pachamama e festas patronais ─ economia festiva, venda e trueque nos andes peruanos

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7/23/2019 PACHAMAMA E FESTAS PATRONAIS ─ ECONOMIA FESTIVA, VENDA E TRUEQUE NOS ANDES PERUANOS http://slidepdf.com/reader/full/pachamama-e-festas-patronais-economia-festiva-venda-e-trueque-nos-andes 1/16  PACHAMAMA E FESTAS PATRONAIS ─ ECONOMIA FESTIVA, VENDA E TRUEQUE NOS ANDES PERUANOS Danielle Michelle Moura de Araújo * RESUMO O artigo se ocupa a analisar a relação entre o comércio, as festas religiosas e a cosmovisão no altiplano andino peruano. O eru é um dos pa!ses latino"americanos com o maior !ndice de empregos informais, uma cifra de apro#imadamente $%&. 'ssa região, marcada pelas trocas comerciais em sua grande parte informais, tam(ém é movida pela reali)ação de festas religiosas, as chamadas festas de padroeiras+, ue, sincreti)adas com a cosmovisão andina, movimentam o comércio diariamente. Assim, este estudo apresentado em forma de artigo universit-rio procura mostrar a relação entre o ue é denominado de comércio informal e as festas religiosas, isto é, a dimensão da fé associada economia. A proposta do artigo advém de uma an-lise (i(liogr-fica e da pesuisa de campo uando, na ocasião, analisava o conte#to de produção e de comerciali)ação da cer/mica no eru. Palavras-chave:  0estas religiosas peruanas. Mercado informal peruano e festas religiosas. ABSTRACT 1he article is concerned to e#amine the relationship (et2een trade , religious festivals and 2orldvie2 in the eruvian Andean highlands . eru is one of 3atin American countries 2ith the highest rate of informal jo(s , a figure of a(out $%&. 1his region , mar4ed (5 trade in their large informal part , is also driven (5 the reali)ation of religious festivals , called 6 patron parties ,6 2hich , s5ncreti)ed 2ith the Andean 2orldvie2 , move the trade dail5. 1his stud5 presented at the universit5 article in order see4s to sho2 the relationship (et2een 2hat is called the informal trade and the religious parties , that is, the dimension of faith associated 2ith the econom5. 1he  purpose of the article comes from a (i(liographic anal5sis and field research 2hen , on occasion, anal5)ed the conte#t of production and mar4eting of ceramics in eru. Keywords:  eruvian religious festivals. eruvian informal mar4et and religious festivals. * Doutora em Antropologia 7ocial pela 809:7. Docente da 8niversidade 0ederal da ;ntegração 3atino"Americana  < 8=;3A. 1ra(alha com >ultura Material, atrim?nio, ;magem e ;ntegração 9egional. '"mail@ danielle.araujounila.edu.(r . -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  Revista Orbis Latina  , vol.5, nº2, Foz do Iguaçu/ PR (Brasil), Janeiro-Deze!ro de 2"#5. ISSN !!"#-$%#$  Dis$on%vel no &e!si'e ''$s//revis'as.unila.edu.!r/inde*.$$/or!is e ou ''$s//si'es.google.+o/si'e/or!isla'ina/   P&'ina !((

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 PACHAMAMA E FESTAS PATRONAIS ─ ECONOMIA FESTIVA,

VENDA E TRUEQUE NOS ANDES PERUANOS 

Danielle Michelle Moura de Araújo*

RESUMOO artigo se ocupa a analisar a relação entre o comércio, as festas religiosas e a cosmovisão noaltiplano andino peruano. O eru é um dos pa!ses latino"americanos com o maior !ndice deempregos informais, uma cifra de apro#imadamente $%&. 'ssa região, marcada pelas trocas

comerciais em sua grande parte informais, tam(ém é movida pela reali)ação de festas religiosas,as chamadas festas de padroeiras+, ue, sincreti)adas com a cosmovisão andina, movimentam ocomércio diariamente. Assim, este estudo apresentado em forma de artigo universit-rio procuramostrar a relação entre o ue é denominado de comércio informal e as festas religiosas, isto é, adimensão da fé associada economia. A proposta do artigo advém de uma an-lise (i(liogr-fica eda pesuisa de campo uando, na ocasião, analisava o conte#to de produção e decomerciali)ação da cer/mica no eru.Palavras-chave: 0estas religiosas peruanas. Mercado informal peruano e festas religiosas.

ABSTRACT1he article is concerned to e#amine the relationship (et2een trade , religious festivals and2orldvie2 in the eruvian Andean highlands . eru is one of 3atin American countries 2ith thehighest rate of informal jo(s , a figure of a(out $%&. 1his region , mar4ed (5 trade in their largeinformal part , is also driven (5 the reali)ation of religious festivals , called 6 patron parties ,62hich , s5ncreti)ed 2ith the Andean 2orldvie2 , move the trade dail5. 1his stud5 presented atthe universit5 article in order see4s to sho2 the relationship (et2een 2hat is called the informaltrade and the religious parties , that is, the dimension of faith associated 2ith the econom5. 1he

 purpose of the article comes from a (i(liographic anal5sis and field research 2hen , on occasion,

anal5)ed the conte#t of production and mar4eting of ceramics in eru.Keywords: eruvian religious festivals. eruvian informal mar4et and religious festivals.

* Doutora em Antropologia 7ocial pela 809:7. Docente da 8niversidade 0ederal da ;ntegração 3atino"Americana < 8=;3A. 1ra(alha com >ultura Material, atrim?nio, ;magem e ;ntegração 9egional. '"[email protected].(r . 

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1. INTROU!"O

Os estudos so(re mercado informalB% no eru afirmam ue esse fen?meno é prCprio do

 processo de moderni)ação do pa!s. 'ste tipo de mercado acontece uando a migração andina a

centros ur(anos, como a capital, 3ima, se torna algo definitivo e constante. 'ntendida como uma

forma prCpria do desenvolvimento capitalista, a informalidade possui, para ernando de 7oto

EFGH$I, trJs aspectos fundamentais. O primeiro é o de ue a informalidade tem o compromisso

de manter"se po(re ou de parecer po(re. 'm segundo lugar, a informalidade é tida como muito

e#tensa, o ue dificulta sua adeuação a leis e, se o fi)esse, criar"se"ia um pro(lema social grave.

O terceiro ponto é ue os informais mudam de nature)a conforme uem os o(serva, fa)endo com

ue esse setor a(rigue v-rias ideologias.A uestão da informalidade comercial no eru para a capital, 3ima, est- sempre

relacionada com a migração e a po(re)a ur(ana. ara 7oto Eop. cit.I, a migração sem emprego, as

 pol!ticas li(erais e a heterogeneidade da produção das economias latino"americanas são aspectos

fundamentais ue levam ao crescimento do setor informal.

ara Adams e Kaldivia, em os 'ros $resrios - 0'i+a de iigran'es 1 ora+i3n de

e$resas e ia, ao analisarem os empres-rios populares, isto é, grupos migrantes ue sa!ram

dos Andes em direção a 3ima e conseguiram montar seu negCcio, o(servam uma espécie de ética particular para o tra(alho, do andino, em relação aos crioulos.

ara Adams e Kaldivia EFGGFI, a informalidade est- ligada a mudanças estruturais de

moderni)ação, mudanças ue ensejaram um massivo movimento migratCrio interno para a

aceleração da ur(ani)ação e o desenvolvimento de uma industriali)ação dependente. Diante

disto, o 'stado se mostra incapa) de atender s demandas e s necessidades da população, assim

como a estrutura produtiva não consegue dar emprego para a população, gerando um aumento da

 po(re)a ur(anaBF

.As an-lises em torno da informalidade levam em consideração, maiormente, seus

aspectos sociais, dei#ando em segundo plano os elementos culturais importantes ue tal pr-tica

40 A noção de informalidade desse tra(alho é a mesma ue foi cunhada por ernando de 7oto, em  l 'ro

4endero, categoria criada a partir da o(servação emp!rica onde as pr-ticas são informais, não os indiv!duos.41 'sse fen?meno, ue é uma realidade em todos os pa!ses latino"americanos, tem Jnfase no eru em meados dos

anos FGB%L%, fen?meno desde então denominado de +olii+a+i3n.

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engendra. >onsidero ue a informalidade não pode ser vista apenas como algo ue foge dos

 padrNes ou do controle social, mas como atividade humana detentora de caracter!sticas prCprias.

3ogo, a informalidade tam(ém tem ue ser analisada so( uma perspectiva cultural.

>omo assinalam Adams e Kaldivia, os estudos so(re a informalidade no eru tJm

negligenciado a dimensão cultural do fen?meno, suas motivaçNes, seus valores e suas atitudes.

1Jm, so(retudo, negligenciado a dimensão da fé. Assim, o presente tra(alho de pesuisa tem

como propCsito analisar a relação entre setor informal e a dimensão da fé. A pesuisa foi

reali)ada no altiplano peruano, especificamente no departamento de uno e no distrito de uliaca,

sendo este último o distrito onde é encontrado um dos maiores !ndices de atividades informais do

eru. Apontar para a relação entre informalidade e as festas patronais significa analisar aformação de focos de comércio am(ulante dispersos nas ruas, formado a partir do acontecimento

das festas e feiras. O ue este artigo procura mostrar é ue as pr-ticas comerciais guardam

relaçNes profundas com a cosmovisão andina. =o decorrer do te#to são apresentados alguns

dados ue são resultantes da pesuisa de campo nos distritos de Pcora, ;lave, A)angaro e as

festas da Kirgem dos Milagres, e a festa de danças autCctones em 1intiri.

#. AS $ESTAS RE%I&IOSAS E COM'RCIO IN$ORMA% =o altiplano peruano, as feiras semanais, juntamente com as festas religiosas, auecem

cotidianamente a pr-tica do comércio informal. =essas ocasiNes, diariamente, camponeses e

artesãos deslocam seus produtos de um distrito a outro, para vender e ou trocar por outros

 produtos. Dentre os produtos comerciali)ados contam"se inúmeros itens, como (atatas, verduras

e carnes, em ue a produção doméstica é somada a produtos importados de gJneros diversos,

uase todos vendidos em tendas improvisadasBQ. A comerciali)ação dos produtos, por sua ve),

tam(ém aca(a resultando em serviços informais ue são feitos de acordo com a demanda.9efiro"me ao carregamento manual de produtos e ao transporte veicular propriamente dito,

dentre outras atividades ue são desempenhadas de acordo com a necessidade do momento.

42 Apesar da criação de grandes mercados com tenda fi#a, não dei#a de ser relevante o surgimento de outras tendasao redor. =o caso de uno, ruas inteiras são ocupadas com unidades de comércio di-rio, todas elas informais.

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Os locais privilegiados para a reali)ação desses tipos de comércio são as festas patronais

e, conseuentemente, o comércio se configura em grandes feiras ue se formam ao redor desses

locais.

As feiras são locais de compra, de venda, de empréstimo, de conserto e de

aproveitamento de o(jetos, todos vendidos como moeda local ou através dos 'rueues 6   as

 permutas.

A antiga permuta de mercadorias, ou escam(o, é um fen?meno crescente no mundo

contempor/neo, algo ue pode acontecer localmente, mas tam(ém no plano internacional.

'studos apontam o escam(o como uma reação s (arreiras impostas ao comércio, uma forma

especial de troca de mercadorias EAAD89A;, Q%%HI. O escam(o e#pressa tam(ém asfragilidades e as dificuldades do 'stado em regular a vida econ?mica, sendo esse tipo de

comércio inclusive uma sa!da criativa frente aos marcos regulatCrios estatais.

 =o altiplano, o 'rueue, uma forma de comércio informal, acontece em feiras espec!ficas,

normalmente nas festas de padroeiras, pois são ocasiNes ue envolvem maior número de pessoas

das mais diferentes comunidades. 1ais festas demandam preparativos espec!ficos, pois, como por

nCs o(servado, dias antes de cada festa os artesãos j- anunciavam ue estavam fa)endo cer/mica

 para o 'rueue.A cer/mica para 'rueue é espec!fica, pois não é ualuer peça ue pode ser trocada,

 pois h- um entendimento de ue ela precisa atender demanda da comunidade. ara o 'rueue,

normalmente, são feitas peças de uso doméstico, como vasos, panelas, potes, pratos com pouco

aca(amento. As peças muitas ve)es estão vitrificadas com C#ido de chum(o, para melhorar o

co)imento dos alimentos e facilitar a limpe)a.

Ao 'rueue de cer/mica é reservada uma rua inteira, onde os ceramistas, sentados no

chão, aguardam os transeuntes ue desejam trocar seus produtos. Os valores do ue deve sertrocado e a uantidade segue uma lCgica muito particular. or e#emplo, o(servei a troca de

 panelas de (arro por (atatas ou +u7oBR8 a uantidade de (atata ca(!vel na panela vale a panela.

Assim, duas panelas eram duas uantidades de (atatas. Suanto maior a panela, logicamente,

então mais (atatas eram necess-rias para a troca. 'm(ora seja conce(ido como uma forma

BR 'spécie de (atata desidratada.

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alternativa de troca, o 'rueue  não dispensa por completo o papel moeda, pois o tem como

referencial.

A permuta normalmente acontece entre comunidades, envolvendo ceramistas e

campesinos ue trocam comida por o(jetos de (arro. O fato de o 'rueue  ocorrer entre

comunidades fa) com ue cada uma se torne especialista em um tipo de atividade. or e#emplo,

em ucar-, a produção de cer/mica é a principal atividade, mas isso não é a realidade de todo o

distrito, pois peuenos grupos ou fam!lias dedicam"se criação de gado e ainda outros fa)em

 (ordados. 'm 9iuinai, comunidade situada na )ona rural de ucar-, encontrei artesãs ue

tecem desenhos dos 8rosBB. 7egundo as artesãs, essas peças são encomendas pelos 8ros, ue as

compram a preço inferior e vendem nas ilhas, di)endo produ)i"las. Os 8ros fa)em 'rueue deartesanato por 'ru+aB.

Deste modo, cada comunidade segue a velha lei da procura e da oferta, ou seja, produ)

algum tipo de mercadoria ue tenha demanda para ser comerciali)ada na moeda local ou com o

'rueue.

 =os distritos adjacentes a ucar-, os artesãos ue não se dedicam agricultura, uando

não conseguem vender suas peças, fa)em 'rueue. O mesmo serve para os campesinos.

'm ucar- h- fam!lias ue se dedicam e#clusivamente produção de cer/mica para'rueue, como é o caso da comunidade de  :ua'a. 1al comunidade, locali)ada a F uil?metros

do centro ur(ano de ucar-, produ) cer/mica uase ue e#clusivamente para 'rueue. Dentre os

o(jetos produ)idos para 'rueue estão os potes EollasI, para produção e arma)enagem de +i+a,

e 'un'a E(e(ida (ase de milhoI direcionada aos distritos e prov!ncias vi)inhas.

'm uata, a produção é direcionada ao 'rueue, pois as roupas e os alimentos são o(tidos

através de 'rueue. A comunidade seuer tem energia elétrica, pois não possui dinheiro para

 pagar. 'm(ora e#istam lugares e produtos espec!ficos para serem trocados, essa pr-tica tam(ém pode acontecer em ualuer dia ou lugar. ara os campesinos, é comum tra)erem seus produtos,

 por e#emplo, verduras e peles de ovelha, para trocarem em outra comunidade.

44 >omunidade conhecida por viver em ilhas flutuantes no 3ago 1iticaca.45 'spécie de pei#e encontrada no lago 1iticaca.

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O 'rueue dispensa gastos com impostos ou c-lculos ue (urocrati)em a comerciali)ação

dos produtos, desconsiderando por completo a presença de uma pol!tica estatal ue regulamente

as trocas comerciais. T a alternativa ue via(ili)a a so(revivJncia do povo andino, tornando o

sistema econ?mico fechado, onde os produtos seguem um circuito de trocas eminentemente

local.

 =as cidades ue o(servei durante a pesuisa de campo, as festas de padroeiras são os

momentos de auge do comércio informal. 'sse circuito de festas cotidianas movimenta

diariamente os peuenos produtores de uma )ona a outra, favorecendo uma série de outros

comerciantes, como os propriet-rios de ve!culos < carros, vãs, (icicletas, motocicletas.

ouco evidente nessas relaçNes é ue as festas de padroeira fa)em parte de um conjuntode crenças sincréticas ue atuali)am pr-ticas ancestrais. O ato de vender e comprar, assim como

a pr-tica do 'rueue sC são poss!veis apCs o cumprimento de uma série de cultos dadivosos. O

culto a achamama é o elemento ue su(ja) a todas as atividades U sejam elas comerciais,

sociais e ou econ?micas. 'is o tema para o item a ser a(ordado a seguir.

(. PA&AR E RECEBER ) os *a+os , saa erra

 =a perspectiva andina,  Pa+aaa é respons-vel pela colheita farta e pela procriaçãodos animais. T, portanto, uma entidade generosa. T ela ue d- aos homens condiçNes de uma

vida prCspera, sem doenças e ou sem pragas. or outro lado, por se tratar de uma entidade com

atri(utos humanos, Pa+aaa tam(ém se enfurece e sente fome. 7ua insatisfação é e#pressa na

infertilidade dos re(anhos ou na e#istJncia de pragas ue interferem na (oa colheita. ara ue

tudo ocorra (em, é preciso ue se reali)em periodicamente pagos, ue são formas de alimentar a

santa terra ue os alimenta. Os pagos são feitos com os pacotes de oferendas ou sacrif!cio das

lhamas e ou das alpacas, ue tam(ém são variados na forma como são reali)ados.As festas religiosas configuram"se com o ue Marcel Mauss EFGVBI denominou de fato

social total+ < uma ve) ue esses pagos são atos familiares, religiosos, pol!ticos e sociais. 7ão

coisas sociais em movimento, onde o dar, o rece(er e o retri(uir U açNes aparentemente

volunt-rias U são, na realidade, pr-ticas o(rigatCrias ue animam a vida social.

 =o sistema cosmolCgico andino, os animais se reprodu)em graças s d-divas da santa

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terra Pa+aaa, ue é respons-vel pela fartura e pela (onança. O pago, como denominam os

andinos, é uma d!vida moral e econ?mica, portanto, é devido terra, sendo preciso pag-"lo a ela.

O pago com o sacrif!cio do animal não é conce(ido como morte, mas como pago. O pago tra)

em si a lCgica da reciprocidade e, se não reali)ado, dentro do sistema cosmolCgico andino,

implicaria a infertilidade dos animais e o fim, não sC das lhamas e das alpacas, mas tam(ém de

toda uma cadeia interdependente. 1am(ém é preciso considerar ue o sacrif!cio da alpaca é mais

aceit-vel do ue o sacrif!cio dos humanos.

Desse modo, são os pagos ue permitem a continuidade da vida, pois o sacrif!cio da

alpaca implica alimentar a terra, ue sente fome. 'la, estando satisfeita, garante saúde e

 prosperidade a todos os animais.O ato de derramar sangue na terra é uma forma de fecund-"la. >omo o(serva Wilian,

'n el mundo prehisp-nico, la sangre ten!a como funciCn fortalecer 5 hacer vivir 5 crecera la gente. 7ahagún e#presa@ sangre nuestro (rotar, nuestro crecer, nuestro vivir es lasangre... llena de lodo la carne, le da crecimiento, surge a la superficie, cu(re de tierra ala gente, fortalece mucho a la gente. 'nterra"se a oferenda para ue ela germine erenasça tra)endo fartura ao mundo dos vivos. EQ%%G, p. V$I.

'm ucar-, os pagos podem ser feitos em ualuer per!odo, mas ocorrem com maior

freuJncia em agosto, mJs em ue, para os pucarenhos, ;a 'erra se a!re<. =esse mJs são

reali)ados mais pagos no cume da montanha 4an 9ae'ano. Os cumes das montanhas são lugares

liminares, onde, portanto, h- maior possi(ilidade de contato com os deuses.

Ao discorrer so(re o mJs de agosto no altiplano (oliviano, 0ernandé) uare) o(serva ue,

entre os a1aras  (olivianos, o mJs de agosto é tido como o mJs ue tiene (oca6. >omo

assinala o autor,

'n agosto es el propio mundo a5mara el ue aparece a(ierto a los encantos del pasado,aparecen los tapados+ 5 tesorillos coloniales, las ciudades de los antiguos +ull$as 5 delos incas, as! como el oro vivo+, animales de oro ue se mueven produciendo fulgoresa)ulados la v!spera del primero de agosto. 3a tierra est- a(ierta, el mundo a5mara

 pro5ecta sus v!sceras antiguas so(re la superficie. E0'9=P=D'X 8A9'X, Q%%$, p.FI.

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'm ucar-, no mJs de agosto tam(ém acontecem os casamentos, pois é um per!odo de

 procriação e de fecundidade, per!odo em ue a terra se prepara para o novo ciclo agr!cola.

ara o homem andino, é o pago ofertado santa terra ue garante a procriação dos

animais. 7e  Pa+aaa  não est- satisfeita, os animais não se desenvolvem, são a(ortados

uando ainda são fetos ou ficam estéreis. ara 0lores 8choaB$,

3a pachamama posee vida 5 concede vida, es origen de lo animado e inanimado. 7ufecundidad, inmensidad 5 eternidad, hace ue los frutos de la agricultura ue cr!a, seansus hijos, especialmente los de ma5or valor cultural como el ma!), la mamasara, lamadre ma!)Y la mama4u4a, la madre coca. E9'K;71A D' A=19OO3O:;A, sLdI.

>omo afirmou o ceramista 'manuel, achamama é o ue d- sentido vida. 'la est- em

tudo@ no céu, na terra, no ar. O (arro é a maior d-diva de  Pa+aaa, matéria"prima natural

dada pela santa terra para ue os homens tirem dele mais do ue sustento U o sentido da vida.

A compreensão dos sistemas cosmolCgicos, como os pagos e a import/ncia de

 Pa+aaa,  e outros elementos ue compNem a tessitura da vida, é fundamental para

compreender a partir de ual ponto vista o homem andino lança seu olhar so(re o mundo.

 =os centros comerciais, como em uliaca, muitas lojas se dedicavam venda de

lantejoulas, fitas coloridas, (rilhantina, enfim, de adornos festivos. 'ram vendidos

rotineiramente, mas ue ganhavam vida nos dias de festa. Os signos visuais, não seria ousado

di)er, o lu#o das vestimentas festivas, encontram pouca coerJncia com a retCrica da po(re)a. As

festas seguem risca a m-#ima de ue é dando ue se rece(e.

'm 1intiri, o colorido das vestimentas saltava aos olhos. Os grupos dançavam com os pés

no chão, os passos contidos e repetidos eram movimentos performados da vida no campo, do

 pastoreio e do cuidado com os animais. 'm ucar-, dentre as minhas inúmeras o(servaçNes

di-rias, constatei ue os movimentos das danças, as chamadas danças autCctones,

assemelhavam"se muito aos movimentos feitos uando se pastoram ovelhas. 'm alguns casos,usam"se chicotes, mas nas festas são su(stitu!dos por fitas ou lenços, ue suavi)am os

movimentos. O tra(alho cotidiano é transformado em dança e agradecimento terra, portanto,

dança"se com os pés no chão para a santa terra.

46 Dispon!vel em@ Z222.sis(i(.unmsm.edu.peL[i(KirtualDataLpu(licacionesLrevis...La%.pdf\.

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As festividades são formas !mpares de esteti)ar a vida cotidiana, relacionando"a de modo

evidente com a esfera cCsmica@ deuses celestes e su(terr/neos de pedra e de (arro ue agenciam

o mundo vivido.

A continuidade das tradiçNes, como festas, danças e ou rituais, permanece não por mera

apologia ao passado, mas por esse passado presentificar"se. =os Andes, o passado e o presente

estão em constante ressemanti)ação.

T o pago santa terra ue garante fartura e saúde. Mesmo o tra(alho -rduo é mesclado

aos festejos nos dias festivos, em ue o ato de carregar o(jetos de um lugar para outro, para

montar e desmontar (arracas, tendo a imprevisi(ilidade como companheira, sC é poss!vel graças

a um sistema de crença ue su(ja) a todas as pr-ticas.A dualidade entre festa e tra(alho é, então, um elemento decisivo para entender a vida

social, salientando duas categorias centrais de compreensão dos Andes@ reciprocidade e

la(oriosidade. A primeira e#plica a necessidade do homem andino em dar, retri(uir festivamente

aos deuses e aos entes prC#imos auilo ue rece(e arduamente no tra(alho, ou seja, na

la(oriosidade. Assim, portanto, a fartura de (e(ida e de comida nos dias de festa é uma

retri(uição fartura da colheita e procriação do gado, ue são d-divas da santa terra e precisam

ser distri(u!das de modo festivo na comunidade.A pujança e a fartura estão presentes em muitas festas do altiplano andino, tendo seu

apogeu durante a festa da Kirgem da >andel-ria, em fevereiro, em tempo prC#imo ao per!odo do

carnaval.

>onta a historiografia ue o carnaval tem origem em Oruro, na [ol!via, o antigo Alto

eruBV. A Kirgem da >andel-ria aparece numa gruta do cerro 6 Pi0 de =alo;,  em um (uraco

a(andonado. =a mina vivia o ladrão Anselmo 7elarmino Eo =ina ou 9iru 9iruI, ue rou(ava

 para repartir entre os po(res. 'm um de seus furtos, foi mortalmente ferido por um o(reiro, deuem pretendeu rou(ar seu único tesouroY entretanto, 7elarmino foi levado por uma virginal

47 O Departamento de uno e a [ol!via, até a capital, 3a a), apresentam fortes semelhanças do ponto de vista de pr-ticas culturais. A atual [ol!via era conhecida como Alto eru. >om a conuista espanhola em FR%, os ind!genascomeçaram a ser escravi)ados para tra(alhar nas minas. Depois da ocupação da 'spanha por =apoleão [onaparte,em FH%H, o Alto eru é uma das primeiras col?nias espanholas a se re(elar contra a MetrCpole, conuistando aindependJncia em FHQ, so( a liderança de 7imon [ol!var e Ant?nio osé de 7ucre Eprimeiro presidenteY assim, o

 pa!s passa a se chamar [ol!via em homenagem ao li(ertador [ol!varI.

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mulher do povoado até sua morada. =o dia seguinte, os mineiros da )ona se surpreenderam ao

encontrar uma (ela imagem da Kirgem da >andel-ria so(re a ca(eceira da po(re cama do ladrão.

Diante da desco(erta da Kirgem, eles resolvem re)ar durante trJs dias no ano desde o s-(ado de

carnaval, usando disfarces semelhantes ao Dia(o no ritmo cativante da música. Desde então,

durante o carnaval, eles desfilam com carregamentos de ceras, ornamentos regionais, presentes

de prata para a atrona, viandas e (e(idas.

 =o per!odo de FG%% a FGB% surgiram as primeiras >omparsas ou 0raternidades devotas da

Kirgem, como tropas de dia(os, para desfilar até a antiga >apela do [uraco. 'ssas tropas vinham

em(riagadas de +i+a e -lcool. Durante esses anos ainda não participavam meninos, nem

mulheres.'ntre FGB% e FGH%, rompendo preconceitos, empregados do comércio, dos (ancos,

mestres e até um militar se uniram ao carnaval e marcaram inovaçNes aos futuros rumos da

entrada original.

/. UM PA%CO E CU%TOS SINCR'TICOS

O sincretismo religioso, posto como forma de ocultamento das lCgicas tradicionais, foi

algo comum em todos os pa!ses latino"americanos. 1or!(io [rittes EQ%%FI acentua ue osincretismo constituiu a inclusão da mentalidade nativa, ou seja, do povo, ue, apesar de

 (ati)ado e evangeli)ado, nunca dei#ou de venerar seus deuses e de fa)er seus rituais. A

oralidade, com estCrias, f-(ulas, mitos, e a iconografia, com sua litoescultura e artesanato,

tornaram poss!vel a transmissão dos sa(eres. =a realidade, não houve sC uma assimilação

teolCgica do cristianismo, e sim uma apropriação ou inclusão das divindades cristãs para permitir

a so(revivJncia dessa cosmologia prCpriaY guardando no imagin-rio, na memCria coletiva, a

origem m!tica de suas vidas, seus deuses e seus !dolos, ue os identificava, tornando"se um fatorde referJncia cultural, consistindo na força da resistJncia contra uma mentalidade dominadora.

Desse modo, mais do ue falar de uma domesticação ou dominação dos sistemas

cosmolCgicos pelo europeu, é poss!vel tam(ém pensar no inverso. O catolicismo europeu não sC

dominou e adaptou os sistemas de crenças nativas, mas houve tam(ém uma adaptação do sistema

europeu ao nativo, criando assim um novo sistema cosmolCgico não sC europeu ou nativo, mas

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mestiço. Desse modo, Pa+aaa so(revive em todas as virgens do catolicismo europeuY assim

sendo, Pa+aaa é a Kirgem.

'n su lenguaje cultico, los a5maras suelen llamar a la achamama@ la virgina. Alhacerlo e#presan, consciente o inconscientemente, la realidad de un culto sincretico uehace puente entre el mito andino de la Madre tierra 5 ele mito cristiano popular de laKirgen Maria. 'l mito de la Kirgen, madre universal de los cristianos, ue tomo vida enlos santuarios populares de la regiCn, tiene claras caracteristicas andinas. EW'77'3,FGGQ, p. I.

Os povos pré"hisp/nicos adoravam astros ou seres animais, atri(uindo"lhes aspectos

humanos. Os ;ncas colocaram o sol como entidade m-#ima, de onde provinha toda a vida, uma

heliogania. O catolicismo europeu tem em >risto um lugar central, o filho de Deus enviado

terra para salvar a humanidade. A relação do 7ol com >risto, no sincretismo andino, pode ser

visuali)ada nas imagens colhidas no teto da igreja de ucar- e nas cru)es presentes na colina

 Pu+a r++o.

 Fo'os Danielle >ra?@o 

T ineg-vel a tentativa do catolicismo europeu de su(stituir antigas imagens e deuses,

criando correspondentes diretos. Assim as Kirgens"Marias correspondem a achamama. 3ugares

como grutas, serras, montanhas e fontes de -gua, ue antes eram sagrados, passaram a ser locais

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de aparecimento das virgens. -, todavia, tam(ém uma apropriação do dito sistema nativo de

uma nova perspectiva e ue implica uma adoção da crença do Outro.

Aparecida Kilaça EQ%%HI, ao o(servar os processos de evangeli)ação entre os Aari, no rio

 =egro, no Ama)onas U [rasil, di) ue a conversão Aari não se trata apenas da dominação, mas

do desejo do grupo em se transformar no Outro e a auisição de outra perspectiva. A adoção do

cristianismo não implica a perda, mas a continuidade entre cultura nativa e o desejo em capturar

a perspectiva do outro, seja ele inimigo, animal ou (ranco EK;3A]A, Q%%HI.

Os antigos ritos das culturas pré"hisp/nicas passaram paulatinamente por acomodação ao

novo sistema de crença@ algumas se apresentam de modo sincrético, enuanto outras foram

a(andonadas. A cristiani)ação dos povos origin-rios, como ato pol!tico e e#pressão de podermonote!sta, visava su(jugar pr-ticas pagãs, considerando"as malditas.

Diferentemente, para os povos origin-rios, a ideia de um deus único e completamente

dadivoso não e#istia, pois reinava um polite!smo de deuses generosos, mas ue tam(ém se

enfureciam. Os sistemas cosmolCgicos nos Andes resultam de uma série de predaçNes de crenças

e ritos de povos, não sC pré"hisp/nicos, mas pré"incas. 'sse sistema, como fonte e#plicativa, d-

sentido e#istJncia e tem relação com todas as inst/ncias da vida.

De acordo com [ravo :uerreira EQ%%HI, com (ase na evangeli)ação, os grupos andinostiveram sua organi)ação social modificada@ os a1llusBH deram lugar s reduçNes, interferindo nas

relaçNes sociais e com a terra. As doenças foram vistas como uma fúria dos deuses. =essa

situação, os povos instauraram um universo sim(Clico prCprio, tendo como (ase suas antigas

crenças.

 =os Andes, seja pela persistJncia do povo em continuar suas crenças, ou pelas

dificuldades em so(reviver nas elevadas altitudes U o ue torna invi-vel a instalação de f-(ricas

e indústrias U, preservam"se com maior fidelidade antigos ritos e crenças. =ão se trata de afirmarue os Andes são lugares privilegiados de rituais originais. 3onge de defender a originalidade e

ou autenticidade de ualuer pr-tica, seja ela ritual ou não, o(servo ue as adversidades

48 's la (ase de la estructura social andina. Alli est- el crisol de la viva personalidad del indio ue ha so(revivido a pesar de la conuista, la colonia, la repu(lica 5 sus revoluciones. 'n muchas partes de los Andes la tierra escomunitaria 5 es la comunidad la ue asigna los peda)os ue cada familia hace producir para su sustento.E78['9>A7'A8^ ' 7;'99A, Q%%V, p. R%I.

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geoclim-ticas, como a altitude, dificuldade de respiração pelo o#igJnio rarefeito, maior

incidJncia de raios solares e (ai#a ualificação da população para o tra(alho fa(ril, interferem

 para a ausJncia de investimentos financeiros. 1al ausJncia certamente fa) diminuir drasticamente

eventuais influJncias ue viessem a alterar a tradicional relação do homem com a nature)a.

Kilaça Eop. cit.I o(servou ue, entre os Aari, a adoção do 6evangelicismo6 ocorreu pela

ineficiJncia do modelo cosmolCgico tradicional em um conte#to histCrico espec!fico, em

contraponto eficiJncia de outro modelo. =os Andes o(servo o oposto, pois o ue permite a

continuidade de antigas pr-ticas e crenças é a eficiJncia do modelo cosmolCgico tradicional,

em(ora não desconheçam novas possi(ilidades de crenças e de tecnologias.

T a crença em determinados ritos e pr-ticas não sC locais, mas, acima de tudo, locali)adosem distritos e comunidades, ue permite a particularidade, gerando, por sua ve), uma diversidade

impressionante. Assim, essas particularidades locais, em(ora estejam relacionadas entre si,

guardam suas idiossincrasias. Metaforicamente, é poss!vel di)er ue os andinos nunca dei#aram

de tomar um comprimido com ch-, aliando a medicina tradicional alopatia.

Antes de utili)arem fertili)antes e ou inseminaçNes artificiais, os campesinos e criadores

de peuenos re(anhos tJm no culto da  Pa+aaa a certe)a da fartura. =as feiras o(servei

frutos peuenos Use comparados aos ue conheço no [rasil U, como maçãs, laranjas, etc., produ)idos sem agrotC#icos e ou sem fertili)antes ue acelerem o tamanho natural do fruto. or

outro lado, uando fa)em uso de produtos artificiais, os campesinos andinos o fa)em de modo

indiscriminado, isso ocorrendo pela falta de informaçNes. 'ssa pr-tica, entretanto, é de uma

minoria, ue, em(ora não dispense os milagres da modernidade, não dei#a de reali)ar seus

antigos cultos.

Ainda em 1intiri, durante o festival de dança, o(servei cenas ue parecem e#plicitar as

uestNes so(re conversão e predação ue venho discutindo. 8ma cena intrigante durante otra(alho de campo foi uando o(servei ue, por apenas um sol Emoeda peruanaI, um senhor fa)ia

adivinhaçNes na chama da vela no altar de uma igrejaBG em desuso.

BG A igreja em 1intiti est- desativada, mas ainda é utili)ada pela comunidade como forma de visitação local. 1rata"se um prédio antigo com túneis su(terr/neos em dias de festa a comunidade fa) visitação mediante o pagamento deum sol E moeda peruanaI, apesar do vis!vel risco de desa(amento.

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1eto da ;greja em 1intiri

0oto@ Danielle Araújo

Os santos catClicos ocupam um lugar central dentro polite!smo andino. 7ão eles os

correspondentes de entidades tidas como menores. As festas de padroeiras colocam em ação o

sistema cosmolCgico nativo e o cristianismo europeu e, em alguns momentos, a fusão dessas

realidades.

'sses acontecimentos foram claramente o(servados por mim durante as festas. Os Andes

vivenciam diariamente o ue denomino de economia festiva, onde crenças e tradiçNes são

vivenciadas em meio ao tra(alho.

As festas de padroeiras, ue acontecem semanalmente, são e#emplos claros dessa

realidade. 'm tais eventos h- produção e consumo de v-rios produtos, sempre imiscu!dos a

 pr-ticas e a crenças locais. =as festas, os participantes dei#am e#plicitado ue as trocas U

 permuta U e as vendas fa)em parte da perspectiva andina. 'ssa afirmativa de forma alguma est-

alinhada com uma perspectiva li(eral ue aponte para a necessidade uma economia de livre

mercado e a deso(rigação do estado em regular a vida social. Da mesma forma, a afirmativa est-

distante de uma perspectiva estatal ue criminali)e as pr-ticas comerciais informais. T ineg-vel

ue o comércio informal surge da incapacidade do 'stado em a(sorver toda a mão de o(ra

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e#istente na sociedade, mas não é somente isto. =ão podemos perder de vista ue o formal e o

informal são criados a partir de marcos discriminatCrios e a realidade da vida, (em como suas

necessidades são muito mais comple#as e a(rangentes do ue a capacidade das categorias

anal!ticas.

As atividades humanas dessas regiNes andinas, sejam elas formais ou informais, fa)em

 parte das necessidades de so(revivJncia onde muitos elementos estão condensados. >onsider-"

las em sua amplitude permite uma an-lise mais rica e, conseuentemente, mais prC#ima da

realidade e menos e#cludente.

RE$ER0NCIAS

ADAM7, =estorY KA3D;K;A, =estor. Ls trs e./res&ris ética de migrantes 5 formaciCnde empresas em 3ima. 7antiago de 7urco@ Minima ;', FGGF.

AAD89A;, Arjun. A vi0a s1ia2 0as 1isas as mercadorias so( uma perspectiva cultural.1radução de Agatha [acelar. =iterCi, 9@ 'ditora da 8niversidade 0ederal 0luminense. Q%%H.

[9AKO :8'99';9A, Maria >oncepciCn. Evan'e2i3a1i4n 5 sin1retis. re2i'is en 2s

 An0es. Dispon!vel em@ Zrevistas.ucm.esLghiLFFRQHRFQLarticulosL9>AGRGRFF%%FF A.D0\.Acesso em@ QB fev. Q%%H.

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03O9'7 O>OA, orge. 3a cultura uechua.  Revista 0e Antr/2'ia. Dispon!vel em@Zsis(i(.unmsm.edu.peL[i(KirtualDataLpu(licacionesLrevisLa%.pdf\. Acesso em@ Q jun. Q%%G.

W'77'3, . van. Pa18a.a.a , a irgina. F. ed. uno@ >;D7A, FGGQ.W;3;A=, 3uc!a Aranda.  De2 .it a2 rit de adre a diosa. Dispon!vel em@ Zsis(i(.unmsm.edu.peL[i(KirtualDataLpu(licacionesLrevis...La%R.pdf\. Acesso em@ Q jun. Q%%G.

MA877, Marcel. 4 1i2'ia e antr/2'ia. 1radução de Mauro _. [ de Almeida. 7ão aulo@'ditora da 87, FGVB.

7O1O, de ernando. E2 tr Sen0er. 3ima@ 'ditorial 'l [arranco, FGH$.

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78['9>A7'A8^, 'li)a(ethY 7;'99A, Malu. Ev Mra2es $rier ind%gena ue go!ierna en

 >0ri+a del 4ur. F. ed. 7antiago@ 3OM 'diciones, Q%%V.

1O9`[;O [9;11'7, Maria 1eresa. Cs.vis9es e re/resenta:9es .;ti1as 0 In1&ri. >D (oo4s. Q%%F. Dispon!vel em@ [email protected];D >O= 1'8DObR%V\.Acesso em@ Q fev. Q%%H.

K;3A]A, Aparecida. 0a)endo corpos@ refle#Nes so(re morte lu) e cani(alismo entre os _arido perspectivismo. Revista 0e Antr/2'ia. 7ão aulo, v. BF, n. F, FGGH. Dispon!vel em@[email protected].(rLscielo.phpscript\. Acesso em@ FH fev. Q%%H.

  O ue significa tornar"se outro ^amanismo e contato interétnico naAma)?nia. Revista <rasi2eira 0e Ci=n1ias S1iais. 7ão aulo, v. F, n. BB, out. Q%%%. Dispon!vel

em@ Z [email protected].(rLscielo.phpscript\. Acesso em@ FH ago. Q%%G.

  >onversão, predação e perspectiva.  Revista Mana, 9io de aneiro, v. FB, n. F,a(r. Q%%H. Dispon!vel em@ [email protected].(rLscielo.phpscript\. Acesso em@ QG out. Q%%H.

 Re+e!ido e "C/#2/2"#5

 >$rovado e ##/#2/2"#5

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