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Partilhando experiências interdisciplinares em arte: uma proposta de
cartografia das palavras
Alexandra de Castilhos Moojen Pibid/Capes/UERGS
Diewerson do Nascimento Raymundo Pibid/Capes/UERGS
Lucas Pacheco Brum Pibid/Capes/UERGS
Patrícia de Sousa Borges Pibid/Capes/UERGS
Patrick da Costa Silva Pibid/Capes/UERGS
Ranielly Boff Scheffer Pibid/Capes/UERGS
Cristina Rolim Wolffenbüttel Pibid/Capes/UERGS
Resumo: o presente texto apresenta o relato de vivências e observações originadas de um trabalho interdisciplinar com as linguagens das artes. Foi desenvolvido por acadêmicos dos cursos de Graduação: Licenciatura em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/Unidade de Montenegro, participantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid/Capes/Uergs). Os acadêmicos, ao desenvolverem um trabalho interdisciplinar entre as linguagens artísticas, procuraram enfocar a leitura como eixo gerador da proposta. Tal processo resultou na oficina A Arte de Ler, sendo desenvolvida por ocasião do 1º Encontro Interinstitucional, 2º Encontro Institucional do PIBID e 3º Encontro de Arte e Educação da UERGS, que ocorreu durante o mês de março de 2013, na cidade de Montenegro. Palavras-chave: interdisciplinaridade; cartografia; oficina; experiência.
Introdução
O presente texto constitui-se de um conjunto de relatos de experiência
interdisciplinares realizadas no 1º Encontro Interinstitucional do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Uergs, o 2º Encontro
Institucional do Programa (PIBID/UERGS) e o 3º Encontro de Arte e Educação na
Uergs, realizado nos dias 14 a 16 de março de 2013.
Essa atividade foi elaborada a partir das atividades realizadas no Grupo de
Pesquisa “Arte: criação, interdisciplinaridade e educação”, da Universidade Estadual
do Rio Grande do Sul (CNPq), contando com bolsa do Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Pibid/Capes/Uergs).
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Neste programa, estudantes dos cursos de Graduação: Licenciatura em Artes
Visuais, Dança, Música e Teatro, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
(Uergs), Unidade de Montenegro, buscam aprofundar teorias e metodologias
relacionadas à epistemologia em suas áreas específicas, bem como conhecer e
construir metodologias apropriadas em seus respectivos cursos para melhor articular
o fazer artístico em sala de aula.
O evento
O evento, denominado 1º Encontro Interinstitucional do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Uergs, o 2º Encontro Institucional do
Programa (PIBID/UERGS) e o 3º Encontro de Arte e Educação na Uergs, realizado
nos dias 14 a 16 de março de 2013, teve como tema principal a “Iniciação à
Docência e Interdisciplinaridade”, sendo debatidos diversos aspectos relacionados à
temática. A programação do evento contou, também, com mostras de pôsteres e
comunicações orais, além de palestras, oficinas e apresentações artísticas.
Nas comunicações orais e mostra de pôsteres todos os bolsistas
apresentaram suas pesquisas, bem como relatos de experiências que veem
desenvolvendo a partir da inserção dos acadêmicos nas escolas. Esse encontro
oportunizou a todos os bolsistas do programa, debates e reflexões sobre o campo
da educação, além de partilhar seus conhecimentos e experiências que estão tendo
com à docência e com suas áreas específicas do conhecimento, como também os
benefícios do Pibid/Capes/Uergs.
É importante ressaltar que dentre tantas atividades desenvolvidas na
programação houve uma grande repercussão nas oficinas que o evento oportunizou
aos participantes. As oficinas foram administradas pelos bolsistas do
Pibid/Capes/Uergs, além de convidados.
Os bolsistas da Unidade de Montenegro da Uergs planejaram as oficinas com
um caráter interdisciplinar, envolvendo as diferentes artes: artes visuais, dança,
música e teatro. As oficinas interdisciplinares tinham como objetivo oportunizar uma
ação interdisciplinar entre os cursos das artes, aproximando as linguagens artísticas.
Nessa proximidade observou-se que, às vezes, é preciso ultrapassar barreiras
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epistemológicas, deixando a criação e a busca de novas possibilidades para planejar
e experimentar no fazer docente.
Essas vivências de partilhas entrem as diferentes artes tornaram-se muito
significativas, tanto para os bolsistas/oficineiros quanto para os participantes, pois
todos juntos tivemos a oportunidade de entender que é possível trabalhar
interdisciplinarmente, desde que os especialistas partem do princípio que o diálogo é
fundamental. Nesse sentido, Japiassu (1976) auxilia no entendimento de que a
“interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os
especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo
projeto de pesquisa” (p.74). Ao planejarmos a oficina “A Arte de Ler”, procuramos
unir as propostas de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro baseadas no
posicionamento de Japiassu acerca da interdisciplinaridade.
Oficina “A Arte de Ler: cartografia das palavras”
Oficina é oriunda do projeto de extensão “A Arte de Ler”, aprovado no Edital
Interno de Financiamento de Projetos de Extensão 03/2012/Uergs. Vincula-se,
também, às atividades desenvolvidas junto ao Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (Pibid/Capes/Uergs).
A oficina tinha como objetivo desenvolver atividades ou uma ação
interdisciplinar em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro relacionadas à leitura,
oportunizando momentos de leitura, a partir das interlocuções entre as subáreas das
artes. Um dos pressupostos teóricos da oficina pode ser traduzido nos dizeres de
Musacchio (2012), ao preconizar que a “interatividade é o instrumento mais
importante utilizado para permitir a interdisciplinaridade” (p.47). Procurou-se, ao
elaborar e realizar a oficina, interagir, permitindo que a interdisciplinaridade se
apresentasse nesse processo.
A interlocução interdisciplinar entre artes e leitura resultou várias práticas
significativas que podem ser exploradas na sala aula. Entre estas práticas
destacamos a Cartografia com palavras. Na definição proposta por Faria (2008)
cartografia:
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é a ciência que trata dos estudos e operações tanto científicas e técnicas, quanto artísticas, relacionadas à elaboração e utilização das cartas (ou mapas) de acordo com determinados sistemas de projeção e uma determinada escala. (FARIA, 2008).
Partindo do conceito de cartografia trabalhamos a elaboração de um mapa
cujos territórios seriam delimitados por trechos de textos de escritores brasileiros,
títulos de livros ou nomes de autores conhecidos pelos participantes. Em seguida,
trabalhamos a possibilidade da sonoridade (volume, intensidade, agudos, graves,
variações) e a movimentação corporal a partir dos picos e elevações resultantes da
escrita. Dando continuidade ao enfoque da palavra como constituinte, propusemo-
nos a pesquisar as possibilidades de cartografia corporal com vistas à criação de
cenas, imagens e expressões corporais, a partir da leitura e seleção de palavras do
poema Não Sei, de Cora Coralina.
Este engajamento de todos os oficineiros partiu de uma atitude, de um
compromisso e cooperação para resultar num trabalho interdisciplinar, baseado nas
possibilidades de integração das áreas, verificandoos respectivospontos de
convergência entre elas. Para tanto, foi imprescindível que juntos tomássemos uma
atitude interdisciplinar. Lück (2010) aponta que:
Emerge, nesse processo, o desenvolvimento de atitude e consciência de que trabalhando dentro de um sistema de interdisciplinaridade o professor produz conhecimento útil, portanto, interligando teoria e prática, estabelecendo relações entre conhecimento de ensino e a realidade social escolar. (LÜCK, 2010, p. 25).
Assim, o fazer interdisciplinar não resulta por acaso, mas da necessidade dos
olhares que do educador em conjunto; ele enxerga de diferentes ângulos que seus
discentes estão inseridos em um contexto frenético e hibrido e sua ciência não dá
mais conta em construir conhecimentos.
Seguindo nessa perspectiva originaram-se questionamentos, como: Quais
são os desafios deste fazer interdisciplinar? Como buscar alternativas para estes
desafios? Baseado nesses aspectos, para além da oficina, o conhecimento se
tornou o instrumento principal, pois todos aprenderam juntos, bolsistas, oficineiros e
participantes.
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Objetivamos a possibilidade de trabalhar interdisciplinarmente. Pensa-se que
para isto, basta que saiamos um pouco de nossos “redutos epistemológicos” e
apresentemo-nos com uma atitude de querer construir novos saberes
compartilhados. De acordo com Musacchio (2012), para que isso seja possível deve-
se entender que “essa atitude compreende de reciprocidade para potencializar as
trocas, o diálogo, atitude de humanidade em reconhecer que seu conhecimento é
limitado e que sua área de saber não responde todas as provocações” (p. 80).
Esta prática foi desafiadora e apontou perspectivas de um trabalho
interdisciplinar no campo da educação e das artes. Para tanto, pareceu-nos
pertinente pensar em perspectivas da interdisciplinaridade na educação, mais
especificamente nas áreas das artes. Nesse sentido, busquemos o entendimento
destes conceitos.
A interdisciplinaridade no campo da educação
No campo da educação compreender que a interdisciplinaridade corresponde
a uma necessidade de superar uma visão fragmentada da produção do
conhecimento. A humanidade por si só não constrói conhecimentos separadamente,
mas sim de diversas maneiras e diferentes pontos de vistas. Dessa forma pensa-se
que na educação existem barreiras epistemológicas entre os especialistas, as quais
podem dificultar uma associação de duas ou mais disciplinas discutindo e
construindo conhecimento em prol de um mesmo objeto. Assim, a
“interdisciplinaridade representa a possibilidade de promover a superação das
dissociações das experiências escolares entre si, também delas com a realidade
social”. (LÜCK, 2010, p.43-44).
Entende-se a relevância de a interdisciplinaridade alicerçar-se em processos
de envolvimento, comprometimento e engajamento dos educadores. Pensamos que
deveria partir de um diálogo, da reciprocidade e do compromisso com as demais
disciplinas, tendo respeito e humildade para escutar, aprender e saber contribuir
com seus saberes. Concordo com Fazenda (2003) que nos ensina que “hoje mais
do que nunca reafirmamos a importância do diálogo, única condição possível de
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eliminação das barreiras entre as disciplinas. Disciplinas dialogam quando as
pessoas se dispõem a isto” (p. 50). Assim, o processo educativo precisa se
fundamentar no diálogo, tanto entre pessoas, quanto entre as disciplinas
possibilitando uma cooperação entre todos porque, entre os interdisciplinares todas
são autores entre docentes e discentes.
Todos aprendem juntos, a interdisciplinaridade quebra com o paradigma da
disputa de saber. Todos engajados em um projeto interdisciplinar ou em uma ação,
todos estão no mesmo nível e um aprende com os outro. “O desenvolvimento básico
da interdisciplinaridade é a comunicação, e a comunicação envolve sobre tudo
participação” (FAZENDA, 2008, p. 94).
Fazenda (2008) explica-nos que:
Além do desenvolvimento de novos saberes, a interdisciplinaridade na educação favorece novas formas de aproximação da realidade da realidade social e novas leituras das dimensões sócio culturais das comunidades humanas. [...] O processo interdisciplinar desempenha papel decisivo para dar corpo ao sonho ao fundar uma obra de educação à luz as sabedoria, da coragem e da humanidade. [...] A lógica que a interdisciplinaridade imprime é a da invenção, da descoberta, da pesquisa, da produção cientifica, porém gestada num ato de vontade, num desejo planejado e construído em liberdade. (FAZENDA, 2008, p.166).
Como aponta Fazenda (2008) além de buscar saberes numa perspectiva
globalizada, o saber interdisciplinar possibilita um especialista aprender com os
outros de maneira integrada, tendo um envolvimento eu e do outro. Saindo da sua
zona de conforto fixa, realizando o desapego e a cooperação. Nesse movimento que
se reforça comprometimento e compromisso com outro especialista em busca de
educação que se espera. “A característica profissional que define o ser como
professor alicerça-se preponderantemente em sua competência,
interdisciplinarmente expressa na forma como exerce a profissão” (FAZENDA, 1998,
p. 14).
Assim a interdisciplinaridade é reconstruir todos os paradigmas existentes. É
procurar diluir as barreiras entre as disciplinas, é uma tentativa de romper com
ensino através da transmissão de conhecimentos. É, em síntese, deixar de lado o
discurso baseado no ensino com vistas aos resultados acadêmicos para assumir o
discurso do ensino para o desenvolvimento humano (ARMSTRONG, 2008). Ou,
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ainda, “promover a interdisciplinaridade é fazer a interdisciplinaridade e não discutir
a interdisciplinaridade”. (MUSACCHIO, 2012, p.43).
Nesse contexto Japiassu (1976) refere-se que:
Em suma o que importa não é mais o saber por saber, nem tampouco o conhecimento por si mesmo, desinteressado, desengajado. O que realmente conta é um saber para fazer. Trata-se de encontrar procedimentos e “receitas” tendo em vista a utilização prática do saber. Este pode, inclusive, tornar-se bastante simplificado. Procura-se, como fim agir num quadro determinado. (JAPIASSU, 1976, p.107).
Conclui-se, portanto, que a utilização da interdisciplinaridade no campo da
educação e também nas artes pode promover um trabalho de integração e
interatividade com as outras ciências, rompendo com perspectivas individualistas no
trabalho pedagógico. Segundo Lück (2010) a interdisciplinaridade no contexto da
educação:
é o processo que envolve a integração e o engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo entre si e com a realidade, de modo a superar a fragmentação de ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo, e serem capazes de enfrentar os problemas amplos e globais da realidade. (LÜCK, 2010.p.47).
Considerações finais
Ao apresentar este trabalho, através de um relato de experiência, acadêmicos
e orientadora puderam refletir sobre o trabalho realizado, observando as nuances
que os mesmos apresentaram.
A partir das considerações anteriores, pode-se concluir a grande importância
da realização deste evento do Pibid na Unidade de Montenegro/Uergs e,
principalmente, os resultados positivos auferidos a partir da inserção dos estudantes
bolsistas no mesmo. Houve inúmeros aprendizados. A convivência com as pessoas
fez com que estudantes pudessem conhecer novas propostas, identificar-se com
pessoas que comungam de mesmas concepções, bem como iniciar processos de
análise e construção de novas propostas.
Ao se envolverem em uma proposta interdisciplinar todos se sentiram
desafiados, necessitando deslocar-se de seus eixos disciplinares rumo à
concepções mais abrangentes e significativas de educação.
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Referências ARMSTRONG, Thomas. As melhores escolas: a prática educacional orientada pelo desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2008.
MUSACCHIO, Claudio. Ensaios: interdisciplinaridade e pesquisas científicas em sala de aula. Porto Alegre: Alcance, 2012.
FARIA, Caroline. O que é cartografia? Publicado: 04 fev. 2008. Disponível em:<http://www.infoescola.com/cartografia/o-que-e-cartografia>. Acesso em: 05 maio de 2013.
FAZENDA, Ivani Catarina Antares (ORG). O que é interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2008.
FAZENDA, Ivani C. (org). Didática e interdisciplinaridade. 17 ed. São Paulo: Papirus, 1998.
____. Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Paulus, 2003.
LÜCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teóricos metodológicos. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.