os impactos ambientais causados pela extração do carvão vegetal na microrregião de iporá-go

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA REJANE MENDONÇA DE OLIVEIRA OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EXTRAÇÃO DO CARVÃO VEGETAL NA MICRORREGIÃO DE IPORÁ- GO IPORÁ 2011

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Page 1: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ

LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

REJANE MENDONÇA DE OLIVEIRA

OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EXTRAÇÃO

DO CARVÃO VEGETAL NA MICRORREGIÃO DE IPORÁ-

GO

IPORÁ

2011

Page 2: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ

LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

REJANE MENDONÇA DE OLIVEIRA

OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EXTRAÇÃO

DO CARVÃO VEGETAL NA MICRORREGIÃO DE IPORÁ-

GO

Trabalho de Conclusão apresentado à

Universidade Estadual de Goiás, Unidade

Universitária de Iporá, como exigência para a

conclusão do curso de graduação Licenciatura

plena em Geografia.

Orientador (a): Profº.: Edivaldo Gonçalves da

Silva

IPORÁ

2011

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Dedico

Em memória de meu Pai Jaci Borba, que

não pode ver essa minha realização, mas

sonhava junto comigo, meu exemplo de

perseverança!

Page 6: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

AGRADECIMENTOS

Ao Deus de minha vida meu Pai Eterno, que me deu forças nas minhas angústias,

que foi paz nas tempestades, meu rochedo onde busquei e encontrei o auxilio que precisava

me dando coragem para seguir em frente.

A meus pais Jaci Borba e Maria das Graças, por acreditar em mim e na minha

capacidade, tendo que conviver com as minhas ausências, meu cansaço. Sonhando junto

comigo neste meu primeiro passo. Obrigada Mamãe, pelo seu cuidado e dedicação foram eles

que me deram, em alguns momentos, a esperança para seguir. Papai sua presença significou

segurança e certeza de que não estava sozinha nessa caminhada, e sua lembrança e seu

orgulho por mim serviram de estimulo para eu não desistir.

A minha filha Maria Eduarda, pelo amor dedicado a mim, por sua paciência e

esperas na minha ausência, esta foi sem duvidas o meu maior incentivo. Amo você filha

adorada. Ao meu irmão, João Carlos, pela admiração dedicada a mim, obrigada.

Aos meus amigos, em especial Juliely, pelas alegrias, tristezas e dores

compartilhas. Com vocês, as pausas entre um parágrafo e outro de produção melhora tudo o

que tenho produzido na vida.

Aos meus mestres pelo conhecimento repartido, em especial professor Gilmar e

professor Nelson pelo apoio, dedicação e paciência sem medidas para comigo e a todos que

de alguma forma contribuíram em prol da minha formação. Meu muito obrigado!

Page 7: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

A turma de licenciatura em geografia 2011 foi tão bom, os momentos, as

resenhas, as discussões me fizeram aprender muito! O compartilhar foi único na minha

graduação. Obrigada a Tatiele Borges e demais colegas! E a todos que nesses quatro anos me

ajudaram de um jeito e de outro, obrigada, vocês ajudaram meu sonho a se concretizar.

Page 8: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

O mundo tornou-se perigoso, porque os

homens aprenderam a dominar a natureza

antes de se dominarem a si mesmos.

Albert Schweitzer

Page 9: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

RESUMO

Pretende-se com a pesquisa identificar os problemas e impactos ambientais advindos da

extração de carvão vegetal na microrregião de Iporá-Go, composta pelos municípios de

Amorinópolis, Cachoeira de Goiás, Córrego do Ouro, Fazenda Nova, Iporá, Israelândia,

Ivolândia, Jaupaci, Moiporá, Novo Brasil, sendo estes o campo de investigação. Esta analise

será pautada nos pressupostos do Estudo da Geografia e o Meio Ambiente, tendo em vista a

relevancia de discutir sobre as degradações do meio ambiente, os problemas causados pelo

desmatamento e a necessidade de consientização sobre a importancia de se preservar o bioma

cerrado, o que torna um importante objeto de análise. Pode-se perceber através da pesquisa

que há um descaso por parte dos governantes com as questões ambientais principalmente as

voltadas para o cerrado, por conta do pré-conceito feito com base apenas na aparencia da

vegetação deste bioma. O estudo foi feito com o proposito de investigar o desmatamento para

fins do carvoejamento, e os danos causados ao meio ambiente e a saúde humana pela ação das

carvoarias.

PALAVRAS-CHAVES – Impactos ambientais, Desmatamentos, Cerrado, Carvoejamento.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10

1-OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA SOCIEDADE MODERNA ............ 12

1.1 O carvão vegetal e suas propriedades............................................................................................... 16

1.2- A observância da legislação florestal ................................................................................ 20

2-O BIOMA CERRADO ......................................................................................................... 23

2.1- A degradação do cerrado e a exploração do carvão vegetal ........................................................... 31

3-A MICRORREGIÃO DE IPORÁ ......................................................................................... 37

3.1- A extração do carvão vegetal na microrregião de Iporá.................................................... 39

3.1.1- As condições de trabalho nas carvoarias...................................................................................... 39

3.2- As carvoarias da microrregião........................................................................................... 42

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 47

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................................... 49

ANEXOS

ENTREVISTAS ....................................................................................................................... 52

FOTOS ..................................................................................................................................... 53

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INTRODUÇÃO

Pretende-se com esta pesquisa promover uma discussão, sobre a necessidade de

estudos junto aos produtores carvoeiros, por conta das questões ambientais envolvidas,

principalmente por ações de ocupação e exploração inadequada do bioma cerrado e que

comprometem a sobrevivência das espécies animais, vegetais e humanas uma vez que,

envolvem a redução da qualidade de vida do homem junto ao meio ambiente. Além da

atividade de produção de carvão vegetal não seguir os padrões econômicos e ambientais.

Sabemos que com o desmatamento o solo fica vulnerável, exposto a ação das

intempéries da natureza e demais condicionantes que leva ao empobrecimento, a perda de

produtividade e nutrientes do solo, por causa do manejo inadequado das culturas, do uso

excessivo de fertilizantes e da destruição da cobertura vegetal. Conforme o Worldwatch

Institute, organização Norte-Americana que acompanha o estado atual dos recursos naturais

do planeta, cerca de 15% da superfície terrestre está sob risco de desertificação em algum

grau. As áreas mais afetadas são: o oeste da América do Sul, o nordeste do Brasil, o norte e o

sul da África, o Oriente Médio, a Ásia Central, o noroeste da China, a Austrália e o sudoeste

dos Estados Unidos (EUA). E ainda geram problemas como as voçorocas e ravinas, que são

buracos de erosão causados principalmente pelas chuvas onde a vegetação é escassa e deixa o

solo sem proteção, além disso, com o solo exposto as águas das chuvas levam parte da

cobertura vegetal para o leito dos rios o que causa o assoreamento dos mesmos.

Espera-se com a seguinte pesquisa promover uma conscientização para tentar

minimizar os impactos ambientais e buscar reforçar a necessidade de elaborar um Plano de

Controle Ambiental que se faça presente na microrregião de Iporá. De forma que um

desenvolvimento de estudos sobre carvoejamento é de fundamental importância na adequação

das atividades aos preceitos atuais, que envolva preservação da qualidade de vida do homem e

do meio ambiente, e que venha a, observar os níveis de agressão causados ao cerrado.

É nesse contexto que se pretende diagnosticar os principais danos causados pela

extração do carvão vegetal na microrregião de Iporá, promovendo uma discussão sobre a

necessidade de esclarecimento e alerta das autoridades competentes.

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A metodologia usada teve como fontes as referências bibliográficas, que

contribuíram na fundamentação do trabalho dando bases solidas para a pesquisa afirmando a

importância do bioma cerrado e sua preservação.

Utilizou-se de entrevistas com os moradores circunvizinhos às carvoarias, que são

prejudicados com a poluição causadas pela fumaça que saí dos fornos, entrevistas com os

proprietários das carvoarias, com o propósito de conhecer e entender o processo de fabricação

do carvão vegetal. O trabalho de campo com as observações e o uso de fotografias veio para

comprovarem a pesquisa.

No capítulo I- “Os impactos ambientais causados pela sociedade moderna”

abrange a discussão dos impactos ambientais causado em um ângulo amplo abrangendo o país

no geral. Trata a relação homem/natureza a partir do desenvolvimento econômico e os

conceitos sobre sustentabilidade, assim como a abrangência da legislação florestal, e aborda

também as propriedades do carvão vegetal.

O capitulo II- “O Bioma Cerrado” apresenta uma analise da área que foi

degradada e a que está sendo preservadas, suas dimensões e vegetação, bem como um estudo

sobre a degradação e exploração do carvão vegetal nas matas nativas do cerrado.

No capitulo III- “A microrregião de Iporá” traz um breve levantamento de dados

sobre a microrregião e suas economias. Nesta parte do trabalho se apresenta toda a pesquisa

campo e analise dos dados levantados.

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1-OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA SOCIEDADE MODERNA

As questões ambientes vem se agravando gradativamente a medida em que a

sociedade passa a necessitar cada vez mais da natureza, seja enquanto individual, na busca por

sua própria sobrevivencia, seje usando-a como meio de aquisição de status social. O fato é

que durante toda a história, houve a necessidade de integrar o homem a natuzera e isso fez

com que se propiciaste a exploração dos recursos naturais, onde de maneira rápida, o homem

passou a criar, recriar e satisfacer suas necesidades de acordo como que vivia, além do que,

através dessa integração/exploração é que se pode observar o início da acumulação de bens e

de capital.

A partir desta relação de exploração homen/natureza, observou-se o crescimento e

desenvolvimento da sociedade e com ele surgirem consequências sob a forma de catástrofes e

impactos ambientais motivados pela má utilização dos recursos ambientais disponiveis e que

provocou e provoca desmatamentos contínuos, degradação do solo e consequentemente a

perda da biodiversidade. O novo objetivo da ciencia é utilizar os recursos naturais tentando

não destruí-lo, e realizar a chamada conservação ambiental que apresenta o conceito de que

mesmo diante do desenvolvimento econômico concientizar sobre o uso da natuzera e a prática

de conservá-la. Em suma, conservação é um:

“Conceito desenvolvido e disseminado nas últimas décadas do século 19 como um

relacionamento ético entre pessoas, terras e recursos naturais, ou seja, uma utilização

coerente destes recursos de modo a não destruir sua capacidade de servir às gerações

seguintes, garantindo sua renovação. A conservação prevê a exploração racional e o

manejo contínuo de recursos naturais, com base em sua sustentabilidade”

(MOREIRA, 2007).

Porém este conceito se apresenta de forma diferente segundo a mesma autora,

enquanto preservação ambiental visto que preservação é:

Page 14: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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“... estratégia de proteção dos recursos naturais que prega a manutenção das

condições de um determinado ecossistema, espécies ou área, sem qualquer ação ou

interferência que altere o status quo. Prevê que os recursos sejam mantidos

intocados, não permitindo ações de manejo” (MOREIRA, 2007).

Com a observação dessa diferença entre os conceitos se intensificou a

preocupação com o impacto ambiental do desenvolvimento da sociedade moderna no meio

natural, e que de acordó com a resolução CONAMA (no 001/86, art. 1

o, o termo "impacto

ambiental" é definido como toda alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do

meio ambiente, causada por qualquer forma de materia ou energia resultante das atividades

humanas que, direta ou indiretamente afetam a saúde, o bem estar da população e a qualidade

dos recursos ambientais”, dessa forma o conceito de impacto ambiental está ligado a alteração

ou efeito ambiental. Os impactos podem ser diretos ou indiretos, imediatos a medio ou a

longo prazo, temporarios e/ou permanente, podem ser reversíveis ou irreversíveis, locais

regionais ou estratégicos. De acordó com a legislação brasileira e analizando ao angulo da

visão jurídica o conceito de impacto ambiental se atribui exclusivamente a ação do homem

sobre o meio ambiente, e isso isenta os fenómenos naturais, como tempestades, enchentes,

terremotos, dentre outros, a pesar de poder provocar algumas alterações acima citadas, não se

caracterizam como impacto ambiental.

No Brasil, em nível dos órgãos federais, o primeiro dispositivo legal ligado a

Avaliação de Impactos Ambientais se consolidou por meio da aprovação da Lei Federal

6.938, de 31.08.1981. Esta Lei estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente e firma o

SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente como órgão executor. O SISNAMA é

constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos

Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público. Sendo a estrutura do SISNAMA

estabelecida em seis órgãos conforme a descrição feita a seguir:

Órgão Superior - Conselho de Governo;

Órgão Consultivo e Deliberativo - Conselho Nacional do Meio Ambiente -

CONAMA;

Órgão Central - Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da

Amazônia Legal - MMA;

Órgão Executor - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis - IBAMA;

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Órgãos Seccionais - órgãos ou entidades da Administração Pública Federal e, ou,

Estadual direta ou indireta responsáveis pelo controle e fiscalização de atividades

capazes de provocar a degradação ambiental; e

Órgãos Locais - órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e

fiscalização das atividades mencionadas no item anterior, respeitadas às respectivas

jurisdições.

A Lei Federal no

6.938 foi regulamentada pelo Decreto Federal no 88.351, de

01.06.1983. Este decreto institui os tipos de licenciamentos aplicados no Brasil e específica as

atribuições do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.

Toda ação humana impacta na natureza e sempre de maneira que muda sua

condição natural essa ação antrópica é caracterizada pela alteração da paisagem. A sociedade

moderna ainda não compreendeu a importância do meio ambiente para a sobrevivencia do

planeta o que leva a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas de

pensar e agir sobre as questões que envolvem o meio ambiente sua preservação e conservação

diante das evoluções e desenvolvimento da sociedade e o quanto se fazem necessário

desenvolver medidas que venham a resolver ou ao menos amenizar os impactos ambientais

causados pela ação desmedida do homem no meio, sem que ocorra um stress na economia

capitalista:

[...] A impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais

e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de

conhecimentos dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de

racionalidade existente fundada no aspecto econômico do desenvolvimento [...].

LEFF (2001)

O homem usa de todas as formas possíveis de apropriação da natureza tirando

dela não só o seu sustento como também o excedente e garantir o seu desenvolvimento

capitalista, ou seja, extrai da natureza muito mais do que realmente necessita ou o que a

natureza pode oferecer. A necessidade de tratar a complexidade ambiental parte do modo de

pensar como a sociedade moderna usa da natureza, sendo degradada de forma irracional sem

pensar em uma maneira de garantir vida ambiental as gerações futuras sendo que:

[...] “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, propicia à

vida, visando assegurar, no país, condições de desenvolvimento sócio econômico,

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aos interesses da segurança nacional e à proteção da vida humana”. [...] (política

nacional de meio ambiente, lei federal nº 6.938, de 31 de agosto1981 artigo nº2)

No atual período da globalização em que há uma difusão maior de bens de

consumo e que implica em uma utilização dos recursos naturais trazendo consigo

consequências que no geral é de alta gravidade, as quais não podem ser medidas com

precisão.De acordo com (Jacobi 1997) a noção de sustentabilidade implica em uma inter-

relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o

atual padrão de desenvolvimento. Padrão esse que é imposto pela sociedade capitalista, onde

ele mesmo afirma:

[...] o quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela

que os impactos dos humanos sobre o meio ambiente estão se tornando cada vez

mais complexos, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos [...]. Jacobi

(1994).

A questão ambiental esta se impondo à sociedade e a discussão em torno dos

problemas como o meio está tomando proporção generalizada, e com a crise ambiental se

manifestando em um âmbito global, mesmo sabendo que alguns ambientalistas acreditam que

a solução para a questão ambiental, só se dará com mudanças radicais no paradigma do atual

modelo capitalista, se tornando insustentável, existem também aqueles que acreditam ser

possível utilizar os recursos de maneira mais equilibrada. Entretanto a preocupação com a

preservação ambiental vem ganhando destaque principalmente quando se trata de degradação

dos recursos naturais, visto que a natureza vem sendo transformada, pela ação humana e

quando dizemos que o homem causa o desequilíbrio estamos nos referindo ao modo de

produção construído ao longo da historia da humanidade. Gomes em seu trabalho nos

apresenta a seguinte afirmação:

[...] entre os ambientalistas comprometidos com a manutenção da vida em toda sua

biodiversidade no planeta Terra, de que o principal responsável pela degradação e

destruição do meio ambiente em que vivemos é o modelo econômico de

desenvolvimento capitalista, modelos este cujos agentes programam ações no

sentido de se tirar da Natureza o máximo de produtividade, inclusive acima de sua

potencialidade natural e tudo dentro da lógica de se buscar acumulação e reprodução

ampliada do capital. Trata-se da “coisificação” da natureza que é transformada pela

cobiça do homem em coisa, objeto e produto/mercadoria de uso descartável quando

deixa de ser rentável sob o ponto de vista das leis do mercado [...]. “A caminhada do

homem e a questão ambiental” Gomes (2008)

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O crescimento econômico, a constante degradação do meio ambiente, leva a

exaustão dos recursos naturais como: a poluição do ar, das águas, desertificação, destruição da

camada de ozônio, queimadas, extinção de varias espécies dentre outros problemas, o

consumo desenfreado do carvão vegetal, seja para uso doméstico, seja para uso industrial,

como fonte de energia nas siderúrgicas, é um problema praticamente ignorado no país, sendo

este tema pouco discutido e estudado em comparação aos demais, mas que tem uma

proporção devastadora no que se trata de degradação ambiental, sendo uma de suas

consequências mais alarmantes é o desmatamento que provoca uma serie de consequências

tais como a destruição e extinção de varias espécies de árvores nativas, e cabe aqui ressaltar

que mesmo reflorestando as áreas degradadas não se é possível recuperar a biodiversidade

perdida. Os processos erosivos decorrente da retirada da cobertura vegetal que expõe o solo

ao impacto das chuvas levam ao empobrecimento do mesmo, assoreamento dos rios como

resultado da elevação da sedimentação, dentre outras. Horieste Gomes (2008) concretiza

dizendo que “ocorrem contínuos desmatamentos responsáveis pela destruição de habitats de

espécies vivas (os nichos e nos ecossistemas), provocando também o aumento crescente de

assoreamentos da rede de drenagem dos territórios; a redução dos lençóis freáticos”.

1.1-O CARVÃO VEGETAL E SUAS PROPRIEDADES

Ao tratar do carvão vegetal é relevante saber que este é produzido a partir da

carbonização da lenha ou da madeira em fornos de alvenaria com ciclos de aquecimentos e

resfriamento que duram vários dias, chegando a temperaturas entre 400 e 700°C e que ao final

resulta em uma substância de cor negra. No cotidiano o carvão vegetal é utilizado como

combustível de aquecedores, lareira, churrasqueiras e fogões a lenha, além de abastecer

alguns setores industriais. O carvão também pode ser usado na medicina, sendo que nesse

caso é chamado de carvão ativado que é derivado da combustão incompleta do produto

lenhoso e devido ser proveniente de determinadas madeiras de aparência mole e não

resinosas, ou seja, extraído da casca e da serragem da mesma.

Ao contrário do que aconteceu nos países industrializados, no Brasil, o uso

industrial do carvão vegetal continua sendo largamente praticado. De acordo com dados do

Page 18: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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CENBIO/INFOENER o Brasil é o maior produtor mundial desse insumo energético. No setor

industrial (quase 85% do consumo), o ferro-gusa, aço e ferro-ligas são os principais

consumidores do carvão vegetal, que funciona como redutor e energético ao mesmo tempo. O

setor residencial consome cerca de 9% seguido pelo setor comercial com 1,5%, representado

por pizzarias, padarias e churrascarias. O poder calorífico inferior médio do carvão é de 7.365

kcal/kg (30,8 MJ/kg). O teor de material volátil varia de 20% a 35%, carbono fixo varia de 65

a 80% e as cinzas (material inorgânico) de 1 a 3%(dados do IBGE, Diretoria de Pesquisas,

Coordenação de Agropecuária, Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura 2009).

O uso de carvão vegetal como redutor do minério de ferro no Brasil data de 1591

em fundições artesanais para produzir ferramentas de uso agrícola no Brasil Colônia. Não se

pode negar que a atividade de produção de carvão vegetal, tal como hoje ela é praticada junto

às fronteiras de desenvolvimento agrícola, tem alguns vínculos negativos em relação à

questão ambiental. No ano de 2008, em função das estatísticas disponíveis, estima-se que um

pouco menos de um milhão de hectares de florestas plantadas de eucaliptos, em diferentes

etapas e rotações, estavam abastecendo fornos de diversos níveis tecnológicos para gerar

carvão vegetal para consumos industrial (principalmente siderúrgico e energético) e

doméstico no Brasil. Além de um manejo sustentável, aprovado pelos órgãos federais e

estaduais de controle, o eucalipto constitui uma rica fonte de energia renovável, menos

poluente, e que combate a devastação das florestas nativas. Tudo isso, respeitando às leis de

proteção ambiental, mantendo áreas de preservação, reservas naturais. O eucalipto, usado

como fonte de energia primária limpa e renovável, pode auxiliar na redução do efeito estufa.

Além disso, pela fotossíntese, os eucaliptos em crescimento absorvem o excesso de gás

carbônico gerado pelas atividades humanas.

Por outro lado, é importante ponderar numa outra visão do problema, podem-se

conceder alguns créditos positivos para a atividade. É que, além do benefício econômico do

aproveitamento da madeira, a emissão de gases, e particularmente o CO2, é provavelmente

menor do que aquela que ocorre quando simplesmente lança-se mão da combustão total da

madeira, como freqüentemente verifica-se nas queimadas das florestas. É que na carbonização

30 a 40% da madeira submetida ao processo são recuperados na forma de carvão vegetal e,

portanto, não são convertidos em gases efeito-estufa. Além de menor, a emissão de gases é

diluída ao longo de praticamente todos os meses do ano, e não brutalmente concentrada na

época de estiagem, como ocorre nas queimadas.

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Porem dados oficiais indica que, em 2006, foram produzidos no Brasil 35.125

milhões de m³ de carvão, sendo 49% originários de matas nativas. Devido à demanda

crescente por carvão, principalmente em Minas Gerais, vem deslocando os interesses das

empresas carvoeiras para o Cerrado e para a Caatinga da Bahia, ameaçando os estados do

Piauí e do Maranhão. Além da devastação, o relatório da Articulação Popular aponta que as

carvoarias, principalmente as ilegais. Não se pode negar que a atividade carvoeira é

importante para nossa economia, porém o respeito ao trabalhador como ser humano é

desconsiderado em muitas carvoarias que são redutos de péssimas condições de trabalho,

muitas vezes análogas à escravidão que não se adéqua as condições trabalhistas de direitos de

todos, alem de não terem um mínimo de proteção e segurança.

A mão-de-obra é utilizada por meio da terceirização – uma palavra refinada

demais para um sistema que só explora e não se preocupa com as condições vividas pelos

trabalhadores. Enquanto as grandes empresas desenvolvem novas tecnologias de

reflorestamento, a produção de carvão derruba e destrói a mata nativa com métodos

tradicionais, com uso de correntões, que por onde passam destroem tudo sem deixar nada de

pé. Durante o enchimento de um forno, o trabalhador chega a carregar sete toneladas de toras

de madeiras por hora. Isso sem falar nas doenças respiratórias e na irritação dos olhos

provocadas pela fumaça que respiram, além de trabalharem sem direito a descanso em

jornadas sem sábados, domingos ou feriados.

No Brasil, muitas siderúrgicas usam o carvão vegetal para a produção do aço.

Nesses termos, para cada tonelada de ferro produzida, são consumidos mais de 600 quilos de

carvão vegetal – aproximadamente uma tonelada de árvores. Do total produzido de 35,1

milhões de metros cúbicos de carvão vegetal, 50% são de florestas nativas. Os maiores

produtores são os estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Espírito Santo. A

produção regional de carvão consome 30 mil hectares por ano.

De acordo com Alessandra Magalhães benjamim da silva (2007)somente a região

amazônica, subsistem entre 20 e 23 mil fornos em funcionamento em carvoarias.

São necessários de 10 a 12 mil trabalhadores para obrá-los em 2003, essa região

produziu 1,7 milhões de toneladas de carvão vegetal. Todavia a produção desse

produto de alto valor comercial e que consegue alavancar as exportações

tupiniquins, tem na estrutura basilar a exploração do trabalho escravo nas regiões

brasileiras, fora dos centros e encobertas pela fumaça advinda da queima do carvão.

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De acordo com os artigos 45 e 46 da LCA (lei de crimes ambientais) é proibido o

corte e a utilização de mata nativa, por isso há o plantio de florestas homogêneas de eucaliptos

para esse fim. O Projeto de Lei 317/11, que tramita na Câmara Federal, de iniciativa do

deputado Antônio Bulhões (PRB-SP), proíbe o uso de carvão vegetal produzido com madeira

de extrativismo (extraída de mata nativa). A redução deverá ser gradual até que, em dez anos,

esse tipo de produto não seja mais utilizado Pela proposta, a substituição obedecerá ao

seguinte cronograma: em dois anos, redução de 20% do volume utilizado na data de entrada

em vigor da lei. Em quatro anos, redução de 40%. Em seis anos, redução de 60%, depois em

oito anos, 80% e finalmente em dez anos, 100%. Essas metas não valem se o consumidor

estiver, antes da entrada em vigor da lei, sob regras mais restritivas determinadas pelo Plano

de Suprimento Sustentável ou pelo Plano Integrado Floresta e Indústria, aprovados pelo órgão

competente do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), (fonte: EMBRAPA

domingo 24 de junho de 2011).Contudo, ainda que haja tal proibição legal e uma tentativa de

educação da população em relação ao meio ambiente, o comércio ilegal se expande e cada vez

mais áreas de mata nativa desaparecem do mapa.

Para tentar minimizar os problemas ambientais foi sancionada em 1998 a lei nº

9.605(lei dos crimes ambientais). Que discorre a cerca de varias sanções penais e

administrativas para aqueles que incorrem nos delitos discriminados por ela. Segundo o

IBAMA, já foram aplicadas multas de ate três milhões pela manutenção em deposito de

carvão vegetal sem comprovação de sua origem, já foram apreendidas também quantidades de

carvão vegetal suficiente para encher mais de dez carregamentos dados esses coletados apenas

na região do Pará, quando ao restante do País os dados são alarmantes. “No centro desse

processo de agressões ao meio ambiente, premeditadas ou não está o homem que,

infelizmente, ainda não reconhece em si a dimensão do natural. Somos e devemos existir

como uma natureza só.” (GOMES 1999). Devemos nos conscientizar que os recursos naturais

estão se esgotando e ao passo que caminha as gerações futuras não terão a mesma sorte que a

nossa, pois ainda pode ser feito algo em defesa do meio ambiente, e da preservação do ainda

resta do nosso ecossistema. A Constituição Brasileira de 1998, em seu artigo no 225 assegura

que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do

povo e essencial à boa qualidade de vida, impondo-se ao poder Público e à coletividade o

dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".

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20

1.2-A OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL

O consumo máximo de carvão permitido derivado de origens nativas seria de apenas 10%

a partir de exploração autorizada para uso alternativo do solo. Porem o cenário é outro, em geral

grande parte do carvão produzido não tem origem lícita, pois a produção é derivada de desmatamentos

não autorizados ou cedidos para a produção agrícola. Mesmo em alguns casos em que é originário de

uma exploração autorizadas e tem notado um grande esforço dos transportadores para burlar a

fiscalização, de modo a entregar rapidamente a carga e aproveitar a mesma documentação para, ainda

dentro do seu prazo de validade, acobertar outra carga, e ate usar da mesma documentação mesmo que

esta já esteja vencida para continuar o procedimento ilegalmente, visto que a fiscalização não é tão

assídua. Diante do grande número de irregularidades que ocorrem foi criado leis que dão suporte e que

determinam pena de prisão e multa aos que não cumprem a lei, como afirma o seguinte artigo:

O artigo 46, § único, da Lei 9605/98, erigiu à condição de crime, punido com pena de

seis meses a ano, a conduta de quem: “vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda

madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da

viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente”. A nova figura penal revogou a

contravenção até então prevista no artigo 26, alínea i, do Código Florestal (Lei 4771/1965).

Embora se tratando de tema já regulamentado há bastante tempo, somente nos últimos

anos, após tipificado como crime, é que tem aumentado a discussão judicial e a busca de maiores

informações acerca da produção, transporte de produtos de origem florestal e dos documentos que

legitimam essas ações. As autorizações devem ser precedidas de um órgão ambiental competente.

Page 22: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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O licenciamento ambiental é uma obrigação legal.

Essa obrigação é compartilhada pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente e pelo IBAMA,

como partes integrantes do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio Ambiente). A Diretoria

de Licenciamento Ambiental é o órgão do IBAMA responsável pela execução do

licenciamento em nível federal. A Diretoria vem realizando esforços na qualificação e na

reorganização do setor de licenciamento que envolva impactos ambientais de pequeno ou de

grande proporção.

As execuções do licenciamento ambiental estão expressas na Lei 6.938/81 e nas

Resoluções CONAMA nº 001/86 e nº 237/97. Além dessas, o Ministério do Meio Ambiente

emitiu recentemente o Parecer nº 312, que discorre sobre a competência estadual e federal

para o licenciamento, tendo como fundamento a abrangência do impacto.

Através do disposto nos artigos 7º e 35º, analisa-se as leis de acordo ao Instituto

Estadual de Florestas a tarefa de disciplinar e fiscalizar as atividades previstas na lei, aí

incluídas a exploração, guarda e transporte de produtos de origem florestal.Por fim,

determinou, em seu artigo 53 que:

A comprovação de exploração autorizada se fará mediante a apresentação:

I – do documento original ou fotocópia autenticada, na hipótese de desmatamento,

destocamento e demais atos que dependam da autorização formal do órgão competente;

II – de nota fiscal, acompanhada de documento de natureza ambiental instituído pelo poder

público, na hipótese de transporte, estoque, consumo ou uso de produto ou subproduto

florestal.

O órgão florestal, usando da competência que lhe foi deferida pela lei, editou a

Portaria 106, de 02 de setembro de 2002, instituindo os documentos de controle ambiental,

quais sejam o Selo Ambiental Autorizado (SAA)1 a Guia de Controle Ambiental (GCA)2 e a

Guia de Controle de Consumo (GCC)3, de modo que o armazenamento, a guarda e o

1 Art. 2º. “O Selo Ambiental Autorizado tem por finalidade regular o transporte, armazenamento,

comercialização e a transferência dos produtos e subprodutos florestais...” 2 Art. 9º. “Instituir a Guia de Controle Ambiental – GCA para legalizar o transporte, comercialização,

armazenamento e consumo dos produtos e subprodutos florestais...” 3 Art. 13. Instituir a Guia de Controle de Consumo – GCC destinada a regulamentar o transporte,

movimentação, armazenamento e consumo para as pessoas jurídicas que utilizem somente formação de florestas plantadas próprias ou aquisição de imóvel com florestas, programas de Fomento Florestais vinculados a empresa consumidora, em percentual maior ou igual a 70% do seu consumo anual, estando isento o uso do SAA para este caso.”

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transporte de produtos e subprodutos florestais (carvão, lenha etc.) dependem da existência

da documentação referida, em especial o SAA e a GCA, que constituem, quando

acompanhados da respectiva e indispensável nota fiscal, nos termos da Lei, a licença válida

para legitimar as atividades mencionadas.

O prazo de validade desses documentos vem disciplinado na Portaria comentada,

ainda em seu artigo 1º, § 1º, enquanto no parágrafo 2º, está contemplada hipótese de

prorrogação desse prazo. A rigor, transportar produtos ou subprodutos florestais com

documentação vencida ou transportá-los sem cobertura, caracterizando infração ambiental e

autorizando a autuação administrativa e penal.

É verdade que em algumas hipóteses específicas há um grau maior de

dificuldade de constatação da fraude no transporte dos produtos florestais, principalmente o

carvão, até porque não se pode desconhecer que ocorrem imprevistos como os noticiados.

Todavia, o que não é possível é tolerar, passivamente, como lamentavelmente vem

ocorrendo em algumas comarcas, a banalização desses expedientes escusos, com uma

inadmissível submissão da Justiça aos interesses menos nobres dessa verdadeira organização

criminosa que se formou em torno do transporte ilegal de carvão vegetal.

Temos tomado conhecimento de situações absurdas de irregularidades e

desrespeito as leis e as normas impostas pelos institutos do meio ambiente sobre a questão da

extração e transportes de produtos derivados da natureza. A postura adotada em

determinados caso assusta pela falta de sensibilidade das autoridades envolvidas, em

perceber a importância do seu papel nesse processo e muita das vezes acontece o suborno

onde muitos policiais fazem vista grossa diante de tal situação de irregularidade, e as cargas

de carvão vegetal chegam ao seu destino mesmo que burlando as regras e servindo de

incentivo aos que ainda usam deste tipo de situação para continuar destruindo as matas

nativas e as transformando em carvão abastecendo as siderúrgicas mineiras ou em casos de

menores proporções abastecendo supermercados e demais pontos de venda do carvão vegetal

para fins domésticos, dentre outros destinos.

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2-O BIOMA CERRADO

Quando falamos em bioma logo se vem à imagem Do bioma da

Amazônia com sua grandiosidade em biodiversidade, porem quando se analisa o

cerrado a primeira impressão é de uma terra sem grande importância, sendo que na

verdade o cerrado brasileiro é riquíssimo em biodiversidade, existindo neste bioma

espécies únicas e de rara qualidade, presentes apenas no bioma do cerrado.

Figura A fonte: profrosemarycintra.blogspot.com: Mapa da ecorregião do cerrado.

Os limites da ecorregião destacados em amarelo.

O cerrado tem diversas variações fisionômicas na sua forma de vegetação ao

longo das grandes áreas que ocupam o território. O cerrado é o segundo maior bioma

brasileiro estendendo-se por uma área de 2.045.064 km2(IBGE, 2004) na porção central do

Brasil e engloba 16 unidades constituintes: Amapá, Amazonas, parte dos estados da Bahia,

Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí,

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Rondônia, Roraima, São Paulo, além do Distrito Federal (Figura. A). Os extensos plantios de

soja, milho, feijão, algodão, café e cana-de-açúcar predominantes em regiões como: Luís

Eduardo Magalhães, BA, Jataí e Rio Verde, GO, e Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop, MT.

Esse bioma compreende áreas entre os paralelos 3º e 24° de latitude Sul e entre 41º e 63º de

longitude Oeste, situando-se na porção central do continente Sul-Americano. Foi o segundo

maior bioma do país, só perdendo para a Floresta Amazônica, servindo de interconexão com

outros biomas nacionais e sua área de ocorrência constitui-se no divisor de águas brasileiro,

uma vez que as principais bacias hidrográficas têm seus nascedouros nessa região (WWF,

1995. p. 13), como mostra a Figura B

Figura B.– Abrangência geográfica das áreas contínuas e isoladas do Cerrado no Brasil,antes do

processo de ocupação antrópica.Fonte: WWF- De grão em grão o Cerrado perde espaço (1995, p. 12).

No cerrado encontram-se três das maiores bacias hidrográficas da América do sul,

sendo estes índices pluviométricos os responsáveis pela grande biodiversidade presente no

ecossistema dentre eles: o cerrado, cerradão, campestre, floresta de galeria, cerrado rupestre.

Na figura 1 podem-se observar os segmentos correspondentes às classes de usos

da terra do cerrado brasileiro, que foram mapeados visualmente por meio da sobreposição, em

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um aplicativo de sistema de informações geográficas, do recorte de imagem com o mapa

vetorial de segmentação. A escala de visualização na tela de computador foi de

aproximadamente 1:50.000.Na imagem encontramos subdivididas, as pastagens cultivadas, os

reflorestamentos e as áreas urbanas apresentam padrões de cores correspondentes a verde-

claro, vermelho-escuro e azul-claro, respectivamente. Onde se analisa todo o espaço do

cerrado e sua ocupação dados referente a pesquisas no ano de 2002. Espaço este que vem

sendo degradado no decorrer do desenvolvimento e na busca desenfreada pelo capitalismo.

Ate a década de 60 foi pouco afetado e explorado porem desde então está crescendo esta

ameaça ao bioma, e o principal ecossistema afetado são os cerradões seja pelo crescimento

das monoculturas, como soja e o arroz, a pecuaria intensiva, as carvoarias e o desmatamento

causado pela atividade madeireira e por frequentes queimadas, devido as altas temperaturas

das regiões e pela ação do proprio homem.

A sua vegetação, em grande parte, é semelhante à de savana, com gramíneas,

arbustos e árvores esparsas. As árvores têm caules retorcidos e raízes longas, que permitem a

absorção da água.Dentro dos ecossistemas ja citados ainda vale lembrar outros como: campo

sujo, campo cerrado, cerrado rupestre, mata secaou mata mesofitica e parque cerrado. O que

se pode resaltar é que grande parte do Cerrado já foi destruída, em especial para a instalação

de cidades e plantações, e devido ao desmatamento necessario para esse desenvolvimento e

tambem para a exploração da madeira torna o bioma do cerrado muito mais ameaçado do que

a Amazônia.

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Segundo dados do Wikipédia a vegetação do cerrado é constituída por aflorações

e rochas calcárias, com fendas, grutas e cavernas em diferentes tamanhos. Por cima das rochas

há uma vegetação silvestre. Possui campos e vales com vegetação bem característica e há

ainda uma floresta-galeria rodeando riachos e lagoas.

Os solos apresentam-se intemperizados, devido à alta lixiviação e possuem baixa

fertilidade natural. Apresenta pH ácido, variando de 4,3 a 6,2. Possui elevado conteúdo de

alumínio, baixa disponibilidade de nutrientes, como fósforo, cálcio, magnésio, potássio,

matéria orgânica, zinco, argila, compondo-se de caulinitagoetita e gibsita. O solo é bem

drenado, profundo e com camadas de húmus.

Page 28: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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Há estruturas do solo bem degradadas, devido às atividades agrícolas e pastagens,

inclusive o chamado reflorestamento com Eucalyptus na década de 1960. A recuperação é

muito difícil, principalmente nos cerradões, devido às características do solo e ao regime de

chuvas.

As principais plantas da vegetação do Cerrado apresentam em diversas paisagens

bem diversificadas como os brejos, os campos alagados, os campos altos, os remanescentes de

mata atlântica. Mas as fitopaisagens predominantes são aquelas dos Cerrados, como o cerrado

típico, o cerradão e as veredas. Nestas, existe desde palmeiras, como babaçu.(Orbignya

phalerata),bacuri (Platonia insignis), brejaúba (Toxophoenix aculeatissima), buriti (Mauritia

flexuosa), guariroba (Syagrus oleracea), jussara (Euterpe edulis) e macaúba (Acrocomia

aculeata) até plantas frutíferas como araticum-do-cerrado (Annona crassiflora), araçá

(Psidium cattleianum), araçá-boi (Eugenia stipitata), araçá-da-mata (Myrcia glabra), araçá-

roxo (Psidium myrtoides), bacuri (Scheelea phalerata), bacupari (Rheedia gardneriana), baru

(Dipteryx alata), café-de-bugre (Cordia ecalyculata), figueira (Ficus guaranítica), lobeira

(Solanum lycocarpum), jabuticaba (Myrciaria trunciflora), jatobá (Hymenaea courbaril),

marmelinho (Diospyros inconstans), pequi (Caryocar brasiliense), goiaba (Psidium guajava),

gravatá (Bromeliaceae), marmeleiro (Croton alagoensis), genipapo (Genipa americana), ingá

(Inga sp), mama-cadela (Brosimum gaudichaudii), mangaba (Hancornia speciosa), cajuzinho-

do-campo (Anacardium humile), pitanga-do-cerrado (Eugenia calycina), guapeva (Fervillea

trilobata), veludo-branco (Gochnatia polymorpha); Madeiras, tais quais angico-branco

(Anadenanthera colubrina), angico (Anadenanthera spp), aroeira-branca (Lithraea

molleoides), aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva), cedro-rosa (Cedrela fissilis),

monjoleiro (Acacia polyphylla), vinhático (Plathymenia reticulata), bálsamo-do –cerrado

(Styrax pohlii), pau-ferro (Caesalpinia ferrea), ipês (Tabebuia spp.), além de plantas

características dos cerrados, como amendoim-do-campo (Pterogyne nitens), araticum -cagão

(Annona cacans), aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolius), capitão-do-campo

(Terminalia spp.), embaúba (Cecropia spp), guatambu-de-sapo (Chrysophyllum

gonocarpum), maria-pobre (Dilodendron bipinnatum), mulungu (Erythrina spp), paineira

(Ceiba speciosa), pororoca (Rapanea guianensis), quaresmeira roxa (Tibouchina granulosa),

tamboril (Enterolobium spp), pata-de-vaca (Bauhinia longifólia), algodão-do-cerrado

(Cocholospermum regium), assa-peixe (Vernonia polyanthes), pau-terra (Qualea grandiflora),

pimenta-de-macaco (Xylopia aromatica), gameleira (Ficus rufa), sem falar em uma grande

variedade de gramíneas, bromeliáceas, orquidáceas e outras plantas de menor porte.Porem

Page 29: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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grande parte dessa arvores unicas do cerrado brasileiro estão virando cinzas nos formos das

carvoarias espalhadas por todo o país. Onde não se analisa se a arvore é rara ou não desde que

proporcione um carvão de boa qualidade, pouco interessa se estão em exintinção as especieis.

Em alguns casos nemao certo a origem nem a procedencias da madeira usada para derivar tal

produto.

As primeiras citações e descrições sobre as características do Cerrado foram feitas

pelos Bandeirantes que adentravam os “sertões” do Brasil à procura de minerais epedras

preciosas. Nestas viagens, normalmente, eram acompanhados por estudiosos e/ou escribas

responsáveis pela descrição e relato da viagem e da análise feita da paisagem

encontrada.Posteriormente, os viajantes estrangeiros passaram a se interessar pelas paisagens

brasileiras, e em suas viagens buscaramcoletar espécies e fazer descrições detalhadas dos

aspectos paisagísticos quecompunham o espaço brasileiro. Exemplo disso são as viagens de

Martius e Spix (1817 a1820), Reise in Brasilien, que andaram pelo Brasil a serviço da Coroa

Alemã. Suas viagensrenderam várias obras referentes ao Brasil, como Flora brasiliensis,

Generaetspeciespalmarume, Reise in Brasilien. Foi por essa expedição que resultou na

primeira divisão fitogeográficado Brasil feita por Martius (1838), onde classifica e denomina

a região dos Cerrados como Oreas ouoréades – região montano-campestre ou de campos e

cerrados - Planalto Central - (RIZZINI, 1997, p. 619), conceito esse que perdurou até há

pouco tempo.Martius (1838,) emReise in Brasilien(Viagem pelo Brasil p.109)descreve o

cerrado da seguinte maneira:

As regiões situadas mais altas, mais sêcas, eram revestidas de matagal cerrado,

emparte sem fôlhas, e as vargens ostentavam um tapête de finas gramíneas, tôdas

emflôr, por entre as quais surgiam grupos espalhados de palmeiras e moitas viçosas.

Ossertanejos chamam varedasa esses campos cobertos. Encotramos aqui uma

palmeiraflabeliforme, espinhosa, a carimá, (Mauritiaarmata, M.), o maior encanto

do solo; e, além daquela aqui mais rara, o nobre buriti (Mauritiavinifera, M.).

Varias expedições foram realizadas desde então e foram feitas diversas descrições

das paisagens e dos aspectos do cerrado brasileiro. O desprestígio com que até pouco tempo,

era visto o bioma cerrado se deve justamente a essas expedições visto que estas eram feitas

nos períodos de estiagem, quando a vegetação esta entrando no chamado estado de

“dormência”, que é quando, perdem suas folhas e apresenta um aspecto crespo, de aparência

irregular, devido este período as conclusões e os resultados na descaracterização dos aspectos

Page 30: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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reais da paisagem do cerrado brasileiro fez com que essa visão prevalecesse e o cerrado fosse

então tão desvalorizado.

No relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, feito por

Luiz Cruls, (1894) relatório este feito com o objetivo de delimitar e estudar a região do Brasil

central onde seria a capital do País onde em meados de 1982 a 1983 foram percorridos quase

cinco mil quilômetros analisando toda a paisagem e recursos minerais e materiais da região

central, com minuciosa e detalhada descrição dos aspectos do cerrado, considerando seus

ecossistemas e subsistemas.

Quanto à origem da formação dos Cerrados, Waibel (1948, p. 354) afirma que

constitui “[...] o mais difundido, o mais interessante e o mais característico tipo de região

aberta do Planalto Central”. Muitas teorias têm sido discutidas quanto a possível origem dos

Cerrados. Alvim (1954) classificou em três grupos as possíveis origens do Cerrado, com base

na divisão proposta por Beard (1944) para as áreas de Cerrado da América Tropical, dispostos

a seguir:

a) Teoria climática, baseada na deficiência de água;

b) Teoria biótica, baseada nos efeitos da ação humana, principalmente através de queimadas

constantes;

c) Teorias pedológicas, onde o solo exerce predominante influência, especialmente sob dois

pontos de vista, o geológico e o químico, por suas diferenças minerais e, físico, pelas más

condições de drenagem. Referente a tais teorias, Alvim (1954, p. 496-497, grifo do autor), em

seus estudos sobre o assunto, comenta que:

A teoria climática teve o seu primeiro defensor em WARMING, que considerava a

existência de uma prolongada estação seca como fator mais importante para a

existência dos cerrados. O fato, porém, de coexistirem sob o mesmo clima diferentes

formas de cerrado fez com que o próprio WARMING admitisse que essa formação,

aparentemente, resultava de uma escassez de água aliada a condições especiais de

solo. A teoria biótica, que atribui a existência do cerrado em grande parte ao

resultado das atividades humanas, é a defendida especialmente por RAWITSCHER

(1940) e seus colaboradores do Departamento de Botânica da Universidade de São

Paulo. Da mesma forma que a anterior, a presente teoria não esclarece todas as

dúvidas a respeito dos cerrados, permanecendo sem solução vários problemas a eles

ligados. Embora em determinadas regiões o fogo tenha exercido influência decisiva

no aparecimento de cerrados, quer-nos parecer (com apoio, alias, na abalizadas

opiniões de WARMING e WAIBEL, expostas em seus trabalhos já tantas vezes

referidos) que a ação do fogo, em certas áreas, apenas foi de importância secundária,

não tendo conseguido introduzir modificações suficientemente uniformes e de

caráter geral a áreas de cerrado que, como Goiás e Mato Grosso, por exemplo,

recobrem imensas regiões, que se estendem por muitos milhares de quilômetros

quadrados.As teorias pedológicas procuram ressaltar a influência dos solos,

atribuindo a estes a maior responsabilidade no aparecimento dessa formação „sui

generis‟. Da mesma forma que as anteriores, pecam estas por serem unilaterais. Na

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realidade, se em certos pontos as teorias são contraditórias, em todas elas, entretanto,

são encarados vários fatos que não podem sofrer contestação. Acreditamos, de certo

modo, na coincidência das grandes áreas de cerrado do Planalto Central do Brasil

com aquela sem que o clima apresenta duas estações bem marcadas, o que

emprestaria a essas formações o caráter de vegetação clímax. Não sendo, porém,

idênticas em todas essas áreas às condições topográficas, essa diferenciação acaba

também por refletir se,direta ou indiretamente, através dos solos, na vegetação.

Pode-se notar que não há um real consenso sobre a formação do cerrado,

atualmente vários estudiosos vêm estudando e tentando resgatar a importância do cerrado no

contexto nacional. Hoje os estudos realizados pelo centro de pesquisa Agropecuária dos

cerrados – EMPRAPA que fica situada na cidade de Formosa (GO) vem realizando vários

estudos sobre o cerrado produzindo um acervo bibliográfico sobre a imensidade de aspectos

ecobióticos desse bioma tão rico.

Quanto à termologia conceitual cerrado é uma palavra derivada do espanhol que

quer dizer fechado, termo esse que tenta traduzir a característica arbustivo-erbácia densa que

acontece nessa formação da vegetação. Em dicionário de terminologia florestalSouza (1973,

p. 43) define cerrado da seguinte maneira:

São formados por árvores espaçadas retorcidas, baixas, com ramos tortuosos

grossas, rimosas ou gretadas. Por entre a parte arbórea, formando o fundo, há um

povoamento mais ou menos denso de gramíneas e plantas campestres. No Brasil

Central a savana é arborizada ou, mais frequentemente, arbustiva. Povoam tais

elementos solos secos, muito arenosos, ou solos duros, tal como „toá‟. A densidade e

o porte variam muitíssimo consoantes o solo, mas, sobretudo, segundo o grau de

devastação a que são sujeitos. A flora dos campos cerrados é heterogênea e exibe

forte variação local.

Hoje se define Cerrado como sendo uma formação tropical constituída por

vegetações rasteira, arbustiva e árvores formadas, principalmente, por gramíneas coexistentes

com árvores e arbustos esparsos, isto é, englobando os aspectos florísticos e fisionômicos da

vegetação, sobre um solo ácido e relevo suavemente ondulado, recortada por uma intensa

malha hídrica, que forma uma paisagem rara e única, diferente da savana, portanto, um Bioma

único e rico em biodiversidade. Pode-se afirmar que pouco ainda se conhece e se sabe sobre o

cerrado mesmo havendo vários estudos e pesquisas sobre este ecossistema, ainda tem muito

preconceito a ser superado para que ocorra uma melhor compreensão desse bioma, e para que

haja uma possível preservação do que ainda resta do Cerrado brasileiro.

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2.1-A DEGRADAÇÃO DO CERRADO E A EXPLORAÇÃO DO

CARVÃO VEGETAL

A degradação do cerrado ocorre devido à produção do espaço geográfico

econômico e dos processos esmagadores do capitalismo que acabam com o bioma, alguns

cientistas afirmam que só restam apenas 8% da área de cerrado. A chamada urbanização do

campo praticamente acabou com o cerrado brasileiro resta muito pouco da imensidão que

existia antes deste descontrole capitalista com suas estruturas políticas extremante corruptas

que beneficia apenas uma mínima camada da sociedade. Essa degradação afeta todo o bioma

bem como todo sistema hídrico nacional visto que as principais bacias hidrográficas do País

têm suas nascentes no planalto central áreas do cerrado que já estão bastante degradadas. Por

conta da vasta extensão territorial, e posição geográfica este bioma, como citado

anteriormente tem em sua área as nascentes das principais bacias hidrográficas da América do

Sul sendo elas Amazônica, Platina, e Sanfranciscana. Devido toda essa extensão e gravidade

que vem tomando o problema da degradação, o governo brasileiro se viu na obrigação de criar

áreas de proteção ambiental com o propósito de tentar preservar alguns aspectos e

características do bioma cerrado, através de Parques Nacionais. Ate o momento foram criados

oito Parques, porem é áreas isoladas onde não há uma interligação entre os mesmo

impossibilitando assim a migração das espécies, tem que se implantar uma medida que

possibilite uma espécie de corredor entre os mesmos. Sendo eles: Chapada Diamantina,

Chapada dos Veadeiros, Brasília, Grande Sertão Veredas, Serra do Cipó, Serra da Canastra,

Parque das Emas e Chapada dos Guimarães. Como mostra a figura 2.

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Figura 2 Áreas de proteção criadas pelo Governo Brasileiro, através dos Parques

Nacionais até 2000.

Fonte: MOULIN, N. Por dentro dos Cerrados (2000, p. 6).

Porem mesmo com essas atitudes de criar esses parques ainda sim o que se nota é

um verdadeiro descaso com essas reservas pelo congresso nacional, que simplesmente ignora

todo o problema e engaveta a bandeira do cerrado. Hoje poucas ONGs de grande porte lutam

e defendem os ideais voltados as questões do bioma cerrado. Os projetos de lei movidos em

favor da preservação e conservação do cerrado são muitos poucos chegando a ser escassos. As

poucas áreas de proteção existentes são por vezes desrespeitadas e a fiscalização IBAMA e

demais órgãos responsáveis é praticamente inexistente.

De acordo com dados históricos após a criação de Brasília e a ocupação do centro-

oeste, e essa ocupação territorial baseada em desmatamentos, queimadas e demais atenuantes,

cerca de 67% da área total do cerrado foi modificada por degradação do solo como voçorocas,

assoreamentos dos rios e destruição dos ecossistemas existentes. A grande maioria das áreas é

desmatada para a criação de pastagens e para a agricultura em geral, porem grande parte dos

Page 34: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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proprietários das terras, libera para o desmatamento para fins carvoeiros, o que é uma

realidade extremamente preocupante.

Desde os anos 70 já se divulga a importância de se preservar e conversar o uso

descontrolado do cerrado nota-se ao invés que o segundo maior ecossistema do País é

literalmente esquecido e o pior devastado cada dia mais. O que ainda causa-nos revolta é que

aparentemente defender o cerrado não causa status a nenhum político, e este, continua sendo

apenas citado como uma savana de arvores torta, que em sua grande parte é ocupada pela

população pobre.

Um monitoramento feito por imagens de satélite do desmatamento do bioma,

concluído no ano de 2010, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA), mostra o grande avanço da devastação por terras indígenas,

assentamentos rurais e unidades de conservação sob a responsabilidade da União e dos

Estados. Em sete anos, essas áreas perderam 7,94 mil km2 de matas nativas, o equivalente a

36,8 mil estádios do tamanho do Pacaembu, em São Paulo. Esse desmatamento representa

quase 10% de toda a perda de cerrado entre 2002 e 2008. Reportagem de Vinicius Sassine, no

Correio Brasiliense. “Esses dados são preocupantes”, reconhece o diretor de Conservação da

Biodiversidade do MMA, Bráulio Dias. “O monitoramento (do desmatamento do cerrado,

feito pelo IBAMA) vai permitir uma maior fiscalização. Agora o governo federal tem

instrumentos para monitorar e cobrar.” Daí pode se perceber com esses dados que não estão

sendo respeitado nenhum tipo de lei e a degradação insiste em continuar, pois a legislação

ambiental proíbe qualquer tipo de retirada da cobertura vegetal em parques e reservas

ambientais, e as imagens feitas pelos satélites do instituto provam justamente o contrário.

Como é o caso da Chapada dos Veadeiros em Goiás e da Chapada dos Guimarães no Mato

Grosso e também da Serra da Canastra no Estado das Minas Gerais, e isso chama a atenção

por ser uma afronta à lei.

Hoje o cerrado é o bioma mais ameaçado, visto que ate 2002 a devastação já tinha

consumido cerca de 890 mil km². Para se ter uma idéia e voltar os olhares para o objetivo

deste trabalho, um terço ou mais da madeira fornecida para a produção de carvão no Brasil

vem deste tipo de vegetação: o cerrado. Com tudo “O cerrado ainda resiste na parte norte do

país. No centro e no sul, não sobrou muita opção”, afirma o diretor de Conservação da

Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bráulio Dias.

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Diante de problema apresentado uma das alternativas encontradas foi a

implantação da Silvicultura também conhecida como “agricultura da madeira”, que é uma

alternativa econômica para áreas degradadas que planta arvore sendo as principais os pinus e

o eucalipto dos quais extrai a celulose, o carvão vegetal, a lenha, o MDF dentre outros

produtos que é comercializado em larga escala.E que busca ainda ajudar na recuperação das

florestas por meio de plantio de mudas, de forma a aumentar as possibilidades de manutenção

e preservação dos biomas locais visando a recuperação de recursos hídricos e a conservação

da biodiversidade.

Dessa forma o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, classifica

como silvicultura a atividade que se ocupa do estabelecimento, desenvolvimento e da

reprodução de florestas visando múltiplas aplicações, tais como a produção de madeira, o

carvoejamento, a produção de resinas e a proteção ambiental. Em 2005 os produtos

madeireiros representaram 85,3% do valor da produção extrativa vegetal e os não-madeireiros

14,7%. Quanto à madeira em tora do segmento extrativista vegetal, a produção nacional em

2005 foi de 17.372.428 m3, com valores da ordem de 1,64 bilhões de reais, sendo o estado do

Pará responsável por 57,2% dessa produção (IBGE, 2005).

O estado de Goiás, no ano de 2005 se destacou, na extração vegetal, e na

produção de carvão vegetal: 320.636 t (R$ 124,2milhões), lenha: 786.709 m³ (R$ 15,1

milhões) e na produção de madeira em tora: 29.655m³ (R$ 4,6 milhões). Na silvicultura,

provenientes de florestas plantadas, os destaques foram para a produção de carvão vegetal:

15.941 t (R$ 5,25 milhões) e de lenha: 901.723m³ (R$ 28,2 milhões), e para o grande aumento

na produção de madeira em tora de 2004para 2005, excluindo-se a produção para papel e

celulose, subindo de 21.500 m³ (R$ 650mil) em 2004 para 182.700 m³ (R$ 5,58 milhões) em

2005 (IBGE, 2004a; IBGE 2005).

Um dos pontos fundamentais é observar e considerar que o cerrado contém algo a

mais que apenas arvores e seu potencial representa bem mais que madeira, onde possui

organismos vivos que precisam ser considerados antes de qualquer intervenção do homem.

Quanto aos impactos ambientais diretos mais importantes da exploração

madeireira, e do carvoejamento, destacam-se a redução da cobertura florestal e os impactos

físicos das operações de corte e transporte da madeira (MMA, 2000), de forma que a

intensidade da exploração causará alterações de grande relevância na abertura do dossel que

são as folhagens que se encontram muito acima do chão, essas alterações podem causar

mudanças nas condições biofísicas, compactação do solo e demais ações que resultam em

Page 36: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

35

danos a regeneração natural do solo, o que aumenta o índice de radiação solar o que

consequentemente aumenta a probabilidade de incêndios devido ao solo estarem mais seco e

susceptível ao fogo.

É relevante informar que o surgimento de varias técnicas de exploração da

madeira surgiu no período pós-segunda guerra, quando a demanda por madeira aumentou de

maneira considerável devido à rápida expansão social e econômica e com isso a necessidade

de introdução de novas técnicas mecanizadas, aumentou em grande escala a intensidade de

exploração, derivando assim um índice de degradação das florestas com danos excessivos a

vegetação e ao solo, e como conseqüência colocando em duvida a questão da sustentabilidade

e ameaçando consideravelmente os ecossistemas.

Após a segunda guerra houve uma intensa ação no que diz respeito a

reflorestamento na Europa e hoje a madeira de reflorestamento desempenha um papel

importante para países como Alemanha, Suíça, Áustria e Finlândia, que são produtores e

exportadores de madeira. O que não ocorreu no Brasil, visto que a degradação e a utilização

irracional do bioma e da madeira continuaram vindas a atingir o índice que se encontra

atualmente o que trará consequências irreversíveis para as futuras gerações.

Uma das utilizações da madeira extraída do bioma cerrado vai para a produção de

carvão vegetal, e que dentre as suas varias utilidades se destaca o seu emprego como redutor

na siderurgia do ferro-gusa e do aço. O carvão vegetal foi mais utilizado na época do Brasil

republica principalmente no decorrer do século XX estando relacionado como processo de

industrialização do país, pois sendo o carvão de fácil produção e baixo custo, o que

possibilitou a implantação de varias usinas de pequena capacidade de produção que ia de

acordo com o mercado que aço que começara a despontar. Sendo o estado de Minas Gerais o

precursor na década de 20 no que diz respeito a usinas movidas pelo carvão, ressaltando que

toda a madeira utilizada provinha das matas nativas.

O Governo Federal sempre se preocupou pouco com as questões relacionadas à

siderurgia e que estas utilizavam do carvão vegetal como combustível, e sabe-se que quase

todo o carvão vegetal produzido no Brasil tem como destino as siderurgias. A produção de

carvão ate o ano de 2005 era de ritmo acelerado, passou de 16,9 milhões de MDC (metro de

carvão- unidade de medida equivalente a quantidade de carvão que pode ser contida em um

metro cúbico) em 1980para 18,8 milhões de MDC em 2005. Segundo o código florestal

brasileiro para um consumo anual superior a 12 estéreos (estéreos- que é a quantidade de

Page 37: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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lenha que pode ser empilhada em um metro cúbico) o código afirma que o consumidor é

obrigado a manter uma floresta própria destinada a suprir o que foi retirado da natureza.

O estado de Minas Gerais sempre se destacou no mercado como principal

produtor e fornecedor de carvão vegetal, porem com a legislação mineira vigorando, as

siderúrgicas tiveram que recorrer e buscar em outros estados, para manter sua produtividade,

hoje, 15% do carvão consumido pelas siderúrgicas mineiras vêm do cerrado do estado de

Goiás. Depois de ter destruído praticamente todo o cerrado existente em Minas Gerais

avançam sobre o cerrado goiano com o mesmo objetivo extrair tudo que puderem sem se

preocuparem com a preservação e conservação deste bioma.

Sabe-se que para cada tonelada de ferro produzida é necessárias 0,7 toneladas de

carvão, o que atinge de forma estrondosa na vegetação nativa de onde é extraída toda a

matéria prima para o carvão vegetal. Desde essa investida das siderúrgicas mineiras o estado

de Goiás juntamente com o departamento ambiental o MPGO instalou um inquérito a partir

de 1998 para apurar a legalidade das siderúrgicas e comprovou que o reflorestamento alegado

por eles não passa de fachada e ainda apurou uma serie de irregularidades na prestação de

contas. Foi detectado desvio de autorizações de carvão nativo extraído regularmente para

cargas clandestinas e não autorizadas, além de retenção e fraude de guias para encobrir

diferenças entre o volume transportado e o montante de carvão autorizado. A polícia em

muitos casos faz vista grossa a corrupção existente no mercado de carvoejamento.

Page 38: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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3-A MICRORREGIÃO DE IPORÁ

De acordo com o site Wikipédia a microrregião de Iporá é uma das microrregioes

do estado de Goias pertencente a mesorregião Centro Goiano. Sua população foi estimada em

2006 pelo IBGE em 62.202 habitantes e está dividida em dez municípios. Possui uma área

total de 7.072,353 km. A economia da região é baseada na agricultura e pecuaria e mantida

pelas pequenas propriedades agricolas que tem sua economia praticamente toda baseada na

produção de leite, produto esse em sua grande parte exportado ficando uma pequena porção

para a subsistencia. A aglomeração da população na microrregião de Iporá se deu a partir da

decada de 80 com a produção de mandioca e fabricantes de farinha, daí para os dias atuais a

região se diversificou entre pecuaria e agricultura como já citado anteriomente. O mapa

seguinte mostra a localização da microrregião de iporá no estado de Goiás.

Page 39: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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Unidade federativa: Goiás

Mesorregião: Centro-Goiano

Microrregiões limítrofes: Anicuns, Aragarças, Rio Vermelho, Sudoeste de Goiás, vale do rio

dos bois.

Categorias geográficas:

Área: 7.072,353 km²

População: 62.202 hab.

Densidade 8,8 hab./km²

PIB: R$ 295.014.363,00 IBGE/2003

PIB per capita: R$ 4.719,31 IBGE/2003

A microrregião de Iporá é composta pelos seguintes municipios: Iporá o mais

populoso, e os demais: Amorinópolis, Cachoeira de Goiás,Córrego do Ouro, Fazenda Nova,

Israelândia, Ivolândia, Jaupaci, Moiporá, Novo Brasil como mostra o desenho 1

Desenho 1- os municípios que compõem a microrregião de Iporá-GO fonte: Mapas das microrregiões do Estado

de Goiás , segundo IBGE, de acordo com a resolução - PR nº 11 de 05/06/90

Page 40: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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3.1- A EXTRAÇÃO DO CARVÃO VEGETAL NA MICRORREGIÃO DE IPORÁ

As carvoarias existentes na microrregião de Iporá, mesmo que pequenas

quantidades e em proporção menor de queima e produção de carvão, se comparadas às outras

regiões do estado ou do país como é o caso de Minas Gerais que foi o precursor como dito

anteriormente, ainda sim o carvoejamento desenvolvido na região traz a sua cota de danos ao

meio ambiente. Na maioria das cidades em que a pesquisa foi realizada os fornos são

praticamente dentro da cidade, como é o caso das cidades de jaupaci e Iporá.Segundo

depoimentos da população que reside em torno das carvoarias, quando os fornos estão acesos,

no momento da queima, principalmente nos dois primeiros dias quando o indice de fumaça e

fuligem queé lançada na atmosfera é maior e mais intensa, as casas são cobertas por aquela

fumaça densa e negra(relatado dos moradores vizinhos às carvoarias) fumaça essa altamente

prejudicial a saúde, atingindo principalmente as pessoas que apresentam quadro de doenças

respiratórias, o que acaba por agravar os sintomas dos mesmos. Além de ser um incomodo a

toda população por apresentar mal cheiro e causar ardencia nos olhos,contribui com a

poluição do ar, porque toda a fumaça vai direto para a atmosfera. Estudos comprovam que a

fumaça liberada pelos fornos das carvoarias contem mais de 130 substancias, sendo 10 delas

HPAs genotóxicos, incluindo o benzo-a-pireno (PENNISE et al, 2001; POPPI & SILVA,

2002; BARBOSA et al, 2006). O que repercute na saúde tanto dos trabalhadores, como da

população em torno dos locais onde se encontra os fornos.

3.1.1-AS CONDIÇÕES DE TRABALHO NAS CARVOARIAS

Ao tratar do relevante assunto das carvoarias, não se pode deixar de citar as

condições de trabalho a qual é submetido os carvoeiros, é um serviço árduo, sendo que para o

abastecimento dos fornos é necessário um trabalho todo manual. Segundo entrevista com

trabalhadores o enchimento dos fornos é feito da seguinte maneira: a madeira que irá ser

utilizada na queima é toda estocada bem próxima a porta dos fornos, e esse transporte é todo

feito manualmente, preparam o forno limpando o seu interior e retirando completamente as

sobras de carvão que foi produzido na fornada anterior, dando sequência, o forno é

preenchido e as madeiras são cuidadosamente organizadas para obter uma melhor queima e

Page 41: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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um resultado melhor no produto final (o carvão), depois a porta do forno é fechada ate certa

altura, para que haja o espaço para atear fogo, após uns 20 minutos de queima a porta é

completamente lacrada assim como a parte superior onde ficam as chaminés como ilustra a

foto 01 a seguir:

Foto 01- trabalhador lacrando a porta de um forno. Fonte:desmistificador. Blogsp.

Nota-se um grande esforço físico por parte desses trabalhadores, visto que a

preferência e a escolha da madeira são feitas pelo seu tamanho e volume, ou seja, são

preferíveis as „toras‟ maiores por dar um carvão “graúdo” como eles mesmos dizem. Depois

do processo iniciado, os trabalhadores vão lacrando (tapando) as chaminés ao passo que a

madeira vai queimando, até chegar aos chamados „tatus‟ termo usado pelos próprios

trabalhadores, que são as chaminés que ficam bem rente ao solo e é por onde se vê o ponto do

carvão, quando ele está pronto para ser retirado como mostra a foto 02 a seguir:

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FOTO 02-Carvoaria na cidade de JAUPACI-GO fonte: MENDONÇA Outubro/2011-

Após esses procedimentos, espera-se três dias, até o carvão esfrie, para ser enfim

retirado e ensacado, que mesmo assim ainda se encontra quente e os trabalhadores são

obrigados a lidar com esse processo de retirada sem nenhuma proteção, como eles afirmam, o

calor é intenso e preferem trabalhar até mesmo sem camisa para suportar a alta temperatura.

Assim os trabalhadores têm um contato muito intenso com toda a fumaça e fuligem que a

queima produz, sem aqui mencionar o baixíssimo salário que recebem por horas de trabalho.

Em carvoarias de grande porte a produtividade é maior e mais intensa que exige-

se dos trabalhadores um esforço físico além das suportadas por um ser humano.De acordo

com o blog do trabalho exibido em 17 de março de 2011, ressurge o projeto que penaliza

indústrias por abuso contra carvoeiros, o projeto visa proteger o trabalhador em carvoarias. A

proposta modifica a CLT (Consolidações das Leis do Trabalho) e responsabiliza os

empregadores e as indústrias que utilizam do carvão vegetal e que usam de abusos e de

trabalho contra os carvoeiros. Se o projeto for aprovado, os grandes proprietários das

multinacionais que forem flagrados adquirindo material produzido por trabalhadores que são

explorados, poderão ser enquadrados no artigo 149 do Código Penal Brasileiro,podendo ser

sujeitos a pena de dois a oito anos de prisão, além de multas. O autor do projeto Rubens

Bueno afirma que o objetivo não é prejudicar os proprietários e donos de carvoarias, mas,

proteger os trabalhadores. O mesmo projeto ainda prevê que precisará haver sinalização e

demarcação dos fornos para tornar o local de trabalho um pouco mais seguro, será adotado

com essa medida equipamentos de segurança condizentes com o tipo de serviço feito, alem

Page 43: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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dos trabalhadores terem acesso a todos os direitos de cidadãos. Isso é o mínimo a que eles tem

direito.

3.2- AS CARVOARIAS DA MICRORREGIÃO

Assim como em todo o estado de Goias o índice de extração do carvão vegetal na

microrregião é intenso, levando em consideração os estudos feitos sobre a area do cerrado da

região. As carvoarias presentes na microrregião são de pequeno porte e não chega a pruduzir

para exportação que no caso seria as siderurgicas mineiras as principais importadoras do

produto, os principais destinos do carvão produzido são de consumo interno do estado,

abastecendo principalmente: supermercados, churascarias, restaurantes, dentre outros

comercios pequenos. A madeira utilizada na produção do carvão vem do cerrado da propria

região em questão, apesar dos proprietarios afirmarem que são utilizadas apenas madeiras de

arvores que são cortadas na cidade, foram feitas pesquisas com os funcionarios da prefeitura e

de orgãos competentes que liberam as licenças para o corte, é constatado que a madeira usada

para abastecer esses fornos não é só da cidade e vem de madeiras cortadas do cerrado. Como

exemplo a cidade de Jaupaci-Goiás, a carvoaria tem apenas um forno, mas que tem uma

produção de duas fornadas por semana, o que corresponde a 160 sacos de carvão sendo que

para produzir essa quantidade é necessario 14m³ de madeira ou lenha por forno ou seja, 28m³

para chegar a esse total por semana, vale ressaltar que é usado na produção preferencialmente

troncos grande e verdes, dos quais deriva um carvão de melhor qualidade,não preferem

madeira seca porque queima muito rapido e produz um carvão fraco, como afirma o

proprietário. Todo o produto desta carvoaria é vendido para as churrascarias e supermercados

da cidade de Iporá e na propria cidade Jaupaci.

Outro fato bastante relevante, é que alem do desmatamento feito para fins da

carvoaria situada em Jaupaci, ha casos em que a madeira é retirada do cerrado da região onde

foi constatado o desmatamento, e levada para outras cidades. Os caminhões saem carregados

de madeira e o destino é sempre o mesmo as carvoarias. Como mostra a foto 3:

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Foto 3- caminhão carregado de madeira fonte: MENDONÇA Outrubro /2011 Jaupaci-GO

Esta imagem não é fato isolado, ocorre com frequencia e pode ser visto por toda

população, que ja se acostumou com as cenas dos caminhões carregados.Infelizmente o

cerrado está sendo um dos biomas mais ameaçados do mundo pela ação do homem que vê

devastando de forma continua a vegetação nativa, e que esta aos poucos desaparecendo com

uma contribuição significativa das carvoarias, e se os estudos feitos se confirmarem e os

desmatamentos não forem detidos ate o ano de 2030 não existirá mais cerrado

No municipio da cidade de Iporá-Goias a realidade é bem parecida com o

acréscimo de que a produção é em maior quantidade, pois trabalham com tres fornos diretos,

sendo assim uma quantidade maior de madeira é necessaria e consequentemente a agressão ao

meio ambiente tambem é, seja na destruição do cerrado, seja na emissão de fumaça na

atmosfera, lembrando que ambas as carvorias citadas estão localizadas praticamente dentro da

cidade.

A carvoaria de Iporá-Go é situda no bairro da Vila Brasilia, seus produtos

abastecem varias cidades da região e churrascarias, restaurantes e supermercado da propria

cidade,pode-se analizar a carvoaria em pleno funcionamento como mostra a foto-4

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foto 4- carvoaria de Iporá-Go situada no bairro vila brasilia Fonte: MENDONÇA Outubro/2011

Na imagem pode ainda ser observada as madeira empilhadas proximo aos fornos

prontos para virarem carvão. Os fornos utilizados na maior parte das carvoarias encontradas

na região tem a seguinte estrutura:

Imagem frontal.

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Imagem vista de cima

Nas carvoarias esse tipo de forno é padrão utilizado em toda microrregião de Iporá. E

não só na microrregião, mas, em todos ou outros lugares que possuem carvoarias,

como mostra a foto 5:

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Foto 5-forno carvoaria de Jaupaci. Fonte: MENDONÇA/2011.

Como podemos constatar através deste trabalho que o processo de degradação do

cerrado em função da produção de carvão vegetal na microrregião de Iporá é de bastante

relevância e que se não for feito nada o problema tende-se a agravar prejudicando e/ou

diminuindo os recursos naturais. Como a destruição da vegetação do cerrado, a exposição e

empobrecimento do solo de cerrado que são frágeis, bem como a emissão de gases poluentes

devido à queima de madeira vem contribuir para agravar mais os problemas ambientais

existente no mundo.

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CONCIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos esse trabalho é resultado de uma pesquisa que teve como objetivo

analisar os impactos ambientais causados pela extração do carvão vegetal na microrregião de

Iporá e que permitiu constatar que não só na microrregião de Iporá como em todo o país, essa

exploração está destruindo o que ainda resta do Bioma Cerrado.

Uma das conclusões alcançadas com o estudo feito leva à certeza que é de

fundamental importância que a recuperação das áreas desmatadas aconteça de acordo com a

exploração, utilizando do recurso de reflorestamento dessas áreas, sendo utilizadas no plantio

mudas de arvores típicas do cerrado goiano, para que não ocorra a extinção de algumas

espécies nativas.

Outra medida proposta seria combater o desmatamento do cerrado tornando mais

rigorosas as leis ambientais, optando por um controle maior das autorizações cedidas, além de

exigir uma fiscalização mais imparcial no que diz respeito à produção, comercialização e

transporte do carvão vegetal.

Entende-se que uma das contribuições desta pesquisa foi a abordagem para uma

conscientização dos proprietários das carvoarias, da sociedade, e de autoridades competentes

sendo esta questão tratada com verdadeiro descaso pelos governantes da nação. É necessário

que se busquem medidas a fim de conter a destruição do cerrado, levando a desmistificação

quanto à importância deste bioma visto que este é tão rico em biodiversidade quanto os outros

biomas do planeta.

Com a elaboração deste trabalho pode-se ter um esclarecimento sobre o carvão

vegetal e os problemas acarretados na sua fabricação, levando a crer que são necessárias

medidas de urgências, quanto a localização das carvoarias, sendo essencial que se tenha um

local mais adequado, de preferência mais distantes das cidades onde a população não seja

Page 49: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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prejudicada. Além disso, foi observado que há uma necessidade de melhorias nas condições

de trabalho e que seja exigida a utilização de equipamentos de segurança tais como: luvas,

capacetes, óculos de proteção, roupas adequadas e botas para que minimize o risco de

acidentes no trabalho.

Por fim, esta pesquisa possibilitou ao pesquisador um conhecimento mais

aprofundado sobre o bioma cerrado, as consequências da extração do carvão vegetal para o

meio ambiente e pretende-se com a mesma, contribuir para o aprimoramento de estudos

futuros sobre questões ambientais, na microrregião de Iporá. Sabe-se que esta se trata de

apenas um início e não de um fim, estando exposta então ao debate.

Page 50: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

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REFERÊNCIAS

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http://aprendabiologiacomdjalminha.blogspot.com/2008/08/problemas-ambientais-v-

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http://www.camara.gov.br/agencia/noticias/MEIO-AMBIENTE/200202-PROJETO-VEDA-

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http://www.serviços IBAMA. Gov. BR

JACOBI, Pedro (coord.).Pesquisa sobre problemas ambientais e qualidade de vida na

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LEFF, E Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.

Page 51: Os Impactos Ambientais Causados Pela Extração Do Carvão Vegetal Na Microrregião de Iporá-go

50

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MOREIRA, Maria Suely. Passivo Ambiental: O conceito em debate. Disponível em:

<http://www.indg.com.br/iso14000/texto3.asp>>. Acesso em: 01 nov. 2007.

Revista veja edição 1 624-17/11/1999. A vida na fornalha. Lucila Soares

SILVA, Alessandra Magalhães Benjamim aluna do curso de direito da faculdade Ruy

Barbosa, bacharel em administração pela mesma e ex-aluna do programa de iniciação

cientifica.PIBIC.RUY2007

WWW.embrapa.br

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ANEXOS

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ENTREVISTAS

ALVES, Sérgio Eduardo Ribeiro. Concedida em 20-10-2011

ROSA, João Alves. Concedida em 21-10-2011

OLIVEIRA, Maria das Graças. Concedida em 25-09-2011

LEMES, Darckson, Luiz Laureano. Concedida em 25-10-2011

MEDEIROS, Juliely Silva. Concedida em 24-10-2011

OLIVEIRA, João Carlos de. Concedida em 22-10-2011

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FOTOS

Fonte; MENDONÇA outubro/2011

Fonte: MENDONÇA outubro/2011

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Fonte: MENDONÇA Outubro/2011

Fonte: MENDONÇA Outubro/2011

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Fonte: MENDONÇA Outubro/2011