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ANTONIO CONSELHEIRO

O TAUMATURGO DOS SERTÕES

Um filme de José Walter Lima

Duração: 86’

Classificação Indicativa: 12 anos

Locação: Canudos, Monte Santo, Crisópolis, Chorrochó e Salvador

Produção: 2010

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Contato para informações:

VPC Cinemavídeo Produções Artísticas

Rua Marechal Floriano, nº 28, sala 203

CEP: 40 1110 – 010

Tel: 55 71 3018-0042/0043 / 8768-2734

E-mail: [email protected]

Salvador – Bahia – Brasil

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s

Ficha Técnica ............................. 4

Elenco Principal ............................. 7

Sinopse ............................. 8

Histórico do filme ......................... 9

Reflexões sobre o filme, por José Walter Lima ........ 10

Antônio Conselheiro: o Jesus Cristo brasileiro, por Gilberto Vasconcelos ....... 13 Antonio Conselheiro: o taumaturgo dos sertões, por André Setaro ................ 14

A linguagem em Chamas, por José Umberto ............................. 17

Sobre o diretor ............................. 20

Realizações em cinema e vídeo ............................. 21

Principais atividades em artes plásticas ............................. 23

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FICHA-TÉCNICA

Direção José Walter Lima

Co-direção

Carlos Vasconcelos Domingues

Argumento e Roteiro

José Walter Lima e Carlos Vasconcelos Domingues

Produção Executvia Chico Drumond e Alberto Luiz Viana

Elenco

Carlos Petrovich, Harildo Deda, Leonel Nunes, Wilson Melo Álvaro Guimarães, Chico Drumond, Haidil Linhares, Passos Neto, Iami

Rebouças, Ari Barata, Bertrand Duarte, Júlio Goés, Alberto Luiz Viana, Jorge Gaspari, Nilson Mendes e Antônia Adorno

Participação Especial Povo de Crisópolis, povo de Canudos, povo de Chorrochó e povo de Monte

Santo

Produção Neusa Barbosa

Assistentes de Produção Cássio Sader e Ediane do Monte

Produção (2009) Associação Virgo Cultural

Produção (Filmagem Complementar)

Sheila Gomes

Assistentes de Produção (Filmagem Complementar)

Daniela Floquet, Dicinho, Luciana Vasconcelos e Milena Raynal

Fotografia e Câmera Vito Diniz

Fotografia e Câmera Complementar

Pedro Semanovchi

Assistentes de Fotografia Rômulo Drumond, Vicenti Sampaio e Celso Campinho

Assistente de Câmera Dão

Steadycam Paulo Hermida

Montagem Roberto Pires, Fiorella Amico e Marcos Povoas

Assistente de Montagem Roque Araújo e Paula Damasceno

Som Timo Andrade

Som Complementar Nicolas Hallet, Simone Dourado e Ana Luiza Penna

Direção de Arte José Walter Lima e Wilson D’Argollo

Maquiagem Wilson D’Argollo e Marie Trauront

Pinturas e Desenhos Trípoli Gudenzzi

Animação Caó Cruz Alves

Preparação de Elenco Deusi de Magalhães e Júlio Goés

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Participação

Geraldo “Beatinho”, Ajurimar, Marinaldo Nunes, Roque Carvalho, Célia Valadares, Celice Valadares, Adriana, Neusa, Clara Vasconcelos, Marília

Valadares, Rosa Leiro, Paulo Antônio, Vera Leonelli, Marília Miranda, Peti, Iackson, Hayalla, Aleluia Simões, Rose

Fotos e digitalização Claudiomar Gonçalves

Produção de pós-produção Sheila Gomes

Finalização de pós-produção Cinema Produções Digitais

Supervisão de color grading Telecine On Line HDSR e Márcio Pasqualino

Coloristas Márcio Pasqualino e Fernando Lui Latorre

Gerente de pós-produção Zeca Daniel

Atendimento Andrea Nero

Telecine Fernando Lui Latorre e Adonias Dantas

Smoke Marcelo Cois e Mario Cassiano

Film recorder Uilian Mendes

Suporte técnico Thiago Cabral

Final Cut Clayton Viana

Laboratório Mega Color

Supervisão geral David Trejo

Gerente de atendimento Sylvia Levy

Assistentes de atendimento Regiane Cruz e Claúdia Anaya Reis

Supervisão de revelação Jony H. H. Sugo

Supervisão de transfer Joaquim R. Santana

Assistente superv. de transfer Reginaldo Veloso

Coordenação de produção Jony H. H. Sugo

Montagem Paulo Ferreira e Wanderley Gomes da Cruz

Operador de color analyser Nório Oshikawa

Pós-produção de som Estúdio Base

Supervisão de som Eduardo Joffily Ayrosa

Mixagem Beto Neves

Edição de Som Alex Reis

Ruídos de Sala Lucas Uscal

Tradução Mollie Cerqueira

Legendagem Zilah Azevedo e Fábio Rocha

Músicas “Zabumba” (Banda de Pífanos de Bendengó), “Modas: O Velho Kaimbé”

(Massacará – Euclides da Cunha), “Lamentação e Disciplina” (Penitentes de Xique – Xique), Presto – Concerto nº 2 (Vivaldi), “Allegro – Concerto nº3“

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(Vivaldi), “Reis do Deus Menino” (Reis de Egídio – Andaraí), “Requiem Sequentia – Rex Tremendae” (Wolfgang Amadeus Mozart), “Sanctus”

(Wolfgang Amadeus Mozart), “Prelúdio” (Liszt), “Fuga Sobre o Nome de Bach” (Liszt), “Esmola do Divino Espírito Santo” (Folia de Marcolino –

Barreiras), “Sagração da Primavera” (Igor Strawinsky), “Don Giovanni” (Wolfgang Amadeus Mozart), “Dansa Brasileira” (Camargo Guarnieri), “Dansa Negra” (Camargo Guarnieri), “Lenda do Caboclo” (Heitor Villa-Lobos), “Baião do Espaço” (Zé do Pife), “Bachianas nº 4” (Heitor Vila-Lobos), “Choros nº 10” (Heitor Vila-Lobos), “Canudos Não Se Rendeu” (Carlos Pita), “Sinos” (Mosteiro

De São Bento – Salvador / Bahia)

Agradecimentos

DIMAS, IRDEB, DOCDOMA Filmes, BA do Brasil, Estúdio Base, povo de Crisópolis, povo de Chorrochó, povo de Monte Santo, povo de Canudos, Megacolor, Estúdio Mega, Helena Martinho da Rocha, Fábio Paes, Bernard Attal, Diana Gurgel, Padre Enoch, Oleone Coelho Fontes, Prof. José Cesalasans (in memorian), Roque Araújo, Miguel Littin, Silvia Levy, José Augusto Barreto (in memorian), Chico Liberato, Raul Moreira, Vovô (Ilê Ayê), Ivan Mariotti, Lula Queiroz (in memorian), Selma Nunes, José Umberto Dias, David Trijo, Strawalde, Michael Müller, Pola Ribeiro, D. Emanuel D’able do Amaral, Profº Manoel Barros, Dom Gregório da Paixão

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ELENCO PRINCIPAL

Carlos Petrovich ............................................................. Antônio Conselheiro

Harildo Deda ................................................................... Barão de Canabrava

Leonel Nunes ..................................................................... Eculides da Cunha

Chico Drumond .................................................................. Pageú

Alvaro Guimarães ....................................................... Coronel Moreira Cesár

Wilson Melo ..................................................................... Governador

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SINOPSE

ANTÔNIO CONSELHEIRO - O TAUMATURGO DOS SERTÕES é o encontro de Antônio

Conselheiro, ressurgindo nos sertões da Bahia, com seu próprio mito no imaginário

popular. O filme é uma metáfora sobre os sertões, uma epopeia sobre a guerra de

Canudos.

O filme se desenvolve seguindo duas linhas: a do sagrado ou apostolado, e a da

campanha militar. A confluência dessa narrativa se dá no reencontro dos mitos do Cel.

Moreira Cezar e do Antônio Conselheiro, o primeiro como Anticristo e o segundo

como Iluminado.

Em comum ambos têm a morte, que os transformou em mito no imaginário popular,

tal como o Demônio e o Santo. Um vive pelo outro. Ambos morrem, mas o mito,

atemporal, sobrevive.

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HISTÓRICO DO FILME

As primeiras imagens deste filme foram realizadas com o ator Carlos Petrovich (Idade

da Terra, Glauber Rocha) no final de 1987. Após três anos de espera o projeto foi

aprovado e, quando a primeira parcela dos recursos foi liberada, o governo Collor de

Melo a confiscou.

Em seguida, uma tragédia se abateu sobre o cinema brasileiro com a extinção da

Embrafilme. Os recursos confiscados foram liberados em 18 parcelas, o que resultou

em um grande prejuízo para produção do filme. Além disso, um incêndio ocorrido no

inicío da década de 90 consumiu 40% dos negativos e 100% do som original.

O processo de finalização do filme foi retomado em 2009 através de uma imensa

garimpagem e restauração do material de áudio e vídeo. Foram necessários o

emprego de soluções criativas e a realização de filmagens complementares para enfim

deixar pronto esse longa-metragem que documenta um importante momento da

história do Brasil.

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Reflexões sobre o filme Antonio Conselheiro –

O Taumaturgo dos Sertões

Por José Walter Lima (diretor e roteirista)

Após a conclusão do filme “Antonio Conselheiro – O Taumaturgo dos Sertões” comecei a fazer uma

análise crítica, e cheguei à conclusão que é muito difícil fazer um filme-ensaio. Porque o filme

experimental já nasce estigmatizado, rejeitado. Normalmente existe um preconceito e uma má

vontade para com esse tipo de produção. Atualmente é quase um suicídio realizar um filme de arte.

Antes nós tínhamos a censura da ditadura, hoje nós temos a censura de mercado e dos festivais, que

exigem um padrão dentro dos parâmetros estabelecidos pela cultura mainstream, que não aceita a

desconstrução da narrativa convencional. Nesse momento do cinema de mercado o “Conselheiro”

está indo na contra-mão do sistema, está na contra-corrente. Isso porque ele foi concebido para ser

poético, filosófico, pictórico, imagético e reflexivo, dando ênfase na cor (cinema - pintura) e na trilha

sonora, como elementos fundamentais para a funcionalidade dramática.

A construção de uma estrutura não convencional exige uma desconstrução narrativa

experimentalista, através de uma proposta vanguardista que incorpora vários elementos de outras

linguagens, agregando sentimento e emoção para tentar uma sinestesia entre o autor e o

espectador. A pulsação obsessiva é expressada através do imaginário popular e do erudito, do

realismo e do delírio.

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Delírio conceitual relativo à criatividade, construído com diferenças significativas de ismos e com

uma atmosfera onírica entre os limites da ficção e a realidade. Dessa forma repudiando cenários

caros e artificiais, com um elenco de atores profissionais e amadores, e uma equipe mínima, com

uma montagem circular e recorrente, recorrendo ainda a narração em off.

Solucionamos uma complexidade estrutural, onde através de uma pós-produção criativa resultou um

produto diferente da mesmice atualmente imposta pelo mercado.

Foi dentro dessa concepção que foi realizado o filme “Antonio Conselheiro – O Taumaturgo dos

Sertões”. Ele foi construído através de uma plasticidade alquímica. Diversas dificuldades foram

superadas na produção do filme, como o confisco dos recursos pelo Plano Collor, a extinção da

Embrafilme, e a perda de grande parte dos materiais de imagem e som. Passaram-se 23 anos, o que

quase levou a perda do sentimento inicial. Mas a força do pensamento voltou sintonizada com toda

a criação, e então foi retomado nessa película o mesmo ímpeto.

Tudo isso culminou num outro projeto, num outro direcionamento para suprir as deficiências do

material reduzido. Foi necessário colocar a imaginação, a inventividade, associando o que eu

denomino de “soluções criativas” para se conseguir chegar a uma combinação, a uma costura, um

ensaio. Uma expressão com diversas derivações e influências, mas com uma grafia e estilo próprio.

Partindo desse princípio foram utilizadas várias linguagens para dar concretude a essa dramaturgia,

para isso foi necessário usar elementos de vários “ismos” e segmentos artísticos, tais como a

teatralização, o cromatismo pictórico, o uso da música de uma maneira polifônica, um desenho de

sons e ruídos compatível ao drama. A junção de tudo isso gerou uma dramatização singular, fora

dos padrões convencionais. Dando uma roupagem barroca e delirante. Uma estrutura audiovisual

que fugisse da sintaxe griffithiana, mais próxima da estética da fome. Na premissa de que com

recursos escassos pode-se fazer um filme rigoroso e decente.

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O “Antonio Conselheiro” foi também pensado como uma ópera visual, uma ópera sertaneja, uma

fantasia leiga de um discurso messiânico popular. Agregado ainda a uma plasticidade e a um discurso

interior expressado através de uma composição que sintetiza uma orquestração, um pensamento

lógico entrelaçado a um contexto emocional. Uma peça imagética composta de várias partituras:

música, teatro, pintura, poesia, literatura, fotografia. Uma síntese audiovisival com os três gêneros

do cinema: ficção, documentário e animação.

Isso se transformou num mosaico delirante dessa epopeia mitológica. A dramaturgia dos sertões

com um distanciamento brechtiniano. Para compor o personagem do ator Carlos Petrovich,

recorremos à gestualidade eisensteiniana, ao expressionismo alemão e a teatralidade

shakespeariana, incorporado a tudo isso a retórica barroca baiana.

Este filme retrata a tragédia republicana que exterminou o Cristo do terceiro mundo. O Cristo

revolucionário e apocalíptico que lutou até o fim ao lado dos seus seguidores. Pregava num tom

incisivo e sem complacência para com seus opressores. O Cristo da ressurreição e não o crucificado

na cruz da Igreja Católica. O mito que ficou no imaginário popular, retratado por Euclides da Cunha,

o nosso Homero.

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Antônio Conselheiro, o Jesus Cristo brasileiro

Por Gilberto Felisberto Vasconcelos (Sociólogo, jornalista e escritor)

José Walter Lima fez um filme corajoso e inventivo sobre a medula da civilização brasileira: Antônio

Conselheiro.

Canudos está no ser e não ser da nossa gente. Ou todo mundo sobe socialmente e se dá bem, ou

vamos todos para o tombo. A metáfora mar/sertão transcende a localização geográfica, por isso está

na literatura de Euclides, de Rosa e no cinema de Glauber Rocha, de onde procede a inteligência

imagética de Carlos Petrovich.

O ator que faz Conselheiro é extraordinário, sua atuação já seria um esplendor somente andando,

mas é também fala, verbo, discurso, pois quem tirou Cristo da cruz para convertê-lo em Cristo vivo

irado foi Antonio Conselheiro. O filme de Waltinho faz jus a esta verdade histórica tecida na beleza

da arte.

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Antonio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões

Por André Setaro (Crítico de cinema)

“Antonio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões”, primeiro longa metragem de José Walter Lima,

não é uma obra cinematográfica para ser apreciada por quem procura os modelos tradicionais da

narrativa fílmica. É um filme que se situa em outros parâmetros de construção, rasgando o evoluir

dramático griffithiano (de David Wark Griffith, pai da narrativa clássica com O nascimento de uma

nação/The birth of a nation, 1914), para se situar como filme-poema, discurso apoteótico, e barroco,

em torno de Antonio Conselheiro. Há influências diversas na concepção da mise-en-scène de José

Walter Lima e, entre elas, a do cinema-poesia, de Pier Paolo Pasolini, e, principalmente, os brados

retumbantes do discurso glauberiano.

O filme começou a ser rodado há mais de vinte anos, mas circunstâncias de ordem econômica

determinaram-lhe a paralisação. Somente no ano passado, o autor resolveu tentar solucionar os

obstáculos, para, aproveitando o material já filmado, dar a seu trabalho um acabamento final.

Inconcluso há décadas atrás, Walter Lima precisou filmar novas cenas com a finalidade de concluir o

longa. Várias dificuldades, porém, se interpuseram, como o fato de vários atores já terem morrido

durante o período, inclusive Carlos Petrovich, que faz o papel principal, o de Antonio Conselheiro. E

Álvaro Guimarães, o Moreira César, entre outros.

Na apreciação de “Antonio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões”, nota-se diferenças na qualidade

da fotografia, pois o desgaste pelo tempo tirou as características originais da iluminação de Vito

Diniz (que também já faleceu). Há, portanto, um contraste entre o que foi filmado no pretérito e o

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que foi filmado no presente. À primeira vista, o fato poderia prejudicar a uniformidade da obra,

constituindo-se num defeito de estrutura, todavia o default se transforma em estética. Mas o

discurso apoteótico, no entanto, não enfatiza verossimilhanças no corpus estrutural, mas solicita,

inclusive, a fragmentação de sua narrativa que pode ser lida em três níveis: a história em si de

Antonio Conselheiro massacrado pelas tropas do exército; a collage de fragmentos diversos numa

perspectiva mais de retórica do que de lógica; e, também, num subtexto, a exaltação da memória

como elo não perdido e, por extensão, a memória de um tempo que excede o da ação para se

encontrar um tempo da história do próprio processo de criação cinematográfico do cinema baiano.

A utilização do cinema de animação na descrição das batalhas, por exemplo, dá uma ideia da

estrutura de “Antonio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões”, como uma estrutura fragmentária, e,

com isso, desloca o centro nevrálgico do discurso da opacidade em função da transparência. O autor

não se intimida com a urgência do brado, e, no seu filme, a estrutura da fragmentação dá o tom da

irrealidade para que a retórica prevaleça sobre os conflitos básicos e se estabeleça uma poética: a

poética que é específica do cinema. O tênue limite que separa o documentário da ficção se parte,

estilhaça-se, e, por assim dizer, explode na narrativa do filme, mais acentuada de um propósito

poético-retórico do que propriamente descritivo.

O espectador que não está acostumado a um cinema de poesia pode até recusar, a princípio, as

diretrizes da mise-en-scène de “Antonio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões”. E não seria, por

acaso, um filme dentro do filme? Há, neste particular, uma metalinguagem que se faz sentir na

história de Canudos e no processo de criação do filme. Na evocação do mitológico Conselheiro, José

Walter Lima procede a uma espécie de delírio de imagens e sons. E confirma, neste tour de force, a

assertiva de que o cinema é uma estrutura audiovisual.

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Há muitas décadas no batente cinematográfico, José Walter Lima é um homem de mil instrumentos,

pois, além de realizador, é produtor cultural e cinematográfico (é o principal organizador do

Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual), produziu, em parceria, um filme internacional,

Ilha Dawson, do chileno Miguel Littin, exerceu, durante muito tempo, a coordenação do DIMAS da

Fundação Cultural do Estado da Bahia e, justiça se lhe faça, na sua melhor fase. No campo

estritamente cinematográfico, o de fazer filmes, escreveu vários roteiros com seu amigo e parceiro

Carlos Vasconcelos Domingues (de saudosa memória) e realizou, solo, “O alquimista do som”

(documento raro sobre o músico de vanguarda Walter Smetak), “Nós, por exemplo”, entre outros. O

filme sobre Canudos começou como uma proposta de média metragem, “O império do Belo Monte”,

que se estendeu como um longa.

Há, também, em “Antonio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões”, uma plástica da imagem que

desenvolve a temática por meio de uma profusão de cores, de grafites, de desenhos, de materiais

diversos, em suma, aos termos da ação propriamente dita. A montagem, como já foi referida, segue

o princípio da collage. E o espírito do Conselheiro permanece vivo nas imagens compostas pelo

cineasta José Walter Lima.

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A Linguagem em Chamas

Por José Umberto (Cineasta)

O sertão vira cinema quando bate na tela Antônio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões de José

Walter Lima. Um filme que invade a veia de sangue e faz sua âncora na praia do coração. O cineasta

opta pelo ensaio. A ficcionalização da circunstância histórica é o emblema cuja linguagem se inclina

ao plano mítico. E aí a perspectiva do real ganha contornos elípticos de montagem de atração e seus

específicos sob a força telúrica da magia que nasce da cultura popular sertaneja. É o barroquismo

baiano na expressão de bárbaro em sintonia pictórica com a retórica pastoril. E em sendo, também,

o paroxismo da guerra patética com a couraça do misticismo: política e fé.

O cinema de José Walter Lima rompe com o glamour da sociedade de espetáculo. Para mergulhar à

fundo numa anti-narrativa que desmistifica a epopéia. Nada de grandiloqüência. Importa tecer o fio

das contradições históricas sem recorrer à retórica vazia. Mas sim percorrer o épico-didático similar

à espontaneidade da poética de cordel. O mito popular originando-se de um imaginário com o

corolário direto da geografia da fome. Num ritmo cinematográfico de abundância metafórica gerada

no grito da terra. Uma sinfonia de imagens dodecafônicas brotada na autenticidade do conflito

coletivo: a origem do regime republicano sob a sombra em negativo de genocídio.

Um cinema de sensibilidade, à flor da pele. Uma linguagem que não racionaliza o caos social. Nem

silencia diante da injustiça. Antônio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões decide-se pela denúncia

sem a deselegância do panfleto. Por que acredita no cinema de poesia. José Walter Lima se inquieta

com a câmera em espasmo, com uma arquitetura de palavras, com os cortes melódicos, com a

sonoridade plástica dum sertão que rompe a moldura da tela cinematográfica. Há qualquer explosão

inconformista/instintivo-criadora que aponta para além do horizonte em brasa. Uma forma artística

gestada no desejo de expandir o real. E alcançar a fantasmagoria hiperbólica de uma civilização

incompleta. De uma comunidade sertaneja incompreendida. De uma vergonha nacional que não se

apaga nem com fogo e ferro tampouco com água.

A carpintaria do movimento

Um cinema que só se apreende pela insuperável roda da paixão. Numa sede de comunicar/dialogar

sob o signo da iluminação. Onde cada fotograma obedece à alquimia da imaginação como

propulsora construtivista. A elaboração da matriz vai à fonte histórico-literária, sobretudo alicerçada

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no verbo numinoso de Euclides da Cunha e na arqueológica verve ibérica/armorial dos versos

cordelescos, para em seguida estruturar-se na carpintaria rítmica da montagem vibratória. E é a

partir desse princípio estético de associações, superposições, sinestesias e embates de signos que o

filme baiano de José Walter Lima se afirma na muralística dos 24 quadros por segundo. Enquanto o

espectador vai sendo tomado pela personalidade mítica do Conselheiro de Canudos

(admiravelmente encarnado pelo saudoso ator Carlos Petrovich, numa interpretação que eu diria

científico-sentimental insuperável do taumaturgo cearense que sintetiza as perplexidades do

oprimido). Esse itinerário cinematográfico exprime a dimensão do sofrimento pautada no êxtase da

catarse. Quando então a dor humana recebe a clarividência da purificação: aquela senda

incomensurável do “forte” de espírito. O risco fosforescente da História como memória física e como

presença da fé. São camadas heróicas, traumáticas e sublimes transubstanciadas na velocidade

tempo-espacial do cinema. O lirismo das individualidades e o trágico do coletivo elaborados na

alquimia artística primada na fidelidade ao passado com vistas à consciência do presente. Embora se

destaque a energia telúrica de um povo que vibra na nervura da caatinga.

O filme apalpa a ferida. Estabelece-se o grau do trauma. O escritor amadurece no front. A política se

alimenta da demência ideológica. O militar burocrático-técnico admite a derrota diante da guerrilha

ecológica. O sertanejo revela a sua face oculta por trás de uma pirâmide de cactos. O regionalismo

desvela o sincretismo pancontinental. E o Brasil se defronta com o abismo. Pois a morte não salva. E

então os fantasmas desfilam na tela com a granulação pictórica da fotografia de Vito Diniz que é

subliminar da contextualização do conflito civilizatório. Nada de espetacularização. José Walter Lima

assume o despojamento da deslinearidade crítica como suporte do autêntico. Rasga-se desse modo

o véu do pastiche grotesco em favor da expressão da paisagem autóctone que se elastece

brandamente entre a foto de grão e a foto dourada de Pedro Semanovschi. Com o reforço de uma

postura de humildade. Num gestual de solidariedade que transcende ao patamar ético.

Um cinema, portanto, comprometido com a alteridade. Já que o Cinema é o Outro.

Vê-se na diferença o respeito ao princípio de igualdade. Sendo Canudos a cidadela de um aceno à

integridade: o símbolo da resistência até a última gota de sangue no solo seco e lascado pela

ausência da chuva. Antônio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões de José Walter Lima resgata o

código de honra de uma comunidade camponesa que soube defender sua fronteira com o pathos do

destemor. E o seu discurso evangélico de couro cru, incrustado em hierática autodeterminação e

vertical autodisciplina moral, ainda se constitui num desafio à nossa compreensão plena. Persiste um

quê de vácuo no significante de sua gestalt analfabeta. Pois o seu estilo de “luta” deixa várias lacunas

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de dúvida e interrogação. E o filme enfatiza esse mistério, embora sinalize para a nossa cumplicidade

diante dos erros acumulados. Canudos insiste com a mácula ou nódoa de caju na alma. Com o

desencanto. E a vergonha pelo massacre com degola: o cinema é testemunha.

A fábula do vulcão

A práxis da profecia justaposta à montagem de fotogramas exacerbados. O milenarismo onírico

equilibrado na câmera de raiz. Fato dialético paralelo à fenomenologia social. Daí que a linguagem

do filme de José Walter Lima embala-se pelo prisma da expansão, na amplidão do universo.

Flagrando o ritmo cósmico na latitude do nacional-popular. Numa reflexão, numa respiração, numa

transpiração e numa intuição fílmicas aonde se possibilite atingir o núcleo da conflagração do

arcaísmo redentor de um cristianismo catecúmeno áspero. Jogo de pontos de vista: o taumaturgo e

o cineasta se defrontam em ações simultâneas. Superando-se a subjetividade para o ingresso no

macrocosmo do arquétipo. Um vôo rasante na intemporalidade que pinta as rebarbas do alvorecer

transcendental da fábula tosca. Com uma energia entrópica que brota do vulcão da coletividade

desejante. Esse fogo fátuo incondicional na iminência do êxtase místico. Ou a crescente ânsia da

independência em correspondência ao ímpeto sagrado da salvação. São circunstâncias em ebulição

contínua: o samsara em transe.

E o cinema, que também é movimento permanente, registra com acuidade o lance meteórico desse

peregrino solitário que arrebata a multidão assombrada. Num magnetismo de massa que oscila da

exaltação irracional à depressão neurastênica. Num crescendo de confronto entre o sertão e a praia.

Ao passo que a visão afasta-se do litoral de coqueiros e se embrenha no interior inóspito de

vegetação rala. Desloca-se o eixo em panorâmica cinematográfica que busca frisar o campo

inusitado. Enquadra-se então a antiga luminosidade abrupta deixada no céu pelo impacto tenebroso

do meteorito de Bendengó na caatinga. Somos envolvidos nessa dinâmica que exige a construção de

uma nova linguagem inspirada nos eventos inesperados e insuspeitos.

Uma câmera no sertão e todo o sentimento do mundo. Para uma tela que se vislumbra.

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SOBRE O DIRETOR

Cineasta, produtor e artista plástico, foi um dos fundadores do Grupo Experimental de Cinema da

Bahia em 1965, uma iniciativa coletiva de cineastas com o objetivo de dinamizar a produção

cinematográfica baiana.

Foi assistente de direção de diversos filmes como "O Ferroviário" (1966), de Ronaldo Senna;

"Cachoeira" (1967), de Ney Negrão; "Meteorango Kid" (1969), de André Luis de Oliveira; e também

da novela "Gabriela" (1974).

Entre 1972 e 1974, em parceria com Guilherme Araújo, produziu apresentações de Caetano Veloso,

Gal Costa, Gilberto Gil, Luís Melodia, Jorge Mautner e Jards Macalé pelo Brasil.

Como diretor assinou documentários e ficções, entre eles os filmes "Os Índios Cariris" (1971); "O

Alquimista do Som" (1976); "Nós Por Exemplo", (1978); "Brasilienses" (1984); "Pelourinho" (1986);

"Dom Timóteo Amoroso Anastácio" (1992); "Sante Scaldaferri a Dramarturgia dos Sertões" (1999);

“Um Vento Sagrado” (2001); “Oropa, França e Bahia” (2007); e "Antônio Conselheiro - O Taumaturgo

dos Sertões" (2010).

Foi assistente de direção em produções estrangeiras como o italiano "O Cangaceiro" (1970), de

Giovanni Fago; e o norte-americano "The Sandpit Generals" "Capitães da Areia" (1972), de Hal

Bartlett. Em 2009 co-produziu o longa chileno "Dawson Isla 10", de Miguel Littin, selecionado para o

Festival de Roma.

Desde 1989 trabalha na sua produtora e distribuidora VPC Cinemavídeo, produzindo filmes e vídeos

institucionais. Com uma visão dinamizadora, em 2005 idealizou o Seminário Internacional de Cinema

e Audiovisual, um evento que já teve sete edições realizadas em Salvador, voltado para quem faz e

pensa o cinema e o audiovisual.

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Realizações em cinema e vídeo

Técnico de som do filme “O Carvoeiro” de Ney Negrão, produção do Grupo Experimental de

Cinema da Bahia – GECIBA, 1965.

Assistente de direção do filme “O Ferroviário” de Ronaldo Senna, produção do GECIBA, 1966.

Assistente de direção do filme “Cachoeira” de Ney Negrão, produção GECIBA, 1967.

Assistente de direção do filme "Meteorango Kid", longa metragem de André Luís Oliveira,

1969.

Assistente de direção do filme "O Cangaceiro", longa metragem de produção italiana, direção

de Giovanni Fago, 1970.

Assistente de direção do filme "Capitães de Areia" longa metragem de produção americana,

1972.

Direção de "Os Índios Cariris", filme documentário sócio-antropológico sobre a tribo dos

índios cariris de Mirandela/Bahia, 1971.

Assistente de direção da novela "Gabriela" - TV Globo/ Rio de Janeiro, 1974.

Direção de "O Alquimista do Som", filme ensaio -documentário sobre o musicólogo Walter

Smetak, direção de fotografia de Mario Cravo neto, 1976.

Direção de "Nós Por Exemplo", filme curta metragem de ficção, direção de fotografia de

Mario Cravo Neto, 1978.

Direção de "Brasilienses", vídeo-ensaio sobre a cultura brasileira, direção conjunta com

Carlos Vasconcelos Domingues, direção de fotografia de Marco Maciel, 1984.

Direção de "Pelourinho" vídeo documentário, direção conjunta com Carlos Vasconcelos

Domingues, direção de fotografia de Vito Diniz, 1986.

Direção de "Dom Timóteo Amoroso Anastácio", vídeo documentário, direção de fotografia de

Vito Diniz, 1992.

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Produção e direção de diversos vídeos institucionais realizados pela VPC Cinemavídeo - de

1990 a 1996, dentre eles destaca-se "Amar, amar", vídeo musical ficção sobre a AIDS.

Direção de "Sante Scaldaferri, a Dramarturgia dos Sertões" vídeoarte sobre a obra do artista

plástico Sante Scaldaferri, produzido pelo MAM - Museu de Arte Moderna da Bahia, direção

de fotografia de Mario Cravo Neto, 1999.

Direção de “Um Vento Sagrado”, documentário sobre o olwô de candomblé Agenor Miranda

Rocha, direção de fotografia de Mario Cravo Neto, 2001.

Direção de “Oropa, França e Bahia” (filme digital). 2º lugar no Festival do Filme Celular –

Bahia, 2007.

Co-produtor do filme “Dawson Isla 10” de Miguel Littin, co-produção Chile/Brasil, 2009.

Direção de "Antonio Conselheiro - o Taumaturgo dos Sertões”, Brasil, 2010.

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Principais atividades em artes plásticas

Mostras Individuais:

1996 - Casa do Brasil - Madri, Espanha

1999 - Associazione Culturale "Marcello Rumma – Roma, Itália

2001 - Galeria Prova do Artista - Salvador, Bahia

2001 - Ana Cláudia Roso - Escritório de Arte, São Paulo

2002 - Espaço Cultural Eliane - Salvador, Bahia

2004 - GOETHE–INSTITUT (participação especial do poeta e músico Jorge Mautner) -

Salvador, Bahia

2004 - Museu de Arte de Brasília (participação especial do poeta e músico Jorge Mautner)–

Brasília, Distrito Federal.

2005 - Galerie Forum Berlin am Meer - Berlim, Alemanha

2005 - Embaixada do Brasil na Alemanha – Berlim, Alemanha

Exposições Coletivas:

1993 - Fundação Mokiti Okada - Salvador, Bahia

1995 - I Salão Nacional de Artes Plásticas, Museu de Arte Moderna da Bahia

1995 - Artistas baianos no SEBRAE (organizada pelo Museu de Arte Moderna da Bahia) -

Salvador, Bahia

1996 – Bienal do Recôncavo

1997 - Sete Artistas Contemporâneos Baianos (organizada pelo Museu de Arte Moderna da

Bahia) - Central Hispano 20, Barcelona, Espanha

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1998 - Terza Edizione Festival Sguardi il Terzo Millennio Torri D'Avvistamento - Comune di

Tuscania, Itália

2001 - Moseo Aldo Brandini - Frascatti, Itália

2007 - Museu Afro Brasil (Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro), São Paulo

2008 – 100 artistas. Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana, Bahia

2008 – Galerie Beyer – Três artistas brasileiros: Mario Cravo Neto, Manfredo Souza Neto e

Walter Lima - Dresden, Alemanha

Obras em acervo:

Casa do Brasil, Madrid, Espanha

Museu da Cidade do Salvador, Bahia, Brasil

Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia, Brasil

Fundação Dannemman, Bahia, Brasil

Galeria Prova do Artista, Bahia, Brasil

Galeria Paulo Darzé, Bahia, Brasil

Coleções Particulares: Sonia Draibe, Gilberto Salvador, Marcos Truyjo, Emanoel Araujo (São

Paulo, Brasil), Paola Zugaro, Luigi Maccella, Elio Rumma (Itália) George Gund (USA), Strawalde

(Alemanha), Partido Verde (Alemanha), Michael Muller, Gunter Baby Sommer.