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UNIDADE DE SAÚDE PÚBLICA ACES PINHAL LITORAL e-Boletim da Unidade de Saúde Pública JANEIRO DE 2017 Ana Silva Dina Pascoal Fátima Soares Hélder Carreira Jorge Costa Odete Mendes Paula Silva Regina Costa Renata Inácio Rui Passadouro Vera Artilheiro AUTORES NÚMERO VI QUADRIMESTRAL ACES PINHAL LITORAL Conteúdos um ponto fundamental no pro- cesso de mudança, por ser indutor de maior responsabili- zação e exigência, sempre no sendo de alcançar melhores resultados em saúde, com mai- or eficiência. A contratualiza- ção, defendida por uns e cri- Com a reforma dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), a introdução do processo de contratualização com as Unida- des de Saúde Familiar (USF) foi considerado Contratualização. Motivações extrínsecas? cadas por todos, sobretudo por estar baseada numa filo- sofia pouco usada pelos clíni- cos, é hoje um processo que abrange os ACES e todas as suas unidades funcionais. >>> P. 8 Rui Passadouro Médico de Saúde Pública hps://issuu.com/uspleiria hp://conteudosusp.blogs.sapo.pt sobre temas de lazer, reflexões pessoais, nocias, fotos ou citações. Também na forma, se procu- rou manter uma imagem leve e agradável à leitura, com tex- tos curtos com imagens ou fotos. Pensamos ter cumprido o prin- cipal objecvo de constuir um ponto de encontro e par- lha entre os profissionais. Senmos que a iniciava foi abraçada e movadora, refor- çou laços e cumplicidades, permiu parlhas, pessoais e de trabalho, aproximou cole- gas e fomentou colaborações e oportunidades. A presente edição vem comple- tar 2 anos de publicação do e- Bolem Conteúdos. Jusfica-se pois, um breve balanço do per- curso e do momento. Com uma divulgação a tempo e horas e textos produzidos pe- los seus profissionais, parci- param nesta iniciava mais de 90% dos elementos da USP, para além de outros colabora- dores pontuais. Como matriz, promoveu-se a diversidade dos assuntos e do po de textos, designadamen- te, argos de opinião, traba- lhos de invesgação e apresen- tação de projectos, contando ainda com “outros conteúdos”, Balanço e movimento Jorge Costa Coordenador da Unidade de Saúde Tempo de Ano Novo, é tempo de novo ciclo e de novos desafios. Há pois que aproveitar o balanço para novos movimen- tos… que mantenham o equilíbrio nos projectos que connuam, tal como na vida que se renova ou na própria natureza. Com os votos, para 2017, de muita Saúde para todos e de uma melhor Saúde Pública. “Sentimos que a iniciativa foi abraçada e motivadora (…) aproximou colegas e fomentou colaborações e oportunidades” SUMÁRIO Balanço e movimento 1 Projeto Rumo ao Bem -Estar 1 Contratualização. Motivações extrínse- cas? 1 Novo Programa Naci- onal de Vacinação – 2017 2 Plano Estratégico de Baixo Carbono no ACES PL 3 O papel do Técnico de Saúde Ambiental em processos de reclama- ções 5 A Grandeza do Enve- lhecimento 6 Violência interpessoal: intervenção nos servi- ços de saúde 7 Oferecer Amor... 9 Relembrando… Hipócrates e Fernan- do Pessoa 9 Fotografia. À volta de candeeiros... 10 perda de autonomia sica, psíquica ou intelectual, perspe- vando-se a homeostasia². Para atender à situação, as respostas sociais providencia- Podendo ocorrer em qualquer faixa etária, a dependência tem maior prevalência nos idosos, resultado de situações de deficiência congénita ou adquirida, ou do próprio enve- lhecimento, surgindo a neces- sidade de ajuda de terceiros na concrezação das avidades de vida diária¹ afetadas pela Projeto Rumo ao Bem-Estar das pelas IPSS assumem-se como mais-valias para respon- der às carências de diverso âmbito comunitário, tendo os Ajudantes de Ação Direta (AAD) um papel crucial na es- fera social, para que a sasfa- ção das necessidades humanas básicas possa ser atendida. >>> P. 4 Hélder Carreira Enfermeiro de Saúde Pública

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U N I D A D E D E S A Ú D E

P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

e-Boletim da Unidade de Saúde Pública

J A N E I R O D E 2 0 1 7

Ana Silva

Dina Pascoal

Fátima Soares

Hélder Carreira

Jorge Costa

Odete Mendes

Paula Silva

Regina Costa

Renata Inácio

Rui Passadouro

Vera Artilheiro

A U T O R E S N Ú M E R O V I

Q U A D R I M E S T R A L

ACES PINHAL LITORAL

Conteúdos

um ponto fundamental no pro-cesso de mudança, por ser indutor de maior responsabili-zação e exigência, sempre no sentido de alcançar melhores resultados em saúde, com mai-or eficiência. A contratualiza-ção, defendida por uns e criti-

Com a reforma dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), a introdução do processo de contratualização com as Unida-des de Saúde Familiar (USF) foi considerado

Contratualização. Motivações extrínsecas? cadas por todos, sobretudo por estar baseada numa filo-sofia pouco usada pelos clíni-cos, é hoje um processo que abrange os ACES e todas as suas unidades funcionais.

>>> P. 8

Rui Passadouro Médico de Saúde Pública

https://issuu.com/uspleiria

http://conteudosusp.blogs.sapo.pt

sobre temas de lazer, reflexões pessoais, notícias, fotos ou citações.

Também na forma, se procu-rou manter uma imagem leve e agradável à leitura, com tex-tos curtos com imagens ou fotos.

Pensamos ter cumprido o prin-cipal objectivo de constituir um ponto de encontro e parti-lha entre os profissionais.

Sentimos que a iniciativa foi abraçada e motivadora, refor-çou laços e cumplicidades, permitiu partilhas, pessoais e de trabalho, aproximou cole-gas e fomentou colaborações e oportunidades.

A presente edição vem comple-tar 2 anos de publicação do e-Boletim Conteúdos. Justifica-se pois, um breve balanço do per-curso e do momento.

Com uma divulgação a tempo e horas e textos produzidos pe-los seus profissionais, partici-param nesta iniciativa mais de 90% dos elementos da USP, para além de outros colabora-dores pontuais.

Como matriz, promoveu-se a diversidade dos assuntos e do tipo de textos, designadamen-te, artigos de opinião, traba-lhos de investigação e apresen-tação de projectos, contando ainda com “outros conteúdos”,

Balanço e movimento Jorge Costa Coordenador da Unidade de Saúde

Tempo de Ano Novo, é tempo de novo ciclo e de novos desafios.

Há pois que aproveitar o balanço para novos movimen-tos… que mantenham o equilíbrio nos projectos que continuam, tal como na vida que se renova ou na própria natureza.

Com os votos, para 2017, de muita Saúde para todos e de uma melhor Saúde Pública.

“Sentimos que

a iniciativa foi

abraçada e

motivadora (…)

aproximou

colegas e

fomentou

colaborações e

oportunidades”

S U M Á R I O

Balanço e movimento 1

Projeto Rumo ao Bem-Estar

1

Contratualização. Motivações extrínse-cas?

1

Novo Programa Naci-onal de Vacinação – 2017

2

Plano Estratégico de Baixo Carbono no ACES PL

3

O papel do Técnico de Saúde Ambiental em processos de reclama-ções

5

A Grandeza do Enve-lhecimento

6

Violência interpessoal: intervenção nos servi-ços de saúde

7

Oferecer Amor... 9

Relembrando… Hipócrates e Fernan-do Pessoa

9

Fotografia. À volta de candeeiros...

10

perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, perspe-tivando-se a homeostasia².

Para atender à situação, as respostas sociais providencia-

Podendo ocorrer em qualquer faixa etária, a dependência tem maior prevalência nos idosos, resultado de situações de deficiência congénita ou adquirida, ou do próprio enve-lhecimento, surgindo a neces-sidade de ajuda de terceiros na concretização das atividades de vida diária¹ afetadas pela

Projeto Rumo ao Bem-Estar das pelas IPSS assumem-se como mais-valias para respon-der às carências de diverso âmbito comunitário, tendo os Ajudantes de Ação Direta (AAD) um papel crucial na es-fera social, para que a satisfa-ção das necessidades humanas básicas possa ser atendida.

>>> P. 4

Hélder Carreira Enfermeiro de Saúde Pública

P Á G I N A 2

C O N T E Ú D O : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

Novo Programa Nacional de Vacinação - 2017 O Programa Nacional de Vacinação que está a comemorar 50 anos de existência, sofreu alterações que en-tram em vigor em janeiro de 2017.

“Analisadas a informação epidemioló-gica das doenças no país, as vacinas existentes, a evidência científica e a

vacinação prati-cada em outros países, foi consi-derado adequa-do e vantajoso para a Saúde Pública atualizar o PNV, com os seguintes objeti-vos: aumentar a efetividade, oti-mizar o esquema vacinal, melhorar a relação custo -efetividade e reforçar a sua

aplicação ao longo da vida” (DR nº 159-19 de agosto 2016).

A vacina BCG que anteriormente era de administração universal passará, segundo a Norma 06/2016, para vaci-nação de crianças com idade inferior a 6 anos e pertencentes a grupos de risco.

Esta alteração segue as recomenda-ções da OMS para Portugal, por baixa incidência de tuberculose, bom nível de cuidados de saúde e de controlo de TB na comunidade, e ainda, pela maio-ria de notificações pertencer a grupos de risco.

Com o objectivo de melhorar a aceita-ção do esquema recomendado e dimi-nuir o número de injeções, irá ser in-troduzida aos 2 e 6 meses de idade,

uma vacina hexavalente (DTPaHibVIPVHB) contra a hepatite B, o Haemophilus inluenzae tipo B (Hib), a difteria, o tétano, a tosse convulsa e a poliomielite.

Também aos 18 meses haverá altera-ções, passando de uma vacina tetrava-lente (DTPaHib) para a vacina penta-valente (DTPaHibVIP).

Para garantir a imunidade do recém-nascido para a tosse convulsa até aos 2 meses de idade, as grávidas vão passar a ser vacinadas com Tdpa (tétano, difteria e tosse convulsa) em cada gravidez, entre as 20 e as 36 semanas de gestação (de preferência até às 32s). Até dezembro de 2016 esta prescrição era da responsabilidade do médico assistente e suportada finan-ceiramente pela utente.

A VASPR (vacina contra sarampo, papei-ra e rubéola) e a DTPaVIP (difteria, téta-no, tosse convulsa e poliomielite) atual-mente administradas entre os 5-6 anos de idade passarão para os 5 anos. Prin-cipal objetivo memorização de idades-chave e protecção mais precoce.

Ainda com o objectivo de tornar as ida-des de vacinação mais facilmente me-moráveis, também as vacinas Td (Tétano e Difteria) e do HPV (Papiloma Vírus Humano) sofreram alterações. Assim, a vacina Td passará a ser admi-nistrada aos 10, 25, 45, 65 anos e a par-tir daqui de 10 em 10 anos, o que irá permitir uma proteção mais precoce e duradoura.

A vacina do HPV actualmente de quatro passará para nove valências, abrangen-do 90% dos tipos de HPV associados ao cancro do colo do útero e será adminis-trada aos 10 anos de idade.

Desde agosto, com a Norma 07/2016, passou a estar também disponível no PNV para grupos de risco (idade <18 anos) a vacina con-tra Neisseria meningitidis do grupo B (Men B).

Esta vacina entra na vacinação com-plementar, prevista para grupos de risco, como as vacinas Pn13 e Pn23, a VHB, a VASPR e a VIP, já actual-mente previstas.

“Atualmente, o PNV baseia-se nos mesmos pilares de sempre: é univer-sal (destina-se a todas as pessoas presentes em Portugal), gratuito para o utilizador com financiamento do Orçamento de Estado e utiliza vacinas eficazes, seguras e de quali-dade. As vacinas são integradas no programa de forma faseada e pro-gramada, de acordo com a sua im-portância para a saúde do individuo e da comunidade”. Citando Arnaldo Sampaio, à vacinação aplicam-se três palavras: “Vacinar, vacinar, vaci-nar”.

BIBLIOGRAFIA

DGS (2016). Programa Nacional de Vacinação. Dispo-nível em: https://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/programa-nacional-de-vacinacao/programa-nacional-de-vacinacao.aspx)

“Analisadas a

informação

epidemiológica

das doenças no

país, … foi

considerado

adequado e

vantajoso para

a Saúde Pública

atualizar o

PNV”

Fátima Soares Enfermeira de Saúde Pública

Ana Silva Médica de Saúde Pública

Dina Pascoal Enfermeira

N Ú M E R O V I

Plano Estratégico de Baixo Carbono no ACES PL P Á G I N A 3

Muitos já ouviram falar no Plano Estra-tégico do Baixo Carbono (PEBC), embo-ra a maior parte prefira ignorar a sua importância. Alguns perceberam que diz respeito a todos e todos têm de estar envolvidos para que os seus ob-jectivos sejam alcançados, mas poucos, efectivamente, procuram contribuir para esses mesmos objectivos.

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 93/2010, de 26/11, estabeleceu que se pro-cedesse à elaboração de Planos Sectoriais de Baixo Carbo-no para cada Ministério, tendo sido criado em 2011 o Programa de Eficiên-cia Energética na Administração Públi-ca (ECO.AP), com o objectivo de alcan-çar uma redução do consumo de ener-gia primária de 30% até 2020, tendo como referência o ano de 2011. Por Despacho da Secretario de Estado da Saúde, a ACSS foi incumbida, em con-junto com as ARS, de definir a estraté-gia de implementação do PEBC no sec-tor da saúde.

Assim, o PEBC e o ECO.AP são um pro-cesso dinâmico, em permanente adap-tação à realidade de cada local, cujos principais objectivos são a redução dos consumos energéticos e de água e a redução de produção de resíduos, no-meadamente do Grupo III e do Grupo IV. Processo este, que se traduzirá em ganhos para a saúde decorrentes da redução da emissão de gases com efei-to de estufa e consequente mitigação de impactos negativos associados às alterações climáticas.

A estratégia estabelecida pela ARSC abrange os Serviços Centrais, os ACES, as ULS e os hospitais da sua área geo-gráfica de abrangência, tendo sido no-meado um Gestor Local de Energia e Carbono (GLEC) por cada uma das enti-dades. No ACES Pinhal Litoral foi nome-ada GLEC a Eng.ª Sanitarista Paula Sil-va, assessorada pelas TSA Helena Costa e Rosália Campos.

Compete à GLEC: 1.Garantir a monitori-zação dos consumos e dos custos de

electricidade, gás, água e de produção de resíduos e o envio desta à ACSS; 2. Identificar desvios nos consumos ener-géticos e de água e na produção de resí-duos e tomar as possíveis medidas ade-quadas a cada situação para resolver a mesma; 3. Promover a implementação de medidas de boas práticas (com redu-zidos custos de investimento) e monito-rizar os seus efeitos.

Com a criação do Por-tal do PEBC e ECO.AP e do Manual de Sus-tentabilidade da ARSC, no final de 2013, con-siderou-se estarem reunidas as condições para estabelecer, a nível de cada ACES da

ARSC, uma série de procedimentos que conduzissem à utilização sustentável de recursos e ao cumprimento das metas impostas para cada ano, tendo como referência os consumos energéticos e de água e a produção de resíduos de 2011.

Embora nem sempre com a colaboração desejável dos que utilizam as instalações do ACES, a muita dedicação da equipa do PEBC, conseguiu atingir-se as metas propostas para 2015, conforme demons-tra o Relatório da ACSS em conjunto com o Relatório de Actividades da GLEC do ACES, excepto na produção dos resí-duos, a qual registou um significativo aumento. Contudo, foram identificadas possíveis causas, designadamente, o

aumento de utentes necessitando de cuidados de enfermagem.

A equipa do PEBC não pode continuar a “remar contra a maré”… há que tomar consciência que todos têm de contri-buir para “levar o barco a bom porto”.

A continuação dos comporta-mentos consu-mistas e negli-gentes em ter-mos de eficiên-cia energética está a compro-meter a curto espaço de tem-po a qualidade de vida da nos-sa geração e das gerações futuras. Não hipotequemos o futuro!

São pequenos gestos, pequenas altera-ções de comportamentos, que podem conduzir a uma maior eficiência de consumos, quer em casa, quer no local de trabalho, e permitir parar o proces-so de destruição do planeta, a que mui-tos assistem de uma forma passiva…

Cuidemos da “nossa casa” para que ela possa cuidar bem de nós e continuar a proteger-nos…

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“São pequenos

gestos, pequenas

alterações de

comportamentos,

que podem conduzir

a uma maior

eficiência de

consumos (…) e

permitir parar o

processo de

destruição do

planeta, a que

muitos assistem de

uma forma

passiva…”

Paula Silva Engenheira Sanitarista

ESTÁ NA SUA CONSCIÊNCIA… ESCOLHA!

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práticos dos formandos, superando os resultados de 10% obtidos em estudos científicos publicados.

Houve uma sensibilização para a importância dos cuidados de higie-ne e conforto e proporcionadas as condições para a melhoria dos cui-dados prestados pelos AAD aos utentes dependentes, traduzindo-se em efetivos ganhos em saúde.

OBSERVAÇÕES O projeto iniciado em âmbito aca-démico no Curso de Mestrado em Enfermagem Comunitária na Escola Superior de Saúde de Santarém, foi incluído nos programas e projetos da USP pela pertinência do tema, tendente a responder às necessida-des prementes e presentes da co-munidade.

BIBLIOGRAFIA ¹ Ministério do Trabalho e Solidariedade Social (2009). A Dependência: o Apoio Informal, a Rede de Serviços e Equipamentos e os Cuidados Continuados Integrados. Lisboa: Centro de Informação e de Documentação.

² Duarte, Y.; Andrade, C.; Lebrao, M (2007). O Índex de Katz na avaliação da funcionalidade dos idosos. São Paulo: Revista Escola de Enfermagem da Uni-versidade de São Paulo. Nº 41, 317-325.

³Jacob, L. (2002). Ajudante Sénior: Uma Hipótese de Perfil de Profissional para as IPSS. Dissertação de Mestrado em políticas de desenvolvimento de recursos humanos. Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa, Portugal. Disponível em: http://www.socialgest. pt/_dlds/tesedemestradoluis.pdf>. 4Jacob, L. (2004). Serviços para Idosos. Portal do envelhecimento. Disponível em: http://portal doenvelhecimento.org.br /noticias/artigos/servicos-para-idosos.html>.

É enfatizado na literatura que os cur-sos lecionados aos AAD são pouco específicos e que incidem principal-mente na vertente científica e de ani-mação em vez de conteúdos mais práticos, tais como posicionamentos ou cuidados de higiene a idosos ou pessoas dependentes. A formação por condicionar o desempenho profissio-nal, nos AAD esta revela-se como im-prescindível para a aquisição de com-petências e saberes, facilitando a co-municação, resolução de problemas e

melhoria da quali-dade dos cuidados prestados³.

OBJETIVO Ampliar o nível de conhecimentos teóricos e práticos dos AAD das IPSS em contexto de SAD (serviço de apoio domiciliário) e ERPI (estrutura residencial para idosos) sobre a natureza dos cui-

dados de higiene e conforto, como forma de melhorar a qualidade de vida, prevenindo complicações, em utentes dependentes.

MATERIAIS E MÉTODOS Seguindo o planeamento em saúde partiu-se de um diagnóstico de situa-ção e posterior desenvolvimento de um curso teórico/prático, à luz da melhor evidência científica autentica-do por uma revisão sistemática da literatura. O mesmo, dividido em 6 módulos de 2 horas cada, com acom-panhamento em contexto laboral, tem associado uma metodologia ex-positiva (vídeos alusivos ao tema), construtivista (trabalhos de grupo realizados pelos formandos) e reflexi-va (partilha de saberes e experiências individuais). Aplicado uma ficha de avaliação de conhecimentos antes e após o curso de formação em avalia-ção de carácter contínuo.

RESULTADOS Os 13 formandos inscritos na forma-ção representam 51% dos AAD da IPSS, são todos do sexo feminino e a maioria, 77%, têm idades compreen-didas entre os 40 e os 59 anos. Sen-do apenas 2 de nacionalidade es-trangeira, 53,8% tem como habilita-ções literárias o ensino secundário, destacando-se de seguida o ensino superior com 15,4%.

Relativamente à última formação realizada na área em estudo, 46,1% dos AAD referiram que a mesma ocorreu há menos de 1 ano, exercen-do a maioria, 76,9%, a profissão en-tre 1 a 5 anos. Tal como evidenciado no gráfico nº 1, foi registada uma classificação média de 40% (Insuficiente) pelos formandos na ficha de avaliação de conhecimentos inicial, valor que transitou para os 70% (Bom) com a aplicação da mes-ma no final da formação, traduzindo uma variação de 30%.

Entre os conteúdos que registaram uma maior diferença nos dois mo-mentos avaliativos, destacam-se a melhoria ao nível da higienização das mãos com 77,3%, seguida da hidra-tação com 69,6%. Dos 18 temas abordados, na ficha de avaliação de conhecimentos final, 5 obtiveram 100% e 3 com classificação entre 80% e 89%.

CONCLUSÕES Com o processo formativo intencio-nal houve uma melhoria em 30% do nível de conhecimentos teóricos e

Projeto Rumo ao Bem-Estar (continuação) Hélder Carreira Enfermeiro de Saúde Pública

“... Com o

processo

formativo

intencional

houve uma

melhoria em

30% do nível de

conhecimentos

teóricos e

práticos dos

formandos…”

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Gráfico nº 1 - Distribuição dos formandos segundo a classificação média

obtida na ficha de avaliação de conhecimentos inicial e final

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Médicos de Saúde Pública: Amália Assis, Ana Isabel Nascimento, Ana Silva, Clarisse Bento, Corneliu Tapu (ISP), Gra-cinda Junqueira (ISP), Jorge Costa (Coordenador), José Luis Ruivo, Lília Valente (ISP), Lourdes Costa, Odete Mendes, Ruben Rodrigues (ISP), Rui Passadouro, Vitor Sousa

Enfermeiros: Carla Santos, Dina Pascoal, Dulce Fonseca, Fátima Soares, Hélder Carreira, Renata Inácio

Engenheira Sanitarista: Paula Silva

Técnicos de Saúde Ambiental: Anabela Cruz, Cátia Santos, Cláudia Serrano, Helena Costa, Laurinda Lopes, Manuel Cardoso, Olinda Marques, Regina Costa, Rosália Campos, Teresa Gameiro

Assistentes Técnicos: Carolina Jordão, Conceição Nolasco, Gracinda Coutinho, Helena Carvalho, Margarida Santos, Olinda Nogueira, Rosário Correia, Susana Duarte (CEI), Vera Artilheiro (CEI).

Profissionais da Unidade de Saúde Pública

ISP: Internato de Saúde Pública; CEI: Contrato de Emprego e Inserção

O papel do Técnico de Saúde Ambiental em processos de reclamações A Saúde Pública pode ser entendida como a procura do equilíbrio entre os indivíduos e o seu ambiente. Esta pers-petiva assenta numa estratégia de sal-vaguarda da saúde mediante a gestão de riscos ao invés da sua evicção, na maior parte das vezes não exequível. Pretende-se, assim uma «co-habitação» pacífica (mas dinâmica) entre o ambiente e os indivíduos.

As competências atribuídas às Autori-dades de Saúde, entre outras, passam por fazer cumprir as normas que te-nham por objeto a defesa da Saúde Pública, intervir no sentido de alterar comportamentos e atitudes, evitando que o homem seja polo gerador de sintomas de enfermidade na natureza, vigiar o nível sanitário dos aglomerados populacionais, dos serviços, estabeleci-mentos e locais de utilização pública e determinar as medidas corretivas ne-cessárias à defesa da saúde pública.

Ao longo dos anos os cidadãos têm recorrido aos Serviços de Saúde Pública denunciando situações de insalubrida-de e/ou incomodidade causadas por terceiros, com o intuito de verem essas

situações resolvidas.

As situações apresentadas são analisa-das e verificadas ”in loco“, tendo o Téc-nico de Saúde Ambiental, como membro da equipa multidisciplinar que integra a Unidade de Saúde Publica, papel pre-ponderante na identificação, análise e atenuação ou correção das situações apresentadas pelos reclamantes de mo-do a minimizar os riscos para a saúde que daí possam advir.

No processo de intervenção de uma reclamação e após a análise do descrito na mesma, o Técnico de Saúde Ambien-tal deve, por norma, contactar em pri-meiro lugar o reclamante, depois o re-clamado e por fim efetuar vistoria ao local.

Ao contactar com o reclamante o Técni-co deve saber ouvir/escutar, sem inter-rupções nem comentários, mostrando compreensão, sem lhe dar razão, e dis-ponibilidade para contribuir na resolu-ção da situação.

Após contacto com o reclamante e ten-do em con-ta o que foi dito, deverá ser confron-tado o re-clamado sobre a situação em causa, de-vendo o Técnico ter a mesma postura que teve com o reclamante.

Nas situações fundamentadas, caso haja

risco significativo para a saúde pública e estas possam ser corrigidas num curto período de tempo, poderá ser acordado com o reclamado a correção da situação.

No caso das situa-ções exigirem outras medidas será notifi-cado o reclamante e/ou encaminhada a situação para outras entidades.

Verifica-se que, na maioria das reclama-ções apresentadas, e após a intervenção efetuada, existem entre o reclamante e o reclamado confli-tos pessoais, que caso não existissem possivelmente as reclamações não seri-am apresentadas.

Assim, e principalmente nestes casos, o Técnico de Saúde Ambiental deverá ter uma atitude apaziguadora, focando-se na situação que motivou a apresentação

da reclamação com objetividade, mos-trando firmeza, imparcialidade e colo-cando-se à margem dos conflitos en-tres as partes.

É importante que, para contribuir para a melhoria da qualidade de resposta dos serviços prestados pela USP à co-munidade, a todas as reclamações seja dada uma resposta e/ou efetuado o seu encaminhamento de modo a que sejam minimizados os riscos para

a Saúde Publica e para o Ambiente.

“O Técnico deve

saber ouvir/

escutar, sem

interrupções

nem

comentários,

mostrando

compreensão e

disponibilidade

para contribuir

na resolução da

situação“

Regina Costa Técnica de Saúde Ambiental

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C O N T E Ú D O S : E - B O L E T I M D A U N I D A D E D E S A Ú D E P Ú B L I C A

A C E S P I N H A L L I T O R A L

A espécie humana é o resultado de milhões de anos de evolução, no entanto estamos longe de nos consi-derarmos organismos perfeitos. A constatação de tal facto é fornecida logo que nos apercebemos da dete-rioração progressiva das nossas ca-pacidades vitais. A manifestação destes fatores é conhecida como envelhecimento e apresenta-se-nos como uma força incontrolável da qual ninguém escapa .

A Organização Mundial de Saú-de¹ referiu que o idoso é todo o indivíduo com 65 ou mais anos, independente do sexo e estado de saúde…

Ser-se idoso não é, à semelhança do passado, uma situação atípica. A crescente evi-dência estatísti-

ca do escalão etário com mais de 65 anos, decorrente do processo de envelhecimento demográfico sem antecedentes históricos, apresenta-se como um legado para o século XXI.

O envelhecimento é um fenómeno biológico intrínseco, psicológico, social e universal que afeta o ser humano em toda a sua identidade, transformando a sua relação com o tempo, com o mundo e com a sua própria vida. Aplaudido enquanto prodígio que diz respeito a todos, não se concretiza num problema mas sim num triunfo e em oportuni-dades ricas. Todavia, patenteia um grande desafio e responsabilidade para diversas realidades, na imple-mentação e melhoria de estratégias de intervenção, que mobilizem res-postas especializadas.

A velhice não é uma etapa apazigua-dora nem fácil de encarar, mesmo para aqueles que são autónomos, sem barreiras entre as várias faixas etárias por que já passaram, depa-ram-se com obstáculos quer sociais, quer culturais que lhes recordam constantemente acerca da sua nova fase de vida, com todos os aspetos negativos que esta trás².

O repúdio pela palavra “velho” indicia representações sociais negativas so-bre a vivência da velhice. Ninguém equaciona a alteração de palavras que designam outras etapas do nosso ciclo de vida, como criança, jovem ou adulto. Contudo, velho tem sido uma palavra a evitar e a substituir. Muitas tentativas se têm feito para encon-trar uma designação que não fira suscetibilidades ou que não tenha acoplado um sentido depreciati-vo...eventualmente outras virão, pois o sentido das palavras não lhes é ine-rente, está para além delas, enraiza-do algures entre o medo de ser velho e o desejo de viver muitos anos.

Destaca-se a necessidade e a urgên-cia de serem eliminados estes este-reótipos, sendo vital a mudança de mentalidades e atitudes, visto que estas condicionam em muito uma abordagem mais especializada, adap-tada às problemáticas, direitos e ne-cessidades da população idosa. Há que introduzir mudanças que têm obrigatoriamente de começar no interior de nós próprios, no seio da família e nos locais de trabalho.

Para lá de uma atitude generosa, a dedicação ao idoso é uma manifesta-ção de respeito e gratidão àqueles que nos proporcionaram a base das nossas vidas. São pessoas sábias, que nesta fase da vida, precisam não só de afetos, mas também de apoio nas situações práticas do dia-a-dia.

O que significa envelhecer com suces-so? Como é ser-se idoso nos dias atu-ais? O que deve cada um de nós fazer para lidar de forma bem-sucedida com esta tarefa da existência? Quais as limitações que enfrentam os ido-sos todos os dias? Será que damos respostas de qualidade a todas as necessidades deles? Que mudanças na sociedade permitirão que cada vez mais homens e mulheres envelheçam com sucesso?

Existem tantos tipos de envelheci-mento, quanto pessoas… não se deve padronizar, não há uma maneira correta de envelhecer, sendo que cada ser humano é único, permitindo que cada um possa ser tratado na sua singularidade e que possa tirar o má-ximo proveito disso para a vida.

As sociedades necessitam de desen-volver urgentemente, pensamentos,

filosofias, estratégias, estruturas e políticas para moldar o cimento, on-de se possam assentar experiências positivas de envelhecimento.

Embora ainda pouco presentes nas práticas quotidianas, conceitos como o envelhecimento ativo e bem-sucedido, a info-inclusão e a educa-ção/formação ao longo da vida, são agora frequentemente usados em espaços de reflexão teórica e em promissores planos de atuação polí-tica. Existem algumas estratégias implementadas, mas impera ainda a urgência de intervir ao nível das re-presentações sociais.

É verdade, envelhecer é inevitável, mas está apenas nas nossas mãos, a diferença entre o envelhecer invejá-vel, e aquele que a maioria dos ve-lhos considera ter, solitário e sofrido. É nossa missão, enquanto sociedade, encarar o envelhecimento da melhor forma possível, lutar por ele com qualidade e transmitir esta ideia a todas populações etárias.

A velhice tem que ser encarada co-mo o início de uma nova etapa da vida, que se bem planeada e desen-volvida, pode ser desencadeadora de realizações de projetos, planos e sonhos. O idoso deve por isso ser aceite como um ser humano, ativo, inclusivo, saudável, com vida, hábil, com vontade de aprender, que quer e procura prazer, alegria e felicidade.

Todos temos a ganhar com a valori-zação da pessoa mais velha, é sem-pre possível aprender e ensinar. Os velhos são fonte de sabedoria, são guardiães das tradições, são um po-ço de riqueza sem fundo, são um depósito de saberes, são o nosso futuro…

BIBLIOGRAFIA ¹ Organização Mundial de Saúde (2002). Active Ageing - A Police Framework. A Contribution of the World Health Organization to the second United Nations World Assembly on Aging. ² Pimentel, L. (2006). A prestação de cuidados a pessoas idosas dependentes: uma análise das rela-ções familiares intergeracionais e de germanidade. Tese de doutoramento. Lisboa: ISCTE REVIVE - Rede de Vigilância de Vetores. Disponivel em http://www.insa.pt/sites/INSA/Portugues/AreasCientificas/DoencasInfecciosas/AreasTrabalho/EstVectDoencasInfecciosas/Paginas/Revive.aspx

“…Existem

tantos tipos de

envelhecimento,

quanto

pessoas…

Assim, não se

deve padronizar,

não há uma

maneira única de

envelhecer…”

A Grandeza do Envelhecimento Renata Inácio Enfermeira de Saúde Pública

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Violência interpessoal: intervenção nos serviços de saúde A violência interpessoal é um preocu-pante problema de saúde pública, de elevada magnitude e transcendência, com impacto a curto, médio e longo prazo, na vida do(s) indivíduo(s) e da(s) sua(s) família(s) – uma violação dos di-reitos humanos.

Promover um modelo de intervenção estruturada da saúde, teve o seu supor-te no Despacho nº 31292/2008, que criou a Ação de Saúde para Crianças e Jovens em Risco, implementando a rede de Núcleos a Apoio a Crianças e Jovens em Risco nos Cuidados Primários e Hos-pitais – 87 na ARS Centro, 6 dos quais na área do ACeS Pinhal Litoral.

Em 2013, o Despacho nº 6378 de maio, operacionalizou a Ação de Saúde sobre Género, Violência e Ciclo de Vida, com implementação das EPVA (Equipas de Prevenção da Violência sobre o Adulto), alargando a intervenção na área da vio-lência às fases subsequentes do ciclo de vida.

Constituídas 63 EPVA na ARS Centro, 6 delas no ACeS Pinhal Litoral, quase coin-cidentes com as equipas dos núcleos.

Entre as competências, de umas e ou-tras, estão definidas, a consultadoria, a sensibilização e formação dos profissio-nais de saúde, a informação da popula-ção, a organização casuística, a gestão das situações de violência quando ne-cessário e a mobilização dos recursos internos e externos, fomentando um trabalho em rede.

Se é certo que a violência, podendo acontecer em qualquer fase do ciclo de vida, figuram entre os grupos mais vul-neráveis, as crianças e os idosos – as-sim, se em abril a ARS Centro dinamiza a campanha de prevenção de maus tra-tos a crianças e jovens, e já concretizada a 6ª, em novembro, decorre a campa-nha de prevenção “Á Violência: diga BASTA!!!”. Em Leiria, pelo grande empe-nhamento da rede de parceiros, as inici-ativas são diversas e em novembro tive-ram lugar um conjunto delas, dedicadas em particular aos idosos.

A Organização Mundial de Saúde, en-tende por Violência contra pessoas idosas “Qualquer forma de negligência ou de abuso físico, mental, sexual ou financeiro sofrido a partir dos 60 anos de idade” Sethi et al,, 2001.

Os maus tratos contra pessoas idosas, podem sê-lo por omissão (negligência, abandono) ou atos (violência física, vio-lência psicológica/verbal e exploração financeira).

Em Leiria, a 29 de novembro 2016, atra-vés do Fórum “A Violência sobre os Ido-sos. Afetos sem idade”, os parceiros pro-moveram um espaço de reflexão alargado sobre os aspetos do envelhecimento e divulgação de alguns projetos específicos.

Quisemos também nesse dia, homenage-ar os avós, simbolicamente, pelo neto Ruben ao seu avô Adelino, e da D. Armin-da que surpreendeu os presentes com poemas diversos … No final, ouvimos de-les “Não sabíamos que tanta gente se

preocupava com os idosos … mas ainda falta fazer muito”

Coloca-se assim para além da detecção precoce, um desafio maior na nossa intervenção – o tempo da prevenção, de estratégias mais eficazes com a cons-

trução de redes de suporte, para que seja claro o que escreveu a jovem Julia-na “Quando gostamos, é claro que cui-damos”.

Odete Mendes Médica de Saúde Pública

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“Muitos dos que convivem diariamente com a violência assumem-na como uma parte intrínseca da condição humana. Não tem de ser assim. A violência pode ser evitada. As culturas violentas podem ser mudadas.Os governos, as comunidades e os indivíduos podem fazer a diferença”.

Nelson Mandela

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Trata-se de um processo de relacio-namento entre financiadores e prestadores, que envolve ligação explicita entre o financiamento atri-buído e os resultados esperados, sustentado num sistema de infor-mação que permita um planeamen-to e uma avaliação eficazes, consi-derando como objeto do contrato metas de produção, acessibilidade, eficiência e qualidade.” (Ana Esco-val)

O modelo de con-tratualização deve-rá incorporar o novo paradigma da prestação de cuidados que se baseia na partilha do risco entre prestador e finan-ciador (metas exi-gentes mas atingí-veis) e na focaliza-ção nos resultados em que são defini-das claramente as responsabilida-des das partes envolvidas e que por outro lado visa garantir a sustenta-bilidade financeira do sistema.

Com o cum-primento das metas con-tratualizadas quer o ACES quer as suas unidades podem rece-ber incenti-vos, ou seja, prevê-se uma ligação entre desem-penho e ren-dimento. O slogan do

“Pagamento por Desempenho” não parece trazer perturbação especial, desde que se garanta a qualidade e segurança dos cuidados. Se por um lado a “quantidade” agrada aos gestores, sabemos que a qualidade agrada a todos os parceiros. Num processo de contratualização, e na gestão diária dos serviços de saúde, a governação clínica é uma premis-sa absolutamente fundamental, de forma a que as condições essenciais à prática não fiquem prejudicadas

face à tendência economicista da gover-nação da organização.

Seria interessante conhecer o impacto da contratualização na melhoria do esta-do de saúde das populações e por outro lado o impacto económico desse proces-so, através de um estudo de avaliação económica que fizesse uma análise com-parativa de custos e consequências (efetividade) relativos aos modelos al-ternativos, com e sem contratualização.

Enquanto isso não acontece, é possível encontrar na literatura inúmeras situa-ções de melhoria do estado de saúde no âmbito do pagamento por desempenho, como melhor controlo dos hipertensos, o melhor seguimento de grávidas e dia-béticos, a maior cobertura em planea-mento familiar e saúde infantil. Contu-do, é necessário que esses ganhos sejam duradouros e não limitados ao lapso de tempo da vigência dos mesmos. Existirá benefício enquanto há incentivos, mas após a retirada destes há a tendência para regresso à linha basal.

Os incentivos para tratamento de uma doença ou de uma condição podem ne-gligenciar a complexidade dos cuidados para outras situações, que ficaram fora da contratualização, por serem dispendi-osas e consumirem recursos, especial-mente entre os idosos com várias doen-ças crónicas. Nunca será lícita a questão: Se posso cumprir as minhas metas com pessoas saudáveis porquê aceitar no meu ficheiro os doentes?

Fala-se, cada vez mais, e também por isso, na remuneração por desempenho, mas com os cuidados centrados no do-ente e dando-lhe poder na decisão. Esta característica é transversal nos manifes-tos das sociedades médicas, já que para alguns profissionais há o receio fundado

de que as recompensas extrínsecas (os incentivos financeiros) substituam as motivações intrínsecas (o desejo de ajudar o próximo). Trata-se de uma situação preocupante que deve ser abordada no âmbito da ética das pro-fissões e que representa uma das mui-tas fragilidades da contratualização.

São múltiplos os desafios com que se depara este modelo de contratualiza-ção, mas, no global, defende-se que

deve refletir as necessi-dades reais da popula-ção, permitir a gestão participada e de proximi-dade e permitir o espírito de competição saudável entre as equipas. Os sis-temas de informação deverão ser credíveis de modo a facilitarem a monitorização e por ou-tro lado suportarem a investigação em CSP, de modo a credibilizar mais este nível de cuidados. A

informação disponível, agora enqua-drável na big data, permitirá criar mo-delos de avaliação de risco das popula-ções que no limite ajudará os profissio-nais na seleção de doentes para pro-gramas de prevenção, investigação em saúde, alocação de recursos e análise de qualidade.

O ano de 2017 trará um novo modelo de contratualização que se organiza em 5 áreas de análise - desempenho dos prestadores, serviços disponibiliza-dos aos utentes, qualidade dos cuida-dos prestados, formação dos profissio-nais e práticas de investigação imple-mentadas - sendo expectável que re-solva muitos dos constrangimentos apontados.

BIBLIOGRAFIA Escoval, A., Ribeiro, R. S., & Matos, T. T. (2010). A con-tratualização em cuidados de saúde primários: o con-texto internacional. Revista Portuguesa de Saúde Públi-ca, 9, 41-57.

Roland, M., & Campbell, S. (2014). Successes and failures of pay for performance in the United Kingdom. New England Journal of Medicine, 370(20), 1944-1949.

ACSS (2016). Termos de Referência para contratualiza-ção de cuidados de saúde no SNS para 2017. (documento de trabalho)

ARS Norte (2008). Contratualização com as USF: Relató-rio de 2008.

ACSS (2016). Termos de Referência para contratualiza-ção nos cuidados de saúde primários em 2016.

Afonso, P. B. (2010). Contratualização em ambiente de cuidados de saúde primários. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 9, 59-64.

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Contratualização. Motivações extrínsecas ? (continuação) Rui Passadouro Médico de Saúde Pública

“ (…) para alguns

profissionais há

o receio fundado

de que as

recompensas

extrínsecas (os

incentivos

financeiros)

substituam as

motivações

intrínsecas (o

desejo de ajudar

o próximo).”

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Talvez a mais sábia reflexão sobre a vida e a própria natureza huma-na:

A vida é curta, a arte longa, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil…

Hipócrates

Sobre o sonho, que comanda a vida, na sua relação com a nossa identidade e a nossa alma:

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de real-mente nosso, impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.

Fernando Pessoa

Oferecer amor... Vera Artilheiro Assistente Técnica (CEI)

A somar, deixamo-nos envolver completamente pela ‘azáfama do

consumo’, a qual tem vindo a tornar-se cada vez mais característica desta época.

O verdadeiro sentido do Natal é (ou deveria ser) o amor. Os presentes e todo o consumismo que se observa são a menor parte do que a vida, na

verdade, significa para nós.

Os sentimentos e afecto por aque-les a quem queremos bem deveri-am tomar a maior parte da nossa energia nas festas de final de ano. Desta forma, o Natal terá um signi-ficado mais especial e será certa-mente recordado por todos, mais do que os presentes trocados.

Então, mais do que qualquer pedi-

Acabámos de atravessar uma altura óptima de reflexão, de reunião e união com aqueles que nos são mais próximos, um período em que encerrá-mos mais um ciclo, ou seja, terminou mais um ano.

O Natal e o final do ano são épo-cas de balanço e oportunidade para reflectirmos sobre tudo o que está à nossa volta. Na maior parte das vezes vivemos tão cen-trados no dia-a-dia que aca-bamos por nos ‘acomodar’ e não saímos da nossa zona de confor-to, nem sequer valorizamos a nossa própria vida.

do que possamos fazer, é altura para agradecermos e valorizar-mos todo o ‘bem’ que nos rodeia e a sugestão é (por forma a viven-ciar o verdadeiro espírito desta época): oferecer o nosso AMOR!

Conhecem a expressão ‘o sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez’? Com o AMOR funcionará da mesma forma

Relembrando… Hipócrates e Fernando Pessoa

Existem coisas

que não se recuperam:

A PEDRA, depois de ser lançada

A PALAVRA, depois de proferida

A OPORTUNIDADE, depois de se perder

E o TEMPO, quando já é passado.

mais simples, quase envergonhados, que iluminam a entrada do Porto de

Chania, junto ao farol, na ilha de Cre-ta.

Outras vezes, a força vem da sua lumi-nosidade ou contraste de luz. É o caso dos caracte-rísticos cande-eiros da Foz, no Porto, ao entardecer, com reflexos de prata so-bre as águas do Atlântico e as típicas ro-chas negras dispersas. Também a Fonte de Trevi, em Roma, pode parecer um pouco estranha, fotografada à noite em tons de verde

e de doura-do.

Finalmente, o tipo de registo, mais natu-ral, é quan-do se situ-am junto a monumen-tos carismá-ticos e co-nhecidos.

Em viagens que tenho feito, dou por mim, algumas vezes, a dar voltas aos candeeiros de iluminação pú-blica, junto a monumentos e outros motivos de interesse, procurando perspectivas e en-quadramentos “diferentes” para registar fotos de recorda-ção pessoal e turística. Assim, fui coleccionando memórias...

Os candeeiros, conforme as suas características de estilo e de época, revelam muito da cultura e da história dos países e das cidades, afinal, da nossa civili-zação.

Desde logo, pela sua origi-nalidade. Há cande-eiros úni-cos, como o que registei em Trafal-gar Squa-re, no centro de Londres, rodeando a estátua de Lord Nelson, que aparece minúscula numa pers-pectiva de 3 estranhos discos octogo-nais, fotografados quase na vertical.

Algumas vezes, ilustram a paisagem de forma bela e serena, como acon-tece com os candeeiros distintos e altivos que ladeiam o Porto de Ná-poles, deixando em pano de fundo o Monte Vesúvio, ou com aqueles

Nestes casos, as fotos permitem relem-bra-los em simultâneo, em perspecti-

vas diferentes e geralmente um pouco acrobáticas.

Aqui ficam, o candeeiro, tipo roda de feira popular, da praça fronteira às Galerias Vittorio Emanuele II e Catedral de Milão, e o imponente candeeiro de 4 braços que adorna a Piazetta junto à Praça de S. Mar-

cos, em Veneza, vendo-se ao fundo as suas características estátuas do leão alado e de São Teodoro com o dragão.

Deixo o desafio, na próxima viagem, experimente dar umas voltitas aos can-deeiros!

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Ficha Técnica Propriedade: Unidade de Saúde Pública do ACES Pinhal Litoral

Corpo Editorial: Helder Carreira; Jorge Costa; Manuel Cardoso; Odete Mendes; Paula Silva; Rosário Correia; Ruben

Rodrigues; Rui Passadouro

Contactos: e-Boletim da USP do ACES Pinhal Litoral

Unidade de Saúde Pública Estrada da Mata, nº 56 Marrazes 2419-014 LEIRIA

Tel.: 244 849 000/10; Fax: 244 849 001; Correio eletrónico: [email protected]

Disponível em https://issuu.com/uspleiria; http://conteudosusp.blogs.sapo.pt

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Fotografia. À volta de candeeiros... Jorge Costa Médico de Saúde Pública