os desafios da escola pÚblica paranaense na … · práticas de jogos dramáticos e teatrais,...
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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
Jogos Dramáticos na socialização do Adolescente no Ensino
Fundamental
Viviany Zaveri1
ElviraFazzini2
Resumo
Este artigo teve como objetivo verificar o resultado da investigação do ensino
do teatro na escola, através da proposta de utilização dos jogos dramáticos
para a socialização do educando no ensino fundamental, vinculado ao
Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE/PR.
Para se chegar a uma conclusão, foram utilizados os jogos dramáticos, suas
concepções e aplicações em sala de aula e as possibilidades dos jogos
dramáticos e da improvisação como meio de socialização dos indivíduos
envolvidos. As atividades foram desenvolvidas, com as turmas do 9º ano, no
período matutino, da Escola Estadual Monsenhor Ivo Zanlorenzi, na cidade de
Curitiba. No decorrer do projeto foi possível observar na participação dos
adolescentes, a percepção do indivíduo e da coletividade, a interação com o
teatro, o estímulo a expressão pessoal, e o aprimoramento das relações sociais
e principalmente o despertar para si e para o outro, usando a improvisação
como meio imaginativo e dinâmico para um ambiente escolar agradável e
saudável.
Palavras chave: Jogos dramáticos, improvisação, socialização.
O convívio escolar pode ser aprimorado fazendo uso dos conceitos e
práticas de jogos dramáticos e teatrais, visando melhorar a autoestima do
educando, suas relações individuais e com o todo, diminuindo a violência e o
bullying, reforçando valores positivos. Para Boal:
a linguagem do teatro absorve muito das questões sociais, pois estão interligadas, de tal modo a construir um novo olhar sobre o cotidiano, possibilitando o desenvolvimento de uma consciência crítica e autônoma. “A alfabetização teatral é necessária porque é uma forma de comunicação muito poderosa e útil nas transformações sociais.” (1995 ,p17).
1 Graduada em Artes Visuais e Computação Gráfica pela Universidade Tuiuti do Paraná, especialista em Psicopedagogia Lato Sensu pelo Campus Universitário Bezerra de Menezes/Faculdades Integradas Espirita. Atua como Professora de arte na Escola Estadual Monsenhor Ivo Zanlorenzi. 2 Fonoaudióloga, formada na Pontifícia Universidade católica do Paraná-PUC/PR e Mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia-UFBA. Docente da Unespar – CampusII – Faculdade de Artes do Paraná.
Historicamente o teatro foi conhecido como um instrumento para
transmitir conhecimentos de diversas vertentes educacionais, sem tirar este
mérito, ele também pode ser visto como um conhecimento através de suas
técnicas as quais elaboram ricamente aspectos cotidianos e sociais, nos quais
todos estão culturalmente inseridos. Segundo Viola Spolin:
“Quando o aluno vê as pessoas e as maneiras como elas se
comportam quando juntas, quando vê a cor do céu, ouve os sons no ar, sente o chão sob seus pés e o vento em sua face, ele adquire uma visão mais ampla de seu mundo pessoal e seu desenvolvimento como ator é acelerado. O mundo fornece o material para o teatro, e o crescimento artístico desenvolve-se par e passo com o nosso reconhecimento e percepção do mundo e de nós mesmos dentro dele.”(Spolin,2001,p.13).
Portanto se faz necessário abordar os jogos dramáticos no ensino
fundamental, a fim de transpor barreiras sociais e culturais, ampliando a visão
do teatro na escola não meramente como objeto de apreciação e
apresentações, e sim como um veículo para absorção de conhecimento
próprio, valorizando os jogos e ações dramáticas como um processo de
aprendizagem envolvente e dinâmico, para despertar a vontade de aprender,
buscar novas formas de convivência, construir objetivos comuns, favorecer e
estimular o ensino da arte na escola.
Nas diretrizes curriculares da educação básica do Estado do Paraná,
essas ideias são colocadas da seguinte forma:
“Dentre as possibilidades de aprendizagem oferecidas pelo teatro na educação destacam-se: criatividade, socialização, memorização e a coordenação, sendo o encaminhamento metodológico, proposto pelo professor, o momento para que o aluno os exercite. Com o teatro, o educando tem a oportunidade de se colocar no lugar de outros, experimentando o mundo sem correr risco.”DCE (4.2 TEATRO 2008 p.77).
Esta citação caracteriza especialmente a questão da empatia pretendida na
abordagem dos jogos dramáticos na escola, reforçando um bom
relacionamento social entre os educandos.
É de conhecimento público a dificuldade em se lidar com o adolescente,
por diversas questões: hormonal, familiar, social, psicológica entre outras, por
se tratar de um momento complicado na vida do estudante que sofre varias
transformações, esse é um problema geral, de todas as áreas do
conhecimento, inclusive da arte. O anseio em ser aceito no grupo, as
dificuldades em se relacionar, a agressividade e a necessidade de se
sobressair mesmo que de forma negativa trazem muitos conflitos para a sala
de aula e nas aulas de arte eles colocam de forma acentuada essa
agressividade em imagens, textos, escolhas musicais e etc. Observados estes
aspectos, é importante mostrar ao aluno como se colocar no lugar do outro,
para que ele possa refletir e pensar suas atitudes propiciando assim o
desenvolvimento de um caráter empático, proporcionado através de jogos
dramáticos e teatrais .
O educando demonstra através de atividades realizadas, iniciativa
e vontade, de fazer algo novo, de experimentar e até mesmo brincar com as
possibilidades que os jogos teatrais podem trazer.
Segundo Koudela citando Viola Spolin:
[...] “O desenvolvimento progressivo da atitude de colaboração leva a autonomia da consciência individuo , ao passar da relação de dependência para autonomia.” ( 2012 , p.22)
Nesse texto, a autora refere-se às questões relacionadas aos jogos e
sua contribuição no ambiente escolar e, comenta ainda, vários autores
relacionados à pedagogia, tais como: Piaget e Vigotsky, que enfatizavam a
importância do jogo no processo de aprendizagem , mais do que uma mera
atividade lúdica , consideram o cerne da manifestação e da inteligência
humana. E enfatiza que o valor de tais atividades, com certeza, reside no
processo, e não especificamente em um resultado final.
O professor é o mediador desse processo, utilizando-se de técnicas e
enredos que envolvam os alunos, que despertem o interesse, que agucem os
sentidos, que oportunizem a expressão individual, coletiva e colaborativa,
estimulando o respeito mútuo, a criatividade, sentimentos de aceitação e de
confiança, transformando e ampliando pontos de vista a fim de melhorar o
convívio e a absorção do conhecimento.
O projeto a ser analisado utilizou-se de jogos dramáticos conhecidos
para dispor situações empáticas entre os participantes. Deste modo o objetivo
foi o desenvolvimento individual e coletivo no qual os alunos espontaneamente
aprimorassem suas relações sociais, a observação se si e do outro. Assim o
encaminhamento dos jogos e seu processo de improvisação, articularam
conhecimentos específicos da atividade teatral.
Os Jogos dramáticos
Dentre as várias possibilidades e necessidades de aprendizagem, está o
jogo, o lúdico, o simbólico, estes objetos de estudos, de vários autores os quais
são unanimes em constatar a eficácia e a importância dos elementos citados
no bom desenvolvimento cognitivo. Conforme Fusari e Ferraz “Com as
atividades lúdicas, a criança exercita sua autonomia, sua criatividade e a
imaginação, aprende o significado das coisas e a dar sentido, a elas”.
(1999,p.122).
No contexto do jogo existem muitos aspectos, dentre eles: culturais,
sociais, políticos, cognitivos e motores entre outros, os quais podem ser
explorados e experimentados durante sua realização, que na maioria das
vezes se mostra um momento divertido e prazeroso e por ser descontraído,
atrai a atenção e estimula o aluno a participar.
O teatro nos trás em sua bagagem, os jogos dramáticos com improvisos
e exercícios, que dispõe uma série de propriedades, capazes dedespertar no
aluno o olhar para si ,e para o outro, identificar relações sociais e afetivas, lidar
com questões cotidianas e observar de modo crítico o que se passa a seu
redor. Para Spolin:
“O jogo é democrático! Todos podem aprender jogando! O jogo
estimula vitalidade, despertando a pessoa como um todo - mente
e corpo, inteligência e criatividade, espontaneidade e intuição -
quando todos, professor e alunos estão atentos para o momento
presente.”(2012, p.30).
Conhecer as diferentes linguagens ou poéticas artísticas já fazem parte
do currículo escolar, o teatro como uma delas, é tratado algumas vezes
erroneamente como momento festivo de apresentação, visando o resultado
final e não o processo desenvolvido. Partindo desta observação se fez
necessário colocar a importância dos jogos dramáticos e teatrais como um
processo de construção do conhecimento, onde foi oportunizado ao aluno
práticas nas quais respeitem o conhecimento e realidade cultural do educando,
de forma a ampliar seu repertório.
Segundo a DCE:
“Na escola, a dramatização evidenciará mais o processo de aprendizagem do que a finalização, a montagem de uma peça. É no teatro e em seus gêneros, propostos como jogo do riso, do sofrimento e do conflito, que se veem refletidas as maneiras de sentir o mundo por um ser criado (a personagem) num mundo criado (a cena).”(DCE’s,2008,p.80).
Esse processo dos jogos é dinâmico e desafiador para o aluno,
estimulando sua vontade de continuar jogando e ao mesmo tempo aprendendo
e compreendendo as questões sobre ser espectador e também ator, cada qual
em seu tempo, para Rosseto (2013) o improviso é importante para familiarizar
o educando com as linguagens características do teatro , bem como construir
um estilo pessoal e aprimorar o senso crítico, sobre o que assiste .O autor
ainda coloca os benefícios dessas práticas como: a observação crítica, o
compartilhamento de descobertas, respeito aos diferentes pontos de vista , a
tolerância interpessoal e o desenvolvimento de habilidades sociabilizadoras.
Dentro deste raciocínio temos a perspectiva deCourtney que afirma:
“A criança improvisando, jogando dramaticamente, está experimentando a natureza dos objetos, as probabilidades e os fatores limitativos dos eventos, e os detalhes do processo: cada ação desafia o pensamento a memória e a precisão...”(2001,p55).
A natureza do jogo é a ação, a prática a experimentação, requisitos que
devem ser supervisionados e estabelecidos através de regras ,foi constatado
que só se aprende a jogar jogando, e este tipo de jogo, o jogo dramático,
teatral tem como qualquer outro jogo, estas características e as possibilidades
já citadas, sendo assim de grande valia na aprendizagem como um todo, não
apenas nas aulas de arte.
Augusto Boal evidencia que o teatro e a arte de representar como
manifestação é possível a todos, a qual estamos dispostos a estabelecer em
nosso cotidiano, que o papel de espectador não deve ser o único, que
devemos transformar a realidade através da arte, mesmo que seja em nosso
dia-a-dia, na forma de enfrentar problemas ou na maneira de encarar o mundo.
Para o autor “todo teatro é político”, e desencadeia várias situações as quais
nos trazem a reflexão como resultado, determinando o senso crítico e o
pensamento social, que não deve ser condicionados, porém o que vemos no
social temos a opressão de classes, culturas que acabam limitando a liberdade
de expressão.
Então é possível se manifestar através dessa linguagem teatral que ela
é aberta a todos, e uma forma de alcançar essa fluência é através de jogos
dramáticos, os quais podem ser desenvolvidos dentro do currículo educacional,
e desenvolvidos através das práticas propostas pelo professor, que deve
buscar conhecer seu contexto e conteúdo, bem como formas de transmitir e
direcionar estas atividades.
A prática dos jogos dramáticos, podem e devem ser introduzidos no
início da vida escolar, desde a pequena infância e ter continuidade e
amadurecimento no decorrer da aprendizagem , para Slade :
“O jogo dramático é uma parte vital da vida jovem. Não é uma atividade de ócio, mas antes a maneira da criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembrar, ousar, experimentar, criar e absorve. (1978, p.07).
O jogo dramático conforme Slade pode ser pessoal ou projetado.
Pessoal: onde o corpo é o instrumento, enquanto personagem a ser assumido,
o que resumidamente com a prática reflete em desenvolvimento de liderança e
controle pessoal nos participantes. Projetado: quando se usa objetos,
brinquedos, fantoches,para projetar intenções, ocasionando concentração,
organização e paciência nos envolvidos. Observa-se então as questões
psicológicas relacionadas ao tema, que é permeado por atividades que fazem
com que o participante fantasie, saia da rotina, sempre envolvendoquestões
emocionais de experiências fictícias ou reais as quais muitas vezes pertencem
ao universo do aluno.
Em Elkonin e sua psicologia do jogo, nota-se a ambivalência entre o
social e o psicológico . “A essência do jogo infantil consiste na interpretação de
algum papel ”.(p.03.) Segundo o autor o fundamental no jogo é a “situação
fictícia” a qual propicia a assimilação das relações sociais , sendo o jogo de
papéis de origem social. Nesta temática de ideias apoiadas na teoria de
Vigotski onde a imaginação surge na imitação (infantil) e no jogo, evidencia-se
a importância da ludicidade, do brincar e do jogar no desenvolvimento humano.
“O âmbito das atividades humanas e as relações entre as pessoas, em que o seu conteúdo fundamental é o homem – a atividade do homem e as relações entre os adultos-, em virtude do que é jogo é uma forma de orientar nas missões e motivações da atividade humana.” (1998, p.08).
Analisando os autores tem-se uma base para compreender o que é o
jogo dramático, bem como sua relevância no âmbito escolar, fica intrínseca a
concordância entre os mesmos em relação ao tema, a oportunidade de
vivenciar este tipo de jogo, proporciona inúmeros benefícios para o educando,
que após observar, participar e dar sua contribuição pessoal às atividades,
amplia seu repertório de conhecimento identifica situações onde pode ter
controle emocional, divide sua experiência, coloca-se no lugar do outro,
melhorando vínculos, aprimorando as relações sociais e de convívio.
Utilizar do ambiente escolar para explorar suas capacidades, fantasiar,
equilibrar atitudes, refletir, reforçar a convivência entre os participantes,
produzir normas, valores e atitudes que acontecem no mundo real e podem ser
utilizadas dentro jogo, tornam essa prática motivadora e desafiadora.
O jogo no senso comum propicia a aprendizagem, o envolvimento de
grupo, o entendimento de regras, a aplicabilidade destas regras e habilidades
pessoais necessárias para jogar. Os jogos dramáticos e teatrais
especificamente trazem maior interação e ludicidade para a prática pedagógica
proporcionando experiências sensório-motoras, linguísticas, social, moral,
psicológica e estética, sensibilizando o jogador fazendo-o observar sua posição
em relação ao grupo, como indivíduo capaz de se relacionar, produzir e se
apropriar da linguagem proposta. “Experienciar é penetrar no ambiente, é
envolver-se total e organicamente com ele. Isto significa envolvimento em
todos os níveis: intelectual, físico e intuitivo”(Spolin,19634,s/p).
O improviso é um forte componente nessas práticas, familiarizando o
participante com a linguagem teatral, onde em momentos será ator, em outros,
espectador, desenvolvendo a capacidade de colaborar em prol de um objetivo
comum no caso a proposta cênica. Segundo Rosseto :
“A improvisação favorece, aos alunos, compartilhamento de descobertas, observando criticamente vários pontos de vista, criando práticas de cooperação e desenvolvendo capacidades socializadoras. Possibilita, ainda, a tolerância no convívio com pessoas de opiniões diferentes em contextos próximos ou distantes de sua realidade” (2013,p.18).
O convívio escolar pode ser aprimorado fazendo uso dos conceitos e
práticas de jogos dramáticos e teatrais, visando melhorar a autoestima do
educando, suas relações individuais e com o todo, diminuindo a violência e o
bullying, reforçando valores positivos. Para Boal a linguagem do teatro absorve
muito das questões sociais, pois estão interligadas, de tal modo a construir um
novo olhar sobre o cotidiano, possibilitando o desenvolvimento de uma
consciência crítica e autônoma. “A alfabetização teatral é necessária porque é
uma forma de comunicação muito poderosa e útil nas transformações sociais.”
(1995, p17).
Aplicação da Proposta
A implementação do projeto de intervenção pedagógica vinculou-se as
Diretrizes Curriculares da Arte para a Educação Básica do Estado do Paraná,
especificamente ao material pedagógico desenvolvido no Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE. A proposta ocorreu em dez encontros de
duas horas e quatro encontros de três horas, com trinta e cinco alunos do 9º
ano no período entre 18/03/15 à 03/07/15.
Como pressuposto para a implementação do projeto prevaleceu o
objetivo da socialização entre os educandos através dos jogos dramáticos
utilizando-se das seguintes abordagens:
Estimular a sensibilidade e a observação pessoal e coletiva nos aspectos
relacionados aos jogos dramáticos.
Expressar por meio de gestos, textos e improvisos sensações cotidianas do
ambiente em que vive e convive.
Refletir sobre o papel do espectador e sua participação nas ações dramáticas.
Aprimorar as relações sociais de convívio e respeito por meio dos jogos
dramáticos e teatrais
Experimentar novas possibilidades de movimentos corporais e faciais
desenvolvidos no mecanismo do jogo.
Verificar a relação espaço e tempo na ação dramática, partindo do improviso a
pequenas esquetes teatrais.
No contexto do jogo existem muitos aspectos, dentre eles: culturais,
sociais, políticos, cognitivos e motores entre outros, os quais podem ser
explorados e experimentados durante sua realização, que na maioria das
vezes se mostra um momento divertido e prazeroso que, por ser descontraído,
atrai a atenção e estimula o aluno a participar.
Os jogos em geral têm muito do lúdico e do imaginário, já o jogo
dramático é basicamente imaginação em ação cênica, pois favorece o reviver,
o repensar de práticas cotidianas, através do simbolismo, que não pode ser
atingido pelo pensamento direto.
O jogo dramático não exige cenário, figurino, ou outros meios para sua
prática, tudo está no imaginário, na ficção, sem o compromisso de formar
artistas (atores), mas formar um ser capaz de perceber e repensar a realidade
em que vive, resignificando o social. Esta prática permite o uso do corpo, das
sensações. Sentimentos exercitando a capacidade criativa do indivíduo,
desenvolvendo a emoção a ser compartilhada através de uma estética pessoal
organizada a partir das vivências do aluno, através das atividades.
Atividades que devem respeitar e despertar o imaginário do aluno,
através de práticas que podem usar diversos recursos, como cenas com temas
específicos, improvisos com imagens, sons, leituras. Explorar a linguagem
verbal e corporal, bem como o espaço para desenvolver o gesto e sua
dramaticidade.
A implementação do projeto se deu, de maneira interessada e
agradável, através do material didático desenvolvido para ser utilizado com os
alunos durante os encontros, no qual constavam atividades e enredos dos
jogos dramáticos. Sempre iniciando as atividades com aquecimento vocal e
corporal, disponibilizando o relaxamento e desinibição inicial para a realização
dos jogos dramáticos. Alguns dos jogos utilizados foram:
- Jogo de cena (sonoplastia): dividir os grupos de cinco alunos ou
menos, entregar o tema para uma cena improvisada, p. ex., consultório do
dentista, fila do ônibus, festa infantil, salão de beleza, compras no mercado e
etc. (explicar que com estes temas podem criar a situação que acharem mais
interessante para apresentar uns para os outros, dar uns dez minutos para a
produção. Quando estiver tudo pronto um colega de outro grupo será
designado para fazer efeitos sonoros no grupo do outro e vice-versa).
- Jogo da blablação ou língua inventada: cada um fará um breve
discurso, ou comunicado para todos ou para um participante específico em um
idioma inventado com entonação livre, sem repetir ou imitar a linguagem
inventada do outro, a sequência fica com indicação gestual de quem fala,
indicando o próximo jogador que será escolhido por ele.
Durante as atividades os alunos, que participaram com ânimo, criaram
vínculos e também puderam se divertir e entender os objetivos propostos. A
medida em que os jogos eram realizados, os participantes faziam uma
avaliação composta por questionamentos, nos quais eles argumentavam se
estavam gostando de sua participação, quais jogos eram mais aceitos, menos
aceitos, e o porquê.
Estes exemplos foram colocados apenas para ilustrar as atividades
práticas realizadas durante a implementação do projeto no ambiente escolar.
Muitas outras atividades foram realizadas e se encontram na referida unidade
didática.
Análise da contribuição do grupo de trabalho em rede
A participação do projeto no Grupo de Trabalho em Rede GTR, foi
bastante proveitosa, levantando muitas questões relacionadas ao espaço físico
da escola, a visão das outras disciplinas sobre o ensino da arte e em específico
o do teatro, a importância de se trabalhar com a expressão pessoal e coletiva
dos alunos e as dificuldades encontradas neste trabalho.
Um momento de troca entre os professores, que escolheram o tema
justamente pelo interesse em trabalhar com os alunos os jogos dramáticos,
suas aplicações e implicações em sala de aula. As atividades dividiram-se em
três módulos, nos quais estiveram a disposição: o projeto, o material didático, o
relato da implementação do projeto, e outros materiais relacionados ao tema.
Deste modo, os cursistas, professores da rede pública de ensino, puderam se
inteirar do assunto desenvolvido, analisar, comentar, fazer suas observações
pessoais, bem como produzir relatos de experiências em sala de aula nos
quais os jogos dramáticos foram experimentados e abordados a fim de
repercutir a ideia de socialização e empatia dos alunos dos cursistas.
Foi possível verificar o empenho dos professores em discutir o assunto,
colocando suas dificuldades, as particularidades de seus ambientes escolares,
a resistência dos alunos, por timidez ou por afronta inicial, as diferenças e
peculiaridades de cada professor e seus métodos, todos com um mesmo
objetivo, o de tornar suas aulas mais motivadoras e construtivas.
As participações nos fóruns foram sempre bem-intencionadas, as
críticas se estabeleceram de modo positivo e integraram as ideias de troca,
muitas dicas e atividades fluíram e puderam enriquecer a aprendizagem do
grupo.
A principal queixa foi em relação ao espaço escolar, que não está
adaptado para as atividades, sendo necessário o improviso, o que possibilita
tornar uma sala de aula ou um pátio escolar em um local propício para a
interpretação, encenação e as vertentes teatrais.
Ficou clara a importância de trabalhar os jogos teatrais na escola, os
participantes observaram esta necessidade, tanto é que procuraram
estabelecer conexões com a abordagem dada no projeto, trazendo seu
cotidiano escolar para reflexão, somando experiências e conhecimento.
Considerações finais
Para existir a educação é necessário o convívio e o respeito mútuos
para que se desenvolva uma relação de aprendizagem. Foi nesse pensamento
que este projeto se pautou, sendo o fator determinante para melhorar este
convívio os jogos dramáticos.
Entrar em contato com a linguagem teatral, perceber que ela não está
tão distante, que não é apenas privilégio de elites, que pode ser abordada e
explorada sem a necessidade de mostrar resultados preestabelecidos em
apresentações temáticas, que expressar-se faz parte do cotidiano, e o
aprimoramento destas expressões pode resultar em relações sociais
saudáveis .
Conhecer mais a fundo autores como Viola Spolin e Peter Slade, dentre
outros, possibilitou com que, mesmo não sendo habilitada em teatro, pudesse
entender e absorver as práticas e teorias descritas, permitindo um trabalho
intenso e motivador com os alunos, o qual devo sempre buscar para enriquecer
meu repertório e também o dos alunos.
Visualizar, através da prática dos jogos, o entendimento do grupo e dos
indivíduos, o desenvolvimento dos alunos envolvidos, e a melhora na vivência
dos mesmos, é extremante compensador.
Referências
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de dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira ,1995;
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Perspectiva S.A ,2001;
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PARANÁ – SEED- Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes
Curriculares da Rede Pública da Educação Básica do Estado do Paraná.
Curitiba: Editora do Estado, 2008.
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REVERBEL,Olga. Um caminho do teatro na escola.Paraná: Editora Scipione
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ROSSETO, Robson. Jogos e Improvisação Teatral. Paraná: Editora
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SLADE, Peter. O Jogo Dramático Infantil. São Paulo: Summus Editorial,
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SPOLIN, Viola. Improvisação Para o Teatro. São Paulo: Editora
Perspectiva,2001;
SPOLIN, Viola. Jogos Teatrais na Sala de Aula. São Paulo: Editora
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