qualidade da integração sensorial e organização
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Universidade do PortoFaculdade de Psicologia e de Cincias da Educao
Qualidade da Integrao Sensorial e
Organizao dos Comportamentos
de Vinculao na Criana
Maria Antnia de Oliveira Costa
Porto2000
Y
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Universidade do PortoFaculdade de Psicologia e de Cincias da Educao
ualidade da Integrao Sensorial
Maria Antnia de Oliveira Costa
Porto2000
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Dissertao de Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Educao da Criana
(Especialidade em Interveno Precoce) apresentada Faculdade de Psicologia e de
Cincias da Educao da Universidade do Porto, sob a orientao do Professor Doutor
Pedro Nuno A. Lopes dos Santos.
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Para atingir a verdade faltaim-nos dados que bastem, e processos
intelectuais que esgotem a interpretao desses dados."
Fernando Pessoa
Livro do Desassossego I
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IV
RESUMO
O presente trabalho procurou ver at que ponto h relao entre a
segurana da vinculao e a qualidade da integrao sensorial na criana.
Para o efeito foi seleccionada uma amostra de 40 dades me-beb,
integrando crianas de baixo risco, com idades compreendidas entre os 11 e
os 18 meses. Me e filho foram observados no contexto da Situao
Estranha (Ainsworthet ai, 1978) e as crianas foram avaliadas atravs doTeste de Funes Sensoriais (DeGangi & Greenspan, 1989). Os resultados
no mostraram relaes entre a qualidade do processamento da integrao
sensorial e os padres da vinculao. Paralelamente, constatou-se que um
score agregando quatro factores ambientais predizia o tipo de vinculao
manifestada pela criana (vinculao segura, insegura e atpica). Apesar do
Teste de Funes Sensoriais no ter apresentado qualquer valor prognstico
relativamente ao tipo de vinculao, verificou-se que uma boa qualidade no
processamento da informao sensorial poderia constituir um factor de
resilincia no processo de desenvolvimento da vinculao.
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ABSTRACT
The current study investigated potential relationships between
attachment's safety and the quality of child's sensory integration. For this
purpose a sample of 40 mother-child dyads was selected, comprising low
risk children between 11 and 18 months old. Mother and child were
observed within the scope of theStrange Situation (Ainsworthet al, 1978)
while children were evaluated through the Test of Sensory Functions in
Infants (DeGangi & Greenspan, 1989). The results did not show
relationships between the quality of the sensorial integration processing and
the attachment's patterns. Concurrently it was observed that a rank
comprising four environmental variables predicted the attachment type
exhibited by the child (secure, insecure and atypical attachment). Despitethe Test of Sensory Functions in Infants did not show any prognostic
advantage relatively to the attachment type, it was observed that the quality
of the processing of the sensory information may constitute a resilience
factor in the course of the attachment's development.
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RESUME
La prsente dissertation cherche vrifier s'il y a un rapport entre la
scurit de l'attachement et la qualit de l'intgration sensorielle chez
l'enfant. A cet effet, un chantillon de 40 paires maman/bb, avec des
enfants hors d'tat de risque, entre 11 et 18 mois a t slectionn. Mres et
enfants ont t observs en contexte deSituation Etrange (Ainsworthet al.,
1978) et les enfants ont t valus travers le"Test of Sensory Functions
in Infants ".(DeGangi & Greenspan, 1989). Les rsultats n'ont pas montr
des rapports entre la qualit du processus d'intgration sensorielle et les
modles d'attachement. Paralllement, on a constat qu'un score englobant
quatre facteurs concernant le milieu prdisait le type d'attachement
manifest par l'enfant (attachement scurisant, inscurisant et atypique).
Malgr que le "Test of Sensory Functions in Infants" n'est pas prsent
quelque valeur prognostique en ce qui concerne le type d'attachement, on a
vrifi qu'une bonne qualit dans l'attachement de l'information
sensorielle pourrait constituer un facteur de resilience dans le processus de
dveloppement de l'attachement.
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VII
Agradecimentos
O desenvolvimento do presente trabalho foi claramente benificiado por umsomatrio de apoios e encorajamentos que tive o privilgio de receber. Manifestando o
meu sincero reconhecimento a todos os que, por mltiplas formas, facilitaram a sua
elaborao -me grato salientar alguns contributos.
Ao Professor Doutor Pedro Lopes dos Santos pelo saber, rigor de anlise,
entusiasmo e apoio constantes, pela disponibilidade e encorajamento persistente, a
minha profunda gratido.
Ao Professor Doutor Joaquim Bairro pelos ensinamentos, pela postura pioneira
e inovadora, que por si sj uma grande lio.
Lena Fernandes, Amiga atenta e vigilante que soube alertar para a
possibilidade de concretizao de uma vontade...
Pela disponibilidade e colaborao de todas as Mes e Bebs que participaram
na investigao devo a minha gratido muito especial.
O processo de seleco da amostra e de recolha de dados s se tornou uma
realidade devido colaborao amvel e desinteressada de diversas Instituies da
cidade de Viseu; aos seus Directores e aos profissionais que a exercem actividade,particularmente, aos da Casa Infante D. Henrique e aos de Centro de Sade 2 de Viseu,
a todos agradeo vivamente.
Quero exprimir, com afecto, o meu reconhecimento s Educadoras Claudia
Luclia e Adelaide e Terapeuta Sandra pelo empenho e disponibilidade demonstradas.
A meu Pai pela ajuda imprescindvel e incondicional no processo de recolha dedados,no esquecendo o dinamismo do resto da "equipa", Joana e ao Virglio, o meu
obrigada.
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VIII
Marina, pela amizade, pelo incentivo, rigor de anlise, e disponibidade, a
minha gratido.
B pela colaborao pronta, generosa e de grande valia na reviso do texto, aminha gratido.
Marta e demais colegas do DAS pelas facilidades e compreenso nas horas de
sobrecarga de trabalho.
famlia, aos amigos, pelo encorajamento, ajuda e compreenso.
Aos colegas do mestrado, grupo unido e divertido, onde a inter-ajuda e
camaradagem no foram palavras vs.
Ao T, Sofia e Rute porque em vs que reside a fora para continuar a
caminhada.
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IX
ndice
Introduo 2
ParteI- Avinculaoe oimpactodefactores neuro-psico-fisiolgicos
Captulo1- ATeoriadaVinculao
1.1- Conceitos introdutriosTeoriadaVinculao 8
1.2- Comportamentosdevinculao 11
1.3- Vinculaoeinteriorizaoderelaes 141.4- Situao Estranha 16
1.4.1- PadresdecomportamentonaSituao Estranha 17
1.4.2-Estabilidadedospadresdevinculao 18
1.5-Padresdevinculaoeseus determinantes 20
1.6-Padresdevinculao atpicos 29
16.1-Classificao davinculao atpica 30
1.7-Vinculaoetemperamento 35
1.7.1- Alguns conceitosdetemperamento 36
1.7.2-Relaes temperamento-vinculao 37
1.8- Aestruturaodoprocessodevinculaonocrebroemdesenvolvimento 41
1.9-Sntese 44
Captulo2- Aperspectiva constitucio-maturacional
2.1 -AActividade regulatria 49
2.1.1-Regulao 49
2.1.2- Perturbaes regulatrias 50
2.1.3-Tiposdeperturbaes regulatrias 53
2.1.4- Dados para discusso 55
2.2-ATeoriadeIntegrao Sensorial 59
2.2.1-Definio epostulados base 59
2.2.2- ConceitosdaTeoriadeIntegrao Sensorial 62
2.2.3-Oprocessamento centraldaintegrao sensorial 69
2.2.4- Perturbaesdaintegrao sensorial 75
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2.2 AA- Perturbaes da modulao sensorial 76
2.2.4.2- .Perturbaes dos movimentos culo-posturais, de integrao
bilateral e de sequenciao 80
2.2.4.3-Dispraxias do desenvolvimento 84
2.3-Influncias do Sistema Nervoso Autnomo no comportamento 87
2.4- Sntese 91
2.4.1-Modulao sensorial e funcionamento autnomo 92
2.4.2.- Funes sensoriais e vinculao 93
Parte II - Estudo Emprico
Captulo 3 - Sntese das questes de investigao
3.1-Introduo e objectivos do estudo 99
Captulo 4 - Mtodo
4.1-Participantes 104
4.2-Instrumentos de avaliao 107
4.3-Procedimentos 114
4.4-Observadores 116
Captulo 5 - Resultados
5.1-Padres de vinculao 119
5.2- Comportamentos de vinculao 121
5.3-Anlise da funo discriminante 126
5.4- Teste de Funes Sensoriais 128
5.5-Grupos de vinculao e integrao sensorial 130
Captulo 6 - Discusso 138
Captulo 7. - Concluses 146
Referncias Bibliogrficas 149
Anexos
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MRODUa
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Introduo 2
Introduo
When the sensory integrative capacity of
the brain is sufficient to meet the demands
of the environment, the child's response is
efficient, creative, and satisfying.
J. Ayres (1979)
O pressuposto de que o papel do crebro na organizao da informao
sensorial determinante na qualidade das respostas comportamentais e emocionais da
criana (Ayres, 1979), foi um dos alicerces na elaborao deste trabalho.
Tanto por inerncia de abordagem da teoria de integrao sensorial, como por
resultado de uma opo pela interveno precoce, situmo-nos nos primrdios da
estruturao das funes sensoriais que, numa perspectiva transaccional, se desenrola na
interaco entre as competncias do sistema nervoso e o aporte sensitivo/sensorial do
meio. Neste enquadramento fomos remetidas inexoravelmente, para o campo da
vinculao, isto , para o estudo do estabelecimento dos laos de apego me-filho. Na
etapa inicial da vida, o crescimento cerebral associado ao desenvolvimento sinptico, e
s interaces sociais , constri-se, sobretudo, a partir de uma base de trocas sensorio-
emocionais entre a criana e o seu prestador de cuidados mais prximo.
A teoria da vinculao tem dado azo a inmeros estudos e pesquisas,
essencialmente, focalizadas nas qualidades e competncias da figura materna que
favorecem o desenvolvimento de uma vinculao segura. no contributo da criana
para a estruturao do processo de vinculao que a literatura tem sido,
comparativamente, mais omissa.
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Introduo 3
O tema do nosso trabalho surge na tentativa de equacionar os dois aspectos que
temos vindo a referir: sendo a vinculao um processo de interaco e sincronia em que
ambos os parceiros afectam a qualidade da relao, suscitou-nos algum interesse a
anlise mais detalhada do contributo da criana neste processo, relevando,
especificamente, o papel desempenhado pelas funes de integrao sensorial.
Estava, pois, decidido o enquadramento da nossa investigao que inicimos
centrando a nossa ateno na vasta obra de Bowlby e Ainsworth. Na tentativa de
encontrarmos respostas mais esclarecedoras sobre as influncias neurobiolgicas no
processo de vinculao tommos como referncia o Modelo Desenvolvimental de
Greenspan que, tendo como ponto fulcral o ncleo de interaco me-filho, d grande
relevo s influncias dos padres constitucio-maturacionais sobre a interaco da dade.
Entramos, assim, no mago das perturbaes regulatrias que, em grande parte,
tm por base alteraes neuro-vegetativas e situaes de hipo ou hiper-estimulao dos
sistemas sensoriais.
O estudo mais aprofundado do processo de integrao sensorial a nvel cerebral
remete-nos para a teoria de Integrao Sensorial desenvolvida por Jean Ayres, que nos
oferece perspectivas de investigao relativamente relao entre a actividade neural e
o comportamento sensrio-motor e emocional.
Orientmos a nossa pesquisa bibliogrfica no sentido de averiguar a relao
existente entre a vinculao e os processos de auto-regulao e neuro-sensoriais a nvel
do Sistema Nervoso Central. Pretendemos verificar em que medida alteraes nos
processos regulatrios e de integrao sensorial podem, em circunstncias ambientais
propcias, influenciar os processos de vinculao.
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Introduo 4
O presente trabalho foi estruturado em duas partes, cada uma dividida em
captulos, num total de sete.
A primeira parte da dissertao que intitulmos - A vinculao e o impacto de
factores neuro-psico-fisiolgicos- aborda teorias e correntes de opinio que julgmos
adequadas e, qui, pertinentes, para o estabelecimento de um leque conceptual que
enquadrasse os nossos pressupostos empricos.
No primeiro captulo deste trabalho situamo-nos na teoria da vinculao,
procurando, em diversas perspectivas, os requisitos facilitadores de uma vinculao
segura, assim como os critrios para a sua avaliao. So, tambm, analisados os
factores desencadeantes de uma vinculao insegura e atpica.
Osegundo captuloparte da pressuposta necessidade de analisar o contributo da
criana no processo de vinculao, incidindo, num primeiro momento, sobre a anlise e
categorizao das perturbaes regulatrias. Um segundo momento deste captulo
dedicado Teoria de Integrao Sensorial detendo-se na anlise resumida do processo
integrativo inter-sensorial, mencionando tambm, algumas perturbaes de integrao
sensorial.
Por ltimo, pretende-se equacionar as perspectivas analisadas, procurando
algumas respostas sobre a influncia dos processos neurobiolgicos na vinculao.
A segunda parte do trabalho, denominadaEstudo Emprico,concentra em quatro
captulos o processo de investigao realizado.
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Introduo 5
O terceiro captulo apresenta alguns dos pressupostos do desenvolvimento do
projecto, incluindo a delimitao do tema e preciso do seu contedo, definio de
objectivos do trabalho e formulao das hipteses de investigao.
O quarto captulo dedicado metodologia, apresenta o plano de investigao,
debruando-se sobre os assuntos relacionados com a amostra, instrumentos utilizados e
procedimentos efectuados.
Oquinto captulotem como objectivo apresentar e analisar os resultados.
Osexto captulo, inteiramente, dedicado discusso dos resultados.
O trabalho encerra com o stimo captulo, onde numa sntese conclusiva,
procuramos salientar os aspectos considerados como merecedores de realce.
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A vinculao e o impacto de factores#
neuro-psico-fisiolgicos
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Captulo 1- A Teoria da Vinculao
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 8
1.1 Conceitos Introdutrios Teoria da Vinculao
Bowlby, (1958, 1969/1982, 1976, 1980) foi um dos primeiros autores, e o autor
de referncia, a dedicar-se ao estudo da ligao filho-me. As suas observaes, com
forte pendor etolgico, dando especial ateno s trocas de sinais me-flho em cenrios
naturais, levaram-no a estruturar a sua teoria da vinculao tendo como base o
desenvolvimento de fortes ligaes emocionais e afectivas entre o beb e a me (ou o
prestador de cuidados mais prximo), que funcionam como uma estrutura de proteco,
segurana e conforto da criana. Bowlby, debrua-se sobre as competncias e
capacidades de influncia do beb sobre o prestador de cuidados e formula o conceito
segundo o qual, a dade me-filho constitui uma s unidade interdependente.
O enquadramento conceptual que, definitivamente, veio esclarecer e descrever
os laos afectivos entre me e filho que, no dizer de Ainsworth e Bell (1970),"...os liga
no espao e perdura no tempo...", conhecido por Teoria da Vinculao e foi, como j
referimos, criteriosamente, concebido por Bowlby (1958, 1969/1982, 1976, 1980) e
desenvolvido por outros investigadores nos anos subsequentes (e.g. Main Tomasini &
Tolan, 1979; Main & Solomon, 1990; Barnett & Vondra, 1999).
Desta forma, podemos, hoje, desfrutar de um vasto e multifacetado campo de
conhecimentos, perspectivado numa base etolgica-evolutiva e comprovado, nas suas
traves mestras, pela investigao cientfica.
Na concepo e elaborao da teoria da vinculao, Bowlby (1969/1982) reuniu
de forma ecltica as influncias de vrios domnios do conhecimento, desde a
psicanlise etologia, passando pela teoria geral dos sistemas e pela psicologia
cognitiva (Colin, 1996).
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 9
Ao debruar-se sobre a teoria psicanaltica (estudo dos processos afectivos
inconscientes, dos processos cognitivos e dos seus efeitos na personalidade e
comportamento) deteve-se na natureza dos laos estabelecidos entre a criana e a me,
que constituiro a pedra angular para o posterior desenvolvimento inter e intra-pessoal.
Na etologia Bowlby (1969/1982) encontrou a explicao para a tendncia da
criana procurar a proximidade e a manuteno de contacto junto do seu prestador de
cuidados como forma de proteco. O autor justifica estes comportamentos em termos
da seleco natural e da evoluo da espcie.
A teoria geral dos sistemas (que se detm na anlise de como os elementos de
um sistema se influenciam mutuamente) consolidou questes relativas ao
comportamento, onde salientamos o construto dos sistemas corrigidos para a meta
"corrected systems" e a utilizao de mecanismos de retroaco (feedback).
Dapsicologia cognitivaretirou os conceitos relativos s representaes mentais
e forma com essas representaes so organizadas, interpretadas e armazenadas na
mente.
Este quadro de interdisciplinaridade e de convergncia conceptual foi
enriquecido pelo contributo de Ainsworth ao introduzir na Teoria da Vinculao a
noo de "base-segurd": a relao de vinculao dever ser uma fonte de segurana
para a criana (Ainsworthet ai.,1978). A me assume-se junto do beb com um apoio a
partir do qual este poder aventurar-se na explorao do ambiente, arriscando situaes
menos conhecidas, implcitas a uma situao de aprendizagem, porque conhece
antecipadamente a existncia de uma base proporcionadora de tranquilidade e segurana
a que pode recorrer a qualquer momento.
A Vinculao entendida como "... um lao afectivo durvel, organizado a
partir de um sistema de comportamento instintivo, que quando activado, tem como
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 10
resultado previsvel a criao de uma situao de proximidade espacial entre o
indivduo e afigura de vinculao... " (Lopes dos Santos comunicao pessoal, Maro
de 1999).
A Teoria da Vinculao tal como foi defendida por Bowlby (1969/1982, 1980) e
Ainsworth (1973), possui equacionados, intrinsecamente, alguns conceitos que a
definem e lhe do corpo, que nos parece importante realar:
- analisada a nvel dedesenvolvimento a vinculao reflecte uma necessidade
primria dispondo de mecanismos inatos para a sua manifestao.
- olhada por umprisma afectivo, estrutura-se como um forte e durvel lao
emocional que se desenvolve no tempo.
- de um ponto de vista biolgico contribui, atravs dos comportamentos que
origina, para a sobrevivncia do indivduo e da espcie, especialmente na sua funo de
proteco do perigo. Como salienta Colin (1996), os laos de vinculao perduram e
mantm-se em qualquer circunstncia, mas os comportamentos que os evidenciam so
usados, intermitentemente, de acordo com as necessidades de proteco sentidas a cada
momento.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 11
1.2 - Comportamentos de vinculao
A existncia e natureza dos laos de vinculao so indicados pelos
comportamentos de vinculao, caractersticos da espcie (Colin, 1996), que tendem a
ser reforados, ou enfraquecidos, por factores situacionais. A sua evoluo progressiva
tomando formas mais organizadas e complexas ao longo do desenvolvimento, atravs
do que Bowlby (1969/1982) denominasistemas corrigidos para a meta (goal corrected
systems).
Bowlby (1969/1982) enumera os comportamentos de vinculao que, nos
primeiros meses de vida, j se dirigem para uma figura em particular (o prestador de
cuidados), agrupando-os emcomportamentos de sinalizao - chorar, sorrir, pairar ou
chamar - que pretendem trazer a me, ou figura de vinculao, para perto e
comportamentos de aproximao - procurar, seguir ou agarrar - que tm como fim
levar a criana junto da figura de vinculao.
medida que as capacidades cognitivas e de autonomia da criana se vo
desenvolvendo, os comportamentos de vinculao tornam-se mais sofisticados,
flexibilizando-se e adaptando-se s circunstncias desencadeadoras, permanecendo o
objectivo principal que atingir ou manter um grau satisfatrio de proximidade ou
contacto com a figura de vinculao (Colin, 1996).
Subjacente ao conceito de evoluo da vinculao est a noo que o beb
possui intrinsecamente, de origem biolgica, capacidades de interaco e de auto-
regulao constitudos por padres de aco fixos, que, posteriormente, se organizam e
desenvolvem nos contextos ambientais segundo uma sequncia ordenada, na qual
Bowlby (1969/1982) distingue quatro fases:
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 12
Iafase - Orientao e sinais com discriminao limitada das figuras
Esta fase de reactividade social indiscriminada tem lugar durante os primeiros
dois/trs meses. caracterizada por comportamentos indiscriminados, indiferenciados e
ainda rudimentares que incluem o choro, o sorriso, o olhar e o alcanar, utilizados como
forma de atrair a presena do adulto.
2afase - Orientao e sinais dirigidos para uma ou mais figuras discriminadas
Entre os trs e os seis meses observa-se uma reactividade social discriminada,
em que os comportamentos susceptveis de promoverem a aproximao "do outro" so
coordenados em sequncias simples de aces de orientao diferenciada de acordo
com o grau de familiaridade e vinculao s figuras que rodeiam o beb. Estes
comportamentos no so, ainda, considerados de vinculao mas sim, comportamentos
percursores (Ainsworth, 1972).
3a fase - Manuteno da proximidade com uma figura discriminada atravs da
locomoo e de sinais
a partir dos sete meses, e estendendo-se at aos dois anos de idade, que se
inicia a fase de iniciativa activa ou de procura activa da proximidade e do contacto.
A evoluo verificada a nvel motor e cognitivo, vem facilitar a procura activa
da proximidade figura de vinculao, assim como a estruturao em grau crescente de
complexidade dos comportamentos de sinalizao e das formas de comunicao.
Neste perodo o beb aprende a organizar o seu comportamento tendo como
referncia uma figura preferencial, normalmente, a figura materna que funciona como
base segura ou de refgio na explorao dos contextos circundantes.
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Captulo 1A Teoria da Vinculao 13
4afase - Formaodeuma relao recprocacorrigida paraobjectivos
Este perodo desenvolve-se a partir do segundo ano de vida. As sequncias
comportamentais inerentes vinculao adquirem formas progressivamente mais
elaboradas, dado o alargamento das capacidades cognitivas, de autonomia e de
linguagem. A criana j faz inferncias sobre os objectivos e intenes do
comportamento materno tentando influenci-lo ou ajustar-se a ele. A proximidade com
a figura de vinculao agora mantida por um sistema de objectivos corrigidos em
crescendo de complexidade e flexibilidade.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 14
1.3 - Vinculao e Interiorizao de Relaes
Subjacente ao conceito de relaes de vinculao esto as representaes
mentais construdas pela criana com base nas experincias vivenciadas com as suas
figuras de vinculao.
Este construto equacionado por Bowlby (1973, 1980) prev a formao de
modelos internos oumodelos representacionais (working models) da me e do prprio
Eu de acordo com as experincias passadas junto da figura de vinculao. A forma
como a me foi sensvel, disponvel, e predizvel, isto , a segurana emocional que
transmitiu (Meins, 1997), gera na criana uma srie de representaes mentais que lhe
permitem formar expectativas sobre situaes novas, sobre si prpria e sobre as suas
interaces sociais. Por outro lado, a aceitao e o afecto recebidos por parte da figura
de vinculao e, fundamentalmente, a forma com so percebidos pelo beb constituem
os alicerces da construo do modelo representacional de si prprio.
Tanto os modelos internos da figura de vinculao como de si prprio so
construdos com base na interaco didica pelo que so considerados complementares
(Bretherton & Munholland, 1999). Para estes autores, o modelo representacional de si
prprio edificado com base numa relao emocionalmente estvel e gratificante
constitui-se como suporte para as actividades exploratrias do beb.
A existncia de um modelo representacional de vinculao permite criana
antecipar as reaces do prestador de cuidados face s suas solicitaes de proteco e
conforto e implementar as estratgias comportamentais de vinculao (Barnett &
Vondra, 1999).
Os modelos representacionais interiorizados durante a infncia tendem a
persistir, resistindo a mudanas sensveis, funcionando no registo inconsciente.
Bretherton e Munholland (1999) ao realarem a progressiva estabilidade e
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 15
complexidade dos modelos representacionais ao longo do desenvolvimento, chamam,
tambm, a ateno para o facto destes no serem imutveis e poderem sofrer
modificaes "...When one partner's interactive behavior changes, the other's
expectations are violated. In response, the first may at least initially resist or
misinterpret a partner's unexpected interactive behaviors be they positive or negative.
These normal stabilizing processes usually give away, however, once a child (or adult)
becomes conscious that the old model no longer works. " (Bretherton & Munholland,
op.cit., p. 92)
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Captulo 1- A Teoria da Vinculao 16
1.4 - Situao Estranha
As diferenas individuais na qualidade e organizao da vinculao foram
estudadas por Ainsworth e Wittig's (1969), que desenvolveram um procedimento
laboratorial -Situao Estranha - para avaliar a relao de vinculao me-filho.
Falamos de uma prova estruturada e "standartizada", baseada em observaes
precisas, feitas em ambiente familiar e inseridas em contextos scio-culturais diversos
(Ainsworth, 1963, 1967; Ainsworth, Bell & Stayton, 1971).
Atravs da identificao, categorizao e do estabelecimento de escalas de
graduao dos acontecimentos indicadores da qualidade da relao de vinculao,
Ainsworth (Ainsworth et ai, 1978) esquematizou os episdios do procedimento
Situao Estranha e definiu os critrios para a sua avaliao (Quadro-1).
Quadro-1Situao Estranha - Esquema de ProcedimentosAinswortheWittig's (1969)
1- Me e beb so introduzidos na sala.
2- Meebeb sozinhos - beb livre para explorar (trs minutos).
3- Entra a pessoa desconhecida, senta-se, fala com a me e tenta brincar com o
beb (trs minutos).
4- Primeiro perodo de separao - a me sai; a pessoa desconhecida fica
sozinha com o beb (at trs minutos).*
5- Primeira reunio - a me regressa, tenta confortar o beb, se necessrio, e
instiga-o a voltar a brincar. A pessoa desconhecida sai discretamente (trs
minutos).
6- Segunda separao - a me deixa a sala, o beb permanece sozinho (at trs
minutos).*
7- A pessoa desconhecida entra na sala e tenta interagir com o beb (at trs
minutos).*
8- Segunda reunio - a me regressa, sada e pega no beb, a desconhecida sai
calmamente.
* Seame sentir que o seu beb est demasiado inconformado, estes episdios devem
terminar antes de se esgotar o tempo previsto (trs minutos).
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 17
A sequncia fixa de acontecimentos com aumento gradual dos nveis de stress,
induzidos atravs da Situao Estranha, alm de criar condies para a observao do
comportamento exploratrio do beb, permite a activao do seu sistema de vinculao
que o levar a utilizar estratgias para regular a proximidade com a figura materna.
1.4.1 - Padres de Comportamento na Situao Estranha
A classificao deste teste foi equacionada por Ainsworthet ai.(1978), focando-
se em quatro categorias de comportamento:procura de proximidade, manuteno de
contacto, evitamento e resistncia.Os dois primeiros comportamentos sero tpicos de
uma vinculao segura, estando os restantes relacionados com uma vinculao insegura.
A partir da anlise dos comportamentos interactivos verificados durante o teste,
particularmente, nas respostas encontradas durante os episdios de reunio com a figura
de vinculao, Ainsworth et ai. (1978), definiram uma tipologia classificativaconstituda por trs grupos principais-ABC-e por vrios sub-grupos : quatro para o
grupoBe dois para cada um dos gruposA e B.
O padro B- constitudo pelos bebsseguros,representa cerca de 65% a 70%
do total dos casos de Ainsworth em amostras de baixo risco. Utilizam a me com base
segura de explorao e interaco com o meio ambiente. Nos episdios de separao
intensificam o seu comportamento de ligao me, diminuindo os comportamentos de
explorao. Na reunio procuram interaco com a me (BI e B2) ou proximidade e
contacto (B3 e B4). A preferncia pela me em relao pessoa desconhecida
marcante.
Os bebs do grupo A - inseguros-evitantes constituem 20% do total dos casos
de Ainsworth em amostras de baixo risco. No procuram proximidade, contacto ou
interaco com as suas mes nos episdios de reunio. Parecem ignorar o regresso da
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 18
figura de vinculao, podendo existir um esboo de saudao ou aproximao casual,
seguida se comportamento de evitamento (A2), ou uma situao de total desinteresse
pela presena da me (Al) . A pessoa desconhecida tem um nvel de aceitao muito
semelhante ao que dado me.
Os bebs do grupo C - inseguros-resistentes,preenchendo 10% a 15% do total
dos casos em anlise, demonstram uma ansiedade de separao permanente, mesmo nos
perodos de pr-separao. Nos momentos de reunio demonstram uma atitude
ambivalente para com a me, procurando e, simultaneamente, resistindo ao contacto.
Um sub-grupo Cl combina resistncia com procura de proximidade; os bebs C2
caracterizam-se por maiores ndices de resistncia associada a um comportamento
passivo. A pessoa desconhecida para o beb C motivo de receio.
Os padres de vinculao A B C englobam 85% a 90% da populao de baixo
risco (Main & Solomon, 1986; Main & Weston, 1981). Persiste, no entanto, um
pequeno grupo de crianas cujos padres de comportamento (mltiplos, desorganizados
e por vezes anmalos) so difceis de enquadrar na tipologia acima descrita, tendo sido
designados como atpicos -tipo D.
1.4.2 Estabilidade dos padres de vinculao
Bowlby viu, mais uma vez, consolidada a sua tese universalista atravs de
estudos que tm vindo a ser desenvolvidos com base no procedimento Situao
Estranha. Estes, advogam a existncia de uma propenso universal para a criana
desenvolver estratgias de vinculao seguras (van IJzendoorn & Kroonberg, 1988).
Existiro alteraes a esta norma em bebs expostos a factores adversos, aquando do
estabelecimento da sua relao de vinculao.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 19
Brenner (1994) releva os factores scio-culturais na organizao
comportamental da vinculao, assinalando que as tendncia biolgicas universais
sofrem alguma s alteraes de carcter adaptativo em funo de factores de ordem
cultural. Como exemplo podem referir-se os estudos de Takahaski (1990) no Japo e
Sagi et ai. (1985) em Israel, em que a proporo de sujeitos inseguros ,
significativamente, superior ao que temos vindo a descrever.
Tambm a estabilidade e qualidade da vinculao de todos reconhecida (Main
& Weston, 1981 ;Vaughn, Egeland, Sroufe & Waters, 1979), sabendo-se que mudanas
na qualidade da vinculao ocorrem quando acontecimentos tais como aumento do
stress familiar, alterao da personalidade parental ou do suporte social, so
suficientemente agressivos para alterar os modelos representacionais de vinculao
previamente estabelecidos.
Para Meins (1997) o procedimento Situao Estranha, apesar das suas
qualidades de fidedignidade e estabilidade, apresenta algumas limitaes, sendo uma
delas a reduzida faixa etria que abrange (zero aos dois anos) e o facto de, como teste
laboratorial, necessitar de uma base institucional para a sua aplicao.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 20
1.5 - Padres de Vinculao e seus Determinantes
Deve-se a Ainsworth (Ainsworth et ai., 1978) a identificao de trs padres de
vinculao e das condies que os favorecem. Aqueles distinguem-se pelas estratgias
comportamentais utilizadas pela criana, em ambiente desconhecido, para regular a
proximidade com a me e utiliz-la como base segura de explorao.
Consoante as caractersticas especficas de interaco me-filho, estabelecem-se
diferenas individuais na relao da dade, que so agrupadas sob a forma de padres de
vinculao. Assim, a vinculao ser segura se a me for sensvel s necessidades e
sinais da criana e se lhe responder de forma positiva, rpida e fivel. A criana ser
insegura e vitante se a me for insensvel e se impuser criana de forma intrusiva.
Apresentar um perfil resistente se a me alternar as suas manifestaes entre uma
atitude de rejeio e demonstraes excessivas de afecto.
Estudos desenvolvidos por Ainsworth (1985), Main e Weston (1981), Main,
Kaplan e Cassidy (1985), Sroufe (1983, 1985) e Waters, Vaughn e Egeland (1980)
demonstraram que os padres de vinculao so influenciados pela forma como decorre
a interaco com a figura prestadora de cuidados mais prxima, considerada com papel
proeminente no desenvolvimento social e emocional da criana.
Contudo, estas consideraes tm vindo a suscitar controvrsia junto de outros
autores que enfatizam o contributo da criana no desenvolvimento do processo de
vinculao, salientando os factores congnitos e constitucio-maturacionais como
influentes primordiais neste contexto.
Portugal (1998), comenta que "...dadas as capacidades, competncias e
diferenas individuais dos bebs, estes tm com certeza, um papel crucial na
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 21
vinculao, pelo que a ausncia de investigao e reflexo a este nvel parece ser uma
lacuna importante nos estudos em questo... " (p.67).
Sobre este assunto deter-nos-emos em captulos posteriores.
A vinculao segura
O padro de vinculao seguro que est associado a um desenvolvimento
emocional equilibrado emerge de uma histria de cuidados responsivos. As mes de
bebs seguros respondem mais consistente e contingencialmente s solicitaes de
interaco social dos seus filhos: percebem os sinais do beb (choro, riso, vocalizaes,
etc), interpretam-nos correctamente, seleccionam e implementam uma resposta
adequada (Ainsworth et ai, 1978; Bowlby, 1988/1992; Isabella & Belsky, 1991;
Portugal, 1998). Por outro lado, tm capacidade para manter a amplitude dos nveis de
excitabilidade da criana, dentro dos limites necessrios, de forma a estabelecer a
interaco sem atingir intensidades que possam causar situaes de perturbao (Shore,
1996).A mesma autora comenta que o nvel de excitabilidade ptimo est associado a
um equilbrio na aco dos sistemas simptico e parassimptico e a uma modelao
correcta dos nveis de afectividade e ateno. A criana constri desta forma um
conceito de me predizvel, permitindo-lhe desenvolver capacidades de antecipao e
um sentimento de eficcia.
So ainda Ainsworthet ai. (1978) na prossecuo da sua investigao sobre as
qualidades interactivas do comportamento materno que desenvolvem uma escala de
avaliao em que so consideradas dimenses como: sensibilidade/insensibilidade;
aceitao/rejeio; cooperao/interferncia; acessibilidade/ignorar; qualidade do
contacto corporal com o beb e reactividade ao choro do beb. Os resultados da
investigao com a utilizao dos parmetros referidos, bem como os trabalhos
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 22
subsequentes desenvolvidos por Main et ai, (1979); Belsky, Rovine e Taylor (1984);
Grossmann, Grossmann, Spangler, Suess e Unzner (1985); Isabella (1993), demonstram
que asensibilidade materna(capacidade para perceber e interpretar os sinais da criana
e responder-lhe pronta e adequadamente) so determinantes no estabelecimento de
padres de vinculao seguros na criana.
No entanto, na mesma linha de pesquisa a meta-anlise de Goldsmith e Alansky
(1987) vem sugerir a existncia de uma fraca relao entre vinculao segura e a
sensibilidade parental.
Ao avaliar a qualidade da vinculao, a teoria de Bowlby (1969/1982) foca-se
essencialmente na dinmica da relao didica em detrimento das caractersticas
individuais de cada um dos elementos. Por outro lado, a meta-anlise de Wolf e van
Uzendoorn (1997), ao centrar-se na vinculao e sensibilidade materna releva aspectos
da qualidade do comportamento materno, tais como a sensibilidade e a sincronia.
Com efeito, conceitos como mutual idade (orientao da dade para o mesmo
objectivo),sincronia(reciprocidade e gratificao das trocas didicas),apoio (ateno e
auxlio), atitude positiva (expresso materna da afecto positivo) e estimulao
(entendida como aces dirigidas ao beb) surgem como reas a considerar, com forte
influncia, no desenvolvimento da vinculao segura.
Miller (1997) analisou numerosos estudos realizados nas ltimas dcadas, cujos
resultados sugerem que as mes, cujos bebs estabelecem uma relao de vinculao
positiva interpretam os seus sinais, atribuindo-lhes intencionalidade e respondendo-lhes
em conformidade. Mostram prazer em estar com eles, em pegar-lhes ao colo, tm
contactos face a face mais abundantes e mais prolongados, so mais sensveis na
alimentao. Refere, ainda, a importncia dos contactos corpo a corpo (contactos
tcteis) e dos afectos, no desenvolvimento da vinculao.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 23
Este quadro tctil-afectivo remete-nos para os trabalhos de Ainsworth et
a/. (1978), que comentam ser a me da criana segura usada como base para a
explorao do ambiente (o que proporciona criana mais oportunidades de interaco
com o exterior), encorajando a criana a agir por si prpria, oferecendo-lhe ajuda s
quando solicitada.
Como concluso final do seu estudo sobre a criana segura e desenvolvimento
cognitivo, Meins (1997) refere que os contextos de interaco da dade centrados em
objectos (ou seja, mediados por brinquedos e pela aco conjunta da dade sobre estes),
so os mais importantes para o estabelecimento de uma vinculao segura e que o
aspecto mais importante do comportamento materno, que concorre para o
estabelecimento de uma vinculao segura, a propenso para tratar o filho como
"mental agent" (p.137), isto , como um indivduo com pensamento prprio,"...one of
the most factors in mothers'ability to interact with their children in a sensitive way is
their greater mind-mindedness, or proclivity to treat their infants as individuals with
minds" (Meins, 1997, p.139).
Siegel (1998), ao estabelecer a relao entre os processos mentais e os de
vinculao, insiste que para a constituio de uma vinculao segura primordial existir
por parte do prestador de cuidados uma capacidade razovel de reflexo sobre emoes,
percepes e atitudes. A existncia no prestador de cuidados desta capacidade reflexiva
sobre a actividade da mente ser, segundo Siegel, fundamental, para a emergncia de
uma forte componente de interaco emocional na dade, onde pressuposto que a me
responda de forma contingente s solicitaes da criana.
Meins (1997), ao realizar diversos estudos nos quais procurou estabelecer
relaes entre a segurana da vinculao e algumas caractersticas do desenvolvimento
encontrou, nas crianas seguras, uma aquisio de linguagem mais precoce,
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 24
acrescentando que elas beneficiam, aplicam e compreendem melhor as instrues dadas
pelos adultos em relao realizao de tarefas. Acrescenta, ainda, que estas crianas
tm mais oportunidades de vivenciarem interaces didicas centradas no objecto,
devido sua capacidade em utilizarem a me como base segura de explorao,
mostrando maior interesse e permanecendo maior espao de tempo em actividades de
explorao mediadas por objectos.
A vinculao insegura-evitante
O padro de vinculao inseguro-evitante gerado pela representao interna da
me como rejeitante, no correspondendo s solicitaes de conforto, proteco e
contacto por parte dos seus filhos (Bowlby, 1988/1992; Colin, 1996; Portugal, 1998).
Os comportamentos que predominam na criana so de evitamento da proximidade e do
contacto, sendo a resposta chegada da me (na Situao Estranha), inexistente ou dada
tardia e contraditoriamente; nesta ltima situao a procura de proximidade surge
associada ao comportamento de evitamento.
A me da criana vitante tendo mais dificuldade em expressar afecto, manifesta
um comportamento introvertido algo resistente e relutante organizao do
comportamento e ateno do filho. Similarmente, mantm, habitualmente, uma postura
em que a cabea se situa acima do nvel da criana impedindo as transaes afectivas
atravs do olhar (Shore, 1996).
Poder existir alguma averso ao contacto fsico, o que levar a atitudes de
bloqueamento dos comportamentos de procura de proximidade e manuteno de
contacto por parte da criana. Joseph (1992) comenta que a interaco entre uma dade
que no responde apropriadamente ao contacto fsico pode induzir uma atrofia a nvel
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 25
de parte dos ncleos lmbicos, responsveis por dfices emocionais e introverso no
domnio social.
Para Joseph (op. cit.), esta transmisso de averso efectuada atravs dos
hemisfrios direitos de ambos os elementos da dade. J Davidsonet ai. (1990) referem
a activao especfica da regio fronto-orbital direita durante esta situao de
evitamento.
A criana com vinculao insegura-evitante no tenta atrair a ateno do adulto,
no parece interessada na manuteno de contacto, dificilmente expressando os seus
sentimentos em situao de perigo ou de stress. Segundo Shore (1996), a criana
insegura vitante tem representaes de insatisfao e rejeio relativamente ao
contacto didico, evitando a forma de comunicao emocional transmitida pela face da
me.
Em termos de regulao autnoma verifica-se na criana vitante um aumento
do tnus parassimptico, sendo o equilbrio do SNA regulado pelo ramo parassimptico
(Izardet ai, 1991). Este quadro implica a diminuio dos nveis de estimulao scio-
emocional, sentimentos de tristeza, diminuio do ritmo cardaco e da capacidade para
experienciar afectividade, tanto positiva como negativa.
A tendncia, por parte da me, para a adopo de comportamentos de
sobrestimulao e intrusividade, no deixando espao para os desejos de autonomia do
seu beb, desencorajando-o de explorar o meio, um outro aspecto a considerar na me
da criana insegura-evitante (Isabella & Belsky, 1991).
O desenvolvimento de um comportamento vitante, funciona, para a criana,
como uma defesa face s expectativas de rejeio e/ou comportamentos de intruso porparte da figura de vinculao, manifestando-se por uma aparente imperturbabilidade,
com baixos ndices de reactividade emocional negativa.
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Bowlby (1988/1992), define em traos largos o perfil comportamental destas
crianas com sendo, por vezes, pouco sociveis e carentes de ateno. O
comportamento exploratrio menos orientado para o objecto e pouco criativo.
A vinculao inseguro-resistente
O terceiro padro de vinculao denominado inseguro-resistente.
A incerteza sobre a disponibilidade psicolgica da figura de vinculao o
aspecto dominante desta categoria.
A imprevisibilidade do comportamento materno em que os momentos com
caractersticas de sensibilidade, inacessibilidade e intrusividade vo alternando ao longo
da interaco, provocam na criana o desenvolvimento da representao da figura de
vinculao como uma pessoa imprevisvel (Isabella, 1993), que levar a sentimentos de
angstia de separao, determinando comportamentos de excessiva proximidade que
impedem a explorao do ambiente (Bowlby, 1988/1992; Colin, 1996).
O comportamento destas crianas descrito como procurando insistentemente a
ateno, habitualmente impulsivo e tenso com um baixo limiar de resistncia
frustrao. Podero, tambm, apresentar uma atitude passiva e sentimentos de
impotncia.
A me da criana insegura-resistente no adequa a qualidade e quantidade dos
estmulos s necessidades especficas, de momento, expressas pela criana. Esta falta de
sensibilidade interfere com a tentativa da criana para manter o equilbrio dos seus
limiares de excitabilidade, ultrapassando-os e desorganizando-se, o que lhe diminui a
capacidade de assimilar novas experincias.
Esta me revela-se com atitudes comunicativas inconsistentes e inconstantes
tornando-se difceis de interpretar por parte da criana que se depara com uma situao
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 27
de permanente imprevisibilidade em relao responsividade e disponibilidade
emocional maternas.
Deste modo, as alteraes temperamentais so inerentes criana insegura-
resistente, com alteraes de humor expressas de forma intensa, dificuldades de
adaptao mudana e irregularidades nas funes biolgicas (Shore, 1996). O
equilbrio autnomo pende para um favorecimento do ramo simptico com nveis
elevados de excitabilidade e distrbios regulatrios.
No dizer de King (citado por Shore, (1996), as vinculaes inseguras-resistentes
esto associadas a personalidades descontroladas e impulsivas com elevada actividade
hormonal, a nvel do sistema lmbico, durante as situaes de stress.
A vinculao atpica - grupo D
Referenciamos, ainda, um quarto grupo (D), distinto dos padres anteriores (que
tentavam enquadrar formas de insegurana organizada), pois rene comportamentos
desorganizados e incoerentes.
Main e Solomon (1986, 1990) caracterizaram este grupo pela ausncia de uma
estratgia de vinculao coerente e organizada, evidenciando expresses de confuso e
desorientao, estereotipias, sequncias de comportamento contraditrio, expresses e
movimentos incompletos, assimtricos ou despropositados.
Face ao comportamento acima descrito, bvio que estas crianas so difceis
de enquadrar nos padres de vinculao originais, sendo por isso aglutinadas na
categoria D.
Embora enfermando de uma base emprica robusta sobre a qualidade da resposta
materna nesta categoria, alguns estudos permitem apurar que (a) as figuras de
vinculao das crianas D diferem nas representaes das suas experincias de
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vinculao de infncia devido a no terem resolvido qualquer evento traumtico com
elas relacionado (Ainsworth & Eichberg, 1991; Main & Hesse, 1990) (b) poder-se-o
encontrar histrias de maus tratos e abuso na infncia (Carlson, Cicchetti, Barnett, &
Braunwald, 1989a), problemas psicossociais maternos, incluindo a depresso (Radke-
Yarrowet ai, 1995), experincia parental de luto no resolvido (Main & Hesse, 1990) e
outras situaes traumticas no ultrapassadas.
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1.6 - Padres de Vinculao Atpicos
Embora estando bem definido e identificado o padro de vinculao seguro
(padro B), tm vindo a ser referenciados na literatura diversos tipos de vinculao
insegura inconsistentes com a categorizao do sistema de classificao de Ainsworthet
ai.(1978): padro A vitantes e padro C ambivalentes/resistentes.
Inicialmente, as crianas cujos comportamentos no se identificaram com os
critrios e classificao tradicional foram designados como inclassificveis.A primeira
referncia publicada sobre esta dificuldade de enquadramento classificativo remete-nos
para 1977, com os trabalhos de Sroufe e Waters (citados por Main & Soloman, 1990).
Na dcada de oitenta, comeam a aparecer estudos nos quais algumas crianas
eram classificadas, formalmente, como inclassificveis (U) (Grossman, Huber &
Warmer, 1981; Main & Weston, 1981). Do debate sobre o que constitui um padro de
vinculao atpico emergem, posteriormente, diversas perspectivas de abordagem dada
a complexidade da temtica em estudo (Crittenden, 1985, 1988; Lyons-Ruth, Connell,
Zoll & Stahl, 1987; Main & Solomon, 1990). Sobre este assunto deter-nos-emos
seguidamente.
Barnett e Vondra (1999), propem trs parmetros para a anlise da vinculao
atpica, considerando que estes no se excluem mutuamente:
-a relao entre os diferentes sistemas comportamentaisque, numa situao de
vinculao segura, manifestam um equilbrio ptimo entre os comportamentos
exploratrio e os de vinculao, surgem de forma desestruturada na vinculao atpica
em que o padro de vinculao activado explicitamente na ausncia da me, ou
dirigido para a pessoa desconhecida, ou ainda, acompanhado de reaces de medo e
receio;
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 30
-os padres interactivos a nvel comportamental e emocional,so descritos em
crianas seguras como tendo a intensidade e durao da angstia de separao
directamente proporcional procura de proximidade e manuteno de contacto
(Thompson & Lamb, 1984). Num quadro de vinculao atpica verifca-se uma
proporcionalidade inversa nesta relao.
Numa dimenso afectivo/emocional baixos nveis de evitamento e resistncia
devem coexistir com sinais de emoo positiva - sorrisos, vocalizaes - (Waters,
Wippman & Sroufe, 1979), enquanto uma classificao de vinculao atpica deixa
prever a existncia de comportamentos de vinculao seguros associados a reactividade
emocional negativa (Crittenden 1988);
- a existncia de comportamentos invulgares considerados pelos investigadores
como no normativos e indicadores de padres de vinculao atpicos (expresses de
receio, medo e depresso direccionados figura de vinculao).
1.6.1 - Classificao da Vinculao Atpica
Uma das hiptese classificativas da vinculao atpica est descrita no Quadro-2
e corresponde a uma sntese das diferentes metodologias e teorias que tm vindo a
tomar forma ao longo da histria de pesquisa da vinculao no tradicional.
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Quadro- 2Critrios de classificao da vinculao atpica
(adaptado de Barnett&Vondra, 1999)
Desorganizado
TipoD
(Main&Solomon,1990)
Evitante/Ambivalente
TipoA/C
(Crittenden, 1985, 1988)
Instvel-Evitante
TipoU-A
(Lyon-Ruthe/i/.,1987)
Manifestaes frequentes ouintensas,
de umoumais,dosseguintes
comportamentos:
1- exibio sequencialdepadres de
comportamento contraditrios;
2- exibio simultnea de padres decomportamento contraditrios;
3- expresses e movimentos indirectos,
mal orientados, incompletose
interrompidos;
4- estereotipias, movimentos
assimtricos, movimentos
inoportunos, posturas anmalas;
5- imobilidade provocada pelo medo,"ficar petrificado"emovimentose
expresses lentos;
6- ndices directos de apreenso em
relao aos pais;
7- ndices directos de desorganizaoe
de desorientao.
1- Evitamento moderadoa
alto,combinado com
resistncia moderadaa
alta duranteasreunies.
2- Procura de proximidadee
manuteno de contacto
moderadoaalto como
tpicodascrianas com
padro de vinculao
seguro.
Marcado evitamento
na primeira reunio (5
a 7 na escala de
classificao de
Ainsworth) seguido
de, pelo menos, 4
pontos a menos na
segunda reunio (1a 3
na escaladeclassifica
o).
O padro desorganizado/desorientado que pode encontrar-se em cerca de 80%
das crianas de alto-risco, especialmente, vtimas de maus tratos (Carlson, Cicchetti,
Barnett & Braunwald, 1989b), apresenta uma ausncia de estratgias de comportamento
associado presena de uma experincia emocional consistente - o medo relacionado
com a figura de vinculao - caractersticos do padro D (Main & Hesse, 1990).
Habitualmente, encontram-se neste grupo histrias de abuso, abandono e maus tratos,
alteraes psiquitricas na me e outros acontecimentos traumticos.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 32
As crianas enquadradas nopadro Evitante/Ambivalente (A/C) definido por
Crittenden (1985, 1988) demonstram uma estratgia comportamental organizada,
caracterizada por uma super-vigilncia centrada na me, de forma a ajustar o seu
comportamento permanente alterao de emoes e humor da figura de vinculao.
Esta, imprime interaco caractersticas de inconsistncia, insensibilidade e falta de
afecto, podendo-se verificar episdios de abuso da criana. Crittenden (1988), ao
estudar amostras de risco encontrou elevada percentagem de sujeitos situados no padro
A/C:60% nos casos de abuso e abandono e 32%. em crianas com baixo peso devido a
situaes de pobreza.
O padro Instvel-Evitante (U-A) predominante em amostras de alto risco em
vtimas de maus tratos e depresso materna (40%) (Lyon-Ruthet ai. 1987). Identificam-
se somente atravs da situao estranha a nvel dos comportamentos interactivos, pois
no mantm a estratgia vitante durante a segunda reunio. Pensa-se que o
estabelecimento deste tipo de vinculao est fortemente relacionado com distrbios na
relao parental (Lyon-Ruthet al.op. cit.).
Admitindo, baseados em Bowlby (1969/1982), que existe uma determinao
biolgica associada sobrevivncia da espcie para o processo de vinculao, este
desenvolver-se- mesmo perante circunstncias adversas provindas quer do contexto
ambiental, quer da prpria criana.
Padres de vinculao atpicos podem inscrever-se em quadros de perturbaes
do desenvolvimento e de alteraes neurolgicas (Pipp-Siegel, Siegel & Dean, 1999;
Atkinsonet ai.1999). Os mesmos autores advertem para a necessidade de diferenciar os
sinais de perturbao biolgica (coreia, dispraxia, distonia, epilepsia focal, hipotonia,
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 33
estereotipias e tiques) daqueles que caracterizam os comportamentos atpicos de
vinculao, sob pena de, particularmente na classificao do padro D, surgirem
situaes de falsos positivos.
Uma constelao de processos de ordem interna ou externa pode contribuir para
o estabelecimento de um padro de vinculao atpico. Barnett, Butler & Vondra (1999)
distinguem os factores biolgicos, emocionais, cognitivos, comportamentais e de
representao, coadjuvados pela influncia dos contextos ambientais.
De acordo com os conceitos que temos vindo a discutir sobre a determinao
mltipla da vinculao e existindo, basicamente, dois grandes grupos de factores que a
influenciam - os relativos criana e aqueles que dizem respeito ao comportamento da
figura de vinculao - possvel, ao cruzar este grupo de dados (Quadro-3), identificar
os determinantes dos principais padres de vinculao atpica (Barnett, Butler &
Vondra, 1999).
Quadro- 3Padres de vinculao: determinantes e classificao
(adaptado de Barnett, Butler & Vondra, 1999).
esoaes
cuesO
c**ao
U
Contributo da figura de vinculao
Contributo
positivo
Contributo positivo
Vinculao Tradicional
Padres ABCI
Contributo negativo
Contributo
negativo
Falsa vinculao atpica
III
Vinculao atpica comestratgia comportamentalorganizada.
PadresA/C eDII
Vinculao atpica semestratgia comportamentalorganizada.
Padres U-AeD
IV
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 34
Observando o quadrante I verifica- se a existncia de um contributo positivo, da
parte de ambos os elementos da dade, para o estabelecimento de laos de vinculao. A
classificao desta cair, obviamente, nos padres tradicionais de Ainsworth et ai.
(1978).
O quadrante II, pretende referir-se classificao atpica de Crittenden (1988) -
A/C - e de Main e Solomon (1990) - D - . A figura de vinculao ao mostrar-se
insensvel, assustadora, contraditria, punitiva, favorece na criana sem perturbaes
prvias, o desenvolvimento de um padro de vinculao atpico, mas com uma
estratgia de comportamento definida.
No quadrante III consideramos as crianas que, por razes biolgicas, no tm
capacidade para desenvolver os comportamentos de vinculao esperados, mas que no
manifestam uma vinculao desorganizada. Os comportamentos que evidenciam so
fruto de uma determinada patologia ou perturbao e no de alteraes no
estabelecimento de laos de vinculao. Estamos perante uma falsa classificao de
vinculao atpica.
O IV quadrante descreve situaes em que o conjunto da dade apresenta
impedimentos ao desenvolvimento das estratgias de vinculao tradicionais. A criana
tem mais dificuldade em estabelecer laos de vinculao, quer seja por imaturidade,
atraso, perturbao do desenvolvimento, ou outras razes e a figura de vinculao no
desenvolve, tambm, os comportamentos necessrios para ajudar o filho, dadas as suas
prprias incapacidades. a situao classificada como Instvel-Evitante, englobando
tambm alguns casos do padro D.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 35
1.7 - Vinculao e Temperamento
A complexidade inerente s relaes vinculao-temperamento, associada ao
facto de os resultados da pesquisa serem, em grande medida, contraditrios tem
contribudo para o florescimento de diferentes perspectivas acerca do assunto. Neste
domnio os debates centram-se, sobretudo, na questo fundamental de se saber at que
ponto as disposies temperamentais afectam a expresso dos comportamentos de
vinculao, determinando a configurao dos padres de segurana ou insegurana.
Enquanto alguns autores sustentam que o estilo comportamental se reflecte directamente
na qualidade das interaces mantidas entre o indivduo e a figura de vinculao (e.g.
Kagan 1982, 1984; Thomas, Chess, Birch, Hertzig e Korn, 1963), outros no lhe
atribuem qualquer relevo significativo (e.g. Grossmann,et ai.,1981; Sroufe, 1985).
Bowlby (1969/1982) e Ainsworth (Ainsworth et ai., 1978) olharam sempre os
fenmenos da vinculao como processos contextualizados especificidade de cada
relao da criana. Esta posio serve de suporte tese que postula que o vnculo
infantil determinado pelas caractersticas das interaces didicas e no pelas
variveis que, de alguma maneira , as condicionam (Barnett, Ganiban & Cichetti, 1999;
Meins, 1997; Vaughn & Bost, 1999).
Vaughn e Bost (1999) defendem, no obstante, que o temperamento dever ser
encarado como um factor importante no desenvolvimento do sistema de vinculao.
Conforme enfatizam "...there is more to temperament than can be explained by
individual differences in parent-child relationships ..." (Vaughn & Bost, op. cit., p.218).
Sendo em princpio dois domnios diversos, vinculao e temperamento tm, at
certo ponto, universos sobrepostos, pois ambos lidam com emoes e comportamentos
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 36
num registo que os coloca como referncias indispensveis para a compreenso do
desenvolvimento inter ou intra-pessoal (Vaughn & Bost, op. cit.).
1.7.1 - Alguns Conceitos de Temperamento
S por si, a questo do temperamento no pacfica e tem sido alvo da ateno
dos investigadores. De facto, os contributos trazidos pelas vrias perspectivas fizeram
do temperamento mais um conjunto de construtos do que um nico conceito. Contudo,
todos os autores, reforam a noo de individualidade, ou seja, a especificidade da
varivel temperamento quando analisada no conjunto das interaces. Esta "...reflecte o
contribuio individual (distinta da relao ou aspectos situacionais ) e que se refere a
diferenas individuais no estilo comportamental (Portugal, 1998. p. 37). A mesma
autora comenta que "...o temperamento um modo de ver a criana como trazendo
contribuies nicas para o mundo... "(p.33).
O temperamento do beb tem vindo a ser descrito como a forma de expresso de
emoes especficas (Goldsmith & Campos, 1987; Fox et ah, 1996) ou, no dizer de
Bates (1987), como o conjunto de padres observveis de comportamento. Concorrem
para a formao das caractersticas temperamentais aspectos constitucio-maturacionais,
ambientais e hereditrios.
Bates (op. cit.) refere algumas convergncias de opinio em torno de conceitos
bsicos:
o aparecimento precoce de caractersticas temperamentais; o temperamento
geralmente assumido como fenmeno resultante de tendncias inatas que interagem
com o ambiente (Rothbart & Bates, 1998);
a formao de padres comportamentais relativamente estveis (Buss & Plomin,
1975).A reforar esta ideia podemos referir baseadas em Rothbart & Bates (1998),
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Captu lo 1 - A Teoria da Vinculao 37
que indivduos relacionados geneticamente mostram alguma semelhana na
evoluo do seu temperamento. Contudo, e segundo os mesmos autores, hoje
aceite que o temperamento se desenvolve ao longo do tempo, fruto de mltiplas
influncias, entre elas as decorrentes dos novos sistemas de organizao
comportamental que se vo desenvolvendo na criana. A estabilidade
comportamental , actualmente, expressa em termos de perodos limitados no
tempo;
a sua origem hereditria ou constitucional - "...heritability has proven to be
substancial for most broad temperament and personality traits... " (Rothbart &
Bates, 1998. p. 127 ). Os mesmos autores definem temperamento como
"...constitutional)? based individual differences in emotional, motor and attentional
reactivity and self-regulation" (p. 109). Segundo eles a base de um temperamento
estvel passa pela manuteno, por parte do beb, da integridade dos mecanismos de
regulao interna e dos limiares de reactividade sensorial. Tambm Rothbart e
Derryberry (1981) enfatizam os aspectos da reactividade e auto-regulao no
temperamento, dando-lhe um cariz de base constitucional e evolutivo, em termos de
desenvolvimento. Fox (1994) refere que diferenas individuais na dimenso
comportamento/inibio tm antecedentes no funcionamento do sistema nervoso
central e autnomo;
a forte influncia dos contextos ambientais"...temperament is shaped by
environmental cues and consequences, even though the children themselves have an
impact on the characteristics of their environment. "(Bates, 1987, p. 1113).
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 38
1.7.2 - Relaes Temperamento-Vinculao
Tanto as teorias da vinculao como as do temperamento propem-se explicar as
funes inter-pessoais e o crescimento da personalidade durante a infncia. Contudo, a
relao entre base-segura, comportamento e representaes, emoo, reactividade e
humor pouco robusta.
O modelo de adequabilidade (goodness-of fit) de Thomas et ai. (1963) que
considera, explicitamente, que o estilo de comportamento do beb influencia a natureza
das interaces com a figura de vinculao e transforma a natureza dessas mesmasinteraces enfatiza a forma como o temperamento do beb influencia a auto-estima da
me, produzindo efeitos sobre as respostas maternas e sobre o sentido de eficcia
maternas. No caso de um temperamento fcil, a interaco decorre de forma agradvel
sendo fonte de prazer para a dade, reforando na me os sentimentos de competncia e
a noo de sucesso na relao com o seu beb. A situao inversa propcia aoestabelecimento de interaces difceis com desadequao progressiva de atitudes,
produzindo na me sentimentos de incompetncia, culpabilidade e insucesso.
Kagan (1982), prope mesmo, que as categorias de classificao da Situao
Estranha so devidas criana possuir disposies inatas para reagir s situaes de
separao. Em oposio, Sroufe (1985) considera diminutas as influncias
temperamentais do beb na construo da vinculao. Contudo, analisadas atravs de
uma perspectiva transaccional indubitvel que as caractersticas individuais tm
influncia na interaco me-filho (Seifer, Schiller, Sameroff, Resnick & Riordan,
1996).
Nesse sentido, Sroufe (1985) considera, apesar de tudo, que o temperamento da
criana deve ser tido, minimamente, em conta na estruturao dos laos de vinculao,
pois contribui para o desenvolvimento das relaes da dade "... viewing attachment
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 39
classifications as reflections of the infant-care giver relationship would not exclude
viewing temperament as an important concept in explaining many aspects of infant or
caregiver behavior..."(pp. 2-3).
As investigaes de van den Boom (1994) e van den Boom & Hoeksma (1994)
mostram que bebs de temperamento marcadamente irritvel tendem a desenvolver,
com mais probabilidade, vinculaes do tipo inseguro, essencialmente com
caractersticas vitantes, mas, em situaes nas quais a interaco com o prestador de
cuidados tem aspectos pouco harmoniosos, pois se a me for alvo de interveno a
irritabilidade do beb poder no vir a ser sinnimo de insegurana.
Korner (1984) salienta a importncia do papel materno em bebs com limiares
sensoriais desajustados, hipo ou hiper-sensveis aos estmulos do contexto circundante,
que tendem a desenvolver temperamentos irritveis, imprevisveis e de menor
envolvimento social, se no houver por parte do prestador de cuidados uma aco de
reduo de tenses e de ajuda na regulao das reaces face a estmulos menos
agradveis.
Os resultados encontrados nos estudos de Belsky e Rovine (1987), ao avaliarem
a relao entre a expresso emocional negativa e a vinculao, baseados na tipologia
proposta por Frodi e Thompson (1985)1 - sugerem que o temperamento determina
muito pouco a segurana da vinculao, mas ter influncia mais robusta na forma
como a segurana ou insegurana so expressas ao longo da Situao Estranha .
Estamos longe de um acordo de opinies entre investigadores sobre os
contributos da criana nos processos de vinculao. As variveis temperamento e
responsividade materna tm sido a pedra angular dos estudos realizados at ao
1Fstes autores dividiram os oito grupos de classificao da Situao Estranha em dois nicos grupos :S S ^ S a S S S por K L de baixa expressividade emocional negativa e classificados na
S i t S E s ^ a T o l A1,PA2, BI eB2; o grupo B3-C2 constitudo por bebs de alta expressmdadeemocional negativa classificados na Situao Estranha como B3, B4, L1, UZ-
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 40
momento. Ser da sua combinao com outros factores contextuais e individuais que
podero emergir as primeiras concluses que, segundo Crockenberg (1981), devero ser
analisadas no contexto do modelo transaccional.
Resumindo, a vinculao assumindo-se como um processo didico e
transacional ter que ser, permanentemente, analisada num quadro de influncias
recprocas provindas das caractersticas da me, do filho e da interaco estabelecida
entre ambos.
Concluiremos semelhana de Seifer et ai, (1996), que mais estudos de base
terica ou emprica devero ser incrementados com vista clarificao sobre os
mecanismos inerentes ao estabelecimento da vinculao e seus antecedentes durante os
primeiros anos de vida.
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 41
1.8- A estruturao do Processo de Vinculao no
Crebro em Desenvolvimento
Tanto autores da neurobiologia como da vinculao partilham o conceito que as
experincias precoces so relevantes nos processos de regulao do comportamento, da
emoo e da memria. (Derryberry & Reed, 1996; Greenspan & Benderly, 1997; Shore,
1996;Siegel, 1998).
As interaces me-filho actuando como facilitadoras do crescimento do sistema
cortico-lmbico, situado no crtex pr-frontal, tm papel preponderante na formao de
laos afectivos pr-verbais e actuam como contexto facilitador das funes
homeostticas, regulatrias e de vinculao (Shore, 1996). A organizao e
desenvolvimento do crebro da criana ocorre no quadro da interaco com outro
crebro atravs de trocas afectivas entre o beb e a me; ou, no dizer de Siegel (1998, p.
2), "...human relationships shape the brain structure from wich the mind emerges... ".
As experincias afectivas entre o beb e a me so gravadas e armazenadas na
regio fronto-orbital do crtex da criana e nas suas conexes corticais e sub-corticais.
(Shore, 1996; Siegel, 1998). Aquela regio cortical, situada entre o sistema lmbico e as
regies associadas do neocortex, est dependente das experincias de vinculao para o
seu crescimento, regula o Sistema Nervoso Autnomo (SNA), relacionando-se de perto
com o processo de formao da mente (Siegel, 1998).
Devido s suas ligaes com o crtex sensorial e motor e com os centros
lmbicos e do SNA, a regio fronto-orbital tem uma importante funo adaptativa e
emocional; constitui-se como determinante na rea afectiva, estando unicamente
envolvida nos comportamentos emocionais, sociais (Shore, 1996) e nos processos auto-
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 42
regulatrios (Damsio, 1994). As reas fronto-orbitrias participam, deste modo, nos
processos de vinculao e de regulao homeosttica.
A quebra de laos de vinculao considerada por Reite e Capitano (citados por
Schore, 1996) como comprometedora da homeostasia, causadora de distrbios na
actividade lmbica e de disfuno hipotalmica. Greenspan (1981), por seu lado, refere a
influncia negativa de ambientes desfavorveis na ontogense dos sistemas de
vinculao, homeostticos e auto-regulatrios.
No decorrer do primeiro ano de vida, especialmente, aps os primeiros trs
meses, altura em que aumenta a mielinizao do crtex occipital, as interaces mtuas
me-filho tm papel fundamental no desenvolvimento scio-emocional da criana.
Neste processo, Bowlby (1969/1982) salienta a importncia da viso no
estabelecimento do processo de vinculao, no que apoiado teoricamente por Fox
(1996) que afirma ser a expressividade emocional da face da me o estmulo visual mais
potente no ambiente da criana e que o interesse do beb na contemplao,
especialmente, dos olhos da me, representa uma forma intensa de comunicao
afectiva.
Cabe me modelar a interaco, em termos de quantidade, variabilidade e
tempo, ajustando-a s capacidades do beb para integrar os estmulos, de forma a que
no se estabeleam situaes de hiper ou hipo-estimulao. Por outro lado, a capacidade
da criana para estabelecer interaces sincrnicas com a me, mesmo ainda que
emergentes, marca as caractersticas do processo de vinculao (Schore, 1996).
A me no s actua com modeladora do estado afectivo da criana, mas tambm,
como reguladora da produo de neuro-hormonas influentes no sistema de genes que
programam o crescimento estrutural do crebro (Shore, 1996). Para Siegel (1998), estes
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 43
genes requerem a existncia de experincias para se activarem, influindo assim estas,
directamente, nos processos de estruturao cerebral.
A actuao da mente da me tem papel modelador na mente da criana
ajudando-a a formar circuitos neurais que permitam a auto-regulao cerebral, num
crescendo de sofisticao, medida que decorre o seu processo de maturao.
Sintetizando, a relao de vinculao me-criana influencia a actividade da
regio fronto-orbital que, por sua vez, domina as funes autonmicas tendo estas
influncia primordial no hemisfrio direito (Dawson, 1994) dominante nos trs
primeiros anos de vida da criana. Deste hemisfrio esto dependentes funes tais
como os aspectos no verbais da linguagem (tom de voz e gestos), a expresso facial do
afecto, a percepo da emoo e regulao do SNA, processos estes, fundamentais para
a comunicao precoce entre a me e o beb (Thervarthen, 1996).
Nelson (1994) foca o papel do crtex fronto-orbital como o substracto neural do
temperamento durante o primeiro ano e meio de vida, sendo nas reas lmbicas,
temporais e frontais que ocorre a modulao do temperamento em caractersticas de
personalidade.
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Captulo 1 - A Teoria
1.9-Sntese
Na sua experincia clnica, Bowlby observou vrios quadros de perturbao em
crianas cujas histrias da relao com as suas mes era conturbada. Pertinentemente, o
autor questionou-se sobre o papel da relao me-filho no desenvolvimento. Mais tarde,
com o seu colega Robertson, verifica a crescente perturbao das respostas emocionais
em crianas hospitalizadas e separadas das mes. natural inquietude e ansiedade
iniciais destas crianas, seguir-se- a crescente perturbao da ligao me que
tender para alteraes na organizao da vinculao. Assim, Bowlby (1969/1982)
conclui que a separao ou perturbao da vinculao me-filho tinha consequncias
nefastas imediatas e ao longo do processo de desenvolvimento.
Volvidos 50 anos, a teoria da vinculao justifica em termos filogenticos,
biolgicos e psicossociais o papel crucial e definitivo do apego me-filho no
desenvolvimento. A vinculao segura fornece criana a confiana necessria para
explorar o meio e aceitar a interaco com estranhos. Esta, alis, parece ser a
justificao das inmeras associaes obtidas entre o vnculo seguro e melhores
desempenhos cognitivos ( Frankel & Bates, 1990; Meins, 1997) e competncias sociais
(Main & Weston, 1981).
Naturalmente, a comunidade cientfica deteve-se sobre as origens da vinculao,
analisado o contributo materno, o temperamento infantil, os quadros familiares
alargados, sociais e educativos para concluir que a sensibilidade ou intrusividade
maternas podem afectar a qualidade da relao, no obstante as considerveis diferenas
de temperamento infantil e a condicionante variabilidade de quadros familiares, sociais
e educativos. Por exemplo, a vinculao segura tende a rarear nas crianas de
temperamento difcil (Thomas et ah, 1963; Kagan, 1982), ou com mes intrusivas
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 45
(Isabella, Belsky & Eye, 1989), ou criadas em creche (Lamb, Sternberg & Prodromidis,
1992), ou oriundas de meios scio-economicamente muito desfavorecidos (Colm,
1996). Na verdade, podemos encontrar diferentes factores de ponderao para todas
estas variveis desconhecendo, contudo, quais as influncias preponderantes, ou se a
sua aco conjunta que determinante.
Ser licito considerar que a vinculao segura funciona como um factor de
resilincia na criana sujeita a situaes de risco e como um factor de optimalidade
naquela onde so inexistentes quaisquer tipos de vulnerabilidades. A resilincia, ou seja,
a invulnerabilidade a efeitos adversos do ambiente, refere-se a uma qualidade individual
e intrnseca prpria criana sendo, porm, forjada atravs dos factores de proteco
que influenciam as respostas positivas da criana s agresses do ambiente. Quer a
vulnerabilidade, quer a resilincia constroem-se de acordo com factores intrnsecos
criana e todo o ambiente externo, fsico e psico-social. Todavia, no se trata se
situaes absolutas, ou sequer estticas, mas sim em permanente evoluo e
transformao. Poulsen (1993) sugere que inerente a cada criana h sempre uma
resilincia potencial que se ope s caractersticas de vulnerabilidade desta. Assim, o
equilbrio a nvel individual entre as influncias dos factores de risco e os de proteco
que ir determinar o grau de risco existente "Mvown theorizing and that of others draw
attention to the need to consider stresses and supports simultaneously...or, in terms of
developmental psychopathology, risk and protective factors... "(Belsky, 1999, p. 260).
Enquanto para Poulsen (1993) a qualidade da interaco criana/prestador de
cuidados determinante na construo das caractersticas da criana, Bronfenbrenner
(1979) ao referir-se etiologia dos padres de vinculao, no quadro do paradigma da
ecologia do desenvolvimento humano, chama a ateno para todas as influncias do
contexto ambiental da dade, considerando que estas se desenvolvem como um sistema
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 46
dinmico caracterizado por padres de interaco recprocos em que "the principal
main effects are likely to be interactions'."(p.38). De acordo com esta perspectiva, a
harmonia das foras ambientais no o nico determinante dos resultados do
desenvolvimento. Pessoas diferentes reagem de forma diferente ao mesmo meio, tal
como diferentes meios reagem diferentemente mesma pessoa.
Neste complexo processo de interaco dinmica da dade , para muitos
autores, relevante o papel desempenhado pelas reaces e comportamentos da criana.
A capacidade de regulao emocional do beb aparenta estar relacionada com as suas
competncias para modular e integrar a informao sensorial, inserindo-se, desta forma,
no mbito dos problemas de auto-regulao (Case-Smith, Butcher & Reed, 1998). As
perturbaes regulatrias, entendidas como dificuldades em regular os processos,
comportamentos fisiolgicos, sensoriais, motores, de ateno ou afectivos, sero um
factor a considerar no estudo do contributo da criana para o desenvolvimento de uma
vinculao segura.
Os factores determinantes do processo de vinculao tm sido, exaustivamente,
analisados pelos investigadores, no entanto as razes pelas quais a presena de factores
de risco afectam os resultados da vinculao ainda no esto totalmente clarificadas.
Colin (1996) apresenta algumas sugestes para dar resposta a estas questes: "To learn
more about the relative influences of the various factors that may affect attachment
outcomes, we need to make some improvements in methodology. First, the D category
should be used in all new Strange Situation studies. Second, we need to make
naturalistic observations of infants longer and more often; just two or three glimpses at
interaction sometime in the first year do not tell us enough. Third,we need improved
measures of temperament, marriage quality, and social support. Fourth, we need some
well-designed experiments to test whether relations between variables are causal or
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Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 47
merelycorrelational"(p.125). Julgamos oportuno acrescentar uma referncia ao estudo
das funes regulatrias e neurofisiolgicas do beb que, com o avano verificado na
pesquisa nos ltimos anos, podero vir a tomar uma maior preponderncia na anlise do
processo de vinculao.
As implicaes, originadas por perturbaes do sistema neurofisiolgico do
beb,sero objecto de estudo no prximo captulo.
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Captulo 2- A perspectiva constitucio-maturacional
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Captulo 2 - A perspectiva con st it uci o-m at ura don al ^^^ ^^4 9^
2.1 - A Actividade Regulatria
2.1.1 - Regulao
O conceito de regulao refere-se ao processo segundo o qual um sistema
modula ou governa a reactividade de outro sistema (Derryberry e Reed, 1996).
Considera-se extensvel noo de regulao a estrutura de ligaes, entre percepo,
comportamento, emoes e cognio. Assim, uma perturbao regulatria envolver
dificuldades na modulao do comportamento, da afectividade e dos processos
sensoriais e motores.
Perturbaes regulatrias na criana podem aparecer sob mltiplos aspectos
envolvendo domnios to dspares como o neural, fisiolgico, emocional, cognitivo,
representacional e o das interaces sociais (Cicchetti, 1996; Greenspan, 1994),
envolvendo concretamente o processamento sensorial, a comunicao, e o controlo dos
nveis de excitabilidade.
Os sintomas patognomnicos destas perturbaes tais como a incapacidade para
regular os ciclos do sono, irritabilidade, hiper-sensibidade estimulao sensorial,
reactividade emocional, alteraes no planeamento motor, surgem muitas vezes
associados a problemas relacionados com o processamento da integrao sensorial
(Ayres, 1979; DeGangi & Greenspan 1988, 1989; Nelson, 1999) e com o
funcionamento do Sistema Nervoso Autnomo (Porges, 1995; DeGangi, DiPietro,
Greenspan & Porges, 1991).
Os processos de regulao e as perturbaes regulatrias, nos primeiros anos de
vida, tm sido alvo de inmeros estudos que os tm analisado sob o prisma de diferentes
teorias. Salientaremos aquelas que mais de perto se relacionam com o nosso trabalho.
Numa perspectiva bio-psicolgica e comportamental analisaremos os contributos de
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Captulo 2 - A perspectiva co ns ti tu ci o- ma tu ra do na ^^ ^^ ^5 0^ ^^
Ayres (1972, 1979) sobre a teoria de integrao sensorial, o de Porges (1995, 1997)
acerca do papel do SNA e o de Greenspan with Benderly (1997), na regulao do
desenvolvimento emocional. A esta constelao de abordagens, que embora partindo de
pressupostos muito prprios e especficos se cruzam e inter-relacionam, daremos,
seguidamente, ateno mais detalhada.
2.1.2 - Perturbaes Regulatrias
Atentando na influncia dos padres constitucio-maturacionais sobre o
temperamento do beb, debruar-nos-emos, com algum pormenor, sobre a temtica da
actividade regulatria.
Podemos caracterizar as perturbaes regulatrias como a dificuldade da criana
em organizar o comportamento, a expresso emocional, as informaes provindas dos
diferentes canais sensrias, a ateno e os processos fisiolgicos de forma a propiciar as
bases mais adequadas ao desenvolvimento e adaptao do indivduo sociedade
(Cicchetti, 1996).
Os bebs que constitucionalmente apresentam temperamento difcil, possuem
luz da perspectiva regulatria caractersticas de hipo ou hiper-sensibilidade, ou
dificuldades de organizao do sistema nervoso que alm de lhes impedir a adaptao starefas do quotidiano, influenciam negativamente as suas interaces, tornando-os
vtimas dos seus "padres constitucio-maturacionais" (Greenspan, 1994,1998).
Os padres ou perfis constitucio-maturacionais podem ser entendidos como o
apetrechamento, a ferramenta biolgica da criana, que lhe assegura a p