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Português | Versão 1 | Dezembro 2020 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM 3HP, INCLUINDO ARV Índice Acrónimos e abreviaturas 2 1. O que é o 3HP? 3 2. O que é uma interacção medicamentosa? 3 3. Interacções medicamentosas com o regime 3HP 3 4. Outras considerações para a co-administração de 3HP 5 5. Anti-retrovirais e 3HP 5 6. Contracepção e 3HP 6 7. Anti-maláricos e 3HP 7 8. Principais recomendações 9 Referências 10

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Page 1: Português INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM 3HP, …

Português | Versão 1 | Dezembro 2020

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM 3HP, INCLUINDO ARV

Índice

Acrónimos e abreviaturas 2

1. O que é o 3HP? 3

2. O que é uma interacção medicamentosa? 3

3. Interacções medicamentosas com o regime 3HP 3

4. Outras considerações para a co-administração de 3HP 5 5. Anti-retrovirais e 3HP 5

6. Contracepção e 3HP 6

7. Anti-maláricos e 3HP 7

8. Principais recomendações 9

Referências 10

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Acrónimos e abreviaturas

3HP 3 meses de rifapentina e isoniazida, em 12 doses semanais ARV Anti-retrovirais

DIU Dispositivo intrauterino

DTG Dolutegravir

EC90 90% da concentração inibitória máxima EFV Efavirenz

HIV Vírus da imunodeficiência humana

INH ou H Isoniazida INTR Inibidores Nucleosídeos da Transcriptase Reversa INNTR Inibidores Não Nucleosídeos da Transcriptase Reversa IP Inibidores da Protease OMS Organização Mundial de Saúde PVHIV Pessoa(s) vivendo com o vírus de imunodeficiência humana RIF Rifampicina RPT ou P Rifapentina TCA Terapia combinada baseadas na artemisinina TPI Tratamento Profiláctico com Isoniazida TPT Tratamento Preventivo para a Tuberculose

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Citocromo P450

CHAVE:

Enzima

A Medicamento

B Medicamento

Medicamento B

Medicamento A

Medicamento B

Actividade

est aumentada (induzida)

est reduzida (inibida)

Medicamento B Medicamento B Toxicidade reduzida Toxicidade aumentada (menos efectivo) (mais efectivo)

1. O que é o 3HP? O 3HP é um regime de tratamento preventivo da tuberculose (TPT) de curta duração, administrado uma vez por semana durante 12 semanas, recomendado pela OMS1. Este regime combina doses elevadas de Isoniazida (H) com doses elevadas de Rifapentina (P). Ensaios clínicos controlados têm mostrado que o 3HP é eficaz na prevenção da Tuberculose activa, tal como outros regimes de TPT recomendados (incluindo 6 a 9 meses de isoniazida, 3-4 meses de apenas rifampicina, e 3 meses de toma conjunta diária de rifampicina e isoniazida). Em comparação ao tratamento preventivo com isoniazida (TPI), o 3HP é associado a baixa hepototoxicidade e a elevadas taxas de completude do tratamento2-5.

2. O que é uma interacção medicamentosa Quando dois medicamentos são administrados em simultâneo, pode haver alterações no efeito de cada um deles no corpo humano. A interacção medicamentosa pode resultar no aumento ou diminuição da acção de um ou ambos medicamentos, ou pode causar a ocorrência de reacções adversas. A interacção medicamentosa pode, portanto, atrasar, aumentar ou diminuir a absorção de um ou de ambos medicamentos tomados em simultâneo. Muitas interações medicamentosas são causadas por um sistema enzimático do fígado, chamado Citocromo P450. Este complexo enzimático pode tanto ser induzido e por consequência tornar-se mais activo, quanto ser inibido, tornando-se menos activo. Quando este complexo enzimático está mais activo, ele aumenta o metabolismo de outros medicamentos que passam pelo mesmo sistema, reduzindo a concentração desse medicamento. Isto pode tornar o segundo medicamento ineficaz. Quando o complexo enzimático se torna menos activo, os medicamentos administrados terão o metabolismo reduzido e a sua concentração no organismo irá aumentar. Eles podem causar a ocorrência de mais reacções adversas e efeitos colaterais.

3. Interacções medicamentosas com o regime 3HP A administração diária tanto da rifapentina como da rifampicina é conhecida por provocar uma forte indução do sistema enzimático Citocromo P450. A dose semanal da rifapentina também provoca a indução deste complexo, embora a duração desta indução não seja clara, devendo-se observar precauções na prescrição da RPT com outros medicamentos. A indução e consequente aumento na actividade do complexo enzimático provoca a redução dos níveis do medicamento, levando a sua ineficácia.

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Interacções medicamentosas com 3HP, incluindo ARV (Versão 1 Dezembro 2020)

A isoniazida é também um inibidor conhecido do complexo Citocromo e, portanto, pode retardar a eliminação dos medicamentos administrados em simultâneo. Esta situação pode levar ao aumento da ocorrência de efeitos colaterais. Por outo lado, alguns indivíduos eliminam lentamente a isoniazida do seu organismo, levando ao aumento das concentrações da Isoniazida o que pode potenciar o seu efeito sobre as enzimas do citocromo6.

Uma vez que os dois medicamentos têm efeitos opostos sobre o complexo citocromo, em alguns casos o nível de inibição ou de indução por cada um dos medicamentos, irá determinar a direcção do efeito. Acredita-se que na maioria das vezes, a rifapentina tem um efeito indutor mais potente do que a INH como inibidor, quando administrados em simultâneo.

Tabela 1: Interacções medicamentosas comuns com rifapentina e isoniazida

Classe do medicamento A RPT diminui os níveis

sanguíneos de: A INH aumenta os níveis

sanguíneos de:

Antiarrítmicos Disopiramida/ Mexiletina/ Quinidina/ Tocainida

Antibióticos Cloramfenicol /Claritromicina/ Dapsona/ Doxiciclina/ Fluoroquinolonas

Anticoagulantes Warfarina Warfarina

Anticonvulsivantes Fenitoína Fenitoína, Carbamazepina

Antidepressivos Amitriptilina/ Nortriptilina Alguns inibidores selectivos da recaptação de serotonina

Antimaláricos Quinino, Artemisina Halofantrina

Antipsicóticos Haloperidol Haloperidol, Pimozida

Antivirais Antiretrovirais (Ritonavir)

Antifúngicos Fluconazol, Itraconazol, Ketoconazol

Fluconazol, Itraconazol, Ketoconazol

Barbitúricos Fenobarbital

Benzodiazepinas Diazepam Diazepam, Triazolam

Beta-Bloqueadores Propanolol

Bloqueadores dos Canais de Cálcio

Diltiazem/ Nifedipina/ Verapamil

Preparações glicosídeas cardíacas

Digoxina

Corticosteroides Prednisolona

Fibratos Clofibrato

Agentes hipoglicémicos orais Sulfonilureias

Contraceptivos hormonais Etinilestradiol/ Levonorgestrel

Imunosupressores Ciclosporina/ Tacrolimus

Metilxantinas Teofilina Teofilina

Analgésicos narcóticos Metadona Levacetilmetadol

Inibidores da Fosfodiesterase-5 (PDE-5)

Sildenafil

Medicamentos da Tiróide Levotiroxina

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De igual forma, a existência de uma interação medicamentosa, não implica necessariamente que as dosagens dos medicamentos devam ser ajustadas nem que a administração conjunta/simultânea dos medicamentos deva ser totalmente evitada. Sempre que existirem, estudos farmacocinéticos podem ser referenciados para que se entenda a magnitude da interação, o efeito e a necessidade de se ajustar a dose do medicamento. As directrizes do país e as fontes internacionais de consulta disponíveis gratuitamente devem ser consultadas para saber sobre as interacções medicamentosas e ajustes de dosagem necessários.

Em caso de dúvidas sobre qualquer interacção medicamentosa, um farmacêutico/farmacologista deverá ser consultado.

4. Outras considerações para a co-administração do 3HP Tanto a RPT como a INH podem causar efeitos colaterais. A INH, em particular, pode provocar lesões hepáticas em especial se administrada diariamente. Daí que, devem ser tomadas precauções quando a INH for administrada em simultâneo com outros medicamentos que causam os mesmos efeitos colaterais de forma a não potenciar a ocorrência de um evento adverso. Medicamentos comumente usados, que requerem uma administração bastante cautelosa e que devem ser evitados durante o tratamento com o 3HP incluem o paracetamol/acetaminofeno, álcool, amoxicilina, terbinafina, fenotiazinas, esteroides anabolizantes. Da mesma forma, suplementos não regulamentados podem levar à activação ou inibição do complexo citocromo, que pode potenciar danos no fígado ou reduzir a eficácia do regime. Portanto, é aconselhável evitar estes medicamentos e suplementos não regulamentados ao tomar 3HP.

5. Anti-retrovirais e 3HP O regime 3HP visa a prevenção da TB em pessoas vivendo com HIV, por isso atenção especial deve ser prestada para detalhar as potenciais interações medicamentosas com os anti-retrovirais.

5.1 Efavirenz e 3HP

O 3HP pode ser co-administrado com efavirenz sem causar reduções clinicamente significativas na concentração média do efavirenz entre administrações sucessivas, ou na supressão viral7, o que permite o uso de rifapentina com EFV, sem necessidade de ajustar a dose do EFV8.

Figura 1: Efeito das diferentes doses de dolutegravir na supressão viral10

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Interacções medicamentosas com 3HP, incluindo ARV (Versão 1 Dezembro 2020)

5.2 Dolutegravir e 3HP

O estudo DOLPHIN avaliou a segurança e a farmacocinética da administração do 3HP com o DTG. Neste estudo realizado em África do Sul, 60 PVHIV com carga viral indetectável em regimes terapêuticos a base de EFV foram trocados do seu regime terapêutico, para um regime a base do DTG por um período de 8 semanas. O 3HP foi co-administrado com DTG após as primeiras 8 semanas, por um período de 12 semanas, tendo sido os pacientes seguidos por mais 4 semanas. O 3HP reduziu a bio-disponibilidade do DTG, e a concentração mais baixa entre administrações foi reduzida em aproximadamente 50%. Contudo, todas as concentrações intermédias, excepto uma, estavam acima da EC90 do DTG, e a carga viral permaneceu indetectável em todos os pacientes. De modo geral, a administração em simultâneo de DTG e 3HP foi bem tolerada, segura e não se demonstrou necessidade de qualquer ajuste na dose do DTG9.

As concentrações mais baixas do DTG observadas entre os pacientes com carga viral indetectável no estudo DOLPHIN foram semelhantes as concentrações mínimas observadas em pacientes tratados com 10 mg de DTG em combinação com dois INTR no estudo SPRING-1. Estes pacientes alcançaram a supressão viral tão rápido quanto aqueles que receberam 50 mg de DTG (Figura 1).

Portanto, os regimes a base do DTG (por exemplo tenofovir, lamivudina e dolutegravir em dose fixa combinada) são recomendados como sendo seguros e eficazes em pacientes que iniciam TARV em co-administração com 3HP. Esta constatação está sendo formalmente avaliada em um sub-estudo do DOLPHIN. Dada a farmacocinética das rifamicinas em crianças, esses dados não podem ser extrapolados para crianças menores de 15 anos de idade. DTG não deve ser co-administrado com 3HP em crianças até que haja mais dados disponíveis.

5.3 Atripla e 3HP

Entre 12 pacientes HIV-positivos em tratamento anti-retroviral com emtricitabina, tenofovir disoproxil fumarate e efavirenz em dose fixa combinada (Atripla), a administração de uma dose semanal de 900 mg de RPT resultou na redução da concentração mínima do efavirenz e do tenofovir, e não causou modificação na carga viral do HIV nem na contagem do CD411.

5.4 Raltegravir e 3HP

A administração da rifapentina com raltegravir (RAL) foi considerada segura e bem tolerada12, permitindo deste modo o uso da rifapentina com RAL8.

5.5 Anti-retrovirais que não podem ser administrados junto com 3HP

As rifamicinas, sendo indutores enzimáticos potentes, podem acelerar o metabolismo dos medicamentos resultando em reduções significativas da exposição a ARV. Os medicamentos ARV mais afectados pela indução do Citocromo P450 incluem todos os inibidores de proteases (IP), incluindo Kaletra (LPV/r), e alguns inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa (INNTR), incluindo a Nevirapina8.

6. Contracepção e 3HP A maioria dos contraceptivos hormonais é metabolizada pelo complexo citocromo e, portanto, a sua concentração será reduzida quando usados ao mesmo tempo que 3HP. Além disso, não existem dados bastantes para mostrar que 3HP é seguro na gravidez. Portanto, recomenda-se o uso de métodos contraceptivos não hormonais ou outros métodos de barreira para a contracepção durante a toma de 3HP. Exemplos incluem preservativos masculinos e femininos, DIUs e diafragmas.

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7. Anti-maláricos e 3HP

7.1 Contexto

A OMS recomenda terapias combinadas baseadas na artemisinina (TCA), administradas durante 3 dias, como primeira linha de tratamento para malária não complicada causada pelo P. falciparum em adultos e crianças (com a excepção de mulheres no primeiro trimestre da gravidez). Estas terapias combinam um derivado da artemisina com um outro medicamento associado. Os derivados da artemisinina incluem dihidroartemisinina, artesunato e arteméter.

As 5 TCA actualmente recomendadas pela OMS são:

• Arteméter-lumefantrina (Coartem); • Artesunato-amodiaquina; • Artesunato-mefloquina; • Artesunato + sulfadoxina-pirimetamina • Dihidroartemisinina-piperaquina

O mais recente guião da Malária da OMS, publicado em 201514 reconhece interacções significativas entre os anti-maláricos e rifampicina na secção 5.5 (pg. 56):

“A administração concomitante da rifampicina durante o tratamento com quinino em adultos com malária foi associado a uma redução significativa da exposição ao quinino e a uma taxa de recrudescência da doença de cinco vezes. De igual modo, a administração concomitante da rifampicina com a mefloquina em adultos saudáveis, foi associada a uma diminuição de três vezes na exposição a mefloquina. Em adultos co-infectados com HIV e TB que estavam sendo tratados com rifampicina, a administração de arteméter + lumefantrina resultou numa diminuição da exposição, de até 9 vezes na exposição ao artemeter, redução de até 6 vezes na exposição a dihidroartemisinina e redução de até 3 vezes na exposição a lumefantrina”.

Em 2015, a OMS concluiu que “até ao momento, não existem evidências suficientes para alterar as recomendações actuais de dosagem em mg por kg de peso corporal; entretanto, como esses pacientes estão em risco de infecções recrudescentes, eles devem ser monitorados de perto”.

No que diz respeito ao tratamento da malária em grupos de risco especiais, as directrizes apontam que a taxa de insucesso no tratamento é maior com a hiperparasitemia e em áreas com malária por falciparum resistente à artemisinina onde os pacientes com malária necessitam de uma exposição mais prolongada aos medicamentos anti-maláricos (maior duração das concentrações terapêuticas);

As opções para gerir estas interacções medicamentosas incluem:

• Aumento das doses individuais; • Aumento da frequência; • Aumento da duração do tratamento; • Adição de mais um medicamento antimalárico

Contudo, foi também observado que o aumento da dose pode não produzir o efeito desejado (por exemplo, a lumefantrina fica saturada) ou pode causar toxicidade. Uma vantagem adicional de prolongar o tratamento até 5 dias (para além dos 3 dias de rotina) é que se consegue uma exposição adicional do ciclo assexuado ao componente derivado da artemisinina, bem como se aumenta a exposição ao medicamento associado. A OMS reconhece que a aceitação, tolerabilidade, segurança e eficácia dos regimes TCA prolongados em circunstâncias especiais, incluindo terapia concomitante com rifampicina, carecem de avaliação urgente14.

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Interacções medicamentosas com 3HP, incluindo ARV (Versão 1 Dezembro 2020)

A indução do citocromo P450 por doses intermitentes de RPT é de aproximadamente 75-80% da magnitude da indução causada pela RIF. A dosagem diária de RPT no Estudo TBTC 29B resultou em maior indução de citocromos do que com RIF14, no entanto, a RPT é um indutor menos potente quando administrado semanalmente como no regime 3HP; por isso irá provavelmente causar fluctuações ao longo da semana e o seu comportamento será difícil de prever.

Outras Considerações:

Existem diferenças importantes entre o uso da Rifampicina para o tratamento da TB e o uso da Rifapentina para a prevenção da TB. Estas incluem:

• O cálculo do risco/benefício é necessariamente diferente para a co-administração de uma terapia preventiva (3HP) em relação a uma terapia curativa (tratamento da TB).

• A rifampicina é um componente crítico/essencial da Dose Fixa Combinada para o tratamento da TB. Neste momento não existem disponíveis opções alternativas de uso generalizado para o tratamento da TB. Rifapentina e Isoniazida (3HP) é uma das opções disponíveis para a prevenção da TB; existindo disponíveis outras opções alternativas

• O tratamento preventivo para a TB pode ser interrompido, o tratamento curativo não pode ser interrompido.

• É provável que os profissionais de saúde e pacientes identifiquem que um paciente esteja em tratamento para TB; mas dificilmente identificarão um paciente em tratamento preventivo para a TB.

• O tratamento da malária grave não poderá ser comprometido pela toma do 3HP, em nenhum momento. • O 3HP pode ser a causa do fracasso no tratamento da malária, e quando esta situação for identificada,

deve ser resolvida, mas pode não ser necessariamente identificada em tempo útil, por diferentes motivos. • Frequentemente, os pacientes se auto-medicam para a malária sem a orientação de um profissional de

saúde.

No caso de fracasso no tratamento da malária, os profissionais de saúde podem não identificar que o paciente está em tratamento preventivo da TB/o paciente pode não fornecer voluntariamente esta informação.

7.2 Guião provisório para a administração do 3HP em áreas com alta prevalência da malária

Na ausência de informação sobre o 3HP e os anti-maláricos, a única orientação que pode ser actualmente dada é a seguinte:

1. Se o paciente for diagnosticado com malária, mas não estiver ainda em TPT, a decisão de iniciar o 3HP poderá ser adiada até que o episódio de malária esteja resolvido. Fundamentação: se o paciente for sintomático/febril por causa da malária, a TB activa não pode ser efectivamente descartada e, por conseguinte, o TPT não deverá ser iniciado.

2. Se um paciente for diagnosticado com malária enquanto estiver em TPT com 3HP, ele deve ser tratado para a malária e monitorado clinicamente de acordo com as directrizes nacionais para assegurar que a malária foi curada. Não há, nesta fase, evidências suficientes de que um ajuste na dose dos medicamentos seja necessário. Fundamentação: recomendações do programa da malária a nível da OMS conforme indicado nas Diretrizes para o Tratamento da Malária da OMS indicam que, embora haja interacções medicamentosas bem conhecidas com o tratamento da TB apenas (não tratamento preventivo nem administração intermitente), o tratamento da malária pode prosseguir sem necessidade de ajuste da dose.

3. Se o paciente tiver uma recrudescência da malária enquanto estiver em TPT com 3HP, e precisa fazer um retratamento para a malária de acordo com as directrizes nacionais. O regime 3HP deve ser suspenso apenas se o novo tratamento da malária incluir medicamentos com interacções medicamentosas conhecidas com as rifamicinas. Nesse caso, o 3HP deve ser reiniciado logo que o episódio da malária estiver resolvido. Fundamentação: se pela falência do tratamento anti-malárico houver suspeita de uma interacção

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medicamentosa clínicamente significativa em um paciente específico, o retratamento da malária deve ter em consideração a suspensão do 3HP enquanto durar o retratamento se foram utilizados medicamentos com interacções medicamentosas conhecidas com as rifamicinas.

4. Se o paciente apresentar um quadro clínico de malária grave (alteração do estado de consciência, redução nos níveis de glicémia, elevação da bilirrubina/icterícia, sangramento, anemia, insuficiência renal ou parasitémia>10%) durante o tratamento com 3HP, este regime (3HP) deve ser suspenso e o paciente deve ser imediatamente tratado segundo as directrizes nacionais. O 3HP deverá ser reiniciado somente quando o episódio da malária estiver completamente resolvido. Fundamentação: a malária grave está associada a uma mortalidade de cerca de 100%, por essa razão todos os esforços devem ser feitos para alcançar o sucesso do tratamento da malária grave, e o 3HP deve ser suspenso.

7.3 Outras recomendações

• A malária por Plasmodium vivax e ovale tem um regime de tratamento diferente. No entanto, é provável que medicamentos como a primaquina e a tagenaquina, usadas para o tratamento destes sub-tipos, podem também ter interacções medicamentosas com RPT. Deve-se, pois, tomar a devida cautela na co-administração destes medicamentos. Todavia, estas formas de malária são habitualmente menos graves e será pouco provável que a co-administração destes medicamentos leve a o agravamento do quadro clínico.

8. Principais recomendações

• As mulheres que usam qualquer método contraceptivo hormonal devem ser aconselhadas a usarem adicionalmente um método de barreira por forma a evitar a gravidez

• Não existem actualmente evidências suficientes para o uso do 3HP durante a gravidez e, portanto, este regime não está recomendado para as mulheres grávidas

• Devem ser tomadas as devidas precauções durante a co-administração de qualquer medicamento cuja acção possa ser reduzida pela RPT ou aumentada pela INH – em caso de dúvidas um especialista deverá ser consultado para melhor decisão

• A co-administração dos medicamentos actualmente indicados como preferenciais para a primeira e segunda linha de tratamento anti-retroviral com 3HP é segura (excepto para a Nevirapina e para os inibidores de protease)

• Os suplementos não regulamentados devem ser evitados ao tomar o 3HP, pois seu efeito no regime não pode ser antecipado ou medido

É essencial que os pacientes sejam aconselhados sobre:

• Informar aos outros profissionais de saúde que eles estão a fazer o regime 3HP • Informar ao profissional que receitou 3HP sobre o início de algum outro tratamento • Evitar outros medicamentos ou suplementos não regulamentados ou informar do seu uso ao

profissional de saúde

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Interacções medicamentosas com 3HP, incluindo ARV (Versão 1 Dezembro 2020)

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