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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL-PDE 2013

MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO“A RUPTURA DA DICOTOMIA ENTRE A GEOGRAFIA FÍSICA E HUMANA: O ENTORNO ESCOLAR E SUAS UNIDADES DE PAISAGEM NA CONSTRUÇÃO DOS ARRANJOS ESPACIAIS.”

ANTONIO TIMÓTEO DA SILVA GERVASI

PARANAGUÁ-PR

2013

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SUMÁRIO

P.

Apresentação 5

Capítulo 1 – Conceitos que auxiliam na ruptura da dicotomia entre a Geografia Física X Geografia Humana

6

1.1 O conceito de unidades de paisagem 7

1.2 Os arranjos espaciais e os circuitos superior e inferior 8

1.3 Conclusões: a dicotomia Geografia Física X Geografia Humana e a importância de conceitos-chave para a ruptura

10

Capítulo 2 - As Unidades da paisagem de Paranaguá-PR 11

2.1 Unidades e Subunidades da paisagem do Jardim Araçá 12

2.2 Entorno do Colégio Maria de Lourdes R. Morozowski 18

Capítulo 3 – Material didático-pedagógico – Atividades propostas 19

Referências Bibliográficas 20

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: “A RUPTURA DA DICOTOMIA ENTRE A GEOGRAFIA FÍSICA E HUMANA: O ENTORNO ESCOLAR E SUAS UNIDADES DE PAISAGEM NA CONSTRUÇÃO DOS ARRANJOS ESPACIAIS.”

Autor: Antonio Timóteo da Silva Gervasi.

Disciplina/Área: Geografia.

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual “Profª Maria de Lourdes Rodrigues Morozowski”- Ensino Fundamental e Médio.

Município da escola: Paranaguá.

Núcleo Regional de Educação:

Paranaguá.

Professor Orientador: Ângela Massumi Katuta.

Instituição de Ensino Superior:

UFPR-setor Litoral.

Relação Interdisciplinar:

História e Ciências.

Resumo:

A presente unidade didática aborda a questão da dicotomia historicamente construida entre a Geografia Física e a Geografia Humana. Refletimos sobre a necessária ruptura dessa dicotomia, para que se trabalhe em sala de aula uma geografia que auxilie os educandos a compreenderem os lugares que percorrem. Para tanto, utilizamos os conceitos de arranjos espaciais, unidades da paisagem, circuitos superior e inferior a fim de verificar se os mesmos efetivamente auxiliam nesta ruptura. Concluimos que as análises espaciais, a partir dos conceitos citados, demandam outra forma de elaboração e auxiliaram na ruptura com a referida dicotomia.

Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Escolar; Circuitos Superior e Inferior.

Formato do Material Didático:

Unidade Didática.

Público: 9º ano do ensino fundamental e professores do GTR.

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MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO“A RUPTURA DA DICOTOMIA ENTRE A GEOGRAFIA FÍSICA E HUMANA: O ENTORNO ESCOLAR E SUAS UNIDADES DE PAISAGEM NA CONSTRUÇÃO DOS ARRANJOS ESPACIAIS.”Escola: Colégio Estadual “Maria de Lourdes Rodrigues Morozowski”- Ensino

Fundamental e Médio.

NRE: Paranaguá.

Nome do professor PDE: Antonio Timóteo da Silva Gervasi.

E.mail: [email protected]

Professor Orientador: Drª Ângela Massumi Katuta.

Nível de Ensino: Fundamental.

Título: Unidade Didática “A Dicotomia entre a Geografia Física e Humana: o Entorno

Escolar e suas Unidades de Paisagem na Construção dos Arranjos Espaciais.”

Disciplina: Geografia.

Relação Interdisciplinar: História e Ciências.

Conteúdos Estruturantes: Dimensões Econômica, Política, Cultural, Demográfica e

Socioambiental do Espaço Geográfico.

Conteúdo Básico: “Superação da Dicotomia Física e Humana na Geografia.”

Conteúdo Específico: Oficinas com textos e atividades de superação da dicotomia e

entendimento dos arranjos espaciais percebidos pelos alunos.

Material didático-pedagógico elaborado pelo professor Antonio Timóteo da Silva Gervasi, da disciplina de Geografia, município de Paranaguá-Pr como parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, sob a orientação da professora Drª Ângela Massumi Katuta da Ufpr – Setor Litoral, Matinhos-Pr.

PARANAGUÁ-PR2013

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APRESENTAÇÃOO material didático-pedagógico aqui apresentado foi desenvolvido levando-

se em consideração a necessidade da superação da dicotomia entre a geografia

física e humana, no ensino da referida disciplina na educação básica.

O objetivo principal do presente material didático-pedagógico pensar a

possibilidade de romper com a dicotomia física e humana presente na formação de

docentes, nos trabalhos acadêmico científicos, nos livros didáticos, no imaginário

dos alunos, entre outros. Dessa forma, proposições em torno da prática pedagógica

do educador, a partir de uma unidade didática sobre o tema é essencial para auxiliar

os professores nas transformações dos seus trabalhos e das suas práxis. A ideia é

auxiliar os professores a construirem junto a seus alunos um olhar e uma

convivência mais íntima com a cidade e seus lugares sociais. Para isso, é

necessário a apreensão dos saberes sobre os diversos grupos sociais, suas

expressões culturais e os diferentes ambientes onde se dão as relações desses

grupos. Portanto, estereótipos e/ou preconceitos devem ser superados para que se

compreenda a diversidade urbana verificada. As diferentes relações produzidas e

reproduzidas no espaço social devem ser exploradas e compreendidas para que se

consiga construir territorializações que protejam as práticas sociais de determinados

grupos. A escola tem um papel importante nisso, na medida em que ela pode ser

compreendida a partir do que ocorre no seu entorno.

Este material didático-pedagógico está ancorado numa unidade didática que

privilegia a análise geográfica a partir dos arranjos espaciais locais que, em nosso

entendimento, auxilia na ruptura com a chamada dicotomia física e humana da

Geografia. Essa forma de compreensão dos lugares foi introduzida pela Abordagem

Sistêmica que, vê no espaço, o resultado da atuação dos seres humanos que,

modificam a natureza em prol da sua sobrevivência, criando e (re)criando os

espaços (BARBOSA, 2008).

O referido material serve de apoio para professores que tenham interesse

em trabalhar com este conteúdo, podendo ser ampliado e modificado, tendo como

base as atividades propostas na presente produção didática.

A produção didático-pedagógica aqui proposta se divide em dois capítulos.

No capítulo 01 o foco serão as Unidades de Paisagem e seus conceitos como

auxiliadores no rompimento da dicotomia Geografia Física e Geografia Humana. O

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objetivo é demonstrar o quanto a ciência geográfica ajuda no entendimento das

paisagens, através de um maior aprofundamento teórico-metodológico no conceito

de Unidades de Paisagem. No capítulo 02 propõe-se exercícios de análise da

paisagem, voltados para os alunos envolvidos no projeto de implementação e para

os professores do GTR (Grupo de Trabalho em Rede).

Atualmente, tem sido um trabalho árduo ensinar geografia, frente aos

inúmeros desafios contemporâneos enfrentados. Por isso, a produção do material

didático-pedagógico a partir do local onde o aluno vive e mora se constitui de

fundamental importância. O cotidiano do aluno deve dialogar com o conteúdo

escolar para que o ensino ganhe significado e para que o educando consiga

compreender os lugares que habita.

CAPÍTULO 1 - CONCEITOS QUE AUXILIAM NA RUPTURA ENTRE A GEOGRAFIA FÍSICA X GEOGRAFIA HUMANA

A Geografia, durante muito tempo, assentou sua produção a partir da

dicotomia entre a Geografia física e humana, o que na perspectiva da compreensão

dos lugares, cria um conjunto de dificuldades, pois estes não podem ser

compreendidos em sua complexidade de maneira dicotomica. Ao longo de nossa

atuação no referido nível de ensino verificamos esta dificuldade.

No livro Pensar e ser em Geografia, Moreira (2007, p. 62) afirma que o [...] processo formador do espaço geográfico é o mesmo da formação econômico-social. Por isso, tem por estrutura e leis de movimento a própria estrutura de leis de movimento da formação econômico-social. Podemos, com isso, doravante designar o que até agora chamamos de organização do espaço por formação espacial, ou formação sócio-espacial, como propôs Santos (1978).

Portanto, chegamos à conclusão que o espaço geográfico se forma de

vários elementos econômicos e sociais construídos historicamente por todos os

seres humanos. Para Santos (1985), a sociedade é entendida como totalidade

social. A produção social, portanto, vai além da aparência e dos aspectos visíveis.

Para entendermos a sociedade é necessário se compreender os determinantes

políticos, culturais e econômicos que produzem as transformações espaciais.

Uma geografia da totalidade só será construída se houver o rompimento ou

superação da dicotomia entre a geografia física e humana. Uma concepção atópica

do homem está na raiz desta dicotomia, segundo Moreira (1987).

Por essa razão, os espaços vividos e percebidos pelos alunos devem ser

compreendidos como social e historicamente produzidos, mas que podem ser

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modificados. Porém, a realidade cotidiana mostra uma enorme dificuldade dos

alunos e, possivelmente dos professores, em entenderem o espaço de vivência e

seu entorno, a partir do que se trabalha em sala de aula, dado o grau de

generalidade do trabalho docente.

Alguns conceitos que nos ajudam a superar a ideia da dicotomia entre a

Geografia Física e a Geografia Humana são as Unidades de Paisagem e os Arranjos

Espaciais locais, que tem como pressuposto a interdeterminação dos elementos

entre si.

1.1 OS CONCEITOS DE UNIDADES DE PAISAGEMSegundo Vigotsky apud Katuta (2004), a ação de qualquer ser humano

antecede a linguagem. Portanto, só aprendemos por meio de nossas experiências,

as linguagens e os conceitos são o coroamento do processo de aprendizagem.

Segundo Martinelli & Pedrotti (apud Dalbem et al, 2005, p. 3) Nos dias de hoje, não podemos mais conceber representações sobre a realidade espacial, a do espaço humano, de forma analítica e fragmentada. Devemos esforçar-nos na busca de uma cartografia de reintegração, de reconstrução do todo.

Os naturalistas e exploradores do século XIX viam uma realidade concreta

da paisagem, guardando o conceito de unidade natural. Porém, preservava-se o

caráter fisionômico, estético, sem história. Ao longo do desenvolvimento humano,

observou-se ações de simples sobrevivência junto ao quadro natural até uma

progressiva dominação, colocando-se grandes mudanças artificiais, formando-se o

chamado meio técnico-científico-informacional. A paisagem, por sua vez, torna-se

cientificizada e tecnicizada, bem como o espaço se revela cada vez mais

informacializado (SANTOS, 1994, 1996a).

Não importa a simplicidade da paisagem. Ela sempre será social e natural,

subjetiva e objetiva, espacial e temporal, produção cultural e material, real e

simbólica. Não se pode compreender uma paisagem analisando seus elementos

separadamente. É necessário que se compreenda sua complexidade, através de

sua forma, estrutura e funcionalidade.

Christofoletti(1998) atribui à paisagem a concepção de conceito-chave da

Geografia que possibilita a compreensão do espaço como um sistema físico,

biológico e socioeconômico, com estruturação, funcionamento e dinâmica dos

elementos físicos, biogeográficos, sociais e econômicos.

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A questão metodológica fundamental para a compreensão das paisagens é

a das escalas temporo-espaciais. Segundo LACOSTE(1989), a cartografia deve

articular os diferentes níveis de análise em conformidade com as ordens de

grandeza em que os fenômenos se apresentam, e de outro lado, as combinações e

contradições que ocorrem entre conjuntos espaciais de conteúdos distintos,

definidos pelos fenômenos em estudo, num mesmo nível temporo-espacial.

O raciocínio para a elaboração da cartografia das unidades de paisagem

segue um fluxo de referência metodológica que parte da conscientização sobre os

questionamentos que são feitos sobre o ambiente, dirigidos sobre a natureza como à

sociedade, salientando-se que é a partir desta que tem sua significativa emergência.

(MOREIRA, 1986; MORAES, 1990).

A delimitação das unidades de paisagem é vital para a classificação e

avaliação das paisagens, se constituindo em uma importante ferramenta de

planejamento geográfico. Humboldt, no século XIX, já ressaltava a importância de

um ensaio geográfico dentro de uma perspectiva de conjunto da estrutura da

superfície terrestre.

Bertrand (1972) nos diz que a paisagem não deve ser entendida apenas

como uma simples adição de elementos geográficos disparatados. Deve ser

compreendida em bases de uma combinação dinâmica, deveras instável, de

elementos físicos, biológicos e antrópicos. Esses elementos reagem dialeticamente

entre si, fazendo da paisagem um conjunto único e indissociável, em eterna

evolução.

Portanto, as unidades de paisagem não podem ser entendidas como uma

soma das partes que a constituem. As unidades de paisagem são uma categoria

superior que é resultado da interação dinâmica dos seus próprios componentes.

É importante lembrar que a delimitação das unidades de paisagem não pode

ser entendida como um fim em si mesma. As unidades de paisagem podem fornecer

subsídios para uma proposição adequada dos diferentes tipos de uso possíveis dos

lugares. Assim, entendemos que seu uso pode auxiliar na ruptura com a dicotomia

entre geografia física e humana.

1.2 OS ARRANJOS ESPACIAIS E OS CIRCUITOS SUPERIOR E INFERIOROs arranjos espaciais são, de acordo com Queiroz e Azevedo (2012, p. 118,

apud Santos, 1988, p. 111), "[...] os elementos naturais e artificiais de uso social:

plantações, canais, caminhos, portos, aeroportos, redes de comunicação, prédios

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residenciais, comerciais e industriais etc.” Verifica-se neste conceito, a

indissociabilidade entre elementos físicos e humanos, por isso nos propusemos a

utilizá-lo em nosso trabalho.

Ao entrarmos em contato com os arranjos espaciais locais do Jardim Araçá,

onde realizaremos nossa intervenção, verificamos a presença de duas paisagens

distintas denominadas pelos moradores de "parte alta" e "parte baixa". Nestas, as

atvididades econômicas se diferenciam muito, o que nos colocou a necessidade de

trabalhar com os conceitos de circuito superior e inferior da economia urbana,

elaborado pelo geógrafo Milton Santos.

Segundo Silva (2012, s.p.): A teoria dos dois circuitos da economia urbana foi criada por Milton Santos no final da década de 1960 para explicar a urbanização dos países periféricos. Alguns equívocos são comuns no uso dessa teoria, dos quais destacamos o uso de circuito superior e inferior como sinônimos de atividades formais e informais, respectivamente.Proposta por Milton Santos, a teoria dos dois circuitos da economia urbana busca explicar como as cidades dos países periféricos como o Brasil funcionam a partir de dois subsistemas urbanos: o subsistema superior – composto pelas grandes empresas, bancos, atividades ligadas ao ramo da alta tecnologia – e o subsistema inferior – composto pelas atividades de pequena dimensão, com o uso de mão de obra intensiva, que se cria e se recria com pouco capital. A população da cidade, independente de sua classe de renda, possui necessidades permanentes. Em função da existência de trabalho perene e bem pago de um lado, surge o circuito superior; por outro, a existência de trabalho com baixa remuneração e intermitente, demanda a criação de formas de sobrevivência por grande parte da população. Então, surge o circuito inferior. Os dois subsistemas urbanos são formas de produzir, distribuir, comercializar e consumir que geram materialidades distintas, visíveis na paisagem urbana. No entanto, esses dois circuitos se relacionam dialeticamente a partir da complementaridade, subordinação e concorrência. As cidades expressam esses dois circuitos a partir dos lugares opacos e dos lugares luminosos, que são polaridades, mas não dualismos. (Grifo nosso)[...]A questão que se coloca sobre o formal e informal é que, em grande medida, essa dualidade não explica um processo mais profundo sobre o funcionamento da vida nos territórios periféricos, mais precisamente da vida urbana. A formação de nossas cidades está pautada na dependência de tecnologia. pela pobreza gerada por essa dependência e pelos processos de modernização, que acirram a pobreza no período atual. Logo, compreender a existência do comércio popular e das mais diferentes atividades que surgem na cidade para a sobrevivência exige que se pense além da regulação do Estado. Inclusive, as incessantes tentativas do Estado em combater os “informais” evidencia o significado do Estado, para que ele serve e a quem ele serve. A teoria dos dois circuitos da economia urbana surge no sentido de explicar o funcionamento da cidade a partir da relação entre os grupos sociais privilegiados e os menos abastados dentro da sociedade de classes, sendo que tais grupos criam formas urbanas que revelam o profundo imbricamento entre esses grupos. (Grifo nosso)[...]Os dois circuitos formam o subsistema urbano, sendo um equívoco a análise da economia urbana por apenas um desses circuitos, pois eles funcionam de

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forma complementar, concorrente e o circuito inferior subordina-se ao circuito moderno das grandes empresas porque esse último controla a variáveis-chave do período. A base da distinção entre esses dois subsistemas não é o elemento formalidade ou informalidade e sim o modo de organização e o uso de capital e tecnologia.

Assim, tendo como base os conceitos de arranjos espaciais e de circuito

inferior e superior fomos à campo para perceber, compreender e trabalhar em sala

de aula com a geografia do Jardim Araçá. Entendemos que os conceitos ora

retomados são fundamentais na ruptura com a dicotomia geografia física e humana,

por isso, em nossa proposição os mesmos são fundamentais pois permitem que

possamos compreender os elementos tanto físicos quanto humanos que

determinam as configurações das paisagens a partir dos seus arranjos espaciais.

1.4 CONCLUSÕES: A DICOTOMIA GEOGRAFIA FÍSICA X GEOGRAFIA HUMANA E A IMPORTÂNCIA DE CONCEITOS-CHAVE PARA A RUPTURA

A dicotomia verificada na geografia, bem como no seu ensino em todos os

níveis leva a um distanciamento dos espaços de vivência das pessoas,

impossibilitando seu entendimento, transformando-a numa ciência e disciplina

atópica, ou seja, que desconsidera os locais onde os fenômenos ocorrem

(MOREIRA, 1987). Desse modo, a materialidade dos lugares, o conjunto dos

elementos dos ecossistemas e suas interdeterminações são desconsiderados em

boa parte da produção didático-pedagógica. É neste contexto de atopias que se

constroem abordagens que dividem os fenômenos geográficos em físicos e

humanos. Entendemos que a ruptura com esses procesos são possíveis mediante

abordagens teórico-metodológicas, que tenham como pressuposto a ênfase das

relações dos elementos entre si, enquanto elementos fundamentais para a

organização das paisagens e arranjos espaciais. Por isso, é de fundamental

importância os conceitos-chave da disciplina visando tal ruptura. Alguns conceitos-

chave auxiliam sobremaneira tal coisa.

Somente com tais conceitos-chave será possível compreender o espaço a

partir do foco das relações produtivas humanas com os ecossistemas. Entendemos

que dessa forma, se pode ocorrer o rompimento da dicotomia na ciência geográfica.

Segundo Santos (1966), o espaço geográfico é composto pela inter-relação entre

sistema de objetos – naturais, culturais e técnicos – e sistema de ações – relações

sociais, culturais, políticas e econômicas. Verifica-se neste entendimento também

uma ênfase nas relações e não nas "partes que compõem os lugares".

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O espaço geográfico apresenta várias geograficidades que devem ser

compreendidas. Os mapas conseguem responder a duas questões: O quê? Onde?

Porém, duas outras questões devem ser respondidas para uma completa

compreensão do espaço. São elas: Como? Por que aí?

Para responder a todas essas questões que envolvem a compreensão do

espaço deve-se, portanto, romper com a dicotomia Geografia Física X Geografia

Humana. Faz-se necessário construir uma Geografia una, da totalidade, centrada

nas relações entre os elementos presentes nos lugares.

Assim, elegemos como conceitos-chave que auxiliam na ruptura da

dicotomia Geografia Física X Geografia Humana: Dicotomia; Unidades de Paisagem;

Arranjos Espaciais; Entorno Escolar; Circuito Inferior e Circuito Superior. Foi a partir

dos mesmos que elaboramos os encaminhamentos metodoógicos que seguem.

Capítulo 2 – AS UNIDADES DE PAISAGEM DE PARANAGUÁ-PRA delimitação das unidades de paisagem consiste em uma importante

ferramenta para o planejamento, classificação e avaliação das paisagens, sobretudo

no campo da Geografia.

A cidade de Paranaguá, localizada no litoral do Estado do Paraná, sofre com

a ocupação não planejada do território e, consequentemente, com as pressões que

o modo de produção e as atividades a ele inerentes fazem sobre os recursos

naturais e também sobre as áreas de proteção ambientais (APAS). São cada vez

maiores as degradações ambientais resultantes da ocupação urbana.

Segundo estudos sobre unidades da paisagem de alunos graduandos de

Geografia da Universidade Federal do Paraná, em 2005, identificaram na cidade de

Paranaguá seis (06) unidades de paisagem. Resumidamente, elas apresentam as

seguintes características1:

1- Área intensamente urbanizada (UP1): apresenta pouca permeabilidade e muita

artificialidade com pouca cobertura vegetal. A UP1 apresenta quatro subdivisões.

Vejamos:

UP1.1: área de diferente potencialidade de uso, abrangendo uma extensa área;

UP1.2: área pouco impermeabilizada de recreação para a população em seus

arredores;

UP1.3: área extensa de concessão ferroviária para manobra e armazenamento de

1 Para ter acesso às imagens ver: <http://www.geografia.ufpr.br/laboratorios/labs/arquivos/DALBEM%20et%20al%20(2005).pdf >.

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produtos;

UP1.4: área de espera de produtos para descarregamento no porto.

2- Área de malha urbana pouco definida (UP2): apresenta moradias, extração de

minério de areia de construção, lixão, sem estrutura alguma.

3- Área de manguezal característico do litoral brasileiro (UP3): geossistema com

poucas espécies de árvores, nos estuários e foz dos rios. Apresenta água salobra e

livre da ação de ondas, porém, aberto para receber água marinha. Apresenta uma

subunidade de paisagem.

UP3.1: área de manguezal antropizado ou de forte presença humana, muito próxima

da faixa urbana.

4-Área da Ilha do Curral (UP4): local a noroeste da cidade. Apresenta

características únicas, com pouquíssimos habitantes e floresta densa ombrófila.

5-Área de mata ombrófila densa (UP5): com alterações próximas aos aglomerados

humanos e intacta em locais distantes ou de conservação.

6-Área elevada ou de montanhas (UP6): formações sobressalentes da paisagem

que se destacam do restante do relevo da região (montanhas).

Portanto, resumidamente, são 6 (seis) unidades de paisagem que se destacam:

*UP1: Área Antropizada;

*UP2: Área de Ocupação Irregular;

*UP3: Área de Manguezal;

*UP4: Área da Ilha do Curral;

*UP5: Área de Vegetação Ombrófila Densa;

*UP6: Área de Montanha.

2.1 AS UNIDADES E SUBUNIDADES DE PAISAGEM DO BAIRRO JARDIM ARAÇÁ-PARANAGUÁ/PR

Como encaminhamentos metodológicos para se discutir as unidades de

paisagem do bairro Jardim Araçá, visando um exercício prático de ruptura da

dicotomia geografia física X geografia humana, foram realizados os seguintes

procedimentos. Primeiramente, foi realizada uma reportagem fotográfica por todo o

bairro e seu entorno. Logo após, em conversas com alguns moradores das partes

baixa e alta foram feitas sondagens sobre o bairro. Em seguida, em conversa com a

mediadora foi sugerida uma nova reportagem fotográfica para se definir as unidades

de paisagem e uma pesquisa com os moradores mais antigos do bairro. Depois,

foram analisados inúmeros textos que tratam da questão da dicotomia, aliada ao

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estudo dos arranjos espaciais locais e circuitos superior e inferior. Posteriormente,

foi feita a delimitação das unidades de paisagem e realizadas conversas com

pessoas ocupantes das mesmas.

Nas imagens que seguem podemos ver a área do Jardim Araçá:Figura 1 - Jardim Araçá: área de estudo em destaque

Fonte: Google Earth. (Imagem de 21/06/2013).

Figura 2 - Jardim Araçá em 2010. Fonte: Prefeitura Municipal de Paranaguá

Após trabalho de campo e realização da primeira e segunda reportagem

fotográfica, seguida de leitura de textos sobre unidades da paisagem, decidimos

dividir a área estudada tendo como base o relevo (parte alta, área de transição e

parte baixa), pois este foi fundamental no que se refere aos padrões dos arranjos

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espaciais constituidos, que também sofreram influência dos processos de

especulação imobiliária, da proximidade com vias de acesso rápido e com o

mangue, entre outros.

A imagem que segue destaca a parte alta do bairro Jardim Araçá

Figura 3 - Jardim Araçá – Parte alta com destaque em vermelhoFonte: Prefeitura Municipal de Paranaguá

1) Parte Alta: área ocupada há cerca de 40 anos por famílias vindas do

interior do Paraná, do próprio litoral e de outros estados. Se caracteriza por boas

moradias, presença de ruas asfaltadas e existência de calçadas. Seus moradores

possuem maior nivel de escolaridade do que a das outras áreas. Verifica-se pela

imagem que os padrões de arruamento são ortogonais, evidenciando um mínimo de

planejamento na ocupação da área.

A imagem que segue apresenta a parte baixa da área estudada:

Figura 4 - Jardim Araçá – Baixada ou Manguezal Antropizado com destaque em vermelhoFonte: Prefeitura Municipal de Paranaguá

2) Parte Baixa ou Baixada: área ocupada há cerca de 30 anos por famílias pobres

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do litoral. Se caracteriza por moradias de alvenaria de tamanhos variados e

pequenas casas de madeira feitas com materiais de aproveitamento de construções.

Pela imagem observa-se padrão de ocupação irregular, maior adensamento de

casas, por conseguinte, populacional. Não raro, os terrenos possuem duas ou mais

casas. O arruamento é composto por vielas que não comportam a passagem de

carros.

A imagem que segue apresenta a área de transição:

Figura 5 - Jardim Araçá – Área de Transição circundada em amareloFonte: Prefeitura Municipal de Paranaguá

3) Área de Transição: área conhecida como retroporto porque armazena produtos

que serão escoados pelo Porto de Paranaguá que, pelo fato da estrutura portuária

não comportar, acaba demandando por áreas próximas. Este local expandiu muito

nos últimos 20 anos, em função da intensificação das atividades do Porto de

Paranaguá. Se caracteriza por abrigar empresas de logística portuária que estocam

grãos e fertilizantes químicos. Se localiza num local de transição entre a parte alta e

a baixada, com intenso tráfego de caminhões pesados pois está à margem da linha

de trem e da Avenida Tuffi Maron.

Considerando o exposto, definimos para o Jardim Araçá três unidades de

paisagem. São elas:

1) Unidade da paisagem da parte alta antropizada, próxima do manguezal. 2) Unidade da paisagem da parte baixa ou de manguezal antropizado. 3) Unidade da paisagem de logística portuária de transição, entre a parte baixa e parte alta.

Após a análise e pesquisa feita no próprio bairro do Jardim Araçá, podemos

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distinguir 4 subunidades de paisagem no local. Importante destacar que a área de

transição não foi subdividida por não apresentar distinções paisagísiticas internas.

Assim, contabilizamos 4 subunidades da paisagem:

1) Unidade da paisagem da parte alta antropizada, próxima do manguezal1.1) Subunidade da paisagem com casas bem estruturadas da parte alta (entorno do manguezal): área ocupada há cerca de 40 anos por famílias de classe

média. As casas são grandes e confortáveis. Seus moradores possuem em média,

melhor escolaridade que os moradores de outras áreas e muitos bens materiais

como carros, motos, etc. Os filhos dos moradores estudam em escolas particulares

de renome. É uma subunidade com pouco mais de 350 metros de distância da parte

baixa ou manguezal. As ruas e calçadas são relativamente boas para mobilidade

urbana.

1.2) Subunidade da paisagem com comércio de venda e prestação de serviços da parte alta (entorno do manguezal): área ocupada também há cerca de 40 anos

por famílias de classe média, vindas de outras regiões do Paraná e até de outros

estados, que se estabeleceram no bairro com um certo capital e nele desenvolveram

atividades econômicas, tais como lanchonetes, padarias, bares, mercadinhos,

salões de beleza, aviários, escolas e pet shops. Geralmente, os donos desses

comércios possuem melhor escolaridade, tendo seus filhos matriculados em escolas

particulares.

2) Unidade da paisagem da parte baixa ou de manguezal antropizado:2.1) Subunidade da paisagem com casas mais estruturadas na parte baixa (manguezal): nos últimos 30 anos, essa área foi intensamente ocupada por famílias

vindas do interior do Paraná e da própria região litorânea. As casas são de alvenaria

e gozam de um certo conforto, apesar do lugar insalubre onde foram construídas.

Seus moradores trabalham geralmente com atividades portuárias e prestação de

serviços. Essas casas se localizam na faixa inicial da parte baixa.

2.2) Subunidade da paisagem com casas de auto-construção feitas com materiais de aproveitamento e mais antigas da parte baixa (manguezal): também ocupada nos últimos 30 anos por pessoas com pouca escolaridade e sem

profissões definidas. As casas são construídas pelas próprias famílias, algumas são

de madeira branca de aproveitamento de outras construções e são bem pequenas.

Se localizam muito próximas da lama e água salobra, quase dentro do mangue ou a

30 ou 40 metros dele.

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A coleção de imagens que segue apresenta as características paisagísticas

das 4 subunidades e da área de transição:Quadro 1 - SUBUNIDADES DE PAISAGEM DO JARDIM ARAÇÁ – CARACTERÍSTICAS

1) Subunidade casas estruturadas da parte baixa

É caracterizada pela presença de casas mais estruturadas da parte baixa, localizadas na parte inicial da baixada. Lugar insalubre de aterro do mangue. Seus moradores foram os primeiros a ocupar a área de mangue e, aos poucos, melhoraram suas moradias. Em sua maioria são trabalhadores portuários avulsos, chamados TPAs.

2) Subunidade de casas de autoconstrução da parte baixa

Subunidade caracterizada por moradias localizadas na beira do mangue, construídas pelos próprios moradores, com a utilização de madeira de reaproveitamento de outras construções. Seus moradores têm pouca instrução e vieram morar em Paranaguá em busca de melhores oportunidades na “cidade portuária”. Não possuem qualificação profissional e, por isso, fazem trabalhos informais ou “bicos”.

3) Subunidade com casas de bom padrão da parte alta

Subunidade que se caracteriza por moradias de maio padrão ou de classe média. São construções espaçosas feitas em alvenaria com materiais de primeira linha. Se localizam na parte alta do bairro, com ruas bem pavimentadas e boas calçadas para mobilidade urbana. Seus moradores trabalham em atividades portuárias de grandes ganhos financeiros.

4) Subunidade casas de comércio e prestação de serviços

É caracterizada por pequenos empreendimentos comerciais, tais como padarias, bares, salões de beleza, mercadinhos, aviários e armarinhos. Seus proprietários são pessoas que vieram de outras regiões do Paraná e até de outros estados nos últimos 20 anos de expansão do bairro.

5) Unidade de logística portuária/área de transição

Unidade caracterizada pela presença de empresas de logística portuária, localizadas na área de transição entre a baixada ou manguezal antropizado e a parte alta antropizada. São empresas que armazenam grãos ou fertilizantes químicos e funcionam como um retroporto.

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2.2 ENTORNO DO COLÉGIO MARIA DE LOURDES RODRIGUES MOROZOWSKISegundo o que foi apurado nas entrevistas com os moradores mais antigos

do entorno, o bairro surgiu há aproximadamente 45 anos na área que hoje é

formada por residências de maior padrão e comércio simples. Depois, há

aproximadamente 30 anos, teve início a ocupação irregular da parte baixa do bairro

conhecida como manguezal antropizado ou baixada. Posteriormente ocupou-se a

área de transição usada comercialmente e que é expressão territoral do

desdobramento das atividades portuárias. Interessante notar como alguns

moradores da parte alta, mais antiga, desdenham dos ocupantes da porção baixa

dos mangues. Uma moradora afirmou que, antes, a parte baixa era “bonita”, sem

poluição e favela.

O mosaico a seguir apresenta aspectos paisagísticos do entono escolar:

Parte Alta Parte Baixa Área de Transição

Mosaico 1 – O entorno do Colégio Maria de Lourdes MorozowskiFotos: Arquivo Pessoal

Para o poder público municipal, oficialmente o bairro Jardim Araçá tem 39

anos, quando foram feitos os primeiros arruamentos estruturais. A porção elevada

tem suas áreas regularizadas, segundo a Secretaria Municipal de Regularização

Fundiária. A parte da Baixada não é regularizada e pertence à União (área de

Marinha).

CAPÍTULO 3 - MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO: ATIVIDADES PROPOSTAS1) Roteiro da atividade experimental I – A geografia do entorno da escolaPrática experimental: Reportagem fotográfica com os alunos do 9º ano em pontos

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pré-determinados do bairro Jardim Araçá (parte alta, baixa e área de transição).

Tema: O que estudei em geografia que existe no meu bairro?

Descrição da Prática: Os educandos divididos em grupos realizarão uma

reportagem fotográfica do bairro Jardim Araçá em pontos pré-determinados. Após

feito isso, o professor e os educandos analisarão as fotos tiradas em um projetor de

imagens. Em seguida, o professor indagará aos mesmos sobre os elementos

estudados em Geografia que eles conseguem perceber nas fotos tiradas.

Objetivo: Diagnosticar o nível de conhecimento dos educandos do 9º ano quanto à

ciência geográfica e seus elementos formadores.

Materiais: Máquinas fotográficas e aparelhos celulares.

Número aproximado de aulas: 82) Roteiro da atividade experimental IIPrática experimental: Leitura e interpretação do material fotográfico e montagem

de um painel de análise.

Descrição da Prática Experimental: Após a análise das fotos tiradas, os

educandos e o professor selecionarão paisagens que possuem elementos em

comum. Em seguida, os mesmos irão construir um painel explicativo. Depois os

educandos deverão responder duas questões fundamentais: “O que as fotos têm em

comum?”; “No que as fotos diferem?”

Objetivo: Identificar semelhanças e diferenças nas fotos tiradas pelos alunos para

uma classificação geográfica das unidades de paisagem.

Materiais: Painel de fotos para classificação em slides para projeção.

Número aproximado de aulas: 43) Roteiro da atividade experimental IIIPrática experimental: Construção coletiva dos conceitos: unidades e subunidades

da paisagem; arranjos espaciais, circuitos superior e inferior da economia no espaço

local do Jardim Araçá.

Descrição da Prática Experimental: Os alunos dos grupos que fizeram a

reportagem fotografica irão elaborar questões sobre os conceitos a serem

trabalhados. Em seguida, ocorrerá a socialização das mesmas para os outros

grupos. O professor ajudará na elaboração das respostas para as questões

levantadas pelos alunos no laboratório de informática.

Objetivo: Construir conceitos de unidade e subunidade da paisagem, arranjos

espaciais e circuitos superior e inferior da economia por meio do ensino por projetos.

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Materiais: Textos, videos, entrevistas. Laboratório de informática.

Número aproximado de aulas: 84) Avaliação – Sistematização dos estudos da Produção Didático-pedagógicaPrática Experimental: A fim de sistematizar os conceitos trabalhados os educandos

organizarão: videos, jornais ou slides sobre os conceitos trabalhados, usando

obrigatoriamente as imagens do bairro.

Objetivo: Avaliar o aprendizado dos alunos a partir de todo o processo de

conhecimento proposto.

Materiais: Computadores, filmadoras e celulares.

Número aproximado de aulas: 12

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BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: Esboço Metodológico. Caderno de Ciências da Terra. São Paulo: USP, 1972.

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LACOSTE, Y. A Geografia – Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1989.

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MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Editora

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______. Da Totalidade ao Lugar. São Paulo: Edusp, 1996b.

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SILVA, Silvana Cristina da. Circuito superior e inferior: sinônimos para economia

formal e informal? Disponível em:

<http://colunaterritorium.blogspot.com.br/2012/08/circuito-superior-e-inferior-

sinonimos_10.html >. Acesso em 05 dez. 2013.