rastros 08.13
DESCRIPTION
Resenha: Imagens da cidadeTRANSCRIPT
Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação
114
Ano VIII - Nº 8 - pág 114 - pág 115 - Outubro 2007
Rosimeri Fabiane Back *
PRYSTHON, Ângela (Org.). Imagens da cidade: espaços urbanos nacomunicação e cultura contemporâneas. Porto Alegre: Sulina, 2006.
Resenha
“Não se trata aqui de uma informação visual ape-
nas, mas de uma informação conceitual, uma construção
imaginária complexa montada a partir de fragmentos
de realidade midiática que apontam para um sentido.”
Assim define a imagem o professor Eduardo Duarte,
um dos autores do livro, que conta com 14 artigos de
17 pesquisadores e discorre sobre as transformações,
relações e representações entre meios de comunicação
e cultura no cenário urbano contemporâneo.
A idéia de reunir os artigos surgiu quando foram
apresentados no I Simpósio Espaços Urbanos na Comu-
nicação Contemporânea. Durante dois dias, o evento
do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal de Pernambuco promoveu discus-
sões sobre a construção das imagens e as linguagens
do espaço urbano. A obra, assim como foi o simpósio, é
dividida em quatro pontos: espaços midiáticos, cidades
em rede, música urbana e retratos das margens.
Abrindo a reflexão, no artigo As cidades literá-
rias e a recriação comunicativa dos espaços urba-
nos, a professora Celia Romea Castro assegura que “a
televisão incide, com sua poderosa cotidianidade, no
desenvolvimento de uma memória coletiva, apresentan-
do realidades, mas também forjando estereótipos”. Ela
evoca o sentimento de solidariedade provocado quando
notícias e imagens de catástrofes chegam às residências
por meio da televisão. Por exemplo, no caso das vítimas
do atentado ao World Trade Center em 2001. Como
um dos “rótulos usuais” de Nova York é o de “capital
do mundo”, são passados símbolos com “histórias cine-
matográficas, romanceadas ou televisionadas”, a fim de
atrair turistas do mundo todo para o agora “groundze-
ro”. No Brasil, a “imagem sonhada” é facilmente notada
no Rio de Janeiro, com o Cristo Redentor, o Maracanã
e o Carnaval, entre outros símbolos.
Para a doutora em Comunicação e Semiótica pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Yvana
Fechine, há um novo sentido em torno do espaço ur-
bano. O homo eletronicus (termo de Román Gubern)
transpôs a noção de cidade como “palco” de encontro,
por meio da dissipação de limites físicos que a teleco-
municação passou a proporcionar. No artigo Espaço
urbano, televisão, interação, a jornalista cita Pierre
Lévy para explicar que, após essa reconfiguração, con-
templa-se não mais um “espaço físico (geográfico)”, e
sim um “espaço prático”, no qual emissores e receptores
podem experimentar “uma mesma temporalidade”, num
“mesmo lugar”. “É nesse lugar construído pelos meios, e
em particular pela TV, que se dá hoje preferencialmente
nossa experiência urbana.”
Ainda em Espaços midiáticos, a doutora em
Lingüística pelo Instituto de Estudos da Linguagem da
Unicamp, Cristina Teixeira Vieira de Melo, no artigo Ci-
dade dos Homens, a periferia no universo do visível,
aponta que o seriado exibido pela Rede Globo é capaz de
contradizer estereótipos em torno da favela ao mostrar
* Acadêmica do quarto período do curso de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc e estagiária voluntária do Necom (Núcleo de Estudos em Comunicação).
115
Ano VIII - Nº 8 - Outubro 2007
essa realidade sob a visão dos próprios moradores. “Não
apenas os episódios tematizam as relações assimétricas
de dominação e subordinação entre culturas díspares,
como a própria inserção do seriado na grade de pro-
gramação da emissora sinaliza para novos contratos de
sociabilidade entre aqueles que sempre tiveram vez e
voz na TV e ‘os outros’”.
Em Cidades em rede, a jornalista e doutora em
Lingüística Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes, no
artigo Cidades e divulgação do conhecimento cien-
tífico, analisa o panorama brasileiro de popularização
da ciência e aponta a necessidade de conhecimentos
científicos não só para evitar que a população seja
vitimada, como também para conscientizá-la sobre a
preservação e a limpeza do espaço urbano. “A produção
de conhecimento científico e sua divulgação são etapas
de um mesmo processo. O ciclo de uma atividade cientí-
fica possui elementos que se retroalimentam: construir,
divulgar e aplicar são ações dos atores que participam
do ciclo processual do fazer ciência.” No mesmo eixo
estão os artigos O ciberespaço como cidade ideal:
sobre os estranhos destinos de uma metáfora urbana,
do doutor em Literatura Comparada pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, Erick Felinto; e Desejo de
cidade – múltiplos tempos, das múltiplas cidades, de
uma mesma cidade, de Eduardo Duarte.
O terceiro eixo temático, Música urbana, traz
textos como Mídia e música popular massiva: dos
gêneros musicais aos cenários urbanos inscritos nas
canções, do professor Jeder Janotti Junior; Mangue-
bit e gentrification: relações entre cultura e espaço
urbano em Recife, da doutora em sociologia pela Uni-
versidade de Paris VII, Lília Junqueira; e Repensando
a resistência juvenil: música, política e a recriação
do espaço público, do doutor em Literatura Brasileira
pela PUC-Rio, João Freire Filho.
“Não se pode mais analisar as manifestações cul-
turais regionais apenas a partir da ótica da conservação
de registros ou da noção de um patrimônio cultural a
ser preservado”, afirmam os pesquisadores Marcelo
Kischinhevsky e Micael Herschmann, no artigo A nova
música regional no Brasil. A abordagem menciona a
dinâmica da produção e do consumo que transformou
o hibridismo da música regional em uma relação rentá-
vel para a indústria cultural globalizada. Observa-se o
Manguebit – movimento musical que surgiu no Recife
e mistura a música regional com outros estilos (rock,
hip hop etc) desde a década de 90, a fim de produzir
um cenário musical repleto de diversidades, assim como
um mangue.
Em Retratos das margens, abordam-se temas
como Margens da paisagem: cultura midiática e
identidades sociais, da doutora em Ciências da Co-
municação pela ECA-USP, Rosana de Lima Soares;
A representação visual da memória. Imagens e
melancolia na cidade periférica, do doutor em artes
pela Universidade de Paris I, Paulo C. Cunha Filho; e
Da pobreza à barbárie: a mudança na imagem da
favela no noticiário de crime, por Paulo Vaz, Carolina
Sá-Carvalho e Mariana Pombo.
A organizadora do livro, Ângela Prysthon, fecha
a obra com um olhar sobre as metrópoles latino-ame-
ricanas sob os efeitos do (ir)real em um “movimento
rumo a uma urbanidade híbrida, periférica e tão pecu-
liarmente cosmopolita: o cinema”. “As cidades visíveis
do cinema formam uma boa amostra da relação quase
sempre paradoxal entre mídia e memória, e, de uma
certa forma, também entre o real e o mito.”