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Questão 53 - Do movimento local dos anjos. - Suma Teologíca - Sto. Tómas de Aquino

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Sumateolgica

Tomas de Aquino

Prima pars

PRIMEIRA PARTE

Questo 53: Do movimento local dos anjos.

Em seguida devemos tratar do movimento local dos anjos. E, sobre assunto, trs artigos se discutem:

Art. 1 Se o anjo pode mover-se localmente.

(I Sent., dist. XXXVII, q. 4, a. 1; Opusc.XV, De Angelis, cap. XVIII)

O primeiro discute-se assim. Parece que o anjo no pode mover-se localmente.

1. Pois, como o Filsofo o prova,nenhum ser indivisvel pode mover-se1,nem enquanto est no ponto de partida porque ento ainda no se move; nem quando j est no de chegada, porque, ento, j se moveu. Donde resulta que tudo o que se move est, enquanto em movimento, parte, no ponto de partida e, parte, no de chegada. Ora, o anjo, indivisvel. Logo, no pode mover-se localmente.

2. Demais O movimento oato do ser imperfeito, como diz Aristteles2. Ora o anjo bem-aventurado no imperfeito. Logo, o anjo bem-aventurado no pode mover-se localmente.

3. Demais. O movimento supe a carncia. Ora, nenhuma carncia h nos santos anjos. Logo, eles no se movem localmente.

Mas,em contrrio, pela mesma razo pode mover-se o anjo bemaventurado e a alma bem-aventurada. Ora, necessrio admitir-se que esta se move localmente, pois artigo de f que a alma de Cristo desceu aos infernos. Logo, o anjo beato se move localmente.

SOLUO. O anjo beato pode mover-se localmente; mas, como o estar em um lugar convm equivocamente ao corpo e ao anjo, o mesmo se d com o mover-se localmente. Pois, o corpo est em um lugar enquanto por este contido e comensurado. E por isso necessrio tambm seja o movimento local do corpo comensurado pelo lugar e submetido s exigncias destes. Donde resulta que, tal a continuidade da grandeza, tal a do movimento; e a anterioridade e a posterioridade na grandeza, so correlatas s do movimento local do corpo, como diz Aristteles3. Mas o anjo no est num lugar como comensurado e contido, seno, antes, como continente. Por onde, no h-de necessariamente o movimento local do anjo ser comensurado pelo lugar, nem submetido s exigncias deste, de modo a ter continuidade local; mas um movimento no contnuo. Assim, no estando o anjo em um lugar seno pelo contato da sua virtude, como j se disse4, o movimento local do anjo no ser, por fora, seno os seus diversos contatos com os diversos lugares sucessiva e no simultaneamente, porque o anjo no pode estar simultaneamente em vrios lugares, como antes se disse5. Ora, no necessrio sejam tais contatos contnuos, pois, pode existir neles certa continuidade. Porquanto, como j ficou dito6, nada impede se assinale ao anjo um lugar divisvel pelo contato da sua grandeza. Por onde, assim como o corpo deixa, sucessiva e no simultaneamente, o lugar em que primeiro estava, e isso lhe causa a continuidade no seu movimento local; assim tambm o anjo pode deixar, sucessivamente, o lugar divisvel em que primeiro estava e, assim, o seu movimento ser contnuo. Mas como tambm pode deixar, simultaneamente, todo um lugar, e aplicar-se do mesmo modo e totalmente a outro, o seu movimento no ser contnuo.

DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Esta objeo falha, duplamente, o fim que visou. Primeiramente, porque a demonstrao de Aristteles serve para o indivisvel quantitativo, ao qual corresponde um lugar necessariamente indivisvel; o que se no pode dizer do anjo. Segundo, porque a dita demonstrao serve para o movimento contnuo. Pois, se o movimento no fosse contnuo, podia dizer-se que uma coisa se move estando no ponto de partida e no de chegada; porque, se chamaria movimento sucesso das diversas posies, relativamente mesma coisa: e ento esta poderia considerar-se como movendo-se, em qualquer das posies que ocupasse. Mas a continuidade do movimento tal no permite, pois nenhum contnuo est no seu termo, como se v pela linha, que no est no ponto; donde necessariamente resulta, que tudo o que se move no est totalmente, enquanto em movimento, em nenhum dos termos, mas, parte, em um e, parte, em outro. Ora, no sendo contnuo o movimento do anjo, a demonstrao de Aristteles no colhe, no caso. Mas se o for, pode se conceder que o anjo, enquanto se move, est, parte, no ponto de partida e, parte, no de chegada; sem que todavia essa parcialidade se refira substncia do anjo, mas ao lugar. Porque, no inicio do seu movimento contnuo, o anjo est no lugar divisvel total, donde comeou a mover-se; mas, durante o seu movimento, est numa parte do primeiro lugar, que abandona, e noutra do segundo, que ocupa. E o poder ocupar partes de dois lugares convm ao anjo porque ele pode ocupar um lugar divisvel pela aplicao de sua virtude, assim como o corpo pela da sua grandeza. Donde se segue que o corpo mvel localmente divisvel pela grandeza; o anjo, porm, pode aplicar a sua virtude a algo de divisvel.

RESPOSTA SEGUNDA. O movimento do que existe em potncia o ato do imperfeito. Mas o resultante da aplicao de uma virtude prprio a um ser atual, pois um ser tem virtude enquanto atual.

RESPOSTA TERCEIRA. O movimento do ser potencial supe a carncia deste; mas no supe o do ser atual, pois, ao contrrio, tal movimento por carncia de outro ser. E, desse modo, o anjo se move localmente por causa da nossa carncia, conforme a Escritura (Hb 1, 14):Todos os espritos so uns administradores, enviados para exercer o seu ministrio a favor daqueles que ho de receber a herana da salvao.

1. IV Physic. (lect. V, XII).

2. III Physic. (lect. III).

3. IV Phys. (lect. XVII).

4. Q. 51, a. 2.

5. Ibid., a. 2

6. Ibid.

Art. 2 Se o anjo atravessa uma posio mdia.

(I Sent., dist. XXXVII, q. 4, a. 2; Quodl.I, a. 3, a. 2).

O segundo discute-se assim. Parece que o anjo no atravessa nenhuma posio mdia.

1. Tudo o que atravessa uma posio mdia antes de atravessar um lugar que lhe seja maior atravessa um que lhe seja igual. Ora, o anjo sendo indivisvel, o lugar que lhe igual o prprio ao ponto. Se portanto o anjo, no seu movimento, atravessa uma posio mdia, necessariamente h-de percorrer pontos infinitos, no seu movimento, o que impossvel.

2. Demais. O anjo tem uma substancia mais simples do que a nossa alma. Ora, esta pode, pelo pensamento, passar de um extremo a outro sem passar pelo meio; assim, posso pensar na Glia e depois na Sria, sem pensar na Itlia, que est no meio. Logo, com maioria de razo, pode o anjo passar de um extremo a outro sem passar pelo meio.

Mas,em contrario, se o anjo se move de um lugar para outro, quando tiver chegado j no se move, porque j se moveu. Ora, tudo o que j se moveu movia-se, precedentemente, e portanto movia-se em algum lugar. Porm, se ainda no se movia, quando estava no ponto de partida, necessariamente havia de mover-se quando estava no meio. E assim foroso que o anjo atravesse uma posio mdia.

SOLUO. Como j ficou dito antes, o movimento local do anjo pode ser contnuo ou no contnuo. Se, pois, for contnuo, no pode o anjo mover-se de um extremo para outro, sem passar pelo meio. Porque, como diz Aristteles,o meio por onde passa o que se move continuamente, antes de chegar ao fim1;pois, a ordem de anterioridade e posterioridade, no movimento contnuo, correlata de anterioridade e posteridade na grandeza, como diz o mesmo Filosofo2. Se, porm, o movimento no for contnuo, possvel que o anjo atravesse de um extremo a outro, sem passar pelo meio. O que assim se demonstra. Entre dois lugares extremos quaisquer h infinitos lugares mdios, sejam esses lugares divisveis ou indivisveis. Se indivisveis, a questo clara; pois, entre dois pontos quaisquer, h infinitos pontos mdios, porque dois pontos de modo nenhum podem se seguir um ao outro sem um meio termo, como o prova o Filosofo3. E o mesmo se deve necessariamente dizer dos lugares divisveis, o que se demonstra pelo movimento contnuo de qualquer corpo. Pois um corpo no se move de um lugar para outro sem ser num determinado tempo. Ora, nesse tempo total, que mede o movimento do corpo, no se podem tomar doismomentosnos quais o corpo que se move no esteja num lugar ou noutro; pois, se em ambos osmomentosele estivesse num e mesmo lugar, resultaria que nesse lugar estaria em repouso, porque o estar em repouso no seno o estar num mesmo lugar em todos os momentos. Ora, como entre o primeiro e o ltimomomentodo tempo, que mede o movimento, h infinitosmomentos, resulta que, entre o primeiro lugar, donde comeou o movimento, e o ltimo, no qual terminou, h infinitos lugares. O que tambm se declara, sensivelmente, da maneira seguinte. Seja, pois, um corpo de um palmo, e seja de dois palmos o caminho que ele percorre. Ora, manifesto que o primeiro lugar, donde comea o movimento, de um palmo; e o lugar onde ele termina de outro palmo. E claro que quando o corpo comea a mover-se, paulatinamente abandona o primeiro palmo e penetra no segundo. Portanto, na medida em que se divide a grandeza do palmo, na mesma se multiplicam os lugares mdios; porque, qualquer ponto tomado na grandeza do primeiro palmo princpio de um lugar, cujo termo o ponto tomado na grandeza do outro palmo. Por onde, sendo a grandeza divisvel ao infinito, e sendo tambm os pontos de qualquer grandeza potencialmente infinitos, segue-se que, entre dois lugares quaisquer h infinitos lugares mdios. Ora, o mvel s pode percorrer a infinidade destes pela continuidade do movimento; porque, assim como os lugares mdios so infinitos em potncia, assim tambm se devem admitir, no movimento contnuo, certos infinitos em potncia. Se, portanto, o movimento no for contnuo, todas as suas partes se contaro como atuais. E, por conseqncia, se um mvel qualquer se mover por um movimento no contnuo, resulta ou que no percorre todos os meios, ou que se contam meios infinitos como atuais, o que impossvel. Logo, se o movimento do anjo no for contnuo, no percorre todos os meios. Ora, mover-se de um extremos para outro, sem passar pelo meio, pode convir ao anjo, no porm ao corpo. Porque este, sendo medido e contido pelo lugar de necessidade h de obedecer s leis do lugar, no seu movimento. Mas a substncia do anjo no est sujeita ao lugar como contida por este, ao qual superior, como continente; por isso, no poder do anjo est o aplicar-se ao lugar, como quiser, quer por um meio termo, quer sem ele.

DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. O lugar do anjo considerado como lhe sendo igual, no pela grandeza deste, mas pelo contato da virtude; e assim o dito lugar pode ser divisvel e nem sempre ser da natureza do ponto. Todavia os lugares mdios, mesmo divisveis, so infinitos, como ficou dito; so, porm, percorridos pela continuidade do movimento, como resulta do que acaba de ser demonstrado.

RESPOSTA SEGUNDA. Movendo-se localmente, a essncia do anjo se aplica aos diversos lugares; a essncia da alma, porm, no se aplica s coisas nas quais pensa, antes nela que esto as coisas pensadas. Portanto no h ponto de comparao.

RESPOSTA TERCEIRA. No movimento contnuo, o ter-se movido no parte, mas termo do mover-se; donde resulta que o mover-se anterior ao ter-se movido. E por isso necessrio que tal movimento suponha uma posio mdia. Mas, no movimento no contnuo, o ter-se movido parte, como a unidade parte do nmero; por onde, a sucesso dos diversos lugares o que constitui tal movimento, mesmo sem posies mdias.

1. VI Physic. (lect. V).

2. IV Physic. (lect. XVII).

3. VI Physic. (lect. I).

Art. 3 Se o movimento do anjo instantneo.

(I Sent., dist. XXXVII, q. 4, a. 3; Quodl.IX, q. 4; XI, q. 4)

O terceiro discute-se assim. Parece que o movimento do anjo instantneo.

1. Pois, quanto mais forte for a virtude do motor, e quanto menos lhe resistir o mvel, tanto mais veloz ser o movimento. Ora, a virtude do anjo, que se move a si mesmo, excede sem proporo a do motor de qualquer outro corpo. Ora, como as velocidades so inversamente proporcionais ao tempo, e como qualquer tempo proporcional a outro, resulta que se um corpo qualquer se move no tempo, o anjo se move no instante.

2. Demais. O movimento do anjo mais simples do que quaisquer mutaes corpreas. Ora, certas so instantneas, como a iluminao; quer esta no se realize sucessivamente, como a calefao; quer o raio luminoso atinja o que est prximo primeiro que o remoto. Logo, com maior razo, o movimento do anjo se realiza no instante.

3. Demais. Se o anjo se move, no tempo, de um lugar para outro, claro que, no ltimo instante desse tempo, est no ponto de chegada. E assim, em todo o tempo precedente, esteve ou num lugar imediatamente precedente, considerado como ponto de partida, ou, parte, em um e, parte, em outro. Se, porm, se der esta ltima hiptese, segue-se que o anjo divisvel, o que impossvel. Logo, em todo o tempo precedente, esteve no ponto de partida. E, logo, a repousa, pois, estar em repouso estar sempre no mesmo lugar, como j se disse1. Donde se segue que o anjo no se move seno no ltimo instante do tempo.

Mas,em contrario, em toda mutao, h posies anteriores e posteriores. Ora, a prioridade e a posteridade, no movimento, contam-se pelo tempo. Logo, todo movimento se realiza no tempo, mesmo o do anjo, pois neste h posies anteriores e posteriores.

SOLUO. Alguns disseram que o movimento local do anjo instantneo; pois, movendo-se ele de um lugar para outro, esteve, em todo o tempo precedente, no ponto de partida; porm, no ltimo instante desse tempo est no ponto de chegada. E nem preciso haver um meio entre esses dois pontos, assim como nenhum meio h entre o tempo e o termo do mesmo; ao passo que, entre doismomentosdo tempo, h um meio. E por isso diziam no ser possvel admitir-se um ltimo instante, em que o anjo estava no ponto de partida; assim como na iluminao e na gerao substancial do fogo no se pode admitir um ltimo instante em que o ar foi tenebroso, ou em que a matria esteve sob a privao da forma gnea, mas, sim, um ltimo tempo tal que, no seu termo, h luz no ar ou forma gnea na matria. Assim, a iluminao e a gerao substancial chamam-se movimentos instantneos.

Mas tal explicao no colhe no caso vertente; o que assim se demonstra. Da natureza do corpo em repouso no estar em lugares diferentes, em tempos diferentes; logo, em qualquer dos instantes no primeiro, no mdio ou no ltimo do tempo que mede o repouso, o corpo est no mesmo lugar. Mas da essncia do movimento que o mvel esteja em lugares diferentes, em tempos diferentes, e, portanto, em posio diversa em qualquer instante do tempo que mede o movimento. Donde, no ltimo momento, h-de o corpo ter uma forma que antes no tinha e, assim, claro que permanecer sempre em alguma coisa, por ex., na brancura, estar nela em qualquer instante de determinado tempo. E, por isso, no possvel que um mvel em todo tempo precedente repouse no ponto de partida e esteja, no ltimo instante do seu tempo, no ponto de chegada. Mas isto possvel no movimento, porque mover-se num tempo total qualquer no estar na mesma posio em qualquer instante desse tempo. Portanto, todas as mutaes instantneas so termos do movimento contnuo, assim como a gerao o termo da alterao da matria e a iluminao, o do movimento local do corpo iluminador. Porm o movimento local do anjo no o termo de nenhum outro movimento contnuo, mas um movimento prprio independente. Donde, impossvel dizer-se que o anjo estava, num tempo total, em certo lugar, e, no ltimo instante, em outro; mas necessrio determinar um instante em que esteve, ultimamente, no lugar precedente. Onde, porm, h muitos momentos sucedendo uns aos outros, ai h necessariamente tempo, pois este no seno a sucesso do anterior e do posterior no movimento. Donde resulta que o movimento do anjo se realiza no tempo contnuo se o seu movimento for contnuo; no contnuo, se assim o for. Pois tal movimento pode realizar-se desses dois modos, como j se disse2. Ora, a continuidade do tempo provm da do movimento, como diz o Filsofo3.

Mas esse tempo, contnuo ou no, no idntico ao que mede o movimento do cu e pelo qual se medem todos os seres corpreos, donde resulta a mutabilidade deles. Pois, o movimento do anjo no depende de tal movimento.

DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Se o tempo do movimento do anjo no for contnuo, mas uma sucesso dos instantes mesmos, no ter proporo com o tempo contnuo, que mede o movimento dos seres corpreos, pois no tem a mesma natureza deste. Se porm for continuo, ter a proporo dita, no por causa do motor e do mvel, mas por causa das grandezas nas quais se opera o movimento. Alm disso, a velocidade do movimento do anjo no depende da quantidade da sua virtude, mas da determinao da sua vontade.

RESPOSTA SEGUNDA. A iluminao termo do movimento e alterao; no porm, movimento local como significando que a luz se move primeiro para o que lhe prximo do que para o remoto. Ora, o movimento do anjo local e no termo do movimento. Por onde, no h smile.

RESPOSTA TERCEIRA. Essa objeo procedente em relao ao tempo continuo. Ora, o tempo do movimento do anjo pode ser no continuo; e assim o anjo pode, em um instante, estar num lugar e, em outro instante, noutro lugar, sem que exista nenhum tempo intermedirio. Se, porm, o tempo do movimento do anjo for continuo, este, em todo o tempo precedente ao ltimo instante, move-se por infinitos lugares, como antes j se exps4. Est, porm, parte, em um dos lugares contnuos e, parte, em outro; no que a substncia anglica seja divisvel, mas que se aplica a uma parte do primeiro lugar e a uma do segundo, como tambm j se disse antes5.

1. Q. 53, a. 2.

2. Q. 53, a. 1.

3. IV Physic. (lect. XVII).

4. Q. 53, a. 2.

5. Q. 53, a. 1.