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AS ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADE REAL DE LÚDICO E DESENVOLVIMENTO

Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 169-186, 2009 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 169

AS ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADE REAL DE LÚDICO E DESENVOLVIMENTO 1

Edna S P Nascimento*

Helenice Maria Tavares**

RESUMO Ter um olhar diferenciado sobre as produções artísticas das crianças da Educação Infantil, percebendo-a como uma manifestação de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo pode ser um diferencial deste segmento educacional. O presente artigo tem por objetivo levar educadores da Educação Infantil a repensar sobre as concepções e metodologias à respeito da Arte, sobre sua prática, as possibilidades de novas linguagens e técnicas e os reais objetivos desse ensino, bem como compreender o exercício do desenho das crianças e sua evoluções, valorizando a possibilidade da expressão e da criação. Mediante pesquisa bibliográfica, verificou-se que é preciso que nos cursos de formação de professores haja espaço para diálogos e discussões acerca da Arte, favorecendo que educadores tenham conhecimento dos principais aspectos pedagógicos, ideológicos e filosóficos que marcam o seu ensino e a aprendizagem, para que eles possam entender as suas ações e todo processo de formação, facilitando dessa forma a leitura e interpretação dos desenhos infantis. PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil. Artes. Artes Visuais. Linguagem. Desenho.

Procuramos enfocar nesse artigo o ensino de Artes Visuais na Educação Infantil, qual

a contribuição que ela tem dado à escola na formação artística da criança pequena e no seu

desenvolvimento, quais são as possibilidades de aprendizado diante das produções infantis e

por fim quais equívocos são cometidos nas interpretações destes desenhos, lembrando que

quando pensamos quais conteúdos as crianças podem aprender nos primeiros anos da

educação infantil, logo nos lembramos das Artes Visuais.

Mediante observação da prática docente ficou evidente que os profissionais Educação

Infantil, usam concepções e metodologias equivocadas à respeito das Artes Visuais na sua

prática pedagógica. Sentiu-se então a necessidade de pesquisar o tema na tentativa de

esclarecer e elucidar a verdadeira função e a contribuição da Arte na Educação Infantil na

formação da criança pequena, levando educadores (as) a repensarem sobre as concepções e

1 Artigo elaborado para a conclusão do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. * Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia, email: [email protected] ** Professora orientadora do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: [email protected].

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metodologias à respeito da arte, sobre sua prática, sobre as possibilidades de novas linguagens

e técnicas, e reais objetivos do ensino de arte na Educação Infantil.

Este trabalho tem como objetivos mostrar aos educadores (as) da Educação Infantil,

que através de leituras especificas, suporte e apoio teórico consistente haverá uma melhor

compreensão do exercício do desenho das crianças e suas evoluções, e o quanto é importante

ter um olhar diferenciado das e sobre as produções infantis, visto que estas para as crianças

são uma manifestação de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo, possibilidade de se

expressar, criar e manifestar-se.

Para elaboração deste artigo usou-se da pesquisa bibliográfica, que se caracteriza por:

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exibido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (GIL, 1993, p. 65)

Acreditamos que a pesquisa bibliográfica consiste no exame da literatura científica,

para levantamento e análise do que já se produziu sobre determinado tema, nesse artigo será

abordado como tema central as Artes Visuais.

CONTEXTO HISTÓRICO-PEDAGÓGICO DA ARTE Antes de adentrar ao mundo da Arte na Educação Infantil, faz-se necessário conceituar

o termo Arte, diante de toda a amplitude da palavra.

A Arte é uma forma do ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura

através de valores estéticos, como beleza, harmonia, equilíbrio. Ela pode ser representada

através de várias formas, em especial na música, na escultura, na pintura, no cinema e na

dança. Após seu surgimento, há milhares de anos, a arte foi evoluindo e ocupando um

importantíssimo espaço na nossa sociedade, podendo ser vista ou percebida pelo homem de

diferentes maneiras: visualizadas, ouvidas ou mistas (audiovisuais). Segundo

Martins;Picosque;Guerra (1998, p.14):

A comunicação entre as pessoas e as leituras de mundo não se dão apenas por meio da palavra. Muito do que se sabemos sobre o pensamento e os sentimentos das mais diversas pessoas, povos, países, épocas são conhecimentos que obtivemos única e exclusivamente por meio de suas músicas, teatro, pintura, dança, cinema, etc.

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Para uma melhor compreensão do ensino de Artes na Educação Infantil pontuaremos a

trajetória da história da Arte no Brasil num primeiro momento, pois as marcas se fazem

visíveis na prática pedagógica de muitos professores que atuam com crianças de 0 á 6 anos.

O Ensino de Arte no Brasil evoluiu consideravelmente de acordo com momentos

históricos e correntes pedagógicas vigentes, ou seja, após a criação da Escola Nacional de

Belas Artes por D. João VI em 1816.

A partir dessa época, do ponto de vista metodológico, as aulas de Artes das escolas

brasileiras adquirem uma tendência tradicional, com reproduções de modelos propostos pelo

professor, e que levam o aluno a adquirir coordenação motora, precisão, hábitos de limpeza e

ordem nos trabalhos que devem ser úteis na preparação da vida profissional. Segundo Ferraz;

Fusari (1993, p.27):

[...] as práticas educacionais surgem de mobilizações sociais, pedagógicas, filosóficas, e, no caso de arte, também artísticas e estéticas. Quando caracterizadas em seus diferentes momentos históricos, ajudam a compreender a questão do processo educacional e sua relação com a própria vida.

Segundo Martins; Picosque; Guerra (1998), entre as décadas de 50 e 60, nota-se a

influência da Pedagogia Nova, onde o papel do professor era dar oportunidades para que o

aluno se expressasse de forma espontânea, direcionando o ensino para a livre expressão, dessa

forma contrapondo-se a Educação Tradicional, caracterizada por uma concepção de ensino

autoritária, enquanto que a Escola Nova rompia com as cópias de modelos valorizando o

processo de trabalho.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais da Arte (BRASIL, 1988), autores

como John Dewey, Victor Lowenfeld e Herbert Read, acreditavam que a potencialidade

criadora se desenvolveria naturalmente em estágios sucessivos, desde que oferecessem

condições adequadas para que as crianças pudessem se expressar livremente, isso significava

que tudo era permitido, estes princípios levaram os professores a se tornarem muito passivos,

não interferindo nas criações dos alunos.

Porém na década de 60, houve uma reorientação de pensamento sobre o ensino de

artes, vinculadas as tendências da época, procurando definir a contribuição específica da arte

para a educação do ser humano.

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Na década de 70, diversos autores embasados nas concepções de Jonh Dewey

contribuíram para a sua mudança na metodologia do ensino, seguindo orientação dos

Parâmetros Curriculares da Arte (BRASIL, 1988), dentro deste o conteúdo dela é dividido em

quatro linguagens, Artes Visuais, Música, Dança e Teatro, e de acordo com o PCN nas

escolas a prática as Artes Visuais, são mais priorizadas e as demais perdem espaço por falta

de tempo e de estrutura ou por deficiência na formação dos professores, isto porque o

desenho, a pintura e a escultura estão mais presentes no dia a dia, portando facilita a

abordagem, sendo este tema o foco principal do estudo deste artigo.

Em 1971, é assinada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692, que

cria o componente curricular Educação Artística, como tentativa de melhoria do ensino da

arte na educação escolar.

De acordo com Ferraz; Fusari (1999a), a implantação da Educação Artística como

componente curricular não é bem definida, não é caracterizada como matéria, mas uma área

bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses. A

Arte então é considerada atividade educativa, e não disciplina.

Isso foi um avanço principalmente se considerarmos que houve um entendimento em

relação à Arte na formação dos indivíduos seguindo regras de um pensamento renovador.

Como muitos professores não estavam habilitados e preparados para o domínio das várias

linguagens, que deveriam ser incluídas no conjunto de atividades artísticas, tais como Artes

Plásticas e Artes Cênicas, Educação Musical, então o resultado foi contraditório.

Segundo Ferraz; Fusari (1993, p.27), a década de 80, inicia-se um movimento de

organização de professores de arte, uma mobilização profissional surge com a finalidade de

conscientizar e integrar os profissionais, ampliando as discussões sobre o compromisso, a

valorização e o aprimoramento do professor, aliando-se aos programas de pesquisas de cursos

de pós graduação, o que faz surgir novas metodologias para o ensino e aprendizagem de arte

nas escolas.

O movimento Arte-Educação ampliou discussões sobre a valorização e o

aprimoramento deste profissional. As idéias e princípios multiplicaram-se em diversas regiões

brasileiras. O objetivo dessas reuniões era formar associações que discutissem questões

referentes aos cursos de Educação Artística, desde a Educação Infantil até a Universidade,

pois a situação em que as aulas vinham sendo ministradas era caótica. Havia uma distorção

em relação à disciplina e aos seus conteúdos, mas ainda hoje é comum as aulas de Arte serem

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confundidas com lazer, terapia, descanso das aulas “sérias’, o momento para fazer a

decoração da escola, preparar as festas, comemorar determinada data cívica, preencher

desenhos fotocopiados, mimeografados, isto é, prontos para serem coloridos, e muitas outras

posturas e ações equivocadas em torno da disciplina.

Finalmente, nos anos 90, a disciplina Arte, antiga Educação Artística, foi reconhecida

como disciplina, constando na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº

9.394/96), aprovada em 20 de dezembro de 1996, em seu artigo 26, parágrafo 2º: “O ensino

da Arte constituíra componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica

de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL. 1996).

Esta lei também veio garantir este espaço na Educação Infantil, o contexto da

linguagem da Arte como fundamental no desenvolvimento cognitivo, sensível e cultural da

criança, visto que até bem pouco tempo o aspecto cognitivo não era considerado neste

segmento, pois esta não estava integrada a educação básica. No que diz respeito à Arte na

Educação Infantil o Referencial Curricular para Educação Infantil (RCNEI) diz que:

[...] tal como a música, as Artes Visuais são linguagens, e portanto uma das formas importantes de expressão e comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na Educação Infantil, particularmente. (BRASIL, 1998c, p.85)

Ferraz; Fusari (1999a) colocam que ao trabalharmos a Arte nas escolas de Educação

Infantil e de Ensino Fundamental, faz-se necessário organização e explicitação do trabalho,

visto que a prática do ensino e aprendizagem da Arte na escola traz consigo questões relativas

ao processo educacional e a forma como o professor organiza suas propostas de Arte para a

sala de aula e que esta seja significativa.

A importância do significado da Arte na Educação se dá desde os primórdios da

civilização, o que a torna um dos fatores essenciais de humanização, é fundamental, portanto

entender que a Arte se constitui de modos específicos de manifestação da atividade criativa

dos seres humanos ao interagirem com o mundo em que vivem ao se conhecerem e ao

conhecê-lo.

Desde o nascimento já vivemos em um mundo repleto de produções culturais que

contribuem para nossa estruturação do senso estético quanto as imagens, objetos, músicas,

falas, movimentos, histórias, jogos e informações da vida cotidiana, e assim vamos dando

forma as nossas maneiras de admirar, de gostar, de julgar, de apreciar e também de fazer as

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diferentes manifestações culturais de nosso grupo social e dentre elas, as obras de arte que

participam das ambiências e manifestações estéticas de nossa vida tanto direta quanto indireta.

Acreditamos que as vivências emotivas e cognitivas tanto de fazeres quanto de

análises do processo artístico nas modalidades Artes Visuais, música, teatro, dança, artes

áudio visuais, devem abordar os componentes “artistas – obras – público - modos de

comunicação e suas maneiras de interagir com a sociedade compondo assim com a

composição dos conteúdos de estudo da Arte que quando percebida e analisada ao longo do

processo histórico-social da humanidade mobiliza valores, concepções de mundo, de ser

humano, de gosto e de grupos sociais e ainda de forma contínua mobilizando as práticas

culturais das pessoas. Na escola os objetivos educacionais em Arte, referem-se aos saberes

aperfeiçoados pelos alunos e mediados pelo professor, artísticos e estéticos.

EDUCAÇÃO INFANTIL: HISTÓRICO, CONCEITOS E CONTEXTOS

Para refletirmos sobre as propostas curriculares ou propostas pedagógicas para a

Educação Infantil é necessário compreendermos como, historicamente, a sociedade brasileira

tem construído diferentes representações da infância e o modo como essas representações

orientam as propostas de trabalho com a criança pequena.

Após várias leituras, percebemos que a educação pré-escolar institucionalizada na

Europa, mais especificamente na França e Inglaterra, em decorrência das transformações

sociais, políticas e econômicas ocorridas. Tais transformações, como a intensificação da

urbanização e a inserção da mulher no mercado de trabalho, geraram a necessidade do

surgimento de instituições que tinham como objetivo de assistir a criança, ou seja, surgiram

com caráter marcadamente assistencialista.

Após alguns séculos, foi criado, na Alemanha, o jardim da infância, que

fundamentavam-se pela primeira vez mais na idéia de educação do que na assistência,

posteriormente a pré-escola se expandiu para os Estados Unidos e outras partes do mundo, até

chegar ao Brasil.

No Brasil, os primeiros jardins de infância eram públicos. Mas, antes disso, na

iniciativa privada já haviam surgido os primeiros jardins de infância no Rio de Janeiro e São

Paulo, respectivamente. Estes jardins de infância, independente de serem da iniciativa privada

ou da iniciativa pública, apresentavam uma proposta em comum: caráter educativo e

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assistencialista conforme dito anteriormente. Esse caráter assistencialista logo foi substituído

pela função compensatória. Essa mudança veio fortalecer a crença na pré-escola como

instância capaz de suprir as carências, deficiências culturais, lingüísticas e afetivas das

crianças provenientes das classes economicamente menos favorecidas.

Em paralelo, acompanhando o momento mundial, nas décadas de 70 e 80, o Brasil

passa a intensificar o seu processo de industrialização, tendo como conseqüência a ampliação

da participação da mulher no mercado de trabalho que, somado à pressão dos movimentos

sociais em prol da criança, possibilitou a ampliação também do atendimento educacional,

principalmente às crianças na faixa etária de 4 a 6 anos de idade. Em seguida, ainda na década

de 80, ocorre uma significativa expansão na educação das crianças de 0 á 3 anos de idade.

Nesse período, em que o processo de abertura política e de redemocratização do país

se instaurava, o campo da educação ganha impulso, tanto no plano de pesquisas e do debate

teórico quanto no plano legal. Nesse sentido, podemos destacar o fato da promulgação da

Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/96.

A constituição Federal (BRASIL, 1988a) passa, então, a reconhecer o dever do Estado

e o direito da criança a ser atendida em creches e pré-escolas e vincula esse atendimento à

área educacional. A partir da promulgação da LDB, a Educação Infantil se institucionaliza,

passando a fazer parte do currículo escolar da Educação Básica, juntamente com o Ensino

Fundamental e o Ensino Médio, desligando-se, assim, das secretarias de assistência social e

atrelando-se às secretarias de educação municipais. Essa inclusão constituiu um ganho, sem

precedentes, na história da Educação Infantil em nosso país.

Conforme BRASIL (1998a), a Educação Infantil constitui a primeira etapa da

Educação Básica e tem como principal finalidade promover o desenvolvimento integral das

crianças até seis anos de idade. Isso significa construir um conjunto de conhecimentos que

abrange tanto os aspectos físicos e biológicos quanto aspectos emocionais, afetivos,

cognitivos e sociais de cada criança, considerando que ela é um ser completo e singular,

único.

A LDB, no seu artigo 29, define a finalidade da Educação Infantil como

“desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos físico,

psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

(BRASIL, 1996, p.9)

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Esse tratamento dos vários aspectos como dimensões do desenvolvimento e não coisas

distintas ou áreas separadas, é fundamental, pois evidência a necessidade de se considerar a

criança como um todo, a fim de promover seu desenvolvimento integral e sua inserção na

sociedade como um cidadão pleno de direito.

Hoje, nessa perspectiva, os sistemas de ensino encontram-se em plena fase de

transição, seja em relação à incorporação de todo atendimento de crianças de 0 a 6 anos ao

sistema educacional, como em relação à definição da identidade desta etapa da educação

básica. Nos últimos anos, educadores e educadoras, profissionais de diversas áreas têm

buscado formas criativas e alternativas de tratar a Educação Infantil no Brasil, levando-se em

conta a multiplicidade própria da sociedade brasileira.

[...] Do ponto de vista pedagógico, pressupõe-se que a prática docente na Educação Infantil tenha como ponto de partida a experiência e o conhecimento prévios das crianças, considerando suas idéias, hipóteses e explicações sobre si e sobre o mundo que as rodeia. É importante também que as salas de aula sejam organizadas de forma adequada às crianças, tornando-se ambientes prazerosos e agradáveis, que valorizem a criatividade e a espontaneidade dos educandos, essas são condições importantes para que as crianças possam, por meio de situações pedagógicas dirigidas, desenvolverem-se em suas múltiplas potencialidades – corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas. (BRASIL, 1998a, p.23)

Na busca de formação integral, a Educação Infantil assume certas especificidades que

lhe conferem um caráter ímpar, sobretudo no que se refere à organização dos conteúdos

próprios dessa fase de escolarização. Nesse conjunto de especialidades está, de um lado, a

necessidade de se ampliar, nas crianças, a compreensão do mundo a partir do conhecimento

da linguagem, da matemática, da natureza e da sociedade e, de outro, a incumbência de

promover sua formação pessoal e social, a partir do desenvolvimento da sua identidade e

autonomia, além de noções sobre música, artes visuais e movimento.

AS ARTES VISUAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentidos a sensações,

sentimentos, pensamentos e realidade por vários meios, dentre eles; linhas formas, pontos,

ainda estão presentes no dia-a-dia da criança, de formas bem simples como: rabiscar e

desenhar no chão, na areia, em muros, sendo feitos com os materiais mais diversos, que

podem ser encontrados por acaso, e por fim são linguagens, por isso é uma forma muito

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importante de expressão e comunicação humanas, isto justifica sua presença na educação

infantil.

O trabalho com crianças da Educação Infantil (0 á 6 anos) deve levar em conta o processo de aprendizagem que se realiza de acordo com as fases de desenvolvimento da criança. Contudo, é bom lembrar que cada criança é única, com identidade própria e um ritmo singular de desenvolvimento. Portanto, além de levar em conta o processo de maturação da criança de modo geral e suas características individuais, é preciso propor situações que a incentivem à conquista devagar da autonomia e da individualidade em seus diversos contextos. Detectar os conhecimentos prévios das crianças não é tarefa fácil. Implica que o professor estabeleça estratégias didáticas para fazê-lo. (BRASIL, 1998c, p.33)

O RCNEI sugere que a prática das Artes Visuais seja abordada fazendo parte do

cotidiano da vida infantil, visto que nesta faixa etária que vai dos dois até os quatro ou cinco

anos, a criança rabisca o chão, as paredes e os muros, desenha seu próprio corpo, pinta

objetos, cria sua marca. Ele também propõe que:

[...] as Artes Visuais devem ser concebidas como uma linguagem que tem estrutura e As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. (BRASIL, 1998c, p.85)

Esse saber artístico, característico de crianças pequenas, está repleto de concepções e

idéias que revelam valores, emoções, sentimentos e significações sobre si e sobre o mundo

que a rodeia.

A linguagem artística adquire caráter ainda mais significativo na escola porque a sua

produção envolve tanto os aspectos cognitivos quanto os aspectos afetivos, intuitivos,

sensíveis e estéticos. Assim, ao mergulhar no processo de produção artística, as crianças

desenvolvem uma série de pré-requisitos muito importantes para o desenvolvimento da

aprendizagem, como o pensamento, a imaginação, a sensibilidade, a intuição e a percepção.

O processo de criação artística, portanto, ao mesmo tempo, que contribui para a

formação intelectual da criança, promove a aperfeiçoamento do seu domínio corporal,

desenvolve seu processo de expressão e de comunicação e favorece seu relacionamento inter-

pessoal, tornando-a mais participativa e flexível.

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[...] sugere que a prática das Artes Visuais, no interior das instituições escolares, seja abordada sob três dimensões principais: o fazer artístico – que busca desenvolver a criação pessoal por meio das práticas artísticas; a apreciação artística – que visa desenvolver a capacidade de percepção e sentido das obras artísticas, tanto em relação aos elementos da linguagem visual quanto da linguagem material; a reflexão – que promove o pensar sobre os conteúdos das obras artísticas, a partir de questionamentos e dúvidas levantadas pelos alunos sobre suas próprias criações e também sobre outras produções. (BRASIL 1998c, p.89)

Mesmo sendo considerado um ato exclusivo, autônomo e espontâneo da criança, o

processo de criação e construção artística pode ser significativamente enriquecido pela ação

dirigida do professor. No processo do fazer artístico, também é importante que o professor

promova a valorização e a interação das crianças com suas próprias criações artísticas, o que

pode ser alcançado, por exemplo, a partir das exposições dos trabalhos realizados.

Baseando no BRASIL (1998a), acreditamos que a educação infantil ao promover

experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho de linguagem

oral e escrita, constitui um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e de

expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação esta relacionada ao

desenvolvimento gradativo das capacidades associadas as quatro competências básicas: falar,

escutar,ler e escrever.

A criança na Educação Infantil pensa o mundo de uma maneira especial e própria. Isso

nos faz lembrar de uma forma de expressar de Portinari, a respeito das crianças, quando disse

que adorava pintar crianças em gangorra e balanço só para vê-los no ar feito crianças.

O ensino de Arte segundo Ferraz; Fusari (2001, p.22-24) apresentam influências de

três pedagogias: tradicional, novista e tecnicista, e o marcante destas influências são os

aspectos pedagógicos, ideológicos e filosóficos que marcam o ensino e aprendizagem da Arte,

ajudando o educador (a) entender as suas ações e todo processo de formação.

Embora a Proposta Curricular continue norteando o trabalho da maioria dos

professores, a mescla entre as tendências continua acontecendo nas práticas pedagógicas. Não

é difícil encontrar educadores/professores, tanto da rede oficial como da particular, totalmente

alienados de seu contexto histórico e social. Conseqüentemente, são mais resistentes a

inovações no ensino e na aprendizagem da arte, principalmente no que refere-se à

metodologias contemporâneas. Outros professores até conhecem, mas não se preocupam em

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relacionar esses conhecimentos com sua prática pedagógica, revertendo para a sala de aula um

ensino-aprendizagem de qualidade discutível.

Hoje, o conceito de arte segundo as autoras, tem sido objeto de diferentes

interpretações: arte como técnica; materiais artísticos; lazer; processo intuitivo; liberação de

impulsos reprimidos; expressão; linguagem, comunicação. A Arte porém, apresenta-se como

produção, trabalho, construção, é portanto uma representação do mundo com significado,

imaginação, é interpretação, é conhecimento do mundo é, também expressão dos sentimentos,

da energia interna, da efusão que se expressa, que se manifesta, que se simboliza.

A disciplina de Arte deverá sim garantir que os alunos conheçam e vivenciem aspectos

técnicos inventivos, representacionais e expressivos com um trabalho consistente e

organizado do educador(a) levando o aluno à análise, reflexão e transformação através de

criações artísticas.

Segundo Ferraz; Fusari (2001, p.19-22), a educação através da Arte é, na verdade um

movimento educativo e cultural que busca a constituição de um ser completo, total, dentro dos

moldes do pensamento idealista e democrático, valorizando no ser humano os aspectos

intelectuais, morais e estéticos, procura despertar sua consciência individual e harmonizada ao

grupo social ao qual pertence. Porém na prática, a Educação Artística não é desenvolvida

corretamente nas escolas brasileiras, pois necessita de todo um processo de aprendizagem e

desenvolvimento do educando envolvendo múltiplos aspectos pedagógicos, ideológicos e

filosóficos que marcam o ensino-aprendizagem de Arte e pode dessa forma auxiliar o

professor a entender o processo de formação e construções artísticas do aluno.

É portanto, necessário repensar o Ensino de Arte, visto que na atualidade, esta propõe

uma ação educativa criadora, ativa e centrada no aluno para que este encontre um espaço para

o seu desenvolvimento pessoal e social por meio de vivência e posse do conhecimento

artístico e estético.

A Arte-Educação é um movimento que busca novas metodologias do Ensino-

Aprendizagem de Arte nas escolas, esse novo modo de pensar requer uma metodologia que

possibilite aos estudantes a aquisição de um saber específico, que os auxilie na descoberta de

novos caminhos, bem como na compreensão do mundo em que vivem e suas contradições,

uma metodologia onde o acesso aos processos e produtos artísticos deve ser tanto ponto de

partida como parâmetro para essas ações educativas escolares.

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O DESENHO INFANTIL - UMA LINGUAGEM, UMA POSSIBILIDADE

Segundo Moreira (1993), em seu livro O espaço do desenho: a educação do educador,

o desenho é uma possibilidade de conhecer a criança através de uma outra linguagem, o ato de

desenhar não é visto apenas como possibilidade de se conhecer, recuperar o ser poético que é

a criança só é possível quando os professores se percebem como pessoas capazes de viver o

estranhamento, que é o ser da poesia, quando o professor descobre nele mesmo o prazer da

criação.

Entende-se por desenho o traço que a criança faz no papel ou em qualquer superfície, e também a maneira como a criança concebe seu espaço de jogo com materiais de que dispõe, ou seja, a maneira como organiza as pedras e folhas ao redor do castelo de areia, ou como organiza as panelinhas, os pratos, as colheres na brincadeira de casinha, tornando-se uma possibilidade de conhecer a criança através de uma outra linguagem: o desenho de seu espaço lúdico. (MOREIRA, 1993, p.16).

Antes de aprender a escrever a criança desenha para comunicar suas sensações,

sentimentos, pensamentos, a realidade, e, para justificar suas idéias.

Moreira (1993, p.15) cita a fala de uma criança: “Desenhar é bom para tirar as idéias

da cabeça. Porque sempre que a gente tem uma idéia, a gente quer ter ela, brincar com ela, aí

a gente desenha ela.”

Concordando com Moreira, o BRASIL (1998a) aponta que é muito importante a

relação que a criança estabelece com os diferentes tipos de materiais, primeiro para que

adquiram habilidades no uso dos diferentes meios de comunicação, depois pela própria

exploração sensorial e da utilização de diversas brincadeiras, nesse sentido as concepções que

o professor tem sobre esta linguagem exercem uma grande influência na escolha e

organização das atividades.

Acompanhando as etapas do desenvolvimento do desenho, através das mesmas etapas

descritas por Piaget (s.d. apud. MOREIRA, 1993, p.27) jogo de exercício é caracterizado pela

repetição de uma ação pelo prazer que ela proporciona. Ao final de seu primeiro ano de vida,

num primeiro momento a criança produz as chamadas garatujas, consideradas muito mais

como movimentos do que representações, pois a criança faz marcas no papel ou outra

superfície, pelo simples prazer que sente ao constatar os efeitos visuais que essa ação produz,

sem a intenção de representar.

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Num segundo momento a criança começa a interpretar suas marcas gráficas e através

do desenho faz surgir os primeiros símbolos. Para Moreira (1993, p. 32), a garatuja assume,

em seguida, um novo aspecto. Começa a adquirir o caráter de jogo simbólico. A criança

desenha então para dizer algo, para contar de si mesma, para fazer de conta. É o início da

representação.

O que a criança diz enquanto desenha, é muito importante, visto que ela registra o que

imagina, e isto está relacionado com as experiências vividas por cada uma. Os desenhos

materializam as imagens mentais do que a criança conhece e tem registrado na memória, com

a contribuição da imaginação, ou seja, a criança não faz desenho de observação, mas de

memória e observação.

Segundo Ferraz; Fusari (1999b) dentro do processo de formação do conhecimento da

Arte pela criança o educador deve compreender o significado de seu mundo expressivo e

procurar saber porque e como ela o faz, pois quando a criança desenha, pinta, dança e canta, o

faz com vivacidade e emoção. A expressão infantil é constituída de elementos cognitivos e

afetivos, sendo assim desde pequenas, as crianças desenvolvem linguagem própria traduzida

em signos e símbolos, carregados de significação subjetiva e social, e que devem ser

respeitadas e reconhecidas, visto que os rabiscos das crianças são extensões de seus gestos

primordiais, um ato criador, resultado de um ato expressivo que evidencia o seu

desenvolvimento e expressão do seu eu e do seu mundo, além dos aspectos afetivos,

perceptivos e intelectuais.

O compromisso do educador segundo as autoras é adequar o seu trabalho para o

desenvolvimento das expressões e percepções infantis e buscando aprimorar as

potencialidades das crianças orientando-as à observar, ver, ouvir, tocar, enfim perceber as

coisas, a natureza e os objetos á sua volta.

Dentro dos processos de percepção a Arte é um dos espaços onde as crianças podem

exercitar suas potencialidades perceptivas, imaginativas ou fantasiosas, suas percepções

visuais e como um todo ampliar sua leitura de mundo. Todo esse trabalho de desenvolvimento

da observação, percepção e imaginação infantil encaminhadas às aulas de Arte tornam-se

oficinas perceptivas, onde a riqueza das elaborações expressivas e imaginativas das crianças

que interage com os encaminhamentos oferecidos pelo educador que quando sabe intermediar

os conhecimentos, é capaz de incentivar a construção e habilidades do ver, do observar, do

ouvir, do sentir, do imaginar e do fazer.

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Estudos de vários teóricos e pensadores abordam que as concepções interacionistas da

produção do conhecimento da Arte, são fundamentais para compreender como a criança faz a

construção deste saber, e no caso do desenho, pela ênfase dada na representação e interação

social. Portanto, a Arte enquanto processo criador, é o elo que faz o ser humano ligar-se á

vida.

A ARTE DE OLHAR

Os trabalhos de arte produzidos pela criança não são simples marcas sobre um suporte

qualquer, mas resultados de sua elaboração mental, que é construída a partir da leitura que ela

faz de si mesma e do mundo. Por meio da linguagem simbólica, a criança expressa a sua

própria realidade, construída a partir da seleção de suas experiências em relação ao meio

circundante e a si mesma. A princípio, a percepção visual da criança é abrangente e envolve

generalidades. Quando desenha uma árvore, a criança desenha um tipo genérico de árvore.

Mais tarde, ela se detém em detalhes, reelaborando seu conhecimento.

O olhar crítico é uma das maneiras de favorecer essa reconstrução cognitiva, para isso

é preciso que o educador (a) possibilite à criança o exercício da observação. O olhar e o saber

artísticos contribuem para as elaborações perceptivas e reflexivas da criança.

O BRASIL (1998c) apresenta orientações para o professor quanto à organização do

tempo, do espaço, a seqüência de atividades e as atividades permanentes, onde são oferecidas

as crianças diversas atividades simultâneas, como desenhar, pintar, modelar e fazer

construções e colagens, para que as crianças escolham o que querem fazer.

O mesmo propõe ainda reflexões no sentido de considerar as Artes Visuais como área

do conhecimento e apontar transformações acerca da metodologia, objetivos e conteúdos

relacionando-os á organização da escola em sua proposta curricular, porém existem

compreensões distorcidas e equivocadas desta área do conhecimento, próprias e oriundas da

sua trajetória histórica, portanto é de fundamental importância que nos cursos de formação

inicial e continuada de professores que atuam ou pretendem atuar na Educação Infantil,

existam espaços de aprendizagens e diálogos acerca da Arte, proporcionando, além de contato

com objetos artísticos de diferentes épocas e procedências, o contato com os procedimentos

que os constituem, facilitando a leitura e interpretação destes, para que os professores tenham

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maior segurança ao fazer suas escolhas, adaptando-se aos diferentes contextos encontrados na

sala de aula.

Ressaltamos nesse artigo a importância do professor pesquisador, atento e envolvido

com o que faz e o quão relevante é ao falarmos de arte, falamos de emoção, prazer e

encantamento, sentimentos que estão intimamente ligados à experiência estética, que também

está ligada à sensibilidade, e desta forma devemos propor desde cedo o contato das

crianças/alunos com propostas artísticas, pois é pela vivência que nos sensibilizamos no

relacionamento com o mundo, ela e a imaginação criadora nos proporcionam uma imersão no

mundo da arte.

Existe um ponto de vista que sustenta duas idéias, no mínimo equivocadas e que

devem ser ressaltadas, A primeira é a de que se ensina melhor a Arte fora da escola. De fato,

em turmas menores, com recursos para comprar material de qualidade e suficiente para todos

os alunos, a produção artística é mais abundante. Mas e aquelas crianças que não têm recursos

para fazer um curso de arte? A essas crianças a escola precisa iniciar e atender, caso contrário,

poderão nunca ter o menor contato com as Artes.

Uma segunda idéia vigente nessa nossa sociedade, é a de que a Arte é para alunos

especiais, talentosos, especialmente dotados. Ora, desde a pré-história o ser humano produz

arte, conforme já dissemos, nos desenhos nas cavernas, nas cerâmicas, nas músicas tribais,

enfim a produção artística é uma capacidade inerente ao homem, tanto quanto a capacidade de

respirar, dizer então que alguém não tem talento para as Artes é o mesmo que dizer que

alguém não tem talento para falar.

Na verdade, as artes são mais próximas da vida real das crianças do que das outras

disciplinas. Precisamos sempre ser criativos para solucionar problemas ou enfrentar as mais

diversas situações, a prática artística ensina que não há apenas uma forma de ultrapassar os

obstáculos. A escola sempre cobra do aluno respostas prontas iguais, além de ensinar que para

cada pergunta existe necessariamente uma resposta. Mas a vida não é assim, sabemos que

podemos solucionar problemas de várias maneiras, ou mesmo, não soluciona-los.

A busca da escola deve ser a de ensinar as crianças a representar a realidade das mais

diversas formas, através de sistemas simbólicos, sistemas estes que movem a humanidade, e a

Arte é, portanto uma forma de desenvolvimento dessas potencialidades.

Contudo, não se pode negar que ainda é grande o número de professores que

desconhecem a caminhada histórica da Arte e, conseqüentemente, são alienados de sua função

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social enquanto educadores(as), terminando sem saber que tipo de sociedade e de cidadão

querem preparar para o futuro.

Sendo assim, fica difícil mudar as concepções de ensino e aprendizagem da arte, que

continuam presentes de forma mesclada na sociedade, provocando um emaranhado de

posturas e uma grande confusão tanto na cabeça dos alunos como na dos próprios professores.

VER ALÉM DE RABISCOS - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Iavelberg (2003), é chegado o momento de abandonar a concepção da aula de

artes como descanso, distração, como mera pausa inserida no estudo de conteúdos tidos como

mais importantes. Um número crescente de professores vem não só explorando as instigantes

possibilidades que o conteúdo Arte oferece no processo de aprendizagem dos alunos, como

também vem estabelecendo elos significantes entre a arte e as demais áreas curriculares.

Conforme BRASIL (1996), a arte é uma disciplina obrigatória nas escolas, e cabe as

equipes de educadores(as) das escolas e das redes de ensino realizar um trabalho de qualidade,

a fim de que as crianças, futuros jovens e adultos, gostem de aprender arte, pois esta promove

o desenvolvimento de competências, habilidades e conhecimentos.

O papel dos educadores(as) é importante para que alunos e alunas aprendam à fazer

arte e a gostar dela ao longo da vida. As crianças precisam sentir que as expectativas e as

representações destes à seu respeito são positivas, ou seja o seu desenvolvimento em arte

requer confiança e representações favoráveis sobre o contexto de aprendizagem.

Portanto, as situações de aprendizagem da arte pode gerar disposição ou indisposição,

quando os educadores(as) realizam comparações que não valorizam os avanços das crianças

em relação à níveis de aprendizagem e que não consideram o enfrentamento dos obstáculos

inerentes ao aprender arte, podendo gerar sentimentos de baixa auto estima e humilhação ou

de poder e orgulho por corresponderem ou não as expectativas.

Interagir com os pequenos e uma atividade prazerosa. É interessante vê-los

estimulados de forma significativa, considerando a bagagem social que carregam consigo e

poder vê-los se expressar através da Arte, da sua arte, do seu desenho.

Sendo as Artes Visuais uma mediadora do lúdico na educação infantil, e considerando

as concepções trazidas por BRASIL (1998a), que afirma serem elas uma importante forma de

expressão e comunicação humana.

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É preciso que o educador(a) tenha conhecimento dos principais aspectos pedagógicos,

ideológicos e filosóficos que marcam o ensino e a aprendizagem da Arte, para que ele possa

entender as suas ações e todo processo de formação e o quanto as aulas de artes melhoram as

relações sociais, e principalmente aquelas relações que interligam professor e aluno, segundo

coloca Ferraz; Fusari (2001).

A disciplina de Arte deverá sim garantir que os alunos conheçam e vivenciem aspectos

técnicos, inventivos, representativos e expressivos em música, artes visuais, desenho, teatro,

dança, artes áudio visuais, com um trabalho consistente e organizado do professor levando o

aluno á analise, reflexão e transformação através das criações artísticas.

Todos os educadores(as), devem estimular seus alunos para que se identifiquem com

suas próprias experiências, e animá-los para que desenvolvam, na medida do possível, os

conceitos que expressam seus sentimentos, suas emoções e sua própria sensibilidade estética.

Percebemos então que a criança é simbolista e seu desenho indica sua necessidade de

significar. Atendendo tal necessidade, a criança envolve-se com a figuração, colocando o

maior número possível de traços no seu desenho, para significar este ou aquele objeto. O

desenho é o meio de comunicação/interação da criança com seu modo de pensar, é preciso

respeitar o desenho da criança e não se contentar com o traço livre, nem com o colorido

superficial de um desenho mimeografado.

A Arte infantil revela autonomia e espontaneidade da criança, evidenciando traços

relacionados ao lugar e à época em que vive. Apresenta ainda influência da mídia e do

contexto social, revelando, portanto, a capacidade de análise da arte a que tem acesso.

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