psicologia para educação dos filhos

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Psicologia para Educação dos Filhos[ 1 ] A educação dos filhos alcança uma importância fundamental para a estrutura da família. Tenho visto muitos casos de desajustes de comportamento dos filhos e de comportamentos inadequados como manhas, isolamento social, dificuldades de aprendizado, pirraças, atos agressivos e desobediência que comprometem a saúde familiar. Muitos pais levam os filhos à consulta e pedem ao Psicólogo para resolver os comportamentos desajustados. Relatam tudo o que acontece e depois dizem que já não sabem mais o que fazer com o filho. Para educar um filho de maneira saudável, é necessário uma boa base emocional familiar. No texto Sugestões para o Relacionamento Familiar discorro sobre maneiras práticas e úteis de relacionar-se e melhorar o clima emocional em família. A atitude mais normalmente encontrada pelos responsáveis é focar o problema no filho somente, como se ele fosse o causador isolado de todos os problemas e de seu próprio comportamento inadequado. 1- OS ARTIGOS EXPOSTOS NESTE TRABALHO SÃO DE AUTORIA DO DR. MARCELO QUIRINO É GRADUADO E FORMADO EM PSICOLOGIA PELO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. LICENCIADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. PÓS GRADUADO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL PELA UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES. ATUOU COMO DOCENTE DO SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DE DUQUE DE CAXIAS E É ESCRITOR E DIVULGA O CONHECIMENTO PSICOLÓGICO EM SITES DA INTERNET, JORNAIS E REVISTAS DIVERSOS. ATUALMENTE ATENDE NA CLÍNICA VIVER BEM ESPAÇO TERAPÊUTICO LOCALIZADA EM MACAÉ, REGIÃO DOS LAGOS DO RIO DE JANEIRO COMO PSICÓLOGO CLÍNICO DE CRIANÇAS, ADULTO, CASAL E FAMÍLIA. MARCELO QUIRINO AINDA É PSICÓLOGO INFANTIL NO CENTRO DE REFERÊNCIA E TRATAMENTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE II EM CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ. PARA OUTRAS INFORMAÇÕES, ACESSE O CURRÍCULO LATTES COMPLETO DE MARCELO QUIRINO CONTENDO SUA FORMAÇÃO, PERCURSO ACADÊMICO, PROFISSIONAL E PRODUÇÕES BIBLIOGRÁFICAS.

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Page 1: Psicologia Para Educação Dos Filhos

Psicologia para Educação dos Filhos[1]

A educação dos filhos alcança uma importância fundamental para a estrutura da família. Tenho visto muitos casos de desajustes de comportamento dos filhos e de comportamentos inadequados como manhas, isolamento social, dificuldades de aprendizado, pirraças, atos agressivos e desobediência que comprometem a saúde familiar.

Muitos pais levam os filhos à consulta e pedem ao Psicólogo para resolver os comportamentos desajustados. Relatam tudo o que acontece e depois dizem que já não sabem mais o que fazer com o filho.

Para educar um filho de maneira saudável, é necessário uma boa base emocional familiar. No texto Sugestões para o Relacionamento Familiar discorro sobre maneiras práticas e úteis de relacionar-se e melhorar o clima emocional em família.  

A atitude mais normalmente encontrada pelos responsáveis é focar o problema no filho somente, como se ele fosse o causador isolado de todos os problemas e de seu próprio comportamento inadequado.

Poucos voltam seus olhos para uma análise global do funcionamento da família e descarregam nos filhos a culpa de todos os desajustes que eles apresentam.

Esta percepção do problema em nada colabora para a efetiva resolução desses comportamentos inadequados. A educação dos filhos precisa ser entendida de maneira mais ampla.

A DINÂMICA FAMILIAR

Muitos imaginam esses comportamentos desajustados se devem a fatores de personalidade e de genética somente. Isto é um erro. A dinâmica familiar colabora muito para o resultado do comportamento dos filhos.

1- OS ARTIGOS EXPOSTOS NESTE TRABALHO SÃO DE AUTORIA DO DR. MARCELO QUIRINO É GRADUADO E FORMADO EM PSICOLOGIA PELO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO . LICENCIADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. PÓS GRADUADO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL PELA  UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES. ATUOU COMO DOCENTE DO SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DE DUQUE DE CAXIAS  E É ESCRITOR E DIVULGA O CONHECIMENTO PSICOLÓGICO EM SITES DA INTERNET, JORNAIS E REVISTAS DIVERSOS.  ATUALMENTE ATENDE NA CLÍNICA VIVER BEM ESPAÇO TERAPÊUTICO LOCALIZADA EM MACAÉ, REGIÃO DOS LAGOS DO RIO DE JANEIRO COMO PSICÓLOGO CLÍNICO DE CRIANÇAS, ADULTO, CASAL E FAMÍLIA. MARCELO QUIRINO AINDA É PSICÓLOGO INFANTIL NO CENTRO DE REFERÊNCIA E TRATAMENTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE II EM CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ. PARA OUTRAS INFORMAÇÕES, ACESSE O CURRÍCULO LATTES COMPLETO DE MARCELO QUIRINO CONTENDO  SUA FORMAÇÃO, PERCURSO ACADÊMICO, PROFISSIONAL E PRODUÇÕES BIBLIOGRÁFICAS. 

Page 2: Psicologia Para Educação Dos Filhos

Filhos reagem à maneira da família funcionar. São expressão de que na família algo está funcionando errado. Eles sinalizam a disfunção familiar e não apenas expressam comportamentos inadequados.

Para se ter um filho é necessário um planejamento. Precisa de conversa entre os pais, precisa de tempo para investimento e precisa de muito amor. Algumas negligências são expressões de falta de amor e ou de planejamento na educação dos filhos.

Por isso os pais devem conversar e planejar juntos a vinda e a educação dos filhos. Devem conversar sobre a postura de ambos na educação familiar e analisarem o filho como inserido num contexto maior que é a família.

SUGESTÕES PARA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

1) Não culpe seus filhos por tudo;

A primeira atitude dos pais deve ser se perguntar: o que talvez estaria colaborando para esse comportamento inadequado dos nossos filhos Ao contrário da maioria das perguntas, esta não é difícil de ser respondida, mas sim de ser feita.

A maioria dos pais entende a dinâmica da sua própria família, sabem o que pode estar funcionando de errado, mas evitam pensar nisso para não elevarem o nível de culpa e para evitar decisões que não queriam, como mudar relações com o emprego, o que seria um prejuízo profissional.

2) Busque encarar o problema com seriedade e coragem;

Alguns pais sabem que não conversam com os filhos, sabem que os deixam muito à vontade, sabem que não dedicam tempo de qualidade. Atitudes para mudar esses quesitos são necessárias.

3) Encare o problema de forma ampla;

Analise o funcionamento da sua família. Seus horários, a qualidade dos tempos, a forma da autoridade, se existem conversas, as injustiças, etc.;

Na maior parte das vezes os filhos estão soando o alarme de que sua família está indo mal. Pode ser que esse comportamento indesejado dos filhos seja o sintoma de uma disfunção que está presente em toda a família e não somente nele. 

Por vezes, problemas conjugais atrapalham a educação. No texto O Casamento Ainda Está na Moda? há uma análise sobre os beneficios do casamento. 

Algumas vezes você repete padrões familiares. Você pode estar cometendo os mesmos erros que seus pais cometeram com você. Pense nisto.

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4) Conheça-se. Busque saber o porquê sua maneira de educar seus filhos não está sendo eficiente;

Há pais que não planejaram a vinda de seus filhos e engravidam por acidente. Há uma grande possibilidade de esse filho ser indesejado inconscientemente no seio da família e até mesmo de ser rejeitado. Essa rejeição pode não aparecer em forma de violência direta, mas através de negligências na educação.

Há pais que não percebem que são injustos, que não realizaram sonhos e querem impor seus sonhos aos filhos, pressionam demais para que eles tirem notas excelentes, são tiranos demais ou são muito inábeis na arte de educar filhos. Só que isto tudo não é percebido e muito menos admitido.

5) Preste a atenção à qualidade do seu tempo com os seus filhos;

Muitos problemas de desajustamento acontecem não por falta de tempo, mas pela percepção que os filhos têm da qualidade deste tempo gasto. Ausências parentais podem contribuir para comportamentos desajustados tanto como a presença sem qualidade. 

Jogue bola conversando com o seu filho, pergunte sobre o dia dele, comemore com ele as conquistas, faça o pensar nos seus comportamentos e esteja pronto para ouvir.

Há pais que são negligentes em tudo. Quando estão por perto perdem a oportunidade de conversar e corrigir.

6) Pense em um plano de educação conjunto para o seu filho;

Você discute com seu esposo (a) a forma de educar os filhos, ou vai deixando acontecer? Pais precisam combinar isto. Ter um planejamento de comum acordo na educação dos filhos. Se vocês discordam muito na forma de educar, isto não deve transparecer para o filho. Ponha tudo em panos limpos o quanto antes.

7) Cuidados com as fontes de autoridade;

Fontes de autoridade não podem se chocar, não podem estar ausentes e nem serem injustas. Filhos reagem mal às discordâncias dos pais quanto à sua educação. Pais devem combinar a educação dos filhos e evitar discutir isto na frente deles.

Coisas como “pergunte ao sei pai, se ele deixa pode ir”, já é uma motivação para comportamentos inadequados. Se não souber o que fazer, diga ao seu filho “seu pai e eu vamos conversar e resolver juntos”.

Os filhos precisam perceber que ambos os pais estão comprometidos e discutem para chegar juntos a uma postura na educação dos filhos. Por isso, não transfira a responsabilidade para o outro.

Há casos em que essa autoridade é dividida com a avó ou com a babá. É um caso complicado. Converse e combine a educação com elas. A educação não precisa ser similar, mas não disparate demais.

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8) Cuidado com a palavra ‘sim’;

Para não serem importunados com o choros e birras os pais deixam os filhos fazerem tudo o que querem. Se você faz isso, perdeu a chance de corrigir e educar corretamente e está provocando mais comportamento inadequado.

Diga ‘não’ quando for necessário. Alguns casos sua decisão não precisa ser explicada, somente explique o porquê desse ‘não’ quando aquilo o que ele desejar for prejudicá-lo. Dizer “não e não e pronto” pode ser maléfico.

Explique para seu filho a sua postura, mas mantenha a autoridade para que ele não perceba injustiças. mas não se esqueça de que autoridade não é autoritarismo.

9) Mostre afetos positivos ao seu filho;

Filhos precisam ser amados em prática. Procure mais contato físico com o seu filho. Abrace-o, beije-o e se torne afetivo com ele. Não de forma exagerada, mas uma boa conversa com contato físico entre mãe e filho pode ajudar a aproximar psicologicamente os dois e colaborar com a motivação dele se corrigir dos comportamentos inadequados.

10) Por fim procure ajuda profissional de um Psicólogo se as coisas desandarem;

Se não souber e não tiver coragem para ajustar as coisas, procure uma ajuda profissional. Esteja certo de que o comportamento desajustado deve ser analisado junto com a família. O desajuste está em toda a família e não somente no filhos. 

Se tem duvida sobre o que é a Psicoterapia leia textos como Psicoterapia e Pra que Serve um Psicólogo.  

Tome iniciativa de investir na saúde psicológica e moral de sua família e busque o desenvolvimento e a saúde integral dela.

E para terminar, José de 11 anos e órfão tinha um histórico de várias passagens por famílias e devoluções da adoção por comportamentos inadequados. Já passara por mais de 12 famílias e todas devolviam ao orfanato por causa dos comportamentos inadequados.

Um belo dia ele foi adotado por Maria, uma pedagoga aposentada. Ela ainda dava aulas e já tinha percebido que o menino não era fácil, aprontava de tudo e tinha comportamentos muito inadequados.

Maria por vezes fazia vistas grossas às artes do menino. Um belo dia ela chegou em casa e o menino tinha quebrado vasos de planta, derramado leite e água pela casa toda, espalhado todas as roupas de Maria pelos cômodos e revirado todas as gavetas.

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Maria ficou furiosa. O sangue subiu e ela ofegante correu a passos apertados e rápidos caçando o menino pela casa até que o achou rasgando alguns documentos seus. Maria o agarrou fortemente pelos braços sacudindo intensamente e disse:

“MENINO, NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ FAÇA OU O TAMANHO DA SUA REBELDIA, SAIBA QUE EU VOU AMAR VOCÊ MESMO ASSIM, DESSE JEITO. EU NÃO VOU DEVOLVER VOCÊ. VAMOS JUNTOS APRENDER A NOS AMARMOS, TAL COMO MÃE E FILHO!”

Dizem as notícias que esta foi a última arte do menino acostumado a pintar os setes para provar os limites do amor.

Por fim, melhore a sua relação conjugal, os textos Os Ruídos da Comunicação Familiaraborda o tema da comunicação e como melhorá-la. 

DEPRESSÃO INFANTIL

Crianças se deprimem? Essa é uma das dúvidas mais presentes e que geralmente é mal respondida ou negligenciada pelos pais quando bem respondida por um profissional da área de Psicologia ou Psiquiatria.

Já trabalhei no texto sobre Obesidade Infantil alguns aspectos relacionados à obesidade e à saúde emocional em família. Hoje abordaremos Depressão Infantil. Uma patologia perigosa e quase não percebida.  

A depressão é um estado psicológico que pode ser definido por um desinteresse generalizado pelas atividades quotidianas e pelas relações interpessoais. Num adulto esse estado emocional pode ser percebido sem muito esforço.

Entretanto, na criança a detecção da depressão pode se tornar mais problemática em função de seu desenvolvimento, dos preconceitos que envolvem a percepção da infância e principalmente pela forma que a depressão se apresenta na criança.

Crianças se deprimem. E este estado psicológico deve ser observado pelos adultos responsáveis por ela, já que a criança não alcançou maturidade necessária para reconhecer as próprias emoções.

Geralmente manifesta-se por um desinteresse pelas atividades escolares e pelo lazer com os amigos preferidos e um isolamento social e pouca interesse por atividades comunicativas.

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Pode ainda se manifestar de outras formas. Desde distúrbios do sono, até agressividade e alterações do apetite. Crianças deprimidas ainda perdem energia física e mental

Vale ressaltar que a análise desses sintomas em separado não permite a definição de uma depressão. Para isso a consulta a um profissional psicólogo é indicada. No texto Pra Que serve um Psicólogo abordam-se introdutoriamente aspectos da Psicoterapia.

As causas de uma depressão infantil podem ser as mais diversas e a consulta a um profissional da área psicológica se faz necessário para averiguação e formulação de um diagnóstico adequado e individual para a recuperação.

Esse estado depressivo pode ser resultante de separação dos pais, de mudanças de endereços freqüentes que não permitam o aprofundamento dos laços sociais, de abusos sexuais, de inadequação escolar, de bullying (violência escolar), de inadequação com o grupo de amigos, dentre outros, de falta de contato afetivo e positivo com os pais.

A depressão infantil é muito confundida com manha. Mas deve ser dito que a manha é um comportamento que visa alguma coisa, visa demover os pais para a realização de algum desejo. Já na depressão esse desejo por alguma atividade ou objeto pode estar ausente.

A depressão infantil pode estar presente em diversas formas, desde um estado depressivo temporário até um estado depressivo onde haja disfunções hormonais mais sérias. Nesse ultimo caso, um profissional endocrinologista, além do profissional psicólogo devem ser consultados.

Algumas dicas úteis para se evitar o estado de depressão infantil:

1. Observe o comportamento de seu filho, preste mais atenção a ele de maneira genuína;

2. Esteja interessado nas atividades de seu filho e de seus círculos sociais, doe tempo de qualidade a ele, seja seu pai/mãe e amigo acima de tudo. Geralmente a distância psicológica pode ser mais prejudicial que a distância física;

3. Converse com ele, firme uma parceria de amizade, respeito e que o permita observar como digno de confiança;

4. Esteja em conexão com os professores, orientadores, supervisores e babá de seu filho, procure saber do dia dele;

5. Ame-o mais que a seu trabalho na prática;

6. Ausência dos pais ou uma presença de pouca qualidade afetiva positiva podem contribuir para um estado depressivo;

7. Estimule a autonomia, ao invés de proibir decididamente alguma coisa, busque a conversa. Injustiças dos pais contribuem para um estado depressivo temporário;

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8. Eles ficam com babá? Os pais trabalham? Cuidado redobrado na observação e na qualidade do pouco tempo que resta no lazer com os filhos;

9. Qualquer depressão está incluída num contexto disfuncional, pense qual seria esse contexto e procure evitá-lo;

10. O desempenho e a motivação escolar têm diminuído consideravelmente? Busque saber o que está acontecendo na escola, converse com os professores;

11. Percebe o seu filho isolado dos demais? Converse com ele sem impor a necessidade de se relacionar com os demais;

Por fim, se desconfia de que seu filho esteja com depressão, procure um profissional psicólogo e um médico psiquiatra para a assistência profissional adequada, antes que esse estado depressivo comprometa os desempenhos escolares, sociais e familiares de seu filho. 

Leia os textos sobre Relação em Família para obter dicas e promover um ambiente de saúde emocional dentro de casa.   

Afinal, os filhos precisam de cuidado e de atenção. Não devem ser postos em atividade para ocupar o tempo e desocupar o tempo dos pais. Ter um filho é ter responsabilidade de amor através de atenção acima de tudo.

CARÊNCIA AFETIVA

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Já trabalhei no texto Entre Tapas e Beijos relações baseadas em amor X ódio, analisando pessoas que só conseguem viver entre tapas e beijos. Também há uma análise sobre o Desamparo no texto Amor, Desejo e Desamparo. 

Mas agora falaremos daquela figura que sempre se faz de coitado reclamando a ausência de quem lhe ame. 

Quem não conhece a figura do carente de amor, aquele que sempre está carente e sozinho à procura do príncipe/princesa no cavalo que trará a felicidade?

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É o mesmo que nunca está satisfeito com o amor que recebe, aliás, só gosta de receber. Um tipo que está em eterna procura do amor ideal ou que sempre está sozinho procurando alguém especial. Geralmente encontra-se depressivo e só reclamando que ‘ninguém me ama’, mas não se torna atraente para o mundo.

Quando encontra um amor, alivia-se. Assim, ou cria um vínculo baseado exclusivamente no amor que recebe do outro ou se submete a uma forma de amor degradante, anulando-se, já que vale a pena por estar recebendo o ‘amor’ que tanto espera.

Sua autoestima e identidade estão no amor que vem do outro. Quando o amor e a atenção cessam, há crises depressivas. Geralmente tornam-se dependentes e chatos com ciúme excessivo. O carente é quem precisa do outro para existir e por isso têm alta probabilidade de desenvolverem relacionamentos com submissão.

Alguns pensam que isso é carência de amor. Ledo engano. A carência não é necessidade de amor. Carência crônica é resultado de desenvolvimento psicológico insuficiente.

Crianças que não receberam amor na infância crescem adultos carentes inábeis na arte de criação de amor de forma autônoma. Vivem numa eterna espera de amor na tentativa de curar uma falha primitiva do passado. Podem ter tido mães que não os davam atenção necessária ou que os mimou excessivamente sem frustração.

Essa relação de mimo excessivo com a mãe cria o que se chama posição narcisista (conceito muito mais complexo e de múltiplas facetas), em que a criança não aprende a tolerar frustrações, as diferenças do outro, as ausências, tem ego enfraquecido para lidar com angústias, se sentem menosprezadas quando não têm atenção da mãe e autoestima baixa. 

Geralmente o mundo gira ao redor do umbigo da criança mimada, não há outro com quem se relacionar. Assim, cria-se um estado de egoísmo, no qual a pessoa tem dificuldades em dar o que quer que seja ao outro no relacionamento. Tudo no mundo é apenas o próprio Ego e as suas necessidades.

Logo, essa carência não é de amor. É resultado de uma falha básica na constituição da personalidade, da identidade e da capacidade de autoestima. Quanto mais se dá vazão à carência, mais carente se permanecerá, pois o indivíduo não se relaciona com um outro, mas apenas com as próprias necessidades afetivas.

Assim, a carência crônica é falta de entendimento sobre o que é amar. O amor precisa ser forma e não conteúdo. O amor no relacionamento precisa ser forma de ser, forma que carreia um conteúdo, forma de se posicionar perante o mundo.

O amor no relacionamento precisa ser forma de ego estruturado, forma de emoções amadurecidas, forma que resultou da boa criação. O amor no relacionamento precisa ser forma de existir, forma de lidar consigo mesmo, forma de relacionar-se.

Amor não é sentimento que se devolve porque se recebeu. Amor se cria. É uma forma subjetiva que transmite o sentimento que criamos independentemente do outro.

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Amor só é amor quando se ama apesar de e não por causa de.  Amor merecido é uma desgraça.

Só assim você será autônomo para criar amor e a partir disso existir e não depender do amor de outrem para existir e se sentir valorizado, porque amor é uma forma de existência que carregamos para o mundo.

Só tratando as questões primitivas básicas o carente poderá existir atrativamente para um outro e amar de maneira mais livre, desimpedida, leve e autônoma. 

Por fim, faça o teste: Clique Aqui.

A Angústia Faz Parte

Texto da Coluna Mente Saudável do Baixada Fácil 

Ter uma mente saudável é um desafio para muitos, senão para todos. Mas em primeiro lugar, o que é ter uma mente saudável? É não ter angústia, stress, ou depressão? É viver feliz sorrindo o tempo todo em pleno gozo psicológico?

Desafio maior é saber o que é uma mente saudável e estabelecer o que queremos dizer com isso. Temos o aspecto neuronal, a memória, as emoções, os pensamentos e o comportamento social. Quando se fala em mente saudável, nos referimos a todos esses âmbitos da mente humana. O texto A Saúde da Mente pode evitar Doenças trata aspectos relacionados a saúde emocional e corporal e complementa esta temática.

É complexo falar em mente saudável. Receitas podem ser produzidas aos montes para se alcançar esse estado que no budismo é dito como nirvana, ou o estado de libertação da alma de algum sofrimento. Há receitas prontas em livros de autoajuda. Aliás, livros de autoajuda não existem. Existem sim livros motivacionais e alguns técnicos que apresentam propostas organizacionais para uma pessoa ou empresa.  

O que tais livros desconsideram – e por isso não dão certo – é o fator impeditivo de uma pessoa. Fator impeditivo é todo empecilho existente na pessoa para que ela aja, pense ou sinta de acordo com o proposto no livro de autoajuda. Para o autor do livro não é um fator impeditivo devido às peculiaridades de sua personalidade.

Por exemplo, o autor diz: ‘ter preguiça não leva a lugar algum, levante, defina seus objetivos e corra atrás de suas metas’, mas o autor desconsidera que o maior problema do seu leitor é justamente a tal da preguiça. O leitor sabe que precisa de metas e de objetivos. Mas porque não põe em prática isso em sua vida? Há fatores impeditivos que só se esclarecem numa análise. 

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Para pensar em mente humana, é necessário trabalhar com um raciocínio complexo. É o raciocínio que considera paradoxos, contradições, múltiplos fatores determinantes de um comportamento, imprevisibilidade, instabilidade e peculiaridade não-generalizável. Argh. Difícil isso? Quer se dizer apenas que falar de mente humana não é um papo simples. É complicado justamente porque envolve muitas coisas.

Para um pensamento complexo se torna imprescindível pôr à mesa o que temos par pensar. Psicologicamente, temos a memória, as emoções, os pensamentos, as angústias, os traumas, etc. Socialmente temos o meio social e os valores que habitam esse meio social, como o status, a imagem do que é valorizado numa sociedade, etc. Biologicamente, temos a estrutura genética duma pessoa somada à sua rede neuronal.

Culturalmente temos os hábitos de uma dada cultura, temos a herança cultural, a simbologia duma cultura, a maneira de um dado povo entender e criar a sua realidade, etc. Então, percebe que o ser humano é um peixe mergulhado num caldo de saladas que o envolve e influencia sua mente? É no meio disso tudo aí que está o ser humano.

Portanto, para falar de mente saudável precisamos estudar todos esses fatores que envolvem o ser humano e identificar onde, como e de que forma ele pode ter uma vida que consideramos saudável. A medicina, a biologia, a economia, a teologia e a psicologia juntas tentam identificar padrões de qualidade de vida, modos de diminuição do stress, tipos de pregações neoquerigmáticas ou de aconselhamento motivacional de púlpito como novas formas de se relacionar com Deus, meios para distribuição de riquezas, técnicas para seleção genética dentre outros métodos para possibilitar qualidade de vida e, portanto uma mente saudável.

Logo os parâmetros para se ter uma mente saudável é sempre uma invenção que se diz descoberta de algum campo de conhecimento. Essa ‘mente saudável’ nunca é um processo autônomo do sujeito. Ele sempre compra de alguém formas de se obter uma mente saudável. Dessa forma, o sujeito fica mal acostumado porque não dá uma resposta pessoal às angústias que experimenta no dia-a-dia e que só ele mesmo sabe como se apresentam diante dele.

Assim, não se divulga é que a angústia faz parte da vida humana. Mesmo que você tenha dinheiro, caro leitor e não precise trabalhar, sua vida será contaminada pelo tédio de não fazer nada e de ter tudo o que deseja. Se for um pobre desguarnecido financeiramente, terá a angústia de não ter o que quer da mesma forma. A temática de angustia que gera depressão está trabalhada no texto Depressão Social.

Com isso concluímos que mente saudável é sempre uma tentativa, um processo, uma invenção, uma história, um modo de ser de alguém, uma técnica, um pensamento, etc. Entretanto, não se quer desprezar as descobertas cientificas e as práticas religiosas para o alcance de um bem-estar.

O problema é como se entende esse bem-estar e o nosso nível de tolerância psicológica para um mal-estar que é inerente à nossa condição humana. O ser humano, nessas épocas tecnocientíficas, tolera menos a angústia, o que o faz desejar cada vez mais um bem-estar que o contemple com um nirvana aliviador.

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Grande parte de nossas angústias, nossos hábitos, modo de ser e de pensar vem de nossa cultura. Logo, a cultura – não a expressão cultural, mas sim o conjunto de valores e modos de ser que nos cerca como modos ideais – é o que nos permite adoecer psicologicamente.

Por exemplo, a necessidade inconsciente de ser reconhecido é o que nos faz correr como loucos para sermos o melhor na nossa profissão e obter status. Essa necessidade por si só pode gerar stress e depressão se não conseguimos.

O que se quer dizer é que é impossível se destacar da angústia que faz parte de nós. Querer se livrar da angústia é como querer se desumanizar. Quando vemos uma história triste, ou quando estamos apaixonados, por exemplo, isso em si é uma angústia. Só que experimentada como boa pela mente humana. Logo, a angústia faz parte de nossa existência. Essa sociedade é uma real produtora de angústia. Veja isso no texto Retratos desta Sociedade.

O que precisa mudar é a nossa tolerância para com ela e os ciclos em que estamos sob angústia ou sob relaxamento. Nessa sociedade perdemos a capacidade de relaxar de verdade e de ter uma mente menos angustiada.  Nessa sociedade, a correria impede a brincadeira e o lazer com os filhos. Nessa sociedade, tempo livre é sinal de perca de dinheiro. Não se pode perder tempo. Assim, não se pode ter conseqüentemente uma vida com qualidade.

Para se livrar da angústia da mente angustiada – e angústia tem de vários tipos - só abrindo mão da angústia de se ter que correr mais atrás de recursos para sair da angústia de não se ter recursos, mesmo assim, ficaremos com o tipo de angustia A só pelo fato de não termos angústia do tipo B. Sacou? Não?

Para se ter mente saudável, é preciso escolher qual angústia podemos tolerar e qual que não podemos. É simples. Você nunca estará sob o estado dum nirvana completo e nunca estará desprovido das angústias. Aprenda a lidar com elas, se conhecer, identificar e escolher qual delas você vai querer ter ao longo de sua vida como companhia. Assim, a sua única angústia vai ser a de fugir da angústia que você escolheu não ter, justamente por não tolerá-la.

Depressão Social

Já falamos em outra oportunidade da Depressão Infantil. Mas agora a temática e adulto.

A depressão tem muitas facetas explicativas. É um estado emocional que pode possuir diversas causas e ter diversos fatores envolvidos colaborando para sua manutenção.

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Uma das causas mais comuns nesses dias atuais é a depressão oriunda das expectativas frustradas e dos ideais abandonados. Explico.

Estamos numa sociedade que alia identidade à posse ou à status. Ou seja, só se é alguém se tiver posses ou possuir status que o diferencie dos demais.

A Sociedade não Colabora para a Saúde Mental 

Isso é um princípio inconsciente não declarado no meio social. Assim reza a propaganda que vemos na televisão, assim sentimos no meio social em que estamos inseridos, assim se vê ate mesmo no Orkut. A posse e o status diferenciam as pessoas entre si, conferindo valores inestimáveis, é o chamado ‘tirar onda’.

Isso é resultado dessa sociedade consumista narcisista.  É um mecanismo psicológico criado pelo meio social econômico capitalista. O capital precisa produzir esse tipo de associação para poder lucrar (ter = ser), caso contrário fale. Essa é a chave oculta de sustentação do capitalismo.

Só que isso produz estados psicológicos, disposições mentais, motivações especificas e comportamento nas pessoas. Elas precisam entrar na onda para tirá-la, senão não serão ninguém e isso é uma verdade que ultrapassa a todos, sem exceção em certo sentido.

Um dos estados mentais resultantes disso é a depressão. Deprime-se porque não se tem o que se queria, deprime-se porque não se é o que se gostaria de ser, deprime-se porque não se tira onda como os outros. Pode-se ainda deprimir-se porque não se tem a pessoa amada e idealizada. Veja esta problemática trabalhada no texto Carência Afetiva.

Vivemos uma fase de depressão por ausência de posse e de imagem. Não gozo o que os outros gozam, não sou como os outros são. E é isso o que me motiva: ter para ser e gozar. Se estou fora desse ciclo, deprimo-me.

Essa é a sociedade do espetáculo, como já disse Debord. Essa sociedade do espetáculo produz deprimidos, que são na verdade os excluídos sociais e que estão excluídos do grande circo que é essa sociedade de posses e imagens.

No Mundo de Competição a Inveja faz parte de Todos 

E onde entra a inveja? É que temos uma ideia errada de inveja. Psicologicamente todos a possuímos, sem exceção. É justamente a inveja de ter o gozo que o outro tem que nos leva a ficar deprimidos. É um mecanismo psicológico inconsciente e arcaico. Muito difícil de entender, mas que existe.

Agora, porque um texto como esse numa coluna como essa? Porque não subestimo meus leitores. Sei dos valores que eles possuem e dos seus gostos literários. São bons. Não adianta ficarmos aqui escondendo a verdadeira raiz de alguns estados psicológicos dizendo que são frutos de um neurônio com defeito porque não é bem assim.

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A depressão se cria no meio social e dela é efeito. Somos seres simbólicos que valoramos tudo ao nosso redor. Se algum valor não é positivo, a coisa vai mal em nossa psique.

Portanto, a depressão pode ser resultado de sua inveja de não ter o gozo consumista que os outros possuem. Logo a depressão pode ser resultado de uma exclusão social e econômica que infelizmente pega a muitos no meio capitalista. Queremos estar num lugar social e não estamos, logo deprimimo-nos.

Afinal, capitalismo só existe se houver exclusão, porque essa é sua ideia: o acúmulo. E se alguns acumulam, outros sofrem defasagem. Tanto em sentido econômico quanto psíquico. O texto Retratos dessa Sociedade nos traça um perfil dessa sociedade atual que colabora para a depressão. 

Nesse sentido me rendo àquele livrinho sábio que nos dá uma resposta eficiente, mas ignorada nos dias de hoje: não ajustais tesouro onde a traça e a ferrugem consomem.

Por fim, não deixe de ler o texto sobre A Realização do Voluntariado, onde demonstro a relação que há entre saúde emocional e o ato de amar.  

Expatriados da Família

As aves de nossa terra gorjeiam melhor. Só lá nos divertimos melhor com nossa bicicleta, nossa ginástica, nosso burro brabo e nossos banhos de mar. Fora de nossa terra não temos a mulher que queremos, não somos amigos do rei e nada tem graça.

Portanto, estar longe de nossa terra é sempre um desafio para sabermos o quanto nossa própria companhia é agradável. Às vezes nos enjoamos de estar conosco mesmos, por mais brilhantes que sejamos e assim bate o tédio.

Em outro texto abordei a temática do Relacionamento Familiar. Neste, abordarei a falta dele.

Vou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou feliz Lá sou amigo do rei

Manuel Bandeira

Essa distância familiar ocasiona a depressão circunstancial. Que nada mais é do que uma forma de depressão aguda, intensa e relacionada a um fator específico e não-existencial. É uma forma de depressão fácil de tratar. Entretanto, quanto menos dificuldade de adaptação na nova realidade se tiver, mais perdurará essa depressão.

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Essa depressão circunstancial pode ser ainda resultante de uma negação em adaptar-se. A pessoa indignada com essa nova realidade distante imerge em profunda ira contida e se nega a sair e aceitar que precisa recriar seus laços sociais novamente. Um outro texto que fala do tema é o Depressão Social.

Nesse sentido, uma personalidade filoneísta e desapegada à família e atraída por aventuras é essencial. Quanto mais uma pessoa tiver essas características em sua personalidade, mais fácil será a adaptação. Contudo, nem todos são agraciados com uma personalidade filoneísta.

Há pessoas que convivem em estreita relação com a família base e que não conseguem desvencilhar-se emocionalmente da proximidade da família de forma alguma. Para essas pessoas, repensar o distanciamento da família é importante, pois caso tenha inabilidade em lidar com a depressão circunstancial, poderá haver risco de psicossomatizações e problemas de saúde, pois a depressão que até então era aguda, se tornará crônica.

Uma sensação ambígua. Uma confrontação constante entre a liberdade e o vazio. Em que na maioria das vezes, as conquistas ou as coisas mais belas que estão

diante de nós perdem o sentido. Marcos Paulo 

Desenhista da Eletrobrás Eletronuclear Paraty

O distanciamento da família pode gerar uma depressão aguda e profunda chamada de vazio. É um estado psicológico de muitas camadas emocionais, como a ira, indignação, tédio, angústia, desmotivação, desespero, ansiedade, estresse e em casos mais graves as posicossomatizações. 

O quadro psicológico de quem tem dificuldade de adaptação e está distanciado da terra de origem ou da família é um quadro rico em vivências emocionais das mais diversas. Isso justamente por ser o laço social um fato fundante do equilíbrio psicológico de qualquer sujeito. Distanciar-se da família possibilita por em xeque esse fundamento psicológico compartilhado e sustentado com os pares.

Essa vivência emocional rica pode trazer prejuízo às funções psicológicas, às funções profissionais e claro sociais de um apartado. Em longo prazo representam um risco. Em curto prazo é uma possibilidade de conhecer-se e se analisar na forma como o ego se ajusta a novas realidades.

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O ser humano precisa de laço social para ter equilíbrio psicológico. Alguns têm dificuldade em adaptar-se e aceitar tal nova vida, mas estar desarmado nessa batalha é sinal evidente de adoecimento psíquico. Para adaptar-se tente refletir sobre alguns procedimentos não-protocolares listados abaixo:

Pense que você precisará seguir um princípio: manter o antigo somado a uma abertura para o vislumbre com o novo. Assim há um duplo processo: o de adaptar o ego à nova realidade e o de manter as nossas raízes alocadas nas nossas memórias e preferências associadas a prazer. 

Na verdade não sei se isto seria "uma saída", mas o que procuro fazer é ocupar meu tempo com atividades que exigem uma atenção exclusiva. O tempo parece passar

mais rápido, e os problemas parecem pesar menos.Júlia Rodrigues

Gerente Comercial AC/BP Rio Claro 

Algumas Dicas para se defender da depressão circunstancial

Crie suas próprias estratégias de fuga e de defesa quanto à nova realidade. Em casos graves, pode ser terapia, ou alguns desses citados abaixo. Vale ressaltar que a receita pronta para cada mazela humana não existe, mas valem algumas orientações básicas tais como:

1.    Cercar-se de expatriados;2.    Vislumbrar novas possibilidades de conhecer pessoas interessantes;3.    Buscar entender e se encaixar na filosofia local, parecer com o local. Isso não

é fácil, mas busque. Não significa violentar-se, mas viver daquele modo e demonstrar seu modo de viver;

4.    Levar alguém a tiracolo;5.    Conectar-se;6.    Visitar lugares que lembram a pátria;7.    Reserve dinheiro para viagens freqüentes para voltar à terra natal;8.    Envolva-se com trabalhos voluntários onde estiver. De significância nobre à

sua presença no local;9.    Tenha pouco tempo de ociosidade;

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 Lido com a situação entendendo que retornarei para casa. Retornar é excelente. E ofereço a solidão como um ato de culto a Deus. Estou

passando por aquela situação por estar servindo-o. E leio. Geralmente um livro inteiro, e uns trinta capítulos da Bíblia por dia.

Pr Isaltino GomesPastor da Igreja Batista Central de Macapá

Poderíamos falar de outros expatriados, como os presidiários e os hospitalizados. Esses também são privados da convivência familiar freqüente e enfrentam problemas psíquicos por conta disso. Mas isso é tema para outro momento.

Até o próximo. Espero enriquecimentos, pois você é portador da Psicologia. Ela está aí, dentro de você.

PS. Agradeço aos colaboradores desse texto, Marcos Paulo, Júlia Rodrigues e Pr Isaltino Gomes. O relatado pelos colaboradores não necessariamente expressa uma situação de vida atual, mas apenas uma experiência pela qual já passaram em algum momento na vida.

Quando o Amor não Vem

Por que não encontro o amor da minha vida? Mas será que preciso de um?

Em outra oportunidade escrevi que os carentes não precisam de amor. Em outro texto, Entre Tapas e Beijos, que é um texto-base da entrevista que concedi à TV Brasil, abordei relações que só convivem entre tapas e beijos. Por hora nos deteremos aos solitários do amor.

 Algumas pessoas parecem tem uma habilidade incrível para estarem sozinhas. Meses, anos, décadas. E nunca encontram um parceiro que julgam ideal. Chegam até a se deprimir com a solidão. Algumas encontram parceiros, mas os rechaçam por algum ou outro motivo por não passar no crivo.

O que está acontecendo com os homens? Dizem elas. E eles dizem: não há mulher séria mais? Que isso? Que frases são essas sem nexo? Como esses dois grupos que reclamam não se encontram?

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O que impede esse encontro de amantes? Acabou a paixão neste século de liberação sexual? Pode ser que sim. Na época da repressão sexual poderia haver mais fatores que potencializavam o enamoramento, ou o casamento forçado por conveniência, mesmo sem amor, proporcionava uniões estáveis duradouras, pois se separara não estava na ordem do dia da sociedade do século XX.

Aliás, o sonho da mulher do século XX era ser dona-de-casa. Sim! Isso mesmo, por incrível que pareça, para algumas mulheres, essa ideia era fixa e até deprimia quem não conseguia se casar. Ou seja, tudo era direcionado para o encontro de um parceiro e para o casamento. Essa era a rota única para conferir processos de identidade.

Será que a mulher do século XXI é mais sonhadora e idealizadora e o homem deste século é mais mulherengo? Estamos mais intolerantes às imperfeições do outro? Estamos idealizando? Sonhando com o cavaleiro no cavalo branco? Querendo a mulher perfeita dona de casa, trabalhadora, que paga suas contas e que sabe amar direito? O incrível é que os solitários respondem não a essa pergunta e ainda estão solteiros mesmo assim.

/ “Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar.  

Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.”

 Clarice Lispector In Um Sopro de Vida

Acontece que com a liberalização da sociedade antes repressora e com a ampla liberdade escolha, estamos mais temerosos de amar. Porque se livres somos, livres escolhemos quem quisermos para amar e ou terminar de amar a qualquer hora. Somos intensos e nos protegemos contra essa intensidade através da cautela. Melhor só do que mal acompanhado, dizem.

Numa sociedade onde família era tudo, a pressão para manterem-se juntos cimentava o casamento e a união para torná-la estável. Hoje, uma outra mentalidade social atravessa o modo de ser atual. A carreira, os estudos, o trabalho parecem ter mais importância do que a vocação para ser sustentador de uma família ou dona-de-casa.

O eixo de direcionamento dos esforços mudou. E o que isso tem a ver? Torna o crivo da seleção possível e as pessoas se tornam mais solitárias. Alias, o tempo da família e da relação consomem o tempo produtivo. É melhor ser um do que dois, ou um que carrega o segundo nas costas. Isso explica tudo? Não sou simplório. Os fenômenos sociais como o da solidão em massa precisam de análises psicossociais mais aprofundadas e conseqüentes.  

Muitos buscam o apaixonar-se, o clima, o inesperado, a química perfeita que nunca vem. Mas estão sempre fechados para o novo, sem abertura para as possibilidades e sem olhos para novas oportunidades. Para apaixonar-se, é preciso posicionar-se como um psicanalista: sempre à espera do inesperado, da surpresa. Para isso, só desprovido de preconceitos e de previsões limitantes da vivencia emocional. Livre-se disso tudo.

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Há três tipos básicos de solitários do amor:

1.     Os desafortunados. Esses são marcados pela ausência de oportunidade. Esses são inábeis em criar a oportunidade e quando aparece não se dão conta. A ausência de oportunidade não é um infortúnio à mercê do tempo que falta, mas pode ser uma falta de oportunidade realmente criada, seja por temor, seja por trauma com relacionamentos anteriores, seja por autopunição (acredite, isso existe), etc. Esses desafortunados podem ter pouca habilidade social e ter uma personalidade cinza, pouco interessantes e chatos ou portarem algum transtorno antissocial leve, moderado ou grave.

2.     Os prioritários. Esses são marcados pela prioridade que estabelecem. Esses têm oportunidade e poder de escolha, mas preferem outras coisas e não sofrem pela falta do amor que não aparece. Encontra na ocupação uma forma de ser que preenche sua vida por completo. Pode sentir falta de um parceiro, mas só se tiver recalcado no inconsciente.  Os solitários por prioridade são muitos e se subdividem. Podem valorizar o trabalho, o cuidado com a família de origem, uma fantasia de amar e não se apegar, etc. Os prioritários podem ser ainda aqueles que se mantêm sós seja por defesa contra frustrações, ou por vingança oculta contra traições, ou por proteção fantasiosa contra o relacionamento dos pais que era conflituoso, etc.

3.     Os deprimidos sonhadores. Esses têm oportunidade e podem ou não ter alguma prioridade, mas não estão sozinhos por escolha. Podem ainda estar sós por motivo de ocupação, mas ainda reclamam a falta de oportunidade e podem ser sonhadores exigentes-idealizadores-temerosos. Esses são marcados pela impossibilidade de amar, pelo menos tal como sonham inconscientemente e não sabem. Podem ser ainda deprimidos por autoestima baixa, o que proporciona repulsa nos candidatos ou falta de atração. Podem ainda ser os que mantêm fidelidade a um amor platônico, ou serem exigentes ao extremo, seja por utopia ou autoproteção.

/ “As paixões ensinaram a razão aos homens.”Shakespeare

Pense nisso caso a solidão te incomode:

A.    Onde você está procurando?B.    O que anda priorizando?C.    O que anda valorizando?D.    O que você está esperando?E.    Quem você é e como pode aperfeiçoar-se?F.    O que você atrai com suas mensagens indiretas pelo comportamento?G.   O que em você repele as pessoas?

/ “Nós nunca somos tão desamparadamente infelizes como quando perdemos um amor.”

Sigmund Freud

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Para complementar esse ciclo de leitura sobre temática amor, vale a pena da ruma lida emQuando o Amor Esfria, um texto onde pretendo sem pretensões explicar o esfriamento afetivo de alguns casais.

Gostaria que você participasse pelos comentários respondendo a alguma dessas perguntas:

A.    Por que ficar solitário é bom?B.    Por que você está solitário?C.    O que falta para ter um parceiro?D.    Porque é difícil ter um parceiro sério nesses dias?

A Realização do Voluntariado

Perante algumas milhares de horas de atendimentos psicoterapêuticos, podemos tirar uma conclusão frente ao adoecimento psicológico. Em grande parte das estruturas psicopatológicas está presente uma mesma incapacidade humana.

Óbvio que em cada psicopatologia há uma especificidade que a caracteriza e a distingue das demais. Mas, contudo, podemos traçar eixos de análise entre elas que nos permite auferir estruturas comuns e que muito tem a ver com a forma de relação social predominantemente estabelecida em sociedade. A sociedade de hoje, pós-moderna, não é diferente.

Freud, ao estruturar a Psicanálise não a fez como uma ciência do estudo do cérebro e dos neurônios. Não é uma 'ciência' onde o cientista psicológico se isola numa sala com o paciente num divã e à mercê de todas as relações sociais daquele paciente, estuda uma mente doente. Nada disso.

O Homem Sofre pela Cultura 

Freud o tempo todo demonstrou que há íntima relação entre os valores sociais de uma dada sociedade e o sofrimento mental. Que isso quer dizer? Que o sofrimento psicológico tem muito menos a ver com neurônios que dão defeito do que com a rede de valores que existe em sociedade. Difícil isso? Explico. Mas antes, saiba que o

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texto Depressão Social traz uma análise introdutória da angústia social desse tempo. 

Somos seres simbólicos. Ao contrário dos animais, significamos as coisas, damos valor a elas e as diferenciamos. Criamos significado e nos prendemos a eles. É isso que faz com que um Audi tenha mais significado pra uma pessoa do que um Peugeot. Ambos andam e cumprem bem o seu papel. Sem ingenuidade claro, pois sabemos que há diferenças operacionais e estruturais específicas entre eles.

Podemos ainda dar muito valor ao corpo, à autoimagem e ao marketing pessoal. No século XX uma mulher virgem tinha muito mais valor do que uma não-virgem para se casar. No século XIX o nome de uma família era tudo. Hoje, resguardados os tradicionais, não mais funciona assim. Conheci pessoas idosas que se deprimem até hoje profunda e melancolicamente por não terem se casado de véu e grinalda, numa época onde esse rito de passagem social formava a identidade pessoal de uma pessoa. Hoje não mais. Casa-se, separa, mas a identidade permanece a mesma, pelo menos pra alguns.

É por isso que a Bíblia diz: "Onde está o seu tesouro, aí estará o seu coração". Há pessoas que devido à estrutura mórbida da personalidade colocam esse tesouro no passado, ou no futuro,  ou ainda em fantasias  psicológicas profundas que nada mais são do que sonhos patológicos com um outro alguém salvador que há de vir trazendo a felicidade tão mereciida. 

Mas voltando e sem mais delongas, a nossa realidade é composta de uma rede de significados que nos estabelecem. Se um desses significados vai mal, adoecemos. É isso o que Freud descobriu. Ele estudou os efeitos dessas relações sociais sobre a mente.

Assim, como a sociedade muda, podemos inferir que as psicopatologias acompanham isso.  Na época de Freud existia uma tal de histeria (psicopatologia da repressão sexual excessiva daquela época). Hoje com o liberalismo sexual, um histérico é um diamante de ouro, mas os encontramos, principalmente em algumas tribos cristãs tradicionais. 

Os Valores Atuais Formam um Novo Inconsciente Coletivo 

E hoje? Se fala de quê? Stress, ansiedade, (nada a ver com falta de tempo né?), transtorno do pânico e depressão (algo relacionado à ausência familiar? Pode ser em alguns casos), vazio existencial (falta da estrutura familiar afetiva e descartabilidade das relações sociais), dentre muitas outras que são típicas do hoje. Sabia disso? Bom, não fores líder ou ministro, sem problemas.

E que ‘valores’ sustentamos hoje? Pensa aí. Autoimagem, resultado acima de tudo, sacrifício da família em prol do trabalho, carreira, interesses sociais, sexualidade, status social, e mais alguns. O resultado disso é aquele padrão no adoecimento mental que apontei lá no primeiro parágrafo. O texto Retratos dessa Sociedade se presta a essa análise. 

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As pessoas hoje perderam uma capacidade básica da afetividade. Estamos tão centrados em nós mesmos que nos esquecemos do outro. Só que isso tem conseqüências negativas sobre a subjetividade humana, mas parece que ninguém sabe disso. Alguns cientistas socias já fizeram estudos com bebês humanos que foram deixados sem afeto: morreram.

Contudo, não darei de mão beijada a resposta sobre qual capacidade é essa que falta a alguns do século XXI. Só posso dizer que Cristo a desempenhou muito bem, assim como Madre Tereza e Gandhi. E agora pergunto: o que eles tiveram em comum? Devido a tal capacidade, o sofrimento psicológico passou muito longe deles.

Pois é, o voluntariado possibilita experimentar e promover esse algo perdido nesta sociedade interesseira. Uma capacidade que essas três Pessoas supracitadas foram mestres em fazer. Mas o que será? Pense.

O voluntariado possibilita ainda transformar o mundo à nossa volta através da ação por partes, possibilita resgatar o que se perdeu neste século, algo que tem mais a ver com dar do que com receber...

É isso, uma mente saudável, uma vida de sucesso...

Princípios Básicos de Aconselhamento

Texto publicado pelo O Jornal Batista

No texto Fundamentos do Aconselhamento discorri sobre como manter e desenvolver o vínculo no processo de Aconselhar. Aqui falo de aspectos gerais desse processo.   

O ouvir é uma habilidade rara. Ainda mais ouvir integralmente e com empatia o outro. Geralmente quando se acha alguém que aparentemente ouve, pode se ter na realidade alguém que apenas fica em silêncio ouvindo os próprios pensamentos enquanto o outro fala e que seletivamente ouve, imbuído de preconceitos e censuras ao outro.

Ouvir uma pessoa é saber que ali há um corpo que fala além de apenas uma palavra que diz. Ouvir uma pessoa é saber que há um outro diferente de nós e não apenas similar pelos valores cristãos. Ouvir uma pessoa é saber que apesar de convertida, é uma pessoa com conflitos interiores, típicos do humano.

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É imprescindível saber que no mesmo tempo em que a pessoa fala, nossos pensamentos de censura e repreensão, falam também. Não dê ouvidos a eles. Apenas à fala da pessoa nesse primeiro momento. Para os cristãos, um outro Ser que falará com você com certeza nesses momentos é o Espírito Santo de Deus. Seu agir é imprevisível no sentido do momento e da direção que Ele quer dar para aquela pessoa.

Aporte no AC (Aconselhamento)

Para os cristãos, a oração pode ser realizada no meio do processo de AC, antes dos questionamentos e depois da fala inicial da pessoa. Orem e depois continue o processo. Muitas vezes numa oração no meio mesmo do Aconselhamento pode possibilitar ao Espírito[2] o momento que ele precisa para com a ajuda do Conselheiro realizar sua função (Jo 14:26).

Ofereça ainda versículos e fatos bíblicos, mas respeite a sua liberdade de escolha. Em casos mais graves é aceito uma atitude mais diretiva, aconselhadora. Em outros, o questionamento resguarda a individualidade e oferece a possibilidade de esclarecimentos e de reflexão, de tomada de consciência da própria vida.

Controle os impulsos de dar sermões e contar histórias nesse momento e de caminhar por explanações bíblicas vagas, a pessoa quase sempre não ouvirá, a não ser a própria angústia. Por isso ajudar a pensar essa angústia, a elaborar essa angústia biblicamente é o foco do Aconselhamento. 

Muitos Aconselhamentos de cristãos são ineficazes, pois os pastores confundem a função do Púlpito com a função gabinete. A função do Púlpito é a de expor uma Verdade Bíblica, já a função do Gabinete é a de contrapor a angústia pessoal com a Bíblia.

A exposição da Bíblia não é um momento proibido, mas deve ser em momentos em que a capacidade de a pessoa ouvir já se restabeleceu. O conselheiro deve estar sensível para isso. Há momentos em que a pessoa não ouve, só fala, pois o nível de angústia é grande. Se o conselheiro passa uma mensagem de falante, isso se irradia para a comunidade e sua função de AC fica comprometida.

Esteja atento para as motivações latentes de seu liderado. No texto Motivações Ocultas dos Liderados explico o que é isso e como lidar com esse desafio.  

2 - O Espírito ainda lembra sobre como proceder e aconselhar aquela pessoa à sua frente. Isso virá como um sentimento de intuição. Só cuidado para não ouvir os seus pensamentos e imaginar que é o Espírito Santo. Um bom princípio para evitar isso seria: estude muito a Bíblia e a ação do Espírito ao mesmo tempo em que se aprimora em Aconselhamento  e Personalidade Humana. Saberá discernir as vozes que operam em si. Por exemplo, o Espírito Santo, apesar de sua liberdade de ação e Soberania, nunca proporia uma ação que violentasse a pessoa, tal como repreender fortemente no momento em que a pessoa estiver em prantos. Analisar os comportamentos de Jesus é o principio abalizador que há de fornecer princípios-base para discernir a Voz do Espírito e a voz do coração. Há de se ressaltar também que no momento em que o conselheiro se aprimora nos estudos de Personalidade Humana, as vozes e intuições humanas que operam dentro dele no momento da escuta se tornam mais eficazes.

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Alguns Processos do AC

Ofereça um clima de escuta sem censura, com empatia, liberdade de fala, aceitação total e interesse em entender. Escutar é uma ciência e possui princípios que devem ser seguidos para que haja eficiência e eficácia no processo de escuta do AC.

Ouça, ouça e ouça muito. Forneça feedback que está ouvindo, compreendendo e entendendo, independente de estar concordando ou não com as atitudes relatadas. Não ofereça um ambiente de censura e repreensão nessa primeira etapa de escuta. Apenas ouça, não ouça seus pensamentos e conjecturas sobre o caso. Ouça a pessoa, sua fala, suas emoções, seus sentimentos e seu corpo que se comunica também o tempo todo.

Utilize uma atenção flutuante, que é a capacidade de ouvir tudo sem selecionar, focar ou concentrar em partes da fala para análise paralela na mente enquanto se escuta o outro. Essa atenção flutuante é a capacidade de oferecer escuta a toda a fala sem se focar numa parte dela para análise ou reflexão. Às vezes o conselheiro ouve com seletividade e ao mesmo tempo em que pensa. Isto é prejudicial.

Os estudos de teorias sobre a personalidade e sobre a psicologia aumentam a capacidade de ouvir. Quanto mais conhecimento tiver sobre como é o funcionamento psicodinâmico do ser humano, maior é a capacidade de se ouvir na totalidade todas as partes da psique: a fala consciente, a fala inconsciente, a fala dos sintomas e a fala do corpo.

Quando se entende que a mente é um misto de ‘carne’ com espírito se entende que na pessoa coexiste uma força que a impele de fazer algo e ao mesmo tempo uma outra força que impede de fazer esse algo. Como Paulo dissera: “o que quero não faço, já o que não quero esse faço...”

Perguntas podem ser feitas para a escuta se aprimorar. Mas que sejam perguntas que esclareçam a fala da pessoa. Intervenções curtas para esclarecer não devem ser feitas no momento em que a fala representa um desabafo ou uma catarse emocional, onde o fluxo não deve ser interrompido.

Para ouvir com empatia[3], coloque-se no lugar da pessoa. Ela tem o direito de sentir raiva, impulsos violentos e agressivos, afinal é um ser humano. O problema é o que ela faz com esses impulsos e como os controla. Por isso, demonstre uma escuta acolhedora, sem repreensão, até em momentos em que ela estiver dizendo, por exemplo ‘ai, que vontade de matar aquele homem’.

Não censure pensamentos pecaminosos de pronto. Aborde o tema depois com cuidado e pelas ‘beiradas’, quase sempre se percebera que esses pensamentos nunca seriam postos em ação. Esses pensamentos pecaminosos são resultado de um

3 - Não se deve nem pensar em repreensões no momento da escuta, nem realizar julgamentos de censura no momento em que se ouve, pois seus pensamentos de repreensão podem ser captados pelo inconsciente da pessoa e gerar um bloqueio na fala dela e comprometer o processo de escuta.

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aprendizado de vida traumático na infância, um aprendizado emocional, um aprendizado oriundo dos pais, de como resolver problemas.

Aumente a capacidade de awareness da pessoa: aumentar a capacidade de olhar para si para os seus sentimentos e expressões e comportamentos. Ajude-a a demonstrar suas expressões, seus sentimentos e suas emoções. Por exemplo: ‘percebo que essa ansiedade atrapalha em muito a sua capacidade de trabalhar em calma’, ou ‘noto que o fato de o seu marido não te ouvir causa em você uma raiva muito grande e que você não expressa’.

Espelhe a fala, resuma a fala para mostrar que a entendeu e para checar se entendeu. Esse resumo e espelhamento da fala da pessoa oferecem a possibilidade de demonstrar que ela está sendo acolhida e respeitada em sua individualidade pelo simples fato de estar sendo ouvida com atenção e compreendida.

Após a escuta integral da pessoa, da problemática principal, ofereça questionamentos. Questionamentos que permitam pensar sobre esse momento em que ela está vivendo. Ao invés de oferecer o conselho, indague sobre o melhor caminho com base na Bíblia. Estimule a pessoa a encontrar a própria solução para a sua questão.

Ofereça momentos de clarificação da fala da pessoa. Em alguns momentos a própria situação de vida da pessoa está confusa para ela. Faça perguntas como: ‘o que você acha que isso quer dizer?’ ou ‘você pode pensar melhor nessa situação para buscar entender o que está acontecendo?’.

Muitas vezes, a angústia vem da incapacidade de entender o que se passa consigo mesma, com o corpo e com a família; o que se sente e o que se deveria fazer nessas situações desconhecidas. Estimular o esclarecimento é muito útil na medida em que põe a pessoa para buscar o entendimento de sua problemática.

Sugestões e caminhos podem ser sugeridos, mas não impostos. Antes de oferecer uma sugestão, estimule o esclarecimento da sua situação de vida. Apenas descrever o que acontece é uma boa técnica para pensar sobre a própria problemática.

A técnica de esclarecimento difere da de reflexão na medida em que aquela visa a descrever o que se passa nos detalhes, já a reflexão, busca ‘os porquês’, ’os pra quês’. O uso das duas deve ser concomitante e com a experiência de AC se consegue discernir entre o momento de usar cada uma delas.

Já a técnica de confrontação visa corrigir a fala da pessoa e trazer à consciência de forma mais clara algum comportamento inadequado e não-cristão. Por exemplo, a pessoa diz: ‘eu apenas reajo às ignorâncias de meu esposo’ e o conselheiro diria ‘vamos ser sinceros, você responde com ignorância também a ignorância dele, não é verdade?’.

Isso deve ser feito em momento certo, depois que o vínculo e a confiança entre os dois se estabeleceram. Depois que a pessoa teve um momento de escuta ativa e empática. Oferecer confrontação logo de início sem ouvir os desabafos é um grave erro que compromete a capacidade de a pessoa falar. Junto dessa técnica pode ser empregada a técnica do silêncio, que comunica à pessoa: ‘pense nisso agora’.

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A técnica do silêncio pode ser usada em diversos momentos, como no de confrontação e no momento em que a pessoa estiver precisando elaborar por si mesma a dor que sente. Em alguns momentos esse silêncio do conselheiro em momentos de pranto pode demonstrar que a pessoa tem que aprender a lidar e a elaborar essa dor, pois nem sempre poderá contar com um braço para ajudá-la. Nos momentos de pranto, silêncio e palavras confortantes podem coexistir. 

Complete sua leitura com o texto A Função de Escuta e o Papel de Aconselhamento na Liderança, onde exponho mais técnicas a serem utilizadas nesse processo.  

Limites de um Aconselhamento

Enfim, o conselheiro não deve reduzir o Aconselhamento  à prática de conselhos, sugestões de decisões e com pregação de sermões, mas o ouvir e o apenas ouvir é uma técnica muito poderosa e importante.

O ouvir deve ser praticado de maneira integral com atenção às dimensões de palavras, pensamentos, emoções e corpo, que se expressam através de organização e escolha das palavras, seleção da temática e do aspecto da temática da fala, tom de voz, falhas de voz, silêncios, gaguejos, atos falhos, irregularidades nos volumes de voz, postura corporal, gestual, comunicação inconsciente, movimento de olhos, dentre alguns outros.

O conselheiro deve saber discernir quando a pessoa quer uma sugestão bíblica e quando quer apenas desabafar e ser ajudado a pensar. Esse ouvir não deve ser estéril. É um ouvir que visa oferecer a diminuição da angustia, que visa o esclarecimento das questões espirituais da pessoa e que visa também encaminhamentos profissionais e sugestões bíblicas.

Ovelhas que tem um bom nível de amadurecimento (autonomia de decisões e autocontrole das emoções) apenas precisam desabafar e ou serem ajudados a pensar, raramente precisam de conselhos diretos e freqüentes. Outras ovelhas precisam de sugestões mais simples e diretas, mas se deve ter consciência de que o fornecimento freqüente de conselhos pode produzir um círculo vicioso que se torna fonte de dependência psicológica.

Fronteiras de um Aconselhamento

A atividade de Aconselhamento deve e pode se estender além da prática de Aconselhamento, mas sempre se distanciando das práticas de Psicoterapia e da Psicologia, que são funções por lei privativas de Psicólogos.

Um bom princípio a se observar quanto a isso é não estender demais o numero de ‘sessões’ de AC com uma pessoa e evitar escarafunchar traumas e as relações primitivas com os pais na infância. Isso pode criar situações vexatórias para o conselheiro que não

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goza da chamada distancia epistêmica[4] com a pessoa, já que convive com ela no dia a dia. Além disso, poderia desencadear problemas psicológicos e sociais maiores na pessoa.

Por isso é importante diferenciar Consulta Psicoterápica de Aconselhamento. No AC deve ter um foco mais diretivo e no aqui-agora e não busca de porquês na infância e na aplicação de técnicas psicoterápicas. Vale lembrar que Psicologia é prerrogativa de Psicólogos e o desempenho irregular da função é crime. Na duvida, basta saber que atividade de AC se situa ao redor da escuta ativa e empática e do aconselhamento bíblico para os cristãos.

Vale aqui ressaltar aquela história entre um Doutor para um estudante de medicina: o estudante pergunta: ‘Doutor, se é tão simples retirar um apêndice, por que 7 anos numa faculdade para aprender medicina?’. E na sua sabedoria e experiência responde o Doutor: ‘Filho, retirar um apêndice é fácil, posso te ensinar isso em 10 minutos. O que vai levar 7 anos de tempo é a aprendizagem do que fazer quando algo der errado’.

Por fim, saiba que aconselhar traz sempre um risco a quem aconselha e ao seu ministério e ou trabalho. Veja o texto A Psicologia no Gabinete para entender do que se trata. 

Fundamentos do Aconselhamento

A eficácia de um processo de Aconselhamento depende diretamente de fatores relacionados à aplicação de determinadas técnicas de manejo coerentes com o grupo aconselhado. Estas técnicas devem também estar de acordo com os transtornos e disfunções observados durante o processo de aconselhar.

A eficácia refere-se à capacidade de o aconselhador alcançar um resultado e à capacidade de conduzir o aconselhando a um objetivo que diminua o sofrimento humano através de aplicação de técnicas específicas.

4 - A distância epistêmica se define pelo sentido literal da palavra distância. É a posição de ser distante da pessoa e não participante dos mesmos grupos sociais que ela, é a distância do dia-a-dia da pessoa e das tarefas onde ela está empenhada. O conselheiro não goza disso, uma vez que é participante da mesma família que a pessoa, do mesmo Corpo, da mesma comunidade e do mesmo grupo social, logo o conselheiro está contaminado por preconceitos e imagens já preconcebidas da pessoa e não pode se proteger de um vínculo psicoterapêutico e das transferências e identificações projetivas que poderiam se estabelecer. Daí não se deve ultrapassar os limites de um AC indo em direção à Psicologia e Psicoterapia. Isso ofereceria grandes riscos dos mais diversos para a saúde espiritual do corpo e psicologia da dupla conselheiro-pessoa.

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Já escrevi em outra oportunidade sobre os Princípios Básicos do Aconselhamento, que são diretrizes a serem seguidas dutante o processo de aconselhamento. Agora falemos dos fundamentos.

Entretanto, o aconselhador não deve somente se preocupar com a eficácia do ato de aconselhar. Deve igualmente atentar-se para a eficiência de seus procedimentos enquanto emprega determinadas tecnologias de escuta e de manejo.

Aconselhar não se resume somente à aplicação de um conjunto de técnicas especificas. Ao observar a eficiência desse processo, evita que os procedimentos tornem-se estéreis para proporcionar mudanças.

A eficiência refere-se à natureza do vínculo e ao tipo de relação estabelecida durante o aconselhamento entre aconselhador e aconselhado. A natureza deste vínculo deve ser de confiança e o tipo de relação deve ser de colaboração mútua. Saber estabelecer este tipo de relação interpessoal é tão ou mais importante que dominar o manejo de técnicas de aconselhamento.

Portanto, proporcionar uma relação interpessoal positiva para o aconselhamento não é uma de qualidade relacional que surge espontaneamente. É um aspecto que precisa ser desenvolvido pelo conselheiro para tornar proveitoso o processo de aconselhar. O texto As 7 Dimensões da Liderança aborda um pouco essa necessidade de o líder desenvolver-se nas 7 áreas básicas da liderança.

As competências para a efetivação do vínculo

O ser humano é um ser de caráter bio-psíquico-sócio-espiritual. É ainda um ser dinâmico, relacional, dialógico e complexo. Para os cristãos ainda soma-se o fato de por natureza da criação é decadente psicologicamente pelas circunstâncias do pecado.

Portanto, o conselheiro deve levar em conta o tipo de relação mais adequado para cada aconselhado e monitorar a espécie do vínculo que estabelece com cada pessoa durante o processo.

Para isso, o conselheiro precisa se municiar de algumas competências básicas. Por competência entende-se a capacidade e a habilidade que possui para efetivar e manter vínculos interpessoais. Deve, portanto, ter conhecimento teórico para estabelecer a relação e ao mesmo tempo habilidades práticas de manejo para mantê-la.

Estabelecer e manter vínculos não são por si mesmos suficientes. Eles precisam ser de uma natureza e tipo específicos para cada grupo atendido e para cada transtorno acolhido. Porém, todos eles possuem um objetivo geral.

O objetivo geral dos vínculos de AC (aconselhamento) diz respeito ao estabelecimento de um estado de confiança no aconselhado. Ele precisa ver no pastor-aconselhador alguém em quem confia para manejar o processo com certa regularidade, propriedade e ética.

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Neste sentido, há dois tipos de confiança. A confiança inicial, a que não depende do processo em si para que a ovelha busque o pastor. E a confiança a ser desenvolvida pelo aconselhador durante o AC, que dependerá do manejo daquele vínculo específico com o aconselhado para que ele continue em aconselhamento.

Portanto, o conselheiro precisa desenvolver um vínculo interpessoal favorável à mudança fundamentado no estado de confiança entre aconselhado e aconselhador.

Confiança poderia ser traduzida didaticamente como a segurança que o aconselhado possui para se submeter a um processo de AC e de se engajar abertamente nele e arcando com as suas responsabilidades sem sustentar dúvidas profusas sobre a idoneidade geral do aconselhador para a direção do processo. Assim sendo, a imagem do aconselhador perante a comunidade também é de crucial importância.

Este estado de confiança é assim chamado por se desenvolver em quatro esferas principais do comportamento do aconselhado. A pessoa precisa ter confiança para: Buscar, Falar, Engajar e por fim para Seguir no processo.

Estes quatro fatores que fundamentam a relação de confiança precisam ser desenvolvidos pelo aconselhador a partir da apropriação de competências específicas em determinadas áreas. 

No texto A Função de Escuta e o Papel de Aconselhamento na Liderança há dicas objetivas e práticas para efetivação do vínculo.   

Os quatro setores formadores do vínculo

Cada uma desses quatro esferas de comportamento corresponde a um campo de competências específicas que o pastor deve dominar para manejar com qualidade o processo de AC e fortalecer a confiança no vínculo.

As competências do aconselhador se localizam em quatro âmbitos primordiais:

1 - O que permite ao aconselhado Buscar o processo de AP é o âmbito técnico;2 - O que proporciona às pessoas o Falar sobre a problemática no aconselhamento

é o âmbito ético;3 - O que proporciona Engajamento da ovelha é o âmbito psicológico;4 - E por fim, o que permite ao aconselhado Seguir diretrizes propostas é o âmbito

estratégico do vínculo interpessoal;

O campo das competências técnicas inclui o currículo do aconselhador com o aconselhamento, seu domínio doutrinário, suas experiências em aconselhar, o seu conhecimento geral e especifico da matéria e a sua sabedoria espiritual, além do próprio equilíbrio e maturidade psicológica.

São competências da ordem dos procedimentos táticos e da ordem dos passos básicos periciais para manejar a situação de aconselhamento, tais como, saber ouvir,

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aceitar a problemática, empatia, estabelecimento do contrato verbal, etc. Sem essa capacidade o vínculo pode ser estabelecido, mas não há de fluir com eficácia.

Já o âmbito ético inclui a sustentação de valores pastorais que se expressam através de posturas e de atitudes. Inclui-se aqui o compromisso ético com o vínculo de aconselhamento, o testemunho pessoal, a ética e a garantia de sigilo.

São valores que se demonstram por atitudes e na ocasião de negociar o contrato verbal do aconselhamento. Estes valores devem refletir nas posturas do conselheiro diante da comunidade a fim de que possibilitem o fortalecimento do vínculo de confiança no aconselhamento geral ou pastoral.

O vínculo de confiança é ainda fortalecido à medida que o aconselhado se sente mais compreendido e conhecido. A empatia e o conhecimento da disciplina psicológica possibilitam ao aconselhador dominar o âmbito psicológico do processo de AC.

Óbvio que um aconselhador não é um psicólogo, entretanto um conhecimento básico deve ser dominado para que se entenda minimamente o manejo que ao aconselhado faz da sua fé a partir de sua estrutura psicológica.

Quanto maior é o nível de conhecimento no âmbito psicológico, maior é a profundidade do AP e mais engajamento se consegue do aconselhado. Há casos em que, para os cristãos, a fé não é vivenciada saudavelmente devido a problemas psíquicos.

O âmbito estratégico diz respeito às escolhas da problemática a ser inicialmente abordada no AP. O aconselhador deve ir abordando os problemas mais fáceis para os mais difíceis a fim de contornar resistências. Isso possibilita confiança para seguir diretrizes propostas no processo de AP.

O aconselhador deve ainda estar atento para as resistências à mudança do aconselhado devido a um processo chamado ganho secundário. Esse processo permite ao aconselhado obter alguns benefícios com o seu comportamento problemático. Por exemplo, marido muito ciumento possui mais atenção da esposa afetivamente distante, logo, seu ciúme excessivo traz para ele o beneficio de ter mais afeto.

Para os cristãos vale ressaltar que a idoneidade espiritual é considerada uma competência cardinal por ser o marco óbvio inicial para um aconselhador cristão. É essa idoneidade que permite a ovelha buscar o aconselhador enquanto líder espiritual para falar sobre sua problemática, se engajar no processo e seguir as diretrizes do AP (aconselhamento pastoral).

O desafio do AC é a edificação da relação

Portanto, fica esclarecido que a relação de confiança entre aconselhando e aconselhador é um fenômeno complexo, composto por alguns fatores específicos bem demarcados e que podem ser manuseados para se fabricar um determinado tipo de relação no AC.

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O vínculo de confiança não é uma qualidade de relação interpessoal que se deve ao acaso, a aspectos de carisma e ou de identificações entre personalidades, mas sim ao correto manuseio de técnicas e ao desenvolvimento de competências especificas no aconselhador.

Entretanto, possuir a capacidade de manejo de técnicas de escuta não garante por si só o estabelecimento e a manutenção de um vínculo de aconselhamento capacitado a produzir mudanças de postura espiritual e comportamental no aconselhando.

Percebe-se que tão ou mais importante que o domínio e o manuseio correto de tecnologias é a produção de uma relação vincular adequada.

Com isso, se constrói um cenário de confiança mútua e um estado de comprometimento com o processo de Aconselhamento, que são motivações adequadas para conduzir a pessoa à saúde espiritual e ao crescimento psicológico.

PSICOLOGIA DE ADOLESCENTES: BREVES REFLEXÕES

-->Texto publicado pelo O Jornal Batista

A melhor maneira de educar um adolescente é quando ele é criança. Desde o colo quando ainda mama. Sem delongas, leia também Psicologia para Educação de Filhos, onde demonstro algumas dicas e equívocos praticados por pais durante o ato de educar.

Entre alguns adultos há uma visão preconceituosa sobre a fase da adolescência como a fase da rebeldia. Por outro lado há também uma visão preconceitusosa do adolescente sobre os adultos como a fase da tirania.

Uma visão preconceituosa é o resultado da outra. É o que se pode chamar de conflitos de gerações. Na verdade não passa de um conflito de comunicações, mas não se resume somente a isto, apesar de começar por aqui.

Essa visão preconceituosa de ambos - adolescentes e adultos - é o que não permite uma aproximação saudável e empática entre estas duas fases da vida. Por vezes se faz uma aproximação desgastante e nada eficiente.

Se o responsável pelos adolescentes quiser proporcionar uma relação eficiente deve em primeiro lugar despir-se dos seus preconceitos sobre essa fase da vida do ser

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humano, para depois permitir-se compreender esse mundo de conflitos entre uma personalidade em formação.

Reações Emocionais na Adolescência

Muitas vezes, o adolescente reage à incompreensão de sua vida psicológica e à falta de uma comunicação empática que verse sobre seu desenvolvimento e necessidade de independência. No texto Os Ruídos da Comunicação Familiar falo um pouco sobre a temática comunicação em família.

O adolescente reage ao cerceamento da sua individualidade. A individualidade está relacionada à inserção grupal, à identidade e à sexualidade. O adolescente requer autonomia para estar em um grupo onde o aceite, requer uma identidade reforçada por esse grupo e ainda busca o descobrimento de sua sexualidade como forma de contribuir com sua identidade.

Buscar essa inserção num grupo social e buscar autonomia para que esta inserção aconteça e haja uma aceitação grupal não é nada demais.

O problema começa quando essa aceitação num grupo social é resultado de uma incompreensão no seio da família ou quando essa necessidade de aceitação grupal se alia à construção de sua autoestima ou de sua identidade. Para tornar mais sadável a relação com o adolescente, é imprescindível mexer em todo o contexto familiar. Leia o texto Sugestões para o Relacionamento Familiar onde há sugestões para melhorar o relacionamento e assim possibilitar melhor clima psíquico em família.

Como o adolescente está em processo de formação de identidade e de individualidade, há uma alta sugestionabilidade para grupos de comportamentos desviantes, como reação à tirania do autoritarismo dos pais que não o compreendem de forma plena.

Objetivos da Assessoria Psicológica com Adolescentes

Portanto, uma conversa com o adolescente deve permitir que ele tome uma visão introspectiva sobre si mesmo. Possibilitar que o adolescente se esclareça dos fatores de sua psique que fornecem estrutura à sua personalidade.

O responsável deve permitir ao adolescente uma conversa sobre si mesmo e consigo mesmo. Uma conversa sobre seus sentimentos, seus pensamentos, e seus grupos prediletos, sua relação com a autoridade parental e os porquês de suas reações indisciplinadas.

Como a necessidade de aceitação está nesse momento ligada à autoestima, não ser aceito pelo grupo é sinônimo de queda na autoestima ou de depressão. Por isso a relação entre adulto e adolescente deve tentar desvencilhar a necessidade de aceitação grupal da autoestima do adolescente.

Alguns comportamentos de desafio de autoridade podem estar dirigidos à aceitação num grupo especifico como uma forma de reação à sua busca pela individualidade que está cerceada na relação com o responsável.

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Portanto, os pais devem se atentar para proporcionarem a aceitação do adolescente no seio da família, pois é isto o que ele busca por vezes.

Se o adolescente não é aceito dentro de casa, busca aceitação num grupo como forma de reagir à autoridade constituída. Esta aceitação diz respeito ao amor prático e genuíno que Jesus pregava.

Muitas vezes a atitude de desfiador e de rebeldia è resultado de uma reação quanto à inabilidade dos pais de o aceitarem como um ser em desenvolvimento rumo à individualidade.

Os pais o cerceiam por demais e uma reação explosiva do adolescente é o resultado de um pedido de socorro que visa buscar o seu autodesenvolvimento psicológico.

Um Psicólogo trabalha na assessoria dos familiares para ajustar o relacionamento familiar em direção à busca saudável da individualidade em formação, mas respeitando sempre seu momento de desligamento gradual da infância. O texto Pra que Serve um Psicólogo e o textoPsicoterapia abordam um pouco a temática da psicoterapia,

Um dos objetivos do Psicólogo é equilibrar para que não haja autoritarismo demais e nem libertinagem em excesso no processo de educação. Esse é um dos desafios para essa fase de vida do ser humano que é a adolescência.

A família deve proporcionar um desenvolvimento saudável da individualidade do adolescente. Em psicoterapia, o psicólogo busca o desempenho de um papel de facilitador e de assessor amigável, que se utiliza de princípios e de diretrizes técnicas como parâmetros para o desenvolvimento dessa individualidade em formação.

O Adolescente e sua Autopercepção na Família

Algumas famílias são aparentemente equilibradas psicologicamente, mas os adolescentes buscam caminhos de desafio às autoridades. Nesse caso específico um mecanismo de comunicação e de conscientização do processo de desenvolvimento psicológico do adolescente pode estar em falha.

Ter uma família equilibrada não é sinal de adolescente equilibrado e formado nos caminhos do Senhor. Muitos pais não erram na educação dos filhos, mas apenas não a apresentam de forma justa e presente com qualidade especifica na comunicação.

O adolescente precisa aprender a voltar os olhos sobre si e seus sentimentos a fim de que saiba lidar com impulsos e com necessidades de aventuras desmedidas que desconsiderem as limitações dos responsáveis. O aprendizado da introspecção (autoanálise) precisa vir da família.

Neste caso, um dos papéis do Psicoterapeuta é oferecer à família um canal de comunicação que verse especificamente sobre a psicologia daquele adolescente em formação, que verse sobre seus sentimentos, suas emoções e seus comportamentos. 

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Não ser entendido e compreendido pode ser um sinal de rebeldia futura. A adolescência é uma fase onde a necessidade de comunicar-se sobre si mesmo é alta, visto que é um processo de desenvolvimento psicológico muito grande.

Elementos do infante e da vida adulta se misturam, portanto, um olhar sobre si e sobre a própria psique necessita estar presente para um desenvolvimento mais saudável. Por isso essa comunicação deve versar entre o adolescente e a família e entre o adolescente e ele mesmo através da introspecção.

A Sexualidade na Adolescência

Há o descobrimento da sexualidade nessa fase, e a conversa sobre o próprio desejo é fundamental. Pais devem educar os filhos desde crianças para que se tornem adolescentes com mais conhecimento sobre a sua própria sexualidade.

Conversar sobre sexualidade não é somente oferecer informações, mas sim pôr o adolescente em contato com o seu desejo e com a forma com que se relaciona consigo e com os outros do sexo oposto.

Em alguns momentos, a necessidade de encontrar um namoro está inserida na ausência de vínculos afetivos no seio familiar. Nestes casos específicos, a saída está na busca de uma relação amorosa para a construção de laços afetivos compensadores da ausência familiar.

É importante que o Psicólogo busque orientar a família do adolescente quanto à educação sexual de seus filhos. A função desta tarefa não é apenas de informação, mas também de confrontação.

Isto possibilitaria ao adolescente pôr sob a fala alguma necessidade não satisfeita que é buscada inadequadamente numa relação amorosa.

A educação sexual deve ser uma conversa livre entre pais e filhos desde a infância com uma linguagem e conteúdos selecionados para cada faixa etária. Por educação sexual entende-se a temática que se estende desde a relação social com pessoas do sexo oposto até a relação amorosa.

Os Vínculos Entre Família e Adolescente

A natureza do laço social entre pais e adolescentes deve ser de amizade, de confiança e aceitação total de pensamentos, mas não de comportamentos – o que significa uma correção com amor e uma limitação com compreensão.

O entendimento da própria fase de vida é essencial. Para isso a técnica de espelhamento da fala, dos sentimentos e das emoções se torna útil. Adolescentes podem ser incompreendidos, visto que estão entre a responsabilidade da vida adulta e a saída da infância.

A rebeldia pode ser um sinal de busca pela autonomia. Deve-se lidar com isso através de conversa empática, mostrando que seu mundo é entendido e compreendido de forma total e eficaz.

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Muitos pais falham com o aconselhamento desta fase, pois não fazem o primeiro passo de forma eficaz: demonstrar que os conflitos e questões psicológicas do adolescente são totalmente compreendidos e aceitos e não dialogam de forma livre sobre esse momento especifico de vida. No texto Princípios Básicos do Aconselhamento discorro sobre alguns princípios de empatia na comunicação.

Muitos pais resistem em dialogar por receio de perder a autoridade sobre o adolescente. Dialogar e manter a autoridade em dia não são tarefas incompatíveis. Essa relação de autoridade e de limitação deve ser uma postura desde a infância, caso contrário, educar será uma tarefa mas difícil agora nessa fase de vida.

Um mito é que o adolescente não permite que se discorde dele, sendo rebelde e indomável. Esta não é uma característica que pertence somente a ele, mas pode ser resultado de uma relação interpessoal ineficaz, onde a empatia do adulto não está presente.

Perceber que os pais estão sendo empáticos é muito saudável para alguns adolescentes. Perceber que o adulto compreende e que entende totalmente a problemática apresentada por ele já pode ser uma boa garantia de que o comportamento desviante será corrigido.

Comportamentos Rebeldes

A empatia dos pais deve preceder a autoridade. Autoridade e empatia caminham juntas, mas em alguns casos se percebe o autoritarismo e antipatia na família, o que pode gerar estados de rebeldia no adolescente. Muitas vezes esse comportamento rebelde é sinal de incompreensão somente.

Portanto, em alguns casos se o adulto mostra-se na relação como um amigo empático essa rebeldia talvez se dissipe. Por vezes esse estado de rebeldia se extingue quando o adulto se mostra empático e neutro, sem criticas, mas com uma autoridade amiga e justa que conversa sobre o importante.

Não é a discordância dos pais em relação às atitudes do adolescente que vai proporcionar o estado de rebeldia, mas antes sim a incompreensão de seu estado psicológico atual, não deixando claro que o entende de forma plena.

A necessidade de ser entendido e aceito é muito maior do que a necessidade de autoestima por um grupo de fora da família. Portanto, alguns adolescentes vão buscar fora o que não possuem na família: a aceitação.

Isto pode ser o resultado da inabilidade de a família proporcionar ao adolescente um olhar sobre si mesmo e sobre seus sentimentos, ou seja, não saberem conduzir o adolescente para uma análise desse seu período de vida.

Vale deixar claro que compreensão e empatia não são sinais de libertinagem e liberalidade quanto à educação dos adolescentes, mas antes sim sinal de amor e de aceitação. Isto é tudo o que se precisa para esta fase da vida.

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Como há uma personalidade em formação, os elementos da infância coexistem com os elementos da vida adulta. Responsabilidade e entretenimento coexistem. A família deve conversar com o adolescente sobre este momento de vida, apresentando ambas as características não como conflitantes, mas sim seu desequilíbrio.

Em alguns casos a Psicoterapia com adolescentes visa suprir o que faltou na família, em outros momentos municiar a família e em alguns casos fazer o papel que a família não pode alcançar por ter a situação de rebeldia saído do controle.

Adolescentes com Transtornos Específicos

Adolescentes vitimam de violências necessitam de um suporte emocional para elaborarem o trauma e para junto com os responsáveis darem o certo sentido dessa experiência invasiva que é o ato violento.

Não permitir que o adolescente forme pensamentos de generalização, tal como “todos os adultos são assim, desta forma, violentos” é o objetivo de uma relação terapêutica com adolescentes vítimas de violências.

A assessoria emocional e psíquica de um Psicólogo se torna necessária nesses casos. A evolução rumo à inserção social normal será lenta e gradativa e a simples presença de um adulto pode proporcionar o suporte de que precisa o adolescente.

Já adolescentes portadores de transtornos mentais específicos carecem tanto quanto um adulto de inserção social que vise o desenvolvimento de tarefas que proporcionem desenvolvimento da auto-estima e do sentido de pertença a num grupo especifico.

Numa situação de adolescentes portadores de transtornos mentais específicos, uma das tarefas de uma Psicoterapia é a de assessorar a inserção grupal e o relacionamento entre eles de forma saudável.

Desafios para a Educação de Adolescentes

Por fim, se percebe que essa é uma fase de vida que é marcada por preconceitos mútuos de adolescentes e de adultos. Uma fase de vida incompreendida e não-aceita tal como é. Uma fase de vida onde o ser humano é pressionado para ser aquilo que ainda não é e para deixar de ser aquilo que ainda não abandonou por completo: a fase adulta e a fase infantil respectivamente.

Relacionar-se com a adolescência é permitir-se parecer um pouco com eles, é permitir-se voltar no tempo e questionar-se sobre os conflitos específicos dessa fase e se despir dos preconceitos que cerceiam o entendimento integral dessa fase especifica de vida humana.

A Psicoterapia com o adolescente visa também assessorar o seio familiar no processo de educação do adolescente e possibilitar que se estabeleça um olhar crítico sobre as mútuas formas de comunicação, que se crie entendimento genuíno e a aceitação do processo de mudança.

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Portanto, são esses os três fatores que podem ficar comprometidos na família quando há a presença de um adolescente: a comunicação familiar, o entendimento mútuo entre pais e filhos e a aceitação da autonomia do adolescente.

Restaurar isto é o objetivo principal de uma Psicoterapia com adolescentes e isso se faz no instante em que o Psicólogo possibilita ao adolescente expressar seus medos e receios das mudanças pelas quais está passando no momento.

O Psicólogo deve permitir que o adolescente – a partir da análise das relações sociais que estabelece e a partir da análise sobre os próprios sentimentos e pensamentos – que se perceba enquanto um ser em desenvolvimento de identidade.

Esta comunicação saudável deve permitir o esclarecimento dos contratos familiares. O entendimento deve proporcionar um contato mais próximo entre a vida afetiva de pais e filhos e a aceitação visa estreitar os laços familiares e dirimir o medo que os pais possuem de perder uma criança que agora se torna um adulto autônomo e portador das próprias escolhas.

Adoecimento Psicológico Infantil: apresentaçõeshttp://viverbemterapeutico.com.br/

Tenho atendido crianças por mais de 5 anos na clínica. Atualmente desenvolvo um trabalho especializado somente com crianças no Centro de Referência e Tratamento da Criança e Adolescente II em Campos dos Goytacazes e na Clínica Viver Bemem Macaé, e posso dizer que a criança sofre muito em seu ambiente familiar sem que seus pais percebam. 

Posso listar alguns motivos que mais se apresentam como fatores de sofrimento infantil dentro de uma família estruturada e ou semi-estruturada.

Dentre os problemas mais comuns estão Transtorno de Ansiedade, Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade, Depressão com ou sem retardo de desenvolvimento cognitivo, Transtorno de Conduta com ou sem Transtorno Opositor, Alterações de humor, Transtornos Cognitivos leves e médios relacionados à família de origem, Síndrome de Asperger/Autismo, Enurese e encoprese, foia alimentar, dentre outros de menor frequência.

Esses são apenas os sintomas apresentados pela criança. É importante ressaltar que devemos considerar esses sintomas em análise com o contexto familiar, escolar e social no qual a criança se insere para termos uma visão mais global do fenômeno adoecimento infantil. Precisamos identificar fatores-causa, fatores potencializadores, fatores predisponentes, fatores impeditivos da cura e fatores de manutenção do problema.

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O adoecimento psicológico infantil é determinado por múltiplas causas e não devemos nunca crucificar a criança com intervenções centralizadas exclusivamente nela, como se nela se originasse e terminasse o problema que causa o sintoma. Intervenções na família, na relação conjugal, nos avós, na escola e até mesmo com os amigos devem ser pensadas. LeiaPsicologia para Educação dos Filhos para pensar melhor a dinâmica familiar. 

Os Sintomas do Adoecimento Infantil

Não quero ser pretensioso a ponto de lançar aqui um manual de todas as manifestações psicopatológicas da criança, longe de mim tal pretensão impossível nesse canal. A intenção é somente apresentar alguns quadros que não devem ser referência para um autodiagnostico, mas sim um breve discorrer sobre os quadros. Também não pretendo apresentar as causas fixas e geradoras de cada sintoma, muito menos reproduzir o CID-10 ou o DSM-IV, apenas almejo  tecer breves comentários sobre os quadros aparecidos em clínica infantil durante esses anos de trabalho. Nem pretendo lançar mão de métodos de educação ou clínicos por aqui. Para isso, sugiro o artigo Sugestões para o Relacionamento Familiar. Portanto, se houver interesse sobre os quadros apresentados, sugiro uma pesquisa científica ampla e com fontes apropriadas para o tema.

Dentre as causas comuns citadas acima, temos o Transtorno de Ansiedade. Nesse transtorno a criança não sabe esperar sua vez, pode agredir verbal ou fisicamente amigos ou familiares, não consegue manter a atenção fixa, tem muita agitação e não para quieta, está sempre andando em sala de aula e pode apresentar preocupações das quais não está consciente no momento. A ansiedade infantil difere da adulta por ter maiores consequências no âmbito motor e da atenção seletiva: há agitação e impossibilidade de manter-se concentrada por longos períodos. A depressão pode ou não ser uma causa do transtorno de ansiedade infantil.

Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade é uma das campeãs de reclamação. A criança não consegue manter a atenção durante longos períodos em sala de aula, pode estar comprometida na motivação para estudar, e mostrar desinteresse. Pode ainda haver hiperatividade, a criança não para em sala de aula, anda, arruma desculpas para sair de sala, e possui dificuldades em realizar tarefas escolares. Esse quadro pode incluir um Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ou apenas apresentar dificuldades de atenção. Difere do Transtorno de Ansiedade simples por não incluir agressividade, e se restringir à escola. O Transtorno de Ansiedade é ainda inconstante e pode ser melhorado com alterações na educação familiar, e a atenção não está tão prejudicada.

A Depressão Infantil é um caso complexo. Ela pode estar camuflada por trás de um Transtorno de Ansiedade e até mesmo ser causa de um TDAH, aqui estamos falando de comorbidade e a classificação de qual transtorno é o principal e qual é o secundário dependerá da preponderância da manifestação sintomática da criança. É importante identificar se há algum objeto alvo de amor relacionado à depressão infantil, como um pai falecido, ou negligente por exemplo. Crianças que não possuem um pai presente ou uma mãe muito distante podem apresentar depressão relacionada à carência afetiva desse amor não dado. Nesse caso, algumas crianças podem apresentar regressões

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psíquicas afetivas e cognitivas, que é o famigerado mimo. Abrindo um parêntese, vale ressaltar que o mimo não está relacionado exclusivamente ao carinho e afeto recebidos pela criança, mas a outros fatores na relação de autoridade paternal. Em momento oportuno discorrerei sobre o tema.

Os Transtornos de Conduta Infantil estão relacionados à ausência de educação com limites, à identificação com um pai transgressor por incrível que pareça. Algumas crianças querem ‘seguir o exemplo’ do pai amado e isso pode ser um perigo se esse pai é distante, por exemplo, e se a mãe não possui habilidades educacionais nenhuma, ou se negligencia a educação do filho, por exemplo. Nesse quadro estão incluídos agressão, furtos e roubos, atos vingativos, comportamentos e atitudes desafiadoras, travessuras vingativas, rebeldias, dentre outros.

Já o Transtorno Opositor difere-se do de Conduta por não apresentar o aspecto vingativo nem a identificação com um dos progenitores, esse transtorno está situado mais no âmbito da perturbação, rebeldia, desobediência e provocação direcionado aos pais como forma de reação às injustiças paternais, aos excessos de limites impostos, à depressão parental, dentre outros. Geralmente o Transtorno Opositor é reativo e deve ser identificado junto com um transtorno parental, como grande parte dos outros transtornos infantis, como regra.

/ Um problema infantil é apenas um sinal. Mas sinal de quê?

As alterações de humor infantis podem ou não estar relacionadas à depressão e à ansiedade infantil. Podem ainda se enquadrar num transtorno específico ou não configurar transtorno por ser eventual e pontual a manifestação sintomática da criança. Essas alterações dizem respeito a momentos alternados de depressão com ou sem agressividade, e agitação psicomotora na criança ao longo do tempo. Alterações de humor podem estar relacionadas ao ambiente infantil, serem absorções de problemas mentais paternos e podem ter estreita relação com o universo infantil em comorbidade com algum distúrbio cognitivo ou fator de personalidade relacionado a fragilidade de self.  

Tenho percebido que grande parte dos Transtornos Cognitivos leves e médios nas crianças possui estreita relação com a família de origem. Pais pouco estudados ou sem habilidades em identificar emoções e que não entram no mundo da criança através do diálogo possivelmente não estimulam psicologicamente a criança de maneira adequada. Contudo, estudos devem ser efetuados para identificar a relação existente entre esses pais fechados e a criança com transtornos cognitivos. Na clínica percebo que crianças filhas de pais com retardos mentais leves ou pais inábeis emocionalmente podem apresentar algum grau de transtorno cognitivo que se não tratado adequadamente poderá se tornar grave.

A Síndrome de Asperger difere do autismo por ser menos grave e por haver interação da criança entre seu meio. Contudo, a criança pode ter uma linguagem bem desenvolvida, agitação psicomotora, irritabilidade, manias e compulsões, falas desconexas com o assunto conversado são sinais indicativos de Asperger, mas não suficientes para fechar diagnóstico que sempre deverá ser multidisciplinar. O autismo é uma clínica difícil e que precisa ser tratado de maneira interdisciplinar para que haja

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adaptabilidade infantil ao meio e também estímulos adequados para cada faixa etária. Esses são quadros com grande fator genético.

Enurese e encoprese são dificuldades de segurar a urina durante o sono e dificuldade em ir ao banheiro respectivamente. A enurese pode estar associada à depressão e à ausência de um dos progenitores. Pode ainda ser reforçada se a família não tiver habilidade em disciplinar a criança quanto ao consumo de água no período noturno, e negociações para que a criança pare de urinar na cama. A encoprese é a dificuldade de evacuar, a criança poderá segurar o excremento como forma de sentir prazer ou com receio de ir ao banheiro. São casos difíceis de lidar, mas precisam de uma análise profissional para que a fobia não se intensifique.

Já a fobia alimentar pode ser caracterizada por um medo grande da alimentação tradicional como arroz, carne e feijão por exemplo. Pode ser desencadeada por um trauma e ser agravada pela super-memória de algumas crianças. Se a família vir a forçar a alimentação poderá ou romper com a fobia de uma maneira severa ou até mesmo agravar o estado de fobia. É também um caso difícil e requer muita paciência, brincadeiras maternas e bom humor por parte dos pais para lidar com a situação que poderá vira ser irritante.

É importante ressaltar que a mera identificação dos sintomas aqui apresentados não serve para enquadrar seu filho em tal ou qual caso. Um psicodiagnóstico por um profissional é o indicado para avaliar a situação de seu filho, pois existem comorbidades entre adoecimentos, causas transgeracionais (que passam de pais para filhos), problemas institucionais, conflitos inconscientes, etapa evolutiva da criança, estruturas cognitivas específicas que interferem na manifestação do sintoma infantil dentre outros fatores que necessitam ser analisados por um profissional ao longo do tempo para a definição correta de um psicodiagnóstico infantil.

Intervenções nos casos

A intervenção em cada caso apresentado deve ser sempre a profissional. Como dissera em cima, os fenômenos psicopatológicos infantis são multideterminados e a expressão de um sintoma numa criança não segue à risca a de um adulto, para isso sugiro ler Depressão Infantil, que é um artigo antigo.

As intervenções sempre se compõem de psicoterapia infantil, orientação e aconselhamento dos pais, psicoterapia familiar, psicoterapia individual para os pais, psicoterapia de grupo para a criança, combinadas com atividades interdisciplinares como Terapia ocupacional, Fonoaudiologia, Nutricionista, atividade física, psiquiatra infantil ou neuropediatra, psicopedagogo e psicomotricidade. Quanto maior o âmbito de intervenção, mais rápida e mais eficiente é a melhora do quadro infantil.

É impossível tratar a criança sem que a família seja alvo das intervenções profissionais. Alguns casos infantis são reativos aos casos dos pais e se os pais se tratarem, os sintomas infantis desaparecem. Há casos em que o tratamento infantil se for exclusivo com a criança, não apresentará eficiência dado que um transtorno mental não especificado nos pais pode ser o fator desencadeante da patologia infantil.

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Há muitos casos de mães separadas que suportam sozinhas a rotina com os filhos sem pensão, a casa, o trabalho, a educação, a própria saúde, e outras coisas mais. São mães heroínas que sobrecarregadas podem entrar em um transtorno de ansiedade ou se abandonadas desenvolver uma depressão. Sobre dificuldades no relacionamento conjugal, leia Quando o Amor Esfria. É obvio que o filho será contaminado por esse transtorno materno. Uma ação conjunta com mãe e filho deve ser promovida para que se esclareçam os problemas de cada um. Orientações quanto à maneira de educar deve ser fornecida com o risco de que o tratamento infantil ser inócuo.    

Mães que sofreram muito quando crianças tendem a ser liberais demais e até mesmo possuem medo de educar os filhos, pois sentem pena de vê-los chorando. Nesse caso, a mãe se projeta no filho e inconscientemente lembra da própria infância. Um trauma infantil materno impede a educação com firmeza e eficiente nesses casos. Geralmente desenvolvem filhos sem limites, com dificuldades de concentração, agitados e desobedientes.

Mães ansiosas e irritadas demais também desenvolvem filhos muito agitados, desobedientes e até mesmo opositivos. São mães que de tanta irritação causam estresse nos filhos, que não suportando a carga emocional explodem através do comportamento agitado. Tais mães ainda possuem inabilidades em educação, ou sendo severas demais, ou libertárias demais ou o que é pior, alternando liberdade excessiva com controle excessivo, o que confunde ainda mais os filhos, podendo ou não gerar fragilidades psíquicas neles.

Há casos de mães inseguras quanto à educação, se devem ou não limitar, se permitem ou não o choro ou se controlam ou se permitem determinados comportamentos. Geralmente são mães inseguras, que não tiveram mães, ou que são muito criticadas por parentes próximos. Tais mães precisam somente de um reforço na autoestima porque geralmente já costumam ter mais amor pelos filhos do que as mães negligentes e permissivas, e por isso são menos resistentes nos esforços para melhorarem a educação dos filhos.

Os pais controladores podem desenvolver na criança um self inseguro, medroso, que pode ou não levar ao choro fácil, mimo ou depressão infantil se houver prolongamento desse comportamento paternal. Tais pais enxergam tudo como frescura da criança, querem que ela cresça logo sem dar assistência emocional para isso e geralmente entendem o momento de amor e dialogo como mimos desnecessários. Essas crianças crescem sem se alfabetizar emocionalmente e carecidas de amor e atenção, desenvolvem patologias como depressão e ou até mesmo dificuldades escolares.

/   “Amar é sempre uma decisão. Saiba disso!”

Alguns pais confundem ainda contato social com os filhos com contato afetivo. Costumo dizer que uma criança é como uma planta que precisa de sol (figura paterna) e água (figura materna) para se desenvolver. Há famílias que não reservam momentos de diálogos com os filhos e há uma distancia afetiva. Os pais pensam que sair pra jantar, passear, ir ao parque são contatos suficientes. Falar das emoções dos filhos, dizer que os ama, falar que que sentem, deixa-los falar do que pensam, são momentos necessários

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para o desenvolvimento infantil. Junte-se a isso um tom amistoso na voz e momentos de brincadeiras entre pais e filhos.

Há pais com grandes dificuldades em demonstrar afeto e gastar tempo com isso, seja por resistência em demonstrar afeto, seja por negação do filho, seja por depressão ou estresse acumulado. Esse tipo de contato é estruturante, ou seja, desenvolve psicologicamente a criança em todos os níveis: emocional (reconhecer e controlar emoções), cognitivo (memória, inteligência, linguagem), social (egoísmo, simpatia, perspicácia) e espiritual (entendimento do mundo, visão das pessoas, caráter, etc).

Enfim, sobre esses pais, sobre a dinâmica familiar, sobre a história de vida dos pais, sobre a comunicação familiar e dentre outros, que deve incidir a intervenção psicoterápica para que haja sucesso na recuperação mental das crianças. Há um artigo em que abordo essa questão de comunicação familiar, Os Ruídos da Comunicação Familiar. 

Conclusões

Ressalto que a clinica infantil é necessariamente interdisciplinar e que você, pai e mãe, antes e durante o momento de levar seu filho ao psicólogo se questione sobre si, sobre seu passado, sobre sua família de origem, sobre os sentimentos que seu filho desperta em você e por quê, sobre a forma de se comunicar em família e sobre seus sentimentos por eles para que a recuperação psicológica de seu filho seja eficiente.

Questionar-se é sempre um desafio, olhar para si é sempre uma impossibilidade à primeira vista, mas que quando efetuada, proporciona diversos benefícios psíquicos e familiares em grande escala. Grande parte do desafio no tratamento das crianças são os problemas dos pais. Tenha essa coragem de se olhar, de olhar para si antes de olhar para seu filho. Amor, carinho, atenção, conversa, diálogo, compreensão, respeito são ingredientes fundamentais na educação de um filho.

Termino esse artigo, melhor dizendo esse rascunho, com a sensação de sua incompletude, e é melhor assim. Voltarei a ele brevemente para adicionar, retirar, ou incrementar algum assunto com certeza. Espero que o leitor não se frustre em sua leitura, pois meu objetivo foi um breve relato sobre os quadros que percebo e tecer alguns comentários que julgo relevante para cada caso.

Portanto, pais, estejam à vontade para apontamentos, perguntas e sugestões que atenderei de acordo com a possibilidade. Sugiro que mantenham o anonimato, pois caso contrário, seu comentário não ser publicado. Aguardem o próximo artigo e abraço a todos. 

SUGESTÕES PARA O RELACIONAMENTO FAMILIAR

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Texto publicado pelo O Jornal Batista.

--> Neste texto forneço algumas dicas básicas para o relacionamento familiar e tento

não considerar tudo muito simples. Há textos que complementam essa leitura como o Psicologa para Educação de Filhos ePsicologia de Adolescentes.  

Ter um relacionamento familiar saudável é o objetivo de qualquer família. Entretanto, deve se ter em mente que para isto acontecer um trabalho específico deve ser realizado no sentido de construir um ambiente cooperativo e benéfico.

Antes de procedermos a algumas reflexões sobre formas de relacionamento familiar, precisamos ver a família de forma ampla como um sistema vivo onde os componentes reagem e influenciam-se uns aos outros de forma recíproca.

Os membros não estão isolados dentro da família e seus comportamentos não se devem exclusivamente a fatores de personalidade. O comportamento inadequado ou o relacionamento conflituoso deve preferencialmente ser entendido a partir da relação familiar interpessoal e até mesmo a partir de questões transgeracionais (modos de interações, reações, ações, sentimentos, comportamentos, expectativas e etc, aprendidos na família de origem e perpetuadas na família atual).

Entretanto, não basta apenas ler um receituário de dicas prontas sobre relacionamento familiar e deixar o resto nas mãos do outro cônjuge como o único responsável pela construção de uma família saudável.

Construir um relacionamento familiar benéfico requer auto-observação, disposição para autocrítica e para mudanças. Vai além da mera aquisição de informação sobre o próprio funcionamento.

Equilíbrios nos Relacionamentos

Relacionar-se é ao mesmo tempo estar ligado e diferenciado dos outros componentes dum sistema. Muitos comportamentos disfuncionais na família acontecem devido ao desequilíbrio entre ligação e diferenciação dos componentes familiares.

Há vínculos afetivos e psicológicos envolvidos numa relação familiar, e ao mesmo tempo espaços de privacidade, de autonomia e de individualidade que devem ser respeitados. Um desequilíbrio entre vínculos psicológicos e espaços de individualidade é o que pode comprometer o relacionamento familiar saudável ao provocar ou impor dependência psicológica na relação.

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Se os componentes familiares estiverem tão ligados uns aos outros, os sonhos dos pais, por exemplo, podem ser impostos para os filhos. Ou então o abuso de poder pode ser tão sufocante que o adolescente se torna reativo à falta de espaço para desenvolver gradualmente a própria autonomia.

De forma diferente a liberdade excessiva e a falta de limites na educação dos filhos pode ser sinal de diferenciação e distância extremas entre os componentes familiares, onde o afeto não é demonstrado e a frieza emocional e a distância afetiva se tornam uma constante.

Relacionar-se em família é buscar o equilíbrio entre a ligação e a distância psicológica dos membros da família. Imposição de sonhos, autoritarismo, rebeldia, distância afetiva, ausência de poder parental, abuso de poder podem ser sinais de desequilíbrio entre esses dois polos, o que significa família pouco saudável. 

Muitas vezes o processo de comunicação em família precisa ser melhorado. Leia o texto Os Ruídos da Comunicação Familiar sobre esta temática. 

A Dinâmica Familiar

Os porquês do desequilíbrio entre esses dois polos – ligação afetiva e distância psicológica – devem ser buscados em outro sistema: na família de origem dos pais. Casais herdam formas de se relacionar e de estar em família e acabam por reproduzir inconscientemente na família atual esses padrões aprendidos da família de origem.

Esses padrões aprendidos incluem formas de educar filhos, de reagir e de se relacionar com o cônjuge, formas de comunicação e até formas de reações emocionais. Esses padrões ou podem ser saudáveis ou nocivos para o funcionamento da família.

A família ainda é um sistema constituído por etapas e ciclos de vida como um ser humano também. Cada etapa de sua formação é um período específico que requer cuidados especiais: nascimento do filho, entrada no filho na escola e adolescência, saída dos filhos de casa, etapa da terceira idade e morte.

A falta de habilidade dos líderes da família para aceitarem essas mudanças com sabedoria pode ser prejudicial para o relacionamento familiar. Entre as consequências dessa falta de habilidade incluímos depressão, transtornos de ajustamentos, retração social, queda no desempenho escolar, conflitos de gerações e desentendimentos conjugais dentre outros.

Outro aspecto incluído no relacionamento familiar são as regras de convivência. Essas regras versam sobre relação afetiva, social, e espiritual. Os pais devem ser justos, firmes, concordantes e coerentes na fixação dessas regras de relacionamento familiar.

Ausência de poder parental e de regras, poder assimétrico e discordante entre pai e mãe, negligência nas tomadas de decisão, liberdade excessiva, tirania dos pais, injustiça

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no cumprimento e na exigência de regras e quebra do contrato conjugal são fatores danosos para relacionamento familiar que se espera saudável.

Aperfeiçoando o Relacionamento Familiar

As bases afetivas de um relacionamento familiar saudável se fixam sobre o respeito, o amor e o carinho. Os aspectos comportamentais incluem a colaboração, a dedicação e o companheirismo. Já as bases cognitivas se fixam sobre a comunicação direta e clara, a informação sincera e sobre a empatia, buscando entender o outro sempre antes de emitir opiniões.

Se os líderes familiares não se atentarem para planejamento familiar; adaptação aos ciclos familiares; heranças de padrões de comportamentos inadequados; respeito da autonomia e da liberdade dos componentes; autoridade e regras; comunicação direta, clara e sincera, estabelecimento de harmonia nos poderes parentais e disponibilidade para mudanças, a família não terá um relacionamento saudável.

Esta estruturação de um relacionamento familiar começa já no namoro e até antes. Muitas famílias chegam à clinica querendo corrigir no ciclo da adolescência o que deixaram de fazer desde a infância dos filhos. A autoridade respeitosa dos pais não se impõe tardiamente. É uma construção desde a infância dos filhos.

Pais devem ganhar tempo conversando entre si sobre o funcionamento da própria família, assim como se planeja reuniões de trabalho. Pais não devem culpar seus filhos por tudo, devem encarar problemas de relacionamento de forma ampla. Devem buscar o porquê a maneira de educar os filhos está sendo deficiente.

Aperfeiçoando o Relacionamento Entre Pais e Filhos

Na educação de filhos os pais devem:

1) Pensar juntos em um plano de educação para os filhos e ter um planejamento de comum acordo na educação dos filhos antes mesmo de tê-los. Se pais discordam muito na forma de educar, isto não precisa transparecer para o filho. Educar é planejar e não terceirizar educação.

2) Tomar cuidado com as fontes de autoridade da família. Fontes de autoridade não podem se chocar, não podem estar ausentes e nem serem injustas. Pais devem evitar discutir a educação dos filhos na frente deles. Coisas como “pergunte ao sei pai. Se ele deixar, pode ir”, já é uma motivação para comportamentos inadequados. Se não souber o que fazer, diga ao seu filho “seu pai e eu vamos conversar e resolver juntos”. Os filhos precisam perceber que ambos os pais estão comprometidos e conversam para chegar juntos a uma postura. Por isso, não transfira a responsabilidade para o cônjuge. Educar é ter autoridade e não autoritarismo.

3) Construir um sistema de educação preventiva com diálogo aberto e justo desde a infância. Alguns pais só corrigem, mas não previnem através da conversa pedagógica.

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E cuidado: prevenir não é projetar seus medos, receios e traumas sobre a criança. Educar é instruir, não é só corrigir e limitar.

4) Produzir tempo de qualidade para estar com os filhos. Muitos problemas de desajustamento acontecem não por falta de tempo, mas pela percepção que os filhos têm da qualidade deste tempo gasto. Ausências parentais podem contribuir para comportamentos desajustados tanto como a presença sem qualidade. Jogue futebol conversando com o seu filho, pergunte sobre seu dia, comemore suas conquistas, faça o pensar nos seus comportamentos e esteja pronto para ouvir. Não perca a oportunidade de conversar e corrigir. Educar é ser companheiro e amigo.

5) Tomar cuidado com a palavra ‘sim’. Para não serem importunados com os choros e pirraças os pais deixam os filhos fazerem tudo o que querem. Se você faz isso, perdeu a chance de educar corretamente e está possibilitando mais comportamento inadequado. Diga ‘não’ quando for preciso. Mantenha a autoridade e explique para seu filho a sua postura para que ele não perceba injustiças. Não se esqueça de que autoridade não é autoritarismo. Educar é sinônimo de limitar, mas sempre com justiça.

6) Mostrar afetos positivos aos filhos. Filhos precisam ser amados em prática. Procure mais contato afetivo com o seu filho. Abrace-o, beije-o e se torne afetuoso com ele sem exageros. Às vezes uma boa conversa com contato afetivo entre mãe e filho pode ajudar a aproximá-los psicologicamente e pode colaborar com a motivação dele se corrigir dos comportamentos inadequados. Educar é amar em comportamentos e afetos e não somente com palavras.

Aperfeiçoando o Relacionamento Conjugal

Entre si, os cônjuges devem:

1) Saber se amam de verdade o outro antes de casarem-se. Aqui começa o relacionamento familiar saudável. Muitas tentativas fracassadas de melhora no relacionamento conjugal se devem à ausência de algum tipo de amor, como o Eros por exemplo. Alguns pensam que o amor Eros é questão de decisão. Mas na verdade o amor Eros não é uma questão simples de decisão. Os outros se constroem, mas o Eros já não fica tanto à mercê da nossa decisão consciente. Eros por si só não mantém o casamento, mas casamento saudável é resultado da soma de todos eles. Amar é ser completo em amores completos.

2) Pensar sobre sua família e conversar sobre ela. Produza tempo conversando sobre a dinâmica familiar, os relacionamentos familiares, sobre as regras e o quotidiano da família. Estar disposto a conversar sobre a relação conjugal e a mudar é sinal de relacionamento saudável e de amor. Amar é dialogar.

3) Buscar a sinceridade e a disposição para a interação familiar saudável desde o início do relacionamento conjugal. Muitos ressentimentos corroem os relacionamentos se não forem conversados objetivamente. Estar disposto a falar e a ouvir é imprescindível. Amar é abrir-se com respeito.

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4) Relacionamento conjugal sadio também possui discussões. A questão é como se discute os temas conjugais. Em geral, as comunicações se tornam impossíveis por inabilidade em comunicação e não por ausência dela. Com isso, interferências na comunicação aparecem, tais como as crenças irracionais que um cônjuge forma da figura do outro, preconceitos, audição seletiva da fala do outro, dentre outras. Amar é preocupar-se com o aperfeiçoamento.

5) Discutir com bom senso. Não busque culpados, foque o assunto em soluções dos problemas. Nunca discuta no ato do problema como uma reação emocional. Dê um tempo entre o fato e a discussão do fato. Não discuta na frente dos filhos. Não faça competições sobre quem manda e quem ganha a discussão. Elabore listas de queixa entre os dois e procedam às mudanças. Nunca fale: ‘você me irrita’, mas diga ‘me sinto irritado com isso’, nunca fale ‘você não me ouve’, mas diga ‘não se sinto compreendido’. Amar é ser humilde amando.

6) Estabeleça entre vocês regras de discussão e de conversa para evitar ressentimentos. Portanto, em discussões, primeiro orem. Depois fale cada um do sentimento que sentiu e como se sentiu, depois fale objetivamente da situação problemática e da atitude equivocada e nunca ofenda a pessoa do cônjuge. Ouça atentamente e não interrompa o desabafo, faça questionamentos ao outro sobre os sentimentos dele, indague sobre possíveis soluções, comprometa-se com a mudança e proponha atitudes. Amar é seguir regras para não ferir o outro.

7) Atentar sobre a dinâmica conjugal. Os casais devem observar padrões herdados de comportamentos inadequados da família anterior, observar o ciclo familiar e adaptar-se a mudanças, considerar as regras do contrato conjugal e proceder a ajustes delas, e resolver questões suas sem projetá-las nos filhos. Amar é observar-se no amar.

No texto O Casamento Ainda Está na Moda? apresento algumas vantagens do casamento e faço uma análise dessa sociedade conflituosa e benéfica.   

Desafios do Relacionamento Familiar Saudável

Em tempos de televisão, videogame, internet, celular, terceirização da educação dos filhos para a escola, tempos de novos formatos de família com avós, tios e outros incluídos, em tempos de jornada dobrada de trabalho e de insuficiência de momentos de prática de interação familiar, comunicar-se habilmente se torna tarefa difícil.

Às vezes o casal tem a sensação de que falar e ler sobre como relacionar-se em família é fácil, mas praticar é difícil. Para isso, tomem atitudes preventivas. Casais devem conversar em tempos de bonança para saberem discutir com objetividade e lealdade em tempos de crise. Em tempos de calmaria planejem para saber como agir em horas conturbadas. Traga também os filhos para a responsabilidade da conversa em família.

Na clínica se percebe que a interação familiar saudável depende muito menos da informação e mais sobre a disponibilidade para abrir mão de comportamentos

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inadequados e querer a mudança. Essa mudança para o relacionamento saudável não é responsabilidade de um só, mas de todo o sistema familiar.

Por fim, um exemplo para ilustrar. Em consulta uma paciente chegou com a queixa de que a filha estava com notas baixas demais na escola. A reclamação era de que a menina não rendia o esperado pela família.

No proceder do entendimento global do funcionamento familiar, pode-se perceber que o comportamento da menina era uma reação à atitude dos pais muito repressiva e ditatorial. Por vezes ditavam comportamentos à filha como forma de pressionarem para que ela ‘se desse bem na vida estudando’.

Essas notas baixas da menina demonstravam nada mais que a sua reação à pressão dos pais e era sinal de que a interação familiar não estava sendo sadia e que a comunicação era inexistente. Somente em consulta puderam perceber que as expectativas sobre a filha estavam fora da realidade da menina e que a autonomia dessa adolescente estava sendo violentada.

Os pais admitiram essa coação, mas diziam que era o preço a ser pago para o sucesso da menina. Ainda se percebeu que eles tinham frustrações relacionadas à carreira profissional, já que o nascimento da filha, ainda quando eram solteiros, fez a mãe abandonar a tão ansiada faculdade para se casar.

Discussões longas com ofensas pessoais sempre eram presenciadas pela menina. Ela percebia no seio familiar uma disputa de poderes e um empurra-empurra de responsabilidades. Isto era suficiente para não obedecer àquelas fontes de autoridade discordantes entre si e reagir ao sistema repressivo como forma de expressar a sua raiva por não ter um lar equilibrado e feliz como o da prima.

A menina era apenas o sintoma do mau funcionamento de todo o sistema familiar. Havia questões não bem resolvidas no passado do casal parental e o que gerava negligências nas responsabilidades e procura de culpados pelas frustrações mútuas.

A ajuda do profissional Psicólogo nesta família fora decisiva para que não houvesse a separação. Portanto, se as coisas desandarem e não souber ou não tiver coragem para ajustar as coisas, procure ajuda profissional.

Esteja certo de que a dinâmica doméstica analisada junto com a família e um profissional psicólogo pode proporcionar um relacionamento familiar mais saudável.

OBESIDADE INFANTIL

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Crianças obesas têm alto risco de se tornarem adultos doentes 

Já escrevi sobre Depressão Infantil. Falemos agora da Obesidade. Este trecho abaixo é uma reportagem retirada do G1. Abaixo teço alguns comentários. Relembrando que caso queira me sugerir alguma temática para uma análise psíquica, é só me sugerir na caixa de sugestões.  

Combater o excesso de peso na infância é ainda mais importante do que se pensava. Os estudos comprovam que crianças obesas têm alto risco de se tornarem adultos com doenças cardíacas, já a partir dos 35 anos.

Pesquisadores da Universidade de São Francisco, na Califórnia, fizeram projeções estatísticas a partir de dados do censo americano e do sistema de saúde pública. Pelo cenário traçado com a ajuda de modelos matemáticos, quase metade das mulheres e 37% dos homens americanos serão obesos em 2020.

Kirsten Bibbins-Domingo, coordenadora da pesquisa, concluiu que se a população continuar sem fazer exercícios e com os mesmos maus hábitos alimentares, o número de mortes por doenças do coração deve aumentar 19% nos próximos anos. Seriam mais de dois milhões de americanos com coronárias obstruídas e jovens com alto risco de morte prematura.

E o problema não se restringe aos Estados Unidos. Em vários países, como o Brasil, vêm aumentando rapidamente o número de pessoas muito acima do peso. Outra pesquisa, realizada na Dinamarca, chegou à mesma conclusão. Foram estudadas 276 mil pessoas, nascidas entre 1930 e 1976, com idade entre 25 e 60 anos. Resultado: quanto mais gordas as crianças entre 7 e 13 anos, maior o risco de doença cardíaca na idade adulta.

A receita para uma vida saudável pode ser simples e divertida: além de reduzir açúcar, gorduras e frituras, simplesmente brincar. É justamente a vontade de fazer esporte que motiva o adolescente Danilo. Aos 14 anos, ele está fazendo regime. Quando o assunto era pizza, ele não fazia por menos. “Comia uns dez pedaços. Hoje em dia eu como quatro, só. Não posso”, afirma. Para o ano que vem, o plano está pronto: “Emagrecer o máximo possível e fazer esporte, que é o que eu mais gosto”.

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Fonte: G1

Diante dessa constatação, fica evidente que deve haver a ajuda de profissionais da área de saúde. Tanto endocrinologistas, quanto nutricionistas e psicoterapeutas. Cuidar da saúde da criança e da relação que elas possuem com a alimentação é fator de primordial importância para a relação social, a autoestima, o rendimento escolar, o relacionamento social e fatores da saúde do corpo da criança.

Os comprometimentos não são somente da esfera da saúde, mas entendem-se dos danos ao corpo até os psicológicos, sociais, familiares e escolares.

A obesidade infantil possui varias hipóteses explicativas. Grande parte delas concorda que nesse quadro sempre coexiste um hábito familiar antigo de manejo da ansiedade através da comida. Hábitos familiares repetidos pela criança podem estar presentes também. A relação com a comida é em algumas vezes uma reação aprendida à ansiedade e a outros fatores psicológicos e sociais. 

Em algumas famílias, a grande quantidade de estresse, condições sócio-econômicas, criação dos pais, forma de relação com os filhos, dentre outros são fatores que colaboram para manter a obesidade infantil. Nesses casos, a obesidade seria uma consequência de problemas psicológicos nos filhos. Assim, a obesidade apenas aponta para outro problema: o psíquico. 

É em família que encontramos explicações para este fenômeno. O texto Sugetões para o Relacionamento Familiar e o texto  Psicologia para Educação de Filhos ajudam a entender e lidar melhor com as relações familiares. 

A obesidade infantil pode ainda ser o resultado de pais que não conseguem educar filhos, mas apenas criá-los. Para evitar a dor de cabeça da educação, os pais dão tudo o que os filhos pedem. 

Uma avaliação médica e psicológica deve ser feita para cada caso em particular.

Quem tem Medo de Dentista?

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-->Artigo escrito para o site IDMED Uol

O medo de dentista é um sentimento normal. Contudo, ele pode se transformar numa fobia. Segundo informações, em torno de 4 a 10% da população tem medo de dentista e uma parcela desses apresenta a fobia.

Um paciente pode ter ansiedade em relação à consulta do mês que vem com um dentista. A pessoa gasta tempo imaginando como poderá ser. Ela está com a mente (pré) ocupada com o evento futuro. Contudo, o medo não impede a pessoa de ir ao dentista. Por outro lado, a fobia pode ser a soma do medo a um comportamento de evitação com sensações fisiológicas específicas no corpo, chamadas pânico. A fobia pode ser o medo exagerado, que causa reações de fugir do objeto de fobia – no caso o dentista.

Medo exagerado

O medo exagerado é um sentimento que podemos definir como uma reação de defesa do organismo contra uma possível ameaça. Essa reação de defesa é fisiológica, comportamental e psicológica. O pânico pode ser desencadeado no contato com os procedimentos odontológicos ou, apenas, ao pensar no barulho do motorzinho do dentista. A sensação de pânico – que não é o transtorno de pânico – é um evento fisiológico do sistema nervoso que desencadeia sudorese (suor excessivo), sensação de desmaio, taquicardia (coração acelerado), tremores, respiração ofegante, etc.

Podemos chamar a fobia de dentista de odontofobia. Na mente do odontofóbico ocorre um processo de generalização, onde o paciente pensa que “se aconteceu uma vez o trauma, poderá acontecer de novo – então, o evito”. A antecipação e a imaginação de um possível evento traumático podem ser outro mecanismo psicológico que desencadeia a fobia. Isso é uma aprendizagem automática, já que o fóbico associou o trauma (próprio ou de terceiros) a todas as futuras visitas ao dentista.

A antecipação e imaginação são mecanismos psicológicos que fazem a mente prever um possível dano, desencadeando pensamentos e sentimentos que criam o medo. O xis da questão é o quanto uma criança aprende a enfrentar esses medos desde pequena e se fortalecer perante esse mecanismo instintivo da existência humana. Esse processo psíquico de generalização, pânico e estresse amplia a sensação de dor para alguns indivíduos e dificulta as operações odontológicas, aumentando a probabilidade de acontecer algum evento traumático.

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Podemos citar algumas explicações para essa forma equivocada de pensar as emoções e os fatos. Nos fóbicos, a mente não processa adequadamente alguns medos. Isso se explica na infância pela ausência do aprendizado infantil com relação às emoções. Mas não podemos generalizar, já que a fobia dos procedimentos dentários pode ser um aprendizado relacionado a um trauma real.

Outra explicação possível para esse descontrole frente ao medo é que as emoções são as principais forças motivadoras do ser humano. O poder das emoções sobre a vontade é maior que o poder dos pensamentos. Isso se explica neurologicamente, uma vez que as emoções estão ligadas aos processos fisiológicos. Por isso, apenas saber que o procedimento de implantação de prótese dentária dói menos que o da lesão cariosa grave não é o suficiente para controlar o medo sentido na carne.

Genericamente, essa fobia pode ter algumas explicações psicológicas e sociais, como o mito social, que remonta historicamente ao desenvolvimento da odontologia e aos hábitos sociais antigos quanto ao cuidado bucal.

Causas do medo de dentista

Antigamente, os dentistas eram chamados de sangradores e utilizavam apenas substâncias cáusticas para estancar o fluxo de fluidos. Os indivíduos não tinham consciência de qualidade de vida e a procura pelo profissional acabava sendo tardia. O procedimento principal era apenas extração dentária e a ausência de preocupação higiênica do profissional era um fator negativo que reforçava esse medo.

O mito, nesse caso e por enquanto, pode ser definido como as histórias contadas e repetidas por essas gerações, contendo verdades misturadas a mentiras sobre um determinado fato odontológico. Tais histórias proporcionam mais medo do dentista.

Outros fatores são uma experiência traumática própria; a experiência traumática de terceiros; a falta de informações e orientação adequada; o contato com profissionais mal formados; a ausência de hábitos para tratamentos preventivos de cuidado e zelo com a arcada dentária e com a boca, assim como ausência de tratamentos preventivos, com procura tardia pelo dentista.

Controle do medo

Para evitar a fobia de dentista, seria aconselhável a procura por tratamentos periódicos para que o paciente se habituasse aos cuidados preventivos e assim minimizasse a oportunidade de emergência de uma fobia.

Para lidar com a fobia e enfrentá-la, alguns procedimentos poderiam ser indicados tanto ao paciente quanto ao profissional. Isso porque a odontofobia precisa de enfrentamento prático e gradual para que se diminua a sensibilidade psicológica ao objeto de fobia.

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Por exemplo, se a fobia for restrita ao barulho do motor da caneta rotatória, o paciente poderia marcar visitas ao dentista apenas para conhecer o tal motor e agendar para outra oportunidade o contato físico com os procedimentos onde será usado o motorzinho. Isso é enfrentamento gradual. Aos poucos o contato com o objeto de fobia é efetuado para diminuir suas sensações estressantes no organismo e na mente.

Outro fator importante é a correta, a adequada e a verdadeira informação sobre os procedimentos odontológicos. A confiança do paciente no profissional é fundamental para se extinguir a fobia. Uma informação errada ou mal dada pode ser fatal. Inclusive, aconselho aos dentistas não alimentar o medo concedendo informações desnecessárias, tais como dizer ao paciente que o procedimento de extração dentária não dói, já que estará anestesiado. Em algumas pessoas, a simples concessão dessa informação pode ativar a produção de adrenalina, que – sabemos – diminui o efeito das anestesias. Por isso a sensibilidade para checar o estado emocional do paciente é fundamental para saber discernir quando uma informação terá efeitos positivos ou negativos.

A conversa com o dentista pode ser um outro instrumento de enfrentamento da fobia. Pague consultas só de conversa. Afinal, você tem uma fobia e precisa arcar com os custos de enfrentá-la. Durante a busca por informações, o mais indicado é que seja feita pessoalmente com o profissional contratado para que ele tenha a oportunidade de agir instantaneamente, oferecendo amparo emocional ao paciente fóbico.

A informação deve ser sobre os procedimentos, os materiais, as tecnologias e o problema do paciente. O modo de pensar deve ser reaprendido através da própria informação e do enfrentamento gradual da situação de fobia. É importante a verbalização de todos os medos para que haja a possibilidade de diminuição da força imaginária das fantasias fóbicas.

O tratamento da odontofobia pode ter mais sucesso através do enfrentamento planejado do medo junto ao dentista. Desenvolver procedimentos para lidar com isso é essencial para esses profissionais. O dentista ainda pode oferecer, na medida do possível, tratamentos progressivos, tratando pequenos problemas primeiro e depois os mais graves relacionados à dor.

Esses pacientes fóbicos não conseguem ter êxito no autocontrole emocional. Seus pensamentos estão fixados numa imagem catastrófica e na desconfiança com relação ao risco do procedimento odontológico. Na verdade, hipotetizo que o que diferencia os fóbicos dos não fóbicos é esse autocontrole.

O paciente não fóbico deve ter a mente habitada por fantasias, preocupações, estresse, assim como o fóbico. Contudo, devido a algum fator, o paciente sem fobia mantém o autocontrole e não sai correndo do consultório.

Alguns chamados não fóbicos resistem, pensando que é melhor enfrentar agora do que depois, e acabam tendo maior tolerância, suportando a dor e permanecendo. Tais pacientes possuem um mecanismo psíquico pessoal para o enfrentamento da dor e dos medos. Pensam, cantam mentalmente aquela música adorável, imaginam o sorriso perfeito, pensam que ali não morrerão e que o pior não pode acontecer, fazem respiração relaxante, lembram de um programa favorito de televisão, etc. Enfim, mantêm a mente ocupada com outra coisa durante o processo.

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Assim, podemos encontrar um fator comum dos não fóbicos. O segredo não é que eles não sintam a dor e o medo, mas sim que criam na mente os mecanismos psíquicos para desviar da consciência o sentimento de medo e da dor durante o processo odontológico. Possivelmente são pessoas que conseguem reprimir melhor seus medos através da ativação de pensamentos que desviam parcialmente o medo e o inserem em um mundo à parte criado pela mente. São pessoas que se autotranquilizam, que conversam mentalmente consigo mesmas e se tornam autocontroladas devido a esse mecanismo psíquico de fuga virtual e parcial do medo.

Portanto, não há mágicas. O enfrentamento gradual, a informação e a correção do modo de pensar as emoções são as estratégias básicas para manejar a fobia. O maior problema é que o fóbico possui papel ativo durante o manejo da fobia. Só que alguns não querem pagar o preço da atuação ativa. Mas, por enquanto, não há caminhos alternativos.