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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

Jogos Dramáticos na socialização do Adolescente no Ensino

Fundamental

Viviany Zaveri1

ElviraFazzini2

Resumo

Este artigo teve como objetivo verificar o resultado da investigação do ensino

do teatro na escola, através da proposta de utilização dos jogos dramáticos

para a socialização do educando no ensino fundamental, vinculado ao

Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE/PR.

Para se chegar a uma conclusão, foram utilizados os jogos dramáticos, suas

concepções e aplicações em sala de aula e as possibilidades dos jogos

dramáticos e da improvisação como meio de socialização dos indivíduos

envolvidos. As atividades foram desenvolvidas, com as turmas do 9º ano, no

período matutino, da Escola Estadual Monsenhor Ivo Zanlorenzi, na cidade de

Curitiba. No decorrer do projeto foi possível observar na participação dos

adolescentes, a percepção do indivíduo e da coletividade, a interação com o

teatro, o estímulo a expressão pessoal, e o aprimoramento das relações sociais

e principalmente o despertar para si e para o outro, usando a improvisação

como meio imaginativo e dinâmico para um ambiente escolar agradável e

saudável.

Palavras chave: Jogos dramáticos, improvisação, socialização.

O convívio escolar pode ser aprimorado fazendo uso dos conceitos e

práticas de jogos dramáticos e teatrais, visando melhorar a autoestima do

educando, suas relações individuais e com o todo, diminuindo a violência e o

bullying, reforçando valores positivos. Para Boal:

a linguagem do teatro absorve muito das questões sociais, pois estão interligadas, de tal modo a construir um novo olhar sobre o cotidiano, possibilitando o desenvolvimento de uma consciência crítica e autônoma. “A alfabetização teatral é necessária porque é uma forma de comunicação muito poderosa e útil nas transformações sociais.” (1995 ,p17).

1 Graduada em Artes Visuais e Computação Gráfica pela Universidade Tuiuti do Paraná, especialista em Psicopedagogia Lato Sensu pelo Campus Universitário Bezerra de Menezes/Faculdades Integradas Espirita. Atua como Professora de arte na Escola Estadual Monsenhor Ivo Zanlorenzi. 2 Fonoaudióloga, formada na Pontifícia Universidade católica do Paraná-PUC/PR e Mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia-UFBA. Docente da Unespar – CampusII – Faculdade de Artes do Paraná.

Historicamente o teatro foi conhecido como um instrumento para

transmitir conhecimentos de diversas vertentes educacionais, sem tirar este

mérito, ele também pode ser visto como um conhecimento através de suas

técnicas as quais elaboram ricamente aspectos cotidianos e sociais, nos quais

todos estão culturalmente inseridos. Segundo Viola Spolin:

“Quando o aluno vê as pessoas e as maneiras como elas se

comportam quando juntas, quando vê a cor do céu, ouve os sons no ar, sente o chão sob seus pés e o vento em sua face, ele adquire uma visão mais ampla de seu mundo pessoal e seu desenvolvimento como ator é acelerado. O mundo fornece o material para o teatro, e o crescimento artístico desenvolve-se par e passo com o nosso reconhecimento e percepção do mundo e de nós mesmos dentro dele.”(Spolin,2001,p.13).

Portanto se faz necessário abordar os jogos dramáticos no ensino

fundamental, a fim de transpor barreiras sociais e culturais, ampliando a visão

do teatro na escola não meramente como objeto de apreciação e

apresentações, e sim como um veículo para absorção de conhecimento

próprio, valorizando os jogos e ações dramáticas como um processo de

aprendizagem envolvente e dinâmico, para despertar a vontade de aprender,

buscar novas formas de convivência, construir objetivos comuns, favorecer e

estimular o ensino da arte na escola.

Nas diretrizes curriculares da educação básica do Estado do Paraná,

essas ideias são colocadas da seguinte forma:

“Dentre as possibilidades de aprendizagem oferecidas pelo teatro na educação destacam-se: criatividade, socialização, memorização e a coordenação, sendo o encaminhamento metodológico, proposto pelo professor, o momento para que o aluno os exercite. Com o teatro, o educando tem a oportunidade de se colocar no lugar de outros, experimentando o mundo sem correr risco.”DCE (4.2 TEATRO 2008 p.77).

Esta citação caracteriza especialmente a questão da empatia pretendida na

abordagem dos jogos dramáticos na escola, reforçando um bom

relacionamento social entre os educandos.

É de conhecimento público a dificuldade em se lidar com o adolescente,

por diversas questões: hormonal, familiar, social, psicológica entre outras, por

se tratar de um momento complicado na vida do estudante que sofre varias

transformações, esse é um problema geral, de todas as áreas do

conhecimento, inclusive da arte. O anseio em ser aceito no grupo, as

dificuldades em se relacionar, a agressividade e a necessidade de se

sobressair mesmo que de forma negativa trazem muitos conflitos para a sala

de aula e nas aulas de arte eles colocam de forma acentuada essa

agressividade em imagens, textos, escolhas musicais e etc. Observados estes

aspectos, é importante mostrar ao aluno como se colocar no lugar do outro,

para que ele possa refletir e pensar suas atitudes propiciando assim o

desenvolvimento de um caráter empático, proporcionado através de jogos

dramáticos e teatrais .

O educando demonstra através de atividades realizadas, iniciativa

e vontade, de fazer algo novo, de experimentar e até mesmo brincar com as

possibilidades que os jogos teatrais podem trazer.

Segundo Koudela citando Viola Spolin:

[...] “O desenvolvimento progressivo da atitude de colaboração leva a autonomia da consciência individuo , ao passar da relação de dependência para autonomia.” ( 2012 , p.22)

Nesse texto, a autora refere-se às questões relacionadas aos jogos e

sua contribuição no ambiente escolar e, comenta ainda, vários autores

relacionados à pedagogia, tais como: Piaget e Vigotsky, que enfatizavam a

importância do jogo no processo de aprendizagem , mais do que uma mera

atividade lúdica , consideram o cerne da manifestação e da inteligência

humana. E enfatiza que o valor de tais atividades, com certeza, reside no

processo, e não especificamente em um resultado final.

O professor é o mediador desse processo, utilizando-se de técnicas e

enredos que envolvam os alunos, que despertem o interesse, que agucem os

sentidos, que oportunizem a expressão individual, coletiva e colaborativa,

estimulando o respeito mútuo, a criatividade, sentimentos de aceitação e de

confiança, transformando e ampliando pontos de vista a fim de melhorar o

convívio e a absorção do conhecimento.

O projeto a ser analisado utilizou-se de jogos dramáticos conhecidos

para dispor situações empáticas entre os participantes. Deste modo o objetivo

foi o desenvolvimento individual e coletivo no qual os alunos espontaneamente

aprimorassem suas relações sociais, a observação se si e do outro. Assim o

encaminhamento dos jogos e seu processo de improvisação, articularam

conhecimentos específicos da atividade teatral.

Os Jogos dramáticos

Dentre as várias possibilidades e necessidades de aprendizagem, está o

jogo, o lúdico, o simbólico, estes objetos de estudos, de vários autores os quais

são unanimes em constatar a eficácia e a importância dos elementos citados

no bom desenvolvimento cognitivo. Conforme Fusari e Ferraz “Com as

atividades lúdicas, a criança exercita sua autonomia, sua criatividade e a

imaginação, aprende o significado das coisas e a dar sentido, a elas”.

(1999,p.122).

No contexto do jogo existem muitos aspectos, dentre eles: culturais,

sociais, políticos, cognitivos e motores entre outros, os quais podem ser

explorados e experimentados durante sua realização, que na maioria das

vezes se mostra um momento divertido e prazeroso e por ser descontraído,

atrai a atenção e estimula o aluno a participar.

O teatro nos trás em sua bagagem, os jogos dramáticos com improvisos

e exercícios, que dispõe uma série de propriedades, capazes dedespertar no

aluno o olhar para si ,e para o outro, identificar relações sociais e afetivas, lidar

com questões cotidianas e observar de modo crítico o que se passa a seu

redor. Para Spolin:

“O jogo é democrático! Todos podem aprender jogando! O jogo

estimula vitalidade, despertando a pessoa como um todo - mente

e corpo, inteligência e criatividade, espontaneidade e intuição -

quando todos, professor e alunos estão atentos para o momento

presente.”(2012, p.30).

Conhecer as diferentes linguagens ou poéticas artísticas já fazem parte

do currículo escolar, o teatro como uma delas, é tratado algumas vezes

erroneamente como momento festivo de apresentação, visando o resultado

final e não o processo desenvolvido. Partindo desta observação se fez

necessário colocar a importância dos jogos dramáticos e teatrais como um

processo de construção do conhecimento, onde foi oportunizado ao aluno

práticas nas quais respeitem o conhecimento e realidade cultural do educando,

de forma a ampliar seu repertório.

Segundo a DCE:

“Na escola, a dramatização evidenciará mais o processo de aprendizagem do que a finalização, a montagem de uma peça. É no teatro e em seus gêneros, propostos como jogo do riso, do sofrimento e do conflito, que se veem refletidas as maneiras de sentir o mundo por um ser criado (a personagem) num mundo criado (a cena).”(DCE’s,2008,p.80).

Esse processo dos jogos é dinâmico e desafiador para o aluno,

estimulando sua vontade de continuar jogando e ao mesmo tempo aprendendo

e compreendendo as questões sobre ser espectador e também ator, cada qual

em seu tempo, para Rosseto (2013) o improviso é importante para familiarizar

o educando com as linguagens características do teatro , bem como construir

um estilo pessoal e aprimorar o senso crítico, sobre o que assiste .O autor

ainda coloca os benefícios dessas práticas como: a observação crítica, o

compartilhamento de descobertas, respeito aos diferentes pontos de vista , a

tolerância interpessoal e o desenvolvimento de habilidades sociabilizadoras.

Dentro deste raciocínio temos a perspectiva deCourtney que afirma:

“A criança improvisando, jogando dramaticamente, está experimentando a natureza dos objetos, as probabilidades e os fatores limitativos dos eventos, e os detalhes do processo: cada ação desafia o pensamento a memória e a precisão...”(2001,p55).

A natureza do jogo é a ação, a prática a experimentação, requisitos que

devem ser supervisionados e estabelecidos através de regras ,foi constatado

que só se aprende a jogar jogando, e este tipo de jogo, o jogo dramático,

teatral tem como qualquer outro jogo, estas características e as possibilidades

já citadas, sendo assim de grande valia na aprendizagem como um todo, não

apenas nas aulas de arte.

Augusto Boal evidencia que o teatro e a arte de representar como

manifestação é possível a todos, a qual estamos dispostos a estabelecer em

nosso cotidiano, que o papel de espectador não deve ser o único, que

devemos transformar a realidade através da arte, mesmo que seja em nosso

dia-a-dia, na forma de enfrentar problemas ou na maneira de encarar o mundo.

Para o autor “todo teatro é político”, e desencadeia várias situações as quais

nos trazem a reflexão como resultado, determinando o senso crítico e o

pensamento social, que não deve ser condicionados, porém o que vemos no

social temos a opressão de classes, culturas que acabam limitando a liberdade

de expressão.

Então é possível se manifestar através dessa linguagem teatral que ela

é aberta a todos, e uma forma de alcançar essa fluência é através de jogos

dramáticos, os quais podem ser desenvolvidos dentro do currículo educacional,

e desenvolvidos através das práticas propostas pelo professor, que deve

buscar conhecer seu contexto e conteúdo, bem como formas de transmitir e

direcionar estas atividades.

A prática dos jogos dramáticos, podem e devem ser introduzidos no

início da vida escolar, desde a pequena infância e ter continuidade e

amadurecimento no decorrer da aprendizagem , para Slade :

“O jogo dramático é uma parte vital da vida jovem. Não é uma atividade de ócio, mas antes a maneira da criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembrar, ousar, experimentar, criar e absorve. (1978, p.07).

O jogo dramático conforme Slade pode ser pessoal ou projetado.

Pessoal: onde o corpo é o instrumento, enquanto personagem a ser assumido,

o que resumidamente com a prática reflete em desenvolvimento de liderança e

controle pessoal nos participantes. Projetado: quando se usa objetos,

brinquedos, fantoches,para projetar intenções, ocasionando concentração,

organização e paciência nos envolvidos. Observa-se então as questões

psicológicas relacionadas ao tema, que é permeado por atividades que fazem

com que o participante fantasie, saia da rotina, sempre envolvendoquestões

emocionais de experiências fictícias ou reais as quais muitas vezes pertencem

ao universo do aluno.

Em Elkonin e sua psicologia do jogo, nota-se a ambivalência entre o

social e o psicológico . “A essência do jogo infantil consiste na interpretação de

algum papel ”.(p.03.) Segundo o autor o fundamental no jogo é a “situação

fictícia” a qual propicia a assimilação das relações sociais , sendo o jogo de

papéis de origem social. Nesta temática de ideias apoiadas na teoria de

Vigotski onde a imaginação surge na imitação (infantil) e no jogo, evidencia-se

a importância da ludicidade, do brincar e do jogar no desenvolvimento humano.

“O âmbito das atividades humanas e as relações entre as pessoas, em que o seu conteúdo fundamental é o homem – a atividade do homem e as relações entre os adultos-, em virtude do que é jogo é uma forma de orientar nas missões e motivações da atividade humana.” (1998, p.08).

Analisando os autores tem-se uma base para compreender o que é o

jogo dramático, bem como sua relevância no âmbito escolar, fica intrínseca a

concordância entre os mesmos em relação ao tema, a oportunidade de

vivenciar este tipo de jogo, proporciona inúmeros benefícios para o educando,

que após observar, participar e dar sua contribuição pessoal às atividades,

amplia seu repertório de conhecimento identifica situações onde pode ter

controle emocional, divide sua experiência, coloca-se no lugar do outro,

melhorando vínculos, aprimorando as relações sociais e de convívio.

Utilizar do ambiente escolar para explorar suas capacidades, fantasiar,

equilibrar atitudes, refletir, reforçar a convivência entre os participantes,

produzir normas, valores e atitudes que acontecem no mundo real e podem ser

utilizadas dentro jogo, tornam essa prática motivadora e desafiadora.

O jogo no senso comum propicia a aprendizagem, o envolvimento de

grupo, o entendimento de regras, a aplicabilidade destas regras e habilidades

pessoais necessárias para jogar. Os jogos dramáticos e teatrais

especificamente trazem maior interação e ludicidade para a prática pedagógica

proporcionando experiências sensório-motoras, linguísticas, social, moral,

psicológica e estética, sensibilizando o jogador fazendo-o observar sua posição

em relação ao grupo, como indivíduo capaz de se relacionar, produzir e se

apropriar da linguagem proposta. “Experienciar é penetrar no ambiente, é

envolver-se total e organicamente com ele. Isto significa envolvimento em

todos os níveis: intelectual, físico e intuitivo”(Spolin,19634,s/p).

O improviso é um forte componente nessas práticas, familiarizando o

participante com a linguagem teatral, onde em momentos será ator, em outros,

espectador, desenvolvendo a capacidade de colaborar em prol de um objetivo

comum no caso a proposta cênica. Segundo Rosseto :

“A improvisação favorece, aos alunos, compartilhamento de descobertas, observando criticamente vários pontos de vista, criando práticas de cooperação e desenvolvendo capacidades socializadoras. Possibilita, ainda, a tolerância no convívio com pessoas de opiniões diferentes em contextos próximos ou distantes de sua realidade” (2013,p.18).

O convívio escolar pode ser aprimorado fazendo uso dos conceitos e

práticas de jogos dramáticos e teatrais, visando melhorar a autoestima do

educando, suas relações individuais e com o todo, diminuindo a violência e o

bullying, reforçando valores positivos. Para Boal a linguagem do teatro absorve

muito das questões sociais, pois estão interligadas, de tal modo a construir um

novo olhar sobre o cotidiano, possibilitando o desenvolvimento de uma

consciência crítica e autônoma. “A alfabetização teatral é necessária porque é

uma forma de comunicação muito poderosa e útil nas transformações sociais.”

(1995, p17).

Aplicação da Proposta

A implementação do projeto de intervenção pedagógica vinculou-se as

Diretrizes Curriculares da Arte para a Educação Básica do Estado do Paraná,

especificamente ao material pedagógico desenvolvido no Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE. A proposta ocorreu em dez encontros de

duas horas e quatro encontros de três horas, com trinta e cinco alunos do 9º

ano no período entre 18/03/15 à 03/07/15.

Como pressuposto para a implementação do projeto prevaleceu o

objetivo da socialização entre os educandos através dos jogos dramáticos

utilizando-se das seguintes abordagens:

Estimular a sensibilidade e a observação pessoal e coletiva nos aspectos

relacionados aos jogos dramáticos.

Expressar por meio de gestos, textos e improvisos sensações cotidianas do

ambiente em que vive e convive.

Refletir sobre o papel do espectador e sua participação nas ações dramáticas.

Aprimorar as relações sociais de convívio e respeito por meio dos jogos

dramáticos e teatrais

Experimentar novas possibilidades de movimentos corporais e faciais

desenvolvidos no mecanismo do jogo.

Verificar a relação espaço e tempo na ação dramática, partindo do improviso a

pequenas esquetes teatrais.

No contexto do jogo existem muitos aspectos, dentre eles: culturais,

sociais, políticos, cognitivos e motores entre outros, os quais podem ser

explorados e experimentados durante sua realização, que na maioria das

vezes se mostra um momento divertido e prazeroso que, por ser descontraído,

atrai a atenção e estimula o aluno a participar.

Os jogos em geral têm muito do lúdico e do imaginário, já o jogo

dramático é basicamente imaginação em ação cênica, pois favorece o reviver,

o repensar de práticas cotidianas, através do simbolismo, que não pode ser

atingido pelo pensamento direto.

O jogo dramático não exige cenário, figurino, ou outros meios para sua

prática, tudo está no imaginário, na ficção, sem o compromisso de formar

artistas (atores), mas formar um ser capaz de perceber e repensar a realidade

em que vive, resignificando o social. Esta prática permite o uso do corpo, das

sensações. Sentimentos exercitando a capacidade criativa do indivíduo,

desenvolvendo a emoção a ser compartilhada através de uma estética pessoal

organizada a partir das vivências do aluno, através das atividades.

Atividades que devem respeitar e despertar o imaginário do aluno,

através de práticas que podem usar diversos recursos, como cenas com temas

específicos, improvisos com imagens, sons, leituras. Explorar a linguagem

verbal e corporal, bem como o espaço para desenvolver o gesto e sua

dramaticidade.

A implementação do projeto se deu, de maneira interessada e

agradável, através do material didático desenvolvido para ser utilizado com os

alunos durante os encontros, no qual constavam atividades e enredos dos

jogos dramáticos. Sempre iniciando as atividades com aquecimento vocal e

corporal, disponibilizando o relaxamento e desinibição inicial para a realização

dos jogos dramáticos. Alguns dos jogos utilizados foram:

- Jogo de cena (sonoplastia): dividir os grupos de cinco alunos ou

menos, entregar o tema para uma cena improvisada, p. ex., consultório do

dentista, fila do ônibus, festa infantil, salão de beleza, compras no mercado e

etc. (explicar que com estes temas podem criar a situação que acharem mais

interessante para apresentar uns para os outros, dar uns dez minutos para a

produção. Quando estiver tudo pronto um colega de outro grupo será

designado para fazer efeitos sonoros no grupo do outro e vice-versa).

- Jogo da blablação ou língua inventada: cada um fará um breve

discurso, ou comunicado para todos ou para um participante específico em um

idioma inventado com entonação livre, sem repetir ou imitar a linguagem

inventada do outro, a sequência fica com indicação gestual de quem fala,

indicando o próximo jogador que será escolhido por ele.

Durante as atividades os alunos, que participaram com ânimo, criaram

vínculos e também puderam se divertir e entender os objetivos propostos. A

medida em que os jogos eram realizados, os participantes faziam uma

avaliação composta por questionamentos, nos quais eles argumentavam se

estavam gostando de sua participação, quais jogos eram mais aceitos, menos

aceitos, e o porquê.

Estes exemplos foram colocados apenas para ilustrar as atividades

práticas realizadas durante a implementação do projeto no ambiente escolar.

Muitas outras atividades foram realizadas e se encontram na referida unidade

didática.

Análise da contribuição do grupo de trabalho em rede

A participação do projeto no Grupo de Trabalho em Rede GTR, foi

bastante proveitosa, levantando muitas questões relacionadas ao espaço físico

da escola, a visão das outras disciplinas sobre o ensino da arte e em específico

o do teatro, a importância de se trabalhar com a expressão pessoal e coletiva

dos alunos e as dificuldades encontradas neste trabalho.

Um momento de troca entre os professores, que escolheram o tema

justamente pelo interesse em trabalhar com os alunos os jogos dramáticos,

suas aplicações e implicações em sala de aula. As atividades dividiram-se em

três módulos, nos quais estiveram a disposição: o projeto, o material didático, o

relato da implementação do projeto, e outros materiais relacionados ao tema.

Deste modo, os cursistas, professores da rede pública de ensino, puderam se

inteirar do assunto desenvolvido, analisar, comentar, fazer suas observações

pessoais, bem como produzir relatos de experiências em sala de aula nos

quais os jogos dramáticos foram experimentados e abordados a fim de

repercutir a ideia de socialização e empatia dos alunos dos cursistas.

Foi possível verificar o empenho dos professores em discutir o assunto,

colocando suas dificuldades, as particularidades de seus ambientes escolares,

a resistência dos alunos, por timidez ou por afronta inicial, as diferenças e

peculiaridades de cada professor e seus métodos, todos com um mesmo

objetivo, o de tornar suas aulas mais motivadoras e construtivas.

As participações nos fóruns foram sempre bem-intencionadas, as

críticas se estabeleceram de modo positivo e integraram as ideias de troca,

muitas dicas e atividades fluíram e puderam enriquecer a aprendizagem do

grupo.

A principal queixa foi em relação ao espaço escolar, que não está

adaptado para as atividades, sendo necessário o improviso, o que possibilita

tornar uma sala de aula ou um pátio escolar em um local propício para a

interpretação, encenação e as vertentes teatrais.

Ficou clara a importância de trabalhar os jogos teatrais na escola, os

participantes observaram esta necessidade, tanto é que procuraram

estabelecer conexões com a abordagem dada no projeto, trazendo seu

cotidiano escolar para reflexão, somando experiências e conhecimento.

Considerações finais

Para existir a educação é necessário o convívio e o respeito mútuos

para que se desenvolva uma relação de aprendizagem. Foi nesse pensamento

que este projeto se pautou, sendo o fator determinante para melhorar este

convívio os jogos dramáticos.

Entrar em contato com a linguagem teatral, perceber que ela não está

tão distante, que não é apenas privilégio de elites, que pode ser abordada e

explorada sem a necessidade de mostrar resultados preestabelecidos em

apresentações temáticas, que expressar-se faz parte do cotidiano, e o

aprimoramento destas expressões pode resultar em relações sociais

saudáveis .

Conhecer mais a fundo autores como Viola Spolin e Peter Slade, dentre

outros, possibilitou com que, mesmo não sendo habilitada em teatro, pudesse

entender e absorver as práticas e teorias descritas, permitindo um trabalho

intenso e motivador com os alunos, o qual devo sempre buscar para enriquecer

meu repertório e também o dos alunos.

Visualizar, através da prática dos jogos, o entendimento do grupo e dos

indivíduos, o desenvolvimento dos alunos envolvidos, e a melhora na vivência

dos mesmos, é extremante compensador.

Referências

BOAL,Augusto.200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade

de dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira ,1995;

COURTNEY, Richard. Jogo, Teatro e pensamento. 2ed. São Paulo: Editora

Perspectiva S.A ,2001;

ELKONIN, D.B .Psicologia do Jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998;

FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo e FUSARI, Maria F. Rezende.

Metodologia do Ensino da Arte. São Paulo: Cortez,1999;

PARANÁ – SEED- Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes

Curriculares da Rede Pública da Educação Básica do Estado do Paraná.

Curitiba: Editora do Estado, 2008.

RYNGAERT,Jean-Pierre. O jogo dramático no meio escolar.

Coimbra:Centelho,1981;

REVERBEL,Olga. Um caminho do teatro na escola.Paraná: Editora Scipione

1978;

ROSSETO, Robson. Jogos e Improvisação Teatral. Paraná: Editora

Unicentro, 2013

SLADE, Peter. O Jogo Dramático Infantil. São Paulo: Summus Editorial,

1978.

SPOLIN, Viola. Improvisação Para o Teatro. São Paulo: Editora

Perspectiva,2001;

SPOLIN, Viola. Jogos Teatrais na Sala de Aula. São Paulo: Editora

Perspectiva, 2012;