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Plano de Investigação Fátima Fonseca Estudante nº 43540 Métodos e Técnicas de Investigação Social Educação Socioprofissional 1º Ano Vila Nova de Gaia, Julho de 2010 1

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Plano de investigação sobre o tema do Alcoolismo e o abandono familiar do idoso.

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Page 1: Plano de investigação

Plano de Investigação

Fátima FonsecaEstudante nº 43540

Métodos e Técnicas de Investigação SocialEducação Socioprofissional 1º AnoVila Nova de Gaia, Julho de 2010

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Page 2: Plano de investigação

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«(..) o lugar mais natural para viver a condição de ancianidade continua a ser aquele ambiente onde ele é “de casa”, entre parentes, conhecidos e amigos, e onde pode prestar ainda algum serviço. (...) é urgente promover esta cultura de uma ancianidade acolhida e valorizada, não marginalizada. O ideal é que o ancião fique na família, com a garantia de ajudas sociais eficazes, relativamente às necessidades crescentes que supõem a idade e a doença.»

Carta aos AnciãosPapa João Paulo II(2000, p. 22)

Page 3: Plano de investigação

Índice

Introdução ................................................................................................. Pág. 4

Enquadramento Teórico .............................................................................. Pág. 5

Alcoolismo ...................................................................................... Pág. 5

Abandono familiar do idoso ............................................................ Pág. 11

Modelo de Análise .................................................................................... Pág. 17

Tema / Questão ............................................................................... Pág.17

Objectivos de Investigação ............................................................. Pág. 17

Questões de análise ........................................................................ Pág. 17

Dimensões de análise ..................................................................... Pág. 18

Metodologia ............................................................................................. Pág. 19

Considerações Finais ................................................................................ Pág. 21

Bibliografia .............................................................................................. Pág. 22

Sitografia ................................................................................................. Pág. 23

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Page 4: Plano de investigação

Introdução

Este plano de investigação surge no âmbito da Unidade Curricular de Métodos e

Técnicas de Investigação Social do Curso Superior de Educação Socioprofissional

na Escola Superior de Educação Jean Piaget.

O tema escolhido para este plano de investigação foi “O alcoolismo e o abandono

familiar do idoso”. O que se pretende com esta investigação é apurar o impacto

que o alcoolismo, durante a vida de uma pessoa, tem no apoio familiar numa

situação de velhice.

O artigo está dividido em três partes, começando por fazer o enquadramento

teórico do alcoolismo. Assim, começa-se por definir alcoolismo, as consequências

ao nível físico, social, familiar, emocional e profissional do alcool, as etapas do

alcoolismo e os preconceitos que o mesmo acarreta. Como conclusão do sub-tema

alcoolismo surgem os papéis mais observados numa família marcado pelo

alcoolismo.

Ainda no enquadramento teórico apresenta-se diversas informações sobre o

abandono familiar do idoso, partindo da definição de abandono, de família e de

idoso. Conclui-se esta parte do plano de investigação com um enquadramento da

família como contexto desejado para envelhecer.

Na segunda parte é exposto o modelo de análise, identificando o tema, os

objectivos de investigação, as questões de análise e as dimensões de análise.

A metodologia surge na terceira parte como uma explicação do método adoptado

para completar o plano de investigação, justificando o porquê da utilização do

inquérito por entrevista semidirectiva ou semidirigida (para o idoso) e centrada

(para os familiares).

No final são apontadas as considerações finais, mediante o plano de investigação

desenvolvido.

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Page 5: Plano de investigação

1. Enquadramento Teórico

1.1. Alcoolismo

A primeira e mais importante informação a reter quando se fala de alcoolismo é

que o alcoolismo não é uma fraqueza de carácter, nem um vício. Muito pelo

contrário, o alcoolismo é uma doença.

O alcoolismo é caracterizado por uma dependência do álcool (etanol), do ponto de

vista físico e psíquico. O álcool retira ao dependente a capacidade de se abster de

consumir bebidas alcoólicas, criando em si a constante necessidade de beber e

modificando o seu comportamento.

O alcoolismo é considerada uma doença complexa com causas diversas, como no

plano biológico, genético e psicológico do indivíduo ou no meio circundante, a um

nível social e cultural.

O alcoólico sente uma necessidade física de beber quando não bebe há algum

tempo, piorando com a necessidade psicológica de consumir. Assim, o indivíduo

dependente tem a ideia de não conseguir viver sem álcool.

O alcoolismo é uma doença que afecta toda a família da pessoa dependente do

consumo de bebidas alcoólicas. Os familiares são atingidos no plano afectivo e no

seu quotidiano, sentindo-se tão desamparados como o doente alcoólico.

Toda a família é atingida pelo alcoolismo, dividindo-a e isolando do resto do

mundo. Cada membro da família acaba por direccionar para a dependência

alcoólica todos os seus sentimentos, pensamentos e comportamentos.

Assim, o alcoolismo é considerada muitas vezes uma doença do sistema familiar,

visto cada elemento da família ser envolvido tanto no processo de

desenvolvimento do problema como na sua resolução.

Para se sair da dependência do álcool, é preciso aprender a conhecer esta doença e

desfazer mitos, falsos conceitos e ideias pré-concebidas.

Quando se fala de doença alcoólica, fala-se de dependência física e psíquica do

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Page 6: Plano de investigação

álcool, que só é visível quando se instala. Conhecer as diferentes etapas da doença

pode ajudar a família a melhor compreender o que é o alcoolismo e tornar eficaz a

ajuda a prestar ao doente e a ela própria.

As etapas do alcoolismo são:

Consumo de risco: certas pessoas perdem o controle do consumo de álcool,

encontrando no álcool efeitos tão particulares e vantagens tão importantes de

ponto de vista psíquico e/ou social, que não conseguem prescindir dele. Daí

resulta um consumo de risco, pois o organismo habitua-se ao efeito do álcool,

arranjando assim inúmeros pretextos para beber em sociedade.

Consumo problemático: o indivíduo bebe cada vez mais para sentir os seus efeitos,

acabando por se afastar pouco a pouco dos outros e começa a perder interesse

pelas coisas. Bebe diariamente, muitas vezes às escondidas e luta para controlar o

consumo. Pessoas próximas tentam definir os seus limites e conseguem deste

modo viver alguns períodos de abstinência, se bem que infelizmente estes períodos

são geralmente de curta duração. Nesta fase o consumo começa a influenciar

negativamente a vida do indivíduo, as suas responsabilidades e o seu ambiente

familiar e profissional. Há assim um sério risco de alcoolismo.

A dependência: o álcool domina a vida do indivíduo que se tornou totalmente

dependente do álcool. Nesses casos bebe, para não sentir os efeitos da sua falta; o

seu organismo tem necessidade de álcool para funcionar “normalmente”. O

alcoólico perde as suas ambições, sentindo-se cada vez mais inseguro, provocado

pela dependência. As suas faculdades intelectuais diminuem e tem medos não

habituais, tornando-se desconfiado e retraído. A família sofre também as

consequências dessa mudança.

Com o decorrer dos anos, o abuso do álcool causa inúmeros desgastes na saúde. O

álcool é um tóxico para o organismo e destrói células. O consumo de grandes

doses de bebidas alcoólicas durante um longo período de tempo pode danificar a

maior parte dos órgãos vitais.

O processo de dependência alcoólica é lento e insidioso. Antes mesmo de ser

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Page 7: Plano de investigação

reconhecida a dependência pode ter já provocado inúmeros danos e, em alguns

casos, a morte. Esta degradação do corpo é felizmente reversível, ou pelo menos

controlável, se o indivíduo parar de beber.

Os primeiros sinais da dependência são a deteriorização da percepção, da

coordenação e das funções motoras, podendo mesmo perder a memória, uma vez

que o cérebro é o órgão mais vulnerável.

Um alcoolismo de longa duração afecta o cérebro, o fígado, o coração e o

pâncreas, para além de aumentar o risco de cancro e atinge o sistema imunitário. A

verdade é que as defesas orgânicas diminuem, tornando o indivíduo vulnerável a

doenças graves.

Enfim, o alcoolismo pode conduzir a graves lesões orgânicas, cancros, doenças

infecciosas, acidentes, suicídios e a uma morte prematura.

As pessoas alcoólicas têm uma constante necessidade de justificar os seus

excessos relativamente às bebidas. Desenvolvem um mecanismo de defesa, a

negação, que lhes permite ignorar que se tornaram dependentes do álcool. Podem

assim afirmar que não têm problemas com as consequências desse consumo.

A negação é uma forma de esconder o problema a si próprio e aos outros. Com

efeito ele faz batota com a realidade. É por isso que se ouve dizer que “...os

alcoólicos são mentirosos”.

A negação é uma atitude muito comum, mesmo admitindo a existência de um

problema, os alcoólicos atribuem a causa a tudo, menos ao consumo de álcool (ex.:

“tenho problemas com o meu chefe, mas é porque ele não gosta de mim...”).

Eles confundem muitas vezes as causas e as consequências: “...se nós não

discutíssemos tanto, eu beberia menos”, assim, enquanto o alcoólico encontrar

desculpas para continuar a beber, ele não conseguirá abordar o seu verdadeiro

problema.

A maior parte das pessoas têm uma representação do alcoolismo que não

corresponde à realidade. Estes mitos e falsas ideias impedem uma melhor

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Page 8: Plano de investigação

compreensão sobre a doença alcoólica e o seio da família, entre amigos ou no

meio laboral.

As justificações para se desviar do problema alcoolismo partem tanto da parte do

dependente como dos familiares, dos colegas de trabalho e da própria sociedade.

Por exemplo, os alcoólicos dizem:

“...mas eu bebo apenas cerveja” - a cerveja de 33cl tem tanto álcool como um copo

de vinho um cálice de aguardente.

“...mas eu tenho um bom emprego...” - a maioria dos alcoólicos estão ainda

inseridos profissionalmente, porque um bom local de trabalho não impede os

problemas com o álcool.

Já a família pensa, por exemplo, que:

“... Mas é uma pessoa tão simpática ...” - muitos alcoólicos são simpáticos e

agradáveis, uma vez que não existe “uma personalidade alcoólica”.

“Mas o nosso lar é tão afectuoso” - durante muito tempo os alcoólicos mantêm o

equilíbrio familiar.

“Mas ele quase nunca se embriaga” - são raros os alcoólicos que se embriagam,

visto beberem apenas o necessário para se sentirem bem.

No local de trabalho é usual ouvir-se:

“Mas ele é tão inteligente para ser alcoólico...” - não há qualquer ligação entre o

quotidiano e a doença alcoólica.

“Mas eu nunca o vi embriagado...” - as pessoas dependentes do álcool conseguem

muitas vezes esconder dos seus colegas e chefias as suas dependências.

“... Mas ele vem trabalhar todos os dias...” - muitos alcoólicos são assíduos ao

trabalho, chegando mesmo a dar a entender que estão em forma e a dissimular a

sua grande apetência para as bebidas.

Os preconceitos surgem também da sociedade, que acaba por passar a ideia que,

por exemplo, o alcoólico é “um vadio”. A maior parte dos dependentes do álcool é

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Page 9: Plano de investigação

normal e respeitável. Só um pequeno número acaba na rua. Há também a

possibilidade de “ele não ter ar de alcoólico”. A verdade é que tal não existe e

mesmo que existisse o alcoólico saberia disfarçar bem, para não chamar à atenção.

Outra situação tem ligação a ser ou não ser de boas famílias. A doença alcoólica

afecta qualquer pessoa, independentemente do estrato social, familiar ou

económico. O meio familiar é um elemento importante da doença alcoólica,

porque os diferentes papéis de cada membro pode influenciar de maneira

determinante a evolução da doença.

Logo que se toma consciência do papel que cada um desempenha no mecanismo de

dependência, os familiares podem então reagir, modificar as suas atitudes e

distanciarem-se. Neste sentido, a família terá a possibilidade de influenciar

positivamente a evolução da dependência.

A maneira de viver do alcoólico afecta-o a si próprio e à sua família. As tensões e

a insegurança ocasionadas pelo seu comportamento influenciam todos e deterioram

o ambiente familiar.

Muitos membros da família desconfiam do doente alcoólico. Isto leva a numerosos

confrontos e conflitos, independentemente do facto de se beber ou não. Estas

desconfianças permanentes são desmoralizadoras.

Os doentes alcoólicos são frequentemente negligentes no que diz respeito às

responsabilidades familiares e sentimentos para com a família. O seu

comportamento põe também em risco o emprego e a economia familiar. Este facto

é causa de grande insegurança.

Uma família que luta com dificuldades imprevisíveis, vive um clima de stress e de

medo. Medo que o doente regresse à noite de novo embriagado, arriscando-se a um

acidente de condução ou irritado e violento. Medo de que a família se divida.

A família sente-se por vezes responsável pela alcoolização do doente. Cada um

pensa secretamente que “se eu fosse simpático, mais calmo para com ele, ele

beberia seguramente menos...”.

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Page 10: Plano de investigação

As pessoas alcoólicas não são capazes de cumprirem as suas promessas. Assim,

também a família não se ilude, não esperando outra coisa do doente.

A lei do silêncio impõe á família não se pronunciar em conjunto, acerca do

problema do álcool. A comunicação fica perturbada e cada um fica sozinho face às

suas angústias.

O sentimento de vergonha leva a família a evitar os lugares onde possam ser vistos

com o familiar alcoólico. Esta vergonha vai também impedir a procura de ajuda no

exterior.

Os doentes alcoólicos exigem demasiado das suas famílias: paciência, coragem e

persistência. A cólera, a frustração e rancor aparecem. A unidade da família fica

em perigo.

É particularmente doloroso para os familiares ver quem amam modificar-se por

causa do álcool. Mais ainda se os esforços para o ajudarem não tiverem qualquer

efeito, levando ao afastamento.

A dependência desenvolve-se de forma dissimulada. Os familiares adoptam muitas

vezes papéis que acentuam, ainda que involuntariamente este fenómeno. Estes

papéis são muitas vezes uma adaptação inconsciente da família a uma situação

demasiadamente pesada. Eles trazem todos benefícios a curto prazo. Mas a longo

prazo prolongam e reforçam os comportamentos de dependência. É por isso que é

importante reconhecer estes papéis, a fim de os poder ultrapassar. O sistema

familiar pode assim reencontrar, com muita paciência e persistência, a sua

serenidade.

Os papéis mais observados na família onde há problemas ligados ao álcool, estão

descritos abaixo, no masculino, mas tanto podem ser adoptados por homens como

por mulheres.

O defensor: insinua-se muitas vezes na vida do alcoólico para o ajudar. Se um

indivíduo alcoólico é incapaz de trabalhar ou de cumprir uma obrigação, o

defensor estará lá para justificar a sua ausência e para o substituir no seu trabalho.

Estas atitudes vão ajudar a proteger o alcoólico das consequências desagradáveis.

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Page 11: Plano de investigação

O Protector: assume tudo para que o alcoólico não seja responsabilizado. Neste

caso também é reforçado o comportamento abusivo do alcoólico.

O Revoltado: tenta, por uma conduta inadaptada, desviar a atenção da família para

outros aspectos que não o problema ligado ao álcool. Assim as crianças sentem-se

prisioneiros desta situação familiar, podendo reagir com maus resultados

escolares, com agressividade ou outros comportamentos excessivos.

O Herói: tenta desviar a atenção do problema com o álcool, adoptando um

comportamento exemplar. Ele espera secretamente que esta atitude ajude o

alcoólico a deixar de beber.

O Acusador: atribui ao álcool a causa de todos os problemas familiares. O

alcoólico torna-se o principal alvo, o que vai reforçar a raiva e a impotência da

pessoa dependente, dando-lhe novas razões para beber.

O Passivo, fechado em si próprio: é apático para se distanciar e se proteger da dor

e da culpa. Esta indiferença é um mecanismo de defesa muito profundo, que não

significa em caso nenhum, um desinteresse pelo doente alcoólico. A pessoa

passiva sofre interiormente, recusando-se a confrontar-se com o problema do

álcool e suas consequências.

(Fonte: Alcoologia.net e “Generalidades sobre o Alcoolismo”)

1.2. Abandono familiar do idoso

No decorrer de um plano de investigação sobre o abandono familiar do idoso

surgem questões pertinentes que complementam o estudo do tema escolhido.

Convém, por isso, começar por definir abandono, família e idoso, para além de

identificar as situações em que uma pessoa se sente abandonada.

Na procura da definição de abandono, surgem vários estudos direccionados ao

abandono na velhice. Estudos esses que chegam a uma conclusão básica:

“abandono é ser sozinho no mundo, estar só, sem ninguém para partilhar a vida,

para auxiliar durante a velhice. É sentir-se sozinho, ainda que rodeado de seres

humanos, pela falta de um bem-querer espontâneo e sincero, de carinho, de amor

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Page 12: Plano de investigação

dos filhos, do aconchego da família, da intimidade com o outro. É não ter

ninguém por si. É não ter a presença dos familiares, de amigos, de companhia, de

visitas. É não ter filhos, não ter nada.” (Herédia, Vânia).

Mais difícil será definir família, dada a sua complexidade e actual mobilidade.

Enquanto Holstein e Gubrium (1999) procuram definir família a partir duma

abordagem “construcionista social”, Bernardes (1999) afirma que não se deve

definir a família, dado haver muitas classes de família.

Na verdade outros surgem com propostas para definir família, como Castellan

(1994, p. 5), que define família como “uma reunião de indivíduos unidos pelos

laços de sangue, vivendo sob o mesmo tecto ou num mesmo conjunto de

habitações e numa comunidade de serviços”.

Esta procura incessante de uma definição de família levou muitos a uma solução

fácil para o problema. Entendiam família como “um grupo social” que possuísse

“pelo menos três das características seguintes: a) tem origem no casamento; b) é

formado pelo marido, pela esposa e pelos filhos nascidos do casamento, ainda que

seja concebível que outros parentes encontrem o seu lugar junto do grupo

nuclear; c) os membros da família estão unidos por laços legais, direitos e

obrigações económicas, religiosas e de outro tipo, uma rede precisa de direitos e

proibições sexuais, além duma quantidade variável e diversificada de sentimentos

psicológicos, tais como amor, afecto, respeito, temor, etc” (Lévi Strauss in Levi-

Strauss, Gough e Spiro, 1977).

Outros estudos questionaram as teorias anteriores, se bem que foi a Organização

Mundial de Saúde (1994) que ampliou finalmente o conceito de família ao afirmar

que “o conceito de família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento,

parceria sexual ou adopção. Qualquer grupo cujas ligações sejam baseadas na

confiança, suporte mútuo e um destino comum, deve ser encarado como família”.

Depois de definir abandono e família, resta-nos definir idoso. O que é uma pessoa

idosa ou da terceira idade? Mais do que a idade, contam certamente a saúde ou a

doença e outras variáveis que levam a considerar caso por caso. Todavia, em geral

considera-se pessoa idosa a que atingiu os 65 anos, embora haja estudos que

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Page 13: Plano de investigação

contam já como idosos os que chegam aos 60 anos.

Com o passar do tempo, o organismo multicelular sofre mudanças fisiológicas,

sendo costume dividir em três fases a vida do organismo. Essas são, como referiu

Cancela, Diana (2007), “a fase do crescimento e desenvolvimento, a fase

reprodutiva e a senescência ou envelhecimento. Durante a primeira fase, ocorre o

desenvolvimento e crescimento dos órgãos especializados, o organismo vai

crescendo e adquirindo capacidades funcionais que o tornam apto a se reproduzir.

A fase seguinte é caracterizada pela capacidade de reprodução do indivíduo, que

garante a sobrevivência, perpetuação e evolução da própria espécie. A terceira

fase, a senescência, é caracterizada pelo declínio da capacidade funcional do

organismo.”.

A família é o contexto desejado para envelhecer, tal como é o lugar apetecível para

viver em todas as outras fases do desenvolvimento familiar. A família é um lugar

de aconchego, segurança, identidade e lembranças, independentemente da

dificuldade por que as relações passam.

Assim pode chegar-se a algumas situações que poderão fazer com que um

indivíduo se sinta abandonado. Quais são então essas situações? Abandono na

velhice é um sentimento de tristeza e de solidão, provocado por circunstâncias

relativas a perdas, as quais se reflectem basicamente em deficiências funcionais do

organismo e na fragilidade das relações afectivas e sociais, que por sua vez

conduzem a um distanciamento, podendo culminar no isolamento social.

Abandono é um sentimento de sofrimento trazido por essas circunstâncias, o que

impede o indivíduo de viver e conviver plenamente e de permanecer inserido na

família, no grupo e na cultura. Essa situação rompe o contacto vital com o mundo,

favorece a inércia do corpo e rouba a possibilidade de ser e de conhecer. O estar

indefeso, a falta de intimidade compartilhada e a pobreza de afectos e de

comunicação tendem a mudar estímulos de interacção social e de interesse com a

própria vida. Aparentemente, o idoso espera ser salvo desse sentimento, espera que

o seu grupo o acolha e permaneça com ele até à morte.

O idoso quer em vida o acolhimento, a presença, o amor dos seus. Ele quer

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Page 14: Plano de investigação

compatilhar a experiência e o conhecimento que construiu ao longo da sua

existência. Quer entender as contradições que o envolvem, o porquê da distância

emocional entre as pessoas do seu grupo familiar e social e seus sentimentos, o

que o separa dos outros no momento em que precisa ser apoiado para a travessia

que envolve o processo da morte.

Ser deixado de lado, ser ignorado provoca o sentimento de abandono. Esse

sentimento pode revelar-se no seio da família e no meio social, e ser provocado

pela fragilidade das relações, negligência, perdas afectivas, doença ou ausência de

trabalho.

A família é o meio natural de inserção do ser humano. Quando há ausência ou

rompimento dessa inserção, o idoso sente-se ignorado, desvalorizado, excluído. A

família é a esperança do idoso como forma de manutenção das relações familiares

e das possibilidades de evitar o isolamento. Como a família é o grupo através do

qual o ser humano é gradativamente inserido no mundo, ela representa o vínculo

do indivíduo com a sociedade. Dessa maneira, carrega valores que sustentam essa

relação de estar com, de estar junto. O grupo constitui-se ainda no espaço de

ligação entre os seus membros. A família pode ser uma solução para evitar o

sentimento de abandono, mas não garante necessariamente que esse sentimento

não exista. Pelo contrário, depende dos vínculos estabelecidos ao longo da vida e

da força dessas relações.

A família é o primeiro referencial de socialização e de estabelecimento de

vínculos, sendo responsável pelo equilíbrio físico, psíquico e afectivo. O idoso

espera que a família o mantenha e cumpra com o papel estabelecido pela

sociedade, mesmo que conheça a família e saiba e os seus limites. Crê que esse

grupo social será o seu cuidador final e que lhe dará a atenção necessária para

enfrentar as agruras que a vida impõe. Essa crença é fortificada pela intensidade

das relações pessoais estabelecidas com o grupo familiar.

Quando os laços afectivos são frágeis ou não existem, quando falta amor, quando

existem perguntas sem resposta ou conversas sem atenção, o idoso é deixado de

lado pelos filhos, pelos familiares e pelos amigos. A sua presença participativa,

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Page 15: Plano de investigação

cooperativa e operativa é ignorada, não havendo convívio familiar nem espaço

para partilhar – dar e receber atenção. A oportunidade de integração é-lhe negada,

ficando sem apoio e carinho e sentindo-se negligenciado afectiva e socialmente.

A perda das forças, o aparecimento de doenças, as dificuldades para estabelecer e

manter um diálogo são acontecimentos que podem levar o idoso ao abandono. São

agravantes dessa situação o facto de não ter condições de saúde para manter

relações sociais fora do seu meio familiar e as dificuldades financeiras.

Da mesma forma, a dependência, que gera a necessidade de cuidados especiais e

de auxílio para a realização das actividades de vida diária, pode fazer com que o

idoso seja deixado de lado pelos familiares, sem que lhe seja dispensada a atenção

necessária. Nessas situações é habitual o idoso ser afastado da família e colocado

numa instituição de longa permanência.

O abandono dá-se mais facilmente na velhice, quando o idoso não pode trabalhar.

Perder o estatuto de trabalhador é perder a consideração: não vale quem não

produz. Perde o seu papel e, muitas vezes, vê-se numa situação de dependência

financeira, que deve ser suprida pelos filhos ou familiares mais próximos. Por isso

pode ser excluído da família, desvalorizado ou tratado com desrespeito.

Enquanto há saúde, maior a probabilidade da manutenção da independência e da

autonomia, que proporcionam à pessoa mais facilidade e disposição para preencher

o tempo, manter relações sociais, realizar actividades pessoais. A doença, além de

trazer sofrimento, provoca o estado de dependência e de inutilidade, a necessidade

de cuidados e pode aproximar a possibilidade do abandono.

Se a família não estiver fortalecida pela convivência e por laços afetivos, a

presença da doença e das dificuldades dela advindas pode provocar tristeza,

amargura, angústia, desânimo, melancolia e a constatação de que o abandono é

algo cruel, injusto, ruim. Maltratar o idoso, deixá-lo sem apoio, passando por

necessidades e sem alguém que cuide dele, é abandoná-lo.

A longevidade pode trazer transformações negativas de ordem física, cognitiva,

afectiva, social que levam à dependência e à falta de autonomia, condenando o

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Page 16: Plano de investigação

indivíduo a perder a liberdade, a memória, familiares, amigos, afectos e relações.

Esta situação foi identificada há muito, conforme se verifica na Conferência

Episcopal Portuguesa de 2004, abaixo transcrita.

“A evolução médico-científica, a melhoria da higiene, da salubridade e das

condições de vida globais, provocaram o aumento da esperança de vida. Como

consequência, aumentou significativamente o número de pessoas idosas na

sociedade actual. Trata-se de uma questão que, além do seu impacto óbvio nas

estruturas sociais, laborais e económicas, tem também consequências sérias na

comunidade familiar.

Muitos idosos, por vontade própria ou por exigência das circunstâncias, vivem

sozinhos, numa situação de especial vulnerabilidade. Por vezes, essa realidade

significa pobreza, isolamento, solidão, esquecimento, tristeza e desamparo,

apesar do apoio e do acompanhamento das instituições de solidariedade social

públicas e privadas. (...) As suas carências económicas não lhes permitem, muitas

vezes, o acesso a determinados bens de primeira necessidade – nomeadamente aos

cuidados de saúde – nem o aproveitamento do tempo de lazer a que têm direito.

Muitos idosos estão, felizmente, integrados em comunidades familiares mais

alargadas, constituídas pelos seus descendentes. […] A sua presença e a sua

afectividade são particularmente importantes no apoio, no acompanhamento e na

transmissão de valores às gerações mais jovens da comunidade familiar.

As necessidades particulares dos idosos dependentes — por motivo de deficiência

profunda, doença grave ou idade avançada — constituem, contudo, uma realidade

a que as famílias nem sempre conseguem dar a resposta adequada. A exiguidade e

a falta de condições do espaço familiar, a dificuldade — por parte dos filhos —

em conciliar a vida profissional com o acompanhamento dos pais em situação de

dependência, constituem uma grave dificuldade experimentada por muitas

famílias.”

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Page 17: Plano de investigação

2. Modelo de Análise

2.1. Tema

O tema escolhido para este plano de investigação, como já foi adiantado

anteriormente, é “O alcoolismo e o abandono familiar do idoso”. O que se

pretende com esta investigação é apurar o impacto que o alcoolismo, na vida de

uma família, tem no apoio familiar numa situação de velhice.

Assim, a investigação parte de uma questão principal relacionando uma vida

marcada pelo alcoolismo ou Síndrome de Dependência de Álcool e a decisão por

parte da família em apoiar essa pessoa numa situação de velhice.

2.2. Objectivos da Investigação

O objectivo geral deste plano de investigação é apurar o impacto que o

alcoolismo, na vida de uma família, tem no apoio familiar numa situação de

velhice.

Os objectivos específicos deste plano de investigação são:

Conhecer o impacto do alcoolismo no seio familiar.

Identificar as razões que levam ao abandono do idoso.

Descobrir medidas de prevenção ou de correcção de distúrbios familiares.

2.3. Questões de análise

A investigação pretende responder a três questões básicas:

1. Qual o impacto que o alcoolismo tem no seio familiar e no abandono do idoso?

2. Que apoio poderá esperar um idoso, que durante a sua vida marcou o seu

agregado familiar devido a uma dependência alcoólica?

3. Que direito terá a família de negar apoio a um idoso, mesmo com toda a

bagagem que o mesmo provocou na família?

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Page 18: Plano de investigação

2.3. Dimensões de análise

Pretende-se realizar esta investigação junto de 20 idosos e 40 familiares (dois de

cada idoso entrevistado) que obedeçam aos seguintes critérios:

Idosos:

- vida marcada pelo alcoolismo – ex-alcoólicos, actuais alcoólicos;

- idade entre os 65 e os 90 anos;

- residentes na freguesia de Rio Meão do concelho de Santa Maria da Feira.

Familiares:

- familiares dos idosos entrevistados;

- idade acima dos 18 anos;

- com grau de parentesco ao nível do conjuge e descendentes directos.

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Page 19: Plano de investigação

3. Metodologia

No dicionário online da Porto Editora, inquérito é definido como “acto ou efeito

de inquirir; pesquisa metódica baseada em questões e recolha de testemunhos;

investigação; sondagem da opinião pública sobre uma questão política, social ou

económica ou indagação”. Da etimologia da palavra extrai-se a ideia de que é um

processo em que se tenta descobrir alguma coisa de forma sistemática (Carmo,

Hermano e Ferreira, Manuela Malheiro – 2008).

Num plano de investigação esta expressão é usada de uma forma precisa para

designar processos de recolha sistematizada, no terreno, de dados susceptíveis de

poder ser comparados.

Existem dois tipos de inquérito que podem ser utilizados no decorrer de uma

investigação em ciências sociais, como por exemplo: inquérito por entrevista e

inquérito por questionário. O principal factor distintivo entre os dois tipos de

inquérito está na presença do entrevistador no inquérito por entrevista, sendo que

o inquérito por questionário é administrado à distância.

Mediante o tema escolhido, a metodologia utilizada neste plano de investigação é

o inquérito por entrevista. O que se pretende com a utilização desta metodologia é

ter uma interacção directa com o entrevistado, proporcionando assim um maior

grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos. Para além disso, a

flexibilidade e a fraca directividade do inquérito por entrevista permite recolher os

testemunhos e as interpretações dos interlocutores, respeitando os próprios

quadros de referência, ou seja, a sua linguagem e as suas categorias mentais.

Neste plano de investigação detectou-se duas fontes fundamentais de informação,

o idoso com uma vida marcada pelo alcoolismo e respectiva família. Visto terem

vivências distintas da problemática escolhida, parece importante distinguir a forma

de recolha das mesmas. Assim, com o idoso será levada a cabo uma entrevista

semi-directiva ou semi-dirigida e com a família será a entrevista centrada.

A entrevista semi-directiva ou semi-dirigida não é inteiramente aberta nem

encaminhada por um grande número de perguntas precisas. Aqui pretende-se ter

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Page 20: Plano de investigação

uma série de perguntas guia, relativamente abertas, a propósito das quais é

imperativo receber uma informação por parte do idoso, respeitando sempre a

espontaneidade deste. Nesse sentido, pretende-se deixar fluir o diálogo para que o

idoso possa falar abertamente, com as palavras que desejar e pela ordem que lhe

convier. Ter-se-á sempre como linha condutora os objectivos pré-estabelecidos,

para evitar desvios, muito frequentes no decorrer de uma entrevista.

“A entrevista centrada tem por objectivo analisar o impacto de um acontecimento

ou de uma experiência precisa sobre aqueles a que a eles assistiram ou que neles

participaram; daí o seu nome.” (Quivy, Raymond e Campenhoudt, LucVan –

1995).

Assim é desenvolvida uma lista de tópicos relativos ao tema escolhido para

orientar a entrevista realizada com os familiares do idoso marcado pelo

alcoolismo. Os tópicos listados devem ser abordados necessariamente durante a

entrevista, se bem que de um modo livre escolhido no momento de acordo com o

desenrolar da conversa. Pretende-se com isto obter mais informações sobre os

laços familiares existentes e detectar indicadores de um potencial abandono e

exclusão familiar e social.

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Page 21: Plano de investigação

Considerações Finais

O tema escolhido para este Plano de Investigação foi o “Alcoolismo e o Abandono

Familiar do Idoso”, tendo início na questão “Qual o impacto que o alcoolismo tem

no seio familiar e no abandono do idoso?”.

Nesse sentido foi desenvolvida uma vasta pesquisa sobre o alcoolismo, o

abandono, a família e o idoso, procurando fundamentar teoricamente todo o plano

de investigação que daí nascesse.

Mediante a pesquisa desenvolvida, pode concluir-se que o alcoolismo provoca

distúrbios físicos e emocionais no alcoólico, levando assim a uma desvinculação

afectiva por parte dos restantes elementos da família e a um afastamento de

elementos que fazem parte do seu quotidiano profissional e social.

Assim, verifica-se que, numa situação de dependência na velhice, existe uma

grande probabilidade da família não reconhecer o dever de apoiar o familiar em

causa.

Por fim, sabendo-se que o alcoolismo é transversal, nota-se que o

acompanhamento dado ao alcoólico e à família é mais na ordem física, ou seja, há

uma preocupação em tratar o doente fisicamente e esquece-se a parte emocional e

familiar, que acaba sempre por levar a uma exclusão.

Ainda que haja uma intervenção a nível médico, é também fundamental

acompanhar e dotar a família de ferramentas de prevenção e de reacção, para além

de todo o apoio emocional ao alcoólico.

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Page 22: Plano de investigação

Bibliografia

CARMO, Hermano e FERREIRA, Manuela Malheiro - Psicologia da Família

(Lisboa, Universidade Aberta, 2008)

Citação de BERNARDES - Psicologia da Família (Lisboa, Universidade Aberta,

2008)

Citação de CASTELLAN - Psicologia da Família (Lisboa, Universidade Aberta,

2008)

Citação de HOLSTEIN e GUBRIUM - Psicologia da Família (Lisboa,

Universidade Aberta, 2008)

Citação de LÉVI-STRAUSS - Psicologia da Família (Lisboa, Universidade Aberta,

2008)

Citação de OMS – Organização Mundial de Saúde - Psicologia da Família (Lisboa,

Universidade Aberta, 2008)

GUARDINI, Romano - As idades da vida (São Paulo, Quadrante Editora, 1990)

PROVOST, Robert - Generalidades sobre o Alcoolismo (Lisboa, Editora Piaget,

1977)

RINPOCHE, Chagdud Tulku - Vida e morte no Budismo tibetano (São Paulo, Palas

Athena, 2000)

SOUSA, Liliana; FIGUEIREDO, Daniela; CERQUEIRA, Margarida - Envelhecer

em família (Porto, Âmbar Ideias no Papel, S.A., 2004)

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Page 23: Plano de investigação

Sitografia

Alcoologia.net: http://alcoologia.net

Cancela, Diana: http://www.psicologia.com.pt

Conferência Episcopal Portuguesa (2004) Carta Pastoral A Família, esperança da

Igreja e do mundo: http://pastoralfamiliarporto.planetaclix.pt

Herédia, Vânia: http://www.unati.uerj.br

JOÃO PAULO II, Papa. (2000) Carta aos anciãos: http://www.vatican.va

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