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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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O JORNAL NA SALA DE AULA: DA INFORMAÇÃO AO CONHECIMENTO CRÍTICO

MACHADO Enio

1

ZANELLA José Luiz2

Resumo: A leitura de textos jornalísticos apresenta uma visão independente de quem faz, e a interpretação desta, depende do nível de conhecimento interpretativo de quem lê. A leitura do jornal feita com criticidade pelos alunos e o apoio do professor dentro deste contexto, pode proporcionar melhor maneira de desenvolver o seu trabalho ou interpretar melhor a realidade. Podemos afirmar que todos os tipos jornais servem como material educativo, independente da sua linha de trabalho. No entanto, deve-se distinguir jornais conservadores de jornais críticos, mostrando as diferenças de concepção de mundo, além de conhecer os conceitos de alienação e ideologia, em uma perspectiva crítica como referência para análise de textos jornalísticos, desenvolver a capacidade do aluno em procurar, organizar e apresentar as informações contidas no texto e proporcionar a formação crítica dos, quanto às informações recebidas no contexto da leitura.

Palavras chave: Leitura; Jornal; Recurso Didático

INTRODUÇÃO

Este artigo é parte de uma investigação ativa e atual de minha prática de

docente que investiguei possíveis abordagens metodológicas que possibilitem

um novo olhar significativo em relação ao conteúdo trabalhado com leitura

críticade jornais com alunos do nono ano do Ensino Fundamental do Colégio

Estadual Barão do Rio Branco do Município de Flor da Serra do Sul-PR.

O trabalho com o jornal na escola visa a superar o baixo rendimento dos

alunos, a partir da melhoria da leitura e da escrita, bem como estimular a

expressão oral e produção textual e entender a informação de como ela foi

construída. Busca-se através deste trabalho, orientar o aluno para uma

interpretação crítica da realidade ou dos fatos através do jornal, mostrando

como essa realidade é exposta na divulgação de uma notícia, o que está por

trás desta informação, quem é que divulga, qual o interesse do jornal divulgar

essa informação, de qual outra maneira essa informação poderia ser divulgada,

qual o objetivo dessa noticia para a sociedade, como interpretar essa notícia?

Ou até mesmo questionar a notícia mais ainda (o quê, quem, quando, onde,

1 Professor de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Barão do Rio Branco da rede estadual de Ensino

Fundamental e Médio de Flor da Serra do Sul-Pr. E-mail: [email protected] 2 Professor de Filosofia da Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Francisco

Beltrão-PR. E-mail: [email protected]

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como e por quê) além de diferenciar os vários gêneros textuais (artigo,

reportagem, classificados, horóscopo etc.)

Para Freire 1989) “percebe-se a importância da leitura, da compreensão

e da interação como o mundo imediato, no qual se está inserido, para a

aquisição da leitura das palavras”(FREIRE, 1989, p.15)

Comunicação é o processo de troca de informações entre um emissor e

um receptor. Um dos aspectos que podem interferir nesse processo é o código

a ser utilizado, que deve ser entendível para ambos. Quando o homem se

utiliza da palavra, ou seja, da linguagem oral ou escrita, dizemos que ele está

utilizando uma linguagem verbal, pois o código usado é a palavra. Tal código

está presente, quando falamos com alguém, quando lemos, quando

escrevemos. A linguagem verbal é a forma de comunicação mais presente em

nosso cotidiano, sendo a palavra escrita ou falada, a forma pela qual nos

comunicamos. Mediante a palavra falada ou escrita, expomos aos outros as

nossas ideias e pensamentos, comunicando-nos por meio desse código verbal

imprescindível em nossas vidas.

A outra forma de comunicação, que não é feita nem por sinais verbais

nem pela escrita, é a linguagem não-verbal. Nesse caso, o código a ser

utilizado é a simbologia. Ao contrário do que alguns pensam, a linguagem não-

verbal é muito utilizada e importante na vida das pessoas. Outra diferença

entre os tipos de linguagens é que, enquanto a linguagem verbal é plenamente

voluntária, a não-verbal pode ser uma reação involuntária, provindo do

inconsciente de quem se comunica. Todo o tipo de linguagem tanto verbal

quanto não verbal deve ser levado em conta a sua importância para a vida dos

alunos, pois ela está presente no seu dia a dia, tanto no campo quanto na

cidade. A utilização de mídias impressas como materiais didáticos na escola

promove o aluno nas mais variadas situações do cotidiano, diante dessa

necessidade: “O que conta, antes do mais, para a escola, para as crianças e

para os professores, não é o aspecto histórico das técnicas e dos método mas

sim a sua adequação às necessidades pedagógicas” (FRENET, 1974, p. 17)..

Buscamos apresentar neste texto o desenvolvimento em sala de aula

uma metodologia para trabalhar com textos de jornais, numa perspectiva crítica

para informar, comunicar, integrar e desenvolver a capacidade do aluno em

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refletir sobre à composição textual, desenvolvendo habilidades para uma leitura

de mundo critica.

O trabalho reflexivo do jornal na sala com a intermediação do professor

para ter êxito, deve influenciar a família do aluno em sua casa, que através das

atividades desenvolvidas possa conscientizá-la da importância que ele tem na

vida das pessoas. Diante da relevância do jornal em sala de aula como um

recurso didático, necessito, enquanto professor, de um estudo teórico-

metodológico que me instrumentalize na análise de jornais, possibilitando

assim pensar uma metodologia de ensino em sala de aula que desenvolva nos

alunos uma leitura de mundo critica e um aprendizado significativo da língua

portuguesa.

O texto está organizado em duas partes. Na primeira parte

contextualizamos o estudo sobre o jornal na sala de aula enfocando a escrita, o

professor e o aluno. Na segunda parte, descrevemos o desenvolvimento do

projeto na escola.

1. O JORNAL NA SALA DE AULA

Pensando em melhorar o meu trabalho em sala de aula, utilizei o jornal

como um recurso didático. Penso que o jornal pode contribuir para despertar a

criticidade dos alunos, fornecendo possibilidades de ampliar o trabalho

educativo, estabelecendo relações entre o “eu” e o “mundo”, permitindo leituras

e opiniões diferenciadas muitas vezes referentes ao mesmo assunto, ainda

mais de quando se trata de um assunto referente a atualidade.

O trabalho com o jornal em sala de aula sem ter um objetivo claro do

que se quer, não é suficiente, deixa um “vazio” no trabalho e vira uma

“bagunça” na sala, pois cada aluno vê algo que chama a sua atenção e quer

mostrar para o colega passando o aluno a ser um mero espectador da

aquisição do conhecimento. Não é esse tipo de leitura que nós pretendemos, já

que falamos em leitura crítica, temos que priorizar e intermediar a criticidade da

leitura dos nossos alunos, muitas vezes até escolhendo o assunto a ser

trabalhado.

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O uso do jornal na sala de aula

O jornal na sala de aula tem uma boa influência, desde que o aluno com

mais dificuldade em leitura aprenda, até o bom ser ainda melhor. Hanze (2010),

nos coloca ainda, que o jornal é uma maneira de pensar e agir, com resultados

positivos, é um estímulo e prazer na leitura, vincula a realidade social e propõe

alternativas de se ter um bom cidadão, além de se ter um a informação mais

recente.

Um dos motivos que gratifica o professor é sem dúvida, a motivação dos

alunos, além de fazer uma leitura diferenciada e mais bem sucedida de que o

livro didático ou um outro material qualquer, tornando cidadãos mais bem

informados, sem contar o enriquecimento em uma leitura crítica, que esclarece

ao aluno a realidade dos problemas sociais, propicia o desenvolvimento de

raciocínio e aumenta a capacidade de questionar os problemas que surgem no

dia a dia, sem contar com os assuntos que estão mais próximos de sua

comunidade. Especialistas em educação afirmam que o jornal é uma

alternativa a predominância da televisão, que aliena os jovens e cria uma

“dificuldade” aos questionamentos daquilo que está exposto. A leitura de textos

jornalísticos amplia o vocabulário e a compreensão de textos, melhora a

qualidade das intervenções verbais, trás uma visão aberta e atualizada. O

jornal espelha o jogo de interesse da sociedade e o estudante pode

compreender em que sociedade esta vivendo e convivendo, traz para a sala de

aula a sociedade e suas necessidades reais.

O jornal reflete a situação real da sociedade com informações mais

atualizadas. Os textos jornalísticos servem de base para se trabalhar os temas

transversais, além de leitura e interpretação de temas tratados possibilitando

uma oportunidade de ser inserido num mundo diversificado, de informações.

Hanze (2010) ainda coloca em seu texto que o jornal atende a proposta dos

Parâmetros Curriculares Nacionais que trata das matérias que servem de base

para o desenvolvimento dos temas transversais, trabalhando-se, por exemplo,

a questão da ética e da cidadania nos enfoques e tendências, que dão aos

fatos e notícias.

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A leitura e a escrita

Atualmente, as informações estão cada vez mais rápidas, percebemos a

necessidade de novas práticas pedagógicas que contribuam para o

desenvolvimento da leitura e da escrita.

É preciso que antecipem que façam inferências, a partir do contexto ou conhecimento prévio que possuem que verifiquem suas suposições – tanto em relação à escrita, propriamente, quanto ao significado (PCN, 1998, p.55-56).

Bakhtin 2003, enfatiza a importância do princípio dialógico, relacionado

às práticas sociais e atividades humanas. Na enunciação o outro está sempre

presente (nem sempre fisicamente); os significados das palavras não são fixos,

podem variar nas diferentes situações, de acordo com o contexto do sujeito.

Bakhtin afirma que a língua é dinâmica e interativa:

A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. Cabe salientar em especial a extrema heterogeneidade de gêneros do discurso (orais e escritos), nos quais devemos incluir as breves réplicas do diálogo do cotidiano... (BAKHTIN, 2003, p.262).

As publicações do Ministério da Educação demonstram uma ligação com

a sociedade atual, isso pode instigar a importância do letramento para uma

movimentação social.

Considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio, cabe à escola promover sua ampliação de forma que, progressivamente, durante os oito anos do ensino fundamental, cada aluno se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações (BRASIL, 1998, p. 19).

As DCEs de 2008 de Língua Portuguesa, trazem uma leitura clara de

como o aluno deverá desenvolver esse conhecimento e de entender a prática

da leitura. Praticar a leitura em diferentes contextos requer que se

compreendam as esferas discursivas em que os textos são produzidos e

circulam, bem como se reconheçam as intenções e os interlocutores do

discurso.

É nessa dimensão dialógica, discursiva, que a leitura deve ser a

experiência, desde a alfabetização. O reconhecimento das vozes sociais e das

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ideologias presentes no discurso, tomadas nas teorizações de Bakhtin, ajudam

na construção de sentido de um texto e na compreensão das relações de poder

a ele inerentes (DCE 2008, p. 57).

O jornal e o aluno

Primeiramente, o professor precisa saber o objetivo que pretende atingir,

assim, ele torna uma ferramenta pedagógica de grande valia, ele auxilia no

desenvolvimento escolar através da interpretação, da informação,

esclarecendo o aluno da realidade social o desenvolvimento de um raciocínio

lógico, que não se deixe “levar” por uma informação muitas vezes de cunho

político ou propaganda para engrandecimento pessoal.

Dentro desse contexto de trabalho, devemos ensinar a ler todas as

páginas do jornal, de maneira crítica, desde as manchetes aos suplementos, da

propaganda a informação, da parte política a atual, para que ele, o aluno tome

consciência dos mais variados estilos de publicações. Esse trabalho indica uma

maneira diferente de pensar e agir por meio da leitura e manuseio do jornal,

além de proporcionar um estímulo prazeroso de leitura que vincula a realidade

do convívio de muitos colegas ou conhecidos que vivem inseridos no mesmo

contexto e as alternativas para ser um bom cidadão diante dessas informações

recebidas através das leituras.

Muitas reportagens apresentadas em jornais ou revistas podem ser

consideradas como propaganda “ideológica”, pois tem uma linha de defensores

dessa idéia ou um interesse em divulgá-la ou até de promoção pessoal. Como

professor preciso ter esse conhecimento para que meus alunos não se deixem

“levar” por essas ideologias de interesse individual.

Neste contexto, salienta Garcia:

Além da seleção de informações, há outros meios de manipulação dos fatos. Um deles é a fragmentação da realidade, implícita na própria forma como são apresentadas as notícias. Para se adquirir consciência da realidade social é necessário que se percebam as relações entre os diversos fenômenos, obtendo-se a visão de conjunto necessária para ver a sociedade como um todo integrado, em que os fatos econômicos, políticos e culturais sejam vistos tal como se determinam reciprocamente. A grande imprensa, ao contrário, aponta os fatos isolados uns dos outros, mantendo ocultas aquelas relações (GARCIA, 1999, p. 66).

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Dessa forma é necessário que o professor esteja preparado para

mostrar ao aluno as diferenças entre o texto que busca uma real situação ou

aquele texto que é simplesmente uma mera propaganda de convencimento do

leitor.

É fundamental, por exemplo, que o professor tenha o conhecimento para

distinguir entre jornais críticos de jornais não críticos ou conservadores.

O Jornal crítico é aquele independente, que relata fatos concretos,

fazendo análises criticas estimulando o leitor ou desmotivando-o, dependendo

da visão que o leitor tem sobre o assunto, apresentando as duas versões dos

fatos, levando o leitor a uma reflexão sobre o assunto.

O texto crítico é redigido por um profissional especializado da área, que

em contato com o assunto a ser criticado produz matérias que serão

apresentado ao leitor. O crítico não pode apresentar uma avaliação subjetiva, e

sim, apresentar uma descrição objetiva que deem sustentação aos seus

argumentos a serem utilizados.

Entendemos por jornais conservadores aqueles que se propõe a

reformas sociais para arrumar a sociedade, logo, estes conservadores

conservariam um status quo, sendo contra as mudanças no sentido de

superação revolucionária da sociedade. Jornais conservadores são os jornais

liberais, pois esta é a ideologia da sociedade capitalista.

Na sala procurou trabalhar o jornal também como uma fonte primária de

informação, pois mostra uma realidade mais próxima do leitor e que pode se

situar e inserir na vida social e profissional apresentando conteúdos variados,

faz o aluno conhecer diferentes posturas ideológicas aprendendo a respeitar os

diferentes pontos de vista.

Os PCNs de 1997 trazem:

A „pedagogia critica social dos conteúdos‟ assegura a função social e política da escola mediante o trabalho com conhecimento sistematizado a fim de colocar as classes populares em condições de uma efetiva participação nas lutas sociais. Entende que não basta ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é necessário que se tenha domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas para que os alunos possam interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classes (PCNs, 1997, p.32).

Percebe-se muitas vezes, o despreparo pedagógico do professor ou até

mesmo a insegurança para se trabalhar com mídias impressas, pois é mais

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prático um livro didático que já vem pronto e acabado, pois a pesquisa e a

busca por uma aula dinâmica requer mais trabalhos.

Portanto, pensando em tornar os alunos leitores informados e críticos já

tentei trabalhar o jornal na sala de aula buscando fazer com que eles

entendessem que a leitura do jornal faz parte do dia a dia das pessoas, a

facilidade de acesso aos jornais facilitaria as pessoas entender a leitura de uma

maneira que não se deixassem levar pelo que está escrito, e sim uma

interpretação da realidade, de como essa realidade é exposta na divulgação de

uma notícia, o que está por trás desta informação, quem é que divulga, qual o

interesse do jornal em divulgar essa informação, de que maneira essa

informação poderia ser divulgada, qual o objetivo dessas noticia para a

sociedade, como interpretar essa notícia... Enfim, essas questões me

motivaram a levar para a sala de aula o jornal como um recurso didático.

Trabalhei com vários tipos de jornais, mas não obtive êxito, pois não passei da

informação e percebi que os alunos se interessaram pelo jornal em si, e não

pela informação enquanto conteúdo crítico. Quando pedi para eles que

encontrassem uma notícia, ou algo que mais lhe chamasse a sua atenção, e

depois comentar na sala para os colegas em forma de seminário, verificou,

para a minha surpresa, de uma turma de 25 alunos, 21 alunos interessaram-se

pelas páginas policiais. Por que a violência e não as noticias de interesse

econômico, social ou político? Sendo assim, comecei então a explorar mais os

jornais na sala de aula com os alunos, pois tenho acesso de vários jornais

regionais. Trabalhar as mídias impressas (Jornal na sala de aula) como

material didático promove a formação do aluno em diversas situações de

aprendizagem, pois tem um campo maior de exploração dos acontecimentos

do dia a dia do aluno, do convívio dele com o meio social. Sem contar com a

diversidade de gênero que ele vai se deparar como: entrevistas, editoriais,

notícias, tipos de propagandas, etc. O aluno com essas várias informações de

diferentes linguagens em sua frente, questionando, discutindo, analisando,

construirá com certeza uma linha de pensamento crítico e reflexivo diante do

texto jornalístico. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as

possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE,

1996,p.22).

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Pensando dessa forma, as mídias impressas, bem como o jornal, já

desde a primeira página já se pode explorar, as informações contidas em

destaques, como as manchetes com o que mais lhe interessa, buscando a

informação que lhe convém no momento.

2. ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO NA ESCOLA

Esta pesquisa é de caráter qualitativo, empírico, descritivo, numa

perspectiva de pesquisa-ação, mas o seu campo é metodológico, explorando a

capacidade do aluno em desenvolver o seu lado de entendimento, fazendo

uma leitura do que está nas entrelinhas, implícito, e o que está atrás das linhas,

através de uma análise de conteúdo noticiada em jornais.

Educar é preparar para a liberdade. As pessoas são livres porque podem escolher. E só podem escolher quando conhecem alternativas. Sem informação não há alternativa e, portanto, sem alternativa não há liberdade. O bom educador deve estimular a diversidade, torcendo para que seus alunos tenham suas próprias ideias. E mais do que isso, tenha coragem de defendê-las, devidamente fundamentadas, em qualquer situação. E, sobretudo, tenham a coragem e a segurança de se admitirem errados e mudarem de opinião (DIMENSTEIN, 1998, p.07)

Neste contexto, por meio do programa de formação continuada do

Governo do Estado do Paraná, Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), o professor pode planejar e desenvolver metodologias diferenciadas,

para aplicar na sala de aula, tendo como resultado a produção de

conhecimentos e as mudanças quantitativas e qualitativas na prática escolar da

sala de aula.

Como resultado desse programa de desenvolvimento educacional,

professores puderam aplicar novos conhecimentos e novas práticas

pedagógicas em sala de aula. Realizamos o trabalho com alunos do 9° ano do

Colégio Estadual Barão do Rio Branco Ensino Fundamental e Médio do

Município de Flor da Serra do Sul-Paraná. O trabalho resultante foi também

parte da reflexão dos participantes.

O grupo de trabalho em rede (GTR) foi trabalhado simultaneamente ao

processo de desenvolvimento da implementação do projeto no ambiente

educacional com professores de diferentes regiões do Paraná, participaram

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diretamente do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), o qual destaca PARANA (2008.

p. 12)

possibilita a inclusão virtual dos Professores da Rede nos estudos, reflexões, discussões e elaborações realizadas pelo Professor PDE, como forma de democratização do acesso aos conhecimentos

teórico-práticos específicos das áreas/disciplinas do Programa.

As atividades de implementação tiveram início com a apresentação na

Semana Pedagógica de fevereiro de 2014, no Colégio Estadual Barão do Rio

Branco para a direção, equipe pedagógica, professores, agentes educacionais I

e II.

Na primeira atividade desenvolvida em sala, foi a apresentação da

Unidade Didática, na sequência, a importância de conhecer e ler jornais. Os

alunos foram falando sobre o conhecimento que tinham a respeito dos jornais

que circulam em nossa região, as notícias mais próximas da realidade local,

tipos de leituras e as impressões sobre o jornal e preferências por tipos de

reportagens. Na sequencia trabalhamos o editorial do jornal, de que o jornal

tem um dono, e as reportagens tem uma linha de pensamento daquele que

mantém o jornal, uma ideologia política. Trabalhamos os tipos de cadernos que

um jornal é composto e sua estrutura organizacional. Com os jornais on line,

trabalhamos as semelhanças e diferenças entre os jornais, entre eles o Jornal

“Le monde diplomatique, Brasil” que não traz propagandas, o qual os alunos

não sabiam que existia esse tipo de jornal que traz conhecimento, além da

informação. A mesma notícia trabalhada com jornais diferentes, com visões

também diferentes. Foram Trabalhados textos jornalísticos analisando se ele é

crítico ou não quanto a realidade social, o porquê esse texto não pode ser

crítico, a opinião do aluno diante do assunto de que o jornal traz, concorda ou

não concorda, o objetivo do texto, quem ele quer atingir, quais os argumento

utilizados para convencer o leitor. Foram realizados trabalhos em duplas e em

círculos em sala de aula para discutir os assuntos da reportagem, tanto com

jornais on line quanto os jornais impressos. Para finalizar, fizemos uma

pesquisa em duplas de alunos no comércio local, para saber quem lê jornais e

quais os assuntos principais dos leitores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensando em melhorar o meu trabalho em sala de aula, o jornal é

fundamental na Educação desde que utilizado para despertar a criticidade dos

alunos, fornecendo possibilidades de ampliar o trabalho educativo,

estabelecendo relações entre o “eu” e o “mundo”, permitindo leituras e opiniões

diferenciadas muitas vezes referentes ao mesmo assunto.

O trabalho com o jornal em sala de aula sem ter um objetivo claro do

que se quer não é suficiente, deixa um “vazio” no trabalho e vira uma

“bagunça” na sala, pois cada vê algo que chama a sua atenção e quer mostrar

para o colega passando o aluno a ser um mero espectador da aquisição do

conhecimento, e não é esse tipo de leitura que nós pretendemos, já que

falamos em leitura crítica, temos que priorizar e intermediar a criticidade da

leitura dos nossos alunos.

Primeiramente, o professor precisa saber o objetivo que pretende atingir,

aí sim, ele torna uma ferramenta pedagógica de grande valia, ele auxilia no

desenvolvimento escolar através da interpretação, da informação,

esclarecendo o aluno da realidade social o desenvolvimento de um raciocínio

lógico, que não se deixe “levar” por uma informação muitas vezes de cunho

político ou propaganda para engrandecimento pessoal.

Dentro desse contexto de trabalho, devemos ensinar a ler todas as

páginas do jornal, de maneira crítica, desde as manchetes aos suplementos, da

propaganda a informação, da parte política a atual, para que ele, o aluno tome

consciência dos mais variados estilos de publicações. Esse trabalho indica uma

maneira diferente de pensar e agir por meio da leitura e manuseio do jornal,

além de proporcionar um estímulo prazeroso de leitura que vincula a realidade

do convívio de muitos colegas ou conhecidos que vivem inseridos no mesmo

contexto e as alternativas para ser um bom cidadão diante dessas informações

recebidas através das leituras.

Muitas reportagens apresentadas em jornais ou revistas podem ser

consideradas como propaganda “ideológica”, pois tem uma linha de defensores

dessa ideia ou um interesse em divulgá-la ou até de promoção pessoal. Como

professor preciso ter esse conhecimento para que meus alunos não se deixem

“levar” por essas ideologias de interesse individual.

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Além da seleção de informações, há outros meios de manipulação dos fatos. Um deles é a fragmentação da realidade, implícita na própria forma como são apresentadas as notícias. Para se adquirir consciência da realidade social, é necessário que se percebam as relações entre os diversos fenômenos, obtendo-se a visão de conjunto necessária para ver a sociedade como um todo integrado, em que os fatos econômicos, políticos e culturais sejam vistos tal como se determinam reciprocamente. A grande imprensa, ao contrário, aponta os fatos isolados uns dos outros, mantendo ocultas aquelas relações (GARCIA, 1999, p. 66).

Dessa forma é necessário que o professor esteja preparado para

mostrar ao aluno as diferenças entre o texto que busca uma real situação ou

aquele texto que é simplesmente uma mera propaganda de convencimento do

leitor.

O jornal também é uma fonte primária de informação, pois mostra uma

realidade mais próxima do leitor e que pode se situar e inserir na vida social e

profissional apresenta conteúdos variados, faz o aluno conhecer diferentes

posturas ideológicas aprendendo a respeitar os diferentes pontos de vista.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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7-www.jornaldebeltrao.com.br 8-www.jornaldafronteira.com.br

9-www.sentineladooeste.com.br