanto familiar quando escolar, bem como um caráter interdisciplinar. O educador, por meio de suas ferramentas e técnicas – deve reconhecer sua importância enquanto agente modelador de conceitos nos alunos e na sociedade, em que os conceitos devem transcender a sala de aula e acompanhar a globalização.

Por fim, em sua experiência com o trabalho da educação ambiental, Cuba (2010) enfatiza que a aplicação do tema no contexto escolar é desafiadora e muito prazerosa, tendo em vista sua importância para o desenvolvimento das gerações futuras com sustentabilidade. E, assim como os outros autores, reflete sobre a importância da participação da escola e da comunidade na postura da sociedade perante questões ambientais.

1. Os projetos nas escolas devem ser pensados pelos professores e também pela equipe pedagógica, a fim de envolver a comunidade escolar como um todo. A qualidade dos projetos não está atrelada apenas à estética de sua exequibilidade, mas na significância daqueles para a sociedade. São exemplos de projetos que buscam um ensino e uma aprendizagem qualitativos:a) O lúdico na construção de atividades: o jornal da escola, para informar aos estudantes e professores os acontecimentos da escola.b) O lúdico na construção de atividades: a horta da escola, para envolver a comunidade escolar, apenas para fins lucrativos.c) O lúdico na construção de atividades: economizando energia na escola, buscando a conscientização sobre os recursos naturais e maneiras de economizar.d) O lúdico na construção de atividades: pintando a escola, para que a escola possa ser um ambiente mais agradável ao estudo, não levando em conta os recursos naturais.

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e) O lúdico na construção de atividades: brincando na escola, pois a escola é um ambiente que abarca objetivos pedagógicos, populares e ambientais.

2. Leia a citação a seguir:[...] a transformação começa na consciência, nas referências conceituais internalizadas que se confundem com o modo de ser da pessoa. Então é preciso um exorcismo porque os homens em geral... ao fazer uso do título “Pedagogia de Projetos” que, na verdade, na maioria das propostas, trata-se de “Método de Projetos”, reduz-se a teoria que o acompanha à análise e construção de objetivos circunstanciais e instrumentais, reproduzindo, em última instância, o “modus vivendi” do sistema hegemônico, ou seja, substitui o referencial teórico original pelas referências das pedagogias tradicional e tecnicista. Com o termo “objetivos específicos” terminam por justificar a delimitação das aulas aos conteúdos específicos. (SANTOS, 2006, p. 5).

A Pedagogia de Projetos é bastante discutida nas pesquisas educacionais, mas a corrente teórica que iniciou os debates acerca desta temática foi a:

a) Escola Piagetiana. b) Escola Nova.c) Escola Tradicional.d) Escola Montessoriana.e) Escola de Skinner.

Aproveite a leitura desta unidade para se atualizar em relação aos conceitos discutidos e analisados e para conseguir utilizá-los enquanto acadêmico e também em sua prática enquanto professor de Geografia. Um bom professor, afinal, não se afasta das leituras acadêmicas. Além disso, por nosso estudo estar

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relacionado à legislação (como Política Nacional de Educação Ambiental e a Política Nacional de Resíduos Sólidos), é importante você se atentar às reportagens e aos decretos que aparecerão a fim de conhecê-los e analisá-los criticamente. Lembre-se de que a reprodução de conteúdo deve ser evitada tanto nos ambientes escolares como em sua formação.

Esta unidade contribuiu para que você aprendesse sobre a articulação entre as políticas públicas e o ensino de Geografia, a partir da temática dos recursos naturais. Os recursos naturais foram debatidos em todas as unidades. Nesse sentido, acredita-se que a identificação deles para você se tornou mais eficiente e eficaz, o que torna o processo de ensino e aprendizagem mais sólido. Aproximar os debates como as construções das políticas públicas em forma de projetos na escola é papel de todo o corpo docente e equipe gestora. No entanto, quando o ato parte do docente de Geografia a atitude é singular, visto que você poderá elencar conceitos geográficos para serem discutidos e até mesmo construídos pela realidade dos alunos com base nos conhecimentos prévios deles. E lembre-se de que a sustentabilidade, a educação ambiental e os recursos naturais, além de não serem apenas temas de datas comemorativas, devem fazer parte do planejamento do professor de Geografia para que sejam trabalhados em sala de aula constantemente e sempre que possível de maneira interdisciplinar.

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1. Referente à Política Nacional de Educação Ambiental, são considerados princípios básicos:I - O enfoque humanista, holístico, democrático e participativo.II- A concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque das vertentes econômicas.III - O pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva de práticas tradicionais.IV- A vinculação entre a ética, a moral, o naturalismo e o trabalho.

Assinale a alternativa correta:a) Apenas o item I é verdadeiro.b) Apenas o item II é verdadeiro.c) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.d) Apenas o item IV é verdadeiro.e) Apenas os itens I e IV são verdadeiros.

2. A Educação Ambiental, no que diz respeito às modalidades de ensino, deve estar presente, seja em instituições públicas, seja em instituições privadas, assegurando seu ensino na:a) Educação básica e no ensino superior.b) Educação básica e no ensino de jovens e adultos.c) Educação básica, na educação especial e na educação profissional.d) Educação básica, no ensino de jovens e adultos, no ensino superior, no ensino profissional e na educação especial.e) Educação básica, na educação especial e no ensino superior.

3. É ação que simboliza o desenvolvimento sustentável nas escolas:a) Exposição de cartazes com mapas sobre a devastação de matas nativas no Brasil.b) Criação de uma sala de aula ao ar livre.c) Utilização das lixeiras recicláveis, mesmo que selecionando o lixo de maneira errada.d) Plantio de mudas de árvore próximo da escola, mesmo sem a identificação delas, pois o que se deve considerar é o plantio.

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e) Exposição de cartazes que ilustrem a retirada de pneus de uma área inapropriada próxima da escola.

4. De acordo com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, os lixões no Brasil não poderão continuar existindo para que seja implantado o uso de aterros. Considere as afirmativas a seguir e depois assinale a alternativa correta:I- O prazo final para o fim dos lixões já foi encerrado, e os municípios brasileiros cumpriram a legislação em sua totalidade.II- A Política Nacional dos Resíduos Sólidos não estabeleceu prazos para que os lixões sejam inativados.III- Os lixões ocupam pouco espaço no território brasileiro e não provocam danos ambientais.IV- A diferença entre o aterro e os lixões é a de que o primeiro corresponde a uma área sem preparo para receber as toneladas de resíduos sólidos – além de gerar o chorume, o que pode prejudicar o lençol freático. Os aterros, por sua vez, possuem estrutura para receber os resíduos sólidos a fim de emitir poluentes.

a) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.b) Apenas os itens II e III são verdadeiros.c) Apenas o item IV é verdadeiro.d) Apenas o item I é verdadeiro.e) Apenas os itens I e IV são verdadeiros.

5. As lixeiras recicladoras estão em grande parte do território nacional, mas muitas vezes são utilizadas de maneira incorreta. Analise as afirmativas a seguir e depois assinale a alternativa correta:I- O papel toalha que utilizamos para amenizar o óleo de frituras pode ser reciclado.II- Os potes de vidro quebrado não precisam de proteção ao serem colocados nas lixeiras.III- Os papéis secos podem ser reciclados.IV- As latas de refrigerante podem ser recicladas, desde que limpas e também amassadas.

a) Apenas os itens I e II são verdadeiros.b) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.c) Apenas o item III é verdadeiro.d) Apenas os itens II e IV são verdadeiros.e) Apenas os itens II e III são verdadeiros.

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6. A Agenda 21 Global é um programa de ação baseado em um documento de 40 capítulos. Analise as afirmativas a seguir e depois assinale a alternativa correta: I- Sua implementação não exigia recursos financeiros, pois corresponde a um compromisso político no nível mais alto no que diz respeito ao desenvolvimento e à cooperação.II- A adoção de medidas para promover padrões de consumo e produção que ampliem as pressões ambientais, atendendo às necessidades básicas da humanidade, é um de seus objetivos.III- Os estados ribeirinhos, com recursos hídricos fronteiriços, devem formular estratégias e preparar programas de ação relativos a esses recursos, desobrigando-se da harmonização entre estratégias e programas de ação.IV- Os países em processo de desenvolvimento precisam expandir padrões elevados de consumo a fim de garantir o atendimento das necessidades básicas dos empobrecidos.V- Os programas de trabalho destinados a promover a segurança dos produtos químicos têm repercussões internacionais, pois seus riscos ignoram as fronteiras nacionais, sendo necessário redobrar os esforços coletivos para conseguir um manejo ambientalmente saudável desses produtos.

a) Apenas os itens I e II são verdadeiros.b) Apenas o item IV é verdadeiro.c) Apenas os itens II e III são verdadeiros.d) Apenas os itens III e V são verdadeiros.e) Apenas o item V é verdadeiro.

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