poemas diversos
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A Criança Que Ri na Rua
A criança que ri na rua, A música que vem no acaso, A tela absurda, a estátua nua, A bondade que não tem prazo -
Tudo isso excede este rigor Que o raciocínio dá a tudo, E tem qualquer cousa de amor, Ainda que o amor seja imenso e mudo.
Fernando Pessoa
Mas... Cheio de bondade...
A noite chega com todos os seus rebanhosUma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo Há um íman que nos atrai para o interior da montanha. Os navios deslizam nos estuários do vento. Alguma coisa ascende de uma região negra. Alguém escreve sobre os espelhos da sombra. A passageira da noite vacila como um ser silencioso. O último pássaro calou-se. As estrelas acenderam-se. As ondas adormeceram com as cores e as imagens. As portas subterrâneas têm perfumes silvestres. Que sedosa e fluida é a água desta noite! Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos. Alguém me habita como uma árvore ou um planeta. Estou perto e estou longe no coração do mundo...
Mas... cheio de bondade...
António Ramos Rosa Poeta Lusitano
Rosa
Rosa colhia sozinha Lindas rosas no jardim E nas faces também tinha Duas rosas de carmim.
Cheguei-me e disse-lhe: Rosa Qual dessas rosas me dás? As da face primorosa Ou essas que unindo estás?...
Ela fitou-me sorrindo, Ainda mais enrubesceu; Depois, ligeira fugindo, De longe me respondeu:
"Não dou-te as rosas das faces Nem as que tenho na mão: Daria, se me estimasses, As rosas do coração."
Afonso Celso
Lembra?
Lembra o tempo que você sentia... e sentir era a forma mais sábia de saber e você nem sabia? Alice Ruiz
A Lua me Observava
Da soleira da janela a lua me observava.Os seus raios se escorriam pela madeira da janela, se estendiam.Eu buscava tocá-los, eles buscavam minhas mãos. Eu e o luar de mãos dadas viajávamos o mundo. O luar me levava por sobre os mares, muito além dos morros altos de minha cidade. Foi o luar que me levou até você em uma noite de julho. Você estava olhando o luar na praia, e cantarolava uma canção de amor. Muitas vezes eu e o luar caminhamos junto de você pela orla do mar. Foi assim que eu te conheci! Esmeralda Grunglasse
Trazes os olhos derramando estrelas
A Cecília Meireles
Trazes os olhos derramando estrelas. Foges de ti por tudo o que te cerca. Teu roteiro é a Rosa-Ventania apontando além de tuas fronteiras.
Nos limites do mundo crias espaços por onde segues crente e arrebatada, repartindo teus dias, teus abraços, teu jardim, tuas fontes, teus segredos.
Renasces a cada morte prematura com tesouro maior e mais profundo, à grandeza do amor acostumada.
Inventando canções enternecidas, prossegues com teu cântaro de sonhos reverdecendo em cada madrugada. Poema integrante da série Do Irreversível. In: LEMOS, Lara de. Canto breve: poesia. Porto Alegre: Difusão de Cultura, 1962
Soneto da Manhã Primeira
Quero a manhã exata, a manhã viva, pois estas luzes e estes vôos na aurora, são só ensaios de manhãs. E agora o que eu quero é a manhã definitiva,
a autêntica manhã pura, exclusiva, manhã nascida de si mesma e fora desta jubilação falsa e sonora que só por um momento nos cativa.
Ah, a manhã da última promessa, manhã de um novo mundo que começa, mais acessível, mais humano e bom.
Meu Deus, seria como chegasse a manhã do primeiro sol que nasce, a cor primeira e o primeiro som.
José Chagas
CRÉDITOS
Autores : DiversosImagens : Internet
Coletânea enviada por:Paulo Paulsens
Formatado por:Angelica Lepper
Música:Canção do MarDulce Pontes