proposta de implantaÇÃo da engenharia simultÂnea … · evans (1993) apud back (2008) considera...

15
PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA ENGENHARIA SIMULTÂNEA EM UMA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO NO ESTADO DO CEARÁ Sara Assef Leitao Lotif (UFC ) [email protected] Sergio Jose Barbosa Elias (UFC ) [email protected] Em meio à acirrada concorrência no contexto econômico atual e às novas exigências do mercado consumidor, as empresas vêm desenvolvendo estratégias para lidar com as mudanças. Assim, a Engenharia Simultânea (ES) destaca-se como uma estratégiia importante para a gestão de projetos, buscando considerar diversos aspectos do ciclo de vida de um produto durante sua concepção, visando a diminuição de custos, redução do lead time de desenvolvimento e melhoria da qualidade. A ES se manifesta tipicamente através da realização de atividades em paralelo, da formação de equipes multifuncionais e do envolvimento antecipado de diversos stakeholders no projeto do produto. Neste contexto, o presente trabalho aborda a realidade de uma indústria de confecção de vestuário de moda feminina com a apresentação de um estudo de caso e análise do seu processo de desenvolvimento de produtos (PDP). Com base em uma pesquisa bibliográfica sobre a gestão do PDP e sua importância para a competitividade das empresas, buscou-se propor uma nova maneira de pensar e agir seguindo os princípios da ES. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é auxiliar na implantação da ES. Ao longo do estudo e atuação, conseguiu-se iniciar o processo de mudanças que a ES exige. Apesar da empresa se encontrar em etapas iniciais de implantação, são notórias algumas melhorias no processo. Palavras-chaves: Processo de desenvolvimento de produtos, engenharia simultânea, integração. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

Upload: others

Post on 23-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA

    ENGENHARIA SIMULTÂNEA EM UMA

    INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO NO

    ESTADO DO CEARÁ

    Sara Assef Leitao Lotif (UFC )

    [email protected]

    Sergio Jose Barbosa Elias (UFC )

    [email protected]

    Em meio à acirrada concorrência no contexto econômico atual e às

    novas exigências do mercado consumidor, as empresas vêm

    desenvolvendo estratégias para lidar com as mudanças. Assim, a

    Engenharia Simultânea (ES) destaca-se como uma estratégiia

    importante para a gestão de projetos, buscando considerar diversos

    aspectos do ciclo de vida de um produto durante sua concepção,

    visando a diminuição de custos, redução do lead time de

    desenvolvimento e melhoria da qualidade. A ES se manifesta

    tipicamente através da realização de atividades em paralelo, da

    formação de equipes multifuncionais e do envolvimento antecipado de

    diversos stakeholders no projeto do produto. Neste contexto, o presente

    trabalho aborda a realidade de uma indústria de confecção de

    vestuário de moda feminina com a apresentação de um estudo de caso

    e análise do seu processo de desenvolvimento de produtos (PDP). Com

    base em uma pesquisa bibliográfica sobre a gestão do PDP e sua

    importância para a competitividade das empresas, buscou-se propor

    uma nova maneira de pensar e agir seguindo os princípios da ES.

    Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é auxiliar na implantação

    da ES. Ao longo do estudo e atuação, conseguiu-se iniciar o processo

    de mudanças que a ES exige. Apesar da empresa se encontrar em

    etapas iniciais de implantação, são notórias algumas melhorias no

    processo.

    Palavras-chaves: Processo de desenvolvimento de produtos,

    engenharia simultânea, integração.

    XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    2

    1. Introdução

    Nas últimas décadas, com a globalização promovendo uma concorrência acirrada, as

    empresas vêm buscando novas técnicas de gestão e ferramentas que permitam obter uma

    vantagem competitiva para se manterem no mercado e atenderem aos requisitos dos clientes,

    cada vez mais exigentes e sofisticados. O mercado vem exigindo preços cada vez mais baixos,

    levando as empresas a reestruturarem seus processos para reduzir custos e eliminar

    desperdícios. Neste contexto, a redução de tempo dos processos é um ponto-chave,

    especialmente em se tratando de lançamento de novos produtos.

    Na década de 80, investigando as causas do sucesso japonês na excelência de fabricação de

    seus produtos com prazos reduzidos, a indústria automobilística norte-americana chegou a

    conclusão de que a chave do êxito japonês estava vinculada à Engenharia Simultânea (ES), de

    acordo com Hartley (1998). Dentre as diversas técnicas de gestão, a ES se destaca como uma

    estratégia para o desenvolvimento integrado de produtos.

    Desta forma, este trabalho aborda a realidade de uma indústria de confecção de vestuário de

    moda feminina, localizada no estado do Ceará, onde foi identificada a necessidade de se

    trabalhar com a ES, mostrando como ela pode ajudar a empresa na luta pela redução de custos

    e do lead time de desenvolvimento, além de promover uma melhoria na qualidade dos seus

    processos e produtos. Esta pesquisa tem como objetivo propor uma metodologia para a

    implantação da ES na empresa estudada e se classifica como uma pesquisa-ação (GIL,

    2002), na qual os dados foram coletados por meio de observação direta e análise

    dos documentos e relatórios da empresa, envolvendo sua equipe de funcionários.

    2. Engenharia Sequencial x Engenharia Simultânea

    Na abordagem tradicional o projeto do produto é desenvolvido de forma sequencial, cada

    etapa só se inicia após a conclusão da etapa anterior. Esta abordagem é um reflexo da divisão

    do trabalho, onde o trabalhador é especializado e focado apenas em sua atividade isolada. A

    engenharia sequencial, também conhecida como “engenharia por cima da cerca”, projeta os

    produtos que, quando concluídos, são “atirados” por cima do muro do departamento de

    engenharia de produção. Quando os engenheiros de produção identificam possibilidades de

    melhoria, o projeto já se encontra em etapas avançadas, onde as possibilidades de alterações

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    3

    no produto se tornam mais difíceis e mais onerosas. Segue-se um período de pânico devido à

    necessidade de retrabalhar os componentes para que a produção possa iniciar. Essas

    alterações implicam em produtos de qualidade duvidosa e fazem com que as pessoas

    responsáveis em gerir essas mudanças gastem esforço e tempo consideráveis com retrabalho

    (HARTLEY, 1998).

    A Engenharia Simultânea, considerada por Back et al (2008) como uma filosofia,

    metodologia ou prática de desenvolvimento de produto, surgiu oficialmente em 1986, no

    relatório do Institute for Defense Analyses dos EUA, onde foi definida como uma abordagem

    sistemática para o desenvolvimento integrado e simultâneo de produtos e dos seus processos

    relacionados, incluindo a manufatura e o suporte (SCHNEIDER, 1995 apud PEREIRA et al,

    2001).

    Na figura 1, pode-se visualizar a redução do tempo de desenvolvimento do produto de acordo

    com a abordagem da ES (BACK et al, 2008).

    Figura 1 - Engenharia Sequencial x Engenharia Simultânea

    Fonte: Adaptado de Back et al (2008)

    Nas fases iniciais do processo de desenvolvimento de produtos são definidas as principais

    soluções construtivas e as especificações do produto, portanto, as decisões tomadas nestas

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    4

    fases têm um efeito significativo em sua manufaturabilidade, em sua qualidade e nos custos

    de produção, pois é nesse momento que são determinados os materiais e as tecnologias a

    serem utilizados, os processos de fabricação, a forma construtiva, etc. (BACK et al, 2008).

    Rozenfeld et al (2006) complementam a ideia afirmando que essas decisões tomadas no início

    do ciclo de desenvolvimento são responsáveis por cerca de 80 a 90% do custo do produto. Na

    fase de desenvolvimento, os custos de fato incorridos são relativamente baixos. Por outro

    lado, essa fase é bastante crítica quanto ao comprometimento do custo final do produto. São

    poucas as possibilidades de redução desse custo nas fases de produção, já que está

    diretamente interligado às especificações técnicas já definidas.

    Assim, o projeto conceitual do produto deve ser bem elaborado, desde o início, para evitar os

    elevados custos de modificações em estágios mais avançados do desenvolvimento (BACK et

    al, 2008). A figura 2 mostra como o custo de modificação de uma decisão aumenta ao longo

    do ciclo de desenvolvimento (ROZENFELD et al, 2006).

    Figura 2 - Custo das mudanças

    Fonte:

    Adapt

    ado de

    Back

    et al

    (2008)

    Dessa forma, a ES propõe a integração de todos os setores da empresa no design do produto,

    através da formação de times, cujos valores são cooperação, confiança e compartilhamento de

    decisões. Estas equipes são compostas de membros que representam funções de Marketing,

    Qualidade, Design, Engenharia do Produto, Suprimentos, Manufatura, Distribuição, entre

    outros, cada uma vendo o produto por uma perspectiva diferente, mas complementares. O

    objetivo principal é auxiliar para que o produto seja projetado com a melhor relação

    custo/benefício, através de uma eficiente combinação entre especificações técnicas e

    necessidades de manufatura. Outro objetivo da ES é identificar mais cedo os problemas e

    restrições, para mais cedo solucioná-los, diminuindo consideravelmente os recursos e tempo

    gastos com posteriores análises e retrabalhos. Esta abordagem busca motivar os projetistas a

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    5

    considerarem todos os elementos do ciclo de vida do produto (PEREIRA et al, 2001).

    Este novo enfoque exige um consumo maior de tempo na definição do produto, com um

    planejamento muito mais aprofundado nas primeiras fases de desenvolvimento. Dessa

    maneira, a maioria das modificações são feitas na fase de projeto, antes da produção dos

    protótipos (HARTLEY, 1998).

    Pode-se pensar que com esta forma de trabalhar o projeto do produto leve mais tempo do que

    o necessário. Entretanto, é nas últimas fases dos projetos convencionais onde é gasto mais

    tempo, conforme a necessidade do reprojeto dos componentes devido às falhas dos protótipos.

    O tempo que é gasto com essas mudanças excede em muito o tempo investido em uma melhor

    definição de projeto em suas fases iniciais (HARTLEY, 1998).

    A presença de profissionais de marketing na equipe assegura que as metas de vendas sejam

    realistas, ao invés de meros desejos. O marketing pode identificar, também, oportunidades

    para fazer retificações ou derivações em uma fase suficientemente inicial do projeto

    (HARTLEY, 1998).

    A comunicação e a troca de informações entre a equipe de desenvolvimento de produtos e o

    setor de assistência técnica permite estabelecer um processo sistemático de aprendizagem,

    caso contrário, os erros de um projeto tendem a se repetir nas futuras gerações de produtos

    (ROZENFELD et al, 2006).

    Com um envolvimento antecipado no projeto, o setor de Compras pode ser capaz de realizar o

    pedido dos itens de maior lead time com antecedência, disponibilizando-os para manufatura o

    mais cedo possível, evitando atrasos na produção por falta de matéria-prima (KOUFTEROS

    et al, 2001).

    A participação dos grupos multifuncionais e seu envolvimento antecipado ainda nas etapas

    iniciais do projeto permitem tirar dúvidas, trocar idéias, tomar decisões, corrigir erros, antes

    que as decisões estejam finalizadas (HARTLEY, 1998).

    Uma vez estabelecida a Engenharia Simultânea nos processos internos da empresa, os times

    devem buscar integração externa formando parcerias estratégicas, envolvendo clientes e

    fornecedores para coordenar atividades ao longo da cadeia de valor (KOUFTEROS et al,

    2001). Em geral, integrar fornecedores ao projeto acelera o seu desenvolvimento e a

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    6

    integração com os clientes favorece o atendimento de suas necessidades (KRUGLIANSKAS,

    1993).

    2.1 Implantação

    Kruglianskas (1993) afirma que a implantação da ES nas empresas tende a ocorrer de forma

    adaptativa, ou seja, o planejamento para sua implantação é bastante flexível. A forma de

    introduzi-la depende da realidade e das necessidades de cada organização. O aprendizado é

    feito principalmente pela prática, que vai indicando os aprimoramentos a serem introduzidos.

    Dentre as dificuldades citadas por Back et al (2008), encontra-se a resistência às mudanças,

    decorrente de hábitos e costumes enraizados. As mudanças organizacionais e culturais

    requeridas não são facilmente aceitas. Uma falha comum é o pouco cuidado com questões

    como conscientização, apoio, treinamento e comprometimento. Os autores consideram o

    envolvimento da alta gerência um fator determinante para o sucesso da ES. Recomenda-se

    que a equipe defina claramente os objetivos pretendidos e estabeleça indicadores de

    desempenho de maneira a acompanhar os resultados obtidos.

    Outra dificuldade destacada pelos autores é a problemática do custo/benefício, pois o seu

    cálculo para a implantação da ES não é simples, considerando que os resultados são

    alcançados a longo prazo, e que é difícil estabelecer um sistema preciso para a avaliação do

    progresso e do próprio resultado da adoção da metodologia. Evans (1993) apud Back (2008)

    considera que a melhor forma de avaliar o desempenho da implantação da ES é pelo número

    de considerações ou restrições de projeto que são observadas em cada tomada de decisão.

    Segundo Kruglianskas (1993), a busca de retornos imediatos e tangíveis é um grande erro que

    tem desmotivado o esforço para a implantação da ES. O temor de inibir a criatividade é uma

    outra barreira a ser enfrentada. Só a conscientização e a mudança cultural das pessoas

    garantem o sucesso da Engenharia Simultânea (KRUGLIANSKAS, 1993).

    3. Estudo de caso

    3.1 Caracterização da empresa

    A empresa objeto de estudo deste trabalho é uma indústria de confecção de vestuário de moda

    feminina, de grande porte. Sua única fábrica, situada em Fortaleza, trabalha com vendas no

    atacado para lojas multimarcas em todo o Brasil e abastece suas lojas de varejo.

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    7

    A empresa sofre frequentes atrasos em suas coleções e na entrega de mercadoria a seus

    clientes, o que causa insatisfação e até mesmo cancelamento de pedidos. Conforme analisado,

    um dos motivos dos atrasos está na ausência de dados substantivos e parâmetros que auxiliem

    a tomada de decisões no momento da reunião de avaliação dos modelos. Atualmente, o

    produto é aprovado somente levando em consideração o design e a modelagem. As limitações

    técnicas, produtivas e/ou econômicas somente são identificadas em etapas posteriores do

    processo, tornando-o lento, uma vez que o produto retrocede no fluxo de desenvolvimento

    para sanar as dificuldades encontradas, gerando retrabalho à toda a equipe.

    Essas aprovações de produtos sem nenhuma análise de custo e nem de preço acarretam em

    lançamentos de produtos com fracasso de vendas por agregarem um alto custo e,

    consequentemente, um preço inadequado ao mercado.

    Dessa forma, a diretoria da empresa solicitou o presente trabalho, buscando diretrizes para

    implantar a Engenharia Simultânea, visando diminuir o tempo de desenvolvimento de seus

    produtos e reduzir seus custos.

    3.2 Proposta de implantação da Engenharia Simultânea

    O presente trabalho encontra-se estruturado em 8 etapas. Essas etapas foram definidas de

    acordo com as diretrizes dadas pelos autores pesquisados na fundamentação teórica e visando

    alcançar os objetivos estabelecidos.

    Etapa 1 - Estudo da situação inicial: mapeamento do fluxo do processo

    Para propor um modelo de implantação da Engenharia Simultânea na empresa em questão,

    buscou-se primeiramente estudar o fluxo dos seus processos, além de observar como o

    trabalho é realizado por toda a equipe durante o desenvolvimento de novos produtos.

    Entrevistas com os diversos setores e consultas a documentos e registros da empresa deram

    uma visão mais aprofundada da situação inicial.

    Etapa 2 - Análise crítica da situação inicial

    Nesta etapa, comparou-se a situação inicial da empresa com a teoria acerca da ES.

    Etapa 3 - Diretrizes para a implantação da Engenharia Simultânea

    Com base na análise dos processos da empresa e de acordo com os princípios da ES,

    elaborou-se o quadro 1.

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    8

    Quadro 1 – Resumo das mudanças propostas

    Antes da ES Com a ES

    Trabalho e decisões individuais. Trabalho e decisões em equipe.

    Não existe conscientização da equipe,

    treinamentos, definição de objetivos e

    metas, reuniões para acompanhamento

    dos indicadores de desempenho.

    Conscientização da equipe, treinamentos,

    definição de objetivos e metas, reuniões para

    acompanhamento dos indicadores de desempenho.

    O setor de Estilo escolhe o tema e a

    cartela de cores da coleção.

    A Gerência Industrial e o setor Comercial

    participam com o Estilo na escolha do tema e da

    cartela de cores da coleção.

    O setor de Estilo define o mix de

    produtos e as características da

    coleção.

    A Gerência Industrial e o setor Comercial

    participam com o Estilo na definição do mix de

    produtos e das características da coleção.

    O setor de Estilo escolhe as matérias-

    primas e as estampas.

    A Gerência industrial e os setores de Qualidade e

    Comercial participam com o Estilo na escolha das

    matérias-primas e das estampas.

    O setor de Estilo realiza a compra de

    matéria-prima para pilotagem.

    Juntamente com o Estilo, o setor de Compras

    realiza e controla a compra de matéria-prima para

    pilotagem.

    Não há prioridade no

    desenvolvimento.

    O setor de Compras fornece um relatório à equipe

    com as datas previstas de recebimento das

    matérias-primas para definir prioridades no

    desenvolvimento.

    Os estilistas não consideram o custo

    na elaboração de croquis, nem o

    histórico de vendas.

    Os estilistas consideram o custo na elaboração de

    croquis e buscam equilíbrio entre custo de tecido,

    custo de aviamentos e custo de mão de obra.

    Consideram também o histórico de vendas das

    coleções passadas.

    Não há análise e aprovação de croquis. A diretora de Estilo analisa os croquis, propõe

    alterações e seleciona os modelos que seguirão em

    diante no processo, com auxílio da gerente de

    Qualidade.

    Os modelistas não consideram o

    encaixe quando elaboram os moldes.

    Os modelistas consideram o encaixe, buscando o

    melhor aproveitamento do tecido e facilidade na

    montagem.

    O Estilo acompanha a modelagem. A Qualidade e o Estilo acompanham a

    modelagem.

    A digitalização dos moldes e o encaixe

    são realizados após a aprovação do

    produto. Não há aprovação do encaixe

    e do consumo.

    A digitalização dos moldes e o encaixe são

    realizados após a modelagem, para obter o

    consumo, necessário para a estimativa de custos

    antes da aprovação. Somente com o encaixe e o

    consumo aprovados pela equipe, o produto deve

    seguir para a pilotagem.

    A Pilotagem não busca minimizar as A Pilotagem busca minimizar as operações de

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    9

    operações de costura e facilitar a

    montagem.

    costura e facilitar a montagem, pensando na

    produção.

    Não existe estimativa do tempo

    operacional e sugestões de melhoria.

    Estimativa do tempo operacional e sugestões de

    melhoria.

    Não existe estimativa de custo do

    produto e tomada de decisões.

    Estimativa de custo do produto e tomada de

    decisões.

    O Estilo e a Qualidade aprovam os

    produtos sem nenhuma análise de

    custo nem de preço.

    O setor de Custos e o Comercial participam da

    aprovação de produtos com análise do custo

    estimado e das observações do CAD e da

    Engenharia, além do potencial de vendas.

    A proprietária da empresa assina os

    preços dos produtos com a Gerência

    Industrial e o Comercial.

    Os estilistas participam da assinatura de preços

    juntamente com a proprietária da empresa, a

    Gerência Industrial e o Comercial.

    A Gerência Industrial e o Comercial

    acompanham as vendas.

    Os estilistas acompanham as vendas com a

    Gerência Industrial e o Comercial, e identificam o

    que agradou e o que não agradou.

    O setor de Qualidade e o Comercial

    analisam as reclamações dos clientes e

    propõem ações corretivas.

    O setor de Estilo participa juntamente com o

    Comercial e a Qualidade na análise das

    reclamações dos clientes e propõem, além das

    ações corretivas, ações preventivas para evitar que

    se repitam.

    Não há registro das decisões tomadas

    nem das lições aprendidas e as falhas

    se repetem.

    A equipe registra as decisões tomadas e as lições

    aprendidas e apresenta em reuniões semanais, para

    evitar que as falhas se repitam.

    Fonte: elaborado pelo autor

    Etapa 4 - Estimativa do custo do produto em etapas iniciais de projeto

    Para obter uma estimativa do custo do produto em etapas iniciais de projeto, buscou-se

    primeiramente analisar a ficha de custo do produto para identificar todos os seus

    componentes. Em seguida, criou-se um sistema de planilhas em rede no Excel (Anexo A),

    para que os dados fossem lançados em cada etapa da ES. Cada cor representa o setor

    responsável pelo fornecimento dos dados, de acordo com a legenda.

    O consumo de tecido, forro e entretela, assim como o custo da mão de obra nas oficinas são

    determinados em etapas posteriores à aprovação do produto. Para obter o consumo antes da

    aprovação do produto, o mais indicado seria realizar a digitalização dos moldes e o encaixe no

    sistema Audaces logo após a modelagem, antes de seguir para o corte da peça piloto. Com

    esta nova prática, o estilista pode visualizar o encaixe e a porcentagem de aproveitamento do

    tecido e buscar alternativas juntamente com o analista de encaixe e os modelistas, tomando

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    10

    decisões com base em dados concretos antes mesmo de iniciar a produção da peça piloto, para

    obter um produto com a melhor relação custo/benefício.

    O processo de costura é terceirizado e pago pelo minuto da mão de obra. O setor de

    Engenharia, ao fazer uma breve análise das operações, fornece um tempo operacional

    estimado, pois devido a complexidade do processo, não é possível obter o tempo real antes da

    aprovação do produto. Utilizou-se também dados históricos, observando que vários modelos

    se assemelham a modelos de coleções passadas, mudando somente o tecido, a estampa ou

    alguns detalhes.

    Etapa 5 - Proposta de indicadores para monitorar o desempenho da aplicação da ES

    Nesta etapa, propõe-se uma série de indicadores de forma a estabelecer parâmetros para

    avaliar o desempenho da aplicação da ES e quantificar os ganhos esperados. É necessário

    verificar os resultados quanto aos objetivos estabelecidos pela ES, ou seja, em termos de

    custo, tempo e qualidade, como destacado na fundamentação teórica. Analisando as

    necessidades da empresa, foram propostos os seguintes indicadores:

    Custo médio unitário por classe de produto

    Custo de desenvolvimento por modelo

    Lead time de desenvolvimento

    Média de repetição na pilotagem

    Porcentagem de pedidos entregues com atraso

    Atraso médio de pedidos

    Porcentagem de devolução de clientes

    Etapa 6 - Palestra, treinamento

    Esta etapa é uma das mais importantes, pois envolve a conscientização da equipe, já que a ES

    depende em grande parte do comportamento das pessoas, sendo necessário mudar a cultura e

    os hábitos enraizados, mostrando uma nova forma de trabalhar e de raciocinar. Dessa

    maneira, elaborou-se uma palestra em Powerpoint para introduzir o processo de

    conscientização da equipe, com base na pesquisa bibliográfica e na análise crítica do

    processo, abordando primeiramente o tema da Engenharia Simultânea e destacando o papel de

    cada setor e como será sua nova forma de trabalhar.

    Etapa 7 - Fase de testes

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    11

    A fase de testes consistiu em envolver o setor de CAD, Engenharia e Custos na pilotagem,

    para obter uma estimativa de consumo de tecido, tempo operacional e custo unitário. Assim,

    selecionou-se uma amostra aleatória de 33 blusas, 43% desta classe de produtos e 14 camisas,

    37,84% deste grupo para realização dos testes. Cada produto dessa amostra seguiu para a

    reunião de aprovação com sua planilha de estimativa de custo em anexo. A nova forma de

    trabalhar foi aos poucos posta em prática, de maneira a determinar o erro das estimativas.

    As tabelas 1 e 2 apresentam os resultados obtidos, onde verifica-se que as médias do erro das

    estimativas de custo foram inferiores a 3%, considerado um bom resultado.

    Tabela 1 - Resultado Blusas

    Fonte: Elaborada pelo autor

    Tabela 2 - Resultado Camisas

    Fonte: Elaborada pelo autor

    Etapa 8 - Análise dos resultados

    Durante essa fase inicial de implantação foram observadas algumas alterações no processo.

    Os estilistas passaram a definir mais detalhadamente a composição do seu produto na ficha

    técnica da peça piloto, antes da aprovação, incluindo o custo dos materiais não cadastrados, o

    que possibilitou estimar o custo do produto antecipadamente. Observou-se que os estilistas

    começam a se interessar pelo custo do produto, acompanhando as estimativas e buscando

    alternativas para diminuí-lo.

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    12

    Conseguiu-se também o envolvimento do setor de engenharia antecipadamente, estimando o

    tempo operacional e propondo melhorias nas operações de costura.

    O setor Comercial foi envolvido em etapas iniciais do desenvolvimento de produtos,

    participando das reuniões de aprovação, dando sugestões, criticando os produtos que

    acreditavam ter um baixo potencial de venda, analisando a ficha de estimativa de custos

    juntamente com a equipe de Estilo e avaliando o preço aproximado e o valor percebido pelo

    cliente.

    Verificou-se que algumas decisões foram tomadas nas reuniões de aprovação com base no

    custo estimado. Dessa maneira, evitou-se um posterior retrabalho de toda a equipe, pois

    identificou-se com bastante antecedência possibilidades de melhorias, caso contrário, o

    produto chegaria ao final do processo e retornaria no fluxo de desenvolvimento para um

    reprojeto.

    Com a realização dos testes identificou-se que os produtos com tecidos listrados, barrados e

    com estampas localizadas tiveram uma maior margem de erro nas estimativas de consumo,

    devido a complexidade do encaixe com estes tipos de tecido. Os produtos com modelagem

    enviesada causaram também os maiores erros.

    4. Conclusão

    Diante da problemática identificada, definiu-se como objetivo para este trabalho propor uma

    metodologia para a implantação da Engenharia Simultânea na empresa estudada, pois a

    introdução da ES se dá de forma gradual e os benefícios são alcançados a longo prazo. A

    efetiva implantação da ES em uma coleção inteira permitiria medir quantitativamente a

    melhoria em termos de custos, lead time de desenvolvimento e qualidade. Mesmo assim,

    conseguiu-se iniciar o processo de mudanças na cultura e nos processos da empresa com a

    realização de testes envolvendo a nova forma de trabalhar.

    Conseguiu-se demonstrar que com uma integração dos setores de Estilo, Modelagem,

    Pilotagem, Qualidade, CAD, Engenharia, Custos, Comercial e Compras, o produto é

    desenvolvido com um custo mais baixo devido a tomada de decisões em conjunto em etapas

    iniciais do projeto visando obter um produto com a melhor relação custo/benefício. A

    estimativa de custos nas reuniões de aprovação possibilitaram estas análises e decisões. Dessa

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    13

    maneira, evita-se retroceder no fluxo de desenvolvimento e consequentemente evita-se o

    retrabalho de toda a equipe.

    Vale ressaltar que a maior dificuldade encontrada foi a resistência às mudanças, afinal, mudar

    a cultura de uma organização e a forma de pensar das pessoas é um grande desafio e exige

    muito trabalho de conscientização e motivação. Portanto, a empresa deve continuar com uma

    série de treinamentos, até que a nova forma de trabalhar seja assimilada e se torne rotina

    natural de trabalho.

    Por fim, este trabalho contribuiu ao levar o conhecimento acadêmico para a realidade

    de uma empresa, propondo uma aplicação prática.

    REFERÊNCIAS

    BACK, Nelson et al. Projeto integrado de produtos: planejamento, concepção e

    modelagem. Barueri, SP: Manole, 2008.

    GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social . São Paulo: Atlas,

    2002.

    HARTLEY, John R. Engenharia Simultânea: um método para reduzir prazos, melhorar

    a qualidade e reduzir custos. Porto Alegre: Artes médicas, 1998.

    KOUFTEROS, Xenophon; VONDEREMBSE, Mark; DOLL, William. Concurrent

    engineering and its consequences. Journal of Operations Management, n.19. EUA: Elsevier,

    2001. Disponível em: www.deepdyve.com/lp/elsevier/concurrent-engineering-and-its-

    consequences-AjS07A63KK. Acesso em: 20/10/2012.

    KRUGLIANSKAS, Isak. Engenharia Simultânea: organização e implementação em

    empresas brasileiras. RAUSP. Revista de Administração, v.28, n.4, 1993. Disponível em:

    www.rausp.usp.br. Acesso em: 13/11/2012.

    PEREIRA, Érica Cristiane Ozório et al. Engenharia simultânea: um estudo de caso em

    uma empresa têxtil. Revista produção Online, UFSC, vol.1, 2001. Disponível em:

    www.producaoonline.inf.br. Acesso em: 05/09/2012.

    ROZENFELD, Henrique et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência

    para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006.

    http://www.rausp.usp.br/http://www.producaoonline.inf.br/

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    14

    ANEXO A – PLANILHA DE ESTIMATIVA DE CUSTO

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    15