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Tem por finalidade a produção e a divulgação do conhecimento nas áreas das ciências aplicadas produzidosparticularmente pelo seu corpo docente e colaboradores de outras instituições, com vistas a abrir espaçopara o intercâmbio de idéias, fomentar a produção científica e ampliar a participação acadêmica nacomunidade. Reserva-se o Conselho Editorial o direito de não aceitar a publicação de matérias que nãoestejam de acordo com esses objetivos. Os autores são responsáveis pelas matérias assinadas.É permitida a cópia (transcrição) desde que devidamente mencionada a fonte.

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Porto Alegre, 2006

ATITUDE - Construindo OportunidadesPeriódico da Faculdade Dom Boscode Porto Alegre - Ano 1- No 1 - Fevereiro de 2006Porto Alegre - Faculdade Dom Bosco

ISSN 1809-5720

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Os artigos e manifestações assinados correspondem, exclusivamente, às opiniões dos respectivos autores.

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Tem por finalidade a produção e a divulgação do conhecimento nas áreas das ciências aplicadas produzidosparticularmente pelo seu corpo docente e colaboradores de outras instituições, com vistas a abrir espaçopara o intercâmbio de idéias, fomentar a produção científica e ampliar a participação acadêmica nacomunidade. Reserva-se o Conselho Editorial o direito de não aceitar a publicação de matérias que nãoestejam de acordo com esses objetivos. Os autores são responsáveis pelas matérias assinadas.É permitida a cópia (transcrição) desde que devidamente mencionada a fonte.

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Sumário

Apresentação........................................................................................................................................7

1. Principios Rectores para una política de Estado en materia de EducaciónSuperiorLuis Enrique Orozco Silva..........................................................................................9

2. Os caminhos da educação superior e a trajetória dos salesianos do Suldo BrasilErneldo Schallenberger............................................................................................21

3. A Inspetoria Salesiana de Porto Alegre e o ensino universitário José Valmor César Teixeira.....................................................................................33

4. Sensibilidade, preventividade, solidariedade e cidadania Marcos Sandrini.....................................................................................................45

5. O Curso de Administração: da concepção à implementação - umarealidade

Nilo Valter Karnopp...............................................................................................61

6. Concepção e Desenvolvimento do Curso de Ciências Contábeis Aécio Cordeiro Neves e Luiz Dal Molin...................................................................67

7. O curso de Sistemas de Informação da Faculdade Dom Bosco de PortoAlegre: a diferença está na atitude

Letícia Silva Garcia.................................................................................................71

8. Resenha Bibliográfica: O Sistema Educativo de Dom Bosco José Jair Ribeiro......................................................................................................75

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a história da vida daquele jovem menino,filho de Margarida, carente e rico, e queiluminou o mundo com o seu carisma. JoãoBosco. Dom Bosco. A semente plantadafloresce em escolas, oratórios, paróquias,obras sociais, comunidades espalhadas porcantos e recantos. Onde está um jovem aíse encontra um desafio, o desafio detransformá-lo em uma pessoa commaturidade e feliz” (p.11).

Dom Bosco viveu num período históricoonde existiam dois tipos de sistemaseducativos: o repressivo e preventivo.“Ambos se fundam sobre razões plausíveise podem se orgulhar de metodologiasprodutivas e êxitos positivos. Um sepreocupa mais com o jovem e com oslimites de sua idade, portanto, com umaassistência assídua e amorosa do educador,que paternal ou maternalmente estápresente, aconselha, guia, ampara. Daínascem regimes educativos de orientaçãofamiliar. O outro se preocupa maisdiretamente com a meta a ser atingida, epor isso olha o jovem como um futuroadulto e, como tal, deve ser tratado desdeos primeiros anos. Nascem então regimeseducativos mais austeros e exigentes,escolas rigidamente disciplinadas por leis,relações e medidas fortemente responsabi-lizantes, colégios de estilo militar ousemelhantes” (p.13-14).

Dom Bosco, sem nenhuma sombra dedúvida, optou pelo sistema preventivo.Sistema esse que se apresenta como um“sistema aberto”. É um sistema dinâmico edialético que considera a vivência, a culturatrazida pelos educandos, bem como oconteúdo inédito, surgido da relação einteração no fazer educativo. Quando bemrealizado, esse tende, por natureza própria,a tornar-se aquilo que foi chamado de um“novo sistema educativo”, que é fruto dainculturação contínua na realidade juvenil,educativa e social. Em outras palavras,dentro do sistema preventivo, tem-se umaalma viva e dinâmica que não pode serperdida.

À medida que vamos percorrendo olivro, uma sutil pergunta passa a se fazer

presente: o sistema preventivo nasceucomo teoria e foi apresentado pronto paraser aplicado? Apesar de a perguntaaparecer de forma sutil, percebemos queo autor nos apresenta a resposta de formacategórica: Não! Pois o Sistema Preventivoé fruto da síntese entre a ação social e opensamento pedagógico. Isto mesmo,nasceu da experiência cotidiana, ondepresenciou o olhar daqueles jovens quecomeçaram a se transformar, quandotocados na alma... Isto o convenceu de quedaria certo.

Em “Prevenir, não reprimir”, P. Braidofaz um passeio sobre os principaisenfoques desse sistema. Nos capítulos de1 a 5, apresenta uma visão histórica sobreos sistemas existentes na época de DomBosco; do capítulo 6 ao 8, a formaçãopedagógica de Dom Bosco; do capítulo 9ao 11, a escolha do interlocutor: os jovens;nos capítulos 12 a 17, apresenta aquilo quechama de itinerários educativos: deverese graça, virtudes e compromisso, razão-religião-amorevolezza, espírito de família,alegria e festa, amor exigente; termina seupasseio apresentando as instituiçõeseducativas (cap. 18) e rumo ao amanhã(cap. 19).

Finalizando, podemos afirmar que osistema preventivo de Dom Bosco, comseu estilo familiar de educação, ofereceuma contribuição aos nossos dias, já quenos encontramos num período históricoonde parece imperar a palavra crise: crisecivilizatória e crise de esperança. Tambémestamos num período no qual o jovemclama pela sua auto-estima e por seureconhecimento. Assim sendo, oferecerum ambiente educativo onde educador eeducando compartilhem as experiências ea vida, onde a pessoa seja colocada nocentro, onde o protagonismo juvenil sejaverdadeiramente vivenciado e valorizado,contribuirá para formar pessoas comautonomia e com responsabilidadespessoais e sociais.

Desejo a cada uma/um uma boa leitura.

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Apresentação

ATITUDE – Construindo Oportunidades é uma Revista de Divulgação Científicada Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS, Brasil. Nossa Faculdade insere-se nogrande esforço salesiano em ser uma presença eficiente e eficaz junto à juventude.Nosso patrono – São João Bosco (1815-1888) – viveu, batalhou, comprometeu-se atéo fim de sua vida com a educação das novas gerações. Educar é participar com amor naconstrução de pessoas para que sejam “bons cristãos e honestos cidadãos”.

ATITUDE é palavra-chave em nossa Faculdade. Atitude significa decisão, coragem,determinação, bravura. Com outras três palavras, representa nossa postura de vida:empreendedorismo, cooperação e responsabilidade social. Empreendedorismo significaatitude pró-ativa. A dinâmica do mundo exige esta postura e não mais atitudes reativas.Cooperação significa apostar no trabalho em grupo, no associacionismo, na vivência decomunidade. Responsabilidade Social está na linha da geração da cultura da solidariedade.As novas gerações herdam um mundo com grandes desafios. Queremos que elas eeles recebam uma educação forjada na perspectiva da esperança e da utopia. Esta é amissão desta Revista.

ATITUDE, número 1, foi organizada para relatar um pouco a vivência do grupo depessoas mais envolvidas com a concepção, gestação e nascimento de nossa Faculdadecom seus três cursos iniciais: Administração, Ciências Contábeis e Sistemas deInformação. É uma partilha de vidas. Nosso Projeto de Desenvolvimento Institucional(PDI) foi realizado de forma coletiva desde a primeira pedra.

Luiz Enrique Orozco Silva, Diretor da Cátedra UNESCO na Universidade dosAndes de Bogotá, apresenta um artigo magistral sobre as Políticas de Estado emEducação Superior. Numa época de globalização e mundialização, quem não tiver umavisão ampla da realidade e das grandes tendências da educação superior, corre o riscono mínimo de pouco ou não influenciar nos rumos da sociedade e da história. Orozcoé consultor das IUS, organização internacional encarregada de coordenar a presençasalesiana nas Instituições de Ensino Superior.

Erneldo Schallenberger, com formação salesiana da licenciatura ao doutorado,com larga experiência adquirida no reitorado da UNIOESTE de Cascavel, PR,reconhecido internacionalmente por suas pesquisas, quer da história missioneira, querda educação cooperativa, estabelece algumas coordenadas da presença dos salesianosna educação superior no sul do Brasil.

A Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre é mantida pela Inspetoria Salesiana SãoPio X, com sede também em Porto Alegre. Ela é presidida pelo P. José Valmor CésarTeixeira. A ele cabe um dos artigos da revista no sentido de anunciar as grandespropostas da presença salesiana na educação superior. Estas políticas procuram manter-nos nos rumos do carisma de Dom Bosco. Muito contribui para a educação das novasgerações a definição de uma identidade institucional.

No mesmo caminho, insere-se o artigo de P. Marcos Sandrini, salesiano, diretorda Faculdade, situando a proposta do sistema de educação iniciado por Dom Bosco e

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revisados a cada semestre, bem como dabibliografia, ampla e em constanteprocesso de atualização. A cada semestresão adquiridos novos títulos, visando àqualificação do acervo bibliográfico.

Durante a preparação para o processo dereconhecimento, foram percebidas as forças edebilidades do curso. As forças se apresentamcomo sendo o Projeto Pedagógico e o CorpoDocente qualificado para o ensino, bem comoa biblioteca bem equipada. As debilidades ficampor conta do baixo engajamento de docentesem pesquisa, o que tende a ser minimizadoquando da implantação de grupos de apoio quesuportem a realização dos Trabalhos deConclusão de Curso. Neste momento estamosnos preparando para receber a comissão deverificação. Temos um diagnóstico claro dasituação do curso e perspectivas, o que nos dásegurança para atuar e planejar o futuro.

5. Desafios e PerspectivasComo desafios e perspectivas, neste

momento apresentamos: (a) reestruturaçãocurricular; (b) colocação de egressos e (c)consolidação da faculdade como um todo.

Quanto à reestruturação curricular,visando a adequação do projetopedagógico a algumas práticas adotadasnos planos de ensino para atender asdemandas de atualização, convém ressaltar

que o projeto do curso, por ser dinâmico,se mantém atual, sendo que o trabalho doreprojeto do curso deve se concentrar naadaptação das novas demandas tecno-lógicas.

Quanto à pós-graduação, pretende-seinvestir em um diferencial que congregue ostrês cursos hoje consolidados e em processode reconhecimento, a saber: Administração,Ciências Contábeis e Sistemas de Informação.Pretende-se implantar a pós-graduação apóso processo de reconhecimento dos cursos, apartir de 2007/1.

A consolidação da Faculdade DomBosco de Porto Alegre dá-se pela solidezdos cursos existentes, a implantação denovos cursos em áreas emergentes, comoEngenharia Ambiental e Sanitária, e oinvestimento forte no corpo docente,visando o desenvolvimento da pesquisa,da extensão e da pós-graduação. A certezade estar realizando um trabalhoconsolidado, parte da Obra de EducaçãoSalesiana, de bem atender aos nossosjovens alunos, dá-nos ânimo paraprosseguir na tarefa de se fazer educaçãosuperior baseada no Sistema Preventivo.Atender aos jovens com razão, religião eamorevolezza, o ideal de Dom Bosco, nosanima a seguir em frente, consolidando suaobra através da Educação Superior.

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enriquecido pela tradição salesiana. Da segunda metade do século XIX até os nossosdias, o Sistema Preventivo de Dom Bosco continua sendo uma proposta corajosa eaderente aos jovens e aos tempos.

Iniciamos nossa Faculdade com três cursos: Administração, Ciências Contábeis eSistemas de Informação. Quisemos que o testemunho dos três coordenadores destescursos mostrasse aos leitores os passos seguidos na sua concepção, elaboração eimplantação.

Finalmente, há a resenha bibliográfica do livro mais recente do maior estudioso deDom Bosco, docente da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma. Nele o leitorencontrará um estímulo para engajar-se na educação das novas gerações paratransformá-los em bons cristãos e honestos cidadãos. P. José Jair Ribeiro, salesianoigualmente, esmera-se em debulhar este livro animando o leitor a lê-lo e saboreá-locom avidez até o fim.

Levar a termo este número exigiu uma ATITUDE de honestidade intelectual, amordesinteressado e apaixonante, desejo de partilhar com instituições congêneres nossahumilde, mas ao mesmo tempo forte e robusta proposta de educação superior.

Conselho Editorial da Revista Atitude – Construindo Oportunidades

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em torno de fevereiro de 2001, houve umaação do Ministério da Educação no sentidode restringir a abertura de novas Instituiçõesde Educação Superior. Desta forma,somente podemos iniciar o processo deimplantação do curso a partir da autorizaçãode funcionamento da Faculdade, queocorreu em 26 de novembro de 2002,através da portaria 3.254 e da conseqüenteautorização do curso, através da portaria2.255, da mesma data.

O primeiro dos desafios foi constituirum corpo docente identificado com ainstituição, que apesar de recém-criada, jásurgia com uma forte identidade, baseadana identidade internacional e nacional dasInstituições Universitárias Salesianas e daíndole Salesiana em si. Não bastava a sólidaformação, teríamos quebuscar pessoas realmenteimbuídas do espírito deconstruir uma FaculdadeSalesiana. Constituído ocorpo docente inicial docurso, iniciamos as aulasem 10 de março de 2002.

Como dois anoshaviam se passado daconcepção e criação doprojeto, foi necessária acriação, pelos professores, de Planos deEnsino que atendessem as ementasinicialmente constituídas, porém, que semostrassem atualizadas à nova realidadeque o curso estava se inserindo. Algumasdecisões tomadas em tempo de projeto nospermitiram manter a atualidade do curso,como a ênfase em trabalho cooperativo eo fato das ementas serem genéricas,baseadas em conteúdos mínimos.

Passado o primeiro e o segundo anoda implantação, percebe-se umanecessidade de maior aproximação como mercado de trabalho, visando a melhorcolocação de nossos alunos, bem como amaior adequação das atividadesdesenvolvidas em sala de aula ao mercadono qual nossos alunos estavam seinserindo. Tal aproximação resultou narealização de eventos na Faculdade, como

a 1ª Mostra de Software, Reuniões daSUCESU, palestra para profissionais derecrutamento e seleção sobre o perfil doBacharel em Sistemas de Informação eainda convênios com entidades de classevisando o aporte de alunos.

Neste terceiro ano de funcionamentodo curso, percebe-se que as atitudescooperativas, proporcionadas pelacaracterística da Educação Salesiana e pelaformação pedagógica de todos osprofessores do curso para o trabalhocooperativo (através de curso de extensãoem Aprendizagem Cooperativa em EstiloSalesiano), caracterizaram-se como umdiferencial competitivo de nossos alunosno mercado de trabalho. Em um espaçoprofissional voltado ao trabalho em

equipes, a atitudecooperativa desenvolvidapelos nossos professores,junto aos alunos, temfeito diferença nomomento da colocaçãoprofissional destes.

Uma das característicasdos cursos de Sistemas deInformação é o alto índicede evasão, sendo que,segundo o censo do INEP

(http://www.inep.gov.br), o total dematrículas anuais em âmbito nacional é de51.722, contrapondo-se bastante ao númerode concluintes, 2.865. Tal característica nãose apresenta em nosso curso, onde asevasões e os índices de reprovação sãomínimos.

4. Processo de ReconhecimentoPassados cinco anos do projeto do

curso e três da sua implantação, inicia-seo seu Processo de Reconhecimento,necessário à emissão e validação de nossosdiplomas. Este é um momento oportunopara a auto-avaliação e o reprojeto docurso. Manter-se atual é um desafiopermanentemente enfrentado pelacoordenação e pelos professores.

Tal desafio é trabalhado no dia-a-dia docurso através dos Planos de Ensino,

“A certeza de estarrealizando um trabalho

consolidado, parte da Obrade Educação Salesiana, dá-nos ânimo para prosseguir

na tarefa de se fazereducação superior baseadano Sistema Preventivo de

Dom Bosco”.

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1. PRINCIPIOS

1. El sistema de la educación superiorse rige por la Carta Política, por losreferentes universales del conocimiento ylas necesidades de la sociedad. El serviciopúblico de la educación superior tienecomo finalidad propiciar el desarrollointegral de la persona y la adquisición decompetencias básicas para ser, hacer,comprender, participar y convivir.

2. La educación superior es un factordel desarrollo; de éste depende en granparte la posibilidad de insertarnos en elescenario de la globalización y en la sociedaddel conocimiento evitando sus posiblesefectos nocivos; Es, a su vez, una mediaciónnecesaria para construir una sociedad justay solidaria. Incrementar la educación paraun mayor número de personas es una

1. Principios RectoresPara una Política de Estado en Materia de

Educacion Superior*Luis Enrique Orozco Silva

Director de la Cátedra UNESCO en la Universidad Los Andes, Bogotá, Colombia

condición básica de una cultura de paz.

3. La educación superior es “unservicio público de naturaleza cultural”ofrecido por el gobierno y los particulares.La Ley y sus Decretos reglamentariosconstituyen su marco jurídico inmediato.En consecuencia, el compromiso de cadauno de ellos en su propia esfera en laprestación del mismo con calidad,pertinencia, equidad y eficiencia es unaresponsabilidad ineludible. De aquí laimportancia de la intervención de losgobiernos con un criterio pluralista en dosgrandes campos: fomento y supervisión(inspección, vigilancia y control).

4. La educación superior comprende

* Extraído do Guia 7 do “Plan de las IUS: Asegurar los cimientos (los fundamentos) de las instituciones”.

Resumo: La educación superior es unfactor del desarrollo; de éste depende engran parte la posibilidad de insertarnos enel escenario de la globalización. Laeducación superior es “un servicio públicode naturaleza cultural” ofrecido por elgobierno y los particulares en Colombia.Así siendo, el gran desafío de este procesode desarrollo es ofertar una educación decalidad y amplia para la mayor parte denuestra sociedad. Así como elegir cuáleslos tipos de políticas y modelos que mejorse adecuan nuestra sociedad.

Palabras-chave: educación superior,desarrollo, políticas y modelos educa-cionales.

Abstract: The university degreeeducation is a factor of the development;and this is very important to grant us apossibility to access globalization. Theuniversity degree education got to be "apublic service of cultural nature" providedby the government and private inColombia. So the great challenge of thisprocess of development is to supply aneducation with high quality and open formost of our society, as well as choosingwhich types of policies and methodologiesare most appropriate to our society.

Keywords: superior education,educational development, policies andmodels educational.

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inseridos, mas acima de tudo, coerentecom o modo de ser Salesiano de se fazereducação superior.

Pretende-se aqui contar como seatendeu a este desafio, na concepção docurso, na criação do currículo, naelaboração dos programas de ensino, naimplantação e gestão diária do curso,culminando com seu eminente processo dereconhecimento.

2. Concepção do cursoO Curso de Sistemas de Informação da

Faculdade Dom Bosco de Porto Alegreemerge da certeza que a sólida formaçãotecnológica, aliada ao compromisso com aética, o desenvolvimento social e a atitudecooperativa, caracterizam-se como umdiferencial competitivo nomercado de trabalho.Desta forma, jovensprofissionais com esteperfil apresentam-se comoalternativa ao estereótipodo profissional na área decomputação.

Considerando as dire-trizes curriculares vigen-tes na época (http://www.mec.gov.br/sesu),as necessidades do mercado de trabalhoemergente, a oferta de cursos na área decomputação nas instituições em nossaregião de atuação, bem como o perfildesta, concebeu-se o curso com o objetivode “formar profissionais da área da Ciênciada Computação com ampla formação emcomputação e forte caráter humanísticoque, aliados a conhecimentos gerenciais,são capazes de utilizar a tecnologia comoelemento facilitador da interação daspessoas entre si e destas com o mundo”.

Este objetivo nos traz a necessidade deestabelecer um currículo baseado naformação tecnológica, mas tambémfortemente alicerçado nas habilidadesgerenciais e de comunicação. Aorganização do currículo prevê aintegração entre três eixos temáticoscurricularmente definidos, a partir da qual

se forma um egresso capaz de “utilizar osrecursos humanos, de informática eautomação, visando à qualificação dosprocessos produtivos e gerenciais nasdiferentes organizações, gerando, destaforma, um espaço produtivo de melhorqualidade aos elementos humanos que ocompõe.”

Os eixos temáticos definidos são: (a)Eixo de Formação Tecnológica, ondedestacam-se linhas de formação nasseguintes áreas: Algoritmos e Programação,Organização, Arquitetura de Compu-tadores e Sistemas Operacionais, Análisede Sistemas e Engenharia de Software eainda Banco de Dados. Cada linha deformação conta com disciplinas que seencadeiam em seus conteúdos e

procedimentos avalia-tivos, sendo que estes sãoamplamente discutidosnas reuniões do colegiadode curso, integralizando69,25 % da carga horáriado curso; (b) Eixo deFormação Humanística,onde alocam-se asdisciplinas que compõemo perfil generalista doegresso, contribuindo

para a construção de suas habilidades decomunicação e expressão, relacionamen-to humano e desenvolvimento deequipes, integralizando 20,5 % da cargahorária do curso; e (c) Eixo deFormação Complementar, onde sãotrabalhados os conhecimentos necessáriosà correta leitura das organizações nas quaisos Sistemas de Informação estão inseridos,atuando na complementação do perfil doegresso, integralizando 10,25 % da cargahorária do curso.

Isto posto, foram definidas as disciplinasem suas respectivas ementas e bibliografia,sendo que o conteúdo programático seguesendo atualizado semestralmente pelosprofessores.

3. Implantação do CursoConcluída a fase de projeto do curso,

“A sólida formaçãotecnológica, aliada ao

compromisso com a ética,o desenvolvimento social e

a atitude cooperativa,caracterizam-se como umdiferencial competitivo no

mercado de trabalho”.

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los programas académicos de nivelpráctico, profesional y avanzado quepuede cursar una persona, una vez que haconcluido el undécimo grado deescolaridad. Niveles que involucran tiposde conocimiento diferentes, en lassiguientes áreas: científico, técnico ytecnológico (Ciencias Naturales y Exactas,Ciencias Sociales y Humanas, Ciencias dela Salud, las Ingenierías), las Artes, laFilosofía y la Pedagogía.

5. La autonomía, garantizada por laCarta Política a las Universidades, constituyeuna responsabilidad y compromiso de éstascon la calidad y efectividad en elcumplimiento de las funciones que les sonpropias en relación con su carácter, misióny vocación institucional.

6. La apropiación de la cultura universal,la preservación de la diversidad natural ycultural, el cuidado del medio ambiente, laeducación a lo largo de la vida, el desarrolloy consolidación de las comunidadesacadémicas, la incorporación de nuevastecnologías en los procesos pedagógicos yla formación del estudiante como agente decambio y ciudadano responsable constituyenun interés central del Estado con el sistemade la educación superior.

7. Las instituciones que integran elsistema de educación superior, deconformidad con su carácter, vocación yperfil institucional, tienen un compromisocon las exigencias que dimanan de lanecesidad de construir una sociedad justa,abierta y flexible; con los referentesuniversales del conocimiento; con lasurgencias de la sociedad colombiana y conlos aspectos ético políticos del desarrollo.

8. Los gobiernos adelantarán políticas,estrategias y acciones específicas en favordel desarrollo y consolidación del sistemade la educación superior, del incrementode los procesos de la autoevaluación yacreditación de programas académicos yde instituciones; de la educación avanzada;

de los exámenes de Estado; demejoramiento de la información y de lamodernización de la gestión de lasinstituciones.

2. AMPLIACION DE COBERTURA CONCALIDAD

Motivaciones9. Tenemos problemas de

cobertura y de calidad. La expansiónde la matrícula, de instituciones, deprogramas académicos, en la últimadécada, tanto como los niveles deformación de los docentes y el efecto queeste tipo de expansión ha tenido sobrela calidad del servicio educativo, en uncontexto de escasez de recursos, nosindica que a pesar de los esfuerzosrealizados y los logros alcanzados por losgobiernos y las instituciones adolecemosde limitaciones en materia de cobertura,situación que pone en tela de juicio laequidad del sistema y su pertinencia parael país. El ingreso de la población de 17 a24 años a la educción superior siguesiendo un privilegio de los hogares demayores ingresos. Si en 1.991 la matrículaalcanzaba la cifra de 510.606 estudiantes,para el año de 1.999 esta cifra se eleva a877.944; es decir, que el incrementoequivale al 72%. encontrándoseampliamente concentrada en lasprofesiones liberales. A su vez,aumentaron las instituciones durante ladécada, habiéndose creado 39 nuevas, loque significa un incremento del 13.8% y,particularmente, los programasacadémicos; los cuales pasaron de 2.389en 1992 a casi 8.000 en el año 2.000 sinque las condiciones de aprendizaje y lacalidad de los docentes se hayaincrementado sustancialmente. Según lascifras del “Informe de DesarrolloHumano. Colombia 2000”, la mayorproporción de los asistentes ainstituciones de educación suprioroficiales proviene de los hogares demayores ingresos; no porque estasinstituciones discrimen, por razones

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7- O Curso de Sistemas de Informação daFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre:

A Diferença está na Atitude

Letícia Silva GarciaProfessora Dra. e Coordenadora do Curso de Sistemas de Informação da

Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS

Resumo: Neste artigo apresenta-se oprocesso de criação, implantação ereconhecimento do curso de Sistemas deInformação da Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre. Para tanto, são apresentadosdados históricos, processos administrativose fortalezas e debilidades do curso, bemcomo seus encaminhamentos futuros,sempre baseados no Sistema Preventivo deDom Bosco e na atitude como diferencial.

Palavras-chave: Sistemas deInformação, Sistema Preventivo de DomBosco.

Abstract: This article one presents theprocess of creation, implantation andrecognition of the Course of InformationSystems of the College Dom Bosco ofPorto Alegre. In such a way, it’s givenhistorical data, administrativeproceedings, strong points andweaknesses of the course, as well as itsfuture directions, always based in thePreventive System of Don Bosco and inits attitude as distinguishing.

Keywords: Information Systems,Preventive System of Don Bosco.

1. IntroduçãoEm outubro de 2000 foi-nos dada a

tarefa de criar um curso na área decomputação para uma instituição deinspiração Cristã e índole Salesiana, que seformaria a partir dos três pilares desta:“Razão, Religião e Bondade”. A primeiradecisão foi, então, em qual dos eixos da áreade Ciência da Computação esta instituiçãoatuaria, uma vez que institucionalmente nãose tinha uma visão ampla das diferentespossibilidades de implantação de cursosnesta área. Passados os esclarecimentosiniciais à equipe de desenvolvimentoinstitucional, denominada GTU – Grupo deTrabalho Universidade, esta decidiu quedentre as quatro opções de curso naquelemomento recomendadas pela SociedadeBrasileira de Computação (http://www.inf.ufrgs.br/mec), a opção seria porum curso de Sistemas de Informação.

Criar um currículo na área de Ciênciada Computação em que a atitude

humanista e preventiva, característica daEducação Salesiana, fosse o eixo central,tornou-se um desafio, visto que oprofissional de informática eminentementeé estereotipado como voltado para atecnologia e pouco comunicativo. Junto aesse desafio, havia o de conhecer aidentidade pouco a nós revelada de umainstituição que está se formando, bemcomo estudar os pilares da EducaçãoSalesiana e conhecer Dom Bosco, uma vezque o curso a ser criado viria a fazer partede sua Obra.

Passados cinco anos desta primeiramissão, cabe-nos o desafio diário decoordenar um curso com o objetivo demanter-se atual, dinâmico e competitivo,atendendo às determinações do Ministérioda Educação e da Sociedade Brasileira deComputação, bem como às oscilaçõestípicas de demanda do mercadoprofissional no qual nossos egressos estão

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distintas de las académicas, según estrato,sino porque desde la básica, se da unproceso creciente de deserción entre losestudiantes de menores recursos haciendomás amplia la brecha entre pobres y ricosen este nivel educativo. Finalmente, hacia1.992 el número de docentesuniversitarios con título doctoral era 1.223,sobre un total de 54.414. En la actualidad,sobre un total de 86.166, sólo 1.882poseen dicho título; es decir, el 2.2%aunque pueda considerarse como positivoque haya aumentado entre ellos el númeroque posee el grado de especialista,pasando a significar del 13% a comienzosde la década al 23% en 1.999.

10. El aumento de la matrícula noha significado mayor calidad. Ahorabien, a pesar del aumento de coberturaque indica las cifras anteriores, la demandacontinúa desbordando la oferta. Aquellaha sido asumida en su mayoría por elsector privado; la participación actual delsector oficial en la matrícula total no pasadel 33%. La inexistencia de cupos en launiversidad pública sigue alimentando laexpansión de programas académicos eninstituciones privadas que no han iniciadoprocesos de autoevaluación, o deevaluación por pares. Si se tiene en cuentaque el 40% de la matrícula total seencuentra en la jornada nocturna y en losprogramas de modalidad a distancia, lainsuficiencia del profesorado conformación de postgrado y la escasez derecursos nacionales existente para suformación en universidades del exterior oen programas doctorales nacionales,podemos inferir que el aumento decobertura no sólo no ha sido suficiente sinoque no ha significado incrementosustantivo de calidad. Esta última situaciónes inaceptable; por el contrario, sideseamos incorporar al sistema losestratos de menores ingresos, el esfuerzode incrementar cobertura con calidaddebe ser mayor con el fin de enriquecerel proceso de socialización y subsanar laslimitaciones que podamos encontrar en la

formación primera de los candidatos.El incremento de la calidad se encuentra

comprometido mientras mantengamoslimitaciones para tener programasacadémicos bien diseñados; para contar conuna nómina de docentes bien formados; paradisponer de condiciones físicas y ambientalesque incentiven aprendizajes de calidad y conestudiantes realmente comprometidos conlos procesos de formación; pero sobre todomientras se permitan en los programasacadémicos métodos pedagógicos en los queno se trasciende la cadena tradicional dehablar, copiar, memorizar y reproducir, sinmás mediación que el texto y centrados enla acción del docente. Aumentar coberturaexige compromiso efectivo con la calidad delservicio que se presta. Pero la lucha por lacalidad no se puede resolver en contra delos pobres. Cada vez aumenta lapreocupación de diferentes sectores socialesque hacen uso de los servicios que prestanlas instituciones acerca de ¿Cómo van aproceder para aumentar cobertura sindisminuir calidad? ¿Cómo van a establecermecanismos de calidad sin que ello signifiqueuna lucha en contra de los estudiantes queadolecen de una formación previadeficiente?

11. La demanda por educaciónsuperior irá en aumento. En la medida enque un mayor número de estudiantesterminen su formación básica y media seincrementará la demanda por educaciónsuperior. A su vez, las nuevas realidadespermitirán a los individuos valorar losbeneficios que reporta el poseer unaformación de nivel superior, lo que significaráque nuevos grupos de edad, por la necesidadde una educación a lo largo de la vida asistirána las aulas. Todo ello significa que habrá máscolombianos que tocan a las puertas de lasinstituciones de educación superior. Por ellomismo, no podemos permitir en adelante lapersistencia de fenómenos que se alimentanmutuamente: una baja cobertura, una tasade deserción extremadamente alta y unalargamiento exagerado del número deperíodos académicos para graduarse. Lucha

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b) Contabilidade e Análise de Custos;c) Contabilidade Gerencial;d) Orçamento Empresarial;e) Controladoria e Empreendedorismo;f) Sistemas de Informação Contábil;g) Balanço Social e Ambiental.Com referência à ética, o currículo não se

circunscreve à ética profissional, mas apresentavárias disciplinas humanísticas, nas quais sãodiscutidos os comportamentos humanos e suasrepercussões individuais e coletivas, osconceitos de moral e de ética e suaaplicabilidade às circunstâncias do dia-a-dia daspessoas. A própria pedagogia salesiana,inspirada no método preventivo de DomBosco e reforçada pela identificação dedocentes e discentes aos seus valores, atravésde curso de capacitação dos docentes para autilização da metodologia de grupos deaprendizagem cooperativa, assegura o êxito naproposição de uma atitude que expresse maiorresponsabilidade social.

O currículo do Curso atende, em todosos aspectos, às exigências quanto aosconteúdos de formação básica, profissional eteórico-prática. Assim, atende ao plenoentendimento da terminologia contábil atual,às normas vigentes para as entidades(empresas e instituições) nas esferassocietária, fiscal, trabalhista e previdenciária,ao preparo para a ação profissional, com iníciona teoria e prosseguindo pela prática contábil,passando pelas áreas de custos, gerencial,orçamentária, de controladoria, de auditoriae da ética. Finalmente, inter-relaciona a teoriacom a prática mediante o uso do LaboratórioContábil, complementado pelos Estágios e oTrabalho de Conclusão do Curso.

O egresso da Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre terá uma postura profissionalmais ativa e prospectiva, com capacidade deanálise, de domínio de conceitos, crítico diantedas inovações tecnológicas, um participanteefetivo na tomada de decisão das empresas,com pleno conhecimento das causas e efeitosdas variações patrimoniais presentes e futuras.

Em 2006/1 o estágio curricularsupervisionado entrará na fase eminentementeprática, extraclasse, proporcionando a saudávelconfrontação entre a teoria e a prática, e

possibilitando aos acadêmicos o direcionamentoà atuação profissional. Iniciar-se-á também oprojeto do trabalho de conclusão de curso,propiciando a utilização dos conhecimentos dametodologia científica, aplicados na construçãoda temática objeto de investigação. Tambémestarão em fase de implantação as monitoriasacadêmicas, em algumas das disciplinas, o quedeverá despertar interesse, motivar aintensificação de grupos de estudo e agregarmaior estímulo ao saber.

3 - Perspectivas futurasConsiderando a relevância da abertura

à comunidade, estão sendo definidosprojetos de atuação e serão estabelecidasparcerias com empresas e instituições, deforma a tornar o curso efetivamenteintegrado. Inicialmente, foram definidasparcerias com empresas fornecedoras desoftwares de Contabilidade, não apenaspara obtenção dos seus programasinformatizados, mas para que se estabeleçamaior envolvimento das mesmas namanutenção e atualização dos programas,e treinamento de professores e alunos.

Em linha semelhante, serão buscadosconvênios com empresas e instituições para oingresso de alunos, realização de treinamentos,concessão de estágios, atendimentos pelaEmpresa Júnior e definição de cursosespecíficos. Essas ações irão contribuir para umdiagnóstico da adequação do perfil do egresso,considerando os anseios e as necessidades dasempresas, instituições e comunidade.

Entre os projetos em estudo, merecedestaque a criação de cursos de pós-graduação da Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre, que irão oferecer novasperspectivas de educação continuada, como aprofundamento dos estudos em áreasde interesse dos alunos, através de cursosde especialização acadêmica e profissional.

O Curso de Ciências Contábeis, tal como aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre,continuará a passos firmes para atingir todos osobjetivos a que se propôs quando de sua origem,perseguindo sempre a excelência acadêmica,construindo oportunidades de profissionalizaçãoe cidadania, sob o lema de que formação é atitude.

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por cobertura con calidad significa tambiénpreocupación por la eficiencia académica.

12. La calidad debe poder serapreciada. Esta calidad se expresa en unconjunto de atributos que deben poderpredicarse de los programas académicosy de las instituciones como un todo;atributos que deben poder verificarse ycompararse internacionalmente. Se tratade características identificables por lospares académicos, apreciables por losorganismos competentes y sobre cuyabase el Ministro de Educación, encumplimiento de lo exigido por la CartaPolítica, expide el acto administrativo dela acreditación de los programasacadémicos y de las instituciones, sin quese agote en este mecanismo la posibilidadde rendir cuentas ante la sociedad y elEstado, de la calidad de la oferta educativa.

13. Cobertura con calidad favorecela equidad y posibilita el atender losdesafíos ético políticos que enfrentamosen el país. Sin la calidad como objetivo finaltodas las demás acciones que se definan enmateria de educación superior carecen desentido. A cada una de las instituciones se lepide que haga una oferta con calidad y quefavorezca la equidad social. La impunidad, lacorrupción, el enriquecimiento ilícito, comofenómenos ampliados, cuestionan el tipo deformación que se ofrece a la juventud delpaís. La tasa de escolaridad alcanzada parafinales del siglo y la conversión de la luchapor la calidad en lucha contra los pobresconvierten la forma de funcionamiento delsistema de educación superior en una buenaestrategia para incrementar la brecha entrericos y pobres, generando marginalidad,polarización, y exclusión; y cada vez, conmayores posibilidades de llegar a serinstituciones exitosas en una sociedadfracasada. La sociedad reclama y lamenta lainexistencia de un liderazgo claro de launiversidad colombiana en un momento decrisis de valores, de carencias de visionescomprehensivas de los fenómenos y deposibles hipótesis de solución a los problemas

ya crónicos en los campos económico, socialy político.

14. En la actualidad, y a pesar de losesfuerzos realizados, no podemos hablarde la existencia de un “sistema” deeducación superior y carecemos deinformación oportuna. Una de lascaracterísticas de la expansión del sistemade la educación superior en la últimadécada la constituye la diferenciación. Esdecir, que han surgido nuevos tipos deinstituciones y nuevos proveedores delservicio con un inusitado número deprogramas y de títulos. No hayhomogeneidad alguna en el sistema y éste,como tal, no ofrece la posibilidad al usuariode captar con transparencia la ofertaexistente en el mercado. En el caso de laeducación superior, nos encontramos conun mercado lleno de asimetrías y sininformación; lo que hace pensar que lacalidad promedio haya disminuido,haciéndose imposible apreciar cuáles sonlos resultados que el denominado sistemade educación superior arroja al país.

Recomendaciones El primer pilar de la política en materia

de educación superior consiste en laampliación de cobertura con calidad. Paraello será necesario:

15. Ampliar la base social delsistema de la educación superior.Aumento de cupos en las instituciones decarácter oficial que ofrecen el serviciopúblico de la educación superior. Talescupos estarían orientados a favorecer lossectores más pobres y vulnerables.

16. Diversificar la oferta educativa.Ampliar las modalidades educativas técnicay tecnológica, asumiendo su carácterespecífico respecto de la modalidaduniversitaria, y convirtiéndola en opción decalidad deseable para los jóvenes. Sebuscará que tales programas formen parael trabajo en el campo técnico y en el de lastecnologías duras. Estos últimos,

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dos encargos financeiros (remuneraçãodos agentes financeiros) e dos tributos(remuneração dos governos).

Quanto à atuação harmônica comprofissionais de áreas afins – administradores,economistas, informáticos, advogados,estatísticos – sua instrumentação ocorre pelautilização de metodologia de ensino eaprendizagem que estimule o compartilha-mento de estudos em grupos, habilitando oegresso para a realização competente detrabalhos em equipe.

Esse aspecto vem se concretizandomediante a utilização da metodologia dosgrupos de atividades cooperativas,amplamente disseminada na Faculdade,que vem promovendo curso específico -Curso de AprendizagemCooperativa e TecnologiaEducacional na Universi-dade - Em Estilo Salesiano -com turmas formadas em2004 e 2005, atingindoaproximadamente 80% doquadro de professores.Além de prover o arca-bouço educacional e umaopção pedagógica, o cursoenfatiza a utilização dasnovas tecnologias educacio-nais e de comunicação emmeio informático, e apedagogia salesiana, nos termos daeducação preventiva desenvolvida porDom Bosco que, como se sabe, assenta-se em três pilares: razão, transcendênciae bondade.

Um diferencial estabelecido naconcepção do curso consiste na ênfase aosestágios e ao trabalho de conclusão, deforma a aliar plenamente a teoria à prática.A inserção no mercado de trabalho atravésde estágios curriculares, com umaadequada orientação acadêmica eintegrada à empresa, bem como umacompanhamento personalizado para aelaboração do Trabalho de Conclusão doCurso (TCC), permite uma excelenteoportunidade de efetivo crescimentopessoal e profissional, constituindo um

grande referencial para o Curriculum Vitaedo acadêmico. O currículo do cursoestruturou o estágio e o trabalho deconclusão de curso em cinco módulos,todos com 60 horas-aula, fato nãoobservado em nenhuma das IEScongêneres de Porto Alegre.

Talvez o maior imprevisto tenha sido anão autorização dos dois ingressos anuais,criando alguma dificuldade na ofertasemestral de todas as disciplinas ereduzindo a flexibilidade dos alunos namontagem da sua agenda acadêmica, bemcomo na manutenção constante do corpodocente. A presença do consultor do MECdesignado para avaliação do processo dereconhecimento do curso poderá

representar oportunidadepara pleitear-se oatendimento do projetooriginal.

2 – O desenvolvimentodo Curso

Os valores e os di-ferenciais previstos naconcepção original do cursovêm sendo gradativamenteimplantados, contando comum decisivo apoio daMantenedora e de toda acomunidade acadêmica –

direção, coordenação, professores,técnicos administrativos e corpo discente.Evidentemente, como ocorre com todosos cursos, o de Ciências Contábeis daFaculdade Dom Bosco de Porto Alegreestará sempre se atualizando, adequando-se às mudanças operacionais, tecnológicas,científicas e profissionais.

Para o atendimento dos pilares desustentação do curso, anteriormentereferidos, são abrangidos, no seu currículo,conhecimentos, habilidades e atitudesrelacionados com a capacidade gerencial, coma ética e com a dimensão empreendedora.Na área gerencial, o curso conta com umconjunto de sete disciplinas que promovem acapacitação necessária a esse objetivo:

a) Gestão de Custos;

“O egresso daFaculdade Dom Boscode Porto Alegre terá

uma posturaprofissional mais ativa e

prospectiva, comcapacidade de análise,

de domínio deconceitos e crítico

diante das inovaçõestecnológicas”.

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constituirán a su vez un primer ciclo dentrodel sistema de la educación superior, demodo tal que se favorezca la movilidadestudiantil al interior de la formaciónprofesional y hacia la avanzada.

17. Orientar la política de créditoestudiantil hacia instituciones yprogramas académicos acreditados.Aunque el crédito educativo forma partede la política de financiamiento, se resaltala importancia que tiene para el fomentode la calidad de la oferta y comoinstrumento para direccionar el sistemahacia objetivos deseables en el marco delinterés público. Adicionalmente, seconsolidará la acción del Consejo Nacionalde Acreditación para introducir en todaslas instituciones una cultura delrendimiento de cuentas y en la que lacalidad sea un valor que compromete elser y el hacer de cada una de ellas.

18. Buscar la transparencia delsistema de la educación superior. Ental sentido es prioritario el Desarrollo delSistema Nacional de Información, creadopor la Ley 30 de 1992. Esta transparenciaestará orientada a acabar con las asimetríasdel mercado educativo de este nivel y adarle transparencia al funcionamiento delsistema.

19. Seguir consolidando una políticapertinente en materia de formaciónavanzada que haga posible la formaciónde los docentes universitarios y deinvestigadores de alto nivel. En estadirección se apoyará la acción de laComisión Nacional de Maestrías yDoctorados en materia de acreditación deprogramas y se creará un mecanismo definanciamiento de los doctorados en el país.

20. Formar los docentes. Unapreocupación central en la lucha por lacalidad consiste en desarrollar programasagresivos en materia de formación denuevos académicos y de perfeccionaraquellos que se encuentran en ejercicio.

Se trata de una tarea que será asumida através de esquemas que responsabilicen alos gobiernos, a las instituciones y a losinteresados, de modo que a futuro todoacadémico posea el doctorado, sindetrimento de los talentos actuales queestán en ejercicio. La carrera académicaserá fortalecida, corrigiendo sus fallasactuales y urgiendo como criterio últimoel mérito académico, apreciado por lospares.

3. FINANCIAMIENTO PARA LAEQUIDAD

Motivaciones21. No tenemos consenso en

materia de una política definanciamiento. Según datos dePlaneación Nacional, “el total del gasto eneducación superior entre 1985-1998 semultiplicó por 3.7, incremento que se diofundamentalmente a partir de 1992. Hasta1991, el crecimiento, el crecimiento anualpromedio fue de 1.2% (7% en total);entre ese año y 1998, fue del 35% anualpromedio (146% en total), teniendo en1998 el crecimiento anual y el nivel másalto de todo el período”. La promulgaciónde la Ley 30 de 1992 estableció que losaportes anuales del presupuesto nacionaly el de las entidades territoriales a lasuniversidades estatales debían tener unincremento real tomando como base lospresupuestos de rentas y gastos de 1993,con la consecuencia de un incremento entérminos reales desde este último año. Sinembargo, en los últimos años, no sólosobre los montos de las transferencias derecursos sino sobre su alcance ysignificación hay diferencias marcadas enla discusión nacional. Las diferencias, soncon frecuencia radicales sin que hasta elpresente se tenga un consenso en estamateria entre los diferentes actores de laeducación superior. Como sucede enotros países, hacia el futuro será necesariopoder avanzar en la discusióntrascendiendo las posiciones unilateralessustentadas en información parcial e

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Na verdade, os conhecimentos trazidospelo curso de Ciências Contábeis,notadamente aqueles que não visamexclusivamente ao controle patrimonial,mas também à gestão e à ação conjunta eharmonizada com os conhecimentosobtidos em outras áreas profissionais, sãocada vez mais imprescindíveis para odesenvolvimento de qualquer nação.Desde a fase inicial de qualquerempreendimento (análise de viabilidade,plano de negócios e constituição formalda empresa), até as fases pré-operacional,operacional e mesmo na descontinuidadeorganizacional, as empresas têm nosconhecimentos do profissional da áreacontábil um dos seus importantes pilares.

Utilizou-se, então, comosinalizador da procura decandidatos/vaga o históricodos concursos vestibularesanteriores da UFRGS(Universidade Federal doRio Grande do Sul), cujadensidade estava crescendode sete candidatos por vagaem 1997, para 9,87 em2001, com demanda re-primida. Posteriormente,conforme se observa noQuadro 1, houve um gradativo retorno aopatamar inicial, mantendo-se na faixa entresete e oito candidatos por vaga. Estedeclínio pode ter sido causado pelaautorização do funcionamento de diversosnovos cursos de Ciências Contábeis emfaculdades de Porto Alegre, entre os quaissão exemplos: Faculdade São Francisco deAssis (UNIFIN), Faculdades MonteiroLobato (FATO), Escola Superior deAdministração, Direito e Economia(ESADE). Além disso, observou-se umaumento no número de vagas em cursosjá existentes, bem como determinadasfacilidades financeiras, como a redução dopreço das mensalidades, com ou sem aampliação do prazo de conclusão do curso.

Quadro 1 – Candidatos por Vaga nosVestibulares da UFRGS

onA agav/otaditnaC sotadidnacºN sagavºN

6002 01,7 499 041

5002 04,7 630.1 041

4002 10,7 189 041

3002 68,8 042.1 041

2002 96,7 670.1 041

1002 78,9 283.1 041

0002 57,7 580.1 041

9991 00,8 240.1 031

8991 05,7 579 031

Fonte: www.ufrgs.br/vestibular, disponível em 04/11/05, adaptado.

O curso foi concebido tendo em vistatrês bases principais desustentação:

a) contribuição decisiva àação gerencial;

b) elevada responsabi-lidade social;

c) atuação harmônicaconjugada com profissionaisdas áreas afins.

No primeiro aspecto, daação gerencial, o Contador éum profundo conhecedor darealidade econômico-

financeira da empresa. Portanto, não se deveprescindir do seu apoio ao processo detomada de decisão. As organizações vêmreconhecendo este papel, com crescenteaproveitamento de Contadores na funçãode Controller, Contador gerencial, analista decustos e das demonstrações contábeis.

No que concerne à responsabilidadesocial, a Contabilidade vem contribuindoenormemente para a divulgação das açõessociais da empresa, mediante o que seconvencionou chamar de “Balanço Social”.Neste, são incluídas informaçõesrelevantes sobre as políticas da empresaou instituição em relação aos seuscolaboradores e comunidade, os fluxos degeração do valor adicionado e a suadistribuição para os segmentos do trabalho(remuneração da mão-de-obra), do capital(remuneração dos sócios ou acionistas),

“Um diferencialestabelecido na

concepção do cursoconsiste na ênfaseaos estágios e ao

trabalho deconclusão, de formaa aliar plenamente a

teoria à prática”.

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intereses particulares hacia una salida cuyabase se fundamente en los desafíosactuales, en un manejo lúcido de losnuevos contextos y en la conciencia delinterés general.

22. La educación superior tiene unvalor en sí misma. En relación con elfinanciamiento, todos los sectores de lasociedad y el gobierno reconocen el valorintrínseco de la educación superior, comoestrategia para el desarrollo del país ymedio insustituible para el logro de unacultura de paz, inspirada en los valores dela justicia y la solidaridad entre losciudadanos. Sin ella no es posible, en elmundo actual y para el inmediato futuro,que las personas adquieran la capacitaciónrequerida para insertarse con dignidad enel mundo laboral; ni que el país puedaaumentar su productividad y competitivi-dad en el escenario internacional; ni quelas exigencias mínimas de un Estado socialde derecho cobren realidad; y ni siquieraque la identidad cultural se mantenga demodo consistente dentro de una culturaplanetaria.

23. El Estado tiene una obligacióncon el financiamiento de la universidadpública y con la producción de nuevoconocimiento. Corresponde a losgobiernos asegurar que exista en el paísuna distribución adecuada deoportunidades educativas del nivelsuperior en la cantidad y calidad querequiere el desarrollo del país y que semantenga y amplíe el potencial deinvestigación tecnológica y científica entodas las áreas del conocimiento. Para ello,aquellos cuidarán de modo explícito porla coherencia entre le política de ciencia ytecnología y la de educación superior,velando en ambos casos por elfinanciamiento directo de tales actividadesrealizadas en el marco de la Constitución,de la Ley y de las tradición de excelencia,garantizada a través del cumplimiento deestándares de calidad.

24. Debemos acordar valores nonegociables en la asignación de losrecursos en educación superior. Lasituación actual del país interroga elsentimiento de eticidad de todos losagentes que intervienen en el funcionami-ento del conglomerado de las institucionesy, a pesar de las limitaciones, todos lossectores valoran los esfuerzos realizadospor cada uno de ellos en mayor o menorgrado y los insta a comprometerse demanera más decidida con el futuro del país,desde su particular posición en elentramado social. El país necesita que enmateria de financiamiento se asumancomo valores fundamentales nonegociables: la vinculación de la asignaciónde recursos con objetivos propuestos yeficiencia en el uso de los mismos; laintegridad institucional; la coherencia, lacompetitividad, la eficacia y eficiencia desu acción con conciencia del interés generaly de la naturaleza de bien público que tieneel servicio que prestan.

25. Los gobiernos deben velar porel uso correcto de los recursos. Enmateria de educación superior, laintervención de los gobiernos no esarbitraria. Tal intervención es exigida porla Carta Política, de modo respetuosorespecto de las instituciones que ejercensu autonomía con responsabilidad, peroconscientes, entre otras cosas, de suobligación de velar por la correctaaplicación de los recursos en el ámbito dela educación superior.

26. Toda política de financiamientoes una manera de orientar elcrecimiento del sistema. La aplicacióndel subsidio en materia de educaciónsuperior debe inspirarse en la necesidadde incrementar calidad; de adecuarpaulatinamente la prestación de esteservicio público a estándares internacio-nales; por la convicción de que lasinstituciones de educación superior debenprestar un servicio pertinente y respetuosode los referentes universales del

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6- Concepção e Desenvolvimento do Curso deCiências Contábeis

1. A concepção do Curso de CiênciasContábeis

A abertura de um curso de CiênciasContábeis em Porto Alegre, em 2002,justificava-se, inicialmente, porque a capitalgaúcha é uma grande metrópole e um pólogeoeconômico e educacional, com vastagama de empreendimentos industriais,comerciais, financeiros, educacionais e deserviços em todos os setores econômicos,para os quais o Contador exerce papelimportante.

Também mereceu destaque a posiçãogeográfica de Porto Alegre, no contextodo Mercosul, considerando-se a elevadaparticipação da economia gaúcha nomercado de exportação e importação.Deve-se recordar que tem sido política

perene do governo federal o estímulo àsexportações, vislumbrando-se desafios noestudo de práticas de comércio exteriore na harmonização dos princípios e normasinternacionais de contabilidade.

Existia, à época, uma grande demanda decandidatos ao curso, conforme seráevidenciado mais adiante, provavelmente emface dessas condições favoráveis decorrentesda economia local e do seu histórico deatuação, estimando-se, igualmente, elevadademanda pelos profissionais da área contábil,ao assumir-se o pressuposto de que oContador é um profissional indispensável emqualquer organização, independentementedo seu porte e segmento de atuação.

Aécio Cordeiro NevesCoordenador do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade

Dom Bosco de Porto Alegre, RSLuiz Dal Molin

Professor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS

Resumo: Na concepção do Curso deCiências Contábeis da Faculdade DomBosco de Porto Alegre, em 2002,considerou-se a posição geográfica dacapital e a robustez e participação daeconomia gaúcha no contexto nacional edo Mercosul. A densidade deaproximadamente oito candidatos porvaga, na UFRGS, foi também considerada.

O Curso veio atender à demanda porum profissional que, conjugando umaatuação harmônica com outrosprofissionais das áreas afins, com elevadaresponsabilidade social, contribuadecisivamente para a qualificação da açãogerencial.

Palavras-chave: Ciências Contábeis,Formação gerencial, Ética.

Abstract: In the conception of theCourse of Countable Sciences of theCollege Dom Bosco of Porto Alegre, in2002, it was considered the geographicposition of the capital and the robustnessand participation of the gaucho’s economyin the national context and of theMercosul. The density of approximatelyeight candidates for vacant, in the UFRGS,also was considered. The Course came totake care of to the demand for aprofessional who, conjugating a harmonicperformance with other professionals ofthe similar areas, with raised socialresponsibility, contributes decisively for thequalification of the managemental action.

Keywords : Countable Sciences,managemental Formation, Ethical.

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conocimiento, y por la convicción de losgobiernos de su responsabilidad respectodel desarrollo del conocimiento de lashabilidades y la capacidad de innovaciónde los colombianos.

27. La sociedad requiere de unsistema de educación superior másequitativo y pertinente. Es urgente,como ya se señaló, ampliar la base socialdel sistema y también, seguir insistiendo,como lo hizo en su Informe final la “Misiónpara la Modernización de la Universidadpública”, en la necesidad de: volcarse sobrelos sistemas medio y primario paracontribuir a modernizarlos en renovaciónespiritual, eficiencia y calidad; focalizarproyectos en el grado once de enseñanzamedia, especialmente de los colegiospúblicos, cuyas dificultades de entorno yde recursos les impiden alcanzar laexcelencia por sí mismos, para con ellosbuscar esa excelencia y contribuir a laorientación profesional de sus bachilleres;sistematizar nuevos criterios einstrumentos para que la selección de losmejores no obedezca exclusivamente auna medición del mayor número deconocimientos e información acumulados,sino que se oriente a identificar lasaptitudes y habilidades básicas, que tiendena estar distribuidas en forma similar entrelos diferentes estratos y que constituyenel activo fundamental en nuestro avancecientífico y cultural; programas desostenimiento y sistemas de soporte desdeuna perspectiva del bienestar estudiantil.

Los sectores privado y público de laeducación deben hacer una ofertaeducativa que de modo proactivo sirva aldesarrollo del país y a las necesidades desu evolución, sin perder en ello su funcióncrítica. Este esfuerzo les permitirá ser máspertinentes y satisfacer de manera másadecuada las diversas demandas. Unamayor equidad será posible si se logra unesfuerzo de los gobiernos, de la sociedady de los individuos. Las familias y losindividuos que pueden pagar su educación

superior deben hacerlo; para brindar asíoportunidades de formación a un mayornúmero de estudiantes de menoresrecursos mediante el aprovechamiento delos subsidios del Estado. También lasinstituciones, al comprometerse con laequidad deberían preocuparse por las altastasas de deserción y repitencia que seobservan en muchas de ellas.

28. Necesidad de informaciónoportuna como factor de equidad. Ladinámica de transformación del sistema deeducación superior en la última década nosmuestra la limitación de los gobiernos paraejercer su función de fomento, inspección,control y vigilancia, de modo eficiente, sininformación. Esta última, es el instrumentocomplementario y esencial de toda laacción gubernamental en materia deeducación superior. La información es ungarante de calidad y un apoyo de laequidad, tanto como una herramienta degestión que facilita la planeación, la tomade decisiones, el seguimiento y el controlen el interior de las instituciones y en elsistema como un todo, haciendo explícitala especificidad de las diferentes ofertasen el mercado.

29. El sistema de educación superiordebe tener direccionalidad. Más allá deuna posición maniquea respecto a lafinanciación de la demanda o de la oferta,la acción de los gobiernos, a través de supolítica de asignación de recursos oaplicación de subsidios, podrá orientar lademanda y dirigir el sistema hacia metasdeseables en función de la consolidaciónde las instituciones y de la calidad, equidady pertinencia de la oferta. De esta manera,sería deseable que la financiación de laoferta sea realizada en función deresultados alcanzados y previamentenegociados.

En relación con la gestión de lasinstituciones de educación superior:

30. Tenemos problemas en materia

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Catarina (UDESC).A verificação in loco dos dados e das

informações disponíveis se deu no períodode 28 de outubro a 3 de novembro de2002. A Faculdade Dom Bosco de PortoAlegre foi autorizada pela Portaria 3254de 26 de novembro de 2002, publicadano Diário Oficial da União de 28 denovembro de 2002. O Curso deAdministração foi autorizado pela PortariaMinisterial 3256, de 26 de novembro de2002, publicada no Diário Oficial da Uniãode 28 de novembro de 2002.

Uma vez credenciada a Faculdade eautorizado o Curso de Administração, fiqueiem dobrada expectativa: a realização doprimeiro vestibular e a minha nomeaçãocomo coordenador do curso. O vestibularaconteceu em 12 de fevereiro de 2003 com120 candidatos, sendo 60 alunosmatriculados. E a minha segunda expectativatambém foi atendida.

Depois de ter trabalhado com afincono projeto, de ter aguardado meses pelaaprovação, a Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre e os seus cursos CiênciasContábeis, Sistemas de Informação eAdministração começaram a funcionarem março de 2003 nas dependências doColégio Salesiano Dom Bosco, na RuaEduardo Chartier, 360.

Este é o meu depoimento sobre acriação do curso de Administração. Cabeum registro de agradecimento aos colegasprofessores Luiz Dal Molin, AécioCordeiro Neves e Letícia Silva Garcia, eespecialmente ao Padre Marcos Sandrinie Professor Erneldo Schallemberger, peloapoio e companheirismo nesta jornada querecém está começando. Haverá uma outraoportunidade – quiçá quando dacomemoração dos 10 anos da abertura daFaculdade – para dizer sobre o andamentodo Curso de Administração.

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de gobernabilidad interna de lasinstituciones. Cada vez es más urgenteintervenir en los problemas degobernabilidad de algunas instituciones deeducación superior. Es urgente procedera un análisis crítico de las reglas de juegoexistentes en las instituciones en relacióncon sus estructuras de gobierno, losgrados de participación profesoral yestudiantil, sus estilos de gestión y lossistemas de elección. La experienciareciente en los procesos de elección dedirectivos en algunas instituciones urge quela sociedad exija que se renuncie a laintervención de los partidos o grupos depoder externos y a las prácticas indebidaspara la perpetuación de privilegios porparte del poder corporativo en la dinámicainterna de las organizaciones universitarias.La autocrítica es una estrategia para lasinstituciones del sector para alcanzar unamayor legitimidad ante la sociedad comoun todo.

31. Hay que adelantar una campañaen el gobierno y en las institucionescontra la ineficiencia. En un contextode escasez de recursos la ineficiencia enel uso de los recursos coloca a lasinstituciones en un estado de extremapostración. Es necesario que tanto losgobiernos como las instituciones en supropia esfera asuman la eficiencia comoun valor vinculado con la responsabilidadsocial que tienen en la prestación delservicio público de la educación superior.Cada vez es más urgente incentivar laracionalidad en el uso de los recursos,especialmente en las instituciones que sonmás favorecidas con recursos de origenfiscal, independientemente del fuero quelas cubra.

RecomendacionesEl segundo pilar de la política de Estado

en materia de educación superior estárelacionada con el financiamiento delsector. Este tópico presenta las mayoresperplejidades y constituye el punto quediscrimina las más diversas posiciones

entre los distintos agentes educativos,particularmente, entre el gobierno y elpoder corporativo predominante en lasinstituciones públicas. En la base de lasdiferencias se encuentran concepcionesdiferentes respecto a la naturaleza delservicio público que prestan lasinstituciones y al papel de los gobiernosen la educación; y en función de ello,respecto de los criterios, monto ymecanismos de asignación de los recursos.

32. Los gobiernos y los diferentesactores de la educación suprior oficialharán un esfuerzo que permita avanzar enla discusión sobre el financiamiento entorno a los siguientes puntos centrales queya han sido objeto de discusión en el país:Definición de criterios para latransferencia de recursos de losgobiernos a las universidades públicasvinculados a la evaluación de laeficiencia en el uso del recurso;diversificación de la fuente de losrecursos, incluyendo en ella lamasificación del crédito estudiantil;constitución de un fondo definanciación de la educación superiory el establecimiento de un estatutofinanciero para la universidad pública,que incluya una reforma del régimenlaboral de los docentes.

33. Hacia el futuro, la acción de losgobiernos se basará en la promociónde la responsabilidad que todos losagentes del sector tienen en laorientación, conformación y destinodel sector. Esta posición permitirá, de unaparte, excluir la existencia de un gobiernobenevolente que todo lo define, queofrece recursos sin pedir cuentas y queen nombre de su supremacía terminasiendo ineficiente; pero de otra, pone derelieve, a la par de su responsabilidad, lade todos los agentes, incluido el podercorporativo, en una autonomía amplia, quefundamenta la autorregulación y obliga acomprometerse con las formas queadopte el sistema.

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Direito, Informática, Administração Pública eEconomia, que permitirão ao profissional umaleitura de todo o contexto sócio-econômico;

c) incentivo à formação continuada pelaoferta de cursos de extensão universitáriae de pós-graduação;

d) oportunidades de desenvolvimentode sua capacidade empreendedora e deadministração, na participação emempresa júnior, na monitoria acadêmica,em seminários de atualização, além dasatividades obrigatórias de estágiosupervisionado e do trabalho de conclusãode curso.

O curso se desenvolve em doisambientes: interno e externo. Sãoconsideradas atividades internas aquelasque se desenvolvem intramuros daFaculdade, como salas de aula, laboratóriode informática, biblioteca, monitoriaacadêmica. São consideradas atividadesexternas aquelas desenvolvidas fora daFaculdade, pela participação do aluno emseminários, em empresa júnior, em estágiossupervisionados e em trabalhos extraclasse.Nas atividades internas, a metodologia detrabalho conta com aulas expositivas edialogadas, com estudos dirigidos, comestudos de casos, com análise de textos,de revistas especializadas em administraçãoe em economia, com simulações emcomputador, simulações e jogos deempresas, e com exercícios em sala de aula.Nas atividades externas, a metodologia docurso prevê a atuação prática do aluno emestágios supervisionados, na empresa júnior,e em trabalhos extraclasse e na participaçãoativa em seminários de atualização. Emambos os ambientes, a participação doaluno é, antes de ativa, pró-ativa, no sentidode se antecipar aos fatos, quandocontroláveis. Toda atividade, seja interna ouexterna, é incentivada e supervisionadapelos professores e pelo coordenador decurso.

A qualidade do ensino ficará asseguradapela qualificação do corpo docente do qualé exigido que tenha, além de conhecimentosvivenciados e práticos em administração deempresas, adequada formação acadêmica,

com mestrado e doutorado. A qualificaçãoé garantida não só pelo envolvimentoacadêmico dos professores, mas tambémpela Política de Qualificação Docente e peloPlano de Carreira Docente.

A matriz curricular elenca as disciplinasconforme a Resolução nº 02/93, de 4 deoutubro de 1993, do Conselho Nacionalde Educação, distribuídas por novesemestres. O aluno que cursaAdministração na Faculdade Dom Boscode Porto Alegre tem em sua formação acontribuição de disciplinas específicas deadministração nas áreas de estudos daTeoria da Organização, Administração daProdução, Administração de Materiais ePatrimoniais, Organização Sistemas eMétodos, Administração de RecursosHumanos, Administração Mercadológica,Administração Financeira e Orçamentária,Administração de Sistemas de Informação,Empreendedorismo. Completam suaformação as disciplinas de Ciências Exatas,Contabilidade, Direito, Informática, LínguaPortuguesa, Economia e umarepresentativa carga de disciplinashumanístico-sociais. Os planos deensino identificam a disciplina, a ementa,os objetivos, a metodologia de ensino, oscritérios de avaliação e a bibliografia.

6. Conclusão do processoNós tínhamos pressa na autorização de

funcionamento do Curso de Administração,além de Sistemas de Informação e CiênciasContábeis. Para surpresa de todos, o MECfechou as portas para pleitos de autorizaçãode cursos, de qualquer natureza e área,durante um semestre, para finalmente, em2 de outubro de 2002, a Diretora doDEPES/SESu, Sra. Maria Aparecida AndrésRibeiro, em Despacho nº 0017/2002-MEC/SESu/DEPES, designar a Comissão quehaveria de “verificar a existência decondições para credenciar a FaculdadeDom Bosco de Porto Alegre e paraautorizar os cursos...” Para o Curso deAdministração foi designado o ProfessorAmilton Giácomo Tomasi, Diretor da ESAGda Universidade do Estado de Santa

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34. La política de financiamientoseguirá criterios incuestionables. Losgobiernos establecerán una política deasignación de los recursos que responda acriterios relacionados con el reconocimie-nto del valor intrínseco de la educación y elaporte que las instituciones hacen aldesarrollo de la sociedad como un todo, ysobre la base de la calidad de su desempeño,de la optimización que hacen de susrecursos, de la generación de ingresospropios, de la pertinencia de la oferta, de laproductividad docente, de la investigaciónque realizan y del aporte que hacen a laampliación de cobertura del sector.

35. El crédito educativo y laformación doctoral son prioridadespara los gobiernos. Particularimportancia revestirá, entre lasprioridades de acción de los gobiernos,la masificación del crédito educativo; unaambiciosa política de becas para losestudios de pregrado y la creación de unfondo que haga viable la formación dedocentes a nivel doctoral; así como unagenerosa política de estímulos haciaobjetivos precisos, involucrando en eldiseño de los mecanismos utilizados: elfomento a la cultura de la evaluación, elejercicio de la autonomía responsable, laacreditación de programas académicos einstituciones y la transparencia de lasinstituciones en sus formas de operación.

36. La acción de los gobiernos no sereduce a hacer transferencia derecursos y a establecer subsidios, sinoque comprende la supervisión y elfomento. En función de la primera, se haráun reajuste de los organismos yprocedimientos de conducción ycoordinación del sector; se precisará,aclarará y simplificará la regulaciónexistente; se fijarán condiciones para lacreación de instituciones y programasacadémicos; se estimulará la introducciónde una cultura de la evaluación; seestablecerán los exámenes de Estado y se

desestimulará el cambio de carácteracadémico de las instituciones. En funciónde la segunda: Los gobiernos fijaránestándares de calidad del servicio públicode la educación que se brinde; estimularánla competencia en el mercado educativo;establecerán reglas de juego, pocas,precisas y con viabilidad indudable para elsector público y privado; contrataránservicios en materia de educación superiory todo ello sin alimentar una políticacentralista, ni de laissez-faire. La pluralidadde focos de acción y puntos de decisiónlejos de empobrecer su influencia,aumenta y aquilata su intervención.

37. Mejorar la gobernabilidadimplica tocar intereses de personas yde grupos y, por lo tanto, los gobiernoscomo los agentes educativos asumirán elcompromiso de afectar los intereses delas burocracias universitarias, modificarprácticas en la docencia y en las actividadesde investigación, buscando ser máspertinentes frente a diferentes demandasactuales y velar por la pertinencia delconocimiento que se distribuyeestratégicamente en los planes de estudio,respecto del estadio de desarrollo de lasdisciplinas y con relación a los aspectosético políticos del desarrollo. A estosesfuerzos se unirán de modo indisolublelas medidas para propiciar la libertadacadémica, ejercer una gobernabilidadcompartida, obrar con respeto por elprincipio de la excelencia y mérito frentea las presiones indebidas de todo signo yasumir la responsabilidad de rendir cuentasy obrar con integridad y coherenciarespecto a la misión institucional.

38. Lograr claridad en laestructuración del Sistema de laEducación Superior. En esta dirección,el gobierno actual y sus organismoscoordinadores se comprometen a definirel ordenamiento de las instituciones conbase en los Proyectos Educativosinstitucionales (PEI) que presenten. TalesPEI serán articulados tomando como

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recursos humanos e materiais. Justifica-sepor ser um curso de formação em todas asáreas da ciência da Administração,acompanhando as exigências do mercado detrabalho e do empreendedorismo.

4 . Fundamentação teóricaAo concluir o curso, a Faculdade estará

entregando à sociedade e aos agenteseconômicos, públicos e privados, umBacharel em Administração dotado decompetências e habilidades que impul-sionem o desenvolvimento do país. A suapreparação estará fortemente orientadapara a atuação nas funções classicamentereconhecidas de planejar, organizar,dirigir, controlar e coordenar atividadesempresariais, tanto como executivo deempresas ou de organizações, quantocomo empreendedor, ao lançar-se emnegócio próprio.

O curso define como requisito básicouma visão estratégica de todos os cenáriosmacroeconômicos e microeconômicos,sustentados por uma formação sólida emtodas as áreas da ciência da Administração.Espera-se também que o egresso exerçacom ética e proficiência as atribuiçõesinerentes à sua função, concebendo,implantando e administrando recursoshumanos, materiais e financeiros para oalcance de metas estabelecidas noplanejamento estratégico das empresas edos empreendimentos.

O profissional que se pretende formarnão deve se limitar à capacidade de operaras mais reconhecidas técnicas de gestãoempresarial, mas de refletir e atuar sobre arealidade econômico e social a partir desólidos elementos éticos e humanístico-cristãos.

O formando que a sociedade receberáserá proficiente na motivação para pró-atividade; na visão sistêmica dos órgãosque interagem na empresa; no raciocíniológico e crítico-analítico, para solução deproblemas; na articulação e na liderançade equipes multidisciplinares, visandoobjetivos comuns; na busca da conciliaçãodos objetivos pessoais e institucionais; no

uso de linguagem técnico-administrativa;na investigação e na pesquisa como fonteda construção do saber. Projeta-se umBacharel em Administração comaprimorada capacidade e competência dedesempenho nas habilidades intelectuais,interpessoais, de comunicação etecnológicas, e emocionais.

O administrador é um profissionalespecializado na gestão de empresasindustriais, comerciais e de serviços. Ocurso quer proporcionar ao acadêmicoo domínio nas principais áreas daadministração, a saber: recursoshumanos, produção, logística empre-sarial, materiais, vendas e marketing,finanças, planejamento, administraçãogeral com forte enfoque em empreen-dedorismo. O curso municia o aluno abuscar formação e informação nodesenvolvimento de um negócio próprio,onde a veia de empreendedor – nata edesenvolvida pelas habilidades ecompetências – ficará amplamentealimentada pelo suporte técnico-científicoque a integralização do currículo propõe.O curso dá ao aluno plenas condições auma inserção exitosa no mercado detrabalho formal para desenvolver carreiraexecutiva em grandes organizações. Alémdas disciplinas curriculares terem forteenfoque nas principais áreas da adminis-tração, o perfil do administrador secompleta com disciplinas humanísticas edo pensamento cristão salesiano,formando cidadãos responsáveis para asociedade e para a família.

5. Metodologia de trabalhoA metodologia de trabalho proposta

para o curso, que visa à formação de umprofissional de alta qualificação, estáalicerçada em:

a) sólida formação humanística, visandoo homem ético e o seu melhorrelacionamento interpessoal;

b) forte formação em disciplinas específicasda administração, complementada comconhecimentos teóricos e práticos deMatemática, Estatística, Contabilidade,

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criterio: los subniveles de formaciónpráctico, profesional y avanzado; los tiposde conocimiento diferentes queinvolucran cada uno de éstos, a saber:científico, técnico y tecnológico (cienciasnaturales y exactas, ciencias sociales yhumanas, ciencias de la salud, lasingenierías), artes, humanidades, filosofíay pedagogía; y las reglas de juego de suacción y las del Estado en materia defomento y de supervisión. Para ello setomará como base la propuesta que seha venido discutiendo en el país en losúltimos dos años .1

39. El gobierno actual adelantará unarevisión del número y función de losorganismos que orientan y coordinan suintervención en materia de fomento, deinspección, control y vigilancia. De igualmanera, buscará simplificar y disminuir sunúmero a lo estrictamente necesario, enfunción de una redefinición de trámites quecomunique eficiencia y eficacia a lacoordinación de los organismos delgobierno.

4. AUTONOMÍA Y RESPONSABILIDAD

Motivaciones40. Las instituciones de educación

superior tienen obligación en laconstrucción de lo público. Estasinstituciones tienen una responsabilidad yun compromiso con objetivos, metas,bienes y servicios que responden a lavoluntad general y a los intereses de lasociedad. La universidad como institucióny cada una de las otras instituciones quebrindan el servicio de educación de nivelsuperior se deben a la sociedad, son partede lo que ésta incorpora dentro delespectro de sus intereses generales; esdecir, dentro del ámbito de lo público; porello tienen como deber responder conexcelencia a esa expectativa, formandopersonas con capacidad para hacer usopúblico de su razón. En un Estado Social

de Derecho la responsabilidad por elfuturo de la educación no es exclusiva delos gobiernos, también las institucionescomo los sectores sociales deben velar yactuar para que tal esfera se inspire en losprincipios de la justicia y el bien público.

41.La producción de nuevoconocimiento es una actividadautónoma. La autonomía en sentidopleno se predica de la instituciónuniversitaria y consiste en su capacidad deautodeterminación para asumir desde sí lasexigencias propias de la producción delconocimiento y aquellas que se derivan desu compromiso último con el destino dela razón humana en la sociedad. Laproducción de nuevo conocimiento comola función crítica que le compete a launiversidad en relación con su medio seencuentran jalonadas por la búsqueda dela verdad sin restricciones y no sonpensables si el medio la coartara en suejercicio. Frente a esta exigencia laautonomía administrativa y financiera soncondiciones necesarias pero no suficientes.

42. La efectividad de la autonomíadepende de la fidelidad de launiversidad a sí misma, de la convicciónque la comunidad educativa posearespecto de la responsabilidad social queconlleva ser autónomo y del tipo derelaciones que cada institución guarde conlos gobiernos y con los diversos poderesdel entramado social. Esta autonomíauniversitaria está en función delcumplimiento del fin educativo que brotade la naturaleza misma de la universidad.

43. La autonomía implica respon-sabilidad. En vano se predica la autonomíarespecto de una institución si en ésta no seprofesa una voluntad de verdad que leobliga a comportarse en conformidad conexigencias universales del conocimiento,con aquellas que dimanan de la naturalezadel servicio público que prestan y con las

1 Véase: Documento: Bases para una Política de Estado en materia de Educación Superior. Capítulo 3. ICFES. Bogotá. 2000.

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uma vertente generalista, onde as principaisáreas de estudos são análogas às principais áreasoperacionais de uma empresa. Os eixostemáticos de enfoque procuram conciliar adiscussão teórica com a transferência das maismodernas técnicas de administração existentese comprovadas, dando ênfase em todo o cursoe em todas as disciplinas à questão doempreendedorismo. A Faculdade desejaoferecer à sociedade gaúcha a formação deadministradores que, além de uma carreiraexitosa, como executivos de empresas ou deorganizações, ou como empreendedores,tenham uma visão de pessoa humana e desociedade comprometida com a dignificaçãodas relações sociais e com a criação deoportunidades para todos, naperspectiva da solidariedade e dajustiça social.

O Curso de Administraçãode Empresas tem por objetivoformar profissionais quetenham capacidade de gerirempresas e/ou organizações,públicas e privadas, visandoatingir resultados que visem aodesenvolvimento sustentável eresponsável de recursoseconômicos muitas vezesescassos, aplicando as maismodernas técnicas de gestãoempresarial. O curso tem ainda o objetivo dedesenvolver nos alunos a capacidadeempreendedora para negócios próprios,característica que marca o seu currículo e quepermeia as disciplinas, tanto de conteúdotécnico quanto humanístico.

3. A marca salesianaA educação de jovens, especialmente

os mais pobres, e de adultos tem fortepresença nas atividades dos salesianos deDom Bosco, remontando ao princípio doséculo XX. No campo da educação, ossalesianos atuam em todos os níveis dosistema educacional vigente no país. OEstado do Rio Grande do Sul temrecebido forte incremento no processode industrialização, no comércio e nageração de serviços, especialmente em

telecomunicações. O Estado ocupa umaposição de quarto lugar entre os estadosmais desenvolvidos do Brasil. Grandeparte deste desenvolvimento seconcentra na Região Metropolitana dePorto Alegre, sede da Faculdade, queexerce forte polarização sobre todo oEstado e sobre grande parte dos Estadosde Santa Catarina.

Um curso de Administração deEmpresas, como o que está se propondo,vem ao encontro das necessidades deprofissionais qualificados que os diferentessetores da economia e da sociedade estãoa exigir. Um curso que proporcione aosagentes econômicos oportunidade de

buscar profissionais comforte embasamento téc-nico-administrativo, voltadopara o empreendedoris-mo. Não se entenda aquiempreendedorismo comoadministração de micro epequenas empresas. Poresta razão, as diretrizescurriculares propostasestão orientadas paramédias e grandes empresas.O profissional formado paragrandes empresas certa-mente é mais bem prepa-

rado para ser empreendedor, além daqualidade natural para tal iniciativa.

A Faculdade está localizada na zona norteda cidade de Porto Alegre, num eixo dearticulação de cidades industriais comoCachoeirinha, Gravataí e Alvorada. Tanto naregião norte da cidade de Porto Alegre,como nas citadas cidades, a oferta de cursosde Administração é restrita, o que garanteum amplo espaço para a instalação do cursoproposto. Ademais, a rede estadual eparticular, das escolas de nível médio, e asdos salesianos, têm um potencial enorme depostulantes para o ingresso na Faculdade.Portanto, não se trata simplesmente de maisum curso de Administração de Empresas.O curso pretende diferenciar-se por trazertoda a experiência salesiana de fazereducação, utilizando os mais modernos

“O perfil doadministrador se

completa comdisciplinas

humanísticas e dopensamento cristãosalesiano, formando

cidadãos responsáveispara a sociedade e

para a família”.

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que se desprenden de su propia misión.

44. La autonomía no es absoluta. Laprestación del servicio público de laeducación superior se realiza en el marcode la Carta Política y de la Ley. Una y otraexigen la intervención del Estado paragarantizar la fe pública depositada en lasinstituciones por quienes acceden alservicio público de la educación; para hacercumplir la normatividad existente enmateria de educación superior; parapropender por una participación efectivade la sociedad civil en las estrategias queasuman las instituciones en sus procesosde rendimiento de cuentas; para producirinformación relevante para el usuario, quele permita establecer comparaciones entreinstituciones y programas académicos ycaptar señales de otros sectores sociales;desarrollar mecanismos de evaluación dela calidad del servicio que prestan lasinstituciones públicas y privadas, enconformidad con las exigencias de ley.

45. En un Estado Social de Derechono riñen entre sí la autonomía que serequiere para cumplir la función deproducción de nuevo conocimiento yejercer la función crítica, con laintervención del Estado en materia dela prestación del servicio público de laeducación. Una y otra trascienden suparticularidad en el interés vinculante porlo público al que una y otra contribuyenen su ejercicio propio.

46. Tampoco riñen entre sí laautonomía universitaria y la libertadacadémica. Esta última corresponde a laspersonas (investigadores, profesores yestudiantes) y se expresa en la libertad paraaprender, para investigar, tener acceso a lasfuentes del saber, escoger los métodosdidácticos, expresar opiniones y ejercer lalibertad de cátedra y se despliega en funciónde la naturaleza, misión y fines propios dela institución y en armonía con el mismoderecho que poseen los otros miembrosde la comunidad.

47. La calidad, la pertinencia, laequidad y la autonomía responsable sonun compromiso de todos. Los gobiernos,las instituciones de educación superior y losdemás agentes que contribuyen con su acciónal desarrollo del sector y que utilizan susservicios, cada vez toman mayor concienciade la necesidad de exigir un servicio públicoeducativo con calidad y ejercer sus derechosy cumplir con sus responsabilidades en elproceso de consolidación del Sistema de laEducación Superior, en el marco de la CartaPolítica y la Ley.

RecomendacionesEl tercer pilar de la Política en materia

de educación superior lo constituye elreconocimiento y estímulo de laautonomía con responsabilidad.

48. Los gobiernos asumen que laresponsabilidad configura una zonacomún en la cual se reencuentran losgobiernos y los agentes educativos enun único espacio movilizado por lasexigencias de la producción científica, elcarácter público del servicio que prestany por las exigencias del interés general. Laautonomía ligada a la producciónintelectual no excluye lo público comohorizonte de sentido y como opción éticaimprescindible, por encima de losintereses particulares.

49. Los gobiernos estimularán yapoyarán una creciente racionalidad enlos componentes políticos, burocráticosy de poder corporativo de la instituciones.En tal sentido, las normas que se expidanestarán movilizadas por esta exigencia quedimana del interés general, con la finalidad deincentivar cada vez más un mayor grado degobernabilidad en ellas.

50. Los gobiernos estimularán, através de la aplicación de recursosconcursables, acciones y proyectos queestimulen en los agentes educativos delnivel superior su compromiso con lacalidad, la equidad, la pertinencia y eficiencia

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em frente ao internato onde passaraminha juventude, sendo recebido porErneldo Schallemberger e Marco AugustoRippel. O primeiro se apresentou comoconsultor educacional, e o segundo, comoexecutivo de uma ordem religiosa, cujaidentidade não poderia ser reveladanaquele momento e a revelação só veio aacontecer no segundo ou terceiroencontro. Eles me disseram que ainstituição queria lançar uma Faculdadeque teria inicialmente três cursos: Sistemasde Informação, Ciências Contábeis eAdministração. Como geralmenteacontece nestes processos derecrutamento, penso que havia inúmeros,haveria talvez dezenas de candidatos acoordenador do curso de Administração.Eu precisava então contribuirpara criar um diferencial, algoque me destacasse noprocesso seletivo, e eleapareceu na resposta àpergunta do ProfessorErneldo: “Como vocêidealiza um curso deAdministração para diferen-ciá-lo de tantas outraspropostas de curso aqui naGrande Porto Alegre?”. Sempestanejar, disse que o curso deveria estarvoltado ao empreendedorismo e à forteconcentração nas disciplinas profissio-nalizantes, estas análogas às principaisáreas da administração em uma empresade médio a grande porte. Uma vezcontratado, me pus a trabalhar.

Aquele verão de 2001/2002 foiinesquecível. Todos os dias, manhã, tardee noite, trabalhei no projeto, pararesponder às seguintes questões, entreoutras: Em que contexto nascerá o cursoe qual a concepção de curso? Quais sãoos objetivos do curso? Quais são asjustificativas para a criação do curso? Qualo perfil desejado do formando profissional?Como se projeta o mercado de trabalho?Qual a metodologia do trabalho para ocurso? Qual a qualificação do quadrodocente? Como se desenha a estrutura

curricular? E o ementário?Contrariando a melhor técnica de criação,

o curso não é de criação coletiva. Estive àfrente do processo de criação solo. Duranteo processo de criação havia, vez que outra,encontro com o Professor Erneldo erepresentantes da Inspetoria Salesiana SãoPio X para discussão do avanço da proposta,único momento de alguma construçãocoletiva.

2. Concepção do cursoVoltando às questões suscitadas na criação

do curso de Administração, escreveu-se aoMinistério da Educação e Cultura, para receberautorização de funcionamento, que a gestãoempresarial requer um profissional plenamenteinserido no ambiente das empresas, atento às

inovações, com pleno domíniodos modernos sistemas degerenciamento, e ao mesmotempo, empreendedor, paraque os recursos humanos,materiais e financeiros sejamotimizados ao máximo parapromover o desenvolvimentoda sociedade.A moderna administração estáintimamente vinculada aodomínio dos conhecimentos e

das informações que regem o universo dasempresas, à inovação constante e aoempreendedorismo. Estes fatores conjugadospermitem a tomada de decisões que sustentamo avanço da economia e da sociedade.

Até a regulamentação da profissão deAdministrador, nos idos da década de 60, todosse sentiam administradores. A determinaçãode alguns abnegados batalhadores possibilitoucolocar o administrador de empresas no topodas profissões legalmente reconhecidas noBrasil, resultando daí a criação do ConselhoFederal de Administração. O curso deadministração é hoje considerado um dos maisimportantes em quase todas as instituições deeducação superior. Disse na época que aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre nãodesejava criar tão somente mais um curso deAdministração de Empresas no Estado do RioGrande do Sul. Concebia o curso a partir de

“O curso deAdministração deEmpresas tem o

objetivo dedesenvolver com os

alunos a capacidadeempreendedora paranegócios próprios”.

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del servicio que prestan a la sociedad, aquien se deben. Estas acciones se inscribiránen la acción de fomento que adelante elMinisterio de Educación Nacional a travésde sus organismos competentes.

51. Los gobiernos crearán mecanismosque generen compromiso de los diversossectores sociales con el servicio públicode la educación superior. Hacia el futurose buscará incrementar una vinculación más

estrecha entre lo que hacen las institucionesen cumplimiento de sus funciones propias ylas demandas del sector productivo. De igualmanera, los gobiernos pondrán especialatención en adelantar acciones orientadas aque las instituciones se comprometan demanera creativa con demandas que provienende un mundo cada vez más interdependiente,con las necesidades nacionales, regionales ylocales y con la construcción de una sociedadmás justa, abierta y flexible.

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5. Curso de Administração: da concepção àimplementação – uma realidade

Nilo Valter KarnoppProfessor Ms. e Coordenador do Curso de Administração da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS

Meu pai, de saudosa memória,professor de escola confessional rural, medeixou um ensinamento no trato dasquestões profissionais: “não abrevie atrajetória e esteja preparado para asoportunidades”. Quando disse a ele quenão iria seguir a carreira do pastorado, eleme exigiu que me preparasse para umacarreira profissional. Muito cedo fuitrabalhar no comércio e à noite cursavacontabilidade, como muitos jovens naquelaépoca. Logo percebi que não seriasuficiente um diploma de ensino médio,ainda que profissionalizante, e presteivestibular em universidade federal para ocurso de administração de empresas.Antes mesmo de terminar o curso, ocupeicargo de assessor na área de finanças. Emseguida, fui alçado ao cargo de gerentefinanceiro e, mais adiante, diretoradministrativo financeiro.

Houve outro momento marcante, emfins da década de 80, em que se exigia dos

profissionais uma visão generalista daadministração. Fui procurar qualificaçãoem curso de pós-graduação, oportunidadeesta que me abriu a expectativa de vir aser professor universitário, ou seja, umasegunda carreira. Logo as portas seabriram para o magistério superior,exercendo-o em grandes universidades dePorto Alegre.

Ao me tornar professor universitário,tomei por princípio que haveria de lecionaraquilo que eu tinha vivenciado e o que eutinha estudado a vida inteira, e ato contínuo,fiz o mestrado em Administração. Omestrado em Administração em uma dasmelhores escolas de negócios do país meacendeu a vontade de alçar outros vôos,quem sabe, ser coordenador de curso.

1. Um pouco de históriaEm fins de novembro de 2000 surgiu

esta oportunidade. Lá estava eu, na RuaLucas de Oliveira, em um prédio que fica

Resumo: Neste relato-testemunho, oautor partilha sua experiência comocoordenador do processo de elaboraçãodo Projeto Político Pedagógico do cursode Administração da Faculdade DomBosco de Porto Alegre. Descreve atrajetória da sua criação: da concepção àsua implantação, no início de 2003. Enfatizaprioritariamente as razões da criação emcurso diferenciado na Grande PortoAlegre. Lança um olhar sobre a marcasalesiana que o curso deve ter, bem comosua fundamentação teórica: epistemologiae metodologia.

Palavras-chave: Administração, marca

salesiana.

Abstract: In this story-certification theauthor shares his experience as coordinatorof the process of elaboration of thePedagogical Politician Project to the Courseof Administration for the College Dom Boscofrom Porto Alegre. He describes thetrajectory of its creation: from the conceptionto its implantation in the beginning of 2003.He emphasizes the reasons of the creation indifferentiated course in Porto Alegre and itsmetropolitan area. He launches a look on theSalesian mark that the course must have aswell as its theoretical basis: epistemology andmethodology.

Keywords: Management, Salesian mark.

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1. A fonte histórica e os modelosmatriciais de universidade

Mestra da vida, a história testemunhaque a universidade emergiu da necessidadeda construção de uma unidade dereferência para a sociedade medieval,fragmentada pela presença de inúmerospovos de grau civilizatório diferenciado. AIgreja, num esforço de sedimentação dacristandade, capitaneou esta construção,reunindo obras literárias, documentos ehomens em torno de centros limitados aouniverso das cidades. Os mosteiros, alémde guardiões da cultura universal,tornaram-se centros de cultivo e dedifusão do saber. A universidade surgiu,portanto, da interação de mestres e alunoscom as obras de referência, num quadrode integração do saber, na perspectiva doexercício da liderança intelectual nasociedade. Perseguia, sobretudo, auniversalidade do saber.

1 YASBECK, Dalva Carolina de Menezes. “A universidade moderna em diferentes contextos nacionais”. Educação brasileira. Brasília,v. 21, n. 43, p. 171-179, jul./dez. 1999.2 RIBEIRO, Darcy. A universidade necessária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

2. Os Caminhos da Educação Superior e aTrajetória dos Salesianos do Sul do Brasil

Erneldo SchallenbergerDoutor em História; Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e do CCHS

da Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Pesquisador da Fundação Araucária; Membro Honorário do Conselho dos Reitores dasUniversidades Brasileiras; Líder do Grupo de Pesquisa: Cultura, Fronteiras e Desenvolvimento Regional.

A universidade moderna, com suasatividades orientadas para o ensinoprofissional e para a pesquisa científica,nasceu na Alemanha, a partir de iniciativasde caráter nacionalistas, movidas pela políticada unificação alemã e pelo processo deindustrialização, que valorizou a ciência comoinstrumento de auto-superação1. Com umarede de instituições de ensino superiordistribuída pelo território no início do séculoXIX, os alemães, emancipados da tutelateológica, entenderam que a alavanca dodesenvolvimento nacional residia na ciência,no domínio do espírito, como dizia DarcyRibeiro2. A busca do aprofundamentocientífico e a criação intelectual suscitaramuma certa competitividade entre asinstituições de ensino superior, marcada pelastensões entre o avanço científico e asdemandas do Estado, que atribuía às

Resumo: O artigo ocupa-se da discussãodos elementos constituintes dosdiferenciados modelos de universidade,buscando entender a sua relação com asociedade e, em face da trajetória dauniversidade brasileira, centra sua atençãoem torno da presença dos salesianos nocampo da educação superior no sul do Brasil.

Palavras-chave: universidade esociedade; educação superior, mudança social,desenvolvimento regional.

Abstract: The article discuss about theconstituent elements that form thedifferent models of university, showing itsrelation with the society and with the pathof Brazilian university, always having infocus the presence of the Salesians in theadvanced degree education in the southof Brazil.

Keywords: university and society,superior education, social change, regionaldevelopment.

du possible. Paris: Galilée. 1997.HESS, José Rodolpho. O amor em DomBosco e em Rogers. São Paulo: EDB, 1983,176p.HIMMELFARB, Gertrude. La vida depobreza. Inglaterra a princípios de la eraindustrial. México: FCE, 1988.KENNEDY, Paul. Preparando para o séculoXXI. Campus. São Paulo.MANCE, Euclides. Socioeconomia solidária– Considerar as pessoas. CEPAT Informan. 79/2001, p. 78-79.MODESTI, João. Uma pedagogia perene.

São Paulo: EDB, 1975. 176p.RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos. SãoPaulo: Makron Books. 1996.SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter –Conseqüências pessoais do trabalho no novocapitalismo. Rio de Janeiro-São Paulo:Record. 1999.SANDRINI, Marcos. Dom Bosco e os jovens:uma dupla inseparável. Porto Alegre: 1989.37p.SCARAMUSSA, Tarcisio. O sistemapreventivo de Dom Bosco: um estilo deeducação. 3a ed. São Paulo: EDB, 1984. 164p.

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universidades a função estratégica de formarprofissionais qualificados para os serviçospúblicos, para o magistério e para a pesquisa.O avanço da ciência e as conquistas sociaisno mundo do trabalho e da produção fizeramcom que as universidades alemãs servissemde referência para todo o Ocidente duranteo século XIX. Numa postura introspectiva,buscaram o elo de coesão, ou seja, oelemento identificador da unidade nacional,fundamentalmente envolto em torno doconceito de cultura, consignado em base aoselementos étnico-lingüísticos e caracterizadopelos produtos humanos visivelmentematerializados.3 A moderna universidadealemã nasceu com uma missão definida:promover a unidade e o desenvolvimentonacional. Na sua estrutura organizacional,evoluiu para as Universidades [Universität],Institutos de Altos Estudos Profissionais[Fachhochschule], Institutos de Pesquisa[Nachforschung Institut] e UniversidadeAberta [Öfnung Universität]. Esta últimapassou a oferecer os dois primeirosprogramas na modalidade de ensino àdistância.4 A formação universitária alemãpreparava tanto para o exercício da profissãoquanto para a pesquisa, abrindo caminhoseqüencial para a pós-graduação.

As instituições de ensino universitário daInglaterra dedicavam-se, inicialmente, àeducação dos filhos da aristocracia e dosaspirantes à vida clerical. Estas instituiçõeseram compostas pelos colleges, onde eradada educação individualizada aosestudantes, e pelas faculdades, queveiculavam um conhecimento especializado,orientado para a especificidade dasprofissões.5 Refletiam o caráter aristocráticoda sociedade, proporcionando aos egressosuma ampla formação intelectual, sem umapreocupação maior com os fundamentos daciência e com o desenvolvimento científico.Num período mais recente, as universidades3 NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada. Londrina: UEL, 1999, Desenvolve uma interessante discussão em tornoda cultura alemã estabelecendo uma relação com o conceito civilização, de inspiração francesa.4 A Holanda seguiu este modelo, veja-se anexo I, p. 136, In: CONSELHO DE REITORES DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS.Melhoria e responsabilização: navegando entre Cila e Caríbdis. Manual de avaliação externa da qualidade no ensino superior. Brasília,1996. (Estudos e Debates, 18).

inglesas foram estimuladas a incrementar aciência e a tecnologia, mediante incentivospúblicos. Um processo amplo de avaliaçãoinstitucional, baseado em indicadoresquantitativos e qualitativos, internos eexternos, resultou na classificação dasinstituições, estabelecendo um ranking peloqual são fixados os índices de um percentualmaior ou menor de financiamento público.

Na França, a velha universidadearistocrática e clerical ficou profundam-ente abalada pela reforma educacionalnapoleônica. A ascensão da burguesia aopoder estimulou uma dinâmica socialmarcada pela crescente demanda deprofissionais no mercado de trabalho.Assim, ao lado das tradicionais universida-des, constituídas a partir das faculdades demedicina, de farmácia, de ciências e letras,surgiram as Escolas Superiores Públicas[Escola Prática de Altos Estudos, EscolaPolitécnica, Escola Normal Superior,Colégio de França, entre outras], a partirdas iniciativas conjuntas dos setorespúblicos e privados.

Nos Estados Unidos, a implantação domodelo inglês adquiriu forma e persona-lidade própria a partir da inversão degrande soma de recursos, oriundos dasiniciativas empresariais e de programas degoverno, que asseguram às universidadesa possibilidade do desenvolvimento dapesquisa, garantindo um certo equilíbrioentre expansão do ensino superior edesenvolvimento científico. A estruturadepartamental das universidades, apesardo corporativismo e da fragmentação dosaber, facultou-lhes uma gestãodescentralizada e permitiu a integração doensino, da pesquisa e da extensão. Estesdois fatores conjugados aproximaram auniversidade da sociedade. Asuniversidades e os colleges passaram a serquistos e vistos como instituições

5 YAZBECK, Dalva Carolina de Menezes. “A universidade moderna em diferentes contextos nacionais”. Educação brasileira. Brasília,v. 21, n. 43, p. 176.

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donados a si próprios. “Quem sabe – diziade mim para mim – se tivessem lá fora umamigo que tomasse conta deles, osassistisse e instruísse na religião nos diasfestivos, quem sabe não se poderiammanter afastados da ruína ou pelo menosnão diminuiria o número dos queretornam ao cárcere?”

Comuniquei esse pensamento ao P.Cafasso, e com o seu conselho e com suasluzes, pus-me a estudar a maneira de levá-loa efeito, deixando o êxito nas mãos do Senhor,pois, sem ele, são inúteis todos os esforçosdos homens”. (Bosco, 1982, p. 91-92).

A vida social reduz-se fundamentalmenteao econômico. O econômico, sobretudo ofinanceiro, submete e subordina tudo. Elese autonomiza do social e do político,passando a subordiná-los. A economia, deservidora da sociedade, passa a ser a senhora,a qual tudo é subordinado e submetido. Aredução da vida sociopolítica da sociedade àeconomia significa que tudo pode serquantificado. A produtividade, a eficiência ea eficácia erigidos como únicos critérios,excluem a possibilidade da gratuidade, dorelacional e do sonho. O que não é pagotorna-se suspeito. Como quem vale é quemconsome e só consome quem compete,instaura-se a violência e cresce o medo.Medo do desemprego, medo de serincompetente, medo de ser perdedor, medode ser assaltado, medo da outra pessoa. Aquiestá uma das origens da escalada da violênciano mundo de hoje.

Nossa grande tarefa é a deslegitimaçãoteórica e ideológica do discurso neoliberal.A idade média dos prisioneiros do RioGrande do Sul não passa de 23 anos. Sãojovens, pobres, negros, analfabetos totaisou funcionais.

A riqueza de uma nação não seconfunde com o econômico. Há riquezassociais, políticas, culturais e religiosas.Olhamos as novas tecnologias semsuspeição, mas também sem ingenuidade.Nós proclamamos que as realidadescriadas têm uma bondade intrínseca, umaautonomia e consistência própria. Nãotemos medo de enfrentar e inserir-nos no

mundo, olhando-o com otimismo realista.Antigamente um povo dominava o outropara transformá-lo em mão-de-obraescrava. Com o advento da revoluçãotecnológica, sobretudo através dainformática, da biotecnologia e dosmateriais alternativos, as máquinas e osrobôs substituem a mão-de-obra naprodução de gêneros de primeiranecessidade, porém, a mentalidadeescravista continua. Romper com esteesquema e propugnar por relações maisjustas e eqüitativas é tarefa da educaçãoética numa perspectiva de solidariedade.

Como Dom Bosco, continuamossonhando que as forças de morte (meninosmaus e bichos vorazes) serão suplantadaspelas forças de vida (meninos bons ecordeirinhos), pela ternura do feminino epela determinação do masculino.

Referências BibliográficasARENDT, Hannah. A condição humana. 4a

ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária.1989.AZNAR, G. Trabalhar menos paratrabalharem todos. São Paulo: Scritta. 1995.BEAUD, M. Le basculement du monde.Paris: La Découverte. 2000.BECK, Ulrich. Il lavoro nell’epoca della finedel lavoro. Tramonto delle sicurezze e nuovoimpegno civile. Torino: Einaudi. 2000.BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida.Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2001.BOFF, Leonardo. Saber cuidar. Ética doHumano – compaixão pela terra. Petrópolis:Vozes. 1999.BOSCO, João. Memórias do Oratório de SãoFrancisco de Sales. Salesiana: São Paulo 1982.DESRAMAUT, Francis. SpiritualitàSalesiana. Cento parole chiave. Roma: LAS.2001.__________. Uma nuova congregazione alservizio dei giovani del XIX secolo. IN: IlServizio Salesiano ai giovani. Torino: LDC,1971.GORZ, André. Métamorphoses du travail.Quête du sens. Critique de la raisonéconomique. Paris: Galilée, 1988.__________. Misères du présent. Richesse

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promotoras do desenvolvimento e damudança social. Assim, com a progressivademocratização do ensino superior,surgiram instituições acadêmicas em todosos estados da confederação, que setornaram competitivas e buscaram o seunível de excelência, como Harvard, queprimou pela formação da elite americana.A competitividade entre as instituições deeducação superior e os pesquisadoreslegou aos Estados Unidos a capacidade dese antecipar às demandas sociaismodernas. Com eficiência, o sistemauniversitário americano incorporou oespírito alemão da pós-graduação, o quelhe permitiu a implantação de programasestratégicos de qualificação de recursoshumanos para a pesquisa, para a educaçãoe para as gestões empresarial e pública.

2. A trajetória e os desafios dauniversidade brasileira

A universidade brasileira, de existênciatardia, teve origem embrionária nasAcademias das Guardas Marinha e Militare nos cursos profissionalizantes demedicina e cirurgia, de agricultura, dequímica, de pintura, de escultura e dearquitetura, no período colonial, e nasfaculdades de direito, de medicina e defarmácia, no Império. A Escola Politécnicado Rio de Janeiro, fundada no início daRepública sob o influxo do positivismo, eas faculdades de Direito e de Medicinaforam agregadas, no princípio da décadade 1920, em torno da Universidade do Riode Janeiro, mantendo, contudo, cada umaa sua autonomia didático-administrativa. Aforma atomizada em que surgiram asinstituições de ensino superior, geralmenteresultantes das pressões políticas dasoligarquias regionais ou de grupos deinteresses localizados, e a criação deuniversidades mediante a reunião defaculdades, não favoreceram o surgimentode um plano racional de desenvolvimento

6 MENDONÇA, Ana W.P.C. Universidade e formação de professores. Uma perspectiva integradora. Rio de Janeiro, 1993, Tese deDoutorado, Pontifícia Universidade Católica.7 CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. O ensino superior na República Populista. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.

da educação superior. Não foramconcebidas como instituições estratégicasde desenvolvimento nacional e de avançosocial. Uma proposta de uma instituiçãode educação superior que tivesse umamissão claramente definida na sociedadebrasileira só apareceu com a fundação daUniversidade de São Paulo - USP, nadécada de 1930. Concebida para formara elite paulista e brasileira e influenciadapelo espírito francês com um modeloorganizacional que combinou a estruturadepartamental com a de institutos, a USPpropunha-se à formação de professores,ao desenvolvimento da pesquisa e àpromoção de estudos avançados em todasas áreas do conhecimento.6 Mesmo assim,com seus modelos teóricos e organizacio-nais importados e, apesar dos avanços quepromoveu no mundo da produção e darepresentação acadêmica, não conseguiufirmar-se como centro de referêncianacional. Financiada pelo Estado de SãoPaulo, teve uma inserção social fortementemarcada pelas demandas do regionalismobrasileiro e cultivava uma certa relaçãomatricial com as universidades européias.

Nas décadas de 1940 e de 1950 oprocesso da industrialização evocou adiscussão sobre a necessidade de expandire consolidar o ensino superior no país.Nasceram, no período, universidades apartir da reunião de escolas superiores,que mantinham vínculo institucional pelaorientação religiosa [universidadescatólicas], ou pela chancela federal[universidades federais].7

A criação da Universidade de Brasília, em1961, representou a materialização de umapolítica de educação superior brasileira,preocupada em integrar nos currículos doscursos universitários os avanços da ciênciae da tecnologia. A nova universidade,organizada a partir do departamento ecomposta de institutos e centros de ensino,buscava no modelo norte-americano e nos

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ajuda a diminuir o sofrimento? Esta mesmapergunta temos que fazer à nossaeducação: em que sentido ela ajuda adiminuir o sofrimento, em que sentido elaajuda a aproximar as pessoas, em quesentido ela ajuda a eliminar a exclusão...

• Compaixão. Ter compaixão não éter pena. Eu tenho compaixão quando soucapaz de me distanciar da realidade paradeixar que ela seja, quando domesticominha voracidade, meu consumismo dosupérfluo, que se faz às custas da privaçãodo necessário do irmão. Ter compaixão éir ao encontro do outro, sobretudo dosque mais sofrem. Agir como Jesus agiu nomilagre dos pães e dos peixes.

Na época do “estado do bem-estarsocial” era doutrina política oficial anecessidade de redistribuir e de asseguraraos mais pobres um nível de vida mínimo.No liberalismo, isto é consideradoprejudicial. Os neoliberais preconizam asupressão da ajuda aos pobres, pois seriacontraproducente. Em lugar de resolver oproblema, dizem eles, a ajuda alimenta-a; nãoestimula os pobres a sair da sua pobreza,mas estimula a preguiça. Esta é a justificativaque as burguesias sempre usaram para negartoda ajuda aos pobres e enriquecerimpunemente e com boa consciência.Muitos fariam sua a apreciação de BenjaminFranklin sobre a Inglaterra do seu tempo:“Não há país no mundo onde haja tantasdisposições para favorecê-los (os pobres),onde haja tantos hospitais para recebê-losquando estão doentes, hospitais fundados emantidos pela caridade voluntária; onde hajatantos asilos para os velhos de cada sexo,juntamente com uma lei solene feita pelosricos, que lhes grava as propriedades comum pesado imposto para manter os pobres...Em resumo, é um estímulo para alentar apreguiça, e não é estranho que tenhacontribuído para aumentar a pobreza”(Himmelfarb, 1988, p. 13).

É interessante que o Jesus que apareceno sonho dos nove anos é o Bom Pastor.O Bom Pastor é firme, forte e duro contraquem não se abre para acolher quem

precisa ser acolhido. Ao mesmo tempo, éterno, paciente e misericordioso comquem já não conta. O apóstolo Paulo nosé paradigma deste agir: “Eu não meapresentei com adulações, como sabeis;nem com secreta ganância. Deus étestemunha! Tampouco procuramos oelogio dos homens, quer vosso, quer dosoutros, ainda que nós, na qualidade deapóstolo de Cristo, pudéssemos fazervaler a nossa autoridade. Pelo contrário,apresentamo-nos no meio de vós cheiosde bondade, como uma mãe que acariciaos seus filhinhos” (1Ts 2,6-8). Numasociedade que brutaliza e apavora pelo ecom o medo, nós proclamamos quesomos testemunhas da bondade e dabenignidade de Deus. Trata-se de umabondade, porém, motivada e orientadapela bondade de Deus Pai/Mãe e, comono exemplo do Bom Samaritano, devetornar-se ativa para mitigar os problemase os sofrimentos dos jovens.

ConclusãoNo livro de Dom Bosco “Memórias do

Oratório”, lemos um belíssimo teste-munho. “O P. Cafasso, meu guia havia seisanos, foi também meu diretor espiritual,e se fiz algum bem, devo-o a este dignoeclesiástico, em cujas mãos coloqueiminhas decisões, estudos e atividades.

Começou primeiro por levar-me àsprisões, onde pude logo verificar como égrande a malícia e a miséria dos homens.Ver turmas de jovens, de 12 a 18 anos,todos eles sãos, robustos, e de vivoengenho, mas sem nada fazer, picados pelosinsetos, à míngua de pão espiritual etemporal, foi algo que me horrorizou. Oopróbrio da pátria, a desonra das famílias,a infâmia aos próprios olhos perso-nificavam-se naqueles infelizes. Qual não foi,porém, minha admiração e surpresa quandopercebi que muitos deles saíam com o firmepropósito de vida melhor e, não obstante,voltavam logo à prisão, da qual haviam saídopoucos dias antes.

Nessas ocasiões descobri que muitosvoltavam àquele lugar porque aban-

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conceitos da educação superior alemã,projetar as referências básicas para odesenvolvimento nacional. Afetada em suaconcepção original pelas imposições doregime implantado em 1964, a UnB tevereduzidas as suas oportunidades deimaginação e o espaço para o cultivo daheterodoxia, mesmo assim, não perdeu ofoco do horizonte nacional, embora seusraios de influência fossem tímidos.

O período da ditadura não facultou àuniversidade a possibilidade do diálogopermanente, com o seu entorno local esocial, o que a desmobilizou para aimplementação de processos de inovaçãoe mobilização coletiva. O regimeautoritário passou a conceber, no entanto,o ensino superior como instrumento dealavancagem do desenvolvimentoeconômico e da ordem social, naperspectiva da ideologia da segurançanacional.8 O modelo desenvolvimentista,implantado durante o regime militar,reclamava a implementação da formaçãotécnico-profissional. Foi desencadeado umduplo esforço neste sentido: o da expansãode instituições de ensino superior para aformação de professores, e o da criaçãode um sistema de pós-graduação em todasas áreas do conhecimento. A pós-graduação compreendeu um nível decrescimento quantitativo e qualitativosatisfatório, cumprindo grandemente coma sua função estratégica de qualificarrecursos humanos para a docência e paraa pesquisa.

A expansão do ensino superior deu-sede forma desigual em termos regionais. Aoferta de oportunidades continuoureduzida e centralizada nas grandescapitais, onde se localizavam asuniversidades federais e para onde eramcanalizados os recursos públicos. Nointerior do país, as faculdades e asuniversidades estaduais, municipais,

8 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado.Petrópolis: Vozes, 1981.9 CUNHA, Luiz Antônio. “Critérios de avaliação e credenciamento do ensino superior: Brasil e Argentina”. In: VELLOSO, Jacques(org.). O ensino superior e o Mercosul. Rio de Janeiro: Garamond, 1998, p. 17-52.10 No rol destas instituições podem ser referidas a UNESP, a UNICAMP, a UFSCAR, a UEL, a UEM, entre outras de caráter estatal,municipal ou comunitário.

confessionais e comunitárias criarampossibilidades de acesso da populaçãomenos privilegiada a elas, e começaram aexercer um papel relevante na educaçãoe na formação de profissionais para asociedade, o que teve repercussões sobreo desenvolvimento local. Emergiram decontextos sociais específicos, com os quaisestiveram plenamente identificadas e nosquais assumiam a missão da transformaçãosocial, muitas vezes na resistência, a partirda elevação do nível da consciência crítica,da formação humana e profissional e daelaboração de referenciais científico-culturais para a sociedade. Arduamenteestabeleceram espaços para a reflexão ecriaram condições de realimentaçãointeligente para as comunidades locais.Cunha assegura que, “a despeito dosconstrangimentos sofridos durante a ditaduramilitar, no período de 1964/85, asinstituições brasileiras de ensino superiorbeneficiaram-se de políticas modernizadorase de financiamento generoso, resultado daaliança entre as elites militares e as elitesacadêmicas”.9 Neste período surgiramuniversidades públicas de alto nível efaculdades isoladas, que passaram aexercer uma função importante para odesenvolvimento regional.10

Apesar da inversão dos recursospúblicos, a universidade brasileira ficouórfã das elites políticas e empresariaisque, ao contrário do exemplo alemão enorte-americano, não apostaram na suacriação intelectual e científica, deixandode fomentar projetos acadêmicos quepudessem representar referências paraprogramas de desenvolvimento local enacional. Não houve uma efetivavinculação da política de ensino superiorcom a de desenvolvimento científico etecnológico. As elites, comprometidascom os interesses dos gestores docapital transnacional e alinhadas com a

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É interessante que já em 1932 houveum diálogo por carta entre Einstein eFreud. Einstein perguntou a Freud se erapossível eliminar o instinto perverso, maue de destruição da pessoa humana. Freudrespondeu que não era possível, uma vezque toda pessoa carrega dentro de si oEros, que é a força da vida, e o Tanatos,que é a força da morte. O simbólico e odiabólico, aquilo que une e aquilo quedivide. O que se deve fazer, dizia Freud,em todos os campos, inclusive no daeducação, é reforçar as forças de vida parafazer calar as forças de morte.

Na época de Dom Bosco conviviamconcepções divergentes de naturezahumana. Por um lado, a concepçãopessimista dos calvinistas e jansenistas. Paraeles, a natureza humana pareceradicalmente má, “incapaz de se dirigirpara o bem, pronta em todos osmomentos para evadir-se em ímpetos demal. É preciso portanto guiá-la,constantemente, como uma criança.Conservá-la sempre enfreiada. Curvá-laperpetuamente sob uma regra inflexível,uma disciplina de ferro. Estancar-lhe todoo impulso espontâneo. Reinado da lei, dosistema, da disciplina que não é animadapor nenhuma influência pessoal ou viva.Triunfo do formalismo e da repressãocega” (Auffray, 1940, p. 85). Por outrolado, a concepção otimista de Rousseau.“Tudo sai bom das mãos do Criador detodas as coisas e tudo degenera nas mãosdos homens” (Rousseau, s.d. , p. 5).

Dom Bosco preferiu tratar o jovemcom mais realismo, sem os radicalismosde bom ou de mau. “Em todo jovem,mesmo no mais infeliz, há um pontoacessível ao bem e a primeira obrigaçãodo educador é a de buscar este ponto, estacorda sensível do coração e tirar bomproveito” (Cf. Lemoyne, 1905, p. 367).Para Dom Bosco, a pessoa humana erasuscetível de perfeição, apesar deenfraquecido pelo pecado. Dedicou todaa sua vida aos jovens, porque acreditavaser educável e capaz de perfeição(Ricaldone, 1951, p. 102-103).

A tarefa da educação consistejustamente em reforçar os mecanismos devida. No sonho dos nove anos temos a lutade Eros e de Tanatos. Precisamos educarpara uma ética da centralidade da vida, quetem quatro características fundamentais:

• Solidariedade. A lei suprema domundo é a da solidariedade e dainterdependência de um para com ooutro. Esta solidariedade einterdependência tem que se estruturarem nós. Já houve vezes em que a terra sedesfez em 90% e se refez porque as forçasda vida souberam se solidarizar, seinterdependentizar. Hugo Assmann dizque “em meio ao acirramentocompetitivo, planetariamente globalizado,a educação se confronta com o desafio deunir capacitação competente comformação humana solidária, já que hoje aescola incompetente se revela comoestruturalmente reacionária, por mais queveicule discursos progressistas. Juntar asduas tarefas – habilitação competente eformação solidária – ficou sumamentedifícil, porque a maioria das expectativasdo meio circundante (mercadocompetitivo) se volta quase queexclusivamente para a demanda daeficiência (capacidade competitiva)”.

• Cuidado. A mãe do sonhorepresenta o cuidado. Muita violência domundo significa falta de cuidado, deternura, de bondade. Torna-te humilde,forte e robusto. Não há agressividadehumana que não possa ser vencida pelaternura, pelo cuidado. Tudo o que écuidado dura mais, custa mais e é maisvalorizado. O mundo não é uma grandeloja de conveniências, um grande McDonald’s de consumo. O mundo é a casade todos. Cada vez mais nos convencemosde que problemas de aprendizagem têmraízes emocional e afetiva.

• Responsabilidade. Todo saber temque ser bom para a vida. Em 1952, Einsteinfez uma viagem à Índia. Foi interrogadopor um sábio indiano que lhe perguntou:em que sentido a teoria da relatividade

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cultura da dependência, encontravam naeconomia do conhecimento, produzido eaplicado nos grandes centros monopolistasdo capital, a fonte de recorrência para odesenvolvimento de projetos nacionais eempresariais. A Universidade, a exemploda sociedade brasileira, que teve quereclamar o seu espaço de cidadania,desencadeou uma luta para consolidar-secomo locus privilegiado de reflexão, deprodução e reelaboração científica e dedifusão cultural. O sistema universitáriodesenvolvido no país, diga-se de poucasoportunidades, rígido e departamen-talizado, atrelado a um plano políticocaracterizado pelo controleestatal, não deu conta dasdemandas sociais, inibiu ainteligência e a criaçãonacional e, tampouco, foicapaz de dar respostas aosdesafios da modernidade. Foipreciso mais de uma décadapara que o Brasil despertassepara o quanto o horizonte dasociedade era ofuscado porideologias pseudonaciona-listas, que promoveram aexclusão social e limitaram o exercício dacidadania.

Nas décadas de 1970 e 1980, houve umincremento significativo no capital científicoe tecnológico, através da consolidação dosprogramas de pós-graduação, principal-mente nas universidades federais e nasestaduais paulistas. Os regimes de trabalhoe a infra-estrutura para a pesquisa atraíramos recursos humanos mais qualificados, o quese traduziu na alta concentração da produçãocientífica do país nestas instituições. Noperíodo surgiram, também, muitasinstituições universitárias, sobretudo denatureza estadual, municipal e privada,plantadas no interior do país. Resultantes dasdemandas políticas locais, ou da dinâmica dascomunidades de buscarem um desenvol-vimento autônomo, notadamente no Sul doBrasil, estas instituições representaram um11 CUNHA, Luiz Antônio. “Critérios de avaliação e credenciamento do ensino superior: Brasil e Argentina”. In: VELLOSO, Jacques(org.). O ensino superior e o Mercosul. Rio de Janeiro: Garamond, 1998, p. 23.

fator de democratização da oferta deeducação superior. Representaram umsignificado sem paralelo para o desenvolvi-mento sociocultural do interior do Brasil,embora não tivessem avançado significativa-mente na pesquisa, uma vez que careciamde recursos para o seu financiamento e paracriação de uma infra-estrutura para odesenvolvimento científico e tecnológico. Asuniversidades brasileiras não haviampromovido, até então, uma interaçãointerinstitucional que possibilitasse aformação de grupos emergentes de pesquisanas diferentes instituições, a partir de núcleosjá consolidados, para potencializar as

conquistas da ciência e osimpactos da inovaçãotecnológica e estendê-losde forma mais abrangentepara a sociedade. Asinstituições comunitárias,estaduais e municipaiscapacitaram-se para oensino e para a extensãouniversitária, construindodiagnósticos da realidadesocial mais próxima, semque estivessem plenamen-

te habilitadas a dar respostas científicas aosdesafios postos à sociedade. Por esta razão,segmentos significativos da sociedadepassaram a desacreditar a universidade, vistoque a sua missão nem sempre conseguiaresponder pela liderança intelectual. Mesmoassim, a grande demanda social continuouconvergindo em torno do ensino, em buscade habilitação para o mercado de trabalho.

Na última década de 1900, as políticasgovernamentais passaram a ser orienta-das pelas recomendações do BancoMundial, que indicavam para a melhoriada relação custo/efetividade dasinstituições públicas e para a redução dosgastos com o ensino superior. Ocontrole das universidades teria quepassar da órbita do Estado para a domercado.11 As recomendações do BancoMundial confrontaram-se, no entanto,

“A presença salesianano Sul do Brasil

remonta ao início doséculo XX. Os

salesianos plantaraminicialmente as raízesde sua ação pastoral eeducativa na cidade de

Rio Grande, em1901.”

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beneficiam, nem se estender a todos oshomens e mulheres do mundo quesonham ou desejam tê-lo; entretanto, emtodos os países do mundo, camadas ouclasses sociais tentam chegar ou aspirama ele. O planeta simplesmente não suportao nível e crescimento do atual volume deconsumo. O atual modo de consumo éinconseqüente com as futuras gerações.Consome-se hoje sem nenhumaresponsabilidade nem com o passado nemcom o futuro da humanidade e do planeta.Até quando é possível suportar ecológicae humanamente que, por exemplo, umacriança norte-americana consuma durantea sua vida o que consomem duas criançassuecas, três italianas, treze brasileiras,trinta e cinco indianas, duzentas e oitentahaitianas? (Cfr. Kennedy, p. 29).

Trata-se, aqui, portanto, de umanecessária e urgente mudança dementalidade e de atitudes. É preciso criaruma nova relação com a natureza e com opróprio trabalho. O trabalho entendidocomo ‘dominação’ da natureza passou apredominar em nossas sociedades, mashoje, com a crise ecológica, está numimpasse: ou colocamos limites à voracidadeprodutivista ou vamos ao encontro do pior.A sociabilidade entre os humanos serompeu pela dominação de povos sobreoutros e pela luta renhida das classes. Nãose vê outra coisa no ser humano senão suaforça de trabalho a ser vendida e exploradaou sua capacidade de produção e deconsumo. Não se consegue ter uma visãodo ser humano como ser de relaçõesinfinitas, ser de criatividade, de ternura, decuidado, de espiritualidade.

5.5. O desafioTemos, pois, diante de nós, uma dupla

e árdua tarefa. Como se não bastasse aurgência em continuar a luta por condiçõesdignas de trabalho hoje para as pessoas, épreciso acrescentar a tarefa de pensarnovas formas sociais nas quais o trabalhoterá uma significação. É preciso partir dasexperiências de cada pessoa que trabalha- e neste sentido se pode falar em mundos

do trabalho -, mas não se pode ignorar queo momento exige de nós, por conta daresponsabilidade histórica que nos é dada,pensar novos fundamentos para umasociedade na qual o trabalho possa serfator, não mais de aviltamento da pessoahumana, mas de respeito ao seu ser easpirações mais profundas.

6. Educação para uma nova ética, àluz do sonho dos nove anos

O capitalismo global apossou-se porcompleto dos destinos da biotecnologia,libertando-a das amarras metafísicas eorientando-a única e exclusivamente paraa criação do valor econômico. Aslegislações de marcas e patentestransformaram-se em instrumentoseficazes de apropriação privada dasconquistas da ciência, reforçando os traçosconcentradores e hegemônicos do atualdesenvolvimento. As conseqüências dessaautonomização da técnica com relação aosvalores éticos e normas morais foram,dentre outras, o aumento da concentraçãode renda e da exclusão social, o perigo dadestruição do habitat humano porcontaminação e de manipulação genética,ameaçando o patrimônio comum dahumanidade. A estes riscos podemosacrescentar o esgotamento da própriadinâmica de acumulação capitalista, porconta de uma eventual crise de demanda.

Os avanços da técnica são, ao mesmotempo, espetaculares e preocupantes. Nãoqueremos ir contra o desenvolvimentotecnológico. A questão é bem outra: atecnologia pode e deve submeter-se a umaética que seja libertadora, a fim de contemplaro bem-estar de toda a sociedade, presente efutura, e não apenas colocar-se a serviço dasminorias ou atender a necessidades imediatas.A ética do educador salesiano deve fundar-se na dignidade e nos direitos universaisinalienáveis de toda pessoa humana. Omistério da Encarnação de Jesus Cristorevela a sacralidade do homem e da mulher,chamados à filiação divina em Cristo. Nestehorizonte queremos falar em uma novaética.

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com a legislação vigente no país, demodo especial com os dispositivosconstitucionais, que não permitiam adesregulamentação das instituiçõespúblicas. A agenda das autoridadesbrasileiras ficou prejudicada diante dalegitimidade dos princípios consagradospela Constituição de 1988. Sentiram-sepolit icamente inibidas diante daresistência social a qualquer ato queapontasse o horizonte da privatização doensino superior. A universidade passoua viver um momento delicado: ou ela seprotegia com a fundamentação daqualidade, ou ela corria o risco de sériasdificuldades.

A necessidade de tirar a nação doatraso cultural, científico e tecnológico,no contexto da economia doconhecimento, implicava na criação deoportunidades que permitissem àsociedade o acesso aos bens culturais eaos avanços científicos e tecnológicos.Sobre a universidade, enquanto locus decultivo da universalidade do saber, dediscernimento dos valores pertinentespara o seu tempo e de construção dosreferenciais para a sociedade, recaiu odesafio de responder aos impactosprovocados pelos processos deintegração dos mercados e damundialização das relações sociais.12 Aideologia da globalização impôs, para asociedade do conhecimento, novoreferencial para o exercício da cidadania.O nível mínimo de formação passou aexigir dos indivíduos uma efetivacapacidade de aprendizagem ao longo detoda a vida.13 O papel da universidade naeconomia do conhecimento centrou-sena promoção de capacidades, através doprocesso formal de aprendizagem pelaeducação, e na produção de novas idéiase de novos conhecimentos, através da

12 BATISTA, Paulo Nogueira. “A nova ordem mundial, os novos paradigmas de desenvolvimento: globalização, qualidade total,flexibilidade e sociedade do conhecimento”. In: Fórum da Abruem - a missão da Universidade na perspectiva do terceiro milênio.Cascavel: Edunioeste, 1997, p 34-45.13 CONCEIÇÃO, Pedro e outros. Novas idéias para a universidade. Lisboa: IST Press, 1998, p. 153 e seguintes.14 SCHALLENBERGER, Erneldo. O associativismo cristão no sul do Brasil – a contribuição da Sociedade União Popular e da Liga dasUniões Colônias para a organização social e para o desenvolvimento sul-brasileiro. PUC - RS, 2001 (Tese), 593 p.

pesquisa. A formação para a aprendi-zagem constitui o novo desafio posto pelasociedade do conhecimento aos seuscidadãos, e o nível mínimo exigido paratal é a educação superior.

3. A experiência salesiana no sul doBrasil

A presença salesiana no Sul do Brasilremonta ao início do século XX. Ossalesianos plantaram inicialmente as raízesde sua ação pastoral e educativa na cidadede Rio Grande, em 1901. A urbanização ea secularização das relações sociaisrepresentaram desafios importantes paraa afirmação do carisma salesiano no campoda educação e da evangelização. Osjesuítas já haviam tido problemas em RioGrande com o Colégio "Stela Maris", emfunção da forte ação da União Operária,que atacou e destruiu seus prédios,inviabilizando a sua manutenção comocentro irradiador de ações educativas eevangelizadoras. O desafio posto aossalesianos para o trato do urbano, dosocialmente não constituído, do instávelem termos de referência, constituiu ummarco inovador no universo da açãopolítico-pedagógica e da representaçãoeclesiástica brasileira, historicamentemarcada pelo cultivo dos valorespermanentes referenciados a partir darepresentação rural de sociedade. Estedesafio se revestiu de significado especialquando apreendido em um ambienteanticlerical como o de Bagé, ou numuniverso eclético como o de Porto Alegre.Distinta da Igreja de Imigração,14 queesteve fundamentalmente voltada para ascomunidades formadas a partir daimigração, os salesianos centraram a suaatuação na pastoral juvenil e na assistênciaaos mais necessitados, materializando o

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compreender a grande transformação queestamos vivendo e que acaba por excluir amaioria das pessoas.

5.3. A socioeconomia solidáriaNo contexto de uma economia

neoliberal que não consegue (e não quer!)dar conta de oferecer dignidade eigualdade a todas as pessoas, emergemsempre com mais força e por todos oscantos as experiências ditas de economiasolidária. Ela oferece hoje condições paraser “uma alternativa sistêmica aocapitalismo”. Trata-se de uma novaabordagem de tudo o que está envolvidonos processos econômicos. O seu objetivonão é o acúmulo de lucro privado, mas aprodução e o compartilhamento susten-tável dos recursos para o bem viver daspessoas e a manutenção do equilíbrio dosecossistemas (...). Estas organizaçõesabandonam o mercado como regulador depreços sob o paradigma da escassez, esubstituindo-o pela solidariedade praticadaem rede sob o paradigma da abundância.O mais importante, no entanto, é o fatode se considerar as pessoas – em todas assuas dimensões, afetivas, imaginativas,cognitivas, em suas necessidades e desejos– não apenas como consumidores ouprodutores, mas como sujeitos que estãoem relação solidária uns com os outros.

A economia solidária pode ser ampliadaa fim de incorporar aquelas atividades querespondem às necessidades que não sãorentáveis para a economia de mercado.Ou seja, são atividades que não visamprimeiramente a produção de bens, masde laços. São atividades que secaracterizam pela proximidade com a vidae entre as pessoas. Elas têm o objetivo decuidar do bem-estar da comunidade,especialmente dos mais abandonados,como os idosos, os portadores dedeficiências físicas, de preservar o meioambiente, de cuidar da educação, etc. Elasindicam que a sociedade pode tornar-semais humana e mais capaz de futuro, àmedida que valoriza, inclusivefinanceiramente, independentemente do

trabalho assalariado, as oportunidades desustento, os contatos sociais e dedesenvolvimento pessoal. Trabalho nãofalta. É preciso, porém, encontrar meiose caminhos para financiá-lo, redistribuindoa riqueza social.

O fundamental a apreender aquiconsiste no seguinte: apesar de todas asdificuldades, a socioeconomia solidáriaconsegue ampliar a noção de trabalho paraalém do emprego. O trabalho cria relaçõesde solidariedade, opostos às relações decompetição. Faz o trabalho ser vistotambém na perspectiva de criação derelações sociais e não apenas de relaçõesde produção. Não se necessita produzirsomente coisas, mas também relações,pois nossa sociedade carece não só debens, mas também de relações.

5.4. Desvincular o consumo dotrabalho

A sociedade industrial relacionou oconsumo com o trabalho. Você éconsumidor na medida em que étrabalhador. A sociedade de produção emmassa teve que fomentar o consumo emmassa. Fez-se o elogio do consumo.Trabalha-se para consumir. A poupançadeixa de ser virtude; agora, é consumir, econsumir o máximo. Assim também aprópria cidadania está relacionada com oconsumo. É-se alguém na medida em quese tem acesso ao consumo.

Faz-se necessário repensar o próprioconsumo, pois dele depende o futuro dahumanidade e a sobrevivência do planeta.O acesso ao consumo está diretamenterelacionado à renda. A desigualdade entrericos e pobres é evidenciada e reforçadapelo desequilíbrio do consumo de ricose pobres. Cerca de 20% da populaçãomundial consome 80% dos recursosproduzidos no planeta, enquanto que orestante sobrevive com as migalhas.

Para Michel Beaud, o cerne doproblema é este: o modo de vida e deconsumo ditos modernos, sob a formaatual, são insustentáveis. Ele não pode nemse perpetuar nos países que deles se

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seu espaço educativo e seu camporeligioso em torno dos colégios e dosorfanatos.

Se o ambiente para o estabelecimentode ordens e congregações era propício noRio Grande do Sul, principalmente emdecorrência do trabalho de vanguarda dosjesuítas e do bom relacionamento entre ahierarquia eclesiástica e o poder constituídono Estado, o mesmo não se pode dizer deSanta Catarina e do Paraná. As relaçõesentre o governo republicano e Romasofreram novas arestas com a criação daProvíncia Eclesiástica do Rio de Janeiro, queteve como dioceses integradas as de SãoPaulo, de Niterói e de Curitiba. Vale dizerque Santa Catarina integravaa diocese de Curitiba. Com acriação da Arquidiocese doRio de Janeiro, a nomeaçãodo primeiro arcebispo teveum invólucro político. D. JoséPereira da Silva Barros, queera bispo da Diocese do Riode Janeiro desde 1891,homem de intensa relaçãopolítica na novel República,fora preterido pelo Papa LeãoXIII em favor do então bispode Olinda, para ocupar o posto. Esteepisódio valeu-lhe a solidariedade doPresidente da República e liderançaspolíticas de expressão nacional tornaram-se hostis à hierarquia eclesiástica.15 Em vistadesta situação gerada, a presença dasordens e congregações foi tardia em SantaCatarina e no Paraná, efetivando-se tãosomente a partir do século XIX. A Igrejada Imigração havia fixado raízes com osjesuítas e com os franciscanos nos núcleosde colonização alemã. No universo dosnúcleos coloniais oriundos da colonizaçãoitaliana, a presença evangelizadora, comuma ação pastoral organizada, erapraticamente inexistente.

O apelo do governo italiano para que ossalesianos fossem cuidar da espiritualidadedos italianos em Santa Catarina, até então

15 CABRAL, Osvaldo R. “Subsídios para a história eclesiástica de Santa Catarina”. Revista de História, n. 72, v. XXXV, 1967, p. 417-462.

entregues aos franciscanos alemães, e oincondicional apoio do bispo deFlorianópolis, D. Joaquim Domingues, ex-aluno da congregação salesiana,demoveram resistências e fizeram com quea congregação assumisse o seu novo campopastoral, iniciando com a paróquia deAscurra, fundada em 1916, uma obra quese ramificaria por todo o universo dacolonização. Com esta decisão inicial, foramdesenvolvendo a assistência religiosa,assumiram paróquias - não sem resistênciase conflitos -, fundaram colégios edesenvolveram a educação dos jovens e oensino profissional. A obra de Dom Boscoem Santa Catarina teve no trabalho

vocacional uma granderesposta, o que se traduziu napresença significativa dereligiosos oriundos daqueleestado no conjunto da obrasalesiana no Brasil.

No Paraná, o desdo-bramento do trabalho emPonta Grossa, Curitiba eGuarapuava declinou-sefundamentalmente em tornoda assistência religiosa e socialaos bairros de periferia,

acolhendo os jovens, principalmente os maisnecessitados, para a sua formação integral, eestendendo a ação pastoral ao menor carente.O espaço urbano, a exemplo do trabalhodesencadeado no Rio Grande do Sul,constituiu-se no campo pastoral privilegiado.

Na medida em que o marco operativofoi criando forma, os salesianos passarama ser bem quistos e requisitados pelas maisdiferentes sociedades locais. A amplaexperiência desenvolvida em SantaCatarina junto às comunidades deimigração deu-lhes ânimo e energia paraaceitarem os apelos das liderançascomunitárias de Santa Rosa, no Rio Grandedo Sul, onde a sua missão se declinava emtorno da assistência e da educação dosmeninos católicos e do propósito defundar um seminário para a formação de

“O espaçouniversitário será olocus privilegiadopara desencadearações educativas e

pastorais quebeneficiem os

jovens e os maisnecessitados.”

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“A ética doeducador

salesiano devefundar-se na

dignidade e nosdireitos universais

inalienáveis detoda pessoahumana.”

em que se pode trabalhar menos e alargaro tempo livre. Paradoxalmente, esta novaera vem acompanhada de uma contradiçãoterrível. Quando se pode aspirar ao máximode tempo livre, o trabalho lhe parecesubtrair cada vez mais horas. Para os quesão empurrados para o tempo livre, queatende também pelo nome dedesemprego, esse parece se transformar,na realidade, num verdadeiro inferno.

Agora, numa sociedade em que tudo émercantilizado, como utilizar o tempo livrede maneira não mercantil? Portanto, aredução da jornada de trabalho aponta paraum novo tipo de sociedade. Sem esta visãomais ampla, a redução da jornada detrabalho torna-se uma meramedida pontual para resolvero problema do desemprego. Oque era privilégio de poucos nacidade-estado grego, agorapode ser ampliado para todos.

A defesa da redução dajornada de trabalho não podevir sozinha. Deve viracompanhada de uma “novacultura do tempo livre” epela “ampliação dorendimento”. Do contrário,o tempo livre corre o risco de seridentificado com o “consumismo e coma cultura de massa alienante”.

5.22222. A defesa de um mínimo vitaluniversal, independente do trabalho

Não basta apostar na redução dajornada de trabalho e no aumento dotempo livre. Juntamente com a reduçãoda jornada de trabalho, é preciso apostarna universalização do direito a um mínimovital. Este parte do pressuposto de que háum aumento da produtividade. Estaprodutividade não pode mais serdistribuída tendo como único critério o“ter um emprego, uma carteira assinada”.A produtividade pertence a toda asociedade. E ela aumenta sem necessitardo emprego de todos. “A gigantescaprodutividade que a tecnociência confereao trabalho humano tem como

conseqüência fazer da maximização dotempo disponível, e não mais damaximização da produção, o sentido e ofim imanente da razão econômica. Marxjá afirmava a este respeito que a verdadeiraeconomia – aquela que economiza – é aeconomia do tempo de trabalho.

O capitalismo, no seu atual estágio,introduz uma “drástica ruptura no vínculomecânico entre tempo de trabalhoprodutivo e produção.” Não é mais possívelvalorizar com precisão a produtividade dotrabalho em oficinas flexíveis, com fabricaçãoassistida por computador que só requeralguns supervisores. Em termoseconômicos, não é mais possível querer

continuar enquadrado pela leido século XIX - a do trabalho/produção/salário mensal -, quefoi uma idéia interessante quecorrespondeu a uma certacivilização industrial. A novacivilização informatizada pedeque se invente um conceitonovo para assegurar aredistribuição das riquezascoletivamente produzidas.

Assim, todos os cidadãos ecidadãs têm direito, pelo

simples fato de pertencerem a estasociedade, a um mínimo vital,independentemente do trabalho querealizaram, realizam ou realizarão. Não cabemais, portanto, o princípio “a cada umsegundo o seu trabalho”. Este princípiocaducou. Já Marx, em 1857, escreveu que ‘adistribuição dos meios de pagamento deverácorresponder ao volume das riquezasproduzidas e não ao volume do trabalhorealizado’. E o economista russo radicadonos EUA, W. Leontieff, Nobel de Economiaem 1973, afirma categoricamente: “quandoa criação de riquezas não depender mais dotrabalho dos homens, estes morrerão defome às portas do paraíso, caso não se tenhauma nova política de renda capaz deresponder à nova situação técnica”.Portanto, continuar a defender que ‘quemnão trabalha não come’, é assumir umapostura conservadora que não consegue

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aspirantes para o sacerdócio. Lá seinstalaram no final de década de 1950.

A exemplo de outras regiões, mas comuma intensa transformação das condiçõessócio-econômicas, a demanda educacionalna região de Santa Rosa fez convergir emtorno do Instituto Educacional Dom Boscoum crescente número de estudantes.Novos cursos fizeram-se necessários.Com apenas dez anos de existência, em1969, o Instituto Educacional Dom Boscoinstalou o curso científico e enveredoupara o ensino superior com a abertura deuma extensão da Universidade Federal deSanta Maria. Em 1973, obteve a suaautonomia didática, quando da constituiçãoda Faculdade de Filosofia, Ciências e LetrasDom Bosco. Em 1978, criou a FaculdadeSalesiana de Educação Física. A obrasalesiana de Santa Rosa constitui-se numaexperiência importante para o processode desenvolvimento regional, uma vez quedespertou a inteligência local, diagnosticoua realidade circundante e articulou ossujeitos sociais em torno de projetos quebuscavam incrementar o avançosociocultural da região.

Profissionais da educação, liderançassociais e políticas tiveram nas FaculdadesDom Bosco um centro de referência paraconstruir redes de formação e deinformação que, em essência, significarama interação dos sujeitos sociais esimbolizaram um certo poder localpromotor da mudança social. Assim, como marco operativo alicerçado no carismasalesiano e no sistema preventivo, asfaculdades não só contribuíram com aelevação do nível educacional e cultural dasociedade, mas representaram um fatorcultural que fomentou ações político-pedagógicas que transcenderam asfronteiras regionais e animaram as obrassalesianas do sul do Brasil.

Persistente nas dificuldades, resistenteao arbítrio, crítica e criativa diante darealidade, a comunidade educativa doInstituto Educacional e das Faculdades Dom

16 Instituto Educacional Dom Bosco. Plano Trienal Educativo. Santa Rosa, 1988-1990.

Bosco manteve-se fiel à sua missão, definidaem torno da formação integral do homem,capacitando-o para o exercício criativo desua profissão e para a postura crítica nasociedade, buscando o seu desen-volvimento através de uma participaçãosolidária.16 Em base a estes referenciais, aobra salesiana de Santa Rosa tornou-se umespaço privilegiado de reflexão, deprodução intelectual, de difusão e deevangelização da cultura. O ensino superiorrepresentou para as obras educacionais daInspetoria um elemento substancial deanimação e um fator de qualificaçãopermanente. A ação educativa dasFaculdades Dom Bosco, além da produçãoda inteligência regional e da educaçãocontinuada, materializou-se num conjuntode cursos de graduação e de pós-graduação, hoje integradas à UniversidadeRegional do Noroeste do Rio Grande doSul – UNIJUÍ. A partir dos anos de 1990,sofreu um processo de despersonalização,que ora se apresenta como um desafio paraa retomada da Educação Superior naInspetoria São Pio X.

A Faculdade Dom Bosco de PortoAlegre nasceu do entendimento dossalesianos do Sul do Brasil de que aformação integral dos jovens e a educaçãocontinuada dos segmentos sociais menosfavorecidos dependem de um centrovitalizador das atividades pastorais eeducativas que gere, reelabore e dêsentido cristão ao conhecimento. Comobem cultural e instrumento de produçãoda vida e da cultura, o conhecimento, aoinvés de ser um fator de discriminação,poderá ser um elemento de aproximaçãodos homens entre si, para uma convivênciaharmoniosa com a natureza e umarealização plena em Deus. Neste sentido,conhecimento e fé não se excluem. Oespaço universitário será, de formacrescente, o locus privilegiado paradesencadear ações educativas e pastoraisque beneficiem os jovens e os maisnecessitados. É o espaço apropriado para

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“O trabalho criarelações de

solidariedade,opostas àsrelações de

competição.”

entendido como emprego, esse que setem ou não se tem. Porque o trabalhocomo atividade humana continuaexistindo, e muito.

O fim do trabalho entendido comoemprego estala a crise da sociedade salarial,pois como incluir se a forma por excelênciade participação nesta sociedade - o trabalho- já não existe mais, foi abolido?Considerando os progressos tecnológicos,pelos quais se produz sempre mais, emtempo menor, a um custo mais reduzido ecom menos trabalho, “querer continuar adeterminar o salário pela produção, a rendapelo tempo passado na produção é, então,uma noção absurda e, em certa medida,injusta. Insistir em se manter alicerçado nalei do século passado (trabalho/produção/salário) é um nonsenseeconômico que poderia, aliás,conduzir a impasses ou aaberrações” (Aznar). Portanto,é a própria sociedade que éabalada em sua base, naestrutura de redistribuir asriquezas socialmente produ-zidas.

É por isso que esse tipo detrabalho - a modalidade detrabalho emprego - pode ser abolida. Estánascendo “um novo sistema que abolemassivamente o ‘trabalho’. Esse novosistema restaura as piores formas dedominação, servidão e exploração,constrangendo a todos a se bateremcontra todos para obterem este ‘trabalho’que ele aboliu. É preciso ousar querer oêxodo da sociedade do trabalho: estasociedade não existe mais e não voltarámais. É preciso querer a morte destasociedade que agoniza a fim de que possanascer uma outra sobre os seusescombros. É preciso que o trabalho percaa sua centralidade na consciência, nopensamento, na imaginação de todos: épreciso aprender a ter um olhar diferentesobre o trabalho: não mais pensá-lo comoalgo que se tem ou não se tem, mas comoaquilo que nós fazemos. É preciso ousarnos apropriar novamente do trabalho.

5. Rumo a uma nova organizaçãosocial do trabalho

Convém agora pensar algumas saídasque podem – em curto e em longo prazo –cimentar as bases de uma nova organizaçãosocial do trabalho.

5.1. A redução da jornada detrabalho e o tempo livre

Uma possível saída para o desempregopassa pela partilha do emprego existente.A redução da jornada de trabalho, mascom salvaguarda do salário, dos direitossociais e controle das horas-extras, estáse tornando, em todo o mundo, a grandebandeira do movimento sindical. É umaluta importantíssima porque é umamaneira concreta de partilhar a produ-

tividade alcançada com asnovas tecnologias e os novosmétodos organizacionais. Écada vez mais urgente enten-der que é preciso que todostrabalhem menos para quetodos possam trabalhar.

Assim, novos direitos e umanova liberdade emergemcomo possibilidades:

• o direito de cada um ganhar a vidatrabalhando, mas trabalhando menos emelhor, recebendo por inteiro a sua parte dariqueza socialmente produzida.

• o direito de trabalhar de mododescontínuo, intermitente, sem perderdurante estas pausas a renda plena deforma que possa abrir novos espaços àsatividades sem fim econômico ereconhecer a estas atividades umadignidade e um valor eminente, seja paraos indivíduos, seja para a sociedade no seuconjunto.

A redução da jornada de trabalho colocaem pauta a questão do tempo livre. Ahumanidade sempre sonhou em poderdedicar o mínimo de tempo para garantir asobrevivência e poder dispensar o máximode tempo para atividades autônomas.Estamos às portas de entrar nesta nova era

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a construção da sociabilidade, da formaçãointegral e do exercício da cidadania. Ocarisma salesiano encontra aí terreno fértil.É neste universo que se torna possívelparticipar com amor no crescimento daspessoas e na construção do seu futuroatravés da educação e da evangelização dacultura.17

Diante deste quadro e apoiada na redede Instituições Universitárias Salesianas –IUS -, espalhadas pelo mundo, a InspetoriaSalesiana São Pio X decidiu implantar aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre,que teve seus primeiros cursosautorizados pelo MEC no final do ano de2002.

A afirmação do propósito de constituiruma Instituição Salesiana de EnsinoSuperior firma-se na missão de agregar aoseu papel pedagógico o compromisso deformar cidadãos críticos e criativos,comprometidos com a vida e com osvalores humanos e cristãos, que conduzampara uma sociedade justa e solidária, quebusque nas conquistas da ciência e noaprimoramento cultural a dignificação detodos os homens. Uma faculdade quepossa acolher os jovens e os adultos quebuscam uma formação continuada, paraque na convivência com os salesianos emestres qualificados e virtuosos, possamconstruir coletivamente, na vida emacademia, os valores que sedimentem aconvivência fraterna e familiar, promovamum caminho de formação comum quetenha na pluralidade e na co-responsabilidade as suas referênciasbásicas. O “estar juntos” em momentosqualificados enriquece a mente e o coraçãoe motiva ações transformadoras emtermos sociais e culturais. "Estar com DomBosco significa estar com os jovens e oferecero que somos: coração, mente, vontade;amizade, profissionalidade e presença;simpatia, serviço e dom de si.” 18

A educação superior que a Faculdade

17 PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional - 2002-2007. Porto Alegre: Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, doc. 0318 ROMA. Capítulo Geral 24 - Ação conjunta: salesianos leigos na missão de Dom Bosco. São Paulo: Salesiana, 1996, p. 121.19 PDI – Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre.

Dom Bosco de Porto Alegre projeta orienta-se no sentido de equacionar conhecimentoe humanização, conhecimento e evange-lização, conhecimento e produção cultural,conhecimento e desenvolvimentoeconômico e conhecimento e justiçasocial. Por outro lado, insere-se noPrograma Comum construído pelaCongregação para as InstituiçõesUniversitárias Salesianas – IUS – que é umreferencial de identidade destasinstituições espalhadas pelos maisdiferentes continentes. O aval daCongregação para o seu Plano deDesenvolvimento Institucional reforça amissão que se sustenta na visão de que aeducação superior desenvolvida pelaFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre éportadora de valores, de conteúdosreferenciais e de práticas que contribuempara a auto-realização das pessoas,tornando-se um elemento facilitador dainteração dos homens entre si e destescom o mundo. Neste horizonte, aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegreorienta-se à luz da visão de ser um centrode referência no desenvolvimento deações continuadas e permanentes depromoção da educação a partir da óticada solidariedade, da criatividade, dainovação e do comprometimento com avida. Decorre daí a missão de: fomentar,construir e disseminar o conhecimento e os valores davida, contribuindo para a formação integral da pessoahumana, capacitando-a para o exercício profissionale da cidadania, e incentivando o aprendizado contínuoe atuação solidária na sociedade.19

4. Políticas educacionais, demandassociais e a missão da universidade

Os limites do Estado Brasileiro de ampliaras condições de oferta e de incrementar ofinanciamento público da educação superior eda pesquisa situaram a universidade brasileiradiante de um paradoxo: a necessidade de uma

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as pessoas, trabalhadores. A ideologiasubjacente à revolução industrial“transformou em seus trabalhadoresassalariados o médico, o jurista, o padre,o poeta, o homem de ciência” , como diziaMarx no Manifesto do Partido Comunista,há mais de 150 anos. Praticamenteninguém ficou de fora. Uma das conquistasdas mulheres foi o fato de entrarem nomundo do trabalho. Uma das lutas dosdeficientes físicos foi poderem seradmitidos a certos tipos de trabalho,portanto, de ser reconhecidos comotrabalhadores. As pessoas passam a seidentificar a partir do trabalho que têm(citam a profissão) ou não têm(desempregados).

André Gorz, pensador francês, defendeque o trabalho, assim como é praticado eentendido pela modernidade, é uma“invenção” ou uma “construção social”.Aquilo que nós chamamos trabalho é umainvenção da modernidade. A forma pelaqual nos conhecemos, praticamos ecolocamos no centro da vida individual esocial, foi inventado, generalizado com aindustrialização. A característica essencialdesse trabalho – esse que nós temos,procuramos, oferecemos – é ser umaatividade na esfera pública, demandada,definida, reconhecida útil pelos outros e,nesse sentido, remunerada por eles. Essetrabalho pode ser medido, quantificado,vendido, comprado e trocado.

O trabalho no sentido antropológico efilosófico, aquela atividade de criação de umaobra, foi reduzido a emprego. Dessemomento em diante, o trabalho já não é maisalguma atividade que se faz, mas algo que setem ou não se tem. Assim, o trabalho édefinido desde o início como uma atividadesocial destinada a se inscrever no fluxo dastrocas sociais da sociedade. Sua remuneraçãoatesta esta inserção, mas isto não é maisessencial: o essencial é que o trabalho cumpreuma função socialmente identificada enormalizada na produção e reprodução dotodo social. E para cumprir uma funçãosocialmente identificável, ele mesmo deve seridentificável pelas competências socialmente

certificadas, segundo procedimentoshomologados. Esta é a revolução que asociedade industrial operou na noção detrabalho.

O trabalho entendido como emprego,por esta sociedade, é fator fundamentalde integração social e de identidade. Aspessoas são incluídas na sociedade porserem trabalhadoras. É o trabalho que dizque elas são cidadãs, que têm direitos. Acidadania, os direitos, a identidade estãorelacionados com o trabalho. Sem ele, umapessoa literalmente não existe nestasociedade. A figura do trabalhadorrepresenta, pois, o ideal dessa sociedade.

Agora, por ironia da história, o séculoXX – o século do trabalho – terminou comuma profunda carência de trabalho. Ésempre maior o número de pessoas queprocuram trabalho e não encontram.Muitos, por desespero, têm na verdadedeixado de procurá-los e são, por isso,considerados vagabundos. Resta perguntaro que acontece a uma “sociedade detrabalhadores sem trabalho, isto é, sem aúnica atividade que lhe resta”. O queacontece a uma sociedade em que aspessoas querem trabalhar, mas não háquem lhes ofereça trabalho? A sociedadeé fragmentada. Um grupo seleto detrabalhadores bem formados, bemremunerados e com garantia deestabilidade, forma o núcleo centraldaqueles que são incluídos pelo trabalho.Em torno deste círculo, formam-sediversos círculos sempre mais amplos.Quanto mais se afasta do centro, maisdistante se está de um emprego bom e dequalidade e mais perto de um empregoprecário, flexível, com salário ruim. Aquinos aproximamos do reino dos “não-trabalhadores”, cujo número tende acrescer com a introdução das modernastecnologias. A tendência é que o trabalhochegue ao seu fim.

No entanto, quando falamos em “fim”do trabalho, precisamos dizer a quetrabalho nos referimos. Não se trata,evidentemente, do fim de todo e qualquertrabalho. Trata-se do fim do trabalho

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flexibilização, para permitir uma maiorexpansão de vagas e a necessidade de umcontrole entre as exigências cada vez maioresda sociedade e a política de ensino superior,que se projetava a partir de visões imediatistase utilitaristas.20 A Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional (LDB – n. 9.394, de 23/12/1996), em sua concepção original, procurou aresposta a este paradoxo ao apontar para umsistema universitário desburocratizado,marcado pelo maior número de iniciativaspossíveis, mas acompanhado em sua relevânciasocial, em sua eficiência organizacional egerencial e, sobretudo, em sua capacidade deoferecer um ensino de qualidade e umaformação adequada às exigências do nossotempo. A responsabilidade social dasinstituições passou a ser definida a partir da suaforma de inserção social, que decorre dos finsque desenvolvem junto à comunidade. Os finspropostos definem a natureza institucional,enquanto a sua autonomia e o seucredenciamento e/ou descredenciamentoficam vinculados aos processos avaliativos. Coma hierarquização das instituições, antes de seprocurar consagrar um sistema universitário,buscou-se dar uma resposta imediata aos níveisdiferenciados de oferta existentes e à eminentenecessidade de expansão de vagas para oensino superior.

O Estado, enquanto gestor da políticauniversitária, trata a educação superiorcomo bem público, e como tal, assume aprerrogativa de zelar por ele. Por estaapreensão, justifica o seu controle e a suaintervenção, o que, em muitas circuns-tâncias, fere o princípio elementar daautonomia universitária. Autonomia euniversidade são conceitos que se bastam.Sem autonomia, a universidade torna-seimpossível.

Ao conceber a educação superior como

bem público, o Estado chama a si aresponsabilidade do acesso igual de todosos cidadãos à universidade. Limitado emsuas possibilidades de expansão da ofertae incapacitado de sustentar ofinanciamento das universidades públicas,delega a instituições de natureza privadaesta missão.21 Uma missão que, nestascircunstâncias, antes de considerar aeducação superior como bem público, asitua como um projeto nacional deinserção da sociedade brasileira naeconomia e na sociedade doconhecimento. A universidade emerge, apartir desta apreensão, como espelho ecomo motor da sociedade. Inserida numasociedade concreta, ela deve possibilitaruma visão plural e dar às comunidadesinterna e externa a perspectiva de que seusmembros são cidadãos do mundo.22 O sercidadão do mundo não implica, de formaalguma, na renúncia da identidade nacional.Para construir esta nova cidadania, auniversidade deve assumir uma novapostura: a de inserir-se num “ambiente demediatização”, constituindo redes deconhecimento e “vasos comunicantes”,para estabelecer a transversalidade doconhecimento para todos os setores dasociedade e da economia.23 Antecipar osentido da mudança num ambiente deturbulência e de complexidade, apostarem novos protagonistas num quadro deinércia, discernir o essencial diante da crisede valores, perseguir novas alternativasfrente às reduzidas oportunidades eperseguir a promoção social no contextoindividualizado, são desafios que “devemultrapassar a retórica fácil de afirmar que oconhecimento é um fator de desenvolvi-mento, para se tornar uma práxis tangívelpelo cidadão anônimo”.24

20 ZAINKO, Maria Amália Sabbag. “O projeto institucional da universidade das idéias e a qualidade do ensino: a questão do professor”.Estudos. Brasília: Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, Ano 15, n. 18, p.69-78, 1997.21 Pela apreensão da experiência universitária portuguesa, o financiamento público da pesquisa nas universidades aumenta osresultados públicos da produção científica que se encontra socialmente disponível. CONCEIÇÃO, Pedro e outros. Novas idéiaspara a universidade. Lisboa: IST Press, 1998, p. 155.22 RODRIGUES, Eduardo Raul Lopes. “Universidade – espelho e motor da sociedade” In: CONCEIÇÃO, Pedro e outros. Novasidéias para a universidade. Lisboa: IST Press, 1998, p. 60-66.23 Idem, p. 66.24 Idem, p. 66 e 67.

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“É preciso aprendera ter um olhar

diferente sobre otrabalho: não maispensá-lo como algoque se tem ou nãose tem, mas como

aquilo que nósfazemos.”

quantidade de trabalhadores com jornadasuperior à oficial duplicou, passando de13,5 milhões para 26,7 milhões de pessoasocupadas, segundo Márcio Pochmann(CEPAT Informa n. 72/2001, p. 43-45). Osobretrabalho agrava a situação dodesemprego, pois cerca de cinco milhõesde novas vagas deixam de existir. A simpleseliminação das horas-extras pode significara redução de cerca de 2/3 do total dedesemprego aberto no país. Além disso,pode permitir que mais pessoas trabalheme garantam assim sua sobrevivência. Osobretrabalho é um fenômeno de nossaépoca. Enquanto alguns trabalham muito,outros não têm emprego. Uns trabalhamdemais, outros simplesmentenão trabalham.

Outro fenômeno relacio-nado a esse mundo ‘dos queficam no trabalho’ é o queRichard Sennett denominacomo ‘corrosão do cará-ter ’ . Para ele, no novomundo do trabalho não hálongo prazo. No trabalho, acarreira tradicional estáfenecendo. O que muda é opróprio sentido do trabalho,no qual ‘emprego’ está sendo substituídopor projetos e campos de trabalho. ‘Nãohá longo prazo’ é um princípio que corróia confiança, a lealdade e o compromissomútuo, pois esses laços levam tempo parasurgir. Portanto, o esquema de curto prazodas instituições modernas limita oamadurecimento da confiança informal. Asredes institucionais se caracterizam pela‘força de laços fracos’. Associado a isso,conseqüências pessoais do trabalho nonovo capitalismo, criando-se uma nova‘ética do trabalho’, que se concentra notrabalho de equipe. Aqui, enfatiza-se aresponsabilidade mútua, os temposflexíveis, voltados para tarefas específicasde curto prazo. O novo papel do líder éfacilitar uma solução e fazer a mediaçãoentre o cliente e a equipe. Neste caso, apressão dos outros membros da equipetoma o lugar do chefe, os trabalhadores

responsabilizam-se uns aos outros.Ressalte-se aqui o surgimento do stress,da insegurança, do sentimento deinutilidade, da baixa da auto-estima, daculpabilização.

A origem dessa profunda reviravoltaque se processa no mundo do trabalhoestá associada à revolução tecnológica,chamada também de revoluçãoinformacional. Nas últimas décadaspresenciamos o surgimento de um novoparadigma produtivo, proporcionado peloadvento da informática, que revolucionoua produção no mundo. O computador e acomunicação on-line são suas ferramentasmais importantes.

O mais impressionante enovo, certamente, dessarevolução, é o seu significadopara a sociedade e, particular-mente, para o mundo dotrabalho. Ao contrário dasduas revoluções anteriores,que incorporaram massiva-mente mão-de-obra, estavem eliminando postos detrabalho. Ela não requer maiso trabalho de todas as pessoase de todo o trabalho das

pessoas. Ela se faz na dispensa do trabalho,pois as inovações tecnológicas cada vez maisvão ocupando o lugar das pessoas.

Não se trata de estimular um novomovimento “ludista”, movimento operárioinglês do século XIX que se caracterizoupela quebra de máquinas. Este é ummovimento irreversível. Abre-se umadupla perspectiva: pode significar o“inferno” para os trabalhadores – naverdade é isto que estamos presenciandoem parte – mas pode abrir caminho novo,um caminho que pode assentar as basesde uma nova sociedade, uma sociedadedo tempo liberado.

4. A crise da ‘sociedade salarial’O século XX é conhecido como o século

do trabalho. Nunca se trabalhou tantoquanto neste século que acaba de findar.

Os séculos recentes fizeram de todas

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Na sua interação com a sociedade, auniversidade não está eximida daconstrução do seu modelo. Um modeloque terá que se fundamentar nos princípiosda democracia, da autonomia e da criaçãodeverá ser o suficientemente flexível paraorganizar grupos de estudos, programas depesquisa e de pós-graduação, organizadosem torno de núcleos do saber, quepromovam um conhecimento articuladointerdisciplinar e multidisciplinar. Asespecificidades sociais e regionais requeremque as políticas educacionais favoreçam adiversidade das instituições universitárias,isto é, permitam a diversificação do modelodas universidades.

A busca da excelência representa acondição básica para a universidade assumira sua função de liderança intelectual nasociedade. A missão nasce do contexto deliderança intelectual, que se caracteriza pelacapacidade de imaginar o futuro do mundo,de definir o papel do conhecimento frenteàs prioridades que devem ser perseguidas ede organizar o saber no presente para queele possa evoluir em sintonia com o futuroalmejado.25 A partir desta condição, auniversidade poderá criar a sua marca. Marcaque resulta da sua missão na sociedade, istoé, da especificidade de suas respostas àsdemandas e às necessidades da comunidadea que se propõe atender. A marca estampa-se nos produtos derivados das atividades-fins da universidade e representa umconjunto simbólico identificado, no qual asociedade busca referências para a suacontinuidade e para o seu desenvolvimento.A construção da marca requer uma visãoclara de universidade a partir de uma inserçãosocial concreta, uma missão definida epossível de ser identificada, e políticas eprogramas coerentes com a missão, capazesde contribuir de uma forma pró-ativa nacapacitação dos sujeitos sociais para aaprendizagem continuada e para odesenvolvimento de conhecimentos.Pensada assim, a universidade poderá fazera conversão social do capital científico e

cultural, buscando, a partir do mundoimaginado, construir sínteses cientificamenteconsistentes que sirvam de matriz para atransformação/construção social.

5. Referências Bibliográficas

BATISTA, Paulo Nogueira. “A nova ordemmundial, os novos paradigmas de desenvolvimento:globalização, qualidade total, flexibilidade esociedade do conhecimento”. In: Fórum daAbruem - a missão da Universidade naperspectiva do terceiro milênio. Cascavel:EDUNIOESTE, 1997, p 34-45.BUARQUE, Cristóvão. A aventura daUniversidade. São Paulo: UNESP, 1994.CABRAL, Osvaldo R. Subsídios para a históriaeclesiástica de Santa Catarina. Revista deHistória, n. 72, v. XXXV, 1967, p. 417-462.CONCEIÇÃO, Pedro e outros. Novasidéias para a universidade. Lisboa: ISTPress, 1998.CONSELHO DE REITORES DASUNIVERSIDADES BRASILEIRAS. Melhoriae responsabilização: navegando entre Cila eCaríbdis. Manual de avaliação externa daqualidade no ensino superior. Brasília, 1996.(Estudos e Debates, 18).CUNHA, Luiz Antônio. Critérios de avaliação ecredenciamento do ensino superior: Brasil eArgentina. In: VELLOSO, Jacques (org.). O ensinosuperior e o Mercosul. Rio de Janeiro: Garamond,1998, p. 17-52.__________. A universidade crítica. O ensinosuperior na República Populista. Rio de Janeiro:Francisco Alves, 1989.DREIFUSS, René Armand. 1964: Aconquista do Estado. Petrópolis: Vozes,1981.IEDB - Instituto Educacional Dom Bosco.Plano Trienal Educativo. Santa Rosa, 1988-1990.MENDONÇA, Ana W.P.C. Universidade eformação de professores. Uma perspectivaintegradora. Rio de Janeiro, 1993 (Tese deDoutorado), Pontifícia Universidade Católica.NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Acultura ocultada. Londrina: UEL, 1999.

25 BUARQUE, Cristóvão. A aventura da Universidade. São Paulo: UNESP, 1994, p. 162.

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“O trabalhoentendido como

emprego, poresta sociedade, é

fatorfundamental de

integração sociale de identidade.”

a educar as novas gerações neste novocontexto social. Como herdeiros de DomBosco, que não teve medo de enfrentar eassumir a primeira revolução industrial(baseada no carvão e no aço) e a segunda(baseada no petróleo e na eletricidade),também nós não temos medo darevolução tecnológica, especialmente amicroeletrônica, a informática, a robótica,a nanotecnologia. A questão, porém, écomo preparar as pessoas para o trabalhoe não para o emprego? Como educá-laspara os momentos em que estãodesempregadas? Como enfrentar aquestão do tempo livre e da desocupaçãojuvenil? Quais as novas competênciasnecessárias para enfrentar aproblemática do trabalho, doemprego e do desemprego?

Os anos 1990 foram deprofundas mudanças naorganização social do trabalhoe desastrosos, vistos a partirdos trabalhadores e trabalha-doras e de suas organizações.O fenômeno do desemprego,do trabalho informal, doachatamento salarial associadoao sobretrabalho e a desregulamentaçãogeral da legislação trabalhista, foi tão brutalno Brasil que originou um conceito novopara designar esta realidade. É abrasilianização do trabalho.

Esta barbarização do trabalho se revelaem alguns dados: o desemprego na décadade 90 no Brasil dobrou, independente doInstituto de Pesquisa. De acordo com oIBGE – utilizando como referência omunicípio de São Paulo – o desempregopulou de 1,8 milhão (3%) em 1989, para7,6 milhões (9,6%) de pessoas no final dadécada de 90. Já de acordo com a pesquisado Seade/DIEESE, que utiliza metodologiadiferenciada, o desemprego que em 1989atingia 8,9 milhões de trabalhadoresbrasileiros, passou para 17,8 milhões emoutubro de 2001.

No mesmo período, dos 13,6 milhõesde brasileiros que ingressaram no mercadode trabalho do país, 5,1 milhões sobraram.

Entre os ocupados, os assalariados comcarteira em dezembro de 88 eram 59,5%.Em junho de 99 eram 44,7%. Já osassalariados sem carteira passaram de18,4% para 26,9% no mesmo período.Os trabalhadores por conta própria, porsua vez, passaram de 17,5% para 23,5%.Ainda do conjunto dos “ocupados”, apenas40% contribuem para a previdência.

De um total de uma PEA de 75 milhõesde trabalhadores, pouco mais de 23milhões têm contrato formal.

Outro dado que revela a “barbarização”do mundo do trabalho diz respeito àprecarização do mercado de trabalho. Noperíodo de 1989 a 1999, de cada cinco

ocupações criadas, quatroforam precárias. As ocupaçõesem alta nesse período foram:emprego doméstico (23%);vendas (15%); construção civil(10%); asseio e conservação(8%); segurança pública eprivada (6%).

Junto com a precarizaçãodo mundo do trabalho,direitos foram eliminados oureduzidos. A lei é a do mais

forte. Aqui se manifesta de maneira maisevidente o ‘darwinismo social’. Destamaneira, retrocedemos na história. Em vezde caminhar para o século XXI,caminhamos para o século XIX ou mesmopara o século XVIII no que diz respeito àsnormas que regulamentam o trabalho. Asconquistas, dura e penosamentealcançadas pelos trabalhadores etrabalhadoras, estão sendo desmanteladasuma após outra. Tudo o que é sólido sedesmancha no ar, todas as conquistas‘solidificadas’ pelas lutas dos trabalhadoresestão se liquidificando, derretendo,esfacelando. A ‘modernidade líquida’,porém, coloca em seu lugar outros sólidos:a flexibilização, a precariedade, odesmantelamento de todas as legislaçõestrabalhistas...

A revanche neoliberal provocou noBrasil, nos últimos anos, um “abuso dosobretrabalho”. Nos anos 90 a

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“O sobretrabalhoagrava a situaçãodo desemprego,

pois cerca decinco milhões de

novas vagasdeixam de

existir.”

transformações sociais aconteceramjustamente no mundo do trabalho. Na eratecnológica, cada vez mais se produzembens sem necessidade de que todostrabalhem. A sociedade que diz que só écidadão quem trabalha e pode comprar,dispensa o trabalho de todos. Na França,há 150 anos, um operário forneciaanualmente cinco mil horas de trabalho. Noinício do século XX, eram 3.200 horas. Nosanos 70, eram 1.900. Atualmente são 1520horas. O tempo de trabalho de uma pessoarepresentava em 1850, 70% de sua vida;em 1900, 43%; em 1980, 18%; em 2000,14%. Ao mesmo tempo, a riquezaproduzida aumentou. De 1960 a 1990, aprodução mundial por habi-tante, a despeito do crescimen-to demográfico, multiplicou-sepor 2.5. Jeremy Rifkin,antevendo o futuro, assimdescreve a sociedade dotrabalho na primeira metadedo século 21: “Nós estamosem 2045. Para a maioria dosamericanos, a vida de hoje nãotem muito a ver com a vida decinqüenta anos atrás. Amudança mais visível é, talvez, oesfacelamento do mercado nas atividadescorrentes. Na era da informação, a maiorparte dos bens e serviços do planeta éproduzida nas fábricas que quase não têmmais necessidade de mão-de-obra, edistribuída por empresas virtuais geridas porpequenas equipes de administradores equadros altamente qualificados. Calcula-doras eletrônicas dotadas de grandecapacidade de memória, robôs e sistemasde telecomunicações de última geraçãosubstituíram o “operário” da era industrial.Menos de 20% da população adultatrabalha em tempo integral”. Nasquinhentas maiores empresas americanas,a proporção dos empregos permanentes ede tempo integral representa somente10% do total. Um estudo da FederaçãoInternacional dos Metalúrgicos prevê quedentro de 30 anos, menos de 2% da atualforça de trabalho em todo o mundo será

suficiente para produzir todos os bensnecessários para atender a demanda total.

No Brasil observa-se o mesmofenômeno tanto no setor secundárioquanto no terciário. Na indústriaautomobilística, por exemplo, há umaumento da produção de automóveis(mais de dois milhões de automóveis em1997) com uma clara tendência dediminuição dos trabalhadoresempregados. Estudos prevêem que, nospróximos anos, o número de empregosna indústria automobilística poderá cairentre 20 e 30%. No setor bancário houve,nos últimos anos, uma drástica redução depessoas empregadas. E a redução das

pessoas que trabalham nãosignifica uma queda deprodutividade. Pelo contrário.Há um aumento deprodutividade. Ou seja, para ocrescimento da produtividade,não é mais necessário quetodas as pessoas estejamempregadas.

A agricultura é um exemplocontundente deste processo.Um agricultor que alimentava

quatro pessoas no fim da última guerra,trinta anos mais tarde, nutria 36. Na Françade 1946 a 1996, houve um aumento de110% da produção agrícola acompanhadade uma redução de seis milhões de hectarescultivados. No Brasil constata-se o mesmofenômeno. Aumentar a produção nãosignifica mais, necessariamente, ampliar aárea cultivável ou trabalhar mais. Éaumentar, sim, a produtividade. Isto significauma importante economia de matéria,energia e fontes necessárias por unidadede produto nacional.

O grande desafio, então, consiste emcomo distribuir a riqueza produzida pelamáquina. O mundo do trabalho é cada vezmais instável e precário. Cada vez mais setoma consciência também de que não sepode reduzir o trabalho ao emprego. Otrabalho autônomo ocupa cada vez maiso tempo e o espaço das pessoas.

Como educadores somos convidados

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3. A Inspetoria Salesiana de Porto Alegre e oEnsino Universitário

José Valmor César TeixeiraInspetor Salesiano de Porto Alegre e Presidente da Mantenedora da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre

Resumo: A Igreja Católica, por meiode vários documentos, ressalta aimportância da colaboração da Igreja coma Sociedade no campo da produção dacultura, especialmente no campo dosestudos universitários. Assim, à luz destasurgências e pela inspiração de Dom Bosco,a Inspetoria Salesiana São Pio X decideimplementar a Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre, cujas principais motivaçõessão formação integral dos jovens e aeducação continuada dos segmentossociais menos favorecidos, espaço esteapropriado para a construção dasociabilidade, da formação integral e doexercício da cidadania.

Palavras-chave: Igreja Católica,formação integral, educação continuada.

1. IntroduçãoA Inspetoria Salesiana São Pio X de

Porto Alegre, mantenedora da FaculdadeDom Bosco, foi fundada em 1958,inicialmente com sede na cidade de Riodo Sul, SC, e desde 1963, presente nacapital do Rio Grande do Sul.

Os Salesianos de Dom Bosco chegaramao sul do Brasil com a missão de realizar oque já vinham fazendo em outras partes domundo. Especialmente atuar no campoeducativo, com colégios e liceus, com escolasprofissionalizantes, com escolas agrícolas,com orfanatos e internatos, e com fortepresença evangelizadora nas paróquias emissões entre os imigrantes.

Desde o ano de 1901, os Salesianos deDom Bosco se fazem presentes no Sul doBrasil. O primeiro núcleo teve seu iníciona cidade portuária de Rio Grande, porSalesianos vindos do Uruguai, que em1904 abriram um colégio em Bagé. O

segundo núcleo teve início no estado deSanta Catarina, a pedido do Episcopadolocal e do governo do Estado para oatendimento aos imigrantes europeus.Foram abertas presenças de evangelizaçãoe educação entre os italianos, alemães epoloneses. Este atendimento se estendeu,também, aos nativos da terra. O terceironúcleo da presença salesiana no sul doBrasil se organiza a partir da presença dosSalesianos em Porto Alegre, inicialmentecom o atendimento educativo a meninospobres, alargando-se, depois, para váriasáreas da educação, assistência eevangelização, formando uma rede depresenças.

A partir da metade do século XX, nosanos próximos à criação da Visitadoria, porvontade expressa e tomada de posiçãopolítico-adminstrativa de vários salesianos,abriu-se e afirmou-se o quarto núcleo de

Abstract: The Catholic Churchemphasizes how important is thecontribution of Church to society in termsof cultural production, specially related touniversity degree learning. Then, from thisurgent demands and from inspiration inDon Bosco, the Inspectory of the SalesianSaint Pius X decides to create the DonBosco College from Porto Alegre. Its mainpurposes are integral formation of theyouth and continued education for lesseconomic favored social segments,building an suitable environment forsociability, integral formation andcitizenship.

Keywords: Catholic Church, integralformation, continued education.

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“A questão,porém, é como

preparar aspessoas para otrabalho e não

para o emprego.”

2. O desafio do sonho de DomBosco em nosso contexto

Dom Bosco procurou acolher os jovensdo seu tempo justamente naquilo que maiscaracterizava a sociedade de sua época,que era o trabalho. O lema daCongregação Salesiana é “trabalho etemperança”. Ao lado da alegria, oOratório de Dom Bosco era a casa dotrabalho. Ouviu dos lábios de Pio IX erepetiu para os seus que “o diabo tem maismedo de uma casa de trabalho do que deuma casa só de oração” (MB 17,661).Voltando da França em 1877, Dom Boscovisitou as Filhas de Maria Auxiliadora emAlássio. Interrogando-as se tinham muitotrabalho e obtida a resposta positiva, disse:“Pois bem, quando eu vou às casas epercebo que há muitotrabalho, vivo tranqüilo. Ondehá trabalho, não há odemônio” (MB 13,116). Outravez, numa conferência, disse:“Quem quer entrar naCongregação é preciso queame o trabalho (...). Não faltaráo necessário, mas é precisotrabalhar. Ninguém entre coma esperança de cruzar os braços” (MB13,424). “Quando acontecer que umsalesiano caia trabalhando pelas almas,então direis que a Congregação obteveum grande triunfo” (MB 17, 273). DomBosco dizia que o trabalho é o distintivo, acarteira de identidade do salesiano (MB 19,235). Dom Bosco enfrentou esta questãopreparando seus jovens para o mundo dotrabalho, sobretudo com suas escolasprofissionais, suas oficinas.

Como ser educador numa IESsalesiana numa sociedade ondejustamente a maior crise que enfrentamosé a do trabalho, do emprego? Qualquerpesquisa que se faça, hoje, dirá que omaior problema enfrentado pelapopulação é o emprego... “Redefiniroportunidades e responsabilidades paramilhões de pessoas numa sociedade, semo emprego de massa formal, deverá sera questão social mais premente do século

que se inicia” (Rifkin, 1996, p. 2).Dom Bosco viveu na passagem da

primeira revolução, a agrícola, para arevolução industrial. Não mais o sino, maso apito e a sirene da fábrica marca estanova ordem. Dom Bosco morreu em1888. A grande encíclica social RerumNovarum do Papa Leão XIII foi promulgadaem 1891. Dom Bosco procurou enfrentaras transformações não com umamentalidade defensiva, mas muitoprospectiva...

3. A crise do ‘trabalho’ nasociedade

Hoje estamos vivendo uma novarevolução, a tecnológica, que se caracterizapela descoberta de novos meios técnicos que

propiciam a mudança naautocompreensão da pessoahumana, na sua relação com osdemais seres humanos, com ocosmos, com o meio ambiente,com a transcendência. Comotoda revolução, esta tambémtraz espanto e admiração e, aomesmo tempo, perplexidade emedo.

As duas revoluções anteriores, aagrícola e a industrial, trabalharam com omaterial e o mensurável (terra e fábrica).O núcleo desta terceira revolução éimaterial, a informação. Hoje estamos nosalbores de uma quarta revolução, abiotecnológica, que é a articulação dainformática com a genética. Sua tarefaconsiste em individuar o código genético(DNA), armazená-lo, processá-lo nocomputador e distribuí-lo. A biotecnologiatomou conta das páginas dos jornais e dasrevistas. Daí toda a moderna discussãosobre os transgênicos e a clonagem. Grandespossibilidades se abrem para o aumento daprodutividade e da longevidade. E o que dizerda nanotecnologia? O grande problemadeste início de milênio, certamente, não éo da produção, mas o da sua distribuição.Além das possibilidades tecnológicas, hátoda uma discussão ética.

Dentro deste contexto, as maiores

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fundações com novas presenças, no RioGrande do Sul, em Santa Catarina, eparticularmente no estado do Paraná.

Assim, a tradição salesiana de educar,evangelizar e promover foi se espalhando,com a presença significativa de casas eobras nos três estados sulinos. O presenteartigo tem por objetivo apresentar atrajetória histórica dos salesianos no sul doBrasil, sua presença e missão na EducaçãoSuperior e a sua articulação com asInstituições Universitárias Salesianas – IUS– para a construção e a consecução doprojeto universitário inspetorial.

2. Missão Salesiana e a EducaçãoSuperior

A Inspetoria Salesiana de Porto Alegrecongrega, hoje, um conjunto de obras,projetos sociais e frentes de trabalhoeducativo-pastorais, ligados à educação, àpromoção e à evangelização dos jovens,com um grande quadro de colaboradoresleigos, profissionais de várias áreas da açãoeducativa e evangelizadora e com umagrande presença de crianças, adolescentes,jovens e adultos participando das diversasações institucionais.

A Educação Escolar e Profissional foi,desde o início, a preocupação central dofundador da Família Salesiana: São JoãoBosco. Este especialmente pensou, a partirda própria experiência educativa, naeducação dos jovens, e entre estes, dosmais necessitados. Dom Bosco nasceu noinício do século XIX, nos arredores deTurim, capital do Reino do Piemonte, que,como todo o norte da península itálica,viveu a novidade da revolução industrial,trazendo forte incidência sobre a migraçãodas populações campesinas. Entre estesmigrantes, milhares de jovens, com suasfamílias ou sem elas, foram à procura detrabalho e de uma oportunidade de vida.Muitos foram os problemas sociais quecomeçaram a pesar sobre a grande cidadede Turim. Dom Bosco passou a se dedicartotalmente à educação dessas levas dejovens migrantes e dos abandonados àprópria sorte. Formar “bons cristãos e

honestos cidadãos” é o seu lema e suapreocupação do dia-a-dia.

Iniciou uma experiência de acolhida, deeducação e de evangelização dos jovens,com a colaboração de adultos amigos,homens e mulheres altruístas. Esta obrapassou para o registro da história como o“Oratório de Valdocco” (um bairro deTurim). Tal experiência esteve marcadapor alguns elementos fortes: o clima defamília, a preventividade educativa, apresença de educadores significativos, oprotagonismo e o empreendedorismojuvenil, forte presença do ensinoprofissional e da educação formal,ambiente saudável e aberto à expansão ecriatividade, proposta evangelizadora e umclima positivo e dinâmico de inter-relações.

Com o passar dos anos, Dom Boscosentiu a necessidade de encaminhar osjovens, que tinham decidido ficar com elena condução de sua nascente obra, para osnecessários estudos universitários. Assim éque, desde o início da obra educativasalesiana, os primeiros educadores, comDom Bosco, começaram a freqüentar oscursos universitários, especialmente noscampos da Filosofia, Teologia e Pedagogia.Pode perceber-se, então, que desde osalbores da presença dos primeirossalesianos, que depois se espalharam portodo o mundo, a realidade dos estudosuniversitários ocupou lugar de destaque naformação dos quadros da Congregação.Essa orientação e preocupação serãolevadas adiante pelos educadores salesianosna tarefa de educar a juventude.

Assim, no Brasil, desde a década decinqüenta do século XX, e especialmente apartir dos anos setenta, vamos encontrar osSalesianos de Dom Bosco, dedicados àcriação de Faculdades e, posteriormente, deCentros Universitários e Universidades.

No início da década de setenta, comofruto de uma prática educativaconsolidada, os Salesianos de Dom Boscodo sul do Brasil iniciaram, em Santa Rosa,RS, a sua presença no Ensino Superior,com a implementação das Faculdades de

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“Dom Boscoprocurou acolher osjovens do seu tempojustamente naquilo

que maiscaracterizava a

sociedade de suaépoca, que era o

trabalho.”

industriais da Itália quando, em 1886, umalei proibiu os meninos de menos de noveanos de trabalhar nas fábricas e osmenores de dez anos de descer às minas.É muito importante ter presentes estesdados porque, para estes jovens e nestascondições, é que Dom Bosco se sentiumissionado.

Este período não só foi convulsionadodo ponto de vista econômico-social, mastambém do ponto de vista sócio-político.Quando do nascimento de Dom Bosco,estamos em pleno período de restauraçãocom a aliança entre “o trono e o altar”. Asidéias modernistas liberais daRevolução Francesa, porém,vão avançando também naItália. Dois acontecimentossignificativos da penínsulaitálica colocaram a IgrejaCatólica numa atitudereacionária, de defesa,concentrando suas forçaspara a coesão interna aoredor do Papa. O primeiro foia lei da liberdade religiosa(1848) no Reino doPiemonte, que abriu as portas sobretudoàs diversas denominações protestantes eaos judeus. O segundo foi a unificaçãoitaliana (1870), colocando a capital doReino Unido em Roma. O primeiro fatoinfluenciou grandemente a vida e a obrade Dom Bosco nos seus primeiros anos.A publicação das Leituras Católicas parafazer frentes às Leituras Evangélicas é umexemplo disso. O movimento deunificação italiana aproximou Dom Boscode Pio IX a ponto de torná-lo uminterlocutor importante ante o próprioPapa e o governo, sobretudo na questãoda nomeação de uma centena de novosbispos e da constituição do patrimônio dasdioceses.

Embora estejamos num períodopolêmico, Dom Bosco enfrenta osproblemas de uma forma muito positivaatravés da ação. “Tem a coragem da tua fé edas tuas convicções. Não temas. Os maus éque devem temer diante dos bons e não os

bons diante dos maus” (MB 6,482).A experiência pessoal de jovem

migrante certamente contribuiu para aaproximação de Dom Bosco dos jovenspobres de Turim. Mas sua opção por elesse define mesmo a partir de contatospessoais com a condição de miséria epobreza em que se encontravam.

O contato direto nas prisões, nas praças,despertou e afirmou nele a convicção deestar chamado para um trabalho em favorda juventude pobre e abandonada. Aoterminar o tempo de sua permanência noColégio Eclesiástico, onde fazia uma espécie

de estágio pastoral de início desacerdócio, tinha diante de sias alternativas: ser vice-pároco, ser monitor noColégio, ou diretor dopequeno patronato daMarquesa Barolo. Qualquerdessas alternativas lhe dariatambém um suporte esegurança financeira. Mas aatividade que já desenvolviaem benefício dos meninosera incom-patível com

outros encargos. Apesar da insegurança arespeito do futuro, não hesitou emescolher os jovens.

E assim foi durante toda a sua vida. Aofinal, no seu Testamento Espiritual aossalesianos, insiste: “O mundo nos acolherásempre com prazer enquanto nossassolicitudes se dirigirem aos indígenas, aosmeninos mais pobres, mais periclitantes dasociedade. Esta é para nós a verdadeirariqueza que ninguém haverá de roubar...Não esqueçamos que somos para osmeninos pobres e abandonados”(Constituições, p. 287).

Seguramente Dom Bosco não tratouo seu primeiro jovem, Bartolomeu Garelli(1841), como tratava os seus jovens em1883. Não os idealizou. Soube caminharcom os tempos e com eles. Sendo ele deorigem camponesa, assumiu a causa dacriança, do adolescente e do jovem numagrande metrópole industrial em contínuatransformação.

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Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco eda Salesiana de Educação Física. Estecomplexo de cursos universitários e deoutras atividades ligadas ao ensino superiorfoi animado pelo Instituto EducacionalDom Bosco. Foram centenas os alunosformados nos diversos cursos e, hoje,encontram-se espalhados por todo oterritório nacional. A partir da década denoventa, as Faculdades e seus cursosforam absorvidos, por conta de umconvênio, por outra Instituição de EnsinoSuperior. É bom salientar, também, quevárias Universidades, hoje presentes narealidade do sul do Brasil, iniciaram suasatividades ocupando espaços de colégiossalesianos.

A Igreja Católica, por meio de váriosdocumentos, especialmente na Assembléiados Bispos Americanos emSanto Domingo, ressalta aimportância da colaboração daIgreja com a Sociedade nocampo da produção da cultura,especialmente no campo dosestudos universitários.

À luz destas urgências e apartir de sua própria experiência,a Inspetoria Salesiana decidiuimplementar a Faculdade DomBosco de Porto Alegre. Os estudos para talempreendimento começaram em meadosdos anos noventa. Foi constituído um Grupode Trabalho (GT-Universidade), formado porsalesianos e leigos, para estudar o assunto.Este grupo contou com a colaboração deespecialistas em assuntos universitários eajudou na fundação da Faculdade Dom Bosco.

Nas motivações escritas ao SuperiorGeral da Congregação, em Roma, comodefinidoras da presença da Inspetoria dePorto Alegre no campo dos estudosuniversitários e na condução deInstituições de Ensino Superior, odocumento assim se expressa:

“Os Salesianos do sul do Brasil entendem que,cada vez mais, a formação integral dos jovense a educação continuada dos segmentossociais menos favorecidos dependem de umcentro vitalizador das atividades pastorais e

educativas, que gere, reelabore e dê sentidocristão ao conhecimento. Como bem culturale instrumento de produção da vida e dacultura, o conhecimento, ao invés de ser umfator de discriminação, poderá ser umelemento de aproximação das pessoas e umarealização plena em Deus. Neste sentido,conhecimento e fé não se excluem. O espaçouniversitário será, de forma crescente,o lócus privilegiado para desencadearações educativas e pastorais quebeneficiem os jovens e os maisnecessitados. É o espaço apropriado para aconstrução da sociabilidade, da formaçãointegral e do exercício da cidadania. O carismasalesiano encontra aí terreno fértil. É nesteuniverso que se torna possível participar comamor no crescimento das pessoas e naconstrução do seu futuro, através da educação

e da evangelização da cultura. Lugarde recorrência para a formaçãocontinuada, espaço de produção doconhecimento e de difusão dacultura, a universidade representa oveículo da pós-modernidade econfigura terreno fértil para acristianização do saber e para aevangelização da cultura. Auniversidade, nestes termos, tem umenorme papel civilizador a exercer.

O culto aos valores cristãos e humanos é ocaminho certo para isto”. (JUSTIFICATIVApara implantação da educação superiorna província salesiana São Pio X dePorto Alegre, p. 12).

3. As Instituições UniversitáriasSalesianas – IUS

A presença salesiana na implementação,direção e gestão no contexto universitáriosuscita a necessidade, por parte dogoverno da Congregação, de umaorientação específica, para tal campo deatividade.

Assim, a Congregação elaborou umimportante documento para nortear aEducação Superior no mundo, exaradopelo P. Juan Edmundo Vecchi, SuperiorGeral, no ano de 1998. No documentodenominado “Um serviço às Instituições

“As IUS sãoinstituições deensino superior,de inspiraçãocristã, caráter

católico e índolesalesiana.”

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- Justamente porque estas coisas lheparecem impossíveis é que você deverátorná-las possíveis com a obediência eadquirindo ciência.

- Mas, onde, de que jeito eu posso adquirirciência?

- Eu lhe darei a mestra. Com a ajuda delavocê se tornará sábio. Sem ela, toda ciênciase torna burrice.

- Mas quem é o senhor para me falardesse modo?

- Eu sou o filho daquela que sua mãe lheensinou a saudar três vezes ao dia.

- Minha mãe também me ensinou a nãodar confiança a pessoas que não conheço.Faça o favor de dizer-me seu nome.

Vi, então, ao seu lado uma linda senhora,vestida com um manto muito brilhante,Parecia que o manto era coberto de estrelas.Quando ela percebeu meu apavoramento,chamou-me, tomou-me pela mão e, comgrande bondade, me disse:

- Olha!Quando olhei, vi que aquela molecada

tinha sumido e no lugar deles vi um montãode cabritos, cachorros, gatos, ursos, onçase um punhado de outros bichos ferozes.

- Este é o campo em que você devetrabalhar! Torna-te humilde, forte e cheiode coragem. O que você está vendo agoraacontecer com estes animais, você deveráfazer para os meus filhos.

Olhei ao meu redor e vi que no lugardaqueles animais estava um rebanho decordeirinhos muito mansos que pulavame faziam festa para o senhor e a senhora.Comecei então a chorar e pedi a ela queme explicasse aquilo porque não estavaentendendo nada. Ela, então, me pôs amão na cabeça e me disse:

- A seu tempo você vai compreendertudo isso.

Um barulho me acordou; e tudodesapareceu... Mas nunca mais me esquecidaquele sonho”. (Bosco, MO 18-20).

1. O contexto sócio-político-econômico em que surgiu este sonho

Dom Bosco viveu sua infância ejuventude na região do Piemonte – Itália.

Predominava então a produção agrícola.Seus primeiros contatos com os jovens deTurim (1841) coincidem com o processode expansão industrial. Logo apareceramos sinais de transição: êxodo rural,expansão demográfica e urbana, jovens ecrianças abandonadas, vagando pelas ruasem busca de emprego e subsistência. Acidade de Turim triplicou de populaçãodurante a sua vida. No ano de seunascimento (1815), tinha somente 65.548habitantes. Em 1858, ano da fundação daSociedade Salesiana, já possuía 179.635habitantes. Pode-se calcular em 275.000habitantes a população turinense, quandofaleceu em Valdocco, em 31 de janeiro de1888. Isto mostra a evolução profunda quesofreu o norte da Itália durante a vida deDom Bosco. Valdocco, que era um bairrode Turim, tinha a maior concentração deadolescentes de toda a Europa.

O acelerado crescimento populacionalaconteceu muito mais pela migraçãonacional do que pelo aumento denascimentos sobre as mortes. A cidadeinchava e a população rural diminuía.Mesmo se não tivesse escolhido o estadoeclesiástico, Dom Bosco seriapresumivelmente um dos tantos das áreasrurais que a pressão demográfica destinariaa abandonar a casa paterna e enfrentar avida em outra parte. A população rural erapaupérrima. A própria família de DomBosco vivia muito pobremente.

Essa migração afetou mais fortementeas crianças, os adolescentes e os jovens.Isto explica a situação de muitos deles quesão abandonados, sem teto, sem amigose, freqüentemente, sem trabalho. Estamosno primeiro período industrial. “Nasfábricas de seda de Lião, o rapaz puxavaos fios por detrás de uma máquina dascinco da manhã até às nove, às dez e àsonze da noite. Entre os sete e os dozeanos, estes rapazes podiam ser obrigadosa 15 e 16 horas de presença na fábrica.Parece que em 1861 as condições aindaeram piores”. (Desramaut, 1971, p. 36-37).

Houve muita resistência entre os

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Universitárias Salesianas”, o Reitor-Morchama para a importância da presença daCongregação Salesiana neste contexto:

“... chamo a atenção para um campoespecífico de nossa missão, que tem umrelevo particular na formação das pessoase na elaboração e difusão de cultura: asinstituições universitárias salesianas, queestão crescendo em número e emqualidade. A Igreja também olha comesperança para este campo no contextoda nova evangelização, pelo influxo queestas instituições podem ter na formaçãode um projeto cultural, inspirado noEvangelho, capaz de criar relações novasna sociedade e no mundo e iluminar aspessoas na busca da verdade e do sentidoda vida... Esse serviço, alinhado ao grandeesforço de qualificação cultural, pedidohoje à Congregação, coloca-se como sinalde um trabalho peculiar nessa área deinfluência especial para a nossa missão.Ele propõe-se a buscar as condições geraiscomuns – no respeito das normativas decada Estado – que garantam, tanto emcada instituição como no seu conjunto,‘uma presença salesiana significativa emnível científico, educativo e pastoral’ entreos centros que produzem e promovemcultura na sociedade”. (Atos do ConselhoGeral, N. 361, outubro-dezembro de1997, p. 90-91).A partir destas orientações, iniciou-se o

processo de organização em rede, emtermos mundiais, das mais de 40 InstituiçõesUniversitárias Salesianas hoje presentes nosdiversos continentes. Foram construídos,de forma cooperativa, alguns documentosbásicos, que orientam a presença dosSalesianos na direção e animação das IUS.Entre estes podemos citar: “Políticas para apresença salesiana na educação superior” e“Identidade das Instituições Salesianas deEducação Superior (IUS)”. Esses documentossão os mapas de navegação da presençasalesiana no Ensino Universitário e balizamas decisões políticas na condução dosprocessos administrativos e de gestão dasIUS. Eles vão definindo a presença salesianano Ensino Superior:

As IUS são instituições de ensino superior,de inspiração cristã, caráter católico e índolesalesiana. Elas apresentam modalidades tantodo ponto de vista do relacionamento com aIgreja e com a Congregação Salesiana,quanto do ponto de vista dos grausacadêmicos que conferem e das situaçõeslocais em que são inseridas. Os valores doespírito e da pedagogia salesiana, nascidosdo Sistema Preventivo vivido por DomBosco no Oratório de Valdocco, enriquecema natureza, a atividade e o estilo de seruniversitários das IUS (Identidade das IUS).

Existe uma clara orientação para queas IUS se tornem centros animadores dapresença salesiana no mundo da cultura ebusquem construir uma experiência devalor educativo diferenciado para todos osque delas participam. Neste sentido, odocumento que trata da Identidade dasInstituições Universitárias Salesianasapresenta as linhas mestras da presençasalesiana neste meio.

Inspiração cristã e caráter católico.A Inspiração cristã das IUS supõe uma visãode mundo e da pessoa humana enraizadaem sintonia com o Evangelho de Jesus euma comunidade acadêmica que partilha epromove tal visão. Por seu caráter católico,as IUS manifestam ter nascido do coraçãoda Igreja e confessam sentir-se no coraçãoda Igreja por meio de um vínculo positivo eleal com ela como expressão de comunhãocom a comunidade e com os seus pastores,na sua manifestação universal e local,segundo as modalidades expressas pelospróprios estatutos. O caráter católicorepresenta, também, um compromissoinstitucional da Congregação Salesiana aserviço da sociedade e da própria Igreja,no âmbito universitário.

Índole salesiana. Os valores doespírito e da pedagogia salesiana, nascidosdo Sistema Preventivo vivido por DomBosco no Oratório de Valdocco (cf.Constituições da Sociedade de SãoFrancisco de Safes, n. 40), enriquecem anatureza, a atividade e o estilo de seruniversitários das IUS. Isso comporta:

a) uma opção prioritária pelos jovens,

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4. Sensibilidade, Preventividade, Solidariedade eCidadania

Marcos SandriniDiretor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Mestre em Teologia Pastoral pela Università Pontifícia Salesiana de Roma.

Doutorando em Educação pela PUC/RS

“Com a idade de nove anos tive umsonho que permaneceu profundamenteimpresso em minha mente por toda a vida.Encontrava-me, no sonho, num pátioimenso, onde uma molecada brincava.Alguns riam, outros brincavam e muitosblasfemavam. Quando ouvi as blasfêmias,pulei no meio deles e comecei a distribuirsocos e pontapés para fazê-los calar aboca.

No meio daquela chuva de pancadas,vi um senhor muito respeitoso, vestidocom uma túnica muito bonita. Seu rostoera tão brilhante que eu mal conseguiaolhar para ele. Ele chamou-me pelo nome

e me mandou guiar aqueles meninos,dando-lhes o seguinte conselho: “Não écom pancadas, mas com bondade e amorque você deve conquistar os coraçõesdestes seus amigos. Comece logo dando-lhes aula de catecismo sobre a feiúra dopecado e a beleza da virtude”.

Meio apavorado, disse-lhe que eu eraum menino pobre, ignorante e semnenhuma condição de falar àquelesmeninos. Vi então que eles começaram ase juntar ao redor daquele senhor. Crieicoragem e lhe perguntei:

- Quem é o senhor que me manda fazercoisas impossíveis?

Resumo: Dom Bosco, educador doséculo XIX, sempre teve muito claro seuprojeto de vida de educador. Ele foi seconsolidando aos poucos, sobretudo nocontato com as novas gerações de jovensque afluíam pelo êxodo rural para a cidadede Turim. Neste artigo, procura-se analisarum “sonho” que ele teve quando meninosob a ótica do trabalho. Numa sociedadeem crise do trabalho, visto sob aperspectiva do emprego na sociedadeindustrial, o sonho de Dom Bosco nos levaa pensar alternativas para a ocupaçãojuvenil na linha da formação de “bonscristãos e honestos cidadãos”. Numprimeiro momento, procura-se fazer umaanálise da atual situação do emprego-desemprego para, num segundomomento, apontar saídas conjunturais eestruturais para a questão. Atitudes básicasdevem permear esta busca: solidariedade,cuidado, responsabilidade e misericórdia.

Palavras-chave: Trabalho. Emprego.Economia Solidária. Sistema Preventivo.

Abstract: Don Bosco, educator fromthe 19th century, always had clearly asbeing an educator his life project. He wasconsolidating it gradually, specially incontact with new generation of youngthat came from agricultural exodus to thecity of Turim. This article analizes a“dream” that he had when he was a childunder the optics of labour. In a society oflabour crisis seen under the perspectiveof getting a job in the industrial society,the dream of Don Bosco take us to thinkin alternatives for occupation for youthin a way to form “good Christian andhonest citizens”. First it will show ananalysis of the current situation of theemployment/unemployment for then findconjunctural and structural solutions tothis problem. Some basic attitudes mustinvolve this search: solidarity, care,responsability and mercy.

Keywords: Work. Job. Solidaryeconomy. Preventive System.

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especialmente das classes populares;b) uma relação integral entre cultura,

ciência, técnica, educação e evangelização,profissionalismo e integridade de vida(razão e religião, bons cristãos e honestoscidadãos);

c) uma experiência comunitáriabaseada na presença, com espírito defamília, dos docentes e o pessoal degestão entre e para os estudantes;

d) um estilo acadêmico e educativo derelacionamentos, baseado num amormanifestado aos alunos e por eles percebido(amorevolezza).

Elementos de identidade das IUS. ACongregação Salesiana, consciente erespeitosa da natureza espe-cífica da universidade e das suasexigências, faz-se presentenela, também, para acompa-nhar os jovens no momentomais decisivo de seu processode amadurecimento, ofe-recendo-lhes a contribuição doseu patrimônio educativo ecarismático. As IUS, por isso,caracterizam-se pela sua opçãoem favor dos jovens das classespopulares, pelas comunidadesacadêmicas com clara iden-tidade salesiana, pelo projetocultural, cristã e salesia-namente orientado e pela intencionalidadeeducativo-pastoral.

3.1. Opção pelos jovens das classespopulares (os destinatários)

As IUS realizam uma opção preferencialpelos jovens das classes populares,superando qualquer postura elitista, nãoapenas em relação aos destinatários, mastambém na orientação da pesquisa e nodesenvolvimento dos diversos serviçosuniversitários. Isso implica algumasescolhas:

a) favorecer o acesso à universidade aosjovens que provenham dos ambientespopulares e do mundo do trabalho;

b) orientar também a pesquisa, adocência, o estudo e os serviços culturais,

a fim de melhor conhecer a condiçãojuvenil, sobretudo dos setores menosfavorecidos, e proporcionar-lhes umatransformação positiva;

c) formar pessoas comprometidas coma causa da justiça, a fim de construir umasociedade mais justa e humana;

d) promover na sociedade propostasformativas que incidam nos processoseducativos e nas estratégias e políticasjuvenis.

3.2. Comunidade acadêmica com-prometida com o projeto institucional (osujeito)

Uma instituição salesiana de educaçãosuperior se configura como acomunidade de todos aquelesque, segundo a própria res-ponsabilidade acadêmica eprofissional, em sintonia comos valores cristãos e salesianosdo projeto institucional, seempenham na busca daverdade e na missão forma-dora de modo co-responsávele aberto às diversas realidadesculturais e sociais.

A comunidade acadêmica decada IUS, que garante um estilointelectual rigoroso e crítico,inspira-se na metodologia da

interdisciplinaridade tanto na pesquisa quantona docência, do trabalho cooperativo e daco-responsabilidade em nível acadêmico,organizacional e diretivo; dispõe, além disso,de uma autonomia institucional própria,acadêmica e de governo, no respeito àmissão confiada pela Congregação Salesianaaos vínculos estatutários e aos direitos daspessoas. Isso requer:

a) professores que integrem competênciaprofissional para a pesquisa, para a docência epara a educação, sensibilidade pelo mundojuvenil e capacidade de acolhida e presençaentre os jovens, compromisso com asolidariedade e a justiça, coerência entre a vidae os valores evangélicos;

b) estudantes que participam comoprotagonistas e co-responsáveis, do

“Também as IUS,como as demaisuniversidades,

realizam apesquisa,

organizam oensino e difundema cultura, visandoo saber, o saber

fazer, o saber ser eo saber comunicar

e partilhar.”

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Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano 01 • Número 01 • Fevereiro de 2006

empenho científico e cultural, educativo esocial da instituição universitária;

c) um núcleo de pessoas - isto é, acomunidade salesiana local ou salesianosem estreito relacionamento com aInspetoria e leigos - que, identificados coma missão e o espírito salesiano, no exercícioda própria responsabilidade, estejam aptosa conduzir a elaboração e respectivaexecução prática do projeto institucionalque deve inspirar e acompanhar osprocessos de pesquisa, de ensino, deprojeção social e de gestão da vidauniversitária;

d) um ambiente em que a pessoahumana esteja no centro, no qual se façado diálogo e da colaboração abase do método, no qual apresença do mestre-guiadesperte nos jovens o amorpela verdade, pela vida e pelosoutros.

3.3. Projeto institucionalcristão e salesiananenteorientado (o conteúdo, osvalores)

As IUS, como as demaisuniversidades, realizam apesquisa, organizam o ensinoe difundem a cultura, visando ao saber, aosaber fazer, ao saber ser e ao sabercomunicar e partilhar. Isso o exprimemnum próprio projeto institucionaluniversitário (cf. 26-28 e 33c). Para queesse projeto seja cristão e salesianamenteinspirado e, assim possa ser realizado, asIUS devem promover:

a) uma concepção da pessoa humanainspirada no Evangelho, que a põe no centroda vida e que a promove na sua integralidade;

b) uma consciência ética fundada nosvalores, dando atenção especial àpromoção da justiça e de uma cultura dasolidariedade, mediante um modelo dedesenvolvimento sustentável em escalahumana, de relações de igualdade ereciprocidade, de qualidade da vida;

c) um diálogo entre culturas e religiõesdiversas, entre cultura-ciência-técnica-

profissão e fé, capaz de iluminarcristãmente a realidade e a vida ou deinculturar o Evangelho;

d) uma atenção especial ao âmbito daeducação, à formação dos educadores, aocampo da técnica e do trabalho, e aomundo da comunicação.

Tudo isso requer da comunidadeacadêmica um esforço de constanteformação - científica, pedagógica, ética ecristã -, uma reflexão sistemática a respeitoda orientação cultural do seu projetoinstitucional, e um diálogo interdisciplinarintenso a respeito dos principais desafiosda sociedade, à luz dos valores evangélicose do carisma salesiano.

3.4. lntencionalidade educa-tivo-pastoral (a finalidade)

O projeto cultural de cadaIUS é movido por uma clarafinalidade educativo- pastoral,segundo as características dapedagogia e da espiritualidadesalesiana. Tal finalidade semanifesta mediante:

a) a criação de um ambienterico de valores humanos,incluída a familiaridade;

b) a orientação científica erigorosa da pesquisa, dos itinerárioscurriculares e dos conteúdos do ensino,cônsonos ou abertos a uma visãotranscendente da pessoa humana e da vida;

c) um diálogo interdisciplinar entre asdiversas disciplinas acadêmicas, incluídas asde caráter ético, religioso e teológico;

d) a oferta de disciplinas curricularesespecíficas de caráter ético e religioso, emparidade de nível científico e pedagógicoe de valor acadêmico com as outrasdisciplinas do itinerário curricular;

e) uma diversidade de serviços deatenção humana aos estudantes,compreendidas as de propostasexplicitamente cristãs (de evangelização,de formação cristã, de caráter litúrgico esacramental), de compreensão e diálogoecumênico e inter-religioso, de empenhono serviço aos outros.

“As IUS devemestar muitoatentas e

exigentes naescolha dos

professores e dosdirigentes, alémde preocupar-se

por sua formaçãocontinuada.”

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Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano 01 • Número 01 • Fevereiro de 2006

saber e da profissão, através de umareflexão crítico-valorativa sobre asconquistas do saber, da ciência e dapesquisa, criando espaços privilegiadospara um sadio diálogo entre fé e cultura,propondo uma síntese entre cultura e vida.Queremos, à luz das Encíclicas VeritatisSplendor e Fides et Ratio, do Papa JoãoPaulo II, marcar e propor o pensamentoeclesial, desde a perspectiva salesiana, nomundo universitário.

c) uma Pedagogia do empenho econfronto com a realidade cultural, social eeclesial. Estamos dispostos a animar osjovens universitários a assumir suasresponsabilidades perante à históriapessoal e nacional, desde as possibilidadesde sua colaboração na construção dadignidade humana. Especialmente, darpossibilidades, aos mais engajadoseclesialmente, a assumir com maispossibilidades e ardor os seus compro-missos de cristãos. Para isso buscaremose incentivaremos a participação daInstituição e dos agentes educativos nasatividades, organizações e estruturas civise eclesiais que trabalham no âmbito doterritório e na Igreja local.

d) uma Pedagogia do acompanhamentopessoal. Na idade em que vivem, os jovensuniversitários têm necessidade deacompanhamento e ajuda na busca declareza e de aprofundamento de sua vidaa partir dos valores humanos e cristãos, afim de se orientar na busca de opçõesadultas. A partir disso, nós salesianos:

• queremos oferecer-lhes um acom-panhamento feito de acolhida, de dispo-nibilidade, de amizade, de relações inter-pessoais, de ajuda e encaminhamento desuas opções de vida;

• queremos apresentar-lhes os diversoscaminhos vocacionais para ajudá-los a tomarconsciência de sua vocação e missão nasociedade e na Igreja (A Pastoral JuvenilSalesiana, quadro de referimento funda-mental, Protocolo Past. 97/1069).

Como nosso fundador Dom Bosco,queremos ser corajosos diante dos tempose propositivos na construção de pessoase de instituições alicerçadas no Evangelhoe comprometidas com o bem.

6. Documentos referidosCHÁVEZ V., Pascual. Discurso do SuperiorGeral da Congregação. Porto Alegre, 2004.Congregação Salesiana. Atos do ConselhoGeral, N. 361, outubro-dezembro de 1997,p. 90-91.Congregação Salesiana. Ação Conjunta. Roma,1996.Congregação Salesiana. Conselho Geral -CG25, n. 80.Congregação Salesiana. Atos do ConselhoGeral, N. 361, outubro-dezembro de 1997.Congregação Salesiana. Constituições daSociedade de São Francisco de Sales, n. 40.Congregação Salesiana. Identidade das InstituiçõesSalesianas de Educação Superior (IUS).Congregação Salesiana. Políticas para apresença salesiana na educação superior.Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre.Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).Inspetoria São Pio X. Justificativa,implantação da Educação Superior naProvíncia Salesiana São Pio X de PortoAlegre, Porto Alegre, 2002.João Paulo II. Encíclicas Veritatis Splendore Fides et Ratio.PJS - A Pastoral Juvenil Salesiana - quadrode referimento fundamental. ProtocoloPast. 97/1069.

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A identidade desenhada para as IUS setornará realidade somente se partirdecididamente de uma plataforma deescolhas operativas, enfrentar os desafiosda identidade com um projeto bemdefinido, considerar os recursos humanoscomo o capital principal das instituições,buscar tenazmente uma incidênciaeducativa nos estudantes e na sociedade,e garantir uma gestão eficaz que assegureo sereno desenvolvimento da vidacomplexa da universidade.

4. Trabalhar com um Projeto Insti-tucional

Cada IUS representa a vontademanifesta da Congregação Salesiana deestar presente no campo da educaçãosuperior com uma missão específica. Estase expressa num específico projetoinstitucional de caráter cultural e científico,pedagógico-educativo e pastoral,organizativo e normativo - o qual,respondendo às exigências da realidadelocal e da universidade, plasma e aplica demodo global em termos operativos aidentidade acima descrita. Não se podeconceber um trabalho rigoroso nauniversidade por parte das IUS sem areferência e a condução de um projetoinstitucional.

Do conjunto do projeto institucionaldeveriam aparecer evidentes ascaracterísticas específicas de cada uma dasIUS perante as outras ofertas no ensinosuperior do mesmo território.

O projeto se desenvolve progressiva-mente mediante planos estratégicos e planosoperativos limitados nos objetivos e notempo.

4.1. Escolha e formação permanentedos docentes e dos gestores das IUS

Para enfrentar eficazmente a sua missãoe obter resultados de qualidade, segundo aprópria identidade universitária católica esalesiana, as IUS devem estar muito atentase exigentes na escolha dos professores edos dirigentes, além de preocupar-se porsua formação continuada e de neles investirconstantemente, por ser a única maneira

de garantir e desenvolver permanen-temente as suas competências profissionais,educativas e salesianas. Esse processo deformação permanente deve promover nosdocentes e gestores um perfil adaptado àsexigências do projeto institucional:

a) capacidade de autoformação e de auto-avaliação, em vista de uma constanterenovação na sua competência científico-tecnológica, cultural e educativa parapoderem reagir, positivamente, perantesituações sociais e culturais, e desafioscientíficos, éticos e educativos sempre novos;

b) capacidade de compartilhar um projetoinstitucional, de trabalhar juntos, de realizarum verdadeiro diálogo interdisciplinar e deconduzir processos de ampla colaboraçãona sociedade e na Igreja;

c) especial sensibilidade perante osestudantes e a condição juvenil, sobretudodos menos favorecidos, e umacompetência específica, segundo a própriaespecialidade, a fim de contribuir para aconstrução de uma sociedade mais justa esolidária e mais aberta ao desenvolvimentointegral dos jovens;

d) abertura, aprofundamento e coerênciacom os valores da identidade salesiana quecaracterizam o projeto institucional e umarenovada motivação vocacional do seupapel na comunidade acadêmicauniversitária;

e) capacidade de gestão universitáriaeficaz e competente.

4.2. Incidência na sociedadeA existência e as preocupações das IUS

se justificam, sobretudo, pelo serviçoqualificado à formação humana eprofissional dos jovens e pela incidênciaconcreta que estão em condição dedesenvolver na sociedade, em coerênciacom os traços que configuram a suanatureza e identidade. Para que talincidência seja real, se requer das IUS:

a) concentrar os esforços nos campos dapesquisa e do ensino escolhidos dentre asáreas do saber mais conformes com amissão salesiana;

b) promover projetos concretos que

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que se toma possível participar com amorno crescimento das pessoas e na construçãodo seu futuro, através da educação e daevangelização da cultura.

A Inspetoria Salesiana São Pio X,partindo da experiência histórica jávivenciada, se propõe:

a) Assumir a Educação Superior, comoum novo momento inspetorial, conside-rando-a como fonte alimentadora erevitalizadora do carisma salesiano de açãoeducativa e pastoral;

b) Marcar presença na produção, na re-elaboração e na socialização do conheci-mento e da cultura, dando-lhe sentidohumano e cristão a partir do modo-de-ser salesiano;

c) Ser uma presença pastoral no mundoda Universidade. As novas exigências daPastoral Juvenil pedem que nos abramossempre mais à faixa da alta juventude,acima dos 20 anos de idade. Nesta faixaencontramos muitos jovens, que além debuscar nos estudos universitários umcaminho para a sua vida, são ao mesmotempo, animadores juvenis de grupos e decomunidades, voluntários, catequistas,colaboradores abertos a fazer um caminhoeducativo desde as perspectivas cristãs esalesianas.

A responsabilidade de animar e gerir umaInstituição Salesiana de Ensino Superior firma-se na missão de agregar ao seu papelpedagógico o compromisso de formarcidadãos críticos e criativos, comprometidoscom a vida e com os valores humanos ecristãos, que conduzam para uma sociedadejusta e solidária, que busque nas conquistas daciência e no aprimoramento cultural, adignificação de todas as pessoas. Umauniversidade que possa acolher os jovens e osadultos, que buscam uma formação continuada,para que na convivência com os salesianos ede mestres virtuosos possam construircoletivamente, na vida em academia, os valoresque sedimentem a convivência fraterna efamiliar, promovam um caminho de formaçãocomum que tenha na pluralidade e na co-responsabilidade as suas referências básicas.

Este estar juntos em momentos

qualificados enriquece a mente e ocoração e motiva ações transformadorasem termos sociais e culturais. “Estar comDom Bosco significa estar com os jovens eoferecer o que somos: coração, mente,vontade, amizade, profissionalidade epresença; simpatia serviço e dom de si.”(Documento da Ação Conjunta, 1996, p.121).

A educação superior que entendemos teráque se orientar no sentido de equacionarconhecimento e humanização, conhecimentoe evangelização, conhecimento e produçãocultural, conhecimento e desenvolvimentoeconômico e conhecimento e justiça social.

Como salesianos, entendemos que temoso compromisso de estarmos presentes nestemomento histórico da sociedade brasileira ecolaborar e marcar presença, com o nossocarisma, nas transformações sociais que onovo tempo está a exigir, principalmente noacompanhamento dos jovens. A presençauniversitária dos salesianos tem, portanto, opropósito de uma continuidade educativa, querequer um período de acompanhamentoeducativo e pastoral, para além da idade daadolescência.

Nossa presença salesiana no mundouniversitário pretende levar emconsideração:

a) uma Pedagogia do ambiente comuni-tário. É uma convicção do espírito salesianoque a formação aconteça, acima de tudo,através do ambiente e do clima que aí serespira. Por isso tal ambiente deve teralgumas características:

• um ambiente de qualidade humana,cultural e evangélica, capaz de suscitar nosjovens interesses e experiências dequalidade;

• um ambiente que apele para aresponsabilidade e para a participaçãocomunitária, buscando a corresponsabiliza-ção dos próprios jovens nos diversosempenhos e desafios;

b) uma Pedagogia da mediação cultural.Especialmente neste campo, queremoslevar em consideração e propor aos jovensuniversitários, construtores de opinião, odesenvolvimento da dimensão ética do

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estimulem o envolvimento de outrasforças sociais, educativas e econômicaslocais orientadas à promoção e à educaçãopopular;

c) estimular a sinergia entre as IUS e comoutras instituições e entidades sociais,eclesiais e especialmente da Família Salesiana.A execução dessa prática de sinergia exigedas partes que colaboram uma claraidentidade institucional, um objetivo precisoa se alcançar, um projeto concreto a serealizar, para o qual se assegure uma clara eprecisa orientação da organização e dagestão, uma atenta monitoração, a avaliaçãoe o controle do processo e dos resultados;

d) definir para todas as IUS, da parteda Direção Geral da CongregaçãoSalesiana, políticas precisas para períodosde tempo limitado.

4.3. Gestão de qualidadeA pesquisa, a docência e a projeção de

ambas são as três tarefas principais dauniversidade e exigem grandecompetência dos seus docentes. Mas étambém necessária uma gestão muitoacurada do conjunto da universidade, a fimde se criar as melhores condições ealcançar um rendimento otimizado nostrês âmbitos: este é o objetivo principalde uma boa gestão. Requerem-se, porisso, competências específicas eprofissionalismo, não necessariamenteligado na mesma pessoa às capacidadespara a pesquisa e/ou para a docência.

Uma gestão de qualidade nauniversidade, em todos os níveis,começando pelos mais elevados, requer:

a) clareza sobre a natureza particularda instituição e respeito rigoroso àscompetências e papéis, pessoais e/ oucolegiais, sem, contudo, deixar-se enlearpela burocracia e pelos procedimentos;

b) estímulo paciente à participação emtodos os níveis como chave dasresponsabilidades individuais e coletivas;

c) consideração pelo Projeto Institu-cional da universidade, como verdadeiraMagna Carta para toda a comunidadeacadêmica, indo até além das exigências

normativas dos organismos competentesdos Estados e das exigências estatutáriaspróprias da instituição;

d) articulação operativa do ProjetoInstitucional com planos estratégicos eplanos operativos particulares relativa-mente a fins, prazos ou áreas;

e) sistematicidade e disciplina nodesenvolvimento do Projeto e dos planos;

f) avaliação rigorosa e constante dasrealizações;

g) orientação austera e flexível daorganização, das estruturas edilícias e doaparelhamento;

h) investimento reforçado nas opera-ções de êxito, mas pronta intervençãocorretiva, ao invés, nos capítulos deinsucesso, sempre de acordo com oespírito do Projeto Institucional.

i) garantia das fontes de recursoseconômicos, com um empenho especial nasvias de autofinanciamento;

j) convicção na busca de sinergia entretodos os setores da universidade, com asoutras IUS, com outras universidades eentidades sociais;

k) transparência e comunicação nodesenvolv imento da gestão dauniversidade.

5. A presença vivaQuando esteve em Porto Alegre, no dia

31 de agosto de 2004, o atual SuperiorGeral da Congregação, P. Pascual ChávezV. participou dos atos de inauguração doprédio da Faculdade Dom Bosco. Naocasião, reforçou as idéias da Congregaçãosobre sua presença no ensino universitário.

“Queremos garantir, em primeiro lugar, osdireitos humanos e queremos reafirmar quea Carta dos Direitos das Nações Unidas é paratodos. Já dissemos anteriormente: os jovensnão são um problema. Os jovens são umaoportunidade e nosso futuro dependerá desermos capazes de investir neles, se oscapacitarmos para que sejam os melhoresrecursos do Brasil: seus homens e suasmulheres. Eduquemos para a paz, quesignifica educar ao pluralismo, à diversidade,ao diálogo, ao respeito por aqueles que não

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pensam da mesma forma como pensamos.Este bonito edifício que inauguramos não querser senão uma mostra de nosso empenho emcontinuar colaborando com vocês todos nestatarefa educativa de construir cidadãos honradose honestos.Queremos merecer a confiança dos pais defamília, dos jovens. Não os defraudaremos!Somos educadores competentes: temos umahistória; temos um patrimônio pedagógico;temos um futuro para construir juntos.Na reunião das Universidades Salesianas, emRoma, eu insistia que tinham que ir aprofundaro esforço pela competência científica etecnológica. Estamos chamados a popularizara universidade, não no sentido de abaixar onível intelectual, mas no sentido de colocá-laao alcance dos jovens, detodo o povo. Mas isto temque estar sempre acompa-nhado de uma clara propostacultural: qual é o tipo dehomem e de mulher que estauniversidade quer formar. E,sobretudo, uma cultura nova.O Papa Paulo VI a chamava dea civilização do amor. Quasediria que João Paulo II traçouum itinerário pedagógico, aodizer: não há civilização, senão houver a cultura dasolidariedade e da paz”.É nessa perspectiva e à

luz dessas orientações quea Inspetoria Salesiana SãoPio X decidiu implementar e construir,com a colaboração de educadores eeducandos, funcionários e colaboradores,o projeto da Faculdade Dom Bosco, quevai avançando na consecução dos seusobjetivos traçados no Plano deDesenvolvimento Institucional (PDI).

Os desafios que esperam os salesianos daInspetoria Salesiana São Pio X, no início do novomilênio, são inúmeros. O da educação seafigura como um dos mais sérios. Da crisemoral ao novo referencial ético se projeta anecessidade de um novo estatuto social para asociedade brasileira, fundamentado naconvivência fraterna e na solidária esperança.

Esperança fundamentada na fé e noconhecimento e desafiada permanentementepela indignação com a injustiça, com odesmando, pela dor da desigualdade e pelaviolentação do nosso tempo pela maisselvagem materialidade. A universidade podeser um espaço de construção deste novoreferencial, conquanto que o pluralismo, aexcelência, a solidariedade e o universalismopermeiem as ações concretas, caracterizem asua natureza e norteiem a sua missão. A obrade Santa Rosa nos legou uma experiênciaprimeira que, entre acertos e desacertos, indicao caminho da educação superior comoanimador e fomentador do carisma salesianoe da sua ação educativa e evangelizadora.

Percebemos que no momento atual aação pastoral e evangeliza-dora deve se fazer cada vezmais presente nos espaçossociais onde se produz e sedifunde o conhecimento eonde se apropria, sistema-tiza e reelabora a culturapara garantir a atualidade emanter viva a presença daIgreja no seio da sociedade.

Os salesianos do Sul doBrasil entendem que, cadavez mais, a formação integraldos jovens e a educaçãocontinuada dos segmentossociais menos favorecidosdependem de um centrovitalizador das atividades

pastorais e educativas, que gere, reelaboree dê sentido cristão ao conhecimento.Como bem cultural e instrumento deprodução da vida e da cultura, oconhecimento, ao invés de ser um fator dediscriminação, poderá ser um elemento deaproximação dos homens entre si, parauma convivência harmoniosa com anatureza e uma realização plena em Deus.

Neste sentido, conhecimento e fé nãose excluem. Vemos o espaço universitáriocomo apropriado para a construção dasociabilidade, da formação integral e doexercício da cidadania. O carisma salesianoencontra aí terreno fértil. É neste universo

“A responsabilidadede gerir uma

Instituição Salesianade Ensino Superior

firma-se na missão deagregar ao seu papel

pedagógico ocompromisso deformar cidadãos

críticos e criativos,comprometidos com

a vida e com osvalores humanos.”

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estimulem o envolvimento de outrasforças sociais, educativas e econômicaslocais orientadas à promoção e à educaçãopopular;

c) estimular a sinergia entre as IUS e comoutras instituições e entidades sociais,eclesiais e especialmente da Família Salesiana.A execução dessa prática de sinergia exigedas partes que colaboram uma claraidentidade institucional, um objetivo precisoa se alcançar, um projeto concreto a serealizar, para o qual se assegure uma clara eprecisa orientação da organização e dagestão, uma atenta monitoração, a avaliaçãoe o controle do processo e dos resultados;

d) definir para todas as IUS, da parteda Direção Geral da CongregaçãoSalesiana, políticas precisas para períodosde tempo limitado.

4.3. Gestão de qualidadeA pesquisa, a docência e a projeção de

ambas são as três tarefas principais dauniversidade e exigem grandecompetência dos seus docentes. Mas étambém necessária uma gestão muitoacurada do conjunto da universidade, a fimde se criar as melhores condições ealcançar um rendimento otimizado nostrês âmbitos: este é o objetivo principalde uma boa gestão. Requerem-se, porisso, competências específicas eprofissionalismo, não necessariamenteligado na mesma pessoa às capacidadespara a pesquisa e/ou para a docência.

Uma gestão de qualidade nauniversidade, em todos os níveis,começando pelos mais elevados, requer:

a) clareza sobre a natureza particularda instituição e respeito rigoroso àscompetências e papéis, pessoais e/ oucolegiais, sem, contudo, deixar-se enlearpela burocracia e pelos procedimentos;

b) estímulo paciente à participação emtodos os níveis como chave dasresponsabilidades individuais e coletivas;

c) consideração pelo Projeto Institu-cional da universidade, como verdadeiraMagna Carta para toda a comunidadeacadêmica, indo até além das exigências

normativas dos organismos competentesdos Estados e das exigências estatutáriaspróprias da instituição;

d) articulação operativa do ProjetoInstitucional com planos estratégicos eplanos operativos particulares relativa-mente a fins, prazos ou áreas;

e) sistematicidade e disciplina nodesenvolvimento do Projeto e dos planos;

f) avaliação rigorosa e constante dasrealizações;

g) orientação austera e flexível daorganização, das estruturas edilícias e doaparelhamento;

h) investimento reforçado nas opera-ções de êxito, mas pronta intervençãocorretiva, ao invés, nos capítulos deinsucesso, sempre de acordo com oespírito do Projeto Institucional.

i) garantia das fontes de recursoseconômicos, com um empenho especial nasvias de autofinanciamento;

j) convicção na busca de sinergia entretodos os setores da universidade, com asoutras IUS, com outras universidades eentidades sociais;

k) transparência e comunicação nodesenvolv imento da gestão dauniversidade.

5. A presença vivaQuando esteve em Porto Alegre, no dia

31 de agosto de 2004, o atual SuperiorGeral da Congregação, P. Pascual ChávezV. participou dos atos de inauguração doprédio da Faculdade Dom Bosco. Naocasião, reforçou as idéias da Congregaçãosobre sua presença no ensino universitário.

“Queremos garantir, em primeiro lugar, osdireitos humanos e queremos reafirmar quea Carta dos Direitos das Nações Unidas é paratodos. Já dissemos anteriormente: os jovensnão são um problema. Os jovens são umaoportunidade e nosso futuro dependerá desermos capazes de investir neles, se oscapacitarmos para que sejam os melhoresrecursos do Brasil: seus homens e suasmulheres. Eduquemos para a paz, quesignifica educar ao pluralismo, à diversidade,ao diálogo, ao respeito por aqueles que não

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pensam da mesma forma como pensamos.Este bonito edifício que inauguramos não querser senão uma mostra de nosso empenho emcontinuar colaborando com vocês todos nestatarefa educativa de construir cidadãos honradose honestos.Queremos merecer a confiança dos pais defamília, dos jovens. Não os defraudaremos!Somos educadores competentes: temos umahistória; temos um patrimônio pedagógico;temos um futuro para construir juntos.Na reunião das Universidades Salesianas, emRoma, eu insistia que tinham que ir aprofundaro esforço pela competência científica etecnológica. Estamos chamados a popularizara universidade, não no sentido de abaixar onível intelectual, mas no sentido de colocá-laao alcance dos jovens, detodo o povo. Mas isto temque estar sempre acompa-nhado de uma clara propostacultural: qual é o tipo dehomem e de mulher que estauniversidade quer formar. E,sobretudo, uma cultura nova.O Papa Paulo VI a chamava dea civilização do amor. Quasediria que João Paulo II traçouum itinerário pedagógico, aodizer: não há civilização, senão houver a cultura dasolidariedade e da paz”.É nessa perspectiva e à

luz dessas orientações quea Inspetoria Salesiana SãoPio X decidiu implementar e construir,com a colaboração de educadores eeducandos, funcionários e colaboradores,o projeto da Faculdade Dom Bosco, quevai avançando na consecução dos seusobjetivos traçados no Plano deDesenvolvimento Institucional (PDI).

Os desafios que esperam os salesianos daInspetoria Salesiana São Pio X, no início do novomilênio, são inúmeros. O da educação seafigura como um dos mais sérios. Da crisemoral ao novo referencial ético se projeta anecessidade de um novo estatuto social para asociedade brasileira, fundamentado naconvivência fraterna e na solidária esperança.

Esperança fundamentada na fé e noconhecimento e desafiada permanentementepela indignação com a injustiça, com odesmando, pela dor da desigualdade e pelaviolentação do nosso tempo pela maisselvagem materialidade. A universidade podeser um espaço de construção deste novoreferencial, conquanto que o pluralismo, aexcelência, a solidariedade e o universalismopermeiem as ações concretas, caracterizem asua natureza e norteiem a sua missão. A obrade Santa Rosa nos legou uma experiênciaprimeira que, entre acertos e desacertos, indicao caminho da educação superior comoanimador e fomentador do carisma salesianoe da sua ação educativa e evangelizadora.

Percebemos que no momento atual aação pastoral e evangeliza-dora deve se fazer cada vezmais presente nos espaçossociais onde se produz e sedifunde o conhecimento eonde se apropria, sistema-tiza e reelabora a culturapara garantir a atualidade emanter viva a presença daIgreja no seio da sociedade.

Os salesianos do Sul doBrasil entendem que, cadavez mais, a formação integraldos jovens e a educaçãocontinuada dos segmentossociais menos favorecidosdependem de um centrovitalizador das atividades

pastorais e educativas, que gere, reelaboree dê sentido cristão ao conhecimento.Como bem cultural e instrumento deprodução da vida e da cultura, oconhecimento, ao invés de ser um fator dediscriminação, poderá ser um elemento deaproximação dos homens entre si, parauma convivência harmoniosa com anatureza e uma realização plena em Deus.

Neste sentido, conhecimento e fé nãose excluem. Vemos o espaço universitáriocomo apropriado para a construção dasociabilidade, da formação integral e doexercício da cidadania. O carisma salesianoencontra aí terreno fértil. É neste universo

“A responsabilidadede gerir uma

Instituição Salesianade Ensino Superior

firma-se na missão deagregar ao seu papel

pedagógico ocompromisso deformar cidadãos

críticos e criativos,comprometidos com

a vida e com osvalores humanos.”

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Atitude - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre • Ano 01 • Número 01 • Fevereiro de 2006

A identidade desenhada para as IUS setornará realidade somente se partirdecididamente de uma plataforma deescolhas operativas, enfrentar os desafiosda identidade com um projeto bemdefinido, considerar os recursos humanoscomo o capital principal das instituições,buscar tenazmente uma incidênciaeducativa nos estudantes e na sociedade,e garantir uma gestão eficaz que assegureo sereno desenvolvimento da vidacomplexa da universidade.

4. Trabalhar com um Projeto Insti-tucional

Cada IUS representa a vontademanifesta da Congregação Salesiana deestar presente no campo da educaçãosuperior com uma missão específica. Estase expressa num específico projetoinstitucional de caráter cultural e científico,pedagógico-educativo e pastoral,organizativo e normativo - o qual,respondendo às exigências da realidadelocal e da universidade, plasma e aplica demodo global em termos operativos aidentidade acima descrita. Não se podeconceber um trabalho rigoroso nauniversidade por parte das IUS sem areferência e a condução de um projetoinstitucional.

Do conjunto do projeto institucionaldeveriam aparecer evidentes ascaracterísticas específicas de cada uma dasIUS perante as outras ofertas no ensinosuperior do mesmo território.

O projeto se desenvolve progressiva-mente mediante planos estratégicos e planosoperativos limitados nos objetivos e notempo.

4.1. Escolha e formação permanentedos docentes e dos gestores das IUS

Para enfrentar eficazmente a sua missãoe obter resultados de qualidade, segundo aprópria identidade universitária católica esalesiana, as IUS devem estar muito atentase exigentes na escolha dos professores edos dirigentes, além de preocupar-se porsua formação continuada e de neles investirconstantemente, por ser a única maneira

de garantir e desenvolver permanen-temente as suas competências profissionais,educativas e salesianas. Esse processo deformação permanente deve promover nosdocentes e gestores um perfil adaptado àsexigências do projeto institucional:

a) capacidade de autoformação e de auto-avaliação, em vista de uma constanterenovação na sua competência científico-tecnológica, cultural e educativa parapoderem reagir, positivamente, perantesituações sociais e culturais, e desafioscientíficos, éticos e educativos sempre novos;

b) capacidade de compartilhar um projetoinstitucional, de trabalhar juntos, de realizarum verdadeiro diálogo interdisciplinar e deconduzir processos de ampla colaboraçãona sociedade e na Igreja;

c) especial sensibilidade perante osestudantes e a condição juvenil, sobretudodos menos favorecidos, e umacompetência específica, segundo a própriaespecialidade, a fim de contribuir para aconstrução de uma sociedade mais justa esolidária e mais aberta ao desenvolvimentointegral dos jovens;

d) abertura, aprofundamento e coerênciacom os valores da identidade salesiana quecaracterizam o projeto institucional e umarenovada motivação vocacional do seupapel na comunidade acadêmicauniversitária;

e) capacidade de gestão universitáriaeficaz e competente.

4.2. Incidência na sociedadeA existência e as preocupações das IUS

se justificam, sobretudo, pelo serviçoqualificado à formação humana eprofissional dos jovens e pela incidênciaconcreta que estão em condição dedesenvolver na sociedade, em coerênciacom os traços que configuram a suanatureza e identidade. Para que talincidência seja real, se requer das IUS:

a) concentrar os esforços nos campos dapesquisa e do ensino escolhidos dentre asáreas do saber mais conformes com amissão salesiana;

b) promover projetos concretos que

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que se toma possível participar com amorno crescimento das pessoas e na construçãodo seu futuro, através da educação e daevangelização da cultura.

A Inspetoria Salesiana São Pio X,partindo da experiência histórica jávivenciada, se propõe:

a) Assumir a Educação Superior, comoum novo momento inspetorial, conside-rando-a como fonte alimentadora erevitalizadora do carisma salesiano de açãoeducativa e pastoral;

b) Marcar presença na produção, na re-elaboração e na socialização do conheci-mento e da cultura, dando-lhe sentidohumano e cristão a partir do modo-de-ser salesiano;

c) Ser uma presença pastoral no mundoda Universidade. As novas exigências daPastoral Juvenil pedem que nos abramossempre mais à faixa da alta juventude,acima dos 20 anos de idade. Nesta faixaencontramos muitos jovens, que além debuscar nos estudos universitários umcaminho para a sua vida, são ao mesmotempo, animadores juvenis de grupos e decomunidades, voluntários, catequistas,colaboradores abertos a fazer um caminhoeducativo desde as perspectivas cristãs esalesianas.

A responsabilidade de animar e gerir umaInstituição Salesiana de Ensino Superior firma-se na missão de agregar ao seu papelpedagógico o compromisso de formarcidadãos críticos e criativos, comprometidoscom a vida e com os valores humanos ecristãos, que conduzam para uma sociedadejusta e solidária, que busque nas conquistas daciência e no aprimoramento cultural, adignificação de todas as pessoas. Umauniversidade que possa acolher os jovens e osadultos, que buscam uma formação continuada,para que na convivência com os salesianos ede mestres virtuosos possam construircoletivamente, na vida em academia, os valoresque sedimentem a convivência fraterna efamiliar, promovam um caminho de formaçãocomum que tenha na pluralidade e na co-responsabilidade as suas referências básicas.

Este estar juntos em momentos

qualificados enriquece a mente e ocoração e motiva ações transformadorasem termos sociais e culturais. “Estar comDom Bosco significa estar com os jovens eoferecer o que somos: coração, mente,vontade, amizade, profissionalidade epresença; simpatia serviço e dom de si.”(Documento da Ação Conjunta, 1996, p.121).

A educação superior que entendemos teráque se orientar no sentido de equacionarconhecimento e humanização, conhecimentoe evangelização, conhecimento e produçãocultural, conhecimento e desenvolvimentoeconômico e conhecimento e justiça social.

Como salesianos, entendemos que temoso compromisso de estarmos presentes nestemomento histórico da sociedade brasileira ecolaborar e marcar presença, com o nossocarisma, nas transformações sociais que onovo tempo está a exigir, principalmente noacompanhamento dos jovens. A presençauniversitária dos salesianos tem, portanto, opropósito de uma continuidade educativa, querequer um período de acompanhamentoeducativo e pastoral, para além da idade daadolescência.

Nossa presença salesiana no mundouniversitário pretende levar emconsideração:

a) uma Pedagogia do ambiente comuni-tário. É uma convicção do espírito salesianoque a formação aconteça, acima de tudo,através do ambiente e do clima que aí serespira. Por isso tal ambiente deve teralgumas características:

• um ambiente de qualidade humana,cultural e evangélica, capaz de suscitar nosjovens interesses e experiências dequalidade;

• um ambiente que apele para aresponsabilidade e para a participaçãocomunitária, buscando a corresponsabiliza-ção dos próprios jovens nos diversosempenhos e desafios;

b) uma Pedagogia da mediação cultural.Especialmente neste campo, queremoslevar em consideração e propor aos jovensuniversitários, construtores de opinião, odesenvolvimento da dimensão ética do

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empenho científico e cultural, educativo esocial da instituição universitária;

c) um núcleo de pessoas - isto é, acomunidade salesiana local ou salesianosem estreito relacionamento com aInspetoria e leigos - que, identificados coma missão e o espírito salesiano, no exercícioda própria responsabilidade, estejam aptosa conduzir a elaboração e respectivaexecução prática do projeto institucionalque deve inspirar e acompanhar osprocessos de pesquisa, de ensino, deprojeção social e de gestão da vidauniversitária;

d) um ambiente em que a pessoahumana esteja no centro, no qual se façado diálogo e da colaboração abase do método, no qual apresença do mestre-guiadesperte nos jovens o amorpela verdade, pela vida e pelosoutros.

3.3. Projeto institucionalcristão e salesiananenteorientado (o conteúdo, osvalores)

As IUS, como as demaisuniversidades, realizam apesquisa, organizam o ensinoe difundem a cultura, visando ao saber, aosaber fazer, ao saber ser e ao sabercomunicar e partilhar. Isso o exprimemnum próprio projeto institucionaluniversitário (cf. 26-28 e 33c). Para queesse projeto seja cristão e salesianamenteinspirado e, assim possa ser realizado, asIUS devem promover:

a) uma concepção da pessoa humanainspirada no Evangelho, que a põe no centroda vida e que a promove na sua integralidade;

b) uma consciência ética fundada nosvalores, dando atenção especial àpromoção da justiça e de uma cultura dasolidariedade, mediante um modelo dedesenvolvimento sustentável em escalahumana, de relações de igualdade ereciprocidade, de qualidade da vida;

c) um diálogo entre culturas e religiõesdiversas, entre cultura-ciência-técnica-

profissão e fé, capaz de iluminarcristãmente a realidade e a vida ou deinculturar o Evangelho;

d) uma atenção especial ao âmbito daeducação, à formação dos educadores, aocampo da técnica e do trabalho, e aomundo da comunicação.

Tudo isso requer da comunidadeacadêmica um esforço de constanteformação - científica, pedagógica, ética ecristã -, uma reflexão sistemática a respeitoda orientação cultural do seu projetoinstitucional, e um diálogo interdisciplinarintenso a respeito dos principais desafiosda sociedade, à luz dos valores evangélicose do carisma salesiano.

3.4. lntencionalidade educa-tivo-pastoral (a finalidade)

O projeto cultural de cadaIUS é movido por uma clarafinalidade educativo- pastoral,segundo as características dapedagogia e da espiritualidadesalesiana. Tal finalidade semanifesta mediante:

a) a criação de um ambienterico de valores humanos,incluída a familiaridade;

b) a orientação científica erigorosa da pesquisa, dos itinerárioscurriculares e dos conteúdos do ensino,cônsonos ou abertos a uma visãotranscendente da pessoa humana e da vida;

c) um diálogo interdisciplinar entre asdiversas disciplinas acadêmicas, incluídas asde caráter ético, religioso e teológico;

d) a oferta de disciplinas curricularesespecíficas de caráter ético e religioso, emparidade de nível científico e pedagógicoe de valor acadêmico com as outrasdisciplinas do itinerário curricular;

e) uma diversidade de serviços deatenção humana aos estudantes,compreendidas as de propostasexplicitamente cristãs (de evangelização,de formação cristã, de caráter litúrgico esacramental), de compreensão e diálogoecumênico e inter-religioso, de empenhono serviço aos outros.

“As IUS devemestar muitoatentas e

exigentes naescolha dos

professores e dosdirigentes, alémde preocupar-se

por sua formaçãocontinuada.”

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saber e da profissão, através de umareflexão crítico-valorativa sobre asconquistas do saber, da ciência e dapesquisa, criando espaços privilegiadospara um sadio diálogo entre fé e cultura,propondo uma síntese entre cultura e vida.Queremos, à luz das Encíclicas VeritatisSplendor e Fides et Ratio, do Papa JoãoPaulo II, marcar e propor o pensamentoeclesial, desde a perspectiva salesiana, nomundo universitário.

c) uma Pedagogia do empenho econfronto com a realidade cultural, social eeclesial. Estamos dispostos a animar osjovens universitários a assumir suasresponsabilidades perante à históriapessoal e nacional, desde as possibilidadesde sua colaboração na construção dadignidade humana. Especialmente, darpossibilidades, aos mais engajadoseclesialmente, a assumir com maispossibilidades e ardor os seus compro-missos de cristãos. Para isso buscaremose incentivaremos a participação daInstituição e dos agentes educativos nasatividades, organizações e estruturas civise eclesiais que trabalham no âmbito doterritório e na Igreja local.

d) uma Pedagogia do acompanhamentopessoal. Na idade em que vivem, os jovensuniversitários têm necessidade deacompanhamento e ajuda na busca declareza e de aprofundamento de sua vidaa partir dos valores humanos e cristãos, afim de se orientar na busca de opçõesadultas. A partir disso, nós salesianos:

• queremos oferecer-lhes um acom-panhamento feito de acolhida, de dispo-nibilidade, de amizade, de relações inter-pessoais, de ajuda e encaminhamento desuas opções de vida;

• queremos apresentar-lhes os diversoscaminhos vocacionais para ajudá-los a tomarconsciência de sua vocação e missão nasociedade e na Igreja (A Pastoral JuvenilSalesiana, quadro de referimento funda-mental, Protocolo Past. 97/1069).

Como nosso fundador Dom Bosco,queremos ser corajosos diante dos tempose propositivos na construção de pessoase de instituições alicerçadas no Evangelhoe comprometidas com o bem.

6. Documentos referidosCHÁVEZ V., Pascual. Discurso do SuperiorGeral da Congregação. Porto Alegre, 2004.Congregação Salesiana. Atos do ConselhoGeral, N. 361, outubro-dezembro de 1997,p. 90-91.Congregação Salesiana. Ação Conjunta. Roma,1996.Congregação Salesiana. Conselho Geral -CG25, n. 80.Congregação Salesiana. Atos do ConselhoGeral, N. 361, outubro-dezembro de 1997.Congregação Salesiana. Constituições daSociedade de São Francisco de Sales, n. 40.Congregação Salesiana. Identidade das InstituiçõesSalesianas de Educação Superior (IUS).Congregação Salesiana. Políticas para apresença salesiana na educação superior.Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre.Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).Inspetoria São Pio X. Justificativa,implantação da Educação Superior naProvíncia Salesiana São Pio X de PortoAlegre, Porto Alegre, 2002.João Paulo II. Encíclicas Veritatis Splendore Fides et Ratio.PJS - A Pastoral Juvenil Salesiana - quadrode referimento fundamental. ProtocoloPast. 97/1069.

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especialmente das classes populares;b) uma relação integral entre cultura,

ciência, técnica, educação e evangelização,profissionalismo e integridade de vida(razão e religião, bons cristãos e honestoscidadãos);

c) uma experiência comunitáriabaseada na presença, com espírito defamília, dos docentes e o pessoal degestão entre e para os estudantes;

d) um estilo acadêmico e educativo derelacionamentos, baseado num amormanifestado aos alunos e por eles percebido(amorevolezza).

Elementos de identidade das IUS. ACongregação Salesiana, consciente erespeitosa da natureza espe-cífica da universidade e das suasexigências, faz-se presentenela, também, para acompa-nhar os jovens no momentomais decisivo de seu processode amadurecimento, ofe-recendo-lhes a contribuição doseu patrimônio educativo ecarismático. As IUS, por isso,caracterizam-se pela sua opçãoem favor dos jovens das classespopulares, pelas comunidadesacadêmicas com clara iden-tidade salesiana, pelo projetocultural, cristã e salesia-namente orientado e pela intencionalidadeeducativo-pastoral.

3.1. Opção pelos jovens das classespopulares (os destinatários)

As IUS realizam uma opção preferencialpelos jovens das classes populares,superando qualquer postura elitista, nãoapenas em relação aos destinatários, mastambém na orientação da pesquisa e nodesenvolvimento dos diversos serviçosuniversitários. Isso implica algumasescolhas:

a) favorecer o acesso à universidade aosjovens que provenham dos ambientespopulares e do mundo do trabalho;

b) orientar também a pesquisa, adocência, o estudo e os serviços culturais,

a fim de melhor conhecer a condiçãojuvenil, sobretudo dos setores menosfavorecidos, e proporcionar-lhes umatransformação positiva;

c) formar pessoas comprometidas coma causa da justiça, a fim de construir umasociedade mais justa e humana;

d) promover na sociedade propostasformativas que incidam nos processoseducativos e nas estratégias e políticasjuvenis.

3.2. Comunidade acadêmica com-prometida com o projeto institucional (osujeito)

Uma instituição salesiana de educaçãosuperior se configura como acomunidade de todos aquelesque, segundo a própria res-ponsabilidade acadêmica eprofissional, em sintonia comos valores cristãos e salesianosdo projeto institucional, seempenham na busca daverdade e na missão forma-dora de modo co-responsávele aberto às diversas realidadesculturais e sociais.

A comunidade acadêmica decada IUS, que garante um estilointelectual rigoroso e crítico,inspira-se na metodologia da

interdisciplinaridade tanto na pesquisa quantona docência, do trabalho cooperativo e daco-responsabilidade em nível acadêmico,organizacional e diretivo; dispõe, além disso,de uma autonomia institucional própria,acadêmica e de governo, no respeito àmissão confiada pela Congregação Salesianaaos vínculos estatutários e aos direitos daspessoas. Isso requer:

a) professores que integrem competênciaprofissional para a pesquisa, para a docência epara a educação, sensibilidade pelo mundojuvenil e capacidade de acolhida e presençaentre os jovens, compromisso com asolidariedade e a justiça, coerência entre a vidae os valores evangélicos;

b) estudantes que participam comoprotagonistas e co-responsáveis, do

“Também as IUS,como as demaisuniversidades,

realizam apesquisa,

organizam oensino e difundema cultura, visandoo saber, o saber

fazer, o saber ser eo saber comunicar

e partilhar.”

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Universitárias Salesianas”, o Reitor-Morchama para a importância da presença daCongregação Salesiana neste contexto:

“... chamo a atenção para um campoespecífico de nossa missão, que tem umrelevo particular na formação das pessoase na elaboração e difusão de cultura: asinstituições universitárias salesianas, queestão crescendo em número e emqualidade. A Igreja também olha comesperança para este campo no contextoda nova evangelização, pelo influxo queestas instituições podem ter na formaçãode um projeto cultural, inspirado noEvangelho, capaz de criar relações novasna sociedade e no mundo e iluminar aspessoas na busca da verdade e do sentidoda vida... Esse serviço, alinhado ao grandeesforço de qualificação cultural, pedidohoje à Congregação, coloca-se como sinalde um trabalho peculiar nessa área deinfluência especial para a nossa missão.Ele propõe-se a buscar as condições geraiscomuns – no respeito das normativas decada Estado – que garantam, tanto emcada instituição como no seu conjunto,‘uma presença salesiana significativa emnível científico, educativo e pastoral’ entreos centros que produzem e promovemcultura na sociedade”. (Atos do ConselhoGeral, N. 361, outubro-dezembro de1997, p. 90-91).A partir destas orientações, iniciou-se o

processo de organização em rede, emtermos mundiais, das mais de 40 InstituiçõesUniversitárias Salesianas hoje presentes nosdiversos continentes. Foram construídos,de forma cooperativa, alguns documentosbásicos, que orientam a presença dosSalesianos na direção e animação das IUS.Entre estes podemos citar: “Políticas para apresença salesiana na educação superior” e“Identidade das Instituições Salesianas deEducação Superior (IUS)”. Esses documentossão os mapas de navegação da presençasalesiana no Ensino Universitário e balizamas decisões políticas na condução dosprocessos administrativos e de gestão dasIUS. Eles vão definindo a presença salesianano Ensino Superior:

As IUS são instituições de ensino superior,de inspiração cristã, caráter católico e índolesalesiana. Elas apresentam modalidades tantodo ponto de vista do relacionamento com aIgreja e com a Congregação Salesiana,quanto do ponto de vista dos grausacadêmicos que conferem e das situaçõeslocais em que são inseridas. Os valores doespírito e da pedagogia salesiana, nascidosdo Sistema Preventivo vivido por DomBosco no Oratório de Valdocco, enriquecema natureza, a atividade e o estilo de seruniversitários das IUS (Identidade das IUS).

Existe uma clara orientação para queas IUS se tornem centros animadores dapresença salesiana no mundo da cultura ebusquem construir uma experiência devalor educativo diferenciado para todos osque delas participam. Neste sentido, odocumento que trata da Identidade dasInstituições Universitárias Salesianasapresenta as linhas mestras da presençasalesiana neste meio.

Inspiração cristã e caráter católico.A Inspiração cristã das IUS supõe uma visãode mundo e da pessoa humana enraizadaem sintonia com o Evangelho de Jesus euma comunidade acadêmica que partilha epromove tal visão. Por seu caráter católico,as IUS manifestam ter nascido do coraçãoda Igreja e confessam sentir-se no coraçãoda Igreja por meio de um vínculo positivo eleal com ela como expressão de comunhãocom a comunidade e com os seus pastores,na sua manifestação universal e local,segundo as modalidades expressas pelospróprios estatutos. O caráter católicorepresenta, também, um compromissoinstitucional da Congregação Salesiana aserviço da sociedade e da própria Igreja,no âmbito universitário.

Índole salesiana. Os valores doespírito e da pedagogia salesiana, nascidosdo Sistema Preventivo vivido por DomBosco no Oratório de Valdocco (cf.Constituições da Sociedade de SãoFrancisco de Safes, n. 40), enriquecem anatureza, a atividade e o estilo de seruniversitários das IUS. Isso comporta:

a) uma opção prioritária pelos jovens,

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4. Sensibilidade, Preventividade, Solidariedade eCidadania

Marcos SandriniDiretor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Mestre em Teologia Pastoral pela Università Pontifícia Salesiana de Roma.

Doutorando em Educação pela PUC/RS

“Com a idade de nove anos tive umsonho que permaneceu profundamenteimpresso em minha mente por toda a vida.Encontrava-me, no sonho, num pátioimenso, onde uma molecada brincava.Alguns riam, outros brincavam e muitosblasfemavam. Quando ouvi as blasfêmias,pulei no meio deles e comecei a distribuirsocos e pontapés para fazê-los calar aboca.

No meio daquela chuva de pancadas,vi um senhor muito respeitoso, vestidocom uma túnica muito bonita. Seu rostoera tão brilhante que eu mal conseguiaolhar para ele. Ele chamou-me pelo nome

e me mandou guiar aqueles meninos,dando-lhes o seguinte conselho: “Não écom pancadas, mas com bondade e amorque você deve conquistar os coraçõesdestes seus amigos. Comece logo dando-lhes aula de catecismo sobre a feiúra dopecado e a beleza da virtude”.

Meio apavorado, disse-lhe que eu eraum menino pobre, ignorante e semnenhuma condição de falar àquelesmeninos. Vi então que eles começaram ase juntar ao redor daquele senhor. Crieicoragem e lhe perguntei:

- Quem é o senhor que me manda fazercoisas impossíveis?

Resumo: Dom Bosco, educador doséculo XIX, sempre teve muito claro seuprojeto de vida de educador. Ele foi seconsolidando aos poucos, sobretudo nocontato com as novas gerações de jovensque afluíam pelo êxodo rural para a cidadede Turim. Neste artigo, procura-se analisarum “sonho” que ele teve quando meninosob a ótica do trabalho. Numa sociedadeem crise do trabalho, visto sob aperspectiva do emprego na sociedadeindustrial, o sonho de Dom Bosco nos levaa pensar alternativas para a ocupaçãojuvenil na linha da formação de “bonscristãos e honestos cidadãos”. Numprimeiro momento, procura-se fazer umaanálise da atual situação do emprego-desemprego para, num segundomomento, apontar saídas conjunturais eestruturais para a questão. Atitudes básicasdevem permear esta busca: solidariedade,cuidado, responsabilidade e misericórdia.

Palavras-chave: Trabalho. Emprego.Economia Solidária. Sistema Preventivo.

Abstract: Don Bosco, educator fromthe 19th century, always had clearly asbeing an educator his life project. He wasconsolidating it gradually, specially incontact with new generation of youngthat came from agricultural exodus to thecity of Turim. This article analizes a“dream” that he had when he was a childunder the optics of labour. In a society oflabour crisis seen under the perspectiveof getting a job in the industrial society,the dream of Don Bosco take us to thinkin alternatives for occupation for youthin a way to form “good Christian andhonest citizens”. First it will show ananalysis of the current situation of theemployment/unemployment for then findconjunctural and structural solutions tothis problem. Some basic attitudes mustinvolve this search: solidarity, care,responsability and mercy.

Keywords: Work. Job. Solidaryeconomy. Preventive System.

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Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco eda Salesiana de Educação Física. Estecomplexo de cursos universitários e deoutras atividades ligadas ao ensino superiorfoi animado pelo Instituto EducacionalDom Bosco. Foram centenas os alunosformados nos diversos cursos e, hoje,encontram-se espalhados por todo oterritório nacional. A partir da década denoventa, as Faculdades e seus cursosforam absorvidos, por conta de umconvênio, por outra Instituição de EnsinoSuperior. É bom salientar, também, quevárias Universidades, hoje presentes narealidade do sul do Brasil, iniciaram suasatividades ocupando espaços de colégiossalesianos.

A Igreja Católica, por meio de váriosdocumentos, especialmente na Assembléiados Bispos Americanos emSanto Domingo, ressalta aimportância da colaboração daIgreja com a Sociedade nocampo da produção da cultura,especialmente no campo dosestudos universitários.

À luz destas urgências e apartir de sua própria experiência,a Inspetoria Salesiana decidiuimplementar a Faculdade DomBosco de Porto Alegre. Os estudos para talempreendimento começaram em meadosdos anos noventa. Foi constituído um Grupode Trabalho (GT-Universidade), formado porsalesianos e leigos, para estudar o assunto.Este grupo contou com a colaboração deespecialistas em assuntos universitários eajudou na fundação da Faculdade Dom Bosco.

Nas motivações escritas ao SuperiorGeral da Congregação, em Roma, comodefinidoras da presença da Inspetoria dePorto Alegre no campo dos estudosuniversitários e na condução deInstituições de Ensino Superior, odocumento assim se expressa:

“Os Salesianos do sul do Brasil entendem que,cada vez mais, a formação integral dos jovense a educação continuada dos segmentossociais menos favorecidos dependem de umcentro vitalizador das atividades pastorais e

educativas, que gere, reelabore e dê sentidocristão ao conhecimento. Como bem culturale instrumento de produção da vida e dacultura, o conhecimento, ao invés de ser umfator de discriminação, poderá ser umelemento de aproximação das pessoas e umarealização plena em Deus. Neste sentido,conhecimento e fé não se excluem. O espaçouniversitário será, de forma crescente,o lócus privilegiado para desencadearações educativas e pastorais quebeneficiem os jovens e os maisnecessitados. É o espaço apropriado para aconstrução da sociabilidade, da formaçãointegral e do exercício da cidadania. O carismasalesiano encontra aí terreno fértil. É nesteuniverso que se torna possível participar comamor no crescimento das pessoas e naconstrução do seu futuro, através da educação

e da evangelização da cultura. Lugarde recorrência para a formaçãocontinuada, espaço de produção doconhecimento e de difusão dacultura, a universidade representa oveículo da pós-modernidade econfigura terreno fértil para acristianização do saber e para aevangelização da cultura. Auniversidade, nestes termos, tem umenorme papel civilizador a exercer.

O culto aos valores cristãos e humanos é ocaminho certo para isto”. (JUSTIFICATIVApara implantação da educação superiorna província salesiana São Pio X dePorto Alegre, p. 12).

3. As Instituições UniversitáriasSalesianas – IUS

A presença salesiana na implementação,direção e gestão no contexto universitáriosuscita a necessidade, por parte dogoverno da Congregação, de umaorientação específica, para tal campo deatividade.

Assim, a Congregação elaborou umimportante documento para nortear aEducação Superior no mundo, exaradopelo P. Juan Edmundo Vecchi, SuperiorGeral, no ano de 1998. No documentodenominado “Um serviço às Instituições

“As IUS sãoinstituições deensino superior,de inspiraçãocristã, caráter

católico e índolesalesiana.”

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- Justamente porque estas coisas lheparecem impossíveis é que você deverátorná-las possíveis com a obediência eadquirindo ciência.

- Mas, onde, de que jeito eu posso adquirirciência?

- Eu lhe darei a mestra. Com a ajuda delavocê se tornará sábio. Sem ela, toda ciênciase torna burrice.

- Mas quem é o senhor para me falardesse modo?

- Eu sou o filho daquela que sua mãe lheensinou a saudar três vezes ao dia.

- Minha mãe também me ensinou a nãodar confiança a pessoas que não conheço.Faça o favor de dizer-me seu nome.

Vi, então, ao seu lado uma linda senhora,vestida com um manto muito brilhante,Parecia que o manto era coberto de estrelas.Quando ela percebeu meu apavoramento,chamou-me, tomou-me pela mão e, comgrande bondade, me disse:

- Olha!Quando olhei, vi que aquela molecada

tinha sumido e no lugar deles vi um montãode cabritos, cachorros, gatos, ursos, onçase um punhado de outros bichos ferozes.

- Este é o campo em que você devetrabalhar! Torna-te humilde, forte e cheiode coragem. O que você está vendo agoraacontecer com estes animais, você deveráfazer para os meus filhos.

Olhei ao meu redor e vi que no lugardaqueles animais estava um rebanho decordeirinhos muito mansos que pulavame faziam festa para o senhor e a senhora.Comecei então a chorar e pedi a ela queme explicasse aquilo porque não estavaentendendo nada. Ela, então, me pôs amão na cabeça e me disse:

- A seu tempo você vai compreendertudo isso.

Um barulho me acordou; e tudodesapareceu... Mas nunca mais me esquecidaquele sonho”. (Bosco, MO 18-20).

1. O contexto sócio-político-econômico em que surgiu este sonho

Dom Bosco viveu sua infância ejuventude na região do Piemonte – Itália.

Predominava então a produção agrícola.Seus primeiros contatos com os jovens deTurim (1841) coincidem com o processode expansão industrial. Logo apareceramos sinais de transição: êxodo rural,expansão demográfica e urbana, jovens ecrianças abandonadas, vagando pelas ruasem busca de emprego e subsistência. Acidade de Turim triplicou de populaçãodurante a sua vida. No ano de seunascimento (1815), tinha somente 65.548habitantes. Em 1858, ano da fundação daSociedade Salesiana, já possuía 179.635habitantes. Pode-se calcular em 275.000habitantes a população turinense, quandofaleceu em Valdocco, em 31 de janeiro de1888. Isto mostra a evolução profunda quesofreu o norte da Itália durante a vida deDom Bosco. Valdocco, que era um bairrode Turim, tinha a maior concentração deadolescentes de toda a Europa.

O acelerado crescimento populacionalaconteceu muito mais pela migraçãonacional do que pelo aumento denascimentos sobre as mortes. A cidadeinchava e a população rural diminuía.Mesmo se não tivesse escolhido o estadoeclesiástico, Dom Bosco seriapresumivelmente um dos tantos das áreasrurais que a pressão demográfica destinariaa abandonar a casa paterna e enfrentar avida em outra parte. A população rural erapaupérrima. A própria família de DomBosco vivia muito pobremente.

Essa migração afetou mais fortementeas crianças, os adolescentes e os jovens.Isto explica a situação de muitos deles quesão abandonados, sem teto, sem amigose, freqüentemente, sem trabalho. Estamosno primeiro período industrial. “Nasfábricas de seda de Lião, o rapaz puxavaos fios por detrás de uma máquina dascinco da manhã até às nove, às dez e àsonze da noite. Entre os sete e os dozeanos, estes rapazes podiam ser obrigadosa 15 e 16 horas de presença na fábrica.Parece que em 1861 as condições aindaeram piores”. (Desramaut, 1971, p. 36-37).

Houve muita resistência entre os

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fundações com novas presenças, no RioGrande do Sul, em Santa Catarina, eparticularmente no estado do Paraná.

Assim, a tradição salesiana de educar,evangelizar e promover foi se espalhando,com a presença significativa de casas eobras nos três estados sulinos. O presenteartigo tem por objetivo apresentar atrajetória histórica dos salesianos no sul doBrasil, sua presença e missão na EducaçãoSuperior e a sua articulação com asInstituições Universitárias Salesianas – IUS– para a construção e a consecução doprojeto universitário inspetorial.

2. Missão Salesiana e a EducaçãoSuperior

A Inspetoria Salesiana de Porto Alegrecongrega, hoje, um conjunto de obras,projetos sociais e frentes de trabalhoeducativo-pastorais, ligados à educação, àpromoção e à evangelização dos jovens,com um grande quadro de colaboradoresleigos, profissionais de várias áreas da açãoeducativa e evangelizadora e com umagrande presença de crianças, adolescentes,jovens e adultos participando das diversasações institucionais.

A Educação Escolar e Profissional foi,desde o início, a preocupação central dofundador da Família Salesiana: São JoãoBosco. Este especialmente pensou, a partirda própria experiência educativa, naeducação dos jovens, e entre estes, dosmais necessitados. Dom Bosco nasceu noinício do século XIX, nos arredores deTurim, capital do Reino do Piemonte, que,como todo o norte da península itálica,viveu a novidade da revolução industrial,trazendo forte incidência sobre a migraçãodas populações campesinas. Entre estesmigrantes, milhares de jovens, com suasfamílias ou sem elas, foram à procura detrabalho e de uma oportunidade de vida.Muitos foram os problemas sociais quecomeçaram a pesar sobre a grande cidadede Turim. Dom Bosco passou a se dedicartotalmente à educação dessas levas dejovens migrantes e dos abandonados àprópria sorte. Formar “bons cristãos e

honestos cidadãos” é o seu lema e suapreocupação do dia-a-dia.

Iniciou uma experiência de acolhida, deeducação e de evangelização dos jovens,com a colaboração de adultos amigos,homens e mulheres altruístas. Esta obrapassou para o registro da história como o“Oratório de Valdocco” (um bairro deTurim). Tal experiência esteve marcadapor alguns elementos fortes: o clima defamília, a preventividade educativa, apresença de educadores significativos, oprotagonismo e o empreendedorismojuvenil, forte presença do ensinoprofissional e da educação formal,ambiente saudável e aberto à expansão ecriatividade, proposta evangelizadora e umclima positivo e dinâmico de inter-relações.

Com o passar dos anos, Dom Boscosentiu a necessidade de encaminhar osjovens, que tinham decidido ficar com elena condução de sua nascente obra, para osnecessários estudos universitários. Assim éque, desde o início da obra educativasalesiana, os primeiros educadores, comDom Bosco, começaram a freqüentar oscursos universitários, especialmente noscampos da Filosofia, Teologia e Pedagogia.Pode perceber-se, então, que desde osalbores da presença dos primeirossalesianos, que depois se espalharam portodo o mundo, a realidade dos estudosuniversitários ocupou lugar de destaque naformação dos quadros da Congregação.Essa orientação e preocupação serãolevadas adiante pelos educadores salesianosna tarefa de educar a juventude.

Assim, no Brasil, desde a década decinqüenta do século XX, e especialmente apartir dos anos setenta, vamos encontrar osSalesianos de Dom Bosco, dedicados àcriação de Faculdades e, posteriormente, deCentros Universitários e Universidades.

No início da década de setenta, comofruto de uma prática educativaconsolidada, os Salesianos de Dom Boscodo sul do Brasil iniciaram, em Santa Rosa,RS, a sua presença no Ensino Superior,com a implementação das Faculdades de

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“Dom Boscoprocurou acolher osjovens do seu tempojustamente naquilo

que maiscaracterizava a

sociedade de suaépoca, que era o

trabalho.”

industriais da Itália quando, em 1886, umalei proibiu os meninos de menos de noveanos de trabalhar nas fábricas e osmenores de dez anos de descer às minas.É muito importante ter presentes estesdados porque, para estes jovens e nestascondições, é que Dom Bosco se sentiumissionado.

Este período não só foi convulsionadodo ponto de vista econômico-social, mastambém do ponto de vista sócio-político.Quando do nascimento de Dom Bosco,estamos em pleno período de restauraçãocom a aliança entre “o trono e o altar”. Asidéias modernistas liberais daRevolução Francesa, porém,vão avançando também naItália. Dois acontecimentossignificativos da penínsulaitálica colocaram a IgrejaCatólica numa atitudereacionária, de defesa,concentrando suas forçaspara a coesão interna aoredor do Papa. O primeiro foia lei da liberdade religiosa(1848) no Reino doPiemonte, que abriu as portas sobretudoàs diversas denominações protestantes eaos judeus. O segundo foi a unificaçãoitaliana (1870), colocando a capital doReino Unido em Roma. O primeiro fatoinfluenciou grandemente a vida e a obrade Dom Bosco nos seus primeiros anos.A publicação das Leituras Católicas parafazer frentes às Leituras Evangélicas é umexemplo disso. O movimento deunificação italiana aproximou Dom Boscode Pio IX a ponto de torná-lo uminterlocutor importante ante o próprioPapa e o governo, sobretudo na questãoda nomeação de uma centena de novosbispos e da constituição do patrimônio dasdioceses.

Embora estejamos num períodopolêmico, Dom Bosco enfrenta osproblemas de uma forma muito positivaatravés da ação. “Tem a coragem da tua fé edas tuas convicções. Não temas. Os maus éque devem temer diante dos bons e não os

bons diante dos maus” (MB 6,482).A experiência pessoal de jovem

migrante certamente contribuiu para aaproximação de Dom Bosco dos jovenspobres de Turim. Mas sua opção por elesse define mesmo a partir de contatospessoais com a condição de miséria epobreza em que se encontravam.

O contato direto nas prisões, nas praças,despertou e afirmou nele a convicção deestar chamado para um trabalho em favorda juventude pobre e abandonada. Aoterminar o tempo de sua permanência noColégio Eclesiástico, onde fazia uma espécie

de estágio pastoral de início desacerdócio, tinha diante de sias alternativas: ser vice-pároco, ser monitor noColégio, ou diretor dopequeno patronato daMarquesa Barolo. Qualquerdessas alternativas lhe dariatambém um suporte esegurança financeira. Mas aatividade que já desenvolviaem benefício dos meninosera incom-patível com

outros encargos. Apesar da insegurança arespeito do futuro, não hesitou emescolher os jovens.

E assim foi durante toda a sua vida. Aofinal, no seu Testamento Espiritual aossalesianos, insiste: “O mundo nos acolherásempre com prazer enquanto nossassolicitudes se dirigirem aos indígenas, aosmeninos mais pobres, mais periclitantes dasociedade. Esta é para nós a verdadeirariqueza que ninguém haverá de roubar...Não esqueçamos que somos para osmeninos pobres e abandonados”(Constituições, p. 287).

Seguramente Dom Bosco não tratouo seu primeiro jovem, Bartolomeu Garelli(1841), como tratava os seus jovens em1883. Não os idealizou. Soube caminharcom os tempos e com eles. Sendo ele deorigem camponesa, assumiu a causa dacriança, do adolescente e do jovem numagrande metrópole industrial em contínuatransformação.

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3. A Inspetoria Salesiana de Porto Alegre e oEnsino Universitário

José Valmor César TeixeiraInspetor Salesiano de Porto Alegre e Presidente da Mantenedora da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre

Resumo: A Igreja Católica, por meiode vários documentos, ressalta aimportância da colaboração da Igreja coma Sociedade no campo da produção dacultura, especialmente no campo dosestudos universitários. Assim, à luz destasurgências e pela inspiração de Dom Bosco,a Inspetoria Salesiana São Pio X decideimplementar a Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre, cujas principais motivaçõessão formação integral dos jovens e aeducação continuada dos segmentossociais menos favorecidos, espaço esteapropriado para a construção dasociabilidade, da formação integral e doexercício da cidadania.

Palavras-chave: Igreja Católica,formação integral, educação continuada.

1. IntroduçãoA Inspetoria Salesiana São Pio X de

Porto Alegre, mantenedora da FaculdadeDom Bosco, foi fundada em 1958,inicialmente com sede na cidade de Riodo Sul, SC, e desde 1963, presente nacapital do Rio Grande do Sul.

Os Salesianos de Dom Bosco chegaramao sul do Brasil com a missão de realizar oque já vinham fazendo em outras partes domundo. Especialmente atuar no campoeducativo, com colégios e liceus, com escolasprofissionalizantes, com escolas agrícolas,com orfanatos e internatos, e com fortepresença evangelizadora nas paróquias emissões entre os imigrantes.

Desde o ano de 1901, os Salesianos deDom Bosco se fazem presentes no Sul doBrasil. O primeiro núcleo teve seu iníciona cidade portuária de Rio Grande, porSalesianos vindos do Uruguai, que em1904 abriram um colégio em Bagé. O

segundo núcleo teve início no estado deSanta Catarina, a pedido do Episcopadolocal e do governo do Estado para oatendimento aos imigrantes europeus.Foram abertas presenças de evangelizaçãoe educação entre os italianos, alemães epoloneses. Este atendimento se estendeu,também, aos nativos da terra. O terceironúcleo da presença salesiana no sul doBrasil se organiza a partir da presença dosSalesianos em Porto Alegre, inicialmentecom o atendimento educativo a meninospobres, alargando-se, depois, para váriasáreas da educação, assistência eevangelização, formando uma rede depresenças.

A partir da metade do século XX, nosanos próximos à criação da Visitadoria, porvontade expressa e tomada de posiçãopolítico-adminstrativa de vários salesianos,abriu-se e afirmou-se o quarto núcleo de

Abstract: The Catholic Churchemphasizes how important is thecontribution of Church to society in termsof cultural production, specially related touniversity degree learning. Then, from thisurgent demands and from inspiration inDon Bosco, the Inspectory of the SalesianSaint Pius X decides to create the DonBosco College from Porto Alegre. Its mainpurposes are integral formation of theyouth and continued education for lesseconomic favored social segments,building an suitable environment forsociability, integral formation andcitizenship.

Keywords: Catholic Church, integralformation, continued education.

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“A questão,porém, é como

preparar aspessoas para otrabalho e não

para o emprego.”

2. O desafio do sonho de DomBosco em nosso contexto

Dom Bosco procurou acolher os jovensdo seu tempo justamente naquilo que maiscaracterizava a sociedade de sua época,que era o trabalho. O lema daCongregação Salesiana é “trabalho etemperança”. Ao lado da alegria, oOratório de Dom Bosco era a casa dotrabalho. Ouviu dos lábios de Pio IX erepetiu para os seus que “o diabo tem maismedo de uma casa de trabalho do que deuma casa só de oração” (MB 17,661).Voltando da França em 1877, Dom Boscovisitou as Filhas de Maria Auxiliadora emAlássio. Interrogando-as se tinham muitotrabalho e obtida a resposta positiva, disse:“Pois bem, quando eu vou às casas epercebo que há muitotrabalho, vivo tranqüilo. Ondehá trabalho, não há odemônio” (MB 13,116). Outravez, numa conferência, disse:“Quem quer entrar naCongregação é preciso queame o trabalho (...). Não faltaráo necessário, mas é precisotrabalhar. Ninguém entre coma esperança de cruzar os braços” (MB13,424). “Quando acontecer que umsalesiano caia trabalhando pelas almas,então direis que a Congregação obteveum grande triunfo” (MB 17, 273). DomBosco dizia que o trabalho é o distintivo, acarteira de identidade do salesiano (MB 19,235). Dom Bosco enfrentou esta questãopreparando seus jovens para o mundo dotrabalho, sobretudo com suas escolasprofissionais, suas oficinas.

Como ser educador numa IESsalesiana numa sociedade ondejustamente a maior crise que enfrentamosé a do trabalho, do emprego? Qualquerpesquisa que se faça, hoje, dirá que omaior problema enfrentado pelapopulação é o emprego... “Redefiniroportunidades e responsabilidades paramilhões de pessoas numa sociedade, semo emprego de massa formal, deverá sera questão social mais premente do século

que se inicia” (Rifkin, 1996, p. 2).Dom Bosco viveu na passagem da

primeira revolução, a agrícola, para arevolução industrial. Não mais o sino, maso apito e a sirene da fábrica marca estanova ordem. Dom Bosco morreu em1888. A grande encíclica social RerumNovarum do Papa Leão XIII foi promulgadaem 1891. Dom Bosco procurou enfrentaras transformações não com umamentalidade defensiva, mas muitoprospectiva...

3. A crise do ‘trabalho’ nasociedade

Hoje estamos vivendo uma novarevolução, a tecnológica, que se caracterizapela descoberta de novos meios técnicos que

propiciam a mudança naautocompreensão da pessoahumana, na sua relação com osdemais seres humanos, com ocosmos, com o meio ambiente,com a transcendência. Comotoda revolução, esta tambémtraz espanto e admiração e, aomesmo tempo, perplexidade emedo.

As duas revoluções anteriores, aagrícola e a industrial, trabalharam com omaterial e o mensurável (terra e fábrica).O núcleo desta terceira revolução éimaterial, a informação. Hoje estamos nosalbores de uma quarta revolução, abiotecnológica, que é a articulação dainformática com a genética. Sua tarefaconsiste em individuar o código genético(DNA), armazená-lo, processá-lo nocomputador e distribuí-lo. A biotecnologiatomou conta das páginas dos jornais e dasrevistas. Daí toda a moderna discussãosobre os transgênicos e a clonagem. Grandespossibilidades se abrem para o aumento daprodutividade e da longevidade. E o que dizerda nanotecnologia? O grande problemadeste início de milênio, certamente, não éo da produção, mas o da sua distribuição.Além das possibilidades tecnológicas, hátoda uma discussão ética.

Dentro deste contexto, as maiores

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“O sobretrabalhoagrava a situaçãodo desemprego,

pois cerca decinco milhões de

novas vagasdeixam de

existir.”

transformações sociais aconteceramjustamente no mundo do trabalho. Na eratecnológica, cada vez mais se produzembens sem necessidade de que todostrabalhem. A sociedade que diz que só écidadão quem trabalha e pode comprar,dispensa o trabalho de todos. Na França,há 150 anos, um operário forneciaanualmente cinco mil horas de trabalho. Noinício do século XX, eram 3.200 horas. Nosanos 70, eram 1.900. Atualmente são 1520horas. O tempo de trabalho de uma pessoarepresentava em 1850, 70% de sua vida;em 1900, 43%; em 1980, 18%; em 2000,14%. Ao mesmo tempo, a riquezaproduzida aumentou. De 1960 a 1990, aprodução mundial por habi-tante, a despeito do crescimen-to demográfico, multiplicou-sepor 2.5. Jeremy Rifkin,antevendo o futuro, assimdescreve a sociedade dotrabalho na primeira metadedo século 21: “Nós estamosem 2045. Para a maioria dosamericanos, a vida de hoje nãotem muito a ver com a vida decinqüenta anos atrás. Amudança mais visível é, talvez, oesfacelamento do mercado nas atividadescorrentes. Na era da informação, a maiorparte dos bens e serviços do planeta éproduzida nas fábricas que quase não têmmais necessidade de mão-de-obra, edistribuída por empresas virtuais geridas porpequenas equipes de administradores equadros altamente qualificados. Calcula-doras eletrônicas dotadas de grandecapacidade de memória, robôs e sistemasde telecomunicações de última geraçãosubstituíram o “operário” da era industrial.Menos de 20% da população adultatrabalha em tempo integral”. Nasquinhentas maiores empresas americanas,a proporção dos empregos permanentes ede tempo integral representa somente10% do total. Um estudo da FederaçãoInternacional dos Metalúrgicos prevê quedentro de 30 anos, menos de 2% da atualforça de trabalho em todo o mundo será

suficiente para produzir todos os bensnecessários para atender a demanda total.

No Brasil observa-se o mesmofenômeno tanto no setor secundárioquanto no terciário. Na indústriaautomobilística, por exemplo, há umaumento da produção de automóveis(mais de dois milhões de automóveis em1997) com uma clara tendência dediminuição dos trabalhadoresempregados. Estudos prevêem que, nospróximos anos, o número de empregosna indústria automobilística poderá cairentre 20 e 30%. No setor bancário houve,nos últimos anos, uma drástica redução depessoas empregadas. E a redução das

pessoas que trabalham nãosignifica uma queda deprodutividade. Pelo contrário.Há um aumento deprodutividade. Ou seja, para ocrescimento da produtividade,não é mais necessário quetodas as pessoas estejamempregadas.

A agricultura é um exemplocontundente deste processo.Um agricultor que alimentava

quatro pessoas no fim da última guerra,trinta anos mais tarde, nutria 36. Na Françade 1946 a 1996, houve um aumento de110% da produção agrícola acompanhadade uma redução de seis milhões de hectarescultivados. No Brasil constata-se o mesmofenômeno. Aumentar a produção nãosignifica mais, necessariamente, ampliar aárea cultivável ou trabalhar mais. Éaumentar, sim, a produtividade. Isto significauma importante economia de matéria,energia e fontes necessárias por unidadede produto nacional.

O grande desafio, então, consiste emcomo distribuir a riqueza produzida pelamáquina. O mundo do trabalho é cada vezmais instável e precário. Cada vez mais setoma consciência também de que não sepode reduzir o trabalho ao emprego. Otrabalho autônomo ocupa cada vez maiso tempo e o espaço das pessoas.

Como educadores somos convidados

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Na sua interação com a sociedade, auniversidade não está eximida daconstrução do seu modelo. Um modeloque terá que se fundamentar nos princípiosda democracia, da autonomia e da criaçãodeverá ser o suficientemente flexível paraorganizar grupos de estudos, programas depesquisa e de pós-graduação, organizadosem torno de núcleos do saber, quepromovam um conhecimento articuladointerdisciplinar e multidisciplinar. Asespecificidades sociais e regionais requeremque as políticas educacionais favoreçam adiversidade das instituições universitárias,isto é, permitam a diversificação do modelodas universidades.

A busca da excelência representa acondição básica para a universidade assumira sua função de liderança intelectual nasociedade. A missão nasce do contexto deliderança intelectual, que se caracteriza pelacapacidade de imaginar o futuro do mundo,de definir o papel do conhecimento frenteàs prioridades que devem ser perseguidas ede organizar o saber no presente para queele possa evoluir em sintonia com o futuroalmejado.25 A partir desta condição, auniversidade poderá criar a sua marca. Marcaque resulta da sua missão na sociedade, istoé, da especificidade de suas respostas àsdemandas e às necessidades da comunidadea que se propõe atender. A marca estampa-se nos produtos derivados das atividades-fins da universidade e representa umconjunto simbólico identificado, no qual asociedade busca referências para a suacontinuidade e para o seu desenvolvimento.A construção da marca requer uma visãoclara de universidade a partir de uma inserçãosocial concreta, uma missão definida epossível de ser identificada, e políticas eprogramas coerentes com a missão, capazesde contribuir de uma forma pró-ativa nacapacitação dos sujeitos sociais para aaprendizagem continuada e para odesenvolvimento de conhecimentos.Pensada assim, a universidade poderá fazera conversão social do capital científico e

cultural, buscando, a partir do mundoimaginado, construir sínteses cientificamenteconsistentes que sirvam de matriz para atransformação/construção social.

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25 BUARQUE, Cristóvão. A aventura da Universidade. São Paulo: UNESP, 1994, p. 162.

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“O trabalhoentendido como

emprego, poresta sociedade, é

fatorfundamental de

integração sociale de identidade.”

a educar as novas gerações neste novocontexto social. Como herdeiros de DomBosco, que não teve medo de enfrentar eassumir a primeira revolução industrial(baseada no carvão e no aço) e a segunda(baseada no petróleo e na eletricidade),também nós não temos medo darevolução tecnológica, especialmente amicroeletrônica, a informática, a robótica,a nanotecnologia. A questão, porém, écomo preparar as pessoas para o trabalhoe não para o emprego? Como educá-laspara os momentos em que estãodesempregadas? Como enfrentar aquestão do tempo livre e da desocupaçãojuvenil? Quais as novas competênciasnecessárias para enfrentar aproblemática do trabalho, doemprego e do desemprego?

Os anos 1990 foram deprofundas mudanças naorganização social do trabalhoe desastrosos, vistos a partirdos trabalhadores e trabalha-doras e de suas organizações.O fenômeno do desemprego,do trabalho informal, doachatamento salarial associadoao sobretrabalho e a desregulamentaçãogeral da legislação trabalhista, foi tão brutalno Brasil que originou um conceito novopara designar esta realidade. É abrasilianização do trabalho.

Esta barbarização do trabalho se revelaem alguns dados: o desemprego na décadade 90 no Brasil dobrou, independente doInstituto de Pesquisa. De acordo com oIBGE – utilizando como referência omunicípio de São Paulo – o desempregopulou de 1,8 milhão (3%) em 1989, para7,6 milhões (9,6%) de pessoas no final dadécada de 90. Já de acordo com a pesquisado Seade/DIEESE, que utiliza metodologiadiferenciada, o desemprego que em 1989atingia 8,9 milhões de trabalhadoresbrasileiros, passou para 17,8 milhões emoutubro de 2001.

No mesmo período, dos 13,6 milhõesde brasileiros que ingressaram no mercadode trabalho do país, 5,1 milhões sobraram.

Entre os ocupados, os assalariados comcarteira em dezembro de 88 eram 59,5%.Em junho de 99 eram 44,7%. Já osassalariados sem carteira passaram de18,4% para 26,9% no mesmo período.Os trabalhadores por conta própria, porsua vez, passaram de 17,5% para 23,5%.Ainda do conjunto dos “ocupados”, apenas40% contribuem para a previdência.

De um total de uma PEA de 75 milhõesde trabalhadores, pouco mais de 23milhões têm contrato formal.

Outro dado que revela a “barbarização”do mundo do trabalho diz respeito àprecarização do mercado de trabalho. Noperíodo de 1989 a 1999, de cada cinco

ocupações criadas, quatroforam precárias. As ocupaçõesem alta nesse período foram:emprego doméstico (23%);vendas (15%); construção civil(10%); asseio e conservação(8%); segurança pública eprivada (6%).

Junto com a precarizaçãodo mundo do trabalho,direitos foram eliminados oureduzidos. A lei é a do mais

forte. Aqui se manifesta de maneira maisevidente o ‘darwinismo social’. Destamaneira, retrocedemos na história. Em vezde caminhar para o século XXI,caminhamos para o século XIX ou mesmopara o século XVIII no que diz respeito àsnormas que regulamentam o trabalho. Asconquistas, dura e penosamentealcançadas pelos trabalhadores etrabalhadoras, estão sendo desmanteladasuma após outra. Tudo o que é sólido sedesmancha no ar, todas as conquistas‘solidificadas’ pelas lutas dos trabalhadoresestão se liquidificando, derretendo,esfacelando. A ‘modernidade líquida’,porém, coloca em seu lugar outros sólidos:a flexibilização, a precariedade, odesmantelamento de todas as legislaçõestrabalhistas...

A revanche neoliberal provocou noBrasil, nos últimos anos, um “abuso dosobretrabalho”. Nos anos 90 a

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flexibilização, para permitir uma maiorexpansão de vagas e a necessidade de umcontrole entre as exigências cada vez maioresda sociedade e a política de ensino superior,que se projetava a partir de visões imediatistase utilitaristas.20 A Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional (LDB – n. 9.394, de 23/12/1996), em sua concepção original, procurou aresposta a este paradoxo ao apontar para umsistema universitário desburocratizado,marcado pelo maior número de iniciativaspossíveis, mas acompanhado em sua relevânciasocial, em sua eficiência organizacional egerencial e, sobretudo, em sua capacidade deoferecer um ensino de qualidade e umaformação adequada às exigências do nossotempo. A responsabilidade social dasinstituições passou a ser definida a partir da suaforma de inserção social, que decorre dos finsque desenvolvem junto à comunidade. Os finspropostos definem a natureza institucional,enquanto a sua autonomia e o seucredenciamento e/ou descredenciamentoficam vinculados aos processos avaliativos. Coma hierarquização das instituições, antes de seprocurar consagrar um sistema universitário,buscou-se dar uma resposta imediata aos níveisdiferenciados de oferta existentes e à eminentenecessidade de expansão de vagas para oensino superior.

O Estado, enquanto gestor da políticauniversitária, trata a educação superiorcomo bem público, e como tal, assume aprerrogativa de zelar por ele. Por estaapreensão, justifica o seu controle e a suaintervenção, o que, em muitas circuns-tâncias, fere o princípio elementar daautonomia universitária. Autonomia euniversidade são conceitos que se bastam.Sem autonomia, a universidade torna-seimpossível.

Ao conceber a educação superior como

bem público, o Estado chama a si aresponsabilidade do acesso igual de todosos cidadãos à universidade. Limitado emsuas possibilidades de expansão da ofertae incapacitado de sustentar ofinanciamento das universidades públicas,delega a instituições de natureza privadaesta missão.21 Uma missão que, nestascircunstâncias, antes de considerar aeducação superior como bem público, asitua como um projeto nacional deinserção da sociedade brasileira naeconomia e na sociedade doconhecimento. A universidade emerge, apartir desta apreensão, como espelho ecomo motor da sociedade. Inserida numasociedade concreta, ela deve possibilitaruma visão plural e dar às comunidadesinterna e externa a perspectiva de que seusmembros são cidadãos do mundo.22 O sercidadão do mundo não implica, de formaalguma, na renúncia da identidade nacional.Para construir esta nova cidadania, auniversidade deve assumir uma novapostura: a de inserir-se num “ambiente demediatização”, constituindo redes deconhecimento e “vasos comunicantes”,para estabelecer a transversalidade doconhecimento para todos os setores dasociedade e da economia.23 Antecipar osentido da mudança num ambiente deturbulência e de complexidade, apostarem novos protagonistas num quadro deinércia, discernir o essencial diante da crisede valores, perseguir novas alternativasfrente às reduzidas oportunidades eperseguir a promoção social no contextoindividualizado, são desafios que “devemultrapassar a retórica fácil de afirmar que oconhecimento é um fator de desenvolvi-mento, para se tornar uma práxis tangívelpelo cidadão anônimo”.24

20 ZAINKO, Maria Amália Sabbag. “O projeto institucional da universidade das idéias e a qualidade do ensino: a questão do professor”.Estudos. Brasília: Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, Ano 15, n. 18, p.69-78, 1997.21 Pela apreensão da experiência universitária portuguesa, o financiamento público da pesquisa nas universidades aumenta osresultados públicos da produção científica que se encontra socialmente disponível. CONCEIÇÃO, Pedro e outros. Novas idéiaspara a universidade. Lisboa: IST Press, 1998, p. 155.22 RODRIGUES, Eduardo Raul Lopes. “Universidade – espelho e motor da sociedade” In: CONCEIÇÃO, Pedro e outros. Novasidéias para a universidade. Lisboa: IST Press, 1998, p. 60-66.23 Idem, p. 66.24 Idem, p. 66 e 67.

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“É preciso aprendera ter um olhar

diferente sobre otrabalho: não maispensá-lo como algoque se tem ou nãose tem, mas como

aquilo que nósfazemos.”

quantidade de trabalhadores com jornadasuperior à oficial duplicou, passando de13,5 milhões para 26,7 milhões de pessoasocupadas, segundo Márcio Pochmann(CEPAT Informa n. 72/2001, p. 43-45). Osobretrabalho agrava a situação dodesemprego, pois cerca de cinco milhõesde novas vagas deixam de existir. A simpleseliminação das horas-extras pode significara redução de cerca de 2/3 do total dedesemprego aberto no país. Além disso,pode permitir que mais pessoas trabalheme garantam assim sua sobrevivência. Osobretrabalho é um fenômeno de nossaépoca. Enquanto alguns trabalham muito,outros não têm emprego. Uns trabalhamdemais, outros simplesmentenão trabalham.

Outro fenômeno relacio-nado a esse mundo ‘dos queficam no trabalho’ é o queRichard Sennett denominacomo ‘corrosão do cará-ter ’ . Para ele, no novomundo do trabalho não hálongo prazo. No trabalho, acarreira tradicional estáfenecendo. O que muda é opróprio sentido do trabalho,no qual ‘emprego’ está sendo substituídopor projetos e campos de trabalho. ‘Nãohá longo prazo’ é um princípio que corróia confiança, a lealdade e o compromissomútuo, pois esses laços levam tempo parasurgir. Portanto, o esquema de curto prazodas instituições modernas limita oamadurecimento da confiança informal. Asredes institucionais se caracterizam pela‘força de laços fracos’. Associado a isso,conseqüências pessoais do trabalho nonovo capitalismo, criando-se uma nova‘ética do trabalho’, que se concentra notrabalho de equipe. Aqui, enfatiza-se aresponsabilidade mútua, os temposflexíveis, voltados para tarefas específicasde curto prazo. O novo papel do líder éfacilitar uma solução e fazer a mediaçãoentre o cliente e a equipe. Neste caso, apressão dos outros membros da equipetoma o lugar do chefe, os trabalhadores

responsabilizam-se uns aos outros.Ressalte-se aqui o surgimento do stress,da insegurança, do sentimento deinutilidade, da baixa da auto-estima, daculpabilização.

A origem dessa profunda reviravoltaque se processa no mundo do trabalhoestá associada à revolução tecnológica,chamada também de revoluçãoinformacional. Nas últimas décadaspresenciamos o surgimento de um novoparadigma produtivo, proporcionado peloadvento da informática, que revolucionoua produção no mundo. O computador e acomunicação on-line são suas ferramentasmais importantes.

O mais impressionante enovo, certamente, dessarevolução, é o seu significadopara a sociedade e, particular-mente, para o mundo dotrabalho. Ao contrário dasduas revoluções anteriores,que incorporaram massiva-mente mão-de-obra, estavem eliminando postos detrabalho. Ela não requer maiso trabalho de todas as pessoase de todo o trabalho das

pessoas. Ela se faz na dispensa do trabalho,pois as inovações tecnológicas cada vez maisvão ocupando o lugar das pessoas.

Não se trata de estimular um novomovimento “ludista”, movimento operárioinglês do século XIX que se caracterizoupela quebra de máquinas. Este é ummovimento irreversível. Abre-se umadupla perspectiva: pode significar o“inferno” para os trabalhadores – naverdade é isto que estamos presenciandoem parte – mas pode abrir caminho novo,um caminho que pode assentar as basesde uma nova sociedade, uma sociedadedo tempo liberado.

4. A crise da ‘sociedade salarial’O século XX é conhecido como o século

do trabalho. Nunca se trabalhou tantoquanto neste século que acaba de findar.

Os séculos recentes fizeram de todas

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a construção da sociabilidade, da formaçãointegral e do exercício da cidadania. Ocarisma salesiano encontra aí terreno fértil.É neste universo que se torna possívelparticipar com amor no crescimento daspessoas e na construção do seu futuroatravés da educação e da evangelização dacultura.17

Diante deste quadro e apoiada na redede Instituições Universitárias Salesianas –IUS -, espalhadas pelo mundo, a InspetoriaSalesiana São Pio X decidiu implantar aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre,que teve seus primeiros cursosautorizados pelo MEC no final do ano de2002.

A afirmação do propósito de constituiruma Instituição Salesiana de EnsinoSuperior firma-se na missão de agregar aoseu papel pedagógico o compromisso deformar cidadãos críticos e criativos,comprometidos com a vida e com osvalores humanos e cristãos, que conduzampara uma sociedade justa e solidária, quebusque nas conquistas da ciência e noaprimoramento cultural a dignificação detodos os homens. Uma faculdade quepossa acolher os jovens e os adultos quebuscam uma formação continuada, paraque na convivência com os salesianos emestres qualificados e virtuosos, possamconstruir coletivamente, na vida emacademia, os valores que sedimentem aconvivência fraterna e familiar, promovamum caminho de formação comum quetenha na pluralidade e na co-responsabilidade as suas referênciasbásicas. O “estar juntos” em momentosqualificados enriquece a mente e o coraçãoe motiva ações transformadoras emtermos sociais e culturais. "Estar com DomBosco significa estar com os jovens e oferecero que somos: coração, mente, vontade;amizade, profissionalidade e presença;simpatia, serviço e dom de si.” 18

A educação superior que a Faculdade

17 PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional - 2002-2007. Porto Alegre: Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, doc. 0318 ROMA. Capítulo Geral 24 - Ação conjunta: salesianos leigos na missão de Dom Bosco. São Paulo: Salesiana, 1996, p. 121.19 PDI – Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre.

Dom Bosco de Porto Alegre projeta orienta-se no sentido de equacionar conhecimentoe humanização, conhecimento e evange-lização, conhecimento e produção cultural,conhecimento e desenvolvimentoeconômico e conhecimento e justiçasocial. Por outro lado, insere-se noPrograma Comum construído pelaCongregação para as InstituiçõesUniversitárias Salesianas – IUS – que é umreferencial de identidade destasinstituições espalhadas pelos maisdiferentes continentes. O aval daCongregação para o seu Plano deDesenvolvimento Institucional reforça amissão que se sustenta na visão de que aeducação superior desenvolvida pelaFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre éportadora de valores, de conteúdosreferenciais e de práticas que contribuempara a auto-realização das pessoas,tornando-se um elemento facilitador dainteração dos homens entre si e destescom o mundo. Neste horizonte, aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegreorienta-se à luz da visão de ser um centrode referência no desenvolvimento deações continuadas e permanentes depromoção da educação a partir da óticada solidariedade, da criatividade, dainovação e do comprometimento com avida. Decorre daí a missão de: fomentar,construir e disseminar o conhecimento e os valores davida, contribuindo para a formação integral da pessoahumana, capacitando-a para o exercício profissionale da cidadania, e incentivando o aprendizado contínuoe atuação solidária na sociedade.19

4. Políticas educacionais, demandassociais e a missão da universidade

Os limites do Estado Brasileiro de ampliaras condições de oferta e de incrementar ofinanciamento público da educação superior eda pesquisa situaram a universidade brasileiradiante de um paradoxo: a necessidade de uma

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as pessoas, trabalhadores. A ideologiasubjacente à revolução industrial“transformou em seus trabalhadoresassalariados o médico, o jurista, o padre,o poeta, o homem de ciência” , como diziaMarx no Manifesto do Partido Comunista,há mais de 150 anos. Praticamenteninguém ficou de fora. Uma das conquistasdas mulheres foi o fato de entrarem nomundo do trabalho. Uma das lutas dosdeficientes físicos foi poderem seradmitidos a certos tipos de trabalho,portanto, de ser reconhecidos comotrabalhadores. As pessoas passam a seidentificar a partir do trabalho que têm(citam a profissão) ou não têm(desempregados).

André Gorz, pensador francês, defendeque o trabalho, assim como é praticado eentendido pela modernidade, é uma“invenção” ou uma “construção social”.Aquilo que nós chamamos trabalho é umainvenção da modernidade. A forma pelaqual nos conhecemos, praticamos ecolocamos no centro da vida individual esocial, foi inventado, generalizado com aindustrialização. A característica essencialdesse trabalho – esse que nós temos,procuramos, oferecemos – é ser umaatividade na esfera pública, demandada,definida, reconhecida útil pelos outros e,nesse sentido, remunerada por eles. Essetrabalho pode ser medido, quantificado,vendido, comprado e trocado.

O trabalho no sentido antropológico efilosófico, aquela atividade de criação de umaobra, foi reduzido a emprego. Dessemomento em diante, o trabalho já não é maisalguma atividade que se faz, mas algo que setem ou não se tem. Assim, o trabalho édefinido desde o início como uma atividadesocial destinada a se inscrever no fluxo dastrocas sociais da sociedade. Sua remuneraçãoatesta esta inserção, mas isto não é maisessencial: o essencial é que o trabalho cumpreuma função socialmente identificada enormalizada na produção e reprodução dotodo social. E para cumprir uma funçãosocialmente identificável, ele mesmo deve seridentificável pelas competências socialmente

certificadas, segundo procedimentoshomologados. Esta é a revolução que asociedade industrial operou na noção detrabalho.

O trabalho entendido como emprego,por esta sociedade, é fator fundamentalde integração social e de identidade. Aspessoas são incluídas na sociedade porserem trabalhadoras. É o trabalho que dizque elas são cidadãs, que têm direitos. Acidadania, os direitos, a identidade estãorelacionados com o trabalho. Sem ele, umapessoa literalmente não existe nestasociedade. A figura do trabalhadorrepresenta, pois, o ideal dessa sociedade.

Agora, por ironia da história, o séculoXX – o século do trabalho – terminou comuma profunda carência de trabalho. Ésempre maior o número de pessoas queprocuram trabalho e não encontram.Muitos, por desespero, têm na verdadedeixado de procurá-los e são, por isso,considerados vagabundos. Resta perguntaro que acontece a uma “sociedade detrabalhadores sem trabalho, isto é, sem aúnica atividade que lhe resta”. O queacontece a uma sociedade em que aspessoas querem trabalhar, mas não háquem lhes ofereça trabalho? A sociedadeé fragmentada. Um grupo seleto detrabalhadores bem formados, bemremunerados e com garantia deestabilidade, forma o núcleo centraldaqueles que são incluídos pelo trabalho.Em torno deste círculo, formam-sediversos círculos sempre mais amplos.Quanto mais se afasta do centro, maisdistante se está de um emprego bom e dequalidade e mais perto de um empregoprecário, flexível, com salário ruim. Aquinos aproximamos do reino dos “não-trabalhadores”, cujo número tende acrescer com a introdução das modernastecnologias. A tendência é que o trabalhochegue ao seu fim.

No entanto, quando falamos em “fim”do trabalho, precisamos dizer a quetrabalho nos referimos. Não se trata,evidentemente, do fim de todo e qualquertrabalho. Trata-se do fim do trabalho

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aspirantes para o sacerdócio. Lá seinstalaram no final de década de 1950.

A exemplo de outras regiões, mas comuma intensa transformação das condiçõessócio-econômicas, a demanda educacionalna região de Santa Rosa fez convergir emtorno do Instituto Educacional Dom Boscoum crescente número de estudantes.Novos cursos fizeram-se necessários.Com apenas dez anos de existência, em1969, o Instituto Educacional Dom Boscoinstalou o curso científico e enveredoupara o ensino superior com a abertura deuma extensão da Universidade Federal deSanta Maria. Em 1973, obteve a suaautonomia didática, quando da constituiçãoda Faculdade de Filosofia, Ciências e LetrasDom Bosco. Em 1978, criou a FaculdadeSalesiana de Educação Física. A obrasalesiana de Santa Rosa constitui-se numaexperiência importante para o processode desenvolvimento regional, uma vez quedespertou a inteligência local, diagnosticoua realidade circundante e articulou ossujeitos sociais em torno de projetos quebuscavam incrementar o avançosociocultural da região.

Profissionais da educação, liderançassociais e políticas tiveram nas FaculdadesDom Bosco um centro de referência paraconstruir redes de formação e deinformação que, em essência, significarama interação dos sujeitos sociais esimbolizaram um certo poder localpromotor da mudança social. Assim, como marco operativo alicerçado no carismasalesiano e no sistema preventivo, asfaculdades não só contribuíram com aelevação do nível educacional e cultural dasociedade, mas representaram um fatorcultural que fomentou ações político-pedagógicas que transcenderam asfronteiras regionais e animaram as obrassalesianas do sul do Brasil.

Persistente nas dificuldades, resistenteao arbítrio, crítica e criativa diante darealidade, a comunidade educativa doInstituto Educacional e das Faculdades Dom

16 Instituto Educacional Dom Bosco. Plano Trienal Educativo. Santa Rosa, 1988-1990.

Bosco manteve-se fiel à sua missão, definidaem torno da formação integral do homem,capacitando-o para o exercício criativo desua profissão e para a postura crítica nasociedade, buscando o seu desen-volvimento através de uma participaçãosolidária.16 Em base a estes referenciais, aobra salesiana de Santa Rosa tornou-se umespaço privilegiado de reflexão, deprodução intelectual, de difusão e deevangelização da cultura. O ensino superiorrepresentou para as obras educacionais daInspetoria um elemento substancial deanimação e um fator de qualificaçãopermanente. A ação educativa dasFaculdades Dom Bosco, além da produçãoda inteligência regional e da educaçãocontinuada, materializou-se num conjuntode cursos de graduação e de pós-graduação, hoje integradas à UniversidadeRegional do Noroeste do Rio Grande doSul – UNIJUÍ. A partir dos anos de 1990,sofreu um processo de despersonalização,que ora se apresenta como um desafio paraa retomada da Educação Superior naInspetoria São Pio X.

A Faculdade Dom Bosco de PortoAlegre nasceu do entendimento dossalesianos do Sul do Brasil de que aformação integral dos jovens e a educaçãocontinuada dos segmentos sociais menosfavorecidos dependem de um centrovitalizador das atividades pastorais eeducativas que gere, reelabore e dêsentido cristão ao conhecimento. Comobem cultural e instrumento de produçãoda vida e da cultura, o conhecimento, aoinvés de ser um fator de discriminação,poderá ser um elemento de aproximaçãodos homens entre si, para uma convivênciaharmoniosa com a natureza e umarealização plena em Deus. Neste sentido,conhecimento e fé não se excluem. Oespaço universitário será, de formacrescente, o locus privilegiado paradesencadear ações educativas e pastoraisque beneficiem os jovens e os maisnecessitados. É o espaço apropriado para

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“O trabalho criarelações de

solidariedade,opostas àsrelações de

competição.”

entendido como emprego, esse que setem ou não se tem. Porque o trabalhocomo atividade humana continuaexistindo, e muito.

O fim do trabalho entendido comoemprego estala a crise da sociedade salarial,pois como incluir se a forma por excelênciade participação nesta sociedade - o trabalho- já não existe mais, foi abolido?Considerando os progressos tecnológicos,pelos quais se produz sempre mais, emtempo menor, a um custo mais reduzido ecom menos trabalho, “querer continuar adeterminar o salário pela produção, a rendapelo tempo passado na produção é, então,uma noção absurda e, em certa medida,injusta. Insistir em se manter alicerçado nalei do século passado (trabalho/produção/salário) é um nonsenseeconômico que poderia, aliás,conduzir a impasses ou aaberrações” (Aznar). Portanto,é a própria sociedade que éabalada em sua base, naestrutura de redistribuir asriquezas socialmente produ-zidas.

É por isso que esse tipo detrabalho - a modalidade detrabalho emprego - pode ser abolida. Estánascendo “um novo sistema que abolemassivamente o ‘trabalho’. Esse novosistema restaura as piores formas dedominação, servidão e exploração,constrangendo a todos a se bateremcontra todos para obterem este ‘trabalho’que ele aboliu. É preciso ousar querer oêxodo da sociedade do trabalho: estasociedade não existe mais e não voltarámais. É preciso querer a morte destasociedade que agoniza a fim de que possanascer uma outra sobre os seusescombros. É preciso que o trabalho percaa sua centralidade na consciência, nopensamento, na imaginação de todos: épreciso aprender a ter um olhar diferentesobre o trabalho: não mais pensá-lo comoalgo que se tem ou não se tem, mas comoaquilo que nós fazemos. É preciso ousarnos apropriar novamente do trabalho.

5. Rumo a uma nova organizaçãosocial do trabalho

Convém agora pensar algumas saídasque podem – em curto e em longo prazo –cimentar as bases de uma nova organizaçãosocial do trabalho.

5.1. A redução da jornada detrabalho e o tempo livre

Uma possível saída para o desempregopassa pela partilha do emprego existente.A redução da jornada de trabalho, mascom salvaguarda do salário, dos direitossociais e controle das horas-extras, estáse tornando, em todo o mundo, a grandebandeira do movimento sindical. É umaluta importantíssima porque é umamaneira concreta de partilhar a produ-

tividade alcançada com asnovas tecnologias e os novosmétodos organizacionais. Écada vez mais urgente enten-der que é preciso que todostrabalhem menos para quetodos possam trabalhar.

Assim, novos direitos e umanova liberdade emergemcomo possibilidades:

• o direito de cada um ganhar a vidatrabalhando, mas trabalhando menos emelhor, recebendo por inteiro a sua parte dariqueza socialmente produzida.

• o direito de trabalhar de mododescontínuo, intermitente, sem perderdurante estas pausas a renda plena deforma que possa abrir novos espaços àsatividades sem fim econômico ereconhecer a estas atividades umadignidade e um valor eminente, seja paraos indivíduos, seja para a sociedade no seuconjunto.

A redução da jornada de trabalho colocaem pauta a questão do tempo livre. Ahumanidade sempre sonhou em poderdedicar o mínimo de tempo para garantir asobrevivência e poder dispensar o máximode tempo para atividades autônomas.Estamos às portas de entrar nesta nova era

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seu espaço educativo e seu camporeligioso em torno dos colégios e dosorfanatos.

Se o ambiente para o estabelecimentode ordens e congregações era propício noRio Grande do Sul, principalmente emdecorrência do trabalho de vanguarda dosjesuítas e do bom relacionamento entre ahierarquia eclesiástica e o poder constituídono Estado, o mesmo não se pode dizer deSanta Catarina e do Paraná. As relaçõesentre o governo republicano e Romasofreram novas arestas com a criação daProvíncia Eclesiástica do Rio de Janeiro, queteve como dioceses integradas as de SãoPaulo, de Niterói e de Curitiba. Vale dizerque Santa Catarina integravaa diocese de Curitiba. Com acriação da Arquidiocese doRio de Janeiro, a nomeaçãodo primeiro arcebispo teveum invólucro político. D. JoséPereira da Silva Barros, queera bispo da Diocese do Riode Janeiro desde 1891,homem de intensa relaçãopolítica na novel República,fora preterido pelo Papa LeãoXIII em favor do então bispode Olinda, para ocupar o posto. Esteepisódio valeu-lhe a solidariedade doPresidente da República e liderançaspolíticas de expressão nacional tornaram-se hostis à hierarquia eclesiástica.15 Em vistadesta situação gerada, a presença dasordens e congregações foi tardia em SantaCatarina e no Paraná, efetivando-se tãosomente a partir do século XIX. A Igrejada Imigração havia fixado raízes com osjesuítas e com os franciscanos nos núcleosde colonização alemã. No universo dosnúcleos coloniais oriundos da colonizaçãoitaliana, a presença evangelizadora, comuma ação pastoral organizada, erapraticamente inexistente.

O apelo do governo italiano para que ossalesianos fossem cuidar da espiritualidadedos italianos em Santa Catarina, até então

15 CABRAL, Osvaldo R. “Subsídios para a história eclesiástica de Santa Catarina”. Revista de História, n. 72, v. XXXV, 1967, p. 417-462.

entregues aos franciscanos alemães, e oincondicional apoio do bispo deFlorianópolis, D. Joaquim Domingues, ex-aluno da congregação salesiana,demoveram resistências e fizeram com quea congregação assumisse o seu novo campopastoral, iniciando com a paróquia deAscurra, fundada em 1916, uma obra quese ramificaria por todo o universo dacolonização. Com esta decisão inicial, foramdesenvolvendo a assistência religiosa,assumiram paróquias - não sem resistênciase conflitos -, fundaram colégios edesenvolveram a educação dos jovens e oensino profissional. A obra de Dom Boscoem Santa Catarina teve no trabalho

vocacional uma granderesposta, o que se traduziu napresença significativa dereligiosos oriundos daqueleestado no conjunto da obrasalesiana no Brasil.

No Paraná, o desdo-bramento do trabalho emPonta Grossa, Curitiba eGuarapuava declinou-sefundamentalmente em tornoda assistência religiosa e socialaos bairros de periferia,

acolhendo os jovens, principalmente os maisnecessitados, para a sua formação integral, eestendendo a ação pastoral ao menor carente.O espaço urbano, a exemplo do trabalhodesencadeado no Rio Grande do Sul,constituiu-se no campo pastoral privilegiado.

Na medida em que o marco operativofoi criando forma, os salesianos passarama ser bem quistos e requisitados pelas maisdiferentes sociedades locais. A amplaexperiência desenvolvida em SantaCatarina junto às comunidades deimigração deu-lhes ânimo e energia paraaceitarem os apelos das liderançascomunitárias de Santa Rosa, no Rio Grandedo Sul, onde a sua missão se declinava emtorno da assistência e da educação dosmeninos católicos e do propósito defundar um seminário para a formação de

“O espaçouniversitário será olocus privilegiadopara desencadearações educativas e

pastorais quebeneficiem os

jovens e os maisnecessitados.”

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“A ética doeducador

salesiano devefundar-se na

dignidade e nosdireitos universais

inalienáveis detoda pessoahumana.”

em que se pode trabalhar menos e alargaro tempo livre. Paradoxalmente, esta novaera vem acompanhada de uma contradiçãoterrível. Quando se pode aspirar ao máximode tempo livre, o trabalho lhe parecesubtrair cada vez mais horas. Para os quesão empurrados para o tempo livre, queatende também pelo nome dedesemprego, esse parece se transformar,na realidade, num verdadeiro inferno.

Agora, numa sociedade em que tudo émercantilizado, como utilizar o tempo livrede maneira não mercantil? Portanto, aredução da jornada de trabalho aponta paraum novo tipo de sociedade. Sem esta visãomais ampla, a redução da jornada detrabalho torna-se uma meramedida pontual para resolvero problema do desemprego. Oque era privilégio de poucos nacidade-estado grego, agorapode ser ampliado para todos.

A defesa da redução dajornada de trabalho não podevir sozinha. Deve viracompanhada de uma “novacultura do tempo livre” epela “ampliação dorendimento”. Do contrário,o tempo livre corre o risco de seridentificado com o “consumismo e coma cultura de massa alienante”.

5.22222. A defesa de um mínimo vitaluniversal, independente do trabalho

Não basta apostar na redução dajornada de trabalho e no aumento dotempo livre. Juntamente com a reduçãoda jornada de trabalho, é preciso apostarna universalização do direito a um mínimovital. Este parte do pressuposto de que háum aumento da produtividade. Estaprodutividade não pode mais serdistribuída tendo como único critério o“ter um emprego, uma carteira assinada”.A produtividade pertence a toda asociedade. E ela aumenta sem necessitardo emprego de todos. “A gigantescaprodutividade que a tecnociência confereao trabalho humano tem como

conseqüência fazer da maximização dotempo disponível, e não mais damaximização da produção, o sentido e ofim imanente da razão econômica. Marxjá afirmava a este respeito que a verdadeiraeconomia – aquela que economiza – é aeconomia do tempo de trabalho.

O capitalismo, no seu atual estágio,introduz uma “drástica ruptura no vínculomecânico entre tempo de trabalhoprodutivo e produção.” Não é mais possívelvalorizar com precisão a produtividade dotrabalho em oficinas flexíveis, com fabricaçãoassistida por computador que só requeralguns supervisores. Em termoseconômicos, não é mais possível querer

continuar enquadrado pela leido século XIX - a do trabalho/produção/salário mensal -, quefoi uma idéia interessante quecorrespondeu a uma certacivilização industrial. A novacivilização informatizada pedeque se invente um conceitonovo para assegurar aredistribuição das riquezascoletivamente produzidas.

Assim, todos os cidadãos ecidadãs têm direito, pelo

simples fato de pertencerem a estasociedade, a um mínimo vital,independentemente do trabalho querealizaram, realizam ou realizarão. Não cabemais, portanto, o princípio “a cada umsegundo o seu trabalho”. Este princípiocaducou. Já Marx, em 1857, escreveu que ‘adistribuição dos meios de pagamento deverácorresponder ao volume das riquezasproduzidas e não ao volume do trabalhorealizado’. E o economista russo radicadonos EUA, W. Leontieff, Nobel de Economiaem 1973, afirma categoricamente: “quandoa criação de riquezas não depender mais dotrabalho dos homens, estes morrerão defome às portas do paraíso, caso não se tenhauma nova política de renda capaz deresponder à nova situação técnica”.Portanto, continuar a defender que ‘quemnão trabalha não come’, é assumir umapostura conservadora que não consegue

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com a legislação vigente no país, demodo especial com os dispositivosconstitucionais, que não permitiam adesregulamentação das instituiçõespúblicas. A agenda das autoridadesbrasileiras ficou prejudicada diante dalegitimidade dos princípios consagradospela Constituição de 1988. Sentiram-sepolit icamente inibidas diante daresistência social a qualquer ato queapontasse o horizonte da privatização doensino superior. A universidade passoua viver um momento delicado: ou ela seprotegia com a fundamentação daqualidade, ou ela corria o risco de sériasdificuldades.

A necessidade de tirar a nação doatraso cultural, científico e tecnológico,no contexto da economia doconhecimento, implicava na criação deoportunidades que permitissem àsociedade o acesso aos bens culturais eaos avanços científicos e tecnológicos.Sobre a universidade, enquanto locus decultivo da universalidade do saber, dediscernimento dos valores pertinentespara o seu tempo e de construção dosreferenciais para a sociedade, recaiu odesafio de responder aos impactosprovocados pelos processos deintegração dos mercados e damundialização das relações sociais.12 Aideologia da globalização impôs, para asociedade do conhecimento, novoreferencial para o exercício da cidadania.O nível mínimo de formação passou aexigir dos indivíduos uma efetivacapacidade de aprendizagem ao longo detoda a vida.13 O papel da universidade naeconomia do conhecimento centrou-sena promoção de capacidades, através doprocesso formal de aprendizagem pelaeducação, e na produção de novas idéiase de novos conhecimentos, através da

12 BATISTA, Paulo Nogueira. “A nova ordem mundial, os novos paradigmas de desenvolvimento: globalização, qualidade total,flexibilidade e sociedade do conhecimento”. In: Fórum da Abruem - a missão da Universidade na perspectiva do terceiro milênio.Cascavel: Edunioeste, 1997, p 34-45.13 CONCEIÇÃO, Pedro e outros. Novas idéias para a universidade. Lisboa: IST Press, 1998, p. 153 e seguintes.14 SCHALLENBERGER, Erneldo. O associativismo cristão no sul do Brasil – a contribuição da Sociedade União Popular e da Liga dasUniões Colônias para a organização social e para o desenvolvimento sul-brasileiro. PUC - RS, 2001 (Tese), 593 p.

pesquisa. A formação para a aprendi-zagem constitui o novo desafio posto pelasociedade do conhecimento aos seuscidadãos, e o nível mínimo exigido paratal é a educação superior.

3. A experiência salesiana no sul doBrasil

A presença salesiana no Sul do Brasilremonta ao início do século XX. Ossalesianos plantaram inicialmente as raízesde sua ação pastoral e educativa na cidadede Rio Grande, em 1901. A urbanização ea secularização das relações sociaisrepresentaram desafios importantes paraa afirmação do carisma salesiano no campoda educação e da evangelização. Osjesuítas já haviam tido problemas em RioGrande com o Colégio "Stela Maris", emfunção da forte ação da União Operária,que atacou e destruiu seus prédios,inviabilizando a sua manutenção comocentro irradiador de ações educativas eevangelizadoras. O desafio posto aossalesianos para o trato do urbano, dosocialmente não constituído, do instávelem termos de referência, constituiu ummarco inovador no universo da açãopolítico-pedagógica e da representaçãoeclesiástica brasileira, historicamentemarcada pelo cultivo dos valorespermanentes referenciados a partir darepresentação rural de sociedade. Estedesafio se revestiu de significado especialquando apreendido em um ambienteanticlerical como o de Bagé, ou numuniverso eclético como o de Porto Alegre.Distinta da Igreja de Imigração,14 queesteve fundamentalmente voltada para ascomunidades formadas a partir daimigração, os salesianos centraram a suaatuação na pastoral juvenil e na assistênciaaos mais necessitados, materializando o

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compreender a grande transformação queestamos vivendo e que acaba por excluir amaioria das pessoas.

5.3. A socioeconomia solidáriaNo contexto de uma economia

neoliberal que não consegue (e não quer!)dar conta de oferecer dignidade eigualdade a todas as pessoas, emergemsempre com mais força e por todos oscantos as experiências ditas de economiasolidária. Ela oferece hoje condições paraser “uma alternativa sistêmica aocapitalismo”. Trata-se de uma novaabordagem de tudo o que está envolvidonos processos econômicos. O seu objetivonão é o acúmulo de lucro privado, mas aprodução e o compartilhamento susten-tável dos recursos para o bem viver daspessoas e a manutenção do equilíbrio dosecossistemas (...). Estas organizaçõesabandonam o mercado como regulador depreços sob o paradigma da escassez, esubstituindo-o pela solidariedade praticadaem rede sob o paradigma da abundância.O mais importante, no entanto, é o fatode se considerar as pessoas – em todas assuas dimensões, afetivas, imaginativas,cognitivas, em suas necessidades e desejos– não apenas como consumidores ouprodutores, mas como sujeitos que estãoem relação solidária uns com os outros.

A economia solidária pode ser ampliadaa fim de incorporar aquelas atividades querespondem às necessidades que não sãorentáveis para a economia de mercado.Ou seja, são atividades que não visamprimeiramente a produção de bens, masde laços. São atividades que secaracterizam pela proximidade com a vidae entre as pessoas. Elas têm o objetivo decuidar do bem-estar da comunidade,especialmente dos mais abandonados,como os idosos, os portadores dedeficiências físicas, de preservar o meioambiente, de cuidar da educação, etc. Elasindicam que a sociedade pode tornar-semais humana e mais capaz de futuro, àmedida que valoriza, inclusivefinanceiramente, independentemente do

trabalho assalariado, as oportunidades desustento, os contatos sociais e dedesenvolvimento pessoal. Trabalho nãofalta. É preciso, porém, encontrar meiose caminhos para financiá-lo, redistribuindoa riqueza social.

O fundamental a apreender aquiconsiste no seguinte: apesar de todas asdificuldades, a socioeconomia solidáriaconsegue ampliar a noção de trabalho paraalém do emprego. O trabalho cria relaçõesde solidariedade, opostos às relações decompetição. Faz o trabalho ser vistotambém na perspectiva de criação derelações sociais e não apenas de relaçõesde produção. Não se necessita produzirsomente coisas, mas também relações,pois nossa sociedade carece não só debens, mas também de relações.

5.4. Desvincular o consumo dotrabalho

A sociedade industrial relacionou oconsumo com o trabalho. Você éconsumidor na medida em que étrabalhador. A sociedade de produção emmassa teve que fomentar o consumo emmassa. Fez-se o elogio do consumo.Trabalha-se para consumir. A poupançadeixa de ser virtude; agora, é consumir, econsumir o máximo. Assim também aprópria cidadania está relacionada com oconsumo. É-se alguém na medida em quese tem acesso ao consumo.

Faz-se necessário repensar o próprioconsumo, pois dele depende o futuro dahumanidade e a sobrevivência do planeta.O acesso ao consumo está diretamenterelacionado à renda. A desigualdade entrericos e pobres é evidenciada e reforçadapelo desequilíbrio do consumo de ricose pobres. Cerca de 20% da populaçãomundial consome 80% dos recursosproduzidos no planeta, enquanto que orestante sobrevive com as migalhas.

Para Michel Beaud, o cerne doproblema é este: o modo de vida e deconsumo ditos modernos, sob a formaatual, são insustentáveis. Ele não pode nemse perpetuar nos países que deles se

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cultura da dependência, encontravam naeconomia do conhecimento, produzido eaplicado nos grandes centros monopolistasdo capital, a fonte de recorrência para odesenvolvimento de projetos nacionais eempresariais. A Universidade, a exemploda sociedade brasileira, que teve quereclamar o seu espaço de cidadania,desencadeou uma luta para consolidar-secomo locus privilegiado de reflexão, deprodução e reelaboração científica e dedifusão cultural. O sistema universitáriodesenvolvido no país, diga-se de poucasoportunidades, rígido e departamen-talizado, atrelado a um plano políticocaracterizado pelo controleestatal, não deu conta dasdemandas sociais, inibiu ainteligência e a criaçãonacional e, tampouco, foicapaz de dar respostas aosdesafios da modernidade. Foipreciso mais de uma décadapara que o Brasil despertassepara o quanto o horizonte dasociedade era ofuscado porideologias pseudonaciona-listas, que promoveram aexclusão social e limitaram o exercício dacidadania.

Nas décadas de 1970 e 1980, houve umincremento significativo no capital científicoe tecnológico, através da consolidação dosprogramas de pós-graduação, principal-mente nas universidades federais e nasestaduais paulistas. Os regimes de trabalhoe a infra-estrutura para a pesquisa atraíramos recursos humanos mais qualificados, o quese traduziu na alta concentração da produçãocientífica do país nestas instituições. Noperíodo surgiram, também, muitasinstituições universitárias, sobretudo denatureza estadual, municipal e privada,plantadas no interior do país. Resultantes dasdemandas políticas locais, ou da dinâmica dascomunidades de buscarem um desenvol-vimento autônomo, notadamente no Sul doBrasil, estas instituições representaram um11 CUNHA, Luiz Antônio. “Critérios de avaliação e credenciamento do ensino superior: Brasil e Argentina”. In: VELLOSO, Jacques(org.). O ensino superior e o Mercosul. Rio de Janeiro: Garamond, 1998, p. 23.

fator de democratização da oferta deeducação superior. Representaram umsignificado sem paralelo para o desenvolvi-mento sociocultural do interior do Brasil,embora não tivessem avançado significativa-mente na pesquisa, uma vez que careciamde recursos para o seu financiamento e paracriação de uma infra-estrutura para odesenvolvimento científico e tecnológico. Asuniversidades brasileiras não haviampromovido, até então, uma interaçãointerinstitucional que possibilitasse aformação de grupos emergentes de pesquisanas diferentes instituições, a partir de núcleosjá consolidados, para potencializar as

conquistas da ciência e osimpactos da inovaçãotecnológica e estendê-losde forma mais abrangentepara a sociedade. Asinstituições comunitárias,estaduais e municipaiscapacitaram-se para oensino e para a extensãouniversitária, construindodiagnósticos da realidadesocial mais próxima, semque estivessem plenamen-

te habilitadas a dar respostas científicas aosdesafios postos à sociedade. Por esta razão,segmentos significativos da sociedadepassaram a desacreditar a universidade, vistoque a sua missão nem sempre conseguiaresponder pela liderança intelectual. Mesmoassim, a grande demanda social continuouconvergindo em torno do ensino, em buscade habilitação para o mercado de trabalho.

Na última década de 1900, as políticasgovernamentais passaram a ser orienta-das pelas recomendações do BancoMundial, que indicavam para a melhoriada relação custo/efetividade dasinstituições públicas e para a redução dosgastos com o ensino superior. Ocontrole das universidades teria quepassar da órbita do Estado para a domercado.11 As recomendações do BancoMundial confrontaram-se, no entanto,

“A presença salesianano Sul do Brasil

remonta ao início doséculo XX. Os

salesianos plantaraminicialmente as raízesde sua ação pastoral eeducativa na cidade de

Rio Grande, em1901.”

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beneficiam, nem se estender a todos oshomens e mulheres do mundo quesonham ou desejam tê-lo; entretanto, emtodos os países do mundo, camadas ouclasses sociais tentam chegar ou aspirama ele. O planeta simplesmente não suportao nível e crescimento do atual volume deconsumo. O atual modo de consumo éinconseqüente com as futuras gerações.Consome-se hoje sem nenhumaresponsabilidade nem com o passado nemcom o futuro da humanidade e do planeta.Até quando é possível suportar ecológicae humanamente que, por exemplo, umacriança norte-americana consuma durantea sua vida o que consomem duas criançassuecas, três italianas, treze brasileiras,trinta e cinco indianas, duzentas e oitentahaitianas? (Cfr. Kennedy, p. 29).

Trata-se, aqui, portanto, de umanecessária e urgente mudança dementalidade e de atitudes. É preciso criaruma nova relação com a natureza e com opróprio trabalho. O trabalho entendidocomo ‘dominação’ da natureza passou apredominar em nossas sociedades, mashoje, com a crise ecológica, está numimpasse: ou colocamos limites à voracidadeprodutivista ou vamos ao encontro do pior.A sociabilidade entre os humanos serompeu pela dominação de povos sobreoutros e pela luta renhida das classes. Nãose vê outra coisa no ser humano senão suaforça de trabalho a ser vendida e exploradaou sua capacidade de produção e deconsumo. Não se consegue ter uma visãodo ser humano como ser de relaçõesinfinitas, ser de criatividade, de ternura, decuidado, de espiritualidade.

5.5. O desafioTemos, pois, diante de nós, uma dupla

e árdua tarefa. Como se não bastasse aurgência em continuar a luta por condiçõesdignas de trabalho hoje para as pessoas, épreciso acrescentar a tarefa de pensarnovas formas sociais nas quais o trabalhoterá uma significação. É preciso partir dasexperiências de cada pessoa que trabalha- e neste sentido se pode falar em mundos

do trabalho -, mas não se pode ignorar queo momento exige de nós, por conta daresponsabilidade histórica que nos é dada,pensar novos fundamentos para umasociedade na qual o trabalho possa serfator, não mais de aviltamento da pessoahumana, mas de respeito ao seu ser easpirações mais profundas.

6. Educação para uma nova ética, àluz do sonho dos nove anos

O capitalismo global apossou-se porcompleto dos destinos da biotecnologia,libertando-a das amarras metafísicas eorientando-a única e exclusivamente paraa criação do valor econômico. Aslegislações de marcas e patentestransformaram-se em instrumentoseficazes de apropriação privada dasconquistas da ciência, reforçando os traçosconcentradores e hegemônicos do atualdesenvolvimento. As conseqüências dessaautonomização da técnica com relação aosvalores éticos e normas morais foram,dentre outras, o aumento da concentraçãode renda e da exclusão social, o perigo dadestruição do habitat humano porcontaminação e de manipulação genética,ameaçando o patrimônio comum dahumanidade. A estes riscos podemosacrescentar o esgotamento da própriadinâmica de acumulação capitalista, porconta de uma eventual crise de demanda.

Os avanços da técnica são, ao mesmotempo, espetaculares e preocupantes. Nãoqueremos ir contra o desenvolvimentotecnológico. A questão é bem outra: atecnologia pode e deve submeter-se a umaética que seja libertadora, a fim de contemplaro bem-estar de toda a sociedade, presente efutura, e não apenas colocar-se a serviço dasminorias ou atender a necessidades imediatas.A ética do educador salesiano deve fundar-se na dignidade e nos direitos universaisinalienáveis de toda pessoa humana. Omistério da Encarnação de Jesus Cristorevela a sacralidade do homem e da mulher,chamados à filiação divina em Cristo. Nestehorizonte queremos falar em uma novaética.

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conceitos da educação superior alemã,projetar as referências básicas para odesenvolvimento nacional. Afetada em suaconcepção original pelas imposições doregime implantado em 1964, a UnB tevereduzidas as suas oportunidades deimaginação e o espaço para o cultivo daheterodoxia, mesmo assim, não perdeu ofoco do horizonte nacional, embora seusraios de influência fossem tímidos.

O período da ditadura não facultou àuniversidade a possibilidade do diálogopermanente, com o seu entorno local esocial, o que a desmobilizou para aimplementação de processos de inovaçãoe mobilização coletiva. O regimeautoritário passou a conceber, no entanto,o ensino superior como instrumento dealavancagem do desenvolvimentoeconômico e da ordem social, naperspectiva da ideologia da segurançanacional.8 O modelo desenvolvimentista,implantado durante o regime militar,reclamava a implementação da formaçãotécnico-profissional. Foi desencadeado umduplo esforço neste sentido: o da expansãode instituições de ensino superior para aformação de professores, e o da criaçãode um sistema de pós-graduação em todasas áreas do conhecimento. A pós-graduação compreendeu um nível decrescimento quantitativo e qualitativosatisfatório, cumprindo grandemente coma sua função estratégica de qualificarrecursos humanos para a docência e paraa pesquisa.

A expansão do ensino superior deu-sede forma desigual em termos regionais. Aoferta de oportunidades continuoureduzida e centralizada nas grandescapitais, onde se localizavam asuniversidades federais e para onde eramcanalizados os recursos públicos. Nointerior do país, as faculdades e asuniversidades estaduais, municipais,

8 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado.Petrópolis: Vozes, 1981.9 CUNHA, Luiz Antônio. “Critérios de avaliação e credenciamento do ensino superior: Brasil e Argentina”. In: VELLOSO, Jacques(org.). O ensino superior e o Mercosul. Rio de Janeiro: Garamond, 1998, p. 17-52.10 No rol destas instituições podem ser referidas a UNESP, a UNICAMP, a UFSCAR, a UEL, a UEM, entre outras de caráter estatal,municipal ou comunitário.

confessionais e comunitárias criarampossibilidades de acesso da populaçãomenos privilegiada a elas, e começaram aexercer um papel relevante na educaçãoe na formação de profissionais para asociedade, o que teve repercussões sobreo desenvolvimento local. Emergiram decontextos sociais específicos, com os quaisestiveram plenamente identificadas e nosquais assumiam a missão da transformaçãosocial, muitas vezes na resistência, a partirda elevação do nível da consciência crítica,da formação humana e profissional e daelaboração de referenciais científico-culturais para a sociedade. Arduamenteestabeleceram espaços para a reflexão ecriaram condições de realimentaçãointeligente para as comunidades locais.Cunha assegura que, “a despeito dosconstrangimentos sofridos durante a ditaduramilitar, no período de 1964/85, asinstituições brasileiras de ensino superiorbeneficiaram-se de políticas modernizadorase de financiamento generoso, resultado daaliança entre as elites militares e as elitesacadêmicas”.9 Neste período surgiramuniversidades públicas de alto nível efaculdades isoladas, que passaram aexercer uma função importante para odesenvolvimento regional.10

Apesar da inversão dos recursospúblicos, a universidade brasileira ficouórfã das elites políticas e empresariaisque, ao contrário do exemplo alemão enorte-americano, não apostaram na suacriação intelectual e científica, deixandode fomentar projetos acadêmicos quepudessem representar referências paraprogramas de desenvolvimento local enacional. Não houve uma efetivavinculação da política de ensino superiorcom a de desenvolvimento científico etecnológico. As elites, comprometidascom os interesses dos gestores docapital transnacional e alinhadas com a

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É interessante que já em 1932 houveum diálogo por carta entre Einstein eFreud. Einstein perguntou a Freud se erapossível eliminar o instinto perverso, maue de destruição da pessoa humana. Freudrespondeu que não era possível, uma vezque toda pessoa carrega dentro de si oEros, que é a força da vida, e o Tanatos,que é a força da morte. O simbólico e odiabólico, aquilo que une e aquilo quedivide. O que se deve fazer, dizia Freud,em todos os campos, inclusive no daeducação, é reforçar as forças de vida parafazer calar as forças de morte.

Na época de Dom Bosco conviviamconcepções divergentes de naturezahumana. Por um lado, a concepçãopessimista dos calvinistas e jansenistas. Paraeles, a natureza humana pareceradicalmente má, “incapaz de se dirigirpara o bem, pronta em todos osmomentos para evadir-se em ímpetos demal. É preciso portanto guiá-la,constantemente, como uma criança.Conservá-la sempre enfreiada. Curvá-laperpetuamente sob uma regra inflexível,uma disciplina de ferro. Estancar-lhe todoo impulso espontâneo. Reinado da lei, dosistema, da disciplina que não é animadapor nenhuma influência pessoal ou viva.Triunfo do formalismo e da repressãocega” (Auffray, 1940, p. 85). Por outrolado, a concepção otimista de Rousseau.“Tudo sai bom das mãos do Criador detodas as coisas e tudo degenera nas mãosdos homens” (Rousseau, s.d. , p. 5).

Dom Bosco preferiu tratar o jovemcom mais realismo, sem os radicalismosde bom ou de mau. “Em todo jovem,mesmo no mais infeliz, há um pontoacessível ao bem e a primeira obrigaçãodo educador é a de buscar este ponto, estacorda sensível do coração e tirar bomproveito” (Cf. Lemoyne, 1905, p. 367).Para Dom Bosco, a pessoa humana erasuscetível de perfeição, apesar deenfraquecido pelo pecado. Dedicou todaa sua vida aos jovens, porque acreditavaser educável e capaz de perfeição(Ricaldone, 1951, p. 102-103).

A tarefa da educação consistejustamente em reforçar os mecanismos devida. No sonho dos nove anos temos a lutade Eros e de Tanatos. Precisamos educarpara uma ética da centralidade da vida, quetem quatro características fundamentais:

• Solidariedade. A lei suprema domundo é a da solidariedade e dainterdependência de um para com ooutro. Esta solidariedade einterdependência tem que se estruturarem nós. Já houve vezes em que a terra sedesfez em 90% e se refez porque as forçasda vida souberam se solidarizar, seinterdependentizar. Hugo Assmann dizque “em meio ao acirramentocompetitivo, planetariamente globalizado,a educação se confronta com o desafio deunir capacitação competente comformação humana solidária, já que hoje aescola incompetente se revela comoestruturalmente reacionária, por mais queveicule discursos progressistas. Juntar asduas tarefas – habilitação competente eformação solidária – ficou sumamentedifícil, porque a maioria das expectativasdo meio circundante (mercadocompetitivo) se volta quase queexclusivamente para a demanda daeficiência (capacidade competitiva)”.

• Cuidado. A mãe do sonhorepresenta o cuidado. Muita violência domundo significa falta de cuidado, deternura, de bondade. Torna-te humilde,forte e robusto. Não há agressividadehumana que não possa ser vencida pelaternura, pelo cuidado. Tudo o que écuidado dura mais, custa mais e é maisvalorizado. O mundo não é uma grandeloja de conveniências, um grande McDonald’s de consumo. O mundo é a casade todos. Cada vez mais nos convencemosde que problemas de aprendizagem têmraízes emocional e afetiva.

• Responsabilidade. Todo saber temque ser bom para a vida. Em 1952, Einsteinfez uma viagem à Índia. Foi interrogadopor um sábio indiano que lhe perguntou:em que sentido a teoria da relatividade

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promotoras do desenvolvimento e damudança social. Assim, com a progressivademocratização do ensino superior,surgiram instituições acadêmicas em todosos estados da confederação, que setornaram competitivas e buscaram o seunível de excelência, como Harvard, queprimou pela formação da elite americana.A competitividade entre as instituições deeducação superior e os pesquisadoreslegou aos Estados Unidos a capacidade dese antecipar às demandas sociaismodernas. Com eficiência, o sistemauniversitário americano incorporou oespírito alemão da pós-graduação, o quelhe permitiu a implantação de programasestratégicos de qualificação de recursoshumanos para a pesquisa, para a educaçãoe para as gestões empresarial e pública.

2. A trajetória e os desafios dauniversidade brasileira

A universidade brasileira, de existênciatardia, teve origem embrionária nasAcademias das Guardas Marinha e Militare nos cursos profissionalizantes demedicina e cirurgia, de agricultura, dequímica, de pintura, de escultura e dearquitetura, no período colonial, e nasfaculdades de direito, de medicina e defarmácia, no Império. A Escola Politécnicado Rio de Janeiro, fundada no início daRepública sob o influxo do positivismo, eas faculdades de Direito e de Medicinaforam agregadas, no princípio da décadade 1920, em torno da Universidade do Riode Janeiro, mantendo, contudo, cada umaa sua autonomia didático-administrativa. Aforma atomizada em que surgiram asinstituições de ensino superior, geralmenteresultantes das pressões políticas dasoligarquias regionais ou de grupos deinteresses localizados, e a criação deuniversidades mediante a reunião defaculdades, não favoreceram o surgimentode um plano racional de desenvolvimento

6 MENDONÇA, Ana W.P.C. Universidade e formação de professores. Uma perspectiva integradora. Rio de Janeiro, 1993, Tese deDoutorado, Pontifícia Universidade Católica.7 CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. O ensino superior na República Populista. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.

da educação superior. Não foramconcebidas como instituições estratégicasde desenvolvimento nacional e de avançosocial. Uma proposta de uma instituiçãode educação superior que tivesse umamissão claramente definida na sociedadebrasileira só apareceu com a fundação daUniversidade de São Paulo - USP, nadécada de 1930. Concebida para formara elite paulista e brasileira e influenciadapelo espírito francês com um modeloorganizacional que combinou a estruturadepartamental com a de institutos, a USPpropunha-se à formação de professores,ao desenvolvimento da pesquisa e àpromoção de estudos avançados em todasas áreas do conhecimento.6 Mesmo assim,com seus modelos teóricos e organizacio-nais importados e, apesar dos avanços quepromoveu no mundo da produção e darepresentação acadêmica, não conseguiufirmar-se como centro de referêncianacional. Financiada pelo Estado de SãoPaulo, teve uma inserção social fortementemarcada pelas demandas do regionalismobrasileiro e cultivava uma certa relaçãomatricial com as universidades européias.

Nas décadas de 1940 e de 1950 oprocesso da industrialização evocou adiscussão sobre a necessidade de expandire consolidar o ensino superior no país.Nasceram, no período, universidades apartir da reunião de escolas superiores,que mantinham vínculo institucional pelaorientação religiosa [universidadescatólicas], ou pela chancela federal[universidades federais].7

A criação da Universidade de Brasília, em1961, representou a materialização de umapolítica de educação superior brasileira,preocupada em integrar nos currículos doscursos universitários os avanços da ciênciae da tecnologia. A nova universidade,organizada a partir do departamento ecomposta de institutos e centros de ensino,buscava no modelo norte-americano e nos

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ajuda a diminuir o sofrimento? Esta mesmapergunta temos que fazer à nossaeducação: em que sentido ela ajuda adiminuir o sofrimento, em que sentido elaajuda a aproximar as pessoas, em quesentido ela ajuda a eliminar a exclusão...

• Compaixão. Ter compaixão não éter pena. Eu tenho compaixão quando soucapaz de me distanciar da realidade paradeixar que ela seja, quando domesticominha voracidade, meu consumismo dosupérfluo, que se faz às custas da privaçãodo necessário do irmão. Ter compaixão éir ao encontro do outro, sobretudo dosque mais sofrem. Agir como Jesus agiu nomilagre dos pães e dos peixes.

Na época do “estado do bem-estarsocial” era doutrina política oficial anecessidade de redistribuir e de asseguraraos mais pobres um nível de vida mínimo.No liberalismo, isto é consideradoprejudicial. Os neoliberais preconizam asupressão da ajuda aos pobres, pois seriacontraproducente. Em lugar de resolver oproblema, dizem eles, a ajuda alimenta-a; nãoestimula os pobres a sair da sua pobreza,mas estimula a preguiça. Esta é a justificativaque as burguesias sempre usaram para negartoda ajuda aos pobres e enriquecerimpunemente e com boa consciência.Muitos fariam sua a apreciação de BenjaminFranklin sobre a Inglaterra do seu tempo:“Não há país no mundo onde haja tantasdisposições para favorecê-los (os pobres),onde haja tantos hospitais para recebê-losquando estão doentes, hospitais fundados emantidos pela caridade voluntária; onde hajatantos asilos para os velhos de cada sexo,juntamente com uma lei solene feita pelosricos, que lhes grava as propriedades comum pesado imposto para manter os pobres...Em resumo, é um estímulo para alentar apreguiça, e não é estranho que tenhacontribuído para aumentar a pobreza”(Himmelfarb, 1988, p. 13).

É interessante que o Jesus que apareceno sonho dos nove anos é o Bom Pastor.O Bom Pastor é firme, forte e duro contraquem não se abre para acolher quem

precisa ser acolhido. Ao mesmo tempo, éterno, paciente e misericordioso comquem já não conta. O apóstolo Paulo nosé paradigma deste agir: “Eu não meapresentei com adulações, como sabeis;nem com secreta ganância. Deus étestemunha! Tampouco procuramos oelogio dos homens, quer vosso, quer dosoutros, ainda que nós, na qualidade deapóstolo de Cristo, pudéssemos fazervaler a nossa autoridade. Pelo contrário,apresentamo-nos no meio de vós cheiosde bondade, como uma mãe que acariciaos seus filhinhos” (1Ts 2,6-8). Numasociedade que brutaliza e apavora pelo ecom o medo, nós proclamamos quesomos testemunhas da bondade e dabenignidade de Deus. Trata-se de umabondade, porém, motivada e orientadapela bondade de Deus Pai/Mãe e, comono exemplo do Bom Samaritano, devetornar-se ativa para mitigar os problemase os sofrimentos dos jovens.

ConclusãoNo livro de Dom Bosco “Memórias do

Oratório”, lemos um belíssimo teste-munho. “O P. Cafasso, meu guia havia seisanos, foi também meu diretor espiritual,e se fiz algum bem, devo-o a este dignoeclesiástico, em cujas mãos coloqueiminhas decisões, estudos e atividades.

Começou primeiro por levar-me àsprisões, onde pude logo verificar como égrande a malícia e a miséria dos homens.Ver turmas de jovens, de 12 a 18 anos,todos eles sãos, robustos, e de vivoengenho, mas sem nada fazer, picados pelosinsetos, à míngua de pão espiritual etemporal, foi algo que me horrorizou. Oopróbrio da pátria, a desonra das famílias,a infâmia aos próprios olhos perso-nificavam-se naqueles infelizes. Qual não foi,porém, minha admiração e surpresa quandopercebi que muitos deles saíam com o firmepropósito de vida melhor e, não obstante,voltavam logo à prisão, da qual haviam saídopoucos dias antes.

Nessas ocasiões descobri que muitosvoltavam àquele lugar porque aban-

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universidades a função estratégica de formarprofissionais qualificados para os serviçospúblicos, para o magistério e para a pesquisa.O avanço da ciência e as conquistas sociaisno mundo do trabalho e da produção fizeramcom que as universidades alemãs servissemde referência para todo o Ocidente duranteo século XIX. Numa postura introspectiva,buscaram o elo de coesão, ou seja, oelemento identificador da unidade nacional,fundamentalmente envolto em torno doconceito de cultura, consignado em base aoselementos étnico-lingüísticos e caracterizadopelos produtos humanos visivelmentematerializados.3 A moderna universidadealemã nasceu com uma missão definida:promover a unidade e o desenvolvimentonacional. Na sua estrutura organizacional,evoluiu para as Universidades [Universität],Institutos de Altos Estudos Profissionais[Fachhochschule], Institutos de Pesquisa[Nachforschung Institut] e UniversidadeAberta [Öfnung Universität]. Esta últimapassou a oferecer os dois primeirosprogramas na modalidade de ensino àdistância.4 A formação universitária alemãpreparava tanto para o exercício da profissãoquanto para a pesquisa, abrindo caminhoseqüencial para a pós-graduação.

As instituições de ensino universitário daInglaterra dedicavam-se, inicialmente, àeducação dos filhos da aristocracia e dosaspirantes à vida clerical. Estas instituiçõeseram compostas pelos colleges, onde eradada educação individualizada aosestudantes, e pelas faculdades, queveiculavam um conhecimento especializado,orientado para a especificidade dasprofissões.5 Refletiam o caráter aristocráticoda sociedade, proporcionando aos egressosuma ampla formação intelectual, sem umapreocupação maior com os fundamentos daciência e com o desenvolvimento científico.Num período mais recente, as universidades3 NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada. Londrina: UEL, 1999, Desenvolve uma interessante discussão em tornoda cultura alemã estabelecendo uma relação com o conceito civilização, de inspiração francesa.4 A Holanda seguiu este modelo, veja-se anexo I, p. 136, In: CONSELHO DE REITORES DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS.Melhoria e responsabilização: navegando entre Cila e Caríbdis. Manual de avaliação externa da qualidade no ensino superior. Brasília,1996. (Estudos e Debates, 18).

inglesas foram estimuladas a incrementar aciência e a tecnologia, mediante incentivospúblicos. Um processo amplo de avaliaçãoinstitucional, baseado em indicadoresquantitativos e qualitativos, internos eexternos, resultou na classificação dasinstituições, estabelecendo um ranking peloqual são fixados os índices de um percentualmaior ou menor de financiamento público.

Na França, a velha universidadearistocrática e clerical ficou profundam-ente abalada pela reforma educacionalnapoleônica. A ascensão da burguesia aopoder estimulou uma dinâmica socialmarcada pela crescente demanda deprofissionais no mercado de trabalho.Assim, ao lado das tradicionais universida-des, constituídas a partir das faculdades demedicina, de farmácia, de ciências e letras,surgiram as Escolas Superiores Públicas[Escola Prática de Altos Estudos, EscolaPolitécnica, Escola Normal Superior,Colégio de França, entre outras], a partirdas iniciativas conjuntas dos setorespúblicos e privados.

Nos Estados Unidos, a implantação domodelo inglês adquiriu forma e persona-lidade própria a partir da inversão degrande soma de recursos, oriundos dasiniciativas empresariais e de programas degoverno, que asseguram às universidadesa possibilidade do desenvolvimento dapesquisa, garantindo um certo equilíbrioentre expansão do ensino superior edesenvolvimento científico. A estruturadepartamental das universidades, apesardo corporativismo e da fragmentação dosaber, facultou-lhes uma gestãodescentralizada e permitiu a integração doensino, da pesquisa e da extensão. Estesdois fatores conjugados aproximaram auniversidade da sociedade. Asuniversidades e os colleges passaram a serquistos e vistos como instituições

5 YAZBECK, Dalva Carolina de Menezes. “A universidade moderna em diferentes contextos nacionais”. Educação brasileira. Brasília,v. 21, n. 43, p. 176.

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donados a si próprios. “Quem sabe – diziade mim para mim – se tivessem lá fora umamigo que tomasse conta deles, osassistisse e instruísse na religião nos diasfestivos, quem sabe não se poderiammanter afastados da ruína ou pelo menosnão diminuiria o número dos queretornam ao cárcere?”

Comuniquei esse pensamento ao P.Cafasso, e com o seu conselho e com suasluzes, pus-me a estudar a maneira de levá-loa efeito, deixando o êxito nas mãos do Senhor,pois, sem ele, são inúteis todos os esforçosdos homens”. (Bosco, 1982, p. 91-92).

A vida social reduz-se fundamentalmenteao econômico. O econômico, sobretudo ofinanceiro, submete e subordina tudo. Elese autonomiza do social e do político,passando a subordiná-los. A economia, deservidora da sociedade, passa a ser a senhora,a qual tudo é subordinado e submetido. Aredução da vida sociopolítica da sociedade àeconomia significa que tudo pode serquantificado. A produtividade, a eficiência ea eficácia erigidos como únicos critérios,excluem a possibilidade da gratuidade, dorelacional e do sonho. O que não é pagotorna-se suspeito. Como quem vale é quemconsome e só consome quem compete,instaura-se a violência e cresce o medo.Medo do desemprego, medo de serincompetente, medo de ser perdedor, medode ser assaltado, medo da outra pessoa. Aquiestá uma das origens da escalada da violênciano mundo de hoje.

Nossa grande tarefa é a deslegitimaçãoteórica e ideológica do discurso neoliberal.A idade média dos prisioneiros do RioGrande do Sul não passa de 23 anos. Sãojovens, pobres, negros, analfabetos totaisou funcionais.

A riqueza de uma nação não seconfunde com o econômico. Há riquezassociais, políticas, culturais e religiosas.Olhamos as novas tecnologias semsuspeição, mas também sem ingenuidade.Nós proclamamos que as realidadescriadas têm uma bondade intrínseca, umaautonomia e consistência própria. Nãotemos medo de enfrentar e inserir-nos no

mundo, olhando-o com otimismo realista.Antigamente um povo dominava o outropara transformá-lo em mão-de-obraescrava. Com o advento da revoluçãotecnológica, sobretudo através dainformática, da biotecnologia e dosmateriais alternativos, as máquinas e osrobôs substituem a mão-de-obra naprodução de gêneros de primeiranecessidade, porém, a mentalidadeescravista continua. Romper com esteesquema e propugnar por relações maisjustas e eqüitativas é tarefa da educaçãoética numa perspectiva de solidariedade.

Como Dom Bosco, continuamossonhando que as forças de morte (meninosmaus e bichos vorazes) serão suplantadaspelas forças de vida (meninos bons ecordeirinhos), pela ternura do feminino epela determinação do masculino.

Referências BibliográficasARENDT, Hannah. A condição humana. 4a

ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária.1989.AZNAR, G. Trabalhar menos paratrabalharem todos. São Paulo: Scritta. 1995.BEAUD, M. Le basculement du monde.Paris: La Découverte. 2000.BECK, Ulrich. Il lavoro nell’epoca della finedel lavoro. Tramonto delle sicurezze e nuovoimpegno civile. Torino: Einaudi. 2000.BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida.Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2001.BOFF, Leonardo. Saber cuidar. Ética doHumano – compaixão pela terra. Petrópolis:Vozes. 1999.BOSCO, João. Memórias do Oratório de SãoFrancisco de Sales. Salesiana: São Paulo 1982.DESRAMAUT, Francis. SpiritualitàSalesiana. Cento parole chiave. Roma: LAS.2001.__________. Uma nuova congregazione alservizio dei giovani del XIX secolo. IN: IlServizio Salesiano ai giovani. Torino: LDC,1971.GORZ, André. Métamorphoses du travail.Quête du sens. Critique de la raisonéconomique. Paris: Galilée, 1988.__________. Misères du présent. Richesse

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1. A fonte histórica e os modelosmatriciais de universidade

Mestra da vida, a história testemunhaque a universidade emergiu da necessidadeda construção de uma unidade dereferência para a sociedade medieval,fragmentada pela presença de inúmerospovos de grau civilizatório diferenciado. AIgreja, num esforço de sedimentação dacristandade, capitaneou esta construção,reunindo obras literárias, documentos ehomens em torno de centros limitados aouniverso das cidades. Os mosteiros, alémde guardiões da cultura universal,tornaram-se centros de cultivo e dedifusão do saber. A universidade surgiu,portanto, da interação de mestres e alunoscom as obras de referência, num quadrode integração do saber, na perspectiva doexercício da liderança intelectual nasociedade. Perseguia, sobretudo, auniversalidade do saber.

1 YASBECK, Dalva Carolina de Menezes. “A universidade moderna em diferentes contextos nacionais”. Educação brasileira. Brasília,v. 21, n. 43, p. 171-179, jul./dez. 1999.2 RIBEIRO, Darcy. A universidade necessária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

2. Os Caminhos da Educação Superior e aTrajetória dos Salesianos do Sul do Brasil

Erneldo SchallenbergerDoutor em História; Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e do CCHS

da Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Pesquisador da Fundação Araucária; Membro Honorário do Conselho dos Reitores dasUniversidades Brasileiras; Líder do Grupo de Pesquisa: Cultura, Fronteiras e Desenvolvimento Regional.

A universidade moderna, com suasatividades orientadas para o ensinoprofissional e para a pesquisa científica,nasceu na Alemanha, a partir de iniciativasde caráter nacionalistas, movidas pela políticada unificação alemã e pelo processo deindustrialização, que valorizou a ciência comoinstrumento de auto-superação1. Com umarede de instituições de ensino superiordistribuída pelo território no início do séculoXIX, os alemães, emancipados da tutelateológica, entenderam que a alavanca dodesenvolvimento nacional residia na ciência,no domínio do espírito, como dizia DarcyRibeiro2. A busca do aprofundamentocientífico e a criação intelectual suscitaramuma certa competitividade entre asinstituições de ensino superior, marcada pelastensões entre o avanço científico e asdemandas do Estado, que atribuía às

Resumo: O artigo ocupa-se da discussãodos elementos constituintes dosdiferenciados modelos de universidade,buscando entender a sua relação com asociedade e, em face da trajetória dauniversidade brasileira, centra sua atençãoem torno da presença dos salesianos nocampo da educação superior no sul do Brasil.

Palavras-chave: universidade esociedade; educação superior, mudança social,desenvolvimento regional.

Abstract: The article discuss about theconstituent elements that form thedifferent models of university, showing itsrelation with the society and with the pathof Brazilian university, always having infocus the presence of the Salesians in theadvanced degree education in the southof Brazil.

Keywords: university and society,superior education, social change, regionaldevelopment.

du possible. Paris: Galilée. 1997.HESS, José Rodolpho. O amor em DomBosco e em Rogers. São Paulo: EDB, 1983,176p.HIMMELFARB, Gertrude. La vida depobreza. Inglaterra a princípios de la eraindustrial. México: FCE, 1988.KENNEDY, Paul. Preparando para o séculoXXI. Campus. São Paulo.MANCE, Euclides. Socioeconomia solidária– Considerar as pessoas. CEPAT Informan. 79/2001, p. 78-79.MODESTI, João. Uma pedagogia perene.

São Paulo: EDB, 1975. 176p.RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos. SãoPaulo: Makron Books. 1996.SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter –Conseqüências pessoais do trabalho no novocapitalismo. Rio de Janeiro-São Paulo:Record. 1999.SANDRINI, Marcos. Dom Bosco e os jovens:uma dupla inseparável. Porto Alegre: 1989.37p.SCARAMUSSA, Tarcisio. O sistemapreventivo de Dom Bosco: um estilo deeducação. 3a ed. São Paulo: EDB, 1984. 164p.

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del servicio que prestan a la sociedad, aquien se deben. Estas acciones se inscribiránen la acción de fomento que adelante elMinisterio de Educación Nacional a travésde sus organismos competentes.

51. Los gobiernos crearán mecanismosque generen compromiso de los diversossectores sociales con el servicio públicode la educación superior. Hacia el futurose buscará incrementar una vinculación más

estrecha entre lo que hacen las institucionesen cumplimiento de sus funciones propias ylas demandas del sector productivo. De igualmanera, los gobiernos pondrán especialatención en adelantar acciones orientadas aque las instituciones se comprometan demanera creativa con demandas que provienende un mundo cada vez más interdependiente,con las necesidades nacionales, regionales ylocales y con la construcción de una sociedadmás justa, abierta y flexible.

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5. Curso de Administração: da concepção àimplementação – uma realidade

Nilo Valter KarnoppProfessor Ms. e Coordenador do Curso de Administração da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS

Meu pai, de saudosa memória,professor de escola confessional rural, medeixou um ensinamento no trato dasquestões profissionais: “não abrevie atrajetória e esteja preparado para asoportunidades”. Quando disse a ele quenão iria seguir a carreira do pastorado, eleme exigiu que me preparasse para umacarreira profissional. Muito cedo fuitrabalhar no comércio e à noite cursavacontabilidade, como muitos jovens naquelaépoca. Logo percebi que não seriasuficiente um diploma de ensino médio,ainda que profissionalizante, e presteivestibular em universidade federal para ocurso de administração de empresas.Antes mesmo de terminar o curso, ocupeicargo de assessor na área de finanças. Emseguida, fui alçado ao cargo de gerentefinanceiro e, mais adiante, diretoradministrativo financeiro.

Houve outro momento marcante, emfins da década de 80, em que se exigia dos

profissionais uma visão generalista daadministração. Fui procurar qualificaçãoem curso de pós-graduação, oportunidadeesta que me abriu a expectativa de vir aser professor universitário, ou seja, umasegunda carreira. Logo as portas seabriram para o magistério superior,exercendo-o em grandes universidades dePorto Alegre.

Ao me tornar professor universitário,tomei por princípio que haveria de lecionaraquilo que eu tinha vivenciado e o que eutinha estudado a vida inteira, e ato contínuo,fiz o mestrado em Administração. Omestrado em Administração em uma dasmelhores escolas de negócios do país meacendeu a vontade de alçar outros vôos,quem sabe, ser coordenador de curso.

1. Um pouco de históriaEm fins de novembro de 2000 surgiu

esta oportunidade. Lá estava eu, na RuaLucas de Oliveira, em um prédio que fica

Resumo: Neste relato-testemunho, oautor partilha sua experiência comocoordenador do processo de elaboraçãodo Projeto Político Pedagógico do cursode Administração da Faculdade DomBosco de Porto Alegre. Descreve atrajetória da sua criação: da concepção àsua implantação, no início de 2003. Enfatizaprioritariamente as razões da criação emcurso diferenciado na Grande PortoAlegre. Lança um olhar sobre a marcasalesiana que o curso deve ter, bem comosua fundamentação teórica: epistemologiae metodologia.

Palavras-chave: Administração, marca

salesiana.

Abstract: In this story-certification theauthor shares his experience as coordinatorof the process of elaboration of thePedagogical Politician Project to the Courseof Administration for the College Dom Boscofrom Porto Alegre. He describes thetrajectory of its creation: from the conceptionto its implantation in the beginning of 2003.He emphasizes the reasons of the creation indifferentiated course in Porto Alegre and itsmetropolitan area. He launches a look on theSalesian mark that the course must have aswell as its theoretical basis: epistemology andmethodology.

Keywords: Management, Salesian mark.

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que se desprenden de su propia misión.

44. La autonomía no es absoluta. Laprestación del servicio público de laeducación superior se realiza en el marcode la Carta Política y de la Ley. Una y otraexigen la intervención del Estado paragarantizar la fe pública depositada en lasinstituciones por quienes acceden alservicio público de la educación; para hacercumplir la normatividad existente enmateria de educación superior; parapropender por una participación efectivade la sociedad civil en las estrategias queasuman las instituciones en sus procesosde rendimiento de cuentas; para producirinformación relevante para el usuario, quele permita establecer comparaciones entreinstituciones y programas académicos ycaptar señales de otros sectores sociales;desarrollar mecanismos de evaluación dela calidad del servicio que prestan lasinstituciones públicas y privadas, enconformidad con las exigencias de ley.

45. En un Estado Social de Derechono riñen entre sí la autonomía que serequiere para cumplir la función deproducción de nuevo conocimiento yejercer la función crítica, con laintervención del Estado en materia dela prestación del servicio público de laeducación. Una y otra trascienden suparticularidad en el interés vinculante porlo público al que una y otra contribuyenen su ejercicio propio.

46. Tampoco riñen entre sí laautonomía universitaria y la libertadacadémica. Esta última corresponde a laspersonas (investigadores, profesores yestudiantes) y se expresa en la libertad paraaprender, para investigar, tener acceso a lasfuentes del saber, escoger los métodosdidácticos, expresar opiniones y ejercer lalibertad de cátedra y se despliega en funciónde la naturaleza, misión y fines propios dela institución y en armonía con el mismoderecho que poseen los otros miembrosde la comunidad.

47. La calidad, la pertinencia, laequidad y la autonomía responsable sonun compromiso de todos. Los gobiernos,las instituciones de educación superior y losdemás agentes que contribuyen con su acciónal desarrollo del sector y que utilizan susservicios, cada vez toman mayor concienciade la necesidad de exigir un servicio públicoeducativo con calidad y ejercer sus derechosy cumplir con sus responsabilidades en elproceso de consolidación del Sistema de laEducación Superior, en el marco de la CartaPolítica y la Ley.

RecomendacionesEl tercer pilar de la Política en materia

de educación superior lo constituye elreconocimiento y estímulo de laautonomía con responsabilidad.

48. Los gobiernos asumen que laresponsabilidad configura una zonacomún en la cual se reencuentran losgobiernos y los agentes educativos enun único espacio movilizado por lasexigencias de la producción científica, elcarácter público del servicio que prestany por las exigencias del interés general. Laautonomía ligada a la producciónintelectual no excluye lo público comohorizonte de sentido y como opción éticaimprescindible, por encima de losintereses particulares.

49. Los gobiernos estimularán yapoyarán una creciente racionalidad enlos componentes políticos, burocráticosy de poder corporativo de la instituciones.En tal sentido, las normas que se expidanestarán movilizadas por esta exigencia quedimana del interés general, con la finalidad deincentivar cada vez más un mayor grado degobernabilidad en ellas.

50. Los gobiernos estimularán, através de la aplicación de recursosconcursables, acciones y proyectos queestimulen en los agentes educativos delnivel superior su compromiso con lacalidad, la equidad, la pertinencia y eficiencia

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em frente ao internato onde passaraminha juventude, sendo recebido porErneldo Schallemberger e Marco AugustoRippel. O primeiro se apresentou comoconsultor educacional, e o segundo, comoexecutivo de uma ordem religiosa, cujaidentidade não poderia ser reveladanaquele momento e a revelação só veio aacontecer no segundo ou terceiroencontro. Eles me disseram que ainstituição queria lançar uma Faculdadeque teria inicialmente três cursos: Sistemasde Informação, Ciências Contábeis eAdministração. Como geralmenteacontece nestes processos derecrutamento, penso que havia inúmeros,haveria talvez dezenas de candidatos acoordenador do curso de Administração.Eu precisava então contribuirpara criar um diferencial, algoque me destacasse noprocesso seletivo, e eleapareceu na resposta àpergunta do ProfessorErneldo: “Como vocêidealiza um curso deAdministração para diferen-ciá-lo de tantas outraspropostas de curso aqui naGrande Porto Alegre?”. Sempestanejar, disse que o curso deveria estarvoltado ao empreendedorismo e à forteconcentração nas disciplinas profissio-nalizantes, estas análogas às principaisáreas da administração em uma empresade médio a grande porte. Uma vezcontratado, me pus a trabalhar.

Aquele verão de 2001/2002 foiinesquecível. Todos os dias, manhã, tardee noite, trabalhei no projeto, pararesponder às seguintes questões, entreoutras: Em que contexto nascerá o cursoe qual a concepção de curso? Quais sãoos objetivos do curso? Quais são asjustificativas para a criação do curso? Qualo perfil desejado do formando profissional?Como se projeta o mercado de trabalho?Qual a metodologia do trabalho para ocurso? Qual a qualificação do quadrodocente? Como se desenha a estrutura

curricular? E o ementário?Contrariando a melhor técnica de criação,

o curso não é de criação coletiva. Estive àfrente do processo de criação solo. Duranteo processo de criação havia, vez que outra,encontro com o Professor Erneldo erepresentantes da Inspetoria Salesiana SãoPio X para discussão do avanço da proposta,único momento de alguma construçãocoletiva.

2. Concepção do cursoVoltando às questões suscitadas na criação

do curso de Administração, escreveu-se aoMinistério da Educação e Cultura, para receberautorização de funcionamento, que a gestãoempresarial requer um profissional plenamenteinserido no ambiente das empresas, atento às

inovações, com pleno domíniodos modernos sistemas degerenciamento, e ao mesmotempo, empreendedor, paraque os recursos humanos,materiais e financeiros sejamotimizados ao máximo parapromover o desenvolvimentoda sociedade.A moderna administração estáintimamente vinculada aodomínio dos conhecimentos e

das informações que regem o universo dasempresas, à inovação constante e aoempreendedorismo. Estes fatores conjugadospermitem a tomada de decisões que sustentamo avanço da economia e da sociedade.

Até a regulamentação da profissão deAdministrador, nos idos da década de 60, todosse sentiam administradores. A determinaçãode alguns abnegados batalhadores possibilitoucolocar o administrador de empresas no topodas profissões legalmente reconhecidas noBrasil, resultando daí a criação do ConselhoFederal de Administração. O curso deadministração é hoje considerado um dos maisimportantes em quase todas as instituições deeducação superior. Disse na época que aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre nãodesejava criar tão somente mais um curso deAdministração de Empresas no Estado do RioGrande do Sul. Concebia o curso a partir de

“O curso deAdministração deEmpresas tem o

objetivo dedesenvolver com os

alunos a capacidadeempreendedora paranegócios próprios”.

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criterio: los subniveles de formaciónpráctico, profesional y avanzado; los tiposde conocimiento diferentes queinvolucran cada uno de éstos, a saber:científico, técnico y tecnológico (cienciasnaturales y exactas, ciencias sociales yhumanas, ciencias de la salud, lasingenierías), artes, humanidades, filosofíay pedagogía; y las reglas de juego de suacción y las del Estado en materia defomento y de supervisión. Para ello setomará como base la propuesta que seha venido discutiendo en el país en losúltimos dos años .1

39. El gobierno actual adelantará unarevisión del número y función de losorganismos que orientan y coordinan suintervención en materia de fomento, deinspección, control y vigilancia. De igualmanera, buscará simplificar y disminuir sunúmero a lo estrictamente necesario, enfunción de una redefinición de trámites quecomunique eficiencia y eficacia a lacoordinación de los organismos delgobierno.

4. AUTONOMÍA Y RESPONSABILIDAD

Motivaciones40. Las instituciones de educación

superior tienen obligación en laconstrucción de lo público. Estasinstituciones tienen una responsabilidad yun compromiso con objetivos, metas,bienes y servicios que responden a lavoluntad general y a los intereses de lasociedad. La universidad como institucióny cada una de las otras instituciones quebrindan el servicio de educación de nivelsuperior se deben a la sociedad, son partede lo que ésta incorpora dentro delespectro de sus intereses generales; esdecir, dentro del ámbito de lo público; porello tienen como deber responder conexcelencia a esa expectativa, formandopersonas con capacidad para hacer usopúblico de su razón. En un Estado Social

de Derecho la responsabilidad por elfuturo de la educación no es exclusiva delos gobiernos, también las institucionescomo los sectores sociales deben velar yactuar para que tal esfera se inspire en losprincipios de la justicia y el bien público.

41.La producción de nuevoconocimiento es una actividadautónoma. La autonomía en sentidopleno se predica de la instituciónuniversitaria y consiste en su capacidad deautodeterminación para asumir desde sí lasexigencias propias de la producción delconocimiento y aquellas que se derivan desu compromiso último con el destino dela razón humana en la sociedad. Laproducción de nuevo conocimiento comola función crítica que le compete a launiversidad en relación con su medio seencuentran jalonadas por la búsqueda dela verdad sin restricciones y no sonpensables si el medio la coartara en suejercicio. Frente a esta exigencia laautonomía administrativa y financiera soncondiciones necesarias pero no suficientes.

42. La efectividad de la autonomíadepende de la fidelidad de launiversidad a sí misma, de la convicciónque la comunidad educativa posearespecto de la responsabilidad social queconlleva ser autónomo y del tipo derelaciones que cada institución guarde conlos gobiernos y con los diversos poderesdel entramado social. Esta autonomíauniversitaria está en función delcumplimiento del fin educativo que brotade la naturaleza misma de la universidad.

43. La autonomía implica respon-sabilidad. En vano se predica la autonomíarespecto de una institución si en ésta no seprofesa una voluntad de verdad que leobliga a comportarse en conformidad conexigencias universales del conocimiento,con aquellas que dimanan de la naturalezadel servicio público que prestan y con las

1 Véase: Documento: Bases para una Política de Estado en materia de Educación Superior. Capítulo 3. ICFES. Bogotá. 2000.

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uma vertente generalista, onde as principaisáreas de estudos são análogas às principais áreasoperacionais de uma empresa. Os eixostemáticos de enfoque procuram conciliar adiscussão teórica com a transferência das maismodernas técnicas de administração existentese comprovadas, dando ênfase em todo o cursoe em todas as disciplinas à questão doempreendedorismo. A Faculdade desejaoferecer à sociedade gaúcha a formação deadministradores que, além de uma carreiraexitosa, como executivos de empresas ou deorganizações, ou como empreendedores,tenham uma visão de pessoa humana e desociedade comprometida com a dignificaçãodas relações sociais e com a criação deoportunidades para todos, naperspectiva da solidariedade e dajustiça social.

O Curso de Administraçãode Empresas tem por objetivoformar profissionais quetenham capacidade de gerirempresas e/ou organizações,públicas e privadas, visandoatingir resultados que visem aodesenvolvimento sustentável eresponsável de recursoseconômicos muitas vezesescassos, aplicando as maismodernas técnicas de gestãoempresarial. O curso tem ainda o objetivo dedesenvolver nos alunos a capacidadeempreendedora para negócios próprios,característica que marca o seu currículo e quepermeia as disciplinas, tanto de conteúdotécnico quanto humanístico.

3. A marca salesianaA educação de jovens, especialmente

os mais pobres, e de adultos tem fortepresença nas atividades dos salesianos deDom Bosco, remontando ao princípio doséculo XX. No campo da educação, ossalesianos atuam em todos os níveis dosistema educacional vigente no país. OEstado do Rio Grande do Sul temrecebido forte incremento no processode industrialização, no comércio e nageração de serviços, especialmente em

telecomunicações. O Estado ocupa umaposição de quarto lugar entre os estadosmais desenvolvidos do Brasil. Grandeparte deste desenvolvimento seconcentra na Região Metropolitana dePorto Alegre, sede da Faculdade, queexerce forte polarização sobre todo oEstado e sobre grande parte dos Estadosde Santa Catarina.

Um curso de Administração deEmpresas, como o que está se propondo,vem ao encontro das necessidades deprofissionais qualificados que os diferentessetores da economia e da sociedade estãoa exigir. Um curso que proporcione aosagentes econômicos oportunidade de

buscar profissionais comforte embasamento téc-nico-administrativo, voltadopara o empreendedoris-mo. Não se entenda aquiempreendedorismo comoadministração de micro epequenas empresas. Poresta razão, as diretrizescurriculares propostasestão orientadas paramédias e grandes empresas.O profissional formado paragrandes empresas certa-mente é mais bem prepa-

rado para ser empreendedor, além daqualidade natural para tal iniciativa.

A Faculdade está localizada na zona norteda cidade de Porto Alegre, num eixo dearticulação de cidades industriais comoCachoeirinha, Gravataí e Alvorada. Tanto naregião norte da cidade de Porto Alegre,como nas citadas cidades, a oferta de cursosde Administração é restrita, o que garanteum amplo espaço para a instalação do cursoproposto. Ademais, a rede estadual eparticular, das escolas de nível médio, e asdos salesianos, têm um potencial enorme depostulantes para o ingresso na Faculdade.Portanto, não se trata simplesmente de maisum curso de Administração de Empresas.O curso pretende diferenciar-se por trazertoda a experiência salesiana de fazereducação, utilizando os mais modernos

“O perfil doadministrador se

completa comdisciplinas

humanísticas e dopensamento cristãosalesiano, formando

cidadãos responsáveispara a sociedade e

para a família”.

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34. La política de financiamientoseguirá criterios incuestionables. Losgobiernos establecerán una política deasignación de los recursos que responda acriterios relacionados con el reconocimie-nto del valor intrínseco de la educación y elaporte que las instituciones hacen aldesarrollo de la sociedad como un todo, ysobre la base de la calidad de su desempeño,de la optimización que hacen de susrecursos, de la generación de ingresospropios, de la pertinencia de la oferta, de laproductividad docente, de la investigaciónque realizan y del aporte que hacen a laampliación de cobertura del sector.

35. El crédito educativo y laformación doctoral son prioridadespara los gobiernos. Particularimportancia revestirá, entre lasprioridades de acción de los gobiernos,la masificación del crédito educativo; unaambiciosa política de becas para losestudios de pregrado y la creación de unfondo que haga viable la formación dedocentes a nivel doctoral; así como unagenerosa política de estímulos haciaobjetivos precisos, involucrando en eldiseño de los mecanismos utilizados: elfomento a la cultura de la evaluación, elejercicio de la autonomía responsable, laacreditación de programas académicos einstituciones y la transparencia de lasinstituciones en sus formas de operación.

36. La acción de los gobiernos no sereduce a hacer transferencia derecursos y a establecer subsidios, sinoque comprende la supervisión y elfomento. En función de la primera, se haráun reajuste de los organismos yprocedimientos de conducción ycoordinación del sector; se precisará,aclarará y simplificará la regulaciónexistente; se fijarán condiciones para lacreación de instituciones y programasacadémicos; se estimulará la introducciónde una cultura de la evaluación; seestablecerán los exámenes de Estado y se

desestimulará el cambio de carácteracadémico de las instituciones. En funciónde la segunda: Los gobiernos fijaránestándares de calidad del servicio públicode la educación que se brinde; estimularánla competencia en el mercado educativo;establecerán reglas de juego, pocas,precisas y con viabilidad indudable para elsector público y privado; contrataránservicios en materia de educación superiory todo ello sin alimentar una políticacentralista, ni de laissez-faire. La pluralidadde focos de acción y puntos de decisiónlejos de empobrecer su influencia,aumenta y aquilata su intervención.

37. Mejorar la gobernabilidadimplica tocar intereses de personas yde grupos y, por lo tanto, los gobiernoscomo los agentes educativos asumirán elcompromiso de afectar los intereses delas burocracias universitarias, modificarprácticas en la docencia y en las actividadesde investigación, buscando ser máspertinentes frente a diferentes demandasactuales y velar por la pertinencia delconocimiento que se distribuyeestratégicamente en los planes de estudio,respecto del estadio de desarrollo de lasdisciplinas y con relación a los aspectosético políticos del desarrollo. A estosesfuerzos se unirán de modo indisolublelas medidas para propiciar la libertadacadémica, ejercer una gobernabilidadcompartida, obrar con respeto por elprincipio de la excelencia y mérito frentea las presiones indebidas de todo signo yasumir la responsabilidad de rendir cuentasy obrar con integridad y coherenciarespecto a la misión institucional.

38. Lograr claridad en laestructuración del Sistema de laEducación Superior. En esta dirección,el gobierno actual y sus organismoscoordinadores se comprometen a definirel ordenamiento de las instituciones conbase en los Proyectos Educativosinstitucionales (PEI) que presenten. TalesPEI serán articulados tomando como

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recursos humanos e materiais. Justifica-sepor ser um curso de formação em todas asáreas da ciência da Administração,acompanhando as exigências do mercado detrabalho e do empreendedorismo.

4 . Fundamentação teóricaAo concluir o curso, a Faculdade estará

entregando à sociedade e aos agenteseconômicos, públicos e privados, umBacharel em Administração dotado decompetências e habilidades que impul-sionem o desenvolvimento do país. A suapreparação estará fortemente orientadapara a atuação nas funções classicamentereconhecidas de planejar, organizar,dirigir, controlar e coordenar atividadesempresariais, tanto como executivo deempresas ou de organizações, quantocomo empreendedor, ao lançar-se emnegócio próprio.

O curso define como requisito básicouma visão estratégica de todos os cenáriosmacroeconômicos e microeconômicos,sustentados por uma formação sólida emtodas as áreas da ciência da Administração.Espera-se também que o egresso exerçacom ética e proficiência as atribuiçõesinerentes à sua função, concebendo,implantando e administrando recursoshumanos, materiais e financeiros para oalcance de metas estabelecidas noplanejamento estratégico das empresas edos empreendimentos.

O profissional que se pretende formarnão deve se limitar à capacidade de operaras mais reconhecidas técnicas de gestãoempresarial, mas de refletir e atuar sobre arealidade econômico e social a partir desólidos elementos éticos e humanístico-cristãos.

O formando que a sociedade receberáserá proficiente na motivação para pró-atividade; na visão sistêmica dos órgãosque interagem na empresa; no raciocíniológico e crítico-analítico, para solução deproblemas; na articulação e na liderançade equipes multidisciplinares, visandoobjetivos comuns; na busca da conciliaçãodos objetivos pessoais e institucionais; no

uso de linguagem técnico-administrativa;na investigação e na pesquisa como fonteda construção do saber. Projeta-se umBacharel em Administração comaprimorada capacidade e competência dedesempenho nas habilidades intelectuais,interpessoais, de comunicação etecnológicas, e emocionais.

O administrador é um profissionalespecializado na gestão de empresasindustriais, comerciais e de serviços. Ocurso quer proporcionar ao acadêmicoo domínio nas principais áreas daadministração, a saber: recursoshumanos, produção, logística empre-sarial, materiais, vendas e marketing,finanças, planejamento, administraçãogeral com forte enfoque em empreen-dedorismo. O curso municia o aluno abuscar formação e informação nodesenvolvimento de um negócio próprio,onde a veia de empreendedor – nata edesenvolvida pelas habilidades ecompetências – ficará amplamentealimentada pelo suporte técnico-científicoque a integralização do currículo propõe.O curso dá ao aluno plenas condições auma inserção exitosa no mercado detrabalho formal para desenvolver carreiraexecutiva em grandes organizações. Alémdas disciplinas curriculares terem forteenfoque nas principais áreas da adminis-tração, o perfil do administrador secompleta com disciplinas humanísticas edo pensamento cristão salesiano,formando cidadãos responsáveis para asociedade e para a família.

5. Metodologia de trabalhoA metodologia de trabalho proposta

para o curso, que visa à formação de umprofissional de alta qualificação, estáalicerçada em:

a) sólida formação humanística, visandoo homem ético e o seu melhorrelacionamento interpessoal;

b) forte formação em disciplinas específicasda administração, complementada comconhecimentos teóricos e práticos deMatemática, Estatística, Contabilidade,

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de gobernabilidad interna de lasinstituciones. Cada vez es más urgenteintervenir en los problemas degobernabilidad de algunas instituciones deeducación superior. Es urgente procedera un análisis crítico de las reglas de juegoexistentes en las instituciones en relacióncon sus estructuras de gobierno, losgrados de participación profesoral yestudiantil, sus estilos de gestión y lossistemas de elección. La experienciareciente en los procesos de elección dedirectivos en algunas instituciones urge quela sociedad exija que se renuncie a laintervención de los partidos o grupos depoder externos y a las prácticas indebidaspara la perpetuación de privilegios porparte del poder corporativo en la dinámicainterna de las organizaciones universitarias.La autocrítica es una estrategia para lasinstituciones del sector para alcanzar unamayor legitimidad ante la sociedad comoun todo.

31. Hay que adelantar una campañaen el gobierno y en las institucionescontra la ineficiencia. En un contextode escasez de recursos la ineficiencia enel uso de los recursos coloca a lasinstituciones en un estado de extremapostración. Es necesario que tanto losgobiernos como las instituciones en supropia esfera asuman la eficiencia comoun valor vinculado con la responsabilidadsocial que tienen en la prestación delservicio público de la educación superior.Cada vez es más urgente incentivar laracionalidad en el uso de los recursos,especialmente en las instituciones que sonmás favorecidas con recursos de origenfiscal, independientemente del fuero quelas cubra.

RecomendacionesEl segundo pilar de la política de Estado

en materia de educación superior estárelacionada con el financiamiento delsector. Este tópico presenta las mayoresperplejidades y constituye el punto quediscrimina las más diversas posiciones

entre los distintos agentes educativos,particularmente, entre el gobierno y elpoder corporativo predominante en lasinstituciones públicas. En la base de lasdiferencias se encuentran concepcionesdiferentes respecto a la naturaleza delservicio público que prestan lasinstituciones y al papel de los gobiernosen la educación; y en función de ello,respecto de los criterios, monto ymecanismos de asignación de los recursos.

32. Los gobiernos y los diferentesactores de la educación suprior oficialharán un esfuerzo que permita avanzar enla discusión sobre el financiamiento entorno a los siguientes puntos centrales queya han sido objeto de discusión en el país:Definición de criterios para latransferencia de recursos de losgobiernos a las universidades públicasvinculados a la evaluación de laeficiencia en el uso del recurso;diversificación de la fuente de losrecursos, incluyendo en ella lamasificación del crédito estudiantil;constitución de un fondo definanciación de la educación superiory el establecimiento de un estatutofinanciero para la universidad pública,que incluya una reforma del régimenlaboral de los docentes.

33. Hacia el futuro, la acción de losgobiernos se basará en la promociónde la responsabilidad que todos losagentes del sector tienen en laorientación, conformación y destinodel sector. Esta posición permitirá, de unaparte, excluir la existencia de un gobiernobenevolente que todo lo define, queofrece recursos sin pedir cuentas y queen nombre de su supremacía terminasiendo ineficiente; pero de otra, pone derelieve, a la par de su responsabilidad, lade todos los agentes, incluido el podercorporativo, en una autonomía amplia, quefundamenta la autorregulación y obliga acomprometerse con las formas queadopte el sistema.

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Direito, Informática, Administração Pública eEconomia, que permitirão ao profissional umaleitura de todo o contexto sócio-econômico;

c) incentivo à formação continuada pelaoferta de cursos de extensão universitáriae de pós-graduação;

d) oportunidades de desenvolvimentode sua capacidade empreendedora e deadministração, na participação emempresa júnior, na monitoria acadêmica,em seminários de atualização, além dasatividades obrigatórias de estágiosupervisionado e do trabalho de conclusãode curso.

O curso se desenvolve em doisambientes: interno e externo. Sãoconsideradas atividades internas aquelasque se desenvolvem intramuros daFaculdade, como salas de aula, laboratóriode informática, biblioteca, monitoriaacadêmica. São consideradas atividadesexternas aquelas desenvolvidas fora daFaculdade, pela participação do aluno emseminários, em empresa júnior, em estágiossupervisionados e em trabalhos extraclasse.Nas atividades internas, a metodologia detrabalho conta com aulas expositivas edialogadas, com estudos dirigidos, comestudos de casos, com análise de textos,de revistas especializadas em administraçãoe em economia, com simulações emcomputador, simulações e jogos deempresas, e com exercícios em sala de aula.Nas atividades externas, a metodologia docurso prevê a atuação prática do aluno emestágios supervisionados, na empresa júnior,e em trabalhos extraclasse e na participaçãoativa em seminários de atualização. Emambos os ambientes, a participação doaluno é, antes de ativa, pró-ativa, no sentidode se antecipar aos fatos, quandocontroláveis. Toda atividade, seja interna ouexterna, é incentivada e supervisionadapelos professores e pelo coordenador decurso.

A qualidade do ensino ficará asseguradapela qualificação do corpo docente do qualé exigido que tenha, além de conhecimentosvivenciados e práticos em administração deempresas, adequada formação acadêmica,

com mestrado e doutorado. A qualificaçãoé garantida não só pelo envolvimentoacadêmico dos professores, mas tambémpela Política de Qualificação Docente e peloPlano de Carreira Docente.

A matriz curricular elenca as disciplinasconforme a Resolução nº 02/93, de 4 deoutubro de 1993, do Conselho Nacionalde Educação, distribuídas por novesemestres. O aluno que cursaAdministração na Faculdade Dom Boscode Porto Alegre tem em sua formação acontribuição de disciplinas específicas deadministração nas áreas de estudos daTeoria da Organização, Administração daProdução, Administração de Materiais ePatrimoniais, Organização Sistemas eMétodos, Administração de RecursosHumanos, Administração Mercadológica,Administração Financeira e Orçamentária,Administração de Sistemas de Informação,Empreendedorismo. Completam suaformação as disciplinas de Ciências Exatas,Contabilidade, Direito, Informática, LínguaPortuguesa, Economia e umarepresentativa carga de disciplinashumanístico-sociais. Os planos deensino identificam a disciplina, a ementa,os objetivos, a metodologia de ensino, oscritérios de avaliação e a bibliografia.

6. Conclusão do processoNós tínhamos pressa na autorização de

funcionamento do Curso de Administração,além de Sistemas de Informação e CiênciasContábeis. Para surpresa de todos, o MECfechou as portas para pleitos de autorizaçãode cursos, de qualquer natureza e área,durante um semestre, para finalmente, em2 de outubro de 2002, a Diretora doDEPES/SESu, Sra. Maria Aparecida AndrésRibeiro, em Despacho nº 0017/2002-MEC/SESu/DEPES, designar a Comissão quehaveria de “verificar a existência decondições para credenciar a FaculdadeDom Bosco de Porto Alegre e paraautorizar os cursos...” Para o Curso deAdministração foi designado o ProfessorAmilton Giácomo Tomasi, Diretor da ESAGda Universidade do Estado de Santa

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conocimiento, y por la convicción de losgobiernos de su responsabilidad respectodel desarrollo del conocimiento de lashabilidades y la capacidad de innovaciónde los colombianos.

27. La sociedad requiere de unsistema de educación superior másequitativo y pertinente. Es urgente,como ya se señaló, ampliar la base socialdel sistema y también, seguir insistiendo,como lo hizo en su Informe final la “Misiónpara la Modernización de la Universidadpública”, en la necesidad de: volcarse sobrelos sistemas medio y primario paracontribuir a modernizarlos en renovaciónespiritual, eficiencia y calidad; focalizarproyectos en el grado once de enseñanzamedia, especialmente de los colegiospúblicos, cuyas dificultades de entorno yde recursos les impiden alcanzar laexcelencia por sí mismos, para con ellosbuscar esa excelencia y contribuir a laorientación profesional de sus bachilleres;sistematizar nuevos criterios einstrumentos para que la selección de losmejores no obedezca exclusivamente auna medición del mayor número deconocimientos e información acumulados,sino que se oriente a identificar lasaptitudes y habilidades básicas, que tiendena estar distribuidas en forma similar entrelos diferentes estratos y que constituyenel activo fundamental en nuestro avancecientífico y cultural; programas desostenimiento y sistemas de soporte desdeuna perspectiva del bienestar estudiantil.

Los sectores privado y público de laeducación deben hacer una ofertaeducativa que de modo proactivo sirva aldesarrollo del país y a las necesidades desu evolución, sin perder en ello su funcióncrítica. Este esfuerzo les permitirá ser máspertinentes y satisfacer de manera másadecuada las diversas demandas. Unamayor equidad será posible si se logra unesfuerzo de los gobiernos, de la sociedady de los individuos. Las familias y losindividuos que pueden pagar su educación

superior deben hacerlo; para brindar asíoportunidades de formación a un mayornúmero de estudiantes de menoresrecursos mediante el aprovechamiento delos subsidios del Estado. También lasinstituciones, al comprometerse con laequidad deberían preocuparse por las altastasas de deserción y repitencia que seobservan en muchas de ellas.

28. Necesidad de informaciónoportuna como factor de equidad. Ladinámica de transformación del sistema deeducación superior en la última década nosmuestra la limitación de los gobiernos paraejercer su función de fomento, inspección,control y vigilancia, de modo eficiente, sininformación. Esta última, es el instrumentocomplementario y esencial de toda laacción gubernamental en materia deeducación superior. La información es ungarante de calidad y un apoyo de laequidad, tanto como una herramienta degestión que facilita la planeación, la tomade decisiones, el seguimiento y el controlen el interior de las instituciones y en elsistema como un todo, haciendo explícitala especificidad de las diferentes ofertasen el mercado.

29. El sistema de educación superiordebe tener direccionalidad. Más allá deuna posición maniquea respecto a lafinanciación de la demanda o de la oferta,la acción de los gobiernos, a través de supolítica de asignación de recursos oaplicación de subsidios, podrá orientar lademanda y dirigir el sistema hacia metasdeseables en función de la consolidaciónde las instituciones y de la calidad, equidady pertinencia de la oferta. De esta manera,sería deseable que la financiación de laoferta sea realizada en función deresultados alcanzados y previamentenegociados.

En relación con la gestión de lasinstituciones de educación superior:

30. Tenemos problemas en materia

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Catarina (UDESC).A verificação in loco dos dados e das

informações disponíveis se deu no períodode 28 de outubro a 3 de novembro de2002. A Faculdade Dom Bosco de PortoAlegre foi autorizada pela Portaria 3254de 26 de novembro de 2002, publicadano Diário Oficial da União de 28 denovembro de 2002. O Curso deAdministração foi autorizado pela PortariaMinisterial 3256, de 26 de novembro de2002, publicada no Diário Oficial da Uniãode 28 de novembro de 2002.

Uma vez credenciada a Faculdade eautorizado o Curso de Administração, fiqueiem dobrada expectativa: a realização doprimeiro vestibular e a minha nomeaçãocomo coordenador do curso. O vestibularaconteceu em 12 de fevereiro de 2003 com120 candidatos, sendo 60 alunosmatriculados. E a minha segunda expectativatambém foi atendida.

Depois de ter trabalhado com afincono projeto, de ter aguardado meses pelaaprovação, a Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre e os seus cursos CiênciasContábeis, Sistemas de Informação eAdministração começaram a funcionarem março de 2003 nas dependências doColégio Salesiano Dom Bosco, na RuaEduardo Chartier, 360.

Este é o meu depoimento sobre acriação do curso de Administração. Cabeum registro de agradecimento aos colegasprofessores Luiz Dal Molin, AécioCordeiro Neves e Letícia Silva Garcia, eespecialmente ao Padre Marcos Sandrinie Professor Erneldo Schallemberger, peloapoio e companheirismo nesta jornada querecém está começando. Haverá uma outraoportunidade – quiçá quando dacomemoração dos 10 anos da abertura daFaculdade – para dizer sobre o andamentodo Curso de Administração.

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intereses particulares hacia una salida cuyabase se fundamente en los desafíosactuales, en un manejo lúcido de losnuevos contextos y en la conciencia delinterés general.

22. La educación superior tiene unvalor en sí misma. En relación con elfinanciamiento, todos los sectores de lasociedad y el gobierno reconocen el valorintrínseco de la educación superior, comoestrategia para el desarrollo del país ymedio insustituible para el logro de unacultura de paz, inspirada en los valores dela justicia y la solidaridad entre losciudadanos. Sin ella no es posible, en elmundo actual y para el inmediato futuro,que las personas adquieran la capacitaciónrequerida para insertarse con dignidad enel mundo laboral; ni que el país puedaaumentar su productividad y competitivi-dad en el escenario internacional; ni quelas exigencias mínimas de un Estado socialde derecho cobren realidad; y ni siquieraque la identidad cultural se mantenga demodo consistente dentro de una culturaplanetaria.

23. El Estado tiene una obligacióncon el financiamiento de la universidadpública y con la producción de nuevoconocimiento. Corresponde a losgobiernos asegurar que exista en el paísuna distribución adecuada deoportunidades educativas del nivelsuperior en la cantidad y calidad querequiere el desarrollo del país y que semantenga y amplíe el potencial deinvestigación tecnológica y científica entodas las áreas del conocimiento. Para ello,aquellos cuidarán de modo explícito porla coherencia entre le política de ciencia ytecnología y la de educación superior,velando en ambos casos por elfinanciamiento directo de tales actividadesrealizadas en el marco de la Constitución,de la Ley y de las tradición de excelencia,garantizada a través del cumplimiento deestándares de calidad.

24. Debemos acordar valores nonegociables en la asignación de losrecursos en educación superior. Lasituación actual del país interroga elsentimiento de eticidad de todos losagentes que intervienen en el funcionami-ento del conglomerado de las institucionesy, a pesar de las limitaciones, todos lossectores valoran los esfuerzos realizadospor cada uno de ellos en mayor o menorgrado y los insta a comprometerse demanera más decidida con el futuro del país,desde su particular posición en elentramado social. El país necesita que enmateria de financiamiento se asumancomo valores fundamentales nonegociables: la vinculación de la asignaciónde recursos con objetivos propuestos yeficiencia en el uso de los mismos; laintegridad institucional; la coherencia, lacompetitividad, la eficacia y eficiencia desu acción con conciencia del interés generaly de la naturaleza de bien público que tieneel servicio que prestan.

25. Los gobiernos deben velar porel uso correcto de los recursos. Enmateria de educación superior, laintervención de los gobiernos no esarbitraria. Tal intervención es exigida porla Carta Política, de modo respetuosorespecto de las instituciones que ejercensu autonomía con responsabilidad, peroconscientes, entre otras cosas, de suobligación de velar por la correctaaplicación de los recursos en el ámbito dela educación superior.

26. Toda política de financiamientoes una manera de orientar elcrecimiento del sistema. La aplicacióndel subsidio en materia de educaciónsuperior debe inspirarse en la necesidadde incrementar calidad; de adecuarpaulatinamente la prestación de esteservicio público a estándares internacio-nales; por la convicción de que lasinstituciones de educación superior debenprestar un servicio pertinente y respetuosode los referentes universales del

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6- Concepção e Desenvolvimento do Curso deCiências Contábeis

1. A concepção do Curso de CiênciasContábeis

A abertura de um curso de CiênciasContábeis em Porto Alegre, em 2002,justificava-se, inicialmente, porque a capitalgaúcha é uma grande metrópole e um pólogeoeconômico e educacional, com vastagama de empreendimentos industriais,comerciais, financeiros, educacionais e deserviços em todos os setores econômicos,para os quais o Contador exerce papelimportante.

Também mereceu destaque a posiçãogeográfica de Porto Alegre, no contextodo Mercosul, considerando-se a elevadaparticipação da economia gaúcha nomercado de exportação e importação.Deve-se recordar que tem sido política

perene do governo federal o estímulo àsexportações, vislumbrando-se desafios noestudo de práticas de comércio exteriore na harmonização dos princípios e normasinternacionais de contabilidade.

Existia, à época, uma grande demanda decandidatos ao curso, conforme seráevidenciado mais adiante, provavelmente emface dessas condições favoráveis decorrentesda economia local e do seu histórico deatuação, estimando-se, igualmente, elevadademanda pelos profissionais da área contábil,ao assumir-se o pressuposto de que oContador é um profissional indispensável emqualquer organização, independentementedo seu porte e segmento de atuação.

Aécio Cordeiro NevesCoordenador do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade

Dom Bosco de Porto Alegre, RSLuiz Dal Molin

Professor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS

Resumo: Na concepção do Curso deCiências Contábeis da Faculdade DomBosco de Porto Alegre, em 2002,considerou-se a posição geográfica dacapital e a robustez e participação daeconomia gaúcha no contexto nacional edo Mercosul. A densidade deaproximadamente oito candidatos porvaga, na UFRGS, foi também considerada.

O Curso veio atender à demanda porum profissional que, conjugando umaatuação harmônica com outrosprofissionais das áreas afins, com elevadaresponsabilidade social, contribuadecisivamente para a qualificação da açãogerencial.

Palavras-chave: Ciências Contábeis,Formação gerencial, Ética.

Abstract: In the conception of theCourse of Countable Sciences of theCollege Dom Bosco of Porto Alegre, in2002, it was considered the geographicposition of the capital and the robustnessand participation of the gaucho’s economyin the national context and of theMercosul. The density of approximatelyeight candidates for vacant, in the UFRGS,also was considered. The Course came totake care of to the demand for aprofessional who, conjugating a harmonicperformance with other professionals ofthe similar areas, with raised socialresponsibility, contributes decisively for thequalification of the managemental action.

Keywords : Countable Sciences,managemental Formation, Ethical.

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constituirán a su vez un primer ciclo dentrodel sistema de la educación superior, demodo tal que se favorezca la movilidadestudiantil al interior de la formaciónprofesional y hacia la avanzada.

17. Orientar la política de créditoestudiantil hacia instituciones yprogramas académicos acreditados.Aunque el crédito educativo forma partede la política de financiamiento, se resaltala importancia que tiene para el fomentode la calidad de la oferta y comoinstrumento para direccionar el sistemahacia objetivos deseables en el marco delinterés público. Adicionalmente, seconsolidará la acción del Consejo Nacionalde Acreditación para introducir en todaslas instituciones una cultura delrendimiento de cuentas y en la que lacalidad sea un valor que compromete elser y el hacer de cada una de ellas.

18. Buscar la transparencia delsistema de la educación superior. Ental sentido es prioritario el Desarrollo delSistema Nacional de Información, creadopor la Ley 30 de 1992. Esta transparenciaestará orientada a acabar con las asimetríasdel mercado educativo de este nivel y adarle transparencia al funcionamiento delsistema.

19. Seguir consolidando una políticapertinente en materia de formaciónavanzada que haga posible la formaciónde los docentes universitarios y deinvestigadores de alto nivel. En estadirección se apoyará la acción de laComisión Nacional de Maestrías yDoctorados en materia de acreditación deprogramas y se creará un mecanismo definanciamiento de los doctorados en el país.

20. Formar los docentes. Unapreocupación central en la lucha por lacalidad consiste en desarrollar programasagresivos en materia de formación denuevos académicos y de perfeccionaraquellos que se encuentran en ejercicio.

Se trata de una tarea que será asumida através de esquemas que responsabilicen alos gobiernos, a las instituciones y a losinteresados, de modo que a futuro todoacadémico posea el doctorado, sindetrimento de los talentos actuales queestán en ejercicio. La carrera académicaserá fortalecida, corrigiendo sus fallasactuales y urgiendo como criterio últimoel mérito académico, apreciado por lospares.

3. FINANCIAMIENTO PARA LAEQUIDAD

Motivaciones21. No tenemos consenso en

materia de una política definanciamiento. Según datos dePlaneación Nacional, “el total del gasto eneducación superior entre 1985-1998 semultiplicó por 3.7, incremento que se diofundamentalmente a partir de 1992. Hasta1991, el crecimiento, el crecimiento anualpromedio fue de 1.2% (7% en total);entre ese año y 1998, fue del 35% anualpromedio (146% en total), teniendo en1998 el crecimiento anual y el nivel másalto de todo el período”. La promulgaciónde la Ley 30 de 1992 estableció que losaportes anuales del presupuesto nacionaly el de las entidades territoriales a lasuniversidades estatales debían tener unincremento real tomando como base lospresupuestos de rentas y gastos de 1993,con la consecuencia de un incremento entérminos reales desde este último año. Sinembargo, en los últimos años, no sólosobre los montos de las transferencias derecursos sino sobre su alcance ysignificación hay diferencias marcadas enla discusión nacional. Las diferencias, soncon frecuencia radicales sin que hasta elpresente se tenga un consenso en estamateria entre los diferentes actores de laeducación superior. Como sucede enotros países, hacia el futuro será necesariopoder avanzar en la discusióntrascendiendo las posiciones unilateralessustentadas en información parcial e

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Na verdade, os conhecimentos trazidospelo curso de Ciências Contábeis,notadamente aqueles que não visamexclusivamente ao controle patrimonial,mas também à gestão e à ação conjunta eharmonizada com os conhecimentosobtidos em outras áreas profissionais, sãocada vez mais imprescindíveis para odesenvolvimento de qualquer nação.Desde a fase inicial de qualquerempreendimento (análise de viabilidade,plano de negócios e constituição formalda empresa), até as fases pré-operacional,operacional e mesmo na descontinuidadeorganizacional, as empresas têm nosconhecimentos do profissional da áreacontábil um dos seus importantes pilares.

Utilizou-se, então, comosinalizador da procura decandidatos/vaga o históricodos concursos vestibularesanteriores da UFRGS(Universidade Federal doRio Grande do Sul), cujadensidade estava crescendode sete candidatos por vagaem 1997, para 9,87 em2001, com demanda re-primida. Posteriormente,conforme se observa noQuadro 1, houve um gradativo retorno aopatamar inicial, mantendo-se na faixa entresete e oito candidatos por vaga. Estedeclínio pode ter sido causado pelaautorização do funcionamento de diversosnovos cursos de Ciências Contábeis emfaculdades de Porto Alegre, entre os quaissão exemplos: Faculdade São Francisco deAssis (UNIFIN), Faculdades MonteiroLobato (FATO), Escola Superior deAdministração, Direito e Economia(ESADE). Além disso, observou-se umaumento no número de vagas em cursosjá existentes, bem como determinadasfacilidades financeiras, como a redução dopreço das mensalidades, com ou sem aampliação do prazo de conclusão do curso.

Quadro 1 – Candidatos por Vaga nosVestibulares da UFRGS

onA agav/otaditnaC sotadidnacºN sagavºN

6002 01,7 499 041

5002 04,7 630.1 041

4002 10,7 189 041

3002 68,8 042.1 041

2002 96,7 670.1 041

1002 78,9 283.1 041

0002 57,7 580.1 041

9991 00,8 240.1 031

8991 05,7 579 031

Fonte: www.ufrgs.br/vestibular, disponível em 04/11/05, adaptado.

O curso foi concebido tendo em vistatrês bases principais desustentação:

a) contribuição decisiva àação gerencial;

b) elevada responsabi-lidade social;

c) atuação harmônicaconjugada com profissionaisdas áreas afins.

No primeiro aspecto, daação gerencial, o Contador éum profundo conhecedor darealidade econômico-

financeira da empresa. Portanto, não se deveprescindir do seu apoio ao processo detomada de decisão. As organizações vêmreconhecendo este papel, com crescenteaproveitamento de Contadores na funçãode Controller, Contador gerencial, analista decustos e das demonstrações contábeis.

No que concerne à responsabilidadesocial, a Contabilidade vem contribuindoenormemente para a divulgação das açõessociais da empresa, mediante o que seconvencionou chamar de “Balanço Social”.Neste, são incluídas informaçõesrelevantes sobre as políticas da empresaou instituição em relação aos seuscolaboradores e comunidade, os fluxos degeração do valor adicionado e a suadistribuição para os segmentos do trabalho(remuneração da mão-de-obra), do capital(remuneração dos sócios ou acionistas),

“Um diferencialestabelecido na

concepção do cursoconsiste na ênfaseaos estágios e ao

trabalho deconclusão, de formaa aliar plenamente a

teoria à prática”.

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por cobertura con calidad significa tambiénpreocupación por la eficiencia académica.

12. La calidad debe poder serapreciada. Esta calidad se expresa en unconjunto de atributos que deben poderpredicarse de los programas académicosy de las instituciones como un todo;atributos que deben poder verificarse ycompararse internacionalmente. Se tratade características identificables por lospares académicos, apreciables por losorganismos competentes y sobre cuyabase el Ministro de Educación, encumplimiento de lo exigido por la CartaPolítica, expide el acto administrativo dela acreditación de los programasacadémicos y de las instituciones, sin quese agote en este mecanismo la posibilidadde rendir cuentas ante la sociedad y elEstado, de la calidad de la oferta educativa.

13. Cobertura con calidad favorecela equidad y posibilita el atender losdesafíos ético políticos que enfrentamosen el país. Sin la calidad como objetivo finaltodas las demás acciones que se definan enmateria de educación superior carecen desentido. A cada una de las instituciones se lepide que haga una oferta con calidad y quefavorezca la equidad social. La impunidad, lacorrupción, el enriquecimiento ilícito, comofenómenos ampliados, cuestionan el tipo deformación que se ofrece a la juventud delpaís. La tasa de escolaridad alcanzada parafinales del siglo y la conversión de la luchapor la calidad en lucha contra los pobresconvierten la forma de funcionamiento delsistema de educación superior en una buenaestrategia para incrementar la brecha entrericos y pobres, generando marginalidad,polarización, y exclusión; y cada vez, conmayores posibilidades de llegar a serinstituciones exitosas en una sociedadfracasada. La sociedad reclama y lamenta lainexistencia de un liderazgo claro de launiversidad colombiana en un momento decrisis de valores, de carencias de visionescomprehensivas de los fenómenos y deposibles hipótesis de solución a los problemas

ya crónicos en los campos económico, socialy político.

14. En la actualidad, y a pesar de losesfuerzos realizados, no podemos hablarde la existencia de un “sistema” deeducación superior y carecemos deinformación oportuna. Una de lascaracterísticas de la expansión del sistemade la educación superior en la últimadécada la constituye la diferenciación. Esdecir, que han surgido nuevos tipos deinstituciones y nuevos proveedores delservicio con un inusitado número deprogramas y de títulos. No hayhomogeneidad alguna en el sistema y éste,como tal, no ofrece la posibilidad al usuariode captar con transparencia la ofertaexistente en el mercado. En el caso de laeducación superior, nos encontramos conun mercado lleno de asimetrías y sininformación; lo que hace pensar que lacalidad promedio haya disminuido,haciéndose imposible apreciar cuáles sonlos resultados que el denominado sistemade educación superior arroja al país.

Recomendaciones El primer pilar de la política en materia

de educación superior consiste en laampliación de cobertura con calidad. Paraello será necesario:

15. Ampliar la base social delsistema de la educación superior.Aumento de cupos en las instituciones decarácter oficial que ofrecen el serviciopúblico de la educación superior. Talescupos estarían orientados a favorecer lossectores más pobres y vulnerables.

16. Diversificar la oferta educativa.Ampliar las modalidades educativas técnicay tecnológica, asumiendo su carácterespecífico respecto de la modalidaduniversitaria, y convirtiéndola en opción decalidad deseable para los jóvenes. Sebuscará que tales programas formen parael trabajo en el campo técnico y en el de lastecnologías duras. Estos últimos,

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dos encargos financeiros (remuneraçãodos agentes financeiros) e dos tributos(remuneração dos governos).

Quanto à atuação harmônica comprofissionais de áreas afins – administradores,economistas, informáticos, advogados,estatísticos – sua instrumentação ocorre pelautilização de metodologia de ensino eaprendizagem que estimule o compartilha-mento de estudos em grupos, habilitando oegresso para a realização competente detrabalhos em equipe.

Esse aspecto vem se concretizandomediante a utilização da metodologia dosgrupos de atividades cooperativas,amplamente disseminada na Faculdade,que vem promovendo curso específico -Curso de AprendizagemCooperativa e TecnologiaEducacional na Universi-dade - Em Estilo Salesiano -com turmas formadas em2004 e 2005, atingindoaproximadamente 80% doquadro de professores.Além de prover o arca-bouço educacional e umaopção pedagógica, o cursoenfatiza a utilização dasnovas tecnologias educacio-nais e de comunicação emmeio informático, e apedagogia salesiana, nos termos daeducação preventiva desenvolvida porDom Bosco que, como se sabe, assenta-se em três pilares: razão, transcendênciae bondade.

Um diferencial estabelecido naconcepção do curso consiste na ênfase aosestágios e ao trabalho de conclusão, deforma a aliar plenamente a teoria à prática.A inserção no mercado de trabalho atravésde estágios curriculares, com umaadequada orientação acadêmica eintegrada à empresa, bem como umacompanhamento personalizado para aelaboração do Trabalho de Conclusão doCurso (TCC), permite uma excelenteoportunidade de efetivo crescimentopessoal e profissional, constituindo um

grande referencial para o Curriculum Vitaedo acadêmico. O currículo do cursoestruturou o estágio e o trabalho deconclusão de curso em cinco módulos,todos com 60 horas-aula, fato nãoobservado em nenhuma das IEScongêneres de Porto Alegre.

Talvez o maior imprevisto tenha sido anão autorização dos dois ingressos anuais,criando alguma dificuldade na ofertasemestral de todas as disciplinas ereduzindo a flexibilidade dos alunos namontagem da sua agenda acadêmica, bemcomo na manutenção constante do corpodocente. A presença do consultor do MECdesignado para avaliação do processo dereconhecimento do curso poderá

representar oportunidadepara pleitear-se oatendimento do projetooriginal.

2 – O desenvolvimentodo Curso

Os valores e os di-ferenciais previstos naconcepção original do cursovêm sendo gradativamenteimplantados, contando comum decisivo apoio daMantenedora e de toda acomunidade acadêmica –

direção, coordenação, professores,técnicos administrativos e corpo discente.Evidentemente, como ocorre com todosos cursos, o de Ciências Contábeis daFaculdade Dom Bosco de Porto Alegreestará sempre se atualizando, adequando-se às mudanças operacionais, tecnológicas,científicas e profissionais.

Para o atendimento dos pilares desustentação do curso, anteriormentereferidos, são abrangidos, no seu currículo,conhecimentos, habilidades e atitudesrelacionados com a capacidade gerencial, coma ética e com a dimensão empreendedora.Na área gerencial, o curso conta com umconjunto de sete disciplinas que promovem acapacitação necessária a esse objetivo:

a) Gestão de Custos;

“O egresso daFaculdade Dom Boscode Porto Alegre terá

uma posturaprofissional mais ativa e

prospectiva, comcapacidade de análise,

de domínio deconceitos e crítico

diante das inovaçõestecnológicas”.

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distintas de las académicas, según estrato,sino porque desde la básica, se da unproceso creciente de deserción entre losestudiantes de menores recursos haciendomás amplia la brecha entre pobres y ricosen este nivel educativo. Finalmente, hacia1.992 el número de docentesuniversitarios con título doctoral era 1.223,sobre un total de 54.414. En la actualidad,sobre un total de 86.166, sólo 1.882poseen dicho título; es decir, el 2.2%aunque pueda considerarse como positivoque haya aumentado entre ellos el númeroque posee el grado de especialista,pasando a significar del 13% a comienzosde la década al 23% en 1.999.

10. El aumento de la matrícula noha significado mayor calidad. Ahorabien, a pesar del aumento de coberturaque indica las cifras anteriores, la demandacontinúa desbordando la oferta. Aquellaha sido asumida en su mayoría por elsector privado; la participación actual delsector oficial en la matrícula total no pasadel 33%. La inexistencia de cupos en launiversidad pública sigue alimentando laexpansión de programas académicos eninstituciones privadas que no han iniciadoprocesos de autoevaluación, o deevaluación por pares. Si se tiene en cuentaque el 40% de la matrícula total seencuentra en la jornada nocturna y en losprogramas de modalidad a distancia, lainsuficiencia del profesorado conformación de postgrado y la escasez derecursos nacionales existente para suformación en universidades del exterior oen programas doctorales nacionales,podemos inferir que el aumento decobertura no sólo no ha sido suficiente sinoque no ha significado incrementosustantivo de calidad. Esta última situaciónes inaceptable; por el contrario, sideseamos incorporar al sistema losestratos de menores ingresos, el esfuerzode incrementar cobertura con calidaddebe ser mayor con el fin de enriquecerel proceso de socialización y subsanar laslimitaciones que podamos encontrar en la

formación primera de los candidatos.El incremento de la calidad se encuentra

comprometido mientras mantengamoslimitaciones para tener programasacadémicos bien diseñados; para contar conuna nómina de docentes bien formados; paradisponer de condiciones físicas y ambientalesque incentiven aprendizajes de calidad y conestudiantes realmente comprometidos conlos procesos de formación; pero sobre todomientras se permitan en los programasacadémicos métodos pedagógicos en los queno se trasciende la cadena tradicional dehablar, copiar, memorizar y reproducir, sinmás mediación que el texto y centrados enla acción del docente. Aumentar coberturaexige compromiso efectivo con la calidad delservicio que se presta. Pero la lucha por lacalidad no se puede resolver en contra delos pobres. Cada vez aumenta lapreocupación de diferentes sectores socialesque hacen uso de los servicios que prestanlas instituciones acerca de ¿Cómo van aproceder para aumentar cobertura sindisminuir calidad? ¿Cómo van a establecermecanismos de calidad sin que ello signifiqueuna lucha en contra de los estudiantes queadolecen de una formación previadeficiente?

11. La demanda por educaciónsuperior irá en aumento. En la medida enque un mayor número de estudiantesterminen su formación básica y media seincrementará la demanda por educaciónsuperior. A su vez, las nuevas realidadespermitirán a los individuos valorar losbeneficios que reporta el poseer unaformación de nivel superior, lo que significaráque nuevos grupos de edad, por la necesidadde una educación a lo largo de la vida asistirána las aulas. Todo ello significa que habrá máscolombianos que tocan a las puertas de lasinstituciones de educación superior. Por ellomismo, no podemos permitir en adelante lapersistencia de fenómenos que se alimentanmutuamente: una baja cobertura, una tasade deserción extremadamente alta y unalargamiento exagerado del número deperíodos académicos para graduarse. Lucha

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b) Contabilidade e Análise de Custos;c) Contabilidade Gerencial;d) Orçamento Empresarial;e) Controladoria e Empreendedorismo;f) Sistemas de Informação Contábil;g) Balanço Social e Ambiental.Com referência à ética, o currículo não se

circunscreve à ética profissional, mas apresentavárias disciplinas humanísticas, nas quais sãodiscutidos os comportamentos humanos e suasrepercussões individuais e coletivas, osconceitos de moral e de ética e suaaplicabilidade às circunstâncias do dia-a-dia daspessoas. A própria pedagogia salesiana,inspirada no método preventivo de DomBosco e reforçada pela identificação dedocentes e discentes aos seus valores, atravésde curso de capacitação dos docentes para autilização da metodologia de grupos deaprendizagem cooperativa, assegura o êxito naproposição de uma atitude que expresse maiorresponsabilidade social.

O currículo do Curso atende, em todosos aspectos, às exigências quanto aosconteúdos de formação básica, profissional eteórico-prática. Assim, atende ao plenoentendimento da terminologia contábil atual,às normas vigentes para as entidades(empresas e instituições) nas esferassocietária, fiscal, trabalhista e previdenciária,ao preparo para a ação profissional, com iníciona teoria e prosseguindo pela prática contábil,passando pelas áreas de custos, gerencial,orçamentária, de controladoria, de auditoriae da ética. Finalmente, inter-relaciona a teoriacom a prática mediante o uso do LaboratórioContábil, complementado pelos Estágios e oTrabalho de Conclusão do Curso.

O egresso da Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre terá uma postura profissionalmais ativa e prospectiva, com capacidade deanálise, de domínio de conceitos, crítico diantedas inovações tecnológicas, um participanteefetivo na tomada de decisão das empresas,com pleno conhecimento das causas e efeitosdas variações patrimoniais presentes e futuras.

Em 2006/1 o estágio curricularsupervisionado entrará na fase eminentementeprática, extraclasse, proporcionando a saudávelconfrontação entre a teoria e a prática, e

possibilitando aos acadêmicos o direcionamentoà atuação profissional. Iniciar-se-á também oprojeto do trabalho de conclusão de curso,propiciando a utilização dos conhecimentos dametodologia científica, aplicados na construçãoda temática objeto de investigação. Tambémestarão em fase de implantação as monitoriasacadêmicas, em algumas das disciplinas, o quedeverá despertar interesse, motivar aintensificação de grupos de estudo e agregarmaior estímulo ao saber.

3 - Perspectivas futurasConsiderando a relevância da abertura

à comunidade, estão sendo definidosprojetos de atuação e serão estabelecidasparcerias com empresas e instituições, deforma a tornar o curso efetivamenteintegrado. Inicialmente, foram definidasparcerias com empresas fornecedoras desoftwares de Contabilidade, não apenaspara obtenção dos seus programasinformatizados, mas para que se estabeleçamaior envolvimento das mesmas namanutenção e atualização dos programas,e treinamento de professores e alunos.

Em linha semelhante, serão buscadosconvênios com empresas e instituições para oingresso de alunos, realização de treinamentos,concessão de estágios, atendimentos pelaEmpresa Júnior e definição de cursosespecíficos. Essas ações irão contribuir para umdiagnóstico da adequação do perfil do egresso,considerando os anseios e as necessidades dasempresas, instituições e comunidade.

Entre os projetos em estudo, merecedestaque a criação de cursos de pós-graduação da Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre, que irão oferecer novasperspectivas de educação continuada, como aprofundamento dos estudos em áreasde interesse dos alunos, através de cursosde especialização acadêmica e profissional.

O Curso de Ciências Contábeis, tal como aFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre,continuará a passos firmes para atingir todos osobjetivos a que se propôs quando de sua origem,perseguindo sempre a excelência acadêmica,construindo oportunidades de profissionalizaçãoe cidadania, sob o lema de que formação é atitude.

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los programas académicos de nivelpráctico, profesional y avanzado quepuede cursar una persona, una vez que haconcluido el undécimo grado deescolaridad. Niveles que involucran tiposde conocimiento diferentes, en lassiguientes áreas: científico, técnico ytecnológico (Ciencias Naturales y Exactas,Ciencias Sociales y Humanas, Ciencias dela Salud, las Ingenierías), las Artes, laFilosofía y la Pedagogía.

5. La autonomía, garantizada por laCarta Política a las Universidades, constituyeuna responsabilidad y compromiso de éstascon la calidad y efectividad en elcumplimiento de las funciones que les sonpropias en relación con su carácter, misióny vocación institucional.

6. La apropiación de la cultura universal,la preservación de la diversidad natural ycultural, el cuidado del medio ambiente, laeducación a lo largo de la vida, el desarrolloy consolidación de las comunidadesacadémicas, la incorporación de nuevastecnologías en los procesos pedagógicos yla formación del estudiante como agente decambio y ciudadano responsable constituyenun interés central del Estado con el sistemade la educación superior.

7. Las instituciones que integran elsistema de educación superior, deconformidad con su carácter, vocación yperfil institucional, tienen un compromisocon las exigencias que dimanan de lanecesidad de construir una sociedad justa,abierta y flexible; con los referentesuniversales del conocimiento; con lasurgencias de la sociedad colombiana y conlos aspectos ético políticos del desarrollo.

8. Los gobiernos adelantarán políticas,estrategias y acciones específicas en favordel desarrollo y consolidación del sistemade la educación superior, del incrementode los procesos de la autoevaluación yacreditación de programas académicos yde instituciones; de la educación avanzada;

de los exámenes de Estado; demejoramiento de la información y de lamodernización de la gestión de lasinstituciones.

2. AMPLIACION DE COBERTURA CONCALIDAD

Motivaciones9. Tenemos problemas de

cobertura y de calidad. La expansiónde la matrícula, de instituciones, deprogramas académicos, en la últimadécada, tanto como los niveles deformación de los docentes y el efecto queeste tipo de expansión ha tenido sobrela calidad del servicio educativo, en uncontexto de escasez de recursos, nosindica que a pesar de los esfuerzosrealizados y los logros alcanzados por losgobiernos y las instituciones adolecemosde limitaciones en materia de cobertura,situación que pone en tela de juicio laequidad del sistema y su pertinencia parael país. El ingreso de la población de 17 a24 años a la educción superior siguesiendo un privilegio de los hogares demayores ingresos. Si en 1.991 la matrículaalcanzaba la cifra de 510.606 estudiantes,para el año de 1.999 esta cifra se eleva a877.944; es decir, que el incrementoequivale al 72%. encontrándoseampliamente concentrada en lasprofesiones liberales. A su vez,aumentaron las instituciones durante ladécada, habiéndose creado 39 nuevas, loque significa un incremento del 13.8% y,particularmente, los programasacadémicos; los cuales pasaron de 2.389en 1992 a casi 8.000 en el año 2.000 sinque las condiciones de aprendizaje y lacalidad de los docentes se hayaincrementado sustancialmente. Según lascifras del “Informe de DesarrolloHumano. Colombia 2000”, la mayorproporción de los asistentes ainstituciones de educación suprioroficiales proviene de los hogares demayores ingresos; no porque estasinstituciones discrimen, por razones

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7- O Curso de Sistemas de Informação daFaculdade Dom Bosco de Porto Alegre:

A Diferença está na Atitude

Letícia Silva GarciaProfessora Dra. e Coordenadora do Curso de Sistemas de Informação da

Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS

Resumo: Neste artigo apresenta-se oprocesso de criação, implantação ereconhecimento do curso de Sistemas deInformação da Faculdade Dom Bosco dePorto Alegre. Para tanto, são apresentadosdados históricos, processos administrativose fortalezas e debilidades do curso, bemcomo seus encaminhamentos futuros,sempre baseados no Sistema Preventivo deDom Bosco e na atitude como diferencial.

Palavras-chave: Sistemas deInformação, Sistema Preventivo de DomBosco.

Abstract: This article one presents theprocess of creation, implantation andrecognition of the Course of InformationSystems of the College Dom Bosco ofPorto Alegre. In such a way, it’s givenhistorical data, administrativeproceedings, strong points andweaknesses of the course, as well as itsfuture directions, always based in thePreventive System of Don Bosco and inits attitude as distinguishing.

Keywords: Information Systems,Preventive System of Don Bosco.

1. IntroduçãoEm outubro de 2000 foi-nos dada a

tarefa de criar um curso na área decomputação para uma instituição deinspiração Cristã e índole Salesiana, que seformaria a partir dos três pilares desta:“Razão, Religião e Bondade”. A primeiradecisão foi, então, em qual dos eixos da áreade Ciência da Computação esta instituiçãoatuaria, uma vez que institucionalmente nãose tinha uma visão ampla das diferentespossibilidades de implantação de cursosnesta área. Passados os esclarecimentosiniciais à equipe de desenvolvimentoinstitucional, denominada GTU – Grupo deTrabalho Universidade, esta decidiu quedentre as quatro opções de curso naquelemomento recomendadas pela SociedadeBrasileira de Computação (http://www.inf.ufrgs.br/mec), a opção seria porum curso de Sistemas de Informação.

Criar um currículo na área de Ciênciada Computação em que a atitude

humanista e preventiva, característica daEducação Salesiana, fosse o eixo central,tornou-se um desafio, visto que oprofissional de informática eminentementeé estereotipado como voltado para atecnologia e pouco comunicativo. Junto aesse desafio, havia o de conhecer aidentidade pouco a nós revelada de umainstituição que está se formando, bemcomo estudar os pilares da EducaçãoSalesiana e conhecer Dom Bosco, uma vezque o curso a ser criado viria a fazer partede sua Obra.

Passados cinco anos desta primeiramissão, cabe-nos o desafio diário decoordenar um curso com o objetivo demanter-se atual, dinâmico e competitivo,atendendo às determinações do Ministérioda Educação e da Sociedade Brasileira deComputação, bem como às oscilaçõestípicas de demanda do mercadoprofissional no qual nossos egressos estão

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1. PRINCIPIOS

1. El sistema de la educación superiorse rige por la Carta Política, por losreferentes universales del conocimiento ylas necesidades de la sociedad. El serviciopúblico de la educación superior tienecomo finalidad propiciar el desarrollointegral de la persona y la adquisición decompetencias básicas para ser, hacer,comprender, participar y convivir.

2. La educación superior es un factordel desarrollo; de éste depende en granparte la posibilidad de insertarnos en elescenario de la globalización y en la sociedaddel conocimiento evitando sus posiblesefectos nocivos; Es, a su vez, una mediaciónnecesaria para construir una sociedad justay solidaria. Incrementar la educación paraun mayor número de personas es una

1. Principios RectoresPara una Política de Estado en Materia de

Educacion Superior*Luis Enrique Orozco Silva

Director de la Cátedra UNESCO en la Universidad Los Andes, Bogotá, Colombia

condición básica de una cultura de paz.

3. La educación superior es “unservicio público de naturaleza cultural”ofrecido por el gobierno y los particulares.La Ley y sus Decretos reglamentariosconstituyen su marco jurídico inmediato.En consecuencia, el compromiso de cadauno de ellos en su propia esfera en laprestación del mismo con calidad,pertinencia, equidad y eficiencia es unaresponsabilidad ineludible. De aquí laimportancia de la intervención de losgobiernos con un criterio pluralista en dosgrandes campos: fomento y supervisión(inspección, vigilancia y control).

4. La educación superior comprende

* Extraído do Guia 7 do “Plan de las IUS: Asegurar los cimientos (los fundamentos) de las instituciones”.

Resumo: La educación superior es unfactor del desarrollo; de éste depende engran parte la posibilidad de insertarnos enel escenario de la globalización. Laeducación superior es “un servicio públicode naturaleza cultural” ofrecido por elgobierno y los particulares en Colombia.Así siendo, el gran desafío de este procesode desarrollo es ofertar una educación decalidad y amplia para la mayor parte denuestra sociedad. Así como elegir cuáleslos tipos de políticas y modelos que mejorse adecuan nuestra sociedad.

Palabras-chave: educación superior,desarrollo, políticas y modelos educa-cionales.

Abstract: The university degreeeducation is a factor of the development;and this is very important to grant us apossibility to access globalization. Theuniversity degree education got to be "apublic service of cultural nature" providedby the government and private inColombia. So the great challenge of thisprocess of development is to supply aneducation with high quality and open formost of our society, as well as choosingwhich types of policies and methodologiesare most appropriate to our society.

Keywords: superior education,educational development, policies andmodels educational.

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inseridos, mas acima de tudo, coerentecom o modo de ser Salesiano de se fazereducação superior.

Pretende-se aqui contar como seatendeu a este desafio, na concepção docurso, na criação do currículo, naelaboração dos programas de ensino, naimplantação e gestão diária do curso,culminando com seu eminente processo dereconhecimento.

2. Concepção do cursoO Curso de Sistemas de Informação da

Faculdade Dom Bosco de Porto Alegreemerge da certeza que a sólida formaçãotecnológica, aliada ao compromisso com aética, o desenvolvimento social e a atitudecooperativa, caracterizam-se como umdiferencial competitivo nomercado de trabalho.Desta forma, jovensprofissionais com esteperfil apresentam-se comoalternativa ao estereótipodo profissional na área decomputação.

Considerando as dire-trizes curriculares vigen-tes na época (http://www.mec.gov.br/sesu),as necessidades do mercado de trabalhoemergente, a oferta de cursos na área decomputação nas instituições em nossaregião de atuação, bem como o perfildesta, concebeu-se o curso com o objetivode “formar profissionais da área da Ciênciada Computação com ampla formação emcomputação e forte caráter humanísticoque, aliados a conhecimentos gerenciais,são capazes de utilizar a tecnologia comoelemento facilitador da interação daspessoas entre si e destas com o mundo”.

Este objetivo nos traz a necessidade deestabelecer um currículo baseado naformação tecnológica, mas tambémfortemente alicerçado nas habilidadesgerenciais e de comunicação. Aorganização do currículo prevê aintegração entre três eixos temáticoscurricularmente definidos, a partir da qual

se forma um egresso capaz de “utilizar osrecursos humanos, de informática eautomação, visando à qualificação dosprocessos produtivos e gerenciais nasdiferentes organizações, gerando, destaforma, um espaço produtivo de melhorqualidade aos elementos humanos que ocompõe.”

Os eixos temáticos definidos são: (a)Eixo de Formação Tecnológica, ondedestacam-se linhas de formação nasseguintes áreas: Algoritmos e Programação,Organização, Arquitetura de Compu-tadores e Sistemas Operacionais, Análisede Sistemas e Engenharia de Software eainda Banco de Dados. Cada linha deformação conta com disciplinas que seencadeiam em seus conteúdos e

procedimentos avalia-tivos, sendo que estes sãoamplamente discutidosnas reuniões do colegiadode curso, integralizando69,25 % da carga horáriado curso; (b) Eixo deFormação Humanística,onde alocam-se asdisciplinas que compõemo perfil generalista doegresso, contribuindo

para a construção de suas habilidades decomunicação e expressão, relacionamen-to humano e desenvolvimento deequipes, integralizando 20,5 % da cargahorária do curso; e (c) Eixo deFormação Complementar, onde sãotrabalhados os conhecimentos necessáriosà correta leitura das organizações nas quaisos Sistemas de Informação estão inseridos,atuando na complementação do perfil doegresso, integralizando 10,25 % da cargahorária do curso.

Isto posto, foram definidas as disciplinasem suas respectivas ementas e bibliografia,sendo que o conteúdo programático seguesendo atualizado semestralmente pelosprofessores.

3. Implantação do CursoConcluída a fase de projeto do curso,

“A sólida formaçãotecnológica, aliada ao

compromisso com a ética,o desenvolvimento social e

a atitude cooperativa,caracterizam-se como umdiferencial competitivo no

mercado de trabalho”.

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enriquecido pela tradição salesiana. Da segunda metade do século XIX até os nossosdias, o Sistema Preventivo de Dom Bosco continua sendo uma proposta corajosa eaderente aos jovens e aos tempos.

Iniciamos nossa Faculdade com três cursos: Administração, Ciências Contábeis eSistemas de Informação. Quisemos que o testemunho dos três coordenadores destescursos mostrasse aos leitores os passos seguidos na sua concepção, elaboração eimplantação.

Finalmente, há a resenha bibliográfica do livro mais recente do maior estudioso deDom Bosco, docente da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma. Nele o leitorencontrará um estímulo para engajar-se na educação das novas gerações paratransformá-los em bons cristãos e honestos cidadãos. P. José Jair Ribeiro, salesianoigualmente, esmera-se em debulhar este livro animando o leitor a lê-lo e saboreá-locom avidez até o fim.

Levar a termo este número exigiu uma ATITUDE de honestidade intelectual, amordesinteressado e apaixonante, desejo de partilhar com instituições congêneres nossahumilde, mas ao mesmo tempo forte e robusta proposta de educação superior.

Conselho Editorial da Revista Atitude – Construindo Oportunidades

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em torno de fevereiro de 2001, houve umaação do Ministério da Educação no sentidode restringir a abertura de novas Instituiçõesde Educação Superior. Desta forma,somente podemos iniciar o processo deimplantação do curso a partir da autorizaçãode funcionamento da Faculdade, queocorreu em 26 de novembro de 2002,através da portaria 3.254 e da conseqüenteautorização do curso, através da portaria2.255, da mesma data.

O primeiro dos desafios foi constituirum corpo docente identificado com ainstituição, que apesar de recém-criada, jásurgia com uma forte identidade, baseadana identidade internacional e nacional dasInstituições Universitárias Salesianas e daíndole Salesiana em si. Não bastava a sólidaformação, teríamos quebuscar pessoas realmenteimbuídas do espírito deconstruir uma FaculdadeSalesiana. Constituído ocorpo docente inicial docurso, iniciamos as aulasem 10 de março de 2002.

Como dois anoshaviam se passado daconcepção e criação doprojeto, foi necessária acriação, pelos professores, de Planos deEnsino que atendessem as ementasinicialmente constituídas, porém, que semostrassem atualizadas à nova realidadeque o curso estava se inserindo. Algumasdecisões tomadas em tempo de projeto nospermitiram manter a atualidade do curso,como a ênfase em trabalho cooperativo eo fato das ementas serem genéricas,baseadas em conteúdos mínimos.

Passado o primeiro e o segundo anoda implantação, percebe-se umanecessidade de maior aproximação como mercado de trabalho, visando a melhorcolocação de nossos alunos, bem como amaior adequação das atividadesdesenvolvidas em sala de aula ao mercadono qual nossos alunos estavam seinserindo. Tal aproximação resultou narealização de eventos na Faculdade, como

a 1ª Mostra de Software, Reuniões daSUCESU, palestra para profissionais derecrutamento e seleção sobre o perfil doBacharel em Sistemas de Informação eainda convênios com entidades de classevisando o aporte de alunos.

Neste terceiro ano de funcionamentodo curso, percebe-se que as atitudescooperativas, proporcionadas pelacaracterística da Educação Salesiana e pelaformação pedagógica de todos osprofessores do curso para o trabalhocooperativo (através de curso de extensãoem Aprendizagem Cooperativa em EstiloSalesiano), caracterizaram-se como umdiferencial competitivo de nossos alunosno mercado de trabalho. Em um espaçoprofissional voltado ao trabalho em

equipes, a atitudecooperativa desenvolvidapelos nossos professores,junto aos alunos, temfeito diferença nomomento da colocaçãoprofissional destes.

Uma das característicasdos cursos de Sistemas deInformação é o alto índicede evasão, sendo que,segundo o censo do INEP

(http://www.inep.gov.br), o total dematrículas anuais em âmbito nacional é de51.722, contrapondo-se bastante ao númerode concluintes, 2.865. Tal característica nãose apresenta em nosso curso, onde asevasões e os índices de reprovação sãomínimos.

4. Processo de ReconhecimentoPassados cinco anos do projeto do

curso e três da sua implantação, inicia-seo seu Processo de Reconhecimento,necessário à emissão e validação de nossosdiplomas. Este é um momento oportunopara a auto-avaliação e o reprojeto docurso. Manter-se atual é um desafiopermanentemente enfrentado pelacoordenação e pelos professores.

Tal desafio é trabalhado no dia-a-dia docurso através dos Planos de Ensino,

“A certeza de estarrealizando um trabalho

consolidado, parte da Obrade Educação Salesiana, dá-nos ânimo para prosseguir

na tarefa de se fazereducação superior baseadano Sistema Preventivo de

Dom Bosco”.

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Apresentação

ATITUDE – Construindo Oportunidades é uma Revista de Divulgação Científicada Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS, Brasil. Nossa Faculdade insere-se nogrande esforço salesiano em ser uma presença eficiente e eficaz junto à juventude.Nosso patrono – São João Bosco (1815-1888) – viveu, batalhou, comprometeu-se atéo fim de sua vida com a educação das novas gerações. Educar é participar com amor naconstrução de pessoas para que sejam “bons cristãos e honestos cidadãos”.

ATITUDE é palavra-chave em nossa Faculdade. Atitude significa decisão, coragem,determinação, bravura. Com outras três palavras, representa nossa postura de vida:empreendedorismo, cooperação e responsabilidade social. Empreendedorismo significaatitude pró-ativa. A dinâmica do mundo exige esta postura e não mais atitudes reativas.Cooperação significa apostar no trabalho em grupo, no associacionismo, na vivência decomunidade. Responsabilidade Social está na linha da geração da cultura da solidariedade.As novas gerações herdam um mundo com grandes desafios. Queremos que elas eeles recebam uma educação forjada na perspectiva da esperança e da utopia. Esta é amissão desta Revista.

ATITUDE, número 1, foi organizada para relatar um pouco a vivência do grupo depessoas mais envolvidas com a concepção, gestação e nascimento de nossa Faculdadecom seus três cursos iniciais: Administração, Ciências Contábeis e Sistemas deInformação. É uma partilha de vidas. Nosso Projeto de Desenvolvimento Institucional(PDI) foi realizado de forma coletiva desde a primeira pedra.

Luiz Enrique Orozco Silva, Diretor da Cátedra UNESCO na Universidade dosAndes de Bogotá, apresenta um artigo magistral sobre as Políticas de Estado emEducação Superior. Numa época de globalização e mundialização, quem não tiver umavisão ampla da realidade e das grandes tendências da educação superior, corre o riscono mínimo de pouco ou não influenciar nos rumos da sociedade e da história. Orozcoé consultor das IUS, organização internacional encarregada de coordenar a presençasalesiana nas Instituições de Ensino Superior.

Erneldo Schallenberger, com formação salesiana da licenciatura ao doutorado,com larga experiência adquirida no reitorado da UNIOESTE de Cascavel, PR,reconhecido internacionalmente por suas pesquisas, quer da história missioneira, querda educação cooperativa, estabelece algumas coordenadas da presença dos salesianosna educação superior no sul do Brasil.

A Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre é mantida pela Inspetoria Salesiana SãoPio X, com sede também em Porto Alegre. Ela é presidida pelo P. José Valmor CésarTeixeira. A ele cabe um dos artigos da revista no sentido de anunciar as grandespropostas da presença salesiana na educação superior. Estas políticas procuram manter-nos nos rumos do carisma de Dom Bosco. Muito contribui para a educação das novasgerações a definição de uma identidade institucional.

No mesmo caminho, insere-se o artigo de P. Marcos Sandrini, salesiano, diretorda Faculdade, situando a proposta do sistema de educação iniciado por Dom Bosco e

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revisados a cada semestre, bem como dabibliografia, ampla e em constanteprocesso de atualização. A cada semestresão adquiridos novos títulos, visando àqualificação do acervo bibliográfico.

Durante a preparação para o processo dereconhecimento, foram percebidas as forças edebilidades do curso. As forças se apresentamcomo sendo o Projeto Pedagógico e o CorpoDocente qualificado para o ensino, bem comoa biblioteca bem equipada. As debilidades ficampor conta do baixo engajamento de docentesem pesquisa, o que tende a ser minimizadoquando da implantação de grupos de apoio quesuportem a realização dos Trabalhos deConclusão de Curso. Neste momento estamosnos preparando para receber a comissão deverificação. Temos um diagnóstico claro dasituação do curso e perspectivas, o que nos dásegurança para atuar e planejar o futuro.

5. Desafios e PerspectivasComo desafios e perspectivas, neste

momento apresentamos: (a) reestruturaçãocurricular; (b) colocação de egressos e (c)consolidação da faculdade como um todo.

Quanto à reestruturação curricular,visando a adequação do projetopedagógico a algumas práticas adotadasnos planos de ensino para atender asdemandas de atualização, convém ressaltar

que o projeto do curso, por ser dinâmico,se mantém atual, sendo que o trabalho doreprojeto do curso deve se concentrar naadaptação das novas demandas tecno-lógicas.

Quanto à pós-graduação, pretende-seinvestir em um diferencial que congregue ostrês cursos hoje consolidados e em processode reconhecimento, a saber: Administração,Ciências Contábeis e Sistemas de Informação.Pretende-se implantar a pós-graduação apóso processo de reconhecimento dos cursos, apartir de 2007/1.

A consolidação da Faculdade DomBosco de Porto Alegre dá-se pela solidezdos cursos existentes, a implantação denovos cursos em áreas emergentes, comoEngenharia Ambiental e Sanitária, e oinvestimento forte no corpo docente,visando o desenvolvimento da pesquisa,da extensão e da pós-graduação. A certezade estar realizando um trabalhoconsolidado, parte da Obra de EducaçãoSalesiana, de bem atender aos nossosjovens alunos, dá-nos ânimo paraprosseguir na tarefa de se fazer educaçãosuperior baseada no Sistema Preventivo.Atender aos jovens com razão, religião eamorevolezza, o ideal de Dom Bosco, nosanima a seguir em frente, consolidando suaobra através da Educação Superior.

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BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco.[tradução de Jacy Cogo]. São Paulo: Ed. Salesiana, 2004.

8. Resenha Bibliográfica: O Sistema Educativode Dom Bosco

José Jair RibeiroVice-diretor Acadêmico da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS

“Prevenir, não reprimir”. Este é o maisnovo livro escrito por este grandeespecialista em Pedagogia de Dom Bosco,o salesiano Pietro Braido. Participante dacomunidade acadêmica da UniversidadePontifícia Salesiana (UPS) de Roma, foibrilhante aluno do P. Carlos Leôncio daSilva, fundador da Faculdade de Ciênciasde Educação da UPS. Como o própriosubtítulo do livro o está a indicar, trata-sede uma visão sistemática ou sistêmica dateoria e prática educativa deDom Bosco, educador doséculo XIX (1815-1888),fundador da Família Salesiana.Um sistema é:

a) um conjunto deelementos (que são as partesou órgãos componentes dosistema), isto é, os subsistemas;

b) dinamicamente inter-relacionados (isto é, em interação einterdependência), formando uma rede decomunicações e relações em função dadependência recíproca entre eles;

c) desenvolvendo uma atividade oufunção (que é a operação ou atividade ouprocesso do sistema);

d) para atingir um ou mais objetivosou propósitos (que constituem a própriafinalidade para a qual o sistema foi criado).

Dentro desta visão de sistema, a tarefado nosso autor é mostrar que o sistemaeducativo de Dom Bosco é um conjuntode elementos dinamicamente inter-relacionados desenvolvendo uma atividadeou função para atingir um objetivo oupropósito. O autor sublinha fortementeque o Sistema Preventivo não é umacriação original de Dom Bosco. “Salvomelhores resultados da pesquisa, nascem

nesse século [XIX] as fórmulas “sistemapreventivo” e “sistema repressivo”,“educação preventiva” e “educaçãorepressiva”. Elas parecem surgir na França,em geral polemicamente, em doiscontextos e com relativos significadosprofundamente diferentes” (p. 69). Aomesmo tempo, nosso autor sublinha queDom Bosco não é único a aplicá-lo noséculo XIX. Ele cita os irmãos Cavanis,Ludovico Pavoni, Marcelino Champagnat

e os irmãos maristas, TeresaVerzeri e as Filhas do SagradoCoração de Jesus, AntonioRosmini e uma série deoutros educadores einstituições de educação quetrabalham com este sistema.

Lendo este livro, tem-se anítida idéia de que DomBosco foi uma pessoa que

colocou o sistema preventivo na prática.Ao mesmo tempo, foi um dos grandesteóricos deste sistema. Não resta dúvidade que Dom Bosco se coloca nas pegadasdas grandes intuições educativas do séculoXIX.

Aluno brilhante no Seminário de Chierida Arquidiocese de Turim, após suaordenação sacerdotal ainda continuou seusestudos no Convitto Eclesiástico parasacerdotes jovens. Ele tinha claraconsciência de que, apesar de ter estudadotanto, ainda não estava preparadosuficientemente para desenvolver seuministério sacerdotal. Ele mesmo o diz queno Seminário aprendeu a teoria e, noConvitto, a prática educativa e pastoral.

“Trabalho. Alegria. Amor pelajuventude. Esses três pilares sustentaram

“Trabalho. Alegria.Amor pela

juventude. Essestrês pilares

sustentaram ahistória da vida de

Dom Bosco.”

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Sumário

Apresentação........................................................................................................................................7

1. Principios Rectores para una política de Estado en materia de EducaciónSuperiorLuis Enrique Orozco Silva..........................................................................................9

2. Os caminhos da educação superior e a trajetória dos salesianos do Suldo BrasilErneldo Schallenberger............................................................................................21

3. A Inspetoria Salesiana de Porto Alegre e o ensino universitário José Valmor César Teixeira.....................................................................................33

4. Sensibilidade, preventividade, solidariedade e cidadania Marcos Sandrini.....................................................................................................45

5. O Curso de Administração: da concepção à implementação - umarealidade

Nilo Valter Karnopp...............................................................................................61

6. Concepção e Desenvolvimento do Curso de Ciências Contábeis Aécio Cordeiro Neves e Luiz Dal Molin...................................................................67

7. O curso de Sistemas de Informação da Faculdade Dom Bosco de PortoAlegre: a diferença está na atitude

Letícia Silva Garcia.................................................................................................71

8. Resenha Bibliográfica: O Sistema Educativo de Dom Bosco José Jair Ribeiro......................................................................................................75

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a história da vida daquele jovem menino,filho de Margarida, carente e rico, e queiluminou o mundo com o seu carisma. JoãoBosco. Dom Bosco. A semente plantadafloresce em escolas, oratórios, paróquias,obras sociais, comunidades espalhadas porcantos e recantos. Onde está um jovem aíse encontra um desafio, o desafio detransformá-lo em uma pessoa commaturidade e feliz” (p.11).

Dom Bosco viveu num período históricoonde existiam dois tipos de sistemaseducativos: o repressivo e preventivo.“Ambos se fundam sobre razões plausíveise podem se orgulhar de metodologiasprodutivas e êxitos positivos. Um sepreocupa mais com o jovem e com oslimites de sua idade, portanto, com umaassistência assídua e amorosa do educador,que paternal ou maternalmente estápresente, aconselha, guia, ampara. Daínascem regimes educativos de orientaçãofamiliar. O outro se preocupa maisdiretamente com a meta a ser atingida, epor isso olha o jovem como um futuroadulto e, como tal, deve ser tratado desdeos primeiros anos. Nascem então regimeseducativos mais austeros e exigentes,escolas rigidamente disciplinadas por leis,relações e medidas fortemente responsabi-lizantes, colégios de estilo militar ousemelhantes” (p.13-14).

Dom Bosco, sem nenhuma sombra dedúvida, optou pelo sistema preventivo.Sistema esse que se apresenta como um“sistema aberto”. É um sistema dinâmico edialético que considera a vivência, a culturatrazida pelos educandos, bem como oconteúdo inédito, surgido da relação einteração no fazer educativo. Quando bemrealizado, esse tende, por natureza própria,a tornar-se aquilo que foi chamado de um“novo sistema educativo”, que é fruto dainculturação contínua na realidade juvenil,educativa e social. Em outras palavras,dentro do sistema preventivo, tem-se umaalma viva e dinâmica que não pode serperdida.

À medida que vamos percorrendo olivro, uma sutil pergunta passa a se fazer

presente: o sistema preventivo nasceucomo teoria e foi apresentado pronto paraser aplicado? Apesar de a perguntaaparecer de forma sutil, percebemos queo autor nos apresenta a resposta de formacategórica: Não! Pois o Sistema Preventivoé fruto da síntese entre a ação social e opensamento pedagógico. Isto mesmo,nasceu da experiência cotidiana, ondepresenciou o olhar daqueles jovens quecomeçaram a se transformar, quandotocados na alma... Isto o convenceu de quedaria certo.

Em “Prevenir, não reprimir”, P. Braidofaz um passeio sobre os principaisenfoques desse sistema. Nos capítulos de1 a 5, apresenta uma visão histórica sobreos sistemas existentes na época de DomBosco; do capítulo 6 ao 8, a formaçãopedagógica de Dom Bosco; do capítulo 9ao 11, a escolha do interlocutor: os jovens;nos capítulos 12 a 17, apresenta aquilo quechama de itinerários educativos: deverese graça, virtudes e compromisso, razão-religião-amorevolezza, espírito de família,alegria e festa, amor exigente; termina seupasseio apresentando as instituiçõeseducativas (cap. 18) e rumo ao amanhã(cap. 19).

Finalizando, podemos afirmar que osistema preventivo de Dom Bosco, comseu estilo familiar de educação, ofereceuma contribuição aos nossos dias, já quenos encontramos num período históricoonde parece imperar a palavra crise: crisecivilizatória e crise de esperança. Tambémestamos num período no qual o jovemclama pela sua auto-estima e por seureconhecimento. Assim sendo, oferecerum ambiente educativo onde educador eeducando compartilhem as experiências ea vida, onde a pessoa seja colocada nocentro, onde o protagonismo juvenil sejaverdadeiramente vivenciado e valorizado,contribuirá para formar pessoas comautonomia e com responsabilidadespessoais e sociais.

Desejo a cada uma/um uma boa leitura.

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A Revista ATITUDE - Construindo Oportunidades tem interesse na publicaçãode artigos de desenvolvimento teórico e trabalhos empíricos.

Os artigos de desenvolvimento teórico devem ser sustentados por ampla pesquisabibliográfica e devem propor novos modelos e interpretações para fenômenosrelevantes com relação à gestão de negócios no sentido do desenvolvimento dasorganizações.

Os trabalhos empíricos devem fazer avançar o conhecimento na área, pormeio de pesquisas metodologicamente bem fundamentadas, criteriosamenteconduzidas e adequadamente analisadas.

A Revista ATITUDE - Construindo Oportunidades está aberta a colaboraçõesdo Brasil e do exterior. A pluralidade de abordagens e perspectivas é incentivada.

Podem ser publicados artigos de desenvolvimento teórico e artigos baseados em pesquisasempíricas (de 10 a 15 páginas).

A aceitação e publicação dos textos implicam a transferência de direitos do autorpara a Revista. Não são pagos direitos autorais.

Os textos enviados para publicação são apreciados por pareceristas.Os artigos deverão ser encaminhados para o Núcleo de Editoração (NEd) com as

seguintes características:• Em folha de rosto deverão constar o título do trabalho, o(s) nome(s) completo(s)

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